EDITORIAL Envelhecer médico A proporção de pessoas idosas, com mais de 60 anos, está crescendo rapidamente em todo o mundo. Entre 1970 e 2025, espera-se um crescimento de 223%, ou cerca de 694 milhões na população idosa. Até 2025, segundo OMS/ 2002, o Brasil será o sexto país em número de idosos. Esta transição populacional, assim como em outras carreiras, também está ocorrendo na classe médica. Uma das grandes diferenças da careira médica para as outras é que sua evolução é lenta e contínua e o seu auge inicia-se, normalmente, apenas a partir da quinta década de vida. Isto se deve, principalmente, ao período mais extenso de graduação, seguido de anos de Residências Médicas e, em alguns casos, mais longos anos de pós-graduações. Neste contexto, dificilmente o médico encerrará sua carreira ao completar 65 anos, prolongando sua atividade profissional por, no mínimo, mais uma década. Apesar de ter plena ciência dos diversos fatores que auxiliam no envelhecimento com qualidade, tais como a prática regular de atividade física, a alimentação saudável e a redução do tabagismo, a realidade do cotidiano médico é bem diferente. Observamos extensas jornadas de trabalho, com redução da quantidade e da qualidade de horas de sono, alimentação inadequada (muitas refeições substituídas por “salgadinhos”), além do total descaso para com a saúde, incluindo o sedentarismo e a obesidade, pois nunca sobra tempo para prática de esportes. Com grande surpresa, observamos, ainda, médicos na sétima e oitava décadas de vida com ritmo de trabalho semelhante ao de recém-formados, trabalhando mais de sessenta horas semanais, impactando, assim, em uma grande queda na qualidade de vida. Em alguns casos, podemos considerar como “um grande vício a profissão”. Todavia, na maioria das vezes, isto se deve às aposentadorias precárias fornecidas pelos serviços públicos de saúde e pela falta de preparo e orientação financeira durante a formação do médico e ao longo de sua carreia. Envelhecer com qualidade também deve ser um dos objetivos da classe médica. Devemos nos lembrar de que, além dos pacientes, precisamos nos dedicar à nossa saúde e à família. Nesta edição... Danilo S. L. da Costa Cruz Editor chefe Ronaldo Damião Editores associados Danilo S. L. da Costa Cruz Eloisio Alexsandro da Silva A T U A L I Z A Ç Ã O www.urologiaessencial.org.br MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK EAU Clinical Fellowship – Universidade de Innsbruck | Áustria Comitê de Promoção da Neurourologia da ICS Unidade de Video-Urodinâmica do Hospital Moinhos de Vento LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS Chefe do Serviço de Urologia do HSPE | SP Doutor em Urologia | Unifesp EPM Coordenador da Unidade de Urodinâmica do Hospital Albert Einstein Neuromodulação Sacral para o tratamento da Bexiga Hiperativa Idiopática Refratária Introdução A bexiga hiperativa (BH) é uma síndrome definida pela Sociedade Internacional de Continência (ICS) como urgência miccional, com ou sem incontinência urinária por urgência, usualmente acompanhada de polaciúria e noctúria, na ausência de infecção urinária ou outras condições metabólicas patológicas1. Urgência miccional é definida pela ICS como “um desejo súbito e desconfortável de urinar, que é difícil de controlar”. A BH determina impacto negativo na qualidade de vida e pode afetar indivíduos de ambos os sexos, em diferentes faixas etárias2. Estima-se que a prevalência de sintomas de BH no Brasil seja de 18,9%3. Os pa- 4 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 cientes tendem ao isolamento social e estão em risco aumentado para desenvolvimento de sintomas depressivos. A noctúria pode estar associada a prejuízo à qualidade do sono e risco para ocorrência de quedas e fraturas, em especial na população idosa4. Os custos gerados pela BH são provavelmente altos; contudo, o impacto financeiro ainda não foi estudado no Brasil. Nos EUA, os gastos gerados no tratamento de pacientes com incontinência urinária chegaram a 26 bilhões de dólares em 1995. A incontinência urinária de urgência foi responsável por uma grande proporção desses gastos2. Múltiplas intervenções foram estudadas para o tratamento de pacientes com sintomas de BH5. O tratamento conservador representa a primeira linha de tratamento NEUROMODULAÇÃO SACRAL PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA IDIOPÁTICA REFRATÁRIA MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS ATUALIZAÇÃO e inclui a reabilitação do assoalho pélvico, o tratamento comportamental e o uso de antimuscarínicos via oral. Tendo em vista que a gênese dos sintomas de BH é multifatorial e ainda não completamente compreendida, o tratamento multimodal pode ser necessário2, 5, 6. Apesar de a epidemiologia da BH refratária ser desconhecida, acredita-se que os indivíduos que sofrem desta condição representam uma minoria da população acometida por sintomas de BH. Segundo as diretrizes da Associação Canadense de Urologia7, a definição de refratariedade deve ser utilizada para os pacientes que apresentaram falha de pelo menos 2 esquemas de antimuscarínicos, em doses adequadas. A BH refratária permanece como um problema clínico complexo e desafiador na prática urológica. Apesar do surgimento de novos medicamentos antimuscarínicos e sistemas de liberação programada (para administração VO), a taxa de suspensão do tratamento com estas drogas é extremamente alta e está relacionada, principalmente, aos efeitos adversos, falta de eficácia e custos do uso crônico8. Desta forma, há uma demanda de tratamentos alternativos para este grupo de pacientes. Os avanços neste contexto incluem a aplicação de toxina botulínica no detrusor, a neuromodulação periférica do nervo tibial posterior e a neuromodulação sacral (SNM). As indicações, a técnica e os resultados da neuromodulação sacral são os temas que serão discutidos no presente artigo de revisão. EUA) para uso em humanos, tendo recebido aprovação inicial para uso na Europa em 1994. A neuromodulação sacral (SNM) foi aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento da incontinência urinária de urgência e para a síndrome de urgência-polaciúria em 1997. Mais recentemente, o FDA também estendeu a aprovação da SNM para a retenção urinária crônica não obstrusiva (Síndrome de Fowler) e para a incontinência fecal crônica. Neuromodulação Sacral A SNM é uma opção de tratamento minimamente invasivo para pacientes com bexiga hiperativa idiopática refratária aos tratamentos de primeira linha. Como não há critérios clínicos confiáveis para predizer quais pacientes serão responsivos a esta modalidade de tratamento, o único meio de selecioná-los é a realização da “eletroestimulação de teste”, que é a primeira etapa do tratamento e pode ser feita no consultório ou como um procedimento ambulatorial sob sedação/ anestesia O conceito de neuromodulação de raízes sacrais para o tratamento da BH surgiu a partir das pesquisas de Schmidt e Tanagho na Universidade da Califórnia, em San Francisco (UCSF), com o objetivo de tentar desenvolver um “marcapasso da bexiga”, destinado ao tratamento de disfunções miccionais9. A partir deste primeiro estudo experimental em modelo animal, a terapia InterstimR foi desenvolvida pela Metronic (Minneapolis, MN, Mecanismo de Ação Apesar do mecanismo de ação da SNM não ser completamente entendido, acredita-se que a estimulação elétrica das raízes sacrais modula as vias neurais aferentes e eferentes do assoalho pélvico, bexiga e uretra. Além disso, a inibição direta dos neurônios pré-gangliônicos parassimpáticos e da transmissão interneural aferente podem representar um papel importante neste processo de neuromodulação. A eletroestimulação das raízes sacrais promove melhora da capacidade de armazenamento da bexiga e da pressão de fechamento uretral, levando à atenuação dos sintomas urinários (urgência, polaciúria, incontinência urinária de urgência)10. De outro lado, exames funcionais do sistema nervoso central demonstraram que o centro pontino da micção e áreas do córtex cerebral também são responsivos à SNM11. Fase de eletroestimulação de teste: “PNE vs Tined-Lead” V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 5 ATUALIZAÇÃO NEUROMODULAÇÃO SACRAL PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA IDIOPÁTICA REFRATÁRIA MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS local. Se o paciente for responsivo após um período inicial de teste (usualmente 5 a 7 dias), é indicado o implante do gerador de pulsos (IPG / “implantable pulse generator”). Neste período, é imprescindível a avaliação dos parâmetros do diário miccional (número de episódios de incontinência urinária, urgência e número de micções em 24 horas, capacidade vesical funcional) pré e pós-eletroestimulação de teste. Considera-se que melhora superior ou igual a 50% nos sintomas clínicos, comprovada pelos dados do diário miccional, seja necessária para a indicação do implante do IPG. A eletroestimulação de teste pode ser realizada através do implante de eletrodos unipolares PNE ou através do implante inicial de eletrodos crônicos (ou “permanentes”) quadripolares, chamados “tined-lead” (Figura 1). Para guiar o implante, o método de imagem mais frequentemente utilizado é a fluoroscopia. Historicamente, o eletrodo agulha (PNE – peripheral nerve evaluation) foi o primeiro dispositivo a ser utilizado para eletroestimulação de teste. Essa alternativa é mais simples e barata e bastante utilizada na América do Norte, especialmente em procedimentos realizados em consultório. Testes clínicos com o uso do eletrodo unipolar, entretanto, apresentam maior risco de migração e, como consequência, oferecem resultados inferiores aos observados com o eletrodo permanente quadripolar12. O implante inicial de um eletrodo “crônico” quadripolar, com sistema de autofixação à fáscia sacral (tined-lead) foi estudado com o objetivo de melhorar a chance de resposta durante a eletroestimulação de teste. Borawski et al. randomizaram 30 pacientes para a eletroestimulação de teste com diferentes eletrodos e demonstraram que a chance de identificar pacientes responsivos à SNM é maior quando se utiliza o eletrodo tined-lead em comparação ao eletrodo convencional PNE (88% vs 46%; P = 0,02)13. Segundo estudo realizado na Unidade de Neurourologia de Innsbruck/ Áustria, a eletroestimu6 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 lação de teste por período prolongado também aumenta a chance de identificar pacientes responsivos14. Kessler et al. avaliaram prospectivamente 20 pacientes submetidos à eletroestimulação de teste por um período mínimo de 14 dias e demonstraram 88% de pacientes responsivos à técnica. Durante este período os pacientes receberam antibiótico-profilaxia. Figura 1 Eletrodos Eletrodo PNE convencional (wire electrode) Eletrodo quadripolar com sistema de auto-fixação à fáscia sacral (tined-lead) NEUROMODULAÇÃO SACRAL PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA IDIOPÁTICA REFRATÁRIA MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK Descrição da técnica – Implante Inicial de Eletrodos “Tined-Lead” A SNM evoluiu significativamente após a introdução dos eletrodos quadripolares “tined-lead”, os quais permitiram desenvolver uma técnica minimamente invasiva para implante em estágios (“staged implant”). O