- “Crê no Senhor, e serás salvo, tu e tua família” (At. 16,31).

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Esta apostila foi elaborada pelo Ministério
de Formação e Ministério de Comunicação
Social da Renovação Carismática Católica
em Pernambuco.
Seu conteúdo foi montado com material
condensado.
Artigos publicados na internet por João
Valter (Coordenador Nacional do Ministério
das Artes) e outros membros da RCC no
Brasil.
Tem como objetivo levar formação e
informação a todos os participantes do
Ministério das Artes e lideranças na RCC,
visando auxiliar os Grupos de Oração na
condução de seus membros, para que vivam
os ministérios no poder do Espírito Santo.
Além dos artigos, esta apostila contém a
carta aos artistas escrita por João Paulo II.
3
APRESENTAÇÃO
Pág. 3
SOBRE O MINISTÉRIO NO BRASIL
5
LIVROS DE FORMAÇÃO
6
CARTA AOS ARTISTAS
7
MINISTÉRIO DE MÚSICA E GRUPO DE ORAÇÃO
16
ARTE CARISMÁTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
18
ARTE CARISMÁTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL 2
20
NOSSA ARTE NO CORAÇÃO DO PAI
22
MATURIDADE
24
E AS CANÇÕES FEITAS POR IRMÃOS DE OUTRAS IGREJAS?
25
CANTAR EM ESPÍRITO E VERDADE
33
MÚSICOS CONSAGRADOS
34
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O MINISTÉRIO DE MÚSICA
36
CONTINUAR OU DESISTIR?
45
DICAS PARA UMA BOA VOZ
47
ORAÇÃO DO ARTISTA
49
4
MINISTÉRIO DAS ARTES
LIVROS DE FORMAÇÃO:
a. Livro "Davi, o Mestre dos Músicos" – Coleção RCC Novo Milênio;
b. Livro "Por quê dançar?" – Coleção RCC Novo Milênio;
c. Livro "Teatro Sagrado" – Coleção RCC Novo Milênio;
d. Livro "Perguntas e respostas sobre Ministérios de Música";
e. CD "Músicas para o Grupo de Oração" - com revista encartada contendo cifras e formação.
Mais que um CD, uma nova referência para o nosso jeito de compor e de cantar nos grupos de
oração.
5
MINISTÉRIO DAS ARTES
CARTA AOS ARTISTAS
Papa João Paulo II
A todos aqueles que apaixonadamente procuram novas « epifanias » da beleza para oferecê-las
ao mundo como criação artística.
« Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa » (Gn 1,31).
O artista, imagem de Deus Criador
1. Ninguém melhor do que vós, artistas, construtores geniais de beleza, pode intuir algo daquele
pathos com que Deus, na aurora da criação, contemplou a obra das suas mãos. Infinitas vezes se
espelhou um relance daquele sentimento no olhar com que vós - como, aliás, os artistas de todos
os tempos -, maravilhados com o arcano poder dos sons e das palavras, das cores e das formas,
vos pusestes a admirar a obra nascida do vosso gênio artístico, quase sentindo o eco daquele
mistério da criação a que Deus, único criador de todas as coisas, de algum modo vos quis
associar.
Pareceu-me, por isso, que não havia palavras mais apropriadas do que as do livro do Gênesis
para começar esta minha Carta para vós, a quem me sinto ligado por experiências dos meus
tempos passados e que marcaram indelevelmente a minha vida. Ao escrever-vos, desejo dar
continuidade àquele fecundo diálogo da Igreja com os artistas que, em dois mil anos de história,
nunca se interrompeu e se prevê ainda rico de futuro no limiar do terceiro milênio.
Na realidade, não se trata de um diálogo ditado apenas por circunstâncias históricas ou motivos
utilitários, mas radicado na própria essência tanto da experiência religiosa como da criação
artística. A página inicial da Bíblia apresenta-nos Deus quase como o modelo exemplar de toda a
pessoa que produz uma obra: no artífice, reflete-se a sua imagem de Criador. Esta relação é
claramente evidenciada na língua polaca, com a semelhança lexical das palavras stwórca (criador) e twórca (artífice).
Qual é a diferença entre « criador » e « artífice »? Quem cria dá o próprio ser, tira algo do nada
— ex nihilo sui et subiecti, como se costuma dizer em latim — e isto, em sentido estrito, é um
modo de proceder exclusivo do Onipotente. O artífice, ao contrário, utiliza algo já existente, a que
dá forma e significado. Este modo de agir é peculiar do homem enquanto imagem de Deus. Com
efeito, depois de ter afirmado que Deus criou o homem e a mulher « à sua imagem » (cf. Gn
1,27), a Bíblia acrescenta que Ele confiou-lhes a tarefa de dominarem a terra (cf. Gn 1,28). Foi
no último dia da criação (cf. Gn 1,28-31). Nos dias anteriores, como que marcando o ritmo da
evolução cósmica, Javé tinha criado o universo. No final, criou o homem, o fruto mais nobre do
seu projeto, a quem submeteu o mundo visível como um campo imenso onde exprimir a sua
capacidade inventiva.
Por conseguinte, Deus chamou o homem à existência, dando-lhe a tarefa de ser artífice. Na «
criação artística », mais do que em qualquer outra atividade, o homem revela-se como « imagem
de Deus », e realiza aquela tarefa, em primeiro lugar plasmando a « matéria » estupenda da sua
humanidade e depois exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com
amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador. Obviamente é uma
participação, que deixa intacta a infinita distância entre o Criador e a criatura, como sublinhava o
Cardeal Nicolau Cusano: « A arte criativa, que a alma tem a sorte de albergar, não se identifica
com aquela arte por essência que é própria de Deus, mas constitui apenas comunicação e
participação dela » (1).
Por isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais se sente
impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e
6
agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só assim é que ele pode compreender-se
profundamente a si mesmo e à sua vocação e missão.
A vocação especial do artista
2. Nem todos são chamados a ser artistas, no sentido específico do termo. Mas, segundo a
expressão do Gênesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa
forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima.
É importante notar a distinção entre estas duas vertentes da atividade humana, mas também a
sua conexão. A distinção é evidente. De fato, uma coisa é a predisposição pela qual o ser humano
é autor dos próprios atos e responsável do seu valor moral, e outra a predisposição pela qual é
artista, isto é, sabe agir segundo as exigências da arte, respeitando fielmente as suas regras
específicas.(2) Assim, o artista é capaz de produzir objetos, mas isso de por si só ainda não indica nada sobre as suas disposições morais. Neste caso, não se trata de plasmar-se a si mesmo, de
formar a própria personalidade, mas apenas de fazer frutificar capacidades operativas, dando
forma estética às idéias concebidas pela mente.
Mas, se a distinção é fundamental, importante é igualmente a conexão entre as duas
predisposições: a moral e a artística. Ambas se condicionam de forma recíproca e profunda. De
fato, o artista, quando modela uma obra, exprime-se de tal modo a si mesmo que o resultado
constitui um reflexo singular do próprio ser, daquilo que ele é e de como o é. Isto aparece
confirmado inúmeras vezes na história da humanidade. De fato, quando o artista plasma uma
obra-prima, não dá vida apenas à sua obra, mas, por meio dela, de certo modo manifesta
também a própria personalidade. Na arte, encontra uma dimensão nova e um canal estupendo de
expressão para o seu crescimento espiritual. Através das obras realizadas, o artista fala e
comunica com os outros. Por isso, a História da Arte não é apenas uma história de obras, mas
também de homens. As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e
revelam o contributo original que eles oferecem à história da cultura.
A vocação artística ao serviço da beleza
3. Um conhecido poeta polaco, Cyprian Norwid, escreveu: « A beleza é para dar entusiasmo ao
trabalho, o trabalho para ressurgir ».(3)
O tema da beleza é qualificante, ao falar de arte. Esse tema apareceu já, quando sublinhei o
olhar de complacência que Deus lançou sobre a criação. Ao pôr em relevo que tudo o que tinha
criado era bom, Deus viu também que era belo.(4) A confrontação entre o bom e o belo gera
sugestivas reflexões. Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo
que o bem é a condição metafísica da beleza. Justamente o entenderam os Gregos, quando,
fundindo os dois conceitos, cunharam uma palavra que abraça a ambos: « kalokagathía », ou
seja, « beleza-bondade ». A este respeito, escreve Platão: « A força do Bem refugiou-se na
natureza do Belo ».(5)
Vivendo e agindo é que o homem estabelece a sua relação com o ser, a verdade e o bem. O
artista vive numa relação peculiar com a beleza. Pode-se dizer, com profunda verdade, que a
beleza é a vocação a que o Criador o chamou com o dom do « talento artístico ». E também este
é, certamente, um talento que, na linha da parábola evangélica dos talentos (cf. Mt 25,14-30), se
deve pôr a render.
Tocamos aqui um ponto essencial. Quem tiver notado em si mesmo esta espécie de centelha
divina que é a vocação artística - de poeta, escritor, pintor, escultor, arquiteto, músico, ator... -,
adverte ao mesmo tempo a obrigação de não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver
para colocá-lo ao serviço do próximo e de toda a humanidade.
O artista e o bem comum
4. De fato, a sociedade tem necessidade de artistas, da mesma forma que precisa de cientistas,
técnicos, trabalhadores, especialistas, testemunhas da fé, professores, pais e mães, que garantam o crescimento da pessoa e o progresso da comunidade, através daquela forma sublime de
arte que é a « arte de educar ». No vasto panorama cultural de cada nação, os artistas têm o seu
lugar específico. Precisamente enquanto obedecem ao seu gênio artístico na realização de obras
7
verdadeiramente válidas e belas, não só enriquecem o patrimônio cultural da nação e da humanidade inteira, mas prestam também um serviço social qualificado ao bem comum.
A vocação diferente de cada artista, ao mesmo tempo que determina o âmbito do seu serviço,
indica também as tarefas que deve assumir, o trabalho duro a que tem de sujeitar-se, a responsabilidade que deve enfrentar. Um artista, consciente de tudo isto, sabe também que deve atuar
sem deixar-se dominar pela busca duma glória efêmera ou pela ânsia de uma popularidade fácil,
e menos ainda pelo cálculo do possível ganho pessoal. Há, portanto, uma ética, ou melhor, uma «
espiritualidade » do serviço artístico, que a seu modo contribui para a vida e o renascimento do
povo. A isto mesmo parece querer aludir Cyprian Norwid, quando afirma: « A beleza é para dar
entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir ».
A arte face ao mistério do Verbo encarnado
5. A Lei do Antigo Testamento contém uma proibição explícita de representar Deus invisível e
inexprimível através duma « estátua esculpida ou fundida » (Dt 27,15), porque Ele transcende
qualquer representação material: « Eu sou Aquele que sou » (Ex 3,14). No mistério da Encarnação, porém, o Filho de Deus tornou-Se visível em carne e osso: « Ao chegar a plenitude dos
tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher » (Gl 4,4). Deus fez-Se homem em Jesus
Cristo, que Se tornou assim « o centro de referência para se poder compreender o enigma da
existência humana, do mundo criado, e mesmo de Deus ».(6)
Esta manifestação fundamental do « Deus-Mistério » apresenta-se como estímulo e desafio para
os cristãos, inclusive no plano da criação artística. E gerou-se um florescimento de beleza, cuja
linfa proveio precisamente daqui, do mistério da Encarnação. De fato, quando Se fez homem, o
Filho de Deus introduziu na história da humanidade toda a riqueza evangélica da verdade e do
bem e, através dela, pôs a descoberto também uma nova dimensão da beleza: a mensagem
evangélica está completamente cheia dela.
A Sagrada Escritura tornou-se, assim, uma espécie de « dicionário imenso » (P. Claudel) e de «
atlas iconográfico » (M. Chagall), onde foram beber a cultura e a arte cristã. O próprio Antigo
Testamento, interpretado à luz do Novo, revelou mananciais inexauríveis de inspiração. Desde as
narrações da criação, do pecado, do dilúvio, do ciclo dos Patriarcas, dos acontecimentos do
êxodo, passando por tantos outros episódios e personagens da História da Salvação, o texto
bíblico atiçou a imaginação de pintores, poetas, músicos, autores de teatro e de cinema. Uma
figura como a de Job, só para dar um exemplo, com a problemática pungente e sempre atual da
dor, continua a suscitar conjuntamente interesse filosófico, literário e artístico. E que dizer então
do Novo Testamento? Desde o Nascimento ao Gólgota, da Transfiguração à Ressurreição, dos
milagres aos ensinamentos de Cristo, até chegar aos acontecimentos narrados nos Atos dos
Apóstolos ou previstos no Apocalipse em chave escatológica, inúmeras vezes a palavra bíblica se
fez imagem, música, poesia, evocando com a linguagem da arte o mistério do « Verbo feito carne
».
Tudo isto constitui, na história da cultura, um amplo capítulo de fé e de beleza. Dele tiraram
proveito sobretudo os crentes para a sua experiência de oração e de vida. Para muitos deles, em
tempos de escassa alfabetização, as expressões figurativas da Bíblia constituíram mesmo um
meio concreto de catequização.(7) Mas para todos, crentes ou não, as realizações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura permanecem um reflexo do mistério insondável que abraça e habita o
mundo.
Entre Evangelho e arte, uma aliança profunda
6. Com efeito, toda a intuição artística autêntica ultrapassa o que os sentidos captam e,
penetrando na realidade, esforça-se por interpretar o seu mistério escondido. Ela brota das
profundidades da alma humana, lá onde a aspiração de dar um sentido à própria vida se une com
a percepção fugaz da beleza e da unidade misteriosa das coisas. Uma experiência partilhada por
todos os artistas é a da distância incolmável que existe entre a obra das suas mãos, mesmo
quando bem sucedida, e a perfeição fulgurante da beleza vislumbrada no ardor do momento
criativo: tudo o que conseguem exprimir naquilo que pintam, modelam, criam, não passa de um
pálido reflexo daquele esplendor que brilhou por instantes diante dos olhos do seu espírito.
O crente não se maravilha disto: sabe que se debruçou por um instante sobre aquele abismo de
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luz que tem a sua fonte originária em Deus. Há porventura motivo para admiração, se o espírito
fica de tal modo inebriado que não sabe exprimir-se senão por balbuciações? Ninguém mais do
que o verdadeiro artista está pronto a reconhecer a sua limitação e fazer suas as palavras do
apóstolo Paulo, segundo o qual Deus « não habita em santuários construídos pela mão do homem
», pelo que « não devemos pensar que a Divindade seja semelhante ao ouro, à prata ou à pedra,
trabalhados pela arte e engenho do homem » (Act 17,24.29). Se já a realidade íntima das coisas
se situa « para além » das capacidades de compreensão humana, quanto mais Deus nas profundezas do seu mistério insondável!
Já de natureza diversa é o conhecimento de fé: este supõe um encontro pessoal com Deus em
Jesus Cristo. Mas também este conhecimento pode tirar proveito da intuição artística. Modelo
eloqüente duma contemplação estética que se sublima na fé são, por exemplo, as obras do Beato
Fra Angélico. A este respeito, é igualmente significativa a lauda extasiada, que S. Francisco de
Assis repete duas vezes na chartula, redigida depois de ter recebido os estigmas de Cristo no
monte Alverne: « Vós sois beleza... Vós sois beleza! ».(8) S. Boa ventura comenta: « Contemplava nas coisas belas o Belíssimo e, seguindo o rasto impresso nas criaturas, buscava por todo o
lado o Dileto ».(9)
Uma perspectiva semelhante aparece na espiritualidade oriental, quando Cristo é designado como
« o Belíssimo de maior beleza que todos os mortais ».(10) Assim comenta Macário, o Grande, a
beleza transfigurante e libertadora que irradia do Ressuscitado: « A alma que foi plenamente
iluminada pela beleza inexprimível da glória luminosa do rosto de Cristo, fica cheia do Espírito
Santo (...) é toda olhos, toda luz, toda rosto ».(11)
Toda a forma autêntica de arte é, a seu modo, um caminho de acesso à realidade mais profunda
do homem e do mundo. E, como tal, constitui um meio muito válido de aproximação ao horizonte
da fé, onde a existência humana encontra a sua plena interpretação. Por isso é que a plenitude
evangélica da verdade não podia deixar de suscitar, logo desde os primórdios, o interesse dos
artistas, sensíveis por natureza a todas as manifestações da beleza íntima da realidade.
Os primórdios
7. A arte, que o cristianismo encontrou nos seus inícios, era o fruto maduro do mundo clássico,
exprimia os seus cânones estéticos e, ao mesmo tempo, veiculava os seus valores. A fé impunha
aos cristãos, tanto no campo da vida e do pensamento como no da arte, um discernimento que
não permitia a aceitação automática deste patrimônio. Assim, a arte de inspiração cristã começou
em surdina, ditada pela necessidade que os crentes tinham de elaborar sinais para exprimirem,
com base na Escritura, os mistérios da fé e simultaneamente de arranjar um « código simbólico »
para se reconhecerem e identificarem especialmente nos tempos difíceis das perseguições. Quem
não recorda certos símbolos que foram os primeiros vestígios duma arte pictórica e plástica? O
peixe, os pães, o pastor... Evocavam o mistério, tornando-se quase insensivelmente esboços de
uma arte nova.
Quando, pelo édito de Constantino, foi concedido aos cristãos exprimirem-se com plena
liberdade, a arte tornou-se um canal privilegiado de manifestação da fé. Por todo o lado, começaram a despontar majestosas basílicas, nas quais os cânones arquitetônicos do antigo paganismo
eram assumidos sim, mas reajustados às exigências do novo culto. Como não recordar pelo
menos a antiga Basílica de S. Pedro e a de S. João de Latrão, construídas pelo imperador Constantino? Ou, no âmbito dos esplendores da arte bizantina, a Haghia Sophía de Constantinopla
querida por Justiniano?
Enquanto a arquitetura desenhava o espaço sagrado, a necessidade de contemplar o mistério e
de o propor de modo imediato aos simples levou progressivamente às primeiras expressões da
arte pictórica e escultural. Ao mesmo tempo surgiam os primeiros esboços de uma arte da
palavra e do som; e se Agostinho incluía também, entre as temáticas da sua produção, um De
musica, Hilário, Ambrósio, Prudêncio, Efrém da Síria, Gregório de Nazianzo, Paulino de Nola, para
citar apenas alguns nomes, faziam-se promotores de poesia cristã, que atinge freqüentemente
um alto valor não só teológico mas também literário. A sua produção poética valorizava formas
herdadas dos clássicos, mas bebia na linfa pura do Evangelho, como justamente sentenciava o
Santo poeta de Nola: « A nossa única arte é a fé, e Cristo é o nosso canto ».(12) Algum tempo
mais tarde, Gregório Magno, com a compilação do Antiphonarium, punha as premissas para o
9
desenvolvimento orgânico daquela música sacra tão original, que ficou conhecida pelo nome dele.
