Revista científica dos profissionais de enfermagem

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ISSN 1678 - 2410
Ano 3 nº 1 - janeiro/fevereiro de 2004
Revista científica dos profissionais de enfermagem
Assistência de enfermagem
• O diagnóstico de enfermagem no
cuidado de úlcera de pressão após AVC
• A calorimetria e seus efeitos no
banho no leito
Epidemiologia
• Conhecimento sobre papiloma
vírus humano
• Lavagem das mãos como cuidado
essencial no ambiente hospitalar
Fitoterapia
Caracterização e conhecimento
popular de plantas medicinais
Pediatria
Sistematização da assistência
de enfermagem pediátrica
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ISSN 1678 - 2410
Ano 3 nº 2 - março/abril de 2004
Revista científica dos profissionais de enfermagem
Assistência de enfermagem
• Ergonomia na prevenção das dores osteomusculares
Cuidados
• Técnica do shampoo em pacientes acamados
Epidemiologia
• Avaliação diagnóstica do processo da lavagem das mãos
• Hipertensão arterial e fatores de risco
Educação
• Pensar o cuidado através do jogo
dramático
• Reflexão sobre a prática pedagógica
• Estratégias para o
desenvolvimento de
de competências
específicas
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ISSN 1678 - 2410
Ano 3 nº 3 - maio/junho de 2004
Revista científica dos profissionais de enfermagem
Assistência de enfermagem
Educação
Epidemiologia
Hospital
• Orientações e cuidados de enfermagem
• O ser humano em coma e a comunicação verbal
• Proposta de instrumento de coleta de dados em
consulta de enfermagem
• Atualização em tuberculose
• Ocorrência de tinea pedis em um grupo de idosos
• Estratégia de ensino para graduação
em enfermagem
• O cuidado de enfermagem e as ciências
que nele incidem
A memória da assistência aos
portadores de HIV positivo
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ISSN 1678 - 2410
Ano 3 nº 4 - julho/agosto de 2004
Periódico científico dos profissionais de enfermagem
Assistência de enfermagem
História
Epidemiologia
Educação
• Conceitos para o cuidado de pacientes terminais
• Perspectivas do Home Care
• Cuidados paliativos em oncologia
Conhecimento do Papiloma vírus humano
entre universitários
• Aleitamento materno no Brasil: os anúncios
do Jornal do Comercio
• Como foi implantado o Teste do Pezinho
no Brasil
Exame nacional de cursos e
ideologia estudantil
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ISSN 1678 - 2410
Ano 3 nº 5 - setembro/outubro de 2004
Periódico científico dos profissionais de enfermagem
Assistência de enfermagem
Educação
Epidemiologia
Pediatria
• Cuidados no período pós-operatório
de cirurgia cardíaca
• Diagnósticos de enfermagem
em portadores de HIV
Abandono no tratamento da tuberculose
• Prevenção de traumas automobilísticos
• Aspectos jurídicos da responsabilidade civil
• Protocolo para prevenção de úlcera
por pressão em UTI
Aleitamento materno e vínculo
mãe-filho
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ISSN 1678 - 2410
Ano 3 nº 6 - novembro/dezembro de 2004
Periódico científico dos profissionais de enfermagem
Assistência de enfermagem
Educação
Epidemiologia
Psicologia
• Vítimas de trauma em uma UTI
• Tecnologia de enfermagem em cliente
laringectomizado
• Oxigenioterapia hiperbárica
Conhecimento dos homens sobre exame
de próstata
• A enfermagem na educação infantil
• Educação e meio ambiente no trabalho
• Opção e perspectivas profissionais
Comunicação: a base do cuidado
no puerpério
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Enfermagem Brasil
Janeiro / Fevereiro 2004;3(1)
Enfermagem
Brasil
Índice
Volume 3 número 1 - Janeiro / Fevereiro de 2004
EDITORIAL
Homenagem as enfermeiras veteranas de guerra, Os Editores ............................................................... 03
ARTIGOS ORIGINAIS
Conhecimento sobre papiloma vírus humano entre universitários da área de saúde,
Evellyn Fiorezi, Danielle Silva Augusto, Solange Silvestre, Aspásia Basile G. Souza ................................... 04
Lavagem das mãos como um cuidado essencial no ambiente hospitalar: de Florence
Nightingale e Ignaz Semmelweis ao milênio atual (1847-2003), Lúcia Catarina Gonçalves
da Costa e Silva Canela, Maria José Coelho ........................................................................................................... 11
Resgatando e inovando visões de uma teórica de enfermagem: a calorimetria e seus efeitos
no banho no leito, Dalmo Valério Machado de Lima, Maria Aparecida de Luca Nascimento ................. 17
Caracterização e conhecimento popular de plantas medicinais em um município da Serra
da Mantiqueira – MG, Telma Geovanini ............................................................................................................ 24
REVISÕES
Sistematização da assistência de enfermagem pediátrica: reflexão teórica e implementativa,
Carla Regina Bianchi Codo, Irani Aparecida Dalla Costa Paes .......................................................................... 29
Análise crítica da literatura sobre a aspiração da traqueostomia em laringectomizados,
Elizabeth Barichello, Márcia Maria Fontão Zago ................................................................................................. 35
ESTUDO DE CASO
A importância do diagnóstico de enfermagem no cuidado de um paciente com úlcera de pressão
pós AVC acompanhado pelo Programa de Saúde da Família, Maria Paula Soares da Silva .............. 42
NOTÍCIAS E RESUMOS. ................................................................................................................................ 47
NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ...................................................................................................................... 50
CALENDÁRIO DE EVENTOS....................................................................................................................... 52
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Enfermagem Brasil
Janeiro / Fevereiro 2004;3(1)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
CONSELHO CIENTÍFICO
Prof . Dr . Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
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Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio - Rio de Janeiro)
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Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
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GRUPO DE ASSESSORES
Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
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Prof Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Secretaria Municipal de Saúde de Cachoerinha – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe)
a
Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe)
Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
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Rio de Janeiro
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Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil , Nutrição Brasil, Brasilis e Práxis.
Foto da capa: Major Enfermeira reformada do Exército, Lenalda Campos Duboc, transporte aéreo de feridos brasileiros da Itália para o Brasil.
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Enfermagem Brasil
Janeiro / Fevereiro 2004;3(1)
Editorial
Homenagem as enfermeiras
veteranas de guerra
Os Editores
Pensando sobre novas perspectivas ao
apresentarmos a Enfermagem Brasil neste novo
volume, tivemos a idéia de trazer na capa e não
somente no conteúdo, algum elemento que
traduzisse o esforço brasileiro na valorização da
vida, da profissão e do país. Neste ano, iremos
homenagear todas as enfermeiras que estiveram
na II Guerra Mundial. Pesquisamos sobre o tema,
e encontramos uma grande história de luta e
conquista que pode ser observada através de
fotografias, relatos históricos e de alguns colaboradores em preservar a história nacional. Assim,
agradecemos a Major Enfermeira reformada do
Exército Elza Cansanção Medeiros e os seus
colaboradores que organizam o arquivo
fotográfico da FEB, a Major Enfer meira
reformada do Exército Lenalda Campos Duboc
que cedeu gentilmente a fotografia de nosso
primeiro número, ao Cel R/1 Mauro Cleber Rodrigues Martins que abriu as portas da Biblioteca
do Exército e a M. Sc. Margarida Maria Rocha
Bernardes que nos cedeu seu imenso arquivo
sobre essas grandes mulheres, profis-sionais e
veteranas de guerra.
Neste número, apresentamos artigos
originais como conhecimento sobre papiloma
vírus humano entre universitários da área de
saúde e lavagem das mãos como um cuidado
essencial no ambiente hospitalar. Um estudo
de caso sobre a importância do diagnóstico de
enfermagem no cuidado de um paciente com
úlcera de pressão (escaras) após AVC e revisões
como a sistematização da assistência de enfermagem pediátrica como uma reflexão teórica e
implementativa, uma visão teórica sobre a
calorimetria e seus efeitos no banho do leito, a
análise crítica da literatura sobre a aspiração da
traqueostomia em laringectomizados e sobre a
caracterização e conhecimento popular de
plantas medicinais.
Dessa forma, nós da Enfermagem Brasil,
esperamos, não somente valorizar o conhecimento científico, mas também o histórico e sóciocultural da Enfermagem.
!
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Enfermagem Brasil
Janeiro / Fevereiro 2004;3(1)
Artigo original
Conhecimento sobre papiloma vírus humano
entre universitários da área de saúde
Evellyn Fiorezi*, Danielle Silva Augusto*, Solange Silvestre*, Aspásia Basile G. Souza**
**Graduandas do 2º ano de Enfermagem pela UNICID, ** Mestre, Coordenadora das disciplinas de Semiologia e Semiotécnica da UNICID
e Saúde da criança e adolescente, Faculdade Santa Marcelina
Resumo
O presente estudo, de abordagem quantitativa e exploratória, foi realizado em uma universidade privada do município de São
Paulo, com estudantes da área da saúde, objetivando identificar seu conhecimento sobre o Papiloma Vírus Humano.
Participaram como amostra desta pesquisa, vinte e sete graduandos, que responderam a um formulário com questões abertas
sobre o tema. Os resultados mais significativos apontaram para o conhecimento sobre conceito, transmissão e população
acometida, pela maioria dos entrevistados e o desconhecimento sobre as diversas maneiras de contágio e forma assintomática
da doença.
Palavras-chave: enfermagem, doenças sexualmente transmissíveis, papiloma vírus humano.
Abstract
Knowledge about human papilloma virus among university students of health area
The present study, a quantitative and exploratory approach, was carried out in a private university of São Paulo, with students
of health area in order to identify their knowledge about the Human Papilloma Virus. Twenty seven graduating students
took part in the research as sample, and answered a form containing questions about the theme. The most significant results
pointed out that interviewees have knowledge about concept, transmission ways and infected population but most of them
are unaware about the ways of infection and asymptomatic forms of the disease.
Key-words: nursing, sexually transmitted diseases, human papilloma virus.
Artigo recebido em 9 de dezembro de 2003; aceito em 5 de janeiro de 2004.
Endereço para correspondência: Aspásia Basile G. Souza, Rua São João das Duas
Barras, 95 – Itaquera 08270-080 São Paulo SP, E-mail: [email protected]
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Resumen
Conocimiento sobre virus papiloma humano entre estudiantes universitarios del área
de la salud
El presente estudio, de abordaje cuantitativo y exploratorio, fue realizado en una universidad privada del municipio de São
Paulo, con estudiantes del área de la salud para identificar su conocimiento sobre el virus papiloma humano. Participaron de
la pesquisa veinte y siete graduandos que contestaron a un formulario con cuestiones abiertas sobre el tema. Los resultados
más significativos demostraron que la mayoría de los entrevistados tenían conocimiento sobre concepto, transmisión y
población acometida y desconocimiento sobre las diversas maneras de contagio y forma asintomática de la enfermedad.
Palabras-clave: enfermería, enfermedades sexualmente transmisibles, virus papiloma humano.
Introdução
Durante o século XX, descobertas científicas
modificaram a percepção sobre a importância das
doenças sexualmente transmissíveis (DST) pela
população. Os avanços na compreensão da biologia e
da epidemiologia das DST, associados a diagnósticos
mais precisos e a terapêutica eficaz, tiveram como
conseqüência certa euforia, provocada pela expectativa
de controle e erradicação destas doenças [1].
Isto, associado a valores morais, costumes sexuais
e meios confiáveis de anticoncepção, levou a
população sexualmente ativa a negligenciar cuidados
em relação ao sexo, como no caso do uso de
preservativos, que, embora, tenham eficácia
comprovada na profilaxia das DST, só tiveram sua
recomendação enfatizada, após o elevado número de
indivíduos contaminados com Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida - Aids [2].
Estimativas da Organização Mundial de Saúde
(OMS) calculam que dez milhões de brasileiros sejam
portadores de DST. É inegável a crescente incidência
desses agravos em nosso meio, o que torna, cada vez
mais urgente o conhecimento adequado dessa
realidade para seu controle [3].
Atualmente, a DST que apresenta grande
velocidade de disseminação é a infecção pelo Papiloma
Vírus Humano (HPV). Há séculos, a única
manifestação reconhecível da infecção das mucosas
anal e genital, por este vírus, era a verruga genital e/
ou condiloma acuminado - tumores genitais benignos
- sem grande importância epidemiológica [4]. Estas
lesões, em forma de verrugas ou papilomas da pele,
são conhecidas desde a Grécia Antiga, chamando a
atenção por serem observadas em várias regiões do
corpo, como as áreas genitais, palmar e plantar além
de serem associadas a doenças venéreas, já que eram
comuns em indivíduos que apresentavam
comportamentos homossexuais, incestuosos ou
promíscuos [4,5].
Por muitos anos, as infecções causadas pelo HPV
não foram consideradas uma enfermidade
independente, mas uma manifestação clínica da sífilis.
Esta crença, errônea, foi abandonada no final do
século XVIII, enquanto que outra era desenvolvida
em relação à gonorréia, só desprezada após o
isolamento do gonococo por Neisser em 1879,
evidenciando que, mais da metade de pacientes com
verrugas genitais, não apresentavam sinais clínicos de
gonorréia [6].
No século XX, acreditava-se que tais lesões eram
causadas por irritação ao epitélio por corrimentos,
esmegma decomposto e higiene genital precária,
incluindo também fatores como a sexualidade precoce,
promiscuidade e freqüência sexual, número de
parceiros, relações extraconjugais, uso de
contraceptivos hormonais e de barreira [7].
A etiologia da infecção por HPV (verrugas
comuns) foi demonstrada em 1907 por Ciuffo e em
1954 relatada como sendo apenas sexualmente
transmitida, baseada na evidência de que mulheres
desenvolveram as verrugas genitais, em um período
de quatro a seis semanas, após o retorno de soldados
americanos, egressos da Guerra da Coréia e Japão,
onde mantiveram relacionamentos sexuais com
parceiras diferentes [8].
O papiloma vírus são microorganismos
pequenos, com duplo filamento de DNA, não
envelopados, ou seja, não possuem o envoltório que
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lhe confere resistência fora das células, apresentando
período de incubação variando de duas semanas a oito
meses, podendo ficar latentes no aparelho genital
durante anos. Este vírus tem, como principais
características, o potencial de induzir a formação de
neoplasias e amplo espectro de hospedeiros [9,10],
sendo capazes de infectar uma infinidade de espécies,
desde os invertebrados até os vertebrados superiores
(homem), sendo, porém, altamente espéciesespecíficas. O HPV não infecta animais de laboratório,
sendo parasita intracelular obrigatório, ou seja, apenas
se multiplica em células humanas, tornando seu estudo
bastante dificultado [11].
Admite-se que a maioria das infecções por HPV
ocorra por via sexual e que as infecções não tratadas
favoreçam a perpetuação da doença nos parceiros. A
transmissão do agente depende de características do
portador como: tempo de infecção, número de
microorganismos inoculados ou já existentes no
organismo (carga viral), suscetibilidade do parceiro (a
porcentagem de contágio da mulher para o homem é
de 60% a 85%).
Embora seja expressiva a exposição por via sexual,
as infecções também podem ser adquiridas por autoinoculação de verrugas comuns da pele, durante o parto
(no contato do recém nascido com o trato genital da
mãe infectada), por toque em áreas não sexuais, através
de luvas cirúrgicas, pontas de cautério, roupas íntimas
ou sabonetes contendo DNA/HPV [4].
A incidência atual de condilomas, principalmente
em mulheres, vem aumentando consideravelmente.
Nos últimos anos observou-se verdadeira “epidemia”,
com a descoberta das lesões subclínicas do HPV, bem
como sua associação com a revolução sexual. Estudos
ingleses constatam que, o número de casos de verrugas
genitais por 100.000 habitantes, aumentou de 45,13%
em 1979, para 56,34% em 1980 [12].
A diferenciação de HPV é feita através da
comparação da seqüência de nucleotídeos do seu
DNA. Desta forma, um novo tipo de HPV é
reconhecido quando esta seqüência apresenta
diferenças maiores que 10%, em relação aos HPVs já
existentes. Em 1994, Villers ressaltava que cerca de 80
tipos diferentes do vírus do papiloma humano já
haviam sido identificados [5], sendo divididos de
acordo com o seu potencial neoplásico em subgrupos
de alto, médio e baixo risco.
O condiloma acuminado caracteriza-se por
pápulas, nódulos e vegetações que ocorrem na região
anogenital (pênis, vulva, vagina, colo uterino, períneo
e região anal) podendo progredir para massas
pedunculares, semelhantes a “couve-flor”.
As formas da infecção pelo HPV são: clínica que
é a forma evidenciada ao exame físico, representando
apenas 2 a 3% dos casos, sub-clínica: diagnosticado
através de colposcopia ou microscopia (citopatológico
ou histológico) e representa 60% do HPV anogenital
externo e 95% do HPV cervical e latente: apenas
diagnosticado através das técnicas de hibridização do
DNA viral em indivíduos com clínica e citohistopatologia normal, sendo esta forma não
transmissível [7,13].
Nenhum tratamento erradica totalmente o HPV.
Os objetivos do tratamento são a remoção da lesão,
melhora clínica e prevenção da transmissão, pois não
existe tratamento ideal [13].
Provavelmente os únicos métodos profiláticos
da infecção causada por HPV sejam a abstinência
sexual e a monogamia mútua, atitudes muito
pessoais, sobre as quais seria desaconselhável,
imprudente e autoritária uma intervenção. Todavia,
algumas decisões deveriam ser tomadas para diminuir
o risco de infecção como limitar o número de
parceiros, evitar o coito durante o tratamento e o
seguimento da doença e uso persistentemente do
preservativo [14].
É preocupante o fato do HPV ser uma DST
crescente na população jovem, despertando-nos assim
o interesse em querer conhecer como esta questão
era percebida no ambiente universitário, em que a
possibilidade e acesso à informação deveriam conduzir
o comportamento daquela população.
Objetivo
Este trabalho teve por objetivo:
• Identificar o nível de conhecimento sobre o
HPV entre os universitários da área de saúde.
Material e métodos
O presente estudo utilizou os métodos
quantitativo, descritivo e exploratório indicado para
os estudos onde se pretende quantificar e descrever
os achados, sem manipulá-los [15]. Optamos por este
método por ser o mais adequado para alcançarmos
nosso objetivo, já que investigaremos o nível de
conhecimento sobre o assunto.
Local de estudo
Esta pesquisa foi realizada em uma
universidade privada do Município de São Paulo,
escolhida pela facilidade em acessar à população,
já que concentra diversos cursos na área de ciências
da saúde.
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População/Amostra
Para participar deste estudo, escolhemos
formandos dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia,
Odontologia, Educação Física, com cerca de 220
alunos matriculados.
Optamos por incluir na amostra deste estudo,
universitários desta área, pois acreditamos que aqueles
estudantes teriam, a priori, conhecimentos sobre o tema
em estudo, possibilitando assim, a averiguação do nível
de conhecimento.
formandos da área de saúde, torna-se preocupante o
fato de quase metade desconhecer ao vírus, já que
inferimos ser maior o acesso à informação neste grupo.
O HPV vem sendo diagnosticado, com maior
freqüência na população, acometendo uma em cada
quatro mulheres [13], sendo estimado que quatro mil
brasileiros virão a óbito, pela doença.
Gráfico 1 - Distribuição da porcentagem de estudantes
da área da saúde, segundo seu conhecimento sobre o
HPV. São Paulo, 2001.
Coleta de dados
A coleta de dados deu-se após a elaboração do
projeto de pesquisa, encaminhado à direção da
instituição para aprovação e autorização. Elaboramos
um formulário com quatro questões abertas sobre o
tema e termo de consentimento informado para
anuência dos participantes. Foi feito pré-teste com
alunos de Fisioterapia, num total de quatro. O
instrumento e o termo não foram re-elaborados.
O objetivo do estudo foi esclarecido em sala de
aula para os quatro cursos, sendo entregues 100
formulários para os alunos que manifestaram interesse
em participar. A coleta deu-se no mês de setembro de
2001. Estabelecemos que a devolução do instrumento
deveria ser no mesmo dia. Foram respondidos e
devolvidos 50 formulários.
A incidência vem aumentando significativamente
no mundo ocidental. A infecção condilomatosa do colo
uterino representa, atualmente, a causa mais freqüente
de alterações citopatológicas encontradas no exame
preventivo [12]. O desconhecimento desta forma de
DST, por aqueles estudantes, poderia interferir na
prevenção daquela infecção.
Tabela I - Distribuição das respostas dos univer-sitários,
segundo o conceito sobre o HPV. São Paulo, 2001.
Tratamento dos dados
Conceitos relatados
Os dados obtidos foram apresentados sob a
forma de gráficos e tabelas, com números absolutos e
relativos.
Vírus sexualmente transmissível podendo
causar câncer de colo de útero.
Papiloma Vírus Humano
Uma DST por vírus que causa alteração
celular, ficando incubado por anos.
Não sabem definir ,não tem certeza
Vírus que provoca lesões graves no colo uterino
podendo levar ao câncer cervical uterino.
Resultados e discussão
Após análise dos dados coletados, obtivemos os
resultados que apresentamos a seguir. Dos cinqüenta
formulários respondidos, vinte e sete referiram que
tinham conhecimento sobre o Papiloma Vírus
Humano (HPV) tendo portanto, condições de
responder às demais questões, tornando-se a amostra
de nossa pesquisa. Os vinte e três sujeitos excluídos
deste estudo, por desconhecerem o vírus HPV
também estão demonstrados no gráfico 1.
Observamos que 54% (27) dos indivíduos que
responderam a questão: Você tem conhecimento sobre
o HPV (papiloma vírus humano), referiram conhecer o
tema, enquanto que 46% (23) afirmaram desconhecê-lo.
Consideramos este dado alarmante, pois nesta
população em particular, composta por jovens
Um vírus que ainda está sendo estudado
que pode causar câncer de útero.
Causador de câncer ginecológico.
Vírus que pode ser confundido com herpes
genital e se não tratar torna-se precursor
do câncer uterino.
TOTAL
Freq.
(%)
7 26
6 22
27
27
14
14
14
14
27 100
Com base nos dados da tabela I, podemos
observar que a maioria dos indivíduos respondeu a
questão sobre o conceito de HPV. Para sete
participantes (26%) desta pesquisa, o HPV é um vírus
transmitido por via sexual, podendo causar câncer
uterino, enquanto que para seis indivíduos (22%) HPV
é uma DST; um mesmo número de pessoas
%
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Enfermagem Brasil
Janeiro / Fevereiro 2004;3(1)
conceituou apenas a sigla como Papiloma Vírus
Humano, dois (7%) referiram tratar-se de uma DST
que causa alterações celulares permanecendo incubado
por anos, e outros dois (7%) não souberam defini-lo.
Outras respostas como: lesões graves causados no colo
uterino podendo ocasionar câncer, vírus que ainda está
em estudo, doença que pode ser confundido com
herpes genital e transformar-se em câncer uterino,
obtiveram uma resposta (4%).
O Papiloma Vírus Humano, também conhecido
como condiloma acuminado ou mais popularmente
como crista de galo, cavalo de crista ou figueira, é uma
doença infecciosa, de transmissão mais freqüente pelo
ato sexual. Pode ser disseminado por qualquer tipo de
contato sexual inclusive sem penetração [16].
Os tipos classificados como 16 e 18 de HPVs,
em particular, estão correlacionados com o câncer
genital. O câncer de colo uterino, em 95% dos casos,
é causado por este vírus [17].
Percebemos o reconhecimento destes fatores por
parte dos entrevistados, que em sua maioria conhece
o conceito do HPV.
Gráfico 2 - Distribuição das respostas, segundo
população acometida pelo HPV, na opinião de
formandos na área da saúde. São Paulo, 2001.
Observa-se no gráfico 2, que dezenove (70%)
entrevistados reconhecem a contaminação do
Papiloma Vírus Humano em ambos os sexos, sete
(26%) apenas em mulheres e um (4%) acredita que o
HPV atinge somente aos homens.
No Brasil, não há dados disponíveis ou
suficientemente fidedignos sobre a população mais
atingida. Por outro lado, dados estatísticos americanos
e ingleses mostram claramente que as verrugas genitais
são mais freqüentes entre os indivíduos de raça branca
[12]. Devemos ressaltar que a maioria da população
destes países é constituída por brancos e que os países
de maioria negra ou mulata, podem ter resultados
diferentes, todavia a prevalência da doença
independentemente da raça, atinge a ambos os sexos,
destaque feito pelos entrevistados, embora 30% destes
acreditem que a infecção acometa a um dos sexos.
Verificamos no gráfico 3, os resultados obtidos
a partir do modo de transmissão do HPV na opinião
dos universitários. Para vinte e um (78%) dos
entrevistados esta se dá pelo ato sexual, cinco (18%)
dos indivíduos especificaram que o contágio dá-se
através de relações sexuais sem o uso de preservativos
e um (4%) pelo ato sexual e ambientes úmidos.
A transmissão do vírus HPV ocorre normalmente
como resultado de contato direto com a pele ou
membranas mucosas infectadas, de um parceiro a outro,
existindo ou não verrugas visíveis. O contágio também
possivelmente ocorra através de objetos contaminados
e ambientes úmidos [5,10].
Gráfico 3 - Distribuição das respostas dos entrevistados, segundo formas de transmissão do HPV. São
Paulo, 2001.
A transmissão por via sexual foi relatada por
todos os integrantes da amostra em estudo,
destacando-se o fato que 18% ressaltam a transmissão
pelo não uso de preservativos e apenas um acadêmico
identificou a transmissão do HPV por via sexual ou
ambientes úmidos.
É importante lembrar que, mesmo fazendo o
uso de preservativos de barreira, o vírus pode
propagar-se por outros meios, o que é preocupante,
pois 78% (21) dos universitários citaram apenas a
transmissão sexual, quando sabemos que até mesmo
um simples exame de rotina pode propagar a
contaminação pelo vírus devido material não
esterilizado e contaminado pelo DNA/HPV.
Tabela II - Freqüência das respostas dos estudantes,
segundo os sinais e sintomas da infecção por HPV.
São Paulo, 2001.
Sinais e sintomas
Corrimento vaginal
Prurido
Lesões no colo do útero
Lesões cutâneas
Assintomática no homem
Verrugas/feridas na vulva
Não sabem
Dispaneuria
Gânglios
Ferida no ânus/períneo
Assintomática na mulher
Dor ao urinar
Lesões na boca
TOTAL
&
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Freq.
9
8
8
6
5
5
4
4
2
2
2
1
1
57
(%)
16
14
14
11
9
9
8
8
3
3
3
1
1
100
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Devido à característica da pergunta, obtivemos
mais de uma resposta por entrevistado, modificando,
assim, o N da amostra.
De acordo com a tabela II, a maioria dos
entrevistados identificou os possíveis sinais e sintomas
que acompanham a infecção, embora muitos casos
não apresentem sinais clínicos.
A infecção por HPV desenvolve-se de modo
silencioso. Estudos do National Institute of Allergy and
Infected Diseases (NIAD), nos Estados Unidos,
demonstrou que cerca da metade das mulheres não
apresentam nenhum sintoma e por isso não procuram
tratamento, continuando a disseminar o vírus cuja
forma visível são verrugas que aparecem nas regiões
genitais de homens e mulheres [18].
Parte da amostra tem conhecimento que a
doença, na maioria das vezes, é assintomática na
mulher, onde obtivemos duas (3%) citações e, no
homem com 5 (9%) referências. A grande maioria,
porém, desconhece tal fato, essencial para
prevenção e percepção precoce da doença, o que
levaria à remoção das lesões, evitando sua
disseminação.
Sabe-se que os tipos mais suaves do vírus
desenvolvem sinais e sintomas; aqueles que atuam de
maneira silenciosa são os que podem conduzir a
problemas mais sérios. No caso do câncer já avançado,
podem se observar sangramentos e dor [16].
As primeiras lesões identificáveis são
geralmente minúsculas pápulas ou áreas
hipocrômicas. O diagnóstico quando não for
clinicamente óbvio, pode ser confirmado por biópsia.
As verrugas são essencialmente assintomáticas, mas
a aparência, localização, tamanho e a presença de
condições associadas podem provocar queixa ou
suspeita [19].
Sangramentos nas verrugas podem ocorrer
quando localizados na uretra. Infecção secundária pode
provocar forte odor, irritação e desconforto local
moderado. Em ambos os sexos, as verrugas são
encontradas mais comumente em áreas sujeitas a
traumas durante a atividade sexual [19].
É interessante notarmos que 8% (4) da amostra
estudada, não souberam referir quaisquer sinais e/ou
sintomas da doença.
Conclusões
Após análise dos dados coletados, em que quase
a metade da população que concordou em participar
do estudo foi excluída por desconhecimento sobre o
HPV, pudemos concluir que a grande maioria dos
entrevistados tem consciência de que a doença pode
acometer tanto ao homem como a mulher, mas
acreditam que o vírus seja transmitido apenas pelo
ato sexual, desconsiderando, assim, outras formas de
contágio. Desta maneira acreditam que a prevenção
só seja realizada com o uso de preservativos, o que
não é totalmente verídico.
Para o enfermeiro, a orientação da população,
como forma de prevenir a contaminação, deveria
ser o foco de uma ação educativa onde se
destacaria a importância do exame ginecológico
de rotina e tratamento dos casos levantados, bem
como divulgação sobre as formas assintomáticas
da doença.
Para os indivíduos afetados, o papel do
enfermeiro visaria orientação sobre sua conduta
durante e após o tratamento, fornecendo informações
sobre as diversas formas de contágio e as possíveis
conseqüências que a doença pode trazer.
Ficou claro, neste estudo, que o fato de pertencer
a um grupo privilegiado em informação e cuidados à
saúde, não determinou conhecimento suficiente sobre
o tema, de maneira a protegê-los da contaminação e
disseminação do HPV.
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Artigo original
Lavagem das mãos como um cuidado
essencial no ambiente hospitalar:
de Florence Nightingale e Ignaz Semmelweis
ao milênio atual (1847 - 2003)
Lúcia Catarina Gonçalves da Costa e Silva Canela*, Maria José Coelho, D. Sc. **
*Mestranda da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro, ** Professora DEMC/Escola de e Enfermagem
Anna Nery / Universidade Federal do Rio de JaneiroCID e Saúde da criança e adolescente, Faculdade Santa Marcelina
Resumo
O objetivo deste estudo é refletir quanto ao ato de lavar as mãos enquanto cuidado histórico, pelos profissionais de saúde no
ambiente hospitalar. Os dados foram coletados através dos resultados de exames microbiológicos entre 30 profissionais de
saúde de um hospital da rede pública estadual no Rio de Janeiro, divididos em três grupos: Grupo A – profissionais de saúde
que lavaram as mãos pré-campanha, grupo B – profissionais de saúde que realizaram a lavagem das mãos durante a campanha,
e grupo C - profissionais de saúde que realizaram a lavagem das mãos após a campanha. Os resultados mostraram que em
100% das culturas foram positivas no grupo A, 10% de culturas positivas no grupo B e 30% de culturas positivas no grupo
C, acrescentando a estes dados o aumento do consumo de anti-séptico padronizado e de sabonete, se comparado com o
período pré–campanha. A conclusão indica a necessidade de estimular os profissionais de saúde, através de implantar estratégia
para campanhas educativas e hábitos inerentes ao cuidado do cliente hospitalizado que por vezes podem se apresentar
adormecidos devido às atividades cotidianas e repetitivas.
Palavras-chave: profissionais de saúde, lavagem das mãos, ambiente hospitalar.
Artigo recebido em 17 de dezembro de 2003; aceito em 5 janeiro de 2004.
Endereço para correspondência: Lúcia Catarina Gonçalves da Costa e Silva Canela,
Rua Rubens Falcão 581, Itaipu 24350-635 Niterói RJ
Tel.: (21) 2709-3867, E-mail: [email protected]
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Abstract
Hands washing as a essential care at hospital environment: from Florence
Nightingale and Ignaz Semmelweis to this millennium (1847-2003)
The aim of this study is to reflect about the hands washing action as a historical care by the people who work in the hospital
environment. Data were collected from results of microbiological exams among 30 health professionals that work in a public
hospital in Rio de Janeiro, divided in three different groups: Group A – health professionals who washed the hands precampaign; group B- health professionals who washed the hands during the campaign and group C- health professionals who
washed the hands after the campaign. The results showed that in 100% of the culture was positive in group A, 10% of the
culture was positive in group B and 30% of the culture was positive in group C adding to this data the increase in the use of
patterned antiseptic and bars of soap in comparison with the pre-campaign period. The conclusion indicates a necessity of
creating ways to stimulate health professionals through educational campaigns and inherent habits that refer to the care of
hospitalized clients that sometimes can be asleep, because of the repeated activities.
Key-words: health professionals, washing hands, hospital environment.
Resumen
El lavado de las manos como un cuidado esencial en el ambiente hospitalario: desde
Florence Nightingale e Ignaz Semmelweis hasta el milenio actual (1849-2003)
El objetivo de este estudio es reflexionar sobre los cuidados con relación al acto de lavar las manos por profesionales de la salud
en el ambiente hospitalario. Los datos fueron recolectados a través de los resultados de exámenes microbiológicos entre 30
profesionales de la salud de un hospital de la red pública estadual en Rio de Janeiro, divididos en tres grupos: Grupo A –
profesionales de la salud que lavaran sus manos antes de la campaña; grupo B - profesionales de la salud que realizaron el lavado
de sus manos durante la campaña y grupo C - profesionales de la salud que realizaron el lavado de sus manos después de la
campaña. Los resultados mostraron que el 100% de las culturas fueron positivas en el grupo A; el 10% de culturas positivas en
el grupo B, y el 30% de las culturas positivas en el grupo C, agregando a estos datos el aumento del consumo de anti-séptico
estandarizado y de jabón, comparado con el periodo pre-campaña. La conclusión indica la necesidad de estimular los profesionales
de la salud, a través de la implantación de estrategia para las campañas educativas y hábitos inherentes al cuidado del cliente
hospitalizado que a veces puede presentarse adormecido debido a las actividades cotidianas y a las que se repiten.
Palabras claves: profesionales de la salud, lavado de las manos, ambiente hospitalario.
Introdução
Os microrganismos encontrados na pele e nas
mucosas humanas são classificados em flora residente,
transitória e temporariamente residente e podem
causar infecção hospitalar nos hospedeiros suscetíveis.
A diminuição do contingente microbiana da
pele e mucosa pode se processar em diferentes níveis
dependendo dos processos empregados: limpeza e
anti-sepsia. O procedimento de anti-sepsia constituise de medidas propostas para inibir o crescimento ou
destruir os microrganismos existentes nas camadas
superficiais (microbiota transitória) ou nas camadas
profundas (microbiota residente) da pele ou mucosa,
através da aplicação de um germicida classificado
como anti-séptico. Os anti-sépticos são substâncias
providas de ação letal ou inibitória da reprodução
microbiana, de baixa causticidade e hipoalergênicas,
destinadas a aplicações em pele e mucosas.
O procedimento de limpeza usualmente é
suficiente para remover a microbiota transitória
humana, e a técnica recomendada é a lavagem simples
com água, sabão ou detergentes sintéticos, sob
fricção, para remover sujidade, células epiteliais
mortas e resíduos do metabolismo que constituem
o substrato para os microrganismos. Este
procedimento, se adotado para as mãos pelos
profissionais da saúde, confere um padrão de
segurança para a maioria dos procedimentos que não
requerem técnica asséptica.
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Diante disso, a lavagem de mãos deve ser um
hábito cotidiano para os profissionais de saúde,
todavia, a sua adesão e continuidade, ainda são um
grande desafio para os profissionais do Controle
de Infecção Hospitalar.
Já em 1847, Ignaz Semmelweis, um médico
húngaro, demonstrou a importância da lavagem das
mãos como ato de profilaxia da infecção hospitalar,
[1] quando adotando medidas de limpeza e antisepsia, após estudos e dados comparativos para
minimizar o índice de casos de febre puerperal no
século XIX, deduziu que a febre puerperal era
causada por secreções de organismos vivos. Sendo
assim, concluiu que era necessário limpar as mãos
com água clorada, não somente após manipular
cadáveres, mas também depois de exames físicos
nos quais as mãos poderiam se contaminar com
secreções. Frente a estes dados, ele afixou na porta
da unidade o seguinte cartaz: “A partir de hoje 15 de
maio de 1847 todo estudante ou médico é obrigado, antes de
entrar nas salas da clínica obstétrica, a lavar as mãos com
uma solução de ácido clórico, na bacia colocada na entrada.
Esta disposição vigorará para todos, sem exceção”. Com
essa conduta e princípio, a mortalidade que chegou
aos 18,27% em abril daquele ano, caiu a partir de
junho para uma média de 3,04% [2].
Neste mesmo contexto, Florence Nightingale,
afirmava que “a primeira condição em um hospital
é não prejudicar o doente”, e o resultado de seu
trabalho sobre a queda da mortalidade dos doentes
chegou a superar os de Semmelweis, pois não se
atinha apenas às técnicas assépticas, e enfatizava as
medidas higiênicas apesar de à época, não se
conhecer com profundidade a potencialidade dos
microrganismos. Suas ações visavam os seres
humanos sadios ou doentes, incluindo cuidar,
educar e pesquisar [2].
Pereira et al. [3], destaca num estudo realizado
sobre aos princípios que regem a prevenção e
controle de infecção e planejamento da assistência
de enfermagem e dinâmica do trabalho em Unidade
de Terapia Intensiva, que “a lavagem das mãos não
é realizada na freqüência e técnica recomendadas e
continua merecendo um profundo estudo com
vistas ao estabelecimento de estratégias que
convençam a equipe de saúde sobre sua importância
e sua conseqüente adoção na prática”
Em pesquisa realizada no Hospital de Clínicas
de Porto Alegre, pelo Serviço de Controle de
Infecção em 1990, para avaliar a freqüência e
qualidade da lavagem das mãos por profissionais
médicos e de enfer magem da unidade de
Neonatologia, demonstrou que o número de vezes
que os profissionais de enfermagem tocavam nos
recém-nascidos era 6 vezes maior do que a equipe
médica. Dentre os profissionais observados, a
equipe médica lavava mais as mãos do que a equipe
de enfermagem. A autora atribui a este resultado,
talvez pela menor freqüência da necessidade do ato
pelos enfer meiros, pois em Neonatologia, a
totalidade dos pacientes tem dependência total e a
enfermagem é quem realiza todos os cuidados.
A flora transitória é oriunda do meio exterior
ou da microbiota de outros tecidos do corpo
humano. Esta apenas adsorvida, contaminando-a,
sendo facilmente removida com água e sabão ou
simplesmente morrendo após cerca de uma hora
por não encontrar ambiente favorável à sua
proliferação. As mãos da equipe e os artigos
hospitalares assumem grande destaque na veiculação de infecção nosocomial. Unhas compridas,
pêlos e anéis facilitam o acúmulo de sujidade,
favorecendo esta transmissão. Atualmente, podese dizer que a lavagem de mãos é uma conduta de
baixo custo e de grande valor para a nossa realidade
constituindo uma medida simples e importante na
prevenção da infecção em geral e em especial a
hospitalar, devendo ser uma prática contínua para
os profissionais de saúde. Contudo, a sua adesão
como hábito cotidiano significa ainda um desafio
para o Controle de Infecção Hospitalar.
Como enfermeiras, e membros integrantes da
Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH) de um hospital especializado da rede
pública estadual no Estado do Rio de Janeiro,
detectamos através de observação direta, a falta de
aderência na rotina de higiene das mãos, pela equipe
multiprofissional, em especial de enfermagem, bem
como a inutilização da técnica padronizada pela
Comissão Nacional de Controle de Infecção
Hospitalar que requer a seguinte rotina: abrir a
torneira, molhar as mãos sem encostar-se à pia,
colocar em torno de 3 a 5 ml de sabão líquido nas
mãos e ensaboá-las durante um período de mais
ou menos 10 a 25 segundos, friccionando-as em
todas as suas faces, nos espaços interdigitais,
articulações, unhas, nas extremidades dos dedos e
punhos, seguido de enxágüe das mãos, em água
corrente, retirando totalmente a espuma e os
resíduos de sabão, enxugando-as a seguir com
papel–toalha descartável, e com o mesmo, fechar a
torneira, desprezando-o no lixo. Com a finalidade
de incentivar o hábito adormecido na prática da
lavagem de mãos, e despertar o interesse da equipe
de enfermagem entre os profissionais de saúde na
adesão e emprego da técnica padronizada como
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descrita anteriormente, idealizamos uma campanha
pré e pós-lavagem de mãos sendo acompanhada de
frases de efeito, palestras, cartazes e realização de
exames de cultura das mãos dos profissionais.
Os participantes foram informados sobre o
objetivos e a importância da investigação e lhes foi
garantida a participação voluntária e o sigilo das
informações conforme preconiza a Resolução 196/
96 CNS.
Material e métodos
Coleta e análise dos dados
Trata-se de um estudo descritivo, que têm
como objetivo informar sobre a distribuição de
um evento na população, em termos quantitativos
[3]. A investigação abrangeu uma amostra de 30
profissionais de saúde incluindo membros da
equipe de enfermagem, com enfermeiros, técnicos
e auxiliares de enfermagem, médicos, fisioterapeutas dos setores de internação de um hospital
especializado da rede pública estadual no Rio de
Janeiro, os quais realizamos a cultura através do
swab estéril das mãos, no momento em que se
dirigiam para a realização dos procedimentos ao
cliente e após terem executado a lavagem de mãos
ou não. A cultura com swab incluiu as seguintes
regiões corporais: a área palmar, tendo-se cuidado
de se amostrar a mão direita dos destros e a
esquerda dos canhotos, o espaço interdigital,
região ungueal, e punhos que se dividiram em três
grupos a seguir: Grupo A - profissionais que
lavaram as mãos pré - campanha; Grupo B profissionais que lavaram as mãos durante a
campanha; Grupo C - profissionais que lavaram
as mãos após a campanha.
Para avaliar a adesão à campanha e coletar
dados fidedignos ao rig or científico, foram
comparados o consumo de sabão e anti-séptico pré
e pós-campanha de lavagem das mãos.
A descrição da campanha pode ser visualizada
como em uma estrada foram colocados cartazes
com versos atentando para a lavagem das mãos,
como por exemplo: “Lave as mãos, fique esperto,
o risco de infecção está por perto”, “Infecção não
é brinquedo não, por isso lave as suas mãos” entre
outras frases distribuídas pelas enfermarias entre
cada leito, nos postos de enfermagem e próximos
às pias. Além das frases, próximas as pias houve a
sinalização como placas semelhantes à de
sinalização de trânsito e semáforos tal como: pare,
pia a 5 metros, lave as mãos.
Ocorreram palestras e cartazes com informações
sobre a lavagem de mãos, forma correta e materiais
adequados, enfocando a importância desse ato.
Os dados foram analisados através de cultura
microbiana e freqüência simples e percentual.
Resultados
Da presente pesquisa foram definidas a priori
as categorias de análise microbiológica em:
A - amostras com lavagem das mãos pré-campanha,
B - amostras com lavagem das mãos durante a campanha
e C - amostras com lavagem das mãos após a campanha.
Diante do processo realizado, obtivemos os
seguintes resultados:
Tabela I – Prevalência de microrganismos
Grupo A: 10 amostras
Grupo B - 10 amostras
Grupo C - 10 amostras
Cultura negativa: 0%
Cultura negativa: 90%
Cultura negativa: 70%
Cultura positiva: 100%
Cultura positiva: 10%
Cultura positiva: 30%
Prevalência microbiológica:
Prevalência microbiológica:
Prevalência microbiológica:
Enterococcus faecalis -
Staphylococcus epidermidis,
Staphylococcus sp, 10%
10% (região ungueal)
10% (palma da mão).
(região interdigital).
Staphylococcus sp - 60% (palma da mão)
Staphylococcus epidermidis -10%
Streptococcus sagüis - 10% (interdigitais)
(palma da mão)
Escherichia coli - 10% (palma da mão)
Enterococcus faecalis -10%
Cândida albicans, 10% (região ungueal)
(região ungueal)
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A cultura negativa para as amostras foi de zero,
70 e 90 por cento, demonstrando que ocorreu um
acréscimo de culturas negativas conforme se
intensificavam as abordagens sobre o assunto e fixação
do mesmo. E a positiva teve os intervalos de 100, 10 e
30 por cento, indicando que ocorreu um decréscimo
de microrganismos encontrados nas culturas durante
e após o período da campanha, inferindo uma maior
adesão ao hábito de lavagem de mãos. A investigação
realizada no grupo A, apresentou 100% das culturas
positivas, grupo que lavaram as mãos pré-campanha.
Este resultado está vinculado realização da lavagem
das mãos sem a técnica padronizada, e a não
observância tanto das indicações das lavagens das
mãos quanto da freqüência exigida deste ato para o
ambiente hospitalar. Vale ressaltar a presença de
microrganismos da microbiota gastrointestinal como
o Enterococcus faecalis e da microbiota do trato
geniturinário como Cândida albicans e E. coli . O
Enterococos faecalis habita o trato hepatobiliar,
geniturinário, gastrointestinal e coloniza eventualmente
a pele na região do períneo. Alguns desses
microrganismos estão colonizando a região ungueal,
região em que na lavagem simples das mãos, se o
profissional não estiver com as unhas aparadas pode
facilitar o acúmulo de sujidade e por conseqüência, a
colonização destes microrganismos.
Candida albicans coloniza o trato intestinal em 15%
a 30% das pessoas. Esta colonização é o principal fator
predisponente para a candidíase sistêmica em pacientes
oncológicos, imunossuprimidos e recém-nascidos de
baixo peso. Quanto maior esta colonização, maior o
riso de o paciente evoluir para doença sistêmica [2].
A presença de 10% de cultura positiva no
grupo B, profissionais que procederam à lavagem das
mãos durante a campanha, está relacionado com a
prevalência microbiológica de microrganismos da
microbiota da pele. Os mais freqüentes germes da pele
são o estafilococos coagulase-negativos representados
principalmente pelo S. epidermidis, mas podendo
também encontrados S. hominis, S. haemolyticus, S. capitis,
entre outros. Estes microrganismos apresentam baixa
virulência, mas colonizam com facilidade próteses e
cateteres e eventualmente podem causar endocardite
infecciosa. Aproximadamente 20% das pessoas são
portadoras cutâneas de S. aureus, mas este número pode
ser superior nos profissionais de saúde. Estes agentes
podem causar patologias locais como impetigo,
foliculite e furunculose [2].
Em relação aos 90% de culturas negativas pode
ser atribuído ao momento abordagem da lavagem das
mãos nos setores com informações através de palestras
e cartazes somando-se as frases de efeito nos setores
de atuação para fixação do assunto e concomitante
adesão à prática. No que se refere ao grupo C,
profissionais que lavaram as mãos pós-campanha
observa-se 70% de cultura negativa, ocorrendo um
aumento na aderência do ato de lavar as mãos, se
comparado ao índice do grupo A, através dos 30%
de cultura positiva vejo que a informação quanto à
técnica, freqüência e indicações, a retirada de adereços
no local de trabalho deve ser contínua objetivando a
aderência da prática correta pelos profissionais.
Conclusões
A total prevalência de microrganismos nas mãos
do grupo A evidenciou a importância da prática da
lavagem das mãos no processo de transmissão de
microrganismos na cadeia epidemiológica. Uma
análise dos dados nos leva a considerar que a maioria
dos microrganismos após a lavagem das mãos simples
permanece na região ungueal e espaço interdigital na
região ungueal e espaço interdigital.
Essas regiões são alcançadas pelo processo de
lavagem das mãos na técnica padronizada, ou seja,
diminuindo a prevalência de microorganismos nestas
regiões. As palestras e cartazes, com frases de efeito,
demonstraram eficiência quando observamos a baixa
ocorrência de culturas negativas no grupo B que
representa o âmago da campanha, comprovando a
adesão da prática a partir da fixação do procedimento
incorporado ao processo de trabalho, com o apoio
de campanhas educativas. A diminuição substancial
das culturas negativas após a campanha e sem os
cartazes nos resultados do grupo C, comparando ao
grupo A (pré-campanha), onde não se obteve culturas
negativas, nos reporta a refletir sobre a necessidade
de incentivo a um hábito muitas vezes adormecido
entre os profissionais da área da saúde.
A literatura [1,2] tem apontado a necessidade de
lavagem das mãos sempre que as mesmas estiverem
visivelmente sujas, antes do contato com os clientes,
particularmente com aqueles imunocomprometidos,
antes e após tocar em feridas, após contaminarem-se
com quaisquer secreções biológicas, de ter contato
com fontes externas de contaminação, como lixo e
roupas sujas, depois de cuidados com o cliente
infectado ou colonizado com microrganismos
epidemiologicamente relevantes, entre os contatos de
um cliente para outro, principalmente em unidades
de alto risco e após a remoção de luvas.
O ato de lavagem das mãos, exercido pelos
profissionais de saúde da instituição, após a campanha,
passou a ser encarado como um meio de reduzir a
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transmissão de microrganismos pelas mãos,
considerando a observação do aumento da freqüência
do ato referido, antes e após o contato direto com o
cliente, bem como, antes e após cada procedimentos
com o mesmo. Soma-se a esse dado, o fato o aumento
do consumo de sabão líquido de 50 litros por semana
antes da campanha, para um consumo 80 litros por
semana após a campanha, configurando então, uma
mudança de hábito, que antes não estava incorporado
adequadamente no processo de trabalho, quando não
se observava a lavagem das mãos pelos profissionais,
no momento intermediário de procedimentos em
clientes diferentes. Acrescido do ato de lavagem das
mãos realizado em um tempo de aproximadamente
5 segundos.
A descrição deste panorama nos remete a
conclusão, de que a lavagem das mãos continua
merecendo um estudo com vistas ao estabelecimento
de estratégias, que convençam a equipe de saúde sobre
sua importância e sua conseqüente adesão prática, pois
os resultados apresentados configuram uma indicação
tal qual uma rota de trânsito: sinalizando a cada passo
a presença de microrganismo como um inimigo
(in)visível.
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Artigo original
Resgatando e inovando visões de uma
técnica de enfermagem: a calorimetria
e seus efeitos no banho no leito
Dalmo Valério Machado de Lima*, Maria Aparecida de Luca Nascimento**
**Mestre, Professor do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIG, Coordenador da disciplina Assistência de Enfermagem em Máxima
Complexidade, **Doutora, Professora adjunto do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da EEAP da UNIRIO, Chefe de Divisão
de Departamento de Pós-Graduação da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da UNIRIO.
Resumo
Estudo experimental que utiliza a abordagem quantitativa para atingir o seu principal objetivo, qual seja o de demonstrar a
verificação da temperatura da água, quando exposta ao ambiente de uma UTI, nas mesmas condições de acondicionamento
e de limite de tempo em que é utilizada para a realização da técnica do banho no leito. Os resultados foram obtidos a partir
da verificação sistemática da oscilação de três termômetros com características diferenciadas, imersos no referido líquido,
quando ficou demonstrado que sua temperatura decaiu de 370C para níveis inferiores a 340C. Considerando os dados obtidos
e correlacionando-os às temperaturas limítrofes como sendo as responsáveis pelo desencadeamento de tremores em seres
humanos, os autores enfatizam a importância desse sinal, no que tange ao aumento de até 500% do consumo de oxigênio,
fator esse que pode desajustar hemodinamicamente o paciente crítico. Conclui-se que o contato da água diretamente aplicado
no corpo do cliente, durante a realização da técnica do banho no leito é fonte de desconforto, sendo necessária uma atitude
reflexiva da equipe de enfermagem, pautada na ciência, para modificar as inovações implantadas para sua realização.
Palavras-chave: enfermagem, banho, oxigênio.
Artigo recebido em 16 de dezembro de 2003; aceito em 5 de janeiro de 2004.
Endereço para correspondência: Dalmo Valério Machado de Lima,
Rua Comandante Rubens Silva, 700/108 Bl.II, Freguesia 22750-053
Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2436-8294/8893-4789 fax (21)2734-6415
E-mail: [email protected]
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Abstract
Rescuing and innovating visions about a nursing technique:
the calorimetry and its effects on the bath in bed
Experimental study using a quantitative approach to reach its main object, which is to show the water temperature´s variation
when exposed to the ICU environment, in the same storage condition and time limit that it is used for the bed bath technique.
The results were obtained from a systematic evaluation of the three thermometer oscillation, with different characteristics,
immersed into the respective liquid, when it was shown that the temperature was reduced from 370C to less than 340C.
Regarding data obtained and comparing with bordering temperatures, as being the responsible by initial shakes in the human
being, these persons confirm the great importance of this signal in special the increase until 500%, for more breathing
(oxygen consumption) detail that interfere hemodinamically the critical patient. Therefore, the straight contact of the water
with the patient´s body while a bath is being done in the bed is not confortable, requiring from nurses´s team, a better
thinking, under science principles, to change the innovations implemented to its realization.
Key-words: nurse team, bath, oxygen
Resumen
Rescatando e innovando las visiones de una técnica de enfermería:
la calorimetría y los efectos sobre el baño en la cama
Estudio experimental que usa el abordaje cuantitativo para alcanzar su principal objetivo; demostrar la verificación de la
temperatura del agua, cuando expuesta al ambiente de una Unidad de Terapia Intensiva (UTI), en las mismas condiciones de
acondicionamiento y de limite de tiempo en que es usada para la realización de la técnica del baño en la cama. Los resultados
fueron alcanzados a partir de la verificación de la oscilación de tres termómetros con características diferentes, sumergidos en
el referido líquido, cuando quedó comprobado que su temperatura decayó de 37°C para niveles inferiores de 34°C. Considerando
los datos obtenidos y relacionándolos a las temperaturas limítrofes, como siendo las responsables por el desencadenamiento
de tremores en seres humanos, los autores enfatizan la importancia de esta señal, en lo que dice respecto al aumento de hasta
500% del consumo de oxígeno, factor ese que puede desajustar hemodinamicamente el paciente crítico. Se concluye que el
contacto del agua directamente aplicado en el cuerpo del cliente durante la realización de la técnica de baño en la cama es
fuente de incomodidad, siendo necesario una actitud reflexiva por el equipo de enfermería, basado en la ciencia, para modificar
las innovaciones implementadas para su realización.
Palabras-clave: enfermería, baño, oxígeno.
Introdução
Este estudo surgiu da necessidade de demonstrar
que a temperatura da água utilizada durante a técnica
do banho no leito de pacientes internados em unidade
de terapia intensiva e submetidos à cateterização de
artéria pulmonar é um dos fatores a ser observado
pela equipe de enfermagem. Esta preocupação foi
potencializada a partir dos efeitos que essa temperatura
podem produzir nestes clientes, tendo em vista sua
vulnerabilidade fisiológica.
Em estudos preliminares, podemos constatar que
os pacientes componentes da população-alvo, com as
características supramencionadas, ao serem
submetidos ao banho no leito, inversamente ao que
era preconizado, não variavam a sua taxa de SvO2
(percentual de saturação de oxigênio contido na
hemoglobina presente no sangue venoso misto), que
é um dos parâmetros respiratórios mais importantes
na análise da função metabólica global do indivíduo.
Neste estudo, observou-se uma variação deste
parâmetro de até 10%, para mais ou para menos,
quando comparado aos valores observados antes da
realização da técnica do banho no leito. Essa variação
estaria dentro dos padrões esperados para a análise
das funções oxi-hemodinâmicas.
Deste modo, este estudo tem como ponto de
partida, o resultado preliminar acima mencionado,
enfocando a temperatura da água que é utilizada pela
equipe de enfermagem para o desenvolvimento da técnica
do banho no leito, considerando que apesar de não haver
prejuízo significativo para o cliente fisiologicamente
vulnerável, poderia estar contido na temperatura da água
o fator que determina o conforto a estes pacientes.
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A técnica do banho no leito em pacientes de UTI
– preconceitos existentes
As técnicas
As peculiaridades apresentadas por certos
pacientes, determinam suas internações em unidades
especializadas. Deste modo, potencializa-se a importância de quaisquer técnicas/procedimentos neles
realizados, ademais quando estes procedimentos
apresentam além de uma atividade terapêutica intrínseca,
o subsídio para os demais tratamentos. Tendo em vista
a técnica do banho no leito, Lima e Nascimento [1],
demonstraram que a sua realização não compromete o
mecanismo oxi-hemodinâmico do cliente,
significativamente em uma unidade de terapia intensiva,
porém apontaram para uma variação do consumo de
oxigênio durante o procedimento em apreço.
A observação supra, corrobora o fato de que não
há atividade elementar ao enfocar-se o cuidado, pois a
técnica do banho no leito reveste-se de importância
fundamental devendo ser ajustada às necessidades
desse cliente.
Souza foi a primeira enfermeira brasileira a
pontuar o desenvolvimento da técnica do banho no
leito de forma científica, descrevendo-o e fundamentando-o à luz da fisiologia, histologia e microbiologia
e enfatizando a importância dos movimentos
rotatórios de compressas umedecidas na pele do cliente
acamado.
Quase meio século depois, o conceito de cliente
acamado, acompanhou o desenvolvimento cibernético
tão corriqueiramente notado nas unidades de terapia
intensiva. Portanto, atualmente as necessidades de
higiene, equilíbrio e bem-estar do paciente acamado
permanecem as mesmas, contudo, a aplicação da
técnica para se obter os mesmos resultados, invariavelmente têm que se adaptar a coexistência junto ao
paciente, de inúmeros cateteres, tubos, sondas, drenos,
luzes, sons, equipamentos e uma temperatura ambiente
costumeiramente fria.
Como agravante, soma-se o fato de que esses
novos elementos, muitas vezes podem estar
contribuindo para a manutenção da vida desse cliente.
Desta forma, a extração não planejada desses aparatos,
pode levar a um sério comprometimento do prognóstico desse cliente.
Dentre esses aparatos, encontra-se freqüentemente posicionado com uma de suas extremidades
no interior da artéria pulmonar e a outra, perigosamente sobre o leito do cliente, o cateter de Swan-Ganz.
Que “per si” não é um acessório vital, mas que pode
registrar variações oxi-hemodinâmicas que, se não
corrigidas a tempo, podem traduzir-se em conseqüências desastrosas ao cliente. Ademais, estão
descritas na literatura especializadas, as ilações
correlacionadas à remoção do cateter, como episódios
tromboembólicos, entre outros.
A Técnica
O banho no leito analisado sob a ótica da
enfermagem médico-cirúrgica, mais especificamente
no paciente internado em unidade de terapia
intensiva (UTI), ocasionalmente tem sido alvo de
preconceitos, no que tange a possibilidade da
variação de seu padrão oxi-hemodinâmico, que
poderia supostamente ser influenciado pela
mobilização que a equipe de enfermagem procede
para a realização da referida técnica.
Considerando que a avaliação oxi-hemodinâmica
é realizada através do cateter de Swan-Ganz, este artigo
enfoca o cliente internado em uma UTI submetido a
monitorização desse artefato e sob os cuidados da
equipe de enfermagem, mais especificamente, durante
o banho no leito.
A realização da técnica do banho no leito, por
ser considerada uma atividade menor [2], é visualizada
pela equipe de enfermagem com certas restrições. No
entanto, ao nos referirmos aos pacientes de alta
complexidade a que este estudo se refere, observa-se
que a esta restrição soma-se o temor de sua mobilização para a realização da referida técnica. A este temor
acrescenta-se àquele que preconceitua que a manipulação de tais pacientes, por conta do banho, de alguma
forma poderia estar levando a um nível de instabilidade
oxi-hemodinâmica tamanha, a ponto de configurarse em riso de vida a tais pacientes. Neste último caso,
podendo inclusive, paradoxalmente, ser contra-indicado o desenvolvimento dessa técnica, por outros profissionais, que não tenham a mesma formação do enfermeiro, conforme Lima e Nascimento [1] expuseram.
A guisa de observação vale ressaltar que o
temor referido acima não se fundamenta no
parâmetro de variação de saturação de oxigênio no
sangue venoso misto (SvO2), porque as evidências
do estudo supra-referenciado demonstram que
durante o banho no leito, a variação de até 10%
observada no parâmetro em apreço, em pacientes
internados em UTI e sob a utilização do cateter
de artéria pulmonar (Swan-Ganz), diz respeito ao
tremor que se verifica no paciente por conta da
variação de temperatura da água utilizada nessa
técnica e da própria temperatura ambiente que
é baixa.
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Segundo Summers [3], o diagnóstico de hipotermia vem sendo descrito por vários autores como tendo
diversas características. Um dos maiores problemas
identificados foi a falta de consistência e um valor
exato da temperatura deste diagnóstico. Numa revisão
da literatura em cirurgia, anestesiologia e fisiologia,
verificou-se que existem três (03) tipos distintos de
hipotermia, que são distintos pelas etiologias e características definidoras, a saber: inadvertida, acidental e
intencional.
Segundo Burkle [4], a hipotermia inadvertida está
relacionada com os procedimentos cirúrgicos e
consiste em uma complicação muito séria da cirurgia
ou anestesia. A hipotermia pode ser extremamente
grave e com efeitos potencialmente muito perigosos
se não reconhecida, compreendida e tratada em
pacientes idosos principalmente, nos períodos per e
pós-operatórios.
Segundo Clevenger [5], na hipotermia pósoperatória de pacientes cardíacos, a perda de calor
pela cabeça interfere com o reaquecimento e causa
tremores. O autor acrescenta que a radiação é
responsável por até 65% de perda de calor, na forma
de energia eletromagnética, do corpo para objetos
mais frios na sala de operação. E que a condução
através do contato com superfícies mais frias seria
responsável por uma pequena proporção na perda
de calor devido à baixa condutividade de colchões e
lençóis. Entendendo que uma superfície úmida
aumenta a perda por condução em até 30%, e muitos
pacientes, no período transoperatório ficam
molhados, aumentando desta forma, significativamente, a perda de calor. Destaca que evaporação
contribui para a queda da temperatura, na forma de
energia necessária para vaporizar água dos pulmões
e pele (22 a 27%).
Por analogia com o ambiente representado
pela sala de operações, o banho no leito na UTI possui
o agravante não raramente observado, de que os
pacientes permanecem molhados por tempo
excessivo, tal como apresentado por Figueiredo, et al
[6], em estudo relativo ao tema, onde ficou
comprovado através das respostas de clientes, que o
lençol molhado é a principal queixa de desconforto,
incidindo em 74,47% das respostas.
Michell apud Garanhani, et al [7], refere que a
faixa de temperatura ambiente na qual uma pessoa
acordada e nua pode manter sua temperatura
corpórea sem desprendimento significativo de
energia é de 27 a 330 C. Deduzindo que os pacientes
começarão a esfriar e apresentar tremores (resposta
involuntária de músculos esqueléticos, com
produção de calor e elevação da temperatura
corporal) à temperatura normal da UTI, bem como
da sala de operação, mesmo antes de serem
banhados e/ou anestesiados; o que justifica a
necessidade de manter o corpo coberto durante o
maior tempo possível dentro desses ambientes.
Em estudo realizado por Pacheco [8], no qual
foi objetivada a identificação das competências
mínimas do enfermeiro no pós-operatório imediato
de cirurgia cardíaca, quanto à função cardiovascular
e ter morreguladora, num universo de 49
questionários enviados a enfermeiros verificou, que
a grande maioria dos enfermeiros (91,8%) tem
consciência da necessidade do reaquecimento dos
pacientes no pós-operatório e a entende como
competência mínima (CM) do enfermeiro, assim
como a verificação dos sinais vitais. Contudo, a
realização deste por parte dos enfermeiros somente
apareceu em 65,3% dos entrevistados.
Ozuna apud Garanhani [7], postula que quando
o corpo é exposto ao frio, a adrenalina e a
noradrenalina são liberadas na corrente circulatória.
Elas produzem calor mobilizando glicogênio e ácidos
graxos. A noradrenalina reduz a perda de calor
causando vasoconstricção periférica. Isto reduz o fluxo
sangüíneo para a pele e menos calor é transferido por
convecção aos tecidos próximos à superfície corporal.
Assim, a pele esfria e o gradiente de temperatura entre
a superfície corporal e o ambiente é reduzido.
A autora acrescenta que a diminuição
acentuada da temperatura corporal, geralmente até
320 C, pode gerar arritmias cardíacas graves como:
extra-sístoles, “flutter” atrial, fibrilação atrial e
vários tipos de bloqueios átrio-ventriculares. E que
o tremor leva a um aumento súbito no consumo de
oxigênio e a necessidade energética para o tremor
aumenta em até 500%, submetendo o corpo a um
estresse substancial: a freqüência respiratória
aumenta para compensar a demanda da troca gasosa
e a circulação é acelerada para fornecer mais
oxigênio aos tecidos e remover dióxido de carbono,
ácido lático e outros catabólitos. Exorta ainda que
a hipotermia reduz o suprimento de oxigênio aos
tecidos e quando as demandas energéticas do
tremor não são satisfeitas, o paciente pode
apresentar acidose metabólica lática.
Segundo Gomes [9], a temperatura inferior a 350
C conduz a hipoglicemia, à acidose metabólica e à
morte ou instalação de seqüelas irreversíveis do sistema
nervoso central.
Segundo Ribeiro [10], a hipotermia, além de
aumentar o consumo de oxigênio, provoca perdas
hídricas insensíveis, aumento das necessidades
calóricas e acidose lática importante.
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Objetivos
• Demonstrar como se comporta a variação da
temperatura da água exposta em uma UTI, mensurada
a intervalos regulares;
• Propor medida alternativa que garanta o conforto
sob forma de cuidado a partir dos resultados obtidos.
Em seguida, foi realizado o registro de ambas as
temperaturas em intervalos regulares de 5 minutos,
até completarem 45 minutos. Após 15 minutos, o
termômetro de mercúrio perdeu sua acurácia e, então
passou a registrar-se também a temperatura através
do aparelho multi-parâmetro.
Resultados
Material e métodos
Análise e interpretação dos resultados
Estudo experimental comparativo, realizado em
Após a análise dos resultados apresentados na
uma unidade de terapia intensiva (UTI) pós-operatória
Tabela
I e Gráfico 1, é possível inferir que:
de cirurgia cardíaca, de um hospital público de médio
1)
Existe uma pequena variação entre os três
porte, localizado na Zona sul do Rio de Janeiro, no
termômetros
(Quadro I);
mês de agosto de 2000.
2)
A
variação
de temperatura entre o
a) Ebulidor;
termômetro de Mercúrio e Digital I manteve-se
b) Termômetro clínico de mercúrio BDTM;
constante em 0,10C, enquanto durou o limite inferior
TM
c) Termômetro clínico digital IE ;
da acurácia do termômetro de mercúrio;
d) Aparelho digital multi-parâmetro para verifi3) A variação de temperatura entre o termôcação de temperatura ambiente, umidade do ambiente
TM
metro
Digital I e II oscilou entre 0,1 e 0,30C (X=
e sensor para temperatura local TEMPLEC ;
0,1750C) enquanto durou o limite inferior da acurácia
e) Bacia de inox com ¾ preenchidos com água
do termômetro Digital II;
em uma temperatura inicial de:
0
• 37,0 C para termômetro digital
Gráfico 1 - Descrição da temperatura da água utilizada pela equipe de
• 36,9 0 C para termômetro de enfermagem para a realização da técnica do banho no leito em UTI
mensurada por termômetro de mercúrio e digitais
mercúrio
f) Condições ambientais iniciais:
• Temperatura·: 24,50 C
• Umidade: 55%
A bacia com água foi colocada
sobre o carrinho de banho, pois,
corresponde ao local que normalmente
é disposta para a realização da técnica
em questão. Em seguida foram imersas
as extremidades termosen-síveis dos
termômetros. Após a conexão do
ebulidor à tomada foi acompanhada
simultaneamente a ascen-são da
temperatura até atingirem os valores
supramen-cionados, quando foi retirado
o ebulidor da água.
Quadro I - descrição da temperatura da água utilizada pela equipe de enfermagem para a realização da técnica do
banho no leito em UTI mensuradas por termômetro de mercúrio e digitais
Variável / min 0´
Digital I
37,0
Mercúrio
36,9
Digital II*
Ambiente
24,5
Umidade
55%
5´
36,1
36
24,5
54%
10´
35,1
35
24,6
55%
15´
34,3
<35,0
34,0
24,9
55%
20´
33,5
<35,0
33,4
24,9
54%
25´
32,6
<35,0
32,8
24,9
54%
30´
32
<35,0
32,1
24,9
53%
35´
<32,0
<35,0
31,5
24,9
54%
40´
<32,0
<35,0
30,9
24,9
54%
45´
<32,0
<35,0
30,6
24,9
54%
Realizado na UTI de um hospital público do município do Rio de Janeiro em 27/08/2000.
*Digital II refere-se ao aparelho multi-parâmetro que só passou a ser utilizada a função de temperatura local, após a perda da
acurácia do termômetro de mercúrio.
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4) Visualmente admite-se uma mesma
tendência de declínio de temperatura nos três
termômetros;
5) Entre 20 e 25 minutos nenhum dos três
termômetros marcava temperatura igual ou superior
a 330C;
6) Após 10 minutos, tanto o termômetro de
Mercúrio, quanto o Digital I (único digital até então),
apresentaram uma queda de 1,90C, que equivalente a
5,1% da temperatura inicial.
a produzir uma resposta involuntária dos músculos
esqueléticos com o objetivo de produzir calor
(tremor). E o tremor está intimamente relacionado
ao aumento da demanda de oxigênio, o que se
refletirá nas variações constatadas no sangue venoso
misto (SvO 2) dos pacientes internados em UTI,
durante a realização da técnica do banho no leito
pelo enfermeiro [1].
Discussão
Este estudo demonstrou que a temperatura da
água é de capital importância para o conforto do
paciente submetido à técnica do banho no leito,
interferindo, a partir dos seus tremores, no seu
equilíbrio oxi-hemodinâmico.
Deste modo, apesar não só dos preconceitos que
cercam a técnica do banho no leito, entendendo-a
como um procedimento menor, como também, os
temores que ele deflagra, no que tange à manipulação
do paciente crítico para sua realização, este estudo
expõe que ambos são infundados.
Com relação ao acima mencionado, o banho no
leito a partir dos resultados obtidos nesse estudo,
caracterizou-se como um procedimento complexo com
relação à sua fundamentação científica, além de
primordialmente, constituir num cuidado de
enfermagem na sua plena acepção.
Deste modo, os achados desse trabalho
contribuem para a visualização da enfermagem como
ciência, que além de toda subjetividade e sensibilidade
que a permeiam, necessita reafirmar a sua autonomia
nos desdobramentos de sua prática, tendo sempre
como foco, conforme previsto no código de ética dos
seus profissionais a perfeita projeção do bem ao nível
do homem.
Ainda com relação aos resultados obtidos, vale
ressaltar a necessidade de revisão das inovações
realizadas no procedimento técnico do banho no leito,
pela equipe de enfermagem, que privilegia o contato
direto da água no corpo do paciente.
O presente estudo constata o declive
acentuado e constante da temperatura da água
utilizada para a realização do banho no leito em
UTI pela equipe de enfermagem, mensurada
simultaneamente através de três termômetros
diferentes. Esta constatação apesar de por si só ser
muito importante, ainda está subdimen-sionada,
uma vez que a água manteve-se estática,
diferentemente do que ocorre durante a realização
do banho no leito. Essa movimentação tem com
decorrência a queda mais abrupta e intensa da
temperatura da mesma.
Como exposto anterior mente, Lima e
Nascimento [1], demonstraram uma variação de
até +/- 10% do consumo de oxigênio (SvO2) por
parte de pacientes internados em UTI, durante a
realização do banho no leito pela equipe de
enfermagem. Vale relembrar que essa eventual
variação não raramente é tratada de for ma
preconceituosa por parte de deter minados
profissionais que, atribuem a manipulação do
paciente durante o banho como a origem de tal
variação, chegando até mesmo, a contra indicá-lo.
Dessa forma, subsidiados no presente estudo,
observamos que a variação da SvO2 acima citada
está intimamente relacionada à temperatura da água
que banha o paciente. Corroborando com essa
interpretação depõem diversos autores que em
síntese, atribuem à temperatura ambiental inferior
a 27-330C [7] ou corpórea entre 35-360C [11], como
causadoras de tremores. Nesse sentido, destaco que
a temperatura da UTI quando da realização desse
trabalho sempre foi <35 0C (Quadro I) e, como
conseqüência difusão de calor do corpo para o
ambiente, num princípio físico básico de tentativa
de equiparação de temperaturas. A este fato
acrescenta-se o agravante da água caracterizar-se
como líquido e excelente condutor de calor,
levando a aumento da perda. Então, como
mecanismo de adaptação fisiológica, o corpo passa
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Conclusões
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Artigo original
Caracterização e conhecimento popular
de plantas medicinais em um município da
Serra da Mantiqueira – MG
Telma Geovanini, M.Sc.*
* Mestre em Enfermagem pela EEAP-UNI-RIO, Especialista em Plantas Medicinais UFLA-MG, Coordenadora da Faculdade de
Enfermagem da Universidade Presidente Antônio Carlos de Juiz de Fora - MG
Resumo
Esta monografia caracteriza-se por relato de experiência com abordagem qualitativa, sobre o conhecimento popular e uso de
plantas medicinais na comunidade de Bocaina de Minas, Serra da Mantiqueira – MG. Procurou-se resgatar o conhecimento
popular das plantas mais utilizadas nessa região através da aplicação de estratégias educativas e incentivadoras que visaram a
integrar os conhecimentos populares e científicos. O município escolhido possui ecossistema característico da mata Atlântica,
com várias áreas de preservação ambiental e cultura rica em espécies e variedades de plantas. As espécies mais utilizadas
foram destacadas, catalogadas e revisadas bibliograficamente, destacando-se suas características e estes conhecimentos foram
colocados à disposição da comunidade e debatidos com a mesma, através de um livreto ilustrado produzido pelo grupo com
base neste estudo. Evidenciou-se uma ampliação das perspectivas em cada etapa, apontando para novas possibilidades de
trabalhos comunitários com as plantas medicinais. A orientação da utilização terapêutica das plantas fez com que houvesse
uma maior valorização desta forma natural de tratamento e manutenção da saúde na comunidade.
Palavras-chave: plantas medicinais, comunidade.
Artigo recebido em 17 de dezembro de 2003; aceito em 1 de janeiro de 2004.
Endereço para correspondência: Telma Geovanini, Rua Francisco Vaz de
Magalhães, 800/202 Cascatinha,36.033-340 Juiz de Fora – Minas Gerais,
E-mail: tgeovanini @bol.com.br
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Abstract
Charactericterization and popular knowledge of medicinal plants in a municipal
district of Serra da Mantiqueira - MG
This monograph is characterized by experience report with qualitative approach, on the popular knowledge and use of
medicinal plants in the Bocaina de Minas community, Serra da Mantiqueira - MG. The main object is to rescue the popular
knowledge of the plants that are commonly used in this area through educational and stimulating strategies in order to
integrate the popular and scientific knowledge. The selected municipal district possesses characteristic ecosystem of the
Atlantic Forest, with several areas of environmental preservation and rich culture in species and varieties of plants. A
selection of commonly used species were outstanding, classified and revised bibliographically, standing out its characteristics
and these data were available to the community and discussed with her, through an illustrated pocketbook produced by the
study group. An amplification of the perspectives was evidenced in each stage, pointing out for new possibilities of community
works with the medicinal plants. The therapeutic use of the plants leads the community to consider this natural way of
treatment and health maintenance.
Word-key: medicinal plants, community.
Resumen
Caracterización y conocimiento popular de plantas medicinales en un municipio de la
Serra da Mantiqueira - MG
Esta monografía se caracteriza por relato de experiencia con abordaje cualitativo, sobre el conocimiento popular y uso de
plantas medicinales en la comunidad de Bocaina de Minas, Serra da Mantiqueira – MG. Se procuró rescatar el conocimiento
popular de las plantas mas utilizadas en esa región a través de la aplicación de estrategias educativas e incentivadoras que
tenían como objeto integrar los conocimientos populares y científicos. El municipio elegido posee ecosistema característico
de la mata Atlantica, con varias áreas de preservación ambiental y cultura rica en especies y variedades de plantas. Las
especies mas utilizadas fueron destacadas, catalogadas y revisadas bibliográficamente, destacándose sus características y
estos conocimientos fueron puestos a disposición de la comunidad y discutidos con la misma, a través de un libro de
bolsillo ilustrado elaborado por el grupo con base en este estudio. Se comprobó una ampliación de las perspectivas en cada
etapa, apuntando para nuevas posibilidades de trabajos comunitarios con las plantas medicinales. La orientación de la
utilización terapéutica de las plantas llevó a una mayor valorización de esta forma natural de tratamiento y mantenimiento
de la salud en la comunidad.
Palabras-clave: plantas medicinales, comunidad.
Introdução
O presente estudo é fruto do interesse em
conhecer as plantas medicinais mais populares e seu
uso pela comunidade de Bocaina de Minas, município
pertencente à região da mata e campos das vertentes
de Minas Gerais e da Serra da Mantiqueira. Segundo
censo do IBGE realizado em 2002, o município tem
uma extensão territorial de 444 km2, distando 170 km
da cidade de Juiz de Fora e 498 km da capital mineira,
com as seguintes características: altitude de 1350m do
nível do mar, população de 4.984 habitantes, composta
de 2.650 habitantes do sexo masculino e 2.334 do sexo
feminino, população rural predominante com 2.779
habitantes e urbana com 2.205. Sobrevivem
basicamente da criação de gado leiteiro, fabricação
artesanal de queijos, comércio e construção civil. Por
ser um local de preservação ambiental, rico em
cachoeiras e beleza natural, ocorre turismo incipiente
e população flutuante, principalmente nos períodos
de férias escolares e verão.
Iniciamos o trabalho em Bocaina de Minas no ano
de 1999 através da organização de uma horta medicinal
que teve como finalidade o cultivo de plantas para a
fabricação artesanal de tinturas e pomadas destinadas ao
uso da própria comunidade que regularmente era
atendida em meu consultório de terapias naturais,
localizado na vila de Santo Antônio do Rio Grande.
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• Conhecer as plantas medicinais mais populares
no município de Bocaina de Minas – Serra da
Mantiqueira – MG;
• Caracterizar as plantas mais populares quanto
ao nome científico e popular, origem, propriedades,
princípios ativos, indicações, partes utilizadas, contraindicações e generalidades, colocando estas
informações a disposição da comunidade;
• Integrar conhecimentos e favorecer o resgate
popular sobre as plantas medicinais mais utilizadas na
região;
• Colaborar para a valorização de terapêuticas
naturais no cuidado à saúde;
• Colaborar com estes resultados para a criação
de um banco de dados sobre plantas medicinais da
região, que possa ser útil às instituições locais (associação de moradores, secretaria de saúde e escolas
municipais) e à comunidade em geral.
• Levantamento das principais plantas medicinais
utilizadas pelos moradores da região, seu conhecimento e utilização;
• Revisão bibliográfica das plantas selecionadas
e caracterização quanto ao nome científico e popular,
origem, propriedades, princípios ativos, indicações,
partes utilizadas, contra indicações e generalidades;
• Integração dos conhecimentos científico e
popular, saberes e práticas sobre as plantas medicinais,
ressaltando a valorização das terapêuticas naturais no
cuidado à saúde.
O trabalho teve início com a introdução de
estratégias educativas e incentivadoras, a fim de que
viessem à tona a curiosidade e motivação da comunidade no tocante às plantas medicinais. Com este
intuito, solicitamos a colaboração de pessoas da
região apontadas como conhecedoras das plantas
medicinais locais.
Em encontros constantes em que os colaboradores traziam plantas verdes, as trocas de experiências e conhecimentos se sucediam através de diálogos informais e visitas aos canteiros de ervas. Foi
realizada uma série de visitas domiciliares a fim de
conhecer as ervas cultivadas por essas pessoas em suas
residências. Tudo era anotado sistematicamente em
um diário de campo.
Simultaneamente as plantas mais utilizadas foram
identificadas e repassadas bibliograficamente, fazendose uma conexão do uso popular com o uso científico.
Numa segunda etapa, apresentei aos participantes desenhos e fotografias das plantas com a
intenção de reforçar sua identificação e estas eram
prontamente reconhecidas enfatizando-se suas
características quanto ao odor, aparência, diferenciação
com espécies semelhantes, coloração e outras
particularidades.
Durante os encontros ressaltei algumas orientações quanto ao cultivo, coleta, secagem, armazenamento e formas de preparo de chás e xaropes, suas
indicações e dosagens. Isto suscitou por parte da
comunidade a lembrança de suas raízes e tradições,
trazendo à tona a relação histórica das famílias com o
meio ambiente e mais especificamente com o uso de
plantas medicinais.
Material e métodos
Resultados
O estudo caracterizou-se por pesquisa do tipo
exploratório e observação sistematizada, com abordagem qualitativa e contou com as seguintes etapas:
• Seleção e aplicação de estratégias motivadoras
para a participação popular no estudo;
Tivemos uma participação crescente de pessoas
interessadas em cada etapa do trabalho e estas iam a
cada momento trazendo outras que acrescentavam
mais detalhes e informações. Identificamos as 20 plantas mais utilizadas na região, as quais foram alvos de
Da estreita interação que brotou destas
consultas, verificamos que as pessoas embora
utilizassem com muita freqüência as plantas
medicinais para o alívio dos mais diversos sintomas,
desconheciam seus princípios ativos, dosagens,
coleta, secagem e armazenamento e que muitas vezes
temiam usá-las por não terem estes conhecimentos.
Por outro lado, identificamos alguns elementos da
comunidade, em geral mais idosos, que eram
verdadeiros depositários vivos de conhecimentos
rudimentares sobre as plantas da região.
Ciente de que o incentivo às comunidades em
geral para que utilizem seus recursos naturais é
relevante e que se torna necessário conscientizá-las
de que estas medidas, além de serem de fácil acesso e
menor custo, têm influência positiva na manutenção
das tradições, saúde e vida de um povo, resolvi investigar, estudar e vivenciar este trabalho de maneira
sistemática, iniciando pela identificação das plantas
medicinais mais usadas e conhecendo a forma de
utilização das mesmas, culminando com a criação de
um livreto sobre as plantas estudadas para uso da
comunidade assistida.
Objetivos
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pesquisa bibliográfica mais intensa, caracterizando-as
quanto ao nome popular, nome científico, sinoní-mia,
origem, propriedades terapêuticas, princípios ativos,
parte utilizada, indicações e contra-indicações,
características estas que foram devolvidas à comunidade através de um livreto que foi construído pelo
grupo participante.
A seguir, citamos com seus nomes populares e
científicos a relação das 20 plantas identificadas pelo
grupo como as mais utilizadas na região:
1. Eucalipto - Eucalyptus globulus Labill.
2. Boldo - Colleus barbatus Benth.
3. Carqueja - Baccharis trimera (Less) D.C.
4. Arnica - Solidago microglossa D.C.
5. Assa-peixe - Vernonia polyanthes
6. Artemísia - Chrysanthemum parthnium (L)
Bern.
7. Tanchagem - Plantago major
8. Mentrasto - Ageratum conyzoides L.
9. Babosa - Aloes spp
10.Macela - Achryrocline satureoides D.C.
11.Pata-de-vaca - Bauhinia forficata Link.
12.Alecrim - Rosmarinus officinalis L.
13.Erva-cidreira - Melissa officinalis L.
14.Manjericão - Ocimum sp
15.Erva-macaé - Leonurus sibiricus L.
16.Cordão-de-frade - Leonotis Nepetaefolia
R.Br.
17.Picão - Bidens pilosa L.
18.Erva de santa Maria - Chenopodium
ambrosioides
19.Capim-limão - Cymbopogon citratus (D.C.)
Stapf.
20.Quebra-pedra - Phyllantus nirurí L.
É importante frisar que todas estas plantas
medram espontaneamente e em abundância na região.
Também é interessante verificar, que algumas plantas
que igualmente medram na região, tais como a
Capuchinha – Tropaeolum majus L. e a Embaúba –
Ceclópia peltata, não são utilizadas comumente pela
população e esta desconhece suas propriedades e
indicações, por isso optamos por adicioná-las ao
conteúdo de um livreto popular, o qual fomos
elaborando em conjunto.
Dentre as plantas relacionadas, o Eucalipto, o
Boldo, a Carqueja, o Assa-peixe e a Erva-macaé, são
algumas das plantas que mais se propagam na região
e são amplamente utilizadas e conhecidas. Artemísia,
Mentrasto e Cordão de frade espalham-se pelos
pastos em abundância e também são bastante usadas.
Entretanto, mesmo estas que são amplamente
familiares para a comunidade, são pouco conhecidas
quanto à variedade de suas indicações e uso
terapêutico. Observamos que a dúvida maior,
persistiu em torno das dosagens, indicações e modo
de usar.
Como resultados específicos, destacamos:
• O registro das plantas mais utilizadas no
município foi passado através das gerações, de forma
assistemática, através do uso da linguagem verbal;
• Algumas plantas muito conhecidas e utilizadas
fora da região, embora medrem abundantemente, são
pouco valorizadas por falta de conhecimentos
específicos;
• As discussões fizeram reviver conhecimentos
sobre plantas que se achavam esquecidos, havendo,
portanto um resgate destes conhecimentos;
• Após o processo, as pessoas demonstraram ter
adquirido conhecimentos que possibilitarão melhor
aproveitamento das plantas medicinais e mais
segurança no seu uso;
• Houve uma integração entre os conhecedores
de plantas da comunidade dentro da sistemática
proposta de trabalho, com uma repercussão positiva
e promissora para o desenvolvimento de outros
trabalhos;
• Como resultado deste trabalho e para melhor
orientar a comunidade, foi elaborado um livreto
ilustrado, contendo informações sobre as plantas mais
utilizadas e também sobre aquelas que embora bem
conhecidas são pouco valorizadas por falta de
conhecimentos específicos;
• Houve uma valorização do conhecimento
popular através da realização conjunta do livreto
popular e do processo de trabalho;
• O momento foi aproveitado para se discutir as
questões ambientais e problemas ecológicos da região,
levantando-se discussões em torno das formas de
intervenção da própria comunidade para a minimização dos problemas;
• Diante dessas discussões, o grupo optou por
incluir no livreto chamadas educativas para minimizar
as situações ecológicas da região.
Conclusão
Nos dias de hoje, apesar dos avanços tecnológicos, nós profissionais de saúde, ainda convivemos
com verdadeiros contrastes nas áreas sociais e da
saúde, revelando a importância de estudos que ajudem
a definir estratégias que reorientem os modelos hoje
existentes, no sentido de criar vínculos com a
sociedade, assegurar os direitos da cidadania e garantir
a melhoria da qualidade de vida da população.
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A Organização Mundial de Saúde (OMS), tem
incentivado o uso de plantas medicinais e estima que
80% da população mundial fazem uso de algum tipo
de erva para o alívio e cura de doenças. Estudiosos da
área têm empreendido esforços para que as ervas
brasileiras que constituem a base da terapêutica popular
tenham cada vez mais caráter científico.
Os trabalhos científicos nessa área têm
demonstrado que, além da eficácia comprovada, a
relação custo X benefício dos medicamentos e
procedimentos, torna a fitoterapia mais acessível à
população. Com isto, vários municípios brasileiros já
adotam esta prática nas suas unidades básicas de saúde.
Apesar de tudo, levando-se em consideração que
o número de espécies vegetais no Brasil é estimado
em mais de 200.000, que a metade possui propriedades
medicinais e que destas, menos de 1% são estudadas
adequadamente, muito pouco ainda se conhece sobre
as plantas brasileiras, sendo incentivados estudos neste
sentido.
No Brasil a utilização das plantas medicinais,
encontra suas bases na influência indígena, africana e
européia. Martins et al [1], afirmam que os índios
brasileiros utilizavam a fitoterapia dentro de uma visão
mística, em que o pajé ou feiticeiro da tribo fazia uso
de plantas entorpecentes para sonhar com o espírito
que lhe revelaria a erva ou o procedimento a ser seguido para a cura do enfermo e também pela observação
de animais que procuravam determinadas plantas
quando doentes. A influência da colonização na farmacopéia brasileira é enfatizada pelos autores, devido ao
significativo número de plantas medicinais de origem
européia, que embora não sendo nativas, reproduzemse espontaneamente e formam genótipos e variedades
diversas nos solos de nosso país.
Com este trabalho, procuramos contribuir para
o conhecimento cada vez maior da comunidade sobre
as plantas medicinais, mostrando fundamentalmente
resultados qualitativos, pois a partir desses encontros,
houve uma mudança de comportamento com relação
ao meio ambiente e as plantas medicinais. Esta
motiva-ção inicial fez com que brotassem
espontaneamente sugestões para a criação de uma
horta medicinal na comunidade, organização de minicursos sobre plantas medicinais e de um banco de
dados com informações sobre as plantas medicinais
da região.
A troca de informações possibilitou um novo
olhar para o cotidiano, mais orientado para um
trabalho coletivo e participativo, vencendo o
individualismo e o egocentrismo e favorecendo a
participação popular e comunitária.
Um trabalho desta natureza abre perspectivas
para a realização de um projeto amplo, que inclui a
participação da prefeitura, escolas e outras instituições
comunitárias, apontando para novas possibilidades e
melhores resultados na busca de soluções coletivas
para diversos problemas da comunidade.
Evidenciou-se ao longo do processo que a
perspectiva das atividades planejadas em cada etapa
ia se ampliando e se desdobrando a cada momento,
apontando para novas possibilidades de trabalhos com
as plantas medicinais.
A perspectiva da utilização terapêutica mais
orientada das plantas medicinais fez com que houvesse
uma maior valorização desta forma natural de
tratamento e manutenção da saúde na comunidade.
Evidenciou-se uma valorização da comunidade, ao
fazê-la participar na confecção do livreto popular,
elevando a auto-estima de todos os participantes.
Referências
1.
Martins E, et al. Plantas medicinais. Viçosa, MG: UFV/
Imprensa Universitária; 1994.
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Revisão
Sistematização da assistência de enfermagem
pediátrica: reflexão teórica e implementativa
Carla Regina Bianchi Codo, M.Sc.*, Irani Aparecida Dalla Costa Paes, M.Sc.**
*Mestre em enfermagem pela Unicamp, professora da disciplina de pediatria e neonatologia da Uniararas, **Mestre em enfermagem pela Unimep,
professora da disciplina de pediatria e neonatologia da Uniararas
Resumo
A sistematização da assistência de enfermagem, permite que os enfermeiros atuem na prática de maneira autônoma e
sólida, pois, para executá-la, necessitam utilizar os preceitos científicos e humanísticos que compõem o arsenal do
conhecimento profissional. Procuramos nesse trabalho relatar nossa experiência, tendo como referência um modelo
histórico por padrão de reação humana, nas áreas de pediatria e neonatologia, durante os estágios clínicos com os alunos
da graduação. O objetivo é colaborar na adequação de um modelo, cujo enfoque encontra-se nas reações expressas pela
criança e família, sobre os problemas reais ou potenciais de saúde. Fizemos uma revisão bibliográfica e uma reflexão
sobre nossa experiência enquanto docentes. Concluímos que quanto mais o aluno pratica a sistematização durante o
estágio, maior e mais eficaz é o seu desenvolvimento.
Palavras-chave: sistematização da assistência, enfermagem, criança.
Abstract
Systematization of nursing pediatric assistance: theoretical
and implemental reflection
Systematization of nursing assistance allows the nurses to act in a solid and autonomous practical way, because they need to
use scientific and humanistic precepts that compose the arsenal of professional knowledge to put it into practice. The main
object of this work is to report our experience, using as reference a model of background by patterns of human reactions,
in the pediatric and neonatology areas, during the apprenticeships with graduation students. The purpose is to collaborate in
a model adaptation, whose focus is in the expressed reactions by the child and family, on the real or potential health problems.
We did a bibliographical review and a reflection about our experience while teachers. We conclude that more the student
practices the systematization during apprenticeship, larger and more effective is their development.
Key-words: assistance systematization, nursing, child.
Artigo recebido em 9 de dezembro de 2003; aceito em 5 de janeiro de 2004.
Endereço para correspondência: Irani Aparecida Dalla Costa Paes, Rua José
Simionato Filho, 98 Terras de Santa Olívia 13607-553 Araras SP, Tel: (19) 3543-1444,
E-mail: [email protected]
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Resumen
Sistematización de la asistencia de enfermería pediátrica:
reflexión teórica e implementativa
La sistematización de la asistencia de la enfermería, a nuestro entender, permite que los enfermeros actúen en la práctica de
manera autónoma y sólida, pues, para ejecutarla, necesitan utilizar los preceptos científicos y humanísticos que componen el
arsenal del conocimiento profesional. Buscamos en este trabajo relatar nuestra experiencia teniendo como referencia un
modelo histórico por padrón de la reacción humana, en las áreas de pediatría y neonatología, durante las prácticas clínicas con
los alumnos que están por graduarse. El objeto es colaborar en la adecuación de un modelo cuyo enfoque se encuentra en las
reacciones expresas por el niño y la familia, sobre los problemas reales o potenciales de salud. Haremos una revisión bibliográfica
y una reflexión sobre nuestra experiencia entre los docentes. Concluimos que cuanto más practique el alumno la sistematización
durante las prácticas, mayor y más eficaz es su desarrollo.
Palabras-clave: sistematización de la asistencia, enfermería, niño.
Introdução
A sistematização da assistência de enfermagem,
ao nosso ver, permite que os enfermeiros atuem na
prática de maneira autônoma e sólida, pois, para
executá-la, necessitam utilizar os preceitos científicos
e humanísticos que compõem o arsenal de
conhecimento profissional.
Realizar a sistematização com a criança ou RN
(recém-nascido) não é uma tarefa fácil, requerendo
do profissional que a assiste um tato aguçado com
relação a subjetividades que essa classe de clientes
apresenta, além da infor mação secundária do
acompanhante do mesmo.
A sistematização da assistência de enfermagem
(SAE) é uma constante em nossa vida de docência, e
muitas vezes encontramos dificuldades em implantar
modelos já existentes, que nos auxiliem em uma
abordagem mais fidedigna e focada nas reais
necessidades de nossos pacientes.
Objetivos
• Relatar nossa experiência como docentes no
emprego da SAE por meio do padrão de reação humana;
• Colaborar na adequação de um modelo, cujo
enfoque, encontra-se nas reações expressas pela
criança e família sobre os problemas reais ou potenciais
de saúde.
Revisão da literatura
“Num mundo onde a única certeza é a incerteza
e onde o volume de informações é incomensurável,
apenas o conhecimento (organizado, estruturado,
validado e contextualizado) é fonte segura do
desenvolvimento de um país”[1].
Acreditamos que a melhor maneira de estruturar
e proporcionar conhecimento na área de enfermagem
e de atuar de maneira adequada junto à criança e seus
familiares é por meio da implantação da SAE, voltada
para as reais necessidades dessa clientela.
“Entendemos o processo de enfermagem como
uma série de passos (coleta de dados, diagnóstico de
enfermagem, planejamento, implementação e
avaliação), que focalizam a individualização do cuidado
através de uma abordagem de solução de problemas.
Esse processo é orientado por teorias ou modelos
conceituais de enfermagem, e quanto maior o seu nível
de abstração, maior a necessidade de interpretação para
sua operacionalização, rege-se também pelos
conhecimentos científicos e pelas experiências
individuais” [1].
Como modelo para assistência de nossos clientes,
a faculdade de enfermagem da Uniararas escolheu os
padrões de reação humana como forma de modelo
de avaliação das necessidades de nossos pacientes.
Sendo que reação humana pode ser entendida como
a reação de um indivíduo ou um grupo de indivíduos
a problemas reais e ou potenciais de saúde, e seu
impacto em toda a sua rede de relações como, família,
sociedade, comunidade, etc. Descritas como padrão:
trocar, relacionar, sentir, movimentar, comunicar,
conhecer, valorizar, escolher e perceber [2].
Esses mesmos autores citados acima dividem o
processo de enfermagem em cinco etapas bem
definidas [2]:
• Histórico de enfermagem: coleta de dados que
podem ser objetivos, subjetivos, primários,
secundários, atuais e históricos, coletados através de
entrevista e exame físico detalhado. Essa etapa do
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processo permite uma maior proximidade entre o
profissional e o cliente para o qual o enfermeiro está
dirigindo o seu foco;
• Diagnóstico de enfermagem: nessa fase ocorre a
análise e inferência sobre os dados coletados que
permitem que o profissional identifique os padrões
alterados para que possa, no futuro, em seu plano de
cuidados, auxiliar o paciente em suas reais
necessidades. Os diagnósticos serão à base dos
próximos passos a serem seguidos no processo de
enfermagem. O diagnóstico é composto pelo padrão
de reação humana alterado pelo fator relacionado e
pelas características definidoras que são os sinais e
sintomas;
• Planejamento: estará voltado para o
estabelecimento de resultados tendo como base a
reação humana alterada, a prescrição estará voltada
para os fatores relacionados, procurando mecanismos
de se obter uma diminuição da alteração e dos sinais e
sintomas. Os resultados devem ser compartilhados,
quando possível com o cliente ou familiar, para que
tenhamos um maior sucesso em alcançar as metas
estabelecidas para o cuidado;
• Implementação: essa fase irá determinar a pessoa
mais qualificada para prestar o cuidado proposto no
planejamento, levando em consideração as metas
estabelecidas, capacidade do cliente de absorver o
cuidado e dos recursos disponíveis para essa
implementação;
• Avaliação: é definida como a última etapa do
processo de enfermagem, servindo como instrumento
de verificação se o cuidado prescrito está realmente
atingindo o padrão de reação humana que está
apresentando alterações.
Não podemos nos esquecer de que todas as fases
da SAE devem ser registradas em impressos próprios
padronizados por toda instituição na qual estão sendo
empregadas.
Para a realização desse estudo vamos nos ater
mais especificamente ao histórico de enfermagem, que
em nossa instituição é baseado nos padrões de reação
humana, como [3]:
• Trocar: envolve as trocas fisiológicas entre o
organismo do indivíduo e o meio- ambiente, ou seja,
o dar e receber recíproco, sendo subdivididas em
cardíaco/periférico, cerebral, oxigenação, integridade
da pele/tecidos, regulagem física, nutrição, intestinal
e eliminação renal;
• Comunicar: padrão de resposta humana que
envolve o envio de mensagens verbais ou não-verbais,
representa a maneira de comunicação do cliente (fala,
escrita e gestos) e língua dominante;
• Relacionar: padrão de resposta humana que
envolve o estabelecimento de vínculos com outras
pessoas, compreendendo as variáveis de socialização,
papéis sociais e sexualidade e sua inserção social como
cidadão;
• Valorizar : envolve o julgamento sobre o
significado ou a importância das coisas e compreende
a variável referente ao estado espiritual da pessoa e
suas práticas religiosas e culturais;
• Escolher: envolve a seleção ou a tomada de
decisão sobre determinadas situações e compreende
as variáveis referentes à participação e à adaptação
individual, familiar e comunitária;
• Movimentar : envolve as atividades físicas,
englobando a variável atividade física e social, repouso,
recreação, manutenção do lar e da saúde e autocuidado
para alimentação, higiene, vestir-se e arrumar-se;
• Perceber: envolve a recepção de informação
percebida pelo cliente e relacionadas ao seu
autoconceito, percepção sensorial, esperança e
desesperança;
• Conhecer: está relacionado ao conhecimento
apreendido pelo paciente em relação às situações já
vivenciadas pelo mesmo como, por exemplo, seu
histórico de saúde, fatores de risco, atenção, orientação
e concentração;
• Sentir: envolve a conscientização subjetiva de
uma informação, compreendendo as variáveis
referentes à dor e as respostas emocionais do indivíduo.
Baseados em nossa experiência profissional
enquanto enfermeiras e docentes, podemos observar
que muitas partes do histórico ficam sem resposta
quando prestamos atendimento à criança,
principalmente se o enfoque clínico for baseado na
avaliação do prematuro e da criança até dois anos de
idade, que torna a observação de reações à parte mais
importante de todo esse processo.
Proposta de histórico de enfermagem por
padrão de reação humana para recém-nascidos e
crianças até dois anos de idade:
I) Identificação:
• Nome, sexo, idade (dias, meses e ano), data do
nascimento, registro do prontuário, nome da mãe e
do pai.
II) Trocar:
• Cardíaco/periférico: pressão arterial (método),
freqüência cardíaca (apical), medicações que
interferem nesses dados, perfusão periférica,
temperatura de membros, simetria de pulsos, presença
de arritmia ou edema, presença de má formação
congênita;
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• Cerebral: reflexos, reatividade, avaliação das
pupilas, perímetro cefálico, fontanelas, alterações
cranianas, má formação congênita;
• Oxigenação: freqüência respiratória, ritmo,
amplitude e tipo. Retração, indicando tipo e local.
Alterações e dificuldades respiratórias. Presença de
tosse, informando característica e aspecto de secreções.
Ausculta pulmonar, má formação congênita;
• Integridade da pele/tecidos: turgor, elasticidade,
hidratação, vascularização, descamação, alterações (lesões,
hematomas, soromas, outros), presença de drenos,
cateteres e dispositivos venosos, incisão cirúrgica, cabelos,
unhas, coto umbilical, má formação congênita;
• Regulagem Física: temperatura corporal e pesquisa
de presença de linfonodos;
• Nutrição: peso, altura, gráfico pondo-estatural
(curva), SNG, SOG, SNE, NPP (composição e local
de administração), apetite, alimentação (dificuldade
percebida, restrições ou alergias), náusea, vômito,
deglutição, dentição, aspecto e alterações;
• Eliminação Intestinal: abdome aspecto e simetria,
perímetro abdominal, RHA, evacuação (tipo,
característica, freqüência e quantia), uso de fraldas, uso
de laxantes ou estimulação retal, dificuldade em
evacuar, cólica, passagem involuntária, odor,
sangramento, má formação congênita;
• Eliminação Renal: enurese, oligúria, disúria/
ardência, anúria, poliúria, volume, odor, característica,
SVD, SVA, cistostomia, uso de fralda, má formação
congênita.
III) Comunicar:
• Tipo de comunicação apresentado pela criança,
presença de alterações do aparelho fonético, choro.
Os pais falam, entendem e escrevem a língua
portuguesa. Alguma dificuldade percebida.
IV) Movimentar:
• Atividade física: coordenação motora é
compatível com a idade, marcha, alterações motoras,
utiliza algum aparelho facilitador da locomoção, postura,
alterações musculares, má formação congênita.
• Sono: tipo, tempo e se utiliza algum objeto para
dormir.
V) Sentir:
• Dor/desconforto: local, tipo, escala de dor,
duração, fatores associados.
• Integridade emocional: irritado, choroso, calmo,
indiferente. Avaliar as condições dos pais.
VI) Conhecer:
• Histórico de saúde: internação (motivo),
internações anteriores, medicações de uso diário, tem
dificuldade em aceitar medicamentos, alergias a
medicações, vacinação, teste do pezinho, história da
gestação e do parto, condições do nascimento (peso,
altura, Apgar, PC, PT, alterações), casos de doenças
na família.
VII) Perceber:
• Verificar presença de percepção sensorial
alterada (auditiva, visual, tátil e olfato).
VIII) Valorizar/escolher/perceber/relacionar –
(envolve diretamente os pais):
• Membros da família e idade, pessoa
significativa, escolaridade, religião, tipo de casa,
número de cômodos, número de pessoas que moram
na casa, convênio médico, quem toma as decisões em
casa, problemas em casa (financeiro, conjugal, de
relacionamento), violência domiciliar, avaliação das
mudanças provocadas pela internação do filho,
verificação de expressão sobre a perda de controle e
falta de crença, história anterior de gestações, abortos
ou problemas, realizou pré-natal, resolve bem os seus
problemas, quem ajuda a resolver os problemas e se
aceita ou não ajuda de outras pessoas, avaliação de
como reage frente a um problema, quais atividades
são feitas para diminuírem o estresse, obedece ou
obedeceu a regime terapêutico realizado pelo filho,
pretende seguir o tratamento atual do filho, percepção
do familiar frente à doença do filho.
• Nome de quem preencheu, COREN e data do
preenchimento.
Materiais e métodos
Para a realização desse estudo utilizamos a
pesquisa bibliográfica que oferece meios para definir,
elaborar e resolver problemas, na busca de exploração
de relatos de outros autores, analisando e questionando
as informações obtidas [4]. Informações essas que
foram utilizadas para a elaboração dos históricos de
enfermagem direcionados do nascimento até dois anos
de idade.
Sabemos, por experiência própria, que nem
sempre é fácil obter informações precisas quando
lidamos com a internação de crianças, pois o
enfermeiro tem que se valer de sua observação sutil e
de informações colhidas junto a familiares.
Podemos dizer que esse é um estudo descritivo
que busca relatar a experiência vivenciada durante a
docência. Experiência essa obtida por meio do
atendimento à criança hospitalizada nas enfermarias
de alojamento conjunto e berçário para o atendimento
dos RNs, na enfermaria de pediatria para o
!
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atendimento da criança, e na creche para acompanhamento de crianças não-hospitalizadas.
Reflexão sobre a implementação
do histórico de enfermagem
Reflexão sobre a experiência na implementação do histórico de
enfermagem na Unidade Pediátrica
Após seis anos lecionando a disciplina de
enfermagem pediátrica, emerge uma proposta de
colegas que ministravam o conteúdo de sistematização
da assistência em enfermagem, para trabalharmos com
a sistematização por padrão de reação humana, de
forma que todas as disciplinas da graduação que
mantinham bloco teórico-prático adotassem uma linha
única de trabalho.
No início foi muito difícil, porquanto sempre
utilizamos o sistema céfalo-caudal para avaliarmos as
condições clínicas das crianças. Naturalmente, houve
resistência para essa mudança, uma vez que estávamos
acostumadas com um método e, de repente,
defrontamos com uma nova realidade.
As dificuldades que podemos relacionar no início
foram: a não-familiaridade com o assunto, a
necessidade de se desligar do velho paradigma, a
adaptação do sistema por padrão de reação humana
com a criança, os valores biológicos sobrepondo os
outros (espiritual, emocional, social), o domínio da
linguagem e a praticidade da avaliação céfalo-caudal
em relação ao cuidar.
Observamos que essa transição de modelo levou
a muitos dissabores, já que a mudança envolveu todas
as colegas de trabalho.
Para os alunos que participaram dessa transição,
também foi muito difícil, visto que alegavam que
determinado docente ensinava de uma maneira,
enquanto o outro, de modo diferente. Ficando a
insegurança quanto ao novo e confiança no antigo
modelo.
Hoje, com o amadurecimento, conhecimento e
principalmente mudança de visão, conseguimos
trabalhar com o modelo por padrão de reação humana.
Tornou-se mais fácil, proporcionando, de forma direta,
os diagnósticos para as possíveis intervenções de
enfermagem.
Certamente que todas as dificuldades
mencionadas ainda não foram totalmente sanadas, pois
parte do modelo não é possível contemplar com a
criança pequena (recém-nascidos, lactentes e préescolares), porque, às vezes, as informações são
colhidas com a mãe, acompanhante ou no próprio
prontuário da criança. Itens como enfrentar, participar,
escolher, sentir e conhecer tornam-se vagos, por isso
há necessidade de adaptarmos esses a outro item:
o relacionar.
As disciplinas, atualmente, adotam esse modelo,
nosso aluno possui um domínio cada vez maior sobre
a sistematização, a linguagem tornou-se uniforme em
várias disciplinas e, a cada ano que acompanhamos
os estágios práticos, sentimos que estamos
caminhando, cada vez mais firmes e seguros,
proporcionando ao discente um guia para que possa
atuar como futuro enfermeiro no mercado de trabalho.
Reflexão sobre a experiência na implementação do histórico de
enfermagem nas unidades de alojamento conjunto, berçário e creche
Nem sempre é fácil interpretar os sinais clínicos
de um paciente, essa tarefa se torna ainda mais
complicada quando atendemos a pacientes muito
pequenos, que não nos fornecem com exatidão o que
a doença está lhes provocando de alteração. A
informação obtida através de aparelhos e do exame
físico, mais o histórico de enfermagem, requerem uma
interpretação subjetiva que dificulta, principalmente
quando ainda somos muito inexperientes, a chegar a
conclusões acertadas para dar continuidade a todo o
processo de enfermagem.
Os alunos de graduação, apesar de lidarem com
o padrão de reação humana durante dois anos, antes
de entrarem em contato com o paciente de zero a
dois anos sentem muita dificuldade em encaixar e
interpretar os dados referentes a esses clientes,
tornando necessário um acompanhamento e
orientações constantes com relação ao exame físico e
preenchimento do histórico de enfermagem.
O histórico completo por padrão de reação
humana não é preenchido em todas as suas
características para a criança de zero a dois anos,
tornando-se necessária, portanto, uma adaptação, na
qual muitos itens ficam sem serem preenchidos, o que
gera no aluno de graduação mais dúvidas se o processo
executado por ele está sendo realizado da maneira
correta.
Devido a esse fato, como professoras da
disciplina de pediatria e neonatologia, decidimos criar
um modelo mais simplificado que melhor direcionasse
o aluno com relação à coleta de informação e
seguimento dos cuidados de enfermagem, que já foi
proposto em parte que compõe esse trabalho.
Conclusões
Todos os profissionais que lidam com a área de
pediatria sabem como é difícil lidar com a criança
doente e seus familiares, colher informações
!!
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pertinentes a seu estado de saúde atual ou anterior, às
causas da doença atual, a ansiedade, a não adaptação
da criança a um ambiente estranho. Em nossa prática
como docentes, vivemos essa dificuldade também,
porém, acreditamos que o emprego do padrão de
reação humana é viável, sendo necessário realizarmos
as adaptações já mencionadas anteriormente.
Acreditamos que um exame físico bem
detalhado, uma coleta de dados na qual o examinador
fique atento às informações subjetivas, às entrelinhas,
seja a melhor maneira de atender a essa classe de
clientes, não importando as adaptações feitas, e sim a
habilidade do profissional em conseguir uma boa
coleta de informações.
Temos em mente que esse assunto merece ser
mais explorado e estudado para fornecer um meio ou
um roteiro que melhor guie o aluno e profissional no
atendimento da criança e seus familiares.
Podemos acrescentar que na nossa experiência
de docência o observado é que o discente, hoje, está
mais seguro, rápido e realizando a sistematização da
assistência de Enfermagem com maior eficiência que
antes, cremos que nós, professoras, também estamos
mais preparadas em relação a esse assunto.
Gostaríamos, com esse trabalho, de deixar para
os colegas de profissão que não acreditam ou que estão
inseguros quanto à realização da sistematização, que a
persistência e dedicação são elementos imprescindíveis,
porém, há necessidade de um mergulho mais profundo
sobre o assunto, que refletirá, com certeza, um marco
diferencial no trabalho cotidiano desenvolvido com
esses pacientes tão importantes para nós.
Referências
1.
2.
3.
4.
Cianciarullo TI, Gualda DMR, Melleiro M. & Anakubi,
MH. Sistema de assistência de enfermagem: evolução
e tendências. São Paulo: Ícone; 2001.
Iyer PW, Taptich, BJ, Losey DB. Processo e diagnóstico
de enfermagem. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993.
Toledo VP. Sistematização da assistência de
enfermagem em um ser viço de reabilitação
psicossocial. [Tese]. Ribeirão Preto: Departamento de
Enfermagem Universidade de São Paulo; 2002.
Marconi M, Lakatos EM. Metodologia do trabalho
científico: procedimentos básicos, pesquisa
bibliográfica, projeto e relatório, publicações e
trabalhos científicos. 5a ed. São Paulo: Atlas; 2001.
!"
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Revisão
Análise crítica da literatura sobre a aspiração
da traqueotomia em laringectomizados
Elizabeth Barichello*, Márcia Maria Fontão Zago**
*Mestre em Enfermagem Fundamental pela EERP/USP, ** Doutora, Professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP.
Resumo
Este estudo teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico, em relação à técnica de aspiração de traqueotomia
nos laringectomizados, e analisar o que está preconizado pela literatura. A amostra foi composta por 104 publicações, entre
artigos e capítulos de livros, das quais foram selecionadas 21, que traziam ações, justificativas ou ambas para a técnica de
aspiração. A maioria dos autores concorda que a técnica deve ser realizada de modo asséptico, porém os estudos são todos
descritivos, baseados em fraca evidência clínica.
Palavras-chave: laringectomia, aspiração, técnica de enfermagem.
Abstract
Critical analysis of the literature abaout the aspiration
of tracheotomy in laryngectomees
The aim of this study is a bibliographical survey on the technique of tracheotomy aspiration in laryngectomees and to
analyze what is advised in the literature. The sample consisted of 104 publications, including articles and book chapters, out
of which 21 were selected, since they presented actions, justifications or both for the aspiration technique. Most of the
authors agree that the technique should be done in an aseptic way; however, the studies are all descriptive, based on weak
clinical evidence.
Key words: laryngectomy, aspiration, nursing technique.
Artigo recebido em 2 de janeiro de 2004; aceito em 21 de janeiro de 2004.
Endereço para correspondência: Elizabeth Barrichello, Rua Adalberto Pajuaba,
957/26 Bl C, Sumarezinho, 14055-220 Ribeirão Preto-SP
Tel.: (16)633-0293, (34)3322-4855, E-mail: [email protected]
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Resumen
El análisis crítico de la literatura sobre la aspiración
de traqueotomía en laringetomizado
El objeto de este estudio es realizar un levantamiento bibliográfico referente a la técnica de aspiración de traqueotomía en los
laringectomizados y analizar lo que está preconizado por la literatura. La muestra fue compuesta por 104 publicaciones, entre
artículos y capítulos de libros, de las cuales seleccionaron 21, que traían acciones, justificaciones o ambas para la técnica de
aspiración. La mayoría de los autores está de acuerdo que la técnica debe realizarse de una manera aséptica; sin embargo, los
estudios son todos descriptivos, basados en evidencia clínica débil.
Palabras-claves: laringectomía, aspiración, técnica de enfermería.
Introdução
Nas últimas décadas, a enfermagem cirúrgica tem
buscado o aprimoramento da sua assistência
fundamentando-se em modelos pragmáticos de
prática. Esses modelos consistem em um sistema de
padrões hierárquicos compreensivos, que definem o
nível de desempenho da equipe, ou em uma série de
condições pré-determinadas e aceitáveis pela filosofia
do serviço e da instituição de saúde, que fornecem
parâmetros para as intervenções [1,2,3,4].
