Capítulo 5 Período da Organogênese: da Quarta à Oitava Semana Fases do Desenvolvimento Embrionário Desenvolvimento humano: 1º. Crescimento (aumenta de tamanho): divisão celular e elaboração de produtos celulares; 2º. Morfogênese (desenvolvimento da forma): movimento de massas celulares e formação de tecidos e órgãos; 3º. Diferenciação (maturação dos processos fisiológicos): formação de tecidos e órgãos capazes de executar funções especializadas. Durante esse período, exposição do embrião a teratógenos (agentes que produzem ou aumentem a incidência de anomalias congênitas; atuam durante o estágio de diferenciação ativa de um tecido ou órgão) pode causar anomalias. Dobramento do Embrião Dobramento do disco trilaminar plano nos níveis mediano e horizontal (devido a um crescimento mais rápido do eixo maior do que o crescimento lateral). Ocorre uma certa constrição na junta do embrião com o saco vitelino. Dobramento do Embrião no Plano mediano Surgem pregas cefálica e caudal devido ao dobramento ventral das extremidades. Prega Cefálica No início da quarta semana, pregas neurais da região cefálica tornam-se mais espessas (primórdio do encéfalo). Septo transverso, coração primitivo, celoma pericárdio e membrana bucofaríngea se deslocam sobre a superfície ventral do embrião. Durante o processo, parte do endoderma do saco vitelino é incorporada: forma-se o intestino anterior (primórdio da faringe, esôfago, etc). Está situado entre o encéfalo e o coração. A membrana bucofaríngea separa o intestino anterior do estomodeu. A prega cefálica influencia a formação do celoma embrionário. Celoma intra-embrionário comunica-se com o celoma extra-embrionário. Prega Caudal Crescimento do tubo neural (primórdio da medula espinhal) causa o dobramento da extremidade caudal do embrião. Durante o processo, parte da camada germinativa endodérmica é incorporada pelo embrião, formando o intestino posterior (primórdio do cólon ascendente). A porção final do intestino posterior se dilata: forma-se a cloaca (futuros bexiga e reto). O pedículo prende-se à superfície ventral do embrião e o alantóide é parcialmente incorporado. Dobramento do Embrião no Plano Horizontal Com o dobramento, formam-se as pregas laterais (direita e esquerda). Com a formação das paredes abdominais, parte da camada germinativa endodérmica é incorporada: forma-se o intestino médio (futuro intestino delgado). Inicialmente, há uma ligação entre o intestino médio e o saco vitelino. Depois do dobramento lateral, ela é reduzida; forma-se o pedículo vitelino. Pedículo do embrião torna-se cordão umbilical; fusão ventral das pregas laterais reduz a comunicação entre os celomas extra e intra-embrionários. Derivados das Camadas Germinativas As três camadas germinativas dão origem aos primórdios de todos os tecidos e órgãos. As células das camadas germinativas migram, agregam-se, dividem-se e diferenciam-se seguindo padrões precisos, formando vários sistemas e órgãos (organogênese). Ectoderma: SNC, SNP, epitélios sensoriais do olho, aparelho auditivo e nariz, epiderme e anexos (pêlos e unhas), glândulas mamárias, hipófise, glândulas subcutâneas e esmalte dos dentes; Mesoderma: tecido conjuntivo, cartilagem, osso, músculos estriados e lisos, coração, vasos sangüíneos e linfáticos, rins, ovários e testículos, ductos genitais, membranas serosas que revestem as cavidades do corpo, baço e córtex da adrenal. Endoderma: revestimento epitelial dos tratos gastrointestinal e respiratórios, tireóide e paratireóides, timo, fígado e pâncreas. Controle do Desenvolvimento do Embrião O desenvolvimento é resultado de planos genéticos dos cromossomos. Depende da interação coordenada de fatores genéticos e ambientais. Mecanismos básicos de regulação formam a base dessas mudanças. O desenvolvimento embrionário é, na sua essência, um processo de crescimento e de aumento crescente da complexidade estrutural e da função. O crescimento ocorre por causa das mitoses e da produção de matriz extracelular. Complexidade alcançada através da morfogênese e da diferenciação. Células dos tecidos iniciais são pluripotentes e, sob um ou outro estímulo, seguem diferentes vias de desenvolvimento. Ocorre a especialização dos tecidos. Estímulos do ambiente imediatamente circundante, incluindo tecidos adjacentes. Coordenação estrutural advém da interação de suas partes constituintes durante o desenvolvimento. As interações que causam mudanças no