Sistema Imunológico Diariamente, contactamos com milhões de microrganismos. A maior parte desses microrganismos não é perigosa, mas muitos outros são agentes patogénicos – são capazes de provocar doenças. O modo de transmissão destes agentes pode ser através de: Contacto; Espirros; Tosse; Expetoração; Picadas de animais; Relações sexuais; Inalação. Dos agentes patogénicos, focamos os vírus e as bactérias. Pontos comuns entre os vírus e as bactérias: Reproduzem-se e são constituídos por moléculas que pertencem ao mundo vivo – apresentam um património genético. Vírus São seres acelulares (não possuem estrutura celular e por isso necessitam de parasitar outra célula para reproduzir-se, utilizando o metabolismo da célula hospedeira). Um vírus não pode ser simultaneamente por DNA e RNA. constituído O ácido nucleico é rodeado por uma camada proteica chamada cápside, possuindo (por vezes) algumas enzimas. Muitos vírus possuem ainda um invólucro externo semelhante à membrana das células, produzido pela célula hospedeira onde eles se multiplicam. São parasitas intracelulares obrigatórios – só manifestam características vitais dentro de células vivas por eles invadidas. São incapazes de se reproduzir e realizar o metabolismo de modo autónomo. Invadem células e assumem o comando da sua maquinaria metabólica para se reproduzirem. Utilizam os organelos da célula invadida e as reservas bioquímicas da mesma para a produção de proteínas e ácidos nucleicos virais. Bactérias São células procarióticas. O DNA forma uma molécula (normalmente circular) no seio do citoplasma – não está rodeado pelo invólucro nuclear. Muitas bactérias têm também pequenos anéis de DNA – plasmídeos – que contêm genes acessórios. O seu material genético é designado por nucleoide – já que não forma um verdadeiro núcleo. As bactérias não possuem organelos membranares, mas sim ribossomas e todas as estruturas necessárias à realização de biossínteses e transformações energéticas. A reprodução das bactérias faz-se por divisão binária. (replicação do DNA. Separação das duas cópias, que se afastam em sentidos opostos. A membrana celular dobra-se para o interior e forma uma dupla camada a meio da célula, ocorrendo a divisão do citoplasma). LIQUIDOS CIRCULANTES DO ORGANISMOS E OS ÓRGÃOS DO SISTEMA IMUNITÁRIO Constituintes do sistema imunitário: Nos vertebrados, consideramos que fazem parte do sistema imunitário: Vasos linfáticos; Órgãos e tecidos linfoides; Células efectoras. Órgãos linfoides: Primários: Estruturas envolvidas na produção e maturação de leucócitos. (Timo e Medula Óssea.) Secundários: Órgãos envolvidos na captura e destruição de agentes agressores externos. Locais de circulação e armazenamento das células imunitárias. (Adenoides, amígdalas, gânglios linfáticos, baço, apêndice, tecido linfático associado a mucosas.) Células efectoras: Granulares: Células com núcleo POLILOBADO e grânulos citoplasmáticos específicos. Neutrófilos: células muito ativas que patrulham o corpo, fagocitando bactérias e outros corpos estranhos, constituindo a primeira linha de defesa contra a invasão de microrganismos; Basófilos: células produtoras de mediadores químicos de reações inflamatórias (como a histamina). Podem realizar fagocitose, mas de uma forma muito lenta. Têm um núcleo volumoso, irregular e retorcido, por vezes em forma de S. Eosinófilos: realizam fagocitose de forma mais lenta que os neutrófilos, já que são geralmente mais seletivos. A sua ação dirige-se especialmente contra parasitas, colocandose junto à sua parede, libertando enzimas que os destroem. Com núcleo, geralmente bilobado. Agranulares: Células com núcleo grande, mais ou menos esférico ou em forma de rim, sem grânulos no citoplasma. Linfócitos: existem dois tipos principais destas duas células, os linfócitos B e os linfócitos T. Os primeiros podem diferenciar-se em plasmócitos que produzem anticorpos, enquanto que os segundos não libertam anticorpos, mas reconhecem e ajudam a destruir agentes patogénicos. Células com núcleos esféricos, que resultam da diferenciação de células da medula óssea, chamadas linfoblastos. Monócitos: são capazes de abandonar os vasos, migrando para os tecidos, nos quais se diferenciam em células fagocitárias de grandes dimensões: os macrófagos. São muito eficientes na fagocitose de protozoários, vírus e células em degenerescência. Apresentam o núcleo em forma de rim, ferradura ou ovoide. Os fagócitos