1 Ceará Oftalmológico Órgão Oficial da Sociedade de Oftalmologia do Ceará Ano XXVII Nº 34 Gestão Atual - Trimestral - Abril/Junho 2007 - Nº 02 PALAVRA DO PRESIDENTE A SOC vem promovendo regularmente atividades científicas, e esclarecendo a população, alertando sobre os riscos à saúde ocular propiciados pela atuação de profissionais não habilitados legalmente a fazer exames oftalmológicos. Alerta-se, também, quanto a venda de lentes de contato sem a orientação do médico. A possibilidade de haver compliCaros colegas, A medicina, como todos os setores da ciência, evoluiu bastante no século XX. No caso da oftalmologia, o surgimento de equipamentos para fins de diagnóstico, tratamento e correções ópticas fez uma verdadeira revolução dentro da especialidade. Para acompanhar essas mudanças, e para que o médico oftalmologista absorvesse a grande quantidade de informações, as faculdades de medicina tiveram que adaptar-se aos novos tempos. Surgiram, então, as residências médicas e os cursos de pós-graduação. O médico oftalmologista, hoje, quando termina sua especialização, possui uma bagagem de conhecimento sem concorrentes para tratar dos problemas oculares. A SOC vem promovendo regularmente atividades científicas, e esclarecendo a população, alertando sobre os riscos à saúde ocular propiciados pela atuação de profissionais não habilitados legalmente a fazer exames oftalmológicos. cações que possam acarretar a perda da visão é um fato relevante nesta questão. O departamento jurídico da SOC propôs ações que estão em tramitação na Justiça às quais versam sobre o exercício ilegal desta atividade. Tenho procurado, como membro da Comissão de Defesa da Saúde Ocular do Estado do Ceará, ressaltar nas reuniões, que temos uma quantidade suficiente de oftalmologistas para cuidar da população cearense. A questão é que o número de colegas lotados no serviço público é muito reduzido. Isso se deve pela falta de concursos, causando distorções no atendimento, e levando a uma carência de consultas e procedimentos aos pacientes de baixa renda. Associa-se a este fato as limitações na liberação, por parte das secretarias municipais de saúde, das guias de procedimento, principalmente na cirurgia de catarata, gerando uma fila de espera que incomoda os profissionais de saúde e aborrece a população. Esperamos sensibilizar a classe política e os gestores de saúde na Administração Pública para buscarem resolver as questões relacionadas a esta área. Gostaria, também, que todos os colegas pudessem colaborar para, unidos com a sociedade, podermos estar sempre à frente na resolução dos problemas oculares da população. 2 Ceará Oftalmológico Dra. Rosemary Albuquerque Para Leonardo da Vinci (1452-1519), o olho é o órgão mais precioso. “É a janela da alma, o espelho do mundo”. Para ele, as ciências que o tem por fundamento são perfeitamente corretas. Assim, nós oftalmologistas somos privilegiados por desempenhar tal atividade. Devemos pois, sentirmos honrados e lisonjeados por termos a capacidade de z e l a r p e l a s a ú d e o c u l a r. Possivelmente por conta da importância do órgão da visão, a Oftalmologia ocupou sempre posição de destaque dentro da Medicina. To d o s nós sabemos do desenvolvimento tecnológico da Oftalmologia no século XX e que persiste no século XXI. Hoje dependemos cada vez mais dessa tecnologia. Muitas vezes entristecemos por não conseguirmos acompanhar esse avanço pois nos sentimos cada vez mais obrigados a possuir equipamentos de custos cada vez mais elevados e muitas vezes quando conseguimos adquiri-los nos deparamos com a surpresa de que já há algo mais moderno e mais p r e c i s o . Te m o s de acompanhar a tecnologia, mais do que isso, tem a obrigação de oferecer o melhor para os pacientes. Isso pode ser feito de modo direto ou encaminhando para colegas que dispõem da tecnologia mais apropriada p a r a o c a s o . Te m o s q u e investir em tecnologia, termos equipamentos cada vez mais modernos, estudarmos cada vez mais para acompanhar o crescimento científico... mas não podemos esquecer de investir na relação médico-paciente. Por isso, não podemos ser mecânicos e computadorizados. O paciente deseja um médico e n ã o u m c o m p u t a d o r. M u i t o s já têm o computador em sua casa, ou seja, muitos já procuram o médico com algum conhecimento de sua afecção. Na verdade o que vai fazer a diferença é o relacionamento com o médico. Se a trajetória está árdua, se somos julgados e criticados até pelo estilo de vida que levamos, se as oportunidades do mercado de trabalho são escassas, se sentimos a necessidade de termos melhores remunerações, se temos uma jornada de trabalho extensa para cumprir nossos compromissos financeiros e se existem tantos outros questionamentos... mesmo assim, somos privilegiados. Precisamos acreditar mais no nosso potencial, fortalecer os nossos princípios éticos, sermos mais amigos e receptivos com os colegas. Os conhecimentos se somam e nós não somos os donos d a v e r d a d e a b s o l u t a . Ta l v e z se conseguíssemos valorizar mais a amizade, reconhecer os valores morais do nosso colega e enxergar a importância do trabalho que desempenhamos para a sociedade, a nossa classe fosse cada vez mais unida. E com essa união assumíssemos o nosso real papel de destaque como médicos da janela da alma e do espelho do mundo. Nesta Edição Editorial pág. 02 Simpósio MÁCULA 2007 pág. 03 Dia do Oftalmologista pág. 04 Simpósio Internacional de Glaucoma pág. 07 São João da SOC pág. 07 Artigo Científico (Dr. Rogério Costa) pág. 08 Artigo Científico (Dr. Fernando Paganelli) pág. 10 Entrevista (Dr. Marcos Ávila) pág. 12 Comissão de Saúde Ocular e Prevenção à Cegueira pág. 12 Espaço Jurídico pág. 13 Defesa da Saúde Ocular pág. 13 Reflexão (Dr. Flávio Paranhos) pág. 14 Oftalmologia e Arte pág. 15 Calendário Oftalmológico pág. 16 Piadas pág. 16 Conselho Editorial: Adriano Maciel Xerez, Emilson Alves de Sousa, Héverson Paranaguá, Maria do Socorro Aguiar Lucena e Rosemary Jorge Albuquerque Jornalista Responsável: José Mario Pinto - Reg/DRT 290/01/148 CE Editoração Gráfica: Demir de França Impressão: Expressão Gráfica - 3253.2222 3 Ceará Oftalmológico PEC - Simpósio Mácula 2007 A Sociedade de Oftalmologia do Ceará promoveu no dia 02 de Março o Simpósio Mácula 2007, o mais tradicional evento