Curso de Pós-Graduação Lato Sensu de Direito Ambiental e Políticas Públicas Universidade Federal do Pará Módulo 1 Disciplina Ecologia Juarez Carlos Brito Pezzuti, NAEA/UFPA Apresentação da disciplina Prezado(a) aluno(a), Você está iniciando o Curso de Direito ambiental on-line com a disciplina Ecologia. Esta disciplina encontra-se dividida nas seguintes Unidades Didáticas: Unidade 1 – Introdução Apresenta as definições básicas da ecologia, e as ligações entre pesquisas básicas e aplicadas na área com questões mais abrangentes, ligadas a outras áreas do conhecimento, sobretudo sobre a biologia da conservação e o manejo de recursos naturais. Origens do pensamento evolutivo e ecológico e da seleção natural, de especiação e extinção. Unidade 2 – Ecologia de Populações Descreve os princípios básicos da ecologia de populações, incluindo distribuição, demografia, crescimento e os fatores reguladores do crescimento populacional. Unidade 3 – Nicho Ecológico Aborda o conceito de nicho ecológico e do papel dos diversos organismos dentro da comunidade. Unidade 4 – Ecologia de Comunidades Trata de definir Ecologia de comunidades, e de comunidade biológica, e das formas de interação entre indivíduos e entre populações. Unidade 5 – Ecologia de Ecossistemas Apresenta o histórico e desenvolvimento do conceito de ecossistemas, sua estrutura e funcionamento. Cadeias tróficas, fluxo de energia e ciclagem de nutrientes. Definição de diversidade biológica, índices de diversidade, causas de perda da diversidade biológica. Você terá a oportunidade de pesquisar, analisar, discutir, dentro de cada nível, as maneiras distintas de se estudar ecologia. Esperamos que, com os conhecimentos que serão adquiridos e/ou atualizados nessa disciplina, você enriqueça a sua atuação profissional dando-lhe um novo significado. Bons estudos. Juarez Carlos Brito Pezzuti SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 4 1.1 DEFINIÇÃO ........................................................................................................................... 4 1.2 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO NA BIOLOGIA ............................................................................... 6 1.3 MODELOS EM ECOLOGIA ...................................................................................................... 7 1.4 O CONCEITO DE ESPÉCIE ...................................................................................................... 8 1.5 A ORIGEM DO PENSAMENTO EVOLUTIVO ............................................................................... 9 1.6 OS PRINCÍPIOS DA GENÉTICA MENDELIANA BÁSICA ............................................................11 2. ECOLOGIA DE POPULAÇÕES...........................................................................................15 2.1. DEFINIÇÃO .........................................................................................................................15 2.2. DISTRIBUIÇÃO E CRESCIMENTO POPULACIONAL ..................................................................16 2.3 REGULAÇÃO DAS POPULAÇÕES NATURAIS ...........................................................................21 3. NICHO ECOLÓGICO ...........................................................................................................22 3.1 DEFINIÇÃO ..........................................................................................................................22 PRIMEIRO BLOCO DE ATIVIDADES ...................................................................................24 4. ECOLOGIA DE COMUNIDADES........................................................................................25 4.1 DEFINIÇÃO ..........................................................................................................................25 4.2 INTERAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES ........................................................................................26 5. ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS: MAIS DO QUE A SOMA DAS PARTES? ................31 5.1 DEFINIÇÃO ..........................................................................................................................31 5.2 HISTÓRICO DO CONCEITO ....................................................................................................32 5.3 DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO ......................................................................................34 5.4 POPULARIZAÇÃO DO CONCEITO ...........................................................................................36 5.6 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DOS ECOSSISTEMAS ...........................................................40 5.6 CICLAGEM DE NUTRIENTES ..................................................................................................43 5.7 DIVERSIDADE BIOLÓGICA....................................................................................................44 SEGUNDO BLOCO DE ATIVIDADES ....................................................................................46 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ........................................................................................47 4 1. INTRODUÇÃO Esta unidade possui como objetivo desenvolver o conhecimento dos principais conceitos e elementos da Ecologia. 1.1 DEFINIÇÃO Para muitos, o primeiro ecólogo, se é que podemos considerar a existência de um pioneiro, foi o alemão Ernst Haeckel, que em 1869 estabelece um termo baseado em radicais gregos: Oikos – casa, lugar onde se vive Logos – estudo A tradução exata seria o estudo do local onde se vive. Vejamos outras definições (Tabela 1) para entendermos melhor o que Haeckel procurou definir no final do século dezenove. Tabela 1 - Diferentes definições modernas do termo Ecologia 5 Vale a pena aqui fazer uma pequena reflexão sobre o que existe em comum entre estas definições mais atuais e os termos utilizados inicialmente. A conclusão, se raciocinarmos sobre os indivíduos é que estamos, na ecologia, considerando as múltiplas influências exercidas pelo meio sobre cada indivíduo. As definições apresentadas pelo dicionário Websters e do Ecólogo Charles J. Krebs, contudo, estão realçando uma característica importante da ecologia moderna, que é a busca por padrões, por regras básicas que nos permitam compreender estes processos. Fica implícito que estamos lidando com uma disciplina de cunho experimental, onde as hipóteses sobre a existência e a intensidade dos fenômenos sugeridos devem ser testadas de acordo com o método dito científico. Não sendo aqui nosso objetivo entrar em definições sobre o método hipotético-dedutivo e sobre como devem ser formuladas e testadas nossas hipóteses, passemos adiante. Embora esteja claro que a Ecologia é, basicamente, um ramo da biologia, solidamente embasada nas ciências naturais, ela adquire maioridade como uma nova disciplina integradora, unindo processos físicos e biológicos, e servindo também como ponte de ligação entre as ciências naturais e sociais. A Ecologia é, portanto, interdisciplinar na sua origem, pois surgiu a partir da necessidade de compreender as interações entre componentes do ecossistema. Na medida em que as sociedades humanas, como parte da natureza, modificam cada vez mais o ambiente, interferindo em todo o tipo de relações ecológicas existentes e também estabelecendo novas relações, há necessidade de incorporar novos elementos característicos da espécie dominante, incluindo o predomínio de comportamentos culturalmente definidos e a sua extraordinária capacidade de transformar a paisagem, interferindo em processos naturais. Paradoxalmente, as nações industrializadas desvincularam, temporariamente, a humanidade da natureza, através da exploração de combustíveis fósseis, produzidos pela natureza, finitos e sendo esgotados. Entretanto, as leis da natureza não mudaram, apenas suas feições, em função do aumento da capacidade humana de alterar o ambiente. Hoje, problemas em escala mundial, como efeito estufa e aquecimento global e regionais, que incluem desmatamento e poluição, não mais podem ser tratados de forma isolada, por serem interdisciplinares, envolvendo questões ambientais, econômicas e sociais. 6 1.2 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO NA BIOLOGIA Na Figura 1 estão enumerados, de cima para baixo e em ordem hierárquica, os níveis de organização na biologia, estando indicados os que são passíveis de estudo pelos ecólogos. Figura 1 - Níveis de organização biológica e áreas de atuação da Ecologia Dentro de cada nível, estudos ecológicos são executados de maneiras distintas. A seguir (Tabela 2) damos alguns exemplos das abordagens mais comuns. Tabela 2 - Estudos ecológicos desenvolvidos em distintos níveis de organização biológica 7 1.3 MODELOS EM ECOLOGIA Por definição, modelos são versões simplificadas do mundo real,e utilizados para estabelecer previsões acerca de dos fenômenos. O ecólogo, olhando para a paisagem, pode pensar em reduzi-la a uma qualidade essencial (competição, mutualismo, restrições físicas, metabolismo etc.) e representa esta qualidade em duas dimensões, usando palavras, gráficos e fórmulas matemáticas. Muitas vezes o cientista acredita que sua representação da realidade é "objetiva" e a única que uma pessoa racional poderia fazer. Contudo, cedo ou tarde ele aprende, por meio de sua experiência pessoal ou pelo estudo da história da ciência, que sua representação é apenas parcial e que está distorcida pelos filtros de sua cultura e de sua época. Assim, ele considera as alternativas e tenta calcular a probabilidade de estar errado. Este processo é formalizado na matemática da estatística inferencial. Em ciência, espera-se que o autor esteja comunicando mais sobre a paisagem do que a respeito de si mesmo. Os maiores erros no delineamento amostral resultam de não se levar em conta conceitos básicos de lógica que muitos estudantes levariam, se sua atenção não tivesse sido desviada pela matemática das estatísticas. Para não se incorrer neste tipo de erro, Magnusson e Mourão (2003) sugerem várias etapas para o planejamento de uma pesquisa, como um roteiro. Seguem as principais: 1. Você decidiu qual é o objeto de seu estudo? (variável dependente). 