alergia à proteína do leite de vaca: conhecimento dos pais e/ou

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ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA: CONHECIMENTO DOS PAIS E/OU
RESPONSÁVEIS DE CRIANÇAS BENEFICIÁRIAS DO PROGRAMA DE LEITES
ESPECIAIS DO MUNICÍPIO DE GRAVATAÍ, RS.
Luana Dias Gracioli1
RESUMO
A alergia alimentar à proteína do leite de vaca (APLV) é a manifestação clínica que envolve
mecanismos imunológicos e é a mais comum das alergias em crianças. O objetivo do estudo
foi verificar o conhecimento dos pais ou responsáveis de crianças atendidas pelo Programa de
Leites Especiais no município de Gravataí/RS, sobre Alergia à Proteína do Leite de Vaca.
Para a pesquisa foi utilizado um questionário, foram entrevistados 29 pais e/ou responsáveis
pelas crianças. Observou-se que 85% dos pais e/ou responsáveis acreditam que os sintomas
gastrointestinais são os únicos sintomas da APLV. Destes, 29, 7% acreditam que esta doença
não tem cura. Os termos soro do leite, lactose e lactulose foram os mais reconhecidos como
indicadores de presença de leite pelos entrevistados. Através do estudo pode-se observar que
os pais e/ou responsáveis não apresentam um conhecimento satisfatório sobre a APLV.
Palavras-chave: Alergia alimentar. Proteína do Leite de Vaca. Fórmulas infantis.
1 INTRODUÇÃO
A alergia alimentar é a denominação que caracteriza manifestações clínicas
envolvendo mecanismos imunológicos que podem ser decorrentes da ingestão, inalação ou
contato com algum determinado alimento (BISFELD et al., 2009).
A prevalência de alergia alimentar é mais alta em pacientes pediátricos com dermatite
atópica grave ou moderada, sendo que 30% dos pacientes podem apresentar manifestações
clínicas ao desencadeamento com alimento (JACOB, 2007).
Entre as alergias alimentares, a mais comum na infância, é a alergia a proteína do leite
de vaca (APLV) e, muitas evidências nos mostram uma prevalência de até 7% em crianças
menores de 3 anos de idade (CASTRO et al., 2005). A incidência desta alergia ainda é muito
1
Discente do Curso de Nutrição do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, E-mail: luana.gracioli@gmail.
com, sob orientação da Profª Mª Fernanda Miraglia do UNILASALLE, E-mail: [email protected].
discutida, mas pode variar de 0,5 a 7,5% com diferenças grandes em diversos estudos
(VILLARES et al., 2005).
Na APLV os sintomas mais comuns são os que aparecem no trato gastrointestinal,
trato respiratório e pele. As manifestações clínicas se manifestam através de urticárias,
pruridos, vômitos, diarréias, náuseas, dor abdominal, angiodema, broncoespasmo e
constipação intestinal, entre outras (CORTEZ et al., 2007).
Os principais fundamentos do tratamento da APLV são: 1) exclusão do alérgeno, ou
seja, retirar da dieta o leite de vaca e seus derivados; 2) ter um nova dieta nutricionalmente
balanceada e adequada. O leite de vaca e seus derivados apresentam um alto valor nutritivo,
além de ser uma ótima fonte de cálcio, desta forma, a dieta com a exclusão deste alimento
deve ser bem administrada para que forneça todos os nutrientes necessários para a criança
(WEBER et al., 2007).
O leite materno, artificial ou a fórmula infantil são os primeiro alimento que o lactente
tem contato, sendo considerada, a primeira fonte de antígeno alimentar. Assim, é comum que
durante o primeiro ano de vida seja o alimento mais responsável pelas alergias alimentares
(VILLARES, 2006).
Um inquérito epidemiológico realizado no Brasil mostrou que entre 9.478 crianças,
7,3% apresentaram suspeita de alergia alimentar. Nessas crianças, o alimento mais
relacionado com a alergia foi o leite de vaca com 77,0%, seguido pela soja com 8,7%, ovo
2,7% e outros alimentos 11,6% (BINSFELD, 2009).