procedimento é realizado com o paciente em decúbito ventral, guiado por fluoroscopia pósteroanterior e laterolateral (figuras 2 e 3). Figura 2 Rx da pelve (a incisura isquiática maior é referência anatômica para o foramen S3) Incisura isquiática maior LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS ATUALIZAÇÃO A referência anatômica do forame S3 pode ser estimada medindo 9 cm a partir da ponta do cóccix, 2 cm lateralmente ao plano sagital. A agulha de eletroestimulação é inserida através da pele com angulação de 60 graus, 1,5 a 2 cm acima do local de marcação do forame S3. O correto posicionamento da agulha no forame é confirmado pela identificação de respostas motoras e sensitivas típicas (tabela 1; figuras 4, 5 e 6). É importante ressaltar que a raiz sa- TABELA 1 . Respostas motoras e sensitivas da estimulação elétrica das raízes sacrais Raiz Resposta motora Resposta sensitiva S2 Contração do esfíncter anal, rotação do membro inferior, flexão plantar do pé, contração da loja posterior da perna Alteração sensorial na base do pênis ou vagina S3 “Bellows” (contração da musculatura do assoalho pélvico), flexão plantar do hálux Alteração sensorial referida no reto, estendendo-se ao escroto ou aos grandes lábios S4 “Bellows” Alteração sensorial no reto Foramen S3 Figura 3 Figura 4 Fluoroscopia laterolateral Introdução da agulha de eletroestimulação (ângulo de 60 graus) 60o V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 7 ATUALIZAÇÃO NEUROMODULAÇÃO SACRAL PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA IDIOPÁTICA REFRATÁRIA MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS Figura 5 Modelo cadavérico da pelve (corte sagital) e demonstração da passagem da agulha de eletroestimulação no foramen S3 O controle fluoroscópico permite verificar o correto posicionamento do eletrodo através do forame S3 (Figuras 9 e 10). A bainha é então retraída até que uma resposta motora seja observada em pelo menos 3 dos quatro pólos do eletrodo, com voltagem <= 5 V (idealmente nos quatro pólos, com voltagem <= 2 V, para prolongar a vida útil do gerador de pulsos que será implantado caso o paciente seja responsivo ao tratamento). Figura 7 Agulha de eletroestimulação posicionada no foramen S3 (à direita). Extensão de eletroestimulação tipo “J hook” coaptada à agulha. Figura 6 Detalhe do posicionamento do paciente (pés expostos para avaliar a resposta motora da estimulação da raiz S3: flexão plantar do hálux) Figura 8 Bainha introdutória do tined-lead (a ser inserida através do fio guia metálico) cral S3 cruza o respectivo forame no seu aspecto súpero-medial. Após a confirmação do local de posicionamento (Figura 7), um fio guia é introduzido através da agulha no foramen S3 e a mesma é retirada para permitir a colocação da bainha introdutória do eletrodo tined-lead, com mandril dilatador (figura 8). Realizada esta etapa, o fio guia e o mandril dilatador são retirados para possibilitar a passagem do eletrodo quadripolar através da bainha. 8 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 NEUROMODULAÇÃO SACRAL PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA IDIOPÁTICA REFRATÁRIA MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK Figura 9 Fluoroscopia transoperatória (eletrodo tined-lead) LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS ATUALIZAÇÃO contralateral, para conexão com um gerador externo de pulsos (Figura 11). A eletroestimulação de teste é mantida por um período de 7 a 14 dias, para verificar se o paciente será responsivo ao tratamento (>=50% de melhora nos parâmetros do diário miccional). Figura 11 Eletroestimulação de teste, com gerador de pulsos externos Futuro Local de implante do IPG Figura 10 Ilustração da passagem do eletrodo quadripolar (tined-lead) através do foramen S3 e seu posicionamento junto à raiz sacral Local de exteriorização da extensão de eletroestimulação externa Conexão do tined-lead com a extensão de eletroestimulação externa Tined-lead Nos casos responsivos, o gerador de pulsos definitivo (InterstimR) é implantado no subcutâneo do quadrante superolateral da região glútea (através da incisão previamente realizada) e programado para proporcionar uma resposta clínica satisfatória (Figuras 12 e 13). Obtidas as respostas motora e sensitiva, a bainha é completamente retirada e o eletrodo é tunelizado no subcutâneo, em direção ao quadrante súpero-lateral laterossuperior da região glútea (no local é realizada uma pequena incisão, onde posteriormente poderá ser implantado o gerador de pulsos - IPG). Uma extensão de eletroestimulação externa é conectada à extremidade do eletrodo quadripolar nesta incisão e esta conexão é mantida no subcutâneo. A extensão de eletroestimulação externa é tunelizada e exteriorizada através da região glútea Fatores preditivos e seleção de pacientes Diversos estudos procuraram identificar fatores clínicos para predizer quais são os pacientes com maior possibilidade de se beneficiar com a SNM15-21. Amundsen et al. investigaram 105 pacientes com incontinência urinária de urgência submetidos à eletroestimulação de teste com PNE, dos quais 55 (52%) receberam implante do IPG. A idade inferior a 55 anos esteve associada com maior chance de sucesso (65% vs 37%; p < 0,05). A presença de 3 ou V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 9 ATUALIZAÇÃO NEUROMODULAÇÃO SACRAL PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA IDIOPÁTICA REFRATÁRIA MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS Figuras 12 e 13 Implante do gerador de pulsos definitivo (InterstimR) mais comorbidades e o diagnóstico de doença neurológica foram fatores preditivos de insucesso18. Há também uma correlação forte entre distúrbios emocionais e doenças psiquiátricas com a ocorrência de sintomas sugestivos de BH. Demonstrou-se que esses pacientes apresentam uma menor possibilidade de resposta à eletroestimulação de teste e que nessa população também existe uma alta incidência de reoperações, quando os pacientes são submetidos ao implante do IPG19,20. A urodinâmica não parece ser útil na seleção dos melhores candidados à SNM. Há evidências sugerindo que a avaliação urodinâmica não pode predizer a resposta à eletroestimulação de teste ou estimar a chance de sucesso após o implante definitivo. Estudo não-randomizado verificou que a presença (ou ausência) de hiperatividade detrusora durante a cistometria não se correlaciona com a possibilidade de resposta durante a fase de eletroestimulação de teste21. Resultados de Estudos Clínicos Nos estudos clínicos que avaliaram os resultados da SNM, considerou-se uma melhora superior ou igual a 50% dos sintomas dos pacientes (duran10 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 Chave de torque para conexão do eletrodo tined-lead ao gerador de pulsos (IPG) te a eletroestimulação de teste) para indicar o implante do gerador de pulsos definitivo (IPG). Um dos principais ensaios clínicos, que levou à maior utilização da neuromodulação sacral foi um estudo multicêntrico, prospectivo e randomizado, envolvendo 16 centros na América do Norte e Europa22. Neste estudo, 155 pacientes refratários ao tratamento farmacológico foram recrutados para implante ou não do dispositivo neuromodulador. Com seguimento de seis meses, foi observada melhora significativa em diversos parâmetros, como número de episódios de incontinência urinária, número de absorventes em 24 horas e severidade das perdas. Estes resultados foram mantidos após 18 meses de seguimento. Um estudo multicêntrico Europeu avaliou 94 pacientes com diferentes tipos de disfunções miccionais idiopáticas e identificou 72 pacientes responsivos à eletroestimulação de teste com tine-lead (76,6%). Após 6 meses de acompanhamento foram avaliados dados clínicos de 41 pacientes (20 com incontinência urinária de urgência e 21 com retenção urinária crônica não obstrutiva). Os pacientes com incontinência urinária de urgência obtiveram uma redução significativa no número NEUROMODULAÇÃO SACRAL PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA IDIOPÁTICA REFRATÁRIA MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK médio de micções diárias (p<0,001), episódios de incontinência (p<0,005) e número de absorventes utilizados (p = 0,006) neste período de acompanhamento23. Recentemente, Chartier-Kastler publicou estudo multicêntrico prospectivo, realizado entre 2003 e 2009, em 44 centros franceses, incluindo 1.418 pacientes que foram submetidos a implantes para bexiga hiperativa (1.170 pacientes), retenção urinária idiopática (151 pacientes) e outras disfunções (97 pacientes). A análise de eficácia foi realizada para as duas principais condições clínicas separadamente. Nos 1.170 pacientes com bexiga hiperativa observou-se, no seguimento de um ano, melhora clínica superior a 50% em 84,8% dos casos, e superior a 90% em 24,1% deles. Após 60 meses de acompanhamento, essas porcentagens de melhora foram 75% e 28,9%, respectivamente24. Segundo dados de outros estudos prospectivos, a melhora clínica obtida com a SNM é mantida após períodos de até 5 anos de acompanhamento, comprovando a durabilidade de seu efeitos. Taxas de sucesso de 60 a 77% são relatadas no seguimento de longo prazo15, 25-32. No contexto da incontinência urinária de urgência, a técnica de neuromodulação sacral promove taxas de cura de 47% após 6 meses de acompanhamento, mantidas por pelo menos 18 meses 29. Depois de 3 anos, demonstraram-se taxas de cura de 32%25. Existem revisões sistemáticas sobre neuromodulação sacral publicadas na literatura que demonstram sua ampla utilidade clínica. Brazelli et al., em 2006, reportam seus resultados em uma revisão sistemática, incluindo estudos publicados entre 1996 e 2003, em pacientes com incontinência urinária de urgência, na qual verificaram taxas de sucesso entre 67 e 80% e com resultados mantidos após seguimento de 3 a 5 anos17. Posteriormente Kessler et al. relataram as conclusões de nova revisão sistemática, na qual puderam incluir 30 estudos publicados até abril de LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS ATUALIZAÇÃO 2010. Nesta revisão sistemática foram avaliados os resultados de 357 pacientes com idades que variaram de 20 a 62 anos. A taxa de sucesso durante a fase de teste foi de 68% (IC95%: 50-87%). A taxa de sucesso após o implante do gerador de pulsos definitivo foi de 92% (IC95%: 81-98%). Esse levantamento não excluiu estudos com pacientes neurogênicos, contando com os resultados de 88 indivíduos com diagnóstico de doença neurológica (Esclerose Múltipla: 50, Parkinson: 6, AVC: 10, Discopatia: 18, Meningomielocele: 2 e Paralisia Cerebral: 2). Os eventos adversos mais frequentes foram migração do eletrodo (15 pacientes) e dor no local do implante do gerador de pulsos (12 pacientes)33. Especificamente em relação à bexiga hiperativa refratária, dois outros levantamentos sistemáticos da literatura foram publicados em 2009 e 2010, comprovando a efetividade do método nesse difícil grupo de pacientes34,35. Um fator limitante intrínseco da técnica é a necessidade de substituição do gerador de pulsos implantável (IPG) após o esgotamento de sua bateria. Gajewski et al. avaliaram retrospectivamente os resultados em longo prazo da SNM e verificaram que a durabilidade média da bateria do gerador de pulso foi de 93 meses32. Recentemente introduzido, o dispositivo de segunda geração “Interstim 2” tem menores dimensões e avanço no sistema de conexão do eletrodo, mas traz a desvantagem de ter menor durabilidade. Complicações Hijaz et al. analisaram o banco de dados da Cleveland Clinic e publicaram uma interessante revisão sobre as complicações da SNM em 214 pacientes submetidos ao implante de tined-leads36. A indicação do implante do gerador de pulsos (IPG) ocorreu em 161 pacientes (75,5%). Dezessete pacientes (10,5%) tiveram o dispositivo completamente removido por infecção (n = 8) ou ausência de resposta clínica (n = 9). Vinte e seis pacientes (16,1%) foram submetidos à revisão V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 11 ATUALIZAÇÃO NEUROMODULAÇÃO SACRAL PARA O TRATAMENTO DA BEXIGA HIPERATIVA IDIOPÁTICA REFRATÁRIA MÁRCIO AUGUSTO AVERBECK LUIS AUGUSTO SEABRA RIOS cirúrgica devido à atenuação da resposta (n = 17), infecção (n = 4), dor no local do implante do IPG (n =4) e migração do eletrodo (n = 1). cos permitiram o desenvolvimento de um procedimento minimamente invasivo, seguro e com boas taxas de sucesso neste difícil grupo de pacientes. Conclusões Agradecimento A neuromodulação sacral representa uma modalidade bem estabelecida para o tratamento da bexiga hiperativa refratária. Os avanços tecnológi- A pedido dos autores, as figuras 2, 4, 10, 11 e 12 foram cedidas pela Medtronic para publicação na Revista Urologia Essencial. REFERÊNCIAS Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griffiths D, Rosier P, Ulmsten U, Van Kerrebroeck P, Victor A, Wein A. 