são células com capacidade fagocitária, das quais se destacam os granulócitos e os monócitos. Os monócitos diferenciam-se em macrófagos, que se espalham por todo o organismo, prontos a atuar sobre corpos estranhos. Os linfócitos são células fundamentais na resposta imunitária. Existem dois tipos principais de linfócitos – os B e as T. Estas células atuam de diferente modo na defesa do organismo e distinguem-se por recetores membranares que possuem, q lhes permitem reconhecer corpos estranhos. Linhas de defesa do organismo Cada indivíduo é bioquimicamente único. Esta individualidade é definida pela presença na superfície das células de macromoléculas (glicoproteínas) que são diferentes das macromoléculas das células dos indivíduos de outra espécie, de outro indivíduo da própria espécie e por vezes mesmo de outras células do mesmo indivíduo q experimentaram mutações. Essas moléculas funcionam como marcadores celulares e são a expressão de genes que existem sob diferentes formas alélicas. As linhas de defesa do organismo são variadas. Algumas estão presentes em todos os seres multicelulares e constituem a imunidade inata. Outras foram adquiridas mais tardiamente na evolução das espécies, só aparecendo nos vertebrados, e constituem a imunidade adaptativa. Imunidade: diversos processos fisiológicos que permitem ao organismo reconhecer corpos estranhos ou anormais, neutralizá-los e eliminá-los. O sistema imunitário tem funções não só em relação a agentes estranhos, mas também na eliminação de células lesionadas ou já envelhecidas e na destruição de células mutantes ou anormais que se formam no organismo (vigilância imunitária – das principais defesas contra o cancro). Os mecanismos de defesa em relação a agentes estranhos (internos ou externos), independentemente do tipo de corpo e dão-se sempre do mesmo modo. Os mecanismos de defesa específica implicam células que têm uma ação específica sobre determinados agentes invasores. Defesa não específica Os mecanismos envolvidos na defesa não especifica fazem parte da IMUNIDADE INATA, pois não são intrinsecamente afetados pelo contacto prévio com o agente invasor. Impedem a entrada de agentes patogénicos ou destroem-nos quando estes penetram no organismo. Barreiras anatómicas São as primeiras linhas de defesa do organismo contra a entrada de corpos estranhos. Pele: primeira barreira mecânica e química para os corpos estranhos. Tem uma camada de células mortas que constituem a camada córnea protetora. Também células que asseguram a imunidade cutânea – são muito ramificadas, e por isso captam corpos estranhos, degradam-nos e apresentam fragmentos moleculares dos constituintes aos linfócitos T; Pelos das narinas; Mucosas: forram as cavidades do corpo que abrem para o exterior e segregam muco que dificulta a fixação de microrganismos e a sua multiplicação nessas mucosas. Secreções e enzimas: algumas glândulas segregam substâncias que são tóxicas para muitas bactérias, impedindo a sua progressão no organismo. Também existem células secretoras de muco que têm função de barreira. Resposta inflamatória Traduz-se por uma sequência complexa de acontecimentos que visam inativar ou destruir agentes invasores quando alguns microrganismos ultrapassam a primeira linha de defesa do organismo. No tecido atingido por agentes patogénicos, diversos tipos de células, como por exemplo, mastócitos e basófilos, produzem histamina e outros mediadores químicos que provocam a dilatação dos vasos sanguíneos e aumentam a sua permeabilidade. Com isto, aumenta a quantidade de fluido intersticial, provocando um edema na região. 1. Os agentes patogénicos e/ou as células dos tecidos lesados libertam substâncias químicas, principalmente histamina e prostaglandinas. 2. As substâncias químicas libertadas causam a vasodilatação e o aumento da permeabilidade dos capilares sanguíneos da zona atingida. Como consequência, aumenta o fluxo sanguíneo no local e uma maior quantidade de fluído intersticial passa para os tecidos envolventes. 3. A zona atingida manifesta rubor, calor e edema. A dor que acompanha esta reação deve-se à ação de substâncias químicas nas terminações nervosas locais e pela distensão dos tecidos. 4. Os neutrófilos e os monócitos são atraídos por quimiotaxia, deixam os vasos sanguíneos por diapedese e dirigem-se aos tecidos infetados. Os neutrófilos são os primeiros a chegar e começam a realizar a fagocitose de agentes patogénicos. Chegam a seguir os monócitos que se diferenciam em macrófagos. 