indicadores da atividade econômica na china - PUC-Rio

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Departamento de Economia
INDICADORES DA ATIVIDADE ECONÔMICA NA CHINA
Aluno: Pedro Thomas Vilela Hermann
Orientador: Carlos Viana de Carvalho
Introdução
Dada a importância crescente da China como motora do nível de atividade econômica a
nível global, e o fato de que diversas estatísticas econômicas produzidas e divulgadas pelo
governo chinês são sujeitas a muito ruído estatístico, é desejável que se tenha acesso a
indicadores do ritmo de atividade econômica na China que não dependam destas estatísticas.
Isto é especialmente importante para países como o Brasil, que exportam produtos cujos preços
nos mercados internacionais são fortemente influenciados pela demanda da China. O propósito
deste projeto é construir indicadores com essa característica. A ideia é utilizar dados de
comércio bilateral de vários países com a China, além de outras estatísticas econômicas de
outros países que possam ser informativos do ritmo de atividade econômica no “Gigante
Asiático”. Tal índice teria valor para decisões de investimento, para planejamento de negócios,
e para decisões de política econômica.
Objetivos
O projeto visa a construir indicadores da atividade econômica na China que não
dependam de estatísticas produzidas e divulgadas pelo governo chinês. O objetivo é
desenvolver esses indicadores, e mantê-los ao longo do tempo, para um acompanhamento
sistemático dessa questão.
Metodologia
O projeto fará uso de modelos estatísticos que permitem a estimação de componentes
não observáveis a partir de outras séries de dados observáveis (modelos de estado-espaço). O
foco será na utilização de dados de comércio de outros países com a China, e as fontes serão as
agências de estatísticas econômicas destes países.
Atual Conjuntura Econômica Chinesa e Dados Oficiais
Atualmente, espera-se uma pequena desaceleração do PIB chinês para o futuro próximo,
movimento resultante da queda de participação da indústria como proporção do PIB do país.
Essa queda contudo, refere-se a um novo patamar que ainda se enquadrará na casa dos 7%,
número significativo, por simbolizar o efeito de multiplicar por dois o tamanho do PIB a cada
década. Em contrapartida, o setor de serviços e o nível de consumo das famílias chinesas têm
aumentado significantemente suas parcelas. Um dos efeitos negativos desse movimento é a
redução da demanda por gêneros primários, como o minério de ferro, algo que afeta diretamente
o Brasil.
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Nosso país, de um tempo para cá, tornou-se um grande parceiro econômico da China.
Os dois países, complementares um ao outro, reafirmaram a importância de seu comércio
bilateral em 2010, quando os chineses ultrapassaram os argentinos e os americanos, tornandose os principais parceiros comerciais do Brasil.
A efetiva adesão da China ao mercado mundial deu-se graças às reformas comerciais e
compromissos realizados como parte do acordo de adesão à Organização Mundial do Comércio,
além do esforço para elevar sua capacitação tecnológica (a partir da década de 1990
principalmente, pôde-se observar um incremento da produtividade do total dos fatores), o que
proporcionou o avanço industrial, que, por sua vez, trouxe aumento crescente na demanda por
minerais e combustíveis. Apesar de ser um grande produtor mundial de minério de ferro, sua
demanda pelo produto vem se elevando em um ritmo maior que o da oferta nos últimos anos.
Atualmente se coloca como o maior exportador do mundo e o segundo maior importador.
O fluxo de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) dos Estados Unidos para a China teve
um aumento relevante no transcorrer da década de 2000. Em 2010, os IDE’s chegaram a US$
4,5 bilhões, aumento de 309% do estoque de investimento estrangeiro dos Estados Unidos na
China. Por outro lado, as reservas estrangeiras desse último vêm apresentando um crescimento
muito acelerado.
