171 ARTIGO ORIGINAL/ORIGINAL ARTICLE Classificação das variações anatômicas do áxis relacionadas com a artrodese atlantoaxial Classification of axis anatomical variation related to transarticular atlanto-axial arthrodesis Marcelo Henrique Nogueira-Barbosa1 Helton LA Defino2 RESUMO ABSTRACT Objetivo: estudar as variações anatômicas do áxis relacionadas com a artrodese atlantoaxial com parafusos transarticulares. Métodos: foram utilizados 100 exames de tomografia computadorizada helicoidal que incluíam o atlas e o áxis. As imagens foram reconstruídas nos planos axial e oblíquo e parasagital oblíquo, de forma a corresponder aos planos ideais de inserção dos parafusos na técnica de Magerl. Foram observados dois pontos que podem estar relacionados à limitação da técnica de fixação trans-articular: a porção anterior da massa articular do áxis onde, eventualmente, o sulco da artéria vertebral pode se mostrar proeminente e o istmo interapofisário. Resultados: na maior parte dos pacientes o sulco da artéria vertebral não foi identificado no plano de inserção ideal do parafuso (70% das vértebras). Em 23% das vértebras estudadas o sulco foi visualizado em apenas um lado da vértebra e em outras 7% o sulco foi visto em ambos os lados da vértebra. A distância entre o trajeto ideal do parafuso e o sulco da artéria vertebral foi mensurada nos casos em que a artéria estava presente nas imagens da reconstrução multiplanar. Em 7,5% dos casos essa distância mediu menos do que 2,5mm. Em sete massas articulares de vértebras C2 (3,5%) observou-se afilamento do istmo da parte interarticular sem que fosse observada alteração concomitante na porção anterior da massa articular. Conclusão: de acordo com as observações realizadas foi proposta uma classificação da massa articular da segunda vértebra cervical por meio das imagens obtidas nas reconstruções multiplanares. No total, foram observadas 11% de variações anatômicas que poderiam favorecer lesões de estruturas neurovasculares na técnica de fixação trans-articular. Objective: to study the anatomical variations of the second cervical vertebra related to the vertebral artery and mainly the variations that could have any significance for the atlantoaxial fixation technique. Methods: retrospective analysis of the multiplanar reconstruction (MPR) images of one hundred helical computerized tomography (helical CT) scans performed with volumetric acquisitions. All this acquisitions included the first and the second cervical vertebrae. The CT MPR images were selected in oblique axial e oblique parasagittal planes to correspond to the ideal spatial planes of introduction of the screws in the Magerl technique. Results: very frequently (70% of vertebrae) the C2 vertebral artery groove was not even seen at the selected MPR images. In 23% of vertebrae such groove was found at one side and in 7% it was present in both sides. When the vertebral artery groove was seen in the parasagittal oblique reconstructed image the distance between the screw trajectory and the groove was measured. This distance was less than 2.5mm in 7% of the measurements. In 3% of vertebral sides significant thinning (<5mm) of the isthmus was seen. In other 2% of vertebral sides bone thinning was found both at isthmus and anterior articular mass of C2. In summary two critical anatomic areas were found in respect to the Magerl fixation technique: the isthmus and the anterior articular mass of the vertebra C2. Conclusion: according to our findings a classification of the C2 vertebra was proposed as it appears in the CT MPR parasagittal images. In our cases 12% of the C2 articular masses studied were potentially associated with vascular injury, and those were classified as type II. According to selected criteria 18% of patients would have at least one side C2 articular mass with potential risk for the vertebral artery. In 6% of patients the potential risk was identified bilaterally. DESCRITORES: Axis/anatomia & histologia; Artrodese; Articulação atlanto- axial; Dispositivos de fixação ortopédica KEYWORDS: Axis/anatomy & histology; Arthrodesis; Atlanto-axial joint; Orthopedic fixation devices Centro de Ciências em Imaginologia e Física Médica (CCIFM). Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo Ribeirão Preto (SP), Brasil. 1 Médico Radiologista - Centro de Ciências em Imaginologia e Física Médica (CCIFM). Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto (SP), Brasil. 2 Professor Associado do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto (SP), Brasil. Recebido: 13/03/2005 - Aprovado: 29/02/2006 COLUNA/COLUMNA. COLUNA/COLUMNA. 