Ultimamente, avanços no conhecimento da
prática têm sido obtidos por pesquisas, que permitem
um aprimoramento na qualidade da assistência. Assim,
a aplicação dos resultados de pesquisas na prática temse revelado importante, para melhorar a qualidade da
assistência e conter o custo dessa assistência [1-5,6].
Os modelos pragmáticos são instrumentos, que
avaliam as condições fisiológicas e psicossociais do
paciente acometido por uma determinada patologia,
e sob um regime terapêutico, e propõem intervenções
específicas para cada situação [4-6].
No caso do tratamento cirúrgico, independentemente do período operatório em que o paciente se
encontra, a assistência de enfermagem tem como
objetivos a minimização de complicações pós-operatórias, a recuperação fisiológica precoce e a reabilitação
biopsicossocial do paciente.
Dentre os variados procedimentos cirúrgicos,
laringectomias necessitam de cuidados considerados de
grande complexidade para a enfermagem, devido à
possibilidade de complicações pós-operatórias e à
mutilação fisiológica e psicossocial que acarretam para
o paciente [7,8]. Frente a estas condições, faz-se
necessário que a enfermagem atue com atenção e
objetivamente, para minimizar os problemas. Os
conhecimentos científicos que fundamentam a
assistência de enfermagem devem ser colocados em
prática já no período pré-operatório, durante o qual todo
esforço deve ser feito a fim de identificar as necessidades
de informação que orientarão o paciente, tais como
as relacionadas com as atividades pré-operatórias, os
possíveis resultados da cirurgia e os cuidados no pósoperatório, tendo em vista a sua reabilitação.
Nas laringectomias, o cuidado com a traqueotomia, seja ela temporária ou permanente, é o que
mais atenção requer dos profissionais, no período pósoperatório imediato e mediato, devido a sua importância para a manutenção da função respiratória, vital
para o paciente. Relacionados a este tema, alguns
aspectos da literatura apresentam-se mesmo contraditórios, deixando à enfermagem o julgamento individual a respeito do procedimento correto. Como a
enfermeira é a responsável pelo cuidado prestado, é
importante que ela seja adequadamente treinada e
competente.
As contradições descritas na literatura, quanto ao
procedimento e suas justificativas, remetem-nos a
considerar suas bases científicas. O cuidado de enfermagem com a traqueotomia, requer conhecimentos
científicos, habilidades psicomotoras e utilização de
materiais adequados. Na situação do laringectomi-zado,
o cuidado com a traqueotomia pode favorecer a sua
recuperação fisiológica, como também pode ser origem
de complicações agravantes para a sua recuperação.
O aprimoramento dos procedimentos de enfermagem, pela pesquisa, é um aspecto essencial para a
promoção da qualidade da assistência, com repercussões: na recuperação e na qualidade de vida do paciente, na redução de gastos hospitalares e no reconhecimento do profissional enfermeiro pela equipe
multiprofissional. Deste modo, surgiu a necessidade
de realizar um levantamento bibliográfico, com o
objetivo de determinar o que está preconizado pela
literatura, em relação ao cuidado com a aspiração do
laringectomizado.
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Objetivo
Foi com base nessas considerações, que o
objetivo geral desse estudo foi fixado, tendo em vista
analisar criticamente a literatura em relação ao
procedimento de aspiração de traqueotomia nos
laringectomizados.
Procedimentos metodológicos
Este estudo consistiu da fase inicial de uma
pesquisa metodológica fundamentada no modelo de
utilização de resultados de pesquisa na prática para o
desenvolvimento de protocolos [7]. O modelo da
autora propõe, como passo essencial, a delimitação
de um problema clínico ou administrativo a ser
esclarecido. Para esta pesquisa, o problema foi definido
nos seguintes termos: “contradições na prática do
cuidado com a aspiração da traqueotomia do
laringectomizado”.
– não se colocou data para a revisão da literatura,
visto que o interesse era de formular uma revisão
bibliográfica mais completa possível, para definir quais
mudanças ocorreram durante os anos das publicações;
– pesquisas realizadas somente com seres
humanos;
– sem delimitação de idade;
– ambos os sexos.
Acervos particulares
Neste grupo, foram pesquisadas todas as publicações que abordam o tema do estudo, referentes aos
cuidados com a aspiração do laringectomizado,
encontradas e cedidas pelas docentes da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto – USP. Não foi levado
em conta o ano de publicação.
A busca foi realizada manualmente e o número
total de publicações nesta categoria foi 16, compreendendo artigos de periódicos e capítulos de livros.
Critérios para o levantamento bibliográfico
A coleta de dados se desenvolveu segundo os
critérios:
– O levantamento bibliográfico foi delimitado
por artigos que abordavam os cuidados com a
aspiração da traqueotomia.
– Para obtenção de rigor e uniformização de
dados, foram estabelecidos os seguintes critérios, para
a seleção dos artigos:
• artigos que abordassem o cuidado acima
exposto;
• artigos indexados nos bancos de dados do
MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval
Sistem on line) e acervos particulares;
• artigos publicados em periódicos nacionais e
internacionais;
• artigos publicados em inglês, espanhol ou
português;
• artigos localizados na Biblioteca Central da
Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, COMUT
(Programa de Comutação Bibliográfica), Bio-Medical
Library da Universidade de Minnesota (USA) e acervos
particulares.
Medline
No Medline, foram utilizadas as seguintes
palavras chaves e agrupamentos: laryngectomy and
suction; laryngectomy and nursing care; tracheostomy
and suction; tracheostomy and nursing care. A busca
foi realizada em novembro de 2001, com os seguintes
critérios:
Resultados e discussão
Medline
Como resultado, foi selecionado um total de 127
artigos, no período de 1968 a 2001. Destes, 88 artigos
foram localizados para análise nos seguintes locais:
Biblioteca Central da Universidade de São Paulo de
Ribeirão Preto, COMUT, Bio-Medical Library da
Universidade de Minnesota (USA) e nos acervos
particulares.
Tabela I - Distribuição dos artigos indexados, conforme
localizados ou não, da fonte de indexação Medline,
segundo as respectivas palavras chaves. Ribeirão Preto,
2002.
Palavras
chaves
T/NC
T/S
L/NC
L/S
TOTAL
Localizados
N%
56 71,8
0857,1
23 71,9
01 33,3
88 69,3
Não Localizados
N%
22
06
09
02
39
28,2
42,9
28,1
66,7
30,7
Total
N%
78 100
14 100
32 100
03 100
127 100
T/NC - tracheostomy and nursing care
T/S - tracheostomy and suction
L/NC - laryngectomy and nursing care
L/S - laryngectomy and suction
Acervos particulares
O número total de amostras foi de 16 artigos,
entre os quais encontram-se artigos de periódicos e
capítulos de livros, expostos na tabela 2.
!%
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Tabela II - Distribuição da amostra segundo o tipo de
fonte. Ribeirão Preto, 2002
Análise
Resumidamente, da análise crítica dos artigos
pode-se pontuar:
• Catorze artigos não especificam o tipo de
paciente com traqueotomia. São artigos descritivos
baseados na revisão da literatura ou na própria prática
Assim, a totalidade da amostra foi de 104 artigos
dos autores, destes, onze recomendam a técnica
(88 do Medline e 16 dos acervos particulares). [9],
asséptica, dois a técnica séptica e um recomenda a
referem que a seleção de artigos que se destinam a
técnica asséptica no período mediato e o uso de luvas
compor uma pesquisa documental deve ter, no
de procedimento (não estéreis) quando o estoma
mínimo, 30% do total de artigos, com vistas de
estiver definido;
credibilidade ao estudo. Salientamos que só pelo
• Cinco artigos focalizam especificamente a
levantamento realizado pelo Medline foram
aspiração da traqueotomia do laringectomizado, destes,
localizados 69,3%.
quatro recomendam a técnica asséptica no pósoperatório imediato e um
Tabela III - Distribuição segundo o delineamento metodo-lógico de cada artigo. recomenda a técnica asséptica no
Ribeirão Preto, 2002.
pós-operatório imediato e séptica
Design
Estudos
Estudos
Estudos
Artigos de
quando o paciente é ensinado a
descritivos
quaseexperimentais
revisão
aspirar, estes artigos são descritivos;
experimentais
literária
• Dois artigos focalizam
MEDLINE
39
02
06
41
pacientes de terapia intensiva e
Acervos
politraumatizado, são descritivos,
particulares
01
15
um recomenda a técnica asséptica
Total
39
02
07
56
e o outro, a técnica séptica.
Vale salientar que os estudos
Pela tabela, vemos que os artigos de revisão
descritivos, por serem baseados em revisão da literatura
literária totalizaram 56 das publicações analisadas.
ou na prática assistencial, apresentam uma fraca
Estes artigos não descrevem uma metodologia de
evidência científica. Mas, sem dúvida, a aspiração da
pesquisa específica e apresentam uma revisão do
traqueotomia é um procedimento contraditório na
assunto com base em informações de outros autores.
literatura e na situação prática.
Após a leitura exaustiva de cada uma das
A aspiração é requerida por dois motivos [10]:
publicações, foram selecionados os artigos que traziam
a) A presença da traqueotomia impossibilita um
as ações, justificativas ou ambas, sobre a técnica de
aumento suficiente da pressão intra-abdominal,
aspiração da traqueotomia.
necessário para a tosse e expulsão de secreções da via
Por meio desses artigos, foi realizada a análise
aérea (o paciente consegue aumentar suficientemente
crítica dos conteúdos e, assim, buscando alcançar o
a pressão somente quando propositadamente oclui o
objetivo geral da pesquisa, que foi o de analisar o que
orifício do tubo de traqueotomia, durante a expiração);
está sendo preconizado pela literatura, em relação ao
b) Inicialmente, o tubo de traqueotomia causa
procedimento de aspiração em laringectomizados.
irritação na mucosa da traquéia, ou seja, atua como
No total dos 104 artigos analisados (88 do Medline
um corpo estranho, que ocasiona aumento da
e 16 de acervos particulares), os que trouxeram as ações
produção de secreção.
e justificativas estão na próxima tabela.
Portanto, o objetivo da aspiração é manter a via
aérea limpa e uma respiração com características
Tabela IV- Distribuição dos artigos, nos levantamentos
normais, sem causar trauma ou hipóxia. Se a aspiração
bibliográficos do Medline e acervos particulares, que
não for realizada corretamente, pode causar muitas
indicam a ação e a justificativa, para a realização da
complicações e os três problemas mais comuns são:
técnica de aspiração da traqueotomia. Ribeirão Preto,
trauma, hipóxia e infecção. Este último pode ocorrer
2002.
na presença de um trauma traqueal, com introdução
Cuidado
Ação
Justificativa
Total
da bactéria durante a aspiração, se o cateter estiver
MEDLINE
09
03
12
contaminado. Conseqüentemente, pode ocorrer
Acervos particulares
11
07
18
traqueíte, pneumonia e favorecimento de formação
Total
20
10
30
de fístula. Deste modo, os cateteres devem permanecer
Tipo de fonte
Capítulo de livro
Artigo de periódico
Total
Número
11
05
16
%
68,8
31,2
100
!&
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estéreis durante a sua utilização e devem ser utilizados
somente uma vez [11].
A aspiração da traqueotomia não deve ser
realizada com base no horário prescrito, mas após a
avaliação das características respiratórias do paciente,
a fim de que ocorra uma diminuição das complicações
associadas à mesma, (hipóxia, arritmia, aumento da
pressão arterial, aumento da pressão intracraniana e
danos do tecido da traquéia). Ela deve ser realizada
quando o paciente não consegue eliminar, por si
próprio, as secreções. A eliminação traqueobrônquica
ineficaz como sendo: “estado no qual o indivíduo é
incapaz de eliminar secreções ou obstruções do trato
respiratório, para mantê-lo livre [12]”.
A aspiração pode ser, para o paciente um
procedimento assustador e uma experiência não
prazerosa, necessitando ser executada de forma
confiável e rápida. “A aspiração ideal é aquela que,
quando realizada, remove a maior quantidade de
secreção, com um mínimo de dano ao tecido e um
mínimo de hipóxia. [10]”.
Além disso, as condições clínicas do
laringectomizado são diferentes das dos pacientes
traqueotomizados de uma Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), por exemplo. Evidentemente, essa
afirmação está baseada em observação não
sistematizada. Ainda há o fato de que no pósoperatório, o paciente que foi submetido à cirurgia de
laringectomia total é um paciente consciente, que
responde aos estímulos de tosse, e em menos de 24
horas já deambula, o que favorece a expansão
pulmonar. Assim, a aspiração da traqueotomia deve
ser feita de forma criteriosa e sua freqüência dependerá
da quantidade de secreção e da dificuldade do paciente
em expeli-la pela tosse.
Outro fator, que é um ponto a ser considerado,
é o custo do procedimento. Certamente, a utilização
de materiais esterilizados eleva o custo e o tempo
necessário para execução do procedimento, pois a
manipulação do material necessitará de ações
específicas que, inclusive, podem requerer o
envolvimento de mais de um profissional para sua
implementação. Além do exposto, na vigência de
algum incidente, que ocasione a contaminação do
material, será necessário o seu descarte e a utilização
de outro material, se a técnica asséptica for
rigorosamente implantada.
A experiência dos enfermeiros do GARPO
(Grupo de Apoio e Reabilitação de Pessoas
Ostomizadas – Laringectomizados), em enfermarias
de Clínica Cirúrgica de Cabeça e Pescoço, de uma
instituição hospitalar, durante vários anos, baseou-se
no uso de técnica séptica. Esta era realizada com luvas
de procedimento (em ambas as mãos), cateter estéril,
gazes estéreis e frascos estéreis. Porém, diferentemente
das técnicas descritas anteriormente, após a aspiração,
o cateter era guardado dentro de um frasco sem
qualquer líquido dentro dele, e que foi utilizado para
limpar a sonda durante a aspiração. Assim, o cateter
era reutilizado em futuras aspirações e trocado uma
vez em cada plantão. Com isso, em um período de 24
horas, utilizavam-se somente três cateteres, sendo que
os frascos eram trocados a cada 24 horas. Caso
houvesse necessidade de aspirar a boca, utilizava-se
um outro cateter, e este era armazenado em um outro
frasco, obedecendo ao mesmo critério do cateter
utilizado na aspiração da traqueostomia.
Em um estudo retrospectivo [13], identifica-se
o cuidado com a aspiração da traqueotomia com a
técnica séptica era mais eficiente do que com a técnica
asséptica. Para tanto, ela mensurou os níveis de
complicações pós-operatórias em relação ao
aparecimento ou não de infecção pulmonar,
consultando os prontuários de pacientes de cabeça e
pescoço, de três instituições hospitalares. As autoras
relatam que, independente do diagnóstico médico, a
infecção hospitalar ocorreu em 3% a 15,5% dos
pacientes hospitalizados por ano, sendo que 16% das
vezes ocorreram no trato respiratório. Os agentes
etiológicos Enterobacter e Pseudomonas sp foram os mais
freqüentes responsáveis pela morbidade e mortalidade.
Com relação à traqueostomia, a infecção respiratória
ainda foi uma de suas maiores complicações, com
índices de infecção pulmonar pós-laringectomia de
25% a 57%.
Com os dados acima, apreendemos que a técnica
asséptica seria estritamente necessária para a redução
de infecções. Um aspecto adicional para a
recomendação da técnica asséptica, decorre do fato
que quando se utiliza a classificação de feridas em
limpa, contaminada ou suja, a cirurgia de Cabeça e
Pescoço é considerada potencialmente suja, pois as
bactérias da orofaringe infestam e colonizam outras
regiões anatômicas da cabeça e pescoço, durante a
cirurgia, regiões estas normalmente consideradas
estéreis. Entretanto, a técnica séptica não aumenta o
nível de infecção pulmonar no laringectomizado, em
relação à técnica asséptica, porém, as autoras não
justificam os seus achados [13].
No estudo retrospectivo [14] realizado na mesma
instituição hospitalar em que o GARPO atua, na
mesma enfermaria e com a técnica descrita acima,
foram estudadas as complicações pós-operatórias nos
laringectomizados totais, nas fases do pós-operatório
imediato, mediato e tardio. Nas complicações
mediatas, constatou-se a infecção respiratória em
apenas um dos 14 pacientes avaliados, sendo que as
complicações mais freqüentes foram as deiscências
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de sutura mais fístula (quatro casos) e infecção da ferida
operatória mais deiscência de sutura (dois casos). A
fístula faringo-cutânea é resultado de técnica cirúrgica
inadequada, ou de ruptura do tecido de proteção da
ferida por infecção e reação orgânica aos fios
cirúrgicos. A fístula pode cicatrizar espontaneamente
ou requerer intervenção cirúrgica. Esses resultados
destacam que as complicações respiratórias dos
laringectomizados não foram decorrentes da utilização
da técnica séptica de aspiração da traqueostomia e,
sim, dos fatores orgânicos do paciente e da técnica
cirúrgica empregada.
Considerando que é o cateter que entra em
contato com a traquéia, a manutenção da sua esterilidade é o que garante a não contaminação respiratória.
Entretanto, esta ação também não é adequada, visto
que não garante a esterilidade do cateter.
Após a análise dos artigos, concluímos que o
que diferencia uma técnica da outra é o tipo de luva
utilizada durante o procedimento. A técnica asséptica
indica o uso de luvas esterilizadas e a séptica, as de
procedimento. As justificativas utilizadas pelos autores
para o uso de luvas esterilizadas são exclusivamente
para evitar o risco de infecção ao paciente. Porém,
todos os artigos são de design descritivos e, portanto,
não sendo resultados de pesquisas experimentais, não
oferecem fortes evidências. Assim, não há como
afirmar que o uso de luvas de procedimento irá levar
ou aumentar o risco de infecções para o paciente.
Como regra, concordamos que o cateter de
aspiração deve ser usado apenas uma vez, o que é
recomendado pelos autores consultados.
Muito tem sido escrito sobre os princípios da
aspiração, mas as técnicas de aspiração são variáveis e
os princípios não são sistematicamente seguidos,
resultando em riscos para o paciente. No entanto, a
aspiração é uma parte essencial do cuidado ao paciente:
todos os pacientes com traqueotomia requerem
aspiração, alguns mais que outros, e ela pode causar
complicações, se realizada incorretamente.
Pelas publicações analisadas fica claro que, na
aspiração das secreções da traqueotomia, nem a técnica
asséptica, nem a técnica séptica, é baseada em
evidências obtidas por estudos delineados por rigor
científico. Os princípios usados pela enfermagem e
outras áreas da saúde para o procedimento são
históricos, tomados como verdades científicas.
A delimitação de um kit, contendo todos os
materiais necessários para a aspiração da traqueotomia
do laringectomizado, e o treinamento dos profissionais
para a realização do procedimento são aspectos que
devem ser revistos pelos serviços.
Hooper afirma que “devido às conseqüências
da aspiração, os profissionais devem seguir protocolos
baseados em dados fidedignos de pesquisa clínica, que
indiquem a mais segura e menos traumática técnica
de aspiração”. Porém, como todos artigos que trazem
os passos para a aspiração não são baseados em fortes
evidências científicas, não podemos afirmar qual é a
técnica correta para esse procedimento. Ao avaliarmos
os dois artigos com métodos de maior rigor, também
não é possível chegar a uma conclusão.
Considerações finais
Na revisão da literatura, encontramos 104 artigos
publicados, no período de 1968 a 2001, sendo que 88
foram localizados pelo Medline e 16 em acervos
particulares. Entretanto, 56 artigos seguiram o método
de revisão de literatura e 39 são artigos descritivos,
baseados na prática assistencial dos seus autores. Estes
resultados permitem-nos concluir que os enfermeiros
não estão realizando estudos com delineamento e rigor
metodológicos, sobre os cuidados com a traqueotomia
e, desse modo, não estão demonstrando evidências
científicas de suas recomendações de ações.
Com a análise crítica dos conteúdos dos artigos,
concluímos que:
• Em relação à aspiração da traqueotomia, há
prevalência da afirmação de que se deve seguir a
técnica asséptica, porém, sem comprovar a sua
adequação;
• A contradição entre a técnica asséptica e séptica,
pelos autores, está em relação ao uso da luva estéril e
a de procedimento (não estéril);
• Considerando que muitas das publicações
analisadas não se atém especificamente ao cuidado
com a traqueotomia do laringectomizado, é importante
considerar as especificidades das condições orgânicas
dos pacientes submetidos aos diferentes tipos de
laringectomia. Certamente, essas condições são
distintas das de outros pacientes traqueotomizados,
como por exemplo, em problemas neurológicos,
politraumatismos e outras.
Finalizando, a elaboração deste estudo fornecenos respaldo para recomendar aos enfermeiros, que
atuam com os laringectomizados, a reverem criticamente as suas ações de cuidado, para que rompam
com o conhecimento ritualístico (histórico, mecânico
e valorizado) e iniciem uma nova etapa assistencial
baseada em evidências científicas.
Referências
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research-based innovation protocols: process, criteria,
and issues. Research in Nursing and Health; 1979.
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Estudo de caso
A importância do diagnóstico de enfermagem
no cuidado de um paciente com úlcera
de pressão pós AVC acompanhado pelo
Programa de Saúde da Família
*Maria Paula Soares da Silva
*Enfermeira Formada pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ), Habilitada em Enfermagem Médico-cirúrgica e Licenciatura Plena, Docente
do curso Técnico de Enfermagem do Centro Paula Souza em SP
Resumo
O presente estudo tem como objetivo relatar o estudo de caso de um paciente vítima de um AVC que esteve internado, em
uma instituição hospitalar, no período de 06/04/2003 a 26/04/2003, e que obteve alta hospitalar com uma úlcera de pressão
em região sacro-glútea. Para o alcance dos objetivos estabelecidos, desenvolvemos uma pesquisa descritiva do tipo estudo de
caso e quantitativa. Durante as visitas domiciliares, o paciente foi submetido a curativo diário com papaína creme a 1% e
orientação nutricional. O instrumento de coleta de dados constou do exame físico e do protocolo de avaliação de feridas, a
entrevista ficou prejudicada devido ao grau de confusão mental apresentado pela paciente. As informações referentes à
coleta de dados foram registradas na sistematização da assistência de enfermagem utilizada no PSF (Programa de Saúde em
Família). Mediante o estudo do caso clinico foi realizado o levantamento dos diagnósticos de enfermagem, seguindo como
referência a Taxonomia II da Nanda (North American Diagnosis Association), no qual encontramos 8 diagnósticos de enfermagem
e 24 características definidoras. Portanto, concluímos que a assistência de enfermagem voltada para a visita domiciliar no PSF
se torna mais qualificada quando podemos elaborar e traçar um plano de cuidado baseado em diagnóstico de enfermagem.
Palavra-chave: úlcera de pressão, sistematização da assistência de enfermagem, PSF.
Abstract
The importance of nursing diagnosis in a patient’s care with pressure ulcer post CVA
followed by Family Health Program
The aim of this study is to report case study of a patient victim of a CVA that was admitted in a Hospital Institution in the
period of 06/04/2003 until 26/04/2003, and was discharged from hospital with pressure ulcer in the sacrogluteal region. In
order to reach the main objectives, we develop a descriptive and quantitative research of case study type. During domiciliary
visits, the patient was submitted to everyday curative with papain cream 1% and nutritional guidance. Data collection instrument
Artigo recebido em 18 de novembro de 2003; aceito em 29 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Maria Paula Soares da Silva, Rua Rafael dos Santos
More, 175 Jd das Paineiras, Presidente Venceslau 19400-000 SP,
E-mail: [email protected]
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consists of physical examination and protocol of wounds evaluation, the interview was damaged due to patient’s mental confusion.
Data collected was recorded on the systematic nursing assistance used in the FHP (Family Health Program). Through study of
clinical case, it was carried out a diagnosis survey, according to Taxonomia II of Nanda (North American Diagnosis Association),
we found 8 nursing diagnosis and 24 defining characteristics. Therefore, we conclude that nursing assistance directed to domiciliary
visits in the PSF become more qualified when we can elaborate and trace a care plan based on nursing diagnosis.
Key-words: pressure ulcer, systematization of nursing assistance, FHP.
Resumen
La importancia del diagnóstico de enfermería en el cuidado de un paciente con
úlcera de presión pos AVC acompañado por el Programa de Salud de la Familia
El presente estudio tiene como objeto relatar el estudio de caso de un paciente victima de un AVC que estuvo internado, en una
Institución Hospitalaria en el período de 06/04/2003 hasta 26/04/2003, y que recibió el alta hospitalaria con una úlcera de
presión en región sacroglútea. Para el alcance de los objetivos establecidos, desarrollamos una pesquisa del tipo estudio de caso
y cuantitativa. Durante las visitas domiciliares, el paciente fue sometido al vendaje diario con papaína crema a 1% y orientación
nutricional. El instrumento de coleta de datos consistió de examen físico y del registro de evaluación de las heridas, la entrevista
quedó perjudicada debido al grado de confusión mental presentado por el paciente. Las informaciones referentes a la coleta de
datos fueron registradas, en la Sistematización de la Asistencia de Enfermería utilizada en el PSF. Mediante el estudio del caso
clínico fue realizado el levantamiento de los diagnósticos de Enfermería, tomando como referencia la Taxonomia II de la Nanda
(North American Diagnosis Association), en la cual encontramos 8 diagnósticos de enfermería y 24 características definidoras.
Por lo tanto, concluimos que la asistencia de enfermería volcada para la visita domiciliar en el PSF se vuelve mas calificada
cuando podemos elaborar y trazar un plan de cuidado basado en diagnóstico de enfermería.
Palabras-clave: úlcera de presión, sistematización de la asistencia de enfermería, PSF.
Introdução
Pacientes internados por um longo período,
principalmente aqueles acometidos de um AVC e com
precário estado nutricional, ficam sujeitos a adquirirem
uma úlcera de pressão em vários estágios de evolução.
Devido à falta de estímulo na movimentação, mudança
de decúbito pela equipe e orientação aos seus familiares, entre outros.
Para amenizar o sofrimento desses pacientes,
existem vários cuidados a serem executados pela
equipe, e que devem fazer parte de um protocolo de
cuidados de enfermagem. Porém uma vez a úlcera já
desenvolvida é necessário que a equipe execute
cuidados diariamente, como curativos oclusivos, de
vários tipos, uso de papaína creme, hidrocolóides,
dependendo do estágio da lesão.
Existem vários trabalhos publicados quanto ao
uso da papaína em feridas que comprovam resultados
benéficos e satisfatórios na cura principalmente de
úlceras de pressão.
A papaína é um complexo enzimático contido
no látex do vegetal Carica Papaya, formado por
enzimas proteolíticas e peridoxases, utilizada nas
industrias têxtil, de alimentos, borrachas, laboratórios
e na área médica. Nesta, tem sido apontados seus
efeitos desbridante, antiinflamatório e bactericida, que
acarretam maior velocidade da restauração tissular,
com a formação de tecido cicatricial estética e
funcionalmente adequados [1].
Segundo Hess [2] a úlcera de pressão é uma lesão
que acomete as várias camadas da pele, dependendo
do seu grau de profundidade. É uma lesão com
tendências à gangrena ou necrose dos tecidos, causada
pela deficiência na irrigação sanguínea, ocasionada por
uma pressão contínua, demorada e conseqüente falta
de nutrição do tecido, nos pacientes com afecções
graves do sistema nervoso, sobretudo nos pacientes
que se encontram impossibilitados de se movimentarem espontaneamente.
A maioria das úlceras de pressão desenvolve-se
quando o tecido mole é comprometido entre uma
proeminência óssea (como o sacro) e uma superfície
externa (como um colchão ou assento de cadeira) por
um longo período. A pressão aplicada com grande
intensidade durante um curto período ou com menos
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intensidade durante um período mais longo, diminui
a irrigação sanguínea para a rede capilar, prejudicando
o fluxo para rede capilar, prejudicando o fluxo
sanguíneo para os tecidos circundantes e privando os
tecidos de oxigênio e nutrientes. Isso gera isquemia
local, hipóxia, edema, inflamação e, em última
instância, morte celular. O resultado é uma úlcera de
pressão, também conhecida como escara, úlcera de
decúbito ou ferida de pressão.
Segundo Smeltzer [3] quando a pessoa está
imóvel e inativa, a pressão é exercida sobre a pele e o
tecido subcutâneo por objetos sobre os quais a pessoa
repousa, tais como o colchão, o assento da cadeira ou
a calha. O desenvolvimento de úlceras está diretamente
relacionado à duração da imobilidade. Se a pressão é
prolongada, ocorrem a necrose tissular e a trombose
de pequenos vasos, resultando na úlcera de pressão.
Mediante a problemática apresentada pelos
pacientes portadores de úlcera de pressão, principalmente os acometidos pelo AVC, concluímos que há
necessidade de que sejam elaboradas diretrizes para
os enfermeiros que atuam em PSF, para que possam
ajudar a avaliar, do ponto de vista da enfermagem as
condições dos pacientes que apresentam úlcera de
pressão, precárias condições de higiene e baixo nível
nutricional e a iniciar as intervenções necessárias de
forma eficiente e objetiva. A implementação de uma
sistematização da assistência contribui para a melhora
da qualidade da assistência de enfermagem aos
pacientes vítimas de úlcera de pressão.
O processo de enfermagem é um instrumento
metodológico que tem favorecido na prática
profissional, no qual leva o profissional de
enfermagem a se orientar de como deve iniciar o seu
trabalho e de que forma, em curto espaço de tempo
e de maneira organizada. Segundo Nanda [4], o
diagnóstico de enfermagem é um julgamento clínico
sobre as respos-tas do individuo, da família ou da
comunidade aos problemas/processos de vida
vigentes ou potenciais. Os diagnósticos de
enfermagem proporcionam a base para a seleção de
inter venções de enfer magem visando obter
resultados pelos quais a enfermeira é responsável.
O diagnóstico de enfermagem é um método que
deveria ser utilizado em várias situações, pois favorece
a execução de uma assistência mais estruturada
definindo o papel do enfermeiro no ato de cuidar.
Este trabalho é baseado nos princípios científicos
voltados para a sistematização de enfermagem, no
intuito de oferecer uma assistência de enfermagem
qualificada e eficaz, através da identificação dos
diagnósticos de enfermagem e suas características
definidoras mais usualmente encontradas em pacientes
acometidos de AVC que são acompanhados pela
equipe do PSF.
Materiais e métodos
Para o alcance dos objetivos, foi desenvolvida
uma pesquisa descritiva do tipo estudo de caso e
quantitativa.
O estudo descreve um paciente que esteve
internado por 20 dias em uma instituição hospitalar,
vítima de AVC e que adquiriu uma úlcera de pressão
grau IV.
Após a alta hospitalar, o paciente passou a ser
acompanhado pela equipe do PSF, aonde foi traçado
um plano de cuidados para favorecer a recuperação
do paciente de forma disciplinada.
O instrumento de coleta de dados constou do
exame físico, entrevista com a família e protocolo de
avaliação de feridas.
As informações referentes à coleta de dados
foram registradas no prontuário da paciente
juntamente com a sistematização da assistência de
enfermagem utilizada pelas enfermeiras do PSF.
Estudo de caso do paciente vitima de AVC
Número do registro no PSF: 1752
L.M.O, 77 anos, feminino, viúva, branca,
aposentada. Procedente da Santa Casa Local, vitima
de AVC, segundo relato da família.
História de hipertensão ar terial, sem
tratamento medicamentoso, e em uso atualmente
de AAS 100 mg (2cp ao dia) e Cimetidina 200mg (
12/12 horas).
No momento encontra-se confusa, não
responde às solicitações verbais com coerência,
mucosas hipocoradas, hipohidratada, caquética,
estado precário de higiene, curativo sem ser
realizado há aproximadamente uma semana (SIC).
A família informa que a paciente está sem se
alimentar correta-mente. Apresentando hemiplegia
à esquerda, úlcera de pressão em região sacro-glútea
profunda medindo cerca de 12 cm de diâmetro e 5
cm de profundidade, com presença de exsudato de
coloração esverdeada, odor fétido, fibrina e tecido
de granulação (Grau IV).
Abdome distendido, indolor a palpação superficial e profunda, peristalse ausente, função intestinal
ausente há 5 dias, diurese preservada, MMII sem
edemas, pele ressecada, unhas com sujidade.
PA: 140X70 mmHg, FC: 88 bpm, R: 20 rpm e
Tax: 36.5º
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Após visita domiciliar do médico, foi
acrescentado na prescrição Cefalexina suspensão por
10 dias e Dipirona 35 gostas SOS.
Foi realizado curativo com Soro fisiológico 0,9%
em jatos e papaína a 1%. Curativo este que passou a
ser realizado 2 vezes ao dia.
Orientada quanto à necessidade de uma ingesta
alimentar hiperproteica e hipercalórica.
Resultados
• Incapacidade de realizar higiene pessoal;
• Incapacidade de pegar água ou ir ao banheiro;
• Incapacidade de lavar o corpo ou partes dele.
4 - Distúrbio do Padrão do Sono: relacionado com fatores
biológicos ou psicológicos
“É a incapacidade de satisfazer a necessidade
individual de sono ou repouso, causada por fatores internos
como ansiedade, depressão, estresse, doença, tratamento
farmacológico ou distúrbio do biorritmo” [5].
Após os cuidados de enfermagem que foram
implementados, o paciente evoluiu de maneira significante, havendo melhora, principalmente, do seu nível
de consciência.
Mediante os problemas encontrados no paciente,
foram identificados os seguintes diagnósticos de
enfermagem:
Características definidoras
• Alterações no comportamento ou no desempenho, incluindo-se desorientação, irritabilidade exacerbada, letargia, inquietude, agitação;
• Dificuldade para adormecer, sono interrompido.
1 - Confusão aguda
Segundo Nanda [4] é a limitação no movimento
físico independente e voluntário do corpo ou de uma
ou mais extremidades.
“Inicio abrupto de um conjunto de mudanças e
distúrbios globais e transitórios na atenção, na
cognição, na atividade psicomotora, no nível de
consciência e/ou no ciclo sono/vigília”.
Características definidoras
• Falta de motivação para iniciar e/ou continuar
um comportamento determinado ou direcionado a
um objeto;
• Agitação ou inquietação aumentadas;
• Flutuação no nível de consciência;
• Flutuação no ciclo sono/vigília.
2 - Nutrição alterada: ingestão menor
do que as necessidades corporais
Segundo Sparks et al [5], é a alteração do padrão
dietético habitual, resultando em alteração de peso.
Características definidoras
• Falta de interesse pelos alimentos;
• Palidez das conjuntivas e mucosas;
• Tônus muscular reduzido.
3- Déficit no autocuidado: banho e higiene
Segundo Sparks et al [5] é a incapacidade de
realizar as atividades relacionadas ao banho e à higiene.
Características definidoras:
• Evidência clínica de debilidade músculoesquelética;
5 - Mobilidade física prejudicada
Características definidoras
• Mudanças na marcha (p. ex., velocidade de marcha
diminuída, início da marcha dificultado, passos pequenos,
pés arrastando-se, oscilação postural lateral exagerada);
• Movimento tornado lento;
• Tremor induzido pelo movimento.
6 - Integridade da pele prejudicada relacionada
a fatores ambientais
“Perda da integridade da pele” [5].
Características definidoras
• Sinais clínicos de fatores externos afetando
negativamente a integridade da pele (agentes químicos,
frio, calor, pressão);
• Destruição das camadas da pele;
• Ruptura da superfície cutânea.
7 - Constipação
Nanda [4] define como a diminuição na
freqüência normal de evacuação, acompanhada por
dificuldade ou passagem incompleta das fezes e/ou
passagem de fezes excessivamente duras e secas.
Características definidoras
• Mudança no padrão intestinal;
• Abdome distendido;
• Freqüência diminuída.
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8 - Déficit de conhecimento relacionado com falta de orientação
“Compreensão inadequada das informações ou
incapacidade de realizar as atividades necessárias à
pratica dos comportamentos relacionados com a
saúde” [5].
Características definidoras
• Pouca familiaridade com recursos informativos;
• Solicitação de informações por parte do
paciente.
Mediante tais diagnósticos foi implementado a
seguinte prescrição de enfermagem:
1. Realizar banho de aspersão, incentivando a
higiene corporal;
2. Realizar curativo com papaína a 1% e soro
fisiológico (em jatos) 2 x dia;
3. Oferecer dieta hiperproteica e hipercalórica,
rica em fibras;
4. Incentivar aumento da ingesta hídrica;
5. Realizar movimentos passivos no leito;
6. Sentar fora do leito pela 3 x dia;
7. Realizar massagem corporal com solução
emoliente;
8. Usar posicionadores e protetores de espuma
em proeminências ósseas, quando deitado;
9. Controlar temperatura axilar;
10.Aumentar a freqüência da troca de roupa de
cama, mantendo sempre os lençóis bem esticados;
11.Incentivar a comunicação entre o paciente e
os familiares, de maneira lenta e tranqüila;
12.Manter o ambiente em ordem e silencioso.
Conclusões
Atuar em enfermagem requer estudo, perspicácia e
principalmente o desenvolvimento cientifico. O uso
sistemático e contínuo do diagnóstico de enfermagem vem
favorecer de forma significativa o atendimento de
enfermagem, principalmente nos pacientes que são
acompanhados pelo PSF e que não dispõe de informações
relacionadas a determinadas doenças, de como prevenilas e uma vez já instaladas, de como tratá-las.
O novo modelo assistencial vem fortalecer e
direcionar de forma clara o verdadeiro papel do
enfermeiro na saúde, comprovando significativa
melhora nas condições de vida e saúde da
população. Porém é necessário que o enfermeiro
se direcione para o cuidado terapêutico e que tenha
conhecimento de todos os produtos que existem
no mercado, crie protocolos e/ou siga os já
existentes através de diretrizes voltadas para o
processo de recuperação.
É importante que o enfermeiro utilize o diagnóstico de enfermagem, pois o direciona de forma clara
e precisa nas tomadas de decisões, que reconheça a
complexidade de seu papel em tomadas de decisões,
na determinação da terapia tópica ideal para cada ferida, e que realize o seu trabalho em equipe interdisciplinar.
Portanto é importante que o enfermeiro saiba
utilizar os recursos físicos, materiais e financeiros
no atendimento ao paciente atendido pelo PSF. Que
ele principalmente atue de maneira qualificada e
humanizada.
Referências
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de Saúde da Família/ MS; 2001.
2- Hess CT. Tratamento de feridas e úlceras. 4 ed. Rio de
Janeiro: Reichmann & Affonso; 2002
3- Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth. Tratado
de enfermagem médico-cirúrgica. 9 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2000. p. 129.
4- Nanda. Diagnóstico de enfermagem da Nanda:
definições e classificação. 2001-2002. Porto Alegre:
Artmed; 2002.
5- Sparks SM, Taylor CM, Dyer JG. Diagnóstico em
enfermagem. 4 ed. Rio de Janeiro: Reichmann &
Affonso; 2000.
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Notícias e resumos
Folha de São Paulo,
2 de março de 2004
Incidência de câncer cresce entre jovens
O câncer é agora a principal causa de morte natural para as pessoas com
idade entre 13 e 24 anos, disseram cientistas durante a Conferência Internacional
sobre Câncer em Adolescentes, ora realizado em Londres. O aumento da
incidência da doença entre essa faixa etária, de quase 50% nos últimos 30 anos,
poderia estar ligado ao crescimento acelerado e à dieta mais rica dos jovens, de
acordo com Archie Bleyer, da Universidade do Texas (EUA). Isso aconteceria
porque o crescimento envolve a divisão das células -processo que, se der errado,
pode levar ao câncer.
John Shin et al, 63rd
Annual Meeting of the
American Diabetes
Association, New Orleans,
13-17 de junho de 2003
O que é controle glicêmico normal?
Avaliação pelo CGMS da Medtronic MiniMed
Pacientes com diabetes (DM) possuem variação de características no
seu perfil glicêmico diário conforme apresentado pelo CGMS (Medtronic
MiniMed). Apesar do uso do CGMS em pessoas sem DM ou com controle
glicêmico estreito foi relatado ser errático, alguma variabilidade é esperada
nesses perfis glicêmicos. O objetivo deste estudo foi avaliar a performance
dos sensores CGMS atualizados e software em sujeitos sem DM, para
descrever a variação glicêmica normal. Voluntários sem história anterior de
DM usaram 1 ou 2 sensores e realizaram 2 pré e 2 pós-refeição SMBG
puncionados (fingersticks) diariamente. Medições dos sensores CGMS foram
baixadas com o programa Solutions 3.0. A duração da performance do
sensor, média de diferença absoluta (MAD), e variação glicêmica foram
avaliadas. Os 20 sujeitos foram 55% do sexo feminino, com 31±5 anos de
idade. Valores basais no CGMS foram estáveis durante todo o dia com uma
leitura média de 97±19 mg/dl. Não houve nenhum movimento aparente na
performance do sensor acima da média de 69,3 horas e o sensor não mostrou
nenhuma depressão durante a noite. Os sensores foram precisos com MAD
de 9,1±8,2%. A média do pico glicêmico pós-refeição e retorno para linha
base foi 1,9 horas [vs. 8,1 horas em tipo 1 (DM1) e 4,3 horas em tipo 2
(DM2)] e a média da área abaixo da curva desde a linha base foi 39 mg/dl
horas [vs. 705 mg/dl horas em DM1 e 169 mg/dl horas em DM2].
A extensão e duração da hiperglicemia pós-refeição em sujeitos sem DM
são mais controlados do que em sujeitos com DM1 ou DM2. Os resultados
ajudam a estabelecer os limites para glicemia normal e pós-refeição em sujeitos
sem DM.
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Enfermagem Brasil
Janeiro / Fevereiro 2004;3(1)
Whitney Goldner et al,
Diabetes 2003
Monitoração contínua da glicose durante o ciclo menstrual
mostra estabilidade no padrão do controle da glicemia em
mulheres com diabetes tipo 1
Muitas mulheres com diabetes notaram mudanças no seu controle de
glicose peri-menstrual. Estudos anteriores avaliaram a regulação da glicose em
poucos pontos específicos durante o ciclo menstrual, mas os resultados são
conflitantes. Para desenvolver uma compreensão abrangente das mudanças no
controle da glicose por todo o ciclo menstrual, e a reprodutibilidade destas
mudanças, iniciamos um estudo piloto avaliando o perfil glicêmico de 6 mulheres
com diabetes tipo 1, e período regular menstrual de contraceptivos orais. As
mulheres usaram o dispositivo MiniMed (Monitoração contínua da glicose)
continuamente por 3 ciclos menstruais completos. Eles checaram as medidas
de glicose nos capilares sanguíneos 6 vezes ao dia, trocaram seus próprios
sensores a cada 3 dias, e eram vistas na clínica a cada 9 dias para fazer o download
dos dados. Estradiol no plasma, progesterona, níveis de LH e FSH foram
checados durante os ciclos. Foram avaliados a porcentagem de tempo que as
mulheres estavam com a glicose acima de 140mg/dl, em relação ao dia do ciclo
e os níveis hormonais medidos. Os níveis de glicose foram monitorados com
sucesso por mais de 3 ciclos consecutivos e mostrou que a monitoração
prolongada é segura. O padrão mais comum de hiperglicemia detectada foi na
segunda metade do ciclo (fase lútea), parecendo combinar com o pico da
progesterona. Muitas mulheres também tiveram pico hipoglicêmico na primeira
metade do ciclo (fase folicular), que aparentavam se correlacionar com
estrogênios elevados. Os perfis de glicose pareciam ser reproduzíveis entre ciclos
em indivíduos. Os perfis variavam entre mulheres, talvez relacionados às
diferenças da secreção de estradiol. Os resultados enfatizaram o maior e
reproduzível efeito do ciclo menstrual no controle de glicose no sangue. A fase
do ciclo pode ser uma importante variável na interpretação dos resultados da
monitoração contínua da glicose. Apesar de que este estudo não enfoca a causa,
hiperglicemia parece ocorrer no momento de níveis elevados de estrogênio e
progesterona. Diferenças nos padrões de estrogênio e secreção de progesterona
podem explicar algumas das diferenças no controle da glicose entre mulheres
durante seus ciclos menstruais.
A.B. (Butch) de Castro,
American Journal of
Nursing, Janeiro 2004
Prevenir lesões na coluna e outras doenças musculares
entre os profissionais de enfermagem
Uma pesquisa realizada em 2001 (ANA) constatou que aproximadamente
60% dos enfermeiros temem desenvolver lesões graves na coluna. Seus temores
são confirmados – 38% dos enfermeiros sofrem de dores muito fortes nas
costas, o suficiente para ficarem afastados do trabalho durante algum tempo,
enquanto outros 12% deixam a profissão devido a essas dores. Em setembro
de 2003 ANA lançou uma campanha para a prevenção de lesões musculares
entre os profissionais de enfermagem. Como parte desta campanha, os
enfermeiros de primeira linha podem ajudar a estabelecer um programa
ergonômico seguro no local de trabalho usando as seguintes medidas:
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Enfermagem Brasil
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• Criar um comitê ergonômico, que deverá estabelecer, executar e monitorar
um programa ergonômico abrangente;
• Analisar os dados, conduzir visitas, avaliar os profissionais. Registrar as doençaslesões, relatar os incidentes e outros dados disponíveis. Realizar uma visita por
todas as unidades durante todos os turnos e procurar os fatores de risco.
Observar o layout do local de trabalho, o ambiente de cuidado do paciente, e
qualquer outra situação que possa criar posições que sejam inadequadas para o
profissional.
• Avaliar os riscos das tarefas de manejo com o paciente. Realizar uma avaliação
ergonômica baseada na coleta de dados. Considerar a variedade de tarefas de
cada paciente, tipo de unidades de enfermagem, população de pacientes e
ambiente físico. Determinar que tipo de tarifa oferece risco de lesão em cada
unidade.
• Avaliar os níveis de dependência do paciente. Variação da população de pacientes
e os distintos níveis de dependência, habilidade no suporte de peso, força nos
membros superiores e inferiores, altura e peso. Tomar decisões para o
levantamento de equipamentos e outros aparelhos assistenciais considerando
as necessidades do paciente, habilidades e conforto.
• Pesquisar, avaliar, selecionar, e instituir o equipamento de manejo do paciente e
aparelhos. Selecionar equipamentos baseados no critério de segurança e conforto
do paciente, estabilidade e segurança para o cuidador, eficientes, manutenção,
armazenamento, disponibilidade de uso, custo e efetividade. Contatar vários
fabricantes para atualização tecnológica.
• Proporcionar um treinamento abrangente e interativo dos profissionais. Treinar
profissionais para o uso dos equipamentos e outros aparelhos antes de usá-los
e certificar-se que este treinamento se estenderá para novos profissionais.
Identificar e treinar pares para serem experts na prevenção de lesões
ergonômicas.
• Encorajar o relato de lesões na coluna ou musculares. Criar um ambiente livre de
responsabilidade para relatar os casos relacionados com lesões no trabalho. Os
funcionários devem ser tratados imediatamente e tomar decisões corretivas
para eliminar os riscos.
• Rastrear as lesões do paciente e trabalhadores e avaliar o programa. Coleta de
dados e análise, atualização do programa com as últimas diretrizes, melhores
práticas e tecnologia.
Conscientizando a indústria do cuidado da saúde, que as lesões nos
músculos do esqueleto podem ser evitadas e precisam de um programa de
saúde ergonômico seguro em todos os locais de trabalho, os enfermeiros podem
eliminar os riscos ergonômicos.
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EnfermagemBrasil
Janeiro / Fevereiro 2004;3(1)
Normas de publicação Enfermagem Brasil
A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação
de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem.
Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão
também ser publicados na versão eletrônica da revista
(Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals,
N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) preconizado pelo Comitê
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo
em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), http://
www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das
seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica
entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o
que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou
retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações
nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o
conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico,
ou por um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato
A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas
as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito,
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica
apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a
aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise
descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura
é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução,
Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12
páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman)
tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve
ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no
formato Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse
profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade
literária do texto.
3. Revisão
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas
relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir,
analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já
publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do
trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais.
4. Atualização
São trabalhos que relatam informações geralmente
atuais sobre tema de interesse dos profissionais de
Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que
têm características distintas de um artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigos dados descritivos de um ou mais casos
explorando um método ou problema através de exemplo.
Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação
de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos,
com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista,
com condições de argumentação mais extensa que na seção
de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três
páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho
12, com todas as formatações de texto, tais como negrito,
itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel
e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam
ser editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15
referências bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e
artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo
do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de
outros idiomas.
8.Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam
relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada
ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas
ou figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word), em página de formato A4,
formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman,
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobrescrito, etc.
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EnfermagemBrasil
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1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas
para cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo
com as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais
coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300
dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos
formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão,
conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela
tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também
das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética
(disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com
etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e
autor, incluir informação dos arquivos, tais como o
processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação
curricular e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência,
com o respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40
toques, para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3.Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem
ter participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a
redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de
pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês
e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de
maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão
utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores
em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se
encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br.
Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final
do artigo, antes as referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,
letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto,
In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do
livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e
vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplos:
Livro:
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and
management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995.
p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)
autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem
espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista
ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do
volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação
List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das
revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de
Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos
os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a
abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression
and localization of urokinase-type plasminogen activator
receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Calendário de eventos
2004
Março
Junho
19 e 20 março
I Simpósio Nacional de Auxiliares e Técnicos de Enfermagem
do Hospital Albert Einstein
Hotel Hilton – SP
Informações: (11) 3747-1233
www.einstein.br
1 a 4 de junho
11º Feira Hospitalar
Expo Center Norte – SP
Informações: (11) 3897-6191
www.hospitalar.com
29 de março a 1 de abril
9º Enftec - Centro de Convenções Frei Caneca – SP
Informações: (11) 3120-3285
[email protected]
19 a 23 de junho
VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia
Recife – PE
Informações: (81) 3227-1902
www.congressoepidemiologia2004.com.br
Abril
23 e 24 de abril
1ª Jornada Latino Americana de Enfermagem em Nefrologia
Punta Del Este – Uruguay
Informações: ++598 2 4081015
www.congresoslanh2004.org.uy/
26 a 27 de abril
4º Simpósio Internacional de Economia da Saúde
São Paulo – SP
Informações: (11) 5575-6427
www.cpes.org.br
Julho
31 de julho a 2 de agosto
IV Simpósio Internacional de Esterilização e Controle
de Infecção Hospitalar
III Curso de Implantes e Equipamentos em
Ortopedia, Bucomaxilo, Cirurgia Plástica e
Neurocirurgia
Centro de Convenções Rebouças – SP
Informações: SOBECC – (11) 3341-4044
www.sobecc.org.br
29 e 30 abril
Nursing – 2º Congresso Brasileiro
Centro de Convenções Pompéia – SP
Informações: (11) 4195-0363
www.nursing.com.br
Maio
13 a 15 de maio
V Congresso Brasileiro de Bioética
Centro de Convenções do Mar Hotel – PE
Informações: (81) 3463-0871
www.cro-pe.org.br/bioetica/
16 a 21 de maio
15º Biennial Congress – World Council of Enterostomal
Therapists
Florianópolis – SC
Informações: 55 11 5081-7718
www.espansaoeventos.com.br
[email protected]
Normas de publicação + Eventos.pmd
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21 a 25 de junho de 2004
II Congresso Internacional de Enfermagem do Trabalho
III INTERENENT – Encontro Internacional
de Enfermagem do Trabalho
XI ENENT – Encontro Nacional de Enfermagem
do Trabalho - UNIBAN - São Paulo - SP
Informações: (11) 5507-2857
www.anent.org.br
Agosto
18 a 21 de agosto
1º Congresso Brasileiro de Enfermagem em Infectologia
Santos – SP
Informações: (11) 3721-9333
www.ellusaude.com.br
Outubro
11 a 15 de outubro de 2004
7º CBCENF
Conselho Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem
Fortaleza – CE
Informações: 0800-2800065
www.cbcenf.com.br
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EnfermagemBrasil
Março / Abril 2004;3(2)
Índice
Volume 3 número 2 - Março / Abril de 2004
EDITORIAL
A enfermagem na saúde pública, Os Editores ............................................................................................... 55
A RTIGOS ORIGINAIS
Uma avaliação diagnóstica do procedimento da lavagem das mãos dos profissionais
de enfermagem, Geraldo Magela Salomé .......................................................................................................... 56
Ensinando estudantes de enfermagem a pensar o cuidado através do jogo dramático:
o indutor espaço como metodologia de uma pedagogia libertadora,
Ronilson Gonçalves Rocha, Priscila de Castro Handem, Nébia M. A. de Figueiredo,
Renan Tavares, Teresa Tonini .................................................................................................................................... 63
Ergonomia na prevenção das dores osteomusculares relacionadas ao trabalho:
o caso das merendeiras escolares de Nova Iguaçu e São Gonçalo,
Hamilton Delgado de Almeida, Anamaria de Moraes ....................................................................................... 71
Comemoração da semana da enfermagem: uma estratégia para o desenvolvimento
de competências específicas na disciplina de Noções de Administração,
Teresa Cristina Prochet ............................................................................................................................................... 78
A prática pedagógica das facilitadoras do PROFAE: uma reflexão,
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro, Antônia Ferreira Sérvulo, Maria Albertina Diógines,
Maria Grasiela Teixeira Barroso ............................................................................................................................... 85
Comportamentos e sentimentos das enfermeiras submetidas à cirurgia,
Regina Maria de Carvalho, Maria José Coelho ..................................................................................................... 90
R EVISÕES
Quando a empatia durante o ato de cuidar em enfermagem produz uma tecnologia –
descrevendo um artefato para a realização da técnica do “shampoo” em
pacientes acamados, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Rita Ferreira Cardoso,
Rubens Ghidini Júnior ................................................................................................................................................ 96
Hipertensão arterial e fatores de risco, Fernanda Paula Cerântola Siqueira,
Eugênia Veludo Veiga ............................................................................................................................................. 101
N OTÍCIAS E RESUMOS. ......................................................................................................................... 107
N ORMAS DE PUBLICAÇÃO. .............................................................................................................. 110
C ALENDÁRIO DE EVENTOS............................................................................................................... 112
#!
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29/04/04, 11:37
EnfermagemBrasil
Março / Abril 2004;3(2)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
CONSELHO CIENTÍFICO
Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
a
a
Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
GRUPO DE ASSESSORES
Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
Profa Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe)
a
Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe)
Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
a
Rio de Janeiro
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749
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São Paulo
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01037-010 - São Paulo - SP
Tel: (11) 3362-2097
Assinaturas
1ano: R$ 144,00
Rio de Janeiro: (21) 2221-4164
Representante de Assinatura:
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Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
Editor assistente
Bárbara de Assis Jorge
Publicidade e marketing
René Caldeira Delpy Jr.
Editoração e arte
Andréa Vichi
Aline Figueiredo
Colaboradora de redação
Guillermina Arias
Atendimento ao assinante
Ingrid Haig
Redação e
administração
Todo o material
a ser publicado
deve ser enviado para
o seguinte endereço:
Jean-Louis Peytavin
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164
[email protected]
Publicidade e
marketing
Rio de Janeiro
René C. Delpy Jr
[email protected]
(21) 2221-4164
Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil, Nutrição Brasil, Brasilis e Ação & Movimento.
Foto da capa: Major Enfermeira reformada do Exército, Lúcia Osório, em assistência de enfermagem na II G.M.
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© ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída
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Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades
ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o
material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma
garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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EnfermagemBrasil
Março / Abril 2004;3(2)
Editorial
Enfermagem na saúde pública
Os Editores
Sempre que pensamos em saúde pública,
imediatamente lembramos do caos que permeia
nossos hospitais hoje em dia. Mas, ao lermos
algumas notícias nos principais jornais do país,
ficamos bem esperançosos com o futuro da
Enfermagem, pois apesar dos inúmeros
problemas, a quantidade de profissionais vem
aumentando a cada ano no Brasil. Mais de 700
mil pessoas ajudam a salvar vidas, de acordo com
o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
O mercado de trabalho deverá aumentar
significativamente nos próximos anos, pois
projetos como o Programa de Saúde da Família
ainda estão sendo implantados no país, como
por exemplo, no Rio de Janeiro, onde o projeto
atende apenas 5% do público-alvo.
O grande diferencial de um bom profissional
é buscar cada vez mais o preparo através do
conhecimento científico, o que o habilita a interagir
com as demais profissões, conferindo atendimento
de qualidade a sua clientela, mas isso, sem perder
a visão de mercado. Este é o propósito da
Enfermagem Brasil, suprindo a necessidade de
atualização, divulgando novas técnicas,
compartilhando ações da enfermagem, tornandoa cada vez mais valorizada.
Neste número, apresentamos trabalhos
originais como uma avaliação sobre o
procedimento da lavagem das mãos dos
profissionais de enfermagem, ensinando
estudantes a pensar o cuidado através do jogo
dramático, a ergonomia na prevenção das dores
osteomusculares relacionadas ao trabalho, uma
reflexão da prática pedagógica das facilitadoras
do PROFAE, revisões como hipertensão arterial
e fatores de risco, e como a empatia durante o
ato de cuidar produz uma tecnologia.
Sendo assim, trazemos, mais uma vez, novas
idéias e perspectivas de campos de atuação e
pesquisa para o profissional de enfermagem.
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29/04/04, 11:37
Enfermagem Brasil
Março / Abril 2004;3(2)
Artigo original
Uma avaliação diagnóstica
do procedimento da lavagem das mãos
dos profissionais de enfermagem
Geraldo Magela Salomé
Especialista em UTI, pela Faculdade São Camilo. Supervisor de Enfermagem da UTI, do Hospital Vila Nova Cachoeirinha.
Resumo
Esta pesquisa enfoca o procedimento da lavagem das mãos dos profissionais de enfermagem de uma Unidade de Terapia
Intensiva, com objetivo de identificar e avaliar as falhas mais freqüentes encontradas durante a realização deste procedimento.
O estudo foi realizado no período de 29 de fevereiro a 6 de março de 2000, em um Hospital Estadual da grande São Paulo,
onde fizeram parte da observação participativa 20 pessoas, entre enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Neste estudo
pôde-se concluir que em função do grande número de funcionários que não lavaram as mãos, há necessidade de uma
campanha de conscientização com reciclagem e treinamento dos funcionários. Só assim poderemos atingir o objetivo que é
a redução e prevenção das infecções nosocomiais.
Palavras-chave: infecção hospitalar, infecção nosocomial, controle de infecção, lavagem das mãos.
Abstract
A diagnostic evaluation of hand washing procedure of nursing professionals
This research focus hand washing procedure of nursing professionals of an Intensive Care Unit and the main object is to
identify and to evaluate the most frequent failures during the accomplishment of this procedure. The study was carried out
from February 29 to March 2000, in a State Hospital of São Paulo, where 20 citizens, nurses and nurses aid participated. In
this study we can conclude that because of the large number of employees who did not wash their hands, a campaign of
awareness with recycling and employees training programs is need. We can only achieve the main object by reduction and
prevention of nosocomial infections.
Key-words: hospital infection, infection control, nosocomial infection, hand washing
Artigo recebido em 05 de janeiro de 2004; aceito em 25 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Geraldo Magela Salomé,
Av. Francisco de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134, bl. 01, Jabaquara 04330-020
São Paulo SP, E-mail: [email protected]
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Resumen
Una evaluación de diagnostico del procedimiento del lavado de las manos de los
profesionales de enfermería
Esta investigación trata del procedimiento del lavado de las manos de los profesionales de enfermería de una Unidad de
Terapia Intensiva, con el objetivo de identificar y evaluar las fallas más frecuentes durante la realización de este procedimiento.
El estudio fue realizado en el período de 29 de febrero a 6 de marzo de 2000, en un Hospital Estadual de São Paulo y
participaron 20 personas, enfermeras y asistentes de enfermería. En este estudio podemos concluir que en función del gran
número de empleados que no lavaron las manos, se hace necesario una campaña de concienciación del reciclaje y el
entrenamiento de los empleados. Sólo así podremos alcanzar el objetivo que es la reducción y la prevención de las infecciones
nosocomiales.
Palabras-claves: infección hospitalaria, infección nosocomial, control de la infección, lavado de la mano
Introdução
Esta pesquisa enfoca o procedimento da lavagem
das mãos dos profissionais de enfermagem de uma
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no contexto do
controle de infecção hospitalar.
A demanda de paciente em uma Unidade de
Terapia Intensiva está aumentando a cada ano, em
contraste com os recursos humanos já existentes, o
que eleva sobremaneira as incidências de infecção
hospitalar em pacientes graves a níveis mais
significativos que qualquer outro departamento do
hospital (5 a 10%) [1].
Segundo Zanon [1], a incidência de infecção
hospitalar, é elevada e diretamente proporcional aos
procedimentos invasivos e o tempo de permanência
na unidade.
O mecanismo de transmissão das infecções mais
importante na UTI é a disseminação microbiana de
pacientes a pacientes através das mãos dos
profissionais. O único meio de controlar esta forma
de transmissão é o incentivo da lavagem das mãos
antes e após o contato com os pacientes [2].
A lavagem das mãos tem sido pesquisada ao
longo dos anos, como sendo um fator de importância
capital na redução de infecções nosocomiais, deve ser
um hábito para os profissionais de saúde e a sua adesão,
um desafio para a comissão de controle de infecção
hospitalar, é a medida mais simples e importante na
prevenção da infecção. Se a técnica correta for
realizada, remove das mãos microrganismo adquirido
transitoriamente no contato com paciente.
Segundo Armond [3], a lavagem das mãos tem
como objetivo reduzir a transmissão de microrganismo
pelas mãos, prevenindo as infecções, e sua eficácia
depende da duração e da técnica adequada.
Potter [4], afirma que além da lavagem das mãos,
o profissional deve tomar outras providências para
reduzir a transmissão de microrganismo. No hospital,
em casa ou em outros locais de assistência de saúde, o
paciente deve ter um jogo de materiais para o seu
próprio uso. Os termômetros, comadres, urinóis,
bacias e utensílios para refeições podem facilmente
conduzir a transmissão de uma infecção.
Gould [5] define que o objetivo da lavagem das
mãos é a remoção de todos os microrganismos não
residentes, até um nível inferior ao necessário para
constituir uma dose infecciosa, antes que possa ocorrer
uma transferência para um doente suscetível.
Para Martins [6], a lavagem das mãos é um dos
procedimentos mais simples e dos mais eficazes na
prevenção e controle das infecções hospitalares.
A lavagem das mãos é importante, pois este
procedimento colabora na prevenção das infecções
hospitalares, causadas por microrganismos, que são
adquiridos no contato com o paciente e
transportados pelas mãos dos profissionais a ele
mesmo ou a outros pacientes.
Para Vast [7], a lavagem das mãos é de
importância primordial, de forma a evitar uma
potencial infecção. No entanto, inúmeros estudos
mostram que a lavagem das mãos ainda é uma prática
negligenciada, apesar de estar amplamente provado o
seu papel na redução das infecções.
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Uma vez que mãos contaminadas são a principal
causa de transmissão de infecções, a lavagem das mãos
é a técnica mais básica e mais importante na prevenção
e controle de doença em todos os hospitais do mundo.
Santos [8], recomenda que os profissionais de
enfermagem façam a lavagem de suas mãos de forma
rotineira, nas seguintes situações:
1. Antes e após o contato com o paciente;
2. Após o manuseio de materiais biológicos;
3. Antes e após executar procedimento invasivos,
tais como aplicação de injeções, cateterização,
curativo etc;
4. Antes e após o manuseio de curativo ou ferida
exposta;
5. Antes e após o preparo de medicamentos;
6. Após o manuseio de materiais contaminados.
Potter [4], recomenda a lavagem das mãos dos
profissionais nos seguintes casos especiais:
• Antes de começar a cuidar dos pacientes, uma
lavagem das mãos feita em dois minutos proporciona
uma excelente proteção;
• Uma lavagem de trinta segundos após cada
contato de rotina com o paciente assegura que a
transmissão de organismos será mínima;
• Antes de o profissional trabalhar com materiais
estéreis, a lavagem das mãos deve durar pelo menos
três minutos;
• Quando o profissional manusear equipamentos
ou materiais orgânicos contaminados, recomenda-se
a lavagem por um minuto;
• A lavagem das mãos deve ser realizada com
técnicas padronizadas pela Instituição.
As mãos são o principal meio de transmissão
das infecções hospitalares, por serem o instrumento
mais usado no cuidado com o paciente. A escolha do
método para eliminar os microrganismos das mãos
depende da flora da pele que se quer atuar e de cada
situação em particular [9].
Os pacientes devem aprender como lavar suas
mãos antes de comer ou manusear alimentos, após
manipulação de equipamentos, roupas de cama, após
materiais orgânicos contaminados e antes e após a
excreção. Recomenda-se aos visitantes que lavem suas
mãos antes de comer ou manusear alimentos e tocarem
nos seus familiares.
Para cuidados gerais dos pacientes, a lavagem
das mãos com sabão neutro sem anti-séptico é o
suficiente para atingir o objetivo de remover resíduos,
materiais orgânicos e a microbiota transitória das
mãos. O ideal é a utilização destes produtos em
formulação líquida, em dispensadores de refil
descartável ou saboneteiras.
A eficácia da lavagem das mãos depende de
vários fatores, tais como:
1. Volume de sabão, tempo de fricção;
2. Lavagem de toda a superfície das mãos;
3. O enxágüe deve ser rigoroso para remoção
dos resíduos de sabão e a secagem deve ser realizada
por toalhas de papel de boa qualidade;
4. Número de microrganismo sob as unhas e
uso de anéis;
5. A infra-estrutura para lavagem das mãos (pias,
saboneteiras e toalheiro) deve ser de fácil acesso,
possibilitando adesão ao procedimento.
Considerando-se o valor inquestionável da
lavagem das mãos dentro das ações de CIH, propôsse na presente pesquisa identificar as falhas mais
freqüentes encontradas no procedimento da lavagem
das mãos entre os profissionais de enfermagem de
uma UTI para subsidiar o programa de reciclagem,
treinamento e atualização do pessoal de enfermagem
do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, na
Unidade de Terapia Intensiva Adulto.
Esta pesquisa tem como objetivo:
Identificar e descrever as falhas mais freqüentes
encontradas durante a realização do procedimento da
lavagem das mãos pelo pessoal de enfermagem de
uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto.
Material e Método
Tipo de pesquisa
Esta pesquisa caracteriza-se como exploratória,
descritiva, de campo, transversal com abordagem
quantitativa.
Local do estudo
O estudo foi desenvolvido na Unidade de
Terapia Intensiva do Hospital Geral de Vila Nova
Cachoeirinha. É um hospital de grande porte. Este
faz parte do Programa Metropolitano de Saúde, que
incorpora a idéia de estrutura Estadual, localizado
na Avenida Deputado Emilio Carlos, 3000 no bairro
de Vila Nova Cachoeirinha, Zona Norte do
município de São Paulo.
É uma Unidade de Terapia Intensiva, geral,
adulta, com capacidade para 12 leitos, porém com 7
leitos ativos.
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População
A população deste estudo foi constituída pelos
integrantes da equipe de enfermagem (enfermeiros e
auxiliares de enfermagem), que fazem parte do quadro
de funcionário do campo de estudo. Foram excluídos
da população do estudo desta pesquisa:
1. Os funcionários de outros setores que
estavam dando cobertura às faltas;
2. Os que estavam de folga;
3. Os funcionários que estavam gozando férias;
4. Os estagiários do curso de enfermagem;
5. Os acadêmicos do curso de enfermagem e
Fisioterapia pelo motivo de que os mesmos não
receberam treinamento da técnica da lavagem das
mãos pela educação continuada.
Todos que participaram da pesquisa
concordaram em assinar um termo de consentimento
livre e informado.
Procedimento de coleta de dados
Inicialmente foi encaminhado para a Diretora
de Enfermagem da Instituição local de estudo, uma
solicitação para a autorização da pesquisa. Autorização
foi concedida em 28 de fevereiro.
Como técnica de coleta de dados, foi eleita a
observação participativa.
Para tanto, foi elaborado inicialmente um Check
list, com os seguintes aspectos a ser observados:
1. Estado de conservação das pias e toalheiros
de papel;
2. Suporte para sabão líquido;
3. Situações práticas que exigem lavagem
das mãos;
4. Procedimentos das lavagens das mãos
preconizada pela SCIH.
A observação participativa foi realizada durante
os dias 29 de fevereiro, 1, 2, 3, 4, 5, 6 de março do ano
2000, nos horário das 8 horas às 11 horas nos dois
períodos diurnos e nos dois períodos noturnos das
19 horas às 23 horas, totalizando 56 horas de
observações, conforme o planejamento encaminhado
para a diretoria de enfermagem.
Para não prejudicar a espontaneidade da coleta
de dados, esta foi realizada sem que os sujeitos
fossem informados que estavam sendo observados,
e comunicados posteriormente. Somente após
autorização, os dados coletados foram considerados
para a pesquisa.
As duas primeiras horas da observação não
foram consideradas, pois este período de tempo foi
necessário para os sujeitos da pesquisa se acostumasse
com a presença do pesquisador.
Ao término do último dia da observação, os
sujeitos da pesquisa foram comunicados, de que
fizeram parte, solicitando neste momento autorização
para que os dados observados fossem considerados,
assinando um termo de consentimento livre e
informado. Os funcionários que consentiriam em
participar da pesquisa totalizaram 20 sujeitos.
Foi utilizada para a realização da observação
participativa, a técnica da lavagem das mãos
padronizada pela SCIH.
Apresentação e tratamento dos dados
As falhas e os pontos positivos observados
foram registrados em check list e, posteriormente,
analisados, sendo os dados agrupados e apresentados
em formas de gráficos e tabelas, utilizando-se a
estatística descritiva.
Resultados e discussão
Entre os dias 29 de fevereiro e 6 de março do
ano 2000, foram observados 20 sujeitos durante 56
horas. Foram presenciadas apenas 112 lavagens das
mãos, sendo que 5 sujeitos lavaram as mãos quando
chegaram na unidade para trabalhar, 14 lavaram as
mãos quando estavam indo embora para casa e 93
lavaram as mãos, após realização dos procedimentos
observados, totalizando 200 procedimentos observados.
Quadro 1 - Distribuição da freqüência da lavagem das
mãos antes e após o trabalho na unidade. São Paulo, 2000.
O gráfico 1 mostra, que entre a lavagem das mãos
antes e após o trabalho na unidade, 26% dos sujeitos
lavaram as mãos quando chegaram na unidade para
trabalhar e 74% lavaram as mãos quando estavam indo
para casa.
Em um artigo publicado na revista do Conselho
Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo pela
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Agência Nacional de Vigilância Sanitária, relata que a
lavagem das mãos é a medida básica, essencial para reduzir
a propagação das infecções em ambientes hospitalares.
Segundo Guilheemetti [10], o Staplylococcus aureus
meticilino resistente é um agente importante das infecções
hospitalares, tendo como principal reservatório os
pacientes colonizados, a equipe de saúde e o ambiente
hospitalar. As mãos dos profissionais de saúde podem
se tornar transitoriamente colonizadas, sendo o
principal veículo para sua transmissão cruzada.
Tabela 1 - Distribuição da freqüência da lavagem
das mãos após realização dos procedimentos. São
Paulo, 2000.
Tipo de
Procedimento
Antes do preparo
do medicamento
Após o preparo
do medicamento
Antes de auxiliar o
paciente na alimentação
Após auxiliar o
paciente na alimentação
Antes de desprezar drenos
Após desprezar drenos
Antes de desprezar diurese
Após desprezar diurese
Ante de preparar material
e equipamentos
Após preparar material
e equipamentos
Ante de manusear
cada paciente
Após manusear
cada paciente
Antes de realizar curativo
Após realização de curativo
Total
Realizado
Nº %
Não
realizado
Nº %
14
7,0
11
5,5
10
5,0
11
5,5
07
3,5
10
5,0
05
5
3
6
5
2,5
2,5
1,5
3,0
2,5
10
1
1
5
4
5,0
0,5
0,5
2,5
2,0
4
2,0
6
3,0
2
1,0
3
1,5
10
5,0
15
7,5
10
7
5
93
5,0
3,5
2,5
46,5
15
10
5
107
7,5
5,0
2,5
53,5
Nesta tabela 1, observa-se que os sujeitos
preocupam-se em lavar as mãos somente antes de
realizarem procedimentos.
Heselline [12], relata em seu artigo que há mais
de 150 anos os profissionais de saúde tem aprendido
que as infecções cruzadas são doenças transmissíveis,
mas não contagiosas e a mais efetiva forma de prevenilas é lavando as suas mãos antes e após cada contato
com o paciente.
Para Blon e Lima [11], a lavagem das mãos deve
ser realizada nas seguintes situações:
1. Quando estiverem sujas;
2. Antes e após de administrar medicamento ao
pacientes;
3. Após o contato com materiais e superfícies
contaminadas;
4. Antes e após realização de seu trabalho
hospitalar, de atos e funções fisiológicas ou
pessoais, como alimentar, assoar o nariz, usar o
banheiro, pentear, fumar ou tocar qualquer parte
do corpo;
5. Sempre antes e após o contato direto com o
paciente, como na higienização, na troca de curativos,
roupas, nos cuidados com o paciente, e entre
diferentes pacientes;
6. Antes e após preparo de materiais e
equipamento, durante seu reprocessamento, na
manipulação de cateteres intravasculares e do
sistema fechado de drenagem urinaria e dos
equipamentos respiratórios.
Segundo Lopes e Cruz [13], ao realizar uma
correta lavagem das mãos antes e depois de
qualquer procedimento, reduzir-se-á consideravelmente o índice de infecção. Se ao mesmo
tempo, procurar educar os pacientes, unificar
critérios e cumprir as normas básicas de assepsia,
pode-se assegurar que as infecções serão em
número mínimo ou inexistente.
Gráfico 2 - Distribuição da freqüência da lavagem das mãos
após o uso de luvas de procedimentos. São Paulo, 2000.
Gráfico 2 - Este gráfico mostra que 65% dos
sujeitos da pesquisa não lavam as mãos após retirarem
a luva de procedimento e 35% dos sujeitos lavam as
mãos após a retirada da luva de procedimento.
Segundo Santos [8], a lavagem das mãos é o meio
mais simples e eficaz de prevenir a transmissão de
microorganismo no ambiente assistencial. A
importância desta prática é reconhecida também pelo
governo brasileiro, quando incluiu recomendações
para a lavagem das mãos no anexo VI da Portaria
2616\98.
Observamos, na tabela 2, que somente 40% dos
sujeitos que participaram da pesquisa lavaram as mãos
corretamente e os 60% lavaram com algumas falhas.
Carmagnani [14], relata em seu trabalho que a
segurança do paciente no ambiente de assistência à saúde
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Tabela 2 - Distribuição da freqüência da lavagem das mãos conforme técnica padronizada pela Instituição
São Paulo, 2000.
Descrição da técnica da lavagem das mãos
Lavagem das mãos
Realizada corretamente
% N°
Lavagem das mãos
Realizada incorretamente
% N°
Funcionários usam relógio, jóias, bijuterias
65
73
35
39
As unhas dos funcionários são curtas
54
61
46
51
Os funcionários ficam em pé em frente à pia mantendo
as mãos e o uniforme longe da superfície do mesmo
47
53
53
59
As mãos dos funcionários tocam na pia durante a lavagem
38
43
62
69
As mãos dos funcionários tocam na pia após a lavagem
44
49
56
63
Os funcionários que acionam torneira manual fechando
com uma toalha de papel ao término da lavagem das mãos
59
66
41
46
Os funcionários molham as mãos e antebraços totalmente
sobre a água corrente mantendo os mesmos em uma posição
mais baixa que os mesmos em uma posição mais baixo
que os cotovelos durante a lavagem das mãos
40
45
60
67
Os funcionários realizam a fricção das mãos por
15 a 39 segundos, entrelaçando circulares
40
45
60
67
O enxágüe das mãos e pulso é realizado completamente,
mantendo as mãos para baixo e os cotovelos para cima
40
45
60
67
Seca complemente as mãos, dedos, pulso e antebraço
71
80
29
32
Desprezam o papel toalha no local adequado
71
80
29
32
Para fechar a torneira usam papel toalha limpo e seco
71
80
29
32
depende da lavagem correta das mãos. Não negligencie
esse procedimento, pois ele é fundamental à
manutenção da sua própria segurança e da segurança
do paciente.
Para Fernandes [14], a lavagem das mãos é a mais
importante medida de controle de infecção. No
entanto, os profissionais de saúde não realizam este
procedimento com freqüência e nem com a técnica
correta. Em seu estudo mostrou que as mãos são
lavadas menos da metade das vezes em que seriam
necessárias e os médicos são os que menos aderem a
esta recomendação.
Conclusões
Em função de grande número de funcionários
que não lavam as mãos, observados durante a
realização da pesquisa, há necessidade de reciclagem
e treinamento do pessoal da UTI, quanto à técnica
correta da lavagem das mãos.
Tem necessidade de monitorar essa técnica,
através de novos estudos prospectivos para poder
identificar e avaliar as falhas mais freqüentes encontradas
durante a realização da lavagem das mãos.
É necessário desenvolver uma avaliação de
desempenho individual sob a supervisão direta
do enfermeiro.
O profissional, ao utilizar uma técnica da lavagem
das mãos, estará realizando um controle e prevenção
das infecções nosocomiais. As falhas destes
profissionais durante a realização deste procedimento
poderão comprometer gravemente a recuperação e a
manutenção do bom estado de saúde do paciente.
Sugiro a realização de uma campanha de
conscientização sobre a lavagem das mãos, através de
treinamentos, reciclagem e concurso, por exemplo, da
melhor frase sobre a lavagem das mãos. Portanto é
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necessária a conscientização da equipe multidisciplinar
para que este processo atinja seu objetivo que é a
utilização da técnica correta e a redução e prevenção
das infecções nasocomiais.
2.
3.
4.
5.
6.
8.
9.
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Artigo original
Ensinando estudantes de enfermagem a
pensar o cuidado através do jogo dramático:
o indutor espaço como metodologia de
uma pedagogia libertadora
Ronilson Gonçalves Rocha*, Priscila de Castro Handem**, Nébia M. A. de Figueiredo, D.Sc.***,
Renan Tavares, D.Sc.****, Teresa Tonini, M.Sc.*****
*Graduando de Enfermagem da EEAP/UNIRIO. Bolsista AT CNPq, **Graduanda de Enfermagem da EEAP/UNIRIO. Bolsista IC
CNPq, ***Doutora em enfermagem pela UFRJ. Professora Titular do DEF da EEAP/UNIRIO – Pesquisadora do CNPq, ****Doutor
em Estudos Teatrais Université de Paris III Sorbonne Nouvelle. Docente do DEF da EEAP/UNIRIO, *****Mestre em Enfermagem pela
UFRJ. Docente do DEF da EEAP/UNIRIO
Resumo
Trata-se de uma experiência pedagógica com o jogo dramático para ensinar estudantes de enfermagem a pensar o cuidado
através do indutor espaço. A questão de pesquisa é: o jogo dramático funciona como uma pedagogia libertadora para
pensar o cuidado e a prática de enfermagem? Objetivos: criar através do jogo, momentos para pensar o cuidado e a prática
de enfermagem; discutir como a ocupação do espaço pelos estudantes tem implicações no pensar e fazer. A metodologia
é quanti-qualitativa e as informações foram colhidas durante três jogos dramáticos, realizados com 32 estudantes.
Encontramos duas categorias de análise: Ocupar o espaço vazio: a inexperiência “política” em enfermagem; A ocupação
do espaço sem sentido: os corpos dos estudantes não olham e nem se comunicam. Conclusão: o jogo dramático serviu
para que os estudantes se percebessem e se reorganizassem de corpos duros para flexíveis, racionais para sensíveis,
calados para falantes e de tímidos para críticos.
Palavras-chave: cuidado em enfermagem, jogo dramático, espaço, pedagogia.
Artigo recebido em 27 de janeiro de 2004; aceito em 25 de fevereiro de 2004.
Endereço para correspondência: Nébia M. A. de Figueiredo, R. Visconde de
Ouro Preto, 34/201 Botafogo 22250-180 Rio de Janeiro RJ
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Abstract
Teaching nursing students to think about the care through a dramatic game:
the space as a methodology of free education
It is about educational experience using a dramatic game to teach nursing students to think about the care through the
influencing space. The question of the research is the following: Does the dramatic game work as a free education to think
about the practice and the care of nursing? Objectives: To make this games, moments to thing about the care and the practice
of nursing; to discuss how the students occupy the space and the implication on thinking and performing. The methodology
is on quantity and quality and data collected during the three dramatic games, performed with 32 students. We found two
categories of analysis: To occupy the empty space: the political inexperience in nursing; the occupation of the space with no
sense: the student’s bodies don’t look and don’t communicate. Conclusion: The dramatic game was useful so that the students
would realize themselves and organize the stiff bodies to flexible; reasonable to sensible; in silent to talking; shy to critical.
Key-words: nursing care, dramatic game, space, education.
Resumen
Enseñando a los estudiantes de enfermería a pensar el cuidado atravez del juego
dramático: el inductor espacio como metodología de una pedagogía libertadora.
Se trata de una experiencia pedagógica con el juego dramático para enseñar a los estudiantes de enfermería a pensar el
cuidado a través del inductor espacio. El principal interrogante fue: el juego dramático funciona como una pedagogía libertadora
para pensar el cuidado y la práctica de enfermería. Objetivos: Crear a través de un juego momentos para pensar el cuidado y
la práctica de enfermería; discutir como la ocupación del espacio por los estudiantes tiene implicaciones en el pensar y el
hacer. La metodología es cuanti-cualitativa y las informaciones fueron recolectadas durante tres juegos dramáticos realizados
con treinta y dos estudiantes. Encontramos dos categorías de análisis: Ocupar el espacio vacío: la inexperiencia “política” de
enfermería; la ocupación del espacio sin sentido: los cuerpos de los estudiantes no miran ni se comunican. Conclusión: el
juego dramático sirvió para que estudiantes se percibieran y pasaran de cuerpos duros para flexibles; racionales para sensibles;
callados para hablantes; tímidos para críticos.
Palabras-claves: cuidado de enfermería, juego dramático, espacio, pedagogía.
Introdução
A busca para encontrar estratégias que
possibilitem a utilização de pedagogias diferentes
para pensar o cuidado com estudantes de graduação
e de pós-graduação em enfermagem tem sido
interminável para nós. Do mesmo modo, temos
buscado parcerias para nos oferecer o acesso a
conhecimentos na área do teatro para que, juntos,
possamos criar espaços de expressão, passíveis de
serem teorizados através de uma outra abordagem
científica, associando ciência e arte. A experiência
com a pedagogia do jogo, que está em foco neste
estudo, realiza um desejo de libertar
o corpo, que controlamos através de um pensarsaber biomédico.
Normalmente a pedagogia que temos instituído,
em nossa Escola de Enfermagem, apesar do discurso
contrário, tem sido a da contenção, do estímulo/
resposta e do condicionamento, o que tem revelado
ser um problema de pesquisa, porque temos percebido
o engessamento do corpo dos estudantes, que,
inclusive e talvez por isso, se mantêm a serviço de
uma certa racionalidade sem emoção.
Os 32 estudantes participantes cursam o 5º
período, do curso de Graduação em Enfermagem, da
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade
do Rio de Janeiro – EEAP/UNIRIO. Esta experiência
pedagógica pontual aconteceu, no dia 12 de julho de
2002, na sala de aula da disciplina Paradigmas do Saber
em Enfermagem II, oferecida pelo Departamento de
Enfermagem Fundamental, cuja ementa é:
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Apresenta aos graduandos os paradigmas das
correntes filosóficas emergentes (holismo, ciência
sensual, ciência com consciência, conhecimento
comum, complexidade, transdisciplinaridade,
caosmose e outros), como concepções alternativas
que podem dar base à construção do saber em
enfermagem, discutindo com eles estas diferentes
concepções, com vistas à melhoria da pesquisa em
enfermagem e suas implicações para o ensino, para
a prática de cuidar e pesquisar.
A hipótese deste estudo é de que o jogo dramático
pode contribuir para a libertação do corpo e de suas
ações com implicações mais sensíveis para a prática
do cuidar em enfermagem. A questão de pesquisa é:
o jogo dramático funciona como uma pedagogia
libertadora para os estudantes, quando se solicita que
ocupem o espaço para pensar o cuidado e a prática
em enfermagem? Daí emerge o objeto deste estudo:
ensinando os estudantes a pensar o cuidado através
de jogos dramáticos, tendo como indutor do jogo o
espaço a ser ocupado. Na enfermagem, o espaço é o
lugar de ensino (a escola), de aprender (a sala de aula),
de cuidar (o ambiente onde os clientes se encontram).
Objetivos
Definimos como objetivos:
1. Criar, através de jogos dramáticos, momentos
para pensar o cuidado e a prática de enfermagem, a
partir do indutor espaço;
2. Discutir como a ocupação do espaço pelos
estudantes tem implicações no pensar e no fazer em
enfermagem.
O presente estudo sobre esta experiência
pedagógica interdisciplinar, na qual ainda estamos
tateando, quer contribuir para a reflexão sobre a
questão nele levantada, não só entre os que se
encontram em formação na universidade, como
também para os que já são profissionais no mercado
do trabalho em enfermagem.
A justificativa da intervenção da prática do jogo
dramático, enquanto relação interdisciplinar entre a
pedagogia do jogo e a pedagogia já instituída, se baseia
no fato dos jogos dramáticos serem eficazes para
estimular os estudantes; futuros enfermeiros a se
tornarem mais expressivos em sua prática profissional
e para possibilitar o estudo de formas expressivas
(gestos, movimentos, signos não verbais) capazes de
trazer à tona a questão do engessamento do corpo. O
corpo, no nosso entender, é importante e atuante
instrumento do cuidado. A pedagogia do jogo, que
utiliza o jogo dramático, revela-se perfeitamente
adequada à idéia e/ou à afirmativa, difundida há mais
de um século, de que a enfermagem é uma arte. A
enfermagem é arte, se o corpo que a exerce é um
corpo que se expressa esteticamente, um corpo arte,
ou seja, um corpo livremente expressivo, ético, sensível
e emocional. A experiência com o jogo dramático
revela eficácia ao tornar o corpo mais livre, mais
explorável na sua capacidade de emissão de signos.
Material e métodos
Trata-se de uma metodologia experimental, cuja
abordagem quantitativa e qualitativa se sustenta no
envolvimento entre professores pesquisadores e
estudantes participantes, assim como na singularidade
das informações decorrentes de experiências lúdicas
dos estudantes, como sujeitos de pesquisa. A
disponibilidade para o jogo e as fotos por eles
autorizadas de suas experiências são prova de que
entendem a sala de aula também como um laboratório
para pensar e aprender a cuidar.
O espaço como indutor do jogo dramático,
utilizado como metodologia provocadora de
informações e significados passíveis de reflexão
coletiva, cria condições para que o imaginário, as
formas expressivas e a intenção de comunicação se
manifestem lúcida e ludicamente. A sala de aula é
primeiramente dividida em área de jogo (vazia, limpa,
livre de qualquer elemento significante) e área de não
jogo (destinada ao mobiliário da sala, ao material
pessoal e a qualquer outro elemento significante).
Assim preparada, a sala de aula se torna o laboratório
para a experimentação.
A área de jogo, tratada na sua materialidade, é
recortada ou enquadrada pela sua forma, plasticidade,
textura (alto/baixo; largo/estreito; claro/escuro;
circular/retangular; liso/áspero; plano/profundo).
As múltiplas possibilidades de recorte ou
enquadramento da área de jogo levam sempre em
conta o ponto de vista ou a posição do olhar do
observador (frontal; lateral; de cima; de baixo; de
perto; de longe). Assim, em função da materialidade
do espaço recortado ou enquadrado, assim como do
lugar de onde se observa o jogo, o espaço vazio
exerce a função de induzir os jogadores a preenchêlo com seu corpo: gestos, formas plásticas e
expressões faciais. Com o olhar e o corpo congelados
no espaço vazio, individual e voluntariamente, os
jogadores optam por escolher o papel de jogador
ou o de observador do jogo. Jogando e observando,
alternada e simultaneamente, imagens (fixas e
congeladas) são criadas no espaço antes vazio e são
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“lidas”, pois passam a configurar signos com forte
carga de significação.
Os significados e as informações, que emergem
destas imagens, são debatidos no momento da palavra.
A palavra só é autorizada depois da realização
silenciosa do jogo. Os jogos de ocupação do espaço
vazio, assim como, o momento da palavra são regidos
por regras precisas e reveladas com antecedência. O
indivíduo e o coletivo manifestam-se durante toda a
experiência lúdica e os temas, os conceitos, as idéias,
os conteúdos, os significados resultam do nível de
envolvimento e do engajamento pessoal e coletivo.
Nenhum significado ou tema é apresentado a
priori. Eles surgem no jogo. O jogo individual cria
significado que se mantém, se altera, se complementa
e se contradiz com o jogo individual seguinte. A
produção de sentido se faz, assim, individual e
coletivamente. O indutor do jogo é realmente o espaço
enquadrado a partir de sua materialidade, de sua
camada significante. O espaço como indutor do jogo
dramático possibilita o acesso a elementos da
linguagem teatral e, ao mesmo tempo, provoca a
produção de sentido que leva em conta a surpresa, o
aleatório, o acaso, a ousadia, a generosidade, a
tolerância e o espírito crítico. Jogar é fazer e isto implica
em correr risco. Cabe ao jogador medir o risco que
quer correr, voluntariamente, com liberdade.
Momentos da pesquisa
Momento um – Delimitação do espaço a ser
ocupado e solicitação para que os estudantes o
ocupem. Este jogo foi repetido em 3 diferentes
espaços enquadrados. Nos três jogos, o olhar
observador ocupou também diferentes posições.
Momento dois – Momento da Palavra: sentados
em círculo, todos se olhando, param de jogar para falar
sobre a experiência vivida e, para nosso estranhamento,
eles se expressaram, por diversas vezes, sobre o mesmo
assunto (os números de vezes estão entre parênteses,
como mostra o Quadro 1, abaixo. Surgiram, então,
temas emergentes tais como: observação, memória e
expressão corporal.
Momento três – De volta ao jogo: foi solicitado
aos jogadores a ocupar da mesma forma o mesmo
espaço anterior. Foi interessante perceber como foi
difícil lembrar de como estavam no começo do jogo.
Os estudantes se descobriram sem memória e com
observação pouco aguçada, se descobriram olhando
sem ver. A pedido dos pesquisadores, eles tentaram
mudar as expressões corporais anteriores,
confirmando tais dificuldades na composição plástica,
na expressão corporal.
Momento quatro – A partir do material significativo
colhido durante a experimentação, trabalhamos sobre
o número de vezes que determinados temas surgiram,
quando usaram a palavra para pensar o jogo. Vejamos:
Quadro 1 - Dos temas emergentes.
1. na hora de ocupar o espaço deixamos muitos
espaços vazios (18)
2. as pessoas que ocuparam os espaços não se
comunicaram e nem se olharam (21)
3. houve superposição de corpos quando olhávamos
a cena (5)
4. quando me coloquei no espaço pensei na
intimidade do corpo (13)
6. pensei na reorganização da imagem, mexer com
a imagem (16)
7. me curvei para quebrar a imagem (1)
8. pensei na cadeia da evolução humana (1)
9. procurei olhar só para um ponto (28)
10. só tinha visão para o mundo lá fora (2)
11. pensei na divisão do espaço fechado e na solidão (7)
12. percebi o isolamento de alguém, mesmo no meio
dos outros (16)
13. só uma aluna tocou na outra (1)
14. alguém procurou encontrar o outro (2)
15. ocuparam o espaço sem se preocupar com o como
ocupá-lo (28)
Discussão e implicações dos jogos de ocupação
do espaço para o cuidado em enfermagem
Antes de iniciar a reflexão a partir das duas
categorias de análise 1. Ocupar o espaço vazio: a
“inexperiência política em enfermagem”; 2. A
ocupação do espaço sem sentido: os corpos dos
estudantes não olham e nem se comunicam,
relevantes e pertinentes para aprender a cuidar de si
e a cuidar do outro, oriundas da leitura do Quadro
1, observemos, na imagem gráfica abaixo, as falas
mais recorrentes dos estudantes em relação à seleção
dos temas, emergentes, pontuais.
Figura 1 - Dos temas emergentes.
As observações, realizadas pelos estudantes,
sobre a ocupação, re-ocupação e re-organização
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plástica do corpo nos espaços enquadrados os
colocaram diante de problemas, que só foram possíveis
pela experiência com o jogo dramático.
Ao nomeá-los, estes problemas tornaram-se
merecedores de atenção ainda nos limites do tempo
da aula: dificuldades de comunicação, de observação,
de ocupação do espaço. Estas dificuldades foram,
então, pensadas, como exercício de reflexão coletiva,
nas suas íntimas relações com as ações e as atitudes na
prática de enfermagem. Apesar dos estudantes
poderem lançar mão deste material para os seminários
exigidos pela disciplina, nos pareceu conveniente trazêlos para nosso estudo, no sentido de ampliar os
elementos disponíveis para análise. Estão, assim,
apresentados no Gráfico 2, a seguir:
Gráfico 2 - Falas após ocupação do espaço.
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
L
M
N
Legenda
Nº de Vezes
Deixam espaços vazios
18
Não se comunicam com o olhar
21
Não se comunicam com a fala
31
Ritmo do corpo sem preocupação
13
Reorganização da imagem
16
Quebrar a imagem
01
Cadeia da evolução
01
Olhar só para um ponto
28
Só tinha visão para o mundo lá fora
02
Divisão do espaço e solidão
07
Isolamento de alguém no meio dos outros 16
Só um toca no outro
01
Ocupar sem se preocupar como ocupar
28
Foi possível verificar, com a prática do jogo
dramático, como os alunos criam movimentos - ondas,
quando falam de temas não comuns na cotidiana
socialização dos conteúdos no aprender enfermagem.
Como a pedagogia do jogo não é utilizada
rotineiramente – nem mesmo o jogo dramático, se
descobriram sensíveis, criativos, ousados, mesmo não se
sentindo, de início, confiantes ou soltos para viver o jogo.
Lançando mão da primeira categoria de análise,
chamada de Ocupar o espaço vazio: a “inexperiência”
política da enfermagem, iniciaremos nossa reflexão
pelo tratamento de uma das questões mais
problemáticas tanto no ensino, quanto na ação de
cuidar e gerenciar o cuidado, pois envolve adminis-
tração em enfermagem e espaço político da profissão.
Morin [1], nos chama a atenção, se reportando a
Dukheim, de que o objetivo da educação não é o de
transmitir conhecimentos sempre mais numerosos aos
estudantes, mas o de “criar neles um estado interior e
profundo, numa espécie de polaridade de espírito que
o orienta em um sentido definido para toda a vida”.
A experiência pedagógica com o jogo dramático
parece alcançar tal objetivo, ao conseguir mexer,
estimular o estudante não só a raciocinar, mas a
descobrir as ressonâncias possíveis junto à
especificidade de sua formação. Talvez por conta da
própria pedagogia que temos desenvolvido, os
tornamos seres de mentes estreitas, que querem
respostas imediatas, programadas a priori, sem direito
à chance de sonhar, discordar, imitar, se apaixonar,
calar, gritar, rir e chorar. Alargar as possibilidades de
ser, pensar e fazer dos estudantes é nossa preocupação
central, nesta disciplina. Preocupa-nos uma formação,
na qual os estudantes só sabem se relacionar com
estímulos e respostas, condicionados a cumprir tarefas,
a queimar etapas, a ter pouco tempo para viver
oportunidades acadêmicas.
A pedagogia do jogo, através dos jogos
dramáticos, parece abrir um espaço de claridade,
de liberdade, para melhorar e ampliar o “eu” dos
estudantes, como foi dito de diversos modos
quando eles falaram da experiência pedagógica
vivida em sala de aula. Ao ocupar o espaço vazio e
delimitado, o jogo lentamente criou um rebuliço
neles, apesar de, inicialmente, ter parecido a todos
um exercício sereno e silencioso. Ao se descobrirem
ocupando pouco espaço, deixando espaços tão
vazios, eles se deram conta de que, ainda, não
tinham se despertado para a importância de ocupálos adequadamente. Foi muito automático
estabelecer relações de significação com os espaços
de enfermagem, onde cuidam e fazem sua política.
Por que se colocaram num só lugar; todos num só
canto e tantos lugares ficaram vazios? Foram
questões levantadas que têm implicações diretas
com sua formação e profissão.
O estreitamento do espaço está relacionado
com o estreitamento da mente que tem sido tomada
e paralisada pela usual racionalidade, que dá ênfase
a um ensino, onde a doença é que comanda os
programas; onde as tarefas não são pensadas,
problematizadas e nem questionadas. Trinca [2], diz
que estes condicionamentos, em suas tendências
extremas, saturam a mente de objetos oclusivos e
categorias, imprimindo um tipo de funcionamento
ditado predominantemente pela rigidez das formas
programáveis como as máquinas. Isto resulta num
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ser humano povoado interiormente por coisas e
correndo risco de tornar-se “homem coisa”.
Aprender a ocupar o espaço através do jogo
dramático é uma atividade nova e conflitante para a
enfermagem, embora pertinente, possível e
fundamental, porque nos dá acesso a uma outra
pedagogia para aprender a pensar e aprender a
aprender. Segundo Santos [3], “o espaço é formado
por um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de
ações, não considerados isoladamente, mas como o
quadro único no qual a história se dá”. Os jogos
dramáticos realizados para a ocupação do espaço
criaram a oportunidade do estudante entrar em ação,
uma ação que é sua, que interage com uma ação do
outro, sem combinação prévia. Cada jogo individual
age sobre tudo que já se encontra no espaço. Ao entrar
em ação, orientada pelas palavras ocupem o espaço, se
empenham no ato (de representar), de agir para cuidar.
A situação dramática, que é regulada e envolve esforço,
motivação e interação, se constrói em um sistema
complexo de signos. O corpo, o olhar, o gesto, o
movimento de cada jogador constrói um conjunto
significativo, polissêmico.
Ao final dos jogos dramáticos, as experiências
vividas foram comparadas aos comportamentos e
ações de ocupação do espaço na enfermagem, nas
instituições de saúde e de ensino. Aprenderam, através
da pedagogia do jogo, a noção de espaço e que ocupar
o espaço envolve tomadas de posição política. Neste
jogo, puderam perceber que a perda de espaço ou sua
inadequada ocupação também significam.
Foram, então, selecionadas algumas das mais
constantes conclusões dos estudantes, ao associar estes
jogos com o universo da enfermagem, com vistas a
uma revisão ou um repensar de suas ações e de seu
comportamento como ser político:
• “Não sabemos ocupar espaços”.
• “Não pensamos na ocupação do espaço como
ação política”.
• “Deixamos muitos espaços vazios, sem nos
preocupar com os outros que podem tomar nossos
espaços”.
• “Ocupamos sem saber por que ocupamos”.
• “Sair de um espaço significa perder aquele que
você já estava ocupando”.
• “É difícil perder o espaço ao qual já estamos
acostumados -sair de um espaço significa que nunca
mais voltamos ao mesmo lugar e no mesmo movimento”.
Malcriadamente estimulante, em termos de uma
conversa mais política, foi esta reflexão sobre a
ocupação do espaço, que mostrou como o indivi-
dualismo está muito presente em nós, como se cada
um fosse mais real que o espaço. Mesmo sabendo
que cada um é especial, é singular, aprendemos que
cada um só significa dentro do conjunto, que
somente na sua inter-relação com o outro um
espaço significativo se sistematiza. No entanto, esta
presença incômoda do individualismo, uma
reprodução do que vivemos no ambiente social, nos
remete ao que Vincent [4], diz sobre isso: “no
formato liberal clássico, o ‘indivíduo’ é, em geral,
compreendido como sozinho, encerrado em si
mesmo, estando confinado na sua própria
subjetividade”. E diz ainda: “os limites do corpo
são os limites do indivíduo”. Como vivemos num
contexto pós-moder no e sob uma política
neoliberal dominante, esta discussão pôde sublinhar
o quanto à formação e a profissão mantêm o
individualismo. Além disto, puderam perceber
como não estão acostumados à auto-avaliação e
nem a se ver como coletivo para ocupar os espaços
ainda vazios da enfermagem. Isto merece outras
conversas e estratégias para instigar alunos e
docentes a pensar que são sujeitos políticos. Ocupar
espaços exige saber, poder e postura política.
A segunda categoria: a ocupação do espaço sem
sentido: os corpos de alunos de enfermagem não
olham e nem se comunicam sublinha a questão do
individualismo, reproduzida no ensino e na prática
profissional, onde cada pessoa é vista com valor; ela
só basta. Ora somos sujeitos “abstratos”, ora somos
sujeitos “sociais” segundo nosso próprio e individual
modo de ser. Mesmo sabendo que eles podiam
voluntária e livremente ocupar o espaço
determinado, eles mesmos foram capazes de
perceber e dizer que a ocupação não estava correta:
• “Não interagiram”
• “Não se falaram”
• “Não olharam uns para os outros”
• “Que olhares estavam perdidos num ponto”
• “Que ficaram na frente dos outros,
superpondo imagens”
• “Se reconheceram sujeitos individuais”
Sujeitos aparentemente sem sentido, porque
não se comunicam. A comunicação é importante
para a prática de cuidar e que faz parte dos
instrumentos básicos descritos por enfermeiras que
teorizam sobre o tema, como Stefanelli [5], que
considera a comunicação na enfermagem terapêutica,
pois cria oportunidade de aprendizagem para que se
possa despertar o sentimento de confiança entre
cliente e enfermeira e para que ambos possam
experimentar a sensação de segurança.
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O espaço aparece sem sentido, quando o ocupam
e se despreocupam em lhe atribuir um sentido ou, se
o fazem, não levam em conta o sentido que o outro
imprimiu ao espaço quando este o ocupou. Esta
dificuldade está ligada ao que Vincent [4], diz: “o
indivíduo possui seu próprio corpo, em termos de
direito natural, e essa noção é muitas vezes associada
à teoria possessiva individualista”. Assim, jogando ou
agindo na vida, continuamos sujeitos sós, sujeitos de
solidão, sujeitos perdidos em si mesmos.
O que é importante registrar é que, com esta
pedagogia do jogo, os estudantes não foram
coagidos a pensar nesta questão. Foi uma direção
que o jogo deu a eles. Surgiu do jogo, estimulandoos a não terem apenas o interesse por uma lógica
individual, mas coletiva, mais sensível, mais
disponível para o outro.
Quando refletimos sobre comunicação,
abordamos obrigatoriamente a ausência ou o uso
inadequado de dois sentidos - olhar e tocar imprescindíveis em enfermagem. Encontramos apoio
em Hohlfeldt, Martinho e França [6], quando dizem
que o objeto da comunicação está a nossa frente,
disponível aos nossos sentidos, materializado em
objetos e práticas que podemos ver, ouvir e tocar.
Devíamos sentir, escutar e cheirar. Para eles, a
comunicação tem uma existência sensível, é do domínio
real, trata-se de um fato concreto de nosso cotidiano.
Ao ocupar os espaços, os estudantes podem não
ter emitido sons ou não estavam olhando para os
colegas, mas olhavam para alguma coisa. Trata-se do
mesmo olhar que exercitam, quando estão diante de
seus clientes – estão olhando, mas não vêem.
Neste vazio do olhar ou na ação silenciosa, há
relação e as trocas também são simbólicas, porque a
linguagem do corpo se expressa, mesmo quando não
se movimenta. Essas marcas de linguagem corporal
povoam o ambiente do cuidado, assim como a sala de
aula (corpo dos docentes e dos discentes) no dia a dia
de todos. Para os autores acima citados, é óbvio que a
comunicação acontece entre os grupamentos humanos
e foi dela que nasceu o “embrião da vida social”. Suas
bases são as trocas simbólicas. A expressividade, ou
seja, a materialização de formas simbólicas produz
sentido e a intenção de comunicação se concretiza.
Ao fixar o olhar, quando entram no jogo para
ocupar o espaço, algo chamou atenção: para quem os
estudantes olhavam, se aparentemente não era para
ninguém? Olhar e ver. A visão é um sentido
imprescindível à prática de cuidar. É necessária a leitura
dos signos não verbais emitidos pelo corpo dos
clientes. Uma habilidade que precisa ser desenvolvida
nos enfermeiros e é passível de aprendizagem em sua
formação, tendo em vista esta parceria pedagógica
com o jogo dramático.
Ackerman [7], quando fala do olhar, nos brinda
com toda a sua sensibilidade de tudo que é possível
ver através dele, como luz, cor, animais, plantas, o
céu, as estrelas e que é possível descobrir que,
dependendo do dia, da luz, nada parece com o que
estamos vendo. Cita, por exemplo, as pinturas de
Cézanne, que afirmava sentir o cheiro das flores,
quando as pintava. O olhar aguça todos os sentidos.
Para a autora, a luz é fundamental para quem olha,
porque é ela que clareia, escurece o objeto da
observação e aguça o olhar para enxergar detalhes
aparentemente não visíveis. A luz da manhã, da tarde
e da noite atribui luminosidade diferente para um
mesmo objeto, um objeto que se encontra no mesmo
ambiente. Assim ela diz: “uma das características de
nossa espécie é a habilidade de adaptarmo-nos ao
ambiente e também de mudá-lo para servir-nos
melhor. Não devemos associar a noite à ausência do
dia, mas a uma espécie de liberdade. Mesmo assim
não é possível esquecer que o que vemos à noite são
sombras que a luz da lua ou dos refletores criam,
porque a própria noite é uma sombra”. Com base
nestas premissas, não deveríamos acreditar que os
estudantes não estavam olhando para nada.
Tudo isto serve-nos para dizer que o jogo
dramático, como metodologia de uma pedagogia
libertadora desengana o corpo e a alma dos
estudantes de enfermagem. Ele serve para que
aprendam não só a ocupar o espaço onde trabalham,
mas também aprendam a olhar, ou seja, aprendam a
olhar para enxergar e compreender o que aparenta
ser visível. Em enfermagem, a luz, o claro e o escuro
podem ocultar ou desvendar o que está no corpo do
cliente. Aprender a olhar para poder ver melhor
significa descobrir o que não se viu de imediato,
assim como para olhar melhor os colegas, os
companheiros de trabalho, a dar valor ao trabalho
coletivo e a equipe. Deste modo, faz sentido pensar
num corpo que deve ocupar seu espaço de trabalho,
de ensino, de política. Um corpo que “fala”, com
aqueles que também fazem o mesmo movimento
de ocupação, realiza a comunicação: é preciso
conversar, ou somente olhar, sendo que é preciso
saber para onde olhar e como olhar.
Considerações “quase” dramáticas
Este estudo nos mostrou que é possível discutir,
pensar, ensinar enfer magem através do jogo
dramático. Além de nos levar a reafirmar, como
docentes na busca de parcerias com outras pedagogias,
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que é preciso encontrar formas de redimensionar a
formação e a profissão em enfermagem quer no
ambiente de ensino técnico e científico, quer no
ambiente que se preocupa cientificamente com o
cuidado em enfermagem.
Pensar a enfermagem a partir de metodologias
específicas da arte, e, neste caso, do teatro se adequou,
se ajustou aos nossos objetivos e, para nossa
perplexidade, expôs nossos “tendões de Aquiles”.
Ou seja, estamos aprendendo uma prática que é
eminentemente sensível através de estratégias racionais.
Descobrimos, nesta experiência com o jogo dramático,
comportamentos didáticos, que consideramos estímulos
pedagógicos para a libertação:
1. O estímulo é o convite – Os corpos estão rijos,
duros, rejeitam sem falar, a experiência proposta, mas
ficam olhando o que vai acontecer e esperando quem
primeiro se aventura a participar;
2. A participação estimulada – A ação de
movimentar os corpos para ocupar o espaço passa do
rijo para o flexível a partir da indução material e
concreta do espaço. O corpo começa a entrar em
estado de liberdade e ocupa a área de jogo;
3. O estímulo é a conversa – Após a experiência
quando começam a falar do que fizeram, se descobrem
com sujeitos possíveis. Uma possibilidade que estava
escondida e que o corpo expõe durante o jogo. Com
esta tomada de consciência conseguem pensar as
implicações do jogo com a prática de enfermagem;
4. A entrada engajada no jogo – Mudam de posição
(quem foi observador passa a ser jogador); novos
jogadores devem ocupar o espaço tal como foi
realizado primeiramente e a participação de entrar no
jogo torna-se uma ação engajada.
O jogo dramático cria ou amplia uma outra
consciência. A integração como fundamental no jogo
da vida, no jogo da política como uma forma de
colocar a enfermagem no lugar que lhe é devido.
Uma atividade lúdica, lúcida e coletiva: a arte
de cuidar.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Morin E. A Cabeça bem feita: repensar a reforma,
reformar o pensamento. 5a ed. Rio de Janeiro: Bertrand
do Brasil; 2001. 128p.
Trinca W. O espaço mental do homem novo. São Paulo:
Papirus; 1997. 151p.
Santos M. A natureza do espaço e tempo: razão e
emoção. 3a ed. São Paulo: Hucitec; 1999. 308p.
Vincent A. Ideologias, políticas modernas. Rio de
Janeiro: Zahar; 1995. 357p.
Stefanelli MC. Comunicação com paciente – teoria e
ensino. 2a ed. São Paulo: Editorial; 1993. 200p.
Hohlfeldt A, Martinho LC, França VV. Teorias de
Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. Rio
de Janeiro: Vozes; 2001. 277p.
Ackerman D. Uma história natural dos sentidos. 2a
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 1996. 368p. K
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Artigo original
Ergonomia na prevenção das dores
osteomusculares relacionadas ao trabalho:
o caso das merendeiras escolares de Nova
Iguaçu e São Gonçalo
Hamilton Delgado de Almeida*, Anamaria de Moraes**
*Enfermeiro, Mestre em Artes e Design-PUC-Rio, Coordenador de Enfermagem da Superintendência de Saúde e Qualidade de Vida no
Trabalho da Secretaria de Administração do Estado do Rio de Janeiro, ** Professora Doutora em Ergonomia Departamento de Artes e DesignPUC –Rio.
Resumo
O estudo é parte da dissertação de mestrado em ergonomia, em que se levanta a hipótese de que a ausência de um material de
trabalho adequado nas escolas de Nova Iguaçu e São Gonçalo, ambas no estado do Rio de Janeiro, provoca danos à saúde das
merendeiras escolares. Foi feito um estudo ergonômico das disfunções músculo-esqueléticas destas merendeiras. Realizou-se
a coletas de dados empíricos sobre as lesões músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho, assim como também foram
avaliadas as condições de trabalho durante a produção das refeições coletivas. Como método de avaliação, foi empregado um
questionário e foi feita uma avaliação postural. Os métodos de estudo de postura utilizados foram: RULA, OWAS e Método
de Guelaud de Avaliação de Carga Física. Os resultados encontrados demonstram que a improvisação e o uso de artifícios
constituem uma séria inadequação ao trabalho e, em algumas circunstâncias, facilita a ocorrência de acidentes e disfunções
músculo-esqueléticas.
Palavras-chave: merendeiras escolares, dores osteomusculares, trabalho, ergonomia.
Artigo recebido em 1 de março de 2004; aceito em 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Hamilton Delgado de Almeida, R Buarque de
Macedo, 71 Ap. 205, Flamengo 22.220-030 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2205-3893 ou (21) 9149-0274, E-mail: [email protected]
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Abstract
Ergonomics in musculoskeletal pains prevention related to work: the case of the
school lunch-cookers in Nova Iguaçu and São Gonçalo
The study is part of a master degree dissertation in ergonomics. Our hypothesis is that the absence of appropriate tools for
the work causes damages the health of the school lunch-cookers of Nova Iguaçu and São Gonçalo both in the state of Rio
de Janeiro. An ergonomic study of the musculoskeletal dysfunctions at work (MSDW) of these workers was developed. It
was accomplished to collections of empiric data on the musculoskeletal lesions related at work, as well as they were also
tested the work conditions during the production of the collective meals. As evaluation methodology, we employed one
questionnaire and three evaluation postural tests. The methods of posture tests used were the RULA test, the test OWAS and
Method of Guelaud of Evaluation of Physical Load. The results founded refuted the hypothesis and demonstrate that the
improvised techniques and the use of artifices constitute a serious inadequacy at work and, in some circumstances, facilitate
the occurrence of accidents and musculoskeletal dysfunctions.
Key-words: lunch-cookers, musculoskeletal pains, work, ergonomics
Resumen
Ergonomía en la prevención de dolores osteomusculares relacionados al trabajo: el
caso de las merenderas escolares de Nova Iguaçu y São Gonçalo
Este estudio es parte de una disertación para la obtención del título de magíster en ergonomía, donde se plantea la hipótesis
de que la ausencia de un material de trabajo adecuado en las escuelas Nova Iguaçu y São Gonzalo, ambas en el estado de Río
de Janeiro, causa daños a la salud de las ayudantes de cocina. Fue realizado un estudio ergonómico de las disfunciones
músculo-esqueléticas de estas ayudantes de cocina. Se colectaron datos empíricos sobre las lesiones músculo-esqueléticas
relacionadas al trabajo, así como también fueron evaluadas las condiciones de trabajo durante la producción de los alimentos.
Como método de evaluación, se empleó un cuestionario y se realizó un test de las posturas. Los métodos de estudio de
postura utilizados fueron: RULA, OWAS y Método de Guelaud de Evaluación de Carga Física. Los resultados encontrados
confirman la hipótesis y demuestran que la improvisación y el uso de artificios constituyen una seria inadecuación al trabajo
y, en algunas circunstancias, facilitan la producción de accidentes y disfunciones músculo-esqueléticas.
Palabras-claves: ayudantes de cocina, dolores osteomusculares, trabajo, ergonomía
Introdução
As disfunções músculo-esqueléticas,
decorrentes da má usabilidade de produtos utilizados
por merendeiras nas escolas do Rio de Janeiro, são
conteúdos da área da saúde e do design e tem na
ergonomia seu foco de estudo. Considera-se que as
disfunções músculo-esqueléticas não surgem a partir
da própria condição do ser humano, mas sim da sua
relação com o trabalho e dos riscos ergonômicos as
quais estão submetidos.
