apoio: IDF / SACA ANAD Diabetes Clínica JORNAL MULTIDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Edição 2000, volume 4 • número 1, fevereiro 00 • número 2, abril 00 • número 3, junho 00 • número 4, agosto 00 • número 5, outubro 00 • número 6, dezembro 00 VOL. 4 www.atlanticaeditora.com.br Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 4 nº1 - 2000) EDITORIAL xxxxxxx 3 INFORMES DO DIABETES NO MUNDO .......................................................................................... 4 O DIABETES NA IMPRENSA .............................................................................................................. 16 AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ........................................................................... 18 PRODUTOS E NOVIDADES Dermagraft; sistema de análise do pé de Buratto Advanced technology; Dana Diabecare ..................... 30 RESUMOS DE CONGRESSOS San Diego (American Diabetes Association, Annual Meeting and Scientific Sessions), Aracaju (12o Congresso brasileiro de diabetes) ....................................................................................... 32 PESQUISAS BRASILEIRAS EM DIABETES Walmor J. Piccinini .................................................................................................................................... 36 ARTIGOS CIENTÍFICOS – A importância do controle da hiperglicemia pós-prandial, Fadlo Fraige Filho .............................. 40 – Diabetes Mellitus – Prevalência e grupos de risco na população de servidores da Secretaria Especial de Editoração e Publicações do Senado Federal, Maria Silva Sucupira, Ieda S. Souza, Deisimar M. S. Lima, José M. Kffuri, Júlio César B. Eubank, Marco Antônio P. Silva, Márcia A. Naya, Antonia P. Sampaio, Maria Everilda P. Souza, Maria do Socorro A. Silva ............................ 50 – Proposta de atendimento ao portador de diabetes mellitus tipo 2 na rede básica de saúde do município de São Bernardo do Campo-SP, Mariani S. Luksys, Fernando R. Teixiera, Inidi Maria Lisot, Solange Madjarof. ....................................................................................................................... 53 – Anomalias sistêmicas e bucais em pacientes com diabetes mellitus: revisão e relato de caso clínico, Ana Miriam Gebara Carboni, Luís Antônio Cherubini Carvalho, Walmyr R. de Mello, Maria H. C. G. Magalhães .................................................................................................................... 62 NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES .......................................................................................................... 69 CALENDÁRIO DE EVENTOS .............................................................................................................. 76 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico e o conselho consultivo reunindo profissionais da FENAD, ANAD e demais entidades filiadas. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à diabetologia. Diabetes Clínica Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho Coordenação de Educação em diabetes: Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor : Dr. Jean-Louis Peytavin, faculdade de Medicina de Lyon (França) Administração: Claudiane Benavenuto Enfermeria Mônica Antar Gamba (SP) Dr. Nelson Rassi (GO) Dr. Orsine Valente (SP) Enfermeira Paula Pascali (SP) Dra. Reine Marie Chaves (BA) Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Dr. Sérgio Atala Dib (SP) Conselho Consultivo Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) Dr. Adolpho Milech (RJ) Dr. Airton Golbert (RS) Dra. Alcina Vinhais (BA) Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) Dr. Arual Augusto da Costa (SP) Dr. Balduíno Tschiedel (RS) Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Dr. Edgard d’Ávila Niclewicz (PR) Dra. Geisa Macedo (PE) Dra. Hermelinda Pedrosa (DF) Dr. João Roberto de Sá (SP) Dr. Leão Zagury (RJ) Dr. Marcos Tambascia (SP) ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson Rua Benjamim Garcez, 110 Jardim Maristela 12940-000 Atibaia – SP tel/fax: +55 11 7871 7629 cel: +55 11 9993 6885 E-mail : [email protected] Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: +55 21 557 73 04 E-mail : [email protected] Federação Nacional de Associações de Diabéticos (FENAD) e Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) Rua Eça de Queiroz, 198 Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP tel: (11) 572-6559 fax: (11) 549-6704 http://www.netcomp.com.br/anad E-mail: [email protected] ISSN 1517-6428 © ATMC - Atlântica Editora Ltda Assinatura 6 números ao ano: www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas I.P. (Informação publicitária) As informações são de responsabilidade dos anunciantes Copyright © ATMC – Atlantica Editora Ltda Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor assuma nenhuma responsabilidade para qualquer prejuízo às pessoas ou propriedades ligado a confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Em razão do avanço rápido das ciências médicas, o Editor recomenda que uma verificação independente do diagnóstico e doses dos medicamentos esteja realizada. Apesar de que todo o material publicitário esteja conforme padrões de ética médica, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Xxxxxx xxxxx Fadlo Fraige Filho X xxx xxx xxx Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Coordenador – Editor científico de Diabetes Clínica Titular de Endocrinologia Faculdade de Medicina ABC Presidente da FENAD e ANAD 4 Diabetes Clínica 04 (2000) Informes do Diabetes no Mundo Fórum médico, em Recife, apresenta Avandia (rosiglitazona), o novo medicamento para o tratamento do diabetes O laboratório farmacêutico inglês Smithkline Beecham, realizou em dezembro de 1999 em Recife, Pernambuco, um fórum médico para lançar seu mais novo medicamento. Na presença de 60 endocrinologistas de todo o Brasil, todos autoridades no tema diabetes, foi apresentado Avandia, a nova droga via oral para o tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2. Para apresentar a novidade, veio ao Brasil o vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento para a América Latina, Dr. Placido Grino, que numa ampla explanação apresentou todo o processo de pesquisa realizado pela Smithkline sobre o diabetes tipo 2. Ele explicou a forma de atuação da nova droga, que trabalha diretamente na resistência à Insulina, ressaltando o fato de Avandia não ter os efeitos colaterais comuns nos medicamentos usados, atualmente pelos diabéticos. Para os médicos que participaram do evento, foi consenso que o novo medicamento é mais um importante aliado na luta da classe médica no tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2. Alguns dos presentes, chegaram a citar Avandia como uma revolução na vida dos diabéticos. Desde seu lançamento, em junho de 1999, nos Estados Unidos, Avandia alcançou a marca de 500 mil prescrições, com cerca de 250 mil pacientes já em tratamento. Juan P. Frias et al. Diabetes Care 23:64-59, janeiro de 2000 Efeitos metabólicos do tratamento com troglitazona em indivíduos diabéticos tipo 2, obesos e magros Objetivo – Caracterizar os efeitos metabólicos da troglitazona em pacientes diabéticos tipo 2 obesos e magros, e examinar os efeitos da troglitazona 2-3 semanas após a descontinuação. Desenho e métodos da pesquisa – Nove indivíduos diabéticos tipo 2, nove indivíduos obesos e nove magros foram submetidos a estudos metabólicos no período basal incluindo um teste de tolerância-refeição de 8h (MTT) e um clamp de glicose de 5h. Os indivíduos receberam então troglitazona (600 mg/dia) por 12 semanas e posteriormente repetiram os estudos metabólicos. Diabetes Clínica 04 (2000) continuação 5 Os indivíduos diabéticos permaneceram afastados de agentes hipoglicêmicos por 2-3 semanas e foram então submetidos a um clamp de glicose de 5h. Resultados – Em indivíduos diabéticos, a glicose plasmática em jejum foi reduzida (P < 0,05) e a disponibilidade de glicose estimulada pela insulina (Rd) aumentou com o tratamento (P < 0,02). A área sob a curva de glicose plasmática MTT-8h declinou com o tratamento (P < 0,001), e sua alteração foi correlacionada de forma positiva com a melhora na Rd (r = 0,75, P < 0.05). Houve também uma correlação positiva entre a mudança no consumo de glicose hepática em jejum (HGO) e a mudança na glicose plasmática em jejum com o tratamento (r = 0,92, p < 0,001). A descontinuação do tratamento por 23 semanas não afetou de forma significativa a glicose plasmática em jejum ou a Rd de glicose estimulada por insulina. Em indivíduos obesos, a Rd de glicose estimulada por insulina melhorou com o tratamento (P < 0,001), permitindo a manutenção da euglicemia através da diminuição das concentrações de insulina plasmática (P < 0,05). Em indivíduos magros, observou-se um aumento na HGO em jejum (P < 0,001) e no clearance de glicose (P < 0,01). Conclusões – A troglitazona diminuiu a glicose plasmática pós-prandial e em jejum no diabetes tipo 2 afetando a HGO em jejum e a sensibilidade periférica à insulina. Seus efeitos tornam-se evidentes 2-3 semanas após a descontinuação. Nos indivíduos obesos, seus efeitos sensibilizadores de insulina sugerem um papel para seu uso na prevenção primária do diabetes tipo 2. Jean-Paul Albertini et al., Diabetes Care 22:2044-2048, novembro de 1999 O nível de Selectin-L solúvel é um marcador para doença arterial coronariana em pacientes diabéticos tipo 2 Objetivo – Investigar se a queda no nível de selectina-L solúvel (selectina-sL) constitui um marcador para isquemia miocárdica. Desenho e métodos da pesquisa – Os níveis das formas solúveis das moléculas de adesão, ou seja, a molécula de adesão intercelular-1 (sICAM-1), a molécula de adesão celular vascular-1 (sVCAM-1), selectina-E (selectinasE), selectina-P (selectina-sP), e selectina-L (selectina-sL), foram comparadas em pacientes diabéticos tipo 2 sem síndrome inflamatória mas com doença arterial coronariana sintomática (DAC) (grupo 1, n = 11), com distúrbios isquêmicos silenciosos e estenoses coronarianas comprovada (grupo 2, n = 11), com isquemia miocárdica silenciosa (IMS) e angiografia coronariana normal (grupo 3, n = 10), e sem IMS comprovada (grupo 4, n = 13). Estes níveis foram comparados com os dos 22 indivíduos controles. Resultados – O nível de selectina-sL foi significativamente mais baixo nos grupos 1, 2 ou 3 com DAC sintomática ou IMS em comparação com o grupo controle (P = 0,0004). O grupo 4 sem isquemia miocárdica não diferiu de forma significativa dos indivíduos controle (P = 0.6). Em pacientes diabéticos tipo 2, após controle da HbA1c, a correlação parcial entre selectina-sL e a DAC foi significativa (P = 0,001). sICAM-1 e selectina-Sp – ou sE não diferiram de forma significativa entre pacientes diabéticos tipo 2 e indivíduos controles ou entre grupos diferentes de pacientes. O nível de sVCAM-1 em pacientes diabéticos tipo 2 foi significativamente maior que nos indivíduos controles (P = 0,001) mas não houve diferenças significativas entre os grupos (P = 0,4). 6 contimuação Diabetes Clínica 04 (2000) Conclusões – Em pacientes diabéticos tipo 2, a sVCAM-1 está aumentada em relação ao controle glicêmico, qualquer que seja a condição da DAC. Nos pacientes diabéticos tipo 2 com DAC sintomática ou IMS associado a estenose coronariana, a selectina-sL diminui de forma significativa. Uma queda acentuada na selectina-sL pode constituir um marcador para DAC silenciosa em pacientes diabéticos tipo 2. Ingestão de álcool e incidência do diabetes tipo 2 nos homens Ming Wei et al. Diabetes Care 23:18-22, janeiro de 2000 Objetivo – Avaliar a relação entre ingestão de álcool e incidência do diabetes tipo 2. Desenho e métodos da pesquisa – Este estudo prospectivo incluiu 8.633 homens com pelo menos duas mensurações de glicose plasmática em jejum obtidas em dois exames clínicos. A ingestão de álcool foi classificada nos cinco grupos: não consumidores de álcool e quatro quartis (Qs) de consumidores de bebida alcóolica conforme a quantidade ingerida de álcool. O diabetes tipo 2 foi diagnosticado de acordo com critérios da Associação Americana do Diabetes do ano de 1997. Resultados – Houve 149 casos incidentais de diabetes tipo 2 durante 52.588 pessoa-ano de acompanhamento. Houve uma associação em forma de U entre a ingestão de álcool e o diabetes, com a incidência mais baixa de diabetes no Q2 (61,9-122,7 g/semana). Comparado com o Q2, os homens no Q3 e Q4 apresentaram um risco de 2,2 (95% IC 1,2 – 3,9, P = 0,01) e 2,4 vezes (1,4-4,4, P < 0,01) maior de desenvolver o diabetes, enquanto aqueles que não bebem e os homens no Q1 apresentaram um risco 1,8 (1,0 – 3,3, P < 0,05) e 1,4 vezes (0,7 – 2,6, P = 0,34) maior de desenvolver o diabetes, respectivamente. Estas associações persistiram após ajuste por idade, glicose plasmática em jejum, fumo, IMC, pressão arterial, concentração sérica de triglicerídeos, capacidade cardiorespiratória, colesterol HDL, circunferência da cintura, e diabetes dos pais. Conclusões – Observamos um risco elevado de desenvolver o diabetes tipo 2 em indivíduos que não ingerem álcool e homens que ingerem grande quantidade de álcool, quando comparados aos homens que relataram uma ingestão moderada de álcool. A redução do consumo reduz o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Jonathan E. Shaw et al. Diabetes Care 23:34-39, janeiro de 2000. Glicemia de jejum alterada. Qual o nível mais baixo que ela poderia atingir? Objetivo – A glicemia de jejum alterada (Impaired fasting glucose [IFG]) foi recentemente introduzida como um estádio do metabolismo anormal de carboidrato, mas a evidência em que se baseia seu limite (glicose plasmática em jejum [GPJ] 6,1-6,9 mmol/l) não é suficiente. O objetivo deste estudo foi determinar se 6,1 mmol/l representa um limite nítido quanto ao risco de diabetes no futuro e quanto aos níveis elevados de fator de risco cardiovascular e examinar o uso de outros limites mais baixos de GPJ. Diabetes Clínica 04 (2000) contimuação 7 Desenho e métodos de pesquisa – Uma pesquisa realizada com a população da Ilha Maurício foi realizada em 1987, com um relatório de acompanhamento realizado 5 anos mais tarde. Nas duas ocasiões, foi realizado um teste de tolerância à glicose e determinados os fatores de risco cardiovascular. Resultados – Estavam disponíveis os dados de 4.721 pessoas não diabéticas no período basal, e de 3.542 no acompanhamento. No período basal, a pressão arterial, os lipídios e a obesidade aumentaram de forma linear com aumento da GPJ, sem evidência de um efeito limítrofe. O risco de desenvolver hipertensão no acompanhamento foi maior para aquelas pessoas com GPJ no período basal ≥ 6,1 mmol/l (P < 0,001). O risco de desenvolver o diabetes no acompanhamento aumentou com a elevação da GPJ no período basal, mas houve pouca evidência de um limite próximo a 6,1 mmol/l. Conclusões – O risco cardiovascular e o risco de diabetes no futuro aumenta constantemente com a elevação da GPJ, e não houve um valor limítrofe em que se fundamentasse uma definição de IFG. Se for usado um limite inferior a ~5,8 mmol/l, a categoria define um grupo similar ao grupo com tolerância à glicose diminuída, com relação à prevalência total e ao risco subseqüente de diabetes. Susan S. Jick et al. Diabetes Care 22:2067:2071, dezembro de 1999. Freqüência de distúrbios do fígado em pacientes com diabetes tipo 2 tratados com agentes antidiabéticos orais Objetivo – Avaliamos os distúrbios do fígado em pacientes diabéticos tipo 2 tratados de forma convencional para dispor de uma referência através da qual os relatos de distúrbios do fígado relacionados aos recentes tratamentos antidiabéticos orais pudessem ser comparados. Desenho e métodos da pesquisa – Neste estudo de acompanhamento, pacientes com diabetes tipo 2 que foram tratados com agentes antidiabéticos orais foram identificados na Base de Dados de Pesquisa de Clínica Geral do Reino Unido e foram acompanhados para determinar se desenvolveram distúrbios do fígado. Foram determinados os tipos específicos e as etiologias dos distúrbios. As taxas de incidência foram calculadas com base no tempo acumulado de exposição aos agentes antidiabéticos orais. Resultados – Entre 44.406 pacientes diabéticos tipo 2, 605 apresentaram um diagnóstico computadorizado de doença do fígado com uma incidência de 53,2/ 10.000 pessoas-ano (IC 95% 49,2 – 57,6). Dos 605 indivíduos, 186 apresentaram distúrbios do fígado não sintomáticos, leves e transitórios; 249 apresentaram uma predisposição; e 113 apresentaram outra causa para a doença. Um total de 57 casos foram provavelmente induzidos pela substância com uma incidência de 5,0/10.000 pessoas-ano (3,9 – 6,5). Destes casos, 11 foram atribuídos a outras substâncias, 8 foram atribuídos à doença do fígado gorduroso do diabetes, sendo os outros atribuídos a causas desconhecidas. Os agentes antidiabéticos orais continuaram a ser administrados em 51 destes 57 casos e não podemos excluir os agentes antidiabéticos orais como causa de doença hepática em 2 casos com uma incidência de 0,2/10.000 pessoas-ano (< 0,1 – 0,6). Conclusões – Nesta população, a incidência prática de distúrbios do fígado foi alta. A maioria dos casos envolveu outras doenças sistêmicas que podem causar doença do fígado. 8 Stephen G. Gardner et al Diabetes Care 22:2049-2054, 1999 Diabetes Clínica 04 (2000) Progressão para o diabetes em parentes com anticorpos das ilhotas Objetivo – Um grande coorte de familiares com anticorpos das células das ilhotas (ICA) ≥ 20 unidades da Fundação do Diabetes Juvenil (JDF U) foi examinado para determinar se houve um subgrupo com risco baixo de progressão para o diabetes; se o risco de progressão mudou e se o índice de progressão para o diabetes variou conforme a idade, anticorpos das ilhotas e marcadores genéticos de suscetibilidade. Desenho e métodos da pesquisa – Indivíduos com ICA ≥ 20 JDF U foram identificados em 4.423 familiares recrutados para estudos prospectivos com famílias no Reino Unido. Os indivíduos foram acompanhados por 18 anos. Os anticorpos para insulina, GAD e IA-2 foram mensurados na primeira amostra, e foi realizada a classificação da HLA classe II. Resultados – Dos 147 membros da família com ICA ≥ 20 JDF U em pelo menos uma ocasião, 29 desenvolveram diabetes tipo 1 após uma média de 3,2 anos (máximo 18,1). O risco cumulativo de desenvolver o diabetes em 15 anos foi de 47% (IC 95% 28-67) para todos os membros da família com ICA ≥ 20 JDF U, 2,8% (0-8,2) para aqueles com ICA isoladamente, e 66% (44-87) para aqueles com pelo menos um marcador adicional de anticorpo. Não houve diferenças na idade, tipo de classe de HLA, ou níveis de ICA, anticorpos para insulina ou anticorpos para IA-2 entre aqueles que desenvolveram o diabetes dentro do período de 5 anos de testes e aqueles que desenvolveram após este tempo, os níveis de anticorpo GAD, entretanto, foram maiores naqueles que progrediram mais lentamente. Conclusões – Os familiares com ICA isoladamente têm um risco menor de progressão para diabetes. O rápido desenvolvimento da doença após a detecção de ICA não pode ser diferenciado do desenvolvimento tardio na base de anticorpos ou marcadores de suscetibilidade genética, e aqueles com anticorpos múltiplos permaneceram com risco alto por todo o acompanhamento a longo prazo. Isto sugere que todos os familiares com múltiplos anticorpos de ilhotas estão destinados a desenvolver diabetes autoimune. N. Tentolouris et al. Diabetic Medicine, 16, 767-771, outubro de 1999 Staphylococcus aureus resistente à meticilina: um problema crescente em uma clínica do pé diabético Objetivo: Estudar a prevalência de organismos patogênicos e a prevalência de resultados de infecção por Staphylococcus aureus (MRSA) resistente à meticilina em lesões podais em pacientes diabéticos. Métodos: Análise retrospectiva de esfregaços retirados das lesões podais infectadas dos pacientes diabéticos, que foram selecionados de uma clínica de pacientes do pé diabético. Foram incluídos setenta e cinco pacientes (79 lesões) com resultados positivos dos esfregaços das lesões. Foram feitas medições da extensão da lesão e o tempo de cicatrização, em particular para lesões infectadas por MRSA, em todos os pacientes. Resultados: As bactérias aeróbicas gram-positivas foram os micro-organismos isolados mais comuns (56,7%) seguidas pelas bactérias aeróbicas grampositivas e anaeróbicas (29,8% e 13,5%, respectivamente). Dos aeróbios Gram- 10 contimuação Diabetes Clínica 04 (2000) positivos, o S. aureus foi encontrado com mais freqüência e 40% eram MRSA. O MRSA foi mais comumente isolado em pacientes tratados com antibióticos antes do esfregaço, em comparação com aqueles que não receberam antibióticos (P = 0,01). Os pacientes os quais as lesões podais foram infectadas pelo MRSA tiveram um período de cicatrização maior do que aqueles pacientes os quais as lesões foram infectadas por S. aureus sensível à meticilina (média 35,4 (19-64) e 17,8 (8-24) semanas, respectivamente, P = 0,03). Conclusão: A infecção por MRSA é comum em lesões diabéticas podais e está associada ao tratamento antibiótico prévio e período de cicatrização prolongado. São necessários estudos adicionais para avaliar a necessidade de antibióticos no tratamento de lesões podais no diabetes e avaliar o tratamento terapêutico mais favorável para este problema. C.M. Hwu et al., Diabetic Medicine, 16, 749-754, outubro de 1999 A sinvastatina reduz significativamente os níveis de colesterol sem alteração de sensibilidade à insulina Objetivos: Avaliar os efeitos da simvastatina nos lípides séricos e sensibilidade à insulina nos pacientes diabéticos tipo 2 com hipercolesterolemia. Métodos: Um estudo cruzado, de dois braços, duplo-cego, randomizado, controlado por placebo. Após uma inserção de 2 meses, 19 pacientes diabéticos tipo 2 elegíveis, com hipercolesterolemia, foram randomizados para receber simvastatina ou placebo por 3 meses, trocando seu tratamento depois disso por outros 3 meses. Foram colhidas amostras de sangue no mês 0 e nos intervalos mensais para medir os lípides séricos e os índices de controle glicêmico. Um clamp de insulina euglicêmica foi realizada nos meses 0, 3 e 6 para avaliar a mudança da sensibilidade à insulina. Foram medidas a quantidade de glicose administrada durante 90-120 minutos do clamp (M), e as médias dos valores da insulina sérica durante 90-120 minutos (I). A relação M e M/I foi usada para representar a sensibilidade à insulina in vivo do paciente. Resultados: A simvastatina reduziu significativamente o colesterol total sérico (CT) em 23 ± 18% e a lipoproteína LDL-C em 30 ± 26%. Não alterou o controle glicêmico. Os valores M e as relações M/I foram semelhantes em ambos os grupos em cada período e não pode ser identificado nenhum efeito do medicamento quanto a sensibilidade à insulina. Conclusão: A simvastatina reduziu significativamente os níveis de CT sérico e LDL-C sem alteração de sensibilidade à insulina nos pacientes diabéticos tipo 2 com hipercolesterolemia. Hilderik J. Van Schaik et al Experimental Eye Research, 69, 5, 505-510, Novembro de 1999. Distribuição da autofluorescência no eixo da córnea em indivíduos diabéticos e saudáveis A autofluorescência córnea, medido com um fluorofotômetro comercial (exe: 415-491 nm; em: 515-630 nm), está aumentada nos pacientes com diabetes mellitus. Porém, tais fluorofotômetros registram uma média de sinal fluorescência sobre todas as camadas córneas como uma conseqüência de Diabetes Clínica 04 (2000) 11 suas resoluções do eixo limitado de 0,5 mm. Para determinar a localização dos fluoróforos responsáveis pela medição da autofluorescência córnea aumentada nos diabéticos, foi feita uma tentativa para medir in vivo a distribuição da autofluorescência por todo o eixo ótico da córnea com uma lâmpada de fenda modificada. A excitação de fluorescência e os filtros da emissão idênticos àqueles do fluorofotômetro foram ajustados para uma lâmpada de fenda equipada com uma câmera CCD remota. Os perfis de intensidade de autofluorescência córnea foram obtidos através de uma lâmpada de fenda em cinco pacientes com retinopatia diabética severa e comparados com aqueles controles de indivíduos saudáveis combinados com a idade. A autofluorescência córnea foi também medida com o fluorofotômetro para comparação. A resolução da câmera CCD para a medição de fluorescência por todos os eixos córneos foi de 0,1 mm. A intensidade de autofluorescência córnea dos controles dos pacientes e dos indivíduos saudáveis diminuíram gradativamente, aproximadamente a mesma quantidade do endotélio para o epitélio (57% mm-1 ± 6 D.P. e 52% mm-1 ± 5 D.P., respectivamente). A área sob a curva de intensidade de fluorescência foi significativamente maior para os controles dos pacientes do que para os indivíduos saudáveis (fator 2,4 ±1,0 D.P., P < 0,001) e foi proporcional para a medição da fluorescência córnea com o fluorofotômetro (n=0,92, P < 0,001). Os resultados mostram que (1) a distribuição de autofluorescência por todos os eixos córneo pode ser medida in vivo em humanos, (2) os fluoróforos envolvidos são distribuídos por toda a córnea, e (3) a distribuição relativa da fluorescência é semelhante em controles de pacientes diabéticos e indivíduos saudáveis A. Luizzi et al International Journal of Obesity and related metabolic disorders, 23, 10, 1066-1073, Outubro de 1999 Concentração de leptina sérica na obesidade moderada e severa: relação com fatores clínicos, antropométricos e metabólicos Objetivo: Estudar determinantes clínicos, antropométricos e metabólicos das concentrações de leptina sérica em uma série de pacientes com uma ampla faixa de obesidade. Indivíduos: 400 pacientes, 116 homens e 284 mulheres, com idade 44±12,3 anos com índice de massa corporal (IMC) variando de 31 a 82 kg/m2 (média 41,4±7,1). Medições: Absorção de energia através da chamada de 7 dias, consumo de energia em repouso (REE) por calorimetria indireta, composição do corpo determinado através de impedância bioelétrica; índice C, um índice antropométrico da distribuição de gordura no abdômen, e relação cintura-quadril (WHR), concentrações séricas de leptina e glicose, colesterol total, lipoproteína de alta densidade (HDL-C), triglicerídeos, ácido úrico e concentrações de insulina HOMAIRI (avaliação do modelo de homeostase do índice de resistência à insulina). Resultados: As concentrações de leptina foram maiores nos pacientes obesos do que nos indivíduos normais e maiores nas mulheres do que nos homens sem diferenças entre pacientes diabéticos e não-diabéticos; as concentrações de leptina não foram relacionadas com a idade e demonstrou uma forte associação negativa com absorção de energia somente no grupo de mulheres com IMC menor que 40. As concentrações de leptina mostraram uma correlação direta com os valores de IMC e gordura corporal (expressos tanto como porcentagem de massa corporal total ou massa absoluta de gordura) independente 14 contimuação Diabetes Clínica 04 (2000) da idade e sexo. Após ajuste para massa de gordura, foram encontrados nas mulheres valores de leptina maiores do que previstos enquanto foram encontradas, predominantemente nos homens, concentrações mais baixas do que previstas. A leptina mostrou uma correlação inversa com WHR e índice-C, a última persistindo também após a correção de sexo e massa de gordura. O REE, mas não a massa livre de gordura REE/kg (FFM) foi inversamente relacionado com a leptina também após a correção para sexo e massa de gordura absoluta. As concentrações de leptina foram diretamente associadas com HOMA IRI, insulina e HDL colesterol e inversamente associadas com triglicerídeos e ácido úrico. A relação da leptina com HOMA IRI estava ainda evidente após ajuste para sexo mas foi perdida quando a massa de gordura absoluta foi adicionada ao modelo; o HDL colesterol e triglicerídeos pareceram ser variáveis independente das concentrações de leptina mesmo quando o sexo e a massa de gordura foram adicionados ao modelo. Conclusões: Em um grande grupo de pacientes obesos (metade dos quais tiveram obesidade severa), sexo, IMC e massa de gordura são responsáveis pela maior proporção de variabilidade de concentrações de leptina sérica. Concluímos que nos indivíduos obesos há um efeito de distribuição de gordura nas concentrações de leptina e que, após excluir a variabilidade devido à massa de gordura absoluta, os pacientes com uma quantidade maior de gordura abdominal tiveram as concentrações de leptina relativamente baixas que por sua vez se relacionam com o perfil metabólico compatível com um risco cardiovascular aumentado. As mulheres com obesidade mais leve podem reter algum grau de controle de absorção alimentar através da leptina. Elizabeth J. Austin, Ian J. Deary, Diabetes Care 22:1273-1277, Setembro de 1999 Efeitos da hipoglicemia repetida na função cognitiva - uma reanálise psicometricamente confirmada do DCCT Objetivo: Testar a conclusão de que não há associação entre episódios múltiplos de hipoglicemia severa e reduções cognitivas através da reanálise dos dados do Ensaio Clínico de Controle e Complicações do Diabetes (DCCT) com fatores cognitivos psicometricamente confirmados e conduzir uma análise recente da associação entre as diferenças individuais na capacidade cognitiva a nível basal e episódios de hipoglicemia severa documentada após o nível basal. Esquema do Estudo e Métodos: Foi obtida uma estrutura do fator da capacidade cognitiva nos dados neuropsicológicos do estudo DCCT. Foram extraídos quatro fatores cognitivos (capacidade espacial, velocidade de processamento, memória e capacidade verbal). Foram obtidas mudanças nos traços cognitivos dos pacientes para cada ano de acompanhamento, e foram realizadas comparações pareadas destes traços da mudança entre os grupos experimentando zero ou cinco ou mais episódios hipoglicêmicos. Foi também examinada a associação entre a capacidade cognitiva básica e o número subsequentes de episódios de hipoglicemia severa. Resultados: Episódios repetidos de hipoglicemia não foram associados com o declínio cognitivo em quaisquer dos fatores cognitivos confirmados. Nenhuma associação significativa foi encontrada entre os números prospectivamente documentados de episódios hipoglicêmicos severos e nível de capacidade cognitiva inicial. Diabetes Clínica 04 (2000) contimuação Anna Zaczek et al., Br J Ophtalmol 1999; 83; 1036-1041, Setembro de 1999 15 Conclusões: Não foram relatados episódios repetidos de hipoglicemia para o declínio cognitivo, e o nível de capacidade mental inicial não foi associado com números eventuais de episódios hipoglicêmicos neste grupo de pacientes. Resultado visual após facoemulsificação e implantação de lente intraocular nos pacientes diabéticos Objetivos: Acompanhar a acuidade visual (AV) e a progressão da retinopatia diabética (RD) após facoemulsificação nos pacientes diabéticos com diferentes estágios de RD e controles. Métodos: Este estudo prospectivo incluiu 27 pacientes diabéticos sem RD não-proliferativa ou com RD não-proliferativa de leve a moderada; 25 pacientes com RD não-proliferativa de moderada a severa, ou com RD proliferativa; e 22 controles não-diabéticos. Todos os pacientes se submeteram à cirurgia de facoemulsificação não complicada, com implantação de uma lente intraocular modificada de poli(metilmetacrilato) (PMMA) com superfície heparinizada na cavidade capsular. As fotografias de fundo de olho coloridas e angiogramas com fluoresceína (AF) foram tiradas com 1 semana (nível basal), 3 meses e 1 ano pós-cirurgia para determinar a estabilidade e a progressão da RD. Resultados: A AV dos 46 olhos diabéticos (88%) melhorou 1 ano após a cirurgia e somente seis olhos (12%) não foram alterados ou pioraram. 41 olhos diabéticos (79%) alcançaram a AV de 0,5 ou melhor e 11 olhos (21%) tiveram uma AV final menor que 0,5. AV final significativamente correta foi encontrada após um ano da cirurgia nos olhos com RD avançada (mediana 0,5; limite 0,1-1,0) em comparação com controles (1,0; 0,1-1,0) e olhos sem RD ou com RD de leve a moderada (1,0; 0,1-1,0). Os olhos com RD de leve a moderada e edema macular (CSMO) clinicamente significativo com 1 semana pós-operatório teve uma AV final menor do que aqueles sem CSMO. O edema macular cistóide angiográfico foi detectado com AF em 15% de todos os olhos diabéticos 1 semana pós-operatório. 41 olhos (79%) não mostraram mudança ou melhora no estado da retina 1 ano após a cirurgia de catarata. A progressão foi encontrada em 11 olhos (21%), principalmente nos olhos com RD de leve a moderada e RD de moderada a severa. Os olhos com uma indicação para fotocoagulação a laser mostraram um índice significativamente maior de progressão da RD após a cirurgia do que aqueles sem indicação para o tratamento a laser. Conclusão: O resultado visual final melhorou na maioria dos olhos diabéticos. Os olhos com CSMO no momento da cirurgia tiveram o pior prognóstico com relação a AV pós-operatória. 16 Diabetes Clínica 04 (2000) O Diabetes na Imprensa Descoberta pode ajudar no combate ao diabetes 9 de fevereiro de 2000 Anticorpos que atacam células produtoras de insulina podem ser medidas em crianças, anunciaram pesquisadores do Centro de Saúde da Universidade do Colorado. Isso pode significar a descoberta de um bom método para a previsão da diabetes na infância. Quatro dos cinco bebês que apresentaram os anticorpos no primeiro ano de vida desenvolveram diabetes tipo 1, antes de completar 3 anos. A quinta criança tem 2 anos e ainda pode desenvolver a doença. A forma juvenil da diabetes é uma doença autoimune, o que significa que o sistema imunológico ataca células sadias do organismo. Saída natural: novo remédio promete atacar causa da diabetes tipo 2 2 de fevereiro de 2000 A diabetes maltrata suas vitimas ao exigir dietas rigorosas ou injeções diárias. Mas há novas esperanças. Até março, chegará ao Brasil o Avandia, remédio produzido pelo SmithKline Beecham. Festejada pelos médicos, a droga é indicada para pacientes com diabetes tipo 2, tipo no qual cerca de 25% dos doentes precisam de injeções de insulina (...). Na diabetes tipo 2, a resistência a insulina é uma das principais causas da doença. E é sobre este problema que atua o Avandia. “É o primeiro medicamento que age na causa da diabetes tipo 2”, afirma o endocrinologista Fadlo Fraige Filho. O remédio ajuda o corpo a aproveitar melhor o hormônio fabricado (...). Remédio que promete revolucionar o tratamento do diabetes chega ao País 31 de janeiro de 2000 Um remédio que atua diretamente no núcleo de célula, ajudando a insulina a rompê-la e faz com que a glicose entre na célula reduzindo a quantidade de glicose na corrente sangüínea é a mais nova esperança para os idosos que sofrem de diabetes tipo 2. O medicamento comercializado com o nome de Avandia está sendo considerado uma revolução no tratamento do diabetes tipo 2 e chegará ao Brasil nos próximos dias (...). Diabetes Clínica 04 (2000) Manchete, 29 de Janeiro de 2000 17 O hormônio GH faz maravilhas mas cobra seu preço Ilegal no país, o hormônio de crescimento põe fim à era dos anabolizantes. No mercado negro das mais badaladas academias do país, o produto da moda, usado por quem está à procura de um corpo perfeito em pouco tempo, atende pelo nome de GH. “O GH deixou de ser um problema da área médica e passou a ser caso de polícia”, afirma o Dr. Luiz César Póvoa, membro do Conselho de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e um dos maiores especialistas em GH do país. O que o GH proporciona ao corpo humano é praticamente tudo aquilo que as pessoas em busca de um corpo perfeito sempre sonharam. O hormônio aumenta a definição muscular, diminui a gordura (principalmente a abdominal), melhora pele, cabelos, unhas, funções mentais (memória, libido, estabilidade emocional), diminui a perda óssea e aumenta a imunidade e a resistência do corpo aos exercícios físicos (...). Se o GH faz tão bem, porque proibi-lo? O hormônio provoca efeitos colaterais graves. Seu uso indiscriminado causa diabetes a curto prazo. Além disso, causa lesões cardíacas e renais, pode levar ao câncer, aumentar a mama e o mais visível é o crescimento ósseo desmedido. Os queixos ficam pontudos e as mãos, desproporcionais. A epidemia do doce Janeiro de 2000 O número de diabéticos dobrou nos últimos dez anos. Já há 160 milhões de doentes, 6 milhões só no Brasil. Mas novas terapias ajudarão a cuidar dessa multidão (...) Um dos efeitos mais graves do diabetes é a degeneração dos vasos sangüíneos que irrigam a retina, que acarreta a perda da visão. O diabetes, por isso, é a primeira causa de cegueira no mundo. O excesso de acidez também pode provocar ulcerações na pele, mau funcionamento dos rins, impotência no homem e problemas cardíacos. “Mas o paciente que recebe o tratamento adequado, com remédios e dietas, escapa de praticamente todas essas complicações”, diz o endocrinologista Fadlo Fraige Filho, médico do Hospital Beneficência Portuguesa e presidente da ANAD. Nos próximos meses chegam no Brasil duas novas drogas. A repaglinida dará uma força ao pâncreas aumentando a produção de insulina em minutos. As drogas existentes levam horas para fazer efeito. Já a rosiglitazona (Avandia), agirá direto nas células que não querem mais saber da insulina. “São as novidades mas animadores dos últimos trinta anos”, diz Fraige. 18 Diabetes Clínica 04 (2000) Avanços terapêuticos e tecnológicos The Lancet, 355, 9200, 22 de janeiro de 2000 Ramipril reduz o risco de doença cardiovascular em diabéticos O risco de doença cardiovascular entre pessoas com diabetes diminui de forma significativa pela ação do ramipril, um inibidor da enzima de conversão da angiotensina (ECA). Os pesquisadores do Estudo HOPE (Avaliação sobre Prevenção das Conseqüências Cardíacas, Canadá), analisaram se o uso do inibidor de ECA, ramipril, em comparação com o placebo, poderia reduzir o risco de doença cardiovascular e renal em pessoas idosas e de meia idade com Diabetes mellitus com alto risco. Mais de 3500 pessoas participaram do estudo, e o ramipril diminuiu substancialmente os riscos de conseqüências associadas de infarto do miocárdio, AVC e óbito cardiovascular; cada uma destas conseqüências individualmente; e diminuiu o risco de doença renal. Os pesquisadores concluíram que o ramipril pode representar uma estratégia de tratamento de proteção vascular e renal. Em um comentário complementar, Nish Chaturvedi da Universidade College de Londres, Reino Unido, disse que “pacientes com diabetes mas sem evidência de doença cardíaca estão também sob risco aumentado de óbito por doença arterial coronariana, e que o estudo HOPE avaliou o efeito do ramipril neste grupo de pacientes.” 13 de janeiro de 2000 FDA aprova teste de colesterol HDL para pacientes com diabetes e doença cardíaca A Polymer Technology Systems, Inc., fabricante de diagnósticos médicos, anuncia que recebeu autorização do FDA para vender diretamente aos consumidores, suas tiras para teste de colesterol HDL. A tira faz parte do sistema BioScanner 2000, projetado para o controle do diabetes e suas complicações. “Agora os pacientes com diabetes ou doença cardiovascular podem acompanhar seus fatores de risco e controlar melhor a doença em suas próprias casas. O BioScanner é o único dispositivo comercializado voltado para os dois maiores segmentos de doença em nossa sociedade, o diabetes e a doença cardíaca,” disse Tracy Thompson, vice-presidente de desenvolvimento de negócios. Diabetes Clínica 04 (2000) 19 contimuação O BioScanner 2000 é um sistema de análise química sangüínea portátil, projetado para uso residencial e para profissionais. O sistema consiste de um analisador de canais múltiplos e tiras descartáveis para serem usadas no teste. Os usuários colocam uma pequena gota de sangue sobre as tiras e as inserem no analisador. Os resultados são obtidos em até um minuto. As tiras atualmente disponíveis para o BioScanner são as dos testes de glicose, cetona, colesterol total e colesterol HDL. As tiras para o teste de triglicerídeos aguardam autorização do FDA e a empresa está desenvolvendo ainda os testes para LDL direto, microalbumina e HbA1c. Reuters 20 de janeiro de 2000 FDA aprova o TheraSense, um monitor para glicose sangüínea O FDA concedeu aprovação para a comercialização do TheraSense FreeStyle, um monitor da glicose sangüínea, anunciou Alameda, uma empresa sediada na Califórnia. O novo monitor requer uma menor amostra de sangue que os dispositivos anteriores, de forma que os pacientes podem retirar amostras de outras partes do corpo e não apenas da ponta dos dedos. Além disso o teste é virtualmente “indolor”, de acordo com as declarações da empresa. “Ao desenvolver o FreeStyle, nosso propósito foi melhorar de forma significativa o controle do diabetes reduzindo uma das maiores barreiras para estes testes - a dor”, disse Mark Lortz, presidente e CEO da TheraSense. Circulation 21 de dezembro de 1999 O abciximab reduz as complicações para os diabéticos submetidos a procedimentos cardíacos Pesquisadores reportaram que a administração das chamadas “super-aspirinas” aos diabéticos com doença arterial reduz de forma significativa as complicações e os índices de óbito após um procedimento chamado stenting. O stent é um pequeno cilindro de metal colocado de forma permanente dentro de uma artéria cardíaca enfraquecida ou obstruída com depósitos gordurosos. Tais artérias são freqüentemente abertas através de angioplastia por balão mas os stents são amplamente utilizados em conjunto com a angioplastia para ajudar a manter o vaso aberto e evitar um novo bloqueio. O abciximab evita a aglomeração de plaquetas e a formação de coágulos sanguíneos que podem obstruir o fluxo sangüíneo provocando um ataque cardíaco. O estudo multicêntrico denominado EPISTENT (Avaliação do Inibidor Plaquetário IIb/IIIa para Estudo do Stent) envolveu 491 pacientes diabéticos que foram divididos em três grupos. Um grupo recebeu um stent e tratamento com abciximab. Um segundo grupo foi submetido à angioplastia por balão e recebeu também a substância. Um terceiro grupo recebeu o implante de um stent, porém não recebeu qualquer substância, somente um placebo. Um dos achados mais surpreendentes foi que o índice de um novo bloqueio caiu pela metade nos pacientes que receberam o stent e a substância. Aqueles pacientes apresentaram um índice de 8,1% de um novo bloqueio seis meses após o procedimento, o que representa aproximadamente metade dos outros dois grupos. 20 Diabetes Clínica 04 (2000) contimuação “A associação de stent-abciximab fez com que o índice de um novo bloqueio nos pacientes cardíacos diabéticos se aproximassem dos mesmos níveis dos pacientes cardíacos sem diabetes. É a primeira vez que isto foi demonstrado”, disse Steven P. Marso, líder do estudo e membro do MidAmerica Heart Institute do Hospital St. Luke, Kansas City, Mo. “Estudos anteriores mostraram que o abciximab reduz o ataque cardíaco e o índice de óbito em pacientes cardíacos após angioplastia por balão. Este último estudo, entretanto, é o primeiro a demonstrar que a substância associada ao implante de stent reduz o novo bloqueio das artérias particularmente em diabéticos.” disse Marso. Dois terços das pessoas com diabetes apresentam alguma forma de doença do vaso sanguíneo. Elas também experimentam com maior freqüência um novo bloqueio das artérias cardíacas após angioplastia por balão que os pacientes não diabéticos. Pacientes cardíacos com diabetes estão também mais propensos a ter um ataque cardíaco do 6o ao 18o mês após angioplastia e o índice de óbito é maior após o procedimento. Os pacientes que receberam a substância, independentemente de terem sido submetidos à angioplastia ou terem recebido o stent, apresentaram um índice mais baixo de ataque cardíaco ou óbito seis meses após o procedimento quando comparados com os pacientes do grupo stent-placebo. Entretanto, o índice mais baixo – 6,2% - foi observado no grupo stent-abciximab. O índice combinado de óbito ou ataque cardíaco nos seis meses após o procedimento foi de 7,8% no grupo de angioplastia-abciximab e 12,7% no grupo stent-placebo. O abciximab foi administrado por via intravenosa aproximadamente à época do procedimento e depois por 12 horas. Menos de 2% dos pacientes no estudo apresentaram efeitos colaterais do abciximab como sangramento ou baixa contagem de plaquetas. Ilan Gabriely et al, Diabetes Care 22:2026-2032, dezembro de 1999 Medição transcutânea da glicose através de um espectroscópio infravermelho durante hipoglicemia Objetivo-Analisar um sistema transcutâneo do espectroscópio infravermelho como uma técnica para monitoramento não invasivo da glicose sangüínea in vivo durante a euglicemia e hipoglicemia. Desenho e métodos da pesquisa - Dez indivíduos não diabéticos e dois pacientes com Diabetes tipo 1 foram examinados em um total de 27 exames. Em cada análise, a glicose plasmática do indivíduo foi reduzida a um nível hipoglicêmico (~55 mg/dl) seguido por retomada de um nível glicêmico de ~115 mg/dl usando uma infusão intravenosa de insulina e 20% de dextrose. Os níveis de glicose plasmática foram determinados em intervalos de 5 min. pelo método da glicose-oxidase padrão e simultaneamente por um sistema espectroscópico infravermelho. A glicose plasmática medida pelo método padrão foi usada para criar um modelo de calibração que poderia prognosticar os níveis de glicose dos dados do espectroscópio infravermelho. Os dois conjuntos de dados foram correlacionados durante o declínio e a retomada na glicose plasmática, na faixa de 10 mg/dl, e foram examinados através da Análise da grade de erro de Clarke. 22 contimuação Diabetes Clínica 04 (2000) Resultados - Foram examinados dois conjuntos de 1.704 determinações de glicose plasmática. Os prognósticos do infravermelho durante a queda e retomada na glicose plasmática apresentaram uma alta correlação (r = 0,96 e 0,95 respectivamente). Quando analisados durante os segmentos de 10 mg/ dl de glicose plasmática, a diferença absoluta média entre o método do espectroscópico infravermelho e o da referência quimiométrica variou entre 3,3 e 4,4 mg/dl nos indivíduos não diabéticos e de 2,6 a 3,8 mg/dl nos pacientes com Diabetes tipo 1. Conclusões - Nossos achados sugerem que o método do espectroscópio infravermelho pode prognosticar de forma precisa os níveis de glicose plasmática durante a euglicemia e hipoglicemia em seres humanos. Lançamento Avandia (rosiglitazona): o novo tratamento para o Diabetes tipo 2 A rosiglitazona pertence a uma nova classe de drogas contra o diabetes por via oral – as tiazolidinedionas. Esses agentes têm como alvo a causa fundamental do diabetes tipo 2 – a risistência à insulina. A rosiglitazona diminui os altos níveis de glicose no sangue em pacientes com diabetes tipo 2 por meio da redução direta da resistência à insulina, condição pela qual certos tecidos, como os músculos, fígado e tecido adiposo, respondem incorretamente à insulina natural do corpo. A rosiglitazona atua diretamente sobre a proteína chamada PPARr* que é encontrada no interior das células dos tecidos. A estimulação desta protéina pela rosiglitazona promove modificações no organismo que resultam na maior absorção da insulina pelos tecidos e menor liberação de glicose pelo fígado. Como consequëncia, a hiperglicemia é reduzida. Principais benefícios da roziglitazona: - Ela causa significativa redução da hiperglicemia de indivíduos com diabetes tipo 2, reduzindo os níveis de glicemia em até 76 ml/dl em média, comparado com o placebo. A roziglitazona reduz também significativamente os níveis de hemoglobina glisosilada, na média de 1,5% em relação ao placebo. Ela fornece também controle adicional dos níveis da glicose quando associado a outros remédios, incluindo a metformina, sulfoniluréias ou insulina. - A rosiglitazona tem o potencial de retardar a progressão do diabetes tipo 2 e demonstrou causar sgnificantes melhoras no funcionamento das células β dos portadores do diabetes tipo 2. - A rosiglitazona não está associada a efeitos colaterais gastrointestinais e seu uso é seguro com altos níveis de danos renais. Experiências clínicas envolvendo mais de 4.500 pacientes não têm evidenciado hepatotoxicidade do medicamento. - Não foi observada nenhuma interação medicamentosa com outros medicamentos comuns como anti-hipertensivos ou dragoas redutoras de lipídios. Diabetes Clínica 04 (2000) 23 contimuação Referências - Patel J, Miller E, Patwardhan R. Rosiglitazone monotherapy has significant glucose lowering effect in type 2 diabetic patients. Diabetes 1998; 47 (Suppl 1):A17. - Fonseca V, Biswas N, Salzman A. Once daily rosiglitazone in combination with metformina effectively reduces hyperglicemia in patients with type 2 diabetes. Diabetes 1999;48 (Suppl 1): A100. - Gomis R, Jones NP, Vallance SE et al. Low-dose rosiglitazone provides additional glycemic control when combined with sulfonylureas in type 2 diabetes. Diabetes 1999; 48 (suppl.1):A63. - Raskin P, Dole JF, rappaport EB. Rosiglitazone improves glycemic controle in poorly controlled, insulin-treated type 2 diabetes. Diabetes 1999; 48 (suppl.1):A94. - Kreider M, Miller E, Patel J. Rosiglitazone is safe and well tolerated as monotherapy or combination therapy in patients with type 2 diabetes mellitus. Diabetes 1999; 48 (suppl.1):A111. - Kobayashi M. Effects of current therapeutic interventions on insulin resistance. Diabetes, Obesity and Metabolism 1999; 1(Suppl 1):S32-S40. Nova formulação de cerivastatina: Lipobay 0,4 mg Leiv Ose et al. Current Medical Research and Opinion, 15, 3:228-240, 1999 Eficácia e segurança da cerivastatina 0,2 mg e 0,4 mg em pacientes com hipercolesterolemia primária: estudo multinacional, randomizado, duplo-cego Níveis séricos elevados de colesterol constituem importante fator de risco de morbidade e mortalidade cardiovasculares. A cerivastatina é um agente redutor de lipídios altamente eficaz, liberado atualmente nas doses de 0,1, 0,2, 0,3 e 0,4 mg. Este estudo foi multicêntrico, randomizado, duplo-cego, em grupos paralelos, comparando a eficácia e a segurança da cerivastatina 0,4 mg/dia com as da cerivastatina 0,2 mg/dia em pacientes portadores de hipercolesterolemia ambulatorial. Realizou-se uma fase introdutória de placebo com seis semanas de duração, seguida por uma fase de tratamento ativo de 24 semanas. Randomizou-se um total de 494 pacientes para receber 0,4 mg de cerivastatina (n = 332) ou 0,2 mg (n = 162). A análise de protocolo (p) revelou que os níveis médios de colesterol com lipoproteina de baixa densidade (LDLC) diminuíram 38,4% ± 0,7% em relação aos valores basais no grupo de 0,4 mg comparativamente a 31,5% ± 0,9% no grupo de 0,2 mg ( p < 0,0001). Houve diferença significativa por sexo no grupo de 0,4 mg: o LDL-C caiu 44,4% ± 8,9% nas mulheres, em comparação com 37,0% ± 0,9% nos homens (p < 0,046). Na população P como um todo, o colesterol total diminuiu 26,0% ± 0,5% em relação aos valores basais no grupo de 0,4 mg, comparativamente a uma redução de 21,6% ± 0,7% no grupo de 0,2 mg (p < 0,0001). Ambas as doses foram bem toleradas; apenas oito pacientes (2,4%) no grupo de 0,4 mg e cinco pacientes (3,1%) no grupo de 0,2 mg abandonaram o estudo em razão de eventos adversos. Constatou-se que a cerivastatina nas doses de 0,2 mg/dia e 0,4 mg/dia reduz os níveis de LDL-colesterol e de colesterol total de maneira dosedependente e ambas as doses apresentaram bom perfil de segurança. 24 contimuação EASD (European Association for the Study of Diabetes), Bruxelas, 28 de setembro de 1999, W. Klappoth et al. Diabetes Clínica 04 (2000) Conclusões: - Os resultados deste estudo demonstraram claramente a eficácia da cerivastatina 0,4 mg/dia na melhora do perfil lipídico de pacientes hipercolesrolêmicos. - O cerivastatina 0,4 mg pareceu ser particularmente eficaz na melhora do perfil lipídico entre as mulheres. - Enquanto conformou-se que a cerivastatina é altamente eficaz em reduzir o LDL-colesterol em pacientes com hipercolesterolemia primária, ainda paira dúvida sobre que benefícios se podem esperar dessa melhora. Diante da ausência de dados de um estudo de intervenção com a cerivastatina, o esclarecimento dessa questão deve levar em consideração os resultados de estudos de intervenção envolvendo outras vastatinas, como o Estudo de Prevenção Coronariana da Escócia Ocidental”(WOSCOPS), que pesquisou o uso da terapia com a pravastatina em homens (n = 6.595) com níveis elevados de colesterol sérico e sem histórico de infarto do miocárdio. O estudo constatou que uma redução de 26% do LDL-colesterol provocava uma redução de 31% de eventos coronarianos. Este resultado foi confirmado pelo “Estudo Escandinavo de Sobrevida com a Sinvastatina” (4S), que mostrou que o tratamento com a sinvastatina provocou uma redução de 35% do LDLcolesterol e associou-se a uma redução de 30% da mortalidade cardiovascular por todas as causas (p 0,003). Dentro deste contexto, deve-se esperar que a redução de 38,4% do LDL-colesterol obtida com a cerivastatina traga consideráveis benefícios clínicos. - Apesar da maior eficácia da cerivastatina 0,4 mg, em comparação com cerivastatina 0,2 mg, não existem grandes diferenças entre as doses quanto aos parâmetros de segurança. - 0,4 mg/dia de cerivastatina melhora acentuadamente o perfil lipídico dos pacientes com hipercolesterolemia primária. A cerivastatina, na dose de 0,4 mg/dia, pareceu ter maior potencial de melhora clínica do perfil de risco cardiovascular na hipercolesterolemia do que doses mais baixas e sem causar aumento significativo do potencial de eventos adversos. Variabilidade entre os indivíduos do efeito metabólico da insulina inalável e impacto de um intensificador de absorção Objetivos: Para estudar o efeito metabólico e sua variabilidade extraída pela inalação da insulina microcristalina sólida (87,2 U) associada a um intensificador de absorção em três diferentes estudos de três dias em comparação com a insulina regular (10.2 U) injetada s.c e a da insulina regular (5.5 U) administrada por via intravenosa. Material e métodos: Aleatoriamente 11 voluntários sadios receberam três administrações diferentes de insulina em estudo de cinco dias. O efeito metabólico da insulina foi determinado conforme o índice de infusão de glicose necessitou manter constante a glicemia durante os clamps da glicose euglicêmica. Resultados: Após a inalação de insulina o início de ação foi substancialmente mais rápido do que após a aplicação subcutânea e a ação máxima foi alcançada mais cedo (86 ± 47 vs 182 ± 53 min; p < 0,001). A taxa de infusão de glicose máxima após inalação de insulina foi comparável àquela após a Diabetes Clínica 04 (2000) contimuação 25 aplicação subcutânea (9,2 ± 2,6 vs 8,8. ± 2,8 mg/kg/min; N.S.). As taxas de infusão de glicose nos primeiros 120 minutos após a inalação foram significativamente maiores que aquelas após a aplicação subcutânea de insulina (área sob a curva da taxa de infusão de glicose: 0,88 ± 0,25 vs. 0,59 ± 0,20 g/kg/120 min; p < 0,001). Entretanto, o efeito metabólico total após a inalação foi comparável (2,50 ± 0,76 vs. 2,56 ± 0,69 g/kg/480 min; N.S.). A biopotência relativa da insulina inalável calculada com relação aos dados da insulina s.c foi de 12,0 ± 3,5. Nos primeiros 120 min após a aplicação de insulina, a biopotência relativa foi de 18,5 ± 3,7%. A variabilidade da resposta metabólica induzida pela inalação da insulina entre os indivíduos foi de 14 ± 9% para a taxa de infusão de glicose máxima, 15 ± 10% para o tempo de efeito máximo e 16 ± 12% para a quantidade total de glicose infundida. Conclusões: A adição de um intensificador de absorção levou a um efeito metabólico consideravelmente mais pronunciado nas primeiras horas após inalação de insulina em comparação com a inalação de insulina pura. A variabilidade do efeito metabólico extraída pela insulina inalável é comparável àquela observada após injeção subcutânea de insulina regular. EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, E. Schoenle et al. em nome do grupo de estudo HOE 901/3003 Insulina glargina (HOE 901) reduz a glicose sangüínea em jejum em crianças e adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 sem aumentar o risco de hipoglicemia Introdução: As insulinas de ação intermediária e longa atualmente disponíveis não proporcionam um controle metabólico suficiente em crianças diabéticas porque sua duração de ação é também muito pequena para uma administração única ao dia com um pico de ação indesejado 4 – 6 horas após a aplicação ou a absorção de insulina é muito inconstante com uma alta variabilidade dia a dia. A recente insulina recombinante análoga da insulina glargina (HOE 901; insulina humana 21A-Gly-30Ba-L-Arg-30Bb-L-Arg) é uma modificação da insulina humana em que a glicina foi substituída pela asparagina na posição A21 e duas argininas são adicionadas à posição B30 da molécula de insulina. Estas modificações resultam em uma insulina menos solúvel em pH fisiológico com um início de ação lento e um perfil de insulina constante com duração de ação prolongada. Objetivos: Comparar a segurança e eficácia de uma dose diária de insulina glargine (HOE 901) com uma ou duas doses ao dia de insulina humana NPH em crianças com diabetes mellitus tipo 1 com relação aos perfis de glicohemoglobina (GHb), glicose sangüínea em jejum (GSJ), glicose sangüínea (GS), glicose sangüínea noturna e hipoglicemia. Métodos: Estudo multicêntrico, aberto, randomizado com desenho grupo-paralelo. O esquema de dosagem de insulina basal para indivíduos que recebiam insulina glargina foi de dose única (hora de deitar) independentemente do esquema anterior, ao passo que o esquema para indivíduos que recebiam insulina NPH foi ou dose única ao dia (hora de deitar) ou duas vezes ao dia (na parte da manhã e na hora de deitar), baseado em seus esquemas anteriores à fase de tratamento. A dose diária de insulina foi ajustada para manter a GSJ entre 4,4 e 8,8 mmol/l e ao mesmo tempo evitar a hipogli- 26 contimuação Diabetes Clínica 04 (2000) cemia. A insulina regular humana foi injetada antes das refeições conforme a prática normal. Resultados: 349 indivíduos com diabetes mellitus tipo 1 com idades entre 5 e 16 anos foram tratados durante 6 meses, 174 com insulina glargina e 175 com NPH. A mudança na GHb foi comparável nos dois grupos de tratamento, mas as crianças tratadas com insulina glargina apresentaram uma diminuição média maior na GSJ (-1,27 mmol/l) que em indivíduos que receberam NPH (0,70 mmol/l). Esta diferença foi estatisticamente significativa (p = 0,0231). Enquanto a freqüência geral de hipoglicemia foi similar nos dois grupos de tratamento (insulina glargina: 79,3%, NPH: 78,9%), as crianças tratadas com insulina glargina relataram uma menor frequência de hipoglicemia severa (22,4% vs. 28,6%), noturna (48,3% vs. 50,9%) e noturna severa (12,6% vs. 17,7%) que em indivíduos que receberam NPH. A insulina glargina foi bem tolerada e apresentou um perfil de segurança similar à insulina humana, incluindo reações no local da aplicação e insulina humana e anticorpos E. Coli. Conclusão: Em crianças, uma dose única de insulina glargina à noite por via subcutânea proporciona valores de GSJ mais baixos que a NPH, com um risco menor de hipoglicemia noturna severa. EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Brussels, 28 de setembro de 1999, M. Pein, F. Diebler, J. Woodworth, P. Roach, U. Gudat, M. Dreyer Krankenhaus Behanien, Hamburgo, Alemanha, e Eli Lilly, Indianopolis, IN, EUA Melhor controle glicêmico após administração de uma mistura de insulina lispro 75%/ NPL 25% em pacientes com Diabetes tipo 1 Objetivos: Em comparação com a insulina humana (IR) regular, a insulina lispro (LP) permite um maior controle da glicemia (GS) durante as primeiras 3-4 horas após as refeições. Contudo, a reposição adequada da insulina basal é necessária para proporcionar um controle ideal da GS durante os longos intervalos entre as refeições. Avaliamos a alta mistura (AM), uma mistura de 75% LP e 25% NPL (uma fórmula de LP com base de protamina de ação intermediária) com relação ao controle da GS durante um período de 7 horas após um teste com refeição padrão. Foram feitas comparações quanto ao controle da GS proporcionada pela LP e IR. Materiais e Métodos: Um estudo cruzado, de dose única, randomizado, de três ramificações foi realizado em 31 pacientes com diabetes tipo 1. Após um jejum noturno, foi feita uma infusão intravenosa de IR para padronizar a glicose sangüínea em 135 mg/dl, e foi descontinuada 15 min após administrar a insulina do estudo. Em 3 visitas separadas, a LP, a IR, ou a AM foram administradas por via subcutânea antes de uma refeição padrão (770 kcal; 57% hidrates de carbono, 29% gordura, 14% proteína), sendo a LP e a AM administradas imediatamente antes da refeição e a IR administrada 30 min antes da refeição. As amostras de sangue foram coletadas a cada 30 min para medir a GS durante um período de 7h após o início da refeição. Foram avaliadas a concentração pico de GS (GSmax, mg/dl) e a GS média (mnGS, mg/dl) nas 4, 5, 6 e 7h após a dose. Resultados: GSmax e todas as medições de mnGS foram estatisticamente maiores para IR quando comparadas com a AM e a LP. As comparações de mnGS foram semelhantes para AM e LP até 5h após a dose, mas significativamente mais baixa para AM além de 5h. Diabetes Clínica 04 (2000) 27 Conclusões: A LP e a AM proporcionaram um melhor controle da GS que a IR durante o período de observação de 7 horas. AM permitiu um melhor controle da GS do que a LP, quando consideradas as 2 horas finais do período de observação de 7 horas. Dr. Priscilla Hollander, Centro de Diabetes Ruth Collins, Dallas, Texas, EUA Os efeitos diferenciais da nateglinida e sulfoniluréias nos níveis de glicose e secreção de insulina no período de refeição Variações excessivas de glicose no período de refeição constituem uma contribuição importante para a exposição glicêmica total, como medido pela hemoglobina glicosilada (HbA1c), no diabetes tipo 2, particularmente precoce na progressão da doença. Além disso, a hiperglicemia pós-prandial tem sido associada a risco cardiovascular aumentado em vários estudos epidemiológicos de larga escala. Em estudos clínicos fase III, a administração pré-refeição de um agente insulinotrópico de início rápido/curta duração, a nateglinida, tem mostrado restaurar de maneira única o padrão fisiológico da secreção da insulina que está desaparecido nos pacientes diabéticos, e de reduzir marcadamente as variações de glicose no período da refeição. Um estudo multicêntrico, de grupos paralelos, controlado por placebo, duplo-cego, randomizado em 152 pacientes diabéticos tipo 2 inadequadamente controlados por dieta e exercício, foi conduzido para comparar os efeitos da nateglinida e da sulfoniluréia gliburida (glibenclamida) nas variações de glicose e na secreção de insulina no período de refeição. O estudo envolveu uma avaliação prospectiva de perfis de glicose, insulina e peptídeo-C durante um teste de refeição líquida (Sustacal), durante um café da manhã padrão, e por um período de 12 horas compreendendo três refeições padrões obtendo um perfil de 19 pontos. A segurança e tolerabilidade de uma dose fixa de nateglinida (120 mg com as refeições) versus gliburida 10 mg por dia foram também avaliadas. Durante o teste com Sustacal, a nateglinida estimulou predominantemente a liberação de insulina precoce, enquanto que a gliburida aumentou tanto os níveis de insulina em jejum como a liberação de insulina consistentemente durante toda a refeição. A nateglinida reduziu a glicose no período da refeição (aumento da AUC) em maior proporção do que a gliburida (> 70% mais de redução) mas a gliburida teve um efeito maior do que a nateglinida na redução dos níveis de glicose em jejum. Da mesma forma, durante uma refeição sólida padrão (café da manhã) a nateglinida (120 mg) produziu maiores reduções nas variações de glicose no período de refeição do que a gliburida 10 mg, com menor exposição à insulina. A medição do índice insulinogênico indicou que somente a nateglinida melhorou a sensibilidade da célula β para a glicose. Comparação de perfis 12 horas de glicose e insulina indicou que a nateglinida e a gliburida promoveram controle da glicose no período da refeição. Porém, a nateglinida e não a gliburida, reduziu significativamente o desvio padrão dos níveis de glicose durante o dia e promoveu o controle da glicose no período de refeição com ~50% menos insulina do que a gliburida. A análise de segurança mostrou que houve uma incidência significativamente menor de eventos sugestivos de hipoglicemia, e uma incidência menor de casos confirmados de hipogli- 28 contimuação J.S. Kristensen, K.B. Frandsen, T. Bayer e P. Muller,Medical and Statistical Department, Novo Nordisk A/S, Bagsvaerd, Dinamarca, Diabetologia 1999; 42: A4, Abst. 6 Diabetes Clínica 04 (2000) cemia, com a nateglinida 120 mg do que com a gliburida 10 mg. Os dados do teste com Sustacal foram também obtidos durante um estudo de 24 semanas no qual a nateglinida (120 mg) foi comparada com metformina (1.500 mg), como monoterapia e em combinação. Este estudo reconfirmou o efeito insulinotrópico precoce/rápido da nateglinida e seu ótimo controle da glicose no período da refeição. Não surpreendentemente, a metformina não teve efeito na liberação da insulina ou nas variações de glicose no período da refeição, mas reduziu efetivamente os níveis de glicose em jejum. A combinação atingiu o excelente controle geral da glicose previsto para agentes com modos complementares de ação. Concluindo, a nateglinida aumenta preferencialmente a liberação precoce da insulina, proporciona excelente controle da glicose no período de refeição, reduz as flutuações amplas da glicose características do diabetes tipo 2 precoce, e tem modestos efeitos na redução do níveis de glicose em jejum. A gliburida reduz primariamente os níveis de glicose em jejum; não reduz as flutuações diárias da glicose; aumenta acentuadamente a exposição total à insulina e, consequentemente, tem um potencial hipoglicêmico muito maior do que a nateglinida. Assim, a nateglinida pode ser o tratamento de escolha para pacientes na progressão inicial de diabetes tipo 2, quando o problema predominante é variação excessiva de glicose no período de refeição. A metformina tem pouca influência nas variações de glicose no período de refeição mas diminui efetivamente a glicose em jejum. A combinação da nateglinida e metformina proporcionou controle glicêmico geral e promete ser uma excelente escolha para pacientes com doença mais avançada. O tratatamento com repaglinida está associado com eventos hipoglicêmicos significativamente menos severos em comparação com a sulfoniluréia Objetivo: Como a hipoglicemia severa (HS) é um efeito adverso relativamente raro, porém potencialmente perigoso para o tratamento do diabetes tipo 2 com sulfoniluréia (SU), o objetivo foi pesquisar se este risco poderia ser reduzido com o uso da repaglinida (REP), que pertence a uma nova classe de compostos (derivados do ácido carbamoilmetilbenzóico), com um início mais rápido e tempo de ação mais curto (T ½ aproximadamente 1 hora) do que os agentes estimulantes convencionais da célula-b. Materiais e Métodos: A REP foi comparada com a SU: glipizida, glibenclamida, ou gliclazida em estudos duplo-cegos de um ano, usando protocolos de estudos idênticos. A REP foi dosada nas três principais refeições para melhorar a secreção de insulina relacionada com a refeição e desse modo diminuir os níveis de glicose pós prandial. A SU foi dosada de acordo com a bula e o placebo no horário do almoço, portanto a dosagem padrão foi similar para REP e SU. Um total de 761 pacientes foi tratado com REP e 367 pacientes foram tratados com SU. Os episódios hipoglicêmicos foram registrados junto com as determinações de glicemia, realizadas pelos pacientes quando ocorreram os sintomas. Os níveis de glicemia < 2,5 mmol/l, aliados aos os sintomas foram considerados eventos hipoglicêmicos severos. Resultados: O nível de controle metabólico não foi significativamente diferente entre os dois grupos durante o período de tratamento (HbA1c: 7,1-7,5%). Diabetes Clínica 04 (2000) contimuação 29 A relação absoluta de SH foi de 1,31% no grupo REP, e 3,27% no grupo SU (p < 0,03) sem diferenças entre as 3 SU usadas. O padrão geral de hipoglicemia foi diferente: 7% dos eventos com REP estavam abaixo de 2,5 mmol/l, 88% entre 2,5 e 4,4 mmol/l e 5% > 4,4 mmol/l, em comparação com a SU onde 20% estava abaixo de 2,5 mmol/l, 78% entre 2,5 e 4,4 mmol/l e 2% > 4,4 mmol/l. Conclusões: A REP causou episódios hipoglicêmicos significativamente menos severos em comparação com a SU. Isto pode estar relacionado com o início rápido e a curta duração da REP, e porque a REP é ingerida somente antes das principais refeições, agindo como um regulador das variações da glicose sangüínea prandial que são os níveis mais altos durante o dia no paciente com diabetes tipo 2. EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Brussels, 28 de setembro de 1999 A pioglitazona corrige o desequilíbrio lipídico enquanto diminui a glicose plasmática O sensibilizador de insulina, a pioglitazona (Actos) parece fazer mais do que apenas ajudar os pacientes a alcançar o controle glicêmico. Ajuda também a restabelecer o equilíbrio nas anormalidades lipídicas reduzindo os triglicerídeos e elevando as lipoproteínas de alta-densidade (colesterol HDL). “Um dos importantes e notáveis achados foi seu efeito favorável no perfil lipídico. Parece ser especialmente adequado na correção das anormalidades do metabolismo lipídico nos diabéticos”, disse Dr. Sherwin, professor de Medicina na Universidade de Yale, em New Haven. Houve reduções significativas nos triglicerídeos séricos (11,8% na dose de 15 mg; 6,6% na dose de 30 mg; e 9,8% na dose de 4 mg/dia). O aumento no HDL foi de: 4,9% com 15 mg/dia; 3,1% com 30 mg/dia; e 9,6% com 45 mg/dia. Houve aumentos nas lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e no colesterol total, embora não tenham sido significativos. A pioglitazona ofereceu um efeito sinérgico quando utilizada em associação com outros agentes orais atualmente disponíveis – sulfoniluréias, metformina e insulina oral. Com 30 mg/dia, a pioglitazona usada com metformina resultou em uma redução de 21,2% nos triglicerídeos sobre o valor basal. Por comparação, a metformina isolada resultou em uma redução de 6,7% nos triglicerídeos. Os pacientes foram mantidos adequadamente com metformina e portanto o benefício apresentado aqui é altamente sinérgico. Da mesma forma, quando usada em associação, a pioglitazona (30 mg) e a sulfoniluréia resultou em uma redução de 27% nos triglicerídeos comparado com reduções de 14,7% na dose de 15 mg e sulfoniluréia, e uma redução de 1% com sulfoniluréia isoladamente. Estudos em andamento mostram também que a pioglitazona é igualmente eficaz e relativamente livre de efeitos colaterais sobre um prazo mais longo. Alguns pacientes foram acompanhados por 122 semanas permanecendo com HbA1c relativamente estável. Os eventos adversos foram comparáveis ao placebo com exceção do ganho de peso e edema, ambos também considerados comuns nas outras glitazonas. As reações hipoglicêmicas foram ligeiramente maiores do que com outras drogas da mesma família, mas elas não foram consideradas inesperados e foram baseadas em auto-relatos em vez de casos clinicamente documentados. 30 Diabetes Clínica 04 (2000) Produtos e novidades Dermagraft: tecido de origem humana para o tratamento das úlceras Dermagraft é um tecido de origem humana, desenvolvido pela empresa de bio-engenharia Advanced Tissue Science (EUA) e comercializado pela Smith+Nephew, hoje disponível para o tratamento das úlceras de pé no paciente diabético. Dermagraft é constituído de fibroblastos humanas, cultivadas a partir de células de recém-nascido (prepúcio) em um meio facilmente reabsorvido. Dermagraft é um verdadeiro tecido dermal produzindo inúmeros fatores metabólicos: fatores de crescimento, glicoprotéinas e colágeno. Os controles, durante a fabricação, permitem garantir a inocuidade e a atividade terapêutica máxima. Um estudo clínico realizado nos EUA com 281 pacientes diabéticos apresentando úlceras do pé mostrou que Dermagraft acelera a cicatrização completa do ferimento em relação ao tratamento convencional. A percentagem de pacientes apresentando uma cicatrização completa a 12 semanas, com uma aplicação semanal de Dermagraft TR durante 8 semanas, é maior do que a do grupo tratado com métodos tradicionais (51% vs. 32%). 58% dos pacientes tratados com Dermagraft apresentaram uma cicatrização completa à 32o semana de tratamento vs. 42% no grupo controle. A velocidade de cicatrização é duas vezes superior com Dermagraft, com tempo médio de cicatrização de 13 semanas (vs. 28 semanas sem Dermagraft) e os prazos de recorrência estão sensivelmente maiores (12 semanas vs. 7 semanas). BAT: Análise estática e dinâmica do pé e da marcha O sistema de análise do pé da BAT (Buratto Advanced Technology) para computador PC é um sistema cuja execução é totalmente conduzido pela voz. A análise estática é feita pela imagem da posição ortostática com movimentos do centro do corpo e da divisão do peso por zona. Permite a visualização tridimensional com a possibilidade de diversas rotações. Permite a avaliação da transferência do peso. Além disso cerca de 50 imagens permitem a avaliação do peso máximo resultado do centro da pressão e da zona isobárica. É um exame importante para uma primeira avaliação do paciente. A análise dinâmica permite a visualização da transferência de peso durante a mar- Diabetes Clínica 04 (2000) contimuação 31 cha em suas diversas fases. Com a obtenção e análise dos passos sobre o apoio e o sucessivo confronto do esforço é possível obter a característica padrão e deste modo eliminar erros decorrentes da execução incorreta do passo pelo paciente. O sistema BAT possibilita a comparação da análise estática e dinâmica. Dana Diabecare: a menor bomba de insulina Dana Diabecare é a menor bomba de insulina do mundo. Fabricada pela Sooil Development Co (Korea). O Dana Diabecare ajuda a manter os níveis normais de açúcar no sangue e a prevenir as complicações diabéticas. Fácil de usar, leve, de simples operação, pode ser convenientemente transportada no bolso. À prova d´água, pode ser utilizada durante qualquer atividade esportiva. Segundo o fabricante, seu preço é acessível e seus suprimentos e acessórios mais baratos que os de qualquer outra bomba. O reservatório de 3ml resistente ao impacto, comporta 300 unidades de insulina U-100. Funciona com bateria 3,6V com uma média de funcionamento de 1-2 meses. Pesa 61 g e mede 75 mm x 45 mm x 19 mm. Os produtos desta página, apresentados por empresas e laboratórios em congressos, não são todos comercializados até o fechamento desta edição. Mais informação na ANAD, tel (11) 572 6559. 32 Diabetes Clínica 04 (2000) Resumos de Congressos American Diabetes Association, Annual Meeting and Scientific Sessions, San Diego, junho de 1999, Zachary T. Bloomgarden, Diabetes Care 22:2049–2054, dezembro de 1999 Novas abordagens na terapia genética O atual objetivo da terapia do gene para o diabetes tipo 1 é proporcionar um nível de insulina em jejum que seja suficiente para evitar a cetoacidose e auxiliar na normalização dos níveis de glicose entre as refeições evitando ao mesmo tempo a hipoglicemia da superexpressão de insulina. Robert MacEvoy (Conferência de Mount Sinai sobre o Diabetes em 1º de abril de 1999) caracterizou os aumentos pós-prandiais na insulina como “não atingíveis no momento”. Além do gene da insulina, podem existir papéis para transferência de genes para glucagon, amilina e enzimas lisossomais, que se ligam e removem dos tecidos e da circulação produtos finais avançados da glicosilação para diminuir as complicações, independentemente dos níveis de glicose sangüínea. Vários problemas foram enfrentados com a terapia genética, um deles é a incapacidade dos hepatócitos de clivar a pró-insulina para insulina. Uma estratégia proposta para superar este obstáculo é mudar a seqüência da pró-insulina de forma que a furina hepática possa clivar-se ao peptídeo C, deixando dessa forma as cadeias A e B de insulina. Um método de transferência de gene foi o de usar primeiramente o adenovírus gene 1-deletado (E1-ADV) como vetor, que permite a produção de vírus de alta titulação, embora o E1-ADV propriamente dito seja incapaz de entrar nas células. Este método é suscetível de rejeição imune, levando à hiperinsulinemia inicial e hipoglicemia, tipicamente seguida por recorrência do estado diabético. Entretanto, a transferência de gene com E1-ADV como vetor foi usada como modelo em animais imuno-incompetentes. Foram desenvolvidas partículas ADV “sem conteúdo”, que não têm muitas proteínas virais, para diminuir a imunogenicidade, porém a produção de quantidade suficiente de partículas tem sido um problema, tendo em mente particularmente estudos terapêuticos futuros em que o turnover hepático normal em crianças necessitaria de administração em intervalos relativamente freqüentes. Outra abordagem envolve o uso de promotores além do E1-ADV para aumentar a expressão. O uso de DNA liberado lipossômicamente e de “DNA despido” e transfecção de tecido ex vivo foram também examinados como possíveis abordagens. Com as atuais abordagens para liberação do gene da insulina hepática, aproximadamente um quinto de hepatócitos expressam insulina. Infelizmente, a curva dose-resposta é muito acentuada: uma dose de 1x1011 partículas E1-ADV está ineficaz e uma dose de 2x1011 partículas parcialmente eficaz. Uma dose particularmente eficaz de 3 x 1011 partículas resulta em hipoglicemia profunda Diabetes Clínica 04 (2000) 33 contimuação em modelo de rato com cruzamento de animais geneticamente idênticos. A dose necessária deveria ser até mais difícil definir em um cenário clínico. Vetores de liberação retroviral proporcionam potencialmente a produção a longo prazo de insulina, porque estão permanentemente incluídos no genoma hospedeiro, embora eles não estejam transcritos em todas as células. Entretanto, eles requerem uma dose dez vezes maior, e existe uma possibilidade maior de que doses excessivas de vetores de liberação retroviral possam levar a efeitos adversos. Uma possível solução para pacientes diabéticos é titular o nível de insulina àquele que não cause hipoglicemia em jejum, mas a resposta imunológica posterior à administração de partículas virais impede a administração de doses múltiplas. Diferentes sorotipos virais podem ser usados para a liberação repetida de gene, ou a imunosupressão temporária poderia ser usada, embora com provável toxicidade. A inclusão de um gene “seguro contra falhas” para abortar a expressão de insulina caso fosse necessário, seria uma importante exigência de segurança. O timidina cinase do vírus Herpes Simplex foi amplamente usada nos estudos sobre o tratamento do câncer para permitir que o ganciclovir seja usado com segurança para abortar a expressão de insulina. Entretanto, experimentos in vivo envolvendo a adição destes elementos não obtiveram êxito. Além da possibilidade da superexpressão sistêmica de insulina, é possível que a expressão de insulina em alguns tecidos possa causar efeitos adversos locais. Por exemplo, a expressão de insulina pode causar aterosclerose acelerada. A expressão da insulina auto-regulada ou regulada pela glicose seriam opções viáveis a longo prazo, mas a atual tecnologia não pode alcançar tal regulação, mesmo em modelos experimentais. EF Tavares, JPB Vieira Filho, A Andriolo, LJ Franco, Disciplina de Endocrinologia, Patologia Clínica e Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo, 12o Congresso brasileiro de diabetes, Aracaju, Sergipe, 8-14 outubro de 1999 Anormalidades de tolerância à glicose e fatores de risco cardiovascular em uma tribo indígena aculturada da região amazônica brasileira A prevalência do diabetes mellitus (DM) está aumentando em grupos étnicos previamente considerados como de baixo risco para o desenvolvimento da doença, como os indígenas. O objetivo deste estudo foi avaliar as anormalidades na tolerância à glicose e os fatores de risco cardiovascular em um grupo indígena brasileiro aculturado. De uma população de 313 indivíduos da tribo Parkategê, situados na região amazônica (Pará), foram selecionados aqueles com idade maior ou igual a 20 anos (n = 122). Foram excluídos 22 indivíduos que apresentavam algum grau de miscigenação com a população branca ou negra. Entre os não participantes havia 5 mulheres gestantes e 5 homens (2 se recusaram, 2 estavam fora da aldeia e 1 alcoolizado). A população examinada foi composta por 90 índios (34 mulheres e 56 homens), com idade estimada de 41,2 ± 14,7 (21-78) anos. Todos foram submetidos a avaliação antropométrica, aferição dos níveis pressóricos e dosagem dos níveis de homocisteína, vitamina B12, colesterol total e frações, triglicérides, HbA1c e glicemia (jejum e 2 horas pós sobrecarga oral com 75 mg de glicose). Resultados: Média, desvio padrão e amplitude foi 85,1 ± 19,9 (66-257) mg/dl para glicemia de jejum; 88,5 ± 21,0 (51-163) mg/dl para glicemia 2h; 5,4 ± 0,9 (4,4-12,8)% para HbA1c; 161,9 ± 34,9 (101-319) mg/dl para o colesterol total; 39,5 ± 7,8 (23-71) mg/dl para o HDL colesterol; 90,9 ± 30,6 (39-238) 34 Diabetes Clínica 04 (2000) contimuação mg/dl para o LDL colesterol; 157,8 ± 80,4 (59-453) mg/dl para triglicérides; 13,4 ± 7,4 (5-72,5) mmol/l para a homocisteína; 488,5 ± 226,8 (240-1900) ng/ l para a vitamina B12. De acordo com os critérios da OMS, foi encontrado um caso de DM (1,1%), um caso de intolerância à glicose (1,1%) e 4 casos de hipertensão arterial (4,4%), Índice de Massa Corpórea ≥ 25 kg/m2 e relação cintura/quadril ≥ 0,9 foram observados em 61 (67,7%) e 68 (75,5%) índios respectivamente. Níveis lipídicos fora dos valores desejáveis preconizados pelo Consenso Brasileiro de Dislipidemia, foram encontrados em 40 índios (44,4%). Conclusão: a alta frequência de sobrepeso e anormalidades lipídicas entre os índios Parkategê pode ser devido às intensas e rápidas mudanças culturais sofridas por esta tribo. De acordo com estes resultados, eles devem ser considerados como um grupo de alto risco para o desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares e são necessárias algumas intervenções preventivas, com ênfase na prevenção do sobrepeso e alterações lipídicas. LMB Araújo, MV Porto, DMS Andrade, NP Almeida, FAMED/UFBA, Salvador, Bahia, 12o Congresso brasileiro de diabetes, Aracaju, Sergipe, 8-14 outubro de 1999 Frequência de dislipidemia em mulheres obesas diabéticas e não diabéticas A dislipidemia ocorre freqüentemente em obesos com a síndrome X, estando relacionada ao hiperinsulinismo, ao diabetes e/ou a intolerância à glicose. Neste estudo, comparamos a frequência de alterações lipídicas em uma população de obesas diabéticas e intolerantes à glicose com obesas não diabéticas. Foram avaliadas 334 mulheres obesas que procuraram um ambulatório de obesidade para perda de peso, com idades e índices de massa corpórea (IMC = peso/alt2) semelhantes. Todas foram submetidas ao teste de tolerância à glicose oral e segundo o critério da Organização Mundial de Saúde, divididas em dois grupos: 17 obesas diabéticas e 83 obesas intolerantes à glicose (grupo 1, OBD, n = 100) e obesas não diabéticas (grupo 2, OBND, n = 234). A idade destas pacientes variou de 18 a 62 anos e o índice de massa corpórea variou de 31 a 71,9 kg/m2. As glicemias foram medidas no plasma pelo método da glicose-oxidase e o colesterol total, o HDL-colesterol e os triglicérides foram medidos no soro por método enzimático. O LDL-colesterol foi calculado pela fórmula de Friedewald. O critério utilizado para definir dislipidemia foi o do II Consenso Brasileiro de Dislipidemia. Para comparação das amostras, utilizamos o teste de proporções do EPI-info. Resultados são mostrados na tabela abaixo. Concluímos que a freqüência de LDL-colesterol e triglicérides acima dos níveis desejáveis (≥ 170 mg% e ≥ 200 mg%, respectivamente) no grupo de obesas diabéticas foi maior do que nas obesas não diabéticas, enquanto que a freqüência de colesterol total acima dos níveis desejáveis e baixos níveis de HDL (≥ 200 mg% e ≥ 35 mg%, respectivamente) foram similares tanto nas obesas diabéticas e intolerantes quanto nas não diabéticas. O achado mais frequente em ambos os grupos foi o aumento de colesterol total. Freqüência (%) de alterações lipídicas nas obesas estudadas Grupo N Idade (anos) IMC (kg/m²) Colesterol total LDL Colesterol HDL Colesterol Triglicérides OBD OBND P 100 234 40 ± 9 38 ± 8 0,07 43 ± 7 42 ± 6 0,06 47 (47%) 86 (37%) 0,09 13 (13%) (5,6%) 0,02 23 (23%) 39 (16,7%) 0,17 17 (17%) 22 (9,4%) 0,047 Diabetes Clínica 04 (2000) MMC Damasceno, RL Marques, ASGG Silva, GRO Viana, VL Alves, VL Silveira, MER Silva, Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza, Ceará, 12o Congresso brasileiro de diabetes, Aracaju, Sergipe, 8-14 outubro de 1999 35 Avaliação da acuidade visual dos diabéticos insulino-dependentes O estudo objetiva avaliar a acuidade visual dos que preparam as doses de insulina visando a estimar o potencial para o autocuidado. A coleta dos dados iniciou-se em abril 99 mediante a aplicação das escalas de Snellen e Jaeger que permitem aferir a acuidade para longe e para perto, respectivamente. Até o momento foram avaliados 108 diabéticos de ambos os sexos com idades que variam entre 50 e 70 nos. Os resultados apontaram que 64 (59,3%) dos estudados estão com a acuidade comprometida tanto para longe quanto para perto. Destes, 41 (64%) prepararam doses em quantidades incorretas ao serem solicitados a demonstrar o procedimento. Foi constatado, ainda, que dos 44 restantes 20 (18,5%) têm acuidade visual normal para ambas as distâncias. Mesmo assim, 3 (15%) erraram a quantidade prescrita. Chama a atenção o fato de que dos 16 pacientes que têm acuidade visual diminuída somente para longe 5 (31,2%) também erraram a quantidade da dose prescrita, num procedimento que depende, sobretudo, de uma boa acuidade visual para perto. Apesar de reconhecer-se as limitações das escalas utilizadas, pode-se afirmar que a maioria dos estudados não está apta ao autocuidado no que se refere ao preparo do dose de insulina. Os resultados revelam as dificuldades enfrentadas na educação da clientela e mostram a necessidade de repensar as estratégias ali utilizadas. 36 Diabetes Clínica 04 (2000) Pesquisas Brasileiras em Diabetes - I Comunicação inicial Walmor J. Piccinini* Parece existir um certo consenso que a Medicina do século XXI, será marcada por mudanças na sua praxis e fundamentos. Ela terá que adaptar-se ao impacto da Tecnologia da Informação influindo intensamente na sua prática e será enriquecida pela Biotecnologia, que a mudará nos seus fundamentos. O profissional médico, reconhecidamente conservador, sofrerá intensamente estas mudanças. Terá que abandonar antigas formas de ação o que nunca acontece sem resistências e contrariedades. As barreiras podem ser tanto institucionais como individuais. As instituições se movem lentamente e demoram a aceitar inovações. Os indivíduos são mais rápidos, mas não é fácil a mudança e adaptação às novas tecnologias. A base de conhecimento para se conectar, utilizar software e entrar na tecnocultura é ampla e intimidante, requerendo para seu aprendizado gasto de tempo e esforço. Mesmo os já iniciados, percebem que as mudanças são constantes e há necessidade de exploração contínua, treinamento e esforço para manter-se atualizado. Aos poucos surgem as vantagens e pequenos sucessos que tornam a vida do profissional mais produtiva. Estas novas tecnologias são recebidas pelo público de diferentes maneiras, alguns são visionários e entusiastas aderindo a elas sem temores enquanto outros são mais cautelosos e resistentes. Em princípio todos são a favor, alguns chegam a se conectar a Internet , mas o uso é limitado ou inexistente. A informática como seu próprio nome diz, trabalha com a informação, seu manejo, armazenagem e recuperação. Entrou para o nosso dia a dia de maneira imperceptível e, no atual momento, é inimaginável a vida moderna sem ela. *Dr. Walmor J.Piccinini, R. Felipe Neri 296/301, 90440-150 Porto Alegre, RS, E-mail : [email protected] As pesquisas online abriram amplas possibilidades e as buscas na Medline tornaram acessível a todos a produção científica internacional e este fato se reflete nas publicações de autores brasileiros. Os aspectos positivos são evidentes e mascaram um lado perverso do sistema. Revistas não indexadas e que não utilizam a língua inglesa são condenadas ao esquecimento. Existem poucas revistas brasileiras indexadas e somente duas tem seu fator de impacto aferido o que deixa a produção científica brasileira numa situação marginal, ou até clandestina em relação ao que se produz e lê no resto do mundo. Em algumas áreas do conhecimento as perdas são graves já que resultados obtidos nos estudos publicados diferem por estarem relacionados a aspectos culturais, raciais, etc, que são característicos de cada região. Numa iniciativa particular organizei o Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria , atualmente com cerca de 9.600 referências, as quais foram publicadas em livro e em CD. Tendo tomado conhecimento deste trabalho o Prof. Thomaz Cruz sugeriu-me realizar algo semelhante na área do Diabetes Mellitus. Este trabalho está em andamento e vem recebendo o apoio do Prof. Fadlo Fraige Filho que nos convidou a apresentar a forma de obtenção das referências, bem como o trabalho a ser desenvolvido em Diabetes no Jornal Diabetes Clínica. Neste primeiro trabalho, mostramos como se organiza um banco de dados bibliográficos obtido a partir de estudos publicados na íntegra, de modo a torná-lo de fácil acesso . Como exemplo, demostramos o que se obtém a partir da revisão de um periódico, no caso um número do Jornal Diabetes Clínica. Para tal utilizamos um programa chamado ProCite. Existem outros similares como o End Notes e o Reference Manager, os quais podem ser obtidos para demonstração no site www.risinc.com. Pequenas companhias produzi- Diabetes Clínica 04 (2000) de qui-quadrado foi utilizado para verificar se existe correlação entre a presença de alarma na hipoglicemia e o grupo. Foram feitas as seguintes observações: a) existe associação significativa (p < 0,0001) entre a presença de alarma na hipoglicemia e o grupo; b) a proporção de alarma no grupo C é significativamente maior que no A e no B; c)a proporção de alarma no grupo B é também significativamente maior que no grupo A. Concluímos que a lispro ajuda a perceber as hipoglicemias e, no grupo C, os 18 pacientes que não percebiam suas hipoglicemias passaram a fazê-lo. Em nossa experiência, a lispro, associada à N e à R, ou apenas à R, ajuda no tratamento dos diabéticos tipo 1, como o teste de comparações múltiplas mostra: as hemoglobinas glicolisadas e as frutosaminas são mais baixas nos grupos B e C, aqueles que usaram a lispro. ram estes programas e estas atualmente pertencem ao Institute for Scientific Information (ISI, http:// www.isinet.com) que se dedica ao estudo de uma nova ciência , a bibliometria. 1. Fraige Filho, F.; Falkas, K; Behar, J.; Mecarelli, C.; Simomura, F., and Chavez, F. Perfil dos associados da Associação Nacional de Assistência ao Diabético. 1999; 3, (agosto): 134-139. Keywords: diabetes; orientação ao diabético; qualidade de vida Abstract: Objetivo: Sendo o diabetes mellitus um dos mais importantes problemas de saúde da atualidade, realizou-se um estudo com o objetivo de avaliar o perfil dos diabéticos que fazem acompanhamento em um centro de atendimento multiprofissional. Métodos: Foram estudados 86 associados através de um questionário aplicado entre 15 de junho e 30 de agosto de 1998 na Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD). Resultados: A análise dos resultados mostrou alta prevalência de associados com idade entre 60 e 80 anos (62,8%), com diagnóstico de diabetes tipo 2 (91%) e peso acima do ideal (62%). Identificou-se alta incidência de associados que fazem dieta (83%), porém apenas 53% afirmaram praticar atividade física. Os associados que relataram menos tempo de diabetes apresentaram mais complicações secundárias. Conclusões: Entre outros aspectos, concluiu-se que a adequada preparação dos profissionais de saúde para orientar os pacientes, e o incentivo para que as pessoas busquem essa orientação, torna-se cada vez mais importante visto que a importância de se prolongar e melhorar a qualidade de vida do diabético 2. Leite, Paulo Fernando. Orlistat: controle de peso e redução de fatores de risco cardiovascular. 1999; 3, (agosto): 167-169. Keywords: Orlistat; obesidade; risco cardiovascular 3. Oliveira, Rogério F. Avaliações das associações das insulinas N e R humanas + Lispro (H) na terapia de diabéticos tipo 1. 1999; 3, (agosto): 140-145. Keywords: DMID; insulina lispro; hipoglicemias sem alarma Abstract: Duzentos e dois pacientes (81M) com diabetes mellitus tipo 1 foram avaliados no período de 30 de abril de 1997 a 30 de novembro de 1998 e divididos em três grupos: Grupo A [n = 122] formado pelos que usavam insulinas N e R (44M), com idade de 32 ± 8,4 anos, IMC = 25,2 ± 3,6 kg/m2 e duração do diabetes 10 ± 7,4 anos, com 5,4 ± 4,2 hipoglicemias por semana, 456 durante o período - 85% com alarma e 15% sem percepção, necessitando de ajuda; os valores das glicosadas, determinadas a cada 3 meses, foram de 7 ± 1,7% nos 82 pacientes que usaram o mesmo kit de HbA1c (valor de referência 4,4 - 6,4%), e 4,3 ± 1,2 das frutosaminas (1,87 - 2,87 ng/dl). Grupo B [n = 62] constituído pelos que usavam insulinas N, R e H (30M), com idade de 24 ± 7,9 anos, IMC = 24,6 ± 3,2 Kg/m2 e 14,6 ± 8,4 anos de diabetes, com 4,2 ± 3 hipoglicemias que usaram o mesmo kit e 3,4 ng/ dl ± 0,9 de frutosamina. Já os 18 do Grupo C (7M) usavam insulinas R e H e foram para esse grupo por apresentarem comas hipoglic6emicos, 38 ± 10,2 anos de idade, 25,5 ± 3,4 kg/m2, 32 ± 12,3 anos de diabetes, 3 ± 2 hipoglicemias/semana, 190 durante o período, agora todas com alarma, HbA1c de 5,8% ± 0,8 e frutosamina 2,6 ng/dl ± 0,5. A análise de variância usando o teste de comparações múltiplas de Tukey, foi aplicada para identificar quais as diferenças entre os grupos. e o teste 37 4. Palumbo, P. J. Metformina: efeitos sobre os fatores de risco cardiovascular em pacientes com diabetes mellitus não-insulino dependentes. 1999; 3, (agosto): 155-166. Keywords: metformina; DMNID; risco cardiovascular Abstract: O diabetes mellitus não insulino-dependentes (DMNID) afeta aproximadamente 12 milhões de pessoas nos Estados Unidos. O DMNID coexiste freqüentemente com outras condições, como a obesidade, a dislipidemia, a doença vascular aterosclerótica, e a hipertensão, que contribuem para a morbidade e a mortalidade. Embora o principal objetivo clínico no tratamento do DMNID seja controlar a hiperglicemia, o objetivo a longo prazo é prevenir as complicações microvasculares e macrovasculares. A doença cardiovascular é a principal causa de óbito em pacientes DMNID. Embora a hiperglicemia possa ser controlada de forma adequada, os fatores de risco para doença arterial coronariana pode permanecer inalterados. O tratamento com metformina controla a hiperglicemia e pode apresentar efeitos positivos nos fatores de risco cardiovascular. Quanto usada isoladamente ou em combinação com sulfoniluréias, a metformina tende a estabilizar ou diminuir o peso, mantém ou reduz os níveis de insulina, apresenta efeitos benéficos nos perfis plasmáticos dos lipídios, e pode também apresentar efeitos favoráveis na pressão arterial e no sistema fibrinolítico. 5. Santos, Rosana Manchon dos. Aspectos psicológicos do diabetes. 1999; 3, (agosto): 146-148. Keywords: diabetes; psicologia; aspectos psicológicos 6. Valente, Orsini. Complicações agudas do diabetes: cetoacidose e coma hiperosmolar. 1999; 3, (agosto): 128-132. Keywords: diabetes; complicações 7. Viggiano, Celeste Elvira. Manejo da alimentação do diabético em situações especiais. 1999; 3, (agosto): 150-154. Keywords: diabetes; nutrição; situações especiais Nosso próximo objetivo será apresentar o funcionamento do programa ProCite e como utilizando-o estamos organizando uma Bibliografia Brasileira em Diabetes. Ao mesmo tempo esperamos propiciar aos leitores de Diabetes Clínica informações que lhes possibilitem organizar a bibliografia do seu interesse. Bem como enviar informações sobre suas publicações, para que as mesmas não deixem de ser incluidas no trabalho que ora realizo. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Diabetes Clínica 04 (2000) 40–49 A importância do controle da hiperglicemia pós-prandial Fadlo Fraige Filho* 1 Hiperglicemia pós-prandial A observação de inúmeros pacientes mantidos com glicemias de jejum normal com GTT (Teste de Tolerância à Glicose Oral), ou glicemias discretamente alteradas e até recentemente consideradas como não diagnóstico de diabetes, de acordo com as orientações da O.M.S. (glicemias até 140 mg/dl), modificada pelo Comitê de Experts da A.D.A. em 1997, por desenvolverem as complicações degenerativas tardias, leva a considerar que o principal ponto de observação no controle e tratamento do Diabetes Mellitus deve ser os picos hiperglicêmicos pós-prandiais, e não a glicemia de jejum. Assim, hiperglicemia pós-prandial exerce papel fundamental no desenvolvimento tanto das micro como das macroangiopatias, especificamente a doença cardiovascular, D.C.V. Na tabela 1, a seguir, apontamos os efeitos deletérios da hiperglicemia pós-prandial. Um dos mecanismos propostos para explicar lesões que levariam às complicações, seria que as moléculas de radicais livres lesivos aumentam agudamente após as refeições, e a hiperglicemia pós-prandial atua através da via de base de Schiffs, o que resulta em um rápido aumento de radicais livres, provocando dano às células endoteliais, inclusive na micro e macro vasculatura (Fig. 1). A capacidade antioxidativa - a capacidade do corpo em lidar com os radicais livres lesivos -, também dimi- Tabela 1 Efeitos clínicos conhecidos da hiperglicemia pós-prandial • progressão de normal para IGT • progressão de IGT para Diabetes • Diabetes Mellitus Tipo 2 inicia-se como doença de hiperglicemia pós-prandial • aumento inicial da HbA1c, causada pela hiperglicemia pós-prandial • lesão das células β pela toxicidade da glicose • lesão das células-alvo (músculo) pela toxidade da glicose • lesão células vasculares • ativa o estado pré-trombótico • contribui para a doença micro e macro vascular nui imediatamente após as refeições e está diretamente relacionada à hiperglicemia pós-prandial, bem como o acúmulo de proteínas finais de glicação, também levando a arteriosclerose. Auto-oxidação Glicose + Proteínas Base de Schiff Stress oxidativo Aldose redutase NADH/NAD * Professor de Endocrinologia da Faculdade de Medicina ABC, São Paulo. Correspondência: Rua Maestro Cardim, 889, 01323-001 São Paulo SP, tel: (11) 288-0054, E-mail: fraige@mandic. com.br Fig. 1 – Mecanismos bioquímicos pelos quais um aumento na glicemia pode induzir o stress oxidativo. F. Fraige Filho / Diabetes Clínica 04 (2000) 40–49 2 3 Glicemia de jejum ou pós-prandial ? Durante anos acreditou-se que o nível de glicemia de jejum fosse o indicador mais preciso de controle geral, e portanto, relacionada com os níveis de HbA1c, mas a HbA1c é apenas uma média dos níveis de jejum e pósprandiais, e não reflete as flutuações que ocorrem durante o período de um dia(Fig. 2). Avignon e col [1] acompanharam 66 pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 com idades entre 40 e 78 anos, que foram monitorizados intensamente, mantidas suas dietas habituais. Os resultados mostraram que os níveis de glicemia uma e três horas após o almoço estavam significativa e independentemente correlacionadas com a HbA1c. Em contraposição, os valores do desjejum e do almoço não se correlacionavam com a HbA1c. As glicemias pós-prandiais uma e três horas após o almoço eram mais sensíveis e específicas, constituindo um modo mais eficiente de prever o mau controle glicêmico, do que os níveis de glicemia antes do desjejum e antes do almoço. A hiperglicemia pós-prandial é um dos parâmetros mais subdiagnosticados e menos levada em consideração no seguimento e diagnóstico do Diabetes. Em média, as três refeições do dia, mantêm um estado pósprandial de 9h (dietas ricas em carboidratos) a 15 horas (dietas ricas em gorduras) por dia. Considerando-se que as glicemias sempre são maiores nas pós-prandiais, faz sentido dizer que o principal parâmetro na avaliação do Diabetes, sejam as determinações pós-prandiais e que estas sejam um melhor preditor do mau controle. 41 Hiperglicemia pós-prandial e o risco de doença cardiovascular Estudos epidemiológicos mostram um risco duas a quatro vezes maior de doença coronariana, acidente vascular cerebral e doença vascular periférica em diabéticos do que em normais [2]. Estudos reforçam o conceito de uma relação gradativa entre glicemia e eventos cardiovasculares, com níveis glicêmicos abaixo daqueles considerados como diagnóstico de diabetes (Fig. 3). Assim, a glicemia é um fator de risco cardiovascular contínuo, de forma semelhante ao que ocorre com o colesterol e pressão arterial sangüínea. Até 25% das pessoas sem diabetes diagnosticada têm glicemia de jejum e duas horas pós-prandial acima de 97,2 mg/dl e 122,4 mg/ dl respectivamente, enquanto que até 50% das pessoas com 65-74 anos de idade apresentam nível superior a 122,4 mg/dl de glicemia duas horas pós-prandial. Essas pessoas apresentam risco de DCV três a quatro vezes maior comparados a pessoas com glicemia normal. 4 Glicose plasmática No Diabetes Intervention Study (DIS) em análise de 635 homens e 504 mulheres com Diabetes Mellitus tipo 2 recém diagnosticados, sem DCV, controlados apenas com dieta, os triglicérides e a glicemia pós-prandial foram fatores de risco de IM, porém a glicemia de jejum não. A mortalidade total, também foi menor na população DIS do que na população geral, sendo menor para as mulheres do que para os homens, e aumentou significativamente quando o controle glicêmico piorou [3]. Glicemia como fator de risco DCV e microvascular 300 250 200 150 100 50 0 0 4 8 12 Glicemia real 16 20 24 28 Tempo (horas) 32 Determinação automonitorada 36 40 44 48 Hiper ou hipoglicemia R I S C O R E L AT I V O Glicose plasmática (mg/dl) Perfil da glicose de 48 horas Disglicemia Glic. jejum nl. Glic. PP alt Diabetes microvascular DVC Limite do Diabetes H.C. Gerstein Fig. 2 - Recentemente demonstrou-se que a monitorização após o almoço de glicemia e mais eficiente do que a de jejum, em predizer um bom ou mau controle glicêmico. Fig. 3 42 F. Fraige Filho / Diabetes Clínica 04 (2000) 40–49 Evidências têm se acumulado sugerindo que o estado de disglicemia - valores da glicemia pós-prandial alterados com glicemias de jejum normais, prévios ao diagnóstico de Diabetes - pode levar a macroangiopatias, mostrando que a avaliação das diferentes alterações metabólicas no estado de jejum é inadequada. Considerando que estudos têm demonstrado recentemente que .indivíduos com IFG (glicemia de jejum alterada: 110 a 125 mg/dl), constituem um grupo heterogêneo, com 43% tendo NGT (Tolerância à Glicose Normal), 39% com IGT (Tolerância à Glicose Diminuída) e 18% com Diabetes, recomenda-se revigorar o uso de GTTO (Teste de Tolerância à Glicose Oral), para diagnosticar a Diabetes, e tratá-la precocemente, evitando as complicações [4]. O “FUNAGATA DIABETES STUDY”, foi realizado com o objetivo de determinar se indivíduos com IFG seriam um risco para DCV (doença cardiovascular). A análise estatística dos dados de taxas de sobrevida cumulativa de DCV, concluiu que IGT foi um fator de risco para DCV significante, porém IFG não [5]. 5 não de colesterol total, e níveis mais elevados de jejum e pós-prandial de pró-insulina, insulina e peptídeos C que os pacientes com NGT. Este fato já de amplo conhecimento como sendo conseqüência da assim denominada “resistência periférica à ação da insulina”, cuja expressão biomolecular deva ser o reflexo da diminuição da interação da insulina e seus receptores e/ou sinal diminuído pós-receptores e conseqüentemente diminuição do principal efeito, diminuindo a ação dos transportadores de glicose GLUT 4. Esta hiperinsulinemia, para compensar a resistência periférica é que ao longo do tempo acaba levando à IGT e à DM T2. É também responsável pela hipertrigliceridemia, fração VLDL de síntese hepática, levando à deposição intra-abdominal de gordura, aumento do FFA (ácidos graxos livres) por diminuição de sua reestereficação, que são os precursores dos triglicérides hepáticos [4] (Fig. 4). Evidências clínicas sugerem que os níveis elevados de triglicérides no Diabetes estão associados a um aumento do risco de DC (doença coronariana), diretamente correlacionada com o número de partículas de lipoproteínas ricas em triglicérides, principalmente a IDL. A figura 5 abaixo descreve os conceitos até aqui emitidos. Hiperinsulinemia - Hipertrigliceridemia Arteriosclerose 6 Em estudos que analisam a passagem de indivíduos com NGT (Tolerância à Glicose Normal) para IGT (Tolerância à Glicose Alterada) e sua conversão em DM T2, foi constatado que os pacientes com IGT apresentavam níveis mais elevados de triglicérides de jejum, mas Pâncreas ? + + Hiperinsulinemia (Hiperamilinemia) Fígado Triglicérides VLDL Músculo ↑ Triglicérides e ácidos graxos ↓ Síntese da glicose ↓ Oxidação da glicose Tecido adiposo ↑ Deposição de gordura (precoce) ↓ Reesterificação de FFA (tardia) + ↑ FFA plasmáticos Trigliceridemia de jejum ou pós-prandial Seguindo o raciocínio de que é nos períodos pós-prandiais que se segue à absorção, transporte e metabolização dos nutrientes, e considerando que 99% das gorduras na natureza ocorrem sob a forma de triglicérides, deduzimos que a trigliceridemia de 12 horas de jejum não reflete o “turn-over” destes lipídios após a sua ingestão. A padronização existente hoje é para a trigliceridemia de 12 horas de jejum, por ser mais simples, porém como descrito anteriormente, permanecemos a maior parte do dia no estado pós-prandial, portanto as lipoproteínas ricas em triglicérides deveriam ser mensuradas no período pós-prandial. [6]. As evidências de que os resíduos das lipoproteínas ricas em triglicérides (IDL) seriam aterogênicas, foram confirmadas por Ryu e col. [5], que demonstrou a correlação entre hipertrigliceridemia e a DC e/ou com doença carotídea (Fig. 6). Resistência insulínica Intolerância à glicose Insuficiência de célula β + DMNID FFA - ácidos graxos livres; VLDL - lipoproteína com densidade muito baixa Fig. 4 7 Colesterol em Diabetes Os níveis de colesterol total nos diabéticos não diferem daqueles da população em geral. Entretanto, foi constatado que o aumento dos níveis da fração LDL colesterol aumenta o risco de DC, em indivíduos diabéticos ou não. F. Fraige Filho / Diabetes Clínica 04 (2000) 40–49 CORPO GORDO SUPERIOR DIETA GORDA CONSUMO DE ÁLCOOL ESTRESSE TABAGISMO INATIVIDADE FÍSICA 43 ANDROGÊNIOS ALTOS CORPO GORDO DHEA BAIXO CONTROLE ALTO SUSCETIBILIDADE GENÉTICA RESISTÊNSIA À INSULINA E HIPERINSULINEMIA SUSCETIBILIDADE GENÉTICA ÁCIDO ÚRICO ALTO HIPERTENSÃO INTOLERÂNCIA À GLICOSE DMNID ARTERIOSCLEROSE BAIXO HDL COLEST. LDL DENSO TG ALTO PAI-1 ALTO Fig. 5 Espessura máxima da íntima e da média (média, mm) A mortalidade por DC, porém, é cerca de 4 vezes maior nos indivíduos diabéticos, significando que deva haver outros fatores aumentando esse risco. Nos diabéticos, o LDL pode ser glicosilado não enzimaticamente praticamente, aumentando com a hiperglicemia e reduzindo a capacidade de interagir com o receptor LDL normal. Isso aumenta a proporção de LDL modificado nos macrófagos, aumentando assim a formação de células espumosas [7, 8]. No Diabetes, o LDL é oxidado além do normal, o que pode resultar em maior tempo de permanência na circulação, tornando-o mais aterogênico [9]. As partículas de LDL podem ser menores e mais densas (que são mais aterogênicas) ou maiores e menos densas [10]. Nos indivíduos com hipertrigliceridemia 1,75 1,25 r = 0,5202 0,75 0 200 400 600 800 Nível ajustado de pico dos triglicérides (mg dl ) (freqüente entre os diabéticos), o LDL é menor e mais denso que nos indivíduos com níveis normais de triglicérides, propiciando assim maior risco aterogênico. As recomendações para o tratamento das dislipidemias associadas ao Diabetes sugerem que a redução de lipídios plasmáticos pode reduzir a ocorrência de DC em diabéticos, como ficou demonstrado nos estudos: Helsinki Heart Study [11], do Scandinavian Simvastatin Survival Study [12] e no Care Study [13]. 8 Acarbose Acarbose é o primeiro dos inibidores das alfa-glicosidades, enzimas que são responsáveis pela absorção dos carboidratos, localizadas na borda em escova dos enterócitos do intestino delgado. Com sua estrutura tetrasacarídea, funciona como falso carboidrato, substituindo os substratos naturais das alfa-glicosidades, inibindo a atividade dessa enzima de modo: • potente: sua afinidade pelas alfa-glicosidades é 15.000 vezes superior à da sacarose. • competitivo: sua ligação no local de ação dá-se por competição com os carboidratos. • reversível: sua degradação total assegura a liberação nos locais das enzimas. 8.1 Características: -1 Apud Ryu e col. Fig. 6 A acarbose especificamente diminui os picos hiperglicêmicos pós-prandiais, interferindo na digestão e ab- 44 F. Fraige Filho / Diabetes Clínica 04 (2000) 40–49 sorção dos carboidratos da alimentação. Sua ação terapêutica atrasa e prolonga a absorção dos CHO e diminui as hiperglicemias pós prandiais. A acarbose é o único inibidor das glicosidades disponível para uso clínico nos EUA. Os dois outros membros desta classe: miglitol e voglibose têm sido estudados, mas ainda não estão disponíveis. A absorção de dextrinas, maltose, sacarose e amido é diminuído pela acarbose, mas não tem efeito na glicose e lactose. Tratamentos com acarbose tipicamente reduz a glicemia de jejum em 35-40 mg/dl e HbA1c de 0,4 a 0,7%, não é associada com ganho de peso ou hipoglicemia [14]. 8.2 Principais indicações Acarbose deve se indicada como: • Terapêutica primária em pacientes com hiperglicemia pós-prandial; • Terapêutica primária em hiperglicemias de jejum, moderadamente alteradas em DM T2; • Terapêutica combinada com sulfoniluréia, metformina e insulina em DM T2; • Terapêutica combinada com insulina em pacientes com DM T1, para diminuição dos picos hiperglicêmicos; • Terapêuticas em pacientes DM T2 obesos; • Terapêuticas em pacientes idosos, por não induzir hipoglicemias e especialmente aqueles para os quais estão contra-indicados a metformina e sulfoniluréia. 8.3 Estratégias terapêuticas 1. Comunicar previamente o paciente de possíveis efeitos colaterais: flatulência, distenção abdominal, diarréia. 2. Iniciar posologia de ½ comprimido de 50g por quatro semanas, aumentando progressivamente. 3. Insistir para continuação do tratamento, visto que os efeitos colaterais são transitórios a médio e longo prazo. 8.4 Contra-indicações • Gravidez – lactação. • Transtornos crônicos de digestão e de absorção intestinal. • Úlceras - patologias intestinais. 9 Acarbose, a cascata metabólica benéfica A acarbose desencadeia uma cascata de efeitos secundários benéficos nos pacientes com DM T 2. Assim como reduz os níveis pós-prandiais de glicemia, melhora a glicemia de jejum, face ao melhor controle glicêmico, e conseqüentemente a hemoglobina HbA1c. Melhora também a sensibilidade à insulina, a dislipidemia e diminui a insulinemia, elevando os níveis do enterormônio GLP1. A esta série de modificações benéficas, que certamente irão contribuir para o melhor controle glicêmico, e conseqüentemente melhor (B) (A) 400 100 ** 300 ** * IRI sérico (%) Glicose plasmática (%) ** ** 80 60 ** 40 ** 200 100 20 0 0 0 30 60 90 120 Tempo (min) 150 180 0 30 60 90 120 150 Tempo (min) Fig. 7 – Níveis de glicose plasmática (A) e IRI sérica (B) após refeição teste com e sem acarbose Os dados são apresentados ± S.E. (n = 20). *P > 0,01 vs. c/ acarbose. . 180 F. Fraige Filho / Diabetes Clínica 04 (2000) 40–49 (A) (B) 15 45 50 ** RLP - colesterol séricas (%) Triglicerideos séricos (%) 40 10 * 5 ** ** 0 -5 30 * 20 * 10 0 -10 -20 -30 -10 0 30 60 90 120 150 180 0 30 Fig. 8 – Níveis de glicose plasmática (A) e RLP- colesterol sérica (B) após refeição teste com Os dados são apresentados ± S.E. (n=20). *P>0,05 vs. c/ acarbose. 10 Efeito da acarbose no metabolismo pósprandial dos lipides no diabetes mellitus tipo 2 O efeito da acarbose na glicemia pós-prandial e no metabolismo dos lípides foi investigado em pacientes com DM T2. Uma refeição teste foi administrada com e sem 100mg de acarbose e investigados os níveis de glicemia, insulina imunoreativa sérica, triglicérides, apoproteínas RLP-colesterol (lipoproteínas remanescentes). A acarbose inibiu o aumento pós-prandial tanto da glicemia, como da insulinemia imunoreativa (Fig. 7). A acarbose também suprimiu significativamente o aumento das triglicérides aos 60, 90 e 120´, e do RLPcolesterol dos 60 e 120´ (Fig. 8). A acarbose também inibiu o declínio pós-prandial da apoliproteína C 11 e reduziu o de apoliproteína CIII sérica. Estes resultados concluem que a acarbose pode melhorar a hiperlipemia pós-prandial assim como a hiperglicemia pós-prandial, em pacientes com DM T2 [14]. 90 120 150 180 Tempo (min) Tempo (min) prognóstico, contribui para a diminuição do risco das alterações micro e macroangiopáticas. Ao aumentar os níveis de GLP 1, a acarbose provoca as ações atribuídas a este hormônio: 1. Redução dos níveis de glicagon; 2. Retardo do esvaziamento gástrico; 3. Aumento da saciedade; 4. Diminuição de ingestão calórica; 5. Diminuição dos níveis de insulinemias pós-prandiais. 60 e sem acarbose . 11 Acarbose: Monoterapia - comparação com metformina O estudo randomizado denominado ESSEN II comparou três grupos: placebo, acarbose e metformina, sendo o tratamento duplo-cego entre acarbose e placebo e simples-cego para a metformina [15]. Durante 24 semanas os pacientes tomaram um comprimido placebo, 100mg de acarbose três vezes ao dia, um comprimido 850mg de metformina duas vezes ao dia. Todos receberam dieta padronizada. Os resultados de glicemia de jejum e uma hora pósprandial são apresentados na Fig. 9, onde notamos acentuada redução após 24 semanas de tratamento com acarbose ou metformina, comparados com placebo, sem diferença entre acarbose e metformina. A fig. 10 apresenta os valores de HbA1c com redução significativa (p < 0,001) nos grupos tratados. Este estudo concluiu: • Redução da glicemia de jejum: acarbose 17% metformina 15,2%. • Redução dos níveis pós prandiais: glicemia e insulinemia. • Não ocorreram: aumento de peso, nem hipoglicemias nos grupos tratados. • Colesterol total e LDL - colesterol: inalterados com placebo e metformina. • Diminuiram 21,8% com acarbose. 48 F. Fraige Filho / Diabetes Clínica 04 (2000) 40–49 [mg/dl] [mM] Jejum 1 h pp Placebo Acarbose Metformina 210 200 % 11 190 180 9,5 10 9,0 HbA1c Glicemia 10,0 170 160 9 8,5 8,0 7,5 150 8 Placebo Acarbose Metformina 7,0 140 6,5 130 7 IC = intervalo de confiança;pp = pós-prandial 120 IC = intervalo de confiança 6,0 Dia 0 Dia 0 Semana 6 Semana 12 Semana 6 Semana 12 Semana 18 Resultado final Semana 18 Resultado final Fig. 9 - Glicemia de jejum e 1 hora pós-prandial após refeição de teste padronizada antes, durante e no final de 24 semanas de tratamento com placebo, acarbose ou metformina (médias cim 95% de IC) Fig.10 - Valores da HbA1c antes, durante e no final de 24 semanas de tratamento com placebo, acarbose ou metformina (médias com 95% de IC) HDL - colesterol: não se altera com metformina. Diminui 9,7% com placebo. Aumentou 16,2% com acarbose. 13 Conclusões: 12 Acarbose em DM T2 mostra melhora do controle glicemico acima de 31 anos - UKPDS United Kingdom Prospective Diabetes Study 44 Objetivo: Determinar o grau com os inibidores de alfaglicosidase redutores da hiperglicemia pós-prandial possam oferecer uma terapêutica para tratamento a longo prazo para DM T2. Foram estudados 1946 pacientes (63% homens) já previamente cadastrados no UKPDS. Os pacientes foram randomizados para acarbose (973 pessoas) com doses crescentes, até o máximo de 100 mg três vezes ao dia, e para placebos (973 pessoas) com exames a cada quatro meses durante três anos [16]. Média ± Desvio Padrão: idade: 59 ± 9 nos peso: 84 ± 17kg Duração do Diabetes: 7,6 ± 2,9 anos HbA1c: média 7,9% (07 - 9,5) Glicemia jejum: 156,6 mg/dl (122,4 – 199,8) 14% dos pacientes tratados com dieta 52% com monoterapia: sulfoniluréia, metformina, insulina 34% com terapia combinada: sulfoniluréia + metformina, sulfoniluréia + insulina 1. Este estudo mostra que a terapêutica com acarbose pode significantemente melhorar o controle glicêmico de pacientes com DM T2 por um período de três anos. 2. A redução de 0,5% na HbA1c, foi semelhante àquela nos pacientes recém diagnosticados com DM T2, e aleatoriamente alocados com monoterapia com sulfoniluréia, metformina ou insulina. 3. A redução da HbA1c foi obtida independente do tipo de terapia pré- existente, sugerindo que a acarbose pode ser utilizado para pacientes tratados com: só dieta, em combinação com sulfoniluréia, metformina ou insulina. 4. UKPDS demonstrou conclusivamente que o controle glicêmico é essencial para a redução dos riscos relacionados com as complicações do Diabetes. Considerando que o DM T2 é uma doença progressiva é inevitável que com o tempo, terapêuticas que têm ações complementares devam ser usadas em combinação. 14 O tratamento da glicemia pós-prandial O tratamento precoce da hiperglicemia pós-prandial no processo do DM T2 oferece maior oportunidade de se deter o desenvolvimento da doença visto que os picos pósprandiais de glicose podem lesar, mesmo a curto prazo, as células β do pâncreas devido à toxicidade da glicose. A prevenção destes picos, através de tratamento precoce com acarbose pode preservar a função das células β e possivelmente prevenir o desenvolvimento do Diabetes. F. Fraige Filho / Diabetes Clínica 04 (2000) 40–49 Assim está em desenvolvimento o STOP - NIDDM TRIAL (17), um estudo internacional de eficácia da acarbose em prevenir ou retardar o desenvolvimento do DM T2, em uma população com IGF (Tolerância à Glicose Alterada), de acordo com os critérios da O.M.S. e glicemias de jejum igual ou maior 100,8 mg/dl. Um total de 1418 indivíduos foram selecionados, com média de idade de 53,6 ± 8,4 anos, e IMC maior ou igual 27 kg/m² em média, em cerca de 73,3% dos indivíduos. Antecedentes familiares de Diabetes em 85,1%; 36,2% com hipertensão arterial e 35% com dislipidemia; das mulheres, 23,1% com antecedentes DM Gestacional. Todos foram randomizados, em estudo duplo cego, com acarbose 100mg (três vezes ao dia) ou placebos, tendo em média quatro anos de seguimento. O grupo já está no segundo ano, devendo terminar em 2001. Os resultados preliminares do primeiro ano mostram que apenas 5,8% dos 1418 com IGT desenvolveram Diabetes franco no primeiro ano de seguimento comparados com a taxa de progressão prevista de 10 a 12%/ ano para este grupo de risco. Retardando o aparecimento do Diabetes também se retardará o desenvolvimento das complicações do Diabetes. Outro estudo similar está em progressão no USA, que é o Diabetes Prevention Program D.P.P. Referências 1 2 Avignon et al. Diabetes Care, 1997, 20 (12):1822-6. Gerbstein HC.Diabet. Med, 14 (Suppl 3): S 25-531,1997. 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 49 Temelkona-Kurktschiev T. Diabet Med, 14 (Suppl 3): 56-511, 1997. Mac Garry JD. An Alternative Angle on Diabetes Science 1992; 258: 766 770. Ryu JE et al. Posprandial Triglyceridemia and Carotid Atherosclerosis in Middle-Aged Subjets. Stroke 1992; 23: 823-838. Steiner G. Diabetes And Atherosclerosis. A Lipoprotein Perspective Diabet, Med, 14 (Suppl 3): 538, 1997. Klein RH et al. Metabolism of VLDL and LDL from Normolipemic Type 2 DM, Diabetologia, 1990: 33: 299-305. Lyons T. Lipoprotein Glycation and its Metabolics Consequences, Diabetes 1992; 41 (Suppl 2): 67-73. Velasquez E. et al. Relation of Lipid Peroxides to Macro Vascular Disease in Type 2 Diabetes. Diabetic Med 1991, 8:752-758. Austin MA. et al. Charaterization of Low-Density Lipoprotein Subclasses: Methodologic Approaches and Clinical Relevance, Curr Opin Lipidol 1994; 5: 395-403. Koskinen P. et al. Coronary Heart Disease Incidence in NIDDM in the Helsinki Heart Study, Diabetes Care 1992,15: 820-825. Pyorala K. Steiner G. Will Correction of Dyslipoproteinemia Reduce Coronary Heart Disease Risk, in Patients With NIDDM? Need for Trial Evidence. Am Med 1996: 28:357-362. Golberg R. et al. Diabetic Response to Pravastatin During the Cary Study. Circulation 1996; 94 (Suppl 1), 540. Seijiro Kado et al. Efeito da Acarbose no Metabolismo PósPrandial dos Lipides no Diabetes Mellitus Tipo 2. Diabetes Clínica 1999,3:31-38. Mark NF, Mabethel. Oral Agent Therapy in the Treatment of Type 2 Diabetes. Diabetes Care, 1999, 22, Suppl 3. Hoffmann J, Spengler M. Am J Med, 103(6): 483-492, 1997. Rury R Holmal et al. Randomized Double-Blind Trial of Acarbose in Type 2 Diabetes Shows Improved Glycemic Control over 3 Years U.K. Prospective Diabetes Study 44. Diabetes Care, 22:960-964, 1999. Chiasson JL et al. The Stop-NIDDM Trial Study to Prevent Type 2 Diabetes. Abstract 494. 34th EASD Annual Meeting, Barcelona, Spain, 8-12 Sept 1998. IP “INFORMAÇÕES RESUMIDAS DO PRODUTO” AMARYL® (glimepirida). INDICAÇÕES: Diabetes mellitus não-insulinodependente (tipo II ou diabetes do adulto), quando os níveis de glicose não podem ser adequadamente controlados por meio de dieta alimentar, exercícios físicos e redução de peso. CONTRA-INDICAÇÕES: Diabetes mellitus insulino-dependente (tipo I ou diabetes juvenil), pré-coma ou coma diabético, cetoacidose diabética, hipersensibilidade à glimepirida ou a qualquer de seus componentes, outras sulfoniluréias ou derivados sulfonamídicos, insuficiência renal ou hepática grave; pacientes que precisam se submeter a diálise, gravidez e lactação. PRECAUÇÕES: Observar sinais clínicos da hiperglicemia: poliúria, polidipsia, secura da boca e pele ressecada. Recomenda-se controle periódico dos níveis de glicose no sangue e na urina. Os sintomas de hipoglicemia podem ser mais leves ou ausentes quando a hipoglicemia desenvolver-se de forma gradual, por exemplo, quando da idade avançada, quando houver uma neuropatia autonômica ou quando o paciente estiver recebendo tratamento simultâneo com beta-bloqueadores, clonidina, reserpina, guanetidina e outros fármacos simpaticolíticos. Está indicada a substituição temporária por insulina nos casos de estresse muito grande (por exemplo, trauma, cirurgia, infecções acompanhadas de febre). AMARYL® não substitui a dieta. INTERAÇÕES: Potencialização do efeito da diminuição do nível de açúcar no sangue, e conseqüente hipoglicemia, apresentado pela glimepirida, como, por exemplo, por insulina ou outro antidiabético (oral), inibidores da ECA, alopurinol, esteróides anabolizantes e hormônios masculinos, cloranfenicol, derivados cumarínicos, ciclofosfamidas, disopiramida, fenfluramina, feniramidol; fibratos, fluoxetina, guanetidina, ifosfamida, inibidores da MAO, miconazol, ácido paraminossalicílico, pentoxifilina, fenilbutazona e oxifenilbutazona, azapropazona, probenecida, quinolonas, salicilatos, sulfimpirazona, sulfonamidas, tetraciclinas, tritoqualina, trofosfamida. Atenuação do efeito hipoglicemiante da glimepirida, como, por exemplo, por acetazolamida, barbitúricos, corticosteróides, diazóxido, diuréticos, epinefrina (adrenalina) e outros agentes simpaticomiméticos, glucagon, laxantes (uso abusivo), ácido nicotínico (em doses elevadas), estrogênios e progestágenos, fenotiazínicos, fenitoína, rifampicina, hormônios da tireóide. Potencialização ou atenuação do efeito hipoglicemiante da glimepirida: antagonistas de receptores H2, clonidina, reserpina; ingestão de álcool. Diminuição da tolerância à glicose, piora do controle metabólico: betabloqueadores. Redução ou ausência de sinais de contra-regulação adrenérgica: fármacos simpaticolíticos (como betabloqueadores, clonidina, guanetidina, reserpina). A glimepirida pode tanto fortalecer como enfraquecer o efeito dos derivados cumarínicos. REAÇÕES ADVERSAS: Principais efeitos adversos: hipoglicemia (dor de cabeça, excesso de apetite, náusea, vômitos, fadiga, insônia, alteração do sono, inquietação, agressividade, falta de concentração, depressão, confusão mental, alterações da fala e da visão, afasia, tremor, paresias, distúrbios sensoriais, tontura, sensação de abandono, perda do próprio controle, delírio, convulsão, sonolência e alterações da percepção, podendo evoluir para coma) e outros sinais de contra-regulação adrenérgica (sudorese, pele úmida e fria, ansiedade, taquicardia, hipertensão, palpitação, angina do peito e arritmias cardíacas); alterações visuais temporárias; sintomas gastrintestinais (por exemplo, náuseas, vômitos, dor abdominal, diarréia); elevação dos níveis das enzimas hepáticas, comprometimento da função hepática (por exemplo, com colestase, icterícia), hepatite, insuficiência hepática; trombocitopenia, leucopenia, anemia hemolítica, eritrocitopenia, granulocitopenia, agranulocitose, pancitopenia, reações alérgicas ou pseudo-alérgicas (por exemplo, prurido, erupções, urticária), incluindo choque e vasculite alérgica; hipersensibilidade à luz; redução das concentrações séricas de sódio. POSOLOGIA: Em geral, é uma terapia de longa duração, que deve ser prescrita e monitorada por um médico. A posologia inicial usual é de 1 mg ao dia; a posologia de manutenção usual é de 1 mg a 4 mg ao dia; a dose máxima é de 8mg ao dia. Recomenda-se administrar imediatamente antes da primeira refeição substancial ou da primeira refeição principal. SUPERDOSAGEM: Ingerir açúcar de imediato, se possível na forma de glicose. A hospitalização pode vir a ser necessária em algumas ocasiões. Se o paciente estiver inconsciente é indicado uma injeção intravenosa de solução concentrada de glicose. Para adultos, pode-se considerar a administração de glucagon em doses de 0,5 a 1 mg por via intravenosa, subcutânea ou intramuscular. Em crianças e adolescentes, a dose de glicose deve ser administrada cuidadosamente. A ingestão excessiva de AMARYL requer medidas rápidas de desintoxicação (lavagem gástrica e carvão medicinal). APRESENTAÇÃO: Comprimidos sulcados de 1 , 2 e 4 mg. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Data de revisão: 08/02/2000. “Para maiores informações antes de sua prescrição, favor ler bula completa do produto.” Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 50–52 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Diabetes Mellitus – Prevalência e grupos de risco na população de servidores da Secretaria Especial de Editoração e Publicações do Senado Federal Maria Silva Sucupira, Ieda S. Souza, Deisimar M. S. Lima, José M. Kffuri, Júlio César B. Eubank, Marco Antônio P. Silva, Márcia A. Naya, Antonia P. Sampaio, Maria Everilda P. Souza, Maria do Socorro A. Silva Seção de Saúde e Medicina do Trabalho (SSMTr), SEEP, SF, Brasília-DF 1 Introdução O diabetes Mellitus, já descrito pelos Egípcios em 1500 A.C., é uma condição que se manifesta, a principio, com glicose elevada no sangue e urina doce (mellitus = mel). Hoje, sabe-se que existe uma deficiência relativa ou absoluta de insulina, levando a conseqüências agudas ou crônicas. Clinicamente, há dois tipos de Diabetes Mellitus: Tipo 1 – Principalmente em crianças e adolescentes, devido à deficiência absoluta de insulina; Tipo 2 – Do adulto, associado à hiperinsulinemia, em sua faz inicial, à obesidade e à resistência periférica à insulina. Estima-se que 5,6% da população brasileira seja diabética. A metade desconhece sua condição. Correspondência: Maria Silva Sucupira, médica endocrinologista e nuclear, Hospital Universitário de Brasília, Tel: (61) 244 3604, E-mail: [email protected] 2 Objetivo Sabe-se hoje que obesidade, sedentarismo e idade [1, 2, 5] são fatores de risco para o desenvolvimento do Diabetes Mellitus, cujas complicações, principalmente a longo prazo, incapacitam e interferem no desempenho profissional do seu portador ou portadora. Por esta razão, resolvemos investigar, na população de servidores da SEEPDF, aqueles em risco de desenvolveram esta condição clínica e ao mesmo tempo, identificar os já diabéticos. 3 Material e métodos – População estudada De agosto de 1998 a junho de 1999, desenvolveu-se na SEEP-SF, um programa de avaliação de saúde de seus servidores. Para tanto, aplicou-se dois questionários: um, organizado pela SSMtr-SEEP-SF, onde se avaliou peso, altura, patologias pessoais e familiares; o outro, “É possível você Ter Diabetes e não saber ?”do Programa Harvard, Joslin e SBD, que estabelece grupos de baixo risco (3 a 9 pontos) e grupos de alto risco (10 pontos) de desenvolver diabetes, atribuindo pontos a fatores de risco associados (genéticos ou ambientais). Para a identificação dos diabéticos, além da entrevista, realizamos a dosagem da glicemia capilar (glicosímetro Advantage Boehringer-Lilly) ou a glicemia em laboratórios de patologia clínica, com o método da glicose oxidase. 52 4 M.S. Sucupira et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 50–52 Resultados 400 dos 478 servidores entrevistados (idade 30-68 anos) forneceram informações adequadas para análise. Foram identificados 152 (38%) em alto risco; 149 servidores (37,52%) em baixo risco; 13 servidores (3,25%) com 0 a 3 pontos; e 86 servidores (21,5%) com 0 pontos (Fig 1 e 2). No grupo dos 28 diabéticos identificados (7,16%) (Fig 3 - Tabela 1), todos do tipo 2, 22 eram NID e 6, ID; 5 do sexo feminino (idade 39 a 60 anos) e 23 do sexo masculino (idade 38 a 62 anos). É importante salientar que uma servidora, em alto risco, em dezembro de 1998, desenvolveu diabetes em junho de 1999. mo [1]. Além disso, programas de rastreamento para DM2 podem reduzir as complicações microvasculares a longo prazo e resultar em melhoria na qualidade de vida da população [4]. 6 Concluiu-se que este método, por avaliar em conjunto vários fatores de risco, é prático e eficiente para identificar grupos em risco de desenvolver Diabetes Mellitus tipo 2, e que deveria ser mais difundido pelos programas educacionais desenvolvidos pela SBEM e SBD. 7 5 Discussão O diabetes Mellitus é um dos mais importantes problemas de saúde pública no Brasil, pelo grande número de pessoas afetadas, pelas complicações, incapacitações e mortes prematuras que causa, bem como pelos custos envolvidos no seu tratamento. Nos países da América Latina, a prevalência do DMNID varia entre 4 e 16% [3]. No Brasil a prevalência do Diabetes na população urbana de 30 a 69 anos é de 7,6% (em Brasília é de 5,2%), aumenta com a idade – 2,7% para o grupo etário de 30-39 anos até 17,4% para 0 grupo de 60 a 69 anos [1]. Na SEEP a prevalência encontrada foi de 7,16%. No Brasil, estima-se que existam 5 milhões de diabéticos, a metade dos quais desconhece a sua condição. O excesso de peso e o sedentarismo são amplamente reconhecidos, hoje, como fatores de risco para o desenvolvimento do Diabetes mellitus [2, 5]. O Ministério da Saúde estima que 50% dos casos novos de Diabetes poderiam ser prevenidos, evitando-se o excesso do peso; e outros 30%, com o combate ao sedentaris- Conclusões Proposta diante dos resultados obtidos Linhas de conduta específicas para cada caso estão sendo tomadas no sentido de conscientizar os diferentes grupos diante dos seus resultados, ai incluindo-se mudanças de estilo de vida – como exercitar-se e perder peso – e tratamento adequado e contínuo para os diabéticos. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Diabetes mellitus. Guia básico para diagnóstico e tratamento, 2o ed., Brasília, Ministério da Saúde, 1997. Diniz LM. Diabetes Mellitus do tipo 2: há algo de novo? Arq Bras Endocrinol Metab (42):72-75, 1998. Consenso sobre prevenção, controle e tratamento do Diabetes mellitus não insulino dependente, Associação latino-americana de Diabetes (ALAD), International Diabetes Federation (IDF), 1997. CDC Diabetes Cost Effectiveness Study Group. The CostEffectiveness of screening for type 2 diabetes. JAMA, 280:1757-1763, 1998. Estratégias terapêuticas na conduta para o DM tipo 2. Post graduate Medicine, ed. especial, fascículo 1, McGrawHill, pp. 1-14, 1997. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 53–60 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Proposta de atendimento ao portador de diabetes mellitus tipo 2 na rede básica de saúde do município de São Bernardo do Campo-SP Mariani S. Luksys*, Fernando R. Teixiera**, Inidi Maria Lisot***, Solange Madjarof**** *Coordenação do Programa de Saúde do Adulto e Idoso, ** Endocrinologista da PMSBC, *** Enfermeira da Coordenação do programa de Saúde do Adulto e Idoso, **** Enfermeira da Coordenação do programa de Saúde do Adulto e Idoso, mestranda em enfermagem na saúde do adulto pela UNIFESP–EPM. Resumo A proposta de atendimento ao portador de diabetes mellitus tipo 2 no município de São Bernardo do Campo tem como objetivo a melhoria da qualidade de vida destes pacientes através do bom controle glicêmico; prevenção, identificação precoce e tratamento das complicações agudas e crônicas; redução das internações hospitalares e da mortalidade. A implantação do Programa de Diabetes vem sendo realizada em trinta Unidades Básicas de Saúde, contando com equipe interdisciplinar (clínicos gerais, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e auxiliares de enfermagem), prontuário, ficha clínica, consulta de enfermagem com roteiro específico, ficha de exames complementares, planilha do programa, álbuns seriados para grupos educativos e caderno de automonitoramento. Os fundamentos deste trabalho estão no atendimento interprofissional, na padronização de ações desenvolvidas pela equipe, nas atividades educativas e no automonitoramento. As estratégias utilizadas para implantação e acompanhamento do programa incluem reuniões gerais, reuniões locais e treinamentos das equipes interprofissionais. Após doze meses desenvolvendo este trabalho conseguimos viabilizar o programas em doze Unidades Básicas de Saúde. Avaliamos ser uma proposta viável para uma rede básica de saúde ampla que tem um atendimento diversificado como São Bernardo do Campo e que poderá ser adaptada a serviços de saúde similares. Correspondência: Secretaria de Saúde do Município de São Bernardo do Campo, Coordenação do Programa da Saúde do Adulto, Rua Marechal Deodoro, 1737 09710-191 São Bernardo do Campo – SP, Tel: (11) 7677.1703, 4335.6982 ou 4335.6891 Ramal 219 Autor: Mariani Sanches Luksys, Tel: (11) 4330.5518, E-mail: [email protected] 54 1 M.S. Luksys et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 53–60 Introdução O município de São Bernardo do Campo localiza-se próximo à cidade de São Paulo, apresentando características semelhantes de urbanização, modernização e estilo de vida. A população de São Bernardo do Campo (segundo IBGE 1999) é de 723.132 habitantes. A prevalência de diabetes foi estimada em 9,7%, utilizando-se dados do estudo multicêntrico realizado na cidade de São Paulo. A estimativa do número provável de diabéticos tipo 2 é de 70.144 pessoas. O número provável de diabéticos atendidos pelas Unidades Básicas de Saúde de São Bernardo do Campo é de aproximadamente 5.000 pessoas. Rede básica de saúde de São Bernardo do Campo Unidades Básicas de Saúde ............................. 30 Clínicos gerais ................................................. 78 Enfermeiros ...................................................... 41 Assistentes sociais ........................................... 11 Psicólogos ........................................................ 15 Técnicos de enfermagem ................................. 16 Auxiliares de enfermagem .............................. 363 1.1 Objetivos gerais • Reduzir a mortalidade. • Melhorar a qualidade de vida. • Evitar as complicações agudas tais como: cetoacidose, coma hipoglicêmico, hiperosmolar e hipoglicemia. • Prevenção das complicações crônicas. • Aumento da detecção de novos casos. 1.2 Objetivos específicos • Priorizar o trabalho em equipe multiprofissional. • Capacitar continuadamente a equipe multiprofissional na atenção ao portador de diabetes mellitus. • Garantir o acesso aos recursos diagnósticos, educativos e terapêuticos necessários. • Viabilizar o autocontrole do diabetes. • Atingir o bom controle metabólico. • Promover modificações no estilo de vida. • Reduzir hospitalizações. • Prevenir o aparecimento do diabetes na população de risco. 2 Metodologia Estratégias de implantação do programa de diabetes mellitus em 30 Unidades Básicas de Saúde. • Curso de sensibilização e capacitação de equipes interdisciplinares. • Reuniões locais. - Discussão da viabilização do programa à nível local. - Sugestões e críticas. - Troca de experiências entre as várias equipes das Unidades Básicas de Saúde. • Elaboração das rotinas do programa de diabetes mediante o trabalho das equipes envolvidas. • Reuniões para reestruturação do programa de diabetes. • Reuniões locais. • Treinamento local das equipes interprofissionais. 3 Rotinas do programa de diabetes mellitus 3.1 Consultas médicas e de enfermagem: • Paciente instável: agendamento a critério médico • Paciente estável: consultas médicas e de enfermagem alternadas com retorno a cada 45 ou 60 dias, conforme a demanda e a disponibilidade destes profissionais 3.2 Consulta médica: • • • • • Inscrição no programa de diabetes mellitus. História detalhada. Exame físico. Exame do pé. Exames laboratoriais - rotina - situações especiais. • ECG. • Fundoscopia. 3.3 • • • • • • • Consulta de enfermagem: Identificação. Histórico de enfermagem. Exame físico geral. Exame dos membros inferiores (planilhas). Complicações do diabetes mellitus. Diagnóstico de enfermagem. Plano de cuidados. 56 4 M.S. Luksys et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 53–60 Fluxo de decisão Terapêutica Valor da glicemia no diagnóstico Estágios de terapêutica glicemia de jejum < 200 mg/dl glicemia ao acaso < 250 mg/dl 1- Estágio de orientação alimentar e exercícios Durante 2 meses o paciente deve seguir a dieta, procurando atingir os objetivos de curto prazo. Avalie se as metas estão sendo alcançadas. Caso contrário, inicie, no máximo em 6 meses, hipoglicemiante oral. glicemia jejum > 201 e < 250 mg/dl glicemia ao acaso > 251 e < 300 mg/dl OBESO 2- Estágio metformina O–M–M–O • 2 A - 500 mg • 2 B - 1000 mg • 2 C - 1700 mg Se as metas, após 4 semanas com a dose máxima não forem alcançadas, iniciar terapia combinada glicemia jejum > 201 e < 350 mg/dl glicemia ao acaso > 251 e < 400 mg/dl NÃO OBESO 3- Estágio sulfoniluréia S–O–S–O • 3A CLOR 125 mg GP 2,5 - 5,0 mg GB 2,5 - 5,0 mg • 3B CLOR 250 mg GP 10 mg GB 10 mg • 3C CLOR 375 mg GP 15 mg GB 15 mg • 3D CLOR 500 mg GP 20 mg GB 20 mg Se as metas, após 4 semanas com a dose máxima não forem alcançadas, iniciar terapia combinada glicemia jejum > 350 mg/dl glicemia ao acaso > 400 mg/dl 4- Estágio terapia combinada S – M – M/S – O Se as metas, após 4 semanas com a dose máxima, não forem alcançadas iniciar terapia combinada com insulina 5- Estágio terapia combinada com insulina Metas: Glicosúrias: 75 % ou mais devem ser negativas. Glicemias: mais de 50 % devem ter: 80 –120 mg/dl antes das refeições. < 180 mg/dl pós-prandial. HbA1c: no máximo 1,5 % acima do limite normal. M.S. Luksys et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 53–60 57 4 - Estágio Terapia Combinada S - M - M/S - O 7 - Estágio Insulina Metformina (OBESO) 6 - Estágio Insulina (NÃO OBESO) S-O-S-N N/S-O-S-O (N-4 A 20 UI) 5 - Estágio Terapia Combinada com Insulina (OBESO E NÃO OBESO) S-M-M/S-N N/S-M-M/S-N (N-4 a 20 UI) (M-500 a 1700) N-O-O-N (2/3 - 2/3) (N-70 a 100 UI) O-M-M-N (N 4 a 20 UI) N-M-M-O (N 4 a 20 UI) N-M-M-N (N 70 a 100 UI) (M-500 a 1700) 8 - Estágio Insulina N + R* OBS.: * Estágio 7 - biguanida + insulina (associação raramente usada e/ou menos estudada). * Atenção para as contra-indicações da metformina. A partir do estágio 8, os pacientes, a critério médico, poderão ser encaminhados ao nível secundário (endocrinologia). medicações horários 0 = nenhuma N = insulina NPH S = sulfoniluréia M = metformina R = insulina regular J = jejum AA = antes do almoço AJ = antes do jantar N = antes de deitar exemplos J S sulfa AA AJ 0 0 nenhum nenhum sulfoniluréia (abreviaturas) N N NPH CLOR = clorpropamida GB = glibenclamida GP = glipizida M = metformina 58 Planilha do Programa de Diabetes Secretaria de Saúde do Munícipio de São Bernardo do Campo Programa de Diabetes UBS: Dia Médico: Matrícula Caso Recém Diagnosticado Terapêutica Mês: Dieta Hipogl. Metfor- Insulina Orais mina *Complicações: 1-Retinopatia 2-Nefropatia 3-Neuropatia Periférica 6-Complicações 7-Coronariopatia 8-D. Cerebrovascular ** Identificar o número correspondente a complicação que está sendo investigada. Portador Has Complicações Crônicas* 1 2 3 4 5 6 7 8 M.S. Luksys et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 53–60 Valor da Última Glicemia de Jejum / 9** 4-Neuropatia Autonômica 5-D. Vascular Periférica 9-Em Investigação 60 5 M.S. Luksys et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 53–60 Programa Educativo 5.1 Grupos educativos mensais - MDM Equipe multiprofissional: Médico; Psicólogo; Assistente Social; Enfermeiro e Auxiliar de Enfermagem. Reunião I • Que é diabetes ? – Sinais e sintomas – Tipos e objetivos do tratamento • Tratamento de diabetes – Alimentação – Medicação – Exercícios Reunião II • Complicações agudas • Complicações crônicas • Cuidadosc om o corpo • Automonitoramento 5- Exercícios 6- Metas A- Glicosúrias B- Peso C- IMC D- Hemoglobina glicosilada E- Glicemias de jejum F- Pressão arterial G- Glicemia capilar 7- Educação em diabetes 7 Conclusão A proposta de atendimento ao portador de diabetes mellitus tipo 2, vem sendo desenvolvida em 12 unidades básicas de saúde. Avaliamos ser uma proposta viável para uma rede básica de saúde ampla e que possua atendimento diversificado como a de São Bernardo do Campo. Referências 5.2 Grupo educativos semanais - SDM Equipe Interprofissional (exceto o médico) Tema 1 – Tema 2 – Tema 3 – Tema 4 – Tema 5 – Tema 6 – Tema 7 – Tema 8 – 6 Grupo de reflexão (psicóloga) O que é Diabetes? Alimentação 1 Alimentação 2 Dinâmica de grupo Exercícios Medicamentos Complicações agudas (hiper e hipo) Complicações crônicas Cuidados com o corpo Automonitoramento e metas Caderno de automonitoramento Índice 1- Identificação 2- Medicamentos 3- Hipoglicemias 4- Hiperglicemias 1 Associação Latino Americana de Diabetes. Consenso sobre prevenção, controle e tratamento do Diabetes. 2 Brunner LS & Suddarth DS. Enfermagem MédicoCirúrgico. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan, 7º edição 1994, vol. 1, 19-34, vol. 3, 899-901. 3 Costa AA & Almeida Neto JS. Manual de Diabetes, 1998. 4 Greenspan FS & Strewler GJ. Basic & Clinical Endocrinology, 1997. 5 Hendrikx HM. Uma sugestão de consulta de enfermagem – Diabetes Mellitus. São Paulo, Centro B-D de Educação em Diabetes, 19 pag. 6 Horta WA. Processo de Enfermagem – São Paulo, EDUSP, 1979, 37-74. 7 International Diabetes Center E Grupo De Especialistas Brasileiros. Atenção Programada ao Diabético – SDM, 1995. 8 Lerário AC. Nova classificação e critérios para o diagnóstico de Diabetes Mellitus. 9 Ministério da Saúde, Manual de Diabetes, 1993 10 Ministério da Saúde E Sociedade Brasileira De Diabetes, Guia básico para o diagnóstico e tratamento do Diabetes Mellitus, 1996. 11 Programa Havard Joslin – SBD. Aspectos fundamentais do diagnóstico e tratamento do Diabetes Mellitus, 1996. 12 SÁ JR et al. Atualização em Diabetes Mellitus. São Paulo, Centro de Diabetes, 1997, 48 pág. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 62–68 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas Anomalias sistêmicas e bucais em pacientes com diabetes mellitus: revisão e relato de caso clínico Ana Miriam Gebara Carboni*, Luís Antônio Cherubini Carvalho**, Walmyr R. de Mello**, Maria H. C. G. Magalhães*** * Mestranda em Patologia Bucal FOUSP, cirurgiã-dentista da ANAD e CAPE da FOUSP. ** Cirurgião-dentista do CAPE - Centro de Atendimento a Pacientes Especiais da FOUSP. *** Profª. Drª. da Disciplina de Patologia Bucal da FOUSP e Vice-Coordenadora do CAPE. RESUMO O objetivo deste trabalho é apresentar aos médicos e cirurgiões-dentistas as principais alterações sistêmicas e bucais em pacientes portadores de Diabetes Mellitus. Será relatado um caso de periodontite em paciente diabético tipo 2, bem como seu manejo clínico. Palavras-chave: Diabetes Mellitus, Doença Periodontal e Xerostomia 1 Introdução O Diabetes Mellitus, doença crônica conhecida pelos egípcios há mais de 3.500 anos é caracterizada pelos transtornos do metabolismo intermediário, decorrente da insuficiente secreção ou ação da insulina. Apesar de conhecido desde a antigüidade, ainda existe certa dificuldade para se estabelecer critérios precisos e adequados para sua classificação e diagnóstico, uma vez que, os mecanismos etiopatogênicos da doença permanecem não perfeitamente conhecidos. Existem algumas situações que, por atuarem de alguma forma na produção ou na ação da insulina, favorecem, naqueles já predispostos, o aparecimento de diabetes. Entre elas destacam-se: obesidade, infecções, graCorrespondência: Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia CAPE - Centro de Atendimento à Pacientes Especiais, Av. Prof. Lineu Prestes, 2227 - Cidade Universitária, CEP.: 05508-900 Caixa Postal 8216 - São Paulo - SP videz, cirurgias, traumas emocionais, estresse, envelhecimento e uso de medicamentos diabetogênicos em doses altas e por tempo prolongado, como cortisona e derivados, alguns diuréticos, alguns beta-bloqueadores (Inderal, Propranolol, etc), estrógenos (componentes de pílulas anticoncepcionais, etc) [4, 12]. Com relação ao diagnóstico da doença, a Organização Mundial de Saúde revisou recentemente os critérios para diagnóstico, definindo que indivíduos que apresentem glicemia em jejum entre 110 e 126 mg/dl devem ser submetidos ao teste oral de tolerância à glicose, para confirmação do diagnóstico. Caso a alteração seja confirmada, o indivíduo é considerado portador de tolerância diminuída à glicose, com risco de evoluir para o diabetes. Atualmente o diagnóstico é confirmado quando a glicemia em jejum for maior ou igual a 126 mg/dl [3, 16, 22]. Tal critério adotado favorece o aparecimento de um número maior de pacientes diagnosticados, porém esta medida se justifica pelo fato de tais indivíduos já apresentarem risco de desenvolver complicações do diabe- A.M.G. Carboni et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 62–68 tes. Além disso, a importância de um diagnóstico precoce também se justifica pelo impacto epidemiológico que prevê para o ano 2025 cerca de 300 milhões de portadores desta doença crônica no mundo [6]. Atualmente existem 140 milhões de diabéticos no mundo [7]. Para confirmar definitivamente a importância do adequado controle do diabetes, em 1993, o Diabetes Control Complications Trial Group (DCCT) divulgou os resultados de uma pesquisa desenvolvida durante 10 anos, a qual envolvia a investigação sobre o controle e complicações do diabetes. O DCCT traz de forma clara e importante, para diabéticos tipo 1, que a manutenção dos níveis glicêmicos dentro dos valores normais diminuem consideravelmente ou até mesmo previnem a maioria das complicações decorrentes desta patologia. Os indivíduos diabéticos tipo 2 constituem um desafio ainda maior para a comunidade médica, pois compreendem 90% de todos os casos de diabetes e desenvolvem cerca de 60% de todas as complicações diabéticas [16]. 2 Classificação A mais recente classificação adotada pela Associação Americana de Diabetes em conjunto com o National Institute of Health (1997; 3, 16) define que o Diabetes tipo 1, também chamado diabetes infanto-juvenil, instável ou insulino dependente (IDDM- sigla americana), caracteriza-se pela destruição das células β do pâncreas, usualmente levando a absoluta deficiência de insulina pancreática e ocorrendo mais freqüentemente em crianças, adolescentes e adultos jovens, sendo que apenas 8% dos diabéticos recém-diagnosticados encontram-se entre 30 e 74 anos (início tardio de diabetes tipo 1 ou diabetes tipo 1 do adulto) (4). O Diabetes tipo 2, também chamado diabetes do adulto ou da maturidade, estável ou não insulino-dependente (NIDDM- sigla americana) é definido para indivíduos adultos e particularmente nos obesos, uma vez que a obesidade confere resistência à ação periférica da insulina [10, 19]. Além dos subtipos obeso e não obeso, existe outro pouco freqüente, denominado Tipo MODY (“Maturity Onset Diabetes of the Young”), que aparece em jovens antes dos 25 anos e tratável sem insulina por um período mínimo de 5 anos, os quais apresentam uma resistência à insulina, usualmente têm uma deficiência parcial da secreção de insulina [4, 12]. Além do diabetes tipo 1 e 2, existe também a chamada intolerância oral à glicose, na qual a glicemia em jejum é normal, ocorrendo quando os valores glicêmicos atingem entre 140 a 200mg/dl duas horas após a ingestão de 75g de glicose; evoluem para diabetes clíni- 63 co 1 a 5 % por ano. Neste grupo existe uma maior prevalência de doenças cardiovasculares e de diabetes gestacional [4]. Estes tipos de diabetes são os que ocorrem com maior freqüência , mas existem outros como: • Diabetes secundário ao aumento de função de glândulas endócrinas; • Diabetes secundário a doença pancreática; ·• Resistência congênita ou adquirida à insulina; • Diabetes associado a poliendocrinopatias auto-imunes; • Diabetes associado a desnutrição; • Diabetes relacionados a insulinopatias. 3 Diabetes e infecção No decurso do diabetes ocorre diminuição da quimiotaxia e da fagocitose a cargo dos neutrófilos e redução da imunidade celular, esta última relacionada aos linfócitos T e sua atividade e também aos macrófagos. Nestes pacientes, os neutrófilos atuam diferentemente do que ocorre em indivíduos normais e quando da descompensação atuam ainda de forma mais prejudicada [16, 17]. A vascularização sofre alterações prejudiciais, com obstruções arteriais, inclusive de pequenos ramos. Podem aparecer úlceras na pele, nas quais poderão ocorrer contaminações e infecções. Neuropatia por vezes faz parte do diabetes de longa duração, ocorrendo com isto problemas de diferentes ordens. Logo, podemos observar que infecção e descompensação andam juntas, exercendo prejuízos recíprocos. É necessário combatê-las conjuntamente a fim de que a infecção não gere uma descompensação e vice-versa [1, 17]. 4 Diabetes e periodonto Pacientes descompensados, ou seja, com glicemias e hemoglobinas glicosiladas altas, podem apresentar uma diminuição da salivação (xerostomia), que associada a microangiopatia e à diminuição da capacidade de defesa às infecções, irão ocasionar o aparecimento de gengivites, periodontites e maior possibilidade ao surgimento de cáries, principalmente quando associado a higiene oral inadequada ou ausente. Muitas complicações do Diabetes Mellitus estão relacionadas a essas microangiopatias. Com esta conseqüente baixa de perfusão tecidual tem-se a isquemia que predispõe o paciente à infecções, como por exemplo a gangrena [4, 17]. 64 A.M.G. Carboni et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 62–68 Quando da degeneração óssea pronunciada, os dentes podem se deslocar de sua posição. Embora haja destruição progressiva do osso alveolar, a gengiva pode permanecer ao nível do colo dental, porém com alterações, tornando-se inflamada, mole, esponjosa e com facilidade ao sangramento. Quanto mais intensa a inflamação, maior a tendência à formação de tártaro, o qual predispõe a infecções posteriores [4, 10]. Clinicamente, o quadro da doença periodontal é crítico no diabético, não raro com formação de múltiplos microabcessos, sobretudo gengivais. A resistência diminuída aos processos infecciosos faz com que a destruição dos tecidos periodontais no diabético seja mais rápida, a menos que o paciente esteja sob rigorosa assistência médica. Por essa razão a higiene bucal deve ser mais meticulosa no diabético do que no paciente normal [18]. O tratamento periodontal do paciente diabético não deve ser necessariamente diferente do tratamento de outros pacientes, desde que este colabore efetivamente, mantendo uma higiene bucal adequada. Há que se preparar o paciente com raspagens supra-gengivais e contenções dentais até que ele seja liberado para outros procedimentos. Quando o tratamento periodontal envolver conduta cirúrgica, o profissional deve informar-se das reais condições do paciente, diretamente com o seu médico endocrinologista. Não estando controlado o diabete, a realização de procedimentos cirúrgicos estará contra-indicada. Entretanto, quando compensado, o diabético poderá ser submetido a cirurgia, desde que sob cobertura antibiótica pré, trans- e pós-operatória. Logo, o momento e os cuidados são decisões do cirurgião-dentista e do endocrinologista. A cicatrização após a cirurgia poderá ficar retardada havendo probabilidade de infecção secundária; grandes cirurgias sempre constituem um risco para os pacientes diabéticos [17]. O cirurgião-dentista deve estar consciente e acompanhar o pós-operatório. Nas cirurgias orais menores e periodontais recomenda-se a utilização de anestésico se adrenalina, visto que este tem a capacidade de aumentar o teor sangüíneo de glicose [18]. 5 A prevalência estimada do IDDM varia notadamente segundo países e grupos étnicos, o que permite traçar um perfil por áreas e raças de alta, média e baixa prevalência. Através de um projeto de pesquisa internacional, denominado como DIAMOND, coordenado pela Organização Mundial de Saúde, pôde-se observar a incidência desta doença crônica em vários países [8]. No Brasil, como parte deste projeto, a incidência do IDDM foi avaliada em três cidade no Estado de São Paulo (Bauru, Botucatu, Rio Claro), revelando que a incidência anual em crianças de 0 a 14 anos de idade é de 7,6/100.000 habitantes [8], valores bem próximos daqueles encontrados na Itália, França, Polônia e Canadá [8, 14, 20]. Com relação ao diabetes tipo 2, um estudo multicêntrico realizado em nove capitais brasileiras (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife, João Pessoa, Fortaleza, Belém), em indivíduos com faixa etária entre 30 a 69 anos, permitiu avaliar a prevalência desta doença em nosso país. A prevalência do Diabetes Mellitus na população brasileira urbana é de 7,6%, e em São Paulo 9,6%; onde 46,5% dos casos confirmados eram previamente desconhecidos. Dos casos previamente conhecidos, 22,3% não realizavam qualquer tipo de tratamento [8]. Esta ordenação dos países para incidência alta, intermediária e baixa de IDDM, sugere o importante papel exercido pelo componente genético, em cada população [20], em determinar a susceptibilidade a esta síndrome. Fator este citado também por Elias [5], como sendo o fator mais importante, juntamente com os fatores ambientais como a obesidade (o risco de ser diabético dobra para cada 20% de excesso de peso), os maiores causadores do Diabetes Mellitus. Tem-se também como predisposição ao diabetes fatores familiares, estresse e hipertensão arterial. Apesar de ainda não concluídas, estas investigações reforçam esta doença crônica como causa de importante impacto de mortalidade no Brasil. Este mesmo estudo mostrou que entre os portadores da doença, independente da causa de morte, havia uma freqüência de 54,5% de hipertensão arterial [10], 49,8% doença isquêmica do coração e 33% de doenças vasculares cerebrais [21]. Prevalência Sabe-se que a distribuição da prevalência em diabetes tipo 1 é notoriamente inferior a do tipo 2 em qualquer parte do mundo (5% a 10%) e (90% a 95%) respectivamente. Por outro lado, a morbidade e a mortalidade condicionadas pelas complicações agudas e crônicas desta síndrome, conferem-lhe importante destaque como problema de saúde pública. 6 Prevenção Desde a descoberta da insulina, contribuições decisivas vem ocorrendo para elucidação dos mecanismos desta patologia, tais como o aprimoramento de métodos de dosagem hormonal, a caracterização dos receptores teciduais insulínicos, a aplicação da biologia molecular, A.M.G. Carboni et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 62–68 complementados pela valorização da importância da educação em diabetes. Nos últimos anos, a educação vem sendo valorizada e considerada como parte preponderante do tratamento do diabetes mellitus. O processo educativo deve motivar a aquisição de conhecimentos, desenvolver habilidades, mudança de hábitos com a finalidade de uma melhor qualidade de vida. É importante ressaltar que o processo educativo é extremamente complexo pois trabalha-se não só com uma doença crônica com complicações letais, mas também com indivíduos que passam por fases de negação, depressão, revolta, barganha, com intuito de encontrar o equilíbrio; além de profissionais muitas vezes sem preparo para lidar com educação e principalmente com as necessidades psicológicas do indivíduo. A diferenciação metodológica do processo educativo tem evoluído fazendo com que o profissional torne-se o elo entre a doença e o paciente, através da empatia, fazendo com que este aceite o tratamento, contribuindo assim para o seu controle glicêmico [10]. Vários estudos desenvolvidos no Brasil tem comprovado que, para ser eficaz, o processo educativo deve ser voltado também para a família, amigos, profissionais de saúde, associações, enfim para a sociedade em geral. Sabe-se que a educação é um processo de envolvimento tanto do profissional quanto do paciente, evidenciando a eficácia desse trabalho na melhora não só do controle metabólico, mas na independência do tratamento, no sentido de prevenir o aparecimento de complicações. A educação do paciente se torna um fator primordial no que diz respeito a fisiopatologia da síndrome, onde os cuidados rotineiros e as complicações potenciais de sua doença devem ser esclarecidos para manter este paciente com um padrão de vida saudável e livre de hospitalização, evitando assim as complicações tardias [5]. 7 Relato do caso clínico Paciente C.L., 65 anos e 9 meses de idade, morador na cidade de São Paulo, SP, sexo masculino, raça branca, casado, nascido na Itália, feirante, foi encaminhado ao CAPE - Centro de Atendimento a Pacientes Especiais da FOUSP pela médica do Hospital Universitário com o objetivo de avaliação e tratamento odontológico. Na anamnese verificou-se que o paciente possuía história médica de diabetes (tipo 2) há 14 anos, que só fora observado quando o mesmo passou a relatar parcial perda de visão, xerostomia, sudorese, poliúria e astenia. Constada glicemia de 601 mg/dl, foi prescrito insulina NPH numa posologia de 40 unidades, uma vez ao dia. 65 Quando o paciente apresentou-se para tratamento no CAPE-USP, apresentava glicemia de 170 mg/dl e fazendo uso de 25 unidades de insulina NPH ao dia, pela manhã. Também fora-lhe prescrito Dimefor, Dulcolax e Lasix. Relatou ter sofrido A.V.C. há menos de 4 anos com comprometimento dos membros superiores e inferiores do lado direito. Referiu ser hipertenso e que sua mãe também era diabética. Ao exame físico extra bucal, verificou-se que o paciente apresentava rosto e lábios pálidos, ausência de linfonodos palpáveis e limitação dos movimentos nos membros superiores e inferiores direito. Ao exame clínico bucal observou-se problemas periodontais avançados com mobilidade dos elementos 24, 28, 32, 33 e 37, presença de bolsas periodontais, hálito cetônico, inflamação gengival generalizada e xerostomia (2,2 ml/5 minuto e glicemia de 193 mg/dl ). Frente a severidade do quadro periodontal, com necessidade de exodontia do dente 37 e presença de sinais importantes de descompensação metabólica como a xerostomia e o hálito cetônico, foi solicitada avaliação do endocrinologista e observação da glicemia e controle metabólico. Verificou-se então que o paciente estava com glicemia de 289 mg/dl, retinopatia e nefropatia com insuficiência renal leve. Para o controle da glicemia foi prescrito pelo médico uma dieta adequada e uma fórmula farmacêutica para controle metabólico, incluindo tranqüilizante, composta por lisinopril 25 mg, amlodipina 05 mg, furosemida 30 mg, C. Sagrada 160 mg, na posologia de 01 cápsula ao dia. Foram incluídos também A.A.S 200 mg e benzafibrato 400 mg, na posologia de 01 cápsula ao dia, após o jantar. Foram iniciados os procedimentos periodontais básicos, constituídos por raspagem e curetagem gengivais, irrigação com iodeto de sódio a 2% e água oxigenada a 10 vol. (1:1), com o objetivo de reduzir a dor e a infecção. Prescreveu-se bochechos três vezes ao dia, após escovação, de gluconato de clorexidina a 0,12% e orientação sobre higiene oral. Devido a persistência da alta taxa de glicemia, foi decidido que a cirurgia seria suspensa e que a variação glicêmica seria acompanhada continuamente. Foi solicitado ao paciente que suspendesse três dias antes da cirurgia a medicação que continha o A.A.S., tornando a tomá-lo dois dias após o procedimento ter sido realizado. Prescreveu-se Cefalexina 500mg de 06 em 06 horas durante 07 dias, com início 01 dia antes da data da exodontia. Foi solicitado ao paciente que trouxesse a mensuração da taxa de glicemia do dia. Apresentando glicemia de 195 mg/dl, bom aspecto físico e emocional, mediante o consentimento médico e medicação adequada foi realizada a exodontia do 37. 66 A.M.G. Carboni et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 62–68 Foi prescrito Tylenol 750 mg em caso de sintomatologia dolorosa. O paciente retornou após uma semana para a remoção de sutura. Este relatou ausência de dor e sangramento. Foi observada boa cicatrização. Solicitouse então nova glicemia. Após 15 dias, o paciente retornou para reavaliação onde foi notada que a cicatrização transcorrera normalmente e que sua glicemia era de 125 mg/dl. Esta diminuição da taxa de glicemia já era esperada, uma vez que foram removido focos infecciosos orais. Diabetes e xerostomia As manifestações orais mais comuns do Diabetes Mellitus são o aumento da prevalência e a severidade da doença periodontal e a xerostomia. Apesar de ter-se acreditado que a diurese osmótica (poliúria) era a causadora da xerostomia, há um aumento significativo na evidência que o Diabetes Mellitus pode afetar diretamente a integridade funcional e estrutural das glândulas salivares. Sabe-se que sem uma salivação adequada, os tecidos bucais podem apresentar sérios danos, além de aumentar a susceptibilidade à cáries, doença periodontal e mucosites [23]. A taxa de salivação humana diária é de aproximadamente 800 a 1500 ml, sendo que 90% deste total vem das glândulas parótidas, glândulas submandibular e sublinguais [23]. A xerostomia é definida como uma sensação subjetiva de secura bucal. Pode ser causada, eventualmente, por hipofunção de glândulas salivares. Independente da causa, a xerostomia é dolorosa e pode ocasionar complicações dentais. Estes problemas causados pela xerostomia pode piorar se o paciente não tiver boa higiene oral. É muito comum o paciente diabético apresentar xerostomia. Segundo um estudo feito por Ben-Anyet et al [2] relacionado a função salivar em pacientes diabéticos insulino-dependentes, 30 % apresentou xerostomia, enquanto 70% reportou já ter tido xerostomia ou sensação de boca seca. Estes pacientes só utilizavam como medicação a insulina e não reportavam nenhuma outra doença. Muitos estudos sobre a xerostomia nestes pacientes citam que há uma diminuição do fluxo salivar e que este decréscimo está ligado diretamente com a idade do paciente, duração da doença, grau de controle do diabete, tipo de terapia, presença ou não de com- O paciente foi encaminhado para o endocrinologista para rever a dosagem da medicação, pois este poderia começar a apresentar hipoglicemia. 8 Discussão Atualmente, a periodontite classifica-se como a 6ª manifestação crônica mais freqüente do Diabetes Mellitus [5, 13]. plicações no paciente portador do Diabetes Mellitus. O aumento de tamanho das glândulas parótidas nestes pacientes é um indicador precoce que o diabetes está afetando diretamente as funções destas glândulas. A razão do aumento destas glândulas não está elucidado. Histologicamente, as células das glândulas parótidas destes pacientes mostraram uma infiltração de gordura no interstício, com uma diminuição do número de estruturas acinares [23]. Na microscopia eletrônica, Donath and Seiter [6] acharam que a dor nas glândulas parótidas estavam associadas com um aumento das células acinares. Não se tem evidência que a insulina tenha alguma ação direta com alteração das glândulas salivares (crescimento e manutenção). Existem estudos em ratos onde se conclui que a insulina pode afetar a função das células acinares [23] Em relação a alteração da composição da saliva, tem-se que há algumas modificações no nível de certos fatores antimicrobianos como a lactoferrina, lizozima e lactoperoxidase, o que pode ser causa do aumento da susceptibilidade das infecções orais [23. Quanto a patogenia da xerostomia, esta ainda é desconhecida, mas a neuropatia e a angiopatia presentes nas complicações degenerativas do Diabetes Mellitus podem contribuir efetivamente com estas alterações salivares. De qualquer maneira esta manifestação oral serve para que, clinicamente, se perceba que o paciente não está compensado, encaminhando-o assim para controle. Discussão O crescimento da prevalência da glossite exfoliativa leve tem sido associada com a IDDM. Xerostomia, com sintoma de ressecamento da mucosa oral tem sido relatado como queixa de 1/3 dos paciente diabéticos. Infelizmente, estudos feitos para confirmar uma atual redução na taxa de fluxo salivar em pacientes diabéticos tem causado resultados conflitantes [17]. A.M.G. Carboni et al. / Diabetes Clínica 04 (2000) 62–68 No atendimento ao paciente diabético têm-se que optar por uma equipe multidisciplinar, a qual deve estar mobilizada, visto a complexidade do seu tratamento [5]. Além do endocrinologista, nutricionista e cirurgiãodentista é de suma importância a presença de um psicólogo, pois trabalha-se não só com uma doença crônica e suas complicações tardias, mas também com indivíduos psicologicamente comprometidos, e que procuram desta forma fugir da realidade e do tratamento. Quanto ao tratamento odontológico do paciente diabético, sabe-se que estes pacientes apresentam além da periodontite, maior susceptibilidade para candidíase oral em suas várias formas clínicas, sendo que, a candidíase eritematosa está presente nas atrofias das papilas centrais e nas papilas linguais da região dorsal em cerca de 30% dos pacientes diabéticos [1, 17]. Alguns cuidados no atendimento odontológico do paciente diabético deverão que ser considerados: • Anamnese dirigida e encaminhamento médico para controle; • Cuidados com a alimentação e medicação antes e após o atendimento odontológico; • Medicação ansiolítica pré-anestésica em casos específicos; • Restrição com anestesia local; • Uso de antibioticoterapia para exodontias, endodontias e periodontias para controle de infecção secundária. Cabe ao profissional motivar à aquisição de conhecimentos, desenvolver habilidades, mudança de hábitos com a finalidade de uma melhor qualidade de vida, onde a educação é orientada na prevenção [9, 10]. ção da dor e controle de infecção oral) – Dentística – Exodontias (Aguardando o controle da glicemia, antibioticoterapia e avaliação médica); • A resposta do tratamento odontológico aos processo infecciosos ao paciente diabético é diferente, pelo fato de ter a resistência diminuida, fazendo com que a destruição dos tecidos periodontais seja mais rápido, mas de nenhuma forma altera o curso da doença. • A dificuldade do controle do paciente diabético para o tratamento odontológico, visto a complexidade do quadro físico e psicológico que o mesmo apresenta. Sabe-se que o diabetes não controlado é a primeira causa de cegueira no mundo, primeira causa de amputação não-traumática mundial, e que os pacientes apresentam duas a três vezes mais enfartes do miocárdio, além de impotência sexual masculina, doença pulmonares e circulatórias, insuficiência renal e hipertensão arterial [10, 11]. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 9 Conclusão • O paciente diabético tem que ser observado no contexto físico e biocomportamental, visto que o desequilíbrio emocional acarretará alterações na sua glicemia. • A necessidade do acompanhamento de uma equipe multidisciplinar no atendimento ao paciente diabético ser composta por endocrinologista, nutricionista, psicólogo e cirurgião dentista, em vista a complexidade do tratamento; • A importânicia do atendimento multidisciplinar é efetivo no tratamento da homeostase do paciente diabético; • Deverá haver troca de informações entre os profissionais envolvidos no tratamento do paciente diabético, sempre que necessário; • O tratamento odontológico deverá ocorrer levandose em consideração: – Emergência (periodontais e endodônticas- remo- 67 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Amato Neto VA. Diabetes e infecção. Diabetes Clínica, 3, 4:220-222, 1999. Ben-Aryeh H, Cohen M, Kanter Y et al. Salivary Composition in diabetic patients. J. 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Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Oral & Maxillofacial Pathology. Diabetes Mellitus, Complication. U.S.A.1995, p. 615 – 617. 18. Rigueira I. Fundamentos de Periodontia: Morfologia, Prevenção e Terapêutica Aplicada. Rio de Janeiro : Revinter. 1996. pp 71 – 72. 19. Setian N. Damiani D et al. Diabetes Mellitus na criança e no adolescente, 1o ed., São Paulo, Savier, 1995. 20. Siemiatycki J, Colle E, Cambell S et al. Incidence of insulin-dependent (type I ) diabetes by ethnic group and by social class in Montreal, and comparisons with comparable ethnic group living elsewhere. Diabetes 37:1096-1102, 1998. 21. Wilson D. Contribuição para o conhecimento da epidemiologia do Diabetes Mellitus. Aspectos de sua prevalência na cidade de Jarinú - Estado de São Paulo. São Paulo. 1994, 94p. (Tese de Livre Docência - Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo). 22. World Health Organization Diabetes Mellitus Report of a WHO Study Group. Geneva, WHO 1995. 23. Zachariasen RD. Diabetes Mellitus and Xerostomia. Compend Contin Educ Dent, v.XIII, p.314-322, 1992. Diabetes Clínica 04 (2000) 69 Notícias das Associações Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai Anteprojeto da Lei do Diabetes Realizou-se, nos dias 5, 6 e 7 de agosto de 1999, o Encontro Regional sobre a “Lei do Diabetes”. Este projeto surge como uma iniciativa de desenvolvimento de programas nacionais de Diabetes na região da América do Sul e do Caribe, por meio da Federação Internacional do Diabetes (SACA/IDF) e do Programa Nacional do Diabetes desenvolvido pelo Ministério da Saúde Pública e do Bem Estar Social (MSPBS) do Paraguai. O Encontro teve como objetivo a elaboração de um anteprojeto de lei sobre o diabetes para o países integrantes do Mercosul e países associados, quais sejam: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Contou-se com a participação de representantes dos países supracitados tanto por meio de sociedades científicas que estudam o diabetes como de organizações de pessoas portadoras da doença e representantes dos respectivos Ministérios. O anteprojeto de lei foi assinado pelos representantes seguintes: Ministérios de Saúde: Dra. Elizabeth Duarte de Muñoz (Bolívia), Dra. Maria das Merces Aquino de Araujo (Brasil), Dra. Maria Cristina Escobar (Chile), Dra. Felicia Cañete Villalba (Paraguai), Prof. Dr. Jorge Maggiolo (Uruguai). 70 Diabetes Clínica 04 (2000) Representantes das sociedades de diabetologia: Dra. Mabel Ferraro (Argentina), Dr. Javier Saavedra (Bolívia), Prof. Dr. Antonio Carlos Lerario (Brasil), Dr. Nestor Soto Isla (Chile), Prof. Dra. Mafalda Palacios (Paraguai), Dr. Robert Estrade (Uruguai). Associações de Diabetes: Sr. Nestor Loreto (Argentina), Sra. Lucy Fenández de Prado (Bolívia), Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho (Brasil), Sra. Carolina Kahler (Chile), Ing. Carlos Dokmanizcki (Paraguai), Sra. Andrea Camelliti (Uruguai). Observadores: Sra. Redium de Vargas (Equador), Sra. Marta Mora Garcia de Belaude (Peru), Dra. Olga Núñes (Peru), Dra. Virginia Garcia (Uruguai), Prof. Dr. Jorge Jimenez (Paraguai). Comitê executivo Região SACA: Dr. Adolfo Pérez-Comas, presidente Região SACA/IDF, Dra. Dora Fox, secretaria, Dra. Olga Ramos, Sub-delegada, Dra. Felicia Cañete Villalba, presidente do comité de programas nacionais. Federação Internacional de Diabetes (IDF): Sra. Maria de Alva, presidente. CAPÍTULO 1. Da composição do programa nacional do diabetes (PND) Artigo 1o – O Estado, por meio dos Organismos responsáveis, estabelecerá a composição do Programa Nacional do Diabetes, através do qual executar-seão todas as ações relativas ao Diabetes. Tal programa constituir-se-á de representantes técnicos do Ministério da Saúde, Sociedades Científicas, Associações de Portadores do Diabetes entre outras Instituições e Entidades afins. Artigo 2o – O Programa Nacional do Diabetes será coordenado pela Unidade Técnica do Ministério da Saúde e executado de forma descentralizada nas diversas regiões do país por meio de instituições governamentais e nãogovernamentais seguindo as normas estabelecidas pelo programa. CAPITULO 2. Das Funções do PND Artigo 3o – Formular-se-á um Programa Nacional do Diabetes o qual incluirá a prestação de serviços de saúde de qualidade, a promoção de estilos de vida saudáveis e a prevenção das enfermidades com vistas a reduzir os índices de mortalidade e de morbidez que afligem os portadores de Diabetes, melhorando assim sua qualidade de vida. Este programa poderá ser autônomo ou ainda integrado a programas afins de outras enfermidades não transmissíveis. Artigo 4o – O Ministério da Saúde implementará o Registro Nacional do Diabetes a fim de adquirir informações acerca da incidência e da predominância de ocorrência da doença, bem como suas complicações, os tratamentos empregados e a qualidade de vida das pessoas portadoras da mesma. CAPITULO 3. Da Administração do Programa Artigo 5o – O Ministério da Saúde, como organismo superior da saúde, elaborará e divulgará um informativo periódico acerca da situação da Diabetes naquele país. Diabetes Clínica 04 (2000) CAPITULO 4. Da Assistência Sanitária 71 Artigo 6o – O Estado garantirá, por meio dos programas nacionais de saúde e/ou instituições específicas do setor, a implementação de serviços básicos, bem como de programas de educação acerca do Diabetes e suas complicações os quais serão destinados à população em geral. Artigo 7o – Os serviços deverão contar com o auxílio de pessoal capacitado para proporcionar assistência e informações sobre o Diabetes apropriados para cada população. Artigo 8o – O Estado garantirá a provisão de insulina e de todos os demais elementos necessários a sua administração e autocontrole, bem como de antidiabéticos orais a serem estabelecidos por meio de regulamento, de forma gratuita, para os portadores de diabetes cujos recursos sejam considerados escassos. Artigo 9o – O Estado garantirá a provisão de insulina e de todos os demais elementos necessários a sua administração e autocontrole, de forma gratuita, a todos os portadores da doenças que sejam menores de idade. Artigo 10o – O diabetes não constituirá impedimento, motivo de recusa ou ainda de cobrança de taxas adicionais para obtenção de acesso aos serviços de assistência privada, seguros de saúde, planos de saúde ou similares. CAPITULO 5. Da Prevenção e do Diagnóstico Precoce Artigo 11o – O Estado, por meio de seus Organismos responsáveis, colocará em prática ações de alcance nacional visando a promover a adoção de estilos de vidas saudáveis capazes de contribuir para a prevenção e o controle do diabetes. Artigo 12o – O Estado, por meio de Organismos responsáveis, encarregarse-á da realização de campanhas educativas em nível regional e nacional com vistas à obtenção de diagnóstico e de prevenção do diabetes identificando ainda os grupos de risco. Artigo 13o – O Estado, por meio dos Organismos Responsáveis, deverá incluir nos programas escolares, informações necessárias acerca de nutrição e de diabetes. Artigo 14o – Incentivar-se-á, por meio dos serviços de saúde, a identificação do diabetes em meio ao grupo de risco. CAPITULO 6. Do tratamento Artigo 15o – O Estado facilitará o acesso aos benefícios e avanços no tratamento do diabetes. 72 CAPITULO 7. Dos Recursos Humanos Diabetes Clínica 04 (2000) Artigo 16o – O Estado, por meio dos Organismos responsáveis, disporá de pessoal capacitado para lidar com o diabetes em cada região, com atendimento adaptado para cada população. Artigo 17o – O Estado, por meio dos Organismos responsáveis, regulamentará a constituição e a incorporação de Educadores do Diabetes na equipe de saúde. CAPITULO 8. Das Disposições Sociais e Trabalhistas Artigo 18o – O diabetes não será motivo de discriminação em qualquer âmbito, seja este educacional, desportivo ou de trabalho. Artigo 19o – O Estado, por meio dos Organismos responsáveis, discriminará mediante informe médico pericial, os casos de incapacidade parcial ou total, transitória ou definitiva, a fim de garantir a estabilidade no trabalho e a seguridade social. Artigo 20o – O Estado, por meio dos Organismos responsáveis, implementará programas de assistência social visando a orientar o portador de diabetes e as pessoas com as quais ele convive. Artigo 21o – O diabetes não constituirá impedimento para obtenção da carteira de motorista. Artigo 22o – Fica a critério do portador de diabetes optar ou não pela prestação de serviço militar em seu país. CAPITULO 9. Das Pesquisas Artigo 23o – O Estado, por meio dos Organismos responsáveis, promoverá e incentivará as pesquisas clínicas, epidemiológicas e tecnológicas sobre o diabetes dentro do âmbito das pesquisas nacionais, juntamente com as instituições que integram o setor. CAPITULO 10. Da Isenção de Tributos Artigo 24o – Os contribuintes que destinarem recursos para a subvenção de programas de prevenção ou tratamento do diabetes e suas complicações poderão deduzir do imposto quantia proporcional à subvenção acima mencionada. Artigo 25o – Permanecem isentos de tributos a importação e comercialização da insulina, de seringas, de antidiabéticos orais, glicosimetros e outros equipamentos necessários ao autocontrole e tratamento do diabetes. CAPITULO 11. Dos Recursos Financeiros Artigo 26o – Os recursos necessários à implementação do Programa Nacional do Diabetes, bem como as ações dele derivadas, serão provenientes de recursos e contribuições governamentais, departamentais e municipais, de organizações não governamentais e entidades internacionais, bem como da comunidade e de entidades privadas. Diabetes Clínica 04 (2000) 73 Manifesto de São Paulo para a promoção da atividade física nas Américas Este manifesto do programa “Agita São Paulo”, do Secretário de Estado da Saúde e do CELAFISCS (Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul), em parceria com inúmeras instituições de Saúde e governementais, foi assinado pela ANAD (Associação Nacional de Assistência ao Diabético) e FENAD (Federação Nacional de Associações de Diabéticos). Este documento é uma chamada à ação endereçada aos profissionais relacionados à saúde e educação, formadores de opinião e dirigentes no setor público, iniciativa privada, terceiro setor (organizações não governamentais e associações voluntárias), para enfatizar aspirações por uma melhor qualidade e expectativa de vida, destacando a necessidade da inclusão da prática da atividade física no cotidiano das pessoas, da criança ao idoso, como direito do cidadão. A Consecução deste propósito será efetivada, prioritariamente, através da criação de uma rede de Instituições e Grupos, cujo objetivo é a difusão, o intercâmbio e a implementação de ações visando a promoção da saúde. Neste contexto é necessário uma mudança de estilo de vida, rompendo com o sedentarismo e assumindo uma postura de vida ativa, tanto nas atividades utilitárias como na vivência das experiências do lazer, privilegiando a abordagem lúdica na fixação de novos hábitos. Estes dois enfoques pressupõem uma cultura de vida ativa para as populações das Américas, em que pese os contrastes entre países. Esta chamada à ação é o resultado de discussões e sugestões realizadas e compromissos firmados durante o XXI e o XXII Simpósios Internacionais de Ciências do Esporte em São Paulo (1998-1999). Estes eventos tiveram por objetivo divulgar orientações gerais para a promoção da atividade física na população, a partir de diretrizes internacionais e com a contextualização cultural, indispensáveis para o sucesso destas iniciativas. O comportamento sedentário na vida moderna, em escala global, exige uma re-significação nas relações da pessoa consigo mesma, com o outro e com o meio ambiente, já que o sedentarismo é o inimigo número um da saúde pública, prejudicando a saúde das pessoas, podendo interferir negativamente no desenvolvimento de suas relações sócio-culturais e ecológicas. A atividade física é definida como qualquer movimento corporal decorrente de contração muscular, com dispêndio energético acima do repouso; entendida como um comportamento humano complexo, voluntário e autônomo, com componentes e determinantes de ordem biológica e psico-sócio-cultural; e exemplificada por esportes, exercícios físicos, danças e determinadas experiências de lazer e atividade utilitárias. Em termos epidemiológicos, evidências científicas recentes confirmam o papel decisivo da prática da atividade física regular, independentemente ou em conjunto com outras características do comportamento saudável, na prevenção e no controle de diversas doenças e na promoção de saúde e qualidade de vida em todos os grupos. A partir dessas constatações, instituições, líderes nacionais e internacionais envolvidos com a saúde pública têm divulgado recomendações e diretrizes para a promoção de estilos de vida saudáveis, incluindo a prática de atividade física regular, em todo o ciclo vital. 74 Diabetes Clínica 04 (2000) A presente chamada à ação para a prática de atividade física regular, visando a promoção da saúde, é considerada como um exercício de cidadania, devendo constar como um dos itens prioritários na pauta dos agentes políticos locais ligados ao campo da saúde, educação e áreas correlatas. Em princípio, as diretrizes gerais ora recomendadas partem de propostas internacionais, tais como: • Respeitar a cultura e tradições de cada região, como também dar prioridade às novas intervenções locais, incluindo políticas governamentais de saúde, educação e esporte que favoreçam atividades físicas voluntárias e autónomas. • Aumentar oportunidades para iniciação e manutenção de comportamentos ativos, ao longo do ciclo vital, sempre na perspectiva de auto-realização e modo de vida saudável e alegre. • Buscar apoio institucional para as diferentes iniciativas, enfatizando a comunicação social e o estabelecimento de parcerias entre instituições. • Considerar as aspirações locais e especificas de cada grupo alvo, procurando priorizar as pessoas desprivilegiadas, física e mentalmente, corno também respeitar as diferenças sócio-culturais e econômicas, quando da realização de intervenções. • Incentivar a pesquisa científica na área da promoção de saúde, por meio de atividades físicas, principalmente no âmbito da inclusão de grupos vulneráveis da sociedade e de mudança cultural dos grupos de risco. • Como referência básica de intervenção, recomenda-se a prática de atividades físicas moderadas (ex: caminhar 4,5 km/h), preferencialmente todos os dias da semana em uma única sessão diária de 30 min. ou acumulando 2 a 3 sessões de 10-15 min. respectivamente ao longo do dia. A realização de atividades físicas mais vigorosas, dentro dos limites individuais, traz benefícios adicionais, melhorando a aptidão física. • Dar a devida atenção as administrações locais de governo, enfatizando o ambiente escolar, tendo como grupo alvo as crianças e ou adolescentes, para a consolidação de um modo de vida saudável por meio da prática de atividades físicas e experiências de lazer. • Criar meios de informação, esclarecimento e mobilização de líderes governamentais, políticos e empresariais no sentido de apoiar esta chamada à ação e as demais que se sucederão em diferentes regiões e países. • Divulgar as experiências locais e nacionais de modo a criar modelos de intervenção e exemplos de manejo institucional a fim de se criar uma base educacional de longo prazo para as intervenções ora recomendadas. • Focalizar, com absoluta prioridade, a constituição de redes de instituições, tanto para a propagação de aspirações e realizações praticas, como para a formação de alianças estratégicas visando a promoção de saúde por meio de atividades físicas. • Materializar as redes por vias de políticas, estratégias, programas, capacitação de multiplicadores, ampla comunicação social e veiculação de exemplos bem sucedidos de intervenção. Em resumo, a presente convocação de pessoas, grupos e instituições das Américas coloca em destaque a diferenciação de condições sociais, educacionais e de saúde, existentes em todos os países do continente e almeja alcançar uma vida mais saudável como exercício de cidadania e inserção entre as necessidades básicas de nossas populações. 76 Diabetes Clínica 04 (2000) Calendário de eventos MARÇO DE 2000 13 a 18 de março 1th International Congress of Reproduction Health in Diabetes Mellitus Varadero, Cuba Tel: (537) 32 0362 E-Mail: [email protected] MAIO DE 2000 24 a 27 de maio 10th European Congress Obesity European Association for the Study of Obesity (EASO) Antuerpia, Belgica Contact: Prof. Dr. L.F. Van Gaal, Universitair Ziekenhuis, Antwerpen, Dept Endocrinology, Wilrijkstraat, 10, 2650 Edegem-Antwerp Belgium. Tel: +32 3 821 32 66 Fax : +32 3 825 49 80 E-mail: [email protected] Informações: (11)852-2292 Fax: (11)280-4232 [email protected] – (2210491-2443 Fax: (21) 491-2459 (Shiss Fernandes ou Márcia Saboia) 5 a 9 de julho 5o Congresso brasileiro multiprofissional em Diabetes Exposição nacional de produtos e alimentos para diabéticos Fundação Álvares Penteado, Av Liberdade, 532, São Paulo Informações: ANAD, rua Eça de Queiroz, 198, São Paulo Tel: (11)572 6559, fax: (11)572 6704 SETEMBRO DE 2000 14 a 16 de Setembro International Symposium on NonEnzymatic Glycation and Oxidative Stress in Diabetes mellitus 16 e 17 de junho Atualização em Obesidade Prague, Czech Republic Tel: +420 229 7271, 24 91 51 95 Fax: +420 229 46 10 E-Mail: [email protected] Hospital Albert Einstein, 627, 3o andar, São Paulo Contato: Dr. Alfredo Halpern Tel: (11) 3747 0300 Fax: (11)3747 1334 17 a 21 de Setembro 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes 30 de junho a 02 de julho Cimeira Latino-Americana do Peso Saudável Jerusalem Informações: EASD 2000 Secretariat POB 50006, Tel Aviv 61500 Israel Tel: +972 3 514-0018 Fax +972 3 5175674 E-mail: [email protected] JUNHO DE 2000 Hotel Sofitel Rio Palace – Rio de Janeiro OUTUBRO DE 2000 3 a 6 de Outubro de 2000 5th International Conference on Diabetes and Indigenous Peoples Christchurch, New Zealand Tel: +64 3 382 2430 Fax: +64 3 364 0149 E-mail: [email protected] NOVEMBRO DE 2000 5 a 10 de Novembro 17th International Diabetes Federation Congress Cidade do México, México Informações: Keith Richardson, Congress Secretariat, Congress World, Blenheim House, 120 Church Street, Brighton BN1 1WH, United Kingdom Tel: +44 1273 647030 Fax: +44 1273 570632 Site: www.idf2000.com E-mail: [email protected] 18 a 23 de Novembro 24o Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia 29o Encontro Anual do IEDE Rio Centro Informações JZ Congressos Tel: (21) 286-2846, fax: (21) 539-1299 E-mail: [email protected] Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 4 nº2 - 2000) EDITORIAL FENAD 2000/2001: programas e metas, Fadlo Fraige Filho ................................................................... 79 INFORMES DO DIABETES NO MUNDO .......................................................................................... 81 O DIABETES NA IMPRENSA .............................................................................................................. 88 AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS .......................................................................... 91 PRODUTOS E NOVIDADES Biscoitos Festiva; Bomba Minimed com controle remoto; gel Silipos de Feet Care do Brasil .............. 94 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ............................................................................... Aracaju (12o Congresso brasileiro de diabetes) Bruxelas (35th Annual Meeting European Association for the Study of Diabetes) 96 AMERICAN DIABETES ASSOCIATION ANO 2000 Padrões de atendimento médico a portadores de diabetes mellitus .......................................................... 102 Importância dos resultados do UKPDS ..................................................................................................... 119 Recomendações de nutrição para pacientes com diabetes ........................................................................ 128 PESQUISAS BRASILEIRAS EM DIABETES II - Organização da informação, Walmor João Piccinini .......................................................................... 134 ARTIGO ORIGINAL Semiologia do pé, Adolfo V. Zavala, Daniel Braver ................................................................................. 135 NOTÍCIAS DA FENAD E DAS ASSOCIAÇÕES Proposta básica para a assistência ao diabético no município .................................................................. 144 FICHAS PRÁTICAS Associações e especialistas em diabetes da Região Nordeste .................................................................. 153 CALENDÁRIO DE EVENTOS .............................................................................................................. 155 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico e o conselho consultivo reunindo profissionais da FENAD, ANAD e demais entidades filiadas. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes. Diabetes Clínica Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho, presidente da FENAD e ANAD, Professor Titular de Endocrinologia Faculdade de Medicina ABC Coordenação: Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin, faculdade de Medicina de Lyon (França) Administração: Claudiane Benavenuto Dr. João Roberto de Sá (SP) Dr. Leão Zagury (RJ) Dr. Marcos Tambascia (SP) Enfermeria Mônica Antar Gamba (SP) Dr. Nelson Rassi (GO) Dr. Orsine Valente (SP) Enfermeira Paula Pascali (SP) Dra. Reine Marie Chaves (BA) Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Dr. Sérgio Atala Dib (SP) Conselho Consultivo Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) Dr. Adolpho Milech (RJ) Dr. Airton Golbert (RS) Dra. Alcina Vinhais (BA) Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) Dr. Arual Augusto da Costa (SP) Dr. Balduíno Tschiedel (RS) Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Dr. Edgard d’Ávila Niclewicz (PR) Dr. Freddy Goldbert Eliaschewitz (SP) Dra. Geisa Macedo (PE) Dra. Hermelinda Pedrosa (DF) ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson Rua Benjamim Garcez, 110 12940-000 Atibaia – SP tel/fax: (11) 7871-7629 cel: (11) 9993-6885 [email protected] Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: (21) 557-7304 [email protected] Federação Nacional de Associações de Diabéticos (FENAD) e Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) Rua Eça de Queiroz, 198 Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP tel: (11) 572-6559 fax: (11) 549-6704 http://www.netcomp.com.br/anad [email protected] ISSN 1517-6428 © ATMC - Atlântica Editora Ltda Assinatura 6 números ao ano: R$ 50,00 www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas I.P. (Informação publicitária) As informações são de responsabilidade dos anunciantes Copyright © ATMC – Atlantica Editora Ltda Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Em razão do avanço rápido das ciências médicas, o Editor recomenda que uma verificação independente do diagnóstico e doses dos medicamentos seja realizada. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética médica, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas EDITORIAL FENAD 2000-2001: programas e metas Fadlo Fraige Filho M Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, Coordenador - Editor Científico de Diabetes Clínica ais uma eleição democrática e transparente, como só poderia ser. Uma segunda lição de honestidade de propósitos, de legalidade e legitimidade, quando nos reunimos em Atibaia de 31 de março a 2 de abril, com sessenta seis associações, núcleos, ligas, centros envolvidos em Diabetes e realizamos o 4º Encontro Nacional das Associações de Diabéticos e a Assembléia Geral da FENAD. O trabalho desenvolvido em 98 e 99, respaldou o reconhecimento de todos os pares elegendo nossa chapa por UNANIMIDADE. Começamos do zero, pois de gestões anteriores nada, absolutamente nada recebemos, nem livros de atas, nem um documento sequer, de uma Federação declarada inexistente “em gestões anteriores”. Em um processo lento e trabalhoso promovemos a legalização da Federação, sua personalidade jurídica, o levantamento de seus estatutos originais, em Juiz de Fora, seu registro e suas modificações, a legalização para a inscrição no CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, e perante o Imposto de Renda que ainda nos consome tempo e recursos. Trabalhamos inicialmente no cadastramento das entidades existentes no Brasil, mantendo contato uma a uma, e registrando-as na FENAD. Apresentação de todas as federadas à IDF (International Diabetes Federation), que até então desconhecia nosso trabalho no Brasil, e a sua extensão. Coordenamos em julho de 1998 a 1ª Campanha Nacional Gratuita em Diabetes na qual envolvemos 126 cidades e fizemos cerca de 150 mil testes. Implantamos um projeto, com apoio Bayer, envolvendo as associações, secretarias de saúde e entidades médicas locais, para reciclagem de médicos clínicos e cardiologistas nas cidades de Osasco, Guarulhos, Santo André (Faculdade de Medicina do ABC), Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Aracaju, Recife, Goiânia, Brasília, Lins (SP), Atibaia (SP), Jaú (SP), Hospital Vila Penteado (SP) e Itabuna (BA), onde reunimos, médicos, autoridades de saúde, membros de associações e núcleos, onde conclamamos a importância do trabalho conjunto, ressaltando também a do trabalho multiprofissional. Tenho certeza de ter deixado importantes “sementes” que irão frutificar num futuro próximo. Fundamos e incentivamos novas associações e núcleos como por exemplo os da Itatiba (SP), Morungaba (SP), Atibaia-ADAR (SP), Osasco-ARADO (SP), ADIABC (SP), Grupo de Apoio ao DM - Jundiaí (SP), Clínica de 80 Diabetes Clínica Educação e Controle do DM – Jundiaí (SP), Paraíba (PB), ARAD (RS). Historicamente dos quatro Encontros de Associações, três foram promovidos e patrocinados em nossa gestão de 98/99. Coordenamos a 2ª Campanha Nacional Gratuita em Diabetes de Detecção, Orientação, Educação e Prevenção das Complicações Crônicas em 14 de novembro de 99 onde reunimos 450 cidades através de suas secretarias de saúde, associações, núcleos, etc, tendo todas recebido, como na 1ª campanha, o projeto e a estratégia elaborados pela equipe da ANAD que conta com 15 anos de experiência em campanhas. Realizamos 450 mil testes e inúmeras ações em educação e orientação, tais como: aferição de pressão arterial, fundo de olho, exame dos pés, avaliação bucal, medição de circunferência abdominal e encaminhamento dos recém diagnosticados para as unidades de tratamento. Aliás, transferimos para a FENAD, que nada possuía, nosso conhecimento, e o de toda a equipe profissional e administrativa da ANAD – Associação Nacional de Assistência ao Diabético. Alojamos também em “nossa casa”, “alimentamos” e fizemos a Federação “crescer” com transferência de recursos técnicos, profissionais e financeiros, e emprestamos à mesma todo nosso prestígio e da equipe fantástica da ANAD, que se dedicou com muito afinco, num trabalho constante, exaustivo, e de muita dedicação. Vamos prosseguir nossos trabalhos, e para o próximo biênio, estabelecemos as seguintes metas: • Continuar o incentivo e fortalecimento das Associações e demais entidades filiadas; • Atuação política e apoio aos projetos já existentes na Câmara Federal, Estadual e Municipal para conseguirmos amplo apoio aos portadores de Diabetes; • Continuar e incrementar as parcerias com as Secretarias de Saúde: incentivando o Programa de Assistência no Município, aos portadores de Diabetes, em conjunto com as Federadas; • Maior participação das atividades do Dia Mundial: Detecção, Educação, Orientação, Prevenção e Triagem para Tratamento; • Estreitar as atividades e intercâmbios, com a International Diabetes Federation para obtenção de maior apoio de suas e de novas atividades; • Continuar com atualização dos profissionais médicos e multiprofissionais das federadas através de palestras nas cidades, incentivando a integração de todos os órgãos que possam assistir e ajudar aos portadores de Diabetes; • Viabilizar Projeto de Lei para a subsistência econômica das Federadas; • Subsidiar às Federadas com projetos, planos e orientações técnicas, através dos multiprofissionais e experiência adquirida; • Ampliar espaço para informações das Federadas para divulgação de atividades e programas; Estaremos aberto as sugestões e principalmente a colaboração, reciprocidade e participação. Finalizo conclamando a maioria esmagadora que têm boas intenções a lutar a favor dos ideais em prol dos diabéticos pois, UNIDOS SEREMOS FORTES. Fadlo Fraige Filho Presidente Eleito FENAD ERRATA Diabetes Clínica, número 1, janeiro de 2000: - A co-autora do artigo “Anomalias sistêmicas e bucais em pacientes com diabetes mellitus: revisão e relato de caso clínico” é a Prof.ª Dr.ª Marina H.C.G. Magalhães. - Página 64 da mesma edição, onde lê-se “utilização de anestésicos se adrenalina”, deve ler-se “utilização de anestésicos sem adrenalina”. Diabetes Clínica 04 (2000) 81 Informes do Diabetes no Mundo 21 de março de 2000 Warner-Lambert retira o Rezulin (troglitazona) do mercado americano A pedido da FDA (Food & Drug Administration), o laboratório WarnerLambert aceitou interromper a venda do Rezulin (troglitazona), aprovado para o tratamento do diabetes tipo 2, apesar do laboratório continar a “acreditar em os benefícios deste medicamento”. A FDA baseou sua decisão na existência de dois novos medicamentos da mesma classe, a rosiglitazona (Avandia) e a pioglitazona (Actos), ambos aprovados em 1999 nos Estados Unidos (o Avandia está disponível no mercado brasileiro desde o início de 2000), que apresentam os mesmos benefícios que a troglitazona mas sem os mesmos riscos. Estudos clínicos mostraram que o Avandia e o Actos podem diminuir a taxa da glicose sangüínea sem acarretar os efeitos colaterais da troglitazona, responsável por vários casos de intoxicação hepática grave. Atualmente, os efeitos a longo prazo das glitazonas não são todos conhecidos em função de seu pouco tempo de mercado. Avandia e Actos foram bem aceitos durante os ensaios clínicos. Os efeitos colaterais mais comuns são dores de cabeça, infecções respiratórias, ganho de peso, e, raramente, edema e anemia. Testes de funcionamento hepático são indispensáveis no início do tratamento e periodicamente durante o primeiro ano. Os pacientes devem consultar o médico caso apareçam sintomas de problemas hepáticos (fadiga, náusea, anorexia, etc). O Rezulin não chegou a ser comercializado no Brasil. 10o Simpósio Internacional em Lipoproteina, Dresden, Alemanha, dezembro 1999 9o Congresso Internacional de Farmacologia Cardiovascular, Salvador, Bahia, 26-30 de março 2000 Diabetes tipo 2 e síndrome metabólica: o papel da hipertrigliceridemia está sendo subestimado? A síndrome metabólica tem sido objeto de discussão em simpósios internacionais. Fatores genéticos, certas influências comportamentais e ambientais - como dieta incorreta, falta de exercício, abuso de álcool e nicotina, além do estresse - levam a diversas conseqüências metabólicas: obesidade abdominal com resistência à insulina e hiperinsulinemia. Fatores que formam a base da síndrome metabólica, caracterizada pelo diabetes mellitus do tipo 2, dislipidemia, hipertensão e distúrbios da fibrinólise. 82 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) continuação Markolf Hanefeld (Alemanha) declarou em Dresden, que “o específico papel da hipertrigliceridemia no diabetes tipo 2 consiste no aumento da formação de pequenas moléculas de LDL altamente aterogênicas ricas em triglicérides, com um tempo de permanência maior n corrente sangüínea, maior glicoxidação e formação de HDL de vida curta rico em triglicérides e uma reduzida capacidade reversa de transportar colesterol”. Hanefeld se referiu ao Diabetes Intervention Study (DIS), cujos novos dados no diagnóstico de diabetes foram coletados e avaliados por um período de 11 anos. Os achados confirmam os resultados de um grande estudo multinacional realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Paris Prospective Study. Ambos mostraram que a hipertrigliceridemia isoladamente pode ser considerada um fator independente de risco para o infarto do miocárdio e mortalidade cardiovascular no diabetes tipo 2. De acordo com o professor Hanefeld, o DIS mostrou que a glicose sangüínea pós-prandial, os triglicérides e os valores da pressão arterial (PA) podem ser considerados como fatores significativos na incidência de infarto e morte. Outros estudos - como o Helsinki Heart, o VA HIT e o SENDCAP confirmam esses dados. Além da mudança no estilo de vida, o tratamento com fibratos reduz significativamente a incidência de Doença Arterial Coronariana (DAC) no diabetes. Luis M. Pérez Pérez (Cuba) declarou que o tratamento com etofibrato leva a uma melhora no perfil lipídico, nas concentrações de insulina plasmática e na tolerância a glicose em pacientes com hipertrigliceridemia e múltiplas disfunções metabólicas. No estudo por ele apresentado em Dresden, foram administradas 500 mg de etofibrato todos os dias por seis meses para 26 pacientes. A avaliação mostrou a redução nos níveis totais de triglicérides, ácidos graxos livres e na relação entre o colesterol total e o colesterol HDL. Verificou-se ainda um crescimento na concentração de apoliproteina A1. Durante o teste de tolerância oral a glicose (GTT), a glicose sangüínea e os níveis de insulina, como todas as áreas correspondentes sob a curva (AUC) caíram. Um estudo polonês mostra que o etofibrato leva a uma significativa redução da PA nos pacientes com síndrome metabólica, na dependência do genótipo. Nesse estudo, 29 pacientes com síndrome metabólica em vários graus de severidade foram tratados com 500 mg de etofibrato por dois meses. Na avaliação dos dados, os vários tipos de genótipos do gene ACE foram analisados separadamente. Com essa terapia, os pacientes de genótipo ID foram beneficiados com uma significativa queda na PA e nos níveis de glicose. Para Marek Naruszewicz (Polônia), o estudo indica que existe uma conexão entre os efeitos do etofibrato nos vários fatores da síndrome metabólica e o polimorfismo do gene ACE. Reuters Health. 13 de março de 2000, The Lancet;355:919-921, 2000 Pesquisador solicita doações de insulina para nações pobres Em resposta a um grande número de óbitos devido a diabete tipo 1 nas nações em desenvolvimento, um pesquisador Britânico está pedindo às empresas farmacêuticas para doar insulina às nações mais pobres Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) 83 continuação do mundo. A iniciativa custaria entre $3 milhões e $5 milhões ao ano, representando menos que 0,5% do fornecimento de insulina no mundo, estima o autor. “Nenhum paciente diabético tipo 1 nos países mais pobres do mundo precisa morrer porque ele ou o seu governo não podem comprar insulina”, escreve Professor John S. Yudkin do University College London, UK. Nos EUA, o diabetes tipo 1 raramente resulta em óbito. Porém, uma pessoa diagnosticada com diabetes tipo 1 pode não viver mais do que um ano em algumas partes da África porque a insulina não está disponível, explica Yudkin. Sua proposta sugere que os maiores fabricantes de insulina do mundo contribuam com um fornecimento regular para 40 países designados como “países pobre altamente devedores” pelo Banco Mundial. Esta designação significa que os países não podem pagar suas dívidas sem cortar fundos dos programas sociais e de saúde. Uma pesquisa mostrou que os custos anuais de saúde de diabéticos tipo 1 atendidos em ambulatório custa aproximadamente US$ 229 por pessoa, dos quais dois terços são para insulina. Em muitas nações em desenvolvimento com sistema de saúde custeado pelo governo, tratar somente uma pessoa com diabetes tipo 1 privaria muitas outras de medicações que salvam vidas, tais como antibióticos. Juan José Gagliardino CENEXA – Centro de Endocrinologia Experimental e Aplicada (UNLPCONICET, Centro de Colaboração da OMS), Faculdade de Ciências Médicas, UNLP, La Plata, Argentina Panorama das contribuições argentinas para a pesquisa em diabetes na década de 1990 Juan José Gagliardino, CENEXA (UNLP-CONICET), Facultad de Ciencias Médicas, UNLP, 60 y 120, 1900 La Plata, Argentina, ([email protected]) Diabetes Metabolism Research & Review, 16,1:43-60, 2000 A Argentina tem tradição de pesquisa em diabetes, mencionando inicialmente o trabalho fundador do Prof. Bernardo A.Houssay, premiado com o primeiro Prêmio Nobel em Ciências Médicas com seu estudo sobre a relação entre o diabetes e a função pituitária. O Prof. Luis F. Leloir, também premiado com o Prêmio Nobel pelo trabalho sobre o metabolismo do hidrato de carbono, também inspirou gerações mais jovens de biologistas a trabalhar na área da pesquisa em diabetes. O objetivo deste artigo é mostrar uma revisão das contribuições dos pesquisadores argentinos durante os anos 90. Este artigo inclui somente relatos dos pesquisadores argentinos que trabalharam com o diabetes em laboratórios locais e que foram citados no Medline. Desta forma, podem ter sido omitidas importantes contribuições que não foram divulgadas nos boletins incluídos no Medline ou aquelas produzidas pelos pesquisadores argentinos que trabalham no exterior. O material consiste de uma sucinta descrição da pesquisa clínica (epidemiologia e custos, controle metabólico, fatores de risco associado, aspectos imunológicos e outros estudos clínicos) e pesquisa básica (modelo animal com diabetes espontâneo, morfologia da ilhota e função em condições normais e patológicas, ação da insulina, distúrbios metabólicos relacionados com o diabetes e alguns efeitos metabólicos relacionados com o diabetes induzido por medicamentos). Em conjunto, obtém-se uma idéia geral da contribuição contínua de nossa pesquisa nacional na esfera internacional do diabetes, bem como uma lista dos pesquisadores argentinos e centros de pesquisa dedicados ao estudo do diabetes. 84 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, Belicar P et al. Do mobile cellular phones induce malfunctioning of implanted insulin pumps? Compatibilidade entre os telefones celulares e as bombas de insulina EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, Schaupp L et al. Glucose monitoring in the interstitial fluid combining open flow microperfusion and ionic reference technique. Monitorização de glicose através do fluido intersticial O telefone celular oferece uma enorme conveniência para a pessoa que precisa estar em trânsito e tem se tornado um dispositivo muito comum em nosso cotidiano. O uso deste tipo de aparelho para comunicações de emergência é particularmente importante para o paciente diabético. No entanto, as ondas eletromagnéticas utilizadas pela telefonia celular poderiam produzir interferências eletrônicas em implantes de insulina, gerando problemas para o paciente diabético. Para abordar este tópico, Belicar et al. conduziram um estudo para avaliar os efeitos do uso do telefone celular sobre o funcionamento destes implantes. O estudo foi realizado em parceria com o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CNET) de France Telecom. Dois modelos de telefones com diferentes características quanto à transmissão dos sinais, um funcionando na freqüência de 1800 MHz e saída de 1 W (DCS Flare B 300) e o outro com freqüência de 900 MHz e saída de 2 W (GSM Lisa P9026), foram submetidos a testes, separadamente, com duas bombas implantáveis de insulina (Minimed MIP 2001). Para superar a restrição do pequeno volume normalmente movimentado pelas bombas, estas foram programadas para injeção máxima da insulina Actrapid. Durante os testes in vitro, os telefones foram posicionados diretamente sobre as bombas de insulina. Os celulares não induziram mudanças significativas na programação das bombas seja durante o teste ou durante a transmissão de máxima potência. A injeção basal de insulina pelas duas bombas não foi afetada por nenhum dos telefones nos dois testes (0,9 U/h e 0,86 U/h [taxa metabólica basal] vs. 0,86 U/h e 0,85 U/h [durante a chamada simulada] com o telefone DCS; 0,84 U/ h e 0,84 U/h [taxa basal] vs. 0,86 U/h e 0,86 U/h [durante a chamada simulada] com o telefone GSM). De maneira semelhante, os índices de injeção da insulina durante as chamadas simuladas ficaram constantes (5,3 U e 5,4 U [basal] vs. 5 U e 5,4 U [durante a chamada simulada] com o telefone DCS; 5,26 U e 4,96 U [basal] vs. 5,33 U e 5,06 U [durante a chamada simulada] com o telefone GSM). O Dr. Belicar concluiu que estes dados vêm tranqüilizar os pacientes que usam as bombas de insulina Minimed MIP 2001, confirmando que as transmissões de telefones celulares não interrompem o funcionamento normal dos implantes. Métodos alternativos de medição dos níveis de glicose sem a necessidade de medições sangüíneas poderiam facilitar o controle metabólico nos pacientes e evitar os riscos potenciais associados ao acesso vascular. Schauff et al. usaram um novo método de calibragem (técnica de referência iônica) e microperfusão open-flow do tecido adiposo subcutâneo para monitorar a glicose no fluido intersticial. Este método envolve o uso de um catéter com perfurações externas que é introduzido no tecido adiposo subcutâneo e lentamente injetado (0,5 ml/ min) com uma solução contendo manitol. Ocorre uma troca entre o fluido injetado e o tecido intersticial e a taxa de equilíbrio (ou de recuperação) Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) continuação 85 entre os dois compartimentos dos fluidos é determinada pela medida da glicose e dos íons (técnica de referência iônica). Como a recuperação dos íons é semelhante à recuperação da glicose, um simples razão matemática pode ser usada para calcular os níveis de glicose no fluido intersticial através das concentrações iônicas e níveis de glicose no perfusado. O Dr. Schauff apresentou os resultados de um teste com 7 pacientes diabéticos do tipo 1, relatando dados individuais de cada um dos pacientes. No dia da experiência, os pacientes seguiram sua rotina normal após uma refeição padrão e amostras dos fluidos intersticiais e de plasma foram recolhidas em intervalos de 30 minutos com o catéter. De acordo com a técnica de referência iônica, a recuperação de cada paciente era variável, mas os níveis de glicose no fluido intersticial em cada paciente se mostrou compatível com a glicose plasmática. Os valores absolutos dos níveis de glicose se revelaram menores e a variância no fluido intersticial maior. O Dr. Schauff destacou que podem ser usados algoritmos para eliminar as variações e gerar medições de glicose mais confiáveis usando-se este método e que esta abordagem promete ser uma ótima opção para monitorar os níveis de glicose nos pacientes diabéticos tipo 1. Conclusão: Este novo método que combina uma técnica de referência iônica e microperfusão foi desenvolvido para monitorar os níveis de glicose com ajuda da medição da glicose no fluido intersticial do tecido subcutâneo. Os primeiros resultados são encorajadores, mas as medições demonstram variações significativas e mais testes serão necessários para estabelecer este método como padrão para a monitoração da glicose. EASD (European Association for the Study of Diabetes), 35th Annual Meeting, Bruxelas, 28 de setembro de 1999, Heinemann L et al. Non-invasive glucose monitoring during oral glucose tolerance tests in volunteers and diabetic patients. Monitorização de glicose com sensores óticos A situação ideal para um paciente diabético é aquela em que ele seja capaz de monitorar constantemente a glicose no sangue sem procedimentos incômodos. Se tal processo existisse, a cooperação aumentaria muito e o desconforto do paciente diminuiria. Heinemann et al. desenvolveram um método usando sensores óticos para monitorar os níveis de glicose no sangue sem procedimentos agressivos, registrando o coeficiente de deflexão da pele humana ao invés de empregar medidas de absorção. Esta técnica se baseia no princípio de que um raio de luz lançado sobre a pele interage com esta e com a glicose contida nela. A quantidade de luz defletida é registrada pelos sensores óticos. O Dr. Heinemann apresentou os resultados de um estudo utilizando este método para acompanhar mudanças fisiológicas na glicose sangüínea. Entre os participantes estavam 5 voluntários saudáveis e 13 pacientes com diabetes tipo 2. A deflexão da luz pela pele (duas medições simultâneas por paciente) foi registrada com ajuda de sensores óticos conectados à pele os quais registraram a intensidade da luz defletida após a aplicação de luzes de diferentes freqüências. Além disso, a concentração de glicose no fluido intersticial foi medida por meio de microdiálise utilizando um catéter e um analisador CMA. As mudanças na glicose sangüínea foram medidas em resposta a um teste oral de tolerância à glicose. 86 continuação Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) As excursões da glicose sangüínea desde o princípio foram mais altas entre os pacientes diabéticos. As duas medições simultâneas foram comparadas em ambos os grupos de pacientes, evidenciando reprodutibilidade. Apesar de o grau de correlação ser variável em cada paciente, em geral, correlações boas ou aceitáveis entre as medições óticas e os níveis de glicose foram observadas em cerca de 3/4 dos participantes, enquanto que nos outros a correlação foi insatisfatória. Em casos em que uma boa correlação foi evidenciada, as mudanças (aumento e diminuição) na glicemia durante o teste foram bem aproximadas por medições de deflexão ótica. A calibragem retrospectiva dos resultados reduziu a variância dos dados de deflexão registrados, possibilitando uma melhor correlação entre os níveis de glicose. Estes dados demonstram a viabilidade potencial dos sensores óticos para monitoramento contínuo da glicose. São necessários maiores estudos para examinar o motivo pelo qual a técnica não funcionou em todos os pacientes testados. Conclusão: Está sendo desenvolvido um método não agressivo envolvendo medição de deflexão de luz pela pele como indicador da concentração de glicose sangüínea. Um estudo inicial utilizando a técnica em pacientes diabéticos e voluntários evidenciou correlações razoáveis com os níveis de glicose, mas os resultados não foram os mesmos em todos os participantes. Serão necessários mais estudos para solucionar esta inconsistência antes que se possa considerar a aplicação prática deste método. Knip M, Akerblom HK, Escola de Medicina, Departamento of Pediatrics, Tampere University Hospital, Finlândia, [email protected], Exp Clin Endocrinol Diabetes;107:Suppl3:S93-100, 1999 Fatores ambientais na patogênese do diabetes mellitus tipo 1 O diabetes tipo 1 é considerado uma doença auto-imune crônica com um sintoma sub-clínico caracterizado pela perda seletiva de células β produtoras de insulina nas ilhotas pancreáticas em indivíduos geneticamente predispostos. Menos de 10% dos indivíduos que apresentam aumento da suscetibilidade genética progridem para a doença clínica, sugerindo uma forte modificação ambiental do processo diabético. Várias causas exógenas, como determinados fatores alimentares e vírus, são considerados por induzir o processo auto-imune, levando em alguns indivíduos à extensa destruição da célula β e finalmente à manifestação clínica do diabetes tipo 1. Além do seu papel como causa, os fatores ambientais provavelmente afetam também o resultado do processo e a taxa de progressão para doença clínica nos indivíduos que desenvolvem o diabetes tipo 1. A atual revisão enfoca dados relativamente recentes sobre os fatores ambientais potencialmente envolvidos na patogênese do diabetes tipo 1 com ênfase nos fatores alimentares e nas proteínas do leite de vaca (LV) em especial. A hipótese sobre o leite de vaca permaneceu em controvérsia por uma década e portanto para resolver esta questão deveria ser realizado um estudo de intervenção. Recentes estudos prospectivos indicaram que infecções enterovirais podem induzir à autoimunidade da célula β e aumentar a resposta imunológica humoral aos antígenos da célula β em indivíduos com um processo em andamento. Existem ainda dados muito preliminares sugerindo um papel similar para infecções por rotavírus. Embora possa haver uma única causa de auto-imunidade da célula β em um determinado indivíduo, é altamente improvável que haja somente um determinante exógeno do diabetes tipo 1. Em vez disso temos uma interação Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) 87 complexa entre as séries de fatores ambientais e entre fatores ambientais e a predisposição à doença genética resultando na progressão do diabetes tipo 1 clínico nos indivíduos geneticamente suscetíveis que experimentam um momento inoportuno e/ou um conjunto de fatores exógenos diabetogênicos e/ou falta de modificadores ambientais protetores. Estudos prospectivos em andamento com seu início após o nascimento proporcionam um cenário ideal para a identificação de fatores ambientais que afetam o risco de progressão para o diabetes tipo 1. SmithKline Beecham inaugura um site na Internet: http://www.avandia.com.br A SmithKline Beecham inaugurou um site na Internet inteiramente dedicado ao Avandia (rosiglitazona), com páginas dedicadas a pacientes e médicos. As ilustrações deste site permitem entender melhor a resistência à insulina e a ação das glitazonas. O usuário pode também encontrar em linguagem clara, respostas a perguntas referentes a este novo medicamento para o tratamento do diabetes tipo 2. 88 Diabetes Clínica 04 (2000) O Diabetes na Imprensa Nova tecnologia para a secreção de insulina 20 de fevereiro de 2000 Cientistas da empresa Ariad, dos EUA, podem ter descoberto uma forma de fazer com que os diabéticos troquem as injeções diárias de insulina pelo uso de comprimidos. A nova técnica fez com que células que não produziam insulina fossem modificadas para fabricar esse hormônio. Depois, elas passaram a liberar doses de insulina sempre que o comprimido era ingerido. O estudo, realizados em ratos, poderá ser testado em humanos em dois anos. Diabetes cresce e já é a quinta causa de mortalidade no Brasil 20 de março de 2000 Em menos de uma década, o diabetes de tipo 2 passou do décimo para o quinto lugar no ranking das causas de morte no país (...). Segundo especialistas, caso governo e instituições não se dediquem à prevenção e ao diagnostico precoce, a doença tende a aumentar sua incidência como uma das principais causas de morte. Além de estar entre as enfermidades mais caras e mutiladores. Em 1987, o Brasil tinha 5 milhões de diabéticos, 90% do tipo 2. Hoje são cerca de 8 milhões. Os 10% restantes correspondem ao diabetes juvenil.(...) O diabetes já é a principal causa de cegueira e de amputações de membros inferiores (por razões não-traumaticas) no país. Os EUA contabilizam gastos e perdas de US$ 130 bilhões por ano por conta do tratamento e dos custos sociais indiretos da doença. O diabetes já é considerado a maior ameaça ao sistema público de saúde. “Estamos brincando que estamos tratando do diabetes quando não estamos”, diz Adriana Costa Forti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). No seu Estado, o Ceará, 64,5% não sabem que estão com a doença. Na média do país, metade dos diabéticos não sabem disso. Esse quadro só mudará com informação, prevenção, diagnóstico precoce e tratamento. Uma das bandeiras da Federação Nacional de Associações de Diabéticos (FENAD) é a realização de testes a cada dia 14 de novembro, eleito pela Organização Mundial da Saúde como a data de alerta contra o diabetes. No ano passado 450 mil testes foram realizados em 403 cidades. Os re- O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2000) continuação 89 sultados apontam para um agravamento do quadro: cerca de 9% dos testados estavam com a doença. Entre aqueles com mais de 60 anos, 20% a 25% manifestaram o diabetes. Com o envelhecimento da população, o diabetes tende a crescer mais rapidamente. Aqui aparece o outro lado da moeda: o tratamento. “Não adianta σ⌠ διαγνοστιχαρ, é precisa encaminhar o paciente para serviços especializados e garantir que recebam medicação e informações adequadas”, diz Fadlo Fraige Filho, presidente da FENAD. Agente laranja pode ter causado diabetes 9 de março de 2000 Um novo estudo da Força Aérea americana mostrou ligação entre o uso do agente laranja no Vietnã e a incidência de diabetes entre os veteranos que tiveram ligação com essa substância, informou o Pentágono. O estudo foi conduzido com cerca de mil veteranos que tripulavam aviões dos quais o agente laranja era jogado para atuar como desfolhante. Ele poderá levar à inclusão do diabetes entre as até agora nove doenças ligadas ao herbicida e resultar em novas indenizações para milhares de veteranos do Vietnã. Desenvolvido novo método para medir glicose 1 de março de 2000 Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) testaram com sucesso um novo método indolor para medir a quantidade de glicose no sangue sem nenhuma perfuração da pele. O estudo utilizou tecnologia de ultra-som para medição de glicose em sete pacientes com diabetes tipo 1. O método consiste na extração, por meio de sucção, de uma pequena quantidade do fluido contido no espaço intersticial ao redor das células, com o uso de um aparelho de ultra-som adaptado, que aumenta a permeabilidade da pele. O fluido contém concentrações químicas muito semelhantes às do sangue, o que permite a determinação do nível de glicose na corrente sangüínea. A nova tecnologia poderá estar disponível no mercado dentro de três a cinco anos. 90 Diabetes Clínica 04 (2000) Avanços terapêuticos e tecnológicos Wolffenbuttel BH, Depto. de Endocrinologia e Metabolismo, Universidade Hospital Maastricht, Holanda, Neth J Med; 55 (5):229-34, novembro de 1999 Jovanovic L et al, J Clin Pharmacol; 40 (1):49-57, janeiro de 2000 Repaglinida (Prandin e Novonorm): um novo composto para o tratamento de pacientes com diabetes tipo 2 A repaglinida é um novo agente hipoglicêmico oral, membro da família do ácido carbamoilmetilbenzóico (CMBA). Seu mecanismo de ação é em parte similar ao da sulfoniluréia: a liberação de insulina das células pancreáticas é estimulada pelo fechamento dos canais de potássio dependente de ATP. Entretanto, a repaglinida regula estes canais através de um sítio de ligação à célula β distinto da glibenglamida, e a substância não causa a liberação de insulina na ausência de glicose ou durante clamp. Após administração oral, a substância é rapidamente absorvida e eliminada. Portanto, é utilizada em um esquema de dosagem vinculado às refeições; a repaglinida é ingerida junto à cada refeição principal. Sua utilização junto às refeições pode apresentar uma simulação mais psicológica da necessidade de insulina diurna que o uso da sulfoniluréia uma ou duas vezes ao dia. Pacientes que recebem a repaglinida são menos propensos a desenvolver sintomas hipoglicêmicos quando perdem ou adiam uma refeição em comparação com pacientes que recebem a glibenclamida. Estudos comparativos de longa duração em fase 3 consideraram que a repaglinida é tão eficaz na manutenção do controle glicêmico que as sulfoniluréias, mas ela proporciona um controle significativamente melhor dos níveis pós-prandiais de glicose sangüínea. A repaglinida pode ser usada como monoterapia em pacientes diabéticos tipo 2 obesos ou não, e é também muito eficaz em associação com substâncias como a metformina ou as tiazolidinas. Devido a sua eliminação através do fígado e bile, ela é também uma substância atraente para pacientes diabéticos com função renal comprometida, especialmente o diabético idoso. Embora a incidência de hipoglicemia ser semelhante durante o uso da repaglinida e da sulfoniluréia, poucos episódios hipoglicêmicos foram observados nos pacientes tratados com repaglinida. Repaglinida no diabetes tipo 2: estudo de eficácia e segurança com dose fixa e duração de 24 semanas Neste estudo multicêntrico, duplo-cego, randomizado, dose fixa, com duração de 24 semanas, 361 pacientes com diabetes tipo 2, receberam diariamente tratamento pré-prandial com placebo (n = 75), repaglinida 1 mg (n = 140) ou repaglinida 4 mg (n = 146). Através de uma última avaliação, o Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) 91 continuação tratamento com repaglinida 1 mg ou 4 mg diminuiu os valores de glicose plasmática em jejum (GPJ) (em 47 mg/dl ou 49 mg/dl) enquanto o grupo placebo apresentou aumento nos valores de GPJ (em 19 mg/dl). Ao final do estudo, nos grupos de tratamento com repaglinida, as alterações nos valores basais da HbA1c variaram de 1,8 a 1,9 pontos percentuais mais abaixo que o grupo placebo. Não houve eventos hipoglicêmicos severos. Quase todos os sintomas hipoglicêmicos apresentaram níveis de glicose sangüínea superior a 45 mg/dl. A repaglinida foi bem tolerada em um esquema pré-prandial dose fixa de 1 mg ou 4mg, determinada sem ajuste para parâmetros clínicos. Damsbo P et al., Novo Nordisk A/S, Novo Alle, Bagsvaerd, Denmark, Diabetes Res Clin Pract;45(1):31-9, agosto de 1999 Regulação flexível da glicose prandial com repaglinida em pacientes com diabetes tipo 2 Indianapolis, 20 de março de 2000 Humalog Mix75/25 (insulina Lispro protamina suspensão/ insulina Lispro injeção) agora disponível nos Estados Unidos A repaglinida é um moderno regulador da glicose prandial de ação rápida. Para investigar o efeito da repaglinida, 1 mg antes de cada refeição, na manutenção do controle glicêmico em pacientes diabéticos tipo 2 que perderam uma refeição ou fizeram um refeição extra, 25 pacientes foram randomizados para um esquema fixo de três refeições/dia ou um dos dois esquemas de refeições variadas, consistindo de padrões repetidos de duas, três ou quatro refeições/dia em um período de 20 dias. No 21º dia cada paciente recebeu três refeições. O controle glicêmico foi avaliado pelas concentrações de frutosamina sérica semanalmente e perfil de glicose sérica de 13 e 37 pontos. As concentrações médias de frutosamina diminuíram de forma significativa para valores normais durante o período de tratamento (de 3,10 a 2,68 mg/dl no esquema de refeição fixa e de 3,37 a 2,85 mg/dl nos esquemas de refeição variada; P < 0,05), sem diferença estatisticamente significativa no controle da glicose entre os grupos de esquema de refeição fixa e refeição variada. Os níveis de glicose sérica em jejum diminuíram ligeiramente nos dois grupos, mas não foram alterados pelo número de refeições. Da mesma forma, os perfis de glicose sérica não foram alterados de forma significativa pelo número de refeições ingeridas. A repaglinida foi bem tolerada e não foram relatados eventos hipoglicêmicos. Os níveis de colesterol sérico foram reduzidos de forma significativa (P < 0,05) nos dois grupos de refeição fixa e mista, bem como os níveis de triglicerídeos no grupo de refeição mista (P < 0,05). Concluiu-se que o tratamento associado à refeição com repaglinida foi bem tolerado independentemente do número das refeições ingeridas/dia. Na medida que perder ou adiar uma refeição representa uma real possibilidade para muitos indivíduos, a repaglinida oferece um tratamento antidiabético que pode ser ajustado para atender o estilo de vida de cada paciente. Os mais de um milhão de diabéticos que utilizavam insulina pré-misturada não precisam mais esperar de 30 a 45 minutos para comer após tomar sua medicação, caso optem por utilizar a nova insulina da Lilly. A companhia farmacêutica Eli Lilly anunciou o lançamento da primeira insulina pré-misturada contendo insulina de ação instantânea. A Humalog Mix75/25 Pen (75% de protamina insulina Lispro suspensão e 25% de insulina lispro injeção[rDNA]), ajudará os 92 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) continuação pacientes a controlarem os níveis de glicose no sangue e a administrarem melhor sua medicação mantendo horários rígidos para alimentarem-se. A Humalog Mix75/25 é indicada para o controle da hiperglicemia em pacientes com diabetes mellitus e está disponível na caneta de insulina da Lilly, um dispositivo para injeção de insulina semelhante a uma caneta que tem demonstrado melhorar a precisão da dosagem. O lançamento da Humalog Mix75/25 foi possível devido à recente aprovação da insulina pré-misturada por parte do FDA. A combinação dos benefícios de uma insulina de ação rápida e que deve ser consumida às refeições com um outro tipo, de ação moderada, torna a administração da Humalog Mix75/25 perfeita para controlar os níveis de glicose no sangue ao longo do dia - às refeições, entre as refeições e durante a noite. A duração deste novo medicamento é semelhante àquela do Humulin(R) 70/30 (70% insulina humana isofano suspensão, 30% injeção de insulina humana [rDNA]). A insulina de ação rápida, Humalog, é rapidamente absorvida pelo organismo dentro de 15 minutos após a refeição. A insulina Lispro protamina suspensão, é a insulina de ação moderada que ajuda a controlar os níveis de glicose ao logo do dia. Este componente foi especialmente desenvolvido para ser utilizado juntamente com o Humalog e não será comercializado separadamente. As pesquisas demonstram que o Humalog é mais eficiente do que a insulina comum na redução dos níveis de glicose após as refeições. O significado clínico da melhoria na hiperglicemia após as refeições com a Humalog ainda foi estabelecido. Em estudos clínicos de 12 meses, a HbA1c não se mostrou diferente da Humalog. Toronto, Canadá, 23 de fevereiro de 2000 A insulina oral Oralgen/Oralin controla os níveis de glicose pós-refeição A Generex Biotechnology Corporation anunciou que havia completado a série de testes clínicos de curto prazo do Oralgen (Oralin no Canadá e em outros países), A formulação de insulina da Generex pode ser administrada diretamente na cavidade oral por meio de um spray leve e fácil de carregar. O Dr. Andrew Lewin foi quem coordenou os testes no Instituto de Pesquisa Nacional de Los Angeles, Califórnia. O objetivo principal dos estudos foi examinar os efeitos do uso de Oralin/Oralgen no tratamento de pacientes (adultos) com diabetes tipo 2. Os testes do Dr. Lewin foram realizados seguindo um protocolo de estudos onde desafiaram-se os pacientes a ingerir uma refeição altamente calórica e em seguida pediu-lhes que administrassem o Oralin/Oralgen juntamente com a metformina. Os resultados dos testes com Oralin/Oralgen foram então comparados com outros onde foi administrado um placebo em substituição ao produto da Generex. Os resultados demonstraram que o controle da glicose nos pacientes que receberam o produto da Generex foi superior àqueles obtidos com os pacientes que receberam o placebo na maioria das vezes. Segundo o Dr. Lewin, “após examinarmos os resultados obtidos com o preparado oral e o compararmos com aqueles obtidos com a administração do placebo em dezesseis pacientes com diabetes do tipo 2, conseguimos demonstrar que o preparado oral de insulina foi bem absorvido e diminuiu a glicose no plasma. A insulina oral foi bem tolerada e não houve efeitos colaterais neste teste a curto prazo.” O Dr. Lewin continua os testes com a insulina oral da Generex para que se possa avaliar os resultados a longo prazo. Além das pesquisas mencionadas acima, os testes de fase 2 já estão em progresso no Texas, Califórnia e Inglaterra. 94 Diabetes Clínica 04 (2000) Produtos e novidades Festiva lança o primeiro biscoito direcionado aos portadores de diabetes A Festiva, dinâmica indústria alimentícia brasileira, está lançando o primeiro biscoito industrializado do País para diabéticos. Este biscoito Diet, aprovado pela Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD), contém em seus ingredientes o Splenda, da Johnson & Johnson, adoçante obtido através da sacarose, açúcar em estado natural, que não deixa o tradicional gosto amargo de outros adoçantes. A novidade, que demorou cerca de oito meses para chegar o mercado, pode ser encontrada nas principais lojas especializadas em produtos naturais e dietéticos. O gel de Silipos para os cuidados do pé O gel de Silipos é um gel de polímero à base de óleo mineral de uso clínico. Todos os produtos da Silipos possuem propriedades especiais e exclusivas que os tornam excelentes produtos ortopédicos à base de gel, que, quando usados, liberam o óleo por um período de um ano. Este óleo é preparado com base de naftalina ou parafina, destilado em óleo lubrificante com ácido sulfúrico. Este procedimento elimina toda insaturação aromática e instabilidade dos hidrocarbonos, bem como as bases nitrogenadas e sulfuradas. O resultado é um óleo branco que possui características e propriedades físicas e químicas próprias, já que todos os corpos coloridos, compostos tóxicos e reativos foram removidos. Os inibidores de oxidação natural, removidos por este processo, são substituídos por uma pequena quantidade de inibidores com o BHT ou Vitamina E. O gel encontra-se na forma de folhas ou incorporado em vários produtos tais como cúpula para calcanhar, palmilhas, dedeiras, protetores, separadores e afastadores para os dedos do pé, etc. Após deformação, o gel retorna à forma inicial, amortece choques, vibrações, absorve fricções e quando sofre pressão, reverte-se a uma reação de massagem intermitente a qual ajuda a aumentar a circulação. A meia Soft Walk (foto), usando uma camada de 2 mm de gel de polímero, moldando à área interna da sola, a bainha de nylon revestida com gel (foto), protegendo os membros residuais ou os aneis em malha cirúrgica com almofadas de gel (foto) são alguns dos produtos úteis para os pacientes diabéticos. Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 04 (2000) 95 O óleo da Silipos foi aprovado pelos FDA (Food and Drug Administration) e US Pharmacopeia for Food or Medical Grade Oils. Feet Care do Brasil Ltda, Rua Buenos Aires 100 Grupo 402, Centro, CEP 20070-020, Rio de Janeiro. Tel: (21) 507 7434. Nova bombinha Minimed, com controle remoto O modelo 508 da bomba Minimed (foto 1) tem todos os recursos do modelo anterior 507 C e oferece as inovações seguintes: bloqueio para criança, garantindo total segurança contra eventual acionamento acidental; alarme vibratório (os alarmes sonoros continuam a existir e passam a ser uma opção do usuário); três seqüências básicas (para durante a semana, fim de semana, período menstrual); alarme (avisa quando o volume de insulina está muito baixo); maior flexibilidade na administração do bolus. foto 1 O controle remoto (foto 2) permite ao usuário esconder a bombinha na parte de seu corpo que lhe parece mais confortável e acioná-la através de um chaveiro. foto 2 O Glucosensor (foto 3), novo sistema de monitorização contínuo de glicose, está chegando no mercado brasileiro. Glucosensor deve ser utilizado pelo paciente durante três dias e é colocado dentro do tecido subcutâneo. Ele registra as médias de glicose a intervalos de 5 minutos. O sensor é um pequeno eletrodo com menos de um milímetro de espessura. Fica dentro de uma pequena agulha e, uma vez inserido na pele, o sensor continua dentro do tecido subcutâneo enquanto a agulha é removida e descartada. O sensor é preso a um pequeno disco plástico, afixado à pele com uma fita. Uma cabo conecta o sensor ao monitor, que registra e arquiva os valores da glicose. O sensor entrega um sinal contínuo ao monitor, que estoca um valor médio da glicose a cada 5 minutos. Em um período de três dias, podem ser registrados 864 valores de glicose, que são passados automaticamente a um computador para serem analisados. Os primeiros exemplares (somente para médicos) estarão disponíveis em junho 2000. foto 3 Tudo sobre diabetes da Editora Andrei Na sua coleção “Tudo sobre...” a editora Andrei, está lançando esse prático manual para o portador de diabetes e sua família. Escrito por médicos especialistas, esse livro fornece respostas a inúmeras perguntas reais feitas por pessoas diabéticas e suas famílias, explica todos os termos médicos em linguagem simples e direta, explica o que o paciente precisa saber para lidar com seu diabetes, responde as perguntas que ele não se sente à vontade para fazer ao seu médico, mostra exatamente o que fazer em uma emergência. Os autores são o Dr. Peter Sönksen, professor de endocrinologia, nas faculdades United Medical e Dental Schools of Guy’s e St Thomas’ Hospital’s, St Thomas Campus, Londres, o Dr. Charles Fox é médico consultor com interesse especial em diabete, Northampton General Hospital e Sue Judd é uma ex-enfermeira especializada em diabetes no St Thomas’ Hospital’s, Londres. Revisão técnica e científica bem como a adaptação para o Brasil feitas pelo Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho. Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) 97 Resumos de trabalhos e congressos Mohamed A. Hamza et al, Diabetes Care 23:365-370, 2000 Estimulação nervosa elétrica percutânea: um tratamento analgésico recente para dor neuropática diabética Objetivo: Avaliar o uso de estimulação elétrica percutânea (PENS) no tratamento de pacientes com neuropatia periférica diabética dolorosa. Métodos: Um total de 50 pacientes adultos com diabetes tipo 2 e dor neuropática periférica com > 6 meses de duração envolvendo as extremidades inferiores foram distribuídos aleatoriamente para receber tratamentos com PENS ativo (agulhas com estimulação elétrica em uma freqüência alternada de 15 e 30 Hz) e simulado (somente agulha) por 3 semanas. Cada série de tratamento foi administrado por 30 min, três vezes por semana de acordo com um protocolo padronizado. Após um período de repouso de 1 semana, todos os pacientes foram trocados subseqüentemente para o tratamento alternativo. Uma escala anológica visual de 10 cm (VAS) foi usada para avaliar a dor, a atividade física, e a qualidade do sono antes de cada sessão. As mudanças na pontuação da VAS e as necessidades diárias de medicação analgésica oral foram determinadas durante período de tratamento de 3 semanas. Os pacientes completaram um formulário de 36 itens de Pesquisa da Saúde MOS (SF-36), o Inventário de Depressão Beck (BDI) e o Perfil do Estado de Humor (POMS) antes e após completar cada modalidade do tratamento. No final do estudo cruzado, um questionário de preferência do paciente foi usado para comparar e eficácia das duas modalidades. Resultados: Em comparação com a pontuação VAS de dor antes dos tratamentos ativo (6,2 ± 1,0) e simulado (6,4 ± 0,9), a pontuação da dor após o tratamento foi reduzida para 2,5 ± 0,8 e 6,3 ± 1,1, respectivamente. Com tratamento PENS ativo, a VAS de atividade e a pontuação do sono melhoraram significativamente de 5,2 ± 1,0 e 5,8 ± 1,3 para 7,9 ± 1,0 e 8,3 ± 0,7, respectivamente. A pontuação VAS para dor, atividade e sono permaneceram os mesmos dos valores basais após os tratamentos simulados. As necessidades diárias de analgésicos não-opióides orais dos pacientes diminuíram em 49 e 14% após os tratamentos ativo e simulado, respectivamente. Os componentes mentais e físicos pós-tratamento de SF-36, BDI, e POMS mostraram uma melhora significativamente maior com tratamento ativo ver- 98 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) sus simulado. O tratamento ativo PENS melhorou os sintomas da dor neuropática em todos os pacientes. Conclusão: PENS é uma modalidade terapêutica não-farmacológica útil para tratar a dor neuropática diabética. Além de diminuir a dor das extremidades, o tratamento PENS melhorou a atividade física, o sentido de bem estar, e a qualidade do sono, além de reduzir a necessidade de medicação analgésica não-opióide oral. Vieira A, Matos AG, Bastos GM, Decacché L, Coutinho W, Rodrigues R, Meirelles R, Zagury L, André, Rezende R, Cabral M, Jucinéia, 12o Congresso brasileiro de diabetes, Aracaju, Sergipe, 8-14 outubro de 1999 Estudo comparativo entre obesos não diabéticos e obesos diabéticos O eixo hipotálamico-hipófise-adrenal (HHA) parece estar implicado na fisiopatologia da obesidade abdominal e da síndrome metabólica. Estudos anteriores sugerem haver une hiperatividade do eixo HHA em mulheres obesas com deposição central de gordura. Nosso grupo, recentemente demonstrou haver uma relação direta entre o volume das adrenais e a área de gordura visceral, medidas por tomografia computadorizada (TC). Hipotetizamos, que sendo o Diabetes tipo 2 (DM 2) relacionado a obesidade visceral, poderia haver diferença entre o volume das adrenais das diabéticas. Objetivo e métodos: Determinar e comparar o volume das adrenais, a área de gordura visceral (GV) e o cortisol urinário (CU) em mulheres obesas em grupo de diabéticas (D) e não diabéticas (ND). Foram estudadas 22 pacientes sendo 11 de cada grupo, através da medida de gordura visceral e volume das adrenais por TC e dosado o cortisol urinário. Resultados: Não houve diferença significativa entre os seguintes dados: peso, índice de massa corporal (IMC), cintura, e relação cintura/quadril (WHR), e GV, a GSC e o CU, quando comparamos os valores entre os dois grupos. Houve diferença significativa no volume das adrenais (VA), que o VA das D foi o dobro das ND ( 4,243 ± 1,514 cm3 nas D e 2,077 ± 1,224 cm3 nas ND, P = 0,001). A idade do grupo das D também era maior que do grupo das ND M = 50,091 ± 11,614 anos nas D e 35,091 ± 8,142 anos nas ND ( P = 0,002). Conclusão: Pacientes obesas portadores de DM2 têm o volume das adrenais maior do que o das obesas não diabéticas. As implicações fisiopatológicas e terapêuticas destes achados podem estar relacionadas a uma hiperatividade do eixo HHA prévia ao desencadear do DM. Gokhan Uckaya et al, Diabetes Care 23:371-376, 2000 É a leptina associada com retinopatia diabética? Objetivo: Em estádios avançados de retinopatia diabética, são formados novos vasos sanguíneos com base em mecanismos não definidos. Recentemente, a leptina mostrou possuir uma ação angiogênica in vitro e induzir a Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) 99 neovascularização in vivo. O objetivo do atual estudo foi investigar a relação entre os níveis de leptina no plasma e a severidade da retinopatia diabética. Métodos: 70 pacientes com diabetes tipo 2 (idade 47,9 ± 9,7 anos, IMC 26,4 ± 3,3 kg/m2) que foram tratados em uma clínica ambulatorial de retina foram recrutados e distribuídos em subgrupos de acordo com o estádio de suas retinopatias diabéticas. Havia 66 indivíduos voluntários saudáveis pareados com os pacientes diabéticos quanto a idade, IMC, e sexo que serviram de controle (idade 46,0 ± 8,8 anos, IMC 27,1 ± 2,3 kg/m2). Foram medidos os níveis de leptina plasmática em jejum. Resultados: O nível de leptina plasmática dos pacientes diabéticos não era significativamente diferente dos indivíduos controle. Em pacientes com retinopatia diabética proliferativa (n = 17), o nível plasmático médio de leptina (16,1 ± 9,2 ng/ml) foi significativamente mais alto do que aquele nos pacientes com retinopatia não-proliferativa (n = 20) (11,5 ± 3,5 ng/ml, P = 0,039) ou pacientes sem retinopatia (n = 33) (5,8 ± 3,7 ng/ml, P = 0,001). O nível médio de leptina nos pacientes com retinopatia diabética não-proliferativa foi também significativamente mais alto do que nos pacientes sem retinopatia (P = 0,002). Conclusão: Nossos resultados mostram que quanto mais avançada a retinopatia diabética, mais altos os níveis de leptina plasmática, mesmo após o ajuste dos níveis de leptina para IMC. A presença de tal correlação positiva não implica uma relação causal. Contudo, a promoção previamente observada de angiogênese e neovascularização induzida pela leptina suporta a possibilidade que a leptina pode ter uma papel na progressão da retinopatia diabética humana para a fase proliferativa. Esta possibilidade merece novas investigações. J.H. Pinkney et al,Diabetic Medicine 16 993-999, dezembro de 1999 Disfunção endotelial no diabetes mellitus tipo 1: relação com a oxidação de LDL e os efeitos da vitamina E Objetivos: Examinar a hipótese que a suscetibilidade aumentada de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) para a oxidação predispõe a disfunção endotelial em pacientes com diabetes mellitus tipo 1. Métodos: Um estudo cruzado de 46 diabéticos não-nefropáticos e 39 indivíduos controle, e nos pacientes diabéticos, um estudo com duração de 3 meses, randomizado, controlado por placebo duplo cego de Vitamina E 500 U/dia. A vasodilatação mediada por fluxo (FMD) foi medida no antebraço através de ultra-sonografia de alta resolução. A oxidação de LDL através de Cu²+ foi medida in vitro. Resultados: Os pacientes diabéticos tiveram uma maior média basal e reativa do fluxo sangüíneo do antebraço (média geométrica (DP%) fluxo (ml/ min) 110,15 (19,19%) vs. 74,99 (23,17%); P = 0,045, e 344,35 (20,84%) vs. 205,17 (21,48%); P = 0,007), em comparação com os controles, mas não houve diferença no FMD (mediana (limite intraquartil) 0,00 (-0,01-0,02) vs. 100 continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) 0,02 (-0,01-0,02) cm²; P = 0,78). O tempo de demora da oxidação do LDL diabético correlacionou-se com a área arterial braquial pós-dilatação (r = 0,32; P = 0,05) mas não com FMD. Os tempos de demora e a oxidação LDL total através do Cu²+, as concentrações de lipoproteína e de vitamina E foram semelhantes no grupos diabéticos e controle. Os títulos de anticorpos para LDL oxidado (oxLDL) foram mais altos em não-diabéticos do que nos indivíduos diabético, e não foram relacionados com FMD. Nos pacientes diabéticos, a administração de vitamina E aumentou os níveis médios de vitamina E no plasma (24,0 (6,5) para 47,5 (7,5) mmol/l; P= 0,0006) e resultado em FMD aumentado (D 0,00 (-0,02-0,01) vs. (0,01-0,02) cm²; P = 0,0036), mas não foram observadas mudanças nos perfis de oxidação LDL Cu²+. Conclusões: FMD não é diferente no diabético tipo 1 e nos indivíduos não-diabéticos e nem são os índices da peroxidação lipídica e a oxidação LDL in vitro, apesar dos níveis de anticorpos para oxLDL serem mais baixos nos diabéticos. A suplementação de vitamina E aumenta os níveis de vitamina E no plasma e pode aumentar FMD no diabetes mas, na ausência de mudanças na oxidação do LDL, isto pode não ser mediado através da oxidação de LDL reduzida. M. Malaguarnera et al, Diabetes, Obesity & Metabolism 2:33-38, janeiro de 2000 Tratamento da hipertrigliceridemia familiar com acarbose Objetivo: A avaliação dos níveis séricos de triglicerídeos desempenha um importante papel como método independente para determinar o fator de risco para aterosclerose coronariana. Os fibratos, ácido nicotínico e óleos de peixe poliinsaturados omega-3 são as ferramentas farmacológicas mais usadas hoje em dia contra a hipertrigliceridemia. A acarbose é um pseudotetrasacarídeo de origem microbial que exerce uma inibição reversível, seletiva e competitiva da alfa-glucosídio-hidrolase. Avaliamos a eficácia e os efeitos colaterais da acarbose como uma substância nova e alternativa no tratamento da hipertrigliceridemia em pacientes não-diabéticos. Métodos: Recrutamos 30 pacientes não-diabéticos (18 homens, 12 mulheres; média de idade de 59,23 ± 6,27 anos) sem história familiar de diabetes mellitus afetados por hipertrigliceridemia familiar. O estudo abrangeu um período total de 6,5 meses: metade dos pacientes estava apenas em dieta há 1,5 meses seguido por 5 meses de dieta terapêutica associada à acarbose; e metade estava em dieta terapêutica mais placebo. Administramos 30 drágeas repartidas entre todos os pacientes. A administração seguiu o seguinte esquema: metade de uma drágea antes do almoço e metade antes do jantar durante a dieta. Quinze pacientes (grupo A) receberam acarbose enquanto o restante (grupo B) recebeu placebo (50 mg de amido); estes foram distribuídos aleatoriamente e o teste foi duplo cego. As vinte semanas de estudo foram divididas em cinco períodos de 4 semanas. As concentrações séricas em jejum de colesterol total, triglicerídeos, colesterol HDL (HDL-C), colesterol LDL (LDL-C) e glicose foram determinadas no início do estudo e após Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) continuação 101 cada ciclo de tratamento. Os valores de glicose foram determinados 2 h após o almoço no início do estudo e ao final do primeiro, terceiro e quinto mês de tratamento. Todos os parâmetros avaliados foram analisados por ANOVA. Resultados: O colesterol sérico total, os níveis de LDL-C observados nos dois grupos não sofreram alterações durante o tratamento. Observamos um redução notavelmente progressiva dos níveis basais de triglicerídeos médios até o quarto mês (p < 0,05) em pacientes tratados com acarbose, com um aumento no HDL-C (p < 0,008). Conclusão: Sustentamos que a acarbose pode ser uma ferramenta terapêutica útil aliada à dieta para reduzir os níveis séricos de triglicerídeos em pacientes não diabéticos. Lincoln A. Sargeant, Nicholas J. Wareham, Kay-Tee Khaw, Diabetes/Metabolism Research and Review;16,1:20-25, 2000 Terapia de reposição hormonal e tolerância à glicose no estudo EPIC-Norfolk: estudo populacional Objetivo: A terapia de reposição hormonal (TRH) pode afetar a homeostase da glicose em mulheres pós-menopausadas, mas ainda não ficou esclarecido se o uso a longo prazo está associado com alterações na tolerância à glicose. O objetivo foi examinar a relação da concentração de hemoglobina glicosilada (HbA1C) com o uso da TRH em mulheres pós-menopausadas não diabéticas. Métodos: Foi realizada uma análise cruzada dos dados basais de 2753 mulheres pós-menopausadas, com idades variando entre 45-74 anos recrutadas para o estudo EPIC-Norfolk entre 1995 e 1998. As mulheres preencheram um questionário sobre estilo de vida e saúde em que foi obtida a informação sobre o uso da TRH e coletado sangue para o ensaio para HbA1C. Resultados: 23% das mulheres se submetiam atualmente à TRH e 14% haviam sido submetidas no passado. A média de HbA1C foi significativamente mais baixa nas usuárias atuais em comparação com as usuárias antigas ou aquelas que nunca foram submetidas à terapia. Esta diferença não dependeu de idade, índice de massa corporal, proporção pulso-quadril (WHR), história familiar de diabetes, condição cultural e profissional, história de tabagismo, história de consumo de álcool, paridade, doença conhecida e condição de histerectomia. Em comparação com as novas usuárias da TRH, a relação de causalidade não ajustada (OR) para constar no quintil mais alto da distribuição de HbA1C em oposição ao mais baixo foi de 0,28 (IC 95% 0,20-0,39) para usuários atuais e 0,41 (0,32-0,53) para novos usuários. Após ajuste, o OR foi de 0,52 (0,34-0,79) e 0,72 (0,51-1,03) para usuárias atuais e aquelas que já foram submetidas à terapia, respectivamente. Conclusão: As mulheres atualmente submetidas a TRH apresentam níveis mais baixo de HbA1C, não explicados por fatores conhecidos embora não possamos excluir definitivamente um efeito saudável. Contudo, este estudo sugere que o atual uso de TRH não foi associado com diminuição na tolerância à glicose em mulheres pós-menopausadas. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 102–118 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000: I - Padrões de atendimento médico a portadores de diabetes mellitus Esse artigo reproduz e resume as principais recomendações da American Diabetes Association Ano 2000. Neste número de Diabetes Clínica, apresentamos: 1- Os padrões para o tratamento e atendimento ao diabético. 2- A importância dos resultados dos grandes estudos como DCCT e UKPDS 3- As recomendações de nutrição. Estes padrões de atendimento ao paciente diabético procuram proporcionar a: 1. Médicos e outros profissionais de saúde que cuidam de pessoas com diabetes meios para: • Estabelecer objetivos de tratamento. • Determinar a qualidade do tratamento do diabetes. • Identificar áreas onde são necessárias uma maior atenção ou treinamento para a auto-monitorização. • Definir padrões de referência adequados e necessários para os especialistas. 2. Pessoas com diabetes os meios para: • Determinar a qualidade do atendimento médico que elas recebem. • Desenvolver expectativas quanto ao seu próprio papel no tratamento médico. • Comparar os resultados do tratamento com os objetivos. Princípios gerais O diabetes é uma enfermidade crônica que requer cuidado clínico contínuo e educação para a prevenção de complicações agudas e para a redução do risco de complicações a longo prazo. Pessoas com diabetes devem ser tratadas por uma equipe coordenada por um médico. Estas equipes são compostas, porém não se limitam a, médicos, enfermeiras, nutricionistas e profissionais especializados e com especial interesse pelo diabetes. Os padrões a seguir definem o atendimento clínico básico para pessoas com diabetes. Estes padrões não excluem a necessidade de uma avaliação mais ampla e o cuidado do paciente por outros especialistas conforme isto se torne necessário. A hiperglicemia persistente é a característica principal de todas as formas do diabetes. O tratamento que visa reduzir a glicose sangüínea a níveis normais ou o mais próximo deles, em todos os pacientes, faz-se necessário pelos seguintes benefícios já comprovados: 1. O perigo da descompensação aguda devido a cetoacidose diabética ou síndrome hiperglicêmica não cetótica hiperosmolar, com sua morbidade e mortalidade inerentes, é acentuadamente reduzida. 