1. TEORIA DOS CIRCUITOS Fernando Gonçalves © Instituto Superior Técnico Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 Materiais Condutores Os materiais condutores caracterizam-se por possuírem electrões que estão sujeitos a pequenas forças de atracção do seu núcleo Estes electrões designam-se por Electrões Livres Exemplo de electrões livres num material condutor Quando não estão sujeitos a nenhuma influência externa, os electrões livres apresentam um comportamento aleatório Exemplos de materiais condutores: cobre e alumínio Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 2 1 Corrente Eléctrica Num material condutor sujeito a uma influência externa os electrões livres deslocam-se numa direcção específica Influência externa Este movimento de electrões designa-se por Corrente Eléctrica Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 3 Corrente: Definição A corrente é definida como o fluxo de carga eléctrica por unidade de tempo dQ I= dt Onde: • Q é a carga eléctrica em Coulomb (C) e • t é o tempo em segundos (s) Símbolo usado para representar a corrente: I Unidade usada para a corrente: Ampere (A) (= Coulomb / segundos) Exemplo: Sabendo que a carga de um electrão é 1,6x10-19 C, calcular a corrente correspondente ao fluxo de 1020 electrões durante 10 segundos 20 -19 I= Instituto Superior Técnico 10 x1,6x10 10 Fernando Gonçalves = 1,6 A Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 4 2 Corrente Se a corrente for negativa, significa que a corrente real tem o sentido contrário ao sentido definido I = –0,2 A I = 0,2 A Quando a corrente é desconhecida, não é importante advinhar o seu sentido – a escolha efectuada não afectará o sentido da corrente Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 5 Unidades Grandeza eléctrica Unidade Energia E Joule J Potência P Watt W Carga Q Coulomb C Corrente I Ampere A Tensão V Volt V Resistência R Ohm Ω Capacidade C Farad F Inductância L Henry H Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 6 3 Prefixos Nome Exemplo: Factor femto f 10-15 pico p 10-12 nano n 10-9 micro µ 10-6 mili m 10-3 kilo k 103 mega M 106 giga G 109 I = 15 nA = 15x10-9A Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 7 Tensão: Definição Para que exista corrente é necessário existir uma fonte que forneça electrões, por exemplo, uma pilha A tensão é definida como a energia necessária para mover uma carga negativa (electrão) do potencial mais elevado para o potencial mais baixo. Símbolo usado para representar a tensão: V Unidade usada para a tensão: Volt (V) A tensão também pode ser designada por Diferença de Potencial ou Força Electromotriz Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 8 4 Tensão A tensão é sempre referenciada a algum ponto: VAB corresponde à tensão em A (VA) medida em relação à tensão em B (VB) A + VAB – B VAB = VA – VB I VBA= – VAB VBA= VB – VA = – (VA – VB) = – VAB Por convenção, a corrente flui do potencial mais elevado (+) para o potencial mais baixo (–) Instituto Superior Técnico Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 Fernando Gonçalves 9 Tensão: Pilha terminal + Ao ligar ... Algum tempo depois ... Fio condutor Fio condutor terminal – Lâmpada acende Lâmpada apaga I Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 10 5 Tensão: Algumas Recomendações 1. Identifique os terminais com letras ou números 2. Adicione os sinais + e – a cada terminal. O sinal + irá corresponder ao primeiro índice e o sinal – corresponderá ao segundo índice Exemplo 2V a c Vab = ? Vcd Vdc 1V b Vac = ? Vca = 2 V ⇒ Vac = –2 V d Instituto Superior Técnico Vab = 1 V Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 11 Tensão: Algumas Convenções Por vezes é utilizado um nó do circuito como referência ou “massa” (“ground”). Assim: • Todas as tensões são medidas em relação a esse nó • As tensões podem ser descritas com um único índice Exemplo A + VAB – B VAB = VA – VB = VA nó de referência Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Equivalente a considerar que VB = 0V Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 12 6 Associação de Baterias em Série Exemplo: como calcular VAD ? A 1,5 V + B 1,5 V + C + 9V D VAD = VAB + VBC + VCD VBA = 1,5 V ⇒ VAB = –1,5 V VCB = 1,5 V ⇒ VBC = –1,5 V VCD = 9 V Então VAD = –1,5 – 1,5 + 9 = 6 V Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 13 Potência: Definição A potência define-se como a energia por unidade de tempo Em termos da tensão e corrente, a potência pode ser calculada por P = V ⋅I Símbolo usado para representar a potência: P Unidade usada para a potência: Watts (W) (= Joules / segundo) Alguns dispositivos fornecem (geram) potência, enquanto outros absorvem (consumem) potência Exemplos Dispositivos Geradores: Baterias Dispositivos Consumidores: Lâmpadas, Computadores Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 14 7 Resistência: Definição e Lei de Ohm A corrente através de um condutor metálico é proporcional à tensão aplicada aos seus terminais A proporcionalidade entre corrente e tensão designa-se por resistência Lei de Ohm R= I V I declive = Símbolo usado para representar a resistência: R Unidade usada para a resistência: Ohm (Ω Ω) Representação gráfica: 1 R V Exemplos de resistências: Qualquer fio condutor possui “resistência”, mas essa resistência é normalmente muito reduzida ⇒ na prática considera-se nula (condutor ideal, R = 0 Ω) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 15 Associação de Resistências em Série Duas ou mais resistências estão ligadas em série quando são percorridas pela mesma corrente R1 R1 R2 R2 I I R3 Req = R1 + R2 Req é a resistência equivalente Genericamente: R1 RN Req = R1 + ... + RN A resistência de maior valor é dominante Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 16 8 Associação de Resistências em Paralelo Duas ou mais resistências estão ligadas em paralelo quando têm ambos os terminais em comum R1 R1 Req R2 1 1 1 = + R eq R1 R 2 Genericamente: R1 R eq = R2 R3 R1 R 2 R1 + R 2 RN Req N 1 1 =∑ R eq i=1 Ri A resistência de menor valor é dominante Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 17 Associação de Resistências: Exemplos Calcular o valor da resistência equivalente para cada um dos casos 1) R1 R2 R3 1 kΩ Ω 100 kΩ Ω 9 kΩ Ω 2) R1 10 kΩ Ω 4) Ω R2 10 kΩ R1 3) R1 4 kΩ Ω R2 10 kΩ Ω 10 kΩ Ω R2 100 kΩ Ω Ω R3 10 kΩ Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 18 9 Divisor de Tensão Usando a Lei de Ohm: I R1 VIN = V1 + V2 V1 I=0 VIN R2 V2 mas V1 = I.R1 V2 = I.R2 então VIN = I.R1 + I.R2 = I (R1 + R2) I= V2 = ? e VIN R1 + R 2 V2 VIN = R2 R1 + R 2 I= V2 = VIN Req R2 V R1 + R2 IN O conceito de divisor de tensão pode ser generalizado para mais de duas resistências Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 19 Tipos de Circuitos Eléctricos Os circuitos eléctricos podem ser de 2 tipos: Circuitos Resistivos: são constituídos apenas por elementos resistivos, i.e., aqueles cuja relação corrente-tensão pode ser descrita por equações algébricas Circuitos Reactivos: são constituídos por elementos cuja relação corrente-tensão é descrita por equações diferenciais (também podem incluir elementos resistivos) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 20 10 Circuitos Lineares versus Circuitos Não-Lineares Os circuitos resistivos podem ser lineares ou não-lineares, consoante a relação corrente-tensão é descrita por uma equação linear ou não Circuito Não-Linear Circuito Linear I I= I V R I I = k Vn V Instituto Superior Técnico Circuito Linear por troços V V Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 Fernando Gonçalves 21 Fontes de Tensão Ideais Fonte de tensão ideal: impõe uma tensão aos seus terminais. A corrente que a atravessa pode ser qualquer e é imposta pelo circuito ao qual está ligada Outros símbolos Símbolo genérico v Fonte de