2. Sua variável dependente pode ser medida objetivamente e você perguntou a outros pesquisadores se eles consideram sua medida "objetiva"? 3. Você consultou os outros membros de sua equipe de pesquisa para se certificar que todos têm os mesmos propósitos? 4. Você esboçou um diagrama de fluxo que mostra quais variáveis influenciam a variável dependente e as relações entre as variáveis independentes? 5. Todos os membros de sua equipe estão coletando dados na mesma escala e nos mesmos lugares, de forma que seja possível integrar os dados ao final do estudo? 6. Você decidiu qual é o seu universo de interesse e todos os membros da equipe concordam com isso? 8 7. Você desenhou um mapa ou um diagrama conceitual que mostra onde/quando suas amostras serão feitas em relação ao seu universo de interesse? 8. Você otimizou o tamanho, forma, orientação e distribuição de suas unidades amostrais de tal forma que a variabilidade na variável dependente seja principalmente devida às variáveis independentes que você está estudando? 9. Sua amostragem está na mesma escala que sua(s) questão(ões)? 10. Você decidiu se está interessado em efeitos diretos, indiretos ou em efeitos gerais? 11. Você decidiu se seus resultados serão usados para determinar se existe um efeito, para determinar a magnitude do efeito nas condições presentes, ou se para predizer o que acontecerá se as condições mudarem? 12. Você se sente confiante de que sua formação em estatística é suficiente para tornálo capaz de realizar todas as operações mencionadas acima? 13. Você consultou um estatístico mostrando-lhe seu delineamento experimental antes do início da coleta de dados? 1.4 O CONCEITO DE ESPÉCIE As espécies são as unidades fundamentais tanto da biologia quanto da ecologia. A seguir (Tabela 3) são apresentadas definições de espécies retiradas, respectivamente, de um dicionário, de um livro texto de ecologia e de um evolucionista. 9 Tabela 3 - Definições de espécie biológica a partir de diferentes fontes (dicionário geral da língua portuguesa, livro texto de ecologia básica e livro texto de evolução) Surge inevitavelmente, nesta etapa, uma pergunta da maior importância, intimamente relacionada com as conseqüências das interações ecológicas: Como surgem as espécies biológicas? É o que veremos a seguir. 1.5 ORIGEM DO PENSAMENTO EVOLUTIVO Saltando arbitrariamente alguns degraus com o objetivo de tornar um pouco mais breve esta introdução, passaremos diretamente para o trabalho de Charles Darwin, que na verdade interagiu com vários naturalistas espalhados pelo globo para a construção de sua teoria. No livro The Origin of Species, Darwin descreve, entre várias outras, suas observações sobre um grupo de pássaros denominados tentilhões, nas ilhas Galápagos. Ele percebeu que as diferentes formas de bicos destas espécies de ave eram adaptadas à exploração de recursos específicos nas diferentes ilhas. Darwin concluiu que estas variedades, espécies, eram descendentes de um ancestral comum. Segundo Darwin, o mais capaz é aquele que deixa mais descendentes, perpetuando seu “sangue”, na população, através do mecanismo de seleção natural. Tal fenômeno opera somente mediante o êxito reprodutivo diferencial, e ocorre entre os indivíduos, ou seja, da relação entre eles. Portanto, a unidade de seleção é o indivíduo. Na realidade, Darwin não partiu somente do exemplo dos tentilhões, assim como não elaborou sozinho sua teoria da seleção natural. Darwin contou com a ajuda de diversos colaboradores, naturalistas 10 viajantes que, como ele, exploravam diferentes regiões selvagens do mundo. No Brasil, colaboraram estreitamente com Darwin o Inglês Alfred Wallace e o alemão Fritz Muller. Tendo estabelecido uma base teórica sobre o processo evolutivo, Darwin, no entanto, superestimou a mutação como fonte de variação individual, pois na verdade na sua época não se conheciam as regras precisas da herança genética e dos agentes responsáveis pela variabilidade, a recombinação gênica, sobre a qual trataremos brevemente logo a seguir. Embora seu trabalho tenha exercido um papel revolucionário para a biologia, não esclarece como surgem as espécies. Os pressupostos da teoria de Darwin são os seguintes: 1 – Todos os organismos descendem de ancestrais comuns 2 – O agente de modificação é a seleção natural que atua sobre a variação individual Na Tabela 4 estão apresentadas algumas definições de evolução. Percebemos que, após Darwin, as definições estão considerando mudanças na carga genética das populações. Tabela 4 - Diferentes conceitos de evolução biológica Autor Ano Conceito Darwin 1859 Processo pelo qual espécies se desenvolvem a partir de formas anteriores. Dobzhansky 1941 Mudança na composição genética das populações, que reflete o processo evolutivo, desconsidera unidades taxonômicas ou níveis e desconsidera processos que direcionam a mudança. Huxley 1941 Qualquer mudança que ocorra na constituição genética das unidades taxonômicas dos organismos, desde a formação de novas variedades ou subespécies até as tendências direcionais, verificadas ao longo de centenas de milhões de anos em grupos maiores. Futuyma 1989 Mudança nas propriedades das populações que transcendem o período de vida de um único indivíduo. As mudanças evolutivas são aquelas herdadas via material genético, de uma geração para outra. Ricklefs 1993 A mudança nos atributos hereditários dos organismos, através da substituição dos genótipos numa população. 11 1.6 OS PRINCÍPIOS DA GENÉTICA MENDELIANA BÁSICA Os mecanismos básicos da hereditariedade foram descritos pela primeira vez pelo Monge austríaco Gregor Mendel, em 1866. Realizando experimentos de cruzamento com ervilhas e analisando características distintas, ele descobriu que as características dos organismos são condicionadas por pares de fatores, (por exemplo, o fator da cor das ervilhas) nos indivíduos, e que, na formação dos gametas, estes pares se segregam. Este fenômeno ficou conhecido como a Primeira Lei de Mendel. Mendel também estabeleceu, analisando quantitativamente os resultados dos cruzamentos envolvendo várias outras características (forma da casca da semente, tipo de inflorescência, altura da planta etc.), e concluiu em seguida que os pares dos fatores segregavam-se independentemente uns dos outros, na formação dos gametas. Ou seja, os pares de fatores para características diferentes distribuem-se independentemente nos gametas, onde se recombinam ao acaso. Esta descoberta será posteriormente conhecida como Lei da Segregação Independente, ou Segunda Lei de Mendel. Suas conclusões basearam-se, pioneiramente, em raciocínios matemáticos a partir dos resultados dos seus experimentos. Embora os exemplos mencionados e inúmeros outros corroborem estas Leis, posteriormente se descobriu que a segregação independente pode não ocorrer, e pares de genes com segregação independente podem interagir na determinação de uma característica. Este fenômeno é conhecido como interação genética. O trabalho de Mendel, no entanto, permaneceu desconhecido até o início do Séc. XIX, quando se descobriu que os fatores definidos por Mendel encontravam-se nos cromossomos. Nossa carga genética é definida como sendo nosso Genótipo, que representa a soma total dos genes de um indivíduo, e apresenta-se em número par (2n). Cada uma das nossas células apresenta este número par de cromossomos, pois se origina da multiplicação do Zigoto, célula inicial resultante da fusão dos gametas maternos e paternos, que apresentam número ímpar dos cromossomos (n). Sabemos, hoje, que durante a formação dos gametas ocorre a recombinação do material genético de cada par de cromossomos, e este processo é a base da variabilidade genética em cima da qual a seleção natural vai atuar. 12 Além desta variação que é herdada, o meio externo exerce forte influência sobre cada indivíduo durante seu desenvolvimento ontogenético, acarretando na formação do Fenótipo. Este último, portanto, é o produto das ações do meio (interações) sobre o genótipo durante o desenvolvimento do indivíduo. Se determinado indivíduo (ou fenótipo) específico deixa mais descendentes que outro/outros, com o passar do tempo sua carga genética (genótipo) se tornará dominante. Figura 2 - Interação entre o mecanismo de recombinação gênica (responsável pela variabilidade genética) e o meio ambiente, resultando na formação de indivíduos com características diferentes Podemos concluir que a evolução é uma conseqüência direta dos processos ecológicos, ou seja, das interações a partir das quais os organismos mais adaptados predominam. O conceito de evolução é empregado erroneamente em diversos outros contextos, como sinônimo de desenvolvimento ontogenético (desenvolvimento do 13 indivíduo do nascimento até a fase adulta), com o mesmo significado de progresso ou de avanço em direção a uma condição superior ou mais complexa. Freqüentemente nos referimos também a uma pessoa ou mesmo à história de um povo ou de uma sociedade desta mesma maneira. Não podemos, contudo, confundir tudo isso com evolução biológica, que tem um significado preciso, como o exposto acima. Alguns fenômenos evolutivos freqüentes e conspícuos valem uma breve menção aqui. Através de um processo independente, vários táxons completamente distintos desenvolveram asas e a capacidade de voar (insetos, aves e morcegos, por exemplo), caracterizando o que denominamos de convergência evolutiva. O inverso ocorre quando um ancestral comum dá origem a formas de vida distintas, por exemplo, os tatus (fossoriais), os golfinhos (aquáticos) e os esquilos (arborícolas), no processo conhecido como irradiação adaptativa. Outro termo com o qual freqüentemente nos deparamos, sendo, portanto importante estabelecermos sua definição, é o de extinção. Rickefs define o termo como o desaparecimento de uma espécie (ou outro táxon) de uma região ou biota. Na verdade, existe a necessidade de estabelecer exatamente a que estamos nos referindo. Quando nos referimos ao desaparecimento completo de uma espécie de sua área de ocorrência, ou seja, quando todos os indivíduos