Documento de trabalho sobre sacramentos de iniciação

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ARQUIDIOCESE DE CURITIBA
INSTITUTO DE CULTURA ECLESIAL
INSTRUMENTO DE TRABALHO
APRESENTAÇÃO
A reflexão sobre a iniciação à vida cristã em estilo catecumenal tem sido
intensificada nestes últimos anos. Trata-se de um dos caminhos pastorais escolhidos
pela Igreja, como se pode perceber na insistência nos documentos magisteriais.1 A
47ª. Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, realizada entre os dias 22 de abril e 1º. de
maio de 2009, em Indaiatuba, teve a iniciação à vida cristã como tema prioritário.2
A elaboração deste texto é fruto de um processo participativo com o objetivo de
motivar a implantação da iniciação cristã em estilo catecumenal nas comunidades
paroquiais.
No dia 24 de junho de 2008 (quando celebrávamos o 7º. ano da publicação do
Ritual de Iniciação Cristã no Brasil) constituímos a Equipe de Reflexão da Iniciação
Cristã.3 Esta equipe elaborou um plano de ação, incluindo uma pesquisa encaminhada
ao clero. Munidos de experiências das bases e de contribuições enviadas, foi
elaborado um primeiro texto (Instrumento de Trabalho 1) no início de 2009. No dia 17
de março de 2009 o texto foi apresentado aos bispos e a uma equipe ampliada que fez
suas observações para a redação do Instrumento de Trabalho 2. Este último texto foi
encaminhado a todos os párocos, motivando-se contribuições por parte do clero
(houve a visita por parte da equipe de redação às reuniões setoriais dos padres).
Também os membros da Equipe Arquidiocesana de Catequese tiveram ocasião de
contribuir com sugestões.
O texto que se apresenta, portanto, é fruto da participação de nossa Igreja
Particular. Houve a oportunidade para que todos pudessem enviar a sua contribuição.
Porém, não é um texto acabado. As experiências concretas das paróquias serão
extremamente úteis na melhoria do processo, que estará aberto para novidades
1
Entre os documentos mais recentes que se referem à Iniciação Cristã e ao estilo catecumenal,
destacam-se: Diretório Geral para a Catequese (60-68), Diretório Nacional de Catequese (3550), Documento de Aparecida (286-294).
2
A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, com a ajuda de alguns
convidados, redigiu o texto Iniciação à Vida Cristã (IVC). Embora tenhamos o texto apenas
digitalizado, enquanto aguarda revisões para sua publicação, usaremos o mesmo como referência
pela sua atualidade.
3
Participaram desta Equipe: Pe. Gilson César Camargo, CM, Pe. Simão Valenga, CM, Pe. Jonas Eduardo
Silva, MIC, Pe. Roberto Nentwig, Regina Fátima M. Menon, além de leigos das paróquias Santa
Cândida, Santo Antônio - Orleans, Nossa Senhora de Guadalupe e Nossa Senhora Aparecida – Campo
Largo.
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nascidas da prática da base. Mais importante do que este texto será o movimento
realizado em nossa Arquidiocese em prol da iniciação cristã de adultos.
Para facilitar as futuras contribuições, segue em anexo um formulário com uma
pesquisa. Não se trata tanto de fazer acréscimos redacionais, mas de partilhar ações
já experimentadas nas comunidades paroquiais. Os formulários preenchidos podem
ser enviados para o departamento da Comissão da Animação Bíblico-Catequética.
O próprio título do texto, Orientações para a Iniciação Cristã de Adultos, deixa
evidente que não se trata de um texto normativo e fechado. Trata-se, sim, de
indicativos práticos de como operacionalizar o processo iniciático da fé. São
apresentadas sugestões práticas e adaptações, podendo-se acrescentar outras.
Contudo, o ponto de partida é a estrutura estabelecida pela Igreja, fundamentada no
RICA. Como nos orienta a CNBB, é preciso conservar o que é essencial e específico
do processo catecumenal, com o seu caráter gradual e cristocêntrico e a disposição
em quatro tempos e três etapas (IVC 80). Assim, todas as novas experiências serão
bem vindas desde que considerem o que é próprio do processo catecumenal.
Como o tema da iniciação cristã está sendo amplamente discutido, certamente
num futuro próximo teremos luzes que iluminarão o processo desencadeado na
Arquidiocese de Curitiba, sobretudo os resultados da III Semana Brasileira de
Catequese. As novidades que virão e as experiências das paróquias serão conteúdo
para um Diretório Diocesano da Iniciação à Vida Cristã que, segundo a CNBB, é tarefa
do bispo diocesano (IVC 159).
Fazemos votos de que o empenho pela iniciação à vida cristã na Arquidiocese
de Curitiba traga os frutos que se espera para os novos tempos de evangelização e de
renovação das estruturas eclesiais. Que a Igreja, com a graça do Espírito, possa beber
água pura em suas fontes. Que construamos odres novos para o vinho novo (cf. Mc
2,22).