2006;5(3):171-175 2006;5(1):13-18 Barbosa MHN, Defino HLA 172 INTRODUÇÃO As indicações da artrodese atlantoaxial estão associadas com a instabilidade aguda ou crônica dessa articulação, e a lesão dos seus elementos ósseos ou ligamentares podem produzir instabilidade com risco de compressão das estruturas nervosas adjacentes. As indicações de artrodese atlantoaxial estão associadas com a instabilidade aguda ou crônica da articulação atlantoaxial. A etiologia da instabilidade é variada, incluindo lesão traumática, pseudoartrose do odontóide, artrite reumatóide, síndrome de Down e outras anomalias congênitas, infecção e tumor. Diferentes técnicas cirúrgicas foram desenvolvidas para essa finalidade e inicialmente a fixação do atlantoaxial foi realizada utilizando-se seda trançada, fáscia lata e posteriormente fios metálicos de cerclagem em combinação com diferentes modalidades de enxerto ósseo1. A técnica de fixação trans-articular C1-C2 por meio de parafusos proposta por Magerl (Figura 1) proporciona maior estabilidade biomecânica e maior controle das forças rotacionais, possibilitando fixação rígida imediata da articulação com baixa taxa de pseudoartrose. Outra vantagem da técnica de Magerl é que não é necessário que os arcos posteriores de C1 e C2 estejam íntegros2. A complicação da técnica de fixação trans-articular relatada com maior freqüência tem sido a lesão da artéria vertebral pela passagem da broca ou do parafuso na massa articular do áxis. O potencial de lesão da artéria vertebral durante a cirurgia de artrodese transarticular C1-C2 e a necessidade de avaliação pré-operatória para diminuir o risco de lesões neurovasculares foram a motivação do presente trabalho. O objetivo do trabalhol foi avaliar a ocorrência das variações anatômicas do áxis no trajeto ideal do parafuso na técnica cirúrgica de artrodese trans-articular C1-C2. MÉTODOS O estudo foi realizado com as informações obtidas de cem exames de pacientes submetidos à angiotomografia das carótidas. Estes exames pertenciam a pacientes que foram submetidos à investigação radiológica de doenças arteriais das carótidas e de seus ramos intracranianos. Os exames foram realizados em aparelho de tomografia computadorizada helicoidal de quarta geração modelo PQ 5000 da Picker (Picker Corp, Highland Heights, OH). No protocolo utilizado, a aquisição dos exames tomográficos foi em bloco no modo helicoidal sempre incluindo as vértebras C1 e C2 de forma completa, com espessura de corte de 3mm, relação velocidade da mesa/espessura de corte (pitch factor) de 2,0 e espaçamento de reconstrução (index) de 1,5mm. Os exames foram realizados com injeção de 120ml a 150ml de contraste iodado por meio de bomba injetora, utilizando-se um retardo (scan delay) de 25s a 30s entre a injeção e a varredura pela tomografia computadorizada. A velocidade COLUNA/COLUMNA. 2006;5(1):13-18 2006;5(3):171-175 Figura 1 Fixação transarticular C1-C2 de acordo com a técnica de Magerl de injeção do contraste utilizada foi de 3ml/s a 4ml/s. A técnica empregada foi de 120KV e 200mA a 225mA. Os exames foram transferidos das fitas magnéticas para a estação computacional de trabalho Voxel Q Picker, na qual foram realizadas reconstruções multiplanares (MPR) nos planos: anatômicos axial, coronal e sagital. Também foram obtidas reconstruções multiplanares obliquas (MPR oblíquo). Essas reconstruções foram utilizadas para possibilitar a seleção dos planos: axial oblíquo e parassagital oblíquo, que seguiam a orientação do eixo do parafuso utilizado na fixação trans-articular C1-C2, que foi a referência utilizada nesse estudo. As medidas dos parâmetros selecionados para o estudo foram realizadas manualmente com cursor digital nas reconstruções multiplanares (MPR). No plano axial oblíquo foi mensurada a largura do istmo da parte interarticular. No plano para-sagital oblíquo foi mensurada a altura do istmo da parte interarticular. A largura e a altura do istmo foram mensuradas de forma a corresponder à distância entre as superfícies externas das corticais ósseas no ponto da menor espessura do istmo de forma perpendicular às corticais. Essas mensurações, portanto incluem o osso cortical e o osso esponjoso. O grupo de estudo foi composto por 61 pacientes do sexo masculino (61%) e 39 pacientes do sexo feminino (39%), com idade variando de 14 a 86 anos (média de 66,4 anos). No grupo estudado não foram identificadas fraturas, lesões ósseas expansivas ou destrutivas, nem erosões ósseas nas margens articulares das vértebras C1 e C2. Incidentalmente foram encontrados dois casos de fusão entre as vértebras C2 e C3 e esses dois casos não foram