A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO UM ESTUDO DA CLASSE MÉDIA NO BRASIL: UMA NOVA CLASSE OU UMA NOVA SOCIEDADE?1 Me. LUCIANO TIAGO BERNARDO 2 Dra. GEISA DAISE GUMIERO CLEPS 3 Resumo: Este trabalho tem por objetivo fazer uma análise da Classe Média brasileira no que tange às profundas transformações em sua composição. Para sua elaboração, primeiramente foi realizado um levantamento de dados secundários sobre as diferentes classificações das classes econômicas no Brasil, bem como das alterações ocorridas nas mesmas nos últimos anos. De posse dos dados, os procedimentos metodológicos aplicados foram a análise e a interpretação dos dados obtidos. Verificou-se que dezenas de milhões de brasileiros ascenderam economicamente e saíram de uma situação de pobreza para ingressar no mercado de trabalho e, consequentemente, de consumo e ascenderam de posições a partir das classes econômicas em que se encontravam, aumentando a Classe Média brasileira segundo alguns estudiosos, ou mesmo formando uma Nova Classe Trabalhadora. Palavras-chave: Classe C; Classe Média; Classe Trabalhadora. Abstract: This study aims to analyze the Brazilian Mediun Class in regard to the profound changes on its composition over the last decades. Data about different Brazilian‟s standards of economic classes‟ classification and its changes during the past few years were collected and analyzed through an interpretative approach. It was found that millions of Brazilians ascended economically and came out of poverty to enter on the labor market and, consequently, became consumers. Besides that, Brazilians reached upper positions in comparison to the economic classes they were in increasing the Brazilian Middle Class or even forming a New Working Class, according to some scholars. Key-words: Class C; Middle Class; Working Class 1. Introdução Nos últimos anos, a pirâmide social do Brasil tem passado por profundas mudanças demonstradas pelas alterações das classes econômicas da sociedade. O que vem ocorrendo é uma diminuição da base da pirâmide (constituída por grande parcela da população que vive em situação de extrema pobreza) e um aumento em sua parte intermediária. O presente trabalho não pretende adentrar na discussão sociológica de análise das classes sociais, ou seja, de uma discussão entre proletários e 1 Este trabalho é parte da pesquisa de doutorado (em andamento) realizado no Programa de PósGraduação em Geografia/Instituto de Geografia/Universidade Federal de Uberlândia (IG/UFU). 2 Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail de contato: [email protected] 3 Docente do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia: Email de contato: [email protected] 7321 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO burgueses, capitalismo e comunismo. O que será analisado são alterações ocorridas nos últimos anos na pirâmide social brasileira, particularmente, nos seus estratos econômicos. O trabalho tem por objetivo fazer uma análise da Classe Média brasileira, ou Classe Trabalhadora, no que tange às profundas transformações ocorridas nos últimos anos em sua composição. Para sua elaboração foi realizado um levantamento de dados secundários sobre as diferentes classificações das classes econômicas no Brasil, bem como das alterações ocorridas nas mesmas nos últimos anos, além de leituras referentes à temática. De posse dos dados, os procedimentos metodológicos adotados foram a análise e a interpretação dos dados obtidos. Enquanto que para alguns estudiosos o aumento na parte intermediária da pirâmide demonstra um aumento da Classe Média da sociedade brasileira, também denominada por “Nova Classe Média”, para outros não seria possível considerar que está ocorrendo um crescimento efetivo desta Classe Média, mas de uma “Nova Classe Trabalhadora”, que tem conseguido escapar da base da pirâmide e ascendida à parte intermediária. Mas o que tem possibilitado que milhões de pessoas possam ascender na pirâmide social brasileira a tal ponto de atingir novas classes econômicas e, até mesmo, aumentar a parte intermediária da pirâmide a tal ponto que fossem levantadas tantas discussões sobre este processo? As recentes alterações nas classes econômicas que demonstram a ascensão de milhões de brasileiros por meio da diminuição na base da pirâmide social é resultado não apenas de um, mas de vários fatores que, em conjunto, levaram a essas alterações e serão comentadas a seguir. 