ISSN 1678 - 2410 Ano 3 nº 1 - janeiro/fevereiro de 2004 Revista científica dos profissionais de enfermagem Assistência de enfermagem • O diagnóstico de enfermagem no cuidado de úlcera de pressão após AVC • A calorimetria e seus efeitos no banho no leito Epidemiologia • Conhecimento sobre papiloma vírus humano • Lavagem das mãos como cuidado essencial no ambiente hospitalar Fitoterapia Caracterização e conhecimento popular de plantas medicinais Pediatria Sistematização da assistência de enfermagem pediátrica a tlântica e d i t o r a www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1678 - 2410 Ano 3 nº 2 - março/abril de 2004 Revista científica dos profissionais de enfermagem Assistência de enfermagem • Ergonomia na prevenção das dores osteomusculares Cuidados • Técnica do shampoo em pacientes acamados Epidemiologia • Avaliação diagnóstica do processo da lavagem das mãos • Hipertensão arterial e fatores de risco Educação • Pensar o cuidado através do jogo dramático • Reflexão sobre a prática pedagógica • Estratégias para o desenvolvimento de de competências específicas www.atlanticaeditora.com.br a tlântica e d i t o r a ISSN 1678 - 2410 Ano 3 nº 3 - maio/junho de 2004 Revista científica dos profissionais de enfermagem Assistência de enfermagem Educação Epidemiologia Hospital • Orientações e cuidados de enfermagem • O ser humano em coma e a comunicação verbal • Proposta de instrumento de coleta de dados em consulta de enfermagem • Atualização em tuberculose • Ocorrência de tinea pedis em um grupo de idosos • Estratégia de ensino para graduação em enfermagem • O cuidado de enfermagem e as ciências que nele incidem A memória da assistência aos portadores de HIV positivo www.atlanticaeditora.com.br a tlântica e d i t o r a ISSN 1678 - 2410 Ano 3 nº 4 - julho/agosto de 2004 Periódico científico dos profissionais de enfermagem Assistência de enfermagem História Epidemiologia Educação • Conceitos para o cuidado de pacientes terminais • Perspectivas do Home Care • Cuidados paliativos em oncologia Conhecimento do Papiloma vírus humano entre universitários • Aleitamento materno no Brasil: os anúncios do Jornal do Comercio • Como foi implantado o Teste do Pezinho no Brasil Exame nacional de cursos e ideologia estudantil www.atlanticaeditora.com.br a tlântica e d i t o r a ISSN 1678 - 2410 Ano 3 nº 5 - setembro/outubro de 2004 Periódico científico dos profissionais de enfermagem Assistência de enfermagem Educação Epidemiologia Pediatria • Cuidados no período pós-operatório de cirurgia cardíaca • Diagnósticos de enfermagem em portadores de HIV Abandono no tratamento da tuberculose • Prevenção de traumas automobilísticos • Aspectos jurídicos da responsabilidade civil • Protocolo para prevenção de úlcera por pressão em UTI Aleitamento materno e vínculo mãe-filho www.atlanticaeditora.com.br a tlântica e d i t o r a ISSN 1678 - 2410 Ano 3 nº 6 - novembro/dezembro de 2004 Periódico científico dos profissionais de enfermagem Assistência de enfermagem Educação Epidemiologia Psicologia • Vítimas de trauma em uma UTI • Tecnologia de enfermagem em cliente laringectomizado • Oxigenioterapia hiperbárica Conhecimento dos homens sobre exame de próstata • A enfermagem na educação infantil • Educação e meio ambiente no trabalho • Opção e perspectivas profissionais Comunicação: a base do cuidado no puerpério www.atlanticaeditora.com.br a tlântica e d i t o r a Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Enfermagem Brasil Índice Volume 3 número 1 - Janeiro / Fevereiro de 2004 EDITORIAL Homenagem as enfermeiras veteranas de guerra, Os Editores ............................................................... 03 ARTIGOS ORIGINAIS Conhecimento sobre papiloma vírus humano entre universitários da área de saúde, Evellyn Fiorezi, Danielle Silva Augusto, Solange Silvestre, Aspásia Basile G. Souza ................................... 04 Lavagem das mãos como um cuidado essencial no ambiente hospitalar: de Florence Nightingale e Ignaz Semmelweis ao milênio atual (1847-2003), Lúcia Catarina Gonçalves da Costa e Silva Canela, Maria José Coelho ........................................................................................................... 11 Resgatando e inovando visões de uma teórica de enfermagem: a calorimetria e seus efeitos no banho no leito, Dalmo Valério Machado de Lima, Maria Aparecida de Luca Nascimento ................. 17 Caracterização e conhecimento popular de plantas medicinais em um município da Serra da Mantiqueira MG, Telma Geovanini ............................................................................................................ 24 REVISÕES Sistematização da assistência de enfermagem pediátrica: reflexão teórica e implementativa, Carla Regina Bianchi Codo, Irani Aparecida Dalla Costa Paes .......................................................................... 29 Análise crítica da literatura sobre a aspiração da traqueostomia em laringectomizados, Elizabeth Barichello, Márcia Maria Fontão Zago ................................................................................................. 35 ESTUDO DE CASO A importância do diagnóstico de enfermagem no cuidado de um paciente com úlcera de pressão pós AVC acompanhado pelo Programa de Saúde da Família, Maria Paula Soares da Silva .............. 42 NOTÍCIAS E RESUMOS. ................................................................................................................................ 47 NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ...................................................................................................................... 50 CALENDÁRIO DE EVENTOS....................................................................................................................... 52 pag 01 indice+editorial.pmd 1 05/03/04, 15:28 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) CONSELHO CIENTÍFICO Prof . Dr . Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP São Paulo) a a Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) a a GRUPO DE ASSESSORES Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS Mato Grosso do Sul) a Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretaria Municipal de Saúde de Cachoerinha Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe) a Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) a Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 e-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 - São Paulo - SP Tel: (11) 3362-2097 Assinaturas - 1ano: R$ 144,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Representante de Assinatura: A.Shalon (11) 3361-5595 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Editor assistente Bárbara de Assis Jorge Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Editoração e arte Andréa Vichi Aline Figueiredo Colaboradora de redação Guillermina Arias Atendimento ao assinante Ingrid Haig Redação e administração Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço: Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro René C. Delpy Jr [email protected] (21) 2221-4164 Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil , Nutrição Brasil, Brasilis e Práxis. Foto da capa: Major Enfermeira reformada do Exército, Lenalda Campos Duboc, transporte aéreo de feridos brasileiros da Itália para o Brasil. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. pag 01 indice+editorial.pmd 2 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Editorial Homenagem as enfermeiras veteranas de guerra Os Editores Pensando sobre novas perspectivas ao apresentarmos a Enfermagem Brasil neste novo volume, tivemos a idéia de trazer na capa e não somente no conteúdo, algum elemento que traduzisse o esforço brasileiro na valorização da vida, da profissão e do país. Neste ano, iremos homenagear todas as enfermeiras que estiveram na II Guerra Mundial. Pesquisamos sobre o tema, e encontramos uma grande história de luta e conquista que pode ser observada através de fotografias, relatos históricos e de alguns colaboradores em preservar a história nacional. Assim, agradecemos a Major Enfermeira reformada do Exército Elza Cansanção Medeiros e os seus colaboradores que organizam o arquivo fotográfico da FEB, a Major Enfer meira reformada do Exército Lenalda Campos Duboc que cedeu gentilmente a fotografia de nosso primeiro número, ao Cel R/1 Mauro Cleber Rodrigues Martins que abriu as portas da Biblioteca do Exército e a M. Sc. Margarida Maria Rocha Bernardes que nos cedeu seu imenso arquivo sobre essas grandes mulheres, profis-sionais e veteranas de guerra. Neste número, apresentamos artigos originais como conhecimento sobre papiloma vírus humano entre universitários da área de saúde e lavagem das mãos como um cuidado essencial no ambiente hospitalar. Um estudo de caso sobre a importância do diagnóstico de enfermagem no cuidado de um paciente com úlcera de pressão (escaras) após AVC e revisões como a sistematização da assistência de enfermagem pediátrica como uma reflexão teórica e implementativa, uma visão teórica sobre a calorimetria e seus efeitos no banho do leito, a análise crítica da literatura sobre a aspiração da traqueostomia em laringectomizados e sobre a caracterização e conhecimento popular de plantas medicinais. Dessa forma, nós da Enfermagem Brasil, esperamos, não somente valorizar o conhecimento científico, mas também o histórico e sóciocultural da Enfermagem. ! pag 01 indice+editorial.pmd 3 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Artigo original Conhecimento sobre papiloma vírus humano entre universitários da área de saúde Evellyn Fiorezi*, Danielle Silva Augusto*, Solange Silvestre*, Aspásia Basile G. Souza** **Graduandas do 2º ano de Enfermagem pela UNICID, ** Mestre, Coordenadora das disciplinas de Semiologia e Semiotécnica da UNICID e Saúde da criança e adolescente, Faculdade Santa Marcelina Resumo O presente estudo, de abordagem quantitativa e exploratória, foi realizado em uma universidade privada do município de São Paulo, com estudantes da área da saúde, objetivando identificar seu conhecimento sobre o Papiloma Vírus Humano. Participaram como amostra desta pesquisa, vinte e sete graduandos, que responderam a um formulário com questões abertas sobre o tema. Os resultados mais significativos apontaram para o conhecimento sobre conceito, transmissão e população acometida, pela maioria dos entrevistados e o desconhecimento sobre as diversas maneiras de contágio e forma assintomática da doença. Palavras-chave: enfermagem, doenças sexualmente transmissíveis, papiloma vírus humano. Abstract Knowledge about human papilloma virus among university students of health area The present study, a quantitative and exploratory approach, was carried out in a private university of São Paulo, with students of health area in order to identify their knowledge about the Human Papilloma Virus. Twenty seven graduating students took part in the research as sample, and answered a form containing questions about the theme. The most significant results pointed out that interviewees have knowledge about concept, transmission ways and infected population but most of them are unaware about the ways of infection and asymptomatic forms of the disease. Key-words: nursing, sexually transmitted diseases, human papilloma virus. Artigo recebido em 9 de dezembro de 2003; aceito em 5 de janeiro de 2004. Endereço para correspondência: Aspásia Basile G. Souza, Rua São João das Duas Barras, 95 Itaquera 08270-080 São Paulo SP, E-mail: [email protected] " artigo 01 Evellyn.pmd 4 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Resumen Conocimiento sobre virus papiloma humano entre estudiantes universitarios del área de la salud El presente estudio, de abordaje cuantitativo y exploratorio, fue realizado en una universidad privada del municipio de São Paulo, con estudiantes del área de la salud para identificar su conocimiento sobre el virus papiloma humano. Participaron de la pesquisa veinte y siete graduandos que contestaron a un formulario con cuestiones abiertas sobre el tema. Los resultados más significativos demostraron que la mayoría de los entrevistados tenían conocimiento sobre concepto, transmisión y población acometida y desconocimiento sobre las diversas maneras de contagio y forma asintomática de la enfermedad. Palabras-clave: enfermería, enfermedades sexualmente transmisibles, virus papiloma humano. Introdução Durante o século XX, descobertas científicas modificaram a percepção sobre a importância das doenças sexualmente transmissíveis (DST) pela população. Os avanços na compreensão da biologia e da epidemiologia das DST, associados a diagnósticos mais precisos e a terapêutica eficaz, tiveram como conseqüência certa euforia, provocada pela expectativa de controle e erradicação destas doenças [1]. Isto, associado a valores morais, costumes sexuais e meios confiáveis de anticoncepção, levou a população sexualmente ativa a negligenciar cuidados em relação ao sexo, como no caso do uso de preservativos, que, embora, tenham eficácia comprovada na profilaxia das DST, só tiveram sua recomendação enfatizada, após o elevado número de indivíduos contaminados com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - Aids [2]. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) calculam que dez milhões de brasileiros sejam portadores de DST. É inegável a crescente incidência desses agravos em nosso meio, o que torna, cada vez mais urgente o conhecimento adequado dessa realidade para seu controle [3]. Atualmente, a DST que apresenta grande velocidade de disseminação é a infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV). Há séculos, a única manifestação reconhecível da infecção das mucosas anal e genital, por este vírus, era a verruga genital e/ ou condiloma acuminado - tumores genitais benignos - sem grande importância epidemiológica [4]. Estas lesões, em forma de verrugas ou papilomas da pele, são conhecidas desde a Grécia Antiga, chamando a atenção por serem observadas em várias regiões do corpo, como as áreas genitais, palmar e plantar além de serem associadas a doenças venéreas, já que eram comuns em indivíduos que apresentavam comportamentos homossexuais, incestuosos ou promíscuos [4,5]. Por muitos anos, as infecções causadas pelo HPV não foram consideradas uma enfermidade independente, mas uma manifestação clínica da sífilis. Esta crença, errônea, foi abandonada no final do século XVIII, enquanto que outra era desenvolvida em relação à gonorréia, só desprezada após o isolamento do gonococo por Neisser em 1879, evidenciando que, mais da metade de pacientes com verrugas genitais, não apresentavam sinais clínicos de gonorréia [6]. No século XX, acreditava-se que tais lesões eram causadas por irritação ao epitélio por corrimentos, esmegma decomposto e higiene genital precária, incluindo também fatores como a sexualidade precoce, promiscuidade e freqüência sexual, número de parceiros, relações extraconjugais, uso de contraceptivos hormonais e de barreira [7]. A etiologia da infecção por HPV (verrugas comuns) foi demonstrada em 1907 por Ciuffo e em 1954 relatada como sendo apenas sexualmente transmitida, baseada na evidência de que mulheres desenvolveram as verrugas genitais, em um período de quatro a seis semanas, após o retorno de soldados americanos, egressos da Guerra da Coréia e Japão, onde mantiveram relacionamentos sexuais com parceiras diferentes [8]. O papiloma vírus são microorganismos pequenos, com duplo filamento de DNA, não envelopados, ou seja, não possuem o envoltório que # artigo 01 Evellyn.pmd 5 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) lhe confere resistência fora das células, apresentando período de incubação variando de duas semanas a oito meses, podendo ficar latentes no aparelho genital durante anos. Este vírus tem, como principais características, o potencial de induzir a formação de neoplasias e amplo espectro de hospedeiros [9,10], sendo capazes de infectar uma infinidade de espécies, desde os invertebrados até os vertebrados superiores (homem), sendo, porém, altamente espéciesespecíficas. O HPV não infecta animais de laboratório, sendo parasita intracelular obrigatório, ou seja, apenas se multiplica em células humanas, tornando seu estudo bastante dificultado [11]. Admite-se que a maioria das infecções por HPV ocorra por via sexual e que as infecções não tratadas favoreçam a perpetuação da doença nos parceiros. A transmissão do agente depende de características do portador como: tempo de infecção, número de microorganismos inoculados ou já existentes no organismo (carga viral), suscetibilidade do parceiro (a porcentagem de contágio da mulher para o homem é de 60% a 85%). Embora seja expressiva a exposição por via sexual, as infecções também podem ser adquiridas por autoinoculação de verrugas comuns da pele, durante o parto (no contato do recém nascido com o trato genital da mãe infectada), por toque em áreas não sexuais, através de luvas cirúrgicas, pontas de cautério, roupas íntimas ou sabonetes contendo DNA/HPV [4]. A incidência atual de condilomas, principalmente em mulheres, vem aumentando consideravelmente. Nos últimos anos observou-se verdadeira epidemia, com a descoberta das lesões subclínicas do HPV, bem como sua associação com a revolução sexual. Estudos ingleses constatam que, o número de casos de verrugas genitais por 100.000 habitantes, aumentou de 45,13% em 1979, para 56,34% em 1980 [12]. A diferenciação de HPV é feita através da comparação da seqüência de nucleotídeos do seu DNA. Desta forma, um novo tipo de HPV é reconhecido quando esta seqüência apresenta diferenças maiores que 10%, em relação aos HPVs já existentes. Em 1994, Villers ressaltava que cerca de 80 tipos diferentes do vírus do papiloma humano já haviam sido identificados [5], sendo divididos de acordo com o seu potencial neoplásico em subgrupos de alto, médio e baixo risco. O condiloma acuminado caracteriza-se por pápulas, nódulos e vegetações que ocorrem na região anogenital (pênis, vulva, vagina, colo uterino, períneo e região anal) podendo progredir para massas pedunculares, semelhantes a couve-flor. As formas da infecção pelo HPV são: clínica que é a forma evidenciada ao exame físico, representando apenas 2 a 3% dos casos, sub-clínica: diagnosticado através de colposcopia ou microscopia (citopatológico ou histológico) e representa 60% do HPV anogenital externo e 95% do HPV cervical e latente: apenas diagnosticado através das técnicas de hibridização do DNA viral em indivíduos com clínica e citohistopatologia normal, sendo esta forma não transmissível [7,13]. Nenhum tratamento erradica totalmente o HPV. Os objetivos do tratamento são a remoção da lesão, melhora clínica e prevenção da transmissão, pois não existe tratamento ideal [13]. Provavelmente os únicos métodos profiláticos da infecção causada por HPV sejam a abstinência sexual e a monogamia mútua, atitudes muito pessoais, sobre as quais seria desaconselhável, imprudente e autoritária uma intervenção. Todavia, algumas decisões deveriam ser tomadas para diminuir o risco de infecção como limitar o número de parceiros, evitar o coito durante o tratamento e o seguimento da doença e uso persistentemente do preservativo [14]. É preocupante o fato do HPV ser uma DST crescente na população jovem, despertando-nos assim o interesse em querer conhecer como esta questão era percebida no ambiente universitário, em que a possibilidade e acesso à informação deveriam conduzir o comportamento daquela população. Objetivo Este trabalho teve por objetivo: Identificar o nível de conhecimento sobre o HPV entre os universitários da área de saúde. Material e métodos O presente estudo utilizou os métodos quantitativo, descritivo e exploratório indicado para os estudos onde se pretende quantificar e descrever os achados, sem manipulá-los [15]. Optamos por este método por ser o mais adequado para alcançarmos nosso objetivo, já que investigaremos o nível de conhecimento sobre o assunto. Local de estudo Esta pesquisa foi realizada em uma universidade privada do Município de São Paulo, escolhida pela facilidade em acessar à população, já que concentra diversos cursos na área de ciências da saúde. $ artigo 01 Evellyn.pmd 6 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) População/Amostra Para participar deste estudo, escolhemos formandos dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia, Educação Física, com cerca de 220 alunos matriculados. Optamos por incluir na amostra deste estudo, universitários desta área, pois acreditamos que aqueles estudantes teriam, a priori, conhecimentos sobre o tema em estudo, possibilitando assim, a averiguação do nível de conhecimento. formandos da área de saúde, torna-se preocupante o fato de quase metade desconhecer ao vírus, já que inferimos ser maior o acesso à informação neste grupo. O HPV vem sendo diagnosticado, com maior freqüência na população, acometendo uma em cada quatro mulheres [13], sendo estimado que quatro mil brasileiros virão a óbito, pela doença. Gráfico 1 - Distribuição da porcentagem de estudantes da área da saúde, segundo seu conhecimento sobre o HPV. São Paulo, 2001. Coleta de dados A coleta de dados deu-se após a elaboração do projeto de pesquisa, encaminhado à direção da instituição para aprovação e autorização. Elaboramos um formulário com quatro questões abertas sobre o tema e termo de consentimento informado para anuência dos participantes. Foi feito pré-teste com alunos de Fisioterapia, num total de quatro. O instrumento e o termo não foram re-elaborados. O objetivo do estudo foi esclarecido em sala de aula para os quatro cursos, sendo entregues 100 formulários para os alunos que manifestaram interesse em participar. A coleta deu-se no mês de setembro de 2001. Estabelecemos que a devolução do instrumento deveria ser no mesmo dia. Foram respondidos e devolvidos 50 formulários. A incidência vem aumentando significativamente no mundo ocidental. A infecção condilomatosa do colo uterino representa, atualmente, a causa mais freqüente de alterações citopatológicas encontradas no exame preventivo [12]. O desconhecimento desta forma de DST, por aqueles estudantes, poderia interferir na prevenção daquela infecção. Tabela I - Distribuição das respostas dos univer-sitários, segundo o conceito sobre o HPV. São Paulo, 2001. Tratamento dos dados Conceitos relatados Os dados obtidos foram apresentados sob a forma de gráficos e tabelas, com números absolutos e relativos. Vírus sexualmente transmissível podendo causar câncer de colo de útero. Papiloma Vírus Humano Uma DST por vírus que causa alteração celular, ficando incubado por anos. Não sabem definir ,não tem certeza Vírus que provoca lesões graves no colo uterino podendo levar ao câncer cervical uterino. Resultados e discussão Após análise dos dados coletados, obtivemos os resultados que apresentamos a seguir. Dos cinqüenta formulários respondidos, vinte e sete referiram que tinham conhecimento sobre o Papiloma Vírus Humano (HPV) tendo portanto, condições de responder às demais questões, tornando-se a amostra de nossa pesquisa. Os vinte e três sujeitos excluídos deste estudo, por desconhecerem o vírus HPV também estão demonstrados no gráfico 1. Observamos que 54% (27) dos indivíduos que responderam a questão: Você tem conhecimento sobre o HPV (papiloma vírus humano), referiram conhecer o tema, enquanto que 46% (23) afirmaram desconhecê-lo. Consideramos este dado alarmante, pois nesta população em particular, composta por jovens Um vírus que ainda está sendo estudado que pode causar câncer de útero. Causador de câncer ginecológico. Vírus que pode ser confundido com herpes genital e se não tratar torna-se precursor do câncer uterino. TOTAL Freq. (%) 7 26 6 22 27 27 14 14 14 14 27 100 Com base nos dados da tabela I, podemos observar que a maioria dos indivíduos respondeu a questão sobre o conceito de HPV. Para sete participantes (26%) desta pesquisa, o HPV é um vírus transmitido por via sexual, podendo causar câncer uterino, enquanto que para seis indivíduos (22%) HPV é uma DST; um mesmo número de pessoas % artigo 01 Evellyn.pmd 7 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) conceituou apenas a sigla como Papiloma Vírus Humano, dois (7%) referiram tratar-se de uma DST que causa alterações celulares permanecendo incubado por anos, e outros dois (7%) não souberam defini-lo. Outras respostas como: lesões graves causados no colo uterino podendo ocasionar câncer, vírus que ainda está em estudo, doença que pode ser confundido com herpes genital e transformar-se em câncer uterino, obtiveram uma resposta (4%). O Papiloma Vírus Humano, também conhecido como condiloma acuminado ou mais popularmente como crista de galo, cavalo de crista ou figueira, é uma doença infecciosa, de transmissão mais freqüente pelo ato sexual. Pode ser disseminado por qualquer tipo de contato sexual inclusive sem penetração [16]. Os tipos classificados como 16 e 18 de HPVs, em particular, estão correlacionados com o câncer genital. O câncer de colo uterino, em 95% dos casos, é causado por este vírus [17]. Percebemos o reconhecimento destes fatores por parte dos entrevistados, que em sua maioria conhece o conceito do HPV. Gráfico 2 - Distribuição das respostas, segundo população acometida pelo HPV, na opinião de formandos na área da saúde. São Paulo, 2001. Observa-se no gráfico 2, que dezenove (70%) entrevistados reconhecem a contaminação do Papiloma Vírus Humano em ambos os sexos, sete (26%) apenas em mulheres e um (4%) acredita que o HPV atinge somente aos homens. No Brasil, não há dados disponíveis ou suficientemente fidedignos sobre a população mais atingida. Por outro lado, dados estatísticos americanos e ingleses mostram claramente que as verrugas genitais são mais freqüentes entre os indivíduos de raça branca [12]. Devemos ressaltar que a maioria da população destes países é constituída por brancos e que os países de maioria negra ou mulata, podem ter resultados diferentes, todavia a prevalência da doença independentemente da raça, atinge a ambos os sexos, destaque feito pelos entrevistados, embora 30% destes acreditem que a infecção acometa a um dos sexos. Verificamos no gráfico 3, os resultados obtidos a partir do modo de transmissão do HPV na opinião dos universitários. Para vinte e um (78%) dos entrevistados esta se dá pelo ato sexual, cinco (18%) dos indivíduos especificaram que o contágio dá-se através de relações sexuais sem o uso de preservativos e um (4%) pelo ato sexual e ambientes úmidos. A transmissão do vírus HPV ocorre normalmente como resultado de contato direto com a pele ou membranas mucosas infectadas, de um parceiro a outro, existindo ou não verrugas visíveis. O contágio também possivelmente ocorra através de objetos contaminados e ambientes úmidos [5,10]. Gráfico 3 - Distribuição das respostas dos entrevistados, segundo formas de transmissão do HPV. São Paulo, 2001. A transmissão por via sexual foi relatada por todos os integrantes da amostra em estudo, destacando-se o fato que 18% ressaltam a transmissão pelo não uso de preservativos e apenas um acadêmico identificou a transmissão do HPV por via sexual ou ambientes úmidos. É importante lembrar que, mesmo fazendo o uso de preservativos de barreira, o vírus pode propagar-se por outros meios, o que é preocupante, pois 78% (21) dos universitários citaram apenas a transmissão sexual, quando sabemos que até mesmo um simples exame de rotina pode propagar a contaminação pelo vírus devido material não esterilizado e contaminado pelo DNA/HPV. Tabela II - Freqüência das respostas dos estudantes, segundo os sinais e sintomas da infecção por HPV. São Paulo, 2001. Sinais e sintomas Corrimento vaginal Prurido Lesões no colo do útero Lesões cutâneas Assintomática no homem Verrugas/feridas na vulva Não sabem Dispaneuria Gânglios Ferida no ânus/períneo Assintomática na mulher Dor ao urinar Lesões na boca TOTAL & artigo 01 Evellyn.pmd 8 03/03/04, 14:52 Freq. 9 8 8 6 5 5 4 4 2 2 2 1 1 57 (%) 16 14 14 11 9 9 8 8 3 3 3 1 1 100 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Devido à característica da pergunta, obtivemos mais de uma resposta por entrevistado, modificando, assim, o N da amostra. De acordo com a tabela II, a maioria dos entrevistados identificou os possíveis sinais e sintomas que acompanham a infecção, embora muitos casos não apresentem sinais clínicos. A infecção por HPV desenvolve-se de modo silencioso. Estudos do National Institute of Allergy and Infected Diseases (NIAD), nos Estados Unidos, demonstrou que cerca da metade das mulheres não apresentam nenhum sintoma e por isso não procuram tratamento, continuando a disseminar o vírus cuja forma visível são verrugas que aparecem nas regiões genitais de homens e mulheres [18]. Parte da amostra tem conhecimento que a doença, na maioria das vezes, é assintomática na mulher, onde obtivemos duas (3%) citações e, no homem com 5 (9%) referências. A grande maioria, porém, desconhece tal fato, essencial para prevenção e percepção precoce da doença, o que levaria à remoção das lesões, evitando sua disseminação. Sabe-se que os tipos mais suaves do vírus desenvolvem sinais e sintomas; aqueles que atuam de maneira silenciosa são os que podem conduzir a problemas mais sérios. No caso do câncer já avançado, podem se observar sangramentos e dor [16]. As primeiras lesões identificáveis são geralmente minúsculas pápulas ou áreas hipocrômicas. O diagnóstico quando não for clinicamente óbvio, pode ser confirmado por biópsia. As verrugas são essencialmente assintomáticas, mas a aparência, localização, tamanho e a presença de condições associadas podem provocar queixa ou suspeita [19]. Sangramentos nas verrugas podem ocorrer quando localizados na uretra. Infecção secundária pode provocar forte odor, irritação e desconforto local moderado. Em ambos os sexos, as verrugas são encontradas mais comumente em áreas sujeitas a traumas durante a atividade sexual [19]. É interessante notarmos que 8% (4) da amostra estudada, não souberam referir quaisquer sinais e/ou sintomas da doença. Conclusões Após análise dos dados coletados, em que quase a metade da população que concordou em participar do estudo foi excluída por desconhecimento sobre o HPV, pudemos concluir que a grande maioria dos entrevistados tem consciência de que a doença pode acometer tanto ao homem como a mulher, mas acreditam que o vírus seja transmitido apenas pelo ato sexual, desconsiderando, assim, outras formas de contágio. Desta maneira acreditam que a prevenção só seja realizada com o uso de preservativos, o que não é totalmente verídico. Para o enfermeiro, a orientação da população, como forma de prevenir a contaminação, deveria ser o foco de uma ação educativa onde se destacaria a importância do exame ginecológico de rotina e tratamento dos casos levantados, bem como divulgação sobre as formas assintomáticas da doença. Para os indivíduos afetados, o papel do enfermeiro visaria orientação sobre sua conduta durante e após o tratamento, fornecendo informações sobre as diversas formas de contágio e as possíveis conseqüências que a doença pode trazer. Ficou claro, neste estudo, que o fato de pertencer a um grupo privilegiado em informação e cuidados à saúde, não determinou conhecimento suficiente sobre o tema, de maneira a protegê-los da contaminação e disseminação do HPV. Referências 1. Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico de DST. Brasília: MS; 1998;(2):3. 2. Ministério da Saúde. Informe epidemiológico em saúde coletiva. Brasília: MS; 1998. 3. Ministério da Saúde. Revista brasileira de DST. Brasília: MS; 1996;1(1):12-14. 4. Lopes F. Prevalência de HIV, HPV e sífilis na penitenciária feminina na capital de São Paulo 97/98. [Dissertação]. São Paulo: UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina; 1999. 103p. 5. Porro AM. Detecção e tipagem do HPV em lesões cutâneas de verruga viral em pacientes infectadas pelo HIV. [Dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2000. 109p. 6. Almeida Filho GL, Fonseca CG. HPV relação com o câncer. DST J Bras Doenças Sex Transm 1990;1(2):7-8. 7. Piotto S. Tratado de Ginecologia. 2a ed. São Paulo: Artes Médicas; 1997. 8. Muller DH. HPV e o câncer uterino. [online] 2001 [citado 2001 Ago 10]. Disponível em: URL: http:// www. medianeira.com.br/hospsaocarlos/hpv.html> 9. Adimora A, Hamilton H, Sporly F. Doenças sexualmente transmissíveis. 2 ed. São Paulo: Andrei; 1998. 10. Oliveira LHS. Papiloma vírus humano. DST J Bras Doenças Sex Transm 1994;6(3):4. 11. Gomes VB, Silva A. A incidência de HPV em mulheres com câncer. Jornal Brasileiro de Ginecologia 1998;98(8):3-4. 12. Jacyntho C; Maldonado P. HPV- Infecção genital feminina e masculina. Rio de Janeiro: Revinter; 1994. ' artigo 01 Evellyn.pmd 9 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) 13. Silva EA. Um novo capítulo nas infecções vaginais. São Paulo: Revista HCPA 2000;20(2):17-23. 14. Almeida ME. Vírus HPV em sangue periférico de mulheres tratadas de câncer de mama e neoplasia intraepitelial cervical. [Dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2000. 80p. 15. Cervo AL, Bervian PA. Metodologia científica. 4 ed. São Paulo: Makron; 1996. 16. Villela SM, Costa JC, Borelli OC, Bueno LV. Educação para saúde e orientação sexual/ DST e Aids. Ribeirão Preto: Villimpress; 1995. 17. Costa E. Papiloma vírus humano. [online] 2001 [citado em 2001 Set 26]. Disponível em: URL: http://www. labpec. hpg. com. br > 18. Guimarães P. HPV. [citado em 2001 Set 26]. Disponível em: URL: http://www.cursosmedicos. com.br> 19. Wisdom A. Atlas colorido de doenças sexualmente transmissíveis. São Paulo: Artes Médicas; 1992. artigo 01 Evellyn.pmd 10 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Artigo original Lavagem das mãos como um cuidado essencial no ambiente hospitalar: de Florence Nightingale e Ignaz Semmelweis ao milênio atual (1847 - 2003) Lúcia Catarina Gonçalves da Costa e Silva Canela*, Maria José Coelho, D. Sc. ** *Mestranda da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro, ** Professora DEMC/Escola de e Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de JaneiroCID e Saúde da criança e adolescente, Faculdade Santa Marcelina Resumo O objetivo deste estudo é refletir quanto ao ato de lavar as mãos enquanto cuidado histórico, pelos profissionais de saúde no ambiente hospitalar. Os dados foram coletados através dos resultados de exames microbiológicos entre 30 profissionais de saúde de um hospital da rede pública estadual no Rio de Janeiro, divididos em três grupos: Grupo A profissionais de saúde que lavaram as mãos pré-campanha, grupo B profissionais de saúde que realizaram a lavagem das mãos durante a campanha, e grupo C - profissionais de saúde que realizaram a lavagem das mãos após a campanha. Os resultados mostraram que em 100% das culturas foram positivas no grupo A, 10% de culturas positivas no grupo B e 30% de culturas positivas no grupo C, acrescentando a estes dados o aumento do consumo de anti-séptico padronizado e de sabonete, se comparado com o período précampanha. A conclusão indica a necessidade de estimular os profissionais de saúde, através de implantar estratégia para campanhas educativas e hábitos inerentes ao cuidado do cliente hospitalizado que por vezes podem se apresentar adormecidos devido às atividades cotidianas e repetitivas. Palavras-chave: profissionais de saúde, lavagem das mãos, ambiente hospitalar. Artigo recebido em 17 de dezembro de 2003; aceito em 5 janeiro de 2004. Endereço para correspondência: Lúcia Catarina Gonçalves da Costa e Silva Canela, Rua Rubens Falcão 581, Itaipu 24350-635 Niterói RJ Tel.: (21) 2709-3867, E-mail: [email protected] artigo 02 Lucia.pmd 11 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Abstract Hands washing as a essential care at hospital environment: from Florence Nightingale and Ignaz Semmelweis to this millennium (1847-2003) The aim of this study is to reflect about the hands washing action as a historical care by the people who work in the hospital environment. Data were collected from results of microbiological exams among 30 health professionals that work in a public hospital in Rio de Janeiro, divided in three different groups: Group A health professionals who washed the hands precampaign; group B- health professionals who washed the hands during the campaign and group C- health professionals who washed the hands after the campaign. The results showed that in 100% of the culture was positive in group A, 10% of the culture was positive in group B and 30% of the culture was positive in group C adding to this data the increase in the use of patterned antiseptic and bars of soap in comparison with the pre-campaign period. The conclusion indicates a necessity of creating ways to stimulate health professionals through educational campaigns and inherent habits that refer to the care of hospitalized clients that sometimes can be asleep, because of the repeated activities. Key-words: health professionals, washing hands, hospital environment. Resumen El lavado de las manos como un cuidado esencial en el ambiente hospitalario: desde Florence Nightingale e Ignaz Semmelweis hasta el milenio actual (1849-2003) El objetivo de este estudio es reflexionar sobre los cuidados con relación al acto de lavar las manos por profesionales de la salud en el ambiente hospitalario. Los datos fueron recolectados a través de los resultados de exámenes microbiológicos entre 30 profesionales de la salud de un hospital de la red pública estadual en Rio de Janeiro, divididos en tres grupos: Grupo A profesionales de la salud que lavaran sus manos antes de la campaña; grupo B - profesionales de la salud que realizaron el lavado de sus manos durante la campaña y grupo C - profesionales de la salud que realizaron el lavado de sus manos después de la campaña. Los resultados mostraron que el 100% de las culturas fueron positivas en el grupo A; el 10% de culturas positivas en el grupo B, y el 30% de las culturas positivas en el grupo C, agregando a estos datos el aumento del consumo de anti-séptico estandarizado y de jabón, comparado con el periodo pre-campaña. La conclusión indica la necesidad de estimular los profesionales de la salud, a través de la implantación de estrategia para las campañas educativas y hábitos inherentes al cuidado del cliente hospitalizado que a veces puede presentarse adormecido debido a las actividades cotidianas y a las que se repiten. Palabras claves: profesionales de la salud, lavado de las manos, ambiente hospitalario. Introdução Os microrganismos encontrados na pele e nas mucosas humanas são classificados em flora residente, transitória e temporariamente residente e podem causar infecção hospitalar nos hospedeiros suscetíveis. A diminuição do contingente microbiana da pele e mucosa pode se processar em diferentes níveis dependendo dos processos empregados: limpeza e anti-sepsia. O procedimento de anti-sepsia constituise de medidas propostas para inibir o crescimento ou destruir os microrganismos existentes nas camadas superficiais (microbiota transitória) ou nas camadas profundas (microbiota residente) da pele ou mucosa, através da aplicação de um germicida classificado como anti-séptico. Os anti-sépticos são substâncias providas de ação letal ou inibitória da reprodução microbiana, de baixa causticidade e hipoalergênicas, destinadas a aplicações em pele e mucosas. O procedimento de limpeza usualmente é suficiente para remover a microbiota transitória humana, e a técnica recomendada é a lavagem simples com água, sabão ou detergentes sintéticos, sob fricção, para remover sujidade, células epiteliais mortas e resíduos do metabolismo que constituem o substrato para os microrganismos. Este procedimento, se adotado para as mãos pelos profissionais da saúde, confere um padrão de segurança para a maioria dos procedimentos que não requerem técnica asséptica. artigo 02 Lucia.pmd 12 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Diante disso, a lavagem de mãos deve ser um hábito cotidiano para os profissionais de saúde, todavia, a sua adesão e continuidade, ainda são um grande desafio para os profissionais do Controle de Infecção Hospitalar. Já em 1847, Ignaz Semmelweis, um médico húngaro, demonstrou a importância da lavagem das mãos como ato de profilaxia da infecção hospitalar, [1] quando adotando medidas de limpeza e antisepsia, após estudos e dados comparativos para minimizar o índice de casos de febre puerperal no século XIX, deduziu que a febre puerperal era causada por secreções de organismos vivos. Sendo assim, concluiu que era necessário limpar as mãos com água clorada, não somente após manipular cadáveres, mas também depois de exames físicos nos quais as mãos poderiam se contaminar com secreções. Frente a estes dados, ele afixou na porta da unidade o seguinte cartaz: A partir de hoje 15 de maio de 1847 todo estudante ou médico é obrigado, antes de entrar nas salas da clínica obstétrica, a lavar as mãos com uma solução de ácido clórico, na bacia colocada na entrada. Esta disposição vigorará para todos, sem exceção. Com essa conduta e princípio, a mortalidade que chegou aos 18,27% em abril daquele ano, caiu a partir de junho para uma média de 3,04% [2]. Neste mesmo contexto, Florence Nightingale, afirmava que a primeira condição em um hospital é não prejudicar o doente, e o resultado de seu trabalho sobre a queda da mortalidade dos doentes chegou a superar os de Semmelweis, pois não se atinha apenas às técnicas assépticas, e enfatizava as medidas higiênicas apesar de à época, não se conhecer com profundidade a potencialidade dos microrganismos. Suas ações visavam os seres humanos sadios ou doentes, incluindo cuidar, educar e pesquisar [2]. Pereira et al. [3], destaca num estudo realizado sobre aos princípios que regem a prevenção e controle de infecção e planejamento da assistência de enfermagem e dinâmica do trabalho em Unidade de Terapia Intensiva, que a lavagem das mãos não é realizada na freqüência e técnica recomendadas e continua merecendo um profundo estudo com vistas ao estabelecimento de estratégias que convençam a equipe de saúde sobre sua importância e sua conseqüente adoção na prática Em pesquisa realizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, pelo Serviço de Controle de Infecção em 1990, para avaliar a freqüência e qualidade da lavagem das mãos por profissionais médicos e de enfer magem da unidade de Neonatologia, demonstrou que o número de vezes que os profissionais de enfermagem tocavam nos recém-nascidos era 6 vezes maior do que a equipe médica. Dentre os profissionais observados, a equipe médica lavava mais as mãos do que a equipe de enfermagem. A autora atribui a este resultado, talvez pela menor freqüência da necessidade do ato pelos enfer meiros, pois em Neonatologia, a totalidade dos pacientes tem dependência total e a enfermagem é quem realiza todos os cuidados. A flora transitória é oriunda do meio exterior ou da microbiota de outros tecidos do corpo humano. Esta apenas adsorvida, contaminando-a, sendo facilmente removida com água e sabão ou simplesmente morrendo após cerca de uma hora por não encontrar ambiente favorável à sua proliferação. As mãos da equipe e os artigos hospitalares assumem grande destaque na veiculação de infecção nosocomial. Unhas compridas, pêlos e anéis facilitam o acúmulo de sujidade, favorecendo esta transmissão. Atualmente, podese dizer que a lavagem de mãos é uma conduta de baixo custo e de grande valor para a nossa realidade constituindo uma medida simples e importante na prevenção da infecção em geral e em especial a hospitalar, devendo ser uma prática contínua para os profissionais de saúde. Contudo, a sua adesão como hábito cotidiano significa ainda um desafio para o Controle de Infecção Hospitalar. Como enfermeiras, e membros integrantes da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de um hospital especializado da rede pública estadual no Estado do Rio de Janeiro, detectamos através de observação direta, a falta de aderência na rotina de higiene das mãos, pela equipe multiprofissional, em especial de enfermagem, bem como a inutilização da técnica padronizada pela Comissão Nacional de Controle de Infecção Hospitalar que requer a seguinte rotina: abrir a torneira, molhar as mãos sem encostar-se à pia, colocar em torno de 3 a 5 ml de sabão líquido nas mãos e ensaboá-las durante um período de mais ou menos 10 a 25 segundos, friccionando-as em todas as suas faces, nos espaços interdigitais, articulações, unhas, nas extremidades dos dedos e punhos, seguido de enxágüe das mãos, em água corrente, retirando totalmente a espuma e os resíduos de sabão, enxugando-as a seguir com papeltoalha descartável, e com o mesmo, fechar a torneira, desprezando-o no lixo. Com a finalidade de incentivar o hábito adormecido na prática da lavagem de mãos, e despertar o interesse da equipe de enfermagem entre os profissionais de saúde na adesão e emprego da técnica padronizada como ! artigo 02 Lucia.pmd 13 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) descrita anteriormente, idealizamos uma campanha pré e pós-lavagem de mãos sendo acompanhada de frases de efeito, palestras, cartazes e realização de exames de cultura das mãos dos profissionais. Os participantes foram informados sobre o objetivos e a importância da investigação e lhes foi garantida a participação voluntária e o sigilo das informações conforme preconiza a Resolução 196/ 96 CNS. Material e métodos Coleta e análise dos dados Trata-se de um estudo descritivo, que têm como objetivo informar sobre a distribuição de um evento na população, em termos quantitativos [3]. A investigação abrangeu uma amostra de 30 profissionais de saúde incluindo membros da equipe de enfermagem, com enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, médicos, fisioterapeutas dos setores de internação de um hospital especializado da rede pública estadual no Rio de Janeiro, os quais realizamos a cultura através do swab estéril das mãos, no momento em que se dirigiam para a realização dos procedimentos ao cliente e após terem executado a lavagem de mãos ou não. A cultura com swab incluiu as seguintes regiões corporais: a área palmar, tendo-se cuidado de se amostrar a mão direita dos destros e a esquerda dos canhotos, o espaço interdigital, região ungueal, e punhos que se dividiram em três grupos a seguir: Grupo A - profissionais que lavaram as mãos pré - campanha; Grupo B profissionais que lavaram as mãos durante a campanha; Grupo C - profissionais que lavaram as mãos após a campanha. Para avaliar a adesão à campanha e coletar dados fidedignos ao rig or científico, foram comparados o consumo de sabão e anti-séptico pré e pós-campanha de lavagem das mãos. A descrição da campanha pode ser visualizada como em uma estrada foram colocados cartazes com versos atentando para a lavagem das mãos, como por exemplo: Lave as mãos, fique esperto, o risco de infecção está por perto, Infecção não é brinquedo não, por isso lave as suas mãos entre outras frases distribuídas pelas enfermarias entre cada leito, nos postos de enfermagem e próximos às pias. Além das frases, próximas as pias houve a sinalização como placas semelhantes à de sinalização de trânsito e semáforos tal como: pare, pia a 5 metros, lave as mãos. Ocorreram palestras e cartazes com informações sobre a lavagem de mãos, forma correta e materiais adequados, enfocando a importância desse ato. Os dados foram analisados através de cultura microbiana e freqüência simples e percentual. Resultados Da presente pesquisa foram definidas a priori as categorias de análise microbiológica em: A - amostras com lavagem das mãos pré-campanha, B - amostras com lavagem das mãos durante a campanha e C - amostras com lavagem das mãos após a campanha. Diante do processo realizado, obtivemos os seguintes resultados: Tabela I Prevalência de microrganismos Grupo A: 10 amostras Grupo B - 10 amostras Grupo C - 10 amostras Cultura negativa: 0% Cultura negativa: 90% Cultura negativa: 70% Cultura positiva: 100% Cultura positiva: 10% Cultura positiva: 30% Prevalência microbiológica: Prevalência microbiológica: Prevalência microbiológica: Enterococcus faecalis - Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus sp, 10% 10% (região ungueal) 10% (palma da mão). (região interdigital). Staphylococcus sp - 60% (palma da mão) Staphylococcus epidermidis -10% Streptococcus sagüis - 10% (interdigitais) (palma da mão) Escherichia coli - 10% (palma da mão) Enterococcus faecalis -10% Cândida albicans, 10% (região ungueal) (região ungueal) " artigo 02 Lucia.pmd 14 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) A cultura negativa para as amostras foi de zero, 70 e 90 por cento, demonstrando que ocorreu um acréscimo de culturas negativas conforme se intensificavam as abordagens sobre o assunto e fixação do mesmo. E a positiva teve os intervalos de 100, 10 e 30 por cento, indicando que ocorreu um decréscimo de microrganismos encontrados nas culturas durante e após o período da campanha, inferindo uma maior adesão ao hábito de lavagem de mãos. A investigação realizada no grupo A, apresentou 100% das culturas positivas, grupo que lavaram as mãos pré-campanha. Este resultado está vinculado realização da lavagem das mãos sem a técnica padronizada, e a não observância tanto das indicações das lavagens das mãos quanto da freqüência exigida deste ato para o ambiente hospitalar. Vale ressaltar a presença de microrganismos da microbiota gastrointestinal como o Enterococcus faecalis e da microbiota do trato geniturinário como Cândida albicans e E. coli . O Enterococos faecalis habita o trato hepatobiliar, geniturinário, gastrointestinal e coloniza eventualmente a pele na região do períneo. Alguns desses microrganismos estão colonizando a região ungueal, região em que na lavagem simples das mãos, se o profissional não estiver com as unhas aparadas pode facilitar o acúmulo de sujidade e por conseqüência, a colonização destes microrganismos. Candida albicans coloniza o trato intestinal em 15% a 30% das pessoas. Esta colonização é o principal fator predisponente para a candidíase sistêmica em pacientes oncológicos, imunossuprimidos e recém-nascidos de baixo peso. Quanto maior esta colonização, maior o riso de o paciente evoluir para doença sistêmica [2]. A presença de 10% de cultura positiva no grupo B, profissionais que procederam à lavagem das mãos durante a campanha, está relacionado com a prevalência microbiológica de microrganismos da microbiota da pele. Os mais freqüentes germes da pele são o estafilococos coagulase-negativos representados principalmente pelo S. epidermidis, mas podendo também encontrados S. hominis, S. haemolyticus, S. capitis, entre outros. Estes microrganismos apresentam baixa virulência, mas colonizam com facilidade próteses e cateteres e eventualmente podem causar endocardite infecciosa. Aproximadamente 20% das pessoas são portadoras cutâneas de S. aureus, mas este número pode ser superior nos profissionais de saúde. Estes agentes podem causar patologias locais como impetigo, foliculite e furunculose [2]. Em relação aos 90% de culturas negativas pode ser atribuído ao momento abordagem da lavagem das mãos nos setores com informações através de palestras e cartazes somando-se as frases de efeito nos setores de atuação para fixação do assunto e concomitante adesão à prática. No que se refere ao grupo C, profissionais que lavaram as mãos pós-campanha observa-se 70% de cultura negativa, ocorrendo um aumento na aderência do ato de lavar as mãos, se comparado ao índice do grupo A, através dos 30% de cultura positiva vejo que a informação quanto à técnica, freqüência e indicações, a retirada de adereços no local de trabalho deve ser contínua objetivando a aderência da prática correta pelos profissionais. Conclusões A total prevalência de microrganismos nas mãos do grupo A evidenciou a importância da prática da lavagem das mãos no processo de transmissão de microrganismos na cadeia epidemiológica. Uma análise dos dados nos leva a considerar que a maioria dos microrganismos após a lavagem das mãos simples permanece na região ungueal e espaço interdigital na região ungueal e espaço interdigital. Essas regiões são alcançadas pelo processo de lavagem das mãos na técnica padronizada, ou seja, diminuindo a prevalência de microorganismos nestas regiões. As palestras e cartazes, com frases de efeito, demonstraram eficiência quando observamos a baixa ocorrência de culturas negativas no grupo B que representa o âmago da campanha, comprovando a adesão da prática a partir da fixação do procedimento incorporado ao processo de trabalho, com o apoio de campanhas educativas. A diminuição substancial das culturas negativas após a campanha e sem os cartazes nos resultados do grupo C, comparando ao grupo A (pré-campanha), onde não se obteve culturas negativas, nos reporta a refletir sobre a necessidade de incentivo a um hábito muitas vezes adormecido entre os profissionais da área da saúde. A literatura [1,2] tem apontado a necessidade de lavagem das mãos sempre que as mesmas estiverem visivelmente sujas, antes do contato com os clientes, particularmente com aqueles imunocomprometidos, antes e após tocar em feridas, após contaminarem-se com quaisquer secreções biológicas, de ter contato com fontes externas de contaminação, como lixo e roupas sujas, depois de cuidados com o cliente infectado ou colonizado com microrganismos epidemiologicamente relevantes, entre os contatos de um cliente para outro, principalmente em unidades de alto risco e após a remoção de luvas. O ato de lavagem das mãos, exercido pelos profissionais de saúde da instituição, após a campanha, passou a ser encarado como um meio de reduzir a # artigo 02 Lucia.pmd 15 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) transmissão de microrganismos pelas mãos, considerando a observação do aumento da freqüência do ato referido, antes e após o contato direto com o cliente, bem como, antes e após cada procedimentos com o mesmo. Soma-se a esse dado, o fato o aumento do consumo de sabão líquido de 50 litros por semana antes da campanha, para um consumo 80 litros por semana após a campanha, configurando então, uma mudança de hábito, que antes não estava incorporado adequadamente no processo de trabalho, quando não se observava a lavagem das mãos pelos profissionais, no momento intermediário de procedimentos em clientes diferentes. Acrescido do ato de lavagem das mãos realizado em um tempo de aproximadamente 5 segundos. A descrição deste panorama nos remete a conclusão, de que a lavagem das mãos continua merecendo um estudo com vistas ao estabelecimento de estratégias, que convençam a equipe de saúde sobre sua importância e sua conseqüente adesão prática, pois os resultados apresentados configuram uma indicação tal qual uma rota de trânsito: sinalizando a cada passo a presença de microrganismo como um inimigo (in)visível. Referências 1. 2. 3. Couto RC, Pedrosa TMG. Infecção hospitalar: epidemiologia e controle. MEDSI; 1999. Fernandes AT et al. Infecção hospitalar e suas interfaces na área da saúde. São Paulo: Atheneu; 2000. Pereira MG. Epidemiologia teoria e prática. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 1995. $ artigo 02 Lucia.pmd 16 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Artigo original Resgatando e inovando visões de uma técnica de enfermagem: a calorimetria e seus efeitos no banho no leito Dalmo Valério Machado de Lima*, Maria Aparecida de Luca Nascimento** **Mestre, Professor do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIG, Coordenador da disciplina Assistência de Enfermagem em Máxima Complexidade, **Doutora, Professora adjunto do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da EEAP da UNIRIO, Chefe de Divisão de Departamento de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UNIRIO. Resumo Estudo experimental que utiliza a abordagem quantitativa para atingir o seu principal objetivo, qual seja o de demonstrar a verificação da temperatura da água, quando exposta ao ambiente de uma UTI, nas mesmas condições de acondicionamento e de limite de tempo em que é utilizada para a realização da técnica do banho no leito. Os resultados foram obtidos a partir da verificação sistemática da oscilação de três termômetros com características diferenciadas, imersos no referido líquido, quando ficou demonstrado que sua temperatura decaiu de 370C para níveis inferiores a 340C. Considerando os dados obtidos e correlacionando-os às temperaturas limítrofes como sendo as responsáveis pelo desencadeamento de tremores em seres humanos, os autores enfatizam a importância desse sinal, no que tange ao aumento de até 500% do consumo de oxigênio, fator esse que pode desajustar hemodinamicamente o paciente crítico. Conclui-se que o contato da água diretamente aplicado no corpo do cliente, durante a realização da técnica do banho no leito é fonte de desconforto, sendo necessária uma atitude reflexiva da equipe de enfermagem, pautada na ciência, para modificar as inovações implantadas para sua realização. Palavras-chave: enfermagem, banho, oxigênio. Artigo recebido em 16 de dezembro de 2003; aceito em 5 de janeiro de 2004. Endereço para correspondência: Dalmo Valério Machado de Lima, Rua Comandante Rubens Silva, 700/108 Bl.II, Freguesia 22750-053 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2436-8294/8893-4789 fax (21)2734-6415 E-mail: [email protected] % artigo 04 Dalmo.pmd 17 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Abstract Rescuing and innovating visions about a nursing technique: the calorimetry and its effects on the bath in bed Experimental study using a quantitative approach to reach its main object, which is to show the water temperature´s variation when exposed to the ICU environment, in the same storage condition and time limit that it is used for the bed bath technique. The results were obtained from a systematic evaluation of the three thermometer oscillation, with different characteristics, immersed into the respective liquid, when it was shown that the temperature was reduced from 370C to less than 340C. Regarding data obtained and comparing with bordering temperatures, as being the responsible by initial shakes in the human being, these persons confirm the great importance of this signal in special the increase until 500%, for more breathing (oxygen consumption) detail that interfere hemodinamically the critical patient. Therefore, the straight contact of the water with the patient´s body while a bath is being done in the bed is not confortable, requiring from nurses´s team, a better thinking, under science principles, to change the innovations implemented to its realization. Key-words: nurse team, bath, oxygen Resumen Rescatando e innovando las visiones de una técnica de enfermería: la calorimetría y los efectos sobre el baño en la cama Estudio experimental que usa el abordaje cuantitativo para alcanzar su principal objetivo; demostrar la verificación de la temperatura del agua, cuando expuesta al ambiente de una Unidad de Terapia Intensiva (UTI), en las mismas condiciones de acondicionamiento y de limite de tiempo en que es usada para la realización de la técnica del baño en la cama. Los resultados fueron alcanzados a partir de la verificación de la oscilación de tres termómetros con características diferentes, sumergidos en el referido líquido, cuando quedó comprobado que su temperatura decayó de 37°C para niveles inferiores de 34°C. Considerando los datos obtenidos y relacionándolos a las temperaturas limítrofes, como siendo las responsables por el desencadenamiento de tremores en seres humanos, los autores enfatizan la importancia de esta señal, en lo que dice respecto al aumento de hasta 500% del consumo de oxígeno, factor ese que puede desajustar hemodinamicamente el paciente crítico. Se concluye que el contacto del agua directamente aplicado en el cuerpo del cliente durante la realización de la técnica de baño en la cama es fuente de incomodidad, siendo necesario una actitud reflexiva por el equipo de enfermería, basado en la ciencia, para modificar las innovaciones implementadas para su realización. Palabras-clave: enfermería, baño, oxígeno. Introdução Este estudo surgiu da necessidade de demonstrar que a temperatura da água utilizada durante a técnica do banho no leito de pacientes internados em unidade de terapia intensiva e submetidos à cateterização de artéria pulmonar é um dos fatores a ser observado pela equipe de enfermagem. Esta preocupação foi potencializada a partir dos efeitos que essa temperatura podem produzir nestes clientes, tendo em vista sua vulnerabilidade fisiológica. Em estudos preliminares, podemos constatar que os pacientes componentes da população-alvo, com as características supramencionadas, ao serem submetidos ao banho no leito, inversamente ao que era preconizado, não variavam a sua taxa de SvO2 (percentual de saturação de oxigênio contido na hemoglobina presente no sangue venoso misto), que é um dos parâmetros respiratórios mais importantes na análise da função metabólica global do indivíduo. Neste estudo, observou-se uma variação deste parâmetro de até 10%, para mais ou para menos, quando comparado aos valores observados antes da realização da técnica do banho no leito. Essa variação estaria dentro dos padrões esperados para a análise das funções oxi-hemodinâmicas. Deste modo, este estudo tem como ponto de partida, o resultado preliminar acima mencionado, enfocando a temperatura da água que é utilizada pela equipe de enfermagem para o desenvolvimento da técnica do banho no leito, considerando que apesar de não haver prejuízo significativo para o cliente fisiologicamente vulnerável, poderia estar contido na temperatura da água o fator que determina o conforto a estes pacientes. & artigo 04 Dalmo.pmd 18 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) A técnica do banho no leito em pacientes de UTI preconceitos existentes As técnicas As peculiaridades apresentadas por certos pacientes, determinam suas internações em unidades especializadas. Deste modo, potencializa-se a importância de quaisquer técnicas/procedimentos neles realizados, ademais quando estes procedimentos apresentam além de uma atividade terapêutica intrínseca, o subsídio para os demais tratamentos. Tendo em vista a técnica do banho no leito, Lima e Nascimento [1], demonstraram que a sua realização não compromete o mecanismo oxi-hemodinâmico do cliente, significativamente em uma unidade de terapia intensiva, porém apontaram para uma variação do consumo de oxigênio durante o procedimento em apreço. A observação supra, corrobora o fato de que não há atividade elementar ao enfocar-se o cuidado, pois a técnica do banho no leito reveste-se de importância fundamental devendo ser ajustada às necessidades desse cliente. Souza foi a primeira enfermeira brasileira a pontuar o desenvolvimento da técnica do banho no leito de forma científica, descrevendo-o e fundamentando-o à luz da fisiologia, histologia e microbiologia e enfatizando a importância dos movimentos rotatórios de compressas umedecidas na pele do cliente acamado. Quase meio século depois, o conceito de cliente acamado, acompanhou o desenvolvimento cibernético tão corriqueiramente notado nas unidades de terapia intensiva. Portanto, atualmente as necessidades de higiene, equilíbrio e bem-estar do paciente acamado permanecem as mesmas, contudo, a aplicação da técnica para se obter os mesmos resultados, invariavelmente têm que se adaptar a coexistência junto ao paciente, de inúmeros cateteres, tubos, sondas, drenos, luzes, sons, equipamentos e uma temperatura ambiente costumeiramente fria. Como agravante, soma-se o fato de que esses novos elementos, muitas vezes podem estar contribuindo para a manutenção da vida desse cliente. Desta forma, a extração não planejada desses aparatos, pode levar a um sério comprometimento do prognóstico desse cliente. Dentre esses aparatos, encontra-se freqüentemente posicionado com uma de suas extremidades no interior da artéria pulmonar e a outra, perigosamente sobre o leito do cliente, o cateter de Swan-Ganz. Que per si não é um acessório vital, mas que pode registrar variações oxi-hemodinâmicas que, se não corrigidas a tempo, podem traduzir-se em conseqüências desastrosas ao cliente. Ademais, estão descritas na literatura especializadas, as ilações correlacionadas à remoção do cateter, como episódios tromboembólicos, entre outros. A Técnica O banho no leito analisado sob a ótica da enfermagem médico-cirúrgica, mais especificamente no paciente internado em unidade de terapia intensiva (UTI), ocasionalmente tem sido alvo de preconceitos, no que tange a possibilidade da variação de seu padrão oxi-hemodinâmico, que poderia supostamente ser influenciado pela mobilização que a equipe de enfermagem procede para a realização da referida técnica. Considerando que a avaliação oxi-hemodinâmica é realizada através do cateter de Swan-Ganz, este artigo enfoca o cliente internado em uma UTI submetido a monitorização desse artefato e sob os cuidados da equipe de enfermagem, mais especificamente, durante o banho no leito. A realização da técnica do banho no leito, por ser considerada uma atividade menor [2], é visualizada pela equipe de enfermagem com certas restrições. No entanto, ao nos referirmos aos pacientes de alta complexidade a que este estudo se refere, observa-se que a esta restrição soma-se o temor de sua mobilização para a realização da referida técnica. A este temor acrescenta-se àquele que preconceitua que a manipulação de tais pacientes, por conta do banho, de alguma forma poderia estar levando a um nível de instabilidade oxi-hemodinâmica tamanha, a ponto de configurarse em riso de vida a tais pacientes. Neste último caso, podendo inclusive, paradoxalmente, ser contra-indicado o desenvolvimento dessa técnica, por outros profissionais, que não tenham a mesma formação do enfermeiro, conforme Lima e Nascimento [1] expuseram. A guisa de observação vale ressaltar que o temor referido acima não se fundamenta no parâmetro de variação de saturação de oxigênio no sangue venoso misto (SvO2), porque as evidências do estudo supra-referenciado demonstram que durante o banho no leito, a variação de até 10% observada no parâmetro em apreço, em pacientes internados em UTI e sob a utilização do cateter de artéria pulmonar (Swan-Ganz), diz respeito ao tremor que se verifica no paciente por conta da variação de temperatura da água utilizada nessa técnica e da própria temperatura ambiente que é baixa. ' artigo 04 Dalmo.pmd 19 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Segundo Summers [3], o diagnóstico de hipotermia vem sendo descrito por vários autores como tendo diversas características. Um dos maiores problemas identificados foi a falta de consistência e um valor exato da temperatura deste diagnóstico. Numa revisão da literatura em cirurgia, anestesiologia e fisiologia, verificou-se que existem três (03) tipos distintos de hipotermia, que são distintos pelas etiologias e características definidoras, a saber: inadvertida, acidental e intencional. Segundo Burkle [4], a hipotermia inadvertida está relacionada com os procedimentos cirúrgicos e consiste em uma complicação muito séria da cirurgia ou anestesia. A hipotermia pode ser extremamente grave e com efeitos potencialmente muito perigosos se não reconhecida, compreendida e tratada em pacientes idosos principalmente, nos períodos per e pós-operatórios. Segundo Clevenger [5], na hipotermia pósoperatória de pacientes cardíacos, a perda de calor pela cabeça interfere com o reaquecimento e causa tremores. O autor acrescenta que a radiação é responsável por até 65% de perda de calor, na forma de energia eletromagnética, do corpo para objetos mais frios na sala de operação. E que a condução através do contato com superfícies mais frias seria responsável por uma pequena proporção na perda de calor devido à baixa condutividade de colchões e lençóis. Entendendo que uma superfície úmida aumenta a perda por condução em até 30%, e muitos pacientes, no período transoperatório ficam molhados, aumentando desta forma, significativamente, a perda de calor. Destaca que evaporação contribui para a queda da temperatura, na forma de energia necessária para vaporizar água dos pulmões e pele (22 a 27%). Por analogia com o ambiente representado pela sala de operações, o banho no leito na UTI possui o agravante não raramente observado, de que os pacientes permanecem molhados por tempo excessivo, tal como apresentado por Figueiredo, et al [6], em estudo relativo ao tema, onde ficou comprovado através das respostas de clientes, que o lençol molhado é a principal queixa de desconforto, incidindo em 74,47% das respostas. Michell apud Garanhani, et al [7], refere que a faixa de temperatura ambiente na qual uma pessoa acordada e nua pode manter sua temperatura corpórea sem desprendimento significativo de energia é de 27 a 330 C. Deduzindo que os pacientes começarão a esfriar e apresentar tremores (resposta involuntária de músculos esqueléticos, com produção de calor e elevação da temperatura corporal) à temperatura normal da UTI, bem como da sala de operação, mesmo antes de serem banhados e/ou anestesiados; o que justifica a necessidade de manter o corpo coberto durante o maior tempo possível dentro desses ambientes. Em estudo realizado por Pacheco [8], no qual foi objetivada a identificação das competências mínimas do enfermeiro no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca, quanto à função cardiovascular e ter morreguladora, num universo de 49 questionários enviados a enfermeiros verificou, que a grande maioria dos enfermeiros (91,8%) tem consciência da necessidade do reaquecimento dos pacientes no pós-operatório e a entende como competência mínima (CM) do enfermeiro, assim como a verificação dos sinais vitais. Contudo, a realização deste por parte dos enfermeiros somente apareceu em 65,3% dos entrevistados. Ozuna apud Garanhani [7], postula que quando o corpo é exposto ao frio, a adrenalina e a noradrenalina são liberadas na corrente circulatória. Elas produzem calor mobilizando glicogênio e ácidos graxos. A noradrenalina reduz a perda de calor causando vasoconstricção periférica. Isto reduz o fluxo sangüíneo para a pele e menos calor é transferido por convecção aos tecidos próximos à superfície corporal. Assim, a pele esfria e o gradiente de temperatura entre a superfície corporal e o ambiente é reduzido. A autora acrescenta que a diminuição acentuada da temperatura corporal, geralmente até 320 C, pode gerar arritmias cardíacas graves como: extra-sístoles, flutter atrial, fibrilação atrial e vários tipos de bloqueios átrio-ventriculares. E que o tremor leva a um aumento súbito no consumo de oxigênio e a necessidade energética para o tremor aumenta em até 500%, submetendo o corpo a um estresse substancial: a freqüência respiratória aumenta para compensar a demanda da troca gasosa e a circulação é acelerada para fornecer mais oxigênio aos tecidos e remover dióxido de carbono, ácido lático e outros catabólitos. Exorta ainda que a hipotermia reduz o suprimento de oxigênio aos tecidos e quando as demandas energéticas do tremor não são satisfeitas, o paciente pode apresentar acidose metabólica lática. Segundo Gomes [9], a temperatura inferior a 350 C conduz a hipoglicemia, à acidose metabólica e à morte ou instalação de seqüelas irreversíveis do sistema nervoso central. Segundo Ribeiro [10], a hipotermia, além de aumentar o consumo de oxigênio, provoca perdas hídricas insensíveis, aumento das necessidades calóricas e acidose lática importante. artigo 04 Dalmo.pmd 20 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Objetivos Demonstrar como se comporta a variação da temperatura da água exposta em uma UTI, mensurada a intervalos regulares; Propor medida alternativa que garanta o conforto sob forma de cuidado a partir dos resultados obtidos. Em seguida, foi realizado o registro de ambas as temperaturas em intervalos regulares de 5 minutos, até completarem 45 minutos. Após 15 minutos, o termômetro de mercúrio perdeu sua acurácia e, então passou a registrar-se também a temperatura através do aparelho multi-parâmetro. Resultados Material e métodos Análise e interpretação dos resultados Estudo experimental comparativo, realizado em Após a análise dos resultados apresentados na uma unidade de terapia intensiva (UTI) pós-operatória Tabela I e Gráfico 1, é possível inferir que: de cirurgia cardíaca, de um hospital público de médio 1) Existe uma pequena variação entre os três porte, localizado na Zona sul do Rio de Janeiro, no termômetros (Quadro I); mês de agosto de 2000. 2) A variação de temperatura entre o a) Ebulidor; termômetro de Mercúrio e Digital I manteve-se b) Termômetro clínico de mercúrio BDTM; constante em 0,10C, enquanto durou o limite inferior TM c) Termômetro clínico digital IE ; da acurácia do termômetro de mercúrio; d) Aparelho digital multi-parâmetro para verifi3) A variação de temperatura entre o termôcação de temperatura ambiente, umidade do ambiente TM metro Digital I e II oscilou entre 0,1 e 0,30C (X= e sensor para temperatura local TEMPLEC ; 0,1750C) enquanto durou o limite inferior da acurácia e) Bacia de inox com ¾ preenchidos com água do termômetro Digital II; em uma temperatura inicial de: 0 37,0 C para termômetro digital Gráfico 1 - Descrição da temperatura da água utilizada pela equipe de 36,9 0 C para termômetro de enfermagem para a realização da técnica do banho no leito em UTI mensurada por termômetro de mercúrio e digitais mercúrio f) Condições ambientais iniciais: Temperatura·: 24,50 C Umidade: 55% A bacia com água foi colocada sobre o carrinho de banho, pois, corresponde ao local que normalmente é disposta para a realização da técnica em questão. Em seguida foram imersas as extremidades termosen-síveis dos termômetros. Após a conexão do ebulidor à tomada foi acompanhada simultaneamente a ascen-são da temperatura até atingirem os valores supramen-cionados, quando foi retirado o ebulidor da água. Quadro I - descrição da temperatura da água utilizada pela equipe de enfermagem para a realização da técnica do banho no leito em UTI mensuradas por termômetro de mercúrio e digitais Variável / min 0´ Digital I 37,0 Mercúrio 36,9 Digital II* Ambiente 24,5 Umidade 55% 5´ 36,1 36 24,5 54% 10´ 35,1 35 24,6 55% 15´ 34,3 <35,0 34,0 24,9 55% 20´ 33,5 <35,0 33,4 24,9 54% 25´ 32,6 <35,0 32,8 24,9 54% 30´ 32 <35,0 32,1 24,9 53% 35´ <32,0 <35,0 31,5 24,9 54% 40´ <32,0 <35,0 30,9 24,9 54% 45´ <32,0 <35,0 30,6 24,9 54% Realizado na UTI de um hospital público do município do Rio de Janeiro em 27/08/2000. *Digital II refere-se ao aparelho multi-parâmetro que só passou a ser utilizada a função de temperatura local, após a perda da acurácia do termômetro de mercúrio. artigo 04 Dalmo.pmd 21 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) 4) Visualmente admite-se uma mesma tendência de declínio de temperatura nos três termômetros; 5) Entre 20 e 25 minutos nenhum dos três termômetros marcava temperatura igual ou superior a 330C; 6) Após 10 minutos, tanto o termômetro de Mercúrio, quanto o Digital I (único digital até então), apresentaram uma queda de 1,90C, que equivalente a 5,1% da temperatura inicial. a produzir uma resposta involuntária dos músculos esqueléticos com o objetivo de produzir calor (tremor). E o tremor está intimamente relacionado ao aumento da demanda de oxigênio, o que se refletirá nas variações constatadas no sangue venoso misto (SvO 2) dos pacientes internados em UTI, durante a realização da técnica do banho no leito pelo enfermeiro [1]. Discussão Este estudo demonstrou que a temperatura da água é de capital importância para o conforto do paciente submetido à técnica do banho no leito, interferindo, a partir dos seus tremores, no seu equilíbrio oxi-hemodinâmico. Deste modo, apesar não só dos preconceitos que cercam a técnica do banho no leito, entendendo-a como um procedimento menor, como também, os temores que ele deflagra, no que tange à manipulação do paciente crítico para sua realização, este estudo expõe que ambos são infundados. Com relação ao acima mencionado, o banho no leito a partir dos resultados obtidos nesse estudo, caracterizou-se como um procedimento complexo com relação à sua fundamentação científica, além de primordialmente, constituir num cuidado de enfermagem na sua plena acepção. Deste modo, os achados desse trabalho contribuem para a visualização da enfermagem como ciência, que além de toda subjetividade e sensibilidade que a permeiam, necessita reafirmar a sua autonomia nos desdobramentos de sua prática, tendo sempre como foco, conforme previsto no código de ética dos seus profissionais a perfeita projeção do bem ao nível do homem. Ainda com relação aos resultados obtidos, vale ressaltar a necessidade de revisão das inovações realizadas no procedimento técnico do banho no leito, pela equipe de enfermagem, que privilegia o contato direto da água no corpo do paciente. O presente estudo constata o declive acentuado e constante da temperatura da água utilizada para a realização do banho no leito em UTI pela equipe de enfermagem, mensurada simultaneamente através de três termômetros diferentes. Esta constatação apesar de por si só ser muito importante, ainda está subdimen-sionada, uma vez que a água manteve-se estática, diferentemente do que ocorre durante a realização do banho no leito. Essa movimentação tem com decorrência a queda mais abrupta e intensa da temperatura da mesma. Como exposto anterior mente, Lima e Nascimento [1], demonstraram uma variação de até +/- 10% do consumo de oxigênio (SvO2) por parte de pacientes internados em UTI, durante a realização do banho no leito pela equipe de enfermagem. Vale relembrar que essa eventual variação não raramente é tratada de for ma preconceituosa por parte de deter minados profissionais que, atribuem a manipulação do paciente durante o banho como a origem de tal variação, chegando até mesmo, a contra indicá-lo. Dessa forma, subsidiados no presente estudo, observamos que a variação da SvO2 acima citada está intimamente relacionada à temperatura da água que banha o paciente. Corroborando com essa interpretação depõem diversos autores que em síntese, atribuem à temperatura ambiental inferior a 27-330C [7] ou corpórea entre 35-360C [11], como causadoras de tremores. Nesse sentido, destaco que a temperatura da UTI quando da realização desse trabalho sempre foi <35 0C (Quadro I) e, como conseqüência difusão de calor do corpo para o ambiente, num princípio físico básico de tentativa de equiparação de temperaturas. A este fato acrescenta-se o agravante da água caracterizar-se como líquido e excelente condutor de calor, levando a aumento da perda. Então, como mecanismo de adaptação fisiológica, o corpo passa artigo 04 Dalmo.pmd 22 Conclusões Referências 1. 2. 3. Lima DVM, Nascimento MAL. O banho no leito na unidade de terapia intensiva : conceitos e preconceitos (a ciência subsidiando um cuidado de enfermagem). In: Congresso Brasileiro de Enfermagem; 2000; Recife, Olinda: Anais. Recife, Olinda: Associação Brasileira de Enfermagem; 2000. p. 690. Almeida MCP, Rocha JSY. O saber da enfermagem e sua dimensão prática. São Paulo : Cortez; 1989. Summers S. Hypothermia: one nursing diagnosis or 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) 4. 5. 6. 7. three? Nurs Diagn 1992;3(1):2-11. Burkle NL. Inadvertent hypothermia. J Gerontol Nurs 1988;14(6):26-30. Clevenger LD. The effect of head covering on rewarming and shivering in cardiac surgical patientsInadvertent hypothermia. Crit Care Nurs Q 1994;17(3):73-85. Figueiredo NMA, Machado WCA, Santos MCM, Carvalho V. O molhado, a prega e o odor no lençol do cliente: o (des)conforto causado pelo material do cuidado. In: Congresso Brasileiro de Enfermagem; 2000; Olinda, Recife. Anais. Olinda, Recife: Associação Brasileira de Enfermagem; 2000. p. 690. Garanhani ML, Kemmer LF, Rodrigues AI. Avaliação de métodos de aquecimento aplicados ao paciente hipotérmico na sala de recuperação pós-anestésica - S.R.P.A. São Paulo: Rev paul enfermagem 1990;3(9):88-96. Pacheco MAB. Competências mínimas do enfermeiro no pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca. [Dissertação]. Rio de Janeiro: Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica - Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1980. 33p. 9. Gomes NAP. Sistematização da verificação da temperatura do recém-nato de baixo peso. [Dissertação]. Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1981. 10. Ribeiro MA. Monitorização hemodinâmica invasiva e não invasiva. Belo Horizonte: Enferm rev 1993;1(2): 27-34. 11. Painel C, et al. Toxic confusion in eldery people. London: Nursing 1989;3(46):14-6. 8. ! artigo 04 Dalmo.pmd 23 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Artigo original Caracterização e conhecimento popular de plantas medicinais em um município da Serra da Mantiqueira MG Telma Geovanini, M.Sc.* * Mestre em Enfermagem pela EEAP-UNI-RIO, Especialista em Plantas Medicinais UFLA-MG, Coordenadora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Presidente Antônio Carlos de Juiz de Fora - MG Resumo Esta monografia caracteriza-se por relato de experiência com abordagem qualitativa, sobre o conhecimento popular e uso de plantas medicinais na comunidade de Bocaina de Minas, Serra da Mantiqueira MG. Procurou-se resgatar o conhecimento popular das plantas mais utilizadas nessa região através da aplicação de estratégias educativas e incentivadoras que visaram a integrar os conhecimentos populares e científicos. O município escolhido possui ecossistema característico da mata Atlântica, com várias áreas de preservação ambiental e cultura rica em espécies e variedades de plantas. As espécies mais utilizadas foram destacadas, catalogadas e revisadas bibliograficamente, destacando-se suas características e estes conhecimentos foram colocados à disposição da comunidade e debatidos com a mesma, através de um livreto ilustrado produzido pelo grupo com base neste estudo. Evidenciou-se uma ampliação das perspectivas em cada etapa, apontando para novas possibilidades de trabalhos comunitários com as plantas medicinais. A orientação da utilização terapêutica das plantas fez com que houvesse uma maior valorização desta forma natural de tratamento e manutenção da saúde na comunidade. Palavras-chave: plantas medicinais, comunidade. Artigo recebido em 17 de dezembro de 2003; aceito em 1 de janeiro de 2004. Endereço para correspondência: Telma Geovanini, Rua Francisco Vaz de Magalhães, 800/202 Cascatinha,36.033-340 Juiz de Fora Minas Gerais, E-mail: tgeovanini @bol.com.br " artigo 05 Telma.pmd 24 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Abstract Charactericterization and popular knowledge of medicinal plants in a municipal district of Serra da Mantiqueira - MG This monograph is characterized by experience report with qualitative approach, on the popular knowledge and use of medicinal plants in the Bocaina de Minas community, Serra da Mantiqueira - MG. The main object is to rescue the popular knowledge of the plants that are commonly used in this area through educational and stimulating strategies in order to integrate the popular and scientific knowledge. The selected municipal district possesses characteristic ecosystem of the Atlantic Forest, with several areas of environmental preservation and rich culture in species and varieties of plants. A selection of commonly used species were outstanding, classified and revised bibliographically, standing out its characteristics and these data were available to the community and discussed with her, through an illustrated pocketbook produced by the study group. An amplification of the perspectives was evidenced in each stage, pointing out for new possibilities of community works with the medicinal plants. The therapeutic use of the plants leads the community to consider this natural way of treatment and health maintenance. Word-key: medicinal plants, community. Resumen Caracterización y conocimiento popular de plantas medicinales en un municipio de la Serra da Mantiqueira - MG Esta monografía se caracteriza por relato de experiencia con abordaje cualitativo, sobre el conocimiento popular y uso de plantas medicinales en la comunidad de Bocaina de Minas, Serra da Mantiqueira MG. Se procuró rescatar el conocimiento popular de las plantas mas utilizadas en esa región a través de la aplicación de estrategias educativas e incentivadoras que tenían como objeto integrar los conocimientos populares y científicos. El municipio elegido posee ecosistema característico de la mata Atlantica, con varias áreas de preservación ambiental y cultura rica en especies y variedades de plantas. Las especies mas utilizadas fueron destacadas, catalogadas y revisadas bibliográficamente, destacándose sus características y estos conocimientos fueron puestos a disposición de la comunidad y discutidos con la misma, a través de un libro de bolsillo ilustrado elaborado por el grupo con base en este estudio. Se comprobó una ampliación de las perspectivas en cada etapa, apuntando para nuevas posibilidades de trabajos comunitarios con las plantas medicinales. La orientación de la utilización terapéutica de las plantas llevó a una mayor valorización de esta forma natural de tratamiento y mantenimiento de la salud en la comunidad. Palabras-clave: plantas medicinales, comunidad. Introdução O presente estudo é fruto do interesse em conhecer as plantas medicinais mais populares e seu uso pela comunidade de Bocaina de Minas, município pertencente à região da mata e campos das vertentes de Minas Gerais e da Serra da Mantiqueira. Segundo censo do IBGE realizado em 2002, o município tem uma extensão territorial de 444 km2, distando 170 km da cidade de Juiz de Fora e 498 km da capital mineira, com as seguintes características: altitude de 1350m do nível do mar, população de 4.984 habitantes, composta de 2.650 habitantes do sexo masculino e 2.334 do sexo feminino, população rural predominante com 2.779 habitantes e urbana com 2.205. Sobrevivem basicamente da criação de gado leiteiro, fabricação artesanal de queijos, comércio e construção civil. Por ser um local de preservação ambiental, rico em cachoeiras e beleza natural, ocorre turismo incipiente e população flutuante, principalmente nos períodos de férias escolares e verão. Iniciamos o trabalho em Bocaina de Minas no ano de 1999 através da organização de uma horta medicinal que teve como finalidade o cultivo de plantas para a fabricação artesanal de tinturas e pomadas destinadas ao uso da própria comunidade que regularmente era atendida em meu consultório de terapias naturais, localizado na vila de Santo Antônio do Rio Grande. # artigo 05 Telma.pmd 25 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Conhecer as plantas medicinais mais populares no município de Bocaina de Minas Serra da Mantiqueira MG; Caracterizar as plantas mais populares quanto ao nome científico e popular, origem, propriedades, princípios ativos, indicações, partes utilizadas, contraindicações e generalidades, colocando estas informações a disposição da comunidade; Integrar conhecimentos e favorecer o resgate popular sobre as plantas medicinais mais utilizadas na região; Colaborar para a valorização de terapêuticas naturais no cuidado à saúde; Colaborar com estes resultados para a criação de um banco de dados sobre plantas medicinais da região, que possa ser útil às instituições locais (associação de moradores, secretaria de saúde e escolas municipais) e à comunidade em geral. Levantamento das principais plantas medicinais utilizadas pelos moradores da região, seu conhecimento e utilização; Revisão bibliográfica das plantas selecionadas e caracterização quanto ao nome científico e popular, origem, propriedades, princípios ativos, indicações, partes utilizadas, contra indicações e generalidades; Integração dos conhecimentos científico e popular, saberes e práticas sobre as plantas medicinais, ressaltando a valorização das terapêuticas naturais no cuidado à saúde. O trabalho teve início com a introdução de estratégias educativas e incentivadoras, a fim de que viessem à tona a curiosidade e motivação da comunidade no tocante às plantas medicinais. Com este intuito, solicitamos a colaboração de pessoas da região apontadas como conhecedoras das plantas medicinais locais. Em encontros constantes em que os colaboradores traziam plantas verdes, as trocas de experiências e conhecimentos se sucediam através de diálogos informais e visitas aos canteiros de ervas. Foi realizada uma série de visitas domiciliares a fim de conhecer as ervas cultivadas por essas pessoas em suas residências. Tudo era anotado sistematicamente em um diário de campo. Simultaneamente as plantas mais utilizadas foram identificadas e repassadas bibliograficamente, fazendose uma conexão do uso popular com o uso científico. Numa segunda etapa, apresentei aos participantes desenhos e fotografias das plantas com a intenção de reforçar sua identificação e estas eram prontamente reconhecidas enfatizando-se suas características quanto ao odor, aparência, diferenciação com espécies semelhantes, coloração e outras particularidades. Durante os encontros ressaltei algumas orientações quanto ao cultivo, coleta, secagem, armazenamento e formas de preparo de chás e xaropes, suas indicações e dosagens. Isto suscitou por parte da comunidade a lembrança de suas raízes e tradições, trazendo à tona a relação histórica das famílias com o meio ambiente e mais especificamente com o uso de plantas medicinais. Material e métodos Resultados O estudo caracterizou-se por pesquisa do tipo exploratório e observação sistematizada, com abordagem qualitativa e contou com as seguintes etapas: Seleção e aplicação de estratégias motivadoras para a participação popular no estudo; Tivemos uma participação crescente de pessoas interessadas em cada etapa do trabalho e estas iam a cada momento trazendo outras que acrescentavam mais detalhes e informações. Identificamos as 20 plantas mais utilizadas na região, as quais foram alvos de Da estreita interação que brotou destas consultas, verificamos que as pessoas embora utilizassem com muita freqüência as plantas medicinais para o alívio dos mais diversos sintomas, desconheciam seus princípios ativos, dosagens, coleta, secagem e armazenamento e que muitas vezes temiam usá-las por não terem estes conhecimentos. Por outro lado, identificamos alguns elementos da comunidade, em geral mais idosos, que eram verdadeiros depositários vivos de conhecimentos rudimentares sobre as plantas da região. Ciente de que o incentivo às comunidades em geral para que utilizem seus recursos naturais é relevante e que se torna necessário conscientizá-las de que estas medidas, além de serem de fácil acesso e menor custo, têm influência positiva na manutenção das tradições, saúde e vida de um povo, resolvi investigar, estudar e vivenciar este trabalho de maneira sistemática, iniciando pela identificação das plantas medicinais mais usadas e conhecendo a forma de utilização das mesmas, culminando com a criação de um livreto sobre as plantas estudadas para uso da comunidade assistida. Objetivos $ artigo 05 Telma.pmd 26 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) pesquisa bibliográfica mais intensa, caracterizando-as quanto ao nome popular, nome científico, sinoní-mia, origem, propriedades terapêuticas, princípios ativos, parte utilizada, indicações e contra-indicações, características estas que foram devolvidas à comunidade através de um livreto que foi construído pelo grupo participante. A seguir, citamos com seus nomes populares e científicos a relação das 20 plantas identificadas pelo grupo como as mais utilizadas na região: 1. Eucalipto - Eucalyptus globulus Labill. 2. Boldo - Colleus barbatus Benth. 3. Carqueja - Baccharis trimera (Less) D.C. 4. Arnica - Solidago microglossa D.C. 5. Assa-peixe - Vernonia polyanthes 6. Artemísia - Chrysanthemum parthnium (L) Bern. 7. Tanchagem - Plantago major 8. Mentrasto - Ageratum conyzoides L. 9. Babosa - Aloes spp 10.Macela - Achryrocline satureoides D.C. 11.Pata-de-vaca - Bauhinia forficata Link. 12.Alecrim - Rosmarinus officinalis L. 13.Erva-cidreira - Melissa officinalis L. 14.Manjericão - Ocimum sp 15.Erva-macaé - Leonurus sibiricus L. 16.Cordão-de-frade - Leonotis Nepetaefolia R.Br. 17.Picão - Bidens pilosa L. 18.Erva de santa Maria - Chenopodium ambrosioides 19.Capim-limão - Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf. 20.Quebra-pedra - Phyllantus nirurí L. É importante frisar que todas estas plantas medram espontaneamente e em abundância na região. Também é interessante verificar, que algumas plantas que igualmente medram na região, tais como a Capuchinha Tropaeolum majus L. e a Embaúba Ceclópia peltata, não são utilizadas comumente pela população e esta desconhece suas propriedades e indicações, por isso optamos por adicioná-las ao conteúdo de um livreto popular, o qual fomos elaborando em conjunto. Dentre as plantas relacionadas, o Eucalipto, o Boldo, a Carqueja, o Assa-peixe e a Erva-macaé, são algumas das plantas que mais se propagam na região e são amplamente utilizadas e conhecidas. Artemísia, Mentrasto e Cordão de frade espalham-se pelos pastos em abundância e também são bastante usadas. Entretanto, mesmo estas que são amplamente familiares para a comunidade, são pouco conhecidas quanto à variedade de suas indicações e uso terapêutico. Observamos que a dúvida maior, persistiu em torno das dosagens, indicações e modo de usar. Como resultados específicos, destacamos: O registro das plantas mais utilizadas no município foi passado através das gerações, de forma assistemática, através do uso da linguagem verbal; Algumas plantas muito conhecidas e utilizadas fora da região, embora medrem abundantemente, são pouco valorizadas por falta de conhecimentos específicos; As discussões fizeram reviver conhecimentos sobre plantas que se achavam esquecidos, havendo, portanto um resgate destes conhecimentos; Após o processo, as pessoas demonstraram ter adquirido conhecimentos que possibilitarão melhor aproveitamento das plantas medicinais e mais segurança no seu uso; Houve uma integração entre os conhecedores de plantas da comunidade dentro da sistemática proposta de trabalho, com uma repercussão positiva e promissora para o desenvolvimento de outros trabalhos; Como resultado deste trabalho e para melhor orientar a comunidade, foi elaborado um livreto ilustrado, contendo informações sobre as plantas mais utilizadas e também sobre aquelas que embora bem conhecidas são pouco valorizadas por falta de conhecimentos específicos; Houve uma valorização do conhecimento popular através da realização conjunta do livreto popular e do processo de trabalho; O momento foi aproveitado para se discutir as questões ambientais e problemas ecológicos da região, levantando-se discussões em torno das formas de intervenção da própria comunidade para a minimização dos problemas; Diante dessas discussões, o grupo optou por incluir no livreto chamadas educativas para minimizar as situações ecológicas da região. Conclusão Nos dias de hoje, apesar dos avanços tecnológicos, nós profissionais de saúde, ainda convivemos com verdadeiros contrastes nas áreas sociais e da saúde, revelando a importância de estudos que ajudem a definir estratégias que reorientem os modelos hoje existentes, no sentido de criar vínculos com a sociedade, assegurar os direitos da cidadania e garantir a melhoria da qualidade de vida da população. % artigo 05 Telma.pmd 27 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) A Organização Mundial de Saúde (OMS), tem incentivado o uso de plantas medicinais e estima que 80% da população mundial fazem uso de algum tipo de erva para o alívio e cura de doenças. Estudiosos da área têm empreendido esforços para que as ervas brasileiras que constituem a base da terapêutica popular tenham cada vez mais caráter científico. Os trabalhos científicos nessa área têm demonstrado que, além da eficácia comprovada, a relação custo X benefício dos medicamentos e procedimentos, torna a fitoterapia mais acessível à população. Com isto, vários municípios brasileiros já adotam esta prática nas suas unidades básicas de saúde. Apesar de tudo, levando-se em consideração que o número de espécies vegetais no Brasil é estimado em mais de 200.000, que a metade possui propriedades medicinais e que destas, menos de 1% são estudadas adequadamente, muito pouco ainda se conhece sobre as plantas brasileiras, sendo incentivados estudos neste sentido. No Brasil a utilização das plantas medicinais, encontra suas bases na influência indígena, africana e européia. Martins et al [1], afirmam que os índios brasileiros utilizavam a fitoterapia dentro de uma visão mística, em que o pajé ou feiticeiro da tribo fazia uso de plantas entorpecentes para sonhar com o espírito que lhe revelaria a erva ou o procedimento a ser seguido para a cura do enfermo e também pela observação de animais que procuravam determinadas plantas quando doentes. A influência da colonização na farmacopéia brasileira é enfatizada pelos autores, devido ao significativo número de plantas medicinais de origem européia, que embora não sendo nativas, reproduzemse espontaneamente e formam genótipos e variedades diversas nos solos de nosso país. Com este trabalho, procuramos contribuir para o conhecimento cada vez maior da comunidade sobre as plantas medicinais, mostrando fundamentalmente resultados qualitativos, pois a partir desses encontros, houve uma mudança de comportamento com relação ao meio ambiente e as plantas medicinais. Esta motiva-ção inicial fez com que brotassem espontaneamente sugestões para a criação de uma horta medicinal na comunidade, organização de minicursos sobre plantas medicinais e de um banco de dados com informações sobre as plantas medicinais da região. A troca de informações possibilitou um novo olhar para o cotidiano, mais orientado para um trabalho coletivo e participativo, vencendo o individualismo e o egocentrismo e favorecendo a participação popular e comunitária. Um trabalho desta natureza abre perspectivas para a realização de um projeto amplo, que inclui a participação da prefeitura, escolas e outras instituições comunitárias, apontando para novas possibilidades e melhores resultados na busca de soluções coletivas para diversos problemas da comunidade. Evidenciou-se ao longo do processo que a perspectiva das atividades planejadas em cada etapa ia se ampliando e se desdobrando a cada momento, apontando para novas possibilidades de trabalhos com as plantas medicinais. A perspectiva da utilização terapêutica mais orientada das plantas medicinais fez com que houvesse uma maior valorização desta forma natural de tratamento e manutenção da saúde na comunidade. Evidenciou-se uma valorização da comunidade, ao fazê-la participar na confecção do livreto popular, elevando a auto-estima de todos os participantes. Referências 1. Martins E, et al. Plantas medicinais. Viçosa, MG: UFV/ Imprensa Universitária; 1994. & artigo 05 Telma.pmd 28 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Revisão Sistematização da assistência de enfermagem pediátrica: reflexão teórica e implementativa Carla Regina Bianchi Codo, M.Sc.*, Irani Aparecida Dalla Costa Paes, M.Sc.** *Mestre em enfermagem pela Unicamp, professora da disciplina de pediatria e neonatologia da Uniararas, **Mestre em enfermagem pela Unimep, professora da disciplina de pediatria e neonatologia da Uniararas Resumo A sistematização da assistência de enfermagem, permite que os enfermeiros atuem na prática de maneira autônoma e sólida, pois, para executá-la, necessitam utilizar os preceitos científicos e humanísticos que compõem o arsenal do conhecimento profissional. Procuramos nesse trabalho relatar nossa experiência, tendo como referência um modelo histórico por padrão de reação humana, nas áreas de pediatria e neonatologia, durante os estágios clínicos com os alunos da graduação. O objetivo é colaborar na adequação de um modelo, cujo enfoque encontra-se nas reações expressas pela criança e família, sobre os problemas reais ou potenciais de saúde. Fizemos uma revisão bibliográfica e uma reflexão sobre nossa experiência enquanto docentes. Concluímos que quanto mais o aluno pratica a sistematização durante o estágio, maior e mais eficaz é o seu desenvolvimento. Palavras-chave: sistematização da assistência, enfermagem, criança. Abstract Systematization of nursing pediatric assistance: theoretical and implemental reflection Systematization of nursing assistance allows the nurses to act in a solid and autonomous practical way, because they need to use scientific and humanistic precepts that compose the arsenal of professional knowledge to put it into practice. The main object of this work is to report our experience, using as reference a model of background by patterns of human reactions, in the pediatric and neonatology areas, during the apprenticeships with graduation students. The purpose is to collaborate in a model adaptation, whose focus is in the expressed reactions by the child and family, on the real or potential health problems. We did a bibliographical review and a reflection about our experience while teachers. We conclude that more the student practices the systematization during apprenticeship, larger and more effective is their development. Key-words: assistance systematization, nursing, child. Artigo recebido em 9 de dezembro de 2003; aceito em 5 de janeiro de 2004. Endereço para correspondência: Irani Aparecida Dalla Costa Paes, Rua José Simionato Filho, 98 Terras de Santa Olívia 13607-553 Araras SP, Tel: (19) 3543-1444, E-mail: [email protected] ' artigo 03 Carla.pmd 29 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Resumen Sistematización de la asistencia de enfermería pediátrica: reflexión teórica e implementativa La sistematización de la asistencia de la enfermería, a nuestro entender, permite que los enfermeros actúen en la práctica de manera autónoma y sólida, pues, para ejecutarla, necesitan utilizar los preceptos científicos y humanísticos que componen el arsenal del conocimiento profesional. Buscamos en este trabajo relatar nuestra experiencia teniendo como referencia un modelo histórico por padrón de la reacción humana, en las áreas de pediatría y neonatología, durante las prácticas clínicas con los alumnos que están por graduarse. El objeto es colaborar en la adecuación de un modelo cuyo enfoque se encuentra en las reacciones expresas por el niño y la familia, sobre los problemas reales o potenciales de salud. Haremos una revisión bibliográfica y una reflexión sobre nuestra experiencia entre los docentes. Concluimos que cuanto más practique el alumno la sistematización durante las prácticas, mayor y más eficaz es su desarrollo. Palabras-clave: sistematización de la asistencia, enfermería, niño. Introdução A sistematização da assistência de enfermagem, ao nosso ver, permite que os enfermeiros atuem na prática de maneira autônoma e sólida, pois, para executá-la, necessitam utilizar os preceitos científicos e humanísticos que compõem o arsenal de conhecimento profissional. Realizar a sistematização com a criança ou RN (recém-nascido) não é uma tarefa fácil, requerendo do profissional que a assiste um tato aguçado com relação a subjetividades que essa classe de clientes apresenta, além da infor mação secundária do acompanhante do mesmo. A sistematização da assistência de enfermagem (SAE) é uma constante em nossa vida de docência, e muitas vezes encontramos dificuldades em implantar modelos já existentes, que nos auxiliem em uma abordagem mais fidedigna e focada nas reais necessidades de nossos pacientes. Objetivos Relatar nossa experiência como docentes no emprego da SAE por meio do padrão de reação humana; Colaborar na adequação de um modelo, cujo enfoque, encontra-se nas reações expressas pela criança e família sobre os problemas reais ou potenciais de saúde. Revisão da literatura Num mundo onde a única certeza é a incerteza e onde o volume de informações é incomensurável, apenas o conhecimento (organizado, estruturado, validado e contextualizado) é fonte segura do desenvolvimento de um país[1]. Acreditamos que a melhor maneira de estruturar e proporcionar conhecimento na área de enfermagem e de atuar de maneira adequada junto à criança e seus familiares é por meio da implantação da SAE, voltada para as reais necessidades dessa clientela. Entendemos o processo de enfermagem como uma série de passos (coleta de dados, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação), que focalizam a individualização do cuidado através de uma abordagem de solução de problemas. Esse processo é orientado por teorias ou modelos conceituais de enfermagem, e quanto maior o seu nível de abstração, maior a necessidade de interpretação para sua operacionalização, rege-se também pelos conhecimentos científicos e pelas experiências individuais [1]. Como modelo para assistência de nossos clientes, a faculdade de enfermagem da Uniararas escolheu os padrões de reação humana como forma de modelo de avaliação das necessidades de nossos pacientes. Sendo que reação humana pode ser entendida como a reação de um indivíduo ou um grupo de indivíduos a problemas reais e ou potenciais de saúde, e seu impacto em toda a sua rede de relações como, família, sociedade, comunidade, etc. Descritas como padrão: trocar, relacionar, sentir, movimentar, comunicar, conhecer, valorizar, escolher e perceber [2]. Esses mesmos autores citados acima dividem o processo de enfermagem em cinco etapas bem definidas [2]: Histórico de enfermagem: coleta de dados que podem ser objetivos, subjetivos, primários, secundários, atuais e históricos, coletados através de entrevista e exame físico detalhado. Essa etapa do ! artigo 03 Carla.pmd 30 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) processo permite uma maior proximidade entre o profissional e o cliente para o qual o enfermeiro está dirigindo o seu foco; Diagnóstico de enfermagem: nessa fase ocorre a análise e inferência sobre os dados coletados que permitem que o profissional identifique os padrões alterados para que possa, no futuro, em seu plano de cuidados, auxiliar o paciente em suas reais necessidades. Os diagnósticos serão à base dos próximos passos a serem seguidos no processo de enfermagem. O diagnóstico é composto pelo padrão de reação humana alterado pelo fator relacionado e pelas características definidoras que são os sinais e sintomas; Planejamento: estará voltado para o estabelecimento de resultados tendo como base a reação humana alterada, a prescrição estará voltada para os fatores relacionados, procurando mecanismos de se obter uma diminuição da alteração e dos sinais e sintomas. Os resultados devem ser compartilhados, quando possível com o cliente ou familiar, para que tenhamos um maior sucesso em alcançar as metas estabelecidas para o cuidado; Implementação: essa fase irá determinar a pessoa mais qualificada para prestar o cuidado proposto no planejamento, levando em consideração as metas estabelecidas, capacidade do cliente de absorver o cuidado e dos recursos disponíveis para essa implementação; Avaliação: é definida como a última etapa do processo de enfermagem, servindo como instrumento de verificação se o cuidado prescrito está realmente atingindo o padrão de reação humana que está apresentando alterações. Não podemos nos esquecer de que todas as fases da SAE devem ser registradas em impressos próprios padronizados por toda instituição na qual estão sendo empregadas. Para a realização desse estudo vamos nos ater mais especificamente ao histórico de enfermagem, que em nossa instituição é baseado nos padrões de reação humana, como [3]: Trocar: envolve as trocas fisiológicas entre o organismo do indivíduo e o meio- ambiente, ou seja, o dar e receber recíproco, sendo subdivididas em cardíaco/periférico, cerebral, oxigenação, integridade da pele/tecidos, regulagem física, nutrição, intestinal e eliminação renal; Comunicar: padrão de resposta humana que envolve o envio de mensagens verbais ou não-verbais, representa a maneira de comunicação do cliente (fala, escrita e gestos) e língua dominante; Relacionar: padrão de resposta humana que envolve o estabelecimento de vínculos com outras pessoas, compreendendo as variáveis de socialização, papéis sociais e sexualidade e sua inserção social como cidadão; Valorizar : envolve o julgamento sobre o significado ou a importância das coisas e compreende a variável referente ao estado espiritual da pessoa e suas práticas religiosas e culturais; Escolher: envolve a seleção ou a tomada de decisão sobre determinadas situações e compreende as variáveis referentes à participação e à adaptação individual, familiar e comunitária; Movimentar : envolve as atividades físicas, englobando a variável atividade física e social, repouso, recreação, manutenção do lar e da saúde e autocuidado para alimentação, higiene, vestir-se e arrumar-se; Perceber: envolve a recepção de informação percebida pelo cliente e relacionadas ao seu autoconceito, percepção sensorial, esperança e desesperança; Conhecer: está relacionado ao conhecimento apreendido pelo paciente em relação às situações já vivenciadas pelo mesmo como, por exemplo, seu histórico de saúde, fatores de risco, atenção, orientação e concentração; Sentir: envolve a conscientização subjetiva de uma informação, compreendendo as variáveis referentes à dor e as respostas emocionais do indivíduo. Baseados em nossa experiência profissional enquanto enfermeiras e docentes, podemos observar que muitas partes do histórico ficam sem resposta quando prestamos atendimento à criança, principalmente se o enfoque clínico for baseado na avaliação do prematuro e da criança até dois anos de idade, que torna a observação de reações à parte mais importante de todo esse processo. Proposta de histórico de enfermagem por padrão de reação humana para recém-nascidos e crianças até dois anos de idade: I) Identificação: Nome, sexo, idade (dias, meses e ano), data do nascimento, registro do prontuário, nome da mãe e do pai. II) Trocar: Cardíaco/periférico: pressão arterial (método), freqüência cardíaca (apical), medicações que interferem nesses dados, perfusão periférica, temperatura de membros, simetria de pulsos, presença de arritmia ou edema, presença de má formação congênita; ! artigo 03 Carla.pmd 31 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Cerebral: reflexos, reatividade, avaliação das pupilas, perímetro cefálico, fontanelas, alterações cranianas, má formação congênita; Oxigenação: freqüência respiratória, ritmo, amplitude e tipo. Retração, indicando tipo e local. Alterações e dificuldades respiratórias. Presença de tosse, informando característica e aspecto de secreções. Ausculta pulmonar, má formação congênita; Integridade da pele/tecidos: turgor, elasticidade, hidratação, vascularização, descamação, alterações (lesões, hematomas, soromas, outros), presença de drenos, cateteres e dispositivos venosos, incisão cirúrgica, cabelos, unhas, coto umbilical, má formação congênita; Regulagem Física: temperatura corporal e pesquisa de presença de linfonodos; Nutrição: peso, altura, gráfico pondo-estatural (curva), SNG, SOG, SNE, NPP (composição e local de administração), apetite, alimentação (dificuldade percebida, restrições ou alergias), náusea, vômito, deglutição, dentição, aspecto e alterações; Eliminação Intestinal: abdome aspecto e simetria, perímetro abdominal, RHA, evacuação (tipo, característica, freqüência e quantia), uso de fraldas, uso de laxantes ou estimulação retal, dificuldade em evacuar, cólica, passagem involuntária, odor, sangramento, má formação congênita; Eliminação Renal: enurese, oligúria, disúria/ ardência, anúria, poliúria, volume, odor, característica, SVD, SVA, cistostomia, uso de fralda, má formação congênita. III) Comunicar: Tipo de comunicação apresentado pela criança, presença de alterações do aparelho fonético, choro. Os pais falam, entendem e escrevem a língua portuguesa. Alguma dificuldade percebida. IV) Movimentar: Atividade física: coordenação motora é compatível com a idade, marcha, alterações motoras, utiliza algum aparelho facilitador da locomoção, postura, alterações musculares, má formação congênita. Sono: tipo, tempo e se utiliza algum objeto para dormir. V) Sentir: Dor/desconforto: local, tipo, escala de dor, duração, fatores associados. Integridade emocional: irritado, choroso, calmo, indiferente. Avaliar as condições dos pais. VI) Conhecer: Histórico de saúde: internação (motivo), internações anteriores, medicações de uso diário, tem dificuldade em aceitar medicamentos, alergias a medicações, vacinação, teste do pezinho, história da gestação e do parto, condições do nascimento (peso, altura, Apgar, PC, PT, alterações), casos de doenças na família. VII) Perceber: Verificar presença de percepção sensorial alterada (auditiva, visual, tátil e olfato). VIII) Valorizar/escolher/perceber/relacionar (envolve diretamente os pais): Membros da família e idade, pessoa significativa, escolaridade, religião, tipo de casa, número de cômodos, número de pessoas que moram na casa, convênio médico, quem toma as decisões em casa, problemas em casa (financeiro, conjugal, de relacionamento), violência domiciliar, avaliação das mudanças provocadas pela internação do filho, verificação de expressão sobre a perda de controle e falta de crença, história anterior de gestações, abortos ou problemas, realizou pré-natal, resolve bem os seus problemas, quem ajuda a resolver os problemas e se aceita ou não ajuda de outras pessoas, avaliação de como reage frente a um problema, quais atividades são feitas para diminuírem o estresse, obedece ou obedeceu a regime terapêutico realizado pelo filho, pretende seguir o tratamento atual do filho, percepção do familiar frente à doença do filho. Nome de quem preencheu, COREN e data do preenchimento. Materiais e métodos Para a realização desse estudo utilizamos a pesquisa bibliográfica que oferece meios para definir, elaborar e resolver problemas, na busca de exploração de relatos de outros autores, analisando e questionando as informações obtidas [4]. Informações essas que foram utilizadas para a elaboração dos históricos de enfermagem direcionados do nascimento até dois anos de idade. Sabemos, por experiência própria, que nem sempre é fácil obter informações precisas quando lidamos com a internação de crianças, pois o enfermeiro tem que se valer de sua observação sutil e de informações colhidas junto a familiares. Podemos dizer que esse é um estudo descritivo que busca relatar a experiência vivenciada durante a docência. Experiência essa obtida por meio do atendimento à criança hospitalizada nas enfermarias de alojamento conjunto e berçário para o atendimento dos RNs, na enfermaria de pediatria para o ! artigo 03 Carla.pmd 32 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) atendimento da criança, e na creche para acompanhamento de crianças não-hospitalizadas. Reflexão sobre a implementação do histórico de enfermagem Reflexão sobre a experiência na implementação do histórico de enfermagem na Unidade Pediátrica Após seis anos lecionando a disciplina de enfermagem pediátrica, emerge uma proposta de colegas que ministravam o conteúdo de sistematização da assistência em enfermagem, para trabalharmos com a sistematização por padrão de reação humana, de forma que todas as disciplinas da graduação que mantinham bloco teórico-prático adotassem uma linha única de trabalho. No início foi muito difícil, porquanto sempre utilizamos o sistema céfalo-caudal para avaliarmos as condições clínicas das crianças. Naturalmente, houve resistência para essa mudança, uma vez que estávamos acostumadas com um método e, de repente, defrontamos com uma nova realidade. As dificuldades que podemos relacionar no início foram: a não-familiaridade com o assunto, a necessidade de se desligar do velho paradigma, a adaptação do sistema por padrão de reação humana com a criança, os valores biológicos sobrepondo os outros (espiritual, emocional, social), o domínio da linguagem e a praticidade da avaliação céfalo-caudal em relação ao cuidar. Observamos que essa transição de modelo levou a muitos dissabores, já que a mudança envolveu todas as colegas de trabalho. Para os alunos que participaram dessa transição, também foi muito difícil, visto que alegavam que determinado docente ensinava de uma maneira, enquanto o outro, de modo diferente. Ficando a insegurança quanto ao novo e confiança no antigo modelo. Hoje, com o amadurecimento, conhecimento e principalmente mudança de visão, conseguimos trabalhar com o modelo por padrão de reação humana. Tornou-se mais fácil, proporcionando, de forma direta, os diagnósticos para as possíveis intervenções de enfermagem. Certamente que todas as dificuldades mencionadas ainda não foram totalmente sanadas, pois parte do modelo não é possível contemplar com a criança pequena (recém-nascidos, lactentes e préescolares), porque, às vezes, as informações são colhidas com a mãe, acompanhante ou no próprio prontuário da criança. Itens como enfrentar, participar, escolher, sentir e conhecer tornam-se vagos, por isso há necessidade de adaptarmos esses a outro item: o relacionar. As disciplinas, atualmente, adotam esse modelo, nosso aluno possui um domínio cada vez maior sobre a sistematização, a linguagem tornou-se uniforme em várias disciplinas e, a cada ano que acompanhamos os estágios práticos, sentimos que estamos caminhando, cada vez mais firmes e seguros, proporcionando ao discente um guia para que possa atuar como futuro enfermeiro no mercado de trabalho. Reflexão sobre a experiência na implementação do histórico de enfermagem nas unidades de alojamento conjunto, berçário e creche Nem sempre é fácil interpretar os sinais clínicos de um paciente, essa tarefa se torna ainda mais complicada quando atendemos a pacientes muito pequenos, que não nos fornecem com exatidão o que a doença está lhes provocando de alteração. A informação obtida através de aparelhos e do exame físico, mais o histórico de enfermagem, requerem uma interpretação subjetiva que dificulta, principalmente quando ainda somos muito inexperientes, a chegar a conclusões acertadas para dar continuidade a todo o processo de enfermagem. Os alunos de graduação, apesar de lidarem com o padrão de reação humana durante dois anos, antes de entrarem em contato com o paciente de zero a dois anos sentem muita dificuldade em encaixar e interpretar os dados referentes a esses clientes, tornando necessário um acompanhamento e orientações constantes com relação ao exame físico e preenchimento do histórico de enfermagem. O histórico completo por padrão de reação humana não é preenchido em todas as suas características para a criança de zero a dois anos, tornando-se necessária, portanto, uma adaptação, na qual muitos itens ficam sem serem preenchidos, o que gera no aluno de graduação mais dúvidas se o processo executado por ele está sendo realizado da maneira correta. Devido a esse fato, como professoras da disciplina de pediatria e neonatologia, decidimos criar um modelo mais simplificado que melhor direcionasse o aluno com relação à coleta de informação e seguimento dos cuidados de enfermagem, que já foi proposto em parte que compõe esse trabalho. Conclusões Todos os profissionais que lidam com a área de pediatria sabem como é difícil lidar com a criança doente e seus familiares, colher informações !! artigo 03 Carla.pmd 33 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) pertinentes a seu estado de saúde atual ou anterior, às causas da doença atual, a ansiedade, a não adaptação da criança a um ambiente estranho. Em nossa prática como docentes, vivemos essa dificuldade também, porém, acreditamos que o emprego do padrão de reação humana é viável, sendo necessário realizarmos as adaptações já mencionadas anteriormente. Acreditamos que um exame físico bem detalhado, uma coleta de dados na qual o examinador fique atento às informações subjetivas, às entrelinhas, seja a melhor maneira de atender a essa classe de clientes, não importando as adaptações feitas, e sim a habilidade do profissional em conseguir uma boa coleta de informações. Temos em mente que esse assunto merece ser mais explorado e estudado para fornecer um meio ou um roteiro que melhor guie o aluno e profissional no atendimento da criança e seus familiares. Podemos acrescentar que na nossa experiência de docência o observado é que o discente, hoje, está mais seguro, rápido e realizando a sistematização da assistência de Enfermagem com maior eficiência que antes, cremos que nós, professoras, também estamos mais preparadas em relação a esse assunto. Gostaríamos, com esse trabalho, de deixar para os colegas de profissão que não acreditam ou que estão inseguros quanto à realização da sistematização, que a persistência e dedicação são elementos imprescindíveis, porém, há necessidade de um mergulho mais profundo sobre o assunto, que refletirá, com certeza, um marco diferencial no trabalho cotidiano desenvolvido com esses pacientes tão importantes para nós. Referências 1. 