5. Os macrófagos fagocitam os agentes patogénicos e os seus produtos, os neutrófilos destruídos no processo e as células danificadas. O pús que se acumula no local da infeção é formado por microrganismos e fagócitos mortos e por proteínas e fluído que saíram dos vasos sanguíneos. O pús é absorvido e, ao fim de alguns dias, verifica-se a cicatrização dos tecidos. Propriedades apresentadas pelos leucócitos: Quimiotaxia: a acumulação de substâncias químicas inflamatórias ativa o sistema imunitário, atraindo células efectoras para o local; Diapdese: os neutrófilos e monócitos deformam-se, atravessam as paredes dos capilares e passam para os tecidos infetados; Fagocitose: Captura, por endocitose, de células ou restos de células que são destruídas em vesículas digestivas. As células que realizam a fagocitose são os fagócitos. Os monócitos transformam-se em macrófagos, que fagocitam as células estranhas e destroem-nas em vacúolos digestivos por ação de enzimas. A cicatrização ocorre por processos mitóticos. Resposta sistémica Envolve todo o organismo. Um dos sintomas é a febre. As toxinas produzidas pelos agentes patogénicos e certos compostos chamados pirogénios, produzidos por alguns leucócitos, podem fazer disparar a febre. Aumento do número de leucócitos em circulação – este aumento resulta da estimulação da medula óssea por substâncias A febre muito alta é perigosa, mas a febre moderada contribui par a defesa do organismo, uma vez que dificulta a multiplicação de bactérias e vírus. Interferões Conjunto de proteínas antivirais segregadas por células infetadas por vírus. O interferão não protege a célula que o produz nem atua diretamente sobre o vírus, mas difunde-se para as células vizinhas e estimula-as a produzir substancia que inibem a reprodução dos vírus, limitando a expansão das infeções virais. São proteínas importantes na limitação da propagação de determinadas infeções virais. Atuação: O vírus entra na célula X, introduzindo a síntese de interferão. Este abandona a célula, entra na circulação e liga-se a recetores da superfície da célula Y. Esta é induzida a produzir proteínas antivirais, capazes de destruir o mRNA viral, inibindo a síntese proteica. As proteínas antivirais bloqueiam a multiplicação de qualquer vírus que entra na célula Y. Sistema complemento Grupo de cerca de 20 proteínas que circulam no sangue na forma inativa. Quando o sistema complemento é ativado, por uma série de reações em cascata, são levadas a cabo diferentes ações de defesa não específica, como: -abertura de poros na membrana citoplasmática de células invasoras, que conduzem à sua lise; -atração de fagócitos e estimulação da fagocitose. Defesa específica Corresponde à imunidade adquirida: inclui o conjunto de processos através dos quais o organismo reconhece os agentes invasores e os destrói de uma forma dirigida e eficaz. Interatuam com a primeira e a segunda linha de defesa. Ao contrário do que acontece com a defesa não específica, a resposta do organismo ao agente invasor melhora a cada novo contacto. Podemos então falar em especificidade e memória. Antigénios: componentes moleculares estranhos que estimulam uma resposta imunitária específica. Podem ser moléculas livres ou estruturas moleculares que existem na superfície das células. A grande maioria são polissacarídeos ou proteínas que existem na superfície externa de microrganismos invasores (ou que são produzidos por esses microrganismos). Nem todos os antigénios fazem parte de microrganismos (pólen, hemácias, tecidos, órgãos transplantados, parasitas, etc.). Um antigénio possui várias regiões capazes de serem reconhecidas pelas células do sistema imunitário. Cada uma dessas regiões é um determinante antigénico. Durante a maturação destas células, elas adquirem recetores superficiais para numerosos antigénios, passando a reconhecê-los. Passam a ser células IMUNOCOMPETENTES. Os linfócitos que durante o seu processo de maturação desenvolvem a capacidade de reconhecer antigénios próprios do organismo são destruídos ou inativados. Os linfócitos maduros passam para a circulação sanguínea e linfática e encontram-se em grande quantidade em órgãos do sistema linfático como o baço ou os gânglios linfáticos. Em casos como as leucemias, etc., em que a medula óssea não funciona ou origina células anormais, pode ser proposta como tratamento uma