Carta Pastoral - Diocese de São Luis de Montes Belos

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DOM CARMELO SCAMPA
Bispo de São Luís de Montes Belos
“Como o Pai me enviou,
também eu vos envio”
(João 20,21)
SÃO LUÍS DE MONTES BELOS
Junho de 2014
Capa e Projeto Gráfico: Marcia Lezita Silveira
Revisão: Divina Maria de Queiroz
Impresso por
Scala Editora
Rua Itororó, 144 – Qd. 64 – Lt. 2/5
Bairro São Francisco – Telefax: (62) 4008-2350
www.graficascala.com.br
DOM CARMELO SCAMPA
Bispo de São Luís de Montes Belos
INTRODUÇÃO
C
aríssimos irmãos e irmãs, o Ressuscitado está no meio de nós.
Apesar das muitas portas estarem fechadas por medo dos judeus, tanto ontem como hoje, nos dá a sua paz e diz: “Como o Pai
me enviou, também eu vos envio”. Nos enriquece com a força do
Espirito e nos envia para reconciliar, fazer comunhão e construir
sua igreja (João 20,19-23).
“Ide e fazei discípulos meus todos os povos” (Carta Pastoral de
2006) (Mt 28,19)
E o “Ide também vós trabalhar na minha vinha” (Mt 20,7) (Carta Pastoral 2007), permanecem imperativos de sempre, porque a
“Igreja por sua natureza é missionária” (Ad gentes) e nunca pode
reduzir a missão a iniciativas intensivas, mas periódicas, como foram as Santas Missões Populares em nossa Diocese uns anos atrás.
A dimensão missionaria é o respiro permanente da ação da
Igreja e isso queremos recupera-lo e, se for o caso, implanta-lo em
nossa ação pastoral.
“Ai de mim se não evangelizar” (1Cor 9,16) é e deve ser o estilo
de cada cristão, de cada Diocese que quer levar pra frente o projeto
de Jesus.
Alguém poderá estranhar que o bispo, a pouca distância de
tempo volte sobre o mesmo assunto da missão e queira comprometer a Igreja Particular de São Luís num projeto missionário que terá
a duração intensiva de alguns anos, mas que deverá ser permanente no estilo de ser Igreja.
Temos razões mais que suficientes, seja no campo teológico
como na realidade pastoral, para impulsionar toda Igreja diocesana na direção missionaria. Além do mais temos o estimulo, já faz
alguns anos, para abraçar a Missão Continental que vem do Documento de Aparecida, do Conselho Episcopal Latino Americano, e
da CNBB.
Papa Francisco falando ao CELAM, no dia 28 de julho de 2013,
disse:
“A Missão Continental está projetada em duas dimensões: programática e paradigmática. A missão programática, como o próprio
nome indica, consiste na realização de atos de índole missionária.
A missão paradigmática por sua vez, implica colocar em chave missionária a atividade habitual das Igrejas particulares. Em consequência disso, evidentemente, verifica-se e toda uma dinâmica de
reforma das estruturas eclesiais. A “mudança de estruturas” (de
caducas a novas) não é fruto de um estudo de organização do sistema funcional eclesiástico, de que resultaria uma reorganização
estática, mas é consequência da dinâmica da missão. O que derruba
as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos
é justamente a missionariedade. Aqui a importância da missão paradigmática.
A Missão Continental, tanto programática como paradigmática, exige gerar a consciência de uma Igreja que se organiza para
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servir a todos os batizados e homens de boa vontade. O discípulo de
Cristo não é uma pessoa isolada em uma espiritualidade intimista,
mas uma pessoa em comunidade para se dar aos outros. Portanto,
a Missão Continental implica pertença eclesial.
Uma posição como essa, que começa pelo discipulado missionário e implica entender a identidade do cristão como pertença
eclesial, pede que explicitemos quais são os desafios vigentes da
missionariedade discipular. Limito-me a assinalar dois: a renovação interna da Igreja e o diálogo com o mundo atual”.
A Carta Pastoral deste ano visa lançar o projeto missionário e
estimular toda Igreja diocesana, portanto, desejo:
3 Relembrar brevemente o caminho feito nestes últimos anos em
nível missionário.
3 Ver realisticamente a situação atual para nos convencer que é
preciso fazer mais.
3 Refletir sobre a “missionariedade” da Igreja, deixando-nos iluminar por umas “ícones” bíblicas.
3 Encaminhar concretamente o que pretendemos fazer nestes
proximos anos, apresentando o projeto possível de trabalho.
3 Enfim, dispor-se à ação, libertando-nos de preconceitos que devem ser superados.
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RELEMBRANDO
O CAMINHO FEITO
A
Diocese de São Luís começou o processo das Santas Missões
populares em 2006 com a Carta pastoral “Ide e fazei discípulos
meus todos os povos”. Naquela época foi evidenciada a necessidade
de assumir a missionariedade como estilo normal da vida diocesana,
mas foi sobretudo em 2007 que iniciaram os trabalhos de preparação.
É bom lembrarmos alguns momentos fortes vividos como Diocese de 2006 a 2009.
 De 16 a 18 de fevereiro de 2007 tivemos um encontro diocesano
com a participação ativa de todas as paroquias assessorado pelo
Padre Luís Mosconi. O projeto, os objetivos, as metas e etapas das
Santas Missões Populares foram abordados com lucidez. Com
clareza foi sublinhado o tempo da preparação como um tempo
de NAMORO e de NOIVADO para: 1- conhecer mais de perto o
projeto; 2- realizar Assembleias Paroquiais extraordinárias para
que todas as lideranças e forças das paróquias se sintonizem com
a proposta; 3- dividir a paroquia em setores; 4- selecionar os missionários; 5- iniciar a preparação espiritual e pastoral de quem
deverá trabalhar. Também foi abordado o tempo da execução,
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denominado como CASAMENTO, com suas três etapas: a) programação e execução; estudo pessoal do Evangelho do ano; dois
retiros espirituais; visitas; reunião semanal missionaria nos setores. b) Grande semana missionaria com a duração de 10 dias
e o retiro espiritual popular. c) Tempo de aprofundamento e de
articulação das novas energias missionarias e pastorais.