Em relação à política cambial, a taxa de câmbio praticamente fixa e uma moeda muito
desvalorizada representaram grande vantagem na competição internacional, tanto pelo lado das
exportações, quanto da atração de capitais. Justifica em parte porque a China segue crescendo
a taxas aceleradas, em um cenário internacional ainda bastante incerto. O país resiste às pressões
internacionais, principalmente dos EUA, para valorizar o yuan. A cada reunião do G-20, a
China promete sua valorização, que tem ocorrido pontualmente, entretanto, milimetricamente.
Apesar de ter anunciado em 2010 que não mais adotaria um regime de câmbio fixo, o governo
chinês continua a fazer corpo mole em relação à questão. Os resultados acabam sendo o controle
de capitais e as crescentes intervenções no mercado.
O salto tecnológico chinês fez com que as atividades menos elaboradas da cadeia
tecnológica deixassem de ser realizadas na sua maior parte internamente. Surgiu a possibilidade
de regiões mais pobres da Ásia se especializarem em atividades como a montagem de produtos
finais e aquelas mais intensivas de trabalho. O alto crescimento econômico e do consumo
resultou em uma maior importação chinesa de produtos dos países vizinhos, o que colocou a
China como mercado para expansões asiáticas. Até meados dos anos 1970, as principais
economias em desenvolvimento da Ásia e da América Latina detinham participações
semelhantes nas exportações mundiais. Mas, enquanto as economias asiáticas quadruplicaram
sua participação do mercado, as economias latino-americanas permaneceram estagnadas.
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Fonte: United Nations National Accounts Main
Aggregates Database (2012).
Nota:
AL7 = Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru,
Venezuela e México.
Ásia 10 = China, Hong Kong, Índia, Indonésia,
Coréia do Sul, Malásia, Filipinas, Cingapura,
Taiwan e Tailândia;
G7 = Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão,
Estados Unidos e Grã-Bretanha.
A estrutura das exportações passou a se caracterizar pelo predomínio de manufaturas de
maior conteúdo tecnológico. O sucesso asiático e o quadro de semiestagnação da América
Latina revelam a capacidade em sustentar uma dinâmica de expansão baseada na acumulação
de capital liderada pelas atividades urbano-industriais. A partir de 1980 os países asiáticos
ampliam sua internacionalização, enquanto os latino-americanos assistem a uma intensa
desindustrialização.
Fonte: World Bank (2012)
Nota: (*) Foram calculadas as médias em cada década. Nos anos 1960 há, em alguns casos, lacunas de informações.
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A partir de 2000 a rápida aceleração do crescimento chinês foi responsável por ampliar
a busca por recursos energéticos, matérias-primas e mercados para seus exportadores e
investidores.
Os primeiros cinco anos do século XXI foram marcados pelo crescimento eminente do
comércio entre a China e os países da América Latina, passando de US$ 15 bilhões em 2000
para US$ 50 bilhões em 2005, consequência do aumento das relações comerciais com alguns
poucos países: Brasil, México, Chile, Argentina, Panamá, Peru e Venezuela: responsáveis por
mais de 80% do total dos intercâmbios. Em 2005 somente o Brasil foi responsável por quase
US$ 15 bilhões.
De 1994 a 2007, a média de crescimento do PIB chinês ficou em cerca de 10% em
termos anuais. No mesmo período, o Brasil foi capaz de implantar programas de estabilização
bem-sucedidos e de crescer um pouco mais de 3% por ano. Entre 2000 e 2010, as exportações
do Brasil para a China apresentaram uma elevação de US$ 1,1 bilhão, correspondendo a 2% do
total das exportações do Brasil, para US$30,8 bilhões, correspondente a 15% do total.
As importações brasileiras da China cresceram de US$ 1,2 bilhão, correspondendo a 2%
do total das importações brasileiras, para US$ 25,6 bilhões, 14% do total das importações. Em
2000, os dez principais rumos das exportações brasileiras, em ordem decrescente, eram: Estados
Unidos, Argentina, Holanda, Alemanha, Japão, Itália França, Bélgica, México e Reino Unido.
No ano de 2010 a China confirmou-se como o principal destino das exportações brasileiras,
posição alcançada já em 2009, absorvendo 15,2% do total.
