CARACTERIZAÇÃO FITOSSOCIOLÓGICA DO MANGUEZAL DE

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_______________________________________ Caracterização Fitossociológica do Manguezal de Porto de Sauípe, Entre Rios, Bahia
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CARACTERIZAÇÃO FITOSSOCIOLÓGICA DO MANGUEZAL DE PORTO
DE SAUÍPE, ENTRE RIOS, BAHIA
Lidice Almeida Arlego Paraguassu1.
Michele Nascimento da Silva2
RESUMO: Na comunidade de Porto de Sauípe (12º 35`S e 38º 52`W), o acelerado crescimento
populacional tem trazido, como conseqüência, uma forte pressão nos manguezais da região.
Assim, este trabalho teve por objetivo caracterizar a estrutura fitossociológica dos bosques de
mangue. Para isso, foi utilizado o método das parcelas múltiplas, onde foram demarcadas 20
parcelas de 10x10m2. Todos os indivíduos vivos das espécies presentes que tinham uma
circunferência à altura do peito (CAP) igual ou maior a 15cm foram marcados e sua altura e
circunferência amostradas. Os dados obtidos para a vegetação foram tratados no programa
FITOPAC v 2.0. Amostraram-se 40 indivíduos em Porto de Sauípe e 406 em Saubara, para a
mesma área amostral de 0.100ha. Nessas áreas, foram encontradas as seguintes espécies de
mangue: Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa. No manguezal de Sauípe, a espécie que
apresentou os maiores índices fitossociológicos foi a R. mangle, com freqüência de 76,92%,
densidade de 82,50ind/ha-1, dominância 85,50% e área basal 0,4175 m2/ha. Os resultados
apresentados indicam que a baixa densidade vegetal encontrada em Porto de Sauípe pode ser
preocupante tratando-se de um manguezal adulto e cuja área sofre forte antropização.
Palavras-chave: Manguezal; Fitossociologia; Antropização.
ABSTRACT: In the community of Porto de Sauípe (12º 35`S and 38º 52`W), it has brought, as
consequence, one strong pressure in the mangroove of the region. Thus, the main objective of
this study was to analyze phytosociologycally the vegetation of the mangrove. For this, the
method of the multiple parcels was used, where 20 parcels of 10x10m2. All the individuals, with
CAP equal or bigger than 15cm, was marked with special earrings. All dates gotten for the
vegetation had been treated in statistic program FITOPAC v 2.0. This study showed 40
individuals in Porto de Sauípe and 406 in Saubara, for the same amostral area of 0.100ha. In these
areas, two species had been found: Rhizophora mangle and Laguncularia racemosa. In the manguezal
of Sauípe, the specie that presented the biggest phytossociologic indices was R. mangle, with
frequency 76,92%, density 82,50ind/ha-1, dominance 85.50% and basal area 0,4175m²/ha. The
presented results indicate mainly that low the found vegetal density in Porto de Sauípe can be
preoccupying if treating to an adult fen and that the area suffers to fort antropic actions.
Key-words: Mangrove; Phytossociology; Antropic actions.
1 Mestre em Ciências, com ênfase em Desenvolvimento e Agricultura – UFRRJ. Professora e Pesquisadora da
Faculdade de Tecnologia e Ciências e da Universidade Federal da Bahia, Salvador – BA. E-mail:
[email protected]
2 Bióloga especialista em Paisagismo. Professora e Pesquisadora da Faculdade de Tecnologia e Ciências e
Universidade Católica do Salvador. E-mail: [email protected]
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1 Introdução
Os manguezais estão entre os ecossistemas mais importantes que se estabeleceram na
superfície da Terra. Esses ambientes são compreendidos por quatro compartimentos
interdependentes, porém, com características intrínsecas bastante individualizadas: água,
substrato, fauna e flora. O manguezal fundamenta a perfeita integração e o equilíbrio dinâmico
entre os seus constituintes físicos, químicos e biológicos no contexto ambiental. Portanto, não se
pode fracionar a compreensão desse ecossistema, pois a associação entre a sua biota é tão
harmoniosa que a valorização de um dos seus compartimentos mascara e desvia o entendimento
global do organismo ecológico – o manguezal (ORGE, 1992; ALVES, 2002).
