EVANILDA MARINS ALMEIDA USO E NORMA

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EVANILDA MARINS ALMEIDA
USO E NORMA: VARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA VERBAL EM
REDAÇÕES ESCOLARES
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Letras (Letras Vernáculas), Faculdade de Letras,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título de
Doutor em Letras Vernáculas, na Área de
Concentração Língua Portuguesa
Orientador: Prof. Doutor Silvia Figueiredo Brandão
Faculdade de Letras – UFRJ
Março de 2010
USO E NORMA: VARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA VERBAL EM
REDAÇÕES ESCOLARES
Evanilda Marins Almeida
Orientador: Prof. Doutor Silvia Figueiredo Brandão
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas , da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras
Vernáculas, na Área de Concentração Língua Portuguesa
Examinada por:
___________________________________________________________________
Presidente Professor Doutor Silvia Figueiredo Brandão - Orientador - UFRJ
___________________________________________________________________
Professor Doutor Anthony Julius Naro - UFRJ
___________________________________________________________________
Professor Doutor Maria Marta Pereira Scherre - UFES
___________________________________________________________________
Professor Doutor Maria Eugênia Lamoglia Duarte - UFRJ
___________________________________________________________________
Professor Doutor Silvia Rodrigues Vieira - UFRJ
___________________________________________________________________
Professor Doutor Christina Abreu Gomes - UFRJ, Suplente
___________________________________________________________________
Professor Doutor Eliete Batista Figueira da Silveira - UFRJ, Suplente
Rio de Janeiro
5 de março de 2010
Às minha mães
Evani (in memoriam),
Por ter-me dado à Luz
e pela sua sabedoria
e
Isolina (in memoriam),
Por ter- me amado e protegido
Ao meu pai
Ramiro (in memoriam),
Por tratar-me de doutora, antes que eu sonhasse sê-lo.
AGRADECIMENTOS
- a Deus, pelo verdadeiro Amor;
- à Profª. Drª. Silvia Figueiredo Brandão, pela persistência e pela orientação
firme e segura;
- à Profª. Drª. Maria Marta Pereira Scherre, pela amizade e pelas críticas
enriquecedoras;
- aos Prof. Dr. Dinah Iseense Callou, João Moraes, Maria Lúcia Leitão de
Almeida, Maria Aparecida Lino Pauliokonus, Maria Eugênia Lamoglia Duarte,
professores da Pós-Graduação pelos ensinamentos acadêmicos e pela amizade.
- à Profª. Drª. Maria Antónia Ramos Coelho da Mota, pela acolhida, pelas
discussões e sugestões para este trabalho;
- à Isolina minha mãe-avó, pelo Amor incondicional e pela coragem que herdei;
- à Vera Lúcia, prima-irmã;
- à minha família, pelo estímulo constante;
- aos meus sobrinhos, Cláudia, Mauro, Carlos, Júlio, Moacyr, Matheus, Tâmara,
Yasmyn, Maria Luiza, Aysha, Nathaly e Mariana pela esperança de renovação que
representam;
- aos amigos do Colégio Estadual Marechal João Baptista de Mattos, na pessoa
do Diretor, Prof. Celso Roberto Ramos Souto, pela amizade e incondicional apoio;
- aos amigos André, Dênis e Geraldo, pela amizade e encontros;
- ao Prof. Jorge Farne da Luz, ex-diretor e amigo;
- aos amigos Carmen, Regina, João, Kátia e Sara, companheiros de jornada, pela
amizade, convivência e incentivo;
- aos amigos, funcionários da Biblioteca, do Laboratório de Informática e da
Pós-Graduação da Faculdade de Letras, pelo apoio e encorajamento;
- à CAPES, pela Bolsa de Doutorado Sanduíche junto ao Centro de Linguística
da Universidade de Lisboa (CLUL), que me permitiu ousar “por mares nunca dantes
navegados”;
- aos professores e pesquisadores do CLUL, pela colaboração e convivência;
- à amiga Célia Noronha, pela colaboração na formação do corpus do PE e pela
hospitalidade lusitana;
- aos professores e coordenadores das escolas portuguesas, pela colaboração na
formação do corpus do PE;
- a todos que, de alguma forma, contribuíram para a execução deste trabalho.
Almeida, Evanilda Marins Almeida.
Uso e norma: variação da concordância verbal em redações escolares/
Evanilda Marins Almeida. - Rio de Janeiro: UFRJ/ FL, 2010.
xi, 196f.: il.; 31 cm.
Orientador: Silvia Figueiredo Brandão
Tese (doutorado) – UFRJ/ Faculdade de Letras/
Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, 2010.
Referências Bibliográficas: f. 181-196.
1 Variação 2. Concordância.verbal 3 Concordância e o estatuto do
português brasileiro. 5. Sociolingüística 6 Variáveis.
I. Brandão, Silvia Figueiredo. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. III.
Uso e norma: variação da concordância verbal em redações escolares.
ALMEIDA, Evanilda Marins (2010). Uso e norma: variação da concordância verbal
em redações escolares. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) –
Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 196
páginas.
RESUMO
Nesta pesquisa, focaliza-se a concordância verbal de terceira pessoa de plural na
modalidade escrita das variedades brasileira e européia do português, com base em
redações de alunos do nono ano do Ensino Fundamental e terceira série do Ensino
Médio, no Brasil, e nono e décimo-segundo anos, em Portugal. A análise, realizada
segundo os princípios da Sociolinguística Laboviana, investiga aspectos sociais e
estruturais que condicionam o cancelamento da marca de número. Os resultados
mostraram discretos índices para a não-concordância entre verbo e sujeito (3.9% para o
português brasileiro e 1.9% para o português europeu). Apesar dos baixos índices, no
Brasil, as escolas regulares apresentaram maior nível de variação na concordância,
enquanto, no PE, em tais tipos de escolas, gerenciadas pelo sistema público de ensino,
os índices de concordância foram praticamente categóricos. Além do cotejo entre as
duas variedades do português, realizou-se um estudo de caso em que se comparou o
desempenho, em relação à concordância, dos alunos do turno da manhã ao dos alunos
do turno da noite de uma mesma escola classificada como regular. Os resultados
apresentam indícios que corroboram a hipótese inicial de que, apesar de a escola
repassar a regra de concordância, de acordo com o padrão considerado ideal e, de os
alunos, de modo geral, assimilarem tal regra, ainda há uma discrepância de 2.5% entre
o comportamento dos alunos das escolas públicas e particulares, assim como entre os
dos turnos da manhã e da noite, 3.1%, no Português do Brasil.
Palavras chave: variação, concordância verbal, sociolinguistica
ALMEIDA, Evanilda Marins (2010). Uso e norma: variação da concordância verbal
em redações escolares. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) –
Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 196
páginas.
ABSTRACT
In this research, focuses on the verbal agreement of third person plural in the
written variety of European and Brazilian Portuguese, based on essays of students in
ninth grade of elementary school and third grade of secondary education in Brazil, and
ninth and tenth-second year in Portugal. The analysis, conducted under the principles of
sociolinguistics Labovian, investigates the social and structural impact the cancellation
of the mark number. The results showed discrete indices for non-agreement between
verb and subject (3.9% to 1.9% and Brazilian Portuguese into European Portuguese).
Despite the low incidence in Brazil, mainstream schools showed higher levels of
variation in the agreement, while in PE, in these types of schools managed by the
system of public instruction, the concordance rates were almost categorical. Besides the
comparison between the two varieties of Portuguese, there was a case study which
compared the performance in relation to the agreement, students from the morning to
the students of the night shift from a single school classified as regular. The results
present evidence to corroborate the initial hypothesis that, although the school pass the
rule of agreement, according to the standard considered ideal, and the students, in
general, assimilate such a rule, there is still a discrepancy of 2.5% between the behavior
of students in public and private schools as well as between those of the morning and
night, 3.1% in the Portuguese of Brazil.
Keywords:
Variation,
Verb
agreement,
Sociolinguistic
ALMEIDA, Evanilda Marins (2009). Uso e norma: variação da concordância verbal
em redações escolares. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas) –
Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 196
páginas.
RÉSUMÉ
Dans cette recherche, nous nous concentrons sur la concordance verbal de la troisième
personne pluriel dans la modalité écrite des diversités bresilienne et européenne du
portugais, à travers les exposés des élèves de la neuvième année de l'Enseignement
Fondamental et la troisième série de l'Enseignement Moyen au Brésil, et neuvième et
douzième années, au Portugal. L'analyse réalisée selon les principes de la
Sociolinguistique Laboviana, cherche les aspects sociaux et structuraux que
conditionnent l'annulation de l'empreint de numéro. Les résultats ont montré les index
moins qu'on les attendait, par rapport à non-concordance entre le verbe et le sujet (3.9%
pour le portugais brésilien et 1.9% pour le portugais européen.)Malgré les bas index, au
Brésil, les écoles régulières présentent un plus grand niveau de diversités dans la
concordance, tandis que, au PE, dans les écoles dirigées par le système publique
d'enseignement, les index de concordance ont été pratiquement catégoriques. En plus de
la comparaison entre les deux diversités du portugais, on a réalisé une étude de cas où
on a comparé le dégagement par rapport à la concordance des éléves du matin et ceux
du soir d'une même école, dénominée régulière. Les résultats ont présenté les index qui
ont laissé tomber l'hypothèse débutante: malgré l'école avoir repassé la règle de
concordance, selon le modèle considéré idéal et, des élèves, en géneral, assimiler cette
règle, même ainsi il y a encore une divergence, 2.5%, entre la conduite des élèves des
écoles publiques et particulières, et aussi ceux qui étudient le matin et le soir,3.1%, dans
le Portugais du Brésil
Mots-clés: variation, accord du verbe, Sociolinguistique.
SUMÁRIO
LISTA DE LISTA DE QUADROS, TABELAS E QUADROS
xiv
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................16
2. O FENÔMENO CONCORDÂNCIA ......................................................................19
2.1 Os primeiros gramáticos ..................................................................................19
2.2 As gramáticas atuais .........................................................................................23
2.2.1 As gramáticas descritivas ...........................................................................29
2.2.2 Um estudo sobre a modalidade escrita do PE...........................................33
3. ESTUDOS SOBRE CONCORDÂNCIA.................................................................38
3.1. Na perspectiva dialectológica ..........................................................................38
3.2 Na perspectiva sociolinguística .........................................................................41
3.2.1 Na modalidade falada da língua
42
3.2.2 Na modalidade escrita da língua
49
3.3 Na perspectiva didático-pedagógica ......................................................................61
4. A CONCORDÂNCIA E O ESTATUTO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO......66
5. ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS ...................................................78
5.1. Fundamentação teórica .....................................................................................78
5.2. Metodologia ........................................................................................................96
5.2.1 Caracterização do corpus .........................................................................96
5.2.2 Etapas do trabalho ....................................................................................99
6. AS VARIÁVEIS.......................................................................................................102
7. ANÁLISE DOS DADOS.........................................................................................133
7.1 No Português do Brasil..........................................................................................133
7.2 No Português Europeu......................................................................................146
7.3 Estudo de caso....................................................................................................170
8. CONCLUSÃO..........................................................................................................176
9. BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................181
LISTA DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS
Tabela 1- Graciosa (ordenação dos argumentos do verbo).......................................46
Tabela 2- Graciosa.(distância entre o núcleo do SN e o verbo) ...............................46
Tabela 3- Graciosa (paralelismo formal das sequências verbais no discurso)........46
Tabela 4- Vieira (variáveis significativas para o condicionamento da regra de
cancelamento - fatores desfavorecedores e favorecedores).......................................48
Tabela
5-.
Leite
(ausência
de
concordância
em
função
do
grau
de
escolaridade)..................................................................................................................57
Tabela 6- Monguilhott (frequência e probabilidade de CV no PB, segundo a
variável posição do sujeito em relação ao verbo)........................................................59
Tabela 7- Monguilhott (frequência e probabilidade de CV no PE, segundo o
cruzamento das variáveis escolaridade e posição do sujeito em relação ao
verbo)..............................................................................................................................60
Tabela 8- Resultados de Naro (1981) sobre o efeito da saliência fônica.................123
Tabela 9- Índices globais referentes à ausência/presença de marca de 3ª pessoa do
plural em PB.................................................................................................................133
Tabela 10- Índices percentuais de cancelamento da marca de número no PB,
segundo a variável escolaridade .................................................................................136
Tabela 11- Índices percentuais de cancelamento da marca de número no PB,
segundo a variável tipo de escola
136
Tabela 12- Índices de cancelamento da marca de número no PB, segundo a
variável saliência fônica .............................................................................................138
Tabela 13- Índices de cancelamento da marca de número no PB, segundo a
variável turno...............................................................................................................139
Tabela 14- Índices de cancelamento da marca de número no PB, segundo a
variável posição do sujeito...........................................................................................139
Tabela 15- Índice de cancelamento da marca de número no PB, segundo a variável
paralelismo discursivo.................................................................................................142
Tabela 16- Índice de cancelamento da marca de número no PB, segundo a variável
paralelismo clausal ......................................................................................................143
Tabela 17- Índices globais referentes à ausência/presença de marca de 3ª pessoa do
plural no PE.................................................................................................................146
Tabela 18- Índices de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável nível de escolaridade......................................................................................147
Tabela 19- Índices de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável tipo de escola..................................................................................................148
Tabela 20- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável posição do sujeito...........................................................................................150
Tabela 21- Varejão (a hierarquia do sujeito e a ausência de marcas de
concordância verbal no PE popular).........................................................................150
Tabela 22- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável distância entre o núcleo do sujeito e o verbo................................................152
Tabela 23- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável paralelismo clausal........................................................................................154
Tabela 24- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável paralelismo discursivo...................................................................................155
Tabela 25- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável animacidade do sujeito..................................................................................157
Tabela26- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável saliência fônico/gráfica.................................................................................159
Tabela 27- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável relação entre o número de sílabas das formas singular / plural..................161
Tabela 28- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável relação entre a tonicidade das formas singular / plural..............................162
Tabela 29- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável tempo verbal...................................................................................................163
Tabela 30- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável estrutura morfossintática do verbo................................................................165
Tabela 31- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável tipo de oração.................................................................................................166
Tabela 32- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável tipo de verbo...................................................................................................168
Tabela 33- Índices globais referentes ao cancelamento de marca de 3ª pessoa do
plural em estudo de caso no PB..................................................................................171
Tabela 34- Índices de cancelamento da marca de número no estudo de caso,
segundo a variável tipo de oração...............................................................................173
Tabela 35- Índices de cancelamento da marca de número no estudo de caso,
segundo a variável paralelismo discursivo.................................................................175
Quadro 1- Comparação dos paradigmas do presente do indicativo do verbo cantar
(e) em latim, galego, PE e PB, segundo Quint.............................................................76
Quadro 2– Localização das escolas. ..........................................................................110
Quadro 3- Predicador verbal e seus argumentos, segundo Rocha Lima...............130
Gráfico 1 - Percentuais de cancelamento da marca de número no PB...................134
Gráfico 2 - Percentuais de cancelamento da marca de número no PE...................146
Gráfico 3 a - Percentuais de cancelamento da marca de número, no primeiro
turno, em “estudo de caso”.........................................................................................170
Gráfico 3 b - Percentuais de cancelamento da marca de número, no terceiro turno
em “estudo de caso”.....................................................................................................170
1 INTRODUÇÃO
A ausência de concordância verbal, no português brasileiro, embora, ocorra nos
diferentes níveis sociais, é sem dúvida, um traço discriminador e estigmatizante.
O ensino das regras de concordância está fundamentado em uma diretriz
político-pedagógica que pressupõe apenas uma norma, mas a realidade mostra ser
necessário o conhecimento e descrição dos mecanismos que fazem com que ora se
realize ora não se realize a concordância de número entre o verbo e o sujeito.
Na escola, o ensino é pautado na variedade culta, descrita na gramática
normativa. Segundo ela, o verbo deve concordar em número e pessoa com o sujeito. No
uso da língua, porém, é possível perceber que nem sempre a concordância se realiza. A
contradição entre o que é apresentado como norma e, o que, de fato, ocorre é um fator
que merece estudo cuidadoso.
Por isso, embora muito já se tenha falado sobre concordância verbal, sobretudo
no âmbito da modalidade falada, e, neste trabalho, os resultados da modalidade escrita
tenham apresentado um quadro de variação discreto, o tema ainda desperta interesse, já
que a concordância também não é categórica. Acredita-se, que ainda há aspectos a
serem explorados, à luz da Teoria da Variação Laboviana, sobre os fatores que
determinam o cancelamento ou não da marca de número no verbo.
Assim, enfocam-se aspectos estruturais e sociais procurando-se, desse modo,
determinar em que contextos pode ocorrer o cancelamento da marca de plural e em que
medida o aluno transfere seu conhecimento internalizado para a escrita, pois, apesar de
determinados contextos se mostrarem categóricos, a escrita não é invariável.
Com base em amostra constituída de redações escolares de alunos do nono ano
do Ensino Fundamental e terceira série do Ensino Médio, no Brasil, e nono ano do
Terceiro Ciclo e do décimo-segundo ano, em Portugal, procura-se testar a hipótese de
que os alunos das escolas consideradas tradicionais teriam maior domínio da regra de
concordância, e, consequentemente, maior índice de aplicação das normas consideradas
canônicas, enquanto os das escolas classificadas como não-tradicionais apresentariam
comportamento inverso, ou seja, haveria menor domínio da regra e, como resultado,
maior tendência ao cancelamento da marca de plural.
Realiza-se, ainda, um estudo de caso em que se procura contrastar o
desempenho, na modalidade escrita, dos alunos do curso diurno com os do curso
noturno, pois se acredita que, por razões de natureza sócio-cultural, estes últimos
apresentariam maior tendência ao apagamento da marca de número.
A pesquisa que ora se apresenta organiza-se em mais oito capítulos, além desta
introdução.
No capítulo dois, apresentam-se diferentes abordagens sobre o fenômeno da
concordância verbal tais como as dos primeiros gramáticos e as das gramáticas atuais.
No capítulo três, resenham-se alguns dos diversos estudos sobre o tema,
apresentando-se as observações contidas nas obras dos primeiros dialectólogos
brasileiros e, principalmente, trabalhos de cunho variacionista, dentre eles também os
que abordam o ensino de concordância. Esses estudos serviram de ponto de partida para
o trabalho e para a formulação das hipóteses que o fundamentaram.
No capítulo quatro, centrado na concordância verbal e no estatuto do Português
Brasileiro, expõem-se algumas teorias sobre sua origem, assim como a sua relação com
o fenômeno da variação de concordância.
O capítulo cinco diz respeito aos aspectos teórico-metodológicos que nortearam
a pesquisa, bem como as etapas em que esta se desenvolveu.
No capítulo seis, descrevem-se as variáveis estruturais e sociais controladas, os
fatores que as compõem, assim como as hipóteses que fundamentaram o seu
estabelecimento.
No capítulo sete, expõem-se os resultados do estudo dos diferentes corpora,
cujos dados, depois de codificados, foram submetidos ao pacote de programas
GOLDVARB X. A análise, realizada em diferentes etapas, teve como objetivo testar as
seguintes hipóteses: (1) de que as escolas não-tradicionais apresentariam maior índice
de cancelamento da marca de plural, (2) de que os condicionadores da variação da
concordância verbal que agem na variedade brasileira também agiriam na variedade
europeia do Português, (3) de que os alunos de diferentes turnos de uma escola
apresentariam comportamento distinto em relação à concordância.
No capítulo oito, apresentam-se as conclusões desta pesquisa que, espera-se,
possam contribuir para o conhecimento do PB e do PE na modalidade escrita e, em
especial, para a compreensão do comportamento linguístico de alunos de diferentes
turnos em relação à aplicação das regras de concordância verbal.
No capítulo nove disponibiliza-se a bibliografia que deu suporte a este estudo.
2 O FENÔMENO CONCORDÂNCIA
A concordância, seja nominal ou verbal, constitui um dos fenômenos sintáticos
passíveis de variação mais estudados à luz de diversas teorias. Neste trabalho em que se
propõe o estudo da concordância verbal na modalidade escrita da língua, apresentam-se
algumas definições e tratamentos dados ao fenômeno.
2.1 Os primeiros gramáticos
Os primeiros gramáticos, embora influenciados pelas gramáticas do Latim e do
Grego, procuraram descrever, de maneira sistemática, a língua portuguesa, apresentando
uma abordagem descritivo/prescritiva e inaugurando, assim, no âmbito do Português,
uma tradição gramatical que se estende até os dias atuais.
Esses estudos refletem a preocupação de ratificar o poder do português como
instrumento de comunicação e domínio entre as colônias espalhadas pelo mundo, depois
das descobertas marítimas. Com o objetivo de manter a unidade linguística, assim como
o prestígio de uma determinada modalidade, procuraram descrever e prescrever o que
consideravam ser o melhor uso da língua.
Vale ressaltar o trabalho de Fernão de Oliveira, por ser primeiro a organizar uma
gramática do português, detendo-se, sobretudo, numa descrição fonética e morfológica,
em comparação ao Latim e ao Grego. Quanto ao verbo, seu estudo não aborda a
concordância, o que segundo o autor, ficaria para um trabalho futuro, para que “fosse
melhor e mais facilmente entendida” (OLIVEIRA, 1536: 150).
Barros (1540: 351) um dos pioneiros no estudo da sintaxe ou construiçam,
apesar de não apresentar estudo relevante sobre o tema, já lhe dá destaque. Em suas
observações, descreve a concordância verbal como a conveniência entre o nominativo e
o verbo, afirmando: “Tem máis o nome u concordânçia, quando está em cáso
nominativo, que [h]á-de convir com o vérbo em número e pessoa, como quando digo:
eu amo.”
Vera (1631) considera a língua escrita superior à falada porque a fala elegante
fica sepultada no esquecimento e a escrita fica permanentemente na memória. Os
grandes pensamentos e atitudes só seriam de conhecimento das gerações futuras se
fossem documentados na escrita já que é através do bem falar e escrever que se
diferencia o plebeu do nobre.
Barreto (1671), assim como outros gramáticos (Cf. LIÃO, 1864, 1945, 1975;
VERA, 1631), considera muito importante o conhecimento das diferentes partes da
gramática para melhor conhecimento, compreensão e uso da língua portuguesa.
Acredita que, em cada nação e em cada língua, há uns que falam melhor que outros, e
que o dom da fala é o que faz o homem superior aos outros seres, e ainda, que é através
dela que os homens expõem seus conceitos, assim como no cuidado com as palavras
mostram sua superioridade. Barreto considera, ainda, que a observação das regras da
gramática diferencia os falantes, pois há os que usam a língua sem advertência dos
acentos e pronúncia das palavras e há outros que observam as regras, que por boa razão
se devem guardar e observar em toda linguagem polida e ordenada, pois como veio a
dizer Plínio “deve-se considerar a perfeição de uns e a barbárie de outros.”
(BARRETO, 1671:32).
Lião (1864) afirma que a maior demonstração de decisão e de entendimento dos
homens são as palavras, pois elas exprimem seus conceitos e demonstram seu ânimo.
Considera que os homens nobres e de status são os detentores do bem falar porque é tão
inesperado que um homem de nobre criação produza uma palavra rústica e mal
composta, como se tirar de uma bainha de ouro uma espada enferrujada. Os erros da
escrita são piores que os da fala, pois as palavras passam e a escrita permanece. Em
suma, o domínio do bem falar e escrever distingue as pessoas, já que as palavras
são o toque, em que se vê o valor das pessoas e a diferença que
há entre o nobre e o plebeu, do ajuizado ao indiscreto e do
vicioso ao bem instituído. Donde com razão Sócrates rogado de
um ateniense, que lhe quisesse ver um filho moço e examinar o
para que era, mandou ao mancebo que falasse, dizendo: Fala e
ver-te-ei, dando a entender que as frestas por onde o interior do
homem se vê, são as palavras. (LIÃO, 1864: prólogo).
Barbosa (1881: 259), em sua gramática, também de caráter normativo, a define
como a
conformidade dos signaes que o uso instituiu para indicar as
correlações das idéas com estas mesmas correlações. Para haver
conformidade é preciso que haja umas partes que se conformem, e
outras a que as mesmas se conformem,
Classifica a concordância em regular e irregular. Na regular “as partes
concordantes correspondem exatamente áquellas com quem concordam, sem ser
necessario fazer supplemento algum.” (p. 260). Na concordância irregular, “há
discordâncias apparentes em que por uma parte (...) o verbo parece discordar do seu
sujeito ou em numero ou em pessoa.” (p. 265).
A concordância irregular é “reduzida” à regular pela syllepse e ocorre quando
não há conformidade entre o verbo e o sujeito, mas sim com a ideia expressa. São
contextos em que a nomes no singular se juntam adjetivos ou verbos no plural, ou, ao
contrário, a nomes no plural se juntam adjetivos ou verbos no singular.
Barbosa (p. 268-269) descreve as situações em que pode ocorrer silepse:
(a) substantivo coletivo partitivo seguido da preposição de e de um nome plural,
o adjetivo e o verbo concordam com o plural: “Estavam pegados com elles uma
infinidade de homens (Sousa)”;
(b) substantivo coletivo geral seguido da preposição de e de um nome singular, o
adjetivo e o verbo concordam com o singular, “O exercito dos infieis foi inteiramente
derrotado;”
(c) coletivo geral isolado ou com a preposição de e um nome singular, o adjetivo
e o verbo podem concordar com o coletivo singular ou com a idéia que ele expressa,
“Povoavam os degraus muita sorte de gente que pareciam pobres (Sousa)” ou “povoava
os degraus muita sorte de gente que parecia pobre”;
d) coletivos universais tudo e nada depois de vários substantivos continuados, o
verbo fica no singular: “O oiro, os diamantes, as perolas, tudo é terra e da terra” e
(e) com o coletivo geral no singular, o adjetivo e o verbo, às vezes, vêm no
plural, assim como com o substantivo plural, tomado coletivamente, às vezes, o verbo
vem no singular. É o que acontece com o verbo haver impessoal, com sentido de existir
“Ha tempos / houve muitos homens”. Um e outro e nem um nem outro admitem a
concordância do adjetivo e do verbo tanto no singular quanto no plural: “Um e outro é
bom / Um e outro são bons; Nem um nem outro é bom / Nem um nem outro são bons”.
Quando na oração ocorrem sujeitos de diferentes pessoas, o verbo deve vir no
plural, concordando com todos em número e pessoa, com o que tiver primazia, ou seja,
primeira pessoa sobre a segunda e segunda sobre a terceira, como em: “elle e tu estaes
sentados, nós e vós iremos juntos”.
A prescrição estabelecida desde os primeiros estudos, assim como a preocupação
quanto ao falar e escrever bem, que levam à necessidade do bom uso das regras
dispostas nas gramáticas e a consequente distinção que impõe aos falantes, demonstram
que os chamados “bom” ou “mau” usos da língua, de há muito, são entendidos como
um divisor de capacidades intelectuais e status social: de um lado, os nobres e bem
nascidos, capazes de dominar as regras sintáticas e ortográficas da língua, e de outro, os
plebeus e serviçais, incapazes de tal façanha.
Ao valorizarem/estigmatizarem as diferentes variedades da língua, considerando
umas de prestígio e outras sem valor, os gramáticos refletem o preconceito linguístico
social, que parte do princípio de que possa existir, em uma comunidade, uma parcela de
falantes com maior habilidade linguística que outra e não atenta para as motivações da
variação no âmbito dos diferentes grupos. Dentre as preocupações concernentes ao uso
da língua, parece não ser levado em conta o seu principal papel, que é o de estabelecer a
comunicação entre os membros de uma comunidade de fala.
As gramáticas não deixam margem para além do que é prescrito pela norma e,
mesmo quando a variação se impõe, o uso foge ao controle das prescrições e a
concordância formal não dá conta de descrever as idéias e emoções do emissor, o
fenômeno é legitimado, por exemplo, através da silepse, pois segundo Barbosa (1881:
269) “Em todas estas syllepses as discordancias aparentes dos termos da proposição
são admitidas pela necessidade, concordadas pela razão e auctorisadas pelo uso”,
conquanto seja considerado de mais prestígio usar preferencialmente uma das formas
concorrentes.
2.2 As gramáticas atuais
As gramáticas atuais, seguindo a tradição descritiva/prescritiva, elencam regras
que devem ser utilizadas segundo o padrão considerado ideal e trabalham com a noção
de certo versus errado. Os manuais elaborados segundo essa ótica não se distinguem
quanto aos conceitos e às regras a serem seguidas nem quanto aos exemplos,
selecionados da linguagem literária, considerada a modalidade ideal, embora distante da
utilizada pelo falante, o que não contribui para a descrição da língua em uso.
O conceito de concordância que norteia a visão tradicional pode ser demonstrado
pelas seguintes concepções:
Em português a concordância consiste em se adaptar a palavra
determinante ao gênero, número e pessoa da palavra
determinada. (Bechara, 2005:543).
Princípio segundo o qual, termos (dependentes, determinantes)
se adaptam, na forma, às categorias gramaticais de outros
(principais, determinados). (Luft, 1976:21).
Quanto à concordância verbal, tem-se a seguinte definição:
A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no
tempo, exterioriza-se na concordância, isto é, na variabilidade
do verbo para conformar-se ao número e à pessoa do sujeito.
(Cunha & Cintra, 2001:496).
A gramática de Mendes de Almeida (1969) é pontuada por observações que
chamam a atenção do aluno sobre os erros que devem ser evitados, alguns, inclusive,
considerados “inomináveis”.
Rocha Lima (1999:388) afirma que, quanto à concordância verbal, há duas
regras básicas:
1ª- Havendo só um núcleo (sujeito simples), o verbo concorda
com ele em pessoa e número. Ex: Eu ouço o canto enorme do
Brasil (Ronald de Carvalho).
2ª- Havendo mais de um núcleo (sujeito composto), o verbo vai
para o plural e para a pessoa que tiver primazia, na seguinte
escala: (a) a 1ª p prefere [sic] todas as outras; (b) não figurando
a 1ª p, a precedência cabe à 2ª; (c) na ausência de uma e outra, o
verbo assume a forma da 3ª p. (Lima, 1999:388).
Quanto aos casos de concordância facultativa, Lima (1999:389-390) afirma que
com o sujeito mais próximo, o verbo pode ser flexionado no singular ou no plural
(a) quando o sujeito composto está posposto ao verbo: “Que me importa Carlota,
o lar, a sociedade e seus códigos?” (C. dos Anjos);
(b) quando o sujeito composto é constituído por palavras sinônimas, formando
um todo indivisível,
(c) quando os núcleos representam gradação de ideias, sendo o último elemento,
aquele sobre o qual recai a atenção do escritor: “O mais importante era aquele desejo e
aquela febre que os unia como o barro une as pedras duras.” (D. Silveira de Queiroz).
Lima (p.407-408) explica que, no fenômeno da concordância, pode ocorrer um
“conflito entre a rigidez gramatical e os direitos da imaginação e da sensibilidade”, ou
seja, às vezes, a concordância não se realiza segundo os moldes que “a disciplina
gramatical estabeleceu por boas e invioláveis”. O gramático considera que tais casos
“são desvios, quase sempre inconscientes, que correspondem a matizes do sentimento e
da ideia” e afirma que faz parte da Estilística “o estudo e explicação dessas
irregularidades”, entre as quais as três arroladas a seguir (p. 410-411):
(a) Quando há um sujeito coletivo, o verbo pode ser empregado
no plural, desde que predomine a idéia de pluralidade de
indivíduos componentes da coleção; Ex: O povo lhe pediram
que se chamasse Regedor.
(b) Também pode ocorrer, embora seja menos frequente, de o
verbo ser empregado no singular quando no sujeito múltiplo,
ainda que possua termos no plural, predomine a representação
unitiva. Ex: (...) e possa aquele curto interesse fazer maiores e
menores homens aqueles que Deus e a Natureza fez iguais.
(Dom F. M de Melo).
(c) Um verbo na primeira pessoa do plural pode referir-se a um
sujeito na terceira pessoa do plural, desde que dê a idéia de que
a pessoa que fala faz parte do discurso. Ex: Dizem que os
cariocas somos pouco dados aos jardins públicos. (M. de Assis).
Almeida (1969) descreve a concordância como um processo sintático pelo qual
um termo se amolda a outro do qual depende. A concordância verbal é a acomodação do
verbo ao sujeito. “O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa e, nunca, o
contrário, pois é o verbo que depende do sujeito”. O processo de concordância pode ser
regular ou irregular, a estrutura do sujeito simples ou composto e as regras gerais ou
especiais.
Quanto ao sujeito composto posposto ao verbo, poderá o verbo ficar no singular,
situação sobre a qual faz a seguinte observação:
Preste atenção o aluno aos dizeres da regra: “... poderá o
verbo...” _ Não há obrigação de ficar no singular o verbo:
preferem, até, muitos, mesmo em tal caso, pô-lo no plural,
talvez por temor de críticas de ignorantes em assuntos
gramaticais. Segundo Cândido de Figueiredo, o verbo anteposto
aos sujeitos deve ficar sempre no singular mesmo nos casos em
que os últimos elementos do sujeito estejam no plural (Morreu
Pedro e todos que lá estavam), porque “assim exige a índole da
língua e a prática dos melhores mestres” (ALMEIDA, 1969:
406).
Almeida (1969: 400) chama as irregularidades apontadas por Rocha Lima, de
regras especiais de concordância que ocorrem com coletivo geral - quando o verbo fica
no singular apesar de o sujeito ser um coletivo acompanhado de complemento no plural,
como em: “O exército dos persas invadiu a Grécia”. O desprezo à concordância
gramatical, ou seja, com o núcleo singular do sujeito, é considerado erro, pois
encontram-se nos clássicos exemplos de concordância não com
o coletivo sujeito (concordância gramatical), mas com a idéia de
plural que ele encerra (concordância siléptica ou lógica). Tal
sintaxe não é, porém, para ser hoje imitada: “Ditosa condição,
ditosa gente, que não são de ciúmes ofendido” (Camões, 7º,
41).
e
Nos períodos em que há duas orações cujos verbos se referem
ao mesmo coletivo, o primeiro verbo segue a concordância
gramatical; o segundo pode seguir a mesma concordância ou a
lógica, indo para o plural (...) Isto de afastamento do verbo é
ponto que não deve ser esquecido em casos de sujeito coletivo.
Não há quem nos obrigue a aceitar hoje, por certas, construções
como estas o exército batalharam, o povo aplaudiram _ por
repugnantes ao ouvido e ao gosto de todos... (ALMEIDA, 1969:
400, notas 1 e 2).
Segundo o autor, para coletivo partitivo - há dois tipos de concordância
possíveis:
(a) quando a ação pode ser atribuída em separado aos indivíduos representados
pelo coletivo; o verbo pode ficar no singular (concordância gramatical) ou no plural
(concordância siléptica ou lógica), “A maior parte dos moradores acredita nos feitiços e
bruxarias” ou “A maior parte dos seus companheiros haviam trazido os pais
decrépitos”;
(b) quando a ação se refere ao coletivo e não a cada indivíduo em separado, o
verbo deverá ficar no singular, “Um grande número de chefes prejudica a disciplina”.
Lapa (1982) observa que o português “não nasceu em berço doirado”, pois a
variedade do latim que lhe deu origem não foi a clássica, mas sim a vulgar, falada por
soldados e colonos nas ruas e tabernas e, durante muito tempo, usada na Península
Hispânica. Mais tarde, entretanto, o conquistador, através das escolas, foi levando ao
povo conquistado a cultura dos grandes escritores, o que resultou na utilização pelos
portugueses de “duas línguas”, uma quando escreviam e outra quando falavam.
Lapa afirma que o que mais distingue a Gramática da Estilística é o conceito de
“erro” e acredita que a concordância, processo dinâmico e evolutivo, demonstra essa
diferença de maneira nítida, podendo os considerados “erros” de concordância verbal
ser explicados com base em um enfoque estilístico. Para o autor, enquanto a Gramática
sistematiza a língua e impõe normas para o seu uso, a Estilística, sob a ótica da qual não
há exatamente “erro”, busca encontrar, para o que a Gramática considera “desvios”,
uma explicação psicológica, natural. Ressalta, porém, que nem todos os caprichos da
fantasia podem ser encarados como bons, já que é necessário ter-se ordem e disciplina
sem, contudo, “deixar de reconhecer os direitos do espírito criador e a beleza sugestiva
de certas liberdades.” (Lapa, 1982:158).
Tais “desvios” ocorrem de acordo com a Estilística, em três situações: a) quando
a concordância se faz com a ideia e não com a palavra; b) a concordância depende da
ordem dos termos e c) a concordância se faz com o termo que se quer ressaltar.
Lapa discorda do tratamento dado à língua pelos gramáticos, que a consideram
estanque, acabada e uniforme, sem margens para variações, pois acredita que a língua
não apresenta mais de uma forma de expressão aleatoriamente e, que, na realidade, os
chamados “desvios” demonstram a variedade de sentimentos e a imaginação do usuário.
As considerações sobre os “desvios” da concordância verbal no português, na
realidade, refletem as pressões sociais e estruturais impostas à língua que vão além da
explicação estilística e demonstram o quadro de variação do fenômeno.
Os casos definidos como particulares ou irregulares mostram que a gramática
normativa, de maneira pouco criteriosa, se baseia em aspectos ora sintáticos, ora
morfológicos, ora semânticos, admitindo, inclusive, que o verbo concorde com outro
termo da oração que não o sujeito. Tais situações demonstram variados padrões de
concordância que a gramática normativa, embora não admita, acaba por legitimar,
mesmo que de maneira não explícita.