2. 3. 4. Cianciarullo TI, Gualda DMR, Melleiro M. & Anakubi, MH. Sistema de assistência de enfermagem: evolução e tendências. São Paulo: Ícone; 2001. Iyer PW, Taptich, BJ, Losey DB. Processo e diagnóstico de enfermagem. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993. Toledo VP. Sistematização da assistência de enfermagem em um ser viço de reabilitação psicossocial. [Tese]. Ribeirão Preto: Departamento de Enfermagem Universidade de São Paulo; 2002. Marconi M, Lakatos EM. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 5a ed. São Paulo: Atlas; 2001. !" artigo 03 Carla.pmd 34 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Revisão Análise crítica da literatura sobre a aspiração da traqueotomia em laringectomizados Elizabeth Barichello*, Márcia Maria Fontão Zago** *Mestre em Enfermagem Fundamental pela EERP/USP, ** Doutora, Professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. Resumo Este estudo teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico, em relação à técnica de aspiração de traqueotomia nos laringectomizados, e analisar o que está preconizado pela literatura. A amostra foi composta por 104 publicações, entre artigos e capítulos de livros, das quais foram selecionadas 21, que traziam ações, justificativas ou ambas para a técnica de aspiração. A maioria dos autores concorda que a técnica deve ser realizada de modo asséptico, porém os estudos são todos descritivos, baseados em fraca evidência clínica. Palavras-chave: laringectomia, aspiração, técnica de enfermagem. Abstract Critical analysis of the literature abaout the aspiration of tracheotomy in laryngectomees The aim of this study is a bibliographical survey on the technique of tracheotomy aspiration in laryngectomees and to analyze what is advised in the literature. The sample consisted of 104 publications, including articles and book chapters, out of which 21 were selected, since they presented actions, justifications or both for the aspiration technique. Most of the authors agree that the technique should be done in an aseptic way; however, the studies are all descriptive, based on weak clinical evidence. Key words: laryngectomy, aspiration, nursing technique. Artigo recebido em 2 de janeiro de 2004; aceito em 21 de janeiro de 2004. Endereço para correspondência: Elizabeth Barrichello, Rua Adalberto Pajuaba, 957/26 Bl C, Sumarezinho, 14055-220 Ribeirão Preto-SP Tel.: (16)633-0293, (34)3322-4855, E-mail: [email protected] !# artigo 06 Elizabeth.pmd 35 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Resumen El análisis crítico de la literatura sobre la aspiración de traqueotomía en laringetomizado El objeto de este estudio es realizar un levantamiento bibliográfico referente a la técnica de aspiración de traqueotomía en los laringectomizados y analizar lo que está preconizado por la literatura. La muestra fue compuesta por 104 publicaciones, entre artículos y capítulos de libros, de las cuales seleccionaron 21, que traían acciones, justificaciones o ambas para la técnica de aspiración. La mayoría de los autores está de acuerdo que la técnica debe realizarse de una manera aséptica; sin embargo, los estudios son todos descriptivos, basados en evidencia clínica débil. Palabras-claves: laringectomía, aspiración, técnica de enfermería. Introdução Nas últimas décadas, a enfermagem cirúrgica tem buscado o aprimoramento da sua assistência fundamentando-se em modelos pragmáticos de prática. Esses modelos consistem em um sistema de padrões hierárquicos compreensivos, que definem o nível de desempenho da equipe, ou em uma série de condições pré-determinadas e aceitáveis pela filosofia do serviço e da instituição de saúde, que fornecem parâmetros para as intervenções [1,2,3,4]. Ultimamente, avanços no conhecimento da prática têm sido obtidos por pesquisas, que permitem um aprimoramento na qualidade da assistência. Assim, a aplicação dos resultados de pesquisas na prática temse revelado importante, para melhorar a qualidade da assistência e conter o custo dessa assistência [1-5,6]. Os modelos pragmáticos são instrumentos, que avaliam as condições fisiológicas e psicossociais do paciente acometido por uma determinada patologia, e sob um regime terapêutico, e propõem intervenções específicas para cada situação [4-6]. No caso do tratamento cirúrgico, independentemente do período operatório em que o paciente se encontra, a assistência de enfermagem tem como objetivos a minimização de complicações pós-operatórias, a recuperação fisiológica precoce e a reabilitação biopsicossocial do paciente. Dentre os variados procedimentos cirúrgicos, laringectomias necessitam de cuidados considerados de grande complexidade para a enfermagem, devido à possibilidade de complicações pós-operatórias e à mutilação fisiológica e psicossocial que acarretam para o paciente [7,8]. Frente a estas condições, faz-se necessário que a enfermagem atue com atenção e objetivamente, para minimizar os problemas. Os conhecimentos científicos que fundamentam a assistência de enfermagem devem ser colocados em prática já no período pré-operatório, durante o qual todo esforço deve ser feito a fim de identificar as necessidades de informação que orientarão o paciente, tais como as relacionadas com as atividades pré-operatórias, os possíveis resultados da cirurgia e os cuidados no pósoperatório, tendo em vista a sua reabilitação. Nas laringectomias, o cuidado com a traqueotomia, seja ela temporária ou permanente, é o que mais atenção requer dos profissionais, no período pósoperatório imediato e mediato, devido a sua importância para a manutenção da função respiratória, vital para o paciente. Relacionados a este tema, alguns aspectos da literatura apresentam-se mesmo contraditórios, deixando à enfermagem o julgamento individual a respeito do procedimento correto. Como a enfermeira é a responsável pelo cuidado prestado, é importante que ela seja adequadamente treinada e competente. As contradições descritas na literatura, quanto ao procedimento e suas justificativas, remetem-nos a considerar suas bases científicas. O cuidado de enfermagem com a traqueotomia, requer conhecimentos científicos, habilidades psicomotoras e utilização de materiais adequados. Na situação do laringectomi-zado, o cuidado com a traqueotomia pode favorecer a sua recuperação fisiológica, como também pode ser origem de complicações agravantes para a sua recuperação. O aprimoramento dos procedimentos de enfermagem, pela pesquisa, é um aspecto essencial para a promoção da qualidade da assistência, com repercussões: na recuperação e na qualidade de vida do paciente, na redução de gastos hospitalares e no reconhecimento do profissional enfermeiro pela equipe multiprofissional. Deste modo, surgiu a necessidade de realizar um levantamento bibliográfico, com o objetivo de determinar o que está preconizado pela literatura, em relação ao cuidado com a aspiração do laringectomizado. !$ artigo 06 Elizabeth.pmd 36 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Objetivo Foi com base nessas considerações, que o objetivo geral desse estudo foi fixado, tendo em vista analisar criticamente a literatura em relação ao procedimento de aspiração de traqueotomia nos laringectomizados. Procedimentos metodológicos Este estudo consistiu da fase inicial de uma pesquisa metodológica fundamentada no modelo de utilização de resultados de pesquisa na prática para o desenvolvimento de protocolos [7]. O modelo da autora propõe, como passo essencial, a delimitação de um problema clínico ou administrativo a ser esclarecido. Para esta pesquisa, o problema foi definido nos seguintes termos: contradições na prática do cuidado com a aspiração da traqueotomia do laringectomizado. não se colocou data para a revisão da literatura, visto que o interesse era de formular uma revisão bibliográfica mais completa possível, para definir quais mudanças ocorreram durante os anos das publicações; pesquisas realizadas somente com seres humanos; sem delimitação de idade; ambos os sexos. Acervos particulares Neste grupo, foram pesquisadas todas as publicações que abordam o tema do estudo, referentes aos cuidados com a aspiração do laringectomizado, encontradas e cedidas pelas docentes da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto USP. Não foi levado em conta o ano de publicação. A busca foi realizada manualmente e o número total de publicações nesta categoria foi 16, compreendendo artigos de periódicos e capítulos de livros. Critérios para o levantamento bibliográfico A coleta de dados se desenvolveu segundo os critérios: O levantamento bibliográfico foi delimitado por artigos que abordavam os cuidados com a aspiração da traqueotomia. Para obtenção de rigor e uniformização de dados, foram estabelecidos os seguintes critérios, para a seleção dos artigos: artigos que abordassem o cuidado acima exposto; artigos indexados nos bancos de dados do MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on line) e acervos particulares; artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais; artigos publicados em inglês, espanhol ou português; artigos localizados na Biblioteca Central da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, COMUT (Programa de Comutação Bibliográfica), Bio-Medical Library da Universidade de Minnesota (USA) e acervos particulares. Medline No Medline, foram utilizadas as seguintes palavras chaves e agrupamentos: laryngectomy and suction; laryngectomy and nursing care; tracheostomy and suction; tracheostomy and nursing care. A busca foi realizada em novembro de 2001, com os seguintes critérios: Resultados e discussão Medline Como resultado, foi selecionado um total de 127 artigos, no período de 1968 a 2001. Destes, 88 artigos foram localizados para análise nos seguintes locais: Biblioteca Central da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, COMUT, Bio-Medical Library da Universidade de Minnesota (USA) e nos acervos particulares. Tabela I - Distribuição dos artigos indexados, conforme localizados ou não, da fonte de indexação Medline, segundo as respectivas palavras chaves. Ribeirão Preto, 2002. Palavras chaves T/NC T/S L/NC L/S TOTAL Localizados N% 56 71,8 0857,1 23 71,9 01 33,3 88 69,3 Não Localizados N% 22 06 09 02 39 28,2 42,9 28,1 66,7 30,7 Total N% 78 100 14 100 32 100 03 100 127 100 T/NC - tracheostomy and nursing care T/S - tracheostomy and suction L/NC - laryngectomy and nursing care L/S - laryngectomy and suction Acervos particulares O número total de amostras foi de 16 artigos, entre os quais encontram-se artigos de periódicos e capítulos de livros, expostos na tabela 2. !% artigo 06 Elizabeth.pmd 37 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Tabela II - Distribuição da amostra segundo o tipo de fonte. Ribeirão Preto, 2002 Análise Resumidamente, da análise crítica dos artigos pode-se pontuar: Catorze artigos não especificam o tipo de paciente com traqueotomia. São artigos descritivos baseados na revisão da literatura ou na própria prática Assim, a totalidade da amostra foi de 104 artigos dos autores, destes, onze recomendam a técnica (88 do Medline e 16 dos acervos particulares). [9], asséptica, dois a técnica séptica e um recomenda a referem que a seleção de artigos que se destinam a técnica asséptica no período mediato e o uso de luvas compor uma pesquisa documental deve ter, no de procedimento (não estéreis) quando o estoma mínimo, 30% do total de artigos, com vistas de estiver definido; credibilidade ao estudo. Salientamos que só pelo Cinco artigos focalizam especificamente a levantamento realizado pelo Medline foram aspiração da traqueotomia do laringectomizado, destes, localizados 69,3%. quatro recomendam a técnica asséptica no pósoperatório imediato e um Tabela III - Distribuição segundo o delineamento metodo-lógico de cada artigo. recomenda a técnica asséptica no Ribeirão Preto, 2002. pós-operatório imediato e séptica Design Estudos Estudos Estudos Artigos de quando o paciente é ensinado a descritivos quaseexperimentais revisão aspirar, estes artigos são descritivos; experimentais literária Dois artigos focalizam MEDLINE 39 02 06 41 pacientes de terapia intensiva e Acervos politraumatizado, são descritivos, particulares 01 15 um recomenda a técnica asséptica Total 39 02 07 56 e o outro, a técnica séptica. Vale salientar que os estudos Pela tabela, vemos que os artigos de revisão descritivos, por serem baseados em revisão da literatura literária totalizaram 56 das publicações analisadas. ou na prática assistencial, apresentam uma fraca Estes artigos não descrevem uma metodologia de evidência científica. Mas, sem dúvida, a aspiração da pesquisa específica e apresentam uma revisão do traqueotomia é um procedimento contraditório na assunto com base em informações de outros autores. literatura e na situação prática. Após a leitura exaustiva de cada uma das A aspiração é requerida por dois motivos [10]: publicações, foram selecionados os artigos que traziam a) A presença da traqueotomia impossibilita um as ações, justificativas ou ambas, sobre a técnica de aumento suficiente da pressão intra-abdominal, aspiração da traqueotomia. necessário para a tosse e expulsão de secreções da via Por meio desses artigos, foi realizada a análise aérea (o paciente consegue aumentar suficientemente crítica dos conteúdos e, assim, buscando alcançar o a pressão somente quando propositadamente oclui o objetivo geral da pesquisa, que foi o de analisar o que orifício do tubo de traqueotomia, durante a expiração); está sendo preconizado pela literatura, em relação ao b) Inicialmente, o tubo de traqueotomia causa procedimento de aspiração em laringectomizados. irritação na mucosa da traquéia, ou seja, atua como No total dos 104 artigos analisados (88 do Medline um corpo estranho, que ocasiona aumento da e 16 de acervos particulares), os que trouxeram as ações produção de secreção. e justificativas estão na próxima tabela. Portanto, o objetivo da aspiração é manter a via aérea limpa e uma respiração com características Tabela IV- Distribuição dos artigos, nos levantamentos normais, sem causar trauma ou hipóxia. Se a aspiração bibliográficos do Medline e acervos particulares, que não for realizada corretamente, pode causar muitas indicam a ação e a justificativa, para a realização da complicações e os três problemas mais comuns são: técnica de aspiração da traqueotomia. Ribeirão Preto, trauma, hipóxia e infecção. Este último pode ocorrer 2002. na presença de um trauma traqueal, com introdução Cuidado Ação Justificativa Total da bactéria durante a aspiração, se o cateter estiver MEDLINE 09 03 12 contaminado. Conseqüentemente, pode ocorrer Acervos particulares 11 07 18 traqueíte, pneumonia e favorecimento de formação Total 20 10 30 de fístula. Deste modo, os cateteres devem permanecer Tipo de fonte Capítulo de livro Artigo de periódico Total Número 11 05 16 % 68,8 31,2 100 !& artigo 06 Elizabeth.pmd 38 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) estéreis durante a sua utilização e devem ser utilizados somente uma vez [11]. A aspiração da traqueotomia não deve ser realizada com base no horário prescrito, mas após a avaliação das características respiratórias do paciente, a fim de que ocorra uma diminuição das complicações associadas à mesma, (hipóxia, arritmia, aumento da pressão arterial, aumento da pressão intracraniana e danos do tecido da traquéia). Ela deve ser realizada quando o paciente não consegue eliminar, por si próprio, as secreções. A eliminação traqueobrônquica ineficaz como sendo: estado no qual o indivíduo é incapaz de eliminar secreções ou obstruções do trato respiratório, para mantê-lo livre [12]. A aspiração pode ser, para o paciente um procedimento assustador e uma experiência não prazerosa, necessitando ser executada de forma confiável e rápida. A aspiração ideal é aquela que, quando realizada, remove a maior quantidade de secreção, com um mínimo de dano ao tecido e um mínimo de hipóxia. [10]. Além disso, as condições clínicas do laringectomizado são diferentes das dos pacientes traqueotomizados de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por exemplo. Evidentemente, essa afirmação está baseada em observação não sistematizada. Ainda há o fato de que no pósoperatório, o paciente que foi submetido à cirurgia de laringectomia total é um paciente consciente, que responde aos estímulos de tosse, e em menos de 24 horas já deambula, o que favorece a expansão pulmonar. Assim, a aspiração da traqueotomia deve ser feita de forma criteriosa e sua freqüência dependerá da quantidade de secreção e da dificuldade do paciente em expeli-la pela tosse. Outro fator, que é um ponto a ser considerado, é o custo do procedimento. Certamente, a utilização de materiais esterilizados eleva o custo e o tempo necessário para execução do procedimento, pois a manipulação do material necessitará de ações específicas que, inclusive, podem requerer o envolvimento de mais de um profissional para sua implementação. Além do exposto, na vigência de algum incidente, que ocasione a contaminação do material, será necessário o seu descarte e a utilização de outro material, se a técnica asséptica for rigorosamente implantada. A experiência dos enfermeiros do GARPO (Grupo de Apoio e Reabilitação de Pessoas Ostomizadas Laringectomizados), em enfermarias de Clínica Cirúrgica de Cabeça e Pescoço, de uma instituição hospitalar, durante vários anos, baseou-se no uso de técnica séptica. Esta era realizada com luvas de procedimento (em ambas as mãos), cateter estéril, gazes estéreis e frascos estéreis. Porém, diferentemente das técnicas descritas anteriormente, após a aspiração, o cateter era guardado dentro de um frasco sem qualquer líquido dentro dele, e que foi utilizado para limpar a sonda durante a aspiração. Assim, o cateter era reutilizado em futuras aspirações e trocado uma vez em cada plantão. Com isso, em um período de 24 horas, utilizavam-se somente três cateteres, sendo que os frascos eram trocados a cada 24 horas. Caso houvesse necessidade de aspirar a boca, utilizava-se um outro cateter, e este era armazenado em um outro frasco, obedecendo ao mesmo critério do cateter utilizado na aspiração da traqueostomia. Em um estudo retrospectivo [13], identifica-se o cuidado com a aspiração da traqueotomia com a técnica séptica era mais eficiente do que com a técnica asséptica. Para tanto, ela mensurou os níveis de complicações pós-operatórias em relação ao aparecimento ou não de infecção pulmonar, consultando os prontuários de pacientes de cabeça e pescoço, de três instituições hospitalares. As autoras relatam que, independente do diagnóstico médico, a infecção hospitalar ocorreu em 3% a 15,5% dos pacientes hospitalizados por ano, sendo que 16% das vezes ocorreram no trato respiratório. Os agentes etiológicos Enterobacter e Pseudomonas sp foram os mais freqüentes responsáveis pela morbidade e mortalidade. Com relação à traqueostomia, a infecção respiratória ainda foi uma de suas maiores complicações, com índices de infecção pulmonar pós-laringectomia de 25% a 57%. Com os dados acima, apreendemos que a técnica asséptica seria estritamente necessária para a redução de infecções. Um aspecto adicional para a recomendação da técnica asséptica, decorre do fato que quando se utiliza a classificação de feridas em limpa, contaminada ou suja, a cirurgia de Cabeça e Pescoço é considerada potencialmente suja, pois as bactérias da orofaringe infestam e colonizam outras regiões anatômicas da cabeça e pescoço, durante a cirurgia, regiões estas normalmente consideradas estéreis. Entretanto, a técnica séptica não aumenta o nível de infecção pulmonar no laringectomizado, em relação à técnica asséptica, porém, as autoras não justificam os seus achados [13]. No estudo retrospectivo [14] realizado na mesma instituição hospitalar em que o GARPO atua, na mesma enfermaria e com a técnica descrita acima, foram estudadas as complicações pós-operatórias nos laringectomizados totais, nas fases do pós-operatório imediato, mediato e tardio. Nas complicações mediatas, constatou-se a infecção respiratória em apenas um dos 14 pacientes avaliados, sendo que as complicações mais freqüentes foram as deiscências !' artigo 06 Elizabeth.pmd 39 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) de sutura mais fístula (quatro casos) e infecção da ferida operatória mais deiscência de sutura (dois casos). A fístula faringo-cutânea é resultado de técnica cirúrgica inadequada, ou de ruptura do tecido de proteção da ferida por infecção e reação orgânica aos fios cirúrgicos. A fístula pode cicatrizar espontaneamente ou requerer intervenção cirúrgica. Esses resultados destacam que as complicações respiratórias dos laringectomizados não foram decorrentes da utilização da técnica séptica de aspiração da traqueostomia e, sim, dos fatores orgânicos do paciente e da técnica cirúrgica empregada. Considerando que é o cateter que entra em contato com a traquéia, a manutenção da sua esterilidade é o que garante a não contaminação respiratória. Entretanto, esta ação também não é adequada, visto que não garante a esterilidade do cateter. Após a análise dos artigos, concluímos que o que diferencia uma técnica da outra é o tipo de luva utilizada durante o procedimento. A técnica asséptica indica o uso de luvas esterilizadas e a séptica, as de procedimento. As justificativas utilizadas pelos autores para o uso de luvas esterilizadas são exclusivamente para evitar o risco de infecção ao paciente. Porém, todos os artigos são de design descritivos e, portanto, não sendo resultados de pesquisas experimentais, não oferecem fortes evidências. Assim, não há como afirmar que o uso de luvas de procedimento irá levar ou aumentar o risco de infecções para o paciente. Como regra, concordamos que o cateter de aspiração deve ser usado apenas uma vez, o que é recomendado pelos autores consultados. Muito tem sido escrito sobre os princípios da aspiração, mas as técnicas de aspiração são variáveis e os princípios não são sistematicamente seguidos, resultando em riscos para o paciente. No entanto, a aspiração é uma parte essencial do cuidado ao paciente: todos os pacientes com traqueotomia requerem aspiração, alguns mais que outros, e ela pode causar complicações, se realizada incorretamente. Pelas publicações analisadas fica claro que, na aspiração das secreções da traqueotomia, nem a técnica asséptica, nem a técnica séptica, é baseada em evidências obtidas por estudos delineados por rigor científico. Os princípios usados pela enfermagem e outras áreas da saúde para o procedimento são históricos, tomados como verdades científicas. A delimitação de um kit, contendo todos os materiais necessários para a aspiração da traqueotomia do laringectomizado, e o treinamento dos profissionais para a realização do procedimento são aspectos que devem ser revistos pelos serviços. Hooper afirma que devido às conseqüências da aspiração, os profissionais devem seguir protocolos baseados em dados fidedignos de pesquisa clínica, que indiquem a mais segura e menos traumática técnica de aspiração. Porém, como todos artigos que trazem os passos para a aspiração não são baseados em fortes evidências científicas, não podemos afirmar qual é a técnica correta para esse procedimento. Ao avaliarmos os dois artigos com métodos de maior rigor, também não é possível chegar a uma conclusão. Considerações finais Na revisão da literatura, encontramos 104 artigos publicados, no período de 1968 a 2001, sendo que 88 foram localizados pelo Medline e 16 em acervos particulares. Entretanto, 56 artigos seguiram o método de revisão de literatura e 39 são artigos descritivos, baseados na prática assistencial dos seus autores. Estes resultados permitem-nos concluir que os enfermeiros não estão realizando estudos com delineamento e rigor metodológicos, sobre os cuidados com a traqueotomia e, desse modo, não estão demonstrando evidências científicas de suas recomendações de ações. Com a análise crítica dos conteúdos dos artigos, concluímos que: Em relação à aspiração da traqueotomia, há prevalência da afirmação de que se deve seguir a técnica asséptica, porém, sem comprovar a sua adequação; A contradição entre a técnica asséptica e séptica, pelos autores, está em relação ao uso da luva estéril e a de procedimento (não estéril); Considerando que muitas das publicações analisadas não se atém especificamente ao cuidado com a traqueotomia do laringectomizado, é importante considerar as especificidades das condições orgânicas dos pacientes submetidos aos diferentes tipos de laringectomia. Certamente, essas condições são distintas das de outros pacientes traqueotomizados, como por exemplo, em problemas neurológicos, politraumatismos e outras. Finalizando, a elaboração deste estudo fornecenos respaldo para recomendar aos enfermeiros, que atuam com os laringectomizados, a reverem criticamente as suas ações de cuidado, para que rompam com o conhecimento ritualístico (histórico, mecânico e valorizado) e iniciem uma nova etapa assistencial baseada em evidências científicas. Referências 1. Haller KB, Reynolds MA, Horsley JA. Developing research-based innovation protocols: process, criteria, and issues. Research in Nursing and Health; 1979. " artigo 06 Elizabeth.pmd 40 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Oliveira IMS, et al. O protocolo na colaboração docência/ exercício hospitalar. Nursing 1996;100(9):16-19. Doughtery KD. Otolaryngologic surgery. In: Rothrock JC. Perioperative. Nursing Care Planning. 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" artigo 06 Elizabeth.pmd 41 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Estudo de caso A importância do diagnóstico de enfermagem no cuidado de um paciente com úlcera de pressão pós AVC acompanhado pelo Programa de Saúde da Família *Maria Paula Soares da Silva *Enfermeira Formada pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ), Habilitada em Enfermagem Médico-cirúrgica e Licenciatura Plena, Docente do curso Técnico de Enfermagem do Centro Paula Souza em SP Resumo O presente estudo tem como objetivo relatar o estudo de caso de um paciente vítima de um AVC que esteve internado, em uma instituição hospitalar, no período de 06/04/2003 a 26/04/2003, e que obteve alta hospitalar com uma úlcera de pressão em região sacro-glútea. Para o alcance dos objetivos estabelecidos, desenvolvemos uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso e quantitativa. Durante as visitas domiciliares, o paciente foi submetido a curativo diário com papaína creme a 1% e orientação nutricional. O instrumento de coleta de dados constou do exame físico e do protocolo de avaliação de feridas, a entrevista ficou prejudicada devido ao grau de confusão mental apresentado pela paciente. As informações referentes à coleta de dados foram registradas na sistematização da assistência de enfermagem utilizada no PSF (Programa de Saúde em Família). Mediante o estudo do caso clinico foi realizado o levantamento dos diagnósticos de enfermagem, seguindo como referência a Taxonomia II da Nanda (North American Diagnosis Association), no qual encontramos 8 diagnósticos de enfermagem e 24 características definidoras. Portanto, concluímos que a assistência de enfermagem voltada para a visita domiciliar no PSF se torna mais qualificada quando podemos elaborar e traçar um plano de cuidado baseado em diagnóstico de enfermagem. Palavra-chave: úlcera de pressão, sistematização da assistência de enfermagem, PSF. Abstract The importance of nursing diagnosis in a patients care with pressure ulcer post CVA followed by Family Health Program The aim of this study is to report case study of a patient victim of a CVA that was admitted in a Hospital Institution in the period of 06/04/2003 until 26/04/2003, and was discharged from hospital with pressure ulcer in the sacrogluteal region. In order to reach the main objectives, we develop a descriptive and quantitative research of case study type. During domiciliary visits, the patient was submitted to everyday curative with papain cream 1% and nutritional guidance. Data collection instrument Artigo recebido em 18 de novembro de 2003; aceito em 29 de dezembro de 2003. Endereço para correspondência: Maria Paula Soares da Silva, Rua Rafael dos Santos More, 175 Jd das Paineiras, Presidente Venceslau 19400-000 SP, E-mail: [email protected] " artigo 07 Maria Paula.pmd 42 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) consists of physical examination and protocol of wounds evaluation, the interview was damaged due to patients mental confusion. Data collected was recorded on the systematic nursing assistance used in the FHP (Family Health Program). Through study of clinical case, it was carried out a diagnosis survey, according to Taxonomia II of Nanda (North American Diagnosis Association), we found 8 nursing diagnosis and 24 defining characteristics. Therefore, we conclude that nursing assistance directed to domiciliary visits in the PSF become more qualified when we can elaborate and trace a care plan based on nursing diagnosis. Key-words: pressure ulcer, systematization of nursing assistance, FHP. Resumen La importancia del diagnóstico de enfermería en el cuidado de un paciente con úlcera de presión pos AVC acompañado por el Programa de Salud de la Familia El presente estudio tiene como objeto relatar el estudio de caso de un paciente victima de un AVC que estuvo internado, en una Institución Hospitalaria en el período de 06/04/2003 hasta 26/04/2003, y que recibió el alta hospitalaria con una úlcera de presión en región sacroglútea. Para el alcance de los objetivos establecidos, desarrollamos una pesquisa del tipo estudio de caso y cuantitativa. Durante las visitas domiciliares, el paciente fue sometido al vendaje diario con papaína crema a 1% y orientación nutricional. El instrumento de coleta de datos consistió de examen físico y del registro de evaluación de las heridas, la entrevista quedó perjudicada debido al grado de confusión mental presentado por el paciente. Las informaciones referentes a la coleta de datos fueron registradas, en la Sistematización de la Asistencia de Enfermería utilizada en el PSF. Mediante el estudio del caso clínico fue realizado el levantamiento de los diagnósticos de Enfermería, tomando como referencia la Taxonomia II de la Nanda (North American Diagnosis Association), en la cual encontramos 8 diagnósticos de enfermería y 24 características definidoras. Por lo tanto, concluimos que la asistencia de enfermería volcada para la visita domiciliar en el PSF se vuelve mas calificada cuando podemos elaborar y trazar un plan de cuidado basado en diagnóstico de enfermería. Palabras-clave: úlcera de presión, sistematización de la asistencia de enfermería, PSF. Introdução Pacientes internados por um longo período, principalmente aqueles acometidos de um AVC e com precário estado nutricional, ficam sujeitos a adquirirem uma úlcera de pressão em vários estágios de evolução. Devido à falta de estímulo na movimentação, mudança de decúbito pela equipe e orientação aos seus familiares, entre outros. Para amenizar o sofrimento desses pacientes, existem vários cuidados a serem executados pela equipe, e que devem fazer parte de um protocolo de cuidados de enfermagem. Porém uma vez a úlcera já desenvolvida é necessário que a equipe execute cuidados diariamente, como curativos oclusivos, de vários tipos, uso de papaína creme, hidrocolóides, dependendo do estágio da lesão. Existem vários trabalhos publicados quanto ao uso da papaína em feridas que comprovam resultados benéficos e satisfatórios na cura principalmente de úlceras de pressão. A papaína é um complexo enzimático contido no látex do vegetal Carica Papaya, formado por enzimas proteolíticas e peridoxases, utilizada nas industrias têxtil, de alimentos, borrachas, laboratórios e na área médica. Nesta, tem sido apontados seus efeitos desbridante, antiinflamatório e bactericida, que acarretam maior velocidade da restauração tissular, com a formação de tecido cicatricial estética e funcionalmente adequados [1]. Segundo Hess [2] a úlcera de pressão é uma lesão que acomete as várias camadas da pele, dependendo do seu grau de profundidade. É uma lesão com tendências à gangrena ou necrose dos tecidos, causada pela deficiência na irrigação sanguínea, ocasionada por uma pressão contínua, demorada e conseqüente falta de nutrição do tecido, nos pacientes com afecções graves do sistema nervoso, sobretudo nos pacientes que se encontram impossibilitados de se movimentarem espontaneamente. A maioria das úlceras de pressão desenvolve-se quando o tecido mole é comprometido entre uma proeminência óssea (como o sacro) e uma superfície externa (como um colchão ou assento de cadeira) por um longo período. A pressão aplicada com grande intensidade durante um curto período ou com menos "! artigo 07 Maria Paula.pmd 43 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) intensidade durante um período mais longo, diminui a irrigação sanguínea para a rede capilar, prejudicando o fluxo para rede capilar, prejudicando o fluxo sanguíneo para os tecidos circundantes e privando os tecidos de oxigênio e nutrientes. Isso gera isquemia local, hipóxia, edema, inflamação e, em última instância, morte celular. O resultado é uma úlcera de pressão, também conhecida como escara, úlcera de decúbito ou ferida de pressão. Segundo Smeltzer [3] quando a pessoa está imóvel e inativa, a pressão é exercida sobre a pele e o tecido subcutâneo por objetos sobre os quais a pessoa repousa, tais como o colchão, o assento da cadeira ou a calha. O desenvolvimento de úlceras está diretamente relacionado à duração da imobilidade. Se a pressão é prolongada, ocorrem a necrose tissular e a trombose de pequenos vasos, resultando na úlcera de pressão. Mediante a problemática apresentada pelos pacientes portadores de úlcera de pressão, principalmente os acometidos pelo AVC, concluímos que há necessidade de que sejam elaboradas diretrizes para os enfermeiros que atuam em PSF, para que possam ajudar a avaliar, do ponto de vista da enfermagem as condições dos pacientes que apresentam úlcera de pressão, precárias condições de higiene e baixo nível nutricional e a iniciar as intervenções necessárias de forma eficiente e objetiva. A implementação de uma sistematização da assistência contribui para a melhora da qualidade da assistência de enfermagem aos pacientes vítimas de úlcera de pressão. O processo de enfermagem é um instrumento metodológico que tem favorecido na prática profissional, no qual leva o profissional de enfermagem a se orientar de como deve iniciar o seu trabalho e de que forma, em curto espaço de tempo e de maneira organizada. Segundo Nanda [4], o diagnóstico de enfermagem é um julgamento clínico sobre as respos-tas do individuo, da família ou da comunidade aos problemas/processos de vida vigentes ou potenciais. Os diagnósticos de enfermagem proporcionam a base para a seleção de inter venções de enfer magem visando obter resultados pelos quais a enfermeira é responsável. O diagnóstico de enfermagem é um método que deveria ser utilizado em várias situações, pois favorece a execução de uma assistência mais estruturada definindo o papel do enfermeiro no ato de cuidar. Este trabalho é baseado nos princípios científicos voltados para a sistematização de enfermagem, no intuito de oferecer uma assistência de enfermagem qualificada e eficaz, através da identificação dos diagnósticos de enfermagem e suas características definidoras mais usualmente encontradas em pacientes acometidos de AVC que são acompanhados pela equipe do PSF. Materiais e métodos Para o alcance dos objetivos, foi desenvolvida uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso e quantitativa. O estudo descreve um paciente que esteve internado por 20 dias em uma instituição hospitalar, vítima de AVC e que adquiriu uma úlcera de pressão grau IV. Após a alta hospitalar, o paciente passou a ser acompanhado pela equipe do PSF, aonde foi traçado um plano de cuidados para favorecer a recuperação do paciente de forma disciplinada. O instrumento de coleta de dados constou do exame físico, entrevista com a família e protocolo de avaliação de feridas. As informações referentes à coleta de dados foram registradas no prontuário da paciente juntamente com a sistematização da assistência de enfermagem utilizada pelas enfermeiras do PSF. Estudo de caso do paciente vitima de AVC Número do registro no PSF: 1752 L.M.O, 77 anos, feminino, viúva, branca, aposentada. Procedente da Santa Casa Local, vitima de AVC, segundo relato da família. História de hipertensão ar terial, sem tratamento medicamentoso, e em uso atualmente de AAS 100 mg (2cp ao dia) e Cimetidina 200mg ( 12/12 horas). No momento encontra-se confusa, não responde às solicitações verbais com coerência, mucosas hipocoradas, hipohidratada, caquética, estado precário de higiene, curativo sem ser realizado há aproximadamente uma semana (SIC). A família informa que a paciente está sem se alimentar correta-mente. Apresentando hemiplegia à esquerda, úlcera de pressão em região sacro-glútea profunda medindo cerca de 12 cm de diâmetro e 5 cm de profundidade, com presença de exsudato de coloração esverdeada, odor fétido, fibrina e tecido de granulação (Grau IV). Abdome distendido, indolor a palpação superficial e profunda, peristalse ausente, função intestinal ausente há 5 dias, diurese preservada, MMII sem edemas, pele ressecada, unhas com sujidade. PA: 140X70 mmHg, FC: 88 bpm, R: 20 rpm e Tax: 36.5º "" artigo 07 Maria Paula.pmd 44 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Após visita domiciliar do médico, foi acrescentado na prescrição Cefalexina suspensão por 10 dias e Dipirona 35 gostas SOS. Foi realizado curativo com Soro fisiológico 0,9% em jatos e papaína a 1%. Curativo este que passou a ser realizado 2 vezes ao dia. Orientada quanto à necessidade de uma ingesta alimentar hiperproteica e hipercalórica. Resultados Incapacidade de realizar higiene pessoal; Incapacidade de pegar água ou ir ao banheiro; Incapacidade de lavar o corpo ou partes dele. 4 - Distúrbio do Padrão do Sono: relacionado com fatores biológicos ou psicológicos É a incapacidade de satisfazer a necessidade individual de sono ou repouso, causada por fatores internos como ansiedade, depressão, estresse, doença, tratamento farmacológico ou distúrbio do biorritmo [5]. Após os cuidados de enfermagem que foram implementados, o paciente evoluiu de maneira significante, havendo melhora, principalmente, do seu nível de consciência. Mediante os problemas encontrados no paciente, foram identificados os seguintes diagnósticos de enfermagem: Características definidoras Alterações no comportamento ou no desempenho, incluindo-se desorientação, irritabilidade exacerbada, letargia, inquietude, agitação; Dificuldade para adormecer, sono interrompido. 1 - Confusão aguda Segundo Nanda [4] é a limitação no movimento físico independente e voluntário do corpo ou de uma ou mais extremidades. Inicio abrupto de um conjunto de mudanças e distúrbios globais e transitórios na atenção, na cognição, na atividade psicomotora, no nível de consciência e/ou no ciclo sono/vigília. Características definidoras Falta de motivação para iniciar e/ou continuar um comportamento determinado ou direcionado a um objeto; Agitação ou inquietação aumentadas; Flutuação no nível de consciência; Flutuação no ciclo sono/vigília. 2 - Nutrição alterada: ingestão menor do que as necessidades corporais Segundo Sparks et al [5], é a alteração do padrão dietético habitual, resultando em alteração de peso. Características definidoras Falta de interesse pelos alimentos; Palidez das conjuntivas e mucosas; Tônus muscular reduzido. 3- Déficit no autocuidado: banho e higiene Segundo Sparks et al [5] é a incapacidade de realizar as atividades relacionadas ao banho e à higiene. Características definidoras: Evidência clínica de debilidade músculoesquelética; 5 - Mobilidade física prejudicada Características definidoras Mudanças na marcha (p. ex., velocidade de marcha diminuída, início da marcha dificultado, passos pequenos, pés arrastando-se, oscilação postural lateral exagerada); Movimento tornado lento; Tremor induzido pelo movimento. 6 - Integridade da pele prejudicada relacionada a fatores ambientais Perda da integridade da pele [5]. Características definidoras Sinais clínicos de fatores externos afetando negativamente a integridade da pele (agentes químicos, frio, calor, pressão); Destruição das camadas da pele; Ruptura da superfície cutânea. 7 - Constipação Nanda [4] define como a diminuição na freqüência normal de evacuação, acompanhada por dificuldade ou passagem incompleta das fezes e/ou passagem de fezes excessivamente duras e secas. Características definidoras Mudança no padrão intestinal; Abdome distendido; Freqüência diminuída. "# artigo 07 Maria Paula.pmd 45 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) 8 - Déficit de conhecimento relacionado com falta de orientação Compreensão inadequada das informações ou incapacidade de realizar as atividades necessárias à pratica dos comportamentos relacionados com a saúde [5]. Características definidoras Pouca familiaridade com recursos informativos; Solicitação de informações por parte do paciente. Mediante tais diagnósticos foi implementado a seguinte prescrição de enfermagem: 1. Realizar banho de aspersão, incentivando a higiene corporal; 2. Realizar curativo com papaína a 1% e soro fisiológico (em jatos) 2 x dia; 3. Oferecer dieta hiperproteica e hipercalórica, rica em fibras; 4. Incentivar aumento da ingesta hídrica; 5. Realizar movimentos passivos no leito; 6. Sentar fora do leito pela 3 x dia; 7. Realizar massagem corporal com solução emoliente; 8. Usar posicionadores e protetores de espuma em proeminências ósseas, quando deitado; 9. Controlar temperatura axilar; 10.Aumentar a freqüência da troca de roupa de cama, mantendo sempre os lençóis bem esticados; 11.Incentivar a comunicação entre o paciente e os familiares, de maneira lenta e tranqüila; 12.Manter o ambiente em ordem e silencioso. Conclusões Atuar em enfermagem requer estudo, perspicácia e principalmente o desenvolvimento cientifico. O uso sistemático e contínuo do diagnóstico de enfermagem vem favorecer de forma significativa o atendimento de enfermagem, principalmente nos pacientes que são acompanhados pelo PSF e que não dispõe de informações relacionadas a determinadas doenças, de como prevenilas e uma vez já instaladas, de como tratá-las. O novo modelo assistencial vem fortalecer e direcionar de forma clara o verdadeiro papel do enfermeiro na saúde, comprovando significativa melhora nas condições de vida e saúde da população. Porém é necessário que o enfermeiro se direcione para o cuidado terapêutico e que tenha conhecimento de todos os produtos que existem no mercado, crie protocolos e/ou siga os já existentes através de diretrizes voltadas para o processo de recuperação. É importante que o enfermeiro utilize o diagnóstico de enfermagem, pois o direciona de forma clara e precisa nas tomadas de decisões, que reconheça a complexidade de seu papel em tomadas de decisões, na determinação da terapia tópica ideal para cada ferida, e que realize o seu trabalho em equipe interdisciplinar. Portanto é importante que o enfermeiro saiba utilizar os recursos físicos, materiais e financeiros no atendimento ao paciente atendido pelo PSF. Que ele principalmente atue de maneira qualificada e humanizada. Referências 1- Manuais de enfermagem. 4 ed. São Paulo: Programa de Saúde da Família/ MS; 2001. 2- Hess CT. Tratamento de feridas e úlceras. 4 ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso; 2002 3- Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. 129. 4- Nanda. Diagnóstico de enfermagem da Nanda: definições e classificação. 2001-2002. Porto Alegre: Artmed; 2002. 5- Sparks SM, Taylor CM, Dyer JG. Diagnóstico em enfermagem. 4 ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso; 2000. "$ artigo 07 Maria Paula.pmd 46 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Notícias e resumos Folha de São Paulo, 2 de março de 2004 Incidência de câncer cresce entre jovens O câncer é agora a principal causa de morte natural para as pessoas com idade entre 13 e 24 anos, disseram cientistas durante a Conferência Internacional sobre Câncer em Adolescentes, ora realizado em Londres. O aumento da incidência da doença entre essa faixa etária, de quase 50% nos últimos 30 anos, poderia estar ligado ao crescimento acelerado e à dieta mais rica dos jovens, de acordo com Archie Bleyer, da Universidade do Texas (EUA). Isso aconteceria porque o crescimento envolve a divisão das células -processo que, se der errado, pode levar ao câncer. John Shin et al, 63rd Annual Meeting of the American Diabetes Association, New Orleans, 13-17 de junho de 2003 O que é controle glicêmico normal? Avaliação pelo CGMS da Medtronic MiniMed Pacientes com diabetes (DM) possuem variação de características no seu perfil glicêmico diário conforme apresentado pelo CGMS (Medtronic MiniMed). Apesar do uso do CGMS em pessoas sem DM ou com controle glicêmico estreito foi relatado ser errático, alguma variabilidade é esperada nesses perfis glicêmicos. O objetivo deste estudo foi avaliar a performance dos sensores CGMS atualizados e software em sujeitos sem DM, para descrever a variação glicêmica normal. Voluntários sem história anterior de DM usaram 1 ou 2 sensores e realizaram 2 pré e 2 pós-refeição SMBG puncionados (fingersticks) diariamente. Medições dos sensores CGMS foram baixadas com o programa Solutions 3.0. A duração da performance do sensor, média de diferença absoluta (MAD), e variação glicêmica foram avaliadas. Os 20 sujeitos foram 55% do sexo feminino, com 31±5 anos de idade. Valores basais no CGMS foram estáveis durante todo o dia com uma leitura média de 97±19 mg/dl. Não houve nenhum movimento aparente na performance do sensor acima da média de 69,3 horas e o sensor não mostrou nenhuma depressão durante a noite. Os sensores foram precisos com MAD de 9,1±8,2%. A média do pico glicêmico pós-refeição e retorno para linha base foi 1,9 horas [vs. 8,1 horas em tipo 1 (DM1) e 4,3 horas em tipo 2 (DM2)] e a média da área abaixo da curva desde a linha base foi 39 mg/dl horas [vs. 705 mg/dl horas em DM1 e 169 mg/dl horas em DM2]. A extensão e duração da hiperglicemia pós-refeição em sujeitos sem DM são mais controlados do que em sujeitos com DM1 ou DM2. Os resultados ajudam a estabelecer os limites para glicemia normal e pós-refeição em sujeitos sem DM. "% resumos.pmd 47 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Whitney Goldner et al, Diabetes 2003 Monitoração contínua da glicose durante o ciclo menstrual mostra estabilidade no padrão do controle da glicemia em mulheres com diabetes tipo 1 Muitas mulheres com diabetes notaram mudanças no seu controle de glicose peri-menstrual. Estudos anteriores avaliaram a regulação da glicose em poucos pontos específicos durante o ciclo menstrual, mas os resultados são conflitantes. Para desenvolver uma compreensão abrangente das mudanças no controle da glicose por todo o ciclo menstrual, e a reprodutibilidade destas mudanças, iniciamos um estudo piloto avaliando o perfil glicêmico de 6 mulheres com diabetes tipo 1, e período regular menstrual de contraceptivos orais. As mulheres usaram o dispositivo MiniMed (Monitoração contínua da glicose) continuamente por 3 ciclos menstruais completos. Eles checaram as medidas de glicose nos capilares sanguíneos 6 vezes ao dia, trocaram seus próprios sensores a cada 3 dias, e eram vistas na clínica a cada 9 dias para fazer o download dos dados. Estradiol no plasma, progesterona, níveis de LH e FSH foram checados durante os ciclos. Foram avaliados a porcentagem de tempo que as mulheres estavam com a glicose acima de 140mg/dl, em relação ao dia do ciclo e os níveis hormonais medidos. Os níveis de glicose foram monitorados com sucesso por mais de 3 ciclos consecutivos e mostrou que a monitoração prolongada é segura. O padrão mais comum de hiperglicemia detectada foi na segunda metade do ciclo (fase lútea), parecendo combinar com o pico da progesterona. Muitas mulheres também tiveram pico hipoglicêmico na primeira metade do ciclo (fase folicular), que aparentavam se correlacionar com estrogênios elevados. Os perfis de glicose pareciam ser reproduzíveis entre ciclos em indivíduos. Os perfis variavam entre mulheres, talvez relacionados às diferenças da secreção de estradiol. Os resultados enfatizaram o maior e reproduzível efeito do ciclo menstrual no controle de glicose no sangue. A fase do ciclo pode ser uma importante variável na interpretação dos resultados da monitoração contínua da glicose. Apesar de que este estudo não enfoca a causa, hiperglicemia parece ocorrer no momento de níveis elevados de estrogênio e progesterona. Diferenças nos padrões de estrogênio e secreção de progesterona podem explicar algumas das diferenças no controle da glicose entre mulheres durante seus ciclos menstruais. A.B. (Butch) de Castro, American Journal of Nursing, Janeiro 2004 Prevenir lesões na coluna e outras doenças musculares entre os profissionais de enfermagem Uma pesquisa realizada em 2001 (ANA) constatou que aproximadamente 60% dos enfermeiros temem desenvolver lesões graves na coluna. Seus temores são confirmados 38% dos enfermeiros sofrem de dores muito fortes nas costas, o suficiente para ficarem afastados do trabalho durante algum tempo, enquanto outros 12% deixam a profissão devido a essas dores. Em setembro de 2003 ANA lançou uma campanha para a prevenção de lesões musculares entre os profissionais de enfermagem. Como parte desta campanha, os enfermeiros de primeira linha podem ajudar a estabelecer um programa ergonômico seguro no local de trabalho usando as seguintes medidas: "& resumos.pmd 48 03/03/04, 14:52 Enfermagem Brasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Criar um comitê ergonômico, que deverá estabelecer, executar e monitorar um programa ergonômico abrangente; Analisar os dados, conduzir visitas, avaliar os profissionais. Registrar as doençaslesões, relatar os incidentes e outros dados disponíveis. Realizar uma visita por todas as unidades durante todos os turnos e procurar os fatores de risco. Observar o layout do local de trabalho, o ambiente de cuidado do paciente, e qualquer outra situação que possa criar posições que sejam inadequadas para o profissional. Avaliar os riscos das tarefas de manejo com o paciente. Realizar uma avaliação ergonômica baseada na coleta de dados. Considerar a variedade de tarefas de cada paciente, tipo de unidades de enfermagem, população de pacientes e ambiente físico. Determinar que tipo de tarifa oferece risco de lesão em cada unidade. Avaliar os níveis de dependência do paciente. Variação da população de pacientes e os distintos níveis de dependência, habilidade no suporte de peso, força nos membros superiores e inferiores, altura e peso. Tomar decisões para o levantamento de equipamentos e outros aparelhos assistenciais considerando as necessidades do paciente, habilidades e conforto. Pesquisar, avaliar, selecionar, e instituir o equipamento de manejo do paciente e aparelhos. Selecionar equipamentos baseados no critério de segurança e conforto do paciente, estabilidade e segurança para o cuidador, eficientes, manutenção, armazenamento, disponibilidade de uso, custo e efetividade. Contatar vários fabricantes para atualização tecnológica. Proporcionar um treinamento abrangente e interativo dos profissionais. Treinar profissionais para o uso dos equipamentos e outros aparelhos antes de usá-los e certificar-se que este treinamento se estenderá para novos profissionais. Identificar e treinar pares para serem experts na prevenção de lesões ergonômicas. Encorajar o relato de lesões na coluna ou musculares. Criar um ambiente livre de responsabilidade para relatar os casos relacionados com lesões no trabalho. Os funcionários devem ser tratados imediatamente e tomar decisões corretivas para eliminar os riscos. Rastrear as lesões do paciente e trabalhadores e avaliar o programa. Coleta de dados e análise, atualização do programa com as últimas diretrizes, melhores práticas e tecnologia. Conscientizando a indústria do cuidado da saúde, que as lesões nos músculos do esqueleto podem ser evitadas e precisam de um programa de saúde ergonômico seguro em todos os locais de trabalho, os enfermeiros podem eliminar os riscos ergonômicos. "' resumos.pmd 49 03/03/04, 14:52 EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), http:// www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8.Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. # Normas de publicação + Eventos.pmd 50 03/03/04, 14:52 EnfermagemBrasil Janeiro / Fevereiro 2004;3(1) 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3.Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986 Capítulo ou parte de livro: Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78. Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] # Normas de publicação + Eventos.pmd 51 03/03/04, 14:52 Calendário de eventos 2004 Março Junho 19 e 20 março I Simpósio Nacional de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem do Hospital Albert Einstein Hotel Hilton SP Informações: (11) 3747-1233 www.einstein.br 1 a 4 de junho 11º Feira Hospitalar Expo Center Norte SP Informações: (11) 3897-6191 www.hospitalar.com 29 de março a 1 de abril 9º Enftec - Centro de Convenções Frei Caneca SP Informações: (11) 3120-3285 [email protected] 19 a 23 de junho VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia Recife PE Informações: (81) 3227-1902 www.congressoepidemiologia2004.com.br Abril 23 e 24 de abril 1ª Jornada Latino Americana de Enfermagem em Nefrologia Punta Del Este Uruguay Informações: ++598 2 4081015 www.congresoslanh2004.org.uy/ 26 a 27 de abril 4º Simpósio Internacional de Economia da Saúde São Paulo SP Informações: (11) 5575-6427 www.cpes.org.br Julho 31 de julho a 2 de agosto IV Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar III Curso de Implantes e Equipamentos em Ortopedia, Bucomaxilo, Cirurgia Plástica e Neurocirurgia Centro de Convenções Rebouças SP Informações: SOBECC (11) 3341-4044 www.sobecc.org.br 29 e 30 abril Nursing 2º Congresso Brasileiro Centro de Convenções Pompéia SP Informações: (11) 4195-0363 www.nursing.com.br Maio 13 a 15 de maio V Congresso Brasileiro de Bioética Centro de Convenções do Mar Hotel PE Informações: (81) 3463-0871 www.cro-pe.org.br/bioetica/ 16 a 21 de maio 15º Biennial Congress World Council of Enterostomal Therapists Florianópolis SC Informações: 55 11 5081-7718 www.espansaoeventos.com.br [email protected] Normas de publicação + Eventos.pmd 52 21 a 25 de junho de 2004 II Congresso Internacional de Enfermagem do Trabalho III INTERENENT Encontro Internacional de Enfermagem do Trabalho XI ENENT Encontro Nacional de Enfermagem do Trabalho - UNIBAN - São Paulo - SP Informações: (11) 5507-2857 www.anent.org.br Agosto 18 a 21 de agosto 1º Congresso Brasileiro de Enfermagem em Infectologia Santos SP Informações: (11) 3721-9333 www.ellusaude.com.br Outubro 11 a 15 de outubro de 2004 7º CBCENF Conselho Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem Fortaleza CE Informações: 0800-2800065 www.cbcenf.com.br 03/03/04, 14:52 EnfermagemBrasil Março / Abril 2004;3(2) Índice Volume 3 número 2 - Março / Abril de 2004 EDITORIAL A enfermagem na saúde pública, Os Editores ............................................................................................... 55 A RTIGOS ORIGINAIS Uma avaliação diagnóstica do procedimento da lavagem das mãos dos profissionais de enfermagem, Geraldo Magela Salomé .......................................................................................................... 56 Ensinando estudantes de enfermagem a pensar o cuidado através do jogo dramático: o indutor espaço como metodologia de uma pedagogia libertadora, Ronilson Gonçalves Rocha, Priscila de Castro Handem, Nébia M. A. de Figueiredo, Renan Tavares, Teresa Tonini .................................................................................................................................... 63 Ergonomia na prevenção das dores osteomusculares relacionadas ao trabalho: o caso das merendeiras escolares de Nova Iguaçu e São Gonçalo, Hamilton Delgado de Almeida, Anamaria de Moraes ....................................................................................... 71 Comemoração da semana da enfermagem: uma estratégia para o desenvolvimento de competências específicas na disciplina de Noções de Administração, Teresa Cristina Prochet ............................................................................................................................................... 78 A prática pedagógica das facilitadoras do PROFAE: uma reflexão, Patrícia Neyva da Costa Pinheiro, Antônia Ferreira Sérvulo, Maria Albertina Diógines, Maria Grasiela Teixeira Barroso ............................................................................................................................... 85 Comportamentos e sentimentos das enfermeiras submetidas à cirurgia, Regina Maria de Carvalho, Maria José Coelho ..................................................................................................... 90 R EVISÕES Quando a empatia durante o ato de cuidar em enfermagem produz uma tecnologia descrevendo um artefato para a realização da técnica do shampoo em pacientes acamados, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Rita Ferreira Cardoso, Rubens Ghidini Júnior ................................................................................................................................................ 96 Hipertensão arterial e fatores de risco, Fernanda Paula Cerântola Siqueira, Eugênia Veludo Veiga ............................................................................................................................................. 101 N OTÍCIAS E RESUMOS. ......................................................................................................................... 107 N ORMAS DE PUBLICAÇÃO. .............................................................................................................. 110 C ALENDÁRIO DE EVENTOS............................................................................................................... 112 #! 00 Indice+editorial.pmd 53 29/04/04, 11:37 EnfermagemBrasil Março / Abril 2004;3(2) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) CONSELHO CIENTÍFICO Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP São Paulo) a a Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) GRUPO DE ASSESSORES Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS Mato Grosso do Sul) Profa Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe) a Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) a Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 e-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 - São Paulo - SP Tel: (11) 3362-2097 Assinaturas 1ano: R$ 144,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Representante de Assinatura: A. Shalon (11) 3361-5595 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Editor assistente Bárbara de Assis Jorge Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Editoração e arte Andréa Vichi Aline Figueiredo Colaboradora de redação Guillermina Arias Atendimento ao assinante Ingrid Haig Redação e administração Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço: Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro René C. Delpy Jr [email protected] (21) 2221-4164 Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil, Nutrição Brasil, Brasilis e Ação & Movimento. Foto da capa: Major Enfermeira reformada do Exército, Lúcia Osório, em assistência de enfermagem na II G.M. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. #" 00 Indice+editorial.pmd 54 29/04/04, 11:37 EnfermagemBrasil Março / Abril 2004;3(2) Editorial Enfermagem na saúde pública Os Editores Sempre que pensamos em saúde pública, imediatamente lembramos do caos que permeia nossos hospitais hoje em dia. Mas, ao lermos algumas notícias nos principais jornais do país, ficamos bem esperançosos com o futuro da Enfermagem, pois apesar dos inúmeros problemas, a quantidade de profissionais vem aumentando a cada ano no Brasil. Mais de 700 mil pessoas ajudam a salvar vidas, de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). O mercado de trabalho deverá aumentar significativamente nos próximos anos, pois projetos como o Programa de Saúde da Família ainda estão sendo implantados no país, como por exemplo, no Rio de Janeiro, onde o projeto atende apenas 5% do público-alvo. O grande diferencial de um bom profissional é buscar cada vez mais o preparo através do conhecimento científico, o que o habilita a interagir com as demais profissões, conferindo atendimento de qualidade a sua clientela, mas isso, sem perder a visão de mercado. Este é o propósito da Enfermagem Brasil, suprindo a necessidade de atualização, divulgando novas técnicas, compartilhando ações da enfermagem, tornandoa cada vez mais valorizada. Neste número, apresentamos trabalhos originais como uma avaliação sobre o procedimento da lavagem das mãos dos profissionais de enfermagem, ensinando estudantes a pensar o cuidado através do jogo dramático, a ergonomia na prevenção das dores osteomusculares relacionadas ao trabalho, uma reflexão da prática pedagógica das facilitadoras do PROFAE, revisões como hipertensão arterial e fatores de risco, e como a empatia durante o ato de cuidar produz uma tecnologia. Sendo assim, trazemos, mais uma vez, novas idéias e perspectivas de campos de atuação e pesquisa para o profissional de enfermagem. ## 00 Indice+editorial.pmd 55 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Artigo original Uma avaliação diagnóstica do procedimento da lavagem das mãos dos profissionais de enfermagem Geraldo Magela Salomé Especialista em UTI, pela Faculdade São Camilo. Supervisor de Enfermagem da UTI, do Hospital Vila Nova Cachoeirinha. Resumo Esta pesquisa enfoca o procedimento da lavagem das mãos dos profissionais de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva, com objetivo de identificar e avaliar as falhas mais freqüentes encontradas durante a realização deste procedimento. O estudo foi realizado no período de 29 de fevereiro a 6 de março de 2000, em um Hospital Estadual da grande São Paulo, onde fizeram parte da observação participativa 20 pessoas, entre enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Neste estudo pôde-se concluir que em função do grande número de funcionários que não lavaram as mãos, há necessidade de uma campanha de conscientização com reciclagem e treinamento dos funcionários. Só assim poderemos atingir o objetivo que é a redução e prevenção das infecções nosocomiais. Palavras-chave: infecção hospitalar, infecção nosocomial, controle de infecção, lavagem das mãos. Abstract A diagnostic evaluation of hand washing procedure of nursing professionals This research focus hand washing procedure of nursing professionals of an Intensive Care Unit and the main object is to identify and to evaluate the most frequent failures during the accomplishment of this procedure. The study was carried out from February 29 to March 2000, in a State Hospital of São Paulo, where 20 citizens, nurses and nurses aid participated. In this study we can conclude that because of the large number of employees who did not wash their hands, a campaign of awareness with recycling and employees training programs is need. We can only achieve the main object by reduction and prevention of nosocomial infections. Key-words: hospital infection, infection control, nosocomial infection, hand washing Artigo recebido em 05 de janeiro de 2004; aceito em 25 de março de 2004. Endereço para correspondência: Geraldo Magela Salomé, Av. Francisco de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134, bl. 01, Jabaquara 04330-020 São Paulo SP, E-mail: [email protected] #$ artigo 01a Geraldo f.pmd 56 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Resumen Una evaluación de diagnostico del procedimiento del lavado de las manos de los profesionales de enfermería Esta investigación trata del procedimiento del lavado de las manos de los profesionales de enfermería de una Unidad de Terapia Intensiva, con el objetivo de identificar y evaluar las fallas más frecuentes durante la realización de este procedimiento. El estudio fue realizado en el período de 29 de febrero a 6 de marzo de 2000, en un Hospital Estadual de São Paulo y participaron 20 personas, enfermeras y asistentes de enfermería. En este estudio podemos concluir que en función del gran número de empleados que no lavaron las manos, se hace necesario una campaña de concienciación del reciclaje y el entrenamiento de los empleados. Sólo así podremos alcanzar el objetivo que es la reducción y la prevención de las infecciones nosocomiales. Palabras-claves: infección hospitalaria, infección nosocomial, control de la infección, lavado de la mano Introdução Esta pesquisa enfoca o procedimento da lavagem das mãos dos profissionais de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no contexto do controle de infecção hospitalar. A demanda de paciente em uma Unidade de Terapia Intensiva está aumentando a cada ano, em contraste com os recursos humanos já existentes, o que eleva sobremaneira as incidências de infecção hospitalar em pacientes graves a níveis mais significativos que qualquer outro departamento do hospital (5 a 10%) [1]. Segundo Zanon [1], a incidência de infecção hospitalar, é elevada e diretamente proporcional aos procedimentos invasivos e o tempo de permanência na unidade. O mecanismo de transmissão das infecções mais importante na UTI é a disseminação microbiana de pacientes a pacientes através das mãos dos profissionais. O único meio de controlar esta forma de transmissão é o incentivo da lavagem das mãos antes e após o contato com os pacientes [2]. A lavagem das mãos tem sido pesquisada ao longo dos anos, como sendo um fator de importância capital na redução de infecções nosocomiais, deve ser um hábito para os profissionais de saúde e a sua adesão, um desafio para a comissão de controle de infecção hospitalar, é a medida mais simples e importante na prevenção da infecção. Se a técnica correta for realizada, remove das mãos microrganismo adquirido transitoriamente no contato com paciente. Segundo Armond [3], a lavagem das mãos tem como objetivo reduzir a transmissão de microrganismo pelas mãos, prevenindo as infecções, e sua eficácia depende da duração e da técnica adequada. Potter [4], afirma que além da lavagem das mãos, o profissional deve tomar outras providências para reduzir a transmissão de microrganismo. No hospital, em casa ou em outros locais de assistência de saúde, o paciente deve ter um jogo de materiais para o seu próprio uso. Os termômetros, comadres, urinóis, bacias e utensílios para refeições podem facilmente conduzir a transmissão de uma infecção. Gould [5] define que o objetivo da lavagem das mãos é a remoção de todos os microrganismos não residentes, até um nível inferior ao necessário para constituir uma dose infecciosa, antes que possa ocorrer uma transferência para um doente suscetível. Para Martins [6], a lavagem das mãos é um dos procedimentos mais simples e dos mais eficazes na prevenção e controle das infecções hospitalares. A lavagem das mãos é importante, pois este procedimento colabora na prevenção das infecções hospitalares, causadas por microrganismos, que são adquiridos no contato com o paciente e transportados pelas mãos dos profissionais a ele mesmo ou a outros pacientes. Para Vast [7], a lavagem das mãos é de importância primordial, de forma a evitar uma potencial infecção. No entanto, inúmeros estudos mostram que a lavagem das mãos ainda é uma prática negligenciada, apesar de estar amplamente provado o seu papel na redução das infecções. #% artigo 01a Geraldo f.pmd 57 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Uma vez que mãos contaminadas são a principal causa de transmissão de infecções, a lavagem das mãos é a técnica mais básica e mais importante na prevenção e controle de doença em todos os hospitais do mundo. Santos [8], recomenda que os profissionais de enfermagem façam a lavagem de suas mãos de forma rotineira, nas seguintes situações: 1. Antes e após o contato com o paciente; 2. Após o manuseio de materiais biológicos; 3. Antes e após executar procedimento invasivos, tais como aplicação de injeções, cateterização, curativo etc; 4. Antes e após o manuseio de curativo ou ferida exposta; 5. Antes e após o preparo de medicamentos; 6. Após o manuseio de materiais contaminados. Potter [4], recomenda a lavagem das mãos dos profissionais nos seguintes casos especiais: Antes de começar a cuidar dos pacientes, uma lavagem das mãos feita em dois minutos proporciona uma excelente proteção; Uma lavagem de trinta segundos após cada contato de rotina com o paciente assegura que a transmissão de organismos será mínima; Antes de o profissional trabalhar com materiais estéreis, a lavagem das mãos deve durar pelo menos três minutos; Quando o profissional manusear equipamentos ou materiais orgânicos contaminados, recomenda-se a lavagem por um minuto; A lavagem das mãos deve ser realizada com técnicas padronizadas pela Instituição. As mãos são o principal meio de transmissão das infecções hospitalares, por serem o instrumento mais usado no cuidado com o paciente. A escolha do método para eliminar os microrganismos das mãos depende da flora da pele que se quer atuar e de cada situação em particular [9]. Os pacientes devem aprender como lavar suas mãos antes de comer ou manusear alimentos, após manipulação de equipamentos, roupas de cama, após materiais orgânicos contaminados e antes e após a excreção. Recomenda-se aos visitantes que lavem suas mãos antes de comer ou manusear alimentos e tocarem nos seus familiares. Para cuidados gerais dos pacientes, a lavagem das mãos com sabão neutro sem anti-séptico é o suficiente para atingir o objetivo de remover resíduos, materiais orgânicos e a microbiota transitória das mãos. O ideal é a utilização destes produtos em formulação líquida, em dispensadores de refil descartável ou saboneteiras. A eficácia da lavagem das mãos depende de vários fatores, tais como: 1. Volume de sabão, tempo de fricção; 2. Lavagem de toda a superfície das mãos; 3. O enxágüe deve ser rigoroso para remoção dos resíduos de sabão e a secagem deve ser realizada por toalhas de papel de boa qualidade; 4. Número de microrganismo sob as unhas e uso de anéis; 5. A infra-estrutura para lavagem das mãos (pias, saboneteiras e toalheiro) deve ser de fácil acesso, possibilitando adesão ao procedimento. Considerando-se o valor inquestionável da lavagem das mãos dentro das ações de CIH, propôsse na presente pesquisa identificar as falhas mais freqüentes encontradas no procedimento da lavagem das mãos entre os profissionais de enfermagem de uma UTI para subsidiar o programa de reciclagem, treinamento e atualização do pessoal de enfermagem do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, na Unidade de Terapia Intensiva Adulto. Esta pesquisa tem como objetivo: Identificar e descrever as falhas mais freqüentes encontradas durante a realização do procedimento da lavagem das mãos pelo pessoal de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto. Material e Método Tipo de pesquisa Esta pesquisa caracteriza-se como exploratória, descritiva, de campo, transversal com abordagem quantitativa. Local do estudo O estudo foi desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha. É um hospital de grande porte. Este faz parte do Programa Metropolitano de Saúde, que incorpora a idéia de estrutura Estadual, localizado na Avenida Deputado Emilio Carlos, 3000 no bairro de Vila Nova Cachoeirinha, Zona Norte do município de São Paulo. É uma Unidade de Terapia Intensiva, geral, adulta, com capacidade para 12 leitos, porém com 7 leitos ativos. #& artigo 01a Geraldo f.pmd 58 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) População A população deste estudo foi constituída pelos integrantes da equipe de enfermagem (enfermeiros e auxiliares de enfermagem), que fazem parte do quadro de funcionário do campo de estudo. Foram excluídos da população do estudo desta pesquisa: 1. Os funcionários de outros setores que estavam dando cobertura às faltas; 2. Os que estavam de folga; 3. Os funcionários que estavam gozando férias; 4. Os estagiários do curso de enfermagem; 5. Os acadêmicos do curso de enfermagem e Fisioterapia pelo motivo de que os mesmos não receberam treinamento da técnica da lavagem das mãos pela educação continuada. Todos que participaram da pesquisa concordaram em assinar um termo de consentimento livre e informado. Procedimento de coleta de dados Inicialmente foi encaminhado para a Diretora de Enfermagem da Instituição local de estudo, uma solicitação para a autorização da pesquisa. Autorização foi concedida em 28 de fevereiro. Como técnica de coleta de dados, foi eleita a observação participativa. Para tanto, foi elaborado inicialmente um Check list, com os seguintes aspectos a ser observados: 1. Estado de conservação das pias e toalheiros de papel; 2. Suporte para sabão líquido; 3. Situações práticas que exigem lavagem das mãos; 4. Procedimentos das lavagens das mãos preconizada pela SCIH. A observação participativa foi realizada durante os dias 29 de fevereiro, 1, 2, 3, 4, 5, 6 de março do ano 2000, nos horário das 8 horas às 11 horas nos dois períodos diurnos e nos dois períodos noturnos das 19 horas às 23 horas, totalizando 56 horas de observações, conforme o planejamento encaminhado para a diretoria de enfermagem. Para não prejudicar a espontaneidade da coleta de dados, esta foi realizada sem que os sujeitos fossem informados que estavam sendo observados, e comunicados posteriormente. Somente após autorização, os dados coletados foram considerados para a pesquisa. As duas primeiras horas da observação não foram consideradas, pois este período de tempo foi necessário para os sujeitos da pesquisa se acostumasse com a presença do pesquisador. Ao término do último dia da observação, os sujeitos da pesquisa foram comunicados, de que fizeram parte, solicitando neste momento autorização para que os dados observados fossem considerados, assinando um termo de consentimento livre e informado. Os funcionários que consentiriam em participar da pesquisa totalizaram 20 sujeitos. Foi utilizada para a realização da observação participativa, a técnica da lavagem das mãos padronizada pela SCIH. Apresentação e tratamento dos dados As falhas e os pontos positivos observados foram registrados em check list e, posteriormente, analisados, sendo os dados agrupados e apresentados em formas de gráficos e tabelas, utilizando-se a estatística descritiva. Resultados e discussão Entre os dias 29 de fevereiro e 6 de março do ano 2000, foram observados 20 sujeitos durante 56 horas. Foram presenciadas apenas 112 lavagens das mãos, sendo que 5 sujeitos lavaram as mãos quando chegaram na unidade para trabalhar, 14 lavaram as mãos quando estavam indo embora para casa e 93 lavaram as mãos, após realização dos procedimentos observados, totalizando 200 procedimentos observados. Quadro 1 - Distribuição da freqüência da lavagem das mãos antes e após o trabalho na unidade. São Paulo, 2000. O gráfico 1 mostra, que entre a lavagem das mãos antes e após o trabalho na unidade, 26% dos sujeitos lavaram as mãos quando chegaram na unidade para trabalhar e 74% lavaram as mãos quando estavam indo para casa. Em um artigo publicado na revista do Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo pela #' artigo 01a Geraldo f.pmd 59 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Agência Nacional de Vigilância Sanitária, relata que a lavagem das mãos é a medida básica, essencial para reduzir a propagação das infecções em ambientes hospitalares. Segundo Guilheemetti [10], o Staplylococcus aureus meticilino resistente é um agente importante das infecções hospitalares, tendo como principal reservatório os pacientes colonizados, a equipe de saúde e o ambiente hospitalar. As mãos dos profissionais de saúde podem se tornar transitoriamente colonizadas, sendo o principal veículo para sua transmissão cruzada. Tabela 1 - Distribuição da freqüência da lavagem das mãos após realização dos procedimentos. São Paulo, 2000. Tipo de Procedimento Antes do preparo do medicamento Após o preparo do medicamento Antes de auxiliar o paciente na alimentação Após auxiliar o paciente na alimentação Antes de desprezar drenos Após desprezar drenos Antes de desprezar diurese Após desprezar diurese Ante de preparar material e equipamentos Após preparar material e equipamentos Ante de manusear cada paciente Após manusear cada paciente Antes de realizar curativo Após realização de curativo Total Realizado Nº % Não realizado Nº % 14 7,0 11 5,5 10 5,0 11 5,5 07 3,5 10 5,0 05 5 3 6 5 2,5 2,5 1,5 3,0 2,5 10 1 1 5 4 5,0 0,5 0,5 2,5 2,0 4 2,0 6 3,0 2 1,0 3 1,5 10 5,0 15 7,5 10 7 5 93 5,0 3,5 2,5 46,5 15 10 5 107 7,5 5,0 2,5 53,5 Nesta tabela 1, observa-se que os sujeitos preocupam-se em lavar as mãos somente antes de realizarem procedimentos. Heselline [12], relata em seu artigo que há mais de 150 anos os profissionais de saúde tem aprendido que as infecções cruzadas são doenças transmissíveis, mas não contagiosas e a mais efetiva forma de prevenilas é lavando as suas mãos antes e após cada contato com o paciente. Para Blon e Lima [11], a lavagem das mãos deve ser realizada nas seguintes situações: 1. Quando estiverem sujas; 2. Antes e após de administrar medicamento ao pacientes; 3. Após o contato com materiais e superfícies contaminadas; 4. Antes e após realização de seu trabalho hospitalar, de atos e funções fisiológicas ou pessoais, como alimentar, assoar o nariz, usar o banheiro, pentear, fumar ou tocar qualquer parte do corpo; 5. Sempre antes e após o contato direto com o paciente, como na higienização, na troca de curativos, roupas, nos cuidados com o paciente, e entre diferentes pacientes; 6. Antes e após preparo de materiais e equipamento, durante seu reprocessamento, na manipulação de cateteres intravasculares e do sistema fechado de drenagem urinaria e dos equipamentos respiratórios. Segundo Lopes e Cruz [13], ao realizar uma correta lavagem das mãos antes e depois de qualquer procedimento, reduzir-se-á consideravelmente o índice de infecção. Se ao mesmo tempo, procurar educar os pacientes, unificar critérios e cumprir as normas básicas de assepsia, pode-se assegurar que as infecções serão em número mínimo ou inexistente. Gráfico 2 - Distribuição da freqüência da lavagem das mãos após o uso de luvas de procedimentos. São Paulo, 2000. Gráfico 2 - Este gráfico mostra que 65% dos sujeitos da pesquisa não lavam as mãos após retirarem a luva de procedimento e 35% dos sujeitos lavam as mãos após a retirada da luva de procedimento. Segundo Santos [8], a lavagem das mãos é o meio mais simples e eficaz de prevenir a transmissão de microorganismo no ambiente assistencial. A importância desta prática é reconhecida também pelo governo brasileiro, quando incluiu recomendações para a lavagem das mãos no anexo VI da Portaria 2616\98. Observamos, na tabela 2, que somente 40% dos sujeitos que participaram da pesquisa lavaram as mãos corretamente e os 60% lavaram com algumas falhas. Carmagnani [14], relata em seu trabalho que a segurança do paciente no ambiente de assistência à saúde $ artigo 01a Geraldo f.pmd 60 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Tabela 2 - Distribuição da freqüência da lavagem das mãos conforme técnica padronizada pela Instituição São Paulo, 2000. Descrição da técnica da lavagem das mãos Lavagem das mãos Realizada corretamente % N° Lavagem das mãos Realizada incorretamente % N° Funcionários usam relógio, jóias, bijuterias 65 73 35 39 As unhas dos funcionários são curtas 54 61 46 51 Os funcionários ficam em pé em frente à pia mantendo as mãos e o uniforme longe da superfície do mesmo 47 53 53 59 As mãos dos funcionários tocam na pia durante a lavagem 38 43 62 69 As mãos dos funcionários tocam na pia após a lavagem 44 49 56 63 Os funcionários que acionam torneira manual fechando com uma toalha de papel ao término da lavagem das mãos 59 66 41 46 Os funcionários molham as mãos e antebraços totalmente sobre a água corrente mantendo os mesmos em uma posição mais baixa que os mesmos em uma posição mais baixo que os cotovelos durante a lavagem das mãos 40 45 60 67 Os funcionários realizam a fricção das mãos por 15 a 39 segundos, entrelaçando circulares 40 45 60 67 O enxágüe das mãos e pulso é realizado completamente, mantendo as mãos para baixo e os cotovelos para cima 40 45 60 67 Seca complemente as mãos, dedos, pulso e antebraço 71 80 29 32 Desprezam o papel toalha no local adequado 71 80 29 32 Para fechar a torneira usam papel toalha limpo e seco 71 80 29 32 depende da lavagem correta das mãos. Não negligencie esse procedimento, pois ele é fundamental à manutenção da sua própria segurança e da segurança do paciente. Para Fernandes [14], a lavagem das mãos é a mais importante medida de controle de infecção. No entanto, os profissionais de saúde não realizam este procedimento com freqüência e nem com a técnica correta. Em seu estudo mostrou que as mãos são lavadas menos da metade das vezes em que seriam necessárias e os médicos são os que menos aderem a esta recomendação. Conclusões Em função de grande número de funcionários que não lavam as mãos, observados durante a realização da pesquisa, há necessidade de reciclagem e treinamento do pessoal da UTI, quanto à técnica correta da lavagem das mãos. Tem necessidade de monitorar essa técnica, através de novos estudos prospectivos para poder identificar e avaliar as falhas mais freqüentes encontradas durante a realização da lavagem das mãos. É necessário desenvolver uma avaliação de desempenho individual sob a supervisão direta do enfermeiro. O profissional, ao utilizar uma técnica da lavagem das mãos, estará realizando um controle e prevenção das infecções nosocomiais. As falhas destes profissionais durante a realização deste procedimento poderão comprometer gravemente a recuperação e a manutenção do bom estado de saúde do paciente. Sugiro a realização de uma campanha de conscientização sobre a lavagem das mãos, através de treinamentos, reciclagem e concurso, por exemplo, da melhor frase sobre a lavagem das mãos. Portanto é $ artigo 01a Geraldo f.pmd 61 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) necessária a conscientização da equipe multidisciplinar para que este processo atinja seu objetivo que é a utilização da técnica correta e a redução e prevenção das infecções nasocomiais. 2. 3. 4. 5. 6. 8. 9. Referências 1. 7. Zanon V, Neves J. Infecções hospitalares: Prevenção, diagnóstico e tratamento. 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[Citado 2002 mar 05]. ccih@ ccih.med.br K $ artigo 01a Geraldo f.pmd 62 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Artigo original Ensinando estudantes de enfermagem a pensar o cuidado através do jogo dramático: o indutor espaço como metodologia de uma pedagogia libertadora Ronilson Gonçalves Rocha*, Priscila de Castro Handem**, Nébia M. A. de Figueiredo, D.Sc.***, Renan Tavares, D.Sc.****, Teresa Tonini, M.Sc.***** *Graduando de Enfermagem da EEAP/UNIRIO. Bolsista AT CNPq, **Graduanda de Enfermagem da EEAP/UNIRIO. Bolsista IC CNPq, ***Doutora em enfermagem pela UFRJ. Professora Titular do DEF da EEAP/UNIRIO Pesquisadora do CNPq, ****Doutor em Estudos Teatrais Université de Paris III Sorbonne Nouvelle. Docente do DEF da EEAP/UNIRIO, *****Mestre em Enfermagem pela UFRJ. Docente do DEF da EEAP/UNIRIO Resumo Trata-se de uma experiência pedagógica com o jogo dramático para ensinar estudantes de enfermagem a pensar o cuidado através do indutor espaço. A questão de pesquisa é: o jogo dramático funciona como uma pedagogia libertadora para pensar o cuidado e a prática de enfermagem? Objetivos: criar através do jogo, momentos para pensar o cuidado e a prática de enfermagem; discutir como a ocupação do espaço pelos estudantes tem implicações no pensar e fazer. A metodologia é quanti-qualitativa e as informações foram colhidas durante três jogos dramáticos, realizados com 32 estudantes. Encontramos duas categorias de análise: Ocupar o espaço vazio: a inexperiência política em enfermagem; A ocupação do espaço sem sentido: os corpos dos estudantes não olham e nem se comunicam. Conclusão: o jogo dramático serviu para que os estudantes se percebessem e se reorganizassem de corpos duros para flexíveis, racionais para sensíveis, calados para falantes e de tímidos para críticos. Palavras-chave: cuidado em enfermagem, jogo dramático, espaço, pedagogia. Artigo recebido em 27 de janeiro de 2004; aceito em 25 de fevereiro de 2004. Endereço para correspondência: Nébia M. A. de Figueiredo, R. Visconde de Ouro Preto, 34/201 Botafogo 22250-180 Rio de Janeiro RJ $! artigo 02 Ronilson.pmd 63 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Abstract Teaching nursing students to think about the care through a dramatic game: the space as a methodology of free education It is about educational experience using a dramatic game to teach nursing students to think about the care through the influencing space. The question of the research is the following: Does the dramatic game work as a free education to think about the practice and the care of nursing? Objectives: To make this games, moments to thing about the care and the practice of nursing; to discuss how the students occupy the space and the implication on thinking and performing. The methodology is on quantity and quality and data collected during the three dramatic games, performed with 32 students. We found two categories of analysis: To occupy the empty space: the political inexperience in nursing; the occupation of the space with no sense: the students bodies dont look and dont communicate. Conclusion: The dramatic game was useful so that the students would realize themselves and organize the stiff bodies to flexible; reasonable to sensible; in silent to talking; shy to critical. Key-words: nursing care, dramatic game, space, education. Resumen Enseñando a los estudiantes de enfermería a pensar el cuidado atravez del juego dramático: el inductor espacio como metodología de una pedagogía libertadora. Se trata de una experiencia pedagógica con el juego dramático para enseñar a los estudiantes de enfermería a pensar el cuidado a través del inductor espacio. El principal interrogante fue: el juego dramático funciona como una pedagogía libertadora para pensar el cuidado y la práctica de enfermería. Objetivos: Crear a través de un juego momentos para pensar el cuidado y la práctica de enfermería; discutir como la ocupación del espacio por los estudiantes tiene implicaciones en el pensar y el hacer. La metodología es cuanti-cualitativa y las informaciones fueron recolectadas durante tres juegos dramáticos realizados con treinta y dos estudiantes. Encontramos dos categorías de análisis: Ocupar el espacio vacío: la inexperiencia política de enfermería; la ocupación del espacio sin sentido: los cuerpos de los estudiantes no miran ni se comunican. Conclusión: el juego dramático sirvió para que estudiantes se percibieran y pasaran de cuerpos duros para flexibles; racionales para sensibles; callados para hablantes; tímidos para críticos. Palabras-claves: cuidado de enfermería, juego dramático, espacio, pedagogía. Introdução A busca para encontrar estratégias que possibilitem a utilização de pedagogias diferentes para pensar o cuidado com estudantes de graduação e de pós-graduação em enfermagem tem sido interminável para nós. Do mesmo modo, temos buscado parcerias para nos oferecer o acesso a conhecimentos na área do teatro para que, juntos, possamos criar espaços de expressão, passíveis de serem teorizados através de uma outra abordagem científica, associando ciência e arte. A experiência com a pedagogia do jogo, que está em foco neste estudo, realiza um desejo de libertar o corpo, que controlamos através de um pensarsaber biomédico. Normalmente a pedagogia que temos instituído, em nossa Escola de Enfermagem, apesar do discurso contrário, tem sido a da contenção, do estímulo/ resposta e do condicionamento, o que tem revelado ser um problema de pesquisa, porque temos percebido o engessamento do corpo dos estudantes, que, inclusive e talvez por isso, se mantêm a serviço de uma certa racionalidade sem emoção. Os 32 estudantes participantes cursam o 5º período, do curso de Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade do Rio de Janeiro EEAP/UNIRIO. Esta experiência pedagógica pontual aconteceu, no dia 12 de julho de 2002, na sala de aula da disciplina Paradigmas do Saber em Enfermagem II, oferecida pelo Departamento de Enfermagem Fundamental, cuja ementa é: $" artigo 02 Ronilson.pmd 64 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Apresenta aos graduandos os paradigmas das correntes filosóficas emergentes (holismo, ciência sensual, ciência com consciência, conhecimento comum, complexidade, transdisciplinaridade, caosmose e outros), como concepções alternativas que podem dar base à construção do saber em enfermagem, discutindo com eles estas diferentes concepções, com vistas à melhoria da pesquisa em enfermagem e suas implicações para o ensino, para a prática de cuidar e pesquisar. A hipótese deste estudo é de que o jogo dramático pode contribuir para a libertação do corpo e de suas ações com implicações mais sensíveis para a prática do cuidar em enfermagem. A questão de pesquisa é: o jogo dramático funciona como uma pedagogia libertadora para os estudantes, quando se solicita que ocupem o espaço para pensar o cuidado e a prática em enfermagem? Daí emerge o objeto deste estudo: ensinando os estudantes a pensar o cuidado através de jogos dramáticos, tendo como indutor do jogo o espaço a ser ocupado. Na enfermagem, o espaço é o lugar de ensino (a escola), de aprender (a sala de aula), de cuidar (o ambiente onde os clientes se encontram). Objetivos Definimos como objetivos: 1. Criar, através de jogos dramáticos, momentos para pensar o cuidado e a prática de enfermagem, a partir do indutor espaço; 2. Discutir como a ocupação do espaço pelos estudantes tem implicações no pensar e no fazer em enfermagem. O presente estudo sobre esta experiência pedagógica interdisciplinar, na qual ainda estamos tateando, quer contribuir para a reflexão sobre a questão nele levantada, não só entre os que se encontram em formação na universidade, como também para os que já são profissionais no mercado do trabalho em enfermagem. A justificativa da intervenção da prática do jogo dramático, enquanto relação interdisciplinar entre a pedagogia do jogo e a pedagogia já instituída, se baseia no fato dos jogos dramáticos serem eficazes para estimular os estudantes; futuros enfermeiros a se tornarem mais expressivos em sua prática profissional e para possibilitar o estudo de formas expressivas (gestos, movimentos, signos não verbais) capazes de trazer à tona a questão do engessamento do corpo. O corpo, no nosso entender, é importante e atuante instrumento do cuidado. A pedagogia do jogo, que utiliza o jogo dramático, revela-se perfeitamente adequada à idéia e/ou à afirmativa, difundida há mais de um século, de que a enfermagem é uma arte. A enfermagem é arte, se o corpo que a exerce é um corpo que se expressa esteticamente, um corpo arte, ou seja, um corpo livremente expressivo, ético, sensível e emocional. A experiência com o jogo dramático revela eficácia ao tornar o corpo mais livre, mais explorável na sua capacidade de emissão de signos. Material e métodos Trata-se de uma metodologia experimental, cuja abordagem quantitativa e qualitativa se sustenta no envolvimento entre professores pesquisadores e estudantes participantes, assim como na singularidade das informações decorrentes de experiências lúdicas dos estudantes, como sujeitos de pesquisa. A disponibilidade para o jogo e as fotos por eles autorizadas de suas experiências são prova de que entendem a sala de aula também como um laboratório para pensar e aprender a cuidar. O espaço como indutor do jogo dramático, utilizado como metodologia provocadora de informações e significados passíveis de reflexão coletiva, cria condições para que o imaginário, as formas expressivas e a intenção de comunicação se manifestem lúcida e ludicamente. A sala de aula é primeiramente dividida em área de jogo (vazia, limpa, livre de qualquer elemento significante) e área de não jogo (destinada ao mobiliário da sala, ao material pessoal e a qualquer outro elemento significante). Assim preparada, a sala de aula se torna o laboratório para a experimentação. A área de jogo, tratada na sua materialidade, é recortada ou enquadrada pela sua forma, plasticidade, textura (alto/baixo; largo/estreito; claro/escuro; circular/retangular; liso/áspero; plano/profundo). As múltiplas possibilidades de recorte ou enquadramento da área de jogo levam sempre em conta o ponto de vista ou a posição do olhar do observador (frontal; lateral; de cima; de baixo; de perto; de longe). Assim, em função da materialidade do espaço recortado ou enquadrado, assim como do lugar de onde se observa o jogo, o espaço vazio exerce a função de induzir os jogadores a preenchêlo com seu corpo: gestos, formas plásticas e expressões faciais. Com o olhar e o corpo congelados no espaço vazio, individual e voluntariamente, os jogadores optam por escolher o papel de jogador ou o de observador do jogo. Jogando e observando, alternada e simultaneamente, imagens (fixas e congeladas) são criadas no espaço antes vazio e são $# artigo 02 Ronilson.pmd 65 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) lidas, pois passam a configurar signos com forte carga de significação. Os significados e as informações, que emergem destas imagens, são debatidos no momento da palavra. A palavra só é autorizada depois da realização silenciosa do jogo. Os jogos de ocupação do espaço vazio, assim como, o momento da palavra são regidos por regras precisas e reveladas com antecedência. O indivíduo e o coletivo manifestam-se durante toda a experiência lúdica e os temas, os conceitos, as idéias, os conteúdos, os significados resultam do nível de envolvimento e do engajamento pessoal e coletivo. Nenhum significado ou tema é apresentado a priori. Eles surgem no jogo. O jogo individual cria significado que se mantém, se altera, se complementa e se contradiz com o jogo individual seguinte. A produção de sentido se faz, assim, individual e coletivamente. O indutor do jogo é realmente o espaço enquadrado a partir de sua materialidade, de sua camada significante. O espaço como indutor do jogo dramático possibilita o acesso a elementos da linguagem teatral e, ao mesmo tempo, provoca a produção de sentido que leva em conta a surpresa, o aleatório, o acaso, a ousadia, a generosidade, a tolerância e o espírito crítico. Jogar é fazer e isto implica em correr risco. Cabe ao jogador medir o risco que quer correr, voluntariamente, com liberdade. Momentos da pesquisa Momento um Delimitação do espaço a ser ocupado e solicitação para que os estudantes o ocupem. Este jogo foi repetido em 3 diferentes espaços enquadrados. Nos três jogos, o olhar observador ocupou também diferentes posições. Momento dois Momento da Palavra: sentados em círculo, todos se olhando, param de jogar para falar sobre a experiência vivida e, para nosso estranhamento, eles se expressaram, por diversas vezes, sobre o mesmo assunto (os números de vezes estão entre parênteses, como mostra o Quadro 1, abaixo. Surgiram, então, temas emergentes tais como: observação, memória e expressão corporal. Momento três De volta ao jogo: foi solicitado aos jogadores a ocupar da mesma forma o mesmo espaço anterior. Foi interessante perceber como foi difícil lembrar de como estavam no começo do jogo. Os estudantes se descobriram sem memória e com observação pouco aguçada, se descobriram olhando sem ver. A pedido dos pesquisadores, eles tentaram mudar as expressões corporais anteriores, confirmando tais dificuldades na composição plástica, na expressão corporal. Momento quatro A partir do material significativo colhido durante a experimentação, trabalhamos sobre o número de vezes que determinados temas surgiram, quando usaram a palavra para pensar o jogo. Vejamos: Quadro 1 - Dos temas emergentes. 1. na hora de ocupar o espaço deixamos muitos espaços vazios (18) 2. as pessoas que ocuparam os espaços não se comunicaram e nem se olharam (21) 3. houve superposição de corpos quando olhávamos a cena (5) 4. quando me coloquei no espaço pensei na intimidade do corpo (13) 6. pensei na reorganização da imagem, mexer com a imagem (16) 7. me curvei para quebrar a imagem (1) 8. pensei na cadeia da evolução humana (1) 9. procurei olhar só para um ponto (28) 10. só tinha visão para o mundo lá fora (2) 11. pensei na divisão do espaço fechado e na solidão (7) 12. percebi o isolamento de alguém, mesmo no meio dos outros (16) 13. só uma aluna tocou na outra (1) 14. alguém procurou encontrar o outro (2) 15. ocuparam o espaço sem se preocupar com o como ocupá-lo (28) Discussão e implicações dos jogos de ocupação do espaço para o cuidado em enfermagem Antes de iniciar a reflexão a partir das duas categorias de análise 1. Ocupar o espaço vazio: a inexperiência política em enfermagem; 2. A ocupação do espaço sem sentido: os corpos dos estudantes não olham e nem se comunicam, relevantes e pertinentes para aprender a cuidar de si e a cuidar do outro, oriundas da leitura do Quadro 1, observemos, na imagem gráfica abaixo, as falas mais recorrentes dos estudantes em relação à seleção dos temas, emergentes, pontuais. Figura 1 - Dos temas emergentes. As observações, realizadas pelos estudantes, sobre a ocupação, re-ocupação e re-organização $$ artigo 02 Ronilson.pmd 66 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) plástica do corpo nos espaços enquadrados os colocaram diante de problemas, que só foram possíveis pela experiência com o jogo dramático. Ao nomeá-los, estes problemas tornaram-se merecedores de atenção ainda nos limites do tempo da aula: dificuldades de comunicação, de observação, de ocupação do espaço. Estas dificuldades foram, então, pensadas, como exercício de reflexão coletiva, nas suas íntimas relações com as ações e as atitudes na prática de enfermagem. Apesar dos estudantes poderem lançar mão deste material para os seminários exigidos pela disciplina, nos pareceu conveniente trazêlos para nosso estudo, no sentido de ampliar os elementos disponíveis para análise. Estão, assim, apresentados no Gráfico 2, a seguir: Gráfico 2 - Falas após ocupação do espaço. A B C D E F G H I J L M N Legenda Nº de Vezes Deixam espaços vazios 18 Não se comunicam com o olhar 21 Não se comunicam com a fala 31 Ritmo do corpo sem preocupação 13 Reorganização da imagem 16 Quebrar a imagem 01 Cadeia da evolução 01 Olhar só para um ponto 28 Só tinha visão para o mundo lá fora 02 Divisão do espaço e solidão 07 Isolamento de alguém no meio dos outros 16 Só um toca no outro 01 Ocupar sem se preocupar como ocupar 28 Foi possível verificar, com a prática do jogo dramático, como os alunos criam movimentos - ondas, quando falam de temas não comuns na cotidiana socialização dos conteúdos no aprender enfermagem. Como a pedagogia do jogo não é utilizada rotineiramente nem mesmo o jogo dramático, se descobriram sensíveis, criativos, ousados, mesmo não se sentindo, de início, confiantes ou soltos para viver o jogo. Lançando mão da primeira categoria de análise, chamada de Ocupar o espaço vazio: a inexperiência política da enfermagem, iniciaremos nossa reflexão pelo tratamento de uma das questões mais problemáticas tanto no ensino, quanto na ação de cuidar e gerenciar o cuidado, pois envolve adminis- tração em enfermagem e espaço político da profissão. Morin [1], nos chama a atenção, se reportando a Dukheim, de que o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos aos estudantes, mas o de criar neles um estado interior e profundo, numa espécie de polaridade de espírito que o orienta em um sentido definido para toda a vida. A experiência pedagógica com o jogo dramático parece alcançar tal objetivo, ao conseguir mexer, estimular o estudante não só a raciocinar, mas a descobrir as ressonâncias possíveis junto à especificidade de sua formação. Talvez por conta da própria pedagogia que temos desenvolvido, os tornamos seres de mentes estreitas, que querem respostas imediatas, programadas a priori, sem direito à chance de sonhar, discordar, imitar, se apaixonar, calar, gritar, rir e chorar. Alargar as possibilidades de ser, pensar e fazer dos estudantes é nossa preocupação central, nesta disciplina. Preocupa-nos uma formação, na qual os estudantes só sabem se relacionar com estímulos e respostas, condicionados a cumprir tarefas, a queimar etapas, a ter pouco tempo para viver oportunidades acadêmicas. A pedagogia do jogo, através dos jogos dramáticos, parece abrir um espaço de claridade, de liberdade, para melhorar e ampliar o eu dos estudantes, como foi dito de diversos modos quando eles falaram da experiência pedagógica vivida em sala de aula. Ao ocupar o espaço vazio e delimitado, o jogo lentamente criou um rebuliço neles, apesar de, inicialmente, ter parecido a todos um exercício sereno e silencioso. Ao se descobrirem ocupando pouco espaço, deixando espaços tão vazios, eles se deram conta de que, ainda, não tinham se despertado para a importância de ocupálos adequadamente. Foi muito automático estabelecer relações de significação com os espaços de enfermagem, onde cuidam e fazem sua política. Por que se colocaram num só lugar; todos num só canto e tantos lugares ficaram vazios? Foram questões levantadas que têm implicações diretas com sua formação e profissão. O estreitamento do espaço está relacionado com o estreitamento da mente que tem sido tomada e paralisada pela usual racionalidade, que dá ênfase a um ensino, onde a doença é que comanda os programas; onde as tarefas não são pensadas, problematizadas e nem questionadas. Trinca [2], diz que estes condicionamentos, em suas tendências extremas, saturam a mente de objetos oclusivos e categorias, imprimindo um tipo de funcionamento ditado predominantemente pela rigidez das formas programáveis como as máquinas. Isto resulta num $% artigo 02 Ronilson.pmd 67 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) ser humano povoado interiormente por coisas e correndo risco de tornar-se homem coisa. Aprender a ocupar o espaço através do jogo dramático é uma atividade nova e conflitante para a enfermagem, embora pertinente, possível e fundamental, porque nos dá acesso a uma outra pedagogia para aprender a pensar e aprender a aprender. Segundo Santos [3], o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. Os jogos dramáticos realizados para a ocupação do espaço criaram a oportunidade do estudante entrar em ação, uma ação que é sua, que interage com uma ação do outro, sem combinação prévia. Cada jogo individual age sobre tudo que já se encontra no espaço. Ao entrar em ação, orientada pelas palavras ocupem o espaço, se empenham no ato (de representar), de agir para cuidar. A situação dramática, que é regulada e envolve esforço, motivação e interação, se constrói em um sistema complexo de signos. O corpo, o olhar, o gesto, o movimento de cada jogador constrói um conjunto significativo, polissêmico. Ao final dos jogos dramáticos, as experiências vividas foram comparadas aos comportamentos e ações de ocupação do espaço na enfermagem, nas instituições de saúde e de ensino. Aprenderam, através da pedagogia do jogo, a noção de espaço e que ocupar o espaço envolve tomadas de posição política. Neste jogo, puderam perceber que a perda de espaço ou sua inadequada ocupação também significam. Foram, então, selecionadas algumas das mais constantes conclusões dos estudantes, ao associar estes jogos com o universo da enfermagem, com vistas a uma revisão ou um repensar de suas ações e de seu comportamento como ser político: Não sabemos ocupar espaços. Não pensamos na ocupação do espaço como ação política. Deixamos muitos espaços vazios, sem nos preocupar com os outros que podem tomar nossos espaços. Ocupamos sem saber por que ocupamos. Sair de um espaço significa perder aquele que você já estava ocupando. É difícil perder o espaço ao qual já estamos acostumados -sair de um espaço significa que nunca mais voltamos ao mesmo lugar e no mesmo movimento. Malcriadamente estimulante, em termos de uma conversa mais política, foi esta reflexão sobre a ocupação do espaço, que mostrou como o indivi- dualismo está muito presente em nós, como se cada um fosse mais real que o espaço. Mesmo sabendo que cada um é especial, é singular, aprendemos que cada um só significa dentro do conjunto, que somente na sua inter-relação com o outro um espaço significativo se sistematiza. No entanto, esta presença incômoda do individualismo, uma reprodução do que vivemos no ambiente social, nos remete ao que Vincent [4], diz sobre isso: no formato liberal clássico, o indivíduo é, em geral, compreendido como sozinho, encerrado em si mesmo, estando confinado na sua própria subjetividade. E diz ainda: os limites do corpo são os limites do indivíduo. Como vivemos num contexto pós-moder no e sob uma política neoliberal dominante, esta discussão pôde sublinhar o quanto à formação e a profissão mantêm o individualismo. Além disto, puderam perceber como não estão acostumados à auto-avaliação e nem a se ver como coletivo para ocupar os espaços ainda vazios da enfermagem. Isto merece outras conversas e estratégias para instigar alunos e docentes a pensar que são sujeitos políticos. Ocupar espaços exige saber, poder e postura política. A segunda categoria: a ocupação do espaço sem sentido: os corpos de alunos de enfermagem não olham e nem se comunicam sublinha a questão do individualismo, reproduzida no ensino e na prática profissional, onde cada pessoa é vista com valor; ela só basta. Ora somos sujeitos abstratos, ora somos sujeitos sociais segundo nosso próprio e individual modo de ser. Mesmo sabendo que eles podiam voluntária e livremente ocupar o espaço determinado, eles mesmos foram capazes de perceber e dizer que a ocupação não estava correta: Não interagiram Não se falaram Não olharam uns para os outros Que olhares estavam perdidos num ponto Que ficaram na frente dos outros, superpondo imagens Se reconheceram sujeitos individuais Sujeitos aparentemente sem sentido, porque não se comunicam. A comunicação é importante para a prática de cuidar e que faz parte dos instrumentos básicos descritos por enfermeiras que teorizam sobre o tema, como Stefanelli [5], que considera a comunicação na enfermagem terapêutica, pois cria oportunidade de aprendizagem para que se possa despertar o sentimento de confiança entre cliente e enfermeira e para que ambos possam experimentar a sensação de segurança. $& artigo 02 Ronilson.pmd 68 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) O espaço aparece sem sentido, quando o ocupam e se despreocupam em lhe atribuir um sentido ou, se o fazem, não levam em conta o sentido que o outro imprimiu ao espaço quando este o ocupou. Esta dificuldade está ligada ao que Vincent [4], diz: o indivíduo possui seu próprio corpo, em termos de direito natural, e essa noção é muitas vezes associada à teoria possessiva individualista. Assim, jogando ou agindo na vida, continuamos sujeitos sós, sujeitos de solidão, sujeitos perdidos em si mesmos. O que é importante registrar é que, com esta pedagogia do jogo, os estudantes não foram coagidos a pensar nesta questão. Foi uma direção que o jogo deu a eles. Surgiu do jogo, estimulandoos a não terem apenas o interesse por uma lógica individual, mas coletiva, mais sensível, mais disponível para o outro. Quando refletimos sobre comunicação, abordamos obrigatoriamente a ausência ou o uso inadequado de dois sentidos - olhar e tocar imprescindíveis em enfermagem. Encontramos apoio em Hohlfeldt, Martinho e França [6], quando dizem que o objeto da comunicação está a nossa frente, disponível aos nossos sentidos, materializado em objetos e práticas que podemos ver, ouvir e tocar. Devíamos sentir, escutar e cheirar. Para eles, a comunicação tem uma existência sensível, é do domínio real, trata-se de um fato concreto de nosso cotidiano. Ao ocupar os espaços, os estudantes podem não ter emitido sons ou não estavam olhando para os colegas, mas olhavam para alguma coisa. Trata-se do mesmo olhar que exercitam, quando estão diante de seus clientes estão olhando, mas não vêem. Neste vazio do olhar ou na ação silenciosa, há relação e as trocas também são simbólicas, porque a linguagem do corpo se expressa, mesmo quando não se movimenta. Essas marcas de linguagem corporal povoam o ambiente do cuidado, assim como a sala de aula (corpo dos docentes e dos discentes) no dia a dia de todos. Para os autores acima citados, é óbvio que a comunicação acontece entre os grupamentos humanos e foi dela que nasceu o embrião da vida social. Suas bases são as trocas simbólicas. A expressividade, ou seja, a materialização de formas simbólicas produz sentido e a intenção de comunicação se concretiza. Ao fixar o olhar, quando entram no jogo para ocupar o espaço, algo chamou atenção: para quem os estudantes olhavam, se aparentemente não era para ninguém? Olhar e ver. A visão é um sentido imprescindível à prática de cuidar. É necessária a leitura dos signos não verbais emitidos pelo corpo dos clientes. Uma habilidade que precisa ser desenvolvida nos enfermeiros e é passível de aprendizagem em sua formação, tendo em vista esta parceria pedagógica com o jogo dramático. Ackerman [7], quando fala do olhar, nos brinda com toda a sua sensibilidade de tudo que é possível ver através dele, como luz, cor, animais, plantas, o céu, as estrelas e que é possível descobrir que, dependendo do dia, da luz, nada parece com o que estamos vendo. Cita, por exemplo, as pinturas de Cézanne, que afirmava sentir o cheiro das flores, quando as pintava. O olhar aguça todos os sentidos. Para a autora, a luz é fundamental para quem olha, porque é ela que clareia, escurece o objeto da observação e aguça o olhar para enxergar detalhes aparentemente não visíveis. A luz da manhã, da tarde e da noite atribui luminosidade diferente para um mesmo objeto, um objeto que se encontra no mesmo ambiente. Assim ela diz: uma das características de nossa espécie é a habilidade de adaptarmo-nos ao ambiente e também de mudá-lo para servir-nos melhor. Não devemos associar a noite à ausência do dia, mas a uma espécie de liberdade. Mesmo assim não é possível esquecer que o que vemos à noite são sombras que a luz da lua ou dos refletores criam, porque a própria noite é uma sombra. Com base nestas premissas, não deveríamos acreditar que os estudantes não estavam olhando para nada. Tudo isto serve-nos para dizer que o jogo dramático, como metodologia de uma pedagogia libertadora desengana o corpo e a alma dos estudantes de enfermagem. Ele serve para que aprendam não só a ocupar o espaço onde trabalham, mas também aprendam a olhar, ou seja, aprendam a olhar para enxergar e compreender o que aparenta ser visível. Em enfermagem, a luz, o claro e o escuro podem ocultar ou desvendar o que está no corpo do cliente. Aprender a olhar para poder ver melhor significa descobrir o que não se viu de imediato, assim como para olhar melhor os colegas, os companheiros de trabalho, a dar valor ao trabalho coletivo e a equipe. Deste modo, faz sentido pensar num corpo que deve ocupar seu espaço de trabalho, de ensino, de política. Um corpo que fala, com aqueles que também fazem o mesmo movimento de ocupação, realiza a comunicação: é preciso conversar, ou somente olhar, sendo que é preciso saber para onde olhar e como olhar. Considerações quase dramáticas Este estudo nos mostrou que é possível discutir, pensar, ensinar enfer magem através do jogo dramático. Além de nos levar a reafirmar, como docentes na busca de parcerias com outras pedagogias, $' artigo 02 Ronilson.pmd 69 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) que é preciso encontrar formas de redimensionar a formação e a profissão em enfermagem quer no ambiente de ensino técnico e científico, quer no ambiente que se preocupa cientificamente com o cuidado em enfermagem. Pensar a enfermagem a partir de metodologias específicas da arte, e, neste caso, do teatro se adequou, se ajustou aos nossos objetivos e, para nossa perplexidade, expôs nossos tendões de Aquiles. Ou seja, estamos aprendendo uma prática que é eminentemente sensível através de estratégias racionais. Descobrimos, nesta experiência com o jogo dramático, comportamentos didáticos, que consideramos estímulos pedagógicos para a libertação: 1. O estímulo é o convite Os corpos estão rijos, duros, rejeitam sem falar, a experiência proposta, mas ficam olhando o que vai acontecer e esperando quem primeiro se aventura a participar; 2. A participação estimulada A ação de movimentar os corpos para ocupar o espaço passa do rijo para o flexível a partir da indução material e concreta do espaço. O corpo começa a entrar em estado de liberdade e ocupa a área de jogo; 3. O estímulo é a conversa Após a experiência quando começam a falar do que fizeram, se descobrem com sujeitos possíveis. Uma possibilidade que estava escondida e que o corpo expõe durante o jogo. Com esta tomada de consciência conseguem pensar as implicações do jogo com a prática de enfermagem; 4. A entrada engajada no jogo Mudam de posição (quem foi observador passa a ser jogador); novos jogadores devem ocupar o espaço tal como foi realizado primeiramente e a participação de entrar no jogo torna-se uma ação engajada. O jogo dramático cria ou amplia uma outra consciência. A integração como fundamental no jogo da vida, no jogo da política como uma forma de colocar a enfermagem no lugar que lhe é devido. Uma atividade lúdica, lúcida e coletiva: a arte de cuidar. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Morin E. A Cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 5a ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil; 2001. 128p. Trinca W. O espaço mental do homem novo. São Paulo: Papirus; 1997. 151p. Santos M. A natureza do espaço e tempo: razão e emoção. 3a ed. São Paulo: Hucitec; 1999. 308p. Vincent A. Ideologias, políticas modernas. Rio de Janeiro: Zahar; 1995. 357p. Stefanelli MC. Comunicação com paciente teoria e ensino. 2a ed. São Paulo: Editorial; 1993. 200p. Hohlfeldt A, Martinho LC, França VV. Teorias de Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Rio de Janeiro: Vozes; 2001. 277p. Ackerman D. Uma história natural dos sentidos. 2a ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 1996. 368p. K % artigo 02 Ronilson.pmd 70 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Artigo original Ergonomia na prevenção das dores osteomusculares relacionadas ao trabalho: o caso das merendeiras escolares de Nova Iguaçu e São Gonçalo Hamilton Delgado de Almeida*, Anamaria de Moraes** *Enfermeiro, Mestre em Artes e Design-PUC-Rio, Coordenador de Enfermagem da Superintendência de Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho da Secretaria de Administração do Estado do Rio de Janeiro, ** Professora Doutora em Ergonomia Departamento de Artes e DesignPUC Rio. Resumo O estudo é parte da dissertação de mestrado em ergonomia, em que se levanta a hipótese de que a ausência de um material de trabalho adequado nas escolas de Nova Iguaçu e São Gonçalo, ambas no estado do Rio de Janeiro, provoca danos à saúde das merendeiras escolares. Foi feito um estudo ergonômico das disfunções músculo-esqueléticas destas merendeiras. Realizou-se a coletas de dados empíricos sobre as lesões músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho, assim como também foram avaliadas as condições de trabalho durante a produção das refeições coletivas. Como método de avaliação, foi empregado um questionário e foi feita uma avaliação postural. Os métodos de estudo de postura utilizados foram: RULA, OWAS e Método de Guelaud de Avaliação de Carga Física. Os resultados encontrados demonstram que a improvisação e o uso de artifícios constituem uma séria inadequação ao trabalho e, em algumas circunstâncias, facilita a ocorrência de acidentes e disfunções músculo-esqueléticas. Palavras-chave: merendeiras escolares, dores osteomusculares, trabalho, ergonomia. Artigo recebido em 1 de março de 2004; aceito em 15 de março de 2004. Endereço para correspondência: Hamilton Delgado de Almeida, R Buarque de Macedo, 71 Ap. 205, Flamengo 22.220-030 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2205-3893 ou (21) 9149-0274, E-mail: [email protected] % artigo 03 Hamilton.pmd 71 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Abstract Ergonomics in musculoskeletal pains prevention related to work: the case of the school lunch-cookers in Nova Iguaçu and São Gonçalo The study is part of a master degree dissertation in ergonomics. Our hypothesis is that the absence of appropriate tools for the work causes damages the health of the school lunch-cookers of Nova Iguaçu and São Gonçalo both in the state of Rio de Janeiro. An ergonomic study of the musculoskeletal dysfunctions at work (MSDW) of these workers was developed. It was accomplished to collections of empiric data on the musculoskeletal lesions related at work, as well as they were also tested the work conditions during the production of the collective meals. As evaluation methodology, we employed one questionnaire and three evaluation postural tests. The methods of posture tests used were the RULA test, the test OWAS and Method of Guelaud of Evaluation of Physical Load. The results founded refuted the hypothesis and demonstrate that the improvised techniques and the use of artifices constitute a serious inadequacy at work and, in some circumstances, facilitate the occurrence of accidents and musculoskeletal dysfunctions. Key-words: lunch-cookers, musculoskeletal pains, work, ergonomics Resumen Ergonomía en la prevención de dolores osteomusculares relacionados al trabajo: el caso de las merenderas escolares de Nova Iguaçu y São Gonçalo Este estudio es parte de una disertación para la obtención del título de magíster en ergonomía, donde se plantea la hipótesis de que la ausencia de un material de trabajo adecuado en las escuelas Nova Iguaçu y São Gonzalo, ambas en el estado de Río de Janeiro, causa daños a la salud de las ayudantes de cocina. Fue realizado un estudio ergonómico de las disfunciones músculo-esqueléticas de estas ayudantes de cocina. Se colectaron datos empíricos sobre las lesiones músculo-esqueléticas relacionadas al trabajo, así como también fueron evaluadas las condiciones de trabajo durante la producción de los alimentos. Como método de evaluación, se empleó un cuestionario y se realizó un test de las posturas. Los métodos de estudio de postura utilizados fueron: RULA, OWAS y Método de Guelaud de Evaluación de Carga Física. Los resultados encontrados confirman la hipótesis y demuestran que la improvisación y el uso de artificios constituyen una seria inadecuación al trabajo y, en algunas circunstancias, facilitan la producción de accidentes y disfunciones músculo-esqueléticas. Palabras-claves: ayudantes de cocina, dolores osteomusculares, trabajo, ergonomía Introdução As disfunções músculo-esqueléticas, decorrentes da má usabilidade de produtos utilizados por merendeiras nas escolas do Rio de Janeiro, são conteúdos da área da saúde e do design e tem na ergonomia seu foco de estudo. Considera-se que as disfunções músculo-esqueléticas não surgem a partir da própria condição do ser humano, mas sim da sua relação com o trabalho e dos riscos ergonômicos as quais estão submetidos. A ergonomia pode contribuir para solucionar um grande número de problemas sociais relacionados com a saúde, a segurança, o conforto e a eficiência. Muitos danos à saúde podem ser prevenidos pela ação ergonômica. Muitas situações de trabalho e de vida cotidiana são prejudiciais à saúde. Estas situações podem ser atribuídas a um mau projeto e ao uso inadequado de equipamentos, sistemas e planejamento das tarefas. A percepção da necessidade de um estudo ergonômico parte da experiência prática e das atividades profissionais que desenvolvemos na Superintendência de Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho, serviço dependente da Secretaria de Administração do Estado do Rio de Janeiro. Esse serviço é um órgão público, anteriormente conhecido como Perícia Médica, estabelecido para atender a % artigo 03 Hamilton.pmd 72 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) demanda do funcionalismo público estadual e consiste em um trabalho multiprofissional em que exercemos a função de enfermeiro. Percebemos que devido a pouca instrução e a uma falta de orientação e prescrição dos cuidados laborativos, os problemas do cotidiano das merendeiras se transformam em um produto de consumo dos serviços de saúde e em aceitação de que não estou bem como um desequilíbrio orgânico e não uma inadequação do organismo a função laborativa. A ausência de informação, formação e prevenção quanto aos riscos ocupacionais permitem a persistência nesta situação. Mais ainda, a despreocupação com equipamentos (tais como panelas, puxadores, conchas, espumadeiras), alturas das bancadas, mesas, fogões e distâncias entre os mobiliários dentro de uma cozinha escolar, agravam a situação. As condições de trabalho das merendeiras incluem aspectos relacionados com o levantamento de peso (massa), transporte de carga e descarga de materiais e alimentos, preparo e distribuição destes alimentos, mobiliários, equipamentos e utensílios pouco adequados, bem como condições ambientais desfavoráveis do posto de trabalho e a própria organização do trabalho. Dentro desta proposta não basta apenas o simples reconhecimento dos riscos ocupacionais; é também necessário saber quais as respostas biológicas provocadas no ser humano exposto a estes riscos. Para tanto, cabe ainda analisar as atividades de tarefa e os modos de trabalho. A partir destas questões foi levantada a hipótese: A ausência de um material adequado de trabalho causa danos à saúde e prejudica a qualidade de vida no trabalho das merendeiras escolares do Rio de Janeiro ocasionando disfunções músculo-esqueléticas. As condições de trabalho são fator determinante para a execução da tarefa, bem como o aproveitamento dos produtos desta tarefa. No caso das merendeiras escolares isto se torna um fator importante, pois a melhoria destas condições de trabalho permite que as mesmas não só aumente a aceitação da merenda por parte das crianças, mas também evite o desperdício de alimentos tão importante nos programas contra a fome. Permitirá também um melhor estudo do desenho de utensílios e instrumentos de trabalho de acordo com a ergonomia, permitindo assim um aperfeiçoamento do desenho industrial de acordo com as tarefas a serem desenvolvidas. Segundo Antônio Raimundo dos Santos [1]: A problematização é a transformação de uma necessidade humana em problema, que por sua vez defini-se como necessidade humana, quando pensada. O que se faz, na realidade, é dividir a necessidade de seus aspectos componentes julgados importantes. Apesar da mecanização a tarefa que são realizadas com as mãos e o corpo está presente ainda em ¼ das atividades ocupacionais, sobretudo em países em desenvolvimento. Segundo Marras [2], até 80% dos indivíduos adultos experimentam um episódio de dor lombar ao longo da vida. Aproximadamente 5% da população têm um episódio de dor aguda a cada ano. 30 a 70% têm dor lombar e são acometidos de recidiva. 