um estudo da classe média no brasil: uma nova classe

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
UM ESTUDO DA CLASSE MÉDIA NO BRASIL: UMA NOVA CLASSE
OU UMA NOVA SOCIEDADE?1
Me. LUCIANO TIAGO BERNARDO 2
Dra. GEISA DAISE GUMIERO CLEPS 3
Resumo:
Este trabalho tem por objetivo fazer uma análise da Classe Média brasileira no que tange às
profundas transformações em sua composição. Para sua elaboração, primeiramente foi realizado um
levantamento de dados secundários sobre as diferentes classificações das classes econômicas no
Brasil, bem como das alterações ocorridas nas mesmas nos últimos anos. De posse dos dados, os
procedimentos metodológicos aplicados foram a análise e a interpretação dos dados obtidos.
Verificou-se que dezenas de milhões de brasileiros ascenderam economicamente e saíram de uma
situação de pobreza para ingressar no mercado de trabalho e, consequentemente, de consumo e
ascenderam de posições a partir das classes econômicas em que se encontravam, aumentando a
Classe Média brasileira segundo alguns estudiosos, ou mesmo formando uma Nova Classe
Trabalhadora.
Palavras-chave: Classe C; Classe Média; Classe Trabalhadora.
Abstract:
This study aims to analyze the Brazilian Mediun Class in regard to the profound changes on its
composition over the last decades. Data about different Brazilian‟s standards of economic classes‟
classification and its changes during the past few years were collected and analyzed through an
interpretative approach. It was found that millions of Brazilians ascended economically and came out
of poverty to enter on the labor market and, consequently, became consumers. Besides that,
Brazilians reached upper positions in comparison to the economic classes they were in increasing the
Brazilian Middle Class or even forming a New Working Class, according to some scholars.
Key-words: Class C; Middle Class; Working Class
1. Introdução
Nos últimos anos, a pirâmide social do Brasil tem passado por profundas
mudanças demonstradas pelas alterações das classes econômicas da sociedade. O
que vem ocorrendo é uma diminuição da base da pirâmide (constituída por grande
parcela da população que vive em situação de extrema pobreza) e um aumento em
sua parte intermediária.
O presente trabalho não pretende adentrar na discussão sociológica de
análise das classes sociais, ou seja, de uma discussão entre proletários e
1
Este trabalho é parte da pesquisa de doutorado (em andamento) realizado no Programa de PósGraduação em Geografia/Instituto de Geografia/Universidade Federal de Uberlândia (IG/UFU).
2
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia.
E-mail de contato: [email protected]
3
Docente do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia: Email de contato: [email protected]
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burgueses, capitalismo e comunismo. O que será analisado são alterações ocorridas
nos últimos anos na pirâmide social brasileira, particularmente, nos seus estratos
econômicos. O trabalho tem por objetivo fazer uma análise da Classe Média
brasileira, ou Classe Trabalhadora, no que tange às profundas transformações
ocorridas nos últimos anos em sua composição.
Para sua elaboração foi realizado um levantamento de dados secundários
sobre as diferentes classificações das classes econômicas no Brasil, bem como das
alterações ocorridas nas mesmas nos últimos anos, além de leituras referentes à
temática. De posse dos dados, os procedimentos metodológicos adotados foram a
análise e a interpretação dos dados obtidos.
Enquanto que para alguns estudiosos o aumento na parte intermediária da
pirâmide demonstra um aumento da Classe Média da sociedade brasileira, também
denominada por “Nova Classe Média”, para outros não seria possível considerar que
está ocorrendo um crescimento efetivo desta Classe Média, mas de uma “Nova
Classe Trabalhadora”, que tem conseguido escapar da base da pirâmide e
ascendida à parte intermediária.
Mas o que tem possibilitado que milhões de pessoas possam ascender na
pirâmide social brasileira a tal ponto de atingir novas classes econômicas e, até
mesmo, aumentar a parte intermediária da pirâmide a tal ponto que fossem
levantadas tantas discussões sobre este processo?