2. Fatores determinantes nas alterações das classes econômicas no Brasil Dentre os fatores que levaram às alterações nas classes econômicas no Brasil, o primeiro diz respeito à estabilidade econômica, ou seja, a drástica redução da inflação e do chamado imposto inflacionário4, que penalizavam a população, 4 Deve-se ressaltar que, atualmente, o quadro econômico brasileiro apresenta um aumento inflacionário, o que vem exigindo medidas contracionistas tanto no âmbito fiscal, quanto monetário. Este aumento da inflação pode conduzir à volta do imposto inflacionário. Sobre imposto inflacionário ver mais a respeito em Cysne (1994). 7322 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO principalmente de menor renda, pela dificuldade de acesso que essa tinha ao sistema financeiro. Um segundo fator é o crescimento da economia brasileira nos últimos anos (a exceção é o ano de 2009, com o agravamento da crise econômica internacional e seus reflexos no Brasil, levando a um decréscimo na economia de -0,3%). Este aumento, demonstrado no Gráfico 1, foi acompanhado pelo setor de serviços. Gráfico 1: Brasil: Variação anual do PIB e do setor de serviços (em %) (2003-2013) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2015). Disponível em: < http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=4&menu=4485>. Acesso em: 15 jun. 2015. O setor de serviços, além acompanhar o aumento da atividade econômica brasileira, demonstrou um gradativo aumento de sua participação no Produto Interno Bruto brasileiro no período 2003-2013 (Gráfico 2). De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior esta participação passou de 64,7% em 2003 para 69,4% em 2013, um aumento de 4,7%. O crescimento da economia brasileira, acompanhada pelo setor de serviços, foi fundamental para o aumento do trabalho formal, consequentemente favorecendo o aumento na renda da população. Para autores como Neri (2011, p. 36) o crescimento do trabalho formal representa “[...] o principal símbolo do surgimento da classe média brasileira” e esse crescimento ocorreu, principalmente, no setor de serviços, tanto em termos absolutos, quanto relativos, se comparado aos setores primário e secundário. 7323 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Gráfico 2: Brasil: Participação dos Serviços no PIB (2003-2013) Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2015). Disponível em: < http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=4&menu=4485>. Acesso em: 15 jun. 2015. Ainda destacando a relação da melhoria das condições econômicas de grande parte da população ao setor terciário, Pochmann (2013, p. 167) corrobora esta importância ao afirmar que: […] estudos e pesquisas recentes indicam, cada vez mais, o engodo de se associar a ascensão nos rendimentos da população assentada na base da pirâmide social aos segmentos de classe média. Na realidade, trata-se do alargamento das classes trabalhadoras impulsionado pela ampliação do setor terciário da economia nacional. Como último fator que ocasionou as alterações na pirâmide social brasileira, principalmente em sua base, encontram-se os projetos sociais governamentais (dentre eles destaca-se o Bolsa Família)5. Segundo Assis e Ferreira (2010, p. 268) o Programa Bolsa Família “tornou-se importante instrumento, no âmbito da política social do governo federal, de redução da pobreza ou do hiato da pobreza e de melhoria da distribuição de renda no país”. Nos últimos anos, devido, principalmente, aos fatores citados anteriormente, dezenas de milhões de brasileiros ascenderam economicamente e saíram de uma situação de pobreza para ingressar no mercado de trabalho e, consequentemente, de consumo e ascenderam de posições a partir das classes econômicas em que se 5 Implantado através da Lei n° 10.836 de 09 de janeiro de 2004, configura-se como um programa de transferência de renda para famílias pobres e extremamente pobres (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome-MDS, 2013). Ainda de acordo com o MDS atualmente o programa atende mais de 12 milhões de famílias. 