Cabe reafirmar que, embora não seja o objetivo dos gramáticos tratar da questão
da variação linguística, parece mais profícuo admitir que um determinado fenômeno,
como é o caso da concordância, seja visto como passível de variação, uma vez que não
está sujeito apenas a motivações de ordem estrutural, mas também a influências
externas, num processo dinâmico, que não pode ficar restrito a um conjunto de regras
fixas ou à dicotomia certo versus errado.
O ensino da língua deve ter por base a realidade linguística. Não pode apresentála como algo estático, nem tomar como modelo apenas exemplos retirados de momentos
pretéritos da língua que, ao longo do tempo, sofreu mudanças. Nesse aspecto, a
concordância é um dos fenômenos linguísticos que mais apresentam variação, o que,
mesmo sem admitir, a gramática tenta justificar, pois como afirma Lapa, (1982: 158).
a concordância é um campo muito vasto, em que certas
combinações da inteligência, da imaginação e da vontade
andam constantemente em briga com a lógica gramatical.
2.2.1 Gramáticas descritivas
Dentre as gramáticas de cunho descritivo, encontra-se a de Perini (2006), cujo
conceito baseia-se no princípio de que não há exatamente violação da concordância,
mas, sim, casos de inaceitabilidade da frase. Descreve a concordância como “uma
espécie de exigência de harmonização entre os diversos constituintes de uma
construção” e a concordância verbal, como “um sistema de condições de harmonização
entre o sujeito e o núcleo do predicado das orações.” (PERINI, 2006:186). Essas
condições verificariam se o sujeito e o núcleo do predicado estão em harmonia, como
por exemplo, na oração Minhas sobrinhas ganharam um cavalo. Já que o sujeito minhas
sobrinhas está na terceira pessoa do plural, o NdP (núcleo do predicado) deve ser
flexionado na mesma pessoa e número para que haja harmonia entre os termos, do
ponto de vista da concordância. Embora o processo, a princípio, pareça simples, afirma
que ele envolve “uma série de problemas tanto teóricos quanto de aplicação aos
dados.” (p. 186) e apresenta o fenômeno da concordância verbal no português, através
do que considera uma visão mais coerente e abrangente dos fatos da língua.
Para explicitar o processo de harmonização entre os termos, utiliza o recurso da
rotulação, além de outros que funcionam como filtros ou restrições, que não são
necessariamente mecanismos da concordância, mas são importantes para explicar por
que frases como Minhas sobrinhas ganhei um cavalo são inaceitáveis.
Segundo Perini, o SN pode ser rotulado como (a) sujeito, quando está em
harmonia com o verbo e (b) objeto direto, quando o SN [+Q] 1 não é sujeito, podendo
ser um objeto direto clítico; um objeto direto não-topicalizado, quando vem depois do
verbo; um OD-Q quando vem antes do verbo e contém um elemento Q, ou OD
topicalizado, quando vem antes do verbo e não contém um elemento Q. As restrições
podem ser: (a) restrições de transitividade (RT) “a estrutura de uma oração precisa
respeitar as condições de transitividade do verbo que ocupa seu núcleo do predicado”
e (b) restrições de caso (RC) “os pronomes pessoais têm formas especializadas quando
desempenham a função de OD; nenhuma forma desses pronomes pode desempenhar
essa função” (ERINI, 2006: 190).
Em minhas sobrinhas ganhei um cavalo ocorre a restrição de transitividade, pois
os SNs minhas sobrinhas e um cavalo seriam rotulados como objetos diretos
topicalizado e não-topicalizado respectivamente; sem sujeito, o que não constituiria
agramaticabilidade, já que em português é comum oração sem sujeito. Entretanto, não
existe verbo que admita dois objetos diretos e, como consequência, a frase se torna mal
formada, pois desobedece à transitividade verbal. A oração seria agramatical, não
devido ao problema de concordância, mas sim, à estruturação da oração, ou seja, o fato
de haver dois objetos diretos para o verbo.
Tradicionalmente a concordância é tratada como uma regra, segundo a qual o
verbo se flexiona para concordar com o sujeito em número e pessoa. Perini, entretanto,
apresenta-a como um sistema de filtros (independentemente motivados) que suprime
certas estruturas por apresentarem má formação de algum tipo. Considera sua proposta
1
Retomável através de (o) que/quem (traço)
de análise superior à tradicional, pois possibilita a descrição dos fenômenos de maneira
simples e coerente.
Os exemplos arrolados por Perini não incluem casos de terceira pessoa do plural.
Os casos de inaceitabilidade da frase, na realidade, representam contextos considerados
agramaticais pelos falantes, ou seja, não são reconhecidos como estruturas do português.
É interessante observar que a complexidade do fenômeno concordância não se
restringe apenas ao PB vernáculo, estigmatizado e desconsiderado pelos gramáticos. O
trabalho sobre o PE, em sua modalidade escrita culta, realizado por Peres e Móia
(1995), do qual se falará no próximo item, mostra diversos contextos em que a
concordância verbal se realiza em desacordo com os manuais normativos, de tal forma
que a concordância verbal é considerada uma das “áreas críticas do português”.
Para que se possa mostrar que a variação na concordância verbal é fenômeno
que se estende além do Português, procurou-se observar, ainda no âmbito das
gramáticas descritivas, o que ocorre em outra língua com a mesma origem do
Português. Para isso, recorreu-se à Gramática descriptiva de la lengua española
publicada em três volumes pela Real Academia Española e dirigida por Muñoz y
Barreto (1999). Selecionaram-se estruturas que, de alguma forma, mantêm relação com
este trabalho, em que se observaram, na modalidade escrita da língua, estruturas
passíveis de não-concordância entre o verbo e o sujeito. Martinéz (1999, v 2: 2697), que
trata de concordância na referida gramática, define-a como:
Uma relação entre, ao menos, duas palavras, que se estabelece
com a repetição, em cada uma delas, de um dos morfemas de
gênero, de número ou de pessoa.2
2
Una relación entre al menos dos palabras que se estabelece con la repetición en cada una de ellas de uno
de los morfemas de gênero, de número o de persona. (Martinéz, 1999: v.2.p.2697).
A concordância verbal, assim como no português, é descrita como a relação de
número e de pessoa entre o verbo e o SN sujeito. As regras gerais de concordância com
sujeitos simples e composto seguem os mesmos critérios: (a) substantivos ou pronomes
no plural, que exigem o verbo no plural, “Esos libros son nuestros todos.” (b)
substantivos ou pronomes coordenados ou justapostos, formando um “plural sintático”
que exigem, não só o verbo, mas todos os determinantes no plural, “Muchas mujeres y
ancianos perecieron”.
Quando não ocorre a concordância literal e, no entanto, a frase permanece
aceitável ocorre, assim como no português, a silepse ou concordância de sentido, isto é,
entre o verbo e a ideia expressa por outro elemento da frase que não o sujeito, como em:
“A esa pregunta contestó/ contestaron la mayoría”, em que o verbo pode concordar
com o núcleo do sujeito mayoria no singular ou com o sentido plural de a mayoria.
Martinéz mostra que a maior parte das variações na concordância verbo/sujeito
ocorre:
(1) Nas alternâncias do substantivo entre a função de sujeito e a de
complemento. Assim como em português, a equivalência do substantivo leva à
confusão, por parte do falante, entre o sujeito, com que o verbo deve concordar, e o
complemento com que o verbo não estabelece relação de concordância, como em “aos
convidados foi servido um jantar”.
(2) Quando o sujeito, mesmo no plural, vem posposto ao verbo, como em:
“Para acceder a esas carreras hace falta [tener] dos idiomas.” A posição do sujeito
em relação ao verbo apresenta comportamento semelhante ao português, ou seja,
favorece a variação da marca de plural, como em: “Existe/existem muitas pessoas
doentes”.
(3) Em construções de passiva sintética, do tipo “se vendían casas”,
correspondente à passiva analítica “casas eran vendidas”, em que a variante “se vendía
casas”, assim como no português, é recriminada pela norma, que não leva em conta a
mudança de sentido que ocorre em tais situações, já que a oração passa a ter sentido de
sujeito indeterminado.
(4) Com o verbo de ligação quando o sujeito e o predicativo são formados por
substantivos que se equivalem, ou seja, apresentam a mesma capacidade referencial.
Embora seja o sujeito que atrai a concordância, deve-se considerar o equilíbrio entre o
mais geral e o mais específico que, apesar de funcionar como predicativo, atrai a
concordância com o verbo de ligação como em: “Todo ello son/es* alicientes” / “Eso
son/es* rumores” ou “Tudo são flores”.
(5) Com os nomes ou pronomes pessoais, cuja referência dêitica e existencial faz
com que o verbo concorde com eles, como: “Ese soy/es yo”, assim como em português:
“Esse sou/é eu”. Nos demais casos, o que atrai a concordância é o elemento anteposto
ao verbo ou de referência mais específica, como em: “Las hayas son/es* un árbol de
hoja perenne” ou “As árvores de Natal é/são uma tradição”, e casos indefinidos como
“Lo que más me gusto(n) es/son las novelas”; “Trabajo y penalidades son/es la
herancia del hombre” ou “Frio e calor é/são normal nesta época do ano”.
(6) Quando o substantivo sujeito no plural morfológico se refere a um elemento
unitário, nesse caso também pode ocorrer a concordância singular com o predicativo,
como em: “Las peras al vino es/son um postre my navideño” ou “Frutas é/são um
ótimo alimento”.
Os exemplos arrolados permitem estabelecer uma relação entre os contextos
passíveis de variação na concordância entre o verbo e o sujeito no espanhol e no
português, visto que, apresentam situações semelhantes em que determinadas
construções são possíveis, ou não, na língua.
2.2.2 Um estudo sobre a modalidade escrita do PE
Peres & Móia (1995) discorrem sobre o que consideram áreas críticas da língua
portuguesa, ou seja, áreas que apresentam uso não-padrão na modalidade escrita. Dentre
tais áreas encontram-se as estruturas argumentais; as construções passivas; as
construções de elevação; as orações relativas; as construções de coordenação e as
concordâncias. No que concerne à concordância verbal, analisam dados do PE
contemporâneo, recolhidos de textos jornalísticos, produzidos entre 1986 e 1994. Como
linguistas, propõem-se a
observar, descrever e explicar as regularidades e os fenômenos
linguísticos no seu processo evolutivo, acreditando
adicionalmente que, em muitos casos, uma opinião
fundamentada no estudo apurado do sistema linguístico pode
ajudar uma comunidade a tender para a fixação (sempre
provisória, é claro) de uma ou outra forma. (PERES e MÓIA,
1995:13).
Os autores não consideram desvios linguísticos as alternativas fonéticas, lexicais
ou sintáticas que tenham o respaldo interno de um subsistema e sejam adotadas por uma
comunidade. Os desvios seriam
frutos da falta de familiaridade com as estruturas da língua escrita
ou da ausência de um distanciamento que permita a compreensão
de sua organização e das possibilidades por ela oferecidas. (PERES
& MÓIA, 1995: 15)
Apesar de entenderem que as línguas são sistemas heterogêneos e dinâmicos e
que determinados usos podem levar a um processo de mudança, analisam os dados com
base na relação certo x errado, em que as estruturas “certas” contrastam com as
“erradas”. Apresentam contextos de variação que devem ser explicados mas evitados,
pois demonstram “falta de familiaridade com a língua”.
Ao linguista, caberia, assim como aos docentes, a preservação e disseminação da
norma padrão, o modelo a ser seguido pelos demais usuários da língua. Tal ideia vai de
encontro aos princípios da Linguística que não considera que haja uma “norma modelo”
a ser seguida, assim como aos da Sociolinguística que entende as estruturas “erradas”
como casos de variação, passíveis, portanto, de serem sistematizadas através de fatores
que condicionam a escolha do usuário por uma ou outra forma.
Os autores afirmam que uma frase bem estruturada depende, entre outros fatores,
da conformidade com as normas sintáticas que regulam a relação entre seus elementos.
Dentre as consideradas importantes, destacam as regras de concordância nominal e
verbal. Ressaltam, ainda, que a regra de concordância fundamental no português é a que
indica o acordo de pessoa e número entre o verbo e o sujeito. Tal afirmativa não deve
ser aplicada como geral à modalidade escrita da língua, visto que os dados recolhidos de
textos formais apresentam estruturas que divergem das que configuram a norma
considerada ideal. O fato de a variação da concordância verbal se tornar evidente em
textos de mídia no PE, assim como nas modalidades falada e escrita do PB, mostra que
o fenômeno é inerente às línguas naturais, podendo ser condicionado por fatores
linguísticos e extralinguísticos.
Entre os casos selecionados por Peres & Móia encontram-se os referentes a
sujeitos de estrutura coordenada, que levam os verbos que com eles se relacionam à
forma plural. Casos há, no entanto, reconhecidos pela maioria dos gramáticos, de
sujeitos pospostos, em que, por razões semânticas ou de proximidade dos constituintes,
o verbo ocorre na forma singular, como em: “Espero que te ajude o estudo e alguma
sorte”.
Admitem haver duas possibilidades de concordância verbal com sujeitos
compostos, mas tal fato não invalida a regra, pois nem sempre a concordância singular é
boa, como em: “Luís e Ana foi ao teatro ontem à noite”.
Segundo os autores, a não-concordância com o sujeito plural coordenado pode
ser justificada pela posposição do sujeito ou por condições internas do idioleto do
falante, aliadas à sua sensibilidade. Tais contextos, na realidade, demonstram a
complexidade do fenômeno e a necessidade de depreensão dos condicionadores que
levam ao cancelamento da marca de plural no verbo em determinadas estruturas de
sujeito coordenado e não em outras.
Afirmam, ainda, que nem sempre a ausência de concordância literal é
agramatical, pois a concordância é uma área da sintaxe da língua portuguesa em que o
falante encontra possibilidades de escolha entre diferentes formas, a variação livre,
como a que ocorre entre o sujeito composto e o verbo no singular (concordância com o
sujeito mais próximo) ou no plural (concordância literal), como nos exemplos:
Impressiona-me/impressionam-me o entusiasmo e a dedicação destes jovens.
O mesmo ocorreria com a chamada concordância lógica ou silepse, “que faz
prevalecer o conteúdo semântico das expressões sobre a sua forma morfológica”.
Como em: “Vinte estudantes foram a exame. A maioria passou/passaram” (p. 449).
Segundo Peres & Móia, a concordância é também complexa no que diz respeito
às regularidades, pois nem todas as variantes em concorrência têm o mesmo grau de
aceitação pelos falantes, como em: ”O Paulo é uma das muitas pessoas que
estiveram/esteve*3 na festa ontem.”
3
Os exemplos marcados com (*) são considerados irregularidades pelos autores.
Outro fator que, segundo eles, amplia essa complexidade refere-se às alterações
ocorridas na língua, o que não permite tomarem-se como modelo os autores clássicos,
pois os exemplos da língua antiga autorizam o uso dos considerados desvios atuais.
Sobre esses casos, admitem que são situações em que naturalmente há hesitação
diante de formas concorrentes, o que leva o falante a escolher uma delas (variação
livre) e outras, apresentam concordâncias não realizadas pela maioria. Diferentes
pesquisas sobre a concordância verbal, tanto no PB, quanto no PE, mostram que o
fenômeno não se enquadra nos moldes da dicotomia certo versus errado que norteia a
gramática normativa e que seu estudo deve levar em conta o dinamismo da língua,
assim como os mecanismos que levam o usuário a, em determinados contextos, relizar a
concordância e, em outros, não.
A postura dos autores mostra-se contraditória ao apontarem a complexidade do
fenômeno e concordarem que determinadas estruturas favorecem a não-concordância;
ao evidenciarem que a língua sofre alterações, e, que os atuais desvios são encontrados
na língua arcaica; assim como ao admitirem que determinados casos de variação são
alternativos e usados por indivíduos mais escolarizados e, ao mesmo tempo,
descreverem essas estruturas como pouco aceitáveis pelos falantes e não considerarem
os autores clássicos como modelos a serem seguidos.
Ao limitarem a descrição dos dados em certo versus errado, mostram-se
repetidores da gramática tradicional, que desconsidera o fato de que estruturas “usadas,
até, por indivíduos mais escolarizados”, não podem ser desprezadas, nem tampouco,
classificados como variação livre, ou seja, descrevem os fatos sem se deterem no
porquê de eles ocorrerem.
3 ESTUDOS SOBRE CONCORDÂNCIA
3.1 Na perspectiva dialectológica
São de relevante contribuição os estudos realizados pelos primeiros dialectólogos
brasileiros, que durante as décadas de 1920 a 1950 pesquisaram sobre a modalidade
falada da língua. Apesar de não contarem com as técnicas científicas atualmente em
vigor, esses trabalhos sobre a fala popular de diferentes áreas geográficas brasileiras
oferecem importantes subsídios no que diz respeito ao comportamento dos dialetos
estudados. Tais estudos contribuem para a melhor compreensão do que ocorre na
modalidade escrita da língua em consequência das influências exercidas pela fala, tais
como na representação grafemática das palavras, muito comum entre alunos das séries
iniciais, assim como na ausência de marca de concordância verbal, objeto deste estudo.
Amaral (1920) alerta para a necessidade de um trabalho comparativo das
diversas modalidades do português, nas diferentes regiões, pois só assim seria possível
conhecer com segurança os diferentes dialetos brasileiros, assim como o grau de
vitalidade e abrangência de cada um. Em um trabalho pioneiro sobre um falar regional,
o autor descreve o dialeto popular de São Paulo e observa a perda do -s da primeira
pessoa do plural “bamo, fômo, fazêmo”, a substituição pela forma mais simples,
singular quando proparoxítono “nós ia, fosse, andava, fazia, fizesse”, assim como a
modificação sofrida pela terceira pessoa do plural “quérim, quirium, quizérum, quêirum,
andum, andávum, andárum, ándim” Amaral ([1920]1976:72).
Teixeira (1938) também evidencia a falta de concordância como resultado de um
processo de analogia entre as formas singular e plural dos verbos, o que resultaria na
simplificação da flexão verbal, ficando a cargo dos pronomes a determinação das
pessoas “nois teve, tu foi”. A invariabilidade seria uma característica marcante da
língua das classes “incultas” mineiras: “O facto é que a regra geral é a invariabilidade
flexional do verbo na concordância com seu sujeito, seja este de que pessoa e número fôr,
venha anteposto ou posposto.” (p. 73).
Em outro trabalho, sobre o dialeto goiano, Teixeira (1944), assim como Serafim
da Silva Neto, considera a não-concordância verbal como um dos resultados do contato
do PB com línguas que com ele coexistiram ao longo do tempo e a relaciona a um
processo de redução das flexões verbais já observado nas línguas indígenas e africanas.
Nessas línguas, o verbo mantinha-se invariável porque havia partículas que
determinavam as pessoas verbais. Outro fator que, segundo os autores, teria contribuído
para que tais processos se generalizassem no PB, teria sido “a ausência da ação
disciplinadora da escola”.
Provavelmente a falta de contato entre línguas não permitiu que o mesmo
ocorresse no PE, visto que no Brasil
a velha tendência do indo-europeu para a redução das flexões de
número e pessoa, encontrou novas condições favoráveis à sua
manifestação, pois que tanto as línguas indígenas como as
africanas possuíam esta uniformidade flexional na expressão
das pessoas verbais (TEIXEIRA, 1944:102).
Marroquim (1945), num estudo sobre a língua falada por analfabetos dos estados de
Alagoas e Pernambuco, mostra a falta de concordância como um traço característico da
língua em uso, resultado da “ação niveladora exercida pela analogia”, ou seja, a
simplificação das formas gramaticais até o nível mais elementar, o que levaria
naturalmente à simplificação do quadro das flexões verbais. A simplificação atingiu as
pessoas e os tempos verbais, mas, sobretudo as primeiras, ficando reservado quase que
só aos pronomes o papel de determiná-las.
No âmbito da concordância verbal, Nascentes (1953: 94) afirma que, “com suas
deturpações, o povo, como fez com as flexões nominais, corrompeu as flexões verbais,
resultando daí a falta de concordância”. O autor indaga, citando Said Ali, se a
concordância seria uma necessidade vital das línguas.
A gramática histórica de Ali (1971) define concordância como a adequação de
determinadas palavras quanto ao gênero, número ou pessoa à palavra a que se refere.
Declara, ainda, que o fenômeno não é, como parece, ditado pela lógica, pois “repetir
num termo determinante ou informativo o gênero, o número ou pessoa já marcados no termo
determinado ou de que se fala, é antes uma redundância.” (p. 279). No alemão, por exemplo,
o adjetivo predicativo não apresenta flexão e, consequentemente concordância; já no
inglês, o adjetivo quer predicativo, quer atributivo também são invariáveis. As
desinências número-pessoais nos verbos, muito comuns, nas antigas línguas sintéticas,
deram lugar, em muitas línguas modernas, à forma em que basta a presença do pronome
sujeito.
Quanto à concordância em geral, Ali afirma que a harmonização torna-se difícil
quando ocorre entre termos de diferentes gêneros, números ou pessoas e apresenta
contextos em que a harmonização entre os termos se faz de maneira considerada
particular (Cf. Ali, 1971: 281-309).
Os dialectólogos, quando apresentam os paradigmas verbais, mostram que, no
caso específico da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, a
concordância se fazia notar, ou segundo Teixeira (1944: 102) a “uniformidade é
quebrada”, ou seja, nesse caso ocorre a concordância. Os exemplos apresentados para
ilustrar a concordância nesse tempo verbal revelam que a realização da desinência
número-pessoal apresentava, apenas, uma mudança morfofonológica: quizérum
(Amaral, 1976: 72); amaru (Nascentes 1953: 96); lóváro (Marroquim, 1945: 124);
oiarum e oiô (Teixeira 1944: 103).
Os estudos dialectológicos são unânimes em descrever a não-concordância
verbal como consequência da simplificação do sistema de flexão, o que caracteriza os
dialetos brasileiros estudados.
Após os primeiros estudos dialectológicos, que buscaram descrever as normas
utilizadas, na prática, no Brasil, pode-se falar de uma história do português brasileiro e
tentar reconstituí-la. O conhecimento da realidade linguística brasileira deve-se ao
trabalho pioneiro desses estudiosos que, apesar das dificuldades, lançaram os alicerces
da história do PB.
3.2 Na perspectiva sociolinguística
Os estudos sociolinguísticos voltados para a concordância verbal não só revelam
ser esse, na fala, assim como na escrita, um fenômeno variável, ou seja, pode ou não
ocorrer a presença da marca formal que a caracteriza em função de fatores de natureza
estrutural ou extralinguística, mas demonstram, ainda, que os fatores relevantes para a
variação na modalidade falada também se mostram favoráveis na escrita.
Lemle & Naro (1977), num trabalho pioneiro, apresentam a regra de
concordância verbo/sujeito na linguagem oral de alunos de um programa de
alfabetização de adultos - MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), da
cidade do Rio de Janeiro - submetidos a entrevistas em diferentes situações, com o
objetivo de observarem a influência do grau de formalidade sobre o fenômeno. Dentre
as variáveis controladas, encontraram como elementos condicionadores do fenômeno a
saliência fônica entre as formas singular/plural do verbo e a posição do sujeito em
relação ao verbo, mostrando que
quanto menos saliente for a diferença entre singular e plural,
mais provável será a falta de concordância. (LEMLE & NARO,
1977: 46).
A categoria desfavorecedora da concordância verbal é aquela
em que o sujeito segue ao seu verbo, ou seja, a menos saliente.
Nesse caso, o elemento determinante da concordância segue o
determinado, fazendo com que a falta de concordância seja
menos óbvia. (LEMLE & NARO, 1977: 43).
Dentre os pesquisadores que tratam do fenômeno, segundo os critérios da
Sociolinguística variacionista, não se podem deixar de citar Anthony Naro e Marta
Scherre que, em diversos trabalhos, apresentam variáveis de reconhecida influência
sobre o tema, tanto na modalidade falada como na escrita (Cf. NARO & SCHERRE,
1991; 1999a; 1999b; 2000a; 2000b; 2001, 2003; 2007a; 2007b; SCHERRE & NARO
1991; 1992; 1993; 1997; 1998a; 1999; 2000, 2001, 2006) e SCHERRE (2005).
3.2.1 Na modalidade falada da língua
Scherre & Naro (1997), quanto à modalidade falada do PB, consideram que a
variação na concordância está internalizada na mente dos falantes. Trata-se de uma
variação inerente, estruturada em função de aspectos linguísticos e sociais. Torna-se
evidente que há um sistema gerenciando a variação na concordância de número, sendo,
portanto, passíveis de previsão as estruturas linguísticas e os contextos sociais em que
pode ocorrer ou não a colocação de todas as marcas formais de plural nos elementos
flexionáveis das diferentes construções.
Naro & Scherre (1999) apresentam os resultados de três variáveis estruturais:
posição do sujeito em relação ao verbo, distância entre o núcleo do SN sujeito e o verbo
e saliência fônica na oposição das formas singular/plural dos verbos. Mostram que o
sujeito posposto, assim como o anteposto distante do verbo, favorece a nãoconcordância verbal e a maior oposição entre as formas singular e plural do verbo
favorece a concordância.
Os resultados com falantes de um a quatro anos de escolaridade, comparados aos
de Rodrigues (1987) com falantes com o mesmo nível de escolaridade e aos de Naro
(1981) com falantes analfabetos, confirmam que, quanto maior a distinção entre as
formas singular/plural do verbo, maior a probabilidade de ocorrer a concordância, ou
seja, a variável saliência fônica associada à escolaridade, em termos escalares, mostra-se
mais nítida para os falantes com menos escolaridade.
Scherre & Naro (2006) focalizam as variáveis escolaridade e saliência fônica no
processo de mudança linguística no PB, falado no Rio de Janeiro em relação à
concordância de número (nominal e verbal). Para isso, analisaram comparativamente
três corpora (1) uma amostra aleatória de 64 inquéritos gravados no início da década de
1980, (2) outra amostra, também aleatória, do final da década de 1990 com 32 falantes e
(3) um grupo não aleatório de 16 falantes da amostra de 1980, recontactados em 1999 e
2000.
Quanto à variável escolaridade, os resultados mostram que seu efeito se deu de
maneira desigual no período de vinte anos, ou seja, houve diminuição da concordância,
nas duas amostras, nos dados dos informantes com um a quatro anos de escolaridade e
aumento nos dados dos informantes com cinco a oito anos e nove a onze anos de
escolaridade, o que, segundo os autores, pode ser explicado pelo acesso, cada vez maior,
à escola. Os resultados, segundo eles, corroboram a hipótese de Naro (1981: 87-89) de
que, embora os resultados da amostra de informantes semi-escolarizados na década de
1970 apontassem para perda da marca formal de plural, no futuro, o acesso à escola e a
orientação cultural de se aproximar das formas de prestígio, entre elas a concordância de
plural, poderiam levar à inversão da tendência.
Os resultados confirmam, ainda, as ideias de que, em relação à concordância, a
comunidade de fala brasileira aponta diferentes direções, ideia denominada “fluxos e
contrafluxos”, ou seja,
o que está mudando para algumas pessoas pode estar estável
para outras pessoas e o que está aumentando para alguns pode
estar diminuindo para outros. Para algumas pessoas o mercado
de trabalho pode ter efeito, enquanto o sistema escolar pode
influenciar outras. Finalmente, podemos reafirmar que os fluxos
e contrafluxos só parecem emergir com agrupamentos de
indivíduos de forma não convencional. No futuro, esperamos
ser capazes de avaliar este ponto em detalhes. (NARO &
SCHERRE, 1991:15)
Os autores acreditam que, para a compreensão do fenômeno estigmatizado da
variação da concordância, devem ser consideradas de mesma intensidade as restrições
sociais, que levam à norma padronizada, e as forças estruturais, que mantêm a
heterogeneidade ordenada do sistema vigente, o que leva crer que a diminuição do
efeito da saliência fônica seja o resultado de um esforço (consciente ou não) do falante
em se adequar à norma de prestígio e para isso conta com a influência da escola.
Os autores concluem afirmando que a concordância de número reflete o que
denominam de mudança sem mudança, no sentido de que a variação não reflete
mudança evidente para todos os falantes.
Até prova em contrário, o melhor modo para dar conta da
concordância de número no português do Brasil é o modelo de
fluxos e contra-fluxos, que apresenta a configuração de grupos e
de indivíduos transitando por diversas vias sociais
linguisticamente bem estruturadas. (SCHERRE & NARO
2006:120).
Naro & Scherre (2003) analisam duas amostras do corpus do Programa de
Estudos sobre o Uso da Língua (PEUL): (1) uma amostra de fala de 16 indivíduos
entrevistados na década de 1980 e recontactados em 1999 e 2000, para os estudos do
tipo Painel4; (2) uma amostra de 32 falantes, da mesma comunidade da amostra de
1980, para os estudos do tipo Tendência. O objetivo era buscar evidências para
mudanças linguísticas em tempo real, assim como focalizar as variáveis sociais
individuais que estariam influenciando a variação da concordância de número nominal e
verbal para o estudo do tipo Painel. O estudo concentra-se nos resultados da variável
posição, considerada de grande produtividade no que diz respeito ao fenômeno
concordância.
Os informantes recontactados aumentaram ou, pelo menos, mantiveram seus
índices de concordância no período que separa as duas amostras, sem relação direta com
os fatores sociais, tais como idade, gênero e escolaridade. Há casos de aumento da
concordância em falantes que eram crianças, de meia idade ou mais velhos, na primeira
amostra, bem como para falantes que aumentaram ou não o grau de escolaridade. Os
autores puderam perceber uma hierarquia nos resultados, ou seja, os falantes que, na
primeira fase da coleta dos dados, apresentaram níveis mais baixos de concordância,
assim como os que apresentaram níveis mais altos continuaram a manter as mesmas
características.
Na amostra de 1980, os informantes, na faixa etária de 26 a 49 anos, inseridos no
mercado de trabalho, comprovam estudos anteriores, que afirmam serem os mesmos
usuários das chamadas formas de prestígio. Apesar de o comportamento dos falantes,
em relação às variáveis sociais, não ser uniforme, no que tange à variável linguística
posição relativa e linear, os resultados mostram-se homogêneos, com os sujeitos plurais
antepostos ou mais próximos do verbo favorecendo a concordância, enquanto os
sujeitos pospostos ou mais distantes do verbo proporcionam efeito contrário. Tais
4
. Com o estudo do tipo Painel é possível acompanhar e avaliar a trajetória do indivíduo, e com o do tipo
Tendência, a trajetória linguística da comunidade.
resultados corroboram os encontrados em estudos anteriores realizados em diferentes
regiões do país, com falantes de variados níveis de escolaridade.
Graciosa (1991) aborda a variação da concordância verbal em dados do projeto
NURC (Norma Urbana Culta) constituído por inquéritos da fala de informantes cariocas
com nível superior completo. Nesse trabalho, procura mostrar que a Gramática
Normativa, de caráter essencialmente prescritivo, não dá conta do uso cotidiano da
língua, especialmente na modalidade falada.
O estudo mostra, ainda, que as chamadas exceções listadas pelas gramáticas são,
na realidade, o respaldo das variações de uso que ocorrem tanto na fala quanto na
escrita. A análise tem por objetivo comprovar a hipótese de que a concordância verbal,
na fala culta da cidade do Rio de Janeiro, “estaria em processo de variação,
acompanhando as tendências observadas nos outros níveis.” Sendo assim, investiga a
influência de variáveis linguísticas e sociais na realização ou não da concordância
verbal em relação ao SN sujeito e ao SV.
Dentre as variáveis controladas, as que se mostraram relevantes para o
condicionamento da não-concordância verbal foram: ordenação dos argumentos do
verbo, distância entre o núcleo do sujeito e o verbo e paralelismo formal das sequências
verbais no discurso, conforme as tabelas reproduzidas a seguir.
Ordenação dos argumentos do verbo
Fatores
Cancelamento/total
Frequência
Probabilidade
Suj. ant./v. intrans.
6/68
9
.66
Suj. ant./v. trans.
8/251
Suj. posp./v. trans.
3/7
Suj. posp./v.intrans.
3/10
.41
3
.95
43
.91
30
Total
20/336
Tabela 1- Graciosa (1991: 68) - valor de aplicação: cancelamento.
Distância entre o núcleo do SN e o verbo
Fatores
Cancelamento/total
Frequência
Probabilidade
SN próximo
10/221
5
.35
SN não-expresso
4/89
.73
4
SN afastado
6/26
.88
23
20/336
Total
Tabela 2 -Graciosa (1991:69) - valor de aplicação: cancelamento.
Paralelismo formal das sequências verbais no discurso
Fatores
Cancelamento/total
Frequência
Probabilidade
SV em sequência
7/238
3
.37
SV isolado
13/98
13
.78
Total
20/336
Tabela 3 - Graciosa (1991:70) - valor de aplicação: cancelamento
Seus resultados mostram que: (1) quando o sujeito está posposto a um verbo
transitivo ou intransitivo (ordem VS), em que deixa de ser o foco da informação e perde
a posição à esquerda, há maior probabilidade de não-concordância, assim como nos
casos de sujeito oculto; (2) quanto maior a distância entre o SN sujeito e o verbo, ou
seja, quando há presença de elementos não-nucleares entre os dois termos, maiores são
as possibilidades de não haver concordância; (3) quando ocorre um sujeito com verbo
isolado, isto é, que não se mantém na cadeia discursiva, há uma tendência de
cancelamento da regra de concordância.
O trabalho de Graciosa demonstra que, nos dados da fala culta carioca, a
concordância apresenta-se bem controlada, com aplicação quase categórica da regra.
Nos casos em que ocorre cancelamento, identificam-se os mesmos fatores inibidores já
observados em outros estudos sobre diferentes níveis da fala. A autora ressalta, ainda,
que, no tempo decorrido entre a recolha dos depoimentos (de 1971 a 1978) e a
elaboração de seu estudo, pode ter havido um aumento nos índices de cancelamento da
regra, o que, naturalmente, não pôde ser detectado por sua pesquisa.
Vieira (1995) aborda a concordância verbal em verbos na terceira pessoa do
plural em dados do projeto APERJ (Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do
Rio de Janeiro) formado por inquéritos da fala de pescadores analfabetos ou semialfabetizados. Para a análise do fenômeno, foram controladas as variáveis (a)
linguísticas: posição do sujeito em relação ao verbo, distância entre o núcleo do SN
sujeito e o verbo, paralelismo no nível oracional, animacidade do sujeito, paralelismo no
nível discursivo, saliência fônica, relação entre o número de sílabas das formas singular
e plural, tempo verbal e tipo de estrutura morfossintática e (b) extralinguísticas:
localidade, faixa etária e escolaridade.
Seu estudo, assim como o de Graciosa (1991), apresenta como valor de aplicação
a não-concordância, que é condicionada, sobretudo, por fatores de ordem estrutural.
Dentre as variáveis que se mostraram significativas, destacaram-se: saliência
fônica, paralelismo nos níveis oracional e discursivo, posição do sujeito em relação ao
verbo, animacidade e distância entre o núcleo do SN e o verbo. O quadro abaixo
reproduz a tabela das variáveis significativas e os contextos que favorecem ou
desfavorecem o cancelamento da marca de número no verbo.
Variáveis
Contextos que propiciam a Contextos que propiciam o cancelamento
ocorrência de marca de n°
da marca de n°
formas verbais de baixo nível de saliência
Saliência fônica formas verbais de alto nível de
saliência
Paralelismo
v. prec. de SN sujeito marcado
v. prec. de SN sujeito não-marcado
clausal
Paralelismo
v. prec. de v. com marca de pl. v. prec. de v. s/ marca de pl. ou de 3ªp. sing.
discursivo
Posição do sujeito
sujeito anteposto
sujeito posposto
sujeito animado
sujeito inanimado
Animacidade
Distância entre
SN sujeito próximo do SV
SN sujeito distante do SV
SN e SV
Tabela 4 - Vieira (1995:142) - variáveis significativas para o condicionamento
da regra de cancelamento - fatores desfavorecedores e favorecedores
Carrilho (2003), em trabalho sobre a concordância verbo/sujeito, em dados de
fala espontânea recolhidos em inquéritos dialetais, atesta que a não-concordância no PE
ocorre, apenas, em contextos de sujeito posposto, em estruturas verbais que não
selecionam argumento externo, ou seja, em construções inacusativas em que o sujeito
pode não ter características de sujeito ou em construções predicativas. Segundo a autora,
as construções predicativas podem ser comparadas às inacusativas, principalmente no
modo com que o sujeito sintático verifica caso e concordância, ou seja, tanto nas
construções inacusativas, assim como, nas predicativas, o constituinte pós-verbal
controla a concordância.
3.2.2 Na modalidade escrita da língua
Scherre e Naro (1997) afirmam que na modalidade escrita do PB, a concordância
entre o verbo e o sujeito é controlada pelo núcleo do sujeito se o sujeito estiver
anteposto e for constituído de um núcleo de estrutura sintagmática simples ou por mais
de um núcleo com pelo menos um deles no plural. Caso contrário, outros elementos
podem assumir o controle da concordância.
Segundo os autores, em casos de sujeito de estrutura sintagmática complexa, por
exemplo, a concordância pode ocorrer com o núcleo do SN ou com o núcleo de um
SPrep adjunto ou complemento. Caso haja mais de um SPrep, o controle da
concordância pode ser exercido pelo SN dentro do SPrep, na posição mais alta, isto é,
mais à esquerda do verbo.
Scherre & Naro (2000a) analisam a língua escrita em construções de sujeito
simples seguido de sintagma preposicional, que apresentam dois ou mais candidatos a
assumir o controle da concordância. Os resultados encontrados destacam como fatores
responsáveis pela retenção do controle da concordância pelo núcleo do sujeito, assim
como pelo deslocamento dessa retenção para o substantivo mais à esquerda no SPrep, o
tipo de sujeito, o traço morfológico de número, animacidade do sujeito e a saliência da
oposição singular/plural.
