PARA ALÉM DE ESTEREÓTIPOS: ESTUDO MINUCIOSO DE ÉMILE DURKHEIM Universidade Estadual de Maringá (UEM) – Departamento de Ciências Sociais (DCS) AUTOR: Felipe Fontana (Bolsista PIBIC/CNPq – Fundação Araucária – UEM) ORIENTADORA: Profª. Drª. Zuleika de Paula Bueno OBJETO E OBJETIVOS DO TRABALHO RESULTADOS OBTIDOS Nosso projeto de pesquisa consistiu em levantar algumas questões presentes no pensamento de Émile Durkheim. Para nós, era necessário resgatar e dar uma melhor explicação a algumas concepções e conceitos inerentes ao pensamento deste autor; ou seja, realizar uma interpretação respeitosa de dadas idéias informadas por Durkheim sem cair nos mesmos problemas existentes nas obras de alguns comentadores. Nossos objetivos da pesquisa foram oriundos de um contato estabelecido por nós com alguns comentadores, em especial, Steven Lukes, o qual nos pareceu realizar uma abordagem problemática de Durkheim. Através da análise do texto Bases para a Interpretação de Durkheim, notamos que para Lukes não há possibilidade de inserir e compreender a presença do indivíduo nos conceitos apresentados por Durkheim, pois estes são incapazes de mostrar uma interação ou ainda alguma autonomia do indivíduo perante a sociedade; dessa forma, o clássico autor deveria reformulá-los: “Como formulou Georges Sorel, Durkheim disse que era desnecessário introduzir a noção de uma mente social, mas raciocinava como se estivesse introduzindo. Afirmando que os fatos sociais (e particularmente as representações coletivas) são exteriores aos indivíduos, Durkheim deveria ter dito que são ao mesmo tempo interiores (isto é, interiorizados) e exteriores a qualquer indivíduo dado; e que são externos a todos os indivíduos existentes no sentido de que foram transmitidas culturalmente do passado para o presente.” (LUKES, 1977, p. 23). Outro ponto que destacamos em nosso projeto como merecedor de investigação refere-se aos seguintes questionamentos: como se dá o movimento histórico e a mudança social na obra de Durkheim? Como a história é evidenciada pelo clássico autor? Foi com estas questões que recorremos As Formas Elementares da Vida Religiosa. No percurso realizado por nós sobre As Formas Elementares da Vida Religiosa, apreendemos que Durkheim sinaliza claramente em diversas passagens, que os indivíduos são possuidores da capacidade de interiorizar a sociedade e as representações sociais; eles também não são colocados como simples receptáculos daquilo que é exterior a eles; em dados momentos, podemos perceber, segundo o autor, que os homens escolhem, aderem e adaptam dados pensamentos e representações sociais por respeito que lhes dedicam, ou até mesmo por escolha. Além disso, a sociedade não é classificada como algo inatingível e inalterável pelo homem; em dadas citações, percebemos que os indivíduos são seus modificadores e construtores; por vezes, ela depende do homem e de sua capacidade de interiorização para se manter viva e ativa: “Os atributos característicos da natureza humana nos vêm, portanto, da sociedade. Mas, por outro lado, a sociedade só existe e só vive nos e através dos indivíduos. Se a idéia da sociedade se extinguir nos espíritos individuais, se as crenças, as tradições e as aspirações da coletividade deixarem de ser sentidas e partilhadas pelos particulares, a sociedade morrerá. Podese dizer dela, portanto, o que se dizia mais acima da divindade: ela só tem realidade na medida em que ocupa lugar nas consciências humanas, e esse lugar somos nós que lhe damos.” (DURKHEIM, 1996, p. 374) A interpretação acima parece simples; no entanto, alguns comentadores, tais como Theodor W. Adorno e Raymond Aron parecem negar tais idéias em alguns de seus textos. De acordo com nossa interpretação, ainda apreendemos que o sociólogo francês admite a mudança e transformação social e a construção da sociedade por meio da colaboração e ação dos indivíduos (Id, p. 212 – 213). Além disso, o autor também valoriza a utilização da história como grande colaboradora descritiva e explicativa para a Sociologia (Id, p. IX). Por fim, percebemos que há a possibilidade de lançar uma nova luz sobre as idéias e conceitualizações apresentadas por Durkheim em suas obras; distanciando-se assim, de interpretações estereotipadas que ferem o pensamento do autor; anulando sua delicadeza e coerência. METODOLOGIA O método utilizado na realização desta pesquisa consistiu em buscar ao máximo a compreensão das idéias do autor estudado e reconstruir os movimentos de seu pensamento com a tentativa e esforço de não utilizar dadas concepções que permeiam nossa mente e nos fazem atribuir e sobrepor a dado pensador idéias e posturas que ele não possui. Com as sábias palavras de Paulo de Salles Oliveira percebemos que “é fundamental o trabalho de reconstruir com nossa imaginação o itinerário de construção do pensamento do outro, tratando de não desfigurá-lo.” (OLIVEIRA, 1998, p. 26). Assim, ao passo que mergulhamos efetivamente no pensamento do autor para assimilá-lo corretamente, resguardamos em nossa mente um dado distanciamento, o qual dificulta a sobreposição de nossas concepções particulares, por vezes preenchidas de determinados procedimentos intelectuais anteriores e não correspondentes ao autor e obra estudada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, W. Theodor. Introdução à Sociologia (1968). Trad. Wolfgang Leo Maar. São Paulo: Editora UNESP, 2007. ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. Trad. Sérgio Bath. São Paulo: Martins Fontes, 2003. DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1996. LUKES, Steven. Bases para a interpretação de Durkheim, In: COHN, Gabriel (org). Sociologia: para ler os clássicos. RJ: 1977. OLIVEIRA, Paulo Salles. Apresentação. Metodologia das Ciências Humanas. 2ªed. São Paulo: Hucitec/UNESP, 1998.