PROBLEMAS ÓSSEOS DOS ANIMAIS EM CRESCIMENTO ÍNDICE 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Fraturas Pediátricas. Consolidações Ósseas Anormais. Distúrbios Nutricionais: Hipernutrição e Hipersuplementação. Osteodistrofia Hipertrófica. Necrose Asséptica Da Cabeça Do Fêmur. Displasia Coxofemural. Osteocondrose. Não União Do Processo Ancôneo. Osteocondrose Do Cotovelo e Fragmentação Do Processo Coronóide. 1) FRATURAS PEDIÁTRICAS As fraturas nos animais jovens geralmente ocorrem na região metafisária dos ossos longos. As diáfises dos ossos longos são mais resistentes e elásticos do que os ossos de animais mais velhos, portanto comportam mais deflexão antes de se fraturarem completamente. As fraturas em galho verde ou incompleta são comuns em filhotes de cães e gatos. A região metafisária constitui o principal local de crescimento ósseo longitudinal, ela possui um componente cartilaginoso composto de zonas de desenvolvimento, um componente ósseo composto de osso trabecular e um componente fibroso composto de fibroblasto e feixes fibrosos. A epífise dos animais imaturos possui uma placa de crescimento que dá origem a algum aumento no comprimento ósseo, embora o crescimento significativo longitudinal aconteça na placa de crescimento metafisário. Em tentativas de redução fechada de fraturas em animais jovens, o osso pode se fraturar facilmente além da fratura inicial, pois esse é geralmente mais mole e sensível a forças exercidas sobre ele. O prognóstico para fraturas em animais em crescimento depende do tipo de lesão, localização da fratura, tipo de reparo e potencial de crescimento restante na placa de crescimento metafisário no momento da lesão. Algumas fraturas que envolvem a placa de crescimento tem o potencial de retardar ou parar o crescimento ósseo, e criar deformidades dos membros, devido ao encurtamento ou a mudança angular do membro. Após o reparo da fratura, a consolidação é rápida e a maioria dos animais produz calo exuberante independente do método de imobilização. A não união é muito incomum. Em fraturas articulares, a redução anatômica e fixação rígida são necessárias para se restabelecer a articulação funcional. TRATAMENTO Se a fratura tiver menos de 48 horas de ocorrência e não for uma fratura de placa de crescimento pode-se reduzi-la e mantê-la na posição com um penso. A fixação interna é recomendada quando ocorrem: A. Fraturas que causem deformidades rotacionais ou encurtamento, B. Fraturas que resultam em incongruência da superfície articular, C. Fraturas que afetem a placa fiseal e, portanto, o crescimento ósseo, D. Fraturas de fêmur. Independente da localização da fratura, o método de fixação interna não deve se estender à placa de crescimento metafisário, deve-se deixar um potencial de crescimento. É aceitável cruzar as linhas de fissura com os pinos. Se for necessária a fixação interna em uma fratura de placa de crescimento, o método escolhido deve proporcionar estabilização adequada e minimizar danos adicionais a fise. Pinos únicos ou pareados de Kirshnner constituem os implantes de escolha para as fraturas que envolvam a placa de crescimento metafisário. Pinos, fios de aço de cerclagem, fixadores externos, placas e parafusos constituem os métodos apropriados de fixação interna para as fraturas diafisárias nos animais imaturos. CUIDADOS E COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS É necessário remover os pinos que atravessam a placa de crescimento em 3 a 4 semanas para reduzir seus efeitos no crescimento potencial. Tire radiografias para avaliar sinais de interrupção prematura do crescimento. O fechamento prematuro da fise de um par de ossos (por exemplo, o rádio e da ulna) geralmente resulta em deformidade angular e incongruência articular significativas. 