desenvolvimento de um dos integrantes são chamadas induções. Desenvolvimento do olho: Vesícula óptica induz o ectoderma da superfície da cabeça a se diferenciar em cristalino; Sem vesícula, o olho não se forma; Vesícula removida e transplantada em lugar diferente, estimula a diferenciação nesse lugar diferente. Influência de um tecido sobre o desenvolvimento de outro: passagem de substâncias (sinais). Podem ser moléculas difusíveis, que passam do tecido indutor para o tecido reagente; uma matriz extracelular não difusível secretada pelo tecido indutor e que age sobre o tecido que reage quando em contato; contato físico entre o indutor e o que reage. Enfim, o sinal é traduzido por uma mensagem intracelular que influencia a atividade genética das células que respondem. Induções ocorrem de modo seqüencial; geram o desenvolvimento ordenado de uma estrutura complexa. Capacidade do tecido que reage de responder ao indutor é limitada. Essa capacidade depende de um estado transitório na fisiologia do tecido indutível. Assim, depende do tempo e do espaço (tecidos precisam estar próximos). Principais Evento da Quarta à Oitava Semana Quarta Semana No começo, embrião possui de 4 a 8 somitos e tubo neural forma-se em frente a eles, estando aberto nos neuróporos (caudal e rostral). Com 24 dias, arcos faríngeos são visíveis. Individualização do primeiro arco (mandibular) e do segundo (hióideo). Primeiro arco forma a mandíbula (maxilar superior) e a maxila (maxilar inferior). Embrião levemente encurvado por causa das pregas cefálica e caudal. Coração forma grande saliência ventral e bombeia sangue. Com 26 dias, três pares de arcos faríngeos são visíveis. Neuróporo rostral se fechou. Nos dias 26 e 27, brotos dos membros superiores são reconhecíveis (intumescências). Fossetas óticas (futuras orelhas internas) são visíveis. Placódios do cristalino (futuros cristalinos), espessamentos ectodérmicos, são visíveis. No fim da quarta semana surgem o quarto arco faríngeo e os membros inferiores. Rudimentos de muitos sistemas e órgãos já se estabeleceram; neuróporo caudal se fechou (fim da quarta semana). Quinta Semana Crescimento da cabeça é maior do que o das outras regiões (rápido desenvolvimento do encéfalo e das saliências faciais. Formação do seio cervical: hióideo cresce sobre o terceiro e quarto arco, formando uma depressão (o seio). Membros superiores em forma de remos; membros inferiores em forma de nadadeiras. Sexta Semana Desenvolvimento dos cotovelos e das placas das mãos (com desenvolvimento dos raios digitais primórdios de dedos). Membros inferiores desenvolvem-se um pouco depois. Fenda (sulco) entre os dois primeiros arcos faríngeos forma o meato acústico externo (canal auditivo externo). Em volta dele, saliências auriculares se desenvolvem e se fundem, formando a aurícula. Olho bem evidente. Cabeça grande em relação ao tronco. Tronco e pescoço começam a se endireitar. Embrião apresenta respostas reflexas ao choque. Sétima Semana Surgem chanfraduras entre raios digitais: futuros dedos. Comunicação entre intestino primitivo e saco vitelino reduzida a ducto estreito (pedículo vitelino). Intestino penetra no celoma extra-embrionário na parte proximal do cordão umbilical, já que a cavidade abdominal é muito pequena para acomodar o intestino em crescimento (hérnia umbilical normal). Ao fim da sétima semana começa a ossificação dos membros superiores. Oitava Semana Dedos das mãos já se separaram, mas estão unidos por membranas. Pés em forma de leque apresentam chanfraduras entre raios digitais. Cauda curta ainda presente. O plexo vascular do couro cabeludo já surgiu e forma faixa característica em torno da cabeça. Ao fim da semana, regiões dos membros são reconhecíveis; dedos mais longos e totalmente separados. Cabeça ainda é desproporcionalmente grande. Região do pescoço definida e pálpebras são evidentes (se fecham e unem-se por fusão epitelial). Intestino ainda está na porção proximal do cordão umbilical. Aurículas com forma de orelha, mas posição baixa na cabeça. Estimativa da Idade do Embrião Pelo tamanho; aparecimento de membros em desenvolvimento é critério útil. Métodos de Medida do Embrião CRL (crown-rump length): comprimento do topo da cabeça às nádegas. Para embriões mais velhos; CHL (crown-heel length): comprimento do topo da cabeça ao calcanhar. Para embriões com 8 semanas. Situação do embrião é definida pelo Sistema Carnegie de Estagiamento de Embriões.