Confirmam resultados anteriores que mostram que os fatores condicionadores da
variação são semelhantes nas modalidades falada e escrita da língua, mantidas as
devidas diferenças. Segundo os autores, a variação na concordância não é característica
somente do PB, mas das línguas em geral. No final, argumentam que o controle da
concordância verbal não é regida exclusivamente pelo núcleo do SN sujeito, mas,
também, por traços que determinam a posição controladora.
Normalmente os traços controladores da concordância ficam à esquerda do
verbo, mas esse controle pode passar para termos que ocupam outras posições, como
núcleo do SPrep ou outras funções, como a de predicativo, controle esse considerado
irregular ou particular pela gramática tradicional.
Complementando o tema hierarquização do controle da concordância, Naro &
Scherre (2000b), retomado em (2007a), analisam a concordância verbal em construções
com sujeitos compostos, cotejando duas amostras da língua portuguesa, numa tentativa
de mostrar as convergências entre os dois estágios da língua, o medieval e o moderno. A
primeira etapa do estudo foi realizada com textos do PE, do século XIII ao XV e a
segunda, com textos do PB atual.
A análise mostra o uso da marca explícita de plural com sujeitos compostos, no
PE arcaico, como fenômeno variável em larga escala, lembrando mais o uso da fala do
PB moderno para sujeitos simples do que a escrita do PE e do PB modernos. Dentre os
fatores considerados condicionantes para a realização da marca formal de plural no
verbo, no PE arcaico, destacam-se os sujeitos compostos, com traço humano, em
especial os formados por nomes próprios, o que, segundo eles, pode ser explicado pelo
fato de os referentes humanos serem percebidos como um conjunto diferenciado.
Na segunda análise, realizada no PB moderno escrito, os autores afirmam que,
embora ocorra variação, o percentual é menor do que no português arcaico. Os
resultados mostraram-se similares aos do PE medieval, ou seja, os condicionadores são
os mesmos nos dois estágios da língua. Afirmam, ainda, que a variação da concordância
verbal não ocorre apenas na variedade brasileira, pois já ocorria no PE arcaico e, em
alguns casos, “a variação da fase arcaica, antes, portanto, do chamado descobrimento do
Brasil, era até mais acentuada do que a da fase moderna no Brasil”. (NARO &
SCHERRE, 2000:186)
Scherre & Naro (2007b) ampliam o tema abordado em (1999a) sobre a variação
da concordância de número em construções com sujeito simples não inserido em um
SPrep (eles ganham demais versus eles ganha demais) e as construções com sujeito de
estrutura complexa, em que há um núcleo plural seguido de um SPrep (os irmão(s)
dele(s) nunca chegaram versus as lei(s) dele(s) não permite). O objetivo do texto é
discutir o que pode determinar que o controle da concordância seja feito pelo núcleo do
sujeito (hierarquicamente mais alto) ou pelo núcleo do SN encaixado (hierarquicamente
mais baixo).
A análise foi realizada com base em dados recolhidos de textos públicos do PB
contemporâneo, escritos por pessoas escolarizadas e submetidos a um mínimo de
revisão. Os tipos de sujeito foram classificados em “sujeito mais forte” (SN sujeito com
núcleo substantivo não quantitativo que pode conter os traços [± comum], [± animado] e
[±humano]); “sujeito menos forte” (SN sujeito com natureza quantitativa que pode ou
não conter os traços [± comum], [± animado] e [± humano]) e “sujeito mais fraco” (o
núcleo percentual não se flexiona e não é marcado pelos traços [± comum] [± animado]
e [± humano]).
Nos casos de “sujeito mais forte”, o traço [+ humano] favorece a concordância
com o núcleo do sujeito no singular, já o traço [- humano] favorece o controle da
concordância pelo núcleo plural do SN encaixado. Nos casos do “sujeito mais fraco”, o
traço [+ humano] do núcleo plural do SN encaixado passa a favorecer relativamente a
marca explícita de plural, salientando os traços fortes do núcleo plural do SN
encaixado. No caso da retenção da concordância pelo núcleo do SN encaixado no
SPrep, no PB moderno escrito, devem ser levados em conta: tipo de sujeito, traços
morfológicos de número, traço semântico-discursivo de animacidade e saliência na
oposição singular/plural. Os autores afirmam, ainda, que mantendo-se as devidas
proporções, os fatores relevantes na fala, mostram-se, também, relevantes na escrita.
Silva (1997), em seu estudo A variação da concordância verbal em redações de
vestibular da UnB, considerando a concordância como valor de aplicação, teve como
objetivo verificar a hipótese de que o ensino das escolas particulares é superior ao das
escolas públicas e, de que maneira isso se refletiria na concordância verbal. Procurou,
ainda, verificar a influência de outros aspectos sociais como a distinção de classe social,
sexo e nível de escolaridade sobre o fenômeno, além de testar os fatores estruturais
favorecedores da concordância verbal.
Para isso, levantou três tipos de dados: (a) construções com sujeito de um só
núcleo singular ou plural seguido de um SPrep (sujeitos simples de estrutura complexa
antepostos ao verbo), (b) construções com sujeito de dois ou mais núcleos seguidos ou
não de SPrep. e/ou sintagmas oracionais (sujeito composto anteposto ao verbo) e (c)
construções com sujeitos pospostos ao verbo independentemente de sua configuração
sintagmática.
Separou os casos de variação previstos pela tradição gramatical, ou seja,
contextos em que a gramática tradicional prevê o uso do verbo no singular ou no plural.
Desse modo, os dados apresentaram as seguintes configurações: (1) construções com
sujeitos de um só núcleo de estrutura complexa antepostos ao verbo, divididos em: (a)
sujeito de um só núcleo singular seguido de um ou mais SPrep, formalmente plurais, em
que já é previsto pela tradição gramatical o uso do verbo na forma singular ou plural.,
(b) sujeito de um só núcleo singular seguido de um ou mais SPrep, independentemente
de expressar noção partitiva, quantitativa ou coletiva, isto é, não previsto como variável
pela tradição gramatical, (2) construções com sujeito de dois ou núcleos singular e/ou
plurais, (3) construções com sujeitos pospostos ao verbo.
As construções com sujeito de um só núcleo singular seguido de SPrep, em
estruturas do tipo (um dos ... que) apresentaram 33% de concordância, em 08/24 dados e
p.r. 0.16., em contextos como: “Este é um dos problemas que merece uma atenção
urgente da parte do novo governo.”
As construções com sujeitos de um só núcleo singular seguido de SPrep, em
estruturas do tipo (prep + SN) exibiram 19% de concordância, em 23/122 ocorrências e
p.r.0.39, em contextos como: “O sistema de provas será modificado”. As estruturas do
tipo (prep + SN + que) mostraram 71% de concordância, em 17/24 ocorrências e
p.r.0.90 com o núcleo do adjunto ou complemento do sujeito.
Construções com sujeitos pospostos ao verbo independentemente de sua
configuração sintagmática. Excluídos os casos categóricos, os sujeitos pospostos ao
núcleo foram, a princípio, classificados detalhadamente segundo sua estrutura - simples
ou composta, e segundo a marca de número do núcleo - singular, plural. Os núcleos que
apresentavam a alternância entre as marcas singular/plural foram analisados segundo a
marca do núcleo mais à esquerda: quando esta era singular, o sujeito era classificado
como singular; quando plural, unia-se aos plurais. O grupo ficou assim distribuído: (a)
sujeito singular, cujo núcleo expressa noção coletiva, partitiva ou quantitativa, como
em: “o vestibular continuará sendo injusto e crescerá ainda mais o número de pessoas
que lutarão pela sua extinção;” (b) sujeito simples plural seguido de SPrep, em
estruturas do tipo: “vários podem ser os pontos de discussão sobre o vestibular;” (c)
sujeito simples plural não seguido de SPrep, como, por exemplo em: “surge as
críticas...;” (d) sujeito composto singular ou com o primeiro núcleo no singular, como
em: “desta maneira interagem realidade, criador e criação;” (e) sujeito composto plural
ou com o primeiro núcleo no plural: “faltam patrocínios e propagandas incentivadoras.”
Os dados de núcleo com uma marca de plural ou, com mais de um núcleo e, o
mais à esquerda, no plural, foram reunidos em um único fator, pois nestes casos, apenas
a concordância plural é registrada pela tradição gramatical. Ficaram reunidos os casos
de dois ou mais núcleos singulares e aqueles em que o núcleo mais à esquerda era
singular, por serem casos em que a concordância é prevista como variável. Também
reuniram-se os sujeitos de um só núcleo de noção coletiva, quantitativa ou partitiva.
O resultado da análise da concordância com sujeitos pospostos apresentou baixo
índice de plural para todos os fatores: dois ou mais núcleos singulares p.r. 0.19; um ou
mais
núcleos
plurais
p.r.
0.51;
um
só
núcleo
singular
de
noção
partitiva/quantitativa/coletiva p.r 0.53. Nos casos de núcleo plural, em que a variação
ainda não é registrada pelos gramáticos, o p.r. 0.51 ficou próximo aos de sujeitos de um
só núcleo de noção coletiva/quantitativa/partitiva p. r. 0.53, cuja variação é claramente
prevista.
As variáveis linguísticas mostraram: (a) a pertinência, da marca de número do
núcleo do sujeito, revelando a tendência do verbo a concordar com o núcleo do sujeito,
de acordo com a marca de número que este apresenta, até mesmo, nos casos de núcleos
coordenados, quando os núcleos são formalmente singulares, o verbo tende a ocorrer no
singular; (b) a marca de número do núcleo do SPrep mostrou influência mais nítida nas
construções com sujeito de expressão partitiva; (c) a estrutura sintagmática do SPrep
revelou a propensão do pronome relativo que a inibir a concordância entre o verbo e o
sujeito; (d) a restrição de seleção entre o verbo e o núcleo do Sintagma Preposicionado
evidenciou a tendência do núcleo do SPrep a assumir a concordância nos casos em que
o núcleo do sujeito não o faz.
Na análise dos sujeitos à direita do verbo, o efeito da voz verba revelou, entre
outros aspectos, que construções com o verbo na voz passiva sintética são
continuamente, consideradas casos de indeterminação do sujeito, gerando, assim, um
baixo índice de marcas formais de plural nos verbos dessas estruturas.
Quanto às variáveis sociais, a expectativa era a de que os candidatos que
estudaram o Ensino Médio em escolas do Plano Piloto, parte central do DF e que
concentra a classe média do DF, comparados aos que estudaram em escolas das Cidades
Satélites, periferia do DF e habitada por representantes da classe menos favorecida
economicamente.
Os resultados mostraram que os candidatos das escolas públicas nos casos de
sujeito de um só núcleo singular, exceto os de noção partitiva, quantitativa ou coletiva,
seguido de SPrep, apresentam maior tendência à concordância verbal.
Os resultados mostraram que, apesar de os candidatos, de modo geral,
apresentarem variação; os candidatos oriundos das escolas públicas, nos casos de sujeito
de um só núcleo singular, exceto os de noção partitiva, quantitativa ou coletiva seguido
de SPrep, apresentam maior tendência à concordância. Resultados semelhantes foram
encontrados nos casos de sujeitos de um só núcleo plural; anteposto ou posposto ao
verbo; assim como nos de sujeito de dois ou mais núcleos plural anteposto ou posposto
ao verbo que não expressam noção de sinonímia, gradação ou exclusão de uma das
partes, e, no caso dos sujeitos pospostos ao verbo, aqueles que apresentam pelo menos o
núcleo mais à esquerda no plural.
Leite (2004) trata da variação da Concordância Verbal, procurando ver a
interferência da oralidade na escrita, em redações de alunos dos Ensinos Fundamental e
Médio de uma escola particular, considerada de grande porte, em Vitória-ES. Com base
na Sociolinguística laboviana, o estudo procura comprovar que a variação na
concordância verbal é um fenômeno passível de sistematização e mostrar que fatores a
promovem. Para isso, controla variáveis estruturais e extralinguísticas já estabelecidas
para o controle da concordância verbal na língua falada.
Seus resultados mostraram que os sujeitos compostos - somente núcleos ou
outros elementos intervenientes além dos núcleos - são favorecedores da ausência da
marca de plural explícita, com p.r. 0.98 e 0.66. As construções com sujeito formado
somente por núcleo e/ou com material interveniente entre os núcleos e o verbo
apresentam p.r. semelhantes: 0.48.
As primeiras análises não apresentaram seleção estatística favorável, pois a
variável saliência fônico-gráfica, os três níveis de oposição não-acentuada, assim como
os três de oposição acentuada, apresentaram resultados semelhantes, o que a levou a
reagrupar a variável em oposição acentuada e não-acentuada. A versão mais
simplificada mostrou-se, então, relevante e apontou os verbos com oposição acentuada
entre as formas singular e plural como os de maior tendência ao cancelamento da marca
de plural, com 3% de ocorrências e p.r. 0.38, assim como as formas de oposição nãoacentuada apresentaram comportamento oposto, com 6% de ocorrências e p.r. 0.57.
A variável paralelismo discursivo descreve o verbo precedido de outro verbo no
plural como o mais propenso a também receber marca. Já o verbo precedido de outro
sem marca apresenta maior possibilidade de não receber marca de plural. Embora o p.r.
referente aos verbos isolados tenha sido idêntico ao dos verbos precedidos de marca de
plural, p.r. 0.56, a autora observa que, no primeiro caso, a saliência fônica também
favorece a não-concordância enquanto, no segundo, a concordância é “redundância.”
Tais resultados levam-na a acreditar que o processo do paralelismo discursivo ocorre de
maneira menos polarizada nas modalidades da língua, pois segundo Leite, (2004: 102)
Uma vez marcada a forma plural no início, é provável que ocorra a
não presença de outras marcas explícitas de plural por ser uma
informação facilmente recuperada pelo leitor. Isso, de certa forma,
vai ao encontro do paralelismo discursivo. Esses resultados
diferenciam-se dos observados na língua falada, em que a repetição
ocorre com maior frequência que na escrita.
Os resultados da posição e distância do sujeito em relação ao verbo confirmaram
que o sujeito posposto ao verbo é o fator que mais favorece a não-concordância, assim
como o sujeito afastado do verbo por elementos intervenientes de uma a quatro sílabas e
os sujeitos nulos com referente distante do verbo.
A variável social escolaridade não mostrou o resultado esperado, ou seja, menor
ocorrência de concordância na 5ª série, aumentando na 8ª série do Ensino Fundamental
e na 2ª série do Ensino Médio. Leite acredita que o alto índice de concordância na
escrita pode estar relacionado à baixa transferência do processo de fala para a escrita e
ao nível sócio-econômico de classe média alta a que pertencem os alunos.
Fatores
Freqüência
Peso relativo dos fatores
2ª série
16/260 = 6%
0.49
5ª série
0.55
12/210 = 5%
8ª série
0.47
15/345 = 4%
Total
43/815 = 5%
Tabela 5- Ausência de concordância em função do grau de escolaridade (Leite, 2044: 106)
Os resultados da pesquisa de Leite confirmam os já obtidos em diversos estudos
sobre o tema, ao constatar que os fatores linguísticos são os que mais favorecem a
presença da marca de plural na modalidade falada da língua. Em seu trabalho sobre a
língua escrita, os fatores que se destacam são os mesmos, ou seja, a estrutura do SN
sujeito, o princípio da saliência fônica, o paralelismo discursivo e a posição distância do
sujeito em relação ao verbo. Conclui ainda que
A variação linguística tem uma lógica própria, interna à língua
como sistema, isto é, as práticas de uso da escrita variam no espaço
e no tempo, inserindo o sujeito e o seu texto numa complexidade
de papéis e de identidades, de redes comunicativas e de acesso aos
padrões institucionais. (LEITE, 2004:118)
Monguilhott (2009), em sua tese de doutoramento, apresenta o fenômeno da
variação na concordância verbal de 3ª p. do plural, no PB e no PE, nas modalidades
falada e escrita, sob as perspectivas sincrônica e diacrônica. O estudo fundamentado na
Teoria da Variação e Mudança Linguística e na Dialectologia Pluridimensional, analisa
fatores estruturais, sociais e geográficos que possam condicionar o fenômeno.
A análise sincrônica é baseada em 32 entrevistas (16 informantes de
Florianópolis, para a amostra do PB e 16 de Lisboa, para a amostra do PE) estratificadas
conforme a idade e escolaridade. A análise diacrônica valeu-se de 10 peças de teatro do
século XIX e 18 do século XX, escritas por autores brasileiros e portugueses.
Os resultados da análise sincrônica mostram a variedade europeia com índices de
91,95% (742/807) de concordância verbal de 3ª pessoa do plural e a variedade brasileira
com 80,60% (640/794). As variáveis que se mostraram mais significativas no PB foram:
saliência fônica e paralelismo formal, seguidas da posição do sujeito em relação ao
verbo e o traço humano do sujeito. No PE, mostraram-se relevantes para a concordância
de plural: traço humano do sujeito, posição do sujeito em relação ao verbo e tipo de
verbo. Quanto aos fatores extralinguísticos, o programa GOLDVARB X selecionou a
variável idade/escolaridade.
Os resultados da análise diacrônica apontam, no século XIX, para um sistema de
concordância obrigatória com o sujeito posposto, tanto para PE quanto para o PB. No
século XX, os resultados já indicam um sistema de concordância variável,
principalmente no PB, em construções em que o sujeito posposto ao verbo é confundido
com o objeto da oração.
A análise sincrônica, que analisa dados da modalidade falada, apresenta como
semelhança entre o PB e o PE, as estruturas de sujeitos com traço [-humano] pospostos
a verbos inacusativos5 como inibidores da concordância verbal. Quanto à diferença, o
PE apresenta maior tendência à concordância verbal, enquanto o PB, maior variação.
Monguilhott observa que a seleção de fatores condicionadores da aplicação da
marca explícita de plural é diferente para o PB e para o PE. Os fatores condicionadores
mais relevantes para a concordância no PE são: as variáveis traço humano do sujeito,
posição do sujeito em relação ao verbo e tipo de verbo. Já o PB apresenta a saliência
fônica e o paralelismo formal como elementos mais relevantes, com os verbos que não
envolvem mudança na qualidade da vogal na forma plural, como os mais inibidores da
presença de marca de plural, com 21% de concordância, em 18/89 de dados e p.r. .04.
Tais resultados levaram-na a especular se “o início da variação na concordância verbal
se dá pela fonologia ou pela sintaxe da língua.” (Monguilhott, 2009:182)
A autora considera ter confirmado suas expectativas em relação aos fatores
presença da forma zero no último elemento e sujeito nulo anafórico com presença da
forma de zero plural, visto que, ambos inibem a marcação de plural no verbo. Os
resultados gerais confirmam o princípio do paralelismo formal, segundo o qual,
“marcas levam a marcas e zeros levam a zeros”, ou segundo SCHERRE (1998:42)
“formas gramaticais particulares ocorrem juntas,” com os elementos precedidos de
sujeito com presença da forma zero de plural no último elemento, com 52% de
frequência, em 52/100 ocorrências e p.r. .10, mostrando-se o principal fator
desfavorecedor da concordância.
Para confirmar estudos anteriores, como os de LEMLE & NARO (1977) e
SCHERRE & NARO (1997) de que a não-marcação da concordância verbal com sujeito
posposto independe da escolaridade do informante (cf. Tabela 6). Monguilhott cruzou
as variáveis escolaridade e concordância e os resultados mostraram 50% de queda de
5
Conferir capítulo 6 deste trabalho.
concordância verbal para os informantes com ensino fundamental e 47% de queda para
os informantes com formação superior, para o sujeito posposto em relação ao sujeito
anteposto.
Posição
Percentual
SN anteposto Nível fundamental
66%
SN anteposto Nível superior
92%
SN pospostoNível fundamental
34%
53%
SN pospostoNível superior
Tabela 6 - Frequência e probabilidade de CV no PB, segundo a variável posição
do sujeito em relação ao verbo (Monguilhott, 2009:125).
Assim como no PB, os resultados do PE (c.f. Tabela 7) mostram que o sujeito
posposto inibe a aplicação da marca formal de plural, com 92% de concordância e p.r.
.56 para os contextos de sujeito anteposto e 59% de concordância e p.r. .18 para os
contextos de sujeito posposto. Assim como fez em relação ao PB, Monguilhott cruzou
as variáveis posição do sujeito e escolaridade, e os resultados mostraram que a
marcação de plural em contextos de sujeito posposto cai de 91% para 51% nos
informantes com ensino fundamental e de 95% para 69% nos informantes com ensino
superior.
Posição
Percentual
91%
SN antepostoNível fundamental
95%
SN antepostoNível superior
51%
SN pospostoNível fundamental
69%
SN pospostoNível superior
Tabela 7- Frequência e probabilidade de CV no PE, segundo o cruzamento das
variáveis escolaridade e posição do sujeito em relação ao verbo (Monguilhott, 2009:146).
Os resultados das análises das duas variedades do Português permitiram-lhe
observar os contextos favorecedores e inibidores da concordância verbal. Segundo a
autora, os contextos que podem estar restringindo uma possível mudança, favorecendo a
aplicação da marca de plural nos verbos, seriam os sujeitos antepostos com traço [+
humano], os verbos com oposição entre as formas singular/plural mais acentuada e a
fala dos jovens com escolaridade superior. Por outro lado, os contextos que podem estar
promovendo uma possível mudança em direção a um sistema sem marcação de plural
nos verbos seriam os sujeitos pospostos ao verbo com traço [- humano] e os verbos com
oposição entre as formas singular/plural menos acentuada.
3. 3 Na perspectiva didático-pedagógica
Dentre os diversos trabalhos que investigam o fenômeno da variação da
concordância verbal, embora, na escrita, a concordância seja praticamente categórica,
vale ressaltar os que refletem sobre o ensino da Língua Portuguesa com ênfase na
concordância verbal. Tais estudos propõem estratégias metodológicas que, considerando
os princípios imanentes ao uso da língua, propiciam aos estudantes o domínio de
diferentes normas linguísticas, em especial, a considerada padrão. Lemle & Naro
(1977:50) propõem que
numa tentativa de ensinar ao Mobralense o uso categórico da
regra de concordância, de acordo com a norma culta, deve ser
colocada mais ênfase naqueles aspectos em que seu dialeto mais
difere daquela norma.
Baseados nos resultados da variável saliência fônica, sugerem que os exercícios
enfoquem os verbos no presente e no pretérito imperfeito do indicativo, já que é nesses
tempos que a oposição entre as formas singular e plural é menor, com tendência à nãoconcordância. Quanto à posição do núcleo do SN em relação ao verbo, propõem que os
exercícios privilegiem as estruturas de sujeitos pospostos e distantes do verbo, já que
esses contextos propiciam o cancelamento da marca de número do verbo.
Os autores recomendam, ainda, que as aulas, assim como os exercícios, tenham
como base os contextos mais altos na hierarquia de saliência já que nesses casos, o
dialeto do mobralense se aproxima da norma que se pretende fixar. Depois, os
exercícios deveriam focalizar os pontos contrastantes, de acordo com a hierarquia.
Essa proposta mostra que, pedagogicamente, o ensino deve partir de contextos de
menor dificuldade para, então, partir para os de maior complexidade.
Graciosa (1991:81) em sua abordagem sobre o ensino da concordância considera
fundamental a assimilação do mecanismo da Concordância
Verbal, pela aplicação da regra geral, através de exercitação
variada e constante, em que se enfatizem os itens menos
salientes, aqueles que induzem mais comumente à supressão da
marca de plural.
A autora também propõe que o aprendizado priorize a aplicação da regra geral,
enfatizando os itens que mais possibilitam a supressão da marca de plural. O conceito
de variação, segundo ela, deveria ser apresentado num outro momento, quando o aluno
estivesse apto a apreender as possibilidades de construções com formas verbais no
singular ou no plural, assim como as características de contextos mais formais.
Mollica (2003) testa a aplicação da regra de concordância por meio de
questionários aplicados a alunos da sétima série (atual 8° ano) do Supletivo de um
colégio estadual da Zona Sul (uma turma foi instruída em relação ao fenômeno estudado
e às variáveis controladas e outra não recebeu qualquer instrução) e aos alunos do
Ensino Médio de uma escola particular do bairro da Penha.
Os primeiros resultados mostraram-se semelhantes aos encontrados na
modalidade falada da língua, ou seja, em construções em que o sujeito se encontra à
direita do verbo houve menos concordância, pois o aluno tem dificuldades de
reconhecer o sujeito posposto, considerando-o como objeto. Além disso, a distância
entre o núcleo do sujeito e o verbo também contribui para a não-concordância. Através
dos experimentos, a autora verificou os ambientes que favoreciam ou desfavoreciam a
concordância, assim como a importância de orientar o aluno sobre o fato de o sujeito
poder vir posposto ao verbo e a concordância verbal se realizar com o núcleo do sujeito
e não com o SN inserido no SPrep.
Mollica propõe, então, novas táticas pedagógicas, partindo da fala para a escrita,
que levem em conta os contextos de maior possibilidade de não-concordância e o grau
de estigmatização do ponto de vista da norma culta, a saber (1) ênfase aos contextos de
posposição do sujeito, já que este ponto traz muitas dúvidas ao aluno; (2) exercício em
que haja verbos distantes do sujeito, com SNs grandes e de estrutura complexa, como
em: “Acabaram todas as propostas” e “Enchem de carro, quase todos os domingos e
feriados, as estradas”. O ensino da concordância verbal, segundo Mollica, deve se
basear na conscientização do aluno e em exercícios de reconhecimento do sujeito, seja
ele anteposto ou posposto, ou esteja perto ou longe do verbo.
Vieira (1995), ao final de sua dissertação, apresenta um quadro com os fatores
que favorecem e os que desfavorecem a concordância verbal (Cf. item 3.2.2 deste
capítulo). Propõe iniciar o ensino da concordância pelos contextos que a favorecem, já
os contextos que a desfavorecem, devem ser explorados na elaboração dos exercícios.
Propõe, ainda, que o ensino da concordância nominal seja simultâneo ao da
concordância verbal e que o texto seja considerado ponto de partida do ensino para que
possam ser explorados contextos com verbos em séries que possibilitem ao aluno
perceber as interinfluências que a presença ou a ausência de marcas de plural no SN
exercem sobre os SVs.
Em outro estudo, Vieira (2004) apresenta três pressupostos, que acredita devem
nortear o ensino da Língua Portuguesa (1) desenvolver a competência de leitura e
produção de textos, (2) ter como ponto de partida e de chegada do ensino a unidade
textual, em todas as modalidades e registros e (3) não desprezar nenhum elemento que
entre na configuração formal de um texto, seja ele lexical ou gramatical. A autora se
propõe responder três questões: (1) Para que ensinar a concordância verbal? (2) O que
ensinar sobre concordância verbal? (3) Como apresentar a regra variável da
concordância verbal?
Como resposta à primeira pergunta, Vieira afirma que o aprendizado da
concordância verbal constitui uma das oportunidades de desenvolver um raciocínio
lógico-científico sobre a língua, com base em um fenômeno que diz respeito a outros
itens da gramática que são partes comuns da Morfologia e Sintaxe. Quanto à segunda
pergunta, a autora considera que se deve começar conceituando o que é concordância
verbal e, a partir da aplicação das definições a um conjunto de dados linguísticos,
promover o conhecimento e a reflexão sobre a concordância verbal nas situações que
envolvem o aluno cotidianamente. Em relação à terceira pergunta, acredita que o texto
deverá ser utilizado como ponto de partida, elegendo as estruturas que ora favorecem a
realização da marca de plural, ora a desfavorecem.
A autora apresenta a proposta pedagógica de LIMA (2000) que busca dar conta
da imbricação entre os níveis da gramática e propõe que os conteúdos linguísticos sejam
apresentados de maneira integrada, partindo dos seguintes princípios (1) da
complexidade crescente - ir do mais fácil para o mais difícil, (2) da continuidade manutenção de tópicos em diversos momentos do continuum de qualquer curso, ora
como alvo do estudo, ora como pré-requisito do que vai ser aprendido, (3) do
encadeamento em espiral - apesar da continuidade, os conteúdos devem ser ampliados e
aprofundados e (4) da integração - promover a integração entre os tópicos, tanto numa
mesma disciplina quanto entre várias disciplinas e entre tópicos e habilidades.
Quanto a como apresentar a regra variável da concordância verbal, Vieira
acredita que se deve ter sempre o texto como ponto de partida para a percepção da
variação do fenômeno, utilizando-se dois procedimentos: (1) aproveitamento dos textos
que utilizam a concordância como recurso de construção do sentido global do texto e (2)
a exploração de textos que utilizam a variação da concordância como característica de
uma personagem. A autora conclui enfatizando a importância do “aproveitamento dos
estudos linguísticos para uma prática de ensino que se quer pautada em normas reais,
depreendidas dos diversificados contextos de uso da língua.” (VIEIRA, 2004: 253).
Sobre a prática pedagógica ainda vigente, Mattos e Silva (2004) afirma que o
professor de Língua Portuguesa, hoje no Brasil, não é um professor de ‘língua materna’,
uma vez que apresenta aos seus alunos normas que, na maioria das vezes, não
pertencem a seus ‘dialetos de berço.’ Acredita, porém, que o caminho para a solução do
problema é o investimento do Estado na melhoria da qualidade do ensino, além do
respeito com que deve ser tratada, pelos professores, a diversidade da língua,
valorizando as diferenças dialetais e desenvolvendo um trabalho numa linha crítica em
que a variante do aluno é respeitada, enquanto lhe é apresentada a norma culta da
escola.
A autora afirma que o professor que tiver uma formação sociolinguística
adequada será capaz de trabalhar as variantes sintáticas que convivem nas “alas
brasileiras” tentando ressaltar as mais salientes estruturalmente e as socialmente mais
estigmatizadas para que, sem desprestigiar a segunda, possa usar as duas, com o
objetivo de treinar o uso formal da língua nas modalidades falada e escrita. Esta
provavelmente seja “a grande contribuição que a sociolinguística poderá dar para uma
efetiva virada no ensino da língua portuguesa no Brasil.” (MATTOS E SILVA, 2006:
115)
4. A CONCORDÂNCIA E O ESTATUTO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Silva Neto, apesar da visão preconceituosa e elitista sobre a língua portuguesa,
pois considerava superior a variedade lusitana e o português falado no Brasil pelos
negros e índios como uma língua que “se estropiava e abastardava na boca de gentes
brutas e toscas”, fornece as bases de uma história da língua portuguesa no Brasil,
distinguindo três fases de seu desenvolvimento: (1) de 1532 até 1654, primeira fase do
contato entre o nativo e o português, período em que o branco era minoria e a língua
geral (tupi) era necessária a todos; (2) de 1654 a 1808, período em que a língua geral vai
perdendo espaço e (3) de 1808 em diante, em que, após a chegada da família real ao
Brasil, o português vai se firmando como língua oficial e de prestígio.
Assim, segundo o autor, até o século XVIII tem-se: (1) o português, falado,
principalmente na costa, por portugueses, que embora naturais de diferentes regiões de
Portugal, apresentava uma considerável unidade, (2) um crioulo ou semicrioulo adaptação do português utilizado por negros, índios e mestiços, caracterizado pela
extrema simplificação das formas, (3) a língua geral (tupi) falada pelos índios,
mamelucos e brancos quando em relação com os índios e (4) alguns falares africanos,
usados nos quilombos ou entre negros novos, ou seja, ainda não aculturados.
O crioulo ou semicrioulo utilizado pelos índios e negros teria deturpado e
deixado marcas no português falado pelas classes baixas das áreas interioranas e
urbanas. Como vestígios do “crioulo colonial” aponta a presença da marca de plural
apenas no primeiro elemento do SN (as mesa, os livro), o uso do verbo ter impessoal
pelo haver, assim como a simplificação das formas verbais. Silva Neto frisa, porém, o
paulatino “aportuguesamento” dessa linguagem por influência dos jornais, do rádio, do
ensino escolar e da preocupação das pessoas em usar a norma de prestígio.
Suas teorias seriam retomadas, mais tarde, por teses que postulam a origem do
PB em um crioulo ou semicrioulo de base portuguesa (Cf. GUY,1981; 1989).
Lucchesi (2003: 207) defende que as origens do PB são consequência de um
processo de transmissão irregular, ou seja,
processos históricos de contato massivo e prolongado entre
línguas, nos quais a língua do segmento que detém o poder
político é tomada como modelo ou referência para os demais
segmentos. Tais processos podem conduzir à formação de uma
língua historicamente nova, denominada língua pindgin ou
crioula, ou à simples formação de uma nova variedade histórica
da língua que predomina na situação de contato.
Já Naro & Scherre (2007: 69), cuja proposta pode ser resumida pela idéia de
confluência de motivações que se apresentam mais ou menos fortes nos diferentes estágios
históricos da língua, defendem a hipótese de que o PB atual é
o resultado natural da deriva secular na língua trazida de
Portugal, indubitavelmente exagerada no Brasil pela
exuberância de contato de falantes adultos, falantes das mais
diversas origens e nativização desta língua pelas comunidades
formadas por estes falantes.
Lucchesi acredita que o PB resulta de um processo de transmissão linguística
irregular, que, embora não tenha resultado em um crioulo típico, apresenta
características que se encontram nesse tipo de língua, como a eliminação das marcas
morfológicas de flexão verbal de pessoa e número, que apresenta maior vitalidade no
comportamento linguístico das classes populares. O autor lembra que, em algumas
comunidades rurais afro-brasileiras, a variação na concordância verbo-nominal atinge as
seis pessoas do verbo, o que indica que o nível de erosão da morfologia verbal pelo
processo de transmissão linguística irregular pode ter sido muito profundo em alguns
contextos sócio-históricos, principalmente nas localidades de grande concentração de
mão-de-obra escrava. Afirma, ainda que
o ponto de partida de todo processo de transmissão linguística
irregular desencadeado pelo contato entre línguas é a perda da
morfologia flexional, na aquisição inicial da língua alvo por
parte dos falantes das outras línguas. Essa característica está na
base da formação de todas as línguas pidgins e crioulas.
(LUCCHESI, 2003:281)
Lucchesi não acredita que o PB seja resultado de um crioulo de base portuguesa,
em que a perda da marca flexional é total, como nos crioulos portugueses da África, em
que os morfemas de número e pessoa dos verbos foram eliminados, mas sim um caso de
transmissão linguística irregular mais leve, o que resultaria no quadro de variação
encontrado, de maneira mais ou menos intensa, dependendo do caso.
Lucchesi (2009) em estudo sobre a concordância verbal no dialeto da
comunidade rural afro-brasileira de Helvécia, através da variável social faixa etária pode
observar que
Foram particularmente significativos os resultados obtidos na
variável faixa etária, pois indicaram claramente a direção da
mudança no sentido da aquisição da regra, configurando,
prospectivamente, o processo de implementação e,
retrospectivamente, um longo processo diacrônico, através do
qual um sistema anterior praticamente sem flexão de número e
pessoa foi sendo substituído em um processo de nivelamento
linguístico a partir de influências externas à comunidade.
(LUCCHESI, 2009:346)
Assim, segundo o autor, há evidências históricas e linguísticas que indicam um
processo de mudança em direção à concordância, o que pode estar sendo condicionado,
estruturalmente, pelo princípio da saliência fônica, da transparência semântica e da
coesão estrutural e, socialmente, pela influência dos centros urbanos, que estaria sendo
decisiva para a mudança.
Naro & Scherre reúnem vários artigos sobre o tema em pauta em Origens do
português Brasileiro, de 2007. Com base na observação da antiga deriva secular das
línguas indo-européias em geral, e das línguas românicas em particular, em direção a
uma gramática sem flexão, apontam evidências de que a perda da marca explícita de
plural em português já pode ser encontrada em estágios do latim, assim como no PE
falado atual. Os dados do PE falado, recolhidos em entrevistas realizadas nos anos
1980, mostrariam a supressão do -s final em contextos, como em: três sardinha e os
pixeru e marcação variável do verbo ser com predicativos plurais, em: É duas partes
pru dono e uma pa cada um da gente.
A análise do PE escrito baseou-se em oito textos pré-clássicos, em que
encontraram variação na concordância com verbos na terceira pessoa do plural, a
exemplo do que se observa hoje no PB.
Submetidos os dados do PE medieval ao pacote de programas VARBRUL, os
resultados mostraram que as formas verbais menos salientes favorecem a nãoconcordância, assim como a posição do sujeito em relação ao verbo e o traço humano
do sujeito, revelando que os fatores que controlavam a variação no português medieval
são os mesmos que controlam a variação do PB moderno.
Com base na “confluência de motivos,” admitem a influência de diferentes
origens que se juntaram para formar o português popular brasileiro sem, contudo,
atribuírem papel de destaque a um suposto crioulo de base lexical portuguesa.
Historicamente, o português, muito antes do descobrimento do Brasil, esteve em contato
com diversas línguas, como consequência das Cruzadas e do domínio do território
lusitano pelos árabes e, no Brasil, as chamadas “línguas gerais” serviram de canal de
comunicação entre os portugueses, os índios, os africanos e os vários estrangeiros, de
diferentes nacionalidades.
Os autores defendem a hipótese de que
A língua portuguesa já possuísse o embrião do novo sistema
mais analítico, antes mesmo de sair da Europa. Tal estado de
coisas se torna bastante plausível dada a deriva secular das
línguas românicas, e indo-europeias de maneira geral, em
direção à uniformização morfológica, com a sobrevivência
apenas das formas ‘irregulares’ mais salientes. (NARO &
SCHERRE, 2007:32)
Afirmam, ainda, que a variação da concordância verbal contém um componente
estritamente fonológico, quando, por exemplo, a forma plural comem se reduz a come,
em que diferença entre as duas formas consiste na perda da nasalização da vogal final
não acentuada. Tal fenômeno pode ser a explicação para a substituição de comeram por
comeu, ou seja, a compreensão da redução morfológica como consequência da
fonológica.