2) CONSOLIDAÇÕES ÓSSEAS ANORMAIS As deformidades angulares e rotacionais dos ossos longos induzem problemas funcionais em casos onde a deformidade está além da capacidade do animal em compensá-la. Ambas causam sobrecarga e estiramento anormal nas articulações adjacentes e isto vai induzir a afecção articular degenerativa com o tempo. Essas deformidades geralmente são causadas pela parada prematura das placas de crescimento dos ossos longos, ou pela consolidação de uma fratura de osso longo em posição de redução incompleta. Muitas deformidades podem ser corrigidas através da secção e reposicionamento do osso. OSTEOTOMIA É a secção cirúrgica do osso, utilizada na maioria das vezes na intenção de reparar uma deformidade óssea. As deformidades mais comuns incluem valgo, varo, hiperextensão e hiperflexão. O comprimento pode ser encurtado ou (raramente) alongado e a rotação pode ser externa. A má união pode incluir todos os acima citados e o deslocamento de fragmentos diafisários em todos os planos e direções. Essas deformidades são tratadas por osteotomia corretiva; osteotomias simples são comumente realizadas como parte de abordagens cirúrgicas ou como parte de outro procedimento, tal como a artrodese. INDICAÇÕES COMUNS PARA PRÁTICA DE OSTEOTOMIA Deformidade angular do rádio e ulna devido à parada fiseal prematura do rádio e/ou da ulna; Deformidade angular da porção distal da tíbia devido à parada fiseal prematura da porção distal da tíbia e/ou distal da fíbula; Correção ou prevenção da displasia coxofemural; Má união de todos os ossos longos e pelve 3) DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS A. Dieta baseada somente em carne. A dieta a base de carne é rica em fósforo e pobre em cálcio, esse desequilíbrio acaba acarretando em hiperparatireoidismo nutricional secundário, uma condição na qual as paratireóides são estimuladas a secretar o paratormônio. Este hormônio aumenta a absorção de cálcio a partir do osso para manter níveis séricos adequados. No animal jovem, o resultado pode ser perda de densidade esquelética e diminuição da cortical óssea. Assim, claudicação e fraturas podem ocorrer. O tratamento envolve a alimentação do animal com dieta comercial balanceada, bem como suplementação com cálcio. B.Hipernutrição e hipersuplementação A maioria das rações comercial secas contém as quantidades apropriadas e equilíbrio entre o cálcio e fósforo. Muitas vezes, não contentes com a alimentação comercial, proprietários decidem, encorajados por criadores, suplementar a alimentação com vitaminas, fosfato dicálcico, ossos, cereais de alto valor de proteínas, carne, leite, queijo, ovos, gérmen de trigo e, outros nutrientes, acarretando em graves distúrbios nutricionais, principalmente em cães de grande porte. Esses distúrbios, muitas vezes acabam em desordens do crescimento como, por exemplo: crescimento acelerado, depressão das articulações metacarpofalangeanas, desvio lateral das extremidades dos membros torácicos (deformidades valga do carpo), membros pélvicos "tarso de vaca", aumento das metáfises distais radial e ulnar, aumento de volume das junções costocondrais, dor, coluna espinal arqueada, inatividade, além de obesidade, que adquirida nesta fase apresenta controle duvidoso, já que o regime alimentar instituído na fase adulta, dificilmente reduzirá o número daquelas células adiposas adquiridas anteriormente. Observa-se que o crescimento ósseo não acelerado, ou seja, mais lento, portanto com melhor conformação ósseo evita lesões que causam deformidade óssea. O diagnóstico diferencial que se faz com hipernutrição é o raquitismo, que também descreve um crescimento acelerado. O raquitismo é extremamente raro e tem sido visto somente sob condições de jejum. Muitas dessas patologias podem ser corrigidas quando a dieta é mudada, enquanto o cão ainda está crescendo. Algumas deformidades graves podem requerer a osteotomia corretiva depois que a maturidade esquelética for atingida. 