As recentes alterações nas classes econômicas que demonstram a ascensão
de milhões de brasileiros por meio da diminuição na base da pirâmide social é
resultado não apenas de um, mas de vários fatores que, em conjunto, levaram a
essas alterações e serão comentadas a seguir.
2. Fatores determinantes nas alterações das classes econômicas no Brasil
Dentre os fatores que levaram às alterações nas classes econômicas no
Brasil, o primeiro diz respeito à estabilidade econômica, ou seja, a drástica redução
da inflação e do chamado imposto inflacionário4, que penalizavam a população,
4 Deve-se ressaltar que, atualmente, o quadro econômico brasileiro apresenta um aumento
inflacionário, o que vem exigindo medidas contracionistas tanto no âmbito fiscal, quanto monetário.
Este aumento da inflação pode conduzir à volta do imposto inflacionário. Sobre imposto inflacionário
ver mais a respeito em Cysne (1994).
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principalmente de menor renda, pela dificuldade de acesso que essa tinha ao
sistema financeiro.
Um segundo fator é o crescimento da economia brasileira nos últimos anos (a
exceção é o ano de 2009, com o agravamento da crise econômica internacional e
seus reflexos no Brasil, levando a um decréscimo na economia de -0,3%). Este
aumento, demonstrado no Gráfico 1, foi acompanhado pelo setor de serviços.
Gráfico 1: Brasil: Variação anual do PIB e do setor de serviços (em %) (2003-2013)
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2015).
Disponível em: <
http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=4&menu=4485>. Acesso em:
15 jun. 2015.
O setor de serviços, além acompanhar o aumento da atividade econômica
brasileira, demonstrou um gradativo aumento de sua participação no Produto Interno
Bruto brasileiro no período 2003-2013 (Gráfico 2).
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior esta participação passou de 64,7% em 2003 para 69,4% em 2013, um
aumento de 4,7%. O crescimento da economia brasileira, acompanhada pelo setor
de serviços, foi fundamental para o aumento do trabalho formal, consequentemente
favorecendo o aumento na renda da população.
Para autores como Neri (2011, p. 36) o crescimento do trabalho formal
representa “[...] o principal símbolo do surgimento da classe média brasileira” e esse
crescimento ocorreu, principalmente, no setor de serviços, tanto em termos
absolutos, quanto relativos, se comparado aos setores primário e secundário.
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Gráfico 2: Brasil: Participação dos Serviços no PIB (2003-2013)
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(2015). Disponível em: <
http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=4&menu=4485>.
Acesso em: 15 jun. 2015.
Ainda destacando a relação da melhoria das condições econômicas de
grande parte da população ao setor terciário, Pochmann (2013, p. 167) corrobora
esta importância ao afirmar que:
[…] estudos e pesquisas recentes indicam, cada vez mais, o engodo de se
associar a ascensão nos rendimentos da população assentada na base da
pirâmide social aos segmentos de classe média. Na realidade, trata-se do
alargamento das classes trabalhadoras impulsionado pela ampliação do
setor terciário da economia nacional.
Como último fator que ocasionou as alterações na pirâmide social brasileira,
principalmente em sua base, encontram-se os projetos sociais governamentais
(dentre eles destaca-se o Bolsa Família)5. Segundo Assis e Ferreira (2010, p. 268) o
Programa Bolsa Família “tornou-se importante instrumento, no âmbito da política
social do governo federal, de redução da pobreza ou do hiato da pobreza e de
melhoria da distribuição de renda no país”.
Nos últimos anos, devido, principalmente, aos fatores citados anteriormente,
dezenas de milhões de brasileiros ascenderam economicamente e saíram de uma
situação de pobreza para ingressar no mercado de trabalho e, consequentemente,
de consumo e ascenderam de posições a partir das classes econômicas em que se
5
Implantado através da Lei n° 10.836 de 09 de janeiro de 2004, configura-se como um programa de
transferência de renda para famílias pobres e extremamente pobres (Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome-MDS, 2013). Ainda de acordo com o MDS atualmente o programa atende
mais de 12 milhões de famílias.