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V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 13 PROFILAXIA DO TROMBOEMBOLISMO VENOSO NA CIRURGIA UROLÓGICA M U LT I D I S C I P L I N A R I D A D E LAYLA SALOMÃO TAINÁ PAIVA www.urologiaessencial.org.br LAYLA SALOMÃO Hospital Universitário Pedro Ernesto | RJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro | UERJ TAINÁ PAIVA Hospital Universitário Pedro Ernesto | RJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro | UERJ Profilaxia do Tromboembolismo Venoso na Cirurgia Urológica O tromboembolismo venoso (TEV), que se manifesta através da trombose venosa profunda (TVP) e da embolia pulmonar (EP), é uma das principais causas de morte previsível em pacientes hospitalizados1. Apesar do custo-benefício e das indicações bem definidas para prevenção, ainda há uma incompleta adesão à profilaxia2. Estratificação do Risco Vários fatores de risco estão associados ao desenvolvimento de TEV em pacientes cirúrgicos como, por exemplo, tipo e extensão da cirurgia, tempo de hospitalização, história prévia de TVP ou câncer, imobilidade, sepse recente, presença de acesso venoso central, gravidez ou puer- 14 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 pério e estado de hipercoagulabilidade. Procedimentos como a herniorrafia inguinal ou a prostatectomia transuretral estão relacionados ao baixo risco, enquanto que cirurgias abdominopélvicas abertas ou de câncer elevam o risco para TEV3, 4. A Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) recomenda que cada paciente seja avaliado individual e cuidadosamente, para a correta classificação de risco. Idade menor que 40 anos, cirurgia com menos de 30 minutos e ausência de outros fatores de risco associados classificam o paciente como de baixo risco. Idade maior que 40 anos, cirurgia com mais de 30 minutos e ausência de outros fatores de risco associados classificam o paciente como de risco moderado. PROFILAXIA DO TROMBOEMBOLISMO VENOSO NA CIRURGIA UROLÓGICA LAYLA SALOMÃO TAINÁ PAIVA Pacientes com mais de 60 anos submetidos a grandes cirurgias ou entre 40-60 anos, com fatores de risco adicionais, apresentam elevado risco para TEV5. A tabela 1 sintetiza um exemplo de estratificação de risco, validado para cirurgias urológicas e TABELA 1 MULTIDISCIPLINARIDADE recomendado pelo American College of Chest Physicians (ACCP), na 9ª edição (2012) das Diretrizes para Terapia Antitrombótica e Prevenção de Trombose. O score de Caprini classifica os pacientes em 4 grupos de risco: muito baixo (0-1 ponto); baixo (2 pontos); moderado (3-4 pontos) e alto (≥ 5 pontos)6-8. . Score de risco de Caprini 1 ponto 2 pontos 3 - 4 pontos 5 pontos Idade 41-60 anos Idade 61-74 anos Idade ≥ 75 anos AVE (< 1 mês) Pequenas cirurgias Artroscopia História de TEV Artroplastia eletiva IMC > 25 kg/m2 Cirurgia aberta (> 45 min) História familiar de TEV Fraturas de quadril, pelve ou fêmur Edema periférico Laparoscopia (> 45 min) Fator V Leiden Trauma medular agudo (< 1 mês) Veias varicosas Malignidade Protrombina 20210A Gravidez ou puerpério Repouso no leito (> 72h) Anticoagulante lúpico História de aborto espontâneo recorrente Imobilização gessada Anticardiolipina Contraceptivo oral ou TRH Acesso venoso central Hiper-homocisteinemia Sepse (< 1 mês) Trombocitopenia heparinainduzida Infarto agudo do miocárdio Outras trombofilias congênitas ou adquiridas DPOC Doença pulmonar grave, incluindo pneumonia (< 1 mês) Insuficiência cardíaca congestiva (< 1 mês) História de doença inflamatória intestinal TRH: Terapia de reposição hormonal; DPOC: Doença pulmonar obstrutiva crônica. V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 15 MULTIDISCIPLINARIDADE PROFILAXIA DO TROMBOEMBOLISMO VENOSO NA CIRURGIA UROLÓGICA LAYLA SALOMÃO TAINÁ PAIVA Profilaxia De acordo com o ACCP para pacientes de risco muito baixo de TEV, não está indicada nenhuma profilaxia farmacológica ou mecânica específica, apenas a deambulação precoce. No grupo de baixo-risco para TEV, está indicada a profilaxia mecânica, preferencialmente com compressão pneumática intermitente (CPI)5,6. Para pacientes com risco moderado para TEV, é recomendada a profilaxia farmacológica com heparina de baixo peso molecular (HBPM) ou doses baixas de heparina não fracionada (HNF), ou ainda profilaxia mecânica, preferencialmente com CPI. As medicações podem ser iniciadas duas horas antes da cirurgia e mantidas por 7-10 dias5,6. Em pacientes de alto risco para TEV, recomenda-se a profilaxia farmacológica com HBPM ou doses baixas de HNF, associada à profilaxia mecânica com meias elásticas ou CPI. Nesse grupo, as medicações podem ser iniciadas 12 horas antes da cirurgia e mantidas por 7-10 dias ou enquanto TABELA 2 . Tromboprofilaxia por grupo de risco Risco Profilaxia mecânica HBPM HNF Muito baixo (0-1 ponto) - - - Baixo (2 pontos) CPI - - Moderado1 (3-4 pontos) CPI OU SC, 20 mg/dia OU SC, 5.000 UI, 12/12 horas Alto2 (≥ 5 pontos) CPI ou meias elásticas E SC, 40 mg/dia OU SC, 5.000 UI, 8/8 horas Risco de sangramento maior CPI ou meias elásticas 1. Iniciar profilaxia farmacológica 2 horas antes da cirurgia. 2. Iniciar profilaxia farmacológica 12 horas antes da cirurgia. Manter profilaxia por 7-10 dias ou enquanto persistir o risco. 16 permanecer o risco. A tabela 2 sintetiza a tromboprofilaxia por grupo de risco5,6. Quando a HBPM e a HNF forem contraindicadas ou não estiverem disponíveis e o paciente for de alto-risco para TEV, pode-se usar fondaparinux ou doses baixas de aspirina, além da profilaxia mecânica. Para paciente de alto-risco para TEV, submetido à cirurgia abdominopélvica para câncer, recomenda-se estender a duração da profilaxia (4 semanas)6. Independente do grupo de risco para TEV, se o paciente for considerado de risco para sangramento maior ou se uma hemorragia pequena causar complicações severas, não há indicação para a profilaxia farmacológica, até que o risco de sangramento diminua. Recomenda-se realizar a profilaxia mecânica com meias elásticas ou compressão pneumática intermitente. A tabela 3 apresenta os principais fatores de risco para sangramento maior como complicação da terapia farmacológica antitrombótica6. UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 - - PROFILAXIA DO TROMBOEMBOLISMO VENOSO NA CIRURGIA UROLÓGICA LAYLA SALOMÃO TAINÁ PAIVA TABELA 3 MULTIDISCIPLINARIDADE . Fatores de risco para sangramento maior Sangramento ativo Sangramento maior prévio Desordem hemorrágica não tratada Insuficiência renal ou hepática grave Trombocitopenia AVE agudo Hipertensão arterial sistêmica não controlada Punção lombar, anestesia epidural ou subaracnoidea há menos de 4h ou nas próximas 12h Uso concomitante de anticoagulantes, antiplaquetários ou trombolíticos Sexo masculino Hemoglobina pré-operatória < 13 g/dL Malignidade Cirurgia complexa (2 ou mais procedimentos, dissecção difícil ou mais de uma anastomose) Conclusão O tromboembolismo venoso apresenta uma elevada taxa de morbidade e mortalidade, além de aumentar o tempo e o custo de internação. O foco em sua prevenção deve estar presente em todos os pacientes de cirurgia urológica, através da estratificação do risco de trombose e consequente profilaxia mecânica ou farmacológica. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. GEERTS W H, BERGQVIST D, PINEO G F, HEIT J A, SAMAMA C M, LASSEN M R et al. 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DUARTE PINTO ELOÍSIO ALEXSANDRO DA SILVA www.urologiaessencial.org.br ROGÉRIO ALVES BARBOZA Profº Assistente | Unigranrio | RJ Urologista do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla | RJ LUIZ OTÁVIO AMARAL DUARTE PINTO Residência em Urologia - Hospital Universitário Pedro Ernesto | UERJ Residência em Transplante Renal - Hospital Universitário Pedro Ernesto | UERJ Fellowship em Urologia Reconstrutora e Uropediatria | HUPE | UERJ ELOÍSIO ALEXSANDRO DA SILVA Professor Adjunto do Serviço de Urologia Hospital Universitário Pedro Ernesto | UERJ O Tamanho do Pênis Introdução A tualmente, estamos presenciando um momento de (re)evolução sexual. A exposição da genitália nunca foi tão evidente. O comportamento sexual moderno – com um maior número de parceiros, com o sexo à luz acesa, com as facilidades de acesso à pornografia pela Internet, dentre outros – vem contribuindo com esse fenômeno. Desta forma, encontra-se cada vez mais frequente a ida de homens aos urologistas, com queixas ou dúvidas relacionadas ao genital, destacando-se, principalmente, questões relacionadas ao tamanho do pênis1,2. Os pacientes com queixa de pênis pequeno podem apresentar-se de várias maneiras: como portadores de micropênis, que se refere a um pênis anatomicamente normal, porém com 2,5 desvios dos padrões abaixo da média, devido a um déficit hormonal androgênico; como portadores das síndromes de 18 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 Kallman, Klinefelter, Prader-Willi e Noonan, que necessitarão de acompanhamento multidisciplinar3; também são comuns pacientes cujo pênis está dentro dos padrões biométricos de normalidade, mas que o veem como inadequado, devido a idealizações equivocadas do “normal”, caracterizando-o como um dismórfico corporal; por fim, podemos ter um paciente com pênis “adequado”, que procura aumentá-lo por razões meramente estéticas4. Neste artigo, atentaremos à avaliação dos pacientes adultos hígidos que vão ao consultório do urologista em busca de algum procedimento, visando ao aumento do falo. O Falo e a Sociedade Historicamente, é notório o falocentrismo de nossa sociedade. Em culturas antigas, o culto ao falo tinha uma forte correlação com a fertilidade da terra, proteção e sorte. Como exemplo, temos o deus grego da fertilidade, protetor dos pomares e jardins, representado