da área de Retina em nosso estado. O evento, em sua quinta edição, foi coordenado por seu idealizador, Dr. Abelardo Targino do Centro Avançado de Retina e Catarata, e contou com a participação de 162 oftalmologistas inscritos. Como nos anos anteriores, a comunidade leiga teve acesso aos avanços no diagnóstico e tratamento das doenças retinianas, em aulas especialmente formuladas para o público em geral. As palestras foram proferidas pelos professores Rogério Costa e Rodrigo Jorge, da USP de Riberão Preto, ambos autoridades internacionalmente reconhecidas por suas pesquisas no tratamento da Degeneração Macular. A interatividade entusiasmou tanto aos Residentes quanto aos médicos veteranos presentes. Após a programação científica, verificou-se o sucesso do evento no excelente jantar de confraternização, oferecido gentilmente pelas Óticas Boris, e Transitions. Em 2008 o Mácula mais uma vez abrirá o calendário científico oficial da SOC. Segundo o Dr. Abelardo Targino, o evento promete repetir o sucesso das edições anteriores. Rogério Costa e Rodrigo Jorge Sérgio Augusto Abelardo Targino Hyder Carneiro, Fernando Furtado, Idalina Costa e Francisco Eurípedes Platéia Equipe Transitions Eveline Boris, Ana Valéria Teixeira, Elizabeth Targino e Denise Rocha Sérgio Cruz e Leiria de Andrade Neto Gersivan Gomes, Renato Stênio e Álvaro Fernandes Alcy Feitosa e Aristófanes Canamary Abrahão Lucena e Ivalto Gonçalves David Lucena, Danielle Costa e Adauto Ponte Evandro Marques, Ismar Dias, Airton Boris e Jorge Eldo David Lucena, Socorro Lucena e Abelardo Targino Sylvio Leal, Abelardo Targino e Válter Justa Jean Rodrigues e Volney Castaldelli 4 Ceará Oftalmológico Dia do Oftalmologista 2007 PEC 2007 - Sessão Clínica A Sociedade de Oftalmologia do Ceará (S.O.C.), dando continuidade ao PEC (Programa de Educação Continuada), promoveu no dia 04 de maio de 2007 a apresentação de casos clínicos e cirúrgicos por renomados oftalmologistas do nosso estado. Tal evento contou com a presença do Presidente da Sociedade de Oftalmologia do Ceará Dr. Sérgio Augusto Carvalho Pereira e com os coordenadores: Dr. Fernando Furtado, Dra. Ana Paula Ximenes, Dr. Walder Braga e Dra. Rosemary Jorge de Mendonça Albuquerque e teve lugar no Hotel Luzeiros. Todos os oftalmologistas palestrantes foram elogiados pelo alto nível de suas apresentações. Sérgio Augusto, Ana Paula Ximenes e Fernando Furtado Sérgio Augusto Abelardo Targino, Eurípdes de Lima, Sérgio Augusto e Álvaro Fernandes Arabella Primo, Regina Forte, Rosemary Albuquerque e Ivana Carneiro Werton Farias, Fernando Delgado e Gersivan Gomes Islane Verçosa e Excelsa Costa Lima Fábio Canamary e Marcos Aurélio Correia Adriano Chaves e Juliana Lucena Danielle Costa e Socorro Lucena Ana Karla Soares e Clayrton Martins Igor Allamo, Newton Andrade, Sérgio Augusto e João Conrado David Lucena e Walder Braga Joana Gurgel Levi Madeira Danielle Costa Igor Allamo Abelardo Targino Ricardo Marrocos Islane Verçosa Edmar Guedes 5 Ceará Oftalmológico Abrahão Lucena Juliana Lucena Socorro Lucena George Carneiro David Lucena Javier Montero César Juaçaba Wantan Laércio Nonato Ribeiro (ALCON) e Rosemary Albuquerque Glauco Oliveira e Rachel Lima (GENON) e Sérgio Augusto Parceiros Dia do Oftalmologista 2007 Sérgio Augusto e Cristiane Brasil (ESSILOR) Fernando Cruz (MERCK SHARP & DOHME) e Sérgio Augusto Elizete (RODENSTOCK) e Sérgio Augusto Rita de Cássia (Ótica Mariz) e Sérgio Augusto Dia do Oftalmologista 2007 - FESTA A Sociedade de Oftalmologia do Ceará (SOC), tendo a frente o seu presidente, Dr. Sérgio Augusto Carvalho Pereira, comemorou a passagem do Dia do Oftalmologista com dois eventos. No dia 4 de maio aconteceu a Sessão Clínica onde foram apresentados e discutidos casos clínicos pelos médicos oftalmologistas cearenses. No dia 5, a SOC promoveu uma grande festa que reuniu os oftalmologistas cearenses em clima de harmonia e muita animação. Márcia Medeiros e Sérgio Augusto Sérgio Augusto, Valéria Lucena e Mairton Lucena Socorro Lucena Lucena, David Lucena Lucena, Márcia Medeiros, Medeiros Sérgio Augusto e Joana Gurgel 6 Ceará Oftalmológico Alessandra Rossi e Paulo César Marques Sérgio Augusto e Lourdes Soares Marineuza e Alonço Memoria Claudina e João Conrado Ponte Edison e Livramento Costa Germano e Bernadeth Andrade Juliana e Parcifal Botelho Germana Ximenes e Adriano Viana Ana Valéria e Ivon Teixeira Ana Larissa e Jovanni Alves Denise e Valdy de Menezes Amélia Lima e Jorge Eldo Mary Helena e Aécio Dias Andréa Cavalcante e Edmar Guedes Renato Stênio Torres Michele Albuquerque e Cleanto Jales Luiziane Cavalcante e Luciano Alencar Volilma e Werton Farias Ivana Carneiro, Carneiro Breno Holanda, Holanda Jocélia e Hyder Carneiro Carlos Alfredo Guerra Verônica e Héverson Paranaguá Ana Zélia e Fernando Furtado Aristófanes e Vânia Canamary Ivalto Gonçalves, Gonçalves Gardênia Diniz, Diniz Maria do Rosário e Ismar Dias 7 Ceará Oftalmológico PEC - SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GLAUCOMA A SOC promoveu no dia 01 de junho o Simpósio Internacional de Glaucoma. O evento trouxe a Fortaleza o médico oftalmologista cearense Dr. Felipe Medeiros, atualmente radicado nos Estados Unidos. O Simpósio, pelo alto nível do palestrante, atraiu um grande número de participantes. Márcia Medeiros e Felipe Medeiros Felipe Medeiros Sérgio Augusto Máurea César Luciano Alencar e Fernando Furtado Héverson Paranaguá e Ivana Carneiro Werton Farias, Francisco Eurípedes e Evandro Marques Socorro Lucena e Ivana Carneiro Edmar Guedes, Sérgio Augusto, Abrahão Lucena, David Lucena, Márcia Medeiros e Vitor Luna Telma Freitas, Máurea César e Marília Araújo Mark Sampaio (Essilor), Joana Guergel, Marcos Aurélio de Castro e Francisco Melo Igo Enomoto, Daniel Justa e Felipe Carvalho Denise Rocha e Marineuza Memória Jean Rodrigues (Casa dos Relojoeiros) e Carlos Alfredo Guerra Socorro Lucena, David Lucena, Nayana (Pfizer) e Máurea César Luciana Costa (Transitions) e Margareth Tatcher (Carl Zeiss) SÃO JOÃO DA SOC A Sociedade de Oftalmologia do Ceará (SOC) promoveu no último dia 23 de junho o “Arraiá da SOC”. O evento, organizado pelo médico oftalmologista Hyder Carneiro, aconteceu no Sítio Casarão e já faz parte do calendário da oftalmologia do Ceará. A festa foi prestigiada por um grande número de médicos