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encontravam. Os questionamentos que nos cabem são: quem são esses brasileiros?
Como classificá-los em uma determinada classe econômica? Quais foram as
mudanças que ocorreram nos estratos de classificação da pirâmide social brasileira?
3. As classes econômicas
3.1 - A Classe C e a Classe Média.
“Classe Média”, “Classe C”, “Emergentes” etc, são todas denominações que
encontramos em leituras sobre o tema que procuram classificar uma determinada
parcela da população que aumentou enormemente e de maneira sem precedentes
na história brasileira. Mas antes de analisarmos as alterações ocorridas nas classes
econômicas é fundamental que sejam definidas quais são estas classes e uma
primeira classificação é da Fundação Getúlio Vargas/Centro de Políticas Sociais.
Classe
Limites (em R$)
A
Acima de 9.745,00
B
7.475,01 a 9.745,00
C
1.734,01 a 7.475,00
D
1.085,01 a 1.734,00
E
Até 1.085,00
Tabela 1: Definição das Classes Econômicas (renda mensal total
familiar atualizada a preços de julho de 2011)
Fonte: Elaborado a partir de Neri (2012, p. 44)
Segundo a Tabela 1, as classes podem ser divididas entre as famílias que
possuem renda mensal até R$ 1.085,00 (Classe E); renda de R$ 1.085,01 até R$
1.734,00 (Classe D); renda de R$ 1.734,01 até R$ 7.475,00 (Classe C); renda de R$
7.475,01 até R$ 9.745,00 (Classe B) e, por último, renda familiar média acima de R$
9.745,00 (Classe A).
Outra classificação dos estratos econômicos foi realizada pela Federação do
Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP) como demonstrado na Tabela 2.
Classe
Limites (em R$)
A
Acima de 11.000
B
7.000 a 11.000
C
1.400 a 11.000
D
900 a 1.400
E
Até 900
Tabela 2: Definição das Classes Econômicas (renda média
6
familiar mensal – POF 2009)
Fonte: Elaborado a partir de FecomercioSP (2012, p. 19)
6
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) entre os meses de maio de 2008 e maio de 2009.
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Para a FecomercioSP, semelhantemente ao trabalho de Neri (2012), as
classes são divididas em A, B, C, D e E, cujos limites de rendas são de até R$
900,00 para a classe E; entre R$ 900,00 e R$ 1.400,00 para a classe D; entre R$
1.400,00 e R$ 7.000,00 para a classe C; entre R$ R$ 7.000,00 e R$ 11.000,00 para
a classe B e; por último, acima de R$ 11.000,00 para a classe A. Ainda segundo a
FecomércioSP (2012, p. 19), o estrato que representa a classe média é a classe C
“[...] por mostrar, em termos de média familiar mensal, o valor mais próximo da renda
média familiar mensal, o valor mais próximo da renda média mensal de todas as
famílias brasileiras – cerca de R$ 2.900,00 mês/família.”
A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), por meio da Comissão para
Definição da Classe Média do Brasil, também apresenta uma estratificação das
classes econômicas conforme Tabela 3:
Classe
Renda familiar média (R$/mês)
Extremamente pobre
227,00
Pobres, mas não extremamente pobres
648,00
Vulnerável
1.030,00
Baixa classe média
1.540,00
Média classe média
1.925,00
Alta classe média
2.813,00
Baixa classe alta
4.845,00
Alta classe alta
12.988,00
Tabela 3: Renda familiar média (valores expressos em R$ em abril de 2012)
Fonte: Secretaria de Assuntos Estratégicos (2013). Disponível em:
<http://www.sae.gov.br/site/?p=13425>. Acesso em: 15 out. 2013.