Segundo Schaeffer-Novelli (1995), os manguezais são ecossistemas costeiros tropicais e
subtropicais associados a baías, enseadas, barras, desembocaduras de rios, lagunas ou diretamente
expostos à linha da costa. Seu sistema ecológico é dominado por espécies vegetais típicas, que
ocorrem em substratos com pequena declividade, periodicamente inundados pelas marés, com
grandes variações de salinidade. Para Santos (1993), esse ecossistema torna-se o elo entre os
ambientes marinho, terrestre e de água doce, e está sempre conquistando novas áreas, devido ao
acúmulo de grandes massas de sedimento e detritos propiciando um ambiente de características
marcantes, no que se refere à densidade populacional da fauna e flora. Nesse ambiente, ocorre
ainda o acúmulo crescente de matéria orgânica, que é aproveitada pelas espécies endêmicas do
manguezal, sendo também exportada para outros ambientes. É específico de zonas tropicais e
subtropicais, requerendo toda série de fatores que determina sua existência ou sua conformação
física (SANTOS, 1993).
Dentre os ecossistemas costeiros, os manguezais são considerados, atualmente, como o
mais vulnerável aos inúmeros tipos de degradação que acontecem no seu entorno. Informações
sobre os aspectos estruturais dos bosques de mangue são de grande importância, pois permitem
detectar alterações oriundas de fatores naturais ou de interferências antrópicas (CARMO et al.,
1995).
A caracterização estrutural dos manguezais constitui valiosa ferramenta no que concerne à
resposta desse ecossistema às condições ambientais existentes, bem como aos processos de
alteração do meio ambiente, auxiliando, assim, nos estudos e nas ações que objetivam a
conservação do ecossistema. Nesse sentido, várias pesquisas têm sido desenvolvidas: Soares
(1999) estudou o grau de perturbação da Lagoa da Tijuca; Peria et al. (1990) compararam bosques
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de manguezal impactados e não-impactados em São Paulo; Carmo et al. (1995) avaliaram o
ecossistema ameaçado de Vitória; Viana (1996) realizou estudos na flora, fauna, nos sedimentos e
índices pluviométricos em Porto de Sauípe; Souza e Sampaio (2001) observaram a variação
temporal da estrutura de mangue de Suape; Silva et al. (2005) caracterizaram o estuário do rio São
Mateus, por meio da avaliação dos componentes da flora, fauna e do sedimento.
O objetivo do presente estudo foi avaliar o estado de conservação do manguezal de Porto
de Sauípe, Entre Rios, Bahia, com o propósito de compará-lo com a do manguezal de Saubara e
fornecer subsídios à conservação desse ecossistema.
2 Material e Métodos
2.1 Áreas de Estudo
Os estudos foram realizados em duas áreas diferentes. A primeira área foi o manguezal do
rio Sauípe (12º 35´S e 38º 52´W Figura 1) e está situada no distrito de Porto de Sauípe, município
de Entre Rios, localizado a aproximadamente 80 km da capital – Salvador onde sua população se
constitui de pescadores, lavradores, comerciantes e veranistas (REITERMAJER, 1996). A
comunidade de Porto de Sauípe, localizada a 10km do Complexo Hoteleiro de Costa do Sauípe,
registrou um crescimento acelerado da população, que hoje conta com aproximadamente 6.000
pessoas, a partir da implantação do complexo. Esse elevado crescimento, em curto prazo, é
responsável pelo alto índice de desemprego, furtos, assaltos, prostituição, consumo e venda de
drogas e aumento da violência na região. Associados a esses problemas sociais, a comunidade
vem enfrentando problemas de infra-estrutura e saneamento básico, que fazem com que seus
esgotos continuem sendo lançados in natura nos rios e manguezais da região. Essa situação
acentuou-se com a construção da Linha Verde e implantação do complexo hoteleiro, cujos
investimentos em infra-estrutura não acompanharam este processo (LIMA et al., 2004).
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Figura 1: Mapa de localização da área do manguezal do rio Sauípe, em Porto de Sauípe, Entre Rios – Bahia.
