Páginas 118-120

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Relato de Caso
Aneurisma extracraniano de artéria carótida interna
Extracranial aneurysm of the internal carotid artery
RESUMO
Aneurisma extracraniano de artéria carótida interna é um evento
incomum, podendo produzir complicações neurológicas graves.
Relata-se um caso de um paciente do gênero feminino com 51
anos de idade que apresentou massa pulsátil e semifixa em região
cervical esquerda nível II, que revelou ser um aneurisma extracraniano de carótida interna, sendo submetida ao tratamento
cirúrgico.
Descritores: aneurisma; doenças das artérias carótidas; artéria
carótida interna extracraniana.
ABSTRACT
Germano Pinho de Moraes1
Caio Alcobaça Marcondes2
Mariana Paiva Sousa3
Antonio Fortes Rodrigues2
Benjamim Pessoa Vale4
Marcos Conde Medeiros5
Alan Pinho Sobral3.
Extracranial aneurysm of the internal carotid artery is an unusual
event that can produce neurological complications. We report a
case of a 51-year-old female patient who presented a pulsate and
partially fixed mass in left cervical region level II, that unveil to be an
aneurysm extracranial of internal carotid artery; undergoing the
surgery treatment.
Key words: aneurysm; carotid artery diseases; extracranial
internal carotid artery.
INTRODUÇÃO
Aneurisma extracraniano de artéria carótida interna é uma
doença incomum1-2. Sua exata incidência não está ainda bem
definida. Tem sido estimado um percentual variável entre
0,4% e 4,0% entre todos os aneurismas periféricos3. Em
virtude disso, os detalhes referentes à sua etiologia, localizações mais comuns, história natural, sintomas iniciais e
tratamento não podem ser derivados da experiência de
nenhum cirurgião individualmente. Ao invés, deve-se recorrer a
revisões dos casos relatados para obter essas informações. Os
autores relatam o caso de um paciente com aneurisma gigante
em artéria carótida interna.
RELATO DE CASO
Paciente de 51anos, gênero feminino, caucasiana, deu entrada
no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital São
Marcos com abaulamento na região cervical, referindo história
de odinofagia progressiva há dois anos e dor em face lateral
esquerda do pescoço, procurando diversos serviços médicos
sem sucesso terapêutico. Negava sintomas neurológicos,
hipertensão arterial, diabetes mellitus, hábitos tabagistas e
trauma na região. Ao exame físico, observou-se lesão nodular
cervical esquerda em nível II de 4cm pulsátil e semifixa. Foi
realizada tomografia computadorizada do crânio, evidenciando-se formação aneurismática relacionada à artéria carótida
externa esquerda, medindo 4,5 x 3,3 x 3,3cm (figura 1), com
efeito de massa, expandindo-se na fossa infratemporal e na
região parafaríngea esquerda. À arteriografia (figura 2) e à
angiorressonância (figura 3), observou-se formação aneurismática gigante na artéria carótida interna esquerda no nível de
sua origem.
Figura 1 – Tomografia computadorizada mostrando aneurisma
medindo 4,5 x 3,3 x 3,3cm.
Figura 2 – Arteriografia evidenciando aneurisma em artéria carótida
interna esquerda.
1) Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital São Marcos e Professor da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
2) Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
3) Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade Federal do Piauí – UFPI.
4) Neurocirurgião com especialização em Cirurgia Endovascular do Hospital São Marcos.
5) Cirurgião Vascular do Hospital São Marcos.
Instituição: Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital São Marcos, Teresina, PI.
Correspondência: Germano Pinho de Moraes, Rua Desembargador Pires de Castro, 380/Sul; Edifício Centro Médico Dirceu Arcoverde, sala 206 - 64001-390 Teresina, PI. E-mail:
[email protected]
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Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 36, nº 2, p. 118 - 120, abril / maio / junho 2007
DISCUSSÃO
Figura 3 – Angiorressonância indicando dilatação aneurismática em
região cervical nível II.
A paciente submeteu-se, sob anestesia geral, a mandibulotomia no intuito de acessar a região aneurismática (figura 4), em
seguida, implantou-se um shunt trans-operatório (Pruit
Niahara) na artéria carótida interna esquerda (figura 5).
Ressecou-se, então, o aneurisma, restabelecendo o fluxo
arterial através de uma anastomose término-terminal na artéria
carótida interna (figura 6). A mandíbula foi reduzida e fixada
com placas de titânio ao final do procedimento. Após a cirurgia,
a paciente evoluiu bem e não apresentou mais formação
aneurismática na região cervical esquerda, sendo acompanhada ambulatorialmente.
Figura 4 – Dilatação aneurismáica em região cervical nível II.