A SAE apresenta a seguinte divisão das classes econômicas: Extremamente
pobre, com renda familiar média até R$ 227,00; Pobres, mas não extremamente
pobres, renda até R$ 648,00; Vulnerável, renda até R$ 1.030,00; Baixa classe
média, renda até R$ 1.540,00; Média classe média, renda até R$ 1.925,00; Alta
classe média, renda até R$ 2.813,00; Baixa classe alta, renda até R$ 4.845,00 e, por
último, Alta classe alta, com renda familiar média de R$ 12.988,00 ou acima desta.
Todos
os
trabalhos
apresentados
até
o
momento
se
utilizam
de
estratificações econômicas e, a partir delas, definem a Classe Média tomando por
referência a classe C. Diferenças de nomenclatura ocorrem, pois enquanto para Neri
(2012) e para a FecomercioSP (2012) exista somente a denominação Classe Média
(ou mesmo “Nova Classe Média”) para a SAE, existem a baixa classe média, a
média classe média e a alta classe média.
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3.2 - Classe Média ou Classe Trabalhadora?
Estratificações e nomenclaturas que definem a Classe Média, ou as diferentes
Classes Médias apresentadas, são bastante discutidas e não encontram consenso.
Ao contrário, são bastante questionáveis.
Segundo Souza e Lamounier (2010, p. 21), “[...] tentar definir classe média em
termos que possam ser aceitos por todos os pesquisadores é cortejar a frustração.
Não
existe
uma
definição
consensual.”
A
mesma
ressalva
aparece
em
FecomercioSP (2012) quando é observado que não há consenso nem mesmo aos
critérios de recortes de rendas de A até E, o que torna subjetiva uma classificação.
Realmente, outros trabalhos apresentam denominações diferentes quanto às
classes econômicas. Pochmann (2012) considera um equívoco identificar como
“Nova Classe Média”7 um enorme contingente da classe trabalhadora que ascendeu
economicamente com uma remuneração de até 1,5 salário mínimo. Para analisar as
alterações das classes econômicas, o referido autor faz uma comparação entre o
peso relativo da renda oriunda da propriedade e o peso dos salários na renda
nacional. Enquanto entre os anos 2004 e 2010 o peso dos salários subiu 10,3%, o
peso da renda da propriedade decresceu 12,8%. Esse aumento no peso dos
salários ficou concentrado nos trabalhadores de salário de base, com renda de até
1,5 salário mínimo, ou seja, as pessoas na condição de pobreza foram para uma
condição de trabalhadores de salário de base, sem que possam ser, efetivamente,
consideradas da classe média “tradicional”8. Segundo Pochmann (2014) a
“medianização” das sociedades urbanas e industriais e o surgimento de uma nova
classe média brasileira se trata de uma absorção da ideologia e da política
neoliberal.
Seguindo a linha de pensamento de Pochmann, Souza (2012) considera que
os emergentes que dinamizaram o capitalismo brasileiro na última década faziam
parte do que o autor considerava de “ralé”9 da sociedade, ou um enorme grupo de
indivíduos tratados de maneira precária há gerações.
7
Termo utilizado por Neri (2011).
Segundo Pochmann (2012) esta tampouco apresentou alterações significativas em seu tamanho.
9
Para Souza (2012) o termo “ralé” não está colocado para ofender pessoas com um passado tão
sofrido e humilhado, mas para chamar a atenção para o abandono social e político que essas
pessoas vivem.
8
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Dizer que os „emergentes‟ são a „nova classe média‟, é uma forma de dizer,
na verdade, que o Brasil, finalmente, está se tornando uma Alemanha, ou
França ou um Estados Unidos, onde a “classe média”, e não os pobres, os
trabalhadores e os excluídos, como na periferia do capitalismo, formam o
fundamento da estrutura social. (SOUZA, 2012, p. 20)
Para Souza (2012), o que vem ocorrendo nos últimos anos é a constituição de
uma “Nova Classe Trabalhadora” e não de uma “Nova Classe Média” e esta “Nova
Classe Trabalhadora” não participada jogo da distinção que caracteriza as classes
alta e média.