 De 23 a 24 de junho do mesmo ano realizamos mais um encontro
diocesano de formação sobre “O ministério de Jesus na Galileia”,
assessorado pelo Padre Fabio Bento da Costa, Superior Provincial dos Redentoristas. Foi um estudo muito rico e iluminador,
quase um retiro espiritual que proporcionou no encontro com o
Mestre, as luzes necessárias para viver e realizar a missão.
 Na festa do Padroeiro de nossa Diocese, São Luís Gonzaga foi
enviada uma carta aos missionários: “Ide com a força do Ressuscitado e façam compreender a beleza da Palavra”, onde
apresentei a força, o conteúdo e os frutos da missão, contribuiu
para aquecer ainda mais os corações e para motivar na grande
empreitada apostólica.
 No dia 11 de agosto, durante a Romaria Diocesana que viu uma
grande e significativa participação do povo de todas as comunidades, lançamos oficialmente as Santas Missões Populares. Distribuímos para todos o folder explicativo; entregamos o crucifixo
e o ipê simbólico ao líder do projeto de cada paroquia; doamos a
imagem de São Luís Gonzaga para cada coordenador de Região,
como também para nosso Seminário maior em Goiânia.
 Editamos uma cartilha de estudo sobre “A Missão de Jesus e a figura do missionário”, elaborada pelo Padre Dionivaldo Rosa Pires. Foi
lançada também a apostila “o Evangelho de Mateus e o fazer –se
discípulo”, elaborada pelo Padre Mariosan de Sousa Marques.
Os anos de 2008 e 2009 foram anos de grande trabalhos pastorais, orientados sobretudo pelas paroquias. O momento mais alto e
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significativo foi a semana missionaria, celebrada em quase todas as
paroquias, com a colaboração (tipo mutirão) de vários missionários,
padres, religiosas e leigos. A movimentação das várias pastorais, o
entusiasmo e a dedicação de muitos foram exemplares. A história é
recente e não precisa gastar muitas palavras sobre isto. Infelizmente temos que dizer que nem todas as comunidades paroquiais seguiram o processo indicado, perdendo várias etapas fundamentais.
Não faltaram os apelos, faltou o “fogo interior da missão”.
A Semana Missionaria para muitos foi a conclusão de todo processo missionário. Aconteceu o que acontece com muitos dos nossos crismados; depois de receber o sacramento desaparecem.
O pós missão não foi levado a sério pela maioria e tudo voltou à
“normalidade”, perdendo desta forma o impulso que deveria ser de
renovação para a paroquia e para a Diocese.
Embora hoje estejamos encontrando maiores resistências ou
apatias para lançar o “Projeto da Missão Continental” é dever faze-lo porque Jesus não nos deixa na possibilidade de opções livres,
mas nos obriga a ser missionários. O imperativo é claro “IDE e fazei
discípulos meus todos os povos.” Igreja de São Luís, mãos a obra e
não perca tempo com discussões vazias. Se organize, junte forças
para ser testemunha de Jesus na Samaria, na Judeia e até os extremos confins da terra”. Quem ama não perde tempo, mas faz como
os discípulos de Emaús: retoma o caminho.
QUESTIONAMENTOS AINDA
NECESSARIOS
Quero retomar na integra alguns questionamentos que pus à
Igreja Diocesana em 2006 para motivar as Santas Missões Populares,
algo permanece válido ainda hoje e é bom que seja refletido. Quem
para no caminho recua, embora possa ter a impressão do contrário.
Onde estamos e para onde está indo nossa Igreja?
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Há sintomas de cansaço e de desanimo que precisam de ser analisados para não interromper o passo na evangelização, que se apresenta hoje bem mais exigente e complexa do que alguns anos atrás.
Porque essa pergunta e inquietação depois de mais de 11 anos
de pastoreio em São Luís?
Tenho que reconhecer que nossa Diocese era mais dinâmica e
viva quando cheguei em janeiro de 2003. Atualmente percebo:
 Uma desmotivação crescente quanto ao imperativo evangélico
de sermos discípulos. Satisfazer –se com o mínimo possível na
vida cristã já é sintoma de derrota. O Evangelho é radical em
suas propostas e o Discurso da Montanha (Mateus 5-7) permanece o ponto de referência irrenunciável para uma Igreja seguidora. Não tenho sempre a impressão que seja a Palavra de Deus
a determinar nossos critérios de seguimento de Cristo e nosso
estilo pastoral.
 O prevalecer de uma pastoral de conservação, de manutenção
e não missionária. Enquanto a maioria de nossos cristãos estão
afastados de tudo e de todos (os católicos praticantes não chegam a 20% e é bom ver também as estatísticas sobre a Mobilidade religiosa no Brasil), em várias de nossas comunidades tudo
se reduz às celebrações, muitas vezes bonitas e empolgantes,
mas nem sempre comprometidas com a vida. Não vejo programas pastorais orientados para os afastados, também nas paroquias mais ativas e criativas da diocese.
 O crescimento da indiferença religiosa e da apatia, o descaso
com os valores éticos e morais, o desmoronamento progressivo
da família e nossas dificuldades reais em implantar um sistema
de pastoral que auxilie a família, o não suficiente compromisso
de nossa Igreja com a juventude, o afastamento dos problemas
sociais, etc. Quando é o bispo que diz isso, se diz que é pessimista, mas quando escuto as análises de agentes de pastorais e
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grupos, as “lamentações” são bem piores. Isso manifesta certo
consenso de fundo em detectar o mesmo fenômeno e ao mesmo
tempo resistências inexplicáveis à pessoa do pastor.
 O crescimento espantoso das igrejas e seitas protestantes. Nossa região do Centro Oeste é conhecida como a “capital protestante do Brasil”. Mas parece que nos acostumamos diante dessa
realidade e não nos preocupamos mais de que tanto. As leituras
que se fazem do fenômeno são bem diversificadas, mas temos
que reconhecer com humildade que não conseguimos frear o
passo deste crescimento, como também não conseguimos proporcionar uma formação mais solida e segura para nossos cristãos que continuam frágeis em sua identidade católica.
