Dificuldades de Comunicação Verbal do Cliente Laringectomizado

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Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación
Comunicação do laringectomizado
DIFICULDADES DE COMUNICAÇÃO VERBAL DO CLIENTE
LARINGECTOMIZADO
VERBAL COMMUNICATION DIFFICULTIES IN CLIENT WITH
LARYNGECTOMY
DIFICULTADES DE COMUNICACIÓN VERBAL DEL CLIENTE SOMETIDO
A LA RETIRADA QUIRÚRGICA DE LA LARINGE
Roberta Evangelista de MatosI
Enedina SoaresII
Maria Euridéa de CastroIII
Ana Virgínia de Melo FialhoIV
Joselany Áfio CaetanoV
RESUMO: Estudo descritivo e qualitativo foi realizado com 10 adultos laringectomizados, em hospital filantrópico, em
Fortaleza-CE. Teve como objetivos analisar a importância da comunicação verbal para o cliente estomizado, avaliar se ele
foi informado sobre a alteração da fala e descrever seus sentimentos diante da dificuldade de comunicação verbal. A
coleta de dados foi realizada no período de abril a maio de 2008, com o emprego da entrevista semi-estruturada e a
observação livre. Os resultados evidenciaram que a comunicação verbal é um instrumento indispensável, e, sem ela, é
impossível ter uma vida de qualidade. Os clientes foram esclarecidos sobre o prejuízo na comunicação verbal, embora
tenha havido relatos de falta de orientação. Ante a dificuldade de comunicação, os sentimentos foram: tristeza, ansiedade
e medo de nunca mais falar. A maioria dos clientes foi orientada sobre a dificuldade de comunicação, mas nenhum citou
a participação do enfermeiro.
Palavras-Chave: Comunicação; laringectomia; enfermagem; assistência ao paciente.
ABSTRACT
ABSTRACT:: This descriptive and qualitative study involved ten patients who underwent laryngectomy at a philanthropic
hospital in Fortaleza, Ceará, Brazil. It aimed both at analyzing the importance of verbal communication for windpipe users,
evaluating if those clients were informed about their speech impediment, and at describing the feelings aroused in view of
verbal communication difficulties. Data were collected in April and May 2008, using semi-structured interview and observation.
Results evidenced that verbal communication is an essential instrument, and that the lack of it definitely compromises life
quality. Clients were informed about the loss of verbal communication, despite reports to the contrary. Sadness, anxiety, and
fear of never speaking again stood out as the feelings aroused by their communication hindrance. The majority of clients
received orientation on the communication difficulty, but none of them mentioned the nurse’s participation.
Keywords: Communication; laringectomy; nursing; patient care.
RESUMEN: Estudio descriptivo y cualitativo fue realizado con diez pacientes sometidos a la retirada quirúrgica de la
laringe en un hospital filantrópico de Fortaleza-CE-Brasil. Tuvo como objetivos analizar la importancia de la comunicación
verbal para el cliente estomizado, evaluar si fueron informados sobre la alteración de la habla y describir los sentimientos
surgidos ante la dificultad de comunicación verbal. La recolección de datos fue realizada en el período de abril a mayo
de 2008, mediante entrevista semiestructurada y observación libre. Los resultados evidenciaron que la comunicación
verbal es un instrumento indispensable y que, sin ella, es imposible tener una vida de calidad. Los clientes fueron
informados sobre el perjuicio en la comunicación verbal, aunque fueron encontrados relatos de falta de orientación.
Ante la dificultad de comunicación, los sentimientos fueron: tristeza, ansiedad y miedo de nunca más hablar. La mayoría
de los clientes fue orientada sobre la dificultad de comunicación, pero ninguno citó la participación del enfermero.
Palabras Clave: Comunicación; laringectomía; enfermería; atención al paciente.
INTRODUÇÃO
A dificuldade de comunicação entre pessoas portadoras de câncer de laringe submetidas à
laringectomia total ou parcial é uma constante, pois,
além da traqueostomia, após essas cirurgias é frequente
o edema facial generalizado devido à ressecção
ganglionar cervical, que impossibilita o movimento dos
lábios. Assim, a comunicação do paciente é realizada
apenas por movimentos gestuais1.