7324 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO encontravam. Os questionamentos que nos cabem são: quem são esses brasileiros? Como classificá-los em uma determinada classe econômica? Quais foram as mudanças que ocorreram nos estratos de classificação da pirâmide social brasileira? 3. As classes econômicas 3.1 - A Classe C e a Classe Média. “Classe Média”, “Classe C”, “Emergentes” etc, são todas denominações que encontramos em leituras sobre o tema que procuram classificar uma determinada parcela da população que aumentou enormemente e de maneira sem precedentes na história brasileira. Mas antes de analisarmos as alterações ocorridas nas classes econômicas é fundamental que sejam definidas quais são estas classes e uma primeira classificação é da Fundação Getúlio Vargas/Centro de Políticas Sociais. Classe Limites (em R$) A Acima de 9.745,00 B 7.475,01 a 9.745,00 C 1.734,01 a 7.475,00 D 1.085,01 a 1.734,00 E Até 1.085,00 Tabela 1: Definição das Classes Econômicas (renda mensal total familiar atualizada a preços de julho de 2011) Fonte: Elaborado a partir de Neri (2012, p. 44) Segundo a Tabela 1, as classes podem ser divididas entre as famílias que possuem renda mensal até R$ 1.085,00 (Classe E); renda de R$ 1.085,01 até R$ 1.734,00 (Classe D); renda de R$ 1.734,01 até R$ 7.475,00 (Classe C); renda de R$ 7.475,01 até R$ 9.745,00 (Classe B) e, por último, renda familiar média acima de R$ 9.745,00 (Classe A). Outra classificação dos estratos econômicos foi realizada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP) como demonstrado na Tabela 2. Classe Limites (em R$) A Acima de 11.000 B 7.000 a 11.000 C 1.400 a 11.000 D 900 a 1.400 E Até 900 Tabela 2: Definição das Classes Econômicas (renda média 6 familiar mensal – POF 2009) Fonte: Elaborado a partir de FecomercioSP (2012, p. 19) 6 Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os meses de maio de 2008 e maio de 2009. 7325 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Para a FecomercioSP, semelhantemente ao trabalho de Neri (2012), as classes são divididas em A, B, C, D e E, cujos limites de rendas são de até R$ 900,00 para a classe E; entre R$ 900,00 e R$ 1.400,00 para a classe D; entre R$ 1.400,00 e R$ 7.000,00 para a classe C; entre R$ R$ 7.000,00 e R$ 11.000,00 para a classe B e; por último, acima de R$ 11.000,00 para a classe A. Ainda segundo a FecomércioSP (2012, p. 19), o estrato que representa a classe média é a classe C “[...] por mostrar, em termos de média familiar mensal, o valor mais próximo da renda média familiar mensal, o valor mais próximo da renda média mensal de todas as famílias brasileiras – cerca de R$ 2.900,00 mês/família.” A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), por meio da Comissão para Definição da Classe Média do Brasil, também apresenta uma estratificação das classes econômicas conforme Tabela 3: Classe Renda familiar média (R$/mês) Extremamente pobre 227,00 Pobres, mas não extremamente pobres 648,00 Vulnerável 1.030,00 Baixa classe média 1.540,00 Média classe média 1.925,00 Alta classe média 2.813,00 Baixa classe alta 4.845,00 Alta classe alta 12.988,00 Tabela 3: Renda familiar média (valores expressos em R$ em abril de 2012) Fonte: Secretaria de Assuntos Estratégicos (2013). Disponível em: <http://www.sae.gov.br/site/?p=13425>. Acesso em: 15 out. 2013. A SAE apresenta a seguinte divisão das classes econômicas: Extremamente pobre, com renda familiar média até R$ 227,00; Pobres, mas não extremamente pobres, renda até R$ 648,00; Vulnerável, renda até R$ 1.030,00; Baixa classe média, renda até R$ 1.540,00; Média classe média, renda até R$ 1.925,00; Alta classe média, renda até R$ 2.813,00; Baixa classe alta, renda até R$ 4.845,00 e, por último, Alta classe alta, com renda familiar média de R$ 12.988,00 ou acima desta. Todos os trabalhos apresentados até o momento se utilizam de estratificações econômicas e, a partir delas, definem a Classe Média tomando por referência a classe C. Diferenças de nomenclatura ocorrem, pois enquanto para Neri (2012) e para a FecomercioSP (2012) exista somente a denominação Classe Média (ou mesmo “Nova Classe Média”) para a SAE, existem a baixa classe média, a média classe média e a alta classe média. 