30% das lesões músculo-esqueléticas são de origem ocupacional. 16 a 19 % das queixas trabalhistas são de dor lombar. 30% das lesões músculo-esqueléticas ocorrem com o manuseio de peso. Em toda a tendência mundial a maioria dos afastamentos por licencia médica do Estado do Rio de Janeiro se dá na faixa dos 35 a 55 anos, em comparação com dados mundiais e brasileiros percebe-se uma relação direta, ou seja, a faixa de idade da vida produtiva da maioria da população, o que leva a evidenciar uma queda na produção e no bem estar do trabalhador e do seu trabalho. O objeto da pesquisa centralizou nos estudos de ergonomia no cotidiano das merendeiras escolares do Rio de janeiro. Um estudo analítico das condições de trabalho e meio ambiente das atividades realizadas pelas merendeiras escolares e equipamentos utilizados dentro do campo da ergonomia e sua relação com o processo saúde doença das merendeiras escolares do Rio de Janeiro. Materiais e métodos A carga de trabalho de uma merendeira escolar foi até hoje pouco estudada principalmente a partir do ponto de vista da ergonomia. A merendeira tem como trabalho prescrito desenvolver atividades que estariam ligadas à produção de uma pequena refeição entre o intervalo das aulas. Na situação real de trabalho são verdadeiras cozinheiras industriais, pois trabalham com produção de refeições coletivas de complexidade (cardápios pré-estabelecidos) sem ter condições adequadas para tal função. O grupo estudado das merendeiras escolares faz parte do funcionalismo público estadual e atuam nas cantinas escolares responsáveis pela elaboração da merenda escolar que deveria ser apenas uma refeição curta durante o período das aulas, que, entretanto, se tornou uma refeição fornecida às crianças na escola. %! artigo 03 Hamilton.pmd 73 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) A escolha de um método de análise ergonômica das atividades de trabalho irá depender de dois aspectos: 1. Das características da situação de trabalho a ser analisada. Exigências do tipo fisiológico que evidenciem o uso de postura inadequada para a realização de suas tarefas, bem como o uso de movimentos repetitivos e desordenados. 2. Dos objetivos deste estudo, que são uma melhoria nas condições de trabalho destas merendeiras escolares. Modelo de representação da atividade merendeira escolar e sua tarefa Foi usado um modelo antropocêntrico de representação das atividades das merendeiras escolares que limita a representação a um número restrito de categorias, e o que comporta um número limitado de graus ou variáveis. Mas, entretanto, permite evidenciar os principais condicionantes que afetam o desenvolvimento das atividades das merendeiras escolares e sua tarefa. Uma má concepção dos meios materiais de trabalho; Características dos objetos de uso e de comandos que nem sempre são adaptáveis às funções ou às situações do trabalho; Características ambientais: ambiente mal ventilado e mal iluminado, sujeito à presença de calor e ruídos que interferem na concentração do trabalho; Condições temporais do trabalho: o tempo de elaboração das refeições é curto, mantendo uma cadência acelerada que nem sempre é proporcional à duração e ao horário de trabalho; Características da organização do trabalho: interferência da direção escolar, bem como restrição a determinados ambientes (por exemplo, acesso à despensa, onde se guarda o estoque de alimentos, que lhe é restringido); O ambiente psicossociológico; Condições de vida extraprofissional. O questionário da pesquisa O uso de um questionário de pesquisa nos orienta para questões não só de identificação dos trabalhadores pesquisados, mas também para as características antropométricas destes trabalhadores. Questões da entrevista Fatos objetivos de identificação estruturados a partir de uma realidade do trabalhador, mas com a finalidade de orientar a pesquisa para um estudo ergonômico. Dentro destes dados teremos uma sondagem de opinião, dados que obedecem a uma escala de avaliação, pré-elaborada e que avalia o ambiente de trabalho e as condições de trabalho das merendeiras escolares, assim como dados antropométricos. O método OWAS O método OWAS visa mapear as posturas sem a preocupação de aspectos de dispêndio energético e vibração. O foco de atenção é o trabalhador e o seu ambiente de trabalho ao executar determinadas tarefas. Antes de uma observação há o registro do tipo de tarefa e do local onde é realizada. O grau de esforço físico por categoria de ações é determinado com base nas posturas de trabalho e a força exercida durante uma ação especifica. O método RULA O RULA Rapid Upper Limb Assessment (Avaliação Rápida dos Membros Superiores), desenvolvido por Mc Atamney e Corlett [3], desenvolve um procedimento análogo ao OWAS, que pretende ser um método de investigação ergonômica de estações de trabalho onde os maiores agravos reportados dizem respeito aos membros superiores. O método é uma ferramenta de triagem com acesso a dados biomecânicos das posturas do corpo todo, mas com especial atenção ao pescoço, tronco e membros superiores. A avaliação pela RULA exige pouco tempo para ser completado e gera um escore em forma de lista de ação que indica o nível de intervenção requerido para reduzir os riscos de dano devido à sobrecarga física do operador. Ele também aplicado como parte de estudos ergonômicos mais complexos. Resumindo a técnica apresenta três passos: 1. Observação e seleção das posturas a serem avaliadas; 2. Escore e levantamento das posturas; 3. Nível de ação. Método Guelaud de avaliação de carga física Guelaud et al. [4], estudou na França, como elaborar uma análise das condições de trabalho dentro da empresa. O desgaste físico assim como a carga mental, aspectos psicosociológicos, condições ambientais e descrição da duração da tarefa foram colocados em um guia de observação, de forma a possibilitar a cotação destes itens para avaliação das condições de trabalho. %" artigo 03 Hamilton.pmd 74 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) O guia composto por Guelaud et al.[4], considera predominantemente o caráter fisiológico das tarefas o trabalho muscular estático e dinâmico e as posturas. Na prática não é fácil perceber as fronteiras entre o trabalho estático e dinâmico. O trabalho dinâmico pode tomar uma característica estática quando efetuado muito lentamente ou quando em intervalos do trabalho dinâmico são tão curtos que não permitem que os capilares se encham de sangue. O trabalho muscular pode ser avaliado pelo metabolismo basal, (considera o metabolismo basal, o metabolismo de repouso e o metabolismo de trabalho), pela eletromiografia e pela medida da freqüência cardíaca. Foram identificadas por Guelaud et al. [4], e sintetizados no quadro as principais conseqüências de algumas posturas: Discussão trangimento em responder a algumas avaliações, devido ao fato de comprometer a situação real. Em uma unidade visitada, o fogão estava sendo usado com o artifício de se suportar o peso escorado com latas e mesmo assim uma das merendeiras relatou que estava bom. Quanto ao ambiente de trabalho apenas dois fatores foram mais relevantes, a localização da despensa, aonde nem todas tem acesso e a ventilação que é má projetada. Apesar de existir vários fatores de planta física e lay-out interferindo na tarefa, um deles é o piso inadequado o que torna um risco para acidentes. Quanto a mobiliários e a equipamentos existem sérias queixas. A altura de pias e bancadas é sempre fonte de reclamação, pois todas têm dificuldade devido às diferenças constantes de altura deste mobiliário. O fogão é também fonte de reclamação, principalmente pela ausência de uma manutenção o que permite que o mesmo funcione em condições precárias. O recordista em queixas é a pia para lavar panelas e caldeirões, pois tem uma profundidade excessiva e as obriga sempre a estar assumindo uma postura recurvada para executar a tarefa, além da profundidade, a altura do mesmo é diferente dos outros mobiliários e sempre mais baixo. As bacias e vasilhas também são subutilizadas, pois as que existem são de péssima qualidade ou são aproveitadas de embalagens vazias. As pegas nestas vasilhas são inexistentes. Panelas e caldeirões são em tamanho excessivo, alguns desproporcionais à função, o que exige uma grande aplicação de força, além do volume e peso excessivo, temos o tamanho que quase obriga a manipulação por duas pessoas e mesmo assim sendo uma pega difícil. Frigideiras, conchas e espumadeiras são sempre de péssima qualidade e quase sempre estão danificadas o que aumenta a exigência da pega e a utilização de segmentos corporais para ajuda na tarefa. Outro fator comum nas queixas é a inexistência de talheres suficientes para servir as refeições, o que faz com que as merendeiras estejam os lavando freqüentemente durante o serviço de refeições. As queixas quanto ao cardápio são poucas, entretanto percebemos uma falta de importância com este aspecto devido ao fato de o cardápio ser conhecido apenas no dia do preparo e a outra se dá pelo fornecedor dos alimentos que nem sempre abastece com produtos de boa qualidade e de fácil preparo. Resultados do questionário de pesquisa Resultados do método Owas O questionário foi aplicado a 43 merendeiras e apesar da colaboração percebeu-se um cons- Embora seja um método de fácil e simples aplicação, o método em OWAS permite uma visão Postura Em pé prolongada Conseqüências Congestão das pernas Edemas e varizes Deformação dos pés Sentada ou curvada Compressão dos órgãos internos Problemas digestivos Curvada (de pé, sentado ou ajoelhado) Desvios da coluna vertebral Afecções e lesões dos discos intervertebrais Ajoelhada Deterioração do menisco do joelho Irritação das bolsas sinoviais das articulações Posições em falso ou crispação de grupos musculares (principalmente da região da nuca, dos ombros e dos antebraços) Endurecimento dos músculos Inflamação nos pontos de fixação dos tendões Se associado à postura desfavorável houver também o levantamento manual de cargas, as conseqüências do quadro acima podem ser agravadas. %# artigo 03 Hamilton.pmd 75 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) limitada do desconforto postural. É um método que deve ser usado para uma avaliação inicial e rápida das condições de trabalho. Nas posturas observadas ele permitiu uma boa observação, tendo como resultado mais freqüente a necessidade de medidas corretivas para evitar desconfortos posturais. Resultados do método RULA As posturas das merendeiras escolares foram fotografadas e analisadas pelo método RULA, e como resultados tiveram que na maioria das posturas teremos a necessidade de modificações e recomendações sejam feitas brevemente para não se tornar uma causa comum de desconforto ou constrangimento no ambiente de trabalho. Resultados do método Guelaud Os resultados do Método Guelaud reforçam os resultados dos Métodos OWAS e RULA em que ambos consideram uma atividade pesada e em muitas circunstâncias requer uma intervenção para melhorar as condições de trabalho e as posturas assumidas durante a tarefa. O dispêndio energético tanto estático quanto dinâmico é muito alto e consideram que um trabalho pesado sendo este realizado por mulheres e com um preparo de alimentos em um tempo curto. O Método Guelaud demanda um equipamento de filmagem e um bom desenvolvimento do mesmo, pois a decomposição da tarefa tem que ser bem realizada, o que pode não ser um método disponível a um custo baixo. Entretanto nos dá um bom parâmetro para não só o estudo do dispêndio energético total, mas também nos permitem uma boa discussão sobre as posturas assumidas. Conclusões Como pode ser verificado no trabalho de campo da pesquisa, existem vários fatores que convergem com a precariedade da tecnologia e da organização para o trabalho. A própria categoria das merendeiras escolares são um grupo de trabalhadoras inserido dentro do cotidiano da escola sem, entretanto, ter uma organização ou uma consideração sobre o seu trabalho, que é realizado como se fosse uma extensão do trabalho do lar. A produção de merenda escolar é de importância para o grupo da população atendido, pois em algumas situações é a única forma de alimentos de alguns alunos, portanto são de um papel importante para os programas de combate à fome e à pobreza. A função da merendeira escolar deveria ser de uma educadora alimentar, já que a mesma está inserida no cotidiano desta população atendida. A realidade das merendeiras escolares de assumirem, durante a execução da tarefa, o papel de cozinheiras industriais (produção de refeições coletivas) é visto por alguns como um fator de injustiça. Apesar de receberem a denominação de merendeiras escolares dentro da escola e do sistema educacional apenas produzem refeições coletivas. A pouca ou nenhuma participação na elaboração de cardápio geralmente são constrangimentos, pois nem sempre a forma de trabalhar os alimentos é tão simples como consideramos na tarefa prescrita. Na execução dos cardápios já estabelecidos e com pouca oferta de opções de preparo, foi percebido um desinteresse de elaborar novas formas de elaboração. A criatividade no preparo e no aproveitamento dos alimentos, as merendeiras escolares pouco usam pela falta de tempo e espaço para discutirem não só o cardápio, mas a elaboração do mesmo. Fatores estes de trabalho que provem da condição dos alimentos e da situação real de realização da tarefa, em algumas circunstâncias os alimentos apresentam com uma consistência em que aumenta o tempo de cozimento ou necessitam de um preparo mais elaborado, nestes casos não são considerados na elaboração do cardápio. É preocupante a situação deste grupo no que tange às questões da ergonomia, principalmente no design de utensílios de trabalho e do posto de trabalho. A falta de preocupação e os poucos critérios ocasionam a estas trabalhadoras uma penosidade e um constrangimento físico para a execução da tarefa. As queixas se fazem presente no ambiente de trabalho, principalmente quanto à usabilidade de produtos. É uma constante percebemos o que funciona, funciona mal ou não funciona. Tais queixas são acentuadas não só pela precariedade, mas também pela ausência de um material adequado de trabalho. O processo de trabalho deste grupo de trabalhadoras é primordial e pouco valorizado socialmente, entretanto uma enorme preocupação tem voltado para esta produção principalmente nos programas de alimentação infantil e no combate à miséria e à fome. A presença no ambiente de trabalho nos levou a perceber a pobreza da técnica de trabalho e a distância entre o trabalho prescrito e o trabalho real, que ocasiona um desperdício de alimentos considerável. %$ artigo 03 Hamilton.pmd 76 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) A presente pesquisa buscou um foco preventivo nas situações de DORT e evidenciou a importância da ergonomia na vida das classes trabalhadoras até mesmo nas, que como as merendeiras, que não têm uma organização de trabalho. A presença de um ergonomista para avaliar situações de trabalho não só seria evidente na qualidade de vida dos trabalhadores, mas também na melhoria da produção deste trabalho. Conforme verificado no grupo estudado pouco se tem noção ou nenhum material de proteção individual para o grupo de trabalhadores em refeições coletivas, portanto a ocorrência de pequenos acidentes é notada e não notificada, o que é grave. Creio que a necessidade de um estudo e de elaboração de materiais de proteção individual e coletiva para esta classe trabalhadora seria de suma importância e poderia ser feito por um design que buscasse esta visão da ergonomia. Referências 1. 2. 3. 4. Santos, AR. Metodologia científica: A construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A; 2001. Marras WS. Task analysis. In: Nordin M, Andersson GBJ, Pope MH. Musculoskeletal disorders in the workplace. Principles and practice. Saint Louis: Mosby; 2000. Atamney Mc, Corlett L. RULA: a survey method for the investigation of work-related upper limb disordes. Applied ergonomics; 1993. p. 91-99. Guelaud F, Roustang G, Beauchessne M, Gautrat J, et al. Por un análisis de las condiciones del trabajo obrero en la empresa. Francia: Laboratorio de Economía y Sociología del Trabalho del C.N.R.S.; 1975. K %% artigo 03 Hamilton.pmd 77 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Artigo original Comemoração da semana da enfermagem: uma estratégia para o desenvolvimento de competências específicas na disciplina de Noções de Administração Teresa Cristina Prochet Enfermeira, Mestranda em Saúde Coletiva pela Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP, Professora e Coordenadora da Área de Saúde no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza na Unidade pertencente à Cidade de Assis/SP Resumo Objetivo: aplicar na disciplina de Noções de Administração em Enfermagem uma estratégia no alcance de competências específicas. Método: estudo descritivo qualitativo desenvolvido no 1º semestre/2003, onde os alunos foram incumbidos de promover evento comemorativo da Semana de Enfermagem. Para tanto, um informativo sobre a dinâmica do trabalho foi distribuído. Resultados: 60% consideravam a atividade até interessante, porém, achavam que o método tradicional era mais adequado, pois, acreditavam que não daria muito certo. O planejamento foi a etapa mais difícil para 84%, havia ansiedade para partir para execução, só depois das aulas é que perceberam sua importância. O ponto positivo mais freqüente foi a descoberta das capacidades para a organização do evento e seu conseqüente sucesso. Já o ponto negativo mais incidente foi a geração de discussões visto que as pessoas são muito diferentes. Conclusão: Essa experiência ofereceu oportunidades na concretização da formação profissional, pois favoreceu aplicação prática de conteúdos por vezes abstratos. Palavras-chave: enfermagem, ensino, prática alternativa. Artigo recebido em 20 de março de 2004; aceito em 5 de abril de 2004. Endereço para correspondência: Teresa Cristina Prochet, R. Sebastião da Silva Leite, 243, 19814-370 Assis SP, Tel.(018) 3322-6721, E-mail: [email protected] %& artigo 04 Teresa Cristina.pmd 78 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Abstract Commemoration of nursing week: a strategy to the development of specific competences in the discipline of Notions of Administration Objective: apply in the discipline of Notions of Administration in Nursing Teaching a strategy to reach specific competences. Method: descriptive and qualitative study developed during the 1st semester-2003, where the students were encharged of promoting a commemorative event of Nursing Week. Therefore, an informative about the dynamics of this work was distributed for them. Results: 60% considered the activity even interesting, however they thought that the traditional method was more appropriate, because they believed that it would not work. The planning was the most difficult stage to 84%: there was an anxiety to go to the execution; only after the classes the students realized its importance. The most frequent positive point was the discovery of the capacities for the organization of the event and its consequent success. The most negative incident was the generation of discussions, because people are very different. Conclusion: this experience offered opportunities in the settlement of the professional formation, because it collaborated for the practical application of contents that seemed sometimes abstract. Key-words: nursing, teaching, alternative practice. Resumen Conmemoración de la semana de enfermería: una estrategia para el desarrollo de competencias específicas en la asignatura Nociones de Administración Objetivo: poner en práctica en la asignatura Nociones de Administración una estrategia para alcanzar las competencias específicas. Método: estudio descriptivo y cualitativo desarrollado durante el primer semestre-2003, dónde los estudiantes fueron solicitados a promover un evento conmemorativo de la Semana de Enfermería. Por consiguiente, un informativo sobre la dinámica de este trabajo fue distribuido. Resultados: 60% consideraron la actividad incluso interesante, sin embargo pensaron que el método tradicional era más apropiado, porque creyeron que no funcionaría. La planificación era la fase más difícil para 84%: había una ansiedad para ir a la ejecución; sólo después de finalizar las clases los estudiantes comprendieron su importancia. El punto positivo más frecuente era el descubrimiento de las capacidades para la organización del evento y su éxito consecuente. La casualidad más negativa era la generación de discusiones, porque las personas son muy diferentes. Conclusión: esta experiencia ofreció oportunidades de concretización de la formación profesional, porque colaboró para la aplicación práctica de contenidos que a veces parecían abstractos. Palabras-claves: enfermería, la práctica instrucción, alternativa. Introdução A área de saúde ocupa-se da produção de cuidados integrais de saúde no âmbito público e privado do sistema de serviços, por meio de ações de apoio diagnóstico, educação para a saúde, proteção e prevenção, recuperação e reabilitação e gestão de saúde desempenhadas por profissionais das diferentes subáreas que a compõem [1,2]. Outro compromisso da área é a interlocução, interação e pactuação com outros setores de economia e da sociedade que têm relevância no estado de saúde da população, e que influenciam na organização dos respectivos serviços [3]. Desprende-se disso que as ações de área possuem um estoque setorial e outro intersetorial. Por tratar-se de área de atuação intensamente legislada, impõe limites e fronteiras à atuação dos técnicos de nível médio, o que não pode ser ignorado pelas escolas de educação profissional. No estabelecimento do rol de competências da habilitação %' artigo 04 Teresa Cristina.pmd 79 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) proposta, como a de técnico de enfermagem, esta deverá estar atenta a esses balizadores de modo que os desenhos curriculares atendam e respeitem a legislação vigente [4]. Para atender as atuais exigências e preparar-se para o futuro, os profissionais de enfermagem precisam ser capazes de identificar situações novas, de auto-organizarem-se, de tomarem decisões, de interferirem no processo de trabalho, de trabalharem em equipe e, finalmente, de resolverem problemas que mudam constantemente. Para que isso seja alcançado há necessidade não só da reformulação das matrizes curriculares como de todo seu enfoque, até porque o trabalho da escola não está reduzido a uma grade curricular, a um acúmulo de disciplinas [5,6]. É preciso atribuir perspectivas políticas, estéticas, afetivas e tecnológicas ao saber, a fim de que o significado da educação seja transformado [7]. O Centro Estadual de Ensino Tecnológico Paula Souza sensibilizado com este cenário tem a medida do possível investido no potencial de seu corpo docente, estimulando-o a desenvolver o ensino voltado às novas metodologias pedagógicas. Diante do exposto, surgiu o interesse em aplicar na disciplina de Noções de Administração em Unidades de Enfer magem integrante ao currículo do Curso Técnico de Enfermagem uma nova estratégia para que os alunos alcancem as competências específicas exigidas pelo referido componente curricular. Acredita-se que o relato dessa experiência de trabalhar por meio de projetos possa de alguma forma contribuir para a melhoria da qualidade do ensino de enfermagem tão almejado pelos profissionais inseridos neste contexto. Objetivos Desenvolver junto aos alunos do Curso Técnico de Enfermagem as seguintes competências específicas ao Componente Curricular de Noções de Administração em Unidades de Enfermagem: Conhecer os conceitos, as etapas, as técnicas e os instrumentos relacionados ao planejamento, à execução e à avaliação das atividades de enfermagem; Reconhecer a importância do processo de comunicação no relacionamento interpessoal, valorizando os elementos intrínsecos dessa dinâmica; Ser capaz de identificar os diferentes tipos de liderança que pode ser exercida na enfermagem, descrevendo suas vantagens e desvantagens. Material e Métodos Trata-se de um estudo descritivo qualitativo aplicado aos 25 estudantes do Ciclo III do Curso Técnico de Enfermagem do Centro Paula Souza Unidade Assis desenvolvido durante o 1º semestre letivo de 2003. Os instrumentos utilizados foram: observação sistematizada pelo docente (Anexo A) e questionário de avaliação aplicado aos alunos (Anexo B). Em fevereiro/2003 os alunos foram incumbidos de promover um evento comemorativo da Semana de Enfermagem durante o mês de maio do mesmo ano. Para tanto, receberam um informativo explicando toda a dinâmica do trabalho, os objetivos e as regras principais para subsidiarem suas decisões (Anexo C). Paralelamente ao desenvolvimento prático desta atividade, eram ministradas aulas teóricas do componente curricular e textos de apoio foram fornecidos sobre a temática de: planejamento, técnicas e instrumentos de controle e avaliação. Os alunos tiveram dentro deste componente a carga horária livre de 2 horas-semanais que podiam utilizála como eles definissem, sendo que a docente estava presente na escola à disposição dos mesmos. Após ocorrência do evento de comemoração a base tecnológica de liderança foi discutida, e ocorreu a avaliação de toda atividade. Resultados e discussão Os alunos tiveram dificuldades em dar início ao planejamento das atividades, houve bastante divergência de opiniões na classe, gerando tumulto. Foi necessária a intervenção da professora principalmente para ajudar a distribuir as tarefas aos subgrupos, pois havia conflitos de comunicação. A participação e o interesse dos alunos nas aulas teóricas da disciplina foi mais do que satisfatórios, a maioria demonstrou muito envolvimento, o que tornou a ministração do componente algo empreendedor. Um fato interessante é que sempre que era apresentado um determinado conteúdo eles verbalizavam as exemplificações baseadas nas suas práticas o que tornava a aula dinâmica. Os alunos quando questionados sobre o que pensaram no primeiro dia que souberam que teriam que desenvolver a referida atividade, 60% responderam que consideravam a atividade até interessante, porém achavam que o método tradicional era mais adequado, pois acreditavam que tudo aquilo não daria muito certo, 24% responderam que seria interessante e de verdade & artigo 04 Teresa Cristina.pmd 80 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) uma oportunidade de fazer algo diferente e mais dinâmico e 16% eram indiferentes naquele momento. Para 84% dos alunos o planejamento foi a etapa de maior dificuldade para realização, pois queriam partir para a execução, só depois das aulas é que conseguiram perceber que era uma etapa imprescindível para o sucesso do trabalho. Todos os alunos referiram que a etapa de execução foi a melhor e a mais gratificante, pois puderam ver na prática que todo o resultado de seu empenho. A etapa de avaliação da atividade não foi valorizada pela maioria dos alunos (76%), segundo eles a execução por si só constitui a maior avaliação. O ponto positivo de maior freqüência foi o fato de descobrirem que foram capazes de organizar um evento e deste ter sido um sucesso. O ponto negativo de maior referência entre os alunos foi que esta atividade gerou muita discussão, pois as pessoas são muito diferentes e não querem abrir mão de suas opiniões. As sugestões apresentadas para uma futura aplicação foram que o aluno recebesse maior autonomia para tomada de decisão, pois isso algumas vezes atrapalhou o andamento das tarefas. Avaliaram como positiva a experiência 88% dos alunos, os demais 12% consideraram que as competências listadas poderiam ser adquiridas somente com aula teórica evitando conflitos. Os alunos conseguiram planejar todo o evento comemorativo da semana de enfermagem com a devida antecedência, não houve necessidade de intervenção da professora responsável. O evento ocorreu em duas noites nas dependências do Teatro Municipal de Assis e contou na média de 350 participantes da área de enfermagem. Transcorreu sem qualquer intercorrências e todos os objetivos traçados pelos alunos foram alcançados resultando num sucesso do evento. Não só os alunos como todo o corpo de docente e direção ficaram muito satisfeitos com o cumprimento da atividade. Conclusões Quando se está disposto a trabalhar com novas metodologias, não faltam oportunidades e projetos podem ser desenvolvidos. Já se foi a época que os professores eram os detentores do saber e que a transmissão do mesmo está centralizada neles. Essa situação era confirmada com a obrigatoriedade de repassar todos os conteúdos programáticos num determinado período de tempo. Isso mudou, descobriu-se que o conhecimento é construído e que depende do desenvolvimento de competências, são elas quem vai garantir o enfretamento dos desafios próprios da profissão. Afirma-se aqui que o conteúdo não pode nem deve ser negligenciado e sim utilizado com meio e não fim dessa questão. O desenvolvimento desta atividade trouxe oportunidade tanto para os professores como para os alunos. Essa experiência pode favorecer a aplicação prática dos conteúdos desenvolvidos na teoria e realmente apresentar possibilidades concretas de aquisição e de desenvolvimento das competências traçadas. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Arnoldo WW, Plas JM. Liderança Orientada para pessoas: o toque humano como fator de produtividade e lucro. São Paulo: Atlas; 1996. Bergamini CW. Liderança: administração do sentido. São Paulo: Atlas; 1994. Almeida FJ. Fonseca Junior FM. Projetos e ambientes inovadores. Brasília; Ministério da Educação - Secretaria da Educação à Distância; 2000. Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Documentos Básicos de Enfermagem; 1997. Neto M J. Elaboração e Desenvolvimento de Projetos. São Paulo: CEETEPS; 1999. Fourez G. A Construção das Ciências. São Paulo: UNESP; 1995. Hernández F, Montserrat VA Org.do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas; 1998. K & artigo 04 Teresa Cristina.pmd 81 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Anexos Anexo A - Observação sistematizada pelo docente 1. Divisão de grupos: (nº de subgrupos, como aconteceu a divisão dos alunos, descrever as atividades elencadas para cada subgrupo) A B C D E Atividades Principais Participantes Como aconteceu a subdivisão dos alunos? (tumulto, adotaram critérios - quais?, tempo que gastaram, listaram as tarefas - como ? como elas foram divididas nos subgrupos?) 2. Comportamento de cada subgrupo Relacionamento (alunos, alunoprofessor, grupo-grupo) Divisão de Tarefas Tipo de Liderança Exercida Participação e Interesse aulas teóricas Planejamento e Organização A B C D E 3. Listar Necessidades e Motivos para interferência do professor na atividade (anotar data) 4. O evento teve seu planejamento terminado com antecedência mínima de 1 semana? ( )sim ( )não. Por que? 5. Houve necessidade do docente responsável de interferir no planejamento dos alunos? ( )sim ( )não. Por que? 6. Os objetivos foram: ( )cumpridos totalmente com os objetivos propostos ( )cumpridos parcialmente com os objetivos propostos ( )cumpridos poucos os objetivos propostos 7. Como transcorreu o evento? Houve intercorrências? ( )sim ( )não. Por que? 8. Qual foi o resultado do evento? Aspectos técnicos ( ) MB ( ) B Aspectos comportamentais ( ) MB ( ) B ( )I ( )I & artigo 04 Teresa Cristina.pmd 82 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Anexo B - Questionário de avaliação aplicado aos alunos Você não precisa se identificar. Seja sincero e lembre-se que estará contribuindo para uma enfermagem melhor. Cada pergunta deve ser marcada com X, você pode escolher mais de uma resposta. 1. Quando você soube que teria que desenvolver essa atividade. O que você pensou? ( )que a atividade seria interessante e que de verdade era a oportunidade de fazer algo diferente e mais dinâmico ( )que a atividade até era interessante mas de verdade preferia o tradicional ( )tinha dúvidas que daria certo ( )sabia que daria certo ( )sabia que não daria muito certo ( )sabia que daria erradonem lembro o que pensei ( )era indiferente topava o que fosse sugerido ( )outro 2. Na sua opinião qual foi a etapa que apresentou maior dificuldade em realizar? ( )dividir a turma em subgrupos ( )ser dividido de seus colegas e ter que estar em um subgrupo ( )determinar as tarefas necessários para os colegas de seu subgrupo ( )realizar as tarefas que formam determinadas pelos colegas a fazer ( )descrever os critérios de avaliação para os seus colegas dos demais subgrupos ( )ser avaliado pelos seus colegas de acordo com os critérios que eles definiram ( )outro, especificar 3. Descrever dois pontos positivos (favoráveis) e dois negativos (desfavoráveis) que enfrentou no desenvolvimento desse projeto. Positivo Negativo 4. Quais as sugestões que gostaria de dar que considera interessante para um futuro trabalho? 5. Para cada objetivo desta atividade avalie numa escala de 0 a 5, como você se desenvolveu. Conhecer os conceitos, as etapas, as técnicas e os instrumentos relacionados ao planejamento, à execução e à avaliação das atividades de enfermagem.( )5 ( )4 ( )3 ( )2 ( )1 Reconhecer a importância do processo de comunicação no relacionamento interpessoal, valorizando os elementos intrínsecos dessa dinâmica ( )5 ( )4 ( )3 ( )2 ( )1 Ser capaz de identificar os diferentes tipos de liderança que pode ser exercida na enfermagem, descrevendo suas vantagens e desvantagens ( )5 ( )4 ( )3 ( )2 ( )1 &! artigo 04 Teresa Cristina.pmd 83 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Anexo C - Informativo sobre a atividade A disciplina de Noções de Administração em Unidades de Enfermagem será desenvolvida de uma maneira diferente. Digo diferente porque nem eu nem vocês estamos habituados em desenvolver projetos, portanto trata-se de uma experiência até certo ponto nova para todos. Gostaria de explicar para você o que de fato terá que fazer, os objetivos dessa atividade, as regras para seu desenvolvimento e os limites de atuação de cada um. Preste atenção no que estiver escrito nesse informativo ele será útil até o fim da atividade, portanto, não jogue fora, guarde-o em lugar de fácil acesso. Sobre a atividade Você juntamente com seus colegas de classe terá que planejar, organizar, montar, executar, supervisionar e avaliar um evento. Este evento será comemorativo a Semana de Enfermagem, que deverá acontecer entre os dias 12 e 20 de maio. O evento poderá ou não utilizar-se de todos esses dias, entretanto todas atividades a serem executadas nesse evento deverão acontecer no período da noite (19:00 às 22:00). Esta atividade vai demandar várias tarefas que podem ou não ser subdivididas entre os componentes da turma. Sendo assim, a turma terá a opção de ser dividida em até 5 subgrupos (A,B, C, D e E). Importante um subgrupo terá obrigatoriamente 5 alunos no mínimo. As divisões dos grupos e dessas tarefas ficarão por conta da turma, devendo ser apresentada à professora até o próximo encontro. Sobre o objetivo O objetivo dessa atividade é fazer com que você desenvolva as seguintes competências: Conhecer os conceitos, as etapas, as técnicas e os instrumentos relacionados ao planejamento, à execução e à avaliação das atividades de enfermagem. Reconhecer a importância do processo de comunicação no relacionamento interpessoal, valorizando os elementos intrínsecos dessa dinâmica. Ser capaz de identificar os diferentes tipos de liderança que pode ser exercida na enfermagem, descrevendo suas vantagens e desvantagens. Sobre as regras A Semana de Enfermagem é comemorada em maio. Estude o(s) motivo(s) pelo(s) qual(is) existe essa comemoração, quem institui, onde ela ocorre no país e qual é objetivo principal de sua ocorrência. Essa atividade necessariamente deverá cumprir com as seguintes etapas: 1. Planejamento 2. Organização 3. Acompanhamento e Execução 4. Avaliação Pontos importantes: Não será permitido solicitar espécime em dinheiro mesmo que em valor reduzido a qualquer pessoa, nem na escola nem fora dela. Não será permitido usar veículos da imprensa sem prévia autorização da professora responsável Caso seja necessário realizar empréstimos ou autorizações para uso de serviços ou equipamentos, solicitar autorização da professora responsável anteriormente. Você pode e deve envolver outras instituições que possuem membros da equipe de enfermagem (escolas, clínicas, hospitais), antes de qualquer contacto avisar a professora responsável. A programação deve estar escrita na forma de folder ou convite, devendo ser divulgada com no mínimo 7 dias de antecedência, antes disso mostre para a professora. A professora responsável só permitirá que o evento aconteça se as etapas de planejamento e organização estiverem completas. A professora estará disponível na escola todos os dias, exceto terças-feiras das 9 às 11h. Caso necessite pode procurá-la por telefone, entretanto somente no período da noite. À tarde não estará disponível &" artigo 04 Teresa Cristina.pmd 84 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Artigo original A prática pedagógica das facilitadoras do PROFAE: uma reflexão Patrícia Neyva da Costa Pinheiro*, Antônia Ferreira Sérvulo**, Maria Albertina Diógines***, Maria Grasiela Teixeira Barroso**** * Aluna do NAD-CE. Doutoranda em Enfermagem da UFC, Integrante do grupo FAMEPE e bolsista da CAPES, Integrante do Projeto de Pesquisa: Educação em Saúde no Contexto da Promoção Humana uma investigação na Enfermagem, Apoio CNPq processo 551326/ 2002/64, ** Aluna do NAD-CE, Especialista em Enfermagem em Saúde Pública, *** Tutora do NAD CE, **** Profa. Emérita, Docente Livre Titular do Departamento de Enfermagem da FFOE/ UFC Resumo Ao falarmos em avaliação, nos reportamos à prática do acompanhamento dos alunos do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE), sentimos a necessidade de conhecer mais sobre o processo de avaliação, portando objetivamos refletir sobre as formas de avaliação adotadas na prática pedagógica das facilitadoras do PROFAE. E para realizar o presente estudo exploratório/descritivo, utilizamos como fonte a literatura sobre as diversas formas de avaliação e a aplicação de uma entrevista semi-estruturada com uma pergunta norteadora aplicada a seis facilitadoras que concordaram em participar do estudo, obedecendo aos aspectos éticos. Após a coleta dos dados separamos os resultados nos seguintes temas: 1) observação; 2) relações interpessoais e 3) auto-avaliação. Em seguida, discutimos acerca dos resultados e concluímos que as facilitadoras procuram avaliar o aluno como um todo, mas precisam de um maior aprofundamento sobre o tema. Palavras-chave: avaliação, educação, PROFAE. Artigo recebido em 2 de fevereiro de 2004; aceito em 15 de março de 2004. Endereço para correspondência: R. Júlio César, 2256 - Montese 60.425-350 Fortaleza CE Tel.: (85) 491-0927/9942-6151, E-mail: [email protected] &# artigo 05 Patricia.pmd 85 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Abstract The pedagogic practice of the PROFAE´s facilitators: a reflection When we talk about evaluation, we refer to the students practice in the professionalization project of nursing professionals (PROFAE), we need to know the evaluation process, and therefore, we have to reflect about the kind of evaluation adopted in the pedagogic practice of the PROFAE´s facilitators. In order to carry out the present exploratory/descriptive study we used as literature source several kinds of evaluation and used a semi-structured interview with a question guided to six facilitators that consented in participating to the study, obeying the ethical aspects. After data collection the results were divided in the following topics: 1 observation; 2 interpersonal relationship; 3 self-evaluation. After considering the results we concluded that the facilitators try to evaluate the students as a whole, but they need a serious study about this topic. Key-words: evaluation, education, PROFAE. Resumen La práctica pedagógica de las facilitadoras de PROFAE: una reflexión Cuando hablamos en evaluación, nos reportamos a la práctica de los estudiantes del proyecto de profesionalización de los profesionales del área de enfermería (PROFAE), sentimos la necesidad de conocer más sobre el proceso de evaluación, por lo tanto objetivamos reflexionar sobre las formas de evaluación adoptadas en la práctica pedagógica del facilitador del PROFAE. Y para realizar el presente estudio explorador/descriptivo usamos como fuente de información, la literatura sobre las varias formas de evaluación y aplicación de una entrevista semi-estructurada con una pregunta dirigida a seis facilitadotas que estaban de acuerdo en participar en el estudio, obedeciendo los aspectos éticos. Después de la colección de datos, agrupamos los resultados en los siguientes temas: 1) observación; 2) las relaciones interpersonales y 3) auto-evaluación. Luego, discutimos referente a los resultados y concluimos que las facilitadoras intentan evaluar al estudiante como un todo, pero necesitan profundizarse más sobre en el tema. Palabras-clave: evaluación, educación, PROFAE. Introdução Quando falamos em avaliação, pensamos em uma prova realizada no final do ano ou ao término de um projeto maior, mas avaliar não é simples como parece, pois em seu sentido amplo, apresenta-se como atividade associada à experiência cotidiana do ser humano. Ao conhecermos o acompanhamento dos alunos do Curso de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE), sentimos a necessidade de saber mais sobre como se dá o processo de avaliação neste curso. Num primeiro momento buscamos entender o significado do verbo avaliar e Neto [1] o define como tendo um sentido muito forte, importante e complexo, estando mais presente em nossas vidas do que pensamos, pois constituem, em essência, o verbo da informação para a tomada de decisões. Por outro lado, Bueno [2], traduz avaliar relacionado a verbos fortes como: estimar, aferir e apreciar, o que nos impele a descrever a avaliação como resultado de um processo de raciocínio seqüencial que requer precisão e habilidade do avaliador. Voltando-se para outros estudiosos, encontramos no pensamento de Saul [3], a crença de que estamos constantemente avaliando e julgando os fatos do nosso ambiente e as situações das quais participamos, sendo este tipo de avaliação assistemática e envolvida com experiências e sentimentos. Portanto, ao avaliarmos um fato devemos ter consciência que este é um processo progressivo, sendo desenvolvido enquanto agimos. A interpretação teórica deste se faz &$ artigo 05 Patricia.pmd 86 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) através de sua comparação com outro, já que o conhecimento prévio é necessário para que se possa comparar os fatos. Para se obter a produtividade de um curso, por exemplo, necessita-se de mecanismos de controle de qualidade com o intuito de comparações internas e externas, efetuando o processo de avaliação com validade e objetividade [1]. A avaliação não resolve todos os problemas, mas pode mostrar os principais êxitos ou fracassos, onde e como são necessárias mudanças, como aproveitar os pontos positivos. Além disso, pode fornecer informações para subsidiar as tomadas de decisão e permitir que todos enxerguem o seu trabalho dentro de um contexto mais amplo e compreendam as conseqüências de sua atuação. Vale ressaltar que a avaliação se desenvolve nos diferentes momentos do processo ensinoaprendizagem, com objetivos distintos. Conforme os objetivos da avaliação, ela pode ser diagnóstica, controladora ou classificatória. A avaliação diagnóstica, que se desenvolve no início do processo ensino-aprendizagem visa a verificação dos conhecimentos dos alunos, prérequisitos e particularidades dos mesmos. Aplicase esta avaliação no início de uma unidade, semestre ou ano letivo. Podemos usar os resultados da avaliação diagnóstica para estabelecermos os objetivos e planos de ensino. Já a avaliação for mativa, se usa para atender a função controladora, que ocorre durante o processo de instrução ou aprendizagem, incluindo todos os conteúdos importantes desta etapa. É utilizada como forma do professor e do aluno conhecer o rendimento da aprendizagem e localizar as deficiências na organização do ensino. E para atender à função classificatória, utilizase a avaliação somativa no fim do processo ensinoaprendizagem com a finalidade de classificar os alunos no fim de semestre, ano, curso ou unidade, segundo níveis de aproveitamento. Essa avaliação inclui os conteúdos mais relevantes e os objetivos mais amplos do período de instrução. Vira a atribuição de nota e certificados, fornece também o feed-back ao aluno, trata-se da comparação de resultados obtidos com diferentes alunos, materiais e métodos de ensino. Devemos considerar a avaliação como um processo integral que consiste na avaliação do aluno em todos os domínios do seu comportamento: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. No entanto, estes aspectos não são realidades somáveis. É recomendável não se atribuir um único conceito ou nota para o resultado da avaliação destes três domínios. Os procedimentos da avaliação não devem se prender somente a avaliação dos rendimentos ou desempenho por parte do aluno. Qualquer atividade deve ser submetida à avaliação se a considerarmos como fundamental para a retroalimentação do processo educativo. Portanto, torna-se importante sabermos como nós, facilitadores do PROFAE, percebemos o processo de avaliação e, por conseguinte o aplicamos na prática. Objetivo Identificar as formas de avaliação adotadas na prática pedagógica das facilitadoras do PROFAE. Material e métodos Trata-se de um estudo exploratório/descritivo, tendo como fonte a literatura sobre as diversas formas de avaliação e a aplicação de uma entrevista semiestruturada com uma pergunta norteadora (Anexo A) as facilitadoras do PROFAE. O presente trabalho foi realizado no período de junho a julho de 2003, contando com seis facilitadoras do PROFAE que concordaram em participar do estudo, sendo, portanto, o sigilo e o anonimato das informantes mantidos e como parte dos aspectos éticos aplicamos o consentimento livre e esclarecido e respeitamos as normas éticas em relação a pesquisa com seres humanos contidas na Resolução 196. Preservando as informantes denominamos os seguintes nomes fictícios: Gardênia, Rosa, Flor, Jasmim, Girassol e Margarida. Como critério de inclusão da amostra do nosso estudo, priorizamos os seguintes aspectos: morar em Fortaleza, pois favorecia uma maior proximidade e ter acompanhado no mínimo uma turma de alunos do PROFAE, pois teria pelo menos uma experiência com avaliação de alunos do curso. Após a aplicação do instrumento agrupamos em três temas que veremos a seguir e analisamos os resultados tendo como base a literatura sobre avaliação. Resultados e discussão A partir do estudo acerca da avaliação, assim como o contato com as facilitadoras do PROFAE que possibilitou a aplicação da entrevista e, por conseguinte o surgimento de temas que foram agrupados para termos uma maior compreensão dos achados: 1) Observação; 2) Relações interpessoais e 3) Auto-avaliação. &% artigo 05 Patricia.pmd 87 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Tema 1 Observação Observo atentamente desde o primeiro dia, aspectos como: interesse, atenção nas explicações, complementar com observações e experiências vividas.... pontualidade, assiduidade, aparência, respeito com o paciente e os membros da equipe.... o aluno é avaliado em sua desenvoltura, observação, capacidade de resumo e crítica... (Gardênia, Rosa, Flor, Jasmim, Girassol e Margarida) Nas citações acima as informantes referem a observação como parte importante no processo avaliativo, todas relataram este tema como de suma importância para avaliar o aluno, já que possibilita a pontuação de aspectos como a desenvoltura, a pontualidade, o interesse, dentre outros que podem facilitar o aprendizado e o desenvolvimento do aluno para o seu futuro profissional. O fato de terem valorizado a observação, nos leva a perceber que este grupo de professores/ facilitadores adotam uma postura voltada para a avaliação do aluno como um todo, voltando-se principalmente para uma nova metodologia, ou seja, com uma visão mais ampla do processo avaliativo. Tendo em vista a importância da observação, acredita-se que ela seja uma prática que não se limita ao ver ou ao ouvir, mas também a procurar, notar, perceber o aluno e os fatos que os cercam. Todas as informações oriundas deste processo servirão como subsídios para uma avaliação mais precisa do aluno [4]. Tema 2 Relações interpessoais Relações interacionais (Rosa); Relações com os colegas (Papoula); Convívio em equipe. Ajuda mutua (Violeta); Estimulo e avalio o trabalho em grupo (Flor). As relações interpessoais tão discutidas na atualidade foram expressas pela metade do grupo, do qual fez referência como algo importante para a realização de um trabalho com mais eficiência. Vale ressaltar, que o desejo de que as relações interpessoais sejam boas entre o grupo é algo que é demonstrado por elas. Sakai [5], traz em seu estudo o Sentido do processo de avaliação nas metodologias ativas de aprendizagem relatos sobre a importância da avaliação entre os alunos, denominada por ele de interpares, o autor acredita na contribuição do grupo para o crescimento individual. Outro aspecto que possibilita retratar as relações interpessoais seria a avaliação transdisciplinar que segundo Cecílio [6], se daria com o encontro de saberes, entretanto, torna-se difícil a concretização da mesma, pois existem as relações de poder/saber que dificultam as relações homogêneas entre os diferentes alunos, assim como os diferentes profissionais. Tema 3 Auto-avaliação Sua própria auto-avaliação. Uma auto-análise do seu desempenho no curso e seu crescimento como pessoa humana. (Papoula e Rosa) Um número restrito das entrevistadas mencionou a auto-avaliação como uma das formas de avaliação utilizada. Percebemos que não é um método muito usado pelas facilitadoras, talvez por não saber como aplicar ou por não acreditar ser um método avaliativo importante. Por outro lado, nem os alunos e nem os facilitadores são habituados a fazerem a auto-avaliação, fato que dificulta a sua utilização. De acordo com Sakai [5], a auto-avaliação é realizada pelo próprio aluno, fato que possibilita o desenvolvimento de sua auto-crítica, propiciando a sua responsabilidade e amadurecimento acerca do seu aprendizado. Já Provenzano [4], considera a auto-avaliação como uma das práticas mais importantes na relação professor-aluno, pois tanto o aluno quanto o professor devem estar cientes de seu papel e com isso desenvolver uma auto-crítica sobre suas ações. Conclusões Concluímos que todas as integrantes do grupo avaliam o aluno como um todo, levando em consideração a parte cognitiva, afetiva e psicomotora, utilizando diferentes formas de avaliação. Também vemos que elas já percebem o trabalho em grupo e a auto-avaliação como importantes no processo, já que é difícil conseguir trabalhar esses aspectos em sua integralidade. Diante do interesse que as facilitadoras demonstraram em adotarem um processo avaliativo que contemple vários aspectos relacionados ao processo de avaliação, sugerimos que as facilitadoras aprofundem seus conhecimentos acerca dos métodos de avaliação, para que possam realmente acompanhar de forma sistemática e eficaz os alunos. && artigo 05 Patricia.pmd 88 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Referências 1. 2. 3. 4. Neto CA. Avaliação sem medo. Fortaleza: R. Esternes; 1980. Bueno FS. Dicionário escolar da língua portuguesa. 9a ed. São Paulo: Ministério da Educação e Cultura; 1975. Saul AM. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e à prática de avaliação e reformulação de currículo. 2a ed. São Paulo: Cortez; 1988. 5. 6. Provenzano ME, Moulin NM. Proposta pedagógica: avaliando a ação. Brasília: Ministério da Saúde; 2000. 90p. Sakai MH et al. O sentido do processo de avaliação nas metodologias ativas de aprendizagem. Londrina: Rev. Olho Mágico 2001;1(8):5-7. Cecílio LCO. A avaliação transdisciplinar e poder: levantando algumas questões. Rev. Interfase 2000;(7):122-126. K &' artigo 05 Patricia.pmd 89 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Artigo original Comportamentos e sentimentos das enfermeiras submetidas à cirurgia Regina Maria de Carvalho*, Maria José Coelho** *Mestre em Enfermagem do Departamento de Enfermagem Fundamental. Escola ANNA NERY /UFRJ, **Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica-Escola ANNA NERY / UFRJ Resumo O estudo tratou das representações das enfermeiras submetidas à cirurgia, onde foram descritos e analisados os comportamentos e sentimentos dessas clientes, além de ter sido identificado o que elas consideravam mais importante e significativo em relação à cirurgia e aos cuidados de enfermagem recebidos. Os dados foram analisados qualitativamente, ocorrendo à formação de núcleos figurativos através das entrevistas e da dinâmica de criatividade e sensibilidade, utilizando a técnica de corte/colagens. Os resultados indicaram que as enfermeiras como clientes hospitalizadas em muitos momentos, se defrontaram com uma outra realidade até então vivenciada somente como profissionais, revelando ou não a identidade e se comportando de maneira diferente das demais clientes. Através das representações, utilizando autores da psicologia, sociologia e antropologia, esses comportamentos e sentimentos analisados, puderam ser entendidos de uma forma mais ampla, mais abrangente, até então pouco estudada, revelando atitudes de um grupo frente ao mundo em que habitam, quando estão cuidando e ou sendo cuidadas. Palavras-chave: cirurgia, sentimentos, comportamentos, representações. Artigo recebido em 25 de março de 2004; aceito em 5 de abril de 2004. Endereço para correspondência: Regina Maria de Carvalho, R. Tonelero, 236/501Copacabana, 22030-000 Rio de Janeiro RJ, Tel.: (21) 2256-0462, E-mail: [email protected] ' artigo 06 Regina Maria.pmd 90 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Abstract The feelings and behaviors about the nurses social who were submitted to surgery This study treats about the nurses representations that were submitted to surgery. It describes and analyzes the feelings and behaviors of this patient in relation to the surgery, besides had identified what they considered more important and significant in this situation and care received from nursing. The data had been analyzed qualitatively, organizing figurative groups, through interviews and dynamics of creativity and sensitivity, using the cut/paste technique. The results indicate that nurses hospitalized as patients had confronted in many moments with another reality that they had not experienced as a professional. They disclosed or not the identity and behaved in a different way from other patients. Through representations and using psychology, sociology and anthropology authors we could understand the behaviors and feelings that were analyzed in an ampler form. They were until then little studied and disclosing to attitudes of a group facing the world where they inhabit, when they are taking care of and/ or being well taken care of. Key-words: surgery, feelings, behaviors, representations. Resumen Los comportamientos y sentimientos de enfermeras sometidas a cirugía La presente investigación trata del estudio de las representaciones de enfermeras sometidas a cirugía, fueron descritos y analizados los comportamientos y sentimientos de estas clientes, también se identificó lo que ellas consideraron más importante y significativo con relación a la cirugía y a los cuidados de enfermería recibidos, situación hasta ahora poco estudiada. Los datos fueron analizados cualitativamente, ocurriendo la formación de núcleos figurativos a través de las entrevistas y de la dinámica creativa-sensible, utilizando las técnicas de corte/coladas. Los resultados mostraron que las enfermeras como clientes hospitalizadas, en muchos momentos se enfrentaron con otra realidad diferente, hasta entonces vivenciada solo como profesionales, revelando o no su identidad y comportándose de manera diferente de las demás clientes. A través de las representaciones, utilizando autores de psicología, sociología y antropología, estos comportamientos y sentimientos analizados pudieron ser comprendidos de una forma más amplia, revelando actitudes de un grupo frente al mundo en que habitan, cuando cuidan y /o cuando están siendo cuidadas. Palabras-claves: cirugía, sentimientos, comportamientos, representaciones. Introdução Ainda hoje, apesar dos avanços tecnológicos que vêem cada vez mais minimizando os transtornos que advém de atos cirúrgicos, como enfermeiras hospitalares, aprendemos a lidar com alterações específicas no comportamento e nos sentimentos de clientes diante de uma situação cirúrgica e de cuidados/procedimentos de enfermagem, na maioria das vezes invasivos, pouco conhecidos ou até mesmo desconhecidos. Nesse cotidiano hospitalar, em vários momentos, observamos as enfermeiras, detentoras do conhecimento técnico-científico de todo os processos cirúrgicos, fiéis às normas e rotinas de trabalho de um lado e, clientes fragilizados pelas constantes ameaças à integridade física, mental, espiritual e familiar do outro lado. Porém, como enfer meiras realizadoras desses cuidados/ procedimentos, muitas vezes evasivos, tais como preparo de cólons, lavagens gástricas, passagens de sondas e cateteres, curativos profundos e extensos, entre outros, nos tornamos participantes dessas experiências e nos deparamos com os nossos próprios comportamentos e sentimentos. A partir ' artigo 06 Regina Maria.pmd 91 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) dessas experiências, em conversas formais e até informais, algumas vezes emergiram reflexões tais como: e se nós enfermeiras deixássemos momentaneamente de exercer as nossas atividades profissionais e passássemos por tudo aquilo como clientes, como seria? Problema As experiências no âmbito profissional seguida da vivência de terem sido clientes, fizeram com que essas enfermeiras, enquanto um grupo social, tivesse uma visão de mundo de forma diferenciada, como seres sociais, políticos e históricos. Metodologia Acreditando que as enfermeiras ao se tornarem clientes hospitalizadas, submetidas à cirurgia, deveriam guardar representações diferentes ou não de outros clientes, em seus pensamentos, a cerca dessa experiência vivida, e que até então não haviam tido a oportunidade de revelar e expressar formalmente, é que me comprometi a pesquisar o problema, relembrando o que diz Kron [1] ...podemos compreender os problemas e as emoções dos nossos pacientes, a medida que compreendemos a nós mesmas... Na dificuldade em falar de nós mesmas, em nos expormos, em mostrar nossos comportamentos e sentimentos, frente a umas situações ameaçadoras, que é o processo cirúrgico, em que estávamos acostumadas a cuidar e não a sermos cuidadas, é que emergiu o objeto do presente estudo: as representações dos comportamentos e sentimentos das enfermeiras submetidas à cirurgia. Considerando que para essas enfer meiras, devem existir questões pouco abordadas e que precisam ser exploradas e aprofundadas, é que neste estudo foram definidos os seguintes objetivos: identificar, analisar e discutir as representações dos comportamentos e sentimentos das enfermeiras submetidas à cirurgia e destacar o que essas enfer meiras consideraram mais importante em relação à cirurgia e aos cuidados/ procedimentos de enfermagem realizados. Revisão bibliográfica Para entender melhor o processo cirúrgico nos dias de hoje, foi necessária a busca de fatos históricos, através de uma revisão bibliográfica, sobre a origem e a trajetória evolutiva da cirurgia, que durante muito tempo não foi considerada pela Academia. Durante essa revisão, utilizando a ordem cronológica para os fatos encontrados, foi constatado que, o início da cirurgia científico, reconhecido pela Academia Francesa, coincide com o início da Enfermagem Moderna, a partir de Florença Nightingale, no final do século XIX, na Inglaterra. Portanto os fatos históricos mostraram que a enfermagem cirúrgica institucionalizada inicia a partir desta época. Este estudo teve como abordagem, o método qualitativo, que permitiu em vários momentos, abordar o caráter social e aprender alguns significados do cotidiano, vivenciado pelas clientes enfermeiras. A Teoria das Representações Sociais ofereceu a oportunidade de utilizar dois recursos para a coleta de dados: a entrevista (individual) semi-estruturada, seguida das colagens obtidas através da utilização da dinâmica de sensibilidade e criatividade. Todas as enfermeiras, sujeitos do estudo, já haviam sido submetidas à cirurgia há algum tempo, quando foram entrevistadas. Algumas haviam se submetido apenas uma vez e outras, duas ou até mais vezes. Quando isso ocorria, a depoente era deixada à vontade durante a entrevista para através da fala, eleger os fatos mais significativos. Elas foram submetidas aos mais diversos tipos de cirurgias desde cesáreas até plástica, passando por cirurgias ginecológicas, neurológicas, vasculares e urológicas, tanto de forma eletiva quanto emergencial. Ao final da coleta, foram nove enfermeiras e um enfermeiro, quatro docentes e seis assistenciais.O tempo médio de hospitalização dessas enfermeiras foi de três dias. As experiências cirúrgicas ocorreram na sua maioria em hospitais de grande porte e da rede pública, com exceção de duas que aconteceram em instituições privadas. Cabe ressaltar que todas es enfermeiras do estudo, quando foram submetidas à cirurgia, estavam em plena atividade profissional. Todo o encontro (data e local) para as entrevistas foi agendado previamente. Tanto a entrevista quanto à dinâmica foram realizadas nos locais de trabalho, escolhidos por essas enfermeiras, com exceção de uma que ocorreu na residência da entrevistadora. Cada entrevista durou em média 40 minutos, sendo gravado em fita cassete, seguida da dinâmica individual de corte e colagem que também durou em média 40 minutos. Foi mantido o anonimato no estudo, por nomes fictícios. Resultados Os resultados do estudo apontaram através dos depoimentos e confirmaram com as colagens, imagens ' artigo 06 Regina Maria.pmd 92 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) que se formaram antes mesmo da hospitalização e durante o pré-operatório. Continuando o estudo outras imagens emergiram nos momentos que antecederam à cirurgia, e outras resultaram do pós-operatório e também depois da alta hospitalar. Na análise, os depoimentos dessas enfermeiras na sua maioria, direta ou indiretamente se referiram de várias maneiras ao cuidar e aos cuidados de enfermagem. As imagens se formando antes e durante o período pré-operatório O estudo na sua totalidade revelou os comportamentos e sentimentos, desde quando algumas dessas enfermeiras ainda trabalhando, começaram a adoecer e necessitaram de se submeterem à cirurgia: Sou a palmeira torta, ninguém do trabalho percebia que eu estava me quebrando.. (Sonia) As enfermeiras tiveram que se afastar da sua prática e passaram a receber os mesmos cuidados, algumas vezes em instituições que já conheciam ou mesmo que atuavam: O afastamento da rotina permite um repensar da prática que fazemos, o que favorece para um acordar... [2]. Essas enfermeiras puderam visualizar sob outro ângulo, não só o papel de cliente, mas também o papel de enfermeira no sistema hospitalar em vigência. Depois do impacto do diagnóstico clínico, quando o diagnóstico cirúrgico passou a ser a única saída, a cliente - enfermeiras começaram a avaliar os riscos desse tratamento tão conhecido para elas, como profissionais, contrariando: O receio do desconhecido constitui um potente fator de ansiedade pré-cirúrgica. Muitas vezes a informação pode ajudar a dissipar o medo. [3]. Conhecedoras de todo o contexto social, político, econômico e de saúde em que os clientes ainda hoje, infelizmente se encontram nas instituições hospitalares e de como as dificuldades de cuidar são muitas, a ansiedade, o receio, a preocupação e a reação de estresse nesse caso, foi em relação a esse conhecido meio em que já atuavam profissionalmente. Em um outro momento, acostumadas a ocultar alguns sentimentos, diante das situações dos seus clientes, muitas vezes essas enfermeiras durante a hospitalização, quando ficaram diante de si mesmas, com os seus próprios temores e preocupações, apresentaram dificuldades em deixar transparecer os seus próprios sentimentos. Quando essas enfermeiras falaram das suas ansiedades, dos seus temores, através dos depoimentos, nem sempre demonstrados na ocasião do ocorrido, abordaram e discordaram de conceitos pré-estabelecidos pela sociedade, de que acostumadas a experienciar situações dramáticas em relação à doença, a hospitalização e a cirurgia de outrem, tornam-se fortes e portanto devem saber enfrentar as suas próprias experiências, concordando com Marinho [4], quando cita que: A maioria das pessoas vê na enfermeira um ser frio, capaz de enfrentar com facilidade o drama... Será que vou conseguir andar? Me senti bem pequenina, com toda a expectativa. (Sonia) As imagens se misturando momentos antes da cirurgia e no pós-operatório Em um novo papel de clientes, essas enfermeiras relataram não somente a busca de novas estratégias, mas a revelação de novos comportamentos para situações já conhecidas. Em casa, antes da admissão hospitalar, algumas delas, por serem conhecedoras dos cuidados/procedimentos pré-operatórios de rotina, antecederam esse preparo quando isso foi possível. A minha tricotomia já veio pronta, a dieta eu já tinha iniciado em casa e já tinha tomado o laxante. Quando ao preparo da pele, não precisou porque era laminectomia e o corte era numa região que não precisava. (Sonia) Enquanto puderam, essas clientes através do auto cuidado da enfer meira, revelaram a preocupação em cuidarem, elas mesmas dos seus corpos, por saberem que mais adiante, principalmente no período trans-operatório nem sempre poderiam interferir, devido ao efeito sedativo/anestésico, quando inevitavelmente se tornariam dependentes da atuação da equipe de enfermagem e de outros profissionais. Quando o período pré-operatório terminou, essas clientesenfermeiras foram encaminhadas na maca, ao centro cirúrgico e naquele momento, mesmo conhecendo a equipe, a instituição e as rotinas, elas passaram pelo desconforto da postura horizontal, ao serem transportadas para o centro cirúrgico em maca: Eu só via o teto do corredor, sentia aquele vazio, sentia ansiedade e pedia a Deus que me protegesse. Havia passado por aquele corredor muitas vezes, mas como enfermeira. Naquela hora, a situação era diferente. Eu era cliente. A sensação era muito estranha. (Janete) '! artigo 06 Regina Maria.pmd 93 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Muitas vezes, surgiu a necessidade de conhecerem ou reconhecerem a equipe do centro cirúrgico, principalmente para quem estava no plano horizontal, diante de pessoas posicionadas no plano vertical. O homem em pé é livre, não se apoiando em coisa alguma; o homem deitado jamais é livre, mais apóia -se em tudo quanto se lhe apresente, distribuindo sua pressão de modo à praticamente não sentir mais o seu próprio peso. Muitos detentores de poder enfatizam essa transição do estar deitado para o estar em pé [5]... Essa postura, além de incômoda, foi reveladora, principalmente para quem até aquele momento circulava naquele mesmo ambiente como profissional, percorrendo os corredores e cuidando das pessoas. A ansiedade e a falta de proteção foram sentimentos experimentados por essas clientes enfermeiras, naquele momento. A transição de estar em pé e ficar deitada para ser transportada em maca, ainda consciente fizeram emergir outras estratégias, desenvolvidas por essas clientes, como o compartilhar de seus sentimentos mais íntimos, o estreitamento do relacionamento com os profissionais mais próximos fisicamente, passando naquele momento a considerá-los como aliados na luta da entrega total do seu corpo, em que a sua atuação como enfermeira no centro cirúrgico passou a ser parcial ou ausente, devido a sedação ou a anestesia geral. Ao final da experiência de terem sido submetidas aos cuidados/procedimentos de enfermagem durante o préoperatório, onde emergiram comportamentos e sentimentos até então desconhecidos, a maioria das clientes revelou o que representaram esses cuidados de um modo geral para elas. Juntando os prós e os contra, sai viva e feliz. É um jogo de quebra cabeça com a imagem incompleta, porém a principal preocupação foi solucionada. Os espaços em branco correspondem aos cuidados de enfermagem que deixaram de ser realizados. (Cristina) Com o conhecimento de quem pratica a arte de enfermagem no quebra cabeça da vida profissional, essas clientes reconheceram com otimismo, todos os cuidados que foram realizados. Apesar das dificuldades encontradas e da ausência de algumas peças, revelaram na imagem anterior, que o maior de todos os objetivos foi alcançado, ou seja, o de proporcionar o bem-estar ao ser humano, sempre. As imagens refletidas depois da alta hospitalar O estudo mostrou que essas clientes enfermeiras quando retornaram às suas vidas cotidianas, repensaram os papéis não só de profissional, mas de indivíduo na sociedade. Através deste estudo foram revelados as mudanças ocorridas, os maiores incômodos e o que ficou de melhor na experiência vivida como clientes submetidas à cirurgia. De acordo com Remen [6]: Um dos maiores recursos do paciente não se encontra apenas em suas próprias forças humanas, mas também nas da enfermeira, médico, assistente social, amigos, família e todos os que se preocupam com o seu bem-estar. Diante das citações do que mais as incomodavam, a maioria dessas clientes reconheceu a ausência direta das colegas enfermeiras, porém confirmaram através das colagens, o destaque para as amigas enfermeiras, presentes quando possível, em todo o período de hospitalização. Nos cuidados/ procedimentos de enfermagem, desde os instrumentais até os cuidados expressivos, as amigas enfermeiras estiveram presentes em momentos de vital importância para essas clientes que se sentiram mais seguras e confortáveis. Essas amigas enfermeiras representaram muito mais do que simples presenças, daquelas clientes que um dia com certeza já foram ou serão também acompanhantes de outras. Eu ia ficar sozinha naquela noite. Foi ótimo ela ir ficar comigo. A gente ficou conversando até tarde, depois eu dormi muito bem, não tive problema nenhum com relação à insônia, preocupação, pesadelo, sonhar com a cirurgia...nada disso. Acho que se eu não tivesse a presença das minhas amigas...(Sandra). O apoio das amigas enfermeiras.(Célia). O apoio das amigas.(Sandra). As amigas presentes.(Angela). A energia positiva que as colegas, as amigas me passaram.(Fátima). Conclusões Através do estudo, em vários momentos as clientes-enfer meiras ao relatarem os seus comportamentos e sentimentos, destacaram entre as categorias surgidas, a visão de mundo que as cercavam e um senso comum pouco conhecido. O maior espaço aberto no estudo por essas clientes-enfermeiras foi quando elas abordaram as estratégias utilizadas diante das facilidades e dificuldades encontradas na convivência com a própria equipe de enfermagem, revelando convergências e divergências de relações '" artigo 06 Regina Maria.pmd 94 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) em momentos delicados. O estudo mostrou que a identificação profissional por parte dessas clientes somente ocorreu quando o meio em que se encontravam estava favorável, constatado após avaliação acurada do local e das pessoas que ali se encontravam trabalhando. O estudo revelou comportamentos e sentimentos ambíguos, contraditórios, paralelos, convergentes, divergentes, éticos, conflitantes através dos depoimentos, tais como: - ...me senti em família e me senti diante de uma montanha de gelo... sou uma paciente como outra qualquer, aqui dentro... me avaliava como cliente e como enfermeira..., dentre outros. As clientes enfermeiras, apesar de em alguns momentos se considerarem pessoas como outras quaisquer, revelaram uma visão diferenciada, devido à existência de um conhecimento científico e profissional prévios, não esquecendo a sua experiência profissional na própria área de saúde. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Kron T. Manual de enfermagem, 4a.ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1978. Gotardo GIB. Nos bastidores da enfermagem; a arte de cuidar como essência. [Dissertação]. Rio de Janeiro: UNIRIO; 1996. Du Gas BW.Enfermagem prática, 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1984. Marinho P. Cadernos do terceiro mundo. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo; 1998 Canetti E. Massa e poder. São Paulo: Companhia das Letras; 1995. Remen N. O paciente como ser humano, São Paulo: Summus; 1993. K '# artigo 06 Regina Maria.pmd 95 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Revisão Quando a empatia durante o ato de cuidar em enfermagem produz uma tecnologia Descrevendo um artefato para a realização da técnica do shampooem pacientes acamados Maria Aparecida de Luca Nascimento, D.Sc.*, Rita Ferreira Cardoso, M.Sc.**, Rubens Ghidini Júnior*** **Doutora, Professor Adjunto do DEMI da EEAP da UNIRIO Chefe de Divisão do Departamento de Pós-graduação da Pró-reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da UNIRIO (PROPG) da UNIRIO, **Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) Enfermeira da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, ***Acadêmico de Enfermagem do 5º período da Universidade Estácio de Sá Rio de Janeiro Resumo Este estudo surgiu da experiência dos autores quando, ao promover a técnica do banho no leito no domicílio de um familiar acamado e impossibilitado de se movimentar, foram interpelados por ele quanto à necessidade de sentir-se confortado através do contato da água diretamente na sua cabeça, devido ao calor que fazia. Motivados pela sensibilidade em promover esse conforto, os autores criaram um protótipo que os possibilitou exercer o referido procedimento Trata-se de um estudo descritivo que tem por objetivo apresentar o pedido de privilégio de um modelo de utilidade, concebido para promover a técnica de shampoo em pacientes acamados, através do documento apresentado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). À luz do referencial teórico de Florence Nightingale o procedimento técnico em referência é apresentado, concluindo-se que a industrialização do referido artefato é importante para que esse conforto seja oferecido pela equipe de enfermagem aos pacientes acamados nos hospitais. Os autores enfatizam que a melhor forma de se fazer enfermagem é imaginar-se no lugar daquele que cuidamos. Palavras-chave: cuidado de enfermagem, shampoo, tecnologia. Artigo recebido em 1 de janeiro de 2004; aceito em 5 de março de 2004 Endereço para correspondência: Rubens Ghidini Júnior, Rua Elisa de Albuquerque 314/8, 20770-290 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2593-6414 / 9685-0376, E-mail: [email protected] '$ rev 01 M Aparecida.pmd 96 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Abstract When the empathy during nursing care produces a technology (Describing a technology for applying shampoo technics to bedridden patient) This study arose from author´s experience, when on a nursing home care, more specifically, shampoo technique, that was being applyed to a familiar bedridden person, in a summer hot day, they were requested by her, concerning the possibility of feeling the water touching her head, as a relief sort. Being stirred up by the sensibility of bestowing this comfort, the authors built up an artefact in order to do it. This is a descriptive study whose goal is to submit a created artefact, being intended for fullfilling shampoo technique to bedridden patients, through the report put foward to Industrial Property National Institute. Based on Florence Nightingale´s theoretical framework, this technical procedure is shown, realizing that the industrialization of this artefact is very important for the patient´s comfort during the nursing care at the hospital. The authors emphasize that the best way of attending to someone is by setting ourselves in the same place of whom we get hold of. Key-words: nursing care, shampoo, technology. Resumen Cuando la empatia producida durante el acto de cuidar de enfermería produce una tecnologia( Decripcion de un artefacto utilizado en la realizacion de la tecnica del shampoo a un paciente en su cama) Estudio que surge de una experiencia vivida por sus autores durante la realización de un baño en la cama de un paciente que se encontraba en su domicilio y que no podia moverse por si solo, y fueron interpelados por ese paciente que expresó su necesidad de sentir el agua corriendo sobre su cabeza debido al intenso calor que sentía. Motivados por la necesidad de dar conforto a ese paciente los autores crearon un prototipo (artefacto) con el que realizaron el procedimiento. Se trata de un estudio descriptivo que tiene por objetivo presentar el pedido de privilegio de usar ese modelo de utilidad concebido para aplicar la técnica del shampoo en pacientes que se encuentran en cama, que fué presentado ante el Instituto Nacional de Propiedad Industrial (INPI). Con base en el referencial teórico de Florence Nightingale, se concluye que la industrialización del referido artefacto es importante para que el equipo de enfermería pueda ofrecer conforto a los pacientes que no consiguen salir de su cama en los hospitales. Los autores enfatizan que la mejor forma de ejercer la enfermería es ponernos en el lugar de aquellos que cuidamos. Palabras-claves: cuidado de enfermería, shampoo, tecnología. Introdução Este estudo surgiu de uma experiência dos autores quando, ao prestarem um cuidado de enfermagem (banho no leito) em domicílio de uma pessoa da família que estava acamada e impossibilitada de deambular, foram interpelados por ela, no sentido de possibilitarem o contato da água em sua cabeça, como uma forma de alívio e de conforto, pois fazia muito calor. Considerando que a esta altura do tratamento, toda e qualquer iniciativa que tomávamos como enfermeiras, era revestida do carinho e atenção dispensada a um ente querido, não houve qualquer dúvida que conseguiríamos atender a este pedido. Tendo em vista que a técnica da higiene do couro cabeludo, comumente conhecida como shampoo, preconiza, entre outros utensílios, o uso de um balde, cobertor, jornal, irrigador, cuba redonda [1], pensou-se na possibilidade de equacionar este problema, a partir da empatia, criando um artefato que pudesse ser utilizado várias vezes ao dia, devido à sua praticidade, e que pudesse substituir todo este aparato que se utilizara até então. '% rev 01 M Aparecida.pmd 97 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Sendo assim, ao concebermos um protótipo, que, apesar de ser fabricado artesanalmente, equacionava o problema para o qual havia sido criado, levou-nos a pensar em produzi-lo industrialmente. Objetivo Apresentar o pedido de privilégio de um modelo de utilidade, concebido para promover a técnica de shampoo em pacientes acamados, através do documento apresentado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Cuidado, ciência e tecnologia Os procedimentos técnicos de enfermagem têm por finalidade, além de promover o cuidado e o conforto, racionalizar tempo e movimento. Ao gerenciarmos o tempo, através da racionalização das nossas atividades técnicas, teremos mais tempo para nos ocuparmos das atividades que demandam concentração. Porém, foi a concentração durante o ato de cuidar que permitiu observar uma outra forma de promovermos, não só, o cuidado ao higienizar o couro cabeludo do paciente, como também, o seu conforto, ao resfriá-lo em um dia de calor. A higiene do couro cabeludo, por ser um procedimento tecnicamente simples, pode parecer sem valor. No entanto [2], em seus estudos pontifica que é através dos procedimentos técnicos que a sistematização da assistência é estabelecida, são eles que ditam as prioridades e os critérios que devem ser considerados. Ainda segundo a mesma autora, estes critérios exigem do profissional de enfermagem, entre outros atributos, rapidez, tirocínio, bom senso e conhecimento teórico-prático, ações que determinam o saber cuidar, de forma prática e racional, que não devem ser confundidos com a racionalidade desprovida de sensibilidade. Sendo assim, o simples fato de sentir a água tocar a sua cabeça, resfriando-a em um dia de calor, pode significar para o paciente, muito mais que um ato técnico, mas um cuidado dimensionado à maior. Considerando que este estudo relaciona-se à criação de uma tecnologia concebida durante o ato de cuidar, tomamos como base o pensamento de Nascimento [3], ao dizer que os estudos de enfermagem relacionados à sua prática e aos seus efeitos, são baseados na observação, preocupação com o bem estar do outro, reorganização de procedimentos, revisão de algumas técnicas, assim como a criação de tecnologias relativas ao ato de cuidar. As etapas do processo de se registrar uma patente O processo relativo ao registro de patentes é realizado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, órgão público pertencente ao Ministério da Indústria e do Comércio e do Turismo. Existem dois tipos de patentes, a patente de invenção (PI), que é relativa a um artefato cuja concepção não é conhecida, e a patente de modelo de utilidade (MU), relativa à modificação no estado da técnica de algum artefato já conhecido, como é o caso deste estudo, que se refere a uma patente de modelo de utilidade, haja vista a existência no mercado, de vários tipos de cubas para serem utilizadas para lavar cabeça, inclusive aquelas comumente utilizadas em salões de beleza. Referencial teórico Tendo em vista que a dimensão do cuidar em enfermagem foi visualizado por Florence Nightingale, a partir dos procedimentos técnicos que permitiram através da sua sistematização, a caracterização desta profissão como científica, vemos nesta autora, o respaldo teórico deste estudo. Em seu livro, notas de enfermagem, a autora em referência [4], ao citar a importância do cuidado de enfer magem relativo à higiene corporal, comenta que o envenenamento através da pele não é menos eficiente do que pela boca, é apenas de ação mais lenta. Tendo em vista que este estudo versa tanto, sobre um procedimento técnico de enfermagem quanto, sobre a concepção de um artefato para promover o conforto e o alívio de um paciente acamado através deste procedimento, encontramos em Florence Nightingale o respaldo necessário para sedimentá-lo teoricamente quando mencionou que o alívio e o conforto sentidos pelo doente após sua pele ter sido cuidadosamente lavada e enxugada, é uma das mais comuns observações feitas pelo doente acamado [4]. Apresentando a cuba para lavar a cabeça de paciente acamado Tendo em vista o objetivo deste estudo, passamos a apresentar o artefato em apreço, através do relatório submetido à apreciação do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, sob nº 003786 de 22/04/ 2003, como um dos requisitos para a obtenção do registro do modelo de utilidade a ele referente. A presente patente de modelo de utilidade tem por objetivo uma cuba para lavar a cabeça de paciente acamado, para uso em hospital ou mesmo em domicílio, '& rev 01 M Aparecida.pmd 98 29/04/04, 11:37 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Fig. 3 - Ressalta o dispositivo de escoamento da água e a montagem do reservatório no leito. Fig. 1 - Mostra-a em perspectiva explodida. § § a b a § a - reentrância para apoio do pescoço b - dispositivo para o escoamento da água Fig. 2 - Mostra-o adaptado à cabeça do paciente e em perspectiva. com vistas a proporcionar conforto e bem estar através do contato da água diretamente na cabeça. Já são conhecidos diversos modelos de cubas para serem utilizadas na lavagem de cabeça, a maior parte utilizadas em salões de beleza. No entanto, apesar de toda essa diversidade, nenhuma delas objetivou a sua utilização em cima de uma cama. A técnica de lavagem de cabeça em paciente acamado é de extrema relevância se considerarmos que a permanência no leito provoca calor, sudorese e irritação. Tendo em vista esses problemas, e no propósito de superá-los, foi desenvolvida a disposição da referida cuba de modo a ser utilizada em cima da cama, objeto da presente patente, que consiste num recipiente de plástico ou metal, no formato de uma bacia oval, tendo a sua profundidade maior na sua maior dimensão. As sua bordas serão regulares, exceto na sua base que possuirá uma reentrância para o apoio do pescoço durante a b a - grampos para adaptação ao leito; b - bolsa coletora de água lavagem da cabeça e que deverá ser revestido por um material que evite qualquer dano à pele do paciente. Lateralmente, a referida cuba terá um dispositivo que permitirá o escoamento da água para um reservatório que se prenderá à cama, permitindo o uso de dois litros de água, ou mais, por etapa de lavagem. Essa forma de construção soluciona as inconveniências eventuais, uma vez que a qualquer hora a referida técnica poderá ser realizada, tendo em vista não só, a praticidade do ato, como também, o conforto e o bem estar por ele gerados, fato que colabora para a recuperação do paciente acamado. Os desenhos anexos (Figuras 1, 2 e 3) mostram a disposição da cuba para lavar a cabeça de paciente acamado. A cuba em apreço pode ser obtida em tamanhos e capacidades diversas para atender diferentes necessidades dos usuários desse tipo de equipamento. Conclusão O presente estudo demonstrou a possibilidade de realizar mos a técnica do shampoo em pacientes acamados, através de um artefato concebido para este fim, cuja finalidade maior será a de proporcionar o conforto e o alívio, advindos da sensação da água diretamente aplicada na cabeça, fato que, devido à praticidade do artefato, poderá ser realizada várias vezes durante os dias de calor. Cuidar é tentar resolver, ou pelo menos minimizar as sensações que irritam e afligem o paciente '' rev 01 M Aparecida.pmd 99 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) que é o sujeito do nosso cuidado. Muitas vezes, não nos damos conta do motivo da irritabilidade dele, e raramente ele verbaliza-as, uma vez que o desconforto, muitas vezes, é difuso e generalizado. Porém, se durante o ato de cuidar, pudermos perceber, através da sensibilidade, toda a dimensão que envolve este ato, poderemos, mais que cuidar, sermos partícipes desta ação através da empatia. Pois, a melhor maneira de se praticar a enfermagem, é colocando-nos no lugar daquele que está sendo alvo do nosso cuidado. Referências 1. 2. 3. 4. Figueiredo NMA, Tonini T, Ferreira. Práticas de enfermagem. São Paulo: Difusão Paulista de Enfermagem; 2003. 398p. Nascimento MAL. O cuidado de enfermagem e as ciências que nele incidem. In: Congresso Brasileiro de Enfemagem; 2001; Curitiba, Paraná: Resumos ABEn; 2001. p. 156. Nascimento MAL. As pesquisas de enfermagem sobre a saúde da criança Um enfoque positivista na prática cotidiana. Rio de Janeiro: Esc Anna Nery R Enferm 2002;1(6):93-100. Nightingle F. Notas sobre Enfermagem. In:Amália de Carvalho. São Paulo: Cortez; 1989. 120 p. K rev 01 M Aparecida.pmd 100 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Revisão Hipertensão arterial e fatores de risco Fernanda Paula Cerântola Siqueira*, Eugênia Veludo Veiga ** * Enfermeira, mestre do Programa de Pós-Graduação Enfermagem Fundamental-DEGE-EERP-USP, docente do curso de Enfermagem da UNIMAR, **Professora Livre Docente do DEGE EERP USP Resumo A hipertensão arterial tem sido uma das morbidades de alta prevalência e de contribuição significativa para o aumento da morbi-mortalidade cardiovascular, fundamentada nos aspectos clínicos, nos fatores de risco e nas alterações que ocasionam ao organismo. Através de levantamento bibliográfico, este artigo aborda os fatores de risco para o desenvolvimento da hipertensão arterial, bem como medidas necessárias para preveni-la ou controlá-la. A literatura aponta para a necessidade de aferir periodicamente os valores de pressão arterial e correlacioná-los aos fatores biológicos, sociais ou ambientais, associandoos às condições clínicas dos indivíduos. Orientar adequadamente os clientes quanto aos fatores de risco da hipertensão arterial muito poderá contribuir para seu entendimento, prevenção, adesão e motivação ao tratamento. Palavras-chave: hipertensão, fatores de risco. Abstract Arterial hypertension and risk factors Arterial hypertension has been a high prevalence morbidity of significant contribution to increase cardiovascular morbimortality, based on clinical aspects, risk factors, and changes to the organism. By means of bibliographic research, this article covers the risk factors necessary to the development of arterial hypertension, as well as necessary preventive or controlling actions. Specific literature points out the necessity of taking periodical arterial blood pressure values, correlating them to biological, social and environmental factors, and also associating them to the persons clinical conditions. Adequately counseling people concerning risk factors for arterial hypertension might largely contribute to its understanding, prevention and motivation to take part in the treatment. Key-words: hypertension, risk factors. Artigo recebido em 2 de fevereiro de 2004; aceito em 5 de março de 2004. Endereço para correspondência: Fernanda Paula Cerântola Siqueira, Rua Jorge Bernardone, 404 17.519-580 Marília SP. E-mail: [email protected] rev 02 Fernanda.pmd 101 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Resumen Hipertensión arterial y factores de riesgo La hipertensión arterial ha sido una de las morbilidades de alto predominio y de contribución significativa para el aumento de la morbi-mortalidad cardiovascular, basada en los aspectos clínicos, en los factores de riesgo y en las alteraciones que producen en el organismo. Por medio de levantamiento bibliográfico, este artículo aborda los factores de riesgo para el desarrollo de la hipertensión arterial, bien como medidas necesarias para prevenirla o controlarla. La literatura señala la necesidad de conferir periódicamente los valores de presión arterial y hacer una correlación de estos valores con los factores biológicos, sociales o ambientales, asociándolos a las condiciones clínicas de los individuos. Orientar adecuadamente los clientes en relación a los factores de riesgo de la hipertensión arterial podrá contribuir bastante para su entendimiento, prevención, adhesión y motivación al tratamiento. Palabras-claves: hipertensión, factores de riesgo. Introdução A hipertensão arterial, uma das morbidades de alta prevalência, tem se tornado o principal problema de saúde pública no mundo e contribui de maneira significativa para o aumento da morbi-mortalidade cardiovascular. A mortalidade proporcional por doença cardiovascular aumentou de 21%, em 1940, para 54% em 1980, e estima-se que, até o ano 2020, tal índice chegue a 74%[1]. Conforme a estimativa da Organização Mundial de Saúde, até 2020, a doença coronariana será a primeira causa de morte no mundo e a doença cerebrovascular, a quarta [2]. Diante dessas estimativas, a prevenção e o controle da hipertensão arterial representam hoje um grande desafio para os profissionais de saúde. A magnitude do problema motivou o desenvolvimento deste estudo sobre o assunto e a investigação sobre seus fatores de risco. Atualmente a definição de hipertensão arterial não é restrita aos valores pressóricos, mas também é fundamentada nos aspectos clínicos, nos fatores de risco e nas alterações que ocasiona ao organismo. É considerada uma situação clínica multifatorial e reconhecida como síndrome por relacionar os níveis tensionais elevados a alterações metabólicas, hormonais e por associar fenômenos tróficos como hipertrofia cardíaca e vascular [3]. Entretanto, outras abordagens têm sido feitas para definir a hipertensão, relacionando-a com as transformações sociais e econômicas que têm influenciado as condições de saúde da população. Conforme se constata, vários fatores sociais e ambientais têm sido relacionados ao aumento da pressão arterial em diferentes populações. Entre esses, destacam-se hábitos sedentários, tipos de dieta, infecções crônicas, mudança na vida social e familiar, obesidade, estresse e a qualidade e quantidade de atividades ligadas ao trabalho [4]. Em vista disso, fica claro que não basta a aferição da pressão. É necessário que os profissionais da saúde reúnam condições para correlacionar os valores encontrados com fatores biológicos, sociais ou ambientais que se relacionam com as condições clínicas dos indivíduos. Fatores de risco Pela literatura, o termo risco é utilizado para se descrever a probabilidade de que pessoas expostas a certos fatores (fatores de risco) adquiram subseqüentemente uma determinada doença[5]. Como fator de risco é um conceito moderno que associa a causa de uma determinada morbidade com a probabilidade de seu desenvolvimento, esse envolve a compreensão das causas e a prevenção das morbidades como, por exemplo, a hipertensão. Observa-se que alguns indivíduos são mais susceptíveis que outros ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares e o fato pode ser atribuído aos traços individuais e à exposição a determinadas condições do ambiente [6]. Atualmente muitas discussões relacionam o desenvolvimento da hipertensão com o comportamento e ambiente em que vive a população. rev 02 Fernanda.pmd 102 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) Assim é que as condições de vida e os novos hábitos adquiridos, como mudanças na vida social, trabalho e alimentação têm sido relacionados com o aumento da doença. Conforme vários autores, tem ficado evidente a relação entre os níveis de pressão arterial e idade, sexo, antecedentes familiares, raça, obesidade, estresse, inatividade física, uso excessivo de álcool, tabagismo, alimentação rica em sódio e gorduras e uso de contraceptivos orais. São esses fatores que, associados entre si e a outras condições, favorecem o aparecimento da hipertensão arterial e, ainda, quando associados a níveis de pressão elevados, contribuem para o aumento do risco cardiovascular [3, 7-9]. Sendo a hipertensão arterial reconhecida como uma doença multifatorial, vários são os fatores de risco que podem contribuir para a ocorrência de complicações advindas dela. Esses fatores de risco são, por vezes, subdivididos em fatores não modificáveis, como idade, sexo, antecedentes familiares e raça e fatores modificáveis, sendo obesidade, estresse, inatividade física, uso excessivo de álcool, tabagismo, alimentação e uso de contraceptivos orais. Com base na importância desses fatores para o desenvolvimento da hipertensão, bem como em sua evolução relata-se, a seguir, o que revela a pesquisa científica. Idade Vários estudos apontam a idade como fator de risco importante para o desenvolvimento da hipertensão arterial. De acordo com Brasil [10] e Riera [11], a prevalência da hipertensão fica em torno de 7% para crianças, 20% para os adultos e 65% para os idosos. Tais fontes ainda referem que os níveis de pressão arterial aumentam gradativamente em todas as faixas etárias estudadas, sendo mais acentuados acima dos 35 anos [4, 12-14]. Tal fato pode ocorrer devido às modificações que ocorrem na musculatura lisa e no tecido conjuntivo dos vasos, proporcionando o aumento dos níveis pressóricos [15, 16]. Vale ressaltar que a variável idade relacionada à hipertensão poderá também estar associada às condições de vida da população. Sexo Os homens apresentam níveis de pressão arterial mais elevados que as mulheres até meia idade. Após a meia idade, porém, os valores pressóricos femininos equiparam-se com os masculinos [17]. O estudo Framingham aborda um aumento médio de 20mmhg na pressão sistólica e 10mmhg na diastólica dos 30 aos 65 anos, sendo as taxas de morbimortalidade mais elevadas nos homens [17-19]. Lolio [14], ao estudar prevalência de hipertensão, verificou que as taxas de prevalência para o sexo feminino são menores que as do sexo masculino. A partir da faixa etária (45-54 anos), entretanto, ocorreu aumento significativo de hipertensão em mulheres. Uma explicação para isso é o fato de que a mulher, após a menopausa, tem queda na produção de estrógeno, hormônio que, conforme se acredita exerce efeito protetor sobre o sistema cardiovascular feminino [20, 21]. Raça Vários estudos apontam diferenças entre negros e brancos ao relacionarem raça e hipertensão. Lopes [22], ao rever e avaliar várias pesquisas clínicas e epidemiológicas com o objetivo de identificar diferenças em hipertensão entre negros e brancos, verificou que os resultados no Brasil são semelhantes aos encontrados nos trabalhos norte-americanos, em que se reconhece haver maior predomínio dessa morbidade entre os negros. Como a prevalência da hipertensão tem sido maior em negros do que em brancos, sendo que valores pressóricos elevados foram encontrados em 20 a 30% da população negra e aproximadamente 10% na população branca. Há evidências de maiores complicações no negro em relação ao branco [9, 23-25]. Em estudo realizado com 5.500 integrantes da força de trabalho em São Paulo, a prevalência foi de duas a três vezes maior em negros em relação aos brancos. Os níveis pressóricos nas mulheres pardas e negras foram aproximadamente três a quatro vezes maiores em relação aos das brancas [4]. Embora a literatura aponte a relevância da raça nos índices de hipertensão, acredita-se que o estilo de vida e as condições sócio-econômicas e culturais possam influenciar na incidência da morbidade. Antecedentes familiares Apesar de vários estudos relacionarem a história familiar com os casos de hipertensão, têm havido muitas discussões sobre a influência dos fatores ambientais compartilhados na família, pois, dependendo do meio ambiente em que vive a pessoa e a exposição a outros fatores de riscos associados, o indivíduo pode ou não desenvolver a doença [26]. O que fica claro, então, é que os indivíduos com antecedentes familiares são mais susceptíveis para o ! rev 02 Fernanda.pmd 103 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) desenvolvimento da hipertensão, pois os fatores ambientais podem influenciar os fatores genéticos [10]. Alimentação A qualidade e quantidade de alimentos ingeridos são de suma importância para a prevenção e controle de hipertensão arterial. Uma alimentação desequilibrada proporciona habitualmente aumento na ingestão de colesterol, gorduras saturadas, açúcares e sal, podendo propiciar dislipidemias e obesidade e contribuir para o aumento da prevalência da hipertensão arterial, bem como para suas complicações [3,10]. Existe uma relação positiva entre a ingestão de sal e aumento da pressão arterial, que se evidencia com o avançar da idade e contribui para o aparecimento da doença, pois o indivíduo torna-se mais sensível ao sódio [24,27]. A alimentação com pouco sal é recomendada por reduzir a pressão arterial e por ser benéfica ao tratamento da hipertensão, aumentando a eficácia das drogas anti-hipertensivas. Pode contribuir, também, para a na redução dos índices de mortalidade por acidentes cerebrovasculares e diminuição da hipertrofia ventricular esquerda. Segundo os pesquisadores, a quantidade de sal recomendada é de seis gramas diárias, devendo-se lembrar que os produtos industrializados já contêm sódio. Em contrapartida, a ingestão de alimentos ricos em fibras proporcionam redução da absorção intestinal do colesterol. Também deve ser evitada a ingestão de gorduras saturadas [2,3,9,10,24]. Uma dieta rica em potássio pode prevenir o aumento da pressão arterial, pois o potássio inibe a atividade simpática não produzindo a renina, promovendo vasodilatação arterial e protegendo as artérias de deposição arterosclerótica. Os alimentos como banana, laranja, tomate e alface são indicados por serem ricos em potássio. O aumento da ingestão de cálcio também é sugerido na dieta dos hipertensos, pois isso pode contribuir para a diminuição dos valores pressóricos por exercer controle de tônus muscular liso [2,3,9,28]. Obesidade A obesidade é considerada um fator em potencial para o desenvolvimento da hipertensão, visto que a pressão arterial aumenta na mesma proporção que o peso e a prevalência da hipertensão em indivíduos obesos é duas vezes maior que em pessoas com peso normal [29,30]. Pode estar associada, também, aos fatores biológicos, disfunção orgânica ou relacionada ao estilo de vida do indivíduo, caracterizado pelas condições de consumo de alimentos e falta de atividade física. O excesso de peso reconhecido como obesidade é classificado por Williamson [31] da seguinte maneira: obesidade para homens IMC igual ou maior que 27,8Kg/m2 e para mulheres IMC igual ou maior que 27,3Kg/m2, e a obesidade severa para homens IMC igual ou maior que 31,1Kg/m2 e para mulheres IMC igual ou maior que 32,3Kg/m2. Constata-se que aproximadamente 32% dos brasileiros têm excesso de peso, isto é, índice de massa corpórea (IMC) igual ou superior a 25Kg/m2, sendo que 8% desses considerados obesos têm IMC maior que 30Kg/m2 e, desse total, 70% são mulheres [10]. A redução do peso é recomendada, pois está associada à diminuição da pressão arterial, devendo esses indivíduos realizar atividades físicas e adotar uma dieta hipocalórica [2,3,9,25,32]. Estresse Muitos fatores contribuem para ocorrência do estresse, sejam eles ambientais ou psicossociais. Os estímulos psicológicos podem aumentar a liberação de catecolaminas, que estimularão o sistema nervoso simpático, aumentando os níveis de pressão arterial. A resposta do organismo dependerá do fator desencadeante e da sensibilidade do indivíduo. Este pode adaptar-se ou não, caso em que há desenvolvimento da doença [28]. Situações estressantes como pobreza, desemprego, inatividade física, insatisfação profissional e matrimonial, dificuldades financeiras, insatisfação familiar e social, baixo nível social e educacional são fatores que têm proporcionado aumento do estresse na população [10]. Em vista disso, portanto, recomenda-se o uso de técnicas que promovam o relaxamento e psicoterapia para que o indivíduo possa mudar o comportamento diante das situações vividas [2,3,9,27,28,32]. Tabagismo O hábito de fumar está associado à maior prevalência de hipertensão, aumentando o risco de doenças cardiovasculares e pulmonares. A nicotina, através da estimulação adrenérgica aumenta a pressão arterial [2,9,33]. Há relatos de que o tabaco, além de danificar a parede dos vasos, promove seu endurecimento, " rev 02 Fernanda.pmd 104 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) alterando a vasomotricidade vascular e contribuindo para a formação e manutenção da placa arteros-clerótica. Quando utilizado em excesso, a maior liberação de adrenalina e noradrenalina ocasiona aumento da freqüência cardíaca, débito cardíaco e consumo de oxigênio, elevando a pressão arterial [28,33]. Recomenda-se, portanto, a parada do uso do tabaco, por se saber que a doença hipertensiva é mais severa no tabagista e que estes ainda têm maiores probabilidade de morte súbita e doença coronariana [2,3,9,25,32,34]. Álcool O consumo de álcool também está associado a maior prevalência de hipertensão, sendo responsável por aproximadamente 5 a 10% dos casos. O álcool age na musculatura cardíaca, no metabolismo de cálcio diminuindo a eliminação de sódio, além de promover aumento do volume cardíaco, maior estimulação do sistema nervoso e situação de estresse [24,27,28]. O uso excessivo do álcool, além de ser um fator de risco importante para o desenvolvimento da hipertensão arterial, tem sido responsabilizado pela resistência ao tratamento. Porém, quando usado em baixas quantidades tem efeito hipotensor benéfico [28]. O consumo não deve ultrapassar 30ml de etanol/ diário, o que corresponde a 60ml de bebidas destiladas, 240ml de vinho e 720ml de cerveja, para homens. Para as mulheres e pessoas de baixo peso, deve ser limitado a 15ml/dia, pois estas absorvem mais o etanol que os homens [2,3,9,27]. Sedentarismo Ainda que a atividade física seja de suma importância, há alguns cuidados a serem observados: atenção à freqüência cardíaca, logo após a atividade, como também a sinais de fadiga, dor no peito, palpitações. Os exercícios devem ser realizados numa intensidade moderada, consumindo apenas 40% a 60% do consumo máximo de oxigênio ou com intensidade de 50% a 70% da freqüência cardíaca de reserva. Há indicações para realização desses três a cinco vezes por semana, com duração de 30 a 45 minutos [2,3,9]. Uso de contraceptivos orais Os anticoncepcionais orais agem sobre o sistema cardiovascular da mulher, dependendo da idade, tempo de uso, composição, predisposição individual e exposição a outros fatores de risco. O risco aumenta na mesma proporção que aumenta a idade, e também com a existência de hipertensão e doença renal [4,20]. Debert-Ribeiro [4] relata alguns estudos que apontam a relação entre a hipertensão e o uso de anticoncepcionais orais: há aumento significativo dos níveis de pressão sistólica entre usuárias de contraceptivos orais quando comparados aos das não usuárias, verificando maior risco em mulheres normotensas após o uso deste e, também, aumento da pressão arterial em mulheres previamente hipertensas. O uso de contraceptivos orais não é recomendado às mulheres que apresentam fatores individuais predisponentes ao desenvolvimento da hipertensão, ou estão expostas a outros fatores que contribuem para a ocorrência desta [4,20,37]. Conclusões O sedentarismo é um fator de risco importante na incidência e prevalência da hipertensão arterial e da doença coronariana. As modificações no estilo de vida, proporcionadas pelo maior desenvolvimento na área de transporte e utilidades domésticas, são responsáveis pelo aumento da inatividade física das pessoas [10,35]. Cabe ressaltar a existência de outros fatores de risco que podem ser modificados pela atividade física, levando à diminuição de colesterol e glicose, redução do peso quando associada à ingestão de dieta hipocalórica. Além de contribuir para redução de obesidade, diminui a resistência à insulina e melhora o funcionamento orgânico, reforçando a musculatura [3,9,27,32,36]. O exercício físico, portanto, poderá reduzir os níveis de pressão arterial nos portadores de hipertensão, bem como reduzir o risco de indivíduos normotensos desenvolverem a doença. Acredita-se que as condições sócio-econômicas, culturais e ainda o estilo de vida dos indivíduos possam influenciar na incidência da hipertensão arterial. Considera-se de suma importância a capacitação dos profissionais da área da saúde para correlacionar tais condições aos fatores biológicos, sociais ou ambientais do indivíduo, e ainda para associá-las com os valores de pressão arterial encontrados no exame das condições clínicas do mesmo, o que muito poderá contribuir para o entendimento, prevenção, adesão e motivação dos clientes ao tratamento. Referências 1. World Bank Brazil: the new challenge of adult health. Washington (DC): World Bank; 1990. # rev 02 Fernanda.pmd 105 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. World Health Organization. International Society of Hypertension Guidelines for the Management of Hypertension. J Hypertension 1999;17:151-183. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial: 1998 Fev 12-15. Campos do Jordão: Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Nefrologia; 1998. 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O programa, um convênio entre União e municípios, prevê o acompanhamento médico, em comunidades carentes, de problemas considerados de baixa complexidade, evitando assim a sobrecarga de postos e hospitais. Em várias cidades do país, o PSF obteve resultados expressivos, como em Camaragibe (PE), onde caiu o número de mortes de crianças por diarréia em 1999. No Rio, o PSF começou a ser implantado em 1994, mas os resultados, dez anos depois, não são motivo de comemoração. A cidade é hoje a última colocada no ranking das capitais brasileiras com cobertura do PSF, segundo o Ministério da Saúde, só 5% do público-alvo, estimado em 1,8 milhão de pessoas, estão sendo beneficiados. O estudo mostra que 89.700 pessoas são atendidas pelas 35 equipes do PSF no município, e nos últimos dois anos a prefeitura não criou qualquer equipe, que aqui tem o nome de Saúde Onde Você Mora. O secretário municipal de saúde, Mauro Marzochi, reconhece as dificuldades do PSF no município, mas afirma que, até o fim deste ano, a meta é ter 164 equipes, todas com a participação de dentista e assistentes sociais. A complexidade do Rio e suas características geográficas atrasaram o programa. Mas o Rio não é a pior capital. Salvador está abaixo de nós. Um documento do Ministério da Saúde, no entanto, aponta a capital baiana como a 20ª colocada, com cobertura de 26% do público-alvo. Marzochi também admite que nenhuma equipe foi criada entre 2002 e 2003, mas afirma que, nesse período, a prefeitura estava reestruturando o PSF. Nesse período planejamos a inclusão das equipes de saúde bucal e assistência social. Além disso, nosso programa é executado por funcionários concursados, o que não ocorre em nenhum outro lugar Marcos S. Queiroz, Patrícia C. P. Oliveira Cad. Saúde Pública, Jul/Dez 2003 Acidentes de trânsito O artigo Acidentes de trânsito: uma análise a partir da perspectiva das vítimas em Campinas, de Marcos Queiroz e Patrícia Oliveira, tem como objetivo abordar o problema dos acidentes de trânsito a partir da visão de 20 vítimas hospitalizadas na Enfermaria do Trauma do Hospital das Clínicas da Unicamp. Foram analisadas características sociais do acidentado e as circunstâncias gerais do acidente. A pesquisa teve como enfoque as representações sociais do acidentado sobre diversos temas, tais como: as causas do acidente, o trabalho, o trânsito, o sistema de transporte coletivo e as perspectivas para o futuro. As entrevistas limitaramse ao próprio acidente de trânsito e à crise pessoal proporcionada pelo mesmo. % resumos.pmd 107 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) O estudo alerta que mudanças de atitudes em relação à segurança no trânsito implicam mudanças em outras áreas do comportamento, como o uso de bebida alcoólica e o consumo de drogas, especialmente entre adolescentes. A solução para o problema dos acidentes de trânsito requer a implementação de políticas públicas como programas de capacitação, reabilitação e educação - que levem em conta a dimensão cultural dos envolvidos e enfatizem programas de educação. Estela M. L. Aquino, Maria Luiza Heilborn, Daniela Knauth et al. Cad. Saúde Pública, 2003 Grávidas pré-maturas O Dia, 26 de abril de 2004 Portas abertas para salvar vidas O estudo Adolescência e reprodução no Brasil: a heterogeneidade dos perfis sociais, realizado por pesquisadores das universidades Federal da Bahia, do Estado do Rio de Janeiro, Federal do Rio Grande do Sul e do Institut National dÉtudes Démographiques, em Paris, na França, mostrou os resultados de uma estimativa sobre a prevalência de gravidez na adolescência (GA). A pesquisa foi desenvolvida em três capitais brasileiras: Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre, cidades com diferentes contextos socioculturais. O estudo analisou o perfil e os resultados da gestação e realizou um inquérito domiciliar, com entrevistas de uma amostra de homens e mulheres entre 18 e 24 anos, para a avaliação retrospectiva da GA. Ao todo, foram entrevistados 4.634 jovens (47,2% homens e 52,8% mulheres), sendo que a gravidez entre adolescentes foi relatada por 55,1% dos homens e 27,9% das mulheres. A maioria das mulheres engravidou em relacionamento estável com parceiro mais velho (79,8%). O estudo verificou que a experiência de gravidez antes dos 20 anos foi relatada por 21,4% dos homens e 29,5% das mulheres. E a maior parte das gestações se deu fora de uma união conjugal: 86,6% dos homens e 74,2% das mulheres, que moravam ainda com suas famílias de origem. Nem mesmo o caos na saúde pública faz diminuir o número de profissionais de enfermagem no Brasil. Ao todo, espalhados pelo País, mais de 700 mil pessoas conservam o ofício de ajudar pacientes e salvar vidas, de acordo com pesquisa realizada este mês pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). E o mercado está de portas abertas: até o fim do ano, surgirão mais 3 mil vagas só no Estado do Rio, segundo o Conselho Federal. São oportunidades em hospitais, clínicas, casas de saúde, atendimento domiciliar e faculdades, à disposição para absorver esses profissionais, que representam 55% da força de trabalho na área de saúde. Só no Estado do Rio, a enfermagem dá emprego hoje para 115 mil pessoas, entre auxiliares de enfermagem, técnicos e enfermeiros. Dessas, apenas a terceira categoria tem nível superior de ensino. As outras duas foram criadas, respectivamente, em 1949, por conta da legislação brasileira, e no final da década de 60, pela reformulação do ensino no País. Desde então, entre os profissionais da área, a grande maioria é de auxiliares em enfermagem: eles respondem atualmente por uma fatia de 78% do mercado. Mas nada de imaginar que exista qualquer tipo de preconceito nesse sentido. Dentro da & resumos.pmd 108 29/04/04, 11:38 Enfermagem Brasil Março / Abril 2004;3(2) enfermagem, homens e mulheres são iguais. Até nos salários, que costumam variar entre R$ 150 e R$ 500 para auxiliares e técnicos em início de carreira, e R$ 180 a R$ 1.300 para enfermeiros que ingressam no mercado de trabalho. Kattia Ochoa-Vigo, Ana Emilia Pace e Claudia Benedita dos Santos Rev Latino-Am. Enfermagem, Mar/Abr 2003 Maria Cristina Faber Boog Revista de Nutrição, Jan 2002 Análise retrospectiva dos registros de enfermagem em uma unidade especializada O estudo realizado em unidade especializada do interior do Brasil teve como objetivo verificar as diferenças dos registros de enfermagem, quanto ao modo de documentar a assistência oferecida ao paciente, em três períodos relacionados com a implementação do Processo de Enfermagem. Coletaramse os dados em 20% dos prontuários de pacientes acima de 15 anos. Para a análise, utilizou-se o Teste Binomial a 0,05% de significância. Nos resultados, observou-se tendência para melhoria nos registros quanto à intelecção da escrita e descrição completa de sinais/sintomas no segundo período. Concluiu-se que houve diferença entre os períodos inicial e de pré-implementação, fato que expressa necessidade de rever o modo de desenvolver-se o Processo de Enfermagem como responsabilidade de toda a equipe de enfermagem. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem Este trabalho consiste em uma pesquisa realizada com o propósito de aprimorar o ensino de Nutrição, adequando-o às necessidades específicas de graduandos de Enfermagem. Para a coleta de dados, foi aplicado um questionário a 30 docentes. As respostas foram analisadas qualitativamente, empregando-se a técnica de análise de conteúdo. Foram identificados seis eixos em torno dos quais foram aglutinadas as expectativas dos docentes: segurança alimentar e nutricional, qualidade de vida, problema alimentar, processo de cuidado nutricional, papel profissional/interdisciplinaridade e conteúdos técnicos específicos. As conclusões apontam a necessidade de o ensino ultrapassar a ministração de conteúdos estritamente técnicos, pois ele deve preparar o aluno para analisar criticamente as situações que exigem intervenções específicas do campo da nutrição e para agir interdisciplinarmente. ' resumos.pmd 109 29/04/04, 11:38 EnfermagemBrasil Março / Abril 2004;3(2) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), http:// www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8.Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. Normas de publicação + Eventos.pmd 110 29/04/04, 11:38 EnfermagemBrasil Março / Abril 2004;3(2) 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3.Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986 Capítulo ou parte de livro: Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78. Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] Normas de publicação + Eventos.pmd 111 29/04/04, 11:38 Calendário de eventos 2004 6 a 8 de maio VI Simpósio Brasileiro de Vacinas Curitiba PR Informações: (41) 3022-1247 [email protected] Maio 21 a 25 de junho de 2004 II Congresso Internacional de Enfermagem do Trabalho III INTERENENT Encontro Internacional de Enfermagem do Trabalho XI ENENT Encontro Nacional de Enfermagem do Trabalho UNIBAN São Paulo - SP Informações: (11) 5507-2857 www.anent.org.br 12 e 13 de maio II Fórum da Economia da Saúde Pestana São Paulo Hotel SP Informações: (11) 3059-5190 www.networkingservocos.com.br 13 a 15 de maio V Congresso Brasileiro de Bioética Centro de Convenções do Mar Hotel PE Informações: (81) 3463-0871 www.cro-pe.org.br/bioetica/ XI Congresso da Sociedade Cubana de Enfermagem I Colóquio Saúde Familiar e os Enfermeiros II Simpósio Necessidades, Tendências e Desafios na Formação de Recursos Humanos de Enfermagem Centro de Convenções Plaza América Varadero Cuba Informações: Astrea Operadora Turística (11) 3259-7874 www.astreaturismo.com.br 15 de maio Reunião Científica SOBENDE Auditório do Hospital Santa Cruz SP Informações: (11) 3726-4420 www.ellusaude.com.br 16 a 21 de maio 15º Biennial Congress World Council of Enterostomal Therapists Florianópolis SC Informações: 55 11 5081-7718 www.espansaoeventos.com.br [email protected] 28 de maio 4º Encontro de Enfermagem Obstétrica e Neonatológica da Maternidade Sinhá Junqueira Palace Hotel Ribeirão Preto SP Informações: (16) 610-0425 [email protected] 1 a 4 de junho 11º Feira Hospitalar Expo Center Norte SP Informações: (11) 3897-6191 www.hospitalar.com 9 a 12 de junho X Jornadas de Enfermería Laboral Mendoza Argentina Informações: www.smt-mza.org.ar Normas de publicação + Eventos.pmd 112 19 a 23 de junho VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia Recife PE Informações: (81) 3227-1902 www.congressoepidemiologia2004.com.br Junho 2 e 3 de julho III Simpósio da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Oftalmologia Centro de Convenções de Ribeirão Preto SP Informações: (17) 235-7014 www.cenacon.com.br Julho 31 de julho a 2 de agosto IV Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar III Curso de Implantes e Equipamentos em Ortopedia, Bucomaxilo, Cirurgia Plástica e Neurocirurgia Centro de Convenções Rebouças SP Informações: SOBECC (11) 3341-4044 www.sobecc.org.br Agosto 18 a 21 de agosto 1º Congresso Brasileiro de Enfermagem em Infectologia Santos SP Informações: (11) 3721-9333 www.ellusaude.com.br 30 de agosto a 3 de setembro IX Congresso Brasileiro de Controle de Infecção de Epidemiologia Hospitalar Salvador BA Informações: (71) 341-3024 www. Controledeinfeccao.com.br Informações: (11) 3257-4386 29/04/04, 11:38 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2004;3(3) Índice Volume 3 número 3 - Maio / Junho de 2004 EDITORIAL As práticas de enfermagem, Os Editores .......................................................................................................... 115 A RTIGOS ORIGINAIS No domicílio: orientações e cuidados de enfermagem em pacientes diabéticos, Danilo Figueira Gonçalves, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda ................................................................. 116 A memória da assistência da equipe de enfermagem aos clientes HIV positivo num Hospital Universitário do Rio de Janeiro (1983 1987), Claudia de Carvalho Dantas, Josete Luzia Leite ......................................................................................................................................................... 121 O ser humano em coma e a comunicação verbal: quando o silêncio da equipe de enfermagem é uma forma de violência no ato de cuidar, Mariana Gomes Cardim, Marcio Martins da Costa, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Nébia Maria Almeida de Figueiredo .............................. 131 R EVISÕES Saúde da família: estratégia de ensino para graduação em enfermagem, Marialda Moreira Christoffel, Valeria de Oliveira Monteiro ............................................................................... 138 Proposta de instrumento de coleta de dados em consulta de enfermagem em ginecologia e pré-natal, Dulce Aparecida Siviero Franco, Milena Butolo Vido ................................................................. 145 Atualização em tuberculose, Rodrigo Grazinoli Garrido, Fabíola de Sampaio Rodrigues .................... 152 Ocorrência de tinea pedis em um grupo de idosos e fatores relacionados, Larissa Chaves Pedreira, Rose Ana Rios David, Cléa Marques Bittencourt, Carine Jatobá ......................... 159 O cuidado de enfermagem e as ciências que nele incidem, Maria Aparecida de Luca Nascimento .................................................................................................................... 165 N ORMAS DE PUBLICAÇÃO. .................................................................................................................. 170 C ALENDÁRIO DE EVENTOS................................................................................................................... 172 ! 00 Indice+editorial.pmd 113 02/07/04, 19:15 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2004;3(3) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) CONSELHO CIENTÍFICO Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP São Paulo) a a Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP Ribeirão Preto) Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) GRUPO DE ASSESSORES Profa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS Mato Grosso do Sul) Profa Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe) Profa Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe) Profa. Dra. Márcia Maria Fontão Zago (USP Ribeirão Preto) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 e-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 - São Paulo - SP Tel: (11) 3362-2097 Assinaturas 1ano: R$ 144,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Representante de Assinatura: A. Shalon (11) 3361-5595 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Editor assistente Bárbara de Assis Jorge Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Editoração e arte Andréa Vichi Colaboradora de redação Guillermina Arias Atendimento ao assinante Ingrid Haig Redação e administração Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço: Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro René C. Delpy Jr [email protected] (21) 2221-4164 Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil, Nutrição Brasil, Brasilis e Ação & Movimento. Foto da capa: Major Enfermeira reformada do Exército, Elza Cansanção Medeiros com pacientes do 45th General Hospital, em Nápolis. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. " 00 Indice+editorial.pmd 114 02/07/04, 19:15 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2004;3(3) Editorial As práticas de enfermagem Os Editores As práticas de Enfermagem na atualidade não se resumem apenas a técnicas generalizadas, é preciso oferecer um atendimento de nível aos clientes. E para isso, precisamos de uma compreensão de todo contexto histórico, político e cultural da profissão. O propósito da Enfermagem Brasil é promover uma ampla mobilização em prol da Enfermagem no país e mundo, através dos diversos artigos recebidos por especialistas. Isso demonstra o compromisso com as questões de saúde, pois independente das questões sociais, esses grandes profissionais da saúde, têm muito a contribuir atuando dentro de seu contexto, minimizando a dor e o sofrimento de muitos seres humanos. Nesta edição da Enfermagem Brasil, apresentamos trabalhos originais como: o ser humano em coma e a comunicação verbal: quando o silêncio da equipe de enfermagem é uma forma de violência no ato de cuidar, orientações e cuidados de enfermagem em pacientes diabéticos no domicílio, a memória da assistência da equipe de enfermagem aos clientes HIV positivo num Hospital do Rio de Janeiro. Contamos também com os resumos: o cuidado de enfermagem e as ciências que nele incidem, sobre a atualização em tuberculose, a proposta de instrumento de coleta de dados em consulta de enfermagem em ginecologia e pré-natal, sobre a saúde da família e a estratégia de ensino para graduação em enfermagem e a ocorrência de tinea pedis em um grupo de idosos e fatores relacionados. Gostaríamos de aproveitar, para agradecer aos nossos colaboradores os inúmeros artigos enviados, a Major Enfermeira refor mada do Exército Elza Cansação Medeiros pela gentileza em ceder a foto da capa, a nossa querida Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento pelo apoio e dedicação incondicional a nossa causa e aos milhares de assinantes que participam no sucesso desta publicação. # 00 Indice+editorial.pmd 115 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Artigo original No domicílio: orientações e cuidados de enfermagem em pacientes diabéticos Danilo Figueira Gonçalves*, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda, D.Sc.** *Enfermeiro Mestrando em Gestão Educacional e Especialista em Gestão de Sistemas e Serviço de Saúde e em Pedagogia na Enfermagem, **Coordenador do Curso de Graduação em Enfermagem na Universidade Norte do Paraná Resumo O presente estudo apresenta resultados parciais, coletados no período de setembro de 1999 a agosto de 2000, do Projeto de Pesquisa e Extensão denominado Orientações e cuidados de enfermagem aos portadores de diabetes mellitus no domicílio. A amostragem é composta por 18 domicílios, aonde foram realizadas 4 visitas por domicílio. Constatou-se que 100% são aposentados, enfrentam dificuldades de acesso e aquisição de medicamentos específicos ou outros nos serviços de saúde. Destes, 95,23% são mulheres exercendo algumas atividades domésticas e 25% detêm escassas informações sobre o seu adoecimento e as formas de prevenir as complicações. Palavras-chave: idoso, enfermagem, assistência, saúde. Abstract At home: nursing guidance and care The present study presents partial results, collected from September 1999 to August 2000, of the Research and Extension Project called Nursing home guidance and care to patients with diabetes mellitus. The sampling is composed of 18 homes, where 4 visits per house were carried out. It was confirmed that 100% are retired and face access and acquisition difficulties to buy specific or non-specific medicines in health services. Of these, 95.23% are women performing some domestic activities and 25% withhold scarce information about their illness and way to prevent complications. Key-words: elderly, nursing, assistance, health. Artigo recebido em 24 de março de 2004; aceito em 25 de maio de 2004. Endereço para correspondência: Danilo Figueira Gonçalves, Rua Marabú, 1641 Centro 86701-400 Arapongas PR, E-mail: [email protected] $ artigo 01 Danilo.pmd 116 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Resumen En domicilio: Orientaciones y cuidados de enfermería El actual estudio presenta resultados parciales, colectados en el periodo de Septiembre de 1999 a Agosto de 2000, del Proyecto de Pesquisa y Extensión denominado Orientaciones y cuidados de enfermería a los portadores de diabetes mellitus en domicilio. La muestra es compuesta de 18 domicilios donde fueron realizadas 4 visitas por domicilio. Se constató que 100% son jubiladazos, enfrentando dificultades de acceso y adquisición de medicamentos específicos o no específicos en los servicios de la salud. De estos, 95.23% son mujeres que ejecutando algunas actividades domesticas y 25% detienen escasas informaciones sobre su enfermedad y las formas de prevenir las complicaciones. Palabras-clave: adulto mayor, enfermería, asistencia, salud. Introdução O recorte adotado no estudo assim como no projeto diz respeito ao Diabetes Mellitus do tipo II. No desenvolvimento do mesmo, na comunidade e no domicílio, os demais tipos também foram detectados e receberam orientações e encaminhamentos para os serviços de saúde do Município. Procuramos compreender o que é envelhecer? Para alguns autores, o envelhecer é um processo universal, que deteriora o organismo progressivamente até torná-lo incapaz de enfrentar as circunstâncias e condições do seu meio [1], e abrange não só alterações fisiológicas, mas também psicológicas e sociais [2]. O processo de envelhecimento, para Perez [1], inicia-se entre 20 e 30 anos de idade, quando o organismo atinge sua plena maturidade e o tempo invariavelmente começa a produzir as modificações morfológicas e fisiológicas no ser humano, independente de raça. Embora apresentem variações neste processo. Relatos de literatura sobre o envelhecimento humano mostram que a enfermagem despertou para o cuidado do idoso a partir da década de 1970 através dos estudos [3,4]. A partir destas considerações também procuramos, neste trabalho, analisar os dados já coletados e parcialmente analisados, como os portadores de diabetes mellitus compreenderam e incorporaram em sua cotidianidade as orientações e os cuidados de enfer magem específicos prestados. Esclarecemos que esta preocupação é decorrente da necessidade de medidas viáveis de manutenção e prevenção das complicações decorrentes deste adoecimento. Consideramos o diabetes mellitus como uma das doenças que mais afetará a população no Terceiro Milênio, com prevalência do diabetes tipo II [40%]. Fato este associado à obesidade e ao processo de envelhecimento populacional. Nesta perspectiva, consideramos epidemiologicamente o diabetes mellitus como uma doença especialmente prevalente nos mais idosos. Consideramos, idosos, as pessoas com idade igual e/ou acima de 65 anos. Dados do último Censo Nacional sobre Diabetes revelou que em nove capitais brasileiras cerca de 7,6% da população são diabéticos. Desses, 90% estão incluídos na categoria dos não insulinodependentes enquanto 10% são insulinodependentes incluindo-se ai todos aqueles com menos de 30 anos de idade e 7,9% dos demais. Além disso, aponta ainda que metade das pessoas portadoras desta doença desconhece tal condição e que aproximadamente um quinto dos que a conhecem não recebe qualquer tratamento [5]. Norteados pelas constantes leituras mencionadas por nós sinteticamente traçamos os seguintes objetivos para este trabalho. Objetivos A escolha pelas orientações e cuidados de enfermagem no domicílio tem como argumentações ou metas a revalorização do atendimento de % artigo 01 Danilo.pmd 117 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) enfermagem no domicílio através das visitas domiciliares. E ainda: revitalizar o conceito de cuidado como um valor humano e como núcleo e campo de atuação da enfermagem na perspectiva multidisciplinar, quer nos serviços de saúde, na comunidade, respeitando-se os cuidadores leigos e os aspectos macroestruturais tais como, os econômicos, sociais, psicológicos e religiosos e os ditados pela cultura que pertença, num enfoque humanístico, portanto bioético. Valorizar o atendimento de enfermagem no domicílio. Dessa forma, acreditamos valorizar o projeto de pesquisa e extensão e o processo ensino aprendizagem, através da divulgação e propagação dos resultados nos moldes do conhecimento científico. Reconhecemos que as experiências com a situação de ouvinte e cuidados desses sujeitos seja uma experiência vivida para os indivíduos. Material e Métodos A pesquisa foi realizada no Município de Arapongas, com abrangência nos seguintes bairros: Jardim Aeroporto, Jardim Universitário e Jardim Primavera, cujos dados sobre os pacientes foram colhidos, inicialmente, do fichário do Posto Médico do Centro Social Urbano Lucy Geisel. O referido ambulatório faz parte da rede pública de saúde do Município. A amostra deste estudo foi constituída por dezoito pessoas portadoras de diabetes mellitus tipo II, que também pode ser entendido, como dezoito domicílios uma vez que os dados obtidos derivaram do Projeto de Extensão e Pesquisa, como dito anteriormente. Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde - SEMUS, através do Programa Saúde da Família o registro dos pacientes portadores de diabetes no município é de 1.050 sendo que cadastrados 980 no PSF. Desse contingente, ainda sendo tabulado pela SEMUS, não tem o quantitativo com relação ao tipo II. Os critérios estabelecidos para que os sujeitos participarem da pesquisa foram os seguintes: Estarem cadastrados na UBS na sua área de abrangência; Ser morador dos respectivos bairros; Ser portador realmente de diabetes mellitus tipo II. Para efeito de anonimato e as implicações éticas e legais, utilizamos pseudônimos com nome de flores para os sujeitos participantes do estudo. Ainda, neste estudo foram observadas as normas para a pesquisa envolvendo seres humanos, de acordo com a Resolução 196/96, especialmente no que ser refere ao consentimento livre e esclarecido, assegurando-se plena liberdade de participação ou não da pesquisa [6]. Resultados e discussão Ao conciliarmos a metodologia adotada e a análise a partir dos relatos dos sujeitos da pesquisa, construímos e agrupamos os pontos relevantes para esse estudo que foram apresentados num quadro demonstrativo na tentativa de compreender a realidade estudada, a partir dos relatos dos sujeitos da pesquisa. Para Triviños [7], a análise interpretativa fundamenta-se em três aspectos importantes os quais dizem respeito aos resultados alcançados, no estado (respostas aos instrumentos, idéias dos documentos, etc); na fundamentação teórica, obtida através do manejo dos conceitos, chave das teorias e de outros pontos de vista e na experiência pessoal de investigador. Seguindo esta perspectiva metodológica, consideramos a que proporciona maior liberdade de expressão ao entrevistado. Após leitura e releitura, fizemos um mapeamento dos depoimentos agrupados. Para três grandes eixos que se subdividiam: Nível biológico (sono/repouso e vício), nível afetivo (sexualidade/ reprodução) e o processo saúde - doença (manutenção de saúde, outra doença associada, uso de remédio caseiro, medicamento em uso e desejo de participar de grupo de auto-ajuda). Ao analisarmos os quarenta e um domicílios cadastrados pela listagem do serviço médico do Centro Social Urbano Lucy Elisel referente à distribuição de seringas, insulinas e visitas, inicialmente seis não eram diabéticos, seis mudaram-se para outro município, ou o endereço informado não conferia e três morreram dias após o cadastramento, totalizando dezoito pacientes por domicílio assistido pelo projeto. Destes, foram realizados quatro visitas que corresponderam a setenta e duas visitas domiciliares. Os dados levantados e analisados por nós são expressos em freqüência simples, e visualizados em gráficos. & artigo 01 Danilo.pmd 118 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Constatamos que 100% são aposentados e que enfrentam dificuldades de acesso e aquisição de medicamentos específicos ou outros nos serviços de saúde. Destes, 95,23% são mulheres exercendo algumas atividades domésticas e 25% detêm escassas informações sobre o seu adoecimento e as formas de prevenir as complicações, em especial os cuidados com os pés. Gráfico 1 - Sono / repouso. Quanto ao nível biológico com destaque para o sono e o repouso, das 18 entrevistas analisadas, no gráfico 1, 50% apresentavam insônia (9); 17% usavam ansiolíticos (3); e 33% referiram um padrão regular de sono e repouso (6). Ao olharmos esses achados constatamos que os nove idosos que referiram insônia somando aos três que usam alguns tipo de ansiolítico juntos totalizam 67% da amostra, podemos inferir que para este grupo pesquisado eles apresentam uma irregularidade no padrão de sono e repouso. Gráfico 2 - Remédio caseiro. No que se refere ao uso de remédio caseiro expresso no gráfico 2, 56% (10) referiram não usar nenhum tipo e 44% (8) referiram fazer uso de algum tipo de fitoterapia para o eventual controle do diabetes. Acreditamos, em princípio, que a confir mação desta prática cultural fosse predominante, por ser uma característica dessa faixa etária como um legado de modelo homeopático e, ainda, por ser uma região agrária, em especial à cafeicultura. Sobre estes dados, inferimos que pode ter ocorrido sonegação de infor mação por razões diversas que desconhecemos no momento. Gráfico 3 - Grupo de ajuda mútua. No gráfico 3, notamos que 78% (14) manifestaram opinião favorável em participar do grupo de auto-ajuda, sendo que os demais, 22% (4) não manifestaram opinião. Lembramos que apresentam baixa escolaridade sendo atribuído a este dado a não adesão a este tipo de atenção. Os que manifestaram opinião favorável solicitaram que as reuniões, assim entendidas, pela maioria, fossem realizadas em espaços neutros independentes de templos religiosos. Na área existem vários templos evangélicos, em especial, os neopentecostais e católicos. Entendemos que essas preocupações é um sinal positivo para a implantação do grupo de auto-ajuda, afastando qualquer possibilidade de conflitos religiosos e de pontos de vistas e, assim, garantindo o sucesso do provável grupo. Conclusão O envelhecimento é uma etapa fundamental na vida dos seres vivos, portanto ele é fisiológico e esperado, todavia padrões comportamentais e de saúde são cobrados do idoso e, que nem sempre podem responder positivamente [8]. O diabetes mellitus é uma prevalência no Brasil [1], merecendo da parte do Ministério da Saúde uma Campanha Nacional, realizada em março do ano em curso. Tal preocupação é decorrente das complicações tardias com comprometimentos de órgãos e sistemas incidindo na piora acentuada da qualidade de vida do portador, em especial o tipo II. Cabe a nós, enfermeiros, estarmos atentos às alterações que acompanham este processo e sabermos interpretá-las e distinguí-las, ou seja, não nos preocupamos só com a doença que propiciou o desgaste de um sistema orgânico, mas também diferenciá-la e saber interpretar o que decorreu destas alterações manifestas e assistir o paciente como um todo. Não valorizar somente a patologia e sim vislumbrar que o ser humano é uma conversão ' artigo 01 Danilo.pmd 119 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) de emoções, sensações, de alterações físicas, anatômicas e fisiológicas, que freqüentemente não estão associados somente à causa da hospitalização, mas é uma associação entre a doença, o estar doente, o processo de cuidar e a recuperação da saúde. 3. 4. 5. 6. Referências 1. 2. Perez EA. Analises comparativo del envejacimiento en Brasil, Colombia, el Salvador, Jamaica y Venezuela; OPAS; 1993. Veras MB. Desenvolvimento de comunidade: estudo da integração do planejamento do desenvolvimento de comunidade no planejamento do desenvolvimento global. 2a ed. São Paulo: Cortez; 1978. 7. 8. Horta W. Processo de Enfermagem. São Paulo: EPU; 1979. Alvarez ME. Organização, Sistemas e Métodos. São Paulo: McGraw-Hill; 1990. Brasil. Ministério da Saúde. Censo de diabetes. Resultados. Brasília: MS; 1992. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996 dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: MS; 1996. 18 p. Triviños ANS. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas; 1990. Glashan RQ, Santos MC, Oliveira AP. Perfil do idoso internado em unidade clínica de um hospital geral universitário da grande São Paulo, com vistas à enfermagem. São Paulo: ACTA- Paulista de Enfermagem 1999;12(2):94-105. K artigo 01 Danilo.pmd 120 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Artigo original A memória da assistência da equipe de enfermagem aos clientes HIV positivo num Hospital Universitário do Rio de Janeiro (1983 1987) Claudia de Carvalho Dantas*, Joséte Luzia Leite** * Enfermeira, Mestranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ), Membro do Núcleo de Pesquisa Educação, Gerência e Exercício Profissional (NUPEGEPEn), ** Enfermeira Emérita da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Ex-UNIRIO), Membro da Diretoria do (NUPEGEPEn), Pesquisadora 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Resumo Trata-se de um estudo descritivo, imbuído de caráter histórico-social, inserido na linha de pesquisa: HIV/AIDS Saber Paradigmas Modelos assistenciais. Tem por objetivo resgatar a assistência prestada pela equipe de enfermagem à clientela soropositiva para HIV, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (1983-1987). As fontes primárias consistiram nos depoimentos de quatro enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem colhidos através de entrevista aberta, gravada em fita magnética. As fontes secundárias foram os livros de história do Brasil e do mundo e estudos sobre história da enfermagem, HIV/AIDS e assistência de enfermagem. Tais fontes foram coletadas no primeiro semestre de 2003 sendo submetidas à Análise de Conteúdo de Bardin. Evidenciou-se uma enfermagem de atuação ímpar que contribuiu para que o HUGG se tornasse na primeira instituição do Rio de Janeiro a cuidar de clientes com AIDS com dignidade e respeito. Palavras-chave: história da enfermagem, HIV/AIDS, assistência. Abstract The memorial of the nursing team assistance to the HIV positive clients in a University Hospital of Rio de Janeiro (1983 1987) It is a descriptive study, imbued with historical-social nature, inserted in the line of research: HIV/AIDS Knowledge Paradigms Assistance models. The main objective is to recover the assistance given by the nursing team to the HIV seropositive clients, in the Gaffreé Guinle University Hospital (1983 1987). The primary sources consisted in the testimony of four nurses and four nursing assistants collected through an open interview, recorded in magnetic tape. The secondary sources were the history books of Brazil and the world, studies about nursing history, HIV/AIDS and nursing assistance. Artigo recebido em 10 de maio de 2004; aceito em 1 de junho de 2004. Endereço para correspondência: Atlântica Editora. Rua da Lapa, 180/1103 Lapa - 20021-180 Rio de Janeiro RJ artigo 02 Claudia.pmd 121 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Such sources were collected in the first semester of 2003 and were submitted to the Analysis of Content of Bardin. It evidenced a nursing with unique performance that contributed in order that the HUGG would become the first institution of Rio de Janeiro taking care of clients with AIDS with dignity and respect. Key-words: nursing history, HIV/AIDS, assistance. Resumen En domicilio: Orientaciones y cuidados de enfermería El actual estudio presenta resultados parciales, colectados en el periodo de Septiembre de 1999 a Agosto de 2000, del Proyecto de Pesquisa y Extensión denominado Orientaciones y cuidados de enfermería a los portadores de diabetes mellitus en domicilio. La muestra es compuesta de 18 domicilios donde fueron realizadas 4 visitas por domicilio. Se constató que 100% son jubiladazos, enfrentando dificultades de acceso y adquisición de medicamentos específicos o no específicos en los servicios de la salud. De estos, 95.23% son mujeres que ejecutando algunas actividades domesticas y 25% detienen escasas informaciones sobre su enfermedad y las formas de prevenir las complicaciones. Palabras-clave: adulto mayor, enfermería, asistencia, salud. Introdução Trata-se de um estudo histórico-social, inserido na linha de pesquisa: Saber Paradigmas Modelos assistenciais, cujo enfoque reside na investigação de questões concernentes à trajetória histórica da assistência de enfermagem à clientela portadora do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Justifica-se a realização desta pesquisa tendo em vista a escassez de literaturas acerca da assistência de enfermagem desenvolvida ao cliente portador do HIV. Concomitante a este fato soma-se o intento de completar lacunas no que tange à história desta profissão, com vistas a contribuir para delineamento dos primeiros registros de sua assistência aos soropositivos para HIV, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG). Neste sentido, construir a memória da enfermagem e analisar criticamente a história das enfermeiras e da enfermagem é um desafio a ser enfrentado crescentemente. Para tanto, o registro sistematizado da história da enfermagem nas diversas faces e fases desenvolvida nas diferentes regiões do mundo, poderá ser um exercício de autoconhecimento dos enfermeiros com conseqüente explicação de sua identidade enquanto profissão [1]. Neste contexto, este trabalho tem por objetivo resgatar a assistência prestada pela equipe de enfermagem à clientela soropositiva para HIV, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, localizado no Estado do Rio de Janeiro, no período de 1983 a 1987. Como forma de lograr o objetivo proposto optou-se por um estudo descritivo, de caráter histórico-social, no qual utilizou-se a História Oral Temática como abordagem metodológica. A escolha por esta metodologia torna-se apropriada uma vez que, a história oral é um método, que permite estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profissionais e movimentos à luz de depoimentos de pessoas que deles participaram ou testemunharam [2]. Os sujeitos desta pesquisa foram quatro enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem que trabalharam no HUGG no período de 1983 a 1987 com a clientela soropositiva para o HIV. Selecionouse como cenário o HUGG pelo fato deste ter sido o pioneiro no atendimento a pessoas portadoras de AIDS no Rio de Janeiro [3], além de não existir registro da assistência desenvolvida pela enfermagem a tais clientes nesta instituição. O recorte temporal da pesquisa compreendeu o período de 1983 a 1987, justificando-se a primeira data pelo fato de ter sido o ano em que foi atendido no HUGG, em sistema ambulatorial, o primeiro cliente soropositivo para HIV [4]. E, como marco final, o ano de 1987, pelo fato de ter sido o ano de artigo 02 Claudia.pmd 122 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) credenciamento desta instituição como Centro de Referência em AIDS [4]. As fontes primárias e secundárias foram coletadas no primeiro semestre de 2003. As fontes primárias correspondem aos discursos proferidos pelos enfermeiros e auxiliares que participaram do estudo. Enquanto fontes secundárias utilizaram-se dos livros de história do Brasil e do mundo e estudos pertinentes ao objeto investigado: HIV/AIDS, cuidado e história. Os depoimentos orais foram obtidos através de entrevista aberta, com roteiro pré-estabelecido, gravados em fita magnética. A seleção de tais profissionais deu-se mediante o estabelecimento de um profissional que consistiu no ponto zero - consiste num depoente que conheça a história do grupo ou com quem se quer fazer a entrevista central [5] - da pesquisa. A partir deste, foi solicitado ao término de cada entrevista que o entrevistado apontasse o nome de outro(s) profissional(ais) bem como pelo menos um meio de comunicação com os mesmos (telefone, e-mail, endereço residencial e/ou de trabalho) para dar continuidade as demais entrevistas. Sendo a entrevista uma das etapas fundamentais para a concretização desta pesquisa, utilizei o critério sugerido por José Carlos Sebe Bom Meihy [5]. Segundo este autor a entrevista possui degraus: préentrevista, entrevista e pós-entrevista. Tais degraus foram delineados de acordo com os propósitos do estudo, como segue: em um caderno de campo, constando as seguintes informações [5]: quando foram feitos os contatos; estágios para se chegar a pessoa entrevistada; como ocorreu a gravação; eventuais incidentes de percurso; e impressões durante a entrevista inerentes ao ambiente e ao entrevistado. 1. Pré-entrevista Esta etapa é a que procede a realização da entrevista. Nesta etapa foram agendados com os entrevistados um dia, local e hora para um encontro, onde foram devolvidos os depoimentos transcritos aos sujeitos para que aprovassem. Aqueles que sentiram a necessidade de realizar algumas modificações no texto foram atendidos e um novo encontro foi agendado para releitura e, posteriormente, foram aprovados para utilização na pesquisa. Cumpre ressaltar que o quantitativo de depoimentos foi determinado de acordo com o princípio do ponto de saturação, onde Nós começamos a fazer entrevista e em um determinado momento, esgotamos aquele universo. Quando começamos a repetir informação, é o sinal de que aquele circuito de informação se esgotou, que já sabemos tudo o que podíamos saber [8]. No que se refere às questões ético-legais foi encaminhado a Comissão de Ética do HUGG um Este momento correspondeu à etapa de preparação do encontro em que se deu a gravação. Assim, contatamos primeiramente o sujeito ponto zero, explicando-lhe os propósitos da pesquisa, elucidando todos os aspectos da mesma no que tange ao objeto de estudo, gravação da entrevista, transcrição, carta de cessão, garantia do anonimato. Ao término, solicitamos a participação do mesmo enfatizando a importância da participação deste para o sucesso da pesquisa. Mediante o aceite em contribuir, agendei de acordo com as possibilidades de ambos (entrevistador e entrevistado) uma data, hora e um local apropriado para realização da mesma. Quando da possibilidade, a entrevista era realizada após as elucidações sobre o estudo. As informações inerentes à realização das entrevistas bem como aos trâmites relacionados ao desenvolvimento do projeto, estes foram registrados 2. Entrevista Esta etapa consistiu na realização da entrevista propriamente dita, de acordo com o dia, local e hora agendados entre pesquisador e sujeito. Antes de iniciar a gravação, foram novamente elucidadas e respondidas questões inerentes à pesquisa. Ao término das entrevistas, as mesmas foram prontamente transcritas, utilizando-se dos seguintes critérios [6,7]: as passagens pouco audíveis foram colocadas entre colchetes; dúvidas, silêncios, rupturas sintáticas foram assinaladas por reticências; as pessoas citadas foram designadas por iniciais; palavras com forte entonação foram grafadas em negrito; foram corrigidos em notas os erros flagrantes por parte do entrevistador (datas, nomes...) e, por fim, uma vez terminada a transcrição, o texto foi submetido a um copidesque, onde foram abolidas as repetições, corrigidos erros de português e de pontuação, sem comprometer o sentido do texto. 3. Pós-entrevista ! artigo 02 Claudia.pmd 123 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) documento com o projeto monográfico em anexo a fim de obter a devida autorização para realização da pesquisa em suas dependências. E, para os sujeitos do estudo, foi fornecido um termo de consentimento livre e esclarecido antes da realização da entrevista. As fontes primárias foram submetidas à Análise de Discurso proposta por Bardin que consiste num conjunto de instrumentos metodológicos que se aplicam ao discurso diversificado (...) com a finalidade de descrever objetivamente e sistematicamente o conteúdo manifesto da comunicação. Este método dividese em três fases distintas: pré-análise, exploração do material e análise e interpretação das informações [9]. Portanto, na primeira fase após a transcrição literal de todas as entrevistas, realizou-se recortes do texto com o objetivo de delinear os temas para análise temática. Ainda nesta fase foi realizada uma organização das falas. Na fase de exploração do material foram realizadas sucessivas leituras e agrupamentos de idéias imergindo temas que consistiram na última fase, a interpretação das informações colhidas. Hospital Universitário Gaffrée e Guinle: da inauguração ao primeiro portador do HIV O cenário escolhido para protagonizar o resgate da assistência desenvolvida pela equipe de enfermagem aos clientes soropositivos para o HIV, foi o HUGG localizado no Estado do Rio de Janeiro (1983 a 1987). Em virtude da escassez de documentos acerca deste hospital, valemos - nos de alguns documentos encontrados na própria instituição e da memória de alguns dos profissionais que trabalham na mesma, que foram devidamente anotados em caderno de campo. A Fundação Gaffrée e Guinle foi inaugurada em 1° de novembro de 1929, tornando-se o maior e mais moderno hospital da Capital Federal, com seus 450 leitos, distribuídos em 12 enfermarias e quartos particulares, ambulatórios para 1000 atendimentos diários, 12 salas de cirurgia e duas salas de parto [10]. O Gaffrée tornou-se um respeitado centro de tratamento e pesquisa de doenças venéreas ao longo da década de 30 e 40, sediando, inclusive, a 1ª Conferência Nacional de Defesa Contra a Sífilis. Entretanto, no final dos anos 30, enfrentava dificuldades financeiras. Vários foram os fatores que permearam tal dificuldade, dentre eles a descoberta dos antibióticos na metade dos anos 40, que diminuiu consideravelmente a incidência das doenças sexualmente transmissíveis, bem como a ampliação da rede de hospitais públicos, gratuitos, os quais também contribuiu para lhe tirar pacientes, diminuindo o número de atendimentos [4]. Como forma de amenizar as dificuldades de caráter financeiro, a Fundação Gaffrée e Guinle passou a alugar dependências do próprio hospital a outras instituições. Dentre aquelas que fizeram acordos encontram-se: o Serviço Nacional do Câncer, a Biometria Médica do Ministério da Saúde e a Escola de Medicina e Cirurgia que somente foi incorporada ao hospital mais tarde. Entretanto, apesar do Gaffrée encontrar-se com todas as suas instalações ocupadas, o mesmo permanecia ainda deficitário. Em dezembro de 1963, através de um decreto do presidente João Goulart, o Gaffrée foi desapropriado com vistas a anexá-lo à Escola de Medicina e Cirurgia (da atual Universidade do Rio de Janeiro). Contudo, Jango foi deposto do poder através do golpe de março de 1964 [11], deixando apenas dentro da escola uma corrente de professores contrários à incorporação. Somente em Janeiro de 1966, vencidas as disputas políticas, a velha escola finalmente receberia o velho hospital [4]. A incorporação da Escola de Medicina a Fundação Gaffrée e Guinle foi benéfica para ambos uma vez que esta união possibilitou a ampliação de vários serviços bem como a construção de um centro cirúrgico, possuindo neste momento um total de 40 leitos particulares, 300 leitos de enfermarias e 50 salas de ambulatório. Ao longo dos anos 70, apesar de ter sido o período denominado de Milagre Econômico onde o Brasil recebe vultuosos financiamentos externos visando a compra do petróleo e o financiamento de obras de infra-estrutura nacional [11], o Gaffrée encontrava-se em dificuldades, se reerguendo apenas no começo dos anos 80 mediante um convênio com o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) em 1982, passando a atender os segurados da Previdência Social. O Gaffrée demorou a realizar o convênio com o INAMPS por conseqüência de uma forte resistência na Escola de Medicina e Cirurgia uma vez que se temia que a massificação do atendimento prejudicasse o ensino [4]. Cumpre ressaltar que os convênios com hospitais particulares foram estabelecidos, principalmente, a partir da década de 70 quando, " artigo 02 Claudia.pmd 124 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) então, a assistência médica passou a ser valorizada, criando-se em 1974 o Ministério da Previdência e Assistência Social. Em 1977 cria-se o SINPAS onde pela primeira vez na história da política de saúde separou-se os benefícios da assistência médica. A partir de então o INAMPS, um dos órgãos que integra o SINPAS, passa a ser o ralo de saída de dinheiro da Previdência Social. Este Instituto passa a fazer convênios com hospitais privados, não ampliando a rede hospitalar pública para os trabalhadores com carteira assinada [12]. Para se ter uma idéia, na década de 50, aproximadamente 66% da capacidade leito/ hospital era pública e cerca de 33% era particular. Ao final da ditadura militar esta situação inverteu-se. Assim, durante a transição da década de 70 para a década de 80, o Brasil vivia um quadro de intensa crise econômica, que no campo da saúde, ressalta-se a falência do sistema Previdenciário em 1981 [13]. No transcorrer dos anos 80, o Brasil foi governado por dois presidentes: o General João Batista Figueiredo (último presidente militar) e José Sarney (foi o vice de Tancredo Neves assumindo seu lugar no governo, pois Tancredo apresentou problemas de saúde, falecendo em 21 de abril de 1985) [11]. Os fatos marcantes destes dois governos foram a ampliação da abertura política e aprofundamento da crise econômica acarretando manifestações populares, dentre elas greve e o movimento das Diretas Já durante a presidência de Figueiredo. No governo de Sarney, primeiro presidente civil, caracterizou-se por tentativas de estabilização da economia e reforma constitucional. Como estratégias, ressalta-se a instauração do Plano Cruzado, a Constituição de 1988, criação do SUS e a primeira eleição direta onde o povo elegeu Fernando Collor de Mello com 35 milhões de votos [11]. Assim, diante do exposto, o Gaffrée em meio a todas essas dificuldades enfrentadas pelo país, demorou a vincular-se ao INAMPS. Contudo, por ter demorado mais que os outros a se beneficiar da prosperidade econômica da década de 70, também demorou mais a sofrer os efeitos que desestabilizou as instituições públicas de educação e de saúde nos anos 80. Foi a partir da segunda metade da década de 80 que o hospital retornou a sua pobreza habitual, agravada após 1989, último anos em que recebeu investimentos da União [4]. Esta demora em celebrar o convênio fora até certo ponto positiva, pois o Gaffrée adentrou a década da crise com uma conjunção até certo ponto favorável de verbas e recursos humanos, antecipando-se aos demais hospitais do Rio de Janeiro no enfrentamento da AIDS. A AIDS chega ao HUGG Em agosto de 1983 iniciou-se o acompanhamento do cliente n° 001 com diagnóstico de AIDS, em sistema ambulatorial no Gaffrée [4]. Embora esta instituição tenha iniciado seu atendimento no ano de 83, desde 1981 a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida já havia sido divulgada pelo CDC (Center for Disease Control), passando a integrar oficialmente o cenário mundial, mobilizando pesquisadores de todos os cantos do mundo para desvelar os mecanismos fármacoimuno-biológicos envolvidos nesta síndrome [14]. De início, pouco se sabia desta doença. Esse pouco era acrescido de várias outras informações de cunho instável que a mídia divulgava a seu respeito. Isso contribuiu para que o pânico espraiasse sobre os locais onde sabidamente havia clientes com AIDS. Assim, o medo era uma constante. E, no Gaffrée, não foi diferente: Quando a AIDS chegou aqui foi uma coisa assustadora... Todos tinham medo... (Aux 01) No início foi difícil... Nada que tivesse procedimento invasivo ninguém queria fazer: passar sonda, puncionar veia, fazer curativo... (Enf 01) As características epidemiológicas da clientela atendida neste hospital não destoavam dos padrões divulgados da época: homossexuais, classe alta e com tempo de vida exíguo após diagnóstico. Nos primeiros casos que nós encontramos na enfermaria eram pessoas de nível superior: bancário, professor, engenheiro, dentista,...(Enf 02) Então os pacientes vinham, chegavam aqui todos bonitões, bem de saúde, pelo menos aparentemente, e daqui a pouco, após dois a três meses, você via aqueles pacientes se acabando... (Aux 04) Em virtude das primeiras características encontradas nos pacientes com AIDS, acreditava-se que ela somente acometia homossexuais masculinos, sendo reconhecida como GRID (Gay-Related Immunodeficiency Síndrome), neste primeiro momento # artigo 02 Claudia.pmd 125 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) da epidemia [15]. Esta característica conferiu aos portadores do HIV duras críticas e alcunhas... Todos que apareciam como portador do vírus eram tachados como homossexuais e havia aquela discriminação. (...) O paciente com AIDS era visto como homossexual mesmo não sendo. (Aux 01) Esses pacientes eram encontrados em quaisquer setores do hospital, não havendo em especial um local onde os profissionais do Gaffrée assistiam-nos. Entretanto, de início, muitos não queriam que em suas enfermarias houvesse clientes com tal diagnóstico. Muitos diziam: não, nesta enfermaria não pode internar aidéticos... (Aux 01) Em relação à equipe, muitos não queriam trabalhar. Tinha até uma colega que pediu para sair...(Aux 03) Apesar do Gaffrée não ter isolado seu paciente como era feito em muitas outras instituições, e/ou determinar quais locais esses clientes deveriam ficar, um setor deste hospital destacou-se ao longo de todos esses anos de epidemia: a Clínica Médica B (complexo que engloba o Ambulatório de Imunologia e AIDS e a 10ª Enfermaria), responsável por pacientes de cardiologia e oncologia. Foi mediante a bravura e mobilização dos profissionais destes setores que conferiu a esta instituição honrarias e o respeito da comunidade científica e acadêmica do mundo inteiro. Os profissionais que trabalharam nestes setores começaram a pesquisar sobre a AIDS antes mesmo dela chegar ao Gaffrée. E, quando da primeira oportunidade, acolheu seu primeiro cliente soropositivo para HIV. Entretanto, tal conduta fora mal vista pelos demais profissionais não envolvidos com esta síndrome. Alguns profissionais foram verdadeiros obstáculos para que o HUGG começasse a tratar desses clientes. Assim, pode-se dizer que enquanto as demais instituições negavam, bem como outros setores do próprio hospital, a 10ª Enfermaria acolhia estes clientes, dando-lhes o melhor que se podia oferecer na época em termos de tratamento. Esta forma de ver e tratar o cliente HIV positivo conferiu a esta enfermaria um título que não existe, mas que em virtude do cuidado desenvolvido ao longo da epidemia esta passou a ser conhecida oficiosamente como referência para internação dos clientes com AIDS no HUGG. Mas a mesma, conforme atributo oficial, é responsável pelo tratamento de pacientes com disfunções cardiológicas ou oncológicas, independente de serem portadores do HIV ou não. Todos os setores aqui do Gaffrée podem receber pacientes HIV positivos, mas vamos supor que alguém queira internar um paciente soropositivo: eles não vão para oitava, para sétima pedir vaga... e sim eles ligam para cá e mandam o parecer para décima. (...) Enquanto muitos descriminavam a gente aceitou... (...). Quando refiro a mim, não é apenas a minha pessoa, e sim falo em nome da Décima, da equipe da Décima,... (Enf 02) Dificuldades Na época muitas foram as dificuldades surgidas, onde estigma, discriminação, preconceito, falta de informação, falta de recursos materiais e humanos, política interna e medo, impediam de pensar na possibilidade de atender estes clientes de forma adequada. Essas dificuldades, em especial a discriminação, não se restringiam apenas aos clientes com AIDS. Falta de informação, recursos humanos e materiais A gente não tinha material para trabalhar, nem medicação para os pacientes. Tudo aqui era muito difícil... (Aux 04) Chegava a uma altura que não se tinha material suficiente para trabalhar... Se tinha máscara não tinha luva, se tinha luva não tinha máscara, se não tinha máscara não tinha gorro...(Enf 02) Todos tinham medo... Será que assim, pega, assim não pega assim pega, beijo na boca pega, assim pega.... Então existia aquela polêmica grande de como pegava ou de como não se pegava.... (Aux 01) Discriminação e estigma inerente ao cliente E muitos não queriam ir trabalhar com aidético, diziam não, que não iam, que tinham medo, que era contagioso... muitos colegas não gostavam, nem chegavam perto, tinham medo, preconceito...(Aux 03) $ artigo 02 Claudia.pmd 126 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Discriminação e estigma inerente ao profissional Foi um momento muito difícil quando as pessoas começaram a descobrir que a gente estava cuidando desses clientes... (...) Nós fomos ficando inclusive estigmatizadas. Eu fui colocada duas vezes para fora do táxi...(Enf 01) As pessoas não aceitavam... As pessoas discriminavam a gente... (...)... Vocês é que estão tomando conta dos aidéticos? (...) Se você emagrecesse diziam:Olha, heim!, cuidado!, você trabalha na enfermaria..., você já fez exame? Então você sempre tinha que ficar magrinha, saudável, pois se você emagrecesse você ouvia piadas em torno da doença...(Enf 02) Discriminação e estigma oriundo de familiares A discriminação já vinha da própria família. Eu me lembro uma vez que a irmã de um paciente chegou aqui: ah, porque eu quero internar ele, porque é melhor pra ele.... Aí ele virou pra ela, aqui na minha frente e disse: se você quer me internar é porque é melhor para você... você não perguntou se é melhor pra mim, se eu quero me internar.... (Aux 04) Todas essas dificuldades foram agravadas quando a partir de então começou a aumentar o número de pacientes internados. A princípio, a presença de um doente de AIDS no Gaffrée passou desapercebida, mas no final de 1984 já havia meia dúzia de pacientes sendo atendidos no ambulatório e, eventualmente, internados [4]. O estigma e a discriminação se caracterizam por um alto grau de diversidade e complexidade intercultural. (...) A nossa incapacidade coletiva para enfrentar de forma mais adequada a estigmatização e a discriminação está ligada à disponibilidade relativamente limitada de instrumentos teóricos e metodológicos para lidarmos com o problema [16]. Neste contexto, os ânimos começaram a mudar a partir das informações que eram levadas aos profissionais do Gaffrée através de um pequeno grupo de profissionais que haviam se dedicado desde o início da epidemia, buscando através de cursos, eventos científicos e palestras, informações para levar aos demais integrantes do hospital a fim de amenizar e conter os mais desesperados. No início havia enfermeiros e médicos que davam palestras sobre o assunto que foram muito importantes...(Aux 04) Tivemos um conhecimento melhor através das palestras que eram ministradas pelo professor C. A. (Médico), pelo T. (Enfermeiro) e pela L. (Enfermeira), nós passamos a ter uma visão diferentes do paciente aidético. (Aux 01) Essas informações foram essenciais para que se pudesse desenvolver uma assistência de melhor qualidade. À medida que o ser humano passa a desvendar as situações, buscando as respostas para suas indagações e medos, o mesmo passa a relacionar-se e conviver melhor com seu eu e com a realidade vivida. Neste sentido, a medida que informavam-se, a equipe de enfermagem pôde assistir melhor o cliente e seus familiares, já que a AIDS apresentava de início, um forte efeito desagregador na estrutura familiar [17]. O posicionamento da enfermagem A enfermagem do Gaffrée foi fundamental para o início da epidemia nesta instituição. Infelizmente não eram todos que aderiram a esta causa, de início. Entretanto os pioneiros foram essenciais e delinearam uma história de muita luta, conquista e perseverança e amor para com esta clientela que fôra severamente marginalizada e estigmatizada. Esses primeiros anos de AIDS no Gaffrée foram críticos e cruciais para os profissionais que lá se encontravam. Foi um momento decisivo onde a equipe de enfermagem teve que fazer uma opção acerca de sua profissão. A situação foi muito difícil... Quando eu recebi o primeiro portador de AIDS, eu tive que fazer uma opção pela enfermagem... (...) com todos os riscos, eu fui trabalhar, pesquisar, estudar, para trabalhar com melhor segurança, proteção, assim como devese fazer o enfermeiro. (Enf 04) Este hospital aqui é carente de tudo,... mas tem alguma coisa aqui dentro que todo mundo que chega adora e não quer mais sair... Eu já fiz trinta anos aqui e não saio... (Aux 04) Eu sempre gostei do perigo, gosto de viver perigosamente...(...) e eu pelo contrário, eu tinha uma vontade de ficar trabalhando... eu falei: por que não? Alguém tem que cuidar... alguém tem que ficar com eles... (Enf 02) % artigo 02 Claudia.pmd 127 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Estes depoimentos são de alguns dos enfermeiros/auxiliares que fizeram a diferença no início da epidemia. Alguns abraçaram de corpo e alma, estudaram, se especializaram e continuam desenvolvendo projetos e pesquisa na área do HIV. Esses profissionais deram um tom diferente ao hospital, num momento em que não se sabia nada a respeito da doença, não mediram esforços para que o lado humano, compreensível e acolhedor, sobressaíssem. Assim, pode-se dizer que a AIDS evidenciou o melhor e o pior da natureza humana. O sacrifício e bravura daqueles que combateram a doença em seu início se opuseram às forças da tolerância e discriminação [14]. Era um grupo de enfermeiras somadas que tinha pretensão de dar um tom diferente ao hospital de criar uma filosofia de cuidado que fosse o mais humana possível. (Enf 01) O cuidado inicial Tendo em vista as raríssimas e dúbeis informações acerca da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a enfermagem teve que buscar de seu cotidiano como desenvolver um cuidado que não fosse prejudicial ao cliente e também que não fosse comprometer a saúde do profissional. Havia uma superproteção e tudo o que se fazia era de caráter experimental, servindo para realização de pesquisas para posterior comparação e divulgação com vistas a melhorar a abordagem profissional-AIDS-cliente. Não havia pessoas treinadas e qualificadas especialmente para o HIV... Aqui tudo o que se formou foi empírico, a equipe que se formou na Décima era empírica, ninguém foi qualificado ou treinado. (...) Eu costumo brincar que a gente foi jogado aos leões e salvem-se quem puder... E, com o tempo, a gente foi adquirindo conhecimento...(Enf 02) A primeira preocupação foi uma superproteção. Nós superestimamos o perigo (...) Então passamos a fazer o banho diferente daqueles preconizados por livros antigos. Estávamos, abandonado a luva de tecido e passamos a usar a luva de látex para o banho, que nos davam mais garantia. E, logo em cima disso, passamos a pesquisar a probabilidade de contaminação da equipe que até hoje nos nunca tivemos uma soroconversão... (Enf 04) O cuidado inicial era feito em cima das orientações divulgadas pelo Departamento Nacional de Dermatologia Sanitária e por entidades internacionais, além das observações e dos cuidados experimentais realizados em campo, visando mais especificamente o profissional. De início, o mais importante era proteger o profissional para que o mesmo não se contaminasse. Repensando o cuidado A medida em que o tempo foi passando as distorções que haviam sido divulgadas pela imprensa foram sendo esclarecidas, as informações tornaram mais precisas, o ânimo do pessoal de enfermagem melhorou muito e o medo foi atenuado a medida que participavam das palestras e informavam-se. Até este momento, em especial, a equipe de enfermagem em meio ao afã das questões inerentes a busca das formas de transmissão, agente etiológico, medicamentos, dentre outros, esqueceu-se do homem enquanto ser humano, que havia sido contaminado pela doença. A assistência desenvolvida para este era imposta, e, muitas vezes, eles estavam ali após confirmação do diagnóstico, expostos à curiosidade, à investigação científica e à vaidade profissional. A família não queria... Nós tivemos várias tentativas de suicídio que não se concretizaram porque a gente conseguiu contornar e socorrer... (Enf 02) Diante do medo de se contaminar, havíamos esquecido que antes daquela pessoa ter AIDS ela era um ser humano, e como todo ser humano, ela precisa de cuidado digno e respeito... Mas muitas vezes isso foi esquecido diante do medo que muitos tinham da doença... (Enf 03) Então, superado esse início, onde as palestras, dinâmicas, reuniões e informações do Ministério da Saúde e de entidades internacionais eram realiza-das continuamente, esse cliente paulatinamente foi sendo mais bem atendido e, aos poucos, foi-se aumentando o número de pessoas que aderiram a um cuidado mais humano nos demais setores do hospital, amenizando o medo, a discriminação e o preconceito. A luta constante pela superação da morte Algo marcante em praticamente todos os discursos proferidos pelos sujeitos entrevistados & artigo 02 Claudia.pmd 128 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) consistiu no impacto que a AIDS causou inicialmente, em especial no que se refere a evolução clínica da doença, acarretando sobrecarga física e emocional ao profissional de saúde. Às vezes tinha uma enfermaria com 15 pacientes aidéticos, tendo uma média oito com encefalite, meningite, todos gritando, chegava funcionário a enfartar de sobrecarga emocional e física... (Enf 03) A gente atendia um rapaz jovem, forte e três meses depois voltava cadavérico, morrendo e você não compreendia como a pessoa perdia em tão pouco tempo aquele vigor, aquela aparência... (Enf 01) O horror da morte, da doença, da velhice já se constituía em inquietação de poetas pelos idos do século XV. (...) A atitude dos homens diante da dor, do sofrimento e da morte é buscar negá-los como fim do inexorável percurso da vida humana reforçando-lhe sempre o seu caráter de presença incômoda e mítica, e como tal, devendo ser ocultada e distanciada [18]. Neste sentido, a morte trouxe um impacto muito grande para os profissionais que lidavam com essa clientela. Em praticamente todos os casos diagnosticados (AIDS), estes evoluíam para o óbito rapidamente. A AIDS assustava pela sua rápida deterioração físicas e óbito em um curto período de tempo. E essas características repercutiam negativamente na enfermagem, pois muitos não sentiam-se preparados para lidar com tais questões. Se sentiam impotente diante daquela doença que os doentes morriam ficavam graves emagreciam, mudavam a expressão corporal as lembranças que você tinha de alguns rapazes novos, eles mexiam muito com a enfermagem. A enfermagem que estava ligada diretamente a eles era mais sensível...(Enf 01) Era um paciente sem retorno. Cuidávamos, cuidávamos, e logo depois o final era o óbito. (Aux 02) A cada tempo que passava iam aumentando os casos, não sabia o que que era.....morriam muitas pessoas... Em um mês chegávamos a ter 19 óbitos, era quase um paciente por dia... (Aux 01) A enfermagem mergulhava num desgaste físico e emocional tão grande resultando num trabalho em vão sentindo-se derrotados, impotentes e sem esperanças. Neste ínterim mais uma vez percebeuse que estava esquecendo novamente do homem que tem na morte a única possibilidade de vida e por causa dela lutava tentando prolongar sua existência [19]. Observava-se que a angústia do cliente diante da possibilidade da morte próxima tinha tornadoo vulnerável diante de tudo e de todos. Assim, a enfermagem novamente mobilizou-se para amenizar a angústia não só dos profissionais de saúde, outrossim, dos clientes que lá estavam internados. Mais uma vez voltou-se para discussão com vistas a levantar soluções na tentativa de ajudar estes profissionais e clientes. Assim, grupos de apoio foram criados compostos de psicólogos e religiosos que passaram a fazer parte de reuniões com o objetivo de ajudar membros do hospital como também dos clientes. Aí eu fiquei realmente chocada com a morte dele, e foi aí quando eu comecei a assistir as palestras com os psicólogos... (Aux 04) Conclusões Este estudo possibilitou o conhecimento do passado de alguns dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem no tocante a assistência desenvolvida aos soropositivos para HIV no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, que testemunharam e presenciaram os primeiros quatro anos da epidemia da AIDS nesta instituição (1983-1987). A epidemia da AIDS surge no Brasil, em um momento político marcado pela redemocratização, onde a sociedade tentava dar seus primeiros passos em direção ao restabelecimento de uma democracia participativa, após duas décadas de regime autoritário. Ressalta-se que foi também um período caracterizado por uma evolução da crise social, política e econômica a qual é descrita como a pior da história brasileira [12]. É neste contexto que a AIDS instalou-se no HUGG. Como em todos os locais, os primeiros anos foram marcados por medo, estigma, discriminação [19]. Antes do HUGG atender seu primeiro cliente com AIDS, havia um pequeno grupo de profissionais empenhados em pesquisas a respeito desta síndrome. E quando o mesmo recebeu seu cliente n° 001 a maioria dos integrantes ' artigo 02 Claudia.pmd 129 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) dessa instituição foram contra, constituindo verdadeiros obstáculos para uma assistência digna a tais clientes. Entretanto, foi em meio a este caos que a enfermagem fez a diferença, em especial, aquela integrante da 10ª Enfermaria. A maioria dos profissionais que nesta trabalharam consistiram em verdadeiros exemplos que, na época, foram imprescindíveis para os profissionais das demais dependências do hospital e para outras instituições de saúde que cuidavam de clientes com AIDS. Foi um pequeno grupo de enfermeiros que buscou pelo aprimoramento das questões inerentes a AIDS através de palestras, congressos, conferências, cursos, observações em campo de trabalho, a fim de compartilhar com os demais profissionais do HUGG e assim conter o medo e amenizar o estigma e preconceito. Os pioneiros desenvolviam um cuidado digno e com o passar do tempo foram contaminando os outros profissionais com seus ideais, angariando paulatinamente a adesão dos demais que de início, não aceitaram a presença desses clientes. Apesar do pouco conhecimento a respeito da síndrome que se tinha na época, a enfermagem do HUGG não deixou de cuidar dos clientes com AIDS. A enfermagem apropriou-se de toda sua rede de conhecimento a fim de oferecer o melhor que se podia tendo em vista a escassez de informações. Neste contexto, pode-se afirmar que a enfermagem do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle não apenas fez parte da história da AIDS, outrossim, contribuiu para que a mesma acontecesse, conferindo ao HUGG o reconhecimento de primeira instituição que cuidou de clientes com AIDS no Rio de Janeiro, com dignidade e respeito. Este trabalho não teve nenhum outro propósito a não ser de contribuir com o delineamento dos primeiros registros da história da enfermagem no que tange a assistência prestada aos soropositivos para HIV no HUGG. Neste sentido, pelo fato de ter sido um estudo monográfico com um tempo exímio para concretização do mesmo, concatenado com a possibilidade das evidências emergidas serem uma situação peculiar do grupo estudado, sugere-se a reaplicação do estudo em outros contextos e com outros marcos temporais, em especial a partir do ano de 1987 quando então o Gaffrée passa a receber recursos e gozar da qualidade de Centro de Referência em AIDS. Referências 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. Borenstein MS. Por quê conhecer a história da enfermagem? Contexto-enfermagem 1995;4:14-18. Carvalho ML, Leite JL. O cotidiano da enfermagem em um grande hospital: Hospital dos Servidores do Estado (1947-1980). Rio de Janeiro: HSE; 1996. Hanan JLL. A percepção social da AIDS: raízes do preconceito e da discriminação. Rio de Janeiro: Revinter; 1994. Sá M, Costa T. Corpo a corpo contra a AIDS. Rio de Janeiro: Revinter; 1994. Meihy JCSB. Manual de história oral. 2a ed. 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K ! artigo 02 Claudia.pmd 130 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Artigo original O ser humano em coma e a comunicação verbal: quando o silêncio da equipe de enfermagem é uma forma de violência no ato de cuidar Mariana Gomes Cardim*, Marcio Martins da Costa**, Maria Aparecida de Luca Nascimento, D.Sc.***, Nébia Maria Almeida de Figueiredo, D.Sc.**** *Enfermeira Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), **Enfermeiro EEAP / UNIRIO, ***Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil (DEMI) da EEAP / UNIRIO, ****Professora Titular do Departamento de Enfermagem Fundamental (DEF) da EEAP / UNIRIO, Pesquisadora CNPq Resumo Este estudo surge, a partir do momento em que observamos a ausência da comunicação verbal, por parte da equipe de enfermagem, com os clientes em coma internados em um Centro de Terapia Intensiva. Tendo como metodologia, um estudo exploratório observacional, que utiliza a abordagem quanti-qualitativa para atingir o objetivo de: identificar se os profissionais de enfermagem se comunicam verbalmente com os clientes em coma ao realizarem os cuidados. O resultado mostra que 90% dos procedimentos foram realizados no silêncio, enquanto que 10% deles tiveram a fala como parte dos procedimentos. Conclui-se que, na maioria das vezes, o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem tem como foco central o corpo físico do cliente, o que pode ser considerado uma forma de violência no que diz respeito à ausência da comunicação verbal durante o ato de cuidar e ser cuidado. Podemos então inferir que o modelo biomédico ainda respalda a formação de muitos profissionais desta área. Palavras-chaves: comunicação, coma, cuidado de enfermagem. Abstract The human being in coma and the verbal communication: when the silence of the nursing is a form of violence in the action of taking care This study results from the moment we observe absence of verbal communication, on the part of the nursing team, with the clients in coma hospitalized in an Intensive Care Unit. It is an exploratory observational study, based on a quanti-qualitative approach, which main object is to identify if the nursing professionals communicates verbally with clients in coma when they are accomplishing the cares. The result shows that 90% of the procedures were accomplished in silence, while 10% of them had the speech as part of the procedures. We concluded that, most of the time, the care rendered by the nursing professionals Artigo recebido em 1 de junho de 2004; aceito em 15 de junho de 2004; Endereço para correspondência: Mariana Gomes Cardim, Rua Santa Amélia, 88/503 Bl.B Praça da Bandeira, 20260-030 Rio de Janeiro RJ. Tel: (21) 2504-5604 / 9374-5628, E-mail: [email protected] ! artigo 03 Mariana.pmd 131 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) have as central focus the clients physical body, which can be considered a form of violence regarding the absence of verbal communication during the action of taking care and to be taken care. Thus, we can conclude that the biomedical model still give support to the development of many professionals of this area. Key-words: communication, coma, nursing care. Resumen El ser humano en coma y la comunicación verbal: cuando el silencio del equipo de enfermería es una forma de violencia en la acción de tener el cuidado Este estudio surge de nuestras observaciones sobre la ausencia de comunicación verbal, por parte del equipo de enfermería, con los clientes en coma internados en un Centro de Terapia Intensiva. Es un estudio observacional exploratorio, que utiliza un abordaje cuanti-cualitativo, cuyo objetivo es identificar si los profesionales de enfermería se comunican verbalmente con los clientes en coma cuando realizan los cuidados. El resultado muestra que 90% de los procedimientos eran cumplidos en silencio, mientras 10% de ellos tenían el habla como parte de los procedimientos. Se concluye que, la mayoría de las veces, el cuidado prestado por los profesionales de enfermería tiene como enfoque central el cuerpo físico del cliente, lo que puede ser considerado una forma de violencia en lo que dice respecto a la ausencia de comunicación verbal durante la acción de tener el cuidado y ser cuidado. Entonces podemos inferir que el modelo biomédico aún respalda la formación de muchos profesionales de esta área. Palabras-clave: comunicación, coma, cuidado de enfermería. Introdução Este estudo surgiu a partir de discussões realizadas pelo Grupo de Incentivo a Inovações Tecnológicas em Enfermagem (GrIITE), composto por alunos de graduação da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto EEAP, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO. Durante essas discussões realizamos uma análise da postura dos profissionais de enfermagem com que tivemos contato durante nossa prática de cuidar e durante os estágios curriculares em que passamos, observando em particular estes profissionais em Centros de Terapia Intensiva (CTI) cuidando de clientes em coma, quando percebemos que existia a ausência de comunicação verbal com este tipo de cliente, fato que nos motivou a escrever este estudo. De acordo com Brunner e Suddarth [1], O coma é um estado clinico de inconsciência no qual o paciente não esta ciente de si mesmo ou do ambiente por períodos prolongados. O cliente nesta condição não pode ser despertado por estímulos externos comuns, o que sugere a perda de seus sentidos. Porém, a audição é, quase sempre, o último dos sentidos a desaparecer no ser humano com alteração da consciência [2]. Este fato nos indica a importância de se comunicar verbalmente com o cliente em coma durante a assistência respeitando o seu direito de saber o que está acontecendo, como ou o que vai acontecer quando está sendo manipulado, explicando como e por que de tal ação. Porém o problema deste estudo está em percebermos durante os estágios curriculares que, na prática, na maioria das vezes, os profissionais de saúde não se comunicavam com os clientes que se encontravam em coma ao realizar alguma técnica ou procedimento nele, uma vez que tal cliente parece corresponder realmente à essência do termo paciente. Diante do exposto acima surge então como questão norteadora do presente estudo: Os profissionais de enfermagem falam com o cliente em coma ao realizarem algum procedimento? Objetivo Identificar se os profissionais de enfermagem se comunicam verbalmente com os clientes em coma ao realizarem os cuidados de enfermagem. ! artigo 03 Mariana.pmd 132 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Justificativa O paciente em coma possui um estado de inconsciência, não podendo ser revertido pelos estímulos externos comuns, o que torna o individuo submisso ao poder do profissional que dele cuida, ademais se considerarmos a sua incapacidade motora e lingüística de intervir nas situações. Portanto esse estudo justifica-se pelo fato de podermos dividir com nossos colegas e leitores a freqüência com que tal evento, de não se comunicar verbalmente com clientes em coma, ocorre, de forma que possamos estar sempre nos policiando em nossa prática diária de que o paciente em coma não se trata apenas de um corpo sobre o leito, mas de uma pessoa presa em seu corpo, que não consegue se expressar. Material e métodos Estudo descritivo exploratório observacional, que se utiliza da abordagem quantitativa uma vez que esta abordagem constitui-se na manipulação de dados numéricos, através de procedimentos estatísticos, com o propósito de descrever fenômenos ou avaliar a magnitude e a confiabilidade das relações entre eles[3]. A técnica de coleta de dados utilizada foi a observação não participante que é aquela na qual o observador é um espectador. O observador toma contato com a realidade a ser observada, mas não se integra a ela, não participa [4] porém, de acordo com Wood & Haber [5] O pesquisador não está simplesmente olhando o que está acontecendo, mas, sim, observando com um olho treinado em busca de certos acontecimentos específicos. O estudo foi realizado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) de um hospital público de grande porte situado no município do Rio de Janeiro, com uma capacidade de 11 leitos, onde durante os dias de observação o número de clientes em coma vígil variou de um a três. Os profissionais que participaram do estudo foram auxiliares de enfermagem e enfermeiros que trabalham no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do hospital em apreço, que foram observados durante sua prática cotidiana de cuidar de clientes em coma. Foram observados três plantões diferentes, cada qual com 7 profissionais de enfermagem (enfermeiros e auxiliares de enfermagem). Portanto os sujeitos do estudo foram num total de 21 profissionais de enfermagem. Logo após o término da observação, os sujeitos da ação eram orientados quanto à importância de se comunicar com o cliente em coma durante a assistência respeitando o seu direito de saber se está sendo manipulado, como e por que de tal ação. Para a realização da observação foi solicitada a devida autorização ao Centro de Estudos da Instituição. Após a conclusão das observações, os resultados foram apresentados aos sujeitos do estudo para a devida autorização da pesquisa. A observação foi realizada durante o mês de junho de 2003 por um período de quatro dias sendo apenas durante um dos dias em período integral (manhã e tarde) o que resultou num total de cinco períodos de observação. A produção de informações foi realizada pelos próprios pesquisadores que preencheram um instrumento de observação, quando os profissionais de enfermagem cuidavam dos clientes. Cabe ressaltar que este estudo irá resguardar a total privacidade do nome da instituição em apreço e dos sujeitos que a ele pertencem seguindo as diretrizes e normas de pesquisa envolvendo seres humanos preconizados pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde No 196 de 10 de outubro de 1996 [6]. Apresentação dos resultados A seguir apresentamos o quadro e tabelas relativos à distribuição dos procedimentos e da comunicação realizada (Quadro I e Tabela II) e a distribuição da comunicação de acordo com a categoria profissional que a realizou (Tabela I). O quadro I mostra que em 3 clientes em coma vígil, 30 procedimentos foram realizados durante 4 manhãs e 1 à tarde. Destes, 11 foram feitos por enfermeiros e 19 por auxiliares de enfermagem, como mostra a tabela I. É possível verificar que existe quase um equilíbrio entre enfermeiras e auxiliares de enfermagem que se aproximam do cliente em coma para cuidar e este cuidado envolveu apenas procedimentos técnicos, como se apresenta na tabela 2. Este quadro indica que durante os cuidados (30 procedimentos), em apenas 3 destes foram observados que os profissionais (1 auxiliar de enfermagem e 2 enfermeiros) falaram com o cliente. A partir destas informações (contidas no quadro I e tabela II) emergiram uma categoria de análise, entendida como: O silêncio e a pouca fala no cuidado com o cliente em coma: o toque dos procedimentos. !! artigo 03 Mariana.pmd 133 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Quadro I - Distribuição dos procedimentos e da comunicação realizada. Rio de Janeiro, 2003. Data Leito Categoria profissional Procedimento 26/05 Manhã 06 06 06 06 06 06 06 08 08 08 08 08 08 08 08 08 08 08 03 03 03 06 08 08 08 08 03 03 08 08 Aux. Enf. Aux. Enf. Enfermeiro Aux. Enf. Enfermeiro Aux. Enf. Aux. Enf. Aux. Enf. Enfermeiro Aux. Enf. Aux. Enf. Aux. Enf. Enfermeiro Enfermeiro Enfermeiro Enfermeiro Enfermeiro Enfermeiro Enfermeiro Aux. Enf. Aux. Enf. Aux. Enf. Aux. Enf. Aux. Enf. Aux. Enf. Enfermeiro Aux. Enf. Aux. Enf. Aux. Enf. Aux. Enf. Verificação dos sinais vitais Curativo Mudança de decúbito Medicação EV Endireitou o TOT e os lençóis Banho no leito Verificação dos sinais vitais Banho no leito Curativo Verificação dos sinais vitais Instalação da dieta Medicação EV Coleta de sangue arterial Coleta de sangue arterial Coleta de sangue arterial Cateterismo vesical Punção venosa Coleta de urina estéril Exame físico Verificação dos sinais vitais Banho no leito Verificação dos sinais vitais Higiene ocular Higiene bucal Aspiração das VAS Sonda naso-enteral Banho no leito Aspiração das VAS Verificação dos sinais vitais Instalação da dieta 28/05 Manhã E Tarde 04/06 Manhã 05/06 Manhã Tabela I Distribuição comunicação vs. categoria profissional. Rio de Janeiro, 2003. Categoria Profissional 19 Auxiliares de enfermagem 11 Enfermeiros Comunicação Verbal SIM NÃO 01 18 02 09 Tabela II Distribuição dos procedimentos vs. comunicação. Rio de Janeiro, 2003. ProcedimentosXComunicação 06 Verificação de sinais vitais 04 Banho no leito 03 Coleta de sangue arterial 02 Curativos 02 Medicações EV 02 Instalação da dieta 02 Aspiração das VAS 01 Mudança de decúbito 01 Cateterismo vesical 01 Punção venosa 01 Coleta de urina estéril 01 Exame físico 01 Sonda naso-enteral 01 Higiene bucal 01 Higiene ocular 01 Endireitou o TOT e os lençóis TOTAL: 30 procedimentos Sim 01 01 01 03 Não 06 04 03 02 02 02 02 01 01 01 01 01 01 27 Comunicação verbal Sim Não X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Resultados e discussão Esta categoria contém duas informações fundamentais que poderiam ser entendidos como subcategorias, como mostra o gráfico a seguir: Gráfico 1 - Comunicação verbal durante os procedimentos. Rio de Janeiro - RJ, 2003. O gráfico 1 mostra que 90% dos procedimentos foram realizados no silêncio, enquanto que 10% deles houve a fala como parte dos procedimentos. A exploração da comunicação verbal com o cliente em coma nos levou a algumas descobertas que merecem ser discutidas e que se apresentam nos gráficos a seguir: !" artigo 03 Mariana.pmd 134 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Gráfico 2 - Aux. Enf.: Comunicação verbal durante os procedimentos. Rio de Janeiro - RJ, 2003. Gráfico 3 - Enfermeiro: Comunicação verbal durante procedimentos. Rio de Janeiro - RJ, 2003. Estes dados indicam que a enfermagem não fala com os clientes em coma e este silêncio pode ter diversas justificativas, as quais ousamos destacar: Uma delas e parece ser a principal é de que no ensino e na prática é costume considerar o cliente em coma, como aquele que não fala, não sente, que está inconsciente, adormecido, e que, aparentemente, não ouve. Daí a ausência da comunicação verbal. Falar com um cliente em coma durante alguns procedimentos, no caso deste estudo, para: fazer cateterismo vesical, higiene bucal e sondagem nasoenteral devem acontecer por serem procedimentos invasivos. Nos parece que é assim que se procede. O cliente tem direito de saber quando vão invadir o seu corpo e não podemos deixar de falar com eles sobre estes procedimentos. Uma segunda justificativa pode estar na falta de hábito de conversar com os clientes, de um modo geral, sobre o que vamos fazer, que tratamento será feito e se ele concorda. Uma terceira justificativa é de educação e cultura, em que a questão da comunicação pode não estar sendo contemplada no ensino superior como uma forma de cuidar em enfermagem. Uma outra justificativa pode estar relacionada a não se passar por maluco, falando com alguém não responde. E se fala (emissor) e o outro não responde (receptor) isto não é comunicação da forma que os teóricos entendem. Neste sentido, segundo Cianciarullo [4] para que se inicie o processo comunicativo, o emissor envia uma mensagem. O receptor, por sua vez, recebe a mensagem e decifra-a com o objetivo de entendêla. Mas para que ocorra o processo comunicativo o receptor deve emitir uma resposta ao emissor. Acreditamos, ainda, que a enfermagem pode não se dar conta do silêncio que a cerca e cerca o cliente quando cuida, porque deve está imersa no que deve fazer. O que parece importar é a sua presença quando cuida. Neste sentido, encontramos apoio entre Cintra et al [2] quando nos diz que: O profissional de UTI precisa estar tão preocupado e atento às necessidades fisiológicas básicas que, às vezes, pode achar ter cumprido o seu dever com o paciente e com o próximo quando não o tem lesado ou não o tem desrespeitado (conscientemente). Também é possível acreditar nesta questão é que o silêncio pode ser uma marca nos corpos dos profissionais, que sempre calam mais do que falam e, quando se trata de CTI e de cliente em coma, calar pode ser um cuidado. Esta categoria nos faz refletir sobre os dados, inicialmente levantados, considerando que não perguntamos aos envolvidos por que não falam com os clientes em coma. Esta é uma variável qualitativa que não pode ser esquecida. Como também ainda são muito tímidos os estudos que nos dêem respostas dos clientes quando estavam em coma, se ouviram e o que ouviram. O silêncio que surge como o dado mais significativo do estudo, que acompanha o procedimento, é a fala muda através do toque, que tira da comunicação do som, o estímulo da voz que o cliente pode estar ou não ouvindo. Neste sentido, encontramos apoio em Le Breton [7] quando nos diz que: o silêncio ressoa como nostalgia, apela ao desejo de uma escuta incessante do mormurar do mundo. A prática observada é pobre em palavra e os procedimentos são ricos em toque, que a enfermagem pode considerar como comunicação. Podemos pensar e/ou inferir que cuidar de cliente em coma pode ser entendido pelos profissionais de enfer magem como uma impossibilidade de linguagem que é caracterizada pela condição humana do cliente. Podemos pensar ainda que a linguagem utilizada para que a comunicação se estabeleça é a linguagem dos corpos que cuidam e que são cuidados, captados no ato de cuidar. Neste momento temos dificuldade de compreender por que isto ocorre e esbarrar em nosso próprio silêncio de não encontrar palavras para explicar porque isso ocorre. !# artigo 03 Mariana.pmd 135 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) No entanto, Le Breton [7] nos conforta quando diz: se a presença do homem é, antes de tudo, a sua palavra, também é inevitavelmente a presença de seu silêncio. Para nós da enfermagem nos comunicamos sempre que tocamos mesmo que ele seja entendido por poucos como ações terapêuticas e para outros autores é entendido como sentido que fez parte de ações humanas. Quanto a isto, Davis [8] nos diz que: falar de toque é falar de pele e esta é o nosso órgão mais importante, em seguida ao cérebro. Quando o toque acontece, envolvemo-nos constantemente com o que se passa em nosso exterior, assim o mesmo acontece com aquele que é tocado por nós. A mesma autora continua dizendo que o senso de humanidade associa-se ao contato físico no instante de nosso nascimento e continua ao longo da vida. O tato comparado a nossos outros sentidos e modos de expressões, ainda é nossa forma de comunicação mais básica, e nós, subconscientemente, sabemos disso [9]. No entanto, no nosso discurso de trazer o cliente de volta para o fluxo da vida, o que conta é tentar se comunicar com ele de qualquer forma, buscando estilos e estratégias para que ele seja tocado por nós através de som. Desta forma, corroboramos com Bezerra Jr9 repetindo a afirmação: a linguagem é condição necessária para a emergência do sujeito e do sentido. Le Breton [7] complementa dizendo que o silêncio levanta uma barreira dificilmente transponível entre si e o outro; é uma linha de separação de dupla eficácia; é igualmente uma defesa contra o olhar ou a curiosidade do outro. A comunicação engloba todas as formas que uma pessoa utiliza para poder afetuar o outro, sejam elas de forma verbal (falada e escrita), não-verbal (cinésia, toque, territorialidade) e/ou paraverbal [4]. Sabemos que para a realização de qualquer procedimento algum tipo de comunicação será estabelecido, principalmente a que se dá através do toque mediada pelo procedimento técnico. Porém, ressaltamos, em se tratando do cliente em coma, da importância da comunicação verbal, uma vez que a audição é o ultimo sentido a ser perdido durante a evolução do coma. Conclusões ou explicar os procedimentos a serem realizados no cliente em coma, sendo verificado em cinco períodos de observação um total de 30 procedimentos executados nestes clientes em que apenas 03 destes (10%) foram mediados pela comunicação verbal, como dissemos anteriormente. Tal quadro nos indica que, na maioria das vezes, o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem tem como foco central o corpo físico do cliente, o que nos leva a crer que o modelo biomédico continua ainda respaldando a formação de muitos profissionais e que os procedimentos técnicos e tecnológicos ainda são os motivos de aproximação da enfermagem com os clientes. Em nenhum momento observamos a aproximação, só para falar com os clientes em coma. Finalmente, este estudo, conseguiu atingir o objetivo proposto, no que diz respeito à utilização da comunicação verbal pelos profissionais de enfermagem com os clientes em coma ao realizarem os cuidados no cotidiano da prática de enfermagem, onde se evidenciou que a maioria dos procedimentos executados (90%) não são imbuídos deste tipo de comunicação. Assim sendo consideramos que o ato de cuidar do cliente em coma deve e precisa estar além do ato de fazer um procedimento. É necessário atentar que estes atos envolvem comunicação verbal e nãoverbal com outra interface que pulsa, sente e troca energia com quem cuida dele. Ademais se observarmos que a ausência da comunicação verbal pode ser considerada uma forma de violência no que diz respeito ao ato de cuidar e ser cuidado. A partir do exposto acima, ressaltamos a importância de se criarem condições que permitam que esse momento da vida do individuo, onde ele não possui poder decisório, possa ser vivido com dignidade. Não podemos esquecer que estamos falando de um ser humano, que abolida a sensibilidade cutânea, resta ainda a sensibilidade da alma, que pode estar sofrendo diante do discurso do silêncio com que são invadidos. Referências 1. De acordo com os resultados obtidos podemos inferir que os profissionais de enfermagem não estão se utilizando da comunicação verbal para informar 2. Brunner LS, Suddarth DS. Tratado de enfermagem médico-cirúrgico. 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. Cintra EA, Nishide JM, Nunes WA. Assistência de enfermagem ao paciente gravemente enfermo. 2a edição. São Paulo: Atheneu; 2003. !$ artigo 03 Mariana.pmd 136 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) 3. 4. 5. 6. Polit D, Hungler F. Fundamentos da pesquisa em enfermagem. 3a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. Cianciarullo TI. Instrumentos básicos para o cuidar: Um desafio para a qualidade da assistência. São Paulo: Atheneu; 1996. Wood GL, Haber J. Pesquisa em enfermagem Métodos, avaliação crítica e utilização. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. Resolução n° 196-1996. Aprova as diretrizes e normas 7. 8. 9. regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. Conselho Nacional de Saúde; 1996. Le Breton D. Do silêncio, coleção de epistemologia e sociedade. Lisboa: Instituto Piaget; 1997. Davis FK. O poder do toque. 9a edição. São Paulo: Best Seller; 1991. Bezerra Jr B, Plastino CA. Corpo, afeto e linguagem: a questão do sentido hoje. Rio de Janeiro: Rios ambiciosos; 2001.K !% artigo 03 Mariana.pmd 137 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Revisão Saúde da família: estratégia de ensino para graduação em enfermagem Marialda Moreira Christoffel, D.Sc.*, Valeria de Oliveira Monteiro, D.Sc.** *Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, Departamento materno-infantil (DEMI) da Faculdade de Enfermagem. ** Supervisora do Programa médico de Família de Niterói Resumo Este artigo trata da proposta de implementação de uma estratégia de ensino para a disciplina Saúde da Família e da Comunidade na graduação de Enfermagem. Com o objetivo de contemplar as demandas atuais da formação do enfermeiro, preparando os alunos para o desenvolvimento de uma prática profissional norteada pelos aspectos de promoção do cuidar, do educar e do pesquisar em saúde da família. A disciplina é composta de 60 horas\aula, sendo organizada em três seqüências de atividades a partir da problematização da realidade vivida pelos alunos. Acreditamos que a proposta pedagógica para a Disciplina da Saúde da Família e Comunidade na graduação, busca prover futuros enfermeiros com competência para agir como transformadores sociais. Palavras-chaves: ensino da enfermagem, saúde da família, ensino-aprendizagem. Abstract Family Health: strategy of teaching for nursing graduation This article suggests a teaching strategy implementation for the discipline Family Health and Community in nursing graduation. The main object is to contemplate the present requests of nurses development as a professional nurse guided through the aspects of care promotion, education and researches about family health. The discipline is composed of 60 hours\class, organized in three sequences of activities from the proposition of the reality experienced by the students. We believe that the pedagogical purpose for the discipline Family Health and Community in graduation, looks for providing future nurses with competence for act as social transformers. Key-words: learning of nursing, family health, teaching apprenticeship. Artigo recebido em 14 de abril de 2004; aceito em 20 de maio de 2004. Endereço para correspondência: Marialda Moreira Christoffel, Rua Presidente Domiciano, 171/401 Ingá 24210-270 Niterói RJ, Tel: (21) 2707-3971, E-mail: mchristoffel@ hotmail.com !& artigo 04 Marialda.pmd 138 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Resumen Salud de la Familia: estrategia de enseñanza para graduación en enfermería Este articulo trata de la propuesta de implementación de una estrategia de enseñanza para la asignatura Salud de la Familia y Comunidad del curso de graduación de enfermería. El objetivo principal es contemplar las demandas actuales de la formación del enfermero, preparando los alumnos para el desarrollo de una práctica profesional dirigida a los aspectos de promoción del cuidar, del educar y del pesquisar en salud de la familia. La asignatura es compuesta de 60 horas \ clase, organizada en tres seguimientos de actividades a partir del problema de la realidad vivida por los alumnos. Creemos que la propuesta pedagógica para la asignatura Salud de la Familia y Comunidad en el curso de graduación, busca preparar futuros enfermeros con competencia para actuar como transformadores sociales. Palabras-claves: enseñanza de la enfermería, salud de la familia, enseñanza-aprendizaje. Introdução Para que a implementação dos princípios e diretrizes norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS) pudesse se afirmar como espaço da saúde se fez necessário, ao longo desses anos, um processo de construção social de um novo sistema de saúde, exigindo mudanças que se deram concomitantemente e dialeticamente. Nessa perspectiva, a adoção de um novo paradigma sanitário com princípios políticos e ideológicos de produção social da saúde surgiu como proposta de reformulação do modelo de assistência que atendesse às demandas sociais. O desafio vem sendo centrado na busca de estratégias que possam romper com o modelo assistencialista, curativista, pautado nos agentes patológicos, nas doenças e na morte para se vincularem com o sentido de bem-estar da vida. De acordo com Teixeira [1], a estratégia do modelo de vigilância da saúde é implementada como uma proposta de redefinição das práticas sanitárias, adotando como estratégia de atenção à saúde, a prática de saúde da família com o propósito de inversão de modelo, tendo como princípios filosóficos principais a superação da fragmentação do cuidado à saúde; a eleição da família e de seu espaço social como núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde; a humanização das práticas de saúde; a vinculação da clientela com a equipe de saúde e a prática de organização comunitária para o exercício do controle social. A vigilância da saúde propõe a formação e incorporação de novos sujeitos, além dos profissionais e trabalhadores de saúde, pois envolve a população organizada, assim sendo esta proposta demanda medidas relacionadas à formação dos profissionais de saúde que atendam às exigências deste novo modelo de saúde. Neste contexto surge, então, um novo espaço para a prática de trabalho da enfermagem. Espaço esse onde o cuidado de enfermagem se apóia na prática sanitária de vigilância da saúde apresentando concepções de multidisciplinaridade com ação transdisciplinar pautado na positividade da saúde e norteado pelo paradigma da produção social em saúde como postula Mendes [2]. Reconhecendo todas as mudanças do modelo de saúde, acreditamos que é na formação do aluno de graduação em enfermagem que podemos enquanto docentes, contribuir para que ele possa desenvolver competências para atuar nesse modelo, proporcionando-lhe uma formação de massa crítica nas práticas com a família e grupos populacionais, e instrumentos que possibilitem um conhecimento teórico conceitual da saúde da família. Para Ângelo [3] as instituições de ensino superior de enfermagem têm procurado desvendar caminhos que orientem suas ações para a formação do chamado profissional do novo milênio. Uma das !' artigo 04 Marialda.pmd 139 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) possibilidades é o conceito de aprendizagem ativa, necessária para o desenvolvimento do pensamento crítico e de uma educação integral, em contraposição ao simples ensino técnico. A educação em enfermagem deve possibilitar pensar, agir, saber, desejar, e buscar continuamente o conhecimento. Esta educação requer um currículo como reconstrução social, a partir de uma abordagem crítica que necessita formar enfermeiros cidadãos, para compreender e atuar no contexto político-social em que vivem. Assim sendo, a partir de várias experiências em capacitação introdutória para equipes básicas de Programa Saúde da Família, promovidas pelo Pólo de Capacitação, Formação e Educação Permanente de Pessoal para Saúde da Família do Rio de Janeiro - Núcleo - UERJ, elaboramos uma estratégia de ensino para Disciplina Saúde da Família e da Comunidade na graduação de enfermagem elegendo alguns conteúdos básicos que possam contemplar as demandas atuais de formação do enfermeiro. A disciplina propõe preparar alunos de graduação em enfermagem para o desenvolvimento de uma prática profissional norteada pelos aspectos de promoção, do cuidar, do educar e do pesquisar em saúde da família. Busca uma reflexão crítica sobre os aspectos pedagógicos, de organização do serviço de saúde e do trabalho desse modelo assistencial em saúde, visando à apropriação por parte dos alunos de conceitos e princípios que fundamentam a prática de saúde da família, na perspectiva da vigilância da saúde que agrega as três vigilâncias: sanitária, epidemiológica e ambiental [1]. social de saúde, Estratégia de Saúde da Família: conceito, mapeamento, adstrição de clientela, cadastramento, intersetorialidade, sistema de referência, porta de entrada na rede de saúde, participação popular, resolutividade, abordagem integral da família; visita domiciliar no modelo saúde da família, diagnóstico de saúde, competências do enfermeiro na saúde da família, modelos pedagógicos em saúde, e a pesquisa em enfermagem no modelo saúde da família. O programa de atividades é constituído de um caderno do aluno e outro do professor, no qual é discriminada toda a temática a ser discutida e trabalhada na sala de aula. As atividades práticas serão contempladas através de dinâmicas, dramatizações e de visitações técnicas às unidades de saúde da família. A metodologia utilizada para a disciplina permitirá ao aluno apropriar-se dos conteúdos que estão organizados em três seqüências de atividades a partir da problematização da realidade vivida pelos alunos para que, através da reflexão sobre essa mesma realidade e a teorização dos temas se dê o desenvolvimento de atitudes. As seqüências de atividades guardam uma lógica intrínseca com progressivo aprofundamento das temáticas, possibilitando sucessivas aproximações ao objeto de aprendizagem. A base pedagógica dessa alternativa educativa está centrada no aluno, permitindo alunos ativos no processo de ensinoaprendizagem. Organização e desenvolvimento da disciplina A avaliação da aprendizagem neste contexto de ensino deve estar coerente com a concepção pedagógica que norteia a metodologia adotada. Assim o que deve ser avaliado é a capacidade de análise, de extrapolação e de crítica do aluno. A avaliação é de caráter processual e cumulativo, identificando o alcance dos desempenhos esperados ao término das unidades, também será considerada a participação nas atividades em sala de aula, as pesquisas e os exercícios a serem realizados. A disciplina está composta de 60 horas/aula, sendo distribuída em dezenove semanas, e deve ser constituída por turmas de no máximo 20 alunos para a realização das estratégias pedagógicas. F a z e m parte do conteúdo programático: família e processo saúde-doença; conceitos de família, organização familiar, concepção do processo saúde-doença, definição do campo de saúde, conceitos de promoção, prevenção e recuperação da saúde, os modelos assistenciais e vigilância da saúde, conceito de determinante, riscos, e danos; princípios e diretrizes do SUS: participação popular, controle social, regionalização, atenção básica, universalidade, integralidade, sistema de referência, acessibilidade, territorialidade; paradigma sanitário e a produção As competências propostas Dinâmica do ensino-aprendizagem O caderno do aluno e do professor constará de doze textos de apoio, lidos e discutidos na sala de aula seguido das três seqüências de atividades e um cronograma: " artigo 04 Marialda.pmd 140 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Universidade Estácio de Sá Programa de disciplina Curso: Graduação em Enfermagem Disciplina obrigatória: Enfermagem em Saúde da Família e da Comunidade Ano: 2004, Primeiro semestre Carga Horária Total: 60 horas Carga Horária Teórica: 20 horas Carga Horária Prática: 40 horas Caderno do Aluno Seqüência de Atividades I 1. Participar da dinâmica de apresentação. Estabelecer contrato de convivência. 2. Desenhar sua família. Apresentar em seu grupo, observando o desenho dos demais, e a seguir responder: Como foi considerada a constituição das famílias; construir o conceito de família comum a todos os participantes. Apresentar em plenária. Ler o texto: Fundamentos da assistência à família em saúde [4], Texto nº 1. 3. Analisar o seguinte caso: Cristina, 4 anos de idade, chegou à Unidade Básica de Saúde acompanhada da tia e de dois primos com 2 e 7 anos respectivamente, para aplicação de vacina. Na entrevista com a enfermeira Fátima sua tia informou que a criança é filha de sua irmã e que vinha sendo criada, desde os 2 anos pela avó, mas que devido a problemas de saúde não pode ficar com ela. Atualmente a criança está residindo em sua casa com os seus 3 filhos e uma outra irmã. Diz estar tendo dificuldades no sustento da família não tendo quem acompanhe as crianças no seu horário de trabalho em um salão de cabeleireiro. Fátima observou que Cristina apresentava dificuldades na fala, usava fraldas, retraíase ao contato físico e que as 3 crianças apresentavam atraso na cobertura vacinal. A seguir responder: a) Identificar a composição familiar. b) Listar os problemas encontrados, identificando suas causas e o nível de comprometimento - individual, familiar e comunitário; sua origem - biológico, psicológico, ambiental, estilo de vida, organização do serviço de saúde. c) Como enfrentar os problemas identificados? 4. Ler e discutir o texto O Conceito de Campo de Saúde: Uma perspectiva Canadense [5], Texto nº 2. 5. Mapear em sua comunidade os Serviços de Saúde disponíveis e utilizados pelas pessoas e analisar se atendem às necessidades da comunidade. 6. Dramatizar uma situação de atendimento em Unidade Básica de Saúde. Discutir o modelo atual. 7. Visitar Unidade básica de saúde (atividade de campo = 4h.). 8. Participar de seminário. Texto nº 3 A Reforma sanitária no Brasil [6] e Texto nº 4 Concepções sobre a saúde e a doença [7]. 9. Participar da teorização sobre o SUS. 10.Analisar o texto do jornal Exercício nº 1, e a seguir responder: a) Qual paradigma orienta a organização deste modelo de atenção à saúde? b) Qual o conceito de saúde que fundamenta este modelo? c) Quais princípios e diretrizes do SUS estão contemplados na organização desta rede de saúde? 11.Participar do seminário com o texto Unidade Básica de Saúde no contexto do Sistema de Saúde [8], Texto nº 5. 12. Identificar nos casos analisados nas atividades 3 e 10 desta seqüência o conceito de risco, buscando a identificação de fatores de risco. Descrever as características que devem orientar a organização dos Serviços de Saúde na perspectiva do Paradigma da Produção Social em Saúde e pautado na positividade do conceito de saúde. 13.Participar do seminário com o texto: Vigilância da Saúde: novo pensar e novo fazer [1], Texto nº 6. 14.Analisar o seguinte caso clínico: Sr. João chegou a Unidade de Saúde da Família de sua comunidade, acompanhando seu filho de 2 anos, para participar das atividades no grupo de crianças de baixo peso. Toda a equipe estava mobilizada nas demandas dessa família que passou a residir no bairro há apenas um mês. Sr. João além desse filho tinha mais três, a esposa havia abandonado a casa e ele trabalhava 8 horas por dia numa empresa de revenda de água mineral. Naquele dia na consulta com a enfermeira Solange a criança estava ativa, atenta, porém ainda não falava, expressando-se por gestos e mantinha" artigo 04 Marialda.pmd 141 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) se irritadiça como no outro encontro. Ela verificou que o menor havia crescido 2 cm e estava ganhando peso. Agendou uma visita domiciliar para observar o comportamento da criança no seu ambiente doméstico, assim como avaliar as outras crianças. Durante a consulta, o pai queixou-se de dor de cabeça constante, ao verificar sua PA a enfermeira constatou hipertensão. Organizou então um calendário para confirmação diagnóstica, com datas e horários para averiguação da PA, prestou todas as orientações relativas à situação e solicitou rotina básica de exames complementares, deixando marcado no laboratório de referência da região a data para coleta de material. A equipe da Unidade estava providenciando creche e colégio para as 4 crianças; inscreveram a família no Programa bolsa-alimentação e bolsaescola. Aproveitaram a ocasião e convidaram o Sr. João para participar da reunião comunitária que aconteceria na semana seguinte na Igreja da comunidade, para tratar do problema do fornecimento de água no bairro. Identificar os princípios e conceitos que norteiam esse modelo de atendimento à saúde. Apresentar em plenária. 15. Assistir filme. Cronograma Data 1ª sem 2ª sem 3ª sem 4ª sem 5ª sem 6ª sem 7ª sem 8ª sem 13/02 20/02 27/02 05/03 12/03 19/03 26/03 02/04 Conteúdo seq.I Ativ. 1 seq.I Ativ. 2, 3 seq.I Ativ. 3, 4 seq.I - Ativ. 5, 6, 7 (em campo) seq.I Ativ. 8, 9 seq.I - Ativ. 10, 11, 12 seq.I Ativ. 13 PR 1 Sequência de atividades II 1. Preparar e participar da dramatização. 2. Leitura e discussão do texto A visita domiciliária no contexto da saúde da família [9], Texto nº 7. 3. Discutir os principais objetivos da visita domiciliar. 4. Ler discutir Guia Prático do Programa Saúde da Família A implantação do PSF passo a passo [10], Texto nº 8. 5. Assistir filme do MS. 6. Construir ficha de cadastro, tendo como referência modelos já institucionalizados. 7. Aplicar 5 fichas de cadastro na comunidade (atividade de campo = 8 h.). 8. Consolidar dados, caracterizando o perfil de uma comunidade fictícia. Construir o diagnóstico de saúde. 9. Discutir formas de enfrentamento dos problemas e situações identificados na atividade anterior. 10.Participar da aula expositiva sobre Atenção Básica à Saúde NOAS 2001/MS. 11.Refletir, a partir das discussões anteriores, a seguinte questão: - Tendo como referência às características de Saúde da Família quais as competências (conhecimentos e habilidades) necessárias para que o enfermeiro atue no desenvolvimento de seu trabalho? 12.Leitura do texto: Atribuições de cada membro das ESF [10], Texto nº 9. 13.Participar da dinâmica de grupo. 14.Ler e discutir o texto Atuação do enfermeiro no Programa Saúde da Família no Estado da Paraíba [11], Texto nº 10. Cronograma Data 9ª sem 16/04 10ª sem 30/04 11ª sem 07/05 12ª sem 14/05 13ª sem 21/05 14ª sem 28/05 Conteúdo seq.I - Ativ. 15 e revisão da PR1 seq.II - Ativ. 1, 2, 3 seq.II - Ativ. 4, 5, 6, 7 (em campo) seq.II Ativ. 8, 9 seq.II - Ativ. 10, 11, 12 Seq.II - Ativ. 13, 14 Sequência de Atividades III 1. Elaborar uma proposta de capacitação para um membro da equipe de PSF. 2. Apresentar em plenária. 3. Ler os textos: Alguns fatores pedagógicos [12], Texto nº 11 e o texto Uma Pedagogia para a Libertação [13], Texto nº 12. Retomar proposta de capacitação e responder: Qual a postura do educador, e do educando? Qual a corrente pedagógica predominante? O saber e a realidade do educando foram considerados na ação educativos? O conteúdo de ensino estava organizado de forma a facilitar a aprendizagem? 4. Preparar e aplicar atividade de educação em saúde. (atividade de campo = 8 h.). " artigo 04 Marialda.pmd 142 02/07/04, 19:15 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) 5. Analisar o seguinte texto: Convivendo com o alcoolismo na família [8] Pesquisa realizada pela autora, que teve como objetivos do estudo identificar quem é a família que convive com o alcoolismo e quais os recursos para cuidar destas pessoas, tanto no âmbito profissional como no não-profissional. Como referencial metodológico optou pela pesquisa bibliográfica, utilizando como fontes de dados os periódicos brasileiros, norte-americanos e latino-americanos no circuito das bibliotecas universitárias. Os resultados desta pesquisa constroem um retrato da família que convive com o alcoolismo, desvelando os desafios que enfrentam em seu cotidiano quanto às potencialidades que preserva, apesar de todos os problemas que experimenta, e que possibilitou visualizar recursos e estratégias utilizados para cuidar dessas pessoas. (Adaptação do texto original). O que é pesquisar? Por quê se pesquisa em enfermagem? Qual é a importância da pesquisa para a prática da enfermagem? 6. Ler e discutir o texto A construção do projeto de pesquisa[14], Texto nº 13. 7. Fazer o exercício abaixo. Elaborar um plano de ação na perspectiva da vigilância da saúde para o seguinte caso: D. Maria Aparecida com 33 anos de idade, 3 filhos, residente na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, procurou atendimento na Unidade de Saúde da Família, localizada próxima ao seu domicílio, onde estava cadastrada, informando atraso menstrual, náuseas ao acordar, mamas doloridas e edemaciadas, dizia acho que estou grávida. A enfermeira Lúcia de imediato realizou o TIG confirmando o diagnóstico. Durante a consulta Aparecida pediu um remédio para seus 3 filhos que estavam com diarréia há quase dois dias. Lúcia indagou sobre os cuidados com a água utilizada pela família, pois sabia que a água que abastecia aquela região era de um poço semi-artesiano. Além disso, o acúmulo de lixo próximo à casa da família era grande, pois o local era de difícil acesso, por ser muito alto, não sendo possível a coleta regular pela empresa responsável por este serviço. Ao final do encontro, Aparecida queixou-se que seu marido de 35 anos havia voltado a beber, pois perdeu o emprego há menos de um mês e recusava qualquer tipo de ajuda, tornando-se por vezes agressivo com ela e os filhos. 8. Participar da avaliação final da disciplina. Cronograma Data 15ª sem 16ª sem 17ª sem 18ª sem 19ª sem 04/06 11/06 18/06 25/06 02/07 Conteúdo Seq.III - Ativ. 1, 2, 3 e 4 seq.III Ativ. 5, 6 PR 2 P. 2ª chamada P. Final Conclusões É preciso estimular o aluno de graduação em enfermagem estabelecer relações, a criticar e interferir na realidade de forma reflexiva e criativa, adotando estratégias de resolução de problemas, a partir da metodologia da problematização. Não basta ensinar conteúdos, mas desenvolver nos alunos a investigação, o diálogo, a trabalhar com as diversidades. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Teixeira CF. O Futuro da Prevenção. Salvador: Casa da Qualidade; 2001. Mendes EV. Uma agenda para a saúde. Rio de Janeiro: HUCITEC/ABRASCO; 1996. p.233-241. Angelo M. Educação em enfermagem: a busca da autonomia. São Paulo: Esc. Enf. USP 1994;28(1):11. Ângelo M, Bousso RS. Fundamentos da assistência à família em saúde. In: Brasil. Ministério da saúde. Instituto para o desenvolvimento da saúde. Manual de Enfermagem: programa saúde da família. Brasília: Universidade de São Paulo; 2001. p.14-17. Lalonde M. O Conceito de Campo de Saúde: uma Perspectiva Canadense. Tradução Aguiar FW. In: Promócion de la salud: uma antologia. Organização Panamericana de Saúde; 1998. Werneck MAF. A reforma sanitária no Brasil. In: Bases da Saúde Coletiva. 1a ed. Rio de Janeiro: UELABRASCO; 2001. p.35-42. Gutierrez PR., Oberdiek HI. Concepções sobre saúde e doença. In: Bases da Saúde Coletiva. 1a ed. Rio de Janeiro. UEL-ABRASCO; 2001. p.43-48 Silva MRS. Convivendo com o alcoolismo na família. In: Elsen I, Marcon SS, Santos MR. O viver em família a sua interface com a saúde e a doença. Maringá: Eduem; 2002. p.271-292. "! artigo 04 Marialda.pmd 143 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) 9. Takahashi RF, Oliveira MAC. A visita domiciliária no contexto da saúde da família. Manual de Enfermagem; 2002. [citado 2002 Mar 15]. Disponível em: URL: http:/ / www.ids.saúde.org.br/enfermagem 10. Brasil. Ministério da Saúde. Guia Prático do Programa Saúde da Família A implantação do PSF passo a passo. Brasília: MS; 2001. p.75-88, passim. 11. Costa MBS, Lima CB, Oliveira CP. Atuação do enfermeiro no Programa Saúde da Família no Estado da Paraíba. Brasília: Rev Bras Enfermagem 2000;53:149-52. 12. Bordenave JD. Alguns fatores pedagógicos. In: Brasil. MS. Capacitação Pedagógica para instrutor/supervisor área da mulher. Brasília: Ministério da Saúde; 1989. 13. Freire P. Pedagogia para a liberação. 2a ed. São Paulo: Scipione; 1991. p.65. 14. Minayo. MCS, Deslandes SF. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 1994. K "" artigo 04 Marialda.pmd 144 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Revisão Proposta de instrumento de coleta de dados em consulta de enfermagem em ginecologia e pré-natal Dulce Aparecida Siviero Franco, M.Sc.*, Milena Butolo Vido** *Especialista em Enfermagem Obstétrica, Docente no Curso de Graduação e Pós Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Hermínio Ometto UNIARARAS, **Especialista em Enfermagem Obstétrica, Docente no Curso de Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Hermínio Ometto UNIARARAS Resumo Diversos modelos teóricos de documentação clínica têm sido experimentados ou estão em fase de desenvolvimento mediante o avanço da sistematização da assistência de enfermagem em nossa prática diária. Descrevemos neste trabalho um instrumento de coleta de dados fruto de nossa experiência na assistência ginecológica e pré-natal de baixo risco em assistência à mulher. Nosso objetivo é organizar dados seguindo um referencial de identificação das necessidades da cliente, baseado nos padrões de reação humana. Através da revisão bibliográfica buscamos fundamentar nosso referencial teórico e elaboramos um modelo de organização dos dados em forma de instrumento que acreditamos possa contribuir na prática diária profissional da enfermagem e na melhoria de qualidade de assistência à mulher. Palavras-chave: mulher, reação humana, sistematização. Abstract Instrument Proposal for collecting data in nursing consultation in gynecology and prenatal Several theoretical models of clinical data have been experienced or are in development through nursing care systematization advance in our daily practice. In this work, it is described an instrument of data collection acquired through experience in gynecological and prenatal low risk care. Our objective is to organize data according to reference identification of womens needs, based on the human response patterns. Through the bibliographical revision we try to be based upon our theoretical reference and elaborate a model of organization data as an instrument that we believe that can contribute in daily practice nursing care and quality improvement assistance to the woman. Key-words: woman, human reaction, systematization. Artigo recebido em 19 de abril de 2004; aceito em 25 de maio de 2004. Endereço para correspondência: Dulce Aparecida Siviero Franco, Rua Mogi Mirim 85/13 Centro 13600-400 Araras SP Tel: (19) 3541-3575, E-mail: [email protected] "# artigo 05 Dulce.pmd 145 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Resumen Propuesta de instrumento de coleta de datos en la consulta de enfermería de ginecología y prenatal Varios modelos teóricos de documentación clínica han sido experimentados o están en fase de desarrollo mediante el avance de la sistematización de la asistencia de enfermería en nuestra práctica diaria. En este trabajo describimos un instrumento de colecta de datos fruto de nuestra experiencia en la atención ginecológica y prenatal de bajo riesgo a la mujer. Nuestro objetivo es organizar datos que siguen un referencial de identificación de las necesidades del cliente, basado en los modelos de reacción humana. A través de la revisión bibliográfica buscamos fundamentar nuestro referencial teórico y elaboramos un modelo de organización de los datos en forma de instrumento que creemos pueda contribuir en la práctica diaria del profesional de enfermería y mejora en la calidad de atención a la mujer. Palabras-clave: mujer, reacción humana, sistematización. Introdução As ações de promoção e manutenção de saúde da mulher devem estar voltadas para a cobertura da maioria da população feminina, bem como assegurar a continuidade no atendimento, acompanhamento e avaliação dessas ações. E essas ações seriam o resultado de aplicação do processo de enfermagem através da sistematização da assistência de enfermagem. Iyer [1] define processo de enfermagem como uma série de passos (coleta de dados, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação) que focalizam a individualização do cuidado através de uma abordagem de solução de problemas. A consulta de enfermagem sistematizada visa assistir e avaliar o cliente, levantando dados para um planejamento assistencial de acordo com suas necessidades. As observações clínicas mostram e as estatísticas comprovam, que cerca de 85% das gestações começam, evoluem e terminam sem complicações. São as chamadas gestações de baixo risco. Outras, no entanto, aproximadamente 15% delas, já apresentam problemas desde seu início ou então surgem no seu transcurso, caracterizando as gestações de alto risco. Para que seja possível a efetivação das intervenções de enfermagem, acreditamos que o levantamento dos dados clínicos torna-se necessário, e estes devem estar fundamentados na avaliação do estado de saúde do cliente. Essa avaliação por mais completa que seja não permite que se esgotem todos os aspectos, mas deve permitir que o processo de coleta de dados seja iniciado possibilitando a organização do conteúdo, para posterior formulação de diagnósticos e implementação de plano de cuidados de enfermagem. O critério por nós utilizado está baseado em padrões de reação humana que permite que se analise a cliente em 9 fenômenos clínicos identificados como padrões: conhecer, relacionar, trocar, sentir, escolher, comunicar, valorizar, movimentar e perceber [1]. O papel do Estado tem se guiado através de programas, entre eles o PAISM Programa de Assistência Integrada à Saúde da Mulher [2] permeando normas e critérios técnicos de assistência pré-natal baixo e alto risco, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, prevenção de câncer cérvico-uterino e mamário, planejamento familiar, assistência à adolescente, menopausa, institucionalização da assistência ao parto, puerpério e ao recém-nascido. Baseado na determinação de tais políticas públicas de atendimento é que vimos a necessidade de formulação e operacionalização de instrumentos que viabilizem a assistência de enfermagem para efetivação das propostas governamentais, melhorando "$ artigo 05 Dulce.pmd 146 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) a qualidade de assistência à mulher. Silva [3] considera qualidade na assistência em enfermagem como conjunto de ações desenvolvidas pelo profissional, com conhecimento, habilidade, humanidade e competência, objetivando o atendimento às necessidades e expectativas de cada cliente. Sua operacionalização exige a adoção de uma metodologia que favoreça o conhecimento das mesmas de forma individualizada. O propósito de sugestão deste instrumento (histórico de enfermagem) é a obtenção de dados para facilitar a identificação do diagnóstico de enfermagem mediante as necessidades de cada cliente. O conteúdo, seqüência e formato do instrumento foram elaborados possibilitando-se a assistência às mulheres atendidas na clínica ginecológica e obstétrica (pré-natal baixo risco), de forma mais abrangente possível, com vistas a considerar a mulher inserida no contexto sóciocultural, contemplando um conteúdo de fácil compreensão e utilização. Objetivo Elaborar um instrumento de coleta de dados a fim de operacionalizar a primeira etapa do processo de enfermagem, histórico, de mulheres em assistência pré-natal e ginecológica. Revisão de literatura O processo de enfermagem permite, ao enfermeiro ter uma conduta adequada e de qualidade, pois consiste em um método organizado que tem uma estrutura lógica e científica. É um meio pelo qual podemos obter uma atenção mais dirigida e, assim satisfazer as necessidades da cliente. A sistematização é de fundamental importância para planejar, direcionar as ações de enfermagem e organizar o registro dos dados [1]. Além disso, conduz à priorização dos procedimentos a serem realizados e, se necessário, ao redimensionamento de recursos humanos e materiais, facilitando a avaliação da assistência prestada, pois permite verificar se os padrões mínimos estabelecidos foram alcançados. [3] A enfermagem representa uma categoria que muito tem a contribuir para a melhoria da qualidade da assistência à saúde da mulher, pelas suas práticas e seu corpo de conhecimento teórico-científico [1]. Enquanto categoria profissional encontra-se plenamente inserida nos programas atuais de assistência à mulher, utilizando-se do processo de enfermagem para nortear sua prática assistencial, bem como viabilizar e tornar concretos os resultados dessa assistência. Será durante a consulta de enfermagem que o profissional desenvolverá o primeiro passo do processo de enfermagem, que contempla o histórico, através do levantamento de dados ou avaliação inicial da cliente, compreendendo a entrevista, o exame físico, resultados laboratoriais e outras fontes, com o propósito de identificar as necessidades, problemas, preocupações ou reações humanas da cliente. Portanto a sistematização da assistência traz ao enfermeiro uma diretriz a seguir para definição do seu papel e do seu espaço de atuação [4]. Contribui para a autonomia da enfermagem, pois provê ao nosso fazer um instrumento essencial para que possa ser exposto à observação e à crítica, possibilitando ainda, desenvolver um raciocínio clínico ordenado, possibilitando a tomada de decisões [5]. A coleta de dados objetiva a interpretação da realidade para a proposição de ações e intervenções na realidade vivida por mulheres em diferentes fases do ciclo vital. Mediante isto é que diversos modelos teóricos de documentação clínica têm sido experimentados ou em fase de desenvolvimento mediante o avanço da sistematização da assistência de enfermagem em nossa prática diária. Material e métodos Através de nossa experiência diária docente no atendimento à mulher, no acompanhamento da graduação em enfermagem e pós-graduação em especialização em enfermagem obstétrica nas áreas de pré-natal e atendimento ginecológico ou assistência global à saúde da mulher, que nos instrumentalizou na identificação das necessidades operacionais de um instrumento prático e funcional a fim de atingir as necessidades da cliente. Para alcançarmos o objetivo proposto nos fundamentamos na pesquisa bibliográfica, permitindo avaliar o fenômeno de coleta de dados de forma ampla, e servindo de guia na elaboração do instrumento sugerido [6]. "% artigo 05 Dulce.pmd 147 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Descrição do instrumento Padrão Relacionar Sugerimos um instrumento de coleta de dados com base na proposta dos padrões de reação humana. Este modelo permite a coleta de informações de forma organizada, facilitando a avaliação do estado de saúde e a identificação dos diagnósticos de enfermagem, partindo-se das necessidades da cliente. O instrumento de coleta de dados consta de quatro partes; a primeira descrita neste trabalho refere-se ao histórico, contendo a identificação da cliente com dados pessoais; o levantamento das informações do histórico baseado nos padrões de Reação Humana dispostos em informações listadas (tipo check list) ou perguntas abertas. O detalhamento desses padrões foi baseado em nossa experiência profissional com mulheres; a segunda parte diz respeito ao diagnóstico de enfermagem; a seguir as prescrições e a última parte apresenta a evolução de enfermagem [7]. Na primeira consulta de enfermagem a cliente é avaliada. Preenchidos os tópicos do histórico de enfermagem e com os dados obtidos, são formulados os diagnósticos e as intervenções propostas. No retorno das consultas de enfer-magem, agendadas de acordo com as necessidades, cada cliente é reavaliada com continuidade e/ou reformulação da proposta de intervenção anteriormente adotada. O conteúdo deste padrão visa indicar as relações sociais próximas da cliente no desempenho de papéis, bem como as influências desses relacionamentos em sua saúde, no que diz respeito principalmente à vida reprodutiva e sexual. Identificação Permite dados referentes ao grau de comunicação e instrução da cliente. São dados obtidos junto à cliente e/ou seu prontuário na unidade básica de saúde (dados como nome, endereço, data de nascimento, idade, etc.). Padrão valorizar Padrões de reação humana Organizamos o conteúdo seguindo os nove Padrões de Reação Humana que muitas vezes se interrelacionam e se complementam, dispostos numa seqüência que nos pareceu lógica, porém sem rigorosa rigidez nesse seguimento. Padrão conhecer O conteúdo do padrão conhecer, nos permite dados sobre o histórico de saúde ginecológica passado e atual da cliente identificando o que ela conhece sobre sua condição de saúde, incluindo os fatores de risco e os medicamentos em uso. Padrão trocar O conteúdo deste padrão visa obter dados relacionados à condição física da cliente, quanto às funções e metabolismo, circulatório, respiratório, pele, nutrição e eliminações. Padrão sentir Visa identificar a presença de desconforto e suas características quanto à localização, intensidade, bem como fatores referentes à integridade emocional. Padrão escolher Visa obter dados referentes ao enfrentamento da cliente frente a situações difíceis que se depara no cotidiano e seu comportamento em tais situações; ainda abrange dados sobre sua participação em planos assistenciais. Padrão comunicar Busca dados sobre a condição espiritual da cliente, bem como informações valiosas relacionadas a influências religiosas nas questões reprodutivas do cliente inserida num contexto sóciocultural a que pertence. Padrão movimentar Permite dados sobre o tipo de atividade da cliente, hábitos de lazer, recreação e sono, bem como se teve experiências anteriores em amamentação e possíveis intercorrências. Padrão perceber Visa obter dados referentes ao seu autoconceito, auto-percepção e órgãos do sentido. "& artigo 05 Dulce.pmd 148 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) I. Identificação Nome: Prontuário: Endereço: Fone: D.N. / / Idade: Naturalidade: Raça: Estado Civil: Padrão Conhecer Histórico e Problemas atuais de saúde: Data último ex. ginecológico: / / Obs: Resultado: Menarca: Vida sexual ativa: Ciclo menstrual: ( ) regular ( ) irregulares Anticoncepção: Corrimento: DUM: DPP: Fatores de risco: ( ) adolescente ( ) acima de 35 anos ( ) 6 ou + gestações ( ) aborto ( ) natimorto ( ) sangramento ( ) má-nutrição ( ) tabagismo ( ) etilismo ( ) drogas ( ) DST ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( IG: ) edema ) diabetes ) hipertensão ) cirurgias anteriores ) doenças neurológicas ) obesidade ) sedentarismo ) anticoncepcionais orais ) alergias ) Ca familiar ) outras doenças Medicamentos em uso: 1. 