IV Conferência sobre a Economia Portuguesa Como está a Economia Portuguesa? Síntese da Área Temática 3 Prof. Doutor João Caraça A Área Temática 3 - “Conhecimento, Inovação e Ajustamentos aos Novos Cenários” – está ligada com toda a problemática da mudança: da transformação e do equilíbrio à adaptação e ao ajustamento, passando necessariamente pelas linguagens, pelas aprendizagens e pelas competências. Não admira, por isso, que as comunicações apresentadas se tenham colocado num vasto campo de conjecturas de possível, avaliando e criticando pressupostos e trajectórias, sem se terem sobreposto decididamente numa dada área preferencial de actuação. A primeira sessão centrou-se sobre a dinâmica da mudança global e sectorial e o seu relacionamento com o crescimento económico. A comunicação #1, de uma equipa da Faculdade de Economia da U. de Coimbra e do Instituto Nacional de Estatística, interrogando-se sobre o crescimento do PIB per capita em Portugal entre 1977 e 1999 conclui que tal se deve ao aumento da produtividade média do trabalho, chamando, no entanto, a atenção para que, sem se deduzir o efeito da alteração da estrutura produtiva, não é possível avaliar o efectivo aumento da eficiência da economia. A comunicação #2, de uma equipa do Grupo de Estudos Monetários e Financeiros da Faculdade de Economia da U. Coimbra, tendo como objectivo a identificação de factores de crescimento e de convergência real relativamente a um conjunto de 16 países europeus, revela que o desempenho da economia portuguesa em termos de crescimento de longo prazo é manifestamente insuficiente. A comunicação #3, de uma equipa do Centro de Estudos em Inovação, In +, do IST/UTL analisa as implicações das dinâmicas internacionais de mudança tecnológica e económica sobre o esforço de inovação em Portugal, recomendando a necessidade de um investimento substancial em capital humano, de uma reforma e renovação institucional, de um desenvolvimento de redes ao longo das cadeias de valor empresarial, bem como da introdução de formas alternativas de financiamento dedicado à inovação. A comunicação #4, de uma equipa do CISEP, ISEG/UTL e ISCTE discute as diferentes trajectórias de crescimento dos países europeus menos favorecidos, distinguindo o contributo relativo dos processos de mudança estrutural e o aumento da produtividade em cada sector. Concluí-se poder a mudança estrutural ser um factor relevante embora os efeitos condicionantes dos processos de aprendizagem tenham um papel fundamental. A comunicação #5, de uma equipa do CISEP, ISEG/UTL procura identificar os sectores mais significativos da economia portuguesa do ponto de vista das ligações intersectoriais, bem como as alterações estruturais verificadas ao longo do período 1977-1995. Conclui-se existir uma razoável melhoria na estrutura produtiva a partir da adesão à União Europeia (CEE de então) isto é, no período 1986-1995, face ao período anterior, 1977-1985. A segunda sessão versou os factores de introdução de linguagens e novos comportamentos face à mudança: actividades de I&D, investimento directo estrangeiro, internacionalização, desenvolvimento de infraestruturas. A comunicação #1, de uma equipa da Faculdade de Economia da U. do Porto, avalia a evolução de indicadores de I&D em Portugal, desde 1960, comparando-os com os outros países da OCDE, quer em termos de input, quer de output, do SCT. Ressalta um esforço em I&D relativamente baixo, com uma fraca capacidade inventiva das empresas portuguesas, questionando-se a pertinência do esforço até agora desenvolvido em Portugal, assente no crescimento de financiamento público da I&D, sobretudo por não ser visível uma inflexão no sentido do aumento do peso da I&D empresarial. A comunicação #2, da Universidade de Aveiro, procura tirar lições do crescimento da Irlanda à luz das diferenças relativamente aos países ibéricos. A principal conclusão apontada é a de que o rápido crescimento da economia irlandesa não é de origem recente, embora tenha havido uma aceleração nos anos 1990, relacionada com a eliminação de distorções fiscais, com o surto de investimento estrangeiro e com a convergência para o pleno emprego. A comunicação #3, de uma equipa dos Departamentos de Economia e Gestão da Universidade de Évora, retrata as motivações e experiência portuguesa na atracção e captura do investimento estrangeiro no período 1986-2000. Verifica-se que a dificuldade em estudar os impactos dos investimentos apoiados limitam o traçado de linhas seguras para o desenvolvimento de uma política consistente. A comunicação #4, de uma equipa da Universidade de Aveiro e do ISEG/UTL, avalia a