APLICAÇÃO DE PRODUTO QUÍMICO NA ESTABILIZAÇÃO QUÍMICA DO LODO FLOTADO PARA DESIDRATAÇÃO Keiko Arlete Semura (*) SABESP Engenheira Química pela Universidade de Mogi das Cruzes, pós graduada em Engenharia de Saneamento Básico pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Engenheira da Divisão de Engenharia e Desenvolvimento Operacional da Unidade de Negócios de Tratamento de Esgotos da SABESP. Rosângela Cássia Martins de Carvalho SABESP Alessandra Cardoso de Souza Minelli SABESP Celso Preto Cardoso SABESP Endereço (*): Rua Shiguetoshi Suzuki, 337 – Vila Paulista – Mogi das Cruzes – São Paulo – CEP: 08744-120 – Brasil Tel: 55 (11) 3388 –6654 – fax: 55 (11) 3388-5680 - e-mail: [email protected] RESUMO Na Estação de Tratamento de Esgotos Parque Novo Mundo, a estabilização do lodo é feita quimicamente através da adição de cal e cloreto férrico. O presente trabalho porpõe avaliar o sistema de aplicação de produtos químicos atualmente instalada na fase sólida da estação de tratamento, tendo em vista as oscilações ocorridas na qualidade do lodo desidratado, assim como a necessidade de freqüentes recondicionamentos e lavagens das telas dos filtros (inclusive lavagens ácidas). Para identificação dos problemas, foram realizados testes para verificar a aplicação real de produtos químicos no lodo e comparar com as informações dadas pelo sistema supervisório, sendo que a dosagem de produto química prevista pelo projeto é de 30% a 35% de cal e 5% a 10% de cloreto férrico. Palavras Chave: Tratamento de Esgotos, estabilização química, desidratação de lodo, ETE Parque Novo Mundo e Condicionamento de Lodo. INTRODUÇÃO Foi objeto de estudo a Estação de Tratamento de Esgoto Parque Novo Mundo , localizada na Zona Norte de São Paulo, na Ligação da Av. Aricanduva com a Rodovia Fernão Dias km 1, tem capacidade nominal de tratamento de 2,5 m3/s em 1ª Etapa, podendo chegar 7,5 m3/s em 3ª Etapa. A respectiva Estação conta com um Sistema Convencional de Tratamento de Esgotos por Lodos Ativados. No processo de tratamento primário existem instaladas peneiras rotativas em substituição aos decantadores primários, e no tratamento do lodo não há digestão anaeróbia, sendo que a estabilização do lodo proveniente do adensador por flotação é feita quimicamente, através da adição de cloreto férrico e cal. O presente trabalho propõe avaliar o sistema de aplicação de produtos químicos atualmente instalado na fase sólida da Estação de Tratamento de Esgoto Parque Novo Mundo, tendo em vista as oscilações ocorridas na qualidade do lodo desidratado, assim como a necessidade de freqüentes recondicionamentos e lavagens das telas dos filtros (inclusive lavagens ácidas). 1 A dosagem recomendada é de 30% a 35% de cal e 5% a 10% de cloreto férrico, sendo que o consórcio adotou a aplicação de 37% de cal e 8% de cloreto férrico. O controle de aplicação do cloreto férrico é feito através da variação da rotação da bomba, cuja vazão é ajustada pela sua curva. Não existe instalado nenhum instrumento de medição de vazão. No controle de aplicação de cal, o projeto inicial utilizava como controlador de dosagem de cal, um densímetro online, porém ocorriam muitas falhas, então adaptou-se o sistema para utilização do método gravimétrico, ou seja, a dosagem de cal necessária é ajustada pela velocidade da esteira do extintor de cal. MATERIAIS E MÉTODOS Para identificação dos problemas relacionados, foram realizados testes para verificação de aplicação de produtos químicos (cal e cloreto férrico) na fase sólida e de resistência específica do lodo estabilizado. Os testes de verificação de aplicação de cloreto férrico foram realizados através de medições de vazão instantânea em campo e comparadas com as leituras obtidas no sistema supervisório. Atualmente o sistema de aplicação de cloreto férrico é efetuado através da variação da rotação da bomba dosadora que está intertravado com o sistema supervisório da fase sólida. O sistema de aplicação