por Príapo (figura 1), ROGÉRIO ALVES BARBOZA LUIZ OTÁVIO A. DUARTE PINTO O TAMANHO DO PÊNIS ELOÍSIO ALEXSANDRO DA SILVA UROLOGIA DE CONSULTÓRIO Figura 1 Figura 3 Afresco de Príapo Esculturas da civilização pré-colombina Mochica Casa dei Vettii, Pompeia, National Archaeological Museum, Nápoles. Avaliação do Paciente no Consultório ilustrado em esculturas ou pinturas como um homem mais velho e possuidor de um grande falo. Os sátiros (figura 2), outros seres da mitologia grega, eram seres constituídos de uma mistura de homem e bode, viciados em vinho, orgias e luxúria e eram representados em esculturas sempre com o pênis em ereção. Essa influência do falo não era restrita apenas aos gregos e romanos; culturas antigas pré-colombianas, como os Mochica, também reverenciavam estátuas com enorme falo (figura 3)2. Figura 2 Foto de escultura grega simbolizando os Sátiros A avaliação inicial do paciente inclui algumas peculiaridades durante a anamnese e o exame físico. Devemos obter uma história detalhada, abordando as angústias do paciente, o início de sua vida sexual, suas frustrações (ou grau de insatisfação), relacionamento interpessoal, trabalho (influências em suas atividades laborais), convívio familiar etc. Esses são aspectos a serem considerados para entender os anseios e a real necessidade deste paciente de um procedimento de aumento e, ainda, para detectar aquele grupo de doentes com transtorno dismórfico corporal que, consequentemente, precisarão de suporte psicológico e psiquiátrico4. O exame físico deverá incluir a avalição da genitália como um todo, incluindo pênis, escroto, face medial de coxa e região pré-pubica3. A medida do comprimento peniano deve ser realizada com uma régua antropomética graduada em centímetros, apoiada na região dorsal do pênis em flacidez sobre tração máxima, deprimindo a gordura pubiana de encontro ao arco inferior do osso púbico. Teremos, assim, o comprimento peniano sobre tração máxima (CRTmax), valor equivalente ao comprimento peniano em ereção (figura 4)3,5,6. Com o valor do CRTmax podemos fazer a comparação do comprimento peniano do paciente com a média populacional. Em vários países, a avaliação do comprimento peniano já foi realizada a fim V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 19 UROLOGIA DE CONSULTÓRIO O TAMANHO DO PÊNIS ROGÉRIO ALVES BARBOZA LUIZ OTÁVIO A. DUARTE PINTO Figura 4 Avaliação do comprimento peniano. de estabelecer a média-padrão daquela população, objetivando ajudar na conduta do médico local. Um dos mais importantes estudos morfométricos penianos foi realizado por Alfred Kinsey et al., em 19488. Destacamos alguns trabalhos relacionados ao comprimento peniano na tabela 1. Orientações aos Pacientes Apesar da grande demanda de homens à procura de procedimentos estéticos visando aumentar o taTABELA 1 ELOÍSIO ALEXSANDRO DA SILVA manho do pênis, o suporte científico que demonstraria o real benefício destes procedimentos é controverso. Além disso, há relatos, na literatura, sobre diversas complicações e os dados referentes às taxas de sucesso e grau de satisfação dos pacientes não são claros9. Realizamos uma revisão sistemática dos artigos publicados, em Inglês, por revistas indexadas no Pubmed/ MEDLINE, durante o período de 1966 a junho de 2012, em busca de artigos científicos relacionados a métodos de alongamento peniano; foram encontrados 20 artigos referentes ao tema. Todos apresentam nível de evidência 4/ grau de recomendação C, segundo a Oxford Centre for Evidence-based Medicine. Alguns procedimentos mereceram destaque e serão abordados a seguir. Cirurgia de Secção do Ligamento Peniano Dois artigos descrevem a secção do ligamento suspensório peniano como uma forma de alongar o pênis10,11. Protogerou et al. executou este procedimento em 40 pacientes e obteve um aumento no comprimento peniano que variou de 2,3 a 5,1 cm . Trabalhos que avaliaram o comprimento peniano3,4,7 Referência País Ano Participantes Idade MÍn - Max Kinsey USA 1948 2455 20-59 Masters e Johnson USA 1966 80 Da Ros Brasil 1994 150 Son Coreia 2003 123 19–27 9,6 (0,8) Awwad Iran 2004 271 17–83 11,6 (1,4) Gabrich PN Brasil 2007 84 18 14,5 (1,6) Mehraban Iran 2007 1500 20–40 11,58 (1,45) Reino Unido 2011 609 16–90 14,3 (1,7) Khan CRTmax = comprimento peniano em máxima tração 20 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 CRTmax Média (cm) Ereto 15,64 15,50 14,5 ROGÉRIO ALVES BARBOZA LUIZ OTÁVIO A. DUARTE PINTO no estado flácido e 1,4 a 3,2 cm em ereção, com satisfação de 67,5% dos pacientes estudados. Por sua vez, Li et al. realizaram essa cirurgia em 42 indivíduos, obtendo um ganho no comprimento que variou de -1 a +3 cm, com satisfação de apenas 35% de sua casuística, sendo que, naqueles pacientes com diagnóstico de transtorno dismórfico corporal, os resultados foram ainda piores (27%)10. Extensores Penianos Três artigos recomendam a utilização de aparelhos extensores como método de primeira-linha para alongamento peniano11,12. Nikoobakht et al. acompanharam 23 pacientes com comprimento peniano médio de 8,8 ± 1,2 cm, que se queixavam de “pênis pequeno”23. Os mesmos utilizaram um aparelho extensor durante 4-6 horas/dia nas primeiras duas semanas e, posteriormente, 9 horas/ dia, até completar três meses. Os autores observaram um aumento significativo para 10,5 ± 1,2 cm no tamanho dos pênis, no final de três meses de uso do aparelho. Resultado semelhante foi obtido por Gontero et al., que estudaram 15 pacientes que fizeram uso de outro extensor por, no mínimo, 4 horas/ dia, durante 6 meses11. Ao final do sexto mês de seguimento, os pacientes obtiveram um aumento de cerca de 2,3 cm no comprimento peniano em estado flácido, com bom aceite por parte dos pacientes13. O TAMANHO DO PÊNIS ELOÍSIO ALEXSANDRO DA SILVA UROLOGIA DE CONSULTÓRIO Injeção de Toxina Botulínica Um artigo relata a injeção de toxina botulínica no pênis como uma maneira de alongá-lo em estado flácido. Shaeer et al. procederam com a aplicação de 100U de toxina botulínica na túnica dartos na base do pênis de 10 indivíduos com queixa de pênis pequeno, apenas em estado flácido. Ao final do estudo, 70% dos pacientes demonstraram um aumento aparente do pênis em flacidez e nenhum efeito colateral foi documentado14. Os demais trabalhos descrevem, de uma forma resumida e não padronizada, algumas técnicas de alongamento peniano sem, entretanto, apresentar resultados. Conclusão O assunto abordado neste artigo vem ganhando um destaque cada vez maior nos consultórios e o urologista deve estar familiarizado com a abordagem deste paciente e, ainda, ciente de como orientá-lo da melhor forma possível. Os artigos científicos encontrados na literatura sobre o tema são relatos de casos, incluindo coorte ou estudos caso-controle de menor qualidade, o que caracteriza um grau de recomendação C para a prática clínica. São necessários estudos de melhor qualidade, com melhor nível de evidência, para uma maior aceitação e difusão destes procedimentos. V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 21 UROLOGIA DE CONSULTÓRIO O TAMANHO DO PÊNIS ROGÉRIO ALVES BARBOZA LUIZ OTÁVIO A. DUARTE PINTO ELOÍSIO ALEXSANDRO DA SILVA REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 22 LEFKOWITZ E S, et al. 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Essa coexistência deve ser tratada simultaneamente, pois a infecção recorrerá se o cálculo não for completamente eliminado e a própria infecção, se não tratada esde a introdução da litotripsia extracorpórea por ondas de choque (LECO) e as diferentes modalidades de cirurgia endoscópica, como a nefrolitotripsia percutânea, no início dos anos 80, o número de intervenções abertas para o tratamento de litíase urinária tem diminuído dramaticamente. Figuras 1 e 2 Alguns centros de referência para tratamento de litíase afirmam que Cálculo coraliforme complexo operado por a cirurgia aberta só é necessánefrolitotomia anatrófica ria em 1 - 5,4% dos casos1-5. Não há dúvidas de que estas técnicas menos invasivas constituem o principal manejo das litíases mais simples. Entretanto, existem ainda controvérsias no tratamento dos cálculos de maior volume e dos cálculos coraliformes mais complexos (figuras 1 e 2). A nefrolitotomia anatrófica tem sido empregada com êxito para o 24 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 NEFROLITOTOMIA ANATRÓFICA: TÉCNICA CIRÚRGICA MODIFICADA CARLOS A. DE FREITAS RIBEIRO com antibióticos de forma adequada, favorecerá a litogênese. Singh et al. observaram que a sobrevida dos pacientes com cálculos coraliformes diminui em torno de 28% em 10 anos, se o cálculo for deixado sem tratamento10. Logo, percebe-se a importância da indicação de tratamento definitivo neste tipo de litíase. A nefrolitotomia anatrófica (sem atrofia) foi primeiramente descrita por Smith e Boyce6 em 1967, baseando-se no princípio de abertura do parênquima renal através de um plano de dissecção relativamente avascular, após ligadura do segmento posterior da artéria renal e injeção de azul de metileno intravenoso para demarcar a linha avascular de Brodel. Esse plano proporciona um acesso seguro ao interior da via excretora, evitando lesão vascular renal, que proporcionaria atrofia parenquimatosa e deterioração da função do rim a médio e longo prazo. Paralelamente, o autor também descreve uma técnica de reconstrução da via excretora, a calicoplastia, com o intuito de evitar a obstrução e melhorar a drenagem urinária no interior do rim, reduzindo assim as possibilidades de infecção e, portanto, a recorrência de litíase. Atualmente, a maioria dos cirurgiões tem preferido uma cirurgia modificada, chamada de nefrolitotomia anatrófica modificada6, 11, procedimento mais simples, sem necessidade de clampeamento inicial do segmento posterior da artéria renal, requerendo, assim, menor tempo cirúrgico que a nefrolitotomia anatrófica padrão. Indicações As indicações atuais para cirurgia aberta em pacientes com cálculos coraliformes são, principalmente, situações em que não há expectativa de eliminar todo o cálculo com um número razoável de procedimentos menos invasivos. Isso ocorre quando os cálculos são extremamente grandes, em sistemas coletores com anatomia complexa, em pacientes obesos mórbidos ou com função muito pobre da unidade renal afetada. Lam et al.12 IURI ARAGÃO TÉCNICAS CIRÚRGICAS relataram que apenas 54% dos pacientes com cálculos coraliformes gigantes (> 2.500 mm2) e 68% dos cálculos coraliformes em sistemas coletores muito dilatados se tornaram livres de cálculo com nefrolitotripsia percutânea. Esses resultados são bem inferiores aos alcançados em cálculos menores (< 2.500 mm2), em sistemas coletores menos complexos (90% de taxas livres de cálculos). Já Assimos et al.13 mostraram que o tamanho do cálculo e a anatomia do sistema coletor têm pouca influência na taxa livre de cálculos quando o acesso cirúrgico aberto é utilizado. Indivíduos extremamente obesos também se beneficiam desse acesso, tendo em vista a dificuldade de uso de imagens fluoroscópicas e as manobras endoscópicas requeridas pela nefrolitotripsia percutânea. Contraindicações Este procedimento não deve ser realizado em pacientes com coagulopatias não corrigidas ou sepse não tratada. Também deve ser realizado com cautela em pacientes com insuficiência renal crônica grave, a não