A segunda área foi o manguezal do distrito de Cabuçu, no município de Saubara (12º 45`S
e 38º 45`W – Figura 2), situado a noroeste da Baía de Todos os Santos, a uma distância de 96 km
da capital – Salvador. Essa área, escolhida para fins de comparação, caracteriza-se por uma baixa
taxa de ocupação antrópica nas proximidades do manguezal, durante o maior período do ano,
não sendo observados despejos de efluentes domésticos in natura. Na época do verão, esse
manguezal é freqüentado por turistas e veranistas, que se utilizam dos recursos do manguezal
para fins de lazer.
Figura 2: Mapa
de localização da área de
Cabuçu, Saubara – Bahia
2.2 Metodologia
Para o estudo quantitativo, foi aplicado o método das parcelas múltiplas, de acordo com a
metodologia descrita por Schaeffer-Novelli e Cintrón (1986). Foram amostradas dez parcelas
10x10 m2, contíguas e paralelas a cada margem do rio, tanto em Porto de Sauípe quanto em
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Saubara. Na escolha dos pontos amostrais, foram levadas em consideração a representatividade,
acessibilidade e as áreas prioritárias. Na delimitação das parcelas, foi utilizado um cabo de
material resistente à água. Todos os indivíduos vivos das espécies arbóreas presentes que
apresentaram uma circunferência à altura do peito – CAP igual ou maior a 15 cm, equivalendo a
um DAP igual ou maior que 5 cm, foram registrados com brinco de caprino de numeração
crescente e afixados no tronco, com auxílio de prego e martelo, para evitar a recontagem. As
medições da altura dos indivíduos foram realizadas com auxílio de canos de PVC e para a medida
do CAP foi utilizada fita métrica.
Realizou-se uma análise quantitativa, onde foram calculados, para as espécies, os seguintes
parâmetros fitossociológicos (RODRIGUES, 1996): freqüência, densidade, dominância relativa,
dominância absoluta e os índices de valor de importância (IVI) e de valor de cobertura (IVC). Os
dados foram tratados no programa estatístico específico para estudos fitossociológicos e
quantitativos – FITOPAC (versão 2.0), desenvolvido pelo Professor Doutor George John
Shepherd do Departamento de Morfologia e Sistemática Vegetal da Unicamp.
3 Resultados
Em Porto de Sauípe, o manguezal é do tipo ribeirinho, margeando rios e canais. Nessa
área, foram encontradas as seguintes espécies de mangue: Rhizophora mangle L. (33 indivíduos) e
Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn. (sete indivíduos). R. mangle esteve presente nas dez parcelas
amostradas, enquanto que L. racemosa somente em três, distribuídas nas parcelas 1, da margem
direita, e 1 e 3, da margem esquerda do rio.
Em Saubara, a vegetação de manguezal também é do tipo ribeirinho. Das espécies de
mangue, foram encontrados 405 indivíduos de L. racemosa e um de R. mangle, sendo que somente
a parcela 5 da margem direita do rio registrou ambas as espécies.
No manguezal de Sauípe, a espécie que apresentou os maiores índices fitossociológicos
foi R. mangle, com freqüência de 76,92%, densidade de 82,50 ind/ha-1, dominância 85,50% e área
basal 0,4175 m2/ha. L. racemosa obteve 23,08% de freqüência, 17,5ind/ha-1 de densidade, 14,50%
de dominância e 0,0708m2/ha de área basal. No manguezal de Saubara, a espécie que apresentou
os maiores índices fitossociológicos foi L. racemosa, com freqüência de 90,91%, densidade de
99,75 ind/ha-1, dominância 99,79% e área basal 3,2974m2/ha. R. mangle obteve 9,09% de
freqüência, 0,25ind/ha-1 de densidade, 0,21% de dominância e 0,0070m2/ha de área basal.
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Para o manguezal de Sauípe, R. mangle destacou-se por apresentar maiores índices de
valor de importância - IVI, de 244,92%, e de valor de cobertura - IVC, de 168,00%, enquanto
que L. racemosa apresentou 55% e 32%, respectivamente. Para o manguezal de Saubara, L.
racemosa destacou-se por apresentar maiores índices de valor de importância - IVI, 290,45%, e de
valor de cobertura - IVC, 199,54%, enquanto que R. mangle apresentou 9,55% e 0,46%,
respectivamente.