oftalmologistas, familiares e convidados, tendo a frente o presidente da SOC, Dr. Sérgio Augusto Pereira. Cleanto Jales, Michele Albuquerque, Flávia Carneiro e George Carneiro Flávia Carneiro, Abelardo Targino, George Carneiro e Regina Coeli Forte Daniele Rios, Manoela e Rodrigo Vicentini Casamento na Roça 8 Ceará Oftalmológico FÁ R M A C O - M O D U L A Ç Ã O A N G I O G Ê N I C A : U M A N O VA E R A D E T R ATA M E N T O ( PA R A T O D O S ? ) Rogério A. Costa Diretor Clínico, U.D.A.T. Divisão de Mácula: Imagem e Tratamento Hospital de Olhos Araraquara Araraquara-SP Especilista em Retina e Vítreo Doutor em Oftalmologia Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Professor Doutor Orientador Programa da Pós-graduação Departamento de Oftalmologia Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo – USP Ribeirão Preto-SP Desenha-se na atualidade, nova perspectiva no tratamento de patologias coroidoretinianas: a modulação da angiogênese (processo em que células endoteliais proliferantes formam “novos elementos vasculares” a partir de vasos pré-existentes) por meio de fármacos injetados na cavidade vítrea. Dentre os agentes disponíveis para fármaco-modulacao angiogênica, os resultados mais consistentes alcançados no manejo de doenças do segmento posterior ocular, até o presen- te momento, pertencem ao ranibizumabe (Lucentis®). Este agente foi especificamente desenvolvido pela empresa Genentech com modificações a nível molecular para que sua função anti-angiogênica fosse otimizada quando injetado na cavidade vítrea. Já no campo alternativo (“experimental”) o agente bevacizumabe (Avastin®), anticorpo monoclonal humanizado direcionado ao VEGF circulante também desenvolvido pela empresa Genentech, vem gradativamente conquistando a confiança de pesquisadores ao redor do planeta. O bevacizumabe foi aprovado em fevereiro de 2004 pelo FDA norte-americano para uso endovenoso no tratamento de primeira linha do câncer de cólon metastático, associado à quimioterapia baseada em 5-fluorouracil, passando a constituir a primeira droga anti-angiogênica aprovada para uso em humanos. Estudos realizados pela empresa fabricante sugeriram inicialmente que o bevacizumabe (full-lengh), se injetado intravítreo, apresentaria menor eficácia por dificuldades de transposição da membrana limitante interna. Não obstante, as possíveis diferenças e seme- lhanças moleculares entre ranibizumabe e bevacizumabe parecem ter pouca relevância clínica frente aos resultados preliminares observados em diversas patologias coróidoretinianas utlizando ambas medicações. O uso alternativo do bevacizumabe intravítreo em Oftalmologia vem ecoando desproporcionalmente em virtude de uma série de fatores. Além de resultados indiscutivelmente promissores até o presente momento, o medicamento (bevacizumabe) já se encontra registrado junto à ANVISA (para uso endovenoso em Oncologia) e disponível comercialmente em território nacional. Adicionalmente, sua recente “nacionalização” e relativo baixo custo estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), vem facilitando o acesso ao medicamento. Por fim, diferentemente da triamcinolona, glaucoma e catarata não são eventos esperados após a administração intravítreo do bevacizumabe em virtude de suas propriedades farmacológicas favoráveis. Contudo, como observado em qualquer tratamento, limitações existem. Algumas são óbvias; outras porém, ainda Ceará Oftalmológico são desconhecidas em virtude da limitada experiência do uso de agentes anti-angiogênicos em Oftalmologia. Em relação ao procedimento de tratamento (injeção intravítreo), a ocorrência de endoftalmite deve ser nossa principal preocupação. Tendo por base dados dos Estudos MARINA e ANCHOR (ranibizumabe) devemos considerar uma taxa de endoftalmite de ~1%, uma vez que múltiplos procedimentos de tratamento (independente do medicamento escolhido) serão necessários na grande maioria para manutenção de possíveis efeitos benéficos da fármaco-modulação angiogênica em monoterapia. Se a promessa de “estabilizar” a visão agrada parte dos pacientes acometidos, parcela maior destes (geralmente com idade superior a 70 anos) sentese desconfortável com a real possibilidade de freqüentes (a cada 4 ou 6 semanas) visitas ao seu médico. Para o oftalmologista, novos “desafios” estão por vir. Por exemplo, em casos de DMRI neovacular detectados precocemente, surge agora a possibilidade de conseguirmos níveis sustentáveis de acuidade visual em torno de 20/25~20/32 após um ou dois procedimentos de tratamento. Uma vez alcançados esses níveis de visão, o médico passará a enfrentar uma situação um tanto desafiadora pois, em teoria, o melhor benefício foi alcançado, restando a este desenvolver estratégias para convencer seu paciente que futuros procedimentos de tratamento serão ainda necessários “apenas” para a “manutenção” do efeito induzido (mas com os mesmos riscos de quando a visão era de 20/60~20/80). Do ponto de vista prático, ou- tro fator preocupante diz respeito a mudança na dinâmica de atendimento médico que a disseminação desta forma de tratamento pode causar. A terapia com ranibizumabe implica em injeções intravítreo continuadas a cada 4 semanas. Ou seja, se considerarmos hipoteticamente a inclusão de apenas 5 novos pacientes com DMRI neovacular para tratamento com ranibizumabe por mês, no oitavo mês, 40 procedimentos intravítreo serão realizados em um único mês. Protocolos de pesquisa clínica realizados no Hospital de Olhos de Araraquara em conjunto com a USP de Ribeirão Preto (Dr. Rodrigo Jorge) sugerem que a historia não será muito diferente com o agente bevacizumabe em termos da obrigatoriedade de múltiplos procedimentos de tratamento. As reais complicações relacionadas especificamente ao medicamento utilizado na terapia anti-angiogênica ainda são pouco entendidas. O VEGF está implicado não apenas na angiogênese “normal” assim como parece ter papel crítico na manutenção neuronal. Eventos adversos não-oculares foram considerados raros de acordo com os Estudos MARINA e ANCHOR (ranibizumabe). Uma análise interina dos pacientes submetidos a ranibizumabe intravítreo (Estudo SAILOR) sugeriu uma possível maior associação desta terapia com infarto do miocárdio naqueles submetidos à maior dose testada (1.2% [0.5 mg] versus 0.3% [0.3 mg]). A publicação dos