D. Moacyr José Vitti
Arcebispo Metropolitano de Curitiba
Pe. Roberto Nentwig
Coordenador da Comissão da
Animação Bíblico-Catequética
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PARTE I
A INICIAÇÃO CRISTÃ: ELEMENTOS HISTÓRICOS,
LITÚRGICOS E DOUTRINÁRIOS
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1 INTRODUÇÃO
Iniciação é um termo sacro que deriva do latim in-éo (entro dentro). Eliade
(1975, p. 10) a define como um conjunto de ritos e ensinamentos orais que têm por
finalidade a modificação radical da condição religiosa e social do sujeito iniciado.
Foram os padres apologistas (séc. II) os primeiros a utilizar o conceito de
iniciação em ambiente cristão, durante as polêmicas com os interlocutores pagãos.
“Nós nos chamamos cristãos porque nos ungimos com o óleo de Deus”, diz Teófilo de
Antioquia (Ad Autol. I,12). A catequese catecumenal posterior contribuirá igualmente
para que se consolide a noção cristã de iniciação.
Neste III milênio tem crescido bastante o interesse por um renovado processo
de iniciação cristã. Há vários motivos para tal postura. Com efeito, “hoje não é possível
pensar em uma iniciação cristã, realizada quase de modo espontâneo, por influência
do ambiente”, pois “a nova situação social e cultural apresenta perfis de forte
secularização que determina, em muitos casos, o enfraquecimento e até o abandono
da fé”; e para dificultar ainda mais, a família “recebe também este impacto e, de fato,
raramente constitui hoje um âmbito cristão capaz de formar seus filhos na fé recebida”
(Guilarte, 2004, p. 602).
Os sacramentos são “o centro da sacramentalidade da Igreja e a fonte da
existência cristã”; são “as ‘maravilhas da graça’ que alicerçam a vida nova do Espírito
nos crentes” (Rocchetta, 1991, p. 219). Ao mesmo tempo em que são tesouros a
serem comunicados, a Igreja deve zelar a fim de que não sejam recebidos de um
modo indevido, sem consciência e liberdade (CDC 777, par. 5º). O processo de
iniciação cristã no estilo catecumenal se revela desde os primórdios como o mais
indicado para favorecer aos adultos esta inserção no mistério de Cristo.
2 TERMINOLOGIA
Convém uma distinção de terminologia que auxiliará na compreensão dessas
orientações.
Iniciação Cristã é um processo percorrido com metas, exercícios e ritos. Um
processo prolongado de preparação e acolhimento dos mistérios da fé, da vida nova
em Cristo Jesus (DNC 37). A catequese, por sua vez, está “a serviço da iniciação
cristã” (DNC 35). Diante do resgate da iniciação cristã, a catequese deve assumir um
rosto novo. Desejamos uma catequese com adultos que seja inspirada no processo
catecumenal (DNC 45).
O processo de iniciação à vida cristã, desde a Igreja antiga, é chamado de
catecumenato. Trata-se de um processo que contém quatro tempos: précatecumenato, catecumenato, iluminação e purificação, mistagogia. Assim, pode-se
usar o termo catecumenato para designar o processo inteiro, como também para se
referir ao segundo tempo, dedicado à instrução da fé. Deste modo, melhor é falar de
iniciação à vida cristã em estilo catecumenal, caracterizando que se trata de uma
iniciação cristã inspirada no catecumenato.
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3 A INICIAÇÃO CRISTÃ NA HISTÓRIA
3.1 Florescimento e decadência
Nos tempos apostólicos, o Batismo era comumente administrado logo após a
profissão de fé, que pressupunha o anúncio do mistério de Cristo e a conversão (cf. At
2,41; 8,37). O mandato de Jesus: “Ide, portanto, fazei que todas as nações se tornem
discípulos, batizando-as... e ensinando-as...” (Mt 28,19s) incluía em germe o elemento
litúrgico, moral e doutrinário. Segundo alguns autores, desde cedo a catequese
precedia o Batismo dos adultos. Por volta do ano 150 d.C., S. Justino Mártir faz
referência a uma preparação anterior ao Batismo cujo fruto é a adesão convicta à
verdade cristã e o empenho em viver segundo o seu ensinamento (Apol. I,61,2);
“...todos os que recebem esse doutrina ficam com o espírito cheio de luz”, afirma
(Apol. I,61,3; 62; 67).