4) OSTEODISTROFIA HIPERTRÓFICA Também conhecida como escorbuto ou osteodistrofia metafisária é uma síndrome que acomete cães jovens de raças de porte médio e gigantes, que crescem rapidamente. Os cães apresentam então: claudicação em um ou mais membros em associação com inchaço e inflamação das regiões metafisárias dos ossos longos, muitas vezes confundido com edemas das articulações. A etiologia é desconhecida. Antigamente atribuí-se a deficiência de vitamina C no organismo, mas a redução dos níveis de ácido ascórbico no soro sangüíneo, ou na urina não parece relacionar-se a doença. Atualmente a incidência dessa doença é muito baixa. Descrevem-se complicações relacionadas ao decúbito prolongado, anorexia e hipertermia nos animais severamente afetados. O prognóstico é reservado. Embora muitos cães se recuperam espontaneamente, pode-se desenvolver alterações ósseas e deformidades físicas permanentes. A osteodistrofia hipertrófica ocorre somente em cães em crescimento com fises abertas. SINAIS CLÍNICOS O início dos sinais clínicos ocorrem geralmente com 3 a 4 meses de idade ( variação de 2 a 8 meses). Febre, anorexia, prostração, perda de peso, dor coluna espinal arqueada, relutância aos movimentos, histórico de diarréia uma semana precedente. São sinais da doença. Geralmente a claudicação é bilateralmente simétrica. DIAGNÓSTICO Clínico: Metáfises inchadas, quentes e doloridas à palpação. Febre de até 41 graus Celsius História: Perda de peso Avaliação laboratorial: Não indicam grandes mudanças, apenas suaves anormalidades relacionadas com anorexia e estresse. Sinais radiográficos: O achado inicial é uma linha radiotransparente fina na metáfise à placa epifisária, especialmente do rádio. Secundariamente, existem áreas de calcificação extraperiostal ao longo da metáfise. A linha radiotransparente desaparece e é substituída por radiodensidade aumentada. Se ocorrerem recidivas, nova linha radiotransparente aparece entre a fise e a região radiodensa. À medida que o cão cresce, estes espessamentos extraperiostais freqüentemente regridem, mas podem deixar a metáfise permanentemente espessada. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Panosteíte, neoplasias associadas a ossos e osteopatia hipertrófica. TRATAMENTO Não existe tratamento específico. Muitas vezes a remissão é espontânea em 7 a 10 dias. Analgésicos e medicações antidiarréicas são indicadas assim como tratamento de suporte para os casos em que o animal não se alimente normalmente 5) NECROSE ASSÉPTICA DA CABEÇA DO FÊMUR Também conhecida como afecção de Legg-Perthes, osteocondrite juvenil, necrose avascular e coxa plana é uma necrose asséptica não inflamatória da cabeça e colo femurais em cães de pequeno porte, mais raramente em cães de raças grandes, acometem cães adolescentes de ambos os sexos. A causa da tal necrose não é conhecida com certeza, mas tem sido proposta como isquemia resultante da compressão vascular e atividade hormonal sexual precoce. Uma causa genética, homozigose para um gene autossômico recessivo, tem sido relatada. O traumatismo geralmente associa ao início da claudicação, e este pode progredir para a não sustentação do peso. Em todos os casos, a dor se manifesta no animal devido à deformação e necrose do osso da cabeça e colo femurais. A afecção bilateral ocorre em cerca de 15% dos animais. Não se sabe o que faz com que a cabeça vascular se torne avascular, após isso, o osso revasculariza-se e remodela-se à medida que o osso sofre reabsorção. O osso eventualmente pode formar-se novamente na área necrótica, mas a cabeça e colo femurais estão deformados com incongruências articular e instabilidade resultante. Estas condições levam a graves mudanças degenerativas dentro de toda a articulação coxofemural e o desenvolvimento de acentuada ósteo-artrose. A sustentação de peso faz com que o osso subcondral enfraquecido entre em colapso, o que, por sua vez, leva a fratura da cartilagem. SINAIS CLÍNICOS Dor local. O animal apresenta-se irritado, pode morder a área do flanco e coxal. A dor pode ser determinada na articulação coxofemural, particularmente na abdução. A crepitação