Um estudo realizado no Hospital Universitário de Madrid na Espanha diagnosticou
141 crianças com APLV, destas, 47,5% apresentaram dermatite atópica e 25,5% sibilâncias.
Vinte e sete por cento tinham alergia a outros alimentos além do leite. E, apenas 21,3%
tinham superado a alergia até dois anos de vida (VILLARES, 2006).
No estudo realizado no Ambulatório de Alergia Alimentar da Unidade de Alergia e
Imunologia do Instituto da Criança do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP), no período de maio de 2007 à janeiro de 2008, foram
entrevistados 52 familiares de pacientes com APLV sobre o conhecimento dos rótulos de
produtos industrializados. Os entrevistados relataram que 57,7% dos familiares fazem a
leitura habitual do rótulo dos produtos alimentícios, 59,6% dos medicamentos e 46,2% dos
cosméticos. Dentre os resultados obtidos, concluiu-se deficiência na compreensão na
identificação dos termos relacionados ao leite por parte dos pais (BINSFELD, 2009).
O diagnóstico na prática clínica fundamenta-se na hereditariedade familiar ou casos de
atopias individuais, história clínica e pesquisa de IgE específica por meio de testes cutâneos
ou pesquisa in vitro, especialmente, no diagnóstico da APLV desencadeada por mecanismos
imunológicos mediadas por IgE. Naquelas alergias não mediadas por IgE, o exame que mais
pode auxiliar no diagnóstico é a biópsia intestinal (CASTRO et al., 2005).
O diagnóstico da alergia à proteína do leite de vaca não é algo fácil a ser realizado,
pois seu tratamento consiste na exclusão do leite de vaca da dieta do paciente, sendo este
alimento um dos principais na fonte e biodisponibilidade de cálcio, micronutriente
fundamental para esta fase da vida, podendo assim prejudicar o crescimento normal e a
qualidade da dieta (CORTEZ et al., 2007).
O único e principal tratamento existente até o momento para as alergias alimentares é
a exclusão total do alimento responsável da dieta (ACCIOLY et al., 2009).
Em casos com sintomas mais graves é prescrito o uso de fármacos. Quando há um
quadro cutâneo, urticária e/ou angiodema o uso de epinefrina intramuscular, anti-histamínico
oral ou em casos mais longos os corticosteróides orais podem ser necessários. Quando os
sintomas são respiratórios, o tratamento utilizado é a nebulização de agente broncodilatador
(Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar, 2008).
Desta forma, com o propósito de se obter maiores subsídios para um eficiente
tratamento nutricional na alergia a proteína o leite de vaca, o presente estudo teve como
principal objetivo verificar o conhecimento dos pais e/ou responsáveis de crianças atendidas
pelo Programa de Leites Especiais no município de Gravataí/RS, sobre Alergia à Proteína do
Leite de Vaca.
2 MÉTODOS
Foram incluídos nesta pesquisa pais e/ou responsáveis de crianças atendidas no Centro
Especializado em Nutrição e Qualidade de Vida (CENQ) do município de Gravataí, RS, no
período de março a maio de 2012. Neste município, o programa de leites especiais foi criado
em 2004 e regulamentado pelo decreto de nº 6.484 de 04 de outubro de 2004, no qual trata o
seguinte:
Art. 2.° O fornecimento da fórmula específica dar-se-á com a apresentação do laudo
médico atestando a necessidade especial do paciente, discriminando e enquadrando
o caso, dizendo a quantidade mensal de latas de leite a serem fornecidas para cada
paciente individualmente de acordo com a necessidade do mesmo e com o devido
acompanhamento do Centro de Políticas Especiais.
O programa foi criado com o objetivo de diminuir a demanda judicial que vinha
crescendo muito no município, sendo assim a distribuição da fórmula mais rápida. Esta
distribuição de fórmulas é destinada a crianças com diagnóstico confirmado de alergia, entre 0
a 5 anos de idade residentes deste município.