transplantação de medula óssea. Os mecanismos de defesa específica do organismo são divididos em dois grupos: Imunidade humural (mediada por anticorpos); Imunidade celular (mediada por células). Imunidade Humural – MEDIADA POR ANTICORPOS Os efectores da imunidade humural são os linfócitos B. estes produzem anticorpos. Os anticorpos são uma forma solúvel dos recetores existentes na superfície dos linfócitos. Todos os linfócitos que possuem o mesmo tipo de recetores provêm da multiplicação de uma mesma célula e constituem um clone, sendo capazes de reconhecer o mesmo antigénio. Na imunidade humural ocorrem diferentes fases: Seleção clonal – quando o ag entra no organismo, ao encontrar linfócitos B, estimula uma pequena fração desses linfócitos, aqueles que possuem na membrana recetores, determinados geneticamente, para esses ag específicos; Proliferação clonal dos linfócitos ativados – estes linfócitos experimentam uma rápida divisão, formando muitas células, todas idênticas geneticamente, que possuem os mesmos recetores e pertencem ao mesmo clone. Diferenciação dos linfócitos B – uma parte das células do clona diferencia-se em plasmócitos, que são células secretoras de anticorpos. Os plasmócitos ativos podem produzir 5000 moléculas de anticorpos por segundo, pois têm um RER muito desenvolvido. A defesa do organismo através da imunidade humural ocorre pela seguinte ordem: 1. Um macrófago fagocita um determinado antigénio e processa-o (fragmenta-o). Uma porção do antigénio, o determinante antigénico, liga-se a uma proteína MHC e é apresentado à superfície do macrófago. 2. O determinante antigénico é reconhecido pelo clone de linfócitos B que possui o recetor específico e por linfócitos T auxiliares. O clone de linfócitos B também pode reconhecer os determinantes antigénicos de antigénios livres – sem a intervenção de células apresentadoras; 3. O clone de linfócitos B é ativado e sofre multiplicação; 4. Uma parte das células do clone de linfócitos B ativado diferencia-se em plasmócitos e outra parte em linfócitos B de memória; 5. Os anticorpos interagem com o antigénio e levam à sua destruição; 6. Após a destruição do antigénio, os plasmócitos morrem e os anticorpos são degradados, diminuindo a sua concentração no sangue. Os linfócitos B de memória permanecem no sangue durante anos e desencadeiam uma resposta imunitária secundária. Reação Antigénio-anticorpo Os anticorpos pertencem a um grupo de proteínas globulares designadas IMUNOGLOBULINAS. As imunoglobulinas são células com estrutura em forma de Y, constituídas por quatro cadeias polipeptídicas, duas cadeias pesadas (H) e duas cadeias leves (L). As cadeias polipeptídicas possuem uma região constante (C), muito semelhante em todas as imunoglobulinas e uma região variável (V). Na região variável das imunoglobulinas existem sequências de aminoácidos que lhe conferem uma conformação tridimensional particular – sítios de ligação para um antigénio específico. É nesta região que se estabelece a ligação com o antigénio, formando o complexo antigénio anticorpo ou complexo imune. O elevado grau de especificidade no local de ligação do anticorpo a um antigénio deve-se a dois fatores: - A sua estrutura é complementar da estrutura de um antigénio; - Nesse local toda a estrutura química favorece o estabelecimento de forças eletrostáticas de ligações de hidrogénio ou de outro tipo de ligação entre anticorpo e antigénio. Mecanismos anticorpos: de ação dos Os anticorpos não têm capacidade de destruir diretamente os invasores portadores de antigénios. Na verdade, eles marcam as moléculas estranhas, que depois são destruídas por outros processos. - Neutralização: a ligação anticorpoantigénio inativa o agente patogénico ou neutraliza a toxina que ele produz. - Estimulação da fagocitose: a ligação anticorpo-antigénio estimula a ligação dos macrófagos e a fagocitose. - Aglutinação: os anticorpos agregam os agentes patogénicos, neutralizando-os e tornando-os acessíveis aos macrófagos. A aglutinação é possível porque cada anticorpo tem pelo menos dois locais de ligação ao antigénio. - Precipitação: ligação de moléculas solúveis do antigénio, formando complexos insolúveis que precipitam. - Ativação do sistema complemento: o complexo anticorpo-antigénio ativa umas proteínas do sistema e desencadeia a reação em cascata que ativa todo o sistema. Como já foi referido, as proteínas do sistema de complemento estimulam a