 A diminuição visível do número de adolescentes e jovens que
procuram o sacramento da crisma. Em 2005 receberam este
sacramento aproximadamente 1.300 pessoas. Neste ano a diminuição é ainda mais evidente. Considerando o número de
habitantes de nossa diocese (mais de 300.000), de verdade, é
insignificante o número de crismandos. Muitas são as desistências durante a catequese. Não quero entrar, neste momento, no
espinhoso assunto do pós – crisma porque deveríamos enfrentar questões delicadas e complexas, inclusive da catequese.
 O atolamento das comunidades cristãs em questões marginais e
que demonstram escasso espírito de pertença à Igreja diocesana. Reage-se, de forma infantil, diante de pequenos problemas
como festejos, horários de missa, transferência de Padres ou Irmãs. Não se colabora sempre com as grandes causas da Igreja
diocesana, alegando problemas locais ridículos. Isso tudo bloqueia ou freia o processo pastoral e faz perder preciosas energias em questões internas desnecessárias.
 O uso que se faz dos meios à nossa disposição como festas, tradições populares. Não escondo certa preocupação com o andamento dos festejos paroquiais onde prevalece a dimensão eco10 | Carta Pastoral
nômica e não formativa e missionaria. Para garantir “animação
e arrecadação de dinheiro” se convidam até “bandas musicais”
de outras dioceses. Sabemos que nestes tempos de festa frequentam a Igreja também muitas pessoas afastadas. É um momento forte para evangelizar com entusiasmo e criatividade,
mas muitas vezes e em vários lugares isso não acontece.
 A diminuição progressiva dos participantes dos nossos cursos e
escolas de formação. Se isso é em parte normal, não podemos,
porém, nos acomodar e concordar com isso. As Escolas de Teologia para Leigos, que iam bem, estão minguando. As Escolas
Bíblicas, que ainda contam com uma boa participação de alunos,
apresentam também diminuições significativas (atualmente porém há uma retomada). Vários encontros previstos no calendário
diocesano são desmarcados por falta de participantes, etc.
 A falta de colaboração na solução de problemas que pedem o
compromisso e a colaboração de todos. Quando determinados
problemas explodem, escuto quem diga “mas já sabia”, mas
não se passam as informações necessárias para quem de dever
proporcionar soluções na hora certa. As omissões culposas colaboram mais com o clima da fofoca do que com a solução dos
problemas, e isso impede o caminho da comunhão eclesial.
 O fato de ter ordenado vários Padres nestes últimos anos e de
não ter conseguido avançar o número de paróquias com o padre residente. (Hoje graças a Deus, a situação melhorou, foram
15 padres ordenados nestes anos e são 26 latu sensu as paroquias com padres residentes.
 O grande investimento na formação de leigos através das diferentes escolas diocesanas (ESTEP, Escolas Bíblicas, Escola Catequética) e a não atuação de tantas dessas pessoas formadas pela
diocese na vida pastoral. Deparamo-nos com a mesma dificuldade: os agentes são sempre os mesmos. O acumulo de tarefas em
poucas pessoas torna a evangelização mais difícil e lenta.
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 A escassa ou quase total ausência da Igreja Católica nas Escolas
e Faculdades presentes no território diocesano. Há explícitos
desejos e pedidos de colaboração por parte das direções das
escolas, mas há relutâncias e medos em aceitar o desafio que
o mundo da educação apresenta. É pena que não sintamos a
urgência e a necessidade de evangelizar nestes ambientes, às
vezes, ocupados por irmãos de outras igrejas que têm mais uma
preocupação proselitista que evangelizadora e formadora.
Poderíamos continuar a levantar sintomas que acabam impedindo uma evangelização ardorosa e renovada. Que isso seja feito
nas comunidades.
As observações levantadas justificam minha preocupação e
perguntas: onde estamos? Para onde estamos indo? O que está
acontecendo no meio de nós?
Acrescento, só para estimular a reflexão um trecho do Documento de Aparecida (nº 12). A citação, por si própria, evidencia o
clima que estamos vivendo e que exige um compromisso missionário urgente e lucido.
Aparecida diz: “Uma fé católica reduzida a conhecimento, ao
elenco de algumas normas e proibições, a práticas de devoção fragmentadas a adesões seletivas e parciais das verdades da fé, a uma participação ocasional el alguns sacramentos, à repetição de princípios
doutrinais, a moralismos brandos ou crispados que não convertem a
vida dos batizados, não resistiria aos embates do tempo. Nossa maior
ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja na qual,
aparentemente, tudo procede com normalidade, mas na verdade a
fé vai se desgastando em mesquinhez. A todos nos toca recomeçar a
partir de Cristo, reconhecendo que não se começa a ser cristão por
uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e,
com isso, uma nova orientação decisiva”. Nossa vida pastoral, de fato
é fragmentada, dispersiva, dá muita ênfase ao econômico, às festas, ao
sacramentalismo não poucas vezes ainda indiscriminado.
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ALGUNS ÍCONES BÍBLICOS DE
COMO SER MISSIONÁRIO
A
Igreja encontra sempre na Palavra as razões suficientes para
sua ação evangelizadora. Entre os vários exemplos que a Sagrada Escritura oferece escolho três. Cada comunidade faça o uso
que achar mais conveniente.
a) Filipe, evangeliza na estrada deserta de Gaza (Atos 8, 24ss)
b) Jesus é pastor e missionário com a Samaritana (João 4, 1-42)
c) Pedro na casa de Cornélio (At 10-11)
COM FILIPE NA ESTRADA DESERTA
DE GAZA (Atos 8, 26ss)
“26 O Anjo do Senhor disse a Filipe: “Levanta-te e vai, por volta do
meio-dia, “ pela estrada que desce de Jerusalém a Gaza. A estrada
está deserta”. 27Ele se levantou e partiu. Ora, um etíope, eunuco e alto
funcionário de Candace, rainha da Etiópia, que era superintendente
de todo o seu tesouro, viera a Jerusalém para adorar 28 e ia voltando. Sentado na sua carruagem, estava lendo o profeta Isaías. 29Disse
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então o Espírito a Filipe: “Adianta-te e aproxima-te da carruagem”.