O fornecimento da fórmula é feito mensalmente no Centro Especializado em Nutrição
e Qualidade de Vida (CENQ) por uma nutricionista, a criança é avaliada antropometricamente
além de receber orientações nutricionais. Ao final da consulta, ela recebe o número de latas
necessárias para o mês juntamente com o agendamento da próxima data de consulta.
A amostra foi composta inicialmente por 30 pais e/ou responsáveis de crianças que
realizam a retirada mensal de fórmulas especiais no CENQ.
Os participantes da pesquisa foram esclarecidos sobre o estudo e logo após assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O estudo foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa do Centro Universitário La Salle sob o número 11/071.
Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário que deveria ser preenchido e
entregue para a pesquisadora durante a dispensação mensal das fórmulas especiais. Houve
uma demonstração sobre o preenchimento do questionário com o intuito de explicar o
instrumento de pesquisa. A pesquisadora ficou disponível para esclarecer eventuais dúvidas
sobre o instrumento.
O instrumento de pesquisa foi subdivido em três partes: a primeira era constituída de
nove questões fechadas com apenas uma possibilidade de resposta (verdadeiro, falso e não
sei) e questões que permitiam várias alternativas como resposta.
Na segunda parte do questionário, constavam oito questões que se referiam ao
paciente como idade, escolaridade, raça, renda familiar. Na questão sobre a renda familiar,
foram coletados dados referentes ao Critério de Classificação Econômica Brasileira, conforme
a metodologia proposta pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP/2009),
para avaliação econômica do consumidor brasileiro. De acordo com essa classificação o
brasileiro pode ser classificado em oito classes (A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E), sendo que a
classe A1 é a que apresenta melhor condição econômica.
E por último, na terceira parte, havia três questões referentes à mãe do paciente como
idade, escolaridade e profissão.
A tabulação de dados foi realizada através do programa Microsoft Office Excel 2007,
com a elaboração de tabelas e gráficos para a melhor visualização dos dados.
O instrumento de pesquisa foi adaptado do questionário validado The Chicago Food
Allergy Research Surveys for Parents of Children with Food Allergy pela própria
pesquisadora para a população em questão.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram deste estudo 29 crianças com APLV, e seus pais e/ou responsáveis
usuárias do CENQ. Houve a perda de 1 criança cujo pai ou responsável não quis participar da
pesquisa. Destas, 15 eram do gênero masculino (52,0%) e tinham entre 2 meses e 3 anos de
idade sendo que 59,0% tinham entre 6 meses e 1 ano de idade. Quando questionados sobre
onde a criança passava maior parte de seu dia, observou-se que 86,0% ficavam em casa com
suas mães ou com algum familiar bem próximo e 14,0% ficavam algum período na creche ou
escolinha.
Nesta amostra, a renda familiar observada, de acordo com a Associação Brasileira de
Empresas de Pesquisa (ABEP/2009) foi a classe C2 com 31,0%, seguida pela classe D com
28,0%.
Sobre o perfil das mães, 52,0% delas trabalhavam fora e o restante era Do lar, todas
tinham entre 18 e 40 anos, sendo 52,0% com idades entre 19 e 30 anos. A escolaridade destas
mães variou entre o ensino fundamental incompleto até a graduação completa.
Em relação ao conhecimento dos pais e/ou responsáveis dos pacientes sobre a APLV
observou-se que 90,0% acertaram quando questionados se os alimentos consumidos pela mãe
poderiam ser transmitidos ao filho através do leite materno, apenas 1 errou a questão e 2 não
sabiam responder. Já na questão que mencionava a dieta de exclusão os participantes tiveram
mais dúvidas, o percentual de acerto foi de 66,0%, 17,0% não souberam responder e no
restante a resposta foi “não”. Sabe-se que o aleitamento materno é o melhor, mais completo e
mais seguro alimento para o bebê até o seu sexto mês de vida. Por ser o leite o único alimento
desta criança, ele se torna o primeiro antígeno em contato com a criança o que pode mesmo
em aleitamento materno se desenvolver em uma APLV. O tratamento desta alergia se baseia
na exclusão total do leite de vaca o que pode vir acarretar uma menor ingestão de nutrientes, a
diminuição na estatura, e a ingestão insuficiente de cálcio, sendo este um elemento
fundamental para o desenvolvimento ósseo nessa etapa da vida (MEDEIROS et al., 2004).