Com relação aos valores obtidos nas parcelas, na margem direita do manguezal de
Sauípe registrou-se um indivíduo da espécie L. racemosa, sendo os outros 22 de R. mangle. A
parcela 1 foi a única que apresentou as duas espécies. Na margem esquerda, foram encontrados
seis indivíduos da espécie L. racemosa e 11 de R. mangle. Nas parcelas 1 e 3 foram encontradas as
duas espécies. A margem esquerda do rio destaca-se por apresentar uma altura média que varia de
11m a 32,5m, área basal de 0,0255 a 0,1252 m2/ha e densidade de 200 a 700ind/ha-1, enquanto
nas parcelas da margem direita do rio, para os parâmetros supracitados, obtiveram-se 7,3m a
11m; 0,0037 a 0,0634m2/ha e densidade absoluta 200 a 600 ind/ha-1.
A margem esquerda do manguezal se caracteriza por não apresentar ocupação urbana
irregular e desmatamento, enquanto que a margem direita, além de apresentar esses impactos,
podem ser observados lixo e esgoto.
Com relação aos valores obtidos nas parcelas, a margem direita do manguezal de
Saubara registrou 239 indivíduos da espécie L. racemosa e um de R. mangle. Apenas a parcela 5
apresentou as duas espécies. Na margem esquerda, em todas as parcelas amostradas, foram
encontrados 166 indivíduos de L. racemosa. Para os valores obtidos nas parcelas, a margem
esquerda do manguezal de Saubara apresenta uma altura média que varia de 3,2m a 5,3m, área
basal de 0,2714 a 0,4734m2/ha e densidade absoluta de 1.800 a 6.000ind/ha-1, enquanto que as
parcelas da margem direita do rio, segundo os mesmos parâmetros fitossociológicos, registraram
os valores 2,1 m a 3,9 m; 0,2226 a 0,2987 m2/ha e 1.700 a 6.400 ind/ha-1, respectivamente.
4 Discussão
Guedes (2005) encontrou para a mesma área uma composição de espécies semelhantes
à encontrada neste trabalho, sendo que a exceção foi a ocorrência de Avicennia germinans (L.)
Stert., enquanto que Viana (1996) encontrou, além das espécies citadas, Avicennia schaueriana Stapf
e Leechman e Conocarpus erecta L. A diferença na composição de espécies pode estar associada a
diferenças nas metodologias de amostragem adotadas pelos autores.
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Nos manguezais de Acupe, situados a norte/noroeste da Baía de Todos os Santos, o
crescimento é arbustivo e as espécies dominantes e raras também são L. racemosa e R. mangle,
respectivamente (CINTRÓN, 1987). A composição de espécies para o manguezal de Saubara foi
igual à encontrada para a área de Sauípe, embora a proporção entre as espécies tenha sido
diferente, pois, no manguezal de Saubara, a espécie que ocorreu próxima às margens do rio foi L.
racemosa, contrariando o descrito na literatura por Cintrón e Schaeffer-Novelli (1981), que citam
R. mangle como espécie que se encontra à margem do curso d’água, em Santa Catarina.
Entretanto, segundo Cintrón (1987), a estrutura dos manguezais da Baía de Todos os Santos é
diferente, devido ao grande número de enseadas e formações de restingas próximas à linha da
costa, que reduz a energia cinética e altera a composição das espécies.
Os resultados do manguezal de Saubara são corroborados por aqueles registrados por
Menezes (1995), que observou nos manguezais de Pati e Jeribatuba, também localizados na Baía de
Todos os Santos, uma acentuada dominância de L. racemosa sobre as demais, em função da maior
densidade encontrada, de 88,18 ind/ha-1 e 40,00ind/ha1, respectivamente, enquanto que R. mangle
obteve 3,82ind/ha-1 e 10,64ind/ha-1, respectivamente. Para a área basal, no manguezal de Pati, L.
racemosa foi a espécie que obteve o maior valor, seguida de R. mangle, com valor bem reduzido. A
primeira espécie alcançou tal posição, devido principalmente, a sua maior densidade e volume
(1,89m3/ha). No tocante à R. mangle, esta foi sempre a espécie que obteve menores valores de área
basal, volume e densidade, devido principalmente ao reduzido número de representantes em
ambas as áreas (MENEZES,1995). Estes resultados podem significar que as condições nos
manguezais da Baía de Todos os Santos não favorecem uma satisfatória proliferação de R. mangle,
condições essas associadas à grande quantidade de enseadas que impedem o fluxo intenso das
águas e, por conseguinte, não disporem de material nutricional proveniente das suas vazões
(CINTRÓN E SCHAEFFER-NOVELLI, 1985; CINTRÓN, 1987).