30
FiIipe correu e ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías. Então perguntou-lhe: “Entendes o que estás lendo?” 31“Como o poderia, disse
ele, se alguém não me explicar?” Convidou então Filipe a subir e sentar-se com ele. 32 Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era
a seguinte: Como ovelha foi levado ao matadouro; e como cordeiro,
mudo ante aquele que o tosquia, assim ele não abre a boca. 33Na sua
humilhação foi-lhe tirado o julgamento. E a sua geração, quem é que
vai narrá-la? Porque a sua vida foi eliminada da terra. 34Dirigindo-se a Filipe, disse o eunuco: “Eu te pergunto, de quem diz isto o profeta? De si mesmo ou de outro?” 35Abrindo então a boca, e partindo
deste trecho da Escritura, Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus.
36
Prosseguindo pelo caminho, chegaram aonde havia água. Disse então o eunuco: “Eis aqui a água. Que impede que eu seja batizado?”
38
E mandou parar a carruagem. Desceram ambos à água, Filipe e o
eunuco. E Filipe o batizou. 39Quando subiram da água, o Espírito do
Senhor arrebatou Filipe, e o eunuco não mais o viu. Mas prosseguiu
na sua jornada alegremente. 40Quanto a Filipe, encontrou-se em Azot.
E, passando adiante, anunciava a Boa Nova em todas as cidades que
atravessava, até que chegou a Cesaréia”.
Convido a ler o texto dos Atos e a marcar cada detalhe tendo
o cuidado de aplicá – los à nossa realidade. A nossa não é a leitura
típica do estudioso, mas do discípulo que quer aprender a agir na
história e na comunidade.
Sublinho sinteticamente 14 pontos para entender a ação complexa e articulada da ação evangelizadora e missionaria.
1. A iniciativa da missão é sempre de Deus (At 8, 26). É o anjo do Senhor que se dirige a Filipe e o orienta sobre o que deve fazer. Protagonista da missão, portanto, nunca é o missionário, mas Deus.
2. A missão tem uma hora marcada: “Vai ao meio dia” (v 26). Perder de vista isso significa não realizar o encontro e gastar energia sem resultado.
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3. A missão encontra dificuldades: “a estrada é deserta” (v26).
Na atividade missionaria nada é romântico. A metáfora da estrada deserta pode favorecer a leitura dos diferentes problemas
que aparecem na ação evangelizadora.
4. A missão exige pessoas disponíveis: “a estrada é deserta” quer
dizer é arriscada, não é o momento oportuno, não convém etc.
Sem a confiança no chamado inicial de Deus tudo vai de agua
abaixo e se complica.
5. No caminho há quem espera: “é o eunuco etíope, alto funcionário (v27). Na missão não se encontram categorias escolhidas, porque Deus quer alcançar a todos, Ele quer que todos se salvem.
6. O Espirito provoca alterações na vida missionaria: “avance
e apanhe este carro” (v29). Sendo Deus e seu Espirito o protagonista único, cabe a nós alcançar, apanhar e se colocar em
marcha as vezes de forma diferente do planejado.
7. O missionário atento sabe “ouvir” o que o outro “quer” e “diz”:
(v 30). É a partir da realidade concreta das pessoas que podemos iniciar o diálogo missionário. Esquemas pré – estabelecidos nem sempre ajudam o encontro do “eunuco” com Deus.
8. O missionário é intermediário e explica a Escritura: (v 31).
Nunca o missionário poderá ser o protagonista, Cabe a ele acender a luz como fez Jesus com os discípulos de Emaus. A palavra
tem força própria e sabe conduzir o processo de conversão sem
lhe ensinar como.
9. A missão exige “diálogo”: perguntas e repostas (v 34). É bonita a pedagogia de Cristo no diálogo com a Samaritana. Não se
pode desprezar nenhuma inquietação humana porque a Palavra tem resposta para tudo, também para o mistério do sofrimento e da dor.
Carta Pastoral | 15
10. O centro da missão é Jesus: (v35). Uma evangelização que não
leva ao encontro com Jesus, não existe. O centro não é a Igreja,
o grupo, o movimento. Única e exclusivamente é a pessoa de
Jesus morto e ressuscitado.
11. A palavra quando anunciada leva ao Sacramento: (v36) sobretudo o Batismo. O sacramento que é o exercício do sacerdócio
de Cristo, transforma radicalmente a vida do eunuco. Depois de
ser evangelizado recebe o batismo.
12. O missionário desaparece na vida do convertido, porque a relação verdadeira é com Jesus (v39). Esta dimensão é fundamental na espiritualidade do missionário. Quem gera a nova vida
não é o ministro, mas Cristo.
13. A vida do discípulo é “cheia de alegria” (v 39). É o que o Papa
Francisco evidencia no “EVANGELII GALDIUM”. A vida iluminada pelo Deus da luz só pode gerar par, segurança, alegria.
Uma comunidade sem alegria é uma comunidade que não concretiza - se o encontro com Cristo.
14. O discípulo verdadeiro é quem se torna missionário e anuncia
a todos a Boa Nova (v 40). O comprovante que somos de Cristo é quando o anunciamos de forma ardorosa, vigorosa e feliz
o Evangelho. São somente algumas provocações que ofereço
para encontrar a maneira mais apropriada possível em nossa
ação missionaria. Precisamos aprender “como” evangelizar,
mais do que técnicas pastorais.