Sugerem uma descrição geral do modelo de desenvolvimento do português
popular do Brasil, a partir de: (1) deriva secular, (2) encontro, no Brasil, do PE com
diversas outras línguas, (3) presença, no início da colonização, de um “pidgin” ou
“língua geral” e da língua de preto européia (sistema de comunicação verbal utilizado
pelos portugueses durante as primeiras explorações navais na África Ocidental), (4)
documentação parcial dos efeitos do processo de aprendizagem do português como
segunda língua e (5) não documentação da presença de uma possível língua crioula.
Concluem, afirmando que “uma confluência de fatores” permitiu que as sementes
trazidas na deriva secular da língua de Portugal “germinassem mais rápido e
crescessem mais fortes” no Brasil.
Refletem sobre a hipótese de uma possível origem “crioula” para o PB, que se
apóia em uma série de fatos, destacando-se as condições da colonização do Brasil, em
que entraram em contato falantes adultos de línguas diversas, sem nenhuma que lhes
fosse comum e as diferenças estruturais entre o PE e o PB, principalmente no que tange
à variação na concordância verbal e nominal. Refutam a hipótese da crioulização, com
base nos diversos trabalhos sociolinguísticos e dialectológicos realizados com dados do
PB falado em comunidades urbanas e rurais, de origem africana e europeia.
Observam que também são encontrados no PE não-padrão características do PB,
apresentadas como “indícios” da origem crioula, em que o português seria a língua de
base e diferentes línguas africanas e indígenas seriam línguas de substrato, acrescidas
das modificações provocadas pela transmissão lingüística irregular. Dentre tais
características, indicam: (1) pronome reto em função de complemento, (2) pronome
oblíquo com função de sujeito, (3) pronome se para outras pessoas, (4) alternâncias de
preposições, uso da preposição em no lugar de a ou de, (5) verbo ter no lugar de haver,
(6) pouco uso de formas perifrásticas, (7) redução de modos e tempos verbais, (8) maior
uso da coordenação e justa posição e (9) formas expletivas e outros processos de ênfase.
Argumentam, ainda, que a língua portuguesa não precisaria de influências
externas para se tornar o PB, já que o processo de crioulização não é associado a
nenhum grupo étnico particular e não há evidências da existência de um pidgin de base
lexical portuguesa. Quanto ao fato de a deriva românica secular não se ter
desenvolvido no PE, os autores acreditam que, no Brasil, ocorreu o processo de
nativização da língua, o que “permitiu maiores graus de liberdade à evolução da
variação”. Já em Portugal, não se conhece o grau de variação na concordância,
principalmente no PE não padrão de épocas anteriores.
Admitem que, no Brasil Colônia, haveria condições sociais para o surgimento de
línguas crioulas, que, entretanto, foram refreadas pelas línguas gerais, de base indígena,
usadas pelos grupos em contato. Os autores afirmam que hoje há diferentes posições a
respeito das origens do PB, dentre as quais, a que defende a teoria da mudança natural e
de confluência de motivações (Cf. NARO & SCHERRE, 1993, 2000a, 2007).
Dando continuidade ao trabalho iniciado em 1995 (Cf. NARO & SCHERRE,
2000a; SCHERRE & NARO, 2001), centralizam suas pesquisas no papel do PE nãopadrão na origem das mudanças no PB. Para isso, analisam dados recolhidos de 12
obras da dialectologia portuguesa europeia, relacionando-os, em seguida, a detalhes das
áreas e comunidades observadas, objetivando uma ampla visão do conjunto dos
trabalhos dialectológicos. Concluem, enfim, que os fatos observados nas obras
analisadas constituem evidências para afirmar que a origem da variação da
concordância no PB está localizada no PE não-padrão, vindo com os portugueses.
Afirmam, ainda que
no Brasil não há evidência de ruptura linguística, no sentido de
que, no processo de aquisição do português como primeira ou
segunda língua, novas estruturas foram criadas a partir de
línguas de outros povos ou surgiram de algum processo de
simplificação de estruturas (Naro & Scherre, 2007: 114).
Naro & Scherre examinam, ainda, a possibilidade de ter havido um processo de
“transmissão irregular” na origem do PB, visto que, no início, o quadro linguístico
brasileiro era bastante heterogêneo e, em seguida, o português substitui as outras línguas
maternas, num processo denominado de “nativização”. Afirmam que o fenômeno da
“transmissão irregular” em si não seria garantia de pdginização da língua portuguesa,
mas sim um dos fatores sociais atuantes durante o processo de transmissão.
Embora não haja como fazer um levantamento de condicionadores sociais,
acreditam ser pouco provável que tenha havido um pidgin de base lexical portuguesa,
pois na época favorável para o estabelecimento de uma língua crioula já havia a língua
geral de base tupi, que atendia satisfatoriamente às necessidades de comunicação.
Afirmam, ainda, que o português já chegou ao Brasil com essas características
variáveis, as quais, devido ao ambiente linguístico e social favorável, tomaram
dimensões mais amplas. Na conclusão, ressaltam o fato de que “o PB sempre foi o
português” e que o resultado do “garimpo” por eles realizado permite afirmar que os
traços que o distinguem já estavam presentes no português implantado no novo
continente e não sofreu nenhuma ruptura estrutural como querem as teorias do processo
de crioulização.
Dentre outros artigos que abordam a trajetória das línguas africanas em contato
com o português durante o período de colonização e de escravidão, destacam-se os de
Bonvini (2008), Rougé (2008) e Quint (2008).
Bonvini faz uma descrição panorâmica da relação entre as línguas africanas e o
PB popular, considerando as teorias que defendem a “influência”, “semicrioulização”
ou “crioulização”, em que o português seria a língua base e as línguas africanas seriam
“um fator danoso” à integridade do português.
Segundo o autor, a discussão em torno da língua brasileira versus língua
portuguesa teve, inicialmente, um caráter ideológico. À época da independência do
Brasil, procurava-se, através da nacionalização da língua, marcar a diferença entre
Brasil e Portugal, ressaltando-se os elementos diferenciadores introduzidos pelas
línguas africanas e indígenas. Esvaziada a questão da língua nacional e, sendo o
português decretado a língua falada no Brasil, surgem novos estudos que procuram
enfatizar a unidade cultural e linguística luso-brasileira expressa em “unidade na
diversidade”. Os estudiosos que se debruçam sobre a questão, como Silva Neto,
Gladstone Chaves de Melo e Silvio Elia, reexaminaram a influência africana,
minimizando sua importância e introduziram a hipótese da crioulização.
O debate, que dura mais de um século, ainda estaria, conforme Bovini, longe de
acabar. O autor propõe que as pesquisas continuem desde que conduzidas sob “novas
perspectivas
teóricas
e,
sobretudo,
por
dados
suplementares
devidamente
estabelecidos” e apresenta três questões que considera importantes sobre o tema: (1) a
profundidade histórica e a extensão dos dados utilizados para apoiar as hipóteses
formuladas uma depois da outra (“língua brasileira” versus “língua portuguesa”;
“influência” versus “crioulização” versus “deriva”): a ausência de dados históricos
referentes à presença e à identidade das línguas africanas faladas no Brasil invibializa a
comprovação das hipóteses; (2) “o espaço” linguístico considerado, a saber, o português
falado no Brasil: os estudos sobre a relação das línguas africanas com o português
consideram apenas o Brasil, mas os contatos entre a língua portuguesa e as línguas
africanas aconteceram previamente ou paralelamente, tanto em Portugal quanto na
África, durante pelo menos cinco séculos; (3) a metodologia usada: quando os estudos
defendem a hipótese de “influência” ou “crioulização” os argumentos baseiam-se em
dados léxico-semânticos ou morfossintáticos, ou, às vezes, em ambos, ou seja, em
traços semelhantes entre as línguas africanas e a língua portuguesa falada no Brasil para
estabelecer a evolução do PB em relação ao PE.
Segundo o autor, a relação entre o português e as línguas africanas não foi das
mais simples, pois, em cinco séculos de contato, ela se desenvolveu no Brasil num jogo
de alternâncias e de contatos em que as línguas africanas exerceram, sucessivamente,
um papel cada vez menos determinante diante da língua portuguesa. As línguas
passaram de “um estatuto inicial de língua plena e generalizada (mina), ao de língua
veicular (iorubá)” para enfim entrarem em processo de extinção por falta de novos
falantes. O português, por sua vez, apesar dos constantes e diferentes contatos afirmouse até atingir o estatuto de língua oficial de referência.
Rougé (2008: 63) admite que o termo crioulo apresenta diversas definições.
Adota uma definição
“intermediária” que considera os crioulos como sistemas
lingüísticos resultantes de uma ruptura tipológica com uma
língua “mãe” ou “lexificadora” - geralmente uma língua
européia - em situações de colonização e/ou de escravidão”. Os
crioulos assim constituídos se impõem como primeira língua de
uma parte da sociedade, geralmente a do grupo dominado.
Tal definição leva à questão: por que não existe crioulo no Brasil, já que existe
em países como Guiné, Cabo Verde e São Tomé? Acredita que mesmo as variedades do
PB vernacular, consideradas ora como “crioulo”, “semicrioulo” ou resultado de
“descrioulização”, não representam uma verdadeira divisão tipológica com a variedade
padrão.
Apresenta a situação linguística de São Tomé e Príncipe, procurando, através de
seu estudo, oferecer uma nova referência aos pesquisadores sobre a questão no PB.
Compara o PB ao português dos tongas - descendentes dos trabalhadores deportados
que trabalharam nas lavouras de cacau e café de São Tomé, em regime de
semiescravidão, em fazendas que funcionavam como sistemas fechados, organizadas
com base no modelo brasileiro. O português dos tongas apresenta grandes semelhanças
com o português vernacular brasileiro, tanto fonéticas quanto gramaticais, embora
distantes do PB padrão.
Afirma que o português dos tongas não é um crioulo, pois “não é marcado por
uma ruptura tipológica com o português e, dificilmente, pode ser analisado sem uma
referência constante ao português normatizado.” (p. 69). Afirma, ainda, que o
português dos tongas não é fruto de um processo de descrioulização, visto não haver
vestígios da existência de um crioulo anterior. Os trabalhadores contratados vinham do
interior da Angola e ou de Moçambique e aprendiam o português nas roças, que eram
organizadas de tal maneira, que os primeiros trabalhadores, assim como seus
descendentes (os tongas), até a independência, praticamente não tiveram contato com os
crioulos falados na ilha de São Tomé.
Diante das semelhanças estruturais entre as variedades do PB vernacular e do
português dos tongas, e, considerando as constatações históricas sobre este último,
acredita não haver razão para uma origem crioula para o PB vernacular. Acredita, sim,
que a exposição ao português, assim como sua transmissão ocorreram em condições
sociais semelhantes para os primeiros falantes das variedades do PB vernacular, em
áreas isoladas, assim como para os tongas, levados para São Tomé.
Desenvolveram-se, então, competências, em português, que, apesar de
desviantes, não criaram a necessidade de um sistema linguístico de ruptura com o
português e, complexas o bastante, a ponto de estabelecerem sua transmissão.
Quint (2008) procura mostrar que o fato de, no PB, o falante optar pelo
preenchimento da posição de sujeito é, na realidade, uma tendência das línguas
românicas, já que a perda das desinências verbais leva ao uso do pronome sujeito para
evitar a ambiguidade. Seu trabalho compara o paradigma de desinência número-pessoal
do PB com outras línguas neolatinas, a partir das mais próximas, o PE e o galego, e, em
seguida, ao crioulo cabo-verdiano (de base portuguesa) para testar se o preenchimento
do sujeito em PB pode ser explicado por uma fase inicial de crioulização do PE no
início da colonização do Brasil.
Pessoa
Latim
Galego
PE
PB
1 sing.
CANTO
Canto
Canto
Canto
2 sing.
CANTAS
Cantas
Cantas
X
3 sing.
CANTAT
Canta
Canta
Canta
1 pl.
CANTAMUS
Cantamos
Cantamos
Cantamos
2 pl.
CANTATIS
Cantades
X
X
3 pl.
CANTANT
Cantan
Cantam
Cantam
Quadro 1 - Comparação dos paradigmas verbais do presente do indicativo do verbo
cantar (e) em latim, galego, PE e PB - (Quint, 2008:76)
O quadro mostra a evolução sofrida pelo sistema verbal latino nas três línguas: o
galego mantém o sistema completo das desinências pessoais do latim; o PE apresenta
cinco formas pessoais sintéticas, tendo passado a forma de 3ª pessoa plural para a 2ª
pessoa plural (vocês cantam, eles cantam), o PB só distingue quatro formas pessoais
sintéticas, a 3ª pessoa do singular e do plural passam a ser usadas no lugar da 2ª pessoa
(você canta, vocês cantam) ou de 3ª pessoa (ele/ela, eles/elas).
Com base nas características históricas de cada língua, o autor observa que o
galego ocupa a maior parte da área que falava galego-português no período do ano
1000; o PE é falado em uma área inicialmente conquistada e colonizada por falantes do
galego-português e o PB deve sua existência à colonização por falantes do PE. Tal fato
justificaria a tendência à redução do paradigma flexional no PB, pois quanto mais o
galego-português se dispersa por territórios mais distantes do seu berço (a Galizia e o
Norte de Portugal), maior a tendência à redução das flexões verbais. O que também é
observado em PE é mais marcado em PB, a variedade mais periférica do grupo galegoportuguês. A redução da morfologia de pessoa do verbo nas variedades periféricas leva
ao uso de outros mecanismos para distinguir as pessoas do discurso: em PB essas
marcas são os pronomes sujeitos.
Quint alerta que, para uma compreensão dos mecanismos e tendências evolutivas
do PB, as comparações do PB oral com o PE e/ou PB escrito não bastam. O PB, assim
como o PE, é derivado do latim e as comparações com outras línguas neolatinas podem
ajudar a entender as características do PB; e, assim como os crioulos de base
portuguesa, pertencem ao “conjunto lingüístico do português ultramarino”, por isso as
comparações com essas variedades crioulas podem ser muito proveitosas.
Segundo o autor, outras línguas contribuem para a formação do PB, as de
substrato tupi (língua ameríndia), africanas (as línguas banto e as do Golfo do Banem,
como o iorubá e as línguas da zona calabari) e as trazidas pelos imigrantes europeus e
asiáticos. Em relação ao preenchimento da posição do sujeito no PB, parece improvável
que algumas dessas línguas tenham exercido influência notável, embora seja possível
que tenham exercido alguma influência em outros fenômenos do PB. Quint acredita
que, para compreender as peculiaridades do PB, é necessário conhecer outras variedades
linguísticas de diferentes famílias.
As origens do PB, de acordo com o apresentado neste capítulo, são investigadas
com base em diferentes teorias, o que, se não leva a uma conclusão definitiva sobre sua
gênesis, contribui de maneira relevante para o seu conhecimento.
5. ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
5.1 Fundamentação teórica
Antes que se estabeleçam os pressupostos teórico-metodológicos utilizados neste
estudo e que se filiam à Sociolinguística de inspiração laboviana, é necessário fazer
referência, embora de maneira sintética, a perspectivas que, de certo modo, contrastam
com esta visão, tais como as do Estruturalismo proposto por Ferdinand de Saussure e as
do Gerativismo, de acordo com suas diferentes propostas.
Saussure define a linguística como a ciência que estuda os signos linguísticos em
um contexto social da linguagem, embora, em sua obra, descarte totalmente, a
importância do aspecto social: com efeito, não leva em conta fatores externos ou sociais
para o funcionamento da língua. Seus estudos mostram que os fatos linguísticos são
interdependentes e de natureza estrutural.
A dicotomia langue/parole coloca a langue (língua) como um sistema abstrato,
homogêneo (e social, enquanto partilhado por todos os falantes da língua em causa), e a
parole (fala) como a língua em sua realização concreta, individual e dinâmica. Sendo
assim, a língua poderia ser estudada isoladamente, mas a fala estaria ligada a uma
comunidade de falantes.
Labov (1975:186) contesta o que considera ser o Paradoxo Saussureano:
Se o indivíduo possui conhecimento da estrutura da língua, se
langue é “um sistema gramatical existente virtualmente em cada
cérebro”, tal indivíduo será capaz de obter os dados do
testemunho de qualquer outro indivíduo. Por outro lado, dados
referentes à parole, ou discurso, somente podem ser obtidos
através do estudo do comportamento de indivíduos à medida
que usam à língua. Desta forma, nós temos o Paradoxo
Sausseriano: o aspecto social da língua é estudado por meio da
observação de cada indivíduo, mas o aspecto individual é
estudado somente por meio da observação do contexto social6.
6
If everyone possesses a knowledge of language structure, if langue is “un système grammatical existant
virtuellement dans chaque cerveau”, one should be able to obtain the data from the testimony of any one even oneself. On the other hand, data on parole, or speech, can only be obtained by examining the
behavior of individuals as they use the language. Thus we have the Saussurian Paradox: the social
A teoria variacionista proposta por William Labov parte do princípio de que a
variação é inerente à língua e não é aleatória. Na realidade, ela decorre da aplicação de
regras admitidas pelo sistema da língua, sendo que cada indivíduo (por estar em contato
com outros falantes e com outros padrões linguísticos) pode dispor de mais de uma
regra para determinada categoria, numa espécie de “multilinguismo” dentro da própria
língua.
Diversos fatores podem condicionar a escolha do falante por uma ou outra forma
variante, mas todos eles se originam de duas premissas básicas: a existência de um
“órgão” biológico7, que permite construir gramáticas, assim como organizar todo
processo cognitivo; depois, o fato de uma língua particular ser adquirida no meio dum
grupo e, à medida que as redes sociais8 dos indivíduos se tornam complexas, novas
possibilidades linguísticas surgem à sua disposição. Uma das consequências da
assunção da possibilidade de um falante dispor de mais de uma variante no seu
repertório de conhecimentos linguísticos é a proposta laboviana de explicar a variação
observada no uso através de regras variáveis9, que vai mais longe do que o tradicional
binômio ‘regras categóricas versus regras opcionais’. Nas regras variáveis, fatores
independentes de diferente natureza são levados em conta para explicar os contextos em
que a regra se aplica ou não e, também, a proporção esperável de sua aplicação/não
aplicação.
A Teoria Gerativa, por seu lado, procura explicar a língua a partir de
mecanismos cognitivos da mente humana, ou seja, a gramática interna que cada falante
aspect of language is studied by observing any one individual, but the individual aspect only by observing
in its social context.
7
Anderson, S. R. e D. W. Lightfoot (2002) The Language Organ: Linguistics as Cognitive Physiology.
Cambridge. Cambridge University Press.
8
Milroy, L. (1987) Language and Social Networks (Language in Society) Oxford. Blackwell, 2 ed.
9
Labov, W. (1972) Sociolinguistic Patterns. Philadelphia. University of Pennsylvania Press.
possui, com base na dicotomia competência /desempenho, que Chomsky (1965:04)
define como:
Uma distinção fundamental entre competência (o conhecimento
linguístico do falante/ouvinte) e desempenho (o uso real da
linguagem em situações concretas).10
Esta oposição, que estaria para o Gerativismo, assim como langue/parole está
para o Estruturalismo, pressupõe que o estudo da fala depende de uma teoria da
competência e propõe o estudo da competência de falantes/ouvintes ideais pertencentes
a uma comunidade de fala homogênea. Contudo, posteriormente, essa dicotomia
desvaneceu-se em parte, já que estudos de variação e mudança realizados nesse quadro
teórico vieram demonstrar que a teoria gerativa pode dar conta de fenômenos de
variação e de mudança, articulando o que diz respeito à língua interna (a gramática
mental) com o que se observa na língua externa (a gramática no seu uso)11.
A língua I(nterna), ou competência linguística, corresponde à gramática
interiorizada do falante, resultado do desenvolvimento cognitivo e da capacidade do ser
humano de aprender uma língua. A Língua-I está organizada segundo Princípios
universais e integra os Parâmetros que correspondem à língua particular adquirida pelo
falante. A língua E(xterna) corresponde à manifestação oral ou escrita da Língua-I, ou
seja, ao uso ou desempenho linguístico, estando sujeita a processos de seleção
realizados pelo falante dentre as diferentes possibilidades de que dispõe e consoante os
contextos e situações. Por outro lado, parte-se do princípio de que qualquer falante pode
dispor de mais de uma gramática. Com efeito, a criança em fase de aquisição está
exposta a diferentes inputs linguísticos, previsivelmente pertencentes a diferentes
10
A fundamental distinction between competence (the speaker-hearer’s knowledge of his language) and
performance (the actual use of language in concrete situations)”
11
A I-Language e a E-Language, cf. Chomsky, N. (2006) Language and Mind. Cambridge. Cambridge
University Press.
gramáticas; com base na capacidade com que todo indivíduo nasce, a criança seleciona
determinados parâmetros linguísticos e rejeita outros, construindo as suas próprias
gramáticas, a sua Língua-I. Sendo assim, a língua materna é o resultado desse processo
seletivo e da construção de uma entidade nova: a sua gramática interna.
Nesta mesma perspectiva, a existência de gramáticas de uma mesma língua em
co-ocorrência e em concorrência dará origem à variação e à mudança. Por exemplo,
dado parâmetro da gramática A não é partilhado pela gramática B; devido a razões
múltiplas (linguísticas e extralinguísticas), o parâmetro de A pode entrar em declínio,
sendo suplantado pelo parâmetro de B, ocorrendo uma mudança na língua, isto é, a
mudança ocorre nas gramáticas (A perde um parâmetro e B reforça o parâmetro em
causa) e essa mudança é visível na língua. A concorrência entre gramáticas tornaria
possível estabelecer a mudança de um ou mais parâmetros e depreender em qual delas
se realiza a mudança. Entretanto, a língua-I não equivale à langue descrita por Saussure,
pois, para o Estruturalismo, a língua era coletiva, existia à medida em que havia uma
comunidade de falantes e a língua-I refere-se a um “fenômeno individual, um sistema
representado na mente/cérebro de um indivíduo particular” (Chomsky,1958:36).
A Teoria Sociolinguística Laboviana estuda a linguagem em uso também para
entender a estrutura da língua, mas leva em conta não só seus aspectos internos, como
também os externos, e este aspecto é fundamental para a originalidade dessa
abordagem, que rompe com a tradição estruturalista e que continua se utilizando de
outras abordagens ao assumir ser materialista e não mentalista12. Labov acredita que não
é possível entender os mecanismos da variação e da mudança linguísticas sem que se
saiba quais são os fatores que as motivam, dando igual importância aos aspectos
linguísticos e aos sociais.
12
Labov, W. Some Observations on the Foundation of Linguistics.
http://www.ling.upenn.edu/~wlabov/Papers/Foundations.html
Se a Sociolinguística Laboviana se baseia nos dados de uma comunidade de
falantes, já o Estruturalismo e o Gerativismo têm como base de análise os dados de um
número, em geral, reduzido de informantes ou consideram que os conhecimentos do
linguista são suficientes para o estudo de determinada questão. Labov critica esse
posicionamento, chamando a atenção para o fato de que as intuições podem falhar13.
Segundo ele, os estudos linguísticos não podem ignorar que o desempenho dos falantes
é fundamental para que se conheça o funcionamento da língua.
A Sociolinguística Variacionista tem como objeto de estudo a variação
linguística e os fatores estruturais e sociais que possam promovê-la e, também, o seu
grau de estabilidade/instabilidade. Weinreich, Labov e Herzog (1968), na proposta
apresentada sobre a teoria da variação e mudança linguísticas, propõem (a) que a língua
é um sistema heterogêneo e dinâmico; (b) que a variação é passível de sistematização e
(c) que a variação linguística pode ser determinada, em parte, por fatores de ordem
social.
No quadro da Teoria gerativista, trabalhos realizados por Kroch (1989, 1994) e
Lightfoot (1999) descrevem a variação e mudança linguísticas de maneira diversa,
embora não totalmente irreconciliável com a precedente.
Segundo Kroch, a variação, na realidade, é a competição entre opções
gramaticais, o que acarreta o Efeito de bloqueio que faz com que duplos gramaticais e,
em geral, constituintes co-existentes, funcionalmente não diferenciados, entrem em
competição, redundando na fixação de uma das formas e no desuso da outra. O Efeito
de bloqueio é um princípio linguístico que corresponde ao pressuposto de que formas
com igual função não podem ocorrer simultaneamente numa mesma gramática durante
muito tempo, explicando, assim, a mudança linguística. Por exemplo, se houver, para
13
Labov, W. (1996) “When Intuitions Fail”. Papers from the Parasession on Theory and Data in
Linguistics Chicago Linguistic Society 32:77-106.
um mesmo verbo, dois particípios, um forte e um fraco, que cumpram exatamente as
mesmas funções, um deles cairá em desuso por via do Efeito de bloqueio.
A coexistência de aparentes duplos, ao ser analisada, mostra que, na realidade,
eles são, semântica ou estilisticamente, diferentes. Quando há verdadeiros duplos, há
instabilidade, ou seja, existe competição entre formas, o que leva à variação e a uma
provável mudança. Kroch afirma, ainda, que a mudança linguística ocorre na gramática
e não no uso e que o uso revela a mudança na gramática. Esta afirmação decorrente do
posicionamento teórico em que o autor se insere (é na Língua-I que se inscrevem as
mudanças) pode ser perfeitamente enquadrável na abordagem variacionista.
Com efeito, Labov nunca duvidou que o uso revela os padrões organizacionais
mentais. Contudo, existe uma diferença sensível entre essas duas abordagens: Labov
defende que a variação e a mudança se situam na língua e são explicáveis através das
referidas regras variáveis, enquanto Kroch defende que, relativamente à dada categoria,
a cada gramática corresponde uma regra e que, assim, se um falante aplica ora uma
regra ora outra, tal fato comprova que ele dispõe de, pelo menos, duas gramáticas, que
co-existem, em competição, na comunidade de falantes de dada língua. A comprovação
de que há uma competição entre gramáticas e de que as mudanças têm lugar num nível
abstrato, na gramática interiorizada do falante, é a Constant Rate Hypothesis (Hipótese
de Taxa Constante), que mostra que o percentual do aumento de uso de uma variante (e
de desuso de outra) é mantido em todos os contextos, embora as frequências de uso
possam variar em cada contexto particular, por razões externas.
Como afirma Kroch (1989:6):
Uma taxa constante de mudanças de contextos é
matematicamente equivalente à fixação de efeitos contextuais,
em direção e extensão, ao longo do tempo. Logo, se um estudo
registra uma série de análises multivariadas para diferentes
períodos e os efeitos contextuais se mostram constantes em tais
análises, a taxa de variação de cada contexto, medida
separadamente teria de ser, necessariamente, a mesma. Tal
equivalência se dá porque, em termos estatísticos, a hipótese da
taxa constante é a afirmação de que a taxa geral de uso de uma
determinada forma independe dos efeitos do contexto em sua
utilização. 14
Ainda no mesmo artigo, o autor afirma, nas conclusões, que o presente pode
explicar o passado, idéia familiar aos pesquisadores que se inscrevem na teoria
variacionista. Igualmente familiares são as idéias de que uma mudança se origina em
dado grupo, e que pode expandir-se a outros, se houver fatores de pressão positivos: os
falantes fariam “escolhas entre as alternativas disponíveis nas línguas que conhecem”;
uma mudança levaria a outras mudanças, sendo envolvidos subsistemas inteiros nesse
processo. Contudo, o seu objetivo primeiro é chegar às causas internas da mudança,
sendo os dados apenas um meio para atingir esse fim, tendo, no entanto, os fatores
sociais um lugar muito secundarizado, ponto em que Kroch se afasta do pensamento e
do objetivo labovianos, como se vê pelo seguinte extrato:
Quando formas superficiais variam, o novo uso reflete uma
mudança na gramática remanescente que tenha permitido tais
formas e a mudança linguística reflete uma certa competição
entre os princípios de permissão alternativos para todos os
subsistemas gramaticais15.
Lightfoot, na linha gerativista, defende que os parâmetros podem mudar durante
o processo de aquisição da linguagem em função de fatores externos à gramática, os
14
A constant rate of change across contexts is mathematically equivalent to fixity of contextual effects, in
direction and size, across time periods. Thus, if a study reports a series of multivariate analyses for
different time periods, and the contextual effects are constant across these analyses, the rate of change of
each context measured separately would necessarily be the same. This equivalence holds because, in
statistical terms, the constant rate hypothesis is the claim that the overall rate of use of a form is
independent of the contextual effects on its use.
15
When surface forms change, the new usage reflects a change in the underlying grammar that licenses
the forms; and incremental linguistic change seems often to reflect competition among alternative
licensing principles for entire grammatical subsystems.
quais provocam mudança na experiência “motivadora” (triggering experience), como,
por exemplo, a fraca ou prolongada exposição do falante, em fase de aprendizado, a
uma determinada construção que serve de “pista” (cue) para a aquisição de um
determinado parâmetro. A criança pode ser exposta a estruturas que permitam diferentes
análises; caso sua escolha recaia sobre uma análise “diferente”, ocorrerá uma mudança
gramatical, ou seja, sua gramática, estruturalmente, vai se tornar diferente daquela a que
foi exposta. Ligthfoot (1999) defende que a variação está associada à existência de
diferentes gramáticas em competição, idéia partilhada por Kroch, e que a mudança é
fundamentalmente da responsabilidade das crianças: elas “leem” as “pistas linguísticas”
veiculadas pelos dados heterogêneos que as rodeiam, implementam as pistas mais fortes
e ignoram as fracas.
Labov também afirma que variação e mudança estão intimamente relacionadas,
já que a mudança é consequência da variação: uma forma variante dá lugar à outra. Mas
não se pode dizer que a recíproca é verdadeira, pois nem toda variação implica
mudança, uma vez que há fenômenos variáveis que permanecem estáveis durante muito
tempo na língua (em relação a esses casos seria importante testar se as variantes
resistem ao Efeito de Bloqueio proposto por Kroch).
Ao se falar em variação linguística, deve-se ter em mente os conceitos de
variante e variável. As variantes linguísticas são formas equivalentes que co-ocorrem
num dado estado da língua, ou, segundo Tarallo (1985:08):
Variantes linguísticas são, portanto, diversas maneiras de se
dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo
valor de verdade.
Os primeiros trabalhos variacionistas tratam, predominantemente, de fenômenos
fonológicos, e o sucesso desses estudos motivou os sociolinguistas a aplicarem a Teoria
da Variação a outros níveis da língua, como à morfologia, sintaxe e semântica. Nesses
níveis, de início, o principal obstáculo quanto à aplicação da Teoria foi a manutenção do
significado nas formas alternantes. Segundo Lavandera (1978), quando se sai do nível
fonológico, dificilmente se encontram variantes com o mesmo significado e com o
mesmo valor, o que representaria o não cumprimento da exigência de equivalência de
significados.
No estudo da passiva sem agente, Weiner & Labov (1983) afirmam que a
escolha por uma ou outra forma é motivada por fatores sintáticos, o que Lavandera
(1978:175) contesta, dizendo: “Tal diferença sintática requer completamente o
abandono engenhoso das possíveis diferenças de significado referencial.”16
Os autores admitem que há diferença de foco ou ênfase, mas acreditam que as
duas formas fazem referência ao mesmo estado de coisas. Embora, em construções
ativas e passivas, as interpretações possam ser diferentes, tal fato não invalida o estudo
dos condicionamentos para a escolha entre cada uma das formas, já que, segundo
Labov, a análise da regra variável não é colocada como descrição de uma gramática,
mas sim como um dispositivo para entendê-la.
Em suas observações, Lavandera considera que, em estudos sociolinguísticos
realizados fora da área da fonologia, o critério de equivalência semântica pode ser
descartado, sem, contudo, se desprezarem os condicionamentos internos e externos que
levam à variação. Sugere ainda que o mesmo valor de verdade das estruturas seja
substituído pela “comparação de funcionalidade”.
Apesar de, em alguns casos, a equivalência das formas em variação não ser total,
é reconhecida a importância da teoria, nos diversos níveis da língua, para o estudo de
16
Such a syntactic difference requires quite an ingenious dismissal of possible differences in referential
meaning.
fenômenos que mantenham, pelo menos, a mesma referência entre as formas variantes
utilizadas num mesmo contexto.
Desse modo, a metodologia variacionista, que antes era utilizada apenas em
análises de fenômenos em que os valores implicados na variação eram inquestionáveis
(pretônica aberta/pretônica fechada; [t]/[tS], [d]/[dZ], por exemplo), passou a ser
utilizada no estudo de fenômenos em que as condições de variação têm de ser mais bem
definidas (fenômenos morfossintáticos e discursivos).
A variável linguística consiste em um conjunto de formas: (a) a variável
dependente - fenômeno em foco em suas variantes, (b) variáveis independentes - estudo
do que consiste a sistematicidade da variação.
Para a compreensão de uma regra variável, devem-se considerar os diversos
fatores que possam condicionar a opção do falante por uma determinada variante.
Assim, torna-se necessário estabelecer as possíveis variáveis independentes que podem
condicionar a regra, as linguísticas e as sociais. Daí, a necessidade de se trabalhar com
amostra de consideráveis dimensões e de as recolhas seguirem um protocolo bem
concebido, com o máximo de informações relevantes sobre o informante e o meio em
que se move, as características da sua comunidade, etc. Acresce que, se a recolha for
feita pelo investigador, o contato direto trará indícios que ajudarão a determinar os
perfis sociolinguísticos com muito mais rigor.
A Sociolinguística Variacionista mostra que a língua em uso é passível de ser
analisada em termos de padrões (veja-se que esse pressuposto é visível no título
Sociolinguistic Patterns, de Labov 1972), apesar de ser reconhecidamente heterogênea e
diversificada. Para isso, Labov desenvolveu a noção de variable rule (regra variável) em
continuidade à noção de opção de Chomsky. Tal noção fundamenta-se no fato de que
determinados contextos admitem a alternância de formas de expressão, e esta
alternância de uso ficaria a cargo da opção do falante, ou seja, não haveria nenhuma
motivação estrutural ou social que determinasse tal escolha.
As regras variáveis propostas por Labov, no entanto, procuram mostrar a
variação sistemática da língua e, para isso, contam com princípios e métodos estatísticos
que permitem explicitar os fatores favorecedores e inibidores da escolha por uma das
formas variantes, tais como as estruturas linguísticas (contextos fonológicos,
morfossintáticos e/ou discursivos) e as extralinguísticas (aspectos do contexto social).
Naro (1992) sintetiza a teoria de Labov ao atestar que
… tal como existem condições ou regras que obrigam o falante
a usar categoricamente certas formas (a casa) e não outra (casa
a), também existem condições ou regras variáveis que
funcionam para favorecer ou desfavorecer variavelmente e com
pesos específicos o uso de uma ou outra das formas variáveis
em cada contexto.
Sankoff (1988a: 985) observa que o principal objetivo das regras variáveis é o de
estabelecer a influência dos fatores que promovem o uso de cada uma das formas
variantes, sem esquecer, no entanto, o fato de não se poder estabelecer limites de
ocorrência para cada uma delas:
A essência da análise está na avaliação de como o processo de
escolha é influenciado por diferentes fatores cujas combinações
específicas definem os contextos. Embora se aceite que a
escolha não pode ser normalmente prevista com grau absoluto
de certeza, é possível, todavia, estabelecer o que favorece uma
dada alternativa e qual a sua força, bem como o que a
desfavorece.17
Para Lightfoot (1999), a mudança se realiza durante o processo de aquisição da
linguagem, período em que o falante é exposto a diferentes gramáticas e vai optar por
17
“The essence of the analysis is an assentment of how the choice process is influenced by the
differentfactors whose specific combinations define these contexts. While accepting that the choice
cannot usually be predicted with certainty, it is still possible to ascertain what, if anything, favors a given
alternative, and how strongly, and what desfavors it.”
uma delas, ou seja, a mudança fica a cargo da criança quando ela opta por uma das
gramáticas que apresenta formas diferenciadas da gramática em uso pela sua
comunidade.
Lightfoot (1999: 81-82) considera o seu posicionamento e o descrito em Labov
(1994) semelhantes, em relação ao fato de que a gramática do falante é uma entidade
psicobiológica existente na mente de cada um (embora Ligthfoot fale de gramáticas, no
plural). As variáveis utilizadas por Labov, ainda no comentário de Ligthfoot, seriam
socialmente induzidas, pois, se um falante usa e/ou reconhece duas formas do tempo
passado de um verbo, como dived e dove, sneaked e snuck, essas formas fazem
certamente parte do seu conhecimento gramatical, sendo que Labov defende que a
variação verificada na produção de um mesmo falante advém de ele possuir uma
gramática que inclui regras variáveis, assim como as probabilidades de ocorrência das
variantes.
Tal não é o entendimento de Lightfoot, como já referido. Este, como Kroch
(1994:180), não defende a idéia de variação livre, proposta inicialmente pelo
Estruturalismo, mas sim a oscilação entre duas ou mais formas fixas, cada uma
pertencente a uma gramática. Quanto à mudança, a Constant Rate Hypothesis, de Kroch
(1989), postula que, uma vez desencadeada, ela apresenta taxas constantes em cada tipo
de contexto, verificando-se uma curva em S quando o tempo de observação é longo.
