TENORRAFIA DO FLEXOR ULNAR DO CARPO E NEURORRAFIA DO NERVO ULNAR DEFINIÇÃO A mão do homem é dotada de mecanismos extremamente especializados que permitem atividades únicas. Constantemente em ação, esse órgão sensitivo e motor apresenta grande complexidade de função e importância psicossocioeconômica. Os movimentos da mão são controlados pelo hemisfério cerebral contralateral e sua inervação origina-se no plexo braquial, nas raízes de C5 a T1. Todo o membro superior atua em função da mão, que é posicionada para as atividades básicas, lúdicas (vida diária, lazer, esporte) e profissionais. Desta forma, o homem é o ser único capaz de manipular objetos e de executar trabalhos manuais com equilíbrio, firmeza e versatilidade. (2) A mão consiste em um órgão sensorial de discriminação, porque nela estão localizados muitos receptores sensoriais, sendo que o sistema motor depende do constante feedback que recebe destes. Ainda, é um órgão extremamente móvel, e a mistura de seus movimentos (particularmente a preensão digital) e dos movimentos punho possibilitam que ela se molde ao formato de um objeto que estamos segurando. (6) Os tendões flexores fazem parte desse conjunto anátomo-fisiológico muito complexo da mão. São os principais elementos atuantes nos movimentos de preensão; preensão forte e vigorosa do operário que empunha uma marreta, preensão delicada e sutil do desenhista que traça as linhas corretas do perfil de um rosto ou de um hábil cirurgião que maneja seu bisturi em movimentos rápidos e precisos. (7) Os tendões flexores são extrínsecos (originam-se no antebraço) e partem de um tendão comum que se divide para os quatro dedos, sendo que o polegar fica excluído porque tem sua própria bainha. (6) A musculatura flexora dos dedos é duas vezes mais forte que a musculatura dos extensores. Isso se deve principalmente a estes músculos serem amplamente utilizados nas atividades diárias, como as que envolvem movimentos de preensão, de apertar ou de pinçar, enquanto os músculos extensores, raramente exercem força. (6) A maioria dos pacientes vítimas de traumatismos na mão em nosso país é jovem e do sexo masculino. O mesmo fenômeno ocorre na maioria dos países, mas acentua-se naqueles em que a pobreza, a economia informal, a falta de acesso a equipamentos, os altos índices de violência urbana e de acidentes de trânsito e a falta de múltiplas campanhas de prevenção são realidade há muitas décadas. Quando analisamos os traumas de mão, podemos afirmar que vivemos em epidemia que resulta no grande número de pacientes mutilados, cujas seqüelas geram incapacidade para o trabalho e para as atividades da vida diária. (1) As lesões de nervos periféricos trazem importantes conseqüências ao individuo acometido que, além da redução das funções motora e sensitiva, poderá enfrentar também problemas como a hiperestesia e intolerância a baixas temperaturas. De forma geral, essas lesões são mais freqüentes nos membros superiores e em homens jovens. (3) São vários os mecanismos de trauma na mão, que podem ser divididos em ferimentos incisos, corto-contusos, por esmagamento, por avulsão e complexos. Os ferimentos incisos e corto-contusos, normalmente, não causam lesão extensa e, habitualmente, requerem menor desbridamento. Os ferimentos causados por esmagamento, geralmente por máquinas tipo prensa, necessitam de desbridamento na área comprometida e todo tecido esmagado deve ser removido. Nos ferimentos por avulsão deve-se determinar o limite de transição entre tecido normal e patológico que pode ser diferente para vasos, nervos, músculos e tendões. (1) Podem ainda ocorrer ferimentos da mão por amputações e queimaduras. (2) O grau de lesão de mão pode ser simples, com apenas uma estrutura anatômica envolvida, ou complexa, onde há envolvimento de várias estruturas anatômicas, com perda tissular, avulsões, lacerações, com ou sem contaminação. Entende-se por traumatismo dos nervos as lesões das fibras nervosas que determinam alterações fisiológicas e histológicas em graus variados, em decorrência da ação súbita ou crônica de determinado agente traumático, externo ou interno, que cause compressão, tração ou secção das fibras. (2) Nem sempre é simples determinar a exata extensão da lesão dos nervos periféricos, especialmente em pacientes vítimas de traumas graves na mão ou politraumatizados. Em algumas situações a exploração primária de uma lesão de nervo periférico é pouco discutível, como nos ferimentos corto-contusos ou incisos, nas associações com fraturas que requerem osteossíntese, fraturas irredutíveis, fraturas associadas a lesões vasculares e fraturas expostas que requerem desbridamento.