A ergonomia pode contribuir para solucionar um
grande número de problemas sociais relacionados com
a saúde, a segurança, o conforto e a eficiência. Muitos
danos à saúde podem ser prevenidos pela ação
ergonômica. Muitas situações de trabalho e de vida
cotidiana são prejudiciais à saúde. Estas situações
podem ser atribuídas a um mau projeto e ao uso
inadequado de equipamentos, sistemas e planejamento
das tarefas.
A percepção da necessidade de um estudo
ergonômico parte da experiência prática e das
atividades profissionais que desenvolvemos na
Superintendência de Saúde e Qualidade de Vida no
Trabalho, serviço dependente da Secretaria de
Administração do Estado do Rio de Janeiro. Esse
serviço é um órgão público, anteriormente conhecido
como Perícia Médica, estabelecido para atender a
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demanda do funcionalismo público estadual e consiste
em um trabalho multiprofissional em que exercemos
a função de enfermeiro.
Percebemos que devido a pouca instrução e a uma
falta de orientação e prescrição dos cuidados laborativos,
os problemas do cotidiano das merendeiras se
transformam em um produto de consumo dos serviços
de saúde e em aceitação de que “não estou bem” como
um desequilíbrio orgânico e não uma inadequação do
organismo a função laborativa. A ausência de
informação, formação e prevenção quanto aos riscos
ocupacionais permitem a persistência nesta situação.
Mais ainda, a despreocupação com equipamentos (tais
como panelas, puxadores, conchas, espumadeiras),
alturas das bancadas, mesas, fogões e distâncias entre
os mobiliários dentro de uma cozinha escolar, agravam
a situação.
As condições de trabalho das merendeiras
incluem aspectos relacionados com o levantamento
de peso (massa), transporte de carga e descarga de
materiais e alimentos, preparo e distribuição destes
alimentos, mobiliários, equipamentos e utensílios
pouco adequados, bem como condições ambientais
desfavoráveis do posto de trabalho e a própria
organização do trabalho.
Dentro desta proposta não basta apenas o
simples reconhecimento dos riscos ocupacionais; é
também necessário saber quais as respostas biológicas
provocadas no ser humano exposto a estes riscos. Para
tanto, cabe ainda analisar as atividades de tarefa e os
modos de trabalho.
A partir destas questões foi levantada a hipótese:
A ausência de um material adequado de trabalho causa
danos à saúde e prejudica a qualidade de vida no
trabalho das merendeiras escolares do Rio de Janeiro
ocasionando disfunções músculo-esqueléticas.
As condições de trabalho são fator determinante
para a execução da tarefa, bem como o aproveitamento
dos produtos desta tarefa. No caso das merendeiras
escolares isto se torna um fator importante, pois a
melhoria destas condições de trabalho permite que as
mesmas não só aumente a aceitação da merenda por
parte das crianças, mas também evite o desperdício
de alimentos tão importante nos programas contra a
fome. Permitirá também um melhor estudo do
desenho de utensílios e instrumentos de trabalho de
acordo com a ergonomia, permitindo assim um
aperfeiçoamento do desenho industrial de acordo com
as tarefas a serem desenvolvidas.
Segundo Antônio Raimundo dos Santos [1]:
“A problematização é a transformação de uma
necessidade humana em problema, que por sua vez
defini-se como necessidade humana, quando pensada.
O que se faz, na realidade, é dividir a necessidade de
seus aspectos componentes julgados importantes.”
Apesar da mecanização a tarefa que são
realizadas com as mãos e o corpo está presente ainda
em ¼ das atividades ocupacionais, sobretudo em
países em desenvolvimento.
Segundo Marras [2], até 80% dos indivíduos
adultos experimentam um episódio de dor lombar ao
longo da vida. Aproximadamente 5% da população
têm um episódio de dor aguda a cada ano. 30 a 70%
têm dor lombar e são acometidos de recidiva. 30%
das lesões músculo-esqueléticas são de origem
ocupacional. 16 a 19 % das queixas trabalhistas são
de dor lombar. 30% das lesões músculo-esqueléticas
ocorrem com o manuseio de peso.
Em toda a tendência mundial a maioria dos
afastamentos por licencia médica do Estado do Rio
de Janeiro se dá na faixa dos 35 a 55 anos, em
comparação com dados mundiais e brasileiros
percebe-se uma relação direta, ou seja, a faixa de idade
da vida produtiva da maioria da população, o que leva
a evidenciar uma queda na produção e no bem estar
do trabalhador e do seu trabalho.
O objeto da pesquisa centralizou nos estudos
de ergonomia no cotidiano das merendeiras escolares
do Rio de janeiro.
Um estudo analítico das condições de trabalho
e meio ambiente das atividades realizadas pelas
merendeiras escolares e equipamentos utilizados
dentro do campo da ergonomia e sua relação com o
processo saúde doença das merendeiras escolares do
Rio de Janeiro.
Materiais e métodos
A carga de trabalho de uma merendeira escolar
foi até hoje pouco estudada principalmente a partir
do ponto de vista da ergonomia. A merendeira tem
como trabalho prescrito desenvolver atividades que
estariam ligadas à produção de uma pequena refeição
entre o intervalo das aulas. Na situação real de trabalho
são verdadeiras cozinheiras industriais, pois trabalham
com produção de refeições coletivas de complexidade
(cardápios pré-estabelecidos) sem ter condições
adequadas para tal função.
O grupo estudado das merendeiras escolares
faz parte do funcionalismo público estadual e atuam
nas cantinas escolares responsáveis pela elaboração
da merenda escolar que deveria ser apenas uma
refeição curta durante o período das aulas, que,
entretanto, se tornou uma refeição fornecida às
crianças na escola.
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A escolha de um método de análise ergonômica
das atividades de trabalho irá depender de dois aspectos:
1. Das características da situação de trabalho a
ser analisada. Exigências do tipo fisiológico que
evidenciem o uso de postura inadequada para a
realização de suas tarefas, bem como o uso de
movimentos repetitivos e desordenados.
2. Dos objetivos deste estudo, que são uma
melhoria nas condições de trabalho destas merendeiras
escolares.
Modelo de representação da atividade merendeira
escolar e sua tarefa
Foi usado um modelo antropocêntrico de
representação das atividades das merendeiras escolares
que limita a representação a um número restrito de
categorias, e o que comporta um número limitado de
graus ou variáveis. Mas, entretanto, permite evidenciar
os principais condicionantes que afetam o
desenvolvimento das atividades das merendeiras
escolares e sua tarefa.
• Uma má concepção dos meios materiais de
trabalho;
• Características dos objetos de uso e de
comandos que nem sempre são adaptáveis às funções
ou às situações do trabalho;
• Características ambientais: ambiente mal
ventilado e mal iluminado, sujeito à presença de calor
e ruídos que interferem na concentração do trabalho;
• Condições temporais do trabalho: o tempo de
elaboração das refeições é curto, mantendo uma
cadência acelerada que nem sempre é proporcional à
duração e ao horário de trabalho;
• Características da organização do trabalho:
interferência da direção escolar, bem como restrição
a determinados ambientes (por exemplo, acesso à
despensa, onde se guarda o estoque de alimentos, que
lhe é restringido);
• O ambiente psicossociológico;
• Condições de vida extraprofissional.
O questionário da pesquisa
O uso de um questionário de pesquisa nos
orienta para questões não só de identificação dos
trabalhadores pesquisados, mas também para as
características antropométricas destes trabalhadores.
Questões da entrevista
Fatos objetivos de identificação estruturados a
partir de uma realidade do trabalhador, mas com a
finalidade de orientar a pesquisa para um estudo
ergonômico. Dentro destes dados teremos uma
sondagem de opinião, dados que obedecem a uma escala
de avaliação, pré-elaborada e que avalia o ambiente de
trabalho e as condições de trabalho das merendeiras
escolares, assim como dados antropométricos.
O método OWAS
O método OWAS visa mapear as posturas sem
a preocupação de aspectos de dispêndio energético e
vibração. O foco de atenção é o trabalhador e o seu
ambiente de trabalho ao executar determinadas tarefas.
Antes de uma observação há o registro do tipo de
tarefa e do local onde é realizada. O grau de esforço
físico por categoria de ações é determinado com base
nas posturas de trabalho e a força exercida durante
uma ação especifica.
O método RULA
O RULA – Rapid Upper Limb Assessment
(Avaliação Rápida dos Membros Superiores),
desenvolvido por Mc Atamney e Corlett [3],
desenvolve um procedimento análogo ao OWAS, que
pretende ser um método de investigação ergonômica
de estações de trabalho onde os maiores agravos
reportados dizem respeito aos membros superiores.
O método é uma ferramenta de triagem com acesso a
dados biomecânicos das posturas do corpo todo, mas
com especial atenção ao pescoço, tronco e membros
superiores. A avaliação pela RULA exige pouco tempo
para ser completado e gera um escore em forma de
lista de ação que indica o nível de intervenção
requerido para reduzir os riscos de dano devido à
sobrecarga física do operador. Ele também aplicado
como parte de estudos ergonômicos mais complexos.
Resumindo a técnica apresenta três passos:
1. Observação e seleção das posturas a serem
avaliadas;
2. Escore e levantamento das posturas;
3. Nível de ação.
Método Guelaud de avaliação de carga física
Guelaud et al. [4], estudou na França, como
elaborar uma análise das condições de trabalho dentro
da empresa. O desgaste físico assim como a carga
mental, aspectos psicosociológicos, condições
ambientais e descrição da duração da tarefa foram
colocados em um guia de observação, de forma a
possibilitar a cotação destes itens para avaliação das
condições de trabalho.
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O guia composto por Guelaud et al.[4],
considera predominantemente o caráter fisiológico
das tarefas – o trabalho muscular estático e dinâmico
e as posturas.
Na prática não é fácil perceber as fronteiras entre
o trabalho estático e dinâmico. O trabalho dinâmico
pode tomar uma característica estática quando
efetuado muito lentamente ou quando em intervalos
do trabalho dinâmico são tão curtos que não permitem
que os capilares se encham de sangue.
O trabalho muscular pode ser avaliado pelo
metabolismo basal, (considera o metabolismo basal,
o metabolismo de repouso e o metabolismo de
trabalho), pela eletromiografia e pela medida da
freqüência cardíaca.
Foram identificadas por Guelaud et al. [4], e
sintetizados no quadro as principais conseqüências de
algumas posturas:
Discussão
trangimento em responder a algumas avaliações,
devido ao fato de comprometer a situação real. Em
uma unidade visitada, o fogão estava sendo usado
com o artifício de se suportar o peso escorado com
latas e mesmo assim uma das merendeiras relatou
que estava bom.
Quanto ao ambiente de trabalho apenas dois
fatores foram mais relevantes, a localização da despensa,
aonde nem todas tem acesso e a ventilação que é má
projetada. Apesar de existir vários fatores de planta física
e lay-out interferindo na tarefa, um deles é o piso
inadequado o que torna um risco para acidentes.
Quanto a mobiliários e a equipamentos existem
sérias queixas. A altura de pias e bancadas é sempre
fonte de reclamação, pois todas têm dificuldade devido
às diferenças constantes de altura deste mobiliário. O
fogão é também fonte de reclamação, principalmente
pela ausência de uma manutenção o que permite que
o mesmo funcione em condições precárias.
O recordista em queixas é a pia para lavar panelas
e caldeirões, pois tem uma profundidade excessiva e
as obriga sempre a estar assumindo uma postura
recurvada para executar a tarefa, além da profundidade, a altura do mesmo é diferente dos outros
mobiliários e sempre mais baixo. As bacias e vasilhas
também são subutilizadas, pois as que existem são de
péssima qualidade ou são aproveitadas de embalagens
vazias. As pegas nestas vasilhas são inexistentes.
Panelas e caldeirões são em tamanho excessivo,
alguns desproporcionais à função, o que exige uma
grande aplicação de força, além do volume e peso
excessivo, temos o tamanho que quase obriga a
manipulação por duas pessoas e mesmo assim sendo
uma pega difícil. Frigideiras, conchas e espumadeiras
são sempre de péssima qualidade e quase sempre
estão danificadas o que aumenta a exigência da pega
e a utilização de segmentos corporais para ajuda na
tarefa. Outro fator comum nas queixas é a
inexistência de talheres suficientes para servir as
refeições, o que faz com que as merendeiras estejam
os lavando freqüentemente durante o serviço de
refeições. As queixas quanto ao cardápio são
poucas, entretanto percebemos uma falta de
importância com este aspecto devido ao fato de o
cardápio ser conhecido apenas no dia do preparo e
a outra se dá pelo fornecedor dos alimentos que
nem sempre abastece com produtos de boa qualidade
e de fácil preparo.
Resultados do questionário de pesquisa
Resultados do método Owas
O questionário foi aplicado a 43 merendeiras e
apesar da colaboração percebeu-se um cons-
Embora seja um método de fácil e simples
aplicação, o método em OWAS permite uma visão
Postura
Em pé prolongada
Conseqüências
Congestão das pernas
Edemas e varizes
Deformação dos pés
Sentada ou curvada
Compressão dos órgãos
internos
Problemas digestivos
Curvada (de pé,
sentado ou ajoelhado)
Desvios da coluna vertebral
Afecções e lesões dos discos
intervertebrais
Ajoelhada
Deterioração do menisco do
joelho
Irritação das bolsas sinoviais
das articulações
Posições em falso ou
crispação de grupos
musculares
(principalmente da
região da nuca,
dos ombros e dos
antebraços)
Endurecimento dos
músculos
Inflamação nos pontos de
fixação dos tendões
Se associado à postura desfavorável houver
também o levantamento manual de cargas, as conseqüências do quadro acima podem ser agravadas.
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limitada do desconforto postural. É um método que
deve ser usado para uma avaliação inicial e rápida das
condições de trabalho. Nas posturas observadas ele
permitiu uma boa observação, tendo como resultado
mais freqüente a necessidade de medidas corretivas
para evitar desconfortos posturais.
Resultados do método RULA
As posturas das merendeiras escolares foram
fotografadas e analisadas pelo método RULA, e como
resultados tiveram que na maioria das posturas teremos
a necessidade de modificações e recomendações sejam
feitas brevemente para não se tornar uma causa
comum de desconforto ou constrangimento no
ambiente de trabalho.
Resultados do método Guelaud
Os resultados do Método Guelaud reforçam
os resultados dos Métodos OWAS e RULA em que
ambos consideram uma atividade pesada e em muitas
circunstâncias requer uma intervenção para melhorar
as condições de trabalho e as posturas assumidas
durante a tarefa. O dispêndio energético tanto
estático quanto dinâmico é muito alto e consideram
que um trabalho pesado sendo este realizado por
mulheres e com um preparo de alimentos em um
tempo curto.
O Método Guelaud demanda um equipamento
de filmagem e um bom desenvolvimento do mesmo,
pois a decomposição da tarefa tem que ser bem
realizada, o que pode não ser um método disponível a
um custo baixo. Entretanto nos dá um bom parâmetro
para não só o estudo do dispêndio energético total,
mas também nos permitem uma boa discussão sobre
as posturas assumidas.
Conclusões
Como pode ser verificado no trabalho de campo
da pesquisa, existem vários fatores que convergem
com a precariedade da tecnologia e da organização
para o trabalho.
A própria categoria das merendeiras escolares
são um grupo de trabalhadoras inserido dentro do
cotidiano da escola sem, entretanto, ter uma
organização ou uma consideração sobre o seu trabalho,
que é realizado como se fosse uma extensão do
trabalho do lar.
A produção de merenda escolar é de importância
para o grupo da população atendido, pois em algumas
situações é a única forma de alimentos de alguns
alunos, portanto são de um papel importante para os
programas de combate à fome e à pobreza. A função
da merendeira escolar deveria ser de uma educadora
alimentar, já que a mesma está inserida no cotidiano
desta população atendida.
A realidade das merendeiras escolares de
assumirem, durante a execução da tarefa, o papel de
cozinheiras industriais (produção de refeições
coletivas) é visto por alguns como um fator de
injustiça. Apesar de receberem a denominação de
merendeiras escolares dentro da escola e do sistema
educacional apenas produzem refeições coletivas.
A pouca ou nenhuma participação na elaboração
de cardápio geralmente são constrangimentos, pois
nem sempre a forma de trabalhar os alimentos é tão
simples como consideramos na tarefa prescrita.
Na execução dos cardápios já estabelecidos e com
pouca oferta de opções de preparo, foi percebido um
desinteresse de elaborar novas formas de elaboração.
A criatividade no preparo e no aproveitamento dos
alimentos, as merendeiras escolares pouco usam pela
falta de tempo e espaço para discutirem não só o
cardápio, mas a elaboração do mesmo. Fatores estes
de trabalho que provem da condição dos alimentos e
da situação real de realização da tarefa, em algumas
circunstâncias os alimentos apresentam com uma
consistência em que aumenta o tempo de cozimento
ou necessitam de um preparo mais elaborado, nestes
casos não são considerados na elaboração do cardápio.
É preocupante a situação deste grupo no que
tange às questões da ergonomia, principalmente no
design de utensílios de trabalho e do posto de trabalho.
A falta de preocupação e os poucos critérios
ocasionam a estas trabalhadoras uma penosidade e
um constrangimento físico para a execução da tarefa.
As queixas se fazem presente no ambiente de
trabalho, principalmente quanto à usabilidade de
produtos. É uma constante percebemos o que “funciona”, “funciona mal” ou “não funciona”. Tais queixas
são acentuadas não só pela precariedade, mas também
pela ausência de um material adequado de trabalho.
O processo de trabalho deste grupo de
trabalhadoras é primordial e pouco valorizado
socialmente, entretanto uma enorme preocupação
tem voltado para esta produção principalmente nos
programas de alimentação infantil e no combate à
miséria e à fome.
A presença no ambiente de trabalho nos levou
a perceber a pobreza da técnica de trabalho e
a distância entre o trabalho prescrito e o trabalho real, que ocasiona um desperdício de
alimentos considerável.
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A presente pesquisa buscou um foco preventivo
nas situações de DORT e evidenciou a importância
da ergonomia na vida das classes trabalhadoras até
mesmo nas, que como as merendeiras, que não têm
uma organização de trabalho. A presença de um
ergonomista para avaliar situações de trabalho não
só seria evidente na qualidade de vida dos
trabalhadores, mas também na melhoria da produção
deste trabalho.
Conforme verificado no grupo estudado pouco
se tem noção ou nenhum material de proteção
individual para o grupo de trabalhadores em refeições
coletivas, portanto a ocorrência de pequenos
acidentes é notada e não notificada, o que é grave.
Creio que a necessidade de um estudo e de elaboração
de materiais de proteção individual e coletiva para
esta classe trabalhadora seria de suma importância e
poderia ser feito por um design que buscasse esta visão
da ergonomia.
Referências
1.
2.
3.
4.
Santos, AR. Metodologia científica: A construção do
conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A; 2001.
Marras WS. Task analysis. In: Nordin M, Andersson
GBJ, Pope MH. Musculoskeletal disorders in the
workplace. Principles and practice. Saint Louis: Mosby;
2000.
Atamney Mc, Corlett L. RULA: a survey method for
the investigation of work-related upper limb disordes.
Applied ergonomics; 1993. p. 91-99.
Guelaud F, Roustang G, Beauchessne M, Gautrat J, et
al. Por un análisis de las condiciones del trabajo obrero
en la empresa. Francia: Laboratorio de Economía y
Sociología del Trabalho del C.N.R.S.; 1975. K
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Artigo original
Comemoração da semana da enfermagem:
uma estratégia para o desenvolvimento de
competências específicas na disciplina
de Noções de Administração
Teresa Cristina Prochet
Enfermeira, Mestranda em Saúde Coletiva pela Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP, Professora e Coordenadora da Área de Saúde
no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza na Unidade pertencente à Cidade de Assis/SP
Resumo
Objetivo: aplicar na disciplina de Noções de Administração em Enfermagem uma estratégia no alcance de competências
específicas. Método: estudo descritivo qualitativo desenvolvido no 1º semestre/2003, onde os alunos foram incumbidos de
promover evento comemorativo da Semana de Enfermagem. Para tanto, um informativo sobre a dinâmica do trabalho foi
distribuído. Resultados: 60% consideravam a atividade até interessante, porém, achavam que o método tradicional era mais
adequado, pois, acreditavam que não daria muito certo. O planejamento foi a etapa mais difícil para 84%, havia ansiedade
para partir para execução, só depois das aulas é que perceberam sua importância. O ponto positivo mais freqüente foi a
descoberta das capacidades para a organização do evento e seu conseqüente sucesso. Já o ponto negativo mais incidente foi
a geração de discussões visto que as pessoas são muito diferentes. Conclusão: Essa experiência ofereceu oportunidades na
concretização da formação profissional, pois favoreceu aplicação prática de conteúdos por vezes abstratos.
Palavras-chave: enfermagem, ensino, prática alternativa.
Artigo recebido em 20 de março de 2004; aceito em 5 de abril de 2004.
Endereço para correspondência: Teresa Cristina Prochet, R. Sebastião da Silva Leite, 243,
19814-370 Assis SP, Tel.(018) 3322-6721, E-mail: [email protected]
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Abstract
Commemoration of nursing week: a strategy to the development of specific
competences in the discipline of Notions of Administration
Objective: apply in the discipline of Notions of Administration in Nursing Teaching a strategy to reach specific competences.
Method: descriptive and qualitative study developed during the 1st semester-2003, where the students were encharged of
promoting a commemorative event of Nursing Week. Therefore, an informative about the dynamics of this work was
distributed for them. Results: 60% considered the activity even interesting, however they thought that the traditional method
was more appropriate, because they believed that it would not work. The planning was the most difficult stage to 84%: there
was an anxiety to go to the execution; only after the classes the students realized its importance. The most frequent positive
point was the discovery of the capacities for the organization of the event and its consequent success. The most negative
incident was the generation of discussions, because people are very different. Conclusion: this experience offered opportunities
in the settlement of the professional formation, because it collaborated for the practical application of contents that seemed
sometimes abstract.
Key-words: nursing, teaching, alternative practice.
Resumen
Conmemoración de la semana de enfermería: una estrategia para el desarrollo de
competencias específicas en la asignatura Nociones de Administración
Objetivo: poner en práctica en la asignatura Nociones de Administración una estrategia para alcanzar las competencias
específicas. Método: estudio descriptivo y cualitativo desarrollado durante el primer semestre-2003, dónde los estudiantes
fueron solicitados a promover un evento conmemorativo de la Semana de Enfermería. Por consiguiente, un informativo
sobre la dinámica de este trabajo fue distribuido. Resultados: 60% consideraron la actividad incluso interesante, sin embargo
pensaron que el método tradicional era más apropiado, porque creyeron que no funcionaría. La planificación era la fase
más difícil para 84%: había una ansiedad para ir a la ejecución; sólo después de finalizar las clases los estudiantes comprendieron
su importancia. El punto positivo más frecuente era el descubrimiento de las capacidades para la organización del evento y
su éxito consecuente. La casualidad más negativa era la generación de discusiones, porque las personas son muy diferentes.
Conclusión: esta experiencia ofreció oportunidades de concretización de la formación profesional, porque colaboró para la
aplicación práctica de contenidos que a veces parecían abstractos.
Palabras-claves: enfermería, la práctica instrucción, alternativa.
Introdução
A área de saúde ocupa-se da produção de
cuidados integrais de saúde no âmbito público e
privado do sistema de serviços, por meio de ações de
apoio diagnóstico, educação para a saúde, proteção e
prevenção, recuperação e reabilitação e gestão de saúde
desempenhadas por profissionais das diferentes
subáreas que a compõem [1,2]. Outro compromisso
da área é a interlocução, interação e pactuação com
outros setores de economia e da sociedade que têm
relevância no estado de saúde da população, e que
influenciam na organização dos respectivos serviços
[3]. Desprende-se disso que as ações de área possuem
um estoque setorial e outro intersetorial.
Por tratar-se de área de atuação intensamente
legislada, impõe limites e fronteiras à atuação dos
técnicos de nível médio, o que não pode ser ignorado
pelas escolas de educação profissional. No
estabelecimento do rol de competências da habilitação
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proposta, como a de técnico de enfermagem, esta
deverá estar atenta a esses balizadores de modo que
os desenhos curriculares atendam e respeitem a
legislação vigente [4].
Para atender as atuais exigências e preparar-se
para o futuro, os profissionais de enfermagem
precisam ser capazes de identificar situações novas,
de auto-organizarem-se, de tomarem decisões, de
interferirem no processo de trabalho, de trabalharem
em equipe e, finalmente, de resolverem problemas que
mudam constantemente.
Para que isso seja alcançado há necessidade não
só da reformulação das matrizes curriculares como
de todo seu enfoque, até porque o trabalho da escola
não está reduzido a uma grade curricular, a um
acúmulo de disciplinas [5,6]. É preciso atribuir
perspectivas políticas, estéticas, afetivas e tecnológicas
ao saber, a fim de que o significado da educação seja
transformado [7].
O Centro Estadual de Ensino Tecnológico Paula
Souza sensibilizado com este cenário tem a medida
do possível investido no potencial de seu corpo
docente, estimulando-o a desenvolver o ensino voltado
às novas metodologias pedagógicas.
Diante do exposto, surgiu o interesse em
aplicar na disciplina de Noções de Administração
em Unidades de Enfer magem integrante ao
currículo do Curso Técnico de Enfermagem uma
nova estratégia para que os alunos alcancem as
competências específicas exigidas pelo referido
componente curricular.
Acredita-se que o relato dessa experiência de
trabalhar por meio de projetos possa de alguma forma
contribuir para a melhoria da qualidade do ensino de
enfermagem tão almejado pelos profissionais inseridos
neste contexto.
Objetivos
Desenvolver junto aos alunos do Curso Técnico
de Enfermagem as seguintes competências específicas
ao Componente Curricular de Noções de Administração em Unidades de Enfermagem:
• Conhecer os conceitos, as etapas, as técnicas
e os instrumentos relacionados ao planejamento,
à execução e à avaliação das atividades de
enfermagem;
• Reconhecer a importância do processo de
comunicação no relacionamento interpessoal,
valorizando os elementos intrínsecos dessa dinâmica;
• Ser capaz de identificar os diferentes tipos de
liderança que pode ser exercida na enfermagem,
descrevendo suas vantagens e desvantagens.
Material e Métodos
Trata-se de um estudo descritivo qualitativo
aplicado aos 25 estudantes do Ciclo III do Curso Técnico
de Enfermagem do Centro Paula Souza – Unidade Assis
desenvolvido durante o 1º semestre letivo de 2003. Os
instrumentos utilizados foram: observação sistematizada
pelo docente (Anexo A) e questionário de avaliação
aplicado aos alunos (Anexo B).
Em fevereiro/2003 os alunos foram
incumbidos de promover um evento comemorativo
da Semana de Enfermagem durante o mês de maio
do mesmo ano. Para tanto, receberam um
informativo explicando toda a dinâmica do trabalho,
os objetivos e as regras principais para subsidiarem
suas decisões (Anexo C).
Paralelamente ao desenvolvimento prático
desta atividade, eram ministradas aulas teóricas do
componente curricular e textos de apoio foram
fornecidos sobre a temática de: planejamento,
técnicas e instrumentos de controle e avaliação. Os
alunos tiveram dentro deste componente a carga
horária livre de 2 horas-semanais que podiam utilizála como eles definissem, sendo que a docente estava
presente na escola à disposição dos mesmos. Após
ocorrência do evento de comemoração a base
tecnológica de liderança foi discutida, e ocorreu a
avaliação de toda atividade.
Resultados e discussão
Os alunos tiveram dificuldades em dar início ao
planejamento das atividades, houve bastante
divergência de opiniões na classe, gerando tumulto.
Foi necessária a intervenção da professora
principalmente para ajudar a distribuir as tarefas aos
subgrupos, pois havia conflitos de comunicação.
A participação e o interesse dos alunos nas aulas
teóricas da disciplina foi mais do que satisfatórios, a
maioria demonstrou muito envolvimento, o que
tornou a ministração do componente algo
empreendedor. Um fato interessante é que sempre
que era apresentado um determinado conteúdo eles
verbalizavam as exemplificações baseadas nas suas
práticas o que tornava a aula dinâmica.
Os alunos quando questionados sobre o que
pensaram no primeiro dia que souberam que teriam
que desenvolver a referida atividade, 60% responderam
que consideravam a atividade até interessante, porém
achavam que o método tradicional era mais adequado,
pois acreditavam que tudo aquilo não daria muito certo,
24% responderam que seria interessante e de verdade
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uma oportunidade de fazer algo diferente e mais
dinâmico e 16% eram indiferentes naquele momento.
Para 84% dos alunos o planejamento foi a etapa
de maior dificuldade para realização, pois queriam
partir para a execução, só depois das aulas é que
conseguiram perceber que era uma etapa
imprescindível para o sucesso do trabalho.
Todos os alunos referiram que a etapa de execução
foi a melhor e a mais gratificante, pois puderam ver na
prática que todo o resultado de seu empenho.
A etapa de avaliação da atividade não foi
valorizada pela maioria dos alunos (76%), segundo
eles a execução por si só constitui a maior avaliação.
O ponto positivo de maior freqüência foi o
fato de descobrirem que foram capazes de organizar
um evento e deste ter sido um sucesso. O ponto
negativo de maior referência entre os alunos foi que
esta atividade gerou muita discussão, pois as pessoas
são muito diferentes e não querem abrir mão de
suas opiniões.
As sugestões apresentadas para uma futura
aplicação foram que o aluno recebesse maior
autonomia para tomada de decisão, pois isso algumas
vezes atrapalhou o andamento das tarefas.
Avaliaram como positiva a experiência 88% dos
alunos, os demais 12% consideraram que as
competências listadas poderiam ser adquiridas
somente com aula teórica evitando conflitos.
Os alunos conseguiram planejar todo o evento
comemorativo da semana de enfermagem com a
devida antecedência, não houve necessidade de
intervenção da professora responsável. O evento
ocorreu em duas noites nas dependências do Teatro
Municipal de Assis e contou na média de 350
participantes da área de enfermagem. Transcorreu
sem qualquer intercorrências e todos os objetivos
traçados pelos alunos foram alcançados resultando
num sucesso do evento. Não só os alunos como
todo o corpo de docente e direção ficaram muito
satisfeitos com o cumprimento da atividade.
Conclusões
Quando se está disposto a trabalhar com novas
metodologias, não faltam oportunidades e projetos
podem ser desenvolvidos. Já se foi a época que os
professores eram os detentores do saber e que a
transmissão do mesmo está centralizada neles. Essa
situação era confirmada com a obrigatoriedade de
repassar todos os conteúdos programáticos num
determinado período de tempo. Isso mudou,
descobriu-se que o conhecimento é construído e que
depende do desenvolvimento de competências, são
elas quem vai garantir o enfretamento dos desafios
próprios da profissão. Afirma-se aqui que o conteúdo
não pode nem deve ser negligenciado e sim utilizado
com meio e não fim dessa questão.
O desenvolvimento desta atividade trouxe
oportunidade tanto para os professores como para os
alunos. Essa experiência pode favorecer a aplicação
prática dos conteúdos desenvolvidos na teoria e realmente
apresentar possibilidades concretas de aquisição e de
desenvolvimento das competências traçadas.
Referências
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pessoas: o toque humano como fator de produtividade
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&
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Anexos
Anexo A - Observação sistematizada pelo docente
1. Divisão de grupos: (nº de subgrupos, como aconteceu a divisão dos alunos, descrever as atividades
elencadas para cada subgrupo)
A
B
C
D
E
Atividades Principais
Participantes
Como aconteceu a subdivisão dos alunos? (tumulto, adotaram critérios - quais?, tempo que gastaram,
listaram as tarefas - como ? como elas foram divididas nos subgrupos?)
2. Comportamento de cada subgrupo
Relacionamento
(alunos, alunoprofessor,
grupo-grupo)
Divisão
de Tarefas
Tipo de
Liderança
Exercida
Participação
e Interesse
aulas teóricas
Planejamento
e Organização
A
B
C
D
E
3. Listar Necessidades e Motivos para interferência do professor na atividade (anotar data)
4. O evento teve seu planejamento terminado com antecedência mínima de 1 semana?
( )sim ( )não. Por que?
5. Houve necessidade do docente responsável de interferir no planejamento dos alunos?
( )sim ( )não. Por que?
6. Os objetivos foram:
( )cumpridos totalmente com os objetivos propostos
( )cumpridos parcialmente com os objetivos propostos
( )cumpridos poucos os objetivos propostos
7. Como transcorreu o evento? Houve intercorrências?
( )sim ( )não. Por que?
8. Qual foi o resultado do evento?
Aspectos técnicos
( ) MB ( ) B
Aspectos comportamentais
( ) MB ( ) B
( )I
( )I
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Anexo B - Questionário de avaliação aplicado aos alunos
Você não precisa se identificar. Seja sincero e lembre-se que estará contribuindo para uma
enfermagem melhor. Cada pergunta deve ser marcada com X, você pode escolher mais de uma resposta.
1. Quando você soube que teria que desenvolver essa atividade. O que você pensou?
( )que a atividade seria interessante e que de verdade era a oportunidade de fazer algo diferente
e mais dinâmico
( )que a atividade até era interessante mas de verdade preferia o tradicional
( )tinha dúvidas que daria certo
( )sabia que daria certo
( )sabia que não daria muito certo
( )sabia que daria erradonem lembro o que pensei
( )era indiferente topava o que fosse sugerido
( )outro
2. Na sua opinião qual foi a etapa que apresentou maior dificuldade em realizar?
( )dividir a turma em subgrupos
( )ser dividido de seus colegas e ter que estar em um subgrupo
( )determinar as tarefas necessários para os colegas de seu subgrupo
( )realizar as tarefas que formam determinadas pelos colegas a fazer
( )descrever os critérios de avaliação para os seus colegas dos demais subgrupos
( )ser avaliado pelos seus colegas de acordo com os critérios que eles definiram
( )outro, especificar
3. Descrever dois pontos positivos (favoráveis) e dois negativos (desfavoráveis) que enfrentou no
desenvolvimento desse projeto.
Positivo
Negativo
4. Quais as sugestões que gostaria de dar que considera interessante para um futuro trabalho?
5. Para cada objetivo desta atividade avalie numa escala de 0 a 5, como você se desenvolveu.
Conhecer os conceitos, as etapas, as técnicas e os instrumentos relacionados ao planejamento,
à execução e à avaliação das atividades de enfermagem.( )5 ( )4 ( )3 ( )2 ( )1
Reconhecer a importância do processo de comunicação no relacionamento interpessoal, valorizando
os elementos intrínsecos dessa dinâmica
( )5 ( )4 ( )3 ( )2 ( )1
Ser capaz de identificar os diferentes tipos de liderança que pode ser exercida na enfermagem,
descrevendo suas vantagens e desvantagens
( )5 ( )4 ( )3 ( )2 ( )1
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Anexo C - Informativo sobre a atividade
A disciplina de Noções de Administração em Unidades de Enfermagem será desenvolvida de uma maneira
diferente. Digo diferente porque nem eu nem vocês estamos habituados em desenvolver projetos, portanto
trata-se de uma experiência até certo ponto nova para todos. Gostaria de explicar para você o que de fato terá que
fazer, os objetivos dessa atividade, as regras para seu desenvolvimento e os limites de atuação de cada um.
Preste atenção no que estiver escrito nesse informativo ele será útil até o fim da atividade, portanto, não
jogue fora, guarde-o em lugar de fácil acesso.
Sobre a atividade
Você juntamente com seus colegas de classe terá que planejar, organizar, montar, executar, supervisionar
e avaliar um evento. Este evento será comemorativo a Semana de Enfermagem, que deverá acontecer entre os
dias 12 e 20 de maio. O evento poderá ou não utilizar-se de todos esses dias, entretanto todas atividades a
serem executadas nesse evento deverão acontecer no período da noite (19:00 às 22:00). Esta atividade vai
demandar várias tarefas que podem ou não ser subdivididas entre os componentes da turma. Sendo assim, a
turma terá a opção de ser dividida em até 5 subgrupos (A,B, C, D e E). Importante um subgrupo terá
obrigatoriamente 5 alunos no mínimo. As divisões dos grupos e dessas tarefas ficarão por conta da turma,
devendo ser apresentada à professora até o próximo encontro.
Sobre o objetivo
O objetivo dessa atividade é fazer com que você desenvolva as seguintes competências:
• Conhecer os conceitos, as etapas, as técnicas e os instrumentos relacionados ao planejamento, à execução
e à avaliação das atividades de enfermagem.
• Reconhecer a importância do processo de comunicação no relacionamento interpessoal, valorizando
os elementos intrínsecos dessa dinâmica.
• Ser capaz de identificar os diferentes tipos de liderança que pode ser exercida na enfermagem,
descrevendo suas vantagens e desvantagens.
Sobre as regras
A Semana de Enfermagem é comemorada em maio. Estude o(s) motivo(s) pelo(s) qual(is) existe essa
comemoração, quem institui, onde ela ocorre no país e qual é objetivo principal de sua ocorrência.
Essa atividade necessariamente deverá cumprir com as seguintes etapas:
1. Planejamento
2. Organização
3. Acompanhamento e Execução
4. Avaliação
Pontos importantes:
• Não será permitido solicitar espécime em dinheiro mesmo que em valor reduzido a qualquer pessoa,
nem na escola nem fora dela.
• Não será permitido usar veículos da imprensa sem prévia autorização da professora responsável
• Caso seja necessário realizar empréstimos ou autorizações para uso de serviços ou equipamentos,
solicitar autorização da professora responsável anteriormente.
• Você pode e deve envolver outras instituições que possuem membros da equipe de enfermagem
(escolas, clínicas, hospitais), antes de qualquer contacto avisar a professora responsável.
• A programação deve estar escrita na forma de folder ou convite, devendo ser divulgada com no
mínimo 7 dias de antecedência, antes disso mostre para a professora.
• A professora responsável só permitirá que o evento aconteça se as etapas de planejamento e organização
estiverem completas.
• A professora estará disponível na escola todos os dias, exceto terças-feiras das 9 às 11h. Caso necessite
pode procurá-la por telefone, entretanto somente no período da noite. À tarde não estará disponível
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Artigo original
A prática pedagógica das facilitadoras
do PROFAE: uma reflexão
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro*, Antônia Ferreira Sérvulo**,
Maria Albertina Diógines***, Maria Grasiela Teixeira Barroso****
* Aluna do NAD-CE. Doutoranda em Enfermagem da UFC, Integrante do grupo FAMEPE e bolsista da CAPES, Integrante do Projeto
de Pesquisa: Educação em Saúde no Contexto da Promoção Humana – uma investigação na Enfermagem, Apoio CNPq processo 551326/
2002/64, ** Aluna do NAD-CE, Especialista em Enfermagem em Saúde Pública, *** Tutora do NAD –CE, **** Profa. Emérita,
Docente Livre Titular do Departamento de Enfermagem da FFOE/ UFC
Resumo
Ao falarmos em avaliação, nos reportamos à prática do acompanhamento dos alunos do Projeto de Profissionalização dos
Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE), sentimos a necessidade de conhecer mais sobre o processo de avaliação,
portando objetivamos refletir sobre as formas de avaliação adotadas na prática pedagógica das facilitadoras do PROFAE.
E para realizar o presente estudo exploratório/descritivo, utilizamos como fonte a literatura sobre as diversas formas de
avaliação e a aplicação de uma entrevista semi-estruturada com uma pergunta norteadora aplicada a seis facilitadoras que
concordaram em participar do estudo, obedecendo aos aspectos éticos. Após a coleta dos dados separamos os resultados
nos seguintes temas: 1) observação; 2) relações interpessoais e 3) auto-avaliação. Em seguida, discutimos acerca dos resultados
e concluímos que as facilitadoras procuram avaliar o aluno como um todo, mas precisam de um maior aprofundamento
sobre o tema.
Palavras-chave: avaliação, educação, PROFAE.
Artigo recebido em 2 de fevereiro de 2004; aceito em 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: R. Júlio César, 2256 - Montese 60.425-350 Fortaleza CE
Tel.: (85) 491-0927/9942-6151, E-mail: [email protected]
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Abstract
The pedagogic practice of the PROFAE´s facilitators: a reflection
When we talk about evaluation, we refer to the student’s practice in the professionalization project of nursing professionals
(PROFAE), we need to know the evaluation process, and therefore, we have to reflect about the kind of evaluation adopted
in the pedagogic practice of the PROFAE´s facilitators. In order to carry out the present exploratory/descriptive study we
used as literature source several kinds of evaluation and used a semi-structured interview with a question guided to six
facilitators that consented in participating to the study, obeying the ethical aspects. After data collection the results were
divided in the following topics: 1 – observation; 2 – interpersonal relationship; 3 – self-evaluation. After considering the
results we concluded that the facilitators try to evaluate the students as a whole, but they need a serious study about this topic.
Key-words: evaluation, education, PROFAE.
Resumen
La práctica pedagógica de las facilitadoras de PROFAE: una reflexión
Cuando hablamos en evaluación, nos reportamos a la práctica de los estudiantes del proyecto de profesionalización de los
profesionales del área de enfermería (PROFAE), sentimos la necesidad de conocer más sobre el proceso de evaluación, por
lo tanto objetivamos reflexionar sobre las formas de evaluación adoptadas en la práctica pedagógica del facilitador del
PROFAE. Y para realizar el presente estudio explorador/descriptivo usamos como fuente de información, la literatura sobre
las varias formas de evaluación y aplicación de una entrevista semi-estructurada con una pregunta dirigida a seis facilitadotas
que estaban de acuerdo en participar en el estudio, obedeciendo los aspectos éticos. Después de la colección de datos,
agrupamos los resultados en los siguientes temas: 1) observación; 2) las relaciones interpersonales y 3) auto-evaluación.
Luego, discutimos referente a los resultados y concluimos que las facilitadoras intentan evaluar al estudiante como un todo,
pero necesitan profundizarse más sobre en el tema.
Palabras-clave: evaluación, educación, PROFAE.
Introdução
Quando falamos em avaliação, pensamos em
uma prova realizada no final do ano ou ao término de
um projeto maior, mas avaliar não é simples como
parece, pois em seu sentido amplo, apresenta-se como
atividade associada à experiência cotidiana do ser
humano. Ao conhecermos o acompanhamento dos
alunos do Curso de Profissionalização dos
Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE),
sentimos a necessidade de saber mais sobre como se
dá o processo de avaliação neste curso.
Num primeiro momento buscamos entender o
significado do verbo avaliar e Neto [1] o define como
tendo um sentido muito forte, importante e complexo,
estando mais presente em nossas vidas do que
pensamos, pois constituem, em essência, o verbo da
informação para a tomada de decisões. Por outro lado,
Bueno [2], traduz avaliar relacionado a verbos fortes
como: estimar, aferir e apreciar, o que nos impele a
descrever a avaliação como resultado de um processo
de raciocínio seqüencial que requer precisão e
habilidade do avaliador.
Voltando-se para outros estudiosos, encontramos
no pensamento de Saul [3], a crença de que estamos
constantemente avaliando e julgando os fatos do
nosso ambiente e as situações das quais participamos,
sendo este tipo de avaliação assistemática e envolvida
com experiências e sentimentos. Portanto, ao
avaliarmos um fato devemos ter consciência que este
é um processo progressivo, sendo desenvolvido
enquanto agimos. A interpretação teórica deste se faz
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através de sua comparação com outro, já que o
conhecimento prévio é necessário para que se possa
comparar os fatos.
Para se obter a produtividade de um curso, por
exemplo, necessita-se de mecanismos de controle de
qualidade com o intuito de comparações internas e
externas, efetuando o processo de avaliação com
validade e objetividade [1]. A avaliação não resolve
todos os problemas, mas pode mostrar os principais
êxitos ou fracassos, onde e como são necessárias
mudanças, como aproveitar os pontos positivos. Além
disso, pode fornecer informações para subsidiar as
tomadas de decisão e permitir que todos enxerguem
o seu trabalho dentro de um contexto mais amplo e
compreendam as conseqüências de sua atuação.
Vale ressaltar que a avaliação se desenvolve nos
diferentes momentos do processo ensinoaprendizagem, com objetivos distintos. Conforme os
objetivos da avaliação, ela pode ser diagnóstica,
controladora ou classificatória.
A avaliação diagnóstica, que se desenvolve no
início do processo ensino-aprendizagem visa a
verificação dos conhecimentos dos alunos, prérequisitos e particularidades dos mesmos. Aplicase esta avaliação no início de uma unidade, semestre
ou ano letivo. Podemos usar os resultados da
avaliação diagnóstica para estabelecermos os
objetivos e planos de ensino. Já a avaliação
for mativa, se usa para atender a função
controladora, que ocorre durante o processo de
instrução ou aprendizagem, incluindo todos os
conteúdos importantes desta etapa. É utilizada
como forma do professor e do aluno conhecer o
rendimento da aprendizagem e localizar as
deficiências na organização do ensino.
E para atender à função classificatória, utilizase a avaliação somativa no fim do processo ensinoaprendizagem com a finalidade de classificar os
alunos no fim de semestre, ano, curso ou unidade,
segundo níveis de aproveitamento. Essa avaliação
inclui os conteúdos mais relevantes e os objetivos
mais amplos do período de instrução. Vira a
atribuição de nota e certificados, fornece também o
feed-back ao aluno, trata-se da comparação de
resultados obtidos com diferentes alunos, materiais e
métodos de ensino.
Devemos considerar a avaliação como um
processo integral que consiste na avaliação do aluno
em todos os domínios do seu comportamento: o
cognitivo, o afetivo e o psicomotor. No entanto, estes
aspectos não são realidades somáveis. É recomendável
não se atribuir um único conceito ou nota para o
resultado da avaliação destes três domínios.
Os procedimentos da avaliação não devem se
prender somente a avaliação dos rendimentos ou
desempenho por parte do aluno. Qualquer atividade
deve ser submetida à avaliação se a considerarmos
como fundamental para a retroalimentação do
processo educativo. Portanto, torna-se importante
sabermos como nós, facilitadores do PROFAE,
percebemos o processo de avaliação e, por
conseguinte o aplicamos na prática.
Objetivo
Identificar as formas de avaliação adotadas na
prática pedagógica das facilitadoras do PROFAE.
Material e métodos
Trata-se de um estudo exploratório/descritivo,
tendo como fonte a literatura sobre as diversas formas
de avaliação e a aplicação de uma entrevista semiestruturada com uma pergunta norteadora (Anexo A)
as facilitadoras do PROFAE.
O presente trabalho foi realizado no período de
junho a julho de 2003, contando com seis facilitadoras
do PROFAE que concordaram em participar do
estudo, sendo, portanto, o sigilo e o anonimato das
informantes mantidos e como parte dos aspectos
éticos aplicamos o consentimento livre e esclarecido
e respeitamos as normas éticas em relação a pesquisa
com seres humanos contidas na Resolução 196.
Preservando as informantes denominamos os
seguintes nomes fictícios: Gardênia, Rosa, Flor,
Jasmim, Girassol e Margarida.
Como critério de inclusão da amostra do nosso
estudo, priorizamos os seguintes aspectos: morar em
Fortaleza, pois favorecia uma maior proximidade e
ter acompanhado no mínimo uma turma de alunos
do PROFAE, pois teria pelo menos uma experiência
com avaliação de alunos do curso.
Após a aplicação do instrumento agrupamos em
três temas que veremos a seguir e analisamos os
resultados tendo como base a literatura sobre avaliação.
Resultados e discussão
A partir do estudo acerca da avaliação, assim como
o contato com as facilitadoras do PROFAE que
possibilitou a aplicação da entrevista e, por conseguinte
o surgimento de temas que foram agrupados para termos
uma maior compreensão dos achados: 1) Observação;
2) Relações interpessoais e 3) Auto-avaliação.
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Tema 1 – Observação
“Observo atentamente desde o primeiro dia,
aspectos como: interesse, atenção nas explicações,
complementar com observações e experiências
vividas.... pontualidade, assiduidade, aparência,
respeito com o paciente e os membros da
equipe.... o aluno é avaliado em sua
desenvoltura, observação, capacidade de resumo
e crítica...”
(Gardênia, Rosa, Flor, Jasmim,
Girassol e Margarida)
Nas citações acima as informantes referem a
observação como parte importante no processo
avaliativo, todas relataram este tema como de suma
importância para avaliar o aluno, já que possibilita a
pontuação de aspectos como a desenvoltura, a
pontualidade, o interesse, dentre outros que podem
facilitar o aprendizado e o desenvolvimento do aluno
para o seu futuro profissional.
O fato de terem valorizado a observação, nos
leva a perceber que este grupo de professores/
facilitadores adotam uma postura voltada para a
avaliação do aluno como um todo, voltando-se
principalmente para uma nova metodologia, ou seja,
com uma visão mais ampla do processo avaliativo.
Tendo em vista a importância da observação,
acredita-se que ela seja uma prática que não se limita
ao ver ou ao ouvir, mas também a procurar, notar,
perceber o aluno e os fatos que os cercam. Todas
as informações oriundas deste processo servirão
como subsídios para uma avaliação mais precisa do
aluno [4].
Tema 2 – Relações interpessoais
“Relações interacionais (Rosa); Relações com
os colegas (Papoula); Convívio em equipe.
Ajuda mutua (Violeta); Estimulo e avalio o
trabalho em grupo (Flor)”.
As relações interpessoais tão discutidas na
atualidade foram expressas pela metade do grupo,
do qual fez referência como algo importante para a
realização de um trabalho com mais eficiência.
Vale ressaltar, que o desejo de que as relações
interpessoais sejam boas entre o grupo é algo que
é demonstrado por elas.
Sakai [5], traz em seu estudo o “Sentido do
processo de avaliação nas metodologias ativas de
aprendizagem” relatos sobre a importância da
avaliação entre os alunos, denominada por ele de
“interpares”, o autor acredita na contribuição do grupo
para o crescimento individual.
Outro aspecto que possibilita retratar as relações
interpessoais seria a avaliação transdisciplinar que
segundo Cecílio [6], se daria com o encontro de
saberes, entretanto, torna-se difícil a concretização da
mesma, pois existem as relações de poder/saber que
dificultam as relações homogêneas entre os diferentes
alunos, assim como os diferentes profissionais.
Tema 3 – Auto-avaliação
“Sua própria auto-avaliação. Uma auto-análise
do seu desempenho no curso e seu crescimento
como pessoa humana.”
(Papoula e Rosa)
Um número restrito das entrevistadas
mencionou a auto-avaliação como uma das formas
de avaliação utilizada. Percebemos que não é um
método muito usado pelas facilitadoras, talvez por não
saber como aplicar ou por não acreditar ser um
método avaliativo importante. Por outro lado, nem os
alunos e nem os facilitadores são habituados a fazerem
a auto-avaliação, fato que dificulta a sua utilização.
De acordo com Sakai [5], a auto-avaliação é
realizada pelo próprio aluno, fato que possibilita o
desenvolvimento de sua auto-crítica, propiciando a
sua responsabilidade e amadurecimento acerca do
seu aprendizado.
Já Provenzano [4], considera a auto-avaliação
como uma das práticas mais importantes na relação
professor-aluno, pois tanto o aluno quanto o professor
devem estar cientes de seu papel e com isso
desenvolver uma auto-crítica sobre suas ações.
Conclusões
Concluímos que todas as integrantes do grupo
avaliam o aluno como um todo, levando em consideração
a parte cognitiva, afetiva e psicomotora, utilizando
diferentes formas de avaliação. Também vemos que elas
já percebem o trabalho em grupo e a auto-avaliação
como importantes no processo, já que é difícil conseguir
trabalhar esses aspectos em sua integralidade.
Diante do interesse que as facilitadoras
demonstraram em adotarem um processo avaliativo
que contemple vários aspectos relacionados ao
processo de avaliação, sugerimos que as facilitadoras
aprofundem seus conhecimentos acerca dos métodos
de avaliação, para que possam realmente acompanhar
de forma sistemática e eficaz os alunos.
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Artigo original
Comportamentos e sentimentos das
enfermeiras submetidas à cirurgia
Regina Maria de Carvalho*, Maria José Coelho**
*Mestre em Enfermagem do Departamento de Enfermagem Fundamental. Escola ANNA NERY /UFRJ, **Professora Doutora do
Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica-Escola ANNA NERY / UFRJ
Resumo
O estudo tratou das representações das enfermeiras submetidas à cirurgia, onde foram descritos e analisados os
comportamentos e sentimentos dessas clientes, além de ter sido identificado o que elas consideravam mais importante e
significativo em relação à cirurgia e aos cuidados de enfermagem recebidos. Os dados foram analisados qualitativamente,
ocorrendo à formação de núcleos figurativos através das entrevistas e da dinâmica de criatividade e sensibilidade, utilizando
a técnica de corte/colagens. Os resultados indicaram que as enfermeiras como clientes hospitalizadas em muitos momentos,
se defrontaram com uma outra realidade até então vivenciada somente como profissionais, revelando ou não a identidade e
se comportando de maneira diferente das demais clientes. Através das representações, utilizando autores da psicologia,
sociologia e antropologia, esses comportamentos e sentimentos analisados, puderam ser entendidos de uma forma mais
ampla, mais abrangente, até então pouco estudada, revelando atitudes de um grupo frente ao mundo em que habitam,
quando estão cuidando e ou sendo cuidadas.
Palavras-chave: cirurgia, sentimentos, comportamentos, representações.
Artigo recebido em 25 de março de 2004; aceito em 5 de abril de 2004.
Endereço para correspondência: Regina Maria de Carvalho,
R. Tonelero, 236/501Copacabana, 22030-000 Rio de Janeiro RJ,
Tel.: (21) 2256-0462, E-mail: [email protected]
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Abstract
The feelings and behaviors about the nurses social who were submitted to surgery
This study treats about the nurse’s representations that were submitted to surgery. It describes and analyzes the feelings and
behaviors of this patient in relation to the surgery, besides had identified what they considered more important and significant
in this situation and care received from nursing. The data had been analyzed qualitatively, organizing figurative groups,
through interviews and dynamics of creativity and sensitivity, using the cut/paste technique. The results indicate that
nurses hospitalized as patients had confronted in many moments with another reality that they had not experienced as a
professional. They disclosed or not the identity and behaved in a different way from other patients. Through representations
and using psychology, sociology and anthropology authors we could understand the behaviors and feelings that were
analyzed in an ampler form. They were until then little studied and disclosing to attitudes of a group facing the world where
they inhabit, when they are taking care of and/ or being well taken care of.
Key-words: surgery, feelings, behaviors, representations.
Resumen
Los comportamientos y sentimientos de enfermeras sometidas a cirugía
La presente investigación trata del estudio de las representaciones de enfermeras sometidas a cirugía, fueron descritos y
analizados los comportamientos y sentimientos de estas clientes, también se identificó lo que ellas consideraron más importante
y significativo con relación a la cirugía y a los cuidados de enfermería recibidos, situación hasta ahora poco estudiada. Los
datos fueron analizados cualitativamente, ocurriendo la formación de núcleos figurativos a través de las entrevistas y de la
dinámica creativa-sensible, utilizando las técnicas de corte/coladas. Los resultados mostraron que las enfermeras como
clientes hospitalizadas, en muchos momentos se enfrentaron con otra realidad diferente, hasta entonces vivenciada solo
como profesionales, revelando o no su identidad y comportándose de manera diferente de las demás clientes. A través de las
representaciones, utilizando autores de psicología, sociología y antropología, estos comportamientos y sentimientos analizados
pudieron ser comprendidos de una forma más amplia, revelando actitudes de un grupo frente al mundo en que habitan,
cuando cuidan y /o cuando están siendo cuidadas.
Palabras-claves: cirugía, sentimientos, comportamientos, representaciones.
Introdução
Ainda hoje, apesar dos avanços tecnológicos que
vêem cada vez mais minimizando os transtornos que
advém de atos cirúrgicos, como enfermeiras
hospitalares, aprendemos a lidar com alterações
específicas no comportamento e nos sentimentos de
clientes diante de uma situação cirúrgica e de
cuidados/procedimentos de enfermagem, na maioria
das vezes invasivos, pouco conhecidos ou até mesmo
desconhecidos. Nesse cotidiano hospitalar, em vários
momentos, observamos as enfermeiras, detentoras do
conhecimento técnico-científico de todo os
processos cirúrgicos, fiéis às normas e rotinas de
trabalho de um lado e, clientes fragilizados pelas
constantes ameaças à integridade física, mental,
espiritual e familiar do outro lado. Porém, como
enfer meiras realizadoras desses cuidados/
procedimentos, muitas vezes evasivos, tais como
preparo de cólons, lavagens gástricas, passagens de
sondas e cateteres, curativos profundos e extensos,
entre outros, nos tornamos participantes dessas
experiências e nos deparamos com os nossos
próprios comportamentos e sentimentos. A partir
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dessas experiências, em conversas formais e até
informais, algumas vezes emergiram reflexões tais como:
e se nós enfermeiras deixássemos momentaneamente
de exercer as nossas atividades profissionais e
passássemos por tudo aquilo como clientes, como seria?
Problema
As experiências no âmbito profissional seguida
da vivência de terem sido clientes, fizeram com que
essas enfermeiras, enquanto um grupo social, tivesse
uma visão de mundo de forma diferenciada, como
seres sociais, políticos e históricos.
Metodologia
Acreditando que as enfermeiras ao se tornarem
clientes hospitalizadas, submetidas à cirurgia,
deveriam guardar representações diferentes ou não
de outros clientes, em seus pensamentos, a cerca
dessa experiência vivida, e que até então não haviam
tido a oportunidade de revelar e expressar
formalmente, é que me comprometi a pesquisar o
problema, relembrando o que diz Kron [1]
“...podemos compreender os problemas e as
emoções dos nossos pacientes, a medida que
compreendemos a nós mesmas...”
Na dificuldade em falar de nós mesmas, em nos
expormos, em mostrar nossos comportamentos e
sentimentos, frente a umas situações ameaçadoras, que
é o processo cirúrgico, em que estávamos acostumadas
a cuidar e não a sermos cuidadas, é que emergiu o
objeto do presente estudo: as representações dos
comportamentos e sentimentos das enfermeiras
submetidas à cirurgia. Considerando que para essas
enfer meiras, devem existir questões pouco
abordadas e que precisam ser exploradas e
aprofundadas, é que neste estudo foram definidos
os seguintes objetivos: identificar, analisar e discutir
as representações dos comportamentos e sentimentos
das enfermeiras submetidas à cirurgia e destacar o
que essas enfer meiras consideraram mais
importante em relação à cirurgia e aos cuidados/
procedimentos de enfermagem realizados.
Revisão bibliográfica
Para entender melhor o processo cirúrgico nos
dias de hoje, foi necessária a busca de fatos
históricos, através de uma revisão bibliográfica,
sobre a origem e a trajetória evolutiva da cirurgia,
que durante muito tempo não foi considerada pela
Academia. Durante essa revisão, utilizando a ordem
cronológica para os fatos encontrados, foi
constatado que, o início da cirurgia científico,
reconhecido pela Academia Francesa, coincide com
o início da Enfermagem Moderna, a partir de
Florença Nightingale, no final do século XIX, na
Inglaterra. Portanto os fatos históricos mostraram
que a enfermagem cirúrgica institucionalizada inicia
a partir desta época.
Este estudo teve como abordagem, o método
qualitativo, que permitiu em vários momentos, abordar
o caráter social e aprender alguns significados do
cotidiano, vivenciado pelas clientes enfermeiras. A
Teoria das Representações Sociais ofereceu a
oportunidade de utilizar dois recursos para a coleta
de dados: a entrevista (individual) semi-estruturada,
seguida das colagens obtidas através da utilização da
dinâmica de sensibilidade e criatividade. Todas as
enfermeiras, sujeitos do estudo, já haviam sido
submetidas à cirurgia há algum tempo, quando foram
entrevistadas. Algumas haviam se submetido apenas
uma vez e outras, duas ou até mais vezes. Quando
isso ocorria, a depoente era deixada à vontade durante
a entrevista para através da fala, eleger os fatos mais
significativos. Elas foram submetidas aos mais diversos
tipos de cirurgias desde cesáreas até plástica, passando
por cirurgias ginecológicas, neurológicas, vasculares
e urológicas, tanto de forma eletiva quanto
emergencial. Ao final da coleta, foram nove
enfermeiras e um enfermeiro, quatro docentes e seis
assistenciais.O tempo médio de hospitalização dessas
enfermeiras foi de três dias. As experiências cirúrgicas
ocorreram na sua maioria em hospitais de grande
porte e da rede pública, com exceção de duas que
aconteceram em instituições privadas. Cabe ressaltar
que todas es enfermeiras do estudo, quando foram
submetidas à cirurgia, estavam em plena atividade
profissional. Todo o encontro (data e local) para as
entrevistas foi agendado previamente. Tanto a
entrevista quanto à dinâmica foram realizadas nos
locais de trabalho, escolhidos por essas enfermeiras,
com exceção de uma que ocorreu na residência da
entrevistadora. Cada entrevista durou em média 40
minutos, sendo gravado em fita cassete, seguida da
dinâmica individual de corte e colagem que também
durou em média 40 minutos. Foi mantido o anonimato
no estudo, por nomes fictícios.
Resultados
Os resultados do estudo apontaram através dos
depoimentos e confirmaram com as colagens, imagens
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que se formaram antes mesmo da hospitalização e
durante o pré-operatório. Continuando o estudo outras
imagens emergiram nos momentos que antecederam
à cirurgia, e outras resultaram do pós-operatório e
também depois da alta hospitalar.
Na análise, os depoimentos dessas enfermeiras
na sua maioria, direta ou indiretamente se referiram
de várias maneiras ao cuidar e aos cuidados de
enfermagem.
As imagens se formando antes e durante o
período pré-operatório
O estudo na sua totalidade revelou os
comportamentos e sentimentos, desde quando
algumas dessas enfermeiras ainda trabalhando,
começaram a adoecer e necessitaram de se submeterem à cirurgia:
“Sou a palmeira torta, ninguém do trabalho
percebia que eu estava me quebrando..” (Sonia)
As enfermeiras tiveram que se afastar da sua
prática e passaram a receber os mesmos cuidados,
algumas vezes em instituições que já conheciam ou
mesmo que atuavam: “O afastamento da rotina
permite um repensar da prática que fazemos, o que
favorece para um acordar...” [2]. Essas enfermeiras
puderam visualizar sob outro ângulo, não só o papel
de cliente, mas também o papel de enfermeira no
sistema hospitalar em vigência. Depois do impacto
do diagnóstico clínico, quando o diagnóstico cirúrgico
passou a ser a única saída, a cliente - enfermeiras
começaram a avaliar os riscos desse tratamento tão
conhecido para elas, como profissionais, contrariando:
“O receio do desconhecido constitui um potente fator
de ansiedade pré-cirúrgica. Muitas vezes a informação
pode ajudar a dissipar o medo.” [3]. Conhecedoras de
todo o contexto social, político, econômico e de saúde
em que os clientes ainda hoje, infelizmente se
encontram nas instituições hospitalares e de como as
dificuldades de cuidar são muitas, a ansiedade, o receio,
a preocupação e a reação de estresse nesse caso, foi
em relação a esse conhecido meio em que já atuavam
profissionalmente. Em um outro momento,
acostumadas a ocultar alguns sentimentos, diante das
situações dos seus clientes, muitas vezes essas
enfermeiras durante a hospitalização, quando ficaram
diante de si mesmas, com os seus próprios temores e
preocupações, apresentaram dificuldades em deixar
transparecer os seus próprios sentimentos. Quando
essas enfermeiras falaram das suas ansiedades, dos seus
temores, através dos depoimentos, nem sempre
demonstrados na ocasião do ocorrido, abordaram e
discordaram de conceitos pré-estabelecidos pela
sociedade, de que acostumadas a experienciar
situações dramáticas em relação à doença, a
hospitalização e a cirurgia de outrem, tornam-se
fortes e portanto devem saber enfrentar as suas
próprias experiências, concordando com Marinho [4],
quando cita que: “A maioria das pessoas vê na
enfermeira um ser frio, capaz de enfrentar com
facilidade o drama...”
“Será que vou conseguir andar? Me senti bem
pequenina, com toda a expectativa.” (Sonia)
As imagens se misturando momentos antes da
cirurgia e no pós-operatório
Em um novo papel de clientes, essas enfermeiras
relataram não somente a busca de novas estratégias,
mas a revelação de novos comportamentos para
situações já conhecidas. Em casa, antes da admissão
hospitalar, algumas delas, por serem conhecedoras dos
cuidados/procedimentos pré-operatórios de rotina,
antecederam esse preparo quando isso foi possível.
“A minha tricotomia já veio pronta, a dieta eu
já tinha iniciado em casa e já tinha tomado o
laxante. Quando ao preparo da pele, não
precisou porque era laminectomia e o corte era
numa região que não precisava.” (Sonia)
Enquanto puderam, essas clientes através do
“auto cuidado da enfer meira”, revelaram a
preocupação em cuidarem, elas mesmas dos seus
corpos, por saberem que mais adiante,
principalmente no período trans-operatório nem
sempre poderiam interferir, devido ao efeito
sedativo/anestésico, quando inevitavelmente se
tornariam dependentes da atuação da equipe de
enfermagem e de outros profissionais. Quando o
período pré-operatório terminou, essas clientesenfermeiras foram encaminhadas na maca, ao centro
cirúrgico e naquele momento, mesmo conhecendo
a equipe, a instituição e as rotinas, elas passaram pelo
desconforto da postura horizontal, ao serem
transportadas para o centro cirúrgico em maca:
“Eu só via o teto do corredor, sentia aquele
vazio, sentia ansiedade e pedia a Deus que me
protegesse. Havia passado por aquele corredor
muitas vezes, mas como enfermeira. Naquela
hora, a situação era diferente. Eu era cliente.
A sensação era muito estranha. (Janete)
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Muitas vezes, surgiu a necessidade de conhecerem
ou reconhecerem a equipe do centro cirúrgico,
principalmente para quem estava no plano horizontal,
diante de pessoas posicionadas no plano vertical.
O homem em pé é livre, não se apoiando em coisa
alguma; o homem deitado jamais é livre, mais apóia -se
em tudo quanto se lhe apresente, distribuindo sua
pressão de modo à praticamente não sentir mais o seu
próprio peso. Muitos detentores de poder enfatizam
essa transição do estar deitado para o estar em pé [5]...
Essa postura, além de incômoda, foi reveladora,
principalmente para quem até aquele momento circulava
naquele mesmo ambiente como profissional,
percorrendo os corredores e cuidando das pessoas. A
ansiedade e a falta de proteção foram sentimentos
experimentados por essas clientes enfermeiras, naquele
momento. A transição de estar em pé e ficar deitada
para ser transportada em maca, ainda consciente fizeram
emergir outras estratégias, desenvolvidas por essas
clientes, como o compartilhar de seus sentimentos mais
íntimos, o estreitamento do relacionamento com os
profissionais mais próximos fisicamente, passando
naquele momento a considerá-los como aliados na luta
da entrega total do seu corpo, em que a sua atuação
como enfermeira no centro cirúrgico passou a ser parcial
ou ausente, devido a sedação ou a anestesia geral. Ao
final da experiência de terem sido submetidas aos
cuidados/procedimentos de enfermagem durante o préoperatório, onde emergiram comportamentos e
sentimentos até então desconhecidos, a maioria das
clientes revelou o que representaram esses cuidados de
um modo geral para elas.
“Juntando os prós e os contra, sai viva e feliz.
É um jogo de quebra cabeça com a imagem
incompleta, porém a principal preocupação foi
solucionada. Os espaços em branco correspondem
aos cuidados de enfermagem que deixaram de
ser realizados.” (Cristina)
Com o conhecimento de quem pratica a arte de
enfermagem no quebra cabeça da vida profissional,
essas clientes reconheceram com otimismo, todos os
cuidados que foram realizados. Apesar das dificuldades
encontradas e da ausência de algumas peças, revelaram
na imagem anterior, que o maior de todos os objetivos
foi alcançado, ou seja, o de proporcionar o bem-estar
ao ser humano, sempre.
As imagens refletidas depois da alta hospitalar
O estudo mostrou que essas clientes enfermeiras
quando retornaram às suas vidas cotidianas,
repensaram os papéis não só de profissional, mas de
indivíduo na sociedade. Através deste estudo foram
revelados as mudanças ocorridas, os maiores
incômodos e o que ficou de melhor na experiência
vivida como clientes submetidas à cirurgia. De acordo
com Remen [6]:
“Um dos maiores recursos do paciente não se
encontra apenas em suas próprias forças
humanas, mas também nas da enfermeira,
médico, assistente social, amigos, família e todos
os que se preocupam com o seu bem-estar”.
Diante das citações do que mais as incomodavam, a maioria dessas clientes reconheceu a ausência
direta das colegas enfermeiras, porém confirmaram
através das colagens, o destaque para as amigas
enfermeiras, presentes quando possível, em todo o
período de hospitalização. Nos cuidados/
procedimentos de enfermagem, desde os instrumentais até os cuidados expressivos, as amigas
enfermeiras estiveram presentes em momentos de
vital importância para essas clientes que se sentiram
mais seguras e confortáveis. Essas amigas enfermeiras
representaram muito mais do que simples presenças,
daquelas clientes que um dia com certeza já foram ou
serão também acompanhantes de outras.
“Eu ia ficar sozinha naquela noite. Foi ótimo
ela ir ficar comigo. A gente ficou conversando até
tarde, depois eu dormi muito bem, não tive
problema nenhum com relação à insônia,
preocupação, pesadelo, sonhar com a
cirurgia...nada disso. Acho que se eu não tivesse
a presença das minhas amigas...”(Sandra). “O
apoio das amigas enfermeiras.”(Célia). “O apoio
das amigas.”(Sandra). “As amigas
presentes.”(Angela). “A energia positiva que as
colegas, as amigas me passaram.”(Fátima).
Conclusões
Através do estudo, em vários momentos as
clientes-enfer meiras ao relatarem os seus
comportamentos e sentimentos, destacaram entre as
categorias surgidas, a visão de mundo que as cercavam
e um senso comum pouco conhecido. O maior espaço
aberto no estudo por essas clientes-enfermeiras foi
quando elas abordaram as estratégias utilizadas diante
das facilidades e dificuldades encontradas na
convivência com a própria equipe de enfermagem,
revelando convergências e divergências de relações
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em momentos delicados. O estudo mostrou que a
identificação profissional por parte dessas clientes
somente ocorreu quando o meio em que se
encontravam estava favorável, constatado após
avaliação acurada do local e das pessoas que ali se
encontravam trabalhando. O estudo revelou comportamentos e sentimentos ambíguos, contraditórios, paralelos, convergentes, divergentes, éticos, conflitantes
através dos depoimentos, tais como: - ...me senti em
família e me senti diante de uma montanha de gelo... –sou uma
paciente como outra qualquer, aqui dentro... –me avaliava como
cliente e como enfermeira..., dentre outros. As clientes
enfermeiras, apesar de em alguns momentos se considerarem pessoas como outras quaisquer, revelaram
uma visão diferenciada, devido à existência de um
conhecimento científico e profissional prévios, não
esquecendo a sua experiência profissional na própria
área de saúde.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Kron T. Manual de enfermagem, 4a.ed. Rio de Janeiro:
Interamericana; 1978.
Gotardo GIB. Nos bastidores da enfermagem; a arte
de cuidar como essência. [Dissertação]. Rio de Janeiro:
UNIRIO; 1996.
Du Gas BW.–Enfermagem prática, 4a ed. Rio de
Janeiro: Guanabara; 1984.
Marinho P. Cadernos do terceiro mundo. Rio de
Janeiro: Terceiro Mundo; 1998
Canetti E. Massa e poder. São Paulo: Companhia das
Letras; 1995.
Remen N. O paciente como ser humano, São Paulo:
Summus; 1993. K
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Revisão
Quando a empatia durante o ato de
cuidar em enfermagem produz uma
tecnologia – Descrevendo um artefato
para a realização da técnica do
shampooem pacientes acamados
Maria Aparecida de Luca Nascimento, D.Sc.*, Rita Ferreira Cardoso, M.Sc.**, Rubens Ghidini Júnior***
**Doutora, Professor Adjunto do DEMI da EEAP da UNIRIO – Chefe de Divisão do Departamento de Pós-graduação da Pró-reitoria de
Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da UNIRIO (PROPG) da UNIRIO, **Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno
Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) – Enfermeira da Secretaria
de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, ***Acadêmico de Enfermagem do 5º período da Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro
Resumo
Este estudo surgiu da experiência dos autores quando, ao promover a técnica do banho no leito no domicílio de um familiar
acamado e impossibilitado de se movimentar, foram interpelados por ele quanto à necessidade de sentir-se confortado
através do contato da água diretamente na sua cabeça, devido ao calor que fazia. Motivados pela sensibilidade em promover
esse conforto, os autores criaram um protótipo que os possibilitou exercer o referido procedimento Trata-se de um estudo
descritivo que tem por objetivo apresentar o pedido de privilégio de um modelo de utilidade, concebido para promover a
técnica de “shampoo” em pacientes acamados, através do documento apresentado ao Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI). À luz do referencial teórico de Florence Nightingale o procedimento técnico em referência é apresentado,
concluindo-se que a industrialização do referido artefato é importante para que esse conforto seja oferecido pela equipe de
enfermagem aos pacientes acamados nos hospitais. Os autores enfatizam que a melhor forma de se fazer enfermagem é
imaginar-se no lugar daquele que cuidamos.
Palavras-chave: cuidado de enfermagem, shampoo, tecnologia.
Artigo recebido em 1 de janeiro de 2004; aceito em 5 de março de 2004
Endereço para correspondência: Rubens Ghidini Júnior,
Rua Elisa de Albuquerque 314/8, 20770-290 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2593-6414 / 9685-0376, E-mail: [email protected]
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Abstract
When the empathy during nursing care produces a technology (Describing a
technology for applying “shampoo” technics to bedridden patient)
This study arose from author´s experience, when on a nursing home care, more specifically, “shampoo” technique, that was
being applyed to a familiar bedridden person, in a summer hot day, they were requested by her, concerning the possibility of
feeling the water touching her head, as a relief sort. Being stirred up by the sensibility of bestowing this comfort, the authors
built up an artefact in order to do it. This is a descriptive study whose goal is to submit a created artefact, being intended for
fullfilling “shampoo” technique to bedridden patients, through the report put foward to Industrial Property National Institute.
Based on Florence Nightingale´s theoretical framework, this technical procedure is shown, realizing that the industrialization
of this artefact is very important for the patient´s comfort during the nursing care at the hospital. The authors emphasize
that the best way of attending to someone is by setting ourselves in the same place of whom we get hold of.
Key-words: nursing care, shampoo, technology.
Resumen
Cuando la empatia producida durante el acto de cuidar de enfermería produce una
tecnologia( Decripcion de un artefacto utilizado en la realizacion de la tecnica del
“shampoo” a un paciente en su cama)
Estudio que surge de una experiencia vivida por sus autores durante la realización de un baño en la cama de un paciente que
se encontraba en su domicilio y que no podia moverse por si solo, y fueron interpelados por ese paciente que expresó su
necesidad de sentir el agua corriendo sobre su cabeza debido al intenso calor que sentía. Motivados por la necesidad de dar
conforto a ese paciente los autores crearon un prototipo (artefacto) con el que realizaron el procedimiento. Se trata de un
estudio descriptivo que tiene por objetivo presentar el pedido de privilegio de usar ese modelo de utilidad concebido para
aplicar la técnica del “shampoo” en pacientes que se encuentran en cama, que fué presentado ante el Instituto Nacional de
Propiedad Industrial (INPI). Con base en el referencial teórico de Florence Nightingale, se concluye que la industrialización
del referido artefacto es importante para que el equipo de enfermería pueda ofrecer conforto a los pacientes que no consiguen
salir de su cama en los hospitales. Los autores enfatizan que la mejor forma de ejercer la enfermería es ponernos en el lugar
de aquellos que cuidamos.
Palabras-claves: cuidado de enfermería, shampoo, tecnología.
Introdução
Este estudo surgiu de uma experiência dos autores
quando, ao prestarem um cuidado de enfermagem
(banho no leito) em domicílio de uma pessoa da família
que estava acamada e impossibilitada de deambular,
foram interpelados por ela, no sentido de possibilitarem
o contato da água em sua cabeça, como uma forma de
alívio e de conforto, pois fazia muito calor.
Considerando que a esta altura do tratamento,
toda e qualquer iniciativa que tomávamos como
enfermeiras, era revestida do carinho e atenção
dispensada a um ente querido, não houve qualquer
dúvida que conseguiríamos atender a este pedido.
Tendo em vista que a técnica da higiene do couro
cabeludo, comumente conhecida como “shampoo”,
preconiza, entre outros utensílios, o uso de um balde,
cobertor, jornal, irrigador, cuba redonda [1], pensou-se
na possibilidade de equacionar este problema, a partir da
empatia, criando um artefato que pudesse ser utilizado
várias vezes ao dia, devido à sua praticidade, e que pudesse
substituir todo este aparato que se utilizara até então.
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Sendo assim, ao concebermos um protótipo, que,
apesar de ser fabricado artesanalmente, equacionava
o problema para o qual havia sido criado, levou-nos a
pensar em produzi-lo industrialmente.
Objetivo
Apresentar o pedido de privilégio de um modelo
de utilidade, concebido para promover a técnica de
“shampoo” em pacientes acamados, através do
documento apresentado ao Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI).
Cuidado, ciência e tecnologia
Os procedimentos técnicos de enfermagem têm
por finalidade, além de promover o cuidado e o conforto,
racionalizar tempo e movimento. Ao gerenciarmos o
tempo, através da racionalização das nossas atividades
técnicas, teremos mais tempo para nos ocuparmos das
atividades que demandam concentração.
Porém, foi a concentração durante o ato de cuidar
que permitiu observar uma outra forma de
promovermos, não só, o cuidado ao higienizar o couro
cabeludo do paciente, como também, o seu conforto,
ao resfriá-lo em um dia de calor.
A higiene do couro cabeludo, por ser um
procedimento tecnicamente simples, pode parecer sem
valor. No entanto [2], em seus estudos pontifica que é
através dos procedimentos técnicos que a
sistematização da assistência é estabelecida, são eles
que ditam as prioridades e os critérios que devem ser
considerados.
Ainda segundo a mesma autora, “estes critérios
exigem do profissional de enfermagem, entre outros
atributos, rapidez, tirocínio, bom senso e
conhecimento teórico-prático, ações que determinam
o saber cuidar, de forma prática e racional, que não
devem ser confundidos com a racionalidade
desprovida de sensibilidade”.
Sendo assim, o simples fato de sentir a água tocar
a sua cabeça, resfriando-a em um dia de calor, pode
significar para o paciente, muito mais que um ato
técnico, mas um cuidado dimensionado à maior.
Considerando que este estudo relaciona-se à
criação de uma tecnologia concebida durante o ato de
cuidar, tomamos como base o pensamento de
Nascimento [3], ao dizer que os estudos de enfermagem
relacionados à sua prática e aos seus efeitos, são baseados
na observação, preocupação com o bem estar do outro,
reorganização de procedimentos, revisão de algumas
técnicas, assim como a criação de tecnologias relativas
ao ato de cuidar.
As etapas do processo de se registrar uma patente
O processo relativo ao registro de patentes é
realizado no Instituto Nacional de Propriedade
Industrial, órgão público pertencente ao Ministério
da Indústria e do Comércio e do Turismo.
Existem dois tipos de patentes, a patente de
invenção (PI), que é relativa a um artefato cuja concepção
não é conhecida, e a patente de modelo de utilidade (MU),
relativa à modificação no estado da técnica de algum
artefato já conhecido, como é o caso deste estudo, que
se refere a uma patente de modelo de utilidade, haja vista
a existência no mercado, de vários tipos de cubas para
serem utilizadas para lavar cabeça, inclusive aquelas
comumente utilizadas em salões de beleza.
Referencial teórico
Tendo em vista que a dimensão do cuidar em
enfermagem foi visualizado por Florence Nightingale,
a partir dos procedimentos técnicos que permitiram
através da sua sistematização, a caracterização desta
profissão como científica, vemos nesta autora, o
respaldo teórico deste estudo.
Em seu livro, notas de enfermagem, a autora
em referência [4], ao citar a importância do
cuidado de enfer magem relativo à higiene
corporal, comenta que “o envenenamento através
da pele não é menos eficiente do que pela boca, é
apenas de ação mais lenta”.
Tendo em vista que este estudo versa tanto, sobre
um procedimento técnico de enfermagem quanto,
sobre a concepção de um artefato para promover o
conforto e o alívio de um paciente acamado através
deste procedimento, encontramos em Florence
Nightingale o respaldo necessário para sedimentá-lo
teoricamente quando mencionou que “o alívio e o
conforto sentidos pelo doente após sua pele ter sido
cuidadosamente lavada e enxugada, é uma das mais
comuns observações feitas pelo doente acamado” [4].
Apresentando a cuba para lavar a cabeça de
paciente acamado
Tendo em vista o objetivo deste estudo, passamos
a apresentar o artefato em apreço, através do relatório
submetido à apreciação do Instituto Nacional de
Propriedade Industrial, sob nº 003786 de 22/04/ 2003,
como um dos requisitos para a obtenção do registro
do modelo de utilidade a ele referente.
A presente patente de modelo de utilidade tem
por objetivo uma cuba para lavar a cabeça de paciente
acamado, para uso em hospital ou mesmo em domicílio,
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Fig. 3 - Ressalta o dispositivo de escoamento da água e
a montagem do reservatório no leito.
Fig. 1 - Mostra-a em perspectiva explodida.
§
§
a
b
a
§
a - reentrância para apoio do pescoço
b - dispositivo para o escoamento da água
Fig. 2 - Mostra-o adaptado à cabeça do paciente e em
perspectiva.
com vistas a proporcionar conforto e bem estar através
do contato da água diretamente na cabeça.
Já são conhecidos diversos modelos de cubas
para serem utilizadas na lavagem de cabeça, a maior
parte utilizadas em salões de beleza. No entanto, apesar
de toda essa diversidade, nenhuma delas objetivou a
sua utilização em cima de uma cama.
A técnica de lavagem de cabeça em paciente
acamado é de extrema relevância se considerarmos
que a permanência no leito provoca calor, sudorese
e irritação.
Tendo em vista esses problemas, e no propósito
de superá-los, foi desenvolvida a disposição da referida
cuba de modo a ser utilizada em cima da cama, objeto da
presente patente, que consiste num recipiente de plástico
ou metal, no formato de uma bacia oval, tendo a sua
profundidade maior na sua maior dimensão. As sua
bordas serão regulares, exceto na sua base que possuirá
uma reentrância para o apoio do pescoço durante a
b
a - grampos para adaptação ao leito;
b - bolsa coletora de água
lavagem da cabeça e que deverá ser revestido por um
material que evite qualquer dano à pele do paciente.
Lateralmente, a referida cuba terá um dispositivo
que permitirá o escoamento da água para um
reservatório que se prenderá à cama, permitindo o uso
de dois litros de água, ou mais, por etapa de lavagem.
Essa forma de construção soluciona as
inconveniências eventuais, uma vez que a qualquer
hora a referida técnica poderá ser realizada, tendo em
vista não só, a praticidade do ato, como também, o
conforto e o bem estar por ele gerados, fato que
colabora para a recuperação do paciente acamado.
Os desenhos anexos (Figuras 1, 2 e 3)
mostram a disposição da cuba para lavar a cabeça
de paciente acamado.
A cuba em apreço pode ser obtida em tamanhos e
capacidades diversas para atender diferentes necessidades
dos usuários desse tipo de equipamento.
Conclusão
O presente estudo demonstrou a
possibilidade de realizar mos a técnica do
“shampoo” em pacientes acamados, através de um
artefato concebido para este fim, cuja finalidade
maior será a de proporcionar o conforto e o alívio,
advindos da sensação da água diretamente aplicada
na cabeça, fato que, devido à praticidade do
artefato, poderá ser realizada várias vezes durante
os dias de calor.
Cuidar é tentar resolver, ou pelo menos
minimizar as sensações que irritam e afligem o paciente
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que é o sujeito do nosso cuidado. Muitas vezes, não
nos damos conta do motivo da irritabilidade dele, e
raramente ele verbaliza-as, uma vez que o desconforto,
muitas vezes, é difuso e generalizado.
Porém, se durante o ato de cuidar, pudermos
perceber, através da sensibilidade, toda a dimensão
que envolve este ato, poderemos, mais que cuidar,
sermos partícipes desta ação através da empatia. Pois,
a melhor maneira de se praticar a enfermagem, é
colocando-nos no lugar daquele que está sendo alvo
do nosso cuidado.
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Revisão
Hipertensão arterial e fatores de risco
Fernanda Paula Cerântola Siqueira*, Eugênia Veludo Veiga **
* Enfermeira, mestre do Programa de Pós-Graduação Enfermagem Fundamental-DEGE-EERP-USP, docente do curso de Enfermagem da
UNIMAR, **Professora Livre Docente do DEGE –EERP – USP
Resumo
A hipertensão arterial tem sido uma das morbidades de alta prevalência e de contribuição significativa para o aumento da
morbi-mortalidade cardiovascular, fundamentada nos aspectos clínicos, nos fatores de risco e nas alterações que ocasionam
ao organismo. Através de levantamento bibliográfico, este artigo aborda os fatores de risco para o desenvolvimento da
hipertensão arterial, bem como medidas necessárias para preveni-la ou controlá-la. A literatura aponta para a necessidade de
aferir periodicamente os valores de pressão arterial e correlacioná-los aos fatores biológicos, sociais ou ambientais, associandoos às condições clínicas dos indivíduos. Orientar adequadamente os clientes quanto aos fatores de risco da hipertensão
arterial muito poderá contribuir para seu entendimento, prevenção, adesão e motivação ao tratamento.
Palavras-chave: hipertensão, fatores de risco.
Abstract
Arterial hypertension and risk factors
Arterial hypertension has been a high prevalence morbidity of significant contribution to increase cardiovascular morbimortality, based on clinical aspects, risk factors, and changes to the organism. By means of bibliographic research, this article
covers the risk factors necessary to the development of arterial hypertension, as well as necessary preventive or controlling
actions. Specific literature points out the necessity of taking periodical arterial blood pressure values, correlating them to
biological, social and environmental factors, and also associating them to the person’s clinical conditions. Adequately counseling
people concerning risk factors for arterial hypertension might largely contribute to its understanding, prevention and motivation
to take part in the treatment.
Key-words: hypertension, risk factors.
Artigo recebido em 2 de fevereiro de 2004; aceito em 5 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Fernanda Paula Cerântola Siqueira, Rua Jorge
Bernardone, 404 – 17.519-580 Marília – SP. E-mail: [email protected]
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Resumen
Hipertensión arterial y factores de riesgo
La hipertensión arterial ha sido una de las morbilidades de alto predominio y de contribución significativa para el aumento de
la morbi-mortalidad cardiovascular, basada en los aspectos clínicos, en los factores de riesgo y en las alteraciones que producen
en el organismo. Por medio de levantamiento bibliográfico, este artículo aborda los factores de riesgo para el desarrollo de la
hipertensión arterial, bien como medidas necesarias para prevenirla o controlarla. La literatura señala la necesidad de conferir
periódicamente los valores de presión arterial y hacer una correlación de estos valores con los factores biológicos, sociales o
ambientales, asociándolos a las condiciones clínicas de los individuos. Orientar adecuadamente los clientes en relación a los
factores de riesgo de la hipertensión arterial podrá contribuir bastante para su entendimiento, prevención, adhesión y motivación
al tratamiento.
Palabras-claves: hipertensión, factores de riesgo.
Introdução
A hipertensão arterial, uma das morbidades de
alta prevalência, tem se tornado o principal problema
de saúde pública no mundo e contribui de maneira
significativa para o aumento da morbi-mortalidade
cardiovascular.
A mortalidade proporcional por doença
cardiovascular aumentou de 21%, em 1940, para 54%
em 1980, e estima-se que, até o ano 2020, tal índice
chegue a 74%[1]. Conforme a estimativa da
Organização Mundial de Saúde, até 2020, a doença
coronariana será a primeira causa de morte no mundo
e a doença cerebrovascular, a quarta [2].
Diante dessas estimativas, a prevenção e o
controle da hipertensão arterial representam hoje um
grande desafio para os profissionais de saúde. A
magnitude do problema motivou o desenvolvimento
deste estudo sobre o assunto e a investigação sobre
seus fatores de risco.
Atualmente a definição de hipertensão arterial
não é restrita aos valores pressóricos, mas também é
fundamentada nos aspectos clínicos, nos fatores de
risco e nas alterações que ocasiona ao organismo.
É considerada uma situação clínica multifatorial
e reconhecida como síndrome por relacionar os níveis
tensionais elevados a alterações metabólicas,
hormonais e por associar fenômenos tróficos como
hipertrofia cardíaca e vascular [3].
Entretanto, outras abordagens têm sido feitas
para definir a hipertensão, relacionando-a com as
transformações sociais e econômicas que têm
influenciado as condições de saúde da população.
Conforme se constata, vários fatores sociais e
ambientais têm sido relacionados ao aumento da
pressão arterial em diferentes populações. Entre esses,
destacam-se hábitos sedentários, tipos de dieta,
infecções crônicas, mudança na vida social e familiar,
obesidade, estresse e a qualidade e quantidade de
atividades ligadas ao trabalho [4].
Em vista disso, fica claro que não basta a aferição
da pressão. É necessário que os profissionais da saúde
reúnam condições para correlacionar os valores
encontrados com fatores biológicos, sociais ou
ambientais que se relacionam com as condições
clínicas dos indivíduos.
Fatores de risco
Pela literatura, o termo risco é utilizado para se
descrever a “probabilidade de que pessoas expostas a
certos fatores (fatores de risco) adquiram
subseqüentemente uma determinada doença”[5].
Como fator de risco é um conceito moderno
que associa a causa de uma determinada morbidade
com a probabilidade de seu desenvolvimento, esse
envolve a compreensão das causas e a prevenção das
morbidades como, por exemplo, a hipertensão.
Observa-se que alguns indivíduos são mais
susceptíveis que outros ao desenvolvimento das
doenças cardiovasculares e o fato pode ser atribuído
aos traços individuais e à exposição a determinadas
condições do ambiente [6].
Atualmente muitas discussões relacionam o
desenvolvimento da hipertensão com o
comportamento e ambiente em que vive a população.
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Assim é que as condições de vida e os novos hábitos
adquiridos, como mudanças na vida social, trabalho e
alimentação têm sido relacionados com o aumento da
doença. Conforme vários autores, tem ficado evidente
a relação entre os níveis de pressão arterial e idade,
sexo, antecedentes familiares, raça, obesidade, estresse,
inatividade física, uso excessivo de álcool, tabagismo,
alimentação rica em sódio e gorduras e uso de
contraceptivos orais. São esses fatores que, associados
entre si e a outras condições, favorecem o aparecimento da hipertensão arterial e, ainda, quando
associados a níveis de pressão elevados, contribuem
para o aumento do risco cardiovascular [3, 7-9].
Sendo a hipertensão arterial reconhecida como
uma doença multifatorial, vários são os fatores de risco
que podem contribuir para a ocorrência de
complicações advindas dela. Esses fatores de risco são,
por vezes, subdivididos em fatores não modificáveis,
como idade, sexo, antecedentes familiares e raça e
fatores modificáveis, sendo obesidade, estresse,
inatividade física, uso excessivo de álcool, tabagismo,
alimentação e uso de contraceptivos orais.
Com base na importância desses fatores para o
desenvolvimento da hipertensão, bem como em
sua evolução relata-se, a seguir, o que revela a pesquisa científica.
Idade
Vários estudos apontam a idade como fator de
risco importante para o desenvolvimento da
hipertensão arterial. De acordo com Brasil [10] e Riera
[11], a prevalência da hipertensão fica em torno de
7% para crianças, 20% para os adultos e 65% para os
idosos. Tais fontes ainda referem que os níveis de
pressão arterial aumentam gradativamente em todas
as faixas etárias estudadas, sendo mais acentuados
acima dos 35 anos [4, 12-14]. Tal fato pode ocorrer
devido às modificações que ocorrem na musculatura
lisa e no tecido conjuntivo dos vasos, proporcionando
o aumento dos níveis pressóricos [15, 16].
Vale ressaltar que a variável idade relacionada à
hipertensão poderá também estar associada às
condições de vida da população.
Sexo
Os homens apresentam níveis de pressão arterial
mais elevados que as mulheres até meia idade. Após a
meia idade, porém, os valores pressóricos femininos
equiparam-se com os masculinos [17].
O estudo Framingham aborda um aumento
médio de 20mmhg na pressão sistólica e 10mmhg na
diastólica dos 30 aos 65 anos, sendo as taxas de morbimortalidade mais elevadas nos homens [17-19].
Lolio [14], ao estudar prevalência de hipertensão,
verificou que as taxas de prevalência para o sexo
feminino são menores que as do sexo masculino. A
partir da faixa etária (45-54 anos), entretanto, ocorreu
aumento significativo de hipertensão em mulheres.
Uma explicação para isso é o fato de que a mulher,
após a menopausa, tem queda na produção de
estrógeno, hormônio que, conforme se acredita exerce
efeito protetor sobre o sistema cardiovascular
feminino [20, 21].
Raça
Vários estudos apontam diferenças entre negros
e brancos ao relacionarem raça e hipertensão. Lopes
[22], ao rever e avaliar várias pesquisas clínicas e
epidemiológicas com o objetivo de identificar
diferenças em hipertensão entre negros e brancos,
verificou que os resultados no Brasil são semelhantes
aos encontrados nos trabalhos norte-americanos, em
que se reconhece haver maior predomínio dessa
morbidade entre os negros.
Como a prevalência da hipertensão tem sido
maior em negros do que em brancos, sendo que
valores pressóricos elevados foram encontrados em
20 a 30% da população negra e aproximadamente
10% na população branca. Há evidências de
maiores complicações no negro em relação ao
branco [9, 23-25].
Em estudo realizado com 5.500 integrantes da
força de trabalho em São Paulo, a prevalência foi de
duas a três vezes maior em negros em relação aos
brancos. Os níveis pressóricos nas mulheres pardas e
negras foram aproximadamente três a quatro vezes
maiores em relação aos das brancas [4].
Embora a literatura aponte a relevância da raça
nos índices de hipertensão, acredita-se que o estilo de
vida e as condições sócio-econômicas e culturais
possam influenciar na incidência da morbidade.
Antecedentes familiares
Apesar de vários estudos relacionarem a história
familiar com os casos de hipertensão, têm havido
muitas discussões sobre a influência dos fatores
ambientais compartilhados na família, pois,
dependendo do meio ambiente em que vive a pessoa
e a exposição a outros fatores de riscos associados, o
indivíduo pode ou não desenvolver a doença [26].
O que fica claro, então, é que os indivíduos com
antecedentes familiares são mais susceptíveis para o
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desenvolvimento da hipertensão, pois os fatores
ambientais podem influenciar os fatores genéticos [10].
Alimentação
A qualidade e quantidade de alimentos ingeridos
são de suma importância para a prevenção e controle
de hipertensão arterial. Uma alimentação
desequilibrada proporciona habitualmente aumento
na ingestão de colesterol, gorduras saturadas, açúcares
e sal, podendo propiciar dislipidemias e obesidade e
contribuir para o aumento da prevalência da
hipertensão arterial, bem como para suas complicações
[3,10].
Existe uma relação positiva entre a ingestão de
sal e aumento da pressão arterial, que se evidencia
com o avançar da idade e contribui para o aparecimento da doença, pois o indivíduo torna-se mais
sensível ao sódio [24,27].
A alimentação com pouco sal é recomendada
por reduzir a pressão arterial e por ser benéfica ao
tratamento da hipertensão, aumentando a eficácia das
drogas anti-hipertensivas. Pode contribuir, também,
para a na redução dos índices de mortalidade por
acidentes cerebrovasculares e diminuição da
hipertrofia ventricular esquerda. Segundo os
pesquisadores, a quantidade de sal recomendada é de
seis gramas diárias, devendo-se lembrar que os
produtos industrializados já contêm sódio. Em
contrapartida, a ingestão de alimentos ricos em fibras
proporcionam redução da absorção intestinal do
colesterol. Também deve ser evitada a ingestão de
gorduras saturadas [2,3,9,10,24].
Uma dieta rica em potássio pode prevenir o
aumento da pressão arterial, pois o potássio inibe a
atividade simpática não produzindo a renina,
promovendo vasodilatação arterial e protegendo as
artérias de deposição arterosclerótica. Os alimentos
como banana, laranja, tomate e alface são indicados
por serem ricos em potássio. O aumento da ingestão
de cálcio também é sugerido na dieta dos hipertensos,
pois isso pode contribuir para a diminuição dos valores
pressóricos por exercer controle de tônus muscular
liso [2,3,9,28].
Obesidade
A obesidade é considerada um fator em potencial
para o desenvolvimento da hipertensão, visto que a
pressão arterial aumenta na mesma proporção que o
peso e a prevalência da hipertensão em indivíduos
obesos é duas vezes maior que em pessoas com peso
normal [29,30]. Pode estar associada, também, aos
fatores biológicos, disfunção orgânica ou
relacionada ao estilo de vida do indivíduo,
caracterizado pelas condições de consumo de
alimentos e falta de atividade física. O excesso de
peso reconhecido como obesidade é classificado
por Williamson [31] da seguinte maneira: obesidade
para homens IMC igual ou maior que 27,8Kg/m2 e
para mulheres IMC igual ou maior que 27,3Kg/m2,
e a obesidade severa para homens IMC igual ou
maior que 31,1Kg/m2 e para mulheres IMC igual
ou maior que 32,3Kg/m2.
Constata-se que aproximadamente 32% dos
brasileiros têm excesso de peso, isto é, índice de massa
corpórea (IMC) igual ou superior a 25Kg/m2, sendo
que 8% desses considerados obesos têm IMC maior
que 30Kg/m2 e, desse total, 70% são mulheres [10].
A redução do peso é recomendada, pois está
associada à diminuição da pressão arterial, devendo
esses indivíduos realizar atividades físicas e adotar uma
dieta hipocalórica [2,3,9,25,32].
Estresse
Muitos fatores contribuem para ocorrência do
estresse, sejam eles ambientais ou psicossociais. Os
estímulos psicológicos podem aumentar a liberação
de catecolaminas, que estimularão o sistema nervoso
simpático, aumentando os níveis de pressão arterial.
A resposta do organismo dependerá do fator
desencadeante e da sensibilidade do indivíduo. Este
pode adaptar-se ou não, caso em que há desenvolvimento da doença [28].
Situações estressantes como pobreza, desemprego, inatividade física, insatisfação profissional e
matrimonial, dificuldades financeiras, insatisfação
familiar e social, baixo nível social e educacional são
fatores que têm proporcionado aumento do estresse
na população [10].
Em vista disso, portanto, recomenda-se o uso
de técnicas que promovam o relaxamento e
psicoterapia para que o indivíduo possa mudar o
comportamento diante das situações vividas
[2,3,9,27,28,32].
Tabagismo
O hábito de fumar está associado à maior
prevalência de hipertensão, aumentando o risco de
doenças cardiovasculares e pulmonares. A nicotina,
através da estimulação adrenérgica aumenta a pressão
arterial [2,9,33].
Há relatos de que o tabaco, além de danificar a
parede dos vasos, promove seu endurecimento,
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alterando a vasomotricidade vascular e contribuindo
para a formação e manutenção da placa arteros-clerótica.
Quando utilizado em excesso, a maior liberação de
adrenalina e noradrenalina ocasiona aumento da
freqüência cardíaca, débito cardíaco e consumo de
oxigênio, elevando a pressão arterial [28,33].
Recomenda-se, portanto, a parada do uso do
tabaco, por se saber que a doença hipertensiva é mais
severa no tabagista e que estes ainda têm maiores
probabilidade de morte súbita e doença coronariana
[2,3,9,25,32,34].
Álcool
O consumo de álcool também está associado a
maior prevalência de hipertensão, sendo responsável
por aproximadamente 5 a 10% dos casos. O álcool
age na musculatura cardíaca, no metabolismo de cálcio
diminuindo a eliminação de sódio, além de promover
aumento do volume cardíaco, maior estimulação do
sistema nervoso e situação de estresse [24,27,28].
O uso excessivo do álcool, além de ser um fator
de risco importante para o desenvolvimento da
hipertensão arterial, tem sido responsabilizado pela
resistência ao tratamento. Porém, quando usado em
baixas quantidades tem efeito hipotensor benéfico [28].
O consumo não deve ultrapassar 30ml de etanol/
diário, o que corresponde a 60ml de bebidas destiladas,
240ml de vinho e 720ml de cerveja, para homens. Para
as mulheres e pessoas de baixo peso, deve ser limitado
a 15ml/dia, pois estas absorvem mais o etanol que os
homens [2,3,9,27].
Sedentarismo
Ainda que a atividade física seja de suma
importância, há alguns cuidados a serem observados:
atenção à freqüência cardíaca, logo após a atividade,
como também a sinais de fadiga, dor no peito,
palpitações. Os exercícios devem ser realizados numa
intensidade moderada, consumindo apenas 40% a 60%
do consumo máximo de oxigênio ou com intensidade
de 50% a 70% da freqüência cardíaca de reserva. Há
indicações para realização desses três a cinco vezes por
semana, com duração de 30 a 45 minutos [2,3,9].
Uso de contraceptivos orais
Os anticoncepcionais orais agem sobre o sistema
cardiovascular da mulher, dependendo da idade,
tempo de uso, composição, predisposição individual
e exposição a outros fatores de risco. O risco aumenta
na mesma proporção que aumenta a idade, e também
com a existência de hipertensão e doença renal [4,20].
Debert-Ribeiro [4] relata alguns estudos que
apontam a relação entre a hipertensão e o uso de
anticoncepcionais orais: há aumento significativo dos
níveis de pressão sistólica entre usuárias de
contraceptivos orais quando comparados aos das não
usuárias, verificando maior risco em mulheres
normotensas após o uso deste e, também, aumento da
pressão arterial em mulheres previamente hipertensas.
O uso de contraceptivos orais não é recomendado às mulheres que apresentam fatores
individuais predisponentes ao desenvolvimento da
hipertensão, ou estão expostas a outros fatores que
contribuem para a ocorrência desta [4,20,37].
Conclusões
O sedentarismo é um fator de risco importante
na incidência e prevalência da hipertensão arterial e
da doença coronariana. As modificações no estilo de
vida, proporcionadas pelo maior desenvolvimento na
área de transporte e utilidades domésticas, são
responsáveis pelo aumento da inatividade física das
pessoas [10,35].
Cabe ressaltar a existência de outros fatores de risco
que podem ser modificados pela atividade física, levando
à diminuição de colesterol e glicose, redução do peso
quando associada à ingestão de dieta hipocalórica. Além
de contribuir para redução de obesidade, diminui a
resistência à insulina e melhora o funcionamento orgânico,
reforçando a musculatura [3,9,27,32,36].
O exercício físico, portanto, poderá reduzir os
níveis de pressão arterial nos portadores de hipertensão,
bem como reduzir o risco de indivíduos normotensos
desenvolverem a doença.
Acredita-se que as condições sócio-econômicas,
culturais e ainda o estilo de vida dos indivíduos possam
influenciar na incidência da hipertensão arterial.
Considera-se de suma importância a capacitação dos
profissionais da área da saúde para correlacionar tais
condições aos fatores biológicos, sociais ou ambientais
do indivíduo, e ainda para associá-las com os valores
de pressão arterial encontrados no exame das
condições clínicas do mesmo, o que muito poderá
contribuir para o entendimento, prevenção, adesão e
motivação dos clientes ao tratamento.
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32. Kochar MS, Woods KD. Controle da hipertensão: para
enfermeiras e demais profissionais de saúde. 2a ed. São
Paulo: Andrei; 1990.
33. Magalhães LC. O fumo como fator de risco
cardiovascular. Hipertensão 1998;1:80-84.
34. Valles M, Mate G, Bronsoms J, Campins M, Rosello J,
Torguet P, Mauri JM Prevalence of arterial
hypertension and other cardiovascular risk factors
among hospital workers. Med Clin Barc
1997;16(108):604-607.
35. Lopes MMR. Prevenção cardiovascular: realidade ou
mito? Arq Bras Cardiol 1998;50:219-221.
36. Ogiman W. Recomendações não farmacológicas
coadjuvantes no tratamento da hipertensão arterial. Arq
Bras Cardiol 1991;57:341-346.
37. Ribeiro JM, Florêncio L. Anticoncepcional oral e
hipertensão arterial. Rev Hiperativo 1997;3:181184.K
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106
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Notícias e resumos
O Globo,
26 de abril de 2004
Rio é a pior capital no ranking do Programa
de Saúde da Família
No início dos anos 90, o governo federal idealizou um projeto apontado
como uma das saídas para os problemas da rede pública de saúde: o Programa
de Saúde da Família (PSF). O programa, um convênio entre União e municípios,
prevê o acompanhamento médico, em comunidades carentes, de problemas
considerados de baixa complexidade, evitando assim a sobrecarga de postos e
hospitais. Em várias cidades do país, o PSF obteve resultados expressivos, como
em Camaragibe (PE), onde caiu o número de mortes de crianças por diarréia
em 1999. No Rio, o PSF começou a ser implantado em 1994, mas os resultados,
dez anos depois, não são motivo de comemoração.
A cidade é hoje a última colocada no ranking das capitais brasileiras com
cobertura do PSF, segundo o Ministério da Saúde, só 5% do público-alvo,
estimado em 1,8 milhão de pessoas, estão sendo beneficiados.
O estudo mostra que 89.700 pessoas são atendidas pelas 35 equipes do
PSF no município, e nos últimos dois anos a prefeitura não criou qualquer
equipe, que aqui tem o nome de Saúde Onde Você Mora.
O secretário municipal de saúde, Mauro Marzochi, reconhece as
dificuldades do PSF no município, mas afirma que, até o fim deste ano, a meta
é ter 164 equipes, todas com a participação de dentista e assistentes sociais.
– A complexidade do Rio e suas características geográficas atrasaram o
programa. Mas o Rio não é a pior capital. Salvador está abaixo de nós.
Um documento do Ministério da Saúde, no entanto, aponta a capital baiana
como a 20ª colocada, com cobertura de 26% do público-alvo.
Marzochi também admite que nenhuma equipe foi criada entre 2002 e
2003, mas afirma que, nesse período, a prefeitura estava reestruturando o PSF.
– Nesse período planejamos a inclusão das equipes de saúde bucal e
assistência social. Além disso, nosso programa é executado por funcionários
concursados, o que não ocorre em nenhum outro lugar
Marcos S. Queiroz,
Patrícia C. P. Oliveira
Cad. Saúde Pública,
Jul/Dez 2003
Acidentes de trânsito
O artigo Acidentes de trânsito: uma análise a partir da perspectiva das vítimas em
Campinas, de Marcos Queiroz e Patrícia Oliveira, tem como objetivo abordar o
problema dos acidentes de trânsito a partir da visão de 20 vítimas hospitalizadas
na Enfermaria do Trauma do Hospital das Clínicas da Unicamp. Foram analisadas
características sociais do acidentado e as circunstâncias gerais do acidente. A
pesquisa teve como enfoque as representações sociais do acidentado sobre
diversos temas, tais como: as causas do acidente, o trabalho, o trânsito, o sistema
de transporte coletivo e as perspectivas para o futuro. As entrevistas limitaramse ao próprio acidente de trânsito e à crise pessoal proporcionada pelo mesmo.
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O estudo alerta que mudanças de atitudes em relação à segurança no trânsito
implicam mudanças em outras áreas do comportamento, como o uso de bebida
alcoólica e o consumo de drogas, especialmente entre adolescentes. A solução
para o problema dos acidentes de trânsito requer a implementação de políticas
públicas – como programas de capacitação, reabilitação e educação - que levem
em conta a dimensão cultural dos envolvidos e enfatizem programas de educação.
Estela M. L. Aquino,
Maria Luiza Heilborn,
Daniela Knauth et al.
Cad. Saúde Pública, 2003
Grávidas pré-maturas
O Dia,
26 de abril de 2004
Portas abertas para salvar vidas
O estudo Adolescência e reprodução no Brasil: a heterogeneidade dos perfis sociais,
realizado por pesquisadores das universidades Federal da Bahia, do Estado do
Rio de Janeiro, Federal do Rio Grande do Sul e do Institut National d’Études
Démographiques, em Paris, na França, mostrou os resultados de uma estimativa
sobre a prevalência de gravidez na adolescência (GA). A pesquisa foi
desenvolvida em três capitais brasileiras: Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre,
cidades com diferentes contextos socioculturais. O estudo analisou o perfil e
os resultados da gestação e realizou um inquérito domiciliar, com entrevistas
de uma amostra de homens e mulheres entre 18 e 24 anos, para a avaliação
retrospectiva da GA. Ao todo, foram entrevistados 4.634 jovens (47,2% homens
e 52,8% mulheres), sendo que a gravidez entre adolescentes foi relatada por
55,1% dos homens e 27,9% das mulheres. A maioria das mulheres engravidou
em relacionamento estável com parceiro mais velho (79,8%). O estudo verificou
que a experiência de gravidez antes dos 20 anos foi relatada por 21,4% dos
homens e 29,5% das mulheres. E a maior parte das gestações se deu fora de
uma união conjugal: 86,6% dos homens e 74,2% das mulheres, que moravam
ainda com suas famílias de origem.
Nem mesmo o caos na saúde pública faz diminuir o número de
profissionais de enfermagem no Brasil. Ao todo, espalhados pelo País, mais de
700 mil pessoas conservam o ofício de ajudar pacientes e salvar vidas, de acordo
com pesquisa realizada este mês pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
E o mercado está de portas abertas: até o fim do ano, surgirão mais 3 mil vagas
só no Estado do Rio, segundo o Conselho Federal.
São oportunidades em hospitais, clínicas, casas de saúde, atendimento
domiciliar e faculdades, à disposição para absorver esses profissionais, que
representam 55% da força de trabalho na área de saúde. Só no Estado do Rio,
a enfermagem dá emprego hoje para 115 mil pessoas, entre auxiliares de
enfermagem, técnicos e enfermeiros.
Dessas, apenas a terceira categoria tem nível superior de ensino. As outras
duas foram criadas, respectivamente, em 1949, por conta da legislação brasileira,
e no final da década de 60, pela reformulação do ensino no País. Desde então,
entre os profissionais da área, a grande maioria é de auxiliares em enfermagem:
eles respondem atualmente por uma fatia de 78% do mercado. Mas nada de
imaginar que exista qualquer tipo de preconceito nesse sentido. Dentro da
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enfermagem, homens e mulheres são iguais. Até nos salários, que costumam
variar entre R$ 150 e R$ 500 para auxiliares e técnicos em início de carreira, e
R$ 180 a R$ 1.300 para enfermeiros que ingressam no mercado de trabalho.
Kattia Ochoa-Vigo,
Ana Emilia Pace e
Claudia Benedita dos Santos
Rev Latino-Am.
Enfermagem, Mar/Abr 2003
Maria Cristina Faber Boog
Revista de Nutrição, Jan 2002
Análise retrospectiva dos registros de enfermagem em
uma unidade especializada
O estudo realizado em unidade especializada do interior do Brasil teve
como objetivo verificar as diferenças dos registros de enfermagem, quanto ao
modo de documentar a assistência oferecida ao paciente, em três períodos
relacionados com a implementação do Processo de Enfermagem. Coletaramse os dados em 20% dos prontuários de pacientes acima de 15 anos. Para a
análise, utilizou-se o Teste Binomial a 0,05% de significância. Nos resultados,
observou-se tendência para melhoria nos registros quanto à intelecção da escrita
e descrição completa de sinais/sintomas no segundo período. Concluiu-se que
houve diferença entre os períodos inicial e de pré-implementação, fato que
expressa necessidade de rever o modo de desenvolver-se o Processo de
Enfermagem como responsabilidade de toda a equipe de enfermagem.
Construção de uma proposta de ensino de nutrição para
curso de enfermagem
Este trabalho consiste em uma pesquisa realizada com o propósito de
aprimorar o ensino de Nutrição, adequando-o às necessidades específicas de
graduandos de Enfermagem. Para a coleta de dados, foi aplicado um questionário
a 30 docentes. As respostas foram analisadas qualitativamente, empregando-se
a técnica de análise de conteúdo. Foram identificados seis eixos em torno dos
quais foram aglutinadas as expectativas dos docentes: segurança alimentar e
nutricional, qualidade de vida, problema alimentar, processo de cuidado
nutricional, papel profissional/interdisciplinaridade e conteúdos técnicos
específicos. As conclusões apontam a necessidade de o ensino ultrapassar a
ministração de conteúdos estritamente técnicos, pois ele deve preparar o aluno
para analisar criticamente as situações que exigem intervenções específicas do
campo da nutrição e para agir interdisciplinarmente.
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Normas de publicação Enfermagem Brasil
A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação
de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem.
Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão
também ser publicados na versão eletrônica da revista
(Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals,
N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) preconizado pelo Comitê
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo
em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), http://
www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das
seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica
entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o
que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou
retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações
nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o
conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico,
ou por um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato
A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas
as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito,
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica
apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a
aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise
descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura
é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução,
Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12
páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman)
tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve
ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no
formato Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse
profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade
literária do texto.
3. Revisão
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas
relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir,
analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já
publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do
trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais.
4. Atualização
São trabalhos que relatam informações geralmente
atuais sobre tema de interesse dos profissionais de
Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que
têm características distintas de um artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigos dados descritivos de um ou mais casos
explorando um método ou problema através de exemplo.
Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação
de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos,
com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista,
com condições de argumentação mais extensa que na seção
de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três
páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho
12, com todas as formatações de texto, tais como negrito,
itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel
e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam
ser editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15
referências bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e
artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo
do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de
outros idiomas.
8.Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam
relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada
ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas
ou figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word), em página de formato A4,
formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman,
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobrescrito, etc.
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1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas
para cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo
com as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais
coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300
dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos
formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão,
conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela
tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também
das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética
(disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com
etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e
autor, incluir informação dos arquivos, tais como o
processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação
curricular e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência,
com o respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40
toques, para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3.Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem
ter participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a
redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de
pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês
e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de
maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão
utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores
em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se
encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br.
Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final
do artigo, antes as referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,
letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto,
In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do
livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e
vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplos:
Livro:
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and
management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995.
p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)
autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem
espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista
ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do
volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação
List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das
revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de
Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos
os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a
abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression
and localization of urokinase-type plasminogen activator
receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Calendário de eventos
2004
6 a 8 de maio
VI Simpósio Brasileiro de Vacinas
Curitiba – PR
Informações: (41) 3022-1247
[email protected]
Maio
21 a 25 de junho de 2004
II Congresso Internacional de Enfermagem do Trabalho
III INTERENENT – Encontro Internacional de Enfermagem
do Trabalho
XI ENENT – Encontro Nacional de Enfermagem do Trabalho
UNIBAN – São Paulo - SP
Informações: (11) 5507-2857
www.anent.org.br
12 e 13 de maio
II Fórum da Economia da Saúde
Pestana São Paulo Hotel – SP
Informações: (11) 3059-5190
www.networkingservocos.com.br
13 a 15 de maio
V Congresso Brasileiro de Bioética
Centro de Convenções do Mar Hotel – PE
Informações: (81) 3463-0871
www.cro-pe.org.br/bioetica/
XI Congresso da Sociedade Cubana de Enfermagem
I Colóquio Saúde Familiar e os Enfermeiros
II Simpósio Necessidades, Tendências e Desafios na
Formação de Recursos Humanos de Enfermagem
Centro de Convenções Plaza América – Varadero – Cuba
Informações: Astrea Operadora Turística (11) 3259-7874
www.astreaturismo.com.br
15 de maio
Reunião Científica – SOBENDE
Auditório do Hospital Santa Cruz – SP
Informações: (11) 3726-4420
www.ellusaude.com.br
16 a 21 de maio
15º Biennial Congress – World Council of Enterostomal
Therapists
Florianópolis – SC
Informações: 55 11 5081-7718
www.espansaoeventos.com.br
[email protected]
28 de maio
4º Encontro de Enfermagem Obstétrica e Neonatológica
da Maternidade
Sinhá Junqueira – Palace Hotel
Ribeirão Preto – SP
Informações: (16) 610-0425
[email protected]
1 a 4 de junho
11º Feira Hospitalar
Expo Center Norte – SP
Informações: (11) 3897-6191
www.hospitalar.com
9 a 12 de junho
X Jornadas de Enfermería Laboral
Mendoza – Argentina
Informações: www.smt-mza.org.ar
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112
19 a 23 de junho
VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia
Recife – PE
Informações: (81) 3227-1902
www.congressoepidemiologia2004.com.br
Junho
2 e 3 de julho
III Simpósio da Sociedade Brasileira de Enfermagem
em Oftalmologia
Centro de Convenções de Ribeirão Preto – SP
Informações: (17) 235-7014
www.cenacon.com.br
Julho
31 de julho a 2 de agosto
IV Simpósio Internacional de Esterilização e Controle
de Infecção Hospitalar
III Curso de Implantes e Equipamentos em
Ortopedia, Bucomaxilo, Cirurgia Plástica e
Neurocirurgia
Centro de Convenções Rebouças – SP
Informações: SOBECC – (11) 3341-4044
www.sobecc.org.br
Agosto
18 a 21 de agosto
1º Congresso Brasileiro de Enfermagem em Infectologia
Santos – SP
Informações: (11) 3721-9333
www.ellusaude.com.br
30 de agosto a 3 de setembro
IX Congresso Brasileiro de Controle de
Infecção de Epidemiologia Hospitalar
Salvador – BA
Informações: (71) 341-3024
www. Controledeinfeccao.com.br
Informações: (11) 3257-4386
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EnfermagemBrasil
Maio / Junho 2004;3(3)
Índice
Volume 3 número 3 - Maio / Junho de 2004
EDITORIAL
As práticas de enfermagem, Os Editores .......................................................................................................... 115
A RTIGOS ORIGINAIS
No domicílio: orientações e cuidados de enfermagem em pacientes diabéticos,
Danilo Figueira Gonçalves, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda ................................................................. 116
A memória da assistência da equipe de enfermagem aos clientes HIV positivo
num Hospital Universitário do Rio de Janeiro (1983 – 1987), Claudia de Carvalho Dantas,
Josete Luzia Leite ......................................................................................................................................................... 121
O ser humano em coma e a comunicação verbal: quando o silêncio da equipe de enfermagem
é uma forma de violência no ato de cuidar, Mariana Gomes Cardim, Marcio Martins
da Costa, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Nébia Maria Almeida de Figueiredo .............................. 131
R EVISÕES
Saúde da família: estratégia de ensino para graduação em enfermagem,
Marialda Moreira Christoffel, Valeria de Oliveira Monteiro ............................................................................... 138
Proposta de instrumento de coleta de dados em consulta de enfermagem em ginecologia
e pré-natal, Dulce Aparecida Siviero Franco, Milena Butolo Vido ................................................................. 145
Atualização em tuberculose, Rodrigo Grazinoli Garrido, Fabíola de Sampaio Rodrigues .................... 152
Ocorrência de tinea pedis em um grupo de idosos e fatores relacionados,
Larissa Chaves Pedreira, Rose Ana Rios David, Cléa Marques Bittencourt, Carine Jatobá ......................... 159
O cuidado de enfermagem e as ciências que nele incidem,
Maria Aparecida de Luca Nascimento .................................................................................................................... 165
N ORMAS DE PUBLICAÇÃO. .................................................................................................................. 170
C ALENDÁRIO DE EVENTOS................................................................................................................... 172
!
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EnfermagemBrasil
Maio / Junho 2004;3(3)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
CONSELHO CIENTÍFICO
Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
a
a
Prof . Dr . Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP – Ribeirão Preto)
Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
GRUPO DE ASSESSORES
Profa Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
Profa Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe)
Profa Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe)
Profa. Dra. Márcia Maria Fontão Zago (USP – Ribeirão Preto)
Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Rio de Janeiro
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
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São Paulo
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EnfermagemBrasil
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Editorial
As práticas de enfermagem
Os Editores
As práticas de Enfermagem na atualidade
não se resumem apenas a técnicas generalizadas,
é preciso oferecer um atendimento de nível aos
clientes. E para isso, precisamos de uma
compreensão de todo contexto histórico, político
e cultural da profissão.
O propósito da Enfermagem Brasil é
promover uma ampla mobilização em prol da
Enfermagem no país e mundo, através dos
diversos artigos recebidos por especialistas. Isso
demonstra o compromisso com as questões de
saúde, pois independente das questões sociais,
esses grandes profissionais da saúde, têm muito
a contribuir atuando dentro de seu contexto,
minimizando a dor e o sofrimento de muitos
seres humanos.
Nesta edição da Enfermagem Brasil,
apresentamos trabalhos originais como: o ser
humano em coma e a comunicação verbal:
quando o silêncio da equipe de enfermagem é
uma forma de violência no ato de cuidar,
orientações e cuidados de enfermagem em
pacientes diabéticos no domicílio, a memória
da assistência da equipe de enfermagem aos
clientes HIV positivo num Hospital do Rio de
Janeiro. Contamos também com os resumos:
o cuidado de enfermagem e as ciências que nele
incidem, sobre a atualização em tuberculose, a
proposta de instrumento de coleta de dados
em consulta de enfermagem em ginecologia e
pré-natal, sobre a saúde da família e a estratégia
de ensino para graduação em enfermagem e a
ocorrência de tinea pedis em um grupo de
idosos e fatores relacionados.
Gostaríamos de aproveitar, para
agradecer aos nossos colaboradores os
inúmeros artigos enviados, a Major Enfermeira
refor mada do Exército Elza Cansação
Medeiros pela gentileza em ceder a foto da
capa, a nossa querida Dra. Maria Aparecida
de Luca Nascimento pelo apoio e dedicação
incondicional a nossa causa e aos milhares
de assinantes que participam no sucesso
desta publicação.
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Artigo original
No domicílio: orientações e cuidados de
enfermagem em pacientes diabéticos
Danilo Figueira Gonçalves*, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda, D.Sc.**
*Enfermeiro Mestrando em Gestão Educacional e Especialista em Gestão de Sistemas e Serviço de Saúde e em Pedagogia na Enfermagem,
**Coordenador do Curso de Graduação em Enfermagem na Universidade Norte do Paraná
Resumo
O presente estudo apresenta resultados parciais, coletados no período de setembro de 1999 a agosto de 2000, do Projeto de
Pesquisa e Extensão denominado “Orientações e cuidados de enfermagem aos portadores de diabetes mellitus no domicílio”.
A amostragem é composta por 18 domicílios, aonde foram realizadas 4 visitas por domicílio. Constatou-se que 100% são
aposentados, enfrentam dificuldades de acesso e aquisição de medicamentos específicos ou outros nos serviços de saúde.
Destes, 95,23% são mulheres exercendo algumas atividades domésticas e 25% detêm escassas informações sobre o seu
adoecimento e as formas de prevenir as complicações.
Palavras-chave: idoso, enfermagem, assistência, saúde.
Abstract
At home: nursing guidance and care
The present study presents partial results, collected from September 1999 to August 2000, of the Research and Extension
Project called “Nursing home guidance and care to patients with diabetes mellitus”. The sampling is composed of 18 homes,
where 4 visits per house were carried out. It was confirmed that 100% are retired and face access and acquisition difficulties
to buy specific or non-specific medicines in health services. Of these, 95.23% are women performing some domestic activities
and 25% withhold scarce information about their illness and way to prevent complications.
Key-words: elderly, nursing, assistance, health.
Artigo recebido em 24 de março de 2004; aceito em 25 de maio de 2004.
Endereço para correspondência: Danilo Figueira Gonçalves, Rua Marabú, 1641
Centro 86701-400 Arapongas PR, E-mail: [email protected]
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Resumen
En domicilio: Orientaciones y cuidados de enfermería
El actual estudio presenta resultados parciales, colectados en el periodo de Septiembre de 1999 a Agosto de 2000, del
Proyecto de Pesquisa y Extensión denominado “Orientaciones y cuidados de enfermería a los portadores de diabetes
mellitus en domicilio”. La muestra es compuesta de 18 domicilios donde fueron realizadas 4 visitas por domicilio. Se constató
que 100% son jubiladazos, enfrentando dificultades de acceso y adquisición de medicamentos específicos o no específicos en
los servicios de la salud. De estos, 95.23% son mujeres que ejecutando algunas actividades domesticas y 25% detienen
escasas informaciones sobre su enfermedad y las formas de prevenir las complicaciones.
Palabras-clave: adulto mayor, enfermería, asistencia, salud.
Introdução
O recorte adotado no estudo assim como no
projeto diz respeito ao Diabetes Mellitus do tipo II.
No desenvolvimento do mesmo, na comunidade e no
domicílio, os demais tipos também foram detectados
e receberam orientações e encaminhamentos para os
serviços de saúde do Município.
Procuramos compreender o que é envelhecer?
Para alguns autores, o envelhecer é um processo
universal, que deteriora o organismo
progressivamente até torná-lo incapaz de enfrentar
as circunstâncias e condições do seu meio [1], e
abrange não só alterações fisiológicas, mas também
psicológicas e sociais [2].
O processo de envelhecimento, para Perez [1],
inicia-se entre 20 e 30 anos de idade, quando o
organismo atinge sua plena maturidade e o tempo
invariavelmente começa a produzir as modificações
morfológicas e fisiológicas no ser humano,
independente de raça. Embora apresentem
variações neste processo.
Relatos de literatura sobre o envelhecimento
humano mostram que a enfermagem despertou
para o cuidado do idoso a partir da década de 1970
através dos estudos [3,4].
A partir destas considerações também
procuramos, neste trabalho, analisar os dados já
coletados e parcialmente analisados, como os
portadores de diabetes mellitus compreenderam
e incorporaram em sua cotidianidade as
orientações e os cuidados de enfer magem
específicos prestados. Esclarecemos que esta
preocupação é decorrente da necessidade de
medidas viáveis de manutenção e prevenção das
complicações decorrentes deste adoecimento.
Consideramos o diabetes mellitus como uma
das doenças que mais afetará a população no
Terceiro Milênio, com prevalência do diabetes tipo
II [40%]. Fato este associado à obesidade e ao
processo de envelhecimento populacional.
Nesta perspectiva, consideramos epidemiologicamente o diabetes mellitus como uma doença
especialmente prevalente nos mais idosos.
Consideramos, idosos, as pessoas com idade igual
e/ou acima de 65 anos.
Dados do último Censo Nacional sobre
Diabetes revelou que em nove capitais brasileiras
cerca de 7,6% da população são diabéticos. Desses,
90% estão incluídos na categoria dos não
insulinodependentes enquanto 10% são
insulinodependentes incluindo-se ai todos aqueles
com menos de 30 anos de idade e 7,9% dos demais.
Além disso, aponta ainda que metade das pessoas
portadoras desta doença desconhece tal condição
e que aproximadamente um quinto dos que a
conhecem não recebe qualquer tratamento [5].
Norteados pelas constantes leituras mencionadas
por nós sinteticamente traçamos os seguintes
objetivos para este trabalho.
Objetivos
A escolha pelas orientações e cuidados de
enfermagem no domicílio tem como argumentações
ou metas a revalorização do atendimento de
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enfermagem no domicílio através das visitas
domiciliares. E ainda: revitalizar o conceito de
cuidado como um valor humano e como núcleo e
campo de atuação da enfermagem na perspectiva
multidisciplinar, quer nos serviços de saúde, na
comunidade, respeitando-se os cuidadores leigos e
os aspectos macroestruturais tais como, os
econômicos, sociais, psicológicos e religiosos e os
ditados pela cultura que pertença, num enfoque
humanístico, portanto bioético.
Valorizar o atendimento de enfermagem no
domicílio. Dessa forma, acreditamos valorizar o
projeto de pesquisa e extensão e o processo ensino
aprendizagem, através da divulgação e propagação
dos resultados nos moldes do conhecimento
científico. Reconhecemos que as experiências com a
situação de ouvinte e cuidados desses sujeitos seja
uma experiência vivida para os indivíduos.
Material e Métodos
A pesquisa foi realizada no Município de
Arapongas, com abrangência nos seguintes bairros:
Jardim Aeroporto, Jardim Universitário e Jardim
Primavera, cujos dados sobre os pacientes foram
colhidos, inicialmente, do fichário do Posto Médico
do Centro Social Urbano Lucy Geisel. O referido
ambulatório faz parte da rede pública de saúde do
Município.
A amostra deste estudo foi constituída por
dezoito pessoas portadoras de diabetes mellitus
tipo II, que também pode ser entendido, como
dezoito domicílios uma vez que os dados obtidos
derivaram do Projeto de Extensão e Pesquisa,
como dito anteriormente.
Segundo informações da Secretaria Municipal
de Saúde - SEMUS, através do Programa Saúde da
Família o registro dos pacientes portadores de
diabetes no município é de 1.050 sendo que
cadastrados 980 no PSF. Desse contingente, ainda
sendo tabulado pela SEMUS, não tem o quantitativo
com relação ao tipo II.
Os critérios estabelecidos para que os sujeitos
participarem da pesquisa foram os seguintes:
• Estarem cadastrados na UBS na sua área de
abrangência;
• Ser morador dos respectivos bairros;
• Ser portador realmente de diabetes mellitus
tipo II.
Para efeito de anonimato e as implicações éticas
e legais, utilizamos pseudônimos com nome de
flores para os sujeitos participantes do estudo.
Ainda, neste estudo foram observadas as normas
para a pesquisa envolvendo seres humanos, de acordo
com a Resolução 196/96, especialmente no que ser
refere ao consentimento livre e esclarecido,
assegurando-se plena liberdade de participação ou não
da pesquisa [6].
Resultados e discussão
Ao conciliarmos a metodologia adotada e a
análise a partir dos relatos dos sujeitos da pesquisa,
construímos e agrupamos os pontos relevantes para
esse estudo que foram apresentados num quadro
demonstrativo na tentativa de compreender a
realidade estudada, a partir dos relatos dos sujeitos
da pesquisa.
Para Triviños [7], a análise interpretativa
fundamenta-se em três aspectos importantes os
quais dizem respeito aos resultados alcançados, no
estado (respostas aos instrumentos, idéias dos
documentos, etc); na fundamentação teórica, obtida
através do manejo dos conceitos, chave das teorias
e de outros pontos de vista e na experiência pessoal
de investigador.
Seguindo esta perspectiva metodológica,
consideramos a que proporciona maior liberdade
de expressão ao entrevistado.
Após leitura e releitura, fizemos um
mapeamento dos depoimentos agrupados. Para três
grandes eixos que se subdividiam: Nível biológico
(sono/repouso e vício), nível afetivo (sexualidade/
reprodução) e o processo saúde - doença
(manutenção de saúde, outra doença associada, uso
de remédio caseiro, medicamento em uso e desejo
de participar de grupo de auto-ajuda).
Ao analisarmos os quarenta e um domicílios
cadastrados pela listagem do serviço médico do
Centro Social Urbano Lucy Elisel referente à
distribuição de seringas, insulinas e visitas,
inicialmente seis não eram diabéticos, seis
mudaram-se para outro município, ou o endereço
informado não conferia e três morreram dias após
o cadastramento, totalizando dezoito pacientes por
domicílio assistido pelo projeto. Destes, foram
realizados quatro visitas que corresponderam a
setenta e duas visitas domiciliares. Os dados
levantados e analisados por nós são expressos em
freqüência simples, e visualizados em gráficos.
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Constatamos que 100% são aposentados e que
enfrentam dificuldades de acesso e aquisição de
medicamentos específicos ou outros nos serviços
de saúde. Destes, 95,23% são mulheres exercendo
algumas atividades domésticas e 25% detêm escassas
informações sobre o seu adoecimento e as formas
de prevenir as complicações, em especial os cuidados
com os pés.
Gráfico 1 - Sono / repouso.
Quanto ao nível biológico com destaque para
o sono e o repouso, das 18 entrevistas analisadas,
no gráfico 1, 50% apresentavam insônia (9); 17%
usavam ansiolíticos (3); e 33% referiram um padrão
regular de sono e repouso (6). Ao olharmos esses
achados constatamos que os nove idosos que
referiram insônia somando aos três que usam alguns
tipo de ansiolítico juntos totalizam 67% da amostra,
podemos inferir que para este grupo pesquisado eles
apresentam uma irregularidade no padrão de sono
e repouso.
Gráfico 2 - Remédio caseiro.
No que se refere ao uso de remédio caseiro
expresso no gráfico 2, 56% (10) referiram não usar
nenhum tipo e 44% (8) referiram fazer uso de
algum tipo de fitoterapia para o eventual controle
do diabetes. Acreditamos, em princípio, que a
confir mação desta prática cultural fosse
predominante, por ser uma característica dessa
faixa etária como um legado de modelo
homeopático e, ainda, por ser uma região agrária,
em especial à cafeicultura. Sobre estes dados,
inferimos que pode ter ocorrido sonegação
de infor mação por razões diversas que
desconhecemos no momento.
Gráfico 3 - Grupo de ajuda mútua.
No gráfico 3, notamos que 78% (14)
manifestaram opinião favorável em participar do
grupo de auto-ajuda, sendo que os demais, 22% (4)
não manifestaram opinião. Lembramos que
apresentam baixa escolaridade sendo atribuído a este
dado a não adesão a este tipo de atenção. Os que
manifestaram opinião favorável solicitaram que as
reuniões, assim entendidas, pela maioria, fossem
realizadas em espaços neutros independentes de
templos religiosos. Na área existem vários templos
evangélicos, em especial, os neopentecostais e
católicos. Entendemos que essas preocupações é
um sinal positivo para a implantação do grupo de
auto-ajuda, afastando qualquer possibilidade de
conflitos religiosos e de pontos de vistas e, assim,
garantindo o sucesso do provável grupo.
Conclusão
O envelhecimento é uma etapa fundamental
na vida dos seres vivos, portanto ele é fisiológico e
esperado, todavia padrões comportamentais e de
saúde são cobrados do idoso e, que nem sempre
podem responder positivamente [8]. O diabetes
mellitus é uma prevalência no Brasil [1], merecendo
da parte do Ministério da Saúde uma Campanha
Nacional, realizada em março do ano em curso. Tal
preocupação é decorrente das complicações tardias
com comprometimentos de órgãos e sistemas
incidindo na piora acentuada da qualidade de vida
do portador, em especial o tipo II.
Cabe a nós, enfermeiros, estarmos atentos às
alterações que acompanham este processo e
sabermos interpretá-las e distinguí-las, ou seja, não
nos preocupamos só com a doença que propiciou
o desgaste de um sistema orgânico, mas também
diferenciá-la e saber interpretar o que decorreu
destas alterações manifestas e assistir o paciente
como um todo. Não valorizar somente a patologia
e sim vislumbrar que o ser humano é uma conversão
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de emoções, sensações, de alterações físicas,
anatômicas e fisiológicas, que freqüentemente não
estão associados somente à causa da hospitalização,
mas é uma associação entre a doença, o estar doente,
o processo de cuidar e a recuperação da saúde.
3.
4.
5.
6.
Referências
1.
2.
Perez EA. Analises comparativo del envejacimiento en
Brasil, Colombia, el Salvador, Jamaica y Venezuela;
OPAS; 1993.
Veras MB. Desenvolvimento de comunidade: estudo
da integração do planejamento do desenvolvimento de
comunidade no planejamento do desenvolvimento
global. 2a ed. São Paulo: Cortez; 1978.
7.
8.
Horta W. Processo de Enfermagem. São Paulo: EPU;
1979.
Alvarez ME. Organização, Sistemas e Métodos. São
Paulo: McGraw-Hill; 1990.
Brasil. Ministério da Saúde. Censo de diabetes.
Resultados. Brasília: MS; 1992.
Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de
Saúde. Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996 dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos.
Brasília: MS; 1996. 18 p.
Triviños ANS. Introdução à pesquisa em ciências
sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo:
Atlas; 1990.
Glashan RQ, Santos MC, Oliveira AP. Perfil do idoso
internado em unidade clínica de um hospital geral
universitário da grande São Paulo, com vistas à
enfermagem. São Paulo: ACTA- Paulista de
Enfermagem 1999;12(2):94-105. K
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Artigo original
A memória da assistência da equipe de
enfermagem aos clientes HIV positivo num
Hospital Universitário do Rio de Janeiro
(1983 – 1987)
Claudia de Carvalho Dantas*, Joséte Luzia Leite**
* Enfermeira, Mestranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ),
Membro do Núcleo de Pesquisa Educação, Gerência e Exercício Profissional (NUPEGEPEn), ** Enfermeira Emérita da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (Ex-UNIRIO), Membro da Diretoria do (NUPEGEPEn), Pesquisadora 1A do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Resumo
Trata-se de um estudo descritivo, imbuído de caráter histórico-social, inserido na linha de pesquisa: HIV/AIDS – Saber –
Paradigmas – Modelos assistenciais. Tem por objetivo resgatar a assistência prestada pela equipe de enfermagem à clientela
soropositiva para HIV, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (1983-1987). As fontes primárias consistiram nos
depoimentos de quatro enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem colhidos através de entrevista aberta, gravada em fita
magnética. As fontes secundárias foram os livros de história do Brasil e do mundo e estudos sobre história da enfermagem,
HIV/AIDS e assistência de enfermagem. Tais fontes foram coletadas no primeiro semestre de 2003 sendo submetidas à
Análise de Conteúdo de Bardin. Evidenciou-se uma enfermagem de atuação ímpar que contribuiu para que o HUGG se
tornasse na primeira instituição do Rio de Janeiro a cuidar de clientes com AIDS com dignidade e respeito.
Palavras-chave: história da enfermagem, HIV/AIDS, assistência.
Abstract
The memorial of the nursing team assistance to the HIV positive clients in a
University Hospital of Rio de Janeiro (1983 – 1987)
It is a descriptive study, imbued with historical-social nature, inserted in the line of research: HIV/AIDS – Knowledge –
Paradigms – Assistance models. The main objective is to recover the assistance given by the nursing team to the HIV
seropositive clients, in the Gaffreé Guinle University Hospital (1983 – 1987). The primary sources consisted in the testimony
of four nurses and four nursing assistants collected through an open interview, recorded in magnetic tape. The secondary
sources were the history books of Brazil and the world, studies about nursing history, HIV/AIDS and nursing assistance.
Artigo recebido em 10 de maio de 2004; aceito em 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Atlântica Editora. Rua da Lapa, 180/1103
Lapa - 20021-180 Rio de Janeiro RJ
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Such sources were collected in the first semester of 2003 and were submitted to the Analysis of Content of Bardin. It
evidenced a nursing with unique performance that contributed in order that the HUGG would become the first institution
of Rio de Janeiro taking care of clients with AIDS with dignity and respect.
Key-words: nursing history, HIV/AIDS, assistance.
Resumen
En domicilio: Orientaciones y cuidados de enfermería
El actual estudio presenta resultados parciales, colectados en el periodo de Septiembre de 1999 a Agosto de 2000, del
Proyecto de Pesquisa y Extensión denominado “Orientaciones y cuidados de enfermería a los portadores de diabetes
mellitus en domicilio”. La muestra es compuesta de 18 domicilios donde fueron realizadas 4 visitas por domicilio. Se constató
que 100% son jubiladazos, enfrentando dificultades de acceso y adquisición de medicamentos específicos o no específicos en
los servicios de la salud. De estos, 95.23% son mujeres que ejecutando algunas actividades domesticas y 25% detienen
escasas informaciones sobre su enfermedad y las formas de prevenir las complicaciones.
Palabras-clave: adulto mayor, enfermería, asistencia, salud.
Introdução
Trata-se de um estudo histórico-social, inserido
na linha de pesquisa: Saber – Paradigmas – Modelos
assistenciais, cujo enfoque reside na investigação de
questões concernentes à trajetória histórica da
assistência de enfermagem à clientela portadora do
Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
Justifica-se a realização desta pesquisa tendo
em vista a escassez de literaturas acerca da assistência
de enfermagem desenvolvida ao cliente portador
do HIV. Concomitante a este fato soma-se o intento
de completar lacunas no que tange à história desta
profissão, com vistas a contribuir para delineamento
dos primeiros registros de sua assistência aos
soropositivos para HIV, no Hospital Universitário
Gaffrée e Guinle (HUGG). Neste sentido,
“construir a memória da enfermagem e analisar
criticamente a história das enfermeiras e da
enfermagem é um desafio a ser enfrentado
crescentemente. Para tanto, o registro sistematizado
da história da enfermagem nas diversas faces e fases
desenvolvida nas diferentes regiões do mundo,
poderá ser um exercício de autoconhecimento dos
enfermeiros com conseqüente explicação de sua
identidade enquanto profissão” [1].
Neste contexto, este trabalho tem por objetivo
resgatar a assistência prestada pela equipe de
enfermagem à clientela soropositiva para HIV, no
Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, localizado
no Estado do Rio de Janeiro, no período de 1983 a
1987. Como forma de lograr o objetivo proposto
optou-se por um estudo descritivo, de caráter
histórico-social, no qual utilizou-se a História Oral
Temática como abordagem metodológica. A escolha
por esta metodologia torna-se apropriada uma vez
que, “a história oral é um método, que permite
estudar acontecimentos históricos, instituições,
grupos sociais, categorias profissionais e
movimentos à luz de depoimentos de pessoas que
deles participaram ou testemunharam” [2].
Os sujeitos desta pesquisa foram quatro
enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem que
trabalharam no HUGG no período de 1983 a 1987
com a clientela soropositiva para o HIV. Selecionouse como cenário o HUGG pelo fato deste ter sido
o “pioneiro no atendimento a pessoas portadoras
de AIDS no Rio de Janeiro” [3], além de não existir
registro da assistência desenvolvida pela
enfermagem a tais clientes nesta instituição.
O recorte temporal da pesquisa compreendeu
o período de 1983 a 1987, justificando-se a primeira
data pelo fato de ter sido o ano em que foi atendido
no HUGG, em sistema ambulatorial, o primeiro
cliente soropositivo para HIV [4]. E, como marco
final, o ano de 1987, pelo fato de ter sido o ano de
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credenciamento desta instituição como Centro de
Referência em AIDS [4].
As fontes primárias e secundárias foram
coletadas no primeiro semestre de 2003. As fontes
primárias correspondem aos discursos proferidos
pelos enfermeiros e auxiliares que participaram do
estudo. Enquanto fontes secundárias utilizaram-se
dos livros de história do Brasil e do mundo e estudos
pertinentes ao objeto investigado: HIV/AIDS,
cuidado e história.
Os depoimentos orais foram obtidos através de
entrevista aberta, com roteiro pré-estabelecido,
gravados em fita magnética. A seleção de tais
profissionais deu-se mediante o estabelecimento de
um profissional que consistiu no ponto zero - consiste
num depoente que conheça a história do grupo ou
com quem se quer fazer a entrevista central [5] - da
pesquisa. A partir deste, foi solicitado ao término de
cada entrevista que o entrevistado apontasse o nome
de outro(s) profissional(ais) bem como pelo menos
um meio de comunicação com os mesmos (telefone,
e-mail, endereço residencial e/ou de trabalho) para
dar continuidade as demais entrevistas.
Sendo a entrevista uma das etapas fundamentais
para a concretização desta pesquisa, utilizei o critério
sugerido por José Carlos Sebe Bom Meihy [5].
Segundo este autor a “entrevista possui degraus: préentrevista, entrevista e pós-entrevista”. Tais degraus
foram delineados de acordo com os propósitos do
estudo, como segue:
em um caderno de campo, constando as seguintes
informações [5]: quando foram feitos os contatos;
estágios para se chegar a pessoa entrevistada; como
ocorreu a gravação; eventuais incidentes de percurso;
e impressões durante a entrevista inerentes ao
ambiente e ao entrevistado.
1. Pré-entrevista
Esta etapa é a que procede a realização da
entrevista. Nesta etapa foram agendados com os
entrevistados um dia, local e hora para um
encontro, onde foram devolvidos os depoimentos
transcritos aos sujeitos para que aprovassem.
Aqueles que sentiram a necessidade de realizar
algumas modificações no texto foram atendidos e
um novo encontro foi agendado para releitura e,
posteriormente, foram aprovados para utilização
na pesquisa.
Cumpre ressaltar que o quantitativo de
depoimentos foi determinado de acordo com o
princípio do ponto de saturação, onde “Nós
começamos a fazer entrevista e em um determinado
momento, esgotamos aquele universo. Quando
começamos a repetir informação, é o sinal de que
aquele circuito de informação se esgotou, que já
sabemos tudo o que podíamos saber” [8].
No que se refere às questões ético-legais foi
encaminhado a Comissão de Ética do HUGG um
Este momento correspondeu à etapa de
preparação do encontro em que se deu a gravação.
Assim, contatamos primeiramente o sujeito ponto
zero, explicando-lhe os propósitos da pesquisa,
elucidando todos os aspectos da mesma no que
tange ao objeto de estudo, gravação da entrevista,
transcrição, carta de cessão, garantia do anonimato.
Ao término, solicitamos a participação do mesmo
enfatizando a importância da participação deste para
o sucesso da pesquisa. Mediante o aceite em
contribuir, agendei de acordo com as possibilidades
de ambos (entrevistador e entrevistado) uma data,
hora e um local apropriado para realização da
mesma. Quando da possibilidade, a entrevista era
realizada após as elucidações sobre o estudo.
As informações inerentes à realização das
entrevistas bem como aos trâmites relacionados ao
desenvolvimento do projeto, estes foram registrados
2. Entrevista
Esta etapa consistiu na realização da entrevista
propriamente dita, de acordo com o dia, local e hora
agendados entre pesquisador e sujeito. Antes de
iniciar a gravação, foram novamente elucidadas e
respondidas questões inerentes à pesquisa. Ao
término das entrevistas, as mesmas foram
prontamente transcritas, utilizando-se dos seguintes
critérios [6,7]: as passagens pouco audíveis foram
colocadas entre colchetes; dúvidas, silêncios,
rupturas sintáticas foram assinaladas por reticências;
as pessoas citadas foram designadas por iniciais;
palavras com forte entonação foram grafadas em
negrito; foram corrigidos em notas os erros
flagrantes por parte do entrevistador (datas,
nomes...) e, por fim, uma vez terminada a
transcrição, o texto foi submetido a um copidesque,
onde foram abolidas as repetições, corrigidos erros
de português e de pontuação, sem comprometer o
sentido do texto.
3. Pós-entrevista
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documento com o projeto monográfico em anexo
a fim de obter a devida autorização para realização
da pesquisa em suas dependências. E, para os
sujeitos do estudo, foi fornecido um termo de
consentimento livre e esclarecido antes da realização
da entrevista.
As fontes primárias foram submetidas à
Análise de Discurso proposta por Bardin que
consiste num “conjunto de instrumentos
metodológicos que se aplicam ao discurso
diversificado (...) com a finalidade de descrever
objetivamente e sistematicamente o conteúdo
manifesto da comunicação”. Este método dividese em três fases distintas: pré-análise, exploração
do material e análise e interpretação das informações
[9]. Portanto, na primeira fase após a transcrição
literal de todas as entrevistas, realizou-se recortes
do texto com o objetivo de delinear os temas para
análise temática. Ainda nesta fase foi realizada uma
organização das falas. Na fase de exploração do
material foram realizadas sucessivas leituras e
agrupamentos de idéias imergindo temas que
consistiram na última fase, a interpretação das
informações colhidas.
Hospital Universitário Gaffrée e Guinle:
da inauguração ao primeiro portador do HIV
O cenário escolhido para protagonizar o
resgate da assistência desenvolvida pela equipe de
enfermagem aos clientes soropositivos para o HIV,
foi o HUGG localizado no Estado do Rio de Janeiro
(1983 a 1987). Em virtude da escassez de
documentos acerca deste hospital, valemos - nos
de alguns documentos encontrados na própria
instituição e da memória de alguns dos profissionais
que trabalham na mesma, que foram devidamente
anotados em caderno de campo.
A Fundação Gaffrée e Guinle foi inaugurada
em 1° de novembro de 1929, tornando-se o maior
e mais moderno hospital da Capital Federal, com
seus 450 leitos, distribuídos em 12 enfermarias e
quartos particulares, ambulatórios para 1000
atendimentos diários, 12 salas de cirurgia e duas salas
de parto [10]. O Gaffrée tornou-se um respeitado
centro de tratamento e pesquisa de doenças venéreas
ao longo da década de 30 e 40, sediando, inclusive,
a 1ª Conferência Nacional de Defesa Contra a Sífilis.
Entretanto, no final dos anos 30, enfrentava
dificuldades financeiras. Vários foram os fatores que
permearam tal dificuldade, dentre eles a descoberta
dos antibióticos na metade dos anos 40, que
diminuiu consideravelmente a incidência das
doenças sexualmente transmissíveis, bem como a
ampliação da rede de hospitais públicos, gratuitos,
os quais também contribuiu para lhe tirar pacientes,
diminuindo o número de atendimentos [4].
Como forma de amenizar as dificuldades de
caráter financeiro, a Fundação Gaffrée e Guinle
passou a alugar dependências do próprio hospital a
outras instituições. Dentre aquelas que fizeram
acordos encontram-se: o Serviço Nacional do
Câncer, a Biometria Médica do Ministério da Saúde
e a Escola de Medicina e Cirurgia que somente foi
incorporada ao hospital mais tarde. Entretanto,
apesar do Gaffrée encontrar-se com todas as suas
instalações ocupadas, o mesmo permanecia ainda
deficitário. Em dezembro de 1963, através de um
decreto do presidente João Goulart, o Gaffrée foi
desapropriado com vistas a anexá-lo à Escola de
Medicina e Cirurgia (da atual Universidade do Rio
de Janeiro). Contudo, Jango foi deposto do poder
através do golpe de março de 1964 [11], deixando
apenas dentro da escola uma corrente de professores
contrários à incorporação. Somente em Janeiro de
1966, vencidas as disputas políticas, a velha escola
finalmente receberia o velho hospital [4].
A incorporação da Escola de Medicina a
Fundação Gaffrée e Guinle foi benéfica para ambos
uma vez que esta união possibilitou a ampliação de
vários serviços bem como a construção de um
centro cirúrgico, possuindo neste momento um total
de 40 leitos particulares, 300 leitos de enfermarias e
50 salas de ambulatório.
Ao longo dos anos 70, apesar de ter sido o
período denominado de Milagre Econômico onde
o Brasil recebe vultuosos financiamentos externos
visando a compra do petróleo e o financiamento
de obras de infra-estrutura nacional [11], o Gaffrée
encontrava-se em dificuldades, se reerguendo
apenas no começo dos anos 80 mediante um
convênio com o INAMPS (Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência Social) em 1982,
passando a atender os segurados da Previdência
Social. O Gaffrée demorou a realizar o convênio
com o INAMPS por conseqüência de uma forte
resistência na Escola de Medicina e Cirurgia uma
vez que se temia que a massificação do atendimento
prejudicasse o ensino [4].
Cumpre ressaltar que os convênios com
hospitais particulares foram estabelecidos,
principalmente, a partir da década de 70 quando,
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então, a assistência médica passou a ser valorizada,
criando-se em 1974 o Ministério da Previdência e
Assistência Social. Em 1977 cria-se o SINPAS onde
pela primeira vez na história da política de saúde
separou-se os benefícios da assistência médica. A
partir de então o INAMPS, um dos órgãos que integra
o SINPAS, passa a ser o “ralo” de saída de dinheiro
da Previdência Social. Este Instituto passa a fazer
convênios com hospitais privados, não ampliando a
rede hospitalar pública para os trabalhadores com
carteira assinada [12]. Para se ter uma idéia, na década
de 50, aproximadamente 66% da capacidade leito/
hospital era pública e cerca de 33% era particular. Ao
final da ditadura militar esta situação inverteu-se.
Assim, durante a transição da década de 70 para a
década de 80, o Brasil vivia um quadro de intensa
crise econômica, que no campo da saúde, ressalta-se
a falência do sistema Previdenciário em 1981 [13].
No transcorrer dos anos 80, o Brasil foi
governado por dois presidentes: o General João
Batista Figueiredo (último presidente militar) e José
Sarney (foi o vice de Tancredo Neves assumindo seu
lugar no governo, pois Tancredo apresentou
problemas de saúde, falecendo em 21 de abril de 1985)
[11]. Os fatos marcantes destes dois governos foram
a ampliação da abertura política e aprofundamento
da crise econômica acarretando manifestações
populares, dentre elas greve e o movimento das
Diretas Já durante a presidência de Figueiredo. No
governo de Sarney, primeiro presidente civil,
caracterizou-se por tentativas de estabilização da
economia e reforma constitucional. Como estratégias,
ressalta-se a instauração do Plano Cruzado, a
Constituição de 1988, criação do SUS e a primeira
eleição direta onde o povo elegeu Fernando Collor
de Mello com 35 milhões de votos [11].
Assim, diante do exposto, o Gaffrée em meio
a todas essas dificuldades enfrentadas pelo país,
demorou a vincular-se ao INAMPS. Contudo, por
ter demorado mais que os outros a se beneficiar
da prosperidade econômica da década de 70,
também demorou mais a sofrer os efeitos que
desestabilizou as instituições públicas de educação
e de saúde nos anos 80. Foi a partir da segunda
metade da década de 80 que o hospital retornou a
sua pobreza habitual, agravada após 1989, último
anos em que recebeu investimentos da União [4].
Esta demora em celebrar o convênio fora até certo
ponto positiva, pois o Gaffrée adentrou a década
da crise com uma conjunção até certo ponto
favorável de verbas e recursos humanos,
antecipando-se aos demais hospitais do Rio de
Janeiro no enfrentamento da AIDS.
A AIDS chega ao HUGG
Em agosto de 1983 iniciou-se o acompanhamento do cliente n° 001 com diagnóstico de
AIDS, em sistema ambulatorial no Gaffrée [4].
Embora esta instituição tenha iniciado seu
atendimento no ano de 83, desde 1981 a Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida já havia sido
divulgada pelo CDC (Center for Disease Control),
passando a integrar oficialmente o cenário mundial,
mobilizando pesquisadores de todos os cantos do
mundo para desvelar os mecanismos fármacoimuno-biológicos envolvidos nesta síndrome [14].
De início, pouco se sabia desta doença. Esse
pouco era acrescido de várias outras informações
de cunho instável que a mídia divulgava a seu
respeito. Isso contribuiu para que o pânico
espraiasse sobre os locais onde sabidamente havia
clientes com AIDS. Assim, o medo era uma
constante. E, no Gaffrée, não foi diferente:
Quando a AIDS chegou aqui foi uma coisa
assustadora... Todos tinham medo... (Aux 01)
No início foi difícil... Nada que tivesse
procedimento invasivo ninguém queria fazer: passar
sonda, puncionar veia, fazer curativo... (Enf 01)
As características epidemiológicas da clientela
atendida neste hospital não destoavam dos padrões
divulgados da época: homossexuais, classe alta e
com tempo de vida exíguo após diagnóstico.
Nos primeiros casos que nós encontramos na
enfermaria eram pessoas de nível superior: bancário,
professor, engenheiro, dentista,...(Enf 02)
Então os pacientes vinham, chegavam aqui
todos bonitões, bem de saúde, pelo menos
aparentemente, e daqui a pouco, após dois a três
meses, você via aqueles pacientes se acabando...
(Aux 04)
Em virtude das primeiras características
encontradas nos pacientes com AIDS, acreditava-se
que ela somente acometia homossexuais masculinos,
sendo reconhecida como GRID (Gay-Related
Immunodeficiency Síndrome), neste primeiro momento
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da epidemia [15]. Esta característica conferiu aos
portadores do HIV duras críticas e alcunhas...
Todos que apareciam como portador do vírus
eram tachados como homossexuais e havia aquela
discriminação. (...) O paciente com AIDS era visto
como homossexual mesmo não sendo. (Aux 01)
Esses pacientes eram encontrados em
quaisquer setores do hospital, não havendo em
especial um local onde os profissionais do Gaffrée
assistiam-nos. Entretanto, de início, muitos não
queriam que em suas enfermarias houvesse clientes
com tal diagnóstico.
Muitos diziam: “não, nesta enfermaria não
pode internar aidéticos...” (Aux 01)
Em relação à equipe, muitos não queriam
trabalhar. Tinha até uma colega que pediu para
sair...(Aux 03)
Apesar do Gaffrée não ter isolado seu paciente
como era feito em muitas outras instituições, e/ou
determinar quais locais esses clientes deveriam ficar,
um setor deste hospital destacou-se ao longo de todos
esses anos de epidemia: a Clínica Médica B (complexo
que engloba o Ambulatório de Imunologia e AIDS
e a 10ª Enfermaria), responsável por pacientes de
cardiologia e oncologia. Foi mediante a bravura e
mobilização dos profissionais destes setores que
conferiu a esta instituição honrarias e o respeito da
comunidade científica e acadêmica do mundo inteiro.
Os profissionais que trabalharam nestes
setores começaram a pesquisar sobre a AIDS antes
mesmo dela chegar ao Gaffrée. E, quando da
primeira oportunidade, acolheu seu primeiro cliente
soropositivo para HIV. Entretanto, tal conduta fora
mal vista pelos demais profissionais não envolvidos
com esta síndrome. Alguns profissionais foram
verdadeiros obstáculos para que o HUGG
começasse a tratar desses clientes. Assim, pode-se
dizer que enquanto as demais instituições negavam,
bem como outros setores do próprio hospital, a 10ª
Enfermaria acolhia estes clientes, dando-lhes o
melhor que se podia oferecer na época em termos
de tratamento. Esta forma de ver e tratar o cliente
HIV positivo conferiu a esta enfermaria um título
que não existe, mas que em virtude do cuidado
desenvolvido ao longo da epidemia esta passou a
ser conhecida oficiosamente como referência para
internação dos clientes com AIDS no HUGG. Mas
a mesma, conforme atributo oficial, é responsável
pelo tratamento de pacientes com disfunções
cardiológicas ou oncológicas, independente de
serem portadores do HIV ou não.
Todos os setores aqui do Gaffrée podem
receber pacientes HIV positivos, mas vamos supor
que alguém queira internar um paciente
soropositivo: eles não vão para oitava, para sétima
pedir vaga... e sim eles ligam para cá e mandam o
parecer para décima. (...) Enquanto muitos
descriminavam a gente aceitou... (...). Quando refiro
a mim, não é apenas a minha pessoa, e sim falo em
nome da Décima, da equipe da Décima,... (Enf 02)
Dificuldades
Na época muitas foram as dificuldades
surgidas, onde estigma, discriminação, preconceito,
falta de informação, falta de recursos materiais e
humanos, política interna e medo, impediam de
pensar na possibilidade de atender estes clientes de
forma adequada. Essas dificuldades, em especial a
discriminação, não se restringiam apenas aos clientes
com AIDS.
Falta de informação, recursos humanos
e materiais
A gente não tinha material para trabalhar, nem
medicação para os pacientes. Tudo aqui era muito
difícil... (Aux 04)
Chegava a uma altura que não se tinha material
suficiente para trabalhar... Se tinha máscara não tinha
luva, se tinha luva não tinha máscara, se não tinha
máscara não tinha gorro...(Enf 02)
Todos tinham medo... “Será que assim, pega,
assim não pega assim pega, beijo na boca pega, assim
pega...”. Então existia aquela polêmica grande de
como pegava ou de como não se pegava.... (Aux 01)
Discriminação e estigma inerente ao cliente
E muitos não queriam ir trabalhar com aidético,
diziam não, que não iam, que tinham medo, que era
contagioso... muitos colegas não gostavam, nem
chegavam perto, tinham medo, preconceito...(Aux 03)
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Discriminação e estigma inerente ao profissional
Foi um momento muito difícil quando as
pessoas começaram a descobrir que a gente estava
cuidando desses clientes... (...) Nós fomos ficando
inclusive estigmatizadas. Eu fui colocada duas vezes
para fora do táxi...(Enf 01)
As pessoas não aceitavam... As pessoas
discriminavam a gente... (...)... “Vocês é que estão
tomando conta dos aidéticos?” (...) Se você
emagrecesse diziam:”Olha, heim!, cuidado!, você
trabalha na enfermaria..., você já fez exame?” Então
você sempre tinha que ficar magrinha, saudável, pois
se você emagrecesse você ouvia piadas em torno
da doença...(Enf 02)
Discriminação e estigma oriundo de familiares
A discriminação já vinha da própria família. Eu
me lembro uma vez que a irmã de um paciente chegou
aqui: “ah, porque eu quero internar ele, porque é
melhor pra ele...”. Aí ele virou pra ela, aqui na minha
frente e disse: “se você quer me internar é porque é
melhor para você... você não perguntou se é melhor
pra mim, se eu quero me internar...”. (Aux 04)
Todas essas dificuldades foram agravadas
quando a partir de então começou a aumentar o
número de pacientes internados. “A princípio, a
presença de um doente de AIDS no Gaffrée passou
desapercebida, mas no final de 1984 já havia meia
dúzia de pacientes sendo atendidos no ambulatório
e, eventualmente, internados” [4].
O estigma e a discriminação se caracterizam
por um “alto grau de diversidade e complexidade
intercultural. (...) A nossa incapacidade coletiva para
enfrentar de forma mais adequada a estigmatização
e a discriminação está ligada à disponibilidade
relativamente limitada de instrumentos teóricos e
metodológicos para lidarmos com o problema” [16].
Neste contexto, os ânimos começaram a mudar a
partir das informações que eram levadas aos
profissionais do Gaffrée através de um pequeno
grupo de profissionais que haviam se dedicado
desde o início da epidemia, buscando através de
cursos, eventos científicos e palestras, informações
para levar aos demais integrantes do hospital a fim
de amenizar e conter os mais desesperados.
No início havia enfermeiros e médicos que
davam palestras sobre o assunto que foram muito
importantes...(Aux 04)
Tivemos um conhecimento melhor através das
palestras que eram ministradas pelo professor C.
A. (Médico), pelo T. (Enfermeiro) e pela L.
(Enfermeira), nós passamos a ter uma visão
diferentes do paciente aidético. (Aux 01)
Essas informações foram essenciais para que
se pudesse desenvolver uma assistência de melhor
qualidade. À medida que o ser humano passa a desvendar as situações, buscando as respostas para suas
indagações e medos, o mesmo passa a relacionar-se
e conviver melhor com seu eu e com a realidade vivida.
Neste sentido, a medida que informavam-se, a equipe
de enfermagem pôde assistir melhor o cliente e seus
familiares, já que a AIDS apresentava de início, um
forte “efeito desagregador na estrutura familiar” [17].
O posicionamento da enfermagem
A enfermagem do Gaffrée foi fundamental para
o início da epidemia nesta instituição. Infelizmente
não eram todos que aderiram a esta causa, de início.
Entretanto os pioneiros foram essenciais e delinearam uma história de muita luta, conquista e perseverança e amor para com esta clientela que fôra severamente marginalizada e estigmatizada. Esses primeiros
anos de AIDS no Gaffrée foram críticos e cruciais
para os profissionais que lá se encontravam. Foi um
momento decisivo onde a equipe de enfermagem
teve que fazer uma opção acerca de sua profissão.
A situação foi muito difícil... Quando eu recebi
o primeiro portador de AIDS, eu tive que fazer uma
opção pela enfermagem... (...) com todos os riscos,
eu fui trabalhar, pesquisar, estudar, para trabalhar
com melhor segurança, proteção, assim como devese fazer o enfermeiro. (Enf 04)
Este hospital aqui é carente de tudo,... mas tem
alguma coisa aqui dentro que todo mundo que
chega adora e não quer mais sair... Eu já fiz trinta
anos aqui e não saio... (Aux 04)
Eu sempre gostei do perigo, gosto de viver
perigosamente...(...) e eu pelo contrário, eu tinha
uma vontade de ficar trabalhando... eu falei: “por
que não? Alguém tem que cuidar... alguém tem que
ficar com eles...” (Enf 02)
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Estes depoimentos são de alguns dos
enfermeiros/auxiliares que fizeram a diferença no
início da epidemia. Alguns abraçaram de corpo e
alma, estudaram, se especializaram e continuam
desenvolvendo projetos e pesquisa na área do HIV.
Esses profissionais deram um tom diferente ao
hospital, num momento em que não se sabia nada
a respeito da doença, não mediram esforços para
que o lado humano, compreensível e acolhedor,
sobressaíssem. Assim, pode-se dizer que a “AIDS
evidenciou o melhor e o pior da natureza humana.
O sacrifício e bravura daqueles que combateram a
doença em seu início se opuseram às forças da
tolerância e discriminação” [14].
Era um grupo de enfermeiras somadas que
tinha pretensão de dar um tom diferente ao hospital
de criar uma filosofia de cuidado que fosse o mais
humana possível. (Enf 01)
O cuidado inicial
Tendo em vista as raríssimas e dúbeis
informações acerca da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida, a enfermagem teve que buscar de seu
cotidiano como desenvolver um cuidado que não
fosse prejudicial ao cliente e também que não fosse
comprometer a saúde do profissional. Havia uma
superproteção e tudo o que se fazia era de caráter
experimental, servindo para realização de pesquisas
para posterior comparação e divulgação com vistas
a melhorar a abordagem profissional-AIDS-cliente.
Não havia pessoas treinadas e qualificadas
especialmente para o HIV... Aqui tudo o que se formou
foi empírico, a equipe que se formou na Décima era
empírica, ninguém foi qualificado ou treinado. (...) Eu
costumo brincar que a gente foi jogado aos leões e
salvem-se quem puder... E, com o tempo, a gente foi
adquirindo conhecimento...(Enf 02)
A primeira preocupação foi uma
superproteção. Nós superestimamos o perigo (...)
Então passamos a fazer o banho diferente daqueles
preconizados por livros antigos. Estávamos,
abandonado a luva de tecido e passamos a usar a
luva de látex para o banho, que nos davam mais
garantia. E, logo em cima disso, passamos a
pesquisar a probabilidade de contaminação da
equipe que até hoje nos nunca tivemos uma
soroconversão... (Enf 04)
O cuidado inicial era feito em cima das
orientações divulgadas pelo Departamento
Nacional de Dermatologia Sanitária e por entidades
internacionais, além das observações e dos cuidados
experimentais realizados em campo, visando mais
especificamente o profissional. De início, o mais
importante era proteger o profissional para que o
mesmo não se contaminasse.
Repensando o cuidado
A medida em que o tempo foi passando as
distorções que haviam sido divulgadas pela imprensa
foram sendo esclarecidas, as informações tornaram
mais precisas, o ânimo do pessoal de enfermagem
melhorou muito e o medo foi atenuado a medida
que participavam das palestras e informavam-se.
Até este momento, em especial, a equipe de
enfermagem em meio ao afã das questões inerentes a
busca das formas de transmissão, agente etiológico,
medicamentos, dentre outros, esqueceu-se do homem
enquanto ser humano, que havia sido contaminado
pela doença. A assistência desenvolvida para este era
imposta, e, muitas vezes, eles estavam ali após
confirmação do diagnóstico, expostos à curiosidade,
à investigação científica e à vaidade profissional.
A família não queria... Nós tivemos várias
tentativas de suicídio que não se concretizaram porque
a gente conseguiu contornar e socorrer... (Enf 02)
Diante do medo de se contaminar, havíamos
esquecido que antes daquela pessoa ter AIDS ela
era um ser humano, e como todo ser humano, ela
precisa de cuidado digno e respeito... Mas muitas
vezes isso foi esquecido diante do medo que muitos
tinham da doença... (Enf 03)
Então, superado esse início, onde as palestras,
dinâmicas, reuniões e informações do Ministério da
Saúde e de entidades internacionais eram realiza-das
continuamente, esse cliente paulatinamente foi sendo
mais bem atendido e, aos poucos, foi-se aumentando
o número de pessoas que aderiram a um cuidado
mais humano nos demais setores do hospital,
amenizando o medo, a discriminação e o preconceito.
A luta constante pela superação da morte
Algo marcante em praticamente todos os
discursos proferidos pelos sujeitos entrevistados
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consistiu no impacto que a AIDS causou
inicialmente, em especial no que se refere a evolução
clínica da doença, acarretando sobrecarga física e
emocional ao profissional de saúde.
Às vezes tinha uma enfermaria com 15
pacientes aidéticos, tendo uma média oito com
encefalite, meningite, todos gritando, chegava
funcionário a enfartar de sobrecarga emocional e
física... (Enf 03)
A gente atendia um rapaz jovem, forte e três
meses depois voltava cadavérico, morrendo e você
não compreendia como a pessoa perdia em tão pouco
tempo aquele vigor, aquela aparência... (Enf 01)
“O horror da morte, da doença, da velhice já
se constituía em inquietação de poetas pelos idos
do século XV. (...) A atitude dos homens diante da
dor, do sofrimento e da morte é buscar negá-los
como fim do inexorável percurso da vida humana
reforçando-lhe sempre o seu caráter de presença
incômoda e mítica, e como tal, devendo ser ocultada
e distanciada” [18].
Neste sentido, a morte trouxe um impacto
muito grande para os profissionais que lidavam com
essa clientela. Em praticamente todos os casos
diagnosticados (AIDS), estes evoluíam para o óbito
rapidamente. A AIDS assustava pela sua rápida
deterioração físicas e óbito em um curto período
de tempo. E essas características repercutiam
negativamente na enfermagem, pois muitos não
sentiam-se preparados para lidar com tais questões.
Se sentiam impotente diante daquela doença
que os doentes morriam ficavam graves
emagreciam, mudavam a expressão corporal as
lembranças que você tinha de alguns rapazes novos,
eles mexiam muito com a enfermagem. A
enfermagem que estava ligada diretamente a eles
era mais sensível...(Enf 01)
Era um paciente sem retorno. Cuidávamos,
cuidávamos, e logo depois o final era o óbito.
(Aux 02)
A cada tempo que passava iam aumentando
os casos, não sabia o que que era.....morriam muitas
pessoas... Em um mês chegávamos a ter 19 óbitos,
era quase um paciente por dia... (Aux 01)
A enfermagem mergulhava num desgaste físico
e emocional tão grande resultando num trabalho
em vão sentindo-se derrotados, impotentes e sem
esperanças. Neste ínterim mais uma vez percebeuse que estava esquecendo novamente do homem
que tem na morte a única possibilidade de vida e
por causa dela lutava tentando prolongar sua
existência [19].
Observava-se que a angústia do cliente diante
da possibilidade da morte próxima tinha tornadoo vulnerável diante de tudo e de todos. Assim, a
enfermagem novamente mobilizou-se para
amenizar a angústia não só dos profissionais de
saúde, outrossim, dos clientes que lá estavam
internados. Mais uma vez voltou-se para discussão
com vistas a levantar soluções na tentativa de ajudar
estes profissionais e clientes. Assim, grupos de apoio
foram criados compostos de psicólogos e religiosos
que passaram a fazer parte de reuniões com o
objetivo de ajudar membros do hospital como
também dos clientes.
Aí eu fiquei realmente chocada com a morte
dele, e foi aí quando eu comecei a assistir as palestras
com os psicólogos... (Aux 04)
Conclusões
Este estudo possibilitou o conhecimento do
passado de alguns dos enfermeiros e auxiliares de
enfermagem no tocante a assistência desenvolvida
aos soropositivos para HIV no Hospital
Universitário Gaffrée e Guinle, que testemunharam
e presenciaram os primeiros quatro anos da
epidemia da AIDS nesta instituição (1983-1987).
A epidemia da AIDS surge no Brasil, em um
momento político marcado pela redemocratização,
onde a sociedade tentava dar seus primeiros passos
em direção ao restabelecimento de uma democracia
participativa, após duas décadas de regime
autoritário. Ressalta-se que foi também um período
caracterizado por uma evolução da crise social,
política e econômica a qual é descrita como a pior
da história brasileira [12].
É neste contexto que a AIDS instalou-se no
HUGG. Como em todos os locais, os primeiros
anos foram marcados por medo, estigma,
discriminação [19]. Antes do HUGG atender seu
primeiro cliente com AIDS, havia um pequeno
grupo de profissionais empenhados em pesquisas
a respeito desta síndrome. E quando o mesmo
recebeu seu cliente n° 001 a maioria dos integrantes
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dessa instituição foram contra, constituindo
verdadeiros obstáculos para uma assistência digna
a tais clientes.
Entretanto, foi em meio a este caos que a
enfermagem fez a diferença, em especial, aquela
integrante da 10ª Enfermaria. A maioria dos
profissionais que nesta trabalharam consistiram em
verdadeiros exemplos que, na época, foram
imprescindíveis para os profissionais das demais
dependências do hospital e para outras instituições
de saúde que cuidavam de clientes com AIDS. Foi
um pequeno grupo de enfermeiros que buscou
pelo aprimoramento das questões inerentes a
AIDS através de palestras, congressos,
conferências, cursos, observações em campo de
trabalho, a fim de compartilhar com os demais
profissionais do HUGG e assim conter o medo e
amenizar o estigma e preconceito. Os pioneiros
desenvolviam um cuidado digno e com o passar
do tempo foram “contaminando” os outros
profissionais com seus ideais, angariando
paulatinamente a adesão dos demais que de início,
não aceitaram a presença desses clientes.
Apesar do pouco conhecimento a respeito
da síndrome que se tinha na época, a enfermagem
do HUGG não deixou de cuidar dos clientes com
AIDS. A enfermagem apropriou-se de toda sua
rede de conhecimento a fim de oferecer o melhor
que se podia tendo em vista a escassez de
informações. Neste contexto, pode-se afirmar que
a enfermagem do Hospital Universitário Gaffrée
e Guinle não apenas fez parte da história da AIDS,
outrossim, contribuiu para que a mesma
acontecesse, conferindo ao HUGG o
reconhecimento de primeira instituição que cuidou
de clientes com AIDS no Rio de Janeiro, com
dignidade e respeito.
Este trabalho não teve nenhum outro
propósito a não ser de contribuir com o
delineamento dos primeiros registros da história da
enfermagem no que tange a assistência prestada aos
soropositivos para HIV no HUGG. Neste sentido,
pelo fato de ter sido um estudo monográfico com
um tempo exímio para concretização do mesmo,
concatenado com a possibilidade das evidências
emergidas serem uma situação peculiar do grupo
estudado, sugere-se a reaplicação do estudo em
outros contextos e com outros marcos temporais,
em especial a partir do ano de 1987 quando então o
Gaffrée passa a receber recursos e gozar da
qualidade de Centro de Referência em AIDS.
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!
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Artigo original
O ser humano em coma e a comunicação
verbal: quando o silêncio da equipe
de enfermagem é uma forma de violência
no ato de cuidar
Mariana Gomes Cardim*, Marcio Martins da Costa**, Maria Aparecida de Luca Nascimento, D.Sc.***, Nébia
Maria Almeida de Figueiredo, D.Sc.****
*Enfermeira Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), **Enfermeiro
EEAP / UNIRIO, ***Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil (DEMI) da EEAP / UNIRIO,
****Professora Titular do Departamento de Enfermagem Fundamental (DEF) da EEAP / UNIRIO, Pesquisadora CNPq
Resumo
Este estudo surge, a partir do momento em que observamos a ausência da comunicação verbal, por parte da equipe de enfermagem,
com os clientes em coma internados em um Centro de Terapia Intensiva. Tendo como metodologia, um estudo exploratório
observacional, que utiliza a abordagem quanti-qualitativa para atingir o objetivo de: identificar se os profissionais de enfermagem
se comunicam verbalmente com os clientes em coma ao realizarem os cuidados. O resultado mostra que 90% dos procedimentos
foram realizados no silêncio, enquanto que 10% deles tiveram a fala como parte dos procedimentos. Conclui-se que, na maioria
das vezes, o cuidado prestado pelos profissionais de enfermagem tem como foco central o corpo físico do cliente, o que pode
ser considerado uma forma de violência no que diz respeito à ausência da comunicação verbal durante o ato de cuidar e ser
cuidado. Podemos então inferir que o modelo biomédico ainda respalda a formação de muitos profissionais desta área.
Palavras-chaves: comunicação, coma, cuidado de enfermagem.
Abstract
The human being in coma and the verbal communication: when the silence of the
nursing is a form of violence in the action of taking care
This study results from the moment we observe absence of verbal communication, on the part of the nursing team, with the
clients in coma hospitalized in an Intensive Care Unit. It is an exploratory observational study, based on a quanti-qualitative
approach, which main object is to identify if the nursing professionals communicates verbally with clients in coma when they
are accomplishing the cares. The result shows that 90% of the procedures were accomplished in silence, while 10% of them
had the speech as part of the procedures. We concluded that, most of the time, the care rendered by the nursing professionals
Artigo recebido em 1 de junho de 2004; aceito em 15 de junho de 2004;
Endereço para correspondência: Mariana Gomes Cardim, Rua Santa Amélia, 88/503 Bl.B
Praça da Bandeira, 20260-030 Rio de Janeiro RJ. Tel: (21) 2504-5604 / 9374-5628,
E-mail: [email protected]
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have as central focus the client’s physical body, which can be considered a form of violence regarding the absence of verbal
communication during the action of taking care and to be taken care. Thus, we can conclude that the biomedical model still
give support to the development of many professionals of this area.
Key-words: communication, coma, nursing care.
Resumen
El ser humano en coma y la comunicación verbal: cuando el silencio del equipo de
enfermería es una forma de violencia en la acción de tener el cuidado
Este estudio surge de nuestras observaciones sobre la ausencia de comunicación verbal, por parte del equipo de enfermería, con
los clientes en coma internados en un Centro de Terapia Intensiva. Es un estudio observacional exploratorio, que utiliza un
abordaje cuanti-cualitativo, cuyo objetivo es identificar si los profesionales de enfermería se comunican verbalmente con los
clientes en coma cuando realizan los cuidados. El resultado muestra que 90% de los procedimientos eran cumplidos en silencio,
mientras 10% de ellos tenían el habla como parte de los procedimientos. Se concluye que, la mayoría de las veces, el cuidado
prestado por los profesionales de enfermería tiene como enfoque central el cuerpo físico del cliente, lo que puede ser considerado
una forma de violencia en lo que dice respecto a la ausencia de comunicación verbal durante la acción de tener el cuidado y ser
cuidado. Entonces podemos inferir que el modelo biomédico aún respalda la formación de muchos profesionales de esta área.
Palabras-clave: comunicación, coma, cuidado de enfermería.
Introdução
Este estudo surgiu a partir de discussões
realizadas pelo Grupo de Incentivo a Inovações
Tecnológicas em Enfermagem (GrIITE), composto
por alunos de graduação da Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto – EEAP, da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Durante essas
discussões realizamos uma análise da postura dos
profissionais de enfermagem com que tivemos
contato durante nossa prática de cuidar e durante
os estágios curriculares em que passamos,
observando em particular estes profissionais em
Centros de Terapia Intensiva (CTI) cuidando de
clientes em coma, quando percebemos que existia a
ausência de comunicação verbal com este tipo de
cliente, fato que nos motivou a escrever este estudo.
De acordo com Brunner e Suddarth [1], “O
coma é um estado clinico de inconsciência no qual o
paciente não esta ciente de si mesmo ou do ambiente
por períodos prolongados”. O cliente nesta condição
não pode ser despertado por estímulos externos
comuns, o que sugere a perda de seus sentidos. Porém,
“a audição é, quase sempre, o último dos sentidos a
desaparecer no ser humano com alteração da
consciência” [2]. Este fato nos indica a importância
de se comunicar verbalmente com o cliente em coma
durante a assistência respeitando o seu direito de saber
o que está acontecendo, como ou o que vai acontecer
quando está sendo manipulado, explicando como e
por que de tal ação.
Porém o problema deste estudo está em
percebermos durante os estágios curriculares que,
na prática, na maioria das vezes, os profissionais de
saúde não se comunicavam com os clientes que se
encontravam em coma ao realizar alguma técnica
ou procedimento nele, uma vez que tal cliente parece
corresponder realmente à essência do termo
“paciente”.
Diante do exposto acima surge então como
questão norteadora do presente estudo: Os
profissionais de enfermagem falam com o cliente
em coma ao realizarem algum procedimento?
Objetivo
Identificar se os profissionais de enfermagem
se comunicam verbalmente com os clientes em
coma ao realizarem os cuidados de enfermagem.
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Justificativa
O paciente em coma possui um estado de
inconsciência, não podendo ser revertido pelos
estímulos externos comuns, o que torna o individuo
submisso ao poder do profissional que dele cuida,
ademais se considerarmos a sua incapacidade
motora e lingüística de intervir nas situações.
Portanto esse estudo justifica-se pelo fato de
podermos dividir com nossos colegas e leitores a
freqüência com que tal evento, de não se comunicar
verbalmente com clientes em coma, ocorre, de forma
que possamos estar sempre nos “policiando” em nossa
prática diária de que o paciente em coma não se trata
apenas de um corpo sobre o leito, mas de uma pessoa
presa em seu corpo, que não consegue se expressar.
Material e métodos
Estudo descritivo exploratório observacional,
que se utiliza da abordagem quantitativa uma vez
que esta abordagem constitui-se na “manipulação
de dados numéricos, através de procedimentos
estatísticos, com o propósito de descrever
fenômenos ou avaliar a magnitude e a confiabilidade
das relações entre eles”[3].
A técnica de coleta de dados utilizada foi a
observação não participante que é aquela na qual
“o observador é um espectador. O observador toma
contato com a realidade a ser observada, mas não
se integra a ela, não participa” [4] porém, de acordo
com Wood & Haber [5] “O pesquisador não está
simplesmente olhando o que está acontecendo, mas,
sim, observando com um olho treinado em busca
de certos acontecimentos específicos”.
O estudo foi realizado no Centro de Terapia
Intensiva (CTI) de um hospital público de grande
porte situado no município do Rio de Janeiro, com
uma capacidade de 11 leitos, onde durante os dias
de observação o número de clientes em coma vígil
variou de um a três.
Os profissionais que participaram do estudo
foram auxiliares de enfermagem e enfermeiros que
trabalham no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do
hospital em apreço, que foram observados durante sua
prática cotidiana de cuidar de clientes em coma. Foram
observados três plantões diferentes, cada qual com 7
profissionais de enfermagem (enfermeiros e auxiliares
de enfermagem). Portanto os sujeitos do estudo foram
num total de 21 profissionais de enfermagem.
Logo após o término da observação, os sujeitos
da ação eram orientados quanto à importância de se
comunicar com o cliente em coma durante a
assistência respeitando o seu direito de saber se está
sendo manipulado, como e por que de tal ação.
Para a realização da observação foi solicitada
a devida autorização ao Centro de Estudos da
Instituição. Após a conclusão das observações, os
resultados foram apresentados aos sujeitos do
estudo para a devida autorização da pesquisa.
A observação foi realizada durante o mês de
junho de 2003 por um período de quatro dias sendo
apenas durante um dos dias em período integral
(manhã e tarde) o que resultou num total de cinco
períodos de observação.
A produção de informações foi realizada pelos
próprios pesquisadores que preencheram um
instrumento de observação, quando os profissionais
de enfermagem cuidavam dos clientes.
Cabe ressaltar que este estudo irá resguardar a
total privacidade do nome da instituição em apreço e
dos sujeitos que a ele pertencem seguindo as diretrizes
e normas de pesquisa envolvendo seres humanos
preconizados pela Resolução do Conselho Nacional
de Saúde No 196 de 10 de outubro de 1996 [6].
Apresentação dos resultados
A seguir apresentamos o quadro e tabelas
relativos à distribuição dos procedimentos e da
comunicação realizada (Quadro I e Tabela II) e a
distribuição da comunicação de acordo com a
categoria profissional que a realizou (Tabela I).
O quadro I mostra que em 3 clientes em coma
vígil, 30 procedimentos foram realizados durante 4
manhãs e 1 à tarde. Destes, 11 foram feitos por
enfermeiros e 19 por auxiliares de enfermagem,
como mostra a tabela I.
É possível verificar que existe quase um equilíbrio
entre enfermeiras e auxiliares de enfermagem que se
aproximam do cliente em coma para cuidar e este
cuidado envolveu apenas procedimentos técnicos,
como se apresenta na tabela 2.
Este quadro indica que durante os cuidados
(30 procedimentos), em apenas 3 destes foram
observados que os profissionais (1 auxiliar de
enfermagem e 2 enfermeiros) falaram com o cliente.
A partir destas informações (contidas no
quadro I e tabela II) emergiram uma categoria de
análise, entendida como:
O silêncio e a ‘pouca’ fala no cuidado com o cliente
em coma: o toque dos procedimentos.
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Quadro I - Distribuição dos procedimentos e da comunicação realizada. Rio de Janeiro, 2003.
Data
Leito
Categoria profissional
Procedimento
26/05
Manhã
06
06
06
06
06
06
06
08
08
08
08
08
08
08
08
08
08
08
03
03
03
06
08
08
08
08
03
03
08
08
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Enfermeiro
Aux. Enf.
Enfermeiro
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Enfermeiro
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Enfermeiro
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Enfermeiro
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Aux. Enf.
Verificação dos sinais vitais
Curativo
Mudança de decúbito
Medicação EV
Endireitou o TOT e os lençóis
Banho no leito
Verificação dos sinais vitais
Banho no leito
Curativo
Verificação dos sinais vitais
Instalação da dieta
Medicação EV
Coleta de sangue arterial
Coleta de sangue arterial
Coleta de sangue arterial
Cateterismo vesical
Punção venosa
Coleta de urina estéril
Exame físico
Verificação dos sinais vitais
Banho no leito
Verificação dos sinais vitais
Higiene ocular
Higiene bucal
Aspiração das VAS
Sonda naso-enteral
Banho no leito
Aspiração das VAS
Verificação dos sinais vitais
Instalação da dieta
28/05
Manhã
E
Tarde
04/06
Manhã
05/06
Manhã
Tabela I – Distribuição comunicação vs. categoria
profissional. Rio de Janeiro, 2003.
Categoria Profissional
19 Auxiliares de enfermagem
11 Enfermeiros
Comunicação
Verbal
SIM
NÃO
01
18
02
09
Tabela II – Distribuição dos procedimentos vs.
comunicação. Rio de Janeiro, 2003.
ProcedimentosXComunicação
06 Verificação de sinais vitais
04 Banho no leito
03 Coleta de sangue arterial
02 Curativos
02 Medicações EV
02 Instalação da dieta
02 Aspiração das VAS
01 Mudança de decúbito
01 Cateterismo vesical
01 Punção venosa
01 Coleta de urina estéril
01 Exame físico
01 Sonda naso-enteral
01 Higiene bucal
01 Higiene ocular
01 Endireitou o TOT e os lençóis
TOTAL: 30 procedimentos
Sim
01
01
01
03
Não
06
04
03
02
02
02
02
01
01
01
01
01
01
27
Comunicação verbal
Sim
Não
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Resultados e discussão
Esta categoria contém duas informações
fundamentais que poderiam ser entendidos como
subcategorias, como mostra o gráfico a seguir:
Gráfico 1 - Comunicação verbal durante os
procedimentos. Rio de Janeiro - RJ, 2003.
O gráfico 1 mostra que 90% dos procedimentos foram realizados no silêncio, enquanto
que 10% deles houve a fala como parte dos
procedimentos.
A exploração da comunicação verbal com
o cliente em coma nos levou a algumas descobertas
que merecem ser discutidas e que se apresentam
nos gráficos a seguir:
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Gráfico 2 - Aux. Enf.: Comunicação verbal durante
os procedimentos. Rio de Janeiro - RJ, 2003.
Gráfico 3 - Enfermeiro: Comunicação verbal durante
procedimentos. Rio de Janeiro - RJ, 2003.
Estes dados indicam que a enfermagem não
fala com os clientes em coma e este silêncio pode
ter diversas justificativas, as quais ousamos destacar:
Uma delas e parece ser a principal é de que no
ensino e na prática é costume considerar o cliente
em coma, como aquele que não fala, não sente, que
está inconsciente, adormecido, e que, aparentemente,
não ouve. Daí a ausência da comunicação verbal.
Falar com um cliente em coma durante alguns
procedimentos, no caso deste estudo, para: fazer
cateterismo vesical, higiene bucal e sondagem nasoenteral devem acontecer por serem procedimentos
invasivos. Nos parece que é assim que se procede.
O cliente tem direito de saber quando vão invadir o
seu corpo e não podemos deixar de falar com eles
sobre estes procedimentos.
Uma segunda justificativa pode estar na falta
de hábito de conversar com os clientes, de um modo
geral, sobre o que vamos fazer, que tratamento será
feito e se ele concorda.
Uma terceira justificativa é de educação e
cultura, em que a questão da comunicação pode não
estar sendo contemplada no ensino superior como
uma forma de cuidar em enfermagem.
Uma outra justificativa pode estar relacionada
a não se passar por “maluco”, falando com alguém
não responde. E se fala (emissor) e o outro não
responde (receptor) isto não é comunicação da
forma que os teóricos entendem. Neste sentido,
segundo Cianciarullo [4] “para que se inicie o
processo comunicativo, o emissor envia uma
mensagem. O receptor, por sua vez, recebe a
mensagem e decifra-a com o objetivo de entendêla. Mas para que ocorra o processo comunicativo o
receptor deve emitir uma resposta ao emissor”.
Acreditamos, ainda, que a enfermagem pode
não se dar conta do silêncio que a cerca e cerca o
cliente quando cuida, porque deve está imersa no
que deve fazer. O que parece importar é a sua
presença quando cuida. Neste sentido, encontramos
apoio entre Cintra et al [2] quando nos diz que: “O
profissional de UTI precisa estar tão preocupado e
atento às necessidades fisiológicas básicas que, às
vezes, pode achar ter cumprido o seu dever com o
paciente e com o próximo quando não o tem lesado
ou não o tem desrespeitado (conscientemente)”.
Também é possível acreditar nesta questão é
que o silêncio pode ser uma marca nos corpos dos
profissionais, que sempre calam mais do que falam
e, quando se trata de CTI e de cliente em coma,
calar pode ser um cuidado.
Esta categoria nos faz refletir sobre os dados,
inicialmente levantados, considerando que não
perguntamos aos envolvidos por que não falam com
os clientes em coma. Esta é uma variável qualitativa
que não pode ser esquecida. Como também ainda
são muito tímidos os estudos que nos dêem
respostas dos clientes quando estavam em coma,
se ouviram e o que ouviram.
O silêncio que surge como o dado mais
significativo do estudo, que acompanha o
procedimento, é a fala muda através do toque, que
tira da comunicação do som, o estímulo da voz que o
cliente pode estar ou não ouvindo. Neste sentido,
encontramos apoio em Le Breton [7] quando nos diz
que: “o silêncio ressoa como nostalgia, apela ao desejo
de uma escuta incessante do mormurar do mundo”.
A prática observada é pobre em palavra e os
procedimentos são ricos em toque, que a
enfermagem pode considerar como comunicação.
Podemos pensar e/ou inferir que cuidar de
cliente em coma pode ser entendido pelos
profissionais de enfer magem como uma
impossibilidade de linguagem que é caracterizada
pela condição humana do cliente.
Podemos pensar ainda que a linguagem utilizada
para que a comunicação se estabeleça é a linguagem
dos corpos que cuidam e que são cuidados, captados
no ato de cuidar. Neste momento temos dificuldade
de compreender por que isto ocorre e esbarrar em
nosso próprio silêncio de não encontrar palavras para
explicar porque isso ocorre.
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No entanto, Le Breton [7] nos conforta
quando diz: “se a presença do homem é, antes de
tudo, a sua palavra, também é inevitavelmente a
presença de seu silêncio”.
Para nós da enfermagem nos comunicamos
sempre que tocamos mesmo que ele seja entendido
por poucos como ações terapêuticas e para outros
autores é entendido como sentido que fez parte de
ações humanas. Quanto a isto, Davis [8] nos diz que:
“falar de toque é falar de pele e esta é o nosso órgão
mais importante, em seguida ao cérebro”. Quando o
toque acontece, envolvemo-nos constantemente com
o que se passa em nosso exterior, assim o mesmo
acontece com aquele que é tocado por nós.
A mesma autora continua dizendo que o senso
de humanidade associa-se ao contato físico no
instante de nosso nascimento e continua ao longo
da vida. “O tato comparado a nossos outros
sentidos e modos de expressões, ainda é nossa
forma de comunicação mais básica, e nós,
subconscientemente, sabemos disso” [9].
No entanto, no nosso discurso de trazer o
cliente de volta para o fluxo da vida, o que conta é
tentar se comunicar com ele de qualquer forma,
buscando estilos e estratégias para que ele seja tocado
por nós através de som. Desta forma, corroboramos
com Bezerra Jr9 repetindo a afirmação: “a linguagem
é condição necessária para a emergência do sujeito e
do sentido”. Le Breton [7] complementa dizendo que
“o silêncio levanta uma barreira dificilmente
transponível entre si e o outro; é uma linha de
separação de dupla eficácia; é igualmente uma defesa
contra o olhar ou a curiosidade do outro”.
A comunicação engloba todas as formas que uma
pessoa utiliza para poder afetuar o outro, sejam elas
de forma verbal (falada e escrita), não-verbal (cinésia,
toque, territorialidade) e/ou paraverbal [4]. Sabemos
que para a realização de qualquer procedimento algum
tipo de comunicação será estabelecido, principalmente
a que se dá através do toque mediada pelo
procedimento técnico. Porém, ressaltamos, em se
tratando do cliente em coma, da importância da
comunicação verbal, uma vez que a audição é o ultimo
sentido a ser perdido durante a evolução do coma.
Conclusões
ou explicar os procedimentos a serem realizados no
cliente em coma, sendo verificado em cinco períodos
de observação um total de 30 procedimentos
executados nestes clientes em que apenas 03 destes
(10%) foram mediados pela comunicação verbal,
como dissemos anteriormente.
Tal quadro nos indica que, na maioria das
vezes, o cuidado prestado pelos profissionais de
enfermagem tem como foco central o corpo físico
do cliente, o que nos leva a crer que o modelo
biomédico continua ainda respaldando a formação
de muitos profissionais e que os procedimentos
técnicos e tecnológicos ainda são os motivos de
aproximação da enfermagem com os clientes. Em
nenhum momento observamos a aproximação, só
para falar com os clientes em coma.
Finalmente, este estudo, conseguiu atingir o
objetivo proposto, no que diz respeito à utilização
da comunicação verbal pelos profissionais de
enfermagem com os clientes em coma ao realizarem
os cuidados no cotidiano da prática de enfermagem,
onde se evidenciou que a maioria dos
procedimentos executados (90%) não são imbuídos
deste tipo de comunicação.
Assim sendo consideramos que o ato de cuidar
do cliente em coma deve e precisa estar além do
ato de fazer um procedimento. É necessário atentar
que estes atos envolvem comunicação verbal e nãoverbal com outra interface que pulsa, sente e troca
energia com quem cuida dele. Ademais se
observarmos que a ausência da comunicação verbal
pode ser considerada uma forma de violência no
que diz respeito ao ato de cuidar e ser cuidado.
A partir do exposto acima, ressaltamos a
importância de se criarem condições que permitam
que esse momento da vida do individuo, onde ele
não possui poder decisório, possa ser vivido com
dignidade. Não podemos esquecer que estamos
falando de um ser humano, que abolida a
sensibilidade cutânea, resta ainda a sensibilidade da
alma, que pode estar sofrendo diante do “discurso
do silêncio” com que são invadidos.
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De acordo com os resultados obtidos podemos
inferir que os profissionais de enfermagem não estão
se utilizando da comunicação verbal para informar
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3.
4.
5.
6.
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Cianciarullo TI. Instrumentos básicos para o cuidar:
Um desafio para a qualidade da assistência. São Paulo:
Atheneu; 1996.
Wood GL, Haber J. Pesquisa em enfermagem –
Métodos, avaliação crítica e utilização. 4a ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2001.
Resolução n° 196-1996. Aprova as diretrizes e normas
7.
8.
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humanos. Conselho Nacional de Saúde; 1996.
Le Breton D. Do silêncio, coleção de epistemologia e
sociedade. Lisboa: Instituto Piaget; 1997.
Davis FK. O poder do toque. 9a edição. São Paulo:
Best Seller; 1991.
Bezerra Jr B, Plastino CA. Corpo, afeto e linguagem: a
questão do sentido hoje. Rio de Janeiro: Rios
ambiciosos; 2001.K
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Revisão
Saúde da família: estratégia de ensino para
graduação em enfermagem
Marialda Moreira Christoffel, D.Sc.*, Valeria de Oliveira Monteiro, D.Sc.**
*Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, Departamento materno-infantil (DEMI) da Faculdade de Enfermagem.
** Supervisora do Programa médico de Família de Niterói
Resumo
Este artigo trata da proposta de implementação de uma estratégia de ensino para a disciplina Saúde da Família e da Comunidade
na graduação de Enfermagem. Com o objetivo de contemplar as demandas atuais da formação do enfermeiro, preparando
os alunos para o desenvolvimento de uma prática profissional norteada pelos aspectos de promoção do cuidar, do educar e
do pesquisar em saúde da família. A disciplina é composta de 60 horas\aula, sendo organizada em três seqüências de atividades
a partir da problematização da realidade vivida pelos alunos. Acreditamos que a proposta pedagógica para a Disciplina da
Saúde da Família e Comunidade na graduação, busca prover futuros enfermeiros com competência para agir como
transformadores sociais.
Palavras-chaves: ensino da enfermagem, saúde da família, ensino-aprendizagem.
Abstract
Family Health: strategy of teaching for nursing graduation
This article suggests a teaching strategy implementation for the discipline Family Health and Community in nursing graduation.
The main object is to contemplate the present requests of nurse’s development as a professional nurse guided through the
aspects of care promotion, education and researches about family health. The discipline is composed of 60 hours\class,
organized in three sequences of activities from the proposition of the reality experienced by the students. We believe that the
pedagogical purpose for the discipline Family Health and Community in graduation, looks for providing future nurses with
competence for act as social transformers.
Key-words: learning of nursing, family health, teaching – apprenticeship.
Artigo recebido em 14 de abril de 2004; aceito em 20 de maio de 2004.
Endereço para correspondência: Marialda Moreira Christoffel,
Rua Presidente Domiciano, 171/401 Ingá 24210-270 Niterói RJ,
Tel: (21) 2707-3971, E-mail: mchristoffel@ hotmail.com
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Resumen
Salud de la Familia: estrategia de enseñanza para graduación en enfermería
Este articulo trata de la propuesta de implementación de una estrategia de enseñanza para la asignatura Salud de la Familia y
Comunidad del curso de graduación de enfermería. El objetivo principal es contemplar las demandas actuales de la formación
del enfermero, preparando los alumnos para el desarrollo de una práctica profesional dirigida a los aspectos de promoción
del cuidar, del educar y del pesquisar en salud de la familia. La asignatura es compuesta de 60 horas \ clase, organizada en tres
seguimientos de actividades a partir del problema de la realidad vivida por los alumnos. Creemos que la propuesta pedagógica
para la asignatura Salud de la Familia y Comunidad en el curso de graduación, busca preparar futuros enfermeros con
competencia para actuar como transformadores sociales.
Palabras-claves: enseñanza de la enfermería, salud de la familia, enseñanza-aprendizaje.
Introdução
Para que a implementação dos princípios e
diretrizes norteadores do Sistema Único de Saúde
(SUS) pudesse se afirmar como espaço da saúde se
fez necessário, ao longo desses anos, um processo
de construção social de um novo sistema de saúde,
exigindo mudanças que se deram concomitantemente
e dialeticamente.
Nessa perspectiva, a adoção de um novo
paradigma sanitário com princípios políticos e
ideológicos de produção social da saúde surgiu
como proposta de reformulação do modelo de
assistência que atendesse às demandas sociais. O
desafio vem sendo centrado na busca de estratégias
que possam romper com o modelo assistencialista,
curativista, pautado nos agentes patológicos, nas
doenças e na morte para se vincularem com o
sentido de bem-estar da vida.
De acordo com Teixeira [1], a estratégia do
modelo de vigilância da saúde é implementada como
uma proposta de redefinição das práticas sanitárias,
adotando como estratégia de atenção à saúde, a
prática de saúde da família com o propósito de
inversão de modelo, tendo como princípios
filosóficos principais a superação da fragmentação
do cuidado à saúde; a eleição da família e de seu
espaço social como núcleo básico de abordagem
no atendimento à saúde; a humanização das práticas
de saúde; a vinculação da clientela com a equipe de
saúde e a prática de organização comunitária para
o exercício do controle social.
A vigilância da saúde propõe a formação e
incorporação de novos sujeitos, além dos
profissionais e trabalhadores de saúde, pois envolve
a população organizada, assim sendo esta proposta
demanda medidas relacionadas à formação dos
profissionais de saúde que atendam às exigências
deste novo modelo de saúde.
Neste contexto surge, então, um novo espaço
para a prática de trabalho da enfermagem. Espaço
esse onde o cuidado de enfermagem se apóia na
prática sanitária de vigilância da saúde apresentando
concepções de multidisciplinaridade com ação
transdisciplinar pautado na positividade da saúde e
norteado pelo paradigma da produção social em
saúde como postula Mendes [2].
Reconhecendo todas as mudanças do modelo
de saúde, acreditamos que é na formação do aluno
de graduação em enfermagem que podemos
enquanto docentes, contribuir para que ele possa
desenvolver competências para atuar nesse modelo,
proporcionando-lhe uma formação de massa crítica
nas práticas com a família e grupos populacionais,
e instrumentos que possibilitem um conhecimento
teórico conceitual da saúde da família.
Para Ângelo [3] as instituições de ensino
superior de enfermagem têm procurado desvendar
caminhos que orientem suas ações para a formação
do chamado profissional do novo milênio. Uma das
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possibilidades é o conceito de aprendizagem ativa,
necessária para o desenvolvimento do pensamento
crítico e de uma educação integral, em contraposição
ao simples ensino técnico. A educação em
enfermagem deve possibilitar pensar, agir, saber,
desejar, e buscar continuamente o conhecimento.
Esta educação requer um currículo como
reconstrução social, a partir de uma abordagem
crítica que necessita formar enfermeiros cidadãos,
para compreender e atuar no contexto político-social
em que vivem.
Assim sendo, a partir de várias experiências
em capacitação introdutória para equipes básicas de
Programa Saúde da Família, promovidas pelo Pólo
de Capacitação, Formação e Educação Permanente
de Pessoal para Saúde da Família do Rio de Janeiro
- Núcleo - UERJ, elaboramos uma estratégia de
ensino para Disciplina Saúde da Família e da
Comunidade na graduação de enfermagem elegendo
alguns conteúdos básicos que possam contemplar
as demandas atuais de formação do enfermeiro.
A disciplina propõe preparar alunos de
graduação em enfermagem para o desenvolvimento
de uma prática profissional norteada pelos aspectos
de promoção, do cuidar, do educar e do pesquisar
em saúde da família. Busca uma reflexão crítica
sobre os aspectos pedagógicos, de organização do
serviço de saúde e do trabalho desse modelo
assistencial em saúde, visando à apropriação por
parte dos alunos de conceitos e princípios que
fundamentam a prática de saúde da família, na
perspectiva da vigilância da saúde que agrega as três
vigilâncias: sanitária, epidemiológica e ambiental [1].
social de saúde, Estratégia de Saúde da Família:
conceito, mapeamento, adstrição de clientela,
cadastramento, intersetorialidade, sistema de
referência, porta de entrada na rede de saúde,
participação popular, resolutividade, abordagem
integral da família; visita domiciliar no modelo saúde
da família, diagnóstico de saúde, competências do
enfermeiro na saúde da família, modelos
pedagógicos em saúde, e a pesquisa em enfermagem
no modelo saúde da família.
O programa de atividades é constituído de um
caderno do aluno e outro do professor, no qual é
discriminada toda a temática a ser discutida e
trabalhada na sala de aula. As atividades práticas
serão contempladas através de dinâmicas,
dramatizações e de visitações técnicas às unidades
de saúde da família.
A metodologia utilizada para a disciplina
permitirá ao aluno apropriar-se dos conteúdos que
estão organizados em três seqüências de atividades
a partir da problematização da realidade vivida pelos
alunos para que, através da reflexão sobre essa
mesma realidade e a teorização dos temas se dê o
desenvolvimento de atitudes. As seqüências de
atividades guardam uma lógica intrínseca com
progressivo aprofundamento das temáticas,
possibilitando sucessivas aproximações ao objeto
de aprendizagem. A base pedagógica dessa
alternativa educativa está centrada no aluno,
permitindo alunos ativos no processo de ensinoaprendizagem.
Organização e desenvolvimento da disciplina
A avaliação da aprendizagem neste contexto
de ensino deve estar coerente com a concepção
pedagógica que norteia a metodologia adotada.
Assim o que deve ser avaliado é a capacidade de
análise, de extrapolação e de crítica do aluno. A
avaliação é de caráter processual e cumulativo,
identificando o alcance dos desempenhos esperados
ao término das unidades, também será considerada
a participação nas atividades em sala de aula, as
pesquisas e os exercícios a serem realizados.
A disciplina está composta de 60 horas/aula,
sendo distribuída em dezenove semanas, e deve ser
constituída por turmas de no máximo 20 alunos para
a realização das estratégias pedagógicas. F a z e m
parte do conteúdo programático: família e processo
saúde-doença; conceitos de família, organização
familiar, concepção do processo saúde-doença,
definição do campo de saúde, conceitos de
promoção, prevenção e recuperação da saúde, os
modelos assistenciais e vigilância da saúde, conceito
de determinante, riscos, e danos; princípios e
diretrizes do SUS: participação popular, controle
social, regionalização, atenção básica, universalidade,
integralidade, sistema de referência, acessibilidade,
territorialidade; paradigma sanitário e a produção
As competências propostas
Dinâmica do ensino-aprendizagem
O caderno do aluno e do professor constará
de doze textos de apoio, lidos e discutidos na sala
de aula seguido das três seqüências de atividades e
um cronograma:
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Universidade Estácio de Sá
Programa de disciplina
Curso: Graduação em Enfermagem
Disciplina obrigatória: Enfermagem em Saúde
da Família e da Comunidade
Ano: 2004, Primeiro semestre
Carga Horária Total: 60 horas
Carga Horária Teórica: 20 horas
Carga Horária Prática: 40 horas
Caderno do Aluno
Seqüência de Atividades I
1. Participar da dinâmica de apresentação.
Estabelecer contrato de convivência.
2. Desenhar sua família. Apresentar em seu
grupo, observando o desenho dos demais, e a seguir
responder:
Como foi considerada a constituição das
famílias; construir o conceito de família comum a
todos os participantes. Apresentar em plenária. Ler
o texto: ‘Fundamentos da assistência à família em
saúde” [4], Texto nº 1.
3. Analisar o seguinte caso:
“Cristina, 4 anos de idade, chegou à Unidade
Básica de Saúde acompanhada da tia e de dois primos
com 2 e 7 anos respectivamente, para aplicação de
vacina. Na entrevista com a enfermeira Fátima sua tia
informou que a criança é filha de sua irmã e que vinha
sendo criada, desde os 2 anos pela avó, mas que devido
a problemas de saúde não pode ficar com ela.
Atualmente a criança está residindo em sua casa com
os seus 3 filhos e uma outra irmã. Diz estar tendo
dificuldades no sustento da família não tendo quem
acompanhe as crianças no seu horário de trabalho em
um salão de cabeleireiro. Fátima observou que Cristina
apresentava dificuldades na fala, usava fraldas, retraíase ao contato físico e que as 3 crianças apresentavam
atraso na cobertura vacinal.”
A seguir responder:
a) Identificar a composição familiar.
b) Listar os problemas encontrados, identificando
suas causas e o nível de comprometimento - individual,
familiar e comunitário; sua origem - biológico,
psicológico, ambiental, estilo de vida, organização do
serviço de saúde.
c) Como enfrentar os problemas identificados?
4. Ler e discutir o texto “O Conceito de Campo
de Saúde: Uma perspectiva Canadense” [5], Texto
nº 2.
5. Mapear em sua comunidade os Serviços de
Saúde disponíveis e utilizados pelas pessoas e
analisar se atendem às necessidades da comunidade.
6. Dramatizar uma situação de atendimento
em Unidade Básica de Saúde. Discutir o modelo
atual.
7. Visitar Unidade básica de saúde (atividade
de campo = 4h.).
8. Participar de seminário.
Texto nº 3 “A Reforma sanitária no Brasil”
[6] e Texto nº 4 “Concepções sobre a saúde e a
doença” [7].
9. Participar da teorização sobre o SUS.
10.Analisar o texto do jornal Exercício nº 1, e
a seguir responder:
a) Qual paradigma orienta a organização deste
modelo de atenção à saúde?
b) Qual o conceito de saúde que fundamenta
este modelo?
c) Quais princípios e diretrizes do SUS estão
contemplados na organização desta rede de saúde?
11.Participar do seminário com o texto
“Unidade Básica de Saúde no contexto do Sistema
de Saúde” [8], Texto nº 5.
12. Identificar nos casos analisados nas
atividades 3 e 10 desta seqüência o conceito de risco,
buscando a identificação de fatores de risco.
Descrever as características que devem orientar a
organização dos Serviços de Saúde na perspectiva
do Paradigma da Produção Social em Saúde e
pautado na positividade do conceito de saúde.
13.Participar do seminário com o texto:
“Vigilância da Saúde: novo pensar e novo fazer”
[1], Texto nº 6.
14.Analisar o seguinte caso clínico:
“Sr. João chegou a Unidade de Saúde da
Família de sua comunidade, acompanhando seu
filho de 2 anos, para participar das atividades no
grupo de crianças de baixo peso. Toda a equipe
estava mobilizada nas demandas dessa família que
passou a residir no bairro há apenas um mês. Sr.
João além desse filho tinha mais três, a esposa havia
abandonado a casa e ele trabalhava 8 horas por dia
numa empresa de revenda de água mineral.
Naquele dia na consulta com a enfermeira
Solange a criança estava ativa, atenta, porém ainda
não falava, expressando-se por gestos e mantinha"
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se irritadiça como no outro encontro. Ela verificou
que o menor havia crescido 2 cm e estava ganhando
peso. Agendou uma visita domiciliar para observar
o comportamento da criança no seu ambiente
doméstico, assim como avaliar as outras crianças.
Durante a consulta, o pai queixou-se de dor
de cabeça constante, ao verificar sua PA a enfermeira
constatou hipertensão. Organizou então um
calendário para confirmação diagnóstica, com datas
e horários para averiguação da PA, prestou todas as
orientações relativas à situação e solicitou rotina
básica de exames complementares, deixando
marcado no laboratório de referência da região a
data para coleta de material.
A equipe da Unidade estava providenciando
creche e colégio para as 4 crianças; inscreveram a
família no Programa bolsa-alimentação e bolsaescola. Aproveitaram a ocasião e convidaram o Sr.
João para participar da reunião comunitária que
aconteceria na semana seguinte na Igreja da
comunidade, para tratar do problema do
fornecimento de água no bairro”.
Identificar os princípios e conceitos que
norteiam esse modelo de atendimento à saúde.
Apresentar em plenária.
15. Assistir filme.
Cronograma
Data
1ª sem
2ª sem
3ª sem
4ª sem
5ª sem
6ª sem
7ª sem
8ª sem
–
–
–
–
–
–
–
–
13/02
20/02
27/02
05/03
12/03
19/03
26/03
02/04
Conteúdo
seq.I – Ativ. 1
seq.I – Ativ. 2, 3
seq.I – Ativ. 3, 4
seq.I - Ativ. 5, 6, 7 (em campo)
seq.I – Ativ. 8, 9
seq.I - Ativ. 10, 11, 12
seq.I – Ativ. 13
PR 1
Sequência de atividades II
1. Preparar e participar da dramatização.
2. Leitura e discussão do texto “A visita
domiciliária no contexto da saúde da família”
[9], Texto nº 7.
3. Discutir os principais objetivos da visita
domiciliar.
4. Ler discutir “Guia Prático do Programa
Saúde da Família – A implantação do PSF passo a
passo” [10], Texto nº 8.
5. Assistir filme do MS.
6. Construir ficha de cadastro, tendo como
referência modelos já institucionalizados.
7. Aplicar 5 fichas de cadastro na comunidade
(atividade de campo = 8 h.).
8. Consolidar dados, caracterizando o perfil
de uma comunidade fictícia. Construir o diagnóstico
de saúde.
9. Discutir formas de enfrentamento dos
problemas e situações identificados na atividade
anterior.
10.Participar da aula expositiva sobre Atenção
Básica à Saúde – NOAS 2001/MS.
11.Refletir, a partir das discussões anteriores,
a seguinte questão:
- Tendo como referência às características de
Saúde da Família quais as competências
(conhecimentos e habilidades) necessárias para que
o enfermeiro atue no desenvolvimento de seu
trabalho?
12.Leitura do texto: “Atribuições de cada
membro das ESF” [10], Texto nº 9.
13.Participar da dinâmica de grupo.
14.Ler e discutir o texto “Atuação do
enfermeiro no Programa Saúde da Família no
Estado da Paraíba” [11], Texto nº 10.
Cronograma
Data
9ª sem – 16/04
10ª sem – 30/04
11ª sem – 07/05
12ª sem – 14/05
13ª sem – 21/05
14ª sem – 28/05
Conteúdo
seq.I - Ativ. 15 e revisão da PR1
seq.II - Ativ. 1, 2, 3
seq.II - Ativ. 4, 5, 6, 7 (em campo)
seq.II – Ativ. 8, 9
seq.II - Ativ. 10, 11, 12
Seq.II - Ativ. 13, 14
Sequência de Atividades III
1. Elaborar uma proposta de capacitação para
um membro da equipe de PSF.
2. Apresentar em plenária.
3. Ler os textos: “Alguns fatores pedagógicos”
[12], Texto nº 11 e o texto “Uma Pedagogia para a
Libertação” [13], Texto nº 12.
Retomar proposta de capacitação e responder:
• Qual a postura do educador, e do educando?
• Qual a corrente pedagógica predominante?
• O saber e a realidade do educando foram
considerados na ação educativos?
• O conteúdo de ensino estava organizado
de forma a facilitar a aprendizagem?
4. Preparar e aplicar atividade de educação em
saúde. (atividade de campo = 8 h.).
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5. Analisar o seguinte texto: “Convivendo
com o alcoolismo na família” [8]
“Pesquisa realizada pela autora, que teve como
objetivos do estudo identificar quem é a família que
convive com o alcoolismo e quais os recursos para
cuidar destas pessoas, tanto no âmbito profissional
como no não-profissional. Como referencial
metodológico optou pela pesquisa bibliográfica,
utilizando como fontes de dados os periódicos
brasileiros, norte-americanos e latino-americanos no
circuito das bibliotecas universitárias. Os resultados
desta pesquisa constroem um retrato da família que
convive com o alcoolismo, desvelando os desafios
que enfrentam em seu cotidiano quanto às
potencialidades que preserva, apesar de todos os
problemas que experimenta, e que possibilitou
visualizar recursos e estratégias utilizados para cuidar
dessas pessoas”.
(Adaptação do texto original).
• O que é pesquisar?
• Por quê se pesquisa em enfermagem?
• Qual é a importância da pesquisa para a
prática da enfermagem?
6. Ler e discutir o texto “A construção do
projeto de pesquisa”[14], Texto nº 13.
7. Fazer o exercício abaixo.
Elaborar um plano de ação na perspectiva da
vigilância da saúde para o seguinte caso:
“D. Maria Aparecida com 33 anos de idade, 3
filhos, residente na Região Metropolitana do Rio
de Janeiro, procurou atendimento na Unidade de
Saúde da Família, localizada próxima ao seu
domicílio, onde estava cadastrada, informando
atraso menstrual, náuseas ao acordar, mamas
doloridas e edemaciadas, dizia “acho que estou
grávida”. A enfermeira Lúcia de imediato realizou
o TIG confirmando o diagnóstico.
Durante a consulta Aparecida pediu um
remédio para seus 3 filhos que estavam com diarréia
há quase dois dias. Lúcia indagou sobre os cuidados
com a água utilizada pela família, pois sabia que a
água que abastecia aquela região era de um poço
semi-artesiano. Além disso, o acúmulo de lixo
próximo à casa da família era grande, pois o local
era de difícil acesso, por ser muito alto, não sendo
possível a coleta regular pela empresa responsável
por este serviço.
Ao final do encontro, Aparecida queixou-se
que seu marido de 35 anos havia voltado a beber,
pois perdeu o emprego há menos de um mês e
recusava qualquer tipo de ajuda, tornando-se por
vezes agressivo com ela e os filhos.
8. Participar da avaliação final da disciplina.
Cronograma
Data
15ª sem
16ª sem
17ª sem
18ª sem
19ª sem
–
–
–
–
–
04/06
11/06
18/06
25/06
02/07
Conteúdo
Seq.III - Ativ. 1, 2, 3 e 4
seq.III – Ativ. 5, 6
PR 2
P. 2ª chamada
P. Final
Conclusões
É preciso estimular o aluno de graduação em
enfermagem estabelecer relações, a criticar e
interferir na realidade de forma reflexiva e criativa,
adotando estratégias de resolução de problemas, a
partir da metodologia da problematização. Não
basta ensinar conteúdos, mas desenvolver nos
alunos a investigação, o diálogo, a trabalhar com
as diversidades.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
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da Qualidade; 2001.
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HUCITEC/ABRASCO; 1996. p.233-241.
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Instituto para o desenvolvimento da saúde. Manual
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Lalonde M. “O Conceito de Campo de Saúde: uma
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/ www.ids.saúde.org.br/enfermagem
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método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 1994. K
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Revisão
Proposta de instrumento de coleta
de dados em consulta de enfermagem
em ginecologia e pré-natal
Dulce Aparecida Siviero Franco, M.Sc.*, Milena Butolo Vido**
*Especialista em Enfermagem Obstétrica, Docente no Curso de Graduação e Pós Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Hermínio
Ometto – UNIARARAS, **Especialista em Enfermagem Obstétrica, Docente no Curso de Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem do
Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS
Resumo
Diversos modelos teóricos de documentação clínica têm sido experimentados ou estão em fase de desenvolvimento mediante
o avanço da sistematização da assistência de enfermagem em nossa prática diária. Descrevemos neste trabalho um instrumento
de coleta de dados fruto de nossa experiência na assistência ginecológica e pré-natal de baixo risco em assistência à mulher.
Nosso objetivo é organizar dados seguindo um referencial de identificação das necessidades da cliente, baseado nos padrões
de reação humana. Através da revisão bibliográfica buscamos fundamentar nosso referencial teórico e elaboramos um modelo
de organização dos dados em forma de instrumento que acreditamos possa contribuir na prática diária profissional da
enfermagem e na melhoria de qualidade de assistência à mulher.
Palavras-chave: mulher, reação humana, sistematização.
Abstract
Instrument Proposal for collecting data in nursing consultation in
gynecology and prenatal
Several theoretical models of clinical data have been experienced or are in development through nursing care systematization
advance in our daily practice. In this work, it is described an instrument of data collection acquired through experience in
gynecological and prenatal low risk care. Our objective is to organize data according to reference identification of women’s
needs, based on the human response patterns. Through the bibliographical revision we try to be based upon our theoretical
reference and elaborate a model of organization data as an instrument that we believe that can contribute in daily practice
nursing care and quality improvement assistance to the woman.
Key-words: woman, human reaction, systematization.
Artigo recebido em 19 de abril de 2004; aceito em 25 de maio de 2004.
Endereço para correspondência: Dulce Aparecida Siviero Franco, Rua Mogi Mirim 85/13
Centro 13600-400 Araras SP Tel: (19) 3541-3575, E-mail: [email protected]
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Resumen
Propuesta de instrumento de coleta de datos en la consulta de enfermería de
ginecología y prenatal
Varios modelos teóricos de documentación clínica han sido experimentados o están en fase de desarrollo mediante el avance
de la sistematización de la asistencia de enfermería en nuestra práctica diaria. En este trabajo describimos un instrumento de
colecta de datos fruto de nuestra experiencia en la atención ginecológica y prenatal de bajo riesgo a la mujer. Nuestro
objetivo es organizar datos que siguen un referencial de identificación de las necesidades del cliente, basado en los modelos
de reacción humana. A través de la revisión bibliográfica buscamos fundamentar nuestro referencial teórico y elaboramos un
modelo de organización de los datos en forma de instrumento que creemos pueda contribuir en la práctica diaria del
profesional de enfermería y mejora en la calidad de atención a la mujer.
Palabras-clave: mujer, reacción humana, sistematización.
Introdução
As ações de promoção e manutenção de saúde
da mulher devem estar voltadas para a cobertura da
maioria da população feminina, bem como assegurar
a continuidade no atendimento, acompanhamento
e avaliação dessas ações. E essas ações seriam o
resultado de aplicação do processo de enfermagem
através da sistematização da assistência de
enfermagem.
Iyer [1] define processo de enfermagem como
uma série de passos (coleta de dados, diagnóstico de
enfermagem, planejamento, implementação e
avaliação) que focalizam a individualização do cuidado
através de uma abordagem de solução de problemas.
A consulta de enfermagem sistematizada visa
assistir e avaliar o cliente, levantando dados para
um planejamento assistencial de acordo com suas
necessidades. As observações clínicas mostram e
as estatísticas comprovam, que cerca de 85% das
gestações começam, evoluem e terminam sem
complicações. São as chamadas gestações de baixo
risco. Outras, no entanto, aproximadamente 15%
delas, já apresentam problemas desde seu início ou
então surgem no seu transcurso, caracterizando as
gestações de alto risco.
Para que seja possível a efetivação das
intervenções de enfermagem, acreditamos que o
levantamento dos dados clínicos torna-se necessário,
e estes devem estar fundamentados na avaliação do
estado de saúde do cliente. Essa avaliação por mais
completa que seja não permite que se esgotem todos
os aspectos, mas deve permitir que o processo de
coleta de dados seja iniciado possibilitando a
organização do conteúdo, para posterior formulação
de diagnósticos e implementação de plano de
cuidados de enfermagem.
O critério por nós utilizado está baseado em
padrões de reação humana que permite que se
analise a cliente em 9 fenômenos clínicos
identificados como padrões: conhecer, relacionar,
trocar, sentir, escolher, comunicar, valorizar,
movimentar e perceber [1].
O papel do Estado tem se guiado através de
programas, entre eles o PAISM – Programa de
Assistência Integrada à Saúde da Mulher [2]
permeando normas e critérios técnicos de
assistência pré-natal baixo e alto risco, prevenção
de doenças sexualmente transmissíveis, prevenção
de câncer cérvico-uterino e mamário, planejamento
familiar, assistência à adolescente, menopausa,
institucionalização da assistência ao parto, puerpério
e ao recém-nascido.
Baseado na determinação de tais políticas
públicas de atendimento é que vimos a necessidade
de formulação e operacionalização de instrumentos
que viabilizem a assistência de enfermagem para
efetivação das propostas governamentais, melhorando
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a qualidade de assistência à mulher. Silva [3]
considera qualidade na assistência em enfermagem
como conjunto de ações desenvolvidas pelo
profissional, com conhecimento, habilidade,
humanidade e competência, objetivando o
atendimento às necessidades e expectativas de cada
cliente. Sua operacionalização exige a adoção de uma
metodologia que favoreça o conhecimento das
mesmas de forma individualizada.
O propósito de sugestão deste instrumento
(histórico de enfermagem) é a obtenção de dados
para facilitar a identificação do diagnóstico de
enfermagem mediante as necessidades de cada
cliente. O conteúdo, seqüência e formato do
instrumento foram elaborados possibilitando-se a
assistência às mulheres atendidas na clínica
ginecológica e obstétrica (pré-natal baixo risco), de
forma mais abrangente possível, com vistas a
considerar a mulher inserida no contexto sóciocultural, contemplando um conteúdo de fácil
compreensão e utilização.
Objetivo
Elaborar um instrumento de coleta de dados
a fim de operacionalizar a primeira etapa do
processo de enfermagem, histórico, de mulheres em
assistência pré-natal e ginecológica.
Revisão de literatura
O processo de enfermagem permite, ao
enfermeiro ter uma conduta adequada e de
qualidade, pois consiste em um método organizado
que tem uma estrutura lógica e científica. É um
meio pelo qual podemos obter uma atenção mais
dirigida e, assim satisfazer as necessidades da
cliente. A sistematização é de fundamental
importância para planejar, direcionar as ações de
enfermagem e organizar o registro dos dados [1].
Além disso, conduz à priorização dos
procedimentos a serem realizados e, se necessário,
ao redimensionamento de recursos humanos e
materiais, facilitando a avaliação da assistência
prestada, pois permite verificar se os padrões
mínimos estabelecidos foram alcançados. [3]
A enfermagem representa uma categoria que
muito tem a contribuir para a melhoria da qualidade
da assistência à saúde da mulher, pelas suas práticas
e seu corpo de conhecimento teórico-científico [1].
Enquanto categoria profissional encontra-se
plenamente inserida nos programas atuais de
assistência à mulher, utilizando-se do processo de
enfermagem para nortear sua prática assistencial,
bem como viabilizar e tornar concretos os
resultados dessa assistência.
Será durante a consulta de enfermagem que o
profissional desenvolverá o primeiro passo do
processo de enfermagem, que contempla o
histórico, através do levantamento de dados ou
avaliação inicial da cliente, compreendendo a
entrevista, o exame físico, resultados laboratoriais
e outras fontes, com o propósito de identificar as
necessidades, problemas, preocupações ou reações
humanas da cliente. Portanto a sistematização da
assistência traz ao enfermeiro uma diretriz a seguir
para definição do seu papel e do seu espaço de
atuação [4]. Contribui para a autonomia da
enfermagem, pois provê ao nosso fazer um
instrumento essencial para que possa ser exposto à
observação e à crítica, possibilitando ainda,
desenvolver um raciocínio clínico ordenado,
possibilitando a tomada de decisões [5].
A coleta de dados objetiva a interpretação da
realidade para a proposição de ações e intervenções
na realidade vivida por mulheres em diferentes fases
do ciclo vital.
Mediante isto é que diversos modelos teóricos
de documentação clínica têm sido experimentados
ou em fase de desenvolvimento mediante o avanço
da sistematização da assistência de enfermagem em
nossa prática diária.
Material e métodos
Através de nossa experiência diária docente
no atendimento à mulher, no acompanhamento
da graduação em enfermagem e pós-graduação
em especialização em enfermagem obstétrica nas
áreas de pré-natal e atendimento ginecológico ou
assistência global à saúde da mulher, que nos
instrumentalizou na identificação das necessidades operacionais de um instrumento prático
e funcional a fim de atingir as necessidades
da cliente.
Para alcançarmos o objetivo proposto nos
fundamentamos na pesquisa bibliográfica,
permitindo avaliar o fenômeno de coleta de dados
de forma ampla, e servindo de guia na elaboração
do instrumento sugerido [6].
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Descrição do instrumento
Padrão Relacionar
Sugerimos um instrumento de coleta de dados
com base na proposta dos padrões de reação
humana. Este modelo permite a coleta de
informações de forma organizada, facilitando a
avaliação do estado de saúde e a identificação dos
diagnósticos de enfermagem, partindo-se das
necessidades da cliente.
O instrumento de coleta de dados consta de
quatro partes; a primeira descrita neste trabalho
refere-se ao histórico, contendo a identificação da
cliente com dados pessoais; o levantamento das
informações do histórico baseado nos padrões de
Reação Humana dispostos em informações listadas
(tipo check list) ou perguntas abertas. O
detalhamento desses padrões foi baseado em nossa
experiência profissional com mulheres; a segunda
parte diz respeito ao diagnóstico de enfermagem; a
seguir as prescrições e a última parte apresenta a
evolução de enfermagem [7].
Na primeira consulta de enfermagem a cliente
é avaliada. Preenchidos os tópicos do histórico de
enfermagem e com os dados obtidos, são formulados
os diagnósticos e as intervenções propostas. No
retorno das consultas de enfer-magem, agendadas
de acordo com as necessidades, cada cliente é
reavaliada com continuidade e/ou reformulação da
proposta de intervenção anteriormente adotada.
O conteúdo deste padrão visa indicar as
relações sociais próximas da cliente no desempenho
de papéis, bem como as influências desses
relacionamentos em sua saúde, no que diz respeito
principalmente à vida reprodutiva e sexual.
Identificação
Permite dados referentes ao grau de
comunicação e instrução da cliente.
São dados obtidos junto à cliente e/ou seu
prontuário na unidade básica de saúde (dados como
nome, endereço, data de nascimento, idade, etc.).
Padrão valorizar
Padrões de reação humana
Organizamos o conteúdo seguindo os nove
Padrões de Reação Humana que muitas vezes se
interrelacionam e se complementam, dispostos
numa seqüência que nos pareceu lógica, porém sem
rigorosa rigidez nesse seguimento.