Enfermeira do Programa de Saúde da Família. Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: [email protected].
Enfermeira. Bolsista de Desenvolvimento Científico Regional do CNPq na Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail:
[email protected].
III
Enfermeira. Livre Docente. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail:
[email protected].
IV
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: [email protected].
V
Enfermeira. Doutora. Professora Adjunta da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: [email protected].
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Desse modo, tanto nos casos de laringectomias
parciais como totais, os pacientes necessitam de recursos para se comunicarem nos primeiros dias de pósoperatórios e para os pacientes laringectomizados totais, com traqueostomia permanente, faz-se necessário uma reabilitação vocal.
Assim, a comunicação entre o estomizado e os
profissionais de saúde torna-se difícil, gera ansiedade
e angústia no cliente e, de certa forma, interfere no
processo de cuidar. Exigem-se, então, cuidados específicos para este tipo de cliente, principalmente aqueles prestados pela enfermagem.
Por comunicação entende-se um processo de
interação no qual compartilhamos mensagens, idéias,
sentimentos e emoções passíveis de influenciar o comportamento das pessoas que, por sua vez, reagirão de
acordo com suas crenças, valores, história de vida e
cultura2. No cliente laringectomizado esse processo
ocorre sempre pelo método não-verbal, apesar de, em
nossa sociedade e, principalmente em nossas atividades profissionais, a comunicação verbal ser a mais difundida e valorizada3.
O cotidiano do cliente laringectomizado perpassa por uma comunicação verbal prejudicada, caracterizada como
o estado em que o indivíduo apresenta, ou poderia
apresentar, diminuição da capacidade, ou incapacidade de falar, mas pode entender os outros, pela comunicação não-verbal4:60.
Existem técnicas que ajudam o cliente a produzir
som vocal, por exemplo: a dígito-oclusão, por meio da qual
o ar expirado chega às pregas vocais, promovendo vibração e, consequentemente, sonorização; os traqueóstomos
falantes, ou seja, cânulas providas de um balonete e um
manguito adicional, por onde um fluxo de gás de 5 a 10
litros/minutos é injetado; as recentes válvulas fonatórias
(VF) que são unidirecionais e permitem a entrada de ar
na inspiração com uma pequena pressão inspiratória, em
que, durante a fonação, há seu fechamento e
direcionamento do ar para a laringe, entre outras5.
Outras técnicas como prótese vocal, laringe eletrônica e voz esofágica também são utilizadas. Na fala
esofágica, “o cliente precisa comprimir o ar dentro do
esôfago e expulsá-lo, estabelecendo uma vibração do
segmento faringoesofágico”6: 646.
No Brasil, o uso da prótese traqueoesofágica tem
sido pouco difundido, em decorrência, sobretudo, do custo e do desconhecimento do procedimento cirúrgico e dos
cuidados pós-operatórios pelos enfermeiros e demais profissionais da área, além da falta de informações quanto às
vantagens que esse instrumento pode oferecer7.
Diante desses argumentos, justifica-se a relevância da pesquisa ora apresentada que teve como objetivos discutir a importância da comunicação verbal para
o cliente estomizado; avaliar se ele foi orientado sobre
Matos RE, Soares E, Castro ME, Fialho AVM, Caetano JA
a alteração da fala e descrever seus sentimentos diante da dificuldade de comunicar-se verbalmente.
REFERENCIAL TEÓRICO
A comunicação é uma necessidade humana bá-
sica, é um processo contínuo que torna a existência
do ser humano um ser social. Há dois tipos de comunicação, verbal e não-verbal.
A comunicação verbal refere-se às palavras expressadas por meio da fala ou da escrita e a comunicação não-verbal, que não está relacionada às palavras,
se manifesta por interação direta pessoa-pessoa, através de gestos, silêncio, expressões faciais, postura corporal e distância mantida entre os envolvidos8.