A grande expansão do cristianismo exige uma formação mais profunda
daqueles que chegam à fé, levando igualmente em conta as perseguições que
ameaçavam a Igreja e as seitas heterodoxas que favoreciam a apostasia. Tertuliano
nos fala do “aprendizado dos ouvintes” (auditorum tirocinia – De Poenit. 6,14-15) e do
catecúmeno como “quem vem para Cristo, para a Igreja”, mas que ainda não é um fiel
(De praescript. haeretic. 41). Exorta os catecúmenos a se prepararem para o Batismo
com “orações assíduas, jejuns, prostrações e vigílias” (De Bapt. 20,1). Já menciona os
“padrinhos” (sponsores – De Bapt. 18), que talvez remontem aos tempos do Papa
Higino (+140 d.C.). Célebre é a sua afirmação sobre os três sacramentos da iniciação
cristã, contemplados em sua profunda unidade:
“...assim a carne é lavada, para que a alma seja purificada; a carne é ungida, para
que a alma seja consagrada; (...) a carne é coberta com a sombra da imposição
das mãos, para que a alma seja iluminada pelo Espírito; a carne é alimentada com
o Corpo e o Sangue de Cristo, para que a própria alma seja saciada de Deus; não
podem, por conseguinte, ser separadas na recompensa aquelas que estiveram
unidas na ação” (De resurrect. mort. 8).
A recepção dos primeiros sacramentos era precedida por uma instrução
bastante longa, com um período de prova, que poderia durar 3 anos, segundo o relato
de Hipólito de Roma:
“Ouçam os catecúmenos a Palavra durante três anos. Se algum deles for atento
ou dedicado, não se lhe considerará o tempo... Escolhidos os que receberão o
Batismo, sua vida será examinada: se viveram com dignidade enquanto
catecúmenos, ...se só praticaram boas ações... Aproximando-se o dia em que
serão batizados, exorcize o Bispo cada um, para saber se é puro... Jejuem na
véspera do sábado os que receberão o Batismo...” (Trad. Apost. 38-51; cf.
Concílio de Elvira, cân. 4,42).
S. Clemente de Alexandria dizia que, assim como se recolhem frutos de uma
árvore somente depois de 3 anos, assim os catecúmenos devem dedicar este mesmo
período para conseguir as virtudes (Pedag. 1,36,2; Strom. 2,96,1; 6,130,1). Os que se
encontravam neste processo eram chamados de catecúmenos (katekoúmenoi,
audiéntes), porque deviam ser instruídos nas verdades da fé cristã. Orígenes concebe
o catecumenato como ingresso na fé através de catequese que expresse um breve
resumo dos mistérios cristãos (C. Celsum 3,51).
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No terceiro século já se podem contar ao menos três tradições rituais para a
iniciação cristã (Roma, Síria e Egito). Via de regra, Batismo, Crisma e Eucaristia estão
liturgicamente unidos, e assim permanecerão pelo menos até o século VIII. A partir
daquela época, salvo em casos de urgência, o Batismo era administrado duas vezes
no ano, na vigília da Páscoa e de Pentecostes. Ao canto do galo se procedia à bênção
da água e ao rito batismal. Este passa a ser acompanhado por diversas cerimônias:
imposição do sinal da cruz, renúncia ao demônio, exorcismos, unções com óleo,
recitação da profissão de fé, promessa de fidelidade a Cristo. Ao Batismo, também
chamado iluminação, selo, regeneração (S. Gregório de Nazianzo, Orat. 40,3-4),
seguiam-se imediatamente a Crisma e a participação na Eucaristia. Curiosamente,
depois da comunhão era oferecida aos neófitos uma mistura de leite e mel, o alimento
dos recém-nascidos, costume inspirado na Escritura. Durante os 8 dias sucessivos à
solenidade batismal, os neobatizados andavam com vestes brancas, que depunham
no domingo depois da Páscoa.
Com o fim das perseguições (séc. IV), dá-se pouco a pouco uma adesão em
massa à Igreja sem motivações válidas (interesse, pressão social, costume). A
distância entre Igreja e sociedade desaparece e o processo iniciático é reduzido quase
exclusivamente ao Batismo. No século VI começa a se constatar a ruptura da unidade
Batismo-Crisma e o desaparecimento do catecumenato como instituição de longa
duração. O Sacramentário Gelasiano – cuja última redação é do século VII – contém
de modo não-ordenado formulários mais antigos, e se verifica que os destinatários da
iniciação são as crianças, não os adultos. Nos tempos de Carlos Magno, Alcuíno
exigirá apenas sete dias de preparação para os catecúmenos.
O termo e o conceito iniciação ou catecumenato desaparecem gradualmente.
No século XIV não se encontra em nenhum ritual a menção de ritos prévios ao
Batismo; tudo se agrupava em uma só celebração. No século XVI o Cardeal Santori
publicou um ritual que previa a restauração da antiga disciplina catecumenal,
sobretudo com vistas aos países de missão. O Catecismo Romano (1566) recordava
que, de um lado, os adultos não podiam postergar demais a recepção do Batismo,
mas de outro era necessário um certo tempo de preparação “para que ninguém receba
este Sacramento por disfarce ou hipocrisia”, adquirindo, ao contrário, “uma noção mais
nítida da fé que vão professar...” (p. II, cap. II, nn. 34.35). Todavia, o Ritual Romano de
1614 não levou isso às últimas conseqüências; o catecumenato dos adultos ficou
reduzido a uma catequese prévia ao Batismo.