Labov considera que o processo de mudança decorre da variação nos diversos
padrões linguísticos que compõem a língua de uma determinada comunidade de fala. A
variação, segundo ele, é inerente à língua e, portanto, nas comunidades formadas por
pessoas que compartilham traços linguísticos que os identificam há formas que coocorrem (situação de variação, em que duas formas são utilizadas ao mesmo tempo) e
formas que concorrem (processo de mudança, em que uma das formas dará lugar a
outra). A mudança ocorre no Sistema e se manifesta na língua em uso, ou seja, na fala, e
a língua é um sistema complexo e heterogêneo, que abarca todas essas ocorrências. A
análise sociolinguística tem, assim, por objeto de estudo a variação/mudança na língua,
em seu contexto sócio-cultural, pois acredita que fatores externos à estrutura da língua
também podem explicar tais fenômenos.
É através das variáveis sociais que a Sociolinguística busca definir a variação em
uma comunidade de fala como variação estável ou mudança em progresso. A variação
estável caracteriza-se pela co-ocorrência das formas, que pode perdurar por muito
tempo, e a mudança em progresso, pela paulatina predominância de uso de uma das
formas.
Para determinar o status de um fenômeno linguístico, como variação estável ou
mudança em progresso, Labov (1972) descreve os seguintes procedimentos (a)
correlacionar fatores estruturais com fatores sociais, para determinar a disseminação de
uma variante, o que chamou de problema de transição (transition problem); (b) testar a
reação dos falantes diante dos valores da variável, observando a que grupo social
atenderia, o que considerou problema de avaliação (evaluation problem); (c) avaliar o
encaixamento da variável na estrutura linguística da comunidade de fala, o que
denominou problema de implementação (actuation problem). Através desses
procedimentos, seria possível concluir se o fenômeno em questão tenderia a permanecer
na língua em uso, dentro de um contexto estratificado, como variação estável ou se uma
variante daria lugar à outra, efetivando-se a mudança linguística.
Dentre as teorias sobre a mudança linguística inclui-se a dos neogramáticos, cuja
escola surgiu na Alemanha, no final do século XVIII, fruto do conflito entre duas
concepções: uma que, influenciada pelas ciências naturais, defendia ser a língua um
fenômeno fisiológico, apenas físico e, outra, que acreditava que a fala humana era um
produto espiritual.
Schleicher, em 1863, (Apud Iordan, 1962: 87) afirmava que uma língua se
compara a um organismo vivo e apresenta uma fase de evolução e outra de decadência,
que se caracteriza por um grande número de transformações. Com base nessa teoria,
reconstrói uma língua primitiva a partir de formas análogas existentes em várias línguas
e faz uma árvore genealógica das línguas indo-europeias, destacando o parentesco
linguístico, ou seja, desenvolve a teoria de árvore genealógica linguística. O esquema
de árvore permite a visualização dos subagrupamentos de línguas em uma família e é
usado para representar línguas indo-europeias, românicas e para outros estudos
comparativos; entretanto, é um modelo limitado que não abarca a complexidade das
relações entre as línguas.
Faraco (2005:138) afirma que a teoria de árvore genealógica não leva em conta
“a variação dialetal, presente em todos os estágios da história das línguas e fundamental
para a dinâmica histórica, nem as influências entre as diferentes línguas da família.”
Estudos dialectológicos, como os de Crowley (1997), mostram que as línguas são
sistemas heterogêneos e que a subdivisão de uma língua acontece de maneira lenta e
gradual, ou seja, dois dialetos coexistem por um longo tempo, evoluindo em sentidos
contrários até se tornarem incompreensíveis e serem consideradas línguas distintas.
Bailey (1973) propôs um modelo estritamente soiciolinguístico, chamado por
Fernández (1988:132) de uma “alternativa ao labovianismo oficial”, que sugere uma
gradação de contextos, mais ou menos favoráveis à inovação linguística. A mudança
teria sua origem em uma determinada classe social e se espalharia em forma de onda,
ocorrendo em contextos considerados, até então, desfavoráveis, até a sua generalização.
Segundo Lyons (1982), apud Hudson (1984), a distância social é tão importante
quanto a geográfica, o que é corroborado por Trudgill (1987:172), em seus estudos de
dialectologia.
A distância é claramente um importante fator de disseminação
de formas linguísticas, apesar de, em muitos casos, a distância
social ser tão importante quanto a distância geográfica (...): duas
cidades podem estar socialmente “próximas” uma da outra,
então em um intervalo de tempo podem estender suas
influências até outras cidades menores18.
Para Labov (2007) as teorias da “Árvore genealógica” e das “Ondas” são
modelos de mudança linguística que coexistiram numa relação complexa. A teoria da
árvore genealógica é considerada como o melhor método para os estudos comparativos,
já a teoria das ondas tem seus resultados reconhecidos, por registrar a influência das
ramificações de uma árvore sobre outra, ou seja, a influência de uma língua sobre outra.
O conceito de descendência linguística, base da teoria de árvore genealógica, em
que uma língua deriva de outra, é tratado por Labov como processo de transmissão
linguística, em que as características de uma língua passam através de gerações devido à
capacidade que as crianças têm de reproduzir, em detalhes, as formas da geração
anterior. O conceito de ondas é tratado como parte do processo de difusão linguística,
em que as variações se propagam não só geograficamente, mas, também, em função de
fatores sociais.
Diante do desafio de definir as forças motivadoras da variação linguística, Labov
(1969) apresenta um modelo matemático aditivo baseado na soma dos fatores que
contextualizam a variação. Desse modo, tem-se
18
"Distance, then is clearly an important factor in the spread of linguistic forms, although in many cases
social distance may be as important as geographical distance (...): two towns may be socially "closer" to
each other then they are to the intervening stretches of the countryside”
ft = f0 + f1 + f2 + f2 ... + fn,
Neste modelo n é o número total de categorias consideradas relevantes e f0 é a
média global de aplicação da variante sob estudo. A média global é usada como
referência para os fatores, que apresentam efeito negativo ou positivo, ou seja, motivam
ou inibem a frequência da variante no contexto. Desse modo, f0 é um valor inicial, ou
input e, os fi são os desvios que podem ocorrer em relação a este valor. O modelo era
baseado na soma de números, mas não havia garantia de que a soma não ultrapassaria os
100% ou ficaria abaixo de 0% e, como tal fato não encontraria correspondência na
realidade linguística, já que não pode haver ocorrência superior a 100% ou menor a 0%,
o modelo foi descartado.
Cedergren & Sankoff (1974) apresentam um modelo de análise que substitui
frequências por probabilidades e se baseia na atuação conjunta de fatores, seguindo o
modelo de efeito simultâneo de fatores independentes.
pt= p0 x p1 x p2 x
x pn
Conhecido por aplicativo de multiplicação, no lugar da soma, utiliza o produto
dos fatores. Se no lugar de f for colocado p, p será o produto dos fatores. Esse modelo
mostrava-se problemático, pois o efeito conjunto de dois fatores favorecedores de uma
regra podia ser menor que o efeito de cada um deles isoladamente. Já no modelo
aplicativo de não-multiplicação, ocorria o contrário, dois fatores desfavorecedores
podiam, conjuntamente, apresentar um efeito menor do que os dos fatores isolados.
Rousseau & Sankoff (1978) apresentam um novo modelo de análise em que
procuram controlar os problemas ocorridos nos modelos anteriores. A princípio,
destinado a áreas que trabalham com categorias inter-relacionadas semelhantes às
encontradas na linguística experimental, este modelo consegue, enfim, dar conta da
independência dos fatores
Pt
p0
p1
pn
(1-pt) (1-p0) (1-p1) (1-pn)
Neste novo modelo pt á probabilidade geral de aplicação de uma regra variável
no contexto em que haja um fator de cada grupo; p0 corresponde ao input, ou seja, à
média geral de aplicação da regra e os pesos relativos são a influência dos fatores para a
aplicação da regra variável.
Os programas que utilizam o Modelo Logístico são chamados de VARBRUL
(Variable Rules Analysis) e têm por objetivo mensurar a influência relativa de cada
variável, atribuindo pesos aos diferentes fatores de cada uma delas. Esse pacote de
programas fornece informações tais como: (a) o índice de aplicação da regra variável;
(b) a frequência, os valores percentuais e os pesos relativos de uma dada variante; (c) as
variáveis linguísticas e extralinguísticas relevantes para o condicionamento do
fenômeno em estudo, por ordem de seleção; e (d) e as variáveis não significativas para
análise.
O tratamento estatístico, com o auxílio do VARBRUL, ou de sua versão para
Windows, o GOLDVARB X, permite ao pesquisador confirmar ou não as hipóteses
inicialmente estabelecidas por meio da observação do comportamento dos dados.
Quanto à possibilidade da análise quantitativa, ressalte-se que:
Números e formalismos em si não dizem nada. Apenas o
linguista, um ser humano inteligente, é capaz de estabelecer
interpretações e correlações linguísticas. (Scherre & Naro,
1993: 61).
Quanto a outros aspectos metodológicos, Labov (1975) chama a atenção para a
observância de cinco axiomas: (a) a mudança de estilo, o que pressupõe a
heterogeneidade da fala, já que não existe falante de um único estilo; (b) a atenção, o
que mostra o monitoramento da fala: tanto na casual (quando há menos envolvimento),
quanto na excitada (quando há envolvimento emocional) há pouca atenção para o
automonitoramento; (c) o vernáculo, modalidade em que há menor monitoramento; (d)
a formalidade, estabelecida pelo contexto e que acarreta maior ou menor
monitoramento; e (e) os bons dados a serem obtidos, através de uma quantidade
suficiente de entrevistas individuais gravadas da linguagem em uso.
Tais aspectos dizem respeito ao estudo da modalidade oral da língua e esses
axiomas demonstram a existência de um continuum estilístico que se estabelece através
do monitoramento da fala. Embora o vernáculo, estilo em que ocorre o mínimo de
monitoramento, segundo Labov (1975: 208), seja o contexto ideal para os estudos
sociolinguísticos, isso não descarta a possibilidade de tal análise se estender à
modalidade escrita, uma vez que a língua é um sistema heterogêneo que admite
diferentes padrões. A escrita, apesar de apresentar maior grau de monitoramento,
também apresenta padrões variantes.
Com base nos pressupostos da Teoria da Variação ou Sociolinguística
Quantitativa analisou-se, no presente estudo, o fenômeno da não-concordância verbal de
terceira pessoa do plural, na modalidade escrita da língua, em redações escolares, no PB
e no PE, estabelecendo-se as variáveis linguísticas e extralinguísticas que determinam a
opção dos usuários da língua pelo cancelamento da marca de número19 .
A análise dos dados foi realizada em diferentes etapas, em que foram utilizadas
as diferentes funções do pacote de programas GOLDVARB X.
Realizou-se a análise em dois níveis: step up e step down. No nível step up, o
programa analisa todos os grupos de fatores individualmente, e, a partir do nível de
significância, que não pode ultrapassar 5% (threshhold.05)20 e do cálculo máximo de
19
20
Cf. capítulo 6.
Resultados superiores a 0,05 não são selecionados como estatisticamente significativos.
verossimilhança (loglikelihood),21 seleciona o grupo de fatores que se apresenta como o
mais influente para o fenômeno. Depois de selecionar o primeiro grupo, o programa faz
a comparação com os outros, dois a dois, até selecionar o segundo grupo, e assim
sucessivamente até que todas as variáveis significativas tenham sido selecionadas.
No nível step down, o programa analisa todos os grupos em conjunto e, através
do mesmo princípio de verificação, ou seja, significância e verossimilhança,vai
eliminando, um a um, os grupos de fatores não significativos para a variação em estudo.
Quando os grupos selecionados no step up não são descartados no nível step down
significa que esses fatores são relevantes para o fenômeno. Quando acontece de o grupo
de fatores não ser selecionado no step up nem descartado no step down ou, ainda, ser
selecionado por um e descartado pelo outro, os grupos de fatores precisam ser
reavaliados, pois segundo Sankoff (1988a: 992) apresentam um “status incerto”.
Assim, analisar os fenômenos de concordância à luz da teoria variacionista
implica assumir, desde logo, a existência de usos variáveis, sendo a tarefa daí decorrente
determinar os padrões variantes e explicá-los; ou seja, pôr em evidência as
regularidades encontradas e determinar os contextos linguísticos e extralinguísticos que
condicionam o uso de cada variante possível. Importa, igualmente, retirar conclusões
sobre os casos de invariância observados, que entrarão no domínio das regras
partilhadas por todos os falantes da língua, nesse caso categóricas.
A modalidade escrita, considerada fator conservador da unidade linguística,
porque monitorada, apresenta, apesar disso, contextos em que a concordância verbal não
ocorre ou tende a ocorrer menos. Estudos variacionistas22 confirmam que, assim como
na modalidade falada, a variação na escrita é passível de sistematização, havendo a
21
22
Diferentes medidas de verossimilhança são atribuídas a cada conjunto de efeito de fatores.
Conferir capítulo 3.
possibilidade de definir as regras que determinam a escolha do usuário por uma
determinada forma e não outra.
5.2 Metodologia
5.2.1 Caracterização do corpus
Os dados que fundamentam a pesquisa foram organizados em dois corpora, um
referente ao PB, outro ao PE.
O corpus do PB é constituído de 3650 dados recolhidos de redações de alunos
do atual nono ano, designação dada à oitava série do Ensino Fundamental e de alunos
da terceira série do Ensino Médio. Para tanto, analisaram-se diversas redações, de
diferentes tipos, realizadas durante as aulas de produção de texto.
A amostra do PE é formada por 1742 dados, recolhidos de redações de alunos do
nono ano do terceiro Ciclo do Ensino Básico, que é dividido em ciclos: Primeiro Ciclo
(primeiro, segundo, terceiro e quarto anos); Segundo Ciclo (quinto e sexto anos) e
Terceiro Ciclo (sétimo, oitavo e nono anos) e correspondem ao Primeiro Segmento (do
primeiro ao quinto ano) e ao Segundo Segmento (do sexto ao nono ano) do Ensino
Fundamental, no Brasil e do décimo segundo ano do Ensino Secundário, designação
correspondente ao terceiro ano do Ensino Médio, no Brasil.
Para o estudo de caso, o corpus foi formado por 271 dados recolhidos de
redações de alunos dos turnos da manhã e da noite, de uma mesma escola.
O controle dos dados do PE não pôde ser feito obedecendo aos mesmos critérios
estabelecidos para o PB, devido às particularidades inerentes a essa variedade do
português e à estrutura socioeconômica diversa da brasileira, o que se refletiu na
diferente configuração das variáveis sociais, conforme se observará no capítulo 6, em
que se descrevem as variáveis.
A princípio, a seleção das redações foi norteada por critérios que levavam em
conta a localização e o tipo da escola, bem como o turno de ensino, conforme se passa a
expor.
a) As escolas foram distribuídas por localidades e classificadas por tipo.
No PB, os dados foram recolhidos em quinze escolas, sendo oito públicas e sete
particulares, distribuídas por nove RAs (Regiões Administrativas) e duas cidades da
Região Metropolitana. Nas primeiras análises, porém, percebeu-se que a distribuição
das escolas por RAs tinha como consequência uma grande diluição dos dados, o que
levou a uma redistribuição das mesmas em quatro grupos: (a) localidades da Área A,
constituída por bairros da Zona Sul e pelo bairro da Barra da Tijuca que, apesar de,
fazer parte da Zona Oeste, apresenta padrão sócio-econômico de classe média, (b)
localidades da Área B, constituída por bairros da Zona Norte, (c) Área C formada por
bairros do subúrbio e (d) Área D formada pelas cidades da Região Metropolitana.
Diante da impossibilidade de dividir as escolas de Lisboa (cidade onde os dados do PE
foram coletados) por localidades, no PE, tal controle não foi efetivado. Quanto ao tipo,
elas foram divididas em particulares e públicas, em tipos 1 e 2, segundo critérios
apresentados no capítulo seis deste trabalho em que se descrevem as variáveis
controladas nos dois corpora.
b) Os alunos foram agrupados por série e gênero.
Tanto no PB, quanto no PE, os alunos foram agrupados de acordo com as séries
(acima descritas) que cursavam e por gênero.
No PB, assim como no PE, não se conseguiu uma quantidade satisfatória de
dados dos informantes das primeira e quinta séries do ensino básico, o que levou a não
utilização de tais dados na análise final, considerando-os apenas para controle do
fenômeno estudado. Desse modo, serão analisados neste estudo os dados dos alunos do
nono ano do Ensino Fundamental e terceira série do Ensino Médio, no PB, e do nono
ano do Ciclo Básico e décimo segundo ano do Ensino Secundário, no PE.
c) O horário de estudo foi controlado.
A variável foi controlada no PB, nos dados dos alunos da terceira série do
Ensino Médio, já que um dos objetivos deste trabalho foi realizar um estudo de caso, em
que se cotejaram os resultados dos alunos do primeiro e terceiro turnos, de uma escola
pública, procurando observar se o horário de estudo exerceria alguma influência no
fenômeno em questão. O mesmo não pôde ser feito em relação aos informantes das
demais séries, já que não se conseguiu preencher as células relativas aos diferentes
níveis de escolaridade, assim como não foi possível o controle satisfatório das faixas
etárias dos informantes.
Tanto no Brasil como em Portugal, a constituição do corpus esbarrou na questão
do acesso aos dados. No Brasil, as escolas municipais procuradas para obtenção das
redações não dispõem de autonomia para liberar os textos dos alunos, dependem da
permissão da CRE (Coordenadoria Regional de Educação), que procurada, não
autorizou a recolha. Os colégios estaduais, que gozam de um pouco mais de autonomia,
só atendem ao Ensino Médio. Quanto aos colégios federais, entre eles, o Colégio de
Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro que, a princípio vivencia a rotina
de estágios e pesquisas em suas dependências, também não permitiram o acesso aos
trabalhos dos alunos. Desse modo, o corpus do PB é formado, em sua maior parte, por
dados de escolas particulares, conseguidos através de professores amigos que se
mostraram dispostos a colaborar com a pesquisa. Em Portugal, as escolas procuradas,
em geral, particulares, embora se mostrassem bastante solícitas, contribuíram de
maneira efetiva apenas com a produção dos alunos dos nono e décimo segundo anos.
A pequena amostra dos dados do Primeiro Segmento do Ensino Básico, tanto
nas escolas públicas como nas particulares, no Brasil, assim como em Portugal, leva
crer que os alunos, nessa fase do aprendizado, ainda não estão expostos a uma efetiva
produção textual e, apenas nas séries finais dos ciclos, é desenvolvida uma sistemática
produção de textos. Não passou despercebida a preocupação dos professores em relação
aos textos dos alunos. A maioria queria que as redações só fossem liberadas depois de
corrigidas. Tal preocupação deixa transparecer o receio, por parte dos docentes, que os
possíveis “erros” cometidos pelos alunos colocassem em julgamento o desempenho dos
professores. As correções realizadas, em algumas redações, foram ignoradas, levando-se
em conta a escrita original do aluno.
As adaptações que se fizeram necessárias, em relação às variáveis
extralinguísticas redundou na divisão das variáveis em: a) as que foram utilizadas
apenas no PB: localização e classificação das escolas; b) a que foi adaptada para ser
aplicadas às duas variáveis: tipo de escola e c) as que desde o início foram consideradas
nos dois corpora: gênero e escolaridade.
5.2.2 - Etapas do trabalho
Descrevem-se, a seguir, os procedimentos metodológicos realizados durante as
diferentes fases do trabalho:
a) leitura das redações realizadas nas aulas de produção de texto;
b) primeira análise, com vista a identificar os tipos de não-concordância
presentes;
c) pesquisa bibliográfica sobre o fenômeno da concordância verbo/sujeito;
d) leitura de textos de cunho variacionista especializados sobre o fenômeno em
estudo, para o estabelecimento dos grupos de fatores a serem controlados;23
e) fixação das variáveis linguísticas e sociais a serem observadas;
f) identificação e levantamento definitivo dos dados relevantes;
g) codificação e digitação das variantes linguísticas;
h) introdução de novas variáveis consideradas pertinentes ao estudo e a
consequente recodificação dos dados;
i) aplicação do pacote de programas GOLDVARB X;
j) sistematização e interpretação dos dados.
Em relação à coleta dos dados, consideraram-se os contextos passíveis de
concordância de terceira do plural entre o verbo e o núcleo do sujeito explícito
(anteposto ou posposto ao verbo), assim como os sujeitos introduzidos pelo pronome
relativo que e os contextos de sujeito não-explícito ou nulo, o que resultou em
constituintes de sintagmas verbais, coletados nos dois corpora, tais como, “os nossos
valores mudaram” em que ocorre a concordância entre o sujeito anteposto e o verbo;
“as coisas nem sempre corre bem” em que a concordância não se realiza; “passaram-se
trinta anos” em que o sujeito ocorre posposto ao verbo, “as pessoas mais sensível que
luta” em que o sujeito é introduzido pelo pronome relativo que e; “não encontraram a
resposta” em que o sujeito não está explícito.
Mantendo-se o pressuposto inicial da pesquisa: o estudo da variação da
concordância verbo/sujeito em terceira pessoa do plural na língua escrita e o reduzido
número de dados, os contextos em que a concordância é facultativa foram descartados.
Desse modo, estruturas como: “a maioria das pessoas bebe por influência de amigos”,
em que o verbo concorda com o núcleo do sujeito, no singular ou “grande parte dos
23
Conferir capítulo 3.
negros ainda vivem em condição de subalternos.”, em que a concordância se faz entre o
verbo e o complemento ou adjunto, no plural, não fizeram parte dos corpora.
Para as rodadas do programa GOLDVARB X, o valor de aplicação foi o de nãoconcordância, já que, neste trabalho, pretende-se investigar os fatores de natureza
linguística e social que favorecem o cancelamento da marca de plural no verbo, na
modalidade escrita da língua.
6. AS VARIÁVEIS
Apresentam-se, a seguir, os grupos de fatores estabelecidos para a pesquisa, assim
como as hipóteses que os determinaram. Deve-se ressaltar que alguns deles foram
levados em conta apenas no PB em virtude das razões explicitadas. As variáveis
basearam-se em estudos variacionistas sobre a concordância verbal na modalidade
falada da língua, com as devidas adaptações ao plano da escrita.
(A) A Variável Dependente
A variável estudada constitui um grupo binário - presença ou ausência de marca
de plural de terceira pessoa. Embora o índice de concordância tenha suplantado o de
não-concordância, optou-se por adotar, na análise, como valor de aplicação a nãoconcordância. Parte-se do princípio de que, para alguns indivíduos, a aprendizagem da
regra canônica de concordância verbal se dá na escola, interessando, portanto, conhecer
os contextos em que ela não se efetiva na escrita e os fatores que para isso concorrem.
Acredita-se, também, que os alunos de colégios considerados tradicionais apresentariam
maior índice de concordância verbal que os alunos de colégios tidos como de nível
regular. Parte-se, ainda, da hipótese, de que, no terceiro turno, em que se concentram
estudantes que, em geral, trabalham durante o dia, o índice de não-concordância verbal
seria maior do que no primeiro turno, em que os estudantes só têm compromissos com
as atividades escolares. Esta última hipótese, comprovada em estudos preliminares,
levou à elaboração do estudo de caso que tem por base uma escola pública estadual.
Dese modo, a variável dependente se divide em:
- Não-concordância - Sem paixão é que acontece as guerras.
- Concordância - Felicidade e paixão andam juntas.
(B) As Variáveis Independentes
a- Variáveis extralinguísticas
Com o propósito de verificar a influência do grupo sócio-cultural sobre a
aprendizagem e a não aplicação da regra de concordância verbal na escrita padrão dos
alunos, procurou-se estabelecer um perfil dos informantes por meio das variáveis tipo/
classificação e localização das escolas. Visto que o contato com os alunos não foi
permitido, procurou-se, indiretamente, (conforme se mostra nos itens i e ii), controlar a
influência que o grupo sócio-cultural em que se inserem possa exercer sobre o
fenômeno em questão.
(i) Classificação das escolas
A divisão das escolas em públicas e privadas, no Brasil, foi motivada pelo fato
de acreditar-se que as escolas públicas (federais, estaduais e municipais) estejam
envolvidas com o cumprimento dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), projeto
de reforma curricular do Ensino Médio, aprovado em 01/06/98, Parecer n° 15/98 da
Câmara de Educação Básica (CEB), do Conselho Nacional de Educação (CNE) e
Resolução CEB/CNE nº 03/98. O documento estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio, seguindo a Lei n° 9.394/96, que considera o Ensino
Médio como parte da Educação Básica e que
tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a
formação comum indispensável para o exercício da cidadania e
fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores. (Art. 22, Lei nº 9.394/96).
Os PCNs constituem um conjunto de orientações para melhorar a qualidade do
ensino e contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes, críticos, autônomos e
participativos. O conhecimento pronto e as etapas exigidas de aprendizado devem dar
lugar a ações que levem o aluno a buscar seu próprio conhecimento. Para isso, a
sugestão é o uso de temas transversais como ética, orientação sexual, meio-ambiente,
saúde, estudos econômicos e pluralidade cultural. Os PCNs orientam sobre o quê e
como ensinar. Para sua implantação, são levados em conta estudos psicopedagógicos e
experiências de currículos nacionais e internacionais.
Para a Língua Portuguesa, os PCNs (p. 17,18 e 19) ressaltam que
as pesquisas produzidas por uma linguística independente da
tradição normativa e filológica e os estudos desenvolvidos em
variação linguística e psicolinguística, entre outras,
possibilitaram avanços nas áreas de educação e psicologia da
aprendizagem, principalmente no que se refere à aquisição da
escrita.
Assim como
... mesmo imperando, ainda, uma posição ‘corretiva’ e
preconceituosa em relação às formas canônicas de expressão
linguística, as propostas de transformação do ensino da língua
portuguesa consolidaram-se em práticas de ensino em que tanto
o ponto de partida quanto o de chegada é o uso da linguagem.
(...) o domínio da linguagem, como atividades discursiva e
cognitiva, e o domínio da língua, como sistema simbólico
utilizado por uma comunidade linguística, são condições de
possibilidade de plena participação social.
No que se refere às competências e habilidades a serem desenvolvidas em língua
portuguesa, os PCNs objetivam mostrar a importância do trabalho com a língua oral,
assim como permitir que o professor se libere dos preconceitos em relação aos
diferentes usos da língua, em especial, à variação linguística, que ocorrem, não só, na
modalidade falada da língua, mas também na escrita e são passíveis de explicação.
Desse modo, estabelece (p. 142-144):
a) Considerar a Língua Portuguesa como fonte de legitimação
de acordos e condutas sociais e como representação simbólica
de experiências humanas manifestas nas formas de sentir,
pensar e agir na vida social;
b) Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal,
relacionando textos/contextos, mediante a natureza, função,
organização, estrutura, de acordo com as condições de
produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores
participantes da criação e propagação de idéias e escolhas);
c) Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes
manifestações da linguagem verbal;
d) Compreender e usar a Língua Portuguesa como língua
materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
Já as escolas privadas, embora sujeitas às diretrizes dos PCNs, podem adotar
uma filosofia mais ou menos conservadora, ou seja, segui-las integralmente, ou então,
utilizar filosofia inovadoras.
As escolas, oito públicas e sete privadas, foram distribuídas por tipo, e a
classificação obedeceu a critérios, tais como: obrigatoriedade de concurso para o
ingresso dos alunos, índice de aprovação em concursos vestibulares, maior diversidade
quanto à origem dos alunos em termos de área de residência e nível sócio-econômico e
a consequente credibilidade que a sociedade credita a tais estabelecimentos de ensino.
Às escolas particulares acrescentou-se o critério custo de mensalidade em lugar de
concurso para ingresso, aplicado às escolas públicas. As escolas que atenderam a pelo
menos três dos critérios apresentados foram classificadas como tradicionais, as demais,
como regulares.
Para o PE, embora se tenha mantido a variável com os mesmos grupos de
fatores, a hipótese que a determinou não seguiu a mesma fundamentação. Apesar de os
dados terem sido recolhidos de escolas tanto públicas quanto particulares, não foi
possível realizar uma comparação exata entre os dois sistemas de ensino, como, por
exemplo, os critérios de ingresso nas escolas públicas. Em Portugal, as diretrizes dos
Ensinos Básico e Secundário são regidas pela Direção de Inovação e Desenvolvimento,
órgão do Ministério da Educação que regulamenta o Currículo Nacional do Ensino
Básico, em suas competências essenciais e os novos programas em vigor, implantados a
partir de 2004/2005, no 11º ano, no Ensino Secundário. Apresentam-se, a seguir, os
programas curriculares em vigor em Portugal:
(a) Ensino Básico Escolaridade Obrigatória
O ensino básico corresponde à escolaridade obrigatória; tem a duração de nove
anos, dos 6 aos 15 anos de idade, e organiza-se em três ciclos sequenciais.
No 1º ciclo, que vai do 1º ao 4º ano, o ensino é global e visa ao desenvolvimento
de competências básicas em Língua Portuguesa, Matemática, Estudo do Meio e
Expressões. Com a implementação da escola em tempo integral, através do alargamento
do horário de funcionamento para um mínimo de oito horas diárias, as escolas
promovem atividades de enriquecimento curricular, principalmente o ensino obrigatório
do Inglês, o apoio ao estudo para todos os alunos, a atividade física e desportiva, o
ensino da Música e de outras expressões artísticas e de outras línguas estrangeiras.
O 1º ciclo funciona em regime de monodocência, com recurso a professores
especializados em determinadas áreas. No 2º ciclo (5º, 6º e 7º anos), o ensino está
organizado por disciplinas e áreas de estudo pluridisciplinares e no 3º (8º e 9º anos), por
disciplinas. Os principais objetivos deste ciclo são o desenvolvimento de saberes e
competências necessários à entrada no mercado de trabalho ou ao prosseguimento de
estudos.
Os 2º e 3º ciclos funcionam em regime de pluridocência, com professores
especializados nas diferentes áreas disciplinares ou disciplinas.
O ensino das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) é introduzido no
8º ano nas áreas curriculares não disciplinares, de preferência na área de projeto, e como
disciplina obrigatória no 9º ano de escolaridade.
No ensino básico, é obrigatória a aprendizagem de duas línguas estrangeiras,
entre inglês, francês, alemão e espanhol. Ao longo desse nível, os alunos são sujeitos a
uma avaliação interna; além disso, no final do 3º ciclo, os alunos são submetidos a
avaliação externa, através da realização de exames nacionais nas disciplinas de
Português e Matemática.
Aos alunos que completam com sucesso o 3º ciclo é atribuído o diploma do
ensino básico, que é gratuito.
(b) Ensino Secundário
Para ascederem a qualquer curso do ensino secundário, os alunos devem ter
concluído a escolaridade obrigatória ou possuir habilitação equivalente.
O ensino secundário está organizado segundo formas diferenciadas, orientadas
quer para o prosseguimento de estudos quer para o mercado de trabalho. O currículo
tem um referencial de três anos letivos e compreende quatro tipos de cursos,
vocacionados para o mercado de trabalho ou o prosseguimento de estudos de nível
superior: (a) científico-humanísticos; (b) tecnológicos; (c) artísticos especializados,
visando a assegurar formação artística nas áreas de artes visuais, audiovisuais, dança e
música; (d) profissionais. Todos são organizados por módulos em diferentes áreas de
formação.
Para conclusão de qualquer curso de nível secundário, os alunos estão sujeitos a
uma avaliação interna. Além dessa avaliação, os alunos dos cursos científicohumanísticos são também submetidos a uma avaliação externa, através da realização de
exames nacionais, em determinadas disciplinas previstas na lei.
Aos alunos que tenham completado este nível de ensino é atribuído um diploma
de estudos secundários. Os cursos tecnológicos, artísticos especializados e profissionais
conferem ainda um diploma de qualificação profissional de nível24.No ensino
secundário, os alunos têm que pagar uma pequena taxa anual.
Inicialmente, a variável ficou assim definida:
- Escola pública tipo 1.
- Escola pública tipo 2.
- Escola particular tipo 1.
- Escola particular tipo 2.
Posteriromente, amalgamaram-se as escolas particulares, assim como as
públicas. Desse modo, a variável passou a ser definida como:
- Escolas tradicionais (públicas ou particulares do tipo 1).
- Escolas regulares (públicas ou particulares do tipo 2).
(ii) Localização das escolas
O controle da localização das escolas consistiu numa outra tentativa de
determinar o perfil sócio-econômico dos alunos. Partiu-se da hipótese de que,
excetuando as escolas públicas do tipo 1 (onde há maior diversidade quanto à origem
dos alunos), as escolas (principalmente as particulares do tipo 1) reúnem alunos do
mesmo grupo sócio-econômico. As localidades, inicialmente, foram distribuídas por
RAs (Regiões Administrativas), que constituem a divisão político-administrativa do
Município do Rio de Janeiro e, ainda, por dois municípios da Região Metropolitana.
24
Os dados sobre o sistema de ensino em Portugal foram retirados do site www.minedu.pt/np3/158.html.
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
BAIRRO
Botafogo / Humaitá
REGIÃO ADMINISTRATIVA
V
Lagoa
VI
São Cristóvão
VII
Tijuca
VIII
Penha
XI
Campo Grande
XVIII
Santa Cruz
XIX
Barra da Tijuca
XXIV
Coelho Neto
XXV
REGIÃO METROPOLITANA
Município de Nilópolis
Município de Belford Roxo
Quadro 2 - Localização das escolas
Para melhor compreensão da variável, apresenta-se, a seguir um breve histórico
dos diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro25, assim como dos dois municípios26
em que se localizam as escolas.
Botafogo - Bairro de classe média da Zona Sul, com área de 479.00 ha e
população de 79.588 habitantes, caracteriza-se economicamente pela qualidade e
variedade de serviços e pela grande quantidade de escolas. O bairro conta com sete
escolas municipais e diversas escolas particulares consideradas tradicionais, tais como o
Colégio Santo Inácio e o Colégio Israelita Liessen.
25
Os dados sobre os bairros foram retirados do portal geo.rio.gov.br, da Prefeitura da Cidade do Rio de
Janeiro.
26
Os dados sobre os dois municípios considerados foram retirados do site www.ibge.com.br.
Humaitá - Bairro de classe alta e média-alta da Zona Sul, com área de 105.45 ha
e população de 15.186 habitantes, faz limite com os de Botafogo, Jardim Botânico e
Lagoa. Sedia uma unidade de uma das mais tradicionais instituições de ensino, o
Colégio Pedro II. O bairro dispõe de duas escolas municipais.
Lagoa - Bairro de classe média-alta da Zona Sul, com 510.99 ha de área e
18.221 habitantes, faz limite com Copacabana e Ipanema. É caracterizado pela
disponibilidade de bons serviços e pelo comércio de caráter mais sofisticado. No bairro
há três escolas municipais.
São Cristóvão - Bairro de classe média-baixa da Zona Norte, oficialmente
denominado Bairro Imperial de São Cristóvão. Com área de 410.56 ha e 38.334
habitantes começou a adquirir posição de destaque a partir de 1810, quando o Príncipe
Regente D. João adotou o Paço da Quinta da Boa Vista como residência oficial. Sedia a
primeira unidade do Colégio Pedro II e dispõe de seis escolas municipais.
Tijuca - Bairro considerado tradicional de classe média da Zona Norte, com
1.006.56 ha de área e 163.636 habitantes, dispõe de boa estrutura de comércio e de
serviços e tem dezoito escolas municipais.
Penha - Bairro de perfil variado, em sua maior parte de classe média-baixa da
Zona Norte, com 581.13 ha e 72.692 habitantes, tem como referência central a Igreja da
Penha. O bairro dispõe de 11 escolas municipais.
Campo Grande - Bairro de classes média, média-baixa e baixa, com área de
11.912.53 ha e população de 297.494 habitantes, tem setenta e duas escolas municipais.
É considerado um bairro singular da Zona Oeste, pelo fato de contar com infra-estrutura
semelhante à de uma grande cidade, com comércio, lazer, escolas, shoppings centers,
hospitais, clínicas e serviços variados. É considerado um bairro proletário, em que
coexistem diversos tipos sócio-econômicos.
Santa Cruz - Santa Cruz é um bairro de classe média-baixa e baixa da Zona
Oeste, com 12.504 ha de área e 191.836 habitantes. Dispõe de um sistema educacional
que atende satisfatoriamente à demanda com cinquenta e três escolas municipais. Estão
sendo instalados no bairro, especialmente nas proximidades da Avenida João XXIII,
vários empreendimentos industriais, especialmente a futura Companhia Siderúrgica do
Atlântico (CSA), que irão modificar a sua paisagem e dinamizar a sua economia.
Barra da Tijuca - Bairro de classe média-alta da Zona Oeste, com área de
4.815.06 ha e 92.233 habitantes é um bairro relativamente novo, classificado como de
alto índice de desenvolvimento humano. Durante a década de 1980, viveu uma explosão
demográfica e hoje se caracteriza pelo estilo de vida inspirado nos subúrbios
americanos, o que implica viver em condomínios, possuir automóvel e frequentar
shoppings centers. Muitos condomínios dispõem de estrutura de cidade, com comércio
e serviços diversos, incluindo escolas, tanto públicas, quanto particulares. No bairro há
quinze escolas municipais.
Coelho Neto - Bairro de classe baixa da Zona Norte, com 251.20 ha e 32.052
habitantes, fronteiriço à Pavuna. O bairro conta com doze escolas municipais e uma
escola Cenecista.
Nilópolis - Município com território de 19 km² e população de 153.581
habitantes, por muito tempo vinculado a São João de Meriti, foi elevado a sétimo
distrito de Nova Iguaçu a partir de 1916. Emancipou-se em 20 de junho de 1947.