Ao mesmo tempo, a China tem se destacado, desde 2001, como um dos principais países
de origem das importações brasileiras. A compra dos produtos oriundos da China tem crescido
em um ritmo muito mais acelerado do que a compra das mercadorias norte-americanas. Os três
maiores parceiros nas importações brasileiras, Estados Unidos, Argentina e Alemanha, têm
reduzido as suas participações.
Há de se destacar que China é mais importante para o comércio da Brasil do que viceversa. Um dado que comprova isso é o fato de em 2007 o total comercializado pela China ter
sido mais de dez vezes maior do que o comercializado pelo Brasil.
A pauta exportadora comercial do Brasil com a China vem se concentrando basicamente
em produtos básicos. Em 2010, os produtos que apresentaram maior participação das
exportações foram os minérios (40%), oleaginosas (23%) e combustíveis minerais (13%). Os
dois seguimentos que mais cresceram no período analisado foram: manufaturados intensivos
em recursos naturais e produtos primários. Por outro lado, a pauta de importação do Brasil com
a China volta-se para produtos sofisticados, como equipamentos eletrônicos, carros, siderurgia,
químicos, indústrias diversas e material elétrico.
Como mencionado no primeiro parágrafo, a China vem apresentando uma desaceleração
em seu ritmo de crescimento. A frágil retomada americana e a estagnação econômica europeia
provocaram profundos impactos sobre o Gigante Asiático. Além disso, a demanda interna do
país é incapaz de compensar a desaceleração das exportações.
Como consequência, no ano de 2012 a China registrou o seu menor crescimento em 13
anos, 7,8%. As receitas da indústria provenientes da exportação mostram uma contínua
desaceleração: em agosto de 2011 elas cresciam 17,2% em relação ao mesmo período de 2010,
enquanto em agosto de 2012 mostraram crescimento de apenas 3,6%.
A menor expansão do investimento também é componente fundamental para explicar
essa desaceleração. O investimento imobiliário responde por cerca de 25% do total investido
na China. Medidas governamentais de restrição à demanda por imóveis com fins especulativos,
aplicada desde 2010 para combater uma suposta bolha geraram uma queda da demanda e o
aumento dos estoques. Como resultado, o banco central da China cortou as taxas de juros duas
vezes no mesmo mês de julho de 2012, e há a aceleração da aprovação de novos projetos de
infraestrutura.
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O governo chinês, no final das contas, busca incluir uma maior participação do consumo
em detrimento do investimento e do comércio exterior, que representa um cenário de menor
capacidade de crescimento sustentado. Menos gastos em construção representam menor
consumo de aço e minério de ferro, o que explica a queda nos lucros da Vale no primeiro
trimestre de 2012.
O rápido processo de urbanização chinês foi uma das causas das altas taxas de
crescimento do PIB, mesmo após a crise de 2008. A urbanização intensificou a necessidade por
commodities, como o petróleo e o aço, além de gerar uma maior demanda por alimentos.
A desaceleração surpreendente da China no primeiro trimestre de 2013, abaixo das
previsões do mercado, foi marcada pelo crescimento ainda invejável para a maioria dos países,
de 7,7%, na comparação com igual período do ano anterior. A perda de fôlego ocorreu apesar
da consistente expansão do crédito desde meados de 2012. Haver desaceleração apesar da
explosão no crédito é um indicador de que a China precisa de volumes crescentes de
financiamento para obter o mesmo ritmo de expansão do PIB, o que é visto como insustentável.
A rápida expansão do crédito levanta dúvidas sobre a viabilidade econômica de muitos
dos projetos. Os preços das ações e das commodities caíram, principalmente do ouro e do
petróleo.
O presente simboliza a mais longa sequência de trimestres, nos últimos 20 anos, em que
a China cresce abaixo de 8%. No primeiro quarto de 2013, apresentou o menor crescimento em
termos de corrente de comércio e de exportações com o Brasil, se comparado aos primeiros
trimestres dos últimos dez anos.