3.2 Ressurgimento
O contato com novas terras e novos povos (séc. XVI) fará emergir novos
desafios para a obra evangelizadora da Igreja. Paulatinamente os missionários hão de
perceber que não basta administrar mecanicamente os sacramentos e, por isso,
muitos procurarão resgatar o que fora perdido da experiência primitiva. Por iniciativa
do Cardeal Lavigerie (fundador dos Padres Brancos), se é restaurado o catecumenato
na África (1878), iniciativa que se difunde também pela Ásia. Com todo o movimento
(bíblico, patrístico, litúrgico) de retorno às origens cristãs que desponta no século XIX,
a idéia de Cristianismo como Caminho (At 9,2; 18,25.26; 19,9.23; 22,4; 24,14.22)
ganharia novamente terreno. Entre os historiadores da antiguidade cristã (Monsenhor
Duchesne, Origens do culto cristão, 1889) reflora o termo iniciação cristã
compreendendo os três sacramentos (Batismo, Crisma e Eucaristia), difundindo-se
mais e mais entre os liturgistas e teólogos.
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No dia 16 de abril de 1962, nas vésperas do Concílio Vaticano II, foi publicado
um decreto que permitia aos ordinários locais distribuir em 7 sessões os ritos do Ordo
baptismi adultorum de 1614. No entanto, esta reforma foi insuficiente, pois não
resgatava o vigor e a beleza do catecumenato primitivo. Será a Constituição litúrgica
do referido Concílio (SC 64-68), de 1963, a traçar a linha-mestra de uma reforma muito
mais profunda. Restaura o catecumenato em sentido estrito (etapas e ritos) e permite
a inclusão de elementos de iniciação próprios de cada país, dentre outros. Neste
Concílio se fala explicitamente do Batismo, da Crisma e Eucaristia como parte da
iniciação cristã (SC 71; AG 14; PO 2). Nos documentos da reforma litúrgica posterior
se aceitará plenamente o conceito de iniciação cristã como participação sacramental
na morte e ressurreição de Cristo, conduzindo-nos à plena maturidade espiritual;
vejam-se, a esse respeito, os Ritos do batismo das crianças (1969), da Confirmação
(1971) e da Iniciação cristã dos adultos (1972).
O Magistério recente da Igreja se expressou várias vezes a respeito do
significado e valor da iniciação cristã de adultos. O Diretório Catequético Geral de
1971, os Sínodos sobre a Evangelização (1974) e a Catequese (1977), as decorrentes
Exortações apostólicas sobre a Evangelização (1975) e a Catequese (1979) são
alguns destes momentos. Consolidando este itinerário, o Catecismo da Igreja Católica
(1997) reafirma a importância do catecumenato de adultos, cujo escopo é o de lhes
permitir, “em resposta à iniciativa divina e em união com uma comunidade eclesial,
que levem a conversão e a fé à maturidade” (CIC 1248; 1229-1245). Naquele mesmo
ano o Diretório Geral para a Catequese (1997) coroa todo este processo, sublinhando
que a catequese de iniciação pretende “educar ao conhecimento e à vida de fé, de tal
maneira que o homem no seu todo, nas suas experiências mais profundas, se sinta
fecundado pela Palavra de Deus” (DGC 67), o que se dá em diversos “graus” (DGC
88s). Em toda a ação catequizadora da Igreja, o “catecumenato batismal” há de ser o
“modelo inspirador” (DGC 90). Recentemente o Papa Bento XVI escreveu sobre a
Eucaristia como plenitude da iniciação cristã, a qual jamais se dá sem um nexo com a
comunidade eclesial e a família (Sacramentum caritatis 17-19).