excluídos do trabalho. RESULTADOS Em 70% das vértebras estudadas o sulco da artéria vertebral não foi visualizado nas imagens da tomografia computadorizada helicoidal reconstruídas no plano parasagital oblíquo escolhido. Em 23% das vértebras estudadas o sulco da artéria vertebral foi visto no plano para-sagital oblíquo em apenas um dos lados da vértebra. Em 7% das vértebras o sulco foi identificado em ambos os lados. Con- Classificação das variações anatômicas do áxis relacionadas com a artrodese atlantoaxial siderando-se que foram estudadas 200 massas articulares do áxis (lados direito e esquerdo), o sulco da artéria vertebral foi identificado na porção anterior de 37 das massas articulares, ou seja, em 18,5% das massas laterais estudadas. A visualização do sulco da artéria vertebral na imagem reconstruída no plano para-sagital oblíquo não indica necessariamente a presença de risco para a artéria vertebral durante a colocação de parafusos trans-articulares, visto que em muitos destes exemplos a distância entre o trajeto ideal do parafuso e o sulco da artéria proporciona uma margem de segurança para o procedimento. A margem de segurança adotada para a distância entre o sulco da artéria vertebral e o trajeto ideal do parafuso foi de 2,5mm. Apenas 7,5% das massas laterais de C2 estudadas mostraram distância entre o trajeto ideal do parafuso e o sulco da artéria menor do que essa margem de segurança adotada. No grupo de cem pacientes examinados o sulco da artéria vertebral foi identificado em 30 pacientes, sendo 18 deles do sexo masculino e 12 do sexo feminino. Dentro desse subgrupo o sulco foi observado em ambos os lados em apenas sete pacientes. Desses sete pacientes quatro eram do sexo masculino e três do sexo feminino. De acordo com observações realizadas foi proposta uma classificação da segunda vértebra cervical por meio das imagens obtidas nos planos para-sagital oblíquo e axial oblíquo. Para proceder à classificação foram analisados o istmo da parte interarticular e a porção anterior da massa articular do áxis (Figura 2). Em relação à parte interarticular de C2 foram consideradas as mensurações da largura e da altura do istmo. Na porção anterior da massa articular foi analisada a presença do sulco da artéria vertebral e nos casos em que o sulco estava presente foi considerada a distância do sulco até o trajeto ideal do parafuso na técnica de fixação trans-articular C1-C2. Foram classificadas como pertencendo ao Tipo I as massas articulares de C2 nas quais não foi identificado risco potencial de lesão da artéria vertebral na técnica de fixação trans-articular. Nesses casos a altura e a largura do istmo da parte interarticular do áxis mediram acima de 5mm (Figura 3). Nas massas articulares classificadas como tipo I o sulco da artéria vertebral não estava presente ou quando estava à distância do sulco da artéria vertebral ao trajeto ideal do parafuso mediu mais do que 2,5mm. Os casos em que a morfometria do áxis indicou algum risco potencial de lesão de estruturas neurovasculares com a técnica de fixação trans-articular por meio de parafuso foram classificados como do Tipo II. Os casos do Tipo II foram subdivididos em IIa, IIb e IIc. No Tipo IIa estão as massas articulares em que há afilamento do istmo da parte interarticular de C2 (altura e ou largura menor do que 5mm) (Figura 4). No Tipo IIb o sulco da artéria vertebral é proeminente na porção anterior do áxis, com distancia menor do que 2,5mm do trajeto ideal do parafuso. No tipo IIb a espessura do istmo, entretanto está preservada (Figura 5). Nos casos classificados como tipo IIc (Figura 6) há concomitância 173 Figura 2 Classificação da morfologia da massa lateral do áxis de acordo com as imagens da MPR no plano parassagital oblíquo Figura 3 Exemplo do Tipo I Tipo IIa Afilamento ao nível do istmo < 5mm Figura 4 Exemplo do tipo IIa (afilamento do ístmo menor que 5mm) Tipo IIb Afilamento ao nível da porção anterior da massa lateral Figura 5 Exemplo do tipo IIb (afilamento da porção anterior da Massa lateral) COLUNA/COLUMNA. COLUNA/COLUMNA. 