pode estar presente, com taxa de movimentação restrita do membro. A atrofia dos músculos glúteos e quadríceps tornam-se aparente. A ocorrência de claudicação é geralmente gradual, e seis a oito semanas são necessárias para progressão até a completa impotência funcional, embora a dor possa ser aguda quando existir fratura da cabeça femural em áreas líticas. DIAGNÓSTICO Exame físico e achados radiográficos. Nos raios-X: O espaço articular pode se alargar e pode-se observar vários focos de redução da densidade óssea na cabeça e no colo femurais. A cabeça femural se achata onde ela contacta a borda acetabular dorsal e, então distorce ainda mais em graus variados. Os osteófitos bem como a subluxação e fratura da cabeça e colo femorais podem ser vistos ocasionalmente, ocorre também osteoartrite secundária na articulação. TRATAMENTO O tratamento cirúrgico é o mais indicado. Consiste na ressecção da cabeça e colo femurais. O tratamento conservador com repouso e analgésicos muitas vezes não trazem nenhum benefício ao animal. Com a técnica cirúrgica adequada cerca de 100% destes animais vão se movimentar e ficar livres da dor. Leve claudicação pode permanecer porque o membro é encurtado pela remoção da cabeça e colo femurais e os músculos da coxa e articulação coxofemural permanecem de alguma maneira atrofiados. 6) DISPLASIA COXOFEMURAL É o desenvolvimento ou crescimento anormal da articulação coxofemural, em geral bilateralmente. Ela se manifesta por vários graus de frouxidão dos tecidos moles ao redor da articulação, instabilidade, malformação da cabeça femural e acetábulo, e ósteo-artrose. A displasia coxofemural é o distúrbio mais prevalente da articulação canina e a mais importante causa de osteoartite nessa articulação. A instabilidade articular ocorre à medida que o desenvolvimento e a maturação se atrasam com relação à taxa de crescimento esquelético. Os primeiros 60 dias de vida correspondem ao período mais crítico para o desenvolvimento das estruturas de tecido mole. Quando o estresse e o peso exercidos na articulação coxofemural excedem os limites de força dos tecidos moles de sustentação, ocorre instabilidade articular. A afecção raramente acomete cães com peso abaixo de 11 a 12 Kg, quando adultos, embora já tenham relatos dessa patologia em gatos e cães "toys". ETIOLOGIA E PATOGÊNESE Muitas observações têm sido feitas em relação à etiologia desta complexa afecção: A. Fatores ambientais são superpostos à susceptibilidade genética do indivíduo. B. Os genes não afetam primeiramente o esqueleto, mas sim a cartilagem, tecidos conjuntivos e músculos da região coxofemural. C. A explicação biofísica da afecção é a que representa disparidade entre massa muscular e crescimento rápido e desproporcional do esqueleto. D. O desenvolvimento anormal é induzido quando o acetábulo e cabeça femural se distanciam e iniciam uma série de alterações que finalmente são reconhecidas como displasia coxofemural. E. As alterações ósseas são resultados da falha do tecido conjuntivo em manter a congruência entre as superfícies articulares da cabeça femural e o acetábulo. F. A afecção é prevenida se a congruência da articulação coxofemural for mantida até que a ossificação torne o acetábulo menos plástico e que os tecidos moles ao redor se tornem fortes o suficiente para impedir a subluxação da cabeça femural. Sob circunstâncias normais a força e a ossificação progridem suficientemente para prevenir a afecção até os seis meses de idade. G. Cães com grande massa muscular pélvica tem articulações femurais mais normais do que aqueles com menor massa muscular pélvica. H. A ocorrência, gravidade, e incidência da displasia coxofemural pode ser diminuída pela redução da taxa de crescimento dos filhotes. I. A ocorrência de displasia pode ser reduzida, mas não eliminada pela reprodução somente de cães com articulações coxofemorais radiograficamente normais. Apenas 7% dos filhotes serão normais se ambos os pais