ser que uma melhora significante na função renal possa ser antecipada com a remoção dos cálculos. Cuidados Pré-operatórios A avaliação pré-operatória e o preparo do paciente são de suma importância. A anatomia do sistema coletor deve ser adequadamente definida com urografia excretora, tomografia computadorizada com contraste ou pielografia retrógrada na impossibilidade de uma dessas. A maioria dos pacientes que vão se submeter a este procedimento tem cálculo de estruvita, logo, é prudente o uso de antibioticoterapia de amplo espectro pré-operatória. Técnica-Cirúrgica Descreveremos a seguir a técnica de nefrolitotomia anatrófica modificada6, 11, 14, realizada em nosso serviço. V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 25 TÉCNICAS CIRÚRGICAS NEFROLITOTOMIA ANATRÓFICA: TÉCNICA CIRÚRGICA MODIFICADA CARLOS A. DE FREITAS RIBEIRO IURI ARAGÃO Com o paciente em posição de decúbito lateral (figura 3), o rim é exposto por uma incisão de lombotomia extraperitoneal, ao nível da décima primeira ou décima segunda costela (figura 4), a depender do lado Figura 5 Rim completamente exposto Figura 3 Decúbito lateral Figura 6 Artéria e veia renal isoladas Figura 4 Incisão entre 11ª e 12ª costela Figura 7 Ureter proximal isolado afetado e da posição estimada do rim, com ou sem ressecção de arco costal. O rim é completamente mobilizado em toda a sua superfície, expondo toda a cápsula renal (figura 5). A seguir, a artéria e a veia renal são isoladas (figura 6), assim como o ureter proximal (figura 7). Após administração intravenosa de 12,5g a 25g de manitol (este agente diminui a quantidade de cristalização intratubular que ocorre durante a hipotermia renal, 26 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 NEFROLITOTOMIA ANATRÓFICA: TÉCNICA CIRÚRGICA MODIFICADA CARLOS A. DE FREITAS RIBEIRO limita o edema celular e atenua a lesão por reperfusão, já que atua como depurador de radicais livres), o hilo vascular renal é clampeado em bloco (figura 8). O rim é isolado das vísceras abdominais com plástico estéril (figura 9) e resfriado com gelo por IURI ARAGÃO TÉCNICAS CIRÚRGICAS Figura 10 Resfriamento renal Figura 8 Clampeamento em bloco do hilo renal Figura 11 Posição estimada da linha avascular de Brodel Figura 9 Isolamento renal com plástico estéril Figuras 12 e 13 Incisão longitudinal do parênquima na linha de Brodel cerca de 10 minutos, quando atinge uma temperatura adequada, de 15o C a 20o C (figura 10). Então, uma incisão longitudinal entre 1 a 2 cm posterior à linha média lateral do rim (posição estimada da linha avascular de Brodel – figura 11) é feita com lâmina fria até penetrar nos cálices posteriores (figuras 12 e 13). Geralmente, a palpação direta da massa calculosa ou a utilização de pinça Mixter pode direcionar Abertura dos cálices posteriores V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 27 TÉCNICAS CIRÚRGICAS NEFROLITOTOMIA ANATRÓFICA: TÉCNICA CIRÚRGICA MODIFICADA CARLOS A. DE FREITAS RIBEIRO IURI ARAGÃO a localização exata e a angulação da incisão no parênquima e sistema coletor (figura 14). Após abertura do sistema coletor e exposição dos cálculos (figura 15), os mesmos são removidos cuidadosamente, de modo a evitar fraturas (figura 16). Isso, geralmente, é conseguido quando se utiliza de palpação bimanual do parênquima em busca de cálculos calicinais adicionais. Radioscopia intraoperatória deve ser rotineiramente utilizada para garantir a retirada de todos os fragmentos. Depois de removidos os cálculos (figura 17 e 18), hemostasia cuidadosa deve ser realizada com ligadura dos vasos renais segmentares (figura 19). Figura 14 Abertura do sistema coletor com auxílio de pinça Mixter Figura 16 Retirada cuidadosa dos cálculos Figuras 17 e 18 Rim livre de cálculos Cálculo coraliforme retirado por completo Figura 15 Abertura completa do sistema coletor e exposição do cálculo coraliforme Em seguida, remove-se o clampe vascular, controlando-se sangramentos adicionais. Calicoplastia (união de dois infundíbulos estenosados adjacentes, resultando na formação de um grande cálice único) deve ser realizada sempre que necessário (figuras 20 e 21). 28 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 NEFROLITOTOMIA ANATRÓFICA: TÉCNICA CIRÚRGICA MODIFICADA CARLOS A. DE FREITAS RIBEIRO IURI ARAGÃO TÉCNICAS CIRÚRGICAS Figura 19 Figura 22 Hemostasia renal Colocação de cateter duplo J por via anterógrada Figuras 20 e 21 Calicoplastia Figura 23 Posicionamento de nefrostomia na pelve renal Calicoplastia finalizada Figura 24 Fechamento do sistema coletor A colocação de cateter duplo J por via anterógrada é opcional (figura 22). Na maioria dos casos, é prudente o posicionamento de um cateter de nefrostomia (figura 23), geralmente na pelve renal. O sistema coletor é, então, fechado com fio absorvível, usualmente categute cromado (figura 24). V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 29 TÉCNICAS CIRÚRGICAS NEFROLITOTOMIA ANATRÓFICA: TÉCNICA CIRÚRGICA MODIFICADA CARLOS A. DE FREITAS RIBEIRO IURI ARAGÃO Em seguida, realiza-se a rafia do parênquima renal também com fio absorvível (figura 25). Figura 25 Fechamento do parênquima renal Por fim, um dreno de sucção é posicionado no retroperitônio, no espaço perir-renal, devendo ser retirado entre 24h a 48h, a depender da drenagem. O paciente costuma receber alta em cerca de 5-7 dias, após controle radiológico (figuras 29 e 30), quando se retira o cateter de nefrostomia. Resultados e complicações A taxa média de pacientes livres de cálculo, descrita em uma meta-análise, é de 71% nos casos tratados com nefrolitotomia anatrófica, 78% com nefrolitotripsia percutânea, 54% com LECO e 66% com nefrolitotripsia percutânea e LECO15. Estudos mostram que uma média de 1,9 procedimentos é Figura 28 A aposição de um agente biológico hemostático (figura 26 e 27) ou um patch de gordura perirrenal (figura 28) pode ser utilizada na finalização do fechamento do parênquima. Fechamento do parênquima com auxílio de gordura perirrenal Figuras 26 e 27 Fechamento do parênquima com auxílio de agente biológico hemostático Figura 29 e 30 Controles radiológicos pré e pós-operatórios 30 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 NEFROLITOTOMIA ANATRÓFICA: TÉCNICA CIRÚRGICA MODIFICADA CARLOS A. DE FREITAS RIBEIRO necessária para tratar pacientes com nefrolitotripsia percutânea, 3,6 com LECO e 1,4 com cirurgia aberta, ainda que esta última geralmente seja escolhida para casos mais complexos15. As complicações mais frequentes no pós-operatório são as pulmonares, sendo a atelectasia a mais importante, além de pneumotórax (em menos de 5%) e embolia pulmonar16. Outras complicações relatadas são infecção de ferida operatória, necrose tubular aguda, fístula urinária IURI ARAGÃO TÉCNICAS CIRÚRGICAS e sangramentos16. Estudos mostram taxas de sangramento importante com necessidade de hemotransfusão em 20-25% dos pacientes submetidos à cirurgia aberta17. A literatura relata que alguma perda funcional pode ocorrer na maioria dos rins operados por nefrolitotomia anatrófica, mas tal perda, em geral, é clinicamente insignificante e temporária. Em alguns casos, principalmente em rins severamente obstruídos, pode haver melhora na função renal15. REFERÊNCIAS Assimos DG, Boyce WH, Harrison LH, McCullough DL, Kroonvand RL, Sweat KR. The role of open stone surgery since extracorporeal shock wave lithotripsy. J Urol, 1989; 142: 263-7. 2. Segura JW. Current surgical approaches to ne¬phrolithiasis. Endocrinol Metab Clin North Am, 1990; 19: 919-35. 3. Bichler KH, Lahme S, Strohmaier WL. Indicatio¬ns for open stone removal of urinary calculi. Urol Int, 1997; 59(2):102-8. 4. Paik ML, Wainstein MA, Spirnak P, Hampel N, Resnick MI. Current indications for open stone surgery in the treatment of renal and ureteral cal¬culi. J Urol, 1998; 159: 374-8. 5. Gil-Vernet J. New surgical concepts in removing renal calculi. Urol Int, 1965; 20:255-88. 6. Smith MJ, Boyce WH. Anatrophic nephrotomy and plastic calyrhaphy. Trans Am Assoc Geni¬tourin Surg 1967; 59: 18-24. 7. Harrison LH. Anatrophic nephrolithotomy: up¬date 1978. En: Bonney WW, Weems WL, Do¬nohue JP, eds. AUA courses in urology. Vol 1. Baltimore: Williams and Wilkins, 1978, pp. 1-23. 8. Boyce WH. Anatrophic nephrolithotomy: expe¬rience with a simplification of the Smith and Boy¬ce technique. J Urol, 1980; 123: 604. 9. Singh M, Tresidder GC, Blandy J. The long-term results of removal of staghorn calculi by extended pyelolithotomy without cooling or renal artery oc¬clusion. Br J Urol, 1971; 43: 658-64. 10. Singh M, Chapman R, Tresidder GC, Blandy J. The fate of the unoperated staghorn calculus. Br J Urol, 1973; 45: 581-5. 1. 11. Namiki M, Itoh H, Yoshida T, Itatani M. Modified anatrophic nephrolithotomy. Urology 1983; 21: 265-9. 12. Lam HS, Lingeman JE, Barron M, et al. Staghorn calculi: 13. 14. 15. 16. 17. analysis of treatment results between ini¬tial percutaneous nephrostolithotomy and extra¬corporeal shock wave lithotripsy monotherapy with reference to surface area. JUrol, 1992; 147: 1219-1225. Assimos, D. G., Wrenn, J. J., Harrison, L. H., McCullough, D. L., Boyce, W. H., Taylor, C. L. et al: A comparison of anatrophic nephrolithotomy and percutaneous nephrolithotomy with and without extracorporeal shock wave lithotripsy for management of patients with staghorn calculi. J Urol, 145: 710, 1991. Assimos DG, Anatrophic nephrolithotomy. Urology 57: 161– 165, 2001. Preminger G. M., Assimos D. G. AUA Guideline on Management of Staghorn Calculi: Diagnosis and Treatment Recommendations. The Journal of Urology, Vol. 173, 1991–2000, June 2005. Gonzales X. Nefrolitotomia Anatrófica: Verdaderamente un procedimento obsoleto? Arch Esp. Urol. 2011; 64 (3): 289-296. Segura, J. W., Preminger, G. M., Assimos, D. G., Dretler, S. P., Kahn, R. I., Lingeman, J. E. et al: Nephrolithiasis Clinical Guidelines Panel summary report on the management of staghorn calculi. J Urol, 151: 1648, 1994. V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 31 URO RESUMOS www.urologiaessencial.org.br BRASIL SILVA NETO Professor Adjunto - Depto Cirurgia | UFRGS Chefe do Serviço de Urologia | HCPA ANDRÉ GORGEN NUNES Médico Residente - Serviço de Cirurgia Geral | HCPA Cirurgia vs. Fisioterapia para Incontinência Urinária de Esforço Julien Labrie, Bary L.C.M. Berghmans, Kathelijn Fischer et al. NEJM, 369;12. 19 de setembro de 2013 BASE TEÓRICA Fisioterapia envolvendo treinamento da musculatura do assoalho pélvico é proposta como tratamento de primeira linha para incontinência urinária de esforço; cirurgia de sling de uretra média é geralmente recomendada quando a fisioterapia não funciona. Faltam dados de ensaios clínicos randomizados comparando essas duas opções como terapia inicial. MÉTODOS Nós realizamos um ensaio clínico randomizado e multicêntrico para comparar fisioterapia com cirurgia de sling de uretra média em mulheres com incontinência urinária de esforço. O cruzamento entre os grupos foi permitido. O desfecho primário foi a melhora subjetiva, em 12 meses, medida pelo questionário Patient Global Impression of Improvement. 