dados definitivos do Estudo SAILOR, provavelmente na segunda metade de 2007, nos ajudará a entender melhor essa questão. Níveis altos de 9 VEGF são também encontrados em tecidos retinianos de olhos “normais” e seu papel parece estar relacionado a manutenção do EPR e fotorreceptores. Dúvidas sobre a segurança relacionada à inibição “continuada” do VEGF em tecidos oculares existem. Apesar da baixa dosagem utilizada intravítreo, concentrações relativamente altas de medicação anti-angiogênica foram encontradas na corrente sanguínea após múltiplas injeções. A longo prazo (3~4 anos), devemos esperar alterações a nível do SNC e tecidos cardíacos bem como a nível do EPR e fotorreceptores? Ninguém tem essa resposta, ainda... Estamos tendo a oportunidade de presenciar o início de uma nova era de tratamento em retina. Embora indesejáveis e ainda desconhecidos eventos possam estar associados à fármaco-modulação angiogênica, acredito que a possibilidade de estabilização da perda bem como recuperação clinicamente significante da visão em parcela considerável de pacientes compense os possíveis riscos associados. Em relação a polêmica ranibizumabe versus bevacizumabe, acredito que nosso dever como oftalmologistas é o de informar conscientemente nossos pacientes sobre seu estado de saúde ocular e possíveis formas de tratamento. Já a opção pelo tratamento e forma de exerce-lo depende exclusivamente do paciente. Se tratamentos aprovados existem, estes devem ser colocados em discussão. O alto custo de um procedimento terapêutico per se não justifica sua exclusão. Em paralelo, gostaria de acreditar que as companhias farmacêuticas 10 Ceará Oftalmológico responsáveis pela produção e distribuição destes medicamentos também levarão em conta esse fator durante seu planejamento estratégico. Mais especificamente em relação ao uso do bevacizumabe, se acreditamos no potencial desta medicação para a fármaco-modulação angiogênica, ações que culminem nesta constatação devem ser tomadas. Verdade é que, desde seu “aparecimento”, passamos a viver um dilema: garantir acesso a um tratamento promissor, economicamente viável, porém com ainda limitados dados de segurança e eficácia versus limitar-se ao emprego de técnicas regularizadas porém moderadamente eficazes ou pouco viáveis do ponto de vista sócio-econômico de nossa população? Simplisticamente, “promover mas não proteger” ou “proteger mas não promover”? Gostaria de terminar exaltando o ranibi- Figura. Remodelação macular favorável observada em um paciente com degeneração macular relacionada à idade forma neovascular após sua primeira sessão de fármaco-modulacao angiogênica (intravítreo). A manutenção dos efeitos induzidos geralmente implica em novas sessões de tratamento em intervalos regulares entre 4 a 8 semanas. zumabe, por ser o primeiro agente empregado para fármaco-modulacao angiogênica a comprovar, cientificamente, eficácia clinicamente significante, e seu “primopobre” bevacizumabe, que talvez nunca comprove sua eficácia por meio de estudos rigorosamente conduzidos por razões óbvias, mas que pode ser o grande protago- nista de fato dessa nova era de tratamento. Uma era de tratamento potencialmente segura, eficaz e, principalmente, que faça diferença na vida de nossos pacientes. Endereço para correspondência: Dr. Rogério A. Costa Rua Padre Duarte 989 ap172 Araraquara-SP 14801-310 Telefone/fax: (16) 3331-1001 Email: [email protected] OPÇÕES NO TR ATAMENTO DE CER ATOCONE Fernando F d P Paganelli lli Setor de Patologias Corneanas e Transplante de Córnea Centro de Oftalmologia Especializada e Hospital de Olhos de Araraquara Araraquara – SP – Brasil O ceratocone é uma distrofia da córnea em que ocorrem protrusão e afinamento progressivos do ápice, causan- do baixa visual em virtude do astigmatismo irregular da superfície corneana. É uma doença de evolução lenta, geralmente bilateral e de etiologia desconhecida, que se inicia entre 14 e 22 anos de idade, evoluindo até 35 a 40 anos. Mesmo após vários estudos, as causas do ceratocone ainda não estão definidas. Pesquisas indicam tratar-se de uma doença multifatorial, com componentes genéticos, estruturais e com in- fluência de fatores externos como micro traumas oculares, como coçar os olhos e uso de lentes de contato. O papel da hereditariedade no desenvolvimento do ceratocone ainda não foi bem estabelecido, mas em cerca de 10 a 15% dos casos existem outros membros afetados na família. A identificação do ceratocone moderado ou avançado é razoavelmente simples através de topografia corneana. Entretanto, o diagnóstico em Ceará Oftalmológico suas fases iniciais requer cuidadosa história clínica, medidas da acuidade visual e refração, e ainda exames complementares que estudam a face posterior e elaborem mapas paquimétricos da córnea como o Orbscan (Bausch & Lomb®) e o Pentacam HR (Oculus®). A maioria dos pacientes com Ceratocone tem sua visão restabelecida com óculos ou lentes de contato, aproximadamente 95% dos pacientes ficarão satisfeitos com o tratamento não cirúrgico. Atualmente existe uma gama enorme de lentes de contato e materiais, lentes gelatinosa para ceratocone, materiais híbridos, mas os melhores resultados ainda são obtidos com as lentes esféricas ou bi curvas (Soper) gás permeáveis. Quando a acuidade visual com óculos ou lentes de contato não é suficientemente boa para que o paciente desenvolva suas atividades de estudo e/ou trabalho (em geral nos casos mais avançados, com alto astigmatismo irregular, leucoma ou intolerância ao uso das lentes) abre-se atualmente um leque enorme de possibilidades cirúrgicas. Anéis intra-corneanos, transplantes penetrantes, transplantes lamelares e cirurgias corneanas assistidas por femtosecond laser (IntraLase Corp.) são ótimas opções no tratamento cirúrgico do ceratocone quando bem indicadas e realizadas. Quando já não existe indicação de óculos ou lentes de contato e a córnea ainda permanece sem leucomas com uma ceratometria inferior a 56 D e com menos de 5 D de miopia os anéis intra-corneanos são uma boa opção. Hoje temos disponíveis no mercado mundial o INTACS (Addition Technology, Inc.) e o Anel de Ferrara (Ferrara Ring), desenvolvido pelo Oftalmologista brasileiro Paulo Ferrara. A vantagem da colocação dos Anéis intra-corneanos em relação ao transplante de córnea é