ATIVIDADE PASTORAL E MISSIONÁRIA
DE JESUS (João 4,1-42)
Quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia
mais discípulos e batizava mais que João — 2ainda que, de fato, Jesus
mesmo não batizasse, mas os seus discípulos — 3deixou a Judéia e re1
16 | Carta Pastoral
tornou à Galiléia. 4Era preciso passar pela Samaria. 5Chegou, então,
a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da região que Jacó
tinha dado a seu filho José. 6Ali se achava a fonte de Jacó. Fatigado
da caminhada, Jesus sentou-se junto à fonte. Era por volta da hora
sexta. 7Uma mulher da Samaria chegou para tirar água. Jesus lhe
disse: “Dá- me de beber!” 8Seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimento. 9Diz-lhe, então, a samaritana: “Como, sendo judeu,
tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?” (Os judeus, com
efeito, não se dão com os samaritanos. ) 10Jesus lhe respondeu: “Se
conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu
é que lhe pedirias e ele te daria água viva!” 11Ela lhe disse: “Senhor,
nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras
essa água viva? 12És, porventura, maior que o nosso pai Jacó, que nos
deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como seus filhos e seus
animais?” 13Jesus lhe respondeu: “Aquele que bebe desta água terá
sede novamente; 14mas quem beber da água que eu lhe darei, nunca
mais terá sede. Pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte
de água jorrando para a vida eterna”. 15Disse-lhe a mulher: “Senhor,
dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir
mais aqui para tirá-la!” 16Jesus disse: “Vai, chama teu marido e volta
aqui”. 17A mulher lhe respondeu: “Não tenho marido”. Jesus lhe disse:
“Falaste bem: ‘não tenho marido’, 18pois tiveste cinco maridos e o que
agora tens não é teu marido; nisso falaste a verdade”. 19Disse-lhe a
mulher: “Senhor, vejo que és um profeta. . . 20Nossos pais adoraram
sobre esta montanha, mas vós dizeis: é em Jerusalém que está o lugar
onde é preciso adorar”. 21Jesus lhe disse: “Crê, mulher, vem a hora em
que nem sobre esta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22Vós
adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque
a salvação vem dos judeus. 23Mas vem a hora — e é agora — em que
os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois
tais são os adoradores que o Pai procura. 24Deus é espírito e aqueles
que o adoramdevem adorá-lo em espírito e verdade”. 25A mulher lhe
disse: “Sei que vem um Messias (que se chama Cristo). Quando ele
vier, nos anunciará tudo”. 26Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que falo contigo”. 27Naquele instante, chegaram os seus discípulos e admiravam-se
de que falasse com uma mulher; nenhum deles, porém, lhe perguntou:
Carta Pastoral | 17
“Que procuras?” ou: “O que falas com ela?” 28A mulher, então, deixou seu cântaro e correu à cidade, dizendo a todos: 29”Vinde ver um
homem que me disse tudo o que fiz. Não seria ele o Cristo?” 30Eles saíram da cidade e foram ao seu encontro. 31Enquanto isso, os discípulos
rogavam-lhe: “Rabi, come!” 32Ele, porém, lhes disse: “Tenho para comer um alimento que não conheceis”. 33Os discípulos se perguntavam
uns aos outros: “Por acaso alguém lhe teria trazido algo para comer?”
34
Jesus lhes disse: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me
enviou e consumar a sua obra. 35Não dizeis vós: ‘Ainda quatro meses e
chegará a colheita’? Pois bem, eu vos digo: Erguei vossos olhos e vede
os campos: estão brancos para a colheita. Já 36o ceifeiro recebe seu salário e recolhe fruto para a vida eterna, para que o semeador se alegre
juntamente com o ceifeiro. 37Aqui, pois, se verifica o provérbio: ‘um
é o que semeia, outro o que ceifa’. 38Eu vos enviei a ceifar onde não
trabalhastes; outros trabalharam e vós entrastes no trabalho deles”.
39
Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher que dava testemunho: “Ele me disse tudo o que fiz!”
40
Por isso, os samaritanos vieram até ele, pedindo-lhe que permanecesse com eles. E ele ficou ali dois dias. 41Bem mais numerosos foram
os que creram por causa da palavra dele 42e diziam à mulher: “Já não
é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e
sabemos que esse é verdadeiramente o salvador do mundo”.
Outro ícone significativo que ilumina o trabalho missionário é a
maneira com a qual Jesus se relacionou com a Samaritana no poço
de Jacó. Resumo algumas reflexões do grande biblista e pastor Cardeal Carlo Maria Martini.
O encontro de Jesus com a Samaritana se deu durante uma viagem, a hora é crítica, o cansaço toma conta de Jesus e a necessidade
da agua toma conta da Samaritana. A Samaritana (nosso destinatário da missão) está cheia de incompreensões e até de pretensões.
Como age Jesus em sua ação missionaria?
1. Parte de uma ocasião normal da vida de todos os dias. Aí há
uma mulher com sede, há um cansaço, há um poço. Achar que a
18 | Carta Pastoral
missão se realiza somente através de grandes iniciativas e programações pastorais, é engano. Jesus não perde oportunidades.
2. Jesus é atento a situação do outro. Como ponto de partida para
a atividade missionaria isto é muito significativo. Jesus aborda problemas contingentes como o problema da água; aborda
problemas existenciais como o matrimonio da Samaritana e o
“marido” atual que ela tem. Aborda também problemas religiosos como o problema da fé do Messias, do culto em espirito e
verdade.
3. Jesus não se deixa bloquear pelas grosserias da mulher,
nem pelos desvios da conversa. A Samaritana chega a dizer:
“mas você acha de ser quem? É por acaso mais que nosso Pai
Abraão?” A reação da Samaritana podia levar Jesus a largar de
mão o diálogo, mas Ele continua. Na missão pode se encontrar
acolhida, mas também rejeições.
4. A ação de Jesus é baseada na consciência daquilo que Ele é,
deve dar e deve dizer. A consciência da própria identidade não
desanima o missionário, mas o torna capaz de fidelidade até o
fim, não importa quais podem ser as reações e as situações.
5. Jesus também não tem mania de sucesso. Ele gasta tempo
com uma pessoa só, embora sejam muitos aqueles que precisam dele, forma formadores. De fato será a Samaritana mesma
a trazer o povo para Jesus. A indicação é precisa no que se refere a formação de lideranças dentro da comunidade.
6. Jesus é condicionado pelo dever de sua missão. Ele tem sucesso na Samaria, mas fica ali somente dois dias, o necessário. Ele
deve prosseguir seu ministério porque veio para todos.
Todos estes pontos levantados mereceriam uma ampliação
maior e um aprofundamento. Prefiro usar o método sintético estimulando a criatividade de cada ouvinte e leitor.
Carta Pastoral | 19
Não posso esquecer porém neste momento o segredo de Jesus
e, portanto de cada missionário em se comportar como Ele se comporta. Jesus procura sempre e em tudo fazer a VONTADE DO PAI.