tensão sinusoidal I=? Fonte de tensão contínua Tensão contínua é uma tensão V que não varia ao longo do tempo (p.e., pilha) v Exemplo: v = v(t) = A sin (2πf t) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Exemplo: V=5V Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 22 11 Fontes de Corrente Ideais Fonte de corrente ideal: impõe o valor da corrente. A tensão aos seus terminais pode ser qualquer, i.e., é imposta pelo circuito ao qual está ligada Símbolo de uma fonte de corrente + i V=? – Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 23 Fontes Dependentes Fonte de tensão comandada por tensão v = k v1 Fonte de corrente comandada por tensão i = (1/R) v1 Fonte de tensão comandada por corrente v = R i1 Fonte de corrente comandada por corrente i = k i1 i1 e v1 são a corrente e a tensão noutro ponto do circuito Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 24 12 Conceito de Nó, Ramo e Malha Nó é o ponto de ligação de 2 ou mais dispositivos Ramo corresponde aos arcos de ligação entre os nós com 3 ou mais ligações Malha corresponde a um caminho fechado constituído por vários nós e ramos Ramos Malha Nós Questões: Quantos nós tem este circuito ? E quantos ramos ? E quantas malhas ? Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 25 Leis de Kirchhoff: Lei dos nós A soma das correntes que entram num nó é igual à soma das correntes que saem desse nó Também pode ser designada por Lei de conservação da carga Exemplo: Aplicar a lei dos nós ao nó A corrente que entra: I1 A I1 I2 I3 correntes que saem: I2 e I3 então I1 = I2 + I3 NOTA: Os sentidos das correntes foram escolhidos aleatoriamente Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 26 13 Leis de Kirchhoff: Lei das Malhas A soma das quedas de tensão ao longo de um caminho fechado (malha) é zero Exemplo: Aplicar a lei das malhas à malha assinalada na figura v1 tem o sentido contrário ao definido para circulação na malha ⇒ – v1 v2 v1 v3 v2 e v3 têm o sentido definido para circulação na malha ⇒ + v2 e + v3 então –v1 + v2 + v3 = 0 NOTA: Os sentidos das quedas de tensão foram escolhidos aleatoriamente Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 27 Teorema da Sobreposição Num circuito com vários geradores independentes, a corrente (ou tensão) num ramo pode obter-se somando as correntes (ou tensões) produzidas por cada um dos geradores independentes isoladamente, i.e., quando os restantes geradores são anulados Este teorema também pode ser descrito como uma técnica de “Dividir para conquistar” Muito importante ! • Anular uma fonte de tensão corresponde a fazer um curtocircuito nessa fonte • Anular uma fonte de corrente corresponde a colocá-la em aberto • Este teorema não pode ser aplicado a circuitos com geradores dependentes Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 28 14 Teorema da Sobreposição: Exemplo Exemplo: Determinar i2 e v2 usando o Teorema da Sobreposição R1 i2 vs Instituto Superior Técnico R2 Fernando Gonçalves v2 is Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 29 Teorema de Thévenin Qualquer sub-circuito resistivo linear de 2 terminais pode ser substituído por uma fonte de tensão, VTh, em série com uma resistência, RTh Circuito Sub-circuito Resistivo Linear A Circuito Sub-circuito Linear ou Não-linear B RTh VTh A Sub-circuito Linear ou Não-linear B A combinação da fonte de tensão e resistência que reproduzem o funcionamento do circuito resistivo linear designa-se por Equivalente de Thévenin Como determinar VTh e RTh ? Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 30 15 Teorema de Thévenin: Cálculo de VTh e RTh Cálculo de VTh: VTh corresponde à tensão em circuito aberto, VOC (i.e., I=0) Sub-circuito Resistivo Linear VOC Cálculo de RTh: RTh corresponde ao quociente entre VOC e a corrente de curto-circuito, ISC R Th = Sub-circuito Resistivo Linear ISC VOC ISC Instituto Superior Técnico Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 Fernando Gonçalves 31 Teorema de Thévenin: Exemplo Determinar o equivalente de Thévenin aos terminais a-b R1 V1 VTh = VOC = VR2 = a R2 b R Th = R1 // R 2 VTh Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves R2 V1 R1 + R 2 (divisor de tensão) (R1 paralelo com R2) RTh Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 32 16 Teorema de Norton Qualquer sub-circuito resistivo linear de 2 terminais pode ser substituído por uma fonte de corrente, IN, em paralelo com uma resistência, RN Circuito Sub-circuito Resistivo Linear A Circuito Sub-circuito Linear ou Não-linear B RN IN A Sub-circuito Linear ou Não-linear B A combinação da fonte de corrente e resistência que reproduzem o funcionamento do circuito resistivo linear designa-se por Equivalente de Norton Como determinar IN e RN ? Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 33 Teorema de Norton: Cálculo de IN e RN Cálculo de IN: Sub-circuito Resistivo Linear IN corresponde à corrente de curto-circuito, ISC ISC Cálculo de RN (idêntico ao Equiv. de Thévenin): RN corresponde ao quociente entre VOC e a corrente de curto-circuito, ISC RN = R Th = Instituto Superior Técnico VOC ISC Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 34 17 Transformação Thévenin-Norton Procedimento para transformar o Equivalente de Thévenin no Equivalente de Norton, e vice-versa RTh VTh IN RN VTh = RN . IN IN = VTh / RTh RTh = RN RN = RTh Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 35 Método dos Nós O Método dos Nós constitui um método sistemático para a análise de circuitos eléctricos Para determinar tensões e correntes pode ser necessário resolver um sistema de equações Questão: Como determinar um conjunto de equações independentes ? Por aplicação das Leis de Kirchhoff obtêm-se equações nãoindependentes ⇒ necessidade de encontrar um procedimento sistemático Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 36 18 Método dos Nós Como determinar um conjunto de equações independentes ? Passo 1 - Escolhe-se um nó para referência (massa) Passo 2 - Consideram-se tensões entre cada nó e o nó de referência (tensões nodais) Passo 3 - Aplica-se a Lei dos Nós a todos os nós, com excepção do nó de referência Passo 4 - Transformam-se as correntes em tensões aplicando a lei de Ohm Instituto Superior Técnico Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 Fernando Gonçalves 37 Método dos Nós: Exemplo A R1 R3 B i1 V1 iv C i3 i2 R2 iS R4 i4 IS referência Va − Vb R1 Nó A iv = i1 iv = Nó B i1 = i2 + i3 Va − Vb Vb Vb − Vc = + R1 R2 R3 Nó C i3 + iS = i4 Vb − Vc V + iS = c R3 R4 Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves iv = Va = V1 V1 − Vb R1 V1 − Vb Vb Vb − Vc = + R1 R2 R3 Vb − Vc V + iS = c R3 R4 Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 38 19 Condensador Um condensador é constituído por duas placas de material condutor (armaduras) separadas por um material isolante (dieléctrico) A d Exemplos de dieléctricos: ar, silício A carga armazenada num condensador é dada por Q = CV C : capacidade V : tensão aplicada aos terminais do condensador Símbolo: Tipos: ou Instituto Superior Técnico Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 Fernando Gonçalves 39 Condensador C=ε A capacidade é dada por A d Unidade: Farad (F) A : área de cada uma das armaduras A capacidade de um condensador depende de parâmetros definidos pelo processo de fabrico d : distância entre armaduras ε : constante dieléctrica do isolante Relação corrente-tensão num condensador Q = CV mas I= dQ dt então I=C dV dt O condensador é um Elemento Reactivo A corrente que percorre um condensador não é proporcional à tensão aplicada aos seus terminais, mas antes à taxa de variação da tensão Da equação anterior resulta que Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves V = constante I=0 Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 40 20 Associação de