forem displásicos. SINAIS CLÍNICOS Variam de acordo com a idade do animal. Podem aparecer em cães jovens entre 4 e 12 meses de idade ou em animais acima de 15 meses de idade com afecção crônica. A dor aguda é um dos principais sintomas. Dificuldade em se levantar, músculos das áreas pélvicas e das coxas são fracamente desenvolvidos. Andar como "coelho". O súbito início dos sinais é causado pela ocorrência de microfraturas nas bordas acetabulares. As maiorias dos cães displásicos entre 12 e 14 meses de idade andam e correm livremente e não tem dor significante, apesar da aparência radiográfica da articulação. A maioria exibe padrão de locomoção como "coelho" quando correm. Cães mais velhos apresentam sintomas diferentes. A claudicação pode ser unilateral, mas geralmente é bilateral. Existe claudicação após exercício vigoroso ou prolongado, um modo de locomoção cambaleante, e freqüentemente crepitação e movimentação restrita da articulação. O cão geralmente prefere sentar-se a permanecer em estação e levanta-se lentamente com grande dificuldade. Os músculos pélvicos atrofiam-se, ao mesmo tempo os músculos do ombro hipertrofiam em virtude do deslocamento cranial do peso e uso maior dos membros torácicos. DIAGNÓSTICO Baseia-se o diagnóstico na anamnese, no exame físico e na avaliação radiográfica das articulações coxofemorais. Exame físico: · Claudicação do membro posterior · Dor articular · Sinal de Ortolani: Com uma mão colocada sobre o joelho do membro afetado, aplique pressão dorsal no fêmur enquanto se move o membro de uma posição abduzida para aduzida. O estalido ouvido ou sentido à medida que a cabeça femural entra ou sai do acetábulo consiste um sinal de Ortolani positivo e indicação de frouxidão articular. A palpação da frouxidão da articulação coxofemural em animais adultos não é geralmente confiável, devido à fibrose na cápsula articular e arrasamento do acetábulo, o exame radiográfico e ortopédico geral são mais importantes nesta situação. · O diagnóstico definitivo tem que ser baseado em radiografias Raios-X: · Nos casos precoces, o posicionamento apropriado da vista ventrodorsal é extremamente crítico; nos estágios avançados as alterações são pronunciadas e o posicionamento torna-se menos importante. · As alterações radiográficas associadas à displasia coxofemural variam de subluxação da cabeça femural a artropatia grave, com alterações acentuadas na arquitetura da cabeça femural e acetabular. TRATAMENTO A. Terapia Conservadora Somente utilizada em animais suavemente afetados e naqueles com episódio inicial de claudicação: · Restrinja a atividade para permitir que a resposta inflamatória dentro da articulação diminua; · Administre medicação para aliviar a dor e reduzir a inflamação associada a artropatia degenerativa. A aspirina tamponada e algumas vezes adequada ( 20 mg/Kg, a cada 12 horas); · A fenilbutazona é útil e parece ser mais eficaz do que a aspirina em alguns cães. Para uso crônico, dosagem terapêutica 1 mg/Kg, dividida em 2 ou 3 doses diárias; · Os corticosteróides aceleram as mudanças degenerativas na articulação e devem ser evitados para uso crônico; · Ácido meclofenâmica tem agido bem em cães que o toleram sem irritação gástrica ou intestinal; · Hannam e associados demonstraram efeito condroprotetor pelo glicosaminoglicano polissulfatado, após meniscectomia experimental. A dosagem de 1 mg/Kg intramuscular a cada 4 dias por 6 doses, freqüentemente produz melhora clínica. Esta dose é então repetida até o efeito, geralmente a cada 4 ou 6 semanas. TRATAMENTO CIRÚRGICO Existem várias técnicas efetivas para o tratamento da displasia coxofemural: A. Osteotomia Pélvica Tripla: Ideal para casos onde o animal apresenta o acetábulo recobrindo um pouco a cabeça femural e não ocorrem sinais de artropatia degenerativa na articulação coxofemural, a maioria dos cães com esses sinais possui entre 5 a 13 meses de idade. Objetivo: · Aumentar a intensidade de recobrimento