Missão não é o exercício de técnicas pastorais, não é marketing
para conquistar, é o jeito de ser de Jesus.
Seria bom que pudéssemos refletir em grupos sobre:
a) A importância dos pequenos números. Dar atenção aos multiplicadores é fundamental na vida paroquial e diocesana.
b) A importância dos encontros ordinários na vida ordinária.
Abracemos a lógica do fermento, porque nem sempre os grandes projetos levam algo de significativo.
c) A importância das convicções interiores. Cultivar a consciência
de nossa missão através da oração prolongada e a escuta da
palavra vale mais do que o resto.
PEDRO NA CASA
DE CORNÉLIO (At 10,1-33)
Vivia em Cesaréia um homem chamado Cornélio, centurião da coorte itálica. 2Era piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa; dava
muitas esmolas ao povo e orava a Deus constantemente. 3Ele viu claramente, em visão, cerca da nona hora do dia, o Anjo do Senhor entrando em sua casa e chamando-o: “Cornélio!” 4Fixando os olhos nele
e cheio de temor, perguntou-lhe: “Que há, Senhor?” E o Anjo lhe disse:
“Tuas orações e tuas esmolas subiram até a presença de Deus e ele se
lembrou de ti. 5Agora, pois, envia alguns homens a Jope e manda chamar Simão, cognominado Pedro. 6Ele está hospedado em casa de certo
Simão, curtidor, que se encontra junto ao mar”. 7Assim que se retirou
o Anjo que lhe falara, Cornélio chamou dois de seus empregados, bem
como um soldado piedoso, daqueles que estavam a seu serviço, 8expli1
20 | Carta Pastoral
cou-lhes tudo e enviou-os a Jope. 9No dia seguinte, enquanto caminhavam e estando já perto da cidade, Pedro subiu ao terraço da casa, por
volta da sexta hora, para orar. 10Sentindo fome, quis comer. Enquanto
lhe preparavam alimento, sobreveio-lhe um êxtase. 11Viu o céu aberto
e um objeto que descia, semelhante a um grande lençol, baixado à
terra pelas quatro pontas. 12Dentro havia todos os quadrúpedes e répteis da terra, e aves do céu. 13Uma voz lhe falou: “Levanta-te, Pedro,
imola e come!” 14Pedro, porém, replicou: “De modo nenhum, Senhor,
pois jamais comi coisa alguma profana e impura!” 15De novo, pela
segunda vez, a voz lhe falou: “Ao que Deus purificou, não chames tu
de profano”. 16Sucedeu isto por três vezes, e logo o objeto foi recolhido
ao céu. 17Enquanto Pedro, no seu íntimo, hesitava sobre o significado
da visão que tivera, os homens enviados por Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, pararam junto à porta. 18Chamaram e se
informaram se era ali que se hospedava Simão, cognominado Pedro.
19
Entretanto, meditando ainda Pedro sobre a visão, disse-lhe o Espírito: “Alguns homens estão aí, à tua procura. 20Desce, pois, e vai com
eles sem hesitação, porque fui eu que os enviei”.
Descendo então Pedro ao encontro desses homens, disse: “Aqui me
tendes; sou eu a quem procurais. Qual o motivo da vossa vinda?” 22E
responderam: “O centurião Cornélio, homem justo e temente a Deus,
de quem toda a nação judaica dá bom testemunho, recebeu de um santo anjo o aviso para chamar-te à sua casa, para ouvir as palavras que
tens a dizer”. 23Convidando-os então a entrar, deu-lhes hospitalidade.
No dia seguinte, levantou-se e partiu com eles. Alguns dos irmãos que
eram de Jope acompanharam-no. 24Mais um dia, e entrou em Cesaréia. Cornélio estava aguardando-os, e tinha convidado seus parentes e amigos mais íntimos. 25Quando Pedro estava para entrar, Cornélio saiu-lhe ao encontro e prostrou-se a seus pés, adorando-o. 26Mas
Pedro reergueu-o, dizendo: “Levanta-te, pois eu também sou apenas
um homem”. 27E, falando amigavelmente com ele, entrou. Encontrando muitos ali reunidos, 28assim lhes falou: “Bem sabeis que é ilícito a
um judeu relacionar-se com um estrangeiro ou mesmo dirigir-se à sua
casa. Mas Deus acaba de mostrar- me que a nenhum homem se deve
chamar de profano ou impuro. 29Por isso vim sem hesitar, logo que
21
Carta Pastoral | 21
chamado. Pergunto, pois: Por que razão me chamastes?” 30Cornélio respondeu. “Faz hoje três dias, por esta mesma hora, estava eu fazendo a
oração pela hora nona em minha casa, quando diante de mim postou-se
um homem de vestes resplandecentes. 31E disse-me: ‘Cornélio, tua oração foi ouvida e tuas esmolas foram lembradas diante de Deus. ‘ 32Manda, pois, alguém a Jope, a chamar Simão, cognominado Pedro. Ele está
hospedado em casa de Simão, o curtidor, à beira-mar’. 33Imediatamente
mandei chamar-te, e tiveste a bondade de vir. Aqui estamos, pois, todos
nós, diante de ti, para ouvir tudo o que te foi ordenado por Deus”.
Neste terceiro ícone não vou me delongar; é bom ler o texto dos
Atos e perceber alguns detalhes significativos na vida missionaria.
1. Normalmente Deus faz acontecer os encontros se servindo do
desejo e da atividade do evangelizando, neste caso Cornélio e a
atividade do missionário, neste caso Pedro. O plano providencial se realiza quando há sintonia com Deus e nos deixamos
conduzir por ele. Colocar o carro diante dos bois é perigoso.
2. Outra realidade que me parece significativa e não pode ser desprezada, é que em todos há algo de bom. As “sementes do verbo” estão
presentes em cada pessoa, e é portanto com confiança que temos
que enfrentar a missão, dialogar com as pessoas, sermos animados
pela esperança porque Deus sempre precede o missionário.
3. Também cabe ao missionário explicar o que Deus está fazendo na
vida das pessoas, também quando se colocam resistências. A evangelização, a catequese, a instrução são ferramentas insubstituíveis
para que cada um chegue a dar razão da esperança que o anima.