2006;5(3):171-175 2006;5(1):13-18 Barbosa MHN, Defino HLA 174 dos critérios para os tipos IIa e IIb, ou seja, há afilamento do istmo e da porção anterior da massa articular do áxis. Nesta casuística sete massas articulares de C2 (3,5%) foram classificadas como tipo IIa; doze massas articulares (6%) como tipo IIb e três massas articulares (1,5%) foram classificadas como tipo IIc (Figura 6). As demais massas articulares, ou seja, 89%, foram classificadas como tipo I. Dessa forma identificamos fatores anatômicos relacionados ao risco de lesão de estruturas neuro-vasculares em um total de 11% das massas articulares estudadas. DISCUSSÃO A fixação transarticular da articulação atlantoaxial por meio de parafusos tem sido um método muito utilizado para o tratamento da instabilidade atlantoaxial A realização da técnica trans-articular de artrodese C1-C2 não está isenta de riscos, destacando-se entre eles o posicionamento inadequado dos parafusos que pode ocasionar laceração da duramáter, lesão de estruturas nervosas, como o nervo suboccipital ou o nervo hipoglosso, e também lesão da artéria vertebral. A técnica de fixação trans-articular posterior de C1-C2 utilizando parafusos exige conhecimento da anatomia desse segmento da coluna vertebral e dentre os riscos que a técnica apresenta destaca-se a lesão da artéria vertebral. A artéria vertebral pode ser atingida durante a perfuração pela broca ou durante a inserção dos implantes devido à proximidade entre o trajeto dos implantes e a localização dessa artéria. A lesão da artéria vertebral eventualmente pode ocasionar infarto isquêmico do tronco cerebral ou do cerebelo e mais raramente pode resultar em óbito3. O potencial de lesão da artéria vertebral durante a realização da fixação trans-articular C1-C2 por meio de parafusos motivou a realização desse estudo. O trabalho atual foi centrado na avaliação das vértebras C1 e C2 pelas imagens de reconstrução multiplanar da tomografia computadorizada helicoidal nos planos correspondentes aos planos da inserção dos parafusos. No relato inicial de Magerl & Seemann não foram descritas lesões da artéria vertebral. Entretanto, a possibilidade de lesão de estruturas neuro-vasculares durante a realização da técnica de fixação trans-articular atlantoaxial por meio de parafusos existe e esse risco pode aumentar se não forem consideradas as variações anatômicas individuais de cada paciente4. A lesão da artéria vertebral tem sido a complicação da técnica de fixação trans-articular C1-C2 mais enfatizada na literatura que aborda esse tema3,5-7. Madawi et al. (1997) apontaram três fatores de risco para a lesão da artéria vertebral: redução incompleta da articulação atlantoaxial antes da passagem do parafuso; cirurgia prévia transoral com remoção do tubérculo anterior do atlas que serve de ponto de referência para inserção do parafuso na fluoroscopia e falha na identificação do trajeto da artéria vertebral na massa lateral ou no pedículo de C2. Madawi et al. observaram também uma tendência a lesão da artéria vertebral em casos em que os parafusos foram inseridos em posição muito baixa6. Os cinco casos de lesão da artéria vertebral relatados por Madawi et al. durante a artrodese C1-C2 aconteceram em situações onde a redução da instabilidade atlantoaxial não tinha sido corrigida adequadamente antes da inserção do parafuso e em três desses casos o tubérculo anterior do atlas que serve como COLUNA/COLUMNA. 2006;5(1):13-18 2006;5(3):171-175 Tipo IIc Figura 6 Exemplo do tipo IIc (afilamento do ístmo e da porção anterior da massa lateral parâmetro durante a avaliação intraoperatória por meio do intensificador de imagem tinha sido removido previamente. Havia, portanto nesses cinco casos de lesão da artéria vertebral fatores explicando a complicação independentemente de haverem variações do trajeto da artéria6. Wright & Lauryssen relataram 2,4% de casos de lesão da artéria vertebral, mas as informações apresentadas no trabalho não são suficientes para concluir, se as lesões da artéria vertebral foram secundárias ao posicionamento inadequado dos parafusos ou devido a variação da normalidade na trajetória da artéria vertebral3. Dickman & Sonntag, relatam uma oclusão assintomática de artéria vertebral durante a cirurgia de fixação trans-articular C1-C2 documentada pela angiografia7. Coric et al. relataram uma fistula artériovenosa como complicação de lesão da artéria vertebral, que foi diagnosticada pela mielo-tomografia e angiografia após 12 semanas no pós-operatório5. A importância da realização de exames de diagnóstico por imagem pré-operatórios com o objetivo de estudar a anatomia óssea e da artéria vertebral e sua relação com as estruturas ósseas tem sido enfatizada por vários autores7-11. Dull & Toselli descreveram um método para a avaliação préoperatória das variações anatômicas do áxis pela tomografia computadorizada com o objetivo de minimizar os riscos da inserção dos parafusos trans-articulares. O plano axial oblíquo utilizado para a mensuração dos parâmetros em nosso trabalho foi obtido por meio de reconstruções multiplanares, sendo semelhante ao plano axial oblíquo utilizado por Dull & Toselli. Porém, com