Com as suas inspiradas modulações, o Canto Gregoriano tornar-se-á, com o passar dos séculos, a
expressão melódica típica da fé da Igreja durante a celebração litúrgica dos Mistérios Sagrados.
Assim, o « belo » conjugava-se com o « verdadeiro », para que, também através dos caminhos
da arte, os ânimos fossem arrebatados do sensível ao eterno.
Não faltaram momentos difíceis neste caminho. A propósito precisamente do tema da representação do mistério cristão, a antiguidade conheceu uma áspera controvérsia, que passou à história
com o nome de « luta iconoclasta ». As imagens sagradas, já então difusas na devoção do povo
de Deus, foram objeto de violenta contestação. O Concílio celebrado em Niceia no ano 787, que
estabeleceu a legitimidade das imagens e do seu culto, foi um acontecimento histórico não só
para a fé, mas também para a própria cultura. O argumento decisivo a que recorreram os Bispos
para debelar a controvérsia, foi o mistério da Encarnação: se o Filho de Deus entrou no mundo
das realidades visíveis, lançando, pela sua humanidade, uma ponte entre o visível e o invisível, é
possível pensar que analogamente uma representação do mistério pode ser usada, pela dinâmica
própria do sinal, como evocação sensível do mistério. O ícone não é venerado por si mesmo, mas
reenvia ao sujeito que representa.(13)
A Idade Média
8. Os séculos seguintes foram testemunhas dum grande desenvolvimento da arte cristã. No
Oriente, continuou a florescer a arte dos ícones, vinculada a significativos cânones teológicos e
estéticos e apoiada na convicção de que, em determinado sentido, o ícone é um sacramento: com
efeito, de modo análogo ao que sucede nos sacramentos, ele torna presente o mistério da
Encarnação nalgum dos seus aspectos. Por isso mesmo, a beleza dum ícone pode ser apreciada
sobretudo no interior de um templo, com os candelabros que ardem e suscitam na penumbra
infinitos reflexos de luz. A este respeito, escreve Pavel Florenskij: « Bárbaro, pesado, fútil à luz
clara do dia, o ouro reanima-se com a luz trémula dum candelabro ou duma vela, que o faz
cintilar aqui e ali com miríades de fulgores, fazendo pressentir outras luzes não terrestres que
enchem o espaço celeste ».(14)
No Ocidente, são muito variadas as perspectivas e os pontos donde partem os artistas,
dependendo também das convicções fundamentais presentes no ambiente cultural do respectivo
tempo. O patrimônio artístico, que se foi acumulando ao longo dos séculos, conta um florescimento vastíssimo de obras sacras de alta inspiração, que deixam cheio de admiração mesmo o
observador do nosso tempo. Em primeiro plano, situam-se as grandes construções do culto, onde
a funcionalidade sempre se une ao gênio artístico, e este último se deixa inspirar pelo sentido do
belo e pela intuição do mistério. Nascem daí estilos bem conhecidos na História da Arte. A força e
a simplicidade do românico, expressa nas catedrais ou nas abadias, vai-se desenvolvendo
gradualmente nas ogivas e esplendores do gótico. Dentro destas formas, não existe só o gênio
dum artista, mas a alma dum povo. Nos jogos de luzes e sombras, nas formas ora massiças ora
ogivadas, intervêm certamente considerações de técnica estrutural, mas também tensões
próprias da experiência de Deus, mistério « tremendo » e « fascinante ». Como sintetizar em
poucos traços, nas diversas expressões da arte, a força criativa dos longos séculos da Idade
Média cristã? Uma cultura inteira, embora com as limitações humanas sempre presentes,
impregnara-se de Evangelho, e onde o pensamento teológico realizava a Summa de S. Tomás, a
arte das igrejas submetia a matéria à adoração do mistério, ao mesmo tempo que um poeta
admirável como Dante Alighieri podia compor « o poema sagrado, para o qual concorreram céu e
terra »,(15) como ele próprio classifica a Divina Comédia.
Humanismo e Renascimento
9. A feliz estação cultural, em que tem origem o florescimento artístico extraordinário do Humanismo e do Renascimento, apresenta também reflexos significativos do modo como os artistas
desse período concebiam o tema religioso. Naturalmente as inspirações são tão variadas como os
seus estilos, ou pelo menos como os mais importantes deles. Mas, não é minha intenção lembrar
coisas que vós, artistas, bem conheceis. Dado que vos escrevo deste Palácio Apostólico, escrínio
de obras-primas talvez único no mundo, quero antes fazer-me voz dos maiores artistas que por
aqui disseminaram as riquezas do seu gênio, permeado freqüentemente de grande profundidade
espiritual. Daqui fala Miguel Ângelo, que na Capela Sistina de algum modo compendiou, desde a
Criação ao Juízo Universal, o drama e o mistério do mundo, retratando Deus Pai, Cristo Juiz, o
10
homem no seu fatigante caminho desde as origens até ao fim da História. Daqui fala o gênio
delicado e profundo de Rafael, apontando, na variedade das suas pinturas e de modo especial na
« Disputa » da Sala da Assinatura, o mistério da revelação de Deus Trinitário, que na Eucaristia
Se faz companheiro do homem, e projeta luz sobre as questões e os anelos da inteligência
humana. Daqui, da majestosa Basílica dedicada ao Príncipe dos Apóstolos, da colunata que sai
dela como dois braços abertos para acolher a humanidade, falam ainda Bramante, Bernini,
Borromini, Maderno, para citar apenas os maiores, oferecendo plasticamente o sentido do mistério que faz da Igreja uma comunidade universal, hospitaleira, mãe e companheira de viagem para
todo o homem à procura de Deus.
A arte sacra encontrou, neste conjunto extraordinário, uma força expressiva excepcional,
atingindo níveis de imorredoiro valor quer estético quer religioso. O que vai caracterizando cada
vez mais tal arte, sob o impulso do Humanismo e do Renascimento e das sucessivas tendências
da cultura e da ciência, é um crescente interesse pelo homem, pelo mundo, pela realidade
histórica. Esta atenção, por si mesma, não é de modo algum um perigo para a fé cristã, centrada
sobre o mistério da Encarnação e, portanto, sobre a valorização do homem por parte de Deus.
Precisamente os maiores artistas acima mencionados no-lo demonstram. Bastaria pensar no
modo como Miguel Ângelo exprime nas suas pinturas e esculturas, a beleza do corpo humano.(16)
Aliás, mesmo no novo clima dos últimos séculos quando parte da sociedade parece indiferente à
fé, a arte religiosa não cessou de avançar. A constatação torna-se ainda mais palpável, se da
vertente das artes figurativas se passa a considerar o grande desenvolvimento que, neste mesmo
período de tempo, teve a música sacra, composta para as necessidades litúrgicas, ou apenas
relacionada com temas religiosos. Sem contar tantos artistas que a ela se dedicaram amplamente
(como não lembrar Pero Luís de Palestrina, Orlando de Lasso, Tomás Luís de Victoria?), é sabido
que muitos dos grandes compositores - de Händel a Bach, de Mozart a Schubert, de Beethoven a
Berlioz, de Listz a Verdi - nos ofereceram obras de altíssima inspiração também neste campo.
A caminho dum renovado diálogo
10. Verdade é que, na Idade Moderna, ao lado deste humanismo cristão que continuou a produzir
significativas expressões de cultura e de arte, foi-se progressivamente afirmando também uma
forma de humanismo caracterizada pela ausência de Deus senão mesmo pela oposição a Ele. Este
clima levou por vezes a uma certa separação entre o mundo da arte e o da fé, pelo menos no
sentido de menor interesse de muitos artistas pelos temas religiosos.
Mas, vós sabeis que a Igreja continuou a nutrir grande apreço pelo valor da arte enquanto tal. De
fato esta, mesmo fora das suas expressões mais tipicamente religiosas, mantém uma afinidade
íntima com o mundo da fé, de modo que, até mesmo nas condições de maior separação entre a
cultura e a Igreja, é precisamente a arte que continua a constituir uma espécie de ponte que leva
à experiência religiosa. Enquanto busca do belo, fruto duma imaginação que voa mais acima do
dia-a-dia, a arte é, por sua natureza, uma espécie de apelo ao Mistério. Mesmo quando perscruta
as profundezas mais obscuras da alma ou os aspectos mais desconcertantes do mal, o artista
torna-se de qualquer modo voz da esperança universal de redenção.
Compreende-se, assim, porque a Igreja está especialmente interessada no diálogo com a arte e
quer que se realize na nossa época uma nova aliança com os artistas, como o dizia o meu
venerando predecessor Paulo VI no seu discurso veemente aos artistas, durante um encontro
especial na Capela Sistina a 7 de Maio de 1964.(17) A Igreja espera dessa colaboração uma
renovada « epifania » de beleza para o nosso tempo e respostas adequadas às exigências
próprias da comunidade cristã.
No espírito do Concílio Vaticano II
11. O Concílio Vaticano II lançou as bases para uma renovada relação entre a Igreja e a cultura,
com reflexos imediatos no mundo da arte. Tal relação é proposta na base da amizade, da
abertura e do diálogo. Na Constituição pastoral Gaudium et spes, os Padres Conciliares sublinharam a « grande importância » da literatura e das artes na vida do homem: « Elas procuram dar
expressão à natureza do homem, aos seus problemas e à experiência das suas tentativas para
11
conhecer-se e aperfeiçoar-se a si mesmo e ao mundo; e tentam identificar a sua situação na
história e no universo, dar a conhecer as suas misérias e alegrias, necessidades e energias, e
desvendar um futuro melhor ».(18)
Baseados nisto, os Padres, no final do Concílio, dirigiram aos artistas uma saudação e um apelo,
nestes termos: «O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no
desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto
precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração
».(19) Neste mesmo espírito de profunda estima pela beleza, a Constituição sobre a sagrada
liturgia Sacrosanctum Concilium lembrou a histórica amizade da Igreja pela arte e, falando mais
especificamente da arte sacra, « vértice » da arte religiosa, não hesitou em considerar como «
nobre ministério » a atividade dos artistas, quando as suas obras são capazes de refletir de
algum modo a beleza infinita de Deus e orientar para Ele a mente dos homens.(20) Também
através do seu contributo, « o conhecimento de Deus é mais perfeitamente manifestado e a
pregação evangélica torna-se mais compreensível ao espírito dos homens ».(21) À luz disto, não
surpreende a afirmação do Padre Marie-Dominique Chenu, segundo o qual o historiador da
Teologia deixaria a sua obra incompleta, se não dedicasse a devida atenção às realizações
artísticas, quer literárias quer plásticas, que a seu modo constituem « não só ilustrações
estéticas, mas verdadeiros “lugares” teológicos ».(22)
A Igreja precisa da arte
12. Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De
fato, deve tornar perceptível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de
Deus. Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável.
Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem,
traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve. E isto,
sem privar a própria mensagem do seu valor transcendente e do seu halo de mistério.
A Igreja precisa particularmente de quem saiba realizar tudo isto no plano literário e figurativo,
trabalhando com as infinitas possibilidades das imagens e suas valências simbólicas. O próprio
Cristo utilizou amplamente as imagens na sua pregação, em plena coerência, aliás, com a opção
que, pela Encarnação, fizera d'Ele mesmo o ícone do Deus invisível.
A Igreja tem igualmente necessidade dos músicos. Quantas composições sacras foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo sentido do mistério! Crentes
sem número alimentaram a sua fé com as melodias nascidas do coração de outros crentes, que
se tornaram parte da Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa
realização. No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura
esperança da intervenção salvífica de Deus.
A Igreja precisa de arquitetos, porque tem necessidade de espaços onde congregar o povo cristão
e celebrar os mistérios da salvação. Depois das terríveis destruições da última guerra mundial e
com o crescimento das cidades, uma nova geração de arquitetos se amalgamou com as exigências do culto cristão, confirmando a capacidade de inspiração que possui o tema religioso
relativamente também aos critérios arquitetônicos do nosso tempo. De fato, não raro se construíram templos, que são simultaneamente lugares de oração e autênticas obras de arte.
A arte precisa da Igreja?
13. Portanto, a Igreja tem necessidade da arte. Pode-se dizer também que a arte precisa da
Igreja? A pergunta pode parecer provocatória. Mas, se for compreendida no seu reto sentido,
obedece a uma motivação legítima e profunda. Na realidade, o artista vive sempre à procura do
sentido mais íntimo das coisas; toda a sua preocupação é conseguir exprimir o mundo do
inefável. Como não ver então a grande fonte de inspiração que pode ser, para ele, esta espécie
de pátria da alma que é a religião? Não é porventura no âmbito religioso que se colocam as quêstões pessoais mais importantes e se procuram as respostas existenciais definitivas?
De fato, o tema religioso é dos mais tratados pelos artistas de cada época. A Igreja tem feito
sempre apelo às suas capacidades criativas, para interpretar a mensagem evangélica e a sua
aplicação à vida concreta da comunidade cristã. Esta colaboração tem sido fonte de mútuo
12
enriquecimento espiritual. Em última instância, dela tirou vantagem a compreensão do homem,
da sua imagem autêntica, da sua verdade. Sobressaiu também o laço peculiar que existe entre a
arte e a revelação cristã. Isto não quer dizer que o gênio humano não tenha encontrado
estímulos também noutros contextos religiosos; basta recordar a arte antiga, sobretudo grega e
romana, e a arte ainda florescente das vetustas civilizações do Oriente. A verdade é que o
cristianismo, em virtude do dogma central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista
um horizonte particularmente rico de motivos de inspiração. Que grande empobrecimento seria
para a arte o abandono desse manancial inexaurível que é o Evangelho!
Apelo aos artistas
14. Com esta Carta dirijo-me a vós, artistas do mundo inteiro, para vos confirmar a minha estima
e contribuir para o restabelecimento duma cooperação mais profícua entre a arte e a Igreja.
Convido-vos a descobrir a profundeza da dimensão espiritual e religiosa que sempre caracterizou
a arte nas suas formas expressivas mais nobres. Nesta perspectiva, faço-vos um apelo a vós,
artistas da palavra escrita e oral, do teatro e da música, das artes plásticas e das mais modernas
tecnologias de comunicação. Este apelo dirijo-o de modo especial a vós, artistas cristãos: a cada
um queria recordar que a aliança que sempre vigorou entre Evangelho e arte, independentemente das exigências funcionais, implica o convite a penetrar, pela intuição criativa, no mistério
de Deus encarnado e contemporaneamente no mistério do homem.
Cada ser humano é, de certo modo, um desconhecido para si mesmo. Jesus Cristo não Se limita
a manifestar Deus, mas « revela o homem a si mesmo ».(23) Em Cristo, Deus reconciliou consigo
o mundo. Todos os crentes são chamados a dar testemunho disto; mas compete a vós, homens e
mulheres que dedicastes a vossa vida à arte, afirmar com a riqueza da vossa genialidade que, em
Cristo, o mundo está redimido: está redimido o homem, está redimido o corpo humano, está
redimida a criação inteira, da qual S. Paulo escreveu que « aguarda ansiosa a revelação dos filhos
de Deus » (Rm 8,19). Aguarda a revelação dos filhos de Deus, também através da arte e na arte.
Esta é a vossa tarefa. Em contacto com as obras de arte, a humanidade de todos os tempos —
também a de hoje — espera ser iluminada acerca do próprio caminho e destino.
Espírito Criador e inspiração artística
15. Na Igreja, ressoa muitas vezes esta invocação ao Espírito Santo: Veni, Creator Spiritus..., «
Vinde, Espírito Criador, as nossas mentes visitai, enchei da vossa graça os corações que criastes
».(24)
Ao Espírito Santo, « o Sopro » (ruah), acena já o livro do Gênesis: « A terra era informe e vazia.
As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas » (1,2).
Existe grande afinidade lexical entre « sopro — expiração » e « inspiração ». O Espírito é o misterioso artista do universo. Na perspectiva do terceiro milênio, faço votos de que todos os artistas
possam receber em abundância o dom daquelas inspirações criativas donde tem início toda a
autêntica obra de arte.
Queridos artistas, como bem sabeis, são muitos os estímulos, interiores e exteriores, que podem
inspirar o vosso talento. Toda a autêntica inspiração, porém, encerra em si qualquer frêmito
daquele « sopro » com que o Espírito Criador permeava, já desde o início, a obra da criação.
Presidindo às misteriosas leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito Criador vem ao
encontro do gênio do homem e estimula a sua capacidade criativa. Abençoa-o com uma espécie
de iluminação interior, que junta a indicação do bem à do belo, e acorda nele as energias da
mente e do coração, tornando-o apto para conceber a idéia e dar-lhe forma na obra de arte. Falase então justamente, embora de forma analógica, de « momentos de graça », porque o ser
humano tem a possibilidade de fazer uma certa experiência do Absoluto que o transcende.
A « Beleza » que salva
16. Já no limiar do terceiro milénio, desejo a todos vós, artistas caríssimos, que sejais abençoados, com particular intensidade, por essas inspirações criativas. A beleza, que transmitireis às
gerações futuras, seja tal que avive nelas o assombro. Diante da sacralidade da vida e do ser
humano, diante das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude condigna.
13
De tal assombro poderá brotar aquele entusiasmo de que fala Norwid na poesia, a que me referi
ao início. Os homens de hoje e de amanhã têm necessidade deste entusiasmo, para enfrentar e
vencer os desafios cruciais que se prefiguram no horizonte. Com tal entusiasmo, a humanidade
poderá, depois de cada extravio, levantar-se de novo e retomar o seu caminho. Precisamente
neste sentido foi dito, com profunda intuição, que « a beleza salvará o mundo ».(25)
A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o
futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de
Deus que um enamorado do belo, como S. Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: « Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! ».(26)
Que as vossas múltiplas sendas, artistas do mundo, possam conduzir todas àquele Oceano infinito de beleza, onde o assombro se converte em admiração, inebriamento, alegria inexprimível.
Sirva-vos de guia e inspiração o mistério de Cristo ressuscitado, em cuja contemplação se alegra
a Igreja nestes dias.
Acompanhe-vos a Virgem Santa, a « toda bela », cuja efígie inumeráveis artistas delinearam e o
grande Dante contempla nos esplendores do Paraíso como « beleza, que alegria era dos olhos de
todos os outros santos ».(27)
« Eleva-se do caos o mundo do espírito »! A partir destas palavras, que Adam Mickiewicz
escrevera numa hora de grande aflição para a pátria polaca,(28) formulo um voto para vós: que
a vossa arte contribua para a consolidação duma beleza autêntica que, como revérbero do
Espírito de Deus, transfigure a matéria, abrindo os ânimos ao sentido do eterno!