internacionalização das empresas baseadas em novas tecnologias (NTBF’s) e o contributo para o sistema português de inovação que essas experiências proporcionam. É patente que a internacionalização das NTBF’s é fortemente condicionada por uma orientação internacional desde a sua génese. O contributo para o sistema de inovação não é ainda, contudo, muito explícito, embora se possa afirmar que o facto de estas empresas competirem cada vez mais ao nível global mostra que a imagem de baixa intensidade tecnológica do país tem um potencial de mudança. A comunicação #5, do CISEP, ISEG/UTL, aborda as questões do desinvestimento, em especial por parte de empresas multinacionais, ligando as inter-relações entre motivações endógenas às empresas e factores contextuais de desinvestimento, no sentido de indicar possíveis pistas para atenuar as consequências nefastas destes processos no curto prazo. Em suma, se é patente a mudança havida em resultado da integração no espaço europeu, não é claro porque motivo explícito Portugal, país de industrialização tardia, convergiu aparentemente de modo tão rápido até valores significativamente perto, mas também longe, das médias europeias. Parece que tudo o que foi provocado por arrastamento, nomeadamente nos serviços e na introdução de novas tecnologias da informação, se traduz num efeito de nítida modernização. Ao contrário, sobretudo nas áreas de intervenção pública, ou com ela relacionadas, nota-se uma preocupante diferença, ou distância, face aos parâmetros dos espaços económicos dos nossos parceiros. É como se a nossa economia participasse de modo fragmentado num conjunto de outras economias, sendo os efeitos centrípetos, destas, desagregadores do esforço de coordenação e de criação de riqueza das instituições sediadas no território português. Situação que, curiosamente, vai persistindo no tempo. Num Workshop promovido conjuntamente pelo CISEP e pelo Mestrado em Economia e Gestão de Ciência e Tecnologia do ISEG/UTL em Novembro de 1998, cujos “procedings” foram publicados em “O Futuro Tecnológico: perspectivas para a inovação em Portugal”, livro infelizmente fora do mercado após se ter rapidamente esgotado em 1999, afirmavam os seus organizadores: “Os indicadores disponíveis, a par de sinais inequívocos de progresso, transmitem também informação que constitui motivo para alimentar intensa preocupação. A par de bolsas de excelência, continuam a verificar-se enormes domínios de complacência e mediocridade. A intervenção a um nível tão fundamental para o futuro como o da propriedade intelectual, por exemplo, tem sido marcada por uma enorme passividade por parte das empresas portuguesas. (..) Relativamente ao orçamento explícito para a ciência e tecnologia, apesar de se verificar uma tendência para um aumento mais ou menos contínuo desde os anos 80, também é verdade que mais de metade do seu valor total provém actualmente de co-financiamentos europeus. (..) Por outro lado, as políticas públicas explícitas de estímulo à inovação e à difusão da inovação continuam a debater-se com a escassez de recursos e com um quadro institucional de desarticulação entre os principais actores. A lógica de isolamento da investigação universitária que vem sendo instituída não tem, também, contribuído para que os necessários mecanismos de integração sistémica se desenvolvam e fortaleçam. E isto apesar de a ligação do conhecimento mais fundamental às aplicações já ter sido conseguida, em algumas ocasiões no passado, em Portugal, com notável sucesso. A incapacidade de orientar uma parte significativa da investigação nacional para fins de natureza social contrasta flagrantemente com as abordagens que vêm sendo desenvolvidas a nível internacional, de avaliação de resultados de acordo com os padrões de interacção com os agentes destinatários da I&D e com os contributos para a qualidade de vida dos cidadãos. Esta postura reflecte a necessidade das escolhas não serem processadas em exclusivo por especialistas, devendo também a elas estar associadas os grupos de interesse e membros do público em geral, a quem a necessária informação tenha sido transmitida. A produção e circulação do conhecimento não constituem fins em si próprios. Muito menos a sua aplicação e operacionalização cegas a fins desajustados da promoção do bem-estar individual e colectivo. Produção e aplicação devem respeitar critérios de satisfação da necessidade humana e de preservação ambiental e do bem público geral. Esperemos que o nosso “futuro tecnológico” seja também um futuro sustentável, em que o humanismo, a solidariedade e a participação das comunidades constituam valores primordiais.