32 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 RESULTADOS Nós randomizamos 230 mulheres para cirurgia e 230 mulheres para fisioterapia. Dessa amostra, um total de 49% das mulheres no grupo da fisioterapia e de 11,2% do grupo da cirurgia trocou de grupo para o tratamento alternativo. Na análise por intenção de tratar, a melhora subjetiva foi relatada em 90,8% das mulheres no grupo da cirurgia e em 64,4% das mulheres no grupo fisioterapia (diferença absoluta de 26,4 pontos percentuais; 95%IC, 18,1 – 34,5). As taxas de cura subjetiva foram de 85,2% no grupo cirurgia e 53,4% no grupo fisioterapia (diferença absoluta de 31,8 pontos percentuais; 95%IC 22,6 – 40,3), enquanto as taxas de cura objetiva foram de 76,5% e 58,8%, respectivamente (diferença absoluta, 17,8 pontos percentuais; IC 7,9 – 27,3). Uma análise post-hoc por protocolo mostrou que as que cruzaram para o grupo da cirurgia tiveram desfechos similares àquelas inicialmente designadas para cirurgia, e que ambos os grupos tiveram desfechos superiores às mulheres que não cruzaram para o grupo cirurgia. CONCLUSÕES Para mulheres com incontinência urinária de esforço, cirurgia de sling de uretra média, quando comparada com fisiotera- BRASIL SILVA NETO pia, resulta em maiores taxas de melhora subjetiva e de cura subjetiva e objetiva em 1 ano. COMENTÁRIO Intervenções não farmacológicas são, usualmente, introduzidas na prática clínica rotineira sem serem formalmente validadas em ensaios clínicos. Mais ainda, terapias distintas para um mesmo problema clínico dificilmente são comparadas neste mesmo contexto de delineamento. O estudo acima buscou, de maneira bem sucedida, mostrar o oposto. Comparando o tratamento cirúrgico (sling de uretra média) vs. Fisioterapia para incontinência urinária de esforço (IUE), mostrou o desempenho comparativo de terapias consagradas no tratamento da IUE, de intensidade média a alta, conforme o delineamento proposto. Foram randomizadas 460 mulheres (230 por grupo) e o cruzamento entre os grupos foi livremente permitido, o que, na análise por intenção de tratar, aumenta a validade externa do estudo. Os desfechos primários e secundários (melhora subjetiva e cura subjetiva e objetiva) foram adequadamente medidos. Os resultados demonstraram uma ampla vantagem do tratamento cirúrgico comparado ao tratamento fisioterápico na IUE de média a alta intensidade. O cruzamento voluntário das pacientes também permitiu demonstrar a superioridade do tratamento cirúrgico, apesar de o grande número de pacientes que cruzaram para o grupo cirurgia introduzir um viés de seleção na análise estatística. Em resumo, trata-se de um estudo bem delineado, que busca responder a pergunta da pesquisa de maneira objetiva, com consistência na análise e no seguimento das pacientes (12 meses), o que deve ser informado às mesmas, quando do seu diagnóstico e tomada de decisão terapêutica. Caberia uma análise posterior, em 24 meses, para verificar a constância da resposta ao tratamento cirúrgico em comparação ao que foi obtido com o tratamento fisioterápico. ANDRÉ GORGEN NUNES URO-RESUMO Impacto do 18F-fluorodeoxyglucose(fdg)positron-emission tomography/ computed tomography (pet/ct) no manejo de pacientes com carcinoma músculoinvasivo da bexiga Laura S. Mertens, Annemarie Fioole-Bruining*, Erik Vegt†,Wouter V. Vogel†, Bas W. van Rhijn e Simon Horenblas BJU Int 2013; 112: 729–734 OBJETIVO Avaliar o impacto clínico do exame 18F-fluorodeoxyglucose (FDG)-positron-emission tomography/ computed tomography (PET/CT), comparado com o estadiamento convencional com tomografia computadorizada, com contraste. PACIENTES E MÉTODOS Os resultados do FDG-PET/ CT de 96 pacientes consecutivos, com câncer de bexiga, foram analisados. Pacientes incluídos neste estudo foram submetidos à TC com contraste convencional de tórax e abdômen, menos de 4 semanas antes do FDG-PET/ CT. Baseado nos relatórios originais e estadiamento antes e depois do FDG-PET/ CT, a estratégia de tratamento antes e depois do exame foram determinadas para cada paciente, usando um guideline multidisciplinar institucional. Um dos seguintes tratamentos foi escolhido: 1) tratamento curativo local; 2) quimioterapia neoadjuvante/ indução; ou 3) paliação. As alterações na escolha do tratamento antes e depois do FDG-PET/ CT foram avaliadas. RESULTADOS O intervalo mediano (variação) entre TC convencional e FDG-PET/ CT foi de 0 (29 dias). Em 21,9% dos pacientes, o estadiamento no FDG-PET/ CT V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 33 URO-RESUMO BRASIL SILVA NETO ANDRÉ GORGEN NUNES e TC convencional foi diferente. Um aumento no estadiamento foi mais frequente que o contrário (19,8 vs 2,1%). O manejo clínico mudou para 13,5% dos pacientes, como resultado do estadiamento com FDG-PET/ CT. Em 8 pacientes, FDG-PET/ CT detectou um segundo tumor primário, e isto levou a mudanças no tratamento do câncer de bexiga em outros 4 de 96 pacientes (4,2%). Todas as modificações terapêuticas foram realizadas após confirmação, por análise histológica, das lesões adicionais. CONCLUSÕES FDG-PET/ CT acrescenta importante informação adicional para o estadiamento, o que influencia no tratamento de quase 20% dos pacientes com carcinoma músculo-invasivo de bexiga. A seleção de pacientes para quimioterapia neoadjuvante/ indução melhorou e tentativas infrutíferas de tratamento curativo em pacientes com doença metastática foram evitadas. COMENTÁRIOS A peculiaridade biológica dos tumores de bexiga traz em si um dilema usual, que é o de conseguir propiciar ao paciente o tratamento mais adequado e proporcional à agressividade da sua doença. Para isso, o aperfeiçoamento de métodos diagnósticos, laboratoriais ou de imagem é fundamental no aumento da acurácia do estadiamento clínico dos pacientes com neoplasia vesical. Neste contexto, o presente estudo apresenta a análise comparativa de desempenho, por um lado, do FDG-PET/ CT com a tomografia computadorizada convencional no estadiamento clínico dos pacientes com tumores de bexiga e, por outro, a perspectiva de mudança de conduta terapêutica, uma vez confirmada, histologicamente, a presença de metástases em sítios não localizados pela TC convencional. Ressalvadas as limitações do delineamento, esta série de casos demonstrou que, em torno de 20% dos pa34 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 cientes, o estadiamento da doença aumentou com o uso do FDG-PET/ CT, refletindo, porém, alteração na decisão terapêutica em apenas 4 de 96 pacientes, entre cistectomia, com ou sem QT de indução, ou tratamento paliativo. Um ensaio clínico randomizado comparando os dois métodos, acrescido de estudos econômicos de custo-efetividade, é necessário para a determinação do real papel do FDG-PET/ CT neste cenário clínico. Sobrevida em longo prazo dos participantes do Prostate Cancer Prevention Trial Ian M. Thompson, Jr., M.D., Phyllis J. Goodman, M.S., Catherine M. Tangen, Dr.P.H., Howard L. Parnes, M.D., Lori M. Minasian, M.D., Paul A. Godley, M.D., Ph.D., M. Scott Lucia, M.D., e Leslie G. Ford, M.D. The New England Journal of Medicine, vol 369 n.7, 15 de agosto de 2013, 369:603-10. BASE TEÓRICA No Prostate Cancer Prevention Trial (PCPT), finasterida reduziu significativamente o risco de câncer de próstata, mas foi associada ao aumento do risco de doença de alto grau. Com seguimento de até 18 anos, foram analisadas as taxas de sobrevida entre todos os participantes do estudo e entre aqueles com câncer de próstata. MÉTODOS Foram coletados dados sobre a incidência de câncer de próstata entre os participantes do PCPT, por mais um ano, depois do primeiro estudo publicado em 2003, e foi pesquisado o Social Security Death Index para avaliar o status de sobrevida até 31 de outubro de 2011. RESULTADOS Entre os 18.880 homens elegíveis, que foram submetidos à randomização, o câncer de próstata foi diagnosticado em 989 dos 9.423 (10,5%) no grupo BRASIL SILVA NETO da finasterida e em 1.412 de 9.457 (14,9%) no grupo placebo (risco relativo no grupo finasterida de 0,70, com intervalo de confiança de 95% [IC] 0,65-0,76, P<0,001). Dos homens que foram avaliados, 333 (3,5%) no grupo da finasterida e 286 (3%) no grupo placebo tiveram câncer de alto grau (escore de Gleason de 7 a 10) (risco relativo 1,17, IC 95% 1-1,37, P= 0,05). Dos homens que morreram, 2.538 estavam no grupo finasterida e 2.496 estavam no grupo placebo, com taxas de sobrevida de 15 anos de 78% e 78,2%, respectivamente. A razão de chances não ajustada para óbito no grupo finasterida foi de 1,02 (IC 95%, 0,97-1,08, P= 0,46). As taxas de sobrevida em 10 anos foram de 83% no grupo finasterida e de 80,9% no grupo placebo, em homens com câncer de próstata de baixo grau, e de 73% e 73,6%, respectivamente, naqueles com câncer de próstata de alto grau. CONCLUSÕES Finasterida reduziu o risco de câncer de próstata em cerca de um terço. Câncer de próstata de alto grau foi mais comum no grupo finasterida do que no grupo placebo, mas após os 18 anos de seguimento, não houve diferença significativa entre os grupos nas taxas de sobrevida global ou de sobrevida após o diagnóstico de câncer de próstata. ANDRÉ GORGEN NUNES URO-RESUMO No presente estudo, os autores buscaram, no banco de dados do PCPT, os pacientes que tiveram diagnóstico de câncer de próstata durante o estudo, e compararam as sobrevidas globais dentre os que haviam utilizado finasterida e os expostos a placebo, 18 anos após a randomização do primeiro paciente. Ao atingir a sua maioridade, o estudo chega a duas conclusões: a primeira é a de que não há diferença de sobrevida entre os pacientes que usaram finasterida ou placebo, mesmo entre aqueles com diagnóstico de tumores de alto grau. A segunda, a de que, mesmo diminuindo a incidência do diagnóstico, a intervenção preventiva com finasterida não traz benefício na sobrevida dos pacientes, lugar comum de muitos estudos sobre câncer de próstata. Além dos já muito discutidos vieses de detecção, inerentes ao delineamento e análise do PCPT, o presente estudo não faz parte do protocolo original, teve caráter retrospectivo na obtenção dos dados de seguimento e mortalidade e deve-se registrar que nele há muitas perdas, em virtude da não localização de pacientes participantes do estudo. Após mais uma publicação importante do grupo do PCPT, a próxima pergunta a ser feita é: o presente estudo mudou a sua opinião sobre quimioprofilaxia para o câncer de próstata com finasterida? A minha não. COMENTÁRIO O PCPT ainda reverbera seus achados sobre o estudo do câncer de próstata. Trouxe a informação de que a finasterida é capaz de diminuir a incidência da neoplasia maligna prostática em 25%, mas que seus usuários apresentam um risco 27% maior de desenvolver câncer de próstata de alto grau - Escore de Gleason maior ou igual a 7. A discussão acerca do uso da finasterida sempre esbarrou na informação trazida pelo PCPT a respeito da maior incidência de tumores de alto grau e uma suposta maior incidência de morte por câncer de próstata dentre esses pacientes. Foi essa preocupação que fez o FDA - Food and Drug Administration - americano retirar a licença para o uso profilático da finasterida no câncer de próstata em 2011. Desfechos Patológicos em homens com Câncer de Próstata de baixo risco e muito baixo risco: Implicações na prática da vigilância ativa Jeffrey J. Tosoian,* Eric JohnBull,* Bruce J. Trock, Patricia Landis, Jonathan I. Epstein, Alan W. Partin,Patrick C. Walsh e H. Ballentine Carter† The Journal of Urology, 190, 1218 - 1223, outubro 2013 OBJETIVOS Avaliamos