Com os meus votos mais cordiais!
Vaticano, 4 de Abril de 1999, Solenidade da Páscoa da Ressurreição.
Papa João Paulo II
14
MINISTÉRIO DAS ARTES
MINISTÉRIO DE MÚSICA E GRUPO DE ORAÇÃO
Afinal de contas, pra quê existe Ministério de Música?
Não, essa não é uma pergunta tão simples o quanto parece.
Interessante notar como temos facilidade em abandonar a idéia original das coisas. É o que acontece quando vamos escrever uma carta. Passamos meia hora discorrendo sobre vários assuntos
em uma folha qualquer e, finalmente quando achamos que já está bom e vamos "passar tudo a
limpo", lá vêm chegando novas idéias, novos argumentos... e passamos mais uma hora modificando tudo que estava naquele borrão. No final de tão penosa maratona, o que temos?
Duas cartas totalmente diferentes nas mãos!
Aparentemente é isso o que vem acontecendo em relação aos ministérios de música espalhados
por todo o Brasil. Temos hoje diversos conceitos, variantes da idéia original, que muitas vezes
acabam por ser, como diria o poeta, "o avesso do avesso do avesso" daquilo para o qual fomos
criados.
Existem pessoas que têm uma visão simplista das coisas: O ministério de música serve para
"animar o grupo". É como se fôssemos um "enfeita-festas", uma espécie de "mascote do grupo"
ou algo parecido.
Outros preferem encarar o ministério de música de maneira mais "psicológica". Para estes "isso é
só uma fase; logo, logo estes meninos amadurecem e escolhem um ministério mais sério".
Assim, tudo o que a música tenta realizar é encarado como uma mera brincadeira, algo sem futuro mesmo.
Outra corrente, mais perigosa, é a dos separatistas. Ministros de música que acreditam firmemente que já não precisam do grupo de oração, que o ministério é auto-suficiente. Estes, se lhes
perguntam "- Ei, você é da Renovação Carismática?", logo respondem (ou pensam em responder)
"- Não, eu sou do ministério de música!".
Mas, na realidade, o sonho de Deus é bem diferente.
Ele nos resgatou do nada, nos retirou dos abismos de nossa solidão e nos plantou em meio a
outros, que também vieram – por quê não dizer? – do fundo do poço e que agora caminham
rumo à sua luz. Este é o nosso grupo de oração!
Mas nosso Deus é só ternura e seu amor infinito já havia fincado "desde que nos formamos no
seio de nossa mãe" um germe de felicidade, um carisma, aquilo que podemos tranqüilamente
chamar de "veia artística". E assim colocamos nossos dons à disposição de seu Doador.
É simplesmente isso. Nós somos a canção de nosso grupo de oração entoada aos ouvidos do Pai.
Não existe em nós algo superficial, tímido ou apenas mais um "oba-oba", mas somos profundidade, por quê profundo é o que vivemos na Renovação, em nosso grupo.
Perder esse chamado de vista, abrir mão de tamanha graça é, literalmente, tentar construir um
edifício sobre a areia... e Jesus já falou uma vez sobre esse tipo de loucura. O ministério (e o
ministro) de música que decide caminhar sem grupo de oração está, sem mais palavras, cometendo suicídio.
Não há dúvidas de que a RCC começa a viver um novo tempo em nossos dias. E nós, músicos do
Senhor, nesse novo tempo somos chamados a respirar o nosso grupo de oração, inflar nossos
pulmões com esta dádiva maravilhosa e, quando soprarmos... esta será a nossa música.
O povo não precisa de "músicas bonitinhas" ou de "alguém para animar"... o povo precisa de
ministros da presença de Deus, guias de oração através do canto, profetas que utilizam sua voz e
seus instrumentos como canais para que o próprio Deus lhes fale!
Esse é o nosso chamado, para isso fomos criados!
Claro, para que consigamos dar conta de nossa missão teremos que nos esforçar bastante...
Por isso mesmo é interessante abordarmos aqui um aspecto muito importante de nosso trabalho:
a escolha de cânticos apropriados para cada momento do grupo de oração.
15
Em primeiro lugar é importante que lembremos de uma coisa: se nossa missão é levar o povo a
ter um encontro pessoal e comunitário com o Senhor, então temos que escutar do próprio Deus o
que Ele quer fazer! O processo da escolha de repertório para o grupo de oração deve ter como
primeiro critério a Vontade de Deus, algo que só podemos discernir através mesmo da oração e
da escuta. O ministério precisa rezar antes de escolher as músicas, precisa sentir para que lado o
Senhor vai querer levar o povo naquele dia, precisa "escutar o ruído" do vento do Espírito e deixar-se levar por ele.
Em seguida, claro, deve-se partir para o critério prático da escolha, no qual devemos atentar para
aspectos como:
1. Tema da pregação do dia.
Daí a importância capital do entrosamento entre o ministério, a coordenação e o núcleo do grupo
de oração. O tema deve ser passado com antecedência para o ministério para que haja tempo
para oração, discernimento da música e ensaio.
2. Sugestões do pregador.
Que devem ser colhidas não no dia da pregação, mas, de preferência com uma antecedência
suficiente para que o ministério se prepare.
3. Possibilidades do ministério.
Às vezes até temos a idéia de uma música ótima, mas se o ministério não tiver condições ainda
de toca-la, o melhor é mesmo escolher uma outra música mais conhecida e com a qual já se
tenha "intimidade".
4. Possibilidades do povo do grupo.
Nem sempre vai dar tempo para o povo aprender uma música nova, então é sempre bom lembrar
que a finalidade da música não é gerar um momento bonito no grupo, e, sim, levar as pessoas à
oração. Por isso não podemos deixar de lembrar do nosso povo na hora de escolher as músicas.
5. Particularidade de cada momento do grupo.
O grupo de oração tem os momentos de animação, de acolhida, de louvor, de interiorização... O
ministério precisa estar atento para quais as músicas mais indicadas para cada um desses
momentos a fim de não misturar as coisas.
Por fim, outra coisa importante a se lembrar é sobre a escolha das músicas para a Missa e demais
celebrações litúrgicas. Todo bom ministro de música é "craque" em escolher esse repertório. Para
esse fim recomendamos a leitura do Documento 43 da CNBB – A Música Litúrgica no Brasil e,
para uma formação mais específica para a Renovação Carismática, o livro "Quem tem medo de
cantar a Missa?", da Coleção RCC Novo Milênio, com lançamento programado para fevereiro de
2004.
É isso! De resto precisamos apenas ter coragem e ir à luta, pois o Senhor sempre estará conosco!
João Valter Ferreira Filho
16
MINISTÉRIO DAS ARTES
ARTE CARISMÁTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
- Parte I –
O ambiente era extremamente hostil lá fora: homens feridos disputavam cada pouquinho de
comida como se fosse o último, os abutres sobrevoavam o acampamento durante o dia e, à noite,
era a vez das hienas e das feras do deserto uivarem prevendo um banquete que, com certeza,
não deveria estar muito longe. E para completar, o que de pior poderia acontecer a um exército
em batalha: um clima de derrota e desilusão tomava o coração de cada um dos guerreiros do
Deus de lsrael. No entanto o jovem Davi não precisava se preocupar muito com isso, afinal de
contas ele era o "músico do rei", tinha acesso quase irrestrito à tenda de Saul e, de fato, lá
dentro o Senhor agira muitas vezes através dos cânticos que brotavam de sua boca e das notas
que afloravam de seu knor. A guarda real nem pedia mais identificação, era só chegar e entrar, e
naquelas almofadas, ao sabor do vinho e das iguarias do rei, nem parecia que lá fora havia uma
guerra, era só cantar e ver a glória de Deus libertar Saul e seus generais do espírito maligno.
O capítulo 16 do primeiro livro de Samuel termina justamente dizendo que Davi era um instrumento de Deus na tenda do rei. Não há dúvidas de que ele era um rapaz privilegiado: estava
fazendo sua parte, e isso era bom, entretanto havia algo muito maior no sonho de Deus.
O capítulo 17 já inicia mostrando que nosso amigo, estando um dia lá fora, sente-se pessoalmente ofendido com a humilhação de seu povo perante Golias. Todo mundo já conhece o resto da
história: Davi abdica do conforto da tenda de Saul e literalmente vai à luta.
lnicio assim nossa reflexão por quê algo na imensa produção artística, especialmente musical,
que hoje presenciamos dentro da espiritualidade da RCC me deixa, confesso, um tanto inquieto:
muitas vezes a impressão que tenho ao ver nossos ministérios em ação (em encontros, shows,
cds, etc.) é que muitos de nós ainda não conseguimos passar do capítulo 16 para o 17 do livro de
Samuel.
Trocando em miúdos: tocar para quem já é da Renovação, desculpem-me pelo lembrete doloroso, não é coisa muito difícil. Cantar louvores com quem já é acostumado a louvar, todos hão de
convir comigo, não é algo muito complicado, não. A verdade é que, em certa parte de nosso
caminho, chegamos às vezes a um ponto em que nosso serviço começa a ser tão confortável
quanto as almofadas da tenda de Saul. Veja que não estou dizendo que é errado fazer o que já
fazemos (afinal de contas a música de Davi era mesmo necessária para que Deus agisse no
coração do rei), mas acredito sinceramente que há algo bem maior reservado para nós mais à
frente. Sendo ainda mais claro: nós, artistas da Renovação Carismática, não podemos correr o
risco de esquecer que uma guerra está sendo travada e é nela que estamos, a ela fomos chamados.
Em termos práticos, posso comentar dois aspectos que se me mostram importantíssimos nesse
tempo tão novo que vivemos na RCC estes dias; e a partir desses aspectos, faço dois convites a
todos os ministérios de música, dança, teatro e mesmo a todas as lideranças da RCC do Brasil:
O primeiro aspecto diz respeito a uma observação que muitos irmãos pelo Brasil têm feito e que
tornou-se mesmo uma exortação quando da palestra de nossa querida irmã Marizete (Secretária
Marta Nacional) durante nosso XXI Congresso Nacional da RCC, na manhã de 11 de julho último.
Vamos a ele:
Temos muitos shows realmente bons de ministérios, bandas e cantores solo que, de uma maneira
ou de outra, se identificam com a espiritualidade carismática, ainda que nem todos sejam formalmente de nosso movimento. Isso é muito bom. No entanto muitos desses shows estão cada vez
mais parecidos com "pescaria em aquário", uma vez que acabam tendo como público alvo apenas
as pessoas que já conhecem a música daquele determinado artista. Ademais, estruturas caras de
som, luz, local, passagens, etc. têm aumentado e muito as despesas de nossos eventos, pratica17
mente forçando os organizadores a cobrar entrada, o que inevitavelmente impede muitas pessoas
de terem acesso à evangelização daquele determinado show.
Vejam que não estou dizendo que são errados os shows que já fazemos, mas a verdade é que
não podemos ter aí nossa principal frente de evangelização através das artes.
Neste exato momento, milhares de pessoas (às vezes colegas nossos de trabalho, de estudo; às
vezes familiares nossos...) estão desesperadas em seus corações, lançando-se às drogas, tentando acabar com a própria vida ou simplesmente dedicando toda a sua existência a seguir exatamente o que diz a mídia massificante de nosso país. Perdoem-me por estar dizendo, mas esses
irmãos não vão sair de suas casas e pagar entrada para ser evangelizados, não. Nossa música,
nossa dança, nossa arte, enfim, precisa estar onde o povo está: nas praças, nas praias, nos
shoppings,... Na frente de batalha.
Agora vem o primeiro convite:
Vamos levar nossa arte católica carismática de volta às ruas, às esquinas, às praças. Proponho
que nos empenhemos em revitalizar não somente grandes projetos como a Virada Radical ou os
Evangelizashows, mas que também pensemos em novos meios, mais simples, menos dispêndiosos, de ir com nossa arte até onde o povo está.
Estou falando de um violãozinho e uma pessoa cantando o amor de Deus em cada esquina dos
centros comerciais de nossas cidades, de dançarinos fazendo uma performance santa nos coretos
de nossas praças mais movimentadas, de grupos de teatro encenando peças evangelizadoras nos
horários de recreio das escolas públicas de todo o país, de quadros e esculturas inspirados na
Palavra de Deus expostos nas galerias de nossos maiores shopping centers, de rosários sendo
cantados, dramatizados e rezados nas rodoviárias, de ministérios visitando penitenciárias, hospitais, casas de saúde... Eu gostaria de dizer a todos que Deus espera muito mais ousadia de nós.
Já sei, já sei: "Mas, João Valter, mas e o som e a luz; e as despesas, como as pagaremos?"
Em primeiro lugar, nem sempre precisaremos dessas superestruturas, ou não conhecemos aquela
turma de artistas peruanos que, com suas flautas pan e uma caixa de som, têm andado pelo
mundo inteiro tocando em todo tipo de lugar? Se eles levam sua mensagem assim, porquê não
podemos nós levar a nossa também? E quem disse que o show só será bom se vier um artista de
fora? Não é o mesmo Espírito que sopra em todos nós? Então, por quê não colocar ministérios de
nossa própria cidade para animar a noite?
Em segundo lugar, quando precisarmos de grandes sons e de super-iluminações (muitas vezes
isso será mesmo necessário para que atinjamos nossos objetivos), podemos pensar em outras
maneiras de angariar os recursos para o pagamento das despesas, como patrocínios ou campanhas, por exemplo. Vejam que em alguns lugares do Brasil já se faz assim as coisas.
João Valter Ferreira Filho
18
MINISTÉRIO DAS ARTES
ARTE CARISMÁTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
Mais uma parte
(No mês em que este artigo foi publicado o Ministério de Artes ainda era tratado como Secretaria Davi).
Ainda no ano passado iniciei na Revista RenovAção algumas reflexões sobre aquilo que Deus e o
povo esperam encontrar quando se fala sobre Arte Carismática.
Este mês gostaria de ser um pouco mais específico para aqueles que exercem a mais "funcional"
das Artes na Igreja de nossos tempos: a Música.
Só na RCC calcula-se que tenhamos uns 15.000 (você leu certo: quinze mil) ministérios de
música ligados à Secretaria Davi em suas diversas instâncias (Cidades, Microrregiões, Foranias,
Vicariatos, Dioceses, Estados etc). Isso sem falar nas outras tantas equipes de música e bandas
que não são oficialmente da RCC, mas que nos ajudam, nos ensinam e até bebem de nossas
fontes!
Por isso, enquanto Secretário Nacional, deixem-me falar francamente sobre um aspecto que é
meio "espinhoso" para nós, mas que vejo como algo urgente: o conteúdo das letras de nossas
canções.
Estão prontos? Vamos lá!
O que tenho notado no que diz respeito aos textos de nossa música é que muitas vezes acabamos simplesmente colocando novas melodias sobre as mesmas poesias de sempre. Em nome da
"simplicidade" e da "unção", acabamos caindo no erro de barrar a ação do Espírito Santo não
somente sobre a nossa criatividade, mas também sobre nosso raciocínio e nossa compreensão e
interpretação do mundo. Acabamos muitas vezes tendo "letrinhas light", sem conteúdo catequético, humano, sem aprofundamento teológico e – preparem as costas para mais "pancada" –
muitas vezes desprezando as realidades sociais que nos cercam.
Já está na hora de termos um pouco mais de consciência a respeito daquilo que Deus está colocando em nossas mãos... Nossa arte tem um alcance simplesmente inimaginável, é uma profecia
que Ele confia a nós. Portanto, é necessário que conheçamos um pouco mais daquilo que o
próprio Deus espera conseguir através de nossas músicas. Nossa voz deve ser o eco da vontade
do Pai para o povo, nossas melodias devem refletir as melodias que habitam Seu próprio Coração! Vejam que isso tudo é muito grande, é algo enorme mesmo! E como daremos conta de tão
extraordinária missão se não tivermos o coração aberto àquilo que Ele tem falado à Igreja?
A Renovação Carismática precisa de mais canções que expressem o pensamento da Igreja, que
realcem o caráter litúrgico de nossos momentos, que reforcem as nossas convicções sociais.
Deixem-me ser mais claro: os compositores ligados à Renovação Carismática precisam conhecer
um pouco mais sobre teologia, catequese, liturgia e doutrina social da Igreja!
Isso não quer dizer complicar as coisas, tornar nosso repertório inacessível; muito pelo contrário,
isso quer dizer se aprofundar mais naquilo que é próprio de nossa Igreja a fim de que, paulatinamente, possamos ir a cada dia cantando com mais propriedade a fé que abraçamos.
Que tal conhecer as expectativas do Papa João Paulo II em relação a nós, artistas católicos? Pois
está tudo escrito lá na Carta aos Artistas, que já vai fazer quatro anos de idade! Que tal ler um
pouco mais sobre adoração antes de compor uma música com esse tema? Pois temos hoje
inúmeros livros publicados nessa área! Que tal preparar um repertório liturgicamente impecável
para nossas celebrações? Pois basta conhecer e seguir as orientações litúrgicas do setor de
música da CNBB! Que tal tentar expressar nosso desejo de ver um mundo mais feliz em Cristo?
Pois a Doutrina Social da Igreja nos dá pistas para que consigamos desde já começar a construir
19
esse Reino de Amor! Tudo isso podemos fazer "carismaticamente", sem perder uma gota sequer
da identidade de nosso movimento. Basta somente que tenhamos uma certa dose de coragem,
que nos desinstalemos um pouquinho e que tenhamos disposição para mudar algumas coisas.
Meus irmãos, gostaria que percebessem que não estou querendo "brigar" ou "passar carão" em
ninguém. Eu apenas partilho sobre coisas que não podemos deixar de enxergar. Também não
estou dizendo que tudo o que estamos fazendo está errado... Só quero fazê-los ver que temos
ainda largos horizontes à nossa frente.
O Projeto Reavivando a Chama nos provoca (às vezes até doloridamente) a amadurecer um tanto
mais nossas posturas. Quem tem coragem de levantar das almofadas da tenda de Saul também
nesse aspecto? Quem terá ousadia o suficiente para mudar algumas coisas em sua prática
musical?
A Secretaria Davi começa, aos poucos, a dar passos concretos nesse sentido. Nossos contatos
com o Setor de Música da CNBB na pessoa de seu coordenador, Frei Joaquim Fonseca, e também
com outros liturgistas, compositores, estudiosos etc têm nos mostrado algumas luzes e começa-mos a perceber um caminho muito bonito que se descortina logo adiante. Estamos começando a
preparar material de formação sobre essas coisas para nossos músicos, nossos roteiristas, nossos
coreógrafos... E fico mesmo empolgado ao imaginar quantas coisas lindas hão de surgir dessas
sementinhas. É que nosso Deus costuma iniciar grandes revoluções a partir de pequenas inquietações... Isso faz parte de Sua divina pedagogia!