vantagem, pois possibilita a avaliação das estruturas ósseas no trajeto da inserção do implante sem necessidade de utilizar apoio para a cabeça do paciente que pode ficar confortável na posição em decúbito dorsal horizontal. A avaliação das variações anatômicas por meio do protocolo utilizado neste trabalho permite que as imagens sejam reconstruídas no plano axial oblíquo e no plano para-sagital oblíquo, independentemente de um posicionamento rigoroso do paciente, ou mesmo da existência de pequenas curvaturas da coluna, tornando o método de fácil aplicação prática12. O sulco da artéria vertebral na massa lateral do áxis é um dos pontos críticos para a inserção do parafuso. Abou Madawi et al. estudaram a massa lateral de C2 realizando a mensuração das alturas externa e interna da massa lateral ao nível do topo do sulco da artéria vertebral e da altura do próprio sulco da artéria. Observaram vértebras em que a artéria vertebral produzia uma erosão sufi- Classificação das variações anatômicas do áxis relacionadas com a artrodese atlantoaxial ciente para afilar significativamente a altura interna da massa lateral de C2 (£2,1mm) medida junto ao ápice do sulco da artéria vertebral e consideraram que em 22% dos espécimes examinados a fixação por parafusos C1/C2 colocaria em risco a artéria vertebral8. Solanki & Crockard também observaram afilamento da massa lateral em 22% dos espécimes utilizando os mesmos critérios9. No entanto os resultados desses estudos morfométricos8-9 contrastam com a baixa incidência de lesões da artéria vertebral observada em vários estudos clínicos13-17. Esta discrepância de resultados poderia ser explicada pela hipótese de que quando se emprega a técnica de artrodese de Magerl o trajeto do parafuso não passa necessariamente próximo ao topo do sulco da artéria vertebral. O caminho do parafuso na técnica de Magerl passa pelo istmo da parte interarticular e pela massa lateral do áxis, até ultrapassar a articulação facetaria C1/C2. A broca é direcionada pela superfície medial e posterior do istmo de C2, ultrapassando a massa lateral de C2 em direção a massa lateral de atlas. Em geral esse trajeto evita a porção mais lateral da massa lateral do áxis. Mesmo em alguns dos casos em que o sulco da artéria vertebral está proeminente, com afilamento significativo da altura interna da massa lateral do áxis da forma mensurada por Abou Madawi et al.8 pode não haver interferência do sulco da artéria com a trajetória do implante. No trabalho atual o eixo de colocação do parafuso foi a referência utilizada para a realização das reconstruções multiplanares da tomografia computadorizada. Foram utilizados os planos parasagital oblíquo e axial oblíquo, escolhidos de forma a demonstrar o trajeto ideal do parafuso. Somente os casos em que o sulco da artéria vertebral se insinuava medialmente a ponto de aparecer na imagem obtida no plano para-sagital oblíquo e interferindo com o 175 trajeto de inserção do implante foram considerados como colocando em risco a artéria vertebral na técnica de fixação transarticular. Há pelo menos dois pontos críticos para inserção do parafuso trans-articular C1-C2, o istmo da parte interarticular10 e a massa lateral do áxis8. Tendo como base as nossas observações foi possível elaborar uma classificação da morfologia da vértebra C2 a partir da análise das imagens obtidas nos planos para-sagital e axial oblíquo da tomografia computadorizada pré-operatória. A classificação foi baseada na análise da morfologia do istmo da parte interarticular de C2, da porção anterior da massa articular de C2 e do sulco da artéria vertebral, conforme foi visto por meio das reconstruções MPR. Os resultados do presente estudo reforçam a necessidade da avaliação pré-operatória por meio da tomografia computadorizada helicoidal nos casos em que exista a indicação da artrodese C1-C2. Esta avaliação pré-operatória pode contribuir no processo de indicação da técnica de fixação trans-articular e na identificação dos riscos da técnica em cada caso individual. CONCLUSÃO As reconstruções multiplanares nos planos axial oblíquo e parasagital oblíquo se mostraram adequadas e vantajosas no estudo pré-operatório da técnica de fixação trans-articular C1-C2. O estudo demonstrou 11% de variações anatômicas da massa articular do áxis que favoreceriam lesões de estruturas neurovasculares durante a inserção dos parafusos. Esses resultados reforçam a necessidade de avaliação pré-operatória por meio da tomografia computadorizada helicoidal. REFERÊNCIAS 1. 1 Krag MH, Weaver DL, Beynnon BD, Haugh LD. 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