Padrão conhecer
O conteúdo do padrão conhecer, nos permite
dados sobre o histórico de saúde ginecológica
passado e atual da cliente identificando o que ela
conhece sobre sua condição de saúde, incluindo os
fatores de risco e os medicamentos em uso.
Padrão trocar
O conteúdo deste padrão visa obter dados
relacionados à condição física da cliente, quanto às
funções e metabolismo, circulatório, respiratório,
pele, nutrição e eliminações.
Padrão sentir
Visa identificar a presença de desconforto e suas
características quanto à localização, intensidade, bem
como fatores referentes à integridade emocional.
Padrão escolher
Visa obter dados referentes ao enfrentamento
da cliente frente a situações difíceis que se depara
no cotidiano e seu comportamento em tais
situações; ainda abrange dados sobre sua
participação em planos assistenciais.
Padrão comunicar
Busca dados sobre a condição espiritual da
cliente, bem como informações valiosas
relacionadas a influências religiosas nas questões
reprodutivas do cliente inserida num contexto sóciocultural a que pertence.
Padrão movimentar
Permite dados sobre o tipo de atividade da
cliente, hábitos de lazer, recreação e sono, bem como
se teve experiências anteriores em amamentação e
possíveis intercorrências.
Padrão perceber
Visa obter dados referentes ao seu autoconceito, auto-percepção e órgãos do sentido.
"&
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I. Identificação
Nome:
Prontuário:
Endereço:
Fone:
D.N. / /
Idade:
Naturalidade:
Raça:
Estado Civil:
Padrão Conhecer
Histórico e Problemas atuais de saúde:
Data último ex. ginecológico:
/
/
Obs:
Resultado:
Menarca:
Vida sexual ativa:
Ciclo menstrual: ( ) regular
( ) irregulares
Anticoncepção:
Corrimento:
DUM:
DPP:
Fatores de risco:
( ) adolescente
( ) acima de 35 anos
( ) 6 ou + gestações
( ) aborto
( ) natimorto
( ) sangramento
( ) má-nutrição
( ) tabagismo
( ) etilismo
( ) drogas
( ) DST
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
IG:
) edema
) diabetes
) hipertensão
) cirurgias anteriores
) doenças neurológicas
) obesidade
) sedentarismo
) anticoncepcionais orais
) alergias
) Ca familiar
) outras doenças
Medicamentos em uso:
1.
2.
3.
4.
Padrão Relacionar
Relações
Estado civil:
Profissão:
Ocupação:
Sexualidade/Reprodução:
No gestações:
( ) gemelar
no. filhos vivos:
( ) paridade ( ) PN
( ) aborto
idade dos filhos
( ) cesárea
( ) prematuro
Último parto há:
( ) fórceps
Padrão sentir
Conforto:
Dor:
Localização:
Intensidade:
Há quanto tempo:
Integridade emocional:
Ansiedade:
Medo:
Raiva:
Vergonha:
Culpa:
Tristeza:
"'
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Padrão Trocar
Cardíaca/Periférica:
P.A.:
mmHg
Pulso: bat/min ( ) rítmico ( ) arrítimico ( ) cheio ( ) filiforme ( ) fraco
( ) diminuída
Edema:
Perfusão periférica: ( ) boa
Varizes:
Obs:
Cerebral:
Convulsões:
Tontura:
Oxigenação:
F.R.:
mpm ( ) regular ( ) superficial ( ) moderado ( ) profundo
( ) eupneica
( ) bradipneica
( ) taquipneica ( ) taquidispneica
( ) dispneica
( ) tosse
( ) murmúrios vesiculares
( ) estertores
( ) roncos
( ) sibilos
Integridade da pele:
( ) lesões pele
( ) cicatriz
( ) hidratada
( ) desidratada
( ) corada
( ) descorada
( ) turgor preservado ( ) ictérica
( ) cianótica
( ) manchas
( ) estrias
unhas:
cabelos/pêlos:
mamas: ( ) simétricas ( ) assimétricas
( ) pequenas ( ) médias ( ) grandes
inspeção:
palpação:
expressão: ( ) direita
( ) esquerda
( ) colostro
( ) leite
( ) outros
mamilos:
( ) protruso
( ) plano
( ) umbilicado
lesões mamilos:
Obs.:
Regulagem Física:
To:
Linfonodos:
Via:
( ) pescoço ( ) axilar ( ) inguinal
Nutrição:
Peso inicial:
Kg; Peso atual:
Kg; Alt:
cm
( ) náuseas
( ) vômitos
( ) pirose
( ) alterações no apetite
( ) dispepsia
( ) malácia
condições dentes:
Obs.:
Eliminação Intestinal:
Evacuação: ( ) diária ( )
RHA ( )
Palpação:
Alterações intestinais:
x/semana ( ) constipação
inspeção:
Percussão:
Eliminação Urinária:
Freqüência urinária:
x/dia ( ) límpida ( ) turva ( ) hematúria
( ) depósito de sedimentos ( ) concentrada
( ) distensão vesical
( ) polaciúria ( ) poliúria ( ) oligúria ( ) disúria ( ) piúria ( ) noctúria
incontinência urinária:
A avaliação da enfermeira
fundamenta-se nos dados da entrevista
e exame físico da cliente.
Dados complementares
A segunda parte do instrumento
refere-se ao diagnóstico de enfermagem
através da identificação das necessidades
da cliente no que diz respeito aos
cuidados e elaboração dos diagnósticos
de enfermagem, baseados no sistema de
classificação da North American
Nursing Diagnosis Association
(NANDA). A terceira parte se destina
às prescrições, a fim de suprir os
problemas identificados levando em
consideração as especificidades da
população feminina.
Posteriormente o instrumento dá
espaço à evolução de enfermagem que
nos permite re/avaliar ações e resultados
obtidos com os cuidados prestados à
cliente e prosseguirmos no atendimento
em busca de melhorias na qualidade de
vida das mulheres.
Conclusões
O instrumento descrito foi
utilizado em campo de estágio nas
disciplinas de Saúde da Mulher e
Enfermagem Obstétrica em pré-natal de
baixo risco por alunas do curso de
Especialização em Enfermagem
Obstétrica por acreditarmos que é uma
forma didática de coleta de dados,
contribuindo no ensino e na prática diária
profissional de assistência à mulher.
Na consulta, a cliente é orientada
sobre as propostas de enfermagem,
estabelecendo as metas a serem alcançadas,
sob controle no retorno agendado.
Em linhas gerais, podemos afirmar
que instrumentos de trabalho, ou
mesmo a mais completa assistência de
enfermagem à mulher fortalece e
impulsiona estudos pertinentes à
questão da saúde da mulher fazendo
parte de um contexto sócio-econômico.
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Referências
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1.
5.
2.
3.
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diagnóstico de enfermagem. Porto Alegre: Artes
Médicas; 1993.
Brasil. Ministério da Saúde. Programa de Assistência
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Silva SH. Controle de qualidade assistencial de
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São Paulo: Escola de Enfermagem USP; 1994. 182p.
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São Paulo: Atlas; 1999.
Maria VLR. Preparo de enfermeiros para a utilização
de diagnósticos de enfermagem: relato de experiência.
[dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem USP;
1990. K
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Revisão
Atualização em tuberculose
Rodrigo Grazinoli Garrido, M.Sc.*, Fabíola de Sampaio Rodrigues, M.Sc.**
* Biomédico, Especialista em Análises Clínicas, Mestre em Ciências Farmacêuticas, Doutorando em Ciências, Perito do Instituto de Criminalística
Carlos Éboli – PCERJ, ** Bióloga, Mestre e Doutoranda em Ciências, Professora de Bioquímica da UFRRJ
Resumo
O Brasil é o país com maior número de casos de tuberculose na América Latina. Mundialmente, esta é a causa mais freqüente
de morte entre as doenças infecciosas. Além do crescimento de grupos expostos, a resistência às drogas antimicrobianas tem
contribuído significativamente para as alterações epidemiológicas atualmente observadas. O bacilo da tuberculose é o
Mycobacterium tuberculosis. Entretanto outras bactérias acometem o homem e atuam como oportunistas em pacientes
imunodeprimidos pela AIDS. A infecção pelo bacilo geralmente se inicia no parênquima dos lobos pulmonares inferiores
após a inalação. O padrão-ouro para o seu diagnóstico é a cultura positiva do M. tuberculosis. Todavia limitações temporais têm
levado à utilização de métodos auxiliares. Nesta revisão, pretendemos abordar essencialidades sobre Tuberculose,
particularmente sua epidemiologia, microbiologia, patologia, tratamento e diagnóstico para a prática diária dos profissionais
de saúde.
Palavras-chave: tuberculose, M. tuberculosis, infecção oportunista, doença emergente.
Abstract
Update in Tuberculosis
Brazil is the country with the biggest number of tuberculosis cases in Latin America. This disease is the most frequent
cause of death among infectious diseases. Despite exposed groups’ growth, drug resistance is another important cause of
epidemiologic changes in tuberculosis occurrence. The tuberculosis bacillus is Mycobacterium tuberculosis. However, other
bacterias infected the man and cause opportunity diseases in HIV patients. Generally, tuberculosis infection starts in
lower lung parenchyma. The gold standard diagnostic is positive M.tuberculosis culture. However, this method presents
temporal limitations, what has resulted in auxiliary methods use. In this review, we look forward to showing essential
knowledge about tuberculosis, especially its epidemiology, microbiology, pathology, treatment and diagnosis what is
important for healthcare professionals.
Key-words: tuberculosis, M. tuberculosis, opportunistic infection, emerging disease.
Artigo recebido em 20 de maio de 2004; aceito em 10 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Rodrigo Grazinoli Garrido, Cx.Postal 74530, 238790-970
Seropédica RJ, E-mail: [email protected]
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Resumen
Actualización en Tuberculosis
El Brasil es el país con mayor número de casos de tuberculosis en América Latina. Mundialmente, esta es la causa más
frecuente de muerte entre las enfermedades infecciosas. Además del crecimiento de los grupos expuestos, la resistencia a las
drogas antimicrobianas ha contribuido significativamente para las alteraciones epidemiológicas actualmente observadas. El
bacilo de la tuberculosis es Mycobacterium tuberculosis. Sin embargo, otras bacterias infectan al hombre y actúan como oportunistas
en pacientes inmunodeprimidos por el SIDA. La infección por el bacilo generalmente se inicia en el parénquima de los lobos
pulmonares inferiores después de su inhalación. El padrón oro para su diagnóstico es el cultivo positivo de M. Tuberculosis. No
obstante, limitaciones temporales han llevado a la utilización de métodos auxiliares. En esta revisión se pretende abordar
algunos aspectos básicos sobre la tuberculosis, particularmente su epidemiología, microbiología, patología, tratamiento y
diagnóstico para la práctica diaria de los profesionales de la salud.
Palabras-clave: tuberculosis, M. tuberculosis, infecciones oportunistas, enfermedad emergente.
Introdução
O Brasil apresenta 129.000 novos casos de
tuberculose por ano. É o país com maior número de
casos na América Latina e ocupa posição preocupante
no mundo, onde 2 milhões de pessoas morrem por
ano e 8 milhões de novos casos são diagnosticados
[1,2]. Estima-se que 1/3 da população mundial esteja
infectada sendo esta a causa mais freqüente de morte
entre as doenças infecciosas [2,3].
Após o advento de drogas eficazes para o
tratamento da tuberculose durante as décadas de
1960 e 1970, a infecção entrou no esquecimento
[4,5]. Entretanto, em 1995 a Organização Mundial
de Saúde (OMS) declarou esta patologia uma
emergência em todo o planeta [4].
A celeridade no diagnóstico, estudos sobre
custo/benefício, adesão ao tratamento, novas
vacinas, novas estratégias pós-genoma, novos
modelos explicativos para a doença são alguns dos
desafios a serem ultrapassados [4]. Dessa forma,
casos de tuberculose ainda permanecerão comuns
em nosso dia-a-dia por algum tempo. E, seja no
cuidado ambulatorial, no diagnóstico, em
campanhas de vacinação ou na dispensa de
medicamentos, fazem-se necessários conhecimentos
multidisciplinares sobre esta doença.
Nesta revisão, pretendemos facilitar a busca
de informações sobre a tuberculose, sem a pretensão
de exaurir o tema. Aspectos referentes a sua
epidemiologia, microbiologia, patologia, tratamento
e diagnóstico serão apresentados de forma a
permitir ao profissional de saúde obter noções
fundamentais para sua lida diária.
Epidemiologia
Dos novos casos de tuberculose que surgem
anualmente no Brasil, apenas 65% são notificados
pela rede de saúde [1]. Em uma classificação por
Unidade da Federação, observou-se que, em ordem
decrescente, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e
Minas Gerais eram os estados onde o maior
número de casos de tuberculose foram notificados.
Em termos de coeficiente de notificação esta
ordem se altera para: Amazonas, Rio de Janeiro,
Roraima e Acre [4]. Acredita-se que este problema
não seja emergente e tampouco reemergente, mas
sim, um problema presente e estabelecido há longo
tempo [4].
A OMS assinala como principais causas para a
gravidade atual da tuberculose a desigualdade social,
o advento da AIDS, o envelhecimento da população
e grandes movimentos migratórios [4]. Os fatores
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de risco são o sexo, a raça, a idade, a escolaridade, a
classe social e a presença de comorbidades [6].
O crescimento de grupos expostos, como
imunossuprimidos, idosos, pacientes institucionalizados, moradores de rua, migrantes e crianças em
berçários e escolas maternais são, sem dúvida, fatores
que levaram ao aumento da incidência desta doença
[3]. No caso de imunossuprimidos pelo HIV, além
do risco aumentado de infecção exógena, há
incremento na reativação da infecção latente que
passa de 0,07 a 0,1 caso por 100 em soronegativos
para 9,7 a 10,4 casos por 100 em soropositivos [7].
A resistência às drogas antimicrobianas é outra
causa que leva a alterações importantes do
comportamento epidemiológico da tuberculose. O
problema da multirresistência às drogas agravou
ainda mais a incidência que já vinha acometendo
principalmente pacientes com AIDS. Em Nova
Iorque, cerca de 1/3 dos casos da doença são
produzidos por cepas multirresistentes e a letalidade
entre eles varia de 40 a 60%, igualando-se àquelas
para os casos não tratados [3]. Segundo a OMS, a
menos que se adotem medidas urgentes, cerca de
um bilhão de pessoas serão infectadas e 70 milhões
morrerão até o ano de 2020 [4].
Com referência aos profissionais que atuam
clinicamente com pacientes tuberculosos e a
laboratoristas que manipulam a micobactéria, o
risco de infecção é até três vezes maior e a taxa de
conversão do teste tuberculínico chega a nove
vezes a taxa encontrada para a população [6,8]. Os
bacilos do gênero Mycobacterium são facilmente
transmitidos através de aerossóis produzidos em
laboratório, podendo sobreviver em esfregaços
fixados pelo calor e serem nebulizados nas
preparações de secções congeladas e durante a
manipulação de culturas líquidas [8]. Na tosse, no
espirro, no canto, na fala, na respiração do
traqueostomizado, o paciente elimina gotículas
com o microrganismo [6].
pelo ácido ou álcool sendo, portanto denominado
bacilo álcool-ácido resistente [9].
Além do M. tuberculosis, acometem o homem
um complexo de bacilos que encerram o M. bovis,
M. africanum, M. microti e M. ulcerans [6]. Também,
M. avium-intracellulare (MAC) e outras micobactérias
atípicas, como M. kansasii, são freqüentemente
isoladas de pacientes imunodeprimidos, atuando
como oportunistas e, algumas vezes, infectando
indivíduos imunocompetentes [5]. Nos Estados
Unidos, o MAC é responsável pela infecção
bacteriana mais comum em pacientes com
sintomas da AIDS, aumentando o risco de
infecção quando a contagem de linfócitos CD4
declina para <100/uL [9].
As paredes celulares dessas bactérias são ricas
em lipídios, entre eles o ácido micólico um ácido
graxo de cadeia longa, ceras e fosfolipídios. Este
ácido graxo associado ao dipepitídeo muranil do
pepitidioglicana pode provocar a formação de
granuloma. A remoção de certos lipídios da parede
celular destrói a resistência ao álcool-ácido. A
complexa parede protege a bactéria da destruição
por agentes químicos. Contudo não altera sua fácil
destruição por agentes físicos como a calor e a
radiação ultravioleta [6].
As cepas virulentas dos bacilos da tuberculose
formam cordões serpentiformes, nos quais os
bacilos se dispõem em cadeias paralelas. O fator de
corda (dimicolato de 6,6’-trealose) foi isolado de
cepas virulentas. Este fator inibe a migração de
leucócitos, provoca a formação de granulomas
crônicos e pode atuar como adjuvante imunológico.
Além disso, algumas proteínas estimulam a reação
tuberculínica e podem induzir a formação de uma
variedade de anticorpos. Outros fatores de
virulência se devem à capacidade de produção de
invasinas e da catalase-peroxidase que favorecem a
penetração nos macrófagos e a resistência aos
efeitos oxidativos promovidos por esta célula [6].
Microbiologia
Imunologia
O Mycobacterium tuberculosis é uma forma de
transição entre eubactérias e os actinomicetos [6].
Este bacilo não forma esporos, não apresenta
flagelos, não produz toxinas, além de ser intracelular
facultativo e aeróbico. Seu período de geração e
duplicação é muito longo, variando de 16 a 20 horas
e de 18 a 48 horas respectivamente [6]. Uma vez
corado com corantes básicos, resiste à descoloração
A imunidade natural contra a tuberculose se dá
através das barreiras físicas (pêlos nasais, angulação
das vias aéreas), secreção traqueobranquial e clearence
mucociliar que protegem contra os bacilos inaláveis,
ou ainda pela defesa celular inespecífica (macrófagos
e neutrófilos), eosinófilos e linfócitos T Natural Killer
(NK). Entretanto, a diversidade de respostas
inerentes aos indivíduos parece estar relacionada
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com a velocidade com que cada hospedeiro é capaz
de desenvolver a resistência adquirida [6].
A imunidade adquirida se desenvolve a partir
da resposta humoral e celular. Uma vez que os
anticorpos não têm capacidade de lisar e destruir o
M. tuberculosis, a resposta humoral parece ter pouco
valor no combate à tuberculose. Já a resposta celular,
também chamada de reação de hipersensibilidade
tipo IV, pois não dependente de anticorpos, oferece
eficiente proteção contra o bacilo. Esta não se
desenvolve plenamente na desnutrição, etilismo,
silicose, diabetes mellitus, paracoccidiomicose,
gastrectomia e, é claro, nas condições imunossupressoras por doenças ou drogas [6].
A interação do macrófago com a micobactéria
se dá a partir da chegada desta aos pulmões. Haverá
a tentativa de fagocitose, acompanhada pela ligação
do microrganismo através de receptores de
complemento CR1, CR2, CR3, bem como
receptores manose, e outras moléculas de superfície
celular como a proteína-A do surfactante, o CD-14
e os receptores scavenger [6].
Após a fagocitose, o bacilo estará sujeito à
destruição pela formação do fagolisossoma e à
liberação de espécies reativas de oxigênio e
nitrogênio. É de essencial importância ação da
enzima oxido nítrico sintase 2 do macrófago. Ela é
induzida por interferon-gama (INF-γ) e pelo fator
de necrose tumoral-γ (TNF-γ) e há produção de
agentes anti-micobatérias a partir da L-arginina [10].
Contudo estratégias utilizadas pela bactéria para se
evadir da ação destes radicais livres já são
reconhecidas, contribuindo para a manutenção da
infecção latente [10].
Mecanismos possíveis para a destruição
resultam de uma série de interações ocorridas entre
os linfócitos e os fagócitos do hospedeiro, mediadas
por citocinas. Os linfócitos T CD4+ são os mais
importantes efetores da imunidade mediada por
células nessa patologia. Estes linfócitos expressam
receptores celulares α/β que reconhecem o
antígeno apresentado pelo MHC classe II
(complexo principal de histocompatibilidade) de
macrófagos. Eles amplificam a resposta imune do
hospedeiro ativando células efetoras e recrutando
mais células quando necessário [6]. O M. tuberculosis
mostra-se capaz de atenuar o processamento do
antígeno, interceptando a apresentação via MHC
classe II e a resposta do linfócito T CD4+ [10].
Com a fagocitose da micobactéria, o
macrófago secreta IL1 (Interleucina 1) e IL2, que
sensibilizam o linfócito CD4+ Th1 e os linfócitos
NK para secretarem INF-γ, o qual ativará os
próprios macrófagos para produzirem mais espécies
ativas de oxigênio e nitrogênio para o fagossoma,
como já descrito [6].
Os linfócitos TCD8+ reconhecem os antígenos
apresentados via MHC classe I, mostrando ação de
citotoxidade direta na célula alvo [2]. Além disso, pela
ação da IL12, secretada pelos macrófagos há estímulo
da diferenciação de linfócitos T CD4+ helper Th1. A
resposta Th1 consiste basicamente na produção de
citocinas IL2 e interferon-gama, que se auxiliaram o
macrófago, terminado pela formação do granuloma
fibrosado [6].
A imunoprofilaxia é feita através da vacina BCG
(Bacilo de Calmet Guerrin), preparada com variantes
atenuadas do M. bovis. Esta vacina leva a uma resposta
padrão Th1 ou hipersensibilidade tardia [6]. A
resposta Th1 também é produzida pelas paredes
celulares e pelo conteúdo celular das micobactérias
em animais previamente sensibilizados [9].
A generalização da vacina leva à impossibilidade
do uso do risco médio anual de infecção (RIMAI)
para o levantamento epidemiológico da população
que teve contato com o bacilo. Tanto a BCG, quanto
a primo-infecção protegem o indivíduo, mas nem
sempre evitam uma nova infecção [5].
Entre 20 e 40 dias após o controle da infecção,
o linfócito T CD4+ começa a produzir IL4, ligada
à resposta linfocitária do tipo Th2, com o objetivo
de inibir os mecanismos efetores da resposta imune
mediada por células e assim controlar o processo,
auxiliando na resolução da inflamação [6].
Na evolução para doença, há uma resposta de
predomínio Th2, onde a produção de IL4, IL5 e
IL10 leva ao recrutamento de eosinófilos com
produção de IgE, inibição dos linfócitos Th1 e NK,
produzindo uma imunidade lesiva [6].
Assim a resposta imune na tuberculose deve
ser considerada em relação à infecção latente
(tuberculose infecção) e à infecção evolutiva
(tuberculose doença). Enquanto na última a resposta
é humoral e celular. Na primeira, os anticorpos
séricos estão ausentes ou em títulos muito baixos,
sendo positiva apenas a reação de hipersensibilidade
retardada [5].
Patologia
A infecção pelo M. tuberculosis geralmente se
inicia no parênquima dos lobos pulmonares
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inferiores após a inalação [11]. A partir desse ponto,
duas evoluções são observadas: na primeira, ocorre
o rápido encarceramento dos bacilos, resultando em
uma lesão invisível ao radiograma torácico; na
segunda, após uma broncopeneumonia inespecífica,
há o encapsulamento das microbactérias, com
formação do granuloma específico da doença
(caseo), após cerca de quatro semanas. Esse estágio
é associado à viragem do teste tuberculínico. A partir
do foco pulmonar há disseminação linfática até o
gânglio satélite, de onde haverá disseminação
hematogênica para todo o organismo. No momento
da disseminação hematogênica, o organismo, já com
imunidade desenvolvida, impede o estabelecimento
da tuberculose doença em 95% dos casos,
encerrando a primoinfecção [6].
Em 5% dos casos, onde a primoinfecção não é
contida, há liquefação do caseo e o desenvolvimento
de doença com consolidação de uma pneumonia
atípica ou ainda, com a formação de uma cavitação
praticamente sem parede. Clinicamente, observa-se
uma forma aguda grave, menos comum, e outra forma
insidiosa e lenta, ambas durante os cinco primeiros
anos após a primoinfecção, denominadas tuberculose
primária. Na forma hematogênica, o caseo liquefeito
alcança os vasos ocasionando grave disseminação miliar
e aparecimento de formas extrapulmonares precoces,
como nas serosas, e tardias, como a genito-urinária
[6]. Os casos extrapulmonares são mais comuns em
pacientes HIV positivos [7].
O derrame pleural é a segunda forma
extrapulmonar mais freqüente de apresentação da
tuberculose. Esta forma é induzida quando a
micobactéria libera proteínas antigênicas na cavidade
pleural, provocando reação de hipersensibilidade e
o acúmulo de líquido na cavidade. No derrame
pleural, a contagem de células T, principalmente
CD4+, apresenta-se significativamente maior no
líquido pleural do que no sangue periférico com
liberação de grande quantidade de citocinas. O
contrário se observa para os linfócitos B [2].
Outra possibilidade de desenvolvimento da
doença é a chamada tuberculose secundária. Mais
comum em adultos, corresponde a um crescimento
lento do caseo, se apresentando com lesões
cavitárias, ao mesmo tempo em que há fibrose
reparativa. A origem está, na maioria das vezes, na
reativação de um foco quiescente, resultante da
disseminação linfo-hematogênica ocorrida durante
a primoinfecção. Entretanto, pode ter origem
exógena, a partir de uma nova contaminação.
A reativação do foco se dá por uma pneumonia
tuberculosa. Essa pneumonia tem características
diferentes da broncopneumonia da tuberculose
primária, correspondendo a uma condensação seca
e granulomatosa que evolui para necrose de
caseificação e progride para a doença. Ocorre
drenagem do caseo para um brônquio pérvio,
geralmente a drenagem dá lugar à caverna
tuberculosa. A cavitação pode evoluir para a cura
ou para complicações, como dilatação aneurismática
dos ramos da artéria pulmonar ou fístula
broncopleural. Apesar de incomum, pode haver
disseminação hematogênica na tuberculose
secundária [6].
Tratamento quimioterápico
A partir de 1940, o início do uso de
tuberculostáticos como a estreptomicina, o ácido
para-amino-salicílico e a hidrazida levou à grande
alteração na taxa de mortalidade por tuberculose.
Após 1960, começa efetivamente a utilização de
esquemas terapêuticos padronizados, inicialmente
com 18 meses de estreptomicina, hidrazida e ácido
para-amino-salicílico que, na mesma década, seria
reduzido para 12 meses [4].
Em 1979, foi introduzido o esquema
terapêutico de curta duração (6 meses) utilizando
rifampicina no lugar da estreptomicina [4].
Atualmente, o esquema de tratamento divide-se em
duas categorias. Com drogas de primeira linha que
combinam o máximo de eficiência com um grau
aceitável de toxicidade (isoniazida, rifampicina,
etambutol, estreptominicina e pirazinamida) e com
drogas de segunda linha (etionamida, ácido
aminossalicílico, ciclosseroina, amicacina,
canamicina e capreomicina) [5]. O esquema
terapêutico mais utilizado consiste da associação
de isoniazida, rifampicina e pirazinamida durante
dois meses, seguida por mais quatro meses com
apenas os dois primeiros. Após seis a nove meses
há cura de 95% dos pacientes [1].
Situações como monoterapia, prescrição
imprópria da associação ou falta de colaboração do
paciente para o uso do esquema terapêutico podem
levar ao surgimento de linhagens de M. tuberculosis
resistentes a um ou mais fármacos, comuns em
pacientes HIV positivos [1]. A resistência e a maior
virulência de alguns agentes podem ainda estar
relacionados à habilidade e versatilidade genética
carregada por elementos extracromossomiais e
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transferida entre organismos por conjugação,
transdução ou transformação, incrementando as
mutações selecionadas por pressões evolutivas [3].
Com relação ao M. tuberculosis, as bases
moleculares da resistência estão relacionadas ao
envoltório altamente hidrofóbico, o efluxo de
fármacos, a produção de enzimas hidrolíticas e
modificadores de fármacos como a ß-lactamase
e a aminoglicosídeos acetil transferases. Contudo
geralmente a resistência se deve à mutação de
genes envolvidos na tradução de sítios alvos de
fármacos [1].
O estudo dos mecanismos de resistência tem
se mostrado essencial para o desenvolvimento de
esquemas terapêuticos e outras drogas eficientes no
tratamento da tuberculose. A utilização de técnicas
moleculares oferece grandes vantagens para o
entendimento desses mecanismos e enorme
contribuição para o controle da tuberculose [1].
Material e métodos
No Brasil, cerca de 38,2% dos pacientes com
idade acima de quinze anos são tratados sem exame
de escarro ou com este exame negativo. No Rio de
Janeiro, esse número chega a 43,6% [12]. As
estratégias de controle se fixam no diagnóstico e
tratamento mais rápidos, a fim de interromper a
transmissão e evitar a difusão da doença, além da
imunoprofilaxia com o uso da BCG [1,12].
Os métodos de imagem utilizados na avaliação
da tuberculose pulmonar incluem a radiografia e a
tomografia computadorizada do tórax. A radiografia
do tórax é o método de escolha na avaliação inicial.
A tomografia computadorizada é utilizada na
suspeita clínica de tuberculose pulmonar,
especialmente nos casos em que a radiografia inicial
é normal, na diferenciação de outras doenças
torácicas e em pacientes com AIDS ou com febre
de origem desconhecida [13].
As imagens obtidas são representativas das
alterações estruturais ou anatômicas dos órgãos ou
tecidos comprometidos. No entanto, alterações
bioquímicas podem estar presentes e preceder as
alterações visualizadas por esses recursos diagnósticos.
Assim, certos métodos utilizados na medicina nuclear
fornecem imagens funcionais que podem ser mais
sensíveis do que os anatômicos ou estruturais [13].
O diagnóstico sorológico seria de especial
importância nos casos onde a baciloscopia encontra
limitações e como teste de diagnóstico de triagem
em áreas de elevada prevalência da doença [6].
Entretanto apesar de imunocomplexos serem
encontrados nos pacientes, a detecção de IgG, IgM
ou IgA e de antígenos micobacterianos ainda não
está incorporada na prática clínica. Um dos motivos
é a presença de estruturas antigênicas no M.
tuberculosis, comuns a outras micobactérias não
patogênicas. Assim, repetidos contatos ambientais
resultariam em algum grau de sensibilização imune
no homem. Outro entrave para o uso clínico dos
testes sorológicos é o baixo rendimento em
pacientes com HIV [6].
Outra possibilidade clássica da utilização da
resposta imune para o diagnóstico é o teste
tuberculínico. Este teste, isoladamente, indica
apenas infecção e não basta para o diagnóstico da
tuberculose doença. Além disso, o uso generalizado
da vacinação leva à impossibilidade de valoração
do teste tuberculínico em indivíduos que a
receberam nos três anos anteriores ao teste [6].
O padrão-ouro para o diagnóstico da
tuberculose é a cultura positiva do M. tuberculosis
[14]. Contudo, pelo lento crescimento bacilar, as
culturas somente permitem leitura após três a seis
semanas de inoculação [6]. Técnicas radiométricas
reduzem este período [1].
O diagnóstico de cepas resistentes se faz
importante para pacientes com baciloscopia positiva
que não se torna negativa após 3 meses de
tratamento, para pacientes recidivos e nos pacientes
com comorbidade AIDS/tuberculose. O
isolamento do M. tuberculosis em meio com
antibiótico é o método mais utilizado.
Colônias sugestivas de micobactérias são
examinadas pela técnica de Ziehl-Neelsen à procura
de bastonetes álcool-ácido resistentes e submetidas
a testes bioquímicos [15]. Além disso, a baciloscopia
é rotineiramente feita a partir de amostras clínicas
como o escarro e o lavado brônquico. Para que a
baciloscopia direta seja positiva são necessários 104
bacilos por mililitro de material clínico [6].
Uma das mais promissoras técnicas para o
diagnóstico rápido, sensível e específico da
tuberculose é baseada na reação em cadeia da
polimerase (PCR). Esta técnica pode identificar três
cópias de genoma bacteriano por mililitro de
amostra clínica em horas [16,17,18].
É importante chamar a atenção para o fato de
que os pacientes com tuberculose prévia e/ou
aqueles com co-infecção pelo HIV demonstram o
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maior índice de exames PCR falso-positivos para
tuberculose. Além disso, a interpretação dos
resultados deve ser feita cuidadosamente, de acordo
com o cenário epidemiológico existente [6].
O método bioquímico de avaliação da atividade
da Adenosina desaminase (ADA) no líquido pleural,
de realização prática, execução fácil e custo baixo,
deve ser um exame auxiliar de grande importância
no diagnóstico da tuberculose pleural. [6]. A grande
maioria dos trabalhos foca o estudo da ADA no
líquido pleural de pacientes acometidos de derrame
nesta área [19,20]. No entanto, a atividade da ADA
mostra-se aumentada em vários fluidos biológicos
de pacientes com tuberculose [19,20].
Resultados falso-positivos da atividade da ADA
ocorreram em pacientes com meningite bacteriana,
criptocóccica, carcinomatose leptomeníngea,
piotórax, linfoma, câncer de pulmão, mesotelioma
pleural, artrite reumatóide e sarcoidose [6,123
9]. Além disso, há descrição de falso-negativos
em estágios iniciais da tuberculose e em pacientes
tuberculosos etilistas [19]. Dessa forma, baixos
níveis de ADA não permitem excluir a tuberculose
pleural, necessitando a avaliação conjunta de outros
marcadores como o INF-γ, TNF-α e IL-8 para
aumentar o valor do exame [19].
Conclusões
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
15.
16.
17.
18.
19.
Referências
2.
4.
14.
Visto ser a tuberculose uma emergência em todo
o planeta, faz-se necessário a implementação de
programas de controle da tuberculose em unidades
de saúde. Seus profissionais devem buscar diariamente
por casos confirmados ou suspeitos de tuberculose,
além de intensificar e dar celeridade ao diagnóstico, de
modo a manter a atenção integral aos pacientes ainda
não conhecidos. Faz-se ainda necessário reduzir as taxas
de abandono do tratamento e estabelecer, sob
consentimento dos pacientes, a testagem anti-HIV
conjunta. Além disso, as pesquisas de novas tecnologias
de vacinas e novos modelos explicativos para a doença
são alguns dos desafios a serem ultrapassados [4].
1.
3.
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Revisão
Ocorrência de tinea pedis em um grupo
de idosos e fatores relacionados
Larissa Chaves Pedreira, M.Sc.*, Rose Ana Rios David**,
Cléa Marques Bittencourt***, Carine Jatobá, M.Sc.****
*Professora Assistente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBa), integrante do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre
o Idoso – NESPI, **Doutoranda, Professora Assistente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBa), especialista em
Enfermagem Dermatológica, ***Professora Adjunta da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBa), integrante do
NESPI, ****Discente da Escola de Enfermagem/UFBa, bolsista do NESPI
Resumo
Pesquisa quanti-qualitativa, com abordagem retrospectiva, através de consultas a prontuários dos idosos inscritos no PROASI,
com o objetivo de identificar a incidência de tinea pedis em um grupo de idosos na comunidade de Narandiba. O estudo
levou em consideração fatores associados, tais como: idade, dificuldade de locomoção, condições de moradia, higiene e grau
de escolaridade. Os resultados apontaram para a significativa incidência de tinea pedis em idosos e que os fatores relacionados
são aspectos que podem contribuir para a prevenção e tratamento dessas lesões.
Palavras-chave: tinea pedis, idosos, PROASI.
Abstract
Occurrence of tinea pedis in a group of aged people and related factors
Quantitative-qualitative survey with retrospective approach through consultation to records of aged people registered in the
PROASI, with the objective of checking the incidence of tinea pedis in a group of aged people of Narandiba community.
The study took into account associated factors: age, difficulty of locomotion, housing conditions, hygiene and educational
level. The results pointed out a significant incidence of tinea pedis in aged people, and that related factors are aspects that can
contribute to the prevention and treatment of these lesions.
Key-words: tinea pedis, aged people, PROASI.
Artigo recebido em 28 de maio de 2004; aceito em 11 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Profa Rose Ana Rios David,
Escola de Enfermagem da UFBA – Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgico
e Administração em Enfermagem, s/n, Campus Universitário do Canela 40110-060
Salvador BA, E-mail: [email protected]
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Resumen
Ocurrencia de tinã pedis en un grupo de adultos mayores y los factores relacionados
Investigación cuanti-cualitativa, con abordaje retrospectivo, a través de consultas a las historias clínicas de los adultos
mayores inscritos en el PROASI, con el objetivo de identificar la incidencia de tiña pedis en un grupo de adultos mayores
en la comunidad de Narandiba. El estudio llevó en consideración factores asociados tales como: Edad, dificultad de
locomoción, condiciones de morada, higiene y grado de escolaridad. Los resultados apuntaron una significativa incidencia
de tiña pedis en adultos mayores y que los factores relacionados son aspectos que pueden contribuir para la prevención y
tratamiento de esas lesiones.
Palabras claves: adulto mayor, tiña pedis, PROASI.
Introdução
O fenômeno do envelhecimento populacional
não é um assunto novo. Países desenvolvidos como
os EUA, Inglaterra e Suécia já convivem com isso há
anos. No Brasil e em outros países em desenvolvimento, o contingente de idosos vêm
aumentando rapidamente, requerendo urgentemente
políticas nacionais que venham a lidar com as
conseqüências econômicas, sociais e de saúde do
envelhecimento populacional.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio (PNAD) [1], a
percentagem de idosos alcançou 9,1% em 1999,
sendo que de 1995 a 1999, o número de idosos
aumentou em 1,8 milhão, e a região sudeste foi a
que teve maior envelhecimento. De acordo com o
estudo realizado em 2000, da população total de
brasileiros estimada em 169.500.000 habitantes, em
torno de 15,5 milhões tem 60 anos de idade ou mais.
Contudo a queda da taxa de mortalidade e o
aumento da expectativa de vida geram um aumento
da morbidade, com a redução da capacidade
funcional em todos os sentidos, e o aparecimento
de doenças crônico-degenerativas, muitas vezes
incapacitantes, o que, ao longo da velhice, podem
gerar no idoso uma situação de dependência e muitas
idas aos serviços de saúde.
Em relação a isso, pode-se dizer que as doenças
apresentadas pelos idosos constituem-se em
demandas clínicas, de prevenção ou recuperação,
apoiados em procedimentos diagnósticos e
terapêuticos de alto e médio custo, que requerem
profissionais competentes envolvidos e integrados,
além da integração de atividades individuais e
coletivas, curativas e preventivas, assistenciais e
educativas [1]. Para isso, conforme os mesmos
autores, a unidade básica deve conter, para um
atendimento adequado às necessidades, uma alta
capacidade resolutiva e, também, alta sensibilidade
diagnóstica para atuar corretamente nas demandas
primárias e, se necessário, propor encaminhamentos
para a rede assistencial.
Dessa forma, tornam-se necessárias medidas
que venham prevenir, nessa população, a instalação
de doenças e suas complicações, a fim de se oferecer
uma boa qualidade de vida.
O Projeto de Atenção à Saúde do Idoso
(PROASI), vinculado ao Núcleo de Estudo e
Pesquisa sobre o Idoso (NESPI), da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia UFBA, e a Secretaria de Trabalho e Ação Social
(SETRAS), tem como objetivo oferecer à
comunidade idosa, um serviço de promoção à
saúde, bem-estar e reintegração social, através de:
consultas de enfermagem; palestras sobre prevenção
e cuidados de saúde; atividades lúdicas que visem à
integração; bingos; gincanas e festas comemorativas.
Esses serviços são oferecidos há quase 10 anos,
em vários Centros Sociais Urbanos (CSU) de
Salvador. Em Narandiba, o projeto iniciou-se em
maio de 2001. Hoje, conta com a participação de
mais de 75 idosos, de classe social baixa com idade
média entre 60 e 84 anos.
O interesse na realização desse estudo surgiu
durante as consultas de enfermagem, quando
percebemos a grande incidência de tinea pedis
nesta comunidade.
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Assim, esse trabalho teve como objetivo
identificar a incidência de tinea pedis em um grupo
de idosos na comunidade de Narandiba. O estudo
levou em consideração fatores associados tais como:
idade, dificuldade de locomoção, condições de
moradia, higiene e grau de escolaridade.
A tinea pedis em idosos: algumas considerações
Os fungos sempre foram parte integral de nossas
vidas. Eles podem ser úteis, como as leveduras e bolores
que fazem parte da fabricação de antibióticos, ou
perigosos, quando contaminam alimentos e os tornam
inconvenientes para o consumo, podendo provocar
também doenças em algumas situações.
Aqueles que causam infecções em humanos
geralmente são parasitas e pouco agressivos. No
entanto se o indivíduo tem diminuição da sua
imunidade, a doença pode tornar-se extremamente grave.
Os fungos patogênicos para o ser humano são
divididos em: causadores de micoses sistêmicas e
causadores de micoses superficiais.
As micoses superficiais são mais freqüentes e
podem ser provocadas pelos dermatófitos, e as
leveduras, por fungos não dermatófitos [2].
Os dermatófitos, de acordo com Sittart e
Pires [3], são fungos causadores de micoses
superficiais conhecidas como dermatofitoses. São
divididos em três gêneros principais: Microsporum,
Trichophyton e Epidermophyton. As dermatofitoses são
classificadas, pelas regiões do corpo acometidas
em: tinea pedis, tinea capitis, tinea unguium, tinea
cruris e tinea corporis.
A tinea pedis é uma micose de alta incidência
em nosso meio podendo ocorrer sob a forma de
lesões interdigitais, com descamação, maceração,
fissuração e prurido variável. As formas clínicas mais
comuns são: interdigital, plantar descamativa crônica
e vesicular.
Sua ocorrência é muito comum, exacerbando
no verão ou nos meses quentes, sendo a forma
vesiculosa, a que pode evoluir para infecções
secundárias bacterianas, formando bolhas e pústulas
nas pontas dos pés.
Já a forma descamativa crônica, “mocassim”,
não provoca tantos sintomas sendo comumente
associada a oncomicose [4].
A tinea interdigital, pela sua alta incidência na
população de idosos atendidos no Projeto, despertou
o interesse por esse estudo.
É denominada no senso comum como “pé de
atleta” ou “frieira”. De todas as dermatofitoses é a
mais freqüente estimando-se ocorrer em 10 a 15%
da população [5]. Na nossa população de estudo, a
incidência chega a 30% de um grupo de 75 idosos.
Caracteriza-se por lesões eritêmatodescamativas, freqüentemente associada à
maceração da pele. Placas ceratóticas brancas e
fissuras estão eventualmente presentes. O terceiro
e o quarto espaço interdigital são os mais
acometidos. O prurido está presente em maior ou
menor grau, dependendo da imunidade do paciente
e do agente causador [4].
Certamente os hábitos de vida atuais nos
meios cosmopolitas contribuem para alterações
ecológicas nos pés, favorecendo a proliferação de
fungos. A sudorese excessiva (aumento da umidade
da pele); uso de antibióticos, citostáticos e
corticostéroides; SIDA; utilização de roupas de fibra
sintética que aumentam a produção de suor, assim
como sapatos de materiais sintéticos como a
borracha, plástico e sapatos que lesam a pele são,
entre outros, alguns dos fatores de risco.
Trabalhadores do meio rural também
desenvolvem atividades de risco para a infestação
por fungos. Esses indivíduos, pelas suas condições
de vida e trabalho, costumam andar descalços,
ferindo-se constantemente nos pés, o que facilita a
entrada de fungos. Como vivem em contato íntimo
com o reino vegetal, o grande habitat dos fungos,
eles têm maior chances de adquirir essa doença.
Pessoas que ficam com os pés úmidos por longos
períodos, como nadadores, salva-vidas e professores
de natação, também são propensos ao
desenvolvimento da tinea dos pés.
Outro fator também destacado como de risco
é a promiscuidade e segregação: compartilhar
roupas e calçados não é incomum, principalmente
em famílias de baixa renda, o que facilita a
disseminação da tinea.
Lesões preexistentes como a presença de
eczema e ictiose facilitam a instalação das
dermatomicoses, assim como as alterações
metabólicas gerais: várias doenças são
acompanhadas de predisposição para micoses, tais
como diabetes melito, neoplasias e AIDS.
Observa-se assim, que muitos dos fatores
citados como de risco, estão presentes nos idosos,
o que eleva o risco da tinea pedis neste grupo, sendo
necessário a prevenção e o diagnóstico precoce, para
que se institua o cuidado adequado.
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Material e métodos
Pesquisa quanti-qualitativa, com abordagem
retrospectiva, através de consultas aos prontuários
dos idosos inscritos no PROASI.
Fizeram parte do trabalho 22 idosos de um
universo de 74, matriculados no PROASI do CSU de
Narandiba. Os participantes do estudo assinaram um
termo de consentimento esclarecido para utilização
dos seus dados do prontuário para fins científicos de
acordo com a Resolução 196/96 MS [6].
Outros dados para o estudo foram colhidos
através dos prontuários preenchidos durante as
consultas de enfer magem. Assim foram
considerados os fatores relacionados à ocorrência
de tinea, como variáveis dependentes. As variáveis
dependentes deste estudo foram:
• Renda – referindo-se à renda salarial mensal
do idoso;
• Condições de moradia – referindo-se ao tipo de
instalação sanitária, rede de esgoto, pavimentação,
característica da residência e tipo de construção;
• Condições de higiene – levando-se em consideração
a apresentação e higiene pessoal do idoso;
• Locomoção – refere-se ao grau de dependência
para auto-satisfazer sua higiene pessoal;
• Doenças associadas – são as patologias
sistêmicas que afetam a maioria dos idosos e que
contribuem para a redução da imunidade, aumento
do grau de dependência e diminuição do
autocuidado pelas seqüelas e alterações físicas;
• Escolaridade –contribui para a classificação o
nível de compreensão das informações recebidas.
As avaliações e acompanhamento das lesões
foram realizados durante as consultas de
enfermagem no Centro de Saúde de Narandiba. A
identificação das lesões foi feita através do exame
físico pela história clínica e inspeção direta dos pés
dos idosos. As lesões não foram fotografadas.
Os dados coletados foram tabulados e
interpretados de forma qualitativa e estatística,
sendo analisados a partir da sua freqüência.
Resultados e discussão
Incidência de tinea pedis na população inscrita
no PROASI de Narandiba:
Total de idosos inscritos
74
100%
Total de idosos com tinea pedis
22
29,7%
Renda mensal
A população do estudo foi constituída
basicamente por pessoas carentes. Utilizando o
salário mínimo vigente no país como parâmetro
de classificação da renda familiar dos idosos
encontramos idosos com a renda mensal abaixo
de um salário mínimo. A ocorrência de tinea pedis
foi predominante nos idosos com renda de 1
salário mínimo, conforme pode ser identificado
na tabela 1.
Gráfico 1 - Renda mensal dos idosos.
A relação entre a ocorrência de tinea e a renda
mensal de 1 salário mínimo, provavelmente ocorre
pelo fato de que grande parte dos idosos atendidos
recebe a aposentadoria e uma minoria tem renda
abaixo deste valor.
Apesar dessa renda, na entrevista social,
detectamos que a maioria contribui como a principal
fonte econômica para o sustento da família. Por
conta da situação de desemprego, muitos idosos têm
a sua aposentadoria como a única fonte de renda
da casa, sustentando filhos e algumas vezes netos,
sobrando pouco para investir em cuidados
higiênicos, calçados adequados, compra de
medicamentos entre outros.
Condições de moradia
As condições de moradia são precárias. Os
idosos do projeto residem em bairros suburbanos,
onde as condições de saneamento básico são
deficientes. As moradias foram classificadas como:
deficientes, aquelas em que, nas ruas, não existe
coleta de lixo, calçamento, rede de esgoto e, nas
casas, o piso não é revestido. Esses fatores
contribuem para a umidade e proliferação de fungos
e bolores nas residências.
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O gráfico demonstra que uma grande parte
dos idosos reside em condições de precárias de
saneamento básico.
Gráfico 2 - Condições de moradia.
idoso torne-se mais dependente, inclusive no que
se refere ao autocuidado.
Assim as condições de locomoção foram
avaliadas de acordo com os seguintes parâmetros:
andar com equilíbrio, não ter dificuldades para
levantar-se, abaixar-se, subir e descer escadas –
independente em relação ao autocuidado; ter
dificuldades para andar, levantar-se, abaixar-se,
subir e descer escadas – dependente em relação
ao autocuidado.
Gráfico 4 - Locomoção.
Condições de higiene
Secundária às condições de moradia,
deficiência do autocuidado, baixa renda e condições
de vida e trabalho também foram observados como
fatores importantes presentes nesta população,
favorecendo à proliferação do fungo. Assim
costumam andar descalços, ferindo constantemente
os pés, andando em ambientes úmidos e como
grande parte passa o dia no Centro em atividades,
muitas vezes molham os pés ou sapatos na rua,
outros apresentam suor, e mantém o calçado, o que
só vem a favorecer o ambiente para a entrada de
fungos, a falta de informações sobre hábitos
higiênicos por alguns, é outro fator agravante.
Classificada como precária e satisfatória tivemos os
seguintes dados:
Doenças associadas
Classificamos as principais patologias que
foram identificadas através da consultas de
enfermagem e dos dados colhidos nas entrevistas
durante as mesmas, porém, devemos levar em
consideração que em muitos casos, o paciente não
sabe informar sobre as patologias das quais são
afetados, e nossa possibilidade de detecção das
mesmas são restritas devido à própria deficiência
do nosso sistema de saúde pública.
Gráfico 3 - Condições de higiene.
Observa-se também que em alguns idosos, as
condições de higiene estão intimamente relacionadas
às dificuldades do autocuidado, por conta do
envelhecimento que pode promover alterações do
equilíbrio, postura, diminuição da flexibilidade,
alterações cognitivas e sensoriais.
Condições de locomoção
Consideramos este item como relevante,
devido a grande incidência de artrose nesta
população e pela própria dificuldade de locomoção
própria da idade avançada, o que faz com que o
Observa-se que entre as doenças associadas
mais presentes estão: insuficiência vascular,
hipertensão, diabetes e artroses.
Em relação à insuficiência vascular, sabe-se
que o envelhecimento pode acarretar alterações nos
vasos, podendo acarretar espessamento e
enrijecimento da parede destes, que juntamente com
a diminuição do tônus vascular, compromete a
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circulação dos membros inferiores [7]. Adiante será
obser vado que todas as outras patologias
encontradas comprometem também, de alguma
forma, a vascularização periférica.
É importante considerar que, problemas
cardíacos e entre eles a hipertensão arterial estão
intimamente ligados a algumas complicações
vasculares como tromboses e edemas, causando
redução do fluxo nos membros, tornando-os
susceptíveis a ruturas, lesões ou infecções [8].
No que se refere a diabetes, Probs e Kelley [9]
observam que, no idoso, a redução da sensibilidade
à insulina, juntamente com o controle reduzido
desta pelo sistema hepático, a obesidade e o
sedentarismo aumentam a chances do idoso ser
portador desta patologia. Assim o diabetes tem
como uma de suas principais complicações as
alterações vasculares como as vasculopatias
periféricas, devendo o pé destes pacientes serem
examinados com freqüência na busca de alterações.
Conclusões
O exame físico dos pés é imprescindível no
protocolo do exame físico dos idosos. A
enfermagem pode orientar e estimular a adoção de
algumas medidas básicas para a prevenção dessas
lesões, assim como o diagnóstico precoce da tinea
prevenindo infecções secundárias.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Consideramos que é possível identificar
infestações fúngicas em idosos nas consultas de
enfermagem e a melhoria no padrão de vida e
higiene da população em estudo poderia contribuir
para a redução desta lesão.
8.
9.
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Guanabara Koogan; 2001. K
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Revisão
O cuidado de enfermagem e as
ciências que nele incidem
Maria Aparecida de Luca Nascimento, D.Sc.*
*Orientadora acadêmica do Programa de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Coordenadora
no Núcleo de Pesquisa e Experimentação em Estudos sobre a Saúde da Mulher e da Criança do Departamento de Enfermagem Materno Infantil
(DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da UNIRIO
Resumo
Reflexão teórico-filosófica que enfoca o cuidado de enfermagem prestado diretamente ao cliente, com o objetivo de traçar
um paralelismo existente entre ele e as diversas disciplinas que nele incidem. Após mencionar as várias concepções de
cuidado, nos detemos no cuidado direto de enfermagem, entendendo-o como aquele praticado no cliente, através dos
procedimentos técnicos que caracterizam esta profissão, enfatizando os aspectos filosóficos e educativos que os permeiam,
à luz de Hegel e Rubem Alves, respectivamente. São mencionados alguns artigos da autoria ou co-autoria deste estudo, com
o objetivo de demonstrar que durante a prática assistencial de enfermagem são utilizadas as mais diversas ciências (físicas,
matemáticas, biológicas e sociais). Conclui-se que o cuidado direto de enfermagem prestado ao cliente realiza-se a partir de
um conjunto de ações técnicas que são desenvolvidas com arte e subsidiadas por conhecimentos de diversas ciências.
Palavras-chave: cuidado direto, assistência de enfermagem, ciências.
Abstract
The nursing direct care and the sciences which occurs on it
The philosophical theoretic study which stabilizes itself into the direct nursing care that is given to the client to delineate an
existing parallel between it and the varied disciplines which takes place on it. After mentioning this several care conceptions,
the author stops herself in the nursing direct care by extending it as that one, which is practiced with the client, through the
technical procedures that distinguish this profession by emphasizing the philosophical and educational aspects that, permeates
the light of Hegel and Rubem Alves, respectively. Some articles are mentioned by the author or the co-author from this study
with the aim of showing that during the practice of attendance the most varied sciences are used (physics, mathematics,
biological and social). The conclusion is that the nursing direct care which is given to the client happens from a group of
technical actions subsided by a scientific knowledge that are developed with art.
Key-words: direct care, nursing attendance, science.
Artigo recebido em 1 de junho de 2004; aceito em 15 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Maria Aparecida de Luca Nascimento,
Av. Marechal Rondon 300, bloco 2, apto. 310 São Francisco Xavier
20950-000 Rio de Janeiro RJ, Tel (21) 2574-9149 / (21) 96170868 /
Telefax: (21) 2542-6498, E-mail: [email protected]
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Resumen
El cuidado correcto de la enfermería y las ciencias en donde ella incide
Estudio teórico filosófico que se basa en el cuidado de la Enfermería directamente otorgado al cliente, para plantear un
paralelo existente entre ella y las diversas disciplinas que ella incide. Después de mencionar varias concepciones de cuidado,
la autora se detiene en el cuidado correcto de la Enfermería, entendiéndolo como aquel practicado al cliente a través de los
procedimientos técnicos que caracterizan esta profesión, enfatizando los aspectos filosóficos y educativos que son permeables
a estos, a la luz de Hegel y Rubem Alves, respectivamente. Son mencionados algunos artículos de la autoría o coautoría de la
autora de este estudio, como objetivo de demostrar que durante la practica asistencial son utilizadas las más diversas ciencias,
(físicas, matemáticas, biológicas y sociales). Se concluye que el cuidado correcto de la enfermería otorgada al cliente, se realiza
a partir de un conjunto de acciones técnicas subsidiadas de conocimiento científico y desarrolladas con arte.
Palabras-claves: cuidado correcto, enfermería asistencial, ciencias.
Introdução
O cuidar, de um modo geral, tem merecido a
atenção das mais diversas profissões. Observa-se que
este tem sido o tema de muitas publicações, palestras,
e responsável por muitas decisões políticas
importantes, haja vista a preocupação com o meio
ambiente e com as nossas riquezas, animais e vegetais.
Cuidar de pessoas, no entanto, constitui-se em
um atributo dos profissionais da área de saúde em
geral. Porém para a enfermagem este atributo é
genuíno e peculiar, constituindo-se na razão
existencial dessa profissão [1].
O cuidar em enfermagem se concretiza através
das ações de enfermagem, que apesar de poderem
ser alocadas nos diversos campos de atuação desta
profissão (assistência, ensino e pesquisa), neste
estudo serão enfocadas somente a partir do ato
direto observado durante a assistência ao cliente.
A sistematização da assistência de enfermagem
surgiu nos Estados Unidos no início do século XX.
Segundo Almeida [2], esta sistematização foi
possível através dos procedimentos técnicos de
enfermagem, o que legitimou a estruturação do
saber desta profissão. Deste modo, observa-se que
a herança profissional da enfer magem está
diretamente ligada às técnicas de enfermagem.
Os procedimentos técnicos permitem a
sistematização da assistência, através do
estabelecimento de critérios e prioridades no
atendimento, exigindo do profissional, entre outros
atributos, rapidez, tirocínio, bom senso e
conhecimento teórico-prático, ações que
determinam o saber cuidar, de forma prática e
racional, que não deve ser confundida com a
racionalidade desprovida de sensibilidade, aquela
mesma que determina a ação de cuidar a partir,
muitas vezes, de uma comunicação não verbal.
No entanto, o fazer em enfermagem tem sido
foco de poucos estudos e publicações, em
detrimento de outros enfoques de igual valor,
porém que não a legitimam como profissão
socialmente instituída, pois o produto social da
enfermagem é o cuidado. Em outras palavras, é a
visualização do cuidado a partir do bem-estar que
ele produz em um ser humano.
O cuidado de enfer magem prestado
diretamente ao cliente permite a correlação de
diversas teorias à sua prática. No entanto, essa
observação, muitas vezes, fica relegada a um
segundo plano, o que pode ser atribuído ao fato de
não termos ainda, como grupo profissional
cientificamente novo, o reconhecimento social de
outras profissões organizadas há muito mais tempo.
Deste modo, ao nos distanciarmos do cuidado
direto, que deve ser dispensado pessoal e
diferenciadamente a cada indivíduo, e que é função
precípua da enfermagem, nos diluímos entre outras
profissões e nos descaracterizamos como grupo
profissional, sem nos apercebermos, segundo
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Nascimento [3], que é o fazer quem determina,
através da sua prática, a evolução e/ou adaptação
de conceitos relativos ao ato de cuidar.
A indissociabilidade das ciências
Cuidar de um ser humano em qualquer
situação em especial, em desequilíbrio, não é tarefa
das mais simples. Fato que se complica a partir da
sua faixa etária, social, cultural e econômica.
A ação de cuidar é familiar ao profissional de
enfermagem, contudo, Alves apud Hegel [4],
reportando-se à filosofia, diz que tudo aquilo que é
conhecido com familiaridade, exatamente por ser
familiar, não é conhecido, pois os pressupostos são
aceitos comumente sem exame. Ainda segundo o
mesmo autor; “...no momento em que lançamos
mão de questionamentos que possam explicar a
nossa prática cotidiana, o mundo fixo e estável do
familiar se põe a dançar”.
Deste modo, os cuidados de enfermagem,
característica específica desta profissão, a meu ver,
ao serem visualizados através da perspectiva
filosófica, reflexiva, poderiam dar a essa profissão
o seu verdadeiro e justo destaque social.
Na medida em que desenvolvemos a nossa
prática profissional de acordo com um perfil
reflexivo, e não meramente como um reprodutor
de ações, podemos observar a quantidade de
aspectos interdisciplinares que os compõem, fato
que contribui para o desenvolvimento de adaptações
e modificações no ato de cuidar, gerando em quem
cuida, motivação e interesse, e em quem é submetido
ao cuidado, segurança e confiabilidade, legitimando
deste modo a dimensão científica do cuidado de
enfermagem.
Tendo em vista o caráter analítico de que se
reveste o presente estudo, considerando o aspecto
ético que o tangencia, passamos a apresentar as
correlações interdisciplinares existentes em
determinadas produções acadêmicas de nossa
própria autoria ou co-autoria.
Note-se neste ponto, as relações entre as várias
disciplinas que atuam diretamente no cuidado de
enfermagem direto prestado ao cliente,
demonstrando que o cuidado é complexo,
transcendendo ao limite de uma única ciência,
corroborando o que Japiassu [5] cita em seus
estudos, “..não há ciência em geral, mas sistemas de
conhecimentos específicos, em evolução e
apropriados a seus objetos”.
Deste modo, as várias ciências que interferem
no ato de cuidar em enfermagem, aqui representados
a partir do cuidado direto ao cliente, demonstram
que a apropriação de diversas disciplinas, antes de se
constituírem específicas de cada profissão, legitimaas como próprias, também, da enfermagem,
especificamente no que concerne ao seu ponto de
tangência interferente na ação de cuidar.
O conhecimento interdisciplinar necessário
ao saber cuidar em enfermagem
Segundo Choudhuri [6], a questão da
interdisciplinaridade no domínio do ensino é velha
como o mundo, exigindo como objetivo do ensino
em geral, a liberação do ser humano. Deste modo,
como restringir a um único ponto toda a dimensão
do cuidado de enfermagem?
Ainda com relação à interdisciplinaridade,
Alves [4] ao se reportar ao campo das ciências
humanas, comenta que as questões realmente
importantes nesta área são extremamente
complicadas, pois não há como entender o processo
educacional na sua totalidade se não levarmos em
conta fatores de ordem biológica, pois criança com
fome, doente e marcada por fatores hereditários
adversos não pode aprender bem.
Reportando-nos à enfermagem, esta
complexidade também pode ser percebida, pois
como entender o cuidado de enfermagem prestado
a um ser humano, ignorando todas as interferências
que, objetiva ou subjetivamente interferem neste
cuidado, advindas das mais diversas áreas do
conhecimento?
Deste modo, são apresentados a seguir, através
de seus títulos, algumas produções acadêmicas de
enfermagem das quais participei, com ênfase nos
seus respectivos referenciais interdisciplinares:
A síndrome da criança como o membro
superior imobilizado para infusão venosa
Descrita por Nascimento [7] - dentre as várias
disciplinas utilizados para respaldar este estudo destacam-se as ciências biológicas, a fisiologia e a
anatomia. No entanto, outras áreas colaboraram
para a elucidação do fenômeno pesquisado.
Apesar da ação supracitada referir-se a um
procedimento da enfermagem, qual seja, aquele de
imobilizar o membro superior de uma criança para
ser submetida à infusão venosa, observou-se que
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as ciências jurídicas, a física (3ª Lei de Newton –
biomecânica [8]), a psicomotricidade, e a psicologia
interferiam neste cuidado de enfer magem,
demonstrando que novas formas de cuidar deveriam
ser propostas a partir deste estudo.
A arte de Leonardo da Vinci subsidiando a
ciência e o ideal do cuidado de enfermagem
Este estudo, de autoria de Nascimento et al.
[9], partiu de um estudo anterior dos mesmos autores,
e que versava sobre a inadequação da postura dos
profissionais da equipe de enfermagem para efetuar
a transferência de soluções do seu frasco para o
equipo de microgotas. Ao estudar a referida postura,
os autores, durante o processo de pesquisa para este
citado estudo, denominado “Preenchendo o nível do
microgotas – A ciência exata subsidiando um cuidado
de enfermagem” [10], observaram que Leonardo da
Vinci, através da sua obra “O homem vitruviano”
fornecia importantes dados para que o objeto de
estudo fosse levado a efeito, porém, a inadequação
da postura, neste estudo, foi subsidiada por uma
equação matemática. Posteriormente, o estudo em
epígrafe, foi desenvolvido à luz da obra citada, onde
se enfatiza quais são os pontos máximos de elevação
dos membros para a manutenção da harmonia
corporal, tendo em vista aspectos relativos à
matemática, arte e ciência.
Banho no leito - Conceitos e preconceitos A ciência subsidiando um cuidado
de enfermagem
Neste estudo, realizado por Lima [11], observouse através de monitores, durante o banho no leito de
pacientes críticos, que a extração venosa mista de
oxigênio não variava a níveis significantes, fato que
negou a idéia previamente lançada por outros
profissionais da equipe de saúde, que esta prática seria
prejudicial ao cliente, numa clara menção pejorativa a
este cuidado de enfermagem tão importante e essencial
para o ser humano. Respaldaram-no a fisiologia
humana, e a física, em especial a calorimetria.
característica diferentes, imersos em uma bacia de
água exposta em um CTI, que a variação da sua
temperatura vai de 37º C a níveis inferiores a 34º C.
Deste modo, é proposta, através deste resultado, uma
revisão na atual adaptação do procedimento técnico
do banho no leito, verificada atualmente, qual seja
aquela na qual a água é lançada diretamente na pele
do paciente, em detrimento da antiga técnica que
preconizava a utilização de compressas úmidas com
esta finalidade. Para que esta proposta fosse lançada,
foram utilizados referenciais relativos à fisiologia
humana, especialmente no ponto que trata das perdas
calóricas, interferindo no processo respiratório do
paciente crítico, quando, como resposta imediata
podem ser visualizados seus tremores.
Aplicando a semiologia em quem aprende a
cuidar - Os efeitos da imobilização em postura
Neste estudo, que trata das reações dos
graduandos de enfermagem à imobilização do
membro superior, Nascimento et al. [13] constataram
que o referido procedimento, sendo realizado de
forma a hiperextendê-lo, produz sensações que até
então eles não haviam se detido a pensar. Além das
ciências biológicas, aspectos relativos à psicomotricidade e à psicologia são contemplados.
Quando a empatia durante o ato de
cuidar em enfermagem produz uma
tecnologia - Descrevendo um artefato para
a realização da técnica do “shampoo” em
pacientes acamados
A partir da empatia durante o banho no leito
de um familiar acamado, e que solicitava, face ao
calor que fazia, que lhe lavassem a cabeça com água
corrente, Nascimento et al. [14] conceberam um
artefato que possibilita que a técnica do “shampoo”
seja realizada várias vezes durante o dia. Neste
estudo evidencia-se que a ciência do cuidado,
acoplada à criatividade, produziu uma tecnologia,
cujo pedido de privilégio encontra-se depositado
no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob
o número 003786 de 22/04/2003.
Resgatando e inovando visões de uma técnica
de enfermagem: a calorimetria e seus efeitos
no banho no leito
Conclusões
Este estudo experimental, proposto por Lima
[12] demonstra, através de 3 termômetros com
Segundo o acima exposto, podemos visualizar
a enfermagem a partir de um conjunto de ações
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técnicas subsidiadas de conhecimento científico e
desenvolvidas com arte.
Arte, por definição, entre outras, do Dicionário
da Academia Brasileira de Letras [15], é o ato de
utilizar um “conjunto de preceitos para a perfeita
execução de qualquer coisa”, “execução prática de
uma idéia”, ou ainda, “perícia em usar os meios para
atingir um resultado”. Deste modo, a visualização
da Enfermagem como arte, difundida através das
suas técnicas, não anula a sua associação à ciência,
pois, ao lançar mão de um conjunto de preceitos
científicos para o seu desenvolvimento, estaria
conferindo ao cuidar uma característica ampla e
inconfundível [3].
Vale ressaltar também neste ponto, os ajustes
que normalmente precisam ser realizados nos
procedimentos técnicos de enfermagem, haja vista
a sua característica dinâmica.
Porém a observância dos aspectos científicos
que os permeiam há de ser tal, de modo a distinguila como sendo aquela profissão onde o menor
cuidado deve ser provido da maior atenção, em prol
da manutenção da dignidade do ser humano que
está sendo o alvo do nosso cuidado.
Sendo assim, o cuidar em enfermagem,
entendendo-o como uma prática interdisciplinar,
nos reporta ao pensamento de Alves [4],
“Todo o conhecimento se situa sobre um
tabuleiro de xadrez. Há uma confrontação em jogo.
Não há observadores. Querendo ou não, somos
peças que são manipuladas e, ao mesmo tempo,
peças que querem influenciar o desenrolar da
partida. Não pode haver, portanto, definição abstrata
de problemas. Os problemas são aqueles da situação
estratégica em que nos encontramos colocados”.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
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$'
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Normas de publicação Enfermagem Brasil
A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação
de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem.
Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão
também ser publicados na versão eletrônica da revista
(Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals,
N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) preconizado pelo Comitê
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo
em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), http://
www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das
seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica
entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o
que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou
retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações
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conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico,
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Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato
A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas
as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito,
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica
apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a
aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise
descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura
é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução,
Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12
páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman)
tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve
ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no
formato Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse
profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade
literária do texto.
3. Revisão
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas
relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir,
analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já
publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do
trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais.
4. Atualização
São trabalhos que relatam informações geralmente
atuais sobre tema de interesse dos profissionais de
Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que
têm características distintas de um artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigos dados descritivos de um ou mais casos
explorando um método ou problema através de exemplo.
Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação
de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos,
com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista,
com condições de argumentação mais extensa que na seção
de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três
páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho
12, com todas as formatações de texto, tais como negrito,
itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel
e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam
ser editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15
referências bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e
artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo
do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de
outros idiomas.
8.Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam
relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada
ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas
ou figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word), em página de formato A4,
formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman,
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobrescrito, etc.
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170
02/07/04, 19:16
EnfermagemBrasil
Maio / Junho 2004;3(3)
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas
para cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo
com as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais
coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300
dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos
formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão,
conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela
tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também
das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética
(disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com
etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e
autor, incluir informação dos arquivos, tais como o
processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação
curricular e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência,
com o respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40
toques, para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3.Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem
ter participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a
redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de
pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras
para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de
maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão
utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores
em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se
encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br.
Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final
do artigo, antes as referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,
letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto,
In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do
livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e
vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplos:
Livro:
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and
management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)
autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem
espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista
ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do
volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação
List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das
revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de
Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos
os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a
abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression
and localization of urokinase-type plasminogen activator
receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Calendário de eventos
2004
2 e 3 de julho
III Simpósio da Sociedade Brasileira de
Enfermagem em Oftalmologia
Centro de Convenções de Ribeirão Preto – SP
Informações: (17) 235-7014
www.cenacon.com.br
Julho
III Congresso Internacional de Urgência, Emergência
e Medicina Intensiva
Havana – Cuba
Informações: (11) 3257-4386
22 a 25 de setembro
6º Congresso Brasileiro de Dor
Florianópolis – SC
Informações: (41) 3029-9824
www.dor.org.br
9 e 10 de julho
VIII ENCENF Rio
Hotel Glória – Rio de Janeiro – RJ
Informações: (11) 3341-4044
www.encenf.com.br
Outubro
31 de julho a 2 de agosto
IV Simpósio Internacional de Esterilização
e Controle de Infecção Hospitalar
III Curso de Implantes e Equipamentos
em Ortopedia, Bucomaxilo, Cirurgia Plástica
e Neurocirurgia
Centro de Convenções Rebouças – SP
Informações: SOBECC – (11) 3341-4044
www.sobecc.org.br
5 a 8 de outubro
XII Conferência Bienal do Grupo de Trabalho dos
Enfermeiros Investigadores Europeus
Lisboa – Portugal
Informações: (11) 3259-7874
www.astreaturismo.com.br
Agosto
11, 12 e 13 de agosto
II Simpósio Maranhense de Esterilização
e Centro Cirúrgico
Praia Mar Hotel – São Luís – MA
Informações: (98) 253-6835
[email protected]
18 a 21 de agosto
1º Congresso Brasileiro de Enfermagem
em Infectologia
Santos – SP
Informações: (11) 3721-9333
www.ellusaude.com.br
11 a 15 de outubro de 2004
7º CBCENF - Conselho Brasileiro dos Conselhos
de Enfermagem
Fortaleza – CE
Informações: 0800-2800065
www.cbcenf.com.br
14 e 15 outubro
II Congresso Internacional de Enfermagem
em Dermatologia
Informações: (11) 3726-4420
www.ellusaude.com.br
28 a 30 de outubro
5º Congreso Nacional de la AEC Enfermería
Comunitaria “La Medida del Cuidado”
Balneario de Archena – Murcia
Informações: [email protected]
www.enfermeriacomunitaria.org
30 de agosto a 3 de setembro
IX Congresso Brasileiro de Controle de
Infecção de Epidemiologia Hospitalar
Salvador – BA
Informações: (71) 341-3024
www. Controledeinfeccao.com.br
Informações: (11) 3257-4386
Setembro
19 a 22 de setembro
I Congresso Internacional de Enfermagem em
Emergência e Medicina Crítica
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172
2005
Janeiro
25 a 27 de janeiro
OHS 2005 – International Conference
on Occupational Health Services
Marina Congress Center – Finland
Informações: +358 9 4747-2910
www.ttl.fi/osh2005
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EnfermagemBrasil
Julho / Agosto 2004;3(4)
Índice
Volume 3 número 4 - Julho / Agosto de 2004
EDITORIAL
Das amas de leite ao home care – história e atitude na assistência de enfermagem,
Os Editores ................................................................................................................................................................... 175
A RTIGOS ORIGINAIS
Conhecimento sobre papiloma vírus humano (HPV) entre universitários de áreas distintas,
Evellyn Fiorezi, Danielle Capalbo, Maria Lúcia A. S. Costa ................................................................................ 176
Cuidados paliativos – uma nova abordagem de cuidado, Juliana Balbinot Reis Girondi .................... 183
Exame nacional de cursos e ideologia estudantil: confronto ou adesão? Luciano Garcia
Lourenção, Cláudia Bernardi Cesarino, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, Maria de Fátima Farinha
Martins Furlan ............................................................................................................................................................... 188
Habilidades da enfermagem e conceitos para o cuidado de pacientes terminais em um
hospital particular da Região Nordeste do Rio Grande do Sul, Sandra Lúcia Radaelli, Pedro
de Abreu Gaspar .......................................................................................................................................................... 194
R EVISÕES
Cuidando dos clientes no home care: uma re-leitura das perspectivas do mercado para a
prática clínica e social de enfermagem, Wiliam César Alves Machado, Uiara Kristina Cardoso
Mantovani, Felipe Azevedo Berbert ......................................................................................................................... 202
Os anúncios do Jornal do Commercio de amas de leite, contando a história do aleitamento
materno no Brasil (1888-1890), Luciane Pereira de Almeida, Fernanda Porto ............................................ 213
Assistência de enfermagem ao paciente em risco de morte iminente, Antonio Carlos Siqueira
Júnior, Aline Alzira Ulian, Fernanda Cenci Queiroz .............................................................................................. 224
E STUDO DE CASO
Teste do Pezinho: um marco expressivo na história da enfermagem preventiva no Brasil,
Thereza Neuma de Tostes Freitas ............................................................................................................................. 230
N ORMAS DE PUBLICAÇÃO. .................................................................................................................. 237
C ALENDÁRIO DE EVENTOS................................................................................................................... 239
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EnfermagemBrasil
Julho / Agosto 2004;3(4)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
CONSELHO CIENTÍFICO
Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
Profa. Dra. Márcia Maria Fontão Zago (USP – Ribeirão Preto)
a
Prof . Dra. Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP – Ribeirão Preto)
Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
GRUPO DE ASSESSORES
Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
Profa Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe)
a
Prof Ms. Louize Maria Holtz Santos de Oliveira (Sergipe)
Profa Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
a
Rio de Janeiro
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Editor assistente
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Atlântica Editora edita as revistas Diabetes Clínica, Fisioterapia Brasil, Nutrição Brasil, Brasilis e Ação & Movimento.
Foto da capa: Major Enfermeira reformada do Exército, Elza Cansanção Medeiros sendo examinada antes do embarque para a guerra.
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída
por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright,
Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades
ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o
material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma
garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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EnfermagemBrasil
Julho / Agosto 2004;3(4)
Editorial
Das amas de leite ao home care – história e
atualidade na assistência de enfermagem
Os Editores
Neste número temos artigos originais
abrangendo diferentes temas. Em um deles o
conhecimento sobre o papiloma vírus humano
entre universitários, as autoras Evellyn Fiorezi,
Danielle Capalbo e Maria Lúcia A. S. Costa
abordam o tema mostrando a desinformação e
a necessidade de ações educativas de prevenção
da infecção por HPV e outras DST.
Compartilhamos as concepções, conhecimentos, percepções e experiências da equipe de
enfermagem em trabalhar com pacientes em fase
terminal em três artigos, o primeiro em uma
unidade de onco-hematologia pela pesquisadora
Juliana Balbinot Reis Girondi. Sandra Lúcia
Radaelli e Pedro de Abreu Gaspar discutem os
conceitos para o cuidado em um hospital particular
no Rio Grande do Sul e os pesquisadores Antonio
Carlos Siqueira Jr., Aline Alzira Ulian e Fernanda
Cenzi Queiroz abordam a assistência de
enfermagem ao paciente em risco de morte
iminente. Todos nos colocando diante das
dificuldades técnico-científicas, sociais e
principalmente emocionais, sugerindo que as
instituições educacionais e hospitalares devam se
ater a estas questões nos programas de
aperfeiçoamento e educação permanente.
O Home Care é uma tendência mundial
de reduzir o número de internações e leitos nos
hospitais, e começa a se organizar também no
Brasil. Sendo um sistema mais barato e que se
destaca a humanização do cuidado, na revisão
apresentada, William César Alves Machado,
Uiara Kristina Cardoso Mantovani e Felipe
Azevedo Berbert, fazem uma re-leitura das
perspectivas do mercado para a prática clínica
e social de enfermagem, confirmando que é uma
atividade essencialmente da competência do
enfermeiro e equipe, posto que a grande maioria
do que nele se faz é ou tem relação direta com
o cuidado de enfermagem.
Em outro artigo original, Luciano Garcia
Lourenção, Cláudia Bernardi Cesarino, Zaida
Aurora Sperli Geraldes Soler e Maria de Fátima
Farinha Martins Furlan discutem o exame nacional
de cursos que foi criado como instrumento para
avaliar o ensino superior brasileiro, identificando
a compreensão dos alunos do curso de graduação
em enfermagem, levantando as justificativas
apresentadas sobre a realização do exame, como
as críticas, incredulidade neste método avaliativo
e sua contribuição ao ensino nas instituições de
ensino superior.
Em um exemplar trabalho de pesquisa
histórica, através de análise documental dos
anúncios sobre amas de leite do Jornal do Comércio
(ou do Commercio, como se escrevia na época)
referentes à comercialização do aleitamento
materno, os pesquisadores Luciane Pereira de
Almeida e Fernando Porto apontam com
destaque a inserção feminina no mercado de
trabalho, tangenciando a história da profissionalização da enfermagem no Brasil e alertam que,
apesar dos esforços dos profissionais de saúde
em promover e apoiar o aleitamento materno, a
amamentação ainda é influenciada pelo contexto
sócio-histórico e cultural.
Para completar, temos um estudo de caso
histórico, onde a consagrada pesquisadora
Thereza Neuma de Tostes Freitas apresenta o
Teste do Pezinho como um marco expressivo
na história da enfermagem preventiva no Brasil,
expondo a situação-problema que motivou sua
pesquisa, descrevendo o processo, o papel do
enfermeiro pediatra no procedimento e sua
introdução nas maternidades do Brasil através
da divulgação desses resultados.
Por fim, gostaríamos de destacar e
agradecer a contribuição dos autores pelos
excelentes artigos, assim permitindo que ela seja
útil aos leitores e seus pacientes.
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Artigo original
Conhecimento sobre papiloma vírus humano
(HPV) entre universitários de áreas distintas
Evellyn Fiorezi*, Danielle Capalbo*, Maria Lúcia A. S. Costa, D.Sc. **
* Alunas do 4º ano de Enfermagem da UNICID, ** Professora do Programa de Iniciação Científica e Oficina de Produção do conhecimento
científico da UNICID
Resumo
Este estudo de natureza quantitativa verificou o conhecimento sobre o Papiloma Vírus Humano (HPV) em uma população
de universitários. Os dados foram coletados no mês de outubro de 2003 por meio de um questionário. Do total de 56
questionários respondidos, 30 referiram ter ouvido falar ou lido algo a respeito do HPV, portanto tornou-se a amostra do
estudo. A televisão foi o meio mais citado como veículo de informações sobre o HPV, 44% dos estudantes acreditam que a
infecção atinge ambos os sexos, a grande maioria (67%) desconhece os sinais e sintomas da doença. O uso de preservativo foi
citado por 54% dos estudantes como meio de prevenir o HPV e 67% dos universitários não conhecem possíveis patologias
decorrentes da infecção. Esses dados demonstraram a necessidade de ações educativas com a finalidade de prevenir o HPV
e outras DST.
Palavras-chave: universitário, papiloma vírus humano, prevenção.
Abstract
Knowledge about human papilloma virus (HPV), among university students of
different areas
This study, with quantitative approach, aimed at verifying the knowledge related to Human Papilloma Virus (HPV) in a
population of university students. The data were collected in October 2003 by means of a questionnaire. A total of 30 out of
56 respondents replied to the questionnaires and reported that have heard or read something regarding HPV. The information
about HPV was heard on television, 44% of the students believed that infection affects both genders equally, 67% were
unaware of the signs and symptoms of the illness. The use of condom was mentioned by 54% of the students to prevent
HPV, 67% of the students did not know possible pathologies resulting from infection. These data showed that educative
actions are needed in order to prevent the HPV and other sexually transmitted diseases (STDs).
Key-words: university student, human papilloma virus, prevention.
Artigo recebido em 10 de maio de 2004; aceito em 5 agosto de 2004.
Endereço para correspondência: Evellyn Fiorezi, Rua Embaixador Osvaldo Tavares,
81 Artur Alvim 03561-070 São Paulo SP, E-mail: [email protected]
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artigo 01 - Evellyn.pmd
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Enfermagem Brasil
Julho / Agosto 2004;3(4)
Resumen
Conocimiento sobre “virus papiloma humano – VPH” entre universitarios
de distintas áreas
Este estudio de naturaleza cuantitativa ha verificado el conocimiento sobre el Virus Papiloma Humano (VPH) en una
población universitaria. Los datos fueron recogidos en el mes de Octubre de 2003 mediante un cuestionario. Del total de 56
cuestionarios contestados, 30 refirieron tener oído hablar u leído algo con respecto a VPH, por consiguiente estos se han
tornado la muestra del estudio. El televisor fue el medio más citado como vehículo de información sobre el VPH, 44% de los
estudiantes creen que la infección concierne ambos sexos, la gran mayoría (67%) desconoce los signos y síntomas de la
enfermedad. El uso de condón fue citado por 54% de los estudiantes con el fin de prevenir el VPH, 67% de los universitarios
no conocen posibles patologías consecuentes de la infección. Esos datos demostraron la necesidad de acciones educativas
con la finalidad de prevenir el VPH y otras enfermedades transmitibles sexualmente (ETS).
Palabras-clave: universitarios, virus papiloma humano, prevención.
Introdução
Durante o século XX, descobertas científicas
modificaram a percepção da importância das
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) pela
população. Os avanços na compreensão da biologia
e da epidemiologia das DST associados a
diagnósticos mais precisos e à terapêutica eficaz
tiveram como conseqüência uma certa euforia,
provocada pela expectativa de controle e erradicação
destas doenças [1].
Isto associado a valores morais e a costumes
sexuais, o que sem dúvida a descoberta de meios
práticos e confiáveis de anticoncepção muito
contribuiu, levou naturalmente a uma
despreocupação, também influenciados pela mídia,
revistas entre outros. Podemos perceber que o uso
de preservativos, embora tenha eficácia comprovada
na profilaxia das DST, só tiveram sua recomendação
enfatizada após o elevado número de indivíduos
contaminados com Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida – Aids [2].
Atualmente a DST que tem se disseminado
com grande velocidade é o Papiloma Vírus Humano
(HPV). Há séculos as únicas manifestações
reconhecíveis da infecção das mucosas anal e genital
por este vírus, eram verruga genital e/ou condiloma
acuminado - tumores genitais benignos - sem grande
importância epidemiológica [3]. Estas lesões
verrugosas ou papilomatosas de pele são conhecidas
desde a Grécia Antiga, chamando a atenção por
serem observadas em várias regiões do corpo, como
as áreas genitais, palmar e plantar além de serem
associadas a doenças venéreas, uma vez, que eram
comuns em indivíduos que apresentavam
comportamento homossexual, incestuoso ou
promíscuo [3,4].
A etiologia da infecção por HPV (verrugas
comuns) foi demonstrada em 1907 por Ciuffo, os
papilomavírus são vírus pequenos com duplo
filamento de DNA, não envelopados, ou seja, não
tem o envoltório que lhe confere razoável resistência
fora das células, apresentam período de incubação
variando de duas semanas a oito meses podendo
ficar latente no aparelho genital durante anos. Este
vírus tem como principais características o potencial
de induzir à formação de neoplasias e amplo
espectro de hospedeiros [5,7].
Estes vírus são capazes de infectar uma
infinidade de espécies, desde os invertebrados até
os vertebrados superiores (homem), porém são
altamente espécies-específicas. O HPV não
infecta animais de laboratório sendo parasita
intracelular obrigatório, ou seja, apenas se multiplica
em células humanas, tornando seu estudo bastante
dificultado [7].
Admite-se que a maioria das infecções por
HPV ocorra por via sexual e que as infecções não
tratadas favorecem a perpetuação da doença nos
parceiros. A transmissão do agente depende de
características do portador como o tempo de
infecção, número de microorganismos inoculados
ou já existentes no organismo – carga viral susceptibilidade do parceiro (a porcentagem de
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Enfermagem Brasil
Julho / Agosto 2004;3(4)
contágio da mulher para o homem é de 60% a 85%),
embora seja expressiva a exposição por via sexual,
as infecções também podem ser adquiridas por
auto-inoculação de verrugas comuns da pele,
durante o parto (no contato do recém-nascido com
o trato genital da mãe infectada) por autotoque em
áreas não sexuais, através de luvas cirúrgicas, pontas
de cautério, roupas íntimas ou sabonetes contendo
DNA/HPV [8].
A incidência atual dos condilomas,
principalmente nas mulheres, vem aumentando
consideravelmente. Nos últimos anos observou-se
verdadeira “epidemia”, com a descoberta das lesões
subclínicas do HPV e sua associação com a chamada
revolução sexual dos últimos vinte e cinco anos [9].
O condiloma acuminado, ou verruga
anogenital se caracteriza por pápulas, nódulos e
vegetações que ocorrem na região anogenital ( pênis,
vulva, vagina, colo uterino, períneo e região anal)
podendo progredir para massas pedunculares,
semelhantes a “couve-flor” [10].
As formas clínicas da infecção pelo HPV são:
clínica que é a forma evidente a olho nu
representando apenas 2% a 3% dos casos, subclínica
diagnosticado através de exame colposcópico ou
microscópico (citopatológico ou histológico) e
representa 60% do HPV anogenital externo e 95%
do HPV cervical; latente apenas diagnosticado
através das técnicas de hibridização do DNA viral
em indivíduos com clínica e citohistopatologia
normal, sendo esta forma não transmissível [11,12].
Nenhum tratamento erradica totalmente o
HPV, os objetivos do tratamento são a remoção da
lesão, melhora clínica e prevenção da transmissão,
pois não existe tratamento ideal [11].
Provavelmente os únicos métodos profiláticos
da infecção causada por HPV sejam a abstinência
sexual e a monogamia mútua, atitudes muito
pessoais sobre as quais seria desaconselhável,
imprudente e autoritária a intervenção do médico.
Todavia algumas decisões deverão ser tomadas para
diminuir o risco de infecção como limitar o número
de parceiros, evitar o coito durante o tratamento e
o seguimento da doença, e usar persistentemente o
condom [13].
Convivendo no ambiente universitário com
estudantes do curso de diversas áreas, e como alunas
do curso de enfermagem, obser vamos
informalmente que o assunto “HPV” é
desconhecido por esses acadêmicos. Esta
obser vação nos preocupou muito porque
acreditamos que a prevenção da infecção por HPV
depende entre outras coisas do conhecimento que
se tem sobre ela.
A partir daí, detectamos a necessidade de
desenvolvimento deste estudo que nos possibilita
conhecer melhor esta realidade e planejar ações
educativas de prevenção da infecção por HPV.
Objetivo
Este trabalho tem como objetivo verificar o
conhecimento sobre o Papiloma vírus Humano
(HPV) entre universitários de áreas distintas para
que possamos direcionar nossa conduta e
desenvolver ações de enfermagem no intuito de
orientar e intervir nesta população.
Material e método
Neste estudo foi utilizado o método
quantitativo, descritivo exploratório, por ser
indicado nos estudos onde se pretende quantificar
e descrever os achados sem manipulá-los [14], no
qual se verificou o conhecimento sobre o HPV.
Local de estudo
Esta pesquisa foi desenvolvida em uma
Universidade privada do Município de São Paulo
localizada na zona leste, escolhida pela facilidade em acessar à população, e por concentrar
diversos cursos.
Considerações éticas
Este estudo foi aprovado pela Comissão de
Ética em Pesquisa da Universidade Cidade de São
Paulo, em setembro de 2003.
População/amostra
A amostra foi constituída por 56 estudantes
de cursos da área de humanas e exatas do período
da manhã, os quais aceitaram espontaneamente
fazer parte da pesquisa. Tivemos como critério de
inclusão na amostra que os universitários não
fossem de cursos da área da saúde por pressupor
que o tema HPV faça parte do conteúdo de
disciplinas ministradas nestes cursos.
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Coleta de dados
A coleta de dados deu-se após a autorização
por parte da direção da instituição.
Elaboramos um questionário contendo cinco
questões abertas e fechadas, de forma clara e objetiva
(Anexo 1).
Para realizarmos a coleta de dados entramos
em contato com os professores que estavam
presentes em sala de aula, os quais permitiram que
os alunos fossem abordados naquele momento.
Foi então explicado o objetivo do estudo e
solicitado que o instrumento fosse entregue no
mesmo dia. Foram entregues um total de 58
questionários sendo que 56 foram devolvidos
respondidos e somente 2 devolvidos em branco. Os
participantes assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido.
A coleta deu-se nos dias 7 e 8 de outubro de
2003, no período da manhã.
Tratamento dos dados
Após coletarmos e analisarmos os dados
apresentamos os resultados sob a forma de gráficos
e tabelas com números absolutos e relativos.
Apresentação dos dados
Após análise dos dados coletados obtivemos
os resultados que apresentamos a seguir. Do
total de 56 questionários respondidos, 30
referiram ter ouvido falar ou lido alguma coisa
sobre o Papiloma Vírus Humano (HPV), portanto
estes se tornaram a amostra de nossa pesquisa.
Os 26 sujeitos não incluídos neste estudo
por desconhecerem o vír us HPV também
demonstrados no gráfico 1.
Gráfico 1 - Demonstrativo de nº de estudantes que
conhecem ou não o HPV. São Paulo, 2003.
Enquanto acadêmicos, consideramos este dado
alarmante, pois 46% dos pesquisados nunca ouviram
falar ou leram algo a respeito do vírus, o que é
preocupante pelo fato de fazerem parte de uma
população de risco e inferirmos que por serem
universitários teriam um maior acesso às informações.
Gráfico 2 - Demonstrativo do sexo dos estudantes
que participaram do estudo. São Paulo, 2003.
No gráfico 2, está distinguindo o sexo dos
universitários os quais referiram ter ouvido falar ou
lido algo sobre o HPV, destes 70% correspondem
ao sexo feminino e 30% ao sexo masculino.
Tabela I - Demonstrativo do tipo de comunicação
por meio do qual tiveram conhecimento sobre o HPV.
São Paulo, 2003.
Meio de comunicação
Nº de respostas
TV
31% (13)
Consultas ginecológicas
16% (7)
Revistas
12% (5)
Internet
9% (4)
Jornais
9%(4)
Escola
5% (2)
Por conhecer pessoa infectada
5% (2)
Não especificaram
5% (2)
Livro
2% (1)
Rádio
2% (1)
Trabalhos expositivos
2% (1)
Em Programas de Planejamento Familiar
2% (1)
Total
100% (42)
Com base nos dados na tabela I, podemos
observar que o meio de comunicação pelo qual a
maioria dos entrevistados 31% (13) passou a
conhecer o HPV é pela TV e apenas 16% (7)
souberam a respeito do vírus és em consultas
ginecológicas uma vez que este número deveria ser
maior por supormos que este é um dos meios mais
adequados e uma ótima oportunidade de
divulgação e orientação a respeito do Papiloma
Vírus Humano.
Podemos perceber, no gráfico 3, que 44% (13)
dos entrevistados referem que o vírus acomete
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ambos os sexos, 30% (9) afirmaram que acomete
apenas as mulheres, e quanto ao restante dos
pesquisados 13% (4) não souberam responder e os
outros 13% (4) afirmaram não acometer ambos os
sexos, mas não especificaram qual o sexo acometido
pelo Papiloma Vírus Humano.
A transmissão do vírus HPV ocorre
normalmente como resultado de contato direto com
a pele ou membranas mucosas infectadas de um
parceiro a outro existindo ou não verrugas visíveis,
também possivelmente através de objetos
contaminados e ambientes úmidos [15].
No Brasil, não há dados disponíveis ou
suficientemente fidedignos sobre a população mais
atingida, por outro lado, dados estatísticos
americanos e ingleses mostram claramente que, as
verrugas genitais são mais freqüentes entre os
indivíduos de raça branca [16]. Devemos ressaltar
que a maioria dos indivíduos destes países é
constituída por brancos e que, nos países de maioria
raça negra e mulatos, os dados podem ser diferentes.
Gráfico 3 - Demonstrativo da opinião dos entrevistados em relação ao sexo mais acometido pelo vírus.
São Paulo, 2003.
Tabela II - Sinais e sintomas da infecção por HPV,
segundo população estudada. São Paulo, 2003.
Sinais e sintomas
Desconhecem sinais e sintomas
Verrugas
Corrimento
Coceira
TOTAL
Nº de respostas
59% (20)
20% (7)
12% (4)
9% (3)
100% (34)
De acordo com a tabela II a maioria dos
entrevistados não sabem identificar os sinais e
sintomas que acompanham a infecção.
Esclarecemos que devido ao tipo de pergunta
obtivemos mais de uma resposta por entrevistado,
considerando-se N = 34 (total de respostas).
É interessante notarmos que 20% da
população estudada souberam identificar que o
vírus pode se manifestar através de verrugas, sendo
ainda importante destacar que nenhum dos
entrevistados demonstrou conhecer que, na grande
maioria das vezes, a evolução da doença é
assintomática em ambos os sexos.
A infecção por HPV se desenvolve de um modo
silencioso. Um estudo realizado nos Estados Unidos
demonstrou que metade das mulheres não
apresentam nenhum sintoma e por isso não
procuram o tratamento continuando a disseminar o
vírus cuja forma visível são as verrugas que aparecem
nas regiões genitais de homens e mulheres [17].
No entanto, só os tipos mais suaves do vírus
desenvolvem estes sintomas, e aqueles que atuam
de maneira mais secreta são os que podem conduzir
a problemas mais sérios. No caso da doença mais
grave, o câncer, podem-se observar sangramentos
e dor [18].
As primeiras lesões reconhecíveis são
geralmente minúsculas pápulas ou áreas
hipocrômicas, o diagnóstico quando não for
clinicamente óbvio, pode ser firmado por biópsia.
As verrugas são essencialmente assintomáticas, mas
a aparência, localização, tamanho e a presença de
condições associadas podem provocar queixa [19].
Sangramento nas verrugas pode ocorrer
quando localizados na uretra e freqüentemente
encontra-se um fluido mucóide. Infecção secundária
pode provocar forte odor, irritação e desconforto
moderado. Em ambos os sexos, as verrugas são
encontradas mais comumente em áreas sujeitas a
traumas durante a atividade sexual [20].
Tabela III - Maneira de se evitar o contágio por HPV,
segundo universitários entrevistados. São Paulo,
2003.
Prevenção do HPV
Nº de respostas
Uso de preservativo
54% (20)
Consultas e exames periódicos
11% (4)
Parceiro(a) confiável
5% (2)
Cuidados com vasos sanitários
3% (1)
Lugares públicos
3% (1)
Não há necessidade de prevenção por
não ser contagioso
3% (1)
Não responderam
21% (8)
TOTAL
100% (37)
De acordo com a tabela III, a maioria das
respostas (54%) apontou como prevenção do vírus
HPV o uso do preservativo durante o ato sexual,
porém ainda existem aqueles que desconhecem o
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fato de o vírus ser transmissível (3%), assim como
desconhecem que o vírus pode propagar-se por
outros meios.
O ato sexual é o meio de transmissão mais
freqüente para que o Papiloma Vírus Humano possa
elevar o número de pessoas infectadas, sendo
identificadas também pela amostra do estudo, porém
mesmo fazendo o uso de preservativos de barreira
há grande possibilidade de contágio, existindo um
risco de 60 a 90% de infectar-se quando até mesmo
em um simples exame de rotina pode-se contaminar
pelo vírus devido material não esterilizado entre
outros contaminados pelo DNA/HPV [6].
Gráfico 4 - Demonstrativo do conhecimento sobre
patologias conseqüentes à infecção causada pelo
HPV. São Paulo, 2003.
Segundo o gráfico 4, podemos notar que a
grande maioria dos pesquisados, 67% (20) não
souberam descrever nenhuma patologia decorrente
da infecção, 3% (1) referiu a perda do órgão e 30%
(9) identificaram como conseqüência da infecção o
câncer do colo do útero.
As infecções genitais pelo HPV chamaram
atenção a partir da última década de 80, quando se
identificou a correlação das lesões com o câncer de
colo uterino. Atualmente, o HPV está presente em
95% dos casos desse tipo de câncer, mas nem todos
os tipos de papilomavírus podem se transformar
em um tumor maligno.
meio da televisão e outros 30% por meio de outros
meios de comunicação social (jornais, revistas e
Internet), o que nos leva a crer que é muito
importante a utilização desses meios para
campanhas de esclarecimento e prevenção das
questões de saúde.
Quanto à opinião dos entrevistados a respeito
da prevalência de acometimento para algum dos
sexos, 44% acredita que ambos os sexos podem
infectar-se, 30% afirmam que apenas as mulheres
podem ser infectadas, o que demonstra que esses
homens não sabem da responsabilidade que tem
sobre o próprio cuidado.
A respeito do conhecimento sobre sinais e
sintomas de infecção por HPV, a maioria (67%)
afirma que desconhecem quais sejam, 20%
informam corretamente que podem ser verrugas,
mas outros 12% e 9% apontam corrimento e
coceira respectivamente como sinais e sintomas
da infecção por HPV, o que sem dúvida podem
ser importantes indícios de outras doenças
sexualmente transmissíveis.
O uso do preservativo é citado por 54% dos
estudantes como meio para evitar o contágio, mas
mesmo entre esses estudantes que referiram já ter
algum conhecimento sobre HPV, 3% acredita que
não há necessidade de prevenção, pois o vírus não
é contagioso. A grande maioria dos estudantes
(67%) não conhece possíveis patologias decorrentes
da infecção por HPV, e 30% responderam que pode
ser o câncer de colo do útero.
Esses dados demonstram a necessidade de
ações educativas e de esclarecimentos sobre o HPV,
pois mesmo numa população universitária,
supostamente com maior acesso à cultura geral, o
baixo nível de conhecimento apresentado nos indica
riscos à saúde dessa população.
Referências
Conclusão
1.
Este trabalho, fruto da preocupação de
estudantes do curso de enfermagem que observaram
informalmente junto a colegas universitários que o
assunto HPV é pouco conhecido, pode concluir que
para esta população amostrada, 46% realmente
referem desconhecer o tema HPV. Daqueles que
de alguma maneira já tinham ouvido falar ou leram
algo a respeito, 31% obtiveram informações por
2.
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Artigo original
Cuidados paliativos - uma nova
abordagem de cuidado
Juliana Balbinot Reis Girondi
Enfermeira Assistencial da Unidade de Clínica Médica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, Enfermeira Assistencial
da Unidade de Onco-hematologia do Hospital do Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON), Especialista em Enfermagem do Trabalho
Resumo
Trata-se do relato de experiência durante o treinamento sobre Assistência de Enfermagem Oncológica, oferecido à equipe de
enfermagem do Hospital Santa Catarina, localizado em Blumenau-SC. Através deste relato, pretende-se mostrar as concepções,
conhecimentos, vivências e experiências que a equipe de enfermagem têm acerca de cuidados paliativos em oncologia.
Pretende-se compartilhar com os leitores o crescimento como seres humanos e como profissionais, vivenciados durante este
treinamento. Todos conseguem refletir e discutir a experiência de se trabalhar com pacientes oncológicos em fase terminal,
o que nos coloca diante de sérios questionamentos de ordem clínica, ética, social e emocional. Isso se deve ao fato de tratarse da qualidade de vida do paciente oncológico fora de possibilidades terapêuticas, questão controversa e complexa, que
exige ainda estudos aprofundados, tanto para sua avaliação, quanto para sua implementação.
Palavras-chave: cuidados paliativos, qualidade de vida, morte.
Abstract
Palliative cares – a new approach care
The aim of this work is to report the experience acquired during Oncologic Nursing assistance practices offered to the Santa
Catarina Hospital nursing staff in Blumenau-SC. It intends to show nursing staff conceptions, knowledge and experiences
concerning oncology palliative cares. Another point is to share their growth as a human being and as a professional with
readers, which they have experienced during this practice. All of them succeeded in debating and pondering the experience
of working with oncology patients in terminal stage, which means that they have to face questionings about clinical, ethic,
social and emotional value. This is due to the fact that it is about oncology patient’s life quality with no therapeutic possibilities,
a controversial and complex question, which still needs to make a profound study either for evaluation or implementation.
Key-word: palliative cares, life quality, death.
Artigo recebido em 14 de abril de 2004; aceito em 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Juliana Balbinot Reis Girondi, Rua Álvaro de Carvalho 346/602
Centro 88080-110 Florianópolis SC, Tel: (48) 223-0219 / 9902-5670, E-mail: [email protected]
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Resumen
Cuidados paliativos – un nuevo abordaje de cuidado
Se trata de un relato de experiencia durante las prácticas sobre la asistencia oncológica de enfermería, ofrecidas al equipo de
enfermería del Hospital Santa Catarina, ubicado en Blumenau (SC). A través de este relato, se pretende mostrar las concepciones,
conocimientos, vivencias y experiencias que el equipo de enfermería tiene acerca de los cuidados paliativos en oncología. Se
pretende compartir con los lectores el crecimiento como seres humanos y como profesionales, vivenciados durante las
prácticas. Todos consiguen reflexionar y discutir la experiencia de trabajar con pacientes oncológicos en fase terminal, lo que
nos confronta con serios cuestionamientos de orden clínica, ética, social y emocional. Eso se debe al hecho de tratarse de la
calidad de vida del paciente oncológico que está fuera de las posibilidades terapéuticas, cuestión compleja y de controversia,
que exige estudios profundos tanto para evaluación como para su implementación.
Palabras-clave: cuidados paliativos, calidad de vida, muerte.
Introdução
No período de novembro a dezembro de 2000,
no Hospital Santa Catarina, realizou-se o
treinamento sobre Assistência de Enfermagem ao
cliente oncológico. O Hospital Santa Catarina está
situado em Blumenau, Santa Catarina. É uma
entidade privada de patrimônio da Comunidade
Evangélica de Blumenau. Possui área construída de
12.000 m2, 150 leitos e 425 colaboradores. É um
hospital geral, que realiza procedimentos de alta
complexidade, sendo inclusive, pioneiro na região.
O treinamento ministrado teve como
população alvo os colaboradores de enfermagem
do referido hospital (enfermeiros, técnicos e
auxiliares de enfermagem). No período acima
descrito foram realizados seis treinamentos, sendo
um por semana, com carga horária total de oito
horas. Foi organizado pelo Centro de Educação
Continuada em Enfer magem (CECEn) do
hospital. O CECEn tem como objetivo promover
o desenvolvimento sistemático de enfermagem,
visando à satisfação pessoal e valorização
profissional, assegurando a qualidade da assistência
prestada ao cliente. E foi ministrado pelos
integrantes da Equipe do Centro Onco
Hematológico (COH). O COH é um centro de
referência para o tratamento de doenças
oncológicas e hematológicas, localizado no
Hospital Santa Catarina.
O Hospital conta com oitenta e nove
colaboradores de enfermagem, sendo sessenta e oito
entre técnicos e auxiliares, quatorze enfermeiros
assistenciais, cinco supervisores de enfermagem, um
enfermeiro da CCIH e um gerente de enfermagem.
Participaram do treinamento dezessete enfermeiros
(incluindo o da CCIH, o gerente e supervisores) e
sessenta e nove colaboradores entre técnicos e
auxiliares. Apenas 12 colaboradores (13%) não
participaram do treinamento.
Em todos os treinamentos uma prova teórica
contendo dez questões acerca dos cuidados de
enfermagem oferecidos ao cliente oncológico (de
acordo com o tema abordado), era aplicada aos
participantes. Essa avaliação era feita no último dia
do treinamento. Do número total de colaboradores,
setenta e três foram aprovados (71%) e quatro
foram reprovados (4%).
Neste artigo pretende-se:
• Discutir o conhecimento que os profissionais
da área de enfermagem têm acerca de Cuidados
Paliativos ao paciente oncológico, visto que isso se
reflete na qualidade da assistência prestada ao
paciente e sua família;
• Compartilhar saberes com os leitores;
• Mostrar que a relação profissional/paciente/
família é um processo dinâmico e de constante
reformulação, onde ambos crescem e aprendem
juntos (processo interativo);
• Evidenciar experiências e saberes que os
profissionais da área de enfermagem têm frente
às situações em cuidados paliativos, vivenciadas
por eles.
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Material e métodos
Os treinamentos oferecidos pelo CECEn têm
como objetivo identificar as expectativas da equipe
de enfermagem, verificando seus interesses e
ampliando o conhecimento técnico-científico. Ao
ministrar a palestra sobre cuidados paliativos ao
paciente oncológico, a autora deste artigo sugere que
os funcionários reflitam a respeito do que eles
entendem por cuidados paliativos. Esse
questionamento se faz necessário, porque acredito
que um treinamento e/ou palestra deve ser
construído com base nos conhecimentos que as
pessoas já possuem. O conhecimento não deve ser
uma atividade “ordenada”, mas sim, um
conhecimento interativo construído com base em
vários saberes, em várias experiências compartilhadas.
Os participantes são convidados a formar um
grande círculo. Após, recebem uma folha de papel
em branco onde colocam seu nome, respondendo
ao questionamento: “O que são cuidados
paliativos?”. Em seguida, sob o comando da
organizadora, a folha é entregue ao colega da direita,
que deve completar a frase utilizando como
referência apenas a última palavra escrita. E assim,
a cada um minuto, a folha é passada de mão em
mão, até alcançar a pessoa de origem.
A partir desse momento, cada integrante
possui em mãos um conjunto de informações que
expressam o pensamento do grupo sobre cuidados
paliativos. Dois destes textos elaborados forma
selecionados de forma aleatória e lidos para o
grande grupo.
Com base nessa atividade, iniciou-se o debate,
onde os funcionários passam a expor experiências
vividas com pacientes em fase ter minal.
Lembraram de várias situações e comentaram
como era difícil lidar com a sensação de perda e
impotência frente à morte, com o medo da morte,
a angústia de ver o sofrimento de pacientes em
fase terminal e seus familiares...
Considerando uma vivência muito rica,
fundamenta-se a construção deste artigo. A primeira
grande dificuldade se fez presente quando da
necessidade de definir de forma mais adequada de
sua elaboração, visto ser um material que expressa
os sentimentos e vivências de várias pessoas, aliado
ao fato de se preservar a autenticidade de cada
escrita. A opção por se apresentar esse relato
obedecendo à sua escrita original, baseia-se na
necessidade de associar as reflexões emanadas do
grupo com as definições e reflexões expressas na
literatura. Em grande parte dos dados colhidos,
entende-se que quando se fala em cuidados
paliativos fala-se de:
“Cuidados que permitam uma morte com dignidade”;
“Manter o paciente confortável”; Oferecer ao paciente e
familiares tranqüilidade, respeito, carinho e amizade”;
“Manter a satisfação das necessidades humanas básicas do
paciente”; “Não deixar o paciente sentir dor”.
Como melhor forma de agrupar as idéias para
apresentá-las nesse artigo, ressalta-se o que
encontramos em literatura com o que vivenciamos
na prática.
Cuidados paliativos para o paciente com câncer
O Ministério da Saúde [1] afirma que o câncer
é tido como uma doença crônico-degenerativa. Isto
quer dizer que é uma doença que apresenta evolução
prolongada e progressiva, exceto se interrompida
em algumas de suas fases.
Haddad apud Quadros [2] coloca que “dentre
as doenças crônico-degenerativas, o câncer é a que
causa maior desequilíbrio emocional nos pacientes
e seus familiares, pois em nossa sociedade, esta
moléstia tem conotação de sofrimento, dor,
degradação e morte”.
O que se observa é que, com o advento da
medicina, muitos tipos de cânceres apresentam
elevado índice de cura, se detectados precocemente
e se os tratamentos adequados forem adotados.
Pacientes com estágio avançado da doença, sem
possibilidade de cura, muitas vezes são chamados
de “pacientes em fase terminal”.
De acordo com Marcelino [3], o cuidado
paliativo “é uma especialidade médica e consiste na
atenção ativa, integral e individualizada aos pacientes
com doença fora das possibilidades terapêuticas de
cura (...). Tem como objetivo reafirmar a
importância da vida, considerando a morte como
um processo natural; não utilizar medidas que
prolonguem o sofrimento ou encurtem a vida;
controlar a dor e outros sintomas; apoiar medidas
que ajudem aos outros pacientes a levar uma vida o
mais ativa possível, até a chegada da morte; oferecer
apoio à família para que possam enfrentar a
enfermidade e o processo de morrer dos seus
membros”. Isto foi percebido claramente em
algumas colocações dos colaboradores:
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“Cuidados paliativos é melhorar a qualidade de vida
de um paciente, mantendo a satisfação de suas necessidades
básicas, acolhendo e respeitando suas idéias”; “Cuidados
paliativos é servir, dar apoio, amenizar a dor física e
espiritual... Dar atenção ao paciente e seus familiares, a fim
de auxiliá-los no que eles precisarem para aliviar o
sofrimento”; “É cuidar, tratar, mas sem esperar a cura”;
“É a oportunidade de proporcionar conforto e alívio ao
paciente para que ele não perca sua identidade”.
Observa-se a nítida preocupação que os
participantes sentem em relação ao alívio da dor do
paciente e seus familiares, seja essa dor física,
espiritual ou psico-social.
De acordo com Carvalho [4], “o paciente com
câncer avançado apresenta uma série de sintomas,
dentre eles: anorexia, ansiedade, confusão mental,
constipação, náuseas, vômitos, convulsões,
depressão, diarréia, dor, dispnéia, insônia... A dor é
considerada como o sintoma mais incapacitante para
a maioria dos pacientes”. Ainda de acordo com a
mesma autora, o conceito de dor é modulado pelo
estado de ânimo do paciente. É o que se chama de
dor total; visto que a dor envolve aspectos físicos,
psíquicos, sociais e espirituais. Por isso, torna-se um
sintoma muito difícil de ser avaliado e mensurado
e, conseqüentemente tratado. Requer um empenho
da equipe cuidadora para que se possa ser feito um
trabalho realmente efetivo, o que contribuirá para a
melhora da qualidade de vida do paciente e sua família.
Atkinson [5] coloca que “a abordagem que o
enfermeiro emprega é fundamental para trabalhar
com eficiência com qualquer paciente que sofra dor.
O enfermeiro transmite ao paciente estar acreditando
no que este refere em relação à dor, ou seja, que o
enfermeiro mostre-se disposto a ajudar a obter o
controle da dor, pode ter condições de melhorar a
eficácia de outras medidas destinadas a reduzir a dor”.
Para Schöeller [6], a dor acomete 60 a 80%
dos pacientes com câncer, constituindo-se no fator
determinante de sofrimento relacionado à doença,
mesmo quando comparado à expectativa de morte.
Muitos colaboradores também abordaram a
questão da proximidade da morte e de se possibilitar
uma melhor qualidade de vida, enquanto ainda restar
vida ao paciente: “Cuidados paliativos é atender bem o
paciente, oferecer cuidados, amor, carinho; atendendo com
paciência e dedicação, para que ele seja um pouco mais feliz
no tempo que ainda tem de vida”; “A grandeza desse tipo de
cuidado está em oferecer uma melhor qualidade de vida ao
paciente no tempo que ainda lhe resta , tentando livrá-lo de
qualquer tipo de dor (ou ao menos, tentar)”.
Abordar uma pessoa até o momento mais
próximo de sua morte, quando suas funções
(cognitivas, fisiológicas e emocionais) estão
comprometidas, requer de todos os envolvidos
cuidados especiais com o paciente, seus familiares
e consigo próprio. Oliveira & Ogawa [7] afirmam
que existem dois planos de medo diante da morte.
Um medo é instintivo, natural, necessário, pois é
aquele que ocorre quando nos vemos ameaçados ou
em risco de perder a vida. Outro é aquele que
adquirimos através de nossa educação, de nossas
relações e convívio social, que sofrem influência da
cultura na qual estamos inseridos. Seria de importante
ajuda para todos se a morte fosse reconhecida mais
abertamente, como parte natural da existência, e não
como uma grande trajetória. Ao entender a
impermanência da vida, pode-se valorizar cada
momento. A consciência da morte ensina a desfrutar
a vida, mas com simplicidade, preenchida pela beleza
e criatividade de um pleno viver.
Conclusões
O objetivo central de todo processo de cuidar
em enfermagem é proporcionar uma melhor
qualidade de vida para o paciente e sua família,
favorecendo a adaptação destes à doença,
independente do estágio desta. No entanto, como
o câncer é uma doença muito complexa, pode-se
chegar a um estágio em que o paciente não reagirá
mais frente às terapêuticas disponíveis. A partir daí,
busca-se oferecer subsídios para que o paciente
tenha uma vida digna e enfrente o processo de
morte e morrer da forma mais natural e humana
possível. O atendimento das necessidades básicas
deve abranger todos os aspectos e inclui
proporcionar ao paciente um ambiente para a morte
tranqüila, quando este evento se apresentar.
Sabemos que estas são metas difíceis de serem
atingidas, o que determina novos obstáculos a serem
vencidos pela enfermagem, e por toda equipe
cuidadora, durante o processo de cuidar do paciente
oncológico em fase terminal.
De acordo com Radünz [8], “o paciente
portador de câncer necessita de ouvintes empáticos,
que compreendam suas flutuações de humor, que
os ajudem a mobilizar seus mecanismos de
enfrentamento, seus recursos individuais e familiares,
no sentido de que possam atingir o potencial
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máximo para viver com dignidade o dia-a-dia”.
Nascimento-Schulze [9] salienta que cuidar envolve
atos humanos no processo de assistir ao indivíduo
e seus familiares. O processo de cuidar envolve
relacionamento interpessoal, que é originado no
sentido de ajuda e confiança mútua, e se desenvolve
com base em valores humanísticos e em
conhecimento científico.