Fica o convite, a convocação: desde já, comecemos a ler mais, a estudar mais. Conheçamos
também, sem medo ou preconceito, o trabalho de outros compositores católicos ligados a outros
movimentos. Escutemos um pouco mais a obra de Zé Vicente, Padre João Carlos, Padre Zezinho,
D. Pedro Brito, do pessoal do Focolare, a música extraordinária da Comunidade Taizé... Não estou
dizendo para fazer as coisas do mesmo jeito, estou dizendo para escutar, o que é que custa?
Deus chama a gente pra um momento novo de caminhar junto com seu povo.
É hora de transformar porquê não dá mais,
Sozinho isolado ninguém é capaz!
João Valter Ferreira Filho
20
MINISTÉRIO DAS ARTES
NOSSA ARTE NO CORAÇÃO DO PAI
(No mês em que este artigo foi publicado Ministério de Artes ainda era tratado como Secretaria Davi).
Não estranhem não abrirmos logo nossa página deste mês com a "Carta Aberta aos Artistas da
RCC" que tem feito tanto sucesso pelo Brasil e até mesmo fora dele. Ela está logo ali em baixo.
Mas quero utilizar este espaço inicial para abrir meu coração em relação a algo que descobri há
poucos dias atrás.
Dia 27 de abril passado completou-se um ano desde que o Conselho Nacional da RCC me convidou para assumir esta missão enorme que é a Secretaria Davi Nacional. Estas ocasiões acabam
nos levando a fazer algumas reflexões, tais como: "o quê consegui fazer até aqui?"
Passei dias e dias com isso na cabeça. Olhava para a realidade de cada Diocese, de cada Estado,
pensava nos problemas e nas maravilhas que a cada momento chegam até mim por telefone,
carta, e mail... ficava imaginando "meu Deus, não fiz nada, não fiz nada!"
Justamente na semana do dia 27 o Conselho Nacional da RCC se reuniu em Ilhéus (BA) e, em um
momento de folga, andando às margens daquelas praias maravilhosas, Deus olhou pra mim (o
jeito foi eu olhar pra ele também) e disse, com voz de carinho:
"O que você vem fazendo, João Valter, importa à medida que seu coração está totalmente aberto
para o que EU venho fazendo. Importa o que EU faço, em sua vida, em sua família, nos ministérios do Brasil, importa o que EU faço".
Pronto! Fiquei com aquela expressão de "Ah, é mesmo!" que a gente às vezes assume quando
passa duas horas tentando resolver uma equação de segundo grau e o professor ou um colega
mais esperto vem e mostra em dez segundos como se faz.
Não há dúvidas, podemos ver: pelo Brasil brotam novas experiências, novo ardor, novo jeito.
Ministérios que outrora estavam quase acabando acordam de um sono profundo, músicos que
tocavam intrigados uns com os outros se perdoam e passam a ser como uma família, nos mais
variados lugares surgem grupos de dança, teatro, gente que faz quadrinhos para evangelização,
líderes que criam coragem de sonhar de novo com a Secretaria Davi de suas Dioceses, de seus
Estados, do Brasil, novos missionários que largam tudo e viajam para as cinco regiões de nosso
país a cada fim de semana... mil maravilhas temos visto nestes últimos meses. O vento tem
soprado, e como!
No entanto isso tudo passa a fazer sentido somente a partir do momento que existe em função
do Senhor. Obras humanas também crescem em todos os lugares. O que nos difere delas é justamente aquilo que Deus faz, e não o que nós fazemos.
Então fui adentrando no mar, aos poucos, olhei para o céu e perguntei: "E agora?"
De repente ouvi o barulho da água bem próximo a mim e uma onda veio e me derrubou. Agora é
mergulhar, deixar-se envolver!
E é aí que partilho com vocês um segredo que o Pai me revelou, talvez como um presente pelo
aniversário de um ano.
A Renovação Carismática, a Secretaria Davi, seu Grupo de Oração, seu ministério... tudo isso
existe somente por um motivo: por quê Deus nos quer felizes e Ele sabe que a felicidade é
possível se nos tornarmos homens e mulheres de fogo, artistas incendiados de amor, pelo Espírito de Deus. Cidadãos de um outro reino, desbravadores dos caminhos da santidade, que é na
realidade nosso verdadeiro Paraíso.
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Incendiados por esse amor e atrevendo-nos a embarcar nesta expedição rumo à santidade,
inevitavelmente faremos de cada um que cruzar nosso caminho uma pessoa de louvor e de adoração, não por força (meus esforços unicamente), não pela espada (querendo convencê-los de
que nossa Arte é melhor), mas pelo Espírito de Deus, na beleza do testemunho de nossos dons.
É também por isso que às vezes encontramos pessoas que participaram de inúmeros Acampamentos, Congressos, Encontros, Retiros etc. e ainda não conseguem dar passos concretos: estão
buscando uma santidade egoísta, no casulo de sua solidão. O Senhor nos coloca em uma Obra A Renovação Carismática, o Grupo de Oração - como que num laboratório, onde somos aperfeiçoados, onde experimentamos o gosto do nosso verdadeiro lar.
A pessoa que busca a santidade sozinha lá no seu cantinho, ai nos encontros, bebe um pouquinho, volta pra casa, se esvazia. Logo precisa de um outro encontro, senão se acaba.
Roberto Arado, Secretário Davi do Estado de São Paulo chama a pessoa que vive assim de
"cristão bexigão" (enche esvazia, enche esvazia). Eu, particularmente, quando vejo esses irmãozinhos que vivem assim penso logo em "santinhos de 1,99" - e não vou nem comentar...
O segredo está em colocarmos nossa Arte no Coração de nosso Deus, só lá ela é acesa de verdade, somente lá ela faz sentido. Por isso mesmo a Carta Aberta deste mês fala de um Reino
distante e próximo ao mesmo tempo.
João Valter Ferreira Filho
22
MINISTÉRIO DAS ARTES
MATURIDADE
Não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a criancinhas.
E vos dei leite para beber, pois não suportais alimento sólido... (I Cor 3, 1s)
São Paulo não teve "peninha" daqueles que receberam esta carta citada acima, e ele estava
certíssimo! Corinto era uma cidade grega, na época dominada pelos romanos. Aí nós podemos
imaginar com que tipo de paganismo os cristãos daquele lugar eram obrigados a conviver; se não
tivessem cuidado, acabariam por deixar ocorrer absurdos. E, de fato, quem já leu um pouco mais
a respeito dessa Comunidade sabe que escândalos horríveis aconteceram por ali.
Por quê? Ora, o próprio Paulo explica: falta de crescimento espiritual, de maturidade na fé.
Uma das coisas mais tristes que freqüentemente presenciamos em nossos dias é um filhão
mimado dentro de casa. Homem feito: 35, 38, 40 anos de idade e não consegue resolver nada
sozinho ainda, atrasa a vida dos pais, amigos, e se consegue uma namorada, a pobrezinha não
suporta nem um mês direito, pois acaba assumindo o papel de "mãe de reserva". Uma situação
complicadíssima para todos, inclusive para ele mesmo. Será que nosso ministério não vive da
mesma maneira? Será que já crescemos?
Essa atitude de crescimento é tão importante que, na mesma carta (capítulo 13, versículos 11 e
12), o Apóstolo nos mostra que nossas relações com Deus dependem diretamente da capacidade
que deveríamos ter de passar da fase infantil para a adulta nas coisas do espírito.
Lembro que Pedro havia passado anos caminhando com Jesus dia e noite. Ele viveu experiências
fortíssimas perto do Mestre. Deixou tudo para ser pescador de homens, viu curas extraordinárias,
andou sobre as águas, foi declarado a pedra base da Igreja do Senhor e muitas outras coisas
mais.
E então encontramos novamente os dois caminhando lado a lado, novamente à beira de uma
praia, naquela que seria a sua última conversa particular narrada pelos Evangelhos (João 21, 1519). Que assunto escolheria Jesus para tratar com Pedro nesse momento tão importante? Estratégias de difusão da Palavra? Instruções para resolver problemas internos do grupo dos onze?
Comentários a respeito da morte e ressurreição?
Não, o Mestre fala sobre maturidade, crescimento, abandono, confiança, pois Ele sabia que, se
Pedro conseguisse elevar sua fé a essas alturas, tudo mais viria (e, como sabemos, veio mesmo)
como conseqüência...
Eu te afirmo e esta é a verdade: “quando eras moço costumavas apertar teu cinto e andavas por
onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, um outro te apertará o cinto e te
levará para onde não queres ir” (João 21, 18 e 19).
Antigamente nós preparávamos encontros, nós ensaiávamos, nós pregávamos, nós dançávamos,
cantávamos e tocávamos e isso era bom, mas era só o básico, o leitinho.
Para cristãos maduros, crescidos na fé, um outro prepara tudo isso. E quem é esse Outro? O
Paráclito, o Consolador, o Ensinador de todas as coisas, o Espírito Santo de Deus. Ele aperta nossos cintos, nos levando para terras que nossa pobre imaginação jamais sonharia poder existir, e
nos prepara, prega, dança, atua, pinta, desenha, canta e toca a partir de nós, para a Sua glória.
Assim é o alimento sólido de que nos fala Paulo.
E então, é mesmo dele que nos alimentamos a cada dia, em cada reunião do grupo de oração,
em cada ensaio de nosso ministério?
Ou somos ainda moços na fé, filhões mimados entulhando as portas da casa do Pai?
João Valter Ferreira Filho
23
MINISTÉRIO DAS ARTES
E
AS CANÇÕES FEITAS POR IRMÃOS DE OUTRAS IGREJAS?
Nós católicos podemos cantar músicas de compositores/cantores de outras igrejas em nossos
momentos de oração?
De fato, muito embora esta seja uma dúvida antiga e quase sempre mencionada nos encontros
de artistas promovidos pela RCC no Brasil, agora a questão tem sido bem mais comentada, por
causa de alguns artigos publicados na internet ou palestras proferidas para músicos em vários
encontros e até na TV. Naquelas ocasiões alguns irmãos bastante conhecidos, nomes importantes
de nossa música católica, têm se pronunciado contra o uso de tais canções em nosso meio.
Ao que parece esse assunto tem sido “a grande polêmica do momento” e é natural que em casos
assim precisemos de uma resposta mais clara e objetiva, uma vez que isso mexe diretamente
com a seleção de repertório de milhares de ministérios, grupos, bandas, grupos de dança e teatro
(que coreografam as canções) por todo o território brasileiro.
Assim, não apenas como Coordenador Nacional dos Ministérios de Arte da RCC, mas também
como estudioso do assunto “Música Sacra”, seja pelo interesse “pastoral”, seja por força de
minha atividade profissional (uma vez que sou professor de “Canto Gregoriano” em um Seminário
Propedêutico, regente-titular do Coral da Catedral da Arquidiocese de Teresina, professor de
“História da Música Sacra” em uma Faculdade de Filosofia e de “Música Litúrgica Católica” em
uma Faculdade de Teologia) e, ainda, como ministro de música de meu Grupo de Oração, propornho-me a apreciar alguns pontos importantes para nossa reflexão, não num esforço por simplesmente “responder às declarações já citadas”, mas a fim de que possamos crescer juntos em
maturidade humana e espiritual também nesse quesito de nossa prática musical religiosa e de
nossa missão profética na RCC e na Igreja.
Por outro lado, também não é a intenção apenas expressar aqui uma opinião (a minha ou a de
outrem), uma vez que a nossa Igreja possui posicionamentos bastante claros, também sobre
Arte, em seu Magistério, isto é, em sua formação doutrinário-espiritual oficial. Como poderemos
ver durante esse trabalho, temos uma boa quantidade de cartas, encíclicas, homilias do Santo
Padre voltadas para os artistas e mesmo um capítulo inteiro da “Sacrosanctum Concillium” (a
Constituição Apostólica resultante do Concílio Vaticano II) especialmente dedicado à Música
Sacra. O Catecismo da Igreja Católica igualmente dedica algumas poucas, mas decisivas palavras
à Arte Sacra (CIC n. 2500ss).Também a CNBB tem se pronunciado sobre o uso da Música,
principalmente durante o culto (música ritual). Por fim, a própria RCC do mesmo modo tem todo
um caminhar de mais de 30 anos no Brasil, experiência tantas vezes transformada em formação
escrita e oral e que não pode ser desconsiderada em uma discussão dessa magnitude.
Todos os documentos, cartas, livros e pronunciamentos utilizados como base para este artigo
estarão enumerados em nossa Bibliografia, a qual peço que analisem com cuidado.
PARA COMEÇO DE CONVERSA...
Já de início gostaria de declarar que a Coordenação Nacional dos Ministérios de Arte na RCC tem
razões sérias e suficientemente embasadas para afirmar que, em princípio, não há problema
algum em tocarmos músicas evangélicas em nossos momentos de oração, shows, eventos e até
missas, desde que tenhamos duas coisas muito bem definidas em nossa mente e em nosso
coração:
1. O que diz exatamente a música que estamos cantando (análise do texto);
2. Por que escolhi esta determinada música (foi de fato uma moção do Espírito?).
Com base nesses dois critérios podemos tranqüilamente delinear o nosso discernimento.
24
Obviamente também havemos de lembrar que, não somente em relação ao repertório, mas em
todos os aspectos de nossa vida cristã, o equilíbrio é sempre um fator de especial importância.
Ter seu repertório praticamente todo composto de canções de determinado(s) compositor(es)
evangélico(s) é, sem dúvidas, um exagero, algo desequilibrado. Entrementes, cantar somente
músicas do compositor católico “x” ou “y”, igualmente seria cair no mesmo erro do desequilíbrio.
Tudo bem, já estamos começando a entrar no assunto, e logo vou tentar dar algumas pistas de
como levar a cabo aqueles dois princípios de discernimento que enumerei mais acima. Porém,
antes disso, deixem-me fazer duas outras considerações iniciais que são simplesmente indispensáveis para nossa reflexão.
Mãos à obra!
O VENTO SOPRA ONDE QUER!
Começamos nosso caminho lembrando que o Espírito Santo é Criador, Vivificador, e Santificador
de todo o Universo[1] e, portanto, não restringe sua ação somente ao âmbito da Igreja Católica
Apostólica Romana.
Claro que não vou adentrar aqui no campo do “Estudo das Religiões”, mas é preciso que todo
bom servo de Deus entenda que seria uma visão extremamente minimalista acreditar, por
exemplo, que o Espírito só inspira suas canções aos compositores católicos. Todo coração aberto
a Deus pode ser um campo de ação do Espírito[2], assim nos ensina o Magistério da Igreja e
disso não há dúvidas!
Ora, foi o próprio Papa João Paulo II que escreveu em sua “Carta aos Artistas”, de abril de 1999:
“Toda a autêntica inspiração, porém, encerra em si qualquer frêmito daquele « sopro » com que o
Espírito Criador permeava, já desde o início, a obra da criação.”[3]
Isso nos lembra algo que é óbvio: o Espírito Santo é livre para fazer o que quiser e em quem
quiser![4]
Outrossim, se esse mesmo Espírito decide inspirar uma determinada canção a um irmão de outra
Igreja, por que, então, nós haveríamos de adotar o simplório critério da “denominação religiosa
do compositor” para definir nosso repertório? Não seria primário demais assumirmos como verdade absoluta a premissa de que “a música feita por um compositor católico é boa e a música feita
por um evangélico não serve para nós”? Ou estaríamos adotando “critérios mais rígidos” que o do
Espírito Santo?
Sobre essa questão da “denominação religiosa” é muito interessante uma declaração do Documento Pontifício “Novo Millennio Ineunte” na qual o Santo Padre nos diz que:
“Enquanto o Corpo de Cristo, na unidade realizada pelo dom do Espírito, a Igreja é indivisível”.
A realidade da divisão forma-se no terreno da história, nas relações entre os filhos da Igreja, em
conseqüência da fragilidade humana para acolher o dom que continuamente dimana de CristoCabeça para o seu Corpo místico.”[5]
Um critério tão limitado decididamente não é firme o suficiente a ponto de o adotarmos como
paradigma em relação a uma missão de abrangência tão extensa e importante quanto o ato de
ministrar a presença de Deus através da música.
Até considero natural que, na ânsia por fazer as coisas da maneira mais correta, alguns de nós
simplesmente gostariam de ter um “manual do que pode e do que não pode”, mas não é assim
que as coisas funcionam no Reino de Deus! Na verdade, se quisermos mesmo aprender a escolher a música certa para cada momento, vamos ter que usar um pouquinho mais a nossa inteligência e a nossa oração, pois a razão e a fé são os nossos instrumentos de discernimento por
excelência.[6]
UM POUCO DE HISTÓRIA DA MÚSICA NA IGREJA E NA RCC
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A Igreja sempre teve o cuidado de orientar seus músicos, sejam eles cantores, instrumentistas ou
compositores. A primeira grande organização musical no Ocidente foi desencadeada pelo Papa
Gregório Magno, em fins do século VI, quando foram enumeradas algumas características básicas
que determinariam se uma música condizia ou não com aquilo que a Igreja necessitava. Essas
características acabaram delineando um tipo de música inicialmente batizado de Cantus Planus,
mais tarde conhecido mundialmente como Canto Gregoriano, em homenagem àquele Papa.
Talvez você não saiba, mas o Canto Gregoriano ainda hoje é considerado o canto oficial da Igreja
Católica[7]. Quase por impulso, eu até me sinto motivado a fazer uma ligeira preleção sobre o
que a música sacra (católica e evangélica) poderia aprender com o Canto Oficial da Igreja, talvez
utilizando como ponto de partida o fato de que os compositores dos cantos gregorianos autênticos raramente assinavam suas músicas, pois sabiam que não poderiam levar o mérito de uma
obra genuinamente do Espírito. Isso talvez provocasse em nós uma série de ponderações sobre
coisas como, por exemplo, a questão da fama no Reino de Deus, ou mesmo do dinheiro dos direitos autorais que alguns têm recebido em tão grande quantidade!
Mas esse tema vai ficar para outra oportunidade... afinal de contas, não é sobre isso que estamos
conversando agora. Eu apenas lembrei de citar aquela primeira organização do canto sacro para
dizer que nem na Reforma Litúrgica Gregoriana e nem em qualquer outro momento da Historia
da Música Sacra, a Igreja jamais adotou o “nome ou a origem do compositor” como critério essencial para escolha de repertório.
Mesmo na época do Renascimento, quando alguns compositores começaram a desobedecer aos
cânones litúrgicos, e outros passaram para as recém-fundadas Igrejas Protestantes, mesmo nesses momentos, a Igreja só desautorizou o uso de alguma música se o conteúdo dela fosse contra
a Doutrina Católica ou simplesmente inadequada ao momento litúrgico.