de cal previsto em projeto, utilizava como controle, a leitura de densidade do leite de cal e a variação da rotação da bomba dosadora. Em função da especificação inadequada do instrumento de controle (densímetro), optou-se pela substituição da forma de controle, sendo adotado o método gravimétrico. Os testes de verificação de cal visavam a comparação entre: - dosagem estimada no sistema supervisório; - dosagem aplicada em campo através da determinação da concentração do leite de cal; - dosagem aplicada em kg/h indicadas no supervisório; Com relação a aplicação de Cal observou-se grandes variações entre a dosagem estimada pelo supervisório e a dosagem aplicada em campo. Com base nos dados obtidos, foi possível relacionar as oscilações da qualidade do lodo desidratado gerado com as variações nas dosagens de produtos químicos, e também relacionar o problema de colmatação das telas com as dosagens excessivas de cal aplicadas em determinados momentos. Realizou-se também testes de resistência específica do lodo estabilizado com o objetivo de verificar se está relacionado com os testes de CST (teste de capilaridade), visando sua aplicação para monitoramento da estabilização do lodo, devido a sua facilidade operacional e menor tempo de resposta. O teste de resistência específica é aplicável ao monitoramento da dosagem, entretanto, sua realização demanda maior tempo. TESTE PARA VERIFICAÇÃO DA DOSAGEM DE CLORETO FÉRRICO. Material: - um recipiente de 8L aferido com uma proveta; - um cronômetro. Procedimento: No tanque de reação foram efetuadas medições de hora em hora do tempo de enchimento do recipiente, e assim determinar a vazão instantânea de cloreto férrico. Simultaneamente foram registradas a vazão e o RT do lodo flotado. No momento das medições, a bomba era colocada para operar em manual para evitar possíveis oscilações e, para cada medição foram feitas três cronometragem consecutivas, para obtenção de dados mais precisos. As vazões instantâneas obtida foram comparadas com a vazão indicada no supervisório, em campo e com a pré determinada pelo consórcio. 2 RESULTADOS A tabela 1 apresenta os resultados dos teste efetuados em campo para aplicação de cloreto férrico. Foi possível observar que com o sistema atual de dosagem de cloreto férrico, houve pouca variação comparando-se a aplicação em campo e indicada no supervisório, entretanto com a necessidade de ajustes freqüentes na relação rotação e vazão da bomba. TABELA 1 – Resultados da aplicação de cloreto férrico no lodo Aplicação de Cloreto Férrico Dosagem (%) 15 13 11 9 7 11 :1 4 12 :2 0 13 :2 0 15 :0 0 15 :1 0 16 :2 3 17 :2 3 18 :2 3 19 :2 3 20 :2 3 21 :2 3 22 :2 3 23 :2 3 0: 23 5 Horário Dosagem em campo (%) Dosagem pelo supervisório (%) Aplicação estimada (%) Figura 1 – Comparação dos resultados obtidos no teste para cloreto férrico TESTE PARA VERIFICAÇÃO DA DOSAGEM DE CAL. Material: - recipiente para coleta do cal na saída da esteira; - cronômetro; - balança; - recipiente de 10L aferido com uma proveta; - densímetro; - proveta de 250 ml; - bureta de 50 ml; - erlenmeyer de 250 ml; - ácido clorídrico 5N; - fenolftaleína; 3 Procedimento: No tanque de reação foram efetuadas medições de hora em hora do tempo de enchimento do recipiente, e assim determinar a vazão instantânea do cal, e coletadas amostras do leite de cal para análise da concentração através da densidade e titulação. A cada leitura eram registradas a vazão e o RT do lodo flotado. Simultaneamente foram realizadas medições da quantidade de cal que caía da esteira do extintor em kg/h. Cabe ressaltar que no momento da leitura a esteira era colocada para operar no manual para evitar oscilações na sua velocidade. Estes testes visavam a comparação entre a: - dosagem estimada no supervisório; - dosagem aplicada em campo, através da quantidade de cal em kg/h que caía da esteira do extintor e da relação vazão/concentração (através da densidade e titulação) do leite de cal no tanque