A IMPORTÂNCIA DO CIRURGIÃO PEDIÁTRICO ONCOLÓGICO NO PROGNÓSTICO DAS CRIANÇAS COM CÂNCER Nas últimas décadas o diagnóstico, tratamento assim como o prognóstico da criança com câncer tem melhorado enormemente graças principalmente ao treinamento dos cirurgiões pediátricos em oncologia pediátrica. (1) É o cirurgião pediátrico com o seu conhecimento e a sua experiência em oncologia pediátrica que vai interferir diretamente no prognóstico do paciente. (2) Diferente do câncer em adulto, a incidência do câncer pediátrico é muito baixa, representa apenas de 0,5 a 3% de todos os casos novos/ano. (3) Pela raridade dos casos oncológicos pediátricos, são poucos os serviços de cirurgia pediátrica que conseguem ter uma casuística considerável e com isto, a maioria dos cirurgiões pediátricos não estão familiarizados com as rotinas oncológicas, com os protocolos e nem com os critérios cirúrgicos oncológicos pediátricos. Muitas vezes os pacientes são submetidos a procedimentos inadequados ou mesmo desnecessários, que certamente irão interferir no prognóstico. É fundamental o conhecimento assim como a experiência do cirurgião pediátrico em oncologia cirúrgica pediátrica. Só assim ele poderá avaliar o paciente corretamente, e solicitar os exames complementares pertinentes para cada tipo de tumor, evitando desperdício e a perda de tempo, fundamental quando se aborda um tumor maligno. Avaliar os exames de imagem e traçar a melhor conduta para cada caso, definir a necessidade ou não de uma biópsia tumoral e o momento ideal para a ressecção do tumor, assim como executar o correto estadiamento cirúrgico oncológico, são atribuições que só o cirurgião pediátrico com conhecimento e experiência acerca das neoplasias malignas pediátricas, poderá tomar acertadamente. Baseado na correta avaliação do cirurgião pediátrico o oncologista pediátrico poderá programar com segurança a quimioterapia adequada, oferecendo ao paciente a melhor chance de cura. Esta opinião é compartilhada com outros cirurgiões pediátricos com larga experiência em câncer. Transcrevo abaixo, algumas trechos de artigos nacionais e internacionais, que retratam esta preocupação. O Dr. Kelly e col. em 1997 já recomendava: “Os avanços que nós temos tido no manejo das crianças com câncer tem vindo da experiência adquirida em centros especializados de tratamento de câncer por pessoal treinado”.(grifo nosso) (1) O Dr. Sérgio Schettini professor da disciplina de cirurgia pediátrica, do departamento de cirurgia, UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, São Paulo/SP e cirurgião pediátrico responsável pelo protocolo cirúrgico do Grupo Cooperativo Brasileiro para Tratamento do Tumor de Wilms, em sua análise sobre as abordagens cirúrgicas conclui em 1999: “Nossa conclusão final é a de que verificamos a ocorrência de algumas omissões, as quais comprometeram de forma significativa a acurácia do estadiamento cirúrgico (grifo nosso). Dessa forma, nossa opinião é a de que, em nosso meio, o oncologista responsável pelo tratamento de portadores do tumor de Wilms deva estabelecer uma estreita integração com uma equipe cirúrgica, cujos membros tenham o conhecimento preciso do papel do cirurgião, não somente no tocante ao tratamento cirúrgico, mas que sejam conhecedores dos mínimos detalhes do estadiamento dessa neoplasia (grifo nosso) e sua importância em relação à abordagem multidisciplinar.”.