COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXVI SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS GOIÂNIA – GO, 11 A 15 DE ABRIL DE 2005 T.97 A33 RECUPERAÇÃO DA PROTEÇÃO DE TALUDES DE BARRAGENS DE USINAS EM OPERAÇÃO Clóvis H.D. RIBEIRO Engenheiro – FURNAS Centrais Elétricas S.A. Carlos José FERREIRA Engenheiro – FURNAS Centrais Elétricas S.A. Francisco Cordero DONHA Filho Engenheiro – FURNAS Centrais Elétricas S.A. Adalberto de Azeredo RODRIGUES Engenheiro – FURNAS Centrais Elétricas S.A. RESUMO A proteção superficial dos taludes de jusante das barragens com núcleo de argila é, em muitos empreendimentos, formada por grama tipo batatais, Paspalum notatum. É exigido para se obter o efeito desejado, um planejamento detalhado e uma criteriosa programação de manutenção. A apresentação de uma proposta alternativa para a substituição da referida vegetação pode representar diminuição de custos de manutenção e conferir efetiva proteção aos taludes nas usinas em operação. Baseado nesta assertiva, este trabalho apresenta uma proposta para implantação ou a recuperação da vegetação de proteção superficial dos taludes de jusante das barragens, formadas com núcleo de argila, utilizando-se Brachiaria humidicola. ABSTRACT The superficial protection of slopes in many Hydroelectric Power Plants with clay nucleus is formed by grass, Paspalum notatum, which, in order to get the desired effect, requires a detailed plan and a reliable maintenance program. An alternative proposal for the substitution of the grass protection may offer a reduction in maintenance costs and offer an effective protection for the slopes of the plants in operation. Based on this assertive, this publication presents a proposal for the recovery of the vegetation Brachiaria humidicola, for the superficial protection of slopes of dams with clay nucleus. XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens 1 1. INTRODUÇÃO Várias são as condicionantes, técnicas e financeiras, que influenciam no desenvolvimento dos Projetos Básicos os quais determinam qual o tipo de jazida será explorada para a construção de uma barragem, seja no barramento principal, seja em diques auxiliares necessários à formação dos reservatórios. Nas barragens e nos diques construídos com núcleo de argila, os taludes formados necessitam de proteção superficial contra a ação do intemperismo, tanto na face de montante quanto na face de jusante, podendo ser utilizado enrocamento, proteção em concreto, gramados etc. No que tange ao talude de jusante, a proteção superficial tem importância vital nos Sistemas de Segurança de Barragens – SSBs - mantidos nos empreendimentos hidroelétricos na fase de geração de energia, pois contribuem para manter operando os equipamentos das redes de instrumentação e das redes de canaletas de drenagem dos barramentos. Outro aspecto importante está relacionado à proteção física do talude, que impede a formação de processos erosivos e o carreamento de partículas sólidas, por escorrimento das águas pluviais. A utilização de gramados para proteção superficial de taludes de jusante, atende a especificações técnicas conceituais definidas em projetos na construção de várias barragens do sistema hidroelétrico brasileiro, algumas já em operação há várias décadas. Dessa forma, exploravam-se aspectos positivos relacionados à utilização desse recurso. No entanto, os aspectos positivos explorados na época da construção dos empreendimentos transformam-se, via de regra, no período de geração de energia das hidroelétricas, em serviços que necessitam de constantes atividades de recuperação e manutenção dos gramados, em face às peculiaridades e características fisiológicas das gramíneas que, normalmente, são utilizadas na formação deste tipo de proteção superficial. Manter o gramado de forma a conferir efetiva proteção ao talude de jusante de barragens requer um planejamento detalhado e uma criteriosa programação de manutenção periódica, com extirpação de plantas invasoras, cortes, controle de pragas e constantes replantios de recuperação. Todo este aparato representa a mobilização de mão de obra qualificada e a disponibilização de expressivos recursos orçamentários. Assim sendo, várias empresas proprietárias de barragens, com essas características, têm investido em novas tecnologias que atendem à necessidade premente de se manterem os taludes de jusante efetivamente protegidos e minimizando as necessárias recuperações periódicas à proteção superficial. Sob essa ótica, este trabalho apresenta uma alternativa em substituição à utilização das variadas espécies de gramíneas na formação da proteção superficial dos talude de jusantes de barragens comumente adotadas: o emprego da Brachiaria humidicola. XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens 2 A proposta, aqui apresentada, é baseada na experiência adquirida pelo Departamento de Construção de Geração Corumbá – DGB.T, de FURNAS Centrais Elétricas, na recuperação