Os gestos são sinais não-verbais classificados como
aqueles que possuem significados para o receptor ou
emissor, sem utilizar as palavras, destacando-se: a
paralinguagem: (qualquer som produzido pelo aparelho
fonador que não faça parte do sistema sonoro da língua
utilizada); a cinésia (linguagem do corpo, movimentos,
gestos, expressões faciais); a proxêmica (distância
mantida entre o enfermeiro e o cliente, distância entre
os comunicadores); características físicas (relaciona a
própria aparência do corpo, tais como roupas, jóias) e a
tacêsica: comunicação tátil, toque, contato físico entre
os comunicadores9.
No processo de reabilitação do paciente laringectomizado, a comunicação não-verbal é imprescindível.
Assim, o enfermeiro deve proporcionar métodos alternativos não verbais de comunicação, por exemplo:
usar bloco de papel, letras do alfabeto, sinais com as
mãos, piscar de olhos, acenos com a cabeça, sinais
com sineta, fazer cartazes com figuras ou palavras,
significando frases usadas com mais freqüência e encorajar a pessoa a apontar, a usar gestos1:75.
Esses métodos são de grande importância para que
o cliente possa expressar seus sentimentos, dúvidas e
demais necessidades básicas. Entre eles sobressaem, no
entanto, os gestos e as expressões faciais, apontados como
transmissores de inúmeras informações, que também
funcionam como controladores da mensagem falada
durante as interações. As emoções são mais caracterizadas por gestos e expressões faciais, permitindo ao enfermeiro fazer inferências sobre o comportamento do
cliente. A comunicação não-verbal é mais demorada e
requer que os interlocutores estejam atentos para compreenderem a mensagem transmitida3.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com
abordagem qualitativa, realizado em um hospital filantrópico de Fortaleza-CE, entre abril e maio de 2008.
Os participantes foram 10 adultos laringectomizados, conscientes e orientados, com idade superior a
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18 anos. Excluímos do estudo os menores de idade, os
inconscientes e aqueles submetidos à cirurgia de retirada da língua ou mandíbula.
A coleta de dados foi realizada mediante duas
técnicas: a entrevista semi-estruturada, contendo perguntas abertas, acerca da importância da comunicação
verbal para o cliente estomizado, o momento em que
aconteceram as orientações sobre a alteração da fala e
seus sentimentos diante da dificuldade de comunicação verbal após ser submetido a uma laringec-tomia. As
entrevistas foram agendadas, de acordo com a disponibilidade dos participantes, e realizadas em locais onde
cada sujeito se encontrava. Os depoimentos foram gravados e a seguir transcritos para posterior análise.
Por fim, foi aplicada a observação livre que foi
usada como uma técnica complementar, pois ela possibilita a compreensão da linguagem não-verbal, ou
seja, comportamentos, expressões faciais e físicas presentes durante a entrevista dos sujeitos do estudo,
auxiliando os pesquisadores na análise dos dados.
Para tratamento dos dados, foi utilizada a técnica
de análise temática que favorece o descobrimento dos
núcleos de sentidos que compõem a comunicação e sua
freqüência, contribuindo para melhor compreensão do
discurso10. Essa modalidade de análise foi desdobrada
em: 1ª etapa, pré-análise, em que foram organizados os
depoimentos, após a realização da leitura e releitura
das entrevistas, e a constituição do corpus de análise; a
2ª etapa compreendeu a exploração do material; posteriormente, a 3ª etapa consistiu no tratamento dos dados, a partir da frequência de presença e verificação da
homogeneidade dos itens de sentido10.
O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do
Ceará (UECE), sob o protocolo no. 050418580.
Conforme determina a Resolução nº 196/96, do
Ministério da Saúde11, todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
bem como o de livre arbítrio de se retirar do estudo a
qualquer momento. Para garantir o anonimato dos
participantes, os recortes das falas desta pesquisa foram codificados pela letra E (de entrevistado), seguida do respectivo número (E1, E2... E10).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação às
características dos respondentes,
predominou o sexo masculino (oito clientes), faixa
etária entre 43 a 87 anos e participantes não-alfabetizados (seis). Quanto à profissão, cinco trabalham na
agricultura, três na construção civil, uma é costureira
e outra trabalha com prendas domésticas.