7326 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 3.2 - Classe Média ou Classe Trabalhadora? Estratificações e nomenclaturas que definem a Classe Média, ou as diferentes Classes Médias apresentadas, são bastante discutidas e não encontram consenso. Ao contrário, são bastante questionáveis. Segundo Souza e Lamounier (2010, p. 21), “[...] tentar definir classe média em termos que possam ser aceitos por todos os pesquisadores é cortejar a frustração. Não existe uma definição consensual.” A mesma ressalva aparece em FecomercioSP (2012) quando é observado que não há consenso nem mesmo aos critérios de recortes de rendas de A até E, o que torna subjetiva uma classificação. Realmente, outros trabalhos apresentam denominações diferentes quanto às classes econômicas. Pochmann (2012) considera um equívoco identificar como “Nova Classe Média”7 um enorme contingente da classe trabalhadora que ascendeu economicamente com uma remuneração de até 1,5 salário mínimo. Para analisar as alterações das classes econômicas, o referido autor faz uma comparação entre o peso relativo da renda oriunda da propriedade e o peso dos salários na renda nacional. Enquanto entre os anos 2004 e 2010 o peso dos salários subiu 10,3%, o peso da renda da propriedade decresceu 12,8%. Esse aumento no peso dos salários ficou concentrado nos trabalhadores de salário de base, com renda de até 1,5 salário mínimo, ou seja, as pessoas na condição de pobreza foram para uma condição de trabalhadores de salário de base, sem que possam ser, efetivamente, consideradas da classe média “tradicional”8. Segundo Pochmann (2014) a “medianização” das sociedades urbanas e industriais e o surgimento de uma nova classe média brasileira se trata de uma absorção da ideologia e da política neoliberal. Seguindo a linha de pensamento de Pochmann, Souza (2012) considera que os emergentes que dinamizaram o capitalismo brasileiro na última década faziam parte do que o autor considerava de “ralé”9 da sociedade, ou um enorme grupo de indivíduos tratados de maneira precária há gerações. 7 Termo utilizado por Neri (2011). Segundo Pochmann (2012) esta tampouco apresentou alterações significativas em seu tamanho. 9 Para Souza (2012) o termo “ralé” não está colocado para ofender pessoas com um passado tão sofrido e humilhado, mas para chamar a atenção para o abandono social e político que essas pessoas vivem. 8 7327 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Dizer que os „emergentes‟ são a „nova classe média‟, é uma forma de dizer, na verdade, que o Brasil, finalmente, está se tornando uma Alemanha, ou França ou um Estados Unidos, onde a “classe média”, e não os pobres, os trabalhadores e os excluídos, como na periferia do capitalismo, formam o fundamento da estrutura social. (SOUZA, 2012, p. 20) Para Souza (2012), o que vem ocorrendo nos últimos anos é a constituição de uma “Nova Classe Trabalhadora” e não de uma “Nova Classe Média” e esta “Nova Classe Trabalhadora” não participada jogo da distinção que caracteriza as classes alta e média. Por último corroborando com os autores Pochmann e Souza, Chauí (2013) desconsidera o aumento da Classe Média ou mesmo a formação de uma “Nova Classe Média”. Chauí (2013, p. 130) considera que houve, sim, a formação de uma “Nova Classe Trabalhadora”. Como a tradição autoritária da sociedade brasileira não pode admitir a existência de uma classe trabalhadora que não seja constituída pelos miseráveis