os desfechos oncológicos da cirurgia em homens com câncer de próstata de baixo risco V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 35 URO-RESUMO BRASIL SILVA NETO ANDRÉ GORGEN NUNES (BR) e de muito baixo risco (MBR), que eram candidatos à vigilância ativa (VA). MATERIAL E MÉTODOS Em uma coleta prospectiva em um banco de dados institucional, foram identificados 7.486 indivíduos elegíveis para a vigilância ativa, que foram submetidos à prostatectomia radical retropúbica. Os candidatos foram designados como sendo de baixo risco (estágio T1c/ T2a, antígeno prostático específico [PSA] de 10 ng/ ml ou menos e escore de Gleason de 6 ou menos) ou muito baixo risco (estágio T1c, densidade do PSA de 0,15 ou menos, escore de Gleason de 6 ou menos, 2 ou menos fragmentos positivos na biópsia, 50% ou menos de envolvimento por neoplasia por fragmento) e o estudo foi baseado em dados pré-operatórios. Desfechos adversos foram definidos, como o aumento no escore do Gleason (escore de 7 ou mais) e neoplasia não confinada ao órgão na patologia cirúrgica. O risco relativo de desfechos adversos em homens com doença de baixo risco em relação à doença de muito baixo risco foi avaliado por uma análise multivariada, utilizando o modelo de regressão de Poisson. RESULTADOS Um total de 7.333 indivíduos preencheu critério para doença de baixo risco e 153 para doença de muito baixo risco. A proporção de indivíduos de baixo risco que tiveram aumento do escore de Gleason ou neoplasia não confinada ao órgão na patologia foi de 21,8% e 23,1%, respectivamente. Valores correspondentes naqueles com muito baixo risco foram de 13,1% e 8,5%, respectivamente. Após ajuste para idade, raça, ano da cirurgia, índice de massa corporal e PSA no momento do diagnóstico, o risco relativo de aumento do escore de Gleason em homens com doença de baixo risco versus muito baixo risco foi de 1,89 (IC 95% 1,21-2). O risco relativo de neoplasia não confinada ao órgão foi de 2,06 (IC 95% 1,19-3,57). 36 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 CONCLUSÕES Homens com câncer de próstata com muito baixo risco tiveram, significativamente, menos desfechos adversos na cirurgia, em comparação àqueles com doença de baixo risco. Estes dados dão suporte para a estratificação de câncer de baixo risco na seleção e no aconselhamento dos homens que podem ser apropriados para vigilância ativa. COMENTÁRIO No tratamento do câncer de próstata, a vigilância ativa (VA) é caracterizada pelo adiamento da terapia definitiva, instituindo-a apenas se houver evidência clínica de progressão da doença. A VA vem sendo indicada como uma opção de abordagem para neoplasias malignas prostáticas com baixo risco, sendo seu objetivo evitar as complicações do tratamento definitivo do câncer de próstata em pacientes com tumores de baixa morbimortalidade. Para esses pacientes, o tratamento definitivo poderá ser oferecido mais tarde, sem prejuízo nos desfechos oncológicos. O sucesso da VA envolve a adequada seleção dos pacientes. O critério ideal para seleção dos pacientes ainda é controverso, mas o mais aceito é o preconizado pelo National Institute of Health, que define como candidatos à VA os portadores de tumores de Baixo Risco (BR), estágio T1c/ T2b, PSA menor que 10ng/ mL e Gleason menor ou igual a 6, e de tumores de muito baixo risco (MBR), estágio T1c, densidade de PSA menor ou igual 0,15, Gleason 6 ou menos, 2 ou menos fragmentos positivos na biópsia e 50% ou menos de envolvimento de neoplasia por fragmento. Os autores desenvolveram modelo de coorte incluindo todos os 18.899 pacientes submetidos à prostatectomia radical em sua instituição, desde 1975. Destes, 7.486 pacientes preencheriam critério para VA, 7.333 como BR e 153 como MBR. Analisaram o risco de progressão do Gleason e risco de ocorrência de doença extraprostática na patologia da peça da prostatectomia radical. Ao fim, evidenciou-se que pacientes do grupo de BRASIL SILVA NETO BR têm um risco significativamente maior de desenvolver progressão do Gleason e de apresentar doença extraprostática. Demonstraram os fatores que poderiam estar associados a esse maior risco, concluindo que ano da cirurgia, idade, raça branca, PSA no diagnóstico e índice de massa corporal estão associados tanto a um risco elevado de progressão do Gleason quanto à ocorrência de doença extraprostática. Os autores concluem que a VA seria mais segura para pacientes com tumores ANDRÉ GORGEN NUNES URO-RESUMO de MBR. Entretanto, devemos ter cautela na interpretação dos desfechos analisados (progressão do Gleason e ocorrência de doença extraprostática). Ademais, devemos atentar para o número muito pequeno de indivíduos do grupo MBR. Reservar a estratégia de VA apenas para os pacientes que apresentem tumores MBR seria privar um número muito grande de pacientes desta estratégia. É necessária uma melhor estratificação destes pacientes para a otimização da VA. V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 37 PONTO DE VISTA www.urologiaessencial.org.br BRUNO LESLIE Disciplina de Urologia UNIFESP Hospital do Rim e Hipertensão | SP MARIO NOGUEIRA Disciplina de Urologia UNIFESP Hospital do Rim e Hipertensão | SP Transplante Renal Pediátrico Introdução N a insuficiência renal crônica terminal na população pediátrica é um grave problema de saúde pública, sendo causa importante de morbidade e mortalidade nesta faixa etária. Estima-se que a prevalência no estado de São Paulo seja de 23.4 casos por milhão em idade compatível (PMPIC)1, ao passo que, nos EUA, este número é de 84,6 PMPIC e, na Europa, 33.6 PMPIC. Esta diferença revela que ainda existe subnotificação, atraso no diagnóstico em nosso meio e, provavelmente, inclusive mortalidade sem diagnóstico. Interessante notar ainda que, com o avanço da diálise na população neonatal, levando a uma sobrevida de recém-nascidos renais crônicos, a quantidade de crianças necessitando de terapia renal substitutiva tende a aumentar ainda mais. O transplante renal é o tratamento de escolha para a insuficiência renal terminal na 38 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 população pediátrica. Em Pediatria, o transplante apresenta benefícios peculiares, relacionados ao crescimento e desenvolvimento das crianças2,3. O transplante, principalmente se realizado precocemente e até os 5 anos de idade, permite que a criança ganhe estatura (medida pela variação do escore Z antes e depois do transplante), além de melhores custos para o sistema de saúde e até mesmo melhor sobrevida. O risco relativo de morte entre pacientes em diálise, esperando na lista de transplante e após a realização do procedimento, foi estudado4. Observa-se que até nos primeiros 6 meses após a cirurgia, quando o risco de morte devido a complicações cirúrgicas e infecciosas é maior, não foi observada diferença significativa entre os transplantados e os pacientes dialíticos. Já após 6 meses da colocação do enxerto, há uma nítida vantagem de sobrevida para os transplantados. As contraindicações absolutas para o transplante TRANSPLANTE RENAL PEDIÁTRICO BRUNO LESLIE MARIO NOGUEIRA na população são muito raras, limitando-se à doença maligna em atividade, à infecção crônica persistente, ao abuso de substância ou a comorbidades psiquiátricas. Todavia, esta modalidade terapêutica deve ser oferecida e estar disponível para todas as crianças renais crônicas terminais. Devido às vantagens do transplante renal em crianças, em outubro de 2009 foi publicado um novo Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes5, priorizando todos os doadores menores de 18 anos para receptores desta mesma faixa etária. Essa nova normatização, além de expandir a oferta de órgãos para a faixa pediátrica, também melhora a adequação de tamanho do rim do receptores com doadores e a oferta de rins com melhor potencial para pacientes com maior expectativa de vida. Em 2012, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO)6, foram realizados 377 transplantes renais pediátricos no Brasil, sendo, desses, 87 de doador vivo. A etiologia de insuficiência renal crônica terminal difere muito entre adultos e crianças. Nos adultos, há predomínio de doenças glomerulares, nefropatia diabética e hipertensiva, enquanto as doenças estruturais (uropatias obstrutivas, aplasia/ displasia e bexiga neurogênica) são mais comuns em crianças. Quanto menor a criança, maior a chance de uma uropatia. Na faixa etária de 0 - 1 ano e de 2 - 5 anos de idade, 78% e 66%, respectivamente, apresentam anomalias estruturais do trato urinário7. Assim, o papel do urologista pediátrico não se resume apenas à cirurgia do transplante: devemos participar ativamente no preparo pré-transplante, bem como no seguimento pós-operatório. Preparo Pré-Transplante O preparo para o transplante renal pediátrico deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, coordenada pelo nefrologista infantil, incluindo enfermeiros, nutricionista, assistente social e urologista pediátrico. O paciente deve ser inscrito para o transplante clinicamente compensado; desta forma, o PONTO DE VISTA tratamento dialítico e/ ou conservador deve ser realizado nas melhores condições possíveis. Particularmente relevante na população pediátrica é o manejo nutricional, além do estado vacinal, cujo calendário deve estar completo antes do transplante, devido à relativa incapacidade de o organismo responder às vacinas após a imunossupressão8. Indica-se o transplante para pacientes com clearance de creatinina menor do que 15 e peso maior do que 10 quilos. Do ponto de vista cirúrgico, o preparo começa com a identificação precoce de possíveis pacientes candidatos ao transplante renal. Alguns princípios devem ser seguidos em relação à preservação da anatomia vascular e urológica: evitar ao máximo o uso de acessos vasculares nos membros inferiores e minimizar o tempo de uso de cateteres umbilicais em recém-nascidos. Os ureteres devem ser preservados, evitando sua remoção nas nefrectomias e realizando reimplantes ureterais somente com indicações precisas. Embora na maioria dos transplantes a reconstrução urinária seja realizada com ureteroneocistostomia, em casos de complicações, o ureter nativo pode ser de grande valia para a correção de fístulas. A nefrectomia pré-transplante pode ser necessária em alguns pacientes e as principais indicações em crianças são: infecção crônica do parênquima renal, proteinúria maciça, hipertensão intratável, rins policísticos. É importante ressaltar que o refluxo vesicoureteral não é indicação absoluta de reimplante ureteral ou nefrectomia na avaliação pré-transplante, e que a correção do refluxo deve ser reservada a casos sintomáticos; com infecção urinária de repetição, o refluxo assintomático deve ser apenas observado. A avaliação do trato urinário inferior é realizada em grande parte dos pacientes, sendo mandatória nos casos de válvula de uretra posterior, bexiga neurogênica e outras anomalias complexas. Utiliza-se do diário miccional ou o diário de cateterismo, uretrocistografia miccional e estudo urodinâmico. Embora reconstruções urológicas possam ser realizadas V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 39 PONTO DE VISTA TRANSPLANTE RENAL PEDIÁTRICO BRUNO LESLIE MARIO NOGUEIRA após o transplante9, preferimos realizar todas a cirurgias antes de inscrever o paciente