acetabular sobre a cabeça femural através de giro da porção acetabular pélvica; · Manter a arquitetura e a congruência normais da cabeça femural e do acetábulo; · Impedir o desenvolvimento de artropatia degenerativa. Após a cirurgia restrinja a atividade por 8 semanas. B. Artroplastia de Excisão da Cabeça e Colo Femurais Ideal para cães de todas as idades, principalmente cães que pesam menos do que 18 Kg. Objetivo · Remover a cabeça e o colo femurais; · Eliminar os pontos de contato dolorosos na articulação; · Permitir que uma articulação de tecido fibroso substitua a articulação de esfera e encaixe O membro operado pode ser usado de 3 a 7 dias após a cirurgia. Em média leva-se 2 a 3 meses para que o membro atinja o seu nível funcional pós operatório definitivo. Em alguns animais a andadura ficará indistinguível do normal; em outros encontrar-se-á uma anormalidade óbvia da andadura. C.Miectomia Pectínea Pode-se fazer essa técnica em cães de todas as idades. Esse procedimento não altera a progressão ou a intensidade das alterações na articulação causada por uma displasia coxofemural, mas pode atenuar uma dor articular. Objetivo · Remover todo o ventre do músculo pectíneo bilateral; · Alterar a tração muscular na articulação coxofemural, mudando consequentemente os pontos de contato dentro da articulação coxofemural; Restrinja as atividades por 2 semanas. Em alguns cães a andadura melhora notoriamente e parece haver um alívio de dor acentuado. D.Osteotomia Intertrocantérica Ideal para pacientes com elevado aumento do ângulo de anteversão e/ou de inclinação. Pacientes com alterações degenerativas mínimas na articulação. Idade próxima a maturidade esquelética ( 6 a 8 meses). Objetivos · Reduzir os ângulos de inclinação e anteversão · Posicionar a cabeça femural com mais profundidade na taça acetabular. Restrinja a atividade por 8 semanas. E.Substituição Coxofemoral Total Usada quando: · O animal tem no mínimo 9 meses; · O peso mínimo do animal é de 13 a 18 Kg; · Quando ocorrer afecção incapacitante coxofemural sem nenhuma outra patologia sistêmica ou do membro posterior. Objetivo · Substituir a articulação coxofemural degenerada por uma taça de polietileno de alta densidade e uma prótese femural de liga de titânio ou de cobalto-cromo; · Proporcionar uma articulação mecanicamente sadia. Restrinja a atividade e a andadura por 2 meses. Mais de 95% dos cães tratados com essa técnica apresentam função satisfatória. 7) OSTEOCONDROSE É observada em animais jovens e de crescimento rápido de muitas espécies, geralmente acomete cães de porte médio, grande e gigante. Ela se caracteriza por um defeito na ossificação endocondral, ocasionada por um distúrbio da diferenciação celular no crescimento de placas metafisárias e cartilagem articular. Caso esta condição resulte na dissecção de retalhos ou cartilagem articular com algumas alterações articulares inflamatórias, ela pode ser chamada de osteocondrose dissecante. Essa patologia é mais comumente descrita na fase caudal da cabeça umeral, no côndilo umeral medial, nos côndilos femurais medial e lateral e nas cristas trocleares astragalares. Os distúrbios de ossificação endocondral na placa de crescimento metafisário podem resultar em espessamento focal da placa de crescimento (retenção dos núcleos cartilaginosos endocondrais da ulna distal), ninhos de retenção cartilaginosa (epífises femurais), retardo fisário (encurvamento radial e deslizamento das placas de crescimento metafisários; não-união do processo ancôneo; calcâneo proximal. No cotovelo existem 3 distúrbios que se relacionam à osteocondrose: a) Não-união do processo ancôneo; b) Fragmentação do processo coronóide; c) Osteocondrite dissecante 8) NÃO-UNIÃO DO PROCESSO ANCÔNEO (NPA) Detectada geralmente por volta dos 6 meses de idade, a não-união do processo ancôneo com a ulna ocorre inicialmente na face distal fisária e depois progride proximalmente ao longo da placa de crescimento. A