2. 3. 4. Padrão Relacionar Relações Estado civil: Profissão: Ocupação: Sexualidade/Reprodução: No gestações: ( ) gemelar no. filhos vivos: ( ) paridade ( ) PN ( ) aborto idade dos filhos ( ) cesárea ( ) prematuro Último parto há: ( ) fórceps Padrão sentir Conforto: Dor: Localização: Intensidade: Há quanto tempo: Integridade emocional: Ansiedade: Medo: Raiva: Vergonha: Culpa: Tristeza: "' artigo 05 Dulce.pmd 149 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Padrão Trocar Cardíaca/Periférica: P.A.: mmHg Pulso: bat/min ( ) rítmico ( ) arrítimico ( ) cheio ( ) filiforme ( ) fraco ( ) diminuída Edema: Perfusão periférica: ( ) boa Varizes: Obs: Cerebral: Convulsões: Tontura: Oxigenação: F.R.: mpm ( ) regular ( ) superficial ( ) moderado ( ) profundo ( ) eupneica ( ) bradipneica ( ) taquipneica ( ) taquidispneica ( ) dispneica ( ) tosse ( ) murmúrios vesiculares ( ) estertores ( ) roncos ( ) sibilos Integridade da pele: ( ) lesões pele ( ) cicatriz ( ) hidratada ( ) desidratada ( ) corada ( ) descorada ( ) turgor preservado ( ) ictérica ( ) cianótica ( ) manchas ( ) estrias unhas: cabelos/pêlos: mamas: ( ) simétricas ( ) assimétricas ( ) pequenas ( ) médias ( ) grandes inspeção: palpação: expressão: ( ) direita ( ) esquerda ( ) colostro ( ) leite ( ) outros mamilos: ( ) protruso ( ) plano ( ) umbilicado lesões mamilos: Obs.: Regulagem Física: To: Linfonodos: Via: ( ) pescoço ( ) axilar ( ) inguinal Nutrição: Peso inicial: Kg; Peso atual: Kg; Alt: cm ( ) náuseas ( ) vômitos ( ) pirose ( ) alterações no apetite ( ) dispepsia ( ) malácia condições dentes: Obs.: Eliminação Intestinal: Evacuação: ( ) diária ( ) RHA ( ) Palpação: Alterações intestinais: x/semana ( ) constipação inspeção: Percussão: Eliminação Urinária: Freqüência urinária: x/dia ( ) límpida ( ) turva ( ) hematúria ( ) depósito de sedimentos ( ) concentrada ( ) distensão vesical ( ) polaciúria ( ) poliúria ( ) oligúria ( ) disúria ( ) piúria ( ) noctúria incontinência urinária: A avaliação da enfermeira fundamenta-se nos dados da entrevista e exame físico da cliente. Dados complementares A segunda parte do instrumento refere-se ao diagnóstico de enfermagem através da identificação das necessidades da cliente no que diz respeito aos cuidados e elaboração dos diagnósticos de enfermagem, baseados no sistema de classificação da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). A terceira parte se destina às prescrições, a fim de suprir os problemas identificados levando em consideração as especificidades da população feminina. Posteriormente o instrumento dá espaço à evolução de enfermagem que nos permite re/avaliar ações e resultados obtidos com os cuidados prestados à cliente e prosseguirmos no atendimento em busca de melhorias na qualidade de vida das mulheres. Conclusões O instrumento descrito foi utilizado em campo de estágio nas disciplinas de Saúde da Mulher e Enfermagem Obstétrica em pré-natal de baixo risco por alunas do curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica por acreditarmos que é uma forma didática de coleta de dados, contribuindo no ensino e na prática diária profissional de assistência à mulher. Na consulta, a cliente é orientada sobre as propostas de enfermagem, estabelecendo as metas a serem alcançadas, sob controle no retorno agendado. Em linhas gerais, podemos afirmar que instrumentos de trabalho, ou mesmo a mais completa assistência de enfermagem à mulher fortalece e impulsiona estudos pertinentes à questão da saúde da mulher fazendo parte de um contexto sócio-econômico. # artigo 05 Dulce.pmd 150 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Referências 4. 1. 5. 2. 3. Iyer PW, Taptich BJ, Losey DB. Processo e diagnóstico de enfermagem. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993. Brasil. Ministério da Saúde. Programa de Assistência integral à saúde da mulher. Brasília: Centro de Documentação; 1984. Silva SH. Controle de qualidade assistencial de enfermagem: implementação de um modelo. [tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem USP; 1994. 182p. 6. 7. Cianciarullo TI, Gualda DMR, Melleiro MM, Anabuki MH. Sistema de assistência de enfermagem: evolução e tendências. São Paulo: Ícone; 2001. Smeltzer CZ, Bare GB. Grande tratado de enfermagem médico cirúrgica. 8a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5a ed. São Paulo: Atlas; 1999. Maria VLR. Preparo de enfermeiros para a utilização de diagnósticos de enfermagem: relato de experiência. [dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem USP; 1990. K # artigo 05 Dulce.pmd 151 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Revisão Atualização em tuberculose Rodrigo Grazinoli Garrido, M.Sc.*, Fabíola de Sampaio Rodrigues, M.Sc.** * Biomédico, Especialista em Análises Clínicas, Mestre em Ciências Farmacêuticas, Doutorando em Ciências, Perito do Instituto de Criminalística Carlos Éboli PCERJ, ** Bióloga, Mestre e Doutoranda em Ciências, Professora de Bioquímica da UFRRJ Resumo O Brasil é o país com maior número de casos de tuberculose na América Latina. Mundialmente, esta é a causa mais freqüente de morte entre as doenças infecciosas. Além do crescimento de grupos expostos, a resistência às drogas antimicrobianas tem contribuído significativamente para as alterações epidemiológicas atualmente observadas. O bacilo da tuberculose é o Mycobacterium tuberculosis. Entretanto outras bactérias acometem o homem e atuam como oportunistas em pacientes imunodeprimidos pela AIDS. A infecção pelo bacilo geralmente se inicia no parênquima dos lobos pulmonares inferiores após a inalação. O padrão-ouro para o seu diagnóstico é a cultura positiva do M. tuberculosis. Todavia limitações temporais têm levado à utilização de métodos auxiliares. Nesta revisão, pretendemos abordar essencialidades sobre Tuberculose, particularmente sua epidemiologia, microbiologia, patologia, tratamento e diagnóstico para a prática diária dos profissionais de saúde. Palavras-chave: tuberculose, M. tuberculosis, infecção oportunista, doença emergente. Abstract Update in Tuberculosis Brazil is the country with the biggest number of tuberculosis cases in Latin America. This disease is the most frequent cause of death among infectious diseases. Despite exposed groups growth, drug resistance is another important cause of epidemiologic changes in tuberculosis occurrence. The tuberculosis bacillus is Mycobacterium tuberculosis. However, other bacterias infected the man and cause opportunity diseases in HIV patients. Generally, tuberculosis infection starts in lower lung parenchyma. The gold standard diagnostic is positive M.tuberculosis culture. However, this method presents temporal limitations, what has resulted in auxiliary methods use. In this review, we look forward to showing essential knowledge about tuberculosis, especially its epidemiology, microbiology, pathology, treatment and diagnosis what is important for healthcare professionals. Key-words: tuberculosis, M. tuberculosis, opportunistic infection, emerging disease. Artigo recebido em 20 de maio de 2004; aceito em 10 de junho de 2004. Endereço para correspondência: Rodrigo Grazinoli Garrido, Cx.Postal 74530, 238790-970 Seropédica RJ, E-mail: [email protected] # artigo 06 Rodrigo.pmd 152 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Resumen Actualización en Tuberculosis El Brasil es el país con mayor número de casos de tuberculosis en América Latina. Mundialmente, esta es la causa más frecuente de muerte entre las enfermedades infecciosas. Además del crecimiento de los grupos expuestos, la resistencia a las drogas antimicrobianas ha contribuido significativamente para las alteraciones epidemiológicas actualmente observadas. El bacilo de la tuberculosis es Mycobacterium tuberculosis. Sin embargo, otras bacterias infectan al hombre y actúan como oportunistas en pacientes inmunodeprimidos por el SIDA. La infección por el bacilo generalmente se inicia en el parénquima de los lobos pulmonares inferiores después de su inhalación. El padrón oro para su diagnóstico es el cultivo positivo de M. Tuberculosis. No obstante, limitaciones temporales han llevado a la utilización de métodos auxiliares. En esta revisión se pretende abordar algunos aspectos básicos sobre la tuberculosis, particularmente su epidemiología, microbiología, patología, tratamiento y diagnóstico para la práctica diaria de los profesionales de la salud. Palabras-clave: tuberculosis, M. tuberculosis, infecciones oportunistas, enfermedad emergente. Introdução O Brasil apresenta 129.000 novos casos de tuberculose por ano. É o país com maior número de casos na América Latina e ocupa posição preocupante no mundo, onde 2 milhões de pessoas morrem por ano e 8 milhões de novos casos são diagnosticados [1,2]. Estima-se que 1/3 da população mundial esteja infectada sendo esta a causa mais freqüente de morte entre as doenças infecciosas [2,3]. Após o advento de drogas eficazes para o tratamento da tuberculose durante as décadas de 1960 e 1970, a infecção entrou no esquecimento [4,5]. Entretanto, em 1995 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou esta patologia uma emergência em todo o planeta [4]. A celeridade no diagnóstico, estudos sobre custo/benefício, adesão ao tratamento, novas vacinas, novas estratégias pós-genoma, novos modelos explicativos para a doença são alguns dos desafios a serem ultrapassados [4]. Dessa forma, casos de tuberculose ainda permanecerão comuns em nosso dia-a-dia por algum tempo. E, seja no cuidado ambulatorial, no diagnóstico, em campanhas de vacinação ou na dispensa de medicamentos, fazem-se necessários conhecimentos multidisciplinares sobre esta doença. Nesta revisão, pretendemos facilitar a busca de informações sobre a tuberculose, sem a pretensão de exaurir o tema. Aspectos referentes a sua epidemiologia, microbiologia, patologia, tratamento e diagnóstico serão apresentados de forma a permitir ao profissional de saúde obter noções fundamentais para sua lida diária. Epidemiologia Dos novos casos de tuberculose que surgem anualmente no Brasil, apenas 65% são notificados pela rede de saúde [1]. Em uma classificação por Unidade da Federação, observou-se que, em ordem decrescente, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais eram os estados onde o maior número de casos de tuberculose foram notificados. Em termos de coeficiente de notificação esta ordem se altera para: Amazonas, Rio de Janeiro, Roraima e Acre [4]. Acredita-se que este problema não seja emergente e tampouco reemergente, mas sim, um problema presente e estabelecido há longo tempo [4]. A OMS assinala como principais causas para a gravidade atual da tuberculose a desigualdade social, o advento da AIDS, o envelhecimento da população e grandes movimentos migratórios [4]. Os fatores #! artigo 06 Rodrigo.pmd 153 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) de risco são o sexo, a raça, a idade, a escolaridade, a classe social e a presença de comorbidades [6]. O crescimento de grupos expostos, como imunossuprimidos, idosos, pacientes institucionalizados, moradores de rua, migrantes e crianças em berçários e escolas maternais são, sem dúvida, fatores que levaram ao aumento da incidência desta doença [3]. No caso de imunossuprimidos pelo HIV, além do risco aumentado de infecção exógena, há incremento na reativação da infecção latente que passa de 0,07 a 0,1 caso por 100 em soronegativos para 9,7 a 10,4 casos por 100 em soropositivos [7]. A resistência às drogas antimicrobianas é outra causa que leva a alterações importantes do comportamento epidemiológico da tuberculose. O problema da multirresistência às drogas agravou ainda mais a incidência que já vinha acometendo principalmente pacientes com AIDS. Em Nova Iorque, cerca de 1/3 dos casos da doença são produzidos por cepas multirresistentes e a letalidade entre eles varia de 40 a 60%, igualando-se àquelas para os casos não tratados [3]. Segundo a OMS, a menos que se adotem medidas urgentes, cerca de um bilhão de pessoas serão infectadas e 70 milhões morrerão até o ano de 2020 [4]. Com referência aos profissionais que atuam clinicamente com pacientes tuberculosos e a laboratoristas que manipulam a micobactéria, o risco de infecção é até três vezes maior e a taxa de conversão do teste tuberculínico chega a nove vezes a taxa encontrada para a população [6,8]. Os bacilos do gênero Mycobacterium são facilmente transmitidos através de aerossóis produzidos em laboratório, podendo sobreviver em esfregaços fixados pelo calor e serem nebulizados nas preparações de secções congeladas e durante a manipulação de culturas líquidas [8]. Na tosse, no espirro, no canto, na fala, na respiração do traqueostomizado, o paciente elimina gotículas com o microrganismo [6]. pelo ácido ou álcool sendo, portanto denominado bacilo álcool-ácido resistente [9]. Além do M. tuberculosis, acometem o homem um complexo de bacilos que encerram o M. bovis, M. africanum, M. microti e M. ulcerans [6]. Também, M. avium-intracellulare (MAC) e outras micobactérias atípicas, como M. kansasii, são freqüentemente isoladas de pacientes imunodeprimidos, atuando como oportunistas e, algumas vezes, infectando indivíduos imunocompetentes [5]. Nos Estados Unidos, o MAC é responsável pela infecção bacteriana mais comum em pacientes com sintomas da AIDS, aumentando o risco de infecção quando a contagem de linfócitos CD4 declina para <100/uL [9]. As paredes celulares dessas bactérias são ricas em lipídios, entre eles o ácido micólico um ácido graxo de cadeia longa, ceras e fosfolipídios. Este ácido graxo associado ao dipepitídeo muranil do pepitidioglicana pode provocar a formação de granuloma. A remoção de certos lipídios da parede celular destrói a resistência ao álcool-ácido. A complexa parede protege a bactéria da destruição por agentes químicos. Contudo não altera sua fácil destruição por agentes físicos como a calor e a radiação ultravioleta [6]. As cepas virulentas dos bacilos da tuberculose formam cordões serpentiformes, nos quais os bacilos se dispõem em cadeias paralelas. O fator de corda (dimicolato de 6,6-trealose) foi isolado de cepas virulentas. Este fator inibe a migração de leucócitos, provoca a formação de granulomas crônicos e pode atuar como adjuvante imunológico. Além disso, algumas proteínas estimulam a reação tuberculínica e podem induzir a formação de uma variedade de anticorpos. Outros fatores de virulência se devem à capacidade de produção de invasinas e da catalase-peroxidase que favorecem a penetração nos macrófagos e a resistência aos efeitos oxidativos promovidos por esta célula [6]. Microbiologia Imunologia O Mycobacterium tuberculosis é uma forma de transição entre eubactérias e os actinomicetos [6]. Este bacilo não forma esporos, não apresenta flagelos, não produz toxinas, além de ser intracelular facultativo e aeróbico. Seu período de geração e duplicação é muito longo, variando de 16 a 20 horas e de 18 a 48 horas respectivamente [6]. Uma vez corado com corantes básicos, resiste à descoloração A imunidade natural contra a tuberculose se dá através das barreiras físicas (pêlos nasais, angulação das vias aéreas), secreção traqueobranquial e clearence mucociliar que protegem contra os bacilos inaláveis, ou ainda pela defesa celular inespecífica (macrófagos e neutrófilos), eosinófilos e linfócitos T Natural Killer (NK). Entretanto, a diversidade de respostas inerentes aos indivíduos parece estar relacionada #" artigo 06 Rodrigo.pmd 154 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) com a velocidade com que cada hospedeiro é capaz de desenvolver a resistência adquirida [6]. A imunidade adquirida se desenvolve a partir da resposta humoral e celular. Uma vez que os anticorpos não têm capacidade de lisar e destruir o M. tuberculosis, a resposta humoral parece ter pouco valor no combate à tuberculose. Já a resposta celular, também chamada de reação de hipersensibilidade tipo IV, pois não dependente de anticorpos, oferece eficiente proteção contra o bacilo. Esta não se desenvolve plenamente na desnutrição, etilismo, silicose, diabetes mellitus, paracoccidiomicose, gastrectomia e, é claro, nas condições imunossupressoras por doenças ou drogas [6]. A interação do macrófago com a micobactéria se dá a partir da chegada desta aos pulmões. Haverá a tentativa de fagocitose, acompanhada pela ligação do microrganismo através de receptores de complemento CR1, CR2, CR3, bem como receptores manose, e outras moléculas de superfície celular como a proteína-A do surfactante, o CD-14 e os receptores scavenger [6]. Após a fagocitose, o bacilo estará sujeito à destruição pela formação do fagolisossoma e à liberação de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. É de essencial importância ação da enzima oxido nítrico sintase 2 do macrófago. Ela é induzida por interferon-gama (INF-γ) e pelo fator de necrose tumoral-γ (TNF-γ) e há produção de agentes anti-micobatérias a partir da L-arginina [10]. Contudo estratégias utilizadas pela bactéria para se evadir da ação destes radicais livres já são reconhecidas, contribuindo para a manutenção da infecção latente [10]. Mecanismos possíveis para a destruição resultam de uma série de interações ocorridas entre os linfócitos e os fagócitos do hospedeiro, mediadas por citocinas. Os linfócitos T CD4+ são os mais importantes efetores da imunidade mediada por células nessa patologia. Estes linfócitos expressam receptores celulares α/β que reconhecem o antígeno apresentado pelo MHC classe II (complexo principal de histocompatibilidade) de macrófagos. Eles amplificam a resposta imune do hospedeiro ativando células efetoras e recrutando mais células quando necessário [6]. O M. tuberculosis mostra-se capaz de atenuar o processamento do antígeno, interceptando a apresentação via MHC classe II e a resposta do linfócito T CD4+ [10]. Com a fagocitose da micobactéria, o macrófago secreta IL1 (Interleucina 1) e IL2, que sensibilizam o linfócito CD4+ Th1 e os linfócitos NK para secretarem INF-γ, o qual ativará os próprios macrófagos para produzirem mais espécies ativas de oxigênio e nitrogênio para o fagossoma, como já descrito [6]. Os linfócitos TCD8+ reconhecem os antígenos apresentados via MHC classe I, mostrando ação de citotoxidade direta na célula alvo [2]. Além disso, pela ação da IL12, secretada pelos macrófagos há estímulo da diferenciação de linfócitos T CD4+ helper Th1. A resposta Th1 consiste basicamente na produção de citocinas IL2 e interferon-gama, que se auxiliaram o macrófago, terminado pela formação do granuloma fibrosado [6]. A imunoprofilaxia é feita através da vacina BCG (Bacilo de Calmet Guerrin), preparada com variantes atenuadas do M. bovis. Esta vacina leva a uma resposta padrão Th1 ou hipersensibilidade tardia [6]. A resposta Th1 também é produzida pelas paredes celulares e pelo conteúdo celular das micobactérias em animais previamente sensibilizados [9]. A generalização da vacina leva à impossibilidade do uso do risco médio anual de infecção (RIMAI) para o levantamento epidemiológico da população que teve contato com o bacilo. Tanto a BCG, quanto a primo-infecção protegem o indivíduo, mas nem sempre evitam uma nova infecção [5]. Entre 20 e 40 dias após o controle da infecção, o linfócito T CD4+ começa a produzir IL4, ligada à resposta linfocitária do tipo Th2, com o objetivo de inibir os mecanismos efetores da resposta imune mediada por células e assim controlar o processo, auxiliando na resolução da inflamação [6]. Na evolução para doença, há uma resposta de predomínio Th2, onde a produção de IL4, IL5 e IL10 leva ao recrutamento de eosinófilos com produção de IgE, inibição dos linfócitos Th1 e NK, produzindo uma imunidade lesiva [6]. Assim a resposta imune na tuberculose deve ser considerada em relação à infecção latente (tuberculose infecção) e à infecção evolutiva (tuberculose doença). Enquanto na última a resposta é humoral e celular. Na primeira, os anticorpos séricos estão ausentes ou em títulos muito baixos, sendo positiva apenas a reação de hipersensibilidade retardada [5]. Patologia A infecção pelo M. tuberculosis geralmente se inicia no parênquima dos lobos pulmonares ## artigo 06 Rodrigo.pmd 155 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) inferiores após a inalação [11]. A partir desse ponto, duas evoluções são observadas: na primeira, ocorre o rápido encarceramento dos bacilos, resultando em uma lesão invisível ao radiograma torácico; na segunda, após uma broncopeneumonia inespecífica, há o encapsulamento das microbactérias, com formação do granuloma específico da doença (caseo), após cerca de quatro semanas. Esse estágio é associado à viragem do teste tuberculínico. A partir do foco pulmonar há disseminação linfática até o gânglio satélite, de onde haverá disseminação hematogênica para todo o organismo. No momento da disseminação hematogênica, o organismo, já com imunidade desenvolvida, impede o estabelecimento da tuberculose doença em 95% dos casos, encerrando a primoinfecção [6]. Em 5% dos casos, onde a primoinfecção não é contida, há liquefação do caseo e o desenvolvimento de doença com consolidação de uma pneumonia atípica ou ainda, com a formação de uma cavitação praticamente sem parede. Clinicamente, observa-se uma forma aguda grave, menos comum, e outra forma insidiosa e lenta, ambas durante os cinco primeiros anos após a primoinfecção, denominadas tuberculose primária. Na forma hematogênica, o caseo liquefeito alcança os vasos ocasionando grave disseminação miliar e aparecimento de formas extrapulmonares precoces, como nas serosas, e tardias, como a genito-urinária [6]. Os casos extrapulmonares são mais comuns em pacientes HIV positivos [7]. O derrame pleural é a segunda forma extrapulmonar mais freqüente de apresentação da tuberculose. Esta forma é induzida quando a micobactéria libera proteínas antigênicas na cavidade pleural, provocando reação de hipersensibilidade e o acúmulo de líquido na cavidade. No derrame pleural, a contagem de células T, principalmente CD4+, apresenta-se significativamente maior no líquido pleural do que no sangue periférico com liberação de grande quantidade de citocinas. O contrário se observa para os linfócitos B [2]. Outra possibilidade de desenvolvimento da doença é a chamada tuberculose secundária. Mais comum em adultos, corresponde a um crescimento lento do caseo, se apresentando com lesões cavitárias, ao mesmo tempo em que há fibrose reparativa. A origem está, na maioria das vezes, na reativação de um foco quiescente, resultante da disseminação linfo-hematogênica ocorrida durante a primoinfecção. Entretanto, pode ter origem exógena, a partir de uma nova contaminação. A reativação do foco se dá por uma pneumonia tuberculosa. Essa pneumonia tem características diferentes da broncopneumonia da tuberculose primária, correspondendo a uma condensação seca e granulomatosa que evolui para necrose de caseificação e progride para a doença. Ocorre drenagem do caseo para um brônquio pérvio, geralmente a drenagem dá lugar à caverna tuberculosa. A cavitação pode evoluir para a cura ou para complicações, como dilatação aneurismática dos ramos da artéria pulmonar ou fístula broncopleural. Apesar de incomum, pode haver disseminação hematogênica na tuberculose secundária [6]. Tratamento quimioterápico A partir de 1940, o início do uso de tuberculostáticos como a estreptomicina, o ácido para-amino-salicílico e a hidrazida levou à grande alteração na taxa de mortalidade por tuberculose. Após 1960, começa efetivamente a utilização de esquemas terapêuticos padronizados, inicialmente com 18 meses de estreptomicina, hidrazida e ácido para-amino-salicílico que, na mesma década, seria reduzido para 12 meses [4]. Em 1979, foi introduzido o esquema terapêutico de curta duração (6 meses) utilizando rifampicina no lugar da estreptomicina [4]. Atualmente, o esquema de tratamento divide-se em duas categorias. Com drogas de primeira linha que combinam o máximo de eficiência com um grau aceitável de toxicidade (isoniazida, rifampicina, etambutol, estreptominicina e pirazinamida) e com drogas de segunda linha (etionamida, ácido aminossalicílico, ciclosseroina, amicacina, canamicina e capreomicina) [5]. O esquema terapêutico mais utilizado consiste da associação de isoniazida, rifampicina e pirazinamida durante dois meses, seguida por mais quatro meses com apenas os dois primeiros. Após seis a nove meses há cura de 95% dos pacientes [1]. Situações como monoterapia, prescrição imprópria da associação ou falta de colaboração do paciente para o uso do esquema terapêutico podem levar ao surgimento de linhagens de M. tuberculosis resistentes a um ou mais fármacos, comuns em pacientes HIV positivos [1]. A resistência e a maior virulência de alguns agentes podem ainda estar relacionados à habilidade e versatilidade genética carregada por elementos extracromossomiais e #$ artigo 06 Rodrigo.pmd 156 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) transferida entre organismos por conjugação, transdução ou transformação, incrementando as mutações selecionadas por pressões evolutivas [3]. Com relação ao M. tuberculosis, as bases moleculares da resistência estão relacionadas ao envoltório altamente hidrofóbico, o efluxo de fármacos, a produção de enzimas hidrolíticas e modificadores de fármacos como a ß-lactamase e a aminoglicosídeos acetil transferases. Contudo geralmente a resistência se deve à mutação de genes envolvidos na tradução de sítios alvos de fármacos [1]. O estudo dos mecanismos de resistência tem se mostrado essencial para o desenvolvimento de esquemas terapêuticos e outras drogas eficientes no tratamento da tuberculose. A utilização de técnicas moleculares oferece grandes vantagens para o entendimento desses mecanismos e enorme contribuição para o controle da tuberculose [1]. Material e métodos No Brasil, cerca de 38,2% dos pacientes com idade acima de quinze anos são tratados sem exame de escarro ou com este exame negativo. No Rio de Janeiro, esse número chega a 43,6% [12]. As estratégias de controle se fixam no diagnóstico e tratamento mais rápidos, a fim de interromper a transmissão e evitar a difusão da doença, além da imunoprofilaxia com o uso da BCG [1,12]. Os métodos de imagem utilizados na avaliação da tuberculose pulmonar incluem a radiografia e a tomografia computadorizada do tórax. A radiografia do tórax é o método de escolha na avaliação inicial. A tomografia computadorizada é utilizada na suspeita clínica de tuberculose pulmonar, especialmente nos casos em que a radiografia inicial é normal, na diferenciação de outras doenças torácicas e em pacientes com AIDS ou com febre de origem desconhecida [13]. As imagens obtidas são representativas das alterações estruturais ou anatômicas dos órgãos ou tecidos comprometidos. No entanto, alterações bioquímicas podem estar presentes e preceder as alterações visualizadas por esses recursos diagnósticos. Assim, certos métodos utilizados na medicina nuclear fornecem imagens funcionais que podem ser mais sensíveis do que os anatômicos ou estruturais [13]. O diagnóstico sorológico seria de especial importância nos casos onde a baciloscopia encontra limitações e como teste de diagnóstico de triagem em áreas de elevada prevalência da doença [6]. Entretanto apesar de imunocomplexos serem encontrados nos pacientes, a detecção de IgG, IgM ou IgA e de antígenos micobacterianos ainda não está incorporada na prática clínica. Um dos motivos é a presença de estruturas antigênicas no M. tuberculosis, comuns a outras micobactérias não patogênicas. Assim, repetidos contatos ambientais resultariam em algum grau de sensibilização imune no homem. Outro entrave para o uso clínico dos testes sorológicos é o baixo rendimento em pacientes com HIV [6]. Outra possibilidade clássica da utilização da resposta imune para o diagnóstico é o teste tuberculínico. Este teste, isoladamente, indica apenas infecção e não basta para o diagnóstico da tuberculose doença. Além disso, o uso generalizado da vacinação leva à impossibilidade de valoração do teste tuberculínico em indivíduos que a receberam nos três anos anteriores ao teste [6]. O padrão-ouro para o diagnóstico da tuberculose é a cultura positiva do M. tuberculosis [14]. Contudo, pelo lento crescimento bacilar, as culturas somente permitem leitura após três a seis semanas de inoculação [6]. Técnicas radiométricas reduzem este período [1]. O diagnóstico de cepas resistentes se faz importante para pacientes com baciloscopia positiva que não se torna negativa após 3 meses de tratamento, para pacientes recidivos e nos pacientes com comorbidade AIDS/tuberculose. O isolamento do M. tuberculosis em meio com antibiótico é o método mais utilizado. Colônias sugestivas de micobactérias são examinadas pela técnica de Ziehl-Neelsen à procura de bastonetes álcool-ácido resistentes e submetidas a testes bioquímicos [15]. Além disso, a baciloscopia é rotineiramente feita a partir de amostras clínicas como o escarro e o lavado brônquico. Para que a baciloscopia direta seja positiva são necessários 104 bacilos por mililitro de material clínico [6]. Uma das mais promissoras técnicas para o diagnóstico rápido, sensível e específico da tuberculose é baseada na reação em cadeia da polimerase (PCR). Esta técnica pode identificar três cópias de genoma bacteriano por mililitro de amostra clínica em horas [16,17,18]. É importante chamar a atenção para o fato de que os pacientes com tuberculose prévia e/ou aqueles com co-infecção pelo HIV demonstram o #% artigo 06 Rodrigo.pmd 157 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) maior índice de exames PCR falso-positivos para tuberculose. Além disso, a interpretação dos resultados deve ser feita cuidadosamente, de acordo com o cenário epidemiológico existente [6]. O método bioquímico de avaliação da atividade da Adenosina desaminase (ADA) no líquido pleural, de realização prática, execução fácil e custo baixo, deve ser um exame auxiliar de grande importância no diagnóstico da tuberculose pleural. [6]. A grande maioria dos trabalhos foca o estudo da ADA no líquido pleural de pacientes acometidos de derrame nesta área [19,20]. No entanto, a atividade da ADA mostra-se aumentada em vários fluidos biológicos de pacientes com tuberculose [19,20]. Resultados falso-positivos da atividade da ADA ocorreram em pacientes com meningite bacteriana, criptocóccica, carcinomatose leptomeníngea, piotórax, linfoma, câncer de pulmão, mesotelioma pleural, artrite reumatóide e sarcoidose [6,123 9]. Além disso, há descrição de falso-negativos em estágios iniciais da tuberculose e em pacientes tuberculosos etilistas [19]. Dessa forma, baixos níveis de ADA não permitem excluir a tuberculose pleural, necessitando a avaliação conjunta de outros marcadores como o INF-γ, TNF-α e IL-8 para aumentar o valor do exame [19]. Conclusões 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 15. 16. 17. 18. 19. Referências 2. 4. 14. Visto ser a tuberculose uma emergência em todo o planeta, faz-se necessário a implementação de programas de controle da tuberculose em unidades de saúde. Seus profissionais devem buscar diariamente por casos confirmados ou suspeitos de tuberculose, além de intensificar e dar celeridade ao diagnóstico, de modo a manter a atenção integral aos pacientes ainda não conhecidos. Faz-se ainda necessário reduzir as taxas de abandono do tratamento e estabelecer, sob consentimento dos pacientes, a testagem anti-HIV conjunta. Além disso, as pesquisas de novas tecnologias de vacinas e novos modelos explicativos para a doença são alguns dos desafios a serem ultrapassados [4]. 1. 3. Rosseti MLR, Valim ARM, Silva MSN et al. Tuberculose resistente: revisão molecular. Rev Saúde Pública 2002;36;(4):525-32. Valdes L, Pose A, San Jose E et al. Tuberculous pleural effusions. Eur J Intern Med 2003;(14)77-88. 20. Barradas RCB. O desafio das Doenças Emergentes e a revolução da Epidemiologia Descritiva. 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K #& artigo 06 Rodrigo.pmd 158 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Revisão Ocorrência de tinea pedis em um grupo de idosos e fatores relacionados Larissa Chaves Pedreira, M.Sc.*, Rose Ana Rios David**, Cléa Marques Bittencourt***, Carine Jatobá, M.Sc.**** *Professora Assistente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBa), integrante do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre o Idoso NESPI, **Doutoranda, Professora Assistente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBa), especialista em Enfermagem Dermatológica, ***Professora Adjunta da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBa), integrante do NESPI, ****Discente da Escola de Enfermagem/UFBa, bolsista do NESPI Resumo Pesquisa quanti-qualitativa, com abordagem retrospectiva, através de consultas a prontuários dos idosos inscritos no PROASI, com o objetivo de identificar a incidência de tinea pedis em um grupo de idosos na comunidade de Narandiba. O estudo levou em consideração fatores associados, tais como: idade, dificuldade de locomoção, condições de moradia, higiene e grau de escolaridade. Os resultados apontaram para a significativa incidência de tinea pedis em idosos e que os fatores relacionados são aspectos que podem contribuir para a prevenção e tratamento dessas lesões. Palavras-chave: tinea pedis, idosos, PROASI. Abstract Occurrence of tinea pedis in a group of aged people and related factors Quantitative-qualitative survey with retrospective approach through consultation to records of aged people registered in the PROASI, with the objective of checking the incidence of tinea pedis in a group of aged people of Narandiba community. The study took into account associated factors: age, difficulty of locomotion, housing conditions, hygiene and educational level. The results pointed out a significant incidence of tinea pedis in aged people, and that related factors are aspects that can contribute to the prevention and treatment of these lesions. Key-words: tinea pedis, aged people, PROASI. Artigo recebido em 28 de maio de 2004; aceito em 11 de junho de 2004. Endereço para correspondência: Profa Rose Ana Rios David, Escola de Enfermagem da UFBA Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgico e Administração em Enfermagem, s/n, Campus Universitário do Canela 40110-060 Salvador BA, E-mail: [email protected] #' artigo 07 Larissa.pmd 159 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Resumen Ocurrencia de tinã pedis en un grupo de adultos mayores y los factores relacionados Investigación cuanti-cualitativa, con abordaje retrospectivo, a través de consultas a las historias clínicas de los adultos mayores inscritos en el PROASI, con el objetivo de identificar la incidencia de tiña pedis en un grupo de adultos mayores en la comunidad de Narandiba. El estudio llevó en consideración factores asociados tales como: Edad, dificultad de locomoción, condiciones de morada, higiene y grado de escolaridad. Los resultados apuntaron una significativa incidencia de tiña pedis en adultos mayores y que los factores relacionados son aspectos que pueden contribuir para la prevención y tratamiento de esas lesiones. Palabras claves: adulto mayor, tiña pedis, PROASI. Introdução O fenômeno do envelhecimento populacional não é um assunto novo. Países desenvolvidos como os EUA, Inglaterra e Suécia já convivem com isso há anos. No Brasil e em outros países em desenvolvimento, o contingente de idosos vêm aumentando rapidamente, requerendo urgentemente políticas nacionais que venham a lidar com as conseqüências econômicas, sociais e de saúde do envelhecimento populacional. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) [1], a percentagem de idosos alcançou 9,1% em 1999, sendo que de 1995 a 1999, o número de idosos aumentou em 1,8 milhão, e a região sudeste foi a que teve maior envelhecimento. De acordo com o estudo realizado em 2000, da população total de brasileiros estimada em 169.500.000 habitantes, em torno de 15,5 milhões tem 60 anos de idade ou mais. Contudo a queda da taxa de mortalidade e o aumento da expectativa de vida geram um aumento da morbidade, com a redução da capacidade funcional em todos os sentidos, e o aparecimento de doenças crônico-degenerativas, muitas vezes incapacitantes, o que, ao longo da velhice, podem gerar no idoso uma situação de dependência e muitas idas aos serviços de saúde. Em relação a isso, pode-se dizer que as doenças apresentadas pelos idosos constituem-se em demandas clínicas, de prevenção ou recuperação, apoiados em procedimentos diagnósticos e terapêuticos de alto e médio custo, que requerem profissionais competentes envolvidos e integrados, além da integração de atividades individuais e coletivas, curativas e preventivas, assistenciais e educativas [1]. Para isso, conforme os mesmos autores, a unidade básica deve conter, para um atendimento adequado às necessidades, uma alta capacidade resolutiva e, também, alta sensibilidade diagnóstica para atuar corretamente nas demandas primárias e, se necessário, propor encaminhamentos para a rede assistencial. Dessa forma, tornam-se necessárias medidas que venham prevenir, nessa população, a instalação de doenças e suas complicações, a fim de se oferecer uma boa qualidade de vida. O Projeto de Atenção à Saúde do Idoso (PROASI), vinculado ao Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre o Idoso (NESPI), da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia UFBA, e a Secretaria de Trabalho e Ação Social (SETRAS), tem como objetivo oferecer à comunidade idosa, um serviço de promoção à saúde, bem-estar e reintegração social, através de: consultas de enfermagem; palestras sobre prevenção e cuidados de saúde; atividades lúdicas que visem à integração; bingos; gincanas e festas comemorativas. Esses serviços são oferecidos há quase 10 anos, em vários Centros Sociais Urbanos (CSU) de Salvador. Em Narandiba, o projeto iniciou-se em maio de 2001. Hoje, conta com a participação de mais de 75 idosos, de classe social baixa com idade média entre 60 e 84 anos. O interesse na realização desse estudo surgiu durante as consultas de enfermagem, quando percebemos a grande incidência de tinea pedis nesta comunidade. $ artigo 07 Larissa.pmd 160 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Assim, esse trabalho teve como objetivo identificar a incidência de tinea pedis em um grupo de idosos na comunidade de Narandiba. O estudo levou em consideração fatores associados tais como: idade, dificuldade de locomoção, condições de moradia, higiene e grau de escolaridade. A tinea pedis em idosos: algumas considerações Os fungos sempre foram parte integral de nossas vidas. Eles podem ser úteis, como as leveduras e bolores que fazem parte da fabricação de antibióticos, ou perigosos, quando contaminam alimentos e os tornam inconvenientes para o consumo, podendo provocar também doenças em algumas situações. Aqueles que causam infecções em humanos geralmente são parasitas e pouco agressivos. No entanto se o indivíduo tem diminuição da sua imunidade, a doença pode tornar-se extremamente grave. Os fungos patogênicos para o ser humano são divididos em: causadores de micoses sistêmicas e causadores de micoses superficiais. As micoses superficiais são mais freqüentes e podem ser provocadas pelos dermatófitos, e as leveduras, por fungos não dermatófitos [2]. Os dermatófitos, de acordo com Sittart e Pires [3], são fungos causadores de micoses superficiais conhecidas como dermatofitoses. São divididos em três gêneros principais: Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. As dermatofitoses são classificadas, pelas regiões do corpo acometidas em: tinea pedis, tinea capitis, tinea unguium, tinea cruris e tinea corporis. A tinea pedis é uma micose de alta incidência em nosso meio podendo ocorrer sob a forma de lesões interdigitais, com descamação, maceração, fissuração e prurido variável. As formas clínicas mais comuns são: interdigital, plantar descamativa crônica e vesicular. Sua ocorrência é muito comum, exacerbando no verão ou nos meses quentes, sendo a forma vesiculosa, a que pode evoluir para infecções secundárias bacterianas, formando bolhas e pústulas nas pontas dos pés. Já a forma descamativa crônica, mocassim, não provoca tantos sintomas sendo comumente associada a oncomicose [4]. A tinea interdigital, pela sua alta incidência na população de idosos atendidos no Projeto, despertou o interesse por esse estudo. É denominada no senso comum como pé de atleta ou frieira. De todas as dermatofitoses é a mais freqüente estimando-se ocorrer em 10 a 15% da população [5]. Na nossa população de estudo, a incidência chega a 30% de um grupo de 75 idosos. Caracteriza-se por lesões eritêmatodescamativas, freqüentemente associada à maceração da pele. Placas ceratóticas brancas e fissuras estão eventualmente presentes. O terceiro e o quarto espaço interdigital são os mais acometidos. O prurido está presente em maior ou menor grau, dependendo da imunidade do paciente e do agente causador [4]. Certamente os hábitos de vida atuais nos meios cosmopolitas contribuem para alterações ecológicas nos pés, favorecendo a proliferação de fungos. A sudorese excessiva (aumento da umidade da pele); uso de antibióticos, citostáticos e corticostéroides; SIDA; utilização de roupas de fibra sintética que aumentam a produção de suor, assim como sapatos de materiais sintéticos como a borracha, plástico e sapatos que lesam a pele são, entre outros, alguns dos fatores de risco. Trabalhadores do meio rural também desenvolvem atividades de risco para a infestação por fungos. Esses indivíduos, pelas suas condições de vida e trabalho, costumam andar descalços, ferindo-se constantemente nos pés, o que facilita a entrada de fungos. Como vivem em contato íntimo com o reino vegetal, o grande habitat dos fungos, eles têm maior chances de adquirir essa doença. Pessoas que ficam com os pés úmidos por longos períodos, como nadadores, salva-vidas e professores de natação, também são propensos ao desenvolvimento da tinea dos pés. Outro fator também destacado como de risco é a promiscuidade e segregação: compartilhar roupas e calçados não é incomum, principalmente em famílias de baixa renda, o que facilita a disseminação da tinea. Lesões preexistentes como a presença de eczema e ictiose facilitam a instalação das dermatomicoses, assim como as alterações metabólicas gerais: várias doenças são acompanhadas de predisposição para micoses, tais como diabetes melito, neoplasias e AIDS. Observa-se assim, que muitos dos fatores citados como de risco, estão presentes nos idosos, o que eleva o risco da tinea pedis neste grupo, sendo necessário a prevenção e o diagnóstico precoce, para que se institua o cuidado adequado. $ artigo 07 Larissa.pmd 161 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Material e métodos Pesquisa quanti-qualitativa, com abordagem retrospectiva, através de consultas aos prontuários dos idosos inscritos no PROASI. Fizeram parte do trabalho 22 idosos de um universo de 74, matriculados no PROASI do CSU de Narandiba. Os participantes do estudo assinaram um termo de consentimento esclarecido para utilização dos seus dados do prontuário para fins científicos de acordo com a Resolução 196/96 MS [6]. Outros dados para o estudo foram colhidos através dos prontuários preenchidos durante as consultas de enfer magem. Assim foram considerados os fatores relacionados à ocorrência de tinea, como variáveis dependentes. As variáveis dependentes deste estudo foram: Renda referindo-se à renda salarial mensal do idoso; Condições de moradia referindo-se ao tipo de instalação sanitária, rede de esgoto, pavimentação, característica da residência e tipo de construção; Condições de higiene levando-se em consideração a apresentação e higiene pessoal do idoso; Locomoção refere-se ao grau de dependência para auto-satisfazer sua higiene pessoal; Doenças associadas são as patologias sistêmicas que afetam a maioria dos idosos e que contribuem para a redução da imunidade, aumento do grau de dependência e diminuição do autocuidado pelas seqüelas e alterações físicas; Escolaridade contribui para a classificação o nível de compreensão das informações recebidas. As avaliações e acompanhamento das lesões foram realizados durante as consultas de enfermagem no Centro de Saúde de Narandiba. A identificação das lesões foi feita através do exame físico pela história clínica e inspeção direta dos pés dos idosos. As lesões não foram fotografadas. Os dados coletados foram tabulados e interpretados de forma qualitativa e estatística, sendo analisados a partir da sua freqüência. Resultados e discussão Incidência de tinea pedis na população inscrita no PROASI de Narandiba: Total de idosos inscritos 74 100% Total de idosos com tinea pedis 22 29,7% Renda mensal A população do estudo foi constituída basicamente por pessoas carentes. Utilizando o salário mínimo vigente no país como parâmetro de classificação da renda familiar dos idosos encontramos idosos com a renda mensal abaixo de um salário mínimo. A ocorrência de tinea pedis foi predominante nos idosos com renda de 1 salário mínimo, conforme pode ser identificado na tabela 1. Gráfico 1 - Renda mensal dos idosos. A relação entre a ocorrência de tinea e a renda mensal de 1 salário mínimo, provavelmente ocorre pelo fato de que grande parte dos idosos atendidos recebe a aposentadoria e uma minoria tem renda abaixo deste valor. Apesar dessa renda, na entrevista social, detectamos que a maioria contribui como a principal fonte econômica para o sustento da família. Por conta da situação de desemprego, muitos idosos têm a sua aposentadoria como a única fonte de renda da casa, sustentando filhos e algumas vezes netos, sobrando pouco para investir em cuidados higiênicos, calçados adequados, compra de medicamentos entre outros. Condições de moradia As condições de moradia são precárias. Os idosos do projeto residem em bairros suburbanos, onde as condições de saneamento básico são deficientes. As moradias foram classificadas como: deficientes, aquelas em que, nas ruas, não existe coleta de lixo, calçamento, rede de esgoto e, nas casas, o piso não é revestido. Esses fatores contribuem para a umidade e proliferação de fungos e bolores nas residências. $ artigo 07 Larissa.pmd 162 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) O gráfico demonstra que uma grande parte dos idosos reside em condições de precárias de saneamento básico. Gráfico 2 - Condições de moradia. idoso torne-se mais dependente, inclusive no que se refere ao autocuidado. Assim as condições de locomoção foram avaliadas de acordo com os seguintes parâmetros: andar com equilíbrio, não ter dificuldades para levantar-se, abaixar-se, subir e descer escadas independente em relação ao autocuidado; ter dificuldades para andar, levantar-se, abaixar-se, subir e descer escadas dependente em relação ao autocuidado. Gráfico 4 - Locomoção. Condições de higiene Secundária às condições de moradia, deficiência do autocuidado, baixa renda e condições de vida e trabalho também foram observados como fatores importantes presentes nesta população, favorecendo à proliferação do fungo. Assim costumam andar descalços, ferindo constantemente os pés, andando em ambientes úmidos e como grande parte passa o dia no Centro em atividades, muitas vezes molham os pés ou sapatos na rua, outros apresentam suor, e mantém o calçado, o que só vem a favorecer o ambiente para a entrada de fungos, a falta de informações sobre hábitos higiênicos por alguns, é outro fator agravante. Classificada como precária e satisfatória tivemos os seguintes dados: Doenças associadas Classificamos as principais patologias que foram identificadas através da consultas de enfermagem e dos dados colhidos nas entrevistas durante as mesmas, porém, devemos levar em consideração que em muitos casos, o paciente não sabe informar sobre as patologias das quais são afetados, e nossa possibilidade de detecção das mesmas são restritas devido à própria deficiência do nosso sistema de saúde pública. Gráfico 3 - Condições de higiene. Observa-se também que em alguns idosos, as condições de higiene estão intimamente relacionadas às dificuldades do autocuidado, por conta do envelhecimento que pode promover alterações do equilíbrio, postura, diminuição da flexibilidade, alterações cognitivas e sensoriais. Condições de locomoção Consideramos este item como relevante, devido a grande incidência de artrose nesta população e pela própria dificuldade de locomoção própria da idade avançada, o que faz com que o Observa-se que entre as doenças associadas mais presentes estão: insuficiência vascular, hipertensão, diabetes e artroses. Em relação à insuficiência vascular, sabe-se que o envelhecimento pode acarretar alterações nos vasos, podendo acarretar espessamento e enrijecimento da parede destes, que juntamente com a diminuição do tônus vascular, compromete a $! artigo 07 Larissa.pmd 163 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) circulação dos membros inferiores [7]. Adiante será obser vado que todas as outras patologias encontradas comprometem também, de alguma forma, a vascularização periférica. É importante considerar que, problemas cardíacos e entre eles a hipertensão arterial estão intimamente ligados a algumas complicações vasculares como tromboses e edemas, causando redução do fluxo nos membros, tornando-os susceptíveis a ruturas, lesões ou infecções [8]. No que se refere a diabetes, Probs e Kelley [9] observam que, no idoso, a redução da sensibilidade à insulina, juntamente com o controle reduzido desta pelo sistema hepático, a obesidade e o sedentarismo aumentam a chances do idoso ser portador desta patologia. Assim o diabetes tem como uma de suas principais complicações as alterações vasculares como as vasculopatias periféricas, devendo o pé destes pacientes serem examinados com freqüência na busca de alterações. Conclusões O exame físico dos pés é imprescindível no protocolo do exame físico dos idosos. A enfermagem pode orientar e estimular a adoção de algumas medidas básicas para a prevenção dessas lesões, assim como o diagnóstico precoce da tinea prevenindo infecções secundárias. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Consideramos que é possível identificar infestações fúngicas em idosos nas consultas de enfermagem e a melhoria no padrão de vida e higiene da população em estudo poderia contribuir para a redução desta lesão. 8. 9. Coelho Filho JM, Ramos LR. Epidemiologia do envelhecimento no Nordeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Rev Saúde Pública 1999;33(5). Sittart JAS, Pires MC. Micologia em dermatologia. São Paulo: Lemos; [s.d]. Sittart JAS, Pires MC. Dermatoses: fatores de risco. São Paulo: Lemos; [s.d]. Reis VMS. Estudos clínicos em micoses superficiais. São Paulo. Libs; [s.d] Dawber R, Bristow I, Money J. The foot: Problems in podiatry and dermatology. United Kingdom; 1996 Brasil, Ministério da Saúde. 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K $" artigo 07 Larissa.pmd 164 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Revisão O cuidado de enfermagem e as ciências que nele incidem Maria Aparecida de Luca Nascimento, D.Sc.* *Orientadora acadêmica do Programa de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Coordenadora no Núcleo de Pesquisa e Experimentação em Estudos sobre a Saúde da Mulher e da Criança do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da UNIRIO Resumo Reflexão teórico-filosófica que enfoca o cuidado de enfermagem prestado diretamente ao cliente, com o objetivo de traçar um paralelismo existente entre ele e as diversas disciplinas que nele incidem. Após mencionar as várias concepções de cuidado, nos detemos no cuidado direto de enfermagem, entendendo-o como aquele praticado no cliente, através dos procedimentos técnicos que caracterizam esta profissão, enfatizando os aspectos filosóficos e educativos que os permeiam, à luz de Hegel e Rubem Alves, respectivamente. São mencionados alguns artigos da autoria ou co-autoria deste estudo, com o objetivo de demonstrar que durante a prática assistencial de enfermagem são utilizadas as mais diversas ciências (físicas, matemáticas, biológicas e sociais). Conclui-se que o cuidado direto de enfermagem prestado ao cliente realiza-se a partir de um conjunto de ações técnicas que são desenvolvidas com arte e subsidiadas por conhecimentos de diversas ciências. Palavras-chave: cuidado direto, assistência de enfermagem, ciências. Abstract The nursing direct care and the sciences which occurs on it The philosophical theoretic study which stabilizes itself into the direct nursing care that is given to the client to delineate an existing parallel between it and the varied disciplines which takes place on it. After mentioning this several care conceptions, the author stops herself in the nursing direct care by extending it as that one, which is practiced with the client, through the technical procedures that distinguish this profession by emphasizing the philosophical and educational aspects that, permeates the light of Hegel and Rubem Alves, respectively. Some articles are mentioned by the author or the co-author from this study with the aim of showing that during the practice of attendance the most varied sciences are used (physics, mathematics, biological and social). The conclusion is that the nursing direct care which is given to the client happens from a group of technical actions subsided by a scientific knowledge that are developed with art. Key-words: direct care, nursing attendance, science. Artigo recebido em 1 de junho de 2004; aceito em 15 de junho de 2004. Endereço para correspondência: Maria Aparecida de Luca Nascimento, Av. Marechal Rondon 300, bloco 2, apto. 310 São Francisco Xavier 20950-000 Rio de Janeiro RJ, Tel (21) 2574-9149 / (21) 96170868 / Telefax: (21) 2542-6498, E-mail: [email protected] $# artigo 08 Maria.pmd 165 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Resumen El cuidado correcto de la enfermería y las ciencias en donde ella incide Estudio teórico filosófico que se basa en el cuidado de la Enfermería directamente otorgado al cliente, para plantear un paralelo existente entre ella y las diversas disciplinas que ella incide. Después de mencionar varias concepciones de cuidado, la autora se detiene en el cuidado correcto de la Enfermería, entendiéndolo como aquel practicado al cliente a través de los procedimientos técnicos que caracterizan esta profesión, enfatizando los aspectos filosóficos y educativos que son permeables a estos, a la luz de Hegel y Rubem Alves, respectivamente. Son mencionados algunos artículos de la autoría o coautoría de la autora de este estudio, como objetivo de demostrar que durante la practica asistencial son utilizadas las más diversas ciencias, (físicas, matemáticas, biológicas y sociales). Se concluye que el cuidado correcto de la enfermería otorgada al cliente, se realiza a partir de un conjunto de acciones técnicas subsidiadas de conocimiento científico y desarrolladas con arte. Palabras-claves: cuidado correcto, enfermería asistencial, ciencias. Introdução O cuidar, de um modo geral, tem merecido a atenção das mais diversas profissões. Observa-se que este tem sido o tema de muitas publicações, palestras, e responsável por muitas decisões políticas importantes, haja vista a preocupação com o meio ambiente e com as nossas riquezas, animais e vegetais. Cuidar de pessoas, no entanto, constitui-se em um atributo dos profissionais da área de saúde em geral. Porém para a enfermagem este atributo é genuíno e peculiar, constituindo-se na razão existencial dessa profissão [1]. O cuidar em enfermagem se concretiza através das ações de enfermagem, que apesar de poderem ser alocadas nos diversos campos de atuação desta profissão (assistência, ensino e pesquisa), neste estudo serão enfocadas somente a partir do ato direto observado durante a assistência ao cliente. A sistematização da assistência de enfermagem surgiu nos Estados Unidos no início do século XX. Segundo Almeida [2], esta sistematização foi possível através dos procedimentos técnicos de enfermagem, o que legitimou a estruturação do saber desta profissão. Deste modo, observa-se que a herança profissional da enfer magem está diretamente ligada às técnicas de enfermagem. Os procedimentos técnicos permitem a sistematização da assistência, através do estabelecimento de critérios e prioridades no atendimento, exigindo do profissional, entre outros atributos, rapidez, tirocínio, bom senso e conhecimento teórico-prático, ações que determinam o saber cuidar, de forma prática e racional, que não deve ser confundida com a racionalidade desprovida de sensibilidade, aquela mesma que determina a ação de cuidar a partir, muitas vezes, de uma comunicação não verbal. No entanto, o fazer em enfermagem tem sido foco de poucos estudos e publicações, em detrimento de outros enfoques de igual valor, porém que não a legitimam como profissão socialmente instituída, pois o produto social da enfermagem é o cuidado. Em outras palavras, é a visualização do cuidado a partir do bem-estar que ele produz em um ser humano. O cuidado de enfer magem prestado diretamente ao cliente permite a correlação de diversas teorias à sua prática. No entanto, essa observação, muitas vezes, fica relegada a um segundo plano, o que pode ser atribuído ao fato de não termos ainda, como grupo profissional cientificamente novo, o reconhecimento social de outras profissões organizadas há muito mais tempo. Deste modo, ao nos distanciarmos do cuidado direto, que deve ser dispensado pessoal e diferenciadamente a cada indivíduo, e que é função precípua da enfermagem, nos diluímos entre outras profissões e nos descaracterizamos como grupo profissional, sem nos apercebermos, segundo $$ artigo 08 Maria.pmd 166 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) Nascimento [3], que é o fazer quem determina, através da sua prática, a evolução e/ou adaptação de conceitos relativos ao ato de cuidar. A indissociabilidade das ciências Cuidar de um ser humano em qualquer situação em especial, em desequilíbrio, não é tarefa das mais simples. Fato que se complica a partir da sua faixa etária, social, cultural e econômica. A ação de cuidar é familiar ao profissional de enfermagem, contudo, Alves apud Hegel [4], reportando-se à filosofia, diz que tudo aquilo que é conhecido com familiaridade, exatamente por ser familiar, não é conhecido, pois os pressupostos são aceitos comumente sem exame. Ainda segundo o mesmo autor; ...no momento em que lançamos mão de questionamentos que possam explicar a nossa prática cotidiana, o mundo fixo e estável do familiar se põe a dançar. Deste modo, os cuidados de enfermagem, característica específica desta profissão, a meu ver, ao serem visualizados através da perspectiva filosófica, reflexiva, poderiam dar a essa profissão o seu verdadeiro e justo destaque social. Na medida em que desenvolvemos a nossa prática profissional de acordo com um perfil reflexivo, e não meramente como um reprodutor de ações, podemos observar a quantidade de aspectos interdisciplinares que os compõem, fato que contribui para o desenvolvimento de adaptações e modificações no ato de cuidar, gerando em quem cuida, motivação e interesse, e em quem é submetido ao cuidado, segurança e confiabilidade, legitimando deste modo a dimensão científica do cuidado de enfermagem. Tendo em vista o caráter analítico de que se reveste o presente estudo, considerando o aspecto ético que o tangencia, passamos a apresentar as correlações interdisciplinares existentes em determinadas produções acadêmicas de nossa própria autoria ou co-autoria. Note-se neste ponto, as relações entre as várias disciplinas que atuam diretamente no cuidado de enfermagem direto prestado ao cliente, demonstrando que o cuidado é complexo, transcendendo ao limite de uma única ciência, corroborando o que Japiassu [5] cita em seus estudos, ..não há ciência em geral, mas sistemas de conhecimentos específicos, em evolução e apropriados a seus objetos. Deste modo, as várias ciências que interferem no ato de cuidar em enfermagem, aqui representados a partir do cuidado direto ao cliente, demonstram que a apropriação de diversas disciplinas, antes de se constituírem específicas de cada profissão, legitimaas como próprias, também, da enfermagem, especificamente no que concerne ao seu ponto de tangência interferente na ação de cuidar. O conhecimento interdisciplinar necessário ao saber cuidar em enfermagem Segundo Choudhuri [6], a questão da interdisciplinaridade no domínio do ensino é velha como o mundo, exigindo como objetivo do ensino em geral, a liberação do ser humano. Deste modo, como restringir a um único ponto toda a dimensão do cuidado de enfermagem? Ainda com relação à interdisciplinaridade, Alves [4] ao se reportar ao campo das ciências humanas, comenta que as questões realmente importantes nesta área são extremamente complicadas, pois não há como entender o processo educacional na sua totalidade se não levarmos em conta fatores de ordem biológica, pois criança com fome, doente e marcada por fatores hereditários adversos não pode aprender bem. Reportando-nos à enfermagem, esta complexidade também pode ser percebida, pois como entender o cuidado de enfermagem prestado a um ser humano, ignorando todas as interferências que, objetiva ou subjetivamente interferem neste cuidado, advindas das mais diversas áreas do conhecimento? Deste modo, são apresentados a seguir, através de seus títulos, algumas produções acadêmicas de enfermagem das quais participei, com ênfase nos seus respectivos referenciais interdisciplinares: A síndrome da criança como o membro superior imobilizado para infusão venosa Descrita por Nascimento [7] - dentre as várias disciplinas utilizados para respaldar este estudo destacam-se as ciências biológicas, a fisiologia e a anatomia. No entanto, outras áreas colaboraram para a elucidação do fenômeno pesquisado. Apesar da ação supracitada referir-se a um procedimento da enfermagem, qual seja, aquele de imobilizar o membro superior de uma criança para ser submetida à infusão venosa, observou-se que $% artigo 08 Maria.pmd 167 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) as ciências jurídicas, a física (3ª Lei de Newton biomecânica [8]), a psicomotricidade, e a psicologia interferiam neste cuidado de enfer magem, demonstrando que novas formas de cuidar deveriam ser propostas a partir deste estudo. A arte de Leonardo da Vinci subsidiando a ciência e o ideal do cuidado de enfermagem Este estudo, de autoria de Nascimento et al. [9], partiu de um estudo anterior dos mesmos autores, e que versava sobre a inadequação da postura dos profissionais da equipe de enfermagem para efetuar a transferência de soluções do seu frasco para o equipo de microgotas. Ao estudar a referida postura, os autores, durante o processo de pesquisa para este citado estudo, denominado Preenchendo o nível do microgotas A ciência exata subsidiando um cuidado de enfermagem [10], observaram que Leonardo da Vinci, através da sua obra O homem vitruviano fornecia importantes dados para que o objeto de estudo fosse levado a efeito, porém, a inadequação da postura, neste estudo, foi subsidiada por uma equação matemática. Posteriormente, o estudo em epígrafe, foi desenvolvido à luz da obra citada, onde se enfatiza quais são os pontos máximos de elevação dos membros para a manutenção da harmonia corporal, tendo em vista aspectos relativos à matemática, arte e ciência. Banho no leito - Conceitos e preconceitos A ciência subsidiando um cuidado de enfermagem Neste estudo, realizado por Lima [11], observouse através de monitores, durante o banho no leito de pacientes críticos, que a extração venosa mista de oxigênio não variava a níveis significantes, fato que negou a idéia previamente lançada por outros profissionais da equipe de saúde, que esta prática seria prejudicial ao cliente, numa clara menção pejorativa a este cuidado de enfermagem tão importante e essencial para o ser humano. Respaldaram-no a fisiologia humana, e a física, em especial a calorimetria. característica diferentes, imersos em uma bacia de água exposta em um CTI, que a variação da sua temperatura vai de 37º C a níveis inferiores a 34º C. Deste modo, é proposta, através deste resultado, uma revisão na atual adaptação do procedimento técnico do banho no leito, verificada atualmente, qual seja aquela na qual a água é lançada diretamente na pele do paciente, em detrimento da antiga técnica que preconizava a utilização de compressas úmidas com esta finalidade. Para que esta proposta fosse lançada, foram utilizados referenciais relativos à fisiologia humana, especialmente no ponto que trata das perdas calóricas, interferindo no processo respiratório do paciente crítico, quando, como resposta imediata podem ser visualizados seus tremores. Aplicando a semiologia em quem aprende a cuidar - Os efeitos da imobilização em postura Neste estudo, que trata das reações dos graduandos de enfermagem à imobilização do membro superior, Nascimento et al. [13] constataram que o referido procedimento, sendo realizado de forma a hiperextendê-lo, produz sensações que até então eles não haviam se detido a pensar. Além das ciências biológicas, aspectos relativos à psicomotricidade e à psicologia são contemplados. Quando a empatia durante o ato de cuidar em enfermagem produz uma tecnologia - Descrevendo um artefato para a realização da técnica do shampoo em pacientes acamados A partir da empatia durante o banho no leito de um familiar acamado, e que solicitava, face ao calor que fazia, que lhe lavassem a cabeça com água corrente, Nascimento et al. [14] conceberam um artefato que possibilita que a técnica do shampoo seja realizada várias vezes durante o dia. Neste estudo evidencia-se que a ciência do cuidado, acoplada à criatividade, produziu uma tecnologia, cujo pedido de privilégio encontra-se depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o número 003786 de 22/04/2003. Resgatando e inovando visões de uma técnica de enfermagem: a calorimetria e seus efeitos no banho no leito Conclusões Este estudo experimental, proposto por Lima [12] demonstra, através de 3 termômetros com Segundo o acima exposto, podemos visualizar a enfermagem a partir de um conjunto de ações $& artigo 08 Maria.pmd 168 02/07/04, 19:16 Enfermagem Brasil Maio / Junho 2004;3(3) técnicas subsidiadas de conhecimento científico e desenvolvidas com arte. Arte, por definição, entre outras, do Dicionário da Academia Brasileira de Letras [15], é o ato de utilizar um conjunto de preceitos para a perfeita execução de qualquer coisa, execução prática de uma idéia, ou ainda, perícia em usar os meios para atingir um resultado. Deste modo, a visualização da Enfermagem como arte, difundida através das suas técnicas, não anula a sua associação à ciência, pois, ao lançar mão de um conjunto de preceitos científicos para o seu desenvolvimento, estaria conferindo ao cuidar uma característica ampla e inconfundível [3]. Vale ressaltar também neste ponto, os ajustes que normalmente precisam ser realizados nos procedimentos técnicos de enfermagem, haja vista a sua característica dinâmica. Porém a observância dos aspectos científicos que os permeiam há de ser tal, de modo a distinguila como sendo aquela profissão onde o menor cuidado deve ser provido da maior atenção, em prol da manutenção da dignidade do ser humano que está sendo o alvo do nosso cuidado. Sendo assim, o cuidar em enfermagem, entendendo-o como uma prática interdisciplinar, nos reporta ao pensamento de Alves [4], Todo o conhecimento se situa sobre um tabuleiro de xadrez. Há uma confrontação em jogo. Não há observadores. Querendo ou não, somos peças que são manipuladas e, ao mesmo tempo, peças que querem influenciar o desenrolar da partida. Não pode haver, portanto, definição abstrata de problemas. Os problemas são aqueles da situação estratégica em que nos encontramos colocados. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Referências 1. 2. Waldow VR et al. Maneiras de cuidar, maneiras de ensinar A Enfermagem entre a escola e a prática 15. profissional. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. 203 p. Almeida MCP, Rocha J. O saber da enfermagem e sua correlação teórico- prática. São Paulo: Cortez; 1986. 127 p. Nascimento MAL, Souza EF. Da ciência e arte na enfermagem à tecnologia e industrialização. Rio de Janeiro: Revista Enfermagem UERJ 1996. p. 119-121. Alves R. Conversas com quem gosta de ensinar. 2a ed. Campinas: Papirus; 2000. 135p. Japiassu H. Introdução ao pensamento epistemológico. 7a ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves; 1992. 199 p. Choudhuri IN. Pesquisa e prática interdisciplinar na alfabetização. 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Lima DVM, Nascimento MAL. Resgatando e inovando visões de uma técnica de enfermagem: a calorimetria e seus efeitos no banho no leito. Enfermagem Brasil 2004;3(1):19-23. Nascimento MAL, Antunes JCP, Dantas RDS, Costa MM. Aplicando a semiologia em quem aprende a cuidar Os efeitos da imobilização em postura funcional. Enfermagem Brasil 2003;2(1):30-4. Nascimento MAL, Cardoso RF, Junior RG. Quando a empatia durante o ato de cuidar em enfermagem produz uma tecnologia. Enfermagem Brasil 2003;3(2):96-100. Nascentes A. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Bloch; 1988. 667 p. K $' artigo 08 Maria.pmd 169 02/07/04, 19:16 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2004;3(3) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), http:// www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8.Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. % Normas de publicação + Eventos.pmd 170 02/07/04, 19:16 EnfermagemBrasil Maio / Junho 2004;3(3) 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3.Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986 Capítulo ou parte de livro: Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78. Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] % Normas de publicação + Eventos.pmd 171 02/07/04, 19:16 Calendário de eventos 2004 2 e 3 de julho III Simpósio da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Oftalmologia Centro de Convenções de Ribeirão Preto SP Informações: (17) 235-7014 www.cenacon.com.br Julho III Congresso Internacional de Urgência, Emergência e Medicina Intensiva Havana Cuba Informações: (11) 3257-4386 22 a 25 de setembro 6º Congresso Brasileiro de Dor Florianópolis SC Informações: (41) 3029-9824 www.dor.org.br 9 e 10 de julho VIII ENCENF Rio Hotel Glória Rio de Janeiro RJ Informações: (11) 3341-4044 www.encenf.com.br Outubro 31 de julho a 2 de agosto IV Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar III Curso de Implantes e Equipamentos em Ortopedia, Bucomaxilo, Cirurgia Plástica e Neurocirurgia Centro de Convenções Rebouças SP Informações: SOBECC (11) 3341-4044 www.sobecc.org.br 5 a 8 de outubro XII Conferência Bienal do Grupo de Trabalho dos Enfermeiros Investigadores Europeus Lisboa Portugal Informações: (11) 3259-7874 www.astreaturismo.com.br Agosto 11, 12 e 13 de agosto II Simpósio Maranhense de Esterilização e Centro Cirúrgico Praia Mar Hotel São Luís MA Informações: (98) 253-6835 [email protected] 18 a 21 de agosto 1º Congresso Brasileiro de Enfermagem em Infectologia Santos SP Informações: (11) 3721-9333 www.ellusaude.com.br 11 a 15 de outubro de 2004 7º CBCENF - Conselho Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem Fortaleza CE Informações: 0800-2800065 www.cbcenf.com.br 14 e 15 outubro II Congresso Internacional de Enfermagem em Dermatologia Informações: (11) 3726-4420 www.ellusaude.com.br 28 a 30 de outubro 5º Congreso Nacional de la AEC Enfermería Comunitaria La Medida del Cuidado Balneario de Archena Murcia Informações: [email protected] www.enfermeriacomunitaria.org 30 de agosto a 3 de setembro IX Congresso Brasileiro de Controle de Infecção de Epidemiologia Hospitalar Salvador BA Informações: (71) 341-3024 www. Controledeinfeccao.com.br Informações: (11) 3257-4386 Setembro 19 a 22 de setembro I Congresso Internacional de Enfermagem em Emergência e Medicina Crítica Normas de publicação + Eventos.pmd 172 2005 Janeiro 25 a 27 de janeiro OHS 2005 International Conference on Occupational Health Services Marina Congress Center Finland Informações: +358 9 4747-2910 www.ttl.fi/osh2005 02/07/04, 19:16 EnfermagemBrasil Julho / Agosto 2004;3(4) Índice Volume 3 número 4 - Julho / Agosto de 2004 EDITORIAL Das amas de leite ao home care história e atitude na assistência de enfermagem, Os Editores ................................................................................................................................................................... 175 A RTIGOS ORIGINAIS Conhecimento sobre papiloma vírus humano (HPV) entre universitários de áreas distintas, Evellyn Fiorezi, Danielle Capalbo, Maria Lúcia A. S. Costa ................................................................................ 176 Cuidados paliativos uma nova abordagem de cuidado, Juliana Balbinot Reis Girondi .................... 183 Exame nacional de cursos e ideologia estudantil: confronto ou adesão? Luciano Garcia Lourenção, Cláudia Bernardi Cesarino, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, Maria de Fátima Farinha Martins Furlan ............................................................................................................................................................... 188 Habilidades da enfermagem e conceitos para o cuidado de pacientes terminais em um hospital particular da Região Nordeste do Rio Grande do Sul, Sandra Lúcia Radaelli, Pedro de Abreu Gaspar .......................................................................................................................................................... 194 R EVISÕES Cuidando dos clientes no home care: uma re-leitura das perspectivas do mercado para a prática clínica e social de enfermagem, Wiliam César Alves Machado, Uiara Kristina Cardoso Mantovani, Felipe Azevedo Berbert ......................................................................................................................... 202 Os anúncios do Jornal do Commercio de amas de leite, contando a história do aleitamento materno no Brasil (1888-1890), Luciane Pereira de Almeida, Fernanda Porto ............................................ 213 Assistência de enfermagem ao paciente em risco de morte iminente, Antonio Carlos Siqueira Júnior, Aline Alzira Ulian, Fernanda Cenci Queiroz .............................................................................................. 224 E STUDO DE CASO Teste do Pezinho: um marco expressivo na história da enfermagem preventiva no Brasil, Thereza Neuma de Tostes Freitas ............................................................................................................................. 230 N ORMAS DE PUBLICAÇÃO. .................................................................................................................. 237 C ALENDÁRIO DE EVENTOS................................................................................................................... 239 %! Indice+editorial.pmd 173 30/08/04, 19:04 EnfermagemBrasil Julho / Agosto 2004;3(4) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) CONSELHO CIENTÍFICO Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP São Paulo) Profa. Dra. Márcia Maria Fontão Zago (USP Ribeirão Preto) a Prof . Dra. Margarete Rego (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP Ribeirão Preto) Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) GRUPO DE ASSESSORES Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS Mato Grosso do Sul) Profa Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe) a Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) a Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 e-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 - São Paulo - SP Tel: (11) 3362-2097 Assinaturas 1ano: R$ 144,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Representante de Assinatura: A. Shalon (11) 3361-5595 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Editor assistente Bárbara de Assis Jorge Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Editoração e arte Andréa Vichi Colaboradora de redação Guillermina Arias Atendimento ao assinante Ingrid Haig Redação e administração Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço: Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro René C. Delpy Jr [email protected] (21) 2221-4164 Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil, Nutrição Brasil, Brasilis e Ação & Movimento. Foto da capa: Major Enfermeira reformada do Exército, Elza Cansanção Medeiros sendo examinada antes do embarque para a guerra. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. %" Indice+editorial.pmd 174 30/08/04, 19:04 EnfermagemBrasil Julho / Agosto 2004;3(4) Editorial Das amas de leite ao home care história e atualidade na assistência de enfermagem Os Editores Neste número temos artigos originais abrangendo diferentes temas. Em um deles o conhecimento sobre o papiloma vírus humano entre universitários, as autoras Evellyn Fiorezi, Danielle Capalbo e Maria Lúcia A. S. Costa abordam o tema mostrando a desinformação e a necessidade de ações educativas de prevenção da infecção por HPV e outras DST. Compartilhamos as concepções, conhecimentos, percepções e experiências da equipe de enfermagem em trabalhar com pacientes em fase terminal em três artigos, o primeiro em uma unidade de onco-hematologia pela pesquisadora Juliana Balbinot Reis Girondi. Sandra Lúcia Radaelli e Pedro de Abreu Gaspar discutem os conceitos para o cuidado em um hospital particular no Rio Grande do Sul e os pesquisadores Antonio Carlos Siqueira Jr., Aline Alzira Ulian e Fernanda Cenzi Queiroz abordam a assistência de enfermagem ao paciente em risco de morte iminente. Todos nos colocando diante das dificuldades técnico-científicas, sociais e principalmente emocionais, sugerindo que as instituições educacionais e hospitalares devam se ater a estas questões nos programas de aperfeiçoamento e educação permanente. O Home Care é uma tendência mundial de reduzir o número de internações e leitos nos hospitais, e começa a se organizar também no Brasil. Sendo um sistema mais barato e que se destaca a humanização do cuidado, na revisão apresentada, William César Alves Machado, Uiara Kristina Cardoso Mantovani e Felipe Azevedo Berbert, fazem uma re-leitura das perspectivas do mercado para a prática clínica e social de enfermagem, confirmando que é uma atividade essencialmente da competência do enfermeiro e equipe, posto que a grande maioria do que nele se faz é ou tem relação direta com o cuidado de enfermagem. Em outro artigo original, Luciano Garcia Lourenção, Cláudia Bernardi Cesarino, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler e Maria de Fátima Farinha Martins Furlan discutem o exame nacional de cursos que foi criado como instrumento para avaliar o ensino superior brasileiro, identificando a compreensão dos alunos do curso de graduação em enfermagem, levantando as justificativas apresentadas sobre a realização do exame, como as críticas, incredulidade neste método avaliativo e sua contribuição ao ensino nas instituições de ensino superior. Em um exemplar trabalho de pesquisa histórica, através de análise documental dos anúncios sobre amas de leite do Jornal do Comércio (ou do Commercio, como se escrevia na época) referentes à comercialização do aleitamento materno, os pesquisadores Luciane Pereira de Almeida e Fernando Porto apontam com destaque a inserção feminina no mercado de trabalho, tangenciando a história da profissionalização da enfermagem no Brasil e alertam que, apesar dos esforços dos profissionais de saúde em promover e apoiar o aleitamento materno, a amamentação ainda é influenciada pelo contexto sócio-histórico e cultural. Para completar, temos um estudo de caso histórico, onde a consagrada pesquisadora Thereza Neuma de Tostes Freitas apresenta o Teste do Pezinho como um marco expressivo na história da enfermagem preventiva no Brasil, expondo a situação-problema que motivou sua pesquisa, descrevendo o processo, o papel do enfermeiro pediatra no procedimento e sua introdução nas maternidades do Brasil através da divulgação desses resultados. Por fim, gostaríamos de destacar e agradecer a contribuição dos autores pelos excelentes artigos, assim permitindo que ela seja útil aos leitores e seus pacientes. %# Indice+editorial.pmd 175 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Artigo original Conhecimento sobre papiloma vírus humano (HPV) entre universitários de áreas distintas Evellyn Fiorezi*, Danielle Capalbo*, Maria Lúcia A. S. Costa, D.Sc. ** * Alunas do 4º ano de Enfermagem da UNICID, ** Professora do Programa de Iniciação Científica e Oficina de Produção do conhecimento científico da UNICID Resumo Este estudo de natureza quantitativa verificou o conhecimento sobre o Papiloma Vírus Humano (HPV) em uma população de universitários. Os dados foram coletados no mês de outubro de 2003 por meio de um questionário. Do total de 56 questionários respondidos, 30 referiram ter ouvido falar ou lido algo a respeito do HPV, portanto tornou-se a amostra do estudo. A televisão foi o meio mais citado como veículo de informações sobre o HPV, 44% dos estudantes acreditam que a infecção atinge ambos os sexos, a grande maioria (67%) desconhece os sinais e sintomas da doença. O uso de preservativo foi citado por 54% dos estudantes como meio de prevenir o HPV e 67% dos universitários não conhecem possíveis patologias decorrentes da infecção. Esses dados demonstraram a necessidade de ações educativas com a finalidade de prevenir o HPV e outras DST. Palavras-chave: universitário, papiloma vírus humano, prevenção. Abstract Knowledge about human papilloma virus (HPV), among university students of different areas This study, with quantitative approach, aimed at verifying the knowledge related to Human Papilloma Virus (HPV) in a population of university students. The data were collected in October 2003 by means of a questionnaire. A total of 30 out of 56 respondents replied to the questionnaires and reported that have heard or read something regarding HPV. The information about HPV was heard on television, 44% of the students believed that infection affects both genders equally, 67% were unaware of the signs and symptoms of the illness. The use of condom was mentioned by 54% of the students to prevent HPV, 67% of the students did not know possible pathologies resulting from infection. These data showed that educative actions are needed in order to prevent the HPV and other sexually transmitted diseases (STDs). Key-words: university student, human papilloma virus, prevention. Artigo recebido em 10 de maio de 2004; aceito em 5 agosto de 2004. Endereço para correspondência: Evellyn Fiorezi, Rua Embaixador Osvaldo Tavares, 81 Artur Alvim 03561-070 São Paulo SP, E-mail: [email protected] %$ artigo 01 - Evellyn.pmd 176 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Resumen Conocimiento sobre virus papiloma humano VPH entre universitarios de distintas áreas Este estudio de naturaleza cuantitativa ha verificado el conocimiento sobre el Virus Papiloma Humano (VPH) en una población universitaria. Los datos fueron recogidos en el mes de Octubre de 2003 mediante un cuestionario. Del total de 56 cuestionarios contestados, 30 refirieron tener oído hablar u leído algo con respecto a VPH, por consiguiente estos se han tornado la muestra del estudio. El televisor fue el medio más citado como vehículo de información sobre el VPH, 44% de los estudiantes creen que la infección concierne ambos sexos, la gran mayoría (67%) desconoce los signos y síntomas de la enfermedad. El uso de condón fue citado por 54% de los estudiantes con el fin de prevenir el VPH, 67% de los universitarios no conocen posibles patologías consecuentes de la infección. Esos datos demostraron la necesidad de acciones educativas con la finalidad de prevenir el VPH y otras enfermedades transmitibles sexualmente (ETS). Palabras-clave: universitarios, virus papiloma humano, prevención. Introdução Durante o século XX, descobertas científicas modificaram a percepção da importância das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) pela população. Os avanços na compreensão da biologia e da epidemiologia das DST associados a diagnósticos mais precisos e à terapêutica eficaz tiveram como conseqüência uma certa euforia, provocada pela expectativa de controle e erradicação destas doenças [1]. Isto associado a valores morais e a costumes sexuais, o que sem dúvida a descoberta de meios práticos e confiáveis de anticoncepção muito contribuiu, levou naturalmente a uma despreocupação, também influenciados pela mídia, revistas entre outros. Podemos perceber que o uso de preservativos, embora tenha eficácia comprovada na profilaxia das DST, só tiveram sua recomendação enfatizada após o elevado número de indivíduos contaminados com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida Aids [2]. Atualmente a DST que tem se disseminado com grande velocidade é o Papiloma Vírus Humano (HPV). Há séculos as únicas manifestações reconhecíveis da infecção das mucosas anal e genital por este vírus, eram verruga genital e/ou condiloma acuminado - tumores genitais benignos - sem grande importância epidemiológica [3]. Estas lesões verrugosas ou papilomatosas de pele são conhecidas desde a Grécia Antiga, chamando a atenção por serem observadas em várias regiões do corpo, como as áreas genitais, palmar e plantar além de serem associadas a doenças venéreas, uma vez, que eram comuns em indivíduos que apresentavam comportamento homossexual, incestuoso ou promíscuo [3,4]. A etiologia da infecção por HPV (verrugas comuns) foi demonstrada em 1907 por Ciuffo, os papilomavírus são vírus pequenos com duplo filamento de DNA, não envelopados, ou seja, não tem o envoltório que lhe confere razoável resistência fora das células, apresentam período de incubação variando de duas semanas a oito meses podendo ficar latente no aparelho genital durante anos. Este vírus tem como principais características o potencial de induzir à formação de neoplasias e amplo espectro de hospedeiros [5,7]. Estes vírus são capazes de infectar uma infinidade de espécies, desde os invertebrados até os vertebrados superiores (homem), porém são altamente espécies-específicas. O HPV não infecta animais de laboratório sendo parasita intracelular obrigatório, ou seja, apenas se multiplica em células humanas, tornando seu estudo bastante dificultado [7]. Admite-se que a maioria das infecções por HPV ocorra por via sexual e que as infecções não tratadas favorecem a perpetuação da doença nos parceiros. A transmissão do agente depende de características do portador como o tempo de infecção, número de microorganismos inoculados ou já existentes no organismo carga viral susceptibilidade do parceiro (a porcentagem de %% artigo 01 - Evellyn.pmd 177 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) contágio da mulher para o homem é de 60% a 85%), embora seja expressiva a exposição por via sexual, as infecções também podem ser adquiridas por auto-inoculação de verrugas comuns da pele, durante o parto (no contato do recém-nascido com o trato genital da mãe infectada) por autotoque em áreas não sexuais, através de luvas cirúrgicas, pontas de cautério, roupas íntimas ou sabonetes contendo DNA/HPV [8]. A incidência atual dos condilomas, principalmente nas mulheres, vem aumentando consideravelmente. Nos últimos anos observou-se verdadeira epidemia, com a descoberta das lesões subclínicas do HPV e sua associação com a chamada revolução sexual dos últimos vinte e cinco anos [9]. O condiloma acuminado, ou verruga anogenital se caracteriza por pápulas, nódulos e vegetações que ocorrem na região anogenital ( pênis, vulva, vagina, colo uterino, períneo e região anal) podendo progredir para massas pedunculares, semelhantes a couve-flor [10]. As formas clínicas da infecção pelo HPV são: clínica que é a forma evidente a olho nu representando apenas 2% a 3% dos casos, subclínica diagnosticado através de exame colposcópico ou microscópico (citopatológico ou histológico) e representa 60% do HPV anogenital externo e 95% do HPV cervical; latente apenas diagnosticado através das técnicas de hibridização do DNA viral em indivíduos com clínica e citohistopatologia normal, sendo esta forma não transmissível [11,12]. Nenhum tratamento erradica totalmente o HPV, os objetivos do tratamento são a remoção da lesão, melhora clínica e prevenção da transmissão, pois não existe tratamento ideal [11]. Provavelmente os únicos métodos profiláticos da infecção causada por HPV sejam a abstinência sexual e a monogamia mútua, atitudes muito pessoais sobre as quais seria desaconselhável, imprudente e autoritária a intervenção do médico. Todavia algumas decisões deverão ser tomadas para diminuir o risco de infecção como limitar o número de parceiros, evitar o coito durante o tratamento e o seguimento da doença, e usar persistentemente o condom [13]. Convivendo no ambiente universitário com estudantes do curso de diversas áreas, e como alunas do curso de enfermagem, obser vamos informalmente que o assunto HPV é desconhecido por esses acadêmicos. Esta obser vação nos preocupou muito porque acreditamos que a prevenção da infecção por HPV depende entre outras coisas do conhecimento que se tem sobre ela. A partir daí, detectamos a necessidade de desenvolvimento deste estudo que nos possibilita conhecer melhor esta realidade e planejar ações educativas de prevenção da infecção por HPV. Objetivo Este trabalho tem como objetivo verificar o conhecimento sobre o Papiloma vírus Humano (HPV) entre universitários de áreas distintas para que possamos direcionar nossa conduta e desenvolver ações de enfermagem no intuito de orientar e intervir nesta população. Material e método Neste estudo foi utilizado o método quantitativo, descritivo exploratório, por ser indicado nos estudos onde se pretende quantificar e descrever os achados sem manipulá-los [14], no qual se verificou o conhecimento sobre o HPV. Local de estudo Esta pesquisa foi desenvolvida em uma Universidade privada do Município de São Paulo localizada na zona leste, escolhida pela facilidade em acessar à população, e por concentrar diversos cursos. Considerações éticas Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade Cidade de São Paulo, em setembro de 2003. População/amostra A amostra foi constituída por 56 estudantes de cursos da área de humanas e exatas do período da manhã, os quais aceitaram espontaneamente fazer parte da pesquisa. Tivemos como critério de inclusão na amostra que os universitários não fossem de cursos da área da saúde por pressupor que o tema HPV faça parte do conteúdo de disciplinas ministradas nestes cursos. %& artigo 01 - Evellyn.pmd 178 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Coleta de dados A coleta de dados deu-se após a autorização por parte da direção da instituição. Elaboramos um questionário contendo cinco questões abertas e fechadas, de forma clara e objetiva (Anexo 1). Para realizarmos a coleta de dados entramos em contato com os professores que estavam presentes em sala de aula, os quais permitiram que os alunos fossem abordados naquele momento. Foi então explicado o objetivo do estudo e solicitado que o instrumento fosse entregue no mesmo dia. Foram entregues um total de 58 questionários sendo que 56 foram devolvidos respondidos e somente 2 devolvidos em branco. Os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta deu-se nos dias 7 e 8 de outubro de 2003, no período da manhã. Tratamento dos dados Após coletarmos e analisarmos os dados apresentamos os resultados sob a forma de gráficos e tabelas com números absolutos e relativos. Apresentação dos dados Após análise dos dados coletados obtivemos os resultados que apresentamos a seguir. Do total de 56 questionários respondidos, 30 referiram ter ouvido falar ou lido alguma coisa sobre o Papiloma Vírus Humano (HPV), portanto estes se tornaram a amostra de nossa pesquisa. Os 26 sujeitos não incluídos neste estudo por desconhecerem o vír us HPV também demonstrados no gráfico 1. Gráfico 1 - Demonstrativo de nº de estudantes que conhecem ou não o HPV. São Paulo, 2003. Enquanto acadêmicos, consideramos este dado alarmante, pois 46% dos pesquisados nunca ouviram falar ou leram algo a respeito do vírus, o que é preocupante pelo fato de fazerem parte de uma população de risco e inferirmos que por serem universitários teriam um maior acesso às informações. Gráfico 2 - Demonstrativo do sexo dos estudantes que participaram do estudo. São Paulo, 2003. No gráfico 2, está distinguindo o sexo dos universitários os quais referiram ter ouvido falar ou lido algo sobre o HPV, destes 70% correspondem ao sexo feminino e 30% ao sexo masculino. Tabela I - Demonstrativo do tipo de comunicação por meio do qual tiveram conhecimento sobre o HPV. São Paulo, 2003. Meio de comunicação Nº de respostas TV 31% (13) Consultas ginecológicas 16% (7) Revistas 12% (5) Internet 9% (4) Jornais 9%(4) Escola 5% (2) Por conhecer pessoa infectada 5% (2) Não especificaram 5% (2) Livro 2% (1) Rádio 2% (1) Trabalhos expositivos 2% (1) Em Programas de Planejamento Familiar 2% (1) Total 100% (42) Com base nos dados na tabela I, podemos observar que o meio de comunicação pelo qual a maioria dos entrevistados 31% (13) passou a conhecer o HPV é pela TV e apenas 16% (7) souberam a respeito do vírus és em consultas ginecológicas uma vez que este número deveria ser maior por supormos que este é um dos meios mais adequados e uma ótima oportunidade de divulgação e orientação a respeito do Papiloma Vírus Humano. Podemos perceber, no gráfico 3, que 44% (13) dos entrevistados referem que o vírus acomete %' artigo 01 - Evellyn.pmd 179 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) ambos os sexos, 30% (9) afirmaram que acomete apenas as mulheres, e quanto ao restante dos pesquisados 13% (4) não souberam responder e os outros 13% (4) afirmaram não acometer ambos os sexos, mas não especificaram qual o sexo acometido pelo Papiloma Vírus Humano. A transmissão do vírus HPV ocorre normalmente como resultado de contato direto com a pele ou membranas mucosas infectadas de um parceiro a outro existindo ou não verrugas visíveis, também possivelmente através de objetos contaminados e ambientes úmidos [15]. No Brasil, não há dados disponíveis ou suficientemente fidedignos sobre a população mais atingida, por outro lado, dados estatísticos americanos e ingleses mostram claramente que, as verrugas genitais são mais freqüentes entre os indivíduos de raça branca [16]. Devemos ressaltar que a maioria dos indivíduos destes países é constituída por brancos e que, nos países de maioria raça negra e mulatos, os dados podem ser diferentes. Gráfico 3 - Demonstrativo da opinião dos entrevistados em relação ao sexo mais acometido pelo vírus. São Paulo, 2003. Tabela II - Sinais e sintomas da infecção por HPV, segundo população estudada. São Paulo, 2003. Sinais e sintomas Desconhecem sinais e sintomas Verrugas Corrimento Coceira TOTAL Nº de respostas 59% (20) 20% (7) 12% (4) 9% (3) 100% (34) De acordo com a tabela II a maioria dos entrevistados não sabem identificar os sinais e sintomas que acompanham a infecção. Esclarecemos que devido ao tipo de pergunta obtivemos mais de uma resposta por entrevistado, considerando-se N = 34 (total de respostas). É interessante notarmos que 20% da população estudada souberam identificar que o vírus pode se manifestar através de verrugas, sendo ainda importante destacar que nenhum dos entrevistados demonstrou conhecer que, na grande maioria das vezes, a evolução da doença é assintomática em ambos os sexos. A infecção por HPV se desenvolve de um modo silencioso. Um estudo realizado nos Estados Unidos demonstrou que metade das mulheres não apresentam nenhum sintoma e por isso não procuram o tratamento continuando a disseminar o vírus cuja forma visível são as verrugas que aparecem nas regiões genitais de homens e mulheres [17]. No entanto, só os tipos mais suaves do vírus desenvolvem estes sintomas, e aqueles que atuam de maneira mais secreta são os que podem conduzir a problemas mais sérios. No caso da doença mais grave, o câncer, podem-se observar sangramentos e dor [18]. As primeiras lesões reconhecíveis são geralmente minúsculas pápulas ou áreas hipocrômicas, o diagnóstico quando não for clinicamente óbvio, pode ser firmado por biópsia. As verrugas são essencialmente assintomáticas, mas a aparência, localização, tamanho e a presença de condições associadas podem provocar queixa [19]. Sangramento nas verrugas pode ocorrer quando localizados na uretra e freqüentemente encontra-se um fluido mucóide. Infecção secundária pode provocar forte odor, irritação e desconforto moderado. Em ambos os sexos, as verrugas são encontradas mais comumente em áreas sujeitas a traumas durante a atividade sexual [20]. Tabela III - Maneira de se evitar o contágio por HPV, segundo universitários entrevistados. São Paulo, 2003. Prevenção do HPV Nº de respostas Uso de preservativo 54% (20) Consultas e exames periódicos 11% (4) Parceiro(a) confiável 5% (2) Cuidados com vasos sanitários 3% (1) Lugares públicos 3% (1) Não há necessidade de prevenção por não ser contagioso 3% (1) Não responderam 21% (8) TOTAL 100% (37) De acordo com a tabela III, a maioria das respostas (54%) apontou como prevenção do vírus HPV o uso do preservativo durante o ato sexual, porém ainda existem aqueles que desconhecem o & artigo 01 - Evellyn.pmd 180 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) fato de o vírus ser transmissível (3%), assim como desconhecem que o vírus pode propagar-se por outros meios. O ato sexual é o meio de transmissão mais freqüente para que o Papiloma Vírus Humano possa elevar o número de pessoas infectadas, sendo identificadas também pela amostra do estudo, porém mesmo fazendo o uso de preservativos de barreira há grande possibilidade de contágio, existindo um risco de 60 a 90% de infectar-se quando até mesmo em um simples exame de rotina pode-se contaminar pelo vírus devido material não esterilizado entre outros contaminados pelo DNA/HPV [6]. Gráfico 4 - Demonstrativo do conhecimento sobre patologias conseqüentes à infecção causada pelo HPV. São Paulo, 2003. Segundo o gráfico 4, podemos notar que a grande maioria dos pesquisados, 67% (20) não souberam descrever nenhuma patologia decorrente da infecção, 3% (1) referiu a perda do órgão e 30% (9) identificaram como conseqüência da infecção o câncer do colo do útero. As infecções genitais pelo HPV chamaram atenção a partir da última década de 80, quando se identificou a correlação das lesões com o câncer de colo uterino. Atualmente, o HPV está presente em 95% dos casos desse tipo de câncer, mas nem todos os tipos de papilomavírus podem se transformar em um tumor maligno. meio da televisão e outros 30% por meio de outros meios de comunicação social (jornais, revistas e Internet), o que nos leva a crer que é muito importante a utilização desses meios para campanhas de esclarecimento e prevenção das questões de saúde. Quanto à opinião dos entrevistados a respeito da prevalência de acometimento para algum dos sexos, 44% acredita que ambos os sexos podem infectar-se, 30% afirmam que apenas as mulheres podem ser infectadas, o que demonstra que esses homens não sabem da responsabilidade que tem sobre o próprio cuidado. A respeito do conhecimento sobre sinais e sintomas de infecção por HPV, a maioria (67%) afirma que desconhecem quais sejam, 20% informam corretamente que podem ser verrugas, mas outros 12% e 9% apontam corrimento e coceira respectivamente como sinais e sintomas da infecção por HPV, o que sem dúvida podem ser importantes indícios de outras doenças sexualmente transmissíveis. O uso do preservativo é citado por 54% dos estudantes como meio para evitar o contágio, mas mesmo entre esses estudantes que referiram já ter algum conhecimento sobre HPV, 3% acredita que não há necessidade de prevenção, pois o vírus não é contagioso. A grande maioria dos estudantes (67%) não conhece possíveis patologias decorrentes da infecção por HPV, e 30% responderam que pode ser o câncer de colo do útero. Esses dados demonstram a necessidade de ações educativas e de esclarecimentos sobre o HPV, pois mesmo numa população universitária, supostamente com maior acesso à cultura geral, o baixo nível de conhecimento apresentado nos indica riscos à saúde dessa população. Referências Conclusão 1. Este trabalho, fruto da preocupação de estudantes do curso de enfermagem que observaram informalmente junto a colegas universitários que o assunto HPV é pouco conhecido, pode concluir que para esta população amostrada, 46% realmente referem desconhecer o tema HPV. Daqueles que de alguma maneira já tinham ouvido falar ou leram algo a respeito, 31% obtiveram informações por 2. 3. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Revista Brasileira de DST. São Paulo: MS; 1996. Brasil. Ministério da Saúde. Informe epidemiológico em saúde coletiva. Rio de Janeiro: MS; 1998. Lopes F. Prevalência de HIV, HPV e sífilis na penitenciária feminina na capital de São Paulo 97/98. [Dissertação]. São Paulo: UNIFESP; 1999. 103p. Porro AM. Detecção e tipagem do HPV em lesões cutâneas de verruga viral em pacientes infectadas pelo HIV. [Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Enfermagem de São Paulo; 2000. 109 p. & artigo 01 - Evellyn.pmd 181 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Adimora AA, Hamilton H, Sporly, F. Doenças sexualmente transmissíveis. 2a ed. São Paulo: Andrei; 1998. Oliveira LHS. Papiloma vírus humano. São Paulo: Jornal Brasileiro de DST 1994;(6)3. Gomes VB, Silva A. A incidência de HPV em mulheres com câncer. São Paulo: Jo Bras Ginecol 1988;(98)8. Almeida Filho GL, Fonseca CG. HPV relação com o câncer. São Paulo: Jornal Brasileiro de DST 2001;(1)2. Passos MRL. Simpósio de papilomavirose e úlceras genitais. Niterói: Universidade Federal Fluminense; 1988. Muller DH. HPV e o câncer uterino. [citado em 2001 Ago 10]. Disponível em: URL: http:// www.medianeira.com.br/hospsaocarlos/hpv.html Silva EA. Um novo capítulo nas infecções vaginais. 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Através deste relato, pretende-se mostrar as concepções, conhecimentos, vivências e experiências que a equipe de enfermagem têm acerca de cuidados paliativos em oncologia. Pretende-se compartilhar com os leitores o crescimento como seres humanos e como profissionais, vivenciados durante este treinamento. Todos conseguem refletir e discutir a experiência de se trabalhar com pacientes oncológicos em fase terminal, o que nos coloca diante de sérios questionamentos de ordem clínica, ética, social e emocional. Isso se deve ao fato de tratarse da qualidade de vida do paciente oncológico fora de possibilidades terapêuticas, questão controversa e complexa, que exige ainda estudos aprofundados, tanto para sua avaliação, quanto para sua implementação. Palavras-chave: cuidados paliativos, qualidade de vida, morte. Abstract Palliative cares a new approach care The aim of this work is to report the experience acquired during Oncologic Nursing assistance practices offered to the Santa Catarina Hospital nursing staff in Blumenau-SC. It intends to show nursing staff conceptions, knowledge and experiences concerning oncology palliative cares. Another point is to share their growth as a human being and as a professional with readers, which they have experienced during this practice. All of them succeeded in debating and pondering the experience of working with oncology patients in terminal stage, which means that they have to face questionings about clinical, ethic, social and emotional value. This is due to the fact that it is about oncology patients life quality with no therapeutic possibilities, a controversial and complex question, which still needs to make a profound study either for evaluation or implementation. Key-word: palliative cares, life quality, death. Artigo recebido em 14 de abril de 2004; aceito em 1 de junho de 2004. Endereço para correspondência: Juliana Balbinot Reis Girondi, Rua Álvaro de Carvalho 346/602 Centro 88080-110 Florianópolis SC, Tel: (48) 223-0219 / 9902-5670, E-mail: [email protected] &! artigo 02 - Juliana.pmd 183 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Resumen Cuidados paliativos un nuevo abordaje de cuidado Se trata de un relato de experiencia durante las prácticas sobre la asistencia oncológica de enfermería, ofrecidas al equipo de enfermería del Hospital Santa Catarina, ubicado en Blumenau (SC). A través de este relato, se pretende mostrar las concepciones, conocimientos, vivencias y experiencias que el equipo de enfermería tiene acerca de los cuidados paliativos en oncología. Se pretende compartir con los lectores el crecimiento como seres humanos y como profesionales, vivenciados durante las prácticas. Todos consiguen reflexionar y discutir la experiencia de trabajar con pacientes oncológicos en fase terminal, lo que nos confronta con serios cuestionamientos de orden clínica, ética, social y emocional. Eso se debe al hecho de tratarse de la calidad de vida del paciente oncológico que está fuera de las posibilidades terapéuticas, cuestión compleja y de controversia, que exige estudios profundos tanto para evaluación como para su implementación. Palabras-clave: cuidados paliativos, calidad de vida, muerte. Introdução No período de novembro a dezembro de 2000, no Hospital Santa Catarina, realizou-se o treinamento sobre Assistência de Enfermagem ao cliente oncológico. O Hospital Santa Catarina está situado em Blumenau, Santa Catarina. É uma entidade privada de patrimônio da Comunidade Evangélica de Blumenau. Possui área construída de 12.000 m2, 150 leitos e 425 colaboradores. É um hospital geral, que realiza procedimentos de alta complexidade, sendo inclusive, pioneiro na região. O treinamento ministrado teve como população alvo os colaboradores de enfermagem do referido hospital (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem). No período acima descrito foram realizados seis treinamentos, sendo um por semana, com carga horária total de oito horas. Foi organizado pelo Centro de Educação Continuada em Enfer magem (CECEn) do hospital. O CECEn tem como objetivo promover o desenvolvimento sistemático de enfermagem, visando à satisfação pessoal e valorização profissional, assegurando a qualidade da assistência prestada ao cliente. E foi ministrado pelos integrantes da Equipe do Centro Onco Hematológico (COH). O COH é um centro de referência para o tratamento de doenças oncológicas e hematológicas, localizado no Hospital Santa Catarina. O Hospital conta com oitenta e nove colaboradores de enfermagem, sendo sessenta e oito entre técnicos e auxiliares, quatorze enfermeiros assistenciais, cinco supervisores de enfermagem, um enfermeiro da CCIH e um gerente de enfermagem. Participaram do treinamento dezessete enfermeiros (incluindo o da CCIH, o gerente e supervisores) e sessenta e nove colaboradores entre técnicos e auxiliares. Apenas 12 colaboradores (13%) não participaram do treinamento. Em todos os treinamentos uma prova teórica contendo dez questões acerca dos cuidados de enfermagem oferecidos ao cliente oncológico (de acordo com o tema abordado), era aplicada aos participantes. Essa avaliação era feita no último dia do treinamento. Do número total de colaboradores, setenta e três foram aprovados (71%) e quatro foram reprovados (4%). Neste artigo pretende-se: Discutir o conhecimento que os profissionais da área de enfermagem têm acerca de Cuidados Paliativos ao paciente oncológico, visto que isso se reflete na qualidade da assistência prestada ao paciente e sua família; Compartilhar saberes com os leitores; Mostrar que a relação profissional/paciente/ família é um processo dinâmico e de constante reformulação, onde ambos crescem e aprendem juntos (processo interativo); Evidenciar experiências e saberes que os profissionais da área de enfermagem têm frente às situações em cuidados paliativos, vivenciadas por eles. &" artigo 02 - Juliana.pmd 184 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Material e métodos Os treinamentos oferecidos pelo CECEn têm como objetivo identificar as expectativas da equipe de enfermagem, verificando seus interesses e ampliando o conhecimento técnico-científico. Ao ministrar a palestra sobre cuidados paliativos ao paciente oncológico, a autora deste artigo sugere que os funcionários reflitam a respeito do que eles entendem por cuidados paliativos. Esse questionamento se faz necessário, porque acredito que um treinamento e/ou palestra deve ser construído com base nos conhecimentos que as pessoas já possuem. O conhecimento não deve ser uma atividade ordenada, mas sim, um conhecimento interativo construído com base em vários saberes, em várias experiências compartilhadas. Os participantes são convidados a formar um grande círculo. Após, recebem uma folha de papel em branco onde colocam seu nome, respondendo ao questionamento: O que são cuidados paliativos?. Em seguida, sob o comando da organizadora, a folha é entregue ao colega da direita, que deve completar a frase utilizando como referência apenas a última palavra escrita. E assim, a cada um minuto, a folha é passada de mão em mão, até alcançar a pessoa de origem. A partir desse momento, cada integrante possui em mãos um conjunto de informações que expressam o pensamento do grupo sobre cuidados paliativos. Dois destes textos elaborados forma selecionados de forma aleatória e lidos para o grande grupo. Com base nessa atividade, iniciou-se o debate, onde os funcionários passam a expor experiências vividas com pacientes em fase ter minal. Lembraram de várias situações e comentaram como era difícil lidar com a sensação de perda e impotência frente à morte, com o medo da morte, a angústia de ver o sofrimento de pacientes em fase terminal e seus familiares... Considerando uma vivência muito rica, fundamenta-se a construção deste artigo. A primeira grande dificuldade se fez presente quando da necessidade de definir de forma mais adequada de sua elaboração, visto ser um material que expressa os sentimentos e vivências de várias pessoas, aliado ao fato de se preservar a autenticidade de cada escrita. A opção por se apresentar esse relato obedecendo à sua escrita original, baseia-se na necessidade de associar as reflexões emanadas do grupo com as definições e reflexões expressas na literatura. Em grande parte dos dados colhidos, entende-se que quando se fala em cuidados paliativos fala-se de: Cuidados que permitam uma morte com dignidade; Manter o paciente confortável; Oferecer ao paciente e familiares tranqüilidade, respeito, carinho e amizade; Manter a satisfação das necessidades humanas básicas do paciente; Não deixar o paciente sentir dor. Como melhor forma de agrupar as idéias para apresentá-las nesse artigo, ressalta-se o que encontramos em literatura com o que vivenciamos na prática. Cuidados paliativos para o paciente com câncer O Ministério da Saúde [1] afirma que o câncer é tido como uma doença crônico-degenerativa. Isto quer dizer que é uma doença que apresenta evolução prolongada e progressiva, exceto se interrompida em algumas de suas fases. Haddad apud Quadros [2] coloca que dentre as doenças crônico-degenerativas, o câncer é a que causa maior desequilíbrio emocional nos pacientes e seus familiares, pois em nossa sociedade, esta moléstia tem conotação de sofrimento, dor, degradação e morte. O que se observa é que, com o advento da medicina, muitos tipos de cânceres apresentam elevado índice de cura, se detectados precocemente e se os tratamentos adequados forem adotados. Pacientes com estágio avançado da doença, sem possibilidade de cura, muitas vezes são chamados de pacientes em fase terminal. De acordo com Marcelino [3], o cuidado paliativo é uma especialidade médica e consiste na atenção ativa, integral e individualizada aos pacientes com doença fora das possibilidades terapêuticas de cura (...). Tem como objetivo reafirmar a importância da vida, considerando a morte como um processo natural; não utilizar medidas que prolonguem o sofrimento ou encurtem a vida; controlar a dor e outros sintomas; apoiar medidas que ajudem aos outros pacientes a levar uma vida o mais ativa possível, até a chegada da morte; oferecer apoio à família para que possam enfrentar a enfermidade e o processo de morrer dos seus membros. Isto foi percebido claramente em algumas colocações dos colaboradores: &# artigo 02 - Juliana.pmd 185 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Cuidados paliativos é melhorar a qualidade de vida de um paciente, mantendo a satisfação de suas necessidades básicas, acolhendo e respeitando suas idéias; Cuidados paliativos é servir, dar apoio, amenizar a dor física e espiritual... Dar atenção ao paciente e seus familiares, a fim de auxiliá-los no que eles precisarem para aliviar o sofrimento; É cuidar, tratar, mas sem esperar a cura; É a oportunidade de proporcionar conforto e alívio ao paciente para que ele não perca sua identidade. Observa-se a nítida preocupação que os participantes sentem em relação ao alívio da dor do paciente e seus familiares, seja essa dor física, espiritual ou psico-social. De acordo com Carvalho [4], o paciente com câncer avançado apresenta uma série de sintomas, dentre eles: anorexia, ansiedade, confusão mental, constipação, náuseas, vômitos, convulsões, depressão, diarréia, dor, dispnéia, insônia... A dor é considerada como o sintoma mais incapacitante para a maioria dos pacientes. Ainda de acordo com a mesma autora, o conceito de dor é modulado pelo estado de ânimo do paciente. É o que se chama de dor total; visto que a dor envolve aspectos físicos, psíquicos, sociais e espirituais. Por isso, torna-se um sintoma muito difícil de ser avaliado e mensurado e, conseqüentemente tratado. Requer um empenho da equipe cuidadora para que se possa ser feito um trabalho realmente efetivo, o que contribuirá para a melhora da qualidade de vida do paciente e sua família. Atkinson [5] coloca que a abordagem que o enfermeiro emprega é fundamental para trabalhar com eficiência com qualquer paciente que sofra dor. O enfermeiro transmite ao paciente estar acreditando no que este refere em relação à dor, ou seja, que o enfermeiro mostre-se disposto a ajudar a obter o controle da dor, pode ter condições de melhorar a eficácia de outras medidas destinadas a reduzir a dor. Para Schöeller [6], a dor acomete 60 a 80% dos pacientes com câncer, constituindo-se no fator determinante de sofrimento relacionado à doença, mesmo quando comparado à expectativa de morte. Muitos colaboradores também abordaram a questão da proximidade da morte e de se possibilitar uma melhor qualidade de vida, enquanto ainda restar vida ao paciente: Cuidados paliativos é atender bem o paciente, oferecer cuidados, amor, carinho; atendendo com paciência e dedicação, para que ele seja um pouco mais feliz no tempo que ainda tem de vida; A grandeza desse tipo de cuidado está em oferecer uma melhor qualidade de vida ao paciente no tempo que ainda lhe resta , tentando livrá-lo de qualquer tipo de dor (ou ao menos, tentar). Abordar uma pessoa até o momento mais próximo de sua morte, quando suas funções (cognitivas, fisiológicas e emocionais) estão comprometidas, requer de todos os envolvidos cuidados especiais com o paciente, seus familiares e consigo próprio. Oliveira & Ogawa [7] afirmam que existem dois planos de medo diante da morte. Um medo é instintivo, natural, necessário, pois é aquele que ocorre quando nos vemos ameaçados ou em risco de perder a vida. Outro é aquele que adquirimos através de nossa educação, de nossas relações e convívio social, que sofrem influência da cultura na qual estamos inseridos. Seria de importante ajuda para todos se a morte fosse reconhecida mais abertamente, como parte natural da existência, e não como uma grande trajetória. Ao entender a impermanência da vida, pode-se valorizar cada momento. A consciência da morte ensina a desfrutar a vida, mas com simplicidade, preenchida pela beleza e criatividade de um pleno viver. Conclusões O objetivo central de todo processo de cuidar em enfermagem é proporcionar uma melhor qualidade de vida para o paciente e sua família, favorecendo a adaptação destes à doença, independente do estágio desta. No entanto, como o câncer é uma doença muito complexa, pode-se chegar a um estágio em que o paciente não reagirá mais frente às terapêuticas disponíveis. A partir daí, busca-se oferecer subsídios para que o paciente tenha uma vida digna e enfrente o processo de morte e morrer da forma mais natural e humana possível. O atendimento das necessidades básicas deve abranger todos os aspectos e inclui proporcionar ao paciente um ambiente para a morte tranqüila, quando este evento se apresentar. Sabemos que estas são metas difíceis de serem atingidas, o que determina novos obstáculos a serem vencidos pela enfermagem, e por toda equipe cuidadora, durante o processo de cuidar do paciente oncológico em fase terminal. De acordo com Radünz [8], o paciente portador de câncer necessita de ouvintes empáticos, que compreendam suas flutuações de humor, que os ajudem a mobilizar seus mecanismos de enfrentamento, seus recursos individuais e familiares, no sentido de que possam atingir o potencial &$ artigo 02 - Juliana.pmd 186 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) máximo para viver com dignidade o dia-a-dia. Nascimento-Schulze [9] salienta que cuidar envolve atos humanos no processo de assistir ao indivíduo e seus familiares. O processo de cuidar envolve relacionamento interpessoal, que é originado no sentido de ajuda e confiança mútua, e se desenvolve com base em valores humanísticos e em conhecimento científico. Com esse treinamento em Assistência de Enfermagem Oncológica para os colaboradores do hospital, observa-se que realmente esse é o alicerce para a nossa prática do cuidar, especialmente quando se fala em cuidados paliativos. É o se envolver, o favorecer uma melhor qualidade de vida ao paciente e sua família, o proporcionar um ambiente saudável e tranqüilo para um processo natural da vida: o morrer. Para que essas ações possam ser bem desenvolvidas, é necessário o conhecimento técnicocientífico; além de se criar um espaço para discutir experiências, valores e posições frente a nossa prática de cuidar do paciente oncológico em fase terminal. Pois, sabe-se que somos seres humanos únicos, limitados, mas totalmente criativos e movidos por emoções, e por isso, precisamos discutir questões e trocar conhecimentos que não são eternos. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer. Rio de Janeiro: Coordenadoria de programas de controle do câncer-Pró-Onco; 1995. Quadros ND. Utilização do referencial teórico elaborado pelas enfermeiras do CEPON, no cuidado a pacientes com diagnóstico de câncer. Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina; 1997. Marcelino SMR. Cuidado do paciente com câncer avançado em casa-acompanhamento pelo telefone. Florianópolis: UFSC; 1997. 86 p. Carvalho MMJ. Resgatando o viver - Psico-oncologia no Brasil. São Paulo: Summus; 1998. Atkinson & Murray. Fundamentos de enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1989. Shoöller MT. Dor neoplásica: abordagem e tratamento. Revista Âmbito hospitalar; 1997. 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Luciano Garcia Lourenção*, Cláudia Bernardi Cesarino, D.Sc.**, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, D.Sc.***, Maria de Fátima Farinha Martins Furlan**** *Enfermeiro, mestrando do Curso de Pós-graduação em Ciências da Saúde da FAMERP, docente do PROFAE, **Enfermeira, Docente e Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP, ***Enfermeira, Diretora de Extensão de Serviços à Comunidade da FAMERP, ****Enfermeira, Docente e Vice-coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP Resumo O Exame Nacional de Cursos (ENC) foi criado em 1995 como instrumento para avaliar o ensino superior brasileiro, diagnosticar as deficiências e contribuir para melhorar a educação. Desde que surgiu, gerou muitas críticas, tornando-se objeto de discussão e polêmica entre a comunidade acadêmica. A principal reação contra o ENC foi a organização de boicotes às provas, para demonstrar a recusa e incredulidade neste método avaliativo, principalmente por aqueles que o realizam pela primeira vez. Assim, os objetivos deste trabalho foram identificar a compreensão dos alunos da 4ª Série do Curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP quanto ao ENC, levantar a adesão ou não à realização do primeiro exame e as justificativas apresentadas. Participaram do estudo 86% dos alunos matriculados, dos quais 98% referem que irão fazer o ENC, 34,7% colocam como justificativa a obrigatoriedade, 40,8% entendem que o ENC trará melhoras no ensino e nas Instituições de Ensino Superior. 40,8% colocam como benefícios o reconhecimento da IES e maiores oportunidades de trabalho, e 44,9% citam como malefícios a perda do prestígio e prejuízos para o futuro profissional. Palavras-chave: exame nacional de cursos, instituição de ensino superior, curso de graduação em enfermagem, boicote. Abstract National examination courses and student ideology: confrontation or adherence? The National Examination Courses (ENC) was created in 1995 as an instrument to evaluate Brazilian Higher Education, to diagnosticate deficiencies and contribute to education improvement. Since its beginning, it causes many critiques and was a topic of discussion and controversial among the academic community. The principal reaction against ENC was to organize a boycott of the tests in order to show refusal and skepticism regarding this evaluation method, mainly for those that will Artigo recebido em 28 de maio de 2004; aceito em 1 de julho de 2004. Endereço para Correspondência: Luciano Garcia Lourenção, Rua Joaquim Manoel Pires, 100/03 Jd. Pinheiros 15091-210 São José do Rio Preto SP, E-mail: [email protected] && artigo 03 - Luciano.pmd 188 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) participate for the first time. Thus, the aims of this study were to identify the comprehension of the 4th year of Nursing Graduating Course students of FAMERP (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto) about ENC, to promote adherence or not to the first examination and to explain their decisions. Eighty-six percent enrolled students participated to this study, 98% reported that they will adhere to ENC, 34,7% justified their adherence as an obligation; 40,8% understood that ENC will improve education quality and Higher Education Institutions (HEI); 40,8% pointed out official recognition of HEI studies and better work opportunities as benefits, and 44,9% mentioned as malefactions lost prestige and damages that will probably cause to their professional life Key-words: National examination course, higher education institution, nursing graduating course, boycott. Resumen Examen Nacional de Cursos y ideología estudiantil:? confrontación o adherencia? El Examen Nacional de Cursos (ENC) fue creado en 1995 como instrumento para evaluar la calidad de la enseñanza superior brasileña, diagnosticar las deficiencias y contribuir para mejorar la educación. Desde su aparición, se originaran muchas críticas y se tornó objeto de discusión y controversia entre la comunidad académica. La principal reacción contra el ENC fue la organización de boicots a los exámenes, para mostrar el rechazo e incredulidad en este método de evaluación, principalmente por aquellos que lo hacen por primera vez. Así, los objetivos de este trabajo fueron identificar la comprensión de los alumnos del 4º. año del Curso de Graduación en Enfermería de la FAMERP (Facultad de Medicina de São José do Rio Preto) sobre ENC, promover la adhesión o no a la realización del primer examen y las justificativas presentadas. Participaron del estudio 86% de los alumnos inscritos, de los cuales 98% relataron que irán hacer el ENC, 34,7% justificaron la adherencia como obligatoriedad, 40,8% entienden que con el examen impulsará la mejora en la enseñanza y en las Instituciones de Enseñanza Superior, 40,8% apuntaron la acreditación de los programas académicos de las Instituciones de Enseñanza Superior y mejores oportunidades de trabajo como beneficios, y 44,9% citaron como maleficios la pérdida del prestigio y perjuicios para el futuro profesional. Palabras-clave: Examen nacional de cursos, institución de enseñanza superior, curso de graduación en enfermería, boicot. Introdução Nos últimos anos, houve um notável crescimento das instituições de ensino superior, bem como o surgimento de novos e numerosos cursos. No entanto, em grande parte destas instituições e/ ou cursos, a qualidade do ensino oferecido não apresentou o mesmo crescimento, gerando uma certa deficiência na formação e uma queda no nível de excelência dos profissionais que foram se inserindo no mercado [1]. Neste contexto, o Ministro da Educação Paulo Renato Souza propôs e o Congresso Nacional aprovou, em 1995, a criação de um instrumento para avaliar os cursos superiores brasileiros, diagnosticar as deficiências e contribuir para melhorar a qualidade da educação. Surgiu, assim, o Exame Nacional de Cursos (ENC) que logo passou a ser conhecido como Provão [2]. Regulamentado pela Lei 9.131, de 24/12/1995, o ENC representa, atualmente, um dos principais instrumentos de avaliação utilizados pelo Ministério da Educação (MEC) para medir a qualidade e a eficiência dos cursos de graduação [3]. Segundo o INEP [4], o artigo 3º da Lei nº 9.131/95, rege a obrigatoriedade quanto à realização de avaliações periódicas das instituições de nível superior pelo Ministério da Educação e do Desporto, através de procedimentos e critérios abrangentes de diversos fatores que determinarão a qualidade e a eficiência das atividades de ensino, pesquisa e extensão da referida instituição. Dentre os procedimentos adotados para tais avaliações inclui-se a realização anual de exames nacionais, com base em conteúdos mínimos estabelecidos para cada curso, previamente divulgados e destinados a aferir os conhecimentos e competências adquiridos pelos alunos em fase de conclusão dos cursos de graduação [4]. &' artigo 03 - Luciano.pmd 189 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Neste contexto, a Lei 9.131 fixa que o ENC tem por objetivo avaliar os cursos de graduação e os conhecimentos e competências adquiridos pelos alunos que estão em conclusão dos cursos superiores e, assim, alimentar os processos de decisão e de formulação de ações voltadas para a melhoria dos cursos de graduação [5]. O ENC visa, então, complementar as avaliações mais abrangentes das instituições e cursos de nível superior que analisam os fatores determinantes da qualidade e a eficiência das atividades de ensino, pesquisa e extensão, obtendo dados informativos que reflitam, da melhor maneira possível, a realidade do ensino superior brasileiro [1]. A Lei nº 9.131 estabelece, ainda, a obrigatoriedade do Exame para a obtenção do diploma, independentemente do grau atingido pelo aluno na avaliação [4]. Os resultados alcançados individualmente não são divulgados publicamente. No entanto, tem sido amplamente discutido e questionado, com relação à avaliação do aluno, que a metodologia de avaliação utilizada pelo MEC per mite obser var apenas parte do nível de conhecimento atingido pelo mesmo ao final de sua graduação, em uma única situação de prova, abrangendo determinados conteúdos, não poderia revelar o conhecimento real adquirido por este aluno no curso superior realizado [3]. Lembra-se que o ENC é composto de um teste de conhecimento acompanhado por um questionário com itens que captam as características sócio-demográficas, econômicas e culturais dos estudantes avaliados, além de suas atividades escolares durante o curso de graduação e suas avaliações pessoais sobre o curso, considerando as condições físicas da instituição e suas contribuições para a inserção dos alunos no mercado de trabalho. As questões do teste de conhecimento são construídas tendo como referência as diretrizes curriculares emanadas de cada área de graduação, sendo as provas constituídas de questões objetivas tipo múltipla escolha e discursivas de acordo com as opções das diferentes comissões [6,7]. Segundo Castilho & Cohn [3], o ENC inserese no contexto mais amplo de avaliação educacional, definido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20/12/1996, que determina a concessão, por tempo limitado, do reconhecimento de cursos e do credenciamento de instituições de educação superior. O ENC passa, então, a constituir um dos instrumentos a ser utilizado pelo MEC para o recredenciamento de Instituições de Ensino Superior (IES). Vale ressaltar aqui que a incorporação de cursos no programa de avaliação é gradativa, cabendo ao MEC definir, anualmente, aqueles que passarão a fazer parte da avaliação. Na primeira avaliação do ENC foram escolhidos os cursos de Administração, Direito e Engenharia Civil. Conforme o INEP [6], no exame de 2001, foram avaliados vinte cursos e, em 2002, foram incluídos na avaliação os cursos de Enfermagem, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Contábeis e História, conforme estabelecia a Portaria Ministerial nº 1295, de 28 de junho de 2001. Desde que surgiu, o ENC estimulou o debate, gerando críticas e quebrando a letargia de algumas IESs, tornando-se objeto de discussão e polêmica, e provocando forte impacto na comunidade acadêmica brasileira [4]. Uma das principais reações apresentadas por sindicatos de professores e organizações estudantis ao ENC foi a organização de boicotes às provas [4], como forma de demonstrar a recusa e incredulidade neste método avaliativo. Porém superadas as reações iniciais, o ENC consolidou-se como um dos principais indicadores da qualidade e um importante agente de transformação do ensino superior no Brasil. Diante destes fatos, os objetivos deste trabalho podem ser assim definidos: Objetivos 1. Identificar a compreensão dos alunos da 4ª Série do Curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP quanto ao Exame Nacional de Cursos; 2. Levantar a adesão ou não à realização deste exame e os respectivos motivos apresentados. Material e métodos Realizou-se um estudo exploratório, no mês de fevereiro de 2002, entre 49 acadêmicos da 4ª série do Curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP, o que corresponde a 86% do total dos alunos matriculados nesta série. Os dados foram obtidos após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da FAMERP. Para a coleta dos dados, aplicou-se um ' artigo 03 - Luciano.pmd 190 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) questionário contendo perguntas abertas e fechadas sobre o ENC. Os dados obtidos foram agrupados segundo as especificidades das respostas, tratados em função de índices absolutos e percentuais e são apresentados em tabelas e figuras. Resultados e discussão Quanto à definição do ENC, observou-se na tabela I que 40,8% relata ser uma maneira de avaliar a IES e, indiretamente, o aluno, trazendo melhorias para a instituição. Na verdade, o ENC é um dos elementos da prática avaliativa, sendo que este exame não se constitui, portanto, em um mero programa de testagem, nem no único indicador a ser utilizado nas avaliações das instituições de ensino superior [1]. Na tabela II, quanto aos benefícios que o ENC proporciona ao aluno e à IES, 40,8% referem o reconhecimento da IES, melhora na concorrência, criando maiores oportunidades de trabalho, maior possibilidade de melhoria da qualidade da IES para os próximos anos. Tais opiniões são semelhantes à Castro [8] que destaca que, com o ENC, houve melhora, por exemplo, na qualificação dos docentes, com títulos de mestres e doutores, passando de 33% para 55% dos cursos avaliados, sendo que estes professores mais qualificados apareceram, justamente, nas áreas onde havia poucos mestres e doutores. Na prática, o ENC provocou ao menos um verdadeiro terremoto no sistema do ensino superior. O sistema estava parado, completamente acomodado a uma situação de ter cursos já reconhecidos e que não eram mais avaliados. De repente, todos os diretores de faculdades, os coordenadores de cursos, professores, pais, estudantes, integrantes dos conselhos de faculdades públicas e privadas passaram a se preocupar com a qualidade do curso. Enfim, a questão da qualidade da graduação entrou na pauta de discussões da sociedade, com melhora do projeto pedagógico e das condições de oferta do curso [9]. O mesmo autor cita, ainda, como benefício, o incentivo aos estudantes em se dedicarem durante o curso, não só estudando, mas também exigindo das instituições a oferta das condições necessárias para um bom aprendizado. Tabela I - Distribuição das definições atribuídas ao ENC pelos alunos. Definições Avaliação injusta / Medir conhecimentos - as notas / Primeiro passo para privatização das IES Melhoria do Ensino - das IES / Maneira de avaliar a IES e o aluno indiretamente Deveria avaliar o nível da IES / Método injusto, mas única forma de avaliação Método ilusório - pensa que avalia / Prejudica o recém formado na busca de emprego Jogo político Método controverso - confronta ideologia estudantil X intenção do Ministério Método de avaliação de conteúdos / Retrata a IES Método que não avalia o relacionamento e a capacidade de cuidados do aluno (de enfermagem) com o paciente Método de avaliação da qualidade do ensino oferecido pela IES classificatório, ranqueador Total Tabela II - Distribuição dos benefícios trazidos pelo ENC, segundo os alunos. Benefícios Mostrar nosso potencial na vida profissional / Maior prestígio para a IES Oportunidade de o aluno avaliar sua capacidade e conhecimentos Prestígio / Valorizar a IES / Mostrar conhecimentos e competências dos alunos e potencial da IES Reconhecimento da IES / Melhora na concorrência / Maiores oportunidades de trabalho / Melhores alunos / Maior qualidade e melhor estrutura nos próximos anos Investimentos da IES na melhoria da qualidade do ensino e na estrutura física Valorização da IES / Maior qualidade de ensino / Maior empenho de professores e alunos Melhorias para os anos subseqüentes Não citaram benefícios Total Nº 3 20 4 1 3 1 1 % 6,1% 40,8% 8,2% 2,0% 6,1% 2,0% 2,0% 2 14 49 4,1% 28,6% 100,0% Nº 2 1 8 20 6 6 1 5 49 % 4,1% 2,0% 16,3% 40,8% 12,2% 12,2% 2,0% 10,2% 100,0% ' artigo 03 - Luciano.pmd 191 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Tabela III - Distribuição dos malefícios trazidos pelo ENC, segundo os alunos. Malefícios Colocar em dúvida a capacidade dos professores Dificuldade de acesso ao mercado de trabalho Perda do prestígio / Prejuízos para o futuro profissional / Denegrir o currículo do aluno rotulado pela nota / Menor oportunidade de emprego Sobrecarga do aluno Não causará malefícios à IES, somente ao aluno Fechamento dos cursos e IES Insegurança e desemprego Não citaram malefícios Total Nº 1 8 % 2,0% 16,3% 22 3 1 3 3 8 49 44,9% 6,1% 2,0% 6,1% 6,1% 16,3% 100% Na figura 1, notou-se que 36% apresentaram como justificativa para a realização do ENC a obrigatoriedade e a intenção de lutar por uma avaliação mais justa. Nesse estudo os resultados não demonstraram aversões ao ENC, mas propuseram um processo avaliativo mais justo. No entanto, as críticas e manifestações contrárias ao ENC não deixaram de existir, uma vez que novos cursos são inseridos anualmente no processo de avaliação. O INEP [4] refere que se encontra, ainda, quadros de revoltas e desconfianças, principalmente por parte daqueles que irão realizar o exame pela primeira vez. Notou-se na figura 2 que a maioria (98%) fariam o ENC e 69,4% estavam acompanhando as notícias sobre o ENC. Desta forma, ficou claro que os alunos não são favoráveis ao boicote ao ENC e que estão informados e empenhados para que o ENC, que já foi legitimado traga a IES um debate muito rico e contribuições importantes para a graduação. Figura 1 - Distribuição das justificativas para a realização do ENC. Na tabela III, verificam-se como malefícios citados por 44,9% a perda do prestígio e prejuízos para o futuro profissional. Acreditam, também que o mau rendimento irá denegrir o currículo do aluno que passará a ser rotulado pela nota, levando a uma menor oportunidade de emprego. Este fato não foi encontrado na literatura, mas, na prática, sabemos que muitas instituições estão tomando o resultado obtido pelo aluno no ENC como subsídio para a contratação dos profissionais. Com a missão de verificar as condições específicas de cada curso de graduação submetido ao ENC, nas opiniões e discussões sobre o assunto são ressaltados vários pontos importantes para melhorar este processo avaliativo. Um bastante abordado é que se devem aplicar os critérios de qualidade de forma individualizada para os cursos que estão sendo avaliados, levando em conta o conjunto da instituição e suas prioridades deixando, assim, a visão mecanicista de aplicar um formulário e uma avaliação padrão, atribuindo notas por itens analisados, sem permitir uma visão crítico-reflexiva. Figura 2 - Distribuição dos alunos segundo a realização e o acompanhamento de notícias sobre o ENC. ' artigo 03 - Luciano.pmd 192 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Conclusão Segundo os objetivos definidos neste estudo, os resultados obtidos demonstraram que a maioria dos estudantes apresenta um conhecimento adequado sobre o ENC, embora boa parte deles não tem acompanhado rotineiramente as notícias acerca do mesmo e acreditamos que pelo curso ter somente 10 anos, falta na prática o interesse em compreender melhor todo o contexto para saber discernir e argumentar a decisão. Os benefícios e os malefícios esperados com o ENC que foram apresentados são bastante concretos, apesar de não ser citado, em momento algum, que a ausência ao exame implica ao não recebimento do diploma que também não será registrado. No 6 º SENADEN foi elaborada uma carta de repúdio ao ENC, solicitando modificações e estratégias para uma avaliação mais justa, como foi citado pelos estudantes neste estudo, o compromisso de não realizar cursos preparatórios a partir deste evento e se soubessem da realização do mesmo em alguma instituição, que fosse denunciado. Já a Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem colocaram que a única estratégia no momento era o boicote, por acreditarem em ser uma avaliação que interfere no presente e futuro da instituição, por ser imposta de cima para baixo, ranqueadora, punitiva ou premiativa e que querem uma avaliação crítica e libertária. Assim, a obrigatoriedade da realização do exame gera um comprometimento dos estudantes quanto à realização do mesmo, o que ocasiona uma certa apreensão por parte dos coordenadores e professores da instituição quanto ao rendimento que será apresentado pelos mesmos. No entanto, docentes e estudantes necessitam trabalhar juntos em busca de estratégias e que não fique somente em críticas por críticas e sim sugestões, soluções para que a comissão de especialistas da enfermagem do ENC contribua com tal processo avaliativo, de forma a contribuir para a eficácia na formação de enfermeiros competentes. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Seabra E.G. Sistema de avaliação do ensino superior: exame nacional de cursos. ROBRAC;1999(8)25:27-8. Elliot LG. Exame nacional de curso: da polêmica e ações. Ensaio: avaliação e políticas públicas em educação; 1996(4)13. Castilho EA, Cohn A. Considerações sobre o provão. Cad Saúde Pública 2000;(16)4. INEP. Provão. Exame nacional de cursos: relatório síntese. Brasília: Inep; 1999. Disponível em: URL: <http: //www.inep.gov.br/enc/provão99/index.html> INEP. Exame Nacional de Cursos. 2000. Disponível em: URL: <http: //www.inep.gov.br/enc/ provão2000/default> INEP. Exame Nacional de Cursos. 2001. 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K '! artigo 03 - Luciano.pmd 193 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Artigo original Habilidades da enfermagem e conceitos para o cuidado de pacientes terminais em um hospital particular da Região Nordeste do Rio Grande do Sul Sandra Lúcia Radaelli*, Pedro de Abreu Gaspar, D.Sc.** *Acadêmica de Enfermagem da Universidade de Caxias do Sul, **Enfermeiro, professor de Departamento de Enfermagem e do Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul Resumo O objetivo deste estudo é analisar e descrever a percepção da equipe de enfermagem em relação ao cuidado diário de pacientes terminais. Os dados foram coletados através de um questionário entregue à equipe de enfermagem do Centro de Terapia Intensiva Adulto de um hospital particular de Caxias do Sul. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo análise de conteúdo. A investigação obteve uma amostra de 12 profissionais; 1 enfermeira, 2 técnicos e 9 auxiliares de enfermagem. Os resultados mostraram que em 36,3% das respostas, o equilíbrio emocional apareceu como a principal habilidade necessária para lidar com as situações de morte e em 50% das respostas a família apareceu como a principal dificuldade no atendimento a pacientes terminais. A conclusão sugere haver a necessidade de um aperfeiçoamento da equipe de enfermagem em relação ao conceito de morte, ao equilíbrio emocional para exercer o ato de cuidar e de se relacionar com a família. Palavras-chave: equipe de enfermagem, paciente terminal, morte. Artigo recebido em 11 de junho de 2004; aceito em 25 de julho de 2004. Endereço para correspondência: Pedro de Abreu Gaspar, Departamento de Enfermagem, Universidade de Caxias do Sul, Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 bl S, 95070-560 Petrópolis RJ, Tel: (54) 218-2100, E-mail: [email protected] '" artigo 04 - Sandra.pmd 194 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Abstract Concepts and nursing abilities in taking care of terminal patients in a private hospital of the northeastern of Rio Grande do Sul The aim of this study is to analyze and describe a nursing staff perception in relation to the daily care of terminal patients. The data were collected through a questionnaire given to the nursing staff in the adult intensive care unit of a private hospital in Caxias do Sul. It is a qualitative research called content analysis. The investigation was carried on with 12 professionals - 1 nurse, 2 technicians and 9 auxiliary nurses. In 36% of the answers, the results show that emotional balance is the main necessary ability required to deal with death situations and in 50% of the answers, the terminal patients family seem to be the main difficulty to deal with. We strongly suggest the need of training nurses to change their death related concepts and emotional balance in relation to terminal patients families. Keys-words: nursing staff, terminal patient, death. Resumen Habilidades de la enfermería y conceptos para con el cuidado a pacientes terminales de un hospital particular de la Región Nordeste de Rio Grande do Sul El objetivo de este estudio es analizar y describir la percepción del equipo de enfermería con relación al cuidado diario de los pacientes terminales. Los datos fueron recogidos a través de una encuesta que fue entregue a los trabajadores de enfermería del centro de terapia intensiva adulto de un hospital particular de Caxias do Sul. Se trata de una investigación cualitativa caracterizada por análisis del contenido. La investigación obtuvo una muestra de 12 profesionales; 1 enfermera, 2 técnicos y 9 auxiliares de enfermería. Los resultados demostraron que en el 36% de las respuestas, el equilibrio emocional aparece como la habilidad principal necesaria para asistir las situaciones de muerte y en el 50% de las respuestas la familia se muestra como la dificultad principal para atender a los pacientes terminales. Conclusión: es necesario que haya un perfeccionamiento de los trabajadores de enfermería con relación al concepto de muerte y sobre el equilibrio emocional para ejercer el acto de cuidar y saber relacionarse con la familia. Palabras-clave: equipo de enfermería, paciente terminal, muerte. Introdução A morte é parte integral da existência humana e, no entanto, é um tema evitado e até mesmo negado em nossa sociedade. Isso decorre, dentre outros aspectos, pelo fato de sermos poupados desde a infância, de vivenciarmos a morte e o morrer [1]. Com o avanço da ciência e da tecnologia, a morte pode ser até retardada. Era de se pensar também que o homem tivesse, pelo seu alto grau de emancipação, descoberto meios que proporcionassem maior preparo às pessoas para se haverem com tal fenômeno, entretanto, não é isso que nos apresenta. Ao contrário, a morte continua sendo um tabu. Os eufemismos permanecem [2]. É impossível ao homem pensar, imaginar um fim real de sua própria vida. Nosso inconsciente não aceita a morte como algo natural que faz parte do próprio existir. Significa que o homem, talvez, não seja suficientemente preparado para enfrentar essa etapa que faz parte de nosso ciclo vital, pelo fato da morte ainda ser considerada um tabu na sociedade ocidental [3]. O enfrentamento da morte, com o passar dos anos, vem sofrendo modificações, deixando de ser um cerimonial cultuado entre os familiares e amigos, para ser vivenciado ao lado de estranhos. Nos dias atuais, doença e morte são uma realidade das instituições de saúde. Estas, inseridas no sistema para o qual foram preparadas, ficam alicerçadas a uma estrutura muitas vezes desumana, separando o homem do contexto em que vive, levando-o a '# artigo 04 - Sandra.pmd 195 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) encontrar dificuldades no adoecer e morrer [4]. A morte é percebida pelas pessoas que convivem com o ser-morrendo como uma possibilidade remota, só possível de acontecer com os outros. E assim predomina a relação interpessoal entre o sermorrendo e os demais seres que o rodeiam, como uma alternativa de convívio com a angústia, decorrente da verdade absoluta que é a morte [5]. Para a natureza, a morte é um fenômeno fatalista, ou seja, todo ser vivo está condicionado a morrer; para o ser humano, entretanto, a morte é percebida como algo obscuro, distante e doloroso. O lado humano do cuidar cedeu lugar à busca desenfreada do curar. Esta busca leva, muitas vezes, os profissionais a prolongarem a vida sem mesmo preocuparem-se em perceber os desejos do paciente e de seus familiares. Como nem sempre é possível curar, a frustração é um sentimento comum frente à morte. Assim sendo, não é fácil encarar a morte, bem como estar com as pessoas que acabaram de perder alguém. A convivência com a morte faz parte do cotidiano de trabalho de profissionais da saúde, causando-lhes sobrecarga emocional, ansiedade e depressão. Tal situação fica agravada com a constatação de que seu preparo profissional, nesta área, freqüentemente se resume aos aspectos de desenvolvimento de habilidades técnicas e fundamentos teóricos da fisiopatologia, o que de certa forma, está em consonância com o atendimento que se vê atualmente em saúde / despersonalizado, tecnicista e mecânico [6]. Tem-se como pressuposto que os profissionais de saúde vêem friamente e como um fato desagradável a morte, mas, comumente isso não é discutido porque põe em evidência o limite profissional. Neste enfoque, é comum que sejam vistos como frios, mas a verdade é que mascaram e negam seus sentimentos e emoções ao lidar com a morte, no cumprimento das rotinas de trabalho [7]. Uma das grandes dificuldades dos profissionais da saúde que prestam atendimento a pacientes fora de possibilidade terapêutica é não reconhecer a própria finitude. Utilizam-se de mecanismos de defesa para negar um acontecimento natural e inevitável da vida. O discurso institucional, em nome do profissionalismo, estimula a impessoalidade e tenta distanciar quem trabalha no hospital dos principais fatos que configuram esta realidade, isto é, a dor, o sofrimento e a morte. Na prática cotidiana é possível observar que a equipe de enfermagem, não raras vezes, apresenta dificuldades profissionais e pessoais que acabam por interferir na dinâmica e na assistência prestada por estes aos pacientes. Essas dificuldades dizem respeito às angústias relacionadas, entre outras, à possibilidade de morte do paciente, aos sentimentos de impotência e à desvalorização do seu trabalho por parte de alguns membros da equipe multiprofissional [8]. Entretanto, existem profissionais que gostariam de fazer mais por este paciente e não se encontram com conhecimento suficiente sobre o processo que envolve o paciente que está encarando a morte próxima e sua família, que convive com o luto antes mesmo que o paciente venha a falecer. Material e Métodos Tipo de estudo Trata-se de um estudo descritivo, que tem como objetivo analisar e descrever a percepção da equipe de enfermagem em relação ao cuidado diário de pacientes com risco de morte, conhecendo as dificuldades e o grau de preparação e conhecimento da equipe em relação à fase terminal da vida. Local Este estudo foi desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva Adulto de um hospital particular de Caxias do Sul RS. Este local foi escolhido, pois é, provavelmente, uma área de trabalho onde os profissionais se defrontam mais facilmente com o ser morrendo e enfrentam o maior número de casos e situações de morte. Amostra Na amostra foram envolvidas as equipes de enfermagem (enfermeiras, técnicos e auxiliares de enfermagem) dos turnos da manhã (1 enfermeira e 6 técnicos), tarde (1 enfermeira e 6 técnicos), noite A (1 enfermeira e 6 técnicos) e noite B (1 enfermeira e 6 técnicos), perfazendo um total de 28 profissionais de enfermagem. Coleta de dados A investigação se deu através de um questionário, com perguntas objetivas e subjetivas, '$ artigo 04 - Sandra.pmd 196 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) entregue à equipe de enfermagem, ou seja, 28 questionários foram entregues, entretanto, apenas 12 foram respondidos. Portanto, a investigação abrangeu uma amostra de 12 profissionais de saúde, 1 enfermeira , 9 técnicas de enfermagem e 2 auxiliares de enfermagem. Análise dos dados A análise dos dados é do tipo qualitativa descritiva, embora tenha algumas questões quantitativas, pois os elementos básicos são palavras, idéias, sentimentos e percepções. A análise de conteúdo foi utilizada, pois é uma técnica que pretende analisar, sobretudo, as formas de comunicação verbal, escrita ou não escrita, que se desenvolvem entre os indivíduos. Desde o texto literário, passando pelas entrevistas e discursos tudo é susceptível de ser analisado por esta técnica. Pode-se definir a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que per mitam a inferência de conhecimentos relativos às variáveis inferidas destas mensagens [9]. Resultados e discussão Através da análise dos dados, pode-se observar que a idade dos profissionais da equipe de enfermagem varia entre 20 e 53 anos, porém, a maior parte da amostra, (58,3%) têm entre 26 e 35 anos, verifica-se, portanto, que uma parcela grande da mostra é jovem. Em relação ao gênero, apenas 8,1%, ou seja, uma pessoa é do sexo masculino, as demais são mulheres, o que reforça a velha concepção de que a enfermagem é uma profissão feminina [3]. O tempo de profissão da equipe variou entre poucos meses há 14 anos; a maior parte da amostra (58,3%) exerce a enfermagem entre 6 e 10 anos. Em relação à experiência em Unidade de Terapia Intensiva 41,6% relataram trabalhar entre 1 e 5 anos; 33,3% trabalham na área entre 6 e 10 anos; e 25% da amostra trabalham em UTI a menos de 1 ano. Nenhum dos indivíduos tem experiência em UTI há mais de 10 anos. Verifica-se, então, que a maior parte da amostra é composta por profissionais com experiência em unidades de terapia intensiva. Dos par ticipantes da amostra, 100% descreveram estarem aptos a estabelecer uma relação de cuidado com o paciente terminal; 83,3% relataram ter tido algum conhecimento sobre a morte e como lidar com o paciente terminal durante o curso de enfermagem; e 16,6% revelam que nunca tiveram contato com esse tema durante sua formação. Os enfermeiros assistem a muitas mor tes em diferentes circunstâncias e acometendo pessoas em diversas fases de seu ciclo vital. No entanto, nem sempre são preparados durante a g raduação para enfrentar tal situação, ao menos no que tange aos âmbitos psicológicos e emocionais envolvidos na atenção profissional [10]. Quando questionados em relação à busca por conhecimentos sobre a fase final da vida, 66,6% revelaram interesse e 33,3% relataram nunca terem buscado informação a respeito. Dos indivíduos que buscam novos conhecimentos, a principal fonte de atualização de dados é a literatura, seguida pela experiência profissional e pelas crenças religiosas. Os profissionais de saúde devem estudar o processo da morte como parte da existência, para que possam estar de melhor forma consigo mesmos, ao atender pacientes em sua terminalidade, agindo de modo mais efetivo e eficaz [5]. Na Tabela I são mostradas as categorias utilizadas pela equipe de enfer magem para conceituar o fenômeno morte, 25% da amostra definem a morte como fim; 25% como um processo natural; 12,5% como algo inevitável; 18,7% caracterizam a morte dentro da visão Cientifista/Mecanicista e 18,7% conceituam a morte como uma passagem. O conceito científico de morte é a ausência de função cerebral [3], entretanto, é notável observar que o conceito de morte encefálica não foi mencionado pelos profissionais em nenhum momento. Questionase qual seria a razão pela qual a morte encefálica não foi citada pela equipe, que certamente já vivenciou várias situações em que pacientes foram diagnosticados com morte cerebral e permaneceram sob seus cuidados até o último desfecho. Seria uma falha do instrumento utilizado ou realmente há uma falta de esclarecimento sobre o conceito de morte por parte da equipe? '% artigo 04 - Sandra.pmd 197 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Tabela I - Conceito de morte. Categorias Fim Exemplos fim do sofrimento etapa final do ciclo vital final de uma fase fim N 4 % 25 Processo natural processo natural normal algo que faz parte da vida do ser humano algo certo para todos 4 25 Inevitável algo que não pode ser evitado é inevitável 2 12,5 evento biológico irreversível falência múltipla de órgãos é quando todo os órgãos param de funcionar 3 18,7 uma passagem passagem para o mundo dos espíritos passagem na qual ninguém está livre 3 18,7 Total 16 100 Visão Cientifista/Mecanicista Passagem Na Tabela II são definidos os aspectos relevantes na assistência ao paciente terminal relatados pela equipe de enfermagem. O cuidado humanizado foi o aspecto mais citado pela amostra, somando um total de 28,5%; a abordagem espiritual/religiosa foi relatada por 21,4%, promover o conforto e o alívio da dor foi comentada por 21,4%; o controle emocional foi citado por 7,1% das respostas, o intelectual por 7,1%; e a ética por 14,2%. Percebe-se, portanto, que a humanização do cuidado é vista pela maior parte da amostra como parte da assistência ao paciente terminal. Humanizar significa cuidar do paciente como um todo, englobando o contexto familiar e social [11]. A Tabela III elenca as dificuldades encontradas pela equipe de enfermagem no atendimento aos pacientes terminais. Pode-se perceber que entre 14 respostas, a família foi citada em 7, ou seja, 50%, seguida pelo envolvimento emocional com 14,2% das respostas, outras dificuldades também foram citadas, porém com porcentagem insignificante. Enfrentar a morte, os sentimentos de impotência, o receio de transmitir seus medos e angústias ao paciente, o sentimento de mal-estar, a dificuldade por se envolver emocionalmente são algumas dificuldades sentidas pelo profissional de enfermagem em seu trabalho [1]. Saber lidar com o sofrimento e Tabela II - Aspectos relevantes na assistência ao paciente terminal. Categorias Espiritual/Religioso Exemplos espiritual é o mais importante religiosos a fé ajuda a superar a ansiedade em relação à idéia de finitude e a religião suaviza o sofrimento N % 3 21,4 carinho, segurança respeito, solidariedade compaixão, trata-lo como ser humano 4 28,5 com o conforto necessário conforto e alívio da dor direito de descansar e não continuar agonizando 3 21,4 Controle emocional o controle emocional 1 7,1 Intelectual aspecto intelectual 1 7,1 Ética com ética ser ético Total 2 14 14,2 100 Cuidado humanizado Conforto e alívio da dor '& artigo 04 - Sandra.pmd 198 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Tabela III - Dificuldades encontradas no atendimento aos pacientes terminais. Categorias Família Exemplos sofrimento da família lidar com a família desespero dos familiares N % 7 50 sentimentos como dúvidas, ansiedade envolvimento emocional 2 14,2 Negação da morte pacientes que não aceitam a morte 1 7,1 Pacientes jovens quando os pacientes são jovens 1 7,1 Negligência quando há casos de negligência médica ou da enfermagem 1 7,1 Impotência a impotência 1 7,1 Médicos que não dão a importância necessária médicos que não dão a importância necessária 1 7,1 Total 14 100 Envolvimento emocional Tabela IV - Habilidades necessárias para lidar com as situações de morte. Categorias Exemplos N % Equilíbrio emocional Saber ter controle emocional ter equilíbrio emocional postura adequada saber agir de forma natural a uma interrupção da vida 8 36,3 Cuidado humanizado compreensão, comprometimento,atenção às necessidades e carinho solidariedade, carinho e confiança e humanização respeito ao ser humano ser humano 7 31,8 Ética ética e profissionalismo seriedade e ética ética profissional 3 13,6 Competência/Responsabilidade competência responsabilidade 3 13,6 Confortar os familiares confortar os familiares Total 1 4,5 22 100 Tabela V - Diferenças entre o cuidado prestado a pacientes terminais e outros pacientes. Categorias Desinteresse e desumanização do cuidado Exemplos atendimento ríspido em relação ao paciente terminal o paciente terminal é isolado, recebendo apenas os cuidados técnicos N 2 % 50 Equilíbrio emocional devemos ter equilíbrio emocional para lidar com pacientes terminais, pois estamos lidando com a perda 1 25 Atenção psicológica devemos ter mais atenção em relação ao seu quadro psicológico, pois não terá sobrevida Total 1 25 4 100 '' artigo 04 - Sandra.pmd 199 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) angústia dos familiares é uma tarefa difícil que envolve muito equilíbrio, entretanto, a presença da família junto ao paciente terminal deve ser estimulada, pois reafirma sua segurança, que com a doença sente-se fragilizado, reequilibrando-o psicologicamente. O paciente sente-se protegido e mais familiarizado com o ambiente hostil do hospital. A Tabela IV cita as habilidades necessárias para lidar com situações de morte descritas pela equipe. O equilíbrio emocional foi o item mais citado, num total de 22 respostas, ele apareceu 8 vezes, correspondendo a 36,3% do total; o cuidado humanizado também obteve uma significativa representatividade, aparecendo em 31,8% das respostas; outras habilidades como ética, competência/responsabilidade também foram elencadas e obtiveram 13,6% do total de respostas; saber confortar os familiares também apareceu em uma das respostas. Pode-se perceber que o aspecto emocional é bastante valorizado pela equipe, pois o mesmo já foi mencionado anteriormente como um fator dificultador na assistência ao paciente terminal. Com isso, talvez, possa-se dizer que as instituições hospitalares e de formação profissional devam preparar melhor os profissionais para lidarem com situações de morte. Não se quer, com isso, dizer que não deva haver envolvimento emocional, pelo contrário, mas sim que este não gere dificuldades à equipe na execução de suas atividades. A equipe de enfermagem foi questionada se havia diferença entre o cuidado prestado a pacientes terminais e o destinado a outros pacientes, das 12 respostas 4 foram afirmativas, para estes, foi questionado quais seriam estas diferença. Através dos dados da Tabela V demonstra-se que 50% referiram a desumanização do cuidado e o desinteresse pelo paciente terminal; outra diferença citada foi o equilíbrio emocional que deve estar implícito no profissional que lida com pacientes terminais. Também foi relatado que se deve ter mais atenção ao quadro psicológico do paciente terminal, pois este não terá sobrevida. Questiona-se se a atenção ao quadro psicológico dos pacientes com chances de sobrevida e de recuperação não esteja sendo negligenciado devido a essa ênfase dada ao cuidado do paciente terminal? Outra vez, observa-se o equilíbrio emocional implícito, reforçando a idéia de que é um aspecto importante e que deve ser discutido com a equipe. Por outro lado, existem profissionais que utilizamse de mecanismos de defesa para evitar um maior envolvimento emocional, tornando o seu cuidado impessoal e fragmentado [11]. Porém, não se deve esquecer de que o paciente não tem culpa de não sabermos lidar com nossos sentimentos, ele deve, incondicionalmente, receber todas as medidas de assistência necessárias para um cuidado mais humanizado. Conclusões Pode-se dizer que, neste estudo, a maior parte da amostra, mesmo estando diariamente em contato direto com os pacientes terminais, apresenta dificuldades técnico-científicas e mesmo emocionais para lidar com esse perfil de pacientes. A morte é vista como algo difícil, doloroso e constrangedor. Conviver com a dor dos familiares é, talvez, uma das maiores dificuldades encontradas pela equipe de enfer magem, seguida pelo envolvimento emocional em situações de perda. Verifica-se, portanto, que é necessário um aperfeiçoamento da equipe de enfermagem não apenas no que tange às questões técnicas, mas, principalmente, no que diz respeito ao desenvolvimento como ser humano, assim como sugerese que as escolas e instituições hospitalares devam se ater a estas questões nos programas de reciclagem e educação permanente. Os sentimentos e atitudes da equipe de enfermagem com relação à morte e ao morrer são pouco conhecidos. Compreendê-los melhor poderia resultar não apenas na resolução de deter minadas dificuldades inerentes ao tema, como aprimorar a relação enfermagem-paciente terminal. Referências 1. 2. 3. Ferraz AF. Assistência de enfermagem a pacientes em fase terminal. Brasília: Rev Bras Enfermagem 1989;(39)1:50-60. Kestemberg CC, Sória DAC, Paulo EFP. Situações de vida e morte uma questão reflexiva. Brasília: Rev Bras Enfermagem 1992;(45)4:259-65. Smeltzer SC, Bare BG. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. artigo 04 - Sandra.pmd 200 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) 4. 5. 6. 7. Spíndola T, Macedo MCS. A morte nos hospitais e seu significado para os profissionais. Brasília: Rev Bras Enfermagem 1994;(47)2:108-17. Cheida MLC, Christófolli DAS. A equipe de enfermagem frente à problemática da assistência individualizada ao paciente terminal. Brasília: Rev Bras Enfermagem 1984;(37)3/4:165-73. Louzã JR, Louzã Neto MR. O hospital e a morte. São Paulo: Martins Fontes; 1982. Ribeiro MC. A percepção da equipe de enfermagem em situação de morte: ritual do preparo do corpo pós- morte. São Paulo: Rev Esc Enfermagem USP 1998;(32)2:117-23. 8. Martins LE, Alves NR, Godoy SAF. Reações e sentimentos do profissional de enfermagem diante da morte. Brasília: Rev Bras Enfermagem1999;(52)1. 9. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977. 10. Arantes JT. A vida além da morte. Galileu 1998;87: 72-81. 11. Bird B. Conversando com o paciente. São Paulo: Manole; 1979. K artigo 04 - Sandra.pmd 201 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Revisão Cuidando dos clientes no home care: uma re-leitura das perspectivas do mercado para a prática clínica e social de enfermagem Wiliam César Alves Machado, D.Sc.*, Uiara Kristina Cardoso Mantovani**, Felipe Azevedo Berbert*** *Professor Titular da Faculdade de Enfermagem de Juiz de Fora UNIPAC, Coordenador do Projeto de Pesquisa na UNIPAC, Pesquisador do CNPq, **Graduanda do 5º Período da Faculdade de Enfermagem de Juiz de Fora UNIPAC, Voluntária no Projeto de Pesquisa da UNIPAC, *** Graduando do 3º Período da Faculdade de Enfermagem de Juiz de Fora UNIPAC, Voluntário no Projeto de Pesquisa da UNIPAC Resumo Trata-se de uma revisão bibliográfica acerca das especificidades do Home Care em face do indispensável papel de liderança exercido pelo enfermeiro no desempenho da diversidade do cuidado de enfermagem, representada por um conjunto de atividades de cunho técnico-científico para suprir as necessidades dos clientes, famílias e/ou pessoas significativas, envolvidas no dinâmico processo de educação para a saúde em nível domiciliário. O ponto de partida para estudo e reflexão da temática convergiram das ponderações do autor do estudo, quando apresentado e discutido entre estudantes de graduação nas atividades da disciplina Ética e Legislação em Enfermagem, visando estimular o raciocínio crítico sobre as dimensões da prática do enfermeiro no Home Care. Momentos proveitosos de intenso debate permeado pelos aspectos ético-legais indissociáveis ao exercício profissional e os papéis a serem assumidos pela categoria, enquanto área de conhecimento e prática autônoma do setor saúde. Palavras chave: cuidado de enfermagem, home care, prática social. Abstract Taking care of clients in home care: re-reading of the market perspectives for clinical and social nursing practice This is a revision of literature concerning Home Care peculiarities focusing nurses leadership during nursing care performance, represented by a technical-scientific set of activities to supply the customers needs, families and/or significant people, involved in the dynamic education process for health promotion in domicile level. The starting point study and thematic reflexion tend towards authors considerations, when presented and discussed among nursing students in the activities of the Artigo recebido em 2 de março de 2004; aceito em 1 de maio de 2004. Endereço para correspondência: Wiliam César Alves Machado, Rua Silva Jardim, 5 Centro 25805-160 Três Rios RJ, Tel.: (24) 2255-5840, E-mail: [email protected] artigo 05 - Wiliam.pmd 202 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) discipline Ethical and Legislation in Nursing, aiming at stimulating the critical reasoning on the dimensions of the male nurse practice in Home Care. Intense debates permeated by the ethical-legal aspects indispensable to the professional exercise and the rules assumed by the category provide valuable information for the students. Key-words: nursing care, home care, social practice. Resumen Cuidando de los clientes en home care: una relectura de las perspectivas del mercado para la práctica clínica y social de enfermería Se trata de una revisión bibliográfica acerca de las especificidades del Home Care con respecto al papel de liderazgo del enfermero en el desarrollo de la diversidad de cuidado de enfermería, representada por un conjunto de actividades técnicocientíficas para atender a las necesidades de los clientes, familias y/o personas significativas, involucradas en el proceso dinámico de educación para la salud a nivel domiciliario. El punto de partida para este estudio y reflexión temática se originó a partir de las ponderaciones del autor cuando presentadas y discutidas entre los estudiantes de graduación en las actividades de la asignatura Ética y Legislación en Enfermería, con la finalidad de estimular el raciocinio critico sobre las dimensiones de la práctica del enfermero en el Home Care. Estos intensos debates permeados por los aspectos ético-legales indispensables al ejercicio profesional y a los papeles que deben ser asumidos por la categoría, proporcionaron vivencias de gran valor a los estudiantes. Palabras-clave: cuidado de enfermería, home care, práctica social. Introdução Como agentes sociais responsáveis pelo redimensionamento das ações de cuidar, orientar e primar pela qualidade de vida e saúde da sociedade, cabe-nos o legado de transpor barreiras históricopolítico-sociais que, freqüentemente, tendem a cercear nossos direitos ao exercício profissional autônomo, devidamente assegurado pela legislação vigente. Temos consciência de que estamos vivendo grandes mudanças no cenário das práticas de saúde intra e extramuros institucionais e que nosso espaço já está sendo consolidado, ainda que a contragosto de algumas minorias totalitárias, corporativistas, retrógradas, do setor saúde. Nossa maior função como terapeutas do cuidado, porém, é a promoção da saúde e qualidade de vida da sociedade, em especial daqueles que precisam de nossos préstimos profissionais, e não mediremos esforços para dimensioná-los na prática, fazendo cumprir nosso compromisso essencial. O de prestar cuidados de enfermagem e servir aos nossos semelhantes, independente de questões menores. Por outro lado, acreditamos que o atual contexto de efusivas discussões conceituais e seus aspectos legais implicará na demarcação dos futuros espaços para a prática social no setor de Home Care, portanto, imprescindível se faz envolver estudantes de g raduação como legítimos representantes das futuras gerações de enfer meiros nos focos e enfoques das articulações políticas, ainda que através de situações simuladas implementadas como estratégias pedagógicas que contemplem as interfaces da realidade contextual. Só e apenas assim, eles irão adquirir maior capacidade de discernir acerca do que é mais humano nas decisões que implicam o jogo de poder da esfera política institucional, procurando sempre preservar a essência da enfermagem em prol da melhoria da qualidade dos serviços de saúde disponíveis a todos os cidadãos, dos menos aos mais favorecidos econômica e socialmente. ! artigo 05 - Wiliam.pmd 203 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Nuances dos princípios filosóficos e conceituais do Home Care Como já anunciava Nassif [1], o modelo mais eficaz para barateamento da saúde é mesmo o Home Care ou internação domiciliar que começa a se organizar também no Brasil, a exemplo do que já ocorre em outros países. Caracterizado como um sistema mais barato, mais humano, evita a proliferação de infecção hospitalar e é elemento essencial na chamada deshospitalização, ou seja, a tendência mundial de reduzir o número de internações e leitos nos hospitais. Porém, não se pode negar que essa nova indústria tem inúmeras facetas. De um lado, há o setor de produção de equipamentos, respiradores, camas, suporte de soro, oxigênio etc, evidentemente com seus interesses econômicos. De outro, a mão-de-obra que precisa ser treinada, de enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos, ao que acrescentaríamos grande parcela da classe médica que apresenta imanente dificuldade em compartilhar o trabalho no setor saúde, sem a pretensa soberba. Vale ressaltar que o preparo acadêmico e qualificação profissional na área de Home Care, no Brasil, começou na segunda metade dos anos 90, tendo na enfermagem sua liderança e principal enfoque. O que confirma a tese de que o Home Care é uma atividade essencialmente da competência do enfermeiro e equipe, posto que a grande maioria do que nele se faz é ou tem relação direta com o cuidado de enfermagem. Dentre os objetivos do Home Care destacase a humanização do cuidado e de todo o atendimento como a questão mais nobre, considerando que as internações hospitalares tradicionalmente têm sido alvos de críticas veementes dos usuários, alegando abuso de poder, descaso e negligências da equipe de saúde. A exemplo do que nos diz Hall [2]: Alguns médicos e a maior parte dos empregados dos serviços hospitalares são conhecidos pelo seu desprezo pelos costumes de um país. Isso não seria grave se os pacientes não sofressem as conseqüências. A mensagem circula, no entanto: o pessoal do hospital tem responsabilidades, é importante e o doente não é (já tem muita sorte por estar aqui). O doente, na maior parte dos casos, vê o seu estatuto reduzido em função de um conjunto de medidas e de critérios não-verbais, a ponto de não ser considerado um indivíduo. Ponto de vista também compartilhado com Machado [3], ao discorrer sobre sua experiência nada aprazível enquanto paciente do SUS, internado no programa de reabilitação de uma instituição especializada na cidade do Rio de Janeiro, entre dezembro de 1994 e agosto de 1996. A prestação de serviços em Home Health Care de forma holística e humanizada com participação efetiva e integrada entre clientes, familiares e cuidadores, deve primar pela busca incansável do promover, recuperar, reabilitar ou manter equilíbrio no estado de saúde dos clientes usuários de seus ser viços e configura-se fator de prioridade qualitativa e condição sine qua non para a consecução de seus propósitos. Para tal, as equipes que neles atuam desenvolvem seus trabalhos com enfoque no cliente e não na doença, tendo como meta a orientação para o autocuidado pautada em princípios e virtudes éticas que viabilizem o máximo de independência do cliente, ainda que estr uturando bases sólidas para deixá-lo integralmente sob cuidados de algum membro da família, após alta dos cuidados da equipe, evidentemente. Fato que não pode ser negado e ganha cada vez mais espaço e credibilidade junto aos usuários por força do marketing das empresas e cooperativas que atuam no mercado, algumas destacam que esta nova modalidade do serviço de saúde será capaz de romper os limites da internação hospitalar, permitindo que sua estrutura convencional transfira-se a um ambiente no qual o cliente provavelmente se sinta melhor: sua própria residência, promovendo a redução de riscos de infecções resistentes e a melhoria da qualidade de vida do cliente e da família minimizando o risco de perda do vínculo familiar. Fazendo uma leitura pautada no atual contexto do mercado, o Home Health Care surge como produto comercializado em nível de atendimento domiciliar que visa essencialmente humanizar a relação terapeuta x cliente, bem distante da realidade observada nos campos de práticas dos serviços de saúde institucionalizados, além de reduzir sobremaneira os custos das internações hospitalares, particularmente dos clientes com doenças crônicas, degenerativas, tratamentos a base de quimioterápicos, em processo de reabilitação, entre outros, viabilizando a continuidade do tratamento e dos cuidados no ambiente familiar e suas inúmeras vantagens para seu restabelecimento ou morte sem grandes sofrimentos. Aqui, denominamos terapeutas todos os profissionais envolvidos no processo de cuidar humanizado, pois cada um tem seu domínio de conhecimento, papel a desempenhar e prática profissional respaldada por legislação específica. " artigo 05 - Wiliam.pmd 204 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Faz mister destacar o papel exercido pelos terapeutas do cuidado, qual seja, dos enfermeiros e suas equipes no desempenho de atividades técnicocientíficas-humanísticas que concebem o cliente o cliente como um todo indissociável na busca do equilíbrio e resgate de seus potenciais iminentes. Abertura decorrente da contínua aproximação que se estabelece com as necessidades mais fundamentais do outro em seus vários desdobramentos, particularmente quando se trata de cuidado domiciliar. Por se caracterizar processo participativo, em essência, o Home Care requer dos profissionais que nele atuam muita astúcia na identificação dos potenciais do cliente, visando o estímulo e o fortalecimento de suas capacidades para que ele possa se sentir mais empenhado e receptivo para assimilar ao máximo as orientações que lhe serão oferecidas pelos seus cuidadores. Orientações, aliás, fundamentais para a promoção de sua qualidade de vida, conforto, segurança e saúde. Em matéria divulgada pela ABRAHHCARE [4] voltada para demonstrar os impactos e resultados da Conferência Internacional Panorama Mundial do Home Care, evento que reuniu em São Paulo cerca de 200 representantes de diversos segmentos ligados ao setor, nos dias 26 e 27 de novembro de 2001, destaca-se que o Secretário de Saúde do Estado de São Paulo declarou que a expansão do Home Care terá apoio do Governo, ao reconhecer que esta é uma modalidade de tratamento que cresce e torna-se a cada dia mais importante no setor saúde. Enfatiza ainda que o envelhecimento da população e a necessidade de humanização do atendimento são fatores preponderantes e presentes na maioria dos países em desenvolvimento, a exemplo da realidade já vivida nos países ricos e desenvolvidos, argumento compartilhado com o discurso da diretora da Organização Mundial de Saúde, Miriam Hischfeld. O Brasil vai precisar cada vez mais de instrumentos eficazes para atender seus idosos fora dos ambientes hospitalares, considerando a escassa oferta de leitos e os recursos financeiros insuficientes para atender a crescente demanda. Situação que pode em muito se agravar devido a tendência global de aumento da idade da população nos próximos 20 anos e que, somente no Brasil esta taxa de crescimento deverá atingir 200%, aduz Hirschfeld. Destaca que a principal preocupação hoje está nas diferenças observadas nos processos de envelhecimento ocorridos em diferentes países e lembra que o mundo desenvolvido enriqueceu antes de envelhecer. Ao passo que os países em desenvolvimento estão envelhecendo muito antes de enriquecer. Aliás, é o que se pode perceber na conjuntura da sociedade brasileira. Basta que se faça uma leitura dos indicadores sociais com bom senso. Sem dúvida, as perspectivas do mercado para o setor de Home Care são enormes e há espaço para atuação de várias categorias profissionais, seja interagindo direto na prestação de cuidados aos clientes, seja no desenvolvimento de pesquisas e estudos experimentais voltados para a descoberta de tecnologias aplicadas aos seus ilimitados desdobramentos na prática clínica. Porém, no âmbito do setor saúde, não seria mais justo e atual do ponto de vista acadêmico que o atendimento domiciliar ficasse desvinculado do cooperativismo da classe médica? Até porque estamos em pleno terceiro milênio, porém com discursos superados, retrógrados e compatíveis com a realidade de séculos atrás, quando pretensiosamente se atribuía ao saber médico algo apenas abaixo ao poder dos deuses. É preciso mudar e adequar a retórica e a prática adequando-as aos novos tempos, sobretudo concebendo o saber e fazer em saúde como processo terapêutico de caráter multidisciplinar e, como tal, certas intervenções terapêuticas específicas das demais categorias independem e/ou dispensam presença e avaliação de profissional médico. Não podemos perder de vista que as leis que regulamentam a prática profissional das demais categorias da área de saúde, definitivamente devem ser respeitadas para que não mais se cometam garfes. Do ponto de vista do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), o Home Care, Assistência Domiciliar e/ou Assistência Domiciliária, necessita atender e se enquadrar nas disposições da Lei 7498/ 86 [5] e no Decreto-Lei 94406/87 [6], ou seja, que exista o enfermeiro na direção, coordenação, planejamento, delegação e avaliação das ações relacionadas à assistência de enfermagem exercidas pelos técnicos e auxiliares de enfermagem. Segundo o COFEN, a assistência domiciliar deve ser considerada como um recurso a ser utilizado que procura manter o cliente junto à sua família, buscando-se o conforto e a recuperação, reabilitação bio-psico-social, além de primar pela garantia dos mesmos princípios de biossegurança a que os clientes teriam acesso na internação hospitalar tradicional [7]. É fundamental esclarecer que todas # artigo 05 - Wiliam.pmd 205 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) as atividades de Home Care envolvem certos graus de dependência do cliente, em termos de cuidados de enfermagem, devendo os mesmos ser avaliados e decididos pelo enfermeiro para a tomada de decisões e implementação de medidas terapêuticas de cuidados, pois nenhum outro profissional tem competência legal para determiná-las ou modificá-las. A Resolução COFEN 267 [8], dispõe sobre as atividades de enfermagem no Home Care, definindoas com as seguintes características: Define-se por Enfermagem em domicílio - home care a prestação de serviços de saúde ao cliente, família e grupos sociais em domicílio, e de acordo com a ResoluçãoCOFEN Nº 256 [9], esta modalidade assistencial exprime, significativamente, a autonomia e o caráter liberal do profissional Enfermeiro. Ademais, o COFEN delimita os níveis de complexidade dos clientes do Home Care para com os cuidados de enfermagem e os respectivos papeis a serem desempenhados pelo enfermeiro na função assistencial, função administrativa, função de pesquisa e função educativa, o que confere ao profissional pleno domínio nessa área de conhecimento. O maior desafio a ser vencido pelo Conselho Federal de Enfermagem e os Conselhos Regionais é a fiscalização do exercício ilegal da profissão, tendo em vista que o técnico e o auxiliar de enfermagem somente poderão exercer a profissão mediante supervisão e delegação do enfermeiro, conforme dispõe o art. 15 da Lei 7.948/86. Todavia, temos consciência de que na informalidade dos bastidores do cuidado domiciliar Home Care muitos atuam na ilegalidade, ainda que colocando os clientes e famílias em risco de complicações decorrentes da falta de conhecimento técnico-científico específico para lidar com situações adversas. O COREN-SP, complementando a normatização legal e éticoprofissional determinou, através da Decisão 008/ 99, a implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) como uma atividade privativa do enfermeiro abrangendo a consulta de enfermagem a todos os clientes em assistência domiciliar e ainda a obrigatoriedade de que o prontuário deve permanecer junto ao cliente, conforme disposto no código de defesa do consumidor. Também foi estabelecido que toda empresa de prestação do Home Care onde exista o profissional de enfermagem deve manter o enfermeiro devidamente registrado [7]. A Resolução COFEN-272/2002 [10], por sua vez, institui que a implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) deve ocorrer em toda instituição da saúde, pública e privada. Determina ainda que nos casos de Assistência Domiciliar ou Home Care, o prontuário deverá permanecer junto ao paciente/ cliente/usuário assistido, objetivando otimizar o andamento do processo, bem como atender o disposto no Código de Defesa do Consumidor. Acredita-se que com a regulamentação correta o Home Care terá todas as condições de crescer de forma organizada, os usuários contarão com melhores serviços, na ótica da ABRAHHCARE [11], as empresas poderão dispor de melhores condições de manutenção de suas atividades, as fontes pagadoras, públicas ou privadas, terão melhores condições de planejamento, entre outras. Os anos anteriores a 2002 foram muito difíceis para as empresas, justamente pela falta de regulamentação, e muitas delas passaram por sérios ajustes de caixa, e algumas, menos preparadas, inclusive fecharam as portas. Ainda de acordo com a ABRAHHCARE [11], superada a etapa de regulamentação, o Brasil colherá um excepcional desenvolvimento para o setor, e se for similar ao existente nos EUA, futuramente teremos uma quantidade de atendimentos entre os maiores do mundo. Dados de 1999 demonstraram que o setor nos EUA movimentou a substancial quantia de US$ 40 bilhões, significando 3,1% das despesas e investimentos com a saúde daquela nação. Nos EUA, são mais de 20 mil empresas prestadoras de serviços nesta área. O Brasil possui apenas e tão somente 250 empresas e mobiliza atualmente cerca de 20 mil profissionais de saúde, de profissionais liberais com firmas individuais a empresas estabelecidas. É muito pouco diante do promissor mercado que o país apresenta. No que concerne às muitas vantagens do Home Care, ressalta-se o processo de orientação que permeia a filosofia do cuidado domiciliar como instrumento decisivo para que os clientes resgatem a auto-estima, dado que a oportunidade de aprender lidar com as próprias limitações e necessidades faz emergir a sensação de auto-suficiência que lhes faltava para dar mais sentido a vida. O modelo do Home Care foi construído favorecendo o indivíduo, de acordo com a ABRAHHCARE [12] e até hoje está baseado neste princípio. Caso os vários exemplos de desperdício de recursos públicos Brasil afora, tivessem sido canalizados para a instalação de uma boa estrutura de atendimento a pessoas com $ artigo 05 - Wiliam.pmd 206 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) deficiência, seguindo os ditames do modelo domiciliar, certamente hoje muitas internações teriam sido evitadas, e até mesmo, quem sabe, muitas vidas poderiam ter sido poupadas. Muitos planos de saúde seriam realmente planos de saúde, e não de doença, se já tivessem ao longo dos anos, estruturado um programa domiciliar eficiente, que investisse na prevenção adequada antes de as pessoas se tornarem deficientes. E ainda assim, passariam por menos dificuldades financeiras do que muitos passaram e passam até hoje. Enfim, o Home Care é uma proposta de tornar totalmente diferente a forma como se trabalha a saúde no Brasil e isto deve ser considerado como um fato de grande importância para a sociedade. Não obstante os aspectos humanísticos do Home Care, em particular o fato de o cliente poder estar mais próximo de seu mundo, suas coisas, seu ambiente, a proximidade dos familiares e pessoas significativas, preocupa-nos o fato de se incorrer na delegação de procedimentos técnicos de grande e média complexidade à pessoas leigas que se fazem passar por cuidadores remunerados, pois essa situação, em existindo, estará configurando o exercício ilegal da profissão previsto no art. 47 da Lei de Contravenções Penais. Excetuam-se aqui, evidentemente, todas e quaisquer delegações atribuídas aos cuidadores membros da família ou voluntários que se prontificam a receber orientações do enfermeiro e o respectivo treinamento para o desempenho de atividades acerca dos cuidados de longo prazo, indispensáveis aos clientes com doenças crônicas, degenerativas, seqüelas de lesões neurológicas, deficientes, entre outros. Ainda assim, sob supervisão e avaliação periódica do enfermeiro. A tendência crescente de mudanças nos cenários dos cuidados de saúde Nos Estados Unidos, pela leitura de Nassif [1], o conceito de Home Care avançou substancialmente na década de 60, como alternativa para os altos custos de internação hospitalar e pela redução dos índices de infecção hospitalar. Hoje em dia, mais de 20 mil provedores atendem a aproximadamente 8 milhões de pessoas/dia. Em geral, o sistema é utilizado para atendimento de patologias agudas, visitas, prevenção e tratamento de doenças crônicas, cuidados de longa permanência, inaptidão permanente ou enfermidade terminal. Em 1998 esse mercado faturou US$ 42 bilhões e representou 4% do mercado de saúde norte-americano. Os sistemas de oferta de cuidado de saúde alternativo, como organizações de tratamento de saúde, organizações de profissionais preferenciais ou cooperativas e sistemas de cuidado de saúde administrados, contribuíram para o impulso no controle de custos e para a disponibilidade de serviços de atenção à saúde. Esses regulamentos reduziram significativamente o tempo de permanência na internação hospitalar e levaram os clientes/pacientes a serem tratados com mais freqüência em cenários de cuidados ambulatoriais e domiciliares. No ponto de vista de Smeltzer e Bare [13] à medida que a prestação de cuidados de saúde passa para a comunidade, mais enfer meiros vêm trabalhando numa diversidade de cenários com base na comunidade, tais como órgãos de saúde pública, clínicas ambulatoriais, instalações de tratamento de longo prazo, clínicas pré-natais e pediátricas, casas de apoio à doentes e desamparados, cenários industriais (como enfermeiros do trabalho), asilos e clínicas para moradores de rua, centros de enfermagem, agências domiciliares e casas de pacientes. O mesmo deveria ser adotado aqui, no Brasil, caso houvesse maior integração e direcionamento estratégico das equipes que atuam no atendimento domiciliar e internação domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme dispõe a Lei 10.424/2002 [14]. Mas, por questões tecnocráticas do marasmo político brasileiro, tas equipes existem apenas no papel e/ ou no discurso, deixando de cumprir suas funções mais fundamentais, ou seja, promover a qualidade de vida e saúde das famílias de baixa renda, principalmente [3]. O cuidado de saúde domiciliar vem se tornando uma das maiores áreas de prática profissional para os enfermeiros, segundo Smeltzer e Bare [13], não obstante a também crescente demanda desses profissionais qualificados e com experiência para atuar na área de cuidados agudos de alta complexidade e tecnologia de ponta no setor saúde. Afirmam ainda que o cuidado de enfermagem preventivo terciário, que se concentra na reabilitação e na restauração das habilidades funcionais dos clientes, é o objetivo principal e a meta a ser alcançada pelos enfermeiros que atuam na área de cuidado domiciliar, embora as prevenções primária e secundária também estejam incluídas no âmbito desse cuidado. % artigo 05 - Wiliam.pmd 207 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Dentro da perspectiva da Associação Brasileira de Home Health Care [12] há uma parcela da população que já conseguiu acesso aos mais modernos meios de reabilitação física disponíveis no país, mas existe ainda, uma grande quantidade de pessoas que não teve esta mesma sorte. Como então realizar em curto prazo, um trabalho eficiente de reabilitação a nível nacional, sem imobilizar recursos preciosos do estado para construir e equipar as centenas de centros que seriam necessários para se atingir esta meta? A resposta está na implantação rápida e responsável de atendimento domiciliar para a reabilitação, que reúna consigo uma equipe multidisciplinar, capaz de efetivar um atendimento básico de saúde, contando com enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fisiatras, fonoaudiólogos, psicólogos e profissionais afins para iniciar um programa de reabilitação específico para o cliente em sua residência. Com este atendimento, poder-se-ia em pouco tempo, reduzir a sobrecarga nos centros públicos e permitir que para eles apenas sejam encaminhadas as pessoas que realmente precisem de tratamento mais intensivo, o que não chega a ser o caso da maioria, certamente. Uma sessão de fisioterapia nos programas de reabilitação dos hospitais públicos pode levar horas, se somado o tempo gasto pela pessoa com preparo para sair de casa, transporte, fila de espera, entre outros. Aliás, pelo país afora a situação tende a ser mais complicada que a dos grandes centros urbanos, por questões estruturais. Restrições estruturais que podem ser minimizadas, caso sejam tratadas com mais competência por equipes itinerantes de atendimento [12]. Ao nosso ver as questões estruturais que envolvem o Home Care em seu desdobramento atendimento domiciliar para reabilitação carecem de maior articulação e intercâmbio com as equipes do Programa de Saúde da Família, disponíveis na maioria dos municípios do país. O Programa de Saúde da Família (PSF) apresenta-se como estratégia de reorganização da atenção à saúde, que se caracteriza por um modelo centrado no usuário, demandando das equipes a incorporação de discussões acerca da necessidade de humanizar a assistência e os cuidados de saúde em nosso país. Humanizar significa reconhecer as pessoas que buscam nos serviços de saúde a resolução de suas necessidades de saúde como sujeitos de direitos; é observar cada pessoa e cada família, em sua singularidade, em suas necessidades específicas, com sua história particular, com seus valores, crenças e desejos, ampliando as possibilidades para que possam exercer sua autonomia. Qualquer pessoa, independente de sua idade, tendo condições intelectuais e psicológicas para apreciar a natureza e as conseqüências de um ato ou proposta de assistência à sua saúde, deve ter oportunidade de tomar decisões sobre questões relacionadas à sua saúde, ou seja, poder agir como pessoa autônoma. Portanto, tendo tudo a ver com a proposta essencial do Home Care, particularmente em seu aspecto de humanização do atendimento domiciliar para reabilitação. Necessário se faz, entretanto, pulso e tomada de decisão para que sejam transpostas as cristalizações resultantes das distorções nos programas e políticas públicas do setor saúde, tornando-os acessíveis e viáveis aos mais carentes de recursos financeiros para arcar com despesas de pagamento dos planos de saúde, evidentemente. Em se tratando do aspecto preventivo tão em voga no discurso acadêmico contemporâneo, segundo a ABRAHHCARE [11], o Brasil ganharia mais saúde para seus cidadãos e menos despesas com os custos de internações hospitalares, e estes recursos poderiam ser canalizados para áreas sensíveis da saúde, como o treinamento e desenvolvimento de mão de obra adequada às novas exigências da competência gerencial e da qualidade total de atendimento. A bem da verdade, este modelo de atendimento já é utilizado em países da Europa e Estada Unidos com expressivo êxito. Ademais, ele pode ser aplicado com sucesso pela iniciativa privada. Pensemos no quanto poderia ser vantajoso em economia de recursos, a um plano de saúde, investir parte de sua receita na prevenção de doenças de seus associados. Curiosamente, raros são os planos de saúde que aceitam pessoas com deficiência, e aqueles que adquirem deficiências na vigência de um contrato sofrem os preconceitos, discriminação, sendo preciso apresentar laudos médicos freqüentemente, como se fosse fácil. Machado [15] traça considerações contundentes acerca da saga das pessoas com deficiências para ter acesso aos serviços de saúde, seja para avaliações periódicas em consultórios de profissionais credenciados pelos planos de saúde e/ou ambulatórios de serviços da rede pública, seja nas eventuais situações que requeiram internações para tratamentos clínicos ou cirúrgicos, chamando atenção para aspectos críticos como o mais absoluto despreparo e qualificação dos profissionais para nos & artigo 05 - Wiliam.pmd 208 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) atender, fato ainda mais agravado pela falta de adequação do ambiente, materiais e equipamentos. Definitivamente, no Brasil as políticas de saúde deveriam primar pela equanimidade como princípio que assegure o atendimento de todos, independente de quaisquer questões externas. Nos últimos anos, houve avanços tecnológicos expressivos. Hoje em dia, existem inclusive equipamentos plugados ao telefone que podem ser acionados remotamente por botão, acoplados à pulseira dos clientes em observação. Acionado o botão, a central é comunicada e providencia socorro imediato. Entre os equipamentos domiciliares, há dispensários de medicamentos, que são programados de maneira que, na hora de tomar cada remédio, abre-se uma gaveta com a dose recomendada. Se em 15 minutos o medicamento não for utilizado, a central será informada que algo de errado está ocorrendo. Também é possível fazer exames via rede de dados, não apenas eletrocardiogramas, mas também verificação de glicose - feita a dosagem, os resultados são plugados no telefone, via Internet, conforme destaca [1]. Realidade aparentemente a princípio reservada aos clientes de países onde a tecnologia aplicada aos serviços de saúde está deveras avançada, porém disponíveis também em determinados contextos da nossa desigual sociedade, nos quais tanto a pesquisa quanto o poder aquisitivo do consumidor são compatíveis com os países mais ricos e desenvolvidos do mundo. O serviço de Home Care e as pessoas com deficiências: perspectivas de uma tendência mundial De acordo com a ABRAHHCARE [12], em 2002, um dos maiores clientes dos serviços de Home Care foram as pessoas com deficiências, justamente pela comodidade que representa o apoio de enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e equipe de saúde atendendo na residência das pessoas. É importante destacar que isto não foi uma tendência observada apenas no Brasil. Já há alguns anos que na Europa e nos EUA a procura por serviços de Home Care por pessoas com deficiência tem crescido em números espantosos. As vantagens são enormes, pois as empresas prestadoras de serviços não necessitam de um aparato tecnológico muito sofisticado, que é deveras caro, e existem centenas de profissionais habilitados e competentes para o desempenho dessas atividades. Notou-se uma tendência de simplificação das atividades no Home Care, justamente para torná-lo mais extensivo e acessível à população e as fontes pagadoras. Sinônimo de conforto e atendimento de qualidade para pessoas em processo de reabilitação, o segmento de Home Helth Care, na ótica da ABRAHHCARE [16] vem crescendo muito e enveredando suas ações para o atendimento a pessoas com deficiência em todo o mundo, apresentando-se como uma solução prática e viável tanto para os clientes quanto para as equipes que prestam serviços às operadoras de planos de saúde. Afinal, as pessoas com deficiência têm em seu caminho muitos obstáculos para conquistar sua autonomia, por isso, realizar sua reabilitação em casa pode ser uma boa saída e até mesmo a solução para muitos casos, garantindo conforto, facilidade e qualidade de vida. Hoje, grande parte dos usuários dos serviços de Home Care faz parte desse segmento da população, pela comodidade que o serviço oferece no tratamento, com enfermeiros, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais em sua casa e com o apoio dos familiares. Dentro dessa conjuntura, o serviço de Home Care já integra, inclusive, a lista de benefícios oferecidos por clínicas, planos de assistência médica, hospitais, empresas de saúde e programas federais, estaduais e municipais de saúde, segundo a ABRAHHCARE [16]. Ao que não posso deixar de considerar um retrato distorcido da realidade, uma vez exercendo a vice-presidência do Conselho Municipal para Política de Integração da Pessoa com Deficiência numa região privilegiada do país, no entanto, convivo com o descaso do poder público para com as mais variadas necessidades especiais desse segmento da população. Com mais um agravante, o meu próprio plano de saúde (GEAP) nos 9 anos de pessoa com deficiência física adquirida jamais se dispôs a garantir as sessões diárias de fisioterapia que necessito para manter meu corpo sem maiores seqüelas, autorizando aleatoriamente apenas três sessões semanais [3]. Se a própria lei nº 9.656 [17], em seu art. 14, esclarece que em razão da idade do consumidor, ou da condição de pessoa portadora de deficiência, ninguém pode ser impedido de participar de planos privados de assistência à saúde. Então, por quê as pessoas com deficiências congênitas ou adquiridas clientes de planos de saúde não podem desfrutar ' artigo 05 - Wiliam.pmd 209 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) do direito de receber quantitativo de atendimentos adequados ao perfil singular de cada um? Somos seres singulares, únicos, cada qual com suas necessidades e absolutamente impossíveis de se adequar a parâmetros e/ou padrões estabelecidos aleatoriamente. É muita falta de bom senso, sem falar da mais absoluta ausência de sensibilidade e conhecimento científico da parte dos auditores, junta médica, seja lá o que for que determinam os critérios para autorização dos atendimentos. É importante enfatizar que tais benefícios efetivamente estão longe da realidade da maioria das pessoas com deficiência, considerando que as operadoras de planos de saúde não os oferecem como produto agregado ao rol dos serviços previstos nos contratos, devendo os usuários arcar com as despesas dele decorrentes. Fato que pode ser constatado pelos relatos de Machado [3], Magalhães [18], Tormin [19], Pecci [20] entre outros, ao abordarem as dificuldades enfrentadas na vida cotidiana sem que as empresas de seguros e planos de saúde compartilhassem das despesas com os inevitáveis prestadores de cuidados. Não fosse a parte do cuidado domiciliar que a família assumiu e assume, a qualificação profissional obtida antes da deficiência e a conseqüente possibilidade de se manter produtivos, talvez não lhes seria possível sobreviver com o mínimo de dignidade, como a maioria de seus colegas de infortúnio. Qualificação profissional para o home care: do pioneirismo da enfermagem às articulações político-sociais no setor A Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, da Universidade Federal Fluminense UFF [21], em Niterói, Rio de Janeiro, foi a pioneira na área de Especialização em Home Care, já em sua 5ª turma, em 2003, nos trouxe um novo modelo de abordagem para atender a demanda do mercado com ênfase na gestão pessoal empresarial. O curso Cronograma completo de atividades Módulo 1 Período : setembro de 2002 à fevereiro de 2003 Abordagem histórica da assistência domiciliária Metodologia científica + orientação Planejamento e gestão em serviços de saúde Legislação, ética profissional e bioética Administração e desenvolvimento em recursos humanos Estresse e assistência domiciliária Administração de recursos físicos, materiais e financeiros oferece oportunidade para a criação de empresas de Home Care vinculadas à incubadora da UFF, bem como discutir e aprofundar conhecimentos nos seguintes aspectos: elaboração de planos de atividade qualitativa no mundo competitivo; gestão contemporânea dos empreendedores em saúde; concorrência e fornecedores; simulação e logística; marketing empresarial; consultoria; concepção de projetos erg onômicos de adequação do processo de trabalho; e demais temas relacionados ao atendimento às complexidades da clínica nas demandas assistenciais da enfermagem de Home Care. No mesmo rumo da história, tendo em vista as exigências do mercado e procurando suprir a falta de profissionais qualificados para o exercício da assistência domiciliária (Home Care), a Diretoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) [22] Campus 1, através da Faculdade de Enfermagem, oferece aos profissionais de saúde de nível superior o Curso de Especialização em Assistência Domiciliária, em nível de PósGraduação Lato Sensu, com vistas na capacitação de profissionais de saúde e outros interessados para atuarem em um contexto interdisciplinar críticoreflexivo, na assistência especializada, identificando problemas e propondo soluções concernentes aos desafios, questões e tendências da assistência domiciliária. O curso com carga horária de 405 horas (quatrocentos e cinco horas) é programado e implementado em dois módulos. Módulo I, período de 30/09/02 à 20/02/03 180 (cento e oitenta horas) e módulo II, período de 24/02/03 à 29/07/03 225 (duzentos e vinte e cinco horas). As demais 90 (noventa) horas serão dedicadas à pesquisa e preparo de trabalho de conclusão de curso (monografia e artigo científico), sob a orientação de um professor, devidamente titulado (mestre / doutor). Módulo 2 Período : fevereiro à julho de 2003 Comunicação no contexto domiciliário Metodologia científica + orientação Gerenciamento da assistência domiciliária Filosofia adventista de saúde Atividades externas Seminários avançados em assistência domiciliária Estágios artigo 05 - Wiliam.pmd 210 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Conclusão Atualmente, o mercado dispõe de grande variedade de oferta do produto/serviço de Home Care, inclusive cooperativas de enfermeiros que disponibilizam ao consumidor a Internação Domiciliar que envolve equipe multidisciplinar e a Enfermagem Domiciliar (modalidade voltada exclusivamente para a implementação de procedimentos terapêuticos de enfermagem), através de empresas que mantém convênios e estão integradas com cursos de pós-graduação para o desenvolvimento de estágios e pesquisas na área. Um vasto espaço empresarial que a cada dia avança mais para atender a demanda do mercado e as múltiplas necessidades dos consumidores. Para a presidente da Associação Brasileira de Home Health Care [11], o que se pôde observar claramente em 2002, foi a maior especialização dos profissionais da área e a busca pelo aperfeiçoamento na integração das equipes de atendimento. A melhoria de desempenho do binômio: profissional x equipamento foi procurada firmemente para reforçar a segurança dos clientes, pois com os equipamentos extremamente automatizados, e com as tarefas de certa forma simplificadas, os eventuais riscos apenas se tornaram menos freqüentes, só que ainda não desapareceram. A presidente da Associação enfatiza que, são nestas situações que residem os maiores riscos, posto que por mais funcionais e polivalentes que possam ser os equipamentos, eles necessitam de bons operadores para atuarem com eficiência, principalmente nos casos de emergências. Outro aspecto destacado pela presidente da ABRAHHCARE foi a busca de excelência administrativa e operacional das empresas, que se esmeraram para cuidar cada vez melhor dos clientes, dando a eles mais qualidade de vida, administrando de modo mais coerente e racional os recursos e as verbas recebidas pelas fontes pagadoras. Concomitantemente, a ação preventiva das equipes foi intensificada, pois ela é extremamente necessária para evitar o recrudescimento de certos casos, em que o retorno da equipe ocorre por falta de cuidados simples, ou melhor, de precauções básicas, nem sempre esclarecidas para os clientes e usuários de serviços. Nos casos de Home Care respiratório, estas indicações são muito utilizadas, no caso das atividades relacionadas com pessoas com deficiência, também há uma grande utilidade, uma vez que elas reduzem as re-internações e evitam sérios problemas de saúde. O que converge substancialmente para a valorização do profissional de saúde especializado em Home Care, que deverá passar futuramente até a obter melhor remuneração pelo desempenho de suas atividades, visto que são profissionais mais polivalentes e com maior capacidade de improvisação. Enfim, ao que pudemos perceber ao longo dessa incursão bibliográfica, a linguagem gerencial, o domínio de conhecimento na esfera empresarial, estratégias de mercado, entre outros aspectos administrativos, constituem saberes indispensáveis para que os enfermeiros estejam mais bem preparados para assumir seus papéis no setor de Home Care. Contudo, imperativo se faz que não permitam o descuido ou percam de vista a essência da profissão, qual seja, a arte e ciência humanística de cuidar do ser humano. Referências 1. Nassif L. A Revolução do home care. São Paulo: Folha de São Paulo, 1999; DEZ 23. p.39. 2. Hall ET. A Dança da Vida: A outra dimensão do tempo. Lisboa: Relógio DÁgua; 1996. p 88. 3. Machado WCA. Reabilitação: Um desafio para pessoas, famílias e sociedade. São Caetano do Sul: Difusão Paulista de Enfermagem; 2003. 261 p. 4. ABRAHHCARE. (Associação Brasileira de Home Health Care). secretário da saúde diz que expansão de home cade terá apoio do governo. São Paulo: Conferência Internacional Panorama Mundial de Home Care 2001. 5. Brasil. Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre o Exercício da Enfermagem. 1986. 6. Brasil. Decreto Lei nº 94.406, de 8 de junho de 1987. Regulamentação da Lei do Exercício Profissional de Enfermagem. 1987. 7. Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Home Care: assistência domiciliar e/ou assistência domiciliária. São Paulo: Revista do COREN-SP; 2002. p.14-15. 8. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 267, de 05 de outubro de 2001. 9. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 256, de 12 de junho de 2001. 10. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 272, 27 de agosto de 2002. 11. ABRAHHCARE. (Associação Brasileira de Home Health Care). Um ano marcado pela construção da regulamentação. Associação Brasileira de Home Health Care. Revista Nacional de Reabilitação 2002;(29)V:34. 12. ABRAHHCARE. (Associação Brasileira de Home Health Care). A Saúde pública e privada, o Home Care e o processo de reabilitação. Associação Brasileira de artigo 05 - Wiliam.pmd 211 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) 13. 14. 15. 16. 17. Home Health Care. Revista Nacional de Reabilitação 2002;28(5):32. Smeltzer SB, Bare BG. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. Brasil. Lei 10.424, de 15 de abril de 2002. Regulamentando a Assistência Domiciliar no Sistema Único de Saúde. 2002. Machado WCA. Tempo, espaço e movimento: O (d) eficiente físico, a reabilitação e o desafio de sobreviver com o corpo partido. Rio de Janeiro: Papel Virtual 2000. 175 p. ABRAHHCARE. (Associação Brasileira de Home Health Care). Dando início a um novo rumo para o setor no Brasil. Associação Brasileira de Home Health Care. Revista Nacional de Reabilitação 2003;31(VI):31. Brasil. Lei 9.656, de 03 de junho de 1998. Medida 18. 19. 20. 21. 22. Provisória n.º 2.177- 44, de 24 de agosto de 2001. Dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde. 2001 Magalhães J. Cobaia de mim. São Paulo: Áurea; 2001. 207 p. Tormin GMC. Pássaro sem Asas. 4a ed. Goiânia: Kelps; 2000. Pecci JC. Minha Profissão é Andar. São Paulo: Summus; 1992. Universidade Federal Fluminense. Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa. Curso de Especialização em Enfermagem Atendimento Domiciliar. 5ª Turma. Rio de Janeiro: UFF; 2003. Centro Universitário Adventista De São Paulo. Faculdade de Enfer magem. Programa de Especialização em Home Care, 2002/2003. São Paulo: UNASP; 2003. K artigo 05 - Wiliam.pmd 212 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Revisão Os anúncios do Jornal do Commercio de amas de leite, contando a história do aleitamento materno no Brasil (1888-1890) Luciane Pereira de Almeida*, Fernando Porto, M.Sc.** *Graduando da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) e membro do LAPHE, **Professor do departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) e Pesquisador do LAPHE Resumo Estudo histórico social com o objetivo de identificar os registros dos anúncios referentes à comercialização do aleitamento materno no período de 13 de maio de 1888 a 27 de setembro de 1890, no Jornal do Comércio. A metodologia utilizada foi à análise documental como técnica de pesquisa, uma vez que permite trabalhar com os documentos ainda não analisados. Resultados: foram encontrados 3.189 anúncios sobre amas de leite que promoviam comercialização, de acordo com as qualidades mais pretendidas, pois à época acreditava-se que traços de caráter e personalidade eram transmitidos pelo leite. Os anúncios eram classificados de acordo as seguintes características: solicitação dos anúncios, o tempo de amamentação, o valor cobrado por este serviço, a nacionalidade, idade e etnia das amas de leite. As considerações finais apontaram através da ótica da história do aleitamento materno a inserção da mulher no mercado de trabalho, como possível sustento ou parte da renda familiar e, paralelamente, a entrada do profissional de enfermagem neste mesmo contexto. Palavras-chave: imprensa escrita, aleitamento materno. Artigo recebido em 20 de maio de 2004; aceito em 15 de julho. Endereço para correspondência: Luciane Pereira de Almeida, Rua dos Titureiros, 781 Bangu 21820-170 Rio de Janeiro RJ, Tel.: (21)9797-8415, E-mail: [email protected] ! artigo 06 - Luciane.pmd 213 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Abstract Jornal do Commercio advertisements about wet nurses, telling the history of the breast-feeding in Brazil (1888-1890) The aim of this social historical study is to identify the advertisements registration regarding the commercialization of wet nurses from May 13th, 1888 to September 27th, 1890, in the Jornal do Commercio. The methodology used was the documentary analysis as research technique, since it allows dealing with documents not analyzed yet. Results: 3,189 advertisements about wet nurses that promoted commercialization were found, all of them in accordance with specified requirements, since in that period people believed that character and personality traits were transmitted through milk. The advertisements are identified with the following characteristics: the breast-feeding time, value charged on this service, the nationality, age and ethnic group of the wet nurses. The final considerations pointed out that through the wet nurses history; woman was inserted on the labor market, as possible sustenance or as part of family income and, paralelly, the insertion of nursing professional in the same context. Key-words: written press, wet-nurses. Resumen Los anuncios del Jornal do Commercio de amas de leche, contando la historia del amamantamiento materno en el Brasil (1888-1890) Estudio histórico social que tiene como objetivo identificar los registros de los anuncios que se refieren a la comercialización del amamantamiento materno en el período del 13 de Mayo de 1888 al 27 de Septiembre de 1890, en el Jornal do Commercio. La metodología usada fue el análisis documental como técnica de investigación, una vez que permite trabajar con los documentos que aún no han sido analizados. Resultados: Fueron encontrados 3.189 anuncios con respecto a las amas de leche que promovían la comercialización, de acuerdo con las calidades más solicitadas, pues en esta época se creía que los rasgos del carácter y de la personalidad eran transmitidos por la leche. Los anuncios eran clasificados de acuerdo a lo siguiente: solicitación de los anuncios, tiempo del amamantamiento, el valor por este servicio, la nacionalidad, edad y la etnia de las amas de leche. Las consideraciones finales apuntaron a través de la óptica de la historia del amamantamiento materno la inserción de la mujer en el mercado de trabajo, como posible sustento o parte de la renta familiar y, paralelamente, la entrada del profesional de enfermería en este mismo contexto. Palabras-clave: prensa escrita, amamantamiento materno, enfermería. Introdução O presente estudo tem por objeto os registros de anúncios sobre a comercialização do aleitamento materno, pesquisa esta que se encontra inserida na Linha de Pesquisa da Profissionalização da Enfermagem no grupo intitulado no CNPq de Laboratório de Pesquisa de História da Enfermagem (LAPHE) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UNIRIO. Desta forma, para problematizar o objeto de estudo, cabe citar que apesar dos esforços dos profissionais de saúde em promover e apoiar o aleitamento materno, além das inúmeras orientações prestadas verifica-se que até os dias de hoje a amamentação é fortemente influenciada pelo contexto sócio-histórico e cultural. Uma vez que a prática do aleitamento cruzado, assim como a promoção do leite artificial, é contra-indicada, há séculos atrás isso era comum onde os anúncios de jor nais propagavam suas influências comerciais em favor dos serviços prestados pelas amas de leite. Maldonado [1], relata que na no século XVI na Europa, predominava o hábito de recém-nascidos durante os primeiros anos de vida, serem amamentados e cuidados por amas de leite. Ressalta ainda que os critérios para a seleção desta ama deveriam satisfazer quanto ao caráter e dignidade, entre outros traços de personalidade, pois se " artigo 06 - Luciane.pmd 214 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Ama escrava e o menino Augusto Gomes Leal (1860). (Acervo da Fundação Gilberto Freyre, Recife, PE) acreditava que essas qualidades eram transmitidas pelo leite. Badinter [2] corrobora ao relatar que na França, esse comércio das amas de leite surgiu no século XVII e se propagou pelos séculos seguintes, a ponto de algumas amas de leite chegarem a morar na corte para amamentar e cuidar dos filhos dos nobres. Outras mulheres, que não tinham condições de manter uma dessas amas em sua residência, encaminhavam seus filhos para a casa das amas de leite, que amamentavam como uma forma de sustento para si e para a sua família. Naquela época as mulheres acreditavam que a amamentação modificava a sua estética, envelhecia seus corpos e, tão logo, as silhuetas perdiam os seus formatos delicados. Na vida social também ocorriam mudanças ao evitar a amamentação, pois permitia às mulheres de famílias ricas dedicar-se mais às conversas e aos passeios. Segundo os autores Porto, Santos e Silva [3], no livro Ensinado a cuidar da mulher e do recémnascido, é apontado que durante o século XVIII já existia um marketing em Paris, onde agências anunciavam em jornais o aluguel de amas de leite. No Brasil, porém, essa prática permaneceu por mais tempo. O desvio do comportamento brasileiro com relação ao modelo europeu, está abaixo ilustrado, como por exemplo, um anúncio do século XIX publicado no Jornal do Comércio, no mês de abril no ano de 1852, promovendo o aleitamento materno como uma prática comercial. Alencastro [4] cita que o comércio era considerado uma prática não só na Europa, mas também na América do Norte, desde o período imperial registrando que à época não se encontrava 5 mães de classe elevada, amamentando seus filhos, 10 na média e 20 da baixa, tendo hábito inverso do aleitamento, por se considerar uma atividade econômica. Outros registros relatam que pequenos senhores de escravos exploravam esse mercado a ponto de terceirizarem suas cativas no período pósnatal. Muitas delas eram alugadas para amamentar os filhos de senhores, onde em alguns casos as mulheres negras eram impostas a prática de abortos violentos, para que desta forma o lucro com a lactação se tornasse uma oferta integral [5]. Portanto, cabe destacar que com a vinda de imigrantes portugueses para o Brasil, a partir dos anos de 1850, surgem anúncios cujo aluguel destinava-se a senhoras brancas, de boa aparência, carinhosas para com as crianças, e, essas passam a competir com as mucamas [6] alugadas pelos senhores de escravos [4]. Em 1888, ocorre a abolição dos escravos e diversos fatos marcam a História do Brasil, influenciando na comercialização do aleitamento # artigo 06 - Luciane.pmd 215 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) materno que antes era explorado pelos senhores de escravos, e partir de então, passa a ser entendido como fonte de renda da mulher negra, na luta pela sobrevivência, em competição com as mulheres brancas. Desta forma, temos como objetivos analisar o conteúdo dos anúncios, como pré-requisito para o consumo do leite materno. Referencial teórico O referencial teórico do presente estudo caracteriza-se pautado em alguns verbetes para esclarecimentos dos conceitos a seguir, como: anúncio, ama de leite, valor, nacionalidade e por último, etnia. A palavra anúncio tem como propósito esclarecer o meio pelo qual uma notícia ou um aviso é divulgado ao conhecimento público. É através de um anúncio classificado, publicado em seção específica de jornal ou revista, que se veiculam anúncios de venda, compra e troca [7]. Já o uso da expressão ama de leite exprime uma mulher que amamenta uma criança que não lhe é própria [8]. Os serviços que são prestados por um contrato de aluguel geram uma remuneração de acordo com o tempo que pode ser pré-determinado ou não, mediante o pagamento de um valor [8]. A partir de então, citamos o significado de valor, que nos anúncios desta pesquisa estão divulgados em réis, moeda em circulação no Brasil no final do período imperial, e determinavam a quantia mensal dos aluguéis em dezenas numéricas acompanhadas de cifrão, caracterizando este último um símbolo que expressa a unidade monetária de um país [8]. Cabe esclarecer que para a classificação de nacionalidade da ama de leite, faz-se uma alusão ao país de nascimento da mesma [8]. As classificações das etnias foram estabelecidas conforme as expressões utilizadas na época. Para os anúncios que fazem citação da ama como creoula ou preta classifica-se a etnia como negra; pardinha para denominar parda, e clara para branca. As etnias possuem características que lhes são comuns em qualquer raça e, portanto, cabe aqui ressaltar as classificações para: parda, cor entre o branco e o preto, que em outras palavras também pode ser considerado como mulata; negro, indivíduo que tem a pele muito pigmentada, de cor escura e, branco, refere o indivíduo de pele clara [8]. Metodologia Estudo histórico social com base na análise documental, uma vez que permite dialogar com os documentos ainda não analisados, de acordo com o objeto de estudo. A imprensa escrita como registro documental para pesquisa em História da Enfermagem é dado de contribuição com relatos diários dos acontecimentos, dedicando-se a esses periódicos a pesquisa dos anúncios da comercialização do aleitamento materno pelas amas leite no Jornal do Commercio, por ser este um meio de comunicação em massa eficiente. O recorte temporal inicial é referente a 13 de maio de 1888, data de abolição dos escravos, e o seu outro extremo é a data de 27 de setembro de 1890, por tratar da criação da Escola de Enfermeiros e Enfermeiras, cujo mercado de trabalho para as mulheres é divulgado como possibilidade através da educação profissional em enfermagem, publicada no Jornal do Commercio no dia 01 de outubro de 1890. A investigação dos anúncios no Jornal do Commercio foi realizada no acervo da Biblioteca Nacional, localizada na cidade do Rio de Janeiro, no período de julho a outubro de 2003, totalizando aproximadamente 214 (duzentos e catorze) horas, em 55 (cinqüenta e cinco) dias de coleta. Como fonte primária foi utilizado o Jornal do Commercio, e como fonte secundária, as literaturas pertinentes que deram suporte a contextualização e à análise. A coleta dos anúncios ocorreu na seção Parte Comercial no Jornal do Commercio, respeitando à seqüência cronológica, tendo como suporte uma matriz de análise composta de: ano e número de publicação, data, página e seção dos anúncios coletados. Durante a pesquisa foram evidenciadas algumas dificuldades com relação aos recursos disponíveis nesta Instituição, principalmente no que se refere à visualização do jornal no aparelho disponibilizado, pois o tamanho é o desconforto ante as pequenas letras e a precária iluminação do projetor para a leitura destes documentos que se apresentam como microfilme. Diante da tela que reproduz os documentos microfilmados é possível viajar através de um passado misterioso que se mostra diante de inúmeras propagandas e anúncios. Embora o objeto de estudo esteja vinculado às amas de leite no século $ artigo 06 - Luciane.pmd 216 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) XIX, a leitura de toda seção annuncio se faz imprescindível. Portanto, o tempo aproximado para a coleta de apenas um mês de anúncios, foi em média de quatro a cinco horas sem pausas. Retornando a coleta de dados, foi possível consultar 868 (oitocentos e sessenta e oito) exemplares, no período correspondente ao recorte temporal, diante de projeções de documentos microfilmados. Foram obtidos 3.189 (três mil cento e oitenta e nove) anúncios comerciais referentes à comercialização do aleitamento materno, sendo estes agrupados e intitulados quanto: solicitação dos anúncios, tempo do leite para amamentação, etnia, nacionalidade, idade das amas de leite e valor do aluguel das amas, que deu origem a um portfolio, intitulado Os anúncios de amas de leite no Jornal do Commercio (13 de maio de 1888 a 27 de setembro de 1890). O portfolio com a representação gráfica dos agrupados acima citados possibilitou o presente estudo a ser contextualizado, com apoio de literatura pertinente ao objeto de estudo, com a preocupação da triangulação que necessita a pesquisa histórica. O Jornal do Commercio A investigação dos registros dos anúncios no Jornal do Commercio justifica-se, pois além de uma abordagem sucinta sobre o comércio, o seu primeiro número foi publicado em 10 de outubro de 1827 e até hoje ainda o encontramos nas bancas e lojas comerciais. O jornal iniciou sob direção do francês Pierre Plancher, que emigrou para o Brasil em 1824, devido à perseguição sofrida em seu país de origem, trazendo consigo o melhor do jornalismo francês, equipamentos avançados e até alguns operários especializados. Seu objetivo era iniciar o que seria, a princípio, um jornal com características econômicas [9]. Ao lançar o Jornal do Commercio, Plancher restringiu-se aos assuntos comerciais e econômicos. Os primeiros exemplares continham quatro páginas de 21 cm de largura por 30 cm de altura. Em nota de 17 linhas o jornal informava em sua primeira edição, na primeira página que daquele dia em diante o jornal abordaria assuntos a respeito do comércio: anúncios, preços de importação e exportação de produtos, assim como a entrada e saída de embarcações, destinando o Jornal do Commercio ao interesse de senhores negociantes [9]. Durante os anos que seguiram desde a sua inauguração, o Jornal do Commercio recebeu outras titulações como: Jornal do Commercio, Folha Comercial e Política (1828) e, Diário mercantil (1830), mas em 1832 volta a ter o seu título original [9]. Em 1834, o Jornal do Commercio mudou de proprietário e sofreu modificações que lhe aumentaram o prestígio, até se tornar órgão de grande influência política e cultural [9]. Sua missão é noticiar com equilíbrio, objetividade e detalhes os acontecimentos relevantes da História do Brasil, com estilo objetivo e direto, excluindo o partidarismo exacerbado ou a opinião panfletária, comuns na imprensa da época da independência, no Império e na primeira República, mas nem por isso deixou de marcar com equilíbrio sua posição firme, sempre em defesa dos interesses nacionais [9]. Ao realizar a pesquisa dos registros dos anúncios, nota-se que seis décadas depois da publicação dos primeiros exemplares, o Jornal do Commercio era impresso em seis a oito páginas, em média, sendo nas três primeiras, registrado um discurso oficial que fazia referências a Assemblea Geral (Senado, Câmara dos Deputados) e Assemblea Legislativa Provincial. Seguia então para valores comerciais de importação e exportação que cabia em apenas uma única página, enquanto que o restante era preenchido com anúncios e notícias pequenas, e nesse bojo os registros de anúncios sobre a comercialização do aleitamento materno pelas amas de leite [9]. A história do Jornal do Commercio reflete, integra-se e participa no processo do desenvolvimento da sociedade brasileira. Com o passar do tempo, passou a dar melhor e maior divulgação às notícias e aos anúncios comerciais em diversas seções [9]. Isso demonstra a importância de um resgate histórico da comercialização do aleitamento materno pelas amas de leite, através dos registros de anúncios coletados no Jornal do Commercio, mediante a permanência deste por 176 anos, exemplo raro na história da imprensa em todo o mundo. A História da comercialização do aleitamento materno pelas amas de leite em anúncios do Jornal do Commercio (1888-1890) O recorte temporal do estudo aponta para a comercialização do aleitamento materno pelas amas % artigo 06 - Luciane.pmd 217 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) de leite, que não era uma prática incomum na sociedade brasileira durante o final do período imperial e do início da implantação da República (1889), visto a grande quantidade de anúncios coletados nos 868 (oitocentos e sessenta e oito) exemplares do Jornal do Commercio, no período que vai de 13/05/1888 a 27/09/1890. Deste total de exemplares pesquisados, apenas 33 (trinta e três) não foram encontrados registros de anúncios que referenciassem a comercialização do aleitamento materno. Cabe neste momento, destacar o total de anúncios coletados correspondente a quantidade de exemplares pesquisados referentes ao recorte temporal deste estudo. No ano de 1888, foram coletados 932 (novecentos e trinta e dois) anúncios de amas de leite em 233 (duzentos e trinta e três) exemplares; em 1889, 1488 (mil quatrocentos e oitenta e oito) anúncios em 365 (trezentos e sessenta e cinco) exemplares e, por último, em 1890, 769 (setecentos e sessenta e nove) anúncios em 270 (duzentos e setenta) exemplares de jornal pesquisados. Como o recorte temporal abrange o período de 13 de maio a 31 de dezembro de 1888 a 1° de janeiro a 27 de setembro de 1889, observa-se que entre os extremos supramencionados há uma diferença na quantidade de anúncios coletados sobre a comercialização do aleitamento materno. Apenas ressalta-se que para a observação da quantidade de anúncios não se levou em consideração o ano de 1889, em virtude da coleta anual desse estar completa. Assim, mesmo possuindo 37 (trinta e sete) exemplares a menos que o ano de 1890, o ano de 1888 demarcou uma diferença percentual de 21%, o que numericamente corresponde a 163 (cento e sessenta e três) anúncios de amas de leite a mais que o ano de 1890. Na década de 1880 a sociedade passou por inúmeras transformações políticas, econômicas e sociais, principalmente no que diz respeito ao processo de urbanização que ocorreu no país. O crescente número de indústrias fez a população brasileira crescer de um pouco mais de 3 milhões na época da independência (1822), para aproximadamente 14 milhões de habitantes na década de 1880. Tal fato justifica-se pela vinda de imigrantes italianos, espanhóis e portugueses como oferta de mão de obra assalariada em substituição à mão de obra escrava [10]. No livro Ordem Médica e Norma Familiar, Costa [11] explica com base no aumento populacional que, na época, os higienistas tinham uma política específica aliada ao Estado, através da imposição do discurso médico na família, na tentativa de consolidar o controle demográfico, uma vez que o Estado estava voltado para o desenvolvimento industrial. A partir daí, os higienistas introduzem a mulher no meio social, adaptando-a à urbanização o que acaba levando ao aumento da mortalidade infantil frente ao comportamento da mulher que não queria amamentar, oferecendo, assim, seus filhos às amas de leite durante o período pós-parto. Tal fato fez confrontar com os ideais dos higienistas uma vez que condenavam rigorosamente o aluguel de escravas como amas de leite [11]. Com isso, a mulher que pertencia a uma família patriarcal, passa a vivenciar em uma nova situação social, deixando de lado as ocupações domésticas e se adequando às exigências da urbanização onde o início do convívio social, frente aos passeios, aos bailes e às conversações tornaram-na, segundo Costa [11], relapsa e irresponsável com a saúde de seus filhos. Com as transformações ocorridas pelo processo de urbanização as camadas sociais sofreram profundas mudanças que não condiziam com o comportamento dos valores tradicionais [10]. O leite era interpretado como um dos mistérios sobrenaturais do corpo feminino e segundo os doutores do século XIX podia ser reconhecido por sua cor, cheiro e sabor [12]. O tempo de leite pretendido para amamentação destaca-se nos anúncios da comercialização do aleitamento materno como um dos registros mais citados, embora aproximadamente 85% destes não mencionem o tempo pretendido para amamentação. Os anúncios como conteúdo referente ao tempo de leite para amamentação totalizam 465 (quatrocentos e sessenta e cinco) registros, o que corresponde a aproximadamente 22% do total coletado, sendo esta intitulação desmembrada em dias, meses, além de dois outros critérios que não especificam um tempo numérico propriamente dito, mas fazem alusão para o tempo de amamentação como: poucos mezes e leite novo. Para exemplificarmos os dois últimos critérios, citam-se fragmentos de anúncios a seguir: Precisa-se de uma ama de leite, que seja sadia, de boa conducta e leite & artigo 06 - Luciane.pmd 218 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) novo... (04/11/1888) [13] e: Precisa-se de uma boa ama de leite, que seja de poucos mezes... (13/ 04/1889) [13]. Em outros anúncios pode-se observar o tempo de leite ofertado ou solicitado, levando-se em consideração o tempo de parto da ama ou o tempo de vida da criança a ser amamentada. Para melhor elucidar tal afirmativa, cita-se o seguinte anúncio referente ao tempo de parto da ama: Aluga-se uma ama de leite, primeiro parto, de mez e meio... (14/ 09/1889) [13] e um outro que indica o tempo de vida da criança Precisa-se de uma ama para acabar de amamentar uma criança de seis mezes de idade... (18/01/1890) [13]. Segundo Ana Luiza Martins, citado por Morais e Barros [14] a publicidade teve seu passo inicial no decorrer da década de 1870, acirrando assim a competição pelo mercado, que desta forma tornou a propaganda como um elemento fundamental no capitalismo. Tal fato é relevante à medida que os anúncios projetam costumes da vida pública de uma determinada sociedade, conforme os pensamentos da época. Sendo assim, o anúncio se faz uma testemunha ocular que permite a reconstituição da vida de cada dia [15]. Como a divulgação de um marketing através dos anúncios de jornais proporcionava um retorno financeiro mais rápido, tendo em vista a pouca quantidade de anúncios que se repetem durante a coleta realizada, surgem novos registros de anúncios no comércio do aleitamento, propagando a industrialização do leite em substituição ao leite materno. Assim, como exemplo, observa-se a expansão do mercado da comercialização do leite artificial, sendo neste anúncio, o leite industrializado: Ama de Leite - A melhor ama de leite é o leite de Barbacena (grande premio na exposição de Pariz) até os 3 mezes; dessa idade em diante dá-se a verdadeira farinha Láctea Nestlé (rótulos portuguezes, medalha de ouro na mesma exposição); deposito especial, rua de S. Pedro n. 31 C. (22/01/1890) [13]. Uma década após a instalação do marketing publicitário como forma de inserção no mercado de trabalho, tem-se o aumento do número de anúncios publicados de amas de leite, período este que passou por uma transformação do proprietário que vende ou aluga os serviços prestados pela ama de leite, antes da abolição, para a senhora livre que se põe a alugar-se. E foi através desse marketing publicitário registrado no período de 13 de maio de 1888 a 27 de setembro de 1890 que se observou não somente a oferta da ama de leite, mas também a procura pelo serviço da mesma, correspondendo ao maior percentual com 49% do total de anúncios coletados, como exemplifica o anúncio a seguir: Precisa-se de uma ama de leite que seja limpa e saudável para criança recém-nascida... (22/10/1889) [13]. Nos anúncios coletados que fazem referência para o termo verbal aluga-se, estes ofertam os serviços prestados pelas amas. De acordo com os registros, supõe-se que ora a propaganda era ofertada pelas próprias amas, ora por agências que promoviam o marketing dos seus serviços. Para ilustrar melhor tal informação, a seguir citaremos um exemplo de um anúncio supostamente realizado por ama de leite: Aluga-se uma boa ama de leite com um filho de 2 a 3 mezes... (24/06/1888) [13]; e um outro em que, segundo a análise dos registros obtidos nos anúncios, observou-se inúmeros anúncios com o mesmo endereço promovendo o marketing das amas dentre outros serviços: Alugãose uma boa ama de leite, uma copeira, mucama, lava e engomma bem, duas cozinheiras de forno e massa a 30$ e 40$ e um copeirinho por 15$; na rua do EspíritoSanto n.31 (30/07/1888) [13]. Uma outra forma verbal encontrada nos registros dos anúncios para se oferecer o serviço da ama de leite, diferentemente do termo alugase, embora ambas se enquadrem no mesmo perfil de oferta foi: Offerece-se uma ama de leite com dous mezes incompletos, sadia e de boas qualidades (01/ 08/1889) [13]. Repare que tanto o termo alugase como offerece-se promovem a divulgação de oferta da ama, o que corresponde a 45% de 3189 anúncios coletados. Embora a oferta e procura pelos serviços prestados pelas amas de leite seja registrado em grande maioria, existiam também anúncios em que a própria ama solicita uma criança para ser amamentada, correspondendo neste caso a 5% dos anúncios, ilustrado a seguir: Toma-se uma criança para criar, por ter grande abundância de leite... (05/ 10/1888) [13]. Por último, em 1% dos registros da comercialização do aleitamento materno são oferecidas as crianças para as amas que desejam amamentar: Dá-se um menino de um mez para ' artigo 06 - Luciane.pmd 219 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) criar a uma senhora seria e de bom leite... (27/11/ 1889) [13]. Quanto aos valores como conteúdo dos anúncios a quantificação da estipulação da mensalidade divulgada, flutua entre 20$ (vinte réis) e 80$ (oitenta réis), nos 434 registros referentes ao aluguel mensal das amas. Portanto, em 57% dos anúncios que continham registros de valores do aluguel das amas, correspondem a uma faixa de até 39$ (trinta e nove réis), ou seja, 248 (duzentos e quarenta e oito) anúncios. Para a faixa que varia de 40$ a 59$ (quarenta a cinqüenta e nove réis), foram identificados 213 (duzentos e treze) anúncios, o que corresponde a 49% do total de anúncios. E para o contrato de melhor renda foram identificados 220 (duzentos e vinte) anúncios que referem o valor acima de 60$ (sessenta réis), correspondendo a 51% do total de anúncios coletados que especificam os valores dos aluguéis. Finalizando tal intitulação, cerca de 86% do total de anúncios coletados não informam os valores a respeito do aluguel das amas de leite. Atenta-se somente para o somatório das variáveis (57%, 49% e 51%) que ultrapassam o percentual total de anúncios dos valores dos aluguéis das amas de leite. Isto ocorre porque certos registros, englobam mais de uma variável. Ainda dentro desta intitulação, observou-se o registro de duas outras formas qualitativas de se expressar os valores numéricos e que fazem referência a uma forma de pagamento: paga-se bem e não faz questão de preço. Além destes, tem-se os registros que não dão importância para o valor da mensalidade: Precisa-se de uma boa ama de leite; na rua de D. Affonso n. 6, não faz questão de preço, servindo.