que se trata de um procedimento mais rápido, feito com anestesia tópica e menores riscos de complicações graves. A grande maioria de pacientes com ceratocone que necessitam de transplante podem precisar de mais de um procedimento ao longo da vida aumentando em muito o risco de catarata, glaucoma e complicações vítreo retinianas. Seu custo é menor que a cirurgia de transplante de córnea se considerado o custo de obtenção de córneas de boa qualidade pelos Bancos de Olhos. Se não der bons resultados, os anéis podem ser removidos e o paciente poderá receber uma nova córnea, sem nenhum risco adicional à cirurgia do transplante. A cirurgia do Anel de Ferrara, no entanto, merece um estudo multicêntrico e um tempo maior de observação a médio e longo prazo para que conheçamos com mais consistência suas reais vantagens e eficácia. Córneas com leucomas por evolução do ceratocone ou trauma pelo uso de lentes de contato por longos períodos, ceratometria superior 11 a 56 D, mais de 5 D de miopia e falência no tratamento com anéis intra-corneanos poderão se beneficiar de transplante penetrantes ou lamelares de córnea . Nos casos de leucoma ou de espessura corneana extremamente finas está indicado o transplante penetrante, sua principal vantagem é a qualidade de visão pós operatória muitas vezes não conseguida com os enxertos lamelares e sua principal desvantagem é o risco de rejeição aumentado em relação aos lamelares. Transplantes lamelares automatizados e transplantes lamelares profundos podem remover cicatrizes e prover tecido as córneas com ceratocone com poucos pontos ou até mesmo sem pontos levando a uma rápida recuperação visual e com mínimo astigmatismo. Um grande avanço nas cirurgias corneanas é o uso de femtosecond laser (IntraLase Corp.) para construção de túneis para o implante dos anéis, confecção de cortes perfeitos e com possibilidade de encaixe tipo zigzag ou outros desenhos na córnea doadora e receptora em transplantes penetrantes e cortes lamelares sem distorções que são provocadas pela dissecção manual ou pelo microceratomo. O grande limitante para a expansão do uso do femtosecond laser (IntraLase Corp.) no Brasil é seu alto custo de aquisição e manutenção, mas com certeza esta técnica já rompeu o paradigma da cirurgia corneana com trépanos e microceratomos. 12 D r. M a r c o s Á v i l a Ceará Oftalmológico O Ceará Oftalmológico entrevista o professor do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás, Dr. Marcos Ávila. O Dr. Marcos Ávila fala sobre o XXXIV Congresso Brasileiro de Oftalmologia que se realizará em Brasília, no período de 3 a 6 de setembro de 2007. Qual será o tema oficial do XXXIV Congresso Brasileiro de Oftalmologia? R. Doenças externas e córnea Durante o Congresso será realizado o II Fórum Nacional de Saúde Ocular. Há 6 anos, o I Fórum Nacional de Saúde Ocular trouxe resultados efetivos para a saúde ocular da população brasileira. Quais são as expectativas para o II Fórum, neste momento de crise generalizada na saúde? Esperamos reconquistar o financiamento das ações oftalmológicas existentes no passado, pelos gestores públicos. Pretendemos também implantar no País a hierarquização da rede de atendimento em níveis de complexidade. Quais são os principais desafios – científicos, financeiros e políticos – para se organizar um congresso desse porte? Científica organizar mais de 800 palestrantes;financeiro - conseguir colocar no budget da indústria evento desta grandiosidade. A realização do XXXIV Congresso Brasileiro de Oftalmologia em Brasília dará à Oftalmologia Brasileira uma maior visibilidade junto aos poderes constituídos? A força da oftalmologia nacional, a especialidade com maior engajamento social e político se fará sentir no centro das decisões nacionais. As empresas patrocinadoras parecem ser fundamentais para a realização do congresso. Elas exercem alguma influência sobre a grade científica? Felizmente, não. Quais novas práticas diagnósticas, terapêuticas clínicas e cirúrgicas serão abordadas no evento? Sedimentação dos antigos e lançamentos de novos produtos pela indústria. Haverá palestrantes internacionais? A presença de convidados estrangeiros atrai mais público? Muitos, mas hoje pelo alto nível da oftalmologia brasileira, não tem-se que, necessariamente, convidar palestrantes internacionais. Como está a programação social do evento? Está prevista alguma grande atração? Fantástica! O cantor Leonardo será a atração nacional. COMISSÃO DE SAÚDE OCULAR E PREVENÇÃO À CEGUEIRA Por ocasião do Seminário Cearense de Saúde Ocular, ocorrido no último dia 16 de maio de 2007 na Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, tomou posse a nova Comissão de Saúde Ocular e Prevenção à Cegueira do Estado do Ceará. Por ato do Secretário da Saúde do Estado do Ceará, Dr. João Ananias Vasconcelos Neto, através do Decreto nº 28.689, de 28 de fevereiro de 2007, fica assim constituída a nova comissão: Dr. Fernando Queiroz Monte (Conselho Regional de Medicina, que exercerá a função de Presidente); Dr. João Hélder Alves Arcanjo (Hospital São Francisco de Canindé, que exercerá função de VicePresidente); Dra. Francisca Leonete Borges de Almeida (Coordenadoria de Políticas e Atenção à Saúde/Núcleo de Atenção Especializada, que exercerá as funções de Secretária Executiva); Dra. Ana Valéria Carneiro Teixeira (Secretaria da Saúde do Município de Fortaleza, que exercerá as funções de 1ª Secretária) e Dra. Rosimeyre Anastácia da Silva (Serviço Social da Indústria (SESI), que exercerá a função de 2ª Secretária). Fazem ainda parte da Comissão o Dr. Sérgio Augusto Carvalho Pereira (Sociedade de Oftalmologia do Ceará), Dr. Hermínio Resende, Dr. David da Rocha Lucena, Dr. Raimundo José Arruda Bastos, Dr. João Maia Nogueira, Dr. Ricardo Evangelista Marrocos Aragão, Dr. Aldrovando Nery de Aguiar, Dra. Islane Maria Castro Verçosa, Dr. Carlos Afonso Silva, Dra. Ofélia Maria Gomes de Matos, Dr. Paulo César Dias Almeida, Dra. Joana Gurgel Holanda Filha, Dra. Verônica Maria Benevides Pedrosa, Dr. Sisley Jean Araújo Viana, Dra. Itelvina Marly Goes Sampaio, Sra. Maria Josélia Sá e Almeida, Dr. Orismar Vanderlei Diniz, Dr. Francisco Airton de Vasconcelos e o Sr. Jorge Rolim de Castro. 