Por último corroborando com os autores Pochmann e Souza, Chauí (2013)
desconsidera o aumento da Classe Média ou mesmo a formação de uma “Nova
Classe Média”. Chauí (2013, p. 130) considera que houve, sim, a formação de uma
“Nova Classe Trabalhadora”.
Como a tradição autoritária da sociedade brasileira não pode admitir a
existência de uma classe trabalhadora que não seja constituída pelos
miseráveis deserdados da terra, os pobres desnutridos, analfabetos e
incompetentes, imediatamente passou-se a afirmar que surgiu uma nova
classe média, pois isso é menos perigoso para a ordem estabelecida do que
uma classe trabalhadora protagonista social e política.
Diante do exposto, podemos considerar que não há um consenso sobre a
definição das classes econômicas, ou, pelo contrário, o que há é uma profunda
discussão sobre suas conceituações. Ao se analisar as classes econômicas no
Brasil é necessário evitar tomar conclusões precipitadas baseadas somente em
números e estatísticas ou mesmo em estereótipos que venham a definir estas
classes, principalmente no que diz respeito à classe intermediária da estratificação.
Contudo, o que nos parece ser inquestionável são as profundas alterações que
ocorreram nas estruturas econômica e social na sociedade brasileira nos últimos
anos.
4. As alterações nas classes econômicas.
Profundas alterações ocorreram nas classes econômicas da sociedade
brasileira nos últimos anos. Milhões de pessoas tiveram expressivos aumentos reais
de renda, aumento do poder de consumo, acesso a melhores postos de trabalho
com melhor nível educacional e ascenderam de posição na pirâmide social
brasileira, consequentemente diminuindo a concentração de renda no país.
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O resultado destas alterações é que, se imaginarmos a sociedade brasileira
como uma pirâmide, sua base seria composta pelos indivíduos com menor renda até
chegarmos ao topo da pirâmide na qual esta representaria uma menor parte da
sociedade com maior renda.
Analisando as alterações nesta pirâmide, nos últimos anos ocorreu uma
profunda diminuição de sua base, já que milhões de pessoas deixaram-na e
ascenderam de posição, levando a um aumento sem precedentes da parte
intermediária dessa pirâmide e até mesmo de sua parte superior. A tabela a seguir
demonstra em termos relativos e absolutos estas transformações:
Evolução das Classes
Diferença populacional
(em %)
(números absolutos)
57,71
A/B
9.195.974
A/B
46,57
C
39.589.412
C
- 24,03
D
-7.976.346
D
- 54,18
E
-24.637.406
E
Tabela 4: Evolução da população por classes econômicas (2003-2011)
Fonte: Elaborado a partir de Neri (2011, p. 88)
Analisando a tabela 4, percentualmente as Classes A/B (analisadas aqui em
conjunto) foram as que tiveram o maior aumento no período compreendido entre os
anos 2003 e 2011, com um aumento de 57,71%. Em seguida, aparece a classe C
com 46,57%. No mesmo período, a Classe D apresentou uma diminuição de
24,03%, enquanto que a Classe E diminuiu em 54,18%.
Ainda considerando a tabela 4, analisando as alterações a partir de números
absolutos, verifica-se que a Classe C apresentou um crescimento populacional de
39.589.412 e as Classes A/B tiveram um crescimento de 9.195.974 de pessoas. Ao
contrário das Classes A/B e C, a Classe D teve uma diminuição de 7.976.346 de
pessoas e, por último, a Classe E, uma diminuição de 24.637.406.
A partir das alterações ocorridas nas classes econômicas, de acordo com Neri
(2011) a “Nova Classe Média” passou a representar, a partir do ano de 2011, a
maior parte da população brasileira com um total 55,05% da população, ou 100,5
milhões de pessoas (no ano de 2003 esta classe compunha 37,56% da população,
ou 65.879.496 milhões de pessoas).