Só a título de informação, Bach, compositor de “Jesus Alegria dos Homens” e até de uma melodia
posteriormente utilizada para a “Ave Maria”, era luterano... e Haendell, autor do mais famoso
“Aleluia” de todos os tempos, era anglicano[8]. Eles viveram numa época em que a rixa entre
católicos e protestantes chegava a desencadear verdadeiras guerras, e, ainda assim, suas boas
músicas continuaram a ser utilizadas através dos séculos, inclusive em solenidades na presença
do próprio Papa.
Da mesma forma, em relação aos escritos oficiais[9] da Igreja Católica voltados para os artistas,
tais como a já citada “Carta aos Artistas”, os documentos e cartas do Pontifício Conselho para a
Cultura, as orientações sobre Música nos Documentos sobre Liturgia da Sagrada Congregação
para o Culto Divino, ou mesmo as homilias do Santo Padre no Jubileu dos Artistas e Jubileu do
Mundo dos Espetáculos e, ainda, o seu quirógrafo sobre a Música Sacra publicado há exatamente
um ano, no dia 22 de novembro de 2003... Nenhum desses escritos impõem restrições a composições de outras Igrejas desde que não agridam nossa fé!
A Igreja do Brasil também tem se preocupado em orientar seus músicos, mormente no que diz
respeito à Música Litúrgica, onde novamente somos convocados a proceder com discernimento.[10] Vale a pena conferir, estudar e começar a pôr em prática as orientações que a CNBB nos
fornece (veja as referências na Bibliografia).
E na RCC? Como tem sido a evolução da música em nosso Movimento?
Creio que a maioria dos músicos ligados à Renovação Carismática já tem consciência do fato de
que a RCC em seu início foi mesmo profundamente influenciada e, em alguns momentos, até
auxiliada por alguns irmãos de outras Igrejas Cristãs sérias.
O famoso livro “A Cruz e o Punhal”[11], que exerceu papel importante no episódio conhecido
como “o fim-de-semana de Duquesne”[12] (quando apareceu o “primeiro grupo de oração oficial
da RCC”) foi escrito pelo Pastor David Wilkerson, que por sinal, pregou em um dos 1ºs
Congressos da RCC nos Estados Unidos e esteve aqui no Brasil a convite da Igreja Batista. Outro
exemplo: o Padre Tomas Forrest, importante liderança internacional da RCC no início do
Movimento, teve sua experiência do Batismo no Espírito Santo num retiro da Renovação Carismatica Católica dos EUA pregado por dois padres, uma freira e dois evangélicos Metodistas.[13]
26
Também no campo da música recebemos essas contribuições, no início principalmente através de
grupos musicais como Vencedores por Cristo, Koinonia, Rebanhão e outros mais, com melodias
como “Buscai primeiro o Reino de Deus” e “Glorificarei teu nome, oh Deus”[14]... isso mesmo,
aquelas que ainda hoje utilizamos na Missa (Aclamação e Santo)! Há muitas outras, igualmente
utilizadas ao longo dos anos por praticamente todos nós: “Pelo Senhor marchamos sim...”, “A
alegria está no coração...”, “Posso pisar uma tropa...”, “Eu navegarei...”, “Espírito (...) vem
controlar todo o meu ser...”, “Espírito, enche a minha vida, enche-me com teu poder...”, “Assim
como a corsa...”, “Deus enviou seu filho amado...”, “Se as águas do mar da vida...”, “Eu sou feliz
por que meu Cristo quer...”. Temos ainda exemplos mais recentes, como “Levanta-te, levanta-te
Senhor... fujam diante de ti teus inimigos”, “Venho Senhor minha vida oferecer...”, ou aquelas
que ganharam grande projeção em nosso meio através dos Padres Marcelo Rossi e Zeca, “Meu
pensamento vive em você...”, “Se acontecer um barulho perto de você...”, “Celebrai a Cristo,
celebrai...”.
Só estou citando as mais conhecidas, mas acredite, a lista é imensa!
O que estou querendo mostrar nesse momento é que o uso de composições evangélicas na RCC
não é apenas um fenômeno de nossos dias. Na verdade esta é uma prática que faz parte da
história de nosso Movimento e não há nada de errado com isso, desde que (repito) tenhamos
sempre a responsabilidade de “filtrar”, de acordo com nossa Doutrina Católica, aquilo que escolhemos para cantar.
DISCERNIMENTO NATURAL: ANALISANDO AS LETRAS DO QUE CANTAMOS
Não há dúvidas de que é necessário que todos os artistas católicos tenham condições de analisar
aquilo que cantam, dançam ou representam, afinal, não dá mesmo para simplesmente pegar “a
música da moda” e aplicar descuidadamente em nossa missão. A própria CNBB nos chama a
atenção sobre isso[15] e também o Papa João Paulo II, no quirógrafo já citado, quando diz:
“... por diversas vezes (...) sublinhei a necessidade de purificar o culto de dispersões de estilos,
formas descuidadas de expressão, músicas e textos descurados e pouco conformes com a
grandeza do ato que se celebra...”[16]
Quando tratamos de canções feitas por irmãos de outras Igrejas a atenção deve estar voltada
mesmo à relação do texto da música com os ensinamentos da Doutrina Católica, isto é, verificar
se a canção não fere aquilo que nossa Igreja tem ensinado aos seus fiéis ao longo dos séculos.
Para falar a verdade, é muito bom que sejamos, de certa forma, obrigados a fazer esse tipo de
análise, pois assim percebemos a importância de se ter cada vez mais formação sólida na Palavra
de Deus e no Magistério de nossa Mãe Igreja. O artista que não busca esse aprofundamento com
certeza terá problemas para saber o que é correto ou errado na letra de uma música.
Assim, não há receitas prontinhas a seguir. O caminho é o do zelo às coisas do Senhor, zelo que
nos fará mergulhar cada vez mais em suas Verdades, numa dedicação sempre maior às coisas de
Seu interesse.
Isso tudo nos leva a constatar também que não é somente com as músicas de compositores
evangélicos que precisamos ter cuidado. Também muitos dos cantos compostos pelos “nossos”
trazem freqüentemente erros teológicos, litúrgicos ou pastorais, advindos da falta de formação ou
da formação superficial de alguns de nossos compositores.
O fato é que não é somente sobre Música (tecnicamente ou mesmo religiosamente falando) que
devemos saber, mas também sobre os temas que abordamos em nossa música. Se nossos
compositores não se aprofundarem mais sobre o que a Igreja pensa a respeito de “adoração”,
“louvor”, “animação”, “Maria” etc. nossas letras correm o risco de ser apenas um amontoado de
“água-com-açúcar que está rimando”.
Quanto a isso é muito interessante citar também que a Igreja nos deu a síntese de sua formação
oficial no Catecismo da Igreja Católica, tão facilmente encontrado nas livrarias católicas de todo o
Brasil; isso sem falar em toda a maravilhosa formação que está disponível gratuitamente no site
27
do Vaticano[17], e mais os diversos livros de autores especializados que são lançados constantemente nessa área de Doutrina Católica pelas várias editoras de nosso país.
A própria Renovação Carismática tem elaborado formação substancial para os Ministérios de Arte
(Dança, Teatro, Música e Artes Visuais) justamente a fim de fornecer subsídios suficientes aos
nossos artistas.[18]
Claro, quando não temos ainda formação o suficiente para fazer uma análise mais apurada de
textos dos cantos que chegam a nós, nada nos impede de ir a alguma liderança mais experiente,
ou mesmo a um teólogo, a um padre e pedir que nos ajude em tal missão. Isso também deve ser
feito em relação às nossas composições!
O importante, no que se refere à análise da letra, é que sempre entendamos o que estamos cantando e que tenhamos certeza de que não contradiz nossa fé em nenhum mínimo detalhe.
DISCERNIMENTO ESPIRITUAL: A MÚSICA CERTA NA HORA CERTA
Agora algo crucial em nosso caminho: é necessário que entendamos de uma vez por todas que o
nosso repertório deve ser escolhido pelo próprio Espírito Santo, isto é, só acertaremos de verdade
o alvo se utilizarmos o dom do Discernimento. É uma questão espiritual, nada menos! Se vamos
utilizar uma determinada música para fins espirituais, isto é, para a oração, então é o próprio
Deus quem define o que cantaremos.
Somente ser bonita não adianta... Somente ter a letra certa não adianta... Somente estar de
acordo com o momento não adianta... Somente ter funcionado na semana passada não adianta...
A escolha da música certa para cada momento de oração deve partir de um discernimento
espiritual, isto é, devemos orar e escutar a vontade de Deus ao selecionarmos o nosso repertório.
Aqui vale lembrar que o mais importante na nossa missão é que as pessoas experimentem a
Deus através daquilo que cantamos, nas palavras da CNBB, que “elas tenham um encontro
pessoal com Jesus”[19]; por isso mesmo essa escolha é mais uma questão entre “Deus e o povo
que está rezando” do que simplesmente “a música que eu gostaria de cantar”, ou “a música que
está na moda no momento”.
Nesse ponto chegamos à conclusão que o discernimento espiritual nos leva a questionar o por
quê de se cantar cada uma das músicas que escolhemos!
Se você, em um momento de oração, canta uma determinada música apenas por que “é o carrochefe de seu novo cd”, por mais católica que ela seja, você pode estar cometendo um grande
erro. Da mesma forma, se você escolhe uma canção do grupo “Diante do Trono” só por que agora
é moda cantar isso, por mais bela que a música seja, você pode estar cometendo uma falha
grave! Por outro lado ou essa ou aquela pode funcionar perfeitamente, se assim for a moção do
Espírito Santo!
Vemos, então, que o fator mais importante é nada menos que a Vontade de Deus! E, falando
sinceramente, se o Espírito Santo me move a cantar determinada música em algum momento de
oração, eu, pelo menos, não estou disposto a perguntar a Ele primeiro quem “detém os direitos
autorais”.
Assim, o caminho para o discernimento espiritual passa obrigatoriamente por prostrar o coração
em oração antes de cada música (até das animadas) e aprender a “detectar” a Vontade de Deus
para cada situação. Isso só vem com a prática e começa com uma perguntinha simples, porém
profunda o suficiente para nos levar a rezar por uns tempos: “Por que estou escolhendo esta
música agora?”
A POSTURA DOS EVANGÉLICOS E A NOSSA RESPOSTA
Um outro argumento que tem sido utilizado pelos que são contra o uso de repertório não-católico
se baseia no comportamento dos compositores e cantores de outras igrejas.
Entre outros casos, fala-se que Aline Barros, uma das mais famosas cantoras gospel do Brasil,
teria declarado na televisão que fica triste por ter suas canções utilizadas para a adoração da
Eucaristia (que ela teria chamado de “pedacinho de trigo misturado com água”). Já uma vocalista
28
do grupo “Diante do Trono” teria afirmado em um show que os feriados religiosos do Brasil são
“feriados de prostituição”.
Bem, se esses irmãos, de fato,[20] fizeram afirmações tão maldosas e ofensivas à nossa Fé Catolica, é lógico que estão profundamente enganados, não somente no aspecto doutrinário das
questões, mas também pela “ofensa gratuita” à nossa amada Igreja Católica, já que nós não
andamos por aí desfazendo da religião deles. Sem dúvidas, todos nós, que buscamos ser bons
católicos, fiéis aos preceitos da Igreja de Cristo, discordamos e até reprovamos palavras tão
perniciosas e irresponsáveis, até mesmo porque foram pronunciadas em público!
Entretanto note que há uma diferença entre reprovar o comportamento de um irmão e negar a
ação de Deus através daquele mesmo irmão.
Esse é mais um aspecto curioso da ação de Deus em nós... Ele não se limita aos nossos acertos,
Ele age apesar de nós! É assim a Graça Divina, ela simplesmente não espera que a mereçamos,
que sejamos bons o suficiente.
Citando um exemplo bem prático:
Por causa da Coordenação Nacional, eu sou levado a viajar por todo o Brasil em quase todos os
fins de semana do ano, seja para encontros com artistas, seja para retiros ou reuniões com
lideranças. Vocês não são capazes de imaginar o número de reclamações que recebo, vindas de
coordenadores estaduais e diocesanos, coordenadores de comunidades, padres e até de bispos a
respeito do comportamento de cantores e cantoras que cantam na espiritualidade carismática[21], mas que falam absurdos em seus shows, são ignorantes e ultra-exigentes com os irmãos
que os estão acolhendo e acabam muitas vezes assumindo uma postura tão vaidosa, orgulhosa e
até mercantilista quanto os chamados “cantores do mundo”. Quantas notícias de escândalos
tenho ouvido por aí, quantas terríveis feridas deixadas após lindos shows de evangelização, quantos contra-testemunhos após pregações tão ungidas!
É claro que não concordo com nada disso... Claro que esses irmãos que ainda se comportam
assim têm que mudar seu proceder, têm que “baixar a crista”, deixar que a conversão seja mais
profunda, entender que no Reino de Deus a postura adequada aos missionários seria justamente
cantar o que vivemos e viver o que cantamos! Porém, eu não posso negar a unção que permeia
suas músicas, não posso deixar de acreditar que Deus age através deles, apesar deles, isso
porquê toda Graça é dom de Deus e não da pessoa!
Entendem o que quero dizer?
O profeta não é maior do que a Profecia[22]... A autoridade da Profecia vem do próprio Deus e
não do comportamento do “canal” que Deus usou! É o Mistério da Misericórdia de Deus, que
muitas vezes inspira suas canções a um compositor por causa do povo que está precisando e não
propriamente por causa do irmão que compõe ou canta.
A postura do irmão é lá uma outra coisa, da qual ele próprio é que vai ter de prestar contas com
Deus, pessoalmente.
Estão percebendo por que mesmo se o irmão de outra Igreja é mal-educado, “desaforado” ou até
ofensivo e agressivo, mesmo assim não posso me basear só na postura dele quando vou escolher
uma música?
Alguém pode até dizer: “mas por causa do que ele falou eu vou parar de cantar qualquer coisa
que venha dele”. Tudo bem, eu também não cantaria nada que viesse “dele”, mas pergunto: e se
vier do Espírito Santo?
O mesmo se refere à afirmação de que “eles nunca tocam nossas músicas, então vamos vetar as
deles também”. Esse critério, se analisado a fundo, revela na verdade uma postura muito “mundana”, se me permitem falar com franqueza. Queridos, nós não estamos mais na era do “Código
de Hamurábi”[23], onde valia o “olho por olho e dente por dente”. Nós fomos convocados a fazer
acontecer a Era do Amor, inaugurada pelo próprio Deus, que nos ensinou a dar a outra face, que
perdoou seus algozes e morreu para pagar por crimes que não cometeu.
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Assim, meus irmãos, humanamente seríamos tentados a revidar com o “revanchismo” que nos
aflora à pele todas as vezes que alguém nos destrata... mas a Obra espiritual precisa de uma
Visão espiritual, não podemos esquecer disso! Não nos importa, na verdade, se eles fazem ou
não o que deveriam, importa que nós façamos o que é correto, nossa esperança é que, com o
tempo, nosso testemunho de Unidade mesmo quando ofendidos ou humilhados, venha a sensibilizar o coração daqueles nossos irmãos.
Ademais, ainda sobre a postura dos evangélicos em relação a nós, é preciso dizer que nem todos
são tão intransigentes e intolerantes assim. Muitos têm se esforçado por caminhar junto com a
gente, e na música mesmo temos tido parcerias muito frutíferas com compositores, arranjadores,
cantores e instrumentistas. A maioria dos cd´s católicos que fazem sucesso atualmente têm a
contribuição de um ou outro artista não-católico e isso tem sido muito bom!
Encerro essa parte com uma breve citação do Estudo n. 21 da CNBB, Guia Ecumênico, que dedica
um capítulo à Música Sacra, onde lemos:
“A Música Sacra é lugar privilegiado para a colaboração ecumênica”.
ANALISANDO NOSSA POSTURA ENQUANTO MÚSICOS DE DEUS
No fundo, no fundo, não estamos na realidade tratando de “música evangélica”, mas buscando
uma visão mais profunda a respeito das coisas que movem os nossos corações e as nossas ações.
É por isso que nesta última parte de nossa conversa gostaria de propor que refletíssemos
também um pouco mais sobre os nossos conceitos e nossas posturas. Vou mais longe: gostaria
de provocar uma reflexão sobre os nossos por quês!
Todo servo que busca aprofundar-se no relacionamento com Deus e com Sua Obra vai perceber,
mais cedo ou mais tarde, que os por quês do nosso coração fazem muita diferença para nosso
Senhor. Ele não nos quer apenas como “escravos ignorantes”, “funcionários” do Reino, ele nos
quer como amigos, que compreendem passo a passo as peculiaridades do Caminho do Pai e que
também deixam que o Pai compreenda as razões mais secretas de nosso coração. Até já vi
alguns servos de Deus dizerem que não nos importa o “por quê”, mas sim o “para quê”... mas
também já vi o próprio Deus dizer que “... vos dei a conhecer tudo o quanto ouvi de meu Pai”.
[24]
Após essa análise um pouco mais detalhada da opinião da Igreja e mesmo do bom senso cristão,
francamente, que outras razões teríamos para “baixar um decreto” proibindo esse ou aquele
repertório em nosso meio? Em que exatamente essas outras razões se fundamentariam?
A lei do Amor e da Vontade de Deus também não deixaria espaço para o “bairrismo” caracterizado pela tentação de afirmar “a gente deveria valorizar mais a música católica e deixar que
eles se virem lá para valorizar as músicas deles”. Essa visão superficial simplesmente esquece
que a música é um ministério, e, sendo assim, não está presa a questões como “ser ou não ser
valorizado. Para um verdadeiro ministro de Deus só importa uma coisa: fazer a Vontade do Pai”.
Espero que vocês percebam também que a Coordenação do Ministério das Artes da RCC não está
“fazendo apologia” ou defendendo a “primazia” da música dos evangélicos sobre a nossa... estou
apenas lembrando que o Espírito Santo é livre para fazer o que quiser, e ninguém pode querer
enquadrá-lo nas regras mais convenientes à sua situação. Foi justamente esse o erro dos fariseus
dos tempos de Jesus!
Prestem atenção: esta não é simplesmente uma discussão a respeito “daquilo que é nosso e
daquilo que é dos outros”, a questão aqui é priorizar aquilo que é de Deus!
O risco de termos uma opinião puramente “achista” é que através dele acabamos chegando no
iluminismo religioso, um caminho extremamente traiçoeiro, pois sempre leva, sem exceções, ao
egocentrismo suicida. Começa-se dizendo que não pode música popular, só cristã... depois diz
que não pode evangélica, só católica... depois que não pode músicas das CEB´s, só da RCC...
depois que não pode de outros grupos, só do nosso!