Condensadores Série: C1 Ceq C2 C C 1 1 1 = + ⇔ Ceq = 1 2 C1 + C2 Ceq C1 C2 C1 Paralelo: Ceq Ceq = C1 + C2 C2 Conclusão A associação de condensadores em série (paralelo) é idêntica à associação de resistências em paralelo (série) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 41 Circuitos RC – Resposta no Tempo t=0 Vin V1 R V iR V1 iC C Vin Vo(t) = ? Vo 0 iR = Vin − Vo R iC = C dVo dt iR = iC t Lei de Ohm Equação do condensador Vin − Vo dV =C o R dt dVo 1 = (Vin − Vo ) dt RC equação diferencial de 1ª ordem Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 42 21 Circuitos RC – Resposta no Tempo A equação diferencial dVo 1 = (Vin − Vo ) tem como solução dt RC Vo (t) = Vin + [Vo (0) - Vin ]e − t/RC Considerando VC(0) = Vo(0) = 0 (condensador descarregado) e − t/RC ) (para t ≥ 0) Vin(t>0) = V1, a solução simplifica-se Vo (t) = V1(1 − e V Vin V1 Vo (0) = 0 V Vo Vo (∞ ∞) = V1 Vo (RC) = 0,63 V1 0 t Vo atinge 63% do valor final (V1) em t = RC RC designa-se por constante de tempo e representa-se por τ (tau) O tempo de subida de Vo é directamente proporcional a RC Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 43 Circuitos RC – Resposta no Tempo Cálculo da corrente ao longo do tempo Vin − Vo (t) R − t/RC V - V (1 - e ) i(t) = 1 1 R i iC (t) = iR (t) = i(t) = V e − t/RC i(t) = 1 R V1/R t=0 Vin R iR V1 iC C Vo i(t) 0 t A tensão aos terminais de um condensador não pode variar instantaneamente (seria necessária uma corrente infinita), mas a corrente pode Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 44 22 Circuitos RC – Resposta no Tempo Cálculo da tensão na resistência t=0 Vin R iR V1 VR (t) = R ⋅ i(t) iC C Vo VR (t) = V1 e − t/RC V VR (0-) = 0 V VR (0+) V1 Vo(t) = V1 Vin VR(t) VR (∞ ∞) = 0 V 0 t A tensão aos terminais da resistência pode variar instantaneamente Instituto Superior Técnico Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 Fernando Gonçalves 45 Circuitos RC – Resposta no Tempo t=0 V1 Vin R iR descarga V iC C Vo V1 Vo(t) = ? Vin 0 t Mantém-se a mesma equação diferencial, logo a solução geral é idêntica à da carga − t/RC Vo (t) = Vin + [Vo (0) - Vin ]e Mas a condição inicial é diferente. Admitindo que o condensador carregou totalmente, a condição inicial é Vo(0) = V1 Para Vo(0) = V1 e Vin(t>0) = 0 obtém-se Vo (t) = V1 e − t/RC (para t ≥ 0) V Vin Vo(t) 0 Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 t 46 23 Circuitos RC – Derivador C iC Vi iR R iR = Vo Vo R iC = C e Vo d(Vi − Vo ) =C R dt iR = iC dVi dt Vo ≈ RC Se Vi >> Vo Instituto Superior Técnico d(Vi - Vo ) dt Vo = RC d(Vi − Vo ) dt Vo é a derivada de Vi Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 Fernando Gonçalves 47 Circuito Gerador de Rampa A corrente no condensador é dada por I I C Vo I=C dVo dt Como I e C são constantes I = constante C então dV0 = constante dt V I V0 (t) = t C Vo(t) 0 Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves declive = I C t Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 48 24 Bobina A bobina é um dispositivo no qual a tensão é proporcional à taxa de variação da corrente que a percorre V =L dI dt L designa-se por indutância núcleo Unidade: Henry (H) Símbolo: Uma bobina é, normalmente, constituída por um fio enrolado em torno de um núcleo, p.e., ferro Da equação característica de uma bobina resulta que Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves V =0 I = constante Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 49 Transformador Um transformador é um dispositivo constituído por duas bobinas adjacentes, entre as quais existe uma ligação magnética núcleo Primário Símbolo Secundário n1 n2 n1 e n2 : v1 v2 i1 Utilizado para ... i2 número de espiras das boninas • converter níveis de tensão AC (tensão alternada) • “isolar” electricamente um dispositivo da sua ligação à rede eléctrica Num transformador ideal: v2 = n2 v1 n1 e i2 = − n1 i1 n2 v2 i2 = −v1 i1 Potência no primário = – Potência no secundário Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 50 25 Grandezas Sinusoidais As grandezas sinusoidais (ou grandezas alternadas sinusoidais) têm a forma x(t) = X m cos (ω t + α) x(t) Xm valor instantâneo (valor no instante t) amplitude ou valor máximo ω α frequência angular (em radianos/segundo) fase (em radianos) A frequência angular, ω, relaciona-se com a frequência temporal, f, através de f exprime-se em Hertz (Hz) ω = 2πf Hertz = 1/segundo Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 51 Grandezas Sinusoidais A frequência temporal, f, é o inverso do período, T f= 1 T T exprime-se em unidades de tempo: segundos (s) Exemplos: x(t) = 2 cos (ω t) a fase é nula x 2 T/2 π -2 T 2π t ωt T 2π t ωt T (período) x(t) = 2 cos (ω t − α) a fase é ≠ 0 Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves x α T/2 π Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 52 26 Análise de um Sinal na Frequência Qualquer sinal pode ser decomposto numa soma de sinusóides com diferentes amplitudes e frequências Exemplo: Análise na frequência de uma onda quadrada de frequência f1 Xm 3f1 f1 Instituto Superior Técnico 7f1 5f1 Fernando Gonçalves 11f1 9f1 f Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 53 Análise na Frequência de uma Onda Quadrada Uma onda quadrada pode ser obtida ... pela soma da frequência, f + - menos 3f com amplitude 1/3 Transformada um sinal mais 5f com de amplitude 1/5 quadrado menos 7f com amplitude 1/7 etc ... Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 54 27 Resposta em Frequência I(t) = ? V(t) = Vm sin (ωt) I(t) = C então I(t) = C ω Vm cos (ω t) C Vm V t Amplitude varia com a frequência Instituto Superior Técnico dV(t) dt Como CωVm I Fernando Gonçalves t Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 55 Resposta em Frequência Quando um sinal sinusoidal é aplicado num circuito constituído por condensadores e/ou bobinas, a saída é um sinal sinusoidal com a mesma frequência, mas possivelmente com diferente amplitude e fase. Circuitos com condensadores e bobinas têm comportamentos que dependem da frequência do sinal ⇒ análise da resposta em frequência Resposta no tempo V ou I V ou I t Instituto Superior Técnico Resposta em frequência Fernando Gonçalves f Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 56 28 Representação Complexa Para a análise da resposta em frequência de circuitos reactivos (circuitos cuja resposta varia no tempo) é conveniente utilizar números complexos para representar tensões, correntes e “resistências” Com esta técnica, as equações diferenciais que descrevem os circuitos reactivos transformam-se em equações algébricas A representação utilizada baseia-se na Fórmula de Euler e jθ = cosθ + j sinθ Assim a grandeza sinusoidal x(t) = X m cos (ω t + α ) pode representar-se como x(t) = Re X m e j(ωt + α ) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves [ ] Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 57 Derivada da Representação Complexa Se x(t) = X m cos (ω t + α) então dx(t) = −ω X m sin (ω t + α) dt Efectuando a mesma derivada usando a representação complexa x(t) = X m e j(ωt + α ) então dx(t) = jω X me j ( ω t + α ) dt jωX m [cos(ωt + α) + j sin(ωt + α)] Re{jωX m [cos(ωt + α) + j sin(ωt + α)]} = −ω X m sin(ωt + α) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 58 29 Generalização da Lei de Ohm A Lei de Ohm pode ser generalizada substituindo o termo resistência por impedância R= V I Z= V I onde a impedância, Z, é uma grandeza complexa Resistências são elementos resistivos ⇒ têm resistência Condensadores e bobinas são elementos reactivos ⇒ têm reactância Impedância = Resistência + Reactância Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 59 Generalização da Lei de Ohm Como a Lei de Ohm foi preservada, os seguintes resultados podem ser transpostos para a análise de circuitos reactivos: • Leis de Kirchhoff (Lei dos Nós e Lei das Malhas) • Teorema da Sobreposição • Teoremas de Thévenin e Norton • Método dos Nós • Divisor de Tensão • Associação de Impedâncias em série e paralelo Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 60 30 Divisor de Tensão e Associação de Impedâncias Z1 Divisor de Tensão: Vin Z2 Vout Vout = Z2 Vin Z1 + Z2 Associação de Impedâncias em Série: Z1 Z2 Zeq ZN Z eq = Z 1 + Z 2 + + Z N Associação de Impedâncias em Paralelo: Z1 Instituto Superior Técnico ZN Fernando Gonçalves Zeq N 1 1 =∑ Z eq i=1 Z i Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 61 Cálculo da Impedância de um Condensador A expressão da corrente num condensador é dada por I=C dV dt Considerando que V é um sinal sinusoidal representado sob a forma de uma grandeza complexa: V = Vm e j( ωt + α ) Obtém-se I=C Então d d V = C (Vme j( ωt + α ) ) = jωCVme j(ωt + α ) = jωCV dt dt ZC = Instituto Superior Técnico V 1 = I jωC Fernando Gonçalves Impedância de um condensador Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 62 31 Cálculo da Impedância de uma Bobina A expressão da tensão numa bobina é dada por V =L dI dt Considerando que I é uma grandeza complexa, obtém-se ... V =L Então d d I = L Im e j(ωt + α ) = jωLIm e j(ωt + α ) = jωLI dt dt ZL = V = jωL I Instituto Superior Técnico Impedância de uma bobina Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 63 Impedâncias: Resumo ZR = R ZC = Resistência 1 jωC ou ZC = Z L = jωL Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves −j ωC Condensador Bobina Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 64 32 Filtro Passa-Alto Calcular Vout/Vin para este circuito RC C Vin Utilizando o resultado do divisor de tensão (Vout = Z1 = Z C = obtém-se 1 jωC Vout = Instituto Superior Técnico Vout R Z2 Vin ) Z1 + Z 2 e fazendo Z2 = ZR = R e R Vin 1 +R jωC Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 65 Filtro Passa-Alto Vout = R Vin 1 +R jωC Vout = jωRC Vin 1 + jωRC Esta expressão inclui informação sobre a amplitude e a fase, mas apenas vamos analisar a informação referente à amplitude Para obter a amplitude é necessário determinar o módulo das grandezas complexas V jωRC Vout ωRC = out = = 2 Vin Vin 1 + jωRC 1 + (ωRC) A relação Vout/Vin designa-se por Função de Transferência Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 66 33 Filtro Passa-Alto Vout ωRC = 2 Vin 1 + (ωRC) Vout Vin 1 0 f Para ω = 0 Vout =0 Vin para frequência nula não passa sinal Vout = 0 Para ω = ∞ Vout =1 Vin para frequências elevadas Vout ≈ Vin A designação Passa-Alto resulta do facto deste circuito apenas deixar passar os sinais com frequência elevada (os sinais de baixa frequência são eliminados ou atenuados) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 67 Filtro Passa-Alto: Exemplo Calcular a amplitude de Vout quando na entrada, Vin, é aplicado um sinal sinusoidal com amplitude 5 V e frequência 100 Hz C = 1 µF Vin R 1 kΩ Vout Vout ωRC = 2 Vin 1 + (ωRC ) ω = 2πf = 628 rad/s f = 100 Hz Vout = ωRC 1 + (ωRC ) 2 Vin Vout = 628 × 1x 10 3 × 1x 10 −6 ( 1 + 628 × 1x 10 3 × 1x 10 −6 ) 2 ×5 Vout = 2.65 V Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 68 34 Filtro Passa-Baixo Calcular Vout/Vin para este circuito RC R Vin Usando a equação do divisor de tensão Vout 1 jωC = Vin 1 +R jωC C Vout = Vout 1 Vin 1 + jωRC V Vout 1 1 = out = = 2 Vin Vin 1 + jωRC 1 + (ωRC) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 69 Filtro Passa-Baixo Vout 1 = 2 Vin 1 + (ωRC) Vout 0 Para ω = 0 Vout =1 Vin Para ω = ∞ Vout =0 Vin Vin 1 f para frequência nula Vout = Vin para baixas frequências Vout ≈ Vin para frequências elevadas Vout ≈ 0 A designação Passa-Baixo resulta do facto deste circuito apenas deixar passar os sinais com baixas frequências (os sinais de alta frequência são atenuados ou “eliminados”) Instituto Superior Técnico Fernando Gonçalves Teoria dos Circuitos e Fundamentos de Electrónica - 2004/2005 70 35