De modo geral, os clientes responderam às perguntas com meneio de cabeça e outros gestos. Quanto aos que já utilizavam a técnica do dígito-oclusão
da cânula, responderam verbalmente, por movimenp.178 •
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tos labiais e voz sussurrada. Para a descrição de sentimentos também foram usadas a comunicação oral e
escrita e a expressão facial. Desse modo, foi possível
manter a comunicação efetiva com todos os participantes selecionados.
Com base na análise temática das informações
obtidas nas entrevistas surgiram três categorias: importância da comunicação, cliente orientado sobre
alteração da fala e sentimentos referentes ao comprometimento da fala.
Importância da Comunicação
Quando foi perguntado aos entrevistados sobre
a importância por eles atribuída à voz, verificou-se ser
ela imprescindível para suas vidas; para outros, era
muito importante:
A voz é indispensável na vida de uma pessoa[...] se for
para viver sem falar é melhor que Deus me leve logo. (E4)
[...] não dá para viver sem a voz. (E8)
Porque quem não sabe ler nem escrever [...] só se vale da
voz [...]. Para mim a voz é tudo. (E10)
[...] Deus me livre de perder a voz; eu acho que fico louco.
(E6)
Vale registrar que, para aqueles analfabetos, a
voz assume mais importância, pois o processo de comunicação não-verbal torna-se mais difícil.
Ressalta-se que a afonia é uma condição rejeitada, principalmente no primeiro ano de pós-operatório. Portanto, é preciso buscar alguma alternativa de
comunicação para conviver com essa situação. As alternativas são limitadas; para os que têm capacidade
de escrever, a escrita é a opção. Para aqueles que não
têm essa capacidade, a comunicação se processa através da mímica labial12.
Outros demonstraram conformismo quanto à sua
situação, apesar de todas as dificuldades:
A voz é muito importante, mas viver é melhor. (E7)
É bom falar, mas acho que a vida é mais importante. (E10)
A comunicação é um instrumento básico em toda
prática de enfermagem13, portanto, não pode ser vista
como um processo de transmissão de informações, mas
como possibilidade de interação entre as pessoas. Por
isso, o conhecimento dos métodos de comunicação é
essencial para a interação do enfermeiro com esse tipo
de clientela, seja pela comunicação verbal ou nãoverbal, pois sua capacidade de interação está relacionada com as competências profissionais.
Cliente Orientado sobre a Alteração da Fala
Nesta categoria foram exploradas as orientações
consideradas necessárias ao cliente em pré-operatório
de laringectomia, como ao tempo de permanência da
traqueostomia; uso e permanência da cânula; material a ser utilizado para facilitar a comunicação; danos
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Matos RE, Soares E, Castro ME, Fialho AVM, Caetano JA
na vida do cliente. Verificou-se que seis entrevistados
apresentavam traqueostomia temporária e quatro,a definitiva. O aspecto relacionado ao tempo decorrido entre a laringectomia e o presente estudo variou de dois
dias a dois anos. Como mostram os relatos, os entrevistados, em sua maioria, ficaram sabendo que usariam a
cânula de traqueostomia, por tempo determinado ou
indeterminado, antes do procedimento cirúrgico:
O médico falou que eu vou ficar um tempo sem falar, mas
ele me disse isso depois que eu me operei. (E5)
Antes de ir me operar o médico explicou [...] que eu ia ficar
respirando para sempre com esse cano no meu pescoço.
(E1)
Explicaram que eu ia ficar respirando com um aparelho
no pescoço [...] e que não ia mais dar para falar. (E3)
A única coisa que o doutor me disse é que eu ia respirar
pela traqueostomia [...] só por um tempo. (E7)
Conforme os depoimentos, as informações ou esclarecimentos acerca das possíveis intercorrências na
fala, em decorrência da laringectomia, foram mínimas.
Sobre um dos pacientes que não recebeu orientações
antes da cirurgia, segundo relatado, isso aconteceu em
virtude do grave estado em que se encontrava no dia
do internamento hospitalar. Diante da situação, não
houve oportunidade para essa orientação. Desse modo,
em face da urgência da cirurgia, não foram prestadas as
devidas informações sobre as alterações após esse procedimento cirúrgico. Mas os familiares, logo no ato da
admissão hospitalar, foram prontamente orientados.