Houve redução nas exportações de importantes commodities para a pauta de exportação
brasileira. O petróleo e a soja registraram quedas de 8% e 14%, em US$, em relação ao mesmo
período do ano passado. O caso da soja ocorreu em função dos problemas de infraestrutura
evidentes nos portos nacionais. A exportação de minério de ferro sofreu uma redução, em Ton
(mil), de 2% em comparação com o 1º. trimestre de 2012, sendo compensada pela alta nos
preços do minério.
As importações provenientes da China aumentaram 8%, em US$, em comparação com
o mesmo trimestre do ano passado, sendo concentradas em máquinas e equipamentos. O país
manteve sua posição de principal parceiro comercial do Brasil, apresentando valores de trocas
comerciais 17% superiores ao que o Brasil teve com os EUA. Apesar da expansão continuar
em um ritmo significativo, há um rebalanceamento das relações comerciais. Evidentemente, o
Brasil precisa se acostumar com um ritmo diferente de crescimento chinês.
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Um exemplo importante para este estudo
Na pesquisa desenvolvida, entre algumas das bibliografias pesquisadas, o artigo
publicado pelo Fed de Dallas, intitulado “China’s Slowdown May Be Worse Than Official Data
Suggest”, foi de extrema importância para guiar nossa linha de argumentação. Seu propósito é
sugerir a existência de incoerências entre alguns dados oficiais divulgados pelo governo chinês,
explorando números sobre o consumo de eletricidade e o crescimento da produção industrial
do país, que aparentemente, segundo os autores, estariam em desacordo.
Nos meses seguintes à crise de 2008-2009, a economia de países emergentes recuperouse robustamente. A produção na China e Índia expandiu-se mais de 10% em 2010, e o PIB
brasileiro cresceu 7,5%, sua melhor performance em 25 anos. Os mercados emergentes
voltaram aos níveis pré-crise já em 2009, enquanto a maioria dos avançados permanece abaixo
dessa linha ainda hoje.
No artigo estudado, os autores mostram, contudo, que a recuperação dos países
emergentes (especialmente na China), não durou. Enquanto a média de crescimento chinês
permanecia acima de 9% em 2011, havia a esperança de que uma recuperação sustentada iria
se instalar, o que contribuiria para a resolução da crise de dívida soberana europeia e do fraco
crescimento dos norte-americanos. Porém, a economia chinesa deteriorou-se rapidamente em
2012. Em comparação com o último trimestre de 2011, quando, em relação ao mesmo período
do ano anterior, houve crescimento de 8,9% do PIB, no primeiro trimestre de 2012 esse número
caiu significantemente para 8,1%. No trimestre seguinte, foi para 7,6% e no terceiro, para 7,4%,
valor que não era observado desde o clímax da crise financeira no início de 2009.
Mesmo com o declínio observado da atividade, Koech e Wang, junto a outros
economistas, especulam que esses dados não reflitam exatamente o grau de desaceleração real
da economia chinesa. Vêm há algum tempo duvidando da credibilidade das informações
oficializadas pelos chineses. Por exemplo, alguns estudos indicam que o crescimento do
produto tenha sido superestimado durante a crise asiática de 1998-99, quando oficialmente foi
reportada uma média de crescimento de 7,7% anuais. Estimativas alternativas usando medidas
da atividade econômica, como a produção de energia, viagens aéreas e dados de trocas
comerciais indicam uma média de crescimento que varia entre 2% e 5%.
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O caráter duvidoso dos dados oficiais, segundo os autores, não é segredo na China.
Oficiais do governo, incluindo o vice premier "Li Kequiang", tratam essas informações como
"produzidas pelo homem" e "apenas para referência", devido a influências políticas na sua
reportagem, particularmente em âmbito local.