É um perigo... e ronda nossos ministérios constantemente, furiosamente. Portanto precisamos
30
estar atentos, principalmente se somos “formadores de opinião”, não podemos simplesmente
“falar tudo o que nos vem à cabeça”, sem antes pôr à prova nossas teorias, através da fé e da
razão.
Aqui cabe lembrar um alerta do Papa João Paulo II quando falou àqueles que estão constantemente “sob os holofotes”, isto é, aos que já têm um “nome” estabelecido e acabam sendo referência para outros cristãos:
“Sobretudo aqueles que, dentre vós, são mais conhecidos do público, devem estar constantemente conscientes da sua responsabilidade”.
As pessoas olham para vós, caros amigos, com interesse e simpatia. Sede sempre para elas
modelos positivos e coerentes, capazes de infundir confiança, otimismo e esperança.”[25]
POR FIM...
Também é verdade que todos nós só teríamos a ganhar se conhecêssemos um pouco mais a
riqueza dos inúmeros ministérios maravilhosos que temos na RCC e em outros braços da Igreja
Católica. Recentemente toquei em um show ao lado do Trio Ir ao Povo, que canta músicas da
Teologia da Libertação, e foi uma oportunidade de grande crescimento humano e espiritual para
mim. Também outros ministérios da RCC que tenho conhecido por todo o Brasil... Boa Nova e
Santa Clara (PE), Raio de Luz (PR), CEFAS e Kirios (RJ), Projeto Rosário, Ângelus e Nova Face
(SP), Hava (RS), Javé Nessi (GO), Ciros e Água Viva (ES), Irmãs Agostinianas (MS), Triunfo
Imaculado (MG), Lucas (Sorocaba), Antônio Filho (PI), Cícero de Jesus (TO) e vários outros dos
quais, possivelmente, muitos de nós talvez nunca tenhamos nem ouvido falar, mas que são
servos de Deus atuando constantemente em nosso Movimento. Também dessas fontes desconhecidas da música católica precisamos aprender a beber!
Ufa... No final das contas, a verdadeira finalidade desse breve artigo é ser material de informação
e formação para os artistas católicos espalhados pelo Brasil, especialmente aqueles que lutam,
como eu mesmo, no dia-a-dia do grupo de oração paroquial.
Para escrevê-lo consultei lideranças de mais de dez Estados do Brasil, escutando sempre com
carinho tanto um lado quanto o outro da questão... Depois empreendi a pesquisa documental
separadamente e, por fim, construí os argumentos, entremeando com os exemplos e citações.
Concordando ou não, uma coisa, porém, é certa, após ler este artigo você pelo menos colheu
uma série de dados e posicionamentos da Igreja que, com certeza, serão úteis em sua caminhada.
Claro que nada impede que alguém simplesmente diga “não toco música evangélica e pronto”.
Em princípio, até Deus respeita sua liberdade, por que alguém mais poderia não respeita-la?
Entretanto, é bom que todos nós saibamos que essa escolha não quer dizer que você está
“defendendo sua fé”, ou “sendo mais autêntico” que os outros... é uma opção sua, importante
enquanto expressão de seu pensamento, porém nada mais que uma opção. Pensar o contrário
seria querer afirmar, inclusive, que o próprio Magistério da Igreja também não está “tendo
coragem de defender a fé”, um absurdo, portanto.
Peço, finalmente, que todos os artistas do Brasil orem por mim, que ainda devo permanecer na
Coordenação dessa Obra por mais um tempo, a fim de que Deus possa sempre reinar apesar de
minhas fraquezas e misérias e eu possa ser cada vez mais um servo mais disponível para cada
um de vocês... Ao mesmo tempo, coloco-me à disposição para eventuais esclarecimentos através
do e mail [email protected].
E que todos os nossos esforços sejam despendidos rumo à Vontade de Deus. Amém!
João Valter Ferreira Filho
Coordenador Nacional dos Ministérios de Arte - RCC Brasil
Teresina, 22 de novembro de 2004
31
MINISTÉRIO DAS ARTES
CANTAR EM ESPÍRITO E VERDADE
Certa vez eu recebi um convite para pregar num congresso para músicos e o tema que me
sugeriram foi “Cantar em espírito e verdade”. Logo me veio a inspiração de um livro que eu li e
que tinha este mesmo título.
Estudando este tema, o Senhor me levou a compreender a maneira que Ele quer utilizar a música
nos nossos grupos de oração. Vejamos:
Num primeiro momento, o Senhor utiliza-se da música num âmbito meramente humano, onde a
melodia e a letra atraem as pessoas para os locais onde estão sendo ministradas. Esta é uma
atração, que poderíamos classifica-la como que puramente física, pois as pessoas são quase que
seduzidas unicamente pelo gosto natural de apreciar o que é belo. Daí a necessidade dos músicos
buscarem constantemente o aperfeiçoamento da arte e da técnica de cantar e tocar.
Este primeiro momento tem apenas o objetivo de atrair as pessoas para o local onde está acontecendo o encontro de oração e não pode ficar apenas nisso, é preciso aprofundar, ir mais além. E
é a partir deste ponto que se inicia o segundo momento da música ministrada.
Quando cantamos a música de Deus, estamos travando uma grande guerra contra o inimigo, daí
a necessidade de cantarmos em espírito e verdade e de ministrar as palavras que saem de nossa
boca. É aqui que o Senhor deseja realizar através da música a restauração e a salvação das
almas que as escutam, pois esta melodia capaz de salvar almas é uma melodia espiritual,
produzida pelo Espírito Santo que age no espírito do músico ungido. É esta melodia que atrai as
almas do mesmo jeito que a primeira melodia, produzida pelos acordes dos instrumentos e pela
voz do músico atraem as pessoas. Quando cantamos em Espírito e verdade atingimos este
segundo momento da música ministrada nos encontros de oração. Mas o que é cantar em espírito
e verdade e ministrar música?
Estas palavras muito usadas, mas também aparentemente complicadas, significam tão somente
deixar Deus cantar através de nós para que cada palavra possa cair em primeiro lugar no nosso
coração, para depois penetrar como uma flecha afiada no coração das pessoas que nos escutam.
Uma música quando é ministrada com unção, é capaz de realizar maravilhosos prodígios, como
por exemplo, nos curar de vários problemas tanto espirituais como também físicos, converter e
resgatar os que estão longe de Deus. E é isto que devemos buscar, cantar em espírito e verdade
para que através do nosso canto, Deus possa agir na vida de várias pessoas, inclusive nas
nossas, usando assim o dom de cantar e tocar que o próprio Deus nos deu. Desta forma
conseguiremos atingir plenamente o objetivo do ministério da música, começaremos a presenciar
poderosas conversões e restaurações de almas em nossos encontros de oração.
Portanto, não basta apenas ensaiar a técnica, é preciso também querer estar cheio do Espírito
Santo de Deus e se deixar guiar por Ele, e isso somente conseguiremos quando nos rendermos à
oração, à vivência dos sacramentos e à busca da santidade.
Tudo isso que refletimos em relação aos músicos, também se aplicam aos pregadores e aos
servos em geral. Sempre que colocamos os nossos carismas a serviço da evangelização, Deus
quer curar e restaurar o físico e o espírito daqueles que estamos evangelizando. Por isso, também
os pregadores e os servos não devem se descuidar da oração pessoal e da busca constante dos
sacramentos, sobretudo os sacramentos da Eucaristia e da Confissão.
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Luiz César Martins
Ministério de Pregação RCC/Pr
MINISTÉRIO DAS ARTES
MÚSICOS CONSAGRADOS
Acompanhe este trecho do Evangelho:
"...e eles os lançarão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos
resplandecerão como o sol, no Reino de seu Pai. Quem tiver ouvidos ouça!"
Trata-se da parábola do joio e do trigo. Nela Jesus nos fala dos súditos do Reino e dos súditos do
maligno.
O joio é muito parecido com o trigo. É um trigo falsificado. O povo de Israel utilizava joio seco
para acender o fogo. O Senhor está dizendo que os maus, os que zombam dEle, só servem para
acender o fogo e acabarão como súditos do maligno, no destino dele: a fornalha de fogo.
Por isso, até na última hora, Ele usa de misericórdia e perdão. Não se cansa de dar mais uma
chance. Ele alerta:
"Saia do meio do joio, desagarre-se e deixe de ser joio. Aquilo que a natureza não pode fazer:
transformar joio em trigo, Eu posso. Saia do meio do joio! Não proceda como ele, porque Eu
virei. Vou intervir e limpar a face da terra. Todo o joio será arrancado e é com ele que irei fazer o
fogo da limpeza deste mundo".
Existem muitos conjuntos e bandas "consagrados ao demônio". O conjunto Kiss, que fez sucesso
no Brasil e em tantas partes do mundo, por trás do nome "Beijo", esconde, letra por letra a
expressão: "Knight in Satan Service", que significa "Cavaleiros a Serviço de Satanás".
Antigamente se pensava que os nomes, as atitudes consagrados ao demônio eram apenas gestos
agressivo para atingir a sociedade. Percebeu-se depois que não era isso.
Ao contrário: eram consagrados mesmo! Para ter sucesso e realizar o que eles queriam... Para
gravar discos e ter as tiragens desejadas... Para fazer shows e terem as pessoas a seus pés...
Para serem aplaudidos e exaltados, eles se consagram a Satanás e estão a seu serviço, como faz
o Kiss, e a este preço conseguem o sucesso que buscam.
São súditos do maligno e eles lhes faz exigências severas. Ai deles se não obedecerem! O
demônio exige atos de adoração, rituais terríveis, sacrifício de animais, e eles fazem esse rituais
antes de apresentações. É uma tristeza! Há muita gente, infelizmente, servindo diretamente
como súditos do maligno: a serviço de Satanás.
Além desses que sabem e que vivem assim por opção, músicos, conjuntos e bandas, sem fazer
uma consagração formal, estão a serviço de Satanás: com a música que cantam, com os shows
que fazem, com as letras que divulgam, com seus procedimentos e atitudes.
A música arrasta multidões! A mentalidade que ela produz forma realmente opinião. Faz a cabeça
e o coração. Infelizmente, há uma multidão de artistas, bandas e conjuntos que, mesmo sem
uma consagração formal, estão a serviço de Satanás.
O Senhor tem feito tudo para tirar você das garras e do engano de Satanás. Se você não se
converter, será arrancado como o joio. Será feito um feixe sequinho, ótimo para fazer fogo.
Somente o músico, o artista que, pela graça de Deus, é trigo será recolhido e levado ao celeiro do
Senhor. Considerado justo, resplandecerá no Reino dos Céus.
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Diante desse espetáculo deprimente de conjuntos que se consagram a Satanás, é necessário que
você tenha a sua banda, seu conjunto, seu ministério de música, verdadeiramente consagrados
ao Senhor.
Já que na face da terra existe esse sacrilégio, essa profanação, em que homens, criaturas
humanas consagram a Satanás o próprio serviço, a própria arte, a música e a sua musicalidade:
é necessário que haja uma reparação.
É preciso dar ao Senhor toda glória, com Ministérios de Música verdadeiramente consagrados a
Deus.
Castidade: a arma do músico consagrado
Certa vez, tivemos em oração a seguinte imagem:
"Da platéia vinham demônios se projetando em cima dos músicos e dos cantores, demônios rindo
das pessoas da platéia".
A imagem é muito forte! Ela mostra o que acontece na realidade. Não se pode ser inocente! Você,
menina, que toca e canta, quando se prepara para essas apresentações, num palco, num altar,
num encontro... você deve se pentear, se maquiar como Maria e unicamente como Maria! Por
amor a Deus!
Mesmo se penteando, maquiando e se vestindo como Maria, você ainda corre riscos, porque as
pessoas estão com a sensibilidade aguçada. Mas se você se veste como uma "Madona", com
todos os requintes da sensualidade... Não, minha filha, num conjunto de Deus, ou santa... ou
nada.
Tenha realmente uma decisão de castidade nas suas vestes, na sua pintura, no seu penteado...
Viva a castidade, e ela vai se mostrar nas suas roupas, dos pés à cabeça, nas jóias, nas bijuterias
que você usa... em tudo. Tudo pela santidade. Tudo como Maria. Vivendo na castidade. Sempre
se propondo: Quero ser pura e inspirar pureza. Quero ser santa e levar santidade!
Você está numa guerra, em qualquer apresentação musical! Todo o seu trabalho de música só
pode inspirar e levar à santidade. Você não pode brincar nestes momentos decisivos. O inimigo já
tem usado e abusado demais.
Você, rapaz, também é alvo! Precisa ser casto em tudo: nas suas roupas, no seu jeito de se
apresentar. Porque o homem quando quer sabe se mostrar sensual. Por amor de Deus, não vá na
onda dos artistas, eles estão a serviço de Satanás. Você não é do "Kiss", Knight in Satan Service,
Cavaleiros a Serviço de Satanás! Você está a serviço de Jesus e da santidade!
Por isso, músicos de Deus: "Ou santos ou nada". É preciso se decidir por um compromisso de
castidade e vivê-lo. Quando o grupo, a banda inteirinha faz um compromisso de castidade, um
cuida do outro, para nenhum cair.
Todos nós do Ministério de Música Canção Nova fizemos um compromisso de castidade: os
casados e os solteiros. Nós nos seguramos uns aos outros, oramos uns pelos outros. Não
empurramos ninguém. Nós seguramos e não deixamos ninguém cair. Do contrário, somos presas
do inimigo. Ele vem, e numa rasteira derruba todo mundo junto. Nesta hora, o que carregou o
grupo inteiro, grita: "Se tivéssemos feito antes um compromisso de santidade...!"
Pe. Jonas Abib
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MINISTÉRIO DAS ARTES
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O MINISTÉRIO DE MÚSICA
(Quando este artigo foi publicado o Ministério das Artes era tratado como Secretaria Davi).
1. Quem é o ministro de música?
Um ministro de música é, antes de tudo, um filho de Deus, uma pessoa que tem uma relação de
amor com o Pai e, como expressão natural de seu coração, externa este amor em forma de
canção. Seu trabalho é uma conseqüência disto.
É uma pessoa que foi agraciada e ungida.
Agraciada com o dom de cantar, de tocar, de utilizar o som e o silêncio em melodias que tocam o
coração dos irmãos e o de Deus; ungida para colocar este dom a serviço do seu Grupo de Oração,
da RCC, da Igreja e de todo o povo de Deus.
Ultimamente algumas pessoas têm insistido em dizer que quem canta ou toca na RCC só pode ser
chamado de ministro se atingir determinado “grau de elevação espiritual”. Isso não é correto! O
fato de sermos chamados a ministrar em nome de Deus não é uma espécie de “troféu” que
conquistamos depois de muito esforço e sacrifício. Todo ministério é um dom, uma vocação, um
chamado ao qual devemos responder, por isso não burocratizemos demais nossa vocação: você é
ministro, Deus quis assim, só resta mergulhar e ser fiel em Unidade com a Igreja.
2. Como servir em um ministério de música que não tem instrumentos, microfones, etc?
O instrumento principal de um ministério de música é a pessoa humana aberta à ação do Espírito
Santo.
Um ministro ungido, mesmo possuindo uma voz rouca e acompanhando somente de palmas, é
capaz de tocar corações e transformar vidas.
No entanto é muito importante que nos esforcemos realmente para adquirir instrumentos (e dos
bons!) e invistamos em nossa qualificação técnica, a fim de que o nosso serviço se torne cada vez
melhor.
O ministério, então, pode solicitar do Grupo de Oração que coloque a aquisição de instrumentos
dentro de seus planos e deve colocar-se à disposição para realizar os trabalhos necessários para
a alocação dos recursos financeiros necessários, como rifas, bingos, campanhas etc.
3. Qual o número ideal de servos em um ministério de música?
O ideal seria que o ministério tivesse um número de pessoas compatível com o volume de
trabalho dentro do grupo e nas atividades paroquiais.
Mas sabemos que é o Senhor quem chama as pessoas para o servir (muito embora nem todos
atendam esse chamado).
Pelo Brasil encontramos ministérios com apenas três pessoas que servem muito bem ao seu
grupo.
Outros, de comunidades maiores, possuem até 40 pessoas! Portanto, a quantidade de ministros é
bastante variável e não temos regras para isso.
4. Como chamar mais pessoas para o ministério?
Em primeiro lugar orar, pedir ao Senhor que envie mais operários para a sua messe, como nos
ensina a Palavra de Deus em Mateus 9,37s.
“Então disse a seus discípulos: “A colheita é grande mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois,
ao dono da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita”.
Em segundo lugar, trabalhar para que isso aconteça.
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Alguns grupos de oração consideram constantemente, dentro de seu planejamento, a inserção de
novos servos não só no ministério de música como em outros serviços, desenvolvendo o seu
próprio método de inserção como palestras, encontros e outras dinâmicas. Caso isso não esteja
acontecendo e o ministério de música sinta a necessidade de novos membros, deve entrar em
acordo com a coordenação do grupo, para que seja discernida a melhor forma de colocar mais
pessoas.
E não se esqueça que nada atrai mais do que o amor! Assim sendo, se o ministério, de fato, vive
o amor, certamente chamará mais pessoas naturalmente.
5. O que fazer se nosso principal cantor (ou instrumentista) dá contra-testemunho,
falta às reuniões e ensaios, e ainda se mostra cheio de razão?
Excluí-lo imediatamente? Este talvez não seja um ato de amor.
Deixa tudo como está? Certamente seria uma atitude de desamor que revelaria descaso para com
a pessoa e o ministério.
O que fazer? Vejamos o que nos sugere o próprio Jesus, em Mateus 18,15s.
“Se o teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir ganhaste o teu irmão. Se não te ouvir,
porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida pela
palavra de duas ou três testemunhas.”
Uma questão como esta envolve dois aspectos muito importantes:
1. O amor pela pessoa.
2. O zelo pelo serviço.
O amor por aquele irmão nos leva a não descartá-lo de nosso meio, mas, sim, intensificar o
processo de pastoreio, inclusive contando com a ajuda de outras secretarias (Marcos, Ágape etc)
e da coordenação do grupo.
Embora seja uma questão delicada, é importante que se entre logo em processo de discernimento e resolução do caso, afim de que ele não venha a se tornar ainda mais difícil com o passar
do tempo.
6. Como agir se o coordenador do ministério é o primeiro a dar mal exemplo, faltando
aos ensaios, chegando atrasado etc?
Podemos nos espelhar na resposta da questão anterior.
O coordenador é uma pessoa comum, sujeita a tentações e fraquezas, e não um super-herói.
Ele pode, por exemplo, estar atribulado por problemas pessoais, por isso é bom rezar por ele,
conversar com ele, mostrando interesse fraterno por sua vida e tentando entender a razão pela
qual vem agindo dessa maneira, ao invés de acusá-lo precipitadamente.