(1) As lesões dos nervos dependem da natureza, local e severidade do trauma e são complexas porque envolvem componentes centrais e periféricos do sistema nervoso, de maneira que atinge os receptores da pele e dos músculos. (2) Seddon propôs que as lesões de nervo ocorrem dentro de três tipos de manifestações eletrofisiológicas: neuropraxia, quando há bloqueio da condução do nível do axônio, sem interrupção deste e a degeneração walleriana do segmento não é necessariamente encontrado; axonotmese, quando há interrupção do axônio, mas conservação das bainhas com regeneração possível; e neurotmese, quando há interrupção do axônio e destruição das bainhas que resulta em degeneração walleriana (degeneração do axônio e sua bainhas de mielina, após secção do nervo. (2) Na neuropraxia o quadro de déficit pode reverter em um pequeno período de tempo, não causando seqüelas importantes. Na axonotmese e neurotmese o tempo de recuperação é prolongado levando à atrofia muscular severa, alterações tróficas de pele devido à anestesia e perda da regulação vascular e piloeretora, deformidades devido ao distúrbio do equilíbrio normal entre músculos agonistas e antagonistas e rigidez articular. (2) Os tendões flexores são divididos em cinco zonas, devido as suas diferenças anatômicas. A Federação Internacional da Sociedade de Cirurgia da Mão, em 1980 estabeleceu de forma universal a seguinte classificação (6): - Zona I: distal à inserção do FSD (flexor superficial dos dedos) até a inserção do FPD (flexor profundo dos dedos); possui apenas o tendão do FPD, e a lesão neste local possui melhor prognóstico; - Zona II: representa a área crítica das polias (descrita como “terra de ninguém” por Bunnell e “zona crítica” por Boyes) entre a prega palmar distal e a inserção do tendão do FSD. Nesta zona a vascularização é pobre, e em caso de lesão, a presença do túnel osteofibroso e a proximidade dos tendões com as estruturas anatômicas fixas causam geralmente aderências no período de cicatrização. Os resultados pós-operatórios são pobres; - Zona III: ocorre na área de origem dos lumbricais, sendo que o tendão flexor é envolto por tecido areolar ricamente vascularizado. Nesta zona o suprimento sangüíneo é abundante e o prognóstico da lesão geralmente é bom; - Zona IV: corresponde ao túnel do carpo. Nessa região o suprimento sangüíneo dos tendões está diminuído, sendo a nutrição sinovial novamente importante; - Zona V: é a zona proximal ao canal do carpo; nesta área os tendões são bem vascularizados e o prognóstico é bom. A lesão em zona V pode envolver nervo mediano e/ou ulnar, artérias radial e ulnar e tendões dos músculos flexores do punho e dedos. O nervo mediano é bem superficial, situando-se entre o músculo palmar longo e o flexor radial do carpo. Já o nervo ulnar está sob o músculo flexor ulnar do carpo. O dano na continuidade da estrutura do nervo resulta na parada da transmissão dos impulsos nervosos e na desorganização de suas atividades funcionais. (2) Na pesquisa realizada por NOMIYAMA (2007), as principais as causas da lesão de nervo em zona V foram ferimento corto-contuso por vidro (52,38%) e com máquina e/ou equipamento de trabalho (33,33%). Ocorreram também lesões por ferimento com arma de fogo, acidente de carro e tanque de louça (14,28%). Acredita-se que o déficit de recuperação da sensibilidade encontrado após o reparo de um nervo periférico se deva principalmente à reinervação cruzada ocorrida durante a regeneração. Durante esse processo, axônios motores podem reinervar áreas sensoriais e vice-versa; além disso, os axônios podem acabar reinervando áreas diferentes das que inervavam anteriormente à lesão. (3) A mais freqüente causa de falha após o reparo de tendão flexor é a formação de aderências.