da mesma desaparecem, caracterizamos a extinção biológica. É a esse fenômeno que estamos nos referindo quando afirmamos que determinada espécie está ameaçada, e quando os órgãos competentes do governo (o IBAMA, por exemplo) estabelecem a lista oficial de espécies brasileiras ameaçadas de extinção. Espécies endêmicas, que são aquelas cuja distribuição é restrita a determinada região ou habitat, são obviamente mais vulneráveis. Contudo, se uma espécie explorada intensamente, tem sua ou suas populações reduzidas a tal ponto que a espécie deixa de exercer seu papel no ambiente, considera-se que ocorreu extinção ecológica. A espécie não desaparece por completo, mas restam tão poucos indivíduos que estes não mais são capazes de interagir significativamente com a comunidade, deixando de exercer sua função dentro da mesma, como polinizadores, dispersores de sementes ou predadores, que controlam populações de herbívoros. Também ocorre nossa sociedade estar explorando (predando seria mais adequado, se estamos de fato raciocinando que somos uma espécie dentro de um sistema natural) até um limiar onde o reduzido número de indivíduos sobreviventes faz com que a 14 atividade deixe de ser rentável economicamente, e o que se perde, de fato, é um recurso de alto valor, mas não a espécie. Este fenômeno, que denominamos extinção econômica, pode ser aplicado à exploração madeireira, caça ou pesca, sendo menos freqüente nesta última, pois os estoques estão dispersos na coluna d’água e têm alta mobilidade. A extinção local segue o mesmo princípio, mas neste caso uma população de terminada espécie desaparece por completo. Em algumas áreas da amazônia ocidental, por exemplo, Peres (1996) afirma que uma espécie de porco do mato, o queixada, (Taiassu pecari) desapareceu por completo em função da caça praticada pelas populações locais, índios, caboclos e colonos. Portanto, devemos estar atentos ao contexto em que o termo é utilizado nas mais diversas situações. Espécies de ampla distribuição geográfica em termos globais, denominadas espécies cosmopolitas, como o atum ou mesmo uma das espécies de tartaruga marinha, que navegam livremente cruzando oceanos, são muito menos susceptíveis do que o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor). Esta espécie é endêmica da região onde se encontra a cidade de Manaus, e o avanço da cidade pelas periferias, avançando pelo floresta que circunda a região metropolitana, de fato pode provocar a eliminação completa do sauim, pois o mesmo não ocorre em outros lugares. O objetivo de se estabelecer estas definições, mesmo que de forma tão suscinta, é situar você dentro da Ecologia como ciência, como disciplina pertencente à Biologia, com terminologia e conceitos característicos e com uma origem. Dentro desta perspectiva, tentou-se também deixar clara a estreita relação com a teoria evolutiva e com os mecanismos genéticos responsáveis pela variabilidade sobre a qual a seleção natural (interações ecológicas) atua. Quem desejar uma explicação mais completa ou aprofundamento deve procurar livros textos básicos de Ecologia, como os que estão recomendados no final. 15 2. ECOLOGIA DE POPULAÇÕES Esta unidade possui o objetivo de discutir as noções básicas sobre a relação entre o meio ambiente e as populações biológicas. 2.1. DEFINIÇÃO Para um ecologista, uma população pode ser definida como sendo o conjunto de indivíduos de determinada espécie em uma dada área. Já o geneticista, também pragmático, define o termo como sendo um grupo de organismos (indivíduos) com quantidade substancial de intercâmbio genético. Finalmente, o evolucionista estabelece que este conjunto (uma população) é composto por indivíduos com alta probabilidade de acasalamento entre si em comparação com outros conjuntos. É interessante perceber que não existem contradições, pois ao contrário, as definições se corroboram parcialmente. Definimos também População mendeliana como sendo um grupo de organismos com quantidade substancial de intercâmbio genético. Algumas definições são encontradas na Tabela 5. Tabela 5 - Definições para população biológica O que observamos na natureza, salvo raras exceções onde encontramos formas extremas de endemismo, uma espécie nunca é composta por uma única população, mas sim por conjuntos ou grupos mais ou menos distantes entre si. Uma população que é dividida em subpopulações. entre as quais indivíduos migram com mais ou menos regularidade, é também definida como uma meta-população (Exemplo na Figura 3). 16 Figura 3 - Representação de uma meta-população, mostrando as interligações entre populações menores 2.2. DISTRIBUIÇÃO E CRESCIMENTO POPULACIONAL Tanto no caso de subpopulações situadas em locais com características ambientais distintas, como em populações com ampla distribuição geográfica, acontece dos indivíduos que se encontram em condições distintas apresentarem diferenças. Por exemplo, a onça-pintada (Panthera onça), encontrada nas três Américas, apresenta distribuição de tamanho distinta dependendo da área. Ao sul, as populações pantaneiras da onça são enormes, ultrapassando 120 kg. Na Amazônia, de maneira geral, os animais apresentam pesos médios que ultrapassam os 100 kg, sendo, no entanto menores que os de Mato Grosso. As do Hemisfério Norte, no outro extremo, são bem menores. Estudos com populações de animais e de plantas são, tanto terminologicamente quanto na prática, muito semelhantes aos realizados com populações humanas, recebendo, portanto a mesma denominação, Demografia. Dentre os assuntos que podem ser estudados, seguem abaixo algumas sugestões: 17 Ciclo de vida Ontogenia Tempo de geração Longevidade Sobrevivência Parâmetros populacionais Distribuição Abundância / densidade Taxa de nascimento Taxa de natalidade Estrutura populacional (estrutura etária e razão sexual) Dificilmente se faz um censo completo de populações selvagens. O mais comum é os ecólogos realizarem estimativas a partir de amostragem. Por meio de métodos diversos, que variam infinitamente em função do que se irá estudar, os pesquisadores procuram estimar a abundância ou densidade da população objeto do estudo, procurando simultaneamente conhecer sua distribuição. É bom lembrar que distribuição se refere ao padrão de ocupação dos indivíduos que compõem a população existente em determinado local, e não deve ser confundida com a área de ocorrência da espécie. Uma espécie verdadeiramente cosmopolita é aquela que ocorre em todas as regiões do mundo. Podemos tomar como exemplo a tartaruga de couro (marinha), capaz de realizar migrações transoceânicas e de atingir latitudes elevadas. No outro extremo, uma espécie endêmica tem uma área de ocorrência restrita, podendo em casos extremos se resumir a uma única população ocupando certo local. É isto que as torna vulneráveis do ponto de vista conservacionista, pois a eliminação daquela população significa a extinção completa da espécie. Um exemplo clássico é o da Canela-de-ema gigante (Velozia gigantea), planta adaptada ao clima de altitude e que ocorre somente em um local com algumas centenas de metros quadrados na Serra do Cipó, em Minas Gerais, não existindo em nenhum outro local do mundo. A rigor, os parâmetros populacionais acima mencionados são calculados da mesma maneira que em estudos de demografia humana. Da mesma forma, não há como obter dados da população toda, e, portanto trabalha-se com amostragens. As amostras, para que sejam mais representativas quanto possível, devem ser muito bem planejadas, como já demonstramos acima. A diferença básica, e que complica a vida dos estudiosos de ecologia 18 populacional, em comparação com geógrafos, sociólogos e antropólogos, é que o objeto de estudo não colabora em nenhuma hipótese. Qualquer um envolvido em uma pesquisa de demografia humana, seja qual for a natureza do estudo, não reclamaria das dificuldades em aplicar questionários se comparasse seus problemas com os enfrentados pelos ecólogos. O objeto de estudo não colabora nunca, muito pelo contrário. Normalmente os animais fogem de quem se aproxima, num comportamento imediato de evitar uma ameaça, um potencial predador. E na maioria dos casos, quando capturados, procuram se defender de diferentes maneiras, com os elementos que dispõem (dentes, unhas, cauda, venenos, odores repelentes ou irritantes, e daí por diante). As plantas, pelo menos, não saem do lugar, mas freqüentemente ocorrem em locais inacessíveis, ou estão dispersas pela floresta, juntamente com milhares de indivíduos de centenas de espécies diferentes, tornando-se difíceis de serem encontradas. Podem ser bem pequenas ou enormes, com suas folhas, flores e frutos inacessíveis a não ser para uma equipe que disponha de equipamento para escalada e muita disposição para tal. Fora isso, do ponto de vista da análise dos dados, dos cálculos e do que se quer saber sobre as populações, é essencialmente a mesma coisa. Em populações animais, na grande maioria dos casos, até mesmo a contagem completa dos indivíduos de determinado local estabelecido como amostra é impossível, na prática. Realiza-se, portanto, uma amostragem da população que queremos avaliar, através de um procedimento de captura, marcação e soltura de indivíduos, e de posterior recaptura. Matematicamente, estimamos o tamanho da população total com base na proporção de indivíduos marcados e não-marcados durante a recaptura. Existem hoje programas elaborados especificamente para a realização destes tipos de cálculos, que na realidade são extremamente simples, obedecendo à seguinte fórmula: N = nM/x, onde N = tamanho da população n = indivíduos amostrados M = indivíduos marcados x = indivíduos recapturados 19 Conseguir calcular da forma mais precisa possível a densidade de uma população que queremos estudar é uma tarefa essencial, sobretudo se o nosso interesse é saber qual a tendência desta população, ou seja, se está estável, em declínio ou em crescimento. Somente o monitoramento ao longo do tempo pode nos fornecer este tipo de informação. As informações geradas são lançadas em um gráfico simples, de duas dimensões, em que a variação no número de indivíduos é colocada no eixo vertical, e a variação no tempo no eixo horizontal, formando