deserdados da terra, os pobres desnutridos, analfabetos e incompetentes, imediatamente passou-se a afirmar que surgiu uma nova classe média, pois isso é menos perigoso para a ordem estabelecida do que uma classe trabalhadora protagonista social e política. Diante do exposto, podemos considerar que não há um consenso sobre a definição das classes econômicas, ou, pelo contrário, o que há é uma profunda discussão sobre suas conceituações. Ao se analisar as classes econômicas no Brasil é necessário evitar tomar conclusões precipitadas baseadas somente em números e estatísticas ou mesmo em estereótipos que venham a definir estas classes, principalmente no que diz respeito à classe intermediária da estratificação. Contudo, o que nos parece ser inquestionável são as profundas alterações que ocorreram nas estruturas econômica e social na sociedade brasileira nos últimos anos. 4. As alterações nas classes econômicas. Profundas alterações ocorreram nas classes econômicas da sociedade brasileira nos últimos anos. Milhões de pessoas tiveram expressivos aumentos reais de renda, aumento do poder de consumo, acesso a melhores postos de trabalho com melhor nível educacional e ascenderam de posição na pirâmide social brasileira, consequentemente diminuindo a concentração de renda no país. 7328 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO O resultado destas alterações é que, se imaginarmos a sociedade brasileira como uma pirâmide, sua base seria composta pelos indivíduos com menor renda até chegarmos ao topo da pirâmide na qual esta representaria uma menor parte da sociedade com maior renda. Analisando as alterações nesta pirâmide, nos últimos anos ocorreu uma profunda diminuição de sua base, já que milhões de pessoas deixaram-na e ascenderam de posição, levando a um aumento sem precedentes da parte intermediária dessa pirâmide e até mesmo de sua parte superior. A tabela a seguir demonstra em termos relativos e absolutos estas transformações: Evolução das Classes Diferença populacional (em %) (números absolutos) 57,71 A/B 9.195.974 A/B 46,57 C 39.589.412 C - 24,03 D -7.976.346 D - 54,18 E -24.637.406 E Tabela 4: Evolução da população por classes econômicas (2003-2011) Fonte: Elaborado a partir de Neri (2011, p. 88) Analisando a tabela 4, percentualmente as Classes A/B (analisadas aqui em conjunto) foram as que tiveram o maior aumento no período compreendido entre os anos 2003 e 2011, com um aumento de 57,71%. Em seguida, aparece a classe C com 46,57%. No mesmo período, a Classe D apresentou uma diminuição de 24,03%, enquanto que a Classe E diminuiu em 54,18%. Ainda considerando a tabela 4, analisando as alterações a partir de números absolutos, verifica-se que a Classe C apresentou um crescimento populacional de 39.589.412 e as Classes A/B tiveram um crescimento de 9.195.974 de pessoas. Ao contrário das Classes A/B e C, a Classe D teve uma diminuição de 7.976.346 de pessoas e, por último, a Classe E, uma diminuição de 24.637.406. A partir das alterações ocorridas nas classes econômicas, de acordo com Neri (2011) a “Nova Classe Média” passou a representar, a partir do ano de 2011, a maior parte da população brasileira com um total 55,05% da população, ou 100,5 milhões de pessoas (no ano de 2003 esta classe compunha 37,56% da população, ou 65.879.496 milhões de pessoas). Souza e Lamounier (2010) também demonstram a alteração ocorrida na “Nova Classe Média” no qual esta foi de 44% da população em 2002 para 52% em 7329 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2008. Analisando não o total da população, mas o número de famílias, a FecomercioSP (2012) coloca que em 2003 a classe média representava 19 milhões de famílias (39% do total) e em 2009 um total de 30 milhões (52%). As alterações na pirâmide social também estão presentes em trabalho de Pochmann (2012), no qual o autor constata que indivíduos na condição de pobreza diminuíram de 37% para 7,2% no período de 1995 a 2009 e, consequentemente, os trabalhadores de salário de base aumentaram sua participação relativa de