Dispõe, no âmbito do Ensino Fundamental, de quinze escolas estaduais, quatorze
municipais e trinta e duas privadas; no âmbito do Ensino Médio, de treze escolas
estaduais, uma escola técnica federal – Centro Federal de Ensino Técnico de Química
(CEFETQ) –, uma escola técnica estadual (FAETEC) uma escola municipal e quinze
escolas privadas. Apresenta bom desenvolvimento nas áreas de serviços e comércio.
Belford Roxo - Município emancipado de Nova Iguaçu em abril de 1990, com
80 km² e população de 480.555 habitantes, dispõe, no que toca ao Ensino Fundamental,
de 167 escolas: quarenta e cinco estaduais, quarenta e oito municipais e setenta e quatro
escolas privadas; quanto ao Ensino Médio, dispõe de trinta e quatro escolas estaduais e
oito privadas. O município tem na indústria química e metalúrgica sua principal base
econômica e é considerado cidade-dormitório de uma grande massa de empregados que
trabalham na cidade do Rio de Janeiro.
Quanto ao PE, como não foi possível estabelecer critério de divisão sócioeconômica da cidade de Lisboa, esta variável não pôde ser controlada.
Para, de um lado, atender a por vezes coincidente realidade das comunidades do
ponto de vista sócio-econômico e, de outro, para evitar a dispersão dos dados,
estabeleceram-se quatro áreas que constituem os fatores da variável localização da
escola e que só será considerada no âmbito do PB.
- Área A – que engloba os bairros de Botafogo, Humaitá, Lagoa e Barra da
Tijuca.
- Área B – que se refere aos bairros de São Cristóvão, Tijuca e Penha.
- Área C – que se relaciona aos bairros de Coelho Neto, Campo Grande e Santa
Cruz.
- Área D – que compreende os municípios de Nilópolis e Belford Roxo.
(iii) Gênero
Ao ser estabelecida, essa variável teve como objetivo verificar se há diferença de
aprendizagem da regra de concordância na escrita formal entre os indivíduos dos dois
sexos. Estudos variacionistas sobre a modalidade falada da língua mostram os falantes
do sexo feminino como mais propensos à utilização das marcas de prestígio. SCHERRE
(1996: 363-367) faz o levantamento de diversos trabalhos no plano da língua falada, em
que os resultados comprovam a tendência feminina a adotar as formas linguísticas de
prestígio. Duarte & Paiva (p.146), no posfácio de Weinreich, Labov & Herzog (2006),
afirmam que
Considerando-se as variáveis adstritas aos falantes, tais como
sexo e idade, os inúmeros trabalhos já realizados ao longo dos
anos permitem verificar uma certa equação entre fala feminina e
formas mais prestigiadas, por um lado e fala masculina e formas
menos prestigiadas, por outro.
Desse modo, com o controle da variável gênero pretende-se observar se o mesmo
ocorre em relação ao fenômeno da concordância verbal na língua escrita. A variável foi
considerada para as duas amostras:
- Gênero masculino
- Gênero feminino
(iv) Nível de escolaridade
Os textos analisados foram produzidos por alunos matriculados no nono ano do
Ensino Fundamental e terceiro ano do Ensino Médio, no Brasil e nono ano do Terceiro
Ciclo do Ensino Básico e décimo segundo ano do ensino Secundário, em Portugal.
O controle dos textos elaborados por alunos de diferentes níveis de escolaridade
tem por propósito observar se o avanço nas diferentes etapas de aprendizagem se reflete
na aplicação da regra de concordância verbal, pois se acredita que, nas séries terminais
de cada ciclo, haveria um aumento no índice de concordância.
Cabe observar que, em virtude do Projeto de Lei 3.675/04, o Ministério de
Educação e Cultura do Brasil renomeou as séries do Ensino Fundamental, passando,
assim, a ser denominado de primeiro ano o antigo CA (Curso de Alfabetização) e de
nono ano a oitava série, o que contribuiu para a homogeneidade da amostra das duas
variedades nacionais.
Naro & Scherre (2003) apresentam os resultados referentes às concordâncias
nominal e verbal de duas amostras de fala: a primeira constituída por 16 falantes na
década de 1980 e a segunda formada pelos mesmos falantes recontactados em
1999/2000. Na comparação dos dados, constatam que os falantes que aumentaram o
nível de escolaridade apresentavam maior probabilidade de ultrapassar os índices de
concordância dos falantes com menor escolaridade: “consideramos digno de ênfase o
fato de que todos os falantes que aumentaram os anos de escolarização aumentaram
também de forma significativa os níveis de concordância” (Naro & Scherre, 2003: 54).
Vieira (2007: 87) afirma que
levando em consideração a distribuição dos dados nos trabalhos
de Vieira (1995) – produzido por falantes analfabetos ou semialfabetizados – e de Graciosa (1991) – produzido por falantes
com curso superior completo –, fica nítido o contraste na
realização da regra consoante o grau de escolaridade do
indivíduo.
Assim, a variável constitui-se de dois fatores:
- Nono ano do Ensino Fundamental / Terceiro Ciclo do Ensino Básico
- Terceiro ano do Ensino Médio e Décimo Segundo ano do Ensino Secundário
(v) Turno de estudo
A variável que controla o horário de estudo foi inspirada na hipótese de que no
horário diurno se inserem os alunos considerados “periodizados”, ou seja, aqueles que,
além de estarem matriculados nas séries correspondentes às suas idades, não trabalham
e têm como compromisso principal o estudo. Já no horário noturno estariam os alunos
em idade escolar que trabalham e, ainda, indivíduos mais velhos que resolveram estudar
ou que voltaram à vida escolar depois de muito tempo. Desse modo, a variável foi
dividida em
Diurno
Noturno
(C) Variáveis Linguísticas
As variáveis linguísticas relacionam-se com o Sintagma Nominal (SN) sujeito ou
com o Sintagma Verbal (SV) e foram estabelecidas com base nos grupos de fatores
tradicionalmente considerados no âmbito da língua falada com as necessárias
adaptações.
Com relação ao SN sujeito, fixaram-se os seguintes grupos de fatores:
(i) Posição do sujeito em relação ao verbo
A posição do sujeito em relação ao verbo tem demonstrado considerável
influência sobre o fenômeno estudado. Diferentes trabalhos variacionistas no âmbito da
fala comprovam que o sujeito posposto ao verbo favorece o cancelamento da marca de
número no sintagma verbal, enquanto sua anteposição favorece a aplicação da marca.
(Cf. Naro 1981; Naro & Scherre 1999b, 2000; Graciosa 1991 e Vieira 1995).
Naro & Scherre (2003:58), na comparação dos resultados referentes a duas
amostras de fala, observam a importância da variável posição do núcleo do sujeito em
relação ao verbo na concordância:
No que diz respeito aos aspectos estruturais, uma das
conclusões mais sólidas com relação à concordância
verbo/sujeito é a de que os sujeitos plurais antepostos ou à
esquerda do verbo desencadeiam mais marcas de plural nos
respectivos verbos; efeito inverso têm os sujeitos pospostos ou à
direita do verbo. Na mesma linha, sujeitos antepostos mais
próximos ao verbo implicam mais marcas de plural nos verbos
correspondentes do que sujeitos mais distantes do verbo.
Vieira (2004: 239) também ressalta
resultados do estudo demonstraram a alta produtividade do
cancelamento da marca de número em verbos na terceira pessoa
do plural, por força, sobretudo, de fatores estruturais. Do grupo
de fatores linguísticos, mostram-se significativos a saliência
fônica, o paralelismo nos níveis oracionais e discursivos e a
posição do sujeito em relação ao verbo.
Dentre os casos de anteposição do sujeito, foram separadas as construções em
que o sujeito é representado pelo pronome relativo “que”, com o objetivo de verificar se
ele favorece o cancelamento da marca de plural.
Foram controladas as seguintes estruturas:
- Sujeito explícito anteposto ao verbo - As crianças falaram. / Os homens, no
mar, lutava, contra a força inigualável da água.
- Sujeito explícito posposto ao verbo - Existem muitas pessoas doentes. / Existe
muitos mais sonhos para se realizar.
- Sujeito explícito anteposto ao verbo representado por pronome relativo - As
freiras e o padre que a tratavam como filha. / A futurista e a decadentista é que destaca
mais a sua poesia.
- Sujeito não-explícito - Não encontraram razão para isso. / [A coragem e a
determinação é que consagra os navegadores] (contexto anterior) e desperta o orgulho
português.
- Sujeito introduzido pelo pronome relativo que – Sabendo das fofocas que está
na mídia / As pessoas que não entendem nada
(ii) Distância entre o núcleo do SN e o verbo
O controle da distância entre o núcleo do SN e o verbo pretende verificar a
hipótese de que quanto maior a distância entre esses dois termos, maior a possibilidade
de cancelamento da regra de concordância verbal. Naro & Scherre (2003: 58) afirmam
que “os resultados associados aos sujeitos zeros, com zero distância favorecem mais
marcas.”
Vieira (2007: 88) destaca que, dentre os fatores controlados para investigar a
opção do falante em relação ao fenômeno da concordância verbal, a variável distância
entre o núcleo do SN sujeito e o verbo mostra que, quanto maior a distância entre esses
dois constituintes, maior o cancelamento da marca de concordância.
A distância entre o núcleo do sujeito e o verbo foi estabelecida de acordo com o
número de sílabas dos vocábulos existentes entre os dois termos. Desse modo
estabeleceram-se:
- Zero sílaba - Os mesmos erros que eles (0) cometeram / As dúvidas (0) faz parte
do crescimento humano.
- Uma sílaba - As pessoas se despedem / As pessoas não toma atitude.
- Duas sílabas - As pessoas não se respeitam / As atitudes ruins afeta mais que as
boas.
- Três ou quatro sílabas - Essas mortes, em geral, atrai pessoas / As bebidas
alcoólicas causam muitos acidentes de carros.
- Cinco ou seis sílabas - As pessoas de hoje em dia estão de um jeito / As pessoas
mais sensível que luta.
- Mais de seis sílabas - Lugares que na maioria das vezes lhe traziam lembranças
/ As pessoas de classe média alta, ainda fala do povo da favela.
(iii) Paralelismo - nível clausal
Com esta variável, procurou-se verificar se há “correlação entre o tipo de marca
existente no sujeito, o sintagma controlador da concordância e o tipo de marca
existente no verbo.” (SCHERRE & NARO, 1993: 4).
Partindo do princípio geral de que marcas levam a marcas e zeros levam a zeros,
pressupõe-se que marcas de plural no SN sujeito levem à presença de marca de plural
no SV. Os SNs formados por numeral foram também controlados com o objetivo de se
verificar se o traço semântico de pluralidade desses vocábulos influencia ou não na
concordância.
Quanto aos dados constituídos por sujeito posposto, assim como nos casos de
sujeito não-explícito, esta variável não foi aplicada, devido à impossibilidade de se
observar a influência do paralelismo nesses tipos de construção. Sendo assim,
controlaram-se os seguintes contextos:
- Vocábulo isolado no plural - Eles ajudam no trabalho / Se elas fosse pessoas da
favela.
- Marca de pl. no último elemento do SN suj. - Os amigos são um grupo unido /
As pessoas segue esse mesmo fluxo
- Ausência de marca de pl. no último elemento do SN suj. - Os antigo conhecem
o mal e a cura / O bem e o mal faz parte da vida.
- Marca de pl. no último elemento do SPrep inserido em um SN suj. - Diferentes
tipos de brincadeiras eram realizadas / Muitos modelos de carros podia ser vistos.
- Ausência de marca de plural no último elemento do SPrep inserido em um SN
sujeito - Esses meninos da favela são perigosos / Diferentes tipos de cultura contribue
para isso.
- Numeral no último elemento do SN sujeito - Os dois moram ali / As duas
estava lá na festa.
- Numeral no último elemento do SPrep inserido em um SN sujeito - Os pais dos
dois foram chamados / As notas de um estava tudo amassada.
- Núcleos coordenados - As freiras e o padre a tratavam como filha / Mãe e filha não se
entendia.
(iv) Paralelismo – nível discursivo e co-referencialidade do sujeito
Com essa variável, procurou-se controlar a influência da marca de um SV sobre
outro SV. Como ultrapassa o nível da oração e estabelece relação entre diferentes
orações, é conhecida por paralelismo formal no nível discursivo.
A variável remete ao fato de que paralelismo formal consiste na repetição de
formas no discurso. Scherre (1992: 43) apresenta a variável como bastante produtiva
para o estudo de diferentes fenômenos linguísticos variáveis e chega até mesmo a
considerá-la como uma possível “influência de caráter universal.” Vieira (1995: 54)
observa que o que parece ser claro na variável é a forma como ela atua (a repetição das
formas) mas não o que subjaz ao efeito paralelístico. Scherre (1992: 48-49) resume o
que considera como subjacente à influência do paralelismo:
a) a facilidade de processamento (lei do menor esforço);
b) o funcionamento da memória imediata (tendência de
repetição mecânica de formas semelhantes, concordância
formal superficial e auto-monitoração);
c) o processamento não-mecânico de formas gramaticais
semelhantes associado a uma das possíveis formas da mente
operar, criando harmonia discursiva e a coesão textual;
d) manifestação ou escolha de funções pragmático-discursivas
(coerência
textual,
mecanismos
coesivos,
ênfase,
estabelecimento de foreground e manutenção de “atitude”) e
fatores estilísticos.
Scherre (1992: 49) afirma, ainda, “não ter nenhuma forma objetiva de
apresentar argumentação em função de uma ou outra interpretação” e questiona se a
variável pode ser relacionada a um processamento superficial ou a uma função
cognitiva.
Os critérios estabelecidos por Scherre & Naro (1993: 8) para a definição de série
tinham por objetivo o estudo do fenômeno da concordância verbal na modalidade falada
da língua:
(1) a construção analisada deveria ter o sujeito com a mesma
referência que o sujeito da construção anterior
e
(2) não deveria estar separada da construção anterior por mais
de dez cláusulas e nem pelo discurso do interlocutor.
Já que se trata, nesta variável, de questões de natureza discursiva, optou-se por
considerar o paralelismo discursivo em conjunto com a referencialidade do sujeito, pois
esta se estabelece em diferentes planos oracionais. Para efeito de controle da variável
consideraram-se além das construções coordenadas, orações subordinadas, orações com
o mesmo referente e com referentes diferentes. A hipótese que a norteou foi a de que
SVs precedidos de SVs com marca de plural e mesmo referente tenderiam a ser mais
marcados.
A variável compõe-se dos seguintes fatores:
- Verbo isolado - Muitas pessoas vivem realmente a vida / Os amigos faz parte
dela.
- Primeiro verbo de uma série - Eles primeiro vão para a escola, depois brincam
e fazem judô / Eles brinca, se suja todo.
- Verbo precedido de outro verbo com marca de plural com o mesmo referente Eles trabalham e estudam / Depois do almoço eles deita e dorme.
- Verbo precedido de outro verbo sem marca de plural com o mesmo referente Eles olha e nem ligam./ Depois do almoço eles deita e dorme
- Verbo precedido de verbo com marca de plural com referente diferente - Meus
colegas chegaram e meus pais reclamaram com eles / Meus irmãos chegam e eles sai
fora.
- Verbo precedido de outro verbo sem marca de plural com referente diferente Meus pais nem liga mas os professores não gostam./ Minhas amigas liga e eles traz
rapidinho.
(v) Animacidade
Com o controle da animacidade do sujeito, pretendia-se observar a influência
semântica [+/- humano] e/ou [+/- animado], observadas em outros estudos. Procurou-se
verificar, também, a influência do traço [+/- concreto].
O controle da variável objetivou verificar a hipótese de que o traço [+ animado],
devido à possibilidade de a oração ser constituída por um sujeito agente, favorecesse a
presença da marca de plural no SV, já que a característica predominante dos verbos
(expressar uma ação) estaria sendo realizada.
- [+ animado] [+ humano] - As pessoas não respeitam mais nada. / As pessoas
não respeita o morto.
- [+ animado] [- humano] - Os animais merecem respeito. / Os gatos de lá passa
bem.
- [- animado] [+ concreto] - As escolas não preparam os alunos para o mercado
de trabalho. / Os carros faz a diferença no dia a dia.
- [- animado] [- concreto] - Os problemas que nos atormentam. / As
complicações causa medo e preocupação.
(vi) Saliência fônico-gráfica
O controle da saliência fônico-gráfica representa uma adaptação do princípio da
saliência fônica, introduzido na teoria linguística por Naro & Lemle em seu trabalho
com os mobralenses que consiste na observação de que
a perda das marcas de concordância, em sintagmas nominais e
verbais, se difunde na morfologia afetando primeiro e mais
frequentemente as formas nas quais as consequências da perda
são foneticamente menos notáveis, do ponto de vista ou do
ouvinte ou do falante ao monitorar seu próprio discurso (Lemle
& Naro, 1977:263).
O que para Scherre (1989:301) consiste em “estabelecer que as formas mais
salientes, e por isso mais perceptíveis, são mais prováveis de serem marcadas.”
Essa variável tem apresentado resultados relevantes em diferentes estudos da
concordância nominal e verbal (Cf. Lemle & Naro, 1977; Naro, 1981; Scherre, 1988;
Vieira, 1995; Almeida, 1997, entre outros). Admite-se que:
O fenômeno da saliência fônica ressalta a relação entre a fonética e a morfologia.
Guy (1981: 200), em seu estudo sobre a desnasalização em português, ao tratar da
concordância verbal relata que
o português popular brasileiro tem na desnasalização e nas
regras de concordância do sujeito com o verbo um outro grande
caso de entrelaçamento e interação de processos fonológicos e
morfossintáticos.
A desnasalização é fator importante para que se estabeleçam os níveis de
saliência fônica, uma vez que envolve formas verbais regulares em que a nasalidade é o
único traço distintivo entre as formas singular e plural, do tipo ele fala / eles falam.
Nesses casos, o processo de desnasalização parece atuar de maneira independente do
valor morfológico que a nasal possa veicular:
Teoricamente, então, a desnasalização deve afetar todas as
vogais nasais sob sua abrangência igualmente, sem considerar
sua origem morfológica. Em outras palavras, vogais nasais
átonas finais que representam o morfema de plural dos verbos
devem sofrer desnasalização na mesma medida que as palavras
homem e órfão, nas quais a nasalidade da sílaba final é um traço
que integra a raiz e que não tem nada a ver com pluralidade.
(Guy, 19881:221)
Considerando-se a importância da variável saliência fônica nos estudos sobre a
concordância na modalidade falada da língua, observando-se se, nos casos dos verbos
que apresentam maior diferenciação gráfica entre as formas de terceira pessoa do
singular e do plural, ocorre maior probabilidade de concordância. Sendo assim,
considerou-se o estudo de Naro (1981), sobre a modalidade falada da língua, em que ele
propôs dois níveis básicos para o controle da variável.
(1) Saliência fônica não-acentuada - pares em que os segmentos desinenciais que
estabelecem a oposição entre as formas sing. e pl. são pouco perceptíveis (dava /
davam);
(2) Saliência fônica acentuada - pares em que esses segmentos são perceptíveis
(deu / deram)
A seguir, apresentam-se os primeiros resultados da variável encontrados por
Naro (1981:76), em que foram analisados sujeitos plurais explícitos.
Classe
Exemplo
Freqüência
Probabilidade
1ª
Come/comem
110/755=15%
0,11
1b
Fala/falam
763/2540=30%
0,26
1c
Faz/fazem
99/273=36%
0,35
2ª
Dá/dão
604/927=65%
0,68
2b
Comeu/comeram
266/365=73%
0,78
2c
Disse/disseram; é/são
1160/1450=80%
Total
3002/6310=4%
0,85
Tabela 8 - Resultados de Naro (1981) sobre o efeito da saliência fônica
Neste trabalho, utilizou-se a classificação proposta por Naro (1981),
acrescentando-se, conforme apresentado por Vieira (1995), maior detalhamento dos
casos para melhor compreensão do comportamento de cada um deles, quando isolados.
Levando-se em conta que os dois trabalhos tinham como base dados da língua falada,
realizaram-se as alterações necessárias para que se pudesse adaptar os fatores da
Saliência Fônica aos dados da língua escrita. Desse modo, estabeleceram-se os fatores,
levando-se em conta a primeira das hipóteses - a força da acentuação, que postula que
“posições acentuadas são mais salientes do que posições não-acentuadas” (Naro,
1981:78), que aqui poderia ser traduzido por “força da saliência gráfica”.
NÍVEL 1 (oposição gráfica não-saliente)
- Acréscimo do símbolo de nasalidade (deve/devem) - Os jovens devem respeitar
os mais velhos. / As pessoas segue esse mesmo fluxo.
- Mudança na qualidade da vogal na forma plural; acréscimo do símbolo de
nasalidade (sai/saem) - As pessoas saem por aí. / Os mais fortes cai mas vão em frente.
- Acréscimo de segmento e possível mudança na realização da consoante final do
singular - formas verbais terminadas em /S/ e /R/ (faz/fazem; quer/querem) - As
crianças fazem a maior bagunça na aula. / Eles não quer nem ouvir falar nisso.
NÍVEL 2 (oposição gráfica saliente)
- Nasalização da vogal acentuada e acréscimo de semivogal (dá/dão; fará/farão)
-Os EUA farão novos ataques ao Iraque. / Os cara dá nó em pingo d’água.
- Nasalização da vogal acentuada, supressão da semivogal da forma singular e
acréscimo de uma semivogal na forma plural (vai/vão) - Os vestibulandos que vão fazer
provas para a federal. / Esses números não vai mudar a realidade.
- Manutenção da vogal acentuada, supressão da semivogal da forma singular e
acréscimo de segmentos (comeu/comeram; foi/foram; viu/viram) - Os gatinhos foram
encontrados no lixo. / Os meninos que vai pra praia sozinho.
- Mudança da vogal acentuada, supressão da semivogal da forma singular
acréscimo de segmentos (falou/falaram; vendeu/venderam) - Os proprietários falaram
em despejá-los. / Os camelôs vendeu tudo.
- Acréscimo de segmentos, mudança da tonicidade do vocábulo (disse/disseram;
quis/quiseram) - Alguns não quiseram ir. / muitos deles não quis ir.
- Acréscimo de segmentos, mudança da tonicidade do vocábulo, mudança da
vogal do radical da forma singular (fez/fizeram; teve/tiveram) - Os torcedores fizeram
apostas. / Os torcedores fez apostas.
- Manutenção da tonicidade do vocábulo, ausência de distinção entre raiz e
desinência, diferenciação fônica e gráfica total entre as formas singular e plural (é/são) Algumas pessoas são solidárias. / Alguns é mais complicado.
- Mudança da tonicidade do vocábulo, acréscimo de segmentos, diferenciação
fônica e gráfica entre as formas singular e plural quase completa – apenas um segmento
se mantém inalterado nas duas formas, no caso /v/: (veio/vieram) - Os atores vieram
para dar aulas de interpretação. / Os atores veio para dar aulas de interpretação.
CASO ESPECÍFICO
- Futuro do subjuntivo (falar/falarem) - Se todos falarem ao mesmo tempo. / Se
todos comprar, acaba logo.
Os casos em que a diferenciação entre as formas singular e plural, na escrita, só
ocorre através do acréscimo de um diacrítico (tem/têm, vem/vêm), foram descartados
porque em tais contextos não seria possível estabelecer se a não-realização da forma
verbal no plural é um caso de não-concordância ou de não domínio das normas de
acentuação gráfica.
ex: Eles não têm como cumprir o acordo./Ele não tem como cumprir o acordo.
(vii) Relação entre o número de sílabas das formas singular e plural
Nesse grupo, estabeleceram-se fatores que controlam a manutenção ou o
acréscimo de sílabas na formação do plural dos verbos. Acredita-se que o acréscimo de
sílabas na forma plural, à medida que aumenta a diferença entre as duas formas,
favorece a aplicação da marca de número no SV.
- Manutenção do número de sílabas (vai/vão; cresce/crescem) - As crianças
crescem muito rápido. / Os meninos que vai pra praia sozinho.
- Acréscimo de uma sílaba (faz/fazem; teve/tiveram) - Os pais não fazem nem
idéia. / Os camelô vendeu tudo.
- Acréscimo de duas sílabas (fez/fizeram; quis/quiseram) - Os políticos fizeram
muitas promessas. / Os políticos fez muitas promessas.
(viii) Relação entre a tonicidade das formas singular e plural
O estabelecimento desse grupo de fatores teve por princípio testar a hipótese de
que a manutenção da tonicidade entre as formas singular e plural desfavorece a
aplicação da marca de plural no SV, visto que diminui a diferença entre as duas formas,
segundo Naro (1981).
- Tônico - tônico (dá/dão) - Os animais dão bons exemplos. / Os cara dá nó em
pingo d’água.
- Oxítono - oxítono (está/estão) - Todos estão muito contente. / As coisas está
como antes.
- Paroxítono - paroxítono (come/comem) - Eles comem sem parar. / As pessoas
segue esse mesmo fluxo.
- Tônico - paroxítono (faz/fazem) - Eles não fazem questão de nada. / Esses
bichos não faz mal a ninguém.
- Oxítono - paroxítono (falou/falaram) - Os mais velhos falaram que não. / Os
camelôs vendeu tudo.
(ix) Modo/Tempo verbal
O controle do modo/tempo verbal deve-se, a princípio, às observações dos
primeiros dialectólogos (Cf. Teixeira, 1944:103; Amaral, 1976:72; Nascentes, 1953:96;
Marroquim, 1945:124), que apontavam o predomínio da não-concordância na língua
falada, embora nas formas do pretérito perfeito do indicativo ocorresse a concordância
de terceira pessoa do plural, ou, segundo Teixeira, (1944:102) “a uniformidade” fosse
“quebrada”.
Outro fator que levou ao controle dessa variável foi a hipótese de que os tempos
verbais que se apresentassem mais marcados morfologicamente favoreceriam a
concordância. A variável procura observar também o comportamento específico dos
verbos e a relação entre a saliência fônica/gráfica, os tempos verbais e o fenômeno da
concordância. Desse modo, testa-se a hipótese de que formas do pretérito perfeito e do
presente do indicativo dos chamados verbos irregulares tenderiam a reter a marca
formal de plural.
Os tempos verbais foram classificados conforme as gramáticas tradicionais. Para
um controle mais detalhado, separaram-se as construções com verbos em ocorrências
perifrásticas de futuro (verbo ir + infinitivo) e construções com verbos em tempos
compostos. Pelos motivos mencionados no item (vi), não se considerou o pretérito
perfeito composto do indicativo (Ele tem corrido contra o tempo/Eles têm corrido contra
o tempo).
- Presente do indicativo - As pessoas idosas vive à base de remédios.
- Pretérito perfeito do indicativo - Eles ficaram amigos.
- Pretérito imperfeito do indicativo - As cores mudavam constantemente.
- Pret. mais que perf. composto do indicativo - Eles tinham comprado tudo para
a festa.
- Futuro do presente do indicativo - Eles farão uma longa viagem.
- Fut. do pres. do indicativo em forma perifrástica - Os móveis vão chegar
amanhã.
- Futuro do presente composto do indicativo - Os documentos já terão sido
copiados.
- Presente do subjuntivo - Espero que eles sejam felizes.
- Pretérito perfeito do subjuntivo - Tomara que todos tenham feito o dever de
casa.
- Pretérito imperfeito do subjuntivo - Se todos comprassem o que ele vende.
- Pretérito mais que perfeito do subjuntivo - Se os voos tivessem saído nos
horários.
- Futuro do subjuntivo - Quando eles apresentarem o espetáculo.
- Futuro composto do subjuntivo - Quando eles tiverem apresentado o
espetáculo.
- Infinitivo flexionado - Eles pretenderem o perdão27.
- Pretérito perfeito do indicativo em forma perifrástico - Eles ficaram
conversando.
- Presente do indicativo em forma perifrástica - Eles estão brincando.
(x) Tipo de verbo - perspectiva morfossintática
O controle da variável inspirou-se nos fatores estabelecidos por Vieira (1995),
que tomou como base o trabalho de Graciosa (1991), que tinha por objetivo “verificar
se a carga semântico-funcional do verbo determina maior ou menor presença de
marcas formais de plural” Graciosa (1991:34).”
Outra hipótese seria a de que os verbos realizados como auxiliares, por terem os
traços semânticos neutralizados, apresentariam comportamento distinto dos nãoauxiliares, que, por não ocorrerem como instrumentos gramaticais, exerceriam menos
influência na concordância.
A codificação dos fatores apresentados por Graciosa, na prática, mostrou-se
subjetiva, dificultando a distinção entre os chamados “verbos nocionais” e os “verbos
em construção perifrástica com verbos nocionais”. Com a intenção de tornar a variável
mais objetiva, Vieira (1995:73) estabeleceu novos fatores, passando a utilizar uma
codificação que busca investigar a influência da estrutura morfossintática em que se
inserem os verbos - independentemente do valor semântico que eles possam veicular para o condicionamento da concordância verbal.
O verbo ir foi considerado um fator isolado por sua especificidade de funcionar
como auxiliar em construções perifrásticas de futuro.
Foram estabelecidos os seguintes fatores:
27
Na análise dos dados, consideraram-se os infinitivos flexionados, apesar de, dos quatro dados que
ocorrem no PE, apenas dois não serem de concordância facultativa: “As pessoas ao perceber o perigo
iminente” e “As pessoas ao receber o fundo de desemprego.”
- Auxiliares de orações ativas - Eles tinham comprado o material para a
pesquisa.
- Auxiliares de orações passivas - As coisas que são usadas para pescaria.
- Auxiliar estar + gerúndio - As pessoas não estão respeitando nada.
- Auxiliar ir + infinitivo - Eles vão viajar amanhã
- Verbos em construção perifrástica com verbos nocionais (mantendo até certa
medida a integridade semântica) - Os alunos começaram a dançar.
- Verbos plenos - Eles sempre compravam doces .
- Verbos modalizadores + infinitivo - Eles querem comprar doces.
(xi) Tipo de verbo - perspectiva sintática
O controle do verbo sob a perspectiva sintática inspirou-se no trabalho de Duarte
(2007), que questiona a classificação dos “termos da oração” em “essenciais”,
“integrantes” e “acessórios”, já que tal distribuição, além de misturar critérios
semânticos e sintáticos, cria dificuldades para a compreensão da estrutura da oração,
deixando crer, inclusive, que, nela, haveria um termo mais importante que outro.
Baseada nos critérios de classificação da predicação verbal sugeridos por Rocha
Lima ([1972] 1999), que considera que “o complemento forma com o verbo uma
expressão semântica, de tal sorte, que a sua supressão torna o predicado
incompreensível, por omisso ou incompleto”. Duarte (2007: 185-203) apresenta os
predicadores verbais, em estruturas com: (a) três argumentos: um externo e dois
internos: “Ele deu o dinheiro aos pobres”; (b) dois argumentos: um externo e um
interno:“Ele matou o pássaro”; (c) um argumento: externo ou interno: “As crianças
pulam ou “Houve muitas festas”; (d) sem argumentos: “Choveu”.
Duarte apresenta um quadro com o predicador verbal e seus argumentos,
segundo Rocha Lima.
Argumento Externo
Predicador Verbal
Argumentos Internos
Objeto direto
Objeto indireto
Sujeito
Verbo
Complemento relativo
Complemento circunstancial
Quadro 3 - O predicador verbal e seus argumentos, segundo Rocha Lima
Os verbos de ligação foram subdivididos em predicativos - verbos de ligação, em
geral - e de cópula - verbo ser. À classificação de Rocha Lima acrescentaram-se os
verbos inacusativos.
Os verbos intransitivos podem ser subdivididos em inergativos e ergativos ou
inacusativos. Os verbos inergativos selecionam um argumento externo, com papel
temático de agente, além disso, tais verbos não admitem construção em posição pósverbal, nem com particípio absoluto, como, por exemplo, os verbos nadar, correr, falir,
como em: O menino correu / correu o menino / corrido o menino ou Maria nadou /
nadou Maria / nadado Maria.
Os verbos inacusativos são aqueles que selecionam um único argumento na
posição de argumento interno, como um objeto direto, mas que não recebe caso
acusativo, por esse motivo recebem o nome de inacusativos. Nas construções com
verbos inacusativos a aparente não concordância pode ser explicada pelo fato de, nesses
casos, o argumento ser elevado à posição de sujeito, como, por exemplo, em: a porta
abriu; o leite derramou; a carta chegou/ chegou as cartas.
A classe dos inacusativos é formada por verbos que demonstram mudança de
estado sem a presença de um agente ou causa de mudança, tais como chegar, morrer,
quebrar, nascer. Os verbos inacusativos admitem construções em posição pós-verbal e
de particípio absoluto, como em: A luz apagou; apagou a luz; apagada a luz.
A variável procura estabelecer, de maneira empírica, se a predicação verbal, ou
seja, a relação entre o verbo e seu(s) argumento(s) seria capaz de influenciar a
concordância entre o verbo e o sujeito. A hipótese que sustenta o controle da variável é
a de que os verbos que selecionam apenas um argumento externo, como os intransitivos
e os que selecionam um argumento interno, como os inacusativos apresentariam menor
possibilidade de apresentar marca formal de plural, já os verbos que selecionam dois ou
mais argumentos, como os transitivos e o copulativo teriam mais chances de serem
marcados formalmente.
A variável, levando em conta o tipo de complemento que os verbos requerem, foi
constituída pelos seguintes fatores:
Verbo intransitivos - Eles chegaram cedo.
Verbos transitivos diretos - Os ladrões encontraram as luzes acesas.
Verbos transitivos indiretos - Todos obedeceram ao professor, sem discussão.
Verbos transitivos relativos - Eles dependem de nós.
Verbos transitivos circunstanciais - Elas foram para o Pão de Açúcar.
Verbos bitransitivos - Os vizinhos fizeram uma surpresa para Tico.
Verbo de ligação - Eles estavam otimistas.
Verbo copulativo - As pessoas são muito boas.
Verbo inacusativo - Existem muitos trabalhos sobre o assunto.
(xii) Tipo de oração
Dentre as variáveis apresentadas, esta tem por objetivo controlar os diferentes
tipos de oração que compõem o corpus, permitindo, desse modo, estabelecer que tipo de
construção favorece ou não a concordância entre o sujeito e o verbo. As orações foram
divididas em:
Oração isolada - Foram para o Pão de Açúcar.
Oração coordenada - Chegaram cansados e foram dormir.
Oração principal - Eles olhavam para a ave que não tinha casa.
Oração relativa - Eles olhavam para a ave que não tinha casa.
Oração completiva - Contou-me que os carros eram de brinquedo.
Oração adverbial - Ainda que vivessem mil anos não esqueceriam aquela
aventura.
7. ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo expõem-se os resultados do estudo dos diferentes corpora, cujos
dados, depois de codificados, foram submetidos ao pacote de programas GOLDVARB
X. Embora os resultados pareçam não configurar um caso típico de variação, tendo em
vista os baixos índices percentuais obtidos para o cancelamento, realizou-se a análise
em diferentes etapas, com o objetivo de testar as seguintes hipóteses: (1) de que as
escolas consideradas regulares apresentariam menor índice de marca de concordância
verbal, (2) os diferentes turnos de estudo de uma mesma escola apresentariam
comportamento diferente em relação à concordância e (3) de que os condicionadores da
variação da concordância verbal seriam os mesmos, tanto na variedade brasileira quanto
na europeia do Português.
7.1 No Português do Brasil
A amostra do PB, para a qual se considerou como variável dependente o
cancelamento da marca de plural, composta de 3650 dados, apresentou 142 contextos
sem a marca formal de plural no verbo, ou seja, (3.9%) do total de casos e 3505
estruturas que continham marca de concordância na forma plural (96.1%), conforme a
Tabela e o Gráfico a seguir.
Dados do PB
Ausência de marca
Presença de marca
Nº de dados
142/3650
3508/3650
Percentual
3.9%
96.1%
Tabela 9- Índices globais referentes à ausência/presença de marca
de 3ª pessoa do plural, no PB.
Concordância verbal
na modalidade escrita do PB
3,90%
96,10%
Ausência de marca
Presença de marca
Gráfico 1- Percentuais de cancelamento da marca de número no PB
Os resultados das rodadas preliminares, em que se consideraram todas as
variáveis, demonstraram a necessidade de não só amalgamar diversos fatores pelo fato
de haver inúmeros knockouts (100% de ocorrências) em favor da presença de marca,
mas também de desconsiderar determinadas variáveis, uma vez que algumas delas eram
descartadas de forma sistemática pelo programa.
Exemplificam a primeira observação os casos das variáveis saliência
fônico/gráfica e modo/tempo verbal. Os verbos com plural formado (a) pelo acréscimo
de segmentos e com mudança da tonicidade (tipo disse/disseram, quis/quiseram); (b)
acréscimo de segmentos com mudança da tonicidade e da vogal do radical da forma
singular (tipo fez/fizeram, teve/tiveram); (c) mudança da tonicidade com acréscimo de
segmentos e diferenciação fônica entre as formas singular e plural quase completa (só
um fonema se mantém inalterado nas duas formas (caso único: veio/vieram)
apresentaram, embora em número pequeno de dados, categoricamente a presença da
marca. No que toca à variável modo/tempo verbal, os verbos nas diferentes formas de
futuro, assim como no infinitivo flexionado, ocorreram com 100% da marca formal de
concordância.
Quanto
à
segunda
observação,
dentre
as
variáveis
sistematicamente
selecionadas, encontram-se tipo de escola, saliência fônico/gráfica, paralelismo clausal
e paralelismo discursivo e, dentre as sempre descartadas, relação entre a tonicidade das
formas singular e plural, traço de animacidade do sujeito e relação entre o número de
sílabas das formas singular e plural.