assim uma curva de crescimento (Figura 4). O crescimento de qualquer população depende das taxas de natalidade, de mortalidade e de migração. As populações de organismos, em condições naturais, mantêm-se estáveis, ou obedecendo a ciclos onde existe alternância entre períodos de crescimento e declínio. Por um lado, cada população apresenta um potencial reprodutivo (r), que constitui sua capacidade de gerar descendentes. Por outro, existe um conjunto de fatores, como a oferta de alimento e de abrigo, densidade de predadores e mudanças climáticas, que interagem. Do contrário, sob condições ótimas, o potencial reprodutivo levaria a população de qualquer organismo a um crescimento populacional exponencial, pois as taxas de natalidade superam as de mortalidade. Esta capacidade de gerar descendentes é, por sua vez, o resultado do balanço entre dois fatores básicos, a saber: - o tempo de geração, ou o intervalo de tempo entre o nascimento até a idade madura; e - o tamanho da prole, o número médio de descendentes produzidos em cada gestação. Estes fatores estão, em grande parte, geneticamente determinados, tendendo a ser fixos para cada organismo ou espécie, embora possam existir variações entre populações de uma mesma espécie. Isto geralmente ocorre quando a distribuição é ampla e temos populações adaptadas a diferentes condições ambientais, que tendem a variar geograficamente. O potencial reprodutivo reflete o resultado da estratégia do organismo sobre como a energia disponível vai ser utilizada para manutenção de suas atividades 20 corpóreas, o que aumenta suas chances de sobrevivência, e no investimento na reprodução, ou seja, na transmissão dos seus genes através das gerações. Populações de animais e plantas em condições naturais não estão em constante crescimento exponencial, pois diversos fatores estão agindo de forma integrada, como já mencionamos, e como ficará mais bem ilustrado na seção seguinte, em que estudaremos justamente as interações entre populações dentro de uma comunidade biológica. A este conjunto de fatores denominamos resistência do meio. O ambiente apresenta, para cada uma das populações que também o compõem, um limite de indivíduos que podem ser mantidos com os recursos ali disponíveis. Este número de indivíduos que estaria, teoricamente, saturando o ambiente, é determinado capacidade de suporte (K) deste ambiente. Nestas condições, o crescimento populacional é nulo, e o potencial reprodutivo é igual a zero. A taxa de reprodução (R0), tida como o número médio de descendentes produzidos por cada indivíduo da população ao longo de sua vida, neste caso, é igual a um. Figura 4 - Curva de crescimento a partir da equação logística de Verhulst-Pearl 21 2.3 REGULAÇÃO DAS POPULAÇÕES NATURAIS Estes elementos são de suma importância para o manejo de populações de organismos sujeitos a exploração direta, como acontece com inúmeras espécies de árvores e de peixes, por exemplo. Se observarmos novamente a Figura 4, concluímos que o valor de r, que é nossa medida real de crescimento, é máximo quando a população está bem abaixo do número máximo de indivíduos que o ambiente pode manter. Portanto, populações que são exploradas de forma criteriosa, com suas densidades populacionais em certos níveis (1/2 K, de acordo com o modelo de Verhulst-Pearl mostrado no gráfico anterior), apresentam os níveis mais altos de crescimento possíveis e, portanto, os maiores níveis de reposição de indivíduos, produzindo assim um rendimento máximo sustentável. Claro que isto não é possível de se conseguir sem a cooperação mútua entre os usuários do recurso, e é justamente esta incapacidade que leva ao esgotamento dos estoques de populações que são alvo da exploração humana. São inúmeras as dificuldades, que vão muito além do entendimento da ecologia populacional das espécies que são economicamente importantes para a nossa sociedade. Se tomarmos como exemplo extremo a pesca oceânica de peixes como o atum, a colaboração entre usuários envolve nada menos do que os mais diversos atores (desde pescadores até consumidores) em dezenas de países em diferentes continentes, não sendo exagero nenhum afirmarmos que se trata de um problema global. As populações de atum, entretanto, apresentam características que são fruto de um longo processo de adaptação que duraram milhões de anos, independentemente das necessidades humanas atuais, e por isso é crucial entendermos estes processos ecológicos e evolutivos para manejarmos adequadamente os recursos naturais. Finalizamos os elementos básicos que envolvem a relação de uma população e o seu meio, sobretudo o componente abiótico deste último. Nas etapas seguintes, trataremos primeiramente de contextualizar cada população dentro de um conjunto maior na qual as diferentes populações desempenham papéis específicos, e das interações e dos efeitos inter-relacionados entre populações distintas. 22 3. NICHO ECOLÓGICO Nesta sessão deixamos de tratar cada população de forma isolada, estabelecendo um conceito a partir do qual enxergamos as populações como peças de um grande quebracabeças multidimensional, com funções específicas. 3.1 DEFINIÇÃO Para a palavra nicho, no dicionário Aurélio, constam as seguintes definições: - Cavidade ou vão em parede ou muro para colocar estátua; - Lugar afastado, retiro; - (Ecologia) Modo peculiar a cada grupo de organismo de obter sua energia, dentro do seu hábitat e de modo específico. Esta última é uma definição precisa do conceito de nicho ecológico. Seguem ainda os conceitos estabelecidos por dois ecólogos: • Grinnell (1917) “O papel funcional e a posição de um organismo na sua comunidade” • Pianka (1982) “A soma total das adaptações de um organismo” “todas as maneiras com que dado organismo se adapta a determinado ambiente” As incontáveis espécies de animais e plantas cumprem distintas funções no complexo ecológico. O mesmo nicho funcional pode estar ocupado por espécies distintas em diferentes regiões geográficas. Espécies cumprindo funções muito semelhantes em diferentes ecossistemas são denominadas equivalentes ecológicos. É óbvio que é praticamente impossível conhecer todos os fatores que atuam sobre determinado organismo. O conceito é amplo, englobando praticamente todas as atribuições da espécie 23 no ambiente: onde, à custa de quem ela se alimenta, como e onde encontra abrigo, como e onde se reproduz, e daí por diante. Normalmente, resumimos nosso nicho nas dimensões que consideramos mais importantes, a seguir: 1) Lugar – microhabitats utilizados 2) Alimento – presas, frutos, capim 3) Tempo – horário de atividade Desta forma, podemos enxergar a comunidade como um quebra-cabeça tridimensional. Entretanto, para complicar nossa vida, as peças se sobrepõem. A amplitude de nicho de uma espécie é variável, e depende das interações a que a população da espécie que estamos estudando está submetida. Em virtude disto, alguns autores distinguem o nicho fundamental (ou potencial) do nicho realizado, que significa o papel funcional que a população desempenha considerando-se suas interações com as outras populações. Este é o gancho perfeito para abordarmos a ecologia de comunidades, nossa próxima unidade. 24 PRIMEIRO BLOCO DE ATIVIDADES Com base no que foi estudado até o momento, realize as atividades descritas a seguir e, ao final, envie as respostas ao(a) seu(ua) tutor(a). 1) Os lobos são os animais mais aparentados com o cachorro doméstico. Explique porque entre os primeiros existe relativamente pouca variação individual de tamanho, estrutura corpórea e pêlo, ao passo que nos cães esta variação é tal que levou ao estabelecimento de raças tão distintas uma das outras. 2) Analise a figura abaixo, que apresenta o potencial reprodutivo, e explique as diferenças na susceptibilidade à caça predatória, dos animais listados. 3) Quais as possíveis conseqüências da sobreposição de nichos entre espécies que ocupam uma mesma área? Lembre-se que estudar a distância não significa estar sozinho(a). Procure sempre que necessário a ajuda de colegas e do(a) seu(sua) tutor(a). A interação auxilia na melhoria da compreensão dos assuntos estudados. 25 4. ECOLOGIA DE COMUNIDADES De agora em diante, passaremos a discutir o conjunto de populações existentes em um dado ambiente, as relações que se estabelecem e seus papéis reguladores. 4.1 DEFINIÇÃO Dando uma seqüência lógica ao texto, após investigarmos os principais tópicos da ecologia de populações, trataremos a seguir de interações inter-específicas. Encurtando a estória, a ecologia de comunidades está voltada para o estudo das interações ecológicas, além de estudos que envolvem populações de uma única espécie. Entre as populações de diferentes espécies que ocupam uma mesma área, estabelecem-se interações dos mais variados tipos. A seguir constam algumas definições de comunidade biológica. • Dicionário Aurélio “Qualquer conjunto populacional considerado como um todo, em virtude de aspectos geográficos, econômicos e/ou culturais comuns.” “Conjunto de populações animais e vegetais em uma mesma área, formando um todo integrado e uniforme; biocenose.” • Begon (1990) “O conjunto de espécies que ocorrem juntas no tempo e no espaço” Dentro de uma comunidade biológica, ou biocenose, temos interações intra- específicas e inter-específicas dos mais diversos tipos. Evidentemente, cada ser vivo não evoluiu até chegar ao que é hoje de forma isolada, e sim interagindo com o meio abiótico e com inúmeras outras populações. A coevolução das comunidades biológicas como um todo envolve respostas evolutivas recíprocas que incluem a maioria das formas de interação entre espécies. Muitos autores utilizam o termo coevolução para explicar como uma característica de uma espécie A 26 evolui em relação a uma característica de outra espécie B, e como esta característica B tem influenciado naquela característica da espécie A. Esta definição requer especificidade (a evolução de cada característica é influenciada pela evolução de outra), e reciprocidade (ambas as características devem evoluir). 