4. Muitos outros textos bíblicos poderiam ser procurados para
preparar e formar nossa consciência missionaria. Que cada comunidade o faça.
22 | Carta Pastoral
QUAL NOSSO PLANO DE AÇÃO?
Q
ueridos irmãos e irmãs, não é minha intenção apresentar detalhadamente o projeto de ação destes próximos anos, mas somente um esqueleto que será gradualmente concretizado pela Coordenação Diocesana de Pastoral e a equipe da Missão Continental.
Como foi para as Santas Missões populares é previsto um:
3 Tempo de preparação
3 Tempo de execução
3 Semana Missionaria
3 Tempo de Pós Missão (permanente)
Precisamos de um tempo de ação que vai de 2014 até 2017. Não
temos pressa, mas também não queremos perder tempo. Estamos
iniciando nosso trabalho em um momento providencial: a aprovação do documento da CNBB sobre “Comunidade de Comunidades
uma Nova paróquia. A conversão pastoral da paróquia. Isso ajudaCarta Pastoral | 23
rá muito na divisão da paroquia em setores. Já demos alguns encaminhamentos, embora insignificantes sobre a formação e iniciação
cristã. Teremos que intensificar a ação. Mão na obra sem hesitações.
2014 – 2015
TEMPO DE PREPARAÇÃO
17 -18 de maio: Já tivemos um momento de formação diocesana
sobre o projeto para conhece-lo e nos sintonizarmos com ele. Com
o Padre Estevão RASCHIETTI.
21 de junho: lançamento oficial do projeto na festa do padroeiro
São Luís Gonzaga.
O ano de 2014 até junho de 2015 será um tempo importantíssimo para preparar o terreno e realizar alguns planos.
1. O projeto missionário deverá ser explicado para todos os a
Agentes de Pastoral paroquial, Conselhos Paroquiais de Pastoral, Conselhos Econômicos, Catequistas, Ministros da Palavra e
da Eucaristia, grupo de jovens. Que tenhamos o cuidado de não
deixar por fora também as lideranças das comunidades rurais.
2. Neste tempo se trabalhará para dividir a comunidade em setores e concretizar as orientações da CNBB sobre a paroquia
rede de comunidades.
3. O trabalho é delicado, demorado, precisa de estudo e de determinação pastoral. Cuide a Coordenação Diocesana de Pastoral
em oferecer orientações e subsídios tornando assim mais eficiente o trabalho.
4. Fundamental até julho de 2015 será a seleção dos missionários.
Também essa atividade é indispensável para o futuro trabalho.
Que sejam recuperados os missionários que já trabalharam nas
24 | Carta Pastoral
Santas Missões Populares anteriores e sobretudo se descubram
pessoas novas, ardorosas, dispostas a evangelizar.
Naturalmente além de selecionar as pessoas idoneas será oportuno começar a formá-las: reuni-las com retiros, palestras, encontros, não somente em nivel paroquial, mas também regional.
2015 – 2016
TEMPO DE FORMAÇÃO E EXECUÇÃO
De julho de 2015 até julho de 2016 é tempo dedicado para a
formação intensiva dos missionários, sempre com momentos de
espiritualidade e formação teologica. Peço encarecidamente que a
Coordenação de Pastoral e a equipe da Missão elabore um calendário concreto com datas e temas de encontros, que contemplem momentos diocesanos, regionais e paroquiais. A formação é decisiva
para a segurança dos missionários. Não tenhamos medo de investir
nisso.
Na escolha dos temas de formação se tenham presentes, as propostas do nosso plano de Pastoral, mas de forma flexível. Cada paróquia planeje reuniões formativas (mensal, quinzenal, semanal?)
e faça levantamentos sobre a situação real dos setores (casados, batizados, pobres.)
Em síntese:
a) Todas as comunidades devem ser estimuladas a dar prioridade a
Palavra, para que esta possibilite o despertar e a educação da fé;
b) Descentralizar a celebração dos sacramentos, desde o batismo
passando pelo matrimonio, até a eucaristia, quando possível.
Uma comunidade não é uma mini-matriz, mas tem direito a todos os serviços da fé e caridade.
Carta Pastoral | 25
c) que as comunidades mesmas administrem sua próprias finanças;
d) os conselhos, econômico e pastoral, são os grandes meios de representação, de participação e de corresponsabilidade dentro
das comunidades e no conjunto da paróquia.
e) Neste processo de descentralização, muda a posição do pároco. Como o bispo tem seu presbitério e o conselho prebiteral,
o pároco tem sua equipe de pastoral que o ajuda a pensar e a
aprofundar a missão da Igreja, e com ele partilhar a missão de
articulador das comunidades.
Que a paróquia se transforme em área geográfica ou jurídica de
pequenas comunidades eclesiais (CEBs). Considerem-se como “células vivas” da Igreja estas comunidades de discipulos – missionários, as comunidades de base, as comunidades geradas pela Palavra
(com autonomia suficiente para serem base da Igreja). Coordenadas por leigos e leigas ou por diáconos permanentes, quando existirem, cada conjunto de comunidades se articula dinamicamente,
e de forma própria, dentro de uma paróquia, tendo um presbítero
como animador e articulador. Talvez isso concretize a proposta de
Aparecida para que a paróquia seja, de fato, “uma rede de comunidades e grupos, capaz de se articular, conseguindo que os participantes se sintam realmente discípulos e missonários de Jesus
Cristo em comunhão” (DA 172).
Peço mais uma vez que a coordenação geral elabore modelos
padronizados para as estatisticas assim de facilitar o conhecimento
coletivo da realidade.
Sugiro pensar durante o tempo da quaresma de 2015 um retiro
popular de uma semana, via rádio. Teremos tempo para pensar e
organizar isso poderia criar uma sintonia interessante entre as várias comunidades da diocese.
26 | Carta Pastoral
2017: TEMPO DA GRANDE
SEMANA MISSIONÁRIA
Neste período acontecerá a Grande Semana Missionária nas
comunidades. Um calendário previamente estudado por regiões
permitirá ter as condições para uma comunidade ajudar a outra.