Para a rodada definitiva, levou-se, ainda, em conta a observação de variáveis
que, frente aos resultados obtidos nas rodadas não satisfatórias, pareciam estar se
superpondo, o que determinou a sua eliminação.
Assim, na análise definitiva do cancelamento da marca no PB, foram
consideradas, com os devidos amalgamentos/eliminação de fatores, as variáveis tipo de
escola, turno, nível de escolaridade, saliência fônico/gráfica, posição do sujeito,
paralelismo clausal, paralelismo discursivo, tipo de verbo e distância entre o núcleo do
sujeito e o verbo.
O cancelamento da marca apresentou input 0.022 e a rodada significância 0.002,
os mais significativos resultados encontrados. Foram selecionadas as variáveis tipo de
escola, saliência fônica, turno, posição do sujeito, paralelismo clausal e paralelismo
discursivo.
Antes da análise do PB, cabe observar o comportamento da variável social nível
de escolaridade, com resultados contrários ao esperado. A hipótese inicial era a de que
os alunos da oitava série, atual nono ano, favoreceriam o cancelamento da marca de
número e os alunos da terceira série do Ensino Médio a desfavoreceriam.
Os resultados, entretanto, mostram os alunos do Ensino Fundamental com
menores índices de não-concordância (3.6%), enquanto os alunos do Ensino Médio, a
princípio mais escolarizados e, consequentemente, detentores de maior número de
regras, com (4.0%). Embora, a diferença entre os níveis de escolaridade seja mínima,
menos de 0.5%, não se pode deixar de observar o fato de que os alunos do Ensino
Médio apresentaram maiores índices de não-concordância.
Variável
Escolaridade
9º ano E. F.
Ocorrência
Percentual
43/1155
3.6%
3ºano E. M.
99/2353
4.0%
Total
142/3650
3.9%
Tabela 10- Índices percentuais de cancelamento da marca
de número no PB, segundo a variável escolaridade
a- Tipo de escola
Os resultados, conforme se observa na Tabela 11, comprovam a primeira das
hipóteses testadas, a de que as escolas consideradas regulares apresentariam maiores
índices de cancelamento. Embora os resultados, no conjunto, indiquem, de forma quase
categórica, a presença de marca formal de plural na escrita dos alunos, é nas escolas
regulares que se obtêm os índices mais significativos de não concordância formal (7.6%
e p.r. 0.703).
Variável
Tipo de escola
Escola tradicional
Ocorrência
Percentual
Peso relativo
42/2290
1.8%
0.380
Escola regular
100/1218
7.6%
0.703
Total
142/3650
3.9%
Input: 0.022
Significância: 0.002
Tabela 11- Índices de cancelamento da marca de número no PB,
segundo a variável tipo de escola.
As escolas regulares estão localizadas em bairros do subúrbio ou em municípios
da Região Metropolitana, o que permite inferir que os resultados refletem as condições
sócio-econômicas dos alunos, assim como a influência da língua falada na escrita.
Entretanto, não se pode ignorar a influência da Escola, visto que o quadro de variação é
bastante discreto.
Silva (1997), em estudo sobre a variação da concordância verbal em redações do
Vestibular da UnB e que teve a concordância como valor de aplicação, observou, na
rodada “a dicotomia da escola pública versus escola particular na análise do sujeito
anteposto de um só núcleo singular que não expressa noção coletiva, partitiva ou
quantitativa”, que os alunos de escolas públicas mostraram maior tendência, com 33%
de ocorrências e p.r. 0.56, a usar a marca explícita de plural do que os alunos de escolas
particulares, com 23% de ocorrências e p.r. 0.41.
Já na análise que considerou a “localização da escola onde o candidato conclui
o 2º Grau (atual Ensino Médio) na análise de sujeito anteposto de um só núcleo
singular que não expressa noção coletiva, partitiva ou quantitativa”, os alunos que
concluíram o Ensino Médio nas Cidades Satélites apresentaram 45% e p.r. 0.83 de
concordância, não com o núcleo do sujeito, mas com o núcleo do SPrep que apresenta
marca de plural, seguindo a tendência natural do sistema linguístico vernacular, segundo
Labov (1975: 208).
Os resultados levaram-na às seguintes conclusões
(a)o ensino das escolas do Plano Piloto é, possivelmente, mais
eficiente que o das escolas das Cidades Satélites, no sentido de
conseguir descrever e legitimar o uso da variante padrão nos
casos em que a gramática só registra o uso da forma verbal
singular.
e
(b) também restrita aos casos em que só é previsto o uso do
verbo no singular, é justificar a diferença de classes sociais
através do domínio da variante de prestígio por parte daqueles
que são detentores de poder econômico e social. (Silva,
1997:100).
No presente estudo, os resultados da variável tipo de escola demonstram que,
apesar de os índices de não-concordância dos alunos das escolas regulares serem
maiores do que os das escolas tradicionais, a Escola, como instituição disseminadora da
norma padrão tem cumprido seu papel, visto que, as escolas regulares também
apresentam baixos índices de variação de concordância verbal.
b- Saliência gráfico/fônica
Os resultados, mais uma vez, comprovam os encontrados em outros estudos
sobre concordância. As formas verbais do Nível 1, ou seja, as que apresentaram
saliência não acentuada entre as formas singular e plural se mostraram mais propensas
ao cancelamento da marca de número, com 5.0% de ocorrências e p.r 0.587. Já as
formas do Nível 2, as de saliência acentuada entre as duas formas, retêm a marca de
número plural., com 1.8% e p.r. 0.342 de não-concordância.
Variável Saliência
Ocorrência
fônico/gráfica
Nível 1
119/2252
(saliência não-acentuada)
Nível 2
23/1256
(saliência acentuada)
Total
142/3650
Input: 0.022
Percentual
Peso relativo
5.0%
0.587
1.8%
0.342
3.9%
Significância: 0.002
Tabela 12- Índices de cancelamento da marca de número no PB, segundo
a variável saliência fônico/gráfica.
c- Turno
Os resultados mostraram-se coerentes com a hipótese testada, os alunos que
frequentam o curso noturno, conforme demonstrado na tabela a seguir, apresentaram
maior tendência ao cancelamento da marca de plural nos verbos, com 14% de
ocorrências e p.r. 0.728. Os resultados levaram à reflexão sobre os fatores sociais que
poderiam estar influenciando o comportamento da variável28.
Variável
Turno
diurno
Ocorrência
Percentual
Peso relativo
109/3318
3.2%
0.484
noturno
33/190
14.0%
0.728
Total
142/3650
3.9%
Input: 0.022
Significância: 0.002
Tabela 13- Índices de cancelamento da marca de número no PB, segundo
a variável turno.
Os dados do curso noturno foram recolhidos de textos produzidos por alunos de
escolas públicas consideradas regulares, localizadas em bairro da periferia e em bairros
de classe média, que atendem às pessoas que trabalham e/ou vivem nas comunidades
populares do entorno. Esses resultados, inclusive, motivaram o estudo de caso em que
se observa a variação da concordância verbal através do comportamento linguístico dos
alunos dos dois turnos de uma mesma escola pública regular.
d- Posição do sujeito
Amalgamaram-se os fatores sujeito anteposto e sujeito nulo. Desse modo, a
variável ficou constituída pelos fatores sujeito anteposto, sujeito introduzido pelo
pronome relativo que e sujeito posposto.
28
Variável Posição do sujeito
Ocorrência
Percentual
Peso Relativo
Sujeito anteposto
97/2990
3.1%
0.473
Sujeito posposto
13/186
6.5%
0.644
Suj. inserido pelo relativo que
32/332
8.8%
0.643
Conferir capítulo 6.
Total
142/650
3.9%
Input: 0.022
Significância: 0.002
Tabela 14- Índice de cancelamento da marca de número no PB, segundo a variável
posição do sujeito.
De acordo com a expectativa inicial, quando o sujeito está posposto ao verbo ou
é introduzido pelo relativo que, há maior probabilidade de cancelamento da marca de
número do verbo, (6.5%; p.r. 0.644 para os sujeitos pospostos e 8.8%, p.r. 0.643 para os
sujeitos introduzidos pelo pronome relativo que), como se pode observar em algumas
das ocorrências a eles referentes e a seguir elencadas:
“apareceu várias coisas novas.”
“sempre vai existir pessoas apaixonadas.”
“morre muitas pessoas trabalhadoras e humildes.”
“logo chegou algumas pessoas.”
“existe muitos casos de pedofilia.”
“sabendo das fofocas que está na mídia.”
“os seres humanos que se influencia.”
“todos os acontecimentos que pode transcorrer no mundo inteiro.”
O pronome relativo que mascara a relação entre o sujeito e o verbo, favorecendo
o cancelamento da marca de plural nas orações relativas quando o SN antecedente é
plural, ou seja, nas estruturas em que há elementos intervenientes entre o sujeito e o
verbo, a presença do que relativo propicia a não-concordância verbal.
Resultados semelhantes são encontrados por Varejão (2006) sobre a variação da
concordância verbal no PE, em que os sujeitos antepostos ao verbo apresentam 0.5% de
não-concordância e os sujeitos pospostos 4.4% de cancelamento da marca de plural.
O sujeito anteposto desfavorece o cancelamento da marca (4.2%; p.r. 0.483):
num total de 3501 dados, há apenas 148 ocorrências de não concordância, entre as quais
as exemplificadas a seguir:
“Os comerciantes aproveita que tem muita gente.”
“e [ø] começa a vender vários objetos.”
“as bebidas alcoólicas provoca muitos acidentes de carro.”
“A ordem SVO, predominante no PB, faz com que o falante tenha dificuldade
em reconhecer como sujeito o elemento que ocorre depois do verbo pois esta seria,
normalmente, a posição do complemento, que não tem relação de concordância com o
verbo. Do mesmo modo, o elemento que ocorre antes do verbo é identificado como
sujeito.
Posição do sujeito é uma das variáveis mais controladas em estudos
variacionistas e um dos condicionadores mais relevantes para a variação no âmbito da
concordância verbal. Os resultados desta pesquisa corroboram os de outros estudos que
descrevem a relevância da posição do SN sujeito em relação ao verbo na variação da
concordância verbal, como os de Naro & Scherre (1997), que afirmam que, no PB, a
concordância verbal é controlada pelo núcleo do sujeito simples, ou composto com um
dos núcleos no plural, à esquerda do verbo. Em outros casos, o controle passa a ficar por
conta de outros elementos do SN que estiverem à esquerda do verbo.
Silva (1997) também observa baixo índice de concordância nos sujeitos
pospostos em diferentes contextos, tais como sujeito simples singular, de noção
coletiva, partitiva, ou quantitativa, com freqüência de 56% de marca explícita de plural;
sujeito simples plural, seguido de SPrep, com 71%; sujeito simples plural não seguido
de SPrep, com 67%; sujeito composto singular ou com núcleo no singular, com 27% e
sujeito composto plural ou com o primeiro núcleo plural com 61% de marcas. Os
resultados permitiram-lhe afirmar que
Apesar de existir uma hierarquia dentro das duas categorias
maiores - simples e composto, esses resultados abrem espaço
para a análise de outras variáveis. Os fatores considerados até o
momento - previsão segundo os critérios gramaticais e,
principalmente, a marca de número no núcleo do sujeito - são
insuficientes para explicar aspectos como baixo índice de plural
nos verbos de construção com sujeitos compostos plurais.
Nestes casos, a expectativa era de mais marca de plural nos
verbos uma vez que cooperam para isso não apenas a marca de
plural do núcleo do sujeito, mas, também, a própria estrutura de
coordenação. (SILVA, 1997: 76).
e- Paralelismo discursivo
Variável
Paralelismo discursivo
Verbo isolado no plural
Ocorrência
Percentual
Peso Relativo
105/2256
4.4%
0.552
Verbo precedido de verbo
com marca de plural
Verbos precedido por verbo
sem marca de plural
Total
29/1186
2.4%
0.387
8/66
10.8%
0.702
142/3650
3.9%
Input: 0.022
Significância: 0.002
Tabela 15- Índices de cancelamento da marca de número no PB, segundo a variável
Paralelismo discursivo.
A variável mostrou-se bastante produtiva no que concerne à comprovação do
Princípio do Paralelismo Formal, ou seja, o princípio de que marcas levam a marcas e
zeros levam a zeros. O verbo antecedido por um verbo sem marca explícita de plural
apresentou a maior probabilidade de também ser colocado no singular, com 10.8% de
ocorrências e p.r.0.702. Seguindo o mesmo princípio, o verbo antecedido de outro com
marca explícita de plural apresentou tendência a ser colocado no plural, com 2.4% de
ocorrências e p.r 0.387.
O verbo isolado apresentou resultado intermediário (4.4% de ocorrências e p.r.
0.552), o que leva a crer que, nesse caso, o que controla o cancelamento da marca de
plural sejam outros fatores, como por exemplo, a posição do sujeito em relação ao verbo
e a distância entre o SN núcleo do sujeito e o verbo.
f- Paralelismo clausal
O paralelismo clausal procurou verificar a relação entre a presença de marca de
plural no último elemento do SN sujeito e o apagamento da marca de plural no verbo,
ou seja, testar o Princípio do Paralelismo Formal.
Inicialmente, a variável foi constituída de fatores que controlavam a presença e a
ausência de marca de plural no último elemento do SN sujeito inserido ou não em um
SPrep, assim como a presença ou não de numeral e os vocábulos isolados. No decorrer
da análise, os sete grupos de fatores foram reduzidos a três, conforme se observará na
Tabela 16.
Variável
Paralelismo clausal
Vocábulo isolado
Ocorrência
Percentual
Peso relativo
25/925
2.6%
0.426
Marca de pl. no último elemento do
SN sujeito.
Ausência de marca pl. no último
elemento do SN sujeito
Total
73/1661
4.2 %
0.513
12/155
7.1%
0.728
110/2886
3.9%
Input: 0.022
Significância: 0.002
Tabela 16- Índices de cancelamento da marca de número no PB, segundo a variável
paralelismo clausal.
Embora, com apenas 12 dados de SNs sujeito com ausência da marca de plural
no último constituinte, os resultados comprovam que esse fator acarreta a ausência de
marca de plural no verbo, com 7.1% de ocorrências e p.r. 0.728, em contextos como:
“As pessoas de classe média alta ainda fala do povo da favela”.
“Quase todos os guarda do pai de Thiago estava procurando o neto dele”.
“A parte de violência que os desenhos de hoje transmite.”
O fator presença de marca de plural no último elemento do SN sujeito, com 73
ocorrências num universo de 1661 dados, acarretou 4.2% de cancelamento, com p.r.
0.513, como em:
“Se as pessoas não tomar atitude.”
“Certos programas por serem divertidos frequentemente se torna tema de
conversa entre amigos.”
“As roupas que as atrizes estiver usando.”
“Todos os acontecimentos que pode transcorrer no mundo inteiro.”
“Sabendo das fofocas que está na mídia.”
“As pessoas que segue esse mesmo fluxo.”
“Esses caras não se manca?
“Essas dificuldades não quer dizer nada.”
“As pessoas mais sensível que luta.”
“As crianças que assiste a isso...”
“As habilidades ou ferramentas necessárias para que uma pessoa seja feliz,
muda de acordo com as etapas da vida”.
O fator vocábulos isolados inibe o cancelamento, como se verifica pelo p.r.
0.426, correspondente a 2.6% de ocorrências. Exemplificam esse caso, estruturas como
as elencadas abaixo:
“Muitos a tirar o sustento da própria vida.”
“Se elas fosse pessoas da favela.”
“Pessoas que não desiste.”
“Todos hoje em dia vive com medo.”
“Elas acredita em males que vem para o bem.”
Esses resultados confirmam o princípio de que “formas gramaticais particulares
ocorrem juntas” (SCHERRE 1998:42), assim como reiteram a conclusão de que esta
repetição de formas tem caráter mecânico, segundo trabalhos de cunho variacionista que
controlaram o paralelismo formal.
Apesar de um discreto percentual de apagamento da marca de terceira pessoa do
plural (3.9%) e, de este índice estar abaixo do que, segundo Labov, poderia ser
considerado variação, os resultados mostram que:
1- tanto os fatores estruturais, como os sociais são relevantes para o
condicionamento da variação da concordância verbal;
2- fatores, como ausência de marca de plural no último elemento do SN sujeito,
verbos precedidos de verbo no singular, sujeitos introduzidos pelo pronome relativo
que, verbos que não apresentam oposição acentuada entre as formas singular e plural
são favorecedores do cancelamento da marca de plural no verbo;
3- a Escola tem se mostrado, principalmente nos centros urbanos, como
disseminadora do ensino e uso da norma padrão;
4- trabalhos sobre a língua escrita, em áreas rurais, certamente, colaborariam
para que se tivesse noção do que ocorre fora dos grandes centros, assim como permitiria
a observação do papel da Escola, em relação aos resultados aqui expostos;
5- apesar da influência da Escola, a escrita se apresenta variável;
6- este trabalho corrobora os resultados encontrados pelos diversos estudos que
abordaram o fenômeno, ou seja, mostra a combinação de fatores sociais e linguísticos
para a compreensão e descrição da variação na concordância verbal.
7.2 No Português Europeu
A amostra do PE, composta por 1733 dados, apresentou apenas 25 ocorrências
(1.41%) sem marca explícita de plural, como se verifica na Tabela 22 e no Gráfico 2 a
seguir.
Dados do PE
Ausência de marca
Presença de marca
Nº de dados
25/1733
1708/1733
Percentual
1.4%
98.6%
Tabela 17- Índices globais referentes à ausência/presença de marca
de 3ª pessoa do plural no PE.
Concordância verbal
na modalidade escrita do PE
1,40%
98,60%
Ausência de marca
Presença de marca
Gráfico 2- Percentuais de cancelamento da marca de número no PE.
Pretendia-se dar ao PE o mesmo tratamento aplicado ao PB, ou seja, submeter os
dados ao pacote de programas GOLDVARB X para estabelecer os fatores que
favoreceriam o cancelamento da marca de número, o que se mostrou inviável diante dos
percentuais obtidos, que permitem afirmar que o padrão canônico de concordância
verbal é aplicado, quase categoricamente, na escrita de estudantes portugueses do 9º ano
do Terceiro Ciclo e 12º ano do Ensino Secundário.
Desse modo, optou-se por analisar as estruturas que apresentaram cancelamento
da marca de plural, de acordo com os fatores de natureza linguística pelos quais se
distribuíram, utilizando, ainda, os índices numéricos e percentuais fornecidos pelo
programa.
Antes, no entanto, apresentam-se os resultados referentes às variáveis
extralinguísticas série e tipo de escola.
a- Nível de escolaridade
Os alunos do décimo segundo ano apresentaram 2.2% de apagamento da marca
de plural, enquanto os do nono ano apresentaram 0.5% de não-concordância. Esse
resultado, conforme explicita a tabela 23, contraria a hipótese inicial de que os alunos de
maior o nível de escolarização apresentariam maior tendência a reter a marca.
Assim como no PB, esta variável apresentou resultados diversos do esperado.
No PB, os alunos do Ensino Fundamental apresentaram menor tendência ao
cancelamento da marca de plural (3.6%) do que os do Ensino Médio (4.0%). No PE,
obtiveram-se 0.5% para o 9º ano e 2.2% para o 12º ano, conforme demonstrado na
Tabela abaixo.
Variável
Série
Nono ano
Ocorrência
Percentual
4/775
0.5%
Décimo segundo ano
21/933
2.2%
Total
25/1733
1.4%
Tabela 18- Índices de cancelamento da marca de número no PE,
segundo a variável nível de escolaridade.
Os dados do nono ano apresentaram quatro casos de não concordância, todos em
estruturas de verbos inacusativos, como: “Existe muitas pessoas que não têm
escrúpulos”; “existe muitos mais sonhos para se realizar”; “existe muitos mais planos
para se alcançar”; “existe muitas pessoas que não têm sonhos”. Uma pesquisa nas
redações permite afirmar que os dados foram recolhidos da redação de um aluno de uma
escola tradicional.
b- Tipo de escola
As escolas, assim como no PB, foram agrupadas em tradicionais e regulares. As
consideradas tradicionais apresentaram 1.9% de não-concordância e as escolas
regulares, 1.1%. Embora a diferença não seja grande (0.8%), tais resultados levam à
reflexão sobre o fato de os alunos das escolas regulares, que, no PE, representam as
escolas da rede pública de ensino, contribuírem com resultados semelhantes aos das
escolas tradicionais que representam as escolas voltadas à elite lisboeta. Tais resultados
diferem daqueles esperados para a variável, que pressupunha maior tendência ao uso da
norma por parte dos alunos das escolas tradicionais em relação aos alunos das escolas
públicas.
Variável
Tipo de escola
Escola regular
Ocorrência
Percentual
12/1056
1.1%
Escola tradicional
13/1677
1.9%
25/1733
Total
1.4%
Tabela 19- Índices de cancelamento da marca de número no PE,
segundo a variável tipo de escola.
c- Posição do sujeito
Os índices percentuais confirmam que o sujeito posposto, ou seja, à direita do
verbo é favorecedor da não-marcação de plural no verbo. Naro e Scherre (1997)
observaram que a posição do verbo, aliada à distância do núcleo do SN sujeito,
influencia de maneira acentuada a presença de marca, mostrando que o sujeito quando
em posição pós-verbal é o que menos favorece a presença de marca. Tal fato é
explicado por Lapa (1984:224), pois
...vindo o sujeito antes, somos levados a realizar uma operação
de contagem, uma adição, pondo por isso o verbo no plural. No
caso inverso, a forma verbal tem de ser fixada antes de se
proceder à contagem e é naturalmente atraída pela forma do
primeiro elemento do sujeito. Que isto é assim, prova-o facto
de, ainda que o segundo elemento esteja no plural, o verbo
concordar com o mais próximo, como se vê por este exemplo
de Garret: “Hoje mesmo estará em minha casa o tabelião, as
testemunhas e os nossos parentes.” Esta antecipação, própria da
língua oral, impôs-se depois á linguagem escrita.”
Variável Posição do sujeito
Fator (nº de
ocorrências/percentual)
Contextos
1- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
Sujeito anteposto
(17/884 - 1.9%)
29
2- Fazendo com que estas ganhe vida.
3- Os feitos dos portugueses narrados em Os Lusíadas exemplifica
o que acabo de defender.
4- Os homens, no mar, lutava contra a força inigualável das
águas.
5- As suas emoções jamais passou da esfera da inteligência.
6- Os estudos faz parte do caminho para o sucesso.
7- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório29.
Os nomes de lugar, e também os títulos de obras, que têm forma de plural são tratados como singular,
se não vierem acompanhados de artigo Alegrias de Nossa Senhora tem sua história. Quando esses nomes
são precedidos de artigo, o verbo assume normalmente a forma plural As memórias póstumas de Brás
Cubas lhe davam outra dimensão.(CUNHA & CINTRA, 2001:504-505).
8- Os sofrimentos dos navegantes, vividos nas grandes viagens,
demonstra a grandiosidade da coisa.
9- As dúvidas faz parte do crescimento humano.
10- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
11- Os navegadores, no mar, enfrentava o desconhecido.
12- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai e a do filho.
13- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos portugueses.
14- Os Lusíadas representa o povo português.
15- Dois exemplos desta segunda fase é a ode triunfal e a ode
marítima.
16- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
17- Faz com que as navegações cumpra o seu destino.
Sujeito posposto
1- Na terceira fase se encontra várias críticas.
2- Existe muitas pessoas sem escrúpulos.
3- Existe muitos mais planos para se alcançar.
(6/76 - 7.9%)
4- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
5- Existe muito mais sonhos para se realizar
6- No texto se encontra muitas alusões ao passado.
Sujeito nulo
(2/485 – 0.4%)
1- [A futurista e (...) suas obras] e o revela como futurista.]
2- [A coragem e (...) os navegadores] e desperta o orgulho
português.
Total: 25/1733 (1.4%)
Tabela 20- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a
variável posição do sujeito.
Os resultados de Monguilhott (2009) mostram que, no PE30, o sujeito posposto
ao verbo concorre para a não aplicação de marca de número, em 59% de estruturas
verbais pospostas ao sujeito com marca explícita de número versus 92% de estruturas
verbais antepostas ao sujeito.
Varejão (2006), em seu trabalho sobre o PE falado não standard, encontra uma
situação de hierarquia na atuação da variável posição do sujeito, que partindo de uma
posição mais favorável para a menos favorável em relação à ausência de marcas, fica
assim distribuída: posição pós-verbal, a mais favorável, seguida das posições sujeito
expresso à esquerda do verbo, sujeito plural retomado por pronome relativo, sujeito
expresso à esquerda distante e sujeito nulo com antecedente próximo ou distante, a
menos favorável, conforme exemplificado na Tabela a seguir.
30
No trabalho de Monguilhott, o valor de aplicação é concordância.
Posição do sujeito
Ocorrências e percentuais
Pós-verbal
115 (52%)
Expresso à esquerda próximo
43 (19%)
Sujeito plural retomado por relativo
33 (15%)
Expresso à esquerda distante
17 (8%)
Nulo com antecedente próximo ou distante
15 (6%)
Total 223 (100%)
Tabela 21- A hierarquia do sujeito e a ausência de marcas de concordância
verbal no PE popular, no trabalho de Varejão (2006).
Naro e Scherre (2007), no capítulo 4, reconstituem os efeitos percentuais da
variável posição para o fenômeno concordância verbal, com base nos resultados de
Varejão (2006) e comprovam que, no PE falado popular, o índice de concordância é de
95% (1918/2011) quando o sujeito está anteposto ao verbo. Quando posposto ao verbo,
ocorre uma diminuição acentuada na marca de plural no verbo, 66% (93/345).
Os índices percentuais deste estudo corroboram os resultados citados, visto que,
levando em conta uma hierarquia para o favorecimento do cancelamento da marca de
número, é possível afirmar que o resultado do sujeito posposto foi o mais significativo:
7.9% em 76 ocorrências, seguido do sujeito anteposto com 1.9% em 17 ocorrências. O
sujeito nulo apresentou 0.4% em 485 dados. Já o sujeito introduzido pelo pronome
relativo que favoreceu em 100% a presença de marca formal no verbo, em 288 dados, o
que contraria, não só a hipótese inicial, assim como os resultados de diversas outras
análises do fenômeno.
d- Distância entre o núcleo do sujeito e o verbo
O controle da variável distância entre o núcleo do SN e o verbo teve por objetivo
observar se o verbo mais distante do SN sujeito apresentaria comportamento mais
favorável ao cancelamento da marca de plural do que os mais próximos. Os resultados,
conforme a apresentado na Tabela abaixo, mostram as construções com o verbo
separado do sujeito por duas sílabas como as mais favoráveis ao cancelamento da marca
de número, com 5.0%, em 5 de 101 dados, seguido do verbo separado do sujeito por
três ou quatro sílabas, com 3.9%, em 4 de 102 dados. O verbo imediatamente após o
sujeito constituiu o fator menos favorável ao cancelamento, com 1.3% de frequência,
em 8 de 625 dados.
Esses resultados podem ser explicados pelo fato de os dados serem formados por
estruturas semelhantes, nos dois casos. O verbo distante do núcleo do sujeito por mais
de seis sílabas, fator que, acreditava-se, proporcionaria maior probabilidade de
cancelamento da marca de número, apresentou 2.3% de apagamento, em 3 de 128
dados.
Variável Distância entre o núcleo do SN sujeito e o verbo
Fator(nº de ocorrência / percentual)
Contextos
Verbo imediatamente após o sujeito
(8/625 - 1.3%)
1- Fazendo com que estas ganhe vida.
2- As dúvidas faz parte do crescimento humano.
3- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
4- Faz com que as navegações cumpra o seu destino.
5- Os estudos faz parte do caminho para o
sucesso.
6- Os Lusíadas mostra-nos os grandes feitos
portugueses.
7- Os Lusíadas representa o povo português.
8- No texto se encontra várias alusões ao passado.
Verbo separado do sujeito por 1 sílaba
(3/237 – 1.3%)
1- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
2- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
3- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório.
Verbo separado do sujeito por 2 sílabas
(5/101 - 5.0%)
Verbo separado do sujeito por 3 ou 4
sílabas
(4/102 - 3.9%)
Verbo separado do sujeito por 6 ou mais
sílabas
(3/128 - 2.3%)
1- As suas emoções jamais passou da esfera da
inteligência.
2- Os navegadores, no mar, enfrentava o
desconhecido.
3- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável das águas.
4- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
5- Existe muitas pessoas que não tem escrúpulos.
1- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai e a
prisão do filho.
2- Existe muitos mais planos para se alcançar.
3- Existe muitos mais sonhos para se realizar.
4- Na 3ª fase se encontra diversas críticas.
1- Os feitos dos portugueses [narrados em Os
Lusíadas] exemplifica o que acabo de defender.
2- Dois exemplos desta segunda fase é a ode triunfal a
ode marítima.
3- Os sofrimentos dos navegantes, [vividos nas
grandes viagens], demonstra a grandiosidade da coisa
Total: 23/1246 (1.8%)
Tabela 22- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a variável
distância entre o núcleo do sujeito e o verbo.
Leite (2004) controla a ausência da marca de número em função da posição e
distância31. Seus resultados mostram o sujeito posposto ao verbo como um dos fatores
que mais favorecem a não-concordância verbal.
Embora neste estudo as variáveis posição e distância do sujeito tenham sido
controladas separadamente, os resultados mostram que a posição pós-verbal do sujeito,
assim como a distância entre o sujeito e o verbo, no caso, o sujeito separado do verbo
por duas sílabas são favorecedores do cancelamento da marca de número no verbo.
31
Conferir capítulo 2.
e- Paralelismo clausal
Esperava-se que o apagamento da marca de plural fosse influenciado pela
ausência de marca de plural no SN sujeito, assim como, a presença de marca de plural
no SN sujeito a inibisse.
Variável Paralelismo clausal
Fator
(nº de ocorrências/percentual)
Contextos
1- Faz com que as navegações cumpra o seu
destino.
2- Os navegadores, no mar, enfrentava o
desconhecido.
3- As suas emoções jamais passou da esfera da
Marca de pl. no último elemento do inteligência.
SN sujeito
4- As pessoas ao receber o fundo de
(13/815 - 1.6%)
desemprego.
5- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
6- Os Lusíadas só vende mais porque é
obrigatório.
7- Os estudos faz parte do caminho para o
sucesso.
8- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos
portugueses.
9- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai
e a do filho.
10- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável das águas.
11- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
12- As dúvidas faz parte do crescimento
humano.
13- Os Lusíadas representa o povo português.
Ausência de marca pl. no último 1- Dois exemplos dessa 2ª fase é a ode triunfal
elemento do SN inserido em SPrep e a ode marítima.
(1/5 - 20.0%)
Vocábulo isolado no plural
(1/194 - 0.5%)
1- Fazendo com que estas ganhe vida.
Marca de pl. no último elemento do 1- Os sofrimentos dos navegantes, vividos nas
SN inserido em um SPrep
grandes viagens, demonstra a grandiosidade da
(2/32 - 6.2%)
coisa.
2- Os feitos dos portugueses narrados em Os
Lusíadas exemplifica o que acabo de defender
Total: 17/1151 (1.4%)
Tabela 23- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo
a variável paralelismo clausal.
Apesar de representado por apenas uma ocorrência, o fator ausência de marca de
plural no último elemento do SN sujeito não inserido em um SPrep, manteve-se como
favorecedor do apagamento da marca de número no verbo com 20.0% de freqüência
(uma em 5 ocorrências).
O fator marca de plural no último elemento do SN sujeito inserido em um SPrep,
com 6.2% de frequência (2/32 ocorrências), foi o segundo fator favorecedor do
cancelamento da marca de plural no verbo. Os vocábulos isolados figuraram como os
maiores desfavorecedores do cancelamento da marca de número, com 0.5% de
ocorrência em 194 dados.
f- Paralelismo discursivo
O controle do paralelismo discursivo, assim como do paralelismo clausal, teve
por objetivo observar o Princípio do Paralelismo Formal, ou seja, verificar se a
presença de marcas leva a marcas e a presença de zeros leva a zero. Tais variáveis já
foram testadas em diversos estudos das concordâncias verbal e nominal, e se mostraram
relevantes para a compreensão do fenômeno.
Fator
(nº de ocorrências/percentual)
Verbo precedido de verbo no pl,
com o mesmo referente.
(3/633 - 0.5%)
Variável Paralelismo discursivo
Contextos
1- Os feitos dos portugueses narrados em Os Lusíadas
exemplifica o que acabo de defender.
2- Os sofrimentos dos navegantes, vividos nas grandes viagens,
demonstra a grandiosidade da coisa.
3- [A coragem e a determinação é que consagram os
navegadores] e desperta o orgulho português.
1- Os navegadores, no mar, enfrentava o desconhecido.
2- Na 3ª fase se encontra várias críticas.
3- As suas emoções jamais passou da esfera da inteligência.
4- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
5- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
6- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório.
7- Os estudos faz parte do caminho para o sucesso.
Verbo isolado
8- Existe muitos mais planos para se alcançar.
(21/762 - 2.8%)
9- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
10- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai e a prisão do
filho também.32
11- Os homens, no mar, lutava contra a força inigualável das
águas.
12- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
13- Tais dúvidas faz parte do crescimento humano.
14- Existe pessoas que não têm escrúpulos.
15- Existe muitos mais sonhos para se realizar.
16- Fazendo com que estas ganhe vida.
17- Dois exemplos desta segunda fase é a ode triunfal e também
a ode marítima.
18- Faz com que as navegações cumpra o seu destino.
19- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos portugueses.
20- Os Lusíadas representa o povo português.
21- No texto se encontra muitas alusões ao passado.
Verbo precedido de verbo no sing. 1- [A futurista e a decadentista e sensacionalista é que destaca
com o mesmo referente
mais a importância de sua obra] e o revela como futurista.
(1/3 - 33.3%)
Total: 25/1733 (1.4%)
Tabela 24- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a variável
paralelismo discursivo.
O verbo precedido de verbo sem marca de plural com o mesmo referente foi o
que apresentou maior tendência ao cancelamento da marca de número, com 33.3% de
ocorrências em 1 de 3 casos; o verbo isolado apresentou 2.8% de não-concordância em
21 de 762 dados e os verbos precedidos de verbo com marca de plural com o mesmo
referente mostrou-se inibidor do apagamento, com 0.3% de não-concordância em
633casos. Mais uma vez, o Princípio do paralelismo formal, de que marcas levam a
marcas e zeros levam a zeros, já que as formas se repetiram, ou seja, verbo sem marca
de plural remeteu a verbo sem marca de plural e os que apresentaram marca foram
seguidos de verbos com marca.
32
De acordo com a gramática tradicional, em alguns casos, o verbo ser concorda com o predicativo: 1)
oração iniciada pelos pronome interrogativos que e quem; 2) quando o sujeito é um dos pron. isto, isso,
aquilo, tudo ou o; 3) quando o sujeito é uma expressão de sentido coletivo: o resto, o mais; 4) nas
orações impessoais.
g- Animacidade do sujeito
O controle da animacidade do sujeito procurou verificar se os chamados sujeitos
fracos, ou seja, aqueles que detivessem traços [- animado - concreto] apresentariam
maior tendência ao apagamento da marca de número.
Monguilhott controla os traços [+/-humano] do sujeito e seus resultados
confirmam a hipótese de que o SN sujeito com traço [+ humano] reteria a concordância
verbal (96% de frequência) e o SN sujeito com traço [- humano] apresentaria maior
probabilidade de apagamento da marca de número (71% de frequência).
Esses resultados confirmam os encontrados por Scherre e Naro (2007) sobre a
influência do traço [+humano] sobre a concordância verbal no PB escrito, em que
discutem as condições que (a) determinam a retenção do controle da concordância de
número no núcleo do sujeito e (b) permitem o deslocamento deste controle para o
núcleo do SPrep, especialmente no PB escrito monitorado.
Scherre & Naro chegam à conclusão de que, em casos de sujeito de estrutura
complexa, o que determina a retenção da concordância pelo núcleo do sujeito é o traço
[+humano] e o que permite o deslocamento do controle pelo núcleo do SPrep é a
ausência de traços mais altos na hierarquia do sujeito forte.33
Fator
(número de
ocorrências/percentual)
[+animado + humano]
(6/936 - 0.6%)
Variável Animacidade do sujeito
Contextos
1- Os navegadores, no mar, enfrentava o desconhecido.
2- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
3- Existe muitas pessoas que não têm escrúpulos.
4- Os homens, no mar, lutava contra a força.
inigualável das águas.
5- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
6- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
1- Os Lusíadas representa o povo português.
33
Traços mais altos [+ próprio + animado]
[-animado + concreto]
(4/186 - 2.2%)
[-animado - concreto]
(15/595 - 2.5%)
2- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
3- Os Lusíadas só vende mais por que é obrigatório.
4- Os Lusíadas mostra-nos os feitos portugueses.
1- Os feitos dos portugueses, narrados em Os Lusíadas
exemplifica o que acabo de defender.
2- [Em toda sua obra se destacam três fases] fazendo
com que estas ganhe vida.
3- As suas emoções jamais passou da esfera da
inteligência.
4- Existe muitos mais planos para se alcançar.
5- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai e a
prisão do filho também.
6- Os sofrimentos dos navegantes, vividos nas grandes
viagens, demonstra a grandiosidade da coisa.
7- [A coragem (...) os navegadores] e desperta o
orgulho português.
8- As suas emoções jamais passou da esfera da
inteligência.
9- Faz com que as navegações cumpra seu destino.
10- Na 3ª fase se encontra várias críticas.
11- Os estudos faz parte do caminho para o sucesso.
12- Tais dúvidas faz parte do crescimento humano.
13- No texto se encontra muitas alusões ao passado.
14- Existe muitos sonhos para se realizar.