Ainda, dos clientes orientados no pré-operatório,
cinco foram abordados pelos médicos responsáveis pela
laringectomia, um foi orientado pela fonoaudióloga da
instituição e um recebeu orientação tanto médica quanto fonoaudiológica. Contudo, embora enfermeiros, assistentes sociais ou psicólogos tenham sido tópicos da
entrevista, eles não foram mencionados.
Para os enfermeiros, a comunicação com o paciente deve ser considerada como um processo fundamental não apenas para a identificação de sinais, sintomas e problemas físicos, mas também para o desenvolvimento da comunicação terapêutica, a qual demonstra o
comprometimento do profissional com o paciente1.
Conforme evidenciamos, oito entrevistados foram orientados que ficariam sem se comunicar verbalmente. Desses, seis receberam essa informação ainda
no pré-operatório e dois ficaram cientes somente após
o procedimento cirúrgico. Como evidenciado, dois clientes não receberam orientação profissional prévia ou
posterior à laringectomia, mas ficaram sabendo ao observarem outros pacientes com o mesmo problema, ou
até mesmo sozinhos, quando tentaram falar.
Falaram antes da cirurgia que eu ia ficar sem falar por um
tempo. (E2)
Fui bem orientado antes da cirurgia pela doutora da fono.
Ela me disse que eu ia ter dificuldade para falar [...], mas
que depois de um tempo eu posso aprender outra maneira
de me comunicar. (E3)
O aprendizado de meios alternativos de comunicação é imprescindível para trazer segurança para
um cliente impossibilitado de emitir sua voz. A situação de afasia produz angústia não só pelo fato de dificultar a comunicação do cliente laringectomizado com
as pessoas, como também por obrigar seu interlocutor
a falar/comunicar-se voltado para ele, para viabilizar
sua leitura labial14.
Apesar de os enfermeiros serem participantes diretos no processo terapêutico do cliente laringectomizado portador de um traqueostomo, não se verifica
nenhuma alusão acerca das orientações dadas por esses profissionais. Cabe uma ressalva, seja qual for essa
abordagem, quando realizada ainda no pré-operatório, pode contribuir para a redução da ansiedade dos
clientes laringectomizados, pois, desse modo, eles podem se preparar emocionalmente para uma possível
ou real debilidade física, além de se sentirem participantes do processo de tratamento.
De acordo com um estudo sobre a temática, como
passo inicial no processo de aceitação do paciente
traqueostomizado, as informações eram repassadas por
elemento não-profissional da equipe de enfermagem
(63,4%). Em segundo lugar apareceu o profissional
médico (53,3%) e, depois, o enfermeiro (33,4%)15.
Conforme ressaltam as autoras, elas se preocuparam
em verificar junto aos pacientes sua capacidade de
distinguir o enfermeiro dos demais membros da equipe de enfermagem.
Por isso, é preciso enfatizar a utilização de todas
as estratégias para obter uma comunicação efetiva com
o cliente laringectomizado. Entre essas estratégias,
sobressai a mímica labial, mas pode ser implementado,
também, o uso de folhas de papel e lápis ou de quadro
mágico. Ambos os métodos podem ser complementados
por frases ou palavras escritas em pequenos cartões
para acelerar a comunicação, como por exemplo, estou com dor, estou com fome, tenho sede, estou respirando com dificuldade, quero dormir, não, sim, entre outros.
Podem ser usados cartões coloridos, como, por exemplo, a cor verde para afirmativo e a cor vermelha para
negativo. Ademais, o uso de aparelhos sonoros como
sinos ou pequenas buzinas é muito útil, principalmente quando não há alguém por perto14.