Quando se exclui da dieta de uma criança algum alimento ou grupo alimentar, é
necessário considerar que nutrientes serão perdidos, com isso deve-se realizar uma avaliação
para verificar se os outros alimentos da dieta estão suprindo-o em qualidade e quantidade a
fim de decidir entre a adequação da dieta ou uma suplementação extra. Quando o alimento
retirado da dieta é o leite e seus derivados, nutrientes como o cálcio, fósforo, riboflavina,
ácido pantotênico e vitaminas B12, A e D deverão ser repostos de alguma maneira. Devido à
dificuldade de se obter o cálcio em produtos não lácteos, em muitas situações, preconiza-se a
suplementação medicamentosa (PALMA et al., 2009).
Nos produtos lácteos, a biodisponibilidade de cálcio é alta e está relacionada com a
vitamina D e com a presença de lactose, com isso aumentam a sua absorção no intestino.
Além do leite e derivados são fontes de cálcio os vegetais folhosos escuros, tais como a
couve, couve manteiga, folhas de mostarda, de brócolis e de nabo, mas nestes o cálcio está
pouco biodisponível (BUENO e CZEPIELEWSKI, 2008).
Um estudo acompanhou 100 crianças com idade entre 1 e 17 meses com dermatite
atópica e APLV, no qual observaram que a média de peso e estatura do grupo que recebia
dieta isenta de leite de vaca foram menores quando comparadas aos do grupo controle,
composto de 60 crianças saudáveis. No entanto, não foram encontradas diferenças
significativas no total de calorias ingeridas pelas crianças. Outro trabalho que comparou o
estado nutricional de 26 crianças com idade média de 19 meses que recebiam dieta isenta de
leite de vaca e derivados e 30 crianças com idade média de 16,8 meses sem nenhum tipo de
restrição alimentar, observou que o grupo que recebia dieta isenta de leite apresentou menor
ingestão calórica quando comparados ao grupo controle, além de todos os índices
antropométricos menores que o grupo controle, o qual não havia nenhuma restrição alimentar
(PEREIRA e SILVA, 2008).
Na figura 1, podemos observar que a maioria dos participantes respondeu como sendo
sintomas da APLV somente os gastrointestinais que no questionário estavam sinalizados por
dor abdominal, vômitos, diarreias, sangue nas fezes, entre outras. Apenas 3 pessoas (9,0%)
marcaram a asma (sintoma respiratório) como sintoma. Também se observou alguns erros
como os 6,0% que marcaram o aumento de peso como sendo um sintoma da APLV. Esses
resultados obtidos podem ser explicados pelo motivo de que muitos pais e/ou responsáveis
que participaram da pesquisa responderam como sintomas da APLV apenas aqueles sintomas
que seus filhos apresentaram no quadro inicial da doença. Um estudo realizado em 2010 pela
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) constatou que quase 50% dos pacientes com
sintomas atribuídos à ingestão de leite de vaca não tiveram a APLV confirmada no teste de
desencadeamento oral. Os pacientes relatavam vários sintomas no momento da inclusão no
estudo, porém, no momento do teste de desencadeamento oral, 24/35 pacientes confirmaram
com apenas um sintoma e 11/35 confirmaram com dois sintomas. Eles também encontraram
uma grande associação entre manifestações cutâneas e teste de desencadeamento alimentar
oral positivo. A presença de sintomas digestivos e respiratórios não se associou com a
confirmação do diagnóstico de APLV (LINS et al., 2010).
Figura 1 - Percentual das respostas sobre os sintomas da APLV pelos pais e/ou responsáveis.