Neste mesmo espírito, a Igreja na América Latina tem-se empenhado no
incremento da iniciação cristã dos adultos. Desde a I Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano (Rio de Janeiro, 1955) se incentiva a “recorrer a todos
os meios aptos, aconselhados pela experiência, para melhor organizar e tornar efetivo
o labor catequético nas dioceses e paróquias” (V,57.2), mas sem referimento ainda à
iniciação cristã. Em Medellín (1968) se indica como uma das prioridades na renovação
catequética a efetivação de “novas formas de catecumenato na catequese de adultos”
a fim que fossem conduzidos a “um compromisso pessoal com Cristo” e “uma entrega
consciente à obediência da fé” (8.9; 8.17f). Anos depois, em Puebla (1979), aponta-se
como um avanço na catequese em nosso continente “uma tomada de consciência
cada vez maior de que a catequese é um processo dinâmico, gradual e permanente
de educação na fé” (984). A Conferência de Santo Domingo (1992) convoca todo o
continente à nova evangelização, que encontra na catequese o meio para uma
“educação contínua da fé” (302). A Exortação apostólica Ecclesia in America (1999),
fruto da Assembléia Sinodal dos Bispos para a América em 1997, chama a atenção
para a falta de suficiente formação no processo de iniciação cristã (34-35; 41; 66). Por
último, a Conferência de Aparecida (2007), partindo da constatação de uma “alta
porcentagem de católicos sem a consciência de sua missão” (DA 286), novamente
reitera como “tarefa irrenunciável” a de uma iniciação cristã que conduza a pessoa a
“um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo” (DA 287.289). Para que as
paróquias possam levar a sério este empenho, propõe explicitamente “o estudo e a
assimilação do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos” (DA 293).
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4 O RICA (RITUAL DE INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS)
O novo Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA) – Ordo initiationis
christianae adultorum – foi aprovado pela Sagrada Congregação para o Culto Divino a
6/01/1972, como uma resposta adequada aos apelos do Concílio. Deixa claro que no
centro do processo de iniciação cristã está “o anúncio do mistério de Cristo”. O texto
inclui 7 capítulos: Rito do catecumenato por etapas (cap. I); Rito abreviado para
iniciação de adultos (cap. II); Rito abreviado para um adulto em perigo de morte (cap.
III); normas para a preparação à Confirmação e Eucaristia de adultos que tenham sido
batizados na infância (cap. IV); Ritual de iniciação de crianças em idade catequética
(cap. V); textos diversos para o batismo de adultos (cap. VI); textos omitidos no
ordenamento prático geral dos ritos de iniciação cristã de adultos (cap. VII).
O paradigma é o Rito do catecumenato em torno de suas etapas (cap. I), pois é
a forma completa e comum da iniciação de adultos (Prenot. 3); o restante responde a
situações circunstanciais. No Apêndice se encontra o Rito de admissão na plena
comunhão da Igreja Católica das pessoas já batizadas validamente. O RICA propõe a
toda a Igreja um caminho de fé que conduz ao Batismo, à Crisma e Eucaristia, através
de diversas e progressivas etapas da experiência cristã.
Esta tentativa de resgatar o catecumenato primitivo nasce da persuasão de que
a Igreja está hoje em estado de missão (AG 1), e por isso não se limita a acolher pura
e simplesmente em seu meio quem dela se aproxime, mas quer oferecer-lhe um
caminho de ingresso na comunidade à luz das atuais exigências e dificuldades. Brota
também da consciência de que os passos previstos na antiga disciplina catecumenal
não estão ligados a uma época histórica, mas gozam de um valor perene; por isso há
uma recuperação de numerosos elementos já presentes, p. ex., em Hipólito de Roma
(Chupungco, 1998, p.90).
O RICA se apresenta como “um verdadeiro tratado teológico-litúrgico sobre a
missão da iniciação cristã na Igreja e sobre os fundamentos da iniciação cristã”, bem
como “um tratado catequético-pastoral para a valorização dos ritos e a unidade
sacramental da própria iniciação cristã” (Esteves-Cordeiro, 2008, p.109). É
recomendável que todas as lideranças eclesiais tenham conhecimento ao menos das
observações preliminares e da introdução.
Dentre outros, no rito se destaca o crescente e qualificado envolvimento de
toda a comunidade cristã na vida do futuro cristão, através de uma rica
ministerialidade (introdutores, catequistas, padrinhos etc.) e em vista de um caminho
de conversão e fé que se torna sempre mais comunitário. A gradualidade do processo
de iniciação refletido no RICA corresponde à dinâmica intrínseca ao próprio
Cristianismo: anúncio-conversão-acolhida da Palavra, celebração sacramental e
experiência de vida nova. É de se destacar também uma certa liberdade que o ritual
deixa a quem o utiliza, pois diversos são os formulários, as monições, as intenções de
oração.
5 DIMENSÕES DA INICIAÇÃO CRISTÃ
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Existem várias tentativas de definir conceitualmente a iniciação cristã.
Podemos compreendê-la como “o acesso à experiência do mistério de Cristo,
mediante a passagem de um estado (catecúmeno) a outro (fiel) através dos
sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia” (Floristán, 1989, p. 217). Do
ponto de vista histórico, pode ser descrita como a instituição eclesial de tipo pastorallitúrgico nascida e consolidada a partir da experiência, aprovada pela autoridade
eclesiástica, desenvolvida dentro da comunidade cristã a partir do fim do século II e
difundida em toda a Igreja nos séculos III e IV, transformada na 2ª metade do século
IV, ainda viva no século V, decaindo e desaparecendo nos séculos VI e VII.
