Reflectir sobre a história egípcia e entender as características e componentes da sua política talvez seja melhor dizer das suas políticas , além de estimulante (pela captação das subtilezas e nuances a elas associadas no decurso dos múltiplos períodos da sua longa histórica), é essencial pela compreensão que induz da própria comunidade egípcia (antropologia política), que se perspectivava a si mesmo como viável pela existência, presença e acção do faraonato, a que, compreensivelmente, pelo seu carácter central e vital no seu modo de vida, atribuía um carácter sagrado. Paralela e intrinsecamente, há, porém, uma subliminar força agregadora que organiza e dá coerência aos modelos político-institucionais defendidos, bem como a muitos outros modelos e comportamentos colectivos e individuais: falamos da cultura, entendida no seu sentido mais amplo e antropológico, como um conjunto de qualidades mentais (crenças, ritos, memórias, mitos, símbolos, códigos, valores morais e éticos, tabus) e aspectos comportamentais (hábitos, cerimónias, tradições, aspectos técnicos, acções expressivas e/ ou manifestas), estruturais ou de superfície, adquiridos e transmitidos através de um processo, mais ou menos longo, de aprendizagem social, formal e/ou informal, colectiva e/ ou individual, feita de estímulos-respostas-reforços. Também aqui, para sermos completamente rigorosos, é preferível usar o plural culturas se quisermos captar os diversos traços e elementos culturais e os seus pressupostos, as alterações, adaptações e flutuações que com o tempo e com a história o «complexo cultural» egípcio foi conhecendo. Como grandes linhas de investigação, as questões políticas e culturais associadas à antiga história do Egipto podem ajudar à definição e cruzamento de várias perspectivas de análise, ao percepcionar das múltiplas tensões e até, nalguns casos, contradições existentes no modo de vida egípcio e ao estabelecimento e determinação de tipologias de conduta suficientemente válidas para explicar e interpretar a vida no Vale do Nilo.