Para se ter uma ideia melhor da situação econômica da China, os economistas examinam
outras medidas de atividade que acompanhem de perto o crescimento. O consumo industrial de
eletricidade, um fator de produção muito significativo, serve com um "proxy". Se a produção
industrial cresce a passos menores, o consumo de eletricidade deveria se comportar de forma
semelhante. O crescimento ano-ano do consumo industrial de eletricidade na China e da
Produção Industrial são mostradas no gráfico abaixo, para o período de 2011 e 2012. Os pontos
vermelhos, ilustrando a atividade de 2012, estão abaixo dos azuis, que representam 2011. Isso
indica que houve uma relativa queda do consumo industrial de energia em 2012.
O gráfico também indica a existência de uma relação linear positiva entre "variação no
consumo de eletricidade" e "variação da produção industrial". Infelizmente, essa representação
só pôde estar baseada em informações apenas desses dois anos, devido a limitações na
quantidade de dados reportados pelo Conselho Chinês de Eletricidade. Por isso, é importante
que se olhe com cuidado para eles.
A linha sólida representa o período de 2011, enquanto que a pontilhada também inclui
os de 2012. A primeira, computada usando apenas dados de 2011, é mais plana do que a
pontilhada (traçada com base nos dados tanto de 2011 quanto de 2012). Quando os autores
consideraram apenas os dados de 2011, observaram uma taxa de crescimento da produção
industrial de 5% quando não há variação no consumo de eletricidade, o que é um número mais
modesto e condizente com o esperado.
É suspeito o fato de todos dados de 2012 (pontos vermelhos) se encontrarem abaixo da
linha de tendência da curva. Isso sugere que, dada a quantidade de eletricidade consumida, os
níveis de produção oficiais de 2012 são mais altos do que o padrão de 2011. Por exemplo, o
consumo de eletricidade chinês aumentou 5,6% em uma base ano contra ano em Março de
2012. Usando a reta de 2011, a estimativa para o crescimento do produto seria de 9,3 por cento,
ao invés dos 11,0% reportados nos dados oficiais. Essa discrepância poderia ser resultado de
erros não intencionais de pesquisa. Contudo, é difícil imaginar que todos os dados de 2012
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tenham sido calculados de forma errada, sobrestimando o crescimento do produto. Ao invés
disso, os dados sugerem que a China possa ter exagerado propositalmente nos números da
produção industrial referentes ao ano de 2012, como objetivo de mascarar a fragilidade
econômica. Em outras palavras, o desaquecimento da China poderia ser pior do que os dados
oficiais.
Evidentemente, outros fatores podem explicar o motivo porque os pontos vermelhos se
encontram abaixo da linha de tendência. Por exemplo, o crescimento da produção industrial
variou entre setores em que o consumo de energia elétrica por unidade a mais produzida difere
consideravelmente. Uma companhia envolvida na produção de ferro em geral consumirá mais
energia do que uma que fabrique camisetas. Se a taxa de crescimento da indústria metalúrgica
freasse mais do que a da indústria têxtil, nós esperaríamos ver uma desaceleração mais rápida
no consumo de eletricidade do que no total da produção industrial.
Para tratar desse efeito advindo da composição da indústria, os autores incluíram em sua
pesquisa dados sobre o crescimento na produção de dois setores diferentes: a indústria leve e a
pesada. O setor industrial pesado (por exemplo as metalúrgicas) normalmente consome mais
eletricidade do que o leve. A relação entre o consumo de eletricidade e a produção industrial
pode ser mais bem estimada se forem analisados os dois setores de forma separada, ao invés de
usando dados da produção industrial agregada.
Quando o consumo de eletricidade se mantém constante, o setor leve da indústria cresce
a 2,8%, um valor muito menos expressivo do que os 5% do produto agregado. Entretanto, a
indústria pesada contrai-se 1,9%, refletindo a forte dependência dessa parte em relação à
eletricidade.
O gráfico abaixo mostra o real crescimento do consumo de eletricidade na China (linha
roxa), junto a uma estimativa do consumo de eletricidade para indústrias leves e pesadas
(usando dados de 2011 (linha laranja). As duas curvas acompanham uma à outra rigorosamente,
indicando uma relação forte entre o consumo de eletricidade e produção nas indústria pesadas
e leves. A linha azul mostra a previsão de crescimento no consumo de eletricidade em 2012,
usando os dados de 2011 como base.