Considerando-a atentamente à luz da fé, podemos identificar algumas dimensões que
lhe são constitutivas e que em nossa ação pastoral, litúrgica e catequética não
podemos desconhecer.
5.1 Dimensão cristológica-teológica
A celebração da iniciação cristã é, antes e acima de tudo, uma das manifestações – no
espaço e no tempo – da misericórdia divina (RICA 187) que, em Jesus Cristo
(particularmente no seu mistério pascal), nos convida a participar do seu projeto de
comunhão no amor com o Pai, por Ele, no Espírito. “O rito mostra em toda clareza
como a realidade de fé, a salvação, seja obra de Deus, uma obra que se refere a mim,
que é antecedente ao meu modo de pensar e de querer, não deriva de mim mesmo...”
(Schneider, 1985, p. 70); “A iniciação cristã é a graça benevolente e transformadora,
que nos precede elegendo-nos para ser seus filhos e nos dá a verdadeira vida”
(Guilarte, 2004, p. 605). Logo no início, ao assinalar a fronte e os sentidos dos
candidatos, a Igreja lhes diz: “Cristo chamou a vocês para serem seus amigos” (RICA
83).
5.2 Dimensão histórico-salvífica
Na catequese dos Santos Padres é ampla a perspectiva dentro da qual se situa o
catecumenato, ou seja, entre a criação e parusia (protologia e escatologia), em cujo
cenário se destacam dois antagonistas: Deus (Criador) e Satanás (criatura). Como
ponto de partida está sempre o amor de Deus por nós, que se manifesta em suas
“obras divinas maravilhosas” (Tertuliano, De bapt. II,2). Através dos sacramentos, a
salvação se atualiza em nossa história pessoal e coletiva: “A economia sacramental
revela-nos a unidade orgânica entre a salvação individual e a salvação social, na glória
de Deus” (Häring, 1993, p. 190). Numa das orações do Rito de Acolhida se pede pelos
catecúmenos: “...concedei que conservem em sua vida a graça da vitória da cruz”
(RICA 87). Como outrora, é o Senhor que continua caminhando entre nós,
transformando a nossa existência.
5.3 Dimensão eclesiológica
A comunidade dos fiéis é o “sacramento visível” da salvação para todos (LG 9). A
inserção nesta comunidade de irmãos e irmãs de Jesus Cristo se dá por intermédio do
Batismo (membro da Igreja), do Crisma (impele à ação eclesial) e da Eucaristia
(aprofunda a incorporação à Igreja), cada qual a seu modo, mas confluindo para um
mesmo fim. Na iniciação cristã o candidato é convidado a pedir à Igreja de Deus o
dom da fé (RICA 75) e o símbolo (186), e é esta mesma Igreja quem o acolhe: “...a
Igreja, em nome de Cristo, chama vocês para os sacramentos pascais” (146). De
resto, os sacramentos são ações de Cristo na Igreja, pelo que se insiste em sua
celebração comunitária (RICA 70; SC 27; 48; 59) e na valorização dos diversos
ministérios (RICA 42-48; 137).
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5.4 Dimensão litúrgica
No catecumenato antigo se encontram diversos momentos celebrativos, tais como:
exorcismos (quotidianos na Quaresma), escrutínios, entrega do símbolo (séc. IV) após
alguns dias da sua entrega ou recitação de memória pelos candidatos ao Batismo
(traditio-redditio). Em vários lugares vigorava o uso da iniciação à oração com a
entrega e a reentrega do Pai Nosso. O atual RICA resgatou a maioria destes
elementos litúrgicos, procurando enriquecê-los com orações e leituras bíblicas que
favoreçam uma maior imersão no mistério que se atualiza (RICA 103). A Quaresma
serve de preparação imediata à iniciação sacramental (RICA 133), culminando com a
sua celebração na Vigília Pascal (RICA 208). Gestos litúrgicos como estender as
mãos, ajoelhar-se etc. permeiam a iniciação e devem ser valorizados.
5.5 Dimensão ascético-moral
Encontram-se ao longo do itinerário catecumenal primitivo diversas práticas
penitenciais: jejuns, prostrações, vigílias, orações, confissão dos pecados, perdão das
ofensas, renúncia ao pecado, esmolas e obras de caridade. Tais práticas se
intensificavam na preparação quaresmal, e visavam uma maior coerência de vida. O
atual RICA observa a respeito dos escrutínios: “O que se procura por eles é purificar
os espíritos e os corações, fortalecer contra as tentações, orientar os propósitos e
estimular as vontades, para que os catecúmenos se unam mais estreitamente a Cristo
e reavivem seu desejo de amar a Deus” (RICA 154). Espera-se dos catecúmenos que
“progridam no conhecimento de si mesmos, no exame sincero da consciência e na
verdadeira penitência” (RICA 155).