(6) Lacerações nos tendões flexores da mão são freqüentes e podem ocorrer em várias áreas (zonas) ao longo da superfície volar dos dedos, palma e punho (as estruturas musculotendíneas lesadas dependem da profundidade e localização do ferimento), sendo que a lesão dos tendões flexores dos dedos é mais freqüente na zona 2 (equivale a cerca de 50%) e 5, fato que carece de explicação plausível: aquelas na zona 2 geralmente estão mais associadas ao manuseio do objeto traumatizante; e as lesões ocorridas na zona 5, devem-se aos traumatismos mais amplos, como queda ou pancada (soco) sobre porta ou janela de vidro, e as agressões com arma branca Segundo Carlsson et al. (2003), o dedo mínimo é mais freqüentemente prejudicado 43%, onde, normalmente o agente causador das lesões foi à faca (45%) e lesões relacionadas ao trabalho (30%). (6) TRATAMENTO MÉDICO Na opinião de Strickland, o cirurgião que se proponha a tratar as lesões em tendões flexores dos dedos necessita conhecer os princípios da anatomia, fisiologia e biomecânica dessas estruturas. (4) O reparo cirúrgico é essencial, pois com o trauma há espasmo muscular que causa retração da extremidade livre do tendão, de modo que surge um espaço. As extremidades devem ser unidas através de sutura para manter-se os cotos coaptados e se obter a cicatrização do tendão (podendo também ser necessário um enxerto). Após a cirurgia se aplica um sistema de contenção para o músculo e tendão (6) O princípio básico do tratamento de lesões traumáticas abertas é o desbridamento. Todo tecido ou material nocivo à cicatrização deve ser removido e todo tecido viável e bem vascularizado deve ser mantido. O desbridamento também promove a diminuição da pressão no local da ferida e pode evitar a evolução para uma síndrome compartimental. Muitos ferimentos podem ser mantidos abertos. A sutura pode aumentar o edema, prejudicar a perfusão sanguínea e facilitar o desencadeamento de infecção e da síndrome compartimental. O fechamento primário das feridas pode ser considerado na presença das seguintes condições: tecido minimamente comprometido, ausência de esmagamento, contaminação mínima, presença de tecidos com potencial para cicatrização, tempo de exposição menor que seis horas e ausência de tensão. O fechamento secundário pode ser realizado quando há tecido de granulação. Algumas situações consideradas de maior complexidade, como a exposição de tecido ósseo e estruturas nobres (vasos, nervos) deverão ser tratadas com revestimento cutâneo precoce, normalmente realizado com retalhos.(1) Há duas categorias de conserto para o tendão: métodos de reconstrução, que restabelecem a continuidade anatômica, através de sutura, enxerto, reinserção; e métodos paliativos, que são produções de salvamento, incluem transferência tendinosa, tenodese e artrodese.A exposição cirúrgica deve ser planejada de modo a permitir uma boa visualização dos tendões lesados e minimizar a formação de cicatrizes geradoras de contratura. (6) Quando tratamos à mão traumatizada, todo esforço deve ser realizado para preservar tendões, nervos e vasos sanguíneos. A ressecção dessas estruturas só se justifica quando há grande desvitalização ou pouca chance de viabilidade. Freqüentemente, há necessidade de reexaminar a ferida após dois ou três dias e determinar se há necessidade de realizar desbridamento adicional. (1) Na exploração cirúrgica é possível encontrar o nervo íntegro e submetido à compressão por deformidade ou fragmento ósseo, presença de solução de continuidade por secção ou até perda segmentar, esta última freqüentemente causada por mecanismos de avulsão ou esmagamento. O tratamento pode variar desde neurólise até sutura ou enxertos de nervo. (1) A sutura mais resistente para o reparo de tendões flexores da mão é a de Savage, mostrou-se tecnicamente mais difícil, consumindo mais tempo cirúrgico e é espessa. Para alguns autores, a sutura ideal deverá ser mais simples, resistente e que permita ação ativa precoce, evitando constrição de vasos, prevenindo aderências e sendo menos espessa. Baseados nisso, consideraram a técnica de sutura Kessler duplo (quatro passadas) mais eficiente, embora seja mais fraca quando comparada com a Savage (seis passadas). (8) As escolhas para o conserto primário do tendão flexor incluem: conserto primário