Sentimentos Referentes ao Comprometimento da Fala
Os sentimentos dos clientes laringectomizados,
ao ficarem cientes do comprometimento de sua própria comunicação verbal, são relatados a seguir:
Eu senti muita tristeza. (E1)
[..] senti muita tristeza, ansiedade, medo de nunca mais
falar. (E4)
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No primeiro dia depois que eu me operei chorei muito,
fiquei muito triste, achei até que ia morrer [...]. (E7)
No começo fiquei muito triste, mas depois fui me acostumando [...]. (E3)
Como revelam as falas, o sentimento de tristeza
foi comum a todos os clientes diante da dificuldade
de comunicação. Sobressaem, ainda, a ansiedade e o
medo de não conseguir reverter o problema. O medo
de não ser aceito pelas pessoas também pôde ser observado. Os sujeitos do estudo são portadores de câncer
e, muitas vezes, chegam ao hospital abalados pelo estigma da doença e prognóstico difícil, isso somado à
alteração física ou mutilação e aos efeitos que o
traqueóstomo provoca sobre a voz, desencadeando uma
série de conflitos e emoções.
Durante a entrevista, os pacientes demonstraram tristeza ao falarem do problema, com manifestações, sobretudo, nas expressões faciais, na mudança
no tom de voz, no olhar cabisbaixo e no choro.
Apesar dessas reações, uma parcela significativa
dos entrevistados relatou sentimentos diferentes dos
já mencionados. Como afirmaram, eles ficaram tranqüilos ao saberem que não podiam mais utilizar a voz
como veículo de comunicação. Ainda, consideraram
tal situação normal e contornável e que poderia acontecer com qualquer pessoa, como mostram os relatos:
Acho que isso é normal... eu só tenho que aceitar o que
aconteceu. (E2)
Eu não fiquei preocupado não. Pior é se eu ficasse dando
trabalho aos outros. (E6)
Quando eu cheguei aqui estava quase morto, por isso, não
fiquei tão triste [...] O médico fez isso para salvar a minha
vida e eu só tenho que agradecer. (E5)
Embora a preocupação com a voz fosse um sentimento fortemente presente, alguns demonstraram uma
posição de conformidade significativa e consideraram
sua condição atual melhor do que se tivessem perdido
a vida ou ficassem dependendo de outras pessoas para
realizar todas as suas atividades.
Nesse contexto, houve também reconhecimento
da traqueostomia como um meio inevitável para a
manutenção do processo respiratório, preservando a
vida, mesmo com limitações.
Ao conhecer a importância do significado da voz
para os clientes laringectomizados, evidencia-se a urgência de implantar técnicas que facilitem a comunicação, não apenas com vistas a se sentirem bem no
ambiente hospitalar, mas para serem capazes de sobreviver com tal limitação, principalmenteno convívio com amigos e familiares.
O uso de métodos facilitadores da comunicação
deve fazer parte do planejamento da assistência de
enfermagem pré-operatória, pois favorece a prática
assistencial, proporcionando um relacionamento
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interpessoal inestimável. Desse modo, a política de
humanização deve necessariamente perpassar por práticas interativas e associativas para maximizar os resultados no campo intersubjetivo e relacional16.
Durante as entrevistas, foi observada a atitude
de certos profissionais de saúde no cuidado com os
clientes laringectomizados: sempre faziam perguntas
aos familiares sobre as necessidades do cliente, ao invés de tentarem se comunicar diretamente com ele.
Além disso, quando se dirigiam ao cliente, não estimulavam a utilização da técnica da dígito-oclusão.
Tais comportamentos podem ter sido influenciados pelo
preconceito, que precisa ser superado, dispensando um
tempo especial para a expressão desses clientes. Quando isso acontecer, a enfermagem, de fato, assistirá as
pessoas de forma global e humanizada.
CONCLUSÕES
Concluiu-se que a comunicação verbal é consi-
derada, pelos pacientes laringectomizados, um instrumento indispensável sem o qual é impossível ter uma
vida de qualidade. Ainda, os resultados demonstraram que os clientes, quando orientados sobre a dificuldade de comunicação, decorrente da cirurgia, o
foram pelos médicos ou fonoaudiólogos, não tendo sido
mencionada a participação do enfermeiro.
Vale lembrar que a comunicação é a base do relacionamento humano, é um processo importante, capaz de influenciar o comportamento dos indivíduos.
Entretanto, a reabilitação vocal é um ponto-chave a
ser considerado na assistência de enfermagem. Assim,
juntamente com a equipe multiprofissional, será possível utilizar diferentes estratégias para ajudar o
laringectomizado nesse processo.
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