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As informações oficiais de consumo de eletricidade estão de acordo com as de produção
industrial em março de 2012. Os dados previstos quase se enquadram perfeitamente com os
reportados. Durante Março, o crescimento nas indústrias pesadas caiu fortemente para 11,2%,
comparando aos 13% em Dezembro de 2011, enquanto que no setor leve houve incremento
para 13,9%, dos 12,6%, levando-se em conta o mesmo período citado anteriormente. A
diferença no crescimento entre os dois setores explica o geral da queda no consumo de energia,
enquanto que o crescimento ao todo da indústria permaneceu forte em março de 2012.
Nos meses subsequentes, contudo, as previsões divergem consideravelmente dos dados
divulgados. Tomando os números oficiais da produção industrial, o modelo sugere que a China
deveria ter consumido quase o dobro de eletricidade do que ela realmente consumiu. Isso não
é surpreendente, após os dados serem examinados mais de perto.
Entre abril e Junho, as indústrias leves caíram mais do que as pesadas, uma reversão nos
dados da atividade de Março. Admitindo tal padrão nos dados oficiais divulgados sobre o
produto chinês, o aumento do consumo de eletricidade deveria ter desacelerado apenas
moderadamente. Entretanto, continua a despencar entre abril e junho, levantando dúvidas sobre
a precisão dos dados oficiais referentes aos diagramas da produção industrial.
Apesar de o crescimento da economia do “gigante asiático” ter freado bruscamente nos
últimos meses, evidências sugerem que a situação pode ser pior do que a reportada. Os autores
explicam que diversos fatores contribuiriam para o desaquecimento da China. Entre eles, a
demanda por exportações chinesas na Europa e nos EUA enfraqueceu em meio ao
aprofundamento da crise de dívida soberana europeia e à vagarosa atividade econômica
americana.
Ainda, as respostas de política econômica chinesas à crise global têm tido efeitos
inesperados em sua economia. O país promoveu um afrouxamento monetário e empreendeu um
programa de estímulos fiscais massivo em resposta aos acontecimentos de 2008-09. Essas
medidas, que seguraram a queda abrupta das exportações, tiveram o efeito não intencional de
gerar inflação alta e aumentar os preços dos ativos, particularmente no setor imobiliário. Isso
pressionou o país a reverter de curso e instituir políticas monetárias mais restritivas em 2011,
criando outra leva de efeitos na economia que continuam até hoje.
Essas mudanças abruptas de políticas nos últimos anos não são historicamente incomuns
para a China e têm sido criticadas como sendo uma fonte de volatilidades econômicas
consideráveis, o que prejudica o crescimento de longo prazo.
Um primeiro passo seria dado buscando a aquisição de dados econômicos de alta
qualidade, um processo já em andamento. O instituto nacional de estatística chinês iniciou um
novo sistema de coleta dessas informações, através do qual empresas reportam pela internet
seus dados de produção diretamente à agência nacional de estatística em Pequim, o que reduz
as chances de manipulações por parte de autoridades locais.
Como segunda maior potência mundial, a China desempenha um papel cada vez mais
importante para a economia global. Conseguir dados econômicos precisos seria útil não apenas
para o planejamento das políticas econômicas chinesas, mas também contribuiria para que as
demais potências entendessem melhor as condições chinesas atuais, dando-lhes a chance de
moldar suas medidas conformemente.
Os próximos passos desta pesquisa incluirão o esforço de fazer uma experiência
semelhante àquela feita pelo Dallas FED, com algumas ressalvas, no entanto. Nossa intenção é
a de trabalhar apenas com dados de comércio internacional da China, o que nos afastaria um
pouco das estatísticas divulgadas pelo governo chinês. Dessa forma, poderemos moldar um
exercício econômico que esteja completamente livre de eventuais arbitrariedades que possam
vir a existir sobre o que é relatado pela China. Em vez de usarmos dados sobre o consumo de
eletricidade (que acaba tendo como fonte as estatísticas do governo chinês), focaremos nas
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trocas comerciais realizadas com os países de maior relevância, visto que isto também é algo
muito relacionado ao nível de atividade econômica.