precoce se executado dentro das primeiras 24h; ou primário retardado, se executado três a quatro dias depois do dano, quando a reação da ferida ou infecção baixou (tais períodos diferem um pouco de acordo com os autores). Sempre que possível o reparo das lesões tendinosas deve ser primário, exceto em certas situações: se não houver no momento equipe treinada e material adequado para este procedimento; com danos múltiplos de tecidos e severos aos dedos ou palma; quando as feridas formam um arco contaminado infectado; houve perda significante da pele em cima do sistema flexor; ou há lesão esquelética associada, exigindo imobilização prolongada. Nestes casos o conserto de tendão deveria ser retardado por vários dias até que uma ferida limpa seja estabelecida ou os danos reparados (6) Neurorrafia: graças à microcirurgia houve grande melhora nas técnicas de sutura epineural ou de grupos fasciculares. Várias técnicas cirúrgicas de reconstrução podem ser adotadas, dependendo das condições locais e da microanatomia do nervo periférico. (1) Várias técnicas cirúrgicas de reparo do nervo podem ser adotadas (como, neurorrafia, enxerto, neurólise, entre outras), dependendo das condições locais e da microanatomia do nervo acometido. O sucesso terapêutico dependerá de vários fatores como idade, tipo de nervo lesado, condições preexistentes, mecanismo, grau e nível de lesão, técnica da reconstrução, tempo perdido desde a lesão até a operação e qualidade da reabilitação. (1,2) A sutura tipo Kessler possibilita a movimentação passiva precoce. A combinação de sutura na porção central que une os cotos com sutura epitendinosa periférica ou chuleio parece ser suficiente para suportar a resistência antecipada que exigem os protocolos de movimentação precoce passiva ou ativa. (5) Tenorrafia: avanços, associados a critérios bem definidos na indicação cirúrgica, técnicas de tenorrafia, enxertos de tendão e transferências tendinosas, têm proporcionado a obtenção de melhores resultados funcionais. Hoje é consenso que devemos realizar técnicas de sutura mais resistentes que permitam a movimentação passiva e ativa mais precoce, sem grande risco de ruptura do tendão. Tem-se adotado o método de Strickland, que utiliza quatro passagens de fio quatro zeros e uma sutura do epitendão com fio seis zeros no sítio da lesão. Essa sutura resiste à força aplicada ao tendão durante a flexão ativa suave em dedo sem edema. Portanto, é possível iniciar a movimentação ativa do dedo após a regressão do edema. O deslizamento e o estresse mecânico promovem a cicatrização intrínseca do tendão (cicatrização tendão-tendão), com alinhamento adequado das fibras colágenas e evita o fenômeno da cicatrização extrínseca (tendão-tecidos vizinhos). (1) Os tendões possuem vascularização limitada, fato que afeta diretamente seus processos de cura e metabolismo. Atualmente, tem-se que a cicatrização dos tendões flexores acontece por meio de dois mecanismos: extrínseco e intrínseco. O mecanismo extrínseco ocorre pela atividade de fibroblastos periféricos (células trazidas ao local de reparação por capilares e fibroblastos) e, o mecanismo intrínseco ocorre pela atividade de fibroblastos derivados do próprio tendão. (6) A cicatrização dos tendões apresenta as seguintes fases: (6) - Inflamatória aguda: consiste na resposta inicial à lesão (seja por trauma ou cirurgia), possui sinais e sintomas inflamatórios: calor local, vermelhidão, edema, dor e incapacidade funcional; há proliferação de células tendinosas que crescem ao longo do tendão e ao nível da lesão, formando uma espécie de “calo” tendinoso; inicia imediatamente após a lesão e tem duração aproximada de três dias; - Fase de reparação tecidual proliferativa: ocorre aumento da produção de fibroblastos que têm atividade máxima infiltrando-se nos tecidos lesados. Sua função principal é sintetizar fibras colágenas, depositadas de modo aleatório, e ao mesmo tempo tem neoformação vascular; pode iniciar cedo na fase inflamatória, mas é extensa, com duração aproximada de três semanas; - Fase de remodelação tecidual cicatricial: nesta fase a área traumatizada está cicatrizada basicamente pelas fibras colágenas. Este tecido neoformado está desalinhado e estruturalmente