(04/01/1889) [13]. Jobim [14], relata que na segunda metade do século XIX os periódicos de jornais custavam entre 40$ e 80$ (quarenta e oitenta réis) o exemplar, a renda mínima mensal de um eleitor de primeiro grau correspondia aproximadamente a 8$000 e o preço de um bom escravo a 150$000. Tal abordagem ilustrativa traz seu significado na tentativa de uma aproximação com os valores oferecidos aos serviços prestados pelas amas de leite o que merece um estudo mais minucioso, a posteriori sobre os valores monetários da época. Historicamente, a medida em que as leis abolicionistas eram implementadas no território brasileiro, cada vez mais o país se tornava atrativo para a imigração estrangeira, fato este que acentuou na segunda metade do século XIX, quando o governo imperial promulgou a lei Eusébio de Queiros, em 1850, abolindo definitivamente o tráfico de escravos para o Brasil [10,16]. Na segunda metade do século XIX, quando o Brasil império era governado por D. Pedro II, a sociedade e a economia brasileira passaram por significativas transformações devido o crescimento urbano e à crescente industrialização, o que deu surgimento ao operariado, ou seja, uma classe de assalariados urbanos composto de brasileiros, italianos, espanhóis, portugueses e outros que moravam em miseráveis cortiços na periferia das cidades [10]. Na década de 1880, a monarquia se mostrava incapaz de modernizar-se politicamente e acompanhar a evolução da modernização, de modo que atendesse as aspirações sociais, e acabou tornando-se incompetente para conceber e dirigir uma sociedade sem escravos [17]. Proclamação da República era a melhor forma de organizar o país nessa nova fase de desenvolvimento. Então, em 15 de novembro de 1889 a República foi implantada no Brasil à posse do primeiro presidente civil Prudente de Morais. Tal fato se deu como resultado da modernização ocorrida no país, na década de 1880 [10,17]. Brandão citada por Schwarcz [18], relata que após a abolição surge um novo atributo de classificação relacionada à etnia dos escravos, onde sua identidade racial refere-se à cor de pele. Este tipo de discurso que surge no final do século XIX, através de uma afirmativa da inferioridade negra, aparecendo nas pequenas seções e nos diversos anúncios que compõem a parte básica e cotidiana do Jornal do Commercio. Para Strieder [16], a classificação racial no Brasil mostrava-se respaldada em conceitos biraciais de brancos e de não brancos, sendo os não brancos classificados como: negros, mulatos e pardos. Já nos anúncios coletados indica-se uma classificação de etnia tri-racial, onde, além do branco e do negro, denomina-se também o pardo, em 2% dos anúncios, como critério de seleção na escolha da ama de leite, o que pode ser observado no fragmento do anúncio a seguir: Aluga-se uma pardinha, excellente ama de leite, sadia e carinhosa... (24/10/1888) [13]. Cabe esclarecer que os anúncios coletados, em sua maioria, não informavam a etnia como forma artigo 06 - Luciane.pmd 220 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) de um processo pré-seletivo. Contudo, pouco mais de 5% dos anúncios (o que corresponde a 171 de 3189) qualificam a ama branca como a mais ofertada ou pretendida para o consumo do leite materno, como se pode observar no anúncio que segue: Aluga-se uma senhora branca, para ama de leite... (01/06/1889) [13]. Por outro lado, a ama negra é ofertada ou pretendida em 167 anúncios (aproximadamente 5%), tendo em vista as transformações ocorridas com o processo abolicionista na segunda metade do século XIX, onde a mulher negra, na luta pela sobrevivência passa a competir no mercado com a mulher branca. Embora a prática do aleitamento cruzado no Brasil tenha tido início através da venda ou do aluguel de negras escravas, após a abolição, e com a entrada de imigrantes brancos no mercado, estabelece-se uma competição pelos atrativos oferecidos pelas amas à clientela. Assim, exemplificaremos através de fragmentos de anúncios os registros que estipulam preferências por: somente brancas, Precisa-se de uma ama de leite, prefere-se branca... (10/04/89) [13]; somente pretas: Aluga-se uma crioula, boa ama de leite, sadia e perfeita... (19/09/1888) [13], brancas e negras: Precisa-se de uma ama de leite branca ou preta... (16/09/1890) [13], brancas e pardas: Precisa-se de uma boa ama de leite branca ou parda... (08/05/1889) [13], e ainda os que não possuem preferência de cor, como exemplo: Precisa-se de uma ama sem filho, não se faz questão de côr, porem que tenha abundancia de leite e que seja sadia... (13/02/1889) [13]. Por ser o Brasil um país com uma demarcação populacional multi-racial, a imigração para o território brasileiro tornou-se atraente uma vez que em outras nações, as distinções de etnias e raças causam preconceitos ofensivos e até mesmo agressivos, como é o caso do racismo negro nos Estados Unidos [16,19]. No que se refere aos anúncios que mencionam a nacionalidade, poucos utilizam esta intitulação como critério de seleção para o contrato da ama de leite, o que corresponde aproximadamente 9% dos 3.189 anúncios coletados. Como a época do recorte deste estudo está intimamente ligada à imigração de estrangeiras espanholas e portuguesas, para o Brasil, pode-se observar o registro destas nacionalidades em aproximadamente 49% do total de anúncios que continham registros referentes a nacionalidade. Tendo em destaque a nacionalidade de amas portuguesas como as mais pretendidas, correspondendo a 234 (duzentos e trinta e quatro) anúncios de um total de 298 (duzentos e noventa e oito), as portuguesas possuem um percentual aproximado de 78% deste total, exemplificado assim: Aluga-se uma senhora portugueza para ama de leite, chegada ha pouco da Europa... (19/05/ 1888) [13]. Já as espanholas, correspondem a 7% deste total: Aluga-se dous amas de leite hespanholas sem filhos... (23/05/1890) [13]. As nacionalidades alemã, italiana e francesa, também registradas nos anúncios, correspondem a um valor de 6%. Ressaltando ainda que os 9% restantes dos anúncios que mencionam a preferência por amas estrangeiras, não especificam a nacionalidade das mesmas, como ilustrado no exemplo que segue: Aluga-se uma ama de leite, estrangeira, muito sadia e carinhosa... (25/07/1888) [13]. Para finalizar, a análise dos dados de acordo com as intitulações supramencionadas, apenas serão ilustrados os percentuais referentes aos 41 anúncios que especificaram a idade das amas ofertadas no período de 13/05/1888 a 27/09/1890. Desta forma, desmembrou-se a intitulação idade das amas de leite em três classificações: amas de leite com até 19 anos de idade, o que correspondeu a 32% dos anúncios registrados; amas de leite entre 20 a 25 anos, caracterizando 58%, e por último, amas de leite com idade acima de 26 anos, correspondendo 10% dos 41 anúncios que tiveram registros de idades das amas dentro do total de 4189 anúncios coletados. O percentual supramencionado traz destaque para as amas novas, numa faixa etária entre 20 e 25 anos, o que faz respaldar com os conceitos citados por Costa [11], onde engravidar e amamentar eram considerados eventos biológicos ligados no decorrer da história feminina. Isto justifica, a grande quantidade de filhos que compunham a família antiga, pelo fato de que o papel da mulher destinavase somente à procriação. Conclusões A comercialização do aleitamento materno pelas amas de leite envolve aspectos que na época manifestavam a necessidade de um cuidar diferenciado dos dias de hoje, cabendo-nos um melhor entendimento do contexto histórico social, artigo 06 - Luciane.pmd 221 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) onde não podemos esquecer as diferenças construídas e fortalecidas durante a evolução da história humana, que de certa forma, ainda produzem modos e maneiras diferentes de pensar, sentir e agir. Para as mulheres do período imperial, o aleitamento cruzado era considerado um tipo de cuidado comercializado, que era condenado pelo olhar da ordem médica apontando para um tipo de um cuidado marginal, onde a mulher deixa de lado alguns cuidados, que segundo Badinter [2], são os cuidados maternos essenciais que representam a maior possibilidade de sobrevivência para o recém-nascido nos primeiros meses de vida. Além do olhar da ordem médica, existia também o olhar da sociedade para com o comportamento da mulher, exigindo sua participação no convívio social dos bailes, festas e passeios públicos, o que deixa a criança à mercê de sua própria sorte. Com isso, as considerações deste estudo apontam para as transformações sociais ocorridas na década de 1880 em meio ao crescente processo de urbanização e industrialização, levando a propagação de um marketing na busca de serviços que fazem com que a mulher encontre no cuidado uma forma de obtenção de renda. Em domicílio o cuidado já era considerado um tipo de atividade assistencial, praticado por escravos treinados. Somente a partir do século XVIII que se encontram os precursores das atividades de enfermagem diferenciadas em: nível institucional, nas enfermarias dos jesuítas, e no espaço doméstico, como é o caso das parteiras, sem características profissionais [20]. Contudo, para que se possua uma característica profissional é necessário que se tenha adquirido capacitação teórica e prática através de um processo de instrução formal, além de estar submetida às regras normatizadoras do exercício profissional, recebendo desta forma, remuneração pelos serviços prestados [20]. De acordo com Dias, citado por Schwarcz [18], todo comércio ambulante até então era feito pelas mulheres pobres, cativas ou não. Isso certifica a entrada da mulher no mercado de trabalho, mesmo sendo de uma forma autônoma, onde através da elaboração de anúncios nos jornais, muitas amas redigiam uma descrição precária na solicitação de um emprego. artigo 06 - Luciane.pmd 222 A enfermagem enquanto profissão feminina começa organizar-se na segunda metade do século XIX, dentro de um modelo social de transição do período colonial para o império, com o surgimento das Santas Casas de Misericórdia. Prosseguindo o contexto, do imperial para a Primeira República, com a criação da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras (EEPE) [20]. Assim, em 27 de setembro de 1890, o modelo da referida instituição de ensino é criado através do Decreto 791 com o objetivo explícito descrito no artigo n° 1 o de preparar enfermeiros e enfermeiras para os hospícios e hospitais civis e militares [21] citado por Pires [20], o que foi divulgado na imprensa da época. O que o estudo aponta com maior destaque é que a inserção feminina no mercado de trabalho, através das lentes da história do aleitamento materno, enfocado nas amas de leite, como sujeitos da comercialização, é que elas foram mão-de-obra no discurso social em prol da alimentação; por outro lado condenadas na prática pela ótica médica devido ao alto índice de mortalidade infantil. Assim, por um lado ou por outro o presente estudo tangencia a História da Profissionalização da Enfermagem no Brasil, principalmente ao se tratar da criação da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras (1890), atual Escola de Enfermagem Alfredo Pinto. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Maldonado MTP. Psicologia da gravidez: Parto e puerpério. 5a ed. Rio de Janeiro: Vozes; 1889. Badinter E. Um amor conquistado: o mito do Amor Materno. In: Dutra W. 8a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1985. Porto F, Santos IMM, Silva LR. O corpo que alimenta: cuidados com a amamentação. In: Figueiredo N. 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K ! artigo 06 - Luciane.pmd 223 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Revisão Assistência de enfermagem ao paciente em risco de morte iminente Antonio Carlos Siqueira Júnior, D.Sc.*, Aline Alzira Ulian**, Fernanda Cenci Queiroz** *Professor do curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília, **Graduadas no curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília Resumo O trabalho do profissional de Enfermagem está sempre muito próximo do paciente em risco de morte, principalmente para aqueles profissionais que estão ligados à área hospitalar. Sendo este evento sempre difícil de se conviver, faz com que a Enfermagem tenha muitas dificuldades em lidar com o paciente com este risco. Este trabalho tem como objetivo fazer um estudo bibliográfico buscando na literatura artigos que mostrem as percepções e os sentimentos da equipe de enfermagem frente ao processo que antecede e procede a morte de um paciente hospitalizado, as aflições e o pesar de seus familiares. Utilizamos a pesquisa bibliográfica com instrumento metodológico. Concluímos que este assunto ainda é pouco estudado pelos profissionais de Enfermagem e, portanto, os cursos de graduação também abordam pouco este assunto. Palabras-chave: enfermagem, morte, assistência. Abstract Nurse assistance to patient in imminent death risk The work of nursing professional is very close to patient in death risk, mainly those ones related to hospital area. Since it is hard to deal with death, the nursing staff has many difficulties in dealing with patient in great risk. The main object of this work is to make a bibliographical study, searching for articles on literature that show nursing staff perceptions and feelings regarding hospitalized patient process, prior and after death, his familys afflictions and sorrow. It was used bibliographical research with methodological instrument. We concluded that this topic is not enough studied by nursing professionals and therefore graduation courses do not broach it as well. Key-words: nursing, death, assistance. Artigo recebido em 25 de junho de 2004; aceito em 10 de agosto de 2004. Endereço para correspondência: Antonio Carlos Siqueira Júnior, Rua Jorge Bernardone, 404, 17519-580 Marília SP, E-mail [email protected] " artigo 07 - Antonio.pmd 224 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Resumen Asistencia de enfermería al enfermo en riesgo de muerte inminente El trabajo del profesional de enfermería está siempre muy cerca del enfermo en riesgo de muerte, principalmente para aquellos que trabajan en hospitales. Siendo este evento muy difícil de manejar, la enfermería tiene mucha dificultad en trabajar con este enfermo y en este riesgo. Este trabajo tiene como finalidad hacer un estudio bibliográfico, donde es posible buscar en literatura, artículos que señalan la percepción y el sentimiento del equipo de enfermería frente al proceso que antecede y procede la muerte de un paciente hospitalizado, la aflicción y el dolor de la familia. La pesquisa bibliográfica fue utilizada como instrumento metodológico. Este tema aún es poco estudiado por los profesionales de enfermería, así como en los cursos de graduación. Palabras-clave: enfermería, muerte, asistencia. Introdução Objetivo Durante a graduação em enfermagem houve muitas oportunidades de integrar a teoria com a prática nos diversos campos de estágios hospitalares, tornando-se inevitável assistir pacientes com risco de morte iminente. E também de presenciar como a equipe de enfermagem trabalha com estes pacientes, concentrando a maior parte de suas atividades na prestação de uma assistência de enfermagem aos cuidados clínicos, tendo dificuldade para prestar um cuidado integral ao paciente e sua família. Antes de iniciar nossos contatos nos estágios com pacientes em risco de morte iminente, encarávamos a morte da forma como nossa cultura nos proporcionava. Fomos educados para vivenciála o mínimo possível, e de repente, passamos a cuidar de pessoas com risco de morte. Era um conflito entre negar e cuidar de quem podia morrer. Com o decorrer do curso, aprendemos a importância do cuidar, e que muitas vezes não se pode curar, mas que muito se tem a fazer como, por exemplo, humanizar o tratamento até o final. A enfermagem pode ser direcionada tanto ao bem estar do homem, quanto para o desenvolvimento de suas potencialidades, mostrando assim, que o papel do cuidador (enfermeiro) é significativo, devendo dar força ao paciente e sua família, assegurando o direito de não serem abandonados, enfrentando a realidade de maneira menos sofrida e respeitando o indivíduo no momento de sua morte. Este trabalho tem por objetivo fazer um estudo bibliográfico, buscando na literatura artigos que mostrem as percepções e os sentimentos da equipe de enfermagem frente ao processo que antecede e procede à morte de um paciente hospitalizado, as aflições e o pesar de seus familiares. Material e métodos O trabalho foi realizado durante o período de março a outubro do ano de 2003, fazendo parte do currículo como trabalho de conclusão de curso da 4ª série de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA). Este trabalho caracteriza-se como um estudo de revisão bibliográfica que pode ser definido como: (...) um jogo de espelho em que se refletem distintos posicionamentos sobre o assunto, estabelecendo-se confrontos em nível teórico... sem a pretensão de esgotar o assunto, mas com o firme propósito de subsidiar o debate que não começa e não termina aqui [1]. A pesquisa foi realizada através da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Utilizamos as palavras-chaves morte e paciente para levantamento do material # artigo 07 - Antonio.pmd 225 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) bibliográfico, sem limite de tempo e foram excluídos os resumos de teses. Encontramos 20 artigos no total, destes, 9 foram encontrados na revista Brasileira de Enfermagem, 2 na Acta Paulista de Enfermagem, 1 na Revista Paulista de Enfermagem, 4 na Revista da Escola da USP, 1 na Cogitare Enfermagem, 1 na Revista de Enfermagem da UERJ, 1 na Revista latino-americana de Enfermagem e 1 na Revista Gaúcha de Enfermagem. Destes 21 artigos não foram utilizados 3 textos, porque apesar de estarem relacionados no resultado da busca, ao serem lidos percebemos que o título não correspondia ao conteúdo que era esperado pelas autoras. A partir do fichamento podemos identificar os principais assuntos e características abordadas nos textos que são: conceito de saúde doença, conceito de morte e impotência do profissional, papel do hospital, história de vida do profissional, conduta, ética e morte, situação do paciente, relação do profissional com o paciente e com a família, mecanismo de defesa do profissional e mecanismo de defesa do paciente. A análise foi desenvolvida comparando-se as características e os assuntos, buscando identificar seus pontos mais relevantes, suas concordâncias e discordâncias, sendo estas discutidas a partir da nossa prática e vivência. Análise Em relação ao local onde foram produzidos os artigos, percebemos que 61,1% foram realizados dentro da academia, destes, 18,1% foram produzidos por discentes e 50% por docentes, sendo que 50% destes trabalhos tiveram como cenário os hospitais universitários. Isto mostra que este tema ainda é uma preocupação acadêmica, pois apenas 16,6% dos artigos foram produzidos por enfermeiros assistências. Ao analisarmos os textos, constatamos que 82,35% foram publicados nos últimos 10 anos, com uma prevalência nos últimos cinco anos (58,8%). Assim podemos entender que este tema passou a ser mais estudado a partir do final da década de 90, quando começou a se valorizar a humanização da assistência, apesar desta preocupação estar mais restrita ainda à academia. Quanto à metodologia, percebe-se que predomina a pesquisa qualitativa, usada em 55% dos trabalhos. Na abordagem do tema ética e morte, encontramos uma concordância em relação à autonomia do paciente, esta pode ser entendida na frase: A soberania da pessoa humana em decidir o que e quando deseja é um dos direitos inalienáveis dos seres humanos, que devemos incentivar para que sejam exercidos em sua plenitude. Entretanto, isto só é possível se o paciente tiver domínio das informações que geralmente estão sob total poder da equipe de saúde [2]. Encontramos também relatos sobre a importância que os fatores culturais, sociais, emocionais, históricos e familiares exercem sobre o processo saúde doença [3,4]. Concordamos com estes autores, pois em algumas experiências, podemos perceber como é importante a valorização de aspectos que não dizem respeito à rotina do hospital. Pode-se perceber que em se tratando de paciente terminal, os cuidados prestados centramse na rotina da enfermaria, não valorizando a particularidade do doente que está vivenciando o processo de morte, às vezes, até a liberação da família para acompanhá-lo, não ocorre. Entende-se que é praticamente impossível assistir o indivíduo (doente ou sadio) de forma completa, quando não se considera seu contexto mais próximo: que é a família à qual ele pertence [4]. Na abordagem das diferenças de assistência prestadas ao paciente idoso e jovem em risco de morte, questiona-se o fato da sociedade valorizar a juventude, considerando o idoso alguém que já viveu muito e que, portanto, poderia abrir mão para que os esforços de cuidados urgentes fossem concentrados sobre os pacientes mais jovens [5]. Quanto à abordagem do relacionamento entre o profissional, o paciente e a família, os dois últimos possuem o direito à informação dos procedimentos relativos à doença e também a uma assistência direcionada as suas necessidades e expectativas, com o objetivo de diminuir o medo, a angústia do desconhecido, possibilitando uma maior autonomia possível e desejada por eles [2,6]. Em relação à questão do envolvimento do profissional com o paciente, enfatiza-se a necessidade do profissional em envolver-se. Este envolvimento deve manter uma distância que ele chama de Distância Crítica, caracterizada pela valorização dos aspectos orgânicos e físicos dos $ artigo 07 - Antonio.pmd 226 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) problemas do paciente, entende-se que esta distância é difícil de ser mensurada [7]. Esse envolvimento também dificulta o discernimento dos problemas do profissional dos problemas do paciente, ilustraremos essa questão da seguinte forma: O vínculo com o enfermeiro pode ter caráter positivo, desde que haja uma prontidão para se dispensar os cuidados, associados a uma afetividade inerente à sua atuação profissional... [8]. Relata-se também, a adaptação do paciente ao ambiente hospitalar [6,8], e segundo os autores, durante a internação, o paciente estabelece uma relação com os materiais, equipamentos e com os funcionários. Isso se torna benéfico para a diminuição do estresse da internação, do medo, da angústia, trazendo segurança para o paciente que passa a confiar na assistência prestada. Ribeiro faz uma reflexão sobre a morte quando colocando que: (...) pensando na morte em seu aspecto biológico e racional, torna-se relativamente fácil diagnosticá-la como um acontecimento cotidiano, que completa o ciclo da vida: nascer, crescer, envelhecer e morrer auxiliando na continuidade da espécie. Porém, quando ela acontece, não está desprovida de um contexto emocional, ao representar a quebra de um vínculo com alguém que se goste ou não, que não estará mais no cotidiano dos viventes. È, além de tudo, um momento de síntese, onde se reflete a respeito dos vários aspectos da pessoa e da nossa vida [9]. O contexto histórico da sociedade ocidental, no qual a morte vem sendo encarada com receio, como fenômeno indesejado, proibido e camuflado, deixando de ser um fenômeno social e/ou cultuada com rituais após o óbito [10,11]. A abordagem deste problema diz respeito aos sentimentos e acontecimentos que afetam e angustiam, uma vez que para ele, a dor e o sofrimento não são apenas sintomas e a morte apenas óbitos. O autor propõe a presença de um psicólogo junto à enfermagem, e desta forma: (...) utilizando-se de técnicas adequadas ao contexto hospitalar, com o intuito de que estes possam vivenciar as perdas no dia a dia de seu trabalho de uma forma mais saudável, o que acreditamos, implicaria na melhora da qualidade do atendimento prestado por este ao paciente fora de possibilidade terapêutica [12]. Os profissionais de saúde se envolvem com o processo de morte com o intuito de preservação da vida, desconsiderando este fenômeno como um acontecimento natural e certo da condição humana, fazendo com que trabalhem com a morte como uma inimiga que deve ser vencida [13]. Segundo este autor, esta situação gera ansiedade, acarretando o afastamento da assistência e aproximação com trabalhos de normas e rotinas administrativas. Coloca-se a existência de um despreparo dos profissionais da área da saúde em trabalhar com a morte, devido à sua formação acadêmica. Gonçalves cita que: Quase sempre os profissionais da saúde e os funcionários hospitalares não têm sido preparados e/ou treinados para uma abordagem mais natural e humanista tanto junto aos pacientes em fase terminal quanto aos seus familiares [5]. Esta formação causa sentimentos de impotência e angústia quando a morte se aproxima, pois o profissional não consegue lidar com a complexidade das situações. Esta angústia ocorre devido à fantasia e da morte de pessoas a ele ligado afetivamente [14]. A tecnologia que permite tratamentos mais eficazes do que os cuidados em casa, mas que muitas vezes, impõem ao indivíduo uma agonia e sofrimento mais penoso do que a vivenciada no lar devido ao prolongamento de sua vida. O autor resume essa idéia da seguinte forma: (...) a mais desejável das mortes, a morte instantânea, ocorre quase sempre entre os doentes tratados em casa e que não precisaram sofrer os degradantes cuidados intensivos dos hospitais. As angústias de uma doença prolongada foram-lhe poupadas, assim como as atribuições do final [9]. Uma reflexão sobre a assistência mecanizada dos hospitais e a importância de administrar os problemas emocionais do paciente deve ser considerada, não se esquecendo de seu contexto social. O hospital é um espaço mítico que deve conter e administrar os problemas emocionais % artigo 07 - Antonio.pmd 227 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) provocados pelo paciente, sua doença e toda rede de relações sociais que a eles se vinculam os sentimentos como depressão e ansiedade, tanto dos pacientes como dos familiares são naturalmente projetados no hospital, através de seus elementos de mediação, ou sejam, os profissionais e em especial ao enfermeiro, a quem cabe decidir questões importantes, assumindo responsabilidades de forma integral [6]. O hospital tem como princípio proteger o paciente contra a angústia de sua própria morte, porém o hospital acaba cumprindo outro papel, o de camuflar a morte do doente, permitindo que fuja de suas próprias emoções. A autora coloca que o hospital possui um papel mentiroso, que a princípio é de proteger o paciente de seu medo da morte, e posteriormente transmite uma ilusão confortável, que desobriga a todos pensar no processo de morte [15]. Sobre apoio psicológico prestado aos pacientes em risco de morte iminente, Barbieri coloca que não deve ocorrer uma cisão entre o cuidado físico e o psicológico, pois para ele estes cuidados devem ser vistos como pólos de uma mesma unidade [11,16]. Este apoio psicológico foi a necessidade de enfermagem mais citada por enfermeiros que participaram de seu trabalho. Porém a autora sugere que mais trabalhos devam existir sobre este assunto, uma vez que sua operacionalização é pouco esclarecida se considerada como um comportamento profissional [17]. A concepção que os enfermeiros e graduandos possuem em relação a apoio psicológico é baseada em tópicos como: retirar dúvidas do paciente, orientar procedimentos, dar cuidados físicos, trabalhar cada paciente individualmente, dar atenção ao paciente e outras [18]. Os profissionais vinculam estes tópicos às suas competências técnicas, e modificar esta concepção de apoio psicológico trazida pelos enfermeiros, requer um certo tempo, porém, ressalta a importância da enfermagem caminhar como ciência. nos acrescentou informações sobre vários assuntos que podemos projetar para toda as assistências de enfermagem que prestaremos em nossa carreira, como, por exemplo, questões éticas; envolvimento empático e simpático; papel da instituição hospitalar; importância do papel social, econômico e espiritual e outros. A leitura destes textos nos ajudou muito no amadurecimento de nossa assistência, porém verificamos o quanto é difícil trabalhar com a dor que os pacientes apresentam, quando queremos por em prática um atendimento humanizado e empático. Concluímos com isso que a graduação exerce um papel fundamental, o enfermeiro tem que conhecer os princípios científicos de uma assistência humanizada e de envolvimento empático, pois a assistência de enfermagem não pode depender da personalidade que o profissional apresenta. Percebemos também que este assunto ainda é pouco estudado, e que os trabalhos que foram realizados, concentram-se a maioria na academia realizada por docentes e alunos, e que mais de 50% foram realizados nos últimos 10 anos. Isto nos mostra que esta preocupação é tão recente quanto a discussão sobre a humanização da assistência. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Conclusões Este trabalho possibilitou a reflexão de vários aspectos sobre a assistência de enfermagem com o paciente em risco de morte iminente, como também 7. 8. Gomes RA. Violência social em questão: referências para um debate em saúde pública. Rev Latinoam Enfermagem 1997;5:93-100. Silva MAPD, Silva ARB, Silva EM. Oncologia e ética: relações e aproximações. Rev Paul Enfermagem 2001;20:45-48. Santos MLSC. O cuidado do cliente com problemas hematológicos uma experiência de ensinoaprendizagem. Rev Bras Enfermagem 2000;53:508512. Marcon SS; Rossini AFS, Aceti EL. Assistência de enfermagem domiciliar em equipe multiprofissional após o óbito do paciente. Rev Bras Enfermagem 1998;51:379-392. Gonçalves LHT, Schenider P. Enfermagem e o idoso hospitalizado em condição terminal. Acta Paul Enfermagem 2001;14:37-40. Shimizu HE, Guitierrez BAO. Participação de enfermagem na implantação e desenvolvimento de um grupo multidisciplinar de assistência a pacientes crônicos e terminais. 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K ' artigo 07 - Antonio.pmd 229 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Estudo de caso Teste do Pezinho: um marco expressivo na história da enfermagem preventiva no Brasil Thereza Neuma de Tostes Freitas *Enfermeira, Advogada, Docente das disciplinas Saúde da Criança e do Adolescente e Enfermagem Pediátrica da Universidade Salgado de Oliveira, Professora Aposentada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense Resumo A expressão Teste do Pezinho, popularmente conhecida para designar os exames de diagnóstico precoce dos Erros Inatos do Metabolismo, originou-se da pesquisa sobre conhecimentos, opiniões e atitudes de profissionais da área obstétrica e neonatológica, cujos objetivos têm sido gradativamente atingidos, havendo um dispositivo legal no Estatuto da Criança e do Adolescente que regulamenta tais exames. O presente trabalho tem como finalidade apresentar a origem da expressão Teste do Pezinho, expondo a situação-problema que motivou a pesquisa e inferir sobre o papel do enfermeiro pediatra no procedimento. Palavras-chave: diagnóstico, procedimento, obstetrícia, neonatologia. Abstract The Newborn Screening Test: significant mark in preventive Brazilian nursing history The Newborn Screening Test is an analysis of the babys blood to look for evidence of certain genetic diseases or inborn errors of metabolism. The test results from a research regarding knowledge, opinions and professional attitudes of the obstetrical and neonatologic area, whose aims have been achieved and there is a legal dispositive right in the Child and Adolescent Statute that regulates such physical examination. The aim of the present work is to explain the expression Teste do Pezinho The Newborn Screening Test, showing the situation-problem that arouse interest to carry out the research and infer about the pediatric nurses role. Key-words: diagnosis, procedure, obstetrics, neonatologic. Artigo recebido em 28 de junho de 2004; aceito em 1 de agosto de 2004. Endereço para correspondência: Thereza Neuma de Tostes Freitas, Rua Miguel de Frias, 164/1801 Icaraí 24220-003 Niterói RJ, Tel.: (21) 9727-3783, E-mail: [email protected] ! artigo 08 - Thereza.pmd 230 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Resumen Prueba del talón: un marco expresivo en la historia de enfermería preventiva en Brasil La expresión prueba del talón conocido popularmente para designar los exámenes de diagnóstico precoz de los errores congénitos del metabolismo, se originó de la investigación sobre conocimientos, opiniones y actitudes de profesionales del área obstétrica y neonatológica, cuyos objetivos han sido, gradualmente, alcanzados. Estos exámenes son reglamentados a través de un dispositivo legal en el Estatuto del menor y del adolescente. El presente trabajo tiene como finalidad presentar el origen de la expresión prueba del talón, exponiendo la situación-problema que motivó la investigación e inferir sobre el papel del enfermero pediatra en el procedimiento. Palabras-clave: diagnosis, procedimiento, obstetricia, neonatología Introdução A expressão Teste do Pezinho surgiu em decorrência de uma pesquisa realizada por Freitas [1], como dissertação de mestrado, sobre conhecimentos, opiniões e atitudes de diretores administrativos, médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem com exercício profissional em maternidades e em unidades neonatológicas e obstétricas de um grupo de hospitais do município do Rio de Janeiro RJ e do município de São Paulo SP, a respeito do Programa de Seleção Populacional de Recém-Nascidos com Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito. Segundo a autora, os objetivos que a levaram a essa pesquisa foram: divulgar os conhecimentos obtidos; suscitar o debate entre os profissionais com interesse na área; contribuir para a implementação do programa nas maternidades e hospitais com unidades neonatológicas e obstétricas do Brasil. Ao selecionar os estabelecimentos a serem pesquisados, adotou-se a técnica do sorteio, donde se pôde observar como característica comum, todos pertencerem à classe Instituição de Ensino. Foi focalizada a proposta de prevenção através de detecção precoce em massa, da deficiência mental para diagnóstico de Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito com finalidade precípua de assessorar o lactente para o seu bom desenvolvimento físico, neurológico, psicológico e intelectual, permitindo assim, que a criança cresça e desenvolva, normal e sadiamente, conforme preconiza o Segundo Princípio da Declaração dos Direitos da Criança [2], realizando o teste do pezinho que consiste na punção do calcanhar para obtenção de amostras de sangue colhidas em papel de filtro, após 48 horas do nascimento da criança. É fundamental que ela tenha recebido o leite materno. Entretanto, há casos especiais, em que a criança está sob dieta parenteral, isto é, rica em aminoácidos essenciais e que poderão ser puncionadas para realização do teste. A assistência de enfermagem se baseia na premissa de que o propósito desta assistência é promover o mais elevado estado de saúde possível a cada criança, uma vez que saúde tem sido definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um estado de completo bem estar físico, mental e social e, não, meramente, a ausência de doença. Isto implica que a enfermagem envolvida em todos os aspectos do crescimento e desenvolvimento da criança e, como enfermeira pediatra, atuante no âmbito da Pediatria Social, não poderia deixar passar a oportunidade de investigar tal assunto, pois as modificações nos padrões de assistência a infância é uma constante preocupação para aqueles que trabalham nesse campo. Revisão de literatura As doenças metabólicas hereditárias começaram a ser descritas em 1908 por Sir Archibald Garrod [3]; foram identificados novos quadros patológicos, graças ao avanço tecnológico, sobretudo nas áreas de genética e bioquímica. A maior parte dos Erros Inatos do Metabolismo (EIM) é causada pela deficiência ou ! artigo 08 - Thereza.pmd 231 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) ausência de uma enzima e as manifestações clínicas determinadas variam e, a sua gravidade, está relacionada à deficiência da substância em questão. Dentre os EIM estão a fenilcetonúria e o hipotireoidismo congênito. Fenilcetonúria A Fenilcetonúria, também chamada oligofrenia fenilpirúvica, foi uma das primeiras anormalidades metabólicas a ser estabelecida como causa de deficiência mental, sendo descoberta por Fölling [4]. É a aminoacidopatia mais comum, de herança autossômica recessiva, causada por diminuição ou ausência de enzima fenilalanina-hidroxilase, esta enzima catalisa a hidroxilação da fenilalanina em tirosina. Como conseqüência deste defeito metabólico, ocorre um acúmulo de fenilalanina e vários outros metabólitos - ácido fenilpirúvico, ácido fenilático e ácido fenilacético, assim como do ácido fenilglutamino. O bloqueio metabólico foi admitido por Jervis [3,4], que demonstrou, em 1953 ser inativa a fenilalanina-hidroxilase do fígado dos pacientes fenilcetonúricos [3-5]. O aspecto dominante da doença é a deficiência mental que é determinada pela quantidade excessiva de fenilalanina e/ou seus metabólitos. A maior parte apresenta alterações neurológicas como a hipertonicidade, comportamento agitado, tremores, alterações eletroencefalográficas, eczema, irritabilidade e um cheiro de mofo na urina. Em 1954, Bickel et al. [6], demonstraram que uma dieta pobre em fenilalanina, iniciada nos primeiros meses de vida, prevenia a grave conseqüência da enfermidade que é o retardo mental profundo, sendo comprovado por Armstrong et al. [6] em 1955. Essas possibilidades terapêuticas influenciaram no campo de pesquisa, sendo proposto por Guthrie [6] o exame em nível populacional em berçários [6]. A assistência a criança e sua família devem ser feitas por uma equipe através de controle periódico. A dieta com baixo teor de fenilalanina deve ser iniciada precocemente, visando ao bom desenvolvimento do bebê. Todo esclarecimento deve ser feito aos familiares, enfatizando os benefícios do tratamento dietético e sua relação com o sucesso terapêutico. Hipotireoidismo congênito O hormônio tireoidiano é de grande importância para o crescimento e desenvolvimento da criança, sendo imperativo o diagnóstico precoce de hipotireoidismo congênito, já que o atraso no diagnóstico pode causar danos irreversíveis à estruturação do sistema nervoso e ao desenvolvimento mental. Foi em 1850 que Curling [7] descreveu pela primeira vez dois casos os quais ele denominou de cretinismo, sendo um de 10 anos e outro de 6 meses, cujas necropsias demonstraram não possuir tecido tireoidiano. Em 1871, Fagge [7] descreveu quatro pacientes com cretinismo esporádico os quais não apresentavam bócio. Eyars [8] e Pickering & Fisher [8] relataram a importância do hormônio tireoidiano, essencial ao desenvolvimento e crescimento normal do cérebro, evidenciando que o tratamento precoce do hipotireoidismo pode prevenir as deficiências neurológica e mental, secundárias à carência deste hormônio. Na etapa neonatal, sem dúvida, os sinais clínicos são poucos e inespecíficos [9]. Nos bebês, são necessários suprimentos adequados de hormônio tireoidiano para o desenvolvimento do sistema nervoso central, crescimento e maturação dos ossos [10]. Como há dificuldade de proceder ao diagnóstico clínico antes dos 3 meses de idade, ocasião em que já ocorreu prejuízo irreversível, fazse necessária a realização do exame, pois, como a fenilcetonúria, a criança nasce com a aparência normal, só passando a apresentar os sintomas a partir do 4.º mês ou do 6.º mês de vida, caminhando, a partir daí, para a deficiência mental. Ambas as doenças são dificilmente diagnosticadas clinicamente em tempo hábil, exigindo a intervenção de meios laboratoriais [11]. Um pouco da história do Teste do Pezinho Nos Estados Unidos, os exames à procura de desordens metabólicas em recém-nascidos, datam de 1962 e representam, comprovadamente meios extremamente valiosos na prevenção do retardo mental [12]. Esses exames foram idealizados por Guthrie [6] e compreendem técnicas bacteriológicas. No Brasil, no Centro de Habilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo, Schmidt et al. [13] introduziram em 1975, a técnica efetuada por espectrofotofluorômetro auto-analisador que utiliza amostra de sangue seco, sendo esta mais acurada do que a bacteriológica, por ser mais sensível. ! artigo 08 - Thereza.pmd 232 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) Apesar de tudo isto, os exames eram realizados em apenas uma pequena parte da população e, a pesquisa realizada por Freitas [1] demonstrou o desconhecimento de 62% dos profissionais pesquisados na cidade do Rio de Janeiro e 53,8% dos de São Paulo. Os resultados da pesquisa aqui referida, por meio de correspondência enviada à autora por Nérici, chamada de Pesquisa relacionada com a realidade, foram apresentados pela pesquisadora, em entrevista a convite, no programa Fantástico da Rede Globo de Televisão, em 2 de março de 1986, coincidentemente, sendo uma das conclusões do trabalho, a afirmação da população pesquisada de que medidas deveriam ser postas em prática no sentido de haver divulgação constante por meios de comunicação, alertando não só a equipe que assiste o recém-nascido, como também a população em geral, no intuito de que ela mesma fiscalize e apóie a realização do exame, pois a família, conhecendo o problema, desempenhará um importante papel no trabalho de prevenção da deficiência mental causada por Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito. Com a apresentação desses resultados, no programa seguinte, ou seja, em 9 de março de 1986, em entrevista àquela Rede, o Exmo. Sr. Ministro da Saúde determinou que em todas as maternidades do Brasil fossem realizados os exames sendo, mais tarde, tal obrigatoriedade contemplada no Artigo 10, Inciso III, da Lei 8069, de 13 de julho de 1990, que regulamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) [2], demonstrando a preocupação governamental em impulsionar o desenvolvimento da Nação, cujo futuro está na criança que acaba de nascer. Tal preocupação tem sido e deve ser mantida, não só pelo mais alto governante, como também, por todos os envolvidos nos modelos de assistência a criança, vez que os gastos destinados a garantir uma infância sadia são investimentos solidamente lucrativos. A Portaria GM/MS nº. 22, de 15/01/92, trata do Programa de Diagnóstico Precoce do Hipotereoidismo Congênito e da Fenilcetonúria. A Portaria GM/MS nº. 822, de 06/01/01, amplia as redes de Triagem Neonatal, instituindo no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) e determina a responsabilidade do Programa ao Serviço de Referência de Triagem Neonatal (SRTN). A Portaria nº. 389, de 10/06/02, cria mecanismos necessários ao acesso dos pacientes usuários do SUS aos complementos alimentares para fenicetonúricos e a Portaria nº. 847, de 31/ 10/02, estabelece o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Fenilcetonúria. A Portaria nº. 872, de 12/011/02, determina o Protocolo Único de Diretrizes Terapêuticas para Doença Falciforme. O Brasil é um país de grandes contrastes, causados por uma variedade de fatores, destacandose a expansão territorial. As populações das regiões próximas às grandes capitais têm maiores oportunidades de receberem atenção de saúde necessária. Daí a importância dos exames serem realizados em massa, controlando, assim, as enfermidades e melhorando a qualidade de vida de todas as crianças brasileiras. E, como vemos, foi a partir de 1986, com a divulgação dos resultados da pesquisa que o exame tornou-se popularmente conhecido como Teste do Pezinho, suscitando o debate entre os profissionais pelo alerta, contribuindo, sobremaneira, para a sua implantação gradativa nas maternidades e hospitais com unidades neonatológicas e obstétricas, garantindo o cumprimento do Segundo Princípio da Declaração dos Direitos da Criança e do Dispositivo Legal do ECA. Sem dúvida, esse fato representa um marco expressivo, não só na História da Enfermagem Preventiva no Brasil [14], assim como na divulgação do exame com a nominação Teste do Pezinho, objetivando com esta expressão de fácil entendimento e assimilação, atingir a população, refletindo numa maior conscientização das graves conseqüências deixadas pelas entidades mórbidas quando não diagnosticadas precocemente e, por isso mesmo, levando esta população a se interessar por procurar, em tempo hábil o diagnóstico e o adequado tratamento. Estudo de caso A idéia de se realizar a pesquisa referida anteriormente, foi em decorrência da problemática apresentada por G.C.F., não diagnosticada, em tempo hábil, em relação à Fenilcetonúria, acarretando sobre seu desenvolvimento global, efeitos verdadeiramente devastadores. Vejamos o relato dos pais de G.C.F.: Nascida em 27/06/70, em Niterói RJ, G.C.F. é a terceira filha do casal que se encontrava !! artigo 08 - Thereza.pmd 233 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) na faixa etária entre 24 e 28 anos. Os outros dois filhos são normais. A gravidez transcorreu normalmente, conforme as outras, sendo realizado o pré-natal desde o início. O bebê nasceu a termo, com peso de 3.470 gramas, numa cesariana, com boa sucção, tendo alta da maternidade junto com a mãe no terceiro dia de seu nascimento. Nos primeiros dois meses parecia ser perfeitamente normal. Depois, se começou a obser var a diminuição de interação social, respondendo pouco aos estímulos ambientais, chegando, na família, a se pensar em cegueira ou surdez. Aqui se deu o início de sua via crucis. Acompanhada por especialistas, não se chegava a um diagnóstico definitivo. Sua urina apresentava odor forte. Seus padrões posturais e locomotores passaram por organização lenta e imperfeita. Sentou-se, com apoio, em torno de oito meses; tônus dos braços, tronco e pernas aumentado, não rolando da posição supina para a prona; andou aos 22 meses. Era difícil despertarlhe a atenção e o seu interesse era fugidio e variável. Não se interessava por brinquedos próprios da idade e quando os aceitava, tais objetos eram retidos com preensão reflexa exagerada, sem manipulação ou exploração. A fisioterapia era realizada regularmente. Demonstrava gostar de música e, permanecia, durante muito tempo, próxima ao aparelho de som ouvindo e cantarolando (ummm, ummm, ummm...), acompanhando toda a música. Vocalizava mal as palavras mãe e pai, com som demorado, arrastado e pouco compreensível. Ao demonstrar interesse em sair de casa, vocalizava kikiá, significando passear. Por volta dos três anos gostava de brincar sozinha, com uma bola, fazendo movimentos rotativo-repetitivos, os quais permanecem até hoje. Também, com muita habilidade, rodava qualquer tampinha, olhando-a divertida e encantadamente. Ao ser estimulada a brincar com outras crianças, o fazia com ajuda do adulto, entretanto, permanecia por algum tempo, demonstrando satisfação, vocalizando sempre a mesma cantiga de roda. Quando parada, sentava-se ao chão e se movimentava para frente e para trás. O progresso no seu desenvolvimento era lento. Ao ser tocada ou quando lhe dirigiam a fala, sorria vagamente. Aos quatro anos de idade, ou seja, em 1974, fora sugerido a seus pais que se levantasse junto ao médico assistente, a hipótese de Fenilcetonúria, embora quem fizera a sugestão não soubesse os meios de diagnóstico, pois só havia lido sobre a doença, num livro de genética, onde continham poucas informações descritas, tais como: os sinais pele clara, cabelos muito claros, olhos claros, urina com odor forte e deficiência mental. Permitam-me a colocação: - Quem fizera a sugestão supracitada fora a própria deste trabalho, ao ingressar na Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense, 1974. Tal hipótese, por incrível que pareça, fora afastada pelos especialistas consultados que alegaram não ter convulsão a paciente. Os pais continuavam, incessantemente, em busca de uma definição do caso dessa filha: loirinha, pele clara, fisicamente forte e saudável. Sem êxito, mas com todo empenho, iam fazendo tudo que lhes era indicado pelos médicos assistentes. Em 1981, tendo, portanto a criança, onze anos de idade, automutilando-se no rosto, cotovelos e mãos, o médico assistente, objetivando diminuir sua autoagressividade, alegando não haver medicamentos mais eficazes, encaminhou-a a um neurocirurgião do Rio de Janeiro, onde, em 9 de outubro de 1981, fora submetida à cirurgia estereotáxica hipotalamotomia posterior bilateral, o que lhe acarretou graves conseqüências: controle desorganizado do movimento, refletindo na postura, locomoção, ajustamentos manuais, deglutição, respiração, articulação, parando de cantarolar e vocalizar qualquer som. Aos 13 anos (1983) aparecera, finalmente, a possibilidade de diagnóstico, quando Freitas [15], como aluna de mestrado, em visita à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo teve a oportunidade de estudar sobre a doença, meios de diagnóstico, sugerindo aos pais, mais uma vez, o encaminhamento de G.C.F. para constatação da Fenilcetonúria, agora os pais com a certeza da realidade, o que se deu em 25 de novembro de 1983, cujo laudo foi: aumento acentuado de fenilalanina no sangue e na urina. Os pais têm envidado esforços contínuos no sentido de minorar sua clínica, mas a marca principal da doença já estava instalada: deficiência mental profunda. Recebe alimentação pobre em fenilalanina, continua a fisioterapia regularmente, freqüenta uma escola para crianças especiais, demonstrando muita !" artigo 08 - Thereza.pmd 234 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) satisfação ao ser vestida e ser conduzida de casa à escola. Com a dieta, foi observada uma melhora nos seus sinais e sintomas, já vocalizando algum som (mmãããããããããe). Solicita, tanto do pai, quanto da mãe, exagerada atenção e, somente interage com maior disciplina com a trabalhadora da casa, há muitos anos (um misto de babá-governanta-amiga), de maneira quase idêntica com o comportamento manifestado na escola. Por volta dos 30 anos apresentou catarata no olho direito, não sendo indicada, pelo médico, a cirurgia, o qual alegou a dificuldade no pósoperatório diante do problema que apresenta G.C.F. Objetivando salvar as crianças dos efeitos deixados por esta doença, Freitas [1] procurou saber o porquê de tais exames não serem realizados, uma vez que o aparelho estava instalado na APAE-SP e que se podia rastrear, a nível nacional, sendo esta a motivação maior do trabalho que deu origem à denominação Teste do Pezinho, e, G.C.F., a criança já lesada, naquele momento, na sua inocência, se inscrevia como uma benfeitora da humanidade, e, hoje, por causa de tudo isto, várias crianças estão livres, podendo desfrutar de tudo que a vida lhes oferece. O papel do enfermeiro no Teste do Pezinho A assistência da enfermagem ao recém-nascido tem início na fase pré-concepcional, atravessa os períodos do pré-natal e do parto e concretiza-se, efetivamente, no período neonatal. Essa trajetória de responsabilidades e funções faz do enfermeiro um elemento importante na equipe de saúde que propicia programas educativos para as famílias, objetivando o nascimento de uma criança sadia e a manutenção deste estado de higidez. O recém-nascido traz marcas de sua constituição genética que lhe dão características próprias e como bem descrevem Fontes & Bensabath [16], ele é um manancial informativo; um festival de peculiaridades cujo diagnóstico de normalidade não se fundamenta, unicamente, na avaliação física, embora esta seja, altamente, relevante; firma-se através de cuidadosa anamnese, com observação acuradíssima da sua evolução; transpõe o tempo: é passado, no histórico apreendido (anamnese); é presente, no exame físico realizado; é futuro, pois necessita de outras avaliações. O recém-nascido é uma caixa de segredos; cabe conhecê-lo bem, para protegê-lo mais e agredi-lo menos. Hoje, a assistência neonatal acompanha as tendências atuais de prevenção e promoção de saúde. Deste modo, os profissionais atuam usando de senso crítico de avaliação e controle das necessidades de cada caso, especificamente. Observa-se também o avanço nas áreas da eletrônica, bioquímica, etc. e isto assegura um controle eficaz aos problemas do neonato. O enfermeiro pediatra, empenhado na assistência preventiva, vem desenvolvendo suas ações de forma a proporcionar ao recém-nascido o crescimento e desenvolvimento normais, assegurando-lhe a integridade do funcionamento dos órgãos e sistemas, bem como o desenvolvimento de todas as potencialidades, considerandoo como um universo próprio, membro de uma família que vive numa comunidade. Necessária se faz a sabedoria do enfermeiro para saber escutar, compreender, ensinar, orientar e apoiar os pais como as variáveis primárias na vida de seu filho, humanizando, ao máximo, todos os contatos enfermeiro-família para atingir, num rapport altamente gratificante e de segurança, os resultados positivos buscados. Portanto o enfermeiro pediatra deve estar atento a todo e qualquer risco que venha a comprometer o processo de crescimento e desenvolvimento da criança. Um dos cuidados é o Teste do Pezinho. Toda a família estará envolvida na colheita da amostra do sangue do bebê. Está o enfermeiro muito capacitado para relacionar-se com os pais e o bebê, satisfazendo-lhes em suas necessidades, dispensando-lhes apoio, orientação preventiva influenciando, assim, no futuro físico, emocional e intelectual da criança. Devemos respeitá-la como pessoa que é, não lhe impondo, súbita e agressivamente o seu novo mundo, realizando técnicas dolorosas sem preparo psicológico. É necessário entender que o bebê precisa ser acariciado, tocado neste momento. Ele quer aconchego e embalo. Os pais ficam muito ansiosos em relação a alguns procedimentos com seu filho e, quanto ao Teste do Pezinho, o enfermeiro deverá dispensar-lhes cuidados especializados antes, durante e após o procedimento. No momento da acolhida do bebê para a punção do calcanhar, a atitude do enfermeiro pediatra deverá ser liberta, inocente, apaixonada, isenta de angústia e de pressa; não cabe a pressa diante deste instante tão necessário!. Deixemos o !# artigo 08 - Thereza.pmd 235 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Julho / Agosto 2004;3(4) bebê no colo da mãe e acompanhado do pai. Esse trio é inseparável no momento. Assim, ao terminar o procedimento, o bebê será acalentado, contactando a pele e o seio da mãe, emitindo sons e movimentos de conforto e carinho oferecidos pelo pai. Há um relaxamento geral: pai-mãe-bebê, fazendo reencontrar o estado anterior já tão familiar. 7. 8. 9. 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Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), http:// www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8.Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. !% Normas de publicação + Eventos.pmd 237 30/08/04, 19:04 EnfermagemBrasil Julho / Agosto 2004;3(4) 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3.Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986 Capítulo ou parte de livro: Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78. Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa 20021-180 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] !& Normas de publicação + Eventos.pmd 238 30/08/04, 19:04 Calendário de eventos 2004 Setembro 9 a 11 de setembro Congresso Interdisciplinar de Assistência Domiciliar Centro de Convenções Rebouças SP Informações: (11) 3670-3499 www.ciad.com.br 18 a 19 de setembro Enfermagem Psiquiátrica: a individualização do cuidado São Paulo SP Informações: (11) 3253-5022 ramal: 1104 E-mail: educaçã[email protected] 19 a 22 de setembro I Congresso Internacional de Enfermagem em Emergência e Medicina Crítica III Congresso Internacional de Urgência, Emergência e Medicina Intensiva Havana Cuba Informações: (11) 3257-4386 22 a 25 de setembro 6º Congresso Brasileiro de Dor Florianópolis SC Informações: (41) 3029-9824 www.dor.org.br 24 a 26 de setembro I Encontro de Enfermagem em Terapia Intensiva Maksoud Plaza SP Informações: www.sopati.com.br/scripts/curso2.html 28 de setembro a 1 de outubro II Encontro de Professores e Pesquisadores de História da Enfermagem no Rio de Janeiro II Mostra da Produção Científica de História da Enfermagem do Rio de Janeiro Escola de Enfermagem Alfredo Pinto Informações: (21) 8154-1485 / (21) 8858-7728 11 a 15 de outubro de 2004 7º CBCENF - Conselho Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem Fortaleza CE Informações: 0800-2800065 www.cbcenf.com.br 14 e 15 outubro II Congresso Internacional de Enfermagem em Dermatologia Informações: (11) 3726-4420 www.ellusaude.com.br 23 de outubro IV Fórum de Gestores de Enfermagem Hospital Samaritano SP Informações: [email protected] 24 a 29 de outubro 56º CBEn Congresso Brasileiro de Enfermagem ExpoGramado RS Informações: (51) 3226-3111 www.officemarketing.com.br/enfermagem/ 28 a 30 de outubro 5º Congreso Nacional de la AEC Enfermería Comunitaria La Medida del Cuidado Balneario de Archena Murcia Informações: [email protected] www.enfermeriacomunitaria.org 2005 Janeiro 25 a 27 de janeiro OHS 2005 International Conference on Occupational Health Services Marina Congress Center Finland Informações: +358 9 4747-2910 www.ttl.fi/osh2005 Outubro 5 a 8 de outubro XII Conferência Bienal do Grupo de Trabalho dos Enfermeiros Investigadores Europeus Lisboa Portugal Informações: (11) 3259-7874 www.astreaturismo.com.br Normas de publicação + Eventos.pmd 239 Junho 4 a 7 de junho IV Congresso Nacional de Enfermeiros Hospital das Clínicas SP Informações: expansã[email protected] 30/08/04, 19:04 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Índice Volume 3 número 5 - Setembro / Outubro de 2004 EDITORIAL Assistência de enfermagem – relatos de experiências e prevenção Os Editores ................................................................................................................................................................... 243 ARTIGOS ORIGINAIS Diagnósticos de enfermagem identificados em portadores de HIV/AIDS internados em um hospital de referência da cidade de Recife-PE, Nayana Vieira Barros, Rejane Haideé Borges de Freitas, Tâmara Kelly de Souza Modesto ................................................................ 244 Elaboração de um protocolo para prevenção de úlcera por pressão numa Unidade de Terapia Intensiva em um hospital do Estado de São Paulo, Geraldo Magela Salomé, Ivaneide Azevedo Assumção, Luzicleide Freire dos Santos ................................................................................ 253 A reação orgânica à irradiação das mãos – Criando bases para a ciência do cuidado de enfermagem, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Raquel Nunes da Silva, Marcio Martins da Costa ............................................................................................................................................ 258 Cuidados de enfermagem no período pós-operatório de cirurgia cardíaca, Carlos Eduardo Peres Sampaio, Bárbara Aparecida Matos Silva, Maria Salomé Cristiane Bedendo Rodrigues, Miria Rejane Soares Coelho, Rosangela Ribeiro Murucci Ferreira ..................................................................... 263 Estratégias de enfermagem para prevenção de traumas automobilísticos, Aldir da Silva Junior, Maria José Coelho........................................................................................................................................................ 270 Um enfoque prático para a gestão de materiais com consciência e qualidade, Margarete Maria de Lima ........................................................................................................................................... 276 REVISÕES Aspectos jurídicos da responsabilidade civil do enfermeiro em unidades de emergência, Álvaro Alberto de Bittencourt Vieira, Nébia Maria Almeida de Figueiredo, Isaura Setenta Porto ..................................................................................................................................................... 282 Causas de abandono do tratamento da tuberculose, Mari Dalva Cortezi............................................... 290 Aleitamento materno na formação do vínculo afetivo mãe-filho, Ana Cláudia Santos da Silva, Maria da Glória Lima e Silva ................................................................................ 294 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................................... 298 CALENDÁRIO DE EVENTOS ................................................................................................... 300 241 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004) Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS) CONSELHO CIENTÍFICO Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba) Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo) Profa. Dra. Márcia Maria Fontão Zago (USP – Ribeirão Preto) a Prof . Dra. Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio – Rio de Janeiro) Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul) Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio – Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba) Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP – Ribeirão Preto) Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo) GRUPO DE ASSESSORES a Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul) Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul) Profa Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe) a Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe) Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 e-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 – São Paulo – SP Tel: (11) 3362-2097 Assinaturas 1ano: R$ 144,00 Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Representante de Assinatura: A. Shalon (11) 3361-5595 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Editor assistente Bárbara de Assis Jorge Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Editoração e arte Cristiana Ribas Colaboradora de redação Guillermina Arias Atendimento ao assinante Ingrid Haig Redação e administração Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço: Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro René C. Delpy Jr [email protected] (21) 2221-4164 Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil, Nutrição Brasil, Neurociências e Ação & Movimento. Fo t o d a c a p a : E n t r e g a d a f a i x a d a C r u z Ve r m e l h a a n t e s d o e m b a r q u e p a r a I t á l i a . I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. 242 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Editorial Assistência de enfermagem – rrelatos elatos de experiências e pr evenção prevenção Os Editores Neste número, apresentamos artigos originais como os diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes portadores de HIV realizado pelas pesquisadoras Nayana Vieira Barros, Rejane Haideé Borges de Freitas e Tâmara Kelly de Souza Modesto, que tiveram como objetivo identificar o perfil sócio-demográfico da população pesquisada, elaborar e analisar lista dos diagnósticos de enfermagem a partir de dados coletados através de questionário, assim direcionando, melhorando o atendimento, contribuindo para a construção do conhecimento e engrandecimento da enfermagem. No artigo de Geraldo Magela Salomé, Ivaneide Azevedo Assumção e Luzicleide Freire dos Santos, temos um relato de experiência de um grupo de enfermeiros que trabalham em uma Unidade de Terapia Intensiva formulando um protocolo para prevenção de úlcera por pressão através de pesquisa com pacientes, reuniões e levantamento bibliográfico, tendo como resultado um instrumento prático e objetivo do trabalho cotidiano da enfermagem para planejar ações especificas e como produto final a melhoria de qualidade da assistência integral de enfermagem prestado aos nossos pacientes. Em um grande estudo experimental realizado pelos pesquisadores Maria Aparecida de Luca Nascimento, Raquel Nunes da Silva e Marcio Martins da Costa que demonstra que as mãos que cuidam e tratam, e que são os instrumentos de trabalho da equipe de enfermagem, interferem diretamente no resultado final do cuidado prestado. Em um outro artigo original, Carlos Eduardo Peres Sampaio, Bárbara Aparecida Matos Silva, Maria Salomé Cristiane Bedendo Rodrigues, Miria Rejane Soares Coelho e Rosangela Ribeiro Murucci Ferreira tem como interesse promover alívio, conforto aos pacientes pós-operados em cirurgia cardíaca e bom relacionamento entre a equipe multiprofissional para dar uma boa assistência a esses pacientes, que na maioria dos casos não são orientados sobre os cuidados pré-operatórios. A prevenção de traumas automobilísticos com enfoque na visão do enfermeiro da assistência pré-hospitalar acerca da relevância dos itens de segurança necessários aos automóveis no intuito de minimizar o trauma sofrido, realizado pelos pesquisadores Aldir da Silva Junior e Maria José Coelho que demonstram a importância de discutir estratégias para prevenção e a importância do profissional em fornecer a orientação e a inspiração para assegurar o sucesso de campanhas de prevenção bem planejadas e de caráter renovador. Na revisão de Álvaro Alberto de Bittencourt Vieira, Nébia Maria Almeida de Figueiredo e Isaura Setenta Porto, compartilhamos sobre a teoria das responsabilidades subjetiva e objetiva, de modo a alertar o enfermeiro no exercício profissional caso venha cometer um dano e lhe seja imputada a obrigação indenizatória e como o código de ética deve estar ao alcance de todos enfermeiros em exercício. Mari Dalva Cortezi relata em seu estudo os fatores relacionados ao abandono de tratamento de tuberculose, demonstrando como é inadiável uma séria reflexão dos profissionais de saúde, sobre os motivos que levam o paciente a abandonar o tratamento. Conhecer os motivos poderá permitir ao profissional de saúde conduzir melhor o tratamento e diminuir o número de casos de abandono de tratamento na população. E finalizamos com uma revisão sobre a importância do vínculo afetivo no binômio mãefilho, através da proximidade física e emocional estabelecida pela amamentação. As autoras Ana Cláudia Santos da Silva e Maria da Glória Lima e Silva enfatizam o aleitamento materno devido aos seus benefícios fisiológicos, psicológicos, sociais e afetivos para as crianças, pais e famílias. 243 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Artigo original Diagnósticos de enfermagem identificados em portador es de HIV/AIDS internados portadores em um hospital de rreferência eferência da cidade de R ecife-PE Recife-PE Nayana Vieira Barros*, Rejane Haideé Borges de Freitas**, Tâmara Kelly de Souza Modesto*** *Enfermeira graduada pela UFPE, **Pós-graduanda em Saúde Pública pela UNICSUL, enfermeira do PSF de Picos-PI, enfermeira do IMIPPE,***Enfermeira do PSF de Granito-PE Resumo Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, de análise quantitativa, com os objetivos de elaborar e analisar lista dos diagnósticos de enfermagem identificados em portadores de HIV/AIDS internados em um hospital de referência da cidade de Recife-PE e identificar o perfil sócio-demográfico da população pesquisada. A amostra foi composta por pacientes internados durante a 2ª quinzena do mês de novembro de 2003. Os dados foram coletados através do preenchimento de um questionário resultante de entrevista face-a-face, exame físico e observação clínica dos clientes. Constatou-se 28 diagnósticos de enfermagem os quais estão apresentados segundo critérios de padrões de resposta humana propostos pela North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). A identificação desses diagnósticos específicos é de suma importância tendo em vista que através deles há possibilidade de traçar um plano de intervenções o mais preciso possível, direcionando o tratamento e assim atendendo melhor às necessidades do cliente e contribui acima de tudo para a construção do conhecimento e engrandecimento da enfermagem. Palavras-chaves: AIDS, diagnósticos de enfermagem, prevenção. Abstract Nursing diagnosis identified in HIV/AIDS patients in a hospital of Recife city This is a descriptive and exploratory study and quantitative analysis, with the aims of elaborating and analyzing the list of nursing diagnosis identified in HIV/AIDS patients interned in a hospital of Recife city and to identify the socio-demographic profile of the researched population. The sample was composed by patients interned during the 2nd fortnight of November Artigo recebido em 19 de julho de 2004; aceito em 1 de setembro de 2004. Endereço para correspondência: Nayana Vieira Barros, Rua Landri-Sales, 203 São José 64600-000 Picos PI, Tel: (89) 422-3066, E-mail: [email protected] 244 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) 2003.The data were collected by filling out a questionnaire regarding a face-to-face interview, physical exam and clinical observation of the clients. It was verified 28 nursing diagnoses which are presented according to standard criteria of human response proposed by North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). The identification of these specific diagnoses is of great importance since through them there is a possibility to outline precise interventions plan, pointing towards treatment and so better attending client necessities and contributes above all to nursing construction of knowledge and enrichment. Key-words: AIDS, nursing diagnosis, prevention. Resumen Diagnósticos de enfermería identificados en los portadores de HIV/SIDA internados en un hospital de la ciudad de Recife Se trata de un estudio descriptivo, exploratorio, de análisis cuantitativo, con los objetivos de elaborar y analizar lista de los diagnósticos de enfermería identificados en portadores de HIV/SIDA internados en un hospital de la ciudad de Recife e identificar el perfil socio-demográfico de la población pesquisada. La muestra fue compuesta por pacientes internados durante la segunda quincena de Noviembre de 2003. Los datos fueron colectados a través de un cuestionario resultante de una encuesta caraa-cara, examen físico y observación clínica de los clientes. Se verificaron 28 diagnósticos de enfermería que se presentaron según el criterio de modelos de respuesta humana propuesto por la Asociación de Diagnóstico de Enfermería Norteamericana (NANDA). La identificación de esos diagnósticos específicos es de gran importancia teniendo en cuenta que a través de ellos hay posibilidad de trazar un plan de intervenciones lo más preciso posible, orientando el tratamiento y así atendiendo mejor las necesidades del cliente y contribuyendo para la construcción del conocimiento y engrandecimiento de enfermería. Palabras-clave: SIDA, diagnóstico de enfermería, prevención. Introdução No mundo, a Aids constitui-se em um dos problemas mais graves e urgentes de saúde pública, com amplas dimensões sociais, culturais, econômicas, políticas, éticas e legais. A doença tem gerado grandes preocupações para a sociedade devido ao crescente número de casos notificados de morbidade e mortalidade em crianças, jovens e adultos [1]. Desde 1982, época em que foi identificada pela primeira vez no Brasil, a Aids tem sofrido importante mudança em seu perfil epidemiológico: feminização (aumento de casos por exposição heterossexual), pauperização (acometendo pessoas de baixa escolaridade) e interiorização (grande número de casos nas pequenas cidades do interior) da epidemia, fato que leva a Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerar os jovens de todas as idades, sexo, classe social, como seres que integram um grupo prioritário para o desenvolvimento de ações educativas e preventivas de saúde mediante a propagação do HIV e Aids nessa faixa etária [2]. O vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da Aids ou SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é, predominantemente, uma infecção de pessoas jovens, com maior parte dos casos envolvendo pessoas entre 17 e 55 anos de idade [3]. A Aids, como doença incurável até o presente momento, exige cuidados específicos pelos quais se pretende minimizar as dificuldades físicas e emocionais que porventura o paciente apresente [3]. O diagnóstico de enfermagem enfatiza e define as necessidades de enfermagem do cliente. Ele reflete o nível de saúde ou a resposta do cliente à doença ou ao processo patológico, um estado emocional, um fenômeno sócio-cultural ou um estágio do desenvolvimento [4]. O diagnóstico envolve o raciocínio complexo dos dados reunidos sobre o cliente, os relatos familiares e os de outros profissionais da saúde. Esse raciocínio, combinado com as informações relevantes depositadas na memória da enfermeira, é usado para gerar possíveis explicações para os dados [5]. 245 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Através da formulação de diagnósticos de enfermagem e do direcionamento das condutas, o paciente HIV positivo poderá receber uma assistência adequada às suas reais necessidades, “uma vez que estes definem os problemas atuais ou potenciais do seu estado de saúde” [4]. Objetivos Tivemos como objetivos identificar o perfil sócio-demográfico da população pesquisada e elaborar e analisar lista dos diagnósticos de enfermagem identificados em portadores de HIV/ AIDS internados. Marco teórico Idade adulta É um período da vida que se subdivide em adulto jovem e adulto médio. De acordo com Edelman e Madle [4], “a idade adulta jovem é o período compreendido entre o final da adolescência e o meio e o final dos 30 anos e a fase adulta média começa por volta da metade dos 30 anos e dura até os 60 anos”. Os adultos jovens são geralmente muito ativos; vivenciar uma doença grave é menos comum do que entre as pessoas idosas; mas tendem a ignorar os sintomas físicos e, geralmente, deixam para depois procurar por cuidado de saúde. As características físicas dos adultos jovens começam a mudar à medida que a meia-idade se aproxima. A não ser que os clientes tenham doenças, os achados do histórico são geralmente dentro dos limites da normalidade [4]. Esse período caracteriza-se pelo pico do desenvolvimento biológico, pela adoção de papéis sociais importantes e pela evolução de um self e uma estrutura de vida adulta [6]. Estágio de intimidade versus auto-absorção ou isolamento de Erickson: o indivíduo que resolveu sua crise de identidade não é amedrontado pela intimidade dos relacionamentos que estabelece; já o indivíduo que chega aí em estado de contínua confusão de papéis é incapaz de estabelecer relacionamentos duradouros e intensos. Através da crise de intimidade versus isolamento, o indivíduo vai além da exclusividade das dependências anteriores e estabelece uma mutualidade com um grupo social mais extenso e diversificado [6]. Sexualidade: segundo Haber [4], o desenvolvimento das características sexuais secundárias 246 ocorrem durante os anos da adolescência. O desenvolvimento físico é acompanhado pela capacidade de realizar atos sexuais. O adulto jovem geralmente tem maturidade emocional para completar a capacidade física e, desta forma, é capaz de desenvolver relacionamentos mais maduros. Os que não alcançam a tarefa do desenvolvimento da integração pessoal podem, entretanto, desenvolver relacionamentos superficiais e estereotipados. Para Potter e Perry [4], “os fatores de risco para a saúde do adulto jovem originam-se na comunidade, de seu estilo de vida e história familiar. Esses fatores de risco caem nas seguintes categorias”: a) morte violenta ou trauma (maior causa de morbi-mortalidade nessa faixa etária); b) abuso de substâncias (contribui direta e indiretamente para a morbi-mortalidade entre adultos jovens); c) gravidezes indesejadas (podem ter efeitos físicos e emocionais de longa duração: afetar os relacionamentos futuros e o relacionamento pais e filhos; são uma fonte contínua de estresse); d) doenças sexualmente transmissíveis (podem ter efeitos imediatos, levar a uma disfunção crônica e até mesmo à morte); e) fatores ambientais e ocupacionais (exposição às partículas transportadas pelo ar, que podem causar doenças pulmonares e câncer). Os adultos médios usam uma considerável energia para adaptar o auto-conceito e a imagem corporal às realidades fisiológicas e às mudanças na aparência física. Uma alta auto-estima, uma imagem corporal favorável e uma atitude positiva quanto às mudanças corporais são favorecidas quando os adultos se engajam em exercícios físicos, dietas balanceadas, sono adequado e práticas de boa higiene que promovam corpos vigorosos e saudáveis [4]. Suas preocupações fisiológicas incluem: estresse (por estarem experimentando mudanças fisiológicas e enfrentando realidades relacionadas à saúde), doenças crônicas (que podem afetar os papéis e as responsabilidades assumidas), necessidade de formar hábitos de saúde positivos [4]. Nessa fase, algumas mulheres apresentam ansiedade e depressão, conseqüentes da estrutura da personalidade pré-menopausa. Nos homens não existe uma demarcação muito nítida; contudo eles devem adaptar-se ao declínio no funcionamento biológico e no vigor físico em geral. Pode passar por uma crise que pode levar ao alcoolismo ou Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) uso de drogas, depressão, mudanças no trabalho e no relacionamento ou até mesmo mudanças para um estilo de vida alternativo [6]. Sexualidade é uma importante questão nessa fase. Pode haver declínio do funcionamento sexual. Nos homens, o problema mais comum é o temor e a realidade da impotência, cujas causas mais comuns são: ingestão excessiva de álcool, drogas (tranqüilizantes e antidepressivos) e estresse com fadiga e ansiedade. As mulheres apresentam maior capacidade para o orgasmo, mas são mais vulneráveis a baixas de auto-estima por perderem a aparência jovem, valorizada pela sociedade atual. Sentem-se menos desejáveis e menos capacitadas a uma vida sexual adequada. A incapacidade de lidar com essas mudanças corporais leva homens e mulheres a submeterem-se a cirurgias estéticas para manterem uma aparência jovem [6]. A idade adulta é um tempo de transições contínuas, quando os indivíduos podem reavaliar suas metas na vida e acrescentar novas metas [6]. Diagnóstico de enfermagem O diagnóstico de enfermagem é um julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou da comunidade aos problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais. O diagnóstico de enfermagem proporciona a base para a seleção das intervenções de enfermagem, visando ao alcance de resultados pelos quais a enfermeira é responsável [5]. Diagnóstico de enfermagem é um termo que descreve a resposta atual ou potencial do cliente a um problema de saúde que o enfermeiro tem competência técnica e legal para tratar. As respostas atuais e potenciais do cliente são obtidas a partir dos dados básicos do histórico, da revisão da literatura pertinente, dos registros clínicos prévios do cliente e da consulta com outros profissionais, todos esses dados sendo coletados durante o histórico. Por fim, as respostas atuais ou potenciais do cliente exigem prescrições que sejam do âmbito da prática de enfermagem [4,5]. Os agrupamentos de dados são constituídos pelas características definidoras. As características definidoras são critérios clínicos que apóiam (validam) a presença do diagnóstico de enfermagem. Os critérios clínicos são sinais e sintomas objetivos ou subjetivos ou fatores de risco [4,7]. Vantagens dos diagnósticos de enfermagem, segundo Gordon [4]: • Facilitam a comunicação dos enfermeiros sobre o nível de bem-estar do cliente; • Ajudam no planejamento da alta; • Ajudam a priorizar as necessidades do cliente; • São utilizados para registro nas notas de evolução, nos encaminhamentos por escritos e no oferecimento de cuidados eficazes de transição de uma unidade para outra; • Podem servir enquanto foco para a melhoria da qualidade. Material e métodos Tipo de estudo Tratou-se de um estudo descritivo, exploratório de análise quantitativa. Descrição da área O cenário foi um hospital público de referência para as doenças infecto-contagiosas (HIV/AIDS e meningite) da cidade de Recife-PE que oferece a essa população o serviço de ambulatório e internação. É classificado como hospital de médio porte com um total de 50 leitos, sendo 30 destinados a pacientes portadores de HIV/AIDS. A população foi composta por pacientes internados, durante a 2ª quinzena do mês de novembro de 2003. População e amostra A amostra do tipo temporal foi definida de acordo com os seguintes critérios: Idade entre 20 e 60 anos, clientes internados e diagnosticados com HIV/AIDS e pacientes que concordassem em participar do estudo. Procedimentos Foi utilizada a entrevista face-a-face mediante um roteiro estruturado para coleta de dados, além do exame físico e observação do cliente durante as intervenções de enfermagem. Instrumento de coleta de dados A coleta de dados deu-se por meio de observação, exame físico e do preenchimento de um questionário, elaborado a partir dos objetivos traçados, sendo composto por 18 questões das quais foram abertas, fechadas e mistas. 247 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Risco/benefício Este estudo não implicou em riscos para o entrevistado, pois não envolveu nenhum procedimento invasivo e nem de caráter depreciativo de sua imagem. O mesmo visou benefícios à população adulta que teve acesso a informações sobre a doença, vulnerabilidade ao vírus HIV e conheceu as vantagens da formulação de diagnósticos de enfermagem direcionados a pacientes portadores de HIV/AIDS. Aspectos éticos De acordo com a resolução número 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que trata da condução de pesquisas envolvendo seres humanos, o tipo de abordagem desenvolvida nesta pesquisa se classifica como risco mínimo. Resultados e discussão Caracterização da amostra A amostra foi composta por 17 pessoas portadoras de HIV/AIDS, com idade variando entre 26 e 56 anos. A maioria encontrava-se entre 30 e 40 anos, confirmando que a grande parte das pessoas contraem o vírus HIV ainda na adolescência ou na idade adulta jovem, devido ao crescente aumento das DST’s no nosso meio pela precocidade das relações sem preservativos, maior atividade sexual nessa faixa etária e que estes só vêm a manifestar a doença (AIDS) em média 10 anos após a contaminação. Houve uma pequena predominância da população masculina no estudo (10 homens) em detrimento da feminina (7 mulheres), o que ratifica uma das características da AIDS no nosso país que é a feminização da epidemia. Uma característica evidenciada foi a pauperização, demonstrada pelos dados de renda familiar (9 pessoas recebiam até dois salários mínimos) e escolaridade (10 deles não completaram o ensino fundamental). Nove dos pacientes entrevistados eram católicos, praticantes ou não, 6 eram evangélicos e 2 não possuíam religião definida. Com a descoberta da doença, é possível que muitos se voltem contra Deus, podendo encarar a doença como uma forma de castigo: outros se voltam para a religião, pois a vê como a única forma de salvação 248 e esperam um milagre ou apenas conformação. Dez pacientes da amostra eram solteiros, 5 encontravam-se separados de seus parceiros (alguns desde que descobriram ser portadores de HIV/AIDS) e 2 eram casados; esses dois afirmaram que mantinham relação sexual sem preservativo com seus parceiros, pois os mesmos não acreditam que seu cônjuge esteja contaminado, se negando também a fazer o teste para detecção do HIV. Apenas 3 pacientes da amostra tiveram contato prévio com drogas ilícitas, exceto injetáveis, embora sabemos que todos os tipos de drogas ilícitas ou não, predispõem o indivíduo a relações sexuais sem proteção. Destes, um usou apenas uma vez por curiosidade, um usou algumas vezes e o outro usou durante 12 anos. A categoria de exposição predominante foi a sexual (13 pessoas) mostrando que apesar das inúmeras campanhas de alerta sobre as formas de transmissão do HIV/AIDS e modos de prevenção, as pessoas ainda mantém relações sexuais sem proteção, pois acreditam que isso (AIDS) nunca vai acontecer com elas, principalmente quando o relacionamento do casal se prolonga, quando acreditam que já se conhecem e confiam o suficiente um no outro, os outros 4 ignoraram a forma de contágio. Observou-se nos últimos anos uma redução drástica da transmissão do HIV por transfusão sanguínea devido à testagem sistemática do sangue nos grandes centros urbanos. Houve também uma redução da transmissão entre os usuários de drogas, pela maior conscientização dessa categoria sobre sua vulnerabilidade.A prática sexual mais comum foi a heterossexual, o que confirma uma das novas tendências a heterossexualização (10 eram heterossexuais) da doença, 1 entrevistado era assintomático, 14 eram sintomáticos a mais ou menos 10 anos e 3 era sintomático há mais de 10 anos, indicando assim um aumento da sobrevida (envelhecimento da população) associado ao tratamento correto da doença, controle da carga viral e imunidade do paciente ótima. Até o momento da entrevista a grande maioria (15) afirmou não ter sofrido nenhum tipo de preconceito, uns por omitirem a doença, outros por terem tido apoio no seu convívio social. Diagnósticos de enfermagem identificados A partir da observação clínica, exame físico e do preenchimento de um questionário por meio Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) de entrevista identificamos os seguintes diagnósticos, apresentados de acordo com os Padrões de Resposta Humana propostos pela NANDA. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: trocar (Padrão de reação humana que envolve dar e receber recíprocos) 1. Risco para infecção A imunodepressão progressiva produzida pela doença, como conseqüência do comprometimento de sistema imune, expõe os pacientes a um risco constante de desenvolver algum tipo de infecção, até mesmo por microorganismos que usualmente habitam nosso organismo de forma não patogênica, podendo gerar desde infecções leves até septicemias. A desnutrição e o uso prolongado de antibióticos aumentam ainda mais esse risco [3]. 2. Déficit de volume de líquido Os vômitos, a diarréia e a febre muito comuns nesses pacientes, associados a uma ingesta hídrica insuficiente, levam o paciente a uma drástica diminuição do volume de líquido. Pele e mucosas devem ser inspecionadas diariamente, observando turgor e ressecamento das mesmas, para melhor controle do estado hidroeletrolítico [3]. 5. Risco para alteração da temperatura corporal A presença de infecções predispõe os pacientes a alterações da temperatura corporal, uma vez que é um indicativo de processo infeccioso instalado [3]. 6. Diarréia Devido à imunodepressão, os pacientes encontram-se bastante susceptíveis a infecções causadas por microorganismos, que normalmente habitam a nossa flora intestinal e por outros patógenos que em um organismo hígido não causariam efeitos tão intensos [3]. 7. Mucosa oral alterada A candidíase oral, infecção fúngica muito comum nesses pacientes, pode evoluir para lesões ulcerativas na região oral, esofágica e estomacal, que devem ser devidamente tratadas para que não cause conseqüências como: nutrição alterada, comunicação verbal prejudicada, dor entre outros diagnósticos [3]. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: comunicar (Padrão de reação humana que envolve o envio de mensagens) 8. Comunicação verbal prejudicada 3. Risco para integridade da pele prejudicada Os portadores quando apresentam fadiga ou intolerância à atividade passam boa parte do seu tempo acamados, favorecendo o desenvolvimento de úlceras de pressão, constituindo-se em mais uma porta de entrada para infecções. Podem ser encontradas escoriações em região perianal, decorrentes de diarréia crônica [3]. 4. Nutrição alterada: menos do que as necessidades corporais “Os hábitos alimentares e o estado nutricional são influenciados por muitos fatores: pessoais, familiares, culturais, financeiros, funcionais, conhecimento nutricional, doença e traumatismo e regimes de tratamento” [5]. Na AIDS, a síndrome da desnutrição (diarréia por mais de 30 dias, anorexia, má absorção gastro-intestinal) e os distúrbios hidroeletrolítico incluindo a desidratação, constituem complicações comuns da infecção por HIV/AIDS [3]. Foi observada uma dificuldade de verbalização devido à presença de lesões em cavidade oral, causadas por Candida albicans, segundo Smeltzer e Bare [3], fungo que acomete com bastante freqüência os portadores dessa patologia. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: relacionar (Padrão que envolve o estabelecimento de elos) 9. Risco para solidão “A solidão é uma constatação afetiva, envolvendo a consciência de estar afastada dos outros, acompanhada de uma vaga necessidade de outras pessoas” [5]. Os solitários são preocupados consigo mesmo, são hipervigilantes às ameaças e tendem a interpretar os indícios sociais como hostis [5]. “A solidão pode tornar-se parte da auto-imagem da pessoa. Embora tenha o ego distônico, ela pode 249 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) considerar o estado conhecido, de forma que o desconforto é sobrepujado pelo medo dos riscos sociais que seriam exigidos para superá-lo” [5]. 10. Padrões de sexualidade alterados Provavelmente alguns pacientes com HIV/ AIDS quando descobrem a doença optam por abdicar de uma vida sexual principalmente pelo medo de transmitir a doença. 11. Isolamento social “O isolamento social não é uma resposta, mas uma causa ou fator contribuinte para a solidão” [3].”As pessoas com HIV/AIDS que estão deprimidas podem vivenciar culpa e vergonha irracionais, perda da auto-estima, sentimentos de solidão e abandono e ideação suicida” [3]. 12. Disfunção sexual É possível que a ausência da libido e a presença de dor e fadiga levem o paciente a um desinteresse pela atividade sexual. 13. Processos familiares alterados Com a descoberta da doença, esses pacientes podem ser forçados a revelar estilos de vida ou comportamentos ocultos para a família. Podem ser colocados também diante de múltipla perdas como a rejeição por parte desta [3]. 14. Desempenho de papel alterado Como a AIDS provoca grandes alterações físicas, há uma constante preocupação destes pacientes de como vão conseguir manter sua rotina. O afastamento do trabalho, quase sempre por incapacidade, é um dos fatos que causa muitos problemas, inclusive financeiros, gerando grandes expectativas sobre seu sustento e de seus familiares [3]. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: valorizar (Padrão de reação humana que envolve a designação de um valor relativo) 15. Angústia espiritual Segundo Carpenito [5], “a doença crítica pode desafiar as crenças espirituais da pessoa e evocar 250 sentimentos de culpa, raiva, desapontamento e impotência”. É possível que esses pacientes sintamse castigados ou abandonado por Deus, o que levaria a um grande conflito espiritual; outros reagem, buscando incansavelmente uma religião onde eles encontrassem apoio e consolo para sua provação. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: escolher (Padrão de reação humana que envolve a seleção de alternativas) 16. Adaptação prejudicada As respostas à doença e às incapacidades podem ser as mais variadas, e é importante que a enfermeira as esclareça de forma que proporcionem auxílio ao tratamento.As respostas podem ser de pesar, ansiedade, medo [5]. 17. Negação ineficaz Alguns pacientes não acreditam estar acometidos por uma doença de tal magnitude, negando para si mesmo sua situação de saúde, banalizando a doença. Por não acreditarem no diagnóstico confirmado, foi observado um comportamento de risco, ao verbalizarem a manutenção de relações sexuais sem proteção com seus parceiros. 18. Enfrentamento individual ineficaz Pelo diagnóstico de uma doença incurável, é provável que muitos pacientes passem a não dar importância à vida, tornando-se pessoas amargas, entregando-se a vícios e a outras formas de degradação social. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: mover (Padrão de reação humana que envolve a atividade) 19. Intolerância à atividade “Intolerância a atividade é um julgamento diagnóstico que descreve uma pessoa com o condicionamento físico comprometido. A imobilidade prolongada e a inatividade através de restrições autoimpostas, modificações fisiopatológicas podem resultar em tolerância reduzida à atividade” [5]. Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) 20. Déficit de lazer Possivelmente por se encontrarem muito tempo hospitalizados, os portadores de HIV/AIDS não têm opções de divertimento, e mesmo quando estão em suas residências, a grande maioria não procura formas de distração, por estarem fadigados ou optarem pelo o isolamento. 21. Distúrbio no padrão do sono As perturbações do sono podem resultar de modificações ou problemas fisiológicos, psicológicos, sociais, ambientais e maturacionais. A privação do sono resulta em funcionamento cognitivo e percepção prejudicada, controle emocional reduzido, irritabilidade e desorientação. Também diminuem o limiar da dor e a produção de catecolaminas, corticoesteróides e hormônios [5]. 22. Fadiga A fadiga é um sentimento difuso, subjetivo, exaustivo, que não pode ser eliminado, mas ao qual o indivíduo pode ser auxiliado a adaptar-se. Pode ser um problema simples ou complexo. É uma experiência subjetiva com componentes fisiológicos, situacionais e psicológicos, podendo resultar de fisiopatologias ou situações pessoais como: anemia, HIV, e outros [5]. 23. Déficit no auto-cuidado: banho/higiene É possível que a fadiga, a intolerância à atividade e até mesmo a falta de motivação por saber que é portador de uma patologia incurável, torne o paciente descuidado com sua aparência física, chegando a não realizar higiene corporal. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: perceber (Padrão que envolve a recepção de informações) 24. Desesperança A AIDS como doença incurável e incapacitante leva o doente a ter expectativas pessimistas sobre sua vida e seu futuro. O afastamento do trabalho, pelos freqüentes internamentos, promove uma queda na sua qualidade de vida e de seus dependentes, aumentando o sentimento de impotência e desesperança. Essas pessoas podem vivenciar culpa e vergonha irracionais, perda da autoestima, sentimentos de solidão, abandono e ideação suicida [3]. 25. Distúrbio na auto-estima As mudanças na aparência física, a dependência de cuidadores para realizar atividades de pequeno grau de dificuldade e até mesmo para tomar decisões em relação a sua vida, levam o doente a se sentir inferiorizado e inútil [3]. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: conhecer (Padrão de reação humana que envolve o significado associado à informação) 26. Memória prejudicada Pode ser indicativo de fadiga, depressão, de efeitos adversos do tratamento para infecções e malignidades e de encefalopatia por HIV [3]. Diagnósticos de enfermagem identificados na amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: sentir (Padrão de reação humana que envolve percepção subjetiva das informações) 27. Ansiedade A ansiedade envolve um sentimento vago de apreensão e intranqüilidade, em resposta à ameaça ao sistema de valor ou ao padrão de segurança da pessoa. A pessoa ansiosa apresenta tensão aumentada, agitação geral, insônia, preocupação e sentimentos de desamparo e indefinição relacionados a uma situação que não pode ser facilmente evitada ou atacada [5]. 28. Dor aguda/crônica A dor é quase uma constante na vida do paciente com HIV/AIDS, seja pela presença de infecções, lesões cutâneas e de mucosas, como também pelas malignidades e neuropatias periféricas [3]. Conclusão Tratando-se de uma doença estigmatizante por ser transmissível, por levar à progressiva deterioração clínica do paciente e por não ter cura até o momento, o HIV/AIDS mostra-se como um 251 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) grave problema de saúde pública, afetando o biopsico-social do indivíduo acometido e das pessoas que com ele convive. As relações a partir do diagnóstico da doença podem tornar-se conflituosas e até mesmo ausentes, de acordo com o grau de conhecimento acerca da doença. Foi detectado em nosso trabalho que todos os pacientes entrevistados apresentaram o diagnóstico risco para infecção. A grande maioria apresentou intolerância à atividade, déficit de volume de líquidos, risco para integridade da pele prejudicada e déficit de lazer. Outros diagnósticos bastante comuns encontrados foram distúrbio no padrão de sono, nutrição alterada: menos do que as necessidades corporais, fadiga, risco para transmissão de infecção, ansiedade e risco para solidão. Foram identificados ainda: padrões de sexualidade alterados, risco para alteração da temperatura corporal, déficit no auto-cuidado: banho/higiene, adaptação prejudicada, dor aguda/crônica, isolamento social e negação ineficaz. Alguns diagnósticos de enfermagem foram identificados, porém com menor freqüência entre os pacientes estudados, quais sejam: disfunção sexual, diarréia, mucosa oral alterada, desesperança, processos familiares alterados, baixa auto-estima, angústia espiritual, comunicação verbal prejudicada, desempenho de papel alterado, enfrentamento individual ineficaz e memória prejudicada. A identificação dos diagnósticos de enfermagem específicos para os portadores de HIV/ 252 AIDS, deverá possibilitar um atendimento especializado, individualizado e atendendo a suas reais necessidades. Foi pensando num atendimento digno e humanizado a esses pacientes que se conseguiu levantar as principais dificuldades sofridas durante o internamento e a partir disso elaborar os diagnósticos de enfermagem, com o objetivo de identificar as causas e conseqüências que norteiem prescrições direcionadas para diminuir o sofrimento da clientela. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Araújo EC. Adoção de práticas de sexo mais seguro de jovens do sexo masculino [tese]. São Paulo: Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo; 2001. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Manual de controle de DST. 3a ed.Brasília: Ministério da Saúde; 1999. Smeltzer SC, Bare BG. Tratado de enfermagem médico cirúrgica. 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. Potter PA, Perry AG. Fundamentos de enfermagem. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. Carpenito LJ. Diagnósticos de enfermagem: aplicação à prática clínica. 8 a ed. Porto Alegre: Artmed; 2002. Kaplan HI, Sadock BJ, Grebb JA. Compêndio de psiquiatria: ciências comportamentais e psiquiatria clínica. 7a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997. Carpenito LJ. Manual de diagnóstico de enfermagem. 6a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1999. Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Artigo original Elaboração de um pr otocolo para pr evenção protocolo prevenção de úlcera por pr essão numa Unidade pressão de T erapia Intensiva em um Hospital Terapia do Estado de São P aulo Paulo Geraldo Magela Salomé*, Ivaneide Azevedo Assunção**, Luzicleide Freire dos Santos** Mestrando em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo, Especialista em UTI pela Faculdade São Camilo e Supervisor de enfermagem da UTI adulto do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, **Enfermeiras Assistenciais da UTI adulto do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha Resumo O presente trabalho teve como objetivo relatar a experiência de um grupo de enfermeiros que trabalham em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e que fazem parte da Comissão Multidisciplinar de Atendimento Integral a pacientes com afecção dermatológicas, quanto a elaboração de um protocolo para prevenção de úlcera por pressão (UP). A pesquisa foi realizada numa UTI adulto, em um Hospital Estadual, localizado na cidade de São Paulo. Pesquisa realizada de 2001 a 2002 constata em pacientes internados uma incidência de 20% de UP e inúmeros fatores predisponentes. O protocolo consta de monitoração da pele do paciente por meio do exame físico, análise das áreas susceptíveis, avaliação do risco para desenvolvimento da UP e a padronização dos produtos a serem utilizados como medidas de prevenção. Foi executado um exaustivo levantamento bibliográfico, reuniões informais com caráter técnico que visaram compartilhar conhecimento e experiência de cada participante. A realização deste estudo foi muito gratificante pelo crescimento profissional sendo vivenciado vários problemas e desafios dentre eles: a conscientização dos profissionais de enfermagem quanto a medidas preventivas versos custo-benefícios, trabalho em conjunto com os outros membros da equipe multidisciplinar. Acredita-se ser um instrumento prático e objetivo do trabalho cotidiano da enfermagem para planejar ações especificas e como produto final a melhoria de qualidade da assistência integral de enfermagem prestado aos nossos pacientes. Palavra-chave: úlcera por pressão, prevenção e assistência de enfermagem. Artigo recebido em 2 de agosto de 2004; aceito em 1 de outubro de 2004. Endereço para correspondência: Geraldo Magela Salomé, Av. Francisco de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134 bl. 01, Jabaquara 04330-020 São Paulo SP, E-mail: [email protected] 253 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Abstract Elaboration of a protocol for prevention of pressure ulcer in an Intensive Care Unit in a Hospital of the State of São Paulo The aim of this work is to report the experience of a nurses group that work in an Intensive Care Unit and component part of the Multidisciplinary Commission of Integral Care to patients with dermatologic disease related to the elaboration of a protocol for pressure ulcer (UP) prevention. The research was carried out from 2001 to 2002 in an adult ICU, in a State Hospital, located in the city of São Paulo. It was observed an incidence of 20% of UP and innumerable predisposing factors. The protocol consists of patient skin control by means of the physical examination, analysis of the susceptible areas, evaluation for development risk of UP and standardization of products that will be used as prevention measure. It was performed a literature review, informal meetings with technical approach aiming at each participant knowledge and experience. This study was very rewarding for professional growth due to experienced problems and challenges such as: awareness of nursing professionals regarding preventive measures vs. cost-benefits, work together with other members of the multidisciplinary team. Key-words: pressure ulcer, prevention and nursing assistance. Resumen Elaboración de un protocolo para la prevención de úlcera por presión en una Unidad de Terapia Intensiva en un Hospital del Estado de São Paulo El objetivo de este trabajo fue relatar la experiencia de un grupo de enfermeras, que trabajan en una Unidad de Terapia Intensiva (UTI) y que hacen parte de la Comisión Multidisciplinar de Atención Integral a pacientes con afección dermatológica, cuanto a la elaboración de un protocolo para la prevención de úlcera por presión (UP). La investigación fue realizada en una UTI para adultos, en un hospital estadual, ubicado en la ciudad de São Paulo. La investigación que fue realizada de 2001 a 2002 comprobó una incidencia del 20% de UP y numerosos factores predisponientes. El protocolo consiste en monitoración de la piel del paciente a través de examen físico, análisis de las áreas susceptibles, evaluación del riesgo para el desarrollo de la UP y estandardización de los productos que serán utilizados como medidas de prevención. Fue elaborado un minucioso análisis bibliográfico, reuniones informales de carácter técnico que tenían como objetivo compartir conocimiento y experiencia de cada participante. La realización de este estudio fue muy recompensada por el crecimiento profesional debido a los problemas y desafíos vividos tales como: la conscientización de los profesionales de enfermería relativo a las medidas preventias vs. costo-beneficios y trabajo en conjunto con otros miembros del equipo multidisciplinar. Palabras-clave: úlcera por presión, prevención y asistencia de enfermería. Introdução A tecnologia vem aumentando as condições de sobrevivência dos pacientes internados em Unidades de Terapias Intensivas (UTIs), estes pacientes são graves e necessitam de cuidados especiais, devido a instabilidade fisiológica e diminuição da mobilidade estes são mantidos na maioria das vezes em repouso prolongado, seja como parte das medidas necessárias para o tratamento até a estabilidade hemodinâmica, com isso este pacientes têm apresentado alto risco para o desenvolvimento de úlcera por pressão, porém vários fatores poderão agir sinergisticamente para causar o problema [1]. A úlcera de pressão tem sido uma preocupação da enfermagem desde o seu início. Florence 254 Nightingale já se preocupava com a prevenção e tratamento das úlceras por pressão, porém o problema continua sendo bastante comum em pacientes que são cuidados em instituições hospitalares e em domicílios. Para Menegli [2] úlcera por pressão é resultado de compressão direta em determinadas áreas corporais sobre a superfície de colchão, cadeira ou de aparelhos gessados. Esta compressão diminui o fluxo sanguíneo para região comprometida, como conseqüência à má nutrição e oxigenação, causando a morte celular. As úlceras por pressão podem ser consideradas áreas localizadas de infarto de tecido mole que ocorrem quando a pressão aplicada a pele, por algum tempo, é maior que a pressão capilar normal. Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Dados da literatura internacional estimam que entre 3% a 14% de todos os pacientes hospitalizados atualmente desenvolvem úlcera por pressão. Nos portadores de problemas crônicos e residentes em asilos, a incidência estimada é de 15 a 25% [3]. A incidência de úlcera de pressão nos Estados Unidos gira em torno de 3,5 a 29%, na Europa, Canadá e África do Sul é de 3 a 11%. [1] Trabalho realizado por Salomé e Almeida [4], em Hospital Estadual no município de Itapevi, numa UTI adulto com 10 leitos pôde constatar uma incidência de UP 16%. A prevenção é o modo mais fácil, mais barato e mais bem sucedido de terapia para o tratamento de úlcera por pressão. Os elementos de um programa efetivo de prevenção incluem uma abordagem de tratamento em equipe integrada enfatizando bons cuidados médicos e de enfermagem, treinamento apropriado e orientação dos pacientes, incentivo da colaboração do paciente a estas recomendações e a prescrição adequada de dispositivos de alívio de pressão. Enfim a prevenção da úlcera por pressão foi e continua sendo um cuidado importante na enfermagem, também é um indicador de qualidade da assistência prestada. No período de 2001 a 2002, observamos na UTI onde foi realizado o protocolo vários casos de pacientes que apresentam UP, então resolvermos realizar uma pesquisa para constatarmos a incidência da UP. Após realizarmos a pesquisa chegamos a conclusão que a incidência da UP é de 20% [5]. A partir deste trabalho citado acima, tornouse necessário à elaboração de um protocolo para que os profissionais de enfermagem possam desenvolver uma assistência com qualidade. Diante do problema relacionado à úlcera por pressão já relatada, a equipe de enfermeiros em conjunto com a educação continuada e a comissão de curativo decidiu elaborar um protocolo de prevenção e monitorização das úlceras por pressões, como um instrumento prático e rápido, assim melhorando a qualidade da assistência prestada ao nosso cliente. Material e método Tipo de estudo O trabalho foi desenvolvido na forma de relato de experiência, onde foi relatado e discutido em várias reuniões informais a realização do protocolo. Campo de realização do estudo O estudo foi realizado numa UTI adulto, geral com capacidade para 9 leitos e atende todas as especialidades, do Hospital Gerais Vila Nova Cachoeirinha, é um hospital de grande porte. Este faz parte do Programa Metropolitano de Saúde, que incorpora a idéia de estrutura. A instrumentalização da equipe A equipe de enfermagem da UTI adulto é formada por oito enfermeiros, sendo sete enfermeiros direcionados para assistência, um para supervisão e conta com 34 auxiliares de enfermagem. Elaboração do protocolo Através de várias reuniões informais, realizadas semanalmente durante o mês de outubro e novembro de 2004 com os componentes que fazem parte do trabalho chegamos a um concesso e conseguimos elaborar um protocolo, fundamentado na literatura e na metodologia científica. Nestas reuniões foram discutidos os seguintes assuntos: • Fisiologia da UP; • A incidência de UP; • Elaboração e definição do protocolo. Na elaboração do protocolo de prevenção, abordamos cinco aspectos abaixo relacionados: • Avaliação do risco; • Cuidado e tratamento com a pele; • Redução da carga mecânica e utilização de produtos; • Educação continuada aos funcionários; • Supervisão continua. O protocolo de prevenção da úlcera por pressão da UTI-A do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha contém os seguintes itens: Avaliação da pele e risco em adquirir a úlcera por pressão A úlceras por pressão são sinônimos de deficiência na qualidade da assistência de enfermagem prestada. Por isso faz-se necessário à utilização de instrumentos que possibilitem detectar fatores de risco que favorecem o desenvolvimento da úlcera por pressão nos pacientes institucionalizados [2]. 255 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Quadro 1 – Técnica da avaliação da pele, relacionada ao risco que o paciente tem em adquirir úlcera por pressão. Utilizada numa UTI adulta. AGENTE PROCEDIMENTO Enfermeiro Exame físico do pacientediariamente. Enfermeiro Utilização da Escala deBrande diariamente. JUSTIFICATIVA Avaliar o aspecto da pele, áreas susceptíveis a úlcera por pressão, registro das alterações da pele. A utilização desta escala na avaliação do paciente, feita pelo enfermeiro, permite determinar possíveis deficiências relacionadas a vários fatores, independentemente da patologia, que preconizam o surgimento das úlceras por pressão. Medidas preventivas A elaboração das medidas preventiva foi realizada de forma que permitisse que cada item da Escala de Braden não se tornasse um problema para o paciente durante a sua hospitalização na UTI. Estas medidas preventivas estão engajadas na nossa realidade de trabalho e possíveis de serem realizadas pelos enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Através do trabalho realizado pelos autores Liell e Lipinski et al. [6], puderam comprovar que é possível reduzir a incidência de úlcera de pressão, para melhorar a assistência de enfermagem. Basta o conhecimento, uma dose de boa vontade, o interesse pela pesquisa e a utilização da prevenção, pois a prevenção foi e continua sendo um cuidado importante na enfermagem. Quadro 2 – Medidas preventivas padronizadas numa UTI para prevenção de úlcera por pressão. PROCEDIMENTO 256 JUSTIFICATIVA • Todos os pacientes com a Escala de Braden com resultado menor que 12 pontos ou que apresentam hiperemia, deverá colocar placa de duo derme em região sacra e trocanteres. Evitar o contato direto da superfície cutânea com a superfície dura. • Colocar colchão piramidal em todos os pacientes internados. Ajuda a redução da pressão em áreas de saliência óssea. • Utilização de travesseiros ou coxins nas proeminências ósseas. Proporcionar um efeito ponte, de forma que a área não toque a superfície da cama. • Aplicação de loção ou óleo de girassol. Manter a pele do paciente hidratada. Aumenta a resistência celular contra os mecanismos desencadeantes das lesões hipóxicas. • Fazer higienização no paciente após cada urina e evacuação. • Manter a pele do paciente limpa e seca. A falta de higiene favorece o aumento de bactérias na região, que encontram na sujeira um meio de cultura muito propícia sua reprodução e disseminação. Deve-se evitar a pele com excesso de umidade a fim de prevenir a maceração tecidual. • Incentivar o paciente a realizar exercícios ativos e passivos conforme diagnóstico médico. Ativa a circulação, transmite ao paciente uma sensação física agradável. Proporcionar uma melhor nutrição e oxigenação mais adequada que favorece a profilaxia de escara. • Mudança de decúbito de 2 em 2 horas se o resultado da Escala de Brande for de 8 a 12 pontos e de 1 em 1 hora se o resultado da Escala de Brande for menor que 7 pontos. A mudança de decúbito além de prevenir as úlceras por pressão resultantes da continua pressão sobre as proeminências ósseas na pele que está em contato com a superfície do colchão, também auxilia na drenagem das secreções. A circulação é estimulada com este procedimento proporcionando uma oportunidade para exercitar os membros e tornar o paciente mais confortável física e mental. Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) PROCEDIMENTO JUSTIFICATIVA • Administrar a dieta conforme horário, estimular a ingestão de líquidos e controlar o gotejamento prescrito. É importante darmos atenção nas condições nutricional do paciente, pois os pacientes com deficiência alimentar são propensos a formar úlcera de pressão. • O paciente deve ser elevado e não arrastado da cama; • Manter a cabeceira da cama elevada a 30 graus; • Utilizar protetores de calcanhar e cotovelo. Estes procedimentos evitam a realização de cisalhamento, pressão e fricção sobre a pele do paciente, evitando assim a úlcera por pressão. Diante do objetivo de realizarmos uma pesquisa que pudesse melhorar a nossa atuação diante do problema que é úlcera por pressão, as nossas reuniões foram adequadas de compartilhar com os colegas conhecimentos e experiências. Conseguimos elaborar um protocolo que acreditamos ser um instrumento prático e objetivo do trabalho do dia a dia do profissional de enfermagem. Esse protocolo nos dará instrumento para podemos planejar ações específicas, e como resultado a melhoria da qualidade da assistência de enfermagem prestada aos nossos pacientes. Sendo utilizados os recursos disponíveis na unidade, este protocolo deve possibilitar aos enfermeiros diagnosticar o risco do paciente em desenvolver úlcera por pressão, também descreve as medidas preventivas durante a sua permanência na UTI. Referências 1- 2- Conclusão A experiência em elaborar um protocolo de prevenção de UP, por um grupo de enfermeiros que trabalham em uma UTI e que prestam cuidados a pacientes graves, com a enfermeira da educação continuada e com as enfermeiras da comissão de curativos, nos proporcionou crescimento com repercussões na melhoria da qualidade da assistência de enfermagem. Após 6 meses da implantação deste protocolo iremos validar o mesmo. 3456- Fernandes LM, Caliri MHL. Úlcera de pressão em paciente crítico hospitalizado: uma revisão integrativa da literatura. São Paulo: Rev Paul enfermagem 2000;19(2):25-31. Menegli PAA. A utilização da Escala de Braden como instrumento para avaliar o risco de desenvolvimento de úlcera de pressão em paciente de um serviço de emergência. Nursing 1998;3(3):33-5. Oliveira SG. Úlcera de pressão. [citado 2001 Nov]. Disponível em: URL: http:/www.Medstudnts.com.br Salomé GM, Almeida AS. Incidência de úlcera de pressão em uma UTI. In: 6º Congresso Brasileiro dos Conselheiros de Enfermagem, 2001, São Paulo. Salomé GM, Almeida AS. Perfil dos pacientes internados em uma UTI. In: 3º Congresso Brasileiro dos Conselheiros de Enfermagem, 2001. Liell MVV, Lipinski JM. Da prevenção ao tratamento da úlcera de pressão - A família como aliada. Revista Técnica Científica de Enfermagem 2003;1(2):115-21. 257 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Artigo original A rreação eação or gânica à irradiação das mãos – orgânica Criando bases para a ciência do cuidado de enfermagem Maria Aparecida de Luca Nascimento, D.Sc.*, Raquel Nunes da Silva**, Marcio Martins da Costa** * Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Orientadora Acadêmica do Programa de Mestrado em Enfermagem da UNIRIO, ** Enfermeiros recém egressos da EEAP da UNIRIO Resumo Estudo experimental que utiliza a abordagem quantitativa para alcançar o objetivo de demonstrar que as mãos que cuidam e tratam, e que são os instrumentos de trabalho da equipe de enfermagem, interferem diretamente no resultado final do cuidado prestado. A metodologia utilizada foi a observação sistemática da evolução de 4 frutos dispostos aos pares, após a imposição das mãos, única variável a interferir no processo, sobre 1 fruto de cada par. Os dois frutos do grupo experimental, que foram submetidos à variável em apreço, mumificaram ao final de 85 e 67 dias respectivamente, fato que é apresentado através de foto documental e de um quadro demonstrativo, ao passo que os seus pares, frutos controle, deterioraram-se num espaço de tempo inferior a sete dias. Este resultado demonstra que os frutos submetidos à imposição das mãos, não só permaneceram hígidos por mais tempo, como também, e principalmente, que esse procedimento impediu a proliferação dos microorganismos nos dois frutos observados. Os autores concluem que, se os frutos que serviram de base para o presente estudo são compostos orgânicos, como o corpo humano, e que se a imposição das mãos foi a única variável a incidir sobre aqueles que se comportaram diferentemente de seus pares, prospectivamente, as mãos que cuidam e tratam não só interferem no resultado do cuidado, como também, agem profilaticamente contra a ação de fungos e bactérias. Novos estudos são sugeridos a partir dos resultados obtidos, com vistas a fundamentar as bases para a ciência do cuidado de enfermagem. Palavras-chave: estudo experimental, cuidado de enfermagem, mãos. Artigo recebido em 15 de agosto de 2004; aceito em 29 de setembro de 2004. Endereço para correspondência: Maria Aparecida de Luca Nascimento, Av. Marechal Rondon 300/310 bloco 2, Maracanã 20950-000 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 574-9149 / (21) 96170868, E-mail: [email protected] 258 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Abstract The organic reaction originated from hands irradiation – The nursing care science development (an experimental study) This is an experimental study based on quantitative approach aiming at to demonstrate that the nurses’ hands hold a therapeutic power. The methodology was performed through a systematic observation from the evolution of four fruits, split in couples, by having the hands laid upon two of them, one by pair. Two fruits of the experimental group were submitted to the imposition of hands, mummified after 85 and 67 days, respectively. On the other hand, the two control fruits, deteriorated in approximately seven days. The outcome results showed that fruits submitted to imposition of hands, remain healthier longer than the control. Besides, this procedure also blocked microorganism proliferation. The authors concluded that studied fruits are organic compound such as human body, and as in this research the only variable used was the imposition of hands, this procedure interferes in care results and also act against bacteria and fungis. New studies were suggested in order to establish nursing care science bases. Key-words: experimental study, nursing care, hands. Resumen La reacción orgánica a la irradiación de las manos – Creando las bases científicas del cuidado de enfermería. Estudio experimental basado en el método cuantitativo, cuyo objetivo es mostrar que las manos de las enfermeras tienen poderes terapéuticos. La metodología utilizada fue la observación de la evolución de cuatro frutos separados en parejas, después de la “imposición de las manos” sobre dos de los frutos, de cada pareja. Los dos frutos del grupo experimental que fueron sometidos al procedimiento, momificaron al final de 85 y 67 días respectivamente, mientras que sus parejas, frutos controle, se deterioraron en un periodo de tiempo inferior a siete días. Estos resultados mostraron que los frutos sometidos a la imposición de las manos, permanecieron más tiempo saludables e impidió la proliferación de microorganismos. Los autores concluyen que si los frutos que sirvieron como base para el presente estudio son compuestos orgánicos, como el cuerpo humano, y que la “imposición de las manos” fue la única variable utilizada, este procedimiento además de interferir en los resultados del cuidado, también actúa profilácticamente contra la acción de hongos y bacterias. Se deben realizar nuevos estudios para fundamentar las bases para la ciencia del cuidado de enfermería. Palabras-claves: estudio experimental, cuidado de enfermería, cuidado; manos. Introdução Este estudo é resultado de um projeto de pesquisa intitulado “Mãos que aprendem a cuidar” sob a responsabilidade de uma de suas autoras e que envolve os outros autores, acadêmicos bolsistas, enfocando as mãos, esses instrumentos responsáveis pelo cuidado e que fazem parte do cotidiano profissional da equipe de enfermagem. Por outro lado, ele também surge como uma continuidade de estudo anterior, onde, através dos relatórios de alunos do curso de mestrado da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), que cursavam a disciplina “cuidando de quem cuida”, ficou demonstrado que após a imposição das mãos, o comportamento de 21 frutos era diferenciado de seus pares, mantidos que foram nas mesmas condições ambientais. No estudo supra-referenciado, foi demonstrado que os frutos submetidos à imposição das mãos permaneciam hígidos por um tempo duas a três vezes e meia maior que o seu par [1]. Considerando que essa pesquisa foi interrompida no momento em que o fruto hígido apresentava alguma alteração, interessou-nos saber como seria o seu comportamento a partir dali, por inferir mos que poderia haver alguma modificação, também no seu processo de deterioração. Objetivo Demonstrar que as mãos que cuidam e tratam, e que são os instrumentos de trabalho da equipe de enfermagem, interferem diretamente no resultado final do cuidado prestado. 