4.2 INTERAÇÕES ENTRE POPULAÇÕES Para efeitos puramente didáticos, podemos classificar as relações ecológicas em harmônicas ou desarmônicas. Nas primeiras, ambos os lados tiram proveito da interação. No segundo caso, a interação prejudica a um ou a ambos. A seguir estão apresentados os tipos de relações mais comuns (Tabela 6). Tabela 6 - Tipos de relações entre populações diferentes A e B, e sua classificação conforme o favorecimento para um, outro, ou ambos Espécies A B Tipo de relação desarmônica Competição desarmônica Predação + desarmônica Parasitismo + + 0 Comensalismo harmônica Mutualismo + + 0 0 não há relação Neutralismo A competição envolve disputa pelos mesmos recursos. Para que o fenômeno exista, portanto, é condição que o recurso em questão seja fator limitante para os competidores. A relação é intra-específica quando ocorre entre indivíduos de uma mesma espécie (e população, já que os indivíduos estão disputando um mesmo recurso). A competição intra-específica por recursos como alimento, abrigo e parceiros leva (em termos evolutivos) freqüentemente ao estabelecimento de comportamento territorial na espécie em questão. As famosas rinhas de galo, de cães e de canários, por exemplos, existem pelo fato de que os machos destas espécies tendem a estabelecer uma relação hierárquica entre os indivíduos de um grupo, onde os animais do topo da hierarquia são os primeiros a se alimentarem, escolhem seus locais de descanso e as fêmeas para reprodução. O desenvolvimento desta característica (hierarquização), como resultado do processo evolutivo pelo qual estas espécies passaram, evita o desgaste de combates constantes entre 27 os indivíduos, pois, dentro do grupo, rapidamente os dominantes se estabelecem, e o restante se submete. Podemos compreender com facilidade como funciona a competição interespecífica a partir do conceito de nicho ecológico, trabalhado no tópico anterior. Se há sobreposição de nicho ecológico, (dois animais que se alimentam das mesmas plantas, por exemplo, o que é corriqueiro em diversos ambientes) estas espécies certamente vão competir. A intensidade da interação depende do grau de semelhança do nicho ecológico e da disponibilidade do recurso em questão. Se a sobreposição for completa, ou quase, pode levar à eliminação de um dos competidores. Este fenômeno é denominado exclusão competitiva. Quando a similaridade entre os nichos das espécies competidoras for parcial, a coexistência é mais provável, mediante uma redução, de pelo menos uma das partes, da sua eficácia biológica, e da “adequação” dos nichos. A competição é um dos fatores mais importantes na regulação da densidade populacional, e isto vale tanto para uma população específica quanto para um conjunto de populações que utilizam um mesmo recurso, como o exemplo de animais herbívoros anteriormente utilizado. Ao contrário da competição, a Predação é unidirecional. Predadores são organismos que utilizam outros organismos vivos para se alimentarem, eliminando-os. A predação é, assim como a competição, fator importante na manutenção da densidade tanto de presas como de predadores. A ação dos predadores tente a reduzir a densidade das presas, mas raramente às levam à extinção. A baixa densidade de presas e, conseqüentemente, da oferta de alimento para o predador, tende por sua vez a provocar a redução na densidade dos predadores. Estando reduzida a população destes, as presas tendem a se multiplicar em função da diminuição das taxas de predação. O quadro seguinte provoca o fechamento de um ciclo: a recuperação do estoque de presas significa alimento disponível novamente, acarretando a recuperação populacional dos predadores. Novamente o número de predadores aumenta e o de presas diminui, e iniciamos mais um ciclo. O estudo desenvolvido com populações de linces e lebres na região ártica desde meados do Séc. XIX, baseado na quantidade de peles vendidas pelos caçadores constitui um exemplo clássico de ciclo predador-presa. 28 Predadores também são responsáveis pela manutenção da diversidade biológica. Em costões rochosos de regiões de maré no litoral brasileiro, praias abrigadas e sem batimento de ondas nos costões são cobertas por um mosaico de algas, crustáceos sésseis e moluscos. A presença de caramujos marinhos (gastrópodes) predadores é fundamental para a existência deste mosaico, pois em praias muito batidas, onde este organismo não está presente, predominam unicamente mexilhões, que competem mais eficientemente pelo espaço colonizando completamente o substrato. Experimentos de retirada dos caramujos predadores destes mexilhões demonstram que, na sua ausência, estes últimos voltam a dominar, excluindo os outros organismos sésseis. O Parasitismo é uma relação semelhante à predação, onde a relação unidirecional (favorável ao parasita e desfavorável ao hospedeiro) se prolonga, pois o parasita “prudente” não elimina sua presa. Na realidade, quanto menos dano o parasita infligir ao hospedeiro, melhor para si próprio. O ideal é que seus efeitos sobre sua fonte de recursos sejam mínimos. Do contrário, se o indivíduo hospedeiro sucumbe ou fica demasiadamente debilitado, o parasita fica momentaneamente vulnerável até que consiga parasitar outro hospedeiro. Assim como a competição e a predação, este fenômeno também exerce a função de controle populacional, tanto de parasitas quanto de hospedeiros. O controle é recíproco, da mesma forma do que na predação, e os ciclos parasita-hospedeiro semelhantes aos anteriormente mencionados com predadores e presas. Segue um exemplo hipotético. A proliferação de uma praga agrícola, por exemplo, nada mais é que uma conseqüência da substituição de uma comunidade biológica diversificada por uma plantação. Esta última nada mais é do que uma estupenda oferta não usual de alimento, do ponto de vista dos organismos que podem se alimentar e viver daquela planta. Estes então proliferam em função daquela ampla disponibilidade de recursos, tornando-se pragas. Sob este ponto de vista, estamos na realidade observando um ecossistema tentando retornar ao seu equilíbrio natural, em que os parasitas (ou pragas) agem como agente regulador. O entendimento deste tipo de relações ecológicas abriu espaço para uma série de manipulações do ambiente com o intuito de corrigir, por sua vez, as perturbações causadas pelo próprio homem. Controle biológico é exatamente isto: a utilização de 29 predadores ou parasitas naturais para o controle de populações de organismos que se tornaram pragas. O Comensalismo é uma relação em que apenas uma das partes tem benefícios, não provocando efeito algum sobre a outra. Um exemplo clássico é o de grandes tubarões e uma espécie de peixe conhecida como rêmora, ou peixe-piloto. A rêmora apresenta um apressório (estrutura de fixação em uma superfície) dorsal, e fica colada na região ventral dos tubarões. Com isso, desloca-se sem desgaste de energia, literalmente de carona. Muitas vezes a diferença entre parasitismo e comensalismo não é tão palpável, havendo necessidade de uma análise ou observação acurada para detectarmos isso. Plantas que se fixam em outras podem ser autênticos parasitas, desenvolvendo raízes que penetram no sistema vascular do hospedeiro (cipó-chumbo, por exemplo). Outras, como as bromélias e as orquídeas, se fixam no tronco de grandes árvores para conseguir mais luz para sua atividade fotossintética. O Mutualismo envolve uma relação de cooperação extrema, onde ambas as partes obtêm benefícios com a associação. Os cupins, consumidores de madeira, não são capazes de digerir a celulose. Quem faz isso são organismos unicelulares, protozoários, que vivem no intestino do cupim. Ambos se beneficiam, pois os primeiros estão protegidos no ventre dos últimos, recebendo o alimento ingerido pelo cupim, e o segundo acaba absorvendo produtos solúveis da digestão desta celulose. O mutualismo, assim como as demais relações ecológicas anteriormente discutidas, é produto de um processo coevolutivo onde se estabeleceu uma relação de forte dependência entre as partes. Relações específicas entre insetos e aves polinizadoras são bons exemplos, e incluem adaptações morfológicas. Tanto as plantas quanto as aves sofreram modificações que levaram a uma otimização dos benefícios para ambos, maximizando tanto a obtenção de néctar, pelos animais, quanto à transferência de pólen de uma planta para outra, pelas plantas. Estas categorias de interação não são estáticas ou imutáveis. Pelo contrário, assim como as populações que compõem cada espécies estão sujeitas a pressões evolutivas, as interações ecológicas entre populações também estão sujeitas a modificações ao longo do tempo. Por tanto, também evoluem. Tomemos como exemplo a relação de cooperação entre formigas astecas e as acácias, na qual as formigas obtêm alimento a partir de glândulas secretoras de soluções açucaradas que se encontram fora das flores, os nectários 30 extraflorais. Em “contrapartida”, as astecas protegem a acácia de quaisquer outros animais e de plantas trepadeiras. Podemos facilmente visualizar um outro tipo de relação, desarmônica, a partir do qual esta interação evoluiu até a condição atual. 31 5. ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS: MAIS DO QUE A SOMA DAS PARTES? Esta última unidade tem como objetivo estabelecer uma visão do conjunto composto pelos elementos tratados anteriormente, e das características auto-reguladoras que ainda não forma abordadas. Após a apresentação de algumas definições, abordaremos um breve histórico e o desenvolvimento do conceito de ecossistema. 5.1 DEFINIÇÃO Este último tópico está deliberadamente mais detalhado, por ser, talvez, o mais relevante para o público-alvo do texto. Seguem algumas definições de Ecossistema. Clements: “Unidade discreta com fronteiras nítidas e uma organização única” Gleason: “Uma associação fortuita de organismos cujas adaptações os capacitam a viver juntos sob condições físicas e biológicas particulares que caracterizam um determinado lugar” Rickefs: “Todas as partes que interagem dos mundos físicos e biológicos” Amabis: “Conjunto formado pela comunidade e as condições ambientais” A ecologia de ecossistemas pode também ser considerada como a investigação as propriedades emergentes e de características inerentes às comunidades que não podem ser analisadas a partir de seus componentes de forma isolada. Estão ausentes no nível 32 hierárquico anterior, e envolvem a combinação dos componentes formando sistemas funcionais maiores. Suas características são imprevisíveis pela análise dos componentes analisados isoladamente. Em suma, não podem ser reduzidas à soma das partes. 