13 Ceará Oftalmológico E S PA Ç O J U R Í D I C O Como Minimizar os Riscos da Atividade Médica Ao longo dos últimos anos vem surgindo no Brasil uma tendência de ajuizamento de ações judiciais de reparação de danos materiais e morais das mais diversas naturezas. Relações de consumo, conflitos entre vizinhos, colisões de automóveis, inscrições indevidas de pessoas em serviços de proteção ao crédito são somente algumas das situações levadas ao Poder Judiciário para este fim. “Mas onde os médicos enquadramse nestas situações?”, pode perguntar o leitor. A resposta é simples: os próprios atendimentos, consultas, procedimentos e intervenções cirúrgicas podem ser motivo de reclamação do paciente e levarem a eventual propositura de ação judicial de reparação de danos contra o médico e/ou sua clínica. O tão falado “erro médico” é um dos casos que enseja a propositura de ações judiciais de reparação de danos, mas não somente em casos de erros em procedimentos e tratamentos ensejam a reparação de danos. De acordo com o entendimento pacífico dos tribunais pátrios, os médicos e hospitais e seus respectivos pacientes se enquadram nas definições que o Código de Defesa do Consumidor dá para “fornecedor” e “consumidor”, fato que, por si, pode dificultar a defesa em juízo dos profissionais da saúde envolvidos em processos. É que me relações de consumo, existe a possibilidade de o juiz determinar que o fornecedor do serviço (no caso, médicos e hospitais) prove que os atos realizados não foram danosos ao autor da ação (paciente). Neste contexto, cabe aos próprios médicos de se cercarem de medidas acautelatórias simples e indispensáveis que possibilitam a diminuição dos riscos de demandas jurídicas, sendo necessária a própria participação efetiva desse profissional na tomada de medidas acautelatórias simples e indispensáveis, tudo no seu dia-a-dia dentro dos consultórios e salas cirúrgicas. Como alternativa a minimizar o recebimento do “convite” do Poder Judiciário, ou mesmo para poder opor uma defesa contundente, o profissional da medicina deve estar cada vez mais atento não só na execução de seus procedimentos, mas também nas informações que transmite ao paciente. Aí entra o chamado Termo de Consentimento Informado (TCI) que nada mais é do que um documento produzido pelo médico, redigido sem grandes formalidades, que menciona, entre outros elementos, a descrição completa do procedimento a ser realizado, os riscos que o envolvem e os cuidados a serem tomados antes e depois do mesmo, tudo de forma muito clara e objetiva, para que qualquer leigo entenda prontamente as informações nele contidas. Este documento deve ser assinado pelo médico, paciente e por duas testemunhas, após esclarecidas todas as dúvidas formuladas pelo atendido. É certo que nem todo mau resulta- do é sinônimo de erro médico. Da mesma forma, não se deve admitir que as conseqüências da má prática médica deixem de ser justamente reparadas. Nesse sentido, é importante iniciar uma investigação profunda acerca do resultado ocorrido, coletar todos os documentos necessários e consultar outros profissionais a respeito do caso. E é exatamente neste momento que podem aparecer os problemas que dificultam a defesa dos médicos em juízo, justamente pela falta de documentos e provas destes. Os TCIs já tiveram fundamental importância para diversos julgamentos no Brasil que o levaram como prova fundamental para o desfecho do processo. Mas não só o TCI é suficiente para a redução substancial dos riscos da atividade médica. Solicitar os exames necessários no pré-operatório; empregar técnicas reconhecidas no ato cirúrgico; verificar se a aparelhagem utilizada teve a manutenção adequada; prestar adequadamente os cuidados do pós-operatório; informar adequadamente aos pacientes acerca dos riscos dos procedimentos, especialmente quando envolvam cirurgias, são outras medidas que muito ajudam no momento de realizar a prova judicial, cercando e resguardando os profissionais da medicina de eventuais ações judiciais de reparação de danos. Mário Dos Martins Coelho Bessa Assessor Jurídico da Sociedade de Oftalmologia do Ceará Advogado OAB-CE 15.254 DEFESA DA SAÚDE OCULAR DEPUTADO HERMÍNIO RESENDE PRONUNCIAMENTO: Denuncia contra práticas danosas à visão do povo do Ceará. DATA: 13.03.2007 Senhor Presidente, Senhores Deputados, Senhores da Imprensa, alunos do Colégio Dom Manuel, presentes nesta galeria, amigos telespectadores da TV Assembléia, da TV Ceará. Estou usando esta Tribuna, mais uma vez, para falar de um assunto que reputo ser da maior importância e da mais alta gravidade. Eu queria que hoje estivesse até mais médicos nessa casa, pois o assunto é caso de saúde pública, e vem se arrolando por vários anos. Aqui no Ceará tem nos preocupado muito que pessoas não qualificadas vem prescrevendo óculos e lentes de contatos. Pessoas, Dr. Washington, que estão muitas vezes, eu diria com muita freqüência, cegando cearenses por não estarem qualificados para tal ato. Nobre Deputado Fernando Hugo, Vossa Excelência é médico, tem que nos ajudar. O que mais me assusta é que as pessoas menos esclarecidas procuram esses pseudo- 14 Ceará Oftalmológico profissionais para realizarem exames e para prescreverem lentes. Nós que somos médicos sabemos que a grande maioria dessas pessoas que não estão enxergando bem não é pelo viço refracional. Eu quero citar aqui alguns exemplos visão que não são decorrentes de viço refracionais, num linguajar mais simples: Por falta de lentes corretoras. È o caso do glaucoma, no Brasil mais de 900 mil pessoas são portadoras de glaucoma, doença que destrói o nervo ótico e leva à cegueira. Muitos desses pacientes, por falta de um esclarecimento, por falta de uma oportunidade para realizar uma consulta com um médico oftalmologista, procuram esses pseudo-profissionais em todos os cantos do Ceará, na capital e no interior. Encontramos placas que anunciam aviamento de consultas gratuitas. É uma prática danosa, não pode acontecer. Nós deputados temos combater essas atitudes. Gostaria que o Deputado Antônio Granja, Presidente da Comissão de Saúde, estivesse presente para que ele também levantasse essa bandeira, para que estas pessoas que prescrevem tanto lentes de óculos quanto lentes de contatos fossem abordadas, para que cearenses não mais cegassem por tratamentos indevidos, meu caro Perboyre, Vossa Excelência também é médico. Eu tenho certeza que lá na sua