•(2) O Dr. Rao, chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital St. Jude de Menphis, USA e ex-presidente da IPSO (Sociedade Internacional de Cirurgia Pediátrica Oncológica) referindo-se a participação do cirurgião pediátrico na abordagem dos pacientes pediátricos oncológicos escreve em 2004: “A nossa capacidade de tratar de maneira eficaz o câncer, depende da nossa compreensão da doença e do seu comportamento biológico, bem como da sua resposta à quimio e radioterapia; é neste sentido que tem mudado dramaticamente o perfil do cirurgião pediátrico (grifo nosso), atribuindo-lhe uma atuação distinta e objetiva como membro da equipe multidisciplinar em oncologia pediátrica”.(4) O Dr. Odilon de Souza Filho, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e cirurgião do Serviço de Abdome do Hospital do Câncer I – INCA/MS, em seu artigo sobre “O cirurgião e o prognóstico do paciente com câncer”, de 2.000, refere: “A eficiência do resultado do tratamento cirúrgico do câncer está, em muito relacionada ao preparo técnicopessoal, treinamento específico, volume de casos e ao interesse que o profissional desenvolve em relação à patologia”. (grifo nosso) (5). Por último e não menos importante transcrevo um parágrafo do artigo escrito em 2005, pela Dra. Sílvia Regina Brandalise, um dos expoentes brasileiros da oncologia pediátrica, docente da Unicamp e presidente-fundadora do Centro Infantil Boldrini de Campinas/SP, sobre “Causas da Baixa Incidência de Sobrevida do Câncer Pediátrico”: “...assistência médica fragmentada, serviços isolados de cirurgia pediátrica, patologia, quimioterapia e radioterapia; falta de profissionais especializados (grifo nosso), uma das preocupações da Sociedade Latino-americana de Oncologia Pediátrica - SLAOP é a abertura de campo para treinamento de médicos, enfermeiros, psicólogos e outros, em oncologia pediátrica”.(6) Com a intenção de suprir esta grave lacuna, o INCA desde 1988 oferece aos cirurgiões pediátricos com residência concluída, um Curso de Especialização Latu Senso em Cirurgia Pediátrica Oncológica com duração de um ano, um Curso de Aperfeiçoamento em Cirurgia Pediátrica Oncológica com duração de 6 meses, para cirurgiões pediátricos com mais de 3 anos de atividade na especialidade e um Curso de Atualização, para os cirurgiões pediátricos que tenham realizado um dos cursos anteriores, com duração de um mês; mas é pouco. Por iniciativa do Dr.José Roberto Baratella, atual presidente da CIPE (Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica) começou neste ano de 2008 a identificação de serviços de cirurgia pediátrica para credenciá-los como centros de treinamento em oncologia cirúrgica pediátrica, o que nos deixou bastante satisfeito. Concluímos que a atuação do Cirurgião Pediátrico com conhecimento e experiência em oncologia pediátrica é fundamental para o bom êxito do tratamento da criança com câncer, sendo um fator decisivo de prognóstico. Referencias Bibliografias: 1. Kelly K.M. MD and Beverly Lange, MD Oncologic Emergencies; in Pediatric Clinics of North America vol. 44 Nº4, 809-830. Agosto de 1997. 2. Schettini, S.T. Avaliação do papel do cirurgião no tratamento do Tumor de Wilms: Análise de um estudo cooperativo. Rev. Assoc. Med. Bras., set./dez. 1999, vol.45, no.4, p.342-346. 3. Registro de Câncer de Base Populacional – INCA – Coordenação de Prevenção e Vigilância 1991 a 2001. 4. Rao BN, Tsuchida Y, Kaneko M, Spicer RD, Plaschkes J; The Surgeon and the Child With Cancer: A Report of the International Society of Pediatric Surgical Oncology (IPSO), Med Pediatr Oncol 2000; 34:424-428. 5. Souza OFº; Cirurgião Oncológico: Fator de prognóstico no tratamento do câncer (SBCO) RBC 2004; 50(2): 91-93. 6. Brandalise S; Baixa Incidência de Sobrevida do Câncer Pediátrico – Causas, Ser Médico – Publicação do CRMESP – ano VIII, nº 30, jan/fev/mar/2005, pag 3 a 9. Autor: Alberto Ribeiro Gonçalves Artigo enviado em agosto/08 para publicação na RBC