5.2 HISTÓRICO DO CONCEITO Arthur Tansley (1935) no artigo The use and abuse of vegetational concepts and terms, estabelece pela primeira vez o conceito: “A questão fundamental é que todo o sistema, incluindo não somente o complexo orgânico, mas também os fatores físicos, formam o ambiente do bioma. Estes ecossistemas, como podemos chamá-los, são dos mais variados tipos e tamanhos, desde o universo até o átomo.” Assim, o autor contextualiza o ecossistema como: 1) um elemento dentro de um sistema hierárquico (do Universo ao átomo); 2) o sistema básico da ecologia (onde ocorrem as interações ecológicas); 3) composto pelo complexo de organismos e pelo complexo físico e ambiental. Antes, contudo, o ecologista Frederic Clements abordou filosoficamente o conceito da comunidade biótica como um único organismo complexo. John Phillips (1931), com uma abordagem semelhante, argumentou que os ecólogos deveriam considerar as plantas e os animais como membros desta comunidade, enfatizando, como zoólogo, o papel dos animais na organização da estrutura das comunidades. “... comunidades não são meras somatórias de organismos individuais, e sim o todo integrado, com características emergentes (Phillips 1935).” 33 Frederic Clements estabelece também a definição de Bioma, referindo-se a associações amplas de animais ou plantas, numa escala regional, como florestas tropicais, cerrados, etc. Em trabalhos posteriores, Phillips preocupou-se com outros conceitos relacionados, como sucessão, desenvolvimento, clímax, e o “organismo complexo”. Sobre este último, ele já chamava atenção para o papel de cada forma de vida dentro desta entidade orgânica, a comunidade biológica. Estes trabalhos foram importantes, pois na época os ecólogos (ou naturalistas) ainda apresentavam uma tendência a restringir suas atenções para plantas ou animais, exclusivamente. Partindo da definição de Clements, Phillips considerou que a sucessão ecológica, resultado das interações bióticas no ambiente, era uma convergência na direção de um ponto final, o Clímax da comunidade, e representava o processo de desenvolvimento do organismo complexo. O artigo de Tansley, na verdade, foi uma resposta, pois embora ele tenha aceitado algumas das interpretações de Clements sobre padrões de vegetação, ele se distancia da conceituação de comunidade como um organismo complexo em desenvolvimento baseado na sucessão ecológica. Seu artigo mantém a conexão da ecologia com a ciência mecanicista e reducionista, dentro da biologia. Conceitua formação como a vegetação regional que representa o clima, compondo o ecossistema juntamente com o solo e os organismos. Seu conceito de ecossistema é físico, baseado no próprio conceito de equilíbrio dinâmico, enfatizando as interações entre componentes físico-químicos e biológicos. Professor da Universidade de Viena, Anton Kerner (1863) se preocupou com a razão pela qual os organismos se organizavam em comunidades: “As espécies pelas quais uma comunidade é composta podem pertencer a diferentes grupos naturais de plantas. A razão para viverem juntas não está na origem comum, mas sim na natureza do habitat. Convivem não por afinidade entre si, mas pelo fato de apresentarem as mesmas necessidades vitais” Na época de Kerner, investigações ecológicas eram puramente observacionais, em que o investigador andava pela natureza e observava a presença, ausência e abundância dos organismos e interpretava estes padrões. 34 5.3 DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO No final do século XIX, entretanto, os ecólogos começaram a incorporar metodologias quantitativas nas suas investigações, como por exemplo, os estudos de Clements e Pound, que empregaram quadrados de cinco metros de lado como parcelas para calcular freqüência e abundância de espécies vegetais nas suas áreas de estudo em Nebraska. O objetivo era entender os padrões de distribuição das plantas e das formações vegetacionais. Existe um debate entre materialismo e idealismo, especialmente ativo nas ciências e na filosofia no século XIX. O argumento materialista é de que todos os fenômenos são materiais e, portanto, ao menos potencialmente, passíveis de serem compreendidos pela aplicação de métodos científicos. O próprio Ernst Haeckel, que é quem apresenta uma das primeiras definições do conceito de ecologia, era um dos adeptos da visão materialista. Haeckel, defensor da teoria darwinista, se opunha as quaisquer crenças ou teorias espirituais. A visão idealista, religiosa ou não, considerava que existem fenômenos imateriais e que não podiam ser explicados pela ciência. Devemos ter em mente que o idealismo tinha naturalmente boa aceitação numa época onde pouco se conhecia, e em que certos fenômenos estavam além de capacidade analítica dos métodos científicos daquele período. Os conceitos de Organismo Complexo e de Superorganismo, não podendo ser investigados com métodos ecológicos tradicionais, eram, portanto, contestados por Tansley e outros. Sobre o embate entre o Reducionismo e o Holismo, o primeiro parte do princípio de que a natureza de determinado fenômeno pode ser compreendida pela divisão (redução) e análise de suas partes, o que levará os mecanismos do fenômeno. O problema é reestruturar as partes e uni-las. O Holismo tem outra abordagem. O materialista holista está preocupado em como as partes estão organizadas para criar o Todo; nas regras utilizadas para juntá-las em Todos funcionais. Desta forma, o cientista holista não nega o valor do reducionismo, mas acrescenta que é essencial entender essas regras. O balanço entre estas vertentes é desequilibrado. Primeiro, porque o reducionismo aparentemente não tem fim, no sentido de que o pesquisador se aprofunda no seu objeto 35 de interesse, como se estivesse cavando um buraco, inclusive se afastando da síntese e do ponto de partida da sua pesquisa. Conseqüentemente, o reducionista é intolerante em relação ao holista, pois na medida em que avança na sua investigação, se distancia do ecologista que se preocupa com questões mais abrangentes. Por outro lado, o holista compreende melhor o reducionismo, pois tem consciência de que suas investigações são sempre relevantes em certo nível, para o entendimento dos fenômenos. O reducionista continua usando métodos convencionais para aprofundar suas análises, sem necessidade de utilizar conceitos filosóficos para explicar suas descobertas. Alfred Whitehead, na obra Science and the Modern World (1925), também estabelece uma base filosófica para os conceitos ecológicos holistas trabalhados posteriormente pelos autores já mencionados. “Para ele, se de um lado temos um dado ambiente ao qual os organismos se adaptam, de outro existem os mecanismos evolutivos. Os organismos podem criar seu próprio ambiente. O propósito do organismo isolado não tem utilidade, pois é necessária a associação de organismos cooperativistas”. Os pesquisadores de ecologia aquática estiveram primeiramente à frente no tocante ao desenvolvimento de um conceito operacional de ecossistema. Forbes (1887), considerado um pioneiro neste sentido, descreve um lago como “Um antigo e primitivo sistema, isolado do ambiente circundante. Nele, a matéria circula, e existe um controle operando para produzir um equilíbrio comparável ao que existe em terra. Neste microcosmo, nada pode ser completamente compreendido até que sua relação com o todo seja claramente observada. O lago aparenta ser um sistema orgânico, um balanço entre construção e destruição no qual a luta pela existência e a seleção natural produziram um equilíbrio, uma comunidade de interesse entre predadores e presas”. É interessante notar que isto foi escrito 50 anos antes de Tansley formular seu conceito de ecossistema. Desenvolvem-se, a partir daí, estudos sobre o fundo, a água e as margens, envolvendo inventários, funções ecológicas, dinâmica de nutrientes e de energia, além do consequentemente estabelecimento de conceitos importantes como plâncton, benton, termoclina, produção, produtividade e diversos outros. Elton (1927) esquematiza a cadeia alimentar dividindo plantas de animais, e estes últimos em herbívoros e predadores, organizando uma pirâmide de números. Thienemann (1939) já propõe uma terceira categoria: “Três grandes grupos de organismos vivos são os produtores (as plantas 36 verdes), que utilizam a energia do sol para produzir matéria orgânica, os consumidores (animais), que consomem matéria orgânica, e os redutores (bactérias e fungos) que são mineralizadores, reduzindo a complexa matéria orgânica na sua composição elementar”. Raymond Lindeman tornou-se conhecido entre os ecólogos por seu artigo ”O aspecto da dinâmica trófica na ecologia”, publicado em 1942, citado na maioria dos livros textos. Lindeman foi o primeiro a implementar o conceito de Tansley de forma explicita, num esforço de descrever quantitativamente seu comportamento dinâmico. A partir de uma grande quantidade de dados sobre biologia, distribuição e abundância de organismos de um pequeno lago próximo à Universidade de Minnesota, coletados durante um período de 5 anos, Lindeman organizou estes elementos em um padrão, denominado “Aspecto de dinâmica trófica”. Lindeman construiu um diagrama enfatizando a interação entre as partes vivas e não vivas do lago, demonstrando as conexões íntimas entre ambas. Ele identificou as espécies, determinou seus hábitos alimentares e as organizou em grupos alimentares, que se tornaram células no seu diagrama do ecossistema. Posteriormente, Lindeman utilizou sua nova abordagem para entender a sucessão ecológica. No entanto, Juday (1940), depois de extensas investigações no Lago Mendota e em outros lagos em Winsconsin, foi possivelmente o primeiro ecólogo a tentar descrever um lago como um todo funcional, do ponto de vista do orçamento energético. 