Com esse treinamento em Assistência de
Enfermagem Oncológica para os colaboradores do
hospital, observa-se que realmente esse é o alicerce
para a nossa prática do cuidar, especialmente quando
se fala em cuidados paliativos. É o se envolver, o
favorecer uma melhor qualidade de vida ao paciente
e sua família, o proporcionar um ambiente saudável
e tranqüilo para um processo natural da vida: o morrer.
Para que essas ações possam ser bem
desenvolvidas, é necessário o conhecimento técnicocientífico; além de se criar um espaço para discutir
experiências, valores e posições frente a nossa prática
de cuidar do paciente oncológico em fase terminal.
Pois, sabe-se que somos seres humanos únicos,
limitados, mas totalmente criativos e movidos por
emoções, e por isso, precisamos discutir questões e
trocar conhecimentos que não são eternos.
Referências
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Artigo original
Exame nacional de cursos e ideologia
estudantil: confronto ou adesão?
Luciano Garcia Lourenção*, Cláudia Bernardi Cesarino, D.Sc.**, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, D.Sc.***,
Maria de Fátima Farinha Martins Furlan****
*Enfermeiro, mestrando do Curso de Pós-graduação em Ciências da Saúde da FAMERP, docente do PROFAE, **Enfermeira, Docente e
Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP, ***Enfermeira, Diretora de Extensão de Serviços à Comunidade da
FAMERP, ****Enfermeira, Docente e Vice-coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da FAMERP
Resumo
O Exame Nacional de Cursos (ENC) foi criado em 1995 como instrumento para avaliar o ensino superior brasileiro, diagnosticar
as deficiências e contribuir para melhorar a educação. Desde que surgiu, gerou muitas críticas, tornando-se objeto de discussão
e polêmica entre a comunidade acadêmica. A principal reação contra o ENC foi a organização de boicotes às provas, para
demonstrar a recusa e incredulidade neste método avaliativo, principalmente por aqueles que o realizam pela primeira vez.
Assim, os objetivos deste trabalho foram identificar a compreensão dos alunos da 4ª Série do Curso de Graduação em
Enfermagem da FAMERP quanto ao ENC, levantar a adesão ou não à realização do primeiro exame e as justificativas
apresentadas. Participaram do estudo 86% dos alunos matriculados, dos quais 98% referem que irão fazer o ENC, 34,7%
colocam como justificativa a obrigatoriedade, 40,8% entendem que o ENC trará melhoras no ensino e nas Instituições de
Ensino Superior. 40,8% colocam como benefícios o reconhecimento da IES e maiores oportunidades de trabalho, e 44,9%
citam como malefícios a perda do prestígio e prejuízos para o futuro profissional.
Palavras-chave: exame nacional de cursos, instituição de ensino superior, curso de graduação em enfermagem, boicote.
Abstract
National examination courses and student ideology: confrontation or adherence?
The National Examination Course’s (ENC) was created in 1995 as an instrument to evaluate Brazilian Higher Education, to
diagnosticate deficiencies and contribute to education improvement. Since its beginning, it causes many critiques and was a
topic of discussion and controversial among the academic community. The principal reaction against ENC was to organize
a boycott of the tests in order to show refusal and skepticism regarding this evaluation method, mainly for those that will
Artigo recebido em 28 de maio de 2004; aceito em 1 de julho de 2004.
Endereço para Correspondência: Luciano Garcia Lourenção, Rua Joaquim Manoel
Pires, 100/03 Jd. Pinheiros 15091-210 São José do Rio Preto SP, E-mail: [email protected]
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participate for the first time. Thus, the aims of this study were to identify the comprehension of the 4th year of Nursing
Graduating Course students of FAMERP (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto) about ENC, to promote
adherence or not to the first examination and to explain their decisions. Eighty-six percent enrolled students participated to
this study, 98% reported that they will adhere to ENC, 34,7% justified their adherence as an obligation; 40,8% understood
that ENC will improve education quality and Higher Education Institutions (HEI); 40,8% pointed out official recognition of
HEI studies and better work opportunities as benefits, and 44,9% mentioned as malefactions lost prestige and damages that
will probably cause to their professional life
Key-words: National examination course, higher education institution, nursing graduating course, boycott.
Resumen
Examen Nacional de Cursos y ideología estudiantil:? confrontación o adherencia?
El Examen Nacional de Cursos (ENC) fue creado en 1995 como instrumento para evaluar la calidad de la enseñanza
superior brasileña, diagnosticar las deficiencias y contribuir para mejorar la educación. Desde su aparición, se originaran
muchas críticas y se tornó objeto de discusión y controversia entre la comunidad académica. La principal reacción contra el
ENC fue la organización de boicots a los exámenes, para mostrar el rechazo e incredulidad en este método de evaluación,
principalmente por aquellos que lo hacen por primera vez. Así, los objetivos de este trabajo fueron identificar la comprensión
de los alumnos del 4º. año del Curso de Graduación en Enfermería de la FAMERP (Facultad de Medicina de São José do Rio
Preto) sobre ENC, promover la adhesión o no a la realización del primer examen y las justificativas presentadas. Participaron
del estudio 86% de los alumnos inscritos, de los cuales 98% relataron que irán hacer el ENC, 34,7% justificaron la adherencia
como obligatoriedad, 40,8% entienden que con el examen impulsará la mejora en la enseñanza y en las Instituciones de
Enseñanza Superior, 40,8% apuntaron la acreditación de los programas académicos de las Instituciones de Enseñanza Superior
y mejores oportunidades de trabajo como beneficios, y 44,9% citaron como maleficios la pérdida del prestigio y perjuicios
para el futuro profesional.
Palabras-clave: Examen nacional de cursos, institución de enseñanza superior, curso de graduación en enfermería, boicot.
Introdução
Nos últimos anos, houve um notável
crescimento das instituições de ensino superior, bem
como o surgimento de novos e numerosos cursos.
No entanto, em grande parte destas instituições e/
ou cursos, a qualidade do ensino oferecido não
apresentou o mesmo crescimento, gerando uma
certa deficiência na formação e uma queda no nível
de excelência dos profissionais que foram se
inserindo no mercado [1].
Neste contexto, o Ministro da Educação Paulo
Renato Souza propôs e o Congresso Nacional
aprovou, em 1995, a criação de um instrumento para
avaliar os cursos superiores brasileiros, diagnosticar
as deficiências e contribuir para melhorar a qualidade
da educação. Surgiu, assim, o Exame Nacional de
Cursos (ENC) que logo passou a ser conhecido
como Provão [2].
Regulamentado pela Lei 9.131, de 24/12/1995,
o ENC representa, atualmente, um dos principais
instrumentos de avaliação utilizados pelo Ministério
da Educação (MEC) para medir a qualidade e a
eficiência dos cursos de graduação [3].
Segundo o INEP [4], o artigo 3º da Lei nº
9.131/95, rege a obrigatoriedade quanto à realização
de avaliações periódicas das instituições de nível
superior pelo Ministério da Educação e do
Desporto, através de procedimentos e critérios
abrangentes de diversos fatores que determinarão
a qualidade e a eficiência das atividades de ensino,
pesquisa e extensão da referida instituição. Dentre
os procedimentos adotados para tais avaliações
inclui-se a realização anual de exames nacionais,
“com base em conteúdos mínimos estabelecidos para cada
curso, previamente divulgados e destinados a aferir os
conhecimentos e competências adquiridos pelos alunos em fase
de conclusão dos cursos de graduação” [4].
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Neste contexto, a Lei 9.131 fixa que o ENC
tem por objetivo avaliar os cursos de graduação e
os conhecimentos e competências adquiridos pelos
alunos que estão em conclusão dos cursos
superiores e, assim, alimentar os processos de
decisão e de formulação de ações voltadas para a
melhoria dos cursos de graduação [5]. O ENC visa,
então, complementar as avaliações mais abrangentes
das instituições e cursos de nível superior que
analisam os fatores determinantes da qualidade e a
eficiência das atividades de ensino, pesquisa e
extensão, obtendo dados informativos que reflitam,
da melhor maneira possível, a realidade do ensino
superior brasileiro [1].
A Lei nº 9.131 estabelece, ainda, a
obrigatoriedade do Exame para a obtenção do
diploma, independentemente do grau atingido pelo
aluno na avaliação [4]. Os resultados alcançados
individualmente não são divulgados publicamente.
No entanto, tem sido amplamente discutido e
questionado, com relação à avaliação do aluno, que
a metodologia de avaliação utilizada pelo MEC
per mite obser var apenas parte do nível de
conhecimento atingido pelo mesmo ao final de sua
graduação, em uma única situação de prova,
abrangendo determinados conteúdos, não poderia
revelar o conhecimento real adquirido por este aluno
no curso superior realizado [3].
Lembra-se que o ENC é composto de um teste
de conhecimento acompanhado por um
questionário com itens que captam as características
sócio-demográficas, econômicas e culturais dos
estudantes avaliados, além de suas atividades
escolares durante o curso de graduação e suas
avaliações pessoais sobre o curso, considerando as
condições físicas da instituição e suas contribuições
para a inserção dos alunos no mercado de trabalho.
As questões do teste de conhecimento são
construídas tendo como referência as diretrizes
curriculares emanadas de cada área de graduação,
sendo as provas constituídas de questões objetivas
– tipo múltipla escolha – e discursivas de acordo
com as opções das diferentes comissões [6,7].
Segundo Castilho & Cohn [3], o ENC inserese no contexto mais amplo de avaliação educacional,
definido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei nº 9.394, de 20/12/1996, que
determina a concessão, por tempo limitado, do
reconhecimento de cursos e do credenciamento de
instituições de educação superior. O ENC passa,
então, a constituir um dos instrumentos a ser
utilizado pelo MEC para o recredenciamento de
Instituições de Ensino Superior (IES).
Vale ressaltar aqui que a incorporação de
cursos no programa de avaliação é gradativa,
cabendo ao MEC definir, anualmente, aqueles que
passarão a fazer parte da avaliação.
Na primeira avaliação do ENC foram
escolhidos os cursos de Administração, Direito e
Engenharia Civil. Conforme o INEP [6], no exame
de 2001, foram avaliados vinte cursos e, em 2002,
foram incluídos na avaliação os cursos de
Enfermagem, Arquitetura e Urbanismo, Ciências
Contábeis e História, conforme estabelecia a
Portaria Ministerial nº 1295, de 28 de junho de 2001.
Desde que surgiu, o ENC estimulou o debate,
gerando críticas e quebrando a letargia de algumas
IESs, tornando-se objeto de discussão e polêmica,
e provocando forte impacto na comunidade
acadêmica brasileira [4].
Uma das principais reações apresentadas por
sindicatos de professores e organizações estudantis
ao ENC foi a organização de boicotes às provas
[4], como forma de demonstrar a recusa e
incredulidade neste método avaliativo. Porém
superadas as reações iniciais, o ENC consolidou-se
como um dos principais indicadores da qualidade e
um importante agente de transformação do ensino
superior no Brasil.
Diante destes fatos, os objetivos deste trabalho
podem ser assim definidos:
Objetivos
1. Identificar a compreensão dos alunos da 4ª
Série do Curso de Graduação em Enfermagem da
FAMERP quanto ao Exame Nacional de Cursos;
2. Levantar a adesão ou não à realização deste
exame e os respectivos motivos apresentados.
Material e métodos
Realizou-se um estudo exploratório, no mês
de fevereiro de 2002, entre 49 acadêmicos da 4ª série
do Curso de Graduação em Enfermagem da
FAMERP, o que corresponde a 86% do total dos
alunos matriculados nesta série.
Os dados foram obtidos após a aprovação
do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
FAMERP. Para a coleta dos dados, aplicou-se um
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questionário contendo perguntas abertas e fechadas
sobre o ENC.
Os dados obtidos foram agrupados segundo
as especificidades das respostas, tratados em função
de índices absolutos e percentuais e são
apresentados em tabelas e figuras.
Resultados e discussão
Quanto à definição do ENC, observou-se na
tabela I que 40,8% relata ser uma maneira de avaliar
a IES e, indiretamente, o aluno, trazendo melhorias
para a instituição. Na verdade, o ENC é um dos
elementos da prática avaliativa, sendo que este
exame não se constitui, portanto, em um mero
programa de testagem, nem no único indicador a
ser utilizado nas avaliações das instituições de
ensino superior [1].
Na tabela II, quanto aos benefícios que o
ENC proporciona ao aluno e à IES, 40,8% referem
o reconhecimento da IES, melhora na
concorrência, criando maiores oportunidades de
trabalho, maior possibilidade de melhoria da
qualidade da IES para os próximos anos. Tais
opiniões são semelhantes à Castro [8] que destaca
que, com o ENC, houve melhora, por exemplo,
na qualificação dos docentes, com títulos de
mestres e doutores, passando de 33% para 55%
dos cursos avaliados, sendo que estes professores
mais qualificados apareceram, justamente, nas
áreas onde havia poucos mestres e doutores.
Na prática, o ENC provocou ao menos um
verdadeiro “terremoto” no sistema do ensino
superior. O sistema estava parado, completamente
acomodado a uma situação de ter cursos já
reconhecidos e que não eram mais avaliados. De
repente, todos os diretores de faculdades, os
coordenadores de cursos, professores, pais,
estudantes, integrantes dos conselhos de faculdades
públicas e privadas passaram a se preocupar com a
qualidade do curso. Enfim, a questão da qualidade
da graduação entrou na pauta de discussões da
sociedade, com melhora do projeto pedagógico e
das condições de oferta do curso [9].
O mesmo autor cita, ainda, como benefício, o
incentivo aos estudantes em se dedicarem durante
o curso, não só estudando, mas também exigindo
das instituições a oferta das condições necessárias
para um bom aprendizado.
Tabela I - Distribuição das definições atribuídas ao ENC pelos alunos.
Definições
Avaliação injusta / Medir conhecimentos - as notas / Primeiro passo para privatização das IES
Melhoria do Ensino - das IES / Maneira de avaliar a IES e o aluno indiretamente
Deveria avaliar o nível da IES / Método injusto, mas única forma de avaliação
Método ilusório - pensa que avalia / Prejudica o recém formado na busca de emprego
Jogo político
Método controverso - confronta ideologia estudantil X intenção do Ministério
Método de avaliação de conteúdos / Retrata a IES
Método que não avalia o relacionamento e a capacidade de cuidados do aluno (de enfermagem)
com o paciente
Método de avaliação da qualidade do ensino oferecido pela IES – classificatório, ranqueador
Total
Tabela II - Distribuição dos benefícios trazidos pelo ENC, segundo os alunos.
Benefícios
Mostrar nosso potencial na vida profissional / Maior prestígio para a IES
Oportunidade de o aluno avaliar sua capacidade e conhecimentos
Prestígio / Valorizar a IES / Mostrar conhecimentos e competências dos alunos e potencial da IES
Reconhecimento da IES / Melhora na concorrência / Maiores oportunidades de trabalho /
Melhores alunos / Maior qualidade e melhor estrutura nos próximos anos
Investimentos da IES na melhoria da qualidade do ensino e na estrutura física
Valorização da IES / Maior qualidade de ensino / Maior empenho de professores e alunos
Melhorias para os anos subseqüentes
Não citaram benefícios
Total
Nº
3
20
4
1
3
1
1
%
6,1%
40,8%
8,2%
2,0%
6,1%
2,0%
2,0%
2
14
49
4,1%
28,6%
100,0%
Nº
2
1
8
20
6
6
1
5
49
%
4,1%
2,0%
16,3%
40,8%
12,2%
12,2%
2,0%
10,2%
100,0%
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Tabela III - Distribuição dos malefícios trazidos pelo ENC, segundo os alunos.
Malefícios
Colocar em dúvida a capacidade dos professores
Dificuldade de acesso ao mercado de trabalho
Perda do prestígio / Prejuízos para o futuro profissional / Denegrir o currículo do aluno rotulado pela nota / Menor oportunidade de emprego
Sobrecarga do aluno
Não causará malefícios à IES, somente ao aluno
Fechamento dos cursos e IES
Insegurança e desemprego
Não citaram malefícios
Total
Nº
1
8
%
2,0%
16,3%
22
3
1
3
3
8
49
44,9%
6,1%
2,0%
6,1%
6,1%
16,3%
100%
Na figura 1, notou-se que
36% apresentaram como justificativa para a realização do ENC
a obrigatoriedade e a intenção de
lutar por uma avaliação mais justa.
Nesse estudo os resultados não
demonstraram aversões ao ENC,
mas propuseram um processo
avaliativo mais justo. No entanto,
as críticas e manifestações
contrárias ao ENC não deixaram
de existir, uma vez que novos
cursos são inseridos anualmente
no processo de avaliação. O INEP
[4] refere que se encontra, ainda,
quadros de revoltas e desconfianças, principalmente por parte daqueles que irão
realizar o exame pela primeira vez.
Notou-se na figura 2 que a maioria (98%)
fariam o ENC e 69,4% estavam acompanhando
as notícias sobre o ENC. Desta forma, ficou claro
que os alunos não são favoráveis ao boicote ao
ENC e que estão informados e empenhados para
que o ENC, que já foi legitimado traga a IES um
debate muito rico e contribuições importantes para
a graduação.
Figura 1 - Distribuição das justificativas para a realização do ENC.
Na tabela III, verificam-se como malefícios
citados por 44,9% a perda do prestígio e prejuízos
para o futuro profissional. Acreditam, também que
o mau rendimento irá denegrir o currículo do aluno
que passará a ser rotulado pela nota, levando a uma
menor oportunidade de emprego.
Este fato não foi encontrado na literatura, mas,
na prática, sabemos que muitas instituições estão
tomando o resultado obtido pelo aluno no ENC
como subsídio para a contratação dos profissionais.
Com a missão de verificar as condições
específicas de cada curso de graduação submetido
ao ENC, nas opiniões e discussões sobre o assunto
são ressaltados vários pontos importantes para
melhorar este processo avaliativo. Um bastante
abordado é que se devem aplicar os critérios de
qualidade de forma individualizada para os cursos
que estão sendo avaliados, levando em conta o
conjunto da instituição e suas prioridades
deixando, assim, a visão mecanicista de aplicar um
formulário e uma avaliação padrão, atribuindo
notas por itens analisados, sem permitir uma visão
crítico-reflexiva.
Figura 2 - Distribuição dos alunos segundo a
realização e o acompanhamento de notícias sobre o
ENC.
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Conclusão
Segundo os objetivos definidos neste estudo,
os resultados obtidos demonstraram que a maioria
dos estudantes apresenta um conhecimento
adequado sobre o ENC, embora boa parte deles não
tem acompanhado rotineiramente as notícias acerca
do mesmo e acreditamos que pelo curso ter somente
10 anos, falta na prática o interesse em compreender
melhor todo o contexto para saber discernir e
argumentar a decisão.
Os benefícios e os malefícios esperados com o
ENC que foram apresentados são bastante concretos,
apesar de não ser citado, em momento algum, que a
ausência ao exame implica ao não recebimento do
diploma que também não será registrado.
No 6 º SENADEN foi elaborada uma carta de
repúdio ao ENC, solicitando modificações e estratégias para uma avaliação mais justa, como foi citado
pelos estudantes neste estudo, o compromisso de não
realizar cursos preparatórios a partir deste evento e
se soubessem da realização do mesmo em alguma
instituição, que fosse denunciado. Já a Executiva
Nacional dos Estudantes de Enfermagem colocaram
que a única estratégia no momento era o boicote, por
acreditarem em ser uma avaliação que interfere no
presente e futuro da instituição, por ser imposta de
cima para baixo, ranqueadora, punitiva ou premiativa
e que querem uma avaliação crítica e libertária.
Assim, a obrigatoriedade da realização do
exame gera um comprometimento dos estudantes
quanto à realização do mesmo, o que ocasiona uma
certa apreensão por parte dos coordenadores e
professores da instituição quanto ao rendimento que
será apresentado pelos mesmos.
No entanto, docentes e estudantes necessitam
trabalhar juntos em busca de estratégias e que não
fique somente em críticas por críticas e sim sugestões,
soluções para que a comissão de especialistas da
enfermagem do ENC contribua com tal processo
avaliativo, de forma a contribuir para a eficácia na
formação de enfermeiros competentes.
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Artigo original
Habilidades da enfermagem e conceitos
para o cuidado de pacientes terminais em
um hospital particular da Região Nordeste
do Rio Grande do Sul
Sandra Lúcia Radaelli*, Pedro de Abreu Gaspar, D.Sc.**
*Acadêmica de Enfermagem da Universidade de Caxias do Sul, **Enfermeiro, professor de Departamento de Enfermagem e do Instituto de
Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul
Resumo
O objetivo deste estudo é analisar e descrever a percepção da equipe de enfermagem em relação ao cuidado diário de
pacientes terminais. Os dados foram coletados através de um questionário entregue à equipe de enfermagem do Centro
de Terapia Intensiva – Adulto de um hospital particular de Caxias do Sul. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo
análise de conteúdo. A investigação obteve uma amostra de 12 profissionais; 1 enfermeira, 2 técnicos e 9 auxiliares de
enfermagem. Os resultados mostraram que em 36,3% das respostas, o equilíbrio emocional apareceu como a principal
habilidade necessária para lidar com as situações de morte e em 50% das respostas a família apareceu como a principal
dificuldade no atendimento a pacientes terminais. A conclusão sugere haver a necessidade de um aperfeiçoamento da
equipe de enfermagem em relação ao conceito de morte, ao equilíbrio emocional para exercer o ato de cuidar e de se
relacionar com a família.
Palavras-chave: equipe de enfermagem, paciente terminal, morte.
Artigo recebido em 11 de junho de 2004; aceito em 25 de julho de 2004.
Endereço para correspondência: Pedro de Abreu Gaspar,
Departamento de Enfermagem, Universidade de Caxias do Sul, Rua Francisco Getúlio Vargas,
1130 bl S, 95070-560 Petrópolis RJ, Tel: (54) 218-2100, E-mail: [email protected]
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Abstract
Concepts and nursing abilities in taking care of terminal patients in a private
hospital of the northeastern of Rio Grande do Sul
The aim of this study is to analyze and describe a nursing staff perception in relation to the daily care of terminal patients.
The data were collected through a questionnaire given to the nursing staff in the adult intensive care unit of a private hospital
in Caxias do Sul. It is a qualitative research called content analysis. The investigation was carried on with 12 professionals - 1
nurse, 2 technicians and 9 auxiliary nurses. In 36% of the answers, the results show that emotional balance is the main
necessary ability required to deal with death situations and in 50% of the answers, the terminal patient’s family seem to be the
main difficulty to deal with. We strongly suggest the need of training nurses to change their death related concepts and
emotional balance in relation to terminal patients’ families.
Keys-words: nursing staff, terminal patient, death.
Resumen
Habilidades de la enfermería y conceptos para con el cuidado a pacientes terminales
de un hospital particular de la Región Nordeste de Rio Grande do Sul
El objetivo de este estudio es analizar y describir la percepción del equipo de enfermería con relación al cuidado diario de los
pacientes terminales. Los datos fueron recogidos a través de una encuesta que fue entregue a los trabajadores de enfermería
del centro de terapia intensiva – adulto de un hospital particular de Caxias do Sul. Se trata de una investigación cualitativa
caracterizada por análisis del contenido. La investigación obtuvo una muestra de 12 profesionales; 1 enfermera, 2 técnicos y
9 auxiliares de enfermería. Los resultados demostraron que en el 36% de las respuestas, el equilibrio emocional aparece como
la habilidad principal necesaria para asistir las situaciones de muerte y en el 50% de las respuestas la familia se muestra como
la dificultad principal para atender a los pacientes terminales. Conclusión: es necesario que haya un perfeccionamiento de los
trabajadores de enfermería con relación al concepto de muerte y sobre el equilibrio emocional para ejercer el acto de cuidar
y saber relacionarse con la familia.
Palabras-clave: equipo de enfermería, paciente terminal, muerte.
Introdução
A morte é parte integral da existência humana
e, no entanto, é um tema evitado e até mesmo negado
em nossa sociedade. Isso decorre, dentre outros
aspectos, pelo fato de sermos poupados desde a
infância, de vivenciarmos “a morte” e o “morrer”
[1]. Com o avanço da ciência e da tecnologia, a morte
pode ser até retardada. Era de se pensar também
que o homem tivesse, pelo seu alto grau de
emancipação, descoberto meios que proporcionassem maior preparo às pessoas para se haverem
com tal fenômeno, entretanto, não é isso que nos
apresenta. Ao contrário, a morte continua sendo um
tabu. Os eufemismos permanecem [2]. É impossível
ao homem pensar, imaginar um fim real de sua
própria vida. Nosso inconsciente não aceita a morte
como algo natural que faz parte do próprio existir.
Significa que o homem, talvez, não seja
suficientemente preparado para enfrentar essa etapa
que faz parte de nosso ciclo vital, pelo fato da morte
ainda ser considerada um tabu na sociedade
ocidental [3].
O enfrentamento da morte, com o passar dos
anos, vem sofrendo modificações, deixando de ser
um cerimonial cultuado entre os familiares e amigos,
para ser vivenciado ao lado de estranhos. Nos dias
atuais, doença e morte são uma realidade das
instituições de saúde. Estas, inseridas no sistema
para o qual foram preparadas, ficam alicerçadas a
uma estrutura muitas vezes desumana, separando
o homem do contexto em que vive, levando-o a
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encontrar dificuldades no adoecer e morrer [4]. A
morte é percebida pelas pessoas que convivem com
o ser-morrendo como uma possibilidade remota,
só possível de acontecer com os outros. E assim
predomina a relação interpessoal entre o sermorrendo e os demais seres que o rodeiam, como
uma alternativa de convívio com a angústia,
decorrente da verdade absoluta que é a morte [5].
Para a natureza, a morte é um fenômeno fatalista,
ou seja, todo ser vivo está condicionado a morrer; para
o ser humano, entretanto, a morte é percebida como
algo obscuro, distante e doloroso. O lado humano do
cuidar cedeu lugar à busca desenfreada do curar. Esta
busca leva, muitas vezes, os profissionais a
prolongarem a vida sem mesmo preocuparem-se em
perceber os desejos do paciente e de seus familiares.
Como nem sempre é possível curar, a frustração é um
sentimento comum frente à morte. Assim sendo, não
é fácil encarar a morte, bem como estar com as pessoas
que acabaram de perder alguém.
A convivência com a morte faz parte do
cotidiano de trabalho de profissionais da saúde,
causando-lhes sobrecarga emocional, ansiedade e
depressão. Tal situação fica agravada com a
constatação de que seu preparo profissional, nesta
área, freqüentemente se resume aos aspectos de
desenvolvimento de habilidades técnicas e
fundamentos teóricos da fisiopatologia, o que de
certa forma, está em consonância com o
atendimento que se vê atualmente em saúde /
despersonalizado, tecnicista e mecânico [6].
Tem-se como pressuposto que os
profissionais de saúde vêem friamente e como um
fato desagradável a morte, mas, comumente isso
não é discutido porque põe em evidência o limite
profissional. Neste enfoque, é comum que sejam
vistos como “frios”, mas a verdade é que mascaram
e negam seus sentimentos e emoções ao lidar com
a morte, no cumprimento das rotinas de trabalho
[7]. Uma das grandes dificuldades dos profissionais
da saúde que prestam atendimento a pacientes fora
de possibilidade terapêutica é não reconhecer a
própria finitude. Utilizam-se de mecanismos de
defesa para negar um acontecimento natural e
inevitável da vida. O discurso institucional, em nome
do profissionalismo, estimula a impessoalidade e
tenta distanciar quem trabalha no hospital dos
principais fatos que configuram esta realidade, isto
é, a dor, o sofrimento e a morte. Na prática cotidiana
é possível observar que a equipe de enfermagem,
não raras vezes, apresenta dificuldades profissionais
e pessoais que acabam por interferir na dinâmica e
na assistência prestada por estes aos pacientes. Essas
dificuldades dizem respeito às angústias
relacionadas, entre outras, à possibilidade de morte
do paciente, aos sentimentos de impotência e à
desvalorização do seu trabalho por parte de alguns
membros da equipe multiprofissional [8].
Entretanto, existem profissionais que gostariam de
fazer mais por este paciente e não se encontram
com conhecimento suficiente sobre o processo que
envolve o paciente que está encarando a morte
próxima e sua família, que convive com o luto antes
mesmo que o paciente venha a falecer.
Material e Métodos
Tipo de estudo
Trata-se de um estudo descritivo, que tem
como objetivo analisar e descrever a percepção da
equipe de enfermagem em relação ao cuidado diário
de pacientes com risco de morte, conhecendo as
dificuldades e o grau de preparação e conhecimento
da equipe em relação à fase terminal da vida.
Local
Este estudo foi desenvolvido na Unidade de
Terapia Intensiva – Adulto de um hospital particular
de Caxias do Sul – RS. Este local foi escolhido, pois
é, provavelmente, uma área de trabalho onde os
profissionais se defrontam mais facilmente com o
ser morrendo e enfrentam o maior número de casos
e situações de morte.
Amostra
Na amostra foram envolvidas as equipes de
enfermagem (enfermeiras, técnicos e auxiliares de
enfermagem) dos turnos da manhã (1 enfermeira e
6 técnicos), tarde (1 enfermeira e 6 técnicos), noite
A (1 enfermeira e 6 técnicos) e noite B (1 enfermeira
e 6 técnicos), perfazendo um total de 28
profissionais de enfermagem.
Coleta de dados
A investigação se deu através de um
questionário, com perguntas objetivas e subjetivas,
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entregue à equipe de enfermagem, ou seja, 28
questionários foram entregues, entretanto, apenas
12 foram respondidos. Portanto, a investigação
abrangeu uma amostra de 12 profissionais de
saúde, 1 enfermeira , 9 técnicas de enfermagem e 2
auxiliares de enfermagem.
Análise dos dados
A análise dos dados é do tipo qualitativa
descritiva, embora tenha algumas questões
quantitativas, pois os elementos básicos são
palavras, idéias, sentimentos e percepções. A
análise de conteúdo foi utilizada, pois é uma
técnica que pretende analisar, sobretudo, as
formas de comunicação verbal, escrita ou não
escrita, que se desenvolvem entre os indivíduos.
Desde o texto literário, passando pelas entrevistas
e discursos tudo é susceptível de ser analisado
por esta técnica. Pode-se definir a análise de
conteúdo como um conjunto de técnicas de
análise das comunicações visando obter,
por procedimentos sistemáticos e objetivos
de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores que per mitam a inferência de
conhecimentos relativos às variáveis inferidas
destas mensagens [9].
Resultados e discussão
Através da análise dos dados, pode-se
observar que a idade dos profissionais da equipe
de enfermagem varia entre 20 e 53 anos, porém, a
maior parte da amostra, (58,3%) têm entre 26 e 35
anos, verifica-se, portanto, que uma parcela grande
da mostra é jovem. Em relação ao gênero, apenas
8,1%, ou seja, uma pessoa é do sexo masculino, as
demais são mulheres, o que reforça a velha
concepção de que a enfermagem é uma profissão
feminina [3].
O tempo de profissão da equipe variou entre
poucos meses há 14 anos; a maior parte da amostra
(58,3%) exerce a enfermagem entre 6 e 10 anos.
Em relação à experiência em Unidade de Terapia
Intensiva 41,6% relataram trabalhar entre 1 e 5
anos; 33,3% trabalham na área entre 6 e 10 anos; e
25% da amostra trabalham em UTI a menos
de 1 ano. Nenhum dos indivíduos tem experiência
em UTI há mais de 10 anos. Verifica-se, então,
que a maior parte da amostra é composta por
profissionais com experiência em unidades de
terapia intensiva.
Dos par ticipantes da amostra, 100%
descreveram estarem aptos a estabelecer uma
relação de cuidado com o paciente terminal;
83,3% relataram ter tido algum conhecimento
sobre a morte e como lidar com o paciente
terminal durante o curso de enfermagem; e
16,6% revelam que nunca tiveram contato com
esse tema durante sua formação. Os enfermeiros
assistem a muitas mor tes em diferentes
circunstâncias e acometendo pessoas em diversas
fases de seu ciclo vital. No entanto, nem sempre
são preparados durante a g raduação para
enfrentar tal situação, ao menos no que tange aos
âmbitos psicológicos e emocionais envolvidos na
atenção profissional [10].
Quando questionados em relação à busca por
conhecimentos sobre a fase final da vida, 66,6%
revelaram interesse e 33,3% relataram nunca terem
buscado informação a respeito. Dos indivíduos
que buscam novos conhecimentos, a principal
fonte de atualização de dados é a literatura, seguida
pela experiência profissional e pelas crenças
religiosas. Os profissionais de saúde devem
estudar o processo da morte como parte da
existência, para que possam estar de melhor forma
consigo mesmos, ao atender pacientes em sua
terminalidade, agindo de modo mais efetivo e
eficaz [5].
Na Tabela I são mostradas as categorias
utilizadas pela equipe de enfer magem para
conceituar o fenômeno morte, 25% da amostra
definem a morte como fim; 25% como um
processo natural; 12,5% como algo inevitável;
18,7% caracterizam a morte dentro da visão
Cientifista/Mecanicista e 18,7% conceituam a
morte como uma passagem. O conceito científico
de morte é a ausência de função cerebral [3],
entretanto, é notável observar que o conceito de
morte encefálica não foi mencionado pelos
profissionais em nenhum momento. Questionase qual seria a razão pela qual a morte encefálica
não foi citada pela equipe, que certamente já
vivenciou várias situações em que pacientes
foram diagnosticados com morte cerebral e
permaneceram sob seus cuidados até o último
desfecho. Seria uma falha do instrumento utilizado
ou realmente há uma falta de esclarecimento sobre
o conceito de morte por parte da equipe?
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Tabela I - Conceito de morte.
Categorias
Fim
Exemplos
“fim do sofrimento”
”etapa final do ciclo vital”
”final de uma fase”
”fim”
N
4
%
25
Processo natural
“processo natural”
”normal”
”algo que faz parte da vida do ser humano”
”algo certo para todos”
4
25
Inevitável
“algo que não pode ser evitado”
”é inevitável”
2
12,5
“evento biológico irreversível”
”falência múltipla de órgãos”
”é quando todo os órgãos param de funcionar”
3
18,7
“uma passagem”
”passagem para o mundo dos espíritos”
”passagem na qual ninguém está livre”
3
18,7
Total
16
100
Visão
Cientifista/Mecanicista
Passagem
Na Tabela II são definidos os aspectos
relevantes na assistência ao paciente terminal
relatados pela equipe de enfermagem. O cuidado
humanizado foi o aspecto mais citado pela amostra,
somando um total de 28,5%; a abordagem
espiritual/religiosa foi relatada por 21,4%, promover
o conforto e o alívio da dor foi comentada por
21,4%; o controle emocional foi citado por 7,1%
das respostas, o intelectual por 7,1%; e a ética por
14,2%. Percebe-se, portanto, que a humanização do
cuidado é vista pela maior parte da amostra como
parte da assistência ao paciente terminal. Humanizar
significa cuidar do paciente como um todo,
englobando o contexto familiar e social [11].
A Tabela III elenca as dificuldades
encontradas pela equipe de enfermagem no
atendimento aos pacientes terminais. Pode-se
perceber que entre 14 respostas, a família foi citada
em 7, ou seja, 50%, seguida pelo envolvimento
emocional com 14,2% das respostas, outras
dificuldades também foram citadas, porém com
porcentagem insignificante. Enfrentar a morte, os
sentimentos de impotência, o receio de transmitir
seus medos e angústias ao paciente, o sentimento
de mal-estar, a dificuldade por se envolver
emocionalmente são algumas dificuldades
sentidas pelo profissional de enfermagem em seu
trabalho [1]. Saber lidar com o sofrimento e
Tabela II - Aspectos relevantes na assistência ao paciente terminal.
Categorias
Espiritual/Religioso
Exemplos
“espiritual é o mais importante”
”religiosos”
”a fé ajuda a superar a ansiedade em relação à idéia de finitude e
a religião suaviza o sofrimento”
N
%
3
21,4
”carinho, segurança”
”respeito, solidariedade”
”compaixão, trata-lo como ser humano”
4
28,5
“com o conforto necessário”
”conforto e alívio da dor”
”direito de descansar e não continuar agonizando”
3
21,4
Controle emocional
“ o controle emocional”
1
7,1
Intelectual
“ aspecto intelectual”
1
7,1
Ética
“ com ética”
”ser ético”
Total
2
14
14,2
100
Cuidado humanizado
Conforto e alívio da dor
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Tabela III - Dificuldades encontradas no atendimento aos pacientes terminais.
Categorias
Família
Exemplos
“sofrimento da família”
”lidar com a família”
”desespero dos familiares”
N
%
7
50
“sentimentos como dúvidas, ansiedade”
”envolvimento emocional”
2
14,2
Negação da morte
“pacientes que não aceitam a morte”
1
7,1
Pacientes jovens
“quando os pacientes são jovens”
1
7,1
Negligência
“quando há casos de negligência médica ou da enfermagem”
1
7,1
Impotência
“ a impotência”
1
7,1
Médicos que não dão a
importância necessária
“médicos que não dão a importância necessária”
1
7,1
Total
14
100
Envolvimento emocional
Tabela IV - Habilidades necessárias para lidar com as situações de morte.
Categorias
Exemplos
N
%
Equilíbrio emocional
“Saber ter controle emocional”
”ter equilíbrio emocional”
”postura adequada”
”saber agir de forma natural a uma interrupção da vida”
8
36,3
Cuidado humanizado
“compreensão, comprometimento,atenção às necessidades
e carinho”
”solidariedade, carinho e confiança e humanização”
”respeito ao ser humano”
”ser humano”
7
31,8
Ética
“ética e profissionalismo”
”seriedade e ética”
”ética profissional”
3
13,6
Competência/Responsabilidade
“competência”
”responsabilidade”
3
13,6
Confortar os familiares
“confortar os familiares”
Total
1
4,5
22
100
Tabela V - Diferenças entre o cuidado prestado a pacientes terminais e outros pacientes.
Categorias
Desinteresse e
desumanização do
cuidado
Exemplos
“atendimento ríspido em relação ao paciente terminal”
”o paciente terminal é isolado, recebendo apenas os
cuidados técnicos”
N
2
%
50
Equilíbrio emocional
“devemos ter equilíbrio emocional para lidar com
pacientes terminais, pois estamos lidando com a perda”
1
25
Atenção psicológica
“devemos ter mais atenção em relação ao seu quadro
psicológico, pois não terá sobrevida”
Total
1
25
4
100
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angústia dos familiares é uma tarefa difícil que
envolve muito equilíbrio, entretanto, a presença da
família junto ao paciente terminal deve ser
estimulada, pois reafirma sua segurança, que com a
doença sente-se fragilizado, reequilibrando-o
psicologicamente. O paciente sente-se protegido e mais familiarizado com o ambiente hostil
do hospital.
A Tabela IV cita as habilidades necessárias para
lidar com situações de morte descritas pela equipe.
O equilíbrio emocional foi o item mais citado,
num total de 22 respostas, ele apareceu 8 vezes,
correspondendo a 36,3% do total; o cuidado
humanizado também obteve uma significativa
representatividade, aparecendo em 31,8% das
respostas; outras habilidades como ética,
competência/responsabilidade também foram
elencadas e obtiveram 13,6% do total de
respostas; saber confortar os familiares também
apareceu em uma das respostas. Pode-se perceber
que o aspecto emocional é bastante valorizado
pela equipe, pois o mesmo já foi mencionado
anteriormente como um fator dificultador na
assistência ao paciente terminal. Com isso, talvez,
possa-se dizer que as instituições hospitalares e
de formação profissional devam preparar melhor
os profissionais para lidarem com situações de
morte. Não se quer, com isso, dizer que não deva
haver envolvimento emocional, pelo contrário,
mas sim que este não gere dificuldades à equipe
na execução de suas atividades.
A equipe de enfermagem foi questionada se
havia diferença entre o cuidado prestado a
pacientes terminais e o destinado a outros
pacientes, das 12 respostas 4 foram afirmativas,
para estes, foi questionado quais seriam estas
diferença. Através dos dados da Tabela V
demonstra-se que 50% referiram a desumanização
do cuidado e o desinteresse pelo paciente terminal;
outra diferença citada foi o equilíbrio emocional
que deve estar implícito no profissional que lida
com pacientes terminais. Também foi relatado que
se deve ter mais atenção ao quadro psicológico do
paciente terminal, pois este não terá sobrevida.
Questiona-se se a atenção ao quadro psicológico
dos pacientes com chances de sobrevida e de
recuperação não esteja sendo negligenciado devido
a essa ênfase dada ao cuidado do paciente terminal?
Outra vez, observa-se o equilíbrio emocional
implícito, reforçando a idéia de que é um aspecto
importante e que deve ser discutido com a equipe.
Por outro lado, existem profissionais que utilizamse de mecanismos de defesa para evitar um maior
envolvimento emocional, tornando o seu cuidado
impessoal e fragmentado [11]. Porém, não se deve
esquecer de que o paciente não tem culpa de não
sabermos lidar com nossos sentimentos, ele deve,
incondicionalmente, receber todas as medidas
de assistência necessárias para um cuidado
mais humanizado.
Conclusões
Pode-se dizer que, neste estudo, a maior
parte da amostra, mesmo estando diariamente em
contato direto com os pacientes terminais,
apresenta dificuldades técnico-científicas e
mesmo emocionais para lidar com esse perfil de
pacientes. A morte é vista como algo difícil,
doloroso e constrangedor. Conviver com a dor
dos familiares é, talvez, uma das maiores
dificuldades encontradas pela equipe de
enfer magem, seguida pelo envolvimento
emocional em situações de perda.
Verifica-se, portanto, que é necessário um
aperfeiçoamento da equipe de enfermagem não
apenas no que tange às questões técnicas, mas,
principalmente, no que diz respeito ao desenvolvimento como ser humano, assim como sugerese que as escolas e instituições hospitalares devam
se ater a estas questões nos programas de
reciclagem e educação permanente.
Os sentimentos e atitudes da equipe de
enfermagem com relação à morte e ao morrer
são pouco conhecidos. Compreendê-los
melhor poderia resultar não apenas na
resolução de deter minadas dificuldades
inerentes ao tema, como aprimorar a relação
enfermagem-paciente terminal.
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Revisão
Cuidando dos clientes no home care:
uma re-leitura das perspectivas do mercado
para a prática clínica e social de enfermagem
Wiliam César Alves Machado, D.Sc.*, Uiara Kristina Cardoso Mantovani**, Felipe Azevedo Berbert***
*Professor Titular da Faculdade de Enfermagem de Juiz de Fora – UNIPAC, Coordenador do Projeto de Pesquisa na UNIPAC, Pesquisador do
CNPq, **Graduanda do 5º Período da Faculdade de Enfermagem de Juiz de Fora – UNIPAC, Voluntária no Projeto de Pesquisa da UNIPAC,
*** Graduando do 3º Período da Faculdade de Enfermagem de Juiz de Fora – UNIPAC, Voluntário no Projeto de Pesquisa da UNIPAC
Resumo
Trata-se de uma revisão bibliográfica acerca das especificidades do Home Care em face do indispensável papel de liderança
exercido pelo enfermeiro no desempenho da diversidade do cuidado de enfermagem, representada por um conjunto de
atividades de cunho técnico-científico para suprir as necessidades dos clientes, famílias e/ou pessoas significativas, envolvidas
no dinâmico processo de educação para a saúde em nível domiciliário. O ponto de partida para estudo e reflexão da temática
convergiram das ponderações do autor do estudo, quando apresentado e discutido entre estudantes de graduação nas atividades
da disciplina Ética e Legislação em Enfermagem, visando estimular o raciocínio crítico sobre as dimensões da prática do
enfermeiro no Home Care. Momentos proveitosos de intenso debate permeado pelos aspectos ético-legais indissociáveis ao
exercício profissional e os papéis a serem assumidos pela categoria, enquanto área de conhecimento e prática autônoma do
setor saúde.
Palavras chave: cuidado de enfermagem, home care, prática social.
Abstract
Taking care of clients in home care: re-reading of the market perspectives for clinical
and social nursing practice
This is a revision of literature concerning Home Care peculiarities focusing nurse’s leadership during nursing care performance,
represented by a technical-scientific set of activities to supply the customers’ needs, families and/or significant people,
involved in the dynamic education process for health promotion in domicile level. The starting point study and thematic
reflexion tend towards author’s considerations, when presented and discussed among nursing students in the activities of the
Artigo recebido em 2 de março de 2004; aceito em 1 de maio de 2004.
Endereço para correspondência: Wiliam César Alves Machado,
Rua Silva Jardim, 5 Centro 25805-160 Três Rios RJ, Tel.: (24) 2255-5840,
E-mail: [email protected]
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discipline Ethical and Legislation in Nursing, aiming at stimulating the critical reasoning on the dimensions of the male nurse
practice in Home Care. Intense debates permeated by the ethical-legal aspects indispensable to the professional exercise and
the rules assumed by the category provide valuable information for the students.
Key-words: nursing care, home care, social practice.
Resumen
Cuidando de los clientes en home care: una relectura de las perspectivas del
mercado para la práctica clínica y social de enfermería
Se trata de una revisión bibliográfica acerca de las especificidades del Home Care con respecto al papel de liderazgo del
enfermero en el desarrollo de la diversidad de cuidado de enfermería, representada por un conjunto de actividades técnicocientíficas para atender a las necesidades de los clientes, familias y/o personas significativas, involucradas en el proceso
dinámico de educación para la salud a nivel domiciliario. El punto de partida para este estudio y reflexión temática se originó
a partir de las ponderaciones del autor cuando presentadas y discutidas entre los estudiantes de graduación en las actividades
de la asignatura Ética y Legislación en Enfermería, con la finalidad de estimular el raciocinio critico sobre las dimensiones de
la práctica del enfermero en el Home Care. Estos intensos debates permeados por los aspectos ético-legales indispensables
al ejercicio profesional y a los papeles que deben ser asumidos por la categoría, proporcionaron vivencias de gran valor a los
estudiantes.
Palabras-clave: cuidado de enfermería, home care, práctica social.
Introdução
Como agentes sociais responsáveis pelo redimensionamento das ações de cuidar, orientar e
primar pela qualidade de vida e saúde da sociedade,
cabe-nos o legado de transpor barreiras históricopolítico-sociais que, freqüentemente, tendem a
cercear nossos direitos ao exercício profissional
autônomo, devidamente assegurado pela legislação
vigente. Temos consciência de que estamos vivendo
grandes mudanças no cenário das práticas de saúde
intra e extramuros institucionais e que nosso espaço
já está sendo consolidado, ainda que a contragosto
de algumas minorias totalitárias, corporativistas,
retrógradas, do setor saúde.
Nossa maior função como terapeutas do
cuidado, porém, é a promoção da saúde e qualidade
de vida da sociedade, em especial daqueles que
precisam de nossos préstimos profissionais, e não
mediremos esforços para dimensioná-los na
prática, fazendo cumprir nosso compromisso
essencial. O de prestar cuidados de enfermagem e
servir aos nossos semelhantes, independente de
questões menores.
Por outro lado, acreditamos que o atual
contexto de efusivas discussões conceituais e seus
aspectos legais implicará na demarcação dos
futuros espaços para a prática social no setor de
Home Care, portanto, imprescindível se faz
envolver estudantes de g raduação como
legítimos representantes das futuras gerações de
enfer meiros nos focos e enfoques das
articulações políticas, ainda que através de
situações simuladas implementadas como
estratégias pedagógicas que contemplem as
interfaces da realidade contextual. Só e apenas
assim, eles irão adquirir maior capacidade de
discernir acerca do que é mais humano nas
decisões que implicam o jogo de poder da esfera
política institucional, procurando sempre
preservar a essência da enfermagem em prol da
melhoria da qualidade dos serviços de saúde
disponíveis a todos os cidadãos, dos menos aos
mais favorecidos econômica e socialmente.
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Nuances dos princípios filosóficos e
conceituais do Home Care
Como já anunciava Nassif [1], o modelo mais
eficaz para barateamento da saúde é mesmo o
Home Care ou internação domiciliar que começa a
se organizar também no Brasil, a exemplo do que
já ocorre em outros países. Caracterizado como um
sistema mais barato, mais humano, evita a
proliferação de infecção hospitalar e é elemento
essencial na chamada “deshospitalização”, ou seja,
a tendência mundial de reduzir o número de
internações e leitos nos hospitais. Porém, não se
pode negar que essa nova “indústria” tem inúmeras
facetas. De um lado, há o setor de produção de
equipamentos, respiradores, camas, suporte de soro,
oxigênio etc, evidentemente com seus interesses
econômicos. De outro, a mão-de-obra que precisa
ser treinada, de enfermeiros, fisioterapeutas e
psicólogos, ao que acrescentaríamos grande parcela
da classe médica que apresenta imanente dificuldade
em compartilhar o trabalho no setor saúde, sem a
pretensa soberba. Vale ressaltar que o preparo
acadêmico e qualificação profissional na área de
Home Care, no Brasil, começou na segunda metade
dos anos 90, tendo na enfermagem sua liderança e
principal enfoque. O que confirma a tese de que o
Home Care é uma atividade essencialmente da
competência do enfermeiro e equipe, posto que a
grande maioria do que nele se faz é ou tem relação
direta com o cuidado de enfermagem.
Dentre os objetivos do Home Care destacase a humanização do cuidado e de todo o
atendimento como a questão mais nobre,
considerando que as internações hospitalares
tradicionalmente têm sido alvos de críticas
veementes dos usuários, alegando abuso de poder,
descaso e negligências da equipe de saúde. A
exemplo do que nos diz Hall [2]: “Alguns médicos e a
maior parte dos empregados dos serviços hospitalares são
conhecidos pelo seu desprezo pelos costumes de um país. Isso
não seria grave se os pacientes não sofressem as conseqüências.
A mensagem circula, no entanto: o pessoal do hospital tem
responsabilidades, é importante e o doente não é (já tem
muita sorte por estar aqui). O doente, na maior parte dos
casos, vê o seu estatuto reduzido em função de um conjunto
de medidas e de critérios não-verbais, a ponto de não ser
considerado um indivíduo”. Ponto de vista também
compartilhado com Machado [3], ao discorrer sobre
sua experiência nada aprazível enquanto “paciente”
do SUS, internado no programa de reabilitação de
uma instituição “especializada” na cidade do Rio de
Janeiro, entre dezembro de 1994 e agosto de 1996.
A prestação de serviços em Home Health Care
de forma holística e humanizada com participação
efetiva e integrada entre clientes, familiares e
cuidadores, deve primar pela busca incansável do
promover, recuperar, reabilitar ou manter equilíbrio
no estado de saúde dos clientes usuários de seus
ser viços e configura-se fator de prioridade
qualitativa e condição sine qua non para a consecução
de seus propósitos. Para tal, as equipes que neles
atuam desenvolvem seus trabalhos com enfoque
no cliente e não na doença, tendo como meta a
orientação para o autocuidado pautada em
princípios e virtudes éticas que viabilizem o
máximo de independência do cliente, ainda que
estr uturando bases sólidas para deixá-lo
integralmente sob cuidados de algum membro da
família, após alta dos cuidados da equipe,
evidentemente. Fato que não pode ser negado e
ganha cada vez mais espaço e credibilidade junto
aos usuários por força do marketing das empresas
e cooperativas que atuam no mercado, algumas
destacam que esta nova modalidade do serviço de
saúde será capaz de romper os limites da
internação hospitalar, permitindo que sua estrutura
convencional transfira-se a um ambiente no qual
o cliente provavelmente se sinta melhor: sua
própria residência, promovendo a redução de
riscos de infecções resistentes e a melhoria da
qualidade de vida do cliente e da família
minimizando o risco de perda do vínculo familiar.
Fazendo uma leitura pautada no atual contexto
do mercado, o Home Health Care surge como produto
comercializado em nível de atendimento domiciliar
que visa essencialmente humanizar a relação terapeuta
x cliente, bem distante da realidade observada nos
campos de práticas dos serviços de saúde
institucionalizados, além de reduzir sobremaneira os
custos das internações hospitalares, particularmente
dos clientes com doenças crônicas, degenerativas,
tratamentos a base de quimioterápicos, em processo
de reabilitação, entre outros, viabilizando a
continuidade do tratamento e dos cuidados no
ambiente familiar e suas inúmeras vantagens para seu
restabelecimento ou morte sem grandes sofrimentos.
Aqui, denominamos terapeutas todos os profissionais
envolvidos no processo de cuidar humanizado, pois
cada um tem seu domínio de conhecimento, papel a
desempenhar e prática profissional respaldada por
legislação específica.
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Faz mister destacar o papel exercido pelos
terapeutas do cuidado, qual seja, dos enfermeiros e
suas equipes no desempenho de atividades técnicocientíficas-humanísticas que concebem o cliente o
cliente como um todo indissociável na busca do
equilíbrio e resgate de seus potenciais iminentes.
Abertura decorrente da contínua aproximação que
se estabelece com as necessidades mais
fundamentais do outro em seus vários
desdobramentos, particularmente quando se trata
de cuidado domiciliar. Por se caracterizar processo
participativo, em essência, o Home Care requer dos
profissionais que nele atuam muita astúcia na
identificação dos potenciais do cliente, visando o
estímulo e o fortalecimento de suas capacidades para
que ele possa se sentir mais empenhado e receptivo
para assimilar ao máximo as orientações que lhe
serão oferecidas pelos seus cuidadores. Orientações,
aliás, fundamentais para a promoção de sua
qualidade de vida, conforto, segurança e saúde.
Em matéria divulgada pela ABRAHHCARE
[4] voltada para demonstrar os impactos e resultados
da Conferência Internacional “Panorama Mundial
do Home Care”, evento que reuniu em São Paulo
cerca de 200 representantes de diversos segmentos
ligados ao setor, nos dias 26 e 27 de novembro de
2001, destaca-se que o Secretário de Saúde do
Estado de São Paulo declarou que a expansão do
Home Care terá apoio do Governo, ao reconhecer
que esta é uma modalidade de tratamento que
cresce e torna-se a cada dia mais importante no
setor saúde. Enfatiza ainda que o envelhecimento
da população e a necessidade de humanização do
atendimento são fatores preponderantes e
presentes na maioria dos países em desenvolvimento, a exemplo da realidade já vivida nos países
ricos e desenvolvidos, argumento compartilhado
com o discurso da diretora da Organização
Mundial de Saúde, Miriam Hischfeld.
O Brasil vai precisar cada vez mais de
instrumentos eficazes para atender seus idosos fora
dos ambientes hospitalares, considerando a escassa
oferta de leitos e os recursos financeiros
insuficientes para atender a crescente demanda.
Situação que pode em muito se agravar devido a
tendência global de aumento da idade da população
nos próximos 20 anos e que, somente no Brasil esta
taxa de crescimento deverá atingir 200%, aduz
Hirschfeld. Destaca que a principal preocupação
hoje está nas diferenças observadas nos processos
de envelhecimento ocorridos em diferentes países
e lembra que o mundo desenvolvido enriqueceu
antes de envelhecer. Ao passo que os países em
desenvolvimento estão envelhecendo muito antes
de enriquecer. Aliás, é o que se pode perceber na
conjuntura da sociedade brasileira. Basta que se faça
uma leitura dos indicadores sociais com bom senso.
Sem dúvida, as perspectivas do mercado para
o setor de Home Care são enormes e há espaço
para atuação de várias categorias profissionais, seja
interagindo direto na prestação de cuidados aos
clientes, seja no desenvolvimento de pesquisas e
estudos experimentais voltados para a descoberta
de tecnologias aplicadas aos seus ilimitados
desdobramentos na prática clínica. Porém, no
âmbito do setor saúde, não seria mais justo e atual
do ponto de vista acadêmico que o atendimento
domiciliar ficasse desvinculado do cooperativismo
da classe médica? Até porque estamos em pleno
terceiro milênio, porém com discursos superados,
retrógrados e compatíveis com a realidade de
séculos atrás, quando pretensiosamente se
atribuía ao saber médico algo apenas abaixo ao
poder dos deuses. É preciso mudar e adequar a
retórica e a prática adequando-as aos novos
tempos, sobretudo concebendo o saber e fazer em
saúde como processo terapêutico de caráter
multidisciplinar e, como tal, certas intervenções
terapêuticas específicas das demais categorias
independem e/ou dispensam presença e avaliação
de profissional médico. Não podemos perder de
vista que as leis que regulamentam a prática
profissional das demais categorias da área de saúde,
definitivamente devem ser respeitadas para que
não mais se cometam garfes.
Do ponto de vista do Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN), o Home Care, Assistência
Domiciliar e/ou Assistência Domiciliária, necessita
atender e se enquadrar nas disposições da Lei 7498/
86 [5] e no Decreto-Lei 94406/87 [6], ou seja, que
exista o enfermeiro na direção, coordenação,
planejamento, delegação e avaliação das ações
relacionadas à assistência de enfermagem exercidas
pelos técnicos e auxiliares de enfermagem. Segundo
o COFEN, a assistência domiciliar deve ser
considerada como um recurso a ser utilizado que
procura manter o cliente junto à sua família,
buscando-se o conforto e a recuperação, reabilitação
bio-psico-social, além de primar pela garantia dos
mesmos princípios de biossegurança a que os
clientes teriam acesso na internação hospitalar
tradicional [7]. É fundamental esclarecer que todas
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as atividades de Home Care envolvem certos
graus de dependência do cliente, em termos de
cuidados de enfermagem, devendo os mesmos
ser avaliados e decididos pelo enfermeiro para a
tomada de decisões e implementação de medidas
terapêuticas de cuidados, pois nenhum outro
profissional tem competência legal para
determiná-las ou modificá-las.
A Resolução COFEN 267 [8], dispõe sobre as
atividades de enfermagem no Home Care, definindoas com as seguintes características: Define-se por
“Enfermagem em domicílio - home care” a prestação
de serviços de saúde ao cliente, família e grupos
sociais em domicílio, e de acordo com a ResoluçãoCOFEN Nº 256 [9], esta modalidade assistencial
exprime, significativamente, a autonomia e o caráter
liberal do profissional Enfermeiro”. Ademais, o
COFEN delimita os níveis de complexidade dos
clientes do Home Care para com os cuidados de
enfermagem e os respectivos papeis a serem
desempenhados pelo enfermeiro na função
assistencial, função administrativa, função de pesquisa
e função educativa, o que confere ao profissional
pleno domínio nessa área de conhecimento.
O maior desafio a ser vencido pelo Conselho
Federal de Enfermagem e os Conselhos Regionais
é a fiscalização do exercício ilegal da profissão, tendo
em vista que o técnico e o auxiliar de enfermagem
somente poderão exercer a profissão mediante
supervisão e delegação do enfermeiro, conforme
dispõe o art. 15 da Lei 7.948/86. Todavia, temos
consciência de que na informalidade dos bastidores
do cuidado domiciliar – Home Care – muitos atuam
na ilegalidade, ainda que colocando os clientes e
famílias em risco de complicações decorrentes da
falta de conhecimento técnico-científico específico
para lidar com situações adversas. O COREN-SP,
complementando a normatização legal e éticoprofissional determinou, através da Decisão 008/
99, a implantação da Sistematização da Assistência
de Enfermagem (SAE) como uma atividade
privativa do enfermeiro abrangendo a consulta de
enfermagem a todos os clientes em assistência
domiciliar e ainda a obrigatoriedade de que o
prontuário deve permanecer junto ao cliente,
conforme disposto no código de defesa do
consumidor. Também foi estabelecido que toda
empresa de prestação do Home Care onde exista o
profissional de enfermagem deve manter o
enfermeiro devidamente registrado [7]. A Resolução
COFEN-272/2002 [10], por sua vez, institui que a
implementação da Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) deve ocorrer em toda instituição
da saúde, pública e privada. Determina ainda que nos
casos de Assistência Domiciliar ou Home Care, o
prontuário deverá permanecer junto ao paciente/
cliente/usuário assistido, objetivando otimizar o
andamento do processo, bem como atender o
disposto no Código de Defesa do Consumidor.
Acredita-se que com a regulamentação correta
o Home Care terá todas as condições de crescer de
forma organizada, os usuários contarão com
melhores serviços, na ótica da ABRAHHCARE
[11], as empresas poderão dispor de melhores
condições de manutenção de suas atividades, as
fontes pagadoras, públicas ou privadas, terão
melhores condições de planejamento, entre outras.
Os anos anteriores a 2002 foram muito difíceis para
as empresas, justamente pela falta de
regulamentação, e muitas delas passaram por sérios
ajustes de caixa, e algumas, menos preparadas,
inclusive fecharam as portas.
Ainda de acordo com a ABRAHHCARE [11],
superada a etapa de regulamentação, o Brasil colherá
um excepcional desenvolvimento para o setor, e se
for similar ao existente nos EUA, futuramente
teremos uma quantidade de atendimentos entre os
maiores do mundo. Dados de 1999 demonstraram
que o setor nos EUA movimentou a substancial
quantia de US$ 40 bilhões, significando 3,1% das
despesas e investimentos com a saúde daquela
nação. Nos EUA, são mais de 20 mil empresas
prestadoras de serviços nesta área. O Brasil possui
apenas e tão somente 250 empresas e mobiliza
atualmente cerca de 20 mil profissionais de saúde,
de profissionais liberais com firmas individuais a
empresas estabelecidas. É muito pouco diante do
promissor mercado que o país apresenta.
No que concerne às muitas vantagens do
Home Care, ressalta-se o processo de orientação
que permeia a filosofia do cuidado domiciliar como
instrumento decisivo para que os clientes resgatem
a auto-estima, dado que a oportunidade de aprender
lidar com as próprias limitações e necessidades faz
emergir a sensação de auto-suficiência que lhes
faltava para dar mais sentido a vida. O modelo do
Home Care foi construído favorecendo o indivíduo,
de acordo com a ABRAHHCARE [12] e até
hoje está baseado neste princípio. Caso os vários
exemplos de desperdício de recursos públicos Brasil
afora, tivessem sido canalizados para a instalação
de uma boa estrutura de atendimento a pessoas com
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deficiência, seguindo os ditames do modelo
domiciliar, certamente hoje muitas internações
teriam sido evitadas, e até mesmo, quem sabe, muitas
vidas poderiam ter sido poupadas. Muitos planos
de saúde seriam realmente planos de saúde, e não
de doença, se já tivessem ao longo dos anos,
estruturado um programa domiciliar eficiente, que
investisse na prevenção adequada antes de as pessoas
se tornarem deficientes. E ainda assim, passariam
por menos dificuldades financeiras do que muitos
passaram e passam até hoje. Enfim, o Home Care é
uma proposta de tornar totalmente diferente a
forma como se trabalha a saúde no Brasil e isto deve
ser considerado como um fato de grande
importância para a sociedade.
Não obstante os aspectos humanísticos do
Home Care, em particular o fato de o cliente poder
estar mais próximo de seu mundo, suas coisas, seu
ambiente, a proximidade dos familiares e pessoas
significativas, preocupa-nos o fato de se incorrer na
delegação de procedimentos técnicos de grande e
média complexidade à pessoas leigas que se fazem
passar por “cuidadores” remunerados, pois essa
situação, em existindo, estará configurando o
exercício ilegal da profissão previsto no art. 47 da
Lei de Contravenções Penais. Excetuam-se aqui,
evidentemente, todas e quaisquer delegações
atribuídas aos cuidadores membros da família ou
voluntários que se prontificam a receber orientações
do enfermeiro e o respectivo treinamento para o
desempenho de atividades acerca dos cuidados de
longo prazo, indispensáveis aos clientes com
doenças crônicas, degenerativas, seqüelas de lesões
neurológicas, deficientes, entre outros. Ainda assim,
sob supervisão e avaliação periódica do enfermeiro.
A tendência crescente de mudanças nos
cenários dos cuidados de saúde
Nos Estados Unidos, pela leitura de Nassif
[1], o conceito de Home Care avançou substancialmente na década de 60, como alternativa para
os altos custos de internação hospitalar e pela
redução dos índices de infecção hospitalar. Hoje em
dia, mais de 20 mil provedores atendem a
aproximadamente 8 milhões de pessoas/dia. Em
geral, o sistema é utilizado para atendimento de
patologias agudas, visitas, prevenção e tratamento
de doenças crônicas, cuidados de longa
permanência, inaptidão permanente ou enfermidade
terminal. Em 1998 esse mercado faturou US$ 42
bilhões e representou 4% do mercado de saúde
norte-americano.
Os sistemas de oferta de cuidado de saúde
alternativo, como organizações de tratamento de
saúde, organizações de profissionais preferenciais ou
cooperativas e sistemas de cuidado de saúde administrados, contribuíram para o impulso no controle de
custos e para a disponibilidade de serviços de atenção
à saúde. Esses regulamentos reduziram significativamente o tempo de permanência na internação
hospitalar e levaram os clientes/pacientes a serem
tratados com mais freqüência em cenários de
cuidados ambulatoriais e domiciliares.
No ponto de vista de Smeltzer e Bare [13] à
medida que a prestação de cuidados de saúde passa
para a comunidade, mais enfer meiros vêm
trabalhando numa diversidade de cenários com base
na comunidade, tais como órgãos de saúde pública,
clínicas ambulatoriais, instalações de tratamento de
longo prazo, clínicas pré-natais e pediátricas, casas
de apoio à doentes e desamparados, cenários
industriais (como enfermeiros do trabalho), asilos
e clínicas para moradores de rua, centros de
enfermagem, agências domiciliares e casas de
pacientes. O mesmo deveria ser adotado aqui, no
Brasil, caso houvesse maior integração e
direcionamento estratégico das equipes que atuam
no atendimento domiciliar e internação domiciliar
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS),
conforme dispõe a Lei 10.424/2002 [14]. Mas, por
questões tecnocráticas do marasmo político
brasileiro, tas equipes existem apenas no papel e/
ou no discurso, deixando de cumprir suas funções
mais fundamentais, ou seja, promover a qualidade
de vida e saúde das famílias de baixa renda,
principalmente [3].
O cuidado de saúde domiciliar vem se tornando
uma das maiores áreas de prática profissional para
os enfermeiros, segundo Smeltzer e Bare [13], não
obstante a também crescente demanda desses
profissionais qualificados e com experiência para
atuar na área de cuidados agudos de alta
complexidade e tecnologia de ponta no setor saúde.
Afirmam ainda que o cuidado de enfermagem
preventivo terciário, que se concentra na reabilitação
e na restauração das habilidades funcionais dos
clientes, é o objetivo principal e a meta a ser
alcançada pelos enfermeiros que atuam na área de
cuidado domiciliar, embora as prevenções primária
e secundária também estejam incluídas no âmbito
desse cuidado.
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Dentro da perspectiva da Associação Brasileira
de Home Health Care [12] há uma parcela da
população que já conseguiu acesso aos mais
modernos meios de reabilitação física disponíveis no
país, mas existe ainda, uma grande quantidade de
pessoas que não teve esta mesma sorte. Como então
realizar em curto prazo, um trabalho eficiente de
reabilitação a nível nacional, sem imobilizar recursos
preciosos do estado para construir e equipar as
centenas de centros que seriam necessários para se
atingir esta meta? A resposta está na implantação
rápida e responsável de atendimento domiciliar para
a reabilitação, que reúna consigo uma equipe
multidisciplinar, capaz de efetivar um atendimento
básico de saúde, contando com enfermeiros,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fisiatras,
fonoaudiólogos, psicólogos e profissionais afins para
iniciar um programa de reabilitação específico para
o cliente em sua residência.
Com este atendimento, poder-se-ia em pouco
tempo, reduzir a sobrecarga nos centros públicos e
permitir que para eles apenas sejam encaminhadas
as pessoas que realmente precisem de tratamento
mais intensivo, o que não chega a ser o caso da
maioria, certamente. Uma sessão de fisioterapia nos
programas de reabilitação dos hospitais públicos
pode levar horas, se somado o tempo gasto pela
pessoa com preparo para sair de casa, transporte,
fila de espera, entre outros. Aliás, pelo país afora a
situação tende a ser mais complicada que a dos
grandes centros urbanos, por questões estruturais.
Restrições estruturais que podem ser minimizadas,
caso sejam tratadas com mais competência por
equipes itinerantes de atendimento [12]. Ao nosso
ver as questões estruturais que envolvem o Home
Care em seu desdobramento – atendimento
domiciliar para reabilitação – carecem de maior
articulação e intercâmbio com as equipes do
Programa de Saúde da Família, disponíveis na
maioria dos municípios do país.
O Programa de Saúde da Família (PSF)
apresenta-se como estratégia de reorganização da
atenção à saúde, que se caracteriza por um modelo
centrado no usuário, demandando das equipes a
incorporação de discussões acerca da necessidade
de humanizar a assistência e os cuidados de saúde
em nosso país. Humanizar significa reconhecer as
pessoas que buscam nos serviços de saúde a
resolução de suas necessidades de saúde como
sujeitos de direitos; é observar cada pessoa e cada
família, em sua singularidade, em suas necessidades
específicas, com sua história particular, com seus
valores, crenças e desejos, ampliando as possibilidades
para que possam exercer sua autonomia. Qualquer
pessoa, independente de sua idade, tendo condições
intelectuais e psicológicas para apreciar a natureza e
as conseqüências de um ato ou proposta de
assistência à sua saúde, deve ter oportunidade de
tomar decisões sobre questões relacionadas à sua
saúde, ou seja, poder agir como pessoa autônoma.
Portanto, tendo tudo a ver com a proposta essencial
do Home Care, particularmente em seu aspecto de
humanização do atendimento domiciliar para
reabilitação. Necessário se faz, entretanto, pulso e
tomada de decisão para que sejam transpostas as
cristalizações resultantes das distorções nos
programas e políticas públicas do setor saúde,
tornando-os acessíveis e viáveis aos mais carentes de
recursos financeiros para arcar com despesas de
pagamento dos planos de saúde, evidentemente.
Em se tratando do aspecto preventivo tão em
voga no discurso acadêmico contemporâneo,
segundo a ABRAHHCARE [11], o Brasil ganharia
mais saúde para seus cidadãos e menos despesas
com os custos de internações hospitalares, e estes
recursos poderiam ser canalizados para áreas
sensíveis da saúde, como o treinamento e
desenvolvimento de mão de obra adequada às novas
exigências da competência gerencial e da qualidade
total de atendimento. A bem da verdade, este
modelo de atendimento já é utilizado em países da
Europa e Estada Unidos com expressivo êxito.
Ademais, ele pode ser aplicado com sucesso pela
iniciativa privada. Pensemos no quanto poderia ser
vantajoso em economia de recursos, a um plano de
saúde, investir parte de sua receita na prevenção de
doenças de seus associados. Curiosamente, raros são
os planos de saúde que aceitam pessoas com
deficiência, e aqueles que adquirem deficiências na
vigência de um contrato sofrem os preconceitos,
discriminação, sendo preciso apresentar laudos
médicos freqüentemente, como se fosse fácil.
Machado [15] traça considerações contundentes acerca da saga das pessoas com deficiências
para ter acesso aos serviços de saúde, seja para
avaliações periódicas em consultórios de profissionais credenciados pelos planos de saúde e/ou
ambulatórios de serviços da rede pública, seja nas
eventuais situações que requeiram internações para
tratamentos clínicos ou cirúrgicos, chamando
atenção para aspectos críticos como o mais absoluto
despreparo e qualificação dos profissionais para nos
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atender, fato ainda mais agravado pela falta de
adequação do ambiente, materiais e equipamentos.
Definitivamente, no Brasil as políticas de saúde
deveriam primar pela equanimidade como princípio
que assegure o atendimento de todos, independente
de quaisquer questões externas.
Nos últimos anos, houve avanços tecnológicos
expressivos. Hoje em dia, existem inclusive
equipamentos plugados ao telefone que podem ser
acionados remotamente por botão, acoplados à
pulseira dos clientes em observação. Acionado o
botão, a central é comunicada e providencia socorro
imediato. Entre os equipamentos domiciliares, há
dispensários de medicamentos, que são
programados de maneira que, na hora de tomar cada
remédio, abre-se uma gaveta com a dose
recomendada. Se em 15 minutos o medicamento
não for utilizado, a central será informada que algo
de errado está ocorrendo. Também é possível fazer
exames via rede de dados, não apenas
eletrocardiogramas, mas também verificação de
glicose - feita a dosagem, os resultados são plugados
no telefone, via Internet, conforme destaca [1].
Realidade aparentemente a princípio reservada aos
clientes de países onde a tecnologia aplicada aos
serviços de saúde está deveras avançada, porém
disponíveis também em determinados contextos da
nossa desigual sociedade, nos quais tanto a pesquisa
quanto o poder aquisitivo do consumidor são
compatíveis com os países mais ricos e
desenvolvidos do mundo.
O serviço de Home Care e as pessoas com deficiências: perspectivas de uma tendência mundial
De acordo com a ABRAHHCARE [12], em
2002, um dos maiores clientes dos serviços de Home
Care foram as pessoas com deficiências, justamente
pela comodidade que representa o apoio de
enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas
ocupacionais e equipe de saúde atendendo na
residência das pessoas. É importante destacar que
isto não foi uma tendência observada apenas no
Brasil. Já há alguns anos que na Europa e nos EUA
a procura por serviços de Home Care por pessoas
com deficiência tem crescido em números
espantosos. As vantagens são enormes, pois as
empresas prestadoras de serviços não necessitam
de um aparato tecnológico muito sofisticado, que é
deveras caro, e existem centenas de profissionais
habilitados e competentes para o desempenho
dessas atividades. Notou-se uma tendência de
simplificação das atividades no Home Care,
justamente para torná-lo mais extensivo e acessível
à população e as fontes pagadoras.
Sinônimo de conforto e atendimento de
qualidade para pessoas em processo de reabilitação,
o segmento de Home Helth Care, na ótica da
ABRAHHCARE [16] vem crescendo muito e
enveredando suas ações para o atendimento a
pessoas com deficiência em todo o mundo,
apresentando-se como uma solução prática e viável
tanto para os clientes quanto para as equipes que
prestam serviços às operadoras de planos de saúde.
Afinal, as pessoas com deficiência têm em seu
caminho muitos obstáculos para conquistar sua
autonomia, por isso, realizar sua reabilitação em casa
pode ser uma boa saída e até mesmo a solução para
muitos casos, garantindo conforto, facilidade e
qualidade de vida. Hoje, grande parte dos usuários
dos serviços de Home Care faz parte desse
segmento da população, pela comodidade que o
serviço oferece no tratamento, com enfermeiros,
fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais em sua
casa e com o apoio dos familiares.
Dentro dessa conjuntura, o serviço de Home
Care já integra, inclusive, a lista de benefícios
oferecidos por clínicas, planos de assistência
médica, hospitais, empresas de saúde e programas
federais, estaduais e municipais de saúde, segundo
a ABRAHHCARE [16]. Ao que não posso deixar
de considerar um retrato distorcido da realidade,
uma vez exercendo a vice-presidência do Conselho
Municipal para Política de Integração da Pessoa
com Deficiência numa região privilegiada do país,
no entanto, convivo com o descaso do poder
público para com as mais variadas necessidades
especiais desse segmento da população. Com mais
um agravante, o meu próprio plano de saúde
(GEAP) nos 9 anos de pessoa com deficiência
física adquirida jamais se dispôs a garantir as
sessões diárias de fisioterapia que necessito para
manter meu corpo sem maiores seqüelas,
autorizando aleatoriamente apenas três sessões
semanais [3].
Se a própria lei nº 9.656 [17], em seu art. 14,
esclarece que em razão da idade do consumidor,
ou da condição de pessoa portadora de deficiência,
ninguém pode ser impedido de participar de planos
privados de assistência à saúde. Então, por quê as
pessoas com deficiências congênitas ou adquiridas
clientes de planos de saúde não podem desfrutar
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do direito de receber quantitativo de atendimentos
adequados ao perfil singular de cada um? Somos
seres singulares, únicos, cada qual com suas
necessidades e absolutamente impossíveis de se
adequar a parâmetros e/ou padrões estabelecidos
aleatoriamente. É muita falta de bom senso, sem
falar da mais absoluta ausência de sensibilidade e
conhecimento científico da parte dos auditores,
junta médica, seja lá o que for que determinam os
critérios para autorização dos atendimentos.
É importante enfatizar que tais benefícios
efetivamente estão longe da realidade da maioria
das pessoas com deficiência, considerando que as
operadoras de planos de saúde não os oferecem
como produto agregado ao rol dos serviços
previstos nos contratos, devendo os usuários arcar
com as despesas dele decorrentes. Fato que pode
ser constatado pelos relatos de Machado [3],
Magalhães [18], Tormin [19], Pecci [20] entre outros,
ao abordarem as dificuldades enfrentadas na vida
cotidiana sem que as empresas de seguros e planos
de saúde compartilhassem das despesas com os
inevitáveis prestadores de cuidados. Não fosse a
parte do cuidado domiciliar que a família assumiu e
assume, a qualificação profissional obtida antes da
deficiência e a conseqüente possibilidade de se
manter produtivos, talvez não lhes seria possível
sobreviver com o mínimo de dignidade, como a
maioria de seus colegas de infortúnio.
Qualificação profissional para o home care: do
pioneirismo da enfermagem às articulações
político-sociais no setor
A Escola de Enfermagem Aurora de Afonso
Costa, da Universidade Federal Fluminense – UFF
[21], em Niterói, Rio de Janeiro, foi a pioneira na
área de Especialização em Home Care, já em sua 5ª
turma, em 2003, nos trouxe um novo modelo de
abordagem para atender a demanda do mercado
com ênfase na gestão pessoal empresarial. O curso
Cronograma completo de atividades
Módulo 1
Período : setembro de 2002 à fevereiro de 2003
Abordagem histórica da assistência domiciliária
Metodologia científica + orientação
Planejamento e gestão em serviços de saúde
Legislação, ética profissional e bioética
Administração e desenvolvimento em recursos humanos
Estresse e assistência domiciliária
Administração de recursos físicos, materiais e financeiros
oferece oportunidade para a criação de empresas
de Home Care vinculadas à incubadora da UFF,
bem como discutir e aprofundar conhecimentos
nos seguintes aspectos: elaboração de planos de
atividade qualitativa no mundo competitivo;
gestão contemporânea dos empreendedores em
saúde; concorrência e fornecedores; simulação e
logística; marketing empresarial; consultoria;
concepção de projetos erg onômicos de
adequação do processo de trabalho; e demais
temas relacionados ao atendimento às complexidades da clínica nas demandas assistenciais
da enfermagem de Home Care.
No mesmo rumo da história, tendo em vista
as exigências do mercado e procurando suprir a falta
de profissionais qualificados para o exercício da
assistência domiciliária (Home Care), a Diretoria de
Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do Centro
Universitário Adventista de São Paulo (UNASP)
[22] – Campus 1, através da Faculdade de
Enfermagem, oferece aos profissionais de saúde de
nível superior o Curso de Especialização em
Assistência Domiciliária, em nível de PósGraduação Lato Sensu, com vistas na capacitação
de profissionais de saúde e outros interessados para
atuarem em um contexto interdisciplinar críticoreflexivo, na assistência especializada, identificando
problemas e propondo soluções concernentes aos
desafios, questões e tendências da assistência
domiciliária.
O curso com carga horária de 405 horas
(quatrocentos e cinco horas) é programado e
implementado em dois módulos. Módulo I,
período de 30/09/02 à 20/02/03 180 (cento e
oitenta horas) e módulo II, período de 24/02/03
à 29/07/03 225 (duzentos e vinte e cinco horas).
As demais 90 (noventa) horas serão dedicadas à
pesquisa e preparo de trabalho de conclusão de
curso (monografia e artigo científico), sob a
orientação de um professor, devidamente titulado
(mestre / doutor).
Módulo 2
Período : fevereiro à julho de 2003
Comunicação no contexto domiciliário
Metodologia científica + orientação
Gerenciamento da assistência domiciliária
Filosofia adventista de saúde
Atividades externas
Seminários avançados em assistência domiciliária
Estágios
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Conclusão
Atualmente, o mercado dispõe de grande
variedade de oferta do produto/serviço de Home
Care, inclusive cooperativas de enfermeiros que
disponibilizam ao consumidor a Internação
Domiciliar que envolve equipe multidisciplinar e a
Enfermagem Domiciliar (modalidade voltada
exclusivamente para a implementação de
procedimentos terapêuticos de enfermagem),
através de empresas que mantém convênios e estão
integradas com cursos de pós-graduação para o
desenvolvimento de estágios e pesquisas na área.
Um vasto espaço empresarial que a cada dia avança
mais para atender a demanda do mercado e as
múltiplas necessidades dos consumidores.
Para a presidente da Associação Brasileira de
Home Health Care [11], o que se pôde observar
claramente em 2002, foi a maior especialização dos
profissionais da área e a busca pelo aperfeiçoamento
na integração das equipes de atendimento. A
melhoria de desempenho do binômio: profissional
x equipamento foi procurada firmemente para
reforçar a segurança dos clientes, pois com os
equipamentos extremamente automatizados, e com
as tarefas de certa forma simplificadas, os eventuais
riscos apenas se tornaram menos freqüentes, só que
ainda não desapareceram. A presidente da
Associação enfatiza que, são nestas situações que
residem os maiores riscos, posto que por mais
funcionais e polivalentes que possam ser os
equipamentos, eles necessitam de bons operadores
para atuarem com eficiência, principalmente nos
casos de emergências. Outro aspecto destacado pela
presidente da ABRAHHCARE foi a busca de
excelência administrativa e operacional das
empresas, que se esmeraram para cuidar cada vez
melhor dos clientes, dando a eles mais qualidade de
vida, administrando de modo mais coerente e
racional os recursos e as verbas recebidas pelas
fontes pagadoras.
Concomitantemente, a ação preventiva das
equipes foi intensificada, pois ela é extremamente
necessária para evitar o recrudescimento de certos
casos, em que o retorno da equipe ocorre por falta
de cuidados simples, ou melhor, de precauções
básicas, nem sempre esclarecidas para os clientes e
usuários de serviços. Nos casos de Home Care
respiratório, estas indicações são muito utilizadas,
no caso das atividades relacionadas com pessoas
com deficiência, também há uma grande utilidade,
uma vez que elas reduzem as re-internações e evitam
sérios problemas de saúde. O que converge
substancialmente para a valorização do profissional
de saúde especializado em Home Care, que deverá
passar futuramente até a obter melhor remuneração
pelo desempenho de suas atividades, visto que são
profissionais mais polivalentes e com maior
capacidade de improvisação.
Enfim, ao que pudemos perceber ao longo
dessa incursão bibliográfica, a linguagem gerencial,
o domínio de conhecimento na esfera empresarial,
estratégias de mercado, entre outros aspectos
administrativos, constituem saberes indispensáveis
para que os enfermeiros estejam mais bem
preparados para assumir seus papéis no setor de
Home Care. Contudo, imperativo se faz que não
permitam o descuido ou percam de vista a essência
da profissão, qual seja, a arte e ciência humanística
de cuidar do ser humano.
Referências
1.
Nassif L. A Revolução do home care. São Paulo: Folha
de São Paulo, 1999; DEZ 23. p.39.
2. Hall ET. A Dança da Vida: A outra dimensão do
tempo. Lisboa: Relógio D’Água; 1996. p 88.
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famílias e sociedade. São Caetano do Sul: Difusão
Paulista de Enfermagem; 2003. 261 p.
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Health Care). secretário da saúde diz que expansão de
home cade terá apoio do governo. São Paulo:
Conferência Internacional “Panorama Mundial de
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5. Brasil. Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe
sobre o Exercício da Enfermagem. 1986.
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Regulamentação da Lei do Exercício Profissional de
Enfermagem. 1987.
7. Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo.
Home Care: assistência domiciliar e/ou assistência
domiciliária. São Paulo: Revista do COREN-SP; 2002.
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05 de outubro de 2001.
9. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 256, de
12 de junho de 2001.
10. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução 272, 27
de agosto de 2002.
11. ABRAHHCARE. (Associação Brasileira de Home
Health Care). Um ano marcado pela construção da
regulamentação. Associação Brasileira de Home Health
Care. Revista Nacional de Reabilitação 2002;(29)V:34.
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Health Care). A Saúde pública e privada, o Home Care
e o processo de reabilitação. Associação Brasileira de
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eficiente” físico, a reabilitação e o desafio de sobreviver
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175 p.
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Health Care). Dando início a um novo rumo para o
setor no Brasil. Associação Brasileira de Home Health
Care. Revista Nacional de Reabilitação 2003;31(VI):31.
Brasil. Lei 9.656, de 03 de junho de 1998. Medida
18.
19.
20.
21.
22.
Provisória n.º 2.177- 44, de 24 de agosto de 2001.
Dispõe sobre os planos e seguros privados de
assistência à saúde. 2001
Magalhães J. Cobaia de mim. São Paulo: Áurea; 2001.
207 p.
Tormin GMC. Pássaro sem Asas. 4a ed. Goiânia: Kelps;
2000.
Pecci JC. Minha Profissão é Andar. São Paulo: Summus;
1992.
Universidade Federal Fluminense. Escola de
Enfermagem Aurora de Afonso Costa. Curso de
Especialização em Enfermagem Atendimento
Domiciliar. 5ª Turma. Rio de Janeiro: UFF; 2003.
Centro Universitário Adventista De São Paulo.
Faculdade de Enfer magem. Programa de
Especialização em Home Care, 2002/2003. São Paulo:
UNASP; 2003. K
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Revisão
Os anúncios do Jornal do Commercio de
amas de leite, contando a história do
aleitamento materno no Brasil (1888-1890)
Luciane Pereira de Almeida*, Fernando Porto, M.Sc.**
*Graduando da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) e membro do LAPHE, **Professor do
departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO) e
Pesquisador do LAPHE
Resumo
Estudo histórico social com o objetivo de identificar os registros dos anúncios referentes à comercialização do aleitamento
materno no período de 13 de maio de 1888 a 27 de setembro de 1890, no Jornal do Comércio. A metodologia utilizada
foi à análise documental como técnica de pesquisa, uma vez que permite trabalhar com os documentos ainda não
analisados. Resultados: foram encontrados 3.189 anúncios sobre amas de leite que promoviam comercialização, de
acordo com as qualidades mais pretendidas, pois à época acreditava-se que traços de caráter e personalidade eram
transmitidos pelo leite. Os anúncios eram classificados de acordo as seguintes características: solicitação dos anúncios,
o tempo de amamentação, o valor cobrado por este serviço, a nacionalidade, idade e etnia das amas de leite. As
considerações finais apontaram através da ótica da história do aleitamento materno a inserção da mulher no mercado
de trabalho, como possível sustento ou parte da renda familiar e, paralelamente, a entrada do profissional de enfermagem
neste mesmo contexto.
Palavras-chave: imprensa escrita, aleitamento materno.
Artigo recebido em 20 de maio de 2004; aceito em 15 de julho.
Endereço para correspondência: Luciane Pereira de Almeida,
Rua dos Titureiros, 781 Bangu 21820-170 Rio de Janeiro RJ, Tel.: (21)9797-8415,
E-mail: [email protected]
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Abstract
“Jornal do Commercio” advertisements about wet nurses, telling the history of the
breast-feeding in Brazil (1888-1890)
The aim of this social historical study is to identify the advertisements registration regarding the commercialization of wet
nurses from May 13th, 1888 to September 27th, 1890, in the Jornal do Commercio. The methodology used was the documentary
analysis as research technique, since it allows dealing with documents not analyzed yet. Results: 3,189 advertisements about
“wet nurses” that promoted commercialization were found, all of them in accordance with specified requirements, since in
that period people believed that character and personality traits were transmitted through milk. The advertisements are
identified with the following characteristics: the breast-feeding time, value charged on this service, the nationality, age and
ethnic group of the “wet nurses”. The final considerations pointed out that through the wet nurses history; woman was
inserted on the labor market, as possible sustenance or as part of family income and, paralelly, the insertion of nursing
professional in the same context.
Key-words: written press, wet-nurses.
Resumen
Los anuncios del “Jornal do Commercio” de amas de leche, contando la historia del
amamantamiento materno en el Brasil (1888-1890)
Estudio histórico social que tiene como objetivo identificar los registros de los anuncios que se refieren a la comercialización
del amamantamiento materno en el período del 13 de Mayo de 1888 al 27 de Septiembre de 1890, en el “Jornal do Commercio”.
La metodología usada fue el análisis documental como técnica de investigación, una vez que permite trabajar con los documentos
que aún no han sido analizados. Resultados: Fueron encontrados 3.189 anuncios con respecto a las amas de leche que
promovían la comercialización, de acuerdo con las calidades más solicitadas, pues en esta época se creía que los rasgos del
carácter y de la personalidad eran transmitidos por la leche. Los anuncios eran clasificados de acuerdo a lo siguiente: solicitación
de los anuncios, tiempo del amamantamiento, el valor por este servicio, la nacionalidad, edad y la etnia de las amas de leche.
Las consideraciones finales apuntaron a través de la óptica de la historia del amamantamiento materno la inserción de la
mujer en el mercado de trabajo, como posible sustento o parte de la renta familiar y, paralelamente, la entrada del profesional
de enfermería en este mismo contexto.
Palabras-clave: prensa escrita, amamantamiento materno, enfermería.
Introdução
O presente estudo tem por objeto os registros
de anúncios sobre a comercialização do aleitamento
materno, pesquisa esta que se encontra inserida na
Linha de Pesquisa da Profissionalização da
Enfermagem no grupo intitulado no CNPq de
Laboratório de Pesquisa de História da Enfermagem
(LAPHE) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto
– UNIRIO.
Desta forma, para problematizar o objeto de
estudo, cabe citar que apesar dos esforços dos
profissionais de saúde em promover e apoiar o
aleitamento materno, além das inúmeras orientações
prestadas verifica-se que até os dias de hoje a
amamentação é fortemente influenciada pelo
contexto sócio-histórico e cultural. Uma vez que
a prática do aleitamento cruzado, assim como a
promoção do leite artificial, é contra-indicada,
há séculos atrás isso era comum onde os anúncios
de jor nais propagavam suas influências
comerciais em favor dos serviços prestados pelas
amas de leite.
Maldonado [1], relata que na no século XVI na
Europa, predominava o hábito de recém-nascidos
durante os primeiros anos de vida, serem
amamentados e cuidados por amas de leite. Ressalta
ainda que os critérios para a seleção desta ama
deveriam satisfazer quanto ao caráter e dignidade,
entre outros traços de personalidade, pois se
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Ama escrava e o menino Augusto Gomes Leal (1860).
(Acervo da Fundação Gilberto Freyre, Recife, PE)
acreditava que essas qualidades eram transmitidas
pelo leite.
Badinter [2] corrobora ao relatar que na França,
esse comércio das amas de leite surgiu no século
XVII e se propagou pelos séculos seguintes, a ponto
de algumas amas de leite chegarem a morar na corte
para amamentar e cuidar dos filhos dos nobres.
Outras mulheres, que não tinham condições de
manter uma dessas amas em sua residência,
encaminhavam seus filhos para a casa das amas de
leite, que amamentavam como uma forma de
sustento para si e para a sua família.
Naquela época as mulheres acreditavam que a
amamentação modificava a sua estética, envelhecia
seus corpos e, tão logo, as silhuetas perdiam os seus
formatos delicados. Na vida social também
ocorriam mudanças ao evitar a amamentação, pois
permitia às mulheres de famílias ricas dedicar-se
mais às conversas e aos passeios.
Segundo os autores Porto, Santos e Silva [3],
no livro “Ensinado a cuidar da mulher e do recémnascido”, é apontado que durante o século XVIII
já existia um marketing em Paris, onde agências
anunciavam em jornais o aluguel de amas de leite.
No Brasil, porém, essa prática permaneceu por
mais tempo. O desvio do comportamento brasileiro
com relação ao modelo europeu, está abaixo
ilustrado, como por exemplo, um anúncio do século
XIX publicado no Jornal do Comércio, no mês de
abril no ano de 1852, promovendo o aleitamento
materno como uma prática comercial.
Alencastro [4] cita que o comércio era
considerado uma prática não só na Europa, mas
também na América do Norte, desde o período
imperial registrando que à época não se encontrava
5 mães de classe elevada, amamentando seus
filhos, 10 na média e 20 da baixa, tendo hábito
inverso do aleitamento, por se considerar uma
atividade econômica.
Outros registros relatam que pequenos
senhores de escravos exploravam esse mercado a
ponto de terceirizarem suas cativas no período pósnatal. Muitas delas eram alugadas para amamentar
os filhos de senhores, onde em alguns casos as
mulheres negras eram impostas a prática de abortos
violentos, para que desta forma o lucro com a
lactação se tornasse uma oferta integral [5].
Portanto, cabe destacar que com a vinda de
imigrantes portugueses para o Brasil, a partir dos
anos de 1850, surgem anúncios cujo aluguel
destinava-se a senhoras brancas, de boa aparência,
carinhosas para com as crianças, e, essas passam a
competir com as mucamas [6] alugadas pelos
senhores de escravos [4].
Em 1888, ocorre a abolição dos escravos e
diversos fatos marcam a História do Brasil,
influenciando na comercialização do aleitamento
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materno que antes era explorado pelos senhores
de escravos, e partir de então, passa a ser
entendido como fonte de renda da mulher negra,
na luta pela sobrevivência, em competição com
as mulheres brancas.
Desta forma, temos como objetivos analisar o
conteúdo dos anúncios, como pré-requisito para o
consumo do leite materno.
Referencial teórico
O referencial teórico do presente estudo
caracteriza-se pautado em alguns verbetes para
esclarecimentos dos conceitos a seguir, como: anúncio,
ama de leite, valor, nacionalidade e por último, etnia.
A palavra anúncio tem como propósito
esclarecer o meio pelo qual uma notícia ou um aviso
é divulgado ao conhecimento público. É através de
um anúncio classificado, publicado em seção específica
de jornal ou revista, que se veiculam anúncios de
venda, compra e troca [7].
Já o uso da expressão “ama de leite” exprime
uma mulher que amamenta uma criança que não
lhe é própria [8].
Os serviços que são prestados por um contrato
de aluguel geram uma remuneração de acordo com
o tempo que pode ser pré-determinado ou não,
mediante o pagamento de um valor [8].
A partir de então, citamos o significado de
“valor”, que nos anúncios desta pesquisa estão
divulgados em réis, moeda em circulação no Brasil
no final do período imperial, e determinavam a
quantia mensal dos aluguéis em dezenas numéricas
acompanhadas de “cifrão”, caracterizando este
último um símbolo que expressa a unidade
monetária de um país [8].
Cabe esclarecer que para a classificação de
nacionalidade da ama de leite, faz-se uma alusão ao
país de nascimento da mesma [8].
As classificações das etnias foram estabelecidas
conforme as expressões utilizadas na época. Para
os anúncios que fazem citação da ama como
“creoula” ou preta classifica-se a etnia como negra;
“pardinha” para denominar parda, e clara para
branca. As etnias possuem características que lhes
são comuns em qualquer raça e, portanto, cabe aqui
ressaltar as classificações para: parda, cor entre o
branco e o preto, que em outras palavras também
pode ser considerado como mulata; negro, indivíduo
que tem a pele muito pigmentada, de cor escura e,
branco, refere o indivíduo de pele clara [8].
Metodologia
Estudo histórico social com base na análise
documental, uma vez que permite dialogar com os
documentos ainda não analisados, de acordo com
o objeto de estudo.
A imprensa escrita como registro documental
para pesquisa em História da Enfermagem é dado
de contribuição com relatos diários dos
acontecimentos, dedicando-se a esses periódicos a
pesquisa dos anúncios da comercialização do
aleitamento materno pelas amas leite no Jornal do
Commercio, por ser este um meio de comunicação
em massa eficiente.
O recorte temporal inicial é referente a 13 de
maio de 1888, data de abolição dos escravos, e o
seu outro extremo é a data de 27 de setembro de
1890, por tratar da criação da Escola de
Enfermeiros e Enfermeiras, cujo mercado de
trabalho para as mulheres é divulgado como
possibilidade através da educação profissional em
enfermagem, publicada no Jornal do Commercio
no dia 01 de outubro de 1890.
A investigação dos anúncios no Jornal do
Commercio foi realizada no acervo da Biblioteca
Nacional, localizada na cidade do Rio de Janeiro,
no período de julho a outubro de 2003, totalizando
aproximadamente 214 (duzentos e catorze) horas,
em 55 (cinqüenta e cinco) dias de coleta.
Como fonte primária foi utilizado o Jornal do
Commercio, e como fonte secundária, as literaturas
pertinentes que deram suporte a contextualização
e à análise.
A coleta dos anúncios ocorreu na seção Parte
Comercial no Jornal do Commercio, respeitando à
seqüência cronológica, tendo como suporte uma
matriz de análise composta de: ano e número de publicação, data, página e seção dos anúncios coletados.
Durante a pesquisa foram evidenciadas
algumas dificuldades com relação aos recursos
disponíveis nesta Instituição, principalmente no que
se refere à visualização do jornal no aparelho
disponibilizado, pois o tamanho é o desconforto
ante as pequenas letras e a precária iluminação do
projetor para a leitura destes documentos que se
apresentam como microfilme.
Diante da tela que reproduz os documentos
microfilmados é possível viajar através de um
passado misterioso que se mostra diante de
inúmeras propagandas e anúncios. Embora o objeto
de estudo esteja vinculado às amas de leite no século
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XIX, a leitura de toda seção annuncio se faz
imprescindível. Portanto, o tempo aproximado para
a coleta de apenas um mês de anúncios, foi em
média de quatro a cinco horas sem pausas.
Retornando a coleta de dados, foi possível
consultar 868 (oitocentos e sessenta e oito)
exemplares, no período correspondente ao recorte
temporal, diante de projeções de documentos
microfilmados.
Foram obtidos 3.189 (três mil cento e oitenta
e nove) anúncios comerciais referentes à
comercialização do aleitamento materno, sendo
estes agrupados e intitulados quanto: solicitação dos
anúncios, tempo do leite para amamentação, etnia,
nacionalidade, idade das amas de leite e valor do
aluguel das amas, que deu origem a um portfolio,
intitulado “Os anúncios de amas de leite no Jornal
do Commercio (13 de maio de 1888 a 27 de
setembro de 1890)”.
O portfolio com a representação gráfica dos
agrupados acima citados possibilitou o presente
estudo a ser contextualizado, com apoio de literatura
pertinente ao objeto de estudo, com a preocupação
da triangulação que necessita a pesquisa histórica.
O Jornal do Commercio
A investigação dos registros dos anúncios no
Jornal do Commercio justifica-se, pois além de uma
abordagem sucinta sobre o comércio, o seu primeiro
número foi publicado em 10 de outubro de 1827 e até
hoje ainda o encontramos nas bancas e lojas comerciais.
O jornal iniciou sob direção do francês Pierre
Plancher, que emigrou para o Brasil em 1824, devido
à perseguição sofrida em seu país de origem,
trazendo consigo o melhor do jornalismo francês,
equipamentos avançados e até alguns operários
especializados. Seu objetivo era iniciar o que seria,
a princípio, um jornal com características
econômicas [9].
Ao lançar o Jornal do Commercio, Plancher
restringiu-se aos assuntos comerciais e econômicos.
Os primeiros exemplares continham quatro páginas
de 21 cm de largura por 30 cm de altura. Em nota
de 17 linhas o jornal informava em sua primeira
edição, na primeira página que daquele dia em diante
o jornal abordaria assuntos a respeito do comércio:
anúncios, preços de importação e exportação de
produtos, assim como a entrada e saída de
embarcações, destinando o Jornal do Commercio
ao interesse de senhores negociantes [9].
Durante os anos que seguiram desde a sua
inauguração, o Jornal do Commercio recebeu outras
titulações como: Jornal do Commercio, Folha Comercial
e Política (1828) e, Diário mercantil (1830), mas em
1832 volta a ter o seu título original [9].
Em 1834, o Jornal do Commercio mudou de
proprietário e sofreu modificações que lhe
aumentaram o prestígio, até se tornar órgão de
grande influência política e cultural [9].
Sua missão é noticiar com equilíbrio,
objetividade e detalhes os acontecimentos relevantes
da História do Brasil, com estilo objetivo e direto,
excluindo o partidarismo exacerbado ou a opinião
panfletária, comuns na imprensa da época da
independência, no Império e na primeira República,
mas nem por isso deixou de marcar com equilíbrio
sua posição firme, sempre em defesa dos interesses
nacionais [9].
Ao realizar a pesquisa dos registros dos
anúncios, nota-se que seis décadas depois da
publicação dos primeiros exemplares, o Jornal do
Commercio era impresso em seis a oito páginas,
em média, sendo nas três primeiras, registrado um
discurso oficial que fazia referências a Assemblea
Geral (Senado, Câmara dos Deputados) e Assemblea
Legislativa Provincial. Seguia então para valores
comerciais de importação e exportação que cabia
em apenas uma única página, enquanto que o
restante era preenchido com anúncios e notícias
pequenas, e nesse bojo os registros de anúncios
sobre a comercialização do aleitamento materno
pelas amas de leite [9].
A história do Jornal do Commercio reflete,
integra-se e participa no processo do
desenvolvimento da sociedade brasileira. Com o
passar do tempo, passou a dar melhor e maior
divulgação às notícias e aos anúncios comerciais em
diversas seções [9].
Isso demonstra a importância de um resgate
histórico da comercialização do aleitamento materno
pelas amas de leite, através dos registros de anúncios
coletados no Jornal do Commercio, mediante a
permanência deste por 176 anos, exemplo raro na
história da imprensa em todo o mundo.
A História da comercialização do aleitamento
materno pelas amas de leite em anúncios do
Jornal do Commercio (1888-1890)
O recorte temporal do estudo aponta para a
comercialização do aleitamento materno pelas amas
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de leite, que não era uma prática incomum na
sociedade brasileira durante o final do período
imperial e do início da implantação da República
(1889), visto a grande quantidade de anúncios
coletados nos 868 (oitocentos e sessenta e oito)
exemplares do Jornal do Commercio, no período
que vai de 13/05/1888 a 27/09/1890.
Deste total de exemplares pesquisados, apenas
33 (trinta e três) não foram encontrados registros
de anúncios que referenciassem a comercialização
do aleitamento materno.
Cabe neste momento, destacar o total de
anúncios coletados correspondente a quantidade de
exemplares pesquisados referentes ao recorte
temporal deste estudo. No ano de 1888, foram
coletados 932 (novecentos e trinta e dois) anúncios
de amas de leite em 233 (duzentos e trinta e três)
exemplares; em 1889, 1488 (mil quatrocentos e
oitenta e oito) anúncios em 365 (trezentos e sessenta
e cinco) exemplares e, por último, em 1890, 769
(setecentos e sessenta e nove) anúncios em 270
(duzentos e setenta) exemplares de jornal
pesquisados.
Como o recorte temporal abrange o período
de 13 de maio a 31 de dezembro de 1888 a 1° de
janeiro a 27 de setembro de 1889, observa-se que
entre os extremos supramencionados há uma
diferença na quantidade de anúncios coletados sobre
a comercialização do aleitamento materno.
Apenas ressalta-se que para a observação da
quantidade de anúncios não se levou em
consideração o ano de 1889, em virtude da coleta
anual desse estar completa.
Assim, mesmo possuindo 37 (trinta e sete)
exemplares a menos que o ano de 1890, o ano de
1888 demarcou uma diferença percentual de 21%,
o que numericamente corresponde a 163 (cento e
sessenta e três) anúncios de amas de leite a mais
que o ano de 1890.
Na década de 1880 a sociedade passou por
inúmeras transformações políticas, econômicas e
sociais, principalmente no que diz respeito ao
processo de urbanização que ocorreu no país. O
crescente número de indústrias fez a população
brasileira crescer de um pouco mais de 3 milhões
na época da independência (1822), para
aproximadamente 14 milhões de habitantes na
década de 1880. Tal fato justifica-se pela vinda de
imigrantes italianos, espanhóis e portugueses como
oferta de mão de obra assalariada em substituição à
mão de obra escrava [10].
No livro “Ordem Médica e Norma Familiar”,
Costa [11] explica com base no aumento
populacional que, na época, os higienistas tinham
uma política específica aliada ao Estado, através da
imposição do discurso médico na família, na
tentativa de consolidar o controle demográfico, uma
vez que o Estado estava voltado para o
desenvolvimento industrial.
A partir daí, os higienistas introduzem a
mulher no meio social, adaptando-a à urbanização
o que acaba levando ao aumento da mortalidade
infantil frente ao comportamento da mulher que
não queria amamentar, oferecendo, assim, seus
filhos às amas de leite durante o período pós-parto.
Tal fato fez confrontar com os ideais dos higienistas
uma vez que condenavam rigorosamente o aluguel
de escravas como amas de leite [11].
Com isso, a mulher que pertencia a uma família
patriarcal, passa a vivenciar em uma nova situação
social, deixando de lado as ocupações domésticas e
se adequando às exigências da urbanização onde o
início do convívio social, frente aos passeios, aos
bailes e às conversações tornaram-na, segundo
Costa [11], relapsa e irresponsável com a saúde de
seus filhos.
Com as transformações ocorridas pelo
processo de urbanização as camadas sociais
sofreram profundas mudanças que não condiziam
com o comportamento dos valores tradicionais [10].
O leite era interpretado como um dos
mistérios sobrenaturais do corpo feminino e
segundo os doutores do século XIX podia ser
reconhecido por sua cor, cheiro e sabor [12].
O tempo de leite pretendido para
amamentação destaca-se nos anúncios da
comercialização do aleitamento materno como um
dos registros mais citados, embora
aproximadamente 85% destes não mencionem o
tempo pretendido para amamentação.
Os anúncios como conteúdo referente ao
tempo de leite para amamentação totalizam 465
(quatrocentos e sessenta e cinco) registros, o que
corresponde a aproximadamente 22% do total
coletado, sendo esta intitulação desmembrada em
dias, meses, além de dois outros critérios que não
especificam um tempo numérico propriamente dito,
mas fazem alusão para o tempo de amamentação
como: “poucos mezes” e “leite novo”. Para
exemplificarmos os dois últimos critérios, citam-se
fragmentos de anúncios a seguir: “Precisa-se de uma
ama de leite, que seja sadia, de boa conducta e leite
&
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novo...” (04/11/1888) [13] e: “Precisa-se de uma
boa ama de leite, que seja de poucos mezes...” (13/
04/1889) [13].
Em outros anúncios pode-se observar o tempo
de leite ofertado ou solicitado, levando-se em
consideração o tempo de parto da ama ou o tempo
de vida da criança a ser amamentada. Para melhor
elucidar tal afirmativa, cita-se o seguinte anúncio
referente ao tempo de parto da ama: “Aluga-se uma
ama de leite, primeiro parto, de mez e meio...” (14/
09/1889) [13] e um outro que indica o tempo de
vida da criança “Precisa-se de uma ama para acabar
de amamentar uma criança de seis mezes de idade...”
(18/01/1890) [13].
Segundo Ana Luiza Martins, citado por
Morais e Barros [14] a publicidade teve seu passo
inicial no decorrer da década de 1870, acirrando
assim a competição pelo mercado, que desta forma
tornou a propaganda como um elemento
fundamental no capitalismo.
Tal fato é relevante à medida que os anúncios
projetam costumes da vida pública de uma
determinada sociedade, conforme os pensamentos
da época. Sendo assim, o anúncio se faz uma
testemunha ocular que permite a reconstituição da
vida de cada dia [15].
Como a divulgação de um marketing através
dos anúncios de jornais proporcionava um
retorno financeiro mais rápido, tendo em vista a
pouca quantidade de anúncios que se repetem
durante a coleta realizada, surgem novos registros
de anúncios no comércio do aleitamento,
propagando a industrialização do leite em
substituição ao leite materno.
Assim, como exemplo, observa-se a expansão
do mercado da comercialização do leite artificial,
sendo neste anúncio, o leite industrializado:
Ama de Leite - A melhor ama de leite é o leite de
Barbacena (grande premio na exposição de Pariz) até os 3
mezes; dessa idade em diante dá-se a verdadeira farinha
Láctea Nestlé (rótulos portuguezes, medalha de ouro na
mesma exposição); deposito especial, rua de S. Pedro n. 31
C. (22/01/1890) [13].
Uma década após a instalação do marketing
publicitário como forma de inserção no mercado
de trabalho, tem-se o aumento do número de
anúncios publicados de amas de leite, período este
que passou por uma transformação do proprietário
que vende ou aluga os serviços prestados pela ama
de leite, antes da abolição, para a senhora livre que
se põe a alugar-se.
E foi através desse marketing publicitário
registrado no período de 13 de maio de 1888 a 27
de setembro de 1890 que se observou não somente
a oferta da ama de leite, mas também a procura
pelo serviço da mesma, correspondendo ao maior
percentual com 49% do total de anúncios coletados,
como exemplifica o anúncio a seguir: “Precisa-se
de uma ama de leite que seja limpa e saudável para
criança recém-nascida...” (22/10/1889) [13].
Nos anúncios coletados que fazem referência
para o termo verbal “aluga-se”, estes ofertam os
serviços prestados pelas amas. De acordo com os
registros, supõe-se que ora a propaganda era
ofertada pelas próprias amas, ora por agências que
promoviam o marketing dos seus serviços. Para
ilustrar melhor tal informação, a seguir citaremos
um exemplo de um anúncio supostamente realizado
por ama de leite: “Aluga-se uma boa ama de leite
com um filho de 2 a 3 mezes...” (24/06/1888) [13];
e um outro em que, segundo a análise dos registros
obtidos nos anúncios, observou-se inúmeros
anúncios com o mesmo endereço promovendo o
marketing das amas dentre outros serviços: “Alugãose uma boa ama de leite, uma copeira, mucama, lava e
engomma bem, duas cozinheiras de forno e massa a
30$ e 40$ e um copeirinho por 15$; na rua do EspíritoSanto n.31” (30/07/1888) [13].
Uma outra forma verbal encontrada nos
registros dos anúncios para se oferecer o serviço
da ama de leite, diferentemente do termo “alugase”, embora ambas se enquadrem no mesmo perfil
de oferta foi: “Offerece-se uma ama de leite com dous
mezes incompletos, sadia e de boas qualidades (01/
08/1889) [13]. Repare que tanto o termo “alugase” como “offerece-se” promovem a divulgação de
oferta da ama, o que corresponde a 45% de 3189
anúncios coletados.
Embora a oferta e procura pelos serviços
prestados pelas amas de leite seja registrado em
grande maioria, existiam também anúncios em que
a própria ama solicita uma criança para ser
amamentada, correspondendo neste caso a 5% dos
anúncios, ilustrado a seguir: “Toma-se uma criança
para criar, por ter grande abundância de leite...” (05/
10/1888) [13].
Por último, em 1% dos registros da
comercialização do aleitamento materno são
oferecidas as crianças para as amas que desejam
amamentar: “Dá-se um menino de um mez para
'
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criar a uma senhora seria e de bom leite...” (27/11/
1889) [13].
Quanto aos valores como conteúdo dos
anúncios a quantificação da estipulação da
mensalidade divulgada, flutua entre 20$ (vinte réis)
e 80$ (oitenta réis), nos 434 registros referentes ao
aluguel mensal das amas.
Portanto, em 57% dos anúncios que continham
registros de valores do aluguel das amas,
correspondem a uma faixa de até 39$ (trinta e nove
réis), ou seja, 248 (duzentos e quarenta e oito)
anúncios.
Para a faixa que varia de 40$ a 59$ (quarenta a
cinqüenta e nove réis), foram identificados 213
(duzentos e treze) anúncios, o que corresponde a
49% do total de anúncios.
E para o contrato de melhor renda foram
identificados 220 (duzentos e vinte) anúncios que
referem o valor acima de 60$ (sessenta réis),
correspondendo a 51% do total de anúncios
coletados que especificam os valores dos aluguéis.
Finalizando tal intitulação, cerca de 86% do total
de anúncios coletados não informam os valores a
respeito do aluguel das amas de leite.
Atenta-se somente para o somatório das
variáveis (57%, 49% e 51%) que ultrapassam o
percentual total de anúncios dos valores dos aluguéis
das amas de leite. Isto ocorre porque certos registros,
englobam mais de uma variável.
Ainda dentro desta intitulação, observou-se o
registro de duas outras formas qualitativas de se
expressar os valores numéricos e que fazem
referência a uma forma de pagamento: “paga-se
bem” e “não faz questão de preço”. Além destes,
tem-se os registros que não dão importância para o
valor da mensalidade: “Precisa-se de uma boa ama
de leite; na rua de D. Affonso n. 6, não faz questão de
preço, servindo”.(04/01/1889) [13].
Jobim [14], relata que na segunda metade do
século XIX os periódicos de jornais custavam entre
40$ e 80$ (quarenta e oitenta réis) o exemplar, a
renda mínima mensal de um eleitor de primeiro
grau correspondia aproximadamente a 8$000 e o
preço de um “bom” escravo a 150$000. Tal
abordagem ilustrativa traz seu significado na
tentativa de uma aproximação com os valores
oferecidos aos serviços prestados pelas amas de
leite o que merece um estudo mais minucioso, a
posteriori sobre os valores monetários da época.
Historicamente, a medida em que as leis
abolicionistas eram implementadas no território
brasileiro, cada vez mais o país se tornava atrativo
para a imigração estrangeira, fato este que acentuou
na segunda metade do século XIX, quando o
governo imperial promulgou a lei Eusébio de
Queiros, em 1850, abolindo definitivamente o
tráfico de escravos para o Brasil [10,16].
Na segunda metade do século XIX, quando o
Brasil império era governado por D. Pedro II, a
sociedade e a economia brasileira passaram por
significativas transformações devido o crescimento
urbano e à crescente industrialização, o que deu
surgimento ao operariado, ou seja, uma classe de
assalariados urbanos composto de brasileiros, italianos,
espanhóis, portugueses e outros que moravam em
miseráveis cortiços na periferia das cidades [10].
Na década de 1880, a monarquia se mostrava
incapaz de modernizar-se politicamente e
acompanhar a evolução da modernização, de modo
que atendesse as aspirações sociais, e acabou
tornando-se incompetente para conceber e dirigir
uma sociedade sem escravos [17].
Proclamação da República era a melhor forma
de organizar o país nessa nova fase de
desenvolvimento. Então, em 15 de novembro de
1889 a República foi implantada no Brasil à posse
do primeiro presidente civil Prudente de Morais.
Tal fato se deu como resultado da modernização
ocorrida no país, na década de 1880 [10,17].