5.6 Dimensão mistagógica
O Símbolo encerra em si um “resumo de nossa fé” através de “poucas palavras” que
contêm “grandes mistérios” (RICA 198). Pelos “sinais visíveis dos sacramentos” o
Senhor realiza “maravilhas invisíveis” (RICA 215). O catecumenato quer favorecer um
encontro vivo com estes mistérios que, em Jesus – Senhor e Salvador – encontram o
seu cerne (Rm 16,25). “Se chama mistério, não por considerar o que vemos, mas sim
porque vemos uma coisa e cremos em outra. Esta é a fé de nossos mistérios” (S. João
Crisóstomo, In 1Cor., hom. 7,1). Para os padres gregos (S. Cirilo de Jerusalém, S.
Basílio Magno etc.), o Batismo era o ponto de partida da mistagogia ou caminho de
inserção nestes mistérios. Devemos, pois, cuidar para não esconder a graça divina
com excessivas ingerências humanas, pois “a luz dos mistérios penetra melhor nos
que não a esperam do que se uma explicação qualquer os precedesse” (S. Ambrósio,
De myster. I,2,156s).
5.7 Dimensão catequética
A instrução unitária dos inscritos ao Batismo é realizada no século III por presbíteros e
leigos e no século seguinte pelo bispo ou seu delegado. O seu conteúdo é de natureza
bíblico-dogmática, ascético-moral e sacramental-mistagógica. O pano-de-fundo é
sempre histórico-salvífico. A catequese se estrutura em relação ao catecumenato,
preparando progressivamente o candidato. O atual RICA pretende recuperar também
este aspecto, falando de “formação adequada para a vida cristã integral” (RICA 98) e
de exposição da “doutrina sob todos os aspectos” (RICA 99). A própria celebração da
iniciação cristã já se reveste de um caráter catequético, uma vez que em toda liturgia
cristã a palavra se torna evento e, assim, o conteúdo celebrado é conteúdo de fé (lex
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orandi, lex credendi). Todo ensinamento testemunhado e anunciado deve conduzir o
candidato ou o catecúmeno à fé, esperança e amor: “Tudo aquilo que contais, dizei-o
de tal maneira que o vosso ouvinte, escutando, creia; crendo, espere, e esperando,
ame” (S. Agostinho, Cat. 4,8).
5.8 Dimensão pastoral
Os sacramentos expressam e nutrem a fé, particularmente a Eucaristia. Deste modo,
cada celebração sacramental é concretamente um momento de evangelização sobre o
mistério do Cristo vivo e glorioso na Igreja e sobre o dom da nova vida que ele
transmite aos fiéis de todos os tempos (kerygma). Toda a paróquia ou comunidade
cristã é convidada a assumir a iniciação cristã como uma de suas prioridades
apostólicas (RICA 41), valorizando todo o processo catecumenal e suas celebrações,
ocasiões fecundas para suscitar e renovar a fé. O nosso agir cristão há de favorecer
sempre o robustecimento tanto da fé pessoal como eclesial, dimensões constitutivas
da mesma fé teologal; “a catequese de iniciação assegurará, pois, ao mesmo tempo
uma fé interiorizada e uma fé sacramental” (Colomb, s/d, p. 336).
5.9 Dimensão canônica
O atual Código de Direito Canônico (1983) distingue a preparação para o Batismo de
crianças e adultos. A preparação destes últimos se realiza através do catecumenato
em suas distintas etapas (CDC 851). O Código entende por catecúmenos aqueles
que, movidos pelo Espírito Santo, solicitam ser incorporados na Igreja, unindo-se
assim a ela pela “vida de fé, esperança e caridade” (CDC 206). Após a promulgação
do CDC se fizeram as oportunas reformas para que os livros litúrgicos estivessem de
acordo com a normativa canônica. Destas disposições se deduz que, no caso dos
adultos ou crianças maiores de 7 anos (CDC 97 e 852), a adoção do catecumenato é
obrigatória, variando o modo de realizá-lo. Batismo, Crisma e Eucaristia “se acham de
tal forma unidos entre si, que são indispensáveis para a plena iniciação cristã” (CDC
842). Para quem atingiu o uso da razão é necessária a intenção de receber o Batismo,
tendo sido instruído ao menos sobre o mistério da Trindade e da Encarnação, de
modo que “o batizado sem vontade de receber o Sacramento, não fica batizado, nem
lícita nem validamente” (Instr. da Sagrada Congregação do Santo Ofício, 3.08.1860:
DS 2835-2839; cf. DS 2380s; 3333-3335). Para recebê-lo licitamente é necessária a fé
e o arrependimento (CDC 865).