da vegetação de proteção da barragem da UHE Marimbondo, localizada no rio Grande, na cidade de Fronteira/MG. 2. UTILIZAÇÃO DE GRAMADOS COMO PROTEÇÃO DE TALUDES A utilização de gramados como forma de proteção superficial de taludes, além de obedecer às especificações técnicas de projetos, conferia vantagem, exploradas pelos projetistas, à época da construção dos empreendimentos hidroelétricos, dada as características e peculiaridades da espécie normalmente empregada a esse fim. Dentre as espécies de gramíneas existentes, a mais utilizada na formação de gramados de proteção de taludes é a Paspalum notatun, conhecida vulgarmente, dependo da região, como grama tipo batatais, grama mato-grosso etc. Esta espécie era encontrada em abundância, no período de construção das hidroelétricas, em várias propriedades rurais, o que favorecia a sua aquisição a baixos custos. Somam-se, ainda, as características fisiológicas da planta: espécie nativa, rústica, tolerante a solos pobres em fertilidade, que vegeta bem em áreas ensolaradas e em solos bem drenados. Porém, após anos de utilização e de análise, constata-se, via de regra, que a grama tipo batatais apresenta algumas características vegetativas e circunstanciais que desfavorecem a continuidade de sua utilização [1]: - Baixa eficiência na competição com plantas invasoras, principalmente as braquiárias. Essa característica é potencializada pela falta de um planejamento e uma programação adequada de manutenção (normalmente, por motivos orçamentários); - Necessidade de cortes periódicos para se manter um gramado fechado e sempre verde. Normalmente, quando se realiza somente um corte por ano, corta-se a grama já crescida, dessa forma são cortadas as áreas foliares e as gemas de crescimento dos estolões (parte da planta responsável pelo crescimento horizontal), dificultando a regeneração e a rebrota natural da planta após os cortes; - Não cobre, de forma eficiente, áreas de declividades mais acentuadas, como por exemplo bordas de canaletas de drenagem o que compromete a operação das mesmas; - Alto custo de replantio, pois toda área recuperada tem que receber uma camada de terra vegetal para proteger as novas brotações, regularizar a área plantada e manter a umidade. Os custos também são aumentados pelo baixo rendimento operacional da mão de obra em áreas de declividade acentuada; XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens 3 - Dificuldade de aquisição no mercado de um produto de qualidade (via de regra, o material é adquirido contaminado por semente de plantas daninhas), pois esta espécie não é cultivada comercialmente. Atualmente é mais facilmente comprada de pequenos proprietários rurais, e se apresentam, via de regra, com alto grau infestação de plantas invasoras; - Grande quebra de rendimento, em função do manuseio e transporte, na relação área cortada/plantada, ou seja, as áreas plantadas, normalmente, correspondem a cerca de 70% da área onde fora cortada a grama para o plantio. Tal fato, acarreta problemas junto aos fornecedores, além de aumentar os custos de recuperação. Outro aspecto importante está relacionado a vida útil da grama tipo batatais quando utilizada como proteção de jusante, pois existe uma degradação natural do gramado ao longo dos anos. A ação das roçadas periódicas, dos prolongados períodos de estiagens, da competição com plantas daninhas e outros fatores, faz com que os gramados percam gradativamente a eficiência como vegetação de proteção de taludes. Atualmente, em algumas barragens de pequeno porte, a proteção dos taludes está sendo feita por outros tipos de grama, porém as necessidades de recuperação e as exigências de manutenção recaem sobre os mesmos aspectos acima citados. 3. PROTEÇÃO DE TALUDES COM UMA PROPOSTA ALTERNATIVA As características das plantas que compõem os gramados e as necessidades para mantê-los nas condições ideais conduziram à busca de alternativas que visam a oferecer uma efetiva solução para o problema. Dentro das possibilidades de se formar uma vegetação para a proteção de taludes, existem alguns casos em que a grama tipo batatais pode ser substituída por uma vegetação constituída por uma mistura de espécies de plantas forrageiras. Porém, este procedimento apresenta como inconveniente o domínio, ao final de um determinado período, de uma única espécie vegetal, que pode não ser a mais adequada para a formação da proteção de taludes. Dessa forma, após avaliação das espécies mais adequadas, a proteção superficial do talude de jusante da barragem da UHE Marimbondo foi recuperada utilizando-se Brachiaria humidicola. A utilização da Brachiaria humidicola, como proteção superficial de taludes, tem por objetivo corrigir as deficiências apresentadas no emprego da grama tipo batatais, em face de suas características até então observadas: - Altamente eficiente na competição com plantas invasoras, não permitindo o estabelecimento das mesmas; - Pelo seu hábito de crescimento agressivo, é