Brandão citada por Schwarcz [18], relata que
após a abolição surge um novo atributo de
classificação relacionada à etnia dos escravos, onde
sua identidade racial refere-se à “cor de pele”. Este
tipo de discurso que surge no final do século XIX,
através de uma afirmativa da inferioridade negra,
aparecendo nas pequenas seções e nos diversos
anúncios que compõem a parte básica e cotidiana
do Jornal do Commercio.
Para Strieder [16], a classificação racial no
Brasil mostrava-se respaldada em conceitos biraciais de “brancos” e de “não brancos”, sendo os
não brancos classificados como: negros, mulatos e
pardos. Já nos anúncios coletados indica-se uma
classificação de etnia tri-racial, onde, além do branco
e do negro, denomina-se também o pardo, em 2%
dos anúncios, como critério de seleção na escolha
da ama de leite, o que pode ser observado no
fragmento do anúncio a seguir: “Aluga-se uma
pardinha, excellente ama de leite, sadia e carinhosa...”
(24/10/1888) [13].
Cabe esclarecer que os anúncios coletados, em
sua maioria, não informavam a etnia como forma
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de um processo pré-seletivo. Contudo, pouco mais
de 5% dos anúncios (o que corresponde a 171 de
3189) qualificam a ama branca como a mais ofertada
ou pretendida para o consumo do leite materno,
como se pode observar no anúncio que segue:
“Aluga-se uma senhora branca, para ama de leite...”
(01/06/1889) [13].
Por outro lado, a ama negra é ofertada ou
pretendida em 167 anúncios (aproximadamente 5%),
tendo em vista as transformações ocorridas com o
processo abolicionista na segunda metade do século
XIX, onde a mulher negra, na luta pela sobrevivência
passa a competir no mercado com a mulher branca.
Embora a prática do aleitamento cruzado no
Brasil tenha tido início através da venda ou do
aluguel de negras escravas, após a abolição, e com a
entrada de imigrantes brancos no mercado,
estabelece-se uma competição pelos atrativos
oferecidos pelas amas à clientela.
Assim, exemplificaremos através de
fragmentos de anúncios os registros que estipulam
preferências por: somente brancas, “Precisa-se de
uma ama de leite, prefere-se branca...” (10/04/89) [13];
somente pretas: “Aluga-se uma crioula, boa ama de
leite, sadia e perfeita...” (19/09/1888) [13], brancas
e negras: “Precisa-se de uma ama de leite branca ou
preta...” (16/09/1890) [13], brancas e pardas:
“Precisa-se de uma boa ama de leite branca ou parda...”
(08/05/1889) [13], e ainda os que não possuem
preferência de cor, como exemplo: “Precisa-se de
uma ama sem filho, não se faz questão de côr, porem
que tenha abundancia de leite e que seja sadia...”
(13/02/1889) [13].
Por ser o Brasil um país com uma demarcação
populacional multi-racial, a imigração para o
território brasileiro tornou-se atraente uma vez que
em outras nações, as distinções de etnias e raças
causam preconceitos ofensivos e até mesmo
agressivos, como é o caso do racismo negro nos
Estados Unidos [16,19].
No que se refere aos anúncios que mencionam
a nacionalidade, poucos utilizam esta intitulação
como critério de seleção para o contrato da ama de
leite, o que corresponde aproximadamente 9% dos
3.189 anúncios coletados.
Como a época do recorte deste estudo está
intimamente ligada à imigração de estrangeiras
espanholas e portuguesas, para o Brasil, pode-se
observar o registro destas nacionalidades em
aproximadamente 49% do total de anúncios que
continham registros referentes a nacionalidade.
Tendo em destaque a nacionalidade de amas
portuguesas como as mais pretendidas,
correspondendo a 234 (duzentos e trinta e quatro)
anúncios de um total de 298 (duzentos e noventa e
oito), as portuguesas possuem um percentual
aproximado de 78% deste total, exemplificado
assim: “Aluga-se uma senhora portugueza para ama
de leite, chegada ha pouco da Europa...” (19/05/
1888) [13]. Já as espanholas, correspondem a 7%
deste total: “Aluga-se dous amas de leite hespanholas
sem filhos...” (23/05/1890) [13].
As nacionalidades alemã, italiana e francesa,
também registradas nos anúncios, correspondem a
um valor de 6%. Ressaltando ainda que os 9%
restantes dos anúncios que mencionam a preferência
por amas estrangeiras, não especificam a nacionalidade das mesmas, como ilustrado no exemplo que
segue: “Aluga-se uma ama de leite, estrangeira, muito
sadia e carinhosa...” (25/07/1888) [13].
Para finalizar, a análise dos dados de acordo
com as intitulações supramencionadas, apenas serão
ilustrados os percentuais referentes aos 41 anúncios
que especificaram a idade das amas ofertadas no
período de 13/05/1888 a 27/09/1890.
Desta forma, desmembrou-se a intitulação
idade das amas de leite em três classificações: amas de
leite com até 19 anos de idade, o que correspondeu
a 32% dos anúncios registrados; amas de leite entre
20 a 25 anos, caracterizando 58%, e por último, amas
de leite com idade acima de 26 anos,
correspondendo 10% dos 41 anúncios que tiveram
registros de idades das amas dentro do total de 4189
anúncios coletados.
O percentual supramencionado traz destaque
para as amas novas, numa faixa etária entre 20 e 25
anos, o que faz respaldar com os conceitos citados
por Costa [11], onde engravidar e amamentar eram
considerados eventos biológicos ligados no decorrer
da história feminina. Isto justifica, a grande
quantidade de filhos que compunham a família
antiga, pelo fato de que o papel da mulher destinavase somente à procriação.
Conclusões
A comercialização do aleitamento materno
pelas amas de leite envolve aspectos que na época
manifestavam a necessidade de um cuidar
diferenciado dos dias de hoje, cabendo-nos um
melhor entendimento do contexto histórico social,
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onde não podemos esquecer as diferenças
construídas e fortalecidas durante a evolução da
história humana, que de certa forma, ainda
produzem modos e maneiras diferentes de pensar,
sentir e agir.
Para as mulheres do período imperial, o
aleitamento cruzado era considerado um tipo de
cuidado comercializado, que era condenado pelo
olhar da ordem médica apontando para um tipo
de um cuidado marginal, onde a mulher deixa
de lado alguns cuidados, que segundo Badinter
[2], são os cuidados maternos essenciais que
representam a maior possibilidade de sobrevivência para o recém-nascido nos primeiros
meses de vida.
Além do olhar da ordem médica, existia
também o olhar da sociedade para com o
comportamento da mulher, exigindo sua participação no convívio social dos bailes, festas e
passeios públicos, o que deixa a criança à mercê de
sua própria sorte.
Com isso, as considerações deste estudo
apontam para as transformações sociais ocorridas
na década de 1880 em meio ao crescente processo
de urbanização e industrialização, levando a
propagação de um marketing na busca de serviços
que fazem com que a mulher encontre no cuidado
uma forma de obtenção de renda.
Em domicílio o cuidado já era considerado um
tipo de atividade assistencial, praticado por escravos
treinados. Somente a partir do século XVIII que se
encontram os precursores das atividades de
enfermagem diferenciadas em: nível institucional,
nas enfermarias dos jesuítas, e no espaço doméstico,
como é o caso das parteiras, sem características
profissionais [20].
Contudo, para que se possua uma característica
profissional é necessário que se tenha adquirido
capacitação teórica e prática através de um processo
de instrução formal, além de estar submetida às
regras normatizadoras do exercício profissional,
recebendo desta forma, remuneração pelos serviços
prestados [20].
De acordo com Dias, citado por Schwarcz [18],
todo comércio ambulante até então era feito pelas
mulheres pobres, cativas ou não. Isso certifica a
entrada da mulher no mercado de trabalho, mesmo
sendo de uma forma autônoma, onde através da
elaboração de anúncios nos jornais, muitas amas
redigiam uma descrição precária na solicitação de
um emprego.
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222
A enfermagem enquanto profissão feminina
começa organizar-se na segunda metade do século
XIX, dentro de um modelo social de transição do
período colonial para o império, com o surgimento
das Santas Casas de Misericórdia. Prosseguindo o
contexto, do imperial para a Primeira República,
com a criação da Escola Profissional de
Enfermeiros e Enfermeiras (EEPE) [20].
Assim, em 27 de setembro de 1890, o modelo
da referida instituição de ensino é criado através do
Decreto 791 com o objetivo explícito descrito no
artigo n° 1 o de “preparar enfermeiros e enfermeiras
para os hospícios e hospitais civis e militares” [21]
citado por Pires [20], o que foi divulgado na
imprensa da época.
O que o estudo aponta com maior destaque é
que a inserção feminina no mercado de trabalho,
através das lentes da história do aleitamento
materno, enfocado nas amas de leite, como sujeitos
da comercialização, é que elas foram mão-de-obra
no discurso social em prol da alimentação; por outro
lado condenadas na prática pela ótica médica devido
ao alto índice de mortalidade infantil.
Assim, por um lado ou por outro o presente
estudo tangencia a História da Profissionalização
da Enfermagem no Brasil, principalmente ao se
tratar da criação da Escola Profissional de
Enfermeiros e Enfermeiras (1890), atual Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto.
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Revisão
Assistência de enfermagem ao paciente
em risco de morte iminente
Antonio Carlos Siqueira Júnior, D.Sc.*, Aline Alzira Ulian**, Fernanda Cenci Queiroz**
*Professor do curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília, **Graduadas no curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina
de Marília
Resumo
O trabalho do profissional de Enfermagem está sempre muito próximo do paciente em risco de morte, principalmente para
aqueles profissionais que estão ligados à área hospitalar. Sendo este evento sempre difícil de se conviver, faz com que a
Enfermagem tenha muitas dificuldades em lidar com o paciente com este risco. Este trabalho tem como objetivo fazer um
estudo bibliográfico buscando na literatura artigos que mostrem as percepções e os sentimentos da equipe de enfermagem
frente ao processo que antecede e procede a morte de um paciente hospitalizado, as aflições e o pesar de seus familiares.
Utilizamos a pesquisa bibliográfica com instrumento metodológico. Concluímos que este assunto ainda é pouco estudado
pelos profissionais de Enfermagem e, portanto, os cursos de graduação também abordam pouco este assunto.
Palabras-chave: enfermagem, morte, assistência.
Abstract
Nurse assistance to patient in imminent death risk
The work of nursing professional is very close to patient in death risk, mainly those ones related to hospital area. Since it is
hard to deal with death, the nursing staff has many difficulties in dealing with patient in great risk. The main object of this
work is to make a bibliographical study, searching for articles on literature that show nursing staff perceptions and feelings
regarding hospitalized patient process, prior and after death, his family’s afflictions and sorrow. It was used bibliographical
research with methodological instrument. We concluded that this topic is not enough studied by nursing professionals and
therefore graduation courses do not broach it as well.
Key-words: nursing, death, assistance.
Artigo recebido em 25 de junho de 2004; aceito em 10 de agosto de 2004.
Endereço para correspondência: Antonio Carlos Siqueira Júnior,
Rua Jorge Bernardone, 404, 17519-580 Marília SP, E-mail [email protected]
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Resumen
Asistencia de enfermería al enfermo en riesgo de muerte inminente
El trabajo del profesional de enfermería está siempre muy cerca del enfermo en riesgo de muerte, principalmente para
aquellos que trabajan en hospitales. Siendo este evento muy difícil de manejar, la enfermería tiene mucha dificultad en
trabajar con este enfermo y en este riesgo. Este trabajo tiene como finalidad hacer un estudio bibliográfico, donde es posible
buscar en literatura, artículos que señalan la percepción y el sentimiento del equipo de enfermería frente al proceso que
antecede y procede la muerte de un paciente hospitalizado, la aflicción y el dolor de la familia. La pesquisa bibliográfica fue
utilizada como instrumento metodológico. Este tema aún es poco estudiado por los profesionales de enfermería, así como en
los cursos de graduación.
Palabras-clave: enfermería, muerte, asistencia.
Introdução
Objetivo
Durante a graduação em enfermagem houve
muitas oportunidades de integrar a teoria com a
prática nos diversos campos de estágios hospitalares,
tornando-se inevitável assistir pacientes com risco de
morte iminente. E também de presenciar como a
equipe de enfermagem trabalha com estes pacientes,
concentrando a maior parte de suas atividades na
prestação de uma assistência de enfermagem aos
cuidados clínicos, tendo dificuldade para prestar um
cuidado integral ao paciente e sua família.
Antes de iniciar nossos contatos nos estágios
com pacientes em risco de morte iminente,
encarávamos a morte da forma como nossa cultura
nos proporcionava. Fomos educados para vivenciála o mínimo possível, e de repente, passamos a cuidar
de pessoas com risco de morte. Era um conflito
entre negar e cuidar de quem podia morrer.
Com o decorrer do curso, aprendemos a
importância do cuidar, e que muitas vezes não se
pode “curar”, mas que muito se tem a fazer como,
por exemplo, humanizar o tratamento até o final.
A enfermagem pode ser direcionada tanto ao
bem estar do homem, quanto para o
desenvolvimento de suas potencialidades,
mostrando assim, que o papel do cuidador
(enfermeiro) é significativo, devendo dar força ao
paciente e sua família, assegurando o direito de não
serem abandonados, enfrentando a realidade de
maneira menos sofrida e respeitando o indivíduo
no momento de sua morte.
Este trabalho tem por objetivo fazer um estudo
bibliográfico, buscando na literatura artigos que
mostrem as percepções e os sentimentos da equipe
de enfermagem frente ao processo que antecede e
procede à morte de um paciente hospitalizado, as
aflições e o pesar de seus familiares.
Material e métodos
O trabalho foi realizado durante o período de
março a outubro do ano de 2003, fazendo parte do
currículo como trabalho de conclusão de curso da
4ª série de Enfermagem da Faculdade de Medicina
de Marília (FAMEMA).
Este trabalho caracteriza-se como um estudo de
revisão bibliográfica que pode ser definido como:
“(...) um jogo de espelho em que se refletem
distintos posicionamentos sobre o assunto,
estabelecendo-se confrontos em nível teórico... sem
a pretensão de esgotar o assunto, mas com o firme
propósito de subsidiar o debate que não começa e
não termina aqui [1]”.
A pesquisa foi realizada através da Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS). Utilizamos as palavras-chaves
morte e paciente para levantamento do material
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bibliográfico, sem limite de tempo e foram excluídos
os resumos de teses.
Encontramos 20 artigos no total, destes, 9
foram encontrados na revista Brasileira de
Enfermagem, 2 na Acta Paulista de Enfermagem,
1 na Revista Paulista de Enfermagem, 4 na Revista
da Escola da USP, 1 na Cogitare Enfermagem, 1 na
Revista de Enfermagem da UERJ, 1 na Revista
latino-americana de Enfermagem e 1 na Revista
Gaúcha de Enfermagem.
Destes 21 artigos não foram utilizados 3 textos,
porque apesar de estarem relacionados no resultado
da busca, ao serem lidos percebemos que o título
não correspondia ao conteúdo que era esperado
pelas autoras.
A partir do fichamento podemos identificar
os principais assuntos e características abordadas
nos textos que são: conceito de saúde doença,
conceito de morte e impotência do profissional,
papel do hospital, história de vida do profissional,
conduta, ética e morte, situação do paciente, relação
do profissional com o paciente e com a família,
mecanismo de defesa do profissional e mecanismo
de defesa do paciente.
A análise foi desenvolvida comparando-se as
características e os assuntos, buscando identificar
seus pontos mais relevantes, suas concordâncias e
discordâncias, sendo estas discutidas a partir da
nossa prática e vivência.
Análise
Em relação ao local onde foram produzidos os
artigos, percebemos que 61,1% foram realizados
dentro da academia, destes, 18,1% foram produzidos
por discentes e 50% por docentes, sendo que 50%
destes trabalhos tiveram como cenário os hospitais
universitários. Isto mostra que este tema ainda é uma
preocupação acadêmica, pois apenas 16,6% dos artigos
foram produzidos por enfermeiros assistências.
Ao analisarmos os textos, constatamos que
82,35% foram publicados nos últimos 10 anos, com
uma prevalência nos últimos cinco anos (58,8%).
Assim podemos entender que este tema passou a
ser mais estudado a partir do final da década de 90,
quando começou a se valorizar a humanização da
assistência, apesar desta preocupação estar mais
restrita ainda à academia.
Quanto à metodologia, percebe-se que
predomina a pesquisa qualitativa, usada em 55%
dos trabalhos.
Na abordagem do tema ética e morte,
encontramos uma concordância em relação à
autonomia do paciente, esta pode ser entendida
na frase:
“A soberania da pessoa humana em decidir o
que e quando deseja é um dos direitos inalienáveis
dos seres humanos, que devemos incentivar para
que sejam exercidos em sua plenitude. Entretanto,
isto só é possível se o paciente tiver domínio das
informações que geralmente estão sob total poder
da equipe de saúde [2]”.
Encontramos também relatos sobre a
importância que os fatores culturais, sociais,
emocionais, históricos e familiares exercem sobre o
processo saúde doença [3,4]. Concordamos com estes
autores, pois em algumas experiências, podemos
perceber como é importante a valorização de aspectos
que não dizem respeito à rotina do hospital.
Pode-se perceber que em se tratando de
paciente terminal, os cuidados prestados centramse na rotina da enfermaria, não valorizando a
particularidade do doente que está vivenciando o
processo de morte, às vezes, até a liberação da
família para acompanhá-lo, não ocorre.
Entende-se que é praticamente impossível
assistir o indivíduo (doente ou sadio) de forma
completa, quando não se considera seu contexto mais
próximo: que é a família à qual ele pertence [4].
Na abordagem das diferenças de assistência
prestadas ao paciente idoso e jovem em risco de
morte, questiona-se o fato da sociedade valorizar a
juventude, considerando o idoso alguém que já viveu
muito e que, portanto, poderia abrir mão para que
os esforços de cuidados urgentes fossem
concentrados sobre os pacientes mais jovens [5].
Quanto à abordagem do relacionamento entre
o profissional, o paciente e a família, os dois últimos
possuem o direito à informação dos procedimentos
relativos à doença e também a uma assistência
direcionada as suas necessidades e expectativas, com
o objetivo de diminuir o medo, a angústia do
desconhecido, possibilitando uma maior autonomia
possível e desejada por eles [2,6].
Em relação à questão do envolvimento do
profissional com o paciente, enfatiza-se a
necessidade do profissional em envolver-se. Este
envolvimento deve manter uma distância que ele
chama de Distância Crítica, caracterizada pela
valorização dos aspectos orgânicos e físicos dos
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problemas do paciente, entende-se que esta distância
é difícil de ser mensurada [7].
Esse envolvimento também dificulta o
discernimento dos problemas do profissional dos
problemas do paciente, ilustraremos essa questão
da seguinte forma:
“O vínculo com o enfermeiro pode ter caráter
positivo, desde que haja uma prontidão para se
dispensar os cuidados, associados a uma afetividade
inerente à sua atuação profissional... [8]”.
Relata-se também, a adaptação do paciente ao
ambiente hospitalar [6,8], e segundo os autores,
durante a internação, o paciente estabelece uma
relação com os materiais, equipamentos e com os
funcionários. Isso se torna benéfico para a
diminuição do estresse da internação, do medo, da
angústia, trazendo segurança para o paciente que
passa a confiar na assistência prestada.
Ribeiro faz uma reflexão sobre a morte quando
colocando que:
“(...) pensando na morte em seu aspecto
biológico e racional, torna-se relativamente fácil
diagnosticá-la como um acontecimento cotidiano,
que completa o ciclo da vida: nascer, crescer,
envelhecer e morrer auxiliando na continuidade da
espécie. Porém, quando ela acontece, não está
desprovida de um contexto emocional, ao
representar a quebra de um vínculo com alguém
que se goste ou não, que não estará mais no
cotidiano dos “viventes’’. È, além de tudo, um
momento de síntese, onde se reflete a respeito dos
vários aspectos da pessoa e da nossa vida [9]”.
O contexto histórico da sociedade ocidental,
no qual a morte vem sendo encarada com receio,
como fenômeno indesejado, proibido e camuflado,
deixando de ser um fenômeno social e/ou cultuada
com rituais após o óbito [10,11]. A abordagem deste
problema diz respeito aos sentimentos e
acontecimentos que afetam e angustiam, uma vez
que para ele, a dor e o sofrimento não são apenas
sintomas e a morte apenas óbitos. O autor propõe
a presença de um psicólogo junto à enfermagem, e
desta forma:
“(...) utilizando-se de técnicas adequadas ao
contexto hospitalar, com o intuito de que estes
possam vivenciar as perdas no dia a dia de seu
trabalho de uma forma mais saudável, o que
acreditamos, implicaria na melhora da qualidade do
atendimento prestado por este ao paciente fora de
possibilidade terapêutica [12]”.
Os profissionais de saúde se envolvem com o
processo de morte com o intuito de preservação
da vida, desconsiderando este fenômeno como um
acontecimento natural e certo da condição humana,
fazendo com que trabalhem com a morte como
uma inimiga que deve ser vencida [13]. Segundo
este autor, esta situação gera ansiedade, acarretando
o afastamento da assistência e aproximação com
trabalhos de normas e rotinas administrativas.
Coloca-se a existência de um despreparo dos
profissionais da área da saúde em trabalhar com a
morte, devido à sua formação acadêmica.
Gonçalves cita que:
“Quase sempre os profissionais da saúde e os
funcionários hospitalares não têm sido preparados
e/ou treinados para uma abordagem mais natural e
humanista tanto junto aos pacientes em fase
terminal quanto aos seus familiares [5]”.
Esta formação causa sentimentos de impotência
e angústia quando a morte se aproxima, pois o
profissional não consegue lidar com a complexidade
das situações. Esta angústia ocorre devido à fantasia e
da morte de pessoas a ele ligado afetivamente [14].
A tecnologia que permite tratamentos mais
eficazes do que os cuidados em casa, mas que muitas
vezes, impõem ao indivíduo uma agonia e
sofrimento mais penoso do que a vivenciada no lar
devido ao prolongamento de sua vida. O autor
resume essa idéia da seguinte forma:
“(...) a mais desejável das mortes, a morte
instantânea, ocorre quase sempre entre os doentes
tratados em casa e que não precisaram sofrer os
degradantes cuidados intensivos dos hospitais. As
angústias de uma doença prolongada foram-lhe
poupadas, assim como as atribuições do final [9]”.
Uma reflexão sobre a assistência mecanizada dos
hospitais e a importância de administrar os problemas
emocionais do paciente deve ser considerada, não se
esquecendo de seu contexto social.
“O hospital é um espaço mítico que deve
conter e administrar os problemas emocionais
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provocados pelo paciente, sua doença e toda rede
de relações sociais que a eles se vinculam os
sentimentos como depressão e ansiedade, tanto dos
pacientes como dos familiares são naturalmente
projetados no hospital, através de seus elementos
de mediação, ou sejam, os profissionais e em especial
ao enfermeiro, a quem cabe decidir questões
importantes, assumindo responsabilidades de forma
integral [6]”.
O hospital tem como princípio proteger o
paciente contra a angústia de sua própria morte,
porém o hospital acaba cumprindo outro papel, o
de camuflar a morte do doente, permitindo que fuja
de suas próprias emoções. A autora coloca que o
hospital possui um papel “mentiroso”, que a
princípio é de proteger o paciente de seu medo da
morte, e posteriormente transmite uma ilusão
confortável, que desobriga a todos pensar no
processo de morte [15].
Sobre apoio psicológico prestado aos pacientes
em risco de morte iminente, Barbieri coloca que
não deve ocorrer uma cisão entre o cuidado físico
e o psicológico, pois para ele estes cuidados devem
ser vistos como pólos de uma mesma unidade
[11,16].
Este apoio psicológico foi a necessidade de
enfermagem mais citada por enfermeiros que
participaram de seu trabalho. Porém a autora sugere
que mais trabalhos devam existir sobre este assunto,
uma vez que sua operacionalização é pouco
esclarecida se considerada como um
comportamento profissional [17].
A concepção que os enfermeiros e graduandos
possuem em relação a apoio psicológico é baseada
em tópicos como: retirar dúvidas do paciente,
orientar procedimentos, dar cuidados físicos,
trabalhar cada paciente individualmente, dar atenção
ao paciente e outras [18].
Os profissionais vinculam estes tópicos às suas
competências técnicas, e modificar esta concepção
de apoio psicológico trazida pelos enfermeiros, requer
um certo tempo, porém, ressalta a importância da
enfermagem caminhar como ciência.
nos acrescentou informações sobre vários assuntos
que podemos projetar para toda as assistências de
enfermagem que prestaremos em nossa carreira,
como, por exemplo, questões éticas; envolvimento
empático e simpático; papel da instituição hospitalar;
importância do papel social, econômico e espiritual
e outros.
A leitura destes textos nos ajudou muito no
amadurecimento de nossa assistência, porém
verificamos o quanto é difícil trabalhar com a dor
que os pacientes apresentam, quando queremos por
em prática um atendimento humanizado e empático.
Concluímos com isso que a graduação exerce um
papel fundamental, o enfermeiro tem que conhecer
os princípios científicos de uma assistência
humanizada e de envolvimento empático, pois a
assistência de enfermagem não pode depender da
personalidade que o profissional apresenta.
Percebemos também que este assunto ainda é
pouco estudado, e que os trabalhos que foram
realizados, concentram-se a maioria na academia
realizada por docentes e alunos, e que mais de 50%
foram realizados nos últimos 10 anos. Isto nos
mostra que esta preocupação é tão recente quanto
a discussão sobre a humanização da assistência.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Conclusões
Este trabalho possibilitou a reflexão de vários
aspectos sobre a assistência de enfermagem com o
paciente em risco de morte iminente, como também
7.
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Estudo de caso
Teste do Pezinho: um marco expressivo na
história da enfermagem preventiva no Brasil
Thereza Neuma de Tostes Freitas
*Enfermeira, Advogada, Docente das disciplinas Saúde da Criança e do Adolescente e Enfermagem Pediátrica da Universidade Salgado de
Oliveira, Professora Aposentada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense
Resumo
A expressão Teste do Pezinho, popularmente conhecida para designar os exames de diagnóstico precoce dos Erros Inatos do
Metabolismo, originou-se da pesquisa sobre conhecimentos, opiniões e atitudes de profissionais da área obstétrica e neonatológica,
cujos objetivos têm sido gradativamente atingidos, havendo um dispositivo legal no Estatuto da Criança e do Adolescente que
regulamenta tais exames. O presente trabalho tem como finalidade apresentar a origem da expressão Teste do Pezinho, expondo
a situação-problema que motivou a pesquisa e inferir sobre o papel do enfermeiro pediatra no procedimento.
Palavras-chave: diagnóstico, procedimento, obstetrícia, neonatologia.
Abstract
The Newborn Screening Test: significant mark in preventive Brazilian nursing history
The Newborn Screening Test is an analysis of the baby’s blood to look for evidence of certain genetic diseases or inborn
errors of metabolism. The test results from a research regarding knowledge, opinions and professional attitudes of the
obstetrical and neonatologic area, whose aims have been achieved and there is a legal dispositive right in the Child and
Adolescent Statute that regulates such physical examination. The aim of the present work is to explain the expression “Teste
do Pezinho” – The Newborn Screening Test, showing the situation-problem that arouse interest to carry out the research
and infer about the pediatric nurse’s role.
Key-words: diagnosis, procedure, obstetrics, neonatologic.
Artigo recebido em 28 de junho de 2004; aceito em 1 de agosto de 2004.
Endereço para correspondência: Thereza Neuma de Tostes Freitas,
Rua Miguel de Frias, 164/1801 Icaraí 24220-003 Niterói RJ, Tel.: (21) 9727-3783,
E-mail: [email protected]
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Resumen
Prueba del talón: un marco expresivo en la historia de enfermería preventiva
en Brasil
La expresión “prueba del talón” conocido popularmente para designar los exámenes de diagnóstico precoz de los errores
congénitos del metabolismo, se originó de la investigación sobre conocimientos, opiniones y actitudes de profesionales del
área obstétrica y neonatológica, cuyos objetivos han sido, gradualmente, alcanzados. Estos exámenes son reglamentados a
través de un dispositivo legal en el Estatuto del menor y del adolescente. El presente trabajo tiene como finalidad presentar
el origen de la expresión “prueba del talón”, exponiendo la situación-problema que motivó la investigación e inferir sobre el
papel del enfermero pediatra en el procedimiento.
Palabras-clave: diagnosis, procedimiento, obstetricia, neonatología
Introdução
A expressão Teste do Pezinho surgiu em
decorrência de uma pesquisa realizada por Freitas
[1], como dissertação de mestrado, sobre
conhecimentos, opiniões e atitudes de diretores
administrativos, médicos, enfermeiros e auxiliares
de enfermagem com exercício profissional em
maternidades e em unidades neonatológicas e
obstétricas de um grupo de hospitais do município
do Rio de Janeiro – RJ e do município de São Paulo
– SP, a respeito do Programa de Seleção
Populacional de Recém-Nascidos com
Fenilcetonúria e Hipotireoidismo Congênito.
Segundo a autora, os objetivos que a levaram
a essa pesquisa foram:
• divulgar os conhecimentos obtidos;
• suscitar o debate entre os profissionais com
interesse na área;
• contribuir para a implementação do
programa nas maternidades e hospitais com
unidades neonatológicas e obstétricas do Brasil.
Ao selecionar os estabelecimentos a serem
pesquisados, adotou-se a técnica do sorteio, donde
se pôde observar como característica comum, todos
pertencerem à classe “Instituição de Ensino”.
Foi focalizada a proposta de prevenção através
de detecção precoce em massa, da deficiência mental
para diagnóstico de Fenilcetonúria e Hipotireoidismo
Congênito com finalidade precípua de assessorar o
lactente para o seu bom desenvolvimento físico,
neurológico, psicológico e intelectual, permitindo
assim, que a criança cresça e desenvolva, normal e
sadiamente, conforme preconiza o Segundo
Princípio da Declaração dos Direitos da Criança
[2], realizando o teste do pezinho que consiste na
punção do calcanhar para obtenção de amostras de
sangue colhidas em papel de filtro, após 48 horas
do nascimento da criança. É fundamental que ela
tenha recebido o leite materno. Entretanto, há casos
especiais, em que a criança está sob dieta parenteral,
isto é, rica em aminoácidos essenciais e que poderão
ser puncionadas para realização do teste.
A assistência de enfermagem se baseia na
premissa de que o propósito desta assistência é
promover o mais elevado estado de saúde possível a
cada criança, uma vez que saúde tem sido definida
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como “um
estado de completo bem estar físico, mental e social e,
não, meramente, a ausência de doença”. Isto implica
que a enfermagem envolvida em todos os aspectos
do crescimento e desenvolvimento da criança e, como
enfermeira pediatra, atuante no âmbito da Pediatria
Social, não poderia deixar passar a oportunidade de
investigar tal assunto, pois as modificações nos padrões
de assistência a infância é uma constante preocupação
para aqueles que trabalham nesse campo.
Revisão de literatura
As doenças metabólicas hereditárias
começaram a ser descritas em 1908 por Sir
Archibald Garrod [3]; foram identificados novos
quadros patológicos, graças ao avanço tecnológico,
sobretudo nas áreas de genética e bioquímica.
A maior parte dos Erros Inatos do
Metabolismo (EIM) é causada pela deficiência ou
!
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ausência de uma enzima e as manifestações clínicas
determinadas variam e, a sua gravidade, está
relacionada à deficiência da substância em questão.
Dentre os EIM estão a fenilcetonúria e o
hipotireoidismo congênito.
Fenilcetonúria
A Fenilcetonúria, também chamada oligofrenia
fenilpirúvica, foi uma das primeiras anormalidades
metabólicas a ser estabelecida como causa de
deficiência mental, sendo descoberta por Fölling [4].
É a aminoacidopatia mais comum, de herança
autossômica recessiva, causada por diminuição ou
ausência de enzima fenilalanina-hidroxilase, esta
enzima catalisa a hidroxilação da fenilalanina em
tirosina. Como conseqüência deste defeito
metabólico, ocorre um acúmulo de fenilalanina e
vários outros metabólitos - ácido fenilpirúvico, ácido
fenilático e ácido fenilacético, assim como do ácido
fenilglutamino. O bloqueio metabólico foi admitido
por Jervis [3,4], que demonstrou, em 1953 ser inativa
a fenilalanina-hidroxilase do fígado dos pacientes
fenilcetonúricos [3-5].
O aspecto dominante da doença é a deficiência
mental que é determinada pela quantidade excessiva
de fenilalanina e/ou seus metabólitos. A maior parte
apresenta alterações neurológicas como a
hipertonicidade, comportamento agitado, tremores,
alterações eletroencefalográficas, eczema,
irritabilidade e um “cheiro de mofo” na urina. Em
1954, Bickel et al. [6], demonstraram que uma dieta
pobre em fenilalanina, iniciada nos primeiros meses
de vida, prevenia a grave conseqüência da
enfermidade que é o retardo mental profundo, sendo
comprovado por Armstrong et al. [6] em 1955. Essas
possibilidades terapêuticas influenciaram no campo
de pesquisa, sendo proposto por Guthrie [6] o exame
em nível populacional em berçários [6]. A assistência
a criança e sua família devem ser feitas por uma equipe
através de controle periódico. A dieta com baixo teor
de fenilalanina deve ser iniciada precocemente,
visando ao bom desenvolvimento do bebê.
Todo esclarecimento deve ser feito aos
familiares, enfatizando os benefícios do tratamento
dietético e sua relação com o sucesso terapêutico.
Hipotireoidismo congênito
O hormônio tireoidiano é de grande
importância para o crescimento e desenvolvimento
da criança, sendo imperativo o diagnóstico precoce
de hipotireoidismo congênito, já que o atraso no
diagnóstico pode causar danos irreversíveis à
estruturação do sistema nervoso e ao desenvolvimento mental.
Foi em 1850 que Curling [7] descreveu pela
primeira vez dois casos os quais ele denominou de
cretinismo, sendo um de 10 anos e outro de 6 meses,
cujas necropsias demonstraram não possuir tecido
tireoidiano. Em 1871, Fagge [7] descreveu quatro
pacientes com cretinismo esporádico os quais não
apresentavam bócio.
Eyars [8] e Pickering & Fisher [8] relataram a
importância do hormônio tireoidiano, essencial ao
desenvolvimento e crescimento normal do cérebro,
evidenciando que o tratamento precoce do hipotireoidismo pode prevenir as deficiências neurológica
e mental, secundárias à carência deste hormônio.
Na etapa neonatal, sem dúvida, os sinais
clínicos são poucos e inespecíficos [9].
Nos bebês, são necessários suprimentos
adequados de hormônio tireoidiano para o
desenvolvimento do sistema nervoso central,
crescimento e maturação dos ossos [10].
Como há dificuldade de proceder ao
diagnóstico clínico antes dos 3 meses de idade,
ocasião em que já ocorreu prejuízo irreversível, fazse necessária a realização do exame, pois, como a
fenilcetonúria, a criança nasce com a aparência
normal, só passando a apresentar os sintomas a
partir do 4.º mês ou do 6.º mês de vida, caminhando,
a partir daí, para a deficiência mental. Ambas as
doenças são dificilmente diagnosticadas
clinicamente em tempo hábil, exigindo a intervenção
de meios laboratoriais [11].
Um pouco da história do Teste do Pezinho
Nos Estados Unidos, os exames à procura de
desordens metabólicas em recém-nascidos, datam
de 1962 e representam, comprovadamente meios
extremamente valiosos na prevenção do retardo
mental [12]. Esses exames foram idealizados por
Guthrie [6] e compreendem técnicas bacteriológicas.
No Brasil, no Centro de Habilitação da
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
(APAE) de São Paulo, Schmidt et al. [13]
introduziram em 1975, a técnica efetuada por
espectrofotofluorômetro auto-analisador que utiliza
amostra de sangue seco, sendo esta mais acurada
do que a bacteriológica, por ser mais sensível.
!
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Apesar de tudo isto, os exames eram realizados
em apenas uma pequena parte da população e, a
pesquisa realizada por Freitas [1] demonstrou o
desconhecimento de 62% dos profissionais
pesquisados na cidade do Rio de Janeiro e 53,8%
dos de São Paulo.
Os resultados da pesquisa aqui referida, por
meio de correspondência enviada à autora por
Nérici, chamada de “Pesquisa relacionada com a
realidade”, foram apresentados pela pesquisadora, em
entrevista a convite, no programa Fantástico da Rede
Globo de Televisão, em 2 de março de 1986,
coincidentemente, sendo uma das conclusões do
trabalho, a afirmação da população pesquisada de
que medidas deveriam ser postas em prática no
sentido de haver divulgação constante por meios
de comunicação, alertando não só a equipe que
assiste o recém-nascido, como também a população
em geral, no intuito de que ela mesma fiscalize e
apóie a realização do exame, pois a família,
conhecendo o problema, desempenhará um
importante papel no trabalho de prevenção da
deficiência mental causada por Fenilcetonúria e
Hipotireoidismo Congênito.
Com a apresentação desses resultados, no
programa seguinte, ou seja, em 9 de março de 1986,
em entrevista àquela Rede, o Exmo. Sr. Ministro da
Saúde determinou que em todas as maternidades
do Brasil fossem realizados os exames sendo, mais
tarde, tal obrigatoriedade contemplada no Artigo
10, Inciso III, da Lei 8069, de 13 de julho de 1990,
que regulamenta o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) [2], demonstrando a
preocupação governamental em impulsionar o
desenvolvimento da Nação, cujo futuro está na
criança que acaba de nascer. Tal preocupação tem
sido e deve ser mantida, não só pelo mais alto
governante, como também, por todos os envolvidos
nos modelos de assistência a criança, vez que os
gastos destinados a garantir uma infância sadia são
investimentos solidamente lucrativos.
A Portaria GM/MS nº. 22, de 15/01/92, trata
do Programa de Diagnóstico Precoce do
Hipotereoidismo Congênito e da Fenilcetonúria.
A Portaria GM/MS nº. 822, de 06/01/01,
amplia as redes de Triagem Neonatal, instituindo
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o
Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN)
e determina a responsabilidade do Programa ao
Serviço de Referência de Triagem Neonatal (SRTN).
A Portaria nº. 389, de 10/06/02, cria
mecanismos necessários ao acesso dos pacientes
usuários do SUS aos complementos alimentares
para fenicetonúricos e a Portaria nº. 847, de 31/
10/02, estabelece o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas para Fenilcetonúria.
A Portaria nº. 872, de 12/011/02, determina
o Protocolo Único de Diretrizes Terapêuticas para
Doença Falciforme.
O Brasil é um país de grandes contrastes,
causados por uma variedade de fatores, destacandose a expansão territorial. As populações das regiões
próximas às grandes capitais têm maiores
oportunidades de receberem atenção de saúde
necessária. Daí a importância dos exames serem
realizados em massa, controlando, assim, as
enfermidades e melhorando a qualidade de vida de
todas as crianças brasileiras.
E, como vemos, foi a partir de 1986, com a
divulgação dos resultados da pesquisa que o exame
tornou-se popularmente conhecido como Teste do
Pezinho, suscitando o debate entre os profissionais
pelo alerta, contribuindo, sobremaneira, para a sua
implantação gradativa nas maternidades e hospitais
com unidades neonatológicas e obstétricas,
garantindo o cumprimento do Segundo Princípio
da Declaração dos Direitos da Criança e do
Dispositivo Legal do ECA.
Sem dúvida, esse fato representa um marco
expressivo, não só na História da Enfermagem
Preventiva no Brasil [14], assim como na divulgação
do exame com a nominação Teste do Pezinho,
objetivando com esta expressão de fácil
entendimento e assimilação, atingir a população,
refletindo numa maior conscientização das graves
conseqüências deixadas pelas entidades mórbidas
quando não diagnosticadas precocemente e, por isso
mesmo, levando esta população a se interessar por
procurar, em tempo hábil o diagnóstico e o
adequado tratamento.
Estudo de caso
A idéia de se realizar a pesquisa referida
anteriormente, foi em decorrência da problemática
apresentada por G.C.F., não diagnosticada, em
tempo hábil, em relação à Fenilcetonúria,
acarretando sobre seu desenvolvimento global,
efeitos verdadeiramente devastadores.
Vejamos o relato dos pais de G.C.F.:
“Nascida em 27/06/70, em Niterói – RJ,
G.C.F. é a terceira filha do casal que se encontrava
!!
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na faixa etária entre 24 e 28 anos. Os outros dois
filhos são normais. A gravidez transcorreu
normalmente, conforme as outras, sendo realizado
o pré-natal desde o início. O bebê nasceu a termo,
com peso de 3.470 gramas, numa cesariana, com
boa sucção, tendo alta da maternidade junto com a
mãe no terceiro dia de seu nascimento.
Nos primeiros dois meses parecia ser
perfeitamente normal. Depois, se começou a
obser var a diminuição de interação social,
respondendo pouco aos estímulos ambientais,
chegando, na família, a se pensar em “cegueira” ou
“surdez”. Aqui se deu o início de sua via crucis.
Acompanhada por especialistas, não se
chegava a um diagnóstico definitivo. Sua urina
apresentava odor forte. Seus padrões posturais e
locomotores passaram por organização lenta e
imperfeita. Sentou-se, com apoio, em torno de oito
meses; tônus dos braços, tronco e pernas
aumentado, não rolando da posição supina para a
prona; andou aos 22 meses. Era difícil despertarlhe a atenção e o seu interesse era fugidio e variável.
Não se interessava por brinquedos próprios da idade
e quando os aceitava, tais objetos eram retidos com
preensão reflexa exagerada, sem manipulação ou
exploração. A fisioterapia era realizada
regularmente. Demonstrava gostar de música e,
permanecia, durante muito tempo, próxima ao
aparelho de som ouvindo e “cantarolando” (ummm,
ummm, ummm...), acompanhando toda a música.
Vocalizava mal as palavras mãe e pai, com som
demorado, arrastado e pouco compreensível. Ao
demonstrar interesse em sair de casa, vocalizava
“kikiá”, significando passear. Por volta dos três anos
gostava de brincar sozinha, com uma bola, fazendo
movimentos rotativo-repetitivos, os quais
permanecem até hoje. Também, com muita
habilidade, rodava qualquer tampinha, olhando-a
divertida e encantadamente.
Ao ser estimulada a brincar com outras
crianças, o fazia com ajuda do adulto, entretanto,
permanecia por algum tempo, demonstrando
satisfação, vocalizando sempre a mesma cantiga de
roda. Quando parada, sentava-se ao chão e se
movimentava para frente e para trás. O progresso
no seu desenvolvimento era lento. Ao ser tocada
ou quando lhe dirigiam a fala, sorria vagamente.
Aos quatro anos de idade, ou seja, em 1974,
fora sugerido a seus pais que se levantasse junto ao
médico assistente, a hipótese de Fenilcetonúria,
embora quem fizera a sugestão não soubesse os
meios de diagnóstico, pois só havia lido sobre a
doença, num livro de genética, onde continham
poucas informações descritas, tais como: os sinais
pele clara, cabelos muito claros, olhos claros, urina
com odor forte e deficiência mental”.
Permitam-me a colocação:
- Quem fizera a sugestão supracitada fora a
própria deste trabalho, ao ingressar na Faculdade
de Enfermagem da Universidade Federal
Fluminense, 1974.
“Tal hipótese, por incrível que pareça, fora
afastada pelos especialistas consultados
que alegaram não ter convulsão a paciente. Os pais
continuavam, incessantemente, em busca de uma
definição do caso dessa filha: loirinha, pele clara,
fisicamente forte e saudável. Sem êxito, mas com
todo empenho, iam fazendo tudo que lhes era
indicado pelos médicos assistentes. Em 1981, tendo,
portanto a criança, onze anos de idade, automutilando-se no rosto, cotovelos e mãos, o médico
assistente, objetivando diminuir sua autoagressividade, alegando não haver medicamentos
mais eficazes, encaminhou-a a um neurocirurgião
do Rio de Janeiro, onde, em 9 de outubro de 1981,
fora submetida à cirurgia estereotáxica hipotalamotomia
posterior bilateral, o que lhe acarretou graves
conseqüências: controle desorganizado do
movimento, refletindo na postura, locomoção,
ajustamentos manuais, deglutição, respiração,
articulação, parando de cantarolar e vocalizar
qualquer som.
Aos 13 anos (1983) aparecera, finalmente, a
possibilidade de diagnóstico, quando Freitas [15],
como aluna de mestrado, em visita à Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São
Paulo teve a oportunidade de estudar sobre a
doença, meios de diagnóstico, sugerindo aos pais,
mais uma vez, o encaminhamento de G.C.F. para
constatação da Fenilcetonúria, agora os pais com a
certeza da realidade, o que se deu em 25 de
novembro de 1983, cujo laudo foi: aumento acentuado
de fenilalanina no sangue e na urina.
Os pais têm envidado esforços contínuos no
sentido de minorar sua clínica, mas a marca principal
da doença já estava instalada: deficiência mental
profunda.
Recebe alimentação pobre em fenilalanina,
continua a fisioterapia regularmente, freqüenta uma
escola para crianças especiais, demonstrando muita
!"
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satisfação ao ser vestida e ser conduzida de casa à
escola. Com a dieta, foi observada uma melhora nos
seus sinais e sintomas, já vocalizando algum som
(mmãããããããããe).
Solicita, tanto do pai, quanto da mãe, exagerada
atenção e, somente interage com maior disciplina com
a trabalhadora da casa, há muitos anos (um misto de
babá-governanta-amiga), de maneira quase idêntica
com o comportamento manifestado na escola.
Por volta dos 30 anos apresentou catarata no
olho direito, não sendo indicada, pelo médico, a
cirurgia, o qual alegou a dificuldade no pósoperatório diante do problema que apresenta
G.C.F”.
Objetivando salvar as crianças dos efeitos
deixados por esta doença, Freitas [1] procurou saber
o porquê de tais exames não serem realizados, uma
vez que o aparelho estava instalado na APAE-SP e
que se podia rastrear, a nível nacional, sendo esta a
motivação maior do trabalho que deu origem à
denominação Teste do Pezinho, e, G.C.F., a criança
já lesada, naquele momento, na sua inocência, se inscrevia
como uma benfeitora da humanidade, e, hoje, por causa
de tudo isto, várias crianças estão livres, podendo
desfrutar de tudo que a vida lhes oferece.
O papel do enfermeiro no Teste do Pezinho
A assistência da enfermagem ao recém-nascido
tem início na fase pré-concepcional, atravessa os
períodos do pré-natal e do parto e concretiza-se,
efetivamente, no período neonatal.
Essa trajetória de responsabilidades e funções
faz do enfermeiro um elemento importante na
equipe de saúde que propicia programas educativos
para as famílias, objetivando o nascimento de uma
criança sadia e a manutenção deste estado de higidez.
O recém-nascido traz marcas de sua
constituição genética que lhe dão características
próprias e como bem descrevem Fontes & Bensabath
[16], “ele é um manancial informativo; um festival
de peculiaridades cujo diagnóstico de normalidade
não se fundamenta, unicamente, na avaliação física,
embora esta seja, altamente, relevante; firma-se
através de cuidadosa anamnese, com observação
acuradíssima da sua evolução; transpõe o tempo: é
passado, no histórico apreendido (anamnese); é
presente, no exame físico realizado; é futuro, pois
necessita de outras avaliações. O recém-nascido é
uma caixa de segredos; cabe conhecê-lo bem, para
protegê-lo mais e agredi-lo menos”.
Hoje, a assistência neonatal acompanha as
tendências atuais de prevenção e promoção de
saúde. Deste modo, os profissionais atuam usando
de senso crítico de avaliação e controle das
necessidades de cada caso, especificamente.
Observa-se também o avanço nas áreas da
eletrônica, bioquímica, etc. e isto assegura um
controle eficaz aos problemas do neonato.
O enfermeiro pediatra, empenhado na
assistência preventiva, vem desenvolvendo suas
ações de forma a proporcionar ao recém-nascido o
crescimento e desenvolvimento normais,
assegurando-lhe a integridade do funcionamento
dos órgãos e sistemas, bem como o desenvolvimento de todas as potencialidades, considerandoo como um universo próprio, membro de uma
família que vive numa comunidade. Necessária se
faz a sabedoria do enfermeiro para saber escutar,
compreender, ensinar, orientar e apoiar os pais
como as variáveis primárias na vida de seu filho,
humanizando, ao máximo, todos os contatos
enfermeiro-família para atingir, num rapport
altamente gratificante e de segurança, os resultados
positivos buscados.
Portanto o enfermeiro pediatra deve estar
atento a todo e qualquer risco que venha a
comprometer o processo de crescimento e
desenvolvimento da criança. Um dos cuidados é o
Teste do Pezinho. Toda a família estará envolvida
na colheita da amostra do sangue do bebê. Está o
enfermeiro muito capacitado para relacionar-se com
os pais e o bebê, satisfazendo-lhes em suas
necessidades, dispensando-lhes apoio, orientação
preventiva influenciando, assim, no futuro físico,
emocional e intelectual da criança. Devemos
respeitá-la como pessoa que é, não lhe impondo,
súbita e agressivamente o seu “novo mundo”,
realizando técnicas dolorosas sem preparo
psicológico. É necessário entender que o bebê
precisa ser acariciado, tocado neste momento. Ele
quer aconchego e embalo. Os pais ficam muito
ansiosos em relação a alguns procedimentos com
seu filho e, quanto ao Teste do Pezinho, o enfermeiro
deverá dispensar-lhes cuidados especializados antes,
durante e após o procedimento.
No momento da acolhida do bebê para a
punção do calcanhar, a atitude do enfermeiro
pediatra deverá ser “liberta, inocente, apaixonada,
isenta de angústia e de pressa; não cabe a pressa
diante deste instante tão necessário!”. Deixemos o
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bebê no colo da mãe e acompanhado do pai. Esse
trio é inseparável no momento. Assim, ao terminar
o procedimento, o bebê será acalentado,
contactando a pele e o seio da mãe, emitindo sons
e movimentos de conforto e carinho oferecidos pelo
pai. Há um relaxamento geral: pai-mãe-bebê,
fazendo reencontrar o estado anterior já tão familiar.
7.
8.
9.
Referências
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recém-nascidos com fenilcetonúria e/ou
hipotireoidismo congênito – conhecimentos, opiniões
e atitudes de enfermeiros, médicos e auxiliares de
enfermagem e diretores de hospitais e maternidades
dos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro.
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do Adolescente; 1990. [Lei 8.069]. [Publicado 1990;
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!$
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Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão
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A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals,
N Engl J Med. 1997;336(4):309-315) preconizado pelo Comitê
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
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em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), http://
www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001.
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eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica
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2. Artigos originais
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apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a
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descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura
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Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12
páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman)
tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve
ultrapassar 25.000/30.000 caracteres, inclusos espaçamentos.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no
formato Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse
profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade
literária do texto.
3. Revisão
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas
relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir,
analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já
publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do
trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais.
4. Atualização
São trabalhos que relatam informações geralmente
atuais sobre tema de interesse dos profissionais de
Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que
têm características distintas de um artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigos dados descritivos de um ou mais casos
explorando um método ou problema através de exemplo.
Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação
de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos,
com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista,
com condições de argumentação mais extensa que na seção
de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três
páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho
12, com todas as formatações de texto, tais como negrito,
itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel
e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam
ser editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15
referências bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e
artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo
do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de
outros idiomas.
8.Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam
relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada
ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas
ou figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word), em página de formato A4,
formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman,
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
negrito, itálico, sobrescrito, etc.
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1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas
para cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo
com as especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais
coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300
dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos
formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão,
conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela
tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também
das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética
(disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com
etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e
autor, incluir informação dos arquivos, tais como o
processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação
curricular e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência,
com o respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40
toques, para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3.Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem
ter participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a
redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de
pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras
para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de
maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão
utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores
em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se
encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br.
Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final
do artigo, antes as referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo
Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor,
letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto,
In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do
livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e
vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplos:
Livro:
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and
management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s)
autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem
espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista
ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do
volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação
List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das
revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de
Saúde (http://www.bireme.br). Devem ser citados todos
os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a
abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression
and localization of urokinase-type plasminogen activator
receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
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Atlantica Editora
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238
30/08/04, 19:04
Calendário de eventos
2004
Setembro
9 a 11 de setembro
Congresso Interdisciplinar de Assistência Domiciliar
Centro de Convenções Rebouças – SP
Informações: (11) 3670-3499
www.ciad.com.br
18 a 19 de setembro
Enfermagem Psiquiátrica: a individualização
do cuidado
São Paulo – SP
Informações: (11) 3253-5022 – ramal: 1104
E-mail: educaçã[email protected]
19 a 22 de setembro
I Congresso Internacional de Enfermagem em
Emergência e Medicina Crítica
III Congresso Internacional de Urgência, Emergência
e Medicina Intensiva
Havana – Cuba
Informações: (11) 3257-4386
22 a 25 de setembro
6º Congresso Brasileiro de Dor
Florianópolis – SC
Informações: (41) 3029-9824
www.dor.org.br
24 a 26 de setembro
I Encontro de Enfermagem em Terapia Intensiva
Maksoud Plaza – SP
Informações: www.sopati.com.br/scripts/curso2.html
28 de setembro a 1 de outubro
II Encontro de Professores e Pesquisadores de História
da Enfermagem no Rio de Janeiro
II Mostra da Produção Científica de História da
Enfermagem do Rio de Janeiro
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto
Informações: (21) 8154-1485 / (21) 8858-7728
11 a 15 de outubro de 2004
7º CBCENF - Conselho Brasileiro dos Conselhos
de Enfermagem
Fortaleza – CE
Informações: 0800-2800065
www.cbcenf.com.br
14 e 15 outubro
II Congresso Internacional de Enfermagem
em Dermatologia
Informações: (11) 3726-4420
www.ellusaude.com.br
23 de outubro
IV Fórum de Gestores de Enfermagem
Hospital Samaritano – SP
Informações: [email protected]
24 a 29 de outubro
56º CBEn – Congresso Brasileiro de Enfermagem
ExpoGramado – RS
Informações: (51) 3226-3111
www.officemarketing.com.br/enfermagem/
28 a 30 de outubro
5º Congreso Nacional de la AEC Enfermería
Comunitaria “La Medida del Cuidado”
Balneario de Archena – Murcia
Informações: [email protected]
www.enfermeriacomunitaria.org
2005
Janeiro
25 a 27 de janeiro
OHS 2005 – International Conference
on Occupational Health Services
Marina Congress Center – Finland
Informações: +358 9 4747-2910
www.ttl.fi/osh2005
Outubro
5 a 8 de outubro
XII Conferência Bienal do Grupo de Trabalho dos
Enfermeiros Investigadores Europeus
Lisboa – Portugal
Informações: (11) 3259-7874
www.astreaturismo.com.br
Normas de publicação + Eventos.pmd
239
Junho
4 a 7 de junho
IV Congresso Nacional de Enfermeiros
Hospital das Clínicas – SP
Informações: expansã[email protected]
30/08/04, 19:04
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Índice
Volume 3 número 5 - Setembro / Outubro de 2004
EDITORIAL
Assistência de enfermagem – relatos de experiências e prevenção
Os Editores ................................................................................................................................................................... 243
ARTIGOS ORIGINAIS
Diagnósticos de enfermagem identificados em portadores de HIV/AIDS internados
em um hospital de referência da cidade de Recife-PE, Nayana Vieira Barros,
Rejane Haideé Borges de Freitas, Tâmara Kelly de Souza Modesto ................................................................ 244
Elaboração de um protocolo para prevenção de úlcera por pressão numa Unidade de Terapia
Intensiva em um hospital do Estado de São Paulo, Geraldo Magela Salomé,
Ivaneide Azevedo Assumção, Luzicleide Freire dos Santos ................................................................................ 253
A reação orgânica à irradiação das mãos – Criando bases para a ciência do cuidado
de enfermagem, Maria Aparecida de Luca Nascimento, Raquel Nunes da Silva,
Marcio Martins da Costa ............................................................................................................................................ 258
Cuidados de enfermagem no período pós-operatório de cirurgia cardíaca, Carlos Eduardo Peres
Sampaio, Bárbara Aparecida Matos Silva, Maria Salomé Cristiane Bedendo Rodrigues,
Miria Rejane Soares Coelho, Rosangela Ribeiro Murucci Ferreira ..................................................................... 263
Estratégias de enfermagem para prevenção de traumas automobilísticos, Aldir da Silva Junior,
Maria José Coelho........................................................................................................................................................ 270
Um enfoque prático para a gestão de materiais com consciência e qualidade,
Margarete Maria de Lima ........................................................................................................................................... 276
REVISÕES
Aspectos jurídicos da responsabilidade civil do enfermeiro em unidades de emergência,
Álvaro Alberto de Bittencourt Vieira, Nébia Maria Almeida de Figueiredo,
Isaura Setenta Porto ..................................................................................................................................................... 282
Causas de abandono do tratamento da tuberculose, Mari Dalva Cortezi............................................... 290
Aleitamento materno na formação do vínculo afetivo mãe-filho,
Ana Cláudia Santos da Silva, Maria da Glória Lima e Silva ................................................................................ 294
NORMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................................... 298
CALENDÁRIO DE EVENTOS ................................................................................................... 300
241
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
EDITOR CIENTÍFICO - PRESIDENTE DO CONSELHO CIENTÍFICO (2003-2004)
Profa. Dra. Maria da Graça Piva (ULBRA -RS)
CONSELHO CIENTÍFICO
Profa. Dra. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UniRio – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Clarice Heiko Muramatsu (USP – São Paulo)
Profa. Dra. Márcia Maria Fontão Zago (USP – Ribeirão Preto)
a
Prof . Dra. Margarete Rego (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento (UniRio – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS – Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery – UFRJ – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Rita de Cássia Tapié Martins (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB – Paraíba)
Profa. Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP – Ribeirão Preto)
Profa. Dra. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP – São José do Rio Preto – São Paulo)
GRUPO DE ASSESSORES
a
Prof Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF – Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Dulce Dirclair Huf (UFMS – Mato Grosso do Sul)
Profa Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul)
Profa Ms. Hortência Maria de Santana (Sergipe)
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242
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Editorial
Assistência de enfermagem – rrelatos
elatos de
experiências e pr
evenção
prevenção
Os Editores
Neste número, apresentamos artigos originais
como os diagnósticos de enfermagem identificados em pacientes portadores de HIV realizado
pelas pesquisadoras Nayana Vieira Barros, Rejane
Haideé Borges de Freitas e Tâmara Kelly de Souza
Modesto, que tiveram como objetivo identificar
o perfil sócio-demográfico da população pesquisada, elaborar e analisar lista dos diagnósticos de
enfermagem a partir de dados coletados através
de questionário, assim direcionando, melhorando
o atendimento, contribuindo para a construção do
conhecimento e engrandecimento da enfermagem.
No artigo de Geraldo Magela Salomé,
Ivaneide Azevedo Assumção e Luzicleide Freire
dos Santos, temos um relato de experiência de
um grupo de enfermeiros que trabalham em uma
Unidade de Terapia Intensiva formulando um
protocolo para prevenção de úlcera por pressão
através de pesquisa com pacientes, reuniões e
levantamento bibliográfico, tendo como resultado
um instrumento prático e objetivo do trabalho
cotidiano da enfermagem para planejar ações
especificas e como produto final a melhoria de
qualidade da assistência integral de enfermagem
prestado aos nossos pacientes.
Em um grande estudo experimental
realizado pelos pesquisadores Maria Aparecida de
Luca Nascimento, Raquel Nunes da Silva e Marcio
Martins da Costa que demonstra que as mãos que
cuidam e tratam, e que são os instrumentos de
trabalho da equipe de enfermagem, interferem
diretamente no resultado final do cuidado prestado.
Em um outro artigo original, Carlos
Eduardo Peres Sampaio, Bárbara Aparecida
Matos Silva, Maria Salomé Cristiane Bedendo
Rodrigues, Miria Rejane Soares Coelho e
Rosangela Ribeiro Murucci Ferreira tem como
interesse promover alívio, conforto aos pacientes
pós-operados em cirurgia cardíaca e bom
relacionamento entre a equipe multiprofissional
para dar uma boa assistência a esses pacientes,
que na maioria dos casos não são orientados
sobre os cuidados pré-operatórios.
A prevenção de traumas automobilísticos
com enfoque na visão do enfermeiro da assistência
pré-hospitalar acerca da relevância dos itens de
segurança necessários aos automóveis no intuito
de minimizar o trauma sofrido, realizado pelos
pesquisadores Aldir da Silva Junior e Maria José
Coelho que demonstram a importância de discutir
estratégias para prevenção e a importância do
profissional em fornecer a orientação e a inspiração
para assegurar o sucesso de campanhas de prevenção bem planejadas e de caráter renovador.
Na revisão de Álvaro Alberto de Bittencourt
Vieira, Nébia Maria Almeida de Figueiredo e
Isaura Setenta Porto, compartilhamos sobre a
teoria das responsabilidades subjetiva e objetiva,
de modo a alertar o enfermeiro no exercício
profissional caso venha cometer um dano e lhe
seja imputada a obrigação indenizatória e como
o código de ética deve estar ao alcance de todos
enfermeiros em exercício.
Mari Dalva Cortezi relata em seu estudo os
fatores relacionados ao abandono de tratamento
de tuberculose, demonstrando como é inadiável
uma séria reflexão dos profissionais de saúde,
sobre os motivos que levam o paciente a
abandonar o tratamento. Conhecer os motivos
poderá permitir ao profissional de saúde conduzir
melhor o tratamento e diminuir o número de
casos de abandono de tratamento na população.
E finalizamos com uma revisão sobre a
importância do vínculo afetivo no binômio mãefilho, através da proximidade física e emocional
estabelecida pela amamentação. As autoras Ana
Cláudia Santos da Silva e Maria da Glória Lima
e Silva enfatizam o aleitamento materno devido
aos seus benefícios fisiológicos, psicológicos,
sociais e afetivos para as crianças, pais e famílias.
243
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Artigo original
Diagnósticos de enfermagem identificados
em portador
es de HIV/AIDS internados
portadores
em um hospital de rreferência
eferência da cidade
de R
ecife-PE
Recife-PE
Nayana Vieira Barros*, Rejane Haideé Borges de Freitas**, Tâmara Kelly de Souza Modesto***
*Enfermeira graduada pela UFPE, **Pós-graduanda em Saúde Pública pela UNICSUL, enfermeira do PSF de Picos-PI, enfermeira do IMIPPE,***Enfermeira do PSF de Granito-PE
Resumo
Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, de análise quantitativa, com os objetivos de elaborar e analisar lista dos
diagnósticos de enfermagem identificados em portadores de HIV/AIDS internados em um hospital de referência da
cidade de Recife-PE e identificar o perfil sócio-demográfico da população pesquisada. A amostra foi composta por
pacientes internados durante a 2ª quinzena do mês de novembro de 2003. Os dados foram coletados através do
preenchimento de um questionário resultante de entrevista face-a-face, exame físico e observação clínica dos clientes.
Constatou-se 28 diagnósticos de enfermagem os quais estão apresentados segundo critérios de padrões de resposta
humana propostos pela North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). A identificação desses diagnósticos
específicos é de suma importância tendo em vista que através deles há possibilidade de traçar um plano de intervenções
o mais preciso possível, direcionando o tratamento e assim atendendo melhor às necessidades do cliente e contribui
acima de tudo para a construção do conhecimento e engrandecimento da enfermagem.
Palavras-chaves: AIDS, diagnósticos de enfermagem, prevenção.
Abstract
Nursing diagnosis identified in HIV/AIDS patients in a hospital of Recife
city
This is a descriptive and exploratory study and quantitative analysis, with the aims of elaborating and analyzing the list of
nursing diagnosis identified in HIV/AIDS patients interned in a hospital of Recife city and to identify the socio-demographic
profile of the researched population. The sample was composed by patients interned during the 2nd fortnight of November
Artigo recebido em 19 de julho de 2004; aceito em 1 de setembro de 2004.
Endereço para correspondência: Nayana Vieira Barros, Rua Landri-Sales, 203 São José
64600-000 Picos PI, Tel: (89) 422-3066, E-mail: [email protected]
244
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
2003.The data were collected by filling out a questionnaire regarding a face-to-face interview, physical exam and clinical observation
of the clients. It was verified 28 nursing diagnoses which are presented according to standard criteria of human response
proposed by North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). The identification of these specific diagnoses is of
great importance since through them there is a possibility to outline precise interventions plan, pointing towards treatment and
so better attending client necessities and contributes above all to nursing construction of knowledge and enrichment.
Key-words: AIDS, nursing diagnosis, prevention.
Resumen
Diagnósticos de enfermería identificados en los portadores de HIV/SIDA
internados en un hospital de la ciudad de Recife
Se trata de un estudio descriptivo, exploratorio, de análisis cuantitativo, con los objetivos de elaborar y analizar lista de los
diagnósticos de enfermería identificados en portadores de HIV/SIDA internados en un hospital de la ciudad de Recife e
identificar el perfil socio-demográfico de la población pesquisada. La muestra fue compuesta por pacientes internados durante la
segunda quincena de Noviembre de 2003. Los datos fueron colectados a través de un cuestionario resultante de una encuesta caraa-cara, examen físico y observación clínica de los clientes. Se verificaron 28 diagnósticos de enfermería que se presentaron según el
criterio de modelos de respuesta humana propuesto por la Asociación de Diagnóstico de Enfermería Norteamericana (NANDA).
La identificación de esos diagnósticos específicos es de gran importancia teniendo en cuenta que a través de ellos hay posibilidad
de trazar un plan de intervenciones lo más preciso posible, orientando el tratamiento y así atendiendo mejor las necesidades del
cliente y contribuyendo para la construcción del conocimiento y engrandecimiento de enfermería.
Palabras-clave: SIDA, diagnóstico de enfermería, prevención.
Introdução
No mundo, a Aids constitui-se em um dos
problemas mais graves e urgentes de saúde pública,
com amplas dimensões sociais, culturais, econômicas,
políticas, éticas e legais. A doença tem gerado
grandes preocupações para a sociedade devido ao
crescente número de casos notificados de morbidade
e mortalidade em crianças, jovens e adultos [1].
Desde 1982, época em que foi identificada pela
primeira vez no Brasil, a Aids tem sofrido
importante mudança em seu perfil epidemiológico:
feminização (aumento de casos por exposição
heterossexual), pauperização (acometendo pessoas
de baixa escolaridade) e interiorização (grande
número de casos nas pequenas cidades do interior)
da epidemia, fato que leva a Organização Mundial
de Saúde (OMS) a considerar os jovens de todas as
idades, sexo, classe social, como seres que integram
um grupo prioritário para o desenvolvimento de
ações educativas e preventivas de saúde mediante a
propagação do HIV e Aids nessa faixa etária [2].
O vírus da imunodeficiência humana (HIV),
causador da Aids ou SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é, predominantemente, uma
infecção de pessoas jovens, com maior parte dos casos
envolvendo pessoas entre 17 e 55 anos de idade [3].
A Aids, como doença incurável até o presente
momento, exige cuidados específicos pelos quais se
pretende minimizar as dificuldades físicas e
emocionais que porventura o paciente apresente [3].
O diagnóstico de enfermagem enfatiza e
define as necessidades de enfermagem do cliente.
Ele reflete o nível de saúde ou a resposta do cliente
à doença ou ao processo patológico, um estado
emocional, um fenômeno sócio-cultural ou um
estágio do desenvolvimento [4].
O diagnóstico envolve o raciocínio complexo
dos dados reunidos sobre o cliente, os relatos
familiares e os de outros profissionais da saúde.
Esse raciocínio, combinado com as informações
relevantes depositadas na memória da enfermeira,
é usado para gerar possíveis explicações para os
dados [5].
245
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Através da formulação de diagnósticos de
enfermagem e do direcionamento das condutas, o
paciente HIV positivo poderá receber uma
assistência adequada às suas reais necessidades, “uma
vez que estes definem os problemas atuais ou
potenciais do seu estado de saúde” [4].
Objetivos
Tivemos como objetivos identificar o perfil
sócio-demográfico da população pesquisada e
elaborar e analisar lista dos diagnósticos de
enfermagem identificados em portadores de HIV/
AIDS internados.
Marco teórico
Idade adulta
É um período da vida que se subdivide em adulto
jovem e adulto médio. De acordo com Edelman e
Madle [4], “a idade adulta jovem é o período
compreendido entre o final da adolescência e o meio e
o final dos 30 anos e a fase adulta média começa por
volta da metade dos 30 anos e dura até os 60 anos”.
Os adultos jovens são geralmente muito ativos;
vivenciar uma doença grave é menos comum do que
entre as pessoas idosas; mas tendem a ignorar os
sintomas físicos e, geralmente, deixam para depois
procurar por cuidado de saúde. As características
físicas dos adultos jovens começam a mudar à medida
que a meia-idade se aproxima. A não ser que os clientes
tenham doenças, os achados do histórico são
geralmente dentro dos limites da normalidade [4].
Esse período caracteriza-se pelo pico do
desenvolvimento biológico, pela adoção de papéis
sociais importantes e pela evolução de um self e uma
estrutura de vida adulta [6].
Estágio de intimidade versus auto-absorção ou isolamento
de Erickson: o indivíduo que resolveu sua crise de
identidade não é amedrontado pela intimidade dos
relacionamentos que estabelece; já o indivíduo que
chega aí em estado de contínua confusão de papéis
é incapaz de estabelecer relacionamentos duradouros e intensos. Através da crise de intimidade
versus isolamento, o indivíduo vai além da exclusividade das dependências anteriores e estabelece uma
mutualidade com um grupo social mais extenso e
diversificado [6].
Sexualidade: segundo Haber [4], o desenvolvimento das características sexuais secundárias
246
ocorrem durante os anos da adolescência. O
desenvolvimento físico é acompanhado pela
capacidade de realizar atos sexuais. O adulto jovem
geralmente tem maturidade emocional para
completar a capacidade física e, desta forma, é capaz
de desenvolver relacionamentos mais maduros. Os
que não alcançam a tarefa do desenvolvimento da
integração pessoal podem, entretanto, desenvolver
relacionamentos superficiais e estereotipados.
Para Potter e Perry [4], “os fatores de risco
para a saúde do adulto jovem originam-se na
comunidade, de seu estilo de vida e história familiar.
Esses fatores de risco caem nas seguintes categorias”:
a) morte violenta ou trauma (maior causa de
morbi-mortalidade nessa faixa etária);
b) abuso de substâncias (contribui direta e
indiretamente para a morbi-mortalidade entre
adultos jovens);
c) gravidezes indesejadas (podem ter efeitos
físicos e emocionais de longa duração: afetar os
relacionamentos futuros e o relacionamento pais
e filhos; são uma fonte contínua de estresse);
d) doenças sexualmente transmissíveis (podem ter efeitos imediatos, levar a uma disfunção
crônica e até mesmo à morte);
e) fatores ambientais e ocupacionais (exposição às partículas transportadas pelo ar, que podem
causar doenças pulmonares e câncer).
Os adultos médios usam uma considerável energia
para adaptar o auto-conceito e a imagem corporal
às realidades fisiológicas e às mudanças na aparência
física. Uma alta auto-estima, uma imagem corporal
favorável e uma atitude positiva quanto às mudanças
corporais são favorecidas quando os adultos se
engajam em exercícios físicos, dietas balanceadas,
sono adequado e práticas de boa higiene que
promovam corpos vigorosos e saudáveis [4].
Suas preocupações fisiológicas incluem: estresse
(por estarem experimentando mudanças fisiológicas
e enfrentando realidades relacionadas à saúde),
doenças crônicas (que podem afetar os papéis e as
responsabilidades assumidas), necessidade de formar
hábitos de saúde positivos [4].
Nessa fase, algumas mulheres apresentam
ansiedade e depressão, conseqüentes da estrutura
da personalidade pré-menopausa. Nos homens não
existe uma demarcação muito nítida; contudo eles
devem adaptar-se ao declínio no funcionamento
biológico e no vigor físico em geral. Pode passar
por uma crise que pode levar ao alcoolismo ou
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
uso de drogas, depressão, mudanças no trabalho e
no relacionamento ou até mesmo mudanças para
um estilo de vida alternativo [6].
Sexualidade é uma importante questão nessa
fase. Pode haver declínio do funcionamento sexual.
Nos homens, o problema mais comum é o temor
e a realidade da impotência, cujas causas mais
comuns são: ingestão excessiva de álcool, drogas
(tranqüilizantes e antidepressivos) e estresse com
fadiga e ansiedade. As mulheres apresentam maior
capacidade para o orgasmo, mas são mais vulneráveis a baixas de auto-estima por perderem a
aparência jovem, valorizada pela sociedade atual.
Sentem-se menos desejáveis e menos capacitadas a
uma vida sexual adequada. A incapacidade de lidar
com essas mudanças corporais leva homens e
mulheres a submeterem-se a cirurgias estéticas para
manterem uma aparência jovem [6].
A idade adulta é um tempo de transições
contínuas, quando os indivíduos podem reavaliar
suas metas na vida e acrescentar novas metas [6].
Diagnóstico de enfermagem
O diagnóstico de enfermagem é um julgamento
clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou
da comunidade aos problemas de saúde/processos
vitais reais ou potenciais. O diagnóstico de
enfermagem proporciona a base para a seleção das
intervenções de enfermagem, visando ao alcance de
resultados pelos quais a enfermeira é responsável [5].
Diagnóstico de enfermagem é um termo que
descreve a resposta atual ou potencial do cliente a
um problema de saúde que o enfermeiro tem
competência técnica e legal para tratar. As respostas
atuais e potenciais do cliente são obtidas a partir
dos dados básicos do histórico, da revisão da
literatura pertinente, dos registros clínicos prévios
do cliente e da consulta com outros profissionais,
todos esses dados sendo coletados durante o
histórico. Por fim, as respostas atuais ou potenciais
do cliente exigem prescrições que sejam do âmbito
da prática de enfermagem [4,5].
Os agrupamentos de dados são constituídos
pelas características definidoras. As características
definidoras são critérios clínicos que apóiam
(validam) a presença do diagnóstico de enfermagem.
Os critérios clínicos são sinais e sintomas objetivos
ou subjetivos ou fatores de risco [4,7].
Vantagens dos diagnósticos de enfermagem,
segundo Gordon [4]:
• Facilitam a comunicação dos enfermeiros
sobre o nível de bem-estar do cliente;
• Ajudam no planejamento da alta;
• Ajudam a priorizar as necessidades do cliente;
• São utilizados para registro nas notas de
evolução, nos encaminhamentos por escritos e no
oferecimento de cuidados eficazes de transição de
uma unidade para outra;
• Podem servir enquanto foco para a melhoria da qualidade.
Material e métodos
Tipo de estudo
Tratou-se de um estudo descritivo, exploratório de análise quantitativa.
Descrição da área
O cenário foi um hospital público de referência
para as doenças infecto-contagiosas (HIV/AIDS e
meningite) da cidade de Recife-PE que oferece a
essa população o serviço de ambulatório e
internação. É classificado como hospital de médio
porte com um total de 50 leitos, sendo 30 destinados
a pacientes portadores de HIV/AIDS. A população
foi composta por pacientes internados, durante a
2ª quinzena do mês de novembro de 2003.
População e amostra
A amostra do tipo temporal foi definida de
acordo com os seguintes critérios: Idade entre 20
e 60 anos, clientes internados e diagnosticados com
HIV/AIDS e pacientes que concordassem em
participar do estudo.
Procedimentos
Foi utilizada a entrevista face-a-face mediante
um roteiro estruturado para coleta de dados, além
do exame físico e observação do cliente durante as
intervenções de enfermagem.
Instrumento de coleta de dados
A coleta de dados deu-se por meio de
observação, exame físico e do preenchimento de
um questionário, elaborado a partir dos objetivos
traçados, sendo composto por 18 questões das
quais foram abertas, fechadas e mistas.
247
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Risco/benefício
Este estudo não implicou em riscos para o
entrevistado, pois não envolveu nenhum procedimento invasivo e nem de caráter depreciativo de
sua imagem. O mesmo visou benefícios à população
adulta que teve acesso a informações sobre a
doença, vulnerabilidade ao vírus HIV e conheceu
as vantagens da formulação de diagnósticos de
enfermagem direcionados a pacientes portadores
de HIV/AIDS.
Aspectos éticos
De acordo com a resolução número 196/96,
do Conselho Nacional de Saúde, que trata da
condução de pesquisas envolvendo seres humanos,
o tipo de abordagem desenvolvida nesta pesquisa
se classifica como risco mínimo.
Resultados e discussão
Caracterização da amostra
A amostra foi composta por 17 pessoas
portadoras de HIV/AIDS, com idade variando
entre 26 e 56 anos. A maioria encontrava-se entre
30 e 40 anos, confirmando que a grande parte das
pessoas contraem o vírus HIV ainda na adolescência
ou na idade adulta jovem, devido ao crescente
aumento das DST’s no nosso meio pela precocidade
das relações sem preservativos, maior atividade
sexual nessa faixa etária e que estes só vêm a
manifestar a doença (AIDS) em média 10 anos após
a contaminação. Houve uma pequena predominância da população masculina no estudo (10
homens) em detrimento da feminina (7 mulheres),
o que ratifica uma das características da AIDS no
nosso país que é a feminização da epidemia.
Uma característica evidenciada foi a pauperização, demonstrada pelos dados de renda familiar
(9 pessoas recebiam até dois salários mínimos) e
escolaridade (10 deles não completaram o ensino
fundamental). Nove dos pacientes entrevistados
eram católicos, praticantes ou não, 6 eram
evangélicos e 2 não possuíam religião definida.
Com a descoberta da doença, é possível que muitos
se voltem contra Deus, podendo encarar a doença
como uma forma de castigo: outros se voltam para
a religião, pois a vê como a única forma de salvação
248
e esperam um milagre ou apenas conformação. Dez
pacientes da amostra eram solteiros, 5 encontravam-se separados de seus parceiros (alguns desde
que descobriram ser portadores de HIV/AIDS) e
2 eram casados; esses dois afirmaram que
mantinham relação sexual sem preservativo com
seus parceiros, pois os mesmos não acreditam que
seu cônjuge esteja contaminado, se negando
também a fazer o teste para detecção do HIV.
Apenas 3 pacientes da amostra tiveram
contato prévio com drogas ilícitas, exceto
injetáveis, embora sabemos que todos os tipos de
drogas ilícitas ou não, predispõem o indivíduo a
relações sexuais sem proteção. Destes, um usou
apenas uma vez por curiosidade, um usou algumas
vezes e o outro usou durante 12 anos.
A categoria de exposição predominante foi a
sexual (13 pessoas) mostrando que apesar das
inúmeras campanhas de alerta sobre as formas de
transmissão do HIV/AIDS e modos de prevenção,
as pessoas ainda mantém relações sexuais sem
proteção, pois acreditam que isso (AIDS) nunca vai
acontecer com elas, principalmente quando o
relacionamento do casal se prolonga, quando
acreditam que já se conhecem e confiam o suficiente
um no outro, os outros 4 ignoraram a forma de
contágio. Observou-se nos últimos anos uma
redução drástica da transmissão do HIV por
transfusão sanguínea devido à testagem sistemática
do sangue nos grandes centros urbanos. Houve
também uma redução da transmissão entre os
usuários de drogas, pela maior conscientização dessa
categoria sobre sua vulnerabilidade.A prática sexual
mais comum foi a heterossexual, o que confirma
uma das novas tendências a heterossexualização (10
eram heterossexuais) da doença, 1 entrevistado era
assintomático, 14 eram sintomáticos a mais ou
menos 10 anos e 3 era sintomático há mais de 10
anos, indicando assim um aumento da sobrevida
(envelhecimento da população) associado ao
tratamento correto da doença, controle da carga
viral e imunidade do paciente ótima. Até o
momento da entrevista a grande maioria (15)
afirmou não ter sofrido nenhum tipo de preconceito, uns por omitirem a doença, outros por terem
tido apoio no seu convívio social.
Diagnósticos de enfermagem identificados
A partir da observação clínica, exame físico e
do preenchimento de um questionário por meio
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
de entrevista identificamos os seguintes diagnósticos,
apresentados de acordo com os Padrões de Resposta
Humana propostos pela NANDA.
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: trocar (Padrão de reação humana que
envolve dar e receber recíprocos)
1. Risco para infecção
A imunodepressão progressiva produzida pela
doença, como conseqüência do comprometimento
de sistema imune, expõe os pacientes a um risco
constante de desenvolver algum tipo de infecção,
até mesmo por microorganismos que usualmente
habitam nosso organismo de forma não patogênica,
podendo gerar desde infecções leves até septicemias.
A desnutrição e o uso prolongado de antibióticos
aumentam ainda mais esse risco [3].
2. Déficit de volume de líquido
Os vômitos, a diarréia e a febre muito comuns
nesses pacientes, associados a uma ingesta hídrica
insuficiente, levam o paciente a uma drástica diminuição do volume de líquido. Pele e mucosas devem
ser inspecionadas diariamente, observando turgor
e ressecamento das mesmas, para melhor controle
do estado hidroeletrolítico [3].
5. Risco para alteração da temperatura corporal
A presença de infecções predispõe os pacientes
a alterações da temperatura corporal, uma vez que
é um indicativo de processo infeccioso instalado [3].
6. Diarréia
Devido à imunodepressão, os pacientes
encontram-se bastante susceptíveis a infecções
causadas por microorganismos, que normalmente
habitam a nossa flora intestinal e por outros
patógenos que em um organismo hígido não
causariam efeitos tão intensos [3].
7. Mucosa oral alterada
A candidíase oral, infecção fúngica muito
comum nesses pacientes, pode evoluir para lesões
ulcerativas na região oral, esofágica e estomacal,
que devem ser devidamente tratadas para que não
cause conseqüências como: nutrição alterada,
comunicação verbal prejudicada, dor entre outros
diagnósticos [3].
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: comunicar (Padrão de reação humana que
envolve o envio de mensagens)
8. Comunicação verbal prejudicada
3. Risco para integridade da pele prejudicada
Os portadores quando apresentam fadiga ou
intolerância à atividade passam boa parte do seu
tempo acamados, favorecendo o desenvolvimento
de úlceras de pressão, constituindo-se em mais uma
porta de entrada para infecções. Podem ser encontradas escoriações em região perianal, decorrentes
de diarréia crônica [3].
4. Nutrição alterada: menos do que as necessidades corporais
“Os hábitos alimentares e o estado nutricional
são influenciados por muitos fatores: pessoais,
familiares, culturais, financeiros, funcionais,
conhecimento nutricional, doença e traumatismo
e regimes de tratamento” [5]. Na AIDS, a síndrome
da desnutrição (diarréia por mais de 30 dias,
anorexia, má absorção gastro-intestinal) e os
distúrbios hidroeletrolítico incluindo a desidratação, constituem complicações comuns da
infecção por HIV/AIDS [3].
Foi observada uma dificuldade de verbalização devido à presença de lesões em cavidade
oral, causadas por Candida albicans, segundo Smeltzer
e Bare [3], fungo que acomete com bastante
freqüência os portadores dessa patologia.
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: relacionar (Padrão que envolve o estabelecimento de elos)
9. Risco para solidão
“A solidão é uma constatação afetiva,
envolvendo a consciência de estar afastada dos
outros, acompanhada de uma vaga necessidade de
outras pessoas” [5]. Os solitários são preocupados
consigo mesmo, são hipervigilantes às ameaças e
tendem a interpretar os indícios sociais como hostis
[5]. “A solidão pode tornar-se parte da auto-imagem
da pessoa. Embora tenha o ego distônico, ela pode
249
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
considerar o estado conhecido, de forma que o
desconforto é sobrepujado pelo medo dos riscos
sociais que seriam exigidos para superá-lo” [5].
10. Padrões de sexualidade alterados
Provavelmente alguns pacientes com HIV/
AIDS quando descobrem a doença optam por
abdicar de uma vida sexual principalmente pelo
medo de transmitir a doença.
11. Isolamento social
“O isolamento social não é uma resposta, mas
uma causa ou fator contribuinte para a solidão”
[3].”As pessoas com HIV/AIDS que estão
deprimidas podem vivenciar culpa e vergonha
irracionais, perda da auto-estima, sentimentos de
solidão e abandono e ideação suicida” [3].
12. Disfunção sexual
É possível que a ausência da libido e a presença
de dor e fadiga levem o paciente a um desinteresse
pela atividade sexual.
13. Processos familiares alterados
Com a descoberta da doença, esses pacientes
podem ser forçados a revelar estilos de vida ou
comportamentos ocultos para a família. Podem
ser colocados também diante de múltipla perdas
como a rejeição por parte desta [3].
14. Desempenho de papel alterado
Como a AIDS provoca grandes alterações físicas,
há uma constante preocupação destes pacientes de
como vão conseguir manter sua rotina. O afastamento
do trabalho, quase sempre por incapacidade, é um
dos fatos que causa muitos problemas, inclusive
financeiros, gerando grandes expectativas sobre seu
sustento e de seus familiares [3].
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: valorizar (Padrão de reação humana que envolve
a designação de um valor relativo)
15. Angústia espiritual
Segundo Carpenito [5], “a doença crítica pode
desafiar as crenças espirituais da pessoa e evocar
250
sentimentos de culpa, raiva, desapontamento e
impotência”. É possível que esses pacientes sintamse castigados ou abandonado por Deus, o que
levaria a um grande conflito espiritual; outros
reagem, buscando incansavelmente uma religião
onde eles encontrassem apoio e consolo para sua
provação.
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: escolher (Padrão de reação humana que envolve a seleção de alternativas)
16. Adaptação prejudicada
As respostas à doença e às incapacidades
podem ser as mais variadas, e é importante que a
enfermeira as esclareça de forma que proporcionem
auxílio ao tratamento.As respostas podem ser de
pesar, ansiedade, medo [5].
17. Negação ineficaz
Alguns pacientes não acreditam estar acometidos por uma doença de tal magnitude, negando
para si mesmo sua situação de saúde, banalizando
a doença. Por não acreditarem no diagnóstico
confirmado, foi observado um comportamento de
risco, ao verbalizarem a manutenção de relações
sexuais sem proteção com seus parceiros.
18. Enfrentamento individual ineficaz
Pelo diagnóstico de uma doença incurável, é
provável que muitos pacientes passem a não dar
importância à vida, tornando-se pessoas amargas,
entregando-se a vícios e a outras formas de
degradação social.
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: mover (Padrão de reação humana que envolve
a atividade)
19. Intolerância à atividade
“Intolerância a atividade é um julgamento
diagnóstico que descreve uma pessoa com o condicionamento físico comprometido. A imobilidade
prolongada e a inatividade através de restrições autoimpostas, modificações fisiopatológicas podem
resultar em tolerância reduzida à atividade” [5].
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
20. Déficit de lazer
Possivelmente por se encontrarem muito tempo
hospitalizados, os portadores de HIV/AIDS não têm
opções de divertimento, e mesmo quando estão em
suas residências, a grande maioria não procura formas
de distração, por estarem fadigados ou optarem pelo
o isolamento.
21. Distúrbio no padrão do sono
As perturbações do sono podem resultar de
modificações ou problemas fisiológicos, psicológicos, sociais, ambientais e maturacionais. A
privação do sono resulta em funcionamento
cognitivo e percepção prejudicada, controle
emocional reduzido, irritabilidade e desorientação.
Também diminuem o limiar da dor e a produção
de catecolaminas, corticoesteróides e hormônios [5].
22. Fadiga
A fadiga é um sentimento difuso, subjetivo,
exaustivo, que não pode ser eliminado, mas ao qual
o indivíduo pode ser auxiliado a adaptar-se. Pode
ser um problema simples ou complexo. É uma
experiência subjetiva com componentes fisiológicos, situacionais e psicológicos, podendo
resultar de fisiopatologias ou situações pessoais
como: anemia, HIV, e outros [5].
23. Déficit no auto-cuidado: banho/higiene
É possível que a fadiga, a intolerância à
atividade e até mesmo a falta de motivação por
saber que é portador de uma patologia incurável,
torne o paciente descuidado com sua aparência
física, chegando a não realizar higiene corporal.
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: perceber (Padrão que envolve a recepção de
informações)
24. Desesperança
A AIDS como doença incurável e incapacitante leva o doente a ter expectativas pessimistas
sobre sua vida e seu futuro. O afastamento do
trabalho, pelos freqüentes internamentos, promove
uma queda na sua qualidade de vida e de seus
dependentes, aumentando o sentimento de impotência e desesperança. Essas pessoas podem
vivenciar culpa e vergonha irracionais, perda da autoestima, sentimentos de solidão, abandono e ideação
suicida [3].
25. Distúrbio na auto-estima
As mudanças na aparência física, a dependência
de cuidadores para realizar atividades de pequeno
grau de dificuldade e até mesmo para tomar decisões
em relação a sua vida, levam o doente a se sentir
inferiorizado e inútil [3].
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: conhecer (Padrão de reação humana que envolve o significado associado à informação)
26. Memória prejudicada
Pode ser indicativo de fadiga, depressão, de
efeitos adversos do tratamento para infecções e
malignidades e de encefalopatia por HIV [3].
Diagnósticos de enfermagem identificados na
amostra segundo o Padrão de Resposta Humana: sentir (Padrão de reação humana que envolve
percepção subjetiva das informações)
27. Ansiedade
A ansiedade envolve um sentimento vago de
apreensão e intranqüilidade, em resposta à ameaça
ao sistema de valor ou ao padrão de segurança da
pessoa. A pessoa ansiosa apresenta tensão aumentada, agitação geral, insônia, preocupação e sentimentos de desamparo e indefinição relacionados a
uma situação que não pode ser facilmente evitada
ou atacada [5].
28. Dor aguda/crônica
A dor é quase uma constante na vida do paciente
com HIV/AIDS, seja pela presença de infecções, lesões
cutâneas e de mucosas, como também pelas
malignidades e neuropatias periféricas [3].
Conclusão
Tratando-se de uma doença estigmatizante
por ser transmissível, por levar à progressiva
deterioração clínica do paciente e por não ter cura
até o momento, o HIV/AIDS mostra-se como um
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Enfermagem Brasil
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grave problema de saúde pública, afetando o biopsico-social do indivíduo acometido e das pessoas
que com ele convive. As relações a partir do
diagnóstico da doença podem tornar-se conflituosas e até mesmo ausentes, de acordo com o grau
de conhecimento acerca da doença.
Foi detectado em nosso trabalho que todos
os pacientes entrevistados apresentaram o diagnóstico risco para infecção. A grande maioria apresentou intolerância à atividade, déficit de volume de
líquidos, risco para integridade da pele prejudicada
e déficit de lazer. Outros diagnósticos bastante
comuns encontrados foram distúrbio no padrão
de sono, nutrição alterada: menos do que as
necessidades corporais, fadiga, risco para transmissão de infecção, ansiedade e risco para solidão.
Foram identificados ainda: padrões de sexualidade
alterados, risco para alteração da temperatura
corporal, déficit no auto-cuidado: banho/higiene,
adaptação prejudicada, dor aguda/crônica,
isolamento social e negação ineficaz.
Alguns diagnósticos de enfermagem foram
identificados, porém com menor freqüência entre
os pacientes estudados, quais sejam: disfunção sexual,
diarréia, mucosa oral alterada, desesperança,
processos familiares alterados, baixa auto-estima,
angústia espiritual, comunicação verbal prejudicada,
desempenho de papel alterado, enfrentamento
individual ineficaz e memória prejudicada.
A identificação dos diagnósticos de enfermagem específicos para os portadores de HIV/
252
AIDS, deverá possibilitar um atendimento
especializado, individualizado e atendendo a suas
reais necessidades.
Foi pensando num atendimento digno e
humanizado a esses pacientes que se conseguiu
levantar as principais dificuldades sofridas durante
o internamento e a partir disso elaborar os diagnósticos de enfermagem, com o objetivo de identificar as causas e conseqüências que norteiem prescrições direcionadas para diminuir o sofrimento
da clientela.
Referências
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2.
3.
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Setembro / Outubro 2004;3(5)
Artigo original
Elaboração de um pr
otocolo para pr
evenção
protocolo
prevenção
de úlcera por pr
essão numa Unidade
pressão
de T
erapia Intensiva em um Hospital
Terapia
do Estado de São P
aulo
Paulo
Geraldo Magela Salomé*, Ivaneide Azevedo Assunção**, Luzicleide Freire dos Santos**
Mestrando em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo, Especialista em UTI pela Faculdade São Camilo e Supervisor de enfermagem
da UTI adulto do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, **Enfermeiras Assistenciais da UTI adulto do Hospital Geral de Vila Nova
Cachoeirinha
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo relatar a experiência de um grupo de enfermeiros que trabalham em uma
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e que fazem parte da Comissão Multidisciplinar de Atendimento Integral a
pacientes com afecção dermatológicas, quanto a elaboração de um protocolo para prevenção de úlcera por pressão
(UP). A pesquisa foi realizada numa UTI adulto, em um Hospital Estadual, localizado na cidade de São Paulo.
Pesquisa realizada de 2001 a 2002 constata em pacientes internados uma incidência de 20% de UP e inúmeros fatores
predisponentes. O protocolo consta de monitoração da pele do paciente por meio do exame físico, análise das áreas
susceptíveis, avaliação do risco para desenvolvimento da UP e a padronização dos produtos a serem utilizados como
medidas de prevenção. Foi executado um exaustivo levantamento bibliográfico, reuniões informais com caráter técnico
que visaram compartilhar conhecimento e experiência de cada participante. A realização deste estudo foi muito
gratificante pelo crescimento profissional sendo vivenciado vários problemas e desafios dentre eles: a conscientização
dos profissionais de enfermagem quanto a medidas preventivas versos custo-benefícios, trabalho em conjunto com os
outros membros da equipe multidisciplinar. Acredita-se ser um instrumento prático e objetivo do trabalho cotidiano
da enfermagem para planejar ações especificas e como produto final a melhoria de qualidade da assistência integral de
enfermagem prestado aos nossos pacientes.
Palavra-chave: úlcera por pressão, prevenção e assistência de enfermagem.
Artigo recebido em 2 de agosto de 2004; aceito em 1 de outubro de 2004.
Endereço para correspondência: Geraldo Magela Salomé,
Av. Francisco de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134 bl. 01,
Jabaquara 04330-020 São Paulo SP, E-mail: [email protected]
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Enfermagem Brasil
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Abstract
Elaboration of a protocol for prevention of pressure ulcer in an Intensive
Care Unit in a Hospital of the State of São Paulo
The aim of this work is to report the experience of a nurses group that work in an Intensive Care Unit and component part of
the Multidisciplinary Commission of Integral Care to patients with dermatologic disease related to the elaboration of a protocol
for pressure ulcer (UP) prevention. The research was carried out from 2001 to 2002 in an adult ICU, in a State Hospital, located
in the city of São Paulo. It was observed an incidence of 20% of UP and innumerable predisposing factors. The protocol consists
of patient skin control by means of the physical examination, analysis of the susceptible areas, evaluation for development risk
of UP and standardization of products that will be used as prevention measure. It was performed a literature review, informal
meetings with technical approach aiming at each participant knowledge and experience. This study was very rewarding for
professional growth due to experienced problems and challenges such as: awareness of nursing professionals regarding preventive
measures vs. cost-benefits, work together with other members of the multidisciplinary team.
Key-words: pressure ulcer, prevention and nursing assistance.
Resumen
Elaboración de un protocolo para la prevención de úlcera por presión en
una Unidad de Terapia Intensiva en un Hospital del Estado de São Paulo
El objetivo de este trabajo fue relatar la experiencia de un grupo de enfermeras, que trabajan en una Unidad de Terapia Intensiva
(UTI) y que hacen parte de la Comisión Multidisciplinar de Atención Integral a pacientes con afección dermatológica, cuanto a la
elaboración de un protocolo para la prevención de úlcera por presión (UP). La investigación fue realizada en una UTI para adultos,
en un hospital estadual, ubicado en la ciudad de São Paulo. La investigación que fue realizada de 2001 a 2002 comprobó una
incidencia del 20% de UP y numerosos factores predisponientes. El protocolo consiste en monitoración de la piel del paciente a
través de examen físico, análisis de las áreas susceptibles, evaluación del riesgo para el desarrollo de la UP y estandardización de los
productos que serán utilizados como medidas de prevención. Fue elaborado un minucioso análisis bibliográfico, reuniones
informales de carácter técnico que tenían como objetivo compartir conocimiento y experiencia de cada participante. La realización
de este estudio fue muy recompensada por el crecimiento profesional debido a los problemas y desafíos vividos tales como: la
conscientización de los profesionales de enfermería relativo a las medidas preventias vs. costo-beneficios y trabajo en conjunto
con otros miembros del equipo multidisciplinar.
Palabras-clave: úlcera por presión, prevención y asistencia de enfermería.
Introdução
A tecnologia vem aumentando as condições de
sobrevivência dos pacientes internados em Unidades
de Terapias Intensivas (UTIs), estes pacientes são
graves e necessitam de cuidados especiais, devido a
instabilidade fisiológica e diminuição da mobilidade
estes são mantidos na maioria das vezes em repouso
prolongado, seja como parte das medidas necessárias
para o tratamento até a estabilidade hemodinâmica,
com isso este pacientes têm apresentado alto risco
para o desenvolvimento de úlcera por pressão, porém
vários fatores poderão agir sinergisticamente para
causar o problema [1].
A úlcera de pressão tem sido uma preocupação
da enfermagem desde o seu início. Florence
254
Nightingale já se preocupava com a prevenção e
tratamento das úlceras por pressão, porém o
problema continua sendo bastante comum em
pacientes que são cuidados em instituições
hospitalares e em domicílios.
Para Menegli [2] úlcera por pressão é
resultado de compressão direta em determinadas
áreas corporais sobre a superfície de colchão,
cadeira ou de aparelhos gessados. Esta compressão
diminui o fluxo sanguíneo para região comprometida, como conseqüência à má nutrição e
oxigenação, causando a morte celular. As úlceras
por pressão podem ser consideradas áreas localizadas de infarto de tecido mole que ocorrem
quando a pressão aplicada a pele, por algum tempo,
é maior que a pressão capilar normal.
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Dados da literatura internacional estimam que
entre 3% a 14% de todos os pacientes hospitalizados
atualmente desenvolvem úlcera por pressão. Nos
portadores de problemas crônicos e residentes em
asilos, a incidência estimada é de 15 a 25% [3].
A incidência de úlcera de pressão nos Estados
Unidos gira em torno de 3,5 a 29%, na Europa,
Canadá e África do Sul é de 3 a 11%. [1]
Trabalho realizado por Salomé e Almeida [4],
em Hospital Estadual no município de Itapevi,
numa UTI adulto com 10 leitos pôde constatar
uma incidência de UP 16%.
A prevenção é o modo mais fácil, mais barato e
mais bem sucedido de terapia para o tratamento de
úlcera por pressão. Os elementos de um programa
efetivo de prevenção incluem uma abordagem de
tratamento em equipe integrada enfatizando bons
cuidados médicos e de enfermagem, treinamento
apropriado e orientação dos pacientes, incentivo da
colaboração do paciente a estas recomendações e a
prescrição adequada de dispositivos de alívio de pressão.
Enfim a prevenção da úlcera por pressão foi
e continua sendo um cuidado importante na
enfermagem, também é um indicador de qualidade
da assistência prestada.
No período de 2001 a 2002, observamos na
UTI onde foi realizado o protocolo vários casos de
pacientes que apresentam UP, então resolvermos
realizar uma pesquisa para constatarmos a incidência
da UP. Após realizarmos a pesquisa chegamos a
conclusão que a incidência da UP é de 20% [5].
A partir deste trabalho citado acima, tornouse necessário à elaboração de um protocolo para
que os profissionais de enfermagem possam
desenvolver uma assistência com qualidade.
Diante do problema relacionado à úlcera por
pressão já relatada, a equipe de enfermeiros em
conjunto com a educação continuada e a comissão
de curativo decidiu elaborar um protocolo de
prevenção e monitorização das úlceras por
pressões, como um instrumento prático e rápido,
assim melhorando a qualidade da assistência
prestada ao nosso cliente.
Material e método
Tipo de estudo
O trabalho foi desenvolvido na forma de
relato de experiência, onde foi relatado e discutido
em várias reuniões informais a realização do
protocolo.
Campo de realização do estudo
O estudo foi realizado numa UTI adulto,
geral com capacidade para 9 leitos e atende todas
as especialidades, do Hospital Gerais Vila Nova
Cachoeirinha, é um hospital de grande porte. Este
faz parte do Programa Metropolitano de Saúde,
que incorpora a idéia de estrutura.
A instrumentalização da equipe
A equipe de enfermagem da UTI adulto é
formada por oito enfermeiros, sendo sete enfermeiros direcionados para assistência, um para
supervisão e conta com 34 auxiliares de enfermagem.
Elaboração do protocolo
Através de várias reuniões informais, realizadas
semanalmente durante o mês de outubro e
novembro de 2004 com os componentes que fazem
parte do trabalho chegamos a um concesso e
conseguimos elaborar um protocolo, fundamentado
na literatura e na metodologia científica.
Nestas reuniões foram discutidos os seguintes
assuntos:
• Fisiologia da UP;
• A incidência de UP;
• Elaboração e definição do protocolo.
Na elaboração do protocolo de prevenção,
abordamos cinco aspectos abaixo relacionados:
• Avaliação do risco;
• Cuidado e tratamento com a pele;
• Redução da carga mecânica e utilização de
produtos;
• Educação continuada aos funcionários;
• Supervisão continua.
O protocolo de prevenção da úlcera por
pressão da UTI-A do Hospital Geral de Vila Nova
Cachoeirinha contém os seguintes itens:
Avaliação da pele e risco em adquirir a úlcera
por pressão
A úlceras por pressão são sinônimos de
deficiência na qualidade da assistência de enfermagem prestada. Por isso faz-se necessário à
utilização de instrumentos que possibilitem
detectar fatores de risco que favorecem o desenvolvimento da úlcera por pressão nos pacientes
institucionalizados [2].
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Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Quadro 1 – Técnica da avaliação da pele, relacionada ao risco que o paciente tem em adquirir úlcera
por pressão. Utilizada numa UTI adulta.
AGENTE
PROCEDIMENTO
Enfermeiro
Exame físico do pacientediariamente.
Enfermeiro
Utilização da Escala deBrande
diariamente.
JUSTIFICATIVA
Avaliar o aspecto da pele, áreas susceptíveis a úlcera
por pressão, registro das alterações da pele.
A utilização desta escala na avaliação do paciente,
feita pelo enfermeiro, permite determinar possíveis
deficiências relacionadas a vários fatores,
independentemente da patologia, que preconizam
o surgimento das úlceras por pressão.
Medidas preventivas
A elaboração das medidas preventiva foi
realizada de forma que permitisse que cada item da
Escala de Braden não se tornasse um problema para
o paciente durante a sua hospitalização na UTI.
Estas medidas preventivas estão engajadas na
nossa realidade de trabalho e possíveis de serem
realizadas pelos enfermeiros e auxiliares de
enfermagem.
Através do trabalho realizado pelos autores
Liell e Lipinski et al. [6], puderam comprovar que
é possível reduzir a incidência de úlcera de pressão,
para melhorar a assistência de enfermagem. Basta
o conhecimento, uma dose de boa vontade, o
interesse pela pesquisa e a utilização da prevenção,
pois a prevenção foi e continua sendo um cuidado
importante na enfermagem.
Quadro 2 – Medidas preventivas padronizadas numa UTI para prevenção de úlcera por pressão.
PROCEDIMENTO
256
JUSTIFICATIVA
• Todos os pacientes com a Escala de Braden com
resultado menor que 12 pontos ou que apresentam
hiperemia, deverá colocar placa de duo derme em
região sacra e trocanteres.
Evitar o contato direto da superfície cutânea com a
superfície dura.
• Colocar colchão piramidal em todos
os pacientes internados.
Ajuda a redução da pressão em áreas de saliência
óssea.
• Utilização de travesseiros ou coxins nas
proeminências ósseas.
Proporcionar um efeito ponte, de forma que a área
não toque a superfície da cama.
• Aplicação de loção ou óleo de girassol.
Manter a pele do paciente hidratada. Aumenta a
resistência celular contra os mecanismos
desencadeantes das lesões hipóxicas.
• Fazer higienização no paciente após cada urina
e evacuação.
• Manter a pele do paciente limpa e seca.
A falta de higiene favorece o aumento de bactérias
na região, que encontram na sujeira um meio de
cultura muito propícia sua reprodução e
disseminação. Deve-se evitar a pele com excesso de
umidade a fim de prevenir a maceração tecidual.
• Incentivar o paciente a realizar exercícios ativos
e passivos conforme diagnóstico médico.
Ativa a circulação, transmite ao paciente uma
sensação física agradável. Proporcionar uma melhor
nutrição e oxigenação mais adequada que favorece
a profilaxia de escara.
• Mudança de decúbito de 2 em 2 horas se
o resultado da Escala de Brande for de 8 a 12 pontos
e de 1 em 1 hora se o resultado da Escala de Brande
for menor que 7 pontos.
A mudança de decúbito além de prevenir as úlceras
por pressão resultantes da continua pressão sobre as
proeminências ósseas na pele que está em contato
com a superfície do colchão, também auxilia na
drenagem das secreções. A circulação é estimulada
com este procedimento proporcionando uma
oportunidade para exercitar os membros e tornar o
paciente mais confortável física e mental.
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
PROCEDIMENTO
JUSTIFICATIVA
• Administrar a dieta conforme horário, estimular
a ingestão de líquidos e controlar o gotejamento
prescrito.
É importante darmos atenção nas condições
nutricional do paciente, pois os pacientes com
deficiência alimentar são propensos a formar úlcera
de pressão.
• O paciente deve ser elevado e não arrastado da cama;
• Manter a cabeceira da cama elevada a 30 graus;
• Utilizar protetores de calcanhar e cotovelo.
Estes procedimentos evitam a realização de
cisalhamento, pressão e fricção sobre a pele do
paciente, evitando assim a úlcera por pressão.
Diante do objetivo de realizarmos uma
pesquisa que pudesse melhorar a nossa atuação
diante do problema que é úlcera por pressão, as
nossas reuniões foram adequadas de compartilhar
com os colegas conhecimentos e experiências.
Conseguimos elaborar um protocolo que
acreditamos ser um instrumento prático e objetivo
do trabalho do dia a dia do profissional de enfermagem.
Esse protocolo nos dará instrumento para
podemos planejar ações específicas, e como
resultado a melhoria da qualidade da assistência
de enfermagem prestada aos nossos pacientes.
Sendo utilizados os recursos disponíveis na
unidade, este protocolo deve possibilitar aos
enfermeiros diagnosticar o risco do paciente em
desenvolver úlcera por pressão, também descreve
as medidas preventivas durante a sua permanência
na UTI.
Referências
1-
2-
Conclusão
A experiência em elaborar um protocolo de
prevenção de UP, por um grupo de enfermeiros
que trabalham em uma UTI e que prestam cuidados
a pacientes graves, com a enfermeira da educação
continuada e com as enfermeiras da comissão de
curativos, nos proporcionou crescimento com
repercussões na melhoria da qualidade da
assistência de enfermagem.
Após 6 meses da implantação deste protocolo
iremos validar o mesmo.
3456-
Fernandes LM, Caliri MHL. Úlcera de pressão em
paciente crítico hospitalizado: uma revisão
integrativa da literatura. São Paulo: Rev Paul
enfermagem 2000;19(2):25-31.
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instrumento para avaliar o risco de desenvolvimento
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pressão em uma UTI. In: 6º Congresso Brasileiro
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tratamento da úlcera de pressão - A família como
aliada. Revista Técnica Científica de Enfermagem
2003;1(2):115-21. 257
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Artigo original
A rreação
eação or
gânica à irradiação das mãos –
orgânica
Criando bases para a ciência do cuidado
de enfermagem
Maria Aparecida de Luca Nascimento, D.Sc.*, Raquel Nunes da Silva**, Marcio Martins da Costa**
*
Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Materno Infantil (DEMI) da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Orientadora Acadêmica do Programa de Mestrado em Enfermagem da UNIRIO,
** Enfermeiros recém egressos da EEAP da UNIRIO
Resumo
Estudo experimental que utiliza a abordagem quantitativa para alcançar o objetivo de demonstrar que as mãos que
cuidam e tratam, e que são os instrumentos de trabalho da equipe de enfermagem, interferem diretamente no resultado
final do cuidado prestado. A metodologia utilizada foi a observação sistemática da evolução de 4 frutos dispostos aos
pares, após a imposição das mãos, única variável a interferir no processo, sobre 1 fruto de cada par. Os dois frutos do
grupo experimental, que foram submetidos à variável em apreço, mumificaram ao final de 85 e 67 dias respectivamente,
fato que é apresentado através de foto documental e de um quadro demonstrativo, ao passo que os seus pares, frutos
controle, deterioraram-se num espaço de tempo inferior a sete dias. Este resultado demonstra que os frutos submetidos
à imposição das mãos, não só permaneceram hígidos por mais tempo, como também, e principalmente, que esse
procedimento impediu a proliferação dos microorganismos nos dois frutos observados. Os autores concluem que, se
os frutos que serviram de base para o presente estudo são compostos orgânicos, como o corpo humano, e que se a
imposição das mãos foi a única variável a incidir sobre aqueles que se comportaram diferentemente de seus pares,
prospectivamente, as mãos que cuidam e tratam não só interferem no resultado do cuidado, como também, agem
profilaticamente contra a ação de fungos e bactérias. Novos estudos são sugeridos a partir dos resultados obtidos, com
vistas a fundamentar as bases para a ciência do cuidado de enfermagem.
Palavras-chave: estudo experimental, cuidado de enfermagem, mãos.
Artigo recebido em 15 de agosto de 2004; aceito em 29 de setembro de 2004.
Endereço para correspondência: Maria Aparecida de Luca Nascimento, Av. Marechal Rondon
300/310 bloco 2, Maracanã 20950-000 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 574-9149 / (21) 96170868,
E-mail: [email protected]
258
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Abstract
The organic reaction originated from hands irradiation – The nursing care
science development (an experimental study)
This is an experimental study based on quantitative approach aiming at to demonstrate that the nurses’ hands hold a therapeutic
power. The methodology was performed through a systematic observation from the evolution of four fruits, split in couples, by
having the hands laid upon two of them, one by pair. Two fruits of the experimental group were submitted to the imposition of
hands, mummified after 85 and 67 days, respectively. On the other hand, the two control fruits, deteriorated in approximately seven
days. The outcome results showed that fruits submitted to imposition of hands, remain healthier longer than the control. Besides,
this procedure also blocked microorganism proliferation. The authors concluded that studied fruits are organic compound such as
human body, and as in this research the only variable used was the imposition of hands, this procedure interferes in care results and
also act against bacteria and fungis. New studies were suggested in order to establish nursing care science bases.
Key-words: experimental study, nursing care, hands.
Resumen
La reacción orgánica a la irradiación de las manos – Creando las bases
científicas del cuidado de enfermería.
Estudio experimental basado en el método cuantitativo, cuyo objetivo es mostrar que las manos de las enfermeras tienen
poderes terapéuticos. La metodología utilizada fue la observación de la evolución de cuatro frutos separados en parejas, después
de la “imposición de las manos” sobre dos de los frutos, de cada pareja. Los dos frutos del grupo experimental que fueron
sometidos al procedimiento, momificaron al final de 85 y 67 días respectivamente, mientras que sus parejas, frutos controle, se
deterioraron en un periodo de tiempo inferior a siete días. Estos resultados mostraron que los frutos sometidos a la imposición
de las manos, permanecieron más tiempo saludables e impidió la proliferación de microorganismos. Los autores concluyen que
si los frutos que sirvieron como base para el presente estudio son compuestos orgánicos, como el cuerpo humano, y que la
“imposición de las manos” fue la única variable utilizada,
este procedimiento además de interferir en los resultados del cuidado, también actúa profilácticamente contra la acción de hongos
y bacterias. Se deben realizar nuevos estudios para fundamentar las bases para la ciencia del cuidado de enfermería.
Palabras-claves: estudio experimental, cuidado de enfermería, cuidado; manos.
Introdução
Este estudo é resultado de um projeto de
pesquisa intitulado “Mãos que aprendem a
cuidar” sob a responsabilidade de uma de suas
autoras e que envolve os outros autores,
acadêmicos bolsistas, enfocando as mãos, esses
instrumentos responsáveis pelo cuidado e que
fazem parte do cotidiano profissional da equipe
de enfermagem.
Por outro lado, ele também surge como uma
continuidade de estudo anterior, onde, através dos
relatórios de alunos do curso de mestrado da
Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), que
cursavam a disciplina “cuidando de quem cuida”,
ficou demonstrado que após a imposição das mãos,
o comportamento de 21 frutos era diferenciado
de seus pares, mantidos que foram nas mesmas
condições ambientais.
No estudo supra-referenciado, foi demonstrado que os frutos submetidos à imposição
das mãos permaneciam hígidos por um tempo
duas a três vezes e meia maior que o seu par [1].
Considerando que essa pesquisa foi interrompida
no momento em que o fruto hígido apresentava
alguma alteração, interessou-nos saber como
seria o seu comportamento a partir dali, por
inferir mos que poderia haver alguma modificação, também no seu processo de deterioração.
Objetivo
Demonstrar que as mãos que cuidam e tratam,
e que são os instrumentos de trabalho da equipe de
enfermagem, interferem diretamente no resultado
final do cuidado prestado.
259
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
O cuidado de enfermagem
A preocupação com o cuidado tem sido
observada nas mais abrangentes esferas, contudo
o cuidado como o ser humano, potencial objeto
da enfermagem, sob o ponto de vista prático, tem
sido fruto de poucos estudos, em detrimento de
outros, de igual valor, porém que não enfocam
esse aspecto tão decisivo para o justo reconhecimento dessa profissão [2].
Pode ser que esse fato esteja intrinsecamente
ligado ao pensamento de Capra [3], segundo o qual:
“...em virtude da estreita concepção biomédica de doença
e dos padrões patriarcais de poder no sistema de
assistência à saúde, o importante papel que as
enfermeiras desempenham no processo de cura, através
do contato com os pacientes, não é plenamente
reconhecido”.