região de Saboeiro ocorre esse problema. REFLEXÃO Meu caro Deputado-médico Roberto Cláudio, peço a vossa excelência também que se associe a essa nossa luta para beneficiar a visão do povo do Ceará. Que o povo do Ceará seja consultado por oftalmologista. Tenho certeza que nenhum dos senhores gostaria que seus familiares viessem a ter a luz com um médico que não fosse um ginecologista ou obstetra. Tenho certeza que nenhum dos Senhores, que tivesse uma fratura quisesse ser atendido por um médico que não fosse qualificado para tanto. Apartearam o Deputado Hermínio Resende, se solidarizando com o caso os deputados: Fernando Hugo, Roberto Cláudio e Perboyre Diógenes. Por FLÁVIO R. L. PARANHOS A pós-graduação e a mais-valia “Dedico esse momento ao meu amigo Fulano, que é engenheiro, e sempre me provocou dizendo que doutor é quem tem doutorado” Pós-graduando, ao saber da aprovação de sua tese de doutorado. Uma medida tomada recentemente por uma empresa de seguros de saúde é, ao mesmo tempo, alvissareira e triste. Estabelece regras para o ganho do médico, valorizando aspectos como: formado há mais de dez anos, residência, especialização, mestrado, doutorado e docência. Quanto aos três primeiros, não há qualquer sombra de dúvida de que são indicadores de maior experiência e melhor formação e preparo profissionais. Mas será que isso vale também para mestrado e doutorado? Não. O mestre/doutor é necessariamente melhor médico do que o que não possui esses títulos? Não. O que significa, então, para o médico ter mestrado/doutorado? Significa, na melhor das hipóteses, que se trata de uma pessoa com grande interesse em ensino e/ou pesquisa. Digo “na melhor das hipóteses” porque, infelizmente, há uma infinidade de outros motivos menos nobres para almejar esses títulos. Vaidade e marketing pessoal, para começo de conversa. Galgar posições políticas em sociedades médicas, subir na carreira universitária, melhorar o salário, etc. Um erro grosseiro que se vem cometendo sistematicamente, e, o que é pior, encarado de forma natural, é a valorização cega e obsessiva dos títulos de mestre e doutor pelos meios oficiais de fomento à educação. Se determinada universidade tem mais mestres/doutores, é melhor conceituada, recebe mais atenção, enfim, mais dinheiro. Em conseqüência, temos universidades tradicionais tratando de garantir que seus próprios quadros abocanhem logo o título, e professores sem a menor vocação para a pesquisa sendo obrigados a enfrentar os cursos não como se fossem cursos, mas, sim, obstáculos à obtenção do amaldiçoado título. Como diz Wladimir Kourganoff, em A Face Oculta da Universidade (Editora da Unesp), vocação para ensino não significa necessariamente o mesmo para a pesquisa e viceversa, e o que se consegue com o atrelamento da produção científica à subida na carreira docente é apenas a figura dos pseudopesquisadores e pseudoprofessores. Não há porque obrigar bons professores da graduação a passar pelo suplício (para eles) de um curso de pós-graduação. Existem meios mais inteligentes e justos para mantê-los atualizados. Por outro lado, não faz sentido obrigar pesquisadores a dar aulas, se essa não for sua vocação. O prejuízo é duplo: deles próprios e dos alunos. O financiamento da graduação não pode depender do número de mestres/doutores ou mesmo da produção científica. Aliás, número de mestres/doutores não deve servir de parâmetro nem para a pósgraduação, pois seu financiamento e de seus laboratórios de pesquisa deveria depender exclusivamente de sua produção científica, quantitativa e qualitativa. Afinal, de que vale o título com a tese empoeirando nas bibliotecas, sem que seja sequer publicada ou mesmo inaugure uma linha de pesquisa regular? Outra conseqüência bastante nociva dessa fome de títulos é a dificuldade de acesso aos cursos de pósgraduação, por parte de candidatos (com vocação) oriundos de universidades mais novas. Enfrentam a endogenia reinante em muitas das ditas tradicionais, e alguns acabam por desistir no meio do caminho. Como consolo, apenas o fato de que, a médio e longo prazos, essa 15 Ceará Oftalmológico endogenia será fatal a essas universidades, resultando em completa decadência, pois instala um clima de inércia e desestímulo entre seus integrantes. Mestrado e doutorado, antes de serem títulos, são cursos. Aprofundase em um tema específico que será objeto de um experimento científico para a elaboração da tese e, quiçá, inaugurador de uma linha de pesquisa. Para tanto, são de vital importância as disciplinas do chamado domínio conexo (metodologia científica, estatística e didática, por exemplo). Pois bem. É de estarrecer o desprezo que dispensam a essas disciplinas os alunos que evidentemente entram na pós-graduação com todas as credenciais do mundo, exceto a que mais interessa: vocação. Resultado: formam-se mestres e doutores sem a menor noção dessas matérias, aliviadas por obterem enfim o título. Sou médico, não sou matemático, dizem, referindo-se à campeã das antipatias, a bioestatística (como se fosse possível realizar pesquisa científica sem, no mínimo, compreender seus fundamentos). Alguns, os chamados medalhões, chegam a contratar um verdadeiro exército para elaborar sua tese, com a ale- gação de falta de tempo. Terminam o curso como começaram: pseudopesquisadores. “Sendo o termo da vida limitado, não tem limites a nossa vaidade”, escreveu o filósofo brasileiro Matias Aires. É verdade. Que o diga o rapaz da epígrafe, que fez doutorado para ser chamado de doutor. FLÁVIO R. L. PARANHOS Médico, doutor em Oftalmologia pela UFMG é pós-doutorado pela Escola Médica de Harvard OFTALMOLOGIA E ARTE Estas primeiras palavras para agora iniciar A leitura das poesias envolvendo a visão Podendo ser lido por criança, jovem ou ancião. BLEFAROPLASTIA Traços primorosos têm as pálpebras no limiar da existência Junto com cílios e sobrancelhas harmonizam a aparência Ao globo ocular protegem cumprindo grande função Ao piscar espalham as lágrimas aperfeiçoando a visão INTRODUÇÃO Ã O médico Levi Madeira conta em forma de poesia Narrando as principais ocorrências da oftalmologia De uma forma muito didática e sem nenhum mistério Ele vai narrando os fatos levando tudo muito a sério Tem muito a nos contar como médico oftalmologista Pois além de rotariano tem sido um grande idealista