Fonte: Autoria própria, 2012
Observou-se que 24 entrevistados (83,0%) sabiam que a APLV tem cura, enquanto
que 2 (7,0%) acreditavam não haver cura para esta alergia e outros 3 (10,0%) não sabiam
responder. Quando questionados se precisavam ou não ter cuidado com rótulos alimentares na
hora de oferecer algum alimento industrializado à criança, os participantes foram todos
unânimes, 29 (100,0%) acertaram a questão.
Na figura 2, podemos observar que os participantes ficaram mais divididos ao
responder se existia algum perigo ao preparar alimentos no mesmo utensílio onde já havia
sido preparado algum com leite.
Figura 2 - Questão sobre perigo no uso de utensílios na preparação de alimentos ou receitas
sem leite.
Fonte: Autoria própria, 2012
A questão referente à presença de leite nos alimentos foi a que gerou mais dúvidas. E
dentre todas as opções presentes na lista o soro de leite foi o que teve maior citação, seguido
da lactose, e conforme a figura 3, o Whey Protein que é o nome comercial mais conhecido da
proteína do soro do leite foi a menos sinalizado. Nos tempos de hoje, sabe-se que 70% da
população brasileira criou o hábito de consultar os rótulos antes de comprá-los e que mais da
metade destes não entendem adequadamente o significado das informações, por este motivo a
importância da orientação de um profissional sobre leitura de rótulos, principalmente a pais e
pacientes com alergia alimentar (BINSFELD et al., 2009).
Uma pesquisa norte-americana realizada em Nova York, com 91 pais ou responsáveis
de crianças alérgicas a algum alimento identificou que 60 eram alérgicas à proteína do leite de
vaca, e apenas 4 responsáveis (7%) foram capazes de identificar corretamente todas as 14
embalagens que indicavam a presença do leite. O objetivo deste estudo era a precisão da
interpretação e identificação dos rótulos dos alimentos industrializados por pais ou
responsáveis de crianças com APLV. Foi concluído que os pais cometem grandes erros ao ler
estes rótulos o que pode resultar em uma reação alérgica, colocando a vida da criança em
risco (JOSHI et al., 2002).
Outro estudo realizado no Ambulatório Alimentar da Unidade de Alergia e
Imunologia do Instituto da Criança do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP) no período de maio de 2007 a janeiro de 2008, onde o
principal objetivo era avaliar a capacidade de identificação de termos relacionados ao leite de
vaca em rótulos por familiares, observou que lactose, caseína e caseinato tiveram percentuais
de identificação de 92,3%, 38,5% e 23,1% respectivamente. O lactato foi citado como
presença de leite por 51,9% dos participantes do estudo. Neste estudo também pôde-se
concluir que existe uma deficiência na compreensão e identificação dos termos relacionados
ao leite por parte dos pais (BINSFELD et al., 2009).
Figura 3 - Relação da listagem de nomes que podem indicar presença de leite.
Fonte: Autoria própria, 2012
Na tabela 1, podemos observar a identificação dos alimentos que deveriam ser
excluídos da dieta da criança com APLV.
Tabela 1: Relação das respostas sobre os alimentos que deveriam ou não ser excluidos da
dieta da criança com APLV.
Número de participantes
Percentual
que marcaram
(%)
Arroz
0
0,00
Bebida Láctea
24
82,76
Biscoitos e bolachas ao leite
27
93,10
Carnes, frango e miúdos
0
0,00
Chocolate ao leite
28
96,55
Danoninho ®
27
93,10
Doce de Leite
27
93,10
Feijão, lentilha e ervilha
0
0,00
Fórmula infantil à base de leite
27
93,10
Frutas
0
0,00
Legumes e verduras
0
0,00
Leite condensado
29
100,00
Leite de cabra
20
68,97
Leite desnatado
28
96,55
Leite em pó
26
89,66
Leite integral
29
100,00
Leite semi desnatado
28
96,55
Manteiga
27
93,10
Margarina Becel ®
14
48,28
Molho Branco
23
79,31
Mucilon ®
18
62,07
Ninho Soleil ®
24
82,75
Pães e massas sem leite
8
27,59
industrializadas
9
31,04
Queijos
28
96,55
Alimento ou ingrediente
Papinhas prontas
Número de participantes
Percentual
que marcaram
(%)
Soja
3
10,34
Sorvetes
28
96,55
Alimento ou ingrediente
Fonte: Autoria própria, 2012.