desorganizado; pode durar até dois anos, porém, a maioria da remodelação ocorre em dois meses De modo geral, a posição ideal de imobilização da mão após lesão ou cirurgia, para prevenir encurtamento ligamentar e possível deformidade fixa, deve ser com o punho em extensão, articulação metacarpofalangeanas fletidas, articulações interfalangeanas estendidas e polegar com abdução palmar. A recuperação pode ser alcançada mais depressa e facilmente nessa posição denominada “segura”. (6) Já a posição de imobilização mais freqüentemente utilizada após a reconstrução do tendão flexor é a que mantém o punho fletido em torno de 20°, as metacarpofalangeanan em flexão de 60° e as interfalângicas em quase extensão, suprimindo qualquer tensão. A administração PO e reabilitação dependem da filosofia, experiência, e preferências do cirurgião e terapeuta. Após a intervenção cirúrgica, pode estar indicada uma imobilização de três ou quatro semanas, que, uma vez retirada, permitirá mobilização freqüente, já que as articulações metacarpofalangeans e interfalangenas têm forte tendência a complicações. (6) TRATAMENTO FISIOTERAPEUTICO A reabilitação é o processo através das quais funções biológicas, psicológicas e sociais são restabelecidas, para que uma pessoa possa alcançar o máximo de sua autonomia pessoal, sendo que as metas irão depender de um paciente para outro. Um retorno para a completa independência e função pode ser uma expectativa realística para alguns, mas para outros isso pode não ser possível. (6) Os terapeutas da mão consistem em profissionais que recebem treinamento especializado em anatomia funcional, biomecânica da mão e membro superior, conhecimento científico de procedimentos clínicos e cirúrgicos, cicatrização e cuidados com as feridas, cinesiologia, órteses (aparelhos auxiliares para posicionamento e/ou proteção), atividades para retorno da ADM e sensibilidade periférica do membro superior, retorno as atividades de vida diária e profissionais, tratamento primário imediato à cirurgia ou cuidados no pré-operatório (SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPEUTAS DA MÃO E MEMBRO SUPERIOR, 2005). (2,6) O objetivo principal do tratamento fisioterapêutico após reparo dos tendões flexores consiste no restabelecimento da função da mão no menor intervalo de tempo possível. Para tanto, faz-se necessário o cumprimento de algumas etapas básicas: promover analgesia, redução do processo inflamatório, melhorar ou manter as ADM, melhorar a força muscular da mão e membro superior e reeducação sensitiva (LECH et al, 2004; BENATTI, et al. 1999). A intervenção fisioterapêutica dispõe de vários recursos que deverão ser inclusos no tratamento (além da terapia medicamentosa prescrita pelo médico quando necessário): meios físicos e a cinesioterapia. Os meios físicos constituem formas de intervenção coadjuvantes à terapia pelo movimento (conceito de cinesioterapia), com os variados tipos de exercícios. (6) Após a sutura tendinosa, os movimentos deveriam ser controlados, devendo ser realizados de modo suave e delicado, causando pequena reação tecidual e cicatrização mínima. Deveriam ser evitados ainda, os movimentos de beliscar e agarrar, visto que podem contribuir à formação de aderências. (6) Antes de qualquer procedimento, se realiza uma avaliação completa do membro lesado com o objetivo de verificar a evolução clínica e o resultado final do processo de reabilitação da mão. (2) De modo geral, os objetivos principais da reabilitação são: cuidados no préoperatório, diminuir dor, edema e aderência cicatricial (cuidados com a cicatrização), orientação quanto ao uso de órtese para minimizar deformidades e impedir contraturas, promover atividades para retorno da amplitude de movimento e da sensibilidade periférica do membro superior, ganho de força muscular, e promover maior independência nas atividades de vida diária e profissional. Sem cuidado apropriado, a recuperação da função da mão pode ser limitada. Mobilização passiva e precoce dos tendões flexores do punho, reeducação sensitiva, melhorar a funcionalidade. (2) O efeito de diminuição da amplitude de movimento em dedos não lesados após ruptura tendinosa é uma complicação comum observada na prática clínica. (5) Isso se dá por causo do efeito quadriga, onde explica que tendões que fazem parte de um ventre muscular comum, a restrição da mobilidade em um tendão limita a excursão dos tendões restantes.