fagocitose e a lise celular. A presença do complexo antigénio-anticorpo amplifica a resposta inflamatória e a eliminação celular já iniciada de uma forma não específica. Classes de Imunoglobulinas A região constante das imunoglobulinas interage com outros elementos do sistema imunitário e possui características que permitem distinguir 5 classes. Diferentes classes de imunoglobulinas predominam em diferentes fases da infeção e em diferentes fluidos do organismo. Anticorpos diferentes podem apresentar a mesma especificidade antigénica. As propriedades biológicas são conferidas pelas regiões constantes das cadeias pesadas, enquanto que a função de reconhecimento dos antigénios cabe às regiões variáveis. Incompatibilidades sanguíneas Por vezes é necessário recorrer a transfusões sanguíneas. Para que as transfusões sejam bem sucedidas, tem de haver compatibilidade entre o sangue do dador e do recetor. Tipo de Sangue Tipo A Tipo B Tipo AB Aglutinogénios A B AeB Aglutininas Anti-B Anti-A Ausência aglutininas Pode sangue Tipo A Tipo B e Qualquer tipo eO O receber Tipo O Ausência de algutinogénios de Anti-A anti-B e Só receber tipo O pode do O sangue cujas hemácias possuem um determinado aglutinogénio não pode possuir as aglutininas correspondentes no plasma, sob a pena de desencadear uma reação imunitária de aglutinação das hemácias pelos anticorpos (reação transfusional). As transfusões devem ser isogrupais (o tipo d sangue do dador deve ser o mesmo do recetor). Imunidade Celular - mediada por células A imunidade mediada por células resulta da participação dos linfócitos T. estes só reconhecem antigénios apresentados na superfície das células do nosso organismo ligados a moléculas particulares que são marcadores individuais. É particularmente efetiva na defesa do organismo contra agentes patogénicos intracelulares. Esta é a base do reconhecimento dos nossos próprios antigénios (self), que permite a tolerância imunológica; é também a base do reconhecimento de antigénios que nos são estranhos (non-self) quando apresentados por células apresentadoras. Quando um macrófago fagocita uma bactéria ou um vírus, ao dar-se a destruição dentro do macrófago, formam-se fragmentos peptídicos que são antigénicos. Estes fragmentos ligam-se a certos marcadores superficiais do macrófago que os exibe e apresenta aos linfócitos T. Estes linfócitos T são ativos contra: parasitas multicelulares, fungos, células infetadas por bactérias ou vírus, células cancerosas, tecidos enxertados e órgãos transplantados. Na imunidade celular estão envolvidos os seguintes acontecimentos: - Células que apresentam, na sua superfície, determinantes antigénicos estranhos ligados a proteínas do MHC são reconhecidas por linfócitos T auxiliares. As células apresentadoras podem ser macrófagos que fagocitaram e processaram agentes patogénicos, células infetadas, células cancerosas ou células de outro organismo; - O clone de linfócitos T auxiliares, que reconhece o complexo antigénio – MHC, divide-se e diferencia-se em linfócitos T citotóxicos e linfócitos T de memória. Os linfócitos T auxiliares também libertam mediadores químicos (citoquinas) que estimulam a fagocitose, a produção de interferão e a produção de anticorpos pelos linfócitos B; - Os linfócitos T citotóxicos ligam-se às células estranhas ou infetadas e libertam perforina (uma proteína que forma poros na membrana citoplasmática, provocando a lise celular); - Os linfócitos T de memória desencadeiam uma resposta mais rápida e vigorosa num segundo contacto com o mesmo antigénio. Existem diferentes tipos de linfócitos T com funções específicas – uns produzem substâncias químicas que coordenam diferentes intervenientes de defesa específica, outros matam células portadoras de antigénios, outros moderam ou suprimem a resposta imunitária quando a infeção já está debelada. Cooperação entre células Imunitárias Os linfócitos B e T influenciam-se mutuamente, pelo que a ação da imunidade humural e da imunidade celular não é independente. 2ª exposição ao antigénio Significa que há estimulação Linfócitos T ativos: Defesa contra agentes patogénicos intracelulares e células cancerosas, através da ligação e destruição destas células. Anticorpos: Defesa contra agentes patogénicos extracelulares, tornando-os alvos fáceis para os fagócitos. Todos os agentes do sistema imunitário interagem. Se um deles falha, todas as linhas de defesa ficam perturbadas. Vigilância Imunitária Uma das principais funções da imunidade mediada por células é reconhecer e destruir células cancerosas. Isto é possível devido ao facto de as células cancerosas terem alguns antigénios superficiais diferentes dos das células normais e podem ser reconhecidas como estranhas. As células cancerosas surgem como resultado de mutações génicas em células normais do organismo – estas mutações provocam o aparecimento de novos antigénios superficiais. A destruição das células cancerosas é feita por determinados linfócitos T, que libertam substâncias que podem provocar a morte dessas células por diferentes mecanismos (geralmente apoptose – morte programada das células). Quando o sistema mediado por células é ineficaz em reconhecer ou destruir células cancerosas é que elas se multiplicam e originam o cancro, segundo alguns investigadores. O sistema imunitário é também responsável pela rejeição de tecidos ou órgãos quando existem diferenças bioquímicas entre o dador e o recetor – o dador e o recetor têm de ter uma IDENTIDADE BIOQUÍMICA o mais próxima possível. Há rejeição de enxertos quando o dador e o recetor (pertencem a estirpes diferentes) têm diferenças genéticas mais ou menos acentuadas. Os linfócitos reagem contra as células estranhas do enxerto destruindo-as. Quando se reincide esta prática com o mesmo dador e o mesmo recetor, a resposta imunitária é mais intensa e mais rápida, devido à presença de linfócitos T de memória. Para minimizar as reações de rejeição no organismo humano, procuram-se tecidos/órgãos que sejam compatíveis com as características bioquímicas do recetor. Aplicam-se também ao recetor várias drogas que suprimem a resposta imunitária – mas estas drogas, por serem pouco específicas, podem comprometer a capacidade do sistema imunitário em relação a outras infeções. É importante considerar numa situação de enxerto/transplante: Memória Imunitária e vacinação O primeiro contacto com um antigénio origina uma resposta imunitária primária, durante a qual são ativados linfócitos B e T. As células de memória podem reconhecer rapidamente esse antigénio numa nova infeção, desencadeando uma resposta imunitária secundária que se caracteriza por ser mais intensa e mais rápida no combate e eliminação desse antigénio. As células efectoras desaparecem após a eliminação do antigénio invasor. As células de memória permanecem no organismo, inativas, prontas para dar uma resposta imunitária secundária, mais rápida, mais intensa e de maior duração. A esta propriedade chamamos MEMÓRIA IMUNITÁRIA. A memória imunitária é específica para o antigénio para o qual foi sensibilizada. O princípio da memória imunitária pode ser utilizado na imunização do organismo, através de processos de vacinação. Uma vacina é uma solução preparada em laboratório, de agentes patogénicos mortos ou inativados de modo a que não se reproduzam. O risco de uma vacina provocar uma doença é ínfimo, mas não é nulo, pelo que atualmente se investe na produção de vacinas comestíveis, que seriam mais seguras, mais baratas e que apresentassem resultados mais rápidos. A vacina tem a função de desencadear uma resposta imunitária primária, provocando a produção de células de memória que estarão prontas para responder a um segundo contacto com os agentes patogénicos para os quais estão sensibilizadas. Existem diferentes tipos de imunidades, discriminados na seguinte tabela: Imunidade ativa O sistema imunitário do indivíduo responde ao antigénio e produz anticorpos e células de memória Imunidade passiva O sistema imunitário do indivíduo não responde ao antigénio. São transferidos anticorpos produzidos por outra pessoa ou por um animal. Natural O indivíduo é, naturalmente, exposto ao antigénio. Exemplo: contrai uma doença, etc. Artificial O antigénio é, deliberadamente, introduzido no organismo através de vacinação. Natural A criança recebe anticorpos que são transferidos da mãe através da placenta ou do leite. Artificial O individuo recebe um soro que contém anticorpos produzidos por outra pessoa ou por um animal. Desequilíbrios e doenças O sistema imunitário preserva a integridade do nosso organismo. O combate a agentes patogénicos e a doenças por eles provocadas deve ser ajustado, de forma a que seja intensa o suficiente para ser bem sucedido no combate às mesmas, mas não excessivo ao ponto de prejudicar o individuo. Deve ser específica e adaptada ao agente patogénico. Contudo, as pessoas reagem de maneira diferente face o mesmo antigénio. Esta desigualdade pode ser adquirida por fatores como a desnutrição, a idade, etc., ou devido a uma componente genética, levando à produção de mediadores químicos que intervêm na imunidade de maneira diferente. Qualquer um destes desequilíbrios pode criar situações de anormalidade no funcionamento do sistema imunitário. Este pode desregular-se ou possuir algumas deficiências, tornando o indivíduo vulnerável a infeções ou conduzir a reações violentas contra elementos do ambiente normalmente tolerados. Alergias Algumas reações de defesa exacerbam-se e podem condicionar doenças. Uma dessas situações é a alergia. A asma, rinite alérgica, eczema, urticária e conjuntivite são manifestações alérgicas comuns. As alergias correspondem a estados de hipersensibilidade imunitária, conduzindo a reações aberrantes em relação a antigénios específicos. Esta hipersensibilidade pode ter consequências graves, como a lesão de tecidos e órgãos. As substâncias que desencadeiam alergias são os alergénios. As reações alérgicas podem assumir vários aspetos: Hipersensibilidade Imediata É a forma de alergia mais frequente e manifesta-se logo após o contacto com o alergénio. num primeiro contacto os linfócitos B são estimulados a diferenciarem-se em plasmócitos que produzem anticorpos específicos da classe IgE. Esta liga-se aos mastócitos. Num segundo contacto, este alergénio liga-se ao anticorpo dos mastócitos (IgE). O complexo antigénio-anticorpo ativa os mastócitos e os basófilos e são libertados mediadores químicos como a histamina, que desencadeiam uma reação inflamatória intensa, caracterizada por vasodilatação, edema e afluxo de células fagocitárias. Ex. asma, rinite e urticária. Hipersensibilidade Tardia Leva mais de 12 horas a desenvolver-se e é devia a reações imunitárias mediadas por células. É um exemplo deste tipo de hipersensibilidade a alergia de contacto. Esta resulta de uma sobreactivação de certas células do sistema imunitário. Ex.: Eczema de contacto. Algumas reações alérgicas podem conduzir a um choque anafilático, que é provocado pela diminuição brusca da pressão arterial em consequência do aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos – resultado de uma reação inflamatória MUITO intensa. O património hereditário é um fator de risco importante na génese de certas alergias. O risco de desenvolver uma alergia é tanto mais elevado quanto os ascendentes diretos são alérgicos. Doenças autoimunes Os linfócitos são normalmente tolerantes em relação aos antigénios do próprio indivíduo. Aqueles que apresentam uma forte afinidade para os antigénios do próprio indivíduo são eliminados ou ficam inativados aquando da sua maturação, impedindo a sua ação. O timo funciona como um filtro, que só deixa passar os linfócitos com pouca ou nenhuma afinidade para os antigénios do próprio indivíduo. Um processo idêntico acontece com os linfócitos B na medula óssea. Por diversos motivos, esta tolerância pode ser rompida e o organismo acaba por produzir anticorpos e células T sensibilizadas para alguns dos seus próprios tecidos, levando à sua destruição, tendo como consequência a lesão e alteração das funções dessas células. Existem vários tipos de doenças autoimunes, cujos sintomas se relacionam com o tipo de tecido que é atacado e destruído pelo sistema imunitário do próprio indivíduo, sendo algumas delas: Diabetes insulinodependentes: O nosso organismo possui uma concentração variável de glicose no sangue à qual chamamos glicemia. A variação dessa concentração pode ser devia à ingestão de alimentos com alto teor de glicose (aumenta a glicemia) ou devido à prática de exercício físico (diminui a glicemia). Células localizadas no pâncreas chamadas ilhotas de Langerhans produzem insulina, que é usada na decomposição da glicose. Contudo, alguns indivíduos apresentam concentrações anormais de glicemia. A essas pessoas chamamos diabéticos. Esta doença pode ter implicações a nível do sistema cardiovascular, nervoso, etc. Esta é uma doença auto imune uma vez que no soro dos diabéticos encontram-se anticorpos contra células das ilhotas de Langerhans. Também os linfócitos T destroem as células produtoras de insulina através de mediadores químicos. O tratamento passa pela injeção diária de insulina. Parece haver uma predisposição genética para diabetes. Artrite Reumatoide É caracterizada pela destruição de cartilagens articulares pelo sistema imunitário, o que causa a deformação das articulações e diminuição da mobilidade das zonas afetadas. Esclerose Múltipla Doença neurológica que inclui sintomas como perturbações sensitivas, formigueiros, falta de visão, desequilíbrio, dificuldades motoras nos membros inferiores, etc. Verificam-se lesões na zona branca dos centros nervosos devido à destruição da mielina de axónios e de células nervosas, provocadas por linfócitos T ou mediadores químicos libertados pelo sistema imunitário. Certos linfócitos T reativos a determinado antigénio “enganam-se” e atacam a mielina. Os macrófagos fagocitam os fragmentos da mielina. Também anticorpos são produzidos contra os constituintes da mielina. A longo prazo, estas lesões levam à atrofia do sistema nervoso central, com diversas consequências. Lúpus O sistema imunitário produz anticorpos contra vários tipos de moléculas próprias, incluindo histonas e DNA. Caracteriza-se por erupções da pele, febre, artrite e disfunção renal. Imunodeficiência Os indivíduos podem não possuir linfócitos B ou T. há ainda casos em que se verifica a deficiência de fagócitos ou de outros intervenientes do sistema imunitário. Como todos os agentes do sistema imunitário interagem, desde que um deles falhe, todas a linhas de defesa ficam perturbadas. Imunodeficiência inata (ou congénita): Existem diferentes tipos de imunodeficiências inatas, cujos sintomas dependem dos constituintes do sistema imunitário que têm um funcionamento deficiente. A falta de linfócitos T traduz-se numa maior sensibilidade a agentes infeciosos intracelulares, vírus e cancros. A falta de linfócitos B traduz-se numa maior sensibilidade a infeções extracelulares causadas por bactérias e outros agentes. A imunodeficiência grave combinada (SCID) passa pela ausência de linfócitos B e T. os doentes são extremamente vulneráveis e apenas sobrevivem em ambientes completamente estéreis. Tratamento por transplante de medula óssea ou terapia genica. Imunodeficiência adquirida O caso mais paradigmático na atualidade é o da SIDA (HIV). A SIDA é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Este é um vírus de RNA (retrovírus) que infeta principalmente os linfócitos T, mas também linfócitos B, macrófagos e células do sistema nervoso. No interior da célula hospedeira, o RNA viral é transcrito para DNA pela transcriptase reversa e o DNA é integrado no genoma. Quando ativo, o DNA viral dirige a produção de novos vírus que causam a destruição da célula hospedeira e infetam novas células. A diminuição progressiva do número de linfócitos T deixa o organismo muito suscetível a doenças oportunistas e cancros. Não existe cura nem vacina para a doença, mas a sua progressão pode ser retardada por drogas inibidoras da transcriptase reversa (AZT) e das proteases e inibidores da ligação do vírus às células hospedeiras. A contaminação pelo HIV é silenciosa, não desencadeando imediatamente uma doença aguda: Após a fixação do vírus sobre uma célula-alvo, um linfócito T, o material genético, RNA vira, assim como algumas enzimas como a transcriptase reversa entram na célula. Em presença da enzima transcriptase reversa, o RNA viral é copiado em DNA por um processo designado por transcrição inversa, formando uma cadeia simples de DNA complementar do RNA do vírus. A cadeia de DNA serve de molde à síntese de uma cadeia complementar, formando uma molécula de DNA em cadeia dupla, designada por provírus. O DNA proviral é incorporado no genoma da célula hospedeira. Os genes do vírus podem ficar um período mais ou menos longo sem se exprimirem. Uma ativação do DNA proviral leva à sua transcrição, formando RNA mensageiro. Algumas moléculas do RNA vão constituir o RNA viral, enquanto que outras funcionam de mRNA, ligando-se a ribossomas da célula, que passam a traduzir a sua linguagem codificada numa sequencia de aminoácidos que forma as proteínas do vírus. Constituem-se então novos vírus, que formam saliências à superfície da célula e se separam, podendo infetar outras células. Com a destruição dos linfócitos T que coordenam a defesa específica, o sistema imunitário vai enfraquecendo ao longo do tempo, tornando-se progressivamente incapaz de controlar a proliferação do vírus e de outros agentes patogénicos. Surgem assim doenças oportunistas, como a tuberculose, sapinhos, dermatomicoses, pneumonia, meningite, etc., que levam à morte do indivíduo.