Podemos verificar que existe uma facilidade dos indivíduos em acertarem a
identificação dos alimentos, principalmente dos leites, queijos e sorvetes. Na listagem dos
alimentos industrializados, foram utilizadas algumas marcas comercias para a melhor
compreensão e identificação dos produtos e, mesmo assim, muitos por não conhecimento da
rotulagem destes excluiram da dieta alimentos que seriam permitidos como, por exemplo, a
Margarina Becel®. Este desconhecimento pode ocasionar numa dieta restritiva. No estudo
realizado pela UNIFSP-EPM, observou-se uma melhor identificação de alimentos como leite
de vaca (100%), margarina com leite e bolachas com leite como sendo alimentos que
precisam ser retirados da dieta de crianças com APLV (WEBER et al., 2007).
Um estudo transversal realizado com 53 pediatras e 29 nutricionistas escolhidos em
três hospitais públicos do Município de São Paulo, durante o ano de 2005, testou o
conhecimento destes profissionais sobre o tratamento da alergia ao leite de vaca no lactente.
Foi aplicado um questionário auto-administrado para ambas as especialidades, o era divido
em duas partes. A primeira era composta por informações como gênero, idade, e tempo de
graduação. A segunda parte era constituída de perguntas de múltiplas escolhas sobre o
tratamento da APLV em lactentes. Um dos resultados obtidos com esta pesquisa foi que
produtos como leite de cabra, fórmula láctea sem lactose e fórmula láctea parcialmente
hidrolisada foram considerados adequados por alguns dos entrevistados, sendo que estes
produtos não são recomendados durante o tratamento da alergia. Observou-se que 66% dos
pediatras e 48,3% dos nutricionistas indicaram pelo menos um produto inadequado para o
tratamento da alergia ao leite de vaca, dentre eles: bebidas/sucos à base de extrato de soja,
leite de cabra, fórmula láctea sem lactose e fórmula láctea parcialmente hidrolisada (CORTEZ
et al.,2007).
4 CONCLUSÃO
Através deste estudo foi possível constatar que os pais ou responsáveis das crianças
com APLV atendidas pelo CENQ não possuem um conhecimento satisfatório sobre a doença,
rotulagens de alimentos e cuidados que devem ser tomados na hora da escolha dos alimentos
permitidos ou não ao seu filho.
Como constatado no estudo, a maioria das crianças ficam maior parte do seu dia com a
família ou seu cuidador. Isso demonstra a importância de um bom conhecimento por parte
destes para um tratamento mais eficaz, pois se sabe que grande parte das crianças com APLV
aos 2 anos de idade estão curadas, desde que a dieta de exclusão seja seguida adequadamente.
Os resultados obtidos no presente estudo reforçam a necessidade de melhores
esclarecimentos sobre a alergia alimentar aos pais e responsáveis pelos profissionais de saúde,
orientando sobre uma adequada alimentação a ser oferecida aos filhos com APLV para que a
alimentação não se torne restritiva, afastando assim a possibilidade de carências nutricionais
para um crescimento e desenvolvimento adequados.
ABSTRACT
Cow’s milk protein allergy (CMPA) is the clinical manifestation that involves immunological
mechanisms and is the most common allergies in children. The aim of this study was to assess
the knowledge of parents or guardians of children attended in the Special Milk Program in the
town of Gravataí about cow’s milk protein allergy. For this study 29 parents and/or guardians
responded a questionnaire. It was observed that 85% of parents and/or guardians thought that
the gastrointestinal symptoms are the only symptoms of CMPA. Of these 29,7% thought that
this disease has no cure. Terms whey, lactose and lactulose were more often recognized as
indicators of the presence of milk by the interviews. Through the study it can be observed that
parents and/or guardians do not have a fully satisfactory knowledge about the CMPA.
Keywords: Food allergy. Cow’s Milk Protein. Infant Formula.
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