Poderíamos dizer, com relação ao acima
exposto, que até mesmo os profissionais que
compõem a equipe de enfermagem, sob pena de
serem rotulados como mecanicistas e funcionalistas,
não se detêm em seus estudos nesse amplo e
complexo tema que é o cuidado direto prestado a
um ser humano através da suas mãos.
As mãos observadas além da sua estrutura
anatômica
As mãos, normalmente, são observadas pela
equipe de enfermagem como estruturas anatômicas responsáveis pela disseminação de
infecção, e/ou, porta de entradas para elas. Esse
fato pode ser constatado através do uso disseminado e, muitas vezes, indiscriminado, das
luvas de procedimento.
No entanto, Dolores Krieger, apud Brennan
[4] atribuiu às mãos um caráter curativo através
do toque terapêutico e da sua imposição, atividades
que apresentou às enfermeiras do Centro Médico
de Nova York, para que fossem praticadas.
Segundo Keegan [5], das mãos que cuidam
flui a energia que provoca a reorganização da
energia corporal de quem é submetido ao
cuidado, auxiliando-o no equilíbrio energético
quando necessário. Sendo assim, se das mãos flui
energia, ela é irradiante. Deste modo, podemos
inferir que as mãos nem sempre precisam tocar
para cuidar.
260
As mãos que cuidam através da irradiação:
referenciais teóricos e filosóficos
Cuidar de um ser humano é uma ação
complexa que demanda um entendimento amplo
dessa ação. Porém, o simples ato de infundir
energia através das mãos, normalmente vê-se
atrelado a questões dogmáticas, muitas vezes, pelos
componentes da própria equipe de enfermagem.
No entanto Brennan [4], mestre em física
atmosférica, cita que a energia vital foi percebida
como um campo luminoso, pela primeira vez no
ocidente por Pitágoras, por volta de 500 a.C. Em
sua obra, a mesma autora cita autores como
Paracelso na Idade Média, o matemático Helmont
e Leibnitz, no século XIX, além de médicos, já no
século XX, como o Dr. William Kilner que, cada
um em sua época, direcionavam suas pesquisas para
o campo de energia humana.
Sendo assim, de acordo com esses referenciais,
pretendemos visualizar o resultado da ação de
cuidar, a partir de uma experiência com dois frutos,
que passamos a descrever a seguir, considerando a
imposição das mãos como um cuidado.
Materiais e métodos
Estudo experimental que se utiliza da
abordagem quantitativa para demonstrar que as
mãos que cuidam e tratam, e que são os instrumento de trabalho da equipe de enfermagem,
interferem no resultado final do cuidado prestado.
Segundo Wood e Haber [6], o experimento
verdadeiro encaminha aleatoriamente os sujeitos
do estudo para os grupos experimental e controle.
O tratamento experimental é fornecido somente
para aqueles do grupo experimental, e os pré-testes
e os pós-testes são as medições das variáveis
dependentes feitas, antes e depois que o tratamento
experimental é realizado. Somente o grupo
experimental é submetido à variável experimental,
o grupo controle não recebe nenhum tratamento,
mas é medido mais tarde, para efeito comparativo.
Desse modo, dois dos autores desse estudo
escolheram, aleatoriamente, dois tomates cada um,
com características semelhantes e no mesmo grau de
maturação para serem submetidos ao experimento.
Os dois pesquisadores realizaram a experiência
em suas residências, ambas localizadas na cidade do
Rio de Janeiro, no período do outono.
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
O primeiro passo da pesquisa foi realizar o préteste, mensurar os parâmetros relativos ao peso, altura
e comprimento dos tomates, que serviram como
variáveis dependentes (quadros demonstrativos I e II).
A seguir, os tomates foram separados aos
pares pelos pesquisadores, e mantidos separados
em lados opostos de um mesmo ambiente, ou seja,
nas mesmas condições de temperatura e pressão
atmosférica.
Após um determinado exercício respiratório,
prática que é desenvolvida durante a disciplina
“cuidando de quem cuida”, os tomates pertencentes
ao grupo experimental, escolhidos também aleatoriamente, denominados nesse estudo de A e B, foram
submetidos à variável experimental, qual seja, à
imposição das mãos dos seus respectivos pesquisadores.
Os frutos eram observados diariamente, e o
resultado anotado em uma folha de observação.
Durante todo o período da pesquisa, os
frutos permaneceram no mesmo lugar, sendo que
os pesquisadores utilizavam-se de escada para
proceder a observação, com a intenção de não
deslocar o objeto. Sendo assim, após a imposição
das mãos no início da pesquisa, não houve nenhuma
outra interferência, em nenhum dos dois pares de
tomates observados.
Ao término da observação, que resultou na
total deterioração dos frutos do grupo controle, e
na mumificação do grupo experimental, as
variáveis independentes foram novamente aferidas,
o que compôs o pós-teste, e o seu resultado apresentado no quadro demonstrativo III.
Resultados e discussão
Quadro demonstrativo I – Parâmetros iniciais
dos frutos do grupo experimental (A e B).
Frutos/Parâmetros
Peso
Altura
Comp.
A
B
300g
5,2 cm
8,6 cm
340g
6,2 cm
9,2 cm
Quadro demonstrativo II – Parâmetros iniciais
dos frutos controle - (A1 e B1)
Frutos/Parâmetros
Peso
Altura
Comp.
A1
B1
300 g
5,6 cm
8,2 cm
225 g
5,6 cm
8 cm
Quadro demonstrativo III – Parâmetros finais
dos frutos do grupo experimental no 85º e 67º
dia de observação, respectivamente.
Frutos
Parâmetros
Peso
Altura
Comp.
A
B
0
2,5 cm
4,5 cm
0
1,8 cm
4,6 cm
OBS: Os frutos piloto (A1 e B1) começaram o processo
de deterioração em menos de 7 dias, deteriorandose totalmente ao fim de 28 e 18 dias de observação
respectivamente.
Foto
De acordo com os resultados apresentados,
podemos afirmar que os dois tomates componentes do grupo experimental comportaram-se de
forma significativamente diferenciada dos dois
frutos componentes do grupo controle, após a
imposição das mãos dos pesquisadores sobre eles.
O parâmetro relativo ao peso foi o que
sofreu maior alteração, haja vista a modificação
de 300 e 340g inicialmente para padrões
imensuráveis ao término da pesquisa. Esse fato
pôde também ser constatado através da foto
documental que apresenta o tomate totalmente
mumificado, desidratado, o que corrobora a sua
ausência de peso.
Com relação aos outros dois parâmetros,
observa-se com relação àquele relativo à altura, um
decréscimo de 50% do fruto A, e de 70% do fruto
B. No tocante ao comprimento original, os dois
frutos em apreço diminuíram cerca de 50%.
Os dois frutos do grupo experimental (A e
B), mumificaram ao fim de 85 e 67 dias, ao passo
que os seus pares do grupo controle começaram a
deteriorar por volta do 7º dia de observação,
completando esse processo ao fim de 28 e 18 dias,
respectivamente(A1 e B1).
261
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Conclusão
Este estudo demonstrou que a energia que é
irradiada através das mãos em direção aos frutos
promove modificação considerável em sua
estrutura. Por inferência podemos dizer que através
destas estruturas anatômicas houve a irradiação de
uma forma de energia que atuou sobre eles.
Se considerarmos que o tomate, ao ser
submetido à irradiação das mãos foi cuidado,
podemos concluir que elas interferiram diretamente
no resultado final do cuidado prestado.
No entanto, ao observarmos os frutos
componentes do grupo controle que se deterioraram
totalmente sofrendo a ação de fungos e bactérias,
sugerida através da sua aparência e odor, podemos
chegar a outra conclusão, aquela que prevê o efeito
profilático da imposição das mãos que cuidam e
aprendem a cuidar, impedindo o ataque de
microorganismos nos frutos a ela submetidos, a
partir da visualização da sua mumificação.
Sendo assim, os autores concluem que, se os
frutos que serviram de base para o presente estudo
são compostos orgânicos, como o corpo humano,
e que se a imposição das mãos foi a única variável
a incidir sobre aqueles que se comportaram
262
diferentemente de seus pares, prospectivamente, as
mãos que cuidam e tratam não só interferem no
resultado do cuidado, como também, agem
profilaticamente contra a ação de fungos e bactérias.
Desse modo, sugerimos novos estudos a
respeito da temática com vistas a fundamentar, cada
vez mais, a cientificidade do cuidado de enfermagem.
Referências
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2.
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Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. p. 329. Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Artigo original
Cuidados de enfermagem no período
pós-operatório de cirur
gia car
díaca
cirurgia
cardíaca
Carlos Eduardo Peres Sampaio*, Bárbara Aparecida Matos Silva**,
Maria Salomé Cristiane Bedendo Rodrigues**, Miria Rejane Soares Coelho**,
Rosangela Ribeiro Murucci Ferreira**
*Enfermeiro, Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico (DEMC) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ), Professor da Universidade Iguaçu,**Enfermeiras graduadas na Universidade Iguaçu
Resumo
O interesse deste estudo foi promover um alívio e conforto aos pacientes pós-operados em cirurgia cardíaca e bom
relacionamento entre a equipe multiprofissional para dar uma boa assistência a esses pacientes. Delimitamos como
objeto de estudo, orientações de enfermagem ao paciente que realiza cirurgia cardíaca. Como objetivos propostos
temos o objetivo geral: descrever a assistência de enfermagem aos pacientes pós-operatório de cirurgia cardíaca.
Objetivos específicos: determinar o perfil dos pacientes que realizam cirurgia cardíaca, avaliar a qualidade da
orientação pré-operatória aos pacientes de cirurgia cardíaca; conhecer os sentimentos e opiniões dos pacientes em
pós-operatório de cirurgia cardíaca. A metodologia utilizada foi do tipo estudo de caso, abordando a pesquisa
quantitativa e qualitativa. A pesquisa desenvolveu-se em um hospital no município de Itaperuna, mediante aplicação
de entrevista no período de setembro a novembro de 2003. A maioria dos pacientes foi do sexo masculino e possuem
faixa etária média de 60 anos. A maioria realizou cirurgia de revascularização do miocárdio 50%, é tabagista e 50%
em média apresenta história familiar com doenças cardíacas. Os pacientes não são orientados sobre os cuidados
pré-operatórios e os principais sentimentos dos pacientes no período pós-operatório foi o incômodo dos
procedimentos invasivos e a rotina da unidade de terapia intensiva.
Palavras-chave: cirurgia cardíaca, pós-operatório, terapia intensiva.
Abstract
Nursing care in the post-operative of cardiac surgery
The aim of this study is to promote a relief and comfort to the post-operated patients in cardiac surgery and good relationship
among the multiprofessional team to give good assistance to these patients. The proposed aims are: to describe nursing
assistance to post operative cardiac surgery patients, to determine patients profile, to evaluate pre-operative orientation quality, to
know patients’ feelings and opinions. The methodology used was a case study with a quantitative and qualitative approach. The
Artigo recebido em 16 de agosto de 2004; aceito em 1 de outubro de 2004.
Endereço para correspondência: Carlos Eduardo Peres Sampaio, Rua Fagundes Varela, 530/
901, Ingá 24210-520 Niterói RJ, Tel: (21) 2721-2619 / 9366-3494,
E-mail: [email protected]
263
Enfermagem Brasil
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research take place in a municipal hospital of Itaperuna and an interview from September to November 2003 was administered.
Most patients were male gender and average age 60 years. Most of the patients that were submitted to myocardial revascularization
surgery (50%) were smokers and 50% had family history of cardiac disease. Patients were not well orientated about pre-operative
cares and their feelings in post-operative period were uncomfortable invasive procedures and intensive therapy unit routine.
Key-words: cardiac surgery, post-operative, intensive therapy.
Resumen
Cuidados de enfermería en el periodo postoperatorio de cirugía cardiaca
El objetivo de este estudio es promover alivio y conforto a los pacientes postoperados de cirugía cardiaca y buenas relaciones con
el equipo multiprofesional para ofrecer asistencia a eses pacientes. Los objetivos propuestos son: describir la asistencia de
enfermería a los pacientes postoperados de cirugía cardiaca, evaluar la calidad de la orientación preoperatoria, conocer los sentimientos
y opiniones de los pacientes. La metodología utilizada fue estudio de caso basada en la pesquisa cuantitativa y cualitativa. La
pesquisa se desarrolló en un hospital del municipio de Itaperuna, mediante la aplicación de una entrevista en el periodo de
Septiembre a Noviembre de 2003. La mayoría de los pacientes era del sexo masculino y la edad media del grupo fue 60 años. La
mayoría de los pacientes que realizó cirugía de revascularización miocárdica (50%) era fumador y una media de 50% presentaba
historia familiar con enfermedades cardiacas. Los pacientes no fueron orientados sobre los cuidados preoperatorios y los
principales sentimientos de los pacientes en el periodo postoperatorio fueron el incómodo de los procedimientos invasivos y la
rutina de la unidad de terapia intensiva.
Palabras-clave: cirugía cardiaca, postoperativo, terapia intensiva.
Introdução
O enfermeiro como elemento da equipe de
enfermagem, juntamente com seus demais
elementos, contribui com o paciente a compreender seu problema de saúde, e a preparar-se
para a intervenção cirúrgica, em especial no
período pós-operatório imediato em cirurgias de
grande porte. Devido não apenas pelas suas
habilidades técnicas e científicas, mas também pela
sua sensibilidade em detectar imediatamente
problemas de enfermagem.
É de fundamental importância o preparo do
paciente na fase pré-operatória, mediante a realização
adequada da sistematização da assistência de
enfermagem e investigação clínica. Os cuidados na
realização de um exame físico completo pelo
enfermeiro devem ser extremamente detalhados, pois
é nessa fase que o enfermeiro deverá preparar o
paciente, explicando-lhe como serão as fases de trans
e pós-operatório e como ele poderá participar
efetivamente da sua recuperação. No preparo para
cirurgia cardíaca, deve-se orientar o paciente sobre
anestesia, ventilação artificial, presença de tubos,
sonda, cateteres, monitorização cardíaca, exercícios
264
respiratórios, ocorrência de dor, administração de
drogas e soluções. Todas essas orientações devem ser
dadas numa linguagem clara e objetiva compatível
com o perfil, o nível de escolaridade e compreensão
do paciente. O desejável é proporcionar ao paciente
uma visita ao centro cirúrgico e unidade de terapia
intensiva, a fim de que o mesmo se familiarize com o
ambiente e a aparelhagem, visando minimizar o stress
ocasionado pelo evento.
Consideramos que os resultados deste estudo
poderão ser de grande importância para a equipe
de enfermagem, bem como promover um alívio e
conforto aos pacientes pós-operados em cirurgia
cardíaca, favorecendo uma assistência integral.
Desta forma, contribuirá para a organização do
serviço, o bom relacionamento entre a equipe
multiprofissional, a capacitação e especialização de
cada elemento, bem como a equipe de enfermagem.
Objetivos
Descrever a assistência de enfermagem
prestada aos pacientes em pós-operatório de
cirurgia cardíaca, determinar o perfil dos pacientes,
Enfermagem Brasil
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avaliar a qualidade da orientação pré-operatória
aos pacientes, conhecer os sentimentos e opiniões
dos pacientes em pós-operatório.
Material e métodos
Estudo de caso é a seleção de um objeto de
pesquisa restrito, com o objetivo de aprofundarlhe os aspectos característicos. O objeto do estudo
de caso pode ser qualquer fato/fenômeno individual, ou um de seus aspectos. É também comum a
utilização do estudo de caso quando se trata de
reconhecer num caso, um padrão científico já
delineado, no qual possa ser enquadrado. Por lidar
com fatos/fenômenos normalmente isolados, o
estudo de caso exige do pesquisador grande
equilíbrio intelectual e capacidade de observação [1].
A pesquisa qualitativa aplicada à enfermagem
conta com uma variedade de métodos e técnicas
que possibilitam o desvendar dos problemas
emergentes do cotidiano da sua prática. A pesquisa
qualitativa facilita a indicação do funcionamento
complexo de estruturas e organizações, difíceis de
observação direta. A pesquisa quantitativa é um
estudo exploratório para um conhecimento mais
profundo do problema ou objeto de pesquisa [2].
O instrumento utilizado foi a entrevista semiestruturada, pois na visão de Minayo [2], nessa
forma de entrevista, o informante aborda
livremente o tema proposto e onde é utilizado um
roteiro apenas para organizar e não direcionar os
dados. As entrevistas foram realizadas em período
diurno. Os depoentes foram mantidos em sigilo e
anonimato, de acordo com a resolução 196/96 [3],
do Conselho Nacional de Saúde, foram atribuídos
pseudônimos escolhidos pelos pesquisadores.
As idéias expressadas por um sujeito numa
entrevista, imediatamente analisadas e interpretadas, podem remendar novos encontros com
outras pessoas ou a mesma, para explorar com mais
profundidade o mesmo assunto ou outros tópicos
que se consideram importantes para o esclarecimento do problema inicial que originou o estudo.
Não obstante o que anteriormente foi expresso,
as coletas de dados são tão vitais na pesquisa
qualitativa quanto na quantitativa, com enfoques
aprofundados, tendo presente seu processo
unitário, integral [4].
Os sujeitos foram pacientes com até 3 dias de
pós-operatório em cirurgia cardíaca, internados na
unidade de terapia intensiva da cardiologia de um
Hospital situado no Município de Itaperuna,
Estado do Rio de Janeiro.
Os dados foram analisados com base na
fundamentação teórica de modo a garantir uma
reflexão mais profunda sobre os resultados obtidos,
através de uma seleção aleatória sendo analisados e
discutidos à luz da fundamentação teórica. O
estudo teve dois tratamentos de dados, um
quantitativo e outro qualitativo.
1º - Momento quantitativo
Iniciamos nossa pesquisa com o tratamento
dos dados quantitativos. Esses dados foram
organizados em tabelas e estão expostos na
descrição dos achados na outra parte. O tratamento
de dados quantitativamente - conforme o próprio
termo indica, significa quantificar opiniões, dados,
nas formas de coleta de informações, assim como
também com o emprego de recursos e técnicas
estatísticas desde as mais simples, como percentagem, média, moda, mediana e desvio padrão, até
as de uso mais complexos, como coeficiente de
correlação, análise de regressão, normalmente
utilizado em defesas de teses [5].
2º- Momento qualitativo
Tem como objetivo avaliar as situações
complexas ou estritamente particulares. As
pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa
possuem a facilidade de poder descrever a
complexidade de uma determinada hipótese ou
problema, analisar a interação de certas variáveis,
compreender e classificar processos dinâmicos
experimentados por grupos sociais, apresentar
contribuições no processo de mudança, criação ou
formação de opiniões de determinado grupo e
permitir, em maior grau de profundidade, a
interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos [5].
Após a coleta de dados, os mesmos foram
analisados pelo conteúdo, utilizando método de
classificação temática. A princípio fizemos a
separação por classes até chegarmos às categorias
que foram extraídas do conteúdo das entrevistas,
para posteriormente serem analisadas e discutidas
conforme os autores consultados.
A análise categorial é destacada em primeiro
lugar, considerando ser a mais antiga cronolo265
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
gicamente e também por ser, na prática a mais
utilizada. Esta é processada a partir de um
desmembramento do texto em unidades, em
categorias, segundo reagrupamentos analógicos.
Ressalta que dentro das diferentes possibilidades de
categorização, ao se trabalhar com discursos diretos,
este trabalho pode ser favorecido ao se optar pela
investigação de temas ou análise temática, e neste
caso, sua aplicação oferecerá rapidez e eficácia.
apenas 9% apresentaram-se do sexo feminino. A
faixa etária do pacientes apresentou-se entre 40 a
80 anos, com média de 60 anos. De acordo com
Haddad [6], a percentagem de operações realizadas
em pacientes acima de 50 anos aumentou de 8%
para 35% em estudo realizado na Escócia com
22.250 clientes submetidos à cirurgia cardíaca.
Desta forma, observamos que os clientes que
realizaram cirurgia cardíaca no município de
Itaperuna apresentaram faixa etária similar daqueles
detectados no estudo por Haddad [6].
Resultados e discussão
Tabela III - Distribuição em relação os tipos de
cirurgias cardíacas.
Apresentação dos dados
A nossa estatística foi exposta através de tabelas,
que foram distribuídas por números e porcentagens
relacionado ao perfil dos pacientes que realizam
cirurgia cardíaca.
Tabela I – Distribuição em relação ao sexo dos
pacientes que realizaram cirurgia cardíaca.
Gênero
Masculino
Feminino
Σ
f
%
10
1
11
91
9
100
Os pacientes entrevistados foram principalmente do sexo masculino, com 91%, de acordo
com a tabela acima, e apenas 9% do sexo feminino.
Estes resultados nos demonstram que a população
que realizou cirurgia cardíaca no município de
Itaperuna foi em sua grande maioria do sexo
masculino.
Tabela II – Distribuição em relação à faixa etária
dos pacientes que realizaram cirurgia cardíaca.
Faixa etária
40“%
50“%
60“%
70“%
Σ
50
60
70
80
f
%
3
3
2
3
11
27,3
27,3
18,2
27,3
100
Dentro da nossa pesquisa, observamos que a
faixa etária apresentou-se entre adultos de 40 a 80
anos de idade, havendo uma queda no índice de
cirurgias em pessoas de 60 a 70 anos, que
representam 18,2% diferente das demais faixas que
se mantiveram a 27,3%.
Os resultados demonstraram que 91% dos
pacientes entrevistados eram do sexo masculino, e
266
Tipos de cirurgia cardíaca
Troca de valva mitral
Troca de valva aórtica
Revascularização do miocárdio
Σ
F
%
5
1
6
11
38
12
50
100
Durante as entrevistas, observamos que a
insuficiência coronariana foi a patologia que mais
atingiu o nosso público alvo com 50%, seguido da
insuficiência de valva mitral com 38%, e que um mesmo
paciente se submeteu a 2 procedimentos cirúrgicos: a
troca de valva mitral e troca de valva aórtica.
Nossa pesquisa mostra ainda, que a insuficiência coronariana foi a patologia que mais atingiu
o nosso público alvo com 50%, seguido da
insuficiência de valva mitral com 38%. Segundo
Petrucci [7], os principais tipos de cirurgia cardíaca,
realizados em estudo no estado de São Paulo foram
revascularização do miocárdio e troca de valva
mitral. Atualmente, no Brasil cresce o número de
pessoas com problemas cardiovasculares relacionados à revascularização do miocárdio, e nossos
resultados estão corroborando com a literatura
atual. As altas taxas de cirurgia por revascularização
do miocárdio ocorrem devido aos hábitos de vida
atuais e as más condições alimentares, além de
outros fatores como o sedentarismo, altos níveis
de colesterol e o tabagismo.
Tabela IV – Distribuição em relação à história
familiar dos pacientes que realizam cirurgias
cardíacas.
Patologias
f
%
Doença
Doença
Doença
Doença
3
9
2
1
17,6
53
11,8
5,9
gástrica
cardíaca
neurológica
respiratória
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
A doença cardíaca aparece com o maior índice
com 53%, seguida da doença gástrica com 17,6%,
havendo um empate entre doença neurológica e
endócrina com 11,76% e finalizando com a doença
respiratória com apenas 5,9%.
Tabela V – Distribuição em relação às condições
sociais dos pacientes que realizam cirurgias
cardíacas.
Condições sociais
f
%
Tabagismo
Hipertensão
Etilismo
Diabetes
6
3
5
1
40
20
33,3
6,7
A história social fornece dados sobre como o
paciente enfrenta os fatores estressores do
cotidiano. As drogas lícitas são as mais utilizadas
entre os nossos entrevistados, o tabagismo com
40% e etilismo com 33,3%, seguidas de doenças
crônicas-degenerativas como hipertensão arterial
em 20% e por último a diabetes com 6,7%.
O número de clientes tabagistas está bastante
elevado, aproximadamente 40%. Os fumantes têm
maior probabilidade de morrer por doença
coronariana, especialmente os fumantes jovens. O
tabagismo é responsável por aproximadamente
45% das mortes nos homens com menos de 65 anos
de idade e por mais de 20% de todos os óbitos por
doença coronariana nos homens com idade maior
que 65 anos. Além disso, homens fumantes entre
45 e 54 anos de idade têm quase três vezes mais
probabilidade de morrer de infarto do que os nãofumantes da mesma faixa etária [8].
Há três fatores de risco preventivos para
doença coronariana: tabagismo, hipertensão
arterial (pressão alta) e colesterol alterado (elevação
do colesterol-LDL e redução do colesterol-HDL).
O tabagismo isolado dobra a possibilidade de
doença cardíaca. O tabagismo, associado à alteração
do colesterol ou à hipertensão, multiplica esse risco
por quatro. O risco torna-se oito vezes maior
quando os três fatores estão juntos. Além disso, o
cigarro por si só, através da nicotina, aumenta a
pressão arterial e leva a uma maior deposição de
colesterol nos vasos sangüíneos [9].
O risco de infarto do miocárdio, embolia
pulmonar e tromboflebite em mulheres jovens que
usam anticoncepcionais orais e fumam chega a ser
dez vezes maior que o das que não fumam nem
usam este método de controle da natalidade.
Calcula-se que o tabagismo seja responsável por 40%
dos óbitos nas mulheres por doença coronariana com
mais de 65 anos de idade.
Aqui trazemos para discussão os relatos dos
pacientes que realizaram cirurgia cardíaca, e
enfocamos os aspectos vivenciados pelos pacientes
no período pré-operatório de cirurgia cardíaca. Os
resultados da entrevista semi-estruturados foram
categorizados e analisados de acordo com o
especificado na metodologia.
1ª- Categoria: cuidados de enfermagem no período
pré-operatório de cirurgia cardíaca.
É referido pelos depoentes não terem sido
orientados sobre o preparo pré-operatório de
forma adequada. Além disso, não foi detectada a
preparação adequada do paciente no período préoperatório. Tais informações foram enfocadas com
relevância nos trechos abaixo relacionados:
“...Não foi explicado como seria a cirurgia...”
“...Não sabia nem qual cirurgia ia fazer...”
“...Algumas pessoas conhecidas aonde eu
moro, contou como ia ser, falaram que dá uma
dor, mas depois da cirurgia melhora”.
“...Fui preparado aqui, o médico disse que se
eu fosse operado teria chance de sobreviver e ficar
bom e se eu não operasse e enfartasse de novo,
poderia morrer...”
Segundo Hudak [9], o paciente pré-operatório
para a cirurgia cardíaca tem componentes
psicológicos e fisiológicos. Um aspecto importante
da preparação psicológica é a orientação eficaz, que
reduz a ansiedade e as respostas psicológicas ao
estresse antes e depois da cirurgia. Deve-se incluir
a explicação do método cirúrgico e as experiências
trans-operatórias e pós-operatórias.
Os resultados mostram que os pacientes não
são orientados quanto ao preparo pré-operatório,
a enfermagem não realiza consultas de enfermagem
pré-operatórias, que é uma estratégia interessante
de atingir as orientações necessárias durante o préoperatório. Logo o preparo psicológico tão
importante tratando de uma cirurgia de grande
porte como a cirurgia cardíaca, não está sendo
atingido. Entendemos que a equipe multidisciplinar deve estar sensibilizada em buscar formas
de suprir estas deficiências, pois quando o cliente
realiza uma cirurgia cardíaca, a preparação
psicológica é de fundamental importância para a
267
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
redução das ansiedades do paciente e otimização o
período pós-operatório. Segundo Brunner &
Suddarth [10] na fase pré-operatória, as avaliações
físicas e psicológicas estabelecem a base para
referência futura. São avaliadas as compreensões
do paciente sobre a cirurgia, o consentimento
informado e a colaboração com os protocolos de
tratamento. Ajudar o paciente nas suas estratégias
de enfrentamento do estresse, a compreender o
procedimento e a manter a dignidade durante o
período trans-operatório seguro é responsabilidade
do enfermeiro.
2ª Categoria: sentimentos dos pacientes no pósoperatório na unidade de terapia intensiva.
Nessa categoria são abordadas situações e
circunstâncias relacionadas aos sentimentos e
ansiedades dos pacientes no período pós-operatório
de cirurgia cardíaca. Em geral, os depoentes
fizeram menção a aspectos semelhantes, referentes
às ansiedades e necessidades de apoio emocional
aos pacientes que foram destacados com relevância
nos trechos abaixo relacionados.
“...Não senti nada, só o coração agitado, mas
o médico disse que eu poderia ficar tranqüilo que
isso era normal. Ele passou um remédio que
normalizou. Fiquei confiante em Deus e garantido”.
“...É ruim demais, colocaram alguma coisa em
sua boca, colocavam um líquido amargo em sua
boca e mandavam tossir...”
“...É o pior lugar do mundo para quem está
lá, mas o melhor lugar do mundo porque as pessoas
estão trabalhando o tempo todo com a gente...”
De acordo com os pacientes, voltam inconscientes para a unidade de cuidados intensivos, como
conseqüência da anestesia e com despertar gradual.
É fundamental orientar e tranqüilizar freqüentemente o paciente. Outro aspecto importante é
associar nas orientações pré-operatórias as complicações e cuidados de enfermagem que serão realizados no período pós-operatório.
Foi constatado que os principais sentimentos
dos pacientes no período pós-operatório imediato
na unidade de terapia intensiva, estava relacionado
aos incômodos e desconforto causados pelos
aparelhos invasivos utilizados para a respiração
mecânica e monitorização hemodinâmica. Os
depoentes também destacaram o barulho e
movimentação encontrada na unidade de terapia
268
intensiva, como um incômodo no período pósoperatório. O enfermeiro em uma UTI deve
identificar os fatores que possam interferir no bem
estar do paciente, apesar do ambiente ser bastante
estressante e necessitarmos a todo instante do
trabalho em equipe para que o trabalho seja
realizado de forma tranqüila e favoreça os cuidados
aos pacientes. Ë possível observar outros depoentes
relatando o incômodo do tubo orotraqueal e a
dificuldade em permanecer na unidade de terapia
intensiva.
“...Primeiro o tubo. Depois ainda fiquei com
alguns aparelhos, aí me senti incomodada, mas no
final do dia estava bem melhor...”
“...Não estou acostumado a ficar em ambiente
fechado, com claridade de luz e o barulho das
máquinas. Mas é preciso ficar aqui, então tenho
que tentar descartar da mente que é mais fácil para
suportar...”
Segundo Brunner & Suddarth [10], estabelecer bom relacionamento com os pacientes,
responder aos questionamentos, prestar atenção
aos receios e complicações pós-operatórios,
esclarecimento das dúvidas e oferecimento de
informações acerca do que esperar, todos são
prescrições que o enfermeiro realiza para preparar
o paciente e a família emocionalmente para a
cirurgia cardíaca e os eventos do pós-operatório.
Conclusão
Com base no exposto, consideramos ter
alcançado os principais objetivos de nosso estudo.
Assim este estudo permitiu levantarmos e
determinarmos o perfil dos pacientes que
realizaram cirurgia cardíaca no período de
setembro a novembro de 2003 no município de
Itaperuna. Identificamos os principais pensamentos
e verbalização dos pacientes que realizam cirurgia
cardíaca.
Diante desses achados concluímos que o perfil
dos pacientes que realizam a cirurgia cardíaca é
preferencialmente do sexo masculino e apresentam
faixa etária média de 60 anos, resultados também
apresentados em estudos prévios no município de
São Paulo [7]. Nossa pesquisa mostra ainda, que a
insuficiência coronariana foi a patologia que mais
atingiu o nosso público alvo com 50%, seguido da
insuficiência de valva mitral com 38%.
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Foi detectado que a maioria dos pacientes são
tabagistas e que 50% dos seus familiares apresentam
doenças cardíacas. Esses números são bastante
expressivos, pois tabagismo é comprovadamente
um fator de risco não só para câncer de pulmão,
enfisema e bronquite, como também para doença
coronariana, cerebral e vascular periférica. A
hipertensão é um poderoso fator de risco para
doença vascular cerebral, bem como para
coronariopatia e diretamente para o processo
aterosclerótico.
Detectamos que os pacientes desconhecem as
orientações pré-operatórias, e relatam terem
conhecimento sobre a cirurgia através de amigos e
vizinhos, ou seja, não existe um trabalho de
orientação pré-operatória pela equipe de saúde
completo e direcionado ao paciente que realiza
cirurgia cardíaca.
A equipe multiprofissional, portanto, deve ser
especializada e a comunicação entre ela eficiente para
melhor assistir os pacientes. Deve-se preocupar não
apenas com o conforto físico, mas também com as
necessidades e expectativas do paciente, ajudando-o a
enfrentar o estresse e a ansiedade que o acompanha e a
restaurar a saúde. Ao executar as suas responsabilidades,
as enfermeiras ajudam o paciente e a família a
promover a saúde e a prevenirem outras enfermidades.
Com as devidas orientações, é possível reduzir
os anseios e sentimentos que os pacientes relatam ao
estar na terapia intensiva, pois eles não conheciam o
setor de terapia intensiva e que iriam permanecer nele,
durante o período pós-operatório.
As enfermeiras da unidade de pós-operatório
de cirurgia cardíaca têm que ser capazes de efetuar
esforços no sentido de que o paciente obtenha a
recuperação em tempo hábil e, conseqüentemente, o
mais elevado nível de saúde. É, portanto, um exemplo
a ser seguido por outras enfermeiras que, como a
saudosa Dra. Wanda, dizem: “enfermeira é gente que cuida
da gente.”
A enfermeira em seu relacionamento com o
paciente tem como objetivo ajudá-lo a diminuir o
seu nível de ansiedade e outras expectativas
manifestas. Em geral, constata-se um elevado nível
de frustração, medo, desânimo, sentimento de
incapacidade e insegurança. Ela é a pessoa mais
indicada para apoiá-los, orientá-los, enfim, avaliar as
necessidades psicológicas desses pacientes, proporcionando-lhes todo o suporte emocional e incentivo
de uma maneira firme e gentil.
Sugerimos que sejam realizadas orientações
pré-operatórias a estes pacientes, através de
consultas de enfermagem direcionadas a atender
os questionamentos do pacientes e prepará-lo
fisicamente e psicologicamente para a cirurgia
cardíaca, que por ser uma cirurgia que desenvolve
grande ansiedade por ser bastante invasiva, seja
capaz de manter os paciente o mais calmo possível.
O paciente deve ser orientado sobre as principais
complicações pós-operatórias e ser orientado sobre
o local que ele irá permanecer neste período.
Referências
1.
Santos AR Metodologia científica: a construção do
conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A; 2000. p. 28-9.
2. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. Petrópolis: Vozes; 1999.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução n o 196 de
10/10/1996 – Diretrizes e normas regulamentadoras
de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília:
Conselho Nacional de Saúde; 1996.
4. Trivinos ANS. Introdução à pesquisa em ciências
sociais. A pesquisa qualitativa em educação. 4a ed.
São Paulo: Atlas; 1994. p.133.
5. Oliveira S. Tratado de metodologia científica:
projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias,
dissertações e teses. 2a ed. São Paulo: Pioneira; 2000.
p. 115-7.
6. Haddad NS. Conseqüências do prolongamento do
tempo de espera em pacientes candidatos à cirurgia
cardíaca. Arq Bras Cardiol 2002;78(5):452-8.
7. Patrucci O, Oliveira PPM, Antoniali F, Baccarin V,
Braile DM, Vieira RW. Uso de dreno fino
retrocardíaco em pós-operatório de cirurgia
cardíaca. Arq Bras Cardiol 1997;68(3).
8. Hudak CM, Gallo BM. Cuidados intensivos em
enfermagem: uma abordagem holística. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 1997.
9. Knobel E. Condutas no paciente grave. São Paulo:
Atheneu; 1994. p.755-6.
10. Brunner L. Tratado de enfermagem médicocirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.
p.482-3. 269
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Artigo original
Estratégias de enfermagem para pr
evenção
prevenção
de traumas automobilísticos
Aldir da Silva Junior*, Maria José Coelho, D.Sc.**
* Acadêmico de Enfermagem da Universidade Gama Filho, ** Professora Doutora em Enfermagem – Escola de Enfermagem Ana Nery – UFRJ
Resumo
Trabalho que traz como objeto a prevenção de traumas automobilísticos destacando a visão do profissional enfermeiro
da assistência pré-hospitalar acerca da relevância dos itens de segurança necessários aos automóveis no intuito de
minimizar o trauma sofrido pelos ocupantes do veículo na colisão dos autos. A importância deste trabalho científico
está em discutir estratégias para prevenção e para que também sejam contempladas pelos programas de Saúde Coletiva.
A metodologia caracteriza-se por ser um estudo descritivo de natureza qualitativa que está utilizando a entrevista
estruturada como estratégia de coleta de dados, incluindo como sujeitos do estudo os enfermeiros que atuam na
assistência pré-hospitalar nas vias expressas da cidade do Rio de Janeiro. A oportunidade de influenciar a sociedade
existe como nunca existiu. Cabe aos profissionais de saúde, principalmente os enfermeiros, fornecer a orientação e a
inspiração para assegurar o sucesso de campanhas de prevenção bem planejadas e de caráter renovador.
Palavras-chaves: prevenção, traumas e automobilismo.
Abstract
Nursing strategy to car accidents prevention
As a previous note, of a research project meaning the study of prevention in car accidents with the nurse professional view in
prehospital care plus the importance of safety dispositives with the purpose of minimize the car occupants injuries. The
importance of this work lies in the fact that is necessary to discuss strategies leading to the obligation of safety items (as air bags,
ABS brakes and lateral protective bars) in the Brazilian mass car production. Moreover, the need of car accidents prevention as a
Public Health program. For society, a great study showing the need for more safe cars and better drivers’ education. Above all, a
way to spread the Nurse Prehospital Care as a emergent field for nurse professionals. (Methodology): Descriptive and qualitative
Artigo recebido em 26 de agosto de 2004; aceito em 15 de setembro de 2004.
Endereço para correspondência: Aldir da Silva Junior, Rua Pinhal, 136 Marechal Hermes
21610-030 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 3340-0804,
E-mail: [email protected]
270
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
study using a structured interview as a data compliance, including as the study subjects, express way rescue professionals in Rio
de Janeiro. Currently, there is a unique opportunity for influencing society. Health professionals, particularly nurses should
provide guidance to ensure success in well-planned, innovative prevention campaigns.
Key-words: prevention, car accident trauma.
Resumen
Estrategia de enfermería para prevención de traumas en colisión de autos
Este trabajo tiene como objeto la prevención de traumas de autos, destacando la visión del profesional enfermero de asistencia
prehospitalaria acerca de la relevancia de los ítems de seguridad necesarios para los autos en el sentido de minimizar el trauma
sufrido por ocupantes de autos que colisionaron. La importancia de este trabajo científico está en discutir estrategias para
prevención de traumas de autos y que sean contempladas en el programa de salud publica. La metodología caracterizase por ser
un estudio descriptivo de naturaleza cualitativa que está utilizando la entrevista estructurada como estrategia de colecta de datos,
que incluye como sujetos de estudio los enfermeros que actúan en la asistencia prehospitalaria en las calles de la ciudad de Rio de
Janeiro. La oportunidad de influenciar la sociedad existe como nunca existió. Es importante que los profesionales de la salud,
especialmente los enfermeros, proporcionen la orientación para garantizar el éxito de las campañas de prevención bien planeadas
y de carácter innovador.
Palabras-clave: prevención, traumas, autos.
Introdução
A realidade de Saúde de nossos dias mostra
que o trauma automobilístico assumiu e assume
proporções endêmicas e, em muitas faixas etárias,
tornou-se a principal causa de mortalidade, retirando da força produtiva da população um
numeroso contingente, com prejuízo incalculável
para a sociedade.
O trauma seqüestra da sociedade uma
população essencialmente jovem, sendo os efeitos
desta letalidade as paralisias com suas seqüelas
motoras, as amputações, os déficits neurológicos e
todo um trágico cortejo de morbidez extrema.
Com esta razão apresentam prejuízo incalculável psicológico, afetivo-emocional, laborativo,
econômico, familiar e para a própria sociedade, por
extensão. Neste sentido, iremos a seguir destacar os
fatores desta realidade, dando destaque à prevenção
e a participação da enfermagem nesta área de
conhecimento e atuação, destacando suas estratégias.
Materiais e métodos
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, onde
pretendemos buscar aspectos subjetivos na falta de
profissionais de saúde que atuem em especial no
atendimento pré-hospitalar e nas grandes emergências. Para que, assim, possamos escutar suas
opiniões em relação aos itens de segurança que
minimizam o trauma, se a prevenção do trauma
automobilístico deveria ser visto como um problema
de Saúde Pública e o que pode-se fazer quanto a
elaboração de um programa de Saúde Pública.
A coleta de dados foi realizada através das
informações prestadas pelos profissionais de saúde
sendo utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada. Obviamente, lhes foi solicitado a
autorização para tal, mediante assinatura de termo
de responsabilidade, autorizando veicular as informações obtidas nesta entrevista à pesquisa, onde
lhe garantiremos itens ato e uso de pseudônimos
se assim desejarem.
Foi feito buscar destes profissionais enfermeiros que convivem em situações de emergência,
refiro-me aqueles que atuam na emergência préhospitalar, como no Grupamento de Socorro de
Emergência (G.S.E) – subordinado ao Corpo de
Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro,
empresas particulares , e serviços emergências de
hospitais públicos .
A coleta de dados foi feito através das
informações prestadas pelos profissionais que
atuam em emergência sendo utilizada a técnica da
entrevista não estruturada com perguntas abertas.
271
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturadas com 4 questões que foram orientadoras, assim:
1. Quais os itens de segurança considerados,
imprescindível, na minimização do trauma?
2. A prevenção do trauma automobilístico
deveria ser visto como problema de saúde pública?
3. Como os profissionais de saúde poderiam
ajudar a sociedade neste problema?
4. Cite três cuidados preventivos?
Após aplicar o roteiro de entrevista, as
propostas foram transcritas sendo agrupadas pela
convergência dos significados.
Resultados e discussão
Este capítulo consiste nos dados de quatro
perguntas em que as informações prestadas foram
de profissionais da área de saúde (enfermeiros) que
convivem com situações de emergência.
Distribuição dos itens de segurança como
declarados imprescindíveis por minimizar o trauma
Os itens de segurança imprescindíveis na
minimização do trauma automobilístico segundo
o gráfico acima são: cinto de segurança (35%), air
bag (30%), Barra de proteção lateral (12,5%), recosto
de cabeça, crianças no banco de trás com cinto,
protetor cervical de banco, assistência inicial
especializada, não ultrapassar os limites de
velocidade, os últimos respectivamente (5%),
respeitar as leis de trânsito, prudência, manter a
vítima estável, encosto de cabeça para todos
ocupantes do carro e capacete, cada uma das
repostas tiveram (2,5%).
Apesar da maioria dos entrevistados considerar
o uso do cinto de segurança como imprescindível
para minimização do trauma, estudos realizados pela
Rede Sarah (Centro de reabilitação em ortopedia)
[1], mostram que 2/3 dos pacientes admitidos não
usavam cinto de segurança na ocasião do acidente.
Foi também observado o não-uso de cinto de
segurança quando analisado sua distribuição entre
condutores e passageiros, em que mais da metade
dos condutores (56,6%) e mais de 2/3 dos passageiros
(74,3%) não utilizavam o cinto de segurança no
momento do acidente demonstrando que a maioria
dos passageiros do banco traseiro destes veículos
não usavam cinto de segurança.
272
Foi observado também que em todos os
acidentes em que o veículo ocupado pela vítima
estava sendo conduzido a velocidades superiores a
60 KM/H, ocorrendo o crescimento de ocorrências de neurotraumas, particularmente de lesões
medulares. Em outras palavras, isso equivale dizer
que a proteção proporcionada pelo cinto de
segurança será tanto maior quanto menor for a
velocidade e a massa dos veículos envolvidos em
uma colisão.
A segunda opção mais respondida foi o air
bag, a melhor forma de utilizá-lo é em conjunto
com o cinto de segurança, aumentando assim a sua
eficiência, mas vale lembrar que este equipamento
é acionado apenas uma vez. Se ocorrer colisões
múltiplas, como por exemplo, no capotamento do
veículo não haverá a proteção do equipamento,
porque ele é acionado na primeira colisão.
A barra de proteção lateral também é um
importante item, porque reforça as laterais do
veículo assim diminuindo o impacto para os
ocupantes numa colisão lateral.
Todas estas formas de minimização têm a sua
importância, mas devem ser utilizadas de forma
correta, respeitando assim a legislação de trânsito.
Análise da prevenção do trauma como um
problema de saúde pública
O item que relata os entrevistados cujos
traumas automobilísticos deveriam ser vistos como
problema de saúde pública, teve a maioria das
repostas afirmativas (13,58%), negativas (5,1%) e
as outras respostas não tinham relação com a
pergunta (2,5%). Isso mostra que os entrevistados
desejam um programa efetivo de prevenção de
traumas automobilísticos, como há nos programas
de saúde pública em vigor, como, por exemplo os
programas de saúde da família (PSF), assistência
pré-natal entre outros. A sociedade por direito
deve exigir dos órgãos competentes para a
resolução desta problemática, porque já é um grave
problema de saúde pública em nosso país.
As 10 estratégias de prevenção de traumas [2] são:
Estratégia 1 – Em primeiro lugar previna a
própria criação do fator de risco;
Estratégia 2 – Reduza a extenção do fator de
risco efetivamente existente;
Estratégia 3 – Previna a liberação do fator de
risco ambiente;
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Estratégia 4 – Modifique a velocidade ou a
distribuição espacial da liberação do fator de risco;
Estratégia 5 – Afaste o fator de risco, em
termos de espaço, do indivíduo que deve ser
protegido;
Estratégia 6 – Separe o fator de risco e sua
vítima em potencial por meio de uma barreira física;
Estratégia 7 – Modifique a natureza básica do
potencial veículo de transferência de energia;
Estratégia 8 – Aumente a resistência daquele
que deve ser protegido das conseqüências adversas
de uma interação como o fator de risco;
Estratégia 9 – Detecte e avalie o prejuízo que
está ocorrendo e bloqueie sua continuidade e sua
extensão;
Estratégia 10 – Devolva o máximo potencial
funcional aquele que sofreu o prejuízo.
Quando os entrevistados foram questionados de
que forma os profissionais poderiam ajudar na
resolução do problema, encontramos os seguintes depoimentos
Em relação ao item como os profissionais de
saúde poderiam ajudar a minimização dos traumas
automobilísticos os resultados foram: educar
(21,4%), orientar, realizar palestras e prevenção de
acidentes (7,1%), campanhas educativas, propaganda de “boca em boca”, punindo, reclamando,
fazendo grupos de resgate especializados, mostrar
a realidade do dia a dia, através de cursos teóricos
pra a sociedade, anúncios dos acidentes como são
vistos, conscientizando, demonstrando o número
de mortos, paraplégicos foram (3,57%).
Demonstra os entrevistados que gostariam
que os profissionais de saúde fossem mais atuantes
na prevenção primária, tais como: realizar palestras
nas escolas, nas empresas, orientar a sua comunidade, participar efetivamente na educação de base,
tendo assim disciplinas ministradas por profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro por
ter características de educador e ser licenciado para
dar aulas no ensino de nível fundamental e médio,
participar das campanhas publicitárias direcionando a campanha para o seu público alvo, tendo
mais grupos especializados em pré-hospitalar e
trabalhando com o Corpo de Bombeiros de seus
respectivos estados, enquadrando-se um dos
conceitos de prevenção de traumas automobilísticos no qual seria a prevenção terciária, assim
melhorando atendimento ao traumatizado e
reduzindo o tempo do transporte do local do
evento até o hospital mais próximo.
A reportagem de Roberto Guimarães [3]
relata a educação no trânsito, um programa de
reciclagem, cujo Código de Trânsito Brasileiro,
prevê curso de reciclagem, entre outros casos, para
condutores que têm a habilitação suspensa. O
curso tem duração de quatro dias, e quatro
matérias compõem o currículo: legislação de
trânsito, meio ambiente, primeiros socorros e
direção defensiva. Cada assunto há uma prova de
múltipla escolha, com dez questões. Para ser
aprovado, é preciso obter no mínimo média sete
em cada disciplina e se tirar abaixo da média passará
por um novo teste. Caso não atinja a nota mínima
na recuperação, é preciso fazer o curso de 20 horasaula novamente. A reciclagem é oferecida por
órgãos de transito estaduais e municipais e por
Centros de Formação de condutores (CFCs)
autorizados pelo Denatran.
Para Carlos Alexandre Negrine Bettes [3]
advogado especialista em Trânsito e presidente da
Junta Administrativa de recursos de Infração
(JARI) do Denatran-PR, o programa de reciclagem
funciona. Ele escreveu um estudo sobre o tema
em que 95% dos motoristas declaram ter alterado
seu comportamento no trânsito após o curso.
Cerca de 70% dos alunos afirmaram durante a
reportagem que somente a suspensão, sem aulas,
não teria o mesmo efeito.
Distribuição dos cuidados preventivos de trauma
automobilísticos
O público consagra como cuidados preventivos o uso do cinto de segurança (19,14%), o
respeito dos limites de velocidade e principalmente
não dirigir alcoolizado (14,89%), respeito às leis
de trânsito (6,38%), conscientização quanto as leis
de trânsito e dirigir com sono tiveram respectivamente (4,25%), reciclagem dos motoristas,
manutenção das estradas e sinalizações, não usar o
telefone celular, educação escolar, punições graves,
manutenção adequada dos veículos, trafegar com
velocidade compatível com a via utilizada, mais
itens de segurança nos veículos, equipamentos
adequados, dirigir só quando habilitado, não
dirigir sob efeitos de medicações que inibem o
sono, capacete e propagandas tiveram cada um a
porcentagem de (2,12%).
273
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Realmente a sociedade acha que sabe os seus
limites para o álcool. “As pessoas sabem diferenciar quando
estão bêbadas ou sóbrias, mas não têm consciência de que o álcool
faz efeito bem antes e que isso pode provocar acidentes graves”,
afirma Júlia Greve, diretora da divisão de reabilitação
do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do
Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo [4].
A Revista Quatro Rodas do mês de setembro
de 2003 realizou uma matéria por André Ciasa
[4], onde reuniram seis jovens da mesma faixa etária
e realizaram vários testes de direção sem uso de
álcool e com uso do álcool. O teste consistiu em
percorrer um circuito com obstáculos como:
seqüência de curvas, slalon, controle de velocidade,
a travessia de pedestres e semáforo. Primeiro
percorreram sóbrios e depois com uso do álcool,
começando com uma latinha de cerveja que contém
segundo a lei de limite de álcool que é de 0,6 gramas
por litro de sangue, até cinco latinhas de cerveja.
O resultado demonstrou que com uma latinha já
tiveram uma perda significativa dos reflexos, não
conseguindo manter os limites de velocidade e
principalmente a confiança na direção. Ficou provado que não há regra geral para medir a resistência ao álcool.
A população tem que ter consciência dos
respeitos das leis de trânsito, a utilização do cinto
de segurança por todos os ocupantes do veículo e
principalmente não dirigir utilizando telefone
celular, com sono ou sob efeito de medicações que
inibem ou potencializam o sono porque estará
colocando em risco sua vida e por extensão as vítimas
potenciais a sua volta. Também devem ser colocadas
em prática as estratégias de prevenção como, por
exemplo, a manutenção de rodovias e sinalizações
que se enquadrariam nos riscos ambientais, mais
rigor nas punições dos infratores que se enquadrariam na Legislação, a volta para escola dos
motoristas que perderam suas habilitações de trânsito
que se enquadra na educação de trânsito.
Conclusão
A despeito das estratégias atuais de prevenção de
traumas automobilísticos, o trauma continua sendo o
maior responsável pelo número de mortes, principalmente dos jovens e se constitui como uns dos
principais problemas de saúde pública do século XXI.
Os profissionais da área de saúde em especial
os enfermeiros têm que se organizar para estru274
turar um programa eficiente de prevenção que
atenda todas as classes sociais, investindo na
educação escolar no trânsito, assim ministrando
palestras mensais sobre o tema, nas escolas de nível
fundamental e médio utilizando os recursos
disponíveis para explicar essa problemática.
Também na capacitação dos profissionais na área
de emergência pré-hospitalar e na a estruturação
deste sistema, apresentando hospitais de referencia
a traumas, ampla rede de transportes, sendo: aéreos
(utilização de helicópteros e aviões) terrestres
(ambulâncias básicas à avançadas – “UTI móvel”),
comunicações eficientes com centrais de atendimento ao público (via rádio,via satélite e telefônica), a nível federal as legislações de trânsito com
o cumprimento das leis em vigor e surgimento de
novas mas rígidas, a criação de uma lei que exige
das montadoras multinacionais a utilização dos
itens de segurança considerados de “luxo” nos países
desenvolvidos como obrigatórios em todos os
modelos de automotores oferecidos a venda,
também a eliminação dos riscos ambientais no qual
teriam estradas bem sinalizadas, sem buracos, com
passarelas para pedestres em vias de alto fluxo e de
alta velocidade, as calçadas mas amplas para os
pedestres, utilização de radares como medida de
repreensão aos infratores, campanhas publicitárias
nos jornais ,revistas, redes de TV e internet sendo
organizadas pelos profissionais da saúde com um
único enfoco que seria a sociedade.
As estratégias de enfermagem para solucionar
esta problemática seriam atuar nas três esferas de
prevenção, que são: Primária, Secundária e Terciária.
A prevenção Primária é a eliminação global
das causas implícitas no trauma. Então seria investir
na educação escolar, principalmente no nível
fundamental, porque nesta faixa a criança está em
formação intelectual, assim podendo moldar para
a prevenção de traumas automobilísticos. Esta
estratégia poderia ser desenvolvida inserindo o
profissional de saúde, o enfermeiro, nas escolas públicas, ministrando palestras periódicas, dinâmicas
de grupo e treinamento para professores para dar
continuidade ao trabalho de prevenção. Outra
estratégia seria que nossas rodovias e ruas fossem
bem pavimentadas e sinalizadas, utilizando todos
os recursos disponíveis, como utilização de
passarelas em vias de alta velocidade, quebra-molas
e sinalização no chão e em placas perto de escolas,
pardais e guardas de trânsito para punir os
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Setembro / Outubro 2004;3(5)
infratores, calçadas mais largar e cercadas com
barras de ferro para que impeça de automóveis
estacionarem, acostamento dentro de túneis e
rodovias.
A prevenção Secundária seria a redução das
lesões que resultam no traumatismo. Temos como
exemplo os dispositivos desenvolvidos para
minimizar o trauma. Estes dispositivos são
desenvolvidos principalmente para as corridas
automobilísticas e depois são adaptados nos veículos
de passeio. A formula 1 teve um importantíssimo
valor no desenvolvimento de itens de segurança
como, o freio ABS, compostos para pneus
otimizando sua performance na aderência, válvula
de segurança que corta o combustível numa
colisão, entre outros.
A última seria a prevenção Terciária que inclui
todas as medidas tomadas após a ocorrência do
traumatismo que resultam um melhor prognóstico. A principal estratégia é a estruturação do
sistema de atendimento pré-hospitalar e hospitalar,
que podem ser: treinamento periódicos dos
profissionais que atuam nesta assistência e se possível
fossem especialistas, investimento em materiais
como ambulâncias, helicópteros e aviões, organização de um sistema eficiente de informação
interligando quem pede socorro, quem faz o
primeiro atendimento e quem vai dar continuidade
a esse atendimento como por exemplo o 911 nos
Estados Unidos, dividir as áreas de atuação com
apoio de empresas privadas subordinadas ao
estado, mas para que estas estratégias derem certo
tem que haver a união dos estados e governo
federal, para que seja um sistema único de atuação.
A oportunidade de influenciar a sociedade
existe como nunca existiu. Cabe aos profissionais
de saúde fornecer a orientação e a inspiração para
assegurar o sucesso de campanhas de prevenção
bem planejadas e de caráter renovador. Se tais
medidas forem adotadas, o objetivo final, qual seja
reduzir de modo significativo a morbimortalidade
por trauma, poderá ser alcançado.
A continuidade deste estudo seria a criação
de uma linha de pesquisa dentro do curso latu sensu
de mestrado, doutorado e pós-doutorado em
enfermagem, porque na nossa área estamos ainda
muito carente de novos conhecimentos, materiais
didáticos, sendo necessário obter literatura de
autores de outras áreas.
Referências
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2.
3.
4.
Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. [citado
2003 Ago 24]. Disponível em: URL:
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College of Surgeons; 1995.
Quatro Rodas 2002; Jul.
Volta à escola. A pé. São Paulo: Quatro Rodas 2003;
Jan. 275
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Artigo original
Um enfoque prático para a gestão de
materiais com consciência e qualidade
Margarete Maria de Lima
Especialista em gestão dos serviços de enfermagem da UFSC, enfermeira do PSF de Agrolândia - SC
Resumo
Relata execução de um projeto de gestão de materiais desenvolvido em um centro de saúde no município de Leoberto Leal – SC,
no período de janeiro a abril de 2004. Tem como intuito mostrar que a gestão consciente de materiais faz parte do conjunto de
ações que o enfermeiro deve desenvolver para que se mostre um serviço de qualidade tanto para o cliente quanto para a instituição.
O assunto abordado é desafio para aos gestores e profissionais de saúde, que necessitam refletir sobre a importância da gestão de
materiais com consciência e qualidade, pois somente dessa forma poderão criar propostas que envolvam uma cultura organizacional
voltada para a inovação, flexibilidade, aprendizagem e que permita a reconstrução do conhecimento em todo e qualquer momento.
Palavras-chave: recursos materiais, enfermagem, qualidade.
Abstract
Practical focus to material administration with conscience and quality
The aim of this work is to relate the execution of a project of administration materials developed in a Health Center in the
municipal district of Leoberto Leal – SC from January to April 2004. Its intention is to show that conscious administration of
materials is part of the actions that the nurse should develop for a better quality service either to the client and for the institution.
The approached subject is a challenge for the managers and health professionals that need to think about the importance of the
administration materials with conscience and quality, because only on this way they can create proposals that involve an organizational
culture turned to innovation, flexibility, learning and that allows the reconstruction of the knowledge in whole and any moment.
Key-words: materials resources, nursing, quality.
Artigo recebido em 27 de agosto de 2004; aceito em 15 de setembro de 2004.
Endereço para correspondência: Margarete Maria de Lima, E-mail: [email protected]
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Resumen
Un enfoque practico para la administración de materiales con conciencia y
calidad
Se trata de la ejecución de un proyecto de administración de materiales desarrollado en un centro de salud en el distrito municipal
de Leoberto Leal, Santa Catarina en el período de Enero a Abril de 2004. Tiene como objetivo mostrar que la administración
consciente de materiales hace parte de un conjunto de acciones que la enfermera debe desarrollar para mostrar un servicio de
calidad tanto para el cliente como para la institución. El asunto abordado es un desafío para los gestores y profesionales de la
salud que necesitan reflexionar la importancia de la administración de materiales con la conciencia y calidad, porque sólo de esa
manera ellos pueden crear propuestas que envuelvan una cultura orgánica volcada para la innovación, la flexibilidad, aprendizaje
y que permita la reconstrucción del conocimiento a cualquier momento.
Palabras-clave: recursos materiales, enfermería, calidad.
Introdução
O enfermeiro de um centro de saúde vivencia
em seu cotidiano inúmeras tarefas, dentre elas,
atividades educativas, assistenciais, coordenação da
unidade e de programas, atividades de supervisão e
gerenciamento, sendo difícil muitas vezes estabelecer
prioridades. Dentre todas as atribuições do enfermeiro, também cabe a solicitação e/ou supervisão
de materiais para a unidade, onde esse precisa estar
atento para não esquecer nenhum item, solicitar a
quantidade necessária, e, o mais importante, descrever
o pedido de forma clara e detalhada, pois o não
entendimento poderá gerar a não cotação do material
desejado.
Diante disso, acreditamos que o enfermeiro não
deva se restringir apenas à visão assistencial, mas
perceba a organização como um todo, do mais alto
nível hierárquico à unidade em que trabalha, conheça
as linhas de autoridade, regimentos, estatutos,
processo de tomada de decisão e aquisição de material.
Esta busca por novos conhecimentos não é tão fácil,
principalmente por esbarrar na burocracia que envolve
a instituição, pela disputa de poder e pela resistência
de alguns colaboradores em transmitir informações
e conhecimentos temendo que outras pessoas possam
saber mais do que eles. Este caminho muitas vezes o
enfermeiro precisa trilhar sozinho, caminhando
lentamente para conseguir os objetivos almejados.
O sistema de saúde e os serviços de saúde são
significativamente diferentes, complexos, e de certo
modo únicos, se comparado a outros tipos de
organizações, em particular as indústrias, o que traz
conseqüências no seu gerenciamento. O trabalho
desenvolvido é de caráter variável e na maioria das vezes
emergencial, existindo uma variação considerável no
número de procedimentos, acarretando em algumas
vezes na falta de material, e em outras, no excesso
evidenciado pelo número de itens vencidos [1].
Diante disso, questionamos: qual a melhor
forma de se administrar materiais nos serviços de
saúde e o que fazer para evitar o desperdício ou a
falta de materiais?
Acreditamos que cada instituição deve se
adequar a sua realidade, não esquecendo que a meta
principal é a prestação de bons serviços aos clientes,
ou melhor, a qualidade deve estar presente em todas
as atividades executadas, principalmente na enfermagem, que preconiza uma assistência livre de riscos
tanto para o cliente quanto para o profissional. Em
se tratando da qualidade dos serviços de enfermagem,
convidamos a refletir: poderemos prestar uma
assistência de qualidade com materiais inadequados,
que não apresentam segurança para realizarmos
procedimentos? Que enfermagem estamos “fazendo” quando desperdiçamos o material que poderá
faltar ao nosso colega de trabalho?
Objetivos
• Mostrar para os enfermeiros e profissionais
de saúde que a gestão consciente de materiais faz parte
do conjunto de ações que devem desenvolver para
que se mostre um serviço de qualidade tanto para o
cliente quanto para a instituição;
• Descrever as especificações técnicas dos
materiais utilizados no centro de saúde;
• Catalogar material de consumo disponível em
estoque para prever e observar o consumo;
277
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
• Verificar a qualidade dos materiais adquiridos;
• Informar e conscientizar a equipe sobre a
importância de conhecer o custo de cada material,
demonstrando que existem maneiras de evitar
desperdício, conscientizando e estimulando a
participação de todos na gestão de materiais.
uma proposta de aplicação prática do gerenciamento
de materiais, envolvendo os funcionários do centro
de saúde, para que ampliem sua visão sobre a
importância da organização e controle adequados,
tanto do material em estoque quanto do material a
ser solicitado.
Materiais e métodos
Resultados e discussão
Este trabalho foi desenvolvido em um centro
de saúde no município de Leoberto Leal - SC no
período de janeiro a abril de 2004. O centro de saúde
dispõe de serviços de enfermagem e medicina a nível
ambulatorial. A estrutura física é ampla, composta
por recepção, farmácia, sala de triagem, dois
consultórios médicos, sala de curativos e pequenas
cirurgias, sala de emergência e medicação, sala de
vacina, sala de exame ginecológico, sala de coleta de
exames laboratoriais, teste do pezinho, nebulização,
três enfermarias para observação com oito leitos
adultos e três pediátricos, posto de enfermagem, sala
de reuniões, sala do setor administrativo, copa,
lavanderia, expurgo e sala de esterilização. São
realizados procedimentos clínicos e pequenas cirurgias,
curativos, imunização, exame de papanicolau, triagem,
teste do pezinho, consultas de enfermagem,
atendimento clínico com observação, grupo de
gestantes, grupo de hipertensos e diabéticos, vigilância
epidemiológica e sanitária, vigilância alimentar e
nutricional e outros. O horário de funcionamento da
unidade é das 06:30 às 18:00 horas. O quadro de
funcionários do centro de saúde está constituído por
dois clínicos gerais, duas enfermeiras, três técnicas de
enfermagem, uma técnica administrativa, um bolsista,
uma recepcionista e duas auxiliares de serviços gerais.
Além das atividades desenvolvidas no centro de saúde
o município conta com duas equipes do programa
de saúde da família, constituído pelos profissionais
do centro de saúde (dois médicos, duas enfermeiras
e duas técnicas de enfermagem) e por doze agentes
comunitários de saúde.
Uma das enfermeiras coordena a unidade e outra
é responsável pela área administrativa, que conta com a
colaboração da técnica administrativa e do bolsista,
ambos trabalham no período vespertino. São muitas as
atribuições deste setor, dentre elas, fechamento mensal
da produção, digitação de programas do ministério da
saúde, gestão de materiais da unidade e outras.
Através da observação de como era conduzida
a gestão de recursos materiais na unidade foi criada
278
Mostrar aos enfermeiros e profissionais de saúde
que a gestão consciente de materiais faz parte
do conjunto de ações que devem desenvolver
para que se mostre um serviço de qualidade tanto
para o cliente quanto para a instituição
Os materiais e equipamentos necessários ao
desenvolvimento das atividades assistenciais de uma
instituição de saúde possuem características técnicas
muito complexas, sendo necessário, em sua
administração a inclusão de profissionais de saúde
para exercerem um papel mais ativo, não só nos
aspectos técnicos, mas também naqueles relacionados
a custo [2].
No entanto, o gerenciamento de materiais está
distante das prioridades dos enfermeiros e profissionais de saúde, que percebem a qualidade do
material somente no momento de utilizá-lo e, na
maioria das vezes, julgam a instituição como única
responsável pela qualidade deste. Convém lembrar,
que nós profissionais, ao assumirmos a postura de
que não somos responsáveis por esta qualidade e sim
pela qualidade da assistência, não nos damos conta
de que a qualidade da assistência depende também
da qualidade dos materiais utilizados.
Portanto, não devemos esquecer que a principal
finalidade da gestão de materiais nas instituições de
saúde segundo Paterno [3], é assegurar o contínuo
abastecimento dos materiais necessários e capazes de
atender a demanda da mesma, bem como, cuidar de
todos os problemas relacionados a materiais,
fiscalizando, zelando e controlando, no sentido de
garantir quantidade e qualidade no abastecimento e
padrão no atendimento.
Para que se mostre um serviço de qualidade para
o cliente e para a instituição precisamos incluir a gestão
de materiais nas prioridades de nosso cotidiano, pois
os profissionais de enfermagem em especial o
enfermeiro convivem diariamente com os problemas
relacionados à materiais. Lembrando que ao falar em
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
qualidade dos materiais utilizados nos serviços de
saúde a grande maioria dos clientes não apresenta
embasamentos que norteiem a avaliação dos
produtos utilizados, esta função cabe aos profissionais
de saúde que utilizam em seu dia a dia estes materiais.
O cliente poderá avaliar um material quando este for
familiar, quando a falha for muito evidente ou quando
o profissional não se certificar da qualidade do material
antes de realizar o procedimento. Um bom exemplo
seria um vazamento em um equipo de soro, onde o
paciente mesmo com pouco conhecimento perceberia
o defeito. Por outro lado existem alguns materiais que
a avaliação da qualidade sob a ótica do cliente avaliaria
de forma equivocada a habilidade do profissional.
Um cliente submetido a uma punção venosa com
uma agulha ou escalpe de ponta romba não vai avaliar
a qualidade desses materiais, mas a habilidade do
profissional, certamente irá pensar que este profissional
tem “mão pesada” ou não tem “prática”, tem pouca
habilidade e outras caracterizações poderão ser
incorporadas ao profissional por utilizar materiais de
qualidade duvidosa.
Descrever as especificações técnicas dos
materiais utilizados no centro de saúde
O processo de compra da prefeitura municipal
é através de licitação. Primeiramente a equipe do
centro de saúde elabora a lista com a quantidade de
materiais e medicamentos necessários para o período
de seis meses. Os materiais que não são cotados,
posteriormente são adquiridos através de compra
direta. Antes do desenvolvimento deste trabalho a
lista do material a ser adquirido para o centro de saúde
continha o nome do produto sem as especificações
técnicas, desta forma não havia como reivindicar
quando o material não era de boa qualidade, ou não
atendia as expectativas dos profissionais. Para reforçar
a importância de uma descrição clara e detalhada do
material convém exemplificar a solicitação de um
produto antes e após a aplicação deste trabalho. Antes
era descrito escova ginecológica para coleta de
preventivo, hoje a descrição e da seguinte forma:
escova cervical estéril atóxica, descartável, cerdas em
nylon, macia e resistente, cabo resistente, comprimento
mínimo de 17cm. Embalagem individual e segura com
abertura asséptica, contendo identificação do produto,
data de fabricação, validade e lote.
A elaboração das especificações técnicas dos
materiais para a unidade foi a etapa mais difícil de ser
executada, exigiu muito empenho, várias horas de
pesquisas na internet e algumas semanas para ser
completada, foi preciso muita persistência, pois alguns
materiais não se tinha noção de como especificar.
Demandou habilidade para que a especificação do
produto não fosse descrita de forma vaga e nem
muito detalhada. Concordo com Arnold [4] quando
diz que para serem úteis, as especificações devem ser
cuidadosamente desenvolvidas, pois se são descritas
de forma vaga podem não determinar um produto
satisfatório e se for demasiadamente detalhadas e
elaboradas torna seu desenvolvimento custoso, sua
inspeção difícil, podendo esses fatores desencorajar
os fornecedores.
Catalogar material de consumo disponível em
estoque para prever e observar o consumo.
Este objetivo foi alcançado mediante o
gerenciamento de estoque realizado na unidade por
um bolsista com supervisão da enfermeira. Na
administração de materiais é fundamental o
gerenciamento adequado de estoque, pois quando
mal gerenciados podem acarretar a falta de materiais
ou excesso destes. Para o controle dos materiais
armazenados em estoque foi elaborada uma ficha
de controle, contendo a descrição simplificada do
produto, entrada e saída de material, procedência e
custo unitário. Através dos registros de movimentação
foi possível calcular o consumo médio mensal de
materiais, baseado na média aritmética simples dos
últimos três meses. Com a aplicação deste método
diminuiu o número de pedidos realizados pela
instituição, sendo atualmente realizados a cada três
meses. Os materiais são solicitados através de
comunicação interna, contendo fornecedor, número
do item descrito na licitação, descrição simplificada
do produto, valor unitário, quantidade e valor total.
Com a aplicação deste projeto houve diminuição
significativa no número de itens vencidos em estoque,
atualmente utiliza-se a regra do primeiro a entrar
primeiro a sair, sendo os materiais estocados por
ordem de validade.
Verificar a qualidade dos materiais adquiridos
Todos os materiais que chegam ao centro de
saúde são conferidos em quantidade em principalmente em qualidade. Verificamos se as especificações técnicas descritas no pedido de licitação
conferem com o material recebido. Com isso
detectou-se que alguns materiais não eram o tínhamos
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solicitado, sendo providenciada a substituição dos
mesmos. Um bom exemplo foi o recebimento de
ataduras de crepon com três metros esticadas, e 100
(cem) escovas ginecológicas numa mesma embalagem
sem ser estéreis, sendo que se tinha cotado os seguintes
materiais:
• Atadura crepom, 12 cm x 4,5m (esticada) não
estéril, isenta de resíduos e impurezas, elasticidade
longitudinal segura, malha com trama regular com
fio duplo de algodão cru, 13 fios no mínimo,
acabamento seguro e visível, fácil manuseio. Macia,
confortável e hipoalérgica. Embalagem individual
segura, com identificação do produto e lote. Pacote
com 12 unidades
• Escova cervical estéril atóxica, descartável, cerdas
em nylon, macia e resistente, cabo resistente, comprimento
mínimo de 17cm. Embalagem individual e segura com
abertura asséptica, contendo identificação do produto,
data de fabricação, validade e lote.
Segundo Azevedo citado por Gerges [5],
qualidade de um produto ou serviço é definida por
um conjunto de dados e afirmativas que caracterizem
perfeitamente a qualidade daquele produto ou serviço.
Para Araújo [6] a qualidade que deverá possuir um
material é regida por uma especificação adequada. Ao
adotar especificações bem redigidas as empresas terão
oportunidades de comprar corretamente o material
que necessitam e com a qualidade que almejam.
Informar e conscientizar a equipe sobre a
importância de conhecer o custo de cada
material, demonstrando que existem maneiras
de evitar desperdício, conscientizando e
estimulando a participação de todos na gestão
de materiais
No início da aplicação prática deste projeto de
gerenciamento de materiais, envolvendo os funcionários do centro de saúde detectou-se a
necessidade de algumas pessoas em entender que a
gestão de materiais é tão importante quanto a
assistência direta. Esta dificuldade de entendimento
ocorreu devido ao desconhecimento das técnicas
administrativas e desconsideração das diretrizes da
gestão de serviços, o que com o passar do tempo foi
superado, pois todos foram envolvidos e entenderam
a dinâmica do processo. Isso propiciou que
profissionais ampliassem sua visão sobre a importância
da organização e controle adequados, tanto do
material em estoque quanto do material a ser solicitado,
evitando com essa conscientização desperdícios.
280
Considerando que a equipe de saúde desempenha
importante papel na administração de recursos materiais,
por está envolvida diretamente no processo aquisitivo e
indiretamente como usuário desses materiais, é
imprescindível que estes profissionais desenvolvam uma
visão clara e ampla da problemática que envolve o
gerenciamento de materiais, realizando ações adequadas
que visem à garantia da qualidade da assistência [2].
Acredito que os profissionais precisam conhecer
e entender todo o processo que engloba a gestão de
materiais, acompanhando o fluxo destes desde o
momento da solicitação do pedido até o recebimento
na unidade. A partir do momento que começarmos
a valorizar o gerenciamento de materiais e a mostrar
que a gestão consciente deste recurso contribui
significativamente para evitar desperdícios, tanto por
materiais inadequados quanto por falta de consciência
da equipe, as instituições poderão perceber que
necessitam destes profissionais em suas comissões.
Conclusão
As técnicas e metodologias aplicadas neste
trabalho foram utilizadas na prática, assim, proponho
aos gestores uma mudança comportamental nas
instituições, com a inserção destas técnicas e
metodologias no dia a dia, como ferramentas de
trabalho, pois todo gestor deve ter uma visão macro
do seu ambiente, tendo em mente ferramentas
organizacionais que desenvolvam a sua gestão de
forma mais eficaz e organizada, visualizando
melhorias contínuas no atendimento, redução de
custos e diminuição de desperdícios e erros.
O planejamento, a organização e o controle, ou
seja, as formas de gestão, devem estar presentes em
qualquer segmento, inclusive na área da saúde. Mesmo
que a entidade não vise fins lucrativos, necessita ter
sobras, ou pelo menos o suficiente, para futuros
investimentos, sejam eles em recursos humanos, ou em
novos equipamentos ou materiais de consumo. Tornase necessário gerir melhor os recursos, para garantir
resolutividade, tanto aos clientes quanto à instituição.
Em muitas vezes, uma das dificuldades encontradas para que isso ocorra, está na forma de relacionamento interpessoal e integração da equipe, que não
acontecem de forma harmônica, propiciando
deficiências em relação à visão interdisciplinar de todos.
Acredito, que se faz necessário encontrar alternativas
para conscientizar a equipe sobre a importância de se
fazer gestão de materiais com consciência e qualidade,
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Setembro / Outubro 2004;3(5)
buscando a satisfação de colaboradores, fornecedores
e clientes, para que se tenha, como conseqüência, um
atendimento de excelência.
Convidamos ainda a relembrar, que a equipe
multidisciplinar de saúde lida com o que há de mais
importante para o se humano: a vida. Diante dessa
questão, é preciso encorajar e inspirar a exploração
de novas idéias de modo a assegurar que o melhor
seja oferecido. Assim, para finalizar, lanço o desafio
aos gestores e profissionais de saúde que reflitam sobre
a importância da gestão de materiais com consciência
e qualidade, pois somente dessa forma poderemos
criar propostas que envolvam uma cultura organizacional voltada para a inovação, flexibilidade,
aprendizagem e que permita a reconstrução do
conhecimento em todo e qualquer momento.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
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em instituições de saúde. São Paulo: Cadernos Centro
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materials management.
Gerges MC. Gerência: a busca pela qualidade na
enfermagem: curso de especialização dos serviços de
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Araújo JS. Administração de Materiais. 5a ed. São Paulo:
Atlas; 1991. 281
Enfermagem Brasil
Setembro / Outubro 2004;3(5)
Revisão
Aspectos jurídicos da rresponsabilidade
esponsabilidade civil
do enfermeir
o em unidades de emer
gência
enfermeiro
emergência
Álvaro Alberto de Bittencourt Vieira*, Nébia Maria Almeida de Figueiredo, D.Sc.**,
Isaura Setenta Porto, D.Sc.***
Enfermeiro, Doutorando no Programa de pós-graduação da EEAN/UFRJ, **Professora Titular – EEAP / UNIRIO, Pesquisadora do CNPq,
***
Professora Adjunta, Pesquisadora CNPq
Resumo
Este artigo trata da responsabilidade civil do enfermeiro diante das Leis nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 (Novo
Código Civil); Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990 (Código de proteção e defesa do consumidor) e da Resolução
COFEN – 240 (Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem). Aborda a teoria das responsabilidades subjetiva e
objetiva, de modo a alertar o enfermeiro no exercício profissional caso venha cometer um dano e lhe seja imputada a
obrigação indenizatória. Situa a atividade e o erro do enfermeiro de acordo com a Doutrina Jurídica.
Palavras-chave: responsabilidade civil, exercício profissional, ética.
Abstract
Legal aspects of civil liability of the nurse in emergency units
This article aim at the nurse civil liability concerning Laws nº 10,406 of January 10, 2002 (New Civil Code); Law nº 8,078 of
September 11, 1990 (The Consumer Defense Code) and of COFEN Resolution - 240 (Nursing Professionals Code of Ethics).
It refers to theory of subjective and objective responsibilities, to warn the nurse in general practice that may commit a damage and
have to pay for it. It points out nurses’ activity and mistakes in accordance with Legal Doctrine.
Key-words: civil liability, professional activity, ethics
Artigo recebido em 5 de julho de 2004; aceito em 15 de agosto de 2004;
Endereço para correspondência: Álvaro Alberto de Bittencourt Vieira,
Rua Emidio Lobo, 90/503 Papicu 60176-090 Fortaleza CE,
E-mail: [email protected]
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Setembro / Outubro 2004;3(5)
Resumen
Aspectos legales de la responsabilidad civil del enfermero en unidades de
emergencia
Este artículo se centrará en la responsabilidad civil del enfermero frente a las Leyes no. 10.406 de 10 de Enero de 2002 (Nuevo
Código Civil); Ley no. 8.078 de 11 de Septiembre de 1990 (Código de defensa y protección al consumidor) y de la Resolución
COFEN-240 (Código de Ética de los profesionales de la enfermería). Trata de la teoría de las responsabilidades subjetiva y
objetiva, que tiene como finalidad alertar al enfermero en el ejercicio profesional para cuando cause un daño y la obligación
indemnizatoria le sea imputada.
Palabras-clave: responsabilidad civil, ejercicio profesional, ética.
Introdução
Este artigo destina-se aos enfermeiros que
exercem suas atividades laborais em unidades de
atendimento de emergência e urgência em ProntoSocorro.
Reconhecemos que a unidade de atendimento
de emergência em Pronto–Socorro representa um
dos locais do sistema de saúde que oferece cuidados
imediatos completos aos clientes em situação de
risco e que mantêm profissionais em permanente
alerta para agir rapidamente conforme as prioridades que a situação exige.
Um atendimento rápido não implica somente
na reanimação cardiorespiratória, mas também, na
avaliação do estado geral da vítima - obedecendo à
ordem lógica, seqüencial e sistemática. A importância
de um trabalho bem planejado e sincronizado
durante o atendimento de emergência é indispensável para evitar transtornos e atitudes desnecessárias ou atos que possam ser considerados
ilícitos. Os cuidados de enfermagem devem ser
orientados para atender os danos físicos e emocionais
da vítima e as reações de angústia que os familiares
apresentam. Pois, esses familiares apresentam-se
sempre impactados, diminuídos e fragilizados diante
de acontecimentos súbitos e inesperados.
Devido à complexidade do atendimento de
emergência, o progresso e a utilização diversificada
de recursos materiais sofisticados, exigem que os
enfermeiros reflitam e criem modelos de práticas
que não situem apenas a doença aguda ou o trauma
como referencial do cuidar, mas, sobretudo a
pessoa doente em suas dimensões biológicas, sociais,
culturais e espirituais.
Sabe-se que os fatores que ameaçam a vida
humana podem interferir não apenas em aspectos
biológicos, mas também, afetar a condição
existencial do individuo. Em vista disso, a resolução
desses problemas deve considerar não somente a
condição biológica, mas a própria existência, em
sua acepção mais abrangente. Decorre daí que o
cliente em risco de vida deve ser tratado em sua
totalidade [1]. A prática profissional do enfermeiro
que atua em emergência está alicerçada no artigo
11, inciso 1 da letras l e m da Lei 7.498 de 25 de
junho de l982 [2], assim descrito:
Art.11, inciso 1 – O enfermeiro exerce todas as atividades
de enfermagem cabendo-lhe: letra l – privativamente,
cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com
risco de vida; letra m – cuidados de enfermagem de maior
complexidade técnica e que exijam conhecimento de base e
capacidade de tomar decisões imediatas.
Com base nesse dispositivo legal cabe ao
enfermeiro de emergência exercer sua prática
profissional com autonomia e colaboração.
Kron [3] atribui ao enfermeiro a responsabilidade pelo cuidado do cliente ainda que a
assistência seja prestada por outro membro de sua
equipe. Classifica as funções do enfermeiro como
dependentes, entre as quais inclui as administrativas
e as delegadas pelo médico, e independentes
entendidas como as atividades profissionais que
dizem respeito ao planejamento e execução do
cuidado de enfermagem.
Portanto, as ações do enfermeiro no setor de
emergência são classificadas do mesmo modo como
em qualquer outro setor que cuida da saúde. As
ações independentes caracterizam-se por cen283
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trarem-se predominantemente nas intervenções
voltadas para o atendimento de necessidades psicobiológicas da clientela. Quanto as ações interdependentes são assim denominadas, por serem
desenvolvidas como trabalho conjunto de equipe.
E as ações dependentes são aquelas, conforme já
foram referidas vinculadas à implementação das
prescrições médicas [2].
Entende-se, portanto, que a natureza jurídica da
responsabilidade civil do enfermeiro é extracontratual,
é também denominada aquiliana ou delitual e a
infrigência é a norma básica do dever de não causar
prejuízo a ninguém, o nemimen laedere. Neste tipo de
responsabilidade não existe relação do direito préexistente, e o fato danoso que estabelece o laço. O ato
ilícito é quem gera o dever de indenização.
Diante destes pressupostos, objetivamos neste
estudo situar a atividade e o erro do enfermeiro
no contexto da doutrina jurídica com vistas ao
exercício profissional, caso venha cometer erros e
lhe seja imputada a obrigatoriedade indenizatória.
Material e métodos
Trata-se de um estudo descritivo, reflexivo, que
busca situar as ações do enfermeiro que trabalha nos
setores de urgência e emergência em Pronto-Socorro,
suas responsabilidades e sua necessária defesa diante
da Lei.
Responsabilidade civil
A palavra responsabilidade deriva-se do latim
spondeo, que significa responder a, comprometerse, e exprime a idéia de equivalência de contraprestação, de correspondência, obrigação e encargos.
No sentido jurídico, o vocabulário tem a
mesma conotação – “designa o dever que alguém
tem de reparar o prejuízo decorrente da violação
de outro dever jurídico”. Sintetizando, somente
haverá questão de responsabilidade se houver
violação de um dever jurídico e dano [4].
No sentido jurídico, Savatier [5] define responsabilidade da seguinte forma: “La responsabilité est
l’obligation qui peut incomber à une personne de réparer le dommage
causé à autrui par son fait, ou ou par le fait des personnes ou des
choses dépendant d’elle” (a responsabilidade civil é a
obrigação que pode incumbir a uma pessoa de repagar
o dado causado a outrem por um ato seu, ou por um
fato de terceiro ou de coisas dependente dela).
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Em nosso ordenamento pátrio, a responsabilidade civil está assentada no art.927 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2003 [6]. Portanto, o
princípio basilar da responsabilidade civil está no
dever de indenizar um dano causado.
A responsabilidade civil do enfermeiro também
surge do referido preceito legal, devendo o paciente/
cliente que recebeu os cuidados de enfermagem, quer
seja no âmbito hospitalar, ambulatorial, domiciliar ou
logradouro público ser indenizado, caso acione a justiça
por ter sofrido um prejuízo que pode ser de ordem
material ou imaterial, patrimonial ou não patrimonial
[7]. Daí entendermos que responsabilidade traduz a
própria exteriorização da justiça e impõe ao enfermeiro
o dever de responder por seus atos perante e o sistema
jurídico .
A responsabilidade civil é, portanto, um
dever jurídico sucessivo que surge para recompor
o dano decorrente da violação de um dever
jurídico originário [8]. A qual pode ser entendido
também, que a responsabilidade civil deve ser vista
como fato humano, isto é, a necessidade de
proporcionar a devida reparação em virtude do
ato causador do dano. Nela está presente a finalidade punitiva do infrator.
Teoria das responsabilidades
No ordenamento jurídico brasileiro há duas
teorias que explicam a responsabilidade civil: a
subjetiva e a objetiva. Nesses dois tipos de teorias
encontram-se suas regulamentações próprias e são
muito importantes para caracterização do tipo de
responsabilidade em que o enfermeiro encontra-se
em cada caso específico.
Teoria da responsabilidade subjetiva
A teoria da responsabilidade subjetiva, também
chamada de teoria clássica e tradicional da culpa, pois
tem na culpa seu fundamento basilar, abrange desde
a culpa stricto sensu ao dolo.
Para que o enfermeiro seja responsabilizado por
algo se faz necessário que o paciente/cliente tenha sofrido
um dano – um prejuízo decorrente de um procedimento
de enfermagem durante a assistência por ele prestada,
pois “sem dano, não há que falar em responsabilizar o
enfermeiro, em termos de direito civil” [7].
A obrigação de reparar um dano causado a
outrem advém da prática desse ato acarretar vulneração
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ao direito ou prejuízo, e assim poderá responder
civilmente culpado. Para isso é indispensável à existência
dos seguintes pressupostos:
a) O dano ou prejuízo;
b) A violação ou descumprimento de um dever
jurídico ou contratual – a culpa ou ato ilícito do agente;
c) Nexo da causalidade – relação entre a causa e
o efeito, um elo entre o ato e o dano.
Na teoria da responsabilidade subjetiva, para que
haja a obrigatoriedade de indenização é necessário
que seja demonstrada a culpa e o suposto violador
do direito da vítima, sendo desta última a incumbência
de provar tal situação para que tenha direito a
indenização.
É fundamental a ligação do agente como o
resultado danoso, por meio de conduta culposa,
pois nas atividades profissionais do enfermeiro há
sempre um padrão técnico de modo que inobservado o padrão razoavelmente exigível para o caso
concreto, há culpa .
A culpa é a falta de diligência na observância
da norma de conduta, isto é, o despreparo por
parte do agente, do esforço necessário para observála, como resultado, não objetivado, mas previsível,
desde que o agente se detivesse na consideração das
conseqüências eventuais de sua atitude [9].
O conceito de culpa abrange condutas
intencional (dolo) e não internacional (culpa em
sentido estrito) , está subdividida em três fatores:
imperícia, imprudência e negligência.
A imperícia é considerada a falta de observação
das normas, por despreparo prático ou por
insuficiência de conhecimentos técnicos. Chamase ainda imperícia, a capacidade ou inabilidade para
exercer determinado ofício, por falta de habilidade
ou pela ausência dos conhecimentos rudimentares
exigidos numa profissão. De outra forma, a
imperícia é entendida como uma conduta
produzida sem os conhecimentos suficientes ou má
aplicação destes conhecimentos. È, também, a
deficiência na formação profissional que pode
conduzir a resultados nocivos.
A imprudência é a falta de cuidados básicos,
atuação irrefletida e intempestiva, portanto,
imprudente. É o enfermeiro que age sem a cautela
necessária, cujo ato ou conduta são caracterizados pela
intempestividade, precipitação, insensatez ou
inconsideração. Tem caráter comissivo.
Quanto a negligência, caracteriza-se pela inação,
indolência, inércia, passividade, falta de observância
aos deveres que as circunstâncias exigem e é também
considerado ato omissivo.
A responsabilidade subjetiva do enfermeiro
está respaldada no Código de Proteção e Defesa
do Consumidor (art.14 § 4º) e no novo Código
Civil (Art. 186 c/c 951).
O Art. 14 § 4º do Código de Proteção do
consumidor Lei nº 8.078 de 11 de setembro de
1990 admite a culpa como indispensável para
responsabilização dos profissionais e o enfermeiro
quando da prestação de cuidados aos pacientes/
clientes (consumidores) estando assim incluído:
Art.14. § 4º – a responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação da culpa.
Art 951 – disposto dispostos nos art. 948, 949 e
450 aplica-se ainda no caso de indenização devida por
aquele que no exercício de atividade profissional, por
negligência, imprudência ou imperícia causar a morte
do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão ou
inabilitá-lo para o trabalho.
Através desses dispositivos da Lei fica
confirmada a teoria da responsabilidade subjetiva
quando imputado ao enfermeiro conduta produtora de resultados danosos, com o surgimento
do dever de ressarcir os prejuízos causados
unicamente se demonstrada a culpa na atuação que
deu causa à lesão que se pretende ver indenizada.
Cabe, portanto, ao paciente/cliente provar
que o enfermeiro agiu com culpa (negligência,
imprudência ou imperícia). Porém, não é fácil o
caminho que o paciente/cliente e seus responsáveis
terá que percorrer para buscar a prova, já que pode
sofrer com a hipossufiência econômica e,
principalmente, a prova técnica. É evidente que o
paciente pouco deve saber sobre quebras de
técnicas assépticas, procedimentos técnicos de
enfermagem, condutas assistenciais, sintomatologia
e diagnóstico. Por isso o legislador consagrou a
inversão do ônus da prova como forma de
equilíbrio entre as partes na relação processual,
considerando-se hipossuficiente o autor da ação.
Compete ao Juiz inverter ônus da prova em ações
indenizatórias fundadas em erro profissional, com base
no art. 6º, inciso VIII do Código de Proteção e Defesa
do Consumidor, no qual será avaliada a verossimilhança
da alegação ou hipossuficiência do autor. Nesse artigo,
consta: a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
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civil, quando, critério do Juiz, for verossímil a alegação
ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiência.
Desta forma, valendo-se como meio facilitador
de defesa dos interesses do consumidor, a inversão
do ônus da prova impõe ao enfermeiro o dever de
demonstrar que sua conduta profissional foi
adequada, visto que possui maiores condições
técnicas de trazer aos autos do processo elementos
à convicção do Juiz. A conduta culposa do agente
gerará a obrigação de indenizar. Contudo ressalta
Cavalieri [11]. A caracterização da culpa importa
maior dificuldade. Tendo por essência o descumprimento de um dever de cuidado, que o agente
podia conhecer e observar, ou, como querem
outros, a omissão de diligência exigível, a dificuldade
da teoria da culpa está justamente na caracterização
precisa da infração desse dever ou diligência, que
nem sempre coincide com a violação da Lei.
A culpa é revertida de um juízo de responsabilidade sobre a conduta do enfermeiro, por ter
violado o dever e cuidado quando, em face das
circunstâncias especificas do caso, devia e podia ter
agido de outro modo.
Conceitua-se a culpa como conduta voluntária
contraria ao dever de cuidado imposto pelo
Direito, com produção de evento danoso involuntário, porém previsto e previsível. Compõe-se dos
seguintes elementos:
• Conduta voluntária com resultado involuntário;
• Previsão ou previsibilidade;
• Falta de cuidado, cautela, diligência ou atenção.
Tipos de culpa
Quanto ao tipo de culpa foram relacionadas
cinco categorias: culpa in eligendo, culpa in vigilando, culpa
in committendo,, culpa in omittendo e culpa in custodiendo.
Culpa in eligendo – é aquela que resulta da má
escolha do preposto ou representante. Quem elege
mal o representante ou empregado, responde
civilmente por atos ilícitos por este praticado. O
art. 932 inciso III reza que são também responsáveis
pela reparação civil, o empregador ou comitente, por
seus empregados.
Culpa in vigilando – aquela que decorre da ausência
ou má fiscalização de quem, por lei ou contrato, tem a
incumbência de vigiar pessoas ou coisas.
Culpa in committendo - revela-se por uma ação
danosa do agente, um ato positivo, como no caso de
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fazer um cateterismo vesical no paciente para o qual
não se destinava este procedimento e vir a lesioná-lo.
Ou administrar uma medicação que possa ser letal
ao paciente, por não ter tido a devida atenção no
preparo dessa medicação.
Culpa in ommittendo – decorre da omissão do
agente que não podia abster-se, e sim tomar
medidas. Como por exemplo, a queda de paciente
de uma maca por falta de observância das medidas
de segurança (grades de segurança levantadas).
Culpa in custodiendo - constitui na falta de quem
tem custodia de alguma pessoa ou coisa, e por não
dar a devida atenção e cercar-se de cautelas normais,
permite que a pessoa ou coisa possa prejudicar
terceiros. Incluem-se neste tipo de culpa os estudantes
ou estagiários que estão sob a responsabilidade do
enfermeiro da unidade e que venha a cometer algum
dano ao paciente conforme determina o artigo 933
do Código Civil incisos I a V (ainda que não haja
culpa de sua parte, o enfermeiro responderá pelos
atos praticados por terceiros)
Teoria da responsabilidade objetiva
A teoria da responsabilidade objetiva ou
responsabilidade sem culpa é justificada pela teoria
do risco. Toda pessoa que exerce alguma atividade
cria um risco de dano para terceiros. E deve ser
obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja
isenta de culpa ora encarada como “risco proveito”,
que se funda no princípio segundo o qual é
reparável o dano causado a outrem em conseqüência de uma atividade realizada em beneficio
do responsável (ubi emolumentum, ibi ônus).
Na responsabilidade objetiva a atitude culposa
do agente causador do dano é de menor relevância,
pois desde que exista relação de causalidade (nexo
causal) entre o dano experimentado pela vítima e o
ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha
este último agido ou não culposamente [8]. Esta
afirmativa encontra seu respaldo legal no art. 927,
parágrafo único da Lei 10.406 de 10 de janeiro de
2002 que determina: haverá obrigatoriedade de reparar
o dano, independentemente da culpa, nos casos
específicos em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco pra os direitos de outrem [12].
Em outras palavras, na responsabilidade objetiva
o que importa para assegurar o ressarcimento é a
verificação de ocorreu o dano e se dele resultou em
prejuízo Em tal ocorrendo, o autor do fato causador
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do dano é o responsável. Portanto, a responsabilidade
objetiva, com origem em diversas teorias baseia-se, em
suma, no fato de que quem cria um risco deve responder
por suas conseqüências. Facilita-se a reparação, pois não
há busca da culpa , mas apenas a denominação do
dano e sua causalidade com a ação ou omissão.
Esta teoria é alicerçada pelos princípios da boa
fé e da equidade, como forma de propiciar a entrega de uma tutela jurisdicional mais justa.
A teoria da responsabilidade objetiva tem o
mérito de resolver casos de danos que, pela teoria
da culpa não seriam reparados. Dessa forma, o fato
e não a culpa torna-se o elemento mais importante
para que seja o dever de reparar o dano causado, o
que implica em radical evolução a respeito da
responsabilidade civil.
Melhor compreendendo, na responsabilidade
objetiva há também uma conduta ilícita, o dano e o
nexo causal – só não existe a necessidade do elemento
culpa, razão pela qual denominou-se responsabilidade
independentemente de culpa. A culpa pode não existir,
mas será irrelevante para configuração do dever de
indenizar [11]. Por isso, os profissionais de saúde, em
particular o enfermeiro devem estar atentos para uma
leitura cuidadosa de outros artigos do Código Civil
Brasileiro, que trazem no seu bojo dispositivos inerentes
a esta temática e que excluem a apuração da culpa,
dentre os quais sugerimos:
Art. 931 Ressalvados outros casos previstos em lei
especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos danos
causados pelos produtos postos em circulação.
Art. 932. São também responsáveis pela reparação
civil: III – o empregador ou comitente, por seus
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho
que lhes competir, ou em razão dele.
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do
artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua
parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros
ali referidos.
Torna-se, portanto salientar no que se refere a
indenização do dano causado, o que o Novo Código
Civil trouxe de inovações:
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste,
sem exclui outras reparações: I – no pagamento das
despesas com tratamento da vítima, seu funeral e o luto
da família; II – na prestação de alimentos às pessoas a
quem o morto os devia, levando-se em conta a duração
provável da vida da vítima.
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o
ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento
e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de
algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o
ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou
se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização,
além das despesas do tratamento e lucros cessantes até
ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente
à importância do trabalho para que se inabilitou, ou
da depreciação que ele sofreu. - Parágrafo único. O
prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização
seja atribuída e paga de uma só vez.
Portanto, as despesas do tratamento com luto e
funeral, prestação de alimentos e pensão poderão ser
exigidas em um único pagamento pelo credor da
obrigação.
Atividade do enfermeiro
Tendo em vista que o enfermeiro e o cliente
são sujeitos de uma relação jurídica contrato / vínculo,
a prestação da assistência de enfermagem é definida
como sendo de meios.
A obrigação de meios é aquela em que aquele
que é contratado (enfermeiro) não se compromete
com um objetivo específico-determinado. Obriga-se
o contratado (enfermeiro) a utilizar o cumprimento
da obrigação que tem com o contratante (estado,
município, dono do hospital, diretor da cooperativa,
etc.) toda sua diligência e prudência, de acordo com as
técnicas usuais, naquele momento, para o procedimento
pelo qual se comprometeu. Podendo-se então concluir
que a prestação de serviços do enfermeiro é uma
obrigação de meios, pois é a própria atividade do
profissional que está sendo objeto de contrato. Em
suma, de compromisso / empenho profissional.
Fazendo uma analogia com a atividade do
médico que também é de meios, buscamos numa
jurisdição da 7ª Câmara Civil do TAMG nº 205037
– 1 que trata claramente do assunto cujo relator foi o
Juiz Geraldo Augusto:
O relacionamento que se estabelece entre o médico e o paciente
é suigeneris, tratando-se de obrigação de meio, não de resultado,
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pois tem por objeto a prestação de cuiddos conscienciosos e
atentos, é, portanto, para que haja responsabilização por
dano causado a paciente em conseqüência da atuação
profissional, é necessário que resulte provado de modo concludente
que o evento danoso se deu em razão de negligência, imprudência,
imperícia ou erro grosseiro de sua parte.
Entendemos que, em se tratando da obrigação
de meios, o enfermeiro não se responsabiliza por
obter o resultado desejado tanto por ele quanto
pelo paciente. Sua obrigação é proceder com
diligência em favor da recuperação e restabelecimento da saúde do doente. Não obtido o
resultado ou vindo o paciente a óbito, se o
enfermeiro empregou toda sua diligencia, perícia
e prudência, cumpriu com sua obrigação.
Erro do enfermeiro
No Brasil, ainda não há demanda significativa de
ações jurídicas contra o enfermeiro nos tribunais,
porém, com o surgimento do Código de Proteção e
Defesa do Consumidor, no qual estabelece uma relação
de consumo entre o enfermeiro e o cliente, com o
congestionamento dos serviços de emergência devido
ao aumento descomedido da violência urbana,
insuficiência quantitativa de recursos humanos, de
materiais e de equipamentos para um atendimento
seguro e de qualidade, a presença da mídia noticiando
todos estas aberrações, é óbvio que os usuários estão
mais alertados para reivindicarem seus direitos.
Cabe ao enfermeiro no exercício legal de sua
profissão agir com diligencia e cautela, acompanhando
o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e dos
avanços da enfermagem como prática do cuidar,
esclarecer o cliente e seus familiares e/ou responsáveis
sobe seu estado de saúde, possíveis riscos de vida,
assistência de enfermagem a ser prestada, possíveis
benefícios, riscos e conseqüências que possam vir a
ocorrer. A desobediência ou descumprimento desses
deveres podem causar dano material ou imaterial ao
cliente é o que denominamos de erro do enfermeiro.
Este erro é descrito pela “conduta voluntária ou
involuntária, direta ou indireta, caracterizada como
conduta profissional imperita, imprudente ou
negligente, que causa dano ao paciente”.
Com base nesses esclarecimentos, em caso de
erro, o enfermeiro poderá sofrer três conseqüências
distintas, concomitantes ou isoladas:
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l) Punição administrativa (relacionadas às
infrações éticas e disciplinares) aplicadas pelo COREN
ou COFEN conforme previsto no art. 85c/c 91 ao
95 da Resolução COFEN 240 que aprova o Código
de Ética dos Profissionais de Enfermagem.
2) Reparação civil (patrimonial) – de natureza
particular, depende da vítima acionar ou não a justiça
e poderá abranger tanto a indenização material como
a imaterial.
3) Punição judicial criminal – caso seja provado
alguma conduta antijurídica por parte do enfermeiro
ou alguma contravenção penal, o Estado agirá
independentemente da vontade da vítima.
Princípios básicos de conduta de enfermagem
desenvolvida nas unidades de atendimento em
Pronto-Socorro
Entende-se por principio básico de conduta de
enfermagem, uma assistência segura, de qualidade,
que isenta o enfermeiro de processos administrativos,
éticos disciplinares ou de ação judicial civil e/ou penal.
Neste estudo procuramos selecionar alguns
princípios que consideramos importantes e essenciais
que devem ser considerados no cotidiano das
atividades de enfermagem desenvolvidas nas unidades
de atendimento de urgência e emergência em ProntoSocorro:
• Aptidão para planejar e coordenar adequadamente o trabalho nos setores de emergência;
• Planejamento das atividades, de acordo com
as necessidades do setor, a fim de evitar transtornos
tanto com os recursos humanos como material e
equipamento e, conseqüentemente, evitar congestionamento nas dependências dos setores de atendimento;
• Capacidade para distribuir tarefas de acordo
com as possibilidades dos comandados, assumindo
e delegando responsabilidade com determinação;
• Competência para selecionar uma boa equipe
para atuar profissionalmente (capacitada) em situação
de emergência;
• Rapidez de raciocínio para decidir sem
hesitação em casos de emergência;
• Coerência e transparência nas ações,
mantendo sempre a cordialidade e confiança com o
cliente e seus familiares;
• Manutenção de registros das intercorrências
de forma clara e objetiva, sem rasuras ou emendas,
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para que possam servir de provas e possíveis defesas
no âmbito da justiça;
• Comunicação expressa na prestação do
cuidado ao cliente, identificando-se e explicando
detalhadamente o procedimento realizado ou a
realizar-se;
• Antes de executar qualquer procedimento,
certifique-se pessoalmente de que todos os cuidados
(pessoais, materiais, equipamentos) foram tomados
e mantida a sistematização de cuidado adequado à
realidade do setor;
• Atualização do conhecimento científicos
e tecnológicos da área de atuação dos serviços de
Pronto-Socorro, em caso de duvidas solicite
opiniões de especialistas.
Sugerimos aos profissionais de saúde, em
particular aos enfermeiros em exercício, que
mantenham uma leitura cuidadosa acerca da
Constituição Federal de 1988 no que concerne aos
Artigos 5º, 37., 196, 197 e l99 que tratam desta
temática. Bem como, da Lei 10.406 de 10 de janeiro
de 2002 – Novo Código Civil, arts 15 e 20,
referentes aos direitos da Personalidade; Art. 186,
187 e 188 relacionados aos atos ilícitos; art. 205 e
206 dos prazos de Prescrição; Art. 212 e 226 da
prova; Art. 389. dos dispositivos legais; Art.402 e
404 das Perdas e Danos; Art. 927, 932, 933, 934,
935 e 942 das Obrigações Indenizatórias; Art. 948,
949, 950, 951, da indenização.
Quanto ao Código de Proteção e Defesa do
Consumidor – Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990,
devemos também estar atentos para os artigos 2º e
3º, referentes aos Disposições Gerais; art. 4º da Política
Nacional de Relações de Consumo; Art. 6º dos
Direitos Básicos do consumidor; Art. 12 e 14 da
Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço;
Art. 18, 22, da Responsabilidade por Vício do
Produto e do Serviço; Art. 27 da Decadência e da
Prescrição; Art. 43 dos Bancos de Dados e
Cadastramento de Consumidores; Art. 72 das
Infrações Penais; Art.81 da Defesa do Consumidor
em Juízo.
Consideramos que a legislação e seus dispositivos
legais do ordenamento jurídico brasileiro relacionados com
a responsabilidade civil poderão subsidiar o enfermeiro
no exercício da profissão sob o ponto de vista jurídico, a
Resolução COFEM - 240 que aprova o Código de Ètica
dos profissionais de enfermagem, devam estar ao alcance
de todos os enfermeiros em exercício, como o “livro de
cabeceira”, e seja a bússola na eminência de atuar sozinhos,
tomando decisões para salvaguardar vidas em momentos
críticos de riscos de vidas.
Conclusão
Conclui-se neste estudo, que cada vez mais,
exigi-se do enfermeiro que atua nos atendimentos
de urgência e emergência nos serviços de ProntoSocorro, pertinência comportamental, conhecimentos dos avanços da ciência e da tecnologia,
bem como, das Leis vigentes no país. Somente desta
forma poderá prestar uma assistência diferenciada,
de qualidade e sem riscos para o cliente/
comunidade.
Portanto, não basta ser eficiente, cabe-lhe a
incumbência de manter-se atualizado, nos assuntos
que rege a profissão, afastando-se de qualquer
resquício de negligência, imperícia ou imprudência
sob pena de ficar vulnerável a pesadas penalidades
em virtude da desobediência/inobservância da
responsabilidade profissional.
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de vida e a enfermagem na unidade de emergência do Rio
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Revisão
Causas de abandono do tratamento
da tuber
culose
tuberculose
Mari Dalva Cortezi
Enfermeira Assistencial, Especialista em Administração dos Serviços de Saúde pela Universidade de Ribeirão Preto, Mestranda em Saúde Coletiva
pela Universidade do Sul de Santa Catarina
Resumo
Este estudo de caráter bibliográfico, através de revisão na base de dados Lilacs, Medline e Scielo, no período de janeiro
a março de 2004, teve como objetivo identificar os fatores relacionados ao abandono de tratamento de tuberculose. Há
muitos fatores que podem influenciar no abandono de tratamento de tuberculose. No entanto, podemos classificar as
causas relacionadas ao paciente, esquema terapêutico e ao serviço de saúde. O conhecimento dos fatores que influenciam
no abandono de tratamento pode ser decisivo na cura dos pacientes.
Palavras-chave: abandono, tratamento, tuberculose.
Abstract
Causes of abandonment of the tuberculosis treatment
This literature study, prepared through database revision from Medline, Lilacs and Scielo, from January to March 2004, aims to
identify reasons related to the abandonment of tuberculosis treatment. There are many reasons that can be related to the
abandonment of tuberculosis treatment. However, we can classify reasons related to the patient, therapeutic model and health
service. It can be decisive to patients’ recovery to know the reasons that influence in the abandonment of tuberculosis treatment.
Key-words: abandonment, treatment, tuberculosis.
Artigo recebido em 7 de julho de 2004; aceito em 10 de setembro de 2004.
Endereço para correspondência: Mari Dalva Cortezi, Av. das Arapongas, 455
Cond. Residencial Aririba 88330-000 Balneário Camboriú SC,
Tel: (47) 3606948 / 99771017, E-mail: [email protected]
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Resumen
Causas del abandono del tratamiento de tuberculosis
Este estudio, de carácter bibliográfico, a través de revisión en la base de datos Lilacs, Medline y Scielo, en el período de Enero a
Marzo de 2004, tuvo como objetivo identificar los factores relacionados al abandono del tratamiento de la tuberculosis. Hay
muchos factores que pueden influenciar en el abandono del tratamiento de la tuberculosis. Entre estos factores, podemos
clasificar las causas relacionadas al paciente, esquema terapéutico y al servicio de salud. El conocimiento de los factores que influyen
en el abandono del tratamiento, puede ser decisivo en la cura de los pacientes.
Palabras-clave: abandono, tratamiento, tuberculosis.
Introdução
Objetivos
Atualmente um dos grandes problemas
encontrados pelo Programa Nacional de Controle
da Tuberculose refere-se ao abandono de tratamento dos pacientes, ou seja, os pacientes não
concluem o tratamento por uma ou várias vezes,
e, conseqüentemente, tornam-se pacientes crônicos
[1].O abandono do tratamento da tuberculose é
apontado como uma das grandes falhas no
programa, para controlar a doença.
No Brasil, o percentual de cura está ao
redor de 69 a 75% dos casos, com uma variação
das taxas de abandono de 10 a 14% [1]. Contudo,
a meta até 2005, pelo Programa Nacional de
Controle da Tuberculose, é descobrir 90% dos
casos e cura 85% dos doentes e reduzir o
abandono para 5% [2].
Quanto maior o número de pessoas que
abandonam o tratamento, maior será a chance de
disseminação do bacilo na comunidade. Enquanto
menor se encontrar esta taxa, maior será o impacto
epidemiológico frente à população.
Um dos fatores importantes a ser enfatizado
é a resistência bacteriana, considerando que a
ingestão irregular do medicamento pode levar ao
aumento dos casos da tuberculose resistente [3].
No entanto, o bacilo estará sendo disseminado, o
que poderá ser resistente aos tratamentos convencionais.
O problema da resistência às drogas é
responsável por mais de 10% dos casos novos [4].
A magnitude desse problema não atinge
somente às questões inerentes à cura do paciente,
implica, também, na falência das medidas de
promoção e proteção à saúde da coletividade.
Identificar as causas relacionadas ao abandono
de tratamento da tuberculose.
Material e métodos
Foi feita revisão bibliográfica nas bases de
dados Medline, Lilacs e Scielo, tendo sido
utilizados as palavras chaves abandono de
tratamento de tuberculose, abandonment of tuberculosis
treatment.
Dentre os artigos identificados foram
selecionados os que eram relevantes para o trabalho.
Resultados e discussão
A literatura cita inúmeras variáveis que
influenciam no abandono de tratamento da
tuberculose, das quais destacam-se três grupos de
fatores relacionados ou atribuídos ao serviço de
saúde, paciente e ao esquema terapêutico.
O quadro abaixo descreve, de forma geral,
as causas de abandono de tratamento da tuberculose.
A utilização incorreta das drogas ou a
utilização de apenas uma droga é responsável
pela situação, multiplicação de germes e
resistência adquirida. Este tipo de resistência
pode ocorrer nos casos de recaída e abandonos.
Considera-se que nos casos de resistência
primária, o paciente nunca tratou e infectouse com uma cepa resistente, já na multiresistência, e considerado resistência simultânea
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Serviço de saúde
Paciente
Esquema terapêutico
Falta de supervisão; Falta de
acessibilidade dos serviços; Falta
de confiança no médico; Falta de
identificação com a equipe;
Tratamento e diagnóstico em
diferentes unidades de saúde;
Rotatividade de profissionais;
Falta de capacitação dos profissionais; Paciente procura outras
unidades de saúde; Demora no
atendimento; Horários inflexíveis
e filas; Não confirmação do
diagnóstico; Acompanhamento
dos pacientes em diferentes
clínicas; Profissional médico não
especializado;
Pacientes de áreas rurais; Migração; Falta de apoio familiar;
Desconhecimento da doença;
Tempo longo de translato da casa
a unidade de saúde; Retratamento; Falta de transporte;
Sem orientação; Não ter telefone
para contato; Não ter salários;
Sem núcleo familiar; Receber
menos de um salário mínimo;
Baixo nível de escolaridade;
Criança; Cor não branca; Situação
precária de vida; Antecedentes de
alcoolismo; Uso de drogas; Uso de
drogas injetáveis; Comportamento de risco para o HIV; AIDS; Piora
ou melhora clínica; História de
prisão; Vive só; Desemprego;
Baciloscopia negativa; Etilista;
Sexo masculino.
Falta medicação; Reações colaterais; Tamanho, quantidade,
gostos dos medicamentos;
Tratamento prolongado; Utilização do esquema I.
Fonte: [1, 5-24].
a Isoniazida, Pirazinamida, Rifampicina e
outras drogas básicas [13,3].
Além dos fatores relacionados à resistência,
como conseqüência do abandono de tratamento,
destaca-se, ainda, o espalhamento do bacilo na
comunidade, o que pode refletir no agravamento
da situação epidemiológica da tuberculose.
Somam-se, também, a epidemia do HIV e
fatores sociais e econômicos, que fazem desta
situação um agravante na saúde coletiva [4].
Hoje, em alguns países desenvolvidos e em
desenvolvimento, vem-se optando por uma forma
alternativa de terapia, a da observação direta, onde
a supervisão medicamentosa é feita por um
profissional de saúde, visando diminuir o
abandono de tratamento [25].
Essa estratégia de terapia diretamente
observada, recomendada pela Organização
Mundial de Saúde, desde 1992, consiste no
diagnóstico efetivo, laboratorial, tratamento
padrão de observação, suprimento de drogas,
monitoramento e avaliação do programa [26].
Alguns obstáculos norteiam essa estratégia
como: falta de pessoal qualificado, preparação
insuficiente para descentralização, inclusão da
estratégia no setor privado, infra-estrutura inadequada
e falta de vontade política [26]. Contudo a afirmativa
mais correta é que o tratamento da tuberculose cura
292
100% dos casos, embora a cura possa parecer distante.
O abandono de tratamento da tuberculose
constitui um problema clínico, à medida que o
paciente irá sofrer recidiva, como um problema
de saúde coletiva, por perpetuar a transmissão da
doença.
Conclusões
Torna-se inadiável uma séria reflexão dos
profissionais de saúde, sobre os motivos que levam
o paciente a abandonar o tratamento. Conhecer
os motivos poderá permitir ao profissional de
saúde conduzir melhor o tratamento e diminuir o
número de casos de abandono de tratamento na
população.
É preciso repensar as estratégias adotadas
junto com as autoridades de saúde, porém uma
melhor interação entre pacientes e profissionais
pode melhorar no processo de negociação frente
ao tratamento.
Os programas de assistência devem ser
sempre planejados, não apenas como referência
aos aspectos médicos, mas levando em consideração as crenças de uma comunidade, bem
como o contexto político e econômico em que
os pacientes vivem.
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