Souza e Lamounier (2010) também demonstram a alteração ocorrida na
“Nova Classe Média” no qual esta foi de 44% da população em 2002 para 52% em
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2008. Analisando não o total da população, mas o número de famílias, a
FecomercioSP (2012) coloca que em 2003 a classe média representava 19 milhões
de famílias (39% do total) e em 2009 um total de 30 milhões (52%).
As alterações na pirâmide social também estão presentes em trabalho de
Pochmann (2012), no qual o autor constata que indivíduos na condição de pobreza
diminuíram de 37% para 7,2% no período de 1995 a 2009 e, consequentemente, os
trabalhadores de salário de base aumentaram sua participação relativa de menos de
27% para 46,3% no mesmo período. Para o autor, essa força de trabalho, “embora
não sejam mais pobres, tampouco podem ser considerada de classe média”
(Pochmann, 2012, p. 20).
Independentemente da classe econômica que tenha sido alterada ou mesmo
a possível formação de uma nova classe (média ou trabalhadora), os dados
apresentados pelos autores analisados demonstram dois aspectos principais.
Primeiro que houve uma intensa diminuição da base da pirâmide social brasileira, na
qual estas pessoas saíram de uma situação de pobreza e ascenderam de posição.
Segundo, em valores absolutos, a base intermediária da pirâmide social apresentou
um enorme aumento em sua composição, levando à discussão se este aumento
seria o responsável pela formação de uma “Nova Classe Média” ou de uma “Nova
Classe Trabalhadora”. De qualquer modo, as alterações nas classes econômicas
ocorridas nos últimos anos são incontestáveis.
Portanto, enquanto que para alguns autores o aumento na parte intermediária
da pirâmide social brasileira demonstra um aumento da Classe Média, ou a
formação de uma “Nova Classe Média”, para outros, o que ocorreu foi
fundamentalmente a diminuição dos pobres brasileiros e o surgimento de uma “Nova
Classe Trabalhadora”, demonstrada pela diminuição na base da pirâmide.
5. Considerações finais.
Nos últimos anos os estratos econômicos da sociedade brasileira têm
passado por profundas alterações, principalmente naqueles situados na base e na
parte intermediária da pirâmide social. Dentre os fatores que possibilitaram estas
alterações podemos destacar a estabilidade econômica, ou seja, a drástica redução
da inflação e do chamado imposto inflacionário; o crescimento da economia
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brasileira, sendo este acompanhado pelo crescimento no nível de emprego formal,
principalmente no setor de serviços e, como último fator, os projetos sociais
governamentais.
Ao se analisar as classes econômicas no Brasil é necessário evitar tomar
conclusões precipitadas baseadas somente em números e estatísticas, ou mesmo
em estereótipos que venham a definir estas classes. Independentemente da classe
econômica que tenha sido alterada ou mesmo a possível formação de uma nova
classe (média ou trabalhadora), os dados apresentados pelos autores analisados
demonstraram dois aspectos principais.
Um primeiro aspecto é que houve uma intensa diminuição da base da
pirâmide social brasileira, na qual estas pessoas saíram de uma situação de pobreza
e ascenderam de posição. Como segundo aspecto apresentado, em valores
absolutos a base intermediária da pirâmide social apresentou um enorme aumento
em sua composição.
O que ficou demonstrado é que existe uma intensa discussão se este
aumento seria o responsável pela formação de uma “Nova Classe Média” ou de uma
“Nova Classe Trabalhadora”. Nomenclaturas utilizadas para definirem a parte
intermediária da pirâmide social brasileira são bastante divergentes e não é possível
encontrar um consenso. Ao contrário, são bastante questionáveis e alguns dos
autores citados neste trabalho fazem essa ressalva.
Portanto, enquanto que para alguns autores o aumento na parte intermediária
da pirâmide social brasileira demonstra um aumento da Classe Média, ou a
formação de uma “Nova Classe Média”, para outros, o que ocorreu foi
fundamentalmente a diminuição dos pobres brasileiros e o surgimento de uma “Nova
Classe Trabalhadora”, demonstrada pela diminuição na base da pirâmide.
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