Esforço para a Compilação de Dados
A coleta das informações necessárias para que este trabalho possa atingir os objetivos
previstos inicialmente é, sem dúvidas, a parte mais trabalhosa e que exige mais tempo de
dedicação. Isso acontece, pois é feita através da observação separada dos dados de comércio
divulgados por cada um dos parceiros comerciais da China, retirados individualmente dos sites
das agências de estatística de cada país.
Os dados de comércio exterior divulgados pela China foram obtidos através de uma
central “Bloomberg”, que, por sua vez, toma como fonte a agência de alfândega chinesa. Para
obter uma base de dados coesa é importante que as séries tenham um certo grau de
comparabilidade. Para isso, é preciso atentar para que elas tenham as mesmas unidades de
medida (moeda e magnitude, milhares, milhões, entre outros) e que sejam elaboradas de acordo
com padrões de contabilidade de comércio internacional parecidos.
Esse esforço inicial, portanto, continuará por mais um tempo, até que todas as
informações necessárias estejam reunidas satisfatoriamente, de forma que possam ser usadas
em alguns de nossos modelos.
Conclusões
Devido ao fato de o aluno bolsista inicialmente encarregado deste projeto ter saído do
programa para se dedicar a outros assuntos acadêmicos, neste momento está ocorrendo um
período de transição, em que o conteúdo até então produzido está sendo repassado para mim.
Como novo responsável pelo projeto, estou trabalhando na atualização dos dados necessários
para que a pesquisa apresente as conclusões esperadas, entre elas o fato de ser possível traçar,
através de evidências empíricas, indicadores alternativos aos oficiais a respeito do nível de
atividade da economia chinesa e, a partir deles, determinar efeitos para o resto do mundo e, em
especial, para o Brasil.
Usando os dados que já haviam sido coletados antes de eu ingressar na pesquisa, é
possível concluir de forma evidente como o nível de atividade chinês impacta o crescimento
das demais nações, dependendo do padrão de especialização setorial da economia de cada uma
delas. Alguns dos países, observa-se, são mais penalizados por terem estruturas produtivas que
competem com a China no comércio mundial. Países como o Brasil, cujas exportações estão
voltadas principalmente para produtos não-manufaturados, em especial das “commodities”, são
os mais beneficiados pelo crescimento absurdo que a China vem apresentando ao longo dos
últimos anos.
O foco principal da pesquisa, que é evidenciar possíveis divergências entre os dados
oficiais e aqueles computados através de fontes alternativas, também já é algo que pode ser
identificado nas informações coletadas. O artigo publicado pelo Fed de Dallas está sendo de
grande relevância para que possamos guiar a organização e coleta desses dados. Na fase atual
da pesquisa pretendo considerar possíveis especificações dos modelos econométricos. No
momento, também estou realizando uma revisão da literatura empírica e teórica.
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Referências
Blazquez-Lidoy, J. et al. (2006). ‘Angel or Devil? China’s trade impact on Latin
American emerging markets’, OECD Development Centre Working Paper, n. 252,
Paris: OECD.
Libanio, G. (2008), ‘O Crescimento da China e seus Impactos sobre a Economia
Mineira’, Anais do XIII Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, agosto 2008.
Libanio, G. (2012), ‘O Comércio Brasil-China Em Uma Perspectiva Regional: Análise e
implicações para o desenvolvimento’, BNDES, Working Paper no. 42
Koech, J. & Wang, J. (2012), ‘China’s Slowdown May Be Worse Than Official Data
Suggest’, DALLAS FED, ECONOMIC LETTER, VOL. 7, NO 8.
Couto, L. (2013), ‘Desaceleração Chinesa: Repercussão Econômica no Brasil’, Programa de
Educação Tutorial (PET), PUC-Rio.
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