5.4 POPULARIZAÇÃO DO CONCEITO A popularização do conceito fora do meio limitado da literatura científica ecológica se inicia de fato quando Eugene Odum publica Fundamentals of Ecology (1953), iniciando o livro com o conceito de ecossistemas e com os ciclos biogeoquímicos, ou seja, com uma abordagem “de cima para baixo”. Conceituando o ecossistema, Odum afirma que “Qualquer entidade ou unidade natural que inclui partes vivas e inanimadas interagindo para produzir um sistema estável no qual a troca de material entre seus componentes segue caminhos circulares constitui um sistema ecológico, ou ecossistema”. As abordagens baseadas em fluxo de energia, iniciadas a partir dos trabalhos de Lindeman, não consideravam ainda explicitamente o uso do conceito de termodinâmica para explicar fenômenos ecológicos e o seu funcionamento. Isto muda definitivamente a 37 partir do livro de Odum, em 1953, onde ele utiliza o conceito de energia como a capacidade de gerar trabalho e as leis da termodinâmica sobre as cadeias tróficas e as pirâmides de número, biomassa e emergia. Odum desenvolve generalizações a partir destes conceitos para relacionar as taxas de energia ou biomassa em níveis tróficos. A abordagem de fluxo energético que adentra na ecologia como uma maneira de comparar diversos processos biológicos se transforma num fundamento teórico do próprio funcionamento do ecossistema. Embora a maioria dos ecólogos estivesse despreparada para lidar com as ciências físicas, trabalhar com os conceitos sobre energia, a adoção destas ferramentas forneceu instrumentos valiosos para as análises ecológicas. A partir da primeira Lei da Termodinâmica, os pesquisadores poderiam esperar que toda a energia que entra no sistema será igual à energia que sai, mais a que fica armazenada, possibilitando que se faça um balanço para checar a precisão de medidas de inputs, outputs e armazenagem. Além disso, estabelecia-se que a cada transferência de energia na cadeia alimentar, uma parcela de energia se dissipava na forma de calor, não sendo mais disponível para a realização de trabalho, e, portanto as taxas de transferência de energia eram sempre inferiores a 100%. Antes disso, Lindeman já havia descoberto que consumidores situados próximo ao topo da cadeia trófica são mais eficientes na utilização do seu alimento do que organismos situados na base da pirâmide, fornecendo um modo simples de comparar diferentes partes do sistema, como herbívoros e carnívoros. Em 1955, Howard Odum e Pinkerton abordam a questão energética do ponto de vista teórico, argumentando que os sistemas naturais tendem a operar maximizando a produção de energia por unidade de tempo (power output). Thienemann (1931) foi um dos primeiros a trabalhar em ecologia os conceitos de produção e produtividade, distinguindo a quantidade de matéria orgânica produzida por área (produção) e a quantidade produzida por área e por tempo pelos organismos (produtividade). Macfadyen (1949) separa produção de produtividade estabelecendo que a segunda é uma função do tempo, sendo, portanto, um índice, não uma quantidade. Em plantas, a quantidade de matéria fixada pela fotossíntese é denominada produção primária bruta, sendo que uma parte é utilizada para as necessidades metabólicas dos vegetais. O restante, disponível para outros organismos, é o que denominamos produção primária líquida. 38 No entanto, os grupos de pesquisa em ecossistemas eram menos interessados em relações entre populações. Enfocavam as descrições da estrutura e função dos ecossistemas, procurando por mecanismos fisiológicos que explicassem os padrões observados. No entanto, conceitos como estabilidade, por exemplo, envolviam mais do que balanços de fluxo de energia e produção. Mecanismos de regulação interna fazem com que o sistema se reajuste após uma influência externa momentânea. Mas quais são estes mecanismos? A resposta veio sob duas formas. Primeiro, o controle é produzido por retroalimentação. Por exemplo, herbívoros que se alimentam de folhas podem ter um efeito negativo na produção primaria por reduzirem área foliar. Segundo, na medida em que os ecossistemas amadurecem, há um incremento na complexidade estrutural e um decréscimo no fluxo de energia por unidade de biomassa. Segundo Margalef (1963), “a situação futura é mais dependente do que existe do que de inputs (mecanismos) externos. A maturidade é autoconservadora. Flutuações em ecossistemas maduros são mais dependentes das condições internas de equilíbrio, ou seja, de fatores bióticos”. Para Margalef, portanto, a estabilidade de um ecossistema está relacionada com sua complexidade biótica. Antes disso, MacArthur (1955) também contribui para este pensamento, argumentando que o número de caminhos por onde a energia pode fluir através da teia alimentar é uma medida da estabilidade da comunidade. De fato, a complexidade da cadeia alimentar cria fluxos alternativos, permitindo seleção por espécies mais eficientes em transferência de energia e por um sistema que se mantém em equilíbrio como um todo. Desta forma, concluiu-se, a estabilidade de um ecossistema depende diretamente da quantidade de espécies dentro do sistema. Durante um período de aproximadamente quinze anos, o conceito de ecossistema tornou-se um paradigma científico em ecologia, sendo explorado por um numero crescente de cientistas, muitos guiados inicialmente pelo texto básico de Eugene Odum. O paradigma dominou a ecologia geral, como uma parte distinta da ecologia vegetal e animal, desenvolvendo-se em outras linhas. O aspecto teórico do paradigma também se desenvolve, e o conceito de Tansley do “Organismo complexo” passa a ser aplicado a objetos reais, lagos, inicialmente por Lindeman. A partir dos anos 60, diversos investigadores já estavam contribuindo para a descrição dos ecossistemas e suas funções, e no final da década já havia uma comunidade 39 científica bem estabelecida engajada na aplicação do paradigma que se encaixava intimamente com o ambiente sociocultural do pós-guerra. O fato dos conceitos de ecossistema não terem sido apresentados como uma hipótese a ser testada foi uma das maiores fraquezas deste período. Os avanços deveramse principalmente ao desenvolvimento das idéias fundadoras associadas às analogias com outros tipos de sistemas. Os ecologistas não estavam questionando os paradigmas culturais, mas trabalhando em cima destes. Um veículo criticamente importante para os estudos de ecossistemas foi o Programa Biológico Internacional. (International Biological Program – IBP) Os biólogos foram intimados a criar um objetivo global a partir de necessidades abstratas e conceitos, pois não tinham, ainda, um objeto material em nível global. O Programa Bioma, tendo dominado e caracterizado o IBP, proporcionou suporte para a criação de novos centros acadêmicos, e abriu portas para o desenvolvimento de estudos de ecossistemas nas universidades, tendo envolvido mais de 1.800 cientistas. Surgem outros projetos derivados, como o alemão Solling, um estudo piloto localizado em uma região semimontanhosa, que incluía um mosaico de florestas secundarizadas e campos de agricultura. Na França, é lançado o Lamto, destinado a estudar as savanas africanas nas margens do Sahel. Nos Estados Unidos é lançado em 1970 o RANN (Research Applied to National Needs), que objetivava construir uma ligação mais concreta entre a pesquisa e suas aplicações. Em 1971, a unesco lança o programa Homem e Biosfera (MAB – Man and Biosphere), também com objetivos mais práticos, enfocando a solução de problemas ambientais específicos e a transferência do conhecimento científico para a solução dos mesmos em uma escala internacional. Entretanto, a maturação do conceito não conseguiu estabelecer uma conexão entre seus estudos e os da ecologia evolutiva. Não havia como incorporar o conhecimento sobre seleção natural ao nível individual, ou o comportamento específico de populações e de espécies, dentro do conceito de ecossistema. O controle dos ambientes físico e biológico sobre os indivíduos não era bem compreendido, e o conhecimento sobre a biologia dos organismos não era suficiente para manejar o ambiente com segurança. Havia organismos demais para considerar. Estas questões, no contexto dos estudos do ecossistema, criaram 40 suporte e justificativa extra para estudos de história de vida, história natural e taxonomia. O conceito de ecossistema continuou a ser empregado como um ponto de vista. Para Golley (1993), o conceito tornou-se uma forma útil de pensar sobre como o mundo se organiza, enfatizando as interconexões e integrações entre sistemas em variadas escalas, possibilitando enxergarmos cooperações, sinergismos e simbioses, em lugar de oposição dialética, competição e conflito. A partir deste ponto de vista, podemos manejar nossas relações entre nós e com o ambiente de forma diferente do que enxergando homem e natureza como sistemas separados. A perspectiva ecossistêmica pode nos levar a uma filosofia ecológica. O conceito promoveu um ordenamento na complexa e interdisciplinar ciência da ecologia. Além disso, estabeleceu uma ponte entre o paradigma científico, o objeto físico e a abordagem holística. 