de reação; - dosagem aplicada com os dados de vazão em kg/h, indicados no supervisório. RESULTADOS A tabela 2 apresenta os resultados dos teste efetuados em campo para aplicação de cal. Foi possível observar que houve grandes oscilações de valores. TABELA 2 – Resultados da aplicação de cal no lodo TABELA 2 – Resultados da aplicação de cal no lodo (cont.) 4 TABELA 2 – Resultados da aplicação de cal no lodo (cont.) TABELA 2 – Resultados da aplicação de cal no lodo (cont.) DATA: 07-12-2001 e 08-12-2001 45 Dosagem (%) 40 Dosagem estimada (%) 35 Dosagem através dos dados do supervisório (%) 30 Dosagem de Cal através da esteira (%) 25 Dosagem de Cal através da densidade (%) 20 Dosagem de Cal através da titulação (%) 15 14:40 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 1:00 2:00 3:00 Horário Figura 2 – Comparação dos resultadosobtidos nos testes para cal 5 DATA: 13-12-2001 55 50 Dosagem estimada (%) Dosagem (%) 45 Dosagem através dos dados do supervisório (%) 40 Dosagem de Cal através da esteira (%) 35 Dosagem de Cal através da densidade (%) 30 Dosagem de Cal através da titulação (%) 25 20 9:20 10:30 11:30 12:30 13:30 14:30 15:30 16:30 17:30 18:30 19:30 Horário Figura 2 – Comparação dos resultadosobtidos nos testes para cal (cont.) DATA: 19-12-2001 e 20-12-2001 95 85 Dosagem estimada (%) Dosagem (%) 75 Dosagem através dos dados do supervisório (%) 65 Dosagem de Cal através da esteira (%) 55 Dosagem de Cal através da densidade (%) 45 Dosagem de Cal através da titulação (%) 35 3: 00 2: 00 1: 00 0: 00 23 :0 0 22 :0 0 21 :0 0 20 :0 0 19 :0 0 18 :0 0 17 :0 0 25 Horário Figura 2 – Comparação dos resultadosobtidos nos testes para cal (cont.) 6 DATA: 20-12-2001 Dosagem (%) 93 83 Dosagem estimada (%) 73 Dosagem através dos dados do supervisório (%) 63 Dosagem de Cal através da esteira (%) 53 Dosagem de Cal através da densidade (%) 43 Dosagem de Cal através da titulação (%) 33 23 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 Horário Figura 2 – Comparação dos resultadosobtidos nos testes para cal (cont.) CONCLUSÃO Através dos dados obtidos concluiu-se que o lodo estabilizado quimicamente necessita de um controle rigoroso de aplicação de produtos químicos, visto que variações ocorridas na aplicação de produto químico acarretavam alterações significativas na qualidade do lodo desidratado e, potencializavam a desestabilização do lodo (diminuição da capacidade de filtração do lodo). Observou- se também que a dosagem aplicada de cloreto férrico em campo apresentava pequena variação, comparando à dosagem indicada no sistema supervisório. Entretanto, para que isto seja possível é necessário freqüentes ajustes na relação vazão/rotação da bomba no período de testes (um ajuste por dia de teste). No sistema de cal foi possível observar nos diversos dias de testes efetuados, discrepâncias entre a dosagem estimada pelo supervisório, a dosagem aplicada pelo ajuste da velocidade da esteira e a dosagem aplicada no tanque de reação. Haviam grandes oscilações, sendo que as aplicações hora apresentava-se muito acima do recomendado e hora muito abaixo, não havendo uma relação constante e ou equilibrada entre a aplicação estimada e a dosagem real. A disparidade nas dosagens está relacionada com a quantidade de cal que cai na esteira do extintor, ou seja, para uma mesma velocidade da esteira, foram detectados quantidades diferentes de cal em kg/h na saída da esteira. Associa-se a este fato a variação freqüente na qualidade da torta gerada e a necessidade de lavagens constantes dos filtros, pois o excesso de cal pode reagir com o oxigênio do ar e formar carbonatos que são insolúveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA. 1992 Standard Methods for the examination of water and wastewater. 18th ed. APHA/AWWA/WEF New York P. 1268p. SABESP, 2001 – Relatório de Acompanhamento Operacional (material não publicado). SABESP, 2002 – Relatório de Acompanhamento Operacional (material não publicado). 7