5.10 Dimensão antropológico-simbólica
Na etnologia e na história das religiões, iniciação é uma expressão que nos remete a
ritos que exprimem uma mudança radical nas precedentes condutas de vida, social ou
religiosa, e, sobretudo, a passagem da fase juvenil àquela da idade madura. É, pois,
um ato extremamente significativo no processo de socialização, pelo qual o sujeito se
insere em um determinado grupo. Constitui um rito de passagem, expressão cunhada
em 1909 pelo estudioso francês Arnold van Gennep. Desde o início do cristianismo, o
abandono do velho e o retorno ao novo se dão sob o sinal do banho, cujo simbolismo
tem acompanhado há tempos imemoriais o ser humano. A confissão batismal, que até
hoje se conserva na sua forma originária de perguntas e respostas, mostra claramente
que se trata de um apelo pessoal a uma escolha livre, decisiva e duradoura (Hipólito
de Roma, Trad. Apostol. 48-50). Não é à toa, pois, que a iniciação cristã se abra com
um diálogo: “Qual é o teu nome?”, “Que pedes...?” (RICA 75).
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O ser humano pode representar o mundo de duas maneiras: direta ou indiretamente.
Serve-se para isso de diversos tipos de linguagem, que basicamente se reduzem à
verbal e não-verbal. O símbolo (sym-bolon= conjunção, pacto) acompanha nossa
existência desde a mais tenra idade, já que é anterior à linguagem e à razão
discursiva. No âmbito sacramental representação e representado se conjugam; o
sacramento não é apenas sinal comemorativo ou prognóstico, mas demonstrativo –
efetivo – da graça de Cristo (Sto. Tomás de Aquino, S. Th. III, q. 60, a. 2). Deve-se,
pois valorizar ao máximo as expressões sensíveis e visíveis (água, vestes, óleo etc.),
não esquecendo, contudo, que os sacramentos da iniciação cristã “não são
simplesmente um ‘corpo simbólico’ para exprimir o desejo de aproximar o homem do
mistério”, mas “elementos visíveis de uma realidade total em que Cristo, pela Igreja,
comunica com sua presença o que os símbolos significam” (Borobio, 1993, p. 25).
6 Conclusão
A renovada sensibilidade cristã a respeito do catecumenato de adultos traz
como um dos seus frutos a recuperação da visão unitária dos sacramentos da
iniciação cristã. Tal nexo é justificado pelo fato de que são três etapas de um único
mistério, no qual o crente é gradualmente introduzido. Trata-se da configuração
progressiva a Cristo na Igreja, uma vez que, embora se possa falar – de modo análogo
– de “alma naturalmente cristã” (Tertuliano, Apologet. 17), de fato “a pessoa não nasce
cristã, mas [precisa] tornar-se cristã” (id., De test. anim. 17). O Batismo faz nascer a
nova vida; a Crisma aperfeiçoa esse nascimento e o leva à maturação; a Eucaristia
cumpre, recapitula e consuma (Rocchetta, 1991, p. 286).
Sob o impulso do Concílio Vaticano II, a Igreja tem procurado resgatar um dos
elementos mais preciosos de sua história, a iniciação cristã, cujo núcleo está em
perfeita sintonia com aquilo que é a nossa fé: “O cristianismo aparece como uma fé e
uma praxe mistérica à qual se acede, na qual somos introduzidos, e que conduzem a
uma conformação interior e vital a Cristo dentro da comunidade cristã, para uma nova
existência. (...) A iniciação cristã exprime (...) o mistério e a profunda realidade que
introduz o homem na vida nova: seja transformando-o no seu ser (partícipe da
natureza divina em Cristo); seja empenhando-o pessoalmente a uma escolha de fé
para viver como filho de Deus (fé pessoal)” (Falsini, 1987, p. 13).
Aos vinte e dois anos a jovem romana Perpétua, casada, de família nobre,
estava na fase do catecumenato, mas seu pai não sabia da sua decisão de abraçar o
cristianismo. Havendo-se desencadeado uma perseguição ao redor do ano 200, foi
levada ao cárcere juntamente com muitos outros fiéis. O pai se irrita com a filha e tenta
dissuadi-la da sua decisão. É a própria Perpétua que nos transmite a sua história,
redigida antes de ser martirizada, na qual se lê: “Pai – disse-lhe –, o senhor está
vendo, por exemplo, esse vaso que está ali no chão? – Vejo – respondeu-me. – Por
acaso é possível dar-lhe outro nome diferente do que tem? – Não – respondeu-me. –
Pois eu também não posso ser chamada com outro nome diferente do que tenho:
cristã” (Passio Perpetuae 3).
Oxalá todo o nosso empenho em prol do catecumenato de adultos possa fazer
vir à luz cristãos valorosos como S. Perpétua e tantos outros batizados em idade
adulta (S. Paulino de Nola, S. Ambrósio, S. Agostinho, S. Jerônimo, S. João
Crisóstomo etc.), tão necessários para a Igreja do novo milênio.
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