É inconveniente entrar agora em detalhes. A semana missionária
será uma sacudida forte para a revitalização de vida pastoral e missionária.
2017/ 2018
TEMPO DE PÓS MISSÃO
Logo depois da Semana Missionária começa o tempo da pós
missão, onde teremos que fortalecer os setores e as comunidades
que sugiram, e acompanhando-as com algo organizado e sistemático: cartilhas, circulos bíblicos, etc.
Será necessário:
3 estruturar encontros periódicos de formação e de espiritualidade com os missionários.
3 repensar as modalidades dos “festejos” para transforma-los em
momentos fortes de evangelização. Não vai ser fácil, econtraremos muitas resistencias, mas precisamos estudar juntos o problemas.
3 pensar em várias áreas pastorais que até agora não constituem
uma preocupação para nós: Faculdades, áea da saúde, escolas,
presídios, etc.
3 dar outra configuração ao mês missionário de outubro que está
passando um pouco despercebido.
Carta Pastoral | 27
3 formar uma equipe diocesana que coordene e prepare material
para as comunidades.
 Desejo levantar também a necessidade de incentivar a Pastoral
da Acolhida e de Visitação.
a) PASTORAL DA ACOLHIDA OU DIMENSÃO DO ACOLHIMENTO
A Pastoral da acolhida se enquadra na dimensão do acolhimento. Uma paróquia que não é acolhedora, não evangeliza. Quando
falo da Pastoral da Acolhida, não falo mais uma pastoral na paróquia, mas de uma pastoral que esteja permeada na ação de todos os
agentes de pastoral, sobretudo nas ações do padre. Uma paróquia
que não prima pelo acolhimento é uma paróquia fadada à estagnação e ao fracassomissionário. A acolhida está na base de todas as
ações de evangelização. É o primeiro passo para qualquer trabalho
pastoral. A missão da Pastoral da Acolhida é fazer com que todos os
agentes de pastoral, e a própria paróquia adote uma postura acolhedora. Do acolhimento nascem outras ações que colocarão a paróquia em estado permanente de missão. Ela ajuda sobretudo, a
reforçar o sentido e a vivência de comunidade. Paróquia que não
acolhe não é comunidade.
b) PASTORAL DA VISITAÇÃO OU DIMENSÃO MISSIONÁRIA
A Pastoral da Visitação é outra pastoral de suma importancia.
Ela é uma ferramenta eficaz no processo de evangelização permanentee na formação de comunidades. Com a Pastoral da Visitação,
a Igreja sai de seus templos e vai até as pessoas, sobretudo dos
afastados, e os inclui na comunidade. Com essa pastoral se poderá
obter um retrato fiel da comunidade paroquial missionária. Ela poderá ajudar a paróquia no processo de setorização e na formaçãode
comunidades nesses setores. Por isso ela é muito importante. Paró28 | Carta Pastoral
quias que ainda não têm essas duas pastorais de ponta no processo
de evangelização, terão mais dificuldade de renovação de suas estruturas. A Pastoral da Visitação representa a dimensão missionária da paróquia, na sua ação mais concreta e evidente. É a pastoral
que vai ao encontro das multidões de afastados como pede o Documento de Aparecida. Cada agente dessa pastoral é um discípulo
missionário que vai ao encontro das “ovelhas perdidas da casa de
Israel” (Mt 10,6)
Os trabalhos e os desafios são grandes, mas o missionário não
desanima porque sabe em quem colocou a esperança. É hora de
unir forças como pedia na Carta Pastoral de 2013 e ver como cada
um constrói a Igreja diocesana de São Luís.
Carta Pastoral | 29
CONCLUINDO
PERFIL DE UMA
IGREJA MISSIONÁRIA
Queridos irmãos e irmãs, para realizar uma Igreja “EM SAIDA”
como deseja o Papa Francisco, é preciso colocar nossa atenção sobre alguns pontos que o relatório provisório do CELAM do ano 2000
salientava como básicos para uma Igreja missionária.
 Ser uma Igreja fruto do Senhor Ressuscitado que com ardor
missionário não fica fechada nos templos e nas casas, mas sai a
procura do outro com grande alegria e o acolhe na familia dos
filhos e filhas de Deus.
 O tempo litrugico depois da Páscoa, com abundância de exemplos nos falou sobre isso.
 Ser uma Igreja que continua a percorrer os caminhos de Emaus,
para ajudar a descobrir o sentido de vida, com a única força da
Palavra e sabe preparar a mesa para que na fração do pão os
olhos se abram e se reconheça o rosto do Senhor.
 Ser uma Igreja que se pensa como Povo de Deus que se manifesta em comunidade, que valoriza os carismas e os ministérios,
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que procura criar comunhão. Que “elimina” grupos que pretendem dominar os outros ou se acham chave de leitura de toda a
realidade pastoral.
 Ser uma Igreja do Bom Pastor que sabe dar a vida, acolher,
acompanhar, compreender, animar, entusiasmar, que vai procurar as ovelhas perdidas. Uma igreja sem medo porque sabe
quem é seu Pastor.
 Ser uma Igreja do Bom Samaritano que proclama a centralidade da pessoa de Jesus Crisro com obras concretas, preocupada
com os que precisam e vivem a margem de tudo.
 Ser uma Igreja com rosto materno, reflexo do amor de Maria,
acolhedora e misericordiosa com todos, de maneira especial
com os mais afastados.
Tenho a mais firme convicção que na medida em que cada um
de nós vai assumindo o projeto - que afinal é o projeto de quem disse “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundancia”.
- como Igreja Particular de São Luis reencontraremos folego,
energia, vitalidade, entusiasmo e tudo se reverterá em beneficio espiritual para nossas comunidades.
Que a Mãe da Santa Esperança e São Luis Gonzaga estejam conosco nesta grande empleitada eclesial e missionária. E que o próximo beato, o Papa Paulo VI, autor do “EVANGELII NUNTIANDI”, que convido
a ler e meditar, nos ajudem a ser uma Igreja Discípula e Missionária.
São Luis de Montes Belos, 21 de junho de 2014, festa do padroeiro diocesano.
Dom Carmelo Scampa
Bispo Diocesano
Carta Pastoral | 31
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