15- [A futurista e a decadentista e sensacionalista é que
destaca mais a importância de sua obra] e o revela
como futurista.
Total: 25/2733 (1.4%)
Tabela 25- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo
a variável animacidade do sujeito.
Os SNs com traço [- animado] [- concreto] apresentaram maior tendência ao
cancelamento da marca de plural com 2.7% de frequência, em 14 de 593 ocorrências, Já
os SNs com traço [+ animado] [+ concreto] apresentaram os mais baixos índices de
cancelamento da marca de plural, com 0.7% de frequência em 6 de 937 dados. Tais
resultados confirmam a hipótese inicial sobre a relevância do traço semântico do sujeito,
visto que os SNs com traço de animacidade menor favoreceram o cancelamento da
marca, enquanto os SNs com traço de animacidade mais acentuado o desfavoreceram.
h- Saliência fônico/gráfica
No que toca à variável saliência fônico/gráfica, as formas verbais com oposição
mais acentuada entre as formas singular e plural apresentaram 100% de concordância,
restando apenas as formas não-acentuadas e as que mantêm a tonicidade do vocábulo,
ausência de distinção entre raiz e desinência, diferenciação fônica total entre as formas
sing. e pl. (é/são) e as formas de futuro do subjuntivo ou infinitivo flexionado
(falar/falarem, comer/comerem, dormir/dormirem).
Variável Saliência fônico/gráfica
Fator
(nº. de ocorrências/percentual)
Contextos
NÍVEL 1
(a) Mudança na qualidade da vogal na forma pl.;
acréscimo do símbolo de nasalidade (na fala,
acréscimo de semivogal) (fala/falam)
(12/662 - 1.8%)
(b) Acréscimo do símbolo de nasalidade
(na fala, sem mudança da qualidade da vogal)
(come/comem; sai/saem)
(6/310 - 1.9%)
1- (...) Os Lusíadas exemplifica o que acabo
de defender.
2- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável da água.
3- Na 3ª fase se encontra várias críticas.
4- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos
portugueses.
5- Os navegadores, no mar, enfrentava o
desconhecido.
6- No texto se encontra várias alusões ao
passado.
7- Os Lusíadas representa o povo português.
8- Mesmo que seja em cem ou duzentas
parcelas.
9- Os sofrimentos dos navegantes, vividos
nas
grandes
viagens,
demonstra a
grandiosidade da coisa.
10- Faz com que as navegações cumpra o seu
destino.
11- Os Lusíadas mostra-nos que devemos
agir.
12- Devem ler nem que seja duas ou três
páginas.
1- Fazendo com estas ganhe vida.
2- Existe muitos mais planos para se alcançar.
3- Existe muitas pessoas que não têm
escrúpulos.
4- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
5- Existe muitos mais sonhos para se realizar.
6- Os Lusíadas só vende mais por que é
obrigatório.
(c) Acréscimo de segmento e possível mudança na
realização da consoante final do sing. – formas verbais
terminadas em /S/ e /R/ (faz/fazem; quer/querem)
(6/204 - 2.9%)
1- As crianças ao perceber o perigo iminente.
2- As pessoas ao receber o fundo de
desemprego
3- Os estudos faz parte do caminho para o
sucesso.
4- As dúvidas faz parte do crescimento
humano.
NÍVEL 2
(d) Mudança da vogal acentuada, supressão da 1- As suas emoções jamais passou da esfera
semivogal da forma sing. acréscimo de segmentos da inteligência.
(falou/falaram; vendeu/venderam)
(1/67 - 1.9% )
(e) Manutenção da tonicidade do vocábulo, ausência de
distinção entre raiz e desinência, diferenciação fônica e
gráfica total entre as formas singular e plural
(é/são) (2/222 - 0.9%)
1- Dois exemplos desta 2ª fase é a ode
triunfal e também a ode marítima.
2- Duas situações lamentáveis é a prisão do
pai e a do filho.
Total: 25/1733 (1.4%)
Tabela 26- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a variável
saliência fônico/gráfica
Os resultados corroboram os encontrados por VAREJÃO (2006) e SCHERRE &
NARO (2007), assim como a hipótese inicial deste trabalho de que as formas com
saliência menos acentuada favoreceriam o apagamento da marca de plural no verbo e as
formas com saliência mais acentuada o inibiriam.
Os resultados de Monguilhott contrariam os resultados deste trabalho, assim
como os anteriormente citados, com a oposição menos marcada favorecendo a
concordância e a oposição mais marcada desfavorecendo-a, com 93% de marcas de
plural no Nível 1 e 90% no Nível 2. A autora acredita
que a diminuição da marcação de plural na categoria c do Nível
2 se deva ao considerável nº de verbos de cópula (é/são) que
(...) apresentaram desfavorecimento da marcação da
concordância nestes verbos.(Monguilhott, 2009:151)
i- Relação entre o nº de sílabas das formas singular e plural do verbo.
A variável relação entre o número de sílabas das formas singular e plural do
verbo se mostrou relevante na variação da concordância. A expectativa inicial de que os
verbos que mantêm o mesmo número de sílabas nas formas singular e plural são mais
propensos à não-concordância e aqueles com acréscimo seriam menos propensos ao
apagamento da marca, é confirmada, visto que, em ambos os casos, os índices
percentuais são bem próximos, 1.6% em 20de 1284 e 1.2% em 5 de 425 ocorrências
respectivamente. A variável não se mostrou significativa no trabalho de Monguilhott
(2009), nem no de Varejão (2006).
Variável Relação entre o nº de sílabas no sing. e no pl.
Fator nº de
Contextos
ocorrências/Percentual
1- (...) Os Lusíadas exemplifica o que acabo de
defender.
2- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável da água.
3- Na 3ª fase se encontra várias críticas.
4- Os navegadores, no mar, enfrentava o
Mesmo nº de sílabas
desconhecido.
(20/1284 - 1.6%)
5- No texto se encontra várias alusões ao passado.
6- Fazendo com estas ganhe vida.
7- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos portugueses.
8- Existe muitos mais sonhos para se realizar.
9- Existe muitas pessoas que não têm escrúpulos.
10- s Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
11- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório.
12 Existe mais planos para se alcançar.
13- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
14- Faz com que as navegações cumpra o seu destino.
15- Os sofrimentos dos navegadores, vividos nas
grandes navegações, demonstra a grandeza da coisa.
16- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai e
também a prisão do filho
17- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável das águas
18- Dois exemplos desta 2ª fase é a ode triunfal e
também a ode marítima.
19- Os Lusíadas representa o povo português.
20- (...) e o revela como futurista
1- As suas emoções jamais passou da esfera da
inteligência.
Acréscimo de uma sílaba
(5/425 - 1.2%)
2- Os estudos faz parte do caminho para o sucesso.
3- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
4- As dúvidas faz parte do crescimento humano
5- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
Total: 25/1733 (1.4%)
Tabela 27- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo
a variável relação entre o número de sílabas das formas singular /plural.
j- Relação entre a tonicidade das formas singular e plural do verbo
Os verbos que se mantiveram oxítonos na forma plural, assim como os que
passaram de tônicos para paroxítonos apresentaram 100% de marca de plural. Já os
verbos que passaram de oxítono a paroxítono apresentaram 1.5% em 5 de 327 dados. Os
verbos que mantiveram no plural a forma paroxítona apresentaram 1.9% em 18
contextos sem marcação de plural e as formas monossílabas tônicas apresentaram 0.7%.
em 2 de 277 dados. Esses resultados corroboram os já encontrados na variável saliência
fônico/gráfica que apontam formas tipo toma/tomam como favorecedoras da nãoconcordância.
Variável Tonicidade das formas singular e plural
Fator
Nº de ocorrências/Percentual
Formas tônicas/tônicas
(2/277 - 0.7%)
Formas oxítonas/paroxítonas
(5/327 - 1.5%)
Contextos
1- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai e
também a prisão do filho.
2- Dois exemplos desta 2ª fase é a ode triunfal e
também a ode marítima.
1- As suas emoções jamais passou da inteligência.
2- Os estudos faz parte do caminho para o sucesso.
3- As dúvidas faz parte do crescimento humano.
4- As pessoas ao receber o fundo desemprego.
5- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
1-(...) Os Lusíadas exemplifica o que acabo de
defender
2- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável da água
3- Na 3ª fase se encontra várias críticas.
4- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
5- Os navegadores, no mar, enfrentava o
desconhecido.
6- No texto se encontra várias alusões ao passado.
7- E o revela como futurista.
8- Existe muitos mais sonhos para se realizar.
Formas paroxítonas/paroxítonas 9- E desperta o orgulho português.
(24/974 - 2.5%)
10- Existe muitas pessoas que não têm escrúpulos.
11- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos portugueses.
12- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório.
13-Existe muitos mais planos para se alcançar.
14- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
15- Os Lusíadas representa o povo português
16- Os sofrimentos dos navegadores, vividos nas
grandes navegações, demonstra a grandeza da coisa.
17- Fazendo com estas ganhe vida.
18- Faz com que as navegações cumpra a seu destino.
Total: 25/1733 (1.4%)
Tabela 28- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo
a variável relação entre a tonicidade das formas singular/ plural.
k- Modo/Tempo verbal
O controle dos modos/tempos verbais ficou restrito aos tempos de presente do
indicativo e subjuntivo, pretérito imperfeito do indicativo e o infinitivo flexionado visto
que o futuro e demais tempos do pretérito apresentaram 100% de concordância. Os
verbos no presente do subjuntivo apresentaram 6.7% de não-concordância, em 4/60
dados, seguidos dos verbos no presente do indicativo, com 2.1%, em 22/1057 dados.
Esses resultados corroboram os da variável saliência fônico/gráfica que mostram os
verbos do Nível 2 (a maioria de tempos pretérito e futuro) como os menos
favorecedores da não-concordância.
Variável Modo/Tempo verbal
Fator/
Ocorrência/Percentual
Contextos
1- Os feitos dos portugueses narrados em Os Lusíadas
exemplifica o que acabo de defender.
2- Na terceira fase se encontra várias críticas.
3- Dois exemplos desta segunda fase é a ode triunfal e a
ode marítima.
4- [O progresso, a modernização são estes temas que
expõem seus sentimentos] e desperta o orgulho
Presente do indicativo
(18/1054 - 1.7%)
Pret. Perf. Indicativo
(1/237- 0.4%)
Pret. Imp. Ind.
(2/146 - 1.4%)
Inf. Flex.
(2/108 - 3.6%)
português.
5- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório.
6- Os estudos faz parte do caminho para o sucesso.
7- Existe muitos mais planos para se alcançar.
8- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
9- No texto se encontra diversas alusões ao passado.
10- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai e
também a prisão do filho.
11- Os Lusíadas representa o povo português.
12- A dúvida faz parte do crescimento humano.
13- E o revela como futurista.
14- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
15- Os sofrimentos dos navegantes, vividos nas grandes
viagens, demonstra a grandiosidade da coisa.
16- E desperta o orgulho português.
17- Existe mais planos para se alcançar.
18- Existe muitos mais sonhos para se realiza.
1- As suas emoções jamais passou da esfera da
inteligência.
1- Os homens, no mar, lutava contra a força inigualável
das águas.
2- Os navegadores, no mar, enfrentava o desconhecido.
1- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
3- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
Total: 25/1733 (1.4%)
Tabela 29- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo a variável
Modo/tempo verbal.
Varejão (2006) observou que as formas menos salientes, no presente, são as que
mais favorecem a perda das marcas de plural. Chamou sua atenção o resultado
expressivo de apagamento do verbo ser no presente (39% em 44/112 ocorrências), visto
que, apresenta saliência fônica acentuada.
Neste trabalho, os verbos no presente do subjuntivo foram os que detiveram o
apagamento da marca de número, com 3.4% de freqüência, em 5 dados, seguido dos
verbos no infinitivo flexionado, com 1.9% em 2 de 108 dados e do presente do
indicativo, com 1.7% com 18 de 1054 dados. Esses resultados comprovam o que foi
observado em relação à variável saliência fônico/gráfica, em que os verbos do Nível 1,
ou seja, com oposição entre as formas singular e plural não acentuada, foram os que
mais cancelaram a marca de plural.
l- Estrutura morfossintática do verbo
A variável estrutura morfossintática do verbo apresentou os verbos auxiliares de
orações ativas como favorecedores do apagamento da marca de número com 6.5% de
frequência em 2/31 ocorrências e os verbos plenos favoreceram o apagamento da marca
de plural em 2.2% em 32/1461 dados.
Variável Tipo de estrutura morfossintática
Fator/Ocorrência/Percentual
Verbos nocionais
(25/1454 - 1.7%)
Contextos
1- Os feitos dos portugueses narrados em Os
Lusíadas exemplifica o que acabo de defender.
2- Na terceira fase se encontra várias críticas.
3- Dois exemplos desta segunda fase é a ode triunfal
e a ode marítima.
4- E o revela como futurista.
5- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório.
6- Os estudos faz parte do caminho para o sucesso.
7- Existe muitos mais planos para se alcançar.
8- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
9- No texto se encontra diversas alusões ao passado.
10- Duas situações lamentáveis é a prisão dopai e a
do filho.
11- [A coragem e a determinação é que consagra os
navegadores] e desperta o orgulho português.
12- Tais dúvidas faz parte do crescimento humano.
13- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos
portugueses.
14- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
15- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
16- Os sofrimentos dos navegantes, vividos nas
grandes viagens, demonstra a grandiosidade da coisa
17- Os Lusíadas representa o povo português.
18- Existe muitos mais sonhos para se realizar.
19- Existe muitas pessoas que não têm escrúpulos.
20- As suas emoções jamais passou da esfera da
inteligência.
21- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável das águas.
22- Os navegadores, no mar, enfrentava o
desconhecido.
23- Fazendo com que estas ganhe vida.
24- Faz com que as navegações cumpra o seu
destino.
25- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
Total: 25/1733 - (1.4%)
Tabela 30- Contextos de cancelamento da marca de número no PE,
segundo a variável estrutura morfossintática do verbo.
m- Tipo de oração
A variável tipo de oração contemplou as orações isoladas, principais,
coordenadas, relativas, completivas e adverbiais. As orações completivas e relativas
apresentaram 100% de concordância. As orações principais foram as que apresentaram
maiores índices de perda da marca de número no verbo, 4.0% em 6/150 ocorrências. As
orações coordenadas e as isoladas apresentaram os menores índices de apagamento da
marca de número com 1.2% em 2/170 dados e 1.5% em 17/1114 ocorrências
respectivamente.
As orações completivas, as que mais favoreceram a não-concordância de número
eram formadas por verbos no presente do subjuntivo, forma verbal que mais propiciou o
apagamento da marca de número.
Fator/
Ocorrências/Percentual
Variável Tipo de oração
Contextos
1- Dois exemplos desta segunda fase é a ode triunfal e
também a ode marítima.
2- Os feitos dos portugueses narrados em Os Lusíadas
exemplifica o que acabo de defender.
Oração isolada
(17/1116 - 1.5%)
3- Na terceira fase se encontra várias críticas.
4- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos portugueses.
5- As suas emoções jamais passou da esfera da
inteligência.
6- Os estudos faz parte do caminho para o sucesso.
7- Os sofrimentos dos navegantes, vividos nas
grandes viagens, demonstra a grandiosidade da
coisa.
8- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
9- As dúvidas faz parte do crescimento humano.
10- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
11- No texto se encontra diversas alusões ao passado.
12- Os Lusíadas representa o povo português.
13- Fazendo com que estas ganhe vida.
14- Faz com que as navegações cumpra o seu destino
15- Existe muitos mais planos para se alcançar.
16- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
17- Duas situações lamentáveis é a prisão dopai e a
prisão do filho.
Oração principal
(6/150 - 4.0%)
1- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório
2- Existe muitas pessoas que não têm escrúpulos
3- Existe muitos mais sonhos para se realizar.
4- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
5- Os navegadores, no mar, enfrentava o desconhecido,
mas o facto de terem construído um veículo aquático.
6- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável das águas.
Oração coordenada
(2/170 - 1.2%)
1- [Que consagra os navegadores] e desperta o orgulho
português.
2- [A futurista (...) sua obra] e o revela como
futurista.
Total 25/1733 (1.4%)
Tabela 31- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo
a variável tipo de oração.
n- Tipo de verbo
O controle da variável tipo de verbo procurou comprovar a hipótese de que os
verbos inacusativos e transitivos diretos apresentariam maiores níveis de nãoconcordância, enquanto o verbo ser, pela oposição acentuada entre as formas singular e
plural no presente, assim como os verbos transitivos indiretos e intransitivos, teriam
comportamento inverso.
A variável mostrou, que dentre os verbos observados, os transitivos diretos e
indiretos foram os que apresentaram maior índice de apagamento da marca de plural,
com 8.3% em 2/ 24 ocorrências, seguidos dos transitivos circunstanciais, com 4.1% em
1/11 ocorrências e os verbos inacusativos, que apresentaram 4.3% em 4/94 contextos.
Os verbos transitivos diretos mantiveram o apagamento da marca de número com 2.0%,
em 17/598 casos. As ocorrências com o verbo ser apresentaram 0.6% de não-
concordância, em 2/310 dados. Os verbos intransitivos, assim com, os transitivos
relativos apresentaram 100% de concordância em 94 e 46 dados respectivamente.
Variável Tipo de verbo
Fator
Ocorrência/Percentual
Verbo ser
(2/310 - 0.6%)
Verbo trans. dir.
(12/598 - 2.0%)
Contextos
1- Duas situações lamentáveis é a prisão do pai e
também a prisão do filho.
2- Dois exemplos desta segunda fase é a ode
triunfal
1-Os feitos dos portugueses narrados em Os
Lusíadas exemplifica o que acabo de defender
2- [A coragem e a determinação é que consagra os
navegadores] e desperta o orgulho português.
3- [A futurista e a decadentista e sensacionalista é
que destaca mais a importância de sua obra] e o
revela como futurista.
4- Os Lusíadas representa o povo português
5- Os estudos faz34 parte do caminho para o
sucesso.
6-Fazendo com que estas ganhe vida.
7- Os sofrimentos dos navegantes, vividos nas
grandes viagens, demonstra a grandiosidade da
coisa.
8- Faz com que as navegações cumpra seu destino.
9- As dúvidas faz parte do crescimento humano.
10- As pessoas ao receber o fundo de desemprego.
11- Os navegadores, no mar, enfrentava o
desconhecido.
12- As pessoas ao perceber o perigo iminente.
Verbo trans. dir. e ind.
(2/24 - 8.3%)
1- Os Lusíadas mostra-nos que devemos agir.
2- Os Lusíadas mostra-nos os feitos dos
portugueses.
Verbo trans. circunstancial
(1/11 - (9.1%)
1- As suas emoções jamais passou da esfera da
inteligência.
Verbo intrans.
(3/423 – 0.7%)
1- Os Lusíadas só vende mais porque é obrigatório.
2- Os homens, no mar, lutava contra a força
inigualável das águas.
3- Na terceira fase se encontra várias críticas.
34
O verbo fazer embora seja um verbo suporte, foi analisado como um verbo transitivo direto, de acordo
com a gramática tradicional.
Verbo inacusativo
(4/94 - 4.3%)
1- Existe muitos mais sonhos para se realizar.
2- Existe muitas pessoas que não têm sonhos.
3- Existe mais planos para se alcançar.
4- Existe muitas pessoas sem escrúpulos.
Total: 25/1733 (1.4%)
Tabela 32- Contextos de cancelamento da marca de número no PE, segundo
a variável tipo de verbo
As duas variedades do Português apresentaram baixos índices de cancelamento
da marca de número no verbo. Vale lembrar a tipologia apresentada por Labov
([1969]2003), para quem as regras linguísticas podem reduzir-se a três tipos básicos: (a)
as do tipo I, de natureza categórica e automática, com 100% de aplicação; (b) as do tipo
II, de caráter semicategórico, que apresentam de 95 a 99% de freqüência e (c) as do tipo
III, que oscilam entre 5 e 95% de aplicação, regras variáveis que fazem parte da
competência linguística do falante.
Os resultados mostraram que, tanto no PB quanto no PE, o cancelamento da
marca de plural no verbo obedece a contextos linguísticos semelhantes e que respeitam
a mesma hierarquia. Quanto aos contextos sociais, a impossibilidade de estabelecer os
mesmos critérios para as duas variedades não impediu o trabalho comparativo que
mostrasse as variáveis de cunho social relevantes para o estudo em cada um dos
corpora, apesar dos resultados diversos.
Os resultados obtidos com base nas amostras do PB, com 3.9%, e do PE, com
1.4% de cancelamento da marca de número, permitem afirmar que, na escrita escolar
brasileira e portuguesa, a regra de concordância tem caráter semicategórico, embora na
modalidade falada do PB, a depender da variedade (urbana/rural) e do nível de
escolaridade do indivíduo, o quadro possa ser inteiramente diverso. Quanto ao PE, a
concordância parece ser semicategórica, independentemente do grau de instrução do
falante ou da modalidade, visto que, Monguilhott, (2009) em estudo sobre a língua
escrita no PB e no PE e Varejão (2006) em estudos sobre a modalidade falada não
standard do PE também encontraram índices muito baixos de apagamento da marca
formal de plural.
7.3 Estudo de caso
O estudo de caso visa a testar a terceira hipótese. Consiste na observação do
comportamento linguístico dos alunos dos cursos diurno e noturno, de uma escola
pública regular, com o objetivo de depreender em que medida o fator turno favorece ou
não o cancelamento da marca formal de plural no verbo.
Os dados foram recolhidos de redações de alunos do terceiro ano do Ensino
Médio dos cursos diurno e noturno de uma escola pública regular. Computaram-se 271
estruturas com verbos na terceira pessoa do plural, dentre as quais, vinte não
apresentaram marca explícita de concordância, seis dados no diurno e quatorze, no
noturno.
Os índices globais, conforme mostrados no gráfico e na Tabela a seguir,
apresentaram os alunos da noite com maiores índices de cancelamento da marca de
número (8.6%) do que os da manhã (5.5%), o que gerou uma diferença de 3.1% entre os
dois turnos.
Concordância verbal em um estudo de
caso na modalidade escrita do PB
(diurno)
Concordância verbal em um estudo
de caso na modalidade escrita do PB
(noturno)
5,50%
91,40%
94,50%
Ausência de marca
8,60%
Presença de marca
Ausência de marca
Presença de marca
Gráficos 3a e 3b - Índices de cancelamento de marca de número no PB, segundo
o turno, em um estudo de caso.
Estudo de caso
Ocorrências
Percentuais
Primeiro Turno
6/109
5,5%
Noturno
14/162
8,6%
Totais
20/271
7,4%
Tabela 33- Índices globais referentes ao cancelamento
de marca de 3ª pessoa do plural, em estudo de caso no PB.
Os dados, assim como os demais, foram submetidos ao pacote de programa
GOLDVARB X. Desconsideraram-se as variáveis nível de escolaridade, tipo e
localização das escolas, por tratar-se de uma única escola e os alunos estarem no
mesmo nível, ou seja, terceiro ano do Ensino Médio.
Após a retirada dos knockouts, efetuou-se a primeira rodada considerando-se
todas as variáveis, que apresentou input 0.069 e significância 0.010. Na segunda rodada,
foram desconsideradas as variáveis sexo, traço de animacidade do sujeito, relação entre
o número de sílabas das formas singular e plural e tempo verbal. O input foi 0.072 e
significância 0.622, selecionou a variável turno.
Na tentativa de descobrir o que poderia estar influenciando os resultados,
considerados insatisfatórios, os dados do curso noturno foram submetidos ao programa
CROSSTAB e, em seguida, foi realizada uma nova rodada em que foram levados em
conta os resultados mais expressivos dos cruzamentos entre os turnos e as variáveis
linguísticas. O resultado da rodada apresentou input 0.072 e significância 0.33 e
selecionou a variável turno.
Em uma rodada em que se consideraram as variáveis turno, posição do sujeito,
paralelismo clausal, relação de tonicidade entre as formas singular e plural do verbo,
animacidade do sujeito, tipo de verbo e paralelismo discursivo, o programa selecionou
as variáveis tipo de oração e paralelismo discursivo com input 0.055 e significância
0.007 e descartou as variáveis relação de tonicidade entre as formas singular e plural
do verbo, tipo de verbo, traço de animacidade do sujeito e paralelismo clausal. As
tabelas 34 e 35 ilustram o resultado da rodada.
a – Tipo de oração
Variável
Tipo de oração
Ocorrência
Percentual
Total
Peso Relativo
Orações
isoladas/principais
10
5.7%
175
0.459
Orações
completivas/relativas
3
4.9%
61
0.439
Orações
coordenadas/adverbiais
7
20.0%
35
0.778
20
7.4%
271
Significância: 0.007
Total
Input: 0.55
Tabela 34- Índices de cancelamento da marca de número no estudo de caso,
segundo a variável tipo de oração.
As orações foram reunidas de acordo com as semelhanças de ordem estrutural e
semântica que apresentassem. Desse modo, às orações principais juntaram-se as
isoladas e às orações relativas reuniram-se as orações completivas.
Com base, ainda, nos mesmos critérios, reuniram-se as orações coordenadas às
adverbiais, pois as coordenadas também podem indicar circunstância e, até mesmo, ser
transformadas em orações adverbiais. Além disso, nas análises em que foram
consideradas isoladamente, apresentaram resultados semelhantes.
Sendo assim, as orações coordenadas amalgamadas às adverbiais se mostraram
mais propensas ao apagamento da marca de plural com 20.0% de frequência e p.r.
0.778, em contextos do tipo:
“Basta que as pessoas corram atrás de seus direitos e faça valer seu papel de
cidadão.”
“Se as pessoas não tomar atitude, nada vai mudar.”
“As pessoas reclamam porque delas não participou.”
As orações isoladas reunidas às principais, apresentaram 5.7% de não marcação
de plural, com p.r. 0.59, em contextos do tipo:
“... as pessoas não toma atitude.”
“As nossas atitudes está afetando a nossas vidas.”
“Existe classe média alta, classe pobre e pobreza.”
“Todas essas coisas depende de nós.”
“... seu filho e seu neto sofra com a sua falta de atitude.”
As orações relativas junto às completivas apresentaram 62 ocorrências, dentre as
quais:
“Vozes gritando em minha cabeça que tira todo meu raciocínio.”
“Ignora as pessoas que mais lhe dá valor”
“Todos os seres humanos têm opiniões que precisa de atenção.”
“As estatísticas nos mostra cada três mulheres no mundo é ou foi espancada."
b – Paralelismo discursivo
Mais uma vez procurou-se testar o princípio do paralelismo formal e verificar se
a presença de marca de plural no verbo envolveria o verbo seguinte. Na amostra geral
do PB, o paralelismo discursivo mostrou-se produtivo para o cancelamento da marca de
número.
Variável
Paralelismo discursivo
V. precedido de verbo no pl.
Ocorrência
Percentual
Total
Peso Relativo
4
6.8%
59
0.572
Verbo isolado
14
6.7%
208
0.225
V. precedido de verbo no sing.
2
50%
4
0.961
Total
20
7.4%
271
Input: 0,055
Significância: 0.007
Tabela 35– Índices de cancelamento da marca de número no estudo de caso, segundo a
Variável paralelismo discursivo.
Assim como na amostra do PE, o fator “verbo precedido de verbo no singular”
mostrou-se o mais propenso ao cancelamento da marca de plural,
Comparando-se os s resultados do estudo de caso aos do PE, pode-se observar
que a diferença percentual de cancelamento da marca de plural entre as duas amostras
chega a 6.6%, o que caracteriza variação mais acentuada no PB, embora, no cômputo
geral, a diferença entre as duas variedades do português seja de apenas 2.5%.
Apesar de, os índices de cancelamento não serem expressivos, os resultados do
“estudo de caso” confirmam a hipótese que levou ao estudo, pois, embora, a diferença
tenha se mostrado bastante discreta, os alunos que estudam à noite apresentaram
comportamento linguístico distinto do dos alunos que estudam pela manhã.
Acredita-se que os maiores índices percentuais de não-concordância no estudo
de caso, em relação às outras amostras, não devam ser explicados a partir de fatores
estruturais, mas sim, através de fatores sociais, dentre os quais o fato de os alunos do
curso noturno apresentarem defasagem educacional, pois, além de trabalharem e,
consequentemente, não disporem de muito tempo para a dedicação aos estudos, são
menos favorecidos no que concerne à origem sócio-econômica.
Acredita-se, ainda, que os resultados possam ter sido influenciados pelo pequeno
número de dados. Provavelmente, uma pesquisa baseada em um corpus mais extenso
fornecerá resultados mais elucidativos do fenômeno.
8. CONCLUSÃO
Neste trabalho, procurou-se observar a situação da variação da concordância
verbal. Desde os primeiros gramáticos, define-se concordância como a relação
harmônica que se estabelece entre os elementos determinantes e determinados da
oração, como a que existe entre o verbo e o sujeito. Por meio da sistematização de
regras, que devem ser seguidas tanto na modalidade escrita quanto na oral, afirmam que
o domínio das regras gramaticais e do bem falar são referências de distinção e polidez.
As gramáticas atuais, algumas ainda atreladas ao conceito de certo versus errado,
não deixam margem para além do que é prescrito pela norma e, quando não dão conta
de descrever as ideias e emoções do emissor, legitimam o fenômeno como silepse ou
concordância atrativa, mas sempre julgando uma delas como “melhor”.
São inquestionáveis as interferências sociais e linguísticas das diferentes raças,
de diferentes origens e culturas na formação e difusão do PB. Não se pode esquecer o
processo de estratificação social e a precariedade da escolarização durante o período de
colonização. Também não é possível ignorar a falta de registros da existência de um
crioulo original, assim como é possível perceber traços de variação no português
transplantado para o Brasil. Tais estudos encabeçam o debate sobre a gênesis do PB e
influenciaram este estudo no que concerne à concordância verbal.
A não-concordância verbal, no Brasil, assim como em Portugal, embora ocorra
em diferentes níveis sociais, continua a ser um traço discriminador e estigmatizante. Os
linguistas portugueses, inclusive, rechaçam a ocorrência da variação, tanto na fala
quanto na escrita, assim como nas variedades culta e popular, exceto nos casos de
concordância facultativa. Por isso, embora muito já se tenha falado sobre o fenômeno,
este trabalho ainda se propôs a abordar o tema na perspectiva da Teoria da Variação
Laboviana.
Visto que diversos estudos atestam ocorrências de variação no PE, procurou-se
observar o grau de variação na escrita escolar lusitana e estabelecer se as estruturas
passíveis de cancelamento da marca de plural, no PB, também o seriam no PE.
A divisão dos dados em três corpora teve o objetivo de testar as hipóteses da
pesquisa de que (a) os alunos das escolas regulares apresentariam maiores índices de
não concordância; (b) os fatores condicionadores da variação da concordância verbal no
PB também se mostrariam relevantes em relação ao PE e (c) os alunos do ensino
noturno apresentariam maior tendência ao apagamento da marca de plural no verbo.
Para a comparação dos resultados deste trabalho, em relação ao PE, com os
obtidos em análises de estruturas semelhantes, utilizaram-se os trabalhos de
(VAREJÃO, 2006) e (MONGUILHOTT 2009). O objetivo era o de testar a hipótese de
que os fatores que condicionam a variação no PB também se mostrariam relevantes no
PE. Desse modo, pode-se constatar que fatores tais como posição do sujeito, saliência
fônico/gráfica, paralelismo discursivo e paralelismo clausal, entre outros, também
favorecem os casos de não-concordância no PE.
Os resultados de GRACIOSA (1991), VIEIRA (1995), SILVA (1997), LEITE
(2004) e MONGUILHOTT (2009) enfatizam as hipóteses defendidas em diversos
trabalhos, em especial nos de NARO & SCHERRE, a respeito dos fatores que
favorecem o cancelamento da marca de número no verbo, tais como: o Princípio do
paralelismo formal de que marcas levam a marcas e zeros levam a zeros; de que a
concordância verbal é controlada pelo núcleo do sujeito à esquerda, próximo ao verbo; a
relevância da saliência fônico/gráfica menos acentuada para o cancelamento da marca
de plural no verbo.
Seria, possível, inclusive, formar um painel com os resultados comuns aos
trabalhos acima elencados, desde o de Graciosa (1991), retomado por Varejão (2006) ao
afirmar que os níveis de variação na norma urbana culta falada do PB são semelhantes
aos do PE falado não standard; o de Vieira (1995), cujos resultados instigam estudos
sobre a modalidade escrita em um dialeto rural; o de Silva (1997) e de Leite (2004), que
investigam a modalidade escrita em redações escolares, e o de Monguilhott (2009), que,
num estudo sincrônico/diacrônico, aborda a modalidades escrita e oral do PB e do PE.
No presente estudo, as análises mostraram discretos índices globais de
cancelamento da marca de número na escrita escolar (3.9% para o PB e 1.4% para o
PE), o que permite dizer que a concordância verbal é, nessa modalidade, uma regra
semicategórica.
Quanto ao PB, a hipótese formulada se confirma pelos resultados das escolas
regulares, em especial as públicas, com índices percentuais com 7.6 % de cancelamento
da marca de plural versus 1.8% de apagamento das escolas tradicionais. A idéia inicial
era a de que as escolas refletiriam o nível sócio-econômico dos alunos, assim como a
exposição à leitura e o hábito de escrita. Os resultados tornam claro, no que tange às
escolas tradicionais, a atuação da Escola em transmitir e propagar as regras de
concordância e inibir a influência da fala na escrita. Já as escolas regulares,
evidenciaram uma situação inversa, ou seja, pouca exposição à leitura e reduzido hábito
de escrita, o que demonstra a influência dos fatores sociais em relação ao desempenho
linguístico dos indivíduos.
Apesar de a Escola, de modo geral, desempenhar o papel disseminador das
regras gramaticais, é possível, de acordo com os baixos índices globais de variação,
perceber a desigualdade não só entre os diferentes tipos de escola, mas também entre os
turnos, como mostram os resultados do estudo de caso.
A atual política governamental para a Educação, que se intitula inclusiva, não se
mostra eficiente em proporcionar a igualdade educacional. Acredita-se que não basta a
exposição a diferentes mecanismos intelectuais apenas no âmbito escolar. Antes, devese promover a inclusão social das famílias, pois hábitos sem referências familiares
dificilmente se desenvolvem na escola.
Os resultados, no que se refere às variáveis estruturais, como já se observou,
mostraram-se coerentes com os que se encontram em diversos trabalhos sobre o
fenômeno. Os fatores que mais fortemente condicionam o apagamento da marca de
número são os verbos com saliência fônico/gráfica menos acentuada, os sujeitos
representados pelo pronome relativo que, a ausência de marca de plural no último
elemento do SN, verbos precedidos de verbo no singular.
A análise permitiu observar que fatores relevantes para a não-concordância no
PB também se sobressaíram no estudo do PE, o que confirma a hipótese inicial e
corrobora a importância desses elementos em diversos outros estudos sobre o
fenômeno.
Cabe ressaltar que a relevância de determinados fatores nos dados do PE talvez
possa ser explicada pelo pequeno número de dados e pela semelhança das estruturas da
amostra. Os sujeitos representados pelo pronome relativo que levaram a 100% de
concordância; os verbos separados do núcleo do sujeito por duas sílabas se sobressaíram
com 5.0% de cancelamento da marca de número; os verbos no infinitivo flexionado se
destacaram com 3.6% de não-concordância e os verbos transitivos circunstanciais com
9.1% das ocorrências.
O estudo de caso apresentou diferença de 3.1% entre os resultados dos alunos do
ensino noturno e os do diurno, confirmando a terceira hipótese testada, ou seja, a de
que, em decorrência mais de fatores sociais do que estruturais, os alunos do ensino
noturno apresentariam maiores probabilidades de cancelamento da marca de plural no
verbo, enquanto os do ensino diurno a deteriam. Distinguiram-se as variáveis tipo de
oração e paralelismo discursivo. Embora o tipo de oração não se destaque como
relevante para o estudo do fenômeno, não se deve esquecer que a variável paralelismo
discursivo destaca-se como uma das mais produtivas para o cancelamento ou não da
marca de número no verbo.
Quanto ao PB, estudos sobre a modalidade escrita da língua em áreas rurais,
onde a variação das concordâncias verbal e nominal, na fala, são mais evidentes,
contribuiriam para a configuração de um quadro sobre a dualidade escrita versus fala, e
também, para estabelecer o grau de influência da modalidade falada sobre a modalidade
escrita.
Outros trabalhos, abarcando maior número de dados, sobre a escrita de alunos
dos turnos da manhã e da noite poderiam, provavelmente, corroborar os resultados deste
estudo, assim como determinar que fatores sociais e/ou estruturais determinam a
diferença de comportamento lingüístico entre os alunos dos diferentes turnos.
Cabe também efetivarem-se pesquisas de cunho variacionista na variedade
europeia do Português, nas modalidades escrita e falada, em áreas urbanas e rurais, para
que seja possível estabelecer o grau de variação na concordância, além de investigar
outros fenômenos passíveis de variação.
Retomando a tese inicial de estabelecer a relação entre a norma prescrita pela
gramática e o uso efetivo das regras de concordância verbal, assim como a variação daí
resultante, foi possível verificar o papel da Escola como disseminadora da norma
padrão. O uso, conforme demonstrado neste trabalho, aproximou-se da norma, e a
variação mostrou que obedece, na escrita, assim como na fala, a fatores que a favorecem
e a outros que a desfavorecem.
Ressalta-se, ainda, que o cotejo entre a norma e o uso da concordância verbal
confirmou a força unificadora da escrita, que consegue manter características estruturais
comuns nas duas variedades do Português.
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