(5) Durante o período da imobilização, apenas são realizados exercícios para as articulações não imobilizadas como o antebraço, cotovelo e ombro; após sua retirada, na terceira semana aproximadamente, são iniciados exercícios ativos de deslizamento diferenciado do tendão flexor e exercícios passivos suaves de flexo-extensão dos dedos com o punho a 10° de extensão. Também, neste período são incorporados ao tratamento exercícios de amassar papel ou toalha, pegar objetos leves e apertar massinha de baixa resistência. Exercícios de bloqueio para deslizamento isolado do flexor profundo dos dedos e flexor superficial dos dedos são iniciados aproximadamente na quarta semana após o reparo, sendo muito importantes e devendo ser realizados suavemente. Posteriormente, 4 a 5 semanas de PO, são acrescentadas, de acordo com o grau de aderências tendinosas, atividades de preensão controlada (exercitador de dedos, exercício de cavar e apertar massinha). Gradualmente, iniciam-se exercícios de maior resistência, em torno da 7 a 8 semanas de PO, e o retorno das atividades pesadas, em aproximadamente 10 a 12 semanas. No caso de haver encurtamento após a retirada da imobilização, pode-se utilizar uma tala gessada volar para ganho gradual de extensão de punho e dedos para uso noturno; não havendo melhora, é indicado o uso de uma órtese dinâmica para ganho da extensão (6) A síndrome da quadriga ocorre como conseqüência de um bloqueio, geralmente resultante de aderência, que impede o deslizamento tendinoso. (5) Os distúrbios sensoriais que ocorrem durante a regeneração nervosa podem levar o indivíduo a reduzir gradativamente o uso da mão acometida nas atividades de vida diária, causando prejuízo ainda maior à recuperação da função sensitiva. Assim, os programas de reeducação da sensibilidade após reparo de lesões nervosas vêm se tornando estratégias de reabilitação cada vez mais populares, permitindo ao paciente reaprender a interpretar corretamente os estímulos recebidos nas regiões acometidas. (3) A movimentação precoce foi inicialmente recomendada por Bunnell e Harmer. Para melhora nos resultados, após o reparo em tendões flexores dos dedos da mão, Young & Harmon desenvolveram estes trabalhos e apresentaram seus resultados com movimentação precoce. Outros métodos de movimentação foram descritos por Hernandes et al. e Emery. O método de movimentação passiva através de banda elástica descrito por Kleinert foi popularizado em todo o mundo. Duran & Houser utilizaram técnica de movimentação passiva através de exercícios controlados. (6) Os conhecimentos atuais sobre a reabilitação das lesões dos tendões flexores dos dedos indicam que a mobilização precoce é o recurso ideal para promover a cicatrização, pois, além de impedir que ocorram as indesejáveis aderências, mantém a mobilidade das articulações adjacentes, prevenindo a rigidez articular, o que é sempre de difícil solução. (6) Exercícios com massinha: tem o objetivo de fortalecimento da preensão, pinça e a estabilização do punho. A massa tende a ser mais eficaz do que a bola, visto que esta oferece resistência ao longo de toda a ADM. Hebert et al. (2003) citam exercícios de amassar papel ou toalha, pegar objetos leves. Também, se referem à execução de atividades de preensão controlada como o exercitador de dedos, cavar a massinha e apertar a massinha de resistência maior. (6) Segundo Barbieri, Mazer e Trejo (1994), as crianças diferem fundamentalmente dos adultos em uma série de aspectos, particularmente no que se refere ao comportamento. São, em geral, resistentes a tratamentos prolongados, que requeiram disciplina, tornando-se pouco colaborativas. Ao lado disso, são dotadas de maior capacidade de regeneração e reabilitação e, por estarem em crescimento, podem mostrar mudanças radicais em eventuais seqüelas. Em trabalho realizado os mesmos autores, foram estudados retrospectivamente todos os casos de lesões dos tendões flexores em crianças ocorridos num período de dez anos que somaram 93 pacientes (232 tendões). Realizou-se este estudo, com número