Uma conversa amigável e sincera pode resolver muitos problemas.
Dependendo da situação, você pode procurar a coordenação do Grupo e expor suas preocupações.
Qualquer decisão mais objetiva já faz parte do trabalho da liderança do grupo de oração, que
geralmente está atenta à atuação de cada coordenador de ministério.
7. Quem escolhe o repertório e as pessoas que vão servir em reuniões e encontros? O
ministério de música ou o coordenador do Grupo de Oração?
Um dos grande segredos para que as coisas andem bem em qualquer grupo de pessoas é a
distribuição de tarefas.
Se existe um ministério de música, então é natural que coisas como escolha de repertório, escala
de instrumentistas e cantores etc, sejam atribuições próprias do ministério de música, até mesmo
para que o coordenador do grupo possa cuidar de outros afazeres.
Assim, esta função pertence ao ministério, a não ser em circunstâncias especiais. Entretanto a
opinião e as orientações vindas da coordenação do grupo e dos pregadores do encontro devem
ser levadas em consideração, a fim de que se preserve a unidade.
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8. Como agir com os pregadores que costumam pedir no meio de suas palestras cantos
que o ministério não ensaiou ou não sabe tocar?
O ideal é que o ministério e o pregador combinem antecipadamente a(s) música(s) a serem utilizadas naquela determinada palestra.
Porém, se o pregador sente a inspiração de um canto no meio da pregação, ele deve se dirigir ao
ministério de música e perguntar se seria possível cantá-la. Caso o ministério não a conheça ou
não esteja preparado para executá-la, deve-se entrar em acordo e substituí-la por outra similar.
Em último caso, de acordo com a moção do Espírito Santo, o pregador pode, naturalmente, sem
constrangimentos, cantar a música com a assembléia, sem o acompanhamento do ministério.
9. Como agir em relação às pessoas do ministério que costumam faltar às reuniões e
ensaios e só aparecem às vésperas de um grande encontro ou show?
Como sabemos, um ministério não é somente um grupo de pessoas que se reúnem para tocar.
Temos uma missão específica: servir no grupo de oração.
Para tanto, precisamos participar do grupo.
Assim, as pessoas que não vão às orações, aos ensaios, enfim, aqueles que não participam ativamente da vida do ministério de música, no final das contas acabam por não pertencerem efetivamente ao grupo. Portanto não é aconselhável que estes toquem ou cantem, pois sua postura
mostra que não assumiram compromisso com a Obra. Porém reforçamos a importância do fato de
que todo discernimento a esse respeito deve ser feito em comunhão com a coordenação do grupo
de oração.
10.
O ministério de música deve ter um caixa financeiro?
Esta decisão dever ser tomada pela coordenação do grupo de oração.
Alguns grupos de oração preferem manter um caixa único e, dali, destinar os recursos para as
diversas necessidades de todos os ministérios.
Outros preferem que cada ministério tenha seu caixa e o administre da melhor maneira possível.
O importante é que, se tomada a decisão de ter um caixa específico da música, que ele seja
administrado por um tesoureiro responsável, que faça demonstrativos periódicos do movimento
financeiro do ministério, a fim de que tudo transcorra de maneira transparente.
11.
Como deve acontecer a escolha de um coordenador de ministério de música?
A escolha de um novo coordenador é sempre um grande desafio para qualquer equipe de pessoas.
Alguns ministérios simplesmente se reúnem e fazem uma eleição (na qual todos os integrantes
são candidatos), chegando, através da votação, à pessoa escolhida. Porém, aqui temos um
problema:
E se a coordenação do grupo de oração não concordar com a escolha?
Bem, em outros grupos acontece de a coordenação escolher livremente um coordenador para o
ministério. Surge, então, outra questão:
E se o ministério não concordar com a pessoa escolhida?
Uma boa idéia para se resolver este impasse seria aproveitar um pouco do dois caminhos.
Em um primeiro momento, o ministério se reúne e, através de votação, escolhe o nome das três
pessoas mais indicadas para a missão.
Em seguida encaminha-se este resultado para a coordenação do grupo de oração, que escolhe
dentre estes três aquele que mais se identifica com a função e com a linha de atuação da
coordenação do grupo.
12.
Como fazer se temos instrumentos, mas não temos quem os toque?
Esta situação é semelhante à da questão número quatro, assim a mesma resposta pode dar
algumas luzes. O melhor mesmo é rezar para que Deus providencie um instrumentista de acordo
com Seu coração. Mas isso não quer dizer apenas esperar acomodados. É preciso que tenhamos
uma postura mais ativa.
Uma idéia interessante é detectar pessoas do ministério que tenham vontade de aprender a
37
tocar, e financiar (ainda que parcialmente) um curso de música ou um professor particular para
elas.
O resultado virá em médio prazo (mais ou menos cinco meses, dependendo do aluno), mas, em
geral, vale a pena.
13. O que fazer quando as pessoas começam a faltar aos ensaios e às reuniões e se
mostram desestimulados?
Muitas vezes acontece de o ministério ser um peso nas costas daqueles que o integram.
O excesso de trabalho, cobranças exageradas, incompreensão e, principalmente, a falta de amor
entre os irmãos, fazem com que, aos poucos, as pessoas comecem a deixar de gostar do
ministério e acabem por abandonar o barco.
Assim, quando se começa a observar que muitos faltam, outros reclamam o tempo todo, outros
não vêem a hora de acabar aquele ensaio... pode-se ter certeza que algo precisa mudar.
Ë necessário que o ministério de música seja uma família feliz, onde os irmãos se reúnem para
partilhar o amor e louvar a Deus através da canção. Quando ele se afasta deste caminho acaba
por tornar-se aquele peso do qual falamos no início.
Problemas tão essenciais devem ser resolvidos em oração e com a utilização do carisma do
discernimento. Fazer uma boa escuta, perceber quais os direcionamentos do Senhor, são passos
indispensáveis em um momento como esse.
Entrementes, quanto ao relacionamento entre os ministérios, é bom que procuremos estreitar os
laços de amizade. Para isso, é interessante de vez em quando combinar, com todos do ministério
(e não somente com uma “panelinha”), encontros informais, tais como: sair para tomar um
sorvete, ou assistir um bom filme na casa de alguém, ou ir ao cinema, ou fazer uma serenata
para um irmão que aniversaria, ou ir a um show, uma praia, um passeio, um piquenique, um
museu... quanta coisa se pode fazer entre irmãos!
Muito embora a solução venha de Deus, estes momentos de divertimento e amizade podem
mudar completamente o perfil do ministério.
Separar um dia para uma avaliação mais séria, com os pés no chão, também é uma idéia que
deve ser levada em consideração.
O importante é não se esconder atrás de velhas fórmulas como: “...é porque seguir a Deus não é
pra todo mundo...” ou “...somente uns poucos permanecem fiéis...”.
Se o problema existe, devemos empenhar todos os nossos esforços para resolvê-lo!
14. Qual o papel da Secretaria Davi Diocesana?
O Secretário Davi Diocesano tem uma dupla função:
1. Manter contato direto com o Secretário Davi Estadual. 2. Prestar assessoria aos ministérios de
arte (música, dança, teatro...) de toda a sua Diocese, de acordo com os direcionamentos do
Conselho Diocesano da RCC.
O contato com o Secretário Estadual acontece por meio de cartas, e-mails, telefonemas e com a
participação em encontros e reuniões estaduais.
A assessoria aos ministérios de música engloba, por sua vez, três aspectos:
· O Secretário Diocesano deve estar intimamente ligado e “antenado” no que acontece na
Coordenação Diocesana da RCC, ele deve permanecer em unidade com todas s orientações,
caminhos, idéias, projetos etc, pois não vai conduzir o povo da Secretária Davi de acordo com
sua própria cabeça, mas, sim, baseado naquilo que Deus mostra para toda a RCC da Diocese;
· A partir daí ele deve procurar meios de promover a articulação da troca de experiências entre os
ministérios da Diocese.
· Pensar e viabilizar (talvez junto com uma equipe de apoio) a oferta e a viabilização de formação
para os ministérios.
Isto se dará através de apostilas, cartas e-mails, telefonemas, visitas a cada ministério, reuniões
com coordenadores de ministério, retiros, vigílias, encontros etc.
15. Como um Secretário Davi deve agir se a Coordenação de seu Grupo de Oração não
o libera para assumir adequadamente sua função na Diocese?
Ter um de seus membros convidado para assumir uma missão especial dentro da Equipe Diocesana da RCC deve ser sempre um motivo de alegria para qualquer Grupo de Oração.
Isto é sinal de que as coisas estão indo no caminho certo!
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Por outro lado, o Grupo deve ter a consciência de que esta missão (no caso, a Secretaria Davi
Diocesana) vai acabar tomando um certo tempo da vida da pessoa escolhida. Algumas atividades
diocesanas inevitavelmente irão se chocar com as reuniões do Grupo.
Assim, a Coordenação deve ser compreensiva e dar apoio a esse irmão, ao invés de ficar acusando e cobrando o tempo todo.
Ele não é mais um membro somente daquele determinado Grupo, mas de toda a Diocese!
Se isto não vem acontecendo, então o Secretário Davi Diocesano deve ter uma conversa sincera
com toda a Coordenação do seu Grupo e expor a situação, colocando claramente o fato de que
precisa de mais tempo para cuidar dos assuntos da Diocese.
Caso, ainda assim, continuem persistindo os mesmos problemas, deve-se solicitar ao Coordenador Diocesano da RCC que converse com a Coordenação do Grupo de Oração e esclareça as
coisas da melhor maneira possível.
16.
O que se deve fazer se nossa Diocese não tem um Secretário Davi Diocesano?
Deve-se procurar o Coordenador Diocesano da RCC (pessoalmente, ou por carta, e-mail, telefone
etc) e solicitar que ele nomeie uma pessoa o mais rapidamente possível, pedindo, ainda, orientações a respeito de como encaminhar certas atividades, sobretudo na linha de formação enquanto
esta nomeação não acontece.
17.
Qual o papel da Secretaria Davi Estadual?
A função de um Secretário Davi Estadual é bastante semelhante à do Secretário Diocesano, isto
é, viabilizar a troca de experiências e oferecer formação.
Só que, tudo isso, em uma dimensão estadual.
Assim, o trabalho do Secretário Estadual não tem tanto “corpo-a-corpo”. O contato se dá mais
por cartas, e-mails (de acordo com a realidade de cada local) e telefonemas.
É recomendável que o Secretário Davi Estadual visite cada Diocese pelo menos uma vez por
semestre, por ocasião de um Retiro ou Encontro Diocesano da Secretaria Davi.
porém, se isto não for possível, é bom lembrar que uma correspondência substancial e contínua
pode resolver muitas coisas.
A tempo: o Secretário Davi Estadual deve manter-se permanentemente informado e atualizado
acerca dos direcionamentos propostos pela Secretaria Davi Nacional.
18. O que se deve fazer se nosso Estado não tem uma Secretaria Davi Estadual?
O Secretário Davi Diocesano deve procurar o Coordenador Estadual da RCC (pessoalmente ou por
carta, e-mail ou telefonema) e solicitar que ele nomeie uma pessoa o mais rapidamente possível,
pedindo, ainda, orientações a respeito de como encaminhar certas atividades, sobretudo na linha
de formação enquanto esta nomeação não acontece.
19. O que é uma Banda Católica? Qual a diferença entre uma Banda e um Ministério de
Música?
Primeiramente é necessário que saibamos que A RCC não tem um conceito pré-definido do que
seja uma banda e um ministério. Essa problemática toda surgiu em alguns lugares, de acordo
com a caminhada, e em muitas Dioceses do Brasil, graças a Deus, não há conflito algum entre os
dois termos.
Porém, nos lugares onde existe tal problema podemos adotar a postura a seguir, mas sempre
lembrando que isso não é uma regra e que tudo depende do discernimento que nos é dado pelo
Espírito Santo.
Vejamos:
Um grupo de pessoas se reúne para trabalhar com músicas de evangelização.
Este grupo é um Ministério ou Banda?
Em princípio, pode ser as duas coisas, de acordo com seu contexto:
· Se ele está diretamente ligado ao serviço em um determinado grupo de oração e todos os seus
membros participam deste mesmo grupo, estando sob a coordenação do grupo e tudo o mais,
dizemos que é um ministério.
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· Se realiza um trabalho de evangelização de maneira mais independente, isto é, se as pessoas
são de diversos grupos, ou diversos movimentos da Igreja, ou mesmo nem participam de movimento algum; convencionamos chamar de banda.
Porém. Isto não quer dizer que um seja superior ao outro, ou mais santo, ou mais ungido...
ambos têm toda condição de servir a Deus através de sua música.
Ao contrário do que muitos imaginam, não existe nenhum problema com o termo banda. Apenas
o que acontece é que, no caso do ministério de um grupo, existe toda uma estrutura por trás que
o identifica diretamente como sendo da Renovação Carismática, enquanto que a banda, como
possui um estrutura à parte dos grupos de oração, não pode ser definida como algo da
Renovação Carismática, isto é, não fala em nome da RCC, não representa a RCC em eventos, e
nem a RCC vai se responsabilizar pelo que esta banda vier a fazer em seus shows e apresentações. Esse é o mesmo caso de nossos irmãos cantores que levam uma carreira solo da música
católica.
De qualquer maneira, vale a pena dar uma conferida em Lucas 9,49s.
20.
Os instrumentos utilizados pelo ministério devem ser “consagrados”?
Não necessariamente.
Pensemos juntos:
Em algumas casas é costume ter-se, em separado, pratos, copos e talheres especiais para
ocasiões festivas.
Isto é muito bom, mas não é o mais importante, não é o essencial!
Na verdade, os pratos não alteram em nada a qualidade da comida.
A comida quando é boa pode ser colocada até em pratos descartáveis, que irá agradar da mesma
maneira.
Assim acontece com os instrumentos.
Algumas pessoas e grupos preferem ter seus violões, ou guitarras, ou teclados, exclusivamente
separados para o serviço do Senhor.
Isto é ótimo.
Porém não passa de uma opção.
Bons instrumentistas da RCC, ao estudar teoria e técnica instrumental (para aperfeiçoar a nossa
música), têm que fazer escalas de jazz, ou interpretar obras clássicas, ou re-harmonizar canções
da bossa-nova...
Nem por isto estão “contaminando” seus instrumentos ou a si mesmo, Deus não precisa de
instrumentos “pré-consagrados”, ele precisa, isto sim, de músicos dóceis à ação do Espírito
Santo.
Os instrumentos, ora, estes se tornam consagrados a partir do momento em que chegam às
mãos de instrumentistas que estão realmente na presença de Deus.
21. É pecado cantar (e tocar) música secular (de fora da Igreja)?
Em princípio, não!
Durante muito tempo foi costume em alguns meios se fazer uma rigorosa divisão entre a nossa
música e a música “do mundo”.
Mas não é bem assim.
São Paulo nos fala que não estamos presos a leis humanas, mas à Lei do coração, escrita em
nossa alma pelo próprio Jesus através de Seu Espírito (cf. Rm 2,12-29). Portanto, as nossas
decisões devem ser pautadas por nosso discernimento.
Existem músicas populares que, de fato, não são dignas nem mesmo de serem ouvidas por
pessoas de bom senso, quanto mais cantadas pelos que desejam ser santos. Entretanto, existem
outras grandes canções, também populares, cuja poesia, melodia, arranjos, muitas vezes, tocam
fundo nos corações da gente. Não há mal algum em cantá-las! Deus nos deixa livres para
escolher.
Só é necessário que se observe onde estas músicas serão cantadas! Em ocasiões de caráter
litúrgico é aconselhável que se observe as orientações da Igreja em seus Documentos específicos.
22.
E a respeito de músicas evangélicas, podemos cantá-las?
Há muitas pessoas que pensam ser errado tocar e cantar canções de origem evangélica ou
40
mesmo a chamada “música gospel”, mas aqui também vale lembrar que o espírito Santo inspira
qual nosso repertório e não devemos deixar que nossos preconceitos criem barreiras para isso.
23.
Mas e se o coordenador do grupo de oração ou a coordenação diocesana da RCC
proibir tocar estas músicas no grupo ou nos encontros?
Neste caso estamos em um outro contexto.
Devemos primar sempre pela obediência, não por uma mera submissão, mas por quê através da
obediência é que construímos a unidade da Obra de Deus em nosso meio.
Assim podemos até dialogar com a coordenação, expor nossas razões tranqüilamente; porém se,
mesmo depois de ouvir nosso argumentos, a coordenação (do grupo ou da Diocese) solicitar que
os ministérios não toquem determinadas músicas quando no grupo ou nos encontros, obedeçamos, ainda que não concordemos ou entendamos.
24.
É errado fazer “paródias” cristãs com músicas que originalmente são seculares?
A rigor, não. Chegamos de novo àquela questão: cantores de corações consagrados a seu Deus
acabarão por consagrar naturalmente as canções que entoam. Existe um grande pregador da
RCC que costuma dizer “Deus tem mais poder para abençoar que o “capeta” tem para “encapetar”.
Porém, novamente é necessário que se observe onde estas músicas serão cantadas, bem como
as questões relativas aos direitos autorais dos compositores.
Talvez haja um problema também quanto à música que está sendo parodiada. Uma música
secular que fira de alguma forma a doutrina ou a moral cristã, e que seja muito conhecida,
mesmo que entoada com uma letra religiosa, pode trazer à memória dos ouvintes a mensagem
da letra original, por causa da melodia que já está no inconsciente das pessoas. Por outro lado,
conhecemos casos de pessoas que, de tanto ouvir a versão “convertida” da música parodiada,
acabaram por substituir a mensagem da letra antiga pela nova mensagem.
Por isso, de novo, o dom do discernimento é nosso grande trunfo nessas situações.
25. Que tipo de músicas podemos usar ou não em missas e celebrações especiais
como casamentos, celebrações a Palavra etc?
As diretrizes para o uso litúrgico da música não vêm da Secretaria Davi, mas, sim, da própria
Igreja, através de seus escritos.
Já do Concílio Vaticano II herdamos todo o Capítulo IV da constituição Sacrossanctum Concilium.
No Brasil, a CNBB lançou o Documento 43 – Animação da vida litúrgica no Brasil, que merece
especial atenção por parte de todos nós.
No caso da RCC, encontramos algumas orientações específicas no Documento 53 – Orientações
pastorais sobre a Renovação Carismática Católica, número 42, onde se recomenda que “os cantos
e os gestos sejam adequados ao momento celebrativo e de acordo com os critérios exigidos para
a celebração litúrgica”.
Para que consigamos desenvolver um bom trabalho nesta área é necessário que conheçamos e
procuremos pôr em prática estas orientações.