Palestras sobre a visão envolvendo a comunidade Tem proferido desde o ano que concluiu a faculdade Seja em escola, igreja, centro comunitário ou empresa Se for convidado irá ele com disposição e destreza Projetos de prevenção como Visão do Escolar Tem beneficiado muita gente sendo ele o titular Com este livro não tem ele nenhuma outra pretensão Tão somente esclarecer em forma de diversão A quem possa interessar seja médico ou não Os variados problemas que afetam a visão Sem mais grandes delongas vamos logo terminar Com o envelhecimento da pele e a força da gravidade Aparecem então as rugas pela perda da elasticidade Radiação solar e o fumo nos que têm exposição Envelhecem muito mais cedo já é uma constatação Em alguns surgem as temidas bolsas sob a pele palpebral É a hérnia de gordura orbitária influindo na aparência facial A queda das pálpebras e bolsas simulam cansaço e tristeza Chegou o momento de operar e aos olhos dar mais beleza Blefaroplastia é a técnica que vai mudar seu astral É o nome que damos para a cirurgia plástica palpebral Pele, músculo e gordura são retirados com toda precaução Com a sutura repõe-se tudo na sua correta posição Antes da cirurgia faça uma consulta oftalmológica Hemograma, glicemia, coagulograma e avaliação cardiológica A campimetria é outro exame que deve ser usual Ela mostra se há defeitos no seu campo visual Estando tudo acertado finalmente chega o dia Primeiro a demarcação das áreas para a correta cirurgia Operar duas ou as quatro pálpebras já houve esta decisão O anestesiologista agora aplica uma suave sedação Infiltração nas pálpebras é feita dando completa anestesia Limpeza da face com álcool iodado para uma boa assepsia E a transformação agora começa pelas mãos do cirurgião Finalizando após pôr tudo na sua mais correta posição Entre uma a duas horas é o tempo que dura a blefaroplastia Compressas geladas são importantes indo até o sétimo dia Sem curativos já vai para casa duas horas pós-cirurgia Quanto mais compressas geladas fizer melhor a fisionomia Dia seguinte deve ser visto pelo seu cirurgião A mobilidade ocular é testada assim como sua visão Até o terceiro dia suas pálpebras decerto incharão Com oito dias tirar os pontos e fazer outra avaliação Muito sucesso temos alcançado na nossa blefaroplastia Com 3 sessões de drenagem antes e mais 3 pós cirurgia Drenagem linfática bem feita além de segura auxilia Menos edema e equimose deixa melhor a cirurgia Aos três meses já é se observa sua nova fisionomia É o milagre da técnica de uma blefaroplastia Faça as pazes com o espelho afaste aquele pesar Veja novamente como é a beleza do seu olhar... Levi Madeira 16 Ceará Oftalmológico CALENDÁRIO OFTALMOLÓGICO NOVEMBRO XVIII Congresso Cearense de Oftalmologia 22 a 24 de novembro de 2007 Hotel Vila Galé - Fortaleza - Ceará Informações: ARX Eventos - Tel.: 85 - 4011.1572 (Paula Moraes) Acesse também o nosso site: www.soc.org.br Participe!!! As clínicas / hospitais que desejarem divulgar seus eventos na área de Oftalmologia, deverão fazê-lo pelo fax: 85-3264-9781 ou pelo e-mail: [email protected] PIADAS • O cara morria de medo de avião. No balcão do aeroporto, quando a moça perguntou que lugar ele preferia, respondeu: - Dentro da caixapreta, por favor!. • Havia três amigos - um argentino, um brasileiro e um português. O brasileiro pediu dinheiro emprestado ao argentino, que tinha fama de pão-duro. O brasileiro, por sua vez, tinha fama de caloteiro. Passaram-se seis meses, sem que a dívida fosse paga. Um dia os três amigos se encontraram. O argentino, de repente, puxa uma arma e diz para o brasileiro: - Você vai pagar a dívida, ou não? - Claro que não - debocha o brasileiro. Eis que ele toma o revólver do argentino, aponta para a própria cabeça e diz, antes de atirar: - Vou para o inferno, mas não pago essa dívida! Os amigos ficam olhando, atônitos. O argentino, descontrolado, pega a arma, aponta para a cabeça e diz: - Vou até o inferno para cobrar o que me devem - e puxa o gatilho. O português vê os dois amigos mortos, pensa um pouco, pega a arma, aponta para a própria têmpora e grita: - E eu não vou perder essa briga por nada!!! • Paulo Maluf vai visitar o Papa e no final da audiência, Sua santidade coloca a mão no bolso da batina e diz: - Espere, meu filho. Eu vou lhe dar um terço... - Nada feito! - protesta o político - Só aceito se for a metade! AGRADECIMENTOS SOCIEDADE DE OFTALMOLOGIA DO CEARÁ Sede Própria: Av. Dom Luiz, 300 - S/ 1127 Meireles-Fortaleza-CE - CEP 60.160-230 Fone-Fax: (85) 3264.9781 - 3264.9404 www.soc.org.br e-mail: [email protected] DIRETORIA EXECUTIVA Presidente Dr. Sérgio Augusto Carvalho Pereira Vice-Presidente Dra. Márcia Maria de Araújo Medeiros Secretário Geral Dr. Abrahão da Rocha Lucena 1º Secretário Dr. George Emílio S. Carneiro 2º Secretário Dra. Joana Gurgel Holanda Filha 1º Tesoureiro Dr. Edmar Oliveira Guedes Júnior 2º Tesoureiro Dr. Francisco Eurípedes Gomes de Lima Repres. Reg. Norte Dra. Ana Maria F. Gomes Dias Repres. Reg. Central: Dr. Raimundo Holanda Amorim Repres. Reg. Sul: Dr. João Correia Saraiva COMISSÕES Cursos: Dr. Abelardo Pompeu de Targino Dr. Alexandre Teles Holanda Dr. David da Rocha Lucena Dra. Deborah Fernandes Távora Dr. Leiria de Andrade Neto Dr. Newton Leitão de Andrade Dr. Rodrigo Vicentini Defesa da Saúde Ocular: Dr. Antônio Hermínio B. Resende Dr. Carlos Alfredo Cisne Guerra Dr. Danton Correia Nobre Junior Dr. Francisco Melo Neto Dr. João Helder A. Arcanjo Dr. Volney Anderson Castaldelli Divulgação e Marketing: Dr. Adriano Holanda Viana Dr. Gersivan Gomes de lima Dra Joyce Duarte Gandhi Martins Dra Juliana Cristina Leite Botelho Dra. Wélia Maria Aquino Ferraro Ética: Dr. Cleanto Jales de Carvalho Filho Dr. Fernando Queiroz Monte Dr. Francisco Alequy de Vasconcelos Filho Dr. Francisco José Pessoa A. Reis Dr. Rafael Dias Marques Nogueira Dr. Sylvio Idelburque Leal Filho Incentivo à Pesquisa Científica: Dra. Andréia Giffoni Dr. Carlos Afonso Silva Dr. Cícero Narcísio Moreira Leite Dr. Jailton Vieira da Silva Dr. Regis Santana de Figueiredo Dr. Ricardo E. Marrocos de Aragão Dra. Rosistelle Maria O. Bezerra Castaldelli Dr. Walder Braga Viana Informática e Documentação: Dr. Armando Arrais Feitosa Neto Dr. Jovanni Gomes Alves Dr. Levi Torres Madeira Dra. 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