no programa de transplante. Os princípios do tratamento do trato urinário baixo na avaliação pré-transplante não diferem do manejo destas condições fora do contexto do transplante renal, porém, deve-se lembrar de que o enxerto é mais suscetível à descompensação do que os rins nativos. Deve-se assegurar um reservatório com boa complacência (farmacologicamente, com anticolinérgico, ou cirurgicamente, com a ampliação vesical), e um mecanismo de esvaziamento através do cateterismo intermitente limpo (com ou sem um conduto cutâneo continente cateterizável). Transplante e resultados Embora alguns autores preconizem acesso transperitoneal em pacientes menores do que 15 quilos10, preferimos a abordagem retroperitoneal em todos os casos. O retroperitônio é exposto por uma incisão de Gibson ampliada e a principal diferença técnica entre o transplante de adulto e o pediátrico é a topografia das anastomoses vasculares. Estas devem ser realizadas tão proximalmente quanto for necessário, para que se obtenham uma adequação de tamanho entre os vasos do receptor e do doador e uma adequada pressão de perfusão do enxerto. Desta forma, nas crianças menores do que 15 quilos, sempre preferimos o implante da artéria Aorta e da veia Cava distal (figura 1), enquanto que em paciente um pouco maiores, pode-se optar pelas ilíacas comuns e, finalmente, nos adolescentes, pode-se proceder nas ilíacas externas, como se realiza em um paciente adulto. A reconstrução urinária é normalmente realizada sob forma de uma ureteroneocistosmia. Quando a bexiga é favorável, opta-se pela técnica extravesical (Gregoir modificado). Em bexigas desfavoráveis, utiliza-se um reimplante intravesical (Leadbeter- Figura 1 Anastomose arterial na Aorta e venosa na Cava inferior 40 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 TRANSPLANTE RENAL PEDIÁTRICO BRUNO LESLIE MARIO NOGUEIRA -Politano). Quando a vascularização do ureter não for ideal, opta-se por anastomosar o ureter nativo do paciente diretamente na pelve renal do enxerto (ureteropielo anastomose). Apesar de ser um procedimento de alta complexidade, o transplante renal em crianças apre- PONTO DE VISTA senta bons resultados. Em uma análise de 40511 casos pediátricos realizados no Hospital do Rim e Hipertensão, observamos uma sobrevida do enxerto de doadores vivos em 1 ano e 5 anos de 97 e 92%, respectivamente. Para doador falecido, 91% em 1 ano e 78% em 5 anos9. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Koch Nogueira PC, Santis Feltran LD, Camargo MF, Leao ER, Benninghoven JR, Goncalves NZ, et al. Estimated prevalence of childhood end-stage renal disease in the state of Sao Paulo. Rev Assoc Med Bras. 2011 July - August;57(4):436-41. Broyer M, Le Bihan C, Charbit M, Guest G, Tete MJ, Gagnadoux MF, et al. Long-term social outcome of children after kidney transplantation. Transplantation. 2004 Apr 15;77(7):1033-7. Groothoff JW, Cransberg K, Offringa M, van de Kar NJ, Lilien MR, Davin JC, et al. Long-term follow-up of renal transplantation in children: a Dutch cohort study. Transplantation. 2004 Aug 15;78(3):453-60. Chen A, Martz K, Kershaw D, Magee J, Rao PS. Mortality risk in children after renal allograft failure: a NAPRTCS study. Pediatr Nephrol. 2010 Dec;25(12):2517-22. Registro Brasileiro de Transplantes 2009, www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/Pediatrico/Pediatrico_2009.pdf. Registro Brasileiro de Transplantes 2012 ABTO, em www.abto.org. br/abtov03/Upload/file/RBT/2012/pediatrico2012.pdf 7. NORTH AMERICAN PEDIATRIC RENAL TRANSPLANT COOPERATIVE STUDY (NAPRTCS) 2004 Annual Report Renal - Transplantation, Dialysis, Chronic Renal Insufficiency. Em: http://spitfire.emmes. com/study/ped/resources/annlrept2004.pdf 8. Neu AM, Fivush BA. Recommended immunization practices for pediatric renal transplant recipients. Pediatr Transplant. 1998 Nov;2(4):263-9. 9. Taghizadeh AK, Desai D, Ledermann SE, Shroff R, Marks SD, Koffman G, et al. Renal transplantation or bladder augmentation first? A comparison of complications and outcomes in children. BJU Int. 2007 Dec;100(6):1365-70. 10. Sheldon CA, Najarian JS, Mauer SM. Pediatric renal transplantation. Surg Clin North Am. 1985 Dec;65(6):1589-621. 6. V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 41 ImAGEm Em UROLOGIA www.urologiaessencial.org.br DANIEL MOSER SILVA Assistente da Disciplina de Urologia | UNICAMP Mestre em Ciência da Cirurgia | UNICAMP Medida da Espessura do Detrusor no Homem com Luts – Quais as Evidências para sua Utilização? S e, no passado, aumento do volume prostático e sintomas significavam ressecção prostática, com o surgimento dos alfabloqueadores e inibidores da 5-alfa-redutase, o volume de cirurgias desobstrutivas prostáticas sofreu importante declínio. Muitos pacientes deixaram de ser operados, uma vez que a sintomatologia era muito bem controlada na maioria dos casos. Mas, como a maioria das verdades na Medicina, essa tendência em manter mais pacientes em tratamento clínico passou a ser questionada. Será que a melhora dos sintomas reflete em melhora da obstrução? Será que esses pacientes poderão sofrer repercussões na bexiga e no trato urinário alto, mesmo com os sintomas controlados? Será, será e será... Para os muitos questionamentos, só uma forma de resposta: estudos de 42 UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 longo prazo. Ainda não sabemos como pacientes com sintomas obstrutivos controlados com tratamento medicamentoso, mas ainda com certo grau de obstrução, evoluirão. Falência detrusora? Função detrusora normal? Pesquisas e especulações existem, mas ainda não houve tempo para conclusões definitivas. Na era de avanços nos métodos terapêuticos minimamente invasivos (laparoscopia, robótica, endourologia, etc...), surge, também, a necessidade de métodos diagnósticos minimamente invasivos. O estudo fluxo/ pressão ainda é o padrão-ouro para determinação de obstrução infravesical decorrente do aumento do volume prostático. Mas é invasiva e, assim sendo, não podemos realizá-la sempre que houver a menor suspeita de obstrução. Medida da Espessura do Detrusor no Homem com Luts – Quais As Evidências para sua Utilização? Daniel Moser Silva Nesse contexto, ganham destaque métodos como a avaliação urodinâmica não invasiva e o ultrassom. Dentre as informações oferecidas e já bem estabelecidas pelo ultrassom temos o tamanho da próstata, protrusão intravesical do lobo mediano e resíduo pós-miccional. Há uma medida que ainda gera controvérsias no meio urológico, mas que pode contribuir, e muito, na seleção de pacientes para a realização de métodos diagnósticos mais invasivos, tratamento cirúrgico, ou mesmo o seguimento de pacientes: a medida da espessura do detrusor (figura 1). Figura 1 Diferença entre espessura da parede vesical (BWT) e espessura da parede detrusora (DWT).1 A falta de padronização nas medidas é, sem dúvida, o maior ponto de críticas do método. Os questionamentos frequentes são quanto ao melhor local para as medidas (parede anterior, posterior), volume de repleção vesical, frequência de onda dos transdutores e como reproduzir fielmente um método examinador-dependente. Dezenas de estudos foram realizados para responder a essas perguntas. Vamos a alguns deles, que defendem o método. Em trabalho realizado em 2006 por Oelke at al., procurou-se estabelecer os valores de espessura do detrusor em adultos normais2. Foram realizadas medidas seriadas da parede anterior do detrusor durante a cistometria, utilizando transdutor linear de imagem em urologia 7.5MHz em 55 pacientes adultos de ambos os sexos e observou-se que a espessura apresentava um declínio rápido até os 250ml e, após esse volume, mantinha-se estável. Nos homens incluídos nesse estudo, a espessura variou de 2.2mm a 4.4mm, com enchimento progressivo até os 250ml, e manteve-se estável com 1.4mm (1.2 a 1.6mm) após esse volume. Não houve diferença estatística entre as medidas após os 250ml. Em 2010, Bright et al., em artigo de revisão, trouxeram dados relacionados à medida da espessura do detrusor3. Três trabalhos, realizados em homens com sintomas obstrutivos, demonstraram relação entre aumento da espessura do detrusor e obstrução infravesical, com valores preditivos positivos que variaram de 94 a 100%, para espessura detrusora de 2mm e 2.9mm, respectivamente1,4,5. Para as medidas, foram utilizados volumes de enchimento vesical >250ml, transdutores lineares de 7.5MHz e a obstrução foi confirmada com estudo fluxo/ pressão e plotagem dos valores no nomograma de Schaffer (figura 2). Galosi et al. encontraram resultados semelhantes com o ponto de corte de 2.9mm6. O diagnóstico precoce do paciente com obstrução infravesical devido ao fator prostático, com o objetivo de evitar repercussões futuras na bexiga e trato urinário superior, é fundamental. Tratamentos desnecessários e demora na tomada de decisões são ações que precisam ser cada vez mais evitadas, visto que dispomos de tecnologia para isso. Métodos não invasivos, como a medida da espessura do detrusor, merecem atenção, pois podem colaborar no seguimento vigiado desses pacientes, na indicação de métodos diagnósticos invasivos mais acurados e na decisão do momento de intervenção cirúrgica. Apesar das críticas sobre a falta de padronização do método, os resultados dos trabalhos são consistentes. Ficam duas perguntas, para nossa reflexão: será que há falta apenas de padronização ou também de aplicação do método? Será que precisamos apenas de mais estudos no assunto ou mais prática e divulgação, entre urologistas e radiologistas, dos estudos de que já dispomos? V.3 N.2 JUL DEZ 2013 UROLOGIA ESSENCIAL 43 imagem em urologia Medida da Espessura do Detrusor no Homem com Luts – Quais As Evidências para sua Utilização? Daniel Moser Silva Figura 2 Relação direta entre espessura do detrusor e grau de obstrução avaliado através do nomograma de Schaffer1 Espessura: 1,33mm - Schaffer 1 Espessura: 1,62mm - Schaffer 3 Espessura: 2,4mm -Schaffer 4 Espessura: 3,0mm - Schaffer 6 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 44 Oelke M, Hofner K, Wiese B et al. Increase in detrusor wall thickness indicates bladder outlet obstruction (BOO) in men. World J Urol. 2002.19:443. Oelke M, Hofner K, Jonas U, Ubbink D, Rosette J, Wijkstra H. Ultrasound Measurement of Detrusor Wall Thickness in Healthy Adults Neurourology and Urodynamics. 2006. 25:308-317. Bright E, Oelke M, Tubaro A, Abrams P. Ultrasound Estimated Bladder Weight and Measurement of Bladder Wall Thickness— Useful Non-invasive Methods for Assessing the Lower Urinary Tract? J Urol. 2010. Nov; 184: 1847-1854. UROLOGIA ESSENCIAL V.3 N.2 JUL DEZ 2013 4. 5. 6. Kessler TM, Gerber R, Burkhard FC et al. Ultrasound assessment of detrusor thickness en mencan it predict bladder outlet obstruction and replace pressure flow study? J Urol. 2006. 175: 2170. Oelke M, Hofner K, Jonas,U et al. Diagnostic accuracy of noninvasive tests to evaluate bladder outlet obstruction in men: detrusor wall thickness, uroflowmetry, postvoid residual and prostate volume. Eur Urol. 2007. 52: 827. Galosi AB, Mazzaferro D, Lacetera V, Muzzonigro G, Martino P, Tucci G.Modifications of the bladder wall (organ damage) in patients with bladder outlet obstruction: ultrasound parameters. 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