2. Os sintomas de visão embaçada são aliviados, e o risco de poliúria, polidipsia, fadiga, perda de peso com polifagia, vaginite ou balanite pode diminuir. 3. Os riscos de desenvolvimento ou progressão da reti- Atualização - American Diabetes Association 103 nopatia diabética, nefropatia e neuropatia estão todos em grande parte reduzidos. É possível que estas complicações possam até mesmo ser prevenidas pelo manejo precoce efetivo. 4. A quase normalização da glicose sangüínea vem demonstrando estar associada a um perfil lipídico menos aterogênico. Para os objetivos sejam alcançados, estes programas requerem apoio contínuo da equipe de tratamento. Para alcançar níveis normais ou quase normais de glicose sangüínea nos pacientes, é necessário uma educação ampla na auto-monitorização e, para a maioria dos indivíduos, programas de tratamento intensivo. Tais programas incluem os seguintes componentes conforme a necessidade individual do paciente: • Freqüência apropriada de auto-monitorização da glicose sangüínea. • Terapia nutricional. • Exercício regular. • Esquemas fisiologicamente baseados em insulina, ou seja, injeções múltiplas diárias de análogos de insulina de rápida ação (por ex., lispro), de curta ação (por ex., regular), de ação intermediária (por ex., NPH ou lente), ou insulinas de longa ação (por ex., ultralente) ou infusão contínua subcutânea de insulina, em pacientes tipo 1 e alguns pacientes tipo 2. • Esquemas menos complexos à base de insulina ou agentes orais redutores de glicose em alguns pacientes tipo 2. • Instrução sobre a prevenção e tratamento da hipoglicemia e outras complicações crônicas e agudas. • Educação contínua e reforço. • Avaliação periódica dos objetivos do tratamento. Ao determinar os objetivos glicêmicos de cada paciente deve-se considerar os resultados dos estudos clínicos randomizados prospectivos, mas notavelmente o Estudo sobre o controle do Diabetes e suas Complicações (DCCT). Este estudo demonstrou de forma conclusiva que em pacientes com diabetes tipo 1 o risco de desenvolvimento ou progressão da retinopatia, nefropatia e neuropatia diminui de 50-75% com os esquemas de tratamento intensivo quando comparados com esquemas convencionais de tratamento. Estes benefícios foram observados com uma HbA1c média de 7,2% em grupos de pacientes tratados intensivamente em comparação com 9,0% nos grupos de pacientes tratados de forma convencional. A redução do risco destas complicações foi correlacionada continuamente com a redução na HbA1c produzida pelo tratamento intensivo. Esta relação implica que a quase normalização dos níveis glicêmicos pode prevenir complicações. A faixa referência não diabética para a HbA1c no DCCT foi de 4,0-6,0. Uma vez que ensaios diferentes podem apresentar variação dos valores de hemoglobina glicosada (GHb), é importante que os laboratórios utilizem métodos de ensaio que sejam atestados como detectáveis ao método de referência DCCT HbA1c. Objetivos específicos do tratamento Diabetes tipo 1 Tabela 1 – Controle glicêmico para pessoas com diabetes* Normal Objetivo Ação adicional sugerida Valores sangüíneos totais Média da glicose pré-prandial (mg/dl)† Média da glicose ao deitar (mg/dl) † < 100 < 110 80-120 100-140 < 80/ > 140 < 100/ > 160 Valores no plasma Média da glicose pré-prandial (mg/dl)‡ Média da glicose ao deitar (mg/dl) ‡ < 110 < 120 90-130 110-150 < 90/ > 150 < 110/ > 180 HbA1c (%) <6 <7 <8 * Os valores apresentados nesta tabela são por força generalizados para toda a população de indivíduos com diabetes. Pacientes com doenças comórbidas, adultos muito jovens e aqueles com mais idade, e outros em condições ou circunstâncias incomuns justificam diferentes esquemas de tratamento. Estes valores são para adultos que não estejam em estado de gravidez. A “ação adicional sugerida” depende das circunstâncias individuais. Tais ações podem incluir a intensificação da educação para a auto-monitorização do diabetes, uma equipe complementar para o controle do diabetes, consulta a um endocrinologista, mudança no tratamento farmacológico, início ou aumento na SMBG, ou um maior contato com o paciente. Recomenda-se um nível não-diabético de HbA1c na faixa entre 4,0-6,0% (média 5,0%, DP 0,5%) †Medição da glicose sangüínea capilar. ‡ Valores calibrados para glicose plasmática. 104 Atualização - American Diabetes Association Os objetivos da auto-monitorização no DCCT foram de 70-120 mg/dl (3,9-6,7 mmol/l) antes das refeições e ao deitar e < 180 mg/dl (<10,0 mmol/l) quando mensurados 1,5-2h no período pós-prandial. Entretanto, estes objetivos foram associados a um risco três vezes maior de hipoglicemia severa. Portanto, pode ser oportuno aumentar estes objetivos (por ex., 80-120 mg/dl [4,4 – 6,7 mmol/l] antes das refeições e 100-140 mg/dl [5,6 – 7,8 mmol/l] ao deitar) (Tabela 1). Estes objetivos devem ser posteriormente ajustados para cima em pacientes com história de recorrência severa ou hipoglicemia não reconhecida. Todos os valores de glicose sangüínea foram fornecidos pelos objetivos da auto-monitorização no DCCT. Uma vez que muitos métodos de laboratório medem a glicose plasmática, muitos monitores de glicose sangüínea aprovados para uso residencial e algumas tiras de teste calibram agora as leituras da glicose sangüínea para valores plasmáticos. Os valores de glicose plasmática são 10-15% mais altos que os valores de glicose sangüínea total e é fundamental que as pessoas com diabetes saibam se seu monitor ou tiras apresentam resultados do plasma ou do sangue total. Os valores de glicose préprandial e ao deitar no começo da Tabela 1 foram modificados para mostrar leituras do plasma. Os objetivos individuais do tratamento devem considerar a capacidade do paciente para entender e dar andamento ao esquema de tratamento, o risco do paciente para hipoglicemia severa, e outros fatores do paciente que podem aumentar o risco ou diminuir o benefício (por ex., jovem ou idoso, doença renal terminal, doença cerebrovascular ou cardiovascular avançada, ou outras doenças coexistentes que de forma concreta vão diminuir a expectativa de vida). O resultado desejado do controle glicêmico no diabetes tipo 1 é reduzir a GHb (ou qualquer outra medida equivalente de glicemia crônica) de forma a alcançar a prevenção máxima de complicações com atenção para a segurança do paciente. Para alcançar estes objetivos com tratamento intensivo, são necessários: • Auto-monitorização frequente (pelo menos três ou quatro vezes por dia). • Terapia nutricional. • Educação na auto-monitorização e na solução de problemas. • Possível internação para iniciar o tratamento. Em situações onde não existem recursos ou estes não são suficientes, recomenda-se uma consulta com uma equipe de especialistas no tratamento do diabetes. Diabetes tipo 2 O maior e mais longo estudo de pacientes com diabetes tipo 2, o Estudo Prospectivo do Diabetes do Reino Unido (UKPDS), demonstrou de forma conclusiva que um melhor controle da glicose sangüínea nestes pacientes reduz o risco de desenvolver retinopatia e nefropatia e possivelmente reduz a neuropatia. O índice de complicações microvasculares diminui em 25% em pacientes que receberam tratamento intensivo versus tratamento convencional. A análise epidemiológica dos dados do UKPDS mostrou uma relação constante entre o risco de complicações microvasculares e a glicemia, da mesma forma que para cada diminuição de um ponto percentual na HbA1c (por exemplo, 9 para 8%) houve uma redução de 35% no risco de complicações microvasculares. Estes resultados confirmam que no diabetes tipo 2, a redução da glicose sangüínea é benéfica. O UKPDS também mostrou que o controle eficiente da pressão arterial, reduziu de forma significativa os AVCs, os óbitos relacionados com o diabetes, a insuficiência cardíaca, as complicações microvasculares e a perda visual. Vários estudos de observação, incluindo os resultados das análises epidemiológicas dos dados do UKPDS, mostraram fortes e estatisticamente significativas associações entre o controle da glicose sangüínea e o risco de morbidade e mortalidade por doença cardiovascular. O UKPDS constatou uma redução de 16% (não estatisticamente significativa, P = 0,052) no risco de infarto do miocárdio não fatal ou fatal associado e morte súbita no grupo tratado de forma intensiva. Ao estabelecer objetivos de tratamento para o diabetes tipo 2 (Tabela 1), as mesmas características individuais do paciente devem ser consideradas como para o diabetes tipo 1: a capacidade do paciente de entender e cumprir o esquema de tratamento, o risco do paciente para hipoglicemia severa e outros fatores do paciente que possam aumentar o risco ou diminuir o benefício (por ex., idade avançada, ESRD, doença cardiovascular ou cerebrovascular avançada, ou outras doenças coexistentes que abreviarão a expectativa de vida). A auto-monitorização diária é especialmente importante para pacientes tratados com insulina ou sulfoniluréia no acompanhamento e prevenção da hipoglicemia assintomática. A freqüência ideal da SMBG para pacientes com diabetes tipo 2 não é conhecida, mas deve ser suficiente para facilitar os níveis propostos para glicose. O papel da auto-monitorização da glicose sangüínea em pacientes estáveis tratados com dieta com diabetes tipo 2 não é conhecido. 106 Atualização - American Diabetes Association Os métodos de tratamento do diabetes tipo 2 devem enfatizar o controle do diabetes como uma abordagem múltipla dos fatores de risco incluindo terapia nutricional, exercício, redução de peso quando indicado, e uso de agentes orais redutores de glicose e/ou insulina, com especial atenção para os fatores de risco cardiovascular, incluindo hipertensão, fumo, dislipidemia e história familiar. Sendo o tratamento à base de insulina ou agentes orais redutores de glicose ou uma associação, os objetivos continuam os mesmos esboçados na Tabela 1. • Fatores de risco para aterosclerose: fumo, hipertensão, obesidade, dislipidemia e história familiar. • História e tratamento de outras condições, incluindo distúrbios endócrinos e alimentares. • História gestacional: hiperglicemia, parto de um recém-nascido > 4,5kg, toxemia, natimorto, poliidrâmnio ou outras complicações da gravidez • Estilo de vida, cultural, psicossocial, educacional e fatores econômicos que podem influenciar o manejo do diabetes. • Tabagismo e consumo de álcool. Consulta inicial Exame físico História clínica Um exame físico deve ser realizado durante a avaliação inicial. Pessoas com diabetes têm um risco maior de desenvolver complicações visuais, dos rins, pé, nervos, cardíacas e vasculares. Pacientes com diabetes tipo 1 apresentam uma freqüência aumentada de distúrbios autoimunes, especialmente doença da tireóide. Todos os indivíduos que não estão sob um controle satisfatório do diabetes têm um aumento no risco de infecções. Crianças com controle insatisfatório do diabetes podem apresentar atraso em seu crescimento e maturidade. Portanto, certos aspectos do exame físico detalhado exigem uma atenção especial, que incluem: A história clínica abrangente pode revelar sintomas que ajudarão a estabelecer o diagnóstico do paciente com diabetes não reconhecido anteriormente. Se o diagnóstico do diabetes já foi feito, a história deve confirmar o diagnóstico, rever o tratamento anterior, permitir a avaliação do grau atual e anterior do controle glicêmico, determinar a presença ou não de complicações crônicas do diabetes, ajudar na formulação de um plano de controle e proporcionar uma base para a continuidade do tratamento. Os elementos da história clínica de especial interesse em pacientes com diabetes incluem: • Sintomas, resultados de testes de laboratório, e resultados de exames especiais relacionados ao diagnóstico do diabetes. • Registros anteriores de GHb. • Padrões alimentares, condição nutricional e histórico do peso; crescimento e desenvolvimento em crianças e adolescentes. • Detalhes de programas de tratamento anteriores, incluindo nutrição e educação sobre a auto-monitorização do diabetes. • Tratamento atual do diabetes, incluindo medicações, programa de refeições e resultados do controle da glicose e uso dos dados dos pacientes. • História de exercício. • Freqüência, intensidade e causa de complicações agudas como cetoacidose e hipoglicemia. • Infecções atuais ou anteriores, especialmente da pele, pé, dentes e infecções genito-urinárias. • Sintomas e tratamento do olho crônico, rins, nervos, genito-urinário (incluindo sexual), bexiga e função gastrointestinal; coração, vascular periférico, pé, e complicações cerebrovasculares associadas ao diabetes. • Outras medicações que podem afetar os níveis de glicose no sangue. • Verificação do peso e altura (e comparação com as normas para crianças e adolescentes). • Estádio de maturação sexual (durante período da peripuberdade). • Determinação da pressão arterial (com mensurações ortostáticas quando indicadas) e comparação com as normas relacionadas à idade. • Exame oftalmoscópico (preferencialmente com dilatação). • Exame oral. • Palpação da tiróide. • Exame cardíaco. • Exame abdominal (por ex., para hepatomegalia). • Avaliação dos pulsos (por palpação e ausculta). • Exame das mãos/dedos. • Exame dos pés. • Exame da pele (incluindo locais de aplicação de insulina). • Exame neurológico. O clínico deve estar alerta também para sinais de doenças que podem causar diabetes secundária, por ex., hemocromatose, doença pancreática e distúrbios endócrinos como acromegalia, feocromocitoma e síndrome de Cushing. Atualização - American Diabetes Association Avaliação biológica O teste da glicose sangüínea e da cetona urinária deve estar disponível para ser realizado imediatamente no consultório conforme necessário. Além disso, cada paciente deve ser submetido a testes de laboratório que são apropriados para a avaliação da condição clínica geral do indivíduo. Certos testes devem ser realizados para estabelecer o diagnóstico do diabetes, determinar o grau do controle glicêmico, as complicações associadas e os fatores de risco. Estes incluem os seguintes: • Glicose plasmática em jejum (um teste de glicose plasmática pode ser realizado em um paciente sintomático não diagnosticado com a finalidade de um diagnóstico). • GHb. • Perfil lipídico em jejum: colesterol total, colesterol HDL, triglicerídeos e colesterol HDL. • Creatinina sérica em adultos; em crianças se houver proteinúria. • Análise urinária: glicose, cetonas, proteína, sedimentados. • Teste para microalbuminúria (por ex., amostras determinadas ou a relação albumina-creatinina) em pacientes tipo 1 na puberdade e pós-puberdade que tenham diabetes há pelo menos 5 anos e em todos os pacientes com diabetes tipo 2. • Cultura da urina se sedimentados estiverem anormais ou existirem sintomas. • TSH (Thyroid-Stimulating Hormone) em todos os pacientes tipo 1. • Eletrocardiograma em adultos. Plano de controle Um sistema de registro clínico completo e organizado é essencial para proporcionar um atendimento periódico de pessoas com diabetes. Os registros devem sempre estar acessíveis para a equipe de tratamento e organizados de forma que eles não somente documentem o que ocorreu mas também servem como um lembrete do que deve ser feito em intervalos apropriados. O plano de controle deve ser formulado como uma aliança terapêutica individualizada entre o paciente e a família, o médico e outros membros da equipe de saúde habilitada no controle do diabetes, para alcançar o nível desejado de controle do diabetes. Deve-se ressaltar a auto-monitorização realizada pelo paciente. Com esta finalidade, o plano de controle deve ser planejado com a colaboração do paciente e o plano deve enfatizar o envolvimento do paciente na solução do problema tanto 107 quanto possível. Várias estratégias e técnicas devem ser empregadas para proporcionar educação adequada e desenvolvimento de habilidades na solução de problemas nos vários aspectos do controle do diabetes. Tabela 2 – Componentes da consulta inicial I. História clínica A. Sintomas, resultados de testes de laboratório relacionados com o diagnóstico B. Avaliação nutricional, histórico do peso C. Planos de tratamento anteriores e atuais 1. Medicamentos 2. Terapia nutricional 3. Treinamento na auto-monitorização 4. Auto-monitorização da glicose sangüínea e utilização dos resultados D. Programa de tratamento atual E. Histórico de exercícios F. Complicações agudas G. História de infecções H. Complicações diabéticas crônicas I. Histórico de medicação J. História familiar K. Fatores de risco de DAC L. Fatores psicossociais/econômicos M.Tabagismo e consumo de álcool II. Exame físico A. Altura e peso B. Pressão arterial C. Exame oftalmoscópico D. Palpação da tireóide E. Exame cardíaco F. Avaliação do pulso G. Exame do pé H. Exame da pele I. Exame neurológico J. Exame oral K. Desenvolvimento sexual (se na peripuberdade) III. Avaliação biológica A. Glicose plasmática em jejum (opcional) B. GHb C. Perfil lipídico em jejum D. Creatinina sérica E. Análise urinária F. Cultura da urina (se indicado) G. TSH (pacientes tipo 1) H. Eletrocardiograma (adultos) IV.Plano de controle A. Objetivos a curto e a longo prazo B. Medicamentos C. Terapia nutricional D. Mudanças no estilo de vida E. Educação na auto-monitorização F. Instruções sobre o acompanhamento G. Consulta anual a um oftalmologista H. Consultas a especialistas (conforme indicado) I. Concordância sobre a continuidade do tratamento J. Vacinas contra influenza e pneumococos 108 Atualização - American Diabetes Association Ao formular este plano de controle, a idade do paciente, o plano e condições profissionais e escolares, a atividade física, os padrões alimentares, a situação social e a personalidade, os fatores culturais e a presença de complicações do diabetes ou outras condições clínicas devem ser consideradas. A implementação do plano de controle requer que cada aspecto seja compreendido e aceito pelo paciente e pela equipe de tratamento e que os objetivos e plano de tratamento sejam razoáveis. O plano de controle deve incluir: Atendimento periódico O atendimento periódico é fundamental no controle de cada paciente com diabetes. Em cada consulta, o progresso do paciente para alcançar os objetivos do tratamento deve ser avaliado pela equipe, e os problemas que ocorreram devem ser analisados. Se os objetivos não forem alcançados, o plano de controle necessita ser revisado e/ou os objetivos precisam ser reavaliados. Freqüência da consulta • A determinação dos objetivos a curto e a longo prazo. • Medicamentos (insulina, agentes orais redutores de glicose, glucagon, agentes antihipertensivos e redutores de lipídios, tratamento com aspirina; outras substâncias endócrinas e outros medicamentos). • Recomendações nutricionais individualizadas e instruções, de preferência por um nutricionista familiarizado com o tratamento do diabetes. • Recomendações para alterações no estilo de vida (por ex., exercício, cessação do tabagismo). • Educação do paciente e da família para a auto-monitorização. • Instruções sobre o acompanhamento: auto-monitorização da glicose sangüínea, cetonas na urina, e utilização de um sistema de registro. A freqüência da automonitorização deve ser individualizada conforme as circunstâncias clínicas, a forma de tratamento empregada e a resposta ao tratamento. A glicose na urina pode ser considerada como uma alternativa somente se o paciente for incapaz ou não deseja realizar o teste de glicose sangüínea ou se o objetivo é apenas evitar a hiperglicemia assintomática. • Exames anuais de fundo de olho e exames de vista feitos por um oftalmologista ou optometrista para todos os pacientes acima de 10 anos que tiveram diabetes por 3-5 anos, todos os pacientes diagnosticados após os 30 anos de idade e qualquer paciente com sintomas visuais e/ou anormalidades. • Consulta para serviços de podologia. • Consulta para serviços especializados. • Concordância sobre apoio contínuo, acompanhamento e retorno às consultas. • Instruções sobre quando ou como contatar o médico ou outros membros da equipe quando o paciente não for capaz de resolver os problemas e quando for necessário o controle dos problemas agudos. • Para mulheres em idade fértil, discussão sobre contraceptivos e ênfase sobre a necessidade do controle da glicose sangüínea antes da concepção e durante a gravidez. • Higiene bucal. • Vacina anti-pneumococcida, influenza, anualmente. A freqüência do paciente às consultas depende do: • Tipo do diabetes. • Objetivos da glicose sangüínea e o grau para o qual ele foi alcançado. • Alterações no esquema de tratamento. • Presença de complicações do diabetes ou outras condições clínicas. Pacientes que iniciaram tratamento com insulina ou que sofreram mudança importante em seu programa podem precisar estar em contato com sua equipe de tratamento diariamente até que se alcance o controle da glicose, se o risco de hipoglicemia é baixo, e se eles são competentes e se sentem confortáveis para implementar o plano de tratamento. Alguns pacientes podem necessitar de internação para iniciar ou alterar o tratamento. Os pacientes que iniciaram tratamento com terapia nutricional ou agentes orais redutores de glicose podem necessitam estar em contato semanalmente até que seja alcançado um controle razoável da glicose e se sintam capazes para conduzir um programa de tratamento. Devem ser programadas consultas regulares para todos os pacientes com diabetes. Os pacientes devem ir às consultas pelo menos de quinze em quinze dias até que os objetivos de tratamento sejam alcançados. Depois disso, a freqüência às consultas pode diminuir tão logo os pacientes continuem alcançando todos os objetivos de tratamento. Um contato mais freqüente pode também ser necessário se os pacientes atualmente submetidos a tratamento intensivo com insulina, não tenham alcançado os objetivos glicêmicos ou pressão arterial, ou evidenciem progressão de complicações microvasculares ou macrovasculares. Os pacientes devem ser orientados a reconhecer problemas com seu controle de glicose conforme indicado pelos registros da auto-monitorização e para que relatem imediatamente suas preocupações à equipe de tratamento para esclarecer e fortalecer suas habilidades na auto-monitorização. Eles devem também ser ensinados a reconhecer imediatamente sinais e sintomas de complicações crônicas e agudas e a relata-las imediatamente. Reações hipo- Atualização - American Diabetes Association glicêmicas severas que requerem assistência de outra pessoa devem ser reportadas tão logo seja possível. História Clínica Em cada visita deve ser preparado um histórico que deve incluir: • Freqüência, causas e intensidade da hipoglicemia ou hiperglicemia. • Resultados da auto-monitorização. • Ajustes pelo paciente do esquema terapêutico. • Problemas de adesão. • Sintomas sugerindo desenvolvimento de complicações do diabetes. • Outras enfermidades clínicas. • Questões psicossociais. • Mudanças no estilo. • Tabagismo e uso do álcool. Exame físico O exame de rotina deve incluir: • Altura (até a maturidade). • Peso. • Pressão arterial. 109 • Maturação sexual (em pacientes em peripuberdade). • Fundoscopia em pacientes sob risco (consulta se observada retinopatia). • Exame do pé em pacientes sob risco. Caso sejam observadas anormalidades, um acompanhamento mais freqüente pode ser necessário. Exames visuais complexos e de olho dilatado devem ser realizados anualmente por um oftalmologista ou optometrista que têm muito conhecimento e experiência no manejo da retinopatia diabética para todos os pacientes com 10 anos ou mais que tiveram diabetes por 3-5 anos, todos pacientes diagnosticados após 30 anos de idade, e qualquer paciente com sintomas visuais e/ou anormalidades. Todos os indivíduos com diabetes devem ser submetidos a um exame cuidadoso do pé pelo menos uma vez ao ano. Este exame deve incluir uma avaliação da sensação protetora, estrutura e biomecânica do pé, condição vascular, e integridade da pele. Pessoas com risco elevado do pé devem ser avaliadas com mais freqüência quanto ao desenvolvimento de fatores de risco adicionais. Pessoas com neuropatia devem ser submetidas a uma inspeção visual dos pés em cada consulta com um profissional de saúde. 110 Atualização - American Diabetes Association Tabela 4 – Componentes potenciais das consultas Avaliação biológica A avaliação de rotina da GHb deve ser realizada em todos os pacientes com diabetes, primeiro para documentar o grau do controle glicêmico na avaliação inicial, depois como parte da rotina. Uma vez que a GHb reflete a glicemia média dos 2-3 meses anteriores, é necessário mensurações a cada 3 meses aproximadamente para determinar se o controle metabólico do paciente permaneceu constante dentro da faixa pretendida. Assim, mensurações regulares da GHb permitem a detecção de desvios da faixa pretendida em determinado momento. Para cada paciente, a freqüência do teste de GHb deve depender do esquema de tratamento empregado e da consideração do médico. Na ausência de estudos bem controlados que sugerem um protocolo definitivo, a opinião dos especialistas recomenda um teste de GHb pelo menos duas vez ao ano em pacientes que estão alcançando os objetivos do tratamento e que apresentam controles glicêmicos estáveis e com mais freqüência (avaliação trimestral) em pacientes cuja terapia tenha sido alterada ou que não estejam atingindo os objetivos glicêmicos. Tabela 3 – Categoria do risco baseado nos níveis de lipoproteína em adultos com diabetes Risco Alto Limite Baixo Colesterol LDL Colesterol HDL* Triglicerídeos ≥130 100-129 <100 <35 35-45 >45 ≥400 200-399 <200 Os dados são apresentados em mg/dl. * Para mulheres, os valores do colesterol HDL devem ser aumentados em 10 mg/dl. A Tabela 3 mostra os níveis lipídicos de risco baixo, limite e alto. Os pacientes adultos com diabetes devem ser submetidos a testes anualmente para detectar distúrbios de lipídios com medições do colesterol sérico em jejum, triglicerídeos, colesterol HDL e LDL. Se os valores caírem a níveis abaixo do risco, a avaliação pode ser feita a cada 2 anos. Os testes cujos resultados encontrem valores limites ou anormais devem ser repetidos para confirmação. Deve ser realizado um perfil lipídico em crianças com idades acima de 2 anos após diagnóstico de diabetes e quando o controle da glicose tenha sido estabelecido. Os testes cujos resultados encontrem valores limites ou anormais devem ser repetidos para confirmação. Se os valores caírem a níveis de risco aceitáveis, a avaliação deve ser repetida a cada 5 anos. I. Freqüência das consultas A. Diário para iniciar a insulina ou alterar seu esquema B. Semanal para iniciar agente(s) orais redutores de glicose ou alterar seu esquema C. Consultas de rotina 1. Trimestral para pacientes que não estejam alcançando os objetivos 2. Semestral para outros pacientes II. História clínica A. Avaliar esquema de tratamento 1. Freqüência/intensidade da hipo/hiperglicemia 2. Resultados da auto-monitorização 3. Ajustes no esquema do paciente 4. Problemas de adesão 5. Alterações no estilo de vida 6. Sintomas de complicações 7. Outras doenças clínicas 8. Medicamentos 9. Aspectos psicossociais 10.Tabagismo e consumo de álcool III. Exame físico A. Exame físico anual B. Exame anual do olho (dilatado) C. Em cada consulta 1. Peso 2. Pressão arterial 3. Anormalidades anteriores detectadas no exame físico D. Exame do pé anual; mais freqüente em pacientes com pé de alto risco IV.Avaliação biológica A. GHb 1. Trimestral se o tratamento é alterado ou o paciente não alcança os objetivos 2. Duas vezes por ano se estável B. Glicose plasmática em jejum (opcional) C. Perfil lipídico em jejum anual, a não ser que o risco seja baixo D. Medição da microalbumina anual (se indicado) V. Avaliação do plano de controle A. Objetivos a curto e a longo prazo B. Medicamentos C. Glicemia D. Freqüência/intensidade da hipoglicemia E. Resultados da auto-monitorização F. Complicações G. Controle da dislipidemia H. Pressão arterial I. Peso J. Terapia nutricional K. Esquema de exercícios L. Adesão ou treinamento na auto-monitorização M.Acompanhamento das consultas N. Ajuste psicossocial O. Conhecimento do diabetes P. Aptidões para a auto-monitorização Q. Interrupção do tabagismo, se indicado R. Vacina contra influenza anual Atualização - American Diabetes Association Na ausência de microalbuminúria previamente demonstrada, é necessário um teste anual para a presença de microalbumina. O rastreamento para microalbuminúria em indivíduos com diabetes tipo 1 deve começar na puberdade e após 5 anos da duração desta doença. Devido à dificuldade de precisar com exatidão a data do início do diabetes tipo 2, tal rastreamento deve começar no momento do diagnóstico. O rastreamento para microalbuminúria pode ser realizado através de três métodos: 1. Medição da relação albumina-creatinina em coleta aleatória. 2. Coleta de 24h de creatinina, permitindo a medição simultânea do clearance de creatinina. 3. Coleta determinada (por ex. 4h ou durante a noite). O primeiro método é sempre considerado o mais fácil em um ambiente de consultório e geralmente proporciona uma informação precisa. As coletas realizadas logo ao acordar ou as outras coletas realizadas durante a manhã são as escolhidas devido à variação diurna conhecida na excreção de albumina, mas se este momento não puder ser aproveitado, deve ser empregada a uniformidade do tempo para diferentes coletas em um mesmo indivíduo. O papel do teste de proteína na urina com tira anual e a avaliação da microalbuminúria não se mostra tão claro após o diagnóstico da microalbuminúria e a instituição do tratamento com inibidor de ECA e controle da pressão arterial. Muitos especialistas recomendam vigilância contínua para avaliar o tratamento e a progressão da doença. Além da avaliação da excreção da albumina urinária, a avaliação da função renal é importante em pacientes com doença renal diabética. Considerações especiais Crianças e adolescentes Aproximadamente três quartos de todos casos recentemente diagnosticados como diabetes tipo 1 ocorrem em indivíduos com idade inferior a 18 anos. O atendimento deste grupo requer uma integração do controle do diabetes com as complicadas necessidades do crescimento físico e emocional das crianças, adolescentes, e suas famílias. O atendimento às crianças desta faixa etária deve ser providenciado por uma equipe que possa lidar com estas questões clínicas, educacionais, nutricionais e comportamentais. 111 No diagnóstico inicial, é extremamente importante estabelecer os objetivos do atendimento e iniciar o aprendizado da auto-monitorização do diabetes. A base educacional deve ser firme para que o indivíduo e a família possam tornar-se cada vez mais independentes na auto-monitorização do diabetes. Os objetivos glicêmicos podem necessitar de alguma modificação considerando o fato de que a maioria das crianças com idade inferior a 6 ou 7 anos apresentam uma forma de “inconsciência hipoglicêmica”, em que eles não têm a capacidade cognitiva de reconhecer e responder aos sintomas hipoglicêmicos. Doenças intercorrentes são mais freqüentes em crianças mais novas. As regras diárias de controle devem ser estabelecidas objetivando prevenir a hiperglicemia severa e a cetoacidose que requer internação hospitalar. Uma avaliação nutricional deve ser realizada, daí em diante pelo menos anualmente, por um nutricionista, com as necessidades nutricionais de uma criança em crescimento e os aspectos comportamentais que possam ter um impacto na dieta do adolescente. Deve-se evitar uma manipulação nutricional agressiva quanto aos mais novos. A avaliação das necessidades quanto ao estilo de vida deve ser acompanhada por possíveis modificações do esquema diabético. Por exemplo, um adolescente que requer uma maior flexibilidade deve ser orientado para um programa de três ou quatro injeções de insulina quando necessário. Um aspecto importante que merece ênfase nesta faixa etária é o da “adesão”. Não importando qual seja o esquema clínico, ele será tão bom quanto a habilidade da família e/ou indivíduo para implementá-lo. Os profissionais de saúde que cuidam de crianças e adolescentes, portanto, devem ser capazes de avaliar os fatores comportamentais, emocionais e psicossociais que interferem na implementação e devem então trabalhar com o indivíduo e com a família para resolver os problemas que ocorrem e/ou modificar os objetivos quando estes se fizerem necessários. A escola ou o local onde a criança passa o dia devem receber informações para que as pessoas saibam do diagnóstico do diabetes no estudante e dos sinais, sintomas, e tratamento da hipoglicemia. É desejável que o teste de glicose sangüínea seja realizado antes do almoço e quando os sinais ou sintomas de níveis anormais de glicose estejam presentes. Doenças intercorrentes O desgaste de uma doença em geral agrava o controle glicêmico necessitando daí um acompanhamento mais freqüente da glicose sangüínea e cetona da 112 Atualização - American Diabetes Association urina. A hiperglicemia acentuada requer ajuste temporário do programa de tratamento, e, se acompanhado por cetose, uma interação freqüente com a equipe que cuida do diabetes. O paciente tratado com agentes orais redutores de glicose ou terapia nutricional isoladamente podem necessitar temporariamente de insulina. A ingestão adequada de líquido e a ingestão calórica devem ser asseguradas. O indivíduo com diabetes necessita de internação hospitalar quando existe infecção e desidratação. O paciente hospitalizado deve ser tratado por um médico especialista no tratamento do diabetes. Cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar hiperglicêmica não cetótica Estas condições representam descompensação no controle diabético e requer tratamento imediato. Deve ser realizada uma avaliação cuidadosa do paciente para verificação de eventos associados ou iminentes (por ex., infecção, medicamentos, eventos vasculares), e os problemas associados devem ser tratados adequadamente. Dependendo da intensidade da enfermidade e dos recursos disponíveis, o tratamento pode ser iniciado no consultório, mas é melhor realizado em ambulatório de emergência ou em hospital ou em unidade de tratamento intensivo. Devido à potencial morbidade e mortalidade da cetoacidose e à síndrome hiperglicêmica hiperosmolar não cetótica, recomenda-se a visita imediata ao diabetologista/endocrinologista quando o estado clínico e/ou bioquímico inicial é acentuadamente anormal, quando a resposta inicial ao tratamento padrão é insatisfatório, ou quando ocorrem complicações metabólicas ou edema cerebral. A recorrência da cetoacidose demanda uma avaliação psicossocial e educacional detalhada por parte de um especialista. Hipoglicemia severa ou freqüente A ocorrência de episódios freqüentes, severos ou inexplicáveis de hipoglicemia pode ser explicada pelo número de fatores como contra-regulação defectiva, desconhecimento hipoglicêmico, erros na dosagem de insulina, e consumo excessivo de álcool. A hipoglicemia pode ser também uma conseqüência do regime terapêutico e sempre requer avaliação tanto do plano de controle e sua execução pelo paciente. Os familiares e as pessoas ligadas ao paciente que usa insulina devem ser ensinadas a usar o glucagon. O cumprimento com êxito destes objetivos requer contatos mais freqüentes com o paciente durante o reajuste do programa de tratamento e a reeducação do paciente/família. Gravidez Para reduzir o risco de má formação fetal e complicações maternas e fetais, as mulheres grávidas e aquelas que planejam filhos requerem um excelente controle da glicose sangüínea. Estas mulheres precisam ser vistas freqüentemente por uma equipe multidisciplinar, incluindo um diabetologista, um internista ou clínico geral da família, obstetra, profissionais que orientam sobre o diabetes, incluindo enfermeiras, nutricionistas e assistente social, e outros especialistas conforme a necessidade. Além disso, estas mulheres devem ser treinadas em auto-monitorização e podem precisar de testes de diagnóstico de laboratório. Sendo necessário um planejamento da gravidez e um excelente controle glicêmico, cada gravidez em uma mulher com diabetes deve ser planejada antes. Portanto, qualquer mulher diabética que não esteja atualmente querendo conceber deve ser informada e orientada quanto aos métodos eficazes de contracepção. Retinopatia Além do exame anual da retina por um oftamologista ou optometrista que tem conhecimento e experiência no controle da retinopatia diabética, os pacientes com qualquer nível de edema macular, retinopatia não proliferativa severa ou qualquer retinopatia proliferativa requer o cuidado imediato de um oftamologista com conhecimento e experiência no controle da retinopatia diabética. Hipertensão A hipertensão contribui para o desenvolvimento e progressão das complicações crônicas do diabetes. Em pacientes com diabetes tipo 1, a hipertensão persistente é em geral uma manifestação da nefropatia diabética, conforme indicado pelos níveis elevados simultâneos de albumina urinária e em estágios mais avançados de uma diminuição no índice de filtração glomerular. Em pacientes com diabetes tipo 2, a hipertensão é quase sempre parte de uma síndrome que inclui intolerância à glicose, resistência à insulina, obesidade, dislipidemia e doença arterial coronariana. A hipertensão sistólica isolada pode ocorrer com longa duração de qualquer tipo de diabetes e em parte devida à inelasticidade dos grandes vasos ateroscleróticos. O controle da hipertensão foi demonstrado de forma conclusiva na redução do índice de progressão da nefropatia diabética e na redução das complicações da nefropatia hipertensiva, doença cerebrovascular e doença cardiovascular. 114 Atualização - American Diabetes Association Princípios gerais As modificações no estilo de vida devem ser inicialmente instituídas para reduzir a pressão arterial a não ser que a hipertensão se encontre em um nível intolerável. Tais modificações incluem perda de peso, exercício, redução do sal na dieta, e limite no consumo de álcool. Se as modificações no estilo de vida não alcançam os objetivos pretendidos, devem ser adicionados medicamentos gradualmente até que os objetivos da pressão arterial sejam alcançados. Vários medicamentos em pacientes com albuminúria (por ex., inibidores de ECA) parecem apresentar um benefício seletivo em pacientes com diabetes. Outros fatores de risco cardiovascular, como fumo, inatividade e níveis elevados de colesterol LDL, devem ser ao mesmo tempo controlados. Objetivos específicos do tratamento O principal objetivo do tratamento em adultos deve ser a redução da pressão arterial a um nível < 130/85 mmHg. Em crianças, a pressão arterial de ser reduzida a valores do 90º percentil correspondente ao ajuste por idade. A hipertensão em adultos tem sido tradicionalmente definida como pressão arterial sistólica ≥ 140 mmHg e/ ou pressão arterial diastólica de ≥ 90 mmHg. A maioria dos estudos epidemiológicos sugeriram que o risco devido à pressão arterial elevada é uma função contínua, de forma que estes níveis de corte são arbitrários. Na população em geral, os riscos de dano ao órgão parecem ser menores quando a pressão arterial sistólica é de < 120 mmHg e a pressão arterial diastólica é de < 80 mmHg. Para pacientes com hipertensão sistólica isolada de ≥ 180 mmHg, o objetivo é uma pressão arterial < 160 mmHg. Para aqueles com pressão arterial sistólica de 160-179, o objetivo é uma redução de 20 mmHg. Se estes objetivos são alcançados e bem tolerados, pode ser apropriado reduzir a pressão a 140 mmHg. Nefropatia Princípios gerais A albuminúria persistente na faixa de 30-300 mg/24h (microalbuminúria) tem demonstrado ser o estádio inicial da nefropatia diabética e um risco significativo para doença cardiovascular. Pacientes com microalbuminúria desenvolverão provavelmente albuminúria clínica (≥ 300 mg/24 h) e diminuição na filtração glomerular em um período de alguns anos. Uma vez que ocorra a albuminúria, o risco para doença renal terminal é alto no diabetes tipo 1 e significativo no diabetes tipo 2. Se não for tratada, a hipertensão pode acelerar a progressão da doença renal. Nos últimos anos, várias intervenções demonstraram retardar o desenvolvimento inicial ou o índice de progressão da doença renal. Objetivos específicos de tratamento O controle intensivo do diabetes com o objetivo de atingir a normoglicemia provou retardar o início da microalbuminúria, e a progressão da microalbuminúria para microalbuminúria clínica, em pacientes com diabetes tipo 1. Reduzir a pressão arterial a nível < 130/85 através de qualquer meio eficaz, deve ser o objetivo em indivíduos hipertensos. Uma redução na pressão arterial deve também diminuir o índice de progressão da nefropatia diabética. Em pacientes hipertensos com diabetes tipo 1 ou 2 que apresentam microalbuminúria ou microalbuminúria clínica, o tratamento com inibidores de ECA demonstrou retardar a progressão de microalbuminúria para microalbuminúria clínica e retardar o declínio da filtração glomerular na microalbuminúria clínica. Devido a alta proporção de pacientes que progridem da microalbuminúria para a nefropatia patente e subseqüentemente para doença renal terminal, o uso de inibidores de ECA é recomendado para todos os pacientes tipo 1 com microalbuminúria, mesmo se estes forem normotensos. Entretanto, devido ao índice mais variável de progressão de microalbuminúria para nefropatia patente em pacientes com diabetes tipo 2, o uso de inibidores de ECA nos pacientes diabéticos tipo 2 não é tão bem substanciado como nos pacientes diabéticos tipo 1 normotensos. Dessa forma, o tratamento com inibidores de ECA em pacientes tipo 2 normotensos deve basear-se na avaliação médica. Apresentando um paciente progressão da microalbuminúria ou desenvolvendo hipertensão, então os inibidores de ECA deveriam sem dúvida alguma ser indicados. A relação da microalbuminúria-creatinina pode ser medida em qualquer amostra de urina. De forma alternativa, a medição da albumina urinária pode ser feita em 24h ou em outra tempo de coleta. Existe uma variabilidade acentuada de um dia para outro na excreção de albumina, de forma que pelo menos duas ou três coletas medidas em um período de 3 a 6 meses devem mostrar níveis elevados antes que um paciente seja considerado como apresentando microalbuminúria. Anormalidades na excreção de albumina são definidas na Tabela 5. A avaliação do clearance de creatinina deve ser reali- Atualização - American Diabetes Association Tabela 5 Definições das anormalidades na excreção de albumina Categoria Coleta em 24 h (mg/24h) Coleta Coleta determinada aleatória (µg/min) (µg/mg creatinina) Normal Microalbuminúria Albuminúria clínica <30 30-300 >300 <20 20-200 >200 <30 30-300 >300 Devido à variabilidade na eliminação da albumina pela urina, duas de três amostras coletadas dentro do período de 3 a 6 meses devem ser anormais antes de considerar que um paciente não atendeu um destes princípios diagnósticos. A eliminação urinária de albumina pode elevar-se além dos valores basais quando existe infecção, febre, insuficiência cardíaca congestiva, hiperglicemia e hipertensão acentuada, bem como após realização de exercícios dentro do período de 24 horas. zada utilizando-se a creatinina sérica e fórmulas que levem em consideração a idade do paciente, sexo, tamanho do corpo ou medindo-se a creatinina no soro e em um determinada amostra da urina. As amostras de urina sucessivas ou noturnas ou as mensurações da relação albumina-creatinina devem ser obtidas periodicamente para documentar o efeito do tratamento na eliminação da albumina e para detectar o raro caso de um efeito prejudicial do tratamento medicamentoso. Se empregados inibidores de ECA, os níveis de potássio devem também ser monitorados para detectar o desenvolvimento de hipercalemia, com um acompanhamento mais freqüente quando houver uma diminuição progressiva na filtração glomerular ou em pacientes com hipoaldosteronismo hiporeninêmico. A restrição da proteína a 0,8 g/kg de peso corporal/ dia (~10% das calorias diárias), quantidade diária de proteína atualmente recomendada para um adulto, deve ser instituída no início da nefropatia patente. Entretanto, foi sugerido que uma vez que a filtração glomerular comece a cair, outras restrições a 0,6 g/kg pode ser útil em retardar o declínio da filtração glomerular em pacientes determinados. Por outro lado, a deficiência nutricional pode ocorrer em alguns indivíduos e pode estar associada com fraqueza muscular. Programas nutricionais de restrição de proteína devem ser planejados por um nutricionista com todos os componentes de um controle nutricional do diabetes. Deve-se considerar uma possível consulta a um médico experiente no cuidado da doença renal diabética quando a filtração glomerular chegar a < 70 ml/mn/ 1,73 m2, quando a creatinina sérica alcançar > 2,0 mg/ dl (> 180mmol/l), ou quando ocorrerem dificuldades no controle da hipertensão ou hipercalemia. 115 Doença cardiovascular Evidência de doença cardiovascular, como angina, claudicação, diminuição na freqüência do pulso, ruídos vasculares, e anormalidades no eletrocardiograma, requerem esforços para corrigir os fatores de risco (por ex., obesidade, tabagismo, hipertensão, sedentarismo, dislipidemia, diabetes não controlado de forma apropriada) além do tratamento específico do problema cardiovascular. A ingestão diária de aspirina demonstrou reduzir eventos cardiovasculares em pacientes com diabetes. Embora faltem evidências de estudos controlados randomizados, justifica-se um teste cardíaco em pacientes com história de doença arterial coronariana confirmada (DAC) ou que tenham tido um evento cardíaco anterior, para estratificação do risco. Mais ainda, em pacientes com história anterior de um evento ou sintomas que sugerem fortemente DAC, justifica-se o teste para DAC em pacientes com: 1) sintomas cardíacos típicos ou atípicos; 2) eletrocardiograma em repouso sugerindo isquemia ou infarto; 3) doença arterial oclusiva periférica ou da carótida; 4) estilo de vida sedentário, idade ≥ 35 anos, e planos de iniciar um programa de exercício intenso; e 5) além do diabetes, dois ou mais fatores de risco cardíacos (colesterol total ≥ 240 mg/dl, colesterol LDL ≥ 160 mg/dl, ou colesterol HDL < 35 mg/dl; pressão arterial > 140/90 mmHg; tabagismo, história familiar prematura de DAC; teste positivo para micro-/macroalbuminúria). O teste cardíaco deve consistir de teste de esforço, imagem de perfusão de esforço, ecocardiografia em esforço ou cateterização. O tipo de teste e a necessidade de consulta a um cardiologista depende da intensidade da doença arterial subjacente ou suspeita. Dislipidemia Princípios gerais O diabetes aumenta o risco de doença vascular aterosclerótica. Este risco é maior em pessoas que apresentem outros fatores de risco conhecidos, como dislipidemia, hipertensão, tabagismo e obesidade. Além disso, no diabetes tipo 2 existe um risco adicional para obesidade e anormalidades lipídicas independentemente do nível de controle glicêmico. Um padrão lipídico anormal comum em tais pacientes é uma elevação do VLDL, uma redução no HDL, e uma fração LDL que contém uma proporção maior de partículas de LDL pequenas e densas. Os dados sobre o tratamento da dislipidemia em pessoas com diabetes, especialmente em crianças, são limitados. Entretanto as atuais recomendações determi- 118 Atualização - American Diabetes Association nam objetivos cada vez mais rigorosos baseados no número de fatores de risco cardiovascular e a presença de DAC. Os fatores de risco incluem idade (homens ≥ 45 anos ou mulheres ≥ 55 anos, ou menopausa prematura sem terapia de reposição hormonal), diabetes mellitus, hipertensão, colesterol HDL < 35 mg/dl (< 0,90 mmol/ l) em homens e < 45 mg/dl (< 1,15 mmol/l) em mulheres, tabagismo, microalbuminúria e uma história familiar prematura de DAC. Já que o diabetes parece eliminar o efeito protetor das mulheres contra a DAC, todos os adultos com diabetes são candidatos a tratamento progressivamente intenso. As seguintes recomendações destinam-se a alcançar os dois principais objetivos como resultado do tratamento da dislipidemia: 1) reduzir o risco de desenvolvimento de DAC em pessoas sem DAC comprovada e 2) reduzir o risco de progressão da DAC ou obter a regressão em pessoas com DAC conhecida. Um plano nutricional objetivando reduzir os níveis de glicose e alterar os padrões lipídicos e atividade física regular são os fundamentos no controle dos transtornos lipídicos. O objetivo da terapia nutricional deve enfocar as três principais estratégias: perda de peso em caso de necessidade, aumento da atividade física e dieta individualizada por paciente. A perda de peso é alcançada reduzindo-se a ingestão calórica total e a ingestão de gordura e aumentando a atividade física. Deve-se recomendar o aumento da atividade física, entretanto, é necessário que esteja inserida no contexto da história do paciente e a da condição médica. As recomendações devem detalhar a freqüência, duração e intensidade do exercício. Agentes farmacológicos para a redução dos lipídios são indicados se houver uma resposta adequada para um estudo de terapia nutricional, exercício e melhora no controle da glicose. O mais importante a ser considerado no caso de crianças e adolescente com anormalidades nos lipídios deve ser o controle da glicose, terapia nutricional, e exercício. Como existem importantes considerações com relação à eficácia e segurança do tratamento medicamentoso para a dislipidemia em crianças e adolescentes, o tratamento medicamentoso nestes indivíduos deve ser empregado somente após consulta a um clínico experiente na área de transtornos lipídicos em crianças. Objetivos específicos do tratamento O objetivo principal do tratamento em adultos com diabetes é reduzir o colesterol LDL a ≤ 100 mg/dl (≤ 2.60 mmol/dl). Pessoas com diabetes que apresentem níveis de triglicerídeos ≥ 100 mg/dl (> 11,3 mmol/l) estão sob risco de pancreatite e outras manifestações da síndrome da hiperquilomicronemia. Estes indivíduos necessitam de atenção imediata e especial para reduzir os níveis de triglicerídeos a < 400 mg/dl (< 4,5 mmol/l). Um objetivo secundário do tratamento seria aumentar o colesterol HDL a > 45 mg/dl (> 1,15 mmol/l) em homens e > 55 mg/dl (> 1,40 mmol/l) em mulheres. O objetivo principal do tratamento para crianças com fatores de risco além do diabetes é reduzir o colesterol LDL a < 110 mg (< 2,80 mmol/l). Neuropatia A neuropatia diabética periférica pode resultar em dor, perda de sensibilidade e fraqueza muscular. O comprometimento autonômico pode afetar a função gastrointestinal, cardiovascular e genitourinária. Cada condição pode exigir um teste diagnóstico especial e consulta a um especialista. A melhora na neuropatia dever ser observada com o controle da glicose sangüínea. Vários medicamentos, alterações na terapia nutricional, ou procedimentos especializados podem trazer alívio. Cuidados com o pé Problemas que envolvem os pés podem exigir cuidado de um podologista, cirurgião ortopédico, cirurgião vascular ou um especialista em reabilitação experiente no tratamento de pessoas com diabetes. Todos os pacientes, especialmente aqueles com evidências de neuropatia sensorial, doença vascular periférica, e/ou biomecânica alterada devem ser educados quanto ao risco e prevenção de problemas nos pés, e esta educação deve ser reforçada regularmente. Pacientes com história anterior de lesões no pé, especialmente amputações, exigem cuidado preventivo e supervisão durante toda a vida, preferencialmente de um especialista em pés. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 119–127 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 II - Importância dos resultados do UKPDS (United Kingdom Prospective Diabetes Study ) O diabetes é um distúrbio metabólico primariamente caracterizado por níveis de glicose sangüínea elevados e por complicações microvasculares e cardiovasculares que aumentam substancialmente a morbidade e mortalidade associadas com a doença e reduzem a qualidade de vida. O diabetes tipo 1 é caracterizado na dependência total da insulina exógena para sobrevida e compreende aproximadamente 10% de todos os casos de diabetes. A forma mais prevalente do diabetes, chamado de tipo 2, compreendendo 90% do todas as pessoas com diabetes, é caracterizada pela deficiência de insulina e/ou resistência à insulina. A associação entre as complicações do diabetes e níveis de glicose sangüínea elevados foi postulada no início deste século. Porém, somente nas últimas 3 décadas um número substancial de estudos experimentais com animais, estudos observacionais na espécie humana e estudos clínicos correlacionaram diretamente a hiperglicemia com o desenvolvimento de complicações diabéticas [1]. Alguns destes estudos também demonstraram que o tratamento que diminui a glicose sangüínea reduz o risco de retinopatia, nefropatia, e neuropatia diabéticas. São notáveis os resultados do DCCT (Diabetes Control and Complications Trial - Estudo das Complicações e Controle do Diabetes) [2] e a pesquisa semelhante porém menor, Stockholm Diabetes Intervention Study (Estudo de Intervenção no Diabetes de Estocolmo) [3]. Estes estudos mostraram inequivocamente no diabetes tipo 1 que a redução da glicose sangüínea retarda o início e lentifica a progressão das complicações microvasculares. As reduções de risco para vários resultados variaram de 35 a 75%. Análises secundárias nestes estudos mostraram fortes relações entre os riscos de desenvolver complicações e a exposição glicêmica ao longo do tempo. Mais ainda, não havia um limiar de glico- se discernível, i.e., havia uma redução contínua nas complicações quando os níveis glicêmicos se aproximavam do limite normal. O controle glicêmico melhorado foi também associado com a redução de eventos cardíacos no DCCT, mas a diferença não foi estatisticamente significativa. Talvez, isto tenha ocorrido porque a população estudada era de adultos jovens e por isso o índice de eventos era muito baixo. Vários dos estudos observacionais também apoiam uma correlação entre controle glicêmico e complicações diabéticas nos pacientes com diabetes tipo 2, mas até agora, houve apenas 3 estudos controlados randomizados tentando testar o benefício da redução da glicose sangüínea na incidência de complicações. O primeiro destes estudos foi o UGDP (University Group Diabetes Program Programa de Diabetes do Grupo Universitário), que não mostrou benefício do controle glicêmico em pacientes diabéticos tipo 2 de início novo [4]. Porém, no UGDP, havia somente 200 indivíduos em cada grupo de tratamento, HbA1c não estava disponível como um método confiável para medição de glicemia crônica, e a diferença no controle glicêmico entre o grupo mais intensivamente tratado e os outros grupos de tratamento foi somente o de glicose plasmática em jejum de ~30 mg/dl (1,7 mmol/l). Uma importante preocupação emanando do UGDP foi a observação que o composto de sulfoniluréia (tolbutamida) e biguanida (fenformina) usado para reduzir a hiperglicemia foi associado com mortalidade cardiovascular aumentada. A suspeita que a redução da glicose com agentes orais em pacientes com diabetes tipo 2 pode na verdade ser prejudicial, persistiu desde a publicação dos dados do UGDP em 1970. O segundo estudo controlado no diabetes tipo 2 foi relatado recentemente [5]. Este pequeno estudo conduzido em 110 indivíduos japoneses magros mostrou que injeções múltiplas de insulina proporcionando melhor 120 Atualização - American Diabetes Association controle glicêmico (HbA1c = 7,1%) em comparação com tratamento convencional (HbA1c = 9,4%), significativamente reduziram as complicações microvasculares do diabetes. A extensão da redução de risco neste estudo Japonês foi semelhante àquela do DCCT, sustentando assim a hipótese de que o controle glicêmico é importante em ambos os tipo de diabetes. O terceiro estudo no diabetes tipo 2 foi um estudo piloto que randomizou 153 homens para tratamento intensivo ou convencional [6]. Apesar de uma diferença absoluta de HbA1c de 2% no controle glicêmico entre os dois grupos, o estudo não encontrou diferença significativa nos eventos cardiovasculares (quando ajustado para características basais) em um período de acompanhamento de apenas 27 meses. Com esta base, temos agora os resultados do estudo maior e mais longo em pacientes com diabetes tipo 2 que já foi realizado [7-10]. O UKPDS (United Kingdom Prospective Diabetes Study - Estudo Prospectivo Inglês de Diabetes) recrutou 5102 pacientes com diagnóstico recente de diabetes tipo 2 em 23 centros na Inglaterra, entre 1977 e 1991. Os pacientes foram acompanhados por uma média de 10 anos para determinar: 1) se o uso intensivo de tratamento farmacológico para reduzir os níveis de glicose sangüínea resultaria em benefícios clínicos (i.e., complicações cardiovasculares e microvasculares reduzidas) e 2) se o uso das várias sulfoniluréias, da biguanida metformina, ou da insulina têm vantagens ou desvantagens terapêuticas específicas. Além disso, os pacientes com diabetes tipo 2 que também eram Resumo dos principais resultados e conclusões do UKPDS • Os resultados do UKPDS estabelecem que a retinopatia, a nefropatia, e possivelmente a neuropatia são beneficiadas pela redução de níveis de glicose sangüínea no diabetes tipo 2 com tratamento intensivo, que alcançou uma HbA1c média de 7,0% em comparação com o tratamento convencional com HbA1c média de 7,9%. O índice de complicação microvascular total foi reduzida em 25%. • Estes resultados aumentaram materialmente a evidência de que a hiperglicemia causa, ou é a maior contribuidora, dessas complicações. As análises epidemiológicas do UKPDS mostram uma relação contínua entre os riscos de complicações microvascular e a glicemia, de tal forma que para cada redução de ponto percentual em HbA1c (ex.: 9 a 8%), houve uma redução de 35% no risco de complicações. • Os resultados demonstram que os riscos de complicações podem ser significativamente reduzidos mesmo na faixa de hiperglicemia onde os níveis HbA1c são inferiores a 8,0%. Não houve evidência de qualquer limiar glicêmico para quaisquer complicações microvasculares acima dos níveis normais de glicose (i.e., HbA1c > 6,2%). • Estes resultados confirmam conclusões prévias de que a redução de glicose sangüínea seria benéfica com base nos estudos observacionais, estudos patológicos, e nos três estudos clínicos randomizados: o DCCT, o Estudo de Intervenção do Diabetes de Estocolmo, e o estudo Japonês. • Nenhum efeito significativo da redução da glicose sangüínea nas complicações cardiovasculares foi observado. Uma redução de 16% (que não foi estatisticamente significativa, P = 0,052) no risco de infarto do miocárdio fatal ou não-fatal combinados e morte súbita foi observada. • As análises epidemiológicas mostraram uma associação contínua entre o risco de complicações cardiovasculares e glicemia, de tal forma que para como cada ponto percentual reduzido na HbA1c (ex.: 9 para 8%), houve uma redução de 25% nos óbitos relacionados com diabetes, uma redução de 7% em mortalidade por todas as causas, e uma redução de 18% no infarto do miocárdio fatal e não-fatal combinados. De novo, nenhum limiar glicêmico para estas complicações acima dos níveis normais de glicose foi evidente. • A média anual mais alta de incidência de eventos hipoglicêmicos principais foi 2,3% dos pacientes por ano naqueles recebendo tratamento com insulina. • O estudo mostrou que a redução a pressão arterial para uma média de 144/82 mmHg reduziu significativamente AVCs, óbitos relacionados com diabetes, insuficiência cardíaca, complicações microvasculares e perda da visão. • As análises epidemiológicas mostraram uma relação contínua entre o risco de todos os eventos acima e pressão arterial sistólica. Não houve evidência de um limiar para estas complicações acima de uma pressão arterial sistólica de 130 mmHg. 122 Atualização - American Diabetes Association hipertensos foram randomizados para controle da pressão arterial “estrito” ou “menos estrita” para averiguar os benefícios da redução da pressão arterial e para verificar se o uso do inibidor da ECA (captopril) ou β-bloqueador (atenolol) ofereceu vantagens ou desvantagens terapêuticas particulares. Perguntas e respostas 1 - Como foi conduzido o UKPDS? O esquema do UKPDS foi explícito e direcionado por protocolos pré-específicados com randomização apropriada dos pacientes. Os testes clínicos e de laboratório foram realizados por metodologias aceitas, e todos os eventos de avaliação foram documentados satisfatoriamente. O grande número de pacientes e sua heterogeneidade forneceram grande certeza quer os resultados se aplicariam à população americana de homens e mulheres com diabetes tipo 2. O UKPDS foi originalmente esquematizado como um estudo clínico randomizado diretamente comparando os efeitos de um “programa de tratamento intensivo” com quatro monoterapias farmacológicas, versus um grupo de dieta controle, nas complicações cardiovasculares e microvasculares do diabetes tipo 2. As três principais monoterapias originais para a quais todos os pacientes foram randomizados foram clorpropamida, gliburida e insulina. No subgrupo de indivíduos acima do peso, a metformina como monoterapia foi comparada com o grupo controle e com os outros três agentes farmacológicos. A primeira e principal questão do estudo foi se a redução da glicose sangüínea seria benéfica. Portanto, o objetivo do tratamento em todos os grupos de farmacoterapia intensiva foi um nível de glicose plasmática em jejum (GPJ) <6,0 mmol/l (108 mg/dl), e o objetivo do tratamento no grupo controle dieta convencional foi um nível de FPG <15 mmol/l (270 mg/dl). Estes objetivos de tratamento amplamente diferentes foram estabelecidos para assegurar separação glicêmica adequada para testar a principal hipótese. Porém, tornou-se aparente que nenhuma das monoterapias farmacológicas foi capaz de manter o objetivo do tratamento intensivo, e por isso a separação glicêmica adequada do grupo controle pode estar comprometida. Assim, a combinação de tratamento foi usada, misturando insulina e metformina com sulfoniluréias, assim como o cruzamento de pacientes em grupos de tratamento farmacológicos alternados. A principal comparação final de “intenção de tratamento” foi entre tratamento intensivo, que agora incluiu todos os pacientes originalmente designados para insu- lina e sulfoniluréias, e tratamento convencional, que incluiu todos os pacientes originalmente randomizados para tratamento com dieta. Deve ser também observado que o grupo dieta poderia igualmente não ser mantido puro. Quando os pacientes deste grupo excediam um nível GPJ de 15 mmol/ l (270 mg/dl), eles eram também tratados com os mesmos agentes farmacológicos usados nos outros grupos. Basicamente, 80% dos pacientes no grupo dieta necessitaram um ou mais dos mesmos agentes farmacológicos para o qual este grupo serviria de controle. Assim, todos os efeitos de cada grupo de tratamento farmacológico foram confundidos por cruzamento, tornando difícil discernir efeitos de medicamentos específicos. Por exemplo, do total de pessoas-anos do tratamento no grupo controle, 58% foram gastos no tratamento apenas com dieta original, 25% na sulfoniluréia isolada ou em associação com outros medicamentos, 12% na metformina, e 15% na insulina. No subgrupo obeso, a metformina foi administrada isolada ou em associação com outros medicamentos para 28% das pessoas-anos para aqueles designados para isto, e para 10% das pessoa-anos para aqueles no grupo controle obeso. Por outro lado, estes cruzamentos de medicamentos fazem mais impressionantes as diferenças finais na eficácia observadas entre os grupos intensivo e convencional. Por outro lado, a prevalência de tratamentos cruzados e adições reduz nossa confiança nas diferenças observadas, ou não detectadas, entre os vários agentes farmacológicos. A principal análise do UKPDS é idêntica à análise realizada no DCCT. Em ambos os estudos, o tratamento intensivo esquematizado para alcançar a glicemia próxima do normal com qualquer que seja necessário foi comparado com o tratamento convencional. 2 - Com o que contribuiu o UKPDS para nosso entendimento da biologia das complicações diabéticas? Os resultados do UKPDS confirmam e prolongam a evidência anterior sustentando a hipótese que a hiperglicemia e suas seqüelas são causa importante das complicações microvasculares do diabetes. O gradiente de risco no UKPDS para eventos microvasculares tardios foi semelhante ao visto no DCCT para eventos microvasculares precoces. Isto indica que a presença da hiperglicemia é um estado tóxico, ocorra ele cedo ou tarde na vida e independente da causa subjacente. O UKPDS também demonstrou através de análise epidemiológica que os eventos cardiovasculares foram consistentemente associados com hiperglicemia de forma semelhante à relação entre as complicações microvasculares e hiperglicemia. Apesar disso, o UKPDS não pro- Atualização - American Diabetes Association vou definitivamente que o tratamento intensivo que diminuiu os níveis de glicose sangüínea reduziu o risco de complicações cardiovasculares em comparação com o tratamento convencional. Assim, o papel da hiperglicemia nas complicações cardiovasculares ainda não está claro. 3 - Qual o nível de controle da glicose e da pressão arterial os resultados do UKPDS sugerem deva ser atingido nos pacientes com diabetes tipo 2? Os níveis medianos de HbA1c alcançados tanto no grupo tratado convencionalmente (7,9%) como no grupo tratado intensivamente (7,0%) são mais baixos do que a atual mediana de HbA1c nos pacientes diabéticos tipo 2 nos EUA (~8,5-9,0). Estas diferenças mais provavelmente refletem o fato que os pacientes foram incluídos no UKPDS na ocasião do diagnóstico, enquanto que os níveis de HbA1c usualmente encontrados na população geral refletem o diabetes de duração variável. Uma redução significativa nas complicações foi alcançada com tratamento intensivo que diminuiu os níveis de HbA1c para uma média de 7,0% em 10 anos, quando comparada com tratamento convencional que alcançou HbA1c médio de 7,9%. Além disso, nas análises epidemiológicas, não houve evidência de qualquer limiar glicêmico acima de um nível de HbA1c normal de 6,2%. Portanto, os resultados do UKPDS indicam que o tratamento do diabetes tipo 2 inclua esforços agressivos para diminuir os níveis de glicose para o mais próximo possível do normal. Os resultados do estudo da pressão arterial no UKPDS também indicam que o tratamento agressivo mesmo da hipertensão leve a moderada é benéfico. Mais ainda, a redução continuada da pressão arterial para a faixa normal resultou em menos complicações. Daí, a pressão arterial deve ser mantida abaixo de 130/85 mmHg, como recomendado previamente pela American Diabetes Association e outros. 4 - Quais são os riscos de um controle agressivo da glicose ou da pressão arterial? No UKPDS, nos níveis glicêmicos alcançados, uma pequena fração de pacientes tiveram um episódio maior de hipoglicemia independentemente do tratamento farmacológico usado, e um paciente faleceu de hipoglicemia entre os 27.000 pacientes-anos de tratamento intensivo. Assim, o risco de hipoglicemia não deve desencorajar o objetivo de alcançar níveis de HbA1c próximas do normal. Como mencionado acima, o estudo UGDP levantou preocupações de que o tratamento com sulfoniluréias pode aumentar a ocorrência de eventos cardiovasculares 123 ou óbito. Porém, o UKPDS não encontrou aumento nos índices de infarto do miocárdio ou óbitos relacionados com diabetes quando os participantes tratados intensivamente com sulfoniluréias foram comparados com aqueles tratados convencionalmente. Alguns mas não todos os estudos observacionais anteriores sugeriram que os níveis de insulina no plasma podem estar associados com risco aumentado de doença cardiovascular. Porém, o UKPDS não mostrou aumento nos eventos cardiovasculares ou na mortalidade em pacientes designados para o tratamento com insulina, se bem que seus níveis de insulina no plasma em jejum fossem maiores do aqueles de pacientes tratados convencionalmente. Assim, os efeitos benéficos do controle intensivo da glicose com insulina ou sulfoniluréias compensam seus propalados riscos. 5 - Que diferenças foram observadas entre as várias formas de tratamento intensivo? No estudo principal, não houve diferenças significativas com relação a complicações diabéticas ou eventos cardiovasculares adversos entre os tratamentos com insulina e com sulfoniluréias. O valor desta conclusão é de alguma forma atenuado pela freqüência com que os cruzamentos e adições de medicamentos ocorreram, com o propósito de alcançar os objetivos de controle da glicose sangüínea. Os pacientes randomizados para as sulfoniluréias permaneceram com elas ~80% do tempo (com uma fração tratada com tratamentos alternativos), e os pacientes randomizados para insulina permaneceram com a mesma ~70% do tempo. É mais uma vez válido observar que nenhum aumento de eventos cardiovasculares ou óbito foi observado com insulina ou sulfoniluréias - isto apesar do fato de que ambos os agentes induziram maior ganho de peso e maiores níveis de insulina no plasma do que no grupo convencional. Esta observação fornece uma reafirmação adicional de que a insulina não pode ser considerada culpada pelos eventos ateroscleróticos e que as sulfoniluréias não podem ser responsabilizadas por toxicidade cardiovascular letal. Neste sentido, os médicos que estiveram muito preocupados com a possibilidade destes eventos adversos sérios sentiriam-se menos constrangidos em usar estes agentes, pelos seus benefícios importantes na redução da glicose sangüínea, tal como a proteção da visão. 6 - Quais foram o papel e o resultado do tratamento com metformina no UKPDS? Este tópico requer discussão individual por causa das diferentes maneiras com que a metformina foi usada e 124 Atualização - American Diabetes Association dos resultados conflitantes observados em cada momento. O esquema UKPDS inicial incluiu o tratamento de pacientes obesos com metformina assim como com outros tratamentos intensivos e tratamento convencional. Os pacientes inicialmente distribuídos para o tratamento intensivo com metformina tiveram redução de risco de eventos combinados de avaliação relacionados com diabetes, óbitos relacionados com diabetes, óbitos de todas as causas, e infarto do miocárdio em comparação com os pacientes tratados convencionalmente. Estes riscos foram significativamente reduzidos em aproximadamente um terço (P < 0,0023-0,017). O efeito benéfico na doença cardiovascular está em contraste com a insuficiência do tratamento insulina ou sulfoniluréias em reduzir eventos cardiovasculares quando comparado com pacientes obesos tratados convencionalmente. Esta diferença entre os medicamentos pode possivelmente relacionar-se com a ausência de ganho de peso com metformina e/ou algum efeito benéfico da metformina na síndrome de resistência à insulina. Surpreendentemente, nenhuma diminuição significativa nas complicações microvasculares foi observada com tratamento intensivo com metformina ou com tratamento intensivo insulina/sulfoniluréia combinadas nos indivíduos obesos. Esta inconsistência, ao lado dos cruzamentos de medicamentos entre os grupos de tratamento e dos números menores de pacientes nos subgrupos, cria incerteza com relação ao efeito benéfico como um todo da metformina nos pacientes obesos. Mais tarde no estudo, 537 pacientes obesos e com peso normal originalmente distribuídos para o tratamento com sulfoniluréia que não conseguiram manter a glicose sangüínea na faixa de objetivo designado foram distribuídos aleatoriamente para continuar o tratamento com sulfoniluréia isolada ou associada à metformina. Neste sub-estudo, uma análise de intenção de tratamento mostrou que o grupo alocado para tratamento com metformina/sulfoniluréia combinados teve um aumento de 96% nos óbitos relacionados com diabetes (P < 0,039) e um aumento de 60% nos óbitos por todas as causas (P < 0,041), em comparação com os pacientes distribuídos para continuar as doses máximas das sulfoniluréias isoladamente. Porém, para manter o nível FPG < 15 mmol/ l (270 mg/dl) e os pacientes assintomáticos, a metformina foi administrada em 25% dos pacientes inicialmente randomizados para receber apenas sulfoniluréia. Adicionalmente, a falta de um controle com placebo e a impossibilidade de empregar esquema cego neste subestudo também põem em dúvida a avaliação destes efeitos prejudiciais. Na tentativa de reconciliar os efeitos benéficos observados quando a metformina foi usada nos indivíduos obesos, com os efeitos prejudiciais observados quando a metformina foi adicionada ao tratamento máximo com sulfoniluréia, os resultados dos dois sub-estudos foram associados em uma meta-análise. Acreditamos que este método analítico não resolve a discrepância nos resultados com metformina, isto é, não fornece segurança de que a associação é segura nem prova que não é segura. Se houver algum mecanismo específico da interação adversa entre metformina e as sulfoniluréias, isto só pode ser somente definitivamente determinado em um novo estudo controlado por placebo, randomizado, esquematizado apropriadamente. Até tal estudo estar concluído, não recomendamos qualquer mudança nas orientações atuais para o uso de metformina como monoterapia ou em associação com as sulfoniluréias. 7 - Quais foram os efeitos no controle da pressão arterial? “O controle estrito da pressão arterial”, como alcançado no UKPDS, reduziu significativamente os riscos de virtualmente todos os eventos cardiovasculares e microvasculares, com reduções de risco variando de 24 a 56%. Uma redução de 21% observada no infarto do miocárdio não foi significativa (P = 0,13). O tipo e número de efeitos adversos visto com “controle de pressão arterial rígido” (média 144/82 mmHg) ou “controle de pressão arterial menos rígido” (média 154/87 mmHg) não foram diferentes daqueles geralmente relatados na literatura. O UKPDS também comparou o tratamento anti-hipertensivo com um inibidor da ECA àquele com β-bloqueador. Ambos os medicamentos foram quase igualmente eficazes na redução da pressão arterial, se bem que os pacientes com β-bloqueadores tiveram um controle da pressão arterial um pouco melhor (uma melhora de 1 mmHg sistólica e 2 mmHg diastólica). Nenhum medicamento foi superior ao outro em qualquer evento medido, incluindo óbitos relacionados com o diabetes, infarto do miocárdio, e todos os critérios de avaliação microvasculares. Também, não houve diferenças significativas na microalbuminúria ou proteinúria. Porém, por causa da baixa prevalência de nefropatia na população estudada, não está claro se houve eventos suficientes para observar um efeito preventivo de qualquer dos medicamentos na progressão da nefropatia. Concluímos que ambos os medicamentos usados para reduzir a hipertensão são igualmente eficazes e seguros, e ambos podem ser usados com grande benefício para tratar hipertensão não complicada em pacientes com diabetes tipo 2. Os pacientes tratados convencionalmente ou intensivamente para glicose sangüínea tiveram benefício igual da redução da pressão arterial. Igualmente, os pacientes 126 Atualização - American Diabetes Association controlados rigorosamente ou menos rigorosamente quanto à pressão arterial tiveram benefício igual da redução da glicose sangüínea. Assim, tanto hiperglicemia como hipertensão devem ser tratados vigorosamente quando ocorrem juntas, com uma expectativa que reduções no eventos microvasculares e cardiovasculares serão cumulativas. 8 - O controle rigoroso é contra-indicado em qualquer grupo de pacientes diabéticos tipo 2? Os pacientes com diabetes tipo 2 são geralmente diagnosticados em uma idade quando a probabilidade de ter condições de comorbidade aumenta. Comorbidades concorrentes tais como hipertensão e dislipidemia podem levar os pacientes e médicos a enfatizar o tratamento de um problema com relação ao outro. Na maioria dos casos, porém, isto não tem que ocorrer, e os resultados do UKPDS pelo menos sustentam a premissa de que atenção igual para diabetes e hipertensão pode ser conseguida. Pacientes diabéticos tipo 2 mais idosos têm expectativa de vida mais curta a partir do diagnóstico do diabetes, em virtude de suas idades e do risco ou presença de doença cardiovascular. Assim, foi argumentado que os benefícios do controle glicêmico que são percebidos com o tempo, podem ser contrabalançados por ocorrência mais precoce de eventos adversos de outras doenças. Mas considerando que os pacientes no UKPDS entraram no estudo com uma idade equivalente à média de idade do diagnóstico nos EUA, o tratamento vigoroso para prevenir as complicações do diabetes a partir do diagnóstico é claramente garantido confirmados pelos resultados do UKPDS. Além disso, o UKPDS confirmou que uma proporção substancial de pacientes recémdiagnosticados (~50%) já tiveram alguma evidência precoce de complicações diabéticas, e esse achado justifica um ímpeto ainda maior para uma intervenção agressiva. 9 - Os resultados do UKPDS são alcançáveis para a maioria dos pacientes com diabetes? Na teoria e na prática a resposta é sim. Apesar do UKPDS ter sido um ensaio clínico, os pacientes foram incluídos e tratados em uma ampla variedade de clínicas da comunidade. Os profissionais conduzindo o estudo e direcionando o tratamento eram muito instruídos sobre o diabetes, mas o programa de tratamento no geral não foi extraordinariamente sofisticado ou complexo. Os pacientes incluídos no UKPDS iniciaram com um nível de HbA1c de 9,1%. O grupo de tratamento convencional alcançou em 10 anos um nível de HbA1c de 7,9%, e o grupo tratado intensivamente com agentes redutores da glicose alcançaram um nível de HbA1c de 7,0%. Talvez a parte mais importante que levou ao sucesso terapêutico foi a persistência. Deve ser reconhecido que há um aumento nos níveis de glicose sangüínea com o aumento na duração do diabetes tipo 2 – uma tendência ascendente observada em ambos os grupos de tratamento convencional ou intensivo do UKPDS. A capacidade de prevenir ou pelo menos retardar esta elevação pode ser facilitada pelos medicamentos redutores da glicose recentemente aprovados que não estavam disponíveis para o UKPDS. Tanto o sucesso e como as dificuldades do UKPDS devem estimular o desenvolvimento adicional de novos tratamentos e associações que podem tratar com sucesso a hiperglicemia no diabetes tipo 2. 10 - Existem outras perguntas importantes sem resposta no tratamento do diabetes? O UKPDS e o DCCT responderam à pergunta se o controle da glicose sangüínea é benéfico para pessoas com diabetes tipo e tipo 2. Definitivamente sim. Porém, ambos os estudos incluíram pacientes antes que as complicações microvasculares sérias tivessem se desenvolvido. Os benefícios de alcançar níveis de glicose sangüínea normais não são conhecidos naqueles que já têm complicações mais avançadas. Também, o risco de hipoglicemia pode ser maior em tais pacientes. Assim, seriam desejáveis estudos adicionais sobre os riscos e benefícios em pessoas com diabetes que têm complicações mais avançadas. Nenhum dos dois estudos forneceu uma resposta definitiva à questão se o controle glicêmico reduz o risco de doença cardiovascular. Ambos os estudos mostraram tendência na redução do risco de eventos cardiovasculares, mas estas tendências não foram estatisticamente significativas. Vários estudos observacionais, incluindo os resultados da análise epidemiológica dos dados do UPKDS, mostraram fortes associações entre o controle da glicose sangüínea e o risco da morbidade de doença cardiovascular (ataques cardíacos, AVCs e amputações) e de mortalidade por todas as causas. Porém, esses estudos não provam que a glicose sangüínea alta causa estas complicações e que o tratamento intensivo para reduzir a glicose reduziria o risco. Felizmente, os pacientes em ambos os estudos DCCT e UKPDS estão incluídos em estudos de acompanhamento a longo prazo que irão determinar se o período inicial de tratamento intensivo previne complicações cardiovasculares, em comparação com o período inicial Atualização - American Diabetes Association do tratamento convencional. Outros estudos também seriam desejáveis para estabelecer os riscos e benefícios do controle da glicose em pacientes que já têm doença cardiovascular. Tais riscos e benefícios podem ser diferentes daqueles característicos de estádios iniciais da história natural do diabetes. Conclusões O UKPDS proporcionou um grande apoio à posição da American Diabetes Association de que o tratamento vigoroso do diabetes pode reduzir a morbidade e mortalidade da doença reduzindo suas complicações crônicas. Os resultados mostram que a diminuição da glicose sangüínea reduz a incidência de complicações microvasculares no diabetes tipo 2, como acontece no diabetes tipo 1. Além disso, diminuir a pressão arterial reduz a incidência de complicações cardiovasculares como acontece nos indivíduos não-diabéticos, e também leva à redução adicional na severidade das complicações microvasculares. Apesar do UKPDS não ter estabelecido diretamente qualquer efeito de diminuição de glicose sangüínea nas complicações cardiovasculares, o uso de insulina, sulfoniluréias, ou metformina (e talvez a metformina em associação com sulfoniluréias) não parece aumentar o risco de eventos cardiovasculares. O UKPDS é outro marco no estudo do diabetes provando o valor do controle metabólico. É hora de todos os profissionais de saúde tratarem o diabetes agressivamente. É também o momento para os pacientes considerarem seu diabetes com a máxima seriedade. E está a cargo do sistema de saúde providenciar os recursos necessários para ambos terem sucesso. Concessões ou aceitação de um status quo perigoso e sem vantagens nas pessoas com diabetes não deve ser mais tolerado. 127 Referências 1- Genuth S. A case for blood glucose control, Adv Int Med 40:573-623, 1995. 2- Diabetes Control and Complications Trial Research Group. The effects of intensive treatment of diabetes on the development and progression of long-term complications in insulin-dependent diabetes mellitus, N Engl J Med, 329:977-986, 1993. 3- Reichard P, Nillsson BY, Rosenqvist V. The effect of longterm intensified insulin treatment on the development of microvascular complications of diabetes mellitus, N Engl J Med 329:304-309, 1993. 4- University Group Diabetes Program. A study of the effects of hypoglycemic agents on vascular complications in patients with adult-onset diabetes, Diabetes 19 (suppl 2):747-830, 1970. 5- Ohkubo Y, Kishikawa H, Araki E, Miyata T, Isami S, Motoyoshi S, Kojima Y, Furuyoshi N, Shishiri M. Intensive insulin therapy prevents the progression of diabetes microvascular complications in Japanese patients with noninsulin-dependent diabetes mellitus: a randomized prospective 6-year study, Diabetes Res Clin Pract 28:103117, 1995. 6- Abraira C, Colwell J, Nuttal F, Sawin CT, Henderson W, Comstock JP, Emanuele NV, Levin SR, Pacold I, Lee HS. Cardiovascular events and correlates in the Veterans Affairs Diabetes Feasibility Trial: Veterans Affairs Cooperative Study on Glycemic Control and Complications in Type II Diabetes, Arch Intern Med 157:181-188, 1997. 7- UK Prospective Diabetes Study Group. Intensive bloodpressure control with sulphonylureas or insulin compared with conventional treatment and risk of complications in patients with type 2 diabetes (UKPDS 33), Lancet 352:837853, 1998. 8- UK Prospective Diabetes Study Group. Effect of intensive blood-glucose control with metformin on complications in overweight patients with type 2 diabetes (UKPDS 34), Lancet 352:854-865, 1998. 9- UK Prospective Diabetes Study Group. Tight blood pressure control and risk of macrovascular and microvascular complications in type 2 diabetes (UKPDS 38), BMJ 317:703-713, 1998. 10- UK Prospective Diabetes Study Group. Efficacy of atenolol and captopril in reducing risk of both macrovascular and microvascular complications in type 2 diabetes (UKPDS 39), BMJ 317:713-720, 1998. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 128–132 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 III - Recomendações de nutrição para pacientes diabéticos A terapia nutricional (MNT – Medical Nutrition Therapy) é imprescindível no tratamento e acompanhamento total do diabetes. Apesar da adesão aos princípios de nutrição e planejamento das refeições serem um dos aspectos mais desafiantes do cuidado do diabetes, a terapia nutricional é um componente essencial para o tratamento bem sucedido do diabetes. Alcançar os objetivos relacionados com a nutrição requer um esforço coordenado pela equipe que inclui também o paciente. Devido à complexidade das questões de nutrição, é recomendado que um nutricionista com habilidade na implantação do MNT no diabetes, seja um membro da equipe oferecendo programas de nutrição e educação. Um treinamento eficaz da auto-monitorização da nutrição requer um método individualizado ao estilo de vida e objetivos do tratamento do diabetes do indivíduo diabético. O controle da glicose e da hemoglobina glicosilada, dos lipídios, da pressão arterial e do estado renal é essencial para avaliar os eventos relacionados com a nutrição. Se os objetivos não são alcançados, devem ser feitas mudanças no plano de tratamento. É feita uma avaliação para determinar a prescrição nutricional, baseada nos objetivos do tratamento, e no que o indivíduo com diabetes é capaz e está disposto a fazer. Para facilitar a adesão, a sensibilidade para questões culturais, étnicas e financeiras, é de suma importância. Objetivos da terapia nutricional Apesar do objetivo global do MNT ser o de assistir indivíduos com diabetes na mudança no hábito de nutrição e exercício levando à melhora do controle metabólico, existem outros objetivos específicos: 1. Manutenção dos níveis de glicose sangüínea o mais próximo possível do normal através da ingestão de alimento balanceado com insulina (tanto endógena como exógena) ou medicações orais de redução de glicose e níveis de atividade física. 2. Obtenção de níveis de lipídios séricos ótimos. 3. Suprimento calórico adequado para manter ou alcançar um peso razoável em adultos, índices de crescimento normal e desenvolvimento em crianças e adolescentes, aumento das necessidades metabólicas durante a gravidez e lactação, ou recuperação de doença catabólica. O peso razoável é definido como o peso que indivíduo e o profissional de saúde reconhecem como possível e sustentável, ambos a curto e a longo prazo. Isto pode não ser o mesmo que o peso corporal tradicionalmente definido como desejável ou ideal. 4. A prevenção e tratamento das complicações agudas do diabetes tratado com insulina tais como hipoglicemia, enfermidade a curto prazo, e problemas relacionados com o exercício, e as complicações do diabetes a longo prazo tais como doença renal, neuropatia autonômica, hipertensão e doença cardiovascular (CVD). 5. Melhora da saúde em geral através de nutrição ótima. Diabetes tipo 1 O planejamento da refeição baseado na ingestão habitual de alimento dos indivíduos deve ser determinado e empregado como base para integrar o tratamento com insulina nos padrões de alimentação e exercícios usuais. Recomenda-se que os indivíduos em tratamento com insulina alimentem-se em intervalos consistentes, sincronizados com o tempo de ação da preparação da insulina empregada. Além disso, os indivíduos necessitam acompanhar os níveis de glicose sangüínea e ajustar as doses Atualização - American Diabetes Association de insulina para a quantidade de alimento geralmente ingerido. O tratamento intensificado, incluindo ingestões múltiplas diárias, infusão de insulina subcutânea contínua (CSII) usando bomba de insulina, e insulina de ação rápida, permite mais flexibilidade no intervalos das refeições e lanches, assim como na quantidade de alimento ingerido. Os indivíduos com esquemas de insulina intensificados podem fazer ajustes na ação rápida ou curta da insulina para suprir o conteúdo de carboidrato de suas refeições e, possivelmente, lanches e para desvios da alimentação usual e hábitos de exercício. 129 Muitos indivíduos com obesidade refratária podem ter sucesso limitado com as estratégias acima. Como novos agentes farmacológicos (para pessoas com IMC =27 kg/m2 com outros riscos ou problemas de saúde, ex.: diabetes, ou IMC > 30 kg/m2 sem outros riscos ou problemas de saúde) já estão disponíveis, eles podem provar sua eficácia. A cirurgia de redução gástrica está disponível para pessoas com IMC > 35 kg/m2. São necessários, porém, estudos sobre a eficácia e segurança a longo prazo destes métodos. Proteína Diabetes tipo 2 Os principais objetivos do MNT para indivíduos com diabetes tipo 2 são alcançar e manter os objetivos para glicose, lipídios e pressão arterial. Dietas hipocalóricas e perda de peso geralmente melhoram os níveis glicêmicos a curto prazo e têm o potencial de melhorar o controle metabólico a longo prazo. Porém, as estratégias dietéticas tradicionais, e mesmo as dietas de calorias muito baixas, não têm sido usualmente eficazes para alcançar a perda de peso a longo prazo. Com a continuidade da pesquisa para elucidar porque a perda de peso e manutenção é difícil para muitas pessoas, nos indivíduos com diabetes tipo 2 é necessário ir mais além que a perda de peso para alcançar e manter os níveis de glicose sangüínea próximo do normal. Várias estratégias adicionais podem ser implementadas; porém, não há nenhuma estratégia ou método comprovado que possa ser uniformemente recomendado. Deve-se recomendar uma restrição calórica moderada (250-500 calorias a menos que a média de ingestão diária conforme calculado através de uma história alimentar) e um plano de refeição nutricionalmente adequado com redução total de gordura, especialmente a gordura saturada, acompanhada por um aumento na atividade física. Uma dieta hipocalórica (independente da perda de peso) está associada com o aumento da sensibilidade à insulina e melhora nos níveis de glicose sangüínea. A perda de peso moderada (5-9 kg) independente do peso inicial, tem sido mostrada como redutora da hiperglicemia, dislipidemia e hipertensão. Refeições em intervalos (ingestão distribuída de nutriente, particularmente carboidrato, durante o dia) é uma outra estratégia que pode ser adotada. Exercício regular e aprendizado de novos comportamentos e atitudes podem ajudar a facilitar as mudanças no estilo de vida a longo prazo. Porém, se os indivíduos com diabetes fizeram todas as mudanças possíveis no estilo de vida e o controle metabólico não melhorou, pode ser necessária a adição de um agente de redução de glicose oral e/ou insulina ao MNT. Não existem dados científicos suficientes para estabelecer recomendações nutricionais quanto à ingestão de proteínas para indivíduos com diabetes. No momento, não há evidência suficiente para sustentar ingestões de proteína tanto mais altas como mais baixas do que a ingestão média de proteínas para a população em geral. Para pessoas com diabetes, isto traduz-se em uma ingestão calórica diária de proteína de ~10-20%. A dieta da proteína pode ser derivada de ambas as origens animais ou vegetais. Com o início de nefropatia evidente, as ingestões mais baixas de proteína devem ser consideradas. Vários pequenos estudos em humanos com nefropatia diabética mostraram uma dieta restrita de proteína de 0,6 g/kg/dia (na verdade os indivíduos somente alcançam uma restrição de 0,7 g/kg/dia) retarda modestamente o índice de queda da taxa de filtração glomerular. Neste momento, o consenso geral é o de prescrever uma ingestão de proteína aproximada para adulto de 0,8 g/kg/dia (~10% de calorias diárias) no paciente com nefropatia evidente. Porém, foi sugerido que uma vez que a filtração glomerular caia, a restrição adicional de 0,6 g/kg/dia pode ser útil em retardar o declínio da filtração em pacientes selecionados. Por outro lado, a deficiência nutricional pode ocorrer em alguns indivíduos e pode estar associada com fraqueza muscular. Gordura total Se a dieta de proteína contribui entre 10-20% do conteúdo calórico total da dieta, então 80-90% das calorias continuam a ser distribuídas entre dieta de gordura e carboidrato. Menos que 10% destas calorias devem ser de gorduras saturadas e 10% das calorias de gorduras poliinsaturadas, deixando 60-70% das calorias totais das gorduras monoinsaturadas e carboidratos. A distribuição de calorias da gordura e carboidratos pode variar e pode ser individualizada com base na avaliação nutricional e objetivos do tratamento. 130 Atualização - American Diabetes Association O percentual recomendado de calorias de gordura depende dos problemas lipídicos identificados e dos objetivos do tratamento para glicose, lipídios, e peso. Recomenda-se que todos os indivíduos após 2 anos limitem a ingestão de gordura para <30% de calorias totais com gordura saturada restrita para <10% de calorias totais. A ingestão de gordura poliinsaturada deve ser <10% de calorias com gordura monoinsaturada na faixa de 10-15% de calorias. Se o colesterol LDL é o principal problema, ou se os níveis estão elevados, recomenda-se a redução adicional de gordura saturada para 7% de calorias totais e dieta de colesterol para <200 mg/dia. As gorduras poliinsaturadas das séries omega-3 são naturalmente encontradas no peixe e em outros frutos do mar, e não é necessário proibir a ingestão destes alimentos para as pessoas com diabetes. Se a obesidade e perda de peso são as principais preocupações, deve-se considerar uma redução de gordura na dieta. Apesar dos alimentos com reposição de gordura terem o potencial de ajudar as pessoas com diabetes a reduzirem a ingestão de gordura total e gordura saturada, os indivíduos devem aprender a como incorporar estes alimentos ao seu planejamento de alimentação/refeição. É necessária mais pesquisa para avaliar o impacto dos repositores de gordura na gordura total e conteúdo calórico da dieta. Se os triglicerídeos e colesterol lipoproteína de muita baixa densidade representam as principais preocupações, um método a ser sugerido diz-se respeito ao aumento moderado na ingestão de gordura monosaturada com <10% de calorias das gorduras saturadas e uma ingestão mais moderada de carboidrato. Porém, nos indivíduos obesos, deve-se tomar cuidado para garantir que a gordura aumentada não perpetue ou agrave a obesidade. Além disso, os indivíduos com níveis de triglicerídeos =1000 mg/dl (=11,3 mmol/l) necessitam de uma redução em todos os tipos de dieta de gordura (< 10% de calorias) somado ao tratamento farmacológico para reduzir o risco de pancreatite. A monitorização do estado glicêmico e lipídico e peso corporal, com quaisquer modificações de dieta de gordura, é essencial para avaliar a eficácia das recomendações de nutrição. Gordura saturada e colesterol Uma redução no consumo de gordura saturada e colesterol é um objetivo importante para reduzir o risco de doença cardiovascular. O diabetes é um fator de risco importante independente da doença cardiovascular, mais do que os efeitos adversos de um colesterol sérico elevado. Portanto, <10% da calorias diárias devem ser de gorduras saturadas, e o colesterol da dieta deve ser limitado a =300 mg diário. Porém, estas recomendações devem ser incorporadas levando em consideração a base cultural e étnica do indivíduo. Carboidratos e adoçantes A porcentagem de calorias do carboidrato irá também variar e é individualizada com base nos hábitos alimentares do indivíduo e dos objetivos de glicose e lipídios. Para a maioria deste século, a idéia mais amplamente sustentada sobre o tratamento nutricional do diabetes tem sido de que os açúcares simples devem ser evitados e substituídos por amidos. Esta idéia parece basear-se na prova de que os açúcares são mais rapidamente digeridos e absorvidos do que os amidos e portanto agravam a hiperglicemia para um maior grau. Há, portanto, muito pouca evidência científica que sustente esta prova. Frutas e leite têm uma resposta glicêmica menor do que a maioria dos amidos, e a sacarose produz uma resposta glicêmica semelhante à do pão, arroz e batatas. Apesar de vários amidos terem diferentes respostas glicêmicas, de uma perspectiva clínica, a primeira prioridade deve ser dada à quantidade total de carboidrato consumido do que a origem do carboidrato. Sacarose Evidência científica tem demonstrado que o uso da sacarose como parte do conteúdo de carboidrato total da dieta não impede o controle da glicose sangüínea em indivíduos com diabetes tipo 1 ou tipo 2. A sacarose e os alimentos contendo sacarose devem substituir outros carboidratos grama por grama e não simplesmente serem adicionados ao plano de refeição. Ao fazer tais substituições, o conteúdo nutritivo dos doces concentrados e dos alimentos contendo sacarose, assim como a presença de outros nutrientes freqüentemente ingeridos com sacarose, tais como a gordura, devem ser considerados. Frutose A dieta com frutose produz uma elevação menor na glicose plasmática do que as quantidades isocalóricas da sacarose e da maioria dos amidos. Com relação a isto, a frutose pode oferecer uma vantagem como adoçante na dieta diabética. Porém, por causa dos efeitos adversos potenciais de grandes quantidades de frutose (i.e., o dobro da ingestão usual [20% das calorias]) no colesterol sérico e colesterol LDL, a frutose não deve ter uma vantagem total como agente adoçante na dieta diabética. Apesar da necessidade de pessoas com dislipidemia evitarem o consumo de grandes quantidades de frutose, não há razão para recomendar que as pessoas Atualização - American Diabetes Association com diabetes evitem o consumo de frutas e vegetais, nos quais a frutose ocorre naturalmente, ou moderar o consumo de alimentos adoçados pela frutose. Outros adoçantes nutritivos Outros adoçantes nutritivos além da sacarose e da frutose incluem adoçantes de milho, tais como xarope de milho, suco de fruta ou suco de fruta concentrado, mel, melado, dextrose, e maltose. Não há evidência de que os alimentos adoçados com estes adoçantes tenham quaisquer vantagens ou desvantagens significativas sobre os alimentos adoçados com sacarose na diminuição de calorias totais ou conteúdo carboidrato da dieta ou melhora total no controle do diabetes. O sorbitol, manitol, e xilitol são álcoois de açucares comuns (polióis) que produzem uma resposta glicêmica mais baixa do que a sacarose e outros carboidratos. Amidos hidrolizados são formados por hidrólise parcial e hidrogenação de amidos consumáveis, tornando-se assim polióis. Apesar do exato valor calórico dos álcoois de açúcar variarem, eles variam em média ~2 kcal/g em comparação com 4 kcal/g de outros carboidratos. A evidência é limitada para sugerir que isto pode ser esperado para a contribuição de uma maior redução nas calorias totais ou no conteúdo de carboidrato total da dieta diária. Além disso, as quantidades excessivas de polióis podem ter um efeito laxante. As calorias e o conteúdo de carboidrato de todos os adoçantes nutritivos devem ser responsáveis pelo planejamento de refeição e ter o potencial para afetar os níveis de glicose sangüínea. Adoçantes não-nutritivos A sacarina, aspartame, acesulfame K, e sucralose são aprovados pela FDA para uso nos EUA. Para todos os aditivos alimentares, incluindo adoçantes não-nutritivos, o FDA determina uma ingestão diária aceitável (ADI) que é definida como a quantidade de um aditivo alimentar que pode ser consumido diariamente com segurança ao longo vida da pessoa sem quaisquer efeitos adversos e inclui um fator 100 vezes de segurança. A ingestão atual de todos os adoçantes não nutritivos por indivíduos com diabetes está abaixo do ADI. Fibra A fibra dietética pode ajudar no tratamento ou na prevenção da constipação e de vários distúrbios gastrointestinais, incluindo o câncer de cólon, e oferece valor de segurança à dieta, e grandes quantidades de fibra solúvel têm um efeito benéfico nos lipídios séricos. As pessoas com diabetes devem ser mais receptivos com relação a estes efeitos do que aqueles sem diabetes. Apesar das fi- 131 bras solúveis selecionadas serem capazes de inibir a absorção da glicose pelo intestino delgado, nas quantidades de alimentos mais prováveis de serem consumidas, o significado clínico deste efeito nos níveis de glicose sangüínea é provavelmente insignificante. Portanto, as recomendações para pessoas com diabetes são as mesmas que para a população em geral com relação a fibra e dieta saudável. É recomendado o consumo diário de 20-35 g de fibra dietética de ambas as fibras solúveis e insolúveis de uma ampla variedade de origens alimentares. Sódio As pessoas diferem na sua sensibilidade ao sódio e seu efeito na pressão arterial. Visto que não é prático avaliar a sensibilidade individual ao sódio, as recomendações de ingestão para pessoas com diabetes são as mesmas que para a população em geral. Algumas autoridades de saúde recomendam não mais de 3.000 mg/dia de sódio para a população em geral, enquanto outras autoridades recomendam não mais de 2.400 mg/dia. Para pessoas com hipertensão leve a moderada, = 2.400 mg/dia de sódio é recomendado. Para pessoas com hipertensão e nefropatia, = 2.000 mg/dia de sódio é recomendado. Álcool As mesmas precauções com relação ao uso de álcool que se aplica ao público em geral também se aplicam às pessoas com diabetes. Recomenda-se não mais do que duas doses por dia para homens e não mais do que uma dose por dia para mulheres. O efeito do álcool nos níveis de glicose sangüínea depende não só do álcool ingerido mas também da relação com o alimento ingerido. O álcool não é metabolizado para glicose e inibe a glucogenese; portanto, se o álcool é consumido sem alimento por pessoas tratadas com insulina ou agentes redutores de glicose, pode resultar em hipoglicemia. A hipoglicemia pode ocorrer nos níveis de álcool no sangue que não exceder a intoxicação leve. Se usado com moderação e com alimento, porém, os níveis de glicose sangüínea não são afetados pela ingestão de álcool quando o diabetes é bem controlado. Para os indivíduos que recebem insulina, duas ou menos doses de bebidas alcóolicas (1 bebida alcóolica = 12 oz. cerveja (uma lata); 5 oz. vinho (um copo), ou 1,5 oz. de álcool destilado) podem ser ingeridas e acrescentada ao planejamento normal da refeição. Nenhum alimento deve ser omitido por causa da possibilidade de hipoglicemia induzida pelo álcool. Quando as calorias do álcool precisam ser calculadas como parte da ingestão calórica total, o álcool é melhor substituído por quantidades de gordura (1 bebida alcóolica = 2 quantidades de gordura) ou calorias de gordura. 132 Atualização - American Diabetes Association A abstenção do álcool deve ser aconselhada para pessoas com história de abuso de álcool ou durante a gravidez. A redução de ou abstinência de ingestão alcóolica são aconselháveis para indivíduos diabéticos com outros problemas médicos tais como pancreatite, dislipidemia, especialmente triglicerídeos elevados, ou neuropatia. Tabela 1 - Perspectiva histórica de recomendações nutricionais (distribuição de calorias em %) Ano Carboidrato Proteína Gordura Antes de 1921 1921 1950 1971 1986 1991 20 40 45 ≤60 * Dietas de fome 10 20 20 12-20 10-20 70 40 35 <30 *✝ * Com base na avaliação nutricional e objetivos de tratamento ✝ Menos que 10% de calorias das gorduras saturadas Micronutrientes: vitaminas e minerais Quando a ingestão dietética é adequada, em geral não há necessidade de suplementação vitamínica e mineral para a maioria das pessoas com diabetes. Apesar de haver razões teóricas para suplemento com antioxidantes, há pouca evidência de que tal tratamento apresente algum benefício. A única circunstância conhecida na qual a reposição do cromo tem qualquer efeito benéfico no controle glicêmico é nas pessoas com deficiência de cromo como resultado de nutrição parenteral a longo prazo com deficiência de cromo. Porém, parece que a maioria das pessoas com diabetes não são deficientes de cromo, e, portanto, a suplementação de cromo não tem benefício conhecido. De mesma forma, apesar da deficiência de magnésio ter um papel na resistência à insulina, intolerância ao carboidrato, e hipertensão, os dados disponíveis sugerem que a avaliação de rotina dos níveis de magnésio sérico é recomendada somente em pacientes com altos riscos de deficiência de magnésio. Os níveis de magnésio devem ser completados somente se o hipomagnésio puder ser demonstrado. A perda de potássio pode ser suficiente para garantir a suplementação dietética em pacientes que recebem diuréticos. A hipercalcemia, suficiente para garantir a restrição de potássio dietético, pode ocorrer em pacientes com insuficiência renal ou hipoaldosteronismo hiporinêmico ou em pacientes que recebem inibidores da enzima conversora da angiotensina. Gravidez As recomendações nutricionais para mulheres com diabetes preexistente ou gestacional devem basear-se na avaliação nutricional. A monitorização dos níveis de glicose sangüínea, cetonas na urina, e ganho de peso podem ser um guia para o desenvolvimento e avaliação de uma prescrição dietética individualizada apropriada e planejamento das refeições e para possíveis ajustes neste planejamento durante toda a gravidez para garantir os resultados desejados. Hoje não há uma dieta “diabética”. A dieta recomendada pode ser definida apenas como uma prescrição nutricional baseada na avaliação e nos objetivos e resultados do tratamento. A terapia nutricional para pessoas com diabetes deve ser individualizada, levando-se em consideração os hábitos alimentares regulares e outros fatores de estilo de vida. As recomendações nutricionais são então desenvolvidas e implementadas para alcançar os objetivos do tratamento e os resultados desejados. Os parâmetros metabólicos acompanhados, incluindo os níveis de glicose sangüínea, a hemoglobina glicosilada, lipídios, pressão arterial, peso corporal, e função renal, se apropriado, assim como qualidade de vida, são fundamentais para garantir resultados bem sucedidos. Além disso, é essencial que a educação na auto-monitorização da nutrição possa ser fornecida para indivíduos com diabetes. 134 Diabetes Clínica Pesquisas Brasileiras em Diabetes II - Organização da informação Walmor J. Piccinini* Uma informação só é útil se nós pudermos acessá-la quando dela necessitamos. O que parece uma obviedade, não é de execução fácil. Todos nós acumulamos volumes e mais volumes de jornais, separatas de trabalhos, anotações, pareceres e informações que deixamos de lado para ler mais tarde quando sobrar tempo, o que raramente acontece. Estamos na era da informação e sofremos uma das suas particularidades que é o volume excessivo de dados que precisamos selecionar, arquivar, estudar e aplicar. São notícias publicadas pela mídia não especializada, releases da indústria, revistas nacionais e estrangeiras, teses dos cursos de pós-graduação e outros. O médico e outros profissionais da saúde invadidos por esta avalanche de informações, necessitam desenvolver recursos que lhes permitam ordenar, catalogar e acessar. A utilização da informática e programas de indexação podem facilitar esta tarefa. Existem serviços especializados, uns públicos e alguns privados que se propõem a catalogar, indexar e analisar as informações. Podemos citar as mais conhecidas. Lilacs/Bireme As publicações internacionais, geralmente são indexadas na National Library of Medecine dos EUA, e têm seu acesso facilitado pela Medline. Uma outra grande fonte de referência bancada pela Elsevier, é a Excerpta Médica que, pode ser encarada como um contraponto europeu a Medline, bem como a Fundação Cochrane que se notabiliza pela divulgação de estudos de metanálise. As publicações brasileiras e latino-americanas são indexados no Lilacs e acessados através da Bireme. Ambos prestam inestimável serviço de apoio e divulgação daquelas publicações. Iniciativas individuais e de *Dr. Walmor J.Piccinini, R. Felipe Neri 296/301, 90440-150 Porto Alegre, RS, E-mail : [email protected] Entidades tentam preencher a falta de dados mais completos sobre a nossa produção científica. Temos conhecimento que a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular publica seu Índice Bibliográfico Brasileiro de Angiologia e Cirurgia Vascular (em 1995 foi organizado por Jorge Ribas Tomi de Curitiba). Nós organizamos a Bibliografia Psiquiátrica Brasileira e a colocamos à disposição dos interessados em livro e CD-ROM. Estamos trabalhando na organização do Índice Brasileiro de Publicações em Diabetes que poderá ser ampliado para acrescentar publicações em Endocrinologia. No atual estágio coletamos 560 trabalhos que, brevemente, a revista Diabetes Clínica colocará a disposição de todos. Você pode participar deste projeto enviando-me correspondência, e-mail ou outra forma de comunicação, com suas publicações e com um resumo das mesmas. A construção de um banco de dados sobre a produção científica brasileira em diabetes justifica-se por uma série de motivos: preservação histórica, memória; valorização dos nossos pesquisadores; transformação da informação em dados acessíveis evitando que continue limitado o número de citações de autores nacionais em artigos encaminhados à publicação ou publicados. Não custa lembrar que um banco de dados é uma coleção de informações estruturadas. Ele pode conter informação a respeito de livros, revistas, material audiovisual ou sobre autoria, data da publicação e descrição física. Edição impressa ou eletrônica Antes de entrar no trabalho de construção de um banco de dados precisamos examinar alguns aspectos das publicações em papel e eletrônicas. Segundo Keith Davidson diretor executivo da Xplor Int. (http:// www.xplor.org): em 2004 às informações serão 70% eletrônicas e 30% em papel. As razões são basicamente Pesquisas Brasileiras em Diabetes – Diabetes Clínica (04) 2000 135 e com o CAPES e com isso estão liberando o ISI Web of econômicas, como aconteceu no passado com a introScience a o Derwent Inovations Index para os pesquisadução do papel. O papel, que substituiu o pergaminho dores e estudantes brasileiros ligados aquelas entidades. e/ou o velino (pergaminho mais fino conseguido da pele de bezerro neonato) começa a ser substituído pelos doO programa ProCite cumentos eletrônicos. Ruppel Aloys, citado por Lucien Nós utilizamos o ProCite, programa desenvolvido em Fébvre e Henry Jean Martin na sua obra O AparecimenAnn Arbor, por professores da Universidade de Michito do Livro, Editora Unesp/Hucitec, 1991, calculou que gan. Ele permite a construção e o gerenciamento de gran170 peles seriam necessárias para a impressão de um des bancos de dados, pode se comunicar com a Medline volume equivalente a Bíblia de Gutemberg ( 340 folhas e com a Web e não requer conhecimentos especializade 42x62 cm). Deste modo, trinta exemplares da Bíblia dos para seu manuseio. exigiriam 5.000 peles. Como a tiragem foi de 100 exemPara compreender como funciona, alguns elementos plares, seriam necessárias 15 mil peles. chaves precisam ser conhecidos: Comparando o papel com documento eletrônico di1 - Banco de dados: consiste num coleção estruturada gitalizado num CD-ROM, veremos que um CD armade informações, pode ser de livros zena 650 MB ( 1 MB = 1024 x e revistas, material audiovisual, 1024 bytes = 1.048.576 bytes) de Estamos trabalhando na organimúsicas, etc. informação, e equivalente a zação do Índice Brasileiro de Pu2. Ficha ( records): é a unidade bá340.000 páginas de 2.000 caractesica do banco de dados. res cada uma. Se fosse utilizado blicações em Diabetes que pode3. Formas básicas (Workforms): uma folha de papel de 20 gramas, rá ser ampliado para acrescentar permite organizar a informação em teríamos 770 kg. publicações em Endocrinologia. cada ficha. Podemos afirmar, sem exagero, No atual estágio coletamos 560 4. Campo: é a porção da ficha que que a introdução do papel salvou, trabalhos que, brevemente, a recontem informação de um tipo simliteralmente, a pele de milhares de vista Diabetes Clínica colocará a ples, por exemplo: autor, título, data, animais; e a eletrônica salva e salrevista em que foi publicado, resuvará imensas florestas que de oudisposição de todos. mo, palavras chaves. tra forma teriam que ser transforO ProCite organiza estas fichas madas em papel. da forma que determinarmos e podemos utilizar padrões Os números são tão fantásticos que relato uma experipré-estabelecidos ou criar tipos especiais. Antes que alência particular. Adquiri da World Library o CD-ROM Liguém reclame que falte informações mais objetivas gosbrary of the Future contendo os textos completos de 5 mil taria de lembrar que o Manual do Usuário do ProCite livros com ilustrações, vídeos e uma hora de áudio. A Ametem umas 400 páginas. Estamos informando aos que rican Psychiatric Association publica sua biblioteca eleainda não conhecem estes programas indexadores, que trônica com inúmeros livros e coleções completas de 8 reeles são fáceis de manejar e muito úteis, seja individualvistas psiquiátricas importantes, entre elas o American Jourmente ou nos Grupos de Estudo. Quem utiliza Windonal of Psychiatry e os Archives of General Psychiatry. ws sabe que tudo se resume em abrir janelas e salvar. Todos nós que amamos os livros, sentimos que eles Aberto o ProCite, abre-se uma janela para o banco de enfrentam uma batalha feroz pela sobrevivência. Se obdados. Do banco de dados vamos para a ficha e na ficha servamos o livro, veremos que muitos deles contêm avanpreenchemos os campos. Os campos podem ser numeçados métodos auxiliares de navegação e localização rosos, (45), nós costumamos trabalhar com 10 ou 12. como o sumário, índice, glossário, notas de rodapé. Os campos são preenchidos a partir de digitação direta Como contraponto os documentos eletrônicos vão muiou pela disposição de informações colhidas eletronicato além e isso os tornam mais fáceis de reproduzir, achar mente. São preenchidas as informações relativas ao e indexar, eles se tornam superiores aos documentos de autor(es), Título, Nome da Revista, Data da Publicação, papel. Seus mecanismos de busca são mais refinados Volume, Número, Página, Língua; endereço, Notas, podendo viajar pelo texto com desenvoltura. Resumo, Palavras-chaves. Estas informações são salvas Como já citamos anteriormente, a ISIResearchSoft no banco de Dados que as ordena automaticamente. Em reúne alguns dos melhores programas para organização algumas situações podemos buscar a informação diretabibliográfica como o EndNote, o Reference Manager e o mente num disco ou na Medline. A grande vantagem ProCite, todos podem ser encontrados para download no final, é que estes dados podem ser pesquisados rapidaURL (http://www.risinc.com). Recentemente (29 de marmente e utilizados na medida da necessidade do autor. ço de 2000) esta empresa fez um acordo com a FAPESP Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 135–142 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas ARTIGO ORIGINAL Semiologia do pé Prevenção primária e secundária do pé diabético Adolfo V. Zavalaa e Daniel Braverb aCoordenador do Consultorio integral y vasculopatías, y pie diabético, Universidad de Buenos Aires, Facultad de Medicina, Hospital de Clinicas José de San Martin, bMédico do Consultorio integral y vasculopatías, y pie diabético 1. Princípios elementares, fatores e graus de risco para o pé diabético As complicações crônicas do diabetes são a maior causa de morbidez e mortalidade, implicando muitas conseqüências médicas e sócio-econômicas. Dentre tais complicações, pode-se citar o pé diabético, o qual constitui um problema de saúde pública devido à freqüência com que ocorre e a seu custo. Além disso, o paciente diabético que precisa submeter-se à amputação tem um prognóstico desanimador. Sabe-se que no período de três anos após uma amputação dos membros inferiores a porcentagem de sobrevida é de 50% e no prazo de dez anos o índice de mortalidade é de 39% a 68%. Dados recentes de pesquisas realizadas nos Estados Unidos indicam que de 9% a 20% dos diabéticos precisam ser submetidos a uma segunda amputação. Após cinco anos da primeira amputação, cerca de 28% a 41% dos pacientes que sobreviveram precisam fazer uma segunda intervenção na mesma perna. As complicações que envolvem os membros inferiores dos diabéticos geram ainda repercussões de ordem social e psicológica para os pacientes, podendo trazer muitas alterações no que diz respeito à qualidade de vida destas pessoas. Correspondência: Dr. Adolfo Zavala, diretor Fundación Escuela para la Formación y actualización en diabetes y nutrición, Larrea 1403 PB (1117) Capital Federal Buenos Aires, Argentina, Tel/Fax: +541 805-7651, E-Mail: [email protected] Este artigo foi escrito especialmente para Diabetes Clínica. Assim, faz-se necessário prevenir as amputações, demonstrando-se que um programa de educação e treinamento voltado para o cuidado adequado dos pés diminui a necessidade de amputações. Conseguiu-se reduzir as amputações em cerca de 80%. As lesões observadas nos pés dos diabéticos advêm de sérios transtornos neuropáticos, vasculares e ortopédicos, mas são desencadeados por traumatismos internos ou externos que podem ser prevenidos. É possível prevenir o surgimento de lesões nos pés por meio das seguintes atitudes: • Promover a educação dos profissionais da saúde, dos pacientes e da população em geral, esclarecendo as causas deste tipo de lesão e enfatizando a existência de medidas preventivas. • Realizar exames anuais completos, utilizando a metodologia instrumental adequada e procurando classificar os graus de risco das lesões nos pés. • Avaliar, evitar e controlar os fatores gerais de risco para a arteriosclerose esclarecendo sobre a necessidade de controlar o diabetes. Os fatores que desencadeiam as lesões nos pés são: • Falta de vitalidade da pele, o que torna extremamente necessário aumentar os cuidados com a mesma, evitando o ressecamento por meio de uma hidratação adequada. • Diminuição da quantidade e da qualidade da sola do pé, a qual deve ser suprida com a utilização de palmilhas, dentre outras medidas protetoras. 138 Zavala AV e Braver D / Diabetes Clínica 04 (2000) 135–142 O uso de sapatos confortáveis, profundos, de tamanho maior, com pouco salto e palmilhas absorventes é de fundamental importância para a proteção dos pés. A rigidez dos pés é outro fator de grande risco para o surgimento de lesões, motivo pelo qual torna-se necessária a introdução de exercícios físicos que visam a evitar a atrofia muscular e as deformidades ósseas. • Traumatismos externos por falta de cuidado ou de conhecimento do paciente. É preciso avaliar o conhecimento quanto ao cuidado com o pés, ensinar estes cuidados ao paciente, dar-lhes a cartilha e supervisionar seu cumprimento. É essencial notar que a prevenção primária e secundária do pé diabético exige que nos lembremos sempre de que estamos tratando não só um membro, mas um paciente diabético e que as enfermidades vasculares e neuropáticas são generalizadas e acabam se alastrando para outras regiões do corpo. 1.1 Fatores de risco a) Idade e duração do diabetes, principalmente quando não está sob controle. b) Os pacientes do sexo masculino apresentam um risco cerca de 1,6 vezes maior de sofrer amputações. c) Baixo nível social, principalmente dos pacientes que não tiveram acesso à educação. d) Indivíduos que vivem sozinhos e não se têm relações sociais. e) Mal controle glicêmico. f) Morbidades: complicações crônicas do diabetes, principalmente a nefropatia e a retinopatia. g) Fatores de risco para a arteriosclerose: tabagismo, hipertensão arterial, sedentarismo, dislipidemia, etc. g) Falta de educação para a convivência com o diabetes gerando falta de cuidados, principalmente o desconhecimento e os cuidados errôneos com os pés. h) Alcoolismo. i) Diminuição da visão. Por todos estes motivos, é essencial insistir no exame detalhado dos pés do paciente diabético ao menos uma vez ao ano. É preciso saber classificar os graus de risco a partir do exame físico e instrumental para que as medidas preventivas adequadas possam ser tomadas. Risco baixo: Quando o diabetes não está associado a nenhum outro problema. Neste caso, deve-se proceder a um tratamento adequado da enfermidade procurando-se controlar os fatores de risco. Faz-se necessária uma visita periódica ao podologista a fim de que se transmitam os conhecimentos necessários aos cuidados adequados com os pés. Instruir o paciente sobre cuidados de higiene, exame diário e a procurar o médico mesmo frente à menor lesão. Nesta situação, os exames devem ser repetidos anualmente. Risco moderado: Quando a enfermidade está associada a outras alterações relativas ao modo de pisar. Além dos procedimentos mencionados no item anterior, devem ser indicadas ainda medidas corretivas para o modo de pisar e repetidos os exames dos pés a cada seis meses. Risco alto: Além dos problemas mencionados no primeiro e segundo itens, soma-se a presença de vasculopatia e/ou neuropatia periférica assintomática ou manifestações clínicas sem o surgimento de lesões nos pés. Deve-se aumentar os cuidados com o diabetes e tomar as devidas precauções, dependendo do caso. É preciso evitar traumatismos internos e externos. O exame deve ser repetido a cada três meses. Risco muito alto: Quando há antecedente de lesões ou amputações ou, ainda, se forem observados indícios de um início de lesão (hiperceratose, mudanças na coloração da pele, bulbos, descamação da pele, edemas, pele atrófica e reluzente, alterações tróficas ou micoses nas unhas). Deve-se fazer uma avaliação cuidadosa da pele indicando-se as medidas preventivas e corretivas necessárias à prevenção das lesões e das infecções. É fundamental atender freqüentemente o paciente até que se observem melhoras na vitalidade da pele. Assim, recomendam-se exames mensais. Uma vez curadas estas prélesões, deve-se manter consultas trimestrais. Lembrar sempre O paciente diabético deve realizar anualmente uma série de exames a fim de detectar possíveis complicações crônicas decorrentes da doença. Não podem ser esquecidos os exames oculares, cardiovasculares e aqueles próprios para se detectar enfermidades renais, que são tão importantes quanto o exame detalhado dos pés. Deve-se realizar um exame clínico e instrumental e, caso não seja possível realizar os procedimentos necessários, deve-se encaminhar o paciente a um centro onde os mesmos possam ser realizados, certificando-se de que seja enviado um relatório ao médico responsável pelo caso para que acompanhe a situação do paciente. Zavala AV e Braver D / Diabetes Clínica 04 (2000) 135–142 2. Sistemática do diagnóstico dos membros inferiores O exame clínico não é suficiente, é imprescindível que se realizem exames instrumentais, procedimento este que deve ser realizado em todos os centros de atendimento terciário. Num primeiro momento, deve-se procurar avaliar os riscos e as lesões dos pés. Os resultados dos exames serão determinantes para que se possa encaminhar o paciente para exames mais aprofundados ou para o tratamento mais adequado. É imprescindível que se avalie anualmente o risco de desenvolver lesões nos pés em qualquer paciente diabético, devendo-se tomar as devidas providências quanto a lesões pré-ulcerativas ou pós-ulcerativas. Segundo o consenso internacional de cuidados para com os pés diabéticos, os cinco pilares para o cuidado adequado baseiam-se em: 1) Exames regulares dos pés que apresentam riscos. 2) Identificação dos mais propensos a desenvolver lesões. 3) Conscientização do paciente, de sua família e dos profissionais da saúde sobre a importância de um exame minucioso para a saúde dos pés. É importante frisar a necessidade da consulta para a prevenção das lesões e de consultas regulares com uma equipe especializada nos casos mais complicados ou quando não se dispõe do instrumental mínimo necessário. 4) Utilização de meias e sapatos adequados, evitandose o surgimento de traumatismos. 5) Tratamento das patologias não ulcerativas. No exame regular dos pés, deve-se: • Avaliar os antecedentes de lesões ou amputações. Indagar o paciente sobre seus cuidados habituais com os pés, se tem o costume de andar descalço e se tem acesso ao sistema de saúde. • Deve-se averiguar qual o tipo de sapato que o paciente utiliza para ficar em casa e para sair. • Examinar a pele: cor, temperatura, edemas, alterações quanto ao crescimento, espessura (da pele), existência de micoses ou problemas nas unhas. Outros aspectos importantes são: a maneira como as unhas são cortadas, se há calos, mudanças de coloração, bolhas, hematomas, ressecamento e macerações interdigitais. • A avaliação minuciosa da vasculopatia e da neuropatia periférica e do modo de pisar também são essenciais. 139 2.1 Neuropatia periférica A neuropatia periférica é provavelmente a complicação mais freqüente decorrente do diabetes e pode ser a manifestação inicial da mesma. Sua apresentação distal, sensitivo-motora, simétrica, com predominância das alterações sensoriais. O paciente pode apresentar sintomas como disestesias, parestesias, cãibras e dores que tendem a se agravar durante a noite, embora o sintoma mais comum seja a perda da sensibilidade. Relata-se a sensação de estar caminhando sobre algodão. A perda da sensibilidade ocorre na panturrilha. É importante averiguar se houve perda da sensibilidade protetora como o monofilamento, a vibração com o diapasão de 128 Hz, a sensibilidade ao frio e ao calor, a sensação de contato em algodão e os reflexos. A parte mais importante do exame é a sensitiva, quando se deve anotar um score quantitativo da sensibilidade levando-se em conta os seguintes parâmetros: (0 ponto normal) • • • • • Sensibilidade a dor: 0 a 1 ponto Sensibilidade vibratória: 0 a 1 Discriminação térmica: 0 a 1 Reflexo aquileu: 0 a 2 Sensibilidade tátil: com o monofilamento de 0 a 2 Com exceção do exame da rótula, a avaliação da sensibilidade deve ser feita com o paciente deitado em decúbito ventral apoiando os pés em uma almofada. Devese mostrar ao paciente as sensações esperadas realizando-se os mesmos estímulos nos dedos das mãos e pedindo-lhe que feche os olhos e responda àquilo que perguntar o médico. O rastreamento deve ser feito na polpa do primeiro dedo, embora seja mais conveniente realizá-lo em 10 pontos: polpas do primeiro, segundo e terceiro dedos; cabeças do primeiro, segundo e terceiro metatarsianos; borda interna, externa e dorso do pé . O total de pontos patológicos para ambas as pernas é de 14. Uma pontuação de até 3 é considerada normal, de 3 até 6 há uma alteração leve na sensibilidade, de 6 até 9, moderada e mais de 9, grave. Parâmetros para a sensibilidade Sensibilidade à dor Discriminação entre frio e calor Sensibilidade vibratória Reflexo aquileu Sensibilidade tátil Direito Esquerdo 0-1 0-1 0-1 0-1-2 0-1-2 0-1 0-1 0-1 0-1-2 0-1-2 140 Zavala AV e Braver D / Diabetes Clínica 04 (2000) 135–142 - Sensibilidade à dor: o ideal é fazer uma pressão uniforme com um aparelho denominado Neuropen, mas, na prática, pode-se fazer com um alfinete ou preferivelmente, com uma lâmina descartável. - Sensibilidade vibratória: Com um diapasão de 128 Hz ou, preferivelmente, com o biotensiometer. Deve-se aumentar a intensidade até que o paciente diga que está sentindo a vibração. Deve-se fazer cerca de três tentativas. A sensibilidade aumenta com a idade, mas, via de regra, pode-se considerar o seguinte: menos de 15 mV é normal, entre 15 e 25 mV, duvidoso, e superior a 25 mV, bem patológico. - A discriminação entre frio e calor pode ser feita por meio de tubos de ensaio ou com um lápis de dois metais a fim de proporcionar diferentes sensações. - O reflexo aquileu deve ser feito com o paciente ajoelhado em uma cadeira ou bem relaxado em uma cama. - O rastreamento da sensibilidade táctil deve ser feito com o filamento de Semmens Weinstein 5,07, embora possam ser utilizadas outras espessuras. O movimento deve ser feito suavemente, em cerca de três segundos, apoiando-se sobre a pele o filamento e dobrando-o até que se verifique uma pressão de 10 gramas. Nestas circunstâncias, a maior parte dos pacientes tem a sensibilidade protetora normal. Para colocar sobre hiperceratose ou tecidos necrosados, limpeo com hipoclorito de sódio a 1/10. 