Quanto à densidade, entende-se que Porto de Sauípe, por ser composto por árvores de
maior porte e grande diâmetro, apresenta menor densidade que Saubara. Schaeffer-Novelli e
Cintrón (1986) explicam esse fato da seguinte maneira: os bosques passam, durante o seu
amadurecimento de uma fase em que o terreno está ocupado por uma grande densidade de
árvores de diâmetro reduzido a uma fase de maior amadurecimento, quando o domínio é feito
por poucas árvores de grande porte e volume. Segundo Cintrón (1987), a estrutura dos
manguezais é também reflexo de sua maturidade ou idade, havendo durante esse
desenvolvimento alterações que modificam sua fisionomia. Essas modificações são descritas em
quatro períodos: colonização, que ocorre através da disponibilidade de propágulos no substrato;
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desenvolvimento, com forte competição por espaço; maturidade, fase em que o crescimento é
reduzido; senectude, fase senil, ou seja, quando um bosque atinge um grande porte, com baixa
densidade e, conseqüentemente, aumenta o índice de mortalidade, verificando-se uma redução da
área basimétrica. De acordo com os resultados obtidos, pode-se afirmar que o manguezal de
Saubara é um manguezal jovem, enquanto que o manguezal de Sauípe é antigo.
Os maiores índices fitossociológicos foram obtidos por L. racemosa, em Saubara, e R.
mangle, em Sauípe, confirmando a estrutura de maturidade de cada manguezal, visto que Bernini e
Rezende (2003) afirmam que Lacungularia é um gênero que se instala em áreas abertas, na
sucessão ecológica de manguezal, seguido de Avicennia e Rhizophora. Desse modo, o manguezal de
Saubara está em estágio inicial de colonização, enquanto que o de Sauípe já atingiu sua fase
clímax.
Segundo Schaeffer-Novelli e Cintrón (1986), o IVI, em ambas as áreas, indica tratar-se
de manguezais mono específicos, uma vez que esse parâmetro foi próximo a 300%. Medeiros
(2005), em estudos de manguezais no Rio Grande do Norte, apresentou valores de IVI para L.
racemosa de 60,26% e para R. mangle de 11,38%, indicando uma área em bom estágio de
conservação. Considerando que o manguezal de Saubara apresenta índices semelhantes, pode-se
inferir que ele está em bom estado de conservação. De acordo com Carmo et al. (1995), em
estudos de manguezais na Baía Norte de Vitória, Espírito Santo, as margens onde, além de
desmatamento, foi constatado lixo ou lixo e esgoto, o índice do valor de cobertura de R. mangle
foi mais elevado (124,76%). O IVC apresentado para essa espécie em Sauípe confirma as
observações apresentadas por Carmo et al. (1995), visto que na área estudada existem atividades
antrópicas de impactos, como ocupação urbana desordenada e destino de esgoto doméstico.
A alta densidade de Rhizophora em áreas antropizadas é confirmada por Carmo e outros
(1995), que afirmam que os gêneros de mangue que sofrem maior extração seletiva são
Laguncularia e Avicennia, o que parece ocorrer nesse caso. Quando comparadas às margens direita
de ambas as áreas, a diferença é visível, sendo que no manguezal de Sauípe os índices
fitossociológicos como densidade e área basal são menores que em Saubara, indicando, segundo
os autores comparados, que as margens estão sob influências diferentes, a saber: em Saubara não
há registro de antropização, enquanto que em Sauípe são observadas queimadas, depósito de
resíduos e ocupações irregulares (CARMO et al., 1995; MEDEIROS, 2005).