259 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) O cuidado de enfermagem A preocupação com o cuidado tem sido observada nas mais abrangentes esferas, contudo o cuidado como o ser humano, potencial objeto da enfermagem, sob o ponto de vista prático, tem sido fruto de poucos estudos, em detrimento de outros, de igual valor, porém que não enfocam esse aspecto tão decisivo para o justo reconhecimento dessa profissão [2]. Pode ser que esse fato esteja intrinsecamente ligado ao pensamento de Capra [3], segundo o qual: “...em virtude da estreita concepção biomédica de doença e dos padrões patriarcais de poder no sistema de assistência à saúde, o importante papel que as enfermeiras desempenham no processo de cura, através do contato com os pacientes, não é plenamente reconhecido”. Poderíamos dizer, com relação ao acima exposto, que até mesmo os profissionais que compõem a equipe de enfermagem, sob pena de serem rotulados como mecanicistas e funcionalistas, não se detêm em seus estudos nesse amplo e complexo tema que é o cuidado direto prestado a um ser humano através da suas mãos. As mãos observadas além da sua estrutura anatômica As mãos, normalmente, são observadas pela equipe de enfermagem como estruturas anatômicas responsáveis pela disseminação de infecção, e/ou, porta de entradas para elas. Esse fato pode ser constatado através do uso disseminado e, muitas vezes, indiscriminado, das luvas de procedimento. No entanto, Dolores Krieger, apud Brennan [4] atribuiu às mãos um caráter curativo através do toque terapêutico e da sua imposição, atividades que apresentou às enfermeiras do Centro Médico de Nova York, para que fossem praticadas. Segundo Keegan [5], das mãos que cuidam flui a energia que provoca a reorganização da energia corporal de quem é submetido ao cuidado, auxiliando-o no equilíbrio energético quando necessário. Sendo assim, se das mãos flui energia, ela é irradiante. Deste modo, podemos inferir que as mãos nem sempre precisam tocar para cuidar. 260 As mãos que cuidam através da irradiação: referenciais teóricos e filosóficos Cuidar de um ser humano é uma ação complexa que demanda um entendimento amplo dessa ação. Porém, o simples ato de infundir energia através das mãos, normalmente vê-se atrelado a questões dogmáticas, muitas vezes, pelos componentes da própria equipe de enfermagem. No entanto Brennan [4], mestre em física atmosférica, cita que a energia vital foi percebida como um campo luminoso, pela primeira vez no ocidente por Pitágoras, por volta de 500 a.C. Em sua obra, a mesma autora cita autores como Paracelso na Idade Média, o matemático Helmont e Leibnitz, no século XIX, além de médicos, já no século XX, como o Dr. William Kilner que, cada um em sua época, direcionavam suas pesquisas para o campo de energia humana. Sendo assim, de acordo com esses referenciais, pretendemos visualizar o resultado da ação de cuidar, a partir de uma experiência com dois frutos, que passamos a descrever a seguir, considerando a imposição das mãos como um cuidado. Materiais e métodos Estudo experimental que se utiliza da abordagem quantitativa para demonstrar que as mãos que cuidam e tratam, e que são os instrumento de trabalho da equipe de enfermagem, interferem no resultado final do cuidado prestado. Segundo Wood e Haber [6], o experimento verdadeiro encaminha aleatoriamente os sujeitos do estudo para os grupos experimental e controle. O tratamento experimental é fornecido somente para aqueles do grupo experimental, e os pré-testes e os pós-testes são as medições das variáveis dependentes feitas, antes e depois que o tratamento experimental é realizado. Somente o grupo experimental é submetido à variável experimental, o grupo controle não recebe nenhum tratamento, mas é medido mais tarde, para efeito comparativo. Desse modo, dois dos autores desse estudo escolheram, aleatoriamente, dois tomates cada um, com características semelhantes e no mesmo grau de maturação para serem submetidos ao experimento. Os dois pesquisadores realizaram a experiência em suas residências, ambas localizadas na cidade do Rio de Janeiro, no período do outono. Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) O primeiro passo da pesquisa foi realizar o préteste, mensurar os parâmetros relativos ao peso, altura e comprimento dos tomates, que serviram como variáveis dependentes (quadros demonstrativos I e II). A seguir, os tomates foram separados aos pares pelos pesquisadores, e mantidos separados em lados opostos de um mesmo ambiente, ou seja, nas mesmas condições de temperatura e pressão atmosférica. Após um determinado exercício respiratório, prática que é desenvolvida durante a disciplina “cuidando de quem cuida”, os tomates pertencentes ao grupo experimental, escolhidos também aleatoriamente, denominados nesse estudo de A e B, foram submetidos à variável experimental, qual seja, à imposição das mãos dos seus respectivos pesquisadores. Os frutos eram observados diariamente, e o resultado anotado em uma folha de observação. Durante todo o período da pesquisa, os frutos permaneceram no mesmo lugar, sendo que os pesquisadores utilizavam-se de escada para proceder a observação, com a intenção de não deslocar o objeto. Sendo assim, após a imposição das mãos no início da pesquisa, não houve nenhuma outra interferência, em nenhum dos dois pares de tomates observados. Ao término da observação, que resultou na total deterioração dos frutos do grupo controle, e na mumificação do grupo experimental, as variáveis independentes foram novamente aferidas, o que compôs o pós-teste, e o seu resultado apresentado no quadro demonstrativo III. Resultados e discussão Quadro demonstrativo I – Parâmetros iniciais dos frutos do grupo experimental (A e B). Frutos/Parâmetros Peso Altura Comp. A B 300g 5,2 cm 8,6 cm 340g 6,2 cm 9,2 cm Quadro demonstrativo II – Parâmetros iniciais dos frutos controle - (A1 e B1) Frutos/Parâmetros Peso Altura Comp. A1 B1 300 g 5,6 cm 8,2 cm 225 g 5,6 cm 8 cm Quadro demonstrativo III – Parâmetros finais dos frutos do grupo experimental no 85º e 67º dia de observação, respectivamente. Frutos Parâmetros Peso Altura Comp. A B 0 2,5 cm 4,5 cm 0 1,8 cm 4,6 cm OBS: Os frutos piloto (A1 e B1) começaram o processo de deterioração em menos de 7 dias, deteriorandose totalmente ao fim de 28 e 18 dias de observação respectivamente. Foto De acordo com os resultados apresentados, podemos afirmar que os dois tomates componentes do grupo experimental comportaram-se de forma significativamente diferenciada dos dois frutos componentes do grupo controle, após a imposição das mãos dos pesquisadores sobre eles. O parâmetro relativo ao peso foi o que sofreu maior alteração, haja vista a modificação de 300 e 340g inicialmente para padrões imensuráveis ao término da pesquisa. Esse fato pôde também ser constatado através da foto documental que apresenta o tomate totalmente mumificado, desidratado, o que corrobora a sua ausência de peso. Com relação aos outros dois parâmetros, observa-se com relação àquele relativo à altura, um decréscimo de 50% do fruto A, e de 70% do fruto B. No tocante ao comprimento original, os dois frutos em apreço diminuíram cerca de 50%. Os dois frutos do grupo experimental (A e B), mumificaram ao fim de 85 e 67 dias, ao passo que os seus pares do grupo controle começaram a deteriorar por volta do 7º dia de observação, completando esse processo ao fim de 28 e 18 dias, respectivamente(A1 e B1). 261 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Conclusão Este estudo demonstrou que a energia que é irradiada através das mãos em direção aos frutos promove modificação considerável em sua estrutura. Por inferência podemos dizer que através destas estruturas anatômicas houve a irradiação de uma forma de energia que atuou sobre eles. Se considerarmos que o tomate, ao ser submetido à irradiação das mãos foi cuidado, podemos concluir que elas interferiram diretamente no resultado final do cuidado prestado. No entanto, ao observarmos os frutos componentes do grupo controle que se deterioraram totalmente sofrendo a ação de fungos e bactérias, sugerida através da sua aparência e odor, podemos chegar a outra conclusão, aquela que prevê o efeito profilático da imposição das mãos que cuidam e aprendem a cuidar, impedindo o ataque de microorganismos nos frutos a ela submetidos, a partir da visualização da sua mumificação. Sendo assim, os autores concluem que, se os frutos que serviram de base para o presente estudo são compostos orgânicos, como o corpo humano, e que se a imposição das mãos foi a única variável a incidir sobre aqueles que se comportaram 262 diferentemente de seus pares, prospectivamente, as mãos que cuidam e tratam não só interferem no resultado do cuidado, como também, agem profilaticamente contra a ação de fungos e bactérias. Desse modo, sugerimos novos estudos a respeito da temática com vistas a fundamentar, cada vez mais, a cientificidade do cuidado de enfermagem. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Nascimento MAL. Mãos que cuidam e tratam – os instrumentos de trabalho da enfermagem . Rio de Janeiro: Rev enfermagem UERJ 2000;8(2):84-92. Nascimento MAL, Souza EDE. Da ciência e arte na enfermagem à tecnologia e industrialização. Rio de Janeiro: Rev Enfermagem UERJ 1996. p.119-123. [edição extra]. Capra F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix; 1982. 447 p. Brennan BA Mãos de Luz. São Paulo: Pensamento; 1987. 384p. Keegan L. Touch: connecting with the Healing Power. In: Dosse BM, Keegan L, Guzzetta CE, Kolkmeier LG. Holistic Nursing. 2nd ed. Maryland: Aspen Publishers; 1995. p.539-69. Wood GL, Haber J. Pesquisa em enfermagem – Métodos, avaliação crítica e utilização. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. p. 329. Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Artigo original Cuidados de enfermagem no período pós-operatório de cirur gia car díaca cirurgia cardíaca Carlos Eduardo Peres Sampaio*, Bárbara Aparecida Matos Silva**, Maria Salomé Cristiane Bedendo Rodrigues**, Miria Rejane Soares Coelho**, Rosangela Ribeiro Murucci Ferreira** *Enfermeiro, Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico (DEMC) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Professor da Universidade Iguaçu,**Enfermeiras graduadas na Universidade Iguaçu Resumo O interesse deste estudo foi promover um alívio e conforto aos pacientes pós-operados em cirurgia cardíaca e bom relacionamento entre a equipe multiprofissional para dar uma boa assistência a esses pacientes. Delimitamos como objeto de estudo, orientações de enfermagem ao paciente que realiza cirurgia cardíaca. Como objetivos propostos temos o objetivo geral: descrever a assistência de enfermagem aos pacientes pós-operatório de cirurgia cardíaca. Objetivos específicos: determinar o perfil dos pacientes que realizam cirurgia cardíaca, avaliar a qualidade da orientação pré-operatória aos pacientes de cirurgia cardíaca; conhecer os sentimentos e opiniões dos pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca. A metodologia utilizada foi do tipo estudo de caso, abordando a pesquisa quantitativa e qualitativa. A pesquisa desenvolveu-se em um hospital no município de Itaperuna, mediante aplicação de entrevista no período de setembro a novembro de 2003. A maioria dos pacientes foi do sexo masculino e possuem faixa etária média de 60 anos. A maioria realizou cirurgia de revascularização do miocárdio 50%, é tabagista e 50% em média apresenta história familiar com doenças cardíacas. Os pacientes não são orientados sobre os cuidados pré-operatórios e os principais sentimentos dos pacientes no período pós-operatório foi o incômodo dos procedimentos invasivos e a rotina da unidade de terapia intensiva. Palavras-chave: cirurgia cardíaca, pós-operatório, terapia intensiva. Abstract Nursing care in the post-operative of cardiac surgery The aim of this study is to promote a relief and comfort to the post-operated patients in cardiac surgery and good relationship among the multiprofessional team to give good assistance to these patients. The proposed aims are: to describe nursing assistance to post operative cardiac surgery patients, to determine patients profile, to evaluate pre-operative orientation quality, to know patients’ feelings and opinions. The methodology used was a case study with a quantitative and qualitative approach. The Artigo recebido em 16 de agosto de 2004; aceito em 1 de outubro de 2004. Endereço para correspondência: Carlos Eduardo Peres Sampaio, Rua Fagundes Varela, 530/ 901, Ingá 24210-520 Niterói RJ, Tel: (21) 2721-2619 / 9366-3494, E-mail: [email protected] 263 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) research take place in a municipal hospital of Itaperuna and an interview from September to November 2003 was administered. Most patients were male gender and average age 60 years. Most of the patients that were submitted to myocardial revascularization surgery (50%) were smokers and 50% had family history of cardiac disease. Patients were not well orientated about pre-operative cares and their feelings in post-operative period were uncomfortable invasive procedures and intensive therapy unit routine. Key-words: cardiac surgery, post-operative, intensive therapy. Resumen Cuidados de enfermería en el periodo postoperatorio de cirugía cardiaca El objetivo de este estudio es promover alivio y conforto a los pacientes postoperados de cirugía cardiaca y buenas relaciones con el equipo multiprofesional para ofrecer asistencia a eses pacientes. Los objetivos propuestos son: describir la asistencia de enfermería a los pacientes postoperados de cirugía cardiaca, evaluar la calidad de la orientación preoperatoria, conocer los sentimientos y opiniones de los pacientes. La metodología utilizada fue estudio de caso basada en la pesquisa cuantitativa y cualitativa. La pesquisa se desarrolló en un hospital del municipio de Itaperuna, mediante la aplicación de una entrevista en el periodo de Septiembre a Noviembre de 2003. La mayoría de los pacientes era del sexo masculino y la edad media del grupo fue 60 años. La mayoría de los pacientes que realizó cirugía de revascularización miocárdica (50%) era fumador y una media de 50% presentaba historia familiar con enfermedades cardiacas. Los pacientes no fueron orientados sobre los cuidados preoperatorios y los principales sentimientos de los pacientes en el periodo postoperatorio fueron el incómodo de los procedimientos invasivos y la rutina de la unidad de terapia intensiva. Palabras-clave: cirugía cardiaca, postoperativo, terapia intensiva. Introdução O enfermeiro como elemento da equipe de enfermagem, juntamente com seus demais elementos, contribui com o paciente a compreender seu problema de saúde, e a preparar-se para a intervenção cirúrgica, em especial no período pós-operatório imediato em cirurgias de grande porte. Devido não apenas pelas suas habilidades técnicas e científicas, mas também pela sua sensibilidade em detectar imediatamente problemas de enfermagem. É de fundamental importância o preparo do paciente na fase pré-operatória, mediante a realização adequada da sistematização da assistência de enfermagem e investigação clínica. Os cuidados na realização de um exame físico completo pelo enfermeiro devem ser extremamente detalhados, pois é nessa fase que o enfermeiro deverá preparar o paciente, explicando-lhe como serão as fases de trans e pós-operatório e como ele poderá participar efetivamente da sua recuperação. No preparo para cirurgia cardíaca, deve-se orientar o paciente sobre anestesia, ventilação artificial, presença de tubos, sonda, cateteres, monitorização cardíaca, exercícios 264 respiratórios, ocorrência de dor, administração de drogas e soluções. Todas essas orientações devem ser dadas numa linguagem clara e objetiva compatível com o perfil, o nível de escolaridade e compreensão do paciente. O desejável é proporcionar ao paciente uma visita ao centro cirúrgico e unidade de terapia intensiva, a fim de que o mesmo se familiarize com o ambiente e a aparelhagem, visando minimizar o stress ocasionado pelo evento. Consideramos que os resultados deste estudo poderão ser de grande importância para a equipe de enfermagem, bem como promover um alívio e conforto aos pacientes pós-operados em cirurgia cardíaca, favorecendo uma assistência integral. Desta forma, contribuirá para a organização do serviço, o bom relacionamento entre a equipe multiprofissional, a capacitação e especialização de cada elemento, bem como a equipe de enfermagem. Objetivos Descrever a assistência de enfermagem prestada aos pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca, determinar o perfil dos pacientes, Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) avaliar a qualidade da orientação pré-operatória aos pacientes, conhecer os sentimentos e opiniões dos pacientes em pós-operatório. Material e métodos Estudo de caso é a seleção de um objeto de pesquisa restrito, com o objetivo de aprofundarlhe os aspectos característicos. O objeto do estudo de caso pode ser qualquer fato/fenômeno individual, ou um de seus aspectos. É também comum a utilização do estudo de caso quando se trata de reconhecer num caso, um padrão científico já delineado, no qual possa ser enquadrado. Por lidar com fatos/fenômenos normalmente isolados, o estudo de caso exige do pesquisador grande equilíbrio intelectual e capacidade de observação [1]. A pesquisa qualitativa aplicada à enfermagem conta com uma variedade de métodos e técnicas que possibilitam o desvendar dos problemas emergentes do cotidiano da sua prática. A pesquisa qualitativa facilita a indicação do funcionamento complexo de estruturas e organizações, difíceis de observação direta. A pesquisa quantitativa é um estudo exploratório para um conhecimento mais profundo do problema ou objeto de pesquisa [2]. O instrumento utilizado foi a entrevista semiestruturada, pois na visão de Minayo [2], nessa forma de entrevista, o informante aborda livremente o tema proposto e onde é utilizado um roteiro apenas para organizar e não direcionar os dados. As entrevistas foram realizadas em período diurno. Os depoentes foram mantidos em sigilo e anonimato, de acordo com a resolução 196/96 [3], do Conselho Nacional de Saúde, foram atribuídos pseudônimos escolhidos pelos pesquisadores. As idéias expressadas por um sujeito numa entrevista, imediatamente analisadas e interpretadas, podem remendar novos encontros com outras pessoas ou a mesma, para explorar com mais profundidade o mesmo assunto ou outros tópicos que se consideram importantes para o esclarecimento do problema inicial que originou o estudo. Não obstante o que anteriormente foi expresso, as coletas de dados são tão vitais na pesquisa qualitativa quanto na quantitativa, com enfoques aprofundados, tendo presente seu processo unitário, integral [4]. Os sujeitos foram pacientes com até 3 dias de pós-operatório em cirurgia cardíaca, internados na unidade de terapia intensiva da cardiologia de um Hospital situado no Município de Itaperuna, Estado do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados com base na fundamentação teórica de modo a garantir uma reflexão mais profunda sobre os resultados obtidos, através de uma seleção aleatória sendo analisados e discutidos à luz da fundamentação teórica. O estudo teve dois tratamentos de dados, um quantitativo e outro qualitativo. 1º - Momento quantitativo Iniciamos nossa pesquisa com o tratamento dos dados quantitativos. Esses dados foram organizados em tabelas e estão expostos na descrição dos achados na outra parte. O tratamento de dados quantitativamente - conforme o próprio termo indica, significa quantificar opiniões, dados, nas formas de coleta de informações, assim como também com o emprego de recursos e técnicas estatísticas desde as mais simples, como percentagem, média, moda, mediana e desvio padrão, até as de uso mais complexos, como coeficiente de correlação, análise de regressão, normalmente utilizado em defesas de teses [5]. 2º- Momento qualitativo Tem como objetivo avaliar as situações complexas ou estritamente particulares. As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos [5]. Após a coleta de dados, os mesmos foram analisados pelo conteúdo, utilizando método de classificação temática. A princípio fizemos a separação por classes até chegarmos às categorias que foram extraídas do conteúdo das entrevistas, para posteriormente serem analisadas e discutidas conforme os autores consultados. A análise categorial é destacada em primeiro lugar, considerando ser a mais antiga cronolo265 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) gicamente e também por ser, na prática a mais utilizada. Esta é processada a partir de um desmembramento do texto em unidades, em categorias, segundo reagrupamentos analógicos. Ressalta que dentro das diferentes possibilidades de categorização, ao se trabalhar com discursos diretos, este trabalho pode ser favorecido ao se optar pela investigação de temas ou análise temática, e neste caso, sua aplicação oferecerá rapidez e eficácia. apenas 9% apresentaram-se do sexo feminino. A faixa etária do pacientes apresentou-se entre 40 a 80 anos, com média de 60 anos. De acordo com Haddad [6], a percentagem de operações realizadas em pacientes acima de 50 anos aumentou de 8% para 35% em estudo realizado na Escócia com 22.250 clientes submetidos à cirurgia cardíaca. Desta forma, observamos que os clientes que realizaram cirurgia cardíaca no município de Itaperuna apresentaram faixa etária similar daqueles detectados no estudo por Haddad [6]. Resultados e discussão Tabela III - Distribuição em relação os tipos de cirurgias cardíacas. Apresentação dos dados A nossa estatística foi exposta através de tabelas, que foram distribuídas por números e porcentagens relacionado ao perfil dos pacientes que realizam cirurgia cardíaca. Tabela I – Distribuição em relação ao sexo dos pacientes que realizaram cirurgia cardíaca. Gênero Masculino Feminino Σ f % 10 1 11 91 9 100 Os pacientes entrevistados foram principalmente do sexo masculino, com 91%, de acordo com a tabela acima, e apenas 9% do sexo feminino. Estes resultados nos demonstram que a população que realizou cirurgia cardíaca no município de Itaperuna foi em sua grande maioria do sexo masculino. Tabela II – Distribuição em relação à faixa etária dos pacientes que realizaram cirurgia cardíaca. Faixa etária 40“% 50“% 60“% 70“% Σ 50 60 70 80 f % 3 3 2 3 11 27,3 27,3 18,2 27,3 100 Dentro da nossa pesquisa, observamos que a faixa etária apresentou-se entre adultos de 40 a 80 anos de idade, havendo uma queda no índice de cirurgias em pessoas de 60 a 70 anos, que representam 18,2% diferente das demais faixas que se mantiveram a 27,3%. Os resultados demonstraram que 91% dos pacientes entrevistados eram do sexo masculino, e 266 Tipos de cirurgia cardíaca Troca de valva mitral Troca de valva aórtica Revascularização do miocárdio Σ F % 5 1 6 11 38 12 50 100 Durante as entrevistas, observamos que a insuficiência coronariana foi a patologia que mais atingiu o nosso público alvo com 50%, seguido da insuficiência de valva mitral com 38%, e que um mesmo paciente se submeteu a 2 procedimentos cirúrgicos: a troca de valva mitral e troca de valva aórtica. Nossa pesquisa mostra ainda, que a insuficiência coronariana foi a patologia que mais atingiu o nosso público alvo com 50%, seguido da insuficiência de valva mitral com 38%. Segundo Petrucci [7], os principais tipos de cirurgia cardíaca, realizados em estudo no estado de São Paulo foram revascularização do miocárdio e troca de valva mitral. Atualmente, no Brasil cresce o número de pessoas com problemas cardiovasculares relacionados à revascularização do miocárdio, e nossos resultados estão corroborando com a literatura atual. As altas taxas de cirurgia por revascularização do miocárdio ocorrem devido aos hábitos de vida atuais e as más condições alimentares, além de outros fatores como o sedentarismo, altos níveis de colesterol e o tabagismo. Tabela IV – Distribuição em relação à história familiar dos pacientes que realizam cirurgias cardíacas. Patologias f % Doença Doença Doença Doença 3 9 2 1 17,6 53 11,8 5,9 gástrica cardíaca neurológica respiratória Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) A doença cardíaca aparece com o maior índice com 53%, seguida da doença gástrica com 17,6%, havendo um empate entre doença neurológica e endócrina com 11,76% e finalizando com a doença respiratória com apenas 5,9%. Tabela V – Distribuição em relação às condições sociais dos pacientes que realizam cirurgias cardíacas. Condições sociais f % Tabagismo Hipertensão Etilismo Diabetes 6 3 5 1 40 20 33,3 6,7 A história social fornece dados sobre como o paciente enfrenta os fatores estressores do cotidiano. As drogas lícitas são as mais utilizadas entre os nossos entrevistados, o tabagismo com 40% e etilismo com 33,3%, seguidas de doenças crônicas-degenerativas como hipertensão arterial em 20% e por último a diabetes com 6,7%. O número de clientes tabagistas está bastante elevado, aproximadamente 40%. Os fumantes têm maior probabilidade de morrer por doença coronariana, especialmente os fumantes jovens. O tabagismo é responsável por aproximadamente 45% das mortes nos homens com menos de 65 anos de idade e por mais de 20% de todos os óbitos por doença coronariana nos homens com idade maior que 65 anos. Além disso, homens fumantes entre 45 e 54 anos de idade têm quase três vezes mais probabilidade de morrer de infarto do que os nãofumantes da mesma faixa etária [8]. Há três fatores de risco preventivos para doença coronariana: tabagismo, hipertensão arterial (pressão alta) e colesterol alterado (elevação do colesterol-LDL e redução do colesterol-HDL). O tabagismo isolado dobra a possibilidade de doença cardíaca. O tabagismo, associado à alteração do colesterol ou à hipertensão, multiplica esse risco por quatro. O risco torna-se oito vezes maior quando os três fatores estão juntos. Além disso, o cigarro por si só, através da nicotina, aumenta a pressão arterial e leva a uma maior deposição de colesterol nos vasos sangüíneos [9]. O risco de infarto do miocárdio, embolia pulmonar e tromboflebite em mulheres jovens que usam anticoncepcionais orais e fumam chega a ser dez vezes maior que o das que não fumam nem usam este método de controle da natalidade. Calcula-se que o tabagismo seja responsável por 40% dos óbitos nas mulheres por doença coronariana com mais de 65 anos de idade. Aqui trazemos para discussão os relatos dos pacientes que realizaram cirurgia cardíaca, e enfocamos os aspectos vivenciados pelos pacientes no período pré-operatório de cirurgia cardíaca. Os resultados da entrevista semi-estruturados foram categorizados e analisados de acordo com o especificado na metodologia. 1ª- Categoria: cuidados de enfermagem no período pré-operatório de cirurgia cardíaca. É referido pelos depoentes não terem sido orientados sobre o preparo pré-operatório de forma adequada. Além disso, não foi detectada a preparação adequada do paciente no período préoperatório. Tais informações foram enfocadas com relevância nos trechos abaixo relacionados: “...Não foi explicado como seria a cirurgia...” “...Não sabia nem qual cirurgia ia fazer...” “...Algumas pessoas conhecidas aonde eu moro, contou como ia ser, falaram que dá uma dor, mas depois da cirurgia melhora”. “...Fui preparado aqui, o médico disse que se eu fosse operado teria chance de sobreviver e ficar bom e se eu não operasse e enfartasse de novo, poderia morrer...” Segundo Hudak [9], o paciente pré-operatório para a cirurgia cardíaca tem componentes psicológicos e fisiológicos. Um aspecto importante da preparação psicológica é a orientação eficaz, que reduz a ansiedade e as respostas psicológicas ao estresse antes e depois da cirurgia. Deve-se incluir a explicação do método cirúrgico e as experiências trans-operatórias e pós-operatórias. Os resultados mostram que os pacientes não são orientados quanto ao preparo pré-operatório, a enfermagem não realiza consultas de enfermagem pré-operatórias, que é uma estratégia interessante de atingir as orientações necessárias durante o préoperatório. Logo o preparo psicológico tão importante tratando de uma cirurgia de grande porte como a cirurgia cardíaca, não está sendo atingido. Entendemos que a equipe multidisciplinar deve estar sensibilizada em buscar formas de suprir estas deficiências, pois quando o cliente realiza uma cirurgia cardíaca, a preparação psicológica é de fundamental importância para a 267 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) redução das ansiedades do paciente e otimização o período pós-operatório. Segundo Brunner & Suddarth [10] na fase pré-operatória, as avaliações físicas e psicológicas estabelecem a base para referência futura. São avaliadas as compreensões do paciente sobre a cirurgia, o consentimento informado e a colaboração com os protocolos de tratamento. Ajudar o paciente nas suas estratégias de enfrentamento do estresse, a compreender o procedimento e a manter a dignidade durante o período trans-operatório seguro é responsabilidade do enfermeiro. 2ª Categoria: sentimentos dos pacientes no pósoperatório na unidade de terapia intensiva. Nessa categoria são abordadas situações e circunstâncias relacionadas aos sentimentos e ansiedades dos pacientes no período pós-operatório de cirurgia cardíaca. Em geral, os depoentes fizeram menção a aspectos semelhantes, referentes às ansiedades e necessidades de apoio emocional aos pacientes que foram destacados com relevância nos trechos abaixo relacionados. “...Não senti nada, só o coração agitado, mas o médico disse que eu poderia ficar tranqüilo que isso era normal. Ele passou um remédio que normalizou. Fiquei confiante em Deus e garantido”. “...É ruim demais, colocaram alguma coisa em sua boca, colocavam um líquido amargo em sua boca e mandavam tossir...” “...É o pior lugar do mundo para quem está lá, mas o melhor lugar do mundo porque as pessoas estão trabalhando o tempo todo com a gente...” De acordo com os pacientes, voltam inconscientes para a unidade de cuidados intensivos, como conseqüência da anestesia e com despertar gradual. É fundamental orientar e tranqüilizar freqüentemente o paciente. Outro aspecto importante é associar nas orientações pré-operatórias as complicações e cuidados de enfermagem que serão realizados no período pós-operatório. Foi constatado que os principais sentimentos dos pacientes no período pós-operatório imediato na unidade de terapia intensiva, estava relacionado aos incômodos e desconforto causados pelos aparelhos invasivos utilizados para a respiração mecânica e monitorização hemodinâmica. Os depoentes também destacaram o barulho e movimentação encontrada na unidade de terapia 268 intensiva, como um incômodo no período pósoperatório. O enfermeiro em uma UTI deve identificar os fatores que possam interferir no bem estar do paciente, apesar do ambiente ser bastante estressante e necessitarmos a todo instante do trabalho em equipe para que o trabalho seja realizado de forma tranqüila e favoreça os cuidados aos pacientes. Ë possível observar outros depoentes relatando o incômodo do tubo orotraqueal e a dificuldade em permanecer na unidade de terapia intensiva. “...Primeiro o tubo. Depois ainda fiquei com alguns aparelhos, aí me senti incomodada, mas no final do dia estava bem melhor...” “...Não estou acostumado a ficar em ambiente fechado, com claridade de luz e o barulho das máquinas. Mas é preciso ficar aqui, então tenho que tentar descartar da mente que é mais fácil para suportar...” Segundo Brunner & Suddarth [10], estabelecer bom relacionamento com os pacientes, responder aos questionamentos, prestar atenção aos receios e complicações pós-operatórios, esclarecimento das dúvidas e oferecimento de informações acerca do que esperar, todos são prescrições que o enfermeiro realiza para preparar o paciente e a família emocionalmente para a cirurgia cardíaca e os eventos do pós-operatório. Conclusão Com base no exposto, consideramos ter alcançado os principais objetivos de nosso estudo. Assim este estudo permitiu levantarmos e determinarmos o perfil dos pacientes que realizaram cirurgia cardíaca no período de setembro a novembro de 2003 no município de Itaperuna. Identificamos os principais pensamentos e verbalização dos pacientes que realizam cirurgia cardíaca. Diante desses achados concluímos que o perfil dos pacientes que realizam a cirurgia cardíaca é preferencialmente do sexo masculino e apresentam faixa etária média de 60 anos, resultados também apresentados em estudos prévios no município de São Paulo [7]. Nossa pesquisa mostra ainda, que a insuficiência coronariana foi a patologia que mais atingiu o nosso público alvo com 50%, seguido da insuficiência de valva mitral com 38%. Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Foi detectado que a maioria dos pacientes são tabagistas e que 50% dos seus familiares apresentam doenças cardíacas. Esses números são bastante expressivos, pois tabagismo é comprovadamente um fator de risco não só para câncer de pulmão, enfisema e bronquite, como também para doença coronariana, cerebral e vascular periférica. A hipertensão é um poderoso fator de risco para doença vascular cerebral, bem como para coronariopatia e diretamente para o processo aterosclerótico. Detectamos que os pacientes desconhecem as orientações pré-operatórias, e relatam terem conhecimento sobre a cirurgia através de amigos e vizinhos, ou seja, não existe um trabalho de orientação pré-operatória pela equipe de saúde completo e direcionado ao paciente que realiza cirurgia cardíaca. A equipe multiprofissional, portanto, deve ser especializada e a comunicação entre ela eficiente para melhor assistir os pacientes. Deve-se preocupar não apenas com o conforto físico, mas também com as necessidades e expectativas do paciente, ajudando-o a enfrentar o estresse e a ansiedade que o acompanha e a restaurar a saúde. Ao executar as suas responsabilidades, as enfermeiras ajudam o paciente e a família a promover a saúde e a prevenirem outras enfermidades. Com as devidas orientações, é possível reduzir os anseios e sentimentos que os pacientes relatam ao estar na terapia intensiva, pois eles não conheciam o setor de terapia intensiva e que iriam permanecer nele, durante o período pós-operatório. As enfermeiras da unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca têm que ser capazes de efetuar esforços no sentido de que o paciente obtenha a recuperação em tempo hábil e, conseqüentemente, o mais elevado nível de saúde. É, portanto, um exemplo a ser seguido por outras enfermeiras que, como a saudosa Dra. Wanda, dizem: “enfermeira é gente que cuida da gente.” A enfermeira em seu relacionamento com o paciente tem como objetivo ajudá-lo a diminuir o seu nível de ansiedade e outras expectativas manifestas. Em geral, constata-se um elevado nível de frustração, medo, desânimo, sentimento de incapacidade e insegurança. Ela é a pessoa mais indicada para apoiá-los, orientá-los, enfim, avaliar as necessidades psicológicas desses pacientes, proporcionando-lhes todo o suporte emocional e incentivo de uma maneira firme e gentil. Sugerimos que sejam realizadas orientações pré-operatórias a estes pacientes, através de consultas de enfermagem direcionadas a atender os questionamentos do pacientes e prepará-lo fisicamente e psicologicamente para a cirurgia cardíaca, que por ser uma cirurgia que desenvolve grande ansiedade por ser bastante invasiva, seja capaz de manter os paciente o mais calmo possível. O paciente deve ser orientado sobre as principais complicações pós-operatórias e ser orientado sobre o local que ele irá permanecer neste período. Referências 1. Santos AR Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A; 2000. p. 28-9. 2. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 1999. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução n o 196 de 10/10/1996 – Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília: Conselho Nacional de Saúde; 1996. 4. Trivinos ANS. Introdução à pesquisa em ciências sociais. A pesquisa qualitativa em educação. 4a ed. São Paulo: Atlas; 1994. p.133. 5. Oliveira S. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. 2a ed. São Paulo: Pioneira; 2000. p. 115-7. 6. Haddad NS. Conseqüências do prolongamento do tempo de espera em pacientes candidatos à cirurgia cardíaca. Arq Bras Cardiol 2002;78(5):452-8. 7. Patrucci O, Oliveira PPM, Antoniali F, Baccarin V, Braile DM, Vieira RW. Uso de dreno fino retrocardíaco em pós-operatório de cirurgia cardíaca. Arq Bras Cardiol 1997;68(3). 8. Hudak CM, Gallo BM. Cuidados intensivos em enfermagem: uma abordagem holística. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. 9. Knobel E. Condutas no paciente grave. São Paulo: Atheneu; 1994. p.755-6. 10. Brunner L. Tratado de enfermagem médicocirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. p.482-3. 269 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Artigo original Estratégias de enfermagem para pr evenção prevenção de traumas automobilísticos Aldir da Silva Junior*, Maria José Coelho, D.Sc.** * Acadêmico de Enfermagem da Universidade Gama Filho, ** Professora Doutora em Enfermagem – Escola de Enfermagem Ana Nery – UFRJ Resumo Trabalho que traz como objeto a prevenção de traumas automobilísticos destacando a visão do profissional enfermeiro da assistência pré-hospitalar acerca da relevância dos itens de segurança necessários aos automóveis no intuito de minimizar o trauma sofrido pelos ocupantes do veículo na colisão dos autos. A importância deste trabalho científico está em discutir estratégias para prevenção e para que também sejam contempladas pelos programas de Saúde Coletiva. A metodologia caracteriza-se por ser um estudo descritivo de natureza qualitativa que está utilizando a entrevista estruturada como estratégia de coleta de dados, incluindo como sujeitos do estudo os enfermeiros que atuam na assistência pré-hospitalar nas vias expressas da cidade do Rio de Janeiro. A oportunidade de influenciar a sociedade existe como nunca existiu. Cabe aos profissionais de saúde, principalmente os enfermeiros, fornecer a orientação e a inspiração para assegurar o sucesso de campanhas de prevenção bem planejadas e de caráter renovador. Palavras-chaves: prevenção, traumas e automobilismo. Abstract Nursing strategy to car accidents prevention As a previous note, of a research project meaning the study of prevention in car accidents with the nurse professional view in prehospital care plus the importance of safety dispositives with the purpose of minimize the car occupants injuries. The importance of this work lies in the fact that is necessary to discuss strategies leading to the obligation of safety items (as air bags, ABS brakes and lateral protective bars) in the Brazilian mass car production. Moreover, the need of car accidents prevention as a Public Health program. For society, a great study showing the need for more safe cars and better drivers’ education. Above all, a way to spread the Nurse Prehospital Care as a emergent field for nurse professionals. (Methodology): Descriptive and qualitative Artigo recebido em 26 de agosto de 2004; aceito em 15 de setembro de 2004. Endereço para correspondência: Aldir da Silva Junior, Rua Pinhal, 136 Marechal Hermes 21610-030 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 3340-0804, E-mail: [email protected] 270 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) study using a structured interview as a data compliance, including as the study subjects, express way rescue professionals in Rio de Janeiro. Currently, there is a unique opportunity for influencing society. Health professionals, particularly nurses should provide guidance to ensure success in well-planned, innovative prevention campaigns. Key-words: prevention, car accident trauma. Resumen Estrategia de enfermería para prevención de traumas en colisión de autos Este trabajo tiene como objeto la prevención de traumas de autos, destacando la visión del profesional enfermero de asistencia prehospitalaria acerca de la relevancia de los ítems de seguridad necesarios para los autos en el sentido de minimizar el trauma sufrido por ocupantes de autos que colisionaron. La importancia de este trabajo científico está en discutir estrategias para prevención de traumas de autos y que sean contempladas en el programa de salud publica. La metodología caracterizase por ser un estudio descriptivo de naturaleza cualitativa que está utilizando la entrevista estructurada como estrategia de colecta de datos, que incluye como sujetos de estudio los enfermeros que actúan en la asistencia prehospitalaria en las calles de la ciudad de Rio de Janeiro. La oportunidad de influenciar la sociedad existe como nunca existió. Es importante que los profesionales de la salud, especialmente los enfermeros, proporcionen la orientación para garantizar el éxito de las campañas de prevención bien planeadas y de carácter innovador. Palabras-clave: prevención, traumas, autos. Introdução A realidade de Saúde de nossos dias mostra que o trauma automobilístico assumiu e assume proporções endêmicas e, em muitas faixas etárias, tornou-se a principal causa de mortalidade, retirando da força produtiva da população um numeroso contingente, com prejuízo incalculável para a sociedade. O trauma seqüestra da sociedade uma população essencialmente jovem, sendo os efeitos desta letalidade as paralisias com suas seqüelas motoras, as amputações, os déficits neurológicos e todo um trágico cortejo de morbidez extrema. Com esta razão apresentam prejuízo incalculável psicológico, afetivo-emocional, laborativo, econômico, familiar e para a própria sociedade, por extensão. Neste sentido, iremos a seguir destacar os fatores desta realidade, dando destaque à prevenção e a participação da enfermagem nesta área de conhecimento e atuação, destacando suas estratégias. Materiais e métodos Trata-se de uma pesquisa qualitativa, onde pretendemos buscar aspectos subjetivos na falta de profissionais de saúde que atuem em especial no atendimento pré-hospitalar e nas grandes emergências. Para que, assim, possamos escutar suas opiniões em relação aos itens de segurança que minimizam o trauma, se a prevenção do trauma automobilístico deveria ser visto como um problema de Saúde Pública e o que pode-se fazer quanto a elaboração de um programa de Saúde Pública. A coleta de dados foi realizada através das informações prestadas pelos profissionais de saúde sendo utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada. Obviamente, lhes foi solicitado a autorização para tal, mediante assinatura de termo de responsabilidade, autorizando veicular as informações obtidas nesta entrevista à pesquisa, onde lhe garantiremos itens ato e uso de pseudônimos se assim desejarem. Foi feito buscar destes profissionais enfermeiros que convivem em situações de emergência, refiro-me aqueles que atuam na emergência préhospitalar, como no Grupamento de Socorro de Emergência (G.S.E) – subordinado ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, empresas particulares , e serviços emergências de hospitais públicos . A coleta de dados foi feito através das informações prestadas pelos profissionais que atuam em emergência sendo utilizada a técnica da entrevista não estruturada com perguntas abertas. 271 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturadas com 4 questões que foram orientadoras, assim: 1. Quais os itens de segurança considerados, imprescindível, na minimização do trauma? 2. A prevenção do trauma automobilístico deveria ser visto como problema de saúde pública? 3. Como os profissionais de saúde poderiam ajudar a sociedade neste problema? 4. Cite três cuidados preventivos? Após aplicar o roteiro de entrevista, as propostas foram transcritas sendo agrupadas pela convergência dos significados. Resultados e discussão Este capítulo consiste nos dados de quatro perguntas em que as informações prestadas foram de profissionais da área de saúde (enfermeiros) que convivem com situações de emergência. Distribuição dos itens de segurança como declarados imprescindíveis por minimizar o trauma Os itens de segurança imprescindíveis na minimização do trauma automobilístico segundo o gráfico acima são: cinto de segurança (35%), air bag (30%), Barra de proteção lateral (12,5%), recosto de cabeça, crianças no banco de trás com cinto, protetor cervical de banco, assistência inicial especializada, não ultrapassar os limites de velocidade, os últimos respectivamente (5%), respeitar as leis de trânsito, prudência, manter a vítima estável, encosto de cabeça para todos ocupantes do carro e capacete, cada uma das repostas tiveram (2,5%). Apesar da maioria dos entrevistados considerar o uso do cinto de segurança como imprescindível para minimização do trauma, estudos realizados pela Rede Sarah (Centro de reabilitação em ortopedia) [1], mostram que 2/3 dos pacientes admitidos não usavam cinto de segurança na ocasião do acidente. Foi também observado o não-uso de cinto de segurança quando analisado sua distribuição entre condutores e passageiros, em que mais da metade dos condutores (56,6%) e mais de 2/3 dos passageiros (74,3%) não utilizavam o cinto de segurança no momento do acidente demonstrando que a maioria dos passageiros do banco traseiro destes veículos não usavam cinto de segurança. 272 Foi observado também que em todos os acidentes em que o veículo ocupado pela vítima estava sendo conduzido a velocidades superiores a 60 KM/H, ocorrendo o crescimento de ocorrências de neurotraumas, particularmente de lesões medulares. Em outras palavras, isso equivale dizer que a proteção proporcionada pelo cinto de segurança será tanto maior quanto menor for a velocidade e a massa dos veículos envolvidos em uma colisão. A segunda opção mais respondida foi o air bag, a melhor forma de utilizá-lo é em conjunto com o cinto de segurança, aumentando assim a sua eficiência, mas vale lembrar que este equipamento é acionado apenas uma vez. Se ocorrer colisões múltiplas, como por exemplo, no capotamento do veículo não haverá a proteção do equipamento, porque ele é acionado na primeira colisão. A barra de proteção lateral também é um importante item, porque reforça as laterais do veículo assim diminuindo o impacto para os ocupantes numa colisão lateral. Todas estas formas de minimização têm a sua importância, mas devem ser utilizadas de forma correta, respeitando assim a legislação de trânsito. Análise da prevenção do trauma como um problema de saúde pública O item que relata os entrevistados cujos traumas automobilísticos deveriam ser vistos como problema de saúde pública, teve a maioria das repostas afirmativas (13,58%), negativas (5,1%) e as outras respostas não tinham relação com a pergunta (2,5%). Isso mostra que os entrevistados desejam um programa efetivo de prevenção de traumas automobilísticos, como há nos programas de saúde pública em vigor, como, por exemplo os programas de saúde da família (PSF), assistência pré-natal entre outros. A sociedade por direito deve exigir dos órgãos competentes para a resolução desta problemática, porque já é um grave problema de saúde pública em nosso país. As 10 estratégias de prevenção de traumas [2] são: Estratégia 1 – Em primeiro lugar previna a própria criação do fator de risco; Estratégia 2 – Reduza a extenção do fator de risco efetivamente existente; Estratégia 3 – Previna a liberação do fator de risco ambiente; Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Estratégia 4 – Modifique a velocidade ou a distribuição espacial da liberação do fator de risco; Estratégia 5 – Afaste o fator de risco, em termos de espaço, do indivíduo que deve ser protegido; Estratégia 6 – Separe o fator de risco e sua vítima em potencial por meio de uma barreira física; Estratégia 7 – Modifique a natureza básica do potencial veículo de transferência de energia; Estratégia 8 – Aumente a resistência daquele que deve ser protegido das conseqüências adversas de uma interação como o fator de risco; Estratégia 9 – Detecte e avalie o prejuízo que está ocorrendo e bloqueie sua continuidade e sua extensão; Estratégia 10 – Devolva o máximo potencial funcional aquele que sofreu o prejuízo. Quando os entrevistados foram questionados de que forma os profissionais poderiam ajudar na resolução do problema, encontramos os seguintes depoimentos Em relação ao item como os profissionais de saúde poderiam ajudar a minimização dos traumas automobilísticos os resultados foram: educar (21,4%), orientar, realizar palestras e prevenção de acidentes (7,1%), campanhas educativas, propaganda de “boca em boca”, punindo, reclamando, fazendo grupos de resgate especializados, mostrar a realidade do dia a dia, através de cursos teóricos pra a sociedade, anúncios dos acidentes como são vistos, conscientizando, demonstrando o número de mortos, paraplégicos foram (3,57%). Demonstra os entrevistados que gostariam que os profissionais de saúde fossem mais atuantes na prevenção primária, tais como: realizar palestras nas escolas, nas empresas, orientar a sua comunidade, participar efetivamente na educação de base, tendo assim disciplinas ministradas por profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro por ter características de educador e ser licenciado para dar aulas no ensino de nível fundamental e médio, participar das campanhas publicitárias direcionando a campanha para o seu público alvo, tendo mais grupos especializados em pré-hospitalar e trabalhando com o Corpo de Bombeiros de seus respectivos estados, enquadrando-se um dos conceitos de prevenção de traumas automobilísticos no qual seria a prevenção terciária, assim melhorando atendimento ao traumatizado e reduzindo o tempo do transporte do local do evento até o hospital mais próximo. A reportagem de Roberto Guimarães [3] relata a educação no trânsito, um programa de reciclagem, cujo Código de Trânsito Brasileiro, prevê curso de reciclagem, entre outros casos, para condutores que têm a habilitação suspensa. O curso tem duração de quatro dias, e quatro matérias compõem o currículo: legislação de trânsito, meio ambiente, primeiros socorros e direção defensiva. Cada assunto há uma prova de múltipla escolha, com dez questões. Para ser aprovado, é preciso obter no mínimo média sete em cada disciplina e se tirar abaixo da média passará por um novo teste. Caso não atinja a nota mínima na recuperação, é preciso fazer o curso de 20 horasaula novamente. A reciclagem é oferecida por órgãos de transito estaduais e municipais e por Centros de Formação de condutores (CFCs) autorizados pelo Denatran. Para Carlos Alexandre Negrine Bettes [3] advogado especialista em Trânsito e presidente da Junta Administrativa de recursos de Infração (JARI) do Denatran-PR, o programa de reciclagem funciona. Ele escreveu um estudo sobre o tema em que 95% dos motoristas declaram ter alterado seu comportamento no trânsito após o curso. Cerca de 70% dos alunos afirmaram durante a reportagem que somente a suspensão, sem aulas, não teria o mesmo efeito. Distribuição dos cuidados preventivos de trauma automobilísticos O público consagra como cuidados preventivos o uso do cinto de segurança (19,14%), o respeito dos limites de velocidade e principalmente não dirigir alcoolizado (14,89%), respeito às leis de trânsito (6,38%), conscientização quanto as leis de trânsito e dirigir com sono tiveram respectivamente (4,25%), reciclagem dos motoristas, manutenção das estradas e sinalizações, não usar o telefone celular, educação escolar, punições graves, manutenção adequada dos veículos, trafegar com velocidade compatível com a via utilizada, mais itens de segurança nos veículos, equipamentos adequados, dirigir só quando habilitado, não dirigir sob efeitos de medicações que inibem o sono, capacete e propagandas tiveram cada um a porcentagem de (2,12%). 273 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Realmente a sociedade acha que sabe os seus limites para o álcool. “As pessoas sabem diferenciar quando estão bêbadas ou sóbrias, mas não têm consciência de que o álcool faz efeito bem antes e que isso pode provocar acidentes graves”, afirma Júlia Greve, diretora da divisão de reabilitação do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo [4]. A Revista Quatro Rodas do mês de setembro de 2003 realizou uma matéria por André Ciasa [4], onde reuniram seis jovens da mesma faixa etária e realizaram vários testes de direção sem uso de álcool e com uso do álcool. O teste consistiu em percorrer um circuito com obstáculos como: seqüência de curvas, slalon, controle de velocidade, a travessia de pedestres e semáforo. Primeiro percorreram sóbrios e depois com uso do álcool, começando com uma latinha de cerveja que contém segundo a lei de limite de álcool que é de 0,6 gramas por litro de sangue, até cinco latinhas de cerveja. O resultado demonstrou que com uma latinha já tiveram uma perda significativa dos reflexos, não conseguindo manter os limites de velocidade e principalmente a confiança na direção. Ficou provado que não há regra geral para medir a resistência ao álcool. A população tem que ter consciência dos respeitos das leis de trânsito, a utilização do cinto de segurança por todos os ocupantes do veículo e principalmente não dirigir utilizando telefone celular, com sono ou sob efeito de medicações que inibem ou potencializam o sono porque estará colocando em risco sua vida e por extensão as vítimas potenciais a sua volta. Também devem ser colocadas em prática as estratégias de prevenção como, por exemplo, a manutenção de rodovias e sinalizações que se enquadrariam nos riscos ambientais, mais rigor nas punições dos infratores que se enquadrariam na Legislação, a volta para escola dos motoristas que perderam suas habilitações de trânsito que se enquadra na educação de trânsito. Conclusão A despeito das estratégias atuais de prevenção de traumas automobilísticos, o trauma continua sendo o maior responsável pelo número de mortes, principalmente dos jovens e se constitui como uns dos principais problemas de saúde pública do século XXI. Os profissionais da área de saúde em especial os enfermeiros têm que se organizar para estru274 turar um programa eficiente de prevenção que atenda todas as classes sociais, investindo na educação escolar no trânsito, assim ministrando palestras mensais sobre o tema, nas escolas de nível fundamental e médio utilizando os recursos disponíveis para explicar essa problemática. Também na capacitação dos profissionais na área de emergência pré-hospitalar e na a estruturação deste sistema, apresentando hospitais de referencia a traumas, ampla rede de transportes, sendo: aéreos (utilização de helicópteros e aviões) terrestres (ambulâncias básicas à avançadas – “UTI móvel”), comunicações eficientes com centrais de atendimento ao público (via rádio,via satélite e telefônica), a nível federal as legislações de trânsito com o cumprimento das leis em vigor e surgimento de novas mas rígidas, a criação de uma lei que exige das montadoras multinacionais a utilização dos itens de segurança considerados de “luxo” nos países desenvolvidos como obrigatórios em todos os modelos de automotores oferecidos a venda, também a eliminação dos riscos ambientais no qual teriam estradas bem sinalizadas, sem buracos, com passarelas para pedestres em vias de alto fluxo e de alta velocidade, as calçadas mas amplas para os pedestres, utilização de radares como medida de repreensão aos infratores, campanhas publicitárias nos jornais ,revistas, redes de TV e internet sendo organizadas pelos profissionais da saúde com um único enfoco que seria a sociedade. As estratégias de enfermagem para solucionar esta problemática seriam atuar nas três esferas de prevenção, que são: Primária, Secundária e Terciária. A prevenção Primária é a eliminação global das causas implícitas no trauma. Então seria investir na educação escolar, principalmente no nível fundamental, porque nesta faixa a criança está em formação intelectual, assim podendo moldar para a prevenção de traumas automobilísticos. Esta estratégia poderia ser desenvolvida inserindo o profissional de saúde, o enfermeiro, nas escolas públicas, ministrando palestras periódicas, dinâmicas de grupo e treinamento para professores para dar continuidade ao trabalho de prevenção. Outra estratégia seria que nossas rodovias e ruas fossem bem pavimentadas e sinalizadas, utilizando todos os recursos disponíveis, como utilização de passarelas em vias de alta velocidade, quebra-molas e sinalização no chão e em placas perto de escolas, pardais e guardas de trânsito para punir os Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) infratores, calçadas mais largar e cercadas com barras de ferro para que impeça de automóveis estacionarem, acostamento dentro de túneis e rodovias. A prevenção Secundária seria a redução das lesões que resultam no traumatismo. Temos como exemplo os dispositivos desenvolvidos para minimizar o trauma. Estes dispositivos são desenvolvidos principalmente para as corridas automobilísticas e depois são adaptados nos veículos de passeio. A formula 1 teve um importantíssimo valor no desenvolvimento de itens de segurança como, o freio ABS, compostos para pneus otimizando sua performance na aderência, válvula de segurança que corta o combustível numa colisão, entre outros. A última seria a prevenção Terciária que inclui todas as medidas tomadas após a ocorrência do traumatismo que resultam um melhor prognóstico. A principal estratégia é a estruturação do sistema de atendimento pré-hospitalar e hospitalar, que podem ser: treinamento periódicos dos profissionais que atuam nesta assistência e se possível fossem especialistas, investimento em materiais como ambulâncias, helicópteros e aviões, organização de um sistema eficiente de informação interligando quem pede socorro, quem faz o primeiro atendimento e quem vai dar continuidade a esse atendimento como por exemplo o 911 nos Estados Unidos, dividir as áreas de atuação com apoio de empresas privadas subordinadas ao estado, mas para que estas estratégias derem certo tem que haver a união dos estados e governo federal, para que seja um sistema único de atuação. A oportunidade de influenciar a sociedade existe como nunca existiu. Cabe aos profissionais de saúde fornecer a orientação e a inspiração para assegurar o sucesso de campanhas de prevenção bem planejadas e de caráter renovador. Se tais medidas forem adotadas, o objetivo final, qual seja reduzir de modo significativo a morbimortalidade por trauma, poderá ser alcançado. A continuidade deste estudo seria a criação de uma linha de pesquisa dentro do curso latu sensu de mestrado, doutorado e pós-doutorado em enfermagem, porque na nossa área estamos ainda muito carente de novos conhecimentos, materiais didáticos, sendo necessário obter literatura de autores de outras áreas. Referências 1. 2. 3. 4. Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. [citado 2003 Ago 24]. Disponível em: URL: http\\:www.sarah.br Raymod H, Alexander HJP. Advencer trauma life suport student manual. 5th ed. Chicago: American College of Surgeons; 1995. Quatro Rodas 2002; Jul. Volta à escola. A pé. São Paulo: Quatro Rodas 2003; Jan. 275 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Artigo original Um enfoque prático para a gestão de materiais com consciência e qualidade Margarete Maria de Lima Especialista em gestão dos serviços de enfermagem da UFSC, enfermeira do PSF de Agrolândia - SC Resumo Relata execução de um projeto de gestão de materiais desenvolvido em um centro de saúde no município de Leoberto Leal – SC, no período de janeiro a abril de 2004. Tem como intuito mostrar que a gestão consciente de materiais faz parte do conjunto de ações que o enfermeiro deve desenvolver para que se mostre um serviço de qualidade tanto para o cliente quanto para a instituição. O assunto abordado é desafio para aos gestores e profissionais de saúde, que necessitam refletir sobre a importância da gestão de materiais com consciência e qualidade, pois somente dessa forma poderão criar propostas que envolvam uma cultura organizacional voltada para a inovação, flexibilidade, aprendizagem e que permita a reconstrução do conhecimento em todo e qualquer momento. Palavras-chave: recursos materiais, enfermagem, qualidade. Abstract Practical focus to material administration with conscience and quality The aim of this work is to relate the execution of a project of administration materials developed in a Health Center in the municipal district of Leoberto Leal – SC from January to April 2004. Its intention is to show that conscious administration of materials is part of the actions that the nurse should develop for a better quality service either to the client and for the institution. The approached subject is a challenge for the managers and health professionals that need to think about the importance of the administration materials with conscience and quality, because only on this way they can create proposals that involve an organizational culture turned to innovation, flexibility, learning and that allows the reconstruction of the knowledge in whole and any moment. Key-words: materials resources, nursing, quality. Artigo recebido em 27 de agosto de 2004; aceito em 15 de setembro de 2004. Endereço para correspondência: Margarete Maria de Lima, E-mail: [email protected] 276 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Resumen Un enfoque practico para la administración de materiales con conciencia y calidad Se trata de la ejecución de un proyecto de administración de materiales desarrollado en un centro de salud en el distrito municipal de Leoberto Leal, Santa Catarina en el período de Enero a Abril de 2004. Tiene como objetivo mostrar que la administración consciente de materiales hace parte de un conjunto de acciones que la enfermera debe desarrollar para mostrar un servicio de calidad tanto para el cliente como para la institución. El asunto abordado es un desafío para los gestores y profesionales de la salud que necesitan reflexionar la importancia de la administración de materiales con la conciencia y calidad, porque sólo de esa manera ellos pueden crear propuestas que envuelvan una cultura orgánica volcada para la innovación, la flexibilidad, aprendizaje y que permita la reconstrucción del conocimiento a cualquier momento. Palabras-clave: recursos materiales, enfermería, calidad. Introdução O enfermeiro de um centro de saúde vivencia em seu cotidiano inúmeras tarefas, dentre elas, atividades educativas, assistenciais, coordenação da unidade e de programas, atividades de supervisão e gerenciamento, sendo difícil muitas vezes estabelecer prioridades. Dentre todas as atribuições do enfermeiro, também cabe a solicitação e/ou supervisão de materiais para a unidade, onde esse precisa estar atento para não esquecer nenhum item, solicitar a quantidade necessária, e, o mais importante, descrever o pedido de forma clara e detalhada, pois o não entendimento poderá gerar a não cotação do material desejado. Diante disso, acreditamos que o enfermeiro não deva se restringir apenas à visão assistencial, mas perceba a organização como um todo, do mais alto nível hierárquico à unidade em que trabalha, conheça as linhas de autoridade, regimentos, estatutos, processo de tomada de decisão e aquisição de material. Esta busca por novos conhecimentos não é tão fácil, principalmente por esbarrar na burocracia que envolve a instituição, pela disputa de poder e pela resistência de alguns colaboradores em transmitir informações e conhecimentos temendo que outras pessoas possam saber mais do que eles. Este caminho muitas vezes o enfermeiro precisa trilhar sozinho, caminhando lentamente para conseguir os objetivos almejados. O sistema de saúde e os serviços de saúde são significativamente diferentes, complexos, e de certo modo únicos, se comparado a outros tipos de organizações, em particular as indústrias, o que traz conseqüências no seu gerenciamento. O trabalho desenvolvido é de caráter variável e na maioria das vezes emergencial, existindo uma variação considerável no número de procedimentos, acarretando em algumas vezes na falta de material, e em outras, no excesso evidenciado pelo número de itens vencidos [1]. Diante disso, questionamos: qual a melhor forma de se administrar materiais nos serviços de saúde e o que fazer para evitar o desperdício ou a falta de materiais? Acreditamos que cada instituição deve se adequar a sua realidade, não esquecendo que a meta principal é a prestação de bons serviços aos clientes, ou melhor, a qualidade deve estar presente em todas as atividades executadas, principalmente na enfermagem, que preconiza uma assistência livre de riscos tanto para o cliente quanto para o profissional. Em se tratando da qualidade dos serviços de enfermagem, convidamos a refletir: poderemos prestar uma assistência de qualidade com materiais inadequados, que não apresentam segurança para realizarmos procedimentos? Que enfermagem estamos “fazendo” quando desperdiçamos o material que poderá faltar ao nosso colega de trabalho? Objetivos • Mostrar para os enfermeiros e profissionais de saúde que a gestão consciente de materiais faz parte do conjunto de ações que devem desenvolver para que se mostre um serviço de qualidade tanto para o cliente quanto para a instituição; • Descrever as especificações técnicas dos materiais utilizados no centro de saúde; • Catalogar material de consumo disponível em estoque para prever e observar o consumo; 277 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) • Verificar a qualidade dos materiais adquiridos; • Informar e conscientizar a equipe sobre a importância de conhecer o custo de cada material, demonstrando que existem maneiras de evitar desperdício, conscientizando e estimulando a participação de todos na gestão de materiais. uma proposta de aplicação prática do gerenciamento de materiais, envolvendo os funcionários do centro de saúde, para que ampliem sua visão sobre a importância da organização e controle adequados, tanto do material em estoque quanto do material a ser solicitado. Materiais e métodos Resultados e discussão Este trabalho foi desenvolvido em um centro de saúde no município de Leoberto Leal - SC no período de janeiro a abril de 2004. O centro de saúde dispõe de serviços de enfermagem e medicina a nível ambulatorial. A estrutura física é ampla, composta por recepção, farmácia, sala de triagem, dois consultórios médicos, sala de curativos e pequenas cirurgias, sala de emergência e medicação, sala de vacina, sala de exame ginecológico, sala de coleta de exames laboratoriais, teste do pezinho, nebulização, três enfermarias para observação com oito leitos adultos e três pediátricos, posto de enfermagem, sala de reuniões, sala do setor administrativo, copa, lavanderia, expurgo e sala de esterilização. São realizados procedimentos clínicos e pequenas cirurgias, curativos, imunização, exame de papanicolau, triagem, teste do pezinho, consultas de enfermagem, atendimento clínico com observação, grupo de gestantes, grupo de hipertensos e diabéticos, vigilância epidemiológica e sanitária, vigilância alimentar e nutricional e outros. O horário de funcionamento da unidade é das 06:30 às 18:00 horas. O quadro de funcionários do centro de saúde está constituído por dois clínicos gerais, duas enfermeiras, três técnicas de enfermagem, uma técnica administrativa, um bolsista, uma recepcionista e duas auxiliares de serviços gerais. Além das atividades desenvolvidas no centro de saúde o município conta com duas equipes do programa de saúde da família, constituído pelos profissionais do centro de saúde (dois médicos, duas enfermeiras e duas técnicas de enfermagem) e por doze agentes comunitários de saúde. Uma das enfermeiras coordena a unidade e outra é responsável pela área administrativa, que conta com a colaboração da técnica administrativa e do bolsista, ambos trabalham no período vespertino. São muitas as atribuições deste setor, dentre elas, fechamento mensal da produção, digitação de programas do ministério da saúde, gestão de materiais da unidade e outras. Através da observação de como era conduzida a gestão de recursos materiais na unidade foi criada 278 Mostrar aos enfermeiros e profissionais de saúde que a gestão consciente de materiais faz parte do conjunto de ações que devem desenvolver para que se mostre um serviço de qualidade tanto para o cliente quanto para a instituição Os materiais e equipamentos necessários ao desenvolvimento das atividades assistenciais de uma instituição de saúde possuem características técnicas muito complexas, sendo necessário, em sua administração a inclusão de profissionais de saúde para exercerem um papel mais ativo, não só nos aspectos técnicos, mas também naqueles relacionados a custo [2]. No entanto, o gerenciamento de materiais está distante das prioridades dos enfermeiros e profissionais de saúde, que percebem a qualidade do material somente no momento de utilizá-lo e, na maioria das vezes, julgam a instituição como única responsável pela qualidade deste. Convém lembrar, que nós profissionais, ao assumirmos a postura de que não somos responsáveis por esta qualidade e sim pela qualidade da assistência, não nos damos conta de que a qualidade da assistência depende também da qualidade dos materiais utilizados. Portanto, não devemos esquecer que a principal finalidade da gestão de materiais nas instituições de saúde segundo Paterno [3], é assegurar o contínuo abastecimento dos materiais necessários e capazes de atender a demanda da mesma, bem como, cuidar de todos os problemas relacionados a materiais, fiscalizando, zelando e controlando, no sentido de garantir quantidade e qualidade no abastecimento e padrão no atendimento. Para que se mostre um serviço de qualidade para o cliente e para a instituição precisamos incluir a gestão de materiais nas prioridades de nosso cotidiano, pois os profissionais de enfermagem em especial o enfermeiro convivem diariamente com os problemas relacionados à materiais. Lembrando que ao falar em Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) qualidade dos materiais utilizados nos serviços de saúde a grande maioria dos clientes não apresenta embasamentos que norteiem a avaliação dos produtos utilizados, esta função cabe aos profissionais de saúde que utilizam em seu dia a dia estes materiais. O cliente poderá avaliar um material quando este for familiar, quando a falha for muito evidente ou quando o profissional não se certificar da qualidade do material antes de realizar o procedimento. Um bom exemplo seria um vazamento em um equipo de soro, onde o paciente mesmo com pouco conhecimento perceberia o defeito. Por outro lado existem alguns materiais que a avaliação da qualidade sob a ótica do cliente avaliaria de forma equivocada a habilidade do profissional. Um cliente submetido a uma punção venosa com uma agulha ou escalpe de ponta romba não vai avaliar a qualidade desses materiais, mas a habilidade do profissional, certamente irá pensar que este profissional tem “mão pesada” ou não tem “prática”, tem pouca habilidade e outras caracterizações poderão ser incorporadas ao profissional por utilizar materiais de qualidade duvidosa. Descrever as especificações técnicas dos materiais utilizados no centro de saúde O processo de compra da prefeitura municipal é através de licitação. Primeiramente a equipe do centro de saúde elabora a lista com a quantidade de materiais e medicamentos necessários para o período de seis meses. Os materiais que não são cotados, posteriormente são adquiridos através de compra direta. Antes do desenvolvimento deste trabalho a lista do material a ser adquirido para o centro de saúde continha o nome do produto sem as especificações técnicas, desta forma não havia como reivindicar quando o material não era de boa qualidade, ou não atendia as expectativas dos profissionais. Para reforçar a importância de uma descrição clara e detalhada do material convém exemplificar a solicitação de um produto antes e após a aplicação deste trabalho. Antes era descrito escova ginecológica para coleta de preventivo, hoje a descrição e da seguinte forma: escova cervical estéril atóxica, descartável, cerdas em nylon, macia e resistente, cabo resistente, comprimento mínimo de 17cm. Embalagem individual e segura com abertura asséptica, contendo identificação do produto, data de fabricação, validade e lote. A elaboração das especificações técnicas dos materiais para a unidade foi a etapa mais difícil de ser executada, exigiu muito empenho, várias horas de pesquisas na internet e algumas semanas para ser completada, foi preciso muita persistência, pois alguns materiais não se tinha noção de como especificar. Demandou habilidade para que a especificação do produto não fosse descrita de forma vaga e nem muito detalhada. Concordo com Arnold [4] quando diz que para serem úteis, as especificações devem ser cuidadosamente desenvolvidas, pois se são descritas de forma vaga podem não determinar um produto satisfatório e se for demasiadamente detalhadas e elaboradas torna seu desenvolvimento custoso, sua inspeção difícil, podendo esses fatores desencorajar os fornecedores. Catalogar material de consumo disponível em estoque para prever e observar o consumo. Este objetivo foi alcançado mediante o gerenciamento de estoque realizado na unidade por um bolsista com supervisão da enfermeira. Na administração de materiais é fundamental o gerenciamento adequado de estoque, pois quando mal gerenciados podem acarretar a falta de materiais ou excesso destes. Para o controle dos materiais armazenados em estoque foi elaborada uma ficha de controle, contendo a descrição simplificada do produto, entrada e saída de material, procedência e custo unitário. Através dos registros de movimentação foi possível calcular o consumo médio mensal de materiais, baseado na média aritmética simples dos últimos três meses. Com a aplicação deste método diminuiu o número de pedidos realizados pela instituição, sendo atualmente realizados a cada três meses. Os materiais são solicitados através de comunicação interna, contendo fornecedor, número do item descrito na licitação, descrição simplificada do produto, valor unitário, quantidade e valor total. Com a aplicação deste projeto houve diminuição significativa no número de itens vencidos em estoque, atualmente utiliza-se a regra do primeiro a entrar primeiro a sair, sendo os materiais estocados por ordem de validade. Verificar a qualidade dos materiais adquiridos Todos os materiais que chegam ao centro de saúde são conferidos em quantidade em principalmente em qualidade. Verificamos se as especificações técnicas descritas no pedido de licitação conferem com o material recebido. Com isso detectou-se que alguns materiais não eram o tínhamos 279 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) solicitado, sendo providenciada a substituição dos mesmos. Um bom exemplo foi o recebimento de ataduras de crepon com três metros esticadas, e 100 (cem) escovas ginecológicas numa mesma embalagem sem ser estéreis, sendo que se tinha cotado os seguintes materiais: • Atadura crepom, 12 cm x 4,5m (esticada) não estéril, isenta de resíduos e impurezas, elasticidade longitudinal segura, malha com trama regular com fio duplo de algodão cru, 13 fios no mínimo, acabamento seguro e visível, fácil manuseio. Macia, confortável e hipoalérgica. Embalagem individual segura, com identificação do produto e lote. Pacote com 12 unidades • Escova cervical estéril atóxica, descartável, cerdas em nylon, macia e resistente, cabo resistente, comprimento mínimo de 17cm. Embalagem individual e segura com abertura asséptica, contendo identificação do produto, data de fabricação, validade e lote. Segundo Azevedo citado por Gerges [5], qualidade de um produto ou serviço é definida por um conjunto de dados e afirmativas que caracterizem perfeitamente a qualidade daquele produto ou serviço. Para Araújo [6] a qualidade que deverá possuir um material é regida por uma especificação adequada. Ao adotar especificações bem redigidas as empresas terão oportunidades de comprar corretamente o material que necessitam e com a qualidade que almejam. Informar e conscientizar a equipe sobre a importância de conhecer o custo de cada material, demonstrando que existem maneiras de evitar desperdício, conscientizando e estimulando a participação de todos na gestão de materiais No início da aplicação prática deste projeto de gerenciamento de materiais, envolvendo os funcionários do centro de saúde detectou-se a necessidade de algumas pessoas em entender que a gestão de materiais é tão importante quanto a assistência direta. Esta dificuldade de entendimento ocorreu devido ao desconhecimento das técnicas administrativas e desconsideração das diretrizes da gestão de serviços, o que com o passar do tempo foi superado, pois todos foram envolvidos e entenderam a dinâmica do processo. Isso propiciou que profissionais ampliassem sua visão sobre a importância da organização e controle adequados, tanto do material em estoque quanto do material a ser solicitado, evitando com essa conscientização desperdícios. 280 Considerando que a equipe de saúde desempenha importante papel na administração de recursos materiais, por está envolvida diretamente no processo aquisitivo e indiretamente como usuário desses materiais, é imprescindível que estes profissionais desenvolvam uma visão clara e ampla da problemática que envolve o gerenciamento de materiais, realizando ações adequadas que visem à garantia da qualidade da assistência [2]. Acredito que os profissionais precisam conhecer e entender todo o processo que engloba a gestão de materiais, acompanhando o fluxo destes desde o momento da solicitação do pedido até o recebimento na unidade. A partir do momento que começarmos a valorizar o gerenciamento de materiais e a mostrar que a gestão consciente deste recurso contribui significativamente para evitar desperdícios, tanto por materiais inadequados quanto por falta de consciência da equipe, as instituições poderão perceber que necessitam destes profissionais em suas comissões. Conclusão As técnicas e metodologias aplicadas neste trabalho foram utilizadas na prática, assim, proponho aos gestores uma mudança comportamental nas instituições, com a inserção destas técnicas e metodologias no dia a dia, como ferramentas de trabalho, pois todo gestor deve ter uma visão macro do seu ambiente, tendo em mente ferramentas organizacionais que desenvolvam a sua gestão de forma mais eficaz e organizada, visualizando melhorias contínuas no atendimento, redução de custos e diminuição de desperdícios e erros. O planejamento, a organização e o controle, ou seja, as formas de gestão, devem estar presentes em qualquer segmento, inclusive na área da saúde. Mesmo que a entidade não vise fins lucrativos, necessita ter sobras, ou pelo menos o suficiente, para futuros investimentos, sejam eles em recursos humanos, ou em novos equipamentos ou materiais de consumo. Tornase necessário gerir melhor os recursos, para garantir resolutividade, tanto aos clientes quanto à instituição. Em muitas vezes, uma das dificuldades encontradas para que isso ocorra, está na forma de relacionamento interpessoal e integração da equipe, que não acontecem de forma harmônica, propiciando deficiências em relação à visão interdisciplinar de todos. Acredito, que se faz necessário encontrar alternativas para conscientizar a equipe sobre a importância de se fazer gestão de materiais com consciência e qualidade, Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) buscando a satisfação de colaboradores, fornecedores e clientes, para que se tenha, como conseqüência, um atendimento de excelência. Convidamos ainda a relembrar, que a equipe multidisciplinar de saúde lida com o que há de mais importante para o se humano: a vida. Diante dessa questão, é preciso encorajar e inspirar a exploração de novas idéias de modo a assegurar que o melhor seja oferecido. Assim, para finalizar, lanço o desafio aos gestores e profissionais de saúde que reflitam sobre a importância da gestão de materiais com consciência e qualidade, pois somente dessa forma poderemos criar propostas que envolvam uma cultura organizacional voltada para a inovação, flexibilidade, aprendizagem e que permita a reconstrução do conhecimento em todo e qualquer momento. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Galvão RG. A relevância da administração de materiais em instituições de saúde. São Paulo: Cadernos Centro Universitário São Camilo 2003;9(3):61-67. Silva A, Horr l. Administração de recursos materiais. [Mimeo]. Paterno D. A administração de materiais no hospital: compras, almoxarifado e farmácia. São Paulo: Cedas; 1987. Arnold JRT. Administração de materiais: uma introdução. Tradução de Celso Rimoli, Lenita R. Esteves. São Paulo: Atlas; 1999. Título original: Introduction to materials management. Gerges MC. Gerência: a busca pela qualidade na enfermagem: curso de especialização dos serviços de enfermagem, 27 e 28 de agosto de 2003. [Mimeo]. Araújo JS. Administração de Materiais. 5a ed. São Paulo: Atlas; 1991. 281 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Revisão Aspectos jurídicos da rresponsabilidade esponsabilidade civil do enfermeir o em unidades de emer gência enfermeiro emergência Álvaro Alberto de Bittencourt Vieira*, Nébia Maria Almeida de Figueiredo, D.Sc.**, Isaura Setenta Porto, D.Sc.*** Enfermeiro, Doutorando no Programa de pós-graduação da EEAN/UFRJ, **Professora Titular – EEAP / UNIRIO, Pesquisadora do CNPq, *** Professora Adjunta, Pesquisadora CNPq Resumo Este artigo trata da responsabilidade civil do enfermeiro diante das Leis nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 (Novo Código Civil); Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990 (Código de proteção e defesa do consumidor) e da Resolução COFEN – 240 (Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem). Aborda a teoria das responsabilidades subjetiva e objetiva, de modo a alertar o enfermeiro no exercício profissional caso venha cometer um dano e lhe seja imputada a obrigação indenizatória. Situa a atividade e o erro do enfermeiro de acordo com a Doutrina Jurídica. Palavras-chave: responsabilidade civil, exercício profissional, ética. Abstract Legal aspects of civil liability of the nurse in emergency units This article aim at the nurse civil liability concerning Laws nº 10,406 of January 10, 2002 (New Civil Code); Law nº 8,078 of September 11, 1990 (The Consumer Defense Code) and of COFEN Resolution - 240 (Nursing Professionals Code of Ethics). It refers to theory of subjective and objective responsibilities, to warn the nurse in general practice that may commit a damage and have to pay for it. It points out nurses’ activity and mistakes in accordance with Legal Doctrine. Key-words: civil liability, professional activity, ethics Artigo recebido em 5 de julho de 2004; aceito em 15 de agosto de 2004; Endereço para correspondência: Álvaro Alberto de Bittencourt Vieira, Rua Emidio Lobo, 90/503 Papicu 60176-090 Fortaleza CE, E-mail: [email protected] 282 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Resumen Aspectos legales de la responsabilidad civil del enfermero en unidades de emergencia Este artículo se centrará en la responsabilidad civil del enfermero frente a las Leyes no. 10.406 de 10 de Enero de 2002 (Nuevo Código Civil); Ley no. 8.078 de 11 de Septiembre de 1990 (Código de defensa y protección al consumidor) y de la Resolución COFEN-240 (Código de Ética de los profesionales de la enfermería). Trata de la teoría de las responsabilidades subjetiva y objetiva, que tiene como finalidad alertar al enfermero en el ejercicio profesional para cuando cause un daño y la obligación indemnizatoria le sea imputada. Palabras-clave: responsabilidad civil, ejercicio profesional, ética. Introdução Este artigo destina-se aos enfermeiros que exercem suas atividades laborais em unidades de atendimento de emergência e urgência em ProntoSocorro. Reconhecemos que a unidade de atendimento de emergência em Pronto–Socorro representa um dos locais do sistema de saúde que oferece cuidados imediatos completos aos clientes em situação de risco e que mantêm profissionais em permanente alerta para agir rapidamente conforme as prioridades que a situação exige. Um atendimento rápido não implica somente na reanimação cardiorespiratória, mas também, na avaliação do estado geral da vítima - obedecendo à ordem lógica, seqüencial e sistemática. A importância de um trabalho bem planejado e sincronizado durante o atendimento de emergência é indispensável para evitar transtornos e atitudes desnecessárias ou atos que possam ser considerados ilícitos. Os cuidados de enfermagem devem ser orientados para atender os danos físicos e emocionais da vítima e as reações de angústia que os familiares apresentam. Pois, esses familiares apresentam-se sempre impactados, diminuídos e fragilizados diante de acontecimentos súbitos e inesperados. Devido à complexidade do atendimento de emergência, o progresso e a utilização diversificada de recursos materiais sofisticados, exigem que os enfermeiros reflitam e criem modelos de práticas que não situem apenas a doença aguda ou o trauma como referencial do cuidar, mas, sobretudo a pessoa doente em suas dimensões biológicas, sociais, culturais e espirituais. Sabe-se que os fatores que ameaçam a vida humana podem interferir não apenas em aspectos biológicos, mas também, afetar a condição existencial do individuo. Em vista disso, a resolução desses problemas deve considerar não somente a condição biológica, mas a própria existência, em sua acepção mais abrangente. Decorre daí que o cliente em risco de vida deve ser tratado em sua totalidade [1]. A prática profissional do enfermeiro que atua em emergência está alicerçada no artigo 11, inciso 1 da letras l e m da Lei 7.498 de 25 de junho de l982 [2], assim descrito: Art.11, inciso 1 – O enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem cabendo-lhe: letra l – privativamente, cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida; letra m – cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimento de base e capacidade de tomar decisões imediatas. Com base nesse dispositivo legal cabe ao enfermeiro de emergência exercer sua prática profissional com autonomia e colaboração. Kron [3] atribui ao enfermeiro a responsabilidade pelo cuidado do cliente ainda que a assistência seja prestada por outro membro de sua equipe. Classifica as funções do enfermeiro como dependentes, entre as quais inclui as administrativas e as delegadas pelo médico, e independentes entendidas como as atividades profissionais que dizem respeito ao planejamento e execução do cuidado de enfermagem. Portanto, as ações do enfermeiro no setor de emergência são classificadas do mesmo modo como em qualquer outro setor que cuida da saúde. As ações independentes caracterizam-se por cen283 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) trarem-se predominantemente nas intervenções voltadas para o atendimento de necessidades psicobiológicas da clientela. Quanto as ações interdependentes são assim denominadas, por serem desenvolvidas como trabalho conjunto de equipe. E as ações dependentes são aquelas, conforme já foram referidas vinculadas à implementação das prescrições médicas [2]. Entende-se, portanto, que a natureza jurídica da responsabilidade civil do enfermeiro é extracontratual, é também denominada aquiliana ou delitual e a infrigência é a norma básica do dever de não causar prejuízo a ninguém, o nemimen laedere. Neste tipo de responsabilidade não existe relação do direito préexistente, e o fato danoso que estabelece o laço. O ato ilícito é quem gera o dever de indenização. Diante destes pressupostos, objetivamos neste estudo situar a atividade e o erro do enfermeiro no contexto da doutrina jurídica com vistas ao exercício profissional, caso venha cometer erros e lhe seja imputada a obrigatoriedade indenizatória. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo, reflexivo, que busca situar as ações do enfermeiro que trabalha nos setores de urgência e emergência em Pronto-Socorro, suas responsabilidades e sua necessária defesa diante da Lei. Responsabilidade civil A palavra responsabilidade deriva-se do latim spondeo, que significa responder a, comprometerse, e exprime a idéia de equivalência de contraprestação, de correspondência, obrigação e encargos. No sentido jurídico, o vocabulário tem a mesma conotação – “designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da violação de outro dever jurídico”. Sintetizando, somente haverá questão de responsabilidade se houver violação de um dever jurídico e dano [4]. No sentido jurídico, Savatier [5] define responsabilidade da seguinte forma: “La responsabilité est l’obligation qui peut incomber à une personne de réparer le dommage causé à autrui par son fait, ou ou par le fait des personnes ou des choses dépendant d’elle” (a responsabilidade civil é a obrigação que pode incumbir a uma pessoa de repagar o dado causado a outrem por um ato seu, ou por um fato de terceiro ou de coisas dependente dela). 284 Em nosso ordenamento pátrio, a responsabilidade civil está assentada no art.927 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2003 [6]. Portanto, o princípio basilar da responsabilidade civil está no dever de indenizar um dano causado. A responsabilidade civil do enfermeiro também surge do referido preceito legal, devendo o paciente/ cliente que recebeu os cuidados de enfermagem, quer seja no âmbito hospitalar, ambulatorial, domiciliar ou logradouro público ser indenizado, caso acione a justiça por ter sofrido um prejuízo que pode ser de ordem material ou imaterial, patrimonial ou não patrimonial [7]. Daí entendermos que responsabilidade traduz a própria exteriorização da justiça e impõe ao enfermeiro o dever de responder por seus atos perante e o sistema jurídico . A responsabilidade civil é, portanto, um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário [8]. A qual pode ser entendido também, que a responsabilidade civil deve ser vista como fato humano, isto é, a necessidade de proporcionar a devida reparação em virtude do ato causador do dano. Nela está presente a finalidade punitiva do infrator. Teoria das responsabilidades No ordenamento jurídico brasileiro há duas teorias que explicam a responsabilidade civil: a subjetiva e a objetiva. Nesses dois tipos de teorias encontram-se suas regulamentações próprias e são muito importantes para caracterização do tipo de responsabilidade em que o enfermeiro encontra-se em cada caso específico. Teoria da responsabilidade subjetiva A teoria da responsabilidade subjetiva, também chamada de teoria clássica e tradicional da culpa, pois tem na culpa seu fundamento basilar, abrange desde a culpa stricto sensu ao dolo. Para que o enfermeiro seja responsabilizado por algo se faz necessário que o paciente/cliente tenha sofrido um dano – um prejuízo decorrente de um procedimento de enfermagem durante a assistência por ele prestada, pois “sem dano, não há que falar em responsabilizar o enfermeiro, em termos de direito civil” [7]. A obrigação de reparar um dano causado a outrem advém da prática desse ato acarretar vulneração Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) ao direito ou prejuízo, e assim poderá responder civilmente culpado. Para isso é indispensável à existência dos seguintes pressupostos: a) O dano ou prejuízo; b) A violação ou descumprimento de um dever jurídico ou contratual – a culpa ou ato ilícito do agente; c) Nexo da causalidade – relação entre a causa e o efeito, um elo entre o ato e o dano. Na teoria da responsabilidade subjetiva, para que haja a obrigatoriedade de indenização é necessário que seja demonstrada a culpa e o suposto violador do direito da vítima, sendo desta última a incumbência de provar tal situação para que tenha direito a indenização. É fundamental a ligação do agente como o resultado danoso, por meio de conduta culposa, pois nas atividades profissionais do enfermeiro há sempre um padrão técnico de modo que inobservado o padrão razoavelmente exigível para o caso concreto, há culpa . A culpa é a falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o despreparo por parte do agente, do esforço necessário para observála, como resultado, não objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das conseqüências eventuais de sua atitude [9]. O conceito de culpa abrange condutas intencional (dolo) e não internacional (culpa em sentido estrito) , está subdividida em três fatores: imperícia, imprudência e negligência. A imperícia é considerada a falta de observação das normas, por despreparo prático ou por insuficiência de conhecimentos técnicos. Chamase ainda imperícia, a capacidade ou inabilidade para exercer determinado ofício, por falta de habilidade ou pela ausência dos conhecimentos rudimentares exigidos numa profissão. De outra forma, a imperícia é entendida como uma conduta produzida sem os conhecimentos suficientes ou má aplicação destes conhecimentos. È, também, a deficiência na formação profissional que pode conduzir a resultados nocivos. A imprudência é a falta de cuidados básicos, atuação irrefletida e intempestiva, portanto, imprudente. É o enfermeiro que age sem a cautela necessária, cujo ato ou conduta são caracterizados pela intempestividade, precipitação, insensatez ou inconsideração. Tem caráter comissivo. Quanto a negligência, caracteriza-se pela inação, indolência, inércia, passividade, falta de observância aos deveres que as circunstâncias exigem e é também considerado ato omissivo. A responsabilidade subjetiva do enfermeiro está respaldada no Código de Proteção e Defesa do Consumidor (art.14 § 4º) e no novo Código Civil (Art. 186 c/c 951). O Art. 14 § 4º do Código de Proteção do consumidor Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990 admite a culpa como indispensável para responsabilização dos profissionais e o enfermeiro quando da prestação de cuidados aos pacientes/ clientes (consumidores) estando assim incluído: Art.14. § 4º – a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação da culpa. Art 951 – disposto dispostos nos art. 948, 949 e 450 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão ou inabilitá-lo para o trabalho. Através desses dispositivos da Lei fica confirmada a teoria da responsabilidade subjetiva quando imputado ao enfermeiro conduta produtora de resultados danosos, com o surgimento do dever de ressarcir os prejuízos causados unicamente se demonstrada a culpa na atuação que deu causa à lesão que se pretende ver indenizada. Cabe, portanto, ao paciente/cliente provar que o enfermeiro agiu com culpa (negligência, imprudência ou imperícia). Porém, não é fácil o caminho que o paciente/cliente e seus responsáveis terá que percorrer para buscar a prova, já que pode sofrer com a hipossufiência econômica e, principalmente, a prova técnica. É evidente que o paciente pouco deve saber sobre quebras de técnicas assépticas, procedimentos técnicos de enfermagem, condutas assistenciais, sintomatologia e diagnóstico. Por isso o legislador consagrou a inversão do ônus da prova como forma de equilíbrio entre as partes na relação processual, considerando-se hipossuficiente o autor da ação. Compete ao Juiz inverter ônus da prova em ações indenizatórias fundadas em erro profissional, com base no art. 6º, inciso VIII do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, no qual será avaliada a verossimilhança da alegação ou hipossuficiência do autor. Nesse artigo, consta: a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo 285 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) civil, quando, critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência. Desta forma, valendo-se como meio facilitador de defesa dos interesses do consumidor, a inversão do ônus da prova impõe ao enfermeiro o dever de demonstrar que sua conduta profissional foi adequada, visto que possui maiores condições técnicas de trazer aos autos do processo elementos à convicção do Juiz. A conduta culposa do agente gerará a obrigação de indenizar. Contudo ressalta Cavalieri [11]. A caracterização da culpa importa maior dificuldade. Tendo por essência o descumprimento de um dever de cuidado, que o agente podia conhecer e observar, ou, como querem outros, a omissão de diligência exigível, a dificuldade da teoria da culpa está justamente na caracterização precisa da infração desse dever ou diligência, que nem sempre coincide com a violação da Lei. A culpa é revertida de um juízo de responsabilidade sobre a conduta do enfermeiro, por ter violado o dever e cuidado quando, em face das circunstâncias especificas do caso, devia e podia ter agido de outro modo. Conceitua-se a culpa como conduta voluntária contraria ao dever de cuidado imposto pelo Direito, com produção de evento danoso involuntário, porém previsto e previsível. Compõe-se dos seguintes elementos: • Conduta voluntária com resultado involuntário; • Previsão ou previsibilidade; • Falta de cuidado, cautela, diligência ou atenção. Tipos de culpa Quanto ao tipo de culpa foram relacionadas cinco categorias: culpa in eligendo, culpa in vigilando, culpa in committendo,, culpa in omittendo e culpa in custodiendo. Culpa in eligendo – é aquela que resulta da má escolha do preposto ou representante. Quem elege mal o representante ou empregado, responde civilmente por atos ilícitos por este praticado. O art. 932 inciso III reza que são também responsáveis pela reparação civil, o empregador ou comitente, por seus empregados. Culpa in vigilando – aquela que decorre da ausência ou má fiscalização de quem, por lei ou contrato, tem a incumbência de vigiar pessoas ou coisas. Culpa in committendo - revela-se por uma ação danosa do agente, um ato positivo, como no caso de 286 fazer um cateterismo vesical no paciente para o qual não se destinava este procedimento e vir a lesioná-lo. Ou administrar uma medicação que possa ser letal ao paciente, por não ter tido a devida atenção no preparo dessa medicação. Culpa in ommittendo – decorre da omissão do agente que não podia abster-se, e sim tomar medidas. Como por exemplo, a queda de paciente de uma maca por falta de observância das medidas de segurança (grades de segurança levantadas). Culpa in custodiendo - constitui na falta de quem tem custodia de alguma pessoa ou coisa, e por não dar a devida atenção e cercar-se de cautelas normais, permite que a pessoa ou coisa possa prejudicar terceiros. Incluem-se neste tipo de culpa os estudantes ou estagiários que estão sob a responsabilidade do enfermeiro da unidade e que venha a cometer algum dano ao paciente conforme determina o artigo 933 do Código Civil incisos I a V (ainda que não haja culpa de sua parte, o enfermeiro responderá pelos atos praticados por terceiros) Teoria da responsabilidade objetiva A teoria da responsabilidade objetiva ou responsabilidade sem culpa é justificada pela teoria do risco. Toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa ora encarada como “risco proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em conseqüência de uma atividade realizada em beneficio do responsável (ubi emolumentum, ibi ônus). Na responsabilidade objetiva a atitude culposa do agente causador do dano é de menor relevância, pois desde que exista relação de causalidade (nexo causal) entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente [8]. Esta afirmativa encontra seu respaldo legal no art. 927, parágrafo único da Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002 que determina: haverá obrigatoriedade de reparar o dano, independentemente da culpa, nos casos específicos em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco pra os direitos de outrem [12]. Em outras palavras, na responsabilidade objetiva o que importa para assegurar o ressarcimento é a verificação de ocorreu o dano e se dele resultou em prejuízo Em tal ocorrendo, o autor do fato causador Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) do dano é o responsável. Portanto, a responsabilidade objetiva, com origem em diversas teorias baseia-se, em suma, no fato de que quem cria um risco deve responder por suas conseqüências. Facilita-se a reparação, pois não há busca da culpa , mas apenas a denominação do dano e sua causalidade com a ação ou omissão. Esta teoria é alicerçada pelos princípios da boa fé e da equidade, como forma de propiciar a entrega de uma tutela jurisdicional mais justa. A teoria da responsabilidade objetiva tem o mérito de resolver casos de danos que, pela teoria da culpa não seriam reparados. Dessa forma, o fato e não a culpa torna-se o elemento mais importante para que seja o dever de reparar o dano causado, o que implica em radical evolução a respeito da responsabilidade civil. Melhor compreendendo, na responsabilidade objetiva há também uma conduta ilícita, o dano e o nexo causal – só não existe a necessidade do elemento culpa, razão pela qual denominou-se responsabilidade independentemente de culpa. A culpa pode não existir, mas será irrelevante para configuração do dever de indenizar [11]. Por isso, os profissionais de saúde, em particular o enfermeiro devem estar atentos para uma leitura cuidadosa de outros artigos do Código Civil Brasileiro, que trazem no seu bojo dispositivos inerentes a esta temática e que excluem a apuração da culpa, dentre os quais sugerimos: Art. 931 Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Torna-se, portanto salientar no que se refere a indenização do dano causado, o que o Novo Código Civil trouxe de inovações: Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem exclui outras reparações: I – no pagamento das despesas com tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II – na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. - Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja atribuída e paga de uma só vez. Portanto, as despesas do tratamento com luto e funeral, prestação de alimentos e pensão poderão ser exigidas em um único pagamento pelo credor da obrigação. Atividade do enfermeiro Tendo em vista que o enfermeiro e o cliente são sujeitos de uma relação jurídica contrato / vínculo, a prestação da assistência de enfermagem é definida como sendo de meios. A obrigação de meios é aquela em que aquele que é contratado (enfermeiro) não se compromete com um objetivo específico-determinado. Obriga-se o contratado (enfermeiro) a utilizar o cumprimento da obrigação que tem com o contratante (estado, município, dono do hospital, diretor da cooperativa, etc.) toda sua diligência e prudência, de acordo com as técnicas usuais, naquele momento, para o procedimento pelo qual se comprometeu. Podendo-se então concluir que a prestação de serviços do enfermeiro é uma obrigação de meios, pois é a própria atividade do profissional que está sendo objeto de contrato. Em suma, de compromisso / empenho profissional. Fazendo uma analogia com a atividade do médico que também é de meios, buscamos numa jurisdição da 7ª Câmara Civil do TAMG nº 205037 – 1 que trata claramente do assunto cujo relator foi o Juiz Geraldo Augusto: O relacionamento que se estabelece entre o médico e o paciente é suigeneris, tratando-se de obrigação de meio, não de resultado, 287 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) pois tem por objeto a prestação de cuiddos conscienciosos e atentos, é, portanto, para que haja responsabilização por dano causado a paciente em conseqüência da atuação profissional, é necessário que resulte provado de modo concludente que o evento danoso se deu em razão de negligência, imprudência, imperícia ou erro grosseiro de sua parte. Entendemos que, em se tratando da obrigação de meios, o enfermeiro não se responsabiliza por obter o resultado desejado tanto por ele quanto pelo paciente. Sua obrigação é proceder com diligência em favor da recuperação e restabelecimento da saúde do doente. Não obtido o resultado ou vindo o paciente a óbito, se o enfermeiro empregou toda sua diligencia, perícia e prudência, cumpriu com sua obrigação. Erro do enfermeiro No Brasil, ainda não há demanda significativa de ações jurídicas contra o enfermeiro nos tribunais, porém, com o surgimento do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, no qual estabelece uma relação de consumo entre o enfermeiro e o cliente, com o congestionamento dos serviços de emergência devido ao aumento descomedido da violência urbana, insuficiência quantitativa de recursos humanos, de materiais e de equipamentos para um atendimento seguro e de qualidade, a presença da mídia noticiando todos estas aberrações, é óbvio que os usuários estão mais alertados para reivindicarem seus direitos. Cabe ao enfermeiro no exercício legal de sua profissão agir com diligencia e cautela, acompanhando o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e dos avanços da enfermagem como prática do cuidar, esclarecer o cliente e seus familiares e/ou responsáveis sobe seu estado de saúde, possíveis riscos de vida, assistência de enfermagem a ser prestada, possíveis benefícios, riscos e conseqüências que possam vir a ocorrer. A desobediência ou descumprimento desses deveres podem causar dano material ou imaterial ao cliente é o que denominamos de erro do enfermeiro. Este erro é descrito pela “conduta voluntária ou involuntária, direta ou indireta, caracterizada como conduta profissional imperita, imprudente ou negligente, que causa dano ao paciente”. Com base nesses esclarecimentos, em caso de erro, o enfermeiro poderá sofrer três conseqüências distintas, concomitantes ou isoladas: 288 l) Punição administrativa (relacionadas às infrações éticas e disciplinares) aplicadas pelo COREN ou COFEN conforme previsto no art. 85c/c 91 ao 95 da Resolução COFEN 240 que aprova o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. 2) Reparação civil (patrimonial) – de natureza particular, depende da vítima acionar ou não a justiça e poderá abranger tanto a indenização material como a imaterial. 3) Punição judicial criminal – caso seja provado alguma conduta antijurídica por parte do enfermeiro ou alguma contravenção penal, o Estado agirá independentemente da vontade da vítima. Princípios básicos de conduta de enfermagem desenvolvida nas unidades de atendimento em Pronto-Socorro Entende-se por principio básico de conduta de enfermagem, uma assistência segura, de qualidade, que isenta o enfermeiro de processos administrativos, éticos disciplinares ou de ação judicial civil e/ou penal. Neste estudo procuramos selecionar alguns princípios que consideramos importantes e essenciais que devem ser considerados no cotidiano das atividades de enfermagem desenvolvidas nas unidades de atendimento de urgência e emergência em ProntoSocorro: • Aptidão para planejar e coordenar adequadamente o trabalho nos setores de emergência; • Planejamento das atividades, de acordo com as necessidades do setor, a fim de evitar transtornos tanto com os recursos humanos como material e equipamento e, conseqüentemente, evitar congestionamento nas dependências dos setores de atendimento; • Capacidade para distribuir tarefas de acordo com as possibilidades dos comandados, assumindo e delegando responsabilidade com determinação; • Competência para selecionar uma boa equipe para atuar profissionalmente (capacitada) em situação de emergência; • Rapidez de raciocínio para decidir sem hesitação em casos de emergência; • Coerência e transparência nas ações, mantendo sempre a cordialidade e confiança com o cliente e seus familiares; • Manutenção de registros das intercorrências de forma clara e objetiva, sem rasuras ou emendas, Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) para que possam servir de provas e possíveis defesas no âmbito da justiça; • Comunicação expressa na prestação do cuidado ao cliente, identificando-se e explicando detalhadamente o procedimento realizado ou a realizar-se; • Antes de executar qualquer procedimento, certifique-se pessoalmente de que todos os cuidados (pessoais, materiais, equipamentos) foram tomados e mantida a sistematização de cuidado adequado à realidade do setor; • Atualização do conhecimento científicos e tecnológicos da área de atuação dos serviços de Pronto-Socorro, em caso de duvidas solicite opiniões de especialistas. Sugerimos aos profissionais de saúde, em particular aos enfermeiros em exercício, que mantenham uma leitura cuidadosa acerca da Constituição Federal de 1988 no que concerne aos Artigos 5º, 37., 196, 197 e l99 que tratam desta temática. Bem como, da Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002 – Novo Código Civil, arts 15 e 20, referentes aos direitos da Personalidade; Art. 186, 187 e 188 relacionados aos atos ilícitos; art. 205 e 206 dos prazos de Prescrição; Art. 212 e 226 da prova; Art. 389. dos dispositivos legais; Art.402 e 404 das Perdas e Danos; Art. 927, 932, 933, 934, 935 e 942 das Obrigações Indenizatórias; Art. 948, 949, 950, 951, da indenização. Quanto ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor – Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990, devemos também estar atentos para os artigos 2º e 3º, referentes aos Disposições Gerais; art. 4º da Política Nacional de Relações de Consumo; Art. 6º dos Direitos Básicos do consumidor; Art. 12 e 14 da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço; Art. 18, 22, da Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço; Art. 27 da Decadência e da Prescrição; Art. 43 dos Bancos de Dados e Cadastramento de Consumidores; Art. 72 das Infrações Penais; Art.81 da Defesa do Consumidor em Juízo. Consideramos que a legislação e seus dispositivos legais do ordenamento jurídico brasileiro relacionados com a responsabilidade civil poderão subsidiar o enfermeiro no exercício da profissão sob o ponto de vista jurídico, a Resolução COFEM - 240 que aprova o Código de Ètica dos profissionais de enfermagem, devam estar ao alcance de todos os enfermeiros em exercício, como o “livro de cabeceira”, e seja a bússola na eminência de atuar sozinhos, tomando decisões para salvaguardar vidas em momentos críticos de riscos de vidas. Conclusão Conclui-se neste estudo, que cada vez mais, exigi-se do enfermeiro que atua nos atendimentos de urgência e emergência nos serviços de ProntoSocorro, pertinência comportamental, conhecimentos dos avanços da ciência e da tecnologia, bem como, das Leis vigentes no país. Somente desta forma poderá prestar uma assistência diferenciada, de qualidade e sem riscos para o cliente/ comunidade. Portanto, não basta ser eficiente, cabe-lhe a incumbência de manter-se atualizado, nos assuntos que rege a profissão, afastando-se de qualquer resquício de negligência, imperícia ou imprudência sob pena de ficar vulnerável a pesadas penalidades em virtude da desobediência/inobservância da responsabilidade profissional. Referências 1. Coelho MJ. Os bastidores da assistência: o clima de risco de vida e a enfermagem na unidade de emergência do Rio de Janeiro 1991. [Dissertação]. Rio de Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery – UFRJ; 1991. 2. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. [Lei nº 7.498]. [Publicado no Diário Oficial da República Federativa do Brasil; 1986; Jun 25]. 3. Kron T. Manual de Enfermagem. Rio de Janeiro: Interamericana;1998. 4. Cavalieri Filho S. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros; 2003. 5. Salvatier R. Traité de la responsabilité civile. 12a ed. 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Rio de Janeiro: COFEN; 2002. 289 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Revisão Causas de abandono do tratamento da tuber culose tuberculose Mari Dalva Cortezi Enfermeira Assistencial, Especialista em Administração dos Serviços de Saúde pela Universidade de Ribeirão Preto, Mestranda em Saúde Coletiva pela Universidade do Sul de Santa Catarina Resumo Este estudo de caráter bibliográfico, através de revisão na base de dados Lilacs, Medline e Scielo, no período de janeiro a março de 2004, teve como objetivo identificar os fatores relacionados ao abandono de tratamento de tuberculose. Há muitos fatores que podem influenciar no abandono de tratamento de tuberculose. No entanto, podemos classificar as causas relacionadas ao paciente, esquema terapêutico e ao serviço de saúde. O conhecimento dos fatores que influenciam no abandono de tratamento pode ser decisivo na cura dos pacientes. Palavras-chave: abandono, tratamento, tuberculose. Abstract Causes of abandonment of the tuberculosis treatment This literature study, prepared through database revision from Medline, Lilacs and Scielo, from January to March 2004, aims to identify reasons related to the abandonment of tuberculosis treatment. There are many reasons that can be related to the abandonment of tuberculosis treatment. However, we can classify reasons related to the patient, therapeutic model and health service. It can be decisive to patients’ recovery to know the reasons that influence in the abandonment of tuberculosis treatment. Key-words: abandonment, treatment, tuberculosis. Artigo recebido em 7 de julho de 2004; aceito em 10 de setembro de 2004. Endereço para correspondência: Mari Dalva Cortezi, Av. das Arapongas, 455 Cond. Residencial Aririba 88330-000 Balneário Camboriú SC, Tel: (47) 3606948 / 99771017, E-mail: [email protected] 290 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Resumen Causas del abandono del tratamiento de tuberculosis Este estudio, de carácter bibliográfico, a través de revisión en la base de datos Lilacs, Medline y Scielo, en el período de Enero a Marzo de 2004, tuvo como objetivo identificar los factores relacionados al abandono del tratamiento de la tuberculosis. Hay muchos factores que pueden influenciar en el abandono del tratamiento de la tuberculosis. Entre estos factores, podemos clasificar las causas relacionadas al paciente, esquema terapéutico y al servicio de salud. El conocimiento de los factores que influyen en el abandono del tratamiento, puede ser decisivo en la cura de los pacientes. Palabras-clave: abandono, tratamiento, tuberculosis. Introdução Objetivos Atualmente um dos grandes problemas encontrados pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose refere-se ao abandono de tratamento dos pacientes, ou seja, os pacientes não concluem o tratamento por uma ou várias vezes, e, conseqüentemente, tornam-se pacientes crônicos [1].O abandono do tratamento da tuberculose é apontado como uma das grandes falhas no programa, para controlar a doença. No Brasil, o percentual de cura está ao redor de 69 a 75% dos casos, com uma variação das taxas de abandono de 10 a 14% [1]. Contudo, a meta até 2005, pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose, é descobrir 90% dos casos e cura 85% dos doentes e reduzir o abandono para 5% [2]. Quanto maior o número de pessoas que abandonam o tratamento, maior será a chance de disseminação do bacilo na comunidade. Enquanto menor se encontrar esta taxa, maior será o impacto epidemiológico frente à população. Um dos fatores importantes a ser enfatizado é a resistência bacteriana, considerando que a ingestão irregular do medicamento pode levar ao aumento dos casos da tuberculose resistente [3]. No entanto, o bacilo estará sendo disseminado, o que poderá ser resistente aos tratamentos convencionais. O problema da resistência às drogas é responsável por mais de 10% dos casos novos [4]. A magnitude desse problema não atinge somente às questões inerentes à cura do paciente, implica, também, na falência das medidas de promoção e proteção à saúde da coletividade. Identificar as causas relacionadas ao abandono de tratamento da tuberculose. Material e métodos Foi feita revisão bibliográfica nas bases de dados Medline, Lilacs e Scielo, tendo sido utilizados as palavras chaves abandono de tratamento de tuberculose, abandonment of tuberculosis treatment. Dentre os artigos identificados foram selecionados os que eram relevantes para o trabalho. Resultados e discussão A literatura cita inúmeras variáveis que influenciam no abandono de tratamento da tuberculose, das quais destacam-se três grupos de fatores relacionados ou atribuídos ao serviço de saúde, paciente e ao esquema terapêutico. O quadro abaixo descreve, de forma geral, as causas de abandono de tratamento da tuberculose. A utilização incorreta das drogas ou a utilização de apenas uma droga é responsável pela situação, multiplicação de germes e resistência adquirida. Este tipo de resistência pode ocorrer nos casos de recaída e abandonos. Considera-se que nos casos de resistência primária, o paciente nunca tratou e infectouse com uma cepa resistente, já na multiresistência, e considerado resistência simultânea 291 Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Serviço de saúde Paciente Esquema terapêutico Falta de supervisão; Falta de acessibilidade dos serviços; Falta de confiança no médico; Falta de identificação com a equipe; Tratamento e diagnóstico em diferentes unidades de saúde; Rotatividade de profissionais; Falta de capacitação dos profissionais; Paciente procura outras unidades de saúde; Demora no atendimento; Horários inflexíveis e filas; Não confirmação do diagnóstico; Acompanhamento dos pacientes em diferentes clínicas; Profissional médico não especializado; Pacientes de áreas rurais; Migração; Falta de apoio familiar; Desconhecimento da doença; Tempo longo de translato da casa a unidade de saúde; Retratamento; Falta de transporte; Sem orientação; Não ter telefone para contato; Não ter salários; Sem núcleo familiar; Receber menos de um salário mínimo; Baixo nível de escolaridade; Criança; Cor não branca; Situação precária de vida; Antecedentes de alcoolismo; Uso de drogas; Uso de drogas injetáveis; Comportamento de risco para o HIV; AIDS; Piora ou melhora clínica; História de prisão; Vive só; Desemprego; Baciloscopia negativa; Etilista; Sexo masculino. Falta medicação; Reações colaterais; Tamanho, quantidade, gostos dos medicamentos; Tratamento prolongado; Utilização do esquema I. Fonte: [1, 5-24]. a Isoniazida, Pirazinamida, Rifampicina e outras drogas básicas [13,3]. Além dos fatores relacionados à resistência, como conseqüência do abandono de tratamento, destaca-se, ainda, o espalhamento do bacilo na comunidade, o que pode refletir no agravamento da situação epidemiológica da tuberculose. Somam-se, também, a epidemia do HIV e fatores sociais e econômicos, que fazem desta situação um agravante na saúde coletiva [4]. Hoje, em alguns países desenvolvidos e em desenvolvimento, vem-se optando por uma forma alternativa de terapia, a da observação direta, onde a supervisão medicamentosa é feita por um profissional de saúde, visando diminuir o abandono de tratamento [25]. Essa estratégia de terapia diretamente observada, recomendada pela Organização Mundial de Saúde, desde 1992, consiste no diagnóstico efetivo, laboratorial, tratamento padrão de observação, suprimento de drogas, monitoramento e avaliação do programa [26]. Alguns obstáculos norteiam essa estratégia como: falta de pessoal qualificado, preparação insuficiente para descentralização, inclusão da estratégia no setor privado, infra-estrutura inadequada e falta de vontade política [26]. Contudo a afirmativa mais correta é que o tratamento da tuberculose cura 292 100% dos casos, embora a cura possa parecer distante. O abandono de tratamento da tuberculose constitui um problema clínico, à medida que o paciente irá sofrer recidiva, como um problema de saúde coletiva, por perpetuar a transmissão da doença. Conclusões Torna-se inadiável uma séria reflexão dos profissionais de saúde, sobre os motivos que levam o paciente a abandonar o tratamento. Conhecer os motivos poderá permitir ao profissional de saúde conduzir melhor o tratamento e diminuir o número de casos de abandono de tratamento na população. É preciso repensar as estratégias adotadas junto com as autoridades de saúde, porém uma melhor interação entre pacientes e profissionais pode melhorar no processo de negociação frente ao tratamento. Os programas de assistência devem ser sempre planejados, não apenas como referência aos aspectos médicos, mas levando em consideração as crenças de uma comunidade, bem como o contexto político e econômico em que os pacientes vivem. Enfermagem Brasil Setembro / Outubro 2004;3(5) Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Costa JSD, Gonçalves H, Menezes AMB, Devens E, Piva M, Gomes M et al. Controle epidemiológico da tuberculose na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil: adesão ao tratamento. Rio de Janeiro: Cad Saúde Pública 1998;14(2):409-15. Sistema de informação de agravos de notificação. 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