A Secretaria Davi Nacional está agora implementando uma Assessoria de Liturgia, responsável
pela elaboração de material de formação e contatos gerais a respeito de Arte Litúrgica.
É importante lembrar, ainda, que a autoridade (inclusive para definir e alterar repertório) em uma
celebração é do sacerdote que vai presidi-la, e não do ministério de música escolhidas para a
missa ao sacerdote alguns instantes ou, melhor ainda, alguns dias antes da celebração. Isso vai
evitar um bocado de problemas, com certeza.
26.
Com quantos aos de idade o ministério já está pronto para gravar um cd?
Bons ministérios que se acabaram simplesmente por quê deram o passo maior que a perna e
decidiram gravar sem sequer consultar a vontade do Senhor. Outros vemos que têm tudo para
gravar, boas músicas, bons cantores, apoio do grupo, e apenas não têm coragem, ficam sempre
deixando tudo para “mais tarde”.
Por isso, cada caso é um caso: o ministério que permanece em oração, que costuma estar à
disposição de Deus para que Ele fale sempre, acaba por discernir a hora certa. Isso pode ser
depois de dez anos de caminhada, como pode ser também logo no início de tudo.
41
27. E quanto aos estilos que usamos? O que dizer do uso de estilos como rock, forró,
pagode e outros nas músicas da Igreja?
Há alguns anos essa era uma questão que intrigava bastante os formadores da música na RCC.
No entanto o Senhor tem-nos conduzido por caminhos muito novos especialmente nos últimos
cinco anos.
O que notamos em nossos dias é o aparecimento de grupos que estão buscando evangelizar
através de diversos métodos: ir ao povo de uma maneira que o povo possa compreender. Isso é
muito bom! Assim, o problema não está no estilo musical, mas no uso que fazemos dele! Aquela
“reserva”, aquele “pé atrás” que muitos têm em relação ao rock, ao reggae, ao forró etc, não deixa de ser mais uma questão cultural, e o que precisamos, afinal, é nos livrar de alguns preconceitos que ainda cultivamos.
Entretanto, é bom salientar uma observação importantíssima:
Nossos ministérios não podem estar ao sabor da mídia! Aqueles que pensam “ah, vou gravar
forró por quê está na moda” ou, então “olha, o reggae está vendendo muito, vamos direcionar
nosso trabalho para isso”, bem que essas pessoas poderiam fazer uma revisão de sua postura
quanto à música católica, avaliando a verdadeira intenção de seu coração.
28. O que o Secretaria Davi diz a respeito das bandas e cantores da RCC que cobram
cachê para tocar em shows e encontros?
De fato temos verificado muitos problemas referentes a esta questão em todo o Brasil.
Algo deve ser esclarecido lodo de início: a Secretaria Davi, a rigor, é uma espécie de “assessoria”
ou “consultoria” voltada para os ministérios de música, dança, teatro etc que são ligados
formalmente à RCC, o que ocorre, principalmente, através do grupo de oração. Mas a realidade é
que a maioria dos irmãos que fazem os grandes “shows carismáticos” pelo Brasil afora não estão
ligados a grupos de oração ou mesmo à Coordenação Diocesana da RCC. Assim, a Secretaria Davi
não tem ingerência alguma sobre seu trabalho.
O que podemos fazer é orientar as Dioceses, grupos e comunidades que os convidam a atuar em
seus eventos.
É preciso que lembremos que, de fato, shows, bandas, cd’s e coisas assim custam muito dinheiro,
por isso esses irmãos têm um certo “custo operacional” para existirem e para poderem
desenvolver seus trabalhos de evangelização. No entanto isso não é motivo para andarem
exigindo absurdos tais como alimentos exóticos, hospedagens especiais, dezenas de toalhas
brancas, viagens em classe especiais de vôo, depósito antecipado de grandes quantias como
“sinal” ou “garantia”, contratos injustos de compra de seus produtos, motoristas à disposição em
tempo integral e coisas assim. Parece exagero, mas infelizmente temos notícias de tudo isso e
muito mais. Essas coisas têm gerado sentimento de rancor e mesmo intrigas em muitas Dioceses
do Brasil, sobretudo por parte de quem chama o artista para fazer o show, ou apresentação, que
por vezes acaba passando por grandes constrangimentos e até ficando com prejuízos financeiros.
O grande desafio é justamente encontrar um ponto de equilíbrio. Como contribuir sem ser
explorado?
O ideal seria que baseássemos nosso planejamento na partilha fraterna. Ora, se fizermos um
show e tivemos um bom resultado financeiro, então vamos partilhar de maneira justa com o
irmão que cantou, com sua comunidade, com sua obra. Por outro lado, se tivermos prejuízos,
aquele irmão ou banda deveria ter consciência o suficiente para partilhar de nossas dificuldades,
ver as possibilidades e aceitar a situação como algo inerente ao passo no escuro que é o caminho
de nossa fé.
Infelizmente nem todos pensam assim, alguns artistas cristãos estão trabalhando exatamente
como trabalham os que não conhecem a Deus e, por outro lado, muitas vezes quem organiza o
evento só quer se beneficiar dos dons e da música daquele irmão, sem jamais partilhar.
O que fazer, então?
O Conselho Nacional da RCC lançou no final de 2001 uma carta denominada “reflexões e sugestões” sobre missionários que estão ligados formalmente à Renovação Carismática. Esta cartinha
(disponível gratuitamente no site www.rccbrasil.org.br e encontrada na revista RenovAção, ano 3,
número 12) traz entre suas dezenas de orientações, duas saídas bem práticas que geralmente
surtem efeito:
1. Entrar em contato com a coordenação diocesana da RCC de onde mora o artista (ou banda) a
ser convidado e perguntar como anda a sua caminhada, se ele colabora mesmo com a Renovação
por lá etc.
42
2. Entrar em contato com lugares onde esse irmão (ou banda) se apresentou nos últimos meses
e perguntar a respeito de ocasionais problemas ocorridos anteriormente e quais foram os
resultados de sua atuação.
É possível, ainda, consultar a Secretária Davi Nacional, pois, se não estão ligados à RCC, como
vão direcionar os trabalhos de nossos ministérios?
No final das contas, todo profissional tem o direito de cobrar o que quiser por seu trabalho, mas a
organização do evento só convida se quiser. Não somos obrigados a ter “Fulano” ou “Sicrano” em
nosso encontro ou show! É analisar a proposta e discernir o que é melhor. Se for o caso, é só
dizer: “meu amigo, sua música é muito bonita, mas se suas condições são estas e eu não posso
arcar com elas, então não dá pra vir ao nosso encontro”.
29.
Não é melhor evitar a palavra “Artista” em nosso meio?
Quando, em abril de 1999, o Papa João Paulo II quis escrever algumas palavras de exortação e
encorajamento para aqueles que se utilizam da Arte para falar de Deus e com Deus, escreveu sua
maravilhosa Carta aos Artistas (à venda por aproximadamente um real e oitenta centavos nas
livrarias católicas).
Você acha que ele utilizaria uma palavra dessas no título de sua obra se fosse algo errado ou
mesmo perigoso?
O medo de ser considerado um artista é mais um preconceito que trazemos, na maioria das
vezes por quê a ligamos com os artistas desregulados que se entregam às drogas e vendem sua
Arte ao inimigo.
Mas, na realidade, temos a missão de resgatar este termo para o Reino de Deus. Somos artistas,
sim; nosso Deus no fez assim. E que todos os nossos esforços sejam despendidos rumo à Sua
Vontade, nosso Paraíso!
João Valter e Enes Gomes
43
MINISTÉRIO DAS ARTES
CONTINUAR OU DESISTIR?
Desistir não. Apenas reconheça que errou e bola pra frente! Veja um exemplo, que estive lendo,
esses dias:
Errei mais de 9.000 arremessos na minha carreira. Perdi mais de 300 jogos. Em 26 ocasiões
acreditaram que eu ganharia o jogo no arremesso decisivo e errei. Fracassei, fracassei muito na
minha vida. E é por isso que sou um vencedor. Sabe quem foi que falou esta frase? Ninguém
menos do que Michael Jordan.
Em um mundo de alta competitividade, todos os jogadores estão desenvolvendo competências
para lutar pelas vitórias. Por isso os fracassos também vão fazer parte de nossas vidas.
Aprender com as derrotas é mais importante do que ganhar todas as partidas. O campeão sabe
que derrotas fazem parte da vida. Lógico que ele as odeia. Mas tem sangue-frio suficiente para
não entrar em desespero nos momentos mais difíceis. Tem sabedoria para aprender com os erros
e principalmente para não jogar as responsabilidades nas costas dos outros. Sabe ser tão grande
nas derrotas quanto nas vitórias. Não abaixa a cabeça com os erros. Entende que eles fazem
parte do jogo. Errar faz parte da vida. Não da vida de todos, é claro. Os medíocres nunca erram
porque não ousam. Triste na vida não é ter problemas, mas, sim, não ter ido atrás de seus próprios sonhos.
É verdade, a maioria das vezes, desistimos antes de tentar novamente, desistimos dos nossos
sonhos, dos nossos projetos, das pessoas, nos tornamos na maioria das vezes, covardes, mas
não sabemos e nem queremos lidar com o fracasso. Conheço alguém que teve vários episódios
na vida, fracassos sucessivos, você também o conhece e tenho certeza, que em algum momento,
se estivesse conosco, nós diríamos a ele, que ele era um caso perdido.
Estou falando de Pedro, isso mesmo, Pedro, aquele que caminhava com Jesus, que fazia parte do
dia a dia de Jesus e que por várias vezes fracassou.
(MT 14:28) "E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima
das águas”.(MT 14:29) "E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas
para ir ter com Jesus”.
(MT 14:30) "Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou,
dizendo: Senhor, salva-me!" Fracassou na ida ao encontro do mestre, perdeu um dos melhores
momentos da sua vida, por causa do medo e quantos momentos importantes, nós continuamos
perdendo por causa do medo.
(MT 16:17) "Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o
sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus". (Mt 16,17)." Aqui ele é elogiado
pelo seu mestre e com certeza, deve ter se alegrado, mas veja bem;
(MT 16:23) "Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás...” Quase que no
mesmo momento, reprovado, muitos de nós no lugar dele, desistiríamos naquele momento.
Agora veja ele se declarando, capaz de morrer pelo mestre (MT 26:35) "Disse-lhe Pedro: Ainda
que me seja mister morrer contigo, não te negarei." Quanta coragem, quanta ousadia não é
mesmo? Mas logo adiante, ele se esquece dessas palavras (MT 26:69) "Ora, Pedro estava assentado fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: Tu também estavas com Jesus, o
Galileu."
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(MT 26:70) "Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes." Que tristeza não? Ele
fracassou de novo, quantas vezes, pensamos como ele, que vamos conseguir e de repente, fracassamos e ai abandonamos o sonho, o projeto, o relacionamento, enfim, desistir de tentar novamente. O mais interessante é que Jesus acompanhou tudo de perto, seus erros, seus fracassos e
ainda assim, mais tarde, deixa uma tarefa: apascentar as ovelhas.
(JO 21:17) “Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe
ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo.
Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.” Que responsabilidade, como Jesus fez isso? Ele
viu os fracassos na vida de Pedro, mas ele viu também que Pedro, aprendeu com os fracassos,
pelo menos ousou tentar, ele se transformou num homem maduro, ele não desistiu, ele foi até o
fim, mas conseguiu chegar, aonde o Senhor havia planejado pra ele.
Jesus expressou confiança em Pedro, acreditou no potencial dele, quando ressuscitou, mandou
convidar os discípulos e mencionou o nome de Pedro, ele continuava contando com Pedro. Eu
imagino a alegria de Pedro, quando chegaram até ele e disseram, que Jesus estava chamando
ele, dali pra frente foi só sucesso.
(AT 2:14) "Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes:
Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas
palavras." O medroso se transformou num grande líder, porque alguém acreditava no potencial
dele.
No capítulo 02 de atos, 3000 pessoas se converteram com sua pregação, curava os enfermos e
com ousadia e convicção, como foi com o coxo na porta do templo, enfrentava as autoridades, a
fúria do povo, e a palavra diz em (AT 5:15) "De maneira que traziam os doentes para as ruas e
punham-nos em leitos e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, ao menos a sua sombra
cobrisse alguns deles".
(AT 5:16) "Também das cidades vizinhas de Jerusalém afluía muita gente, trazendo os enfermos
e os atormentados por espíritos imundos, e todos eles eram curados". Ele impunha as mãos
sobre as pessoas e elas eram batizadas com o Espírito Santo. Quanta coisa ele realizou, quantas
conquistas, quantas pessoas foram abençoadas, através da vida desse homem, já imaginou se
ele tivesse desistido? Queridos este mesmo Jesus, que acreditou na capacidade de Pedro, no seu
potencial, acredita em você. Preste atenção nesta pequena ilustração:
Um carregador de água na Índia tinha dois grandes vasos que colocava nos extremos de um pau
que ele levava acima dos ombros. Um dos vasos tinha uma rachadura, enquanto que o outro era
perfeito e entregava a água completa ao final do largo caminho a pé desde o riacho até a casa de
seu patrão.
Quando chegava, o vaso rachado só continha a metade da água. Por dois anos completos isto foi
assim diariamente. Desde logo o vaso perfeito estava muito orgulhoso de seus resultados, perfeito para os fins para o qual fora criado.
Porém o pobre vaso rachado estava muito envergonhado de sua própria imperfeição e se sentia
miserável porque só podia conseguir a metade do que se supunha devia fazer. Depois de dois
anos falou ao aguador dizendo-lhe: "Estou envergonhado de mim mesmo e quero me desculpar
contigo"... por quê? Lhe perguntou o aguador.
Porque devido a minhas rachaduras, só podes entregar a metade de minha carga. Devido a
minhas rachaduras, só obténs a metade do valor do que deverias. O aguador ficou muito enternecido pelo vaso e com grande compaixão lhe disse: "quando regressarmos a casa do patrão
quero que notes as belíssimas flores que crescem ao largo do caminho.
Assim o fez e com efeito viu muitíssimas flores belas ao longo de todo o caminho, porém de todo
modo se sentiu muito triste porque ao final só levava a metade de sua carga. O aguador lhe
disse: Te deste conta de que flores só crescem no lado do teu caminho? Sempre tenho sabido de
tuas rachaduras e quis obter vantagem delas, semeei sementes de flores ao longo de todo o
caminho por onde tu vais e todos os dias tu as têm regado. Por dois anos eu tenho podido
recolher estas flores para decorar o altar de meu mestre. Se não fosse exatamente como és, Ele
não teria tido essa beleza sobre a sua mesa.
Cada um de nós tem suas próprias rachaduras. Todos somos vasos rachados, porém se permiti45
mos a Jesus utilizar nossas rachaduras para nos ensinar a crescer, vamos chegar aonde o Senhor
planejou pra nós.
Você nasceu pra brilhar, não desista, você vai conseguir!
Josué Mikéias
MINISTÉRIO DAS ARTES
DICAS PARA UMA BOA VOZ
Aqui estão selecionadas algumas pequenas dicas, a serem colocadas em prática, antes, durante e
após a apresentação vocal.
• Procure cantar sempre em pé, com postura ereta. Postura ereta, neste caso, não significa rigidez, mas sim, prontidão à respostas imediatas do organismo, exigidas para uma boa vocalização.
• Relaxe a musculatura do corpo, principalmente a do tronco.
• Evite roupas apertadas.
• Através de exercícios técnicos, um aquecimento vocal é sempre fundamental antes de cada
apresentação.
• Após a apresentação, faça repouso vocal.
• No canto, a hidratação da mucosa é de fundamental importância. Procure tomar pelo menos
dois litros de água por dia.
• Procure ter ciência do que vai cantar. Isso evitará frustrações por medo, timidez, ansiedade,
etc. No caso de uma melodia nova, procure estudar o texto em "off ", (sem acompanhamento),
isso lhe trará maior segurança posterior.
• Com o microfone, é muito importante ouvir sua própria voz, “one”. Se sentir que o acompanhamento está lhe incomodando, não hesite em pedir para aumentar o volume, ou pedir para
abaixar o acompanhamento.
• Aprenda a reconhecer sua voz, novos timbres, tessituras (tons graves, médios e agudos),
partes ressonantes da máscara facial. É importante você monitorar sua voz, constantemente.
• Procure não comer em excesso momentos antes das aulas, e beba água sem gelo durante o
aprendizado.
• Atenção às comidas super-condimentadas e gordurosas. Não fazem bem para a mucosa e prejudicam o sistema respiratório.
• É relevante o hábito de exercícios de relaxamento, procurando evitar uma apresentação sob
tensão e esforço.
• Não é bem vista a auto-medicação via nasal. Procure antes um especialista.
• Abomine o uso de bebidas alcoólicas, drogas e fumo, dando ênfase especial à maconha, cuja
aspiração provoca super-aquecimento no complexo vocal, tornando a voz mais grave.
• Não exagere na ingestão de bebidas quentes em excesso, (chá, café, chocolate, etc.).
• Cuidado com mudanças bruscas de temperatura, seja por ingestão de líquidos ou fatores
climáticos. Fuja do contato próximo a ar-condicionado e ventiladores.
• Aumente a ingestão de água à temperatura ambiente.
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• Nada de esforços vocais desnecessários, como gritar e falar alto. Evite falar demais ao telefone.
• Ao falar, não force sua tessitura vocal (tons agudos ou graves). Fale no seu tom normal de voz.
• Procure, pelo menos uma vez ao ano, visitar um otorrino para uma avaliação médica.
• Alimentos pesados antes de dormir irritam as pregas vocais.
• Dormir bem é de fundamental importância.
• Não cante estressado.
• É extremamente prejudicial cantar exaustivamente em ambientes de muito barulho, ou sem
tratamento acústico adequado.
• Evite cantar se não estiver bem de saúde.
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MINISTÉRIO DAS ARTES
ORAÇÃO DO ARTISTA
Senhor! Tu és o maior dos artistas, fonte das mais belas inspirações, abençoa o meu talento
e as minhas obras.
Maravilhoso é o dom que me deste na louvada missão de servir-te com alegria, e de exercer
o meu trabalho com amor e dedicação.
Por isso, agradeço-te por permaneceres sempre comigo.
Mesmo incompreendido ou diante de desafios, quero sustentar em minha vocação a energia
de vencer e realizar projetos no imenso cenário da vida.
Dá-me equilíbrio entre a razão e a emoção, humildade e sabedoria para me aperfeiçoar.
Inspira-me, ó Mestre, à criação do novo e do belo.
Protege, também, todos os artistas em suas carreiras e gêneros.
Faze com que minhas obras contribuam para a construção de teu Reino e que eu prospere,
seguindo teus desígnios, pelos caminhos gloriosos da arte.
Amém!
Edição e a arte:
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