significativo de pacientes tratados dentro de um protocolo estável. O tratamento fisioterápico pós-operatório foi baseado na mobilização precoce, sendo que menos de um terço dos pacientes reavaliados cumpriram a programação estabelecida. Outro tanto abandonou o tratamento antes do final e outro, ainda, sequer o iniciou. Apesar disso, os resultados finais desse grupo, que possivelmente é uma mostra representativa total, foram, de modo geral, muito bons, com 89% dos casos situando-se na faixa de bom e excelente e grande predomínio desta última. (6) Caso Clínico DADOS PESSOAIS Paciente: Victor Hugo Pires Ferreira Idade: 07 anos Sexo: Masculino Profissão: Estudante Endereço: Rua Rio Amazonas, nº372, Jóquei Clube Cidade: São Carlos U.F.: S.P. Telefone: 3371-4031 (Wanderlei – pai) ENCAMINHAMENTO MÉDICO Diagnóstico Médico: Tenorrafia do flexor Ulnar do Carpo e Neurorrafia do nervo ulnar do lado esquerdo Médico: Luis Philipe Cardinalli ANAMNESE Queixa Principal: diminuição de força do IV e V dedo da mão esquerda (V dedo, principalmente no momento de “abrir” o dedo, pouca dor na região da cicatriz cirúrgica. HMA: Em fevereiro de 2009, caiu e bateu o braço na porta de vidro, aonde sofreu uma lesão no punho da mão esquerda, lesando o músculo flexor ulnar do carpo e o nervo ulnar, sendo submetido para a cirurgia. HMP: Não apresenta. Medicamentos: Atualmente nenhum. Vícios: Nenhum Atividade Física: Pratica futebol com os amigos todos os dias. EXAME FÍSICO Não há edema na região cirúrgica. Apresenta uma cicatriz hipertrófica na região da cirurgia (punho esquerdo). Apresenta temperatura normal da mão esquerda. Sensibilidade com estesiômetro: cor azul na mão toda e cor violeta na região hipertrófica da cicatriz. AVALIAÇÃO POSTURAL Vista Anterior: Nada observado. Vista Lateral: Ombros levemente protusos e hiperlordose lombar. Vista Posterior: Nada observado. PALPAÇÃO E AVALIAÇÃO DA DOR Dor durante a palpação do tendão do flexor ulnar do carpo, na eminência hipotênar da mão esquerda. Apresenta pouca dor na região da eminência hipotênar e nas falanges proximais e distais do IV e V dedo da mão esquerda. AMPLITUDE DE MOVIMENTO Flexão do Punho Extensão do Punho Desvio Ulnar Desvio Radial Adução do IV e V dedo Abdução do IV e V dedo Metacarpofalanfeana Interfalangeana Proximal Interfalangeana Distal D 80º 62º 40º 20º 18º (IV) 15º (V) 20º (IV) 20º (V) 72º (IV) 70º (V) 60º (IV) 58º (V) 64º (IV) 64º (V) E 72º 60º 34º 16º 16º (IV) 10º (V) 20º (IV) 16º (V) 64º (IV) 60º (V) 62º (IV) 60º (V) 60º (IV) 62º (V) PROVAS DE FUNÇÃO MUSCULAR Flexor Ulnar do Carpo Flexor do Dedo Mínimo Abdutor do Dedo Mínimo Oponente do Dedo Mínimo Interósseos Dorsais Interósseos Palmares Lumbricais Adutor do Polegar D 5º 5º 4º 5º 4º 5º 5º 5º E 4º 3º 2º 3º 3º (IVdedo) 4º (II e III dedo) 3º (V dedo) 4º (II e IV dedo) 4º 4º TESTES ESPECIAIS Gaveta Anterior do Punho Teste do Esforço em Varus e Valgus Sinal de Tínel no Punho Teste de Allen D Negativo Negativo Negativo Negativo E Negativo Negativo Negativo Negativo DIAGNÓSTICO FISIOTERAPÊUTICO: Devido à presença de uma neurorrafia do nervo ulnar e uma tenorrafia do tendão do músculo flexor ulnar do carpo do lado esquerdo, o paciente apresenta uma disfunção neuromuscular, levando a diminuição de força principalmente do IV e V dedo (abdutor do V dedo, flexor do V dedo, interósseos dorsais e palmares). PROTOCOLO DE TRATAMENTO Objetivos 1. Ganhar amplitude de movimento da articulação do unho 2. Aumentar a força muscular (principalmente, IV e V dedo e abdução do V dedo) 3. Melhorar feedback sensitivo 4. Cuidados com a cicatriz 5. Melhorar coordenação Condutas 1. Exercícios de alongamentos ativos da articulação do punho 2. Exercícios ativos-resistidos com thera-band, massinhas, digiflex. Exercícios com a toalha. 3. Trabalhar com materiais de diferentes texturas como espumas, escova de dente, bolina denteada. Materiais e objetos de diferentes temperaturas (quente e frio) 4. Massagem de fricção na cicatriz, impedindo aderências cicatriciais 5. Exercícios de rapidez, precisão e eficácia do movimento. BIBLIOGRAFIA 1. MATTAR, R. Jr.; Lesões traumáticas da mão; Rev Bras Ortop _ Vol. 36, Nº 10 – Outubro, 2001 2. NOMIYAMA, E. 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