recomendada para ser plantada em áreas de controle e estabilização de processos erosivos [2]; XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens 4 - Cobre, de forma eficiente, áreas de declividades acentuadas, como por exemplo bordas de canaletas; - Minimização da necessidade de realização de atividades de manutenção (extirpação de plantas invasoras, combates a pragas etc.). Com relação a recuperação através de replantio, as avaliações de campo não indicam a necessidade de intervenções a curto prazo; - Apresenta características morfológicas muito semelhantes à grama tipo batatais, principalmente no que se refere à profundidade das raízes ou ao seu tipo de crescimento [2]; - O plantio é realizado preferencialmente por mudas, que são facilmente encontradas em várias regiões; - Possui baixo custo de plantio, quando comparado ao plantio de grama tipo batatais. Como desvantagem em relação à grama batatais, a Brachiaria humidicola apresenta o fato de ser plantada em mudas e não cobrir de forma imediata a área recuperada. Porém, esta característica é compensada pela rápida brotação e crescimento das mudas, formando uma proteção efetiva dos taludes em aproximadamente 100 dias. No que se refere a custos, a utilização da Brachiaria humidicola necessita menor previsão orçamentária, quando da sua implantação como vegetação de proteção de taludes, como pode ser comparado nos custos apresentados na Tabela 1 e na Tabela 2. Descrição Grama batatais Adubo químico 04.14.08 Total Parcial Caminhão pipa 10.000 L Caminhão basculante Retroescavadeira Total Parcial MATERIAL Quant. Custo unit. 10.000 m² 300 Kg 2,00 / m² 1,00 / Kg EQUIPAMENTO 01 5.890,92 / mês 01 4.570,36 / mês 01 9.391,36 / mês Total (R$) 24.700,00* 300,00 25.000,00 5.890,92 4.570,36 9.391,36 19.852,64 MÃO DE OBRA 01 1.219,68 10 950,40 Sub encarregado 1.219,68 Ajudantes 9.504,00 Total Parcial 10.723,68 Custo Total 55.576,32 Custo / m² recuperado R$ 5,60 TABELA 1: Custo para recuperação da proteção de taludes de barragens com grama tipo batatais em uma área de 10.000m2 . *No custo de aquisição da grama está incluída a quebra de rendimento causado pelo manuseio. XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens 5 Descrição Muda B. humidicola Adubo químico 04.14.08 Total Parcial Caminhão pipa 10.000 L Total Parcial MATERIAL Quant. Custo unit. 100.000 ud 300 Kg 1,00 / Kg EQUIPAMENTO 01 5.890,92 / mês Total 300,00 300,00 5.890,92 5.890,92 MÃO DE OBRA 01 1.219,68 08 950,04 Sub encarregado 1.219,68 Ajudantes 7.600,32 Total Parcial 8.820,00 Custo Total 15.010,92 Custo / m² recuperado R$ 1,50 TABELA 2: Custo para recuperação da proteção de taludes barragens com Brachiaria humidicola em uma área de 10.000m2 *. * Custos praticados na recuperação do talude de jusante da barragem da UHE Marimbondo. Nas tabelas da Figura 1 e da Figura 2 na composição dos custos foram considerados: - Com relação à mão-de-obra: estão incluídos os encargos sociais; - Com relação aos equipamentos: estão incluídos os custos com mobilização e desmobilização. - Com relação ao lançamento de cobertura (terra vegetal) na grama plantada: exploração em jazida própria com autorização do órgão ambiental competente. 4. CONCLUSÕES A busca de uma alternativa duradoura ou definitiva para a proteção superficial dos taludes de jusante das barragens das usinas em operação justifica-se pela própria necessidade, pela idade do parque hidroelétrico brasileiro e pela vida útil dos gramados utilizados para tal destinação. A utilização da Brachiaria humidicola confere efetiva proteção a taludes de jusante, bem como aos equipamentos das redes de instrumentação e de canaletas de drenagem das barragens, com diminuição significativa nos custos operacionais. Apesar do curto período em que o talude permanece sem a proteção da vegetação, durante a fase de brotação e crescimento da forrageira, a recuperação de taludes com a utilização da Brachiaria humidicola não apresenta perdas significativas de material sólido por escorrimento das águas pluviais e nem compromete a operação das canaletas de drenagem. XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens 6 Associam-se às conclusões acima os custos de implantação da referida proposta que, quando comparados à recuperação utilizando-se a grama tipo batatais, têm-se os custos reduzidos consideravelmente. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio e o incentivo do Engenheiro Júlio César Ribeiro d’Armada para a realização deste trabalho. 6. PALAVRAS-CHAVE Proteção, Taludes, Recuperação, Gramados. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] FURNAS Centrais Elétricas, (2004) – “Relatório Técnico DRUH.T.001.2004”, Relatório Técnico da Divisão de Obras de Recuperação de Usinas, FURNAS Centrais Elétricas S.A, Ibiraci, MG. [2] Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Mirassol/ SP – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, (2004) - Laudo Técnico. XXVI Seminário Nacional de Grandes Barragens 7