Figura 5 – Shunt trans-operatório de Pruit Niahara em artéria carótica
interna.
Figura 6 – Anastomose término-terminal em artéria carótida interna.
Aneurisma arterial é definido como um alargamento permanente de uma artéria em mais de 50% do seu diâmetro esperado.
Os aneurismas das artérias carótidas são considerados
eventos extremamente raros, sendo classificados de acordo
com a sua localização anatômica, morfologia e etiologia. Em
relação a sua localização, é mais comumente encontrado na
artéria carótida comum, especialmente em sua bifurcação. As
partes média e distal da artéria carótida interna seguem-se pela
ordem de freqüência. Os aneurismas da bifurcação são
geralmente fusiformes quanto à classificação morfológica,
enquanto aqueles localizados na artéria carótida interna são
saculares1,4. Em aproximadamente 50 a 70% dos casos,
produzem complicações neurológicas graves. Outras vezes,
rompem-se com hemorragia para os tecidos moles do pescoço
podendo levar ao óbito5,6.
Em relação à etiologia, a aterosclerose é a causa mais comum
(46-70%) sendo o trauma, o pós-operatório de operação
carotídea e as arterites causas mais raras7. O maior risco da
presença do aneurisma carotídeo é a possibilidade de provocar
ataque isquêmico transitório ou isquemia cerebral por embolia
de trombo mural. Raramente os sintomas cerebrais são
causados pela diminuição do fluxo através da artéria carótida
secundariamente a sua compressão pela massa de um
aneurisma sacular adjacente1-2,5. A ruptura do aneurisma da
carótida é um evento infreqüente, manifestando-se por uma
hemorragia na orofaringe, canal auditivo ou nos tecidos moles,
podendo levar o paciente ao óbito por sufocação1,6.
O quadro clínico do aneurisma extracraniano de carótida
interna varia de acordo com sua localização e tamanho,
podendo ser assintomático e detectado ao exame físico ou
manifestar-se como uma massa pulsátil no pescoço associado
a áreas doloridas e sensíveis. Ocasionalmente, um aneurisma
carotídeo faz protrusão na orofaringe, podendo provocar
desconforto por compressão, que se traduz em sintomas como
disfagia e odinofagia, como no paciente em questão. Em alguns
casos, poderá ainda apresentar-se como tumor assintomático
na orofaringe2,8.
A ultra-sonografia com Doppler pode confirmar ou excluir a
presença de um aneurisma. Aneurismas do terço distal da
carótida interna podem não ser diagnosticado pelo método,
devendo-se empregar a tomografia computadorizada ou
ressonância nuclear magnética7. A arteriografia continua a ser o
teste diagnóstico definitivo, sendo utilizada no planejamento
cirúrgico. No caso clínico, observou-se, na tomografia computadorizada da região cervical, uma formação aneurismática em
artéria carótida externa; contudo, na angiorressonância nuclear
magnética, foi evidenciado um aneurisma em artéria carótida
interna, sendo confirmado pela arteriografia.
A presença de linfonodos aumentados, cisto braquial, tumores
do corpo carotídeo ou outras massas que se situam em posição
sobrejacente e transmitem o pulso carotídeo fazem parte do
diagnóstico diferencial de um aneurisma de carótida interna1.
O tratamento cirúrgico consiste na exérese da formação
aneurismática e reconstrução arterial ou através de anastomose término-terminal, como no paciente em questão ou com
interposição de veia ou de prótese7. A necessidade de uma
derivação temporária deve ser identificada através de um
eletroencefalograma, mediadas da pressão no coto ou
garroteamento-teste da artéria carótida, com uso de anestesia
regional, a fim de evitar complicações neurológicas. No
paciente, foi utilizado um shunt trans-operatório (Pruit Niahara)
na artéria carótida interna, com a finalidade de evitar uma baixa
perfusão cerebral, prevenindo seqüelas neurológicas irreversíveis. Quando usadas essas técnicas, juntamente com a
anticoagulação por heparina intra-operatória e procedimentos
anestésicos modernos, a mortalidade e os déficits neurológicos
reduzem-se consideravelmente9,10.
A historia natural da doença geralmente é desfavorável e
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condiciona complicações significantes, que podem ser
evidenciadas por ruptura do aneurisma, embolia cerebral,
trombose ou expansão sobre estruturas adjacentes com
sintomas de compressão. Embora o tratamento cirúrgico esteja
associado a certo grau de morbidade, o tratamento não
cirúrgico pode levar a um risco maior de complicações, sendo
proscrito, exceto em paciente com risco cirúrgico proibitivo. A
terapêutica deve ser individualizada visando prevenir seqüelas
neurológicas.
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http://www. lava.med.br/livro.
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