Ambas as áreas de estudos possuem o manguezal caracterizado pelo tipo fisiográfico
como ribeirinho, sofrem influência da maré e maior aporte de nutrientes. A condição de
proximidade desses locais das residências e, portanto, da ação dos esgotos domésticos e do lixo
orgânico produzido pela comunidade pode justificar os níveis elevados encontrados e as
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descargas de esgoto aumentam os níveis dos nutrientes nos manguezais (MACEDO; ROCHA,
1985; CUZZUOL; CAMPOS, 2001). Como o manguezal de Sauípe é bastante maduro, sendo
observados raros indivíduos jovens, o acelerado processo de antropização pode ocasionar uma
extinção da vegetação, visto que as espécies pioneiras, responsáveis pela regeneração e sucessão
ecológica, terão dificuldade em se estabelecer, por causa das copas fechadas que inibem a
regeneração de florestas pela L. racemosa, pois esta espécie é intolerante à sombra. Embora tenha
sido observada baixa representatividade de indivíduos de R. mangle em Saubara, é provável que a
floresta venha a ser dominada por esta espécie, sendo desejáveis avaliações mais detalhadas da
dinâmica de populações para melhor entendimento dos processos de sucessão.
6 Conclusão
Em Porto de Sauípe, R. mangle apresentou maiores valores de freqüência relativa,
densidade relativa, IVI e IVC, enquanto que em Saubara a espécie que apresentou os maiores
valores foi L. racemosa. Pode-se inferir que o manguezal de Sauípe é antigo, por apresentar
bosques com baixa densidade de árvores com grandes classes diamétricas, e Saubara é um
manguezal jovem, porque apresenta grande densidade de árvores de diâmetros reduzidos. O
manguezal de Porto de Sauípe, por ser antigo, pode desaparecer pela intensidade dos impactos
antrópicos observados.
As regiões de Porto de Sauípe e Saubara apresentam características ambientais distintas
e os manguezais estão sujeitos a diferentes tipos de tensores, que influenciam no
desenvolvimento estrutural das florestas de mangue. Para os resultados obtidos neste estudo, a
análise da estrutura do manguezal, de forma isolada, não foi capaz de demonstrar o grau de
antropização sofrido pelo ecossistema.
É importante ressaltar, entretanto, que a comparação entre manguezais diferentes é tarefa
difícil, dada a falta de padrão metodológico e critérios técnicos definidos nos estudos. Além disso,
as regiões apresentam características ambientais distintas e os manguezais estão sujeitos a
diferentes tipos de tensores, que influenciam no desenvolvimento estrutural das florestas de
mangue.
Para garantir a preservação desses ecossistemas, são necessárias medidas de
monitoramento e controle, relacionadas às principais dimensões da sustentabilidade. Em relação
à pesquisa científica, devem ser realizadas atualização cartográfica, avaliação de impactos
ambientais em zonas estuarinas, estimativa do potencial produtivo dos manguezais e
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desenvolvimento das metodologias de produção e conservação dos recursos pesqueiros. Quanto
à sustentabilidade social, recomenda-se que as comunidades tradicionais locais sejam associadas à
fiscalização e ao controle da utilização dos recursos do manguezal e que as experiências em
educação ambiental estejam em consonância com as expectativas das comunidades locais.
Quanto à sustentabilidade econômica, as medidas de preservação devem permitir a extração de
alimentos, sem comprometer os estoques, através da pesca, mariscagem e captura de crustáceos
pelas populações ribeirinhas e comunidades tradicionais locais e que a extração de madeira seja
permitida apenas para a construção de moradias e fabricação de artefatos de pesca. As atividades
econômicas de maior porte, como salinas, mariculturas e viveiros, devem ser implementadas
apenas em situações onde as comunidades do seu entorno sejam alvo de políticas de geração de
emprego e renda.
Entretanto, as áreas de manguezais e estuários devem ser monitoradas preventivamente,
para garantia de proteção dos recursos remanescentes, além de restaurar ou reabilitar os
ecossistemas. A preservação desses ecossistemas exige considerações de ordens sócioeconômicas, biológicas e físicas, dentro dos princípios que preconizam o desenvolvimento
sustentável.
Referências
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da Baía de Aratu – Bahia. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Salvador,
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BERNINI, E.; REZENDE, C.E. Estrutura da vegetação em florestas de mangue do estuário do
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Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
Ao Laboratório de Alternativas Viáveis a Ecossistemas Terrestres, LAVIET/UFBA.
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