menos de 27% para 46,3% no mesmo período. Para o autor, essa força de trabalho, “embora não sejam mais pobres, tampouco podem ser considerada de classe média” (Pochmann, 2012, p. 20). Independentemente da classe econômica que tenha sido alterada ou mesmo a possível formação de uma nova classe (média ou trabalhadora), os dados apresentados pelos autores analisados demonstram dois aspectos principais. Primeiro que houve uma intensa diminuição da base da pirâmide social brasileira, na qual estas pessoas saíram de uma situação de pobreza e ascenderam de posição. Segundo, em valores absolutos, a base intermediária da pirâmide social apresentou um enorme aumento em sua composição, levando à discussão se este aumento seria o responsável pela formação de uma “Nova Classe Média” ou de uma “Nova Classe Trabalhadora”. De qualquer modo, as alterações nas classes econômicas ocorridas nos últimos anos são incontestáveis. Portanto, enquanto que para alguns autores o aumento na parte intermediária da pirâmide social brasileira demonstra um aumento da Classe Média, ou a formação de uma “Nova Classe Média”, para outros, o que ocorreu foi fundamentalmente a diminuição dos pobres brasileiros e o surgimento de uma “Nova Classe Trabalhadora”, demonstrada pela diminuição na base da pirâmide. 5. Considerações finais. Nos últimos anos os estratos econômicos da sociedade brasileira têm passado por profundas alterações, principalmente naqueles situados na base e na parte intermediária da pirâmide social. Dentre os fatores que possibilitaram estas alterações podemos destacar a estabilidade econômica, ou seja, a drástica redução da inflação e do chamado imposto inflacionário; o crescimento da economia 7330 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO brasileira, sendo este acompanhado pelo crescimento no nível de emprego formal, principalmente no setor de serviços e, como último fator, os projetos sociais governamentais. Ao se analisar as classes econômicas no Brasil é necessário evitar tomar conclusões precipitadas baseadas somente em números e estatísticas, ou mesmo em estereótipos que venham a definir estas classes. Independentemente da classe econômica que tenha sido alterada ou mesmo a possível formação de uma nova classe (média ou trabalhadora), os dados apresentados pelos autores analisados demonstraram dois aspectos principais. Um primeiro aspecto é que houve uma intensa diminuição da base da pirâmide social brasileira, na qual estas pessoas saíram de uma situação de pobreza e ascenderam de posição. Como segundo aspecto apresentado, em valores absolutos a base intermediária da pirâmide social apresentou um enorme aumento em sua composição. O que ficou demonstrado é que existe uma intensa discussão se este aumento seria o responsável pela formação de uma “Nova Classe Média” ou de uma “Nova Classe Trabalhadora”. Nomenclaturas utilizadas para definirem a parte intermediária da pirâmide social brasileira são bastante divergentes e não é possível encontrar um consenso. Ao contrário, são bastante questionáveis e alguns dos autores citados neste trabalho fazem essa ressalva. Portanto, enquanto que para alguns autores o aumento na parte intermediária da pirâmide social brasileira demonstra um aumento da Classe Média, ou a formação de uma “Nova Classe Média”, para outros, o que ocorreu foi fundamentalmente a diminuição dos pobres brasileiros e o surgimento de uma “Nova Classe Trabalhadora”, demonstrada pela diminuição na base da pirâmide. 6. Referências bibliográficas ASSIS, S. G.; FERREIRA, J. Usos, potencialidades e limitações do cadastro único no subsídio às políticas sociais para a população de baixa renda. In: CASTRO, J. A.; MODESTO, L. (Org.). Bolsa Família 2003-2010: avanços e desafios. Brasília: Ipea, 2010. p. 213-248. 7331 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO CHAUÍ, M. Uma nova classe trabalhadora. In: SADER, E. (Org.). 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Flacso, 2013. p. 123-134. CYSNE, R. P. 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