ossificação endocondral incompleta pode resultar em focos de retenção cartilaginosa dentro de uma fise fechada; tais ninhos de retenção podem mimetizar uma NPA. Essa não-união resulta em irritação de corpo estranho, instabilidade do cotovelo suave a moderada e subsequente produção osteoartrítica. Se houver ligação entre o processo ancôneo e cápsulas periostais, o osso pode permanecer viável e capaz de formação de calo endosteal. SINAIS CLÍNICOS · Em cães imaturos (menos de 1 ano ): Claudicação, que geralmente piora com exercício DIAGNÓSTICO · Raios-X TRATAMENTO Quando não há sinais de ligação entre o processo e a cápsula periosteal deve-se partir para procedimento cirúrgico, removendo o "intruso" articular, no entanto permanecerão as incongruências articulares e a subsequente progressão artrítica. Nos casos onde exista essa ligação à reconstrução com parafuso, tentando-se uma união do processo pode ser tentada. PROGNÓSTICO O prognóstico é excelente se a reconstrução cirúrgica obtiver sucesso. A NPA em cães adultos é mais difícil de ser vista. 9) FRAGMENTAÇÃO DO PROCESSO CORONÓIDE E OSTEOCONDROSE DO COTOVELO Ambas afetam o compartimento articular medial do cotovelo. A congruência articular depende do crescimento uniforme dos componentes ósseos umeral, radial e ulnar. Um defeito na ossificação endocondral, carga articular desigual devida a crescimento assimétrico do rádio e da ulna ou ambos podem causar dois problemas: · Intruso articular (fragmentação do processo coronóide e osteocondrose dissecante); · Incongruência das superfícies articulares. Nos cães jovens, a idade no fechamento das placas de crescimento ao redor do cotovelo varia: A. Processo ancôneo – 5 a 6 meses; B. Rádio proximal – 8 a 9 meses; C. Olécrano – 8 a 9 meses; D. Côndilos umerais distais – 7 a 8 meses. DIAGNÓSTICO O diagnóstico clínico é freqüentemente feito antes do fechamento da placa de crescimento; portanto evite abordagens cirúrgicas que exijam osteotomias. O raio-X é indispensável para o diagnóstico definitivo, encontram-se: 1. Achados típicos da fragmentação do processo coronóide: Fragmento no compartimento articular medial (vista ântero-posterior); alargamento do espaço articular umero-radial (vista ântero-posterior) 2. Achados típicos da osteocondrose dissecante: Flape no compartimento articular umeral medial (vista ânteroposterior); Leito de flape no côndilo umeral medial (vista ântero-posterior); Achatamento e alongamento da superfície articular do Côndilo medial (vista ântero-posterior) 3. Achados comuns da osteocondrose dissecante e fragmentação do processo coronóide: Imprecisão e proliferação periosteal do processo ancôneo dorsal (vista lateral flexionada) e do compartimento articular medial (vista craniocaudal); Aumento da esclerose da interface radioulnar (vista lateral). Freqüentemente só se faz um diagnóstico preciso da osteocondrose dissecante ou fragmentação do processo coronóide durante uma cirurgia. Pode-se utilizar uma abordagem cirúrgica semelhante para osteocondrose e fragmentação. TRATAMENTO CIRÚRGICO Objetivo: · Remover o fragmento e/ou o flape de lesão enquanto se minimiza o traumatismo na articulação jovem e em crescimento; · Curetar o leito do flape (ou a lesão de contato leve) para estimular neocondrogênese. PROGNÓSTICO O grau de incongruência do cotovelo, a artrite no momento da cirurgia, o tamanho do flape / fragmento e a técnica cirúrgica determinam o resultado. É infundado esperar que os cães com artrite avançada e lesões graves, se beneficiem significativamente de uma cirurgia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS · Brinker, Piermattei e Flo: Manual de Ortopedia e Tratamento das Fraturas dos Pequenos Animais, 3ª edição, 1999, Editora Manole; · Bichard, Stephen I: Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais/ Stephen J. Bichard, Robert G. Sherding, São Paulo, 1998, Editora Rocca. Levantamento bibliográfico: Dra. Lucine Guerra Janiak, CRMV: 10.969-SP.