2.2 Avaliação motora Deve-se observar os músculos, medindo-se a circunferência da perna em caso de dúvida e para averiguar a evolução do paciente. É preciso avaliar os espaços interósseos por meio do teste do ventilador, o qual consiste na tentativa de separação dos dedos dos pés. A impossibilidade de realizá-lo e a atrofia dos espaços interósseos indica que os músculos interósseos e lumbricais foram afetados. Neste caso, os dedos vão tomando forma de garras ou de martelos e é preciso examinar por meio do teste da compressão. Pressiona-se a cabeça dos metatarsianos ou das falanges avaliando a possibilidade de corrigir a deformação (garra flácida) ou não (garra rígida). Avalia-se também a força muscular dos dedos, pés e pernas, testando-se a mobilidade das articulações em direção dorsal e plantar. Classifica-se como grau 0 quando é possível mover a articulação contra a gravidade e contra a resistência das mãos. A maior alteração é quando não se pode movimentar a articulação ainda que a favor da gravidade e sem opor resistência com as mãos. 2.3 Neuropatia autonômica Essa situação pode ser identificada quando há ressecamento da pele, falta de secreção sudorípara e sebácea, as veias ficam dilatadas e a temperatura aumenta. Há ainda outros testes anatômicos que podem ser realizados, tal como o teste de Edwig para se avaliar o comprometimento cardíaco simpático e/ou parassimpático. Pode-se também utilizar um aparelho para simplificar o diagnóstico (Cardionomic). Em caso de neuropatia autonômica dos membros inferiores, há uma elevação na temperatura em determinadas regiões, podendo-se chegar a casos de Charcot a temperaturas superiores a 33,5 graus. É mais específica quando manifesta-se unilateralmente. A medição da temperatura é feita com termometria cutânea ou com o scanner de temperatura (termometria quantitativa) em pontos tal qual a avaliação do score de sensibilidade. Os melhores testes são o Teste de Minor ou da acetilcolina, que aplicam princípios semelhantes. Colore-se o membro afetado com lugol e coloca-se amido, aplicando-se calor ou injetando-se acetilcolina. Quando há inervação nervosa, há transpiração, o que causará uma mudança na coloração do amido/goma. Medem-se então as gotas por cm. 2.4 Etapas da neuropatia De acordo com os resultados dos exames, principalmente a avaliação da sensibilidade, classifica-se (o procedimento) em etapas: - Sem neuropatia clínica. - Com neuropatia clínica: sintomas ou avaliação da sensibilidade superior a 3 e inferior a 9. Pode haver alterações motoras ou autonômicas. - Com neuropatia grave: há lesões neuropáticas, pé de Charcot ou score superior a 9. Nota-se ainda atrofia muscular avançada, com grau de força muscular superior a 3. 3. Avaliação do apoio Quando há alterações no modo de caminhar (o paciente não consegue andar na ponta dos pés e com os calcanhares) e deformações nos sapatos. Deve-se observar se há deformações no membro tais como dedos em garra, em martelo, dedos sobrepostos, hallux valgus, deformidades ósseas, escoliose, lordose, genu valgus ou varus. Zavala AV e Braver D / Diabetes Clínica 04 (2000) 135–142 É importante avaliar se o paciente é capaz de caminhar normalmente na ponta dos pés ou sobre os calcanhares. Examina-se ainda a sola do pé. É preciso observar a espessura (que costuma ser de alguns centímetros nos calcanhares), a aparência da pele (se está adequadamente lubrificada e se tem elasticidade) e se cobre as cabeças dos metatarsianos. É preciso avaliar também a mobilidade do pé, pois um pé rígido apresenta um risco maior de desenvolver lesões. Esse exame deve ser realizado da seguinte forma: - O teste da posição de oração - O paciente deve apoiar ambos os antebraços sobre a mesa e juntar mãos e dedos, considerando-se grau 0 quando o movimento é impossível, grau 1 quando não é possível juntar ambos os dedos mínimos, grau 2 quando o paciente não é capaz de juntar todos os dedos e grau 3 quando é impossível juntar os pulsos. O grau 4 só é atingido quando há enrijecimento de outras articulações (ombros, coluna, etc.). As dificuldades em realizar este movimento sugerem afetação osseoarticular e indicam mais complicações decorrentes do diabetes e possibilidade de desenvolvimento de lesões nos pés. - Mobilidade do hallux: deve ser avaliada com um goniômetro, sendo considerado normal um ângulo de 30º. - Mobilidade do pé: O normal é um ângulo plantar superior a 45º e dorsal superior a 15º. - Mobilidade da articulação tíbio-astragálica: Seus valores oscilam entre 20º em flexão dorsal e 50º em flexão dorsal. - Mobilidade da articulação sub-astragálica: 10 º em valgus até 40º em varus. É preciso também realizar radiografias de ambos os pés nas seguintes posições: 1) frontal, enfatizando as articulações metatarso-falângicas, 2) de perfil com apoio monopódico, 3) três quartos oblíquo. Para a análise das mesmas há uma regra mnemônica, qual seja ABCS A. Alinhamento: Como estão as linhas de força. Devese determinar os graus do hallux valgus, avaliar a conformação do pé (normal ou quadrado, egípcio ou grego) e avaliar o ângulo de Costa Bartini para determinar se o pé é normal, plano ou côncavo. Pelo perfil é possível avaliar se há dedos em garra ou em martelo. Os graus de hallux são: 0 quando os sesamóides es- 141 tão por trás da parte de cima do metatarso, 1 quando despontam os sesamóides, 2 quando é possível visualizá-los bem e 3 quando há abdução do primeiro metatarsiano e adução da falange. O ângulo de Costa Bartani pode ser obtido marcando-se um ponto na parte ântero-inferior do astrágalo e estendendo-se uma linha até a parte mais inferior do calcâneo e a parte ântero-inferior do primeiro metatarsiano. O normal é 120º +/- 10, esse valor aumenta no pé plano e diminui no pé côncavo. B. Bone: Como estão os ossos. Se há osteopenia, osteoartropatia, osteomielite ou outra patologia C.Cavity – Articulações: Se há luxações, osteófitos. S. Soft - Tecidos moles: Se há corpos estranhos, processos inflamatórios, gases, calcificações arterianas, procurando diferenciar se é na parte interior ou na membrana média. Suspeita-se que haja uma alteração na base dos pés quando percebem-se deformações no sapatos, há calos, bolhas, hemorragia ou descamação da pele; se há antecedentes de lesões ou amputações prévias; se a parte superior dos metatarsianos ou outra proeminência óssea não possui proteção da sola do pé; quando há problemas de artrose nos joelhos, nos pés ou deformações na coluna. É preciso levar em consideração se há diferenças no comprimento das pernas. Neste caso, deve-se encaminhar o paciente para que uma equipe especializada possa realizar exames complementares tais como podografia, avaliação no podoscópio e estudo computadorizado do modo de caminhar e do apoio. 4. Avaliação do fluxo periférico Os pacientes podem se queixar de claudicação intermitente ou dor mesmo quando em repouso, mas muitos apresentam vasculopatia periférica assintomática, o que pode levar à mortalidade, corroborando a necessidade de se realizar um exame minucioso do diabético. A dor de claudicação costuma aparecer durante a caminhada, desaparecendo imediatamente assim que se pára. É importante averiguar a distância de claudicação (quando mais curta, pior o prognóstico) e a zona afetada (quanto mais distal, pior o prognóstico). Quando a dor é muscular e nas nádegas, a aorta e as ilíacas estão afetadas, Quando dói a panturrilha, o problema está na femoral superficial e se a dor é no tornozelo ou nos pés, encontra-se enfermo o território tíbio-perôneo. 142 Zavala AV e Braver D / Diabetes Clínica 04 (2000) 135–142 A dor isquêmica em repouso não se alivia com o frio, quando se pisa ou ao caminhar. O alívio, momentâneo, só se dá ao dormir-se sentado. Ao investigar um caso de vasculopatia periférica, devese observar se a pele está atrófica, reluzente ou com ausência de pelos (quando há pêlos nos dedos dos pés, a circulação é considerada aceitável). Pode haver palidez dos membros, especialmente quando se eleva a perna, e eritrocianose na posição vertical. As unhas são grossas, com alteração na coloração, crescimento retardado e presença de micose. Pode haver diminuição na temperatura, sendo mais facilmente detectável quando manifesta-se unilateralmente quando é possível quantificar-se com termometria infravermelha. Não se pode deixar de avaliar a pulsação, a existência de sopros, as veias e capilares. Avalia-se primeiramente o paciente em repouso, caso o resultado seja normal, peça-lhe que realize um exercício ou faça um teste de hiperemia. - Pulsos: Sentir a pulsação comparando-a com a da própria pessoa que está avaliando como parâmetro. O pulso é classificado como presente, diminuído ou ausente. O pulso femoral deve ser avaliado com o paciente deitado e com a virilha relaxada. Já o poplítico deve ser avaliado com ambas as mãos e pernas flexionadas. O podal, no dorso dos pés (menos específico) e o tibial posterior no maléolo interno (mais específico). fluxo por meio da determinação da pressão nos membros inferiores comparando-a com a do braço. O aparelho utilizado para este procedimento é o doppler bidirecional. Pode-se avaliar as pressões segmentárias no músculo superior, inferior, na panturrilha e no tornozelo, sendo necessária a utilização de equipamentos especializados. É preciso medir a pressão no tornozelo e compará-la com a do braço (índice tornozelo/braço ou índice isquêmico) em todo paciente diabético. Quando surgem dúvidas, deve-se avaliar a pressão no dedo e fazer a relação dedo/braço, podendo-se acrescentar ainda a oscilação do pulso e/ou pletismografia. Quando se suspeita de isquemia grave ou de úlceras que não curam, pode-se realizar a medição da tensão transcutânea de oxigênio nos pés, periúlceras e comparar com a do tórax. Se houver confirmação da isquemia grave, deve-se avaliar a possibilidade de realizar-se um procedimento de revascularização (by pass, angioplastia ou ambos). O procedimento a ser seguido deve ser a realização de uma angiografia com ressonância magnética, por subtração digital ou por cateterismo ou punção. 4.1 Procedimentos diagnósticos instrumentais Pressão no tornozelo com doppler Mede-se a pressão com o doppler bidirecional na artéria podal ou tibial posterior e logo após repete-se o procedimento no braço. Tomam-se os valores mais altos (do membro inferior e superior) e faz-se a relação. O normal é que o resultado não seja superior a 1. Pode-se considerar que há isquemia clínica quando os valores oscilam entre 0,9 e 0,5, e isquemia grave quando o valor é inferior a 0,5. Variações no índice tornozelo/braço superior a 0,15 em cada zona costumam implicar mudança patológica, ainda que haja variações entre examinadores. O tamanho do tubo é importante, assim como a utilização de um gel apropriado, baterias adequadas e a movimentação do sensor em ângulo e pressão adequados. É conveniente ainda que o médico seja experiente. Há calcificação da membrana média em 30% dos diabéticos, mas a calcificação das artérias digitais é mais rara, motivo pelo qual a pressão no dedo é um meio muito útil para o prognóstico das lesões. Pode-se ainda complementar os exames, em caso de dúvidas, com a avaliação do pulso ou o polo test (coloca-se o paciente em repouso por 10 minutos e observa-se o efeito da elevação das perna sobre a pressão do tornozelo. Multiplicase então a altura que desaparece o sinal no doppler por 0,735 convertendo-se a pressão em mm Hg). Mesmo quando o exame clínico não revelar nenhum dado patológico, e sempre que revelar, deve-se avaliar o Pressão no dedo Deve ser medida com um tubo especial na polpa do - Sopros: Auscultar a aorta, ilíacas, femoral e poplítica. - Preenchimento venoso: Este exame deve ser realizado visualizando-se e assinalando-se a veia. Procura-se deixar o membro em posição vertical para que a veia se esvazie ao máximo. Peça então ao paciente que se sente e avalie o tempo que leva até que a veia se encha completamente. Em condições normais, este processo deve levar menos de 10 segundos, considerando-se patológico se ultrapassar 20 segundos. - Preenchimento capilar: Deve-se comprimir a polpa do dedo até que desapareça a coloração rosada causada pela presença do sangue. Deve-se então medir o tempo despendido para que a cor normal retorne após a descompressão. Em condições normais, este tempo não é superior a 2 segundos e considera-se patológico se ultrapassar 4 segundos. Zavala AV e Braver D / Diabetes Clínica 04 (2000) 135–142 dedo e compara-se com a do braço. A pressão considerada normal é superior a 0,5, há isquemia clínica quando o valor está entre 0,5 e 0,3 e a isquemia é considerada grave quando o valor encontrado for inferior a 0,3. O índice dedo/braço é mais favorável para a cura de uma lesão no pé do que o índice tornozelo/braço (com pressões superiores a 55 mm Hg, 95 % das lesões são curadas, enquanto que com menos de 30, cura-se uma porcentagem inferior a 45%). Pode haver variações nas pressões quando se muda a posição da perna e surgem alterações na temperatura cutânea. Deve-se utilizar tubos de 2 a 3 cm de espessura (superestima-se com os estreitos e diminui-se com os espessos). A pressão absoluta inferior a 50 mm Hg é anormal. Problemas para encontrar o sinal com o doppler Ângulo incorreto do sensor (45-60 graus é normal, na direção do fluxo sangüíneo). A escolha do sensor também pode estar errada: 8 MHz para os pés, 10 para os digitais e 5 para poplítica e femoral. O sinal pode tornar-se fraco e com ruídos devido à pouca quantidade de gel. Algumas vezes há interferências com o sinal venoso. Neste caso, deve-se conter a respiração a fim de reduzir o ruído venoso e permitir uma melhor observação arterial. Não se deve pressionar muito o sensor ou movê-lo. Onda de pulso É de grande utilidade quando o índice tornozelo/braço é anormal ou quando é impossível obter-se o índice dedo/braço. Pode ser complementada por meio da pletismografia. Os registros normais são três ondas (trifásica), uma sistólica positiva, uma prodiastólica negativa e outra diastólica, havendo a possibilidade de alterações diversas dos sons. A situação mais comum é que no início do comprometimento vascular, o som sistólico tende a diminuir e desaparece a terceira onda, tornando-se um som bifásico. Em seguida, torna-se monofásico e por fim desaparecem todas as ondas. Pode-se realizar o chamado índice pulsátil, o qual consiste na maior distância da onda sistólica (positiva) até a maior distância da onda diastólica (negativa). Registro pletismográfico segmentado É realizado no músculo, na panturrilha, no tornozelo e nos metatarsianos, podendo-se utilizar a fotopletismografia para os pequenos vasos. Deve-se fazer a avaliação em repouso e repeti-la logo após a realização de algum exercício, Em geral, 143 observa-se uma elevação nas ondas e nas pressões, uma queda quando há oclusão e uma mudança na onda (de trifásica passa a bifásica, depois a monofásica e desaparece). 4.2 Tensão transcutânea de oxigênio É o método mais preciso para se fazer um prognóstico da cura de uma lesão nos pés ou de uma ferida e para avaliar o nível para se realizar uma amputação. Por meio deste exame é possível medir-se diversas funções, quanto oxigênio se respirou, quanto há nas artérias e quanto passa através da pele. O aparelho consiste em sensores de oxigênio (em determinados aparelhos há sensores de anidro carbônico também) que são aquecidos a 43,5ºC para dilatar os capilares e fazer com que o oxigênio saia e passe através da pele. Coloca-se um sensor sobre a região a ser avaliada, geralmente o dorso do pé onde não existe hiperceratose nem lesões; ao redor das lesões ou sobre a perna, quando se deseja avaliar o nível da amputação, e sobre o tórax. Mede-se a tensão absoluta e compara-se com os níveis do tórax por meio do índice de perfusão, o qual deve ser superior a 1. Este índice é útil para descartar a possibilidade de haver problemas de difusão do oxigênio devido a problemas cutâneos, quando há edemas linfáticos, etc. A tensão normal é superior a 60 mmHg, entre 30 e 60 mmHg há alteração clínica do fluxo sangüíneo. Quando a tensão é inferior a 30 mmHg, a cura é pouco provável com tratamento médico, devendo-se melhorar a chegada do oxigênio. Se a tensão for inferior a 20 mmHg ao redor de uma lesão ou em qualquer ponto da perna, dificilmente haverá um prognóstico de cura para esta e a amputação não será realizada neste nível. A vantagem da tensão transcutânea é que é um método incruento que pode ser repetido quantas vezes se fizer necessário. A desvantagem é o custo elevado do aparelho (US$ 5.500,00) e o dispêndio de tempo para se realizar o procedimento (30 a 60 minutos). 5. Avaliação da infecção O exame clínico é muito importante, devendo-se observar se a temperatura da pele está elevada e se há intumescência. Pode haver dor se não houver neuropatia, acompanhada de supuração e odor desagradável. As infecções podem ser divididas do ponto de vista clínico em: 144 Zavala AV e Braver D / Diabetes Clínica 04 (2000) 135–142 - Não ameaçadoras: quando o tecido subcutâneo superficial está intacto. Não há toxidade sistêmica ou isquemia significativa. Há celulite com inflamação do conjuntivo e das células, presença de pouca secreção ou um abscesso em um espaço limitado e confinado. - Ameaçadoras: afetam tecidos mais profundos, há gangrena, fasciite necrosante, abscesso. Quando há comprometimento do osso e das articulações com comprometimento sistêmico ou tecidos danificados (linfangite, bacteriemia, febre, calafrios, mudanças no estado mental, taquicardia, leucocitose, hiperglicemia). Na palpação observam-se linfangite e adenopatias, tumefação com renitência do tecido. Deve-se introduzir uma sonda na lesão e se a mesma consegue tocar o osso é sinal de osteomielite. Além disso, com o auxílio da sonda é possível observar-se a profundidade da lesão. O melhor exame é a cultura com desbridamento, coletando-se uma amostra do tecido para determinar o tipo de microorganismo e a quantidade de colônias. A cultura não deve ser realizada com coleta ou punção de tecido sadio, deve-se procurar por aeróbios e anaeróbios. Há indícios de infeção quando há descontrole do diabetes, aumento da necessidade de insulina, febre, calafrios, leucocitose com desvio à esquerda e aumento da taxa de sedimentação. Para diagnosticar a osteomielite e diferenciá-la da osteoartropatia é necessário solicitar uma radiografia focalizada com placa de mamografia ou placa dentária. Às vezes, é preciso recorrer à forma seriada, pois a reabsorção óssea demora 10 dias. O melhor exame para esse diagnóstico é a biópsia óssea. Diagnóstico diferencial entre osteomielite e osteoartropatia Radiografia do pé Cintilograma ósseo Osteomielite Três fases Índio 111 Aguda Crônica Infecção dos tecidos moles Osteoartropatia Fratura Trauma + + – + + + + – + – – – O diagnóstico diferencial da osteoartropatia e da osteomielite é muito difícil, principalmente quando se infecta a úlcera neuropática secundariamente. Sugerem diagnóstico de osteomielite: • O comprometimento múltiplo, com grande supuração, odor muito desagradável ou quando é possível tocar o osso por meio da sonda. • Quando há descompensação do diabetes, repercussão generalizada, aumento da taxa de sedimentação e leucocitose. • Sinais na radiografia óssea, com seqüestros. • Em caso de dúvida, pode-se realizar a ressonância magnética ou a cintilografia, principalmente em três fases. Pode ser útil realizar o cintilograma com Índio 111. Referências - Osteomielite Osteoartropatia Número de locais afetados Regeneração do osso Destruição do osso Único Mínima Não há limite Cintilograma com Tc Cintilograma com Gálio +++++++ ++++ Múltiplos Completa Osso subcondral intacto ++ –– - Adolfo V. Zavala et al. Consenso de pie diabético del Mercosur. Folleto publicado por Laboratórios Novo Nordisk, Julio 1999. Zavala, A y Braver, D. Neuropatia diabética. En Manual de Nutrición y Diabetes. La Prensa médica Argentina, 1999. Mason J, O’ Keefe, C, McIntosh, A et al. A systematic review of foot ulcer in patients with type 2 diabetes mellitus. I: prevention, Diabet. Med 16:801, 1999. Consensus Development Conference on Diabetic Foot wound care. American Diabetes Association. Adv wound care 12:353, 1999. Clinical supplement: dopplers and the diabetic foot. The diabetic foot, 2:16,1999. Rajbhandari, S. M., Nilookam, K, Tesfaye, S. Assessment of painful diabetic neuropathy. The diabetic foot 2: 56,1999. 146 Diabetes Clínica Notícias da FENAD e das Associações “Proposta básica para a assistência ao paciente diabético no município” Este projeto é um serviço de utilidade pública da Sociedade Brasileira de Diabetes – SBD - e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – SBEM – destinado a motivar as autoridades municipais brasileiras a implantar serviços especializados de assistência ao paciente diabético nos municípios brasileiros. Ele recebeu o apoio do Comitê Técnico-Científico de Diabetes Mellitus do Ministério da Saúde e da associação APPD (Ação Pró-Paciente Diabético). Esta proposta aborda os principais tópicos que precisam ser considerados para a implementação e o funcionamento adequado de tal serviço em nível municipal e a FENAD recomenda a todos os membros da Federação que levem este encarte às autoridades de saúde de seus municípios. 1 - Justificativas médicas, sociais, econômicas e políticas para a municipalização da assistência ao paciente diabético O diabetes está sendo considerado como uma doença de proporções epidêmicas em todo o mundo, com um número crescente de casos novos, diagnosticados a cada ano. O Censo Nacional de Diabetes, concluído em 1988, avaliou a situação do diabetes em 9 capitais brasileiras, tendo mostrado dados verdadeiramente preocupantes, tais como: • O diabetes atinge 7,6% da população brasileira, na faixa etária dos 30 aos 69 anos, atingindo cifras próximas de 20% na população acima de 70 anos. • Na população brasileira atual estima-se que existam cerca de 5 milhões de pacientes diabéticos. • Metade das pessoas com diabetes tem a doença e não sabe, uma vez que o diabetes geralmente evolui silenciosamente, sem produzir sintomas de maior intensidade, podendo ser identificado somente quando surgir uma de suas complicações crônicas • O diabetes atinge a todos, adultos e crianças, homens e mulheres, ricos e pobres, qualquer raça ou credo, sem distinção. ·• Quase 1/4 da população diabética não faz nenhum tratamento. • A qualidade do tratamento atual está muito aquém do desejável, o que indica necessidade urgente de adoção de medidas educativas, tanto para os profissionais de saúde, como para a comunidade. O diabetes mal controlado é responsável por várias complicações agudas e crônicas, conforme mostram os dados abaixo: • É a 4ª principal causa básica de morte no Brasil. • É a principal causa de cegueira adquirida. • Os pacientes diabéticos têm chance duas vezes maior de desenvolver doença coronariana e de sofrer derrames cerebrais, quando comparados aos não-diabéticos. • Os pacientes diabéticos têm chance 17 vezes maior de desenvolver doença renal, sendo o diabetes responsável por mais de 30% dos casos de insuficiência renal em programas de diálise. • Os pacientes diabéticos têm chance 40 vezes maior de sofrer amputações nos membros inferiores. Face a estes dados, fica plenamente justificada, do ponto de vista médico-social, a prioridade que a boa assistência ao paciente diabético deve ter na definição das políticas federais, estaduais e municipais de saúde. A assistência médica adequada e o controle metabólico rigoroso podem prevenir ou retardar o aparecimento das complicações crônicas do diabetes, através de medidas preventivas e curativas relativamente simples. Notícias das Associações – Diabetes Clínica (04) 2000 Do ponto de vista da economia de saúde, cada dólar investido em atividades preventivas de educação e controle metabólico do paciente diabético resultará numa economia estimada de 6 dólares nos gastos gerais com atendimento curativo na rede de saúde, conforme dados do Centro Internacional de Diabetes de Minneapolis, nos EUA. Um aspecto importante a ser considerado é a economia proporcionada pelo controle adequado do diabetes, antes que apareçam as complicações crônicas, tais como, cegueira, amputações de membros, insuficiência renal, doenças cardiovasculares e outras, as quais exigem recursos médicos, hospitalares e financeiros de grande monta. O administrador inteligente e o profissional de saúde consciente, só têm a ganhar ao oferecer à comunidade um serviço de qualidade, cujo bom funcionamento será inquestionavelmente reconhecido pela população assistida e seus familiares. O investimento da verba municipal de saúde na assistência ao paciente diabético está amplamente justificado dos pontos de vista médico, social, econômico e político. Para que a proposta de municipalização da assistência ao paciente diabético receba a aprovação do executivo e do legislativo, de forma apartidária e no interesse geral da população, os dados apresentados neste tópico devem ser amplamente divulgados e debatidos pela classe política e pela comunidade, com o apoio de médicos e profissionais de saúde já plenamente conscientizados em relação ao problema e suas soluções. 2 - O estado atual da assistência ao paciente diabético no Brasil É bastante preocupante o estado atual da assistência ao paciente diabético no Brasil, seja em grandes municípios, com mais recursos técnicos e financeiros, seja nos pequenos municípios que, provavelmente, nunca receberam informação adequada sobre o assunto e que, portanto, jamais pensaram em incluir a assistência ao paciente diabético em suas prioridades de saúde. Falta informação sobre a doença e suas complicações, falta conscientização sobre a importância do diabetes em saúde pública, falta qualificação adequada aos profissionais de saúde, faltam recursos, faltam medicamentos, enfim, falta mentalidade e vontade política para enfrentar o problema de forma eficaz. Mesmo nas regiões mais desenvolvidas, o atendimento nas unidades básicas de saúde e nos ambulatórios dos hospitais, inclusive em centros universitários, tende a ser 147 precário e o grau de controle da doença é inadequado. Para cada paciente diabético conhecido, existe um paciente diabético que desconhece sua doença. Se não receber uma assistência médica adequada, provavelmente, o diagnóstico de diabetes somente será feito quando o paciente apresentar sinais evidentes de alguma complicação crônica da doença. Recentemente, o Ministério da Saúde, as entidades médicas especializadas e a iniciativa privada deram início a um programa abrangente de promoção da saúde do paciente diabético em todos os níveis, federal, estadual e municipal. Depende apenas da vontade política de prefeitos e vereadores a implantação de um programa de municipalização da assistência ao paciente diabético em cada município. 3 - A importância do diagnóstico precoce e do bom controle metabólico do diabetes O diabetes pode evoluir sem sintomas mas, mesmo assim, é capaz de promover, de maneira silenciosa, a evolução da doença no sentido de graves complicações crônicas. Em vista disso, programas eficazes e contínuos de detecção precoce do diabetes devem ser implementados. É importante saber que as campanhas de diagnóstico precoce não devem ser dirigidas indistintamente a toda a população mas, sim, àquelas pessoas com maior risco de desenvolver a doença. As crianças, por exemplo, não devem ser incluídas nas campanhas pelo simples motivo de que o tipo de diabetes que elas apresentam não é, geralmente, detectável através de campanhas. O diabetes do tipo 1, antes conhecido como infantojuvenil ou insulino-dependente, em geral, manifesta-se por um quadro clínico grave e muito evidente, exigindo, na maioria dos casos, atendimento médico de urgência e hospitalização. Já os adultos, principalmente após os 30 anos de idade, se beneficiam bastante do diagnóstico precoce, exatamente porque, neles, o diabetes, em geral, se manifesta de maneira insidiosa, podendo, até mesmo, não apresentar sintomas. O diabetes do adulto é conhecido como diabetes tipo 2, antes chamado de não insulino-dependente. É importante salientar que essas campanhas servem para detectar indivíduos com alta suspeita de diabetes, mas não têm a finalidade de fazer um diagnóstico definitivo. Isso só se consegue através de exames laboratoriais de comprovação. Na verdade, essas campanhas devem visar, fundamentalmente, uma ampla conscientização da comuni- 148 Notícias das Associações – Diabetes Clínica (04) 2000 dade em relação ao diabetes e não apenas para detectar casos suspeitos. Existem os chamados fatores de risco para o diabetes que determinam quais as pessoas que devem ser submetidas a testes de medida do açúcar no sangue (glicemia) para a detecção da doença, durante as campanhas ou durante o atendimento médico de rotina. Alguns destes fatores de risco são os seguintes: • Idade acima de 30 anos. • Obesidade ou excesso de peso. • Histórico de perda recente de peso, sede excessiva e excesso de urina. • Pressão alta, histórico de doença cardiovascular. • Histórico de derrame cerebral. • Elevação das taxas de colesterol e triglicérides no sangue. • Mulheres que tiveram filhos com mais de 4 kg. • Histórico familiar de diabetes. O teste para a identificação de indivíduos com suspeita de diabetes é bastante simples, bastando apenas 1 gotinha de sangue, que é depositada sobre uma fita reagente. A leitura da glicemia é feita num aparelho portátil conhecido como glicosímetro (há várias marcas comerciais de aparelhos e de tiras reagentes). O custo de cada teste, através das tiras reagentes, é de aproximadamente US$ 1,00 (um dólar). Quanto à necessidade de um bom controle metabólico da doença, é preciso entender que o grande vilão, ou seja, o fator responsável por grande parte das complicações crônicas do diabetes, é o excesso de açúcar no sangue (hiperglicemia) que acaba provocando alterações nos nervos e nos vasos sangüíneos de certos órgãos do corpo, onde se instalam as complicações crônicas, como na retina dos olhos, nos rins e nas terminações nervosas. Assim, um dos grandes segredos do sucesso na prevenção de complicações crônicas do diabetes está justamente na manutenção de níveis normais de açúcar no sangue, ou seja, na manutenção de uma glicemia normal. É muito importante salientar, entretanto, que o controle adequado de outros problemas médicos associados ao diabetes, tais como pressão alta, obesidade, excesso de colesterol e triglicérides e o hábito de fumar, é tão importante quanto o controle da glicemia para a evolução favorável da doença. Medidas terapêuticas relativamente simples e de baixo custo, assim como o diagnóstico precoce do diabetes, permitem um controle mais adequado da doença e evitam ou retardam o aparecimento das complicações crônicas. 4 - Como organizar campanhas de detecção de diabetes e cadastramento de pacientes Antes de mais nada, é preciso salientar que, ao se planejar uma campanha de detecção do diabetes, é absolutamente fundamental que os organizadores tenham tomado as devidas providências nos sentido de encaminhar os casos detectados para a necessária assistência médica. A simples detecção, sem o encaminhamento adequado dos casos identificados, é uma prática inútil e condenável. Não basta detectar os suspeitos de diabetes. É preciso cadastrá-los e encaminhá-los para tratamento e controle adequados. Uma campanha de detecção do diabetes é um ponto de partida importante e de muito impacto para o início de um programa de municipalização da assistência ao paciente diabético. Essa campanha serve para chamar a atenção da imprensa local para a divulgação de conceitos importantes sobre o controle do diabetes e, também, sobre as possíveis conseqüências do diabetes mal controlado, em termos de complicações crônicas. 5 - Como estimar a população de pacientes diabéticos de um município Com base nos resultados do Censo Nacional de Diabetes e com informações sobre o tamanho atual da população, pode-se estimar o número provável de pacientes diabéticos de um determinado município. O Censo Nacional de Diabetes mostrou que a ocorrência da doença é de 7,6% da população adulta, na faixa dos 30 aos 69 anos. Abaixo dos 30 anos, essa freqüência é de apenas 0,1% da população e, acima dos 70 anos, sobe para aproximadamente 20%. Também é importante saber que, em média, 60% da população do município, está abaixo de 30 anos; cerca de 37% está entre 30 e 69 anos; e apenas 3% está acima dos 70 anos. O quadro a seguir é um resumo das informações mencionadas, correlacionando as respectivas faixas etárias com a freqüência do diabetes em cada faixa. Em seguida, você encontrará tabelas orientativas para calcular o número de pacientes diabéticos em seu município Com base nos dados acima, você pode estimar o número de pacientes diabéticos em seu município. Basta conhecer a população do município e aplicar índices equivalentes aos dados acima, conforme mostra o quadro abaixo. Notícias das Associações – Diabetes Clínica (04) 2000 Tabela 1. Distribuição etária da população e freqüência do diabetes Faixa etária Porcentagem da população Taxa de ocorrência do diabetes 60% 37% 3% 0,1% 7,6% 20% Abaixo de 30 anos Entre 30 e 69 anos 70 anos ou mais Como exemplo, vamos imaginar um município com 100 mil habitantes. Utilizando-se a tabela 02, os números obtidos seriam os mostrados na tabela 03. 6 - Aspectos legislativos e orçamentários para garantir verbas de implantação e custeio 149 Assim, tanto as despesas de implantação, como as de custeio, devem estar previstas em legislação específica e não apenas incluidas na rubrica geral de despesas com a saúde. Contando com recursos próprios e com uma administração eficiente dos recursos, o Serviço Municipal de Assistência ao Paciente Diabético – SEMAPAD – poderá desempenhar, com eficácia, o importante papel de cuidar bem dos pacientes diabéticos de seu município. 7 - Recomendação básica quanto ao local de instalação do Serviço Municipal de Assistência ao Paciente Diabético - SEMAPAD Número estimado total de pacientes diabéticos A principal característica do SEMAPAD é justamente a de otimizar os recursos de saúde existentes, procurando aproveitar estruturas físicas já disponíveis, dentro da rede básica de assistência à saúde do município. O mesmo conceito também se aplica em relação à disponibilidade de recursos humanos (médicos e outros profissionais de saúde; pessoal de apoio). Esta postura está de acordo com os princípios técnicos de otimização de recursos públicos. Assim, a recomendação básica que se faz quanto ao local de funcionamento do SEMAPAD é que ele deva ser implantado numa unidade de saúde já existente, dispensando, portanto, investimentos desnecessários em construção de novas áreas físicas. A maior parte dos recursos financeiros disponíveis deve ser aplicada na aquisição de equipamentos e instrumentos absolutamente necessários ao bom funcionamento da unidade e ao bom atendimento aos pacientes, devendo esses recursos serem dimensionados de acordo com a estimativa da população de pacientes diabéticos a ser atendida, calculada conforme as orientações do item anterior. Tabela 3. População do município (p): 100.000 Habitantes 8 - Recomendação básica quanto a coordenação operacional do SEMAPAD O diabetes é uma doença crônica que exige tratamento pelo resto da vida. Por isso, ao se comprometer a prestar assistência adequada aos pacientes diabéticos, os administradores municipais precisam garantir recursos permanentes para essa atividade, através de dotações orçamentárias específicas para essa finalidade. Tabela 2. População do município (p): x Habitantes Distribuição por faixa etária Ocorrência do diabetes 1)Multiplicar 2) População (P) por na faixa etária diabéticos 3)Multiplicar 4)Número de 2. por pacientes 0,60 0,37 0,03 — — — 0,001 0,076 0,20 — — — Distribuição por faixa etária Ocorrência do diabetes 1)Multiplicar 2) População (P) por na faixa etária diabéticos 3)Multiplicar 4)Número de 2. por pacientes 0,60 0,37 0,03 60.000 37.000 3.000 0,001 0,076 0,20 . 60 2.812 .600 Número estimado total de pacientes diabéticos 3.472 Para o bom funcionamento do SEMAPAD, será necessária a indicação de um Coordenador Operacional que deverá responder pelo bom desempenho do serviço. Evidentemente, o número e a qualificação dos profissionais de saúde envolvidos em cada SEMAPAD dependerá das disponibilidades específicas de cada município. O coordenador deve ser escolhido mediante critérios técnicos fundamentados na qualificação profissional e no comprometimento com o sucesso do serviço. 150 Notícias das Associações – Diabetes Clínica (04) 2000 9 - Recomendações básicas quanto aos recursos humanos A assistência aos pacientes diabéticos, sempre que possível, deve ser proporcionada por profissionais de saúde de várias áreas, constituindo a chamada equipe multiprofissional. Dessa equipe, poderão participar os seguintes profissionais: · Médicos endocrinologistas e/ou clínicos com experiência/treinamento em diabetes. · Enfermeiras. · Auxiliares de enfermagem. · Agentes de saúde. · Nutricionistas. · Assistentes Sociais. · Psicólogos. · Educadores em diabetes (profissionais de qualquer área, com treinamento em educação para pacientes diabéticos). · Dentistas. · Farmacêuticos. · Fisioterapeutas. · Outros profissionais administrativos e de atividades de apoio. Evidentemente, dependendo do município, não haverá disponibilidade de profissionais habilitados em todas essas áreas. Assim, é preciso saber que a equipe mínima indispensável para o funcionamento de um SEMAPAD pode, mesmo, ficar restrita a um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes de saúde. Para o bom funcionamento integrado da equipe, é indispensável que sejam bem definidas as responsabilidades específicas de cada profissional técnico, tanto em relação ao atendimento do paciente diabético, como em relação à equipe multiprofissional como um todo. A equipe mínima do SEMAPAD pode ficar restrita a médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agentes de saúde. Aos profissionais de saúde do SEMAPAD deverá ser garantido um treinamento especializado no atendimento ao paciente diabético em suas respectivas áreas de atuação, para que possam desempenhar suas funções com alto nível técnico. Esse treinamento deverá ser proporcionado por Centros de Referência em Diabetes reconhecidos pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Diabetes. 10 - Acordos operacionais com empresas, instituições, clubes de serviços, etc. As parcerias entre governos, universidades e iniciativa privada, quando concebidas dentro dos estritos limites da lei e da ética, podem se constituir num valioso recurso para a implementação e o desenvolvimento de projetos de fundo social, cultural ou de saúde pública. Todo o movimento de conscientização sobre o diabetes como um problema de saúde pública, iniciado na década de 80, nasceu de uma salutar cooperação entre o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, a Sociedade Brasileira de Diabetes, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e a iniciativa privada. O próprio Censo Nacional de Diabetes foi viabilizado com recursos governamentais e da iniciativa privada. Este projeto de municipalização da assistência ao paciente diabético pode ser outro exemplo bem sucedido de parceria entre governo, universidades, sociedades médicas e iniciativa privada. Para as empresas, a prestação de serviços deste tipo constitui-se em forma ética de promoção de sua imagem institucional. Para o Governo, tal suporte significa a viabilização de importantes projetos de cunho médico-social, com otimização da relação custo/benefício. Para as universidades e as sociedades médicas, parcerias deste tipo proporcionam a oportunidade de prestação de relevantes serviços à comunidade. Os clubes de serviços, costumam dar apoio a atividades de promoção da saúde e poderão ser bons aliados em programas de conscientização e de detecção do diabetes. Esta proposta foi desenvolvida de acordo com orientação do Ministério da Saúde e com projetos que estão sendo desenvolvidos pelas Secretarias Estaduais de Saúde, voltados à política de assistência ao paciente diabético. 11 - Definição de serviços de referência secundária e terciária O SEMAPAD pode ser implementado numa estrutura de atendimento primário e, portanto, assumindo a responsabilidade de promover a detecção e o diagnóstico precoce do diabetes, o cadastramento e acompanhamento médico-social de pacientes diabéticos não complicados e as atividades de educação continuada para os pacientes diabéticos e seus familiares. A dispensação gratuita de medicamentos para o tratamento do diabetes e de doenças concomitantes (tais como, pressão alta, elevação de colesterol e triglicérides, etc.) devem ser feitas diretamente pelo SEMAPAD. Notícias das Associações – Diabetes Clínica (04) 2000 A atividade principal do SEMAPAD é o atendimento primário, voltado ao diagnóstico, cadastramento, controle metabólico e atividades de educação continuada para o paciente diabético e sua família. Os centros de referência secundária são unidades com maior capacidade técnica e de atendimento especializado ao paciente diabético, tratando principalmente dos casos mais graves e das complicações crônicas da doença. Todo SEMAPAD tem que definir um centro de referência secundária, para onde serão encaminhados os casos mais graves, com pior controle metabólico ou com complicações crônicas que exijam tratamento especializado. O centro de referência terciária é um hospital com atendimento em várias especialidades médicas, geralmente ligado a uma universidade e apto a prestar atendimento médico mais especializado para os casos de maior gravidade, inclusive internação de pacientes com complicações. 12 - Definição de medicamentos essenciais para o tratamento do diabetes e de patologias associadas Basicamente, os dois principais grupos de medicamentos utilizados no tratamento do diabetes são as insulinas e os chamados antidiabéticos orais. As insulinas são utilizadas obrigatoriamente em pacientes portadores do diabetes do tipo 1 (também chamado de infanto-juvenil ou insulino-dependente) e, eventualmente, em pacientes portadores do diabetes tipo 2 (também chamado de diabetes do adulto ou não insulino-dependente). Os antidiabéticos orais constituem a principal modalidade de tratamento nos pacientes diabéticos do tipo 2. Há vários tipos de insulina e de antidiabéticos orais disponíveis no mercado, cada um deles com indicações específicas. O importante é manter um estoque permanente das drogas disponíveis, providenciando sua aquisição com antecedência para que não ocorram faltas de remédios, com conseqüente prejuízo do tratamento. Pacientes diabéticos exigem tratamento contínuo e permanente para o resto da vida. Qualquer interrupção em seu fornecimento pode causar graves problemas aos pacientes, inclusive risco de morte. Outra recomendação importante é não ficar mudando a relação de medicamentos disponíveis a cada compra, uma vez que isso é prejudicial ao paciente, comprometendo o bom controle metabólico do diabetes. 151 O diabetes, em muitos casos, vem acompanhado de problemas médicos concomitantes, como obesidade, colesterol e triglicérides elevados, pressão alta, etc. Portanto, na definição da política municipal de assistência farmacêutica aos munícipes, o prefeito e as autoridades de saúde precisam estabelecer que o SEMAPAD também se encarregará da dispensação de medicamentos para o tratamento, não só do diabetes, mas, também, de outras doenças que costumam afetar o paciente diabético, como as mencionadas acima. É necessária uma palavra de cautela quanto à aquisição de medicamentos em geral, para a distribuição à rede pública. É preciso ter em mente o perigo de critérios puramente econômicos na aquisição dos medicamentos, devendo-se levar em consideração a qualidade intrínseca do princípio ativo e do produto acabado. O bom controle metabólico do diabetes poderá ser gravemente comprometido com a utilização de medicamentos de baixa qualidade. 13 - Equipamentos e reagentes necessários à avaliação do controle metabólico do paciente diabético O paciente diabético precisa de um controle rigoroso e permanente de seu estado metabólico, o que pode ser avaliado através de exames laboratoriais gerais, realizados em laboratórios clínicos próprios ou conveniados da rede municipal de saúde. Entretanto, o SEMAPAD precisa estar equipado com glicosímetros e tiras reagentes para a determinação dos níveis de glicose no sangue e na urina e de cetonas e proteínas na urina. Os testes de glicemia capilar (com sangue da ponta do dedo) permitem uma avaliação rápida e confiável, podendo ser realizados instantaneamente, sempre que necessário, além de oferecer resultados imediatos. Isso facilita a avaliação do nível de controle metabólico do paciente pela equipe de saúde. Sempre que possível, o SEMAPAD deverá dispor de alguns glicosímetros e das respectivas tiras reagentes para emprestar aos pacientes recém diagnosticados e em início de tratamento para que eles realizem os exames de glicemia em suas próprias casas, algumas vezes ao dia, para verificar o efeito do tratamento em seus níveis de glicose. Atingindo o controle metabólico desejado, o paciente devolve o glicosímetro ao SEMAPAD para ser emprestado a outros pacientes. Essa conduta também é útil em pacientes com difícil controle da glicemia, que estejam passando por ajustes de doses ou de medicamentos utilizados. Você poderá contatar as empresas fabricantes de glico- 152 Notícias das Associações – Diabetes Clínica (04) 2000 símetros e de tiras reagentes para discutir modalidades de aquisição desses materiais em condições bastante vantajosas como, por exemplo, o sistema de comodato. 14 - Critérios para a avaliação da eficácia do programa de municipalização da assistência ao paciente diabético Faz parte das boas técnicas administrativas a avaliação periódica da eficácia de qualquer programa, complementado com determinado fim, na administração pública ou privada. Não se pode admitir que um programa governamental na área de saúde consuma amplos recursos públicos sem que se consiga comprovar, objetivamente, sua eficácia. O programa de municipalização do diabetes não pode ser exceção: o contribuinte precisa ser assegurado de que seu dinheiro de impostos esteja bem empregado. No caso específico deste programa, há formas práticas, simples e corretas de avaliação de sua eficácia, como por exemplo, a redução no número de internações por causa do diabetes e a comparação entre os resultados laboratoriais que refletem o nível de controle metabólico do diabetes (testes de hemoglobina glicosilada). Da mesma forma, é preciso avaliar continuamente o desempenho técnico dos profissionais de saúde do SEMAPAD, proporcionando-lhes a oportunidade de reciclagem e atualização de conhecimentos, de forma continuada. Os beneficiários do SEMAPAD, ou seja, os pacientes atendidos, também devem sentir-se na responsabilidade de avaliar, continuamente, a qualidade do atendimento recebido. Um simples sistema de registro de queixas, reclamações e sugestões, quando gerenciado com competência e com transparência, pode constituir-se em importante instrumento de avaliação contínua da qualidade dos serviços prestados, gerando subsídios para possíveis e necessárias mudanças de rumo. FICHA PRÁTICA Diabetes Clínica 01 Ficha Prática / Diabetes Clínica Associações de Diabéticos e entidades filiadas à FENAD* Médicos e outros especialistas membros da SBD** * FENAD - Federação Nacional das Associações de Diabéticos, ** SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes Idealizei essa sessão para referenciar as entidades ligadas ou filiadas à Fenad e especialistas em diabetes membros da SBD, visando uma maior integração profissionais/pacientes bem como incentivar a filiação de novas entidades à FENAD e de profissionais à SBD – Fadlo Fraige Filho I - Região Nordeste MARANHÃO (SÃO LUÍS) Associação ADIMA - Associação dos Diabéticos do Maranhão Presidente: Acataiaçu dos Santos Médicos e especialistas em diabetes Bernadete Jorge Leal Salgado Carlos Alberto Salgado Borges Deusimar Gonçalves de Araújo da Silva PIAUÍ (TERESINA) Associação Grupo de Diabetes do Piauí Presidente: Antonio R. Alvarenga Médicos e especialistas em diabetes Flávio Vasconcelos Melo José Maria Correia Lima e Silva Júlio Cesar R. Sampaio Lúcia de Fátima da Costa e S. Farias Manoel Anderson Soares Nilda Mendes de A. Trindade Perpetua Angelica de Moura Roberval Sales Leite Uiramira Soares Cavalcante CEARÁ (FORTALEZA) Associações Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão da SES do Estado do Ceará Presidente: Adriana Costa Forti Associação de Diabéticos e Hipertensos do Estado do Ceará ✃ Associação de Apoio ao Hipertenso e ao diabético de Barreira Presidente: Aurélio Martins Jacó Médicos e especialistas em diabetes Adriana Costa Forti Jorge Hachem Kerbage Marta Maria Coelho Damasceno Adelia Maria Araújo Bandeira Miguel Nasser Hissa Rejane Araujo Magalhães Renan Magalhães Montenegro Renan Magalhães Montenegro Junior Severino Tavares Filho William Kardec Alves Pereira (Sobral) Zacaria Bezerra Neto RIO GRANDE DO NORTE (NATAL) Associação UFRN Associação dos Diabéticos do Rio Grande do Norte Chefia do Departamento de Enfermagem Médicos e especialistas em diabetes Albanise de Lima Pinto Carlos Alexandre Cavalcanti Xavier Eliane Viana Sepulveda Ivone Bernardo de Souza (Mossoró) José Alirio Freire Maria de Fátima Paiva Baracho Josivan Gomes de Lima Lucia Helena Coelho Nobrega Tamar Galvão de O. Lima Tereza Maria F. Campos Fontes PARAÍBA (JOÃO PESSOA) Associações Associação dos Diabéticos de João Pessoa Presidente: Alexandrina Maria A dos Santos Médicos e especialistas em diabetes Alana Abrantes Nogueira (Campina Grande) Fernanda Trindade de Almeida (Campina Grande) João Modesto Filho Marcos Thadeu de Freitas Pereira Maria da L. Cunha P. Gorenstin Maria de Fátima Moreira Alberto José Santos Ramos (Campina Grande) Renato Junger Oliveira Vladimir Gomes de Oliveira (Campina Grande) Walderice Morães Melo PERNAMBUCO (RECIFE) Associações Associação Pernambucana de Diabetes Jovem Presidente: Edna Pimentel Associações dos Diabéticos do Sertão Central Presidente: Edivaldo Barros Unidade de Diabetes do Hospital Agamenon Magalhães Presidente: Geisa Macedo Associação dos Diabéticos do São Francisco ADISF Presidente: Manuel Francisco de Souza Associação dos Diabéticos de Pernambuco ASSODIPE Presidente: Severino Silva Ipep Unidade de Diabéticos Clube dos Diabéticos do Cabo Presidente: João Sávio Sampaio Saraiva Associação Campinense de Diabéticos Presidente: Maria de Fátima Ferreira de Oliveira Médicos e especialistas em diabetes Alcides Temporal Alexandre J. R. L. Caldas Ficha Prática / Diabetes Clínica Amaro Gusmao Guedes (Olinda) Ana Claudia Martins Ramos (Olinda) Antonio Carlos Caldas Machado Célia Maria Ribeiro Vasconcelos Cristiana Almeida Menezes Evandro Souza de Lima Francisco Alfredo B. Farias Geisa Maria Campos de Macedo Gustavo Caldas Heronilda Borges João Genésio Silva Neto Jonas Coriolano da Silva José Valdeval Silva Queiroz Maria das Graças Wanderley S. Coriolano Maria Fernanda Cardoso Monteiro (Jaboatão) Maria Lygia T. F. B. Banttottibas Moacir de Novaes Nair Cristina Nogueira Almeida Ney Cavalcanti de Albuquerque Nilda Pimentel Dobrin Paulo Santos Siqueira Carneiro Pedro Gorgonio Nobrega Neto Ronald Alencar Filho (Caruaru) Ruth Cavalcanti Guilherme Ruy Lyra da Silva Filho Sebastião Inacio de O. Junior Terezinha Maria da Silveira Vera Lúcia Siqueira Galamba Alagoas (Maceió) Associações Associação de Diabéticos (em formação) Presidente: Vilma Lúcia Mello Médicos e especialistas em diabetes Arnaldo Alves de Mendonça Denise Nunes de Alencar Diogenes de Mendonça Bernardes Edson Perrotti Santos Francisco Rodrigues Freire Paulo Jorge Cunha Santos Rosilda de Mendonça Vaz Thaís de Alencar M. Ferreira SERGIPE (ARACAJU) Associações Centro de Diabetes de Sergipe Presidente: Raimundo Sotero Associação de Diabéticos de Salvador Presidente: Silvia Lacerda Associação de Diabetes Juvenil Regional SE – ADJ/SE Presidente: Fábio Aricawa Melo Médicos e especialistas em diabetes Adalgiso Silva C. Filho (Ilhéus) Adriana Lima Melo Alcina Maria V. Bittencourt Anita Guiomar F. Teixeira Carla Cristina B. de Andrade (Jequié) Diana Viegas Martins Edgar Morbeck Coelho (Itabuna) Edna Veronica Mamedio Santana Elzira dos Santos Pinheiro Iraci Lucia Costa Oliveira Josenira da Silva Sousa (Feira de Santana) Judith Maria Dias C. Pousada Leila Maria Batista Araújo Lia Medeiros F. de Carvalho Luciene dos Santos Vieira (Itabuna) Luís Jesuino de O. Andrade (Itabuna) Maria Cristina A. de Freitas Maria do Carmo Mendonça Maria Helena Pereira Perez Maria Margarida dos S. Britto Maria Palmira G. Romero (Lauro de Freitas) Maria Teresa M. N. de A. Gouveia Marluce Porciuncula S. Leão (Itabuna) Odelisa Souza da Silva Olgany Davay de Freitas Osmario Jorge de Mattos Salles Paulo Barreto Torres Reine Marie Chaves Fonseca Roseane Montargil Rocha (Itabuna) Severino de Almeida Farias Suse Rosane Oliveira Souza Suzete Iara Santos Matos (Feira de Santana) Thomaz Rodrigues Porto da Cruz Valéria Vasconcelos (Ilhéus) Zenilda Nogueira Sales (Jequié) Médicos e especialistas em diabetes Acácia Maria Santos Menezes Ana Olívia Freire Sotero de Menezes Djair Lima Santos Fabio Arikawa Melo Francisco de Assis Pereira Helias Karla Brandão dos Santos Agapito João A. Macedo Santana Magna Consuelo Britto Rouz Manuel Hermínio de Aguiar Oliveira Maria Aurélia da Fonseca Porto Maria Dulce Prudente Lima Maria Melo Viana Portela Marta Maria Alvão De Sousa Magalhães Nara Limeira Horst Raimundo Sotero de M. Filho Sebastião Ignácio de Oliveira Jr. Zulmira Freire Rezende BAHIA (SALVADOR) Associações Serviço de Diabetes do Iapeseb SDI Presidente: Alcina Vinhais Bitencourt Associação Conquistense de Apoio ao Diabético ACAD Presidente: Paulo de Tarso da Rocha Lopes Associação de Diabéticos de Alagoinha Presidente: Silvalice Batista da Silva Associação de Diabéticos de Jequié Presidente: Carla C B de Andrade Santos Associacão dos Diabéticos de Itabuna Presidente: Marluce P. S. Leão ✃ Diabetes Clínica 155 Calendário de eventos MAIO DE 2000 3 a 7 de maio 9th Annual Meeting of the American Association of Clinical Endocrinologists (AACE) Hyatt Regency, Atlanta, Georgia Homepage: www.aace.com E-mail: [email protected] Tel: +1 904 353-7878 Fax: +1 904 353-8185 19 a 20 de maio 5th Scientific Meeting of the Hypertension in Diabetes EASD Study Group, Paris, France Informações: Dr. Peter T Sawicki E-Mail: [email protected] 21 a 26 de maio Congresso Panamericano de Endocrinologia e Metabologia Bariloche, Argentina Informações: Dr. Giuseppe Repetto E-mail: [email protected] 24 a 27 de maio 10th European Congress Obesity European Association for the Study of Obesity (EASO) Antuerpia, Belgica Informações: Prof. Dr. L.F. Van Gaal, Universitair Ziekenhuis, Antwerpen, Dept Endocrinology, Wilrijkstraat, 10, 2650 Edegem-Antwerp Belgium. Tel: +32 3 821 32 66 Fax : +32 3 825 49 80 E-mail: [email protected] JUNHO DE 2000 10 a 13 de junho 60th Annual Scientific Sessions of American Diabetes Association San Antonio, Texas Informações: American Diabetes Association 1660 Duke Street, Alexandria, VA, 22314 EUA Homepage: www.diabetes.org E-mail: [email protected] 15 a 18 de junho EndoRecife 2000 IV Simpósio Internacional de Diabetes VII Simpósio Internacional de Doenças Metabólicas Ósseas II Simpósio Regional de Endocrinologia Pediátrica Presidente: Prof. Ruy Lyra, SBEM-PE Blue Tree Park, Cabo de Santo Agostinho, PE Assessor-Assessoria e marketing Ltda Tel: (81) 423-1300 Informações: www.endo-society.org/ scimtgs/scipub.htm 30 de junho a 02 de julho Cimeira Latino-Americana do Peso Saudável Hotel Sofitel Rio Palace – Rio de Janeiro Informações: [email protected] Tel: (21) 491-2443 Fax: (21) 491-2459 JULHO DE 2000 1 e 2 de julho Encontro Mineiro de Endocrinologia Hotel Granville, Belo Horizonte Tel: (31)241-3709 5 a 9 de julho 5o Congresso brasileiro multiprofissional em Diabetes Exposição nacional de produtos e alimentos para diabéticos 16 e 17 de junho Atualização em Obesidade Fundação Álvares Penteado, Av Liberdade, 532, São Paulo Informações: ANAD, rua Eça de Queiroz, 198, São Paulo Tel: (11)572 6559, fax: (11)572 6704 Hospital Albert Einstein, 627, 3o andar, São Paulo Informações: Dr. Alfredo Halpern Tel: (11) 3747 0300 Fax: (11)3747 1334 9 a 15 de julho 3rd International Congress of the African Association of Physiological Sciences 21 a 24 de junho ENDO 2000 - The Endocrine Society’s 82nd Annual Meeting Metropolitan Convention Center, Toronto, Canadá Midrand, South Africa Contact: Prof. Maximino Ruiz, VicePresident IDF Rosario 214 (P4), 1424 Buenos Aires, Argentina Tel: +541 901 5451, Fax +541 903 2300 E-mail: [email protected] 156 Diabetes Clínica 13 a 16 de julho Exercice and Diabetes – The Year 2000 and Beyond 17 a 21 de Setembro 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes Vancouver, Canadá Informações: Robert Todd, President IDAA Canadá, Suite 302, 1168 Hamilton Street Vancouver, British Columbia, Canadá, V6B2S2 Tel: +1604 684 2356, Fax: +1 604 684 4265 E-mail: [email protected] Jerusalem Informações: EASD 2000 Secretariat POB 50006, Tel Aviv 61500 Israel Tel: +972 3 514-0018 Fax +972 3 517 5674 E-mail: [email protected] AGOSTO DE 2000 OUTUBRO DE 2000 3 a 6 de outubro 5th International Conference on Diabetes and Indigenous Peoples NOVEMBRO DE 2000 5 a 10 de Novembro 17th International Diabetes Federation Congress Cidade do México, México Informações: Keith Richardson, Congress Secretariat, Congress World, Blenheim House, 120 Church Street, Brighton BN1 1WH, United Kingdom Tel: +44 1273 647030 Fax: +44 1273 570632 Site: www.idf2000.com E-mail: [email protected] 9 a 13 de agosto 27th Annual Meeting and Educational Program of American Association of Diabetes Educators (AADE) Christchurch, New Zealand Tel: +64 3 382 2430 - Fax: +64 3 364 0149 E-mail: [email protected] 18 a 23 de Novembro 24o Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia 29o Encontro Anual do IEDE San Diego, California www.aadenet.org Tel: +1 312 424-2426 Fax: +1 312 424-2427 04 a 06 de outubro I Congresso Amazônico de Endocrinologia e Diabetes Rio Centro, Rio de Janeiro RJ Informações JZ Congressos Tel: (21) 286-2846, fax: (21) 539-1299 E-mail: [email protected] 23 a 27 de agosto Diet/Light Expo 2000 Rio de Janeiro Informações: Marly de Oliveira - NPE Tels: (21) 287 1493 / 523 3290 / 813 2392 24 a 26 de agosto 16o Congresso Nacional de Secretários Municipais de Saúde Centro de Convencões, Salvador Bahia Informações: (61) 484-9874 SETEMBRO DE 2000 14 a 16 de Setembro International Symposium on NonEnzymatic Glycation and Oxidative Stress in Diabetes mellitus Prague, Czech Republic Tel: +420 229 7271, 24 91 51 95 Fax: +420 229 46 10 E-Mail: [email protected] Belém - PA Informações: SBEM Pará e Delegacia Regional da SBD/PA Tel: (91) 223 5443/ 236 2000 5 a 8 de outubro 23o Simpósio Internacional de Ciências do Esporte Centro de Convenções Rebouças Rua Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 23 São Paulo Tel: (11) 453-8980/453-9643 www.celafiscs.com.br E-mail: [email protected] 29 de outubro a 3 de novembro ICE’2000 – 11th Internation Congress of Endocrinology Local: Sidney, Austrália home page: http://www.icmsaust.com.au/ ice2000 Informações: ICE 2000 Sidney Congress Secretariat - ICMS Australasia Pty Ltd Gpo 2609, Sidney NSW 2001 Tel.: +61 2 9241-1478, fax: +61 2 9251-3552 E-mail: [email protected] Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 4 nº3 - 2000) EDITORIAL Toda a atualidade do tratamento global do diabetes, Fadlo Fraige Filho ................................................. 159 INFORMES DO DIABETES NO MUNDO .......................................................................................... 160 O DIABETES NA IMPRENSA .............................................................................................................. 166 AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ......................................................................... 170 PRODUTOS E NOVIDADES Advantage II (Roche Diagnostics), sensor de cetona (Medisense).................................................................. 177 5º CONGRESSO BRASILEIRO MULTIPROFISSIONAL EM DIABETES Programa e palestres, 7-9 de julho de 2000, São Paulo ............................................................................. 178 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ............................................................................... 180 AMERICAN DIABETES ASSOCIATION ANO 2000 RECOMENDAÇÕES PARA A PRÁTICA MÉDICA: Testes de glicemia no diabetes ................................................................................................................... 203 Aplicação de insulina ................................................................................................................................. 209 Diabetes mellitus gestacional ..................................................................................................................... 214 ARTIGOS CIENTÍFICOS Prevenção de doenças cardiovasculares na infância: atualização sobre hipercolesterolemia familiar, Leiv Ose ..................................................................................................................................................... 217 Recém-nascido filho de mãe diabética, Fernando Bastos ......................................................................... 227 Diabetes mellitus como causa de aposentadoria por invalidez, Ana Maria Sanches ................................ 231 FICHAS PRÁTICAS Associações e especialistas em diabetes (Região Sul) ............................................................................... 235 Recomendações clínicas práticas em diabetes, Reine Marie Chaves Fonseca, Odelisa Silva de Mattos, Maria das Graças Velanes de Farias, Júlia de Fátima Coutinho, Marisa Sacramento ........................... 236 NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES ......................................................................................................... 238 CALENDÁRIO DE EVENTOS ............................................................................................................. 239 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico e o conselho consultivo reunindo profissionais da FENAD, ANAD e demais entidades filiadas. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes. Diabetes Clínica Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho, presidente da FENAD e ANAD, Professor Titular de Endocrinologia Faculdade de Medicina ABC Coordenação: Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin, faculdade de Medicina de Lyon (França) Administração: Claudiane Benavenuto Dr. João Roberto de Sá (SP) Dr. Leão Zagury (RJ) Dr. Marcos Tambascia (SP) Enfermeria Mônica Antar Gamba (SP) Dr. Nelson Rassi (GO) Dr. Orsine Valente (SP) Enfermeira Paula Pascali (SP) Dra. Reine Marie Chaves (BA) Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Dr. Sérgio Atala Dib (SP) Conselho Consultivo Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) Dr. Adolpho Milech (RJ) Dr. Airton Golbert (RS) Dra. Alcina Vinhais (BA) Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) Dr. Arual Augusto da Costa (SP) Dr. Balduíno Tschiedel (RS) Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Dr. Edgard d’Ávila Niclewicz (PR) Dr. Freddy Goldbert Eliaschewitz (SP) Dra. Geisa Macedo (PE) Dra. Hermelinda Pedrosa (DF) ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson ATMC - Avenida São João, 56 sala 7 12940-000 Atibaia SP tel/fax: (11) 7871-7629 cel: (11) 9219-0570 [email protected] Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: (21) 557-7304 [email protected] Federação Nacional de Associações de Diabéticos (FENAD) e Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) Rua Eça de Queiroz, 198 Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP tel: (11) 572-6559 fax: (11) 549-6704 http://www.netcomp.com.br/anad [email protected] ISSN 1517-6428 © ATMC - Atlântica Editora Ltda Assinatura 6 números ao ano + 1 CD-ROM R$ 60,00 www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas I.P. (Informação publicitária) As informações são de responsabilidade dos anunciantes Copyright © ATMC – Atlantica Editora Ltda Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Em razão do avanço rápido das ciências médicas, o Editor recomenda que uma verificação independente do diagnóstico e doses dos medicamentos seja realizada. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética médica, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas EDITORIAL Toda a atualidade do tratamento global do Diabetes 5º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes Fadlo Fraige Filho E Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, Coordenador - Editor Científico de Diabetes Clínica m iniciativa pioneira, fizemos em 1991 o 1o Congresso Multidisciplinar em Diabetes com a finalidade de levar atualização e conhecimentos básicos aos profissionais de saúde que trabalham na área de Diabetes. O reconhecimento de que no Brasil 70% dos Diabéticos são tratados por não-especialistas, e também da importância do tratamento global através de uma equipe multiprofissional que comprovadamente obtém melhores resultados na terapêutica e controle da doença, nos motivou a continuar este trabalho. Por uma feliz coincidência, no mesmo ano e mês deste 1º Congresso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu o Dia Mundial do Diabetes, para chamar a atenção à magnitude desta doença, solicitando ações em todo o mundo, que tivessem o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos portadores da Doença. Com o passar do tempo fomos aprimorando a organização e principalmente o conteúdo, até chegarmos neste ano, em local moderno e excelente comodidade como é a Fundação Alvares Penteado - FECAP, que através de seu conselho e seu superintendente, reconheceram a importância de levarmos conhecimento a uma gama tão grande de profissionais responsáveis diretamente pelos destinos de milhões de pessoas. O apoio irrestrito de toda a industria farmacêutica da área de diabetes é que tornou possível a realização deste evento, demonstrando o caráter social destas industrias. Com aproximadamente 180 palestras distribuídas em 38 simpósios com temas amplos e com enorme abrangência, com muito orgulho consideramos O EVENTO MAIS COMPLETO EM DIABETES da atualidade, que será realizado em 7, 8 e 9 de julho do presente ano, em São Paulo. Convido a todos os interessados a analisarem o conteúdo que fazemos publicar neste número e certamente decidirão por estarem conosco neste Congresso. O grande número de apoios de entidades cientificas representativas de profissionais, bem como o reconhecimento internacional pela International Diabetes Federation e pela Sociedade Ibero-americana de Informação Científica é motivo de grande orgulho. Deixo minha profunda gratidão à grande equipe que constitui a comissão científica, à equipe executiva da ANAD, aos dirigentes da Fundação Alvarez Penteado - FECAP, aos Palestrantes e coordenadores, a todos os nossos amigos e parceiros da industria Farmacêutica e correlatas, sem os quais não poderíamos chegar a este brilhante resultado. Obrigado a todos 160 Diabetes Clínica 04 (2000) Informes do Diabetes no Mundo New England Journal of Medicine, 342:1392-1398,1440-1441, 11 de maio de 2000 Dieta rica em fibras associada a um melhor controle glicêmico Uma dieta rica em fibras, principalmente aquelas do tipo solúvel, melhora o controle glicêmico, reduz as concentrações de insulina, as taxas de colesterol e triglicérides em indivíduos com diabetes tipo 2. Os efeitos redutores do colesterol das fibras solúveis já eram bastante conhecidos, mas seus efeitos sobre o controle glicêmico ainda são controversos, observou Dr. Abhimanyu Garg, da Universidade do Texas Southwestern Medical Center em Dallas. No entanto, alguns estudos sobre os benefícios da inclusão das fibras na dieta e o controle glicêmico foram mal conduzidos, segundo ele. Para testar os efeitos de uma dieta rica em fibras sobre o controle glicêmico, o Dr. Garg e sua equipe conduziram um estudo cruzado, randomizado com 12 homens e 1 mulher com diabetes tipo 2. Os participantes consumiram uma dieta recomendada pela Associação Americana do Diabetes (ADA) a qual continha 24 g de fibra (8g de fibra do tipo solúvel e 16g do tipo insolúvel), e uma dieta contendo 50g de fibras (25g do tipo solúvel e outros 25g do tipo insolúvel) durante um período de seis semanas cada. As dietas continham a mesma quantia de calorias e não incluíam outros alimentos adicionados de fibras. Durante as seis semanas em que seguiram esta dieta, a concentração média de glicose no plasma foi 13mg/dl mais baixa durante a última semana da dieta que continha uma quantia moderada de fibras. Além disso, a excreção de glicose na urina foi 1,3g mais baixa durante a dieta mais rica em fibras e, ainda, abaixou as concentrações de glicose no plasma em 10%. Como era de se esperar, esta dieta reduziu ainda as concentrações de colesterol total, triglicérides e de LDL-colesterol em 6,7%, 10,2% e 12,5%, respectivamente. Os pesquisadores concluíram que “as diretrizes alimentares pelas quais o paciente diabético deve se orientar devem enfatizar um aumento significativo da quantidade de fibras por meio do consumo de alimentos que já as contêm ao invés de recorrerem à utilização de suplementos de fibras.” Infelizmente, a maior parte dos diabéticos não consome fibra em Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) 161 Continuação quantidade suficiente nem de acordo com as recomendações atuais da ADA, a qual recomenda um consumo diário de 20 g a 35 g de fibras. Dr. Garg acredita que parte do problema seja o fato de os médicos e outros profissionais de saúde não estarem convencidos ainda dos benefícios de uma dieta rica em fibras para o controle glicêmico, de forma que não recomendam esse tipo de dieta para seus pacientes. “Se nosso estudo esclarecer essa situação, as pessoas estarão mais dispostas a recomendarem a inclusão de mais fibra na dieta,” afirma o Dr. Garg. Em um editorial que acompanha o estudo, o Dr. Marc Rendell do Creighton Diabetes Center, em Omaha, Nebraska, observa que a diminuição da hiperglicemia apresentada no estudo assemelha-se “ao que observa por meio da adição de outro medicamento hipoglicemiante ao regime terapêutico.” Apesar dos bons resultados obtidos por meio do consumo de alimentos não adicionados de fibras, o Dr. Rendell observa que “não se deve desencorajar a realização de testes com alimentos sintéticos na busca por dietas mais adequadas ao paciente diabético.” André J. Scheen et al, Diabetes Metab Res Rev, 16(2):114-24, março-abril de 2000 A farmacoterapia anti-obesidade no controle do diabetes tipo 2 Sabe-se que a obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2. O controle do paciente diabético obeso permanece um desafio para o médico, mas, de qualquer forma, a redução do peso corporal deve ser considerada um objetivo chave. Nesse sentido, diversos medicamentos anti-obesidade já demonstraram seu potencial. No entanto, enquanto a fenfluramina e a dexfenfluramina mostraram-se eficientes para a perda de peso e por aumentar diretamente a sensibilidade à insulina, dois mecanismos que contribuem para um melhor controle da glicose no sangue de indivíduos obesos com diabetes tipo 2, os mesmos foram removidos devido a problemas com a segurança de sua administração. A sibutramina, um novo inibidor seletivo otimizador da serotonina e da norepinefrina, favorece a perda de peso por meio da diminuição da ingestão de alimentos, um efeito que traz melhoras leves (significativas em pacientes que perderam 5% do peso corporal inicial). O orlistat, um inibidor seletivo da lipase gastrointestinal capaz de aumentar a perda de gordura por meio das fezes, otimiza a redução de peso aliado à dieta, melhora tanto o controle do nível de glicose no sangue como o perfil de risco vascular, principalmente a dislipidemia, em pacientes obesos com diabetes tipo 2. Estudos complementares ainda são necessários para a identificação da tolerância à farmacoterapia e especificar o papel dos agentes anti-obesidade no controle do diabetes tipo 2 em indivíduos obesos a longo prazo. Outras abordagens farmacológicas ainda merecem consideração tais como a utilização dos beta-3 agonistas no intuito de aumentar o dispêndio de energia, os medicamentos que interferem com o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) ou liberação dos ácidos graxos livres por meio do tecido adiposo ou de agentes que promovem um esvaziamento gástrico mais lento. No entanto, até então os resultados no que diz respeito à eficácia e/ou segurança destes mostraram-se frustrantes ou preliminares em seres humanos. 162 Harrison LC et al, Diabetes; 48(8):1501-7, agosto de 1999 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) O leite de vaca e o diabetes tipo 1: a verdadeira discussão é sobre a função imunológica da mucosa A hipótese de que a exposição prematura de um recém-nascido ao leite de vaca (ou ausência de amamentação) predispõe a criança ao diabetes tipo 1, é cogitada desde a década de 80. Ela apresenta importantes implicações, mas este assunto suscita controvérsias já que a evidência na qual se baseia esta hipótese não é clara o que a deixa exposta a críticas. Duas meta-análises de estudos múltiplos em que a prevalência do diabetes foi associada retrospectivamente à alimentação do recém-nascido revelaram apenas um pequeno aumento no risco relativo. Dois estudos prospectivos recentes não observaram uma associação aparente entre o desenvolvimento de anticorpos para antígenos de ilhotas e os padrões de alimentação em recém-nascidos de alto risco com um parente em primeiro grau com diabetes tipo 1. Estudos que reportam o aumento da imunidade humoral e celular às proteínas do leite de vaca em crianças com diabetes tipo 1 em geral não apresentam controles e padronização apropriados e não estabelecem uma conexão causal com a patogênese da doença. Uma revisão dos dados publicados levam à conclusão de que o aumento da imunidade às proteínas do leite de vaca não é específico da doença, mas reflete uma predisposição genética para o aumento da imunidade às proteínas alimentares em geral, associadas ao haplótipo HLA AI-B8-DR3-DQ2 (A1*0501 B1*0201) que também predispõe à doença celíaca e à deficiência seletiva da IgA. Sugerimos que a hipótese do leite de vaca poderia ser novamente estruturada de forma produtiva em torno da função imunológica da mucosa no diabetes tipo 1. O leite de vaca possui fatores de crescimento, citoquinas e outros agentes imunomodulatórios que promovem a maturação funcional dos tecidos da mucosa intestinal. No modelo de ratos NOD, a despoluição ambiental pode influenciar na incidência do diabetes através dos mecanismos da mucosa, e a exposição da mucosa à insulina (presente no leite materno) induz as células T regulatórias e diminuiu a incidência do diabetes. A mucosa é uma importante barreira imunoregulatória e o leite de vaca é a primeira proteína encontrada. A questão principal é se um distúrbio na função imunológica predispõe ao diabetes tipo 1. Hanna R. Viskari et al, Diabetes Care, 23: 414, março de 2000 Seriam as infecções por enterovírus a causa do aumento da incidência do diabetes tipo 1? Tem-se observado um aumento na incidência de diabetes do tipo 1 em diversos países sem que se saiba ao certo a razão. Na Finlândia, a incidência tornou-se agora duas vezes maior do que há 30 anos, tornando-se a maior no mundo. Esta alteração pode estar sendo causada por uma mudança epidemiológica das infecções por enterovírus, um dos maiores causadores de disfunções celulares. A incidência do enterovírus causador da meningite foi analisada dentre um grupo de crianças internadas no Hospital Universitário Tampere com idades variando de 0 a 14 anos. Os casos foram identificados por meio dos registros do hospital seguindo-se os seguintes critérios: sintomas típicos da meningite asséptica (dor de cabeça, febre, náusea, sinais meníngicos, anorexia) ou em que se confirmou a existência de infecções bacterianas ou Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 163 não-enterovirais tais como a parotidite. A taxa de exposição ao enterovírus na população base foi avaliada por meio da medição dos anticorpos IgG contra dois antígenos do enterovírus (o Coxsackievirus B4 purificado e um peptídeo sintético) obtidos de amostras de soro retiradas de mulheres grávidas durante um dia em julho nos anos de 1983, 1989 e 1995 como parte do programa nacional para o rastreamento de infecções. O número de mulheres era 232, 240 e 243 respectivamente e as idades (± DP) era de 27 ± 5,5, 28 ± 5,1 e 29 ± 5,6 anos, respectivamente. A incidência de diabetes do tipo 1 apresentou um aumento linear durante o período em que o estudo foi realizado de 21,9 por 100.000 de 1966 a 1969 para 43,0 no período de 1995–1997 (p eqüivale a P < 0,001). Este aumento torna-se evidente em todos os grupos etários e mostra-se mais marcante dentre as crianças menores (de 11,7 a 29,7 em crianças de 0 a 4 anos), conforme descrito anteriormente. Observa-se, no entanto, uma tendência diversa quanto à incidência do enterovírus da meningite. Houve uma diminuição linear de 16,8 de 1980 a 1984 para 12,0 no período de 1985 a 1989 e 8,7 de 1990 a 1994 (P < 0,001). Entretanto, nas crianças muito pequenas (com idade inferior a 6 meses), cuja proteção contra infecções baseia-se nos anticorpos adquiridos por meio da placenta materna, não foi observada diminuição. Na verdade, esta proporção cresceu de 12% (8 de 65) no período de 1980 a 1984 para 29% (10 de 34) de 1990 a 1994 (P < 0,05). A distribuição sazonal dos casos e (os períodos de maior incidência se dão entre julho e novembro) o predomínio de crianças do sexo masculino (a proporção de homens para mulheres era de 1:8) eram ambos fatores típicos de infecção por enterovírus. Os resultados sugerem que a freqüência de infecções por enterovírus diminuiu rapidamente dentre a população finlandesa. A modificação epidemiológica poderia explicar o aumento da incidência de diabetes tipo 1. A razão é que uma grande porção de crianças e fetos são infectados durante o período em que carecem de anticorpos do organismo materno e portanto tornam-se vulneráveis a complicações como meningite e disfunções celulares. Este fato também explicaria as observações que indicam uma maior incidência de diabetes tipo 1 dentre as populações rurais em contraposição às populações urbanas, já que a baixa densidade populacional está associada a uma menor taxa de transmissão do enterovírus. Este foi outro aspecto validado por este estudo, uma vez que a freqüência de mães soronegativas para esta infecção nas áreas rurais (20 habitantes por km2 ou menos) foi de 29% (61 de 213) em contraposição a 21 % (106 de 502) nas áreas urbanas ou suburbanas (P < 0,05). Curiosamente, a epidemiologia da poliomielite paralisante, uma doença muito conhecida causada por enterovírus, segue um padrão epidemiológico semelhante. As infecções por poliovírus costumavam ser endêmicas, mas sua transmissão (via fecal-oral) diminuiu rapidamente ao fim do século 19, à medida que o padrão de vida melhorou. Simultaneamente, a incidência de complicações que geram paralisia aumentou paradoxalmente. O fundamento deste fenômeno foi um retardamento na idade da infecção inicial, algumas crianças só foram expostas aos poliovírus mais tarde, quando já não estavam mais protegidas pelos anticorpos maternos e por isso foram mais seriamente afetadas pela infecção. Nestes termos, defendemos a existência de uma analogia entre a epidemiologia da poliomielite e o diabetes tipo 1. Em ambos os casos, a diminuição evidente quanto à freqüência das infecções por enterovírus 164 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação levou a uma nova situação epidemiológica favorável para a ocorrência de complicações freqüentes tais como a poliomielite ou a autoimunidade da célula β. Isto pode ter sido ocasionado por dois mecanismos os quais não são excludentes entre si: 1) diminuição dos níveis de anticorpos em mulheres grávidas, fazendo com que o feto e o recém nascido careçam de proteção e 2) as crianças entram em contato com o enterovírus mais tarde, quando já não há mais anticorpos maternos para protegê-las. Maria Lonnrot et al, Journal of Medical Virology, 61:214-220, junho de 2000 Enterovírus a RNA em crianças pré-diabéticas confirma a relação com o diabetes tipo 1 O enterovírus RNA detectado no soro de crianças pré-diabéticas confirma a evidência já conhecida, sugerindo que as infecções com enterovírus são um fator de risco para a autoimunidade da célula β e o diabetes tipo 1. Maria Lonnrot e sua equipe da Universidade de Tampere (Finlândia) analisaram os dados de 765 irmãos não-diabéticos de crianças portadores de diabetes tipo 1. Neste grupo, foram analisados a cada 6 meses os soros e a polimerase da cadeia de transcrição reversa. Foram também analisadas 93 amostras de soro de 11 irmãos portadores de diabetes tipo 1. O grupo controle foi constituído por 105 amostras de 34 irmãos do mesmo coorte que não apresentavam autoimunidade da célula β ou diabetes tipo 1. O grupo pré-diabético foi seguido durante um período de 4 anos e o grupo controle durante 2 anos. Os pesquisadores analisaram também as amostras de soro de 47 crianças recentemente diagnosticadas como portadores de diabetes tipo 1. Os resultados mostram que o RNA viral era presente em 22% (11 de 49) das amostras de acompanhamento de crianças pré-diabéticas mas só em 2% (2 de 105) das amostras de controle. De acordo com esta pesquisa, o enterovírus RNA era associado às taxas elevadas de auto-anticorpos de células das ilhotas e de descarboxilase do ácido glutâmico. Porém, não houve aumento da taxas de auto-anticorpos contra a insulina ou a proteína IA-2 tirosina fosfatase-like. Ao contrário do que foi diagnosticado em crianças pré-diabéticas, as que foram recentemente diagnosticadas com diabetes tipo 1 eram negativas no que diz respeito ao enterovírus RNA. Esses resultados, segundo Maria Lonnrot, confirmam outros achados pelos quais “as infecções a enterovírus são um fator de risco importante de diabetes tipo 1 e são associadas à auto-imunidade da célula β vários anos antes o surgimento dos sintomas.” 166 Diabetes Clínica O Diabetes na Imprensa Adoçante liberado 24 de maio de 2000 A sacarina, substância utilizada em adoçantes artificiais, saiu da lista negra dos compostos considerados cancerígenos pelo Instituto Nacional de Ciências da Saúde, órgão do governo americano. Testes com ratos de laboratório apontavam a sacarina como possível causa de tumores. O alerta persistiu por quase 20 anos, mas nenhum estudo conseguiu provar que os efeitos da substância são os mesmos em seres humanos. Ilhotas da cura: depois de trinta anos de pesquisa, cientistas revertem diabetes com transplante de células 24 de maio de 2000 Esperanças de um futuro menos sombrio para os diabéticos surgiram na semana passada. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, liderada pelo médico inglês James Shapiro, anunciou 100% de êxito em uma espécie de transplante capaz de reverter por completo a doença. Trata-se de uma técnica que vem sendo testada desde a década de 70, sem nunca ter alcançado igual taxa de sucesso. O que os pesquisadores fizeram foi extrair de cadáveres milhares de ilhotas de Langerhans, as células produtoras de insulina. Oito pacientes, com idades entre 29 e 53 anos, vítimas desde a infância de diabetes do tipo 1 – a versão mais severa da enfermidade, que só é controlada com injeções diárias de insulina, o hormônio responsável pelo metabolismo do açúcar no organismo –, receberam as ilhotas por meio de injeções. Passados onze meses do transplante, todos eles apresentam taxas normais de açúcar no sangue. A maioria das experiências anteriores apresentou resultados menos animadores, com a taxa de sucesso em torno de 10%. O principal motivo do fracasso era a reação do sistema imunológico do receptor, que atacava e destruía as ilhotas. A experiência de Shapiro obteve êxito em virtude da dosagem correta e, sobretudo, do processo de purificação a que as ilhotas de Langerhans são submetidas antes do transplante. Esse método parece ser a grande solução para os diabéticos do tipo 1, que representam 10% dos 150 milhões de doentes em todo o mundo. Ainda é cedo, contudo, para dizer que essa é a cura. Onze meses é pouco tempo para garantir que a moléstia foi debelada. “Além disso, para que o transplante funcione, os pacientes O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 167 têm de se submeter até o fim da vida a uma terapia imunossupressora”, diz o endocrinologista Freddy Goldberg Eliaschewitz, da Universidade de São Paulo (USP). “Ou seja, só ficarão livres do diabetes com a utilização de medicação pesada, que baixa a resistência e os deixa suscetíveis a doenças oportunistas, como infecções.” Eliaschewitz pertence a um grupo da USP que há cinco anos estuda uma maneira de embalar as ilhotas em microcápsulas, o que livraria as células transplantadas do ataque imunológico e o paciente das drogas imunossupressoras. O desafio é desenvolver uma capa semipermeável que permita a liberação da insulina mas impeça a entrada das células de defesa do organismo. Outro problema é que, com o encapsulamento ou não das células, a técnica é ainda muito cara. No processo de retirada, purificação e transplante, perde-se cerca de 80% do total de 1 milhão dessas células existentes no pâncreas. Ou seja, para que um diabético receba a quantidade suficiente de ilhotas são necessários, em média, cinco doadores. Os cientistas acreditam que essa dificuldade poderá ser minimizada com os avanços das técnicas de clonagem. Brasileiro encontra insulina em plantas 3 de junho 2000 Plantas são capazes de produzir insulina. A descoberta, que muda o conceito tradicional de que somente animais vertebrados são capazes de fabricar insulina, foi feita no laboratório do professor de bioquímica da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) José Xavier-Filho. O grupo de Xavier-Filho é reconhecido na comunidade científica por estudos bioquímicos sobre a resistência de plantas a insetos. Inicialmente, a identificação da insulina em sementes de feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), uma planta da família das leguminosas, aconteceu por acaso. Uma aluna sua de doutorado, estudando proteínas que poderiam estar ligadas à resistência da semente do feijão-de-porco a insetos como o caruncho, isolou várias candidatas. Ao participar de um curso sobre identificação de proteínas, a professora perguntou quem tinha uma proteína “limpa” (purificada) para ser analisada. Elenir Oliveira, a aluna de doutorado, disse que tinha e escolheu uma - ao acaso - para ser sequenciada. No dia seguinte, a professora chamou Xavier-Filho para dizer que havia algo de errado: a sequência da proteína da semente de feijão-de-porco era idêntica à de insulina bovina. Segundo o pesquisador, a surpresa foi enorme. Afinal, até aquele momento era tido como verdade estabelecida que plantas não produziam insulina, só animais. Todos os procedimentos de isolamento e identificação da proteína foram revisados e repetidos. A proteína foi ressequenciada, não uma, mas sete vezes, para confirmar o resultado. Além da insulina, Xavier-Filho identificou na planta uma proteína que corresponde a um receptor para a insulina. Para comprovar que a proteína isolada era mesmo insulina, Xavier-Filho usou camundongos diabéticos, ou seja, com níveis elevados de açúcar no sangue. Ao fornecer a proteína para essas cobaias, os níveis de açúcar baixaram e se tornaram equivalentes aos dos ratinhos normais, usados como controle. Xavier-Filho passou, então, a analisar plantas que são comumente utilizadas na medicina popular para o tratamento de diabetes, como a pata-de-vaca e o feijão-de-corda. A insulina está presente nas duas. 170 Diabetes Clínica 04 (2000) Avanços terapêuticos e tecnológicos Transplant 2000, Chicago, 18 de maio de 2000 Sucesso no transplante de ilhotas funcionais Na sessão final de Transplant 2000, o Dr. A.M. Shapiro (University of Alberta, Edmonton, Canadá), lembrou que um relatório do International Islet Transplant Registry mostrou que só 12,4% de 267 receptores de transplantes de células de ilhotas eram insulina-independentes uma semana após o transplante, e 8,2% após uma ano. Com o novo tratamento imunossupressivo sem esteróides desenvolvido por Shapiro e sua equipe, a insulina-indepêndencia em 8 portadores de diabetes tipo 1 alcançou uma mediana de 11 meses (14 meses para um paciente). As razões do sucesso são a supressão dos esteróides e o transplante de uma quantidade suficiente de células β, segundo os pesquisadores. Os pacientes receberam também uma terapia de indução de anticorpos anti-CD25 com daclizumab e baixas doses de tacrolimus e sirolimus. As células foram transplantadas imediatamente, sem cultura tissular, via embolização venosa portal transhepática percutânea. Todos os pacientes precisaram mais do que um transplante (dois para a maioria) para alcançar a insulina-independência. Para a maioria dos pacientes, foi preciso mais do que um doador para conseguir a quantidade suficiente de células. Antes o transplante, todos os 8 pacientes apresentavam acidentes hipoglicêmicos e instabilidade metabólica. Atualmente, “nenhum desses pacientes apresenta um diabetes residual segundo os critérios da American Diabetic Association,” Dr. Shapiro afirmou. Nenhum deles apresentou recorrência de coma diabético ou acidentes hipoglicêmicos. Não houve episódios de rejeição aguda, nem aumento no perfil lipídico, nem complicações sérias. (ver também a seção “O Diabetes na Imprensa, pág...) Archives of Internal Medicine, 8 de maio de 2000 Orlistat (Xenical) pode prevenir alguns tipos de diabetes tipo 2 Na primeira demonstração sobre a prevenção do diabetes por meio de uma perda de peso gradual, estudo dirigido pelo St. Luke’s-Roosevelt Hospital Center (New-York) concluiu que o bloqueador de gordura Xenical (Orlistat) pode ajudar a reverter as altas taxas de açúcar no sangue e até prevenir o surgimento de diabetes tipo 2 em indivíduos obesos. Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) 171 Continuação ”Descobrimos que a perda de peso com o Xenical pode ser de grande ajuda para a prevenção do diabetes se aliada a dietas e reeducação comportamental,” afirma o Dr. Heymsfield. O Dr. Heymsfield e seus colegas analisaram dados de 675 pacientes obesos. Eles concluíram que a adição do Xenical a regimes convencionais para a perda de peso melhora signifi cativamente a tolerância ao açúcar no sangue e diminui a probabilidade de se desenvolver uma tolerância anormal à glicose e ainda a diabetes em estágio inicial no adulto ”Este estudo demonstra que o bloqueio parcial da absorção da gordura com o Xenical provocou perda de peso duradoura nos indivíduos obesos, melhorando significativamente o metabolismo do açúcar no sangue e da insulina, o que esperamos que protele ou impeça o surgimento do diabetes”, afirmou o Dr. Heymsfield. Três estudos clínicos com duração de dois anos foram realizados em 39 centros de pesquisa nos Estados Unidos e na Europa. Os três estudos envolveram um total de 675 adultos obesos. Todos os participantes receberam aleatoriamente tratamento com 120mg de Xenical ou placebo três vezes ao dia por um período de 2 anos. Os pacientes foram submetidos a um teste padrão de três horas para avaliar sua tolerância ao açúcar (teste diagnóstico padrão para a detecção do diabetes). Em todos os três estudos, os pacientes que receberam o Xenical perderam mais peso e apresentaram melhor controle dos níveis de glicose no sangue do que aqueles que receberam placebo e demonstraram melhora ainda nos níveis séricos de insulina. Dentre os participantes que já estavam tornando-se diabéticos, quase três quartos (71,6%) dos que foram tratados com Xenical conseguiram modificar suas taxas de glicose de anormais para normais, em contraposição a menos da metade (49,1%) daqueles que receberam placebo. Mais do que o dobro dos indivíduos que receberam placebo tornaram-se diabéticos (7,6%) em comparação ao grupo tratado com Xenical dos quais apenas 3% tornaram-se diabéticos. O Xenical, o único medicamento bloqueador de gordura aprovado pelo FDA, age no trato gastrointestinal prevenindo a absorção da gordura em aproximadamente um terço. A droga é prescrita juntamente com uma dieta de redução calórica para o controle da obesidade, incluindo perda de peso, manutenção do peso e redução dos riscos de se readquirir o peso após o fim da dieta. 52º Annual Meeting of American Academy of Neurology, San Diego, 3 de maio de 2000 A pregabalina mostra-se eficiente no tratamento da neuropatia diabética A pregabalina é eficiente no tratamento da dor na neuropatia diabética de acordo com os resultados de um estudo apresentado por Michael Poole, da Parke-Davis Pesquisas Farmacêuticas em Ann Arbor, Michigan. Poole e sua equipe estudaram a pregabalina num estudo duplo-cego, controlado por placebo, envolvendo 337 pacientes portadores de polineuropatia sensora e motora por períodos variando de 1 a 5 anos. Para ser parte da pesquisa, os pacientes precisavam atingir uma pontuação de pelo menos 40 pontos na Escala Visual Análoga (VAS) do questionário McGill reduzido sobre a dor. Eles receberam placebo ou 75 mg, 300 mg, ou 600 mg de pregabalina por cinco semanas (os pacientes que receberam 600 mg receberam a dose titulada ao longo da primeira semana). 172 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação Os pacientes que receberam 300 mg e 600 mg da medicação apresentaram muito menos dor do que aqueles que receberam placebo, de acordo com os diários mantidos pelos próprios pacientes, com uma diminuição de aproximadamente duas vezes em relação aos pacientes que receberam placebo (P = 0,0002 e P = 0,0001). As melhoras alcançadas com a dose de 75 mg não foram muito superiores aos resultados obtidos com o placebo. Enquanto os resultados obtidos com a administração de 600 mg não apresentaram diferenças significativas em relação à administração de 300 mg. Poole observou que a quantidade de pacientes que apresentaram melhora de 75% ou mais no quadro de dor apresentaram mais resultados com a dose maior. Os efeitos adversos mais comuns obtidos a partir da ingestão de doses maiores foram tontura e sonolência. Cerca de 39% dos pacientes tratados com 600 mg e 27 daqueles que receberam a dose de 300 mg afirmaram ter sentido tontura (em contraposição a 5% dos que receberam placebo). Aproximadamente 20% dos pacientes de cada grupo que recebeu as doses mais elevadas afirmou ter sentido sonolência, em comparação a 4% daqueles tratados com placebo. As taxas de desistência do tratamento também foram maiores nos pacientes tratados com placebo em comparação àqueles tratados com 600 mg da droga, no entanto, isso não foi o que aconteceu com aqueles tratados com 300 mg de pregabalina. “Nosso estudo demonstra que a administração de pregabalina é segura e eficiente em doses de 300 e 600 mg,” afirmou o pesquisador, que observou ainda que os diários mantidos pelos pacientes também indicaram que a ingestão da droga foi útil também na redução do sono interrompido, sintoma que costuma afetar os pacientes com neuropatia diabética grave. 9th Annual Meeting of the American Association of Clinical Endocrinologists (AACE), 7 de maio de 2000 Terapia combinada de metformina e gliburida Em pacientes com diabetes tipo 2, a terapia com metformina e gliburida oferece um controle glicêmico persistente de acordo com as informações apresentadas pelo Dr. Jeffrey Powell da Faculdade de médicos e cirurgiões da Universidade de Columbia em New-York. “Os pacientes que foram submetidos diretamente à terapia com a combinação de metformina e gliburida apresentaram uma diminuição significativa na HbA1c de 3,4% após apenas 13 semanas de tratamento,” afirmou Jeffrey Powell. Juntamente com pesquisadores da Bristol-Myers Squibb, ele esta realizando uma pesquisa de 52 semanas acerca da terapia combinada. Um total de 826 pacientes foram inicialmente submetidos a 250 mg de metformina e a 1,25 mg de gliburida duas vezes ao dia ou 500 mg de metformina e 2,5 mg de gliburida, se a HbA1c for inferior a 9% ou pelo menos 9%, respectivamente. As doses foram tituladas de acordo com o controle glicêmico para um máximo de 2.500 mg e 12,5 mg. “Eu acho que a mensagem agora talvez seja de que devamos introduzir a terapia combinada o mais rápido possível”, disse o Dr. Powell. “A combinação de dois medicamentos em uma só pílula, como já foi feito em outras circunstâncias, tais como hipertensão, aumenta a adesão do paciente à terapia pois ele precisa ingerir menos cápsulas por vez.” Os resultados deste estudo e das pesquisas da empresa serão apresentados em breve ao FDA. Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) 10 de maio de 2000 173 FDA emite carta de aprovação para a fabricação do GlucoWatch pela Cygnus O FDA emitiu um carta aprovando a comercialização do GlucoWatch Biographer, o relógio de pulso para a avaliação dos níveis de glicose em pacientes diabéticos fabricado pela Cygnus. Segundo a empresa, a aprovação final do FDA só depende de avaliações de determinados aspectos do produto tais como performance, fabricação e materiais utilizados na arte final e no rótulo. O GlucoWatch oferece um monitorização freqüente e automático dos níveis de glicose de até 36 vezes em um período de 24 horas, ou seja, a cada 20 minutos. O relógio de pulso é o primeiro aparato com esta forma feito para monitorar os níveis de açúcar no sangue por meio de uma avaliação contínua, ao invés de episódica. A tecnologia disponível até então precisava de um coletor de amostra separado e outros preparos antes da avaliação da glicose, tornando cada medição dolorosa e inconveniente para o portador de diabetes. O GlucoWatch, por sua vez, permite ao usuário avaliar seu nível de glicose a cada 20 minutos e tudo o que ele precisa fazer é pressionar um botão e comparar cada avaliação com a anterior. O aparelho possui ainda um sistema de alarme o qual pode ser programado para identificar níveis de glicose altos demais, baixos ou se estão abaixando rápido demais em pacientes com 18 anos ou mais. Embora os estudos clínicos do GlucoWatch tenham revelado informações “interessantes’ sobre a capacidade do mesmo de diagnosticar hipoglicemia e hiperglicemia em pacientes diabéticos, o Painel de Química Clínica e Ferramentas Toxicológicas Clínicas do FDA (Clinical Chemistry and Clinical Toxicology Devices Panel) advertiu no dia 6 de dezembro que o fabricante fizesse mais pesquisas nesse sentido. Pesquisas clínicas por exemplo, demonstraram que o GlucoWatch é capaz de detectar 14% dos casos de hipoglicemia/hiperglicemia com duas picadas no dedo, 39% de todos os casos com quatro picadas diárias e 86% de todos os casos se o usuário calibrar o aparelho para emitir alerta devido aos baixos índices de glicose quando estiver em 110 mg/dl. Ao início Cygnus fará uma distribuição limitada do produto e a produção em grande escala, deveria acontecer no final do ano 2000 ou no começo de 2001. Ellis CN et al, Archives of Dermatology;136:609-616, maio de 2000 A troglitazona pode ser útil no tratamento da psoríase A troglitazona, um agente sensibilizador da insulina, poderia também ser útil para o tratamento da psoríase. A troglitazona é um ligante do PPAR-gama (peroxisome proliferator-activated receptor-gamma), um receptor hormonal nuclear da mesma família do que os receptores nucleares da vitamina A e vitamina D. Os ativadores dessa última já são usados no tratamento da psoríase. O Dr. Ellis (University of Michigan Medical School) tratou com troglitazona 5 pacientes portadores de psoríase moderada a severa. Todos os pacientes melhoraram significativamente com a terapia, inclusive 3 portadores de diabetes, que apresentaram uma melhora das duas condições. Embora não tenha um grupo placebo, foi notado que “não seria habitual que placas estáveis de psoríase crônica apresentam remissão completa ou 176 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação significativa, como foi observado nesses pacientes, espontânea ou somente por causa do efeito placebo.” No estudo do mecanismo, os pesquisadores acharam que o PPAR-gama expressa-se nos ceratócitos humanos, e que a troglitazona inibe o crescimento dos ceratócitos normais e psoriáticos. A droga não afeta o crescimento dos fibroblastos humanos normais. De acordo com o estudo, no tratamento de culturas de pele humana psoriática com troglitazona, a pele ficou “qualitativamente perto do normal.” Em experiências no animal, a pele psoriática transplantada em ratos imunodeficientes conservou a sua aparência histológica. O tratamento dos animais com troglitazona reduziu a espessura da pele psoriática, restaurou o padrão da diferenciação epidermal, restaurou a camada granular epidermal, e reduziu a resposta inflamatória. Embora a experiência fosse dedicada aos efeitos anti-proliferativos da troglitazona, outras pesquisas mostraram que os ativadores de PPAR-gama provocam também uma inibição do sistema imunitário. “Para mim não seria uma surpresa que isso seja a maior mecanismo de ação”, segundo o Dr. Ellis. “Apesar de as experiências em ratos imunodeficientes pareçam contradizer isso, temos de observar que células imunológicas humanas são também transplantadas com a pele, e a troglitazona poderia agir inibindo essas células”. A troglitazona foi recentemente retirada do mercado (março de 2000), entretanto medicamentos da mesma família estão disponíveis, como a pioglitazona e rosiglitazona, e novos agentes estão em desenvolvimento. O objetivo agora é iniciar um estudo clínico controlado para confirmar esses resultados. Dr. Renato Di Dio, Dr. José Carlos Barbério, Dr. Mario Giovanni Pradal, Dra. Ana Maria Soares Menezes, Central de Radioimunoensaio de São Paulo (CRIESP) Dosagem dos anticorpos anti-ilhota de Langerhans (ICA) A possibilidade de existência de marcadores de auto-imunidade com boa performance para o rastreamento dos pacientes suscetíveis à doença diabética, foi reforçada pela pesquisa dos Auto-Anticorpos Antiinsulina (IAA), dos Anticorpos Anti-Ilhotas (ICA) e dos Anticorpos AntiDescarboxilase do Ácido Glutâmico (GAD), no soro de pacientes. Alem deles, estão ainda em julgamento os anticorpos anti-carboxipeptidase H, anticorpos anti-protéina do leite de vaca e a Beta-lactoglobulina. Recentemente a CRIESP tornou disponível a dosagem dos autoanticorpos anti-insulina (IAA e GAD) e está iniciando a realização por técnica imunoenzimática dos anticorpos anti-ilhotas (ICA). Trata-se de um ensaio imunoenzimático em que um mix dos vários antígenos de superfície, das células de ilhotas pancreáticas humanas, são imobilizados nas paredes de tubos onde o soro do paciente (com a possível presença de ICA), é posto a reagir e, mais tarde, um 2º anticorpo anti-IgG humana (marcado como um cromógeno) é acrescentado com um substrato. A intensidade da cor gerada será diretamente proporcional à concentração de ICA na amostra. Esta técnica vem resolver as dificuldades de realização e padronização dos ICA por técnicas de imunohistoquímica bem como a difícil obtenção em nosso meio, dos cortes de pâncreas humano. Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 04 (2000) 177 Produtos e novidades Roche lança nova tira de teste para monitor portátil de glicemia A Roche está lançando no Brasil, Advantage II, nova tira de teste de glicemia que proporciona mais praticidade e conforto aos usuários. Advantage II foi especialmente desenhada para oferecer um contato perfeito com a curvatura do dedo e devido à capilaridade, Advantage II necessita de uma pequena gota de sangue para uma medição segura da glicemia. Advantage II é compatível com as duas versões de Advantage e com o Advantage Complete, monitor portátil de glicemia, que permite ao paciente verificar a taxa de açúcar no sangue em diferentes períodos do dia. Advantage oferece uma série de benefícios aos pacientes: possui memória com capacidade para armazenar as 100 últimas medições com data e hora, além de precisão nos resultados. Funciona com pilhas alcalinas AAA e liga automaticamente ao inserir a tira de teste. Pode ser acoplado ao computador do médico, através de software especifico, o Camit Pro. Para maiores informações: Disque Advantage 0800 55 20 89 Medisense: sensor eletroquímico para medir os corpos cetônicos no sangue A cetoacidose diabética é uma complicação aguda séria do diabetes e sua incidência é > 20% em pacientes com idade > 65 anos. O diagnóstico da cetoacidose não é sempre fácil porque 1 a 8% dos pacientes estão cetoacidóticos sem hiperglicemia significativa. As medições laboratoriais do a-hidroxibutirato que é um dos principais corpos cetônicos na cetoacidose diabética demoram demais para o uso prático em caso de emergência. A MediSense (laboratórios Abbott) desenvolveu um sensor para a glicose e a cetona que produz um corrente elétrico proporcional à concentração sangüínea de α-hidroxibutirato. Este sensor usa uma amostra de 10 µl de sangue capilar e exibe o resultado em 30 segundos. Um estudo publicado em Diabetes Care em abril de 2000 comparou este sensor eletroquímico com um método enzimático de laboratório, com resultados similares. O sensor poderia ser um complemento útil às medições da glicose no manejo da cetoacidose diabética. Referência: Diabetes Care, 23:4;500 5º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes 5º Exposição Nacional de Produtos e Alimentos para Diabéticos SEXTA-FEIRA - 07/07/2000 1 - Diabetes mellitus: conceituação básica Prof. Dr. Adolfo Perez Comas Conf. abertura - Proposta básica para a assistência ao paciente diabético no município Dra. Adriana Costa e Forti Importância epidemiológica - Classificação ADA - OMS - Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Etiopatogenia - Síndrome plurimetabólica DM tipo 2 - Prof. Dr. Bernardo Leo Wachenberg 2 - Avanços terapêuticos no diabetes tipo 2 Prof. Dr. Bernardo Leo Wachenberg Novas opções terapêuticas em insulino terapia Prof. Dr. Adolpho Milech Nateglinida e os picos hiperglicêmicos pósprandiais - Novo conceito, novo tratamento Prof. Dr. Bernardo Leo Wachenberg Avanço no tratamento da disfunção erétil Prof. Dr. Celso Gromatsky Avanços e perspectivas da genética molecular Prof. Dr. Daniel Gianella Neto 3 - Nutrição - Nutric. Celeste Elvira Viggiano Recomendações nutricionais - SBD - ADA Profª Dra Anita Sachs Contagem de carboidratos - Nut. Gisele R. Goveia e Luciana Paula Camargo Bruno Terapêutica nutricional do idoso diabético Profª Dra Maria de Fátima Nunes Marucci Estratégias educacionais Profª Dra Nut. Denise Giacomo da Motta 4 - Auto-monitorização Enfª. Nívea Ap. Sanches Interpretação dos dados obtidos auxiliando no direcionamento do tratamento Profª Dra Leda Odete de Oliveira Avaliação e precisão dos resultados - Sangue e urina - Psico-pedagoga Leda Márcia Pagnozzi Recentes lançamentos: Glucowatch - Glucosensor - Vacumlet - AtLeast - Advantage - Complete Enfª Paula Maria de Pascali 5 - Metodologia dos exames diagnósticos laboratoriais - Dr. Carlos Gabriel Tartuce Avaliação dos métodos laboratoriais no diagnóstico e acompanhamento do DM - Profª Dra Cláudia Dias Curva glicêmica - Quando e como Prof. Dr. Adagmar Andriolo Aspectos genéticos e imunológicos do DM Profª Dra Zulma F. Peixinho Métodos de diagnóstico do DM na entrada do Milênio - Prof Dr. Maurício Viecili 6 - Aspectos farmacêuticos e bioquímicos Dr. Luis Flávio de Freitas Leite Insulinas: Processos de produção - Formulação Dr. Luciano Vilela Análogos de insulina - Ação rápida e pré-misturas - Dra Márcia Kayath Análogos de insulina de longa ação Dr. Artur Pedro Oliveira Dispensação - Armazenagem - Transporte e coordenação - Dr. Luiz Flávio de Freitas Leite 7 - Nefropatia diabética - Prof. Dr. Adenauer Peres Evolução: do início a insuficiência renal Prof. Dr. Miguel Riella Tratamento medicamentoso e prevenção Prof. Dr. Miguel Riella Terapêutica nutricional - Nutª. Adriana Alvarenga Diálise peritoneal e hemodiálise Prof. Dr. José Luis Bevilacqua Transplante simultâneo rim e pâncreas Drª Anita Leme da Rocha Saldanha 8 - Aspectos práticos da terapêutica medicamentosa Abordagem inicial do paciente diabético Prof. Dr. Arual Augusto Costa Medicamentos anti-diabéticos orais Prof. Dr. João Roberto de Sá Acarbose - Porque e quando usar Prof. Dr. Freddy G. Eliaschewitz Insulinoterapia - Prof. Dr. Sérgio Atala Dib SÁBADO - 08/07/2000 9 - Novo conceito no tratamento do DM tipo 2: Repaglinidas - Dr. Walter J. Minicucci O Papel da repaglinida no controle da glicemia pós-prandial - Prof. Dr. Marcos Tambascia 10 - Avanços terapêuticos I - Rosiglitazona Pres. de honra: Prof. Dr. Adolfo Perez Comas, Coord.: Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Farmacocinética: Mecanismo de ação - Segurança - Profª. Drª. Marília de B. Gomes Estudos clínicos: Eficácia - Indicações Prof. Dr. João Roberto de Sá 11 - Educação em diabetes Assist. Social Julia de Fátima Coutinho Conceitos e princípios básicos - Assistente Social Julia de Fátima Coutinho Abordagem pedagógica Pedagoga Maria Salete Barbosa Lima Aderência ao tratamento Enfª Maria Julia de Santana Kenj Educação para o auto-cuidado Profª. Drª. Enfª. Odete de Oliveira Experiência em educação no Brasil e resultados Dr. Raimundo Sotero de Menezes Filho 12 - Neuropatia diabética Prof. Dr. Roberto Tadeu B. Betti Fisiopatologia e classificação Prof. Dr. Antonio Carlos Lerário Neuropatia urológica e disfunção erétil Prof. Dr. Sidney Glina Neuropatia periférica - Diagnóstico clínico Prof. Dr. Getúlio Dare Rabello Neuropatia gastro-intestinal Drª Maria de Lourdes Teixeira da Silva Propedêutica armada e tratamento da polineuropatia diabética - Profª. Drª. Helena Schmid 13 - Cardiopatias e Diabetes Prof. Dr. Antonio Carlos Carvalho Problemas do diabético com insuficiência coronáriana - Dr. Otávio Rizzi Coelho Tratamento atual da doença coronariana no diabético - Prof. Dr. Luis A. Machado Cesar Cardiopatia hipertensiva - Riscos e orientações Prof. Dr. Luis Aparecido Bortolotto Angioplastia - Prof. Dr. Expedito R. da Silva Cirurgia cardíaca - Prof. Dr. Domingo M. Braile 14 - Diabetes na criança e adolescente Prof. Dr. Sérgio Atala Dib Etiopatogenia em diabetes mellitus Tipo 1 Prof. Dr. Sérgio Atala Dib Terapêutica insulínica - Prof. Dr. Nuvarte Setian Terapêutica nutricional - Nutª. Celeste Elvira Viggiano Educação e monitorização Profª. Drª. Enfª. Sônia Aurora Alves Grossi Abordagem psicológica Psic. Maria Geralda V. Heleno 15 - Atuação da enfermagem Enfª. Paula Maria de Pascali O Papel do enfermeiro no programa de prevenção e controle do DM - Profª. Enfª. Mônica Gamba Estratégia da assistência de enfermagem: Consulta de enfermagem - Profª. Drª. Enfª. Odete de Oliveira Cuidados especiais: Insulinoterapia Enfª Nívea Ap. Sanches WorkShop: Insulinoterapia Grupo Operativo - Palestra e Coordenação Auto-cuidado: Interpretando os sintomas e os dados obtidos pela auto-monitorização Enfª Paula Maria de Pascali Avaliação, prevenção e intervenção no pé em risco - Enfª. e Podolª. Vera Lígia Lellis WorkShop: Pé em risco 16 - Diabetes e a mulher Prof. Dr. Mauro Sancovski Anticoncepção na mulher com diabetes - Profª. Drª. Márcia Teresa Junqueira Sacilotto Gravidez na mulher com diabetes Prof. Dr. Mauro Sancovski Climatério e menopausa na mulher com diabetes - Prof. Dr. Eliano Pelini Assistência de enfermagem no parto: Da admissão à alta Sup. Enfª. Maria de Fátima Rodrigues de Oliveira O recém-nascido de mãe diabética Dr. Fernando Bastos 17 - Avanços terapêuticos II Prof. Dr. Marcos Tambascia Novas insulinas: Insuman - Glargina Prof. Dr. Antonio Carlos Lerário Vantagens do uso da glimepirida e combinações - Prof. Dr. Marcos Tambascia 18 - Avanços terapêuticos III: Pioglitazona Prof. Dr. Saulo Cavalcanti da Silva Estudos clínicos: Eficácia - Indicações Prof. Dr. Saulo Cavalcanti da Silva Farmacocinética - Mecanismo de ação - Segurança - Prof. Dr. Nelson Rassi 19 - Diet e Light - Dr. Gonçalo Vecina Neto Atualização e legislação DIET e LIGHT Profª. Drª. Beatriz M. A. C. Kestener Alimentos dietéticos e prescrição Drª. Nutª. Lísia Khiel DEBATES: Palestr.s + Nutricionista Márcia Terra Coord.a: Nutricionista Débora Fontanelli Alimentos diet no dia a dia do diabético - Cardápios - Nutª. Flora Spolidoro Mídia e informação técnica - Adoçantes - Case Aspartame - Engª de Alim. Silvia Yokoyama Debates: dúvidas do consumidor Empresas: Nestlé - Slim - Lowçucar Data: 7 a 9 de julho de 2000 Local: Fundação Álvares Penteado - FECAP Av. Liberdade, 532 - São Paulo SP SÁBADO - 08/07/2000 DOMINGO - 09/07/2000 20 - Atualidades e novas perspectivas na terapêutica nutricional Nutricionista Celeste E. Viggiano Carências nutricionais relacionadas ao diabetes Profª. Drª. Silvia Franciscato Cozzollino Índice glicêmico de alimentos Profª. Nutª. Lucia Caruso Desmame precoce como fator de risco na etiologia do DM tipo I Profª. Drª. Suely Godoy A. Gimeno Experiências educacionais em vários centros: Hospital do Servidor Público Municipal Nutª. Ana Matilde Rodrigues Liga de Diabetes / HCFM-USP Profª. Drª. Nutª. Ana Maria Pita Lottenberg Centro de Diabetes UNIFESP Nutª. Paula Cristina A. da Costa Associação Nacional de Assistência ao Diabéticos - Nutª. Cintia Elaine Ramos 25 - Obesidade e diabetes mellitus Dr. Daniel Diniz Gonçalves Lerário Epidemiologia da obesidade e fatores de risco Dr. Luis Turati Tratamento medicamentoso da obesidade no diabetes - Dr. Márcio Correia Mancini Tratamento nutricional Nutª. Ana Cristina Carneiro DIABESIDADE - Inter-relação obesidade e diabetes - Dr. Walmir Ferreira Coutinho Aspectos psiquiátricos do obeso diabético Prof. Dr. Táki Kordás 21 - O diabético hospitalizado Prof. Dr. Orsine Valente Ceto Acidose - Hiperosmolaridade: Diagnóstico e terapêutica atual - Prof. Dr. Orsine Valente Controle Clínico Pré - Intra - Pós-operatório Profª. Drª. Ana Tereza Santomauro Infecções e imunização: Aspectos atuais Prof. Dr. Vicente Amato Neto Nutrição enteral e parenteral: Quando e como Prof. Dr. Dan Waisberg 22 - Atividade física e diabetes - Prof. Dr. Mário Maia Bracco Atividade física - Benefícios e riscos no paciente diabético - Prof. Dr. Paulo R. Ramires Adequações nutricionais no exercício - Nutª. Tânia Rodrigues Intercorrências e avaliações na atividade física Prof. Cláudio Cancellieri O atleta diabético - Drª. Andréa Messias Britto Fioretti Efeito dose-resposta da atividade física na promoção da saúde - Dr. Mário Maia Bracco 23 - Dislipidemia e diabetes mellitus - Prof. Dr. Simão A. Lottenberg Aterogenese no diabetes - Prof. Dr. Sérgio Ferreira de Oliveira Diagnóstico e tratamento medicamentoso - Prof. Dr. Simão A. Lottenberg O Diabético com dislipidemia - Riscos e decisões - Profª. Drª. Tânia Martinez Tratamento dietético nas dislipidemias - Profª. Drª. Nutª. Ana Maria Pita Lottenberg 24 - Avaliação e tratamento do pé em risco neurovascular - Prof. Dr. Mauro Semer Doença micro e neurovascular - Prof. Dr. Nelson Wolosker Doença macrovascular - Prof. Dr. Paulo Kauffman Correção cirúrgica funcional das lesões - Prof. Dr. Nelson de Luccia Teste de sensibilidade - Profª. Drª. Helena Schmid Mecanismo de formação das lesões neuropáticas - Prof. Dr. Domingos Malerbi 26 - O Sucesso do controle glicêmico pelo sistema de infusão contínua Dr Luis Eduardo Calliari Apresentação técnica Profª. Drª. Karla Melo Cabral Fagundes Instalação e dados de melhoria do controle glicêmico de usuários - Enfª. Paula Maria de Pascali Terapêutica nutricional - Nutª. Gisele R. Govêia Depoimento de experiência dos usuários de bomba - Paciente Marina M. Silva 27 - Avaliação e prevenção do pé em risco Dr. Márcio Krakauer Bases do tratamento com ortoses Dr. Donaldo Jorge Filho Tratamento físioterapêutico Fisiotª. Elizabeth Ostemayer Avaliação e técnicas podológicas Enfª. Podolª. Vera Lígia Lellis Onico e dermatofitoses Prof. Dr. Luis Henrique Paschoal Orientações e cuidados de enfermagem Profª. Enfª. Mônica Gamba 28 - Oficinas de nutrição em diabetes Nutª. Paula Cristina A da Costa e Nutª. Márcia S. P. Fidelix Elaboração de cardápio - GEND Anamnese alimentar - GEND WorkShop I - Dramatização de refeição - GEND WorkShop II - Dramatização de refeição - GEND 29 - Diabetes e olho Prof. Dr. Rubens Belfort Filho Implicação sistêmica das alterações oculares Profª. Drª. Ruth Nogueira Alterações oculares no diabetes Prof. Dr. Arnaud Araújo Filho Retinopatia diabética - Formação e complicações - Prof. Dr. Michel Eid Farah Retinopatia diabética - Tratamento clínico e cirúrgico - Prof. Dr. Fausto Uno Tratamento - Realidade brasileira Prof. Dr. Paulo Henrique de Morales 30 - Odontologia em diabetes mellitus Coord.: Drª. Ana Míriam Gebara Carboni A Importância do atendimento odontológico Drª. Ana Míriam Gebara Carboni Anamnese e exames complementares Dr. Luis Antônio Cherubini Carvalho Manifestações orais do diabetes mellitus Profª. Drª. Karen Lopes Avaliação clínica do paciente diabético Dr. Walmyr Ribeiro Mello Organização e promoção: ANAD - Associação Nacional de Assistência ao Diabético Infecção e medicação Prof. Dr. Jayro Guimarães Júnior 31 - Exercícios, diabetes e patologias associadas - Prof. Dr. Carlos Eduardo Negrão Exercícios e complicações crônicas Profª. Denise de Oliveira Alonso Exercícios e cardiopatias Drª. Maria Janieri de N. Nunes Alves Exercícios e hipertensão Prof. Dr. Carlos Eduardo Negrão Exercícios e resistência à insulina Profª. Drª. Cláudia Lúcia de Morais Forjaz Exercícios e obesidade Prof. Ms. Ivani Credídio Trombetta 32 - Reunião FENAD Pres. Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Abertura e Palestra: Plano de reorganização da atenção básica a hipertensão e ao diabetes mellitus - Ministério da Saúde Campanha de diabetes e hipertensão - MS e parcerias - FENAD - Dr. Cláudio Duarte da Fonseca - DD. Secretário de Políticas de Saúde - MS Expediente da presidência - Reorientação da campanha do Dia Mundial do Diabetes 33 - Aspectos psicológicos e dinâmicos do diabetes mellitus - Psic. Maria Geralda V. Heleno Implicações psicológicas do paciente diabético Psic. Rosana Manchon dos Santos Aspectos psicodinâmicos da atuação profissional junto ao diabético - Role Play - Psic. Roseli Grimaldi A Psicologia contribuindo no controle metabólico - Uma visão prática - Psic. Magda Ap. Passos / Terap. Corporal Meireluce Ribeiro / Psic. Maria Geralda V. Heleno WorkShop I - O papel do psicólogo na equipe Psic. Roseli Grimaldi e Psic. Ada Verônica S. Maciel 34 - Oficinas de psicologia WorkShop II - O papel do psicólogo junto ao paciente - Psic. Magda Ap. Passos e Psic. Rosana Manchon dos Santos 35 - Oficinas de nutrição em diabetes Nutª. Luciana Paula Camargo Bruno e Nutª. Viviane C. Borges Elaboração de cardápio - GEND Anamnese alimentar - GEND WorkShop - Dramatização de Refeição - GEND 36 - Outras terapias e complementares Fisioterapeuta Giulliano Gardenghi Fitoterapia I A Contribuição do assistente social na assistência multidisciplinar ao paciente diabético Ass. Social Júlia de Fátima Coutinho Biomolecular/Ortomolecular - Dr. José de Felipe Jr Medicina chinesa Prof. Robson Gutierre Fisioterapia em DM Fisiot.Giulliano Gardenghi 37 - Complicações odontológicas - Drª. Ana Míriam Gebara Carboni Periodontia e diabetes - Dr. Eduardo Saba Chujfi Ortodontia e diabetes - Dr. Luis Carlos Arias Cirurgia e diabetes - Dr. João Miguel Falqueiro Emergências - Drª. Ana Mírian Gebara Carboni 180 Diabetes Clínica 04 (2000) Resumos de trabalhos e congressos Rüdiger Landgraf et al, 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 Impacto clínico e na qualidade de vida da regulação da glicose prandial com repaglinida em diabetes tipo 2 A regulação da glicose prandial pode alcançar um bom controle metabólico com risco baixo de hipoglicemia e aumento da flexibilidade no que diz respeito às refeições. O estudo incluiu pacientes (n = 2.797) que receberam repaglinida (tempo médio 41 dias) para avaliar seu impacto sobre o controle metabólico, o peso corporal e a qualidade de vida. 65% do pacientes já receberam um tratamento prévio com medicamentos antidiabéticos convencionais, 21% eram tratados só com dieta e 13% nunca receberam qualquer tratamento. Ao início da repaglinida, 72% dos pacientes interromperam o tratamento prévio. A HbA1c mediana decresceu de 8,5% para 7,5% (intervalo mediano, 65 dias), a glicose sanguínea de jejum de 183 mg/dl para 134 mg/dl, a glicose sanguínea antes das principais refeições de 200 para 142 mg/dl, e a glicose sanguínea 2 horas depois das principais refeições de 220 mg/dl para 154 mg/dl. A análise dos subgrupos mostrou uma melhora significativa de cada um desses parâmetros (p < 0,0001) em pacientes que trocaram o tratamento habitual, bem como nos que nunca receberam uma terapia anti-diabética. O peso corporal não mudou (valores medianos, 81,8 kg ao início e 81,0 no fim do estudo). Efeitos colaterais do tratamento ocorreram em 1,5% dos pacientes, com apenas 21 episódios hipoglicêmicos, nenhum deles grave. Houve também um efeito positivo na qualidade de vida dos pacientes quando trocaram o tratamento para a repaglinida. 95% dos pacientes informaram que ficaram mais a vontade para organizar as atividades diárias e 80% deles modificaram seus hábitos alimentares. A proporção de pacientes reclamando da diminuição da qualidade de vida em relação ao horário fixo das refeições diminuiu de 38 para 8%. Antes da alteração de tratamento, 39% dos pacientes admitiram refeições sem fome por medo da hipoglicemia, e só 10% persistiram neste comportamento. Com a repaglinida, os pacientes tomaram menos lanches adicionais. Em conclusão, a regulação da glicose prandial com a repaglinida aumenta o controle metabólico em pacientes portadores de diabetes tipo 2, sem ganho de peso e com poucos episódios hipoglicêmicos. A estratégia prandial do tratamento tem um efeito libertador no que diz respeito ao comportamento alimentar que é bem aceito pelos pacientes que trocaram de tratamento. Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) David R. Owens, et al., Diabetes Care 23:518–523, abril de 2000 181 Aumento da secreção prandial de insulina após a administração de uma dose única pré-prandial de repaglinida em pacientes com diabetes tipo 2 Objetivo: Examinar a farmacodinâmica relacionada à dose administrada bem como a farmacocinética de uma única dose pré-prandial de repaglinida administrada por via oral em pacientes com diabetes tipo 2. Perfil da pesquisa e métodos: Um total de 16 homens da raça branca portadores de diabetes tipo 2 participaram de dois estudos cruzados, aleatórios, duplo-cegos, controlados por placebo. Os pacientes foram selecionados aleatoriamente para receber uma única dose oral de repaglinida (0,5, 1,0 e 2,0 mg no estudo 1 e 4,0 mg no estudo 2) ou um placebo (em ambos os estudos) administrados 15 min antes da primeira de duas refeições padrão idênticas em seqüência (café da manhã e almoço) com intervalo de 4 h. Durante cada dia do estudo, os quais foram separados por um intervalo de 1 semana, recolheram-se amostras de sangue em intervalos freqüentes durante um período de cerca de 8 h a fim de que se pudesse avaliar os níveis de glicose plasmática, insulina, peptídeo-C e as concentrações de repaglinida. Resultados: Durante o período da primeira refeição (0–240 min), observou-se que a administração de repaglinida reduziu significativamente a área sob a curva (AUC) de concentração glicêmica e aumentou significativamente a AUC dos níveis de insulina, as taxas de peptídeo-C e a taxa de secreção da insulina. Tais resultados, quando comparados àqueles obtidos com a administração de placebo, mostraram-se variáveis de acordo com a dose administrada e o log linear. O efeito da repaglinida sobre a secreção de insulina mostrou-se mais pronunciado no início do período prandial. Dentro de 30 min da administração, observou-se um aumento relativo na secreção de insulina de mais de 150%. Durante o período da segunda refeição (240–480 min), não houve diferença entre a administração de repaglinida ou de placebo no que diz respeito à AUC da concentração glicêmica, concentração de peptídeo-C e da taxa estimada de secreção de insulina. Conclusões: Uma única dose de repaglinida (0,5–4,0 mg) antes do café da manhã melhora a secreção de insulina e reduz a hiperglicemia prandial dependendo da dose. A administração de repaglinida não exerceu efeito sobre a secreção de insulina durante a segunda refeição, a qual foi consumida 4 h após o café da manhã. Robert Moses et al, Diabetes Care 22:119-124, janeiro de 1999 Efeito da adição de repaglinida à monoterapia com metformina em pacientes com diabetes tipo 2 Objetivo: Comparar o efeito sobre o controle glicêmico da combinação de repaglinida e metformina com o efeito de cada medicamento administrado isoladamente em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Perfil da pesquisa e métodos: 83 pacientes portadores de diabetes tipo 2 com controle glicêmico inadequado (HbA1c > 7,1%) com metformina foram inscritos nesse estudo multicêntrico duplo-cego. Os pacientes foram randomizados para continuar o tratamento com metformina (n = 27), continuar a metformina com adição da repaglinida (n = 27) ou receber a repaglinida isolada (n = 29). A dose 182 Continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) optimal de repaglinida foi determinada durante um período de 4-8 semanas e continuada durante 3 meses. Resultados: Em pacientes recebendo a terapia conjugada, HbA1c foi reduzida em 1,4 ± 0,2%, de 8,3 para 6,9% (P = 0,0016) e a glicemia plasmática de jejum de 2,2 mmol/l (P = 0,0003). Nenhumas mudanças significativas da HbA1c (diminuição de 0,4 e 0,3% respetivamente) ou da glicemia plasmática de jejum (aumento de 0,5 mmol/l e diminuição de 0,3 mmol/l respetivamente) foram observadas em pacientes tratados com repaglinida ou metformina isoladamente. Os pacientes recebendo a repaglinida, isolada ou conjugada com metformina, apresentaram um aumento dos níveis de insulina de jejum de 4,04 ± 1,56 e 4,23 ± 1,50 mU/l (P < 0,02) respetivamente, entre os níveis básicos e o fim do estudo. Os efeitos colaterais gastrointestinais foram comuns no grupo tratado com metformina. Um aumento de peso foi observado em ambos os grupos de repaglinida e tratamento conjugado (2,4 ± 0,0 e 3,0 ± 0,5 kg respetivamente, P < 0,05). Conclusões: O tratamento conjugado com metformina e repaglinida demostrou um controle glicêmico superior em relação com a repaglinida ou metformina administradas isoladamente em pacientes portadores de diabetes tipo 2, cujos a glicemia não era controlada o suficiente com a metformina isolada. A monoterapia com repaglinida foi tão efetiva do que a monoterapia com metformina. Peter Damsbo et al, Diabetes Care, 22:789-794, maio de 1999 Comparação randomizada e duplo-cega do controle glicêmico com repaglinida e gliburida em pacientes com diabetes tipo 2 bem controlados Objetivo: Comparar as variações da glicose sangüínea diurna e os efeitos da não-complacência alimentar acidental em pacientes portadores de diabetes tipo 2 bem controlados com repaglinida ou gliburida. Perfil da pesquisa e métodos: O estudo randomizado e duplo-cego, recrutou pacientes portadores de diabetes tipo 2 com glicemia de jejum média na fatia de 90-140 mg/dl após estabilização do tratamento com repaglinida/gliburida. A duração do estudo constava o dia inicial de rastreamento, um período de 3 semanas de titulação, um período de uma semana de estabilização, o período do estudo e o dia do fim do estudo. Durante o período de três dias do estudo, a metade dos pacientes de cada grupo receberam duas refeições durante o primeiro dia e três refeições os dois dias seguintes. Na outra metade do grupo, esta seqüência foi invertida. A repaglinida foi administrada em pré-prandial antes cada refeição, e a gliburida foi administrada como recomendada pelo fabricante: uma ou duas doses por dia antes o almoço e o jantar. Em um dia de três refeições, as variações da glicemia diurna foram comparadas entre os dois grupos, e as medições da concentração mínima da glicose sangüínea foram comparadas entre o almoço e o jantar nos dias de três e duas refeições. Resultados: Dentre os 83 pacientes randomizados, 43 foram inscritos no estudo de 3 dias de duração e terminaram o estudo. Os resultados não mostraram diferenças significativas de variações das taxas médias da glicose sanguínea a partir da glicemia de jejum entre os grupos de repaglinida e gliburida (P = 0,014). No último grupo a concentração da glicose sanguínea diminuiu de 77 par 61 mg/dl Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 183 por causa da omissão de uma refeição, enquanto no grupo da repaglinida a concentração da glicose não foi modificada para o dia de duas refeições (78 mg/dl) e o dia de três refeições (76 mg/dl). Todos os episódios hipoglicêmicas (n = 6) ocorreram no grupo da gliburida no dia de duas refeições em relação com a omissão de uma refeição. Nenhum episódio hipoglicêmico foi registrado no grupo da repaglinida. Conclusões: Estes resultados sugerem que o tratamento com repaglinida em pacientes portadores de diabetes tipo 2 bem controlados que faltam ou esquecem uma refeição é superior ao tratamento com sulfoniluréias de ação prolongada (como a gliburida) por causa do risco de episódios hipoglicêmicos. Susan Shaffer et al, 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 O efeito da pioglitazona no perfil lipídico em pacientes portadores de diabetes tipo 2 Um perfil lipídico sorológico anormal, com aumento das triglicérides (TG) e diminuição do HDL-colesterol é comum em pacientes com diabetes tipo 2. Actos (pioglitazona) é uma tiazolidinediona comercializada para o tratamento do diabetes tipo 2. O perfil lipídico (TG, colesterol, HDL-C, LDL-C) durante o tratamento com pioglitazona foi avaliado em um estudo de 26 semanas com grupo controle tratado com placebo, multicêntrico e duplo-cego. Os pacientes (n = 408) com diabetes tipo 2 mal controlado (HBA1c ≥ 8%) foram randomizados para receber placebo ou 7,5, 15, 30 ou 45 mg de pioglitazona uma vez por dia durante 26 semanas. Todos os medicamentos anti-diabéticos prévios foram interrompidos 8 semanas antes da randomização. Para TG e HDL, os valores medianos da linha base, mediana %∆ ajustado da linha base, e mediana %∆ ajustado do placebo ao final são reportados na Tabela. Triglicérides %∆ ajustado da linha base Placebo PIO 7,5 mg PIO 15 mg PIO 30 mg PIO 45 mg 4,8 8,8 -9,0* -9,6* -9,3* HDL-colesterol %∆ ajustado vs. placebo 4,1 -13,8 -14,4 -14,1 %∆ ajustado da linha base 8,1* 7,9* 14,1* 12,2* 19,1* %∆ ajustado vs. placebo -0,2 6,0 4,1 11,0** *p ≤ 0,05 vs. linha base (t-teste); **p ≤ 0,05 vs. P (teste de Dunnett) Pequenos aumentos dos níveis de HDL e LDL-C em relação à linha base foram observados em todos os grupos, sem diferença com o placebo. A pioglitazona aumentou de maneira significativa o controle da glicose (nível do ∆ a partir do placebo: HbA1c, -0,5% para -1,6%, glicemia de jejum, -27,5 mg/dl para -65,3 mg/dl). A pioglitazona melhora o perfil lipídico e o controle glicêmico em pacientes portadores de diabetes tipo 2. 184 Renée Lebrizzi et al, 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) A HbA1c e a resposta da glicose sanguínea à pioglitazona combinada com outro medicamento anti-diabético em pacientes portadores de diabetes tipo 2 Actos (pioglitazona) é uma tiazolidinediona aprovada para o tratamento do diabetes tipo 2 e seu emprego é indicado em monoterapia ou em combinação com sulfoniluréia (SU), metformina ou insulina. Três estudos de terapia combinada randomizados, duplo-cegos, multicêntricos, controlados com grupos tratados com placebo, cada um de 16 semanas, avaliaram os efeitos da pioglitazona (PIO) no controle glicêmico em 1.454 pacientes também tratados com SU (n = 560); metformina (n = 328); ou insulina (n = 566). O respondedor HbA1c foi definido como um paciente que alcançou um nível de HbA1c ≤ 6,1% (limite superior do normal para não-diabéticos) e/ou uma diminuição ≥ 0,6% da HbA1c. O respondedor glicemia de jejum foi definido como um paciente que alcançou uma diminuição ≥ 30 mg/dl. No caso dos pacientes tratados com insulina, a definição da resposta HbA1c e glicemia de jejum foi modificada para excluir pacientes com um aumento > 25% da dose total de insulina/dia. A percentagem de pacientes classificados como respondedores está relatada na Tabela. % respondedores PIO 15 mg + SU PIO 30 mg + SU Placebo + SU PIO 30 mg + metformina Placebo + metformina PIO 15 mg + insulina PIO 30 mg + insulina Placebo + insulina HbA1c Glicemia de jejum 56,8 74,2 23,8 54,0 21,6 69,5 75,1 31,6 52,9 66,7 22,2 59,4 23,6 52,5 64,7 30,7 PIO em combinação com SU, metformina ou insulina é associada à melhora do controle glicêmico. A porcentagem de pacientes classificados como respondedores baseada em HbA1c ou glicemia de jejum era maior para os grupos PIO + outro medicamento do que os grupos placebo + outro medicamento. Nenhuma diferença foi observada em relação à dose dos outros medicamentos. Stephen L. et al, 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 Reações adversas no tratamento com pioglitazona A pioglitazona (PIO) é uma nova tiazolidinediona que demonstrou sua eficácia para diminuir a glicose sanguínea tanto como monoterapia (MT) como combinada (CT) com sulfoniluréias (SU), metformina (MET) ou insulina (INS) em diabetes tipo 2. Seis estudos com grupo controle tratado com placebo (PBO) mostraram a eficácia e a segurança do medicamento. As reações adversas (RA) reportadas durante os estudos eram, na maioria dos casos, de intensidade leve a moderada. As reações adversas mais Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação Stuart M. et al, 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 185 freqüentes com MT foram: sintomas de infecção do trato respiratório superior, sinusite, mialgias, sintomas odontológicos e faringite. Nenhuma tendência foi observada em relação à dose administrada de pioglitazona (7,5 até 45 mg). Este conjunto de sintomas foi também relatado em estudos de eficácia clínica e segurança para com a rosiglitazona, repaglinida e troglitazona. Nenhuma diferença foi observada no total de ocorrências de reações adversas entre os pacientes tratados por pioglitazona ou placebo. A análise das RA clinicamente relevantes para o controle terapêutico da glicose mostrou que a hipoglicemia ocorreu em 1,2% dos pacientes com MT-PIO vs. 0,0% em pacientes tratados com placebo, 0,6% com MET+PIO vs. 0,6% com MET+PBO, 1,9% com PIO+SU vs. 0,5% com SU+PBO, e 11,6% com INS+PIO vs. 4,8% com INS+PBO. A hipoglicemia foi mais frequente em CT quando combinada com agentes que aumentam os níveis de insulina circulante. Ganho de peso foi observado em 1,5% dos pacientes com MT-PIO, 1,8% com PIO+MET, 4,0% com PIO+SU, e 5,8% com PIO+INS. No total, a incidência do ganho de peso como reação adversa foi 2,8%. O edema/edema periférico foi observada em 4,8% dos pacientes com PIO como MT vs. 1,2% com PBO, em 6,0% com MET+PIO vs. 2,5% com MET+PBO, em 7,5% com SU+PIO vs. 2,1% com SU+PBO e em 15,3% com INS+PIO vs. 7,0% com INS+PBO. Só 2 dos 4.500 pacientes tratados com PIO por mais de 6 meses foram excluídos dos estudos por causa de edema/edema periférico. Ganho de peso e edema mostraram uma relação com a dose de PIO, embora a correlação com o ganho de peso seja mais associada com a inversão da HBA1c do que com a dose da PIO. Estes resultados sugerem que a pioglitazona é bem tolerada e mostra uma baixa taxa de RA, e as RA mais freqüentes são similares às dos outros agentes orais recentemente lançados. A ocorrência do ganho de peso é relacionada à melhora da glicemia com a pioglitazona. A rosiglitazona diminui os níveis de γ-glutamil-transferase, marcador da gordura visceral e hepática Níveis elevados de γ-glutamil-transferase (GGT) foram identificados como um marcador do aumento da gordura visceral e hepática [Diabetes Care 1998;21:732-7]. Em pacientes portadores de diabetes tipo 2, este aumento pode ser o sinal da piora da resistência à insulina. A troglitazona pode diminuir os níveis de GGT no soro e participar da diminuição da massa da gordura visceral. O impacto da rosiglitazona (RSG) no níveis de GGT no soro foi determinado em 3 estudos clínicos randomizados, duplo-cegos, com grupos paralelos de monoterapia com RSG e terapia combinada. Nos três estudos os pacientes diabéticos tipo 2 receberam RSG 4mg/dia, 8 mg/dia, ou gliburida (GLB) durante 52 semanas; sulfoniluréia (SU) + RSG 1 mg/dia, 2 mg/dia ou placebo (BDO) durante 26 semanas; ou RSG 4mg/dia, 8 mg/dia, 12 mg/dia, ou PBO durante 8 semanas. Em todos os estudos foi observada uma diminuição dos níveis médios de GGT no soro com o tratamento RSG. A importância da redução dependeu da dose em 6 dos 7 grupos tratados com RSG. 186 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação GGT média (U/l) ± D.P. Grupo de tratamento (n) GLB (172) RSG 2mg/dia (146) RSG 2mg/dia (146) SU+PBO (131) SU+ RSG 1mg/dia (152) SU+ RSG 2mg/dia (152) PBO (196) RSG 4mg/dia (98) RSG 8mg/dia (93) RSG 12mg/dia (93) Linha base 49,2 ± 3,92 41,2 ± 2,58 38,5 ± 2,39 33,1 ± 2,04 40,2 ± 2,60 35,7 ± 2,54 46,1 ± 33,52 43,7 ± 30,68 37,0 ± 27,74 49,1 ± 36,05 Fim do estudo 58,8 ± 7,84 33,2 ± 2,50 26,4 ± 1,67 35,4 ± 2,58 34,2 ± 2,95 26,8 ± 1,79 47,2 ± 37,25 30,9 ± 22,19 28,6 ± 22,34 33,0 ± 24,53 %∆ da linha base 9,6 ± 6,39 -8,0 ± 1,98 -12,1 ± 1,70 2,3 ± 1,33 -6,0 ± 1,51 -8,9 ± 1,37 -1,3 ± 17,09 -13,9 ± 18,48 -7,6 ± 14,34 -16,5 ± 18,89 Estes resultados mostram que a rosiglitazona, bem como a troglitazona, reduz os níveis de GGT, o que pode significar mudanças benéficas no estoque de gordura visceral e hepática e uma diminuição da resistência à insulina. Fonseca V et al., JAMA 283(13):1695-702, abril de 2000 Os efeitos da combinação metformina e rosiglitazona no tratamento de pacientes com diabetes mellitus tipo 2: um estudo controlado randomizado Contexto: A maior parte dos agentes antidiabéticos atacam somente uma dentre as diversas causas do diabetes. As ações complementares dos agentes antidiabéticos hidrocloreto de metformina e maleato de rosiglitazona são capazes de manter um controle glicêmico excelente em pacientes com diabetes tipo 2; portanto, seu uso combinado pode ser indicado para aqueles pacientes nos quais o diabetes não é bem controlado com o uso exclusivo da metformina. Objetivo: Avaliar a eficácia do tratamento metformina/rosiglitazona em pacientes com diabetes tipo 2 inadequadamente controlados por meio do uso exclusivo da metformina. Perfil: Estudo randomizado, duplo-cego, controlado por placebo realizado no período compreendido entre abril de 1997 e março de1998. Local: Trinta e seis centros médicos dos Estados Unidos. Pacientes: 348 pacientes com idade variando entre 40 e 80 anos apresentando níveis de glicose plasmática de jejum de 12,0 mmol/l (216 mg/dl), níveis médios de hemoglobina glicosilada de 8,8%, e índice médio de massa corporal de 30,1 kg/m2, foram selecionados aleatoriamente. Intervenções: Os pacientes receberam 2,5 g/d de metformina mais placebo (n = 116); 2,5 g/d de metformina mais 4 mg/d de rosiglitazona (n = 119); ou 2,5 g/d de metformina e 8 mg/d de rosiglitazona (n = 113) durante 26 semanas. Principais medições: Nível de hemoglobina glicosilada, nível de glicose plasmática com o paciente em jejum, sensibilidade à insulina e a função da célula β, comparados entre os níveis iniciais e aqueles alcançados na 26ª semana pelo grupo em tratamento. Resultados: Os níveis de hemoglobina glicosilada, os níveis de glicose plasmática de jejum e a função da célula β apresentaram uma melhora significativa com a terapia de metformina/rosiglitazona, de acordo com a dose administrada. Os níveis médios de hemoglobina glicosilada diminuíram 1,0% no grupo que recebeu 4 mg/d da combinação metformina/rosiglitazona e 1,2% no grupo que recebeu 8 mg/d da combinação; e os níveis de glicose Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 187 plasmática de jejum foram de 2,2 mmol/l (39,8 mg/dl) e 2,9 mmol/l (52,9 mg/dl) em contraposição àqueles encontrados no grupo que recebeu a combinação metformina/placebo (P < 0,001 para todos). Dentre os pacientes que receberam 8 mg/de metformina/rosiglitazona, 28,1% alcançaram um nível de hemoglobina glicosilada de menos de 7%. Foram observados ainda aumento de peso e aumento dos níveis de LDL-colesterol (P < 0,001 tanto para o grupo que recebeu rosiglitazona quanto para os pacientes que receberam placebo). A proporção de pacientes que relataram experiências adversas foi semelhante em ambos os grupos. Conclusões: Nossos achados sugerem que a terapia combinada de metformina/rosiglitazona em dose única diária melhora o controle glicêmico, a sensibilidade à insulina e a função da célula β com mais eficiência do que a administração de metformina em monoterapia. Markolf Hanefeld et al, Diabetes Care 23:202–207, fevereiro de 2000 Secreção insulínica de início rápido e de curta duração no período das refeições com a nateglinida controla a glicemia prandial e média Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência e a segurança da administração de quatro doses fixas de nateglinida em comparação com a mesma quantidade de placebo no tratamento de pacientes portadores de diabetes tipo 2 enfatizando o estado prandial. Perfil da pesquisa e métodos: Este estudo duplo-cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo foi realizado com 289 pacientes os quais receberam nateglinida em doses de 30 mg (n = 51), 60 mg (n = 58), 120 mg (n = 63), ou 180 mg (n = 57) ou placebo (n = 60) antes das três refeições principais durante 12 semanas. Os níveis de HbA1c, glicose plasmática de jejum, frutosamina e lípides plasmáticos foram medidos em intervalos preestabelecidos e os efeitos da nateglinida sobre a insulina, glicose prandial, peptídeo-C e níveis de triglicérides foram avaliados após a ingestão de uma refeição líquida padrão (Sustacal; Mead Johnson, Evansville, IN). Registraram-se efeitos adversos e episódios hipoglicêmicos. Resultados: Após a refeição líquida, a nateglinida provocou um rápido aumento nos níveis de insulina no período da refeição em 30min após sua administração e reduziu as variações da glicose no período das refeições sem contudo afetar os níveis de triglicérides. Ao final do estudo, a redução nos níveis de HbA 1c foi estatística e significativamente maior com a administração de 60, 120 e 180 mg de nateglinida do que com placebo (–0,45, –0,62, e –0,64%, respectivamente ( P < 0,05). O nível médio de glicose plasmática de jejum também apresentou uma redução significativa apenas no grupo que recebeu 120 mg de nateglinida em contraposição aquele que recebeu placebo (–1,14 mmol/l; P < 0,01). Acima de tudo, a nateglinida foi bem tolerada. Conclusões: Este estudo demonstrou que a nateglinida melhora o controle glicêmico médio e às refeições, de acordo com a dose administrada, por meio da restauração da fase de secreção precoce da insulina. A nateglinida foi bem tolerada e mostrou-se adequada ao tratamento de pacientes portadores de diabetes tipo 2. 188 Yulia Hirschberg et al., Diabetes Care 23:349–353, março de 2000 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Melhor controle das variações glicêmicas nas horas das refeições com a administração conjunta de nateglinida e metformina Objetivo: Nateglinida, um novo derivado de ação rápida da D-fenilanina para o tratamento do diabetes tipo 2, reduz as variações glicêmicas no sangue por meio de uma regulação fisiológica da secreção de insulina. Este estudo avaliou as interações farmacocinéticas e farmacodinâmicas da nateglinida e da metformina em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Perfil da pesquisa e métodos: Um total de 12 indivíduos portadores de diabetes tipo 2 com as seguintes características basais foram inscritos: idade: 56 ± 13 anos; IMC: 28,7 ± 4,5 kg/m2; HbA1c: 8,4 ± 1,3%; e níveis de glicose plasmático de jejum 13 ± 2,8 mmol/l. Todos os pacientes já haviam sido tratados com gliburida e haviam mudado para a monoterapia com metformina três semanas antes de iniciado o estudo. Os indivíduos receberam, aleatoriamente, uma combinação de 500 mg metformina, ou aliada a 120 mg de nateglinida ou juntamente com placebo antes das refeições durante 1 dia, administrando-se um tratamento alternado 7 dias mais tarde. Após uma semana de descanso de ambas as medicações, os indivíduos receberam o tratamento com duração de um dia com nateglinida. Avaliaram-se as concentrações plasmáticas de glicose, de insulina, de nateglinida e de metformina durante os períodos em que os pacientes estiveram internados. Resultados: Os níveis de glicose no plasma após as refeições apresentaram redução significativa nos pacientes tratados com nateglinida aliada à metformina em comparação àqueles tratados com apenas uma das drogas (P < 0,001), principalmente após o almoço e o jantar. A administração conjunta de nateglinida e metformina não afetaram a farmacocinética de nenhuma das drogas. Todos os tratamentos aqui empregados mostraram-se seguros e bem tolerados. Conclusões: A terapia combinada de nateglinida e metformina mostrou-se mais efetiva do que a administração de apenas um dos medicamentos e não apresentou qualquer interação farmacocinética. A administração conjunta de nateglinida e metformina parece ser uma excelente opção para o tratamento de pacientes com diabetes tipo 2 não controlado por monoterapia. Joanne M. Watson et al., Diabetes Care 23:455–459, abril de 2000 A influência da cafeína na freqüência e na percepção da hipoglicemia em pacientes com diabetes tipo 1 e “estilo de vida normal” Objetivo: Avaliar a influência da cafeína na freqüência e na percepção da hipoglicemia em pacientes ‘com estilo de vida normal’ portadores de diabetes tipo 1. Perfil da pesquisa e métodos: Um total de 34 pacientes portadores de diabetes tipo 1 foram recrutados para um estudo duplo-cego prospectivo, randomizado, controlado por placebo. Após uma fase introdutória e durante uma dieta com baixa ingestão de cafeína, selecionaram-se pacientes aos quais foram administradas, aleatoriamente, cápsulas contendo 200 mg de cafeína ou a mesma quantidade de placebo alternadamente após o terceiro 190 Continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) mês. Os episódios hipoglicêmicos foram monitorados durante toda a pesquisa por meio de avaliações da glicose nos capilares bem como através de um questionário para avaliar os sintomas. Durante o estudo, mediu-se a pressão sangüínea, a velocidade do sangue na artéria cerebral média (uma medição substituta do fluxo sangüíneo no cérebro), avaliou-se a função cognitiva (por meio de um teste de tempo de reação de quatro opções). Níveis de HbA1c e perfis lipídicos foram avaliados no começo e ao final do estudo. Resultados: Durante todo o estudo não foram observadas mudanças significativas no que diz respeito ao controle glicêmico ou ao perfil lipídico. A quantidade de episódios sintomáticos foi maior com a ingestão de cafeína (1,3 contra 0,9 episódios/semana; P < 0,03) e foi associada a sintomas de alerta mais intensos (29 contra 26 no score total de sintomas; P < 0,05). Para as mulheres, a ingestão de cafeína causou uma resposta vasoconstritora modesta (115 contra 110 mmHg; P < 0,01). O tempo de reação sofreu uma melhora leve após a suplementação com cafeína (P < 0,05). Conclusões: A ingestão de quantidades moderadas de cafeína aumenta a intensidade dos sintomas de alerta da hipoglicemia em pacientes com diabetes tipo 1 sem alterar o padrão de controle glicêmico ou aumentar a incidência de episódios hipoglicêmicos severos. Edward J. Boyko et al. Diabetes Care 23:465–471, abril de 2000 A adiposidade visceral e o risco de diabetes de tipo 2: estudo prospectivo realizado entre pacientes nipo-americanos Objetivo: Realizamos um estudo prospectivo entre pacientes nipoamericanos acerca da incidência do diabetes em relação à adiposidade visceral e regional, insulina em jejum e peptídeo-C, e uma medição da secreção insulínica devido à escassez de informações prospectivas em tais associações. Perfil da pesquisa e métodos: As variáveis iniciais incluíram os níveis de glicose plasmática, peptídeo-C e medição da insulina após jejum noturno e 30 e 120 min respectivamente após a ingestão de 75g de glicose oral em teste de tolerância; a gordura das regiões abdominal, torácica e das coxas foi avaliada por meio de uma tomografia computadorizada (TC); IMC (kg/m2); e secreção insulínica (resposta insulínica incremental [IIR]). Resultados: Dentre os pacientes selecionados para o estudo, incluíam-se 290 descendentes de japoneses em segunda geração (nisei) e 230 descendentes em terceira geração (sansei) sem diabetes, dentre os quais 65 e 13, pertencentes ao primeiro e segundo grupos respectivamente, desenvolveram diabetes. Dentre os niseis, um prognosticador significativo para o desenvolvimento do diabetes para um aumento de 1 D.P. em variáveis contínuas são a concentração de gordura intra-abdominal (índice de probabilidade, 95% CI) (1,6, 1,1–2,3), concentração de peptídeo-C no plasma em jejum (1,4, 1,1–1,8) e o IIR (0,5, 0,3–0,9) levando-se em conta ainda outros fatores tais como idade, sexo, comprometimento da tolerância à glicose, histórico de diabetes na família e da medição por meio de TC de outras concentrações de tecido adiposo que não a área intra-abdominal. A gordura concentrada na região intra-abdominal ainda é considerada um prognosticador da incidência do diabetes mesmo levando-se em conta outros fatores tais como o IMC, o percentual de gordura total no corpo e a concentração de gordura subcutânea, embora não se tenha Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 191 encontrado relação entre as medições total e seccional do tecido adiposo e o desenvolvimento do diabetes. Dentre os sanseis, todas as medições de adiposidade mostraram relação com a incidência de diabetes mas, após levar-se em consideração diversos outros fatores, somente a gordura intraabdominal apresentou associações significativas com o aumento do risco de desenvolvimento da doença (2,7, 1,4–5,4, considerando-se o IMC). Conclusões: Uma grande concentração de adiposidade visceral precede o desenvolvimento do diabetes de tipo 2 em pacientes nipo-americanos e demonstra um efeito independente nos níveis de insulina em jejum, na secreção de insulina, na glicemia, nas concentrações total e seccional de tecido adiposo e no histórico familiar de diabetes. Resultados prospectivos obtidos a partir do Massachusetts Male Aging Study, Rebecca K. Stellato et al, Diabetes Care, 23:490–494, abril de 2000 A testosterona, a globulina aglutinante do hormônio sexual e o desenvolvimento do diabetes de tipo 2 em homens de meia idade Objetivos: O estudo tinha como objetivo realizar um exame prospectivo da associação entre os baixos níveis de testosterona e os níveis de globulina aglutinante do hormônio sexual (SHBG) e o subseqüente desenvolvimento do diabetes tipo 2 nos homens. Perfil da pesquisa e métodos: As análises foram realizadas no âmbito do Massachusetts Male Aging Study, uma amostragem populacional randomizada de homens com idade variando entre 40–70. Dentre os 1.709 homens inscritos entre os anos de 1987–1989 (T1), 1.156 foram analisados 7–10 anos mais tarde (T2). Os níveis de testosterona e de SHBG em T1 foram utilizados como prognosticadores de novos casos de diabetes entre os intervalos T1 e T2. Resultados: Após a realização de um rastreamento para avaliar fatores capazes de gerar resultados errados, realizou-se o prognóstico do desenvolvimento do diabetes tanto em conjunto quanto separadamente por meio das taxas basais mais baixas de testosterona livre e de SHBG. O índice de probabilidade do desenvolvimento de diabetes foi de 1,58 para uma diminuição de 1 D.P. em testosterona livre (4 ng/dl) e 1,89 para uma diminuição de 1 D.P. em SHBG (16 nmol/l), ambos significativos em P < 0,02. Conclusões: Nossos achados prospectivos mostraram-se condizentes com outros resultados, principalmente de outros estudos cruzados, sugerindo que baixos níveis de testosterona e de SHBG desempenham um papel importante no desenvolvimento da resistência à insulina e, subseqüente, do diabetes de tipo 2. Maria B. Grant et al. Diabetes Care 23:504–509, abril de 2000 A eficácia da octreotida no tratamento da retinopatia diabética severa não-proliferativa e precoce proliferativa Objetivo: O estudo piloto examinou a habilidade da octreotida no retardamento do progresso da retinopatia diabética (RD) e no adiamento da necessidade de fotocoagulação panretinal (PRP) em pacientes em 192 Continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) estágios avançados de doenças da retina. Perfil da pesquisa e métodos: Selecionaram-se aleatoriamente pacientes portadores de RD severa nãoproliferativa (NPDR) ou RD precoce proliferativa que não apresenta altos riscos para a realização de controle do diabetes (grupo de controle, composto de 12 pacientes) ou para a realização de tratamento com a administração da maior dose tolerada de octreotida (200–5.000 µg/dia por via subcutânea; 11 pacientes). As alterações oculares em cada olho foram avaliadas durante um período mínimo de 3 meses durante 15 meses ou até o progresso da doença para PDR de alto risco, o que requer cirurgia a laser. As avaliações endócrinas foram realizadas com intervalos de 3 meses durante o estudo. Resultados: Apenas 1 dentre 22 olhos de pacientes tratados com octreotida desenvolveu PDR de alto risco necessitando de PRP, em contraposição aos pacientes do grupo de controle, dentre os quais 9 de 24 olhos foram submetidos à fotocoagulação panretinal. A diminuição da incidência de progresso da doença até o ponto em que é imprescindível a realização da cirurgia a laser foi estatisticamente significativa levando-se em conta os acontecimentos independentemente (P < 0,006). A incidência de progresso da doença ocular foi de apenas 27% nos pacientes tratados com octreotida em contraposição a 42% nos pacientes que realizam somente o controle tradicional do diabetes. O significado estatístico desta pesquisa foi avaliado através da análise de medições repetidas (P = 0,0605). O controle endócrino mostrou-se semelhante dentre os pacientes em ambos os grupos em tratamento. A terapia de reposição de tiroxina foi administrada a fim de manter um estado eutiróide para todos os pacientes tratados com octreotida e 7 dentre os 12 pacientes do grupo de controle. Conclusões: Nossos resultados sugerem que o tratamento com octreotida em pacientes com eutiróide pode retardar o progresso da RD em estado avançado e retardar a necessidade de uma cirurgia a laser. Antony R. Lafferty, et al. Diabetes Care 23:533–538, abril de 2000 A pressão sangüínea ambulatorial, a microalbuminúria e a neuropatia autônoma em adolescentes com diabetes tipo 1 Objetivos: Examinar a relação entre as medições da pressão sangüínea (PS) a cada 24 h, das taxas de excreção de albumina na urina e de neuropatia autônoma em adolescentes portadores de diabetes tipo 1. Perfil da pesquisa e métodos: Um total de 31 pacientes com microalbuminúria (MA), 20 pacientes com MA intermitente (I-MA) e 11 pacientes com MA persistente (P-MA) foram identificados por meio de clínicas para o tratamento do diabetes em dois dos maiores hospitais pediátricos para tratamento especializado da Austrália. Foram utilizados dois grupos de controle: um deles composto de 19 adolescentes de mesma idade, sexo, portadores de diabetes durante o mesmo período de tempo e apresentando um quadro de normoalbuminúria (NA) e outro grupo de controle composto de 46 adolescentes de mesmo sexo e idade não-portadores de diabetes. Após a análise do histórico médico e o exame físico, procedeu-se a uma série de testes não-agressivos da função autonômica cardiovascular e pupilar e à monitorização da pressão sangüínea ambulatorial (ABPM). Resultados: A ABPM mostrou um aumento em todos os parâmetros da PS nos pacientes 194 Continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) não diabéticos do grupo de controle e naqueles com NA. Observou-se ainda um aumento incremental paralelo nas taxas cardíacas diurnas e noturnas. Os pacientes com MA apresentaram uma redução significativa da adaptação pupilar a ambientes escuros em comparação aos pacientes não diabéticos e àqueles portadores de NA. Os resultados acima assemelham-se a aumentos incrementais nos níveis de HbA1c em adolescentes com diabetes tipo 1 desde pacientes com NA até aqueles portadores de P-MA. Conclusões: Valores altos para a PS no período de 24 h e indicação de sinais subclínicos de NA estão presentes antes mesmo do desenvolvimento de P-MA e podem ter implicações relevantes, servindo de indicadores quanto ao momento de se introduzir tratamentos para a prevenção ou retardamento das complicações microvasculares do diabetes tipo 1 nos adolescentes. Jean-Louis Chiasson, The STOPNIDDM Trial Research Group, Diabetes Care 21:1720–1725, outubro de 1998 O estudo STOP-NIDDM: estudo internacional sobre a eficácia do inibidor da a-glicosidase (acarbose) na prevenção do diabetes tipo 2 em uma população com a tolerância à glicose comprometida: análise racional, perfil e dados preliminares do rastreamento. Objetivo: Descrever o perfil e os métodos utilizados e discutir as informações preliminares obtidas a partir do estudo voltado para a prevenção do diabetes mellitus não-insulino dependente (estudo STOP-NIDDM), um estudo de abrangência internacional abordando o tema da eficiência do inibidor da a-glicosidase (acarbose) na prevenção ou retardamento do desenvolvimento do diabetes tipo 2 em uma população com tolerância à glicose alterada (TGA). Perfil da pesquisa e métodos: Um total 1.418 indivíduos diagnosticados como portadores de TGA de acordo com os parâmetros da Organização Mundial de Saúde e que apresentavam uma concentração de glicose plasmática de jejum ≥ 5,6 mmol/l foram escolhidos aleatoriamente para um estudo duplo-cego no qual receberam acarbose (100 mg t.i.d.) ou placebo por um período médio de 3,9 anos durante os quais receberam acompanhamento. O principal resultado foi o desenvolvimento do diabetes tipo 2 diagnosticado por meio de testes de tolerância com 75g de glicose administrada por via oral, segundo os novos critérios. Os outros efeitos foram alterações na pressão sangüínea, nos perfis lipídicos, na sensibilidade à insulina, fatos envolvendo o sistema cardiovascular e o perfil morfométrico. Resultados: A avaliação foi realizada em uma população que apresentava altos riscos de desenvolver a doença. Em março de 1997, 4.424 indivíduos foram avaliados e os resultados foram obtidos para 3.919 (88,5%) destes. Dentre estes indivíduos, 1.200 (30,6%) apresentaram intolerância à glicose e 521 destes (13,3%) já haviam sido diagnosticados anteriormente com diabetes tipo 2, 679 (17,3%) apresentavam TGA. Dentre a população que apresentava TGA, 412 (60,7%) indivíduos foram selecionados para o estudo. Estas pessoas possuíam as seguintes características: idade média de 54,8 anos, 52% destas pessoas eram do sexo feminino, 53% apresentavam mais de um fator de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2, > 90% tinham um histórico familiar de diabetes, 78,2% tinham IMC ≥ 27 kg/m2, Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 195 47,5% apresentavam pressão alta, 51,2% tinham dislipidemia e 22,8% das mulheres avaliadas possuíam um histórico de diabetes gestacional. Conclusão: O rastreamento realizado dentre uma população de alto risco apresentou um único indivíduo elegível dentre cada 10 voluntários avaliados. Este estudo procurará responder definitivamente a questão da capacidade da acarbose na prevenção ou retardamento da progressão da tolerância à glicose alterada ao diabetes tipo 2. Josep Vidal et al, Diabetes Care 23:360-364, fevereiro de 2000 Efeitos da nicotinamida e do tratamento com insulina endovenosa no diabetes tipo 1 recentemente diagnosticado Objetivo: Pesquisar o efeito do tratamento com insulina endovenosa associado com a nicotinamida no controle metabólico e função celular dos indivíduos diabéticos tipo 1 recentemente diagnosticados em comparação com o tratamento intensivo com insulina e a nicotinamida isoladamente. Métodos: Foram incluídos 34 pacientes diabéticos tipo 1 recentemente diagnosticados. Após a correção dos distúrbios metabólicos iniciais, os indivíduos foram randomizados para três grupos no período de 72 h após a admissão: 1) tratamento intensivo com insulina + placebo (C) (n = 12); 2) tratamento intensivo com insulina + nicotinamida, 700 mg três vezes ao dia (NIC) (n = 11); e 3) 72-h insulina endovenosa seguida por tratamento intensivo com insulina + nicotinamida, 700 mg três vezes ao dia (NIV) (n = 11). Os indivíduos foram acompanhados durante 12 meses. Foram medidas a GAD, anticorpos de tirosina fosfatase, e anticorpos de insulina. O peptídeo-C foi medido em condições basais e após 2, 4, 6, 8, e 10 min de 1 mg de glucagon intravenoso. As medidas de HbA1c, glucagon, e anticorpos foram determinadas inicialmente em 1, 3, 6, 9, e 12 meses. Resultados: Os valores de HbA1c caíram aos níveis normais após o início do tratamento em todos os grupos e não permaneceram diferentes de forma significativa durante o período de acompanhamento. Não encontramos diferenças entre os grupos experimentais (NIC e NIV) e placebo (C) quanto à função celular, considerando os valores de peptídeo-C estimulados por glucagon (peptídeo C estimulado máximo e área sob a curva [AUC] de peptídeo-C) durante o período de acompanhamento. Após agrupar os dados dos grupos NIC e NIV (ambos incluindo a nicotinamida) e comparando-os com os do grupo C, os resultados permaneceram inalterados. No diagnóstico, a positividade de GAD foi observada em 10 de 12, 8 de 11, e 10 de 11 indivíduos (NS) nos grupos C, NIC, e NIV, respectivamente, e a positividade do IA2 foi observada em 3 de 12, 4 de 11, e 4 de 11 indivíduos (NS) nos grupos C, NIC, e NIV, respectivamente. Os títulos do anticorpo apresentaram um comportamento semelhante em todos os grupos durante o período de acompanhamento. Conclusão: Nosso estudo piloto não conseguiu demonstrar que a adição de 72-h de insulina intravenosa e nicotinamida ao tratamento convencional intensivo com insulina produz algum efeito em indivíduos diabéticos tipo 1 recentemente diagnosticados quanto à função celular e controle metabólico. 196 35th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes, 28 setembro-2 de outubro de 1999, Bruxelas, Bélgica Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Novas descobertas para o tratamento do diabetes tipo 2: implicações para crianças e adolescentes O tratamento do diabetes tipo 2 é direcionado para correção das alterações fisiopatológicas na secreção e na ação da insulina [1]. É importante ressaltar que a segurança e a eficácia da terapia da hipoglicemia oral em crianças e adolescentes com diabetes tipo 2 ainda não foi estabelecida. Em vista do número crescente de pacientes diabéticos dentre indivíduos jovens e o impacto do cuidado com a saúde que o diabetes implica bem como suas complicações a longo prazo, é essencial e urgente que se realizem estudos clínicos capazes de prover tratamentos mais eficientes para o controle do diabetes tipo 2 dentre esta população. O relato que se segue descreve a ação de dois medicamentos antidiabéticos que podem mostrar-se úteis no futuro para o controle da doença em crianças e adolescentes. Repaglinida associada à menor incidência de episódios de hipoglicemia A hipoglicemia sintomática é relativamente rara mas é um efeito colateral potencialmente sério das sulfoniluréias, as quais talvez sejam os otimizadores da secreção de insulina mais prescritos para o tratamento do diabetes tipo 2 até hoje [1]. Os baixos níveis de glicose no sangue são causados pelos mesmos mecanismos de ação e de meia-vida prolongada destes medicamentos, o que acaba limitando sua utilidade no controle do diabetes. Dois estudos dinamarqueses da Novo Nordisk, um deles conduzido pelo Dr. Juhl [2] e o outro pelo Dr. Kristensen [3], avaliaram um novo otimizador da secreção de insulina, a repaglinida. Os estudos fornecem informações acerca da segurança e da eficácia da medicação no controle dos níveis de glicose no sangue de pacientes portadores de diabetes tipo 2. O primeiro destes estudos tinha como objetivo avaliar o efeito da repaglinida sobre o perfil da secreção de insulina em oito pacientes diabéticos do sexo masculino a fim de caracterizar as ações do medicamento. Os pesquisadores observaram que a administração oral de uma única dose de 0,5mg de repaglinida provocou um aumento na secreção de insulina sem afetar sua freqüência. Já o Dr. Kristensen e sua equipe avaliaram a eficiência e a segurança do tratamento com repaglinida em indivíduos com diabetes tipo 2, principalmente no que diz respeito à hipoglicemia grave. Neste estudo duplo-cego com duração de um ano, 761 indivíduos forma tratados com repaglinida em três doses ao dia, às refeições, e 367 pacientes foram tratados com sulfoniluréias (glipizida, glibenclamida ou gliclazida) em duas doses diárias e placebo à hora do almoço. As reações hipoglicêmicas foram definidas como níveis de glicose < 2,5 mmol/l ocorrendo juntamente com sintomas de hipoglicemia. Embora o nível de controle da doença não tenha apresentado diferenças entre os dois grupos, a taxa de episódios hipoglicêmicos severos foi menor no grupo tratado com repaglinida. Além disso, as sulfoniluréias foram associadas a baixos níveis de glicose no sangue durante as reações hipoglicêmicas. Os resultados destes estudos, juntamente com os dados publicados recentemente por Goldberg [4], indicam que a repaglinida é um medicamento seguro e eficiente no tratamento do diabetes tipo 2. Estes estudos relatam, em particular, a baixa incidência de episódios graves de hipoglicemia associados à terapia com repaglinida, sugerindo que os resultados obtidos com o uso Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 197 deste medicamento podem ser superiores, em certas circunstâncias, àqueles obtidos por meio do emprego de sulfoniluréias. Estudos preliminares com nateglinida A Nateglinida, uma nova metiglinida análogo com ações mais rápidas e menos prolongadas do que as do repaglinida, tem demonstrado um futuro promissor como agente oral no tratamento do diabetes. Enquanto ambos estão associados a nadires semelhantes da glicose, a euglicemia foi restaurada após 180 minutos da administração da nateglinida enquanto a hipoglicemia e a hiperinsulinemia persistiram por mais de 210 minutos após a administração da repaglinida [5]. Quando administrado 10 minutos antes das refeições, a nateglinida aumentou a insulina imunorreativa no período pré-prandial enquanto a repaglinida apresentou pouco ou nenhum efeito nesse sentido. Analisados em conjunto, estes estudos indicam que a nateglinida apresenta uma cinética mais rápida e efêmera do que aquela apresentada pela repaglinida. Além disso, a nateglinida parece restaurar a liberação de insulina, o que sugere que sua administração pode resultar em maior controle do nível de glicose prandial aliado a uma diminuição do potencial hipoglicêmico nos pacientes com diabetes tipo 2. Implicações para crianças e adolescentes com diabetes tipo 2 Nos últimos anos testemunhou-se um aumento dramático e quase exponencial da incidência de diabetes mellitus tipo 2 em crianças e adolescentes [6]. Segundo Pinhas-Hamiel e seus colegas [7], a incidência do diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes sofreu um aumento quase dez vezes maior do que aquele observado nos últimos dez anos. No Henry Ford Health Systems, um sistema de cuidados com a saúde que presta serviços a cerca de 1 milhão de indivíduos na área da Grande Detroit, EUA, observa-se o surgimento de 3 a 7 novos casos de diabetes em crianças a cada mês, sendo que o diabetes tipo 2 representa cerca de 1/3 a 1/2 de todos estes novos casos em indivíduos com menos de 18 anos de idade. O diabetes tipo 2 afeta principalmente indivíduos obesos de origem afro-americana e adolescentes de origem hispânica, embora o excesso de peso em adolescentes de qualquer etnia aumente os riscos de se desenvolver a doença [6-8]. O grande aumento na incidência e predomínio do diabetes tipo 2 parece estar diretamente relacionado ao aumento da obesidade na infância ao invés do comprometimento das células das ilhotas pancreáticas observado no diabetes tipo 1. Fisiopatologia do diabetes tipo 2 na adolescência As pesquisas indicam que a fisiopatologia do diabetes tipo 2 na infância, como nos adultos, está relacionada à resistência à insulina desenvolvida como resultado do aumento da massa corporal e sua associação com o comprometimento da secreção de insulina, insulinopenia relativa e subsequente hiperglicemia [6-8]. Estilos de vida sedentários e hábitos alimentares ruins, aliados à predisposição genética apresentada por determinados grupos étnicos, parecem ser os elementos chave para o desenvolvimento da doença durante a infância. A maior parte das crianças e adolescentes com diabetes tipo 2 apresentam sintomas típicos de poliúria, polidipsia e perda de peso. No entanto, muitos indivíduos assintomáticos são diagnosticados após procedimentos de rotina 200 Continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) como exames de urina e outros somente após apresentarem episódios de cetoacidose e hiperglicemia severos. Apesar de uma maior conscientização com relação à doença, muitas crianças e adolescentes ainda permanecem não-diagnosticados, sugerindo que o diabetes tipo 2 está mais presente do que se imagina. O tratamento do adolescente com diabetes tipo 2: falta de tratamento comprovado Enquanto a maior parte das crianças e adolescentes precisam inicialmente de insulina para estabilizar a glicose no sangue e corrigir os desarranjos metabólicos associados à homeóstase alterada da glicose, a fisiopatologia do diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes sugere que a maior parte dos indivíduos, inclusive adultos nas mesmas condições, podem controlar o diabetes com uma combinação de dieta e exercícios e pelo uso de medicamentos desenhados para inverter a resistência à insulina e otimizar a secreção da mesma. Até hoje, ainda não se estabeleceu a segurança e a eficiência da terapia hipoglicemiante oral em crianças e adolescentes com diabetes tipo 2. Enquanto esse fato não dissuadiu os médicos de prescreverem para crianças medicamentos utilizados para tratar a doença em adultos, a falta de comprovação quanto à segurança e à eficiência destes tratamentos vem comprometendo o tratamento efetivo do diabetes tipo 2 na população pediátrica. Em vista do aumento do diabetes entre indivíduos jovens e do impacto que isso pode implicar quanto à saúde aliado às complicações trazidas pela doença a longo prazo, não só para a criança como também para a família e para a sociedade como um todo, urge que se realizem estudos clínicos capazes de oferecer base para um controle mais eficaz do diabetes tipo 2 em crianças. Só então será possível controlar efetivamente a doença dentre a população pediátrica. Referências 1. Parulkar AA, Fonseca VA. Recent advances in pharmacological treatment of type 2 diabetes mellitus. Compr Ther 1999;25:418-426. 2. Juhl C, Porksen N, Sturis J et al. Repaglinida amplifies insulin secretory burst mass without affecting burst frequency. Program and abstracts of the 35th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes; September 28-October 2, 1999; Brussels, Belgium. Abstract 5. 3. Kristensen JS, Frandsen KB, Bayer T et al. Repaglinida treatment is associated with significantly less severe hypoglycemic events compared to sulfonylurea. Program and abstracts of the 35th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes; September 28-October 2, 1999; Brussels, Belgium. Abstract 6. 4. Goldberg RB, Einhorn D, Lucas CP, et al. A randomized placebo-controlled trial of repaglinida in the treatment of type 2 diabetes. Diabetes Care 1998;21:1897-1903. 5. Dunning BE, Paladini S, Gutierrez C et al. Nateglinida improves prandial glucose excursions by restoring early insulin secretion in pre-diabetic monkey. Program and abstracts of the 35th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes; September 28-October 2, 1999; Brussels, Belgium. Abstract 7. 6. Rosenbloom AL, Joe JR, Young RS, Winter WE. Emerging epidemic of type 2 diabetes in youth. Diabetes Care 1999;22:345-354. 7. Pinhas-Hamiel O, Zeitler P. Insulin resistance, obesity, and related disorders among black adolescents. J Pediatr 1996;129:319-320. 8. Scott CR, Smith JM, Cradock MM, Pihoker C. Characteristics of youth-onset noninsulin-dependent diabetes mellitus and insulin-dependent diabetes mellitus at diagnosis. Pediatrics 1997;100:84-91. 202 Hannele Yki-Järvinen et al, 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Comparação da insulina glargina vs. insulina NPH durante uma terapia combinada de um ano em diabetes tipo 2 Para testar se a ausência de pico e a maior duração de ação da insulina glargina quando comparada com a NPH têm importância clínica, 426 pacientes que nunca receberam insulina foram randomizados no estudo HOE 901/3002 para um tratamento de 1 ano com insulina glargina ao deitar (n = 222, idade 59±1 anos, IMC 29,3±0,3 kg, GHb 9,1±0,1%), vs. NPH ao deitar (n = 204, idade 59±1 anos, IMC 28,5±0,3 kg, GHb 8,9±0,1%), em adição aos medicamentos orais habituais. A meta da glicemia de jejum era 6,7 mmol/l. Resultados após tratamento de 52 semanas: Insulina glargina NPH – 0,61±0,09 24±1 9,9%** 9,9±0,2* – 0,58±0,10 21±1 24,0% 10,8±0,3 Todos os pacientes Mudança em GHb (%) Dose de insulina (IU/dia) % com hipoglicemias noturnas Glicemia 2 horas após o jantar (mmol/l) Pacientes com glicemia de jejum 6,7 mmol/l Número (% de todos os pacientes) GHb 0-12 meses (%) Dose de insulina (IU/dia) Glicemia de jejum às 3h:00 Glicemia 2 horas após o jantar (mmol/l) 87 (39%) 8,9–7,7% 21±1 6,6±0,2** 8,9±0,3* 73 (36%) 8,6–7,6% 18±1 5,4±0,2 10,1±0,4 *p < 0,02, **p < 0,001 para glargina vs. NPH. Nós concluímos que o emprego da insulina glargina quando comparada à NPH é associada a menos hipoglicemias noturnas, o que é consistente com o seu perfil de ação. As taxas mais elevadas de glicemia noturna são compensadas por valores menores da glicemia pós-jantar. Estes resultados sugerem o emprego da insulina glargina ao lugar da NPH em tratamentos do diabetes tipo 2 com combinação de insulinas. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 Recomendações para a prática médica IV - Testes de glicemia no diabetes (As três primeiras recomendações foram publicadas em Diabetes Clínica, nº 3, março/abril 2000) A monitorização do estado glicêmico, como realizada por pacientes e profissionais da saúde, é considerada fundamental na terapia do diabetes. Os resultados da monitorização são usados para avaliar a eficácia do tratamento e para guiar os ajustes na terapia nutricional , exercício e medicações para alcançar o melhor controle possível da glicose sangüínea. Teste de glicose sangüínea por pacientes Em somente alguns anos, a auto-monitorização da glicose sangüínea (SMBG – Self-Monitoring of Blood Glucose) revolucionou o tratamento do diabetes. Usando a SMBG, os pacientes com diabetes podem trabalhar para alcançar e manter objetivos glicêmicos específicos. Considerando os resultados do Estudo do Controle e Complicações do Diabetes (DCCT) e outros estudos, há um amplo consenso quanto aos benefícios de saúde em manter níveis de glicose sangüínea normais ou quase normais e na importância, especialmente nos pacientes tratados com insulina, da SMBG nos esforços de tratamento esquematizados para alcançar tais objetivos glicêmicos. Recomendações 1. Com base principalmente nos resultados do DCCT, é recomendado que a maioria das pessoas com diabetes devam tentar alcançar e manter os níveis de glicose sangüínea o mais próximos possíveis do normal. Considerando que a maioria dos pacientes com diabetes tipo 1 pode alcançar este objetivo somente usando SBMG, todos os programas de tratamento devem encorajar a SMBG para monitorização de rotina diária. A SMBG diária é especialmente importante para monitorizar e prevenir hipoglicemia assintomática em pacientes tratados com insulina ou sulfoniluréia. A freqüência e a ocasião de monitorização da glicose devem ser ditadas pelas necessidades e objetivos do paciente individual, mas para a maioria dos pacientes com diabetes tipo 1, a SMBG é recomendada três ou quatro vezes ao dia. A freqüência ótima de SMBG para pacientes com diabetes tipo 2 não é conhecida, mas deve ser suficiente para facilitar o alcance dos objetivos glicêmicos. O papel da SMBG em pacientes estáveis com diabetes tipo 2 tratados com dieta não é conhecido. 2. A SMBG é recomendada para todos os pacientes com diabetes tratados com insulina. A SMBG pode ser desejável em pacientes tratados com sulfoniluréias e em todos os pacientes que não alcançam os objetivos glicêmicos. Os dados indicam que somente uma minoria dos pacientes realiza a SBMG. Devem ser feitos esforços para aumentar substancialmente o uso apropriado da SBMG. As barreiras ao aumento do uso da SBMG incluem o custo do teste, entendimento inadequado tanto pelos profissionais de saúde como pelos pacientes sobre os benefícios de saúde e uso apropriado dos resultados da SBMG, o desconforto físico e psicológico associado com a colheita de sangue retirado do dedo, e a inconveniência do teste em termos de necessidades de tempo, local físico e complexidade da técnica. Dada a importância da SBMG para o cuidado do diabetes, o governo, outros patrocinadores e todos os envolvidos devem esforçar-se para fazer o procedimento rapidamente acessível e de modo que todos os pacientes que necessitarem possam pagar. Assim, a SBMG deve 206 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 ser um componente importante de quaisquer pacotes de benefícios para a saúde. 3. Sabendo que a precisão da SBMG é dependente do instrumento e do usuário, é importante para os profissionais de saúde avaliar cada paciente quanto à técnica de monitorização, tanto inicialmente como em intervalos regulares subsequentes. O uso de calibrações e soluções de controle em bases regulares por pacientes ajuda a manter a exatidão dos resultados. 4. O uso ótimo da SBMG necessita de interpretação apropriada dos dados. Os pacientes devem ser instruídos em como usar estes dados para ajustar a terapia nutricional, exercício, ou tratamento farmacológico para alcançar objetivos glicêmicos específicos. Apesar de um número de métodos SBMG armazenar os resultados do teste e com uma interface de computador poder fornecer análise sofisticada de dados da glicose sangüínea, não é conhecido se o uso destes sistemas de manuseio de dados produz melhor controle glicêmico do que a revisão pelo paciente dos resultados registrados em um diário. Teste de glicose sangüíneo por profissionais de saúde para controle de rotina do diabetes Recomendações 1. Os testes de glicose sangüíneo (ex.: teste de laboratório ou teste da picada do dedo) devem estar disponíveis para fornecedores para uso quanto necessário. Com a disponibilidade da SBMG e do teste de proteína glicosilada, o teste de rotina de glicose sangüínea feito por profissionais da saúde não deve ser mais usado para avaliar o controle glicêmico exceto para completar a informação obtida por outros métodos de teste e para verificar a precisão da SBMG. Quando ajustar a medicação(ões) oral(is) para diminuir a glicose em um paciente não fazendo uso da insulina, o teste de laboratório também pode ser apropriado. 2. As comparações entre os resultados da automonitorização do paciente feito na clínica e um teste de laboratório simultâneo são úteis para avaliar a exatidão dos resultados do paciente. Se tal teste for realizado por profissionais de saúde usando aparelhos portáteis de teste de sangue capilar ao invés de métodos padrão de hospital ou laboratório clínico, devem ser usados rigorosos procedimentos de controle de qualidade. Exame de urina Historicamente, a glicose urinária e as determinações de cetonas eram o único meio prático para pessoas com diabetes para avaliar seu estado glicêmico diariamente. Porém, a SBMG superou o teste de glicose na urina para a maioria dos pacientes. O teste de cetona na urina permanece como parte importante da monitorização, particularmente em pacientes com diabetes tipo 1, gravidez com diabetes preexistente e diabetes gestacional. Teste de glicose na urina O teste de glicose na urina feito por pacientes em casa consiste de medidas semi-quantitativas com base em amostras isoladas, ou menos freqüentemente, por “blocos” mais quantitativos coletados em 4-24 h. O racional é que os valores da glicose urinária refletem a glicose sangüínea média durante o período da coleta da urina. Porém, apesar do relativo custo baixo e facilidade da coleta da amostra, as limitações conhecidas do teste de glicose na urina fazem da SBMG o método preferido de monitorização do estado glicêmico na rotina diária. Para pacientes que não podem ou não irão realizar SBMG, o teste de glicose na urina pode ser considerado uma alternativa que pode fornecer uma informação útil, embora limitada. Se os pacientes escolherem realizar o teste de glicose na urina, eles devem entender bem as limitações do teste. Especificamente, os pacientes devem ser orientados de que apesar das medições de glicose na urina estarem correlacionadas com as medições de glicose sangüínea, o teste de glicose na urina fornece somente uma estimativa grosseira dos níveis de glicose sangüínea. Os pacientes devem ser orientados de que o teste de glicose na urina não fornece informação sobre os níveis de glicose sangüínea abaixo do limite renal, que para a maioria dos pacientes é de 180 mg/dl (10 mmol/l). Fitas de teste que quantificam a glicose urinária especificamente em vez de açúcares redutores, são recomendados por causa de menos interação com drogas e outras interferências. Amostras de segunda coleta não parecem oferecer qualquer vantagem apreciável sobre as amostras iniciais. Teste de cetona na urina O teste de cetonas na urina é uma parte importante na monitorização, particularmente nos pacientes tipo 1. A presença de cetonas na urina pode indicar cetoacidose Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 potencial ou mesmo estabelecida, uma condição que requer atenção médica imediata. Todas as pessoas com diabetes devem testar a urina para cetonas durante a fase aguda ou stress ou quando os níveis de glicose sangüínea estão consistentemente elevados (ex.: >300 mg/dl [>16,7 mmol/l]), durante a gravidez, ou quando quaisquer sintomas de cetoacidose, tais como náusea, vômito, ou dor abdominal, estão presentes. As cetonas estão normalmente presentes na urina, mas as concentrações estão geralmente abaixo do limite de detectabilidade com métodos de teste de rotina. Porém, leituras positivas de cetona são encontradas em indivíduos normais durante o jejum e em acima de 30% das primeiras amostras de urina pela manhã das mulheres grávidas. Os testes de cetona na urina usando reagentes contendo nitroprussiatos podem dar resultados falso-positivos na presença de vários medicamentos tipo sulfidril, incluindo o anti-hipertensivo captopril. Leituras falso-negativas têm sido relatadas quando os testes de fita ficaram expostos ao ar por um longo período de tempo ou quando as amostras de urina são altamente ácidas, tais como após grandes ingestões de ácido ascórbico. Os materiais do teste de cetona na urina devem estar disponíveis no consultório/clínica. Os profissionais de saúde devem estar conscientes, porém, que os testes de cetona da urina atualmente disponíveis não são confiáveis para o diagnóstico ou monitorização do tratamento de cetoacidose. Os métodos de teste de cetona no sangue que quantificam o ácido β−hidroxibutírico, o composto predominante de cetona, estão disponíveis atualmente. Eles podem oferecer uma alternativa útil para o teste de cetona na urina porque as determinações do ácido β-hidroxibutírico são confiáveis para o diagnóstico e monitorização do tratamento da cetoacidose. São necessárias mais pesquisas para determinar se o teste do ácido β−hidroxibutírico no sangue pode ser adaptado para uso doméstico por pacientes, como uma alternativa para o teste de cetona na urina. Teste de proteína glicosilada Teste de glicose na urina e no sangue e o teste de cetona na urina fornecem informação útil para o acompanhamento diário do diabetes. Porém, estes testes não podem fornecer ao paciente e aos profissionais de saúde uma medida quantitativa e confiável de glicemia por um período de tempo mais longo. As medições de proteínas glicosiladas, principalmente hemoglobina e proteínas séricas, adicionaram uma nova dimensão na avaliação da glicemia. Com uma única medição, cada 207 um destes testes pode quantificar a média de glicemia ao longo de semanas e meses, complementando, desse modo, o teste dia-a-dia. Teste GHb GHb, comumente referida como hemoglobina glicosada, glicohemoglobina, hemoglobina glicosilada, HbA1c ou HbA1 é um termo usado para descrever uma série de componentes menores estáveis da hemoglobina formados lentamente e não-enzimaticamente da hemoglobina e da glicose. O índice de formação da GHb é diretamente proporcional à concentração de hemoglobina ambiente. Desde que os eritrócitos são livremente permeáveis à glicose, o nível de GHb em uma amostra sangüínea fornece uma história glicêmica dos 120 dias anteriores o tempo médio de vida dos eritrócitos, GHb reflete bastante precisamente os últimos 2-3 meses do controle glicêmico. Muitos tipos diferentes de métodos de ensaio GHb estão disponíveis na rotina do laboratório clínico. Os métodos diferem consideravelmente com relação aos componentes glicosados medidos, interferências, e faixa não-diabética. Os médicos prescrevendo o teste GHb aos seus pacientes devem estar atentos ao tipo de método de ensaio usado, o intervalo de referência não-diabético, interferências de ensaios potenciais (ex.: intermediários instáveis, hemoglobinopatias, ingestão de álcool crônica, salicilatos, produtos de carbamilação na uremia, e os efeitos de armazenar amostras), e o desempenho do ensaio (ex.: alguma medida da precisão do ensaio, tais como um coeficiente de variação; CV < 9% é recomendável). O valor de GHb tem antecipado o risco para o desenvolvimento de várias complicações crônicas no diabetes, de modo similar ao uso de determinações de colesterol para predizer o risco de desenvolvimento de doença cardiovascular. Porém, o uso ótimo do teste GHb para este propósito requer uma padronização dos ensaios GHb. Sem padronização, os resultados relatados entre laboratórios podem não ser comparáveis, mesmo se ambos os laboratórios usarem o mesmo método de ensaio. O teste GHb deve ser realizado rotineiramente em todos os pacientes com diabetes, inicialmente para documentar o grau de controle glicêmico na primeira avaliação, depois como parte do controle contínuo. Desde que GHb reflete uma média glicêmica de 2-3 meses anteriores, a medição aproximadamente a cada 3 meses é necessária para determinar se um controle metabólico do paciente permaneceu continuamente dentro do limite desejado. Assim, medições regulares de 208 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 GHb permitem a detecção de saídas do limite desejado de modo oportuno. Para qualquer paciente individual, a freqüência de teste GHb deve depender do esquema de tratamento usado e do julgamento do médico. Na ausência de estudos bem controlados que indiquem um protocolo de teste definitivo, a opinião experiente recomenda teste GHb pelo menos duas vezes por ano em pacientes que estão atingindo os objetivos do tratamento (e que tem controle glicêmico estável) e mais freqüentemente (avaliação trimestral) em pacientes cujo tratamento mudou ou que não estão atingindo os objetivos glicêmicos. Uma interpretação apropriada dos resultados do teste GHb pressupõe que os profissionais de saúde entendam a relação entre os resultados do teste e a média da glicose sangüínea, cinética da GHb, e limitações específicas do ensaio. Há dados disponíveis no DCCT relacionando GHb à média glicêmica, mas estes dados devem ser usados com precaução, se o método de ensaio GHb não estiver certificado como referencial ao método de referência DCCT. Os valores GHb em pacientes com diabetes são estáveis; eles variam de normais em uma pequena porcentagem de pacientes cujas médias dos níveis de glicose sangüínea estão normais ou próximos do normal, até valores marcadamente elevados, ex.: aumentos de duas a três vezes, em alguns pacientes, refletindo um grau extremo de hiperglicemia. Objetivos específicos de tratamento devem ser individualizados, mas deve-se levar em consideração os resultados de estudos, tais como DCCT, mostrando uma relação direta entre os valores GHb e o risco de muitas complicações crônicas de diabetes. O objetivo do tratamento deve ser um GHb < 7% e os médicos devem reavaliar o esquema de tratamento em pacientes com valores de GHb consistentemente >8%. Proteína sérica glicosilada (GSP) Por causa da renovação da albumina sérica humana ser muita mais curta (meia-vida de 14-20 dias) do que da hemoglobina (vida média do eritrócito de 120 dias), o grau de glicosilação de proteínas séricas (principalmente albumina) fornece um índice de glicemia por um período mais curto de tempo do que a glicosilação da hemoglobina. As medições da GSP total e albumina sérica glicosada (GSA) correlacionam-se bem uma com a outra e com medições de GHb. Em situações onde GHb não pode ser medida ou pode não ser útil (ex.: anemias hemolíticas), o ensaio GSP pode ser de valor na avaliação do esquema de tratamento. Vários métodos têm sido descritos que quantificam tanto GSP total como GSA total. Um dos mais amplamente usados é chamado de ensaio frutosamina. Os valores para GSP variam com as mudanças na síntese ou clearance de proteínas séricas que podem ocorrer com doença sistêmica aguda ou com doença hepática. Além disso, há um debate contínuo se os ensaios frutosamina devem ser corrigidos para concentrações de proteína sérica ou albumina sérica. Uma medição única de GSP fornece um índice do estado glicêmico das 1-2 semanas precedentes, enquanto uma medição única de GHb fornece um índice de estado glicêmico de um período consideravelmente mais longo de tempo, 2-3 meses. A medição de GSP (incluindo frutosamina) tem sido utilizada para documentar mudanças relativamente a curto prazo (ex.: 1-2 semanas) no estado glicêmico, tais como na gravidez diabética ou após grandes mudanças no tratamento. Porém, estudos adicionais são necessários para determinar se o teste fornece informação clínica útil nestas situações. Medições simultâneas de GSP e GHb devem complementar uma a outra e fornecer informação clínica mais útil do que a medição de GHb isolada. Porém, estudos adicionais são necessários para confirmar a utilidade clínica deste procedimento. A medição de GSP, independentemente do método de ensaio específico, não deve ser considerado equivalente à medição de GHb, já que só indica controle glicêmico por um curto período de tempo. Por isso, os ensaios GSP devem ser realizados mensalmente para obter a mesma informação obtida pela GHb três a quatro vezes ao ano. Diferentemente do GHb, GSP ainda não mostrou estar relacionado com o risco de desenvolvimento ou progressão das complicações crônicas do diabetes. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 Recomendações para a prática médica V - Aplicação de insulina A insulina é necessária para o metabolismo normal dos carbohidratos, proteínas e gorduras. Pessoas com diabetes mellitus tipo 1 não produzem quantidade suficiente deste hormônio para manter a vida e portanto dependem da insulina exógena para sobreviver. Em contraste, indivíduos com diabetes tipo 2 não dependem da insulina exógena para sobreviver. Entretanto, muitos destes indivíduos irão apresentar diminuição na produção de insulina, necessitando de suplemento para um adequado controle da glicose sangüínea, especialmente durante momentos de estresse ou enfermidade. Em geral é sempre necessário um esquema de insulina no tratamento do diabetes gestacional e do diabetes associado a certas condições ou síndromes (por exemplo, doenças pancreáticas, diabetes induzido por medicamento, endocrinopatias, distúrbios do receptor de insulina, determinadas síndromes genéticas). Em todos os casos de emprego de insulina, a dose deve ser individualizada e equilibrada com tratamento nutricional e exercícios. Insulina A insulina é obtida do pâncreas de suínos ou elaborada de forma quimicamente idêntica à insulina humana, através de tecnologia de recombinação do DNA ou modificação química da insulina de suínos. Foram desenvolvidas insulinas análogas através da modificação da seqüência do aminoácido da molécula de insulina. A insulina é comercializada nas formas de ação rápida, curta, intermediária e longa, podendo ser injetadas separadamente ou misturadas na mesma seringa. Já existe uma insulina análoga de ação rápida (lispro) e outras estão em desenvolvimento. A insulina normal é aquela de ação rápida. As insulinas de ação intermediária incluem a lenta e a NPH. As preparações de insulina com uma proporção pré-determinada de NPH associada com a normal, com 70% de NPH a 30% da regular, são consideradas de ação intermediária. A única insulina de ação longa é a ultralente. As insulinas humanas apresentam um início de ação mais rápido e uma duração menor da atividade que as insulinas suínas. A insulina é comercializada em concentrações de 100 ou 500 U/ml (denominadas U-100 e U-500. 1U é igual a aproximadamente 36µg de insulina). A U-500 é usada somente em casos raros de resistência à insulina, quando o paciente requer doses extremamente elevadas. A U-500 e a insulina análoga, Lispro, são as únicas insulinas que requerem receita. As preparações de insulina são algumas vezes formuladas individualmente para uso em recém-nascidos (por exemplo, a U-10) com diluentes fornecidos pelo fabricante. Nestes casos, devem ser observados cuidados especiais para garantir que a dose correta da insulina diluída seja aplicada com uma seringa de insulina comum. Diferente tipos e espécies de insulina têm diferentes propriedades farmacológicas. A insulina humana é escolhida para uso em mulheres grávidas, em mulheres com suspeita de gravidez, indivíduos com alergias ou resistência imune às insulinas derivadas de animais, aqueles que iniciam o tratamento com insulina, e os que esperam fazer uso da insulina apenas esporadicamente. O tipo de insulina e as espécies, a técnica de aplicação, os anticorpos da insulina, o local da aplicação, e as diferenças nas respostas de cada paciente podem afetar o início, grau e duração da atividade da insulina. A 210 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 alteração nas formas da insulina pode afetar o controle da glicose sangüínea e deve ser feita apenas sob supervisão de um profissional de saúde especializado em diabetes. A insulina humana fabricada através da tecnologia de recombinação do DNA está substituindo a insulina de porco. A futura comercialização da insulina animal é incerta. Os farmacêuticos e profissionais de saúde não devem alternar as formas de insulina ou tipos sem a aprovação do médico que prescreveu a insulina e sem informar o paciente sobre o tipo de alteração que está sendo feita. Se um indivíduo é hospitalizado, o tipo de insulina que ele ou ela está fazendo uso não deve ser trocado inadvertidamente. Se houver dúvida sobre as principais formas, a insulina humana deve ser administrada até que se disponha da informação adequada. Ao adquirir a insulina, o paciente deve ter certeza que o tipo e a forma estão corretas, se uma determinada marca prescrita foi preparada, e que a insulina será usada antes da data de validade. Armazenamento Os frascos de insulina que não forem utilizados devem permanecer sob refrigeração. Devem ser evitadas as temperaturas elevadas (< 2 ou > 30ºC) e o excesso de agitação para evitar perda de potência, aglutinação, opacidade, ou precipitação. Devem ser observadas as recomendações específicas de armazenamento fornecidas pelo fabricante. A insulina que está sendo utilizada pode ser mantida em temperatura ambiente para diminuir a irritação no local de aplicação, o que pode ocorrer quando é utilizada a insulina gelada. O paciente deve ter sempre disponível um frasco sobressalente de cada tipo de insulina. Embora a data de validade esteja gravada em cada frasco de insulina, pode ocorrer uma leve perda na potência depois que o frasco tenha sido usado por > 30 dias, especialmente se foi armazenado em temperatura ambiente. A pessoa que aplica a insulina deve inspecionar o frasco antes de cada uso para observar possíveis alterações (por exemplo, aglutinação, opacificação, precipitação ou alteração na transparência ou cor) o que pode significar uma perda da potência. O exame visual deve demonstrar que as insulinas de ação rápida e curta são claras e todos os outros tipos de insulina são uniformemente turvas. A pessoa com diabetes deve sempre tentar relacionar qualquer aumento inexplicável na glicose sangüínea à possíveis reduções na potência da insulina. Em dúvidas sobre a potência de um frasco de insulina, o indivíduo deve substituir o frasco em questão por outro do mesmo tipo. Misturando insulinas A administração de associações de insulinas de ação rápida ou curta e intermediária ou longa irá produzir uma glicemia mais normal em alguns pacientes do que o emprego de uma insulina única. As distribuições das formulações e do tamanho da partícula das insulinas variam. Ao misturar, podem ocorrer alterações físicoquímicas na mistura (imediatamente ou posteriormente). Como resultado, a resposta fisiológica à mistura de insulina pode diferir daquela da aplicação das insulinas separadamente. Portanto, a mistura das insulinas deve seguir às seguintes recomendações: • Os pacientes com um bom controle em um esquema especial de mistura de insulinas devem manter o procedimento padrão ao preparar as doses de insulina. • Nenhuma outra medicação ou diluente deve ser misturado com qualquer produto de insulina a não ser que aprovado pelo médico. • As insulinas pré-misturadas comercializadas podem ser empregadas se o índice de insulina é adequado para as necessidades de insulina dos pacientes. • A NPH disponível atualmente e as formulações de insulina de curta ação quando misturadas podem ser usadas imediatamente ou armazenadas para uso futuro. • Quando as insulinas de ação rápida e a ultralenta são misturadas, não há enfraquecimento do início de ação da insulina de ação rápida. Observa-se uma ligeira diminuição no índice de absorção, mas não na biodisponibilidade total, quando a insulina de ação rápida e a insulina estabilizada por protamina (NPH) são misturadas. Entretanto em estudos clínicos, a resposta da glicose sangüínea pós-prandial foi similar quando a insulina de ação rápida foi misturada à NPH ou à ultralenta. Quando a insulina de ação rápida é misturada à insulina de ação intermediária ou longa, a mistura deve ser injetada 15 min antes da refeição. • A mistura de insulina de ação curta e a lenta não é recomendada exceto para pacientes controlados de forma adequada para tal mistura. O Zn2+ presente nas insulinas lentas (por exemplo, lenta e ultralenta), se ligará à insulina de ação curta e adiará seu início de ação. O grau e índice de ligações variam com Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 o índice e formas das duas insulinas; durante 24h o equilíbrio de ligação pode não ser alcançado. Se empregadas as misturas de insulina de ação curta e lenta, o paciente deve padronizar o intervalo entre a mistura e a injeção. 211 Os usuários selecionam a dose, injetam a insulina e então descartam a agulha conforme a regulamentação local. Depois que toda a insulina foi utilizada, a caneta pode ser descartada junto com o material normal no lixo. Reutilização da seringa • As insulinas tamponadas com fosfato (por exemplo, insulina NPH) não devem ser misturadas às insulinas lentas. O fosfato de zinco pode precipitar e a insulina de ação longa se converterá em insulina de ação curta ou de duração imprevisível. • As formulações de insulina variam e desta forma, o fabricante deve ser consultado sempre que suas recomendações não se enquadram nas recomendações da Associação Americana do Diabetes. Seringas A administração convencional de insulina compreende a aplicação subcutânea com seringas marcadas em unidades de insulina. Pode haver diferença na forma que as unidades são indicadas, dependendo do tamanho das seringas e do fabricante. As seringas de insulina são fabricadas com capacidades para 0,25, 0,3, 0,5 e 1 ml. Existem agulhas de vários comprimentos. A glicose sangüínea deve ser monitorada quando houver troca de insulina com o objetivo de avaliar a variabilidade de absorção da insulina. As seringas nunca devem ser compartilhadas com outra pessoa, em razão do risco de adquirir uma infecção viral através do sangue (por exemplo, a síndrome da imunodeficiência adquirida ou hepatite). Remoção Recauchutar, dobrar ou quebrar uma agulha aumenta o risco de ferimento produzido pela agulha. A não ser que a seringa seja reutilizada, ela deve ser colocada em um recipiente resistente à perfuração ou utilizada um tampa, que mantém a agulha em um compartimento inacessível. Em áreas com programas de reciclagem, é proibido colocar recipientes de seringas utilizadas, agulhas e bisturis junto a materiais a serem reciclados. As autoridades responsáveis pela coleta de lixo local devem ser consultadas para determinar as especificações de tais recipientes. A probabilidade de reutilização de uma seringa por outra pessoa diminui se o êmbolo é separado do corpo da seringa no momento da remoção. Estão sendo comercializadas canetas descartáveis de insulina contendo uma capacidade limitada de insulina. Os fabricantes de seringas descartáveis recomendam que elas sejam utilizadas somente uma vez, porque a esterilização de uma seringa reutilizada não pode ser garantida. Entretanto, alguns indivíduos preferem reutilizar a seringa até que ela fique sem fio. A maioria das preparações de insulina apresentam aditivos bacterioestáticos que inibem o crescimento de bactérias freqüentemente encontradas na pele. Para muitos pacientes, a reutilização da seringa parece segura e prática se o paciente assim o desejar. A seringa deve ser descartada quando a agulha fica sem fio, entorta ou fez contato com qualquer outra superfície que não a pele. Quando se planeja a reutilização, a agulha deve ser recauchutada após cada utilização. A reutilização da seringa pode levar ao aumento do risco de infecção em alguns indivíduos. Os pacientes que não fazem uma boa higiene pessoal, com doença aguda simultânea, feridas abertas nas mãos ou diminuição na resistência às infecções por qualquer razão, não devem reutilizar uma seringa. Os pacientes que reutilizam uma seringa devem inspecionar periodicamente a pele ao redor do local da aplicação para identificar uma vermelhidão anormal ou sinais de infecção. Os indivíduos devem consultar seus médicos antes de iniciar a prática da reutilização da seringa e sempre que houver suspeita de infecção no local da aplicação. Antes de considerar a reutilização da seringa, deve-se determinar se o paciente é capaz de aproveitar novamente, de forma segura, a seringa. Um novo aproveitamento adequado requer uma boa visão, destreza manual e ausência de tremor. O paciente deve ser instruído sobre as técnicas de um novo aproveitamento que mantenha a seringa na mão e substitua a tampa com um movimento direto do polegar e do dedo indicador. A técnica de acoplar a agulha na tampa deve ser desencorajada, porque isto, em geral, resulta em ferimento provocado pela agulha. A seringa a ser reutilizada pode ser guardada em temperatura ambiente. Os benefícios potenciais ou riscos, se houver, de refrigeração da seringa em uso, ou da utilização de álcool para limpeza da agulha não são conhecidos. Não é desejável a limpeza da agulha com álcool, porque isto pode remover o silicone que cobre a agulha o que faz que ela se torna menos dolorosa ao perfurar a pele. 212 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 Alternativas à seringa Procedimentos da aplicação A insulina pode ser administrada com pistolas que injetam insulina como um raio fino dentro da pele. Estas pistolas oferecem uma vantagem para os pacientes incapazes de utilizar seringas ou aqueles com fobia de agulhas. Uma grande vantagem pode ser a absorção mais rápida da insulina de curta ação. Entretanto, o custo inicial destes dispositivos é relativamente alto, além do que pode traumatizar a pele. Não devem ser considerados como uma opção para o uso rotineiro em pacientes com diabetes. Estão sendo comercializados vários dispositivos com formato de caneta e cartuchos que liberam insulina por via subcutânea através de uma agulha. Em pacientes selecionados (por ex. aqueles que têm distúrbio visual ou neurológico e aqueles submetidos a esquema diário múltiplo), estes dispositivos podem aumentar a precisão da administração de insulina e/ou serem mais cômodos. Também estão sendo comercializadas canetas com pequenas doses que podem liberar insulina em proporções de ½ unidade; atualmente, não existe calibragem de seringas em ½ unidade. As injeções são aplicadas no tecido subcutâneo. A maioria dos indivíduos é capaz de pressionar uma prega de pele e injetar em um angulo de 90º. Indivíduos magros ou crianças podem usar agulhas pequenas ou podem precisar pressionar a pele e injetar em um ângulo de 45º para evitar a aplicação intravascular, especialmente na área delgada. Não é preciso uma aspiração de rotina (injetar novamente a seringa para verificar a existência de sangue). Se uma aplicação parecer dolorosa ou se for constatado sangue ou fluído claro após a retirada da agulha, o paciente deve pressionar durante 5–8 s. sem esfregar. Sempre que isto ocorrer, deve ser monitorada com maior freqüência a glicose sangüínea. Se o paciente suspeita que uma porção da dose de insulina não foi administrada, deve-se medir a glicose sangüínea logo após a aplicação. Caso surjam equimoses, ferimentos, hematomas, vermelhidão ou dor no local da aplicação, a técnica de aplicação do paciente deve ser analisada por um médico ou especialista em diabetes. A dor na aplicação pode ser minimizada: Técnica de aplicação Preparação da dose Antes de cada aplicação, as mãos e o local devem ser cuidadosamente limpos. A parte de cima do frasco deve ser limpa com álcool isopropil 70%. Para todas as preparações, exceto a insulina de ação curta e rápida, o frasco deve ser suavemente friccionado na palma das mãos (não agitado) para suspender a insulina novamente. Uma quantidade de ar correspondente à dose de insulina necessária, deve ser primeiro introduzida e injetada no frasco, para evitar a criação de vácuo. Para uma dose mista, é importante colocar ar suficiente nos frascos antes de puxar a dose. Ao misturar a insulina de ação rápida ou curta com insulina de ação intermediária ou longa, a insulina de ação rápida e curta deve ser introduzida na seringa primeiro. Depois que a insulina é injetada na seringa, o conteúdo deve ser inspecionado quanto à presença de bolhas. Um ou duas leves batidas do indicador contra a seringa na vertical deve fazer com que as bolhas se dissolvam. As bolhas de ar não são perigosas mas podem causar uma diminuição da dose. • Aplicando-se a insulina em temperatura ambiente. • Certificando-se que não existe bolhas de ar na seringa antes da aplicação. • Aguardar até que o álcool (se utilizado) tenha evaporado completamente antes da aplicação. • Mantendo-se os músculos relaxados na área da aplicação. • Penetrando rapidamente a pele. • Não mudando a direção da agulha durante a inserção ou retirada da agulha. • Não reutilizando as agulhas quando ficarem sem fio. Alguns indivíduos podem ser beneficiados com o uso de seringas para pronta utilização (aqueles com problemas visuais, que dependem de outras pessoas para a aplicação da insulina, que viajam ou fazem suas refeições em restaurantes). As seringas prontas para uso são estáveis durante 30 dias, quando mantidas sob refrigeração. Se possível, as seringas devem ficar armazenadas na posição vertical, com a agulha para cima, de forma que as partículas suspensas de insulina não obstruam a agulha. A seringa utilizada anteriormente deve ser levemente agitada entre as mãos antes da administração. Uma quantidade de seringas deve ser pré-misturada e armazenada. O efeito da prémistura das insulinas no controle glicêmico deve ser avaliado por um médico, com base nos resultados da glicose sangüínea obtidos pelo paciente. Quando a pré- Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 mistura é realizada, a consistência da técnica e o controle cuidadoso da glicose sangüínea são especialmente importantes. Local da aplicação A insulina deve ser injetada no tecido subcutâneo da parte superior do braço, na parte anterior e lateral da coxa, nádegas e abdome (com exceção de um diâmetro de 2 polegadas ao redor do umbigo). Não se recomenda a injeção intramuscular nas aplicações de rotina. É importante alternar o local de aplicação para prevenir a lipohipertrofia ou lipoatrofia. Recomenda-se alternar a área (por ex., alternar as aplicações sistematicamente no abdome) em vez de alternar para um área diferente em cada aplicação. Esta prática pode diminuir a variabilidade na absorção diariamente. O local da aplicação deve levar em consideração a variação da absorção entre os locais. O abdome apresenta o índice mais rápido de absorção, seguido pelos braços, coxas, e nádegas. O exercício aumenta o índice de absorção dos locais de aplicação, provavelmente aumentando o fluxo sangüíneo da pele e talvez também por ações locais. As áreas de lipohipertrofia, em geral apresentam uma absorção mais lenta. Manejo do paciente Dosagem A dosagem adequada de insulina depende da resposta glicêmica do indivíduo à ingestão de alimentos e aos esquemas de exercício. Para quase todos os pacientes diabéticos tipo 1 e muitos pacientes tipo 2, o tempo de ação da insulina requer três ou mais injeções por dia para alcançar as metas glicêmicas. Os pacientes tipo 1 e alguns tipo 2 podem também necessitar de insulinas de ação rápida, curta ou mais longa. Uma dosagem algorítmica adequada para as necessidades dos indivíduos e objetivos do tratamento deve ser desenvolvida com a cooperação do paciente. O momento da aplicação depende dos níveis de glicose sangüínea, consumo de alimentos, exercícios e tipos de insulina utilizada. As variáveis na ação da insulina devem ser consideradas (por ex., início, pico e duração). Insulinas análogas de ação rápida devem ser injetadas 15 min antes da refeição ou imediatamente após a refeição. Freqüentemente, o intervalo recomendado entre a aplicação de insulina de ação curta (normal) e a refeição é de 30 min. Não é aconselhável alimentar-se 213 alguns minutos depois (ou antes) de injetar insulina de ação curta porque isto reduz de forma substancial a capacidade da insulina de prevenir um aumento rápido na glicose sangüínea e pode aumentar o risco de hipoglicemia tardia. O médico deve recomendar o intervalo entre a aplicação de insulina e o horário da refeição com base em fatores como os níveis de glicose sangüínea, o local da aplicação, e a atividade prevista durante o intervalo. Auto-monitorização Sempre que possível, os pacientes que fazem uso de insulina devem praticar o auto-monitorização da glicose sangüínea (SMBG). Os ajustes na dose de insulina devem basear-se nas medidas da glicose sangüínea. A variação é influenciada por diferenças nos índices de absorção de insulina, sensibilidade à insulina, exercício, estresse, índices de absorção dos alimentos, e alterações hormonais (por ex., puberdade, ciclo menstrual e gravidez). Enfermidades, viagens e qualquer alteração na rotina (por ex., aumento de atividade física e alteração na alimentação durante viagens) podem requerer um auto-monitorização mais freqüente sob a orientação de um médico. Viajar através de três ou mais fusos horários requer recomendação especial com relação à administração da insulina. Durante a enfermidade é importante que a insulina não seja interrompida, mesmo se o paciente não for capaz de se alimentar ou em caso de vômitos. Quando acompanhada por hiperglicemia, um teste de urina positivo para cetonas durante enfermidades, indica a necessidade de uma quantidade maior de insulina. Profissionais de saúde devem obter informações sobre os valores da glicose sangüínea sempre que os pacientes necessitem de assistência no acompanhamento da doença ou estresse. Hipoglicemia O excesso de insulina é uma causa comum de hipoglicemia. A hipoglicemia podem também resultar do atraso ou ausência de uma refeição, diminuição do conteúdo de carbohidratos de uma refeição, ou aumento da atividade física. Todos os indivíduos que necessitam de insulina devem ser orientados a portar pelo menos 15 g de carbohidrato para ser ingerido ou bebido em forma líquido no caso de uma reação hipoglicêmica. Os membros da família, companheiros de quarto, e colegas de trabalho devem ser instruídos no uso do glucagon para situações em que o indivíduo não pode receber carbohidratos por via oral. Todos os usuários de insulina devem portar identificação médica (por ex., um bracelete ou cartão) que alerte sobre o fato de que são usuários de insulina. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 Recomendações para a prática médica VI - Diabetes mellitus gestacional Definição, detecção e diagnóstico Definição O diabetes mellitus gestacional (DMG) é definido como qualquer grau de intolerância à glicose, com seu início ou primeira identificação durante a gravidez. A definição se aplica quando o tratamento consiste tanto no emprego de insulina, como na modificação dos hábitos alimentares, persistindo ou não esta condição após a gravidez. Não exclui-se a possibilidade de que o desconhecimento da intolerância à glicose possa ser anterior ou tenha iniciado junto com a gravidez. Aproximadamente 4% de todas as gestações são dificultadas pela presença do DMG. A prevalência pode variar de 1 a 14% de todas as gestações, dependendo da população estudada e dos testes de diagnóstico empregados. • Idade < 25 anos • Peso normal antes da gravidez • Membro de um grupo étnico com uma baixa prevalência de DMG • Desconhecimento sobre parentes de primeiro grau com diabetes • Nenhuma história de tolerância anormal à glicose • Nenhuma história de resultado obstétrico insatisfatório Um nível de glicose plasmática em jejum > 126 mg/dl (7,0 mmol/l) ou glicose plasmática ocasional > 200 mg/dl (11,1 mmol/l) se enquadra no limiar inicial para o diagnóstico do diabetes, se confirmado este resultado no dia seguinte, e exclui a necessidade de qualquer prova de glicose. Na ausência deste grau de hiperglicemia, a avaliação do DMG em mulheres com características de risco médio ou alto devem seguir uma das duas abordagens: Detecção e diagnóstico A avaliação do risco para DMG pode ser feita na primeira consulta do pré-natal. As mulheres com características clínicas compatíveis com um alto risco de DMG (obesidade acentuada, história pessoal de DMG, glicosúria, ou uma considerável história familiar de diabetes) devem ser submetidas ao teste de glicose o quanto antes. Se não for constatado o DMG no exame inicial, elas devem ser novamente submetidas aos testes na 24a e 28ª semanas de gestação. Mulheres com risco relativo devem realizar os testes nas semanas 24-28 de gestação. A condição de baixo risco não requer o teste da glicose, porém esta categoria está restrita às mulheres que se enquadram em todas as características abaixo: Abordagem em uma etapa: Realizar um teste oral de tolerância à glicose (TOTG) sem um exame anterior da glicose sérica ou plasmática. Abordagem em duas etapas: Realizar um exame inicial através da mensuração da concentração de glicose plasmática ou sérica, 1h após a ingestão inicial de 50 g de glicose e realizar um TOTG naquele subgrupo de mulheres que estão com valores de glicose acima do limite no primeiro teste. Quando a abordagem em duas etapas é empregada, um valor inicial de glicose > 140 mg/dl (7,8 mmol/l) identifica aproximadamente 80% das mulheres com DMG, e o resultado aumenta em 90% utilizando uma referência > 130 mg/dl (7,2 mmol). Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 Considerações obstétricas e perinatais A presença de hiperglicemia em jejum (> 150 mg/dl ou > 5,8 mmol/l) pode estar associada a um aumento no risco de morte fetal intra-uterina durante as últimas 4-8 semanas de gestação. Embora o DMG sem complicações não tenha sido associado ao aumento na mortalidade perinatal, o DMG aumenta o risco de macrossômia fetal e outras morbidades neonatais incluindo hipoglicemia, hipocalcemia, policitemia e icterícia. O DMG está associado ao aumento na freqüência de hipertensão e à necessidade do parto por cesariana. A complicação final pode resultar dos distúrbios do crescimento fetal e/ou alterações no tratamento obstétrico devido ao conhecimento de que a mãe tem DMG. Considerações a longo prazo Mulheres com DMG estão sob risco aumentado de desenvolver o diabetes, em geral do tipo 2, após a gravidez. A obesidade e outros fatores que promovem a resistência à insulina parecem aumentar o risco do diabetes tipo 2 após o DMG, enquanto os marcadores da auto-imunidade regulada pelas células β estão associados a um aumento no risco de diabetes tipo 1. A prole das mulheres com DMG apresentam um aumento no risco de obesidade, intolerância à glicose e diabetes ao final da adolescência e no início da fase adulta. Estratégias terapêuticas durante a gravidez Monitorização • O controle metabólico materno deve ser direcionado para a detecção da hiperglicemia severa suficiente para aumentar os riscos para o feto. O automonitorização diário da glicose sangüínea parece ser melhor que o controle periódico da glicose sangüínea no consultório. Para mulheres tratadas com insulina, a evidência indica que o controle pós-prandial é superior ao controle pré-prandial. • O controle da glicose na urina não é útil no DMG. O controle da cetona na urina pode ser útil na detecção da ingestão insuficiente de calorias ou carbohidratos em mulheres tratadas com esquemas de restrição calórica. • A supervisão materna deve incluir o controle da pressão arterial e da proteína na urina para detectar distúrbios de hipertensão. 215 • É adequada uma maior supervisão para grávidas com risco de perda do feto, especialmente quando os níveis de glicose em jejum excedem 105 mg/dl (5,8 mmol/l) ou a gravidez avança além do prazo. O início, a freqüência e as técnicas específicas utilizadas para determinar o bem-estar do feto dependerão do risco cumulativo de DMG que o feto resiste e de outras condições clínicas/obstétricas presentes. • A avaliação do crescimento fetal assimétrico pela ultra-sonografia, especialmente no começo do terceiro trimestre, pode ajudar na identificação dos fetos que podem ser beneficiados pelo tratamento materno com insulina. Tabela 1- Diagnóstico do DMG com uma dose oral inicial de 100 g de glicose Jejum 1-h 2-h 3-h mg/dl mmol/l 95 180 155 140 5,3 10,0 8,6 7,8 Para um diagnóstico positivo devem incidir ou exceder duas ou mais concentrações plasmáticas venosas. O teste deve ser realizado de manhã após um jejum noturno de 8 e 14 h e após pelo menos 3 dias de dieta sem restrição (≥ 150 g de carbohidratos ao dia) e atividade física sem limites. O indivíduo deve permanecer sentado e não deve fumar durante o teste. Tabela 2 - Diagnóstico do DMG com uma dose oral inicial de 75g de glicose Jejum 1-h 2-h mg/dl mmol/l 95 180 155 5,3 10,0 8,6 Para um diagnóstico positivo devem incidir ou exceder duas ou mais concentrações plasmáticas venosas. O teste deve ser realizado de manhã após um jejum noturno de 8 e 14 h e após pelo menos 3 dias de dieta sem restrição (≥ 150 g de carbohidratos ao dia) e atividade física sem limites. O indivíduo deve permanecer sentado e não deve fumar durante o teste. Tratamento • Em mulheres obesas (IMC > 30), uma restrição calórica entre 30-30% (ingestão aproximada de 1.800 kcal/dia) demonstrou reduzir a hipercalcemia e os triglicerídeos plasmáticos sem aumento na 216 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 cetonúria. As mulheres obesas podem alcançar um bom resultado tendo como objetivo uma restrição calórica moderada. • A insulina é o único tratamento farmacológico que demonstrou reduzir as morbidades fetais quando conjugado ao tratamento nutricional. A escolha das gestações a serem tratadas com insulina pode se basear em mensurações da glicemia materna com ou sem avaliação das características de crescimento do feto. Quando são usados os níveis da glicose materna, o tratamento com insulina é recomendado quando o tratamento nutricional não consegue manter os níveis de glicose sangüínea em jejum ≤ 95 mg/dl (5,3 mmol/l) ou os níveis de glicose sangüínea 2 h pós-prandial ≤ 120 mg/dl (6,7 mmol/l). A insulina deve ser administrada para manter a glicemia abaixo destes níveis. • A medida da circunferência abdominal do feto logo no primeiro trimestre pode identificar um grande subgrupo de recém-nascidos sem risco excessivo de macrossômia na ausência de tratamento materno com insulina. Esta abordagem foi testada principalmente em gestações com níveis de glicose sérica materna de jejum < 105 mg/dl (5,8 mmol/l). • A insulina humana deve ser usada quando a insulina é prescrita e o auto-monitorização diário da glicose sangüínea deve orientar as doses e o tempo do esquema com insulina. O uso de análogos de insulina não foi testado no DMG. • Os agentes orais para a redução da glicose não são recomendados durante a gravidez. • Mulheres com um estilo de vida ativo devem ser estimuladas a iniciar ou continuar um programa de exercício moderado, que já demonstrou reduzir as concentrações de glicose materna. • O DMG não é por si só uma indicação para a cesariana ou para o parto anterior à 38ª semana de gestação. O prolongamento da gestação além das 38 semanas aumenta o risco de macrossômia fetal sem reduzir os índices de cesariana, de forma que o parto durante a 38ª semana é recomendado a não ser que considerações obstétricas indiquem o contrário. • A amamentação, como sempre, deve ser incentivada em mulheres com DMG. Considerações terapêuticas a longo prazo Se os níveis de glicose pós-parto estão normais, uma nova avaliação da glicemia deve ser realizada em intervalos mínimos de 3 anos. Mulheres com intolerância à glicose ou tolerância alterada no período pós-parto devem ser examinadas em intervalos mais freqüentes. As pacientes devem ser orientadas sobre as modificações no estilo de vida que podem diminuir a resistência à insulina, incluindo a manutenção do peso corporal normal através de tratamento nutricional e atividade física. Devem ser evitados os medicamentos que agravam a resistência à insulina (por ex., glucocorticóides, ácido nicotínico). As pacientes devem ser aconselhadas a procurar atendimento médico caso desenvolvam sintomas que sugiram a hiperglicemia. A orientação deve incluir a necessidade de um planejamento familiar para garantir uma ótima regulação glicêmica desde o início de qualquer gravidez subsequente. Os contraceptivos orais com baixa dosagem de estrogênioprogesterona podem ser úteis em mulheres com história anterior de DMG, na medida que não existem contra-indicações clínicas. A prole das mulheres com DMG devem ser acompanhadas quanto ao desenvolvimento de obesidade e/ou anormalidades de tolerância à glicose. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas Prevenção de doenças cardiovasculares na infância Atualização sobre a hipercolesterolemia familiar Leiv Ose* Resumo Recentemente foi apresentado em Genebra um relatório da Organização Mundial de Saúde abordando o tema da hipercolesterolemia familiar (HF). Este relatório aborda atualizações em diversos aspectos tais como a análise molecular, o teste do DNA, os critérios clínicos para a obtenção do diagnóstico, os tratamentos da HF em adultos e crianças, a importância da dieta, os aspectos psicossociais, o contato e a ajuda a parentes portadores da doença e, ainda, sugestões para a participação governamental. Apresenta-se aqui uma resenha deste relatório. Palavras-chave: crianças; teste do DNA; hipercolesterolemia familiar; LDL colesterol; receptor de lipoproteína de baixa densidade. 1. Introdução A hipercolesterolemia primária, ou a elevação no plasma da lipoproteína de baixa densidade (LDL)– colesterol, a qual não é atribuída ao meio ambiente, à dieta ou a outras doenças, é uma condição relativamente comum que tem sido associada ao desenvolvimento da aterosclerose e ao surgimento prematuro de doenças cardiovasculares. A Organização Mundial da Saúde (OMS) convidou alguns especialistas para apresentar informações atualizadas sobre o que pode ser feito para ajudar os 10 milhões de heterozigotos com hipercolesterolemia familiar e os 5000 homozigotos na mesma condição a fim de que se possa evitar possíveis ataques cardíacos e prováveis mortes prematuras derivadas desta condição. A partir de uma discussão *Endereço para correspondência: Leiv Ose, MD, Lipid Clinic, Rikshospitalet, Pilestredet 32, N-0027 Oslo 1, Norway, E-mail: [email protected], fax: +47 22 363233. Agradecemos o Dr. Leiv Ose que enviou este artigo especialmente para Diabetes Clínica e a Finnish Medical Society Duodecim, para a autorização de tradução deste artigo, publicado em Annals of Medicine [Ann Med 1999, 31 Suppl 1:13-18] aprofundada abordando os desafios e oportunidades propiciados pelo diagnóstico e o controle da Hipercolesterolemia familiar realizada em uma reunião organizada pela OMS em outubro de 1997, o grupo desenvolveu ainda uma série de recomendações [1]. O presente artigo baseia-se neste relatório. 2. O histórico molecular da hipercolesterolemia familiar A HF é uma desordem monogênica clássica associada à hipercolesterolemia primária, caracterizando-se pela herança codominante autossômica com taxas extremamente altas de LDL-colesterol, presença de xantomas e aterosclerose prematura. A HF resulta da falta de receptores de LDL-colesterol na superfície celular, o que impossibilita a sua absorção e catabolismo pelas células, principalmente pelos hepatócitos. Nos portadores heterozigotos, um gene defeituoso para o receptor de LDL é herdado de um dos pais e um gene normal é herdado do outro. Como são necessários dois genes normais para manter normais os níveis plasmáticos de LDL-colesterol, a ausência de um gene 218 Ose L / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 funcional aumenta em cerca de duas vezes o nível de LDL-colesterol ainda na infância. Já os portadores homozigotos herdam dois genes anormais para os receptores de LDL e, consequentemente, não possuem receptores para o LDL. Nestes pacientes, os níveis de LDL aumentam de quatro a cinco vezes mais e a aterosclerose generalizada costuma desenvolver-se ainda na infância. A freqüência de heterozigotos está estimada em 1/500 na maior parte das populações mundiais (européia, norte-americana e japonesa) e a de homozigotos é de cerca de 1/1.000.000 [2]. A segunda desordem monogênica associada à hipercolesterolemia primária é a apolipoproteína B-100 (apoβ-100) defeituosa hereditária (familial defective apoβ-100 - FDB). Esta condição resulta da presença de partículas de LDL que não se unem corretamente ao receptor de LDL devido à mutação na apoβ-100, que é o principal peptídeo constituinte do LDL e o ligante do receptor de LDL. Estima-se que a freqüência de heterozigotos FDB no Reino Unido, Países Baixos e Alemanha seja de aproximadamente 1/600–1/700, chegando a 1/210 na Suíça. O fenótipo clínico e bioquímico dos heterozigotos portadores de FDB guarda alguma semelhança com aqueles dos heterozigotos HF. No entanto, na FDB os níveis principais de LDLcolesterol no plasma diferem daqueles encontrados na HF (ou seja, acima do 95º percentil) para taxas moderadamente elevadas tais como as encontradas em casos de hipercolesterolemia poligênica [3, 4]. 3. Mutações no gene receptor de LDL e defeitos funcionais na hipercolesterolemia familiar O receptor de LDL é uma proteína composta de 839 aminoácidos contendo diversos domínios funcionais. Sua produção é rigidamente controlada por um sofisticado mecanismo de feedback que controla a transcrição do gene receptor de LDL em resposta a variações no conteúdo de esterol intracelular e na demanda celular de colesterol [2]. Mais de 250 mutações do gene receptor de LDL foram detectadas em pacientes com Hipercolesterolemia familiar. Em alguns casos, principalmente em pacientes homozigotos, o efeito destas mutações nas funções receptoras de LDL já foram extensivamente pesquisados. Estes defeitos funcionais foram agrupados em cinco classes principais: 1) incapacidade de expressar a síntese da proteína do receptor; 2) transporte defeituoso dos precursores dos receptores do retículo endoplasmático até a superfície celular; 3) defeito da união ligante-receptor; 4) defeito da internalização do complexo ligante-receptor devido ao agrupamento defeituoso do receptor nas depressões da túnica; e 5) reciclagem defeituosa do receptor. Os alelos defeituosos dos receptores de LDL também podem ser agrupados mais simplesmente como receptores negativos, nos quais nenhum receptor de proteína é produzido ou apenas um que apresenta pouca ou nenhuma função, e como receptor-defeituoso, no qual uma proteína mutante que retém alguma função receptora residual é produzida. Nos portadores homozigotos receptores negativos, os níveis de LDLcolesterol no plasma são mais altos de a aterosclerose generalizada bem como os problemas cardiovasculares são mais severos do que aqueles apresentados nos portadores homozigotos com receptores defeituosos [5, 6]. Os portadores heterozigotos apresentam um aumento de duas vezes mais nos níveis de colesterol no plasma (em geral, acima do 95% a mais do que o restante da população). A doença arterial coronariana (CAD) clínica costuma manifestar-se por volta dos 45-48 anos nos homens e 55-58 nas mulheres. Os níveis de colesterol total no plasma (CT) e os índices de LDLcolesterol não permitem um diagnóstico conclusivo daqueles indivíduos portadores de defeitos no receptor de LDL (HF) devido à maior variação bioquímica e clínica dentre os HF heterozigotos, mesmo entre membros afetados em uma mesma família [2]. Esta variação nos níveis de LDL-colesterol pode estar relacionada, em parte, ao tipo de defeito no receptor (função residual do receptor de LDL codificada pelo alelo modificado) e também a outros fatores tais como a expressão do alelo normal codificando o receptor, os padrões isofórmicos da apoE ou a produção de apoB contendo lipoproteínas. Os portadores heterozigotos com receptor de LDL defeituoso devido à mutação no gene receptor de LDL mas com níveis normais de LDL-colesterol raramente foram mencionados. 4. Teste de DNA na hipercolesterolemia familiar A precisão do diagnóstico obtido por meio do teste de DNA deve-se a sua utilidade no que diz respeito à avaliação do risco cardiovascular visando à possibilidade de se realizar a prevenção. Ao contrário dos métodos tradicionalmente utilizados para se determinar esse risco baseados em fatores epidemiológicos tradicionalmente definidos, a procura específica por traços de HF apresenta inúmeras vantagens. Em primeiro lugar, a HF é uma entidade com etiologia, fisiopatologia, sinais e sintomas conhecidos. Em segundo lugar, devido a sua homogeneidade, encontra-se muito menos variação entre pacientes portadores de HF comparativamente à 220 Ose L / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 população em geral. Por fim, os pacientes portadores desta doença apresentam um risco muito maior de CAD em comparação a outras pessoas com hipercolesterolemia na população em geral. Apenas 20% dos homens portadores de HF chegam aos 70 anos de idade. Portanto, o diagnóstico de HF é um prognosticador muito melhor (cerca de 50 vezes mais eficiente) dos riscos de CAD do que qualquer algoritmo populacional. Em determinados casos, o diagnóstico pode ser feito com base na apresentação clínica, a presença de xantomatose, altos índices de colesterol e análises segregacionais nos estudos familiares. No entanto, os fenótipos podem enganar e os estudos genealógicos são complicados. Um teste de DNA para indicar a presença da doença apresenta, portanto, diversas vantagens. O teste de HF oferece uma resposta objetiva (sim/não) quanto ao diagnóstico. Afinal, as concentrações de colesterol são uma variável contínua. O teste para detectar a HF é uma ferramenta definitiva para o rastreamento genealógico, sendo útil para proporcionar diagnósticos diferenciais dos pacientes que apresentam os maiores riscos bem como servindo de triagem populacional. Pode ainda haver algum valor de prognóstico nos testes de HF pois os anos que o paciente passou com o colesterol alto são um meio de previsão de riscos muito mais preciso do que a identificação precoce de portadores de mutações menos graves. O modo mais fácil de se diagnosticar a HF é por meio da identificação de mutações conhecidas. A identificação direta da variante de DNA pode ser realizada por diferente métodos envolvendo amplificação enzimática do DNA genômico utilizando-se a reação em cadeia da polimerase (Polimerase Chain Reaction - PCR). Tais métodos devem ser selecionados levando-se em conta a confiabilidade, automação e integração nos sistemas de bancos de dados existentes. Quando a maior parte das mutações dentre determinada população ainda permanecem desconhecidas, a pesquisa destas mutações pode ser um importante passo intermediário a ser tomado antes da seqüência de diagnóstico ter início. 5. Critérios clínicos para o diagnóstico da hipercolesterolemia familiar Os critérios empregados usualmente para identificar indivíduos com HF heterozigótica incluem a presença de xantoma, arco córneo, xantelasma, histórico familiar (ou pessoal) de doença arterial coronariana precoce (DAC) e parâmetros bioquímicos (ou seja, níveis de colesterol no plasma). Os xantomas nos tendões são quase patognomônicos para a HF, embora sejam marcadores diagnósticos insensíveis, apresentando um predomínio (em porcentagem) quase idêntico à idade menos 10 em 346 pacientes afetados pela doença em Utah (RR Williams, observações não publicadas, 1996). Cerca de 50% dos pacientes ingleses com cerca de 50 anos apresentam círculo completo e arco acentuado, mas não antes de 60 nos indivíduos não portadores de HF [7]. Em Utah, apenas 10% dos pacientes não selecionados com idades variando entre 40-60 anos apresentavam esses traços e somente 2% dos pacientes com idades entre 20-40 apresentavam a mesma condição (RR Williams, observações não publicadas, 1996). Na ausência de traços prognósticos absolutamente decisivos, as decisões devem basear-se em critérios arbitrários. Como era de se esperar, estas incorrem em comprometimentos de arbitramento e sensibilidade ou especificidade de diferentes países e organizações. Outros recentes esforços para lidar com diferentes ambientes e espectros genéticos e mutacionais levaram a um âmbito de critérios diversos. Para exemplo, há quatro critérios utilizados por Simon Broome no Reino Unido. Para um diagnóstico ‘preciso’ de HF, os critérios 1 e 2 devem estar presentes. Já ‘possíveis’ portadores devem apresentar tanto 1 e 3, ou 1 e 4. Estes critérios são: 1) TC acima de 6,7 mmol/l caso o paciente tenha menos de 16 anos ou TC acima de 7,5 mmol/l caso seja maior de 16 ou LDL-colesterol acima de 4,9 mmol/l caso seja maior de 16; 2) Xantoma em parente de primeiro ou segundo grau; 3) Histórico familiar de infarto do miocárdio com idade inferior a 60 anos em parente de primeiro grau ou em parente de segundo grau com menos de 50 anos; 4) Histórico familiar de TC acima de 7,5 mmol/l em parente de primeiro ou segundo grau. 6. Tratamento medicamentoso da hipercolesterolemia familiar em adultos Sabe-se que os pacientes com HF constituem uma população única, a qual apresenta altíssimos riscos de desenvolver CAD precocemente. Os estudos conduzidos antes da disponibilidade de drogas efetivas para abaixar a taxa lipídica indicaram que, sem tratamento, a idade média em que surge CAD em homens com HF heterozigótica é de cerca de 40 anos, e nas mulheres este período pode estender-se em 10 ou 15 anos. As chances de um homem com HF heterozigótica sofrer um infarto do miocárdio é de 5% antes dos 30 anos, aumentando para 50% por volta dos 50 e chegando a 85% aos 60 anos de idade. Os valores correspondentes para pacientes do sexo feminino nas mesmas condições Ose L / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 são de menos de 1% antes dos 30, 15% por volta dos 50 e 50% aos 60 anos de idade [8]. Como era de se esperar, a freqüência de HF heterozigotos aumenta de 20 a 30 trinta vezes em pacientes com CAD prematura; pacientes portadores desta desordem com idade variando entre 20–39 anos apresentam taxa de mortalidade decorrente da CAD cerca de 100 vezes maior em comparação com a previsão das tabelas de vida [9]. Portanto a ausência da terapia para reduzir a concentração de LDL-colesterol pode favorecer o desenvolvimento de aterosclerose prematura em muitos pacientes com HF, o que tende a acontecer em um período em que são membros ativos da sociedade, muitas vezes com responsabilidades familiares. As concentrações plasmáticas de LDL-colesterol na maior parte dos pacientes adultos com HF heterozigótica excede 6,5 mmol/l. O objetivo terapêutico em pacientes que apresentam menos de dois fatores de risco para o sistema cardiovascular é reduzir as concentrações de LDL-colesterol para menos de 4,1 mmol/l. A maior parte dos pacientes do sexo masculino com HF heterozigótica apresentarão dois ou mais fatores de risco para o sistema cardiovascular (sexo masculino e histórico familiar positivo), e o objetivo terapêutico ideal nestes pacientes é reduzir as concentrações de LDL-colesterol para menos de 3–3,5 mmol/l. 6.1 Definição do desafio O desafio nos pacientes portadores de HF heterozigótica é preveni-los quanto ao desenvolvimento de aterosclerose coronariana prematura. Este quadro invariavelmente exige o emprego de uma terapia englobando medicamentos e dieta, os quais só são bem sucedidos quando o paciente é bem informado acerca dos objetivos do emprego dos medicamentos e da necessidade da continuidade do tratamento e, à medida que o tratamento é realizado, o paciente mantém-se informado sobre a eficácia da terapia na redução das concentrações de LDL-colesterol. O potencial para prevenir ou até mesmo reverter a aterosclerose em pacientes portadores de HF heterozigótica é maior agora do que nunca. Isto se deve aos avanços na terapia com medicamentos, principalmente ao desenvolvimento dos inibidores da 6-hidroximetilglutaril coenzima A (HMGCoA) redutase (vastatinas), a melhores métodos para estratificação de risco (ex.: a inclusão da lipoproteína (a) (Lp(a)) e aos resultados dos testes clínicos os quais estabeleceram o benefício terapêutico de reduzir o LDLcolesterol tanto nos processos de prevenção primária [10] quanto secundária [11], bem como em estudos específicos de pacientes portadores de HF heterozigótica. 221 7. O papel da dieta e o tratamento de crianças com hipercolesterolemia familiar Ainda não foram realizados estudos controlados sobre o papel da dieta na hipercolesterolemia e muitas crianças e adultos portadores da doença podem ficar desapontados ao saberem que os níveis de colesterol apresentam poucas mudanças após a modificação da dieta. No entanto, a modificação da dieta é o ponto de partida da terapia para o tratamento da HF em qualquer estágio de aterogênese. Uma dieta com baixo índice de gordura e rica em carboidratos, apropriada para o tratamento da hiperlipemia e para provocar uma ação antitrombótica, foi desenvolvida e testada em experimentos metabólicos nas últimas décadas. A ênfase é no tipo de ácidos graxos na dieta bem como na redução das calorias extra em pessoas obesas [12]. A relação tradicional entre gorduras poliinsaturadas, monoinsaturadas e saturadas tem sido de 1:1:1, embora tenham surgido evidências de que a relação de 1:2:1 apresenta resultados melhores. Um dos problemas é que aumentando a ingestão de alimentos com gorduras poli e monoinsaturadas pode ser difícil para crianças [13]. Dependendo da dieta original e dos níveis de restrição quanto à ingestão de gordura, tais mudanças podem levar a uma redução de 5-20% nos níveis de colesterol [12]. Naturalmente, muitos pacientes não foram afetados pelas recomendações tradicionais quanto à dieta em sua família antes de terem acesso a um nutricionista e, portanto, sua dieta pode conter restrições quanto ao consumo de gorduras. Outras sugestões para mudanças na dieta incluem o aumento da ingestão de antioxidantes e fitoquímicos consumindo-se mais frutas e vegetais e, caso não se apresente obesidade, adicionando-se castanhas e óleos à dieta, uma idéia que pode ser completamente estranha aos pacientes de HF que pensam que todo tipo de gordura é prejudicial à saúde. Noventa e seis garotos e garotas portadores de HF (com idade média de 8,4 anos, 92% eram portadores de mutação do receptor de LDL) seguiram o tratamento durante um ano em nossa clínica e apresentaram uma diminuição de 5% nos níveis de colesterol apenas modificando os hábitos alimentares [14]. Uma composição dietética baseada em uma avaliação de quatro dias mostrou que 23±5% da energia utilizada pelo organismo era metabolizada a partir da quantidade total de gordura, 8±2% da gordura saturada, 5±1% da gordura poliinsaturada, 8±2% da gordura monoinsaturada, 15±2% das proteínas e 62±5% dos carboidratos. A ingestão de colesterol foi de 67±28 mg/1000 kcal. Este é um exemplo de 222 Ose L / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 uma dieta típica de um paciente de nossa clínica para crianças com HF. Assim, registrar o que se come tem valor pedagógico e assegura que o paciente compreenda a dieta. Um registro das últimas 24h ou 48h pode ser bastante útil como uma forma de controlar a dieta [14]. Felizmente, a adoção da dieta está associada a um aumento na densidade dos micronutrientes, inclusive a vitamina C, ácido fólico, riboflavina, tiamina e magnésio [15]. Para crianças que não gostam de leite desnatado ou de laticínios com baixa taxa de gorduras, a suplementação com cálcio deve ser recomendada. Os níveis de vitaminas lipossolúveis são normais em crianças que seguem dietas com baixos índices de gordura, mas a suplementação com vitamina D na forma de óleo de fígado de bacalhau é recomendada em países setentrionais como a Noruega [16]. Os materiais sobre estudos analisando o efeito destas dietas a longo prazo são escassos. É nossa opinião pessoal que a dieta permanece estável ao longo do tempo, embora a adolescência seja um período turbulento em que a oposição a recomendações é comum. As crianças com HF que receberam aconselhamento profissional quanto à dieta não relatam mais aversão a comidas específicas do que aquelas no grupo de controle, o que sugere que aversões a determinados alimentos não são resultado de conselhos nutricionais [13]. Recomenda-se que as famílias com HF marquem a consulta inicial tão logo seja possível e assim que obtiverem os resultados dos lipidogramas, pois é preciso bastante tempo para que a família se acostume com a clínica e possa sanar suas dúvidas. Em geral, as consultas são de 1h com o médico e mais 1h com um nutricionista especialmente treinado. Em nossa clínica, raramente marcam-se consultas para crianças abaixo de 5 anos (exceto em casos de HF homozigótica). Desde a primeira consulta, deve-se agendar um esquema de acompanhamento no qual, em geral, é marcado o retorno da família para 6 meses após a primeira consulta. Nossa experiência mostra que as crianças costumam precisar consultar apenas com o nutricionista. Estabelecendo-se um acompanhamento mais próximo desde o princípio é o primeiro passo para um bom relacionamento. A partir daí agenda-se uma consulta anual. É importante mencionar que as consultas regulares não devem ser interrompidas só porque não há ‘maiores problemas no momento’. Nós fazemos uma avaliação minuciosa do desenvolvimento da criança, avaliando-se peso e altura, desde a primeira consulta a fim de assegurar um desenvolvimento normal. Raramente há crianças abaixo do peso, sendo o contrário muito mais freqüente. A partir dos 8 ou 10 anos a criança já pode conversar com os médicos sozinha, sem a presença dos pais, caso estes concordem. Os médicos tentam ensinar à criança desde cedo a ser responsável por sua própria dieta. Os pais devem enfatizar a necessidade ou não de medicação desde as primeiras consultas, para tanto, desenvolvemos uma classificação de categorias de risco em crianças e adolescentes com HF no que diz respeito ao uso de medicamentos [17]. 8. Aspectos psicossociais da hipercolesterolemia familiar Há inúmeras diferenças entre a realização de exames para detectar doenças, tais como hipotireoidismo neonatal, ainda que o risco seja muito alto, e avaliar-se o risco de desenvolvimento de doenças como HF e, futuramente, DAC. Consequentemente, inúmeras questões vêm surgindo no que diz respeito aos aspectos psicossociais dos testes para se detectar a presença de HF. 8.1 As barreiras psicossociais na hipercolesterolemia familiar As barreiras psicossociais enfrentadas para se obter um diagnóstico e conseqüente tratamento eficientes incluem os seguintes pontos: 1) os efeitos de ser taxado ou identificado como portador de determinada doença (o que pode gerar estresse psicológico); 2) dificuldade de obtenção de planos de saúde adequados e até em conseguir emprego; 3) a ética para com os parentes; e 4) aconselhamento quanto à progênie. 9. Relacionado-se e ajudando parentes com hipercolesterolemia familiar: o projeto MedPed O Projeto Internacional MedPed (Make Early Diagnosis – Prevent Early Deaths in Medical Pedigrees) tem como alvo famílias portadoras de doenças hereditárias e visa a identificar os membros que correm maior risco de morbidade e mortalidade. A partir de uma identificação inicial do caso, muitos parentes próximos podem ser identificados como portadores da mesma doença genética por meio de um sistema eficiente e de baixo custo [18]. Além disso, educação, tratamento, apoio e compreensão são sabidamente mais eficientes quando se enfoca o problema pelo ponto de vista familiar em contraposição ao indivíduo. A HF hetero- 224 Ose L / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 zigótica é uma desordem de um único gene a qual já foi suficientemente relatada [2] e presta-se como excelente modelo do projeto. O MedPed envolve mais de 40 colaboradores e mais de 30 países em todo o mundo. O MedPed internacional surgiu a partir de aproximadamente 800 casos identificados de HF heterozigótica em 1994, chegando a mais de 20.000 em 1997. A HF heterozigótica não exige tratamento genético experimental especializado para aumentar a expectativa de vida do paciente. Os tratamentos aprovados pelos governos existem e estão disponíveis na maior parte dos países onde há o projeto. Modificações na dieta, introdução de inibidores potentes da redutase HMG-CoA e outros medicamentos são providências fáceis de serem implementadas. Os membros de famílias propensas precisam ser alertados acerca da possibilidade de apresentarem HF heterozigótica e devem saber dos tratamentos disponíveis atualmente. Por estas razões, encontrar um método fácil de localizar e educar estes indivíduos torna-se crucial. Devido à raridade da doença dentre a população em geral (aproximadamente 1/500), os esforços para se identificarem estes pacientes podem ser tedioso. O MedPed oferece um método que evita os rastreamentos dispendiosos da população, além de ser uma medida prática e fácil de ser implementada. 10. Conclusões e recomendações O prognóstico para pacientes e famílias com HF heterozigótica tem aumentado substancialmente na última década como resultado dos avanços tanto no processo de identificação quanto no tratamento desta desordem. Os testes clínicos têm demonstrado benefícios conclusivos com a redução das concentrações de LDL-colesterol em pacientes com HF heterozigótica e os maiores obstáculos para que se reduza os riscos de uma DAC prematura em pacientes portadores desta desordem são: 1) identificação de um número maior de pacientes e 2) compromisso de um tratamento duradouro e eficiente com objetivos terapêuticos bem definidos para pacientes adultos. O tratamento tende a ser mais eficiente se há comunicação entre o paciente e o médico e, em alguns casos, o especialista em lipídios, acerca das metas a serem alcançadas com o tratamento e os resultados esperados a partir das intervenções terapêuticas. As seguradoras de saúde e os programas de saúde financiados pelos governos devem ser encorajados para propiciarem um apoio conjunto e cobrirem os custos da identificação do paciente (inclusive entrando em contato com os parentes) além de oferecerem um tratamento eficiente. O prognóstico para uma prevenção primária da DAC em pacientes assintomáticos com HF heterozigótica é excelente e o maior desafio tanto para o sistema de saúde quanto para os planos de saúde é a identificação e o oferecimento de um tratamento eficiente do paciente portador desta desordem que ainda não foi diagnosticado e/ou recebe tratamento inadequado. Faz-se necessário intensificar a identificação dos fatores responsáveis pela grande variação nos níveis de LDL-colesterol em pacientes com HF heterozigótica: para entender o mecanismo por trás da redução dos níveis de HDLcolesterol em pacientes com esta desordem e estudar a contribuição de polimorfismos de outros genes (tais como Lp(a), fatores de coagulação, etc) no desenvolvimento da aterosclerose e da CAD. Os critérios para a obtenção do diagnóstico clínico da HF podem ser aperfeiçoados por meio da comparação dos resultados dos testes clínicos com os testes de DNA em uma população qualquer (como por exemplo fazer um rastreamento de todos os casos registrados de todos os parentes com DNA testado mas excluindo-se da análise os casos de avaliação parcial). O diagnóstico de HF a partir do DNA pode tornar-se mais fácil de ser obtido e menos dispendioso por meio do emprego de novas estratégias para o teste. A manutenção de um banco de dados mundial das mutações de HF também pode ajudar propiciando abordagens mais eficientes para os laboratórios que analisam DNA. Quem deve fazer parte do rastreamento e como tratar as crianças portadoras da desordem são assuntos que devem ser analisados até que se alcance um consenso utilizando-se as normas de procedimentos [19], bem como os procedimentos diagnósticos da HF, incluindo-se a análise genética, os quais devem ser recomendados. As crianças com HF que recebem tratamento de acordo com os padrões não devem ficar em desvantagem no que diz respeito a prêmios de seguro. O estresse psicológico não parece ser um obstáculo considerável no que diz respeito ao teste para se detectar a presença de HF. O teste só deve ser realizado quando se dispuser de apoio, tratamento e acompanhamento por parte de uma equipe de profissionais competentes. A competência dos profissionais depende de seu interesse e experiência no tratamento da doença, independentemente de especialização médica. O uso de medicamentos redutores do colesterol não deve ser motivo de aumento das taxas em planos de saúde para indivíduos que não apresentam outros problemas de saúde. O prêmio de seguros de vida ou para casos de invalidez deve levar em conta outros fatores de risco e os níveis de colesterol, os quais devem ser reduzidos de maneira apropriada. Informações genéticas não devem ser utilizadas por empregadores ou seguradoras para fins de decisões no que diz respeito a coberturas e contratações. O teste 226 Ose L / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 de parentes deve incluir também a avaliação quanto aos riscos de DAC, além dos níveis de colesterol e análises genéticas. É essencial que se implementem campanhas educacionais com vistas a melhorar os conhecimentos quanto à doença tanto para o público em geral quanto para os profissionais da área de saúde. Deve-se estabelecer nos países ou em suas regiões um registro de pacientes portadores de HF para que se possa detectar casos por meio do rastreamento da árvore genealógica, propiciando informações para o paciente e seus familiares e médicos, bem como assegurando acompanhamento a longo prazo. Devido ao alto risco a que estão expostos, os pacientes de HF devem fazer consultas ao menos uma vez ao ano para assegurar a continuidade do tratamento e sua aceitação. A cooperação entre os profissionais de saúde e as entidades interessadas no assunto deve ser encorajada tanto dentro do país como entre países. Com o desenvolvimento de novas ferramentas educativas, controle de informações clínicas por parte da família e organizações relacionados ao assunto, os indivíduos que apresentam interesse na área podem economizar tempo e dinheiro com a produção de novas fontes de pesquisa simplesmente aprendendo a adaptar os sistemas já existentes. O maior objetivo deve ser a conscientização dos governantes quanto a sua responsabilidade perante a população: é preciso estar ciente de que a HF representa um sério risco para a saúde e que as estratégias para seu diagnóstico e prevenção já estão disponíveis; propiciar o implemento destas estratégias no intuito de evitar sofrimento e morte. As agências de saúde governamentais devem se aliar a organizações de profissionais da área de saúde para coordenar atividades ligadas ao diagnóstico, acompanhamento e controle da HF. Há ainda a necessidade de implementar a educação no assunto para o público em geral e uma maior atenção aos assuntos afins relativos à parte ética quando as partes interessadas decidem adotar o paradigma MedPed. Sabe-se que bilhões de dólares foram gastos no Projeto Genoma Humano no intuito de se mapear os genes causadores de determinadas doenças. É chegada a hora de gastar pelo menos uma pequena fração desta quantia para se implementarem estratégias de tratamento para pacientes portadores de desordens genéticas conhecidas, fatais se não submetidas a tratamento e que podem ser controladas com terapias disponíveis em todo o mundo. Pelo bem de 10 milhões de pacientes portadores de HF em todo o mundo, esperamos que as recomendações desta consultoria sejam acolhidas por mentes receptivas e corações enternecidos para que juntos possamos lutar por diagnósticos precoces e prevenir mortes prematuras! Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Calandra S, Defesche J, Faergeman O, Hamilton-Craig I, Hegele R, Hopkins P, et al. Familial Hypercholesterolemia (FH). Report of a WHO Consultation. Geneve: WHO; 1998:1–68. Goldstein JL, Hobbs HH, Brown MS. Familial Hypercholesterolemia. In: Scriver CT, Beaudet AL, Sly WS, Valle D, eds. The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease. New York: McGraw-Hill; 1995: 1981–2030. Tybjaerg-Hansen A, Humphries SE. Familial defective apolipoprotein B-100: a single mutation that causes hypercholesterolemia and premature coronary artery disease. Atherosclerosis, 1992; 96: 91–107. Miserez A, Keller U. Differences in the phenotypic characteristics of subjects with familial defective apolipoprotein B-100 and familial hypercholesterolemia. Arterioscler Thromb Vasc Biol 1995; 15: 1719–29. Hobbs HH, Russell DW, Brown MS, Goldstein JL. The LDL receptor locus in familial hypercholesterolemia: mutational analysis of a membrane protein. Annu Rev Genet 1990; 24: 133–70. Hobbs HH, Brown MS, Goldstein JL. Molecular genetics of the LDL-receptor gene in familial hypercholesterolemia. Hum Mutat 1992; 1: 445–66. Winder AF, Day LB. Premature corneal arcus in familial hypercholesterolaemia is characteristic but not a marker of individual coronary risk (abstract). Atherosclerosis 1997; 134: 48. Illingworth DR, Duell PB, Connor WE. Disorders of lipid metabolism. In: Felig P, Baxter JD, Frohman A, eds. Endocrinology and Metabolism, 3rd edn. New York: McGraw-Hill; 1995: 1315–405. Risk of fatal coronary heart disease in familial hypercholesterolaemia. Scientific Steering Committee on behalf of the Simon Broome Register Group. BMJ 1991: 303: 893–6. Randomised trial of cholesterol lowering in 4444 patients with coronary heart disease: the Scandinavian Simvastatin Survival Study (4S). Lancet 1994; 344: 1383–9. Shepard J, Cobbe SM, Ford I, Isles CG, Lorimer AR, Macfarlane PW, et al. Prevention of coronary heart disease with pravastatin in men with hypercholesterolemia. N Engl J Med 1996; 333: 1301–7. Connor WE, Connor SL. Importance of diet in the treatment of familial hypercholesterolemia. Am J Cardiol 1993; 72: 42D–53D. Tonstad S, Sivertsen M. Food dislikes and dietary intake of children with familial hypercholesterolemia and controls. Scand J Nutr 1996; 40: 146–50. Tonstad S, Leren TP, Sivertsen M, Ose L. Determinants of lipid levels among children with heterozygous familial hypercholesterolemia in Norway. Arterioscler Thromb Vasc Biol 1995; 15: 1009–14. Tonstad S, Sivertsen M. Dietary adherence in children with familial hypercholesterolemia. Am J Clin Nutr 1997; 65:1018–26. Tonstad S, Aksnes L. Determinants of fat soluble vitamin levels in familial hypercholesterolemia. J Pediatr 1997; 130: 274–80. Ose L, Tonstad S. The detection and management of dyslipidaemia in children and adolescents. Acta Paediatr 1995; 84: 1213–5. Williams RR, Hamilton-Craig I, Kostner GM, Hegele RA, Hayden MR, Pimstone SN, et al. MED-PED: an integrated genetic strategy for preventing early deaths. In: Berg K, Boulyjenkov V, Christen Y, eds. Genetic Approaches to Noncommunicable Diseases. Berlin: Springer-Verlag; 1996: 35–46. Ose L, Tonstad S, Vesterhus P, Wefring KW. Detection and management of familial hypercholesterolemia in children and adolescents (in Norwegian). Tidsskr Nor Laegeforen 1995;115: 3499–503. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas As complicações do recém-nascido filho de mãe diabética Fernando Bastos* Serviço de neonatologia do Amparo Maternal de São Paulo Para uma perfeita compreensão dos eventos que acometem o recém-nascido (RN) - filho de mãe diabética, devemos nos lembrar sempre que estamos lidando com um trinômio em que cada um dos seus componentes se interrelacionam em todas as direções. Com o objetivo de focalizar pontos chaves nesta condição clínica, serão propostas algumas perguntas e respostas: Este trinômio poderia ser visto, assim, esquematicamente: • • • • • GESTANTE RN O que ocorre é a influência da gravidez sobre o diabetes, do diabetes sobre a gravidez e da gravidez sobre o feto. DIABETES Definição do Diabetes: • Intolerância aos carboidratos, de graus variados, com início ou primeiro reconhecimento durante a gravidez. • Originalmente definido por O´Sulivan & Mahan baseado em um estudo com 752 gestantes (1964). * Médico especialista em pediatria pelo Instituto Fernandes Figueira, (FIOCRUZ) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), chefe do serviço de neonatologia do Amparo Maternal - SP, mestrando em Perinatologia - Hospital Israelita Albert Einstein - SP, médico coordenador do Instituto de Neonatologia de São Paulo (INESP). Endereço: Rua Botucatu, 1000, Vila Clementino 04023-062 São Paulo SP Tel: (11) 574 82 77, E-mail: [email protected] 1. Como foi o pré-natal da mãe? Houve risco de abortamento? A mãe teve infecções? Houve um bom controle da vitalidade fetal? A maturidade fetal foi avaliada? Há polidrâmnio? Sabe-se que o diabetes predispõe ao abortamento, principalmente se a mãe tem condições patológicas pré-existentes como uma nefropatia, por exemplo. Além disso, favorece as infecções. Entre elas, há sensível predominância de infecções urinárias que em 20 a 40% dos casos podem evoluir para pielonefrite cuja ocorrência leva a complicações perinatais. Sendo assim, a vitalidade fetal deve ser cuidadosamente observada pelo profissional durante todo o pré natal. A maturidade fetal pode ser avaliada por meio da amniocentese, que é bem indicada na trigésima oitava semana, bem como pelo exame ultra-sonográfico. São recursos que nos auxiliam a evitar a antecipação do parto. A presença de polidrâmnio, por sua vez, alerta-nos para os diversos problemas relacionados ao RN como obstruções intestinais, hidropsia fetal não imune, anencefalia, defeitos do tubo neural e extrofia da bexiga que são as principais anomalias associadas. O prolongamento seguro da gravidez mostra que a mortalidade infantil vem diminuindo nas últimas décadas. Em 1967, para cada 1000 nascidos vivos 197 morriam, já em 1984, para cada 1000 nascidos vivos o número de mortos foi reduzido a 20. 228 Bastos F / Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 2. Que problemas podem apresentar o RN filho de mãe diabética? a) Metabólicos: - Hipoglicemia significante - 47% - Hipocalcemia - 22% - Hiperbilirrubinemia-19% - Policitemia - 34% b) Outros: - Distúrbios do crescimento fetal - 40% - Prematuridade - 15% - Asfixia - 16% - S.A.R - 15% - Malformações congênitas - 5-8% Todos os problemas acima mencionados - o distúrbio do crescimento, a prematuridade, a asfixia - são bastante conhecidos no nosso dia a dia. Um evento sobre o qual, geralmente, pouco se sabe é a ocorrência de malformações. Os RNs , filhos de mãe diabética insulino - dependente apresentam de duas a oito vezes mais chances de manifestar malformações congênitas. Os fatores teratogênicos que levariam à embriopatia diabética podem ser secundários ao descontrole da glicemia (hiperglicemia), que é ocasionada por distúrbios na glicólise e deficiências de ácido aracdônico. A maior parte das malformações é inespecífica e não têm relação com anormalidades cromossômicas. A agenesia do sacro ou displasia caudal é considerada a mais freqüente. É interessante frisar que o controle metabólico adequado, antes da concepção e nos primeiros meses de gravidez, pode diminuir a incidência de malformações congênitas. Filhos de mãe diabética insulino-dependente correm o risco de desenvolver a doença aos vinte anos de idade em 1,3% dos casos. No que tange à macrossômia, é bom lembrar que ela ocorre devido a um aumento no tamanho das vísceras, causado pelo crescimento no número e na dimensão das células. Isso se deve ao efeito da insulina e não a um excesso de oferta de calorias. Segundo alguns pesquisadores, um bom controle da glicemia no período entre as 20 e 30º semanas de gestação diminui a incidência da macrossômia. Para concluir, há ainda outros problemas a serem citados: • Trombose da veia renal • Síndrome do intestino esquerdo curto • Policitemia • Icterícia • Problemas respiratórios Com relação aos problemas respiratórios, há um dado interessante a se observar: há muito tempo, os RNs filhos de mãe diabética tinham 6% mais chances de sofrer da doença de membrana hialina que filhos de mãe não diabética com a mesma idade gestacional. Esse percentual caiu de 28 para 5,7%. Isso se deve ao melhor entendimento da fisiopatologia, e consequentemente novos conceitos e rotinas para o acompanhamento da gestante diabética. 3. Distúrbios metabólicos O primeiro distúrbio metabólico a ser colocado em questão é a hipoglicemia. Consideramos hipoglicemia os níveis de glicose sérica ≤ 30 mg, independente da idade gestacional, com ou sem sintomas. A patogênese da hipoglicemia pode ser explicada com a máxima: Hiperglicemia materna à Hiperinsulinismo fetal Estudos mostram que, quanto mais próximo do normal está o nível de açúcar materno, menor será a ocorrência de hipoglicemia no recém-nascido. Um cuidado que devemos tomar é alertar para que não se infunda altas doses de glicose antes do parto, pois pode-se estimular a resposta insulínica no RN. O ideal é manter a glicemia materna em torno de 120 mg. Com relação aos sinais e sintomas, devemos ser muito cautelosos, já que 50% dos RNs são assintomáticos. O RN pode se apresentar letárgico, hipotônico e quando ele manifesta o quadro “florido” seu prognóstico é pior. São os casos de RNs em convulsões, cianóticos e com apnéia. 4. Manejo Em primeiro lugar devemos buscar uma via de acesso realmente eficaz, o que nem sempre é simples nos macrossômicos. Nos casos mais graves, a opção é um cateter de demora, e nas emergências, um cateter de veia umbilical até a realização de punção periférica. Se o RN já está em crise convulsiva, administra-se em “bolo”, EV - 0,5 a 1 mg de glicose/kg, na forma de glicose a 25%. Mantém-se com 4 a 8 mg/kg/min, sendo que a concentração escolhida para o soro será baseada no 230 Bastos F / Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 volume hídrico diário que o RN precisa e com o qual responde ao tratamento. Em geral o soro glicosado a 10% oferece glicose suficiente para elevar a glicemia acima de 30 mg%. Se o RN está sem sintomas, porém com níveis críticos, não se faz flush, nem se faz em “bolo”, o que evita a hiperglicemia. Administra-se 5 a 10 ml de soro glicosado a 5%, 1 ml/min, seguindo-se infusão contínua de 4 a 8 mg/kg/min. Deve haver, no entanto, rigoroso controle da glicemia a fim de se evitar hipo ou hiperglicemia, cuja ocorrência pode levar até mesmo à desidratação por diurese osmótica. Atenção! Se há falta de resposta ou hipoglicemia permanente por um período superior a 48 horas, devemos pesquisar outras causas como, por exemplo, o hiperinsulinismo congênito. Devemos tomar cuidado com a técnica de realização de Dextrostix. Estudos comparativos mostram que, na prática, as fitas cromatográficas dão resultados 10% abaixo da glicemia verdadeira, mas independente deste e de outros questionamentos que se faça às fitas, elas são de grande valor no tratamento. 5. Manejo esquemático da hipoglicemia • Garanta um bom acesso venoso • Avalie a gravidade: sintomático ou assintomático? • Em convulsão ou apnéia: - 0,5-1 mg glicose (25%)/kg - 1 ml/min em bolo - 4-8 mg/kg/min glicose - manutenção - nunca suspender abruptamente a infusão - 10%-5% - sucção. • Assintomático: - administrar glicose 10% por via oral com 3 horas de vida e leite a partir de 6 horas de vida. - se não for possível por via oral, iniciar administração de soro glicosado à 10% por via EV e acompanhar com exame clínico e Dextrostix. Um segundo distúrbio metabólico muito freqüente é a hipocalcemia que ocorre entre 20 e 50% dos RNs filhos de mãe diabética, quando o cálcio sérico é < 7 mg%. Apesar da alta incidência, a causa não está bem definida e pode estar relacionada a severidade do diabetes materno, stress perinatal, em níveis elevados de cortisol, entre outros. A grande maioria destas crianças é assintomática, no entanto podem apresentar irritabilidade, apnéia e até convulsões. O tratamento consiste na infusão cuidadosa de 100 mg/kg de gluconato de cálcio EV (lembrando dos graves efeitos do cálcio se extravasar para o subcutâneo). Nos refratários pode-se chegar a 400 mg/kg. Atenção! Os casos que permanecem sintomáticos na hipocalcemia podem apresentar paralelamente hipomagnesemia (o seu magnésio deve estar < 1,5 mg). Associe, então, sulfato de magnésio IM. 6. Manejo esquemático da hipocalcemia: • • • • Cálcio sérico < 7 mg% Causa parcialmente determinada. Pacientes assintomáticos, na maior parte das vezes. Tratamento: 100 mg/kg/ev - (até 400 mg/kg) - atenção para não extravasar. • Pode associar com hipomagnesemia 7. Prognóstico Os recém-nascidos filhos de mãe diabética, apresentam com mais frequência as seguintes alterações: • Obesidade a partir do 5º ao 8º ano de vida (maior chance de obesidade) • Defeitos cognitivos e comportamentais tem sido relatados • Diminuição de QI • Diabetes Mellitus 8. Novos questionamentos Implicações a longo prazo • Quais as conseqüências, a longo prazo, para os filhos com crescimento excessivo? E aqueles com crescimento normal, são observadas alterações no crescimento e desenvolvimento subsequentes? • Pode a intervenção, incluindo perda de peso e exercícios, reduzir o subsequente desenvolvimento do diabetes mellitus? Referências - Alves N, Correa MD. Manual de perinatologia, 3ª ed. Rio de Janeiro, Medsi, 1993. - Cloherty JP, Stark AR. Manual de neonatologia, 2ª ed. Rio de Janeiro, Medsi, 1995. - Hollingsworth DR. Endocrine and metabolic homeostasis in diabetic pregnancy, Clin Perinat, 1983, 10:593. - Ogata ES. Carbohydrate metabolism in the fetus and neonate and altered neonatal glucoregulation, Ped Clin North Am,1986,33:25. - Tamborlane WV, Ahern J. Implications and results of the diabetes control and complications trial, Ped Clin North Am,1997,44:285. - Sperling MA. Aspects of the etiology prediction and prevention of insulin dependent diabetes mellitus in childhood. Ped Clin North Am,1997,44:269. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas Diabetes mellitus como causa de aposentadoria por invalidez Ana Maria Sanches* Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo Resumo Dada a dificuldade na obtenção de informações sobre a carga global das doenças bem como para outros indicadores epidemiológicos em nosso meio, este trabalho teve por objetivos, identificar as causas básicas de aposentadoria por invalidez e outras doenças associadas, obtidas através de 918 prontuários da perícia médica do INSS da Agência de Vila Mariana que abrange 14 microregiões do Município de São Paulo no período de 1995 e 1996 e analisar especificamente as principais causas básicas segundo as variáveis sócio-demográficas e relacionadas no processo de aposentadoria por invalidez. Os dados demonstraram que doenças como hipertensão arterial, diabetes mellitus e outras, apesar de serem prevenidas e controladas através de tratamento relativamente simples, continuam causando invalidez e portanto se tornam um alerta para a importância de se desenvolver melhor ações de suporte social e prevenção em todos os níveis das doenças crônicas incapacitantes imprescindíveis para uma melhor qualidade de vida da população. As principais causas foram devidas às doenças do aparelho circulatório (36,5%), transtornos mentais (13,5%), doença do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (12,1%), doenças do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos (11,3%), lesões e envenenamentos (6,9%), doenças das glândulas endócrinas, da nutrição e metabolismo e transtornos imunitários (6,8%), onde 72,5% foram devidos ao diabetes mellitus especificamente (apesar de ser uma das doenças passíveis de prevenção e controle) e neoplasmas (5,6%). Os aposentados por diabetes estão compreendidos na faixa etária de 45 a 64 anos em 83% dos casos, 60% são homens, em 87% referiram um período de 2 a 9 anos de incapacidade antes de se tornarem completamente inválidos por complicações cardiovasculares, cegueira, amputações de membros inferiores, insuficiências renais em hemodiálise, etc. Quanto aos diagnósticos associados a causa básica, observou-se que as doenças do aparelho circulatório 183 (38%) continuaram sendo as mais freqüentes não só como causa básica mas também como causa associada e o diabetes mellitus 45 (14%) aparece em 2o lugar. Podemos concluir que o diabetes mellitus mesmo não sendo causa básica da aposentadoria contribui indiretamente para a invalidez fato este extremamente importante a ser considerado na priorização de políticas de saúde principalmente no tocante a prevenção as doenças. Segundo documento elaborado para o Ministério da Saúde sobre mortalidade pelo diabetes mellitus e indicadores para a vigilância epidemiológica (Lessa I, 1996), o diabetes mellitus (DM) é a mais complexa das doenças não transmissíveis. Mestre em Epidemiologia pela UNIFESP Doutoranda em Epidemiologia na Faculdade de Saúde Pública - USP Diretora da Divisão de Doenças Crônicas Não Transmissíveis do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo O conhecimento da sua epidemiologia avança rapidamente, levando a ocasionais modificações importantes na classificação da doença. Um exemplo típico é o da recente descrição de dois tipos de diabetes auto-imune em pessoas magras, ambos de início a partir dos 30 anos e ambos insulino-dependentes. Ao lado da diferenciação diagnostica, a complexidade do diabetes relaciona-se ao comprometimento de órgãos alvo resultante da própria evolução da história natural da doença ou do seu curso clínico (onde tratamentos de qualquer natureza interferem na evolução) que incluem em ambos os casos: retino, neuro e nefropatia diabética, co- 232 Sanches AM / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 morbidades cardiovasculares agudas ou crônicas e outras complicações inerentes à doença mal ou não controlada, como por exemplo as infecções. Por um lado, estes aspectos tornam o diabetes uma doença que necessita, no modelo assistencial hoje vigente no Brasil, de especialistas de toda natureza, de leitos hospitalares de urgência/emergência ou dos eletivos, tornando o seu tratamento extremamente oneroso. Por outro lado, o diabetes apresenta um importante custo social pelas suas graves complicações, incapacidade/invalidez, mortes prematuras, etc. Não podem ser esquecidas as perdas econômicas pessoais que também influenciam a qualidade de vida com repercussões sobre a família e a sociedade. A modificação destes impactos sociais torna-se presente no país, tendo em vista o rápido envelhecimento da população brasileira e a previsão do seu aceleramento nos próximos anos. Isto é muito importante porque amplia consideravelmente o grupo populacional de maior risco para o diabetes mellitus. Estima-se entre o início efetivo da doença e o diagnós- tico, uma evolução de 8 a 10 anos, em nosso país. Para se ter uma idéia da grandeza do custo envolvido no controle do diabetes mellitus ou de suas complicações, basta citar como exemplo os EUA onde, em 1987, foram gastos 9,5 bilhões de dólares nos chamados custos diretos (consultas médicas, hospitalizações, exames laboratoriais, medicamentos) e, aproximadamente 10,5 bilhões de dólares nos chamados custos indiretos (absenteísmo, desemprego, incapacitações, morte prematura). Em 1997, nos EUA foram gastos no total, cerca de 94 bilhões de dólares, entretanto, se medidas de controle e prevenção fossem adotadas adequadamente, este custo seria reduzido pela metade ou seja 47 bilhões de dólares. No Brasil, em 1991, foram gastos em internações com diabéticos, 29.431.108,80 dólares. Em 1992, o valor foi de 27.380.465,24 dólares (valores calculados pela média anual do dólar na compra). A tabela 1, mostra os gastos das internações por diabetes mellitus no Brasil, Estado de São Paulo e Município de São Paulo em 1994. Sanches AM / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 233 Tabela 1: Internações, óbitos e gastos por diabetes mellitus no Brasil, Estado de São Paulo e Município de São Paulo-1994. Diabetes Mellitus (1994) Local Nº de internações Nº de internações que resultaram em óbito Porcentagem de óbito hospitalar Tempo médio de permanência hospitalar (dias) Valor pago pelas AIHs Brasil Est. de São Paulo Mun. São Paulo 130.549 37.168 7.066 6.489 1.922 599 5,00 5,17 8,48 7,30 5,88 8,08 23.723.747,80 6.576.071,90 1.632.124,30 Valor médio pago em cada AIH (R$) 179,60 176,08 226,71 Fonte: SINCRONT-DCNT-CVE-1997 SINTESE - 1997 Das internações por diabetes mellitus no Brasil, 28,5% foram do Estado de São Paulo, e destes, 19% foram do Município de São Paulo. Das internações por diabetes mellitus que resultaram em óbito, aproximadamente 30% foram do Estado de São Paulo, e destes 30% foram do Município de São Paulo. Em 1995, no Estado de São Paulo houve 30.118 internações por diabetes mellitus e o gasto pelas AIHs foi de R$5.504.808 (abaixou em número, mas aumentou o preço médio pago para cada AIH). Tomando o diabetes como modelo para iniciar a vigilância epidemiológica de uma DCNT no Brasil, pode-se afirmar que, pela forte presença do componente genético na sua determinação, seria impossível a sua prevenção primária. Todavia, atuando-se preventivamente sobre o estilo de vida, poder-se-ia afirmar que, evitando-se a obesidade em pessoas geneticamente predispostas, poderia haver uma redução, mesmo que pequena, na expressão clínica da doença. Se a doença não pode ser primariamente prevenida, a ocorrência de suas complicações agudas ou crônicas (incidência) ou é desnecessária ou pode ser protelada alguns anos. Para implementação da vigilância para o DM no Brasil, é imprescindível selecionar ou construir indicadores que ofereçam informações precisas, que sejam de fácil obtenção e que possam ser continuamente analisados pelos órgãos oficiais responsáveis pela vigilância à saúde de cada Estado, visando a tomada de decisões em momentos oportunos. Com certeza estes indicadores devem contemplar a qualidade assistencial. Contudo, há quem aconselhe a inclusão de indicadores sociais, o que é plenamente justificável e aceitável, porém as análises passam a ser por demais complexas para serem realizadas pelos órgãos oficiais e isto no Brasil é totalmente inviável nos tempos atuais. Portanto, é preciso iniciar um trabalho simples, realístico, elaborado para ser executado com grande probabilidade de sucesso, sem interrupções e que possa receber o apoio irrestrito das Secretarias de Saúde de todos os Estados brasileiros. As análises sofisticadas são dispensáveis a nível de serviços, podendo ser deixadas aos investigadores das academias. O primeiro passo para a seleção ou construção de indicadores é a escolha dos eventos ligados ao DM que devem ser: “vigiados” ou “registrados”. No caso do Brasil, podem ser propostos para vigilância epidemiológica diversos destes eventos, apontados os que deveriam ser nacionalmente obrigatórios, pelo menos em todas as capitais e em cidades de grande porte, deixando os demais para serem implementados por aqueles Estados que reconheçam a importância do indicador do ponto de vista social e em termos de custo-benefício ou aqueles que se julgarem aptos ao tipo de análise proposta. Portanto um dos indicadores utilizados para avaliação de controle do diabetes é a aposentadoria por invalidez e dada a dificuldade na obtenção de informações sobre a carga global das doenças, bem como para outros indicadores epidemiológicos em nosso meio, foi realizado um trabalho (tese de mestrado) que teve por objetivos, identificar as causas básicas de aposentadoria por invalidez e outras doenças associadas, obtidas através de 918 prontuários da perícia médica do INSS da Agência de Vila Mariana que abrange 14 microregiões do Município de São Paulo no período de 1995 e 1996 e analisar especificamente as principais causas básicas segundo as variáveis sócio-demográficas e relacionadas no processo de aposentadoria por invalidez. Os dados demonstraram que doenças como hipertensão arterial, diabetes mellitus e outras, apesar de serem prevenidas e controladas através de tratamento relativamente simples, continuam causando invalidez e portanto se tornam um alerta para a importância de se desenvolver melhores ações de suporte social e 234 Sanches AM / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 prevenção em todos os níveis das doenças crônicas incapacitantes imprescindíveis para uma melhor qualidade de vida da população. As principais causas foram devidas às doenças do aparelho circulatório (36,5%), transtornos mentais (13,5%), doença do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (12,1%), doenças do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos 11,3%, lesões e envenenamentos (6,9%), doenças das glândulas endócrinas, da nutrição e metabolismo e transtornos imunitários (6,8%), onde 72,5% foram devidos ao diabetes mellitus especificamente (apesar de ser uma das doenças passíveis de prevenção e controle) e neoplasmas (5,6%). Os aposentados por diabetes estão compreendidos na faixa etária de 45 a 64 anos em 83% dos casos, 60% são homens, em 87% referiram um período de 2 a 9 anos de incapacidade antes de se tornarem completamente inválidos por complicações cardiovasculares, cegueira, amputações de membros inferiores, insuficiências renais em hemodiálise, etc. Quanto aos diagnósticos associados a causa básica, observou-se que as doenças do aparelho circulatório 183 (38%) continuaram sendo as mais freqüentes não só como causa básica mas também como causa associada e o diabetes mellitus 45 (14%) aparece em 2o lugar. Podemos concluir que o diabetes mellitus mesmo não sendo causa básica da aposentadoria contribui indiretamente para a invalidez fato este extremamente importante a ser considerado na priorizado de políticas de saúde principalmente no tocante a sua prevenção e controle. Referências - Geiss LS, Herman WH, Golschmid MG et al. Surveillance for Diabetes Mellitus, United States, 1980-1989. MMWR, CDC Surveill. Summ, 42:1-20, 1993. - Grupo brasileiro para o estudo da prevalência do diabetes mellitus no Brasil. Estudo Multicêntrico sobre a Prevalência do Diabetes Mellitus no Brasil. Inf. Epidemiol, SUS, MS, 3:45-74, 1992. - Martins IS. Doenças cardiovasculares, ateroescleróticas, dislipidemias, hipertensão, obesidade e diabetes mellitus em população da área metropolitana de São Paulo, Brasil. Relatório de pesquisa, CNPq, 1992. - Ministério da Saúde. Diabetes Mellitus, Guia básico e tratamento. Brasília, 1996. - Ministério da Saúde. Doenças Crônico-Degenerativas. Evolução e tendências atuais-I. Ministério da Saúde, Série J: Cadernos, 2. Centro de Documentação Científica, Brasília, DF, 1988. - Sanches AM. Causas de Aposentadoria por invalidez em Microregiões do Município de São Paulo (1995-1996). Custo Social e Fatores Sócio-Demográficas – Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, 1998. - Veras RP, Ramos LR, Kalache A. Crescimento da população idosa no Brasil: transformações e consequências na sociedade. Rev. Saúde Públ. São Paulo, 21:225-33, 1987. - Vigilância Epidemiológica em Diabetes Mellitus. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, DCNT, 1997. - World Health Organization. Diabetes Mellitus. Report of a WHO Study Group Tecnical Report Series Nº 727, WHO, Geneva, 1985. Ficha Prática / Diabetes Clínica FICHA PRÁTICA Diabetes Clínica 02 Associações de Diabéticos e entidades filiadas à FENAD* Médicos e outros especialistas membros da SBD** * FENAD - Federação Nacional das Associações de Diabéticos, ** SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes I - Região Sul PARANÁ (Curitiba) Associações Ass. Paranaense do Diabético Presidente: Maria Cecília da Rocha Carreiro Ass. do Diabético de Irati Presidente: Carlos Francizac Ass. dos Diabéticos Estado do Paraná Presidente: Ana Paula Bueno Ass. dos Diabéticos de Maringá e Região Presidente: Patrícia Fernandes Lima Médicos e especialistas em diabetes Atlantido Borba Cortes Edgard d’Avila Niclewicz Francisco José Marquezine (Londrina) Hans Graf Henrique Lacerda Suplicy Henriqueta G.G. de Almeida (Londrina) Ivete Nahomi Yamaguti (Londrina) José H. de Almeida Netto (Cascavel) Lucia Helena de M. Gugelmin Luiz Antonio H. de Camargo Luiz Carlos Nogarolli (Campo Mourão) Marcos Dall’Stella Schimidt (Guarapuava) Maria Leocadia de Oliveira (Londrina) Marli F. do Nascimento (Foz do Iguaçu) Olga Beatriz Porzi Rabinovitch Rosangela Maria F. Kobayashi (Londrina) Rosangela Roginski Rea Silvio Roberto Correa (Umuarama) Sandra Hajak (Foz do Iguaçu) Rosa Maria de Abreu Vargas Silmara A. Oliveira Leite Ivo Dolberth Junior Elizabeth M.B. de Souza (Ponta Grossa) RIO GRANDE DO SUL (Porto Alegre) ✃ Associações Ass. dos Diabéticos de Sapucaia do Sul Presidente: Leonço Zdanski Ass. dos Diabéticos e Familiares do Vale dos Sinos - UNISINOS Presidente: Cláudia Bender Ass. dos Diabéticos de Passo Fundo Ass. Riograndense de Assistência ao Diabético Presidente: Marco Aurélio Barbosa Menezes Ass. Pelotense de Diabéticos Presidente: Rosa Maria Muniz da Silva Médicos e especialistas em diabetes Ainda Luz B. Meirelles (Rio Grande) Airton Golbert Angela de Azevedo J. Reichelt Antonio Carlos Giacomet Balduino Tschiedel Carlos B.A. Rodrigues (S. do Livramento) Carlos Jesus P. Thomson Flores (Alegrete) Dinis José Breda Elisa Munoz Flavio Zelmanovitz Helena Sanchez Miniscoli (Caxias do Sul) Helena Schmid Henry Wolff Hugo Roberto Lisboa (Passo Fundo) João H. Gomes Classen (Santa Cruz do Sul) Jorge Luiz Gross Jorge R. Brust (Ijui) Luiz Aquino Teixeira Kurtz (Passo Fundo) Marcia Santos Sada Koller (Centro Erechim) Marcos Rovinski Maria Ines Schmidt Marlene da Silva M. Dockhorn (Santa Maria) Mauren G. Papadopol Rosa Maria Simão Griebler Rosane T. S. Bragança (S. do Livramento) Sergio Lerias de Almeida Silvana Emilia Speggiorin Silvio Klippel (Passo Fundo) Suzana Fiore Scain Ulisses Coelho (Santa Maria) Maria Cristina Gomes Matos Silvana Cuenca Schwartsmann Iria Bonato da Rosa Themis Zelmanovitz Rogerio Friedman Ana Maria Keller Jochimsm (Poa) Ledi Kauffemann Papaleo (São Leopoldo) Maria C. Dimuro Bender (São Leopoldo) Tomaz Antonio Molina Pizarro (Pelotas) Eliane Cristina Martins Gaertner Carlos Alberto Werutsky Francisco de Assis Beregaray (Santiago) Luiz Carlos Seligman Ana Cristina Bracini de Aguiar Ivaldir Sabino Dalbosco (Rio Grande) Ivo Behle Claudio M. Dornelles da Luz (Santo Angelo) Sergio Moreira Espinosa Joiza Lins Camargo Jatir Romagna Vera Maria Freitas da Silveira (Pelotas) Maria Elvira Wagner Ferreira Rosana Blanke Piva Lima Marcello Bertoluci Tania Simonie Layher (São Leopoldo) Cristina Neumann SANTA CATARINA (Florianópolis) Associações Ass. dos Diabéticos e Hipertensos de Tubarão - ATADH Presidente: Maria G. dos Santos Tomaz Ass. de Diabéticos de Saudades Presidente: Denise L.A.O. Maghry Ass. de Diabéticos de Itajaí e Navegantes - ADIN Presidente: Cristiane A. da Silva Bini Ass. de Diabéticos de São Lourenço d’Oeste Presidente: Carlos Peluso Ass. dos Diabéticos do Vale do Itajaí Presidente: Andrigo José Beber Ass. dos Diabéticos de SC - ADESC Presidente: Eurides Antunes Severo Ass. dos Diabéticos de Chapecó - ADC Presidente: Giusepe Escussiato Ass. dos Diabéticos de Concôrdia Ass. dos Diabéticos de São Miguel do Oeste Responsável: Enfermeira Maria Schaich Ass. dos Diabéticos de Xaxim Vice-Presidente: Arquimedes Turra Médicos e especialistas em diabetes Adonis Nicolau Sarda (Tubarão) Alaor Lebelein (Caçador) Clarice Helena Couto Araújo (Blumenau) Danilo Alvarenga de Carvalho (Joinville) Maria Auxiliadora Sperandio (Chapecó) Maria Heloisa Busi S. Canalli Marilza Leal Nascimento Marisa Helena Cesar Coral Tania Balsini Moura (Tubarão) Zita Momm Paganelli (Joacaba) Carlos A. Haro Antunes (Campos Novos) Lizandro Lucio RECOMENDAÇÕES CLÍNICAS PRÁTICAS EM DIABETES Ficha Prática / Diabetes Clínica Reine Marie Chaves Fonseca, Odelisa Silva de Mattos, Maria das Graças Velanes de Farias, Júlia de Fátima Coutinho, Mar Critérios para diagnóstico do diabetes mellitus 1- Sintomas de diabetes associado a glicemia ao acaso > 200 mg/dl ou 2- Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl ou 3- Glicemia de 2 horas ≥ 200 mg/dl durante TOTG • Os sintomas clássicos do diabetes incluem poliúria, polidipsia e perda de peso inexplicável. • Glicemia ao acaso é definida como realizada a qualquer hora do dia sem levar em consideração o horário da última refeição. • Jejum é definido como ausência de ingestão calórica por pelo menos 08 horas. • TOTG deve ser feito como recomenda a Organização Mundial de Saúde, usando uma solução de 75 g de anidro de glicose dissolvida em água. • Na certeza de ausência de hiperglicemia com descompensação metabólica aguda, esses critérios devem ser confirmados repetindo-se o teste em outro momento. O TOTG não é recomendado para uso clínico de rotina. Critérios diferentes são usados para diagnosticar diabetes gestacional. Recomendações para controle do diabetes tipo 2 INDICADOR Glicemia de jejum Glicemia pós-prandial Hemoglobina glicosilada IDEAL ACEITÁVEL INDICAÇÃO PARA INTERVENÇÃO < 110 mg/ dl < 140 mg/ dl < 6% 80-126 mg/ dl 180-200 mg/ dl < 7% < 80 ou > 140 mg/ dl < 100 ou > 200 mg/dl > 7% Estes valores são para não gestantes. “Indicação para intervenção terapêutica” depende das circunstâncias de cada paciente, podendo significar educação no auto-controle do diabetes, consulta com um endocrinologista ou diabetólogo, mudanças na farmacoterapia, intervenção nutricional ou contato mais frequente com o paciente. Fonte: Consenso SBD, 1999 Metas para pressão arterial e lipídios PRESSÃO ARTERIAL Sistólica Diastólica META (mmHg) ACEITÁVEL (mmHg) < 120 < 80 < 130 < 85 LIPÍDIOS Colesterol total LDL-Colesterol HDL-Colesterol Triglicérides META (mg/dl) < 200 < 100 > 45 < 150 • Estes valores são para não gestantes. • Indicação para intervenção medicamentosa quando PA > 130x85 mmHg • Para pacientes com hipertensão sistólica isolada, a meta é PA sistólica < 160 mmHg. Para aqueles com PA sistólica entre 160 e 180 mmHg, a meta é uma redução de 20 mmHg. Se tal meta é atingida e bem tolerada sugere-se chegar, posteriormente, a 140 mmHg. Fonte: Consenso SBD, 1999 Avaliação básica de rotina EXAMES FREQUÊNCIA Hemoglobina glicosilada 3 a 4 vezes/ano, se ocorrer mudanças no tratamento ou não cumprimento das metas Pelo menos 2 vezes/ano se controle estável Anualmente, mais frequente se alterado Anualmente Anualmente, se alterado repetir com 3 a 6 meses Anualmente 1 vez/ano, mais frequente em pacientes com pé de risco A cada consulta A cada consulta Perfil lipídico Proteinúria Microalbuminúria Exame oftalmológico Exame do pé Pressão arterial Peso ✃ SESAB - Secretaria de Saúde do Estado da Bahia Ficha Prática / Diabetes Clínica CEDEBA – Centro de diabetes e endocrinologia do Estado da Bahia risa Sacramento Metas nutricionais • Promover planos alimentares adaptados a realidade. • Adequar ingesta e horário da alimentação com a terapia medicamentosa e exercício. • Manutenção do peso através de monitorização do consumo calórico. • • • • • 10% a 20% das calorias provenientes de proteínas. < 10% de calorias provenientes de gordura saturada. ≤ 10% de calorias provenientes de gordura poliinsaturada. 50 a 60% de calorias provenientes de carboidrato. < 300 mg de colesterol/dia. Terapia para diabetes tipo 2 TERAPIA NÃO MEDICAMENTOSA Plano nutricional e atividade física • • • • • Muito sintomático Hiperglicemia severa Cetose Possível tipo 1 Gestação METAS GLICÊMICAS NÃO ATINGIDAS MONOTERAPIA Metmorfina Sulfoniluréia Inibidor da α-glucosidase Tiazolidenodionas METAS GLICÊMICAS NÃO ATINGIDAS COMBINAÇÃO ENTRE AGENTES ORAIS METAS GLICÊMICAS NÃO ATINGIDAS COMBINAÇÃO DE AGENTES ORAIS COM INSULINA ✃ METAS GLICÊMICAS NÃO ATINGIDAS Insulina • Ação intermediária (NPH) 2 vezes/dia • NPH + regular ou NPH + lispro antes das refeições em múltiplas injeções (3 ou mais) • NPH ou ultra-lenta + regular ou NPH ou ultra-lenta + lispro antes das refeições • Infusão contínua de insulina Insulina é encontrada nas formas de ação intermediária (NPH ou lenta), ação prolongada (ultra-lenta), ação rápida (regular ou simples) e ação ultra-rápida (lispro) que podem ser injetadas separadamente ou misturadas na mesma seringa. Preparações de insulina com proporção pré-determinada de NPH misturada com regular (Ex.: 70% de NPH e 30% de regular), são consideradas de ação intermediária. 238 Notícias das Associações – Diabetes Clínica (04) 2000 Notícias das Associações FENAD - Assembléia Geral e 4º Encontro das Associações de Diabéticos Foi reconduzida por unanimidade em chapa única “Unidos seremos fortes” a equipe da gestão anterior da Fenad. A composição da chapa, reeleita na Assembléia Geral da Fenad em Atibaia - SP (1 e 2 de abril de 2000), é a seguinte: Diretoria Presidente: Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho 1ª Secretária: Educadora Lilian Fanny de Castilho 1º Tesoureiro: Dr. Antonio de C. Carneiro Vice-Presidentes Sra Cacilda Freischensen (RJ) Sr. Marcello Leonardi Bezerra (SP) Sra Irma Pires de Oliveira (MG) Sra Edna Pimentel (PE) Dra Marluce Leão (BA) Rosilda de Souza Queiroz (MA) Dr. Raimundo Sotero (SE) Dra Adriana Costa Forti (CE) Dr. Laerte Damasceno (ES) Sra Wanda Feliz (GO) Sra Maria Irene Magalhães (DF) Dra Mauren G. Papadopol (RS) Sra Maria Cecília R. Carneiro (PR) Dr. Eurides A. Severo (SC) Sr. Rui Nunes da Silva (MS) Conselho Fiscal Dr. Marino Catallini (SP) Dra. Alcy Falcão (PE) Dr. Roberto Piesco (SP) (suplente) Dr. André Sacco (SP) (suplente) Conselho Consultivo Dr. Aloísio Leite Sacramento Dr. Arual Augusto Costa Nuta Celeste Viggiano Enfa Paula Pascali Enfa Mônica Gamba Dra Ana Mirian Gebara Carboni Prof. Cláudio Cancellieri Pod. Cleide Martinez Psic. Rosana Manchon Participação de portadores de Patologias e Deficiências nos fóruns do SUS O Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, presidente da ANAD e da FENAD, sugere a todas as entidades que trabalham com Diabetes que procuram se filhar e atuar nos Conselhos Municipais e Estaduais, tendo em vista a recomendação enviada pelo Dr. Romero Bezerra Barbosa, da Área Técnica para Doenças Crônico Degenerativas da Secretária de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde: Recomendação Nº 010/99 - O Plenário do Conselho Nacional de Saúde, em sua 89º reunião ordinária, realizada nos dias 4 e 5 de agosto de 1999, considerando: 1) as dificuldades naturais existentes na participação democrática do segmento de portadores de patologias e Deficiências, nos fóruns do SUS; 2) a política nacional e internacional de promover a cidadania das pessoas portadores de deficiências e patologias, através da garantia da participação e da equiparação de oportunidades. Recomenda: Que os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde garantam a participação deste segmento nos Conselhos e nas Conferências de Saúde. Diabetes Clínica 239 Calendário de eventos JULHO DE 2000 AGOSTO DE 2000 7 a 9 de julho 5o Congresso brasileiro multiprofissional em Diabetes 23 a 27 de agosto Diet/Light Expo 2000 Exposição nacional de produtos e alimentos para diabéticos Fundação Álvares Penteado, Av Liberdade, 532, São Paulo Informações: ANAD, rua Eça de Queiroz, 198, São Paulo Tel: (11) 572 6559, fax: (11) 572 6704 Rio de Janeiro Informações: Marly de Oliveira - NPE Tels: (21) 287 1493 / 523 3290 / 813 2392 9 a 15 de julho 3rd International Congress of the African Association of Physiological Sciences Midrand, South Africa Contact: Prof. Maximino Ruiz, Vice-President IDF Rosario 214 (P4), 1424 Buenos Aires, Argentina Tel: +541 901 5451, Fax +541 903 2300 E-mail: [email protected] 13 a 16 de julho Exercice and Diabetes – The Year 2000 and Beyond Vancouver, Canadá Informações: Robert Todd, President IDAA Canadá, Suite 302, 1168 Hamilton Street Vancouver, British Columbia, Canadá, V6B2S2 Tel: +1604 684 2356, Fax: +1 604 684 4265 E-mail: [email protected] 31 de julho a 3 de agosto VIII Workshop Nacional em pé diabético Brasília, DF Informações: [email protected] 24 a 26 de agosto 16o Congresso Nacional de Secretários Municipais de Saúde Centro de Convencões, Salvador Bahia Informações: (61) 484-9874 SETEMBRO DE 2000 8 a 10 de setembro International Symposium on Information Technology and Diabetes Rochester, Minnesota Informações: Mayo school of Continuing Medical Education, 200 First Street S.W. Rochester, MN 55905 Tel: 800 323 2688 Fax: 507 284 0532 E-mail: [email protected] 14 a 16 de Setembro International Symposium on Non-Enzymatic Glycation and Oxidative Stress in Diabetes mellitus Prague, Czech Republic Tel: +420 229 7271, 24 91 51 95 Fax: +420 229 46 10 E-Mail: [email protected] 240 Diabetes Clínica 17 a 21 de Setembro 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes 29 de outubro a 3 de novembro ICE’2000 – 11th Internation Congress of Endocrinology Jerusalem Informações: EASD 2000 Secretariat POB 50006, Tel Aviv 61500 Israel Tel: +972 3 514-0018 Fax +972 3 517 5674 E-mail: [email protected] Local: Sidney, Austrália home page: http://www.icmsaust.com.au/ice2000 Informações: ICE 2000 Sidney Congress Secretariat - ICMS Australasia Pty Ltd - Gpo 2609, Sidney NSW 2001 Tel.: +61 2 9241-1478, fax: +61 2 9251-3552 E-mail: [email protected] OUTUBRO DE 2000 NOVEMBRO DE 2000 3 a 6 de outubro 5th International Conference on Diabetes and Indigenous Peoples Christchurch, New Zealand Tel: +64 3 382 2430 Fax: +64 3 364 0149 E-mail: [email protected] 04 a 06 de outubro I Congresso Amazônico de Endocrinologia e Diabetes Belém - PA Informações: SBEM Pará e Delegacia Regional da SBD/PA Tel: (91) 223 5443/ 236 2000 5 a 8 de outubro 23o Simpósio Internacional de Ciências do Esporte Centro de Convenções Rebouças Rua Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 23 - São Paulo Tel: (41) 229-8980 / 9643 E-mail: [email protected] Visite Programa Agita São Paulo www.agitasp.com.br 6 de outubro 1o Reunião científica do Departamento de Cardiologia Clínica Sociedade Brasileira de Cardiologia Presidente: Dr. Dikran Armaganijan Diretor científico: Dr. Marco Aurélio Dias da Silva Informações: Tel.: (62) 241-4214 Fax: (62) 225-5691 e-mail: [email protected] 5 a 10 de novembro 17th International Diabetes Federation Congress Cidade do México, México Informações: Keith Richardson, Congress Secretariat, Congress World, Blenheim House, 120 Church Street, Brighton BN1 1WH, United Kingdom Tel: +44 1273 647030 Fax: +44 1273 570632 Site: www.idf2000.com E-mail: [email protected] 11 a 15 de novembro XI Congresso ALAD - Asociación Latinoamericana de Diabetes III Congresso Uruguaio de Diabetologia Punta del Este, Uruguai - Conrad Resort & Casino Informações: personas SRL, Av. 8 de Octubre 2323/305, Montevideo, Uruguai Tel/fax: 5982 408 1015/408 2951 E-mail: [email protected] 18 a 23 de novembro 24o Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia 29o Encontro Anual do IEDE Rio Centro, Rio de Janeiro RJ Informações JZ Congressos Tel: (21) 286-2846, fax: (21) 539-1299 E-mail: [email protected] ERRATA Diabetes Clínica, número 2, abril de 2000 - Página 89, a citação correta é: “Não adianta só diagnosticar, é preciso encaminhar o paciente...” - Página 90, onde lê-se “sua utilização junta às refeições pode apresentar uma simulação mais psicológica da necessidade de insulina...”, deve ler-se “mais fisiológica”. Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 4 nº4 - 2000) EDITORIAL Vitalidade e sucesso das pesquisas brasileiras em diabetes, Fadlo Fraige Filho ...................................... 243 INFORMES DO DIABETES NO MUNDO .......................................................................................... 245 O DIABETES NA IMPRENSA .............................................................................................................. 250 AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS .......................................................................... 254 PRODUTOS E NOVIDADES Prandin, Novonorm, Starlix, Insuman, Actos, Diafresh, Humalog Mix25, Stevioside ............................ 257 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ............................................................................... 261 ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 - Recomendações para a prática médica: Retinopatia diabética .................................................................................................................................. 274 Transplante de pâncreas em pacientes com diabetes tipo 1 ....................................................................... 281 ARTIGOS CIENTÍFICOS Presença de insulina em plantas: função biológica e possível validação de sua utilização no tratamento do diabetes, Antonia Elenir Amancio de Oliveira, Cassiana Rocha de Azevedo, Thiago Motta Venâncio, Olga Lima Tavares Machado e José Xavier-Filho .......................................... Transplante de ilhotas: situação atual, Mari Cleide Sogayar, Silvya Stuchi Maria Engler, Carlos Alberto Mayora Aita, Elizabeth Maria Costa Oliveira, Karin Krogh, Denise Loli, Irene de Lourdes Noronha, Maria Lucia Castilho Correa, Marcelo Miranda Perosa, Tercio Genzini, Freddy Goldberg Eliaschewitz A educação dos diabéticos, Rogério F. Oliveira, Ana Claudia Martins Santos ........................................ Estudo comparativo do nível de aprendizado entre palestras e jogos educativos em idosos diabéticos que freqüentam a Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD), Camila S.V. Alvesa, Juliana Tobias Pizzi, Angélica Cristina Mendes, Sandra Maria Ribeiro Lima, Cristina T. Molina, Cintia Elaine Ramos, Fadlo Fraige Filho ............................................................................... 283 291 299 307 FICHAS PRÁTICAS Associações e especialistas em diabetes (Minas Gerais) ........................................................................... 311 Recomendações de nutrição para diabéticos, American Diabetes Association ......................................... 313 CALENDÁRIO DE EVENTOS ............................................................................................................. 315 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico e o conselho consultivo reunindo profissionais da FENAD, ANAD e demais entidades filiadas. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes. Diabetes Clínica Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho, presidente da FENAD e ANAD, Professor Titular de Endocrinologia Faculdade de Medicina ABC Coordenação: Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin, faculdade de Medicina de Lyon (França) Administração: Claudiane Benavenuto Dr. João Roberto de Sá (SP) Dr. Leão Zagury (RJ) Dr. Marcos Tambascia (SP) Enfermeria Mônica Antar Gamba (SP) Dr. Nelson Rassi (GO) Dr. Orsine Valente (SP) Enfermeira Paula Pascali (SP) Dra. Reine Marie Chaves (BA) Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Dr. Sérgio Atala Dib (SP) Conselho Consultivo Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) Dr. Adolpho Milech (RJ) Dr. Airton Golbert (RS) Dra. Alcina Vinhais (BA) Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) Dr. Arual Augusto da Costa (SP) Dr. Balduíno Tschiedel (RS) Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Dr. Edgard d’Ávila Niclewicz (PR) Dr. Freddy Goldbert Eliaschewitz (SP) Dra. Geisa Macedo (PE) Dra. Hermelinda Pedrosa (DF) ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson ATMC - Avenida São João, 56 sala 7 12940-000 Atibaia SP tel/fax: (11) 7871-7629 cel: (11) 9219-0570 [email protected] Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: (21) 557-7304 [email protected] Federação Nacional de Associações de Diabéticos (FENAD) e Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) Rua Eça de Queiroz, 198 Vila Mariana 04011- 031 São Paulo - SP tel: (11) 5572-6559 fax: (11) 5549-6704 http://www.anad.org.br [email protected] ISSN 1517-6428 © ATMC - Atlântica Editora Ltda Assinatura 6 números ao ano + 1 CD-ROM R$ 60,00 www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas I.P. (Informação publicitária) As informações são de responsabilidade dos anunciantes Copyright © ATMC – Atlantica Editora Ltda Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Em razão do avanço rápido das ciências médicas, o Editor recomenda que uma verificação independente do diagnóstico e doses dos medicamentos seja realizada. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética médica, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas EDITORIAL Vitalidade e sucesso das pesquisas brasileiras em diabetes Fadlo Fraige Filho N Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, Coordenador - Editor Científico de Diabetes Clínica este número trazemos dois assuntos que consideramos de muita importância que são o transplante de ilhotas e a ocorrência de molécula de insulina em plantas. O transplante ou implante de ilhotas tem sido pesquisado há décadas, porém as limitações que ocorrem nesta prática têm retardado o desenvolvimento das pesquisas. Inicialmente as dificuldades do isolamento das ilhotas pancreáticas, a manutenção de sua vitalidade, bem como a sua multiplicação através das culturas de células e principalmente a sua rejeição, depois de implantadas, é que têm limitado a velocidade do desenvolvimento dessas pesquisas. A rápida rejeição das células implantadas tem sido uma das limitações desse método. Por isso diferentes caminhos têm sido tentados e ao que parece, o encapsulamento dessas ilhotas através de materiais bio-sintéticos, que têm permeabilidade seletiva à insulina e nutrientes, dificultaria a ação dos auto-anticorpos que destruiriam essas ilhotas. Em muitos centros de pesquisa no mundo, se trabalha intensamente nessa linha e acreditamos que em poucos anos, o problema será solucionado. Outro aspecto importante é o desenvolvimento e o aprimoramento de novos imunossupressores que dariam proteção ao tecido implantado. Com exclusividade trazemos um artigo completo sobre o assunto elaborado pela equipe do Dr. Freddy G. Eliaschewitz, trabalhando em diversos centros em São Paulo, sendo, que tudo indica, o pioneiro no assunto, no Brasil. Embora não tenha sido realizado nenhum caso de transplante de ilhotas em nosso país, a técnica é muito promissora, pois pela sua simplicidade de execução trará enormes benefícios para o tratamento, controle das complicações e mesmo a cura do Diabetes tipo 1. Quero parabenizar a equipe pioneira que através de intercâmbio internacional e financiamento da FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) está desenvolvendo a pesquisa concomitantemente com outros países. As recentes publicações de implantes da pesquisa do Dr. Shapiro, no Canadá, divulgadas amplamente nos meios científicos e na mídia em geral, onde usou ilhotas recém retiradas, portanto, com alta vitalidade, bem como o não uso de corticosteróides na imunossupressão, tomou os implantes ativos num grupo de pacientes, durante 1 ano, com total independência de insulina, deu um alento muito grande a esse tipo de procedimento. Continuação Outro artigo original, escrito por nossa revista é da ocorrência da presença de uma proteína com a seqüência de aminoácidos semelhante a da insulina animal, presentes nas cascas das sementes do “feijão de porco”, em folhas de “pata de vaca” e em frutos do “feijão de corda”. Embora o assunto da fitoterapia ainda seja muito discutível, já é tempo dos céticos reconhecerem os usos e costumes populares que foram consagrados. Em que pesem as dificuldades científicas, bem como a padronização da matéria prima e sua separação, já é tempo de darmos atenção, como profissionais, às observações que no dia a dia, nossos pacientes nos trazem. Que por preconceitos não aceitamos e não queremos ouvir, fazendo com que estes façam suas experiências naturalistas por sua própria conta. Concitamos também os grandes Laboratórios Farmacêuticos a ouvirem os ecos do povo, bem como a análise do artigo aqui publicado da equipe de José Xavier Filho, pois da natureza já herdamos importantes medicamentos disponíveis hoje em dia. Diabetes Clínica 04 (2000) 245 Informes do Diabetes no Mundo 14 de julho de 2000 Dez centros de pesquisa vão testar promissora terapia de transplante para diabetes O National Institute of Health (NIH) anunciou que dez centros de pesquisas no EUA e Europa tentarão repetir o sucesso recente da técnica experimental para transplante de ilhotas de pâncreas em pacientes com diabetes tipo 1. Os experimentos estão sendo feitos pelo consórcio internacional Immune Tolerance Network (ITN), que está investindo US$ 5 milhões para expandir o uso da técnica. Aproximadamente 40 pacientes receberão transplantes nos próximos 18 meses. Os experimentos começarão no fim do ano 2000 em Edmonton, Alberta, Canadá; Miami, Flórida; Minneapolis, Minnesota; Boston, Massachusetts; St. Louis, Missouri; Seattle, Washington e Bethesda, Maryland. Outros experimentos estão planejados em Geneva, Suíça; Giessen, Alemanha; e Milão, Itália. A técnica experimental, conhecida como “protocolo Edmonton”, foi desenvolvida pelo Dr. James Shapiro e colegas da University of Alberta, em Edmonton, Canadá. Em recente artigo publicado no The New England Journal of Medicine, eles reportaram o sucesso no isolamento e transplante de ilhotas de pâncreas em 7 pacientes diabéticos que reverteram sua dependência de insulina. “Este experimento servirá de plataforma para estudos futuros par investigar novas” “terapias de tolerância”, tratamentos que podem substituir as drogas imuno-supressivas de uso permanente que os recebedores de transplante exigem para manter funcionando as ilhotas”, disse o Dr. Anthony S. Fauci, diretor do National Institute of Allergy and Infections Diseases. 60th Scientific Sessions of the American Diabetes Association in San Antonio, Texas, 15 de junho de 2000 Os fumantes abandonam o hábito após diagnóstico de diabetes Um novo estudo descobriu que mesmo fumantes inveterados podem deixar o hábito quando se defrontam com o fato que muda suas vidas, de que têm diabetes, e com o conhecimento que, em virtude da doença, cada cigarro que fumam os coloca em maior risco para os principais problemas de saúde. Foi o que determinou o novo estudo da University of Michigan que 246 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação investigou hábitos de fumantes, status de diabetes, e outras características de saúde e socioeconômicas de mais de 1.600 homens e mulheres de meia idade cuja saúde foi monitorada entre 1992 e 1996. Embora somente uma pequena porcentagem de fumantes tenha sido diagnosticada como diabéticos no período, aqueles que souberam entre 1992 e 1994 que tinham a doença foram duas vezes mais numerosos em parar de fumar até 1996 do que os outros. Mas nem todos pararam, a despeito do fato que fumar é sabido que piora os já severos efeitos do diabetes e leva a maiores taxas de ataques cardíacos, amputações, cegueira, doenças renais, câncer e morte precoce. O estudo procurou por padrões entre fumantes considerando sua etnia, educação, estado financeiro e hábitos que poderiam afetar sua propensão a ser diagnosticado como diabético, a parar de fumar e ter ambas as ocorrências. Confirmou-se que o fato de serem afro-americanos ou obesos colocava os fumantes em maior risco de diabetes, e que pessoas mais educadas estavam mais propensas a parar. Mas o quadro é mais complicado, sugerindo relações complexas entre status socioeconômico, hábitos de saúde afetados por esse status, fumo e diabetes. Aqueles com os mais pesados hábitos de fumar tiveram uma baixa tendência de parar, mesmo depois do diagnóstico de diabetes, enquanto que os diabéticos que eram também obesos foram ligeiramente mais inclinados a parar. Este último grupo pode ter deixado seu peso acumular a níveis poucos saudáveis, mas escolheu sair de outro pouco saudável hábito quando se defrontou com o risco de complicações do diabetes. Proc Natl Acad Sci 2000;97:7999-8004, julho de 2000 Células de ilhotas de pâncreas humano desenvolvidas a partir de tecido ductal Pesquisadores da Harvard Medical School têm usado tecido pancreático descartado para cultivar células produtoras de insulina in vitro. Recentemente, pesquisadores da University of Alberta, em Edmonton, mostraram que o transplante de ilhotas de pâncreas em diabéticos pode eliminar sua necessidade de insulina. Entretanto, ilhotas são escassos e “a necessidade de novas fontes de ilhotas humanas tem sido enfatizada pelo grande sucesso canadense de transplante de ilhotas”, explicou Susan Bonner-Weir, da Harvard Medical School, Boston, Massachusetts. Pesquisa anterior havia sugerido que células adultas do duto pancreático podem ser capazes de reverter para células multipotentes. Ela e suas colegas observaram que essas células podem então se diferenciar em células de ilhotas, com um estímulo apropriado, tal como uma matriz extracelular. Para testar esta idéia, digeriram tecido pancreático humano que normalmente é descartado após isolamento das ilhotas. Cultivaram então o tecido ductal em laboratório e cobriram a única camada de células epiteliais com uma matriz extracelular comercialmente disponível. Depois de várias semanas de cultura, os pesquisadores descobriram que as células cresceram, e aumentaram sua secreção de insulina de 10 a 15 vezes, formaram estruturas como ilhotas, as quais foram denominadas brotos cultivados de ilhotas humanas (cultivated human islet buds - CHIBs). Além disso, quando expostas à glicose, as células aumentaram sua secreção de insulina em 2,3 vezes. “Nossa primeira observação dos CHIBs foi um momento de eurêka: a formação de estruturas tridimensionais com Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) 247 Continuação brotos de ilhotas foi muito mais surpreendente do que esperávamos”, disse Susan Bonner-Weir. “Nosso método, uma vez otimizado, poderá gerar quantidades significativas de novas ilhotas humanas a partir de tecido que de outra forma seria descartado. Somos como alquimistas, transformando chumbo em ouro”. Circulation 2000:102:191-196. Vitamina E pode reduzir a doença cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 Suplemento de alfa tocoferol (AT) dado a diabéticos tipo 2 diminui a atividade do monócito e a aderência das moléculas celulares solúveis, desta forma possivelmente reduzindo o risco de doença macrovascular neste grupo, de acordo com os pesquisadores da University of Texas Southwestern Medical Center, em Dallas. Os Drs. Ishwarlal Jialal e Sridevi Devaraj estudaram 25 indivíduos com diabetes tipo 2 que não tiveram complicações macrovasculares e 25 com tipo 2 diabetes que tinham tido complicações vasculares. Além disso, houve 25 - idade e sexo combinados - controles saudáveis. Dentre os diabéticos, os monócitos liberam significativamente mais anion superoxide e interleukine-1-bêta e apresentam uma aderência maior ao endotélio do que os indivíduos controle. Todos os pacientes receberam 1.200 U.I. de alfa tocoferol natural por dia durante três meses. “A terapia reduziu significativamente a oxidabilidade do LDL nos três grupos”, de acordo com o estudo. Além disso, em ambos os grupos diabéticos, houve também, uma acentuada diminuição da aderência das moléculas celulares solúveis, comparativamente com os controles. “Há duas descobertas principais”, explicou o Dr. Jialal. “Este estudo é a primeira demonstração de que existe uma inflamação aumentada no diabetes, quer o paciente tenha ou não uma doença cardíaca. Isto foi manifestado pela formação da placa monócito e a produção de mais superoxide, citocinas e moléculas mensageiras que ligam-se ao endotélio. A segunda descoberta, que é totalmente nova, é que quando administramos vitamina E aos pacientes, houve uma substancial redução na função monócito. Obviamente mostramos um efeito antioxidante, mas além disso, mostramos que a vitamina E, em altas doses, é um agente anti-inflamatório.” A implicações clínicas são importantes; de acordo com o Dr. Jialal, a vitamina E poderia reduzir as doenças cardíacas no diabetes, e, talvez, poderia agir sobre a síndrome metabólica que causa o diabetes e prevenir a doença. Polly J Bingley et al, BMJ 321:420-424 , agosto de 2000 Influência da idade maternal e da ordem de nascimento sobre o risco de diabetes na infância: prospectiva baseada em estudo familiar Objetivos: Examinar a influência da idade dos pais no período do parto e da ordem de nascimento sobre o risco subseqüente de diabetes infantil. Desenho: prospectiva de população baseada em estudo familiar. Participantes: 1.375 famílias nas quais uma ou mais crianças tiveram 248 Continuação Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) diabetes. De 3.221 crianças, 1.431 tiveram diabetes (idade media no diagnóstico 10,5 anos, intervalo 0,4-28,5) e 1.790 permaneceram nãodiabéticos à idade media de 16,1 anos. Medidas: Sobrevida livre da doença e ratios para o desenvolvimento do diabetes em todas as crianças, usando a regressão proporcional de Cox. Resultados: A idade maternal no parto estava fortemente relacionada ao risco de diabetes tipo 1 na criança; o risco aumenta em 25% (95%, intervalo de confiança 17% a 34%) para cada faixa de 5 anos da idade materna, de forma que a idade de 45 anos ou mais no parto foi associada a um risco relativo de 3,11 (2,07 to 4,66) comparado com uma idade materna de menos de 20 anos. A idade paterna também foi associada um risco aumentado de 9% (3% to 16%) para cada cinco anos de aumento da idade paterna. O risco relativo de diabetes, relacionado à idade parental no nascimento e ao sexo da criança, diminuiu com o aumento da ordem de nascimento; o efeito total foi uma redução de 15% no risco (10% a 21%) por criança nascida. Conclusões: Uma forte associação foi encontrada entre o aumento da idade maternal no parto e o risco de diabetes na criança. O risco é maior nas crianças que nasceram primeiro e diminuiu progressivamente nos nascimentos seguintes. O aumento da idade materna no parto na Inglaterra nos últimos duas décadas pode ser responsável pelo aumento da incidência do diabetes na infância. Comunicado de Eli Lilly aos usuários de insulina Comunicamos a todos os usuários de insulina, através das associações, ligas ou serviços de diabetes, que a partir de outubro de 2000, a Eli Lilly do Brasil Ltda, não mais comercializará a Insulina Mista Purificada Lilly, porém este tipo de insulina ainda está disponível nas farmácias até o término dos estoques. Aos pacientes usuários da Insulina Mista Purificada Lilly, existe a opção do uso da insulina humana, desde que a transferência seja feita sob supervisão médica ou, caso desejarem continuar utilizando uma insulina de origem animal, há outras opções deste tipo de insulina no mercado brasileiro. A Eli Lilly do Brasil Ltda informa que a classe médica também está sendo notificada sobre esta decisão e solicita aos usuários da Insulina Mista Purificada Lilly que entrem em contato com seu médico para que seja feita a transferência para outro tipo de insulina. Para maiores esclarecimentos, colocamos à sua disposição nosso serviço de atendimento ao cliente, tel: 0800-134333. 250 Diabetes Clínica O Diabetes na Imprensa Pesquisa mostra variação genética em diabete tipo 2 28 de agosto de 2000 Pesquisadores do Centro de Pesquisa do Genoma do Massachusetts Institute of Technology (MIT) demonstraram, em um estudo que pode levar à descoberta de novos tratamentos para o diabetes tipo 2, que uma variação genética bem comum aumenta o risco de desenvolver a doença. Os resultados não implicam, porém, possibilidade imediata de cura. O diabetes tipo 2 é geralmente desenvolvida na adolescência ou na fase adulta e com freqüência está ligada à obesidade. Dos 10 milhões de diabéticos americanos, calcula-se que entre 90% e 95% deles têm o tipo 2. Publicado na edição de setembro da Nature Genetics, o estudo revela que uma variação genética, o polimorfismo do nucleotídeo simples (SNP), aumenta o risco de desenvolver a moléstia. Analisaram-se amostras de DNA de 4 mil adultos portadores da doença, de parentes de diabéticos ou de pessoas que vivem na mesma região. O estudo fixou-se sobre um gene, o PPAR gama, e um SNP contido nele. Descobriu-se que a possibilidade de as pessoas com SNP desenvolverem diabetes tipo 2 é 25% maior. Estima-se que 85% da população mundial possui o SNP. Diabetes entre adultos aumenta 33% nos Estados Unidos 24 de agosto de 2000 O diabetes é a sétima maior cause de morte nos Estados Unidos, provocando mais de 300.000 mortes prematuras todo ano. Cerca de 800.000 novos casos são diagnosticados anualmente. Mais aumentos são esperados devido à prevalência da obesidade e diminuição da atividade física. Metade dos adultos norte-americanos é considerada acima do peso. De acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC, Atlanta), a doença aumentou 33% em todo o pais entre 1990 e 1998, mas cresceu 70% entre pessoas com 30 a 39 anos e 40% entre pessoas com 40 a 49 anos. “Este estudo fornece uma mensagem clara de que o estilo de vida norte-americano, incluído a falta de atividade física e nutrição pobre, está tendo uma influência dramática em nossa saúde e irá aumentar, em último caso, a necessidade de atendimento de diabetes no futuro”, avaliou Jeffrey Koplan, diretor do CDC. O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2000) 251 O adeus às injeções de insulina maio de 2000 Uma nova terapia promete trazer alívio ao tratamento do diabetes: a insulina aspirada. A insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, seria aspirada por meio de um aparelho parecido com o usado por asmáticos. No pulmão, a substância passaria para o sangue. O remédio ainda está em fase de estudos por um laboratório americano, mas a novidade deve chegar ao mercado brasileiro em três anos. O diabetes é uma doença causada pelo excesso de glicose no sangue, devido a falta de insulina. “Não existe cura para o diabetes, mas este tratamento promete minimizar o sofrimento de quem precisa tomar injeções diárias do hormônio”, analisa Fadlo Fraige Filho, endocrinologista da Beneficência Portuguesa. Ministério vai apoiar campanha antidiabetes 8 de julho de 2000 Uma campanha nacional de detecção do diabetes será lançada no Brasil no fim deste ano. O evento é uma iniciativa conjunta do Ministério da Saúde, da FENAD (Federação Nacional das Associações de Diabéticos) e da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes). Segundo dados do Ministério da Saúde, em 1990, 8% da população sofria de diabetes. Segundo Fadlo Fraige Filho, presidente da FENAD, esse porcentual teria dobrado e hoje existiriam 10 milhões de diabéticos no País. Brasil aperfeiçoa transplante para diabéticos 7 de agosto de 2000 Os médicos brasileiros têm boas notícias para os diabéticos. Em dois anos, no máximo, transplantes de células de pâncreas poderão ser feitas no País. O anúncio foi feito por um grupo de pesquisa liderado pelo endocrinologista Freddy Goldberg Eliaschewitz, da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital Heliópolis. Esses transplantes já são realizados com sucesso no Canadá. No Brasil, a equipe de Goldberg está aperfeiçoando a cirurgia com uma técnica para acabar com o risco de rejeição. Isso deverá ampliar o leque de pacientes para os quais a operação, conhecida como transplante de ilhotas de Langerhans, é indicada. Há cinco anos, Goldberg Eliaschewitz e mais 11 cientistas de médicos estão desenvolvendo a técnica de isolamento das ilhotas para transplante que inicialmente será feita em 20 pacientes com características semelhantes aos do Canadá. A grande novidade é que, paralelamente à cirurgia, o grupo está desenvolvendo uma técnica de isolamento, que vai proteger a ilhota do processo de rejeição do organismo. A cápsula é uma membrana de polímero que deixa a insulina sair, mas não permite que os anticorpos cheguem às ilhotas. Segundo Goldberg, sem o risco do efeito colateral da rejeição, um transplante poderá ser feito em um número maior de diabéticos e não só aqueles pacientes em estado grave. 254 Diabetes Clínica 04 (2000) Avanços terapêuticos e tecnológicos Chiasson JL. Eur Heart J (Suppl 2 D): D 35, 2000 O uso potencial da acarbose na prevenção do diabetes tipo 2 e da doença cardiovascular A resistência insulínica é geralmente considerada como o primeiro defeito que induz a intolerância à glicose. Mas somente quando as células β falham em compensar a resistência à insulina é que a hiperglicemia pós-prandial se desenvolve, resultando na tolerância à glicose diminuída (impaired glucose tolerance - IGT). Além disso, a hiperglicemia pós-prandial irá exacerbar tanto a resistência à insulina e a secreção de insulina já prejudicada, contribuindo ainda mais para a piora da tolerância à glicose e para o desenvolvimento do diabetes do tipo 2. Da mesma maneira, tem sido provado que a resistência à insulina e a hiperinsulinemia são preditores independentes para a doença cardiovascular. Diversos estudos têm mostrado recentemente uma relação forte e independente entre os níveis de glicemia pós-prandial, mesmo na faixa normal, e o desenvolvimento da doença cardiovascular. Desta forma, tem sido proposto que qualquer intervenção em pacientes com IGT que poderia resultar em um decréscimo na resistência insulínica e/ou na glicemia pós-prandial poderia prevenir ou retardar o desenvolvimento do diabetes e da doença cardiovascular. Em um estudo preliminar, foi observado o efeito de um inibidor da alfaglicosidase, a acarbose, na glicemia pós-prandial e nos níveis de insulinemia, bem como na resistência insulínica. Pacientes com IGT (n = 18) foram randomizados para receber placebo ou 100 mg de acarbose 3 x ao dia após uma refeição-teste, e foi avaliada a resposta da glicemia pós-prandial e da insulina durante 4 meses. A sensibilidade à insulina foi avaliada antes e depois do período de tratamento (4 meses). Os resultados demonstraram que acarbose não apenas reduziu acentuadamente a elevação da glicemia e da insulinemia, mas também reduziu a resistência à insulina em 20% (P = 0,02). Se resistência à insulina e hiperglicemia pós-prandial são cruciais para o desenvolvimento do diabetes e doença cardiovascular (DCV), pode-se supor que a acarbose é uma droga com potencial para a prevenção tanto do diabetes como da DCV. Com base nessas observações, o estudo STOP-NIDDM foi iniciado. Este estudo internacional irá avaliar a eficácia da acarbose em prevenir ou retardar o desenvolvimento do diabetes tipo 2 (objetivo primário) e da DCV (objetivo secundário) em uma população com IGT. Pacientes com IGT conforme o critério da WHO e com glicemia de jejum = 5,6 mmol/l foram randomizados em um modelo duplo-cego para placebo ou 100mg de Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) 255 Continuação acarbose 3 x ao dia para seguimento por um período de 4 anos. O rastreamento foi completado em 28 de fevereiro de 1998. Um total de 1.419 pacientes foram randomizados. A idade média era de 53,6 ± 8,4 anos e 49,5% eram do sexo masculino. As seguintes características foram observadas na população de início: 79,5% eram obesos (IMC = 27 kg/m²), 82% apresentavam uma circunferência da cintura = 90 cm, 43,5% eram hipertensos (20,6% sabiam e 23,7% desconheciam), 70,2% tinham dislipidemia (10,8% sabiam e 54,9% não sabiam) e 72% tinham hiperinsulinemia (= 65 pmol/l). A população estudada tinha todas as características da síndrome plurimetabólica, com alto risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2 e da doença cardiovascular; assim, esta é uma população ideal para um estudo de intervenção. Está para ser demonstrado se a acarbose pode prevenir ou retardar o desenvolvimento do diabetes tipo 2 e da doença cardiovascular nesta população com IGT. Os resultados estarão disponíveis ao final de 2001. Annual meeting of the American Chemical Society, Washington DC, 23 de agosto de 2000 Suplementação com ácido linoléico pode auxiliar no diabetes tipo 2 Novas evidências sugerem que a inclusão de ácido conjugado linoléico na dieta pode ajudar a controlar o diabetes tipo 2. Diabéticos tipo 2 que consumiram 6 g do suplemento por dia durante 8 semanas tiveram um índice mais baixo de massa corporal, níveis mais baixos de triglicerídeos e níveis melhorados de insulina plasmática no final do período de estudo do que os controles. Pesquisadores da Purdue University liderados por Martha A. Belury, deram ácido linoléico conjugado a 11 diabéticos tipo 2, enquanto 8 outros diabéticos seguiram sua dieta norma. Nenhum dos pacientes estava recebendo medicação para diabetes tipo 2. Após 8 semanas, os níveis de triglicerídeos caíram em uma média de cerca de 50 mg/dl em pacientes tomando ácido linoléico, mas somente em cerca de 10mg/dl no grupo controle. O índice de massa corporal caiu cerca de 0,5 nos indivíduos em estudo, enquanto cresceu levemente nos controles. Os níveis de leptina também caíram em pacientes recebendo ácido linoléico, mas subiram levemente nos controles. Foi observado que o ácido linoléico conjugado ligado aos PPAR (peroxisome proliferator-activated receptors) alcança as mesmas metas que permitem às tiazolidinedionas a reduzir a resistência à insulina e aumentar a ação da insulina em humanos. Tem sido demonstrado abaixar os níveis de glicose pós-prandial e HbAlc em animais de laboratório. Junho de 2000 A FDA aprova o uso do apligraf no tratamento das úlceras do pé diabético FDA aprovou o Apligraf (Graftskin) para uso com o tratamento convencional de úlcera diabética do pé com duração acima de três semanas. Esta aprovação amplia o uso do Apligraf, que recebeu liberação para o mercado em 1998 para uso no tratamento de úlceras venosas da perna com duração acima de um mês, que não tenham respondido adequadamente à terapia convencional sozinha. O Apligraf é aplicado como um substituto auxiliar da pele. Em experimento clínico de grande escala o Apligraf demonstrou curar úlceras diabéticas do pé mais depressa do que a terapia 256 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação convencional. Ao final de 12 semanas de tratamento, 63 (56%) dos 112 pacientes com este tipo de úlcera tratados com Apligraf estavam 100% fechados, comparado com 36 (39%) dos 96 com úlceras tratadas somente com a terapia convencional (debridamento, cobertura salina e descarga total) (P = 0,001). Embora alguns fatores adversos tenham sido maiores no grupo Apligraf, não houve estatisticamente diferença significativa em comparação com o controle. Como a pele humana, o Apligraf consiste de células de pele viva e proteína estrutural. A camada dérmica mais funda combina o colágeno tipo 1 bovino e fibroblastos humanos (células dermais) o que produz proteínas adicionais. A camada superior da epiderme é formada de ceratinócitos humanos (células epidérmicas) primeiro para multiplicar e então para reproduzir a arquitetura da epiderme humana. Diferentemente da pele humana, o Apligraf não contém melanócitos, células de Langerhans, macrófagos e linfócitos, ou outras estruturas tais como vasos sanguíneos, folículos capilares ou glândulas de suor. O Apligraf tem sido usado em mais de 12.000 aplicações clínicas e comerciais. O Apligraf não deve ser usado em feridas infectadas ou em pacientes com hipersensibilidade a qualquer de seus componentes. 60th Scientific Sessions of the American Diabetes Association, San Antonio, Texas, 15 de junho de 2000 A terapia conjugada metformina/gliburida: nova formula para o tratamento do diabetes tipo 2 Pacientes que receberam um novo tratamento para diabetes tipo 2 na forma de pílula conjugada metformina/gliburida obtiveram maior controle do açúcar no sangue do que aqueles que receberam os tratamentos separados, demonstraram os resultados de estudo de Alan J. Garber, Baylor College of Medicine em Houston. Mais de 800 pacientes com diabetes tipo 2 foram randomizados em estudos multicêntricos duplo-cego, controlados por placebo. Pacientes brancos, hispânicos e afro-americanos, com 60 anos ou mais, participaram da experiência. Ao final de 20 semanas de acompanhamento, pacientes usando a pílula conjugada reduziram seus níveis de HbA1c em 1,5 % uma resposta significativamente melhor do que a apresentada com placebo ou com a terapia com agente único. Mais de dois terços dos pacientes que receberam o tratamento alcançaram as metas de glicemia recomendadas pela ADA. O estudo sugere que a combinação simultânea de terapias pode levar a um novo tratamento para pacientes com diabetes tipo 2. Efeitos adversos relacionados ao tratamento foram menores e incluíram diarréia, náusea, distúrbio estomacal e sintomas de hipoglicemia. Pacientes recebendo metformina/gliburida experimentaram uma incidência menor de certos efeitos adversos relacionados à droga do que pacientes que receberam gliburida ou metformina. Pacientes tratados com 125 mg ou 250 mg tiveram menos efeitos gastrointestinais adversos que os de metformina e menos sintomas de hipoglicemia do que aqueles tratados com gliburida. O medicamento que está sendo desenvolvido pela Bristol-Myers Squibb está pendente da aprovação da FDA. Se aprovado, o remédio será comercializado com o nome Glucovance. Diabetes Clínica 04 (2000) 257 Produtos e novidades Starlix (nateglinida): Novo antidiabético oral da Novartis Farma Está chegando ao mercado brasileiro, em setembro de 2000, um novo conceito no tratamento do diabetes: trata-se do Starlix, desenvolvido pela Novartis Farma, capaz de controlar os picos de glicemia, que ocorrem após as refeições, nas pessoas portadoras da doença. O Starlix, cuja substância ativa é a nateglinida, é um medicamento novo de estrutura química diferente daqueles antidiabéticos orais em uso atualmente. Ele proporciona controle dos picos de hiperglicemia que ocorrem nos diabéticos, após as refeições. A nateglinida é também utilizada para controle dos níveis glicêmicos de jejum, nas fases iniciais do diabetes e pode ser associada a outros antidiabéticos orais para o controle da doença. Tudo com baixo risco da ocorrência de hipoglicemia (redução excessiva dos níveis glicêmicos) ou de ganho de peso, assim como livre da ocorrência de efeitos colaterais gastrointestinais, que representam preocupações freqüentes dos médicos e pacientes em relação ao tratamento com antidiabéticos orais. É conhecida como “droga inteligente” pois as concentrações de glicose no sangue determinam maior ou menor ação da droga, ou seja, se o nível glicêmico for mais alto, a droga irá reduzi-lo mais intensamente e vice-versa, conferindo assim maior eficácia com reduzidas possibilidades de reações adversas. Novonorm (repaglinida) da Novo Nordisk agora disponível no mercado brasileiro Novonorm, cujo princípio ativo é a repaglinida, é o primeiro antidiabético oral chamado Regulador da Glicose Prandial (RGP). Ele é particularmente importante no momento em que o paciente ingere alimento, pois nessa hora os níveis de açúcar sanguíneo se elevam e precisam ser controlados. Para disponibilizar hoje ao mercado brasileiro esse antidiabético oral, última geração de medicamentos para diabéticos, a Novo Nordisk investiu em pesquisa, assumindo mais uma vez seu compromisso em buscar inovações terapêuticas para o diabetes. A Novo Nordisk, fabricante mundial de insulinas e dos mais modernos sistemas de aplicação de insulina, que há 9 anos atua no mercado brasileiro, investe também em programas educacionais junto a universidades, pois 258 Continuação Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 04 (2000) acredita que ao garantir o acesso à informação, contribui para a formação de novos pesquisadores e especialistas em diabetologia, visando em todas as suas ações a melhoria da qualidade de vida dos pacientes diabéticos. Primeira mistura de insulina contendo insulina de ação ultra-rápida Humalog Humalog Mix25 (25% Insulina lispro/75% Insulina NPL [DNA recombinante]) pode ajudar os pacientes com diabetes a obterem um melhor controle glicêmico. A Eli Lilly anuncia que está disponível nos EUA e em breve no Brasil a primeira insulina pré-misturada contendo a insulina de ação ultra-rápida Humalog. A Humalog Mix25 (25% insulina lispro/75% suspensão de insulina NPL [DNA recombinante]) ajudará os pacientes a controlar os níveis de glicose sangüínea e adaptar as injeções de insulina com os horários de refeições. Humalog Mix25 é indicado no tratamento de pacientes com diabetes mellitus para o controle de hiperglicemia. Humalog Mix25 está disponível em refis de 3,0 ml para serem utilizados com a caneta de aplicação de insulina Humapen. Humapen é um sistema de aplicação de insulina que oferece conforto, praticidade e precisão na administração da dose de insulina. A disponibilidade de Humalog Mix25 segue a recente aprovação da insulina pré-misturada pelo FDA. Pela combinação dos benefícios de uma insulina de ação ultra-rápida e uma insulina de ação intermediária, Humalog Mix25 oferece um controle glicêmico através do dia, cobrindo tanto a glicemia pós-prandial quanto a glicemia basal, oferecendo aos pacientes a possibilidade de um melhor controle glicêmico que poderá vir a reduzir os riscos de complicações crônicas. Humalog Mix25 ainda não está disponível no Brasil e, quando estiver, será comercializada somente sob prescrição médica. Efeitos colaterais associados com o uso de todos os tipos de insulina, incluem hipoglicemia, ganho de peso, lipodistrofia e hipersensibilidade. Os pacientes devem ser advertidos para não misturarem Humalog Mix25 com outro tipo de insulina. O início ou mudança na terapia com insulina deverá ser feita cuidadosamente e sob supervisão médica. Prandin (repaglinida) da Medley: Uma refeição, uma dose. Sem refeição, sem dose Prandin é o novo antidiabético oral comercializado pela Medley Indústria Farmacêutica. Prandin (repaglinida) tem a vantagem de dar maior flexibilidade na alimentação do paciente diabético, sendo portanto indicado para o controle da glicemia no momento da refeição, pois Prandin gera uma rápida secreção de insulina ao ser ingerido, imitando o que ocorre no organismo sadio. Outra grande vantagem de Prandin é o fato do produto gerar menos ganho de peso do que as sulfonilúreias, além de propiciar um controle glicêmico mais efetivo do que estas, pois Prandin diminui em muito o risco de ocorrência de hipoglicemia, o que geralmente acontece com as sulfonilúreias atualmente disponíveis no mercado. Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 259 Prandin está comercializado nas seguintes apresentações: caixas com 30 comprimidos de 0,5, 1,0 ou 2,0 mg. A posologia do produto está diretamente relacionada aos hábitos alimentares do paciente, ou seja, “uma refeição, uma dose, sem refeição, sem dose.” O Abbott Laboratórios do Brasil está lançando no Brasil o Actos para o tratamento do diabetes tipo 2 Actos (cloridrato de pioglitazona) pertence a uma nova geração de antidiabéticos orais, a classe das tiazolidinedionas. Actos é um produto que melhora a qualidade de vida do paciente diabético tipo 2, por meio de um mecanismo de ação que reduz a resistência à insulina, um problema chave no diabetes tipo 2. Além de controlar adequadamente a glicemia. Actos é seguro e prático devido à sua posologia (dose única diária, sempre). Actos está sendo lançado nas dosagens de 15, 30 e 45 mg com 15 comprimidos. Aventis Pharma lança Insuman (insulina humana) e caneta digital no mercado brasileiro A Aventis Pharma está trazendo duas novidades para o mercado nacional de antidiabéticos: a insulina humana Insuman e a caneta digital Optipen Pro. Os lançamentos proporcionarão aos diabéticos insulino-dependentes uma nova opção para o controle da doença. Aprovado em 1998, o novo processo de produção, que não agride o meio ambiente, permitiu a produção de insulina humana de alta qualidade e mais pura, a Insuman. Ela é a primeira insulina a ser embalada seguindo totalmente os padrões de cores publicados no ano passado pelo International Diabetes Federation (IDF). De acordo com essa resolução, cada tipo de embalagem de insulina segue uma cor que facilita a identificação do produto pelo paciente. A insulina humana Insuman, disponível no mercado europeu há quase 10 anos, chega ao Brasil em dois tipos de embalagem: caixa individual com frasco-ampola de 5 ml para utilização em seringas de injeção, e caixa contendo 5 cartuchos de 3ml cada, para uso exclusivo com a caneta digital para aplicação de insulina Optipen Pro. A Optipen Pro diferencia-se das demais canetas para aplicação de insulina por ter um mostrador digital maior e nítido. Além disso, a dose pode ser ajustada com maior precisão, sem desperdício de insulina. Stevioside: adoçante natural latino-americano extrato do arbusto stevia A Lightsweet lança o Stevioside Lowçucar, adoçante 100% natural. Ele contém na sua formula o steviosídeo, edulcorante natural, cerca de 300 vezes mais doce do que o açúcar, extraído das folhas da stevia, um arbusto latino-americano natural do Brasil, Paraguai e Argentina. A stevia é usada há séculos pelos índios Guaranis desta região, para adoçar suas bebidas primárias, constituídas de uma mistura de ervas que mais tarde se transformou no chimarrão gaúcho ou até mesmo no 260 Continuação Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 04 (2000) tererê paraguaio. O adoçante Stevioside Lowçucar é apresentado em embalagens na forma pó com 150 e 250 g e na forma líquida com 25 ml. Pode ser usado no forno e fogão para adoçar qualquer produto de uso culinário. Diafresh: Complemento para a higiene bucal Após a Diaped, produto de higiene para os pés, a Gadea Indústria está lançando o Diafresh, desodorante bucal com ação higienizante e bactericida. Formulado à base de óleo essencial de Melaleuca, Diafresh ajuda a prevenir as doenças periodontais, controlando a flora bacteriana bucal. Diafresh não contém açúcar ou sorbitol. Este produto, aprovado pela ANAD, não substitui a escovação e o uso de fio dental. Livro: Exercício físico no controle do Diabetes Mellitus Denise Maria Martins, mestre em Educação física da Universidade Federal de Santa Catarina, fisioterapeuta, doutorando na Escola Paulista de Medicina/Unifesp, está lançando um livro útil, reunindo todos os conhecimentos atuais, para o paciente diabético aproveitar melhor da atividade física. O exercício é indispensável para melhorar o controle glicêmico e esse livro explica de maneira esclarecedora as recomendações especiais para a organização e a prática de atividades físicas para o portador de diabetes, mesmo apresentando complicações. 145 páginas, Phorte editora Ltda, www.phorte.com. Disponível na ANAD. Revista: Cozinha clássica para o diabético Esta nova revista, desde agosto 2000 nas bancas, propôs uma serie de receitas simples e agradáveis para melhorar e variar a alimentação do diabético, respeitando as regras nutricionais indispensáveis. As receitas, acompanhadas de fotos e textos esclarecedores, são assinadas pelo chef Sérgio Arno, com a garantia do Incor (Instituto do Coração). Diabetes Clínica 04 (2000) 261 Resumos de trabalhos e congressos Jim Geerlof et al. Diabetes. 2000;49(suppl 1):A357-8 A resposta glicêmica à monoterapia com pioglitazona em pacientes portadores de diabetes tipo 2 Pioglitazona (PIO) é uma tiazolidinediona usada no tratamento do diabetes tipo 2. Três estudos de monoterapia randomizados, multicêntricos, duplo-cegos, controlados por placebo, com duração de 16 a 26 semanas, avaliaram os efeitos de doses de PIO entre 7,5 mg e 45 mg/dia em 865 pacientes. A amostra incluiu pacientes que já receberam ≥ 1 agente antidiabético oral e pacientes que declararam nunca ter sido tratados por medicamentos antidiabéticos via oral (iniciantes). O respondedor HbA1c foi definido como um paciente que alcançou um nível de HbA1c ≤ 6,1% ou uma diminuição ≥ 0,6% a partir da linha base. O respondedor glicose sanguínea de jejum (FBG) foi definido como um paciente apresentando uma diminuição da FBG ≥ 30 mg/dl a partir da linha base. As percentagens de pacientes classificados como respondedores ao final são reportados na tabela seguinte. % respondedores HbA1c Todos os pacientes (iniciantes) 26 semanas PIO 7,5 mg PIO 15 mg PIO 30 mg PIO 45 mg Placebo 22,5 (29,6) 36,7 (61,5) 32,9 (38,5) 56,6 (71,4) 11,4 (12,0) 35,0 (40,7) 50,6 (53,8) 52,4 (65,4) 67,5 (76,2) 21,5 (12,0) 24 semanas PIO 7,5/15/30 mg PIO 15/30/45 mg Placebo 52,9 (90,0) 49,4 (70,0) 9,6 (18,2) 62,2 (63,2) 63,5 (73,7) 17,9 (9,1) 16 semanas PIO 30 mg Placebo 48,0 (61,5) 10,8 (18,9) 60,6 (53,8) 23,1 (25,7) A percentagem de pacientes classificados como respondedores a HbA1c e FBG era maior para os grupos PIO do que para os grupos placebo. Para HbA1c, o subgrupo iniciante tinha taxas de respostas mais elevadas 262 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação do que o subgrupo que já recebeu tratamentos. Todos os grupos PIO apresentaram taxas de respostas mais elevadas do que os grupos placebo. A monoterapia com PIO foi associada com melhora do controle glicêmico em pacientes que já receberam um tratamento como em pacientes que nunca foram tratados. John W. Egan et al, Diabetes. 2000;49(suppl 1):A357 O efeito a longo prazo da pioglitazona como monoterapia ou terapia combinada sobre o controle da glicose em pacientes diabéticos tipo 2 Pioglitazona (PIO) é uma tiazolidinediona usada no tratamento do diabetes tipo 2. Pode ser empregada em monoterapia ou em combinação com sulfonilúreias (SU), metformina (MET) ou insulina (INS). O efeito a longo prazo de PIO sobre o controle glicêmico foi avaliado em um estudo multicêntrico, aberto, com titração de dosagem. Os pacientes (n = 757) participaram no estudo a partir de 5 estudos (2 monoterapias e 3 terapias combinadas) randomizados, duplo-cego, com grupos paralelos. Os pacientes iniciaram o tratamento PIO com 15 mg/uma vez por dia como monoterapia ou em conjugação com o seu tratamento atual de SU, MET ou INS (n = 701). A dose de PIO podia ser ajustada em função da glicemia de jejum (FBG), com uma dosagem máxima de 30 mg/dia. A dose do outro tratamento não podia ser modificada. Uma análise intermediara do estudo foi realizada em pacientes (n = 536) que tinham completado 24 semanas de tratamento. A linha base foi definida como a última medida do estudo anterior. HbA1c mediana, FBG na linha base e mudanças da linha base para pacientes que tinham completado tratamento de 24 semanas são reportadas na tabela seguinte. HbA1c (%) FBG (mg/dl) N Linha base ∆ da linha base 533 536 9,77 236,7 - 1,24 - 45,3 A PIO (> 30 mg) administrada uma vez por dia durante 24 semanas em monoterapia e em combinação com SU, MET ou INS foi associada com reduções das taxas de HbA1c e FBG. A incidência dos efeitos adversos não foi aumentada durante o período de tratamento de longo prazo. A PIO administrada uma vez por dia melhorou o controle glicêmico a longo prazo dos pacientes diabéticos tipo 2. Michael R. Brockley et al, 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 O efeito da pioglitazona no perfil lipídico baseado em níveis de triglicerídeos e HDL-Colesterol Um perfil lipídico anormal, com aumento das triglicerídeos (TG) e diminuição do HDL-colesterol é comum em pacientes com diabetes tipo 2. Actos (pioglitazona), tiazolidinediona comercializada para o tratamento do diabetes tipo 2, diminui os níveis de TG e aumenta os de HDL-C. O efeito da pioglitazona no perfil lipídico sorológico foi retrospectivamente avaliado em seis estudos multicêntricos, duplo-cegos, com grupos controle tratados Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 263 com placebo. Para esta avaliação, os pacientes foram classificados em três categorias segundo os níveis de TG e HDL-C (baixo, limite, elevado) relacionados com o risco de doença arterial coronariana. Essas categorias estão definidas na tabela seguinte. Baixo Limite Elevado Triglicerídeos HDL-colesterol < 200 mg/dl 200-399 mg/dl ≥ 400 mg/dl > 45 mg/dl 35-45 mg/dl < 35 mg/dl Foi considerado que o paciente melhora se a categoria muda de 1) elevado para limite ou baixo ou 2) limite para baixo ao final do estudo. Foi considerado que o paciente piora se a categoria muda de 1) baixo para limite ou elevado ou 2) limite para elevado. Em um estudo de monoterapia, 30% (29/96) dos pacientes do grupo PIO, comparados a 16% (14/85) dos pacientes do grupo placebo aumentaram os seus riscos para TG e 29% (26/91) dos pacientes do grupo PIO comparados a 16% (13/82) dos pacientes do grupo placebo aumentaram os seus riscos HDL-C. Os resultados de outros cinco estudos referentes à PIO foram similares ao estudo de monoterapia descrito aqui. Esses dados sugerem uma vantagem adicional do uso da PIO para melhorar a dislipidemia freqüente em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Steven E. Kahn et al. 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 A nateglinida aumenta a secreção de insulina na primeira fase e melhora a clearance da glicose em diabéticos tipo 2 A primeira fase (aguda) da resposta insulínica à glicose (AIRglu) é basicamente ausenta no diabetes tipo 2 e a perda da secreção precoce de insulina é importante na deterioração da tolerância à glicose. PBO Airglu (µU/ml) I 10-60 min (µU/ml) I 0-300 min (µU/ml) Kg (%/min) GluCmin (mg/dl) GluTmin (min) Glicose ≤ 60 mg/dl 1,1±0,3 16,2±2,4 4,3±9 0,76±0,03 105,6±2,7 281±9 0 NAT 3,9±0,8*# 34,4±3,6*# 87±10* 0,87±0,04*# 89,5±3,3*# 230±15*# 1# GLY 1,1±0,4 25,2±3,6** 112±14** 0,79±0,04 68,7±2,7** 270±15 7** P < 0,05; *NAT vs. PBO, #Nat vs. GLY, **GLY vs. PBO Para determinar se o novo derivado de aminoácido, nateglinida (NAT), agente insulinotrópico, pode aumentar a liberação de insulina de primeira fase e melhorar a tolerância à glicose, foi medido a função celular β e a tolerância à glicose depois a injeção endovenosa de glicose em 21 pacientes portadores de diabetes tipo 2 (14 homens / 7 mulheres; idade 59,2 ± 2,1 anos; IMC 29,7 ± 1,0 kg/m²; glicose plasmática de jejum 146 264 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação ± 4 mg/dl), recebendo doses únicas de NAT (120 mg), gliburida (GLY 10 mg) ou placebo (PBO) em ordem randomizada. A função celular β foi determinada como AIRglu a 10 minutos, a segunda fase da secreção de insulina como (I 10-60 min) e a secreção de insulina total como (I 0-300 min). A tolerância à glicose foi quantificada como a desaparição constante da glicose (Kg) entre 10 e 60 minutos. A concentração mínima da glicose (GluCmin), o tempo para o GluCmin e a freqüência da hipoglicemia foram também determinados. NAT aumentou as respostas insulínicas de primeira fase e estimulou a de segunda fase precoce, sem as baixas concentrações da glicose plasmática observadas com GLY. NAT é o único agente insulinotrópico que aumenta a clearance da glicose por estimulação da liberação precoce da insulina. O risco reduzido de hipoglicemia tardia faz a NAT útil no tratamento do diabetes tipo 2. David J. Pettitt et al. 60th Scientific Sessions, American Diabetes Association, San Antonio Texas, 9-13 de junho de 2000 Eficácia da repaglinida sobre refeição rica em carboidratos Repaglinida (REP) é recomendada como adjuvante da dieta em diabetes tipo 2, mas pacientes relatam que usam o remédio para autorizar-se desvios dietéticos. Esse estudo testou a eficácia de várias doses de REP antes refeições ricas em carboidratos. Foram recrutados 9 pacientes portadores de diabetes tipo 2, nunca tratados com REP. Cada um consumou 5 refeições teste após terem ingerido REP em doses de 0,5, 1,0, 2,0 ou 4,0 mg ou nada. As refeições teste foram espaçadas ≥ 7 dias para permitir a eliminação da REP. A refeição para todos os testes foi um jantar comercialmente disponível de 430 kcal, com gordura 40%, carboidratos 37% e proteínas 23% mais 100 kcal a mais de carboidratos na forma de suco de laranja. Os pacientes estavam de jejum e iniciaram a refeição entre 11:00h e 13:00h. REP foi administrada 15 min antes o início da refeição e os pacientes foram informados que tinham de acabar com a refeição em 15 min. Foi pedido aos que tinham um tratamento oral (1 metformina, 3 sulfonilúreia, 4 combinações) interromper o tratamento a manhã do teste. Doses progressivamente mais elevadas de REP foram associadas com aumentos mais elevados dos níveis de insulina em relação à linha base meia-hora após o início (t = 2,07, p = 0,045). Isso resultou em um menor aumento da glicose uma hora após o início (t = 2,17, p = 0,035). As áreas da glicose embaixo da curva para doses de 0 a 4 mg de REP foram, respectivamente, 139,1, 94,4, 88,9, 91,4 e 78,6 (t = 12,4, p = 0,035) e as aéreas de insulina foram, respectivamente, 39,5, 57,7, 43,0, 62,7 e 64,9 (t = 7,18, p = 0,093). A diferença nas aéreas da glicose embaixo da curva (44,9) entre 0 mg e 0,5 mg de REP foi notada na maioria das observações. O benefício adicional com o aumento da dose até 4,0 mg foi menos importante. Embora o fabricante estipule que o produto deve ser usado como adjuvante à dieta e não como substituto em desvios alimentares, o estudo demonstrou que uma dose única de REP tomada 15 min antes uma refeição rica em carboidratos reduz a elevação da glicose plasmática em relação com essa refeição. Como previsto, doses mais elevadas são mais efetivas mas o maior efeito já está realizado com a menor dose. 266 A.M. James Shapiro et al. N Engl J Med 2000;343:230-8. Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Transplante de ilhotas em pacientes portadores de diabetes tipo 1 com tratamento imunossupressor livre de glicocorticóides Contexto: Dados sobre pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 1 e transplantados com ilhotas pancreáticos indicam que somente 8% não precisam de insulina um ano após a operação. Métodos: Sete pacientes portadores de diabetes tipo 1 e histórico de hipoglicemia severa e instabilidade metabólica aceitaram um transplante em conjunção com um tratamento imunossupressor sem esteróides composto de sirolimus, tacrolimus, e daclizumab. As ilhotas foram isoladas por perfusão ductal com colagenase fria e purificada, em um meio livre de xenoproteínas e imediatamente transplantadas por embolização portal transhepática percutânea. Resultados: Os setes pacientes alcançaram rapidamente independência insulínica durável após transplante de um volume médio de ilhotas (±DP) de 11.547±1604 equivalentes de ilhotas por kg de peso corporal (mediana de acompanhamento 11,9 meses; variação 4,4 até 14,9). Todos os pacientes receberam ilhotas de dois doadores de pâncreas, e um deles precisou um terceiro transplante a partir de dois doadores para conseguir a independência insulínica. Os valores médios da hemoglobina glicosilada eram normais após transplante em todos os pacientes. A amplitude média das excursões glicêmicos (medida das variações das concentrações sanguíneas da glicose) diminuiu significativamente após a independência (de 198±32 mg/dl [11,±1., mmol/l] antes o transplante para 119±37 mg/dl [6,7±2,1 mmol/l] após o primeira transplante e 51±30 mg/dl [2,8±1, mmol/l] após o alcance da independência insulínica; P < 0,001). Não houve mais episódios de coma hipoglicêmico. As complicações foram pouco importantes e os pacientes não apresentaram aumentos significativos das concentrações lipídicas durante o acompanhamento. Conclusões: Nossas observações em pacientes portadores de diabetes tipo 1 indicam que o transplante de ilhotas pode resultar em independência insulínica com excelente controle metabólico quando a imunossupressão sem esteróides é combinada com a infusão da massa adequada de ilhotas. C. J. Östgren et al, Diabetic Medicine 17 (6), 445-450, junho de 2000 Associações entre fumo e função da célula β em uma população não hipertensiva e não diabética (Skaraborg Hypertension and Diabetes Project) Objetivo: O risco aumentado de diabetes tipo 2 em fumantes homens e mulheres tem sido associado com resistência à insulina. Porém, isto poderia ser o resultado de um efeito adverso sobre a célula β. O objetivo desse trabalho é estudar a associação entre o fumo e a função da célula β. Métodos: Estudo de observação baseada na comunidade. Em 1994, um grupo de homens e mulheres com idade > 40 anos foram convidados participar em um estudo para a observação dos riscos cardiovasculares, na cidade de Skara, Suécia. No total, 1109 indivíduos participaram (80%). Após exclusão das pessoas portadoras de hipertensão e diabetes Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 267 mellitus, ficaram 874 indivíduos. As amostras foram feitas após jejum de uma noite. O modo de vida (uso de fumo, atividade física, consumo de álcool) foi avaliado por questionário. A resistência à insulina e secreção de insulina foram estimadas usando o homeostasis model assessment (HOMA). Resultados: Os fumantes de cigarros homens (n = 101) tinham um valor célula β estimado por HOMA menor (58,1) do que os não-fumantes (n = 158, valor célula β 90,1, P < 0,001). A diferença continuou após ajustes para idade, IMC, consumo diário de álcool e exercício: 25,9 (95% intervalo de confiança (CI) 9,7-38,8, P = 0,003). Em homens, o valor HOMA da célula β estava menor em atuais fumantes do que em ex-fumantes (diferença 24,3, 95% CI 11,1-35,2, P < 0,001). Em mulheres, nenhuma diferença significativa apareceu na função da célula β vs. status de fumante. Não foi observada associação entre status de fumante e resistência à insulina. Conclusões: Pelo menos em homens, o fumo pode interferir com a função da célula β. A prevenção do diabetes tipo 2 deve incluir estratégias para parar o uso do fumo. Airey et al. Diabetic Medicine 17 (6), 416-432, junho de 2000 Hipoglicemia induzida por insulina exógena - comparação da insulina animal e humana Objetivos: Revisão sistemática da literatura para encontrar evidências publicadas sugerindo uma diferença na freqüência e importância da hipoglicemia induzida por insulina animal e “humana”. Métodos: A revisão identificou estudos randomizados controlados e outros estudos incluídos comparações de observações, series de casos e relatórios de casos nos quais o uso de insulina humana foi comparado com insulina animal em portadores de diabetes. O principal objetivo da pesquisa era a freqüência, a importância e os sintomas da hipoglicemia induzida por insulina. Resultados: 52 estudos randomizados controlados, dos quais 37 duplocegos, foram identificados que incluíram uma ou mais medidas relevantes. 21 desses estudos investigaram a freqüência e a importância da hipoglicemia como efeitos primários. Os outros estudos reportaram a hipoglicemia como um efeito secundário ou incidental durante investigações comparativas da eficácia ou imugenicidade. Sete dos estudos duplo-cego reportaram diferencias na freqüência da hipoglicemia ou na qualidade dos sintomas, e quatro dos estudos não-cego, dos quais dois apresentaram diferenças estatisticamente significativas. A mais, 56 outros estudos e relatórios de casos foram avaliados. Em adição aos 10 casos descrevendo indivíduos com diminuição da qualidade da hipoglicemia, 9 estudos reportaram diferencias na incidência e manifestação da hipoglicemia durante o tratamento com insulina humana. Nenhum dos estudos encontraram qualquer ligação entre o uso da insulina humana e admissões no hospital por hipoglicemia ou morte inexplicada. As maiores series de casos não encontraram nenhuma evidência para a hipótese que a influência do tratamento com insulina humana contribuiu a qualquer um dos falecimentos investigados. Quando todos os tipos de estudos considerados são classificados em ordem de 268 Continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) rigor (segundo o princípio aceitado de “hierarquia das evidências”), é o menos rigoroso que dá a maior importância ao fato que o tratamento com insulina humana tem efeitos sobre a freqüência, severidade ou os sintomas de hipoglicemia. Conclusões: Não resiste à evidência a noção de que o tratamento com insulina humana per se agravaria a freqüência, severidade ou os sintomas da hipoglicemia. Porém, vários estudos, dos quais os com o desenho o menos rigoroso, descreveram esse efeito quando os pacientes trocam a insulina animal para a insulina humana. Não é possível concluir se esse efeito esteja banal, ou específico à insulina humana ou o resultado de um melhor controle glicêmico. Por causa dessa incerteza, é importante que a insulina animal fique disponível se os médicos e os pacientes decidem conservar essa escolha de tratamento. Jane E. Upritchard et al. Diabetes Care 23:733-738, 2000 Efeito da suplementação de suco de tomate, vitamina E e vitamina C sobre a oxidação do LDL e os produtos da atividade inflamatória em diabetes tipo 2 Objetivo: Comparar os efeitos em curto prazo da dieta suplementada com suco de tomate, vitamina E e vitamina C sobre a suscetibilidade do LDL para a oxidação, níveis circulantes de proteína C-reativa (C-RP) e moléculas de aderência celular em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Métodos: 57 pacientes diabéticos tipo 2 bem controlados com idade < 75 anos foram tratados com placebo durante 4 semanas e randomizados para receber suco de tomate (500 ml/dia), vitamina E (800 U/dia), vitamina C (500 mg/dia), ou continuar o tratamento placebo durante 4 semanas. A suscetibilidade do LDL para oxidação e as concentrações plasmáticas de licopeno, vitamina E, vitamina C, C-RP, molécula 1 de aderência celular vascular, e molécula 1 de aderência intercelular foram medidas ao início do estudo, após a fase placebo e no final do estudo. Resultados: Os níveis de licopeno plasmático aumentaram quase três vezes (P = 0,001), e o tempo de atraso da oxidação isolada de LDL por íons cobre aumentou (P = 0,001) em pacientes recebendo suplementação de suco de tomate. A magnitude do aumento no período de atraso era similar ao aumento correspondente durante a suplementação com vitamina E (54%). Os níveis de C-RP plasmática diminuíram significativamente (-49%, P = 0.004) em pacientes recebendo vitamina E. Os níveis circulantes de moléculas de aderência celular e a glicose plasmática não mudaram significativamente durante o estudo. Conclusões: Esse estudo observa que o consumo de suco de tomate comercial aumenta os níveis de licopeno plasmática e a resistência intrínseca do LDL à oxidação, de uma forma quase tão eficaz de que a suplementação com alta dose de vitamina E, a qual diminui também os níveis plasmáticos de C-RP, fator de risco para o infarto do miocárdio em pacientes diabéticos. Esses achados podem ser interessantes para as estratégias de redução do risco de infarto do miocárdio em pacientes diabéticos. 270 Carine H.M. van Schie et al. Diabetes Care 23:634-638, 2000 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Eficácia da injeção de silicone líquida no pé diabético para reduzir os fatores de risco de ulceração. Estudo randomizado duplo-cego controlado por placebo Objetivo: Observar a eficácia do silicone injetado líquido no pé diabético para reduzir os fatores de risco de ulceração em um estudo randomizado duplo-cego controlado por placebo. Métodos: 28 pacientes diabéticos portadores de neuropatias sem doença vascular periférica foram randomizados para receber tratamento com 6 infusões de 0,2 ml de silicone líquido na superfície plantar do pé ou volume igual de solução salina (placebo). Não existiam diferencias significativas entre os dois grupos quanto à idade ou o status da neuropatia. Todas as injeções foram realizadas ao nível das cabeças dos metatarsianos em locais de calos ou de alta pressão. A pressão plantar (pedobarografia) e a espessura do tecido plantar ao nível das cabeças dos metatarsianos (ultra-som Planscan) foram medidas a três, seis e doze meses após a primeira injeção. Os lugares de injeções foram fotografados a cada etapa, e a formação de calos foi notada a partir de uma linha base. Durante o estudo, os pacientes foram tratados pelo mesmo podólogo para todo o tratamento de podologia. Resultados: Os pacientes que receberam o tratamento de silicone apresentaram um aumento significativo da espessura do tecido plantar em comparação com o grupo placebo (1,8 vs. 0,1 mm) (P < 0,0001) e uma diminuição correspondente da pressão plantar (-232 vs. -25 kPa) (P < 0,05) a três meses, com resultados similares a 6 e 12 meses. Uma tendência à redução da formação de calo foi notada no grupo tratado com silicone, comparado ao grupo placebo. Conclusões: Os resultados confirmam a eficácia das injeções plantares de silicone para reduzir os fatores de riscos conhecidos associados com a ulceração do pé diabético. Hanno Pijl et al. Diabetes Care 23:1154-1161, 2000 Bromocriptina: nova perspectiva para o tratamento do diabetes tipo 2 Objetivo: Em vertebrados, a estocagem de gordura corporal e a ação da insulina são controladas por interações temporais de oscilações circadianas neuroendocrinas. A bromocriptina modula a neurotransmissão no cérebro e já foi observado que ela aumenta a tolerância à glicose e a resistência à insulina em modelos animais de obesidade e diabetes. Estudamos o efeito de uma formulação de ação rápida de bromocriptina sobre a homeostase da glicose e a sensitividade insulínica em indivíduos obesos e diabéticos tipo 2. Métodos: Foram randomizados 22 pacientes obesos diabéticos tipo 2 para receber uma formulação de ação rápida de bromocriptina (n = 15) ou placebo (n = 7) em um estudo duplo-cego de 16 semanas. Os pacientes observaram uma dieta de manutenção de peso para excluir todos os efeitos de mudanças de peso corporal nas primeiras medidas. A concentração de glicose plasmática de jejum e a HbA1c foram medidas em intervalos de 2 e 4 semanas durante o tratamento. A composição corporal, a distribuição Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 271 de gordura (medida por ressonância magnética), a tolerância à glicose oral (teste de tolerância à glicose [OGTT]), o efeito da insulina sobre a glicose e a produção da glicose endógena (clamp insulínico euglicêmico 40 e 160 mU·min-1·m-2) foram medidos antes e depois tratamento. Resultados: Nenhuma modificação no peso ou na composição corporal ocorreram durante o estudo nos pacientes tratados por bromocriptina ou nos controles. A bromocriptina reduziu significativamente a HbA1c (de 8,7 para 8,1%, P = 0,009) e a glicose plasmática de jejum (de 190 para 172 mg/dl, P = 0,02), embora esses variáveis tenham aumentado durante o tratamento placebo (de 8,5 para 9,1%, NS, e de 187 para 223 mg/dl, P = 0,02, respectivamente). As diferenças em HbA1c (∆ = 1,2%, P = 0,01) e glicose de jejum (∆= 54 mg/dl, P < 0,001) entre os grupos bromocriptina e placebo após 16 semanas de tratamento foram altamente significativas. A concentração de glicose plasmática media durante OGTT era significativamente reduzida pela bromocriptina (de 294 para 272 mg/dl, P = 0,005), e aumentada no grupo placebo. Nenhuma mudança no sistema glicêmica ocorreu na primeira etapa do clamp insulínico no grupo bromocriptina como no grupo placebo. Durante a segunda etapa do clamp insulínico, a bromocriptina aumentou a glicose total de 6,8 para 8,4 mg · min-1 · kg-1 de massa livre de gordura (FFM) (P = 0,01) e a glicose não-oxidativa de 3,3 para 4,3 mg·min-1·kg-1 FFM (P < 0,05), embora esses variáveis sejam significativamente deterioradas no grupo placebo (P ≤ 0,02). Conclusões: A bromocriptina aumenta o controle glicêmico e a tolerância à glicose em pacientes obesos diabéticos tipo 2. Ambas as reduções em níveis de glicose de jejum e pós-prandial aparecem contribuir ao aumento da tolerância à glicose. O aumento do controle glicêmico induzido pela bromocriptina é associado ao aumento da estimulação da glicose sob controle da insulina. Hannele Yki-Järvinen et al. Diabetes Care 23:1130-1136, 2000 Menos hipoglicemia noturna e melhora no controle da glicemia pós-jantar com insulina glargina ao deitar comparada com insulina NPH ao deitar em terapia conjugada em diabetes tipo 2 Objetivo: As formulações básicas disponíveis de insulina não garantem um nível constante e confiável de insulina durante 24 horas. Comparemos a eficácia e segurança da glargina (análogo da insulina de ação longa) e das insulinas NPH em pacientes diabéticos tipo 2 tratados com antidiabéticos orais. Métodos: 426 pacientes diabéticos tipo 2 (idade 59 ± 9 anos, IMC 28,9 ± 4,3 kg/m2, media ± DS) com controle glicêmico fraco e tratamento com antidiabéticos orais foram randomizados para um tratamento de um ano com insulina glargina ou NPH ao deitar. O tratamento com antidiabéticos orais continuou sem mudança. A meta da glicose plasmática de jejum (FBG) era 6,7 mmol/l (120 mg/dl). Resultados: O controle glicêmico aumento com ambas as insulinas (HbA1c [taxa de referência <6,5%] 8,3 ± 0,1 vs. 8,2 ± 0,1% após 1 ano, glargina vs. NPH, media ± DS, P < 0,001 vs. linha base para ambas). Porém, houve menos hipoglicemia noturna (9,9 vs. 24,0% de todos os pacientes, glargina vs. NPH, P < 0.001) e concentrações mais diminuídas da glicose 272 Continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) pós-jantar (9,9 ± 0,2 vs. 10,7 ± 0,3 mmol/l, P < 0,02) com insulina glargina do que com NPH. As doses de insulina e o ganho de peso foram similares. Em pacientes conseguindo a meta FBG, as medianas de HbA1c foram 7,7% (glargina) e 7,6% (NPH) após um ano. Conclusões: A insulina glargina comparada com NPH é associada a menos hipoglicemia noturna e taxas diminuídas de glicose pós-jantar. Esses dados são consistentes com a maior duração de ação e a ausência de pico da insulina glargina em comparação com a NPH). A realização de um controle glicêmico aceitável precisa a titração da dose de insulina para uma meta FBG ≤ 6,7 mmol/l. Esses dados confirmam o interesse do uso da insulina glargina ao lugar da NPH no tratamento combinado com insulina no diabetes tipo 2. Julio Rosenstock et al, Diabetes Care 23:1137-1142, 2000 Insulina glargina (HOE 901) vs. insulina NPH em pacientes portadores de diabetes tipo 1 com múltiplas injeções diárias de insulina Objetivos: Insulina glargina (HOE 901, insulina humana 21A-Gly30 a-L-Arg-30 Bb-L-Arg) é uma nova insulina recombinante humana com modificação no ponto isoelétrico produzindo um atraso no nível de absorção e um aumento na duração de ação imitando a secreção normal de insulina. Recentemente ela foi aprovada pela FDA (Food and Drug Administration). O objetivo desse estudo é avaliar a eficácia e a segurança de duas formulações de insulina glargina no tratamento de portadores de diabetes tipo 1. Métodos: Em estudo de 4 semanas, 256 pacientes portadores de diabetes tipo 1 receberam insulina NPH ou insulina glargina com 30 µg/ml de zinco (insulina glargina [30]) ou 80 µg/ml zinco (insulina glargina [80]). A insulina glargina foi administrada uma vez por dia no deitar per via subcutânea. A insulina NPH foi administrada também uma vez por dia, ao deitar, ou duas vezes por dia (antes o café da manhã e ao deitar), de acordo com o tratamento do paciente anterior ao estudo. As doses iniciais de insulina glargina e NPH foram baseadas na dose total diária anterior de NPH. Resultados: Ao fim do estudo, os grupos de insulina glargina apresentaram uma taxa de glicose sanguínea de jejum (FPG) significativamente mais baixa que os grupos insulina NPH, com redução média ajustada dos níveis de FPG de 2,2 mmol/l (P = 0,0001). A insulina glargina foi mais eficiente do que a NPH para reduzir as taxas de FPG em pacientes que tinham recebido anteriormente insulina NPH duas vezes por dia, mas não com os pacientes recebendo tratados uma vez por dia. Os níveis de FPG foram mais estáveis em pacientes usando insulina glargina do que em pacientes utilizando NPH. A glicose plasmática foi medida a cada hora da noite em um subgrupo de pacientes (n = 71). Com a insulina glargina, a mais baixa taxa de glicose foi medida depois as 5:00 horas; a diferença era significativa às 8:00 horas. A FPG media ajustada era 7,8 mmol/l por insulina glargina [30], 7,3 mmol/l para a insulina glargina[80], e 10,7 mmol/l para a insulina NPH. Come a insulina NPH, ambas às formulações de insulina glargina foram bem toleradas. B Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) 273 Continuação Conclusões: A insulina glargina administrada uma vez por dia durante 4 semanas, como parte de um tratamento insulínico diário, foi segura e mais eficiente para diminuir os níveis de glicose plasmática de jejum do que a NPH em pacientes diabéticos tipo 1. Peter A.M. Weiss, MD Diabetes Care 23:905-911, 2000 Acompanhamento em longo prazo de filhos de mães diabéticas tipo 1: Evidência para a transmissão hereditária e não hereditária do diabetes e precursores Objetivo: Avaliar o impacto do diabetes tipo 1 durante a gravidez sobre amplificação de diabetes tipo 1 ou 2 transgeracional de origem genética e avaliar o impacto de elevados níveis de insulina no líquido amniótico. Métodos: 75 filhos brancos de mães diabéticas tipo 1 e 49 indivíduos controle de idade e estágio pubertário similares foram examinados à idade de 5-15 anos. Em todos os filhos de portadores de diabetes foram realizados testes de tolerância à glicose, dosagem de insulina e peptídeo-C a 0, 30, 60 2 120 min após carga. Lipídios e anticorpos autoimunes foram medidos em plasma de jejum. Resultados: Dos 75 filhos de portadores de diabetes, 4 (5,3%) apresentavam diabetes confirmado, e 16 de 71 (22,5%) anticorpos autoimunes. Os filhos de mães diabéticas apresentaram elevadas taxas significativas de: IMC (Índica de Massa Corporal), colesterol, glicose, insulina e peptídeo-C. A resistência à insulina estava também mais elevada. Com exceção do colesterol, esses valores eram significativamente elevados em filhos, dos quais as mães apresentaram taxas elevadas de insulina no líquido amniótico (> 8 µU/ml, > 48 pmol/l) durante a gravidez, em comparação com indivíduos controle e indivíduos com insulina normal. Conclusões: Os filhos de mães diabéticas tipo 1 apresentam um risco aumentado de diabetes mais tarde na vida. O risco relativo para diabetes tipo 1 e 2 são respectivamente 71,6 e 3,2. Os riscos associados com o diabetes tipo 2, tais como IMC elevado, taxa aumentada da glicose sanguínea, insulina e peptídeo-C, aumento da resistência à insulina, são em relação com a experiência metabólica do feto in útero, como o mostra a concentração de insulina no líquido amniótico. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 Recomendações para a prática médica VII - Retinopatia diabética As seis primeiras recomendações foram publicadas em Diabetes Clínica nº 2 (abril 2000) e nº 3 (julho 2000) Rastreamento para a retinopatia diabética A retinopatia diabética é uma complicação vascular altamente específica tanto do diabetes tipo 1 como do tipo 2. A prevalência da retinopatia é fortemente relacionada com a duração do diabetes. Após 20 anos de diabetes, quase todos os pacientes com diabetes tipo 1 e > 60% dos pacientes com diabetes tipo 2 têm algum grau de retinopatia. A retinopatia diabética representa um sério risco para a visão. No Estudo Epidemiológico Wisconsin da Retinopatia Diabética (WESDR), 3,6% dos pacientes com início quando jovens (com < 30 anos de idade ao diagnóstico, e definidos como portadores de diabetes tipo 1) e 1,6% dos pacientes com início tardio (com ≥ 30 anos de idade ao diagnóstico e uma definição operacional para o diabetes tipo 2) eram legalmente cegos. No grupo com início mais jovem, 86% da cegueira eram atribuíveis à retinopatia diabética. No grupo de início mais tardio, onde outras doenças oculares eram comuns, um terço dos casos da cegueira legal era devido a retinopatia diabética. No geral, a retinopatia diabética é estimada como sendo a causa mais freqüente de novos casos de cegueira entre os adultos com idade entre 20-74 anos. História natural da retinopatia diabética As estratégias de rastreamento dependem dos índices de surgimento e progressão da retinopatia diabética e dos fatores de risco que alteram estes índices. A retinopatia que ameaça a visão virtualmente nunca aparece nos pacientes com diabetes tipo 1 nos primeiros 3-5 anos do diabetes ou antes da puberdade. Durante as 2 décadas subsequentes, quase todos os pacientes com diabetes tipo 1 desenvolvem retinopatia. Recentemente, verificou-se que até 21% dos pacientes com diabetes tipo 2 tinham retinopatia no momento do diagnóstico inicial do diabetes, e a maioria desenvolve algum grau de retinopatia nas décadas subsequentes. Em geral, a progressão da retinopatia é ordenada, avançando de anormalidades não proliferativas leves, caracterizadas pelo aumento da permeabilidade vascular, para retinopatia diabética não proliferativa moderada a severa (NPDR), caracterizada pelo fechamento vascular, e para retinopatia diabética proliferativa (PDR), caracterizada pelo crescimento de novos vasos sangüíneos na retina e superfície posterior do vítreo. A gravidez, puberdade, e cirurgia de catarata podem acelerar estas mudanças. A perda de visão devido a retinopatia diabética resulta de vários mecanismos. Primeiro, a visão central pode ser prejudicada por edema macular ou não perfusão capilar. Segundo, os novos vasos sangüíneos da PDR e a contração do tecido fibroso de acompanhamento podem distorcer a retina e levar ao tradicional descolamento da retina, produzindo perda de visão severa e quase sempre irreversível. Terceiro, os novos vasos sangüíneos podem sangrar, somando a complicação adicional da hemorragia pré-retiniana ou vítrea. Há vários estudos epidemiológicos descrevendo o início e progressão da retinopatia diabética. O WESDR pode servir como um modelo representativo. O WESDR tentou identificar todos os pacientes diabéticos tratados por médicos em uma área de 11 condados no sul de Wisconsin. Entre 1979 e 1980, 1210 pacientes com diabetes de início precoce e 1780 pacientes com diabetes de início tardio entraram no estudo. Os pacientes tiveram várias avaliações clínicas incluindo fotografias estereográficas de sete campos de fundo de olho e Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 medição de hemoglobina glicosilada. Um exame de acompanhamento de 4 anos repetiu as fotografias de fundo de olho. O WESDR encontrou a relação descrita acima entre o início da retinopatia e a duração do diabetes. Também estabeleceu que a progressão da retinopatia era uma função da retinopatia basal. Quanto mais severa a retinopatia basal, maior a freqüência da progressão da retinopatia com ameaça à visão. Inversamente, entre os pacientes diabéticos tipo 2 nos quais as fotografias basais não mostraram retinopatia, houve menos PDR ou progressão para edema macular severo nos 4 anos. Os dados epidemiológicos do WESDR foram primariamente limitados ao extrato populacional branco de origem do norte da Europa e podem não ser aplicáveis às populações de AfricanoAmericanos, Hispano-Americanos, ou AsiáticoAmericanos, ou a outros com uma alta prevalência de diabetes e retinopatia. Tem havido uma pesquisa extensiva dos fatores de risco potenciais para retinopatia. Há agora um grupo grande e consistente de estudos observacionais documentando a associação de controle da glicose deficiente e retinopatia. No Estudo das Complicações e Controle do Diabetes (DCCT), uma relação definitiva foi demonstrada no diabetes tipo 1 entre a hiperglicemia e as complicações microvasculares diabéticas, incluindo a retinopatia, nefropatia e neuropatia. Um grupo de 1441 pacientes com diabetes tipo 1 que não tinham retinopatia basal (coorte de prevenção primária) ou com NPDR mínima a moderado (coorte de progressão secundária) foram tratados através do tratamento convencional ou de tratamento intensivo do diabetes com três ou mais injeções de insulina diárias ou uma infusão subcutânea contínua de insulina. Ao contrário, o tratamento convencional incluiu uma ou duas injeções diárias de insulina. Os pacientes foram acompanhados por 4-9 anos com fotografia estereoscópica de sete campos a cada 6 meses. O DCCT mostrou que o tratamento intensivo com insulina reduziu ou preveniu o desenvolvimento da retinopatia em 27% quando comparado com o tratamento convencional. Além disso, o tratamento intensivo reduziu a progressão da retinopatia diabética em 34-76%. A instituição precoce de tratamento intensivo foi mais eficaz. Porém, o tratamento intensivo teve um efeito benéfico substancial sobre toda a faixa da retinopatia. Esta melhora foi alcançada com uma redução média de 10% na HbA1c de 8 para 7,2%. O maior e mais longo estudo em pacientes com diabetes tipo 2, o UKPDS, demonstrou conclusivamente que o controle melhorado da glicose sanguínea nestes pacientes reduz o risco de desenvolver retinopatia 275 e nefropatia e possivelmente reduz a neuropatia. O total do índice das complicações microvasculares foi reduzido em 25% em pacientes recebendo tratamento intensivo versus tratamento convencional. A análise epidemiológica dos dados do UKPDS mostrou uma relação contínua entre o risco de complicações microvasculares e glicemia, de tal forma que para cada ponto de redução no percentual na HbA1c (ex.: 9 para 8%) houve uma redução de 35% no risco de complicações microvasculares. Os resultados do DCCT e de UKPDS mostraram que apesar do tratamento intensivo não prevenir completamente a retinopatia, ele reduz o risco de desenvolvimento e progressão da retinopatia diabética. Isto pode ser clinicamente traduzido para a preservação da visão e a necessidade reduzida de tratamento com laser. Também parece claro que a proteinúria está associada com retinopatia. A pressão arterial alta é um fator de risco estabelecido para o desenvolvimento de edema macular e está associada com a presença de PDR. Observações indicam uma associação entre níveis de lipídios séricos com lipídios na retina (exsudatos sólidos) e perda da visão. Assim, o controle sistêmico da pressão arterial e dos lipídios séricos pode ser importante no tratamento da retinopatia diabética. Além disso, várias séries de casos e um estudo prospectivo controlado sugerem que a gravidez nos pacientes diabéticos tipo 1 pode agravar a retinopatia. Eficácia da cirurgia de fotocoagulação a laser Uma das principais motivações para o rastreamento da retinopatia diabética é a eficácia estabelecida da cirurgia de fotocoagulação a laser na prevenção da perda visual. Dois grandes estudos patrocinados pelos Institutos Nacionais de Saúde, o Estudo de Retinopatia Diabética (DRS) e o Estudo de Tratamento Precoce da Retinopatia Diabética (ETDRS), evidenciam forte suporte quanto ao benefício terapêutico da cirurgia de fotocoagulação. O DRS testou se a cirurgia de fotocoagulação difusa (panretiniana) poderia reduzir o risco de perda de visão oriunda da PDR. 1.758 pacientes participaram deste estudo. Em uma análise de 2 anos, evidenciou-se um grande benefício da cirurgia de fotocoagulação. Graves perdas visuais (i.e., melhor acuidade de 5/200 ou pior) foram observadas em 15,9% de olhos não tratados versus 6,4% de olhos tratados. O benefício foi maior entre os pacientes nos quais a avaliação basal revelou características de alto risco (HRCs) (principalmente neovascularização de disco ou hemorragia do vítreo 276 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 com qualquer neovascularização da retina). Entre os olhos controle com HRC, 26% progrediram para perda visual severa versus 11% dos olhos tratados. O benefício absoluto da cirurgia de fotocoagulação foi muito menor para os olhos que não tinham HRC. Dado o risco de uma modesta perda da acuidade visual e da contração do campo visual com a cirurgia panretiniana a laser, tal tratamento foi recomendado principalmente para olhos aproximando ou alcançando HRCs. O ETDRS avaliou o valor da cirurgia a laser de argônio e ácido acetilsalicílico na PDR precoce, NPDR de moderada a severa, e edema macular diabético (uma complicação vista na presença tanto de PDR como de NPDR). O ETDRS estabeleceu o benefício da cirurgia focal de fotocoagulação a laser nos olhos com edema macular, particularmente aqueles com edema macular clinicamente significativo. Na parte do ETDRS que estudou o edema macular, 1.490 olhos com edema macular foram randomizados para adiatamento da cirurgia de fotocoagulação (até aparecimento de PDR com HRC) e 754 olhos foram randomizados para cirurgia de fotocoagulação focal imediata. Em pacientes com edema macular clinicamente significativo após 2 anos, 20% dos olhos não tratados tiveram um aumento ao dobro do ângulo visual (ex.: 20/50 para 20/100) em comparação com 8% do olhos tratados. Em outros resultados do ETDRS, o ácido acetilsalicílico não preveniu o desenvolvimento de PDR de alto risco e não reduziu o risco de perda visual, nem aumentou o risco de hemorragia do vítreo. O risco relativo de hemorragia do vítreo ou preretiniano para pacientes tratados com ácido acetilsalicílico em comparação com pacientes tratados com placebo em olhos que tinham novos vasos definitivamente presentes no exame basal foi de 1,05 (IC 99% [0,81-1,36]). Isto incluiu pacientes no grupo de adiamento que no acompanhamento fizeram cirurgia de fotocoagulação difusa a laser ao alcançarem HRC. Estes resultados sugerem que não há contra-indicações oculares ao ácido acetilsalicílico, quando necessário para doença cardiovascular ou outras indicações médicas. Outros resultados do ETDRS indicam que, desde que haja um acompanhamento cuidadoso, a cirurgia de fotocoagulação difusa não está recomendada para olhos com NPDR de leve a moderada. Quando a retinopatia é mais severa, a cirurgia de fotocoagulação difusa deve ser considerada, e geralmente não deve ser postergada, se o olho tiver alcançado o estágio proliferativo de alto risco. Em pacientes com início tardio com NPDR severo ou menos que PDR de alto risco, o risco de perda visual severa e vitrectomia é reduzido em ~50% através da cirurgia de fotocoagulação a laser nestes estágios precoces. A cirurgia de fotocoagulação a laser em DRS e ETDRS foi benéfica na redução do risco de perda visual adicional, mas geralmente não foi benéfica em reverter a acuidade já reduzida. Este efeito preventivo e o fato de que os pacientes com PDR ou edema macular possam ser assintomáticos dão um forte suporte ao programa de rastreamento para detectar a retinopatia diabética. Custo-eficácia do rastreamento para retinopatia As análises atualmente publicadas avaliaram os programas de rastreamento semi-anual, anual e bienal. Apesar das técnicas de modelação e os custos dos componentes terem sido substancialmente diferentes, a mensagem básica de todas estas análises é a mesma. O rastreamento para retinopatia diabética poupa a visão com um custo relativamente baixo, e mesmo este custo é sempre menor do que os pagamentos por invalidez feitos a pessoas que ficariam cegas na ausência do programa de rastreamento. Resumo e recomendações Existem modalidades de tratamento que podem prevenir ou postergar o início da retinopatia diabética, assim como prevenir a perda de visão, em uma larga proporção de pacientes com diabetes. O DCCT e o UKPDS estabeleceram que o tratamento intensivo do diabetes para obter um controle próximo do euglicêmico pode prevenir e postergar a progressão da retinopatia diabética em pacientes com diabetes. O tratamento oportuno com fotocoagulação a laser pode também prevenir a perda de visão e numa grande proporção de pacientes com NPDR e PDR severa e/ou edema macular. Desde de alguns pacientes com patologias que ameaçam a visão podem ter sintomas, a avaliação em curso para retinopatia é uma estratégia necessária e de valor. Uma fotografia de fundo de olho estereoscópica 30º de sete campos ETDRS dilatada é mais sensível para detectar a retinopatia do que o exame clínico, apesar do exame ser quase sempre superior para detectar espessamento da retina associado com edema macular, e poder ser melhor para identificar a neo-vascularização de calibre fino do disco ótico ou de qualquer outra parte da retina. Fotografias adequadas de fundo de olho requerem um fotógrafo capacitado em obter os campos fotográficos ETDRS tecnicamente desafiantes e rigorosamente definidos, de qualidade apropriada, e um leitor capacitado para interpretar as fotografias. Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 Se qualquer destes dois componentes não estiver disponível ou não se adequar aos padrões definidos, então eles não podem substituir por um exame oftálmico dilatado através de oftalmologista com experiência no tratamento da retinopatia diabética, mesmo com o propósito de rastreamento. Técnicas recentes permitem a obtenção de fotografias de alta qualidade através de pupilas não dilatadas e obtenção de imagens em formato digital. Apesar disto eventualmente permitir o rastreamento da retinopatia por fotografia sem dilatação, nenhum estudo rigoroso até agora validou a equivalência destas fotografias com fotografia de fundo de olho estereoscópicas 30º de sete campos para avaliar a retinopatia diabética. O uso de câmera não-midriática para acompanhar os pacientes com diabetes no consultório médico deve ser considerado somente em situações onde o exame de olho dilatado não pode ser obtido. Porém, neste momento, estas tecnologias não são consideradas como substitutos para fotografia de fundo de olho estereoscópica de sete campos dilatado ou para exames de olho por um oftalmologista ou optometrista experiente para rastreamento, diagnóstico, classificação ou tratamento para retinopatia diabética. As recomendações para avaliação oftalmológica inicial e subsequente de pacientes com diabetes estão relacionadas abaixo e resumidas na Tabela 1. 277 os dados do WESDR mostraram que os pacientes com diabetes tipo 2 que fizeram fotografias ETDRS de fundo de olho coloridas estereoscópicas de sete campos padrão que não revelaram retinopatia quando avaliadas por um leitor capacitado, geralmente não requerem um outro exame de retinopatia por 4 anos, por causa do baixo risco de progressão da doença. Porém, em pacientes com proteinúria acentuada ou controle glicêmico pobre (> 2 DP da média da população diabética), exames anuais foram indicados mesmo se a revisão inicial usando fotografias de fundo de olho não revelou retinopatia. Apesar dos resultados do WESDR, acreditamos que um exame ocular anual é ainda necessário pelas seguintes razões: Primeiro, estes dados derivaram de um estudo que avaliou pacientes brancos, de origem da Europa do norte com diabetes. vivendo no sul de Wisconsin. Os resultados podem não ser aplicáveis a outras populações nas quais não se sabe se a retinopatia progride da mesma maneira. Segundo, um programa de controle de qualidade bem esquematizado foi usado no WESDR para garantir uma interpretação acurada de fotografias de fundo de olho. Tais esforços de controle de qualidade não foram padronizados ou completamente descritos, e muito menos adotados em nível nacional. Terceiro, o potencial para perda de pacientes no acompanhamento induzido por um longo hiato entre avaliações oftálmicas introduz incerteza adicional. Diretrizes 1. Pacientes com ≥ 10 anos de idade com diabetes tipo 1 devem fazer uma exame de olho inicial dilatado e abrangente por um oftalmologista ou optometrista dentro de 3-5 anos após o início do diabetes. Em geral, o rastreamento para a doença ocular diabética não é necessário antes dos 10 anos de idade. Os pacientes com diabetes tipo 2 devem ter um exame de olho inicial dilatado e abrangente com um oftalmologista ou optometrista logo após obter o diagnóstico de diabetes. 3. Quando se planeja gravidez, as mulheres com diabetes pré-existente devem ter um exame de olho abrangente e devem ser aconselhadas sobre o risco de desenvolvimento e /ou progressão da retinopatia diabética. As mulheres com diabetes que ficam grávidas devem ter um exame de olho abrangente no primeiro trimestre e um acompanhamento cuidadoso durante toda a gravidez (Tabela 1). Esta recomendação não se aplica a mulheres que desenvolvem diabetes gestacional porque tais pacientes não estão em risco aumentado para retinopatia diabética. 2. Exames subsequentes para ambos os tipos de pacientes com diabetes tipo 1 e 2 devem ser repetidos anualmente por um oftalmologista ou optometrista que tenha conhecimento e experiência em diagnosticar a presença da retinopatia diabética e que conheça seu tratamento. Os exames serão necessários com mais freqüência se a retinopatia progredir. Este intervalo de acompanhamento é recomendado, mesmo reconhecendo que há dados limitados com relação a este assunto. Como discutido anteriormente, 4. Os pacientes com qualquer nível de edema macular, NPDR severo, ou qualquer PDR, necessitam de cuidado imediato de um oftalmologista que tenha conhecimento e experiência no acompanhamento e tratamento da retinopatia diabética. O encaminhamento para um oftalmologista não deve ser postergado até se desenvolver PDR nos pacientes que reconhecidamente têm retinopatia não-proliferativa severa ou retinopatia mais avançada. O encaminhamento precoce a um oftalmologista é particularmente 280 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 importante para pacientes com diabetes tipo 2 e NPDR severo, já que o tratamento a laser neste estágio está associado com uma redução de 50% no risco de perda visual severa e vitrectomia. 5. Os pacientes que tiveram perda de visão por causa do diabetes devem ser encorajados a persistir na reabilitação visual com um oftalmologista ou optometrista treinado ou experiente em cuidados na deficiência visual. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 Recomendações para a prática médica VIII - Transplante de pâncreas em pacientes com diabetes tipo 1 O transplante de pâncreas bem sucedido tem demonstrado ser significativamente eficaz na melhora da qualidade de vida das pessoas com diabetes, principalmente eliminando a necessidade de insulina exógena, medições com freqüência da glicose sangüínea diária, e várias restrições dietéticas impostas pela doença. O transplante pode também eliminar as complicações agudas em geral vivenciadas pelos pacientes com diabetes tipo 1 (ex.: hipoglicemia e hiperglicemia). O transplante de pâncreas somente é parcialmente bem sucedido na reversão das complicações neurais e renais a longo prazo. Porém, este procedimento é geralmente realizado após 20 anos de doença. Não há dados disponíveis para determinar se o transplante precoce no decorrer da doença preveniria complicações, como seria antecipado com os resultados do Estudo do Controle e Complicações do Diabetes (DCCT). Os transplantes somente do pâncreas requerem imunosupressão durante toda a vida para prevenir a rejeição do enxerto e recorrência potencial do processo autoimune que pode mais uma vez destruir as células das ilhotas pancreáticas. Os esquemas imunosupressivos usados em pacientes transplantados têm efeitos adversos cujas freqüências e intensidade restringem seu uso em pacientes que têm complicações progressivas sérias do diabetes ou cuja qualidade de vida não é aceitável. Além dos efeitos adversos de imunosupressão durante toda a vida, o procedimento em si tem morbidade significativa e traz um pequeno, mas não desprezível, risco de mortalidade. Não se sabe se o índice de mortalidade excede aquele inerente à população de pacientes que se submeteram ao transplante do pâncreas, i.e., pacientes com mais de 20 anos de diabetes crônica que têm picos glicêmicos extremos, complicações diabéticas declaradas, e qualidade de vida deficiente. Os transplantes de pâncreas ou de ilhotas pancreáticas devem ser realizados em centros médicos que têm um programa ativo de transplante de rim e que são equipados para manejar adequadamente as necessidades médicas e psicossociais complexas a longo prazo dos pacientes transplantados. Recomendações 1. O transplante de pâncreas deve ser considerado com uma alternativa terapêutica aceitável para tratamento contínuo com insulina em pacientes diabéticos com doença renal iminente ou estádio final estabelecido, que já fizeram ou planejam fazer transplante de rim, porque a adição bem sucedida de um pâncreas não põe em risco a sobrevida do paciente, pode melhorar a sobrevida do rim, e irá restaurar a glicemia normal. Tais pacientes também devem adequar-se às indicações e critérios médicos para o transplante de rim e não ter risco cirúrgico excessivo para o procedimento de transplante duplo. O seguro social e outros patrocinadores do cuidado médico devem incluir cobertura para os procedimentos do transplante do pâncreas adequando estes critérios. O transplante do pâncreas deve ser feito simultaneamente ou após transplante do rim. A sobrevida do enxerto do pâncreas é melhor quando realizado simultaneamente com um transplante de rim. 2. Na ausência de indicações para o transplante de rim, o transplante do pâncreas deve ser considerado somente como tratamento em pacientes que apresentam estes três critérios: 1) uma história de complicação metabólica freqüente, aguda ou severa (hipoglicemia, hiperglicemia, cetoacidose) necessitando de cuidado médico; 2) problemas clínicos e emocionais com tratamento 282 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 102–132 com insulina exógena que são tão severos quanto incapacitantes; e 3) insuficiência consistente do tratamento com base na insulina para prevenir as complicações agudas. As recomendações do programa para garantir uma avaliação multidisciplinar objetiva da condição do paciente e eligibilidade para o transplante devem ser estabelecidas e seguidas. 3. Os transplantes de células de ilhotas pancreáticas possuem vantagens potenciais, significativas sobre todos os transplantes de glândula. Porém, neste momento, o transplante de célula de ilhotas pancreáticas é um procedimento experimental, necessitando também de imunosupressão sistêmica, e deve ser realizado somente no local de estudos controlados. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 283–290 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas Presença de insulina em plantas: função biológica e possível validação de sua utilização no tratamento do diabetes Antonia Elenir Amancio de Oliveiraa, Cassiana Rocha de Azevedob, Thiago Motta Venânciob, Olga Lima Tavares Machadoc e José Xavier-Filhod a MS, Estudante de Doutorado, bEstudante de Biologia, cDoutora, Professor Associado, Professor Titular, Laboratório de Química e Função de Peptídeos e Proteínas (LQFPP), Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB), Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro d Resumo O diabetes, uma doença reconhecida desde a Antigüidade, tem sido tratado com remédios originados de plantas pelos mais diversos povos. Com a descoberta da insulina animal e seu sucesso no controle dessa afecção, estudos sobre a presença de insulina em plantas e sua importância para processos fisiológicos/bioquímicos em vegetais não têm tido a devida atenção por parte dos cientistas. A descoberta de uma proteína com homologia de seqüência com insulina animal em tegumentos (cascas) das sementes de feijão-de-porco, em folhas de pata-de-vaca e em frutos de feijão-de-corda e que têm ação insulínica sobre animais diabéticos, sugere fortemente que esse hormônio esteja presente em vegetais. Estes estudos, além de sugerirem que caminhos de sinalização dependentes de insulina estão presentes em plantas e, portanto, foram conservados durante a evolução sugerem também que remédios contra o diabetes, utilizados pela medicina popular, possam ter sua base científica validada. 1- Diabetes na Antigüidade Há cerca de 3500 anos os antigos egípcios utilizavam alguns remédios para combater o excesso de urina e os hindus tinham observado que moscas e outros insetos eram atraídos para a urina de algumas pessoas e que isso estava associado a certas doenças. O pai da medicina na Índia, Susruta, diagnosticou o diabetes 1000 anos AC. Os gregos antigos não tinham tratamento para o diabetes e em várias partes do mundo antigo Correspondência: Prof. José Xavier Filho, Laboratório de Química e Função de Peptídeos e Proteínas (LQFPP), Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB), Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Avenida Alberto Lamego 2000 - Horto, 28015-620 Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Tel: (24) 726-3703, E-mail: [email protected] acreditava-se que essa doença seria causada por calor excessivo nas vísceras e por variações humorais. Em 1798, na Inglaterra, Matthew Dobson provou que o sabor adocicado da urina no diabetes era devido à presença de açúcar e no mesmo ano, John Rollo mostrou um excesso de açúcar no sangue observando o odor de acetona em pacientes diabéticos. Posteriormente, descobertas cruciais para o melhor entendimento do diabetes foram feitas, destacando-se a descoberta de que a retirada do pâncreas de cachorros promovia o aparecimento da doença, realizada em 1899 por Von Mehring e Oscar Minkowski. Em 1921 Frederick Banting e Charles Best descobriram que uma proteína, a insulina, era secretada pelas ilhotas de Langerhans do pâncreas, em 1926 esse peptídeo foi cristalizado por J. J. Abel e em 1955 Fred Sanger determinou sua seqüência de aminoácidos. 284 Oliveira AEA / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 2- Insulina A insulina é um peptídeo de massa molecular de 5.700 Da formado por duas cadeias polipeptídicas (cadeias α e β com 21 e 30 resíduos de aminoácidos respectivamente), unidas entre si por duas pontes dissulfeto. A cadeia α apresenta uma ponte dissulfeto entre os aminoácidos 6 e 11 e é a parte mais exposta da molécula e provavelmente a mais importante para a atividade do hormônio, enquanto que a cadeia β fica situada mais internamente [1]. A insulina é um dos mais importante hormônios controladores do metabolismo energético, exercendo múltiplas ações sobre o metabolismo e crescimento celular. De maneira geral, a insulina estimula processos endergônicos de síntese e armazenamento de reservas energéticas, isto é, promove a síntese de glicogênio, lipídeos e proteínas, agindo principalmente nos músculos, no tecido adiposo e no fígado [1]. No tecido hepático, a insulina aumenta a captação de glicose, inibe a glicogenólise e a gliconeogênese, reduzindo assim a produção hepática de glicose e inibe a formação de corpos cetônicos. No tecido muscular a insulina estimula o transporte de glicose para a célula, aumentando a capacidade do sistema transportador da membrana. Uma pequena fração dessa glicose é oxidada, mas a maior parte é armazenada como glicogênio, devido a uma ação específica da insulina ativando a glicogênio sintetase muscular. A insulina exerce importante ação anabólica sobre o metabolismo de proteínas no músculo, estimulando o transporte de aminoácidos para o interior da célula muscular, independentemente do seu efeito sobre o transporte de glicose, aumentando, ao nível dos ribossômios, a eficiência do processo de tradução, atuando na etapa de iniciação da síntese protéica, inibindo a degradação protéica e a liberação de aminoácidos essenciais e ramificados do músculo. Além de sua ação a nível ribossômico, a insulina partilha com os chamados fatores de crescimento (IGF-1, IGF-2, EGF, etc) a capacidade de estimular o crescimento celular (e portanto a síntese protéica) atuando ao nível da transcrição, aumentando a síntese de mRNA. No tecido adiposo, através de ações diretas ou indiretas, a insulina inibe a mobilização de ácidos graxos. A atuação da insulina inicia-se sempre pela sua ligação com receptores específicos situados na membrana plasmática. O receptor de insulina humana é o representante da classe dos receptores de proteína tirosina quinase mais bem estudado [1]. Todas as ações desse hormônio são desencadeadas após sua ligação a esse receptor específico. O receptor é uma glicoproteína com quatro subunidades. Duas subunidades α idênticas (PM 135.000) voltadas para o exterior, contêm os sítios de reconhecimento e ligação da insulina e duas subunidades β (PM 95.000) localizadas na membrana, que parecem ser responsáveis pela transcrição dos sinais que irão desencadear as ações hormonais [1]. O mecanismo pelo qual a insulina, após ligação com o receptor, exerce essas funções permanece desconhecido. Uma conseqüência imediata da formação do complexo entre a insulina e o receptor é a fosforilação de um radical de tirosina nas subunidades β do receptor, que se comporta como uma autoquinase tirosina-específica. A autofosforilação das subunidades parece ser o evento inicial que desencadeia as ações do hormônio [1]. 3. Plantas que reduzem os níveis de glicose no sangue Um grande número de remédios indígenas e tradicionais desenvolvidos no passado tem sido usado até os dias atuais pelas populações para o tratamento do diabetes. Momordica charantia (melão-de-São Caetano) é uma das plantas mais usadas para este fim, sendo utilizados tanto os frutos [2] quanto as sementes [3] por apresentarem efeitos hipoglicemiantes em animais diabéticos. Extratos aquosos das sementes dessa planta também foram testados em pacientes diabéticos sendo observada redução considerável nos níveis de glicose no sangue [4]. Outra planta cujos efeitos antidiabéticos são bastante conhecidos é o fenogrego (Trigonella foenumgraecum). Bordia et al [5] trataram pacientes diabéticos que apresentavam complicações cardíacas durante 3 meses com cápsulas de extrato dessa semente e observaram que após esse período houve uma redução bem acentuada, tanto nos níveis de glicose quanto nos níveis de colesterol do sangue desses pacientes. Efeitos semelhantes sobre os níveis de glicose também foram observados quando cães diabéticos foram tratados com extratos dessas sementes por 20 dias [6]. 4. Plantas que reduzem os níveis de colesterol e lipídeos no sangue de animais. Evidências do efeito de concentrados de proteínas de diversos legumes na redução dos níveis de colesterol e lipídeos do sangue e do fígado de animais têm se acumulado nos últimos anos. Marfo et al [7] observaram que extratos protéicos de sementes de Canavalia ensiformis (feijão-de-porco) apresentavam 286 Oliveira AEA / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 um considerável efeito na redução dos níveis de colesterol do plasma e no fígado de ratos. Estudos realizados por Carroll [8] demonstraram redução nos níveis de colesterol no sangue de porcos quando esses foram submetidos a dietas com concentrados protéicos de sementes de soja (Glycine max). Kingman et al [9] também observaram efeitos semelhantes quando utilizaram concentrados de proteínas de sementes de Phaseolus vulgaris (feijão comum) e Phaseolus lunatus (fava). As sementes de Phaseolus calcaratus e Dolichos lablab também apresentam capacidade de reduzir os níveis de colesterol no sangue de cobaias [10]. Concentrados protéicos das sementes de C. ensiformis [7], Pisum sativum (ervilha) [11], P. lunatus [12] bem como D. lablab [10] também são capazes de reduzir os níveis de lipídeos no fígado de animais. 5. Receptores de proteína quinase em plantas Até bem pouco tempo atrás, os receptores de proteína quinase eram completamente desconhecidos em plantas. Acreditava-se que a parede celular representava uma barreira para esse tipo de sinalização em vegetais e que a comunicação intercelular provavelmente acontecesse por via dos plasmodesmas. Estudos recentes demonstraram a existência de muitas proteínas de plantas que possuem características de receptores de proteínas quinases, indicando que essas proteínas também são essenciais para uma variedade de processos de plantas, principalmente durante o desenvolvimento [13]. O receptor de proteína quinase ZmPk 1, isolado de milho, foi o primeiro a ser isolado de plantas [14]. Posteriormente, outros receptores foram caracterizados. Clark et al [15] isolaram um receptor de proteína quinase de Arabidopsis thaliana (Clavata 1) que parece estar envolvido em processos de desenvolvimento da planta, acreditando-se que seja necessário para regular a taxa relativa de proliferação e diferenciação de células meristemáticas; como essas atividades ocorrem em regiões diferentes do meristema, a interação celular é necessária para manter o balanço das atividades e clv 1 agiria mediando a sinalização celular necessária para esse processo. PK1 foi isolado por Mu et al [16] de pólen de Petunia inflata tendo-se observado que o gene que codifica para essa proteína é expresso em grãos de pólen maduros e no tubo polínico em desenvolvimento sugerindo sua participação no desenvolvimento gametofítico. Becraft et al [17] isolaram CR4 de folhas de milho. Os receptores de proteína quinase de plantas conhe- cidos apresentam um domínio rico em leucina, e com exceção da proteína PK1, que apresentou características que o classificam tanto na família das serina/treonina como tirosina quinase, todos os demais pertencem à família das serina/treonina quinases [13]. 6. Presença de insulina em plantas Durante muitos anos, a insulina foi considerada um hormônio presente exclusivamente em animais, apesar da grande quantidade de plantas que apresentam propriedades antiglicêmicas e que são utilizadas para o tratamento do diabetes e conhecidas há centenas de anos. Essas propriedades encontradas em extratos vegetais eram atribuídas exclusivamente a compostos não protéicos que teriam a capacidade de induzir a síntese de insulina pelo pâncreas. Entretanto em uma patente de 1976 Khann et al [18] forneceram o primeiro indício sobre a presença de insulina em plantas. Eles isolaram de frutos e sementes de M. charantia uma fração protéica com massa molecular de aproximadamente 6,0 kDa que reagia com anticorpos contra insulina humana. Posteriormente Collier et al [19] relataram o isolamento de proteínas de folhas de espinafre e plantas de Lemna gibba G3 que apresentaram pesos moleculares semelhantes aos das insulinas animais, reagiram com anticorpos antiinsulina suína e apresentaram a propriedade de ligação ao receptor de insulina humana. Apesar desses trabalhos terem fornecido resultados que sugerem fortemente a presença de insulina nessas plantas, nenhum desses grupos conseguiu determinar a seqüência de aminoácidos dessas proteínas. Entretanto em trabalhos realizados pelo nosso grupo, conseguimos isolar e caracterizar proteínas com homologia de seqüência com insulina animal a partir do tegumento (casca) de sementes de C. ensiformis (feijão-de-porco), frutos (vagens verdes) de Vigna unguiculata (feijão-de-corda) e folhas de Bauhinia forficata (pata-de-vaca). 6.1 Isolamento e caracterização de insulina de plantas A insulina do tegumento de sementes de feijão-deporco foi isolada por meios cromatográficos em que se empregou cromatografias de troca iônica em DEAESepharose e de exclusão molecular em Sephadex G-50 [20]. Para o isolamento de insulina de pata-de-vaca, as folhas foram liofilizadas, maceradas e o extrato submetido à eletroforese em gel de poliacrilamida em condições desnaturantes (PAGE-SDS), após o que a proteína foi extraída do gel por sonicação. O estudo da presença de insulina nos frutos de feijão-de-corda Oliveira AEA / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 foi realizado coletando-se frutos (vagens verdes) de diversos (do 4° ao 14°) dias após a polinização (DAP). No material coletado até o 8° DAP as análises foram feitas com o fruto integral (vagem, tegumento e cotilédones) a partir do 10° DAP, esses tecidos foram analisados separadamente. O isolamento da insulina foi feito segundo metodologia de Khann et al [18]. Os peptídeos isolados do tegumento de feijão-de-porco, de folhas de pata-de-vaca e de frutos de feijão-de-corda apresentaram massas moleculares de 5,7 kDa e reagiram com anticorpo antiinsulina humana. 6.2 Determinação da seqüência de aminoácidos As seqüências N-terminal de aminoácidos das proteínas isoladas foram feitas por degradação de Edman e os PTH-aminoácidos gerados foram separados em uma coluna de fase reversa C18 sob condições isocráticas, detectados em comprimento de onda de 269 nm e analisados em sequenciador automático Shimadzu PPSQ-10. A proteína isolada do tegumento de feijão-de-porco (C. ensiformis) foi seqüenciada inteiramente e apresentou uma seqüência de aminoácidos completamente idêntica à da insulina bovina (Fig. 1). Para as proteínas do fruto de feijão-de-corda (V. unguiculata) e de folhas de pata-de-vaca (B. forficata) seqüências de, respectivamente 32 e 10 resíduos de aminoácidos, foram determinadas e mostradas ter também homologia com insulina bovina (Fig. 1). 287 inoculados (via sub-cutânea) com 100 µl de uma solução salina contendo aloxano (150 µg de aloxano/g de peso do camundongo). Após 5 dias, esses animais foram submetidos à nova sangria. Após a observação dos altos níveis de glicose no sangue dos animais tratados com aloxano, foram feitos ensaios para observação do efeito dos peptídeos isolados sobre a glicemia. Uma solução de insulina foi preparada de forma a conter 1 UI em 100 µl de solução salina, usando-se insulina bovina cristalina (Sigma Chemical Co., 27,7 UI/mg de massa). As soluções das insulinas de C. ensiformis e de B. forficata foram preparadas relacionando-se a quantidade de proteína da amostra eqüivalente a 1 UI em 100 µl de salina comparando-se com a insulina comercial. Os animais que não foram tratados com aloxano foram considerados como os grupos normais sendo alguns deles inoculados com 100 µl da solução de insulina e outros com 100 µl de solução salina. Os animais diabéticos foram separados em grupos e tratados com insulina bovina, solução salina, proteínas (insulina) do tegumento de sementes C. ensiformis ou de folhas de B. forficata. A inoculação foi feita na veia caudal e os níveis de glicose medidos após uma hora da inoculação. Esses experimentos foram repetidos 3 vezes, perfazendo um total de 15 camundongos testados para cada solução (tratamento). Os resultados observados mostram que as proteínas vegetais homólogas à insulina bovina foram tão eficientes quanto a insulina comercial na redução dos níveis de glicose do sangue dos camundongos diabéticos (Fig. 2). 6.4- Determinação dos níveis de insulina em plantas 6.3 Efeito sobre a glicemia em camundongos diabéticos O diabetes foi induzido em camundongos usando-se 5,6-dioxiuracil mono hidrato (aloxano). Grupos de camundongos CF1, foram sangrados pelo plexo venoso oftálmico e os níveis de glicose no plasma foram medidos. Posteriormente, parte desses animais foram As dosagens dos níveis de insulina em sementes em desenvolvimento de V. unguiculata foram realizadas por ensaios de ELISA em que se utilizou um anticorpo policlonal contra insulina humana tendo-se observado que os maiores níveis de insulina por mg de folhas (ngI\mgF) foram encontrados nos frutos do 6° DAP cadeia α da insulina bovina insulina do tegumento de Canavalia ensiformis insulina de Vigna unguiculata insulina de Bauhinia forficata GIVEQCCASVCSLYQLENYCN GIVEQCCASVCSLYQLENYCN GIVEQCCASVCSLYQL GIVEQ cadeia β da insulina bovina insulina do tegumento de Canavalia ensiformis insulina do fruto de Vigna unguiculata insulina de folhas de Bauhinia forficata FVNQHLCGSHLVEALYLVCGERGFFYTPKA FVNQHLCGSHLVEALYLVCGERGFFYTPKA FVNQHLCGSHLVEALY FVNQH Fig. 1 - Seqüência de aminoácidos da região N-terminal das proteínas isoladas do tegumento de Canavalia ensiformis (feijão-de-porco), frutos de Vigna unguiculata (feijão-de-corda) e folhas de Bauhinia forficata (pata-de-vaca). Oliveira AEA / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 500 16 400 14 12 300 ng/mgF Concentração de glicose (mg/dl) 288 200 10 8 6 4 100 2 0 0 A B C D E F G 4DAP 6DAP 8DAP 10DAP 12DAP 14DAP Frações Fig. 2 - Efeito de insulina de plantas sobre os níveis de glicose no sangue de animais diabéticos. A - animal normal, B - animal normal tratado com insulina bovina, C - animal diabético, D animal diabético tratado com solução salina, E - animal diabético tratado com insulina bovina, F - animal diabético tratado com insulina de Canavalia ensiformis (feijão-de-porco), G - animal diabético tratado com insulina de Bauhinia forficata (pata-de-vaca). Fig. 3 - Dosagem de insulina durante o desenvolvimento de sementes de Vigna unguiculata (feijão-de-corda). DAP: dias após a polinização. antiinsulina humana observando-se que essa proteína está presente na concentração de 0,021 % nesse tecido. 7. Possíveis funções de insulina nas plantas e nas vagens do 12° DAP (Fig. 3). As dosagens de insulina do tegumento de C. ensiformis foram feitas por radioimunoensaio pela utilização de anticorpo Apesar da existência de muitas referências sobre trabalhos que estudam as propriedades antiglicêmicas 290 Oliveira AEA / Diabetes Clínica 04 (2000) 217–226 de extratos vegetais e outros que sugerem a presença de insulina, pouco se sabe sobre as possíveis funções dessa proteína em plantas. Csaba & Pál [21] estudaram o efeito de insulina (animal) sobre o desenvolvimento de sementes e observaram que esse peptídeo promovia o aumento de tamanho e peso de raízes de cevada. Insulina humana também acelerou o desenvolvimento pós-germinativo de sementes de girassol, melancia e pepino [22], bem como acelerou a germinação de sementes de milho [23]. 8. Significação do trabalho A constatação da presença de insulina em plantas, pode significar que a utilização de remédios populares feitos a base de vegetais para o tratamento do diabetes possa ser validada cientificamente, de outra parte abre a perspectiva extremamente importante de mostrar que esse hormônio e os caminhos metabólicos por ele controlados foram conservados durante a evolução e que sua presença é anterior à separação entre animais e vegetais. Referências 1 - Sperelakis N. Cell Physiology. Academic Press, Inc, 1994. 2 - Rivera G. Amer J Pharm,113,281. Citado por Khanna P, Jain SC.(1981). Hypoglycemic activity of polypetide-p from a plant source.J Nat Prod 1941;44:648-655. 3 - Ng TB, Wong CM, Li WW, Yeung, HW. Insulin-like molecules in Momordica charantia seeds. J Ethnopharmacol 1986;15: 107-117. 4 - Scrivastava Y, Venkatakrishna-Bhatt H, Verma Y, Venkaiah K. Antidiabetic and adaptogenic properties of Momordica charantia extract: An experimental and Clinical Evaluation. 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Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 291–298 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas Transplante de ilhotas: situação atual Mari Cleide Sogayara, Silvya Stuchi Maria Englera, Carlos Alberto Mayora Aitaa, Elizabeth Maria Costa Oliveiraa, Karin Krogha, Denise Lolia, Irene de Lourdes Noronhaa,d, Maria Lucia Castilho Corread, Marcelo Miranda Perosab, Tercio Genzinib, Freddy Goldberg Eliaschewitzd a Instituto de Química da USP, bHospital da Beneficiência Portuguesa, cHospital Heliópolis, dFaculdade de Medicina da USP Resumo O diabetes, uma doença reconhecida desde a Antigüidade, tem sido tratado com remédios originados de plantas pelos mais diversos povos. Com a descoberta da insulina animal e seu sucesso no controle dessa afecção, estudos sobre a presença de insulina em plantas e sua importância para processos fisiológicos/bioquímicos em vegetais não têm tido a devida atenção por parte dos cientistas. A descoberta de uma proteína com homologia de seqüência com insulina animal em tegumentos (cascas) das sementes de feijão-de-porco, em folhas de pata-de-vaca e em frutos de feijão-de-corda e que têm ação insulínica sobre animais diabéticos, sugere fortemente que esse hormônio esteja presente em vegetais. Estes estudos, além de sugerirem que caminhos de sinalização dependentes de insulina estão presentes em plantas e, portanto, foram conservados durante a evolução sugerem também que remédios contra o diabetes, utilizados pela medicina popular, possam ter sua base científica validada. 1. Introdução Estima-se que o Diabetes mellitus (DM) afete, atualmente, cerca de 135 milhões de pessoas no mundo, comprometendo a qualidade de vida de 2,8 milhões destes pacientes devido às suas complicações crônicas [1]. No Brasil existem aproximadamente 5 milhões de diabéticos, 90% dos quais são do tipo 2 e 5 a 10% do tipo 1 [2]. O DM tipo 1 é uma doença crônica que acomete de 0,5% a 2% da população em países ocidentais, preferencialmente crianças, adolescentes e adultos jovens. Esta doença pode evoluir com diversas complicações clínicas, que incluem desde descompensações metabólicas agudas até complicações crônicas envolvendo diferentes órgãos (vasculopatia, nefropatia, neuropatia, retinopatia). Além *Endereço para correspondência: Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz, Rua Goiás 91, 01244-030 São Paulo SP, Tel: (11)3661-8351, E-mail: [email protected] disso, 15% dos portadores de DM tipo 1 morrem após 25 anos do diagnóstico da doença, o que resulta em uma diminuição de pelo menos 15 anos na expectativa de vida desta população [3]. A hiperglicemia no DM tipo 1 é decorrente de uma deficiência sistêmica de insulina, que por sua vez é conseqüente à destruição das células β das ilhotas pancreáticas (Ilhotas de Langherans), produtoras deste hormônio. A sua etiologia ainda não é clara, porém acredita-se que envolva mecanismo de autoimunidade contra as células β, havendo participação de fatores genéticos e ambientais no seu desencadeamento [4-5]. 2. Tratamento O tratamento convencional do DM tipo 1 consiste na administração subcutânea de insulina exógena. A manutenção de níveis estáveis de glicemia através de terapia intensiva tem sido correlacionada com menor incidência de complicações crônicas [6]. Entretanto, 292 Sogayar MC / Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 a terapêutica insulínica intensiva é considerada incômoda pela maioria dos pacientes devido ao rigor necessário para manter níveis glicêmicos próximos ao da normalidade, além de induzir freqüentemente episódios de hipoglicemia severa. Por este motivo requer monitorização freqüente da glicemia, tornando ainda mais difícil a aderência do paciente ao tratamento. Terapêuticas alternativas à insulinoterapia exógena, que se mostrem mais eficientes para manutenção da euglicemia, são de extrema importância para que se possa modificar este quadro, oferecendo melhores condições de tratamento aos pacientes diabéticos insulino-dependentes. Dentre as alternativas atuais, somente os transplantes de pâncreas (órgão total) ou de ilhotas pancreáticas são capazes de recompor o padrão fisiológico de secreção de insulina e tornar o portador de DM tipo 1 independente das aplicações diárias [7-8]. 3. Transplante de pâncreas (órgão total) O primeiro transplante de pâncreas humano para o tratamento de um paciente diabético foi realizado em 1966. A partir da década de 80, com o desenvolvimento de novas drogas imunossupressoras e com o aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas, o número de transplantes realizados tem aumentando significativamente. Até 1998, mais de 11.000 casos foram registrados pelo International Pancreas Transplant Registry (IPTR). No período entre 1994 e 1998 foram registradas taxas de sobrevida de um ano iguais a 94% para o paciente e de 82% para o enxerto pancreático [9]. No Brasil, o primeiro transplante de pâncreas foi realizado em 1968, porém, somente em 1987 foi iniciado um programa de transplante, que durou até 1993 [10]. Em 1996 foi iniciado um novo programa de transplante de pâncreas, no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, levando à realização de 16 transplantes. O pâncreas transplantado é capaz de secretar insulina imediatamente após sua revascularização, induzindo completa independência de insulina exógena. Efeitos benéficos sobre as complicações crônicas da doença, como reversão parcial da neuropatia e um efeito protetor no rim transplantado conjuntamente, também têm sido demonstrados [11]. Todavia, o implante do órgão total, além de ser uma cirurgia que pode acarretar diversas complicações clínicas e cirúrgicas, requer terapia imunossupressora intensiva e contínua para evitar a rejeição do órgão transplantado. Por este motivo, a sua indicação é praticamente restrita àqueles pacientes que necessitam também de um transplante de rim para correção da insuficiência renal decorrente da nefropatia diabética. Os dados do IPTR mostram que 96% dos casos de transplante de pâncreas foram realizados em conjunto com o transplante renal. O transplante de pâncreas tem sido realizado isoladamente somente em pacientes com controle metabólico extremamente difícil, nos quais os riscos de hipoglicemia severa são mais sérios que os potenciais efeitos colaterais da terapia imunossupressora. [7-11]. Assim, o transplante de pâncreas, além de expor o paciente a riscos aumentados de desenvolvimento de infecção e câncer, devido ao tratamento imunossupressor agressivo utilizado, não se aplica à maioria dos pacientes diabéticos que necessitam prevenir o aparecimento de complicações crônicas. 4. Transplante de ilhotas pancreáticas As ilhotas pancreáticas, também denominadas ilhotas de Langerhans, formam o chamado pâncreas endócrino, sendo compostas pelas células β produtoras de insulina, células α (produtoras de glucagon), δ (somatostatina) e PP (polipeptídeo pancreático), além de células endoteliais e fibroblastos. As células β constituem entre 60-80% do total de células de uma ilhota. As ilhotas constituem uma pequena fração do pâncreas (em torno de 1 a 2%) e encontram-se dispersas no parênquima pancreático. A idéia do transplante de ilhotas como uma alternativa ao tratamento do DM tipo 1 tomou impulso a partir de 1967, com o desenvolvimento de técnicas visando o isolamento específico das ilhotas pancreáticas [12] e, em seguida, com a demonstração de que as ilhotas transplantadas eram capazes de reverter o diabetes em roedores [13]. No final da década de 70 e também nos anos 80, foram descritos alguns casos de pacientes que permaneceram insulino-independentes após transplante de ilhotas, porém, na maioria das vezes apenas por poucos dias [14]. Mais recentemente, a introdução de metodologias automatizadas tornou possível o isolamento de um grande número de ilhotas viáveis a partir de pâncreas de doadores humanos e também de várias outras espécies incluindo cães, porcos e primatas não-humanos [15]. Isto permitiu que, em 1990, pela primeira vez, fosse demonstrada a reversão do diabetes por período superior a um ano, após o transplante de ilhotas alogeneicas obtidas de um único doador, em pacientes com câncer abdominal nos quais o diabetes era resultante de hepatopancreatectomia para retirada do tumor [16-17]. O transplante de ilhotas oferece vantagens potenciais Sogayar MC / Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 Auto-transplante (n=50) Alo-transplante após pancreatectomia (n=15) Alo-transplante em DM tipo I (n=200) 100 90 80 70 60 [%] 50 50% 40 40% 30 20 10 0 8% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Fig. 1. Independência de insulina após transplante de ilhotas. Comparação entre diferentes categorias de receptores (adaptada do ITR Newsletter nº 8, 1999). em relação ao de pâncreas, em vários aspectos. Primeiro, por exigir um procedimento cirúrgico muito simples, que geralmente é realizado pela injeção, na veia porta, das ilhotas isoladas, as quais se depositam no fígado. Como na condição anatômica original a insulina secretada pelo pâncreas é conduzida pela circulação portal ao fígado (que utiliza e degrada de 50 a 90% da insulina secretada), este órgão é considerado um local adequado para o transplante de ilhotas, evitando a ocorrência indesejável de hiperinsulinemia sistêmica. Segundo, pela possibilidade de desenvolvimento de técnicas in vitro visando diminuir sua antigenicidade, em cultura pré-transplante [18-20]. Do mesmo modo, o imunoisolamento das ilhotas através de materiais biocompatíveis (polímeros, alginato), com permeabilidade seletiva à insulina e nutrientes, mas não aos agentes efetores da resposta imune, permitiria a realização do transplante na ausência de imunossupressão. Esta condição seria a ideal, pois estenderia a aplicação do transplante à maioria dos pacientes diabéticos, além de potencialmente facilitar a realização de xenotransplantes e diminuir a demanda pelos escassos doadores de órgãos humanos [21-22]. Apesar destas vantagens potenciais, o transplante de Ilhotas em pacientes diabéticos, utilizando os recursos disponíveis atualmente, não vem apresentando resultados satisfatórios. Os últimos dados do Registro Internacional de Transplante de Ilhotas (ITR) mostram que até 1998 foram realizados 629 transplantes, sendo 407 alotransplantes (355 em pacientes diabéticos e o 293 restante em pacientes com câncer abdominal submetidos à hepato-pancreatectomia) e 222 auto-transplantes (em pacientes com pancreatite crônica submetidos à pancreatectomia total) [23]. Os melhores resultados foram encontrados nos casos de autotransplante seguido dos casos de câncer, onde 50% e 40% dos pacientes, respectivamente, permaneceram insulino-independentes após seguimento de 1 ano (Fig 1). Já em relação aos pacientes diabéticos, obteve-se insulino-independência em apenas 12% e 8% dos casos, após seguimentos de 7 dias e 1 ano, respectivamente. Esta análise foi realizada a partir do seguimento de 265 casos bem documentados, comunicados ao ITR [23]. Pode-se avaliar, também, as diferenças de evolução em relação a estes grupos, pelo período máximo de independência de insulina atingido: no grupo de pacientes diabéticos do tipo 1 obteve-se no máximo 5 anos e 10 meses, enquanto no grupo de auto-transplante um paciente ainda se encontra insulino-independente após 12 anos de transplante. Várias causas têm sido propostas para estes resultados insatisfatórios, dentre elas o transplante e/ou sobrevivência de uma massa de ilhotas insuficiente, o efeito tóxico das drogas imunossupressoras nas ilhotas e a rejeição das ilhotas transplantadas, pelo sistema imune do receptor [24]. Além disto, acredita-se que as ilhotas alogeneicas transplantadas em diabéticos possam ser alvo da resposta autoimune contra as células β, preexistente nestes pacientes [25]. Em relação ao transplante de uma massa de ilhotas insuficiente e/ou com viabilidade inadequada, este é um fator diretamente relacionado ao procedimento técnico de isolamento das ilhotas, que está sujeito à inúmeras variáveis. A eficiência do isolamento é influenciada por: a) características do doador; b) condições de preservação do órgão; c) qualidade da enzima utilizada para a digestão do pâncreas (colagenase) e d) técnica de purificação das ilhotas [24]. Um parâmetro ainda não esclarecido, é a questão da pureza das preparações de ilhotas e sua influência nos resultados de transplante. Acredita-se que preparações puras, isentas de tecido acinar seriam mais seguras por utilizar um volume menor, diminuindo a chance de ocorrência de hipertensão portal. Poderiam também facilitar a sobrevivência do enxerto no fígado e diminuir a sua antigenicidade, mas nenhuma destas hipóteses foi comprovada até hoje. Por outro lado, a manipulação necessária para obtenção de preparações puras poderia diminuir a viabilidade celular além de reduzir o rendimento de obtenção de ilhotas [24]. Preparações menos puras também poderiam conter um certo número de células ductais e talvez otimizar o resultado do 294 Sogayar MC / Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 Tabela 1. Características de 200 transplantes de ilhotas pancreáticas realizados no período de 1990 a 1997, em pacientes com DM tipo I (adaptado do ITR Newsletter nº 8, 1999). Categoria n=200 No de implantes em funcionamento Após 1 mês Após 1 ano Peptídeo C basal ≥ 0,5 ng/ml Independência de insulina Peptídeo C basal ≥ 0,5 ng/ml Independência de insulina Continente América do Norte Europa Outro 87 109 4 54 (62%) 82 (75%) 9 (10%) 19 (17%) 20 (23%) 49 (45%) 4 (5%) 15 (14%) Sexo do receptor Masculino Feminino 123 77 82 (67%) 54 (70%) 12 (10%) 16 (21%) 35 (28%) 34 (44%) 7 (6%) 12 (16%) Idade do receptor ≤ 40 anos > 40 anos sem dados 124 73 3 86 (69%) 49 (67%) 18 (15%) 10 (14%) 46 (37%) 22 (30%) 12 (10%) 7 (10%) Tempo de isquemia fria ≤ 480 minutos > 480 minutos sem dados 130 58 12 94 (72%) 34 (59%) 21 (16%) 6 (10%) 49 (38%) 14 (24%) 16 (12%) 3 (5%) Número de doadores =1 >1 123 77 77 (63%) 59 (77%) 13 (11%) 15 (19%) 39 (32%) 30 (39%) 10 (8%) 9 (12%) IEQ/kg de peso < 6.000 ≥ 6.000 sem dados 63 127 10 39 (62%) 93 (73%) 4 (6%) 24 (19%) 21 (33%) 46 (36%) 3 (5%) 16 (13%) Pureza das preparações de ilhotas ≤ 90% > 90% sem dados 162 24 14 110 (68%) 19 (79%) 23 (14%) 5 (21%) 57 (35%) 10 (42%) 16 (10) 3 (13%) Tipo de transplante Pós-Transplante renal Simultâneo a Transplante renal Outros 68 114 18 41 (60%) 82 (72%) 15 (22%) 13 (11%) 21 (31%) 45 (39%) 8 (12%) Indução da imunossupressão ATG/ALG/anti-IL-2R OKT3 sem anticorpo anti-linfocítico 127 30 43 97 (76%) 19 (63%) 20 (47%) 23 (18%) 3 (10%) 2 (5%) 52 (41%) 9 (30%) 8 (19%) 17 (13%) 1 (3%) 1 (2%) Sítio do transplante Fígado Outros 184 16 132 (72%) 4 (25%) 28 (15%) 0 67 (36%) 2 (13%) 19 (10%) 0 Sogayar MC / Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 180 160 140 120 n° total de casos Independência insulina ≥1 semana 100 86 80 60 40 140 Casos com Peptídeo C ≥ 0,5 ng/ml após 1 mês 50 60 17 11 20 0 Todos os 4 Critérios a) ≥ 6.000 IEQ/Kg peso b) Tempo isquemia ≤ 8h 3 ou menos c) Uso de anticorpo anti-linfócito d) Implante no fígado Fig. 2. Análise da evolução do transplante de ilhotas em 200 pacientes diabéticos do tipo I, no período entre 1990-1997, em relação ao preenchimento de critérios associados com sucesso (adaptado do ITR Newsletter nº 8, 1999). implante, visto que a neogênese de ilhotas pode ocorrer a partir de células ductais [26]. Pode-se concluir, portanto, que muitas etapas do processo de isolamento das ilhotas podem e devem ser aperfeiçoadas para que os resultados do transplante sejam melhores e mais previsíveis. Uma análise de 200 casos bem documentados de transplante em diabéticos do tipo 1, registrados pelo ITR no período entre 1990-1997, mostrou também os fatores associados com melhores resultados do transplante: 1) tempo de isquemia fria do órgão, entre a retirada cirúrgica e o isolamento das ilhotas, inferior a 8 horas; 2) transplante de, no mínimo, 6.000 equivalentes de ilhota (IEQ)/kg de peso do receptor (equivalente de ilhota é uma estimativa do número de ilhotas normalizado, assumindo que todas as ilhotas têm um diâmetro médio igual a 150 µm); 3) realização do transplante no fígado, através da injeção das ilhotas na veia porta e 4) indução da imunossupressão utilizando anticorpos policlonais ou monoclonais anti-linfócitos T. Observou-se que, em 60 pacientes que preencheram estes 4 critérios, 28% permaneceram insulino-independentes pelo período de 1 semana. Nos demais 140 pacientes, nos quais pelo menos 1 destes critérios não foi preenchido, a taxa dos que permaneceram independentes de insulina pelo período de 1 semana caiu para 8% (Fig. 2) [23]. A Tabela 1 apresenta um resumo destes 200 casos bem documentados. 295 A influência destes fatores associados ao sucesso do transplante pôde ser comprovada recentemente, quando um grupo canadense [27] apresentou resultados extremamente positivos de transplante de ilhotas, isoladamente, ou seja, sem associação com transplante renal, em 8 pacientes diabéticos do tipo 1. Após acompanhamento de 1 ano, todos encontravam-se insulinoindependentes, com controles glicêmicos normais. Estes pacientes não apresentavam as complicações crônicas da doença, tendo sido selecionados para o transplante por desenvolverem episódios freqüentes de hipoglicemia severa e instabilidade metabólica. Os fatores de destaque no protocolo utilizado por este grupo foram o implante de um grande número de ilhotas (aproximadamente 12.000 equivalentes de ilhotas por paciente), obtidas a partir de pâncreas de 2 a 3 doadores consecutivos, além do tratamento com esquema imunossupressor isento de glicocorticóides e a realização do transplante pela embolização portal trans-hepática percutânea, imediatamente após o isolamento das ilhotas [27]. Os resultados excelentes obtidos por este grupo certamente vão estimular a realização de novos estudos, inclusive para confirmação destes dados. Assim, além de aumentar os conhecimentos na área, podem trazer novas perspectivas de tratamento a todos os pacientes diabéticos. Apesar destes importantes avanços, deve-se ainda ter em mente que o principal obstáculo a uma aplicação ampla do transplante de ilhotas continua sendo a necessidade do uso crônico de drogas imunossupressoras para evitar a rejeição. Portanto, ao se considerar a realização deste tipo de transplante, deve-se pesar os possíveis benefícios (estabilização metabólica, diminuição das complicações crônicas, abolição das injeções de insulina) em relação aos potenciais efeitos colaterais dessas drogas (maior susceptibilidade à infecções, maior incidência de tumores malignos e toxicidade em órgãos como os rins e as próprias células β das ilhotas). Uma das alternativas que vem sendo estudada para superar este problema, é o imunoisolamento das ilhotas através de membranas biocompatíveis e semipermeáveis [28-29]. Apesar de já se haver desenvolvido materiais com permeabilidade adequada para a saída da insulina, a entrada de nutrientes para as células e também o bloqueio à entrada de células imunes e anticorpos, alguns problemas persistem. Pelo fato de não ser revascularizado, a oxigenação do tecido encapsulado torna-se difícil. Além disto, moléculas pequenas, como citocinas e radicais livres, não são adequadamente bloqueadas por estes materiais, podendo ocasionar dano celular [30]. 296 Sogayar MC / Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 Como é realizado o isolamento das ilhotas pancreáticas 1- O pâncreas é distendido pela injeção de solução de colagenase através do ducto de Wirsung, e colocado no interior da câmara de digestão. Esta câmara é dividida ao meio por uma tela com aberturas de 400 µ, ficando o pâncreas na parte inferior. 2- A solução de colagenase é circulada pelo sistema, utilizando uma bomba peristáltica. O fluxo é direcionado para que a solução entre pela parte inferior da câmara, fazendo com que somente fragmentos de tecido menores que 400 ? circulem. 3- A solução de colagenase passa no interior do sistema de aquecimento, para que a enzima atue numa temperatura ideal, de 37˚C. 4- Enquanto a câmara é submetida a agitação mecânica, no agitador, a solução é recirculada por um período aproximado de 20 min. Nesse intervalo são colhidas amostras do material e coradas com ditizona (que cora as ilhotas em vermelho) para análise do grau de isolamento das ilhotas. 5- Quando as ilhotas estão isoladas do tecido acinar, é realizada a diluição e resfriamento do material, para inativação da colagenase. 6- A suspensão contendo todo o material pancreático digerido é coletada e centrifugada. 7- O “pellet” celular é ressuspenso em solução de Ficoll de diferentes densidades e submetido à centrifugação numa centrífuga automatizada (COBE 2991), para realizar a purificação das ilhotas. 8- As ilhotas isoladas podem então ser utilizadas para transplante imediato ou colocadas em cultivo in vitro para análise e posterior transplante. Outras estratégias, visando a inibição do processo de rejeição do transplante, vêm obtendo sucesso em modelos experimentais. Tolerância ao transplante de ilhotas, em camundongos e ratos, tem sido obtida após infusão, no receptor, de células da medula óssea do doador, induzindo “microquimerismo” [31-32]. Inibição da rejeição após transplante de células β geneticamente modificadas para expressar substâncias imunossupressoras, localmente, também mostrou sucesso [33]. A continuação destes estudos, utilizando modelos experimentais mais próximos ao humano, permitirá concluir a respeito de sua aplicabilidade ao transplante clínico humano. No Brasil, até o momento não foi realizado nenhum Sogayar MC / Diabetes Clínica 04 (2000) 227–230 caso de transplante de ilhotas. Entretanto, visando atingir este objetivo, desde 1994 vimos realizando o isolamento de ilhotas caninas e humanas. Em 1997 foi instalada utilizando a Unidade de Ilhotas Pancreáticas Humanas, no Instituto de Química da Universidade de São Paulo, com financiamento da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), equipada para utilizar a metodologia automatizada, conforme esquema anexo. Foi formado um grupo multidisciplinar, composto por médicos cirurgiões e clínicos e por pesquisadores da área básica, com o objetivo de desenvolver estudos nesta área. Atualmente encontram-se em andamento, nesta Unidade, trabalhos que visam aumentar a eficiência de isolamento e a qualidade das ilhotas; desenvolver e caracterizar materiais para promover o encapsulamento das ilhotas; identificar fatores que promovam o crescimento e a ampliação da quantidade de ilhotas disponíveis para transplante, além de trabalhos de Biologia Molecular para a identificação de genes responsáveis pelo crescimento e diferenciação das células das ilhotas. Colaborações com outros grupos de pesquisa do país e do exterior, e parcerias com o setor privado, abrem novas e promissoras perspectivas para os diabéticos brasileiros. Referências 1. The World Health Report 1998 (http://www.who.org/whr/ 1998/whr-en.htm). 2. Ministério da Saúde. Diabetes mellitus: Guia básico para diagnóstico e tratamento. Brasília, 1996. 3. EASD - European Association for the Study of Diabetes. Dimension of Diabetes Research. Diabetologia, 39:S5-11, 1996. 4. Castano L, Eisenbarth GS. Type-I diabetes: a chronic autoimmune disease of human, mouse, and rat. Annu Rev Immunol, 8:647-79, 1990. 5. Bach JF. Insulin-dependent diabetes mellitus as an autoimmune disease. Endocr Rev, 15:516-42, 1994. 6. The Diabetes Control and Complications Trial Research Group. The effect of intensive treatment of diabetes on the development and progression of long-term complications in insulindependent diabetes mellitus. N Engl J Med, 329:977-86, 1993. 7. 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Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 299–306 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patolo ias Associadas Estudo comparativo do nível de aprendizado entre palestras e jogos educativos em idosos diabéticos que freqüentam a Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) Camila S.V. Alvesa, Juliana Tobias Pizzia, Angélica Cristina Mendesb, Sandra Maria Ribeiro Limac, Cristina T. Molinad, Cintia Elaine Ramose, Fadlo Fraige Filhof a Acadêmicas de nutrição da Universidade São Judas Tadeu, End: Rua Oscar R. Cajado Filho, 90 CEP 04710-190 - São Paulo, b Acadêmica de nutrição da Universidade Anhembi-Morumbi, End: Rua das Modulações, 200 CEP: 04938-020 - São Paulo, c Supervisora de estágios da Universidade São Judas Tadeu, dSupervisora de estágios da Universidade Anhembi-Morumbi, e Nutricionista da Associação Nacional de Assistência ao Diabético, fPresidente ANAD/FENAD. Os autores agradecem Celeste Elvira Viggiano pela sua colaboração. Resumo O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome que caracteriza-se pelo aumento de glicose no sangue. Com o objetivo de buscar métodos de ensino alternativos para educar idosos com DM, foram realizados palestras e jogos educativos com os associados da ANAD, para a comparação do grau de aprendizagem entre os dois métodos. Os recursos didáticos utilizados foram cartazes, jogos infantis adaptados e dinâmica de grupo e palestra. Participaram de estudo 24 associados num período de um mês. Dos métodos utilizados, os jogos foram o que obtiveram maior porcentagem de acertos, sendo a média total de 89,6%, contra 74,3% nas palestras. Mesmo o jogo tendo a média maior, deve-se levar em consideração a idade e o grau de instrução, como fatores que influenciam na aprendizagem. Diante do exposto, conclui-se que os jogos educativos são melhor método de ensino para idosos com DM, sendo de grande importância para o educador, o conhecimento acerca de dinâmica de grupo. 1. Introdução O DM é uma síndrome decorrente de falta e/ou produção diminuída de insulina ou incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos metabólicos [13]. Caracteriza-se pelo aumento de glicose no sangue (hiperglicemia) e por perda de glicose associada ou não a outras substâncias na urina (glicosúria), ocasionando modificações no metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas [4]. Um dos aspectos mais importantes no tratamento do diabetes é o plano de alimentação, que quando Correspondência: ANAD, rua Eça de Queiroz, 198, 04011-031 São Paulo SP, Tel: (11) 5572 6559. adequado, possibilita um bom controle metabólico [13]. O planejamento alimentar deve ser individual e adaptado às condições de vida do indivíduo, tendo por finalidade a oferta de energia suficiente para manter o peso ideal, proporcionar o bem-estar, prevenir as complicações e ajustar a dieta ao tipo de insulina e hipoglicemiante prescrito [7, 13]. A educação nutricional é um elemento essencial, que tem por objetivo principal, fazer com que o paciente tenha um perfeito entendimento da doença, da nutrição e das possíveis complicações, sendo capaz de alcançar sozinho o máximo de controle do diabetes [7, 8]. Sem dúvida, é através da educação que os pacientes melhoram a sua qualidade de vida, permitindo sua plena integração na sociedade [7]. 300 Alvesa CSV / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 A utilização de mensagens visuais e materiais impressos devem ser definidos como uma estratégia para promover um maior entendimento e memorização, assim como ajudar os indivíduos a aplicarem o que aprenderam no seu dia-a-dia [3]. Isso porque a informação oral pode ser mal-interpretada e de difícil entendimento para pacientes com deficiência auditiva e visual ou de baixo nível de escolaridade [7]. O ensino em grupo é mais interessante, porque o paciente troca experiências e conhecimentos que em si vão contribuir para educação nutricional. Esse método de ensino facilita o amadurecimento dos problemas não só no paciente, mas também da sua família [7]. O educador deve ser criativo, dando oportunidade para discussões e colocando perguntas que ajudam as pessoas a descobrirem seus problemas. Os bons educadores não colocam suas próprias análises como as corretas, mas têm permitir que as pessoas busquem seu próprio entendimento sobre a situação [6]. Assim, a educação nutricional deve atender às necessidades dos diabéticos em relação à doença, integrando-os ao tratamento dietético e contribuindo para o controle adequado [8]. Os jogos educativos podem se dar na forma lúdica, que ensinam sobre a importância da nutrição. Pode-se propor jogos como o do cartão, da memória, quebra-cabeça, etc, e com criatividade e imaginação, informar os indivíduos sobre como melhorar a sua qualidade de vida. Criar jogos dão ênfase para ganhar conhecimentos, práticas e habilidades para uma melhor nutrição, são considerados como uma ótima estratégia de ensino [1]. Certas faculdades intelectuais, como por exemplo, julgamento prático, aptidão para dominar situações difíceis e desembaraço verbal, nada sofrem com o envelhecimento, podendo desenvolver-se com o passar do tempo. Outras tornam-se reduzidas como, capacidade de memorização, observação, concentração, associação e agilidade intelectual. A capacidade de aprendizagem do idoso não é diminuída segundo a idade e, sim, devido a uma série de fatores somáticos, psíquicos, sociais, pedagógicos e antecedentes pessoais. Devido a dificuldade de aprendizagem do idoso se dar pela insegurança, é necessário fazer exposições nítidas e articuladas, para que haja uma assimilação com maior facilidade, principalmente, porque há uma grande sensibilidade às perturbações exteriores (ruídos, pausas nas explicações) e uma queda no desempenho, além do que o estado de saúde desempenha um papel importante no processo de aprendizagem [2]. Este trabalho tem como objetivo buscar metodologias alternativas para o desenvolvimento de trabalhos educativos em idosos portadores de DM, comparando o grau de aprendizagem entre palestras e jogos educativos. Quadro 1 - Dinâmicas de grupo As dinâmicas de grupo estão voltadas ao entrosamento, à avaliação de conhecimento prévio e à avaliação de conhecimento adquirido. As técnicas aqui descritas são sugestões, podendo os coordenadores usar outras que julguem pertinentes. Técnicas de entrosamento Cor do cabelo - O coordenador solicita que os participantes se coloquem em círculo e pede que cada um comente sobre seu cabelo. Se gosta do tipo de cabelo, da cor, do penteado, etc. Dá 3 minutos a cada participante e, depois de cada exposição, permite que todos terem dúvidas ou façam comentários. Ao final avalia com o grupo se a atividade facilitou o entrosamento. Ao final avalia com o grupo se a atividade facilitou o entrosamento. Além de favorecer o entrosamento, esta técnica faz com que cada participante reflita que trazemos heranças genéticas que podem ser imutáveis ou não. E que aprendemos a conviver com elas ou as adaptamos da melhor forma. Esta técnica demanda de 20 a 30 minutos. História do nome - O coordenador solicita que os participantes se coloquem em círculo e pede que cada conta a história de seu nome: o que significa, por que foi escolhido, de onde veio, etc. Dá 3 minutos a cada participante e, depois de cada exposição, permite de os participantes façam comentários. Alem de favorecer o entrosamento, esta técnica faz com que cada um constate que tem história, hábitos, costumes e experiências próprios, que podem influir positiva ou negativamente no controle da doença, e principalmente nos hábitos alimentares. Esta técnica demanda de 20 a 30 minutos. 2. Metodologia O trabalho foi desenvolvido na ANAD - Associação Nacional dos Diabéticos - no período de 10 de maio a 18 de junho de 1999, estudando os indivíduos que frequentam essa associação. O projeto envolveu atividades educativas, como palestras e jogos, junto aos associados, com a finalidade de fornecer informações e tirar dúvidas sobre a alimentação. 302 Alvesa CSV / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 Essas atividades foram realizadas em grupos semanais, sendo às terças-feiras proferidas palestras e às quintas-feiras aplicação de jogos, que abordavam o mesmo tema, ou seja, tanto a palestra quanto o jogo discutiam o mesmo conteúdo teórico, porém a técnica didática aplicada era diferente. Ao todo foram realizadas cinco palestras e cinco jogos, onde foram trabalhados os seguintes temas: - a importância das fibras; - o que fazer para diminuir a quantidade de gordura das refeições; - o que são proteínas; Quadro 2 - Dinâmicas de grupo Técnicas para reflexão Olhar e ver - Inicialmente o coordenador deve introduzir a discussão sobre a importância da percepção para aprofundar o conhecimento da realidade. Apresenta a idéia de que muitas vezes olhamos mas não vemos. A seguir, solicitará aos participantes que perambulem pela sala, observando tudo com atenção, descobrindo coisas até então não percebidas. Decorridos 5 minutos, cada participante contará aos demais as suas descobertas. A partir daí, abre-se a discussão sobre o que existe na sala e que não havia sido percebido antes. O coordenador deverá levar o grupo a refletir sobre como isso ocorre com freqüência no dia-a-dia das pessoas, ou seja, muitas vezes não conseguimos resolver uma situação porque não olhamos de verdade para ela. Essa questão será o ponto de partida para uma discussão sobre as dificuldades em aderir ao tratamento, mudar hábitos de vida para melhorar a saúde. O guia e o cego - Para a realização desta técnica os participantes formam duplas. Um elemento de cada dupla venda os olhos e, junto com o parceiro reconhece a sala e os objetos e pessoas presentes. O que está vendado usa o tato, a audição e o olfato, enquanto o companheiro, ao mesmo tempo que o guia, faz sua própria investigação. Feito isso por todas as duplas, o coordenador pergunta as dificuldades e facilidades encontradas na investigação: o que perceberam na sala; se descobriram algo que não haviam notado antes; como se dá esse progresso no cotidiano de cada um. Observando que muitas vezes não percebemos o que está a nosso redor, o coordenador faz cada um - o que são cereais; - os grupos de alimentos. Foram coletados dados do prontuário do associado, como identificação dos pacientes, idade, escolaridade, tipo de diabetes, se havia sido orientado por nutricionista ou não. A avaliação foi feita através de questionários, distribuídos e respondidos pelos participantes após os jogos e as palestras. Cada um apresenta cinco questões, tendo como método de avaliação a variação de porcentagem (0 a 100%) de acertos. Ao final de cada refletir sobre seus hábitos diários e verificar se estes contribuem ou interferem no controle do diabetes ou predispõem às complicações da doença. Esta técnica permite a reflexão dos participantes a respeito de seus hábitos, ambiente, trabalho e relações pessoais - fatores que podem interferir no controle da doença. E sobre como sua alimentação pode estar sendo automática e repetitiva. Barco de papel -O coordenador distribuirá a cada participante um barco de papel com um tema a ser discutido. Sugerimos: como é minha vida com diabetes? Minha alimentação é prazerosa? O diabetes interfere na minha vida profissional? O diabético sente-se a vontade em uma festa? Esses temas poderão ser repetidos em vários barcos, para que haja discussão de opiniões diferentes. Poderá também ser utilizado um único tema em todos os barcos, a critério do coordenador da oficina. Pede-se que cada participante reflita sobre o tema e apresente ao grupo seus pensamentos e sentimentos em relação a ele, a partir das seguintes questões: 1 - Como o barco está navegando? 2 - O que o faz parar? 3- Que “bons ventos” o levam? 4- Costuma navegar em tormentas e tempestades? 5- Tem um comandante e/ou imediato? 6- Qual o seu destino? 7- O que move o barco? 8- Navega sozinho ou numa frota? Cada membro do grupo terá 5 minutos para fazer o seu depoimento, que será anotado pelo coordenador ou por um dos participantes. Depois de todos terem falado, passa-se a discutir sobre o que foi dito e a levantar os pontos em comum. O coordenador fecha a discussão, solicitando no grupo que relacione as conclusões do debate. Alvesa CSV / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 Quadro 3 - Dinâmicas de grupo Técnicas para avaliar o conhecimento prévio Valores e concepções - O coordenador faz uma pergunta ao grupo. Exemplo: o açúcar deve ser retirado da alimentação de todas as pessoas? E dá a cada participante ume folha de papel com várias frases como: - Sim, o açúcar é prejudicial à saúde. - Não, o açúcar é excelente fonte de energia. - Sim, o açúcar provoca caries. - Talvez, pois di9zem que provoca muitas doenças. - Não, deve ser consumido com moderação. Afinal é fonte de energia. - Sim, pois o açúcar engorda. Cada um deve escolher a frase que traduza sua resposta. Em seguida o coordenador reúne os que palestra e jogo foram distribuídos também resumos em forma de panfletos, com os principais tópicos explicados durante as atividades educativas. O recurso utilizado para as palestras foram cartazes coloridos dispostos na parede de forma que ficassem bem visíveis aos associados. O método de ensino usado foi aula didática, onde as educadoras mostravam os cartazes e ao mesmo tempo explicava-os. Os aspectos básicos abordados foram os seguintes: conceito, benefícios, alimentos fontes, importância e dicas. Os jogos educativos foram adaptados de jogos infantis encaixando-se para os temas: alimentação do diabético e terceira idade. Como técnica de ensino foi utilizada a dinâmica de grupo. Desenvolveram-se o jogo do minhocão, o jogo da batata-quente, o jogo do bingo, o jogo da memória e jogo dos quadros, onde cada um abordou um dos temas citados acima. Os jogos basearam-se na elaboração de questões para perguntas e respostas, a fim de promover discussões e trocas de experiências entre os participantes durante os jogos. 3. Resultados e discussão Participaram do estudo 24 associados, 18 do sexo feminino e 6 do sexo masculino, sendo a idade média de 62 anos. O grau de escolaridade que prevaleceu foi primeiro grau incompleto com 13 associados, seguido de 9 com segundo grau incompleto e 2 com curso superior. Dos 24 associados participantes, 5 eram 303 escolheram a mesma frase em subgrupos para discussão. Se um subgrupo constatar que a escolha contradiz a resultado da discussão, ele pode mudar de frase. Cada subgrupo expõe suas conclusões ao grupo. O papel do coordenador é interferir para que se chegue à resposta correta. Cartões informativos - Cartões com figuras de alimentos são distribuídos aleatoriamente entre o grupo, para que cada qual monte, através das figuras, sua alimentação diária ou uma refeição sugerida pelo coordenador ou, ainda, suas preferências ou intolerâncias alimentares. Após essa fase, o coordenador inicia uma palestra sobre temas afins com a participação do grupo. Esta técnica se presta também à avaliação da alimentação dos participantes, e de seus conhecimentos sobre a dieta do diabético e os tabus que tem em relação à ela. diabéticos tipo 1 e 19 diabéticos do tipo 2, 16 tinham orientação com nutricionista e 8 não tinham. Na tabela 1 observa-se a prevalência de acertos em relação a análise dos questionários aplicados aos associados na palestra e no jogo do minhocão sobre fibras. Tabela 1 - Comparação da porcentagem de acertos dos questionários sobre fibras, aplicados depois da palestra e do jogo. ANAD, 1999. Métodos % de acertos Palestra Jogo 87,5% 97,5% Dos métodos utilizados para a informação sobre fibras, pode-se observar que a assimilação dos associados participantes do jogo foi maior do que a dos participantes em palestras. O número de acertos na palestra sobre gorduras, mostrado na tabela 2, é menor quando comparado ao jogo do mesmo tema. Isto significa que com o jogo, os associados aprenderam mais o sobre o conteúdo teórico. Tabela 2 - Comparação da porcentagem de acertos dos questionários sobre gorduras, aplicados depois da palestra e do jogo. ANAD, 1999. Métodos % de acertos Palestra Jogo 68,2% 79,1% 304 Alvesa CSV / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 O índice de assimilação dos associados participantes do jogo sobre cereais foi de 96,6%, e na palestra de 80% de acertos, mais uma vez sendo demonstrado que com o jogo a aprendizagem é maior. A tabela 3 mostra essa distribuição. Tabela 3 - Comparação da porcentagem de acertos dos questionários sobre cereais, aplicados depois da palestra e do jogo. ANAD, 1999. Métodos % de acertos Palestra Jogo 80,0% 96,6% A tabela 4 mostra a porcentagem de acertos dos associados participantes de acordo com o método utilizado, palestra ou jogo sobre proteínas. Observa-se ainda um predomínio de acertos no jogo do que na palestra. Tabela 4 - Comparação da porcentagem de acertos dos questionários sobre proteína, aplicados depois da palestra e do jogo. ANAD, 1999. Métodos % de acertos Palestra 66,0% Jogo 80,0% Em relação ao tema sobre grupo de alimentos, observou-se que o maior índice de assimilação foi no jogo com 95% de acertos, contra 70% de acertos na palestra, como mostra a tabela 5. Tabela 5 - Comparação da porcentagem de acertos dos questionários sobre grupo de alimentos, aplicados depois da palestra e do jogo. ANAD, 1999. Métodos % de acertos Palestra Jogo 70,0% 95,0% A partir desses dados, pode-se concluir que quando os indivíduos foram inseridos em grupos, a troca de experiência e conhecimento foi bem maior, o que o torna um recurso valioso para a aprendizagem [6, 7]. Observou-se também que quando os indivíduos desenvolveram seus próprios pensamentos, o que possivelmente, não acontece nas palestras, a assimilação do assunto é maior [6]. Mesmo o jogo tendo a média total de assimilação maior que as palestras, conforme a tabela 6, deve-se levar em consideração a idade e o grau de instrução, pois houve predominância de idosos com primeiro grau incompleto, como fatores que influenciaram no índice de acertos nos jogos [2]. Isso pode ser devido também, à capacidade de memorização, observação, concentração e associação estarem diminuídas com idade avançada, o que torna a aprendizagem do idoso mais difícil [2]. Tabela 6 - Comparação da média total de acertos dos questionários aplicados nas palestra e jogos. ANAD, 1999. Métodos % de acertos Palestra Jogo 74,3% 89,6% Quadro 4 - Dinâmicas de grupo Técnicas de avaliação de conhecimento posterior Cartazes - O coordenador dá a cada participante ou a pequenos grupos uma folha grande ou cartolina, pincel atômico, giz de cera, canetas hidrocores, tesoura, cola e revistas, e solicita que cada um expresse, através de desenhos e/ou colagens, o resumo dos temas expostos na oficina, ou de um tema diferente a cada participante, ou ainda elaboração de cardápios adequados para diabéticos. Depois de 10 minutos, ele pede a cada um que apresente seu cartaz e explique as figuras e desenhos. O grupo pode intervir com perguntas e sugestões. O coordenador só interfere se não chegar a consenso ou se houver conclusões incorretas. O tempo previsto é de 20 a 30 minutos. Bate-bola - Dispõem-se os participantes em círculo, com o coordenador no centro, e sugere-se um tema já discutido em uma das reuniões da oficina. Com o auxílio de uma bola, o coordenador escolhe um dos participantes para responder à uma pergunta. Este, imediatamente após sua resposta, joga a bola para um companheiro e assim por diante, até que esgote o tema. Esta técnica permite ao coordenador observar e esclarecer pontos mal interpretados pelo grupo. Pode ser usada também para avaliação de conhecimento prévio e para introdução ao trabalho informativo. 306 Alvesa CSV / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 4. Conclusão Diante do exposto observou-se que a utilização de jogos educativos, como recurso didático, levou à um maior nível de aprendizado do conteúdo teórico em relação às palestras. Além de que com os jogos, o interesse era maior pelo assunto, sendo alcançada mudanças comportamentais bem como melhor aderência ao tratamento nutricional, o que não se notou com as palestras. Assim, conclui-se que para a educação nutricional seja mas efetiva, é de vital importância que o educador conheça o máximo possível de técnicas motivacionais criativas, assim como, adquirir conhecimento na área de ensino, especialmente em comunicação e dinâmica de grupo. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Referências 1. 2. 3. Barclay EJ, Vynckt SV. Easy to make teaching aids for nutrition teaching learning, 10, Paris, 59-83, 1984. Caderno da 3º idade, 6, Sesc São Paulo, 1980. Camelon KM et al. The Plate Model: a visual method of 11. 12. 13. teaching meal planning. J Am Diet Assoc United States, 98, 10:115-8, 1998. Costa AA, Neto JS de Almeida. Manual de Diabetes, 3º ed: Sarvier, São Paulo, p.1-32, 1998. Diabetic Medicine. Dietary Recommendations for people with Diabetes for the 1990s. London, 9:189-196, 1992. Martins C, Abreu SS. Manual do Educador, Paraná, Nutroclínica, p. 83-99; 118-9. Ministério da Saúde, Manual de Diabetes, 2º ed, Brasília, p.05-47; 85-8, 1993. Moreira EAM. et al. 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Oliveiraa, Ana Claudia Martins Santosb a Endocrinologista, Clínica de Endocrinologia da Lagoa, Rio de Janeiro b Endocrinologista, mestrado na UERJ Diabetes melito é uma doença crônica que afeta cerca de 10 milhões de Brasileiros (7,8% da população). Nos Estados Unidos, o diabetes e suas complicações provocam cerca de 323.000 mortes anuais, sendo que 4.000 delas resultam de coma diabético; também são atribuídos ao diabetes cerca de 6.000 casos anuais de cegueira e 20.000 de amputações, isto em um país rico como são os Estados Unidos da América. O diabetes pode ser controlado, restaurando-se as concentrações sanguíneas da glicose. O controle, contudo, não é facilmente conseguido. Para o ajuste excelente, os diabéticos e seus familiares (que ajudam em 99% do manuseio diário) devem ser educados por profissionais de saúde, de modo que passem a entender a doença e a necessidade do tratamento adequado, ficando aptos à nova disciplina de vida que lhes é sugerida dentro de suas novas necessidades. Depois da descoberta da insulina, os diabéticos passaram a necessitar de instruções não só quanto à sua aplicação mas também como adaptar seus efeitos aos da alimentação e aos do exercício. Hoje, quando se tem certeza de que o controle metabólico (traduzido por níveis de hemoglobina glicosilada e de frutosamina próxima da normalidade) protege das complicações do diabetes, os diabéticos são estimulados a automonitorizarem suas glicemias, norteando os ajustes das doses de insulina segundo as necessidades de cada momento. Para isto, a educação tornou-se parte integrante do tratamento. Correspondência: Rogério F. Oliveira, Clínica de Endocrinologia da Lagoa, Rua Maria Angélica, 15, jardim Botânico, 22470-200 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 535-4903 A educação de pacientes pode ser definida como a transmissão de informações, habilidades e atitudes que resultarão num ambiente necessário para se conseguir o desejado sucesso do tratamento, As metas de um programa educacional são aumentar a saúde, a longevidade e a qualidade de vida dos pacientes, e não para satisfazer o orgulho e a vaidade dos educadores. No Brasil existem alguns centros que fazem grandes esforços para transmitir, através das Associações de Diabéticos, as metas educacionais necessárias para desmistificar os medos que cercam os diabéticos e o diabetes, medos estes que podem ser ultrapassados por conhecimentos objetivos e práticos, facilitando a compreensão e a aceitação dos diversos passos do tratamento. A maioria dos diabéticos que adquire complicações é por não terem o necessário conhecimento de como evita-las por falta de ação, orientação e apoio adequado. É necessário que instituições, com prestígio e força política, tomem a si o encargo de unificar os esforços isolados de grupos, permitindo uma orientação mais abrangente e disseminada por todo o Brasil. Para ser eficiente, um programa desse tipo deve reconhecer, através de experiências prévias, o que os pacientes podem e o que querem aprender. O processo educacional começa quando o paciente recebe seu diagnóstico. Nesta ocasião deve ser informado sobre o que é o diabetes e como adaptar sua vida à situação de ser diabético (como se monitorizar, sinais e sintomas de hipo e de hiperglicemia). As informações devem ser complementadas a cada visita, e o ingresso do novo diabético em uma associação vai lhe facilitar a aquisição de conhecimentos através do contato com outros pacientes diabéticos há mais 308 Oliveira RF / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 tempo, mais experientes e preferencialmente bem controlados. A educação dos diabéticos deve ser programada em três fases: 1- Educação aguda ou de sobrevivência Explicar o que é o diabetes, por que ocorreu e fornecer suficiente informação para o imediato manuseio do diabetes: - Avaliar o conhecimento e as fantasias do paciente acerca do diabetes e observar sua atitude em relação à doença; - Informar o paciente sobre os critérios diagnosticados utilizados no seu caso específico; - Explicar a importância da participação do paciente e de seus familiares no dia a dia do diabetes; - Planejar com o paciente o programa agudo e o programa educacional a ser realizado. As metas educacionais dessa fase são intencionalmente limitadas em vista da grande sobrecarga emocional a qual o paciente está submetido. Deve-se frisar a importância da automonitorização, tipos de insulina, sua forma de administração e seus efeitos, planificação alimentar com as calorias necessárias adaptadas aos gostos individuais de cada paciente, e como evitar e agir nas complicações agudas. Nos diabéticos tipo 2 (não insulino-dependentes) devem ser acrescentados os tópicos de como e por que perder peso, como se deve ser programado o exercício (de preferência diariamente) e falar dos hipoglicemiantes orais, explicando-se que mesmo em uso desses últimos é importante a automonitorização e, na dependência dos resultados, complementar com insulina. O sucesso da maioria dos programas educacionais depende da aceitação de uma vida nova. Dois autores americanos, Bille e Crate, identificam seis estágios de adaptação de portadores de doenças crônicas, sendo que o diabetes é uma das mais benignas, diríamos que nem é uma doença, mas sim uma disfunção. Os estágios são: - Descrença; - Consciência inicial do diabetes; - Reorganização; - Resolução; - Identificação das alterações; - Adaptação bem-sucedida. Os membros das equipes de saúde encarregados de orientarem os pacientes nesta fase inicial podem ajudá- los, reconhecendo estas etapas e movendo aceitação e encorajamento através da educação. Os resultados das monitorizações devem ser analisados e adaptados, e o paciente e sua família devem receber contínuo suporte durante esta fase adaptativa. É interessante, neste período, ver o paciente semanalmente, ou mesmo duas vezes por semana, para fornecer o apoio tão necessário. 2 - Aprofundando a educação Pela quarta ou sexta emana depois do diagnóstico, a maioria dos pacientes aceitou o fato de terem se tornados diabéticos. Suas experiências e frustrações aguçaram sua curiosidade, tornando o momento propício para aprofundar o esquema educacional. Alguns tópicos dessa etapa educacional são: - Reavaliar conceitos sobre o diabetes; - Fornecer informações sobre nutrição; trocas alimentares, produtos dietéticos, uso de álcool, fibras e gorduras; - Monitorização da glicose - glicosúrias e glicemias capilares: razões testar habilidades; - Medicação para o controle da glicemia; - Reconhecimento, tratamento e prevenção das complicações agudas; - Diabetes e exercícios; - Padrões de controle; - Dinâmica da adaptação familiar e sua importância; - Motivação para uma vida sadia; - Diabetes no dia a dia; - Conhecimento e prevenção das complicações crônicas; - Programação para ocasiões especiais: comendo fora da casa, viagens, adaptação durante doenças, estresse; - Diabetes no presente e o que pesquisas futuras poderão nos fornecer. 3 - Educação continuada Esta fase visa manter os conhecimentos e habilidades dos pacientes e de seus familiares, rever conceitos básicos de transmitir os últimos avanços em diabetes. O importante nesta fase é encorajar um comportamento que minimizará os riscos de complicações e promover o relacionamento entre diabéticos que servirá de fonte de motivação continuada. No entanto, devemos levar em consideração que o aumento de conhecimento sobre o diabetes não garante o melhor controle, medido pelas hemoglobinas Oliveira RF / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 glicosiladas e frutosaminas. É importante que o paciente transforme seus conhecimentos em coisas práticas. Numa doença aguda, como pneumonia, apenas a intervenção psicossocial através de uma equipe multidisciplinar, facilite a aceitação do diabetes e possibilite a transformação dos conhecimentos teóricos em coisas práticas do dia a dia. A simpatia e a empatia (quer dizer, compreensão) da equipe de saúde, traduzidas pelo atendimento agradável, comunicação amigável, freqüentes visitas e um relacionamento positivo, promovem mais facilmente a adesão do paciente ao tratamento. Dois autores americanos (Watkins e Williams) mostram que a adesão ao tratamento se dá melhor entre aqueles que gostam dos profissionais que os atendem. Esperas demoradas, informações erradas, falta de atenção, promessas nãocumpridas, o sentimento de estar sendo enganado e explicações imprecisas bloqueiam a cooperação do paciente. Uma forma efetiva de começar uma nova maneira de viver, ou modificar a já existente, é a de desenvolver um programa terapêutico de acordo com todos os membros da equipe, incluído o paciente. Eis aqui a sugestão de um programa: - Identificar as necessidades, recursos e metas do paciente e dos profissionais da equipe de saúde. - Determinar quais as mudanças do ambiente do paciente que são mais importantes, e escolher uma mudança de cada vez. - Desenvolver um programa em conjunto. - Assegurar-se de que o paciente entende as regras e responsabilidades a serem assumidas. - Certificar-se de que o paciente tenha a habilidade, o conhecimento e os meios necessários. - Introduzir a disciplina terapêutica na disciplina diária do paciente. - Iniciado o programa, favorecer oportunidades para comunicação entre os diabéticos e fornecer suporte permanente. - Dar apoio e elogiar prontamente, sempre que a cooperação for conseguida. - Tão logo o paciente alcance os objetivos programados, adicionar mais tarefas, inclusive, em certos casos, a de ajudar por telefone ou até mesmo por visitações domiciliares aos diabéticos que estejam precisando de mais apoio. Na experiência do Dr. Etzwiller, de Minesotta, EUA, a cooperação dos pacientes pode ser significativamente aumentada através de contratos. Assim os testes de automonitorização, quer o da 309 glicose na urina quer o exame da glicemia capilar com fitas, são ensinados; o número de vezes em que eles devem ser realizados é negociado, pedindo-se que eles enviem os resultados pelo correio a cada duas semanas. Foi observado que apenas 20% dos diabéticos que aceitaram este contrato verbal cooperam, enquanto que 60% dos que assinaram contrato mantiveram-se colaboradores. O programa terapêutico foi ainda melhor realizado quando, além de assinarem um contrato, um profissional da equipe telefonou duas vezes no período de duas semanas. Finalmente, oferecendo-se um prêmio financeiro, a cooperação aumentou para 88%. Como lembrete, a negociação através de um contrato escrito formal, a inclusão de um sistema de suporte amigável e a promessa de um prêmio aumentam tremendamente a adesão e a motivação do paciente de cooperar em seu tratamento. Nos paises desenvolvidos, diversos trabalhos vêm mostrados que programas de educação de diabéticos, quer em regime de internação, quer em regime ambulatorial, levam à considerável economia, diminuindo o número de internações por complicações entre os participantes de tais programas, de tal modo que as companhias de segura de saúde (como por exemplo Blue Cross, a Medicaid, citando apenas os Estados Unidos), aceitaram pagar as despesas de tais programas, que ficam em torno de US$ 300,00 (trezentos dólares) por pessoa/ano, contra uma economia média de US$ 2.300,00 (dois mil e trezentos dólares) por paciente/ano que dispensaram internações freqüentes (como antes do programa). Assim, os diabéticos devem se unir em torno de suas associações, e unidos demonstrarem sua força, colaborando na elaboração de programas, voluntariando-se para dar assistência aos que estão necessitando, seja na forma de telefonemas, seja por visitações domiciliares, prontificando-se a ajudar, a tirar dúvidas e dar apoio. Se os diabéticos do Brasil se unirem, conseguirão ume forte expressão política (7,8% da população + familiares + conhecidos = 30% da população), que poderá pressionar o governo a decretar leis e medidas que favoreçam tais programas e que forneçam medicamentos para os diabéticos carentes. Lembrar que os diabéticos de Bangladesh, país mais pobre do que o Brasil, conseguiram um Centro de Diabetes excelente, dotado de recursos que vêm de um percentual mensal do jogo semelhante ao nosso jogo da Sena. Este e outros recursos foram conseguidos pela união dos diabéticos de lá, que ganharam expressão política para conseguir realizar seus intentos. 310 Oliveira RF / Diabetes Clínica 04 (2000) 231–234 Se eles conseguiram, vamos também tentar. Esperamos que em um futuro próximo, os diabéticos brasileiros possam dispor de diversos centros educacionais que lhes dêem apoio, suporte e meios para ajudar os mais carentes. Dessa forma a maioria das complicações poderá ser evitada. Se houver uma Central de diabetes que unifique e coordene este trabalho em todo o território nacional, certamente realizaremos nosso sonho diabético ! Atualmente, a FENAD (Federação Nacional das Associações de Diabéticos) está tentando fazer isso, com resultados iniciais promissores, no ano de 2000. FICHA PRÁTICA Diabetes Clínica 03 Ficha Prática / Diabetes Clínica Associações de Diabéticos e entidades filiadas à FENAD* Médicos e outros especialistas membros da SBD** * FENAD - Federação Nacional das Associações de Diabéticos, ** SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes MINAS GERAIS (Belo Horizonte) ✃ Associações Federação das Associações de Diabéticos do Estado de Minas Gerais FEADMIG Presidente: Osmar Antonio de Barros Sociedade de Diabetes de Minas Gerais Presidente: Irmã Pires de Oliveira Associação dos Diabéticos e Hipertensos de Ibirité ADHI Presidente: José Carlos Batista Associação dos Diabéticos de Santa Luzia ASSODISANTA Presidente: Terezinha Daria Soares Associação dos Diabéticos de Caeté ASSODICAE Presidente: Paulo Vitor da Silva Associação dos Diabéticos de Ipatinga ASSODIPA Presidente: Suely Maria E. Neves Associação dos Diabéticos de Ouro Preto ASSODIOP Presidente: Déscio França Associação Divinopolitana de Diabéticos e Amigos ADDA Presidente: Reinaldo Antonio C. Dias Associação dos Diabéticos de Cláudio Presidente: Moacir Souza Oliveira Associação dos Diabéticos e Amigos de Monsenhor João Alexandre Presidente: Natália Maria de Morais Associação dos Diabéticos de Formiga ASSODIFOR Presidente: Paulo J. de Oliveira Associação de Diabetes de Luz e Cidades Vizinhas Presidente: Darci da Silva Associação dos Diabéticos de Poméu ASSODIPOM Presidente: Arnaldo Costa Associação Setelagoana dos Diabéticos Associação de Diabéticos de Paraopeba e Caetanópolis Presidente: Marcelo Palhares Associação dos Diabéticos de Curvelo ASSODIC Leo Clube Jornada João Monlevade Presidente: Sérgio Moura Martins Associação de Diabéticos de Juiz de Fora Presidente: Ana Chatuni P. Curi Associação dos Diabéticos de Barbacena Presidente: Dager Moreira Rocha Associação de Diabéticos de Itabira Presidente: Liliane Chevtchouk Associação de Diabéticos de Carangola Presidente: Sueli Alvin Botelho Associação dos Diabéticos de Alfenas Associação dos Diabéticos de Três Corações ASSODITRI Presidente: Maria Oneida R de Lellis Associação dos Diabéticos de Caxambu Presidente: Francisca Isabel Ferreira Associação dos Diabéticos do Sul Mineiro ASMAD Presidente: Sérgi Garcia Associação de Hipertensos e Diabéticos de Santa Juliana Presidente: Adauto Roberto de Almeida Associação de Diabéticos de Ituitaba e Pontal Presidente: José Alfredo C. Günenes Clube dos Diabéticos de Diamantina CDD Presidente: Moacir Melo Médicos e especialistas em diabetes Abnerval Nogueira da Costa Adelaide Andrade Rodrigues Adriane C. Borges de Paula (Contagem) Adriano Fonseca Damião (Ituiutaba) Adriano Pinheiro de Lemos Masson (Poços de Caldas) Agma Loezina Viana Souza Alberto Aloysio L de Almeida (Juiz de Fora) Alberto Kazuo Fuzikawa Alice Amaral (Juiz de Fora) Aloysio José Cardoso Neves (Ipatinga) Alzira Milda Mendes da Cunha (Uberlândia) Ana Carla Santiago Peret de Carvalho (Mariana) Ana Chartui Teixeira Cury (Juiz de Fora) Ana Maria Leite Barbosa (Uberaba) Andreia Maria R Alonso Anelise Impelizieri Nogueira Angela Cristina Menegato Miranda (Três Pontas) Angela Mendes Rezende (Uberlândia) Antonio Carlos S Gomes (Varginha) Antonio Carlos Silvestre (Nova Lima) Antonio Célio da Fonseca (Varginha) Antonio Claret de Almeida Antonio Leal Filho (Governador Valadares) Antonio Luiz Gonzaga (Juiz de Fora) Antonio Ribeiro Junior Antonio Sérgio Arruda Lana Antonio Vieira Gabriel Aparecida Emilia Embroisi (Juiz de Fora) Arnaldo Luiz Larcher Almeida (Juiz de Fora) Arnaldo Schainberg Ayres Dumont de Paiva Borges (Araxá) Benjamin Sacchetto Moss Beraldo Luiz Murad Soares (Cachoeira de Minas) Carla Moreira Launa (Juiz de Fora) Carlos Alberto Mourão Junior (Juiz de Fora) Carlos Magno de Freitas (Contagem) Carlos Ronaldo Oliveira Correa Carmen Alice Coelho Rezende (Pouso Alegre) Célia Maria Novaes Pereira (Juiz de Fora) Celia Maria Stroppa (Juiz de Fora) Célia Rita Souza Sabatini Celso Melo dos Santos Cíntia Costa Arruda Oliveira (Divinópolis) Cira Maria Carvalho Bastos (Itabira) Claudio Fontes de Alvarenga (Itabira) Claudio Rogério M. Quintão (Muriaé) Cristiane Maria Mendes Ferreira (Montes Claros) Cristiane Monteiro Carvalho Cynthia Martins Judice Dager Moreira Rocha (Juiz de Fora) Danielle Guedes Andrade (Juiz de Fora) Danielle Theodoro Maia Delfino Simões Ferreira (Governador Valadares) Denise Maria R. Teixeira Dulcineia Ribeiro (Arcos) Edgar Gomes Seabra (Uberaba) Edna Hellena Sa Fortes Pinto (Barbacena) Eduardo Franco (Uberlândia) Eduardo Pazelli dos Santos (Divinópolis) Eduardo Pimentel Dias Eduardo Ribeiro Mundim Eliana Cohen Persiane Eliane Maria Ferreira Elisinara Araújo Borges (Itabira) Elizabeth Rosaria de Miranda Elma P. T. Chachid Eneida Guimarães dos Santos Enius Marcus Diniz Guimarães (Divinópolis) Enos Capistrano Lorentz (Teófilo Otoni) Ernestina Maria Muzzi Machado Ficha Prática / Diabetes Clínica Ernesto Maria de Pinho (Sabinópolis) Euclides Vieira da Silveira (Alfenas) Eugenia Veronica H. Orchard Euler Wagner Ribeiro (Abaeté) Expedito Martins Chumbinho (Betim) Fernanda Oliveira Magalhães de Menezes (Uberaba) Fernando J. Mascarenhas F. Jr. Francisco de Paula R. Botrel (Três Pontas) Geraldo Antônio Santana Geraldo Magela Andrade do Amaral (Pouso Alegre) Geraldo Magela S. Siqueira (Itajubá) Gilberto Kirshner Mattar (Passos) Gilson Capanema de Almeida Gilson José de Oliveira (Juiz de Fora) Graciana Guerra David (Montes Claros) Gustavo Castilho de Rezende Helio Bachim (Poços de Caldas) Heloisa Arantes Porto Doca (Uberlândia) Heloisa Helena O. Figueiredo Heloisa Lanha M. Bonfante (Juiz de Fora) Henrique Aurelio Costa Zuba (Montes Claros) Herminia Mattar M de Alvarenga (Lavras) Ibrahim Carone Rachid Ivaldo Alves Resende Ivana M. Netto Victória Ivone Maria M. Salomon Jader Pereira Resende (Sete Lagoas) Jaime José da Silva Junior (Uberaba) Jamil Altaf Filho (Juiz de Fora) Jandira Angela Reis Moraes Jane Reis de Carvalho João Bosco Vieira Duarte João Carlos de Melo Luz (Uberlândia) João Eugenio do Prado Neto (Varginha) João Leiva Bernardes João Marcos de Pádua (Lavras) José Ailton Analio Dias José Balieiro (Nova Lima) José Carlos Albinos Dias José Diogo Martins José Francisco Azevedo (Uberlândia) José Jacinto Araujo Martins (Governador Valadares) José Leonardo Vasconcelos (Divinópolis) José Lourenco de Castro José Maria Veiga Azzi (Piumhi) José Masci Laponez Maia José Roberto Tdos Santos (Juiz de Fora) Josefina Bressan R Monteiro (Viçosa) Joselia Cintya Quintão Pena Frade (João Monlevade) Julia Maria Antunes Botelho Juliano Pinheiro Lopes Junia Maria de Oliveira Cordeiro Jussara C. Pereira (Cataguases) Jussara Magalhães V. Silva (Pouso Alegre) Kátia Marin Rezende (Uberaba) Lecy Mirian Silva (Itajubá) Leda Maria Tavares Leila Advincula Abreu Leonardo Mauricio Diniz Leonardo Oliveira de Almeida (Ipatinga) Levimar Rocha Araújo Levy Coelho Rocha Neto Ligia Loiola Liliane Chevtchouk (Barbacena) Lizeth Mendonça Claret Lucia Bernadete Nielsen T Goualart (Alfenas) Luis Gonzaga Valarini (Esmeraldas) Luiz Antonio Sette E. Câmara Mara Yamar N. C. Silveira (Montes Claros) Marcelo de Oliveira Palhares (Curvelo) Marcia Porto Pimenta Marcia Ramalho Santos (Teófilo Otoni) Marcio Bacarine Viegas (São João Del Rei) Marcos de Carvalho (Uberaba) Marcus Fernandino Maria Aparecida Enes de Barros (Uberaba) Maria Aparecida Moreira Cosso Maria Aparecida S. Braga dos Santos (Betim) Maria Carmen M. Vasconcelos Maria Clara Pimentel Maciel Maria Conceição M. Cruz Maria Cristina Ferreira Drummond Maria Cristina Souza Teixeira (Realeza) Maria da Glória Vieira Kohler Maria de Fatima Abdala (Pouso Alegre) Maria de Fátima Borges (Uberaba) Maria de Fátima F. de Campo Maria de Fátima Kallas R. Gaspar Maria Elaine da Silva Maria Eterna Vasconcelos Maria Helena Marques (Juiz de Fora) Maria José Aun de Oliveira Maria José G. Mansur (Montes Claros) Maria José O. J. O. Sierio Maria Luiza de Oliveira Jabur Maria Luiza M. Pereira (Uberlândia) Maria Sarkis Soares Marialba d’Angelo Mariana A. Nabuco Silvestre Marília Alvares de Andrade Marina Pimenta Carreiro Marina Terezinha R. da Silva Mariza Helena de Figueiredo Mariza Miranda Abi-Ackel Marli Augusta C. Oliveira Mássimo Elzévio A.E. Pinto Mauro Ivan Salgado Mirna I. Carrara Matsuura (Unaí) Mônica Barros Costa (Juiz de Fora) Mônica Tosta de Lima (Três Corações) Munir Sallum (Uberaba) Natercio de Moraes Jr. (Araguari) Neide Borges de Lima Felix (Uberaba) Neila Fatima C. Fasciani (Caeté) Nilda Imaculada Carvalho Nilma Carvalho Vasconcelos Olga Maria Grincenkov Silva (Muriaé) Pablino Duarte Paredes (Juiz de Fora) Paulo Aparecido Amaral Seches (Itajubá) Paulo Cesar Tedesco Raposo Paulo Dias do Nascimento Paulo Eduardo Araújo Camargo Paulo Fernando de Carvalho Araújo Paulo Fernando Otaviano Meira Paulo Roberto Lima Gomes Paulo Rolando Ferreira de Melo Pompeia Maria Cotta Palhares (Curvelo) Rachel Paule Mayer Regina Aparecida Franco (Três Corações) Regina Célia Borges S. Freitas (Uberaba) Regina da Costa Val Regino Marques da Costa (Juiz de Fora) Ricardo C. Batista da Silva (S. S. Paraíso) Ricardo Coutinho N Silva (Machado) Ricardo Magalhães Campos (Alfenas) Ricardo Marcio de Oliveira Lima (Itaúna) Roberto Mundin Pena Rodrigo F de Castro Rogério Nascimento Romero Borges Netto Rosa Maria A Marques Rosângela Maria de Almeida (Juiz de Fora) Rosilene Silva Araújo Ruy Grossi Saad Jr. Samara Nunes de Oliveira Samir Haddad (Lavras) Sandra Regina Xavier (Uberlândia) Sara P. C. Rubinstein Saulo Purischi Selma Maria Vieira Rocha (Conselheiro Lafaiete) Sibelle Comarella Salles Silvana Maria Leite Coelho Fava (Alfenas) Silvia Gontijo Modenesi Simone Correia Fonseca Simone Silva Paulino Castro (Mariana) Sonia Machado Dias Suelen Cordeiro (Asunção) Suzan Cristina de Lacerda Mendonça (Uberlândia) Telma Olinda Dantas Ranier Tomaz Aquino Cordeiro Valéria Machado de Almeida (Juiz de Fora) Valeska Juracy S.C. Matta Machado (Betim) Vera Cristina A Magalhães Vera Lúcia de Souza Mota (Juiz de Fora) Victor C. Pardini Victor Coronho Victor Euripedes Barbosa Walter dos Reis Caixeta Braga William Cardoso de Miranda (Campo Belo) Willian Pardi (Uberaba) Willian Pedrosa de Lima Wilton Balbi Filho (Ubá) Yamil Rojas Liranza (Três Pontas) Yara Attademo G. P. Moreira (Barbacena) Yeda Passos Costa ✃ RECOMENDAÇÕES DE NUTRIÇÃO PARA DIABÉTICOS Ficha Prática / Diabetes Clínica American Diabetes Association Todos os portadores de diabetes devem consultar um nutricionista especialista em diabetes para informar-se sobre os princípios básicos de nutrição. Princípios dietéticos A- Calorias 1 - Quantidade necessária para alcançar/manter peso razoável, crescimento e desenvolvimento normais em crianças e adolescentes, e para as aumentadas necessidades da gravidez, lactação ou fase de recuperação após doença catabólica. 2 - O objetivo é alcançar 90-120% do peso corporal ideal. 3 - Pode necessitar uma perda de peso de 5 a 9 kg para melhorar o controle da glicemia. 4 - Mínimo de 1.200 kcal/dia para mulheres e 1.500 kcal/dia para homens. B - Planejamento individualizado das refeições 1 - Proteínas: 10-20% das calorias diárias totais (aproximadamente 10% para os pacientes com nefropatia). 2 - Gordura: quantidade definida em função do plano de nutrição e dos objetivos do tratamento para glicose, lipídeos e peso. a - Gorduras saturadas: 10% das calorias. b - Colesterol: 300 mg/dia. 3 - Carboidratos a - Percentagem de calorias que ficam após determinação das necessidades de proteínas e gorduras. b - O açúcar é aceitável em quantidade moderada e como parte da quantidade total de carboidratos; não deve ser usado fora das refeições. 4 - Sódio a - Entre 2,4 e 3 g/dia para as pessoas sem hipertensão arterial. b - ≤ 2,4 g/dia para as pessoas com hipertensão leve a moderada. 5 - Fibras : aproximadamente 20-35 g/dia a partir de várias fontes. ✃ C - Álcool 1 - O consumo de bebidas alcoólicas é possível se o diabetes é bem controlada e só em quantidade moderada (1 ou 2 bebidas/dia). 2 - Pode provocar hipoglicemia quando ingerido com estomago vazio; o risco aumenta se o tratamento comporta insulina ou sulfonilúreias. 3 - Não beber álcool depois exercício pesado. 4 - Nunca beber sozinho. 5 - Não beber ou diminuir o consumo se os triglicerídeos são elevados. 6 - Usar misturas sem açúcar. 7 - Calcular o álcool no plano de refeições como calorias gordurosas (7 cal/g). As bebidas seguintes podem ser substituídos no cálculo por quantidades de gordura (1 bebida alcoólica = 2 quantidades de gordura): a - 1,5 oz. álcool destilado. b - 5 oz. vinho (um copo). c - 12 oz. cerveja leve (uma lata). Princípios de planejamento das refeições Vários métodos podem ser usados para alcançar um ótimo controle do peso e da glicemia. Todos os métodos são baseados no balanceamento da ingestão alimentar, incluídas rotinas de horários de refeições (geralmente 5 ou 6 pequenas refeições/dia). Ao início, o uso de protocolos alimentares faz parte da rotina diária. A - Recomendações básicas de nutrição, pirâmide alimentar: guia geral de que pode e em qual quantidade comer para conseguir uma dieta saudável. B - Cálculo de calorias: Calcular a densidade calórica dos alimentos; usar um livro de referências calóricas; conservar os diários alimentares e os cálculos calóricos (não é recomendado fazer os cálculos sem especialista quando o tratamento comporta insulina). C - Sistema de ponto calórico: 1 ponto calórico equivale a 75 calorias; estabelecer um nível aceitável de pontos calóricos; dividir os pontos entre refeições e lanches. D - Cálculo dos gramas de gordura: Estabelecer um limite diário de gordura; calcular os gramas de gordura consumidos durante refeições e lanches; pode ser utilizado junto com outro método de planejamento alimentar. E - Escolha de alimentos dietéticos: princípios básicos para escolher alimentos saudáveis (para ingerir menos gordura, sal, açúcar) e listas simplificadas de equivalências podem ser utilizados para ter uma idéia geral de que e quando se pode comer. F - Listas de equivalência para planejamento alimentar: utilizadas para definir planos individualizados de refeições, especificando a quantidade de cada grupo alimentar podendo ser ingerida a cada refeição ou lanche; cada lista inclui um grupo de alimentos calculados com aproximadamente o mesmo valor nutricional. G- Cálculo de carboidratos: usado para melhorar o controle da glicose em pacientes com insulina; pode também ser usado para pacientes tratados com antidiabéticos orais ou com dieta. Os pacientes são encorajados a definir um plano alimentar saudável. Quando tratados com insulina, eles ajustam a dose pré-prandial de insulina regular/Humalog baseando-se sobre a medida da glicose sanguínea e a quantidade de carboidratos a ser ingerida durante a refeição. Diabetes Clínica 315 Calendário de eventos SETEMBRO DE 2000 OUTUBRO DE 2000 8 a 10 de setembro International Symposium on Information Technology and Diabetes 3 a 6 de outubro 5th International Conference on Diabetes and Indigenous Peoples Rochester, Minnesota Informações: Mayo school of Continuing Medical Education, 200 First Street S.W. Rochester, MN 55905 Tel: 800 323 2688 Fax: 507 284 0532 E-mail: [email protected] Christchurch, New Zealand Tel: +64 3 382 2430 Fax: +64 3 364 0149 E-mail: [email protected] 14 a 16 de setembro International Symposium on Non-Enzymatic Glycation and Oxidative Stress in Diabetes mellitus Prague, Czech Republic Tel: +420 229 7271, 24 91 51 95 Fax: +420 229 46 10 E-Mail: [email protected] 17 a 21 de setembro 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes Jerusalem Informações: EASD 2000 Secretariat POB 50006, Tel Aviv 61500 Israel Tel: +972 3 514-0018 Fax +972 3 517 5674 E-mail: [email protected] 28 de setembro a 1º de outubro 5º Congresso Brasileiro de Nutrologia 1º Congresso de Nutrologia do Cone Sul 2º Jornada Gaúcha de Nutrologia Gramado - RS Presidente: Dr. Paulo Henkin Informações: PRIX Eventos estratégicos Tel/Fax: (51) 333-1262 / 0800 512-2399 E-mail: [email protected] 04 a 06 de outubro I Congresso Amazônico de Endocrinologia e Diabetes Belém - PA Informações: SBEM Pará e Delegacia Regional da SBD/PA Tel: (91) 223 5443/ 236 2000 5 a 8 de outubro 23º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte Centro de Convenções Rebouças Rua Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 23 - São Paulo Tel: (41) 229-8980/9643 E-mail: [email protected] Visite Programa Agita São Paulo www.agitasp.com.br 6 de outubro 1ª Reunião Científica do Departamento de Cardiologia Clínica Sociedade Brasileira de Cardiologia Presidente: Dr. Dikran Armaganijan Diretor científico: Dr. Marco Aurélio Dias da Silva Informações: Tel.: (62) 241-4214 Fax: (62) 225-5691 e-mail: [email protected] 6 e 7 de outubro 1º curso sobre o Pé Insensível - O Pé Diabético Anfiteatro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Rua São Sebastião, 650 - Brooklin - São Paulo Coordenador do curso: Nelson Astur Filho Tel: (11) 282-2518 316 Diabetes Clínica 29 de outubro a 3 de novembro ICE’2000 - 11th Internation Congress of Endocrinology Local: Sidney, Austrália home page: http://www.icmsaust.com.au/ice2000 Informações: ICE 2000 Sidney Congress Secretariat - ICMS Australasia Pty Ltd - Gpo 2609, Sidney NSW 2001 Tel.: +61 2 9241-1478, fax: +61 2 9251-3552 E-mail: [email protected] NOVEMBRO DE 2000 5 a 10 de novembro 17th International Diabetes Federation Congress Cidade do México, México Informações: Keith Richardson, Congress Secretariat, Congress World, Blenheim House, 120 Church Street, Brighton BN1 1WH, United Kingdom Tel: +44 1273 647030 Fax: +44 1273 570632 Site: www.idf2000.com E-mail: [email protected] 11 a 15 de novembro XI Congresso ALAD - Asociación latinoamericana de Diabetes III Congresso Uruguaio de Diabetologia Punta del Este, Uruguai - Conrad Resort & Casino Informações: personas SRL, Av. 8 de Octubre 2323/305, Montevideo, Uruguai Tel/fax: 5982 408 1015/408 2951 E-mail: [email protected] 18 a 23 de novembro 24º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia 29º Encontro Anual do IEDE Rio Centro, Rio de Janeiro RJ Informações JZ Congressos Tel: (21) 286-2846, fax: (21) 539-1299 E-mail: [email protected] Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS Índice (vol. 4 nº 5 - 2000) EDITORIAL Dia Mundial do Diabetes: Diabetes e estilo de vida no novo milênio, Fadlo Fraige Filho ....................... 319 INFORMES DO DIABETES NO MUNDO .......................................................................................... 321 O DIABETES NA IMPRENSA .............................................................................................................. 331 AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ........................................................................... 333 PRODUTOS E NOVIDADES Neuropen, Siligel, D-Tron, sistema de infusão Disetronic ........................................................................ 338 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ............................................................................... 340 ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 - Recomendações para a prática médica: Dislipidemia em adultos com diabetes ..................................................................................................... Tratamento preventivo do pé diabético ...................................................................................................... 344 350 ARTIGOS CIENTÍFICOS Estratégias atuais de tratamento do paciente diabético obeso, Luiz Alberto A . Turatti, Alfredo Halpern 354 Tratamento das dislipidemias em diabéticos, Marcos R. A. C. Barros, Uelra Rita Lourenço, André Arpad Faludi, Marcelo Chiara Bertolami ............................................................................................................ 360 Atividade física: Quanto e como fazer para a prevenção e controle do Diabetes Mellitus tipo 2, Mario Bracco, Timóteo Araújo, Victor Matsudo, Sandra Matsudo, Douglas Andrade, Erinaldo Andrade, Aylton Figueira Jr., Luís Carlos Oliveira, Gláucia Braggion, Nádia Rocha ........................................................ 368 Avaliação, prevenção e intervenção no “Pé em Risco”, Vera Ligia C. Lellis ............................................ 371 Terapia nutricional para a gestação complicada pelo diabetes, Rosely Roque de Lima ............................ 376 Histórico do diabetes em medicina tradicional chinesa, Robson Campos Gutierre .................................. 381 FICHAS PRÁTICAS Associações e especialistas em diabetes (Rio de Janeiro) ......................................................................... Exercício e diabetes, American Diabetes Association ............................................................................... 383 385 CALENDÁRIO DE EVENTOS .............................................................................................................. 387 Diabetes Clínica JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS (Sucessor de Diabetes&Metabolism, edição brasileira) Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúrbios associados. Para os profissionais e associações Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico e o conselho consultivo reunindo profissionais da FENAD, ANAD e demais entidades filiadas. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes. Diabetes Clínica Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho, presidente da FENAD e ANAD, Professor Titular de Endocrinologia Faculdade de Medicina ABC Coordenação: Educadora Lilian Fanny de Castilho Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin, faculdade de Medicina de Lyon (França) Administração: Claudiane Benavenuto Conselho Consultivo Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) Dr. Adolpho Milech (RJ) Dr. Airton Golbert (RS) Dra. Alcina Vinhais (BA) Dra. Ana Míriam G. Carboni (SP) Dr. Antônio Carlos Lerário (SP) Dr. Arual Augusto da Costa (SP) Dr. Balduíno Tschiedel (RS) Nutricionista Celeste Elvira Viggiano (SP) Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Dr. Edgard d’Ávila Niclewicz (PR) Dr. Freddy Goldbert Eliaschewitz (SP) Dra. Geisa Macedo (PE) Dra. Hermelinda Pedrosa (DF) Dr. João Roberto de Sá (SP) Dr. José Egídio Paulo de Oliveira (RJ) Dr. Leão Zagury (RJ) Dr. Marcos Tambascia (SP) Enfermeria Mônica Antar Gamba (SP) Dr. Nelson Rassi (GO) Dr. Orsine Valente (SP) Enfermeira Paula Pascali (SP) Dra. Reine Marie Chaves (BA) Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Dr. Sérgio Atala Dib (SP) [email protected] ATLANTICA EDITORA Marketing Maurício Galvão Costa Anderson ATMC - Avenida São João, 56 sala 7 12940-000 Atibaia SP tel/fax: (11) 4411-7629 cel: (11) 9219-0570 [email protected] Apoios IDF - SACA : International Diabetes Federation South America Central América FENAD : Federação Nacional de Associações de Diabéticos ANAD : Associação Nacional de Assistência ao Diabético COREN-SP : Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo Redação Jean-Louis Peytavin Rua General Glicério, 71/304 22245-120 Rio de Janeiro - RJ tel/fax: (21) 557-7304 [email protected] Federação Nacional de Associações de Diabéticos (FENAD) Associação Nacional de Assistência ao Diabético (ANAD) Rua Eça de Queiroz, 198 04011- 031 São Paulo - SP tel: (11) 5572-6559 fax: (11) 5549-6704 http://www.anad.org.br ISSN 1517-6428 © ATMC - Atlântica Editora Ltda Assinatura 6 números ao ano + 1 CD-ROM R$ 60,00 www.atlanticaeditora.com.br/assinaturas I.P. (Informação publicitária) As informações são de responsabilidade dos anunciantes Copyright © ATMC – Atlantica Editora Ltda Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Em razão do avanço rápido das ciências médicas, o Editor recomenda que uma verificação independente do diagnóstico e doses dos medicamentos seja realizada. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética médica, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Diabetes Clínica Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas EDITORIAL Dia Mundial do Diabetes: Diabetes e estilo de vida no novo milênio Fadlo Fraige Filho E Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, Coordenador - Editor Científico de Diabetes Clínica m 1991 foi instituído pela primeira vez o Dia Mundial do Diabetes, que se comemora no dia 14 de novembro em 124 países sob os auspícios da IDF (International Diabetes Federation) e da WHO (Organização Mundial da Saúde), com a finalidade de promover ações que visam a melhoria na qualidade de vida e atendimento aos portadores da doença. Com a diminuição das doenças infecciosas contagiosas pelo avanço da medicina, vão restando as doenças crônicas, e delas, a principal, o diabetes. O aumento de expectativa de vida e o envelhecimento da população mundial, o estilo de vida cada vez mais sedentário diretamente proporcional ao desenvolvimento tecnológico, maior disponibilidade de alimentos e o erro na alimentação (principalmente nos países desenvolvidos), têm levado a um aumento epidêmico neste final de século. A projeção sombria para os próximos 25 anos é de que dobrem os 150 milhões de portadores de diabetes hoje existentes. Este ano a IDF escolheu como tema “Diabetes e estilo de vida no novo milênio”, chamando a atenção aos portadores e profissionais para medidas positivas para prevenção da doença e de suas complicações. A IDF destaca uma mensagem importante aos portadores de diabetes: “Sua Saúde Está Em Suas Mãos” e incentiva a agir para se obter uma “Vida Saudável” baseando em quatro pontos: 1) 2) 3) 4) dieta equilibrada; exercícios físicos; consultar o médico periodicamente e se autocontrolar; ter vida social. Por volta do Dia Mundial estamos coordenando atividades da FENAD, com o apoio de toda a estrutura da ANAD, e de seus funcionários, a “3ª Campanha Mundial Gratuita em Diabetes, de Detecção, Orientação, Educação e Prevenção das Complicações”, que estará sendo desenvolvida em 312 cidades em 21 estados da federação. Estão oficialmente engajadas na Campanha 400 Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais, bem como 300 Associações, Ligas, Núcleos e Centros de Diabetes. Mais uma vez damos exemplo de como uma ONG pode fazer muito pela Saúde na parceria da comunidade com os órgãos governamentais, em três anos consecutivos de nossa gestão na presidência da FENAD. 320 Continuação Diabetes Clínica 04 (2000) Estas campanhas e ações de diabetes começaram há cerca de 40 anos, com o início do movimento das Associações de Diabéticos em todo país, e vemos com muita felicidade que as sementes plantadas e nosso trabalho, frutificaram em despertar o “Gigante Brasileiro” para a magnitude do problema do diabetes, e que no próximo ano a parceria da FENAD com Ministério da Saúde e SBD dará início a “O Plano de Reestruturação no Atendimento aos Portadores de Diabetes”. Nesta edição da “Diabetes Clinica” também estamos apresentando novidades trazidas do Congresso de San Antonio-EUA – ADA (American Diabetes Association) e do Congresso de Jerusalém da EASD (European Association for the Study of Diabetes), novos trabalhos e resumos bem como novidades e produtos. Propositadamente estamos privilegiando o importante assunto sobre diabetes, a dislipidemia, que cada vez toma mais importância se considera a principal causa de óbitos em diabetes: doença cardiovascular presente em 75% dos atestados de óbito dos portadores de Diabetes. Trazemos as recomendações da ADA, e também trabalhos de colegas brasileiros que se dedicam ao assunto. Mais uma vez esperamos poder contribuir com a atualização rápida e extensa aos colegas da diabetologia, de uma forma atrativa, fácil e moderna que caracteriza a Diabetes Clínica. Ao Leitor Solicito ao prezado leitor emitir sua opinião sobre o trabalho desenvolvido nesta revista, fazendo as sugestões, as críticas e as observações que julgar necessárias. Sua opinião é muito importante para o aprimoramento e o futuro de nossa revista. Gostaríamos de receber suas idéias sobre a apresentação dos artigos e resumos, as notícias escolhidas, e também sobre os assuntos que devem ser priorizados na revista bem como no site Internet da revista. Esperamos suas sugestões e propostas em nosso e-mail: [email protected] Atenciosamente Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho Errata - Vol 4 nº 4 página 291: O resumo do artigo “Transplante de ilhotas: situação atual” pertence ao artigo “Presença de insulina em plantas”, publicado pg. 283. Por erro de diagramação este resumo foi repetido duas vezes. Endereçamos todas nossas desculpas aos autores dos artigos referidos, em particular ao Prof. Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz Diabetes Clínica 04 (2000) 321 Informes do Diabetes no Mundo Annals of Internal Medicine, 17 de outubro de 2000 Diabetes, outubro de 2000 Hepatite C aumenta risco de diabetes As pessoas com 40 anos de idade ou mais infectadas com hepatite C têm mais que o triplo de risco de desenvolver diabetes tipo 2, que geralmente ocorre em adultos. Quase 3 milhões de norte-americanos têm hepatite C crônica, uma infecção viral hepática que pode causar cirrose e câncer de fígado e constitui-se hoje na principal causa de transplante de fígado nos Estados Unidos. Em novo estudo, a equipe de Shruti Mehta, da Johns Hopkins University, em Baltimore (Maryland), acompanhou mais de 9.800 adultos. Mais de 8% dos participantes do estudo tinham diabetes tipo 2 e cerca de 2% eram portadores de infecção pelo vírus da hepatite C (HCV). A incidência do diabetes tipo 2 foi notavelmente mais alta no grupo HCV positivo que no grupo HCV negativo, exceto em pessoas com menos de 40 anos de idade. No grupo entre 40 e 49 anos de idade, as pessoas infectadas por HCV foram 3,1 vezes mais propensas a ter diabetes tipo 2 que as demais. Estudos anteriores tinham associado o HCV ao diabetes, mas apenas em pessoas com doença hepática grave. Os resultados confirmam que o diabetes tipo 2 ocorre em taxas mais altas mesmo entre pacientes com formas mais brandas de infecção por HCV. Leite de vaca pode aumentar risco de diabetes em criança De acordo com uma pesquisa publicada na edição de outubro de Diabetes, a exposição precoce ao leite de vaca pode aumentar o risco de desenvolver diabete ao longo da vida em crianças sob alto risco. Pesquisas anteriores demonstraram que a exposição ao leite de vaca faz com que o organismo produza uma resposta imunológica à insulina em algumas crianças, mas a relação foi refutada por pelo menos um estudo. O diabetes do tipo 1 pode ser caracterizado como uma resposta “auto-imune” em que o sistema de defesa do organismo ataca células no pâncreas que produzem insulina. Johanna Paronen, da Universidade de Helsinque, na Finlândia, e sua equipe estudaram crianças com parentes que tinham diabetes. As crianças foram alimentadas com uma fórmula baseada em leite de vaca ou com uma fórmula que não estava baseada em leite de vaca após a amamentação até a idade de 6 a 8 meses. Os pesquisadores afirmam que, aos 3 meses de idade, os bebês alimentados com leite de vaca apresentaram uma resposta imunológica significativamente maior à insulina de vaca do 322 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) que crianças que receberam a outra fórmula ou eram amamentados. Os grupos, no entanto, não apresentaram diferenças na reatividade à insulina humana nessa idade. Os pesquisadores concluem que, em algumas crianças predispostas, a exposição precoce ao leite de vaca pode desencadear uma reação imunológica à insulina. AM Diehl et al, Nature Medicine, setembro de 2000 W.A. Bauman et al, Diabetes Care 2000;23:1227-1231, setembro de 2000 Droga para diabetes pode tratar distúrbio comum de fígado Uma droga usada para tratar o diabetes tipo 2 pode ser efetiva contra um distúrbio comum de fígado, sugerem resultados de um estudo em ratos. Estima-se que 25 por cento dos adultos em países industrializados têm esteatose hepática (degeneração gordurosa de células hepáticas), um problema ligado à obesidade e marcado pelo acúmulo de gordura no fígado. As pessoas com diabetes tipo 2, geralmente desenvolvem o distúrbio no fígado. A metformina poderia ajudar a controlar o excesso de gordura no fígado. Conforme Diehl, o uso ou não de tratamento no caso de esteatose é polêmico, porque muitos clínicos consideram a doença benigna. Entretanto os médicos estão começando a mudar de opinião. Conforme Diehl, uma das razões para a mudança de opinião é que a esteatose parece ser o início de um espectro de doenças que incluem inflamação hepática e cirrose. A equipe de pesquisadores considerou a metformina como um possível tratamento para a esteatose hepática por sua ação em diabéticos. Para verificar se o aumento da sensibilidade à insulina pode ajudar no caso de fígados gordurosos, os pesquisadores usaram ratos portadores de uma mutação genética que os tornou obesos e resistentes à insulina. A equipe verificou que o tratamento com a droga reverteu a gordura depositada no fígado dos animais. A possibilidade de a droga fazer o mesmo em humanos aguarda testes clínicos. Cálcio reverte má absorção de vitamina B12 em pacientes tratados com metformina Níveis séricos baixos de vitamina B12 observados em diabéticos tipo 2 recebendo metformina podem ser compensados aumentando-se a ingestão de cálcio. O estudo monitorou os níveis da vitamina B12 sérica total e da forma biodisponível da vitamina B12, o holoTCII, em 21 pacientes com diabetes tipo 2. Todos os pacientes receberam inicialmente sulfonilúreia e 14 foram transferidos para a metformina. Durante o tratamento com a metformina, os pacientes desenvolveram uma acentuada redução de holoTCII sérico e vitamina B12 sérica total. Eles suspeitam que os efeitos da metformina tenham interferido na absorção ileal de cálcio da vitamina B12, levando aos níveis séricos reduzidos. Depois de 3 meses, todos os pacientes tratados com metformina começaram a tomar um suplemento oral de carbonato de cálcio. Isso reverteu parcialmente o efeito da metformina, aumentando os níveis de vitamina B12 biodisponível numa média de 53%. Entretanto, a suplementação não aumentou significativamente os níveis séricos totais de vitamina B12 durante esse período. Os autores recomendam que os pacientes diabéticos usando a metformina “devem ser estimulados a aumentar sua ingestão de cálcio, bem como ser rigorosamente monitorados quanto a uma deficiência de vitamina B12.” Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) Arnold von Eckardstein et al, Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism 2000;85:3101-3108, setembro de 2000 Rudolf Kaaks et al, Journal of the National Cancer Institute, 2000;92:1592-1600 4 de outubro de 2000 323 Taxa menor de glicose de jejum identifica o risco de diabetes A redução da taxa atualmente recomendada para a glicose de para 5,72 mmol/l ajuda a identificar um maior número de pacientes sob risco de diabetes e poderia ajudar a reduzir a discordância anteriormente relatada entre os critérios da American Diabetes Association (ADA) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o diagnóstico de diabetes. Devido aos diferentes requisitos para o diagnóstico de diabetes, os critérios da ADA para os testes de glicose de são menos sensíveis que os critérios de teste de tolerância à glicose propostos pela OMS. Os autores propõem um aprimoramento dos dois conjuntos de critérios que poderá ajudar a aliviar parte dessa controvérsia. A equipe examinou a associação entre a glicose sérica em jejum e o risco de desenvolvimento do diabetes numa coorte de 3.737 homens, com 36 a 60 anos de idade, que foram inscritos no estudo PROCAM (Prospective Cardiovascular Munster). Durante o estudo, 200 homens desenvolveram diabetes. A glicose de foi um indicador prognóstico mais poderoso do risco de diabetes que a estimativa de risco global que utiliza vários fatores de risco. Um nível de glicose de 5,72 mmol/l foi o critério o mais discriminatório. Esse nível é menor, mais sensível e específico que os níveis atualmente recomendados de glicose sérica em jejum. Por outro lado, os fatores de risco individuais para o diabetes, como idade, pressão arterial, colesterol, histórico familiar e IMC, ajudaram independentemente a identificar os pacientes pacientes pré-diabéticos. A elevação crônica dos níveis de insulina e IGF pode causar risco de câncer colo-retal O risco de câncer colo-retal pode ser aumentado por altos níveis crônicos de insulina circulante e fator de crescimento insulin-like (IGF) associados com um estilo de vida ocidental, possivelmente pela diminuição da proteína 1 de ligação do IGF e aumento da bioatividade de IGF-1. Os autores observam que “levando um estilo ocidental de vida, tendo peso acima do normal e sendo sedentário são fatores associados ao aumento de risco de câncer colo-retal”. Os autores conduziram um estudo com 14.275 mulheres em Nova York a fim de testar a hipótese de que os efeitos destes fatores de risco podem ser gerados por aumento nos níveis de insulina circulante e na bioatividade de IGF-1. Os pesquisadores usaram amostras de sangue de mulheres recolhidas entre março 85 e junho 91. O C-peptídeo, indicador de hiperinsulinemia crônica, IGF-1, e proteínas de ligação IGF (IGFBP) -1, -2, e -3 foram encontradas no soro de 102 pessoas que subseqüentemente desenvolveram câncer colo-retal e 200 igualaram os controles. Após ajustes quanto a fumantes, os pesquisadores observaram um aumento de risco para câncer colo-retal com maiores níveis de C-peptídeo, com uma razão de 2,92 para o mais alto vs. o mais baixo quintiles. Houve uma modesta mas estatisticamente insignificante associação positiva entre risco de câncer colo-retal e níveis de IGF-1. Os autores observaram uma diminuição estatisticamente significativa no risco de câncer colo-retal para aumento de níveis de IGFBP-1 e IGFBP-2, com médias variáveis de 0,48 e 0,38 respectivamente nos quintiles superiores, e um estatisticamente significativo aumento de risco para o mais alto quintile de IGFBP-3 (ou 2,46). “Nossas descobertas de que o risco está positivamente associado com níveis de 324 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação C-peptídeo e inversamente associado aos níveis de IGFBP-1 e IGFBP-2 se enquadra nas observações epidemiológicas que mostram que o sobrepeso é um fator de risco para câncer colo-retal”, escrevem os autores. Além disso, a levemente mais forte associação de C-peptídeo com risco de câncer de cólon do que com risco de cânceres do cólon e reto combinados também se enquadra nas observações de que obesidade e falta de atividade física estão relacionadas ao aumento de risco, particularmente do câncer de cólon. Institute of Medicine, 12 de outubro de 2000 IOM encontra pequena ligação entre agente laranja e diabetes O Instituto de Medicina (IOM) publicou um relatório que fornece mais evidências de ligação entre herbicida e a exposição à dioxina e diabetes tipo 2. Há pouco tempo, este ano, um relatório da US Air Force demonstrou que veteranos expostos ao agente laranja, um produto químico usado pelos EUA para desfolhar as selvas do Vietnã nos ano 60 e 70, apresentaram um risco significativamente maior de desenvolver diabetes tipo 2. Em anos recentes o Department of Veterans Affairs estudou o assunto mas determinou que não havia evidência suficiente para estabelecer que os veteranos do Vietnã expostos à dioxina contida no agente laranja possuam taxas mais altas de diabetes ou outros danos a saúde. Porém “dados atuais admitem a possibilidade de um risco maior de diabetes tipo 2 nos veteranos do Vietnã”, conclui o relatório do IOM. “Deve-se notar, entretanto, que estes estudos indicam que o maior risco, se algum, da exposição ao herbicida ou dioxina parece ser pequeno”, de acordo com o relatório. “As predisposições de risco de diabetes conhecidas - histórico familiar, inatividade física e obesidade continuam a sobrepujar qualquer hipótese de aumento de risco causado na exposição aos herbicidas durante a guerra”. V.M. Montori et al. Diabetes Care 2000;23:1407-1415, setembro de 2000 Óleo de peixe diminui triglicérides com pequeno ou nenhum efeito no diabetes tipo 2 Os resultados de uma meta-análise de 18 estudos num período de dez anos mostra que a suplementação de óleo de peixe para pacientes com diabetes tipo 2 diminui os triglicérides mas não tem efeito estatisticamente significativo sobre o controle glicêmico. “Este estudo desaprova a crença de longa data que a suplementação de óleo de peixe afeta o controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2”, segundo os autores. Eles coletaram dados sobre controle glicêmico e níveis de lipídios em 823 pacientes com diabetes tipo 2 que tomaram suplementação de óleo de peixe em doses diárias variando de 3 g a 18 g. A maioria dos pacientes, que foram acompanhados por cerca de 12 semanas, foi homens de 55 a 65 anos diabéticos tipo 2 entre 5 e 10 anos. O principal efeito da suplementação com óleo de peixe foi a redução média dos triglicérides de 0,56 mmol/l e um pequeno aumento (0,21 mmol/l em média) no colesterol LDL. Os aumentos no colesterol LDL e redução no triglicérides foram “mais marcantes naqueles estudos que recrutaram pessoas hipertrigliceridêmicas e usaram doses maiores de óleo de peixe”, relatam os pesquisadores. Eles notam que os níveis de triglicérides foram reduzidos até 4 mmol/l em pacientes com hipertrigliceridemia. Embora os 326 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação dados “não conseguiram elucidar a dose ideal de óleo de peixe requerida para alcançar grandes reduções em triglicérides”, eles sugerem que “óleo de peixe pode ser seguro para adicionar ao arsenal de medicamentos que diminuem triglicérides” em diabéticos. Second Hong Kong Diabetes and Cardiovascular Risk Factors East Meets West symposium, 6 de outubro de 2000 Classificação do diabetes em tipo 1 e tipo 2 pode ser inválida 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 O diabetes tipo 2 com início no jovem adulto é clínica e etiologicamente heterogêneo, de acordo com descobertas em estudos do Young Asian Patient with Newly Diagnosed Diabetes Mellitus (ASDIAB). “A simples idéia de diabetes tipo 1 e tipo 2 não vale mais. Estamos vendo um quadro completo de diferentes cenários e complicações”, disse Clive S. Cockram, da Chinese University of Medicine in Hong Kong. Pacientes de 12 a 40 anos foram recrutados para este estudo prospectivo não-intervencional, em centros de Hong-Kong, Shangai, Pekim, Chennai, Malásia e Singapura. Ele foi iniciado em 1997 e terá mais dois anos de duração. “Este estudo é único porque não fez qualquer esforço para classificar pacientes como tipos 1 ou 2 antes de começar”. Ele apresentou dados sobre 919 de 1000 pacientes recrutados até o momento que completaram três consultas. A maioria tem de 31 a 40 anos, 66% são homens e o índice de massa corporal é de 25,2 kg/m². Somente 45% dos pacientes tiveram pais diabéticos. 48% estão sendo tratados com agentes hipoglicemiantes orais, 18% com insulina e 3% com insulina e agente hipoglicemiante oral. Os valores médios da HbA1c e da glicose plasmática livre são 10,4% e 9,9 mmol/l respectivamente. “Somente 19% tinham severa insuficiência da insulina como evidenciado por medições do C-peptídeo antes e depois glucagon. Anticorpos de descarboxilase de ácido glutâmico foram detectados em 12%”. Pacientes positivos para anticorpos de descarboxilase de ácido glutâmico tinham menos idade no início, IMC mais baixo do que os pacientes negativos e uma taxa mais baixa de complicações. Cerca de 62% de pacientes com anticorpos de descarboxilase de ácido glutâmico eram deficientes em insulina. Dos pacientes que eram suficientes em insulina, somente 6% eram anticorpos de descarboxilase positivos. A taxa de complicação depende da severidade da hiperglicemia, duração do diabetes, presença de fatores associados, tais como hipertensão e possível predisposição genética. “Pode ser que certos subtipos tais como HNF-1 alfa (hepatite nuclear fator-1 alpha) ou mutações genéticas tenham suscetibilidade adicional, mas isto não é tido como certo, porque outros fatores sempre podem ser invocados para explicar o que está ocorrendo e efeitos adicionais de subtipos da doença podem ser difícil de destacar.” Os sinais do diabetes começam mais cedo do que se espera Nova pesquisa mostra que pacientes com diabetes apresentam sinais prematuros da doença - tais como problemas renais, problemas em membro inferior e perda de visão - 10 a 13 anos antes de serem diagnosticados. Médicos e outros profissionais de saúde têm que apressar seus esforços para identificar e tratar o diabetes. O UK Diabetes Informational Analysis and Benchmarking Service (UKDIABS) examinou mais de 155.000 registros de pacientes entre 1996 e 2000. Os pesquisadores encontraram registros Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) 327 Continuação de pacientes que eventualmente desenvolveram diabetes, sugerindo sinais precoces da doença. Complicações da visão foram identificadas em 33% dos registros, complicações do pé em 24% e cardiovasculares em 24% dos pacientes diagnosticados com diabetes tipo 2. 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 Ação urgente requerida para cortar o custo do diabetes tipo 2 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 Estudo comprova aptidão do diabético no volante Ação urgente para sustentar o controle glicêmico e reduzir o risco de complicações é necessário para conter o custo crescente do diabetes tipo 2. O diabetes é uma das doenças crônicas mais comuns no mundo, com mais de 150 milhões de pessoas afetadas atualmente, número este que deve crescer para 300 milhões até 2025. Diabetes tipo 2 representa cerca de 90% de todos os casos e o custo para tratamento implica um substancial ônus nos recursos para a saúde. Novos dados do CODE-2TM (Cost of Diabetes in Europe - Type 2 Study) mostram que os dois fatores primordiais de diabetes 2 são o uso de insulina, que é um indicador da progressão da doença e as complicações micro e macrovasculares, tais como doenças oculares, problemas renais e infarto do miocárdio. Estes dados indicam que as terapias que podem reduzir as complicações associadas ao diabetes e retardar a progressão da doença terão um impacto positivo nos custos da saúde. Sustentar o controle glicêmico é também importante na ajuda de pessoas diabéticos tipo 2 para melhorar a qualidade de vida. Os pacientes obesos com controle glicêmico inadequado têm custo 27% mais altos com medicamentos e 18% mais no total do que pacientes não obesos com bom controle glicêmico. As terapias que podem dar controle glicêmico efetivo e sustentado, juntamente com medidas agressivas para reduzir peso, terão papel importante no gerenciamento do diabetes no futuro. Os resultados do UKPDS (United Kingdom Prospective Diabetes Study) podem ajudar a explicar estes resultados. Eles indicam que pacientes com controle glicêmico fraco têm maior risco de desenvolver complicações dispendiosas do que indivíduos adequadamente controlados. A obesidade está também associada a significativas comorbididades. O estudo CODE-2, iniciado em 1998, é o primeiro esforço pan-europeu para medir o custo do diabetes e identificar os principais componentes do custo usando metodologia consistente em todos os países. Sua forma e implementação envolveram mais de 100 profissionais que analisaram mais de 7000 pacientes de 8 países europeus. Pacientes portadores de diabetes tipo 1 que conhecem seus surtos hipoglicêmicos podem dirigir com tanta segurança quanto os controles, mesmo nos períodos em que têm hipoglicemia, de acordo com estudo feito em um simulador de direção. O estudo comparou o comportamento de 24 motoristas diabéticos tipo 1 com o mesmo número de controles em um simulador de estrada, rural e urbana, com medições da velocidade, curvas, direção, tempo de reação e atenção aos eventos periféricos acontecendo na estrada. O estudo tem implicações para regras sobre diabetes e direção, embora os autores frisam que os resultados precisam ser confirmados em maiores estudos antes que práticas correntes sejam modificadas. Os pacientes diabéticos preferiam reduzir a velocidade aproximando-se a 328 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação um inesperado evento, e tiveram boa pontuação na maioria dos testes que mediram a velocidade, curvas, direção e tempo de reação. Eles marcaram semelhantemente tanto com níveis normais de glicose no sangue, quanto com hipoglicemia (glicemia abaixo de 2,7 mmol/l). A pesquisa foi desenhada para estudar a segurança em dirigir por pacientes diabéticos, em razão das recentes regras da Comunidade Européia que limitam esta prática por diabéticos. As regulamentações proíbem diabéticos que têm repentina hipoglicemia ou perda de consciência de dirigir, limita os diabéticos a guiar carros e proíbem a direção de coletivos, ônibus e caminhões. As regulamentações pressupõem que diabéticos apresentam elevada taxa de acidentes de tráfego, mas não há tanta evidência para confirmar este fato. O estudo verificou como diabéticos guiam enquanto estão hipoglicêmicos e descobriu que não existem diferenças com estado euglicêmico ou os controles. Pacientes que não são conscientes de suas hipoglicemias não deveriam ter permissão para dirigir, mas o estudo sugere que pacientes diabéticos que conhecem bem suas hipoglicemias podem dirigir com a mesma segurança do que as pessoas saudáveis. 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 O rastreamento genético pode ajudar a determinar o melhor tratamento para cada paciente diabético Cancer Prevention Study, United States Centers for Disease Control, 19 de setembro de 2000 Um rastreamento genético de pacientes diabéticos tipo 2, que identificasse pacientes que respondem a um tipo de tratamento oral ou outro, está a vista. O teste de rastreamento ajudará a resolver o problema clínico prático de escolher o tratamento certo para cada paciente diabético tipo 2. Somente 50 ou 60% dos pacientes respondem aos principais tipos de drogas, como metformina ou sulfonilúreias. Os pacientes poderão ter de trocar de tratamento várias vezes antes que sua condição seja controlada, e o diabetes não controlado tem substancial implicações no custo da saúde. Uma série de genes ligados ao diabetes tipo 2 haviam sido identificados, e os testes para determinar o perfil genético dos pacientes estão em desenvolvimento. “Dentro de poucos anos, teremos um rastreamento genético para o diabetes tipo 2. Será muito simples, cobrindo talvez 5 ou 6 genes e identificando os pacientes que podem responder a um tratamento determinado”, afirmou Leif Groop, professor de endocrinologia da Lund University, Malmo, Suécia. “Precisamos estudar as diferenças genéticas e mostrar que estas predizem o resultado. Estaremos então capacitados a identificar aqueles indivíduos de alto risco que se beneficiarão de tratamento precoce mesmo antes que o diabetes se torne clinicamente aparente. Se pudermos identificar os pacientes de alto risco com tolerância diminuída à glicose, podemos parar a progressão do diabetes tipo 2 através de gerenciamento apropriado com drogas, exercício e dieta.” Perda de peso diminui o risco de diabetes Manter o peso baixo ajuda a reduzir drasticamente o risco de diabetes, segundo um estudo prospectivo envolvendo mais de 200.000 indivíduos com sobrepeso. Indivíduos com sobrepeso e indivíduos saudáveis que perderam peso intencionalmente reduziram o risco de diabetes em cerca de um terço. Perda intencional de peso foi associada à diminuição de risco de 330 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação diabetes em 21% dos homens e 28% das mulheres. Homens que ganharam peso apresentaram um aumento de 33% na taxa de diabetes, e 56% nas mulheres. O estudo pesquisou prospectivamente o estado de saúde de 101.000 homens e 111.000 mulheres acompanhados desde os anos 60 pelo Cancer Prevention Study I of the United States Centers for Disease Control (CDC). Os resultados mostram que aqueles pacientes que perderam o máximo de peso reduziram seu risco de diabetes ao máximo. Para 9 kg perdidos, eles reduziram em 11% a taxa de diabetes em homens e 17% em mulheres. K. Jones et al, 82th European Meeting of Endocrinology, maio de 2000 Metformina restaura ciclo menstrual em adolescentes com síndrome dos ovários policísticos Um estudo levantou a possibilidade de a metformina ser utilizada para baixar níveis elevados de androgênio e restaurar os ciclos menstruais normais em adolescentes com síndrome dos ovários policísticos (SOPC). A metformina tem se mostrado eficiente em algumas mulheres adultas com SPOC. Na população pediátrica, houve descrições de casos em que pacientes com diabetes tipo 2, que também apresentavam SOPC, apresentaram melhora dos sintomas da síndrome após utilizarem a droga. O estudo avaliou 6 adolescentes que receberam de 500 a 800 mg de metformina duas vezes ao dia durante 6 meses. Duas apresentavam amenorréia e duas oligomenorréia. Suas idades variavam de 9 a 17 anos e as adolescentes eram obesas com IMC variando de 27,5 a 39,5. No acompanhamento, 4 das pacientes apresentaram um retorno à menstruação normal, 4 perderam peso e 3 apresentaram uma melhora no quadro de acne. Diabetes Clínica 04 (2000) 331 O Diabetes na Imprensa Brasileiras estão acima do peso 15 de outubro de 2000 Segundo o Ministério da Saúde, 33% das mulheres brasileiras estão acima do peso contra 13% dos homens. Isso se deve, segundo os dados oficiais, a um maior apetite feminino para doces e gorduras. Depois do cigarro, a obesidade é a segunda doença que mais mata. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 15% dos brasileiros adultos têm excesso de peso e 6,8% são obesos. As principais causas da doença são predisposição genética e alimentação errada. As doenças da modernidade 1 de novembro de 2000 Nas grandes cidades a maioria das pessoas morrem de complicações cardíacas, de câncer (pulmão, mama, próstata e estômago são os mais comuns) e de diabetes tipo 2. Essas enfermidades são a pior tradução do estilo de vida atual. 8,8 milhões de brasileiros entre 30 e 69 anos têm diabetes (50% não estão diagnosticados). Como prevenir ? • • • • Evitar o excesso de peso Manter uma dieta balanceada Fazer pelo menos trinta minutos de exercícios físicos, quatro vezes por semana A partir dos 45 anos, medir as taxas de glicose a cada três anos. O exame deve ser feito anualmente quando houver a combinação de dois ou mais fatores de risco. São eles: hipertensão, doenças cardiovasculares, histórico familiar, obesidade e sedentarismo. O diabetes de tipo 2, que até pouco tempo atrás era chamado de “diabetes senil”, já é diagnosticado entre crianças. Motivo: excessos calóricos na alimentação e sedentarismo. Um organismo recheado de células adiposas é o cenário ideal para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. A propensão ao acúmulo de açúcar no sangue é genética, mas nesse caso é possível evitar que ela se transforme num problema. Basta ter moderação à mesa. Dietas gordurosas detonam a doença. 332 Continuação O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 04 (2000) A Associação de Diabetes dos Estados Unidos já fez soar o alarme: três de cada dez pacientes naquele país têm entre 9 e 19 anos. Na década de 80, eles não passavam de 2%. É assustador que uma doença antes associada à velhice comece a se manifestar tão cedo. Nos últimos dez anos, o número de óbitos decorrentes do diabetes tipo 2 cresceu 60% no Brasil. Hoje, são em média 25.000 mortos por ano - quase o mesmo total de mortes registradas em acidentes de trânsito no país. Cereais integrais podem prevenir diabetes 4 de setembro de 2000 De acordo com um estudo da edição de setembro do American Journal of Public Health, produtos de cereais integrais podem prevenir o diabetes. Os resultados demonstram que mulheres que consomem mais produtos de cereais integrais são menos propensas a ter diabetes do tipo 2 (ocorrem quando o organismo não consegue responder à insulina) do que as que consomem grãos como o arroz branco. Os pesquisadores explicam que, como cereais integrais geram níveis mais baixos de glicose (açúcar) no sangue, o corpo não precisa produzir tanta insulina para processar o alimento. Portaria obriga a apresentação da composição de alimentos no rótulo 1 de novembro de 2000 O ministro da Saúde, José Serra, assinou uma portaria que torna obrigatória a apresentação nos rótulos da composição nutricional dos alimentos. Os rótulos terão que conter informações claras sobre a quantidade de calorias, gorduras, gorduras saturadas, colesterol, carboidratos, fibras, cálcio, ferro, soja e proteínas. Com essas informações, que deverão ser apresentadas de forma padronizada, o Ministério da Saúde pretende incentivar a população a melhorar os hábitos alimentares e evitar problemas como a obesidade. De acordo com as pesquisas do Ministério, a obesidade representa para os setores público e privado gastos de R$ 1,5 bilhão por ano. São gastos com a diminuição da produtividade no trabalho, pensões por morte e invalidez e tratamentos de doenças decorrentes da obesidade, entre elas o câncer e o diabetes. Diabetes Clínica 04 (2000) 333 Avanços terapêuticos e tecnológicos Lutz Heinemann et al., Diabetes Care 2000;23:1343-1347, setembro de 2000 David Carey et al, Barry Goldstein et al, 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 Intensificador de absorção poderia facilitar o uso da insulina via nasal Um intensificador de absorção aumenta os efeitos metabólicos da insulina inalada. Um estudo anterior demonstrou biodisponibilidade e bioeficiência relativas inferiores a 8%, sugerindo que grandes quantidades de insulina seriam necessárias par alcançar efeito metabólico significativo. O estudo comparou os efeitos metabólicos da insulina biosintética inalada administrada com um intensificador de absorção, com o uso da insulina endovenosa ou subcutânea em 13 indivíduos sadios. A insulina inalada ou endovenosa aumenta igualmente o consumo da glicose, mas o tempo necessário para o consumo máximo de glicose foi mais curto com a insulina inalada do que a endovenosa. A bioeficiência e biodisponibilidade após inalação foram só de 10%, e a variabilidade intraindividual da resposta metabólica foi similar para os três métodos de administração da insulina. O tempo necessário para a concentração sérica máxima de insulina foi menor para a insulina inalada do que a insulina subcutânea, e a quantidade total de insulina consumida foi maior com a insulina inalada do que com a insulina subcutânea. Nenhum efeito adverso foi associado com os três tipos de administração de insulina. Estudos específicos são necessários para avaliar se o maior efeito metabólico da insulina inalada imediatamente após administração resulta em um melhor controle metabólico pós-prandial do que o uso da insulina subcutânea ou regular. Eficácia da rosiglitazona sobre fatores associados à resistência à insulina Novos estudos sugerem que o impacto da rosiglitazona (Avandia) sobre a resistência à insulina melhora a distribuição de gordura e a função endotelial. Os dados apresentados por D.Carey et al, Wesley Research Institute, Australia, mostra uma redução de 30% da gordura hepática após tratamento com Avandia (8 mg/dia). Simultaneamente à redução da gordura hepática foi observado um pequeno aumento de gordura abdominal subcutânea, mas sem aumento da gordura intra-abdominal - distribuição responsável do perfil tipo “maça” dos indivíduos portadores de diabetes tipo 2. 334 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação Demais estudos demonstraram que a rosiglitazona diminui outros fatores associados à resistência à insulina. Barry Goldstein et al. reportaram reduções do nível e atividade do PAI-1 (Inibidor do Ativador do Plasminogênio), quando a rosiglitazona é associada a tratamento com sulfonilúreias. PAI-1 inibe a fibrinólise e é associado ao grupo dos fatores de risco cardiovasculares. Esses estudos sobre as mudanças na distribuição de gordura e a redução do PAI-1 acrescentam-se ao papel importante da rosiglitazona para reduzir as taxas de glicose de jejum e de HbA1c. Tracey Jones, SmithKline Beecham, 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 Opções de terapia combinada com rosiglitazona no tratamento do diabetes tipo 2 inadequadamente controlado Yishai Levy et al, Annals of Nutrition & Metabolism 44:2:2000, 54-60, setembro de 2000 Os pacientes diabéticos tipo 2 que não conseguem manter controle glicêmico aceitável com metformina tinham até hoje poucas opções de tratamento. Esse problema é compartilhado entre pacientes usando sulfonilúreias quando a metformina é contra-indicada, por exemplo em caso de diminuição da função renal. O lançamento da rosiglitazona permite novas terapias combinadas para esses pacientes. Os dados apresentados pelo Dr. Tracey Jones mostram que o tratamento conjugado de rosiglitazona (> 8 mg/dia) e metformina melhora as taxas de glicose sanguínea em pacientes obesos. O estudo envolveu 550 pacientes diabéticos tipo 2, e mostrou uma redução de 3,6 mmol/l da glicose plasmática de jejum em comparação com a linha base. Os níveis de HbA1c também foram diminuídos de 1%, e essa diminuição foi mantida durante 18 meses. A combinação de metformina e rosiglitazona melhorou também a sensibilidade à insulina e reduziu a insulinemia de jejum. Demais estudos sobre 800 pacientes diabéticos tipo 2 mostraram que a combinação de rosiglitazona (4 mg/dia) e sulfonilúreias para os que apresentam uma diminuição da função renal leve a moderada diminui a glicose plasmática de jejum de 2,1 mmol/l, em comparação com a linha base. Rosiglitazona fornece controle glicêmico efetivo e é bem tolerado em pacientes com diminuição da função renal, sendo mal controlado pelos sulfonilúreias em monoterapia. A suplementação em β−caroteno natural pode atrasar a aterosclerose em pacientes diabéticos Anormal lipoproteína de baixa densidade, composição de lipídios e antioxidantes são associadas à suscetibilidade aumentada de oxidação do LDL de pacientes diabéticos. O estudo comparou a oxidação da lipoproteína de baixa densidade LDL de pacientes diabéticos com a de controles normoglicêmicos. Ele também acompanhou os efeitos de uma suplementação dietética de β−caroteno sobre a oxidação do LDL. O estudo incluiu 20 pacientes diabéticos tipo 2 e indivíduos controle. Durante três semanas os pacientes receberam 60 mg/ uma vez por dia de β−caroteno derivado de Dunaliella bardawil. A análise da oxidação do LDL foi realizada pelas medições do malondialdeído (MDA), dos peróxidos de lipídios (PD) e da produção de dienes conjugados (CD) em resposta à oxidação induzida pelo CuSO4. Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) 335 Continuação Os pesquisadores mediram também a composição dos lipídios e as lipoproteínas de baixa-densidade associadas das vitaminas A, E e carotenóides. A suscetibilidade do LDL a oxidação pelo CuSO4 aumentou de 40% em pacientes com um tempo de atraso 35% menor para a iniciação da oxidação da lipoproteína de baixa densidade. Foram observados aumentos do colesterol/fosfolipídios e dos ratios não-saturados/saturados, junto com uma diminuição das vitaminas associadas ao LDL. A suplementação de β−caroteno foi responsável de um aumento significativo do β−caroteno no plasma e no LDL, e diminuiu significativamente a suscetibilidade do LDL. Isso foi demonstrado pelo aumento do tempo de atraso para a redução da produção de malondialdeído e peróxidos de lipídios (de 25 e 40%) respectivamente. A suplementação dietética de β−caroteno natural normaliza as lipoproteínas de baixa densidade e poderia ser um fator importante para atrasar o desenvolvimento da aterosclerose em pacientes portadores de diabetes mellitus. Stuart C. Apfel, JAMA 2000;284:2215-2221, outubro de 2000 O fator de crescimento do nervo humano não mostra benefício significativo no tratamento da neuropatia diabética F.T. Fiedorek et al., 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 Os resultados de um estudo de fase III mostra que o fator recombinante de crescimento do nervo humano (rhNGF) não diminui os sintomas da neuropatia diabética, ao invés dos achados reportados nos estudos clínicos de fase II. Foram randomizados 1019 homens e mulheres, em 84 centros dos Estados Unidos, idade entre 18 e 74 anos, portadores de diabetes tipo 1 ou 2, apresentando polineuropatia com sintomas sensoriais. Eles receberam placebo ou 0,1 mg/kg de rhNGF três vezes por semana durante 48 semanas. Ao contrário dos estudos de fase II nas quais os pacientes tratados por rhNGF mostraram melhoras significativas em comparação com pacientes tratados por placebo, a rhGNF não demonstrou efeitos significativos sobre a neuropatia diabética. Os pesquisadores não encontraram diferenças significativas entre os dois grupos nem nos objetivos primários do estudo (modificações dos sintomas de neuropatia entre o início e após 48 semanas), nem na maioria dos objetivos secundários. O resultado o mais surpreendente do estudo é que nenhum dos grupos apresentou uma progressão da neuropatia durante o estudo. Segundo os pesquisadores, “se o objetivo do rhNGF é a prevenção da progressão da neuropatia, estudos mais longos são necessários para comprovar o efeito, em razão da ausência de progressão no grupo tratado por placebo.” Existem várias razões para explicar esses resultados: dose e preparação da droga, medições da neuropatia e diferenças entre as populações de pacientes dos estudos de fase II e III. Monoterapia com GI262570, novo agonista PPARγ, diminui os triglicérides e aumenta o colesterol HDL em pacientes portadores de diabetes tipo 2 Objetivo: GI262570 é um novo agonista do peroxisome proliferatoractivated receptor gamma (PPARγ) derivado da L-tirosina, que tem atividade elevada sobre o receptor humano do PPARγ e também uma ação significativa sobre o PPARα. A ativação dos isoformas dos PPARγ 336 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação e PPARα é associada com a melhora do metabolismo da glicose e dos lipídios, respectivamente. Métodos: Pacientes diabéticos tipo 2 (n = 376), inadequadamente controlados, foram randomizados para receber placebo (P) ou uma de 5 doses diárias de GI262570 (0,25, 1, 2, 5 ou 10 mg) em um estudo duplo-cego de 12 semanas. Resultados: As taxas médias de triglicérides (TG) de jejum e as concentrações de colesterol HDL são reportadas na Tabela. Após 12 semanas de tratamento com GI262570, uma melhora metabólica significativa foi observada (diminuição dos triglicérides, aumento do colesterol HDL, melhora do controle glicêmico). O efeito máximo sobre os triglicérides foi observado após 4 semanas e persistiu durante as 12 semanas do estudo. A melhora metabólica dos TG e C-HDL foi observada em todos os diabéticos qualquer seja sua linha base de TG, e as maiores diminuições foram notadas em pacientes com hipertrigliceridemia média/moderada (44% e 33% com 5 e 10 mg). Aproximadamente 60% dos pacientes do estudo apresentavam uma hipertrigliceridemia de jejum média ou moderada (TG > 1,7 mmol/l). Os níveis de apolipoproteína-β caíram de 9-14% com as doses 5 e 10 mg, sem mudanças significativas no C-HDL nessas doses. Conclusão: Esses achados sugerem que GI262570 aumenta o controle metabólico total nos pacientes diabéticos tipo 2, melhorando a dislipidemia TG elevado/HDL baixo e a hiperglicemia associada ao diabetes tipo 2. Placebo Número de pacientes 67 Linha base (B) TG (mmol/l) 1,92 %TG ∆ a partir de B (12 semanas) +3% Linha base HDL-C (mmol/l) 1,08 %HDL-C ∆ a partir de B (12 semanas) 0% H.J. Lüddeke, 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 1mg 2mg 5mg 10mg 59 2,27 -6% 1,07 +4% 61 2,09 -13% 1,10 +4% 58 2,25 -30% 1,05 +12% 67 2,02 -43% 1,09 +15% Misturas Humalog: atualização clínica Inúmeros benefícios da insulina lispro no tratamento do diabetes tipo 1 já foram comprovados: melhor controle da glicose pós-prandial, melhor controle geral da glicemia com dose de NPH ajustada, taxas menores de hipoglicemia com restauração dos sintomas e respostas autonômicas, melhora da satisfação do paciente e terapia mais conveniente. Para os pacientes diabéticos tipo 2, a terapia a mais receitada no mundo é a injeção de insulina pré-misturada regular/NPH duas vezes/dia. Com as novas misturas Humalog, as opções terapêuticas para os pacientes tipo 2 que recebem um tratamento convencional incluem as possíveis vantagens dos análogos de insulina de ação rápida. As formulações das misturas Humalog preservem o efeito glicodinâmico completo dos análogos de insulina de ação rápida. As excursões da glicose pós-prandial são significativamente menores, e uma resposta precoce é observada com as misturas Humalog, em comparação com a insulina humana 30/70 (30% insulina humana regular e 70% insulina humana NPH). Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 337 A resposta pós-prandial à insulina humana 30/70 é diferente nos pacientes diabéticos tipo 1 e 2, mas é igual com Humalog Mix25. Geralmente, é difícil demonstrar uma relação dose-efeito entre a dose de insulina e a resposta da glicose após a refeição. Com NPH e insulina humana 30/70, nenhuma correlação significativa pode ser observada. Com Humalog Mix25, a relação inversa entre a taxa da glicose pós-prandial e a dose de insulina foi demonstrada. As relações diretas dose-efeito são úteis para tomar decisões terapêuticas racionais. Alguns estudos clínicos reportaram um risco reduzido de hipoglicemia com as misturas Humalog, especialmente à noite. A diminuição relativa na taxa de hipoglicemia noturna em pacientes diabéticos tipo 2 é comparável à diminuição no diabetes tipo 1, mas a diferença absoluta é menor. Hipoglicemia reduzida à noite e no dia pode ser o resultado de uma menor sobreposição do NPL com insulina lispro na mistura, em comparação com as misturas de insulina humana regular e NPH. O controle glicêmico total com misturas Humalog (expresso em termos de HbA1c) é comparável ao controle obtido com as misturas de insulina humana. Os picos da glicose sanguínea pós-prandial após café da manhã ou jantar são significativamente menores com as misturas Humalog. Os estudos clínicos mostraram nenhuma diferença significativa entre regular/NPH e misturas Humalog no que diz respeito ao peso corporal. Após exercício, a diminuição da glicose sanguínea do nível pós-prandial 2 horas é menor com tratamento com misturas Humalog Mix25 do que após terapia com insulina humana 30/70. Nos pacientes idosos diabéticos tipo 2, a terapia insulínica é mais segura se a injeção é feita imediatamente antes o início da refeição. Com as misturas Humalog, as injeções são possíveis até 15 minutos após a refeição sem deterioração significativa da HbA1c. Teoricamente, as misturas fixadas contendo uma proporção elevada de insulina lispro em comparação com NPL (high mix: 75% insulina lispro/25% NPL), poderiam ser interessantes para o paciente diabético tipo 1 durante o dia. Na prática clínica, um estudo não encontrou efeitos favoráveis. As misturas individualizadas parecem superiores às misturas fixadas no diabetes tipo 1. Os estudos sobre as misturas Humalog mostram que esse tipo de terapia convencional é mais próximo da regulação fisiológica, mais seguro e mais conveniente para os pacientes, sem acréscimo de efeitos adversos. 338 Diabetes Clínica 04 (2000) Produtos e novidades Neuropen para testar a neuropatia periférica Do tamanho de uma caneta, Neuropen é uma ajuda útil para detectar os sintomas da neuropatia. De um lado, a agulha calibrada Neurotip permite avaliar a sensação reduzida ou a dor provocada nas pequenas fibras nervosas. Os neurotips são estéreis, descartáveis, diminuindo assim o risco de infecção por punção eventual da pele. Neurotip exerce uma força calibrada de 40g e identifica com precisão a diminuição das sensações cutâneas. De outro lado, o monofilamento descartável de 10 g ou 15 g permite ao especialista determinar as aéreas de perda de sensibilidade. Palmilhas, calcanheiras e órteses Siligel (100% silicone) de Ortho Pauer As palmilhas e órteses de silicone de Ortho Pauher são indispensáveis para todas as pessoas que querem reduzir o impacto do pisar, em particular os esportistas e os portadores de lesões do pé. Os exercícios da prática esportiva podem provocar no calcanhar um impacto equivalente até 17 vezes o peso do corpo, que pode ser notavelmente reduzido pelo uso de amortecedores de silicone. Ortho Pauher apresenta um catálogo de amortecedores para todas as situações, tamanhos de calçados, compostos de 100% de silicone, duráveis, laváveis, diminuindo até 98% o impacto do pisar. Muito usados pelos esportistas, esses tipos de amortecedores são também indicados na prevenção e o tratamento das patologias do sistema ósteo-articular e lesões do pé diabético. Para os portadores de complicações do pé diabético e diabéticos com amputação parcial do pé, Ortho Pauer desenvolve órteses e calçados personalizados. Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 04 (2000) 339 Nova bomba de insulina D-Tron D-Tron é uma nova bomba de insulina desenhada e fabricada por Disetronic (St-Paul, Minnesota, EUA). Adaptada para todas as situações da vida ativa, ela apresenta várias soluções para melhorar a qualidade de vida do portador de diabetes. Ela permite por exemplo infusão de até 0,005 unidade de insulina em intervalos de 3 minutos e possui vários dispositivos para automatizar os testes e comunicar os dados com computadores, via sistema infravermelho bidirecional. Conjunto de infusão Disetronic A Disetronic apresenta um conjunto completo para a infusão da insulina pelas bombas, com diferentes tipos, comprimentos e ângulos (até 90 graus), permitindo encontrar as agulhas as mais adaptadas a cada paciente. A empresa apresenta também uma cânula de Teflon, auto-adesiva, quando o metal não é bem tolerado e um mecanismo de deconecção simples quando necessita parar o uso da bomba, sem troca de cânula ou tubos da bomba. 340 Diabetes Clínica 04 (2000) Resumos de trabalhos e congressos Robert S. Lindsay et al , Diabetes Care 23(9):1249-1254, setembro de 2000 Tendências a longo prazo no peso de nascimento, IMC e diabetes em crianças de mãe diabética Objetivo: A criança de mãe que desenvolve diabetes na gravidez apresenta mais riscos de diabetes e obesidade. Nossa hipótese é que, em função das melhoras históricas no controle do diabetes na gravidez, essas conseqüências tardias do ambiente precoce poderiam diminuir com o tempo. Desenho e método: Peso de nascimento e informação sobre o IMC foram coletados, como parte de um estudo epidemiológico, na comunidade Gila River Indian, Arizona. Foram avaliados peso de nascimento, IMC, diabetes em criança de mãe diabética tipo 2 durante a gravidez, nascida no intervalo das quatro últimas décadas desde 1955, comparados com crianças das quais as mães não tinham desenvolvido diabetes ou eram pré-diabéticas (diabetes desenvolvido após a gravidez). Resultados: As crianças de mães diabéticas (MD) tinham peso maior no nascimento, IMC mais elevado em todos os períodos da infância, e apresentaram uma taxa de diabetes aumentada na infância e na idade adulta (7 a 20 vezes mais, em relação às crianças de mãe não-diabética (MND); 3 a 5 vezes mais, em relação aos de mãe pré-diabética (MPD). Relativas diferenças no peso de nascimento e IMC entre MD e MND eram maiores para os indivíduos nascidos antes 1965. Para os nascidos após 1965, apesar da tendência de IMC e incidência de diabetes mais elevada em MND, as diferenças no IMC e peso de nascimento de MD vs. MND e MPD ficaram no mesmo nível. Conclusões: Com a possível exceção dos indivíduos nascidos antes de 1965, o risco aumentado de diabetes e obesidade na criança de mão diabético não parece diminuir com o tempo. Edward J. Bastyr III et al, Eli Lilly and Company, Indianapolis, University of Texas Medical Branch, Galveston, Texas, Diabetes and Glandular Disease Clinic, San Antonio, Texas, Diabetes Care 23:1236-1241, setembro de 2000 Terapia baseada na redução da glicemia pós-prandial, e não na glicemia de jejum, pode ser melhor para diminuir a HbA Objetivo: Comparar a eficiência global de terapias combinadas baseadas na glicose de jejum ou pós-prandial em pacientes portadores de diabetes tipo 2 não adequadamente controlados com sulfonilúreias. Desenho e método: 135 pacientes randomizados receberam durante 3 Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 341 meses um tratamento com gliburida (G) e insulina lispro (L+G), metformina (M+G), ou insulina NPH ao deitar (NPH+G). Resultados: Ao final, HbA1c foi significativamente mais baixa com todas as terapias (P = 0,001) e foi significativamente mais baixa com L+G (7,68 ± 0,88%), em comparação com NPH+G (8,51 ± 1,38%, P = 0,003) ou M+G (8,31 ± 1,31%, P = 0,025). A glicemia plasmática de jejum ao final do estudo era significativamente mais baixa com NPH+G (8,49 ± 2,36 mmol/l) em comparação com L+G (10,57 ± 1,97 mmol/l, P = 0,001) ou M+G (9,69 ± 2,89 mmol/l, P = 0,029). A glicose pós-prandial média 2 horas depois uma refeição teste era significativamente mais baixa para L+G (10,87 ± 2,88 mmol/l) vs. NPH+G (12,21 ± 3,12 mmol/l, P = 0,052) ou vs. M+G (12,72 ± 3,26 mmol/l, P = 0,009). A ocorrência total de episódios de hipoglicemia foi baixa e não estatisticamente significativa entre os grupos (P = 0,156). Conclusões: Acrescentando um segundo agente hipoglicemiante, sem considerar o seu horário de ação, diminui os valores de HbA1c e glicose. Entretanto, quando a insulina lispro foi usada para agir sobre a glicose sanguínea pós-prandial, o impacto sobre o controle metabólico geral foi maior. Esses dados confirmam a importância da diminuição da glicose sanguínea pós-prandial para otimizar o controle glicêmico e melhorar os resultados a longo prazo. J. Saltevo et al, Diabetes, Obesity & Metabolism 2 (5), 293-298, setembro de 2000 Endotelina plasmática em mulheres pós-menopausadas portadores de diabetes tipo 2 e síndrome metabólica: comparação da terapia de reposição combinada via oral e estrogénica transdérmica Objetivo: Diabetes tipo 2 e síndrome metabólico são os maiores fatores de risco cardiovasculares em mulheres pós-menopausadas, mas o papel do vasoconstritor endotelina-1 (ET-1) não é conhecido nessas condições. Pesquisamos os níveis de ET-1 e o efeito da terapia de reposição hormonal sobre os níveis de ET-1 em mulheres pós-menopausadas. Métodos: Comparamos os níveis plasmáticos de ET-1 em 22 mulheres menopausadas diabéticas tipo 2 com síndrome metabólica, com os mesmos níveis em 10 mulheres controle menopausadas saudáveis. Os valores básicos de ET-1 foram medidos em ambos os grupos. As mulheres foram randomizadas para receber dois tratamentos: estradiol via oral (2,0 mg) + acetato de noretindrona (1,0 mg) por dia ou estrogênio transdérmico (50 mg/dia) durante 3 meses. Entre as terapias, foi respeitado um período de três meses. Os valores de ET-1 foram medidos de novo no final de cada período de tratamento. Resultados: As mulheres diabéticas tipo 2 apresentaram níveis significativamente (p < 0,003) elevados de ET-1 (4,8 ± 1,0 pg/ml), enquanto que as com síndrome metabólica não apresentaram (4,4 ± 1,7 pg/ml) níveis significativamente elevados de ET-1, comparados aos controles (3,6 ± 0,3 pg/ml). A terapia de reposição hormonal oral ou transdérmica conseguiu alterar a ET-1 plasmática só em 14 mulheres hipertensas do grupo com diabetes e síndrome metabólico, já com 342 Continuação Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) tratamento com inibidores da ACE. Essas mulheres tinham níveis de ET-1 antes o tratamento de reposição de 4,6 ± 1,1 pg/ml que diminuiu para 4,1 ± 0,9 pg/ml (p < 0,05) após tratamento. Conclusões: O diabetes tipo 2 em mulheres menopausadas é associado com níveis elevados de ET-1. A terapia de reposição hormonal com estrogênio não altera as taxas de ET-1 em mulheres menopausadas com diabetes tipo 2 ou síndrome metabólica. J.M. Brogard et al., 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 Repaglinida e insulina ao deitar aumentam o controle glicêmico em diabetes tipo 2 mal controlado Objetivos: Um estudo multicêntrico, multinacional, avaliou a eficácia e a tolerância de terapia combinada com repaglinida nas refeições e insulina NPH ao deitar, em pacientes diabéticos tipo 2 mal controlados por sulfonilúreias com ou sem metformina. Métodos: O estudo foi meio-cego, randomizado, controlado com grupo paralelo. 96 pacientes receberam repaglinida 4 mg nas refeições durante um período de 3 semanas. Pacientes com glicemia de jejum ≥ 8 mmol/l foram randomizados para receber repaglinida 4mg nas refeições, mais insulina NPH ao deitar (REP/NPH), ou repaglinida nas refeições (REP) por 14 semanas. Os objetivos da eficiência primaria eram as melhoras da hemoglobina glicosilada (HBA1c) e da glicemia plasmática de jejum (FPG). A tolerância do tratamento foi também avaliada. Resultados: As mudanças médias em HBA1c e FPG foram respectivamente -0,73% (p < 0,001) e -5,43 mmol/l (p < 0,001) em pacientes recebendo REP/NPH; +0,95% (p < 0,001) e - 2,26 mmol/l (p < 0,006) em pacientes recebendo PBO/NPH; e +1,16% (p < 0,001) e +0,16 mmol/l (p = NS) em pacientes recebendo REP. A freqüência de eventos de hipoglicemias foi respectivamente de 26%, 11% e 0% nos grupos REP/NPH, PBO/NPH e REP. Um evento maior de hipoglicemia ocorreu, no grupo PBO/NPH. Conclusões: O tratamento com REP/NPH aumenta o controle glicêmico em pacientes inadequadamente controlados com terapia baseada em sulfonilúreias combinada ou não com metformina. A combinação REP/NPH foi mais eficiente do que a monoterapia PBO/NPH ou REP. Portanto, a terapia combinada REP/NPH é recomendada para o tratamento de pacientes mal controlados por sulfonilúreias. E. Horton et al., 36th Annual Meeting of the European Association for the Study of Diabetes (EASD), Jerusalem, Israel, 17-21 de setembro de 2000 Nateglinida em tratamento único e em combinação com metformina aumenta o controle glicêmico reduzindo os picos de glicose das refeições em diabetes tipo 2 Nateglinida (NAT) é um agente insulinotrópico de ação rápida e duração curta, que aumenta o controle glicêmico (GLU) do período das refeições, melhorando a secreção precoce de insulina. Quando ingerida via oral antes as refeições, NAT é eficiente no tratamento do diabetes tipo 2. Método: Para avaliar a eficácia e a tolerância em comparação ou em Resumos – Diabetes Clínica 04 (2000) Continuação 343 combinação com metformina (MET), pacientes (HBA1c 6,8-11,0%) que receberam só dieta e exercícios durante as 8 semanas precedentes, foram randomizados em 4 braços: placebo (PBO, n = 167), 120 mg NAT antes as três refeições (n = 175), 500 mg MET nas três refeições (n = 175) e tratamento combinado (COM) com NAT e MET (n = 168). Resultados: Depois de tratamento de 24 semanas, os pacientes foram avaliados com o controle da HbA1c, glicemia plasmática de jejum (FPG) e área ajustada embaixo da curva de medições da glicemia. No braço PBO, a HBA1c aumentou 0,5%. No braço NAT, em relação com a linha-base e placebo a HBA1c diminuiu 0,5% e 0,9%, respectivamente; 0,8% e 1,2% no braço MET; 1,4% e 1,9% no braço COM. A FGP aumento de 0,4 mmol/l no braço PBO, e no braço NAT, em relação com a linha-base e placebo, diminuiu respectivamente de 0,7 e 1,1 mmol/l; 1,6 e 2,0 mmol/l no braço ET; 2,4 e 2,8 mmol/l no braço COM. Para ambas HBA1c e FGP todos os braços eram estatisticamente diferentes um do outro. As diminuições nos valores das áreas ajustadas embaixo da curva para PBO, NAT, MET e COM foram respectivamente 0,6, 2,1, 1,1, e 2,5 mmol.h/l. O peso corporal diminuiu de 0,4 kg no braço PBO, não mudou no braço MET, e aumentou respectivamente de 0,9 e 0,2 kg nos braços NAT e COM. A percentagem de pacientes com hipoglicemia confirmada foi respectivamente 2, 1 e 6% nos braços NAT, MET e COM. Os resultados indicam que ambos os tratamentos NAT e MET são responsáveis de uma diminuição significativa da HBA1c, com ganho de peso mínimo e baixa incidência de eventos hipoglicêmicos. Conclusão: Os dados sugerem que o efeito de NAT sobre HBA1c é o resultado de sua ação sobre os picos glicêmicos do período da refeição, e que MET é mais ativo sobre FGP. A combinação de NAT e MET é responsável de uma diminuição significativa da HBA1c. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 Recomendações para a prática médica IX – Dislipidemia em adultos com diabetes As 8 primeiras recomendações foram publicadas em Diabetes Clínica nº 2 (abril 2000), nº 3 (junho 2000) e nº 4 (agosto 2000) O diabetes tipo 2 está associado a um aumento de duas a quatro vezes maior de doença arterial coronariana (DAC). Embora o grau de glicemia em pacientes diabéticos esteja fortemente relacionado ao risco de complicações microvasculares (retinopatia e doença renal), a relação da glicemia com a doença macrovascular no diabetes do tipo 2 é menos evidente. A constatação do aumento dos fatores de risco cardiovasculares antes do início do diabetes tipo 2, sugere também que um exame criterioso do diabetes, associado a um aumento do controle glicêmico, provavelmente não eliminará por completo o risco excessivo de DAC em pacientes diabéticos tipo 2. Prevalência da dislipidemia no diabetes tipo 2 O padrão mais comum da dislipidemia em pacientes diabéticos tipo 2 é a elevação dos triglicérides e a diminuição do colesterol HDL. Em geral a concentração de colesterol LDL em pacientes diabéticos tipo 2 não é diferente à dos indivíduos não diabéticos. Os pacientes diabéticos podem apresentar níveis elevados de colesterol não-HDL (LDL e VLDL). Entretanto, os pacientes diabéticos tipo 2 apresentam uma preponderância de partículas de LDL menores e mais densas, mesmo se a concentração absoluta de colesterol LDL não está elevada de forma significativa. Finalmente, o nível médio de triglicérides em pacientes diabéticos tipo 2 é < 200 mg/dl (2,30 mmol/l) e 85-95% dos pacientes apresentam níveis de triglicérides inferiores a 400 mg/dl (4,5 mmol/l). Como em indivíduos não diabéticos, os níveis lipídicos podem ser afetados por fatores não relacio- nados à glicemia ou resistência à insulina, como por exemplo, a doença renal, o hipotireoidismo e a ocorrência freqüente de distúrbios das lipoproteínas geneticamente determinados (por ex., hiperlipidemia familiar associada e hipertrigliceridemia familiar). Estes distúrbios genéticos podem contribuir para a hipertrigliceridemia severa observada em alguns pacientes com diabetes. Além disso, o consumo do álcool e estrogênio pode contribuir também para a hipertrigliceridemia. Fatores de risco na DAC Relativamente poucos estudos prospectivos sobre lipídios e lipoproteínas como indicadores de DAC, foram reportados em indivíduos com diabetes tipo 2, e os resultados foram, de certa forma, contraditórios. No Multiple Risk Factor Intervention Trial (MRFIT), o colesterol total, bem como o tabagismo e a pressão arterial indicam o desenvolvimento de doença cardiovascular em indivíduos diabéticos e não diabéticos, sugerindo que os fatores de risco podem ser indicadores nos dois grupos. No estudo Finlandês, o aumento nos níveis dos triglicérides e a diminuição nos níveis de colesterol HDL (nem o colesterol LDL nem o colesterol não-HDL) indicaram DAC em indivíduos com diabetes tipo 2 bem definido. Entretanto, após ajuste para colesterol HDL, nem os triglicérides, nem os VLDL, prognosticaram a DAC. Em estudos de observação, o HDL pode ser o melhor indicador de DAC em indivíduos com diabetes tipo 2, seguido pelo colesterol total e pelos triglicérides. Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 344–351 345 Estudos clínicos da redução de lipídios em pacientes diabéticos Modificação das lipoproteínas através do tratamento nutricional e da atividade física Não foi realizado nenhum estudo clínico sobre os efeitos dos hipolipemiantes no DAC, especificamente em indivíduos diabéticos. Entretanto, vários estudos clínicos incluíram um pequeno número de adultos com diabetes tipo 2. No Scandinavian Simvastatin Survival Study, a simvastatina (inibidor da HMG CoA-redutase) reduziu de forma significativa a incidência de DAC e a mortalidade total em indivíduos diabéticos com colesterol LDL elevado e com DAC. No Cholesterol and Recurrent Events (CARE), a pravastatina reduziu de forma significativa a incidência de DAC em indivíduos diabéticos com níveis médios de LDL e com DAC clínica anterior. No Helsinski Heart Study, o genfibrozila (derivado do ácido fíbrico) foi associado à redução de DAC em indivíduos diabéticos sem incidência anterior de DAC (embora este resultado não tenha sido estatisticamente significativo). A perda de peso e o aumento da atividade física levará à redução dos triglicérides e ao aumento dos níveis de colesterol HDL e também à modesta redução do colesterol LDL. Os pacientes diabéticos que estão acima do peso devem ser orientados para um tratamento nutricional e aumento da atividade física. A quantidade de gordura saturada na refeição deve ser reduzida. A American Diabetes Association sugere um aumento nos carboidratos ou gorduras monosaturadas para compensar a redução da gordura saturada. Alguns estudos (mas não todos) sugerem que uma dieta com alto teor de gordura monoinsaturada pode apresentar melhores efeitos metabólicos que uma dieta com alto teor de carboidratos, embora outros especialistas sugerissem que tal modificação na dieta pode levar à perda de peso, mais difícil em pacientes diabéticos obesos. O tratamento nutricional reduz, em geral, 15-25 mg/dl do colesterol LDL (0,40-0,65 mmol/l). Desta forma, se o colesterol LDL está 25 mg/dl (0,65 mmol/l) acima da meta, o médico pode adotar um tratamento farmacológico aliado a uma terapia comportamental, para pacientes com risco alto (por ex, pacientes diabéticos com infarto do miocárdio anterior e/ou outros fatores de risco de DAC). Em outros pacientes, as intervenções no comportamento podem ser avaliadas em intervalos de seis semanas, com avaliação do tratamento farmacológico entre 3 e 6 meses. Fatores de risco versus marcadores Os resultados dos estudos clínicos e estudos de observação em indivíduos diabéticos, são de certa forma inconsistentes, na medida que a redução do LDL foi benéfica em estudos clínicos mas não é um indicador significativo nos estudos de observação. Em geral, os estudos clínicos são considerados a melhor orientação para a prática clínica 1) uma vez que a variável é, na verdade, modificada pela intervenção e 2) uma vez que a segurança do agente farmacológico pode ser determinada. É possível que a elevação dos triglicérides possa representar um melhor prognóstico da DAC que a elevação do colesterol LDL nos indivíduos com diabetes tipo 2 em estudos de observação, uma vez que os níveis de triglicérides estão mais relacionados a outros componentes da síndrome da resistência à insulina do que o colesterol LDL. Assim, o nível de triglicérides pode ser um marcador de outros fatores de risco. A modificação de um marcador não pode alterar o risco real de DAC, que pode ser devido a outros fatores correlacionados. A redução dos triglicérides pode diminuir o inibidor 1 de ativador de plasminogênio (PAI-1) e elevar o colesterol HDL baixo, mas não pode melhorar a pressão arterial ou a resistência à insulina. Já que os estudos clínicos proporcionam dados mais consistentes que os estudos de observação, deve-se enfatizar a redução do LDL, porém podem também ser úteis, as intervenções para redução dos níveis de triglicérides e aumento do colesterol HDL. Modificação das lipoproteínas pelos agentes redutores de glicose Todos os agentes redutores de glicose reduzem os níveis de triglicérides. Em geral, os agentes redutores de glicose não alteram ou apresentam apenas um efeito modesto na elevação dos níveis de HDL. Entretanto, a composição do HDL pode mudar em um sentido considerado antiaterogênico. O colesterol LDL pode diminuir modestamente (em até 10-15%) alcançando um controle glicêmico ideal. Como um melhor controle glicêmico pode diminuir também os níveis de triglicérides, isto pode também levar a uma mudança favorável na composição do LDL. Objetivos do tratamento das lipoproteínas As categorias de risco de DAC, de acordo com os níveis de lipoproteína nos pacientes diabéticos tipo 2, são apresentadas na Tabela 1. Devido às 346 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 344–351 freqüentes mudanças no controle glicêmico em pacientes diabéticos e seus efeitos nos níveis de lipoproteínas, os níveis de LDL, HDL e colesterol total, bem como, os níveis de triglicérides, devem ser medidos anualmente em pacientes adultos. Se os valores caírem a níveis de riscos mais baixos, a avaliação deve ser realizada a cada 2 anos. Em crianças diabéticas, a avaliação das lipoproteínas deve ser considerada após os 2 anos de idade. Os níveis ideais de colesterol LDL para adultos com diabetes são de < 100 mg/dl (2,60 mmol/l), os de colesterol HDL são de > 45 mg/dl (1,15 mmol/l) e os níveis desejáveis de triglicérides são de < 200 mg/dl (2,30 mmol/l). Em mulheres que, pelo menos quando não diabéticas, tendem a apresentar níveis de colesterol HDL mais altos que os homens, é desejável que apresentem níveis de colesterol HDL até mesmo superiores a 45 mg/dl [1,15 mmol/l]. Entretanto, é muito difícil elevar os níveis de colesterol HDL com medicamentos em pacientes diabéticos, uma vez que o agente mais eficaz na elevação do colesterol HDL é o ácido nicotínico, que é relativamente contraindicado para pacientes diabéticos. Os fibratos podem elevar os níveis de colesterol HDL de forma significativa sem afetar o controle glicêmico. O tratamento farmacológico deve ser iniciado depois de adotadas intervenções no comportamento. Entretanto, em pacientes com doença arterial coronariana clínica (DAC) ou com níveis de colesterol LDL muito elevados (ou seja, ≥ 200 mg/dl [5,15 mmol/l], o tratamento farmacológico deve ser iniciado simultaneamente à terapia comportamental. Para pacientes diabéticos com DAC clínica e nível de colesterol LDL > 100 mg/dl (2,60 mmol/l) após tratamento nutricional e hipoglicemiante, o tratamento farmacológico é recomendado. Para pacientes diabéticos sem incidência anterior de DAC, as atuais recomendações da ADA para o início do tratamento farmacológico são 1) nível de colesterol LDL ≥ 130 mg/dl (3,33 mmol/l) e 2) meta de ≤ 100 mg/dl (2,60 mmol/l) para o colesterol LDL (Tabela 2). Estas recomendações baseiam-se, não apenas na alta incidência de DAC em pacientes com diabetes, mas também no maior índice de fatalidade, uma vez que eles apresentem DAC. Como grande parte dos pacientes diabéticos morrem antes de chegar ao hospital, uma estratégia de prevenção baseada unicamente na prevenção secundária não seria capaz de “salvar” um grande número destes pacientes diabéticos. A Tabela 3 mostra a ordem de prioridades para o tratamento das dislipidemias. O tratamento do colesterol LDL é a primeira prioridade para a terapia farmacológica. O tratamento inicial da hipertrigliceridemia é a modificação no comportamento, com perda de peso, aumento da atividade física e moderação no consumo de álcool. No caso da hipertrigliceridemia Tabela 1 - Categoria de risco baseada nos níveis de lipoproteína em adultos com diabetes Risco Colesterol LDL Colesterol HDL Triglicérides Alto Limítrofe Baixo ≥130 10-129 < 100 < 35 35-45 > 45 ≥ 400 200-399 < 200 Os dados são apresentados em miligramas por decilitro. Para as mulheres, os valores de colesterol HDL devem ser aumentados em 10 mg/dl. Tabela 2 - Decisões de tratamento baseadas no nível de colesterol LDL em adultos com diabetes Tratamento nutrição Com CAD, DVC ou DVP Sem CAD, DVC e DVP Nível inicial > 100 > 100 Tratamento medicamentoso Meta do LDL ≤ 100 ≤ 100 Nível inicial > 100 ≥ 130* Meta do LDL ≤ 100 ≤ 100 Os dados são apresentados em miligramas por decilitro. Para pacientes diabéticos com múltiplos fatores de risco para DAC (HDL baixo < 35 mg/dl), hipertensão, tabagismo, história familiar de DVC, ou microalbuminúria ou proteinúria), algumas autoridades recomendam o início do tratamento medicamentoso, quando os níveis de LDL se encontrem entre 100 e 130 mg/dl. Advertências: 1) O tratamento nutricional deve ser experimentado antes do início do tratamento medicamentoso; 2) Apresentando os homens e as mulheres diabéticas o mesmo risco de DAC, a idade e o sexo não são considerados fatores de risco. *DVP, doença vascular periférica. Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 344–351 Tabela 3 – Ordem de prioridades para o tratamento da dislipidemia diabética em adultos I. Redução do colesterol LDL Primeira escolha Inibidor da coenzima HMG A - redutase (estatina) Segunda escolha Resina de ligação ao ácido biliar (resina) ou fenofibrato II. Elevação do colesterol HDL Intervenções no comportamento, como por exemplo, perda de peso, aumento da atividade física e abandono do tabagismo podem ser úteis Controle glicêmico Difícil, exceto com o ácido nicotínico, que é relativamente contra-indicado, ou fibratos III.Redução dos triglicérides A prioridade é o controle glicêmico Derivado do ácido fíbrico (genfibrozila, fenofibrato) As estatinas são moderadamente eficazes em doses altas nos indivíduos hipertriglicerídicos que apresentem também um colesterol LDL alto. IV. Hiperlipidemia combinada Primeira escolha Aumento do controle glicêmico associado à dose de estatina Segunda escolha Aumento do controle glicêmico associado à estatina, ao derivado do ácido fíbrico (genfibrozila, fenofibrato) Terceira escolha Aumento do controle glicêmico associado à resina, ao derivado do ácido fíbrico (genfibrozila, fenofibrato) Aumento do controle glicêmico associado à estatina, ao ácido nicotínico (o controle glicêmico deve ser monitorado cuidadosamente). severa (> 1000 mg/dl, 11,3 mmol/l), a restrição do consumo de gordura (< 10% de calorias), associada ao tratamento farmacológico, é necessária para reduzir o risco de pancreatite. O aumento do controle glicêmico (facilitado pela introdução de novos agentes redutores de glicose e pelo uso mais freqüente de tratamento associado) é também muito eficaz para reduzir os níveis de triglicérides e deve ser amplamente empregado antes da introdução dos ácidos fíbricos. Após atingir um controle glicêmico ideal (ou pelo menos ao atingir o melhor controle glicêmico possível), o médico pode considerar a adição de um ácido fíbrico. Na Tabela 1, a decisão de iniciar o tratamento medicamentoso depende da avaliação do médico, quando os níveis de triglicérides estejam entre 200 (2,30 mmol/l) e 400 mg/dl (4,50 mmol/l). Acima de 400 mg/dl (4,50 mmol/l), deve-se considerar o tratamento farmacológico da trigliceridemia. Em contrapartida, um melhor controle glicêmico irá reduzir modestamente os níveis de colesterol LDL, e portanto, em pacientes diabéticos 347 com níveis altos de colesterol LDL e glicose, pode-se iniciar simultaneamente o tratamento com redutores de glicose e estatina. Em alguns estudos, doses mais altas de estatinas são moderadamente eficazes na redução dos níveis de triglicérides em indivíduos acentuadamente hipertrigliceridêmicos (triglicérides ≥ 300 mg/dl [3,40 mmol/l]). O aspecto fundamental é que o genfibrozila não deve ser iniciado isoladamente em pacientes diabéticos que apresentem níveis indesejáveis de triglicérides e colesterol LDL. O fenofibrato, um derivado do ácido fíbrico recentemente aprovado, pode apresentar um efeito maior na redução do LDL e pode ser útil para pacientes diabéticos com hiperlipidemia associada. Embora o colesterol HDL, como observado acima, seja um forte indicador de DAC, é difícil elevar os níveis de colesterol HDL sem a intervenção farmacológica. O ácido nicotínico, que é relativamente contra-indicado para pacientes diabéticos e os fibratos podem aumentar de forma efetiva os níveis de colesterol LDL. As intervenções no comportamento (perda de peso, interrupção do tabagismo, aumento da atividade física) podem aumentar o colesterol HDL. Em alguns casos, o tratamento associado pode ser iniciado. Várias opções são apresentadas na Tabela 3. A combinação das estatinas com ácido nicotínico e especialmente com genfibrozila ou fenofibrato foi associada a um aumento no risco de miosite, embora o risco de miosite clínica (em oposição aos níveis elevados de fosfocinase de creatinina) pareça menor. A associação de estatinas com ácido nicotínico é extremamente eficaz na modificação da dislipidemia diabética (com os maiores aumentos nos níveis de colesterol HDL), mas a combinação pode agravar de forma significativa a hiperglicemia. Assim, esta associação deve ser usada com bastante cuidado: empregue doses baixas de ácido nicotínico (≤ 2 g de ácido nicotínico por dia) com controle freqüente dos níveis de glicose. Agentes redutores de lipídios Geralmente, estão disponíveis um ou dois agentes em cada classe com exceção das estatinas em que existem muitas opções. A escolha da estatina depende principalmente da redução de LDL necessária para alcançar a meta (< 100 mg/dl [2,60 mmol/l], o nível inicial do LDL e a apreciação do médico. Deve-se observar também que doses mais altas de estatinas podem ser moderadamente eficazes na redução dos níveis dos triglicérides (embora não necessariamente na elevação dos níveis de HDL) e assim podem reduzir 348 Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 344–351 a necessidade de tratamento associado. Com o uso de altas doses de estatinas, os níveis de LDL devem ser reduzidos para 80 mg/dl (2,05 mmol/l) ou menos, e não existem dados de segurança nestes níveis baixos de LDL. O uso de doses muito altas de estatina (por ex, simvastatina 80 mg ou atorvastatina 40 ou 80 mg) para tratar a hipertrigliceridemia, deve restringir-se aos pacientes com níveis elevados de colesterol LDL, bem como, níveis elevados de triglicérides. Devem ser realizadas mudanças no tratamento em intervalos de 4 a 6 semanas dependendo dos resultados dos exames de controle. Considerações sobre o tratamento de adultos com diabetes tipo 1 Os pacientes diabéticos tipo 1 submetidos a um bom controle, tendem a apresentar níveis normais de lipoproteínas (e algumas vezes níveis inferiores ao normal). Sua composição de lipoproteínas pode ser anormal mas os efeitos destas anormalidades em relação ao DAC são desconhecidos. Existem relativamente poucos dados de observações sobre as lipoproteínas e a DAC, e não existem estudos clínicos relacionando as lipoproteínas à DAC. Parece razoável que: se os pacientes diabéticos tipo 1 apresentam níveis de colesterol LDL acima das metas recomendadas para pacientes diabéticos tipo 2 (Tabela 2), eles devem ser submetidos a um tratamento eficaz. Um melhor controle glicêmico pode ser até mesmo mais importante para os pacientes diabéticos tipo 1 que para os pacientes diabéticos tipo 2 na redução da DAC. Conclusões O tratamento intenso da dislipidemia diabética reduzirá provavelmente o risco de DAC em pacientes com diabetes. O tratamento inicial deve ser voltado, primeiro, para a redução dos níveis de LDL. A meta é reduzir as concentrações de LDL aos níveis recomendados para pacientes com DAC já existente (≤ 100 mg/dl [2,60 mmol/l]). O nível inicial em que são recomendadas intervenções no comportamento é de um nível de colesterol LDL > 100 mg/dl (2,60 mmol/l). O tratamento inicial deve ser o uso de estatina com adição de uma resina caso seja preciso para atingir a meta. Entretanto, os dados de estudos clínicos são limitados, especialmente em pacientes diabéticos sem DCV. Na ausência de tais dados, devido à alta mortalidade para pacientes diabéticos com o primeiro infarto do miocárdio, é indicado também o tratamento intensivo da dislipidemia. Para pacientes sem DCV anterior, a meta para o colesterol LDL é ≤ 100 mg/dl (2,60 mmol/l), o nível para iniciar o tratamento farmacológico é de ≥ 130 mg/dl para o LDL (3,35 mmol/l). Entretanto, em pacientes com múltiplos fatores de risco, algumas autoridades recomendam o início do tratamento medicamentoso quando os níveis de LDL estejam entre 100 e 130 mg/dl. O tratamento inicial da hipertrigliceridemia é a melhora do controle glicêmico. A redução dos triglicérides pode ser alcançada com doses muito altas de estatinas (para indivíduos com triglicérides e LDL altos) ou derivados de ácido fíbrico (genfibrozila ou fenofibrato). Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas ATUALIZAÇÃO American Diabetes Association Ano 2000 Recomendações para a prática médica X – Tratamento preventivo do pé diabético Úlceras no pé e amputações são a principal causa de morbidade, incapacidade e gastos para os diabéticos. A identificação precoce e o tratamento dos fatores de risco para úlceras e amputações podem prevenir ou adiar o início destas conseqüências adversas. Esta recomendação descreve as melhores formas para identificar e tratar os fatores de risco, antes que ocorra uma úlcera de pé ou que uma amputação se torne iminente. Identificação do risco A identificação do risco é fundamental para o tratamento preventivo eficaz do pé em pessoas com diabetes. O risco de úlceras ou amputações aumenta em pessoas com diabetes ≥ 10 anos, do sexo masculino, que não controlem de forma satisfatória a glicose ou apresentem complicações cardiovasculares, da retina ou renais. As quatro condições de risco do pé relacionadas a seguir estão associadas a um aumento do risco de amputação • Neuropatia periférica • Biomecânica alterada • Evidência de aumento na pressão (calos, eritema, hemorragia sob um calo) • Mobilidade limitada da junta, deformação óssea ou séria patologia da unha (unhas frágeis) • Doença periférica vascular e • História de úlceras ou amputação Exame do pé Todos os indivíduos com diabetes devem realizar um exame completo do pé, pelo menos uma vez ao ano, para identificar condições de alto risco. Este exame deve incluir uma avaliação da sensação protetora, estrutura do pé e biomecânica, condição vascular e integridade da pele. Pessoas com uma ou mais condições de alto risco devem ser avaliadas com maior freqüência para o desenvolvimento de outros fatores de risco. Pessoas com neuropatia devem realizar uma inspeção visual dos pés em cada consulta com um profissional de saúde. A avaliação da condição neurológica do pé de baixo risco deve incluir um teste somatossensório quantitativo, empregando o monofilamento de Semmes Weinstein ou sensação vibratória. A investigação inicial da doença vascular periférica deve incluir histórico da claudicação e avaliação da pulsação do pé. A pele deve ser avaliada quanto à integridade, especialmente entre os dedos, e sob as falanges metatársicas. A presença de eritema, calor ou formação de calos pode indicar áreas danificadas de tecido com colapso iminente. Devem ser avaliadas as deformidades ósseas, limitação na mobilidade da junta e problemas na marcha. Prevenção das condições de alto risco A polineuropatia simétrica distal é um dos prognósticos mais importantes de úlceras e amputação. O desenvolvimento de neuropatia pode ser adiado Atualização - American Diabetes Association / Diabetes Clínica 04 (2000) 344–351 de forma significativa pela manutenção dos níveis glicêmicos em valores os mais normais possíveis. Deve-se estimular a interrupção do tabagismo para reduzir o risco de complicações por doença vascular. Tratamento das condições de alto risco Pessoas com neuropatia ou evidência de aumento na pressão plantar podem ser tratadas de forma adequada com calçados com sola apropriada para caminhada ou calçados indicados para atletas. Os pacientes devem ser orientados sobre as implicações da perda sensorial e as formas de substituir outras modalidades sensoriais (palpação com a mão, inspeção visual) para supervisão dos problemas precoces. Pessoas com evidência de aumento da pressão plantar (por exemplo, eritema, calor, calo, ou pressão) devem usar calçados que amorteçam e redistribuam a pressão. Os calos devem ser aparados com um bisturi por um especialista ou outro profissional de saúde com experiência e especialização no cuidado de pés. Pessoas com deformidades ósseas (por ex. deformidade do segundo dedo do pé, joanetes) podem necessitar de calçados mais largos ou mais fundos. Pessoas com deformidades ósseas extremas (por ex., pé de Charcot) que não pode calçar os sapatos terapêuticos comercializados, podem necessitar de calçados sob medida. Pessoas com sintomas de claudicação devem ser submetidas à avaliação vascular. O tratamento com exercício e cirurgia pode ser considerado. Pessoas com história de úlceras devem ser avaliadas quanto à patologia subjacente que leva à ulceração e podem ser tratadas de forma apropriada. 351 Educação do paciente Os pacientes com diabetes e condições de alto risco do pé devem ser orientados quanto aos fatores de risco e o tratamento apropriado. Deve-se obter primeiro uma avaliação despretensiosa do atual conhecimento e das práticas empregadas no cuidado dos pés. Os pacientes sob risco devem entender as implicações da perda de sensibilidade protetora, a importância do acompanhamento diário do pé, o cuidado apropriado do pé, incluindo unhas e pele, e a seleção de um calçado apropriado. A compreensão pelo paciente destes aspectos e sua capacidade física para conduzir a própria supervisão e cuidado do pé devem ser avaliadas. Pacientes com neuropatia devem ser aconselhados a amaciar os novos calçados gradualmente para minimizar a formação de bolhas e úlceras. Pacientes com dificuldades visuais, limitações físicas que impeçam o movimento, ou problemas cognitivos que prejudiquem sua capacidade de avaliar a condição do pé e para estabelecer respostas apropriadas necessitarão de outras pessoas, como seus familiares, para auxiliar no tratamento. Pacientes com baixo risco podem se beneficiar da educação sobre o cuidado do pé e sobre os calçados. Orientadores Todos os profissionais de saúde envolvidos no tratamento de pessoas com diabetes devem ser capazes de conduzir um simples exame de detecção dos sistemas neurológicos, vasculares, dermatológicos e músculoesqueléticos. Aqueles que se interessem pelo tratamento do pé, devem optar por treinamento adicional e oferecer um tratamento voltado para as condições de alto risco do pé. Pode ser necessário um conhecimento adicional quanto à orientação do paciente, modificações nos calçados e cuidados com os calos e tratamento cirúrgico. Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 354 − 358 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas ARTIGO ORIGINAL Estratégias atuais de tratamento do paciente diabético obeso Luiz Alberto A. Turatti*, Alfredo Halpern** *Equipe Médica de Diabetes. Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Grupo de Obesidade do Hospital Israelita Albert Einstein - São Paulo **Grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Grupo de Obesidade do Hospital Israelita Albert Einstein - São Paulo 1. Introdução A prevalência de sobrepeso e obesidade em diversos países do mundo tem se elevado de forma rápida e assustadora. A Organização Mundial da Saúde em seu relatório de 1998 alerta sobre uma epidemia global de obesidade. Agregada a esta epidemia, a prevalência de diabetes do tipo 2 está em ascensão e espera-se ainda maior incremento destas taxas [1]. A elevada incidência de casos de diabetes de tipo 2 e suas complicações micro e macrovasculares indicam para um problema de saúde pública global a ser enfrentado [1]. Estima-se em 15,6 milhões o número de pacientes com diabetes nos Estados Unidos. 8% dos homens e mulheres acima de 20 anos têm diabetes [3]. O diabetes de tipo 2 é responsável por cerca de 90-95% de todos os casos diagnosticados de diabetes [4]. Os dados do 3rd National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III) indicam que, entre aqueles diagnosticados com diabetes, 67% apresentam IMC (índice de massa corpórea) de até 27 kg/m² e 46% apresentam IMC de até 30 kg/m². O risco de desenvolvimento de diabetes aumenta dramaticamente com o aumento do grau de sobrepeso e alguns estudos demonstram risco aumentado, tanto em baixos índices de IMC, como nos pequenos incrementos de ganho ponderal após os 18 Correspondência : Dr. Luiz Alberto Turatti, Av. Nova Independência 683 Brooklin - São Paulo (SP) CEP: 04570-001 - e-mail: [email protected] anos [5]. A adiposidade visceral aumenta o risco de hiperinsulinemia e intolerância à glicose em relação ao IMC [6]. O dramático aumento da obesidade durante a última década tem sido acompanhado por um aumento de 25% na prevalência do diabetes de tipo 2 [7]. O sobrepeso e a obesidade, principalmente aquela de característica central, apresentam uma relação clara e facilmente demonstrada no desenvolvimento do diabetes mellitus de tipo 2. Alterações no metabolismo de carboidratos e lipídeos estão associadas com sobrepeso e obesidade. A incidência de hipercolesterolemia é proporcional ao incremento do IMC e, via de regra, os níveis de colesterol total estão aumentados em indivíduos com obesidade de predomínio abdominal [8]. Da mesma forma, níveis elevados de IMC também estão relacionados com aumento dos triglicerídeos, diminuição da subfração HDL e elevação dos níveis de LDL com predomínio destas partículas de características pequenas e densas, portanto mais aterogênicas [9]. A incidência de quadros de resistência à insulina e diabetes tipo 2 também aumenta conforme a elevação do IMC [10]. Além disso, a alta incidência de hiperinsulinemia, resistência à insulina e diabetes tipo 2 está relacionada a um excesso de distribuição de tecido adiposo na região abdominal [6]. A obesidade piora a resistência à insulina, hiperinsulinemia e hiperglicemia e sabidamente a probabilidade de desenvolvimento de anormalidades hemodinâmicas e metabólicas que caracterizam a síndrome pluri- Turatti LAA e Halpern A / Diabetes Clínica 04 (2000) 354 – 358 metabólica é maior nos pacientes que ganharam mais peso ao longo do tempo [11]. A síndrome de resistência à insulina está associada com alto risco de desenvolvimento de doença coronariana e a doença macrovascular é a maior causa de mortalidade em pacientes diabéticos tipo 2 [12]. Devido a freqüente associação entre excesso de peso em pacientes diabéticos, o tratamento rigoroso da obesidade é essencial no manejo destes pacientes. Mesmo pequenas reduções de peso (5-10%) estão intimamente relacionadas à melhora do controle metabólico e níveis pressóricos, reduzindo desta forma a mortalidade relacionada ao diabetes. O tratamento do paciente diabético inclui necessariamente os seguintes fatores: educação, modificações do estilo de vida, atividade física, dieta hipocalórica balanceada e uso de medicamentos quando indicados. Ademais, o tratamento concomitante das co-morbidades (dislipidemia, hipertensão arterial, hiperuricemia, etc) é essencial para redução da mortalidade cardiovascular destes indivíduos. Os objetivos do tratamento estão resumidos na tabela 1. Tabela 1: Objetivos do tratamento do diabetes mellitus tipo 2 (Recomendações da SBD) Hemoglobina glicosilada (%) * Colesterol (mg/dl) • Total • HDL • LDL 3. Educação alimentar Este é sem dúvida um dos fatores principais no tratamento do diabetes. O objetivo geral é atingir o controle metabólico satisfatório através da mudança dos hábitos alimentares. Os objetivos específicos do tratamento nutricional são: 2. Tratamento do diabético obeso Glicose plasmática (mg/dl)* • Jejum • 2 horas pós-prandial 355 110 140 Limite superior do método < 200 > 45 < 100 Triglicerídeos (mg/dl) Pressão arterial (mm Hg) • Sistólica • Diastólica < 150 Índice de massa corporal (kg/m²) 20-25 < 135 <80 * Quanto ao controle glicêmico, deve-se procurar atingir valores os mais próximos do normal. Como muitas vezes não é possível, aceita-se, nestes casos, valores de glicose plasmática em jejum até 126 mg/dl e de duas horas pós-prandial até 160 mg/dl e níveis de hemoglobina glicosilada até um ponto percentual acima do limite superior do método utilizado. Acima destes valores é sempre necessário realizar intervenção para melhorar o controle metabólico. • Normalização dos níveis glicêmicos através da combinação de dieta, atividade física e uso de antidiabéticos orais ou, também, insulina. • Normalização dos lipídeos plasmáticos. • Prover valor calórico total necessário para obtenção ou, também, manutenção do peso desejado. • Prevenir e tratar as complicações agudas dos pacientes em insulinoterapia (hipoglicemias, problemas relacionados ao exercício) e complicações crônicas (doença renal, neuropatia autonômica, hipertensão arterial e doença cardiovascular). • Melhora global do padrão dietético. Dietas hipocalóricas e perdas de peso geralmente melhoram os níveis glicêmicos a curto prazo e facilitam o controle metabólico destes pacientes. O plano alimentar utilizado deve respeitar aspectos individuais, nutricionais, econômicos e psicossociais. Nos indivíduos obesos deve-se utilizar uma dieta hipocalórica com redução de 500-1000 kcal/dia da necessidade calórica diária no intuito de promover perdas de peso ao redor 0,5 a 1,0 kg/semana. O uso da dieta hipocalórica, independente da perda de peso, está associado a uma melhora da sensibilidade insulínica e dos níveis glicêmicos. Perdas moderadas de peso (5-10 kg) demonstraram melhora dos níveis glicêmicos, pressóricos e dos lipídeos plasmáticos. O paciente deve ser informado sobre a vantagem do fracionamento das refeições, divididas em 3 refeições principais e 2-3 refeições complementares (lanches) assim como a importância de se manter constante a quantidade diária ingerida de hidratos de carbono. A quantidade de hidratos de carbono deve perfazer 50-60% da necessidade calórica diária enquanto as gorduras não devem ultrapassar 30% (as gorduras saturadas deverão corresponder no máximo 7%). A quantidade de proteína deve variar entre 10-20% (0,8 a 1,0g/kg de peso em pacientes com função renal inalterada). Recomenda-se também que a dieta seja rica em fibras solúveis e insolúveis (25-30 g/d) encontrados nos mais diversos componentes alimentares 356 Turatti LAA e Halpern A / Diabetes Clínica 04 (2000) 354 – 358 (frutas, verduras e legumes). Atenção especial deve ser observada quanto a ingesta de sal nos pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica. Os edulcorantes (adoçantes) podem ser úteis respeitando-se o seu valor calórico. A sacarina, aspartame, acessulfame K, sucralose e ciclamato possuem quantidades mínimas de calorias, sendo que este último não deve ser utilizado em hipertensos, enquanto a frutose deve ter seu uso evitado devido ao seu alto valor calórico. 4. Exercício físico O papel do exercício físico nos pacientes obesos portadores de diabetes é de extrema importância. É sabido que indivíduos obesos que mantém uma atividade física constante e adequada apresentam menor morbi-mortalidade quando comparados a obesos sedentários. Durante a atividade física observa-se melhora da sensibilidade periférica à insulina devido à mobilização dos estoques de glicogênio e aumento da oxidação de ácidos graxos livres. Em decorrência destes efeitos, nota-se melhora do controle glicêmico e dos níveis de hemoglobina glicada, com maior utilização da glicose pelo tecido muscular. A melhora da sensibilidade periférica à insulina parece também contribuir diretamente com a diminuição do risco cardiovascular encontrado nesses indivíduos. Além dos benefícios acima mencionados, observa-se redução dos níveis pressóricos, redução dos níveis do fator inibidor da enzima ativadora do plasminogênio (PAI-1), aumento dos níveis de HDL e redução dos níveis de triglicerídeos ricos em VLDL. Atenção especial deve ser observada quanto ao tipo e a freqüência dos exercícios físicos em pacientes diabéticos portadores de complicações crônicas tais como retinopatia, nefropatia, doença arterial periférica, neuropatia periférica e autonômica. 5. Tratamento medicamentoso da hiperglicemia O tratamento medicamentoso com o uso de drogas hipoglicemiantes deve ser introduzido quando não se obtém níveis glicêmicos satisfatórios após o uso de dieta alimentar adequada e atividade física. O uso de medicamentos combinados com diferentes mecanismos de ação pode ser útil em pacientes mal controlados com monoterapia. 6. Tratamento medicamentoso da obesidade Os medicamentos disponíveis no nosso meio para o tratamento da obesidade podem ser assim divididos de acordo com seu mecanismo de ação: 6.1. Diminuição da ingesta alimentar Anorexígenos à Ação noradrenérgica (Femproporex, Anfepramona e Mazindol) Atuam estimulando a liberação e bloqueando a recaptação de noradrenalina nos receptores beta- Tabela 2: Medicamentos anti-diabéticos: mecanismo de ação e efeito clínico (Recomendações da SBD). Medicamento Mecanismo de ação Redução da glicemia de jejum (mg/dl) Redução da hemoglobina glicada (%) Efeito sobre o peso corporal Sulfoniluréias, repaglinida e nateglinida Aumento da secreção de insulina 60-70 1,5-2,0 Aumento Metformina Aumento da sensibilidade à insulina no fígado 60-70 1,5-2,0 Diminuição Acarbose Retardo da absorção carboidratos 20-30 0,7-1,0 Sem efeito Tiazolidinedionas Aumento da sensibilidade à insulina no músculo 35-40 1,0-1,2 Aumento Turatti LAA e Halpern A / Diabetes Clínica 04 (2000) 354 – 358 adrenérgicos hipotalâmicos. Os principais efeitos colaterais incluem insônia, agitação, boca seca, irritabilidade e constipação intestinal. Sacietógenos à Ação serotoninérgica (Fluoxetina, Sertralina) Atuam através da inibição da recaptação de serotonina, favorecendo a saciedade. Apresentam bons efeitos em pacientes com distúrbios de comportamento alimentar (compulsivos, “comedores noturnos”, etc). Em geral, perdem boa parte de sua eficácia após 3-4 meses de tratamento. Ação mista à Ação serotoninérgica + adrenérgica (Sibutramina) A sibutramina tem seu mecanismo de ação desempenhado pela inibição da recaptação de serotonina (5-HT) e noradrenalina (NA) sem contudo aumentar a liberação dessas substâncias. Promove perdas de peso através do estímulo da saciedade e parece também apresentar um certo efeito calorigênico. Estudos clínicos realizados com a sibutramina tanto a curto quanto a longo prazo demonstraram a eficácia da sibutramina em doses que variaram de 10-30 mg/d quando comparadas ao grupo placebo. Levando-se em conta os resultados desses estudos, efeitos colaterais e tolerabilidade da droga, conclui-se que a dose indicada para uso clínico varia de 10-15 mg/d em dose única diária. Seus principais metabólitos ativos atingem níveis plasmáticos constantes nas primeiras 72 horas, indicando um rápido efeito da medicação já no início do tratamento. Os efeitos colaterais mais encontrados foram: boca seca, náuseas, sudorese, taquicardia e discreta elevação dos níveis da pressão arterial. Tais efeitos foram discretos e em geral relacionados a doses maiores que as utilizadas habitualmente. Tabela 3. Efeito do tratamento com sibutramina do paciente diabético obeso Peso corporal ≥ 5% ≥ 10% HbA1c Triglicerídeos HDL-colesterol Apoliproteína B Sibutramina (15 mg/d) Placebo -7,3% 65,0% 27,0% -0,3% -11,1% +2,9% -3,1% -2,4% 17,0% 5,0% -0,2% +7,9% -3,4% 0,0% P <0,001 <0,001 <0,001 — <0,001 <0,001 — 357 Rissanen A et al realizaram um estudo duplo-cego, controlado por placebo em pacientes diabéticos tipo 2. Foram estudados 236 pacientes randomizados (114 grupo sibutramina, 122 grupo placebo), utilizando sibutramina 15 mg/d + dieta hipocalórica durante 12 meses [13]. Os principais resultados encontram-se na tabela abaixo. Griffiths et al. realizaram um estudo com duração de 12 semanas em 91 pacientes obesos diabéticos (IMC entre 26 e 35 kg/m²) divididos em 2 grupos, comparando o uso de sibutramina 15 mg/d e placebo. Ao final do estudo a média de perda de peso foi significativamente maior no grupo que fez uso da medicação (2,4 vs 0,1 kg p < 0,001). Ao final de 12 semanas, o mesmo estudo foi prorrogado com os 2 grupos passando a utilizar a medicação na dose inicial. A perda total de peso ao final do estudo (24 semanas) foi similar em ambos os grupos (3,8 vs. 3,0%), entretanto os pacientes que fizeram uso da sibutramina também no período inicial do estudo, apresentaram perda de peso inferior na segunda metade do estudo quando comparados aos indivíduos sem uso prévio da medicação (0,7 vs. 2,3 %) [14]. Os resultados encorajadores dos poucos estudos utilizando sibutramina em pacientes diabéticos fazem crer que essa medicação possa ser considerada como uma boa opção no tratamento medicamentoso do paciente diabético. 6.2 Diminuição da absorção intestinal de gorduras (orlistat) O orlistat atua inibindo a lipase intestinal e conseqüentemente reduzindo em 30% a absorção da gordura ingerida. Não apresenta absorção sistêmica e portanto seus efeitos colaterais são relacionados ao trato gastrointestinal e dependentes da quantidade de gordura ingerida (flatulência, aumento do número de evacuações, evacuações oleosas, urgência fecal e incontinência fecal). Hollander et al. estudaram o uso do orlistat em diabéticos bem controlados com hipoglicemiantes orais durante 52 semanas com melhora significativa dos lipídeos e dos níveis glicêmicos. Ao final das 52 semanas o grupo que utilizou orlistat 3x/dia apresentou redução de 9% do colesterol total, 13% do LDL e 11% dos triglicerídeos. Embora os níveis glicêmicos obtiveram modesta redução no grupo orlistat, no grupo placebo observou-se discreta elevação dos mesmos. Os níveis de insulina de jejum ao final do estudo reduziram em aproximadamente 5% no grupo tratado com orlistat em comparação a um incremento de 4,3% no grupo placebo [15]. 358 Turatti LAA e Halpern A / Diabetes Clínica 04 (2000) 354 – 358 Encontra-se em fase final um estudo multicêntrico latino-americano utilizando orlistat em pacientes diabéticos com resultados demonstrando melhora nos parâmetros clínico-laboratoriais nos pacientes que fizeram uso da medicação quando comparados ao grupo placebo. 5.Tratamento cirúrgico da obesidade O tratamento cirúrgico da obesidade (cirurgia bariátrica) constitui-se em uma alternativa válida com resultados bastante animadores para indivíduos com IMC superior a 40 kg/m² ou para aqueles com IMC superior a 35 kg/m² na presença de co-morbidades (diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemias, alterações ortopédicas, etc). Dados obtidos de estudos prospectivos, não controlados, demonstram que a cirurgia promove perdas de peso, melhora o controle glicêmico e pode prevenir a progressão de estados de intolerância à glicose para diabetes tipo 2 [16]. Pories et al. estudando 608 pacientes submetidos a gastroplastia, acompanhados por 14 anos, demonstraram que 82,9% dos 146 pacientes previamente diabéticos e 98,7% dos 152 pacientes intolerantes à glicose obtiveram normalização dos níveis de glicemia e hemoglobina glicada [17]. A progressão de intolerância à glicose para diabetes tipo 2 foi examinada avaliando-se 109 obesos submetidos a gastroplastia e 27 pacientes controles que recusaram a cirurgia (IMC~ 49,5 kg/m²). Pacientes submetidos à cirurgia obtiveram perdas de peso de até 50% enquanto o grupo controle não obteve perda de peso. Apenas 1 paciente (< 1%) submetido a gastroplastia desenvolveu diabetes mellitus comparado a 6 indivíduos (22%) do grupo controle [18]. Referências 1. 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Barros*, Uelra Rita Lourenço**, André Arpad Faludi***, Marcelo Chiara Bertolami**** *Médico Residente (R4) da Seção Médica de Dislipidemias do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Pós-graduando (nível doutorado) em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da USP (Instituto do Coração da FMUSP), ** Médica Residente (R2) de Cardiologia Clínica do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, *** Médico da Seção Médica de Dislipidemias do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Pós-graduando (nível doutorado) em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da USP (Instituto do Coração da FMUSP), **** Chefe da Seção Médica de Dislipidemias do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) Resumo A dislipidemia no paciente diabético está intimamente relacionada às modificações metabólicas de base, tendo seu início bem antes do diagnóstico clínico de diabetes mellitus. A importância do controle dos fatores de risco associados é de fundamental importância na prevenção de eventos cardiovasculares, principal causa de óbito nessa população. O diagnóstico laboratorial da dislipidemia deve levar em conta o estado metabólico do paciente no momento da investigação e o controle glicêmico rigoroso é essencial para seu tratamento. As medidas higieno-dietéticas têm grande valor nesse grupo de pacientes, visando, além da redução de lípides, manutenção da glicemia e peso ideais para o paciente. O tratamento farmacológico tem suas melhores alternativas no uso isolado ou associado de vastatinas e fibratos, que já têm evidências de benefícios pelo controle do LDL-colesterol (abaixo de 100 mg/dl), principalmente, e dos triglicérides, com aumento do HDL-colesterol. Introdução A dislipidemia e o diabetes mellitus são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de aterosclerose. Os dados epidemiológicos mostram que eles, além de funcionarem como fatores de risco independentes, potencializam um ao outro e também outros fatores como hipertensão arterial sistêmica, obesidade, tabagismo, sedentarismo, estresse emocional, sexo e idade. O diabetes não insulino-dependente ou diabetes de tipo 2 aumenta o risco de todas as manifestações de doença vascular incluindo a doença aterosclerótica Endereço para correspondência: Marcelo Chiara Bertolami, Av. Sabiá 667/14, CEP 04515-000, Moema, São Paulo, SP. E-mail: [email protected] coronariana (DAC), a doença cerebrovascular e a doença vascular periférica [1]. A incidência de DAC em diabéticos tipo 2 é aumentada de duas a quatro vezes [2] e, além disso, a prevalência de diabetes tipo 2 é pelo menos duas a três vezes maior em pacientes com DAC estabelecida do que na população geral [3]. As mulheres diabéticas parecem perder sua proteção inerente contra a doença aterosclerótica [4]. Entre as dislipidemias secundárias, o diabetes mellitus figura entre as causas mais comuns. Independentemente desse dado, no momento do diagnóstico de diabetes mellitus, em torno de metade dos pacientes já apresentam algum grau de aterosclerose [5] e, em evolução de sete anos, os pacientes diabéticos em prevenção primária, ou seja, sem o diagnóstico de doença aterosclerótica manifesta, apresentaram incidência de eventos cardiovasculares semelhante aos não-diabéticos em Barros MRAC et al / Diabetes Clínica 04 (2000) 360 – 367 prevenção secundária, enquanto nos pacientes diabéticos em prevenção secundária, o risco de novo evento cardiovascular se mostrou duas e meia vezes maior em relação aos grupos anteriores [6]. Os dados mostram que as causas cardiovasculares são responsáveis por dois em três óbitos em pacientes diabéticos [7]. O contexto metabólico que precede a hiperglicemia em pacientes com resistência à insulina já predispõe ao desenvolvimento da doença aterosclerótica, por alterações quantitativas e qualitativas nas lipoproteínas, entre outros aspectos. Além disso, o controle rigoroso da glicemia em pacientes diabéticos do tipo 2 não mostrou benefício na redução de eventos cardiovasculares a longo prazo [8], sugerindo que o controle dos fatores de risco associados no paciente diabético assume vital importância. Nesta revisão será abordado o manejo específico das dislipidemias no paciente diabético do tipo 2. Dislipidemia no paciente diabético O metabolismo das lipoproteínas está modificado pelas alterações próprias da hiperinsulinemia e/ou hiperglicemia, sendo o padrão de dislipidemia mais comum no paciente diabético composto por aumento dos níveis séricos das lipoproteínas ricas em triglicérides, principalmente no período pós-prandial (quilomícrons, seus remanescentes e VLDL), associado à redução da concentração sérica da lipoproteína de alta densidade (HDL). Este perfil é visto em até um terço dos diabéticos, incluindo aqueles com bom controle glicêmico. Em contraste, os níveis de colesterol total e LDL-colesterol são similares aos dos indivíduos não diabéticos. A etiopatogenia dessa dislipidemia é complexa e envolve uma variedade de fatores incluindo hiperinsulinemia, insulino-resistência, hiperglicemia e distúrbio do metabolismo dos ácidos graxos. A resistência à insulina leva a aumento da atividade da lipase tecidual, o que produz maior liberação de ácidos graxos livres do tecido adiposo, com conseqüente aumento da oferta de ácidos graxos livres ao fígado. Este processo, associado à diminuição do efeito inibitório da insulina sobre a síntese hepática de lipoproteínas que contêm apoproteína (apo) B-100, resulta em hipertrigliceridemia e aumento da produção de lipoproteínas ricas em triglicérides. Além disso, há diminuição do catabolismo dessas lipoproteínas, incluindo VLDL e quilomícrons, por menor atividade da lipase lipoprotéica, que está ligada ao endotélio e é insulino-sensível [9]. Relacionada à lipase lipoprotéica também está a produção de “HDL-nascentes”, produto do catabolismo 361 das VLDL e quilomícrons. Nos diabéticos ocorre redução da atividade dessa enzima, observando-se menor produção de partículas de HDL. Além disso, proporcionalmente ao aumento de VLDL no plasma, a atividade de outra enzima, a cholesterol ester transfer protein (CETP), também se eleva. Com isso, existe maior troca de triglicérides das VLDL por colesterol das HDL no próprio plasma, não completando o “transporte reverso do colesterol” e aumentando o catabolismo dessa última partícula [9]. Embora a maioria dos pacientes diabéticos não apresente alteração quantitativa nos níveis séricos de colesterol carreado pela lipoproteína de baixa densidade (LDL), a alteração qualitativa dessa lipoproteína que acompanha o perfil descrito acima é de grande importância. O metabolismo anormal das partículas ricas em triglicérides leva à produção de LDL com menor tamanho e maior densidade, o que lhe confere menor afinidade pelos receptores, o que resulta em maior meia-vida plasmática. Além disso, admite-se que essas partículas de LDL pequenas e densas têm maior oxidabilidade em tecidos periféricos. Essa subclasse de LDL está associada à maior incidência de DAC também em não diabéticos, como nos portadores da hiperlipidemia combinada familiar (HCF) [10]. Entretanto, nesta moléstia, sugere-se o papel da resistência à insulina na gênese das alterações lipídicas, da mesma forma que para os diabéticos. Este perfil tipicamente encontrado em diabéticos do tipo 2, caracterizado por aumento dos triglicérides, presença de LDL pequenas e densas e HDL-colesterol diminuído tem sido denominado dislipidemia aterogênica, tríade lipídica ou dislipidemia diabética. Vale a pena ressaltar que, a despeito do diagnóstico de diabetes mellitus, o paciente pode apresentar outras doenças, de características hereditárias ou não, que venham a interferir no metabolismo lipídico e causar outros padrões de dislipidemia, de modo que é importante estar atento para a presença de hipotireoidismo, síndrome nefrótica, uso de medicamentos que possam interferir no perfil lipídico e mesmo da hipercolesterolemia isolada familiar, que proporcionam perfis metabólicos e laboratoriais distintos e devem ter enfoques específicos. Avaliação da dislipidemia no paciente diabético A dislipidemia deve ser avaliada à luz do metabolismo glicídico do paciente. Como já referido, a hiperglicemia, assim como a hiperinsulinemia, está associada a alterações lipídicas. A obesidade também é intimamente 362 Barros MRAC et al / Diabetes Clínica 04 (2000) 360 – 367 relacionada a ambos os aspectos, glicídico e lipídico, e freqüentemente está presente no paciente diabético do tipo 2. Assim, pode-se dizer que a avaliação laboratorial da dislipidemia deve ser realizada, se possível, com o paciente dentro da faixa preconizada para o controle glicêmico. Devido à estreita relação entre os níveis da glicemia e da trigliceridemia, o tratamento da hipertrigliceridemia isolada ou da dislipidemia mista deve objetivar inicialmente o controle da glicemia em valores ideais. É possível, que no diabético com níveis elevados de glicemia, a presença de dislipidemia mista com predomínio de triglicérides, da mesma forma que da hipertrigliceridemia isolada, seja decorrente somente de elevação das VLDL, pois embora estas lipoproteínas sejam ricas em triglicérides, contêm também colesterol, podendo ser responsáveis por discreta a moderada hipercolesterolemia, que tenderá a desaparecer com o controle da glicemia e diminuição conseqüente Tabela 1. Fatores de rico e mecanismos de desenvolvimento de aterosclerose no paciente diabético [14]. Fator de risco Mecanismo Hiperglicemia Glicação e oxidação de lipoproteínas; altera fatores de crescimento e permeabilidade vascular, entre outros Hiperinsulinemia Matriz vascular, proliferação de células musculares lisas arteriais, PAI-1, LDL pequenas e densas. Obesidade visceral Resistência à insulina, dislipidemia PAI-1 (inibidor do ativador do plasminogênio) Fibrinólise Adesividade e agregabilidade plaquetária Trombogênese Fibrinogênio sérico Trombogênese, aterogênese Estado oxidativo Oxidação de lipoproteínas, disfunção endotelial Disfunção renal Hipertensão, oxidação Neuropatia autonômica Morte súbita Alteração da reatividade vascular Vasoconstrição, isquemia, hipertensão Dislipidemia Aterogênese, disfunção endotelial dos níveis sangüíneos de VLDL. Por outro lado, em pacientes diabéticos não controlados, a avaliação da dislipidemia mista sem o predomínio de triglicérides deve ter enfoque principal na hipercolesterolemia além da otimização da terapêutica hipoglicemiante. Os níveis séricos de triglicérides relacionados às alterações metabólicas acima descritas - principalmente a formação de LDL pequenas e densas - estão bem abaixo do valor atualmente preconizado como alvo do tratamento, ou seja, menos de 200 mg/dl. Sabe-se que a formação de LDL pequenas e densas já acontece em 90% dos pacientes a partir de concentrações plasmáticas de triglicérides acima de 200 mg/dl, enquanto quando os triglicérides estão abaixo de 90 mg/dl, praticamente todas as partículas de LDL são normais (buoyant) [11]. O IIo Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias [11], reconheceu o maior risco implementado pelas lipoproteínas ricas em triglicérides nos diabéticos e determinou, nestes casos, o valor abaixo de 150 mg/dl como alvo de triglicérides. Entretanto, pelo dado citado acima, este valor ainda parece ser elevado demais. Vale ressaltar que, apesar da fórmula de Friedewald permitir o cálculo do LDL-colesterol em situações com triglicérides abaixo de 400 mg/dl [12], já é observado desvio a partir de triglicérides acima de 250 mg/dl [13] pacientes não diabéticos -, o que pode estar exacerbado no contexto metabólico do diabete tipo 2. Quanto à hipercolesterolemia isolada, sabe-se que é pouco afetada pelo metabolismo anormal da glicose, em geral encontrando-se as dosagens de colesterol total e do LDL-colesterol dentro dos limites aceitáveis ou discretamente elevadas em relação a indivíduos nãodiabéticos. O diagnóstico de diabetes mellitus, per si, faz com que esses limites sejam mais rigorosos e, habitualmente, os pacientes estejam acima do ponto de corte. O alto risco de desenvolvimento de doença aterosclerótica que o diabetes mellitus confere aos pacientes advém dos aspectos expostos na tabela 1. Por isso, é preconizado o valor alvo de LDL-colesterol abaixo de 100 mg/dl para indivíduos diabéticos, independentemente de tratar-se de prevenção primária ou secundária. O valor alvo para o HDL-colesterol nesses pacientes é acima de 35 mg/dl. A dosagem sérica de apo B e sua relação com o LDL-colesterol podem sugerir a presença de LDL pequenas e densas, uma vez que essa proteína se encontra nas partículas não-HDL, na proporção de uma por partícula e, na ausência de hipercolesterolemia e/ou hipertrigliceridemia marcantes, deduz-se que existe maior número de partículas carreando o colesterol disponível, portanto sendo menores e mais densas que o esperado. A concentração elevada de apo B em paciente 364 Barros MRAC et al / Diabetes Clínica 04 (2000) 360 – 367 com hiperinsulinemia aumenta significativamente o risco de DAC [15]. Atualmente, de acordo com o segundo Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias [11], os valores alvo para controle da dislipidemia nos pacientes diabéticos e não-diabéticos são os apresentados na tabela 2. Tabela 2. Valores alvo de colesterol total, LDL-colesterol, HDLcolesterol e triglicérides para a prevenção primária e secundária em diabéticos e não diabéticos. mg/dl Tratamento da dislipidemia no paciente diabético Controle do diabetes No tratamento da dislipidemia do paciente diabético é necessário ter em mente que os distúrbios metabólicos de base - hiperglicemia, hiperinsulinemia, associados ou não à obesidade - influem sobre a apresentação clínicolaboratorial. Por isso, atenção especial deve ser dispensada ao controle metabólico do diabetes mellitus. As medidas higieno-dietéticas são de essencial importância no controle da dislipidemia no paciente diabético por efeito tanto no metabolismo lipídico quanto na hiperglicemia, principalmente pela diminuição da resistência periférica à insulina. Sabe-se que o bom controle do diabetes de tipo 1 previne ou até reverte complicações vasculares [16]. Da mesma forma, no diabetes de tipo 2, o adequado controle glicêmico mostrou ser capaz de prevenir complicações microvasculares (retinopatia, nefropatia e neuropatia), entretanto não demonstrou prevenir o desenvolvimento das complicações macrovasculares [17] (DAC, doença arterial cerebral e periférica). Alternativamente, medidas cuidadosas de tratamento envolvendo exercício físico e diferente procedimentos dietéticos combinados com fármacos orais ou insulina parecem melhorar, mas não normalizar totalmente [18] as desordens lipídicas do diabetes, sugerindo que, em grandes grupos de pacientes, tratados por períodos de tempo suficientemente longos, efeitos benéficos poderão ser vistos nas manifestações das complicações clínicas vasculares do diabete. A adequação ao peso ideal e a atividade física programada agem reduzindo triglicérides e aumentando o HDL-colesterol, o que, especificamente no paciente diabético do tipo 2, tem benefícios magníficos. Associada à dieta para o diabetes, a redução da ingesta de colesterol, o aporte de gorduras monoinsaturadas substituindo as saturadas, e parte dos carboidratos, traz efeitos metabólicos benéficos em relação à dislipidemia [19]. A associação de fitosteróis a produtos alimentares habituais, como a margarina, também pode proporcionar benefício adicional [20], inclusive à terapia farmacológica, desde que seja observada a dose diária de 20 g desse composto. Colesterol total LDL-colesterol HDL-colesterol Triglicérides Não-diabéticos Diabéticos Prevenção Primária < 240 < 130* > 35 < 200 Prevenção Primária < 200 < 100 > 35 < 150 Prevenção Secundária < 200 < 100 > 35 < 200 Prevenção Secundária < 200 < 100 > 35 < 150 *Pacientes com 2 ou mais fatores de risco para DAC. Em pacientes com menos de 2 fatores de risco, o valor aceitável é até 160 mg/dl. As fibras naturais hidrossolúveis, como as encontradas na aveia e feijões, podem ter efeito redutor do colesterol, enquanto os vegetais verdes, podem ter efeito benéfico adicional por sua riqueza em antioxidantes hidro e lipofílicos. Estes produtos podem ser especialmente benéficos no diabetes de tipo 2 [21] com conteúdo aumentado das LDL pequenas e densas, facilmente oxidáveis. A administração de insulina a diabéticos de tipo 2, em contraste com não diabéticos, não parece reduzir a síntese de VLDL. O tratamento intensivo com insulina em diabéticos de tipo 2, melhorou bastante o controle glicêmico, mas até piorou a trigliceridemia, provavelmente pelo aumento de peso apresentado pelos pacientes [22]. O tratamento com medicamentos hipoglicemiantes orais, de modo geral, melhora a dislipidemia dos diabéticos, por permitir melhor controle glicêmico. Outra eventual possibilidade de benefício com a utilização desses fármacos depende de capacidade antioxidante que alguns parecem possuir, como é o caso das glitazonas [23]. Tratamento farmacológico O tratamento farmacológico das alterações lipídicas em pacientes diabéticos baseia-se em dados obtidos de estudos na população em geral, de análises de subgrupos de diabéticos que foram envolvidos em certos estudos e em alguns estudos menores especificamente projetados para a população portadora de diabetes mellitus. Entre as opções menos estudadas estão a colestiramina e o ácido nicotínico e seus derivados. A primeira, comprovadamente redutora de colesterol, tem seu uso na prática clínica como adjuvante à terapia hipolipemiante com vastatinas ou em crianças ou mulheres em fase fértil, hipercolesterolêmicas, que tolerem os seus Barros MRAC et al / Diabetes Clínica 04 (2000) 360 – 367 paraefeitos (principalmente a constipação intestinal). Na população diabética se faz ainda menos utilizada devido à ação potencial de elevar os níveis séricos de triglicérides. O ácido nicotínico (niacina) foi estudado já há três décadas e teve benefícios comprovados no controle da dislipidemia e em redução de eventos cardiovasculares em até 15 anos [24]. Tem como principais desvantagens os efeitos colaterais, principalmente o flushing, a dispepsia e a interferência no metabolismo glicídico, não sendo indicado particularmente em pacientes diabéticos, além de poder interferir também sobre o metabolismo do ácido úrico, podendo precipitar crises de gota em pacientes portadores de hiperuricemia, com ou sem episódios prévios de gota úrica. Dois derivados da niacina original podem ter alguma aplicação nessa população: o acipimox, pois não altera a glicemia, embora tenha menor potência na redução dos lípides plasmáticos; e a niacina de “liberação prolongada” nome comercial nos Estados Unidos: Niaspan -, não disponível no Brasil, que tem efeitos semelhantes à niacina de liberação rápida em relação à redução de lípides plasmáticos com efeitos colaterais menores, embora presentes em até 88% dos pacientes, e menor efeito sobre a glicemia [25]. A utilização das vastatinas tem sido bem estudada em populações hipercolesterolêmicas e mesmo normocolesterolêmicas para prevenção primária [26, 27] e secundária [28, 29]. Considerando-se o paciente diabético como candidato à prevenção secundária, observam-se benefícios dos inibidores da HMGCoA redutase nessa população como subgrupos dos estudos 4S e CARE. Avaliados separadamente, no Scandinavian Simvastatin Survival Study (4S) foram randomizados 202 pacientes diabéticos [30] (4,5% de 4.444 pacientes) hipercolesterolêmicos, enquanto no Cholesterol And Recurrent Events (CARE), foram 586 pacientes [31] (14,5% de 4.159 pacientes) diabéticos com colesterolemia considerada normal, porém acima dos valores hoje estabelecidos para essa população específica. Em ambos os estudos, apesar de não terem sido projetados com esse objetivo, essas avaliações post hoc revelaram significativa redução de eventos cardiovasculares em pacientes diabéticos que receberam vastatinas em relação ao grupo placebo, embora não tenha havido significância estatística na redução de mortalidade total ou por causa cardiovascular, devido à amostra de número insuficiente. De qualquer modo, esses resultados fundamentam a conduta de reduzir de forma agressiva a hipercolesterolemia em pacientes com diabetes mellitus. 365 As vastatinas podem também reduzir os níveis séricos de triglicérides, com pouco efeito de elevação do HDL-colesterol, de modo que seu uso inicial em pacientes diabéticos portadores de dislipidemia mista com predomínio de hipercolesterolemia é bastante coerente. A ação sobre a trigliceridemia depende basicamente de dois fatores: • quanto maior a potência da vastatina em reduzir o colesterol, maior a possibilidade dela levar também à redução dos triglicérides. • quanto mais elevado o nível dos triglicérides, maior a ação das vastatinas sobre eles, embora esse efeito nunca seja tão intenso como o visto com os fibratos ou o ácido nicotínico. Embora as vastatinas sejam mais estudadas e seus efeitos benéficos comprovados - principalmente em indivíduos não diabéticos - ressalta-se que essa classe terapêutica não apresenta efeito sobre a conformação da LDL e produção de apo B, de forma que a redução da colesterolemia se faz independente da modificação da LDL pequena e densa, principal componente do “perfil aterogênico” encontrado nos pacientes diabéticos. Discussão importante abrange a possibilidade de que as vastatinas possam apresentar efeitos benéficos além daquele proporcionado por sua ação sobre o perfil lipídico (em geral redução importante do LDLcolesterol e mais modesta dos triglicérides e aumento discreto do HDL-colesterol). Desse modo, há dados sugerindo que pelo menos algumas delas possam atuar melhorando a função endotelial, a agregabilidade plaquetária, os fatores de coagulação, o fibrinogênio, a atividade inflamatória do organismo, a celularidade das placas ateroscleróticas, a maleabilidade das hemácias, todos fenômenos presentes em maior ou menor grau no desenvolvimento da aterosclerose precoce e acentuada dos diabéticos. Os derivados do ácido fíbrico (fibratos) têm seu mecanismo de ação no estímulo dos Peroxisome Proliferator-Activated Receptors (PPAR), receptores nucleares que modulam a expressão de genes que levam, em última instância, à redução de triglicérides, elevação de HDL-colesterol e modificação da LDL, tornando-a maior e menos densa. A redução de LDL-colesterol pelos fibratos está relacionada à maior afinidade da LDL maior e mais leve pelos receptores hepáticos específicos e à disponibilização desses receptores conforme a carga genética de cada indivíduo, de modo que, com o uso desses medicamentos, pode acontecer redução importante, manutenção ou até aumento no LDL-colesterol (porém em partículas maiores). 366 Barros MRAC et al / Diabetes Clínica 04 (2000) 360 – 367 Os fibratos são estudados há trinta anos, tendo o Helsinky Heart Study [32] randomizado 135 pacientes diabéticos, entre 4.081 do total, com triglicérides em torno de 175 mg/dl e colesterol total médio de 290 mg/dl, demonstrando redução de 65% de eventos cardiovasculares nessa população, caracterizada por diabetes e elevação do colesterol não HDL. Estudos mais recentes consolidam o uso dos fibratos em pacientes com hipertrigliceridemia [33]. Entre eles, The Veterans Affairs HDL Intervention Trial (VA-HIT) [34] incluiu, entre a amostra de 2.531 pacientes com trigliceridemia média de 161 mg/dl, com HDL-colesterol menor que 35 mg/dl, 25% indivíduos diabéticos, evidenciando, nesse subgrupo, redução de 24% de eventos cardiovasculares maiores. O estudo St. Mary’s Ealing, Northwick Park Diabetes Cardiovascular disease Prevention (SENDCAP) [35] foi desenhado para avaliar o uso de bezafibrato na progressão de aterosclerose carotídea. Envolveu 164 pacientes diabéticos do tipo 2 sem diagnóstico de doença aterosclerótica e mostrou, após três anos de seguimento, redução significativa dos níveis séricos de triglicérides, aumento do HDL-colesterol, sem benefício em avaliação por ultra-sonografia carotídea. No entanto, houve redução significativa na incidência de infarto do miocárdio, ainda que em número pequeno (16 eventos no grupo placebo contra 5 no grupo tratamento, com p = 0,01). Recentemente foram apresentados os resultados do Diabetes Atherosclerosis Intervention Study [36], que randomizou 418 diabéticos para o uso de fenofibrato ou placebo, com objetivo de avaliação angiográfica de doença aterosclerótica coronária. Este estudo evidenciou melhora estatisticamente significativa das lesões ateroscleróticas demonstradas na cinecoronariografia, acompanhada de redução clínica de eventos cardiovasculares, embora este dado não tenha sido estatisticamente significativo, provavelmente pela pequena amostra analisada. Importante aspecto a ser lembrado é a contraindicação relativa ao uso dos fibratos na presença de insuficiência renal, complicação bastante freqüente no diabetes mellitus. Diante dos dados disponíveis, a escolha sobre qual o tratamento farmacológico adequado para a dislipidemia do diabético dependerá do perfil apresentado por cada paciente. Se houver predomínio da elevação da colesterolemia, a escolha deverá recair sobre uma vastatina. Entretanto, como ocorre na maioria dos casos de diabetes, a alteração lipídica envolve mais a hipertrigliceridemia e a redução do HDL-colesterol e o tratamento mais adequado será com um fibrato ou com o acipimox. Diante da dislipidemia mista (aumento de LDL-colesterol associado a aumento dos triglicérides), tem sido usado como ponto de corte o nível de triglicérides de 400 mg/dl para a decisão de iniciar-se o tratamento farmacológico com uma vastatina, quando abaixo desse nível e com um fibrato quando acima dele. Posteriormente poderá ser necessária a adição dos dois tipos de medicamento para controle adequado. Ainda não estão disponíveis dados concretos que indiquem que o tratamento do perfil lipídico “normal”, ou seja, o da média populacional, traga benefícios em diabéticos. Estes dados já são disponíveis, em não diabéticos, a partir do estudo AFCAPS/TexCAPS [37], que demonstrou benefício na prevenção de eventos coronários, com o emprego da lovastatina, em população que apresentava níveis de LDL-colesterol pouco elevados e de HDL-colesterol reduzidos, perfil comumente encontrado em diabéticos. Em análise de custo-eficácia recentemente publicada, Grover et al [37] postulam que, mesmo na ausência de doença cardiovascular diagnosticada ou de outros fatores de risco, os benefícios vistos a longo prazo do tratamento da dislipidemia em diabéticos, parecem ser substanciais, justificando plenamente essa conduta. Conclusão Apesar de extensamente estudada, a dislipidemia no paciente diabético ainda se mostra complexa e o seu tratamento, difícil. Os múltiplos mecanismos fisiopatológicos da doença aterosclerótica e os outros aspectos nosológicos associados ao diabetes mellitus tornam dinâmico o controle metabólico. Os estudos clínicos realizados até o momento revelam maior benefício na redução do LDL-colesterol abaixo de 100 mg/dl, com o uso de vastatinas, que devem ser associadas a medidas higieno-dietéticas rigorosas. Os fibratos, apesar de teoricamente serem os medicamentos de melhor ação nesse perfil lipídico, têm sua indicação estabelecida na hipertrigliceridemia isolada ou predominante sobre a hipercolesterolemia, não responsiva ao tratamento não farmacológico ou ao controle ideal da glicemia. A necessidade da associação dessas duas classes terapêuticas se faz freqüente na prática clínica e parece coerente à fisiopatogenia, embora não tenham sido estudados os seus benefícios até o momento. O manejo da dislipidemia, assim como do próprio diabetes mellitus, deve ser individualizado e dinâmico, conforme cada paciente e o momento metabólico, no sentido de tentar-se prevenir eventos cardiovasculares e oferecer melhor qualidade de vida pessoal e social. Barros MRAC et al / Diabetes Clínica 04 (2000) 360 – 367 Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Lakkso M, Leto S. Epidemiology of risk factors for cardiovascular disease in diabetes and impaired glucose tolerance. Atherosclerosis 1998; 137(suppl):S65-S73. Wingard DL, Barrett-Connor E. Heart disease and diabetes. In: Diabetes in America, 2nd ed. NIH publication 95 – 1468. Harris MI (editor). Bethesda MD; National Institutes of Health. National Institutes of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, 1995. pp. 429-448. Currie CJ, Morgan CLI, Peters JR. Patterns and costs of hospital care for coronary heart disease related and not related to diabetes. Heart 1997; 78:54-549. Brezinka V, Padmos I. Coronary heart disease risk factors in women. Eur Heart J 1994; 15:1571-1584. Uusitupa M, Siittonen O, Aro A, Pyörälä K. 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Diabetes Clínica Diabetes Clínica 04 (2000) 368 – 370 Jornal Multidisciplinar do Diabetes e das Patologias Associadas ARTIGO ORIGINAL Atividade física: Quanto e como fazer para a prevenção e controle do Diabetes Mellitus tipo 2 Mario Bracco, Timóteo Araújo, Victor Matsudo, Sandra Matsudo, Douglas Andrade, Erinaldo Andrade, Aylton Figueira Jr., Luís Carlos Oliveira, Gláucia Braggion, Nádia Rocha CELAFISCS - Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - Programa Agita São Paulo 1. Introdução O nível de atividade física tem sido apontado como fator de proteção contra doenças crônico-degenerativas e conseqüentemente, associado a menores índices de morbi-mortalidade na população em geral [1, 2]. Vários estudos recentes identificam que o estilo de vida sedentário, devido a sua magnitude entre a população mundial, como um dos principais problemas de saúde pública, concluindo que a mudança de comportamento do sedentarismo para um estágio moderadamente ativo resultaria em consideráveis benefícios à saúde, tanto na prevenção como no controle de inúmeras doenças crônico-degenerativas [3-5]. Mesmo com abundantes evidências desta associação, a grande maioria das pessoas apresenta um estilo de vida sedentário. Rego et al. [6] verificaram que no município de São Paulo, 69,3% da população adulta de ambos os sexos apresentavam sedentarismo, como o fator de risco mais prevalente para o desenvolvimento de doença coronariana. Nos Estados Unidos acredita-se que desde a década de 80, menos de 20% da população atinja os níveis mínimos de atividade física para a promoção de saúde [7]. Recentemente, em um encontro de especialistas promovido pelo Centro de controle e prevenção de doenças dos Estados Unidos (CDC) e pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM), foi estabelecida a Correspondência: Mario Bracco, Rua Heloísa Pamplona, 279 - 09501-000 - São Caetano do Sul - SP e-mail : [email protected] recomendação de atividade física para adultos que preconiza a realização de pelo menos 30 minutos de atividades físicas de intensidade moderada, de maneira contínua ou acumulada, na maior parte dos dias da semana, se possível todos [5]. Esta recomendação foi posteriormente adotada pela Organização Mundial da Saúde como mensagem de saúde pública a ser adotada em todo o mundo na 4ª Conferência Global de Promoção de Saúde realizada em Jacarta, em julho de 1997 [8]. No Brasil esta mensagem tem sido veiculada através de iniciativas conjuntas realizadas pelo Ministério da Saúde e o Programa Agita São Paulo, desenvolvido pela Secretaria da Saúde com apoio de 157 instituições parceiras no Estado de São Paulo. Está bem estabelecida a relação entre a prática regular de atividade física e seus efeitos benéficos no aumento da sensibilidade à insulina e maior tolerância à glicose [9]. Em contrapartida, estudos epidemiológicos têm verificado a associação entre Diabetes tipo 2 com dietas ricas em gorduras e a inatividade física [10-11]. No entanto, pessoas são desestimuladas à prática da atividade física regular devido à crença de que só exercícios estruturados realizados em sessões contínuas de longa duração, produziriam efeitos benéficos sobre a saúde [12]. Isto se torna ainda mais evidente entre pacientes portadores de diabetes e obesidade, que por sua vez, apresentam preferência por atividades não estruturadas de baixa intensidade [13]. As pesquisas recentes têm destacado que atividades físicas regulares realizadas de forma não estruturada apresentam benefícios à saúde tanto quanto atividades Braco M et al / Diabetes Clínica 04 (2000) 368 – 370 de exercícios estruturadas [14]. Além disso, a divisão destas atividades em várias sessões diária resulta em benefícios tão bons ou até melhores que sessões únicas. DeBusk et al. [15] avaliou os efeitos de dois programas, um com 30 minutos e outro com 3 sessões de 10 minutos de duração com intervalos de 4 horas. Dezoito homens com média de 52 anos de idade, após 8 semanas verificaram que o consumo máximo de oxigênio aumentou nos dois grupos, observando também a alta taxa de aderência ao programa (96%) no grupo que realizou as três sessões. Já Murphy et al. [16] comparou os efeitos de dois programas de caminhada (30 minutos versus 3x10 minutos) em mulheres adultas sedentárias encontrando incrementos similares na aptidão aeróbica e decréscimo na adiposidade corporal. Costa et al. [17], aplicou um programa de atividade física de 10 semanas (3 vezes/semana, 50-60% FC max) de caminhada com sessões de 30 minutos em 12 indivíduos diabéticos com idade variando de 46 a 76 anos. Verificando que não houve mudança nos variáveis de aptidão física, mas quando analisaram os valores de hemoglobina glicosilada, essa apresentou diminuição significativa e mesmo não ocorrendo no grupo controle. Estes estudos demonstram que programas não supervisionados, com menor duração (10 minutos), com intensidade leve-moderada incorporados na vida diária, podem incrementar a aptidão física e ajudar na manutenção e regulação do peso corporal. Bonen et al. [18] verificaram maior tolerância à glicose e menores níveis de insulina em indivíduos de meia idade de ambos os sexos, não diabéticos, sedentários, após sessões de exercício de moderada intensidade, com efeitos benéficos vários dias após a realização da atividade física. A resistência à insulina desempenha relevante papel no desenvolvimento da Síndrome Plurimetabólica descrita por Reaven [19] na qual parte da hipótese que a hiperinsulinemia seria o ponto de partida para o desenvolvimento do processo aterosclerótico e do diabetes tipo 2. Vários estudos têm verificado associação entre resistência à insulina e baixos níveis de aptidão cardio-respiratória [20, 21], que por sua vez também apresenta associação ao lado do estilo de vida sedentário com o desenvolvimento do Diabetes tipo 2 [10, 22]. Whaley et al. [23] verificaram maior risco de desenvolvimento de alterações ligadas à síndrome plurimetabólica