5.6 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DOS ECOSSISTEMAS Como vimos, um ecossistema pode ser representado por uma floresta, um lago ou mesmo um aquário, cada um com características específicas, guardando-se as devidas escalas. Em ambos, podemos distinguir componentes bióticos (os seres vivos) e abióticos (condições climáticas e o substrato mineral). Em qualquer um destes ou de outros exemplos, a fotossíntese é o processo pelo qual os vegetais conseguem captar a energia luminosa do Sol, transferindo-a para as ligações químicas dos compostos orgânicos que sintetizam (celulose, amido, óleos, etc.). No caminho inverso, os processos de respiração e de fermentação consistem na liberação da energia química contida nas ligações entre os átomos das moléculas orgânicas, e esta energia é então utilizada para a realização de todos os processos vitais dos seres vivos. Os organismos fotossintetizantes são, por isso, os produtores. A fonte de energia para os demais seres vivos que não realizam a fotossíntese é a matéria orgânica de outros seres vivos, que é obtida através da predação ou do parasitismo, anteriormente mencionados, ou da decomposição da matéria orgânica morta. Estes seres vivos são denominados consumidores. Animais herbívoros alimentam-se de plantas, ao passo que os carnívoros alimentam-se de outros animais. Por último, os 41 decompositores obtêm sua energia utilizando matéria orgânica não utilizada pelos consumidores. Os organismos clorofilados (plantas e algas) são os únicos capazes de sintetizar matéria orgânica, armazenando energia. São denominados seres Autótrofos, pois fabricam seu alimento. Os demais seres vivos dependem das plantas. Diretamente, no caso dos herbívoros, ou indiretamente, no caso dos carnívoros e dos decompositores. Estes últimos são, assim, denominados heterótrofos, pois são incapazes de produzir alimento para obterem energia, e dependem do consumo de energia produzida por outros organismos. Dando continuidade a este raciocínio, a energia luminosa captada pelos produtores vai sendo transferida, das plantas para os herbívoros, e depois pelos carnívoros, fluindo unidirecionalmente. Os elementos químicos, por outro lado, circulam pelo ecossistema, sendo reutilizados constantemente. Neste processo, os organismos decompositores exercem papel chave, mineralizando os compostos orgânicos complexos em moléculas simples e reutilizáveis. A seqüência de relações alimentares por onde passa a energia e por onde circula a matéria recebe a denominação de cadeia alimentar ou trófica. Nada mais é que uma representação de passagens de energia e circulação de matéria dentro da comunidade. Simples como na Figura 5. Figura 5 - Modelo simplificado de cadeia trófica Esta organização, portanto, baseia-se nas relações de alimentação das populações. Cada um destes elos ou degraus corresponde a um nível trófico específico. É claro que nenhum ecossistema natural é tão simples como um exemplo que inclui capim (autótrofo, produtor), gafanhoto (heterótrofo, consumidor primário, herbívoro) e passarinho 42 (heterótrofo, consumidor secundário, carnívoro). Em praticamente todos os ecossistemas cada nível trófico é representado por diversas espécies, e, além disso, uma mesma espécie pode se alimentar de outras em níveis tróficos distintos. Um exemplo disto são os predadores de topo (uma onça ou um gavião real, por exemplo), ocupando os pontos mais altos destas cadeias, alimentando-se de diversos animais que se encontram em posições diferentes deste organograma. A quantidade de energia que um nível trófico recebe é sempre maior do que aquela que irá ser transferida para o nível seguinte, por duas razões. Primeiro, parte da energia adquirida pelos organismos de um nível trófico é utilizada em atividades metabólicas de manutenção. Desta parte, uma proporção é ainda dissipada na forma de calor, que irradia do corpo. Segundo, os consumidores não aproveitam completamente a matéria orgânica do alimento, liberando parte desta na forma de fezes. A partir destas conclusões, podemos estabelecer uma pirâmide de energia, ilustrada na Figura 6. Figura 6 - Pirâmide de energia 43 Vejamos um exemplo em números. Para alimentar uma criança até que esta atinja 48 kg, são necessários cerca de 1.035 kg de carne de boi, o que equivale a cerca de quatro animais. Para engordar estas reses são precisamos de 8.200 kg de alfafa. Esta quantidade de forragem contém cerca de 15.000 quilocalorias (kcal), das quais apenas 1.200 tornaramse bois e ínfimos 8,3 kcal estão contidos na criança. A capacidade de produção de matéria orgânica pela fotossíntese é a produtividade primária do ecossistema, expressa em biomassa/área/tempo. A produção total de biomassa é denominada produtividade primária bruta. Deduzindo desta o que é consumido pelas plantas para sua manutenção, via respiração, resta a produtividade primária líquida, que fica disponível para o nível trófico seguinte. 5.6 CICLAGEM DE NUTRIENTES As quantidades dos diferentes elementos presentes na terra são finitas e precisam retornar ao ambiente. Como já mencionado, os elementos químicos componentes da matéria orgânica devem ser degradados, para que sejam novamente utilizados pelas plantas para, a partir da energia solar que conseguem armazenar, sintetizar outra vez as complexas moléculas orgânicas. Nesse sentido, a vida está continuamente sendo recriada a partir dos mesmos átomos. A atividade dos organismos decompositores, como vimos, completa a circulação dos elementos no ambiente, degradando a matéria orgânica morta pela respiração e pela fermentação para obtenção de energia. Os combustíveis fósseis como o petróleo e o carvão mineral, base da economia mundial atual, não foram degradados e permanecem disponíveis para nós por estarem submetidos a condições especiais entre sedimentos isentos de microorganismos decompositores. Do contrário, teriam sido degradados até tornarem-se novamente moléculas simples, disponíveis para os animais produtores. Os ciclos dos diferentes elementos químicos dentro dos ecossistemas são denominados ciclos biogeoquímicos. Ora os elementos estão presentes na biomassa dos organismos vivos, (bio) ora econtram-se no substrato, (geo) como minerais. Os mais importantes são os ciclos do carbono, da água, do oxigênio e do nitrogênio. 44 5.7 DIVERSIDADE BIOLÓGICA Este conceito é definido pelo Fundo Mundial para a Natureza como sendo “a riqueza da vida na terra, incluindo os milhões de plantas, animais e microorganismos, os genes que eles contêm e os intrincados ecossistemas existentes”. Diversidade de espécies são os organismos, desde bactérias e protozoários compostos por uma única célula até os grandes animais e as árvores gigantescas. Em outra escala, também inclui a variação genética existente no conjunto de indivíduos de cada espécie. Por último, temos a variação entre as comunidades biológicas, e os ecossistemas formados por estas comunidades. Dentro da ecologia de comunidades, entretanto, sobretudo quando um ecólogo estuda grupos megadiversos como formigas, aves ou peixes, o termo diversidade de espécies tem outro significado e torna-se um índice de diversidade de espécies. Ao contrário do conceito mais corriqueiro e generalizado com o qual iniciamos esta seção, os índices de diversidade, todos eles, não consideram somente o número de espécies amostrado pelo pesquisador, mas também a proporção em que as espécies aparecem. A equidade também é considerada nas diversas fórmulas disponíveis para a elaboração dos índices, que normalmente recebem o nome de seus propositores (índice de Simpson, de Shannon-Weaver, os índices da série de Hill, entre outros). Para fornecer um exemplo o mais simples possível, vamos pegar duas amostras de dez indivíduos de duas comunidades diferentes. Na amostra 1, temos nove indivíduos da espécie A e um indivíduo da espécie B. Na amostra 2, temos cinco indivíduos da espécie C e outros cinco da espécie D. Embora tenhamos obtido amostras que continham o mesmo número de espécies, a freqüência relativa de cada uma é diferente. Segundo Primack e Rodrigues (2002), vivemos hoje o sétimo evento de megaextinção de espécies da história da Terra. A atual ameaça à diversidade biológica não tem precedentes, nem mesmo se compararmos o quadro atual com as grandes extinções documentadas no passado geológico do planeta, como por exemplo, a que deu fim aos grandes répteis popularmente conhecidos como dinossauros. As principais causas da perda de diversidade biológica provocadas pelo homem são a perda de habitats, a exploração direta (caça, pesca, etc.), a poluição, e a introdução de espécies exóticas. 45 A transformação da paisagem, causa maior de eliminação de espécies, afeta também as propriedades ecossistêmicas que definimos anteriormente como os serviços ambientais, que estão interligados. Mudanças climáticas interferem sobre os ciclos biogeoquímocos, com diversas conseqüências tanto para o funcionamento dos diversos ecossistemas pouco modificados (mas ainda assim manejados por nossos ancestrais) como para os ambientes completamente modificados pela ação humana. No texto, partirmos das interações de um único organismo com os fatores externos, passando para as interações entre organismos da mesma espécie e de diferentes espécies. Abordamos a função de cada população na rede intrincada de relações que estabelecem entre os diversos componentes das comunidades biológicas, e que formam os ecossistemas, com suas características únicas e mecanismos autoreguladores. Espera-se que o conjunto de informações repassadas sejam úteis. Foram deliberadamente abordados elementos básicos, em um cenário onde a temática ambiental assume proporções tão críticas, e os efeitos das atividades humanas se refletem em problemas em nível global. 46 SEGUNDO BLOCO DE ATIVIDADES A essa altura você já possui conhecimento suficiente para responder as seguintes questões, que deverão ser enviadas ao(a) tutor(a) que acompanha a sua turma. 1) A herbivoria deve ser encarada como forma de predação ou parasitismo? Justifique sua resposta. 2) Como as formas de interação desarmônicas, como predação, parasitismo e competição, contribuem, cada uma, para a regulação das populações? 3) Com base no texto, estabeleça um paralelo entre ecologia evolutiva (enfoque nas interações ecológicas, seleção natural e êxito reprodutivo diferencial) e reducionismo, e entre ecologia de ecossistemas (enfoque nos fluxos de matéria e energia, e com base no conceito de propriedades emergentes) e holismo. 4) Relacione ciclagem de nutrientes e o conceito de Serviços Ambientais. Voltamos a lembrar que o(a) tutor(a) estará sempre disponível para atende-lo(a) em suas dúvidas e questionamentos. Evite acumular dúvidas. 47 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Fearnside, P. 2003. A floresta amazônica e as mudanças globais. INPA, Manaus. Futuyma, D. 1993. Biologia Evolutiva. SBG/CNPq. Golley, F. B. 1993. A history of the ecossystem concept in ecology: more thant the sum of the parts. Yale University Press, London. Magnusson, W.E. e G. Mourão. 2003. Estatística sem Matemática. Ed. Planta, Londrina. Pianka, E. 1975. Ecologia Evolutiva. Ediciones Omega, Barcelona Primack, R. & E. Ferreira. 2002. Biologia da Conservação. Editora Planta, Londrina. Ricklefs, R. 1993. A economia da natureza. Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro.