ASSEMBLEIA NACIONAL GABINETE DO PRESIDENTE Discurso de SE o Presidente da Assembleia Nacional na cerimónia de abertura do XV Fórum da Associação A PONTE. Senhor Presidente do Conselho Directivo da Associação A PONTE, Senhoras e Senhores Representantes de Institutos e de ONG´s, Senhoras e Senhores Profissionais de Saúde, Ilustres Convidados, Minhas Senhoras e meus Senhores, Caros Amigos: Foi com prazer que aceitei o convite para presidir à cerimónia de abertura do XV Fórum da Associação A PONTE. Aproveito o ensejo para expressar ao Dr. Daniel Silves Ferreira, os meus agradecimentos pelo convite e manifestar como é gratificante constatar o empenho e a luta da Associação A PONTE em prol da promoção da Saúde Mental em Cabo Verde. Uma acção merecedora de todo o nosso respeito e admiração, uma vez que a especificidade da situação das pessoas portadoras de ou afectadas por doenças mentais, requer da parte dos membros e voluntários de A PONTE um engajamento muito especial, emprestando à organização características também especiais. Importa dizer que, para além de se ocupar da saúde mental, A PONTE tem ainda como objectivo promover a protecção, a integração e o respeito das pessoas afectadas pela doença, o que, em última instância, significa a realização de justiça social e a efectivação dos direitos humanos. Num país que nem Cabo Verde, caracterizado, de um lado, por escassez de recursos para fazer face às necessidades de desenvolvimento e, de outro, por certa dificuldade da sociedade em se organizar em torno de causas que requerem o voluntariado, a acção de uma Associação como A PONTE, constitui, efectivamente, um exemplo a ser assinalado e enaltecido. Parabéns à A Ponte e votos de longa vida ao serviço dessa nobre causa que abraçou. Aproveito a oportunidade para apelar à sociedade cabo-verdiana para interessar-se e empenhar-se muito mais em acções de voluntariado, pois o que não falta são pessoas que carecem do nosso apoio e da nossa solidariedade. Cabo Verde será tanto mais forte e terá tanto mais sucesso, quanto maior for a capacidade de se organizar em torno de causas solidárias, a par, como é evidente, de intervenções dos poderes públicos e privados. Não é por acaso que países desenvolvidos como os Estados Unidos da América dispõem de uma sociedade fortemente organizada, promovendo, na base do voluntariado, causas das mais diversas. Minhas Senhoras e meus Senhores: Permitam-me realçar a feliz iniciativa de A PONTE, nas comemorações deste ano, associar efemérides tão emblemáticas: os 40 anos da Independência de Cabo Verde, o XV aniversário da Associação e o Dia Mundial da Saúde Mental. Destaco igualmente o facto de o lema do Fórum “Dignidade em Saúde Mental” se encaixar perfeitamente no espírito dessas datas. Efectivamente, o 5 de Julho, assumido na sua plenitude, tem que congregar todos os cabo-verdianos sem distinção. Este é o espírito da Independência. Há 40 anos conquistamos a soberania e a dignidade de homens livres. Essa dignidade tem que ser extensiva e plenamente desfrutada por todos os filhos desta terra – portadores de necessidades especiais ou os ditos “normais”. As lacunas e insuficiências ainda existentes terão que ser paulatinamente colmatadas. Minhas Senhoras e meus Senhores, Caros Amigos: É consensual entre todos os cabo-verdianos o quão importante foi a conquista da Independência, que nos franqueou as portas para a construção do progresso e do desenvolvimento. Temos, pois, muitas razões para celebrarmos um marco tão decisivo para o futuro e o destino colectivo destas ilhas. Os ganhos são transversais, abrangendo todos os sectores, mas que assentaram em dois pilares fundamentais: a educação e a saúde. Sem o investimento maciço nestas duas áreas, provavelmente a performance global, conseguida em outros campos, seria mais modesta. Não há registo de nenhum país que tenha conseguido sucesso assinalável, descurando a educação e a saúde. Daí que consideramos de muito acertada a prioridade dada a esses sectores, pelos primeiros governos de Cabo Verde, politica até hoje seguida pelos executivos subsequentes. Em relação à saúde, as taxas de mortalidade infantil e a esperança de vida de há 40 anos, reflectiam a precaridade do sistema de saúde da época e das parcas infra-estruturas e escassos recursos humanos. Recorde-se que entre o pessoal de saúde se contabilizava pouco mais de uma dezena de médicos e cerca de uma centena de enfermeiros. No caso específico dos serviços da psiquiatria, estávamos no tempo da “Quinta Enfermaria”, sem nenhum médico psiquiatra nacional! Pode-se questionar sobre a dignidade e os métodos de tratamento que na altura eram oferecidos. Do lado de fora dos portões do “Pavilhão”, os doentes eram estigmatizados e vítimas de escárnio pelas ruas. Aliás, tal padrão de comportamento em relação aos doentes mentais era generalizado a todo o Cabo Verde. Passados 40 anos, percorremos um longo caminho, orgulhamo-nos das conquistas, embora reconhecendo que ainda temos muito a fazer no domínio da Saúde Mental, aliás, assim como nos demais domínios da Saúde. Dispomos de mais profissionais, de mais e melhores estruturas e, sobretudo, de uma aposta na integração da Saúde Mental nos Cuidados Primários, o que permitirá o desenvolvimento de uma consequente acção preventiva e um seguimento regular do paciente. Como é natural, os serviços de Saúde Mental, fazendo jus ao lema deste Fórum, oferecem hoje um atendimento cada vez mais adequado, com o progressivo acento tónico na dignificação dos portadores de doença mental. Mas, ainda é preciso mais. Se por um lado o tratamento é mais humanizado, há que registar que também no seio da sociedade já se nota uma mudança de comportamento, para melhor, em relação aos doentes mentais. Acredito que as transformações ocorridas na sociedade, bem assim a persistente luta que Associações como A PONTE vêm realizando ao longo dos anos, terão contribuído para a progressiva mudança de mentalidade e diminuição do preconceito. Trata-se de um ganho só possível graças ao espírito de missão e ao trabalho de esclarecimento, à educação e à informação levadas um pouco por todo o lado. O facto de hoje se admitir que, apesar de certas limitações, os doentes mentais podem ser admitidos no mercado de trabalho já é um grande ganho contra o preconceito. Da mesma forma, a ideia de periculosidade social dessas pessoas tem diminuído ao longo dos anos. Temos muitas conquistas que justificam que celebremos, mas, devido às implicações negativas, particularmente, no domínio da Saúde Mental, há duas preocupações que não podem ser ignoradas. Com efeito, verifica-se que o consumo abusivo do álcool e a droga são os maiores responsáveis pela ocorrência de doenças mentais no nosso país. Tanto nas cidades como no meio rural, em ambos os sexos e de forma transversal, atingindo todas as classes sociais e faixas etárias, o alcoolismo é hoje um sério problema de saúde pública. Trata-se de uma realidade que se pode constatar, nas ruas por onde passamos e na quantidade de camas nos hospitais ocupadas por doentes que abusam do álcool, para além daqueles que são atendidos na psiquiatria. Daí que o combate ao alcoolismo – que afecta cada vez mais a nossa juventude – terá que ser um desígnio nacional. As consequências deste flagelo atingem não só a vítima, mas também os familiares e a sociedade em geral. Há ainda que contabilizar os outros efeitos nefastos, em termos de perdas de horas de trabalho, acidentes de todo o tipo, violência doméstica, etc. Tendo em conta a sua acção devastadora, Cabo Verde tem que unir-se em bloco na luta contra a dependência do álcool. Não se trata de uma questão do ministério da Saúde, ou mais especificamente, dos serviços responsáveis pela saúde mental. Todos devemos nos mobilizar – governo, instituições, partidos políticos, ONG´s, igrejas, empresas, sindicatos, escolas, cidadãos – no combate a um mal que tem potencial suficiente para corroer os fundamentos da nossa sociedade, principalmente a juventude. O que foi dito em relação ao álcool se aplica também ao consumo de drogas. Minhas Senhoras e meus Senhores: Mais uma vez, aproveito esta oportunidade para enaltecer o trabalho que A PONTE tem vindo a realizar na prevenção e combate ao alcoolismo, contribuindo, desta forma para a prevenção da doença mental e a promoção da saúde mental. A acção pedagógica que vem sendo feita, junto de grupos de pessoas e da população em geral, deve ser acarinhada e estimulada. Conseguindo angariar parcerias, A PONTE tem levado a mensagem de tolerância para com a diversidade, derrubando tabus, em nome da dignidade. É de sublinhar que as actividades têm sido descentralizadas, em todas as ilhas e municípios. Com esta “cobertura” a nível nacional, consegue-se atingir um público-alvo mais diversificado, levando a que um maior número de pessoas entre em contacto e se interesse pela problemática da Saúde Mental. Desta forma, consegue-se uma maior humanização e é um caminho no sentido de se afastar da estigmatização, da marginalização e da exclusão social. Com mais conhecimento das causas, acredito, pode-se contribuir para a prevenção das doenças mentais, bem como diminuir o preconceito ainda existente na sociedade cabo-verdiana. Espero que as diversas actividades já concretizadas, de forma descentralizada e o Fórum que ora se realiza, contribuam decisivamente para a sensibilização e defesa dos direitos das pessoas portadoras de doença mental e que sejam alcançados todos os objectivos preconizados. Declaro aberto o XV Fórum da Associação A PONTE subordinado ao tema “Dignidade em Saúde Mental”. Muito obrigado pela vossa atenção! Praia, Biblioteca Nacional, 8 de Outubro de 2015