1 Universidade Estadual de Maringá Programa de Integração Estudantil Preceptoria: Língua Portuguesa A RESENHA Eliana Alves Greco 1. O que deve constar numa resenha • • • • • O título A referência bibliográfica da obra Alguns dados do autor da obra resenhada O resumo A avaliação crítica 2. O título da resenha A resenha, como todo texto, tem título e pode ter subtítulo, conforme o exemplo: Título da resenha: Astro e vilão Subtítulo: Perfil com toda a loucura de Michael Jackson Livro: Michael Jackson: uma bibliografia não autorizada (Christopher Andersen) 3. A referência bibliográfica do objeto resenhado Constam da referência bibliográfica: • Nome do autor; Título da obra; Nome da editora; Data da publicação; Lugar da publicação; Número de páginas; Preço. Obs.: Às vezes, não consta o lugar da publicação, o número de páginas e/ou o preço. Os dados da referência bibliográfica podem constar destacados do texto, num box ou caixa. Exemplo: Ensaio sobre a cegueira, o novo livro do escritor português José Saramago (Companhia das Letras; 310 páginas; 20 reais), é um romance metafórico (...) 4. O resumo do objeto resenhado O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral. 4.1. Pode-se resumir agrupando, num ou vários blocos, os fatos ou ideias do objeto resenhado. Veja exemplo do resumo feito de Língua e liberdade: uma nova concepção da língua materna e seu ensino (Celso Luft), na resenha intitulada “Um gramático contra a gramática”, escrita por Gilberto Scarton. Nos seis pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla – uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática lingüística, a postura prescritiva, purista e alienada – tão comum nas “aulas de português”. O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística e professor de longa experiência, leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do irrelevante. 2 4.2. Pode-se também resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos capítulos. Veja o exemplo da resenha “Receitas para manter o coração em forma” (Zero Hora, 26 de agosto, 1996), sobre o livro Cozinha do Coração Saudável, produzido pela LDA Editora, com o apoio da Beal. Receitas para manter o coração em forma Na apresentação, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e suas formas de atuação no organismo. Na introdução os médicos explicam numa linguagem perfeitamente compreensível o que é preciso fazer (e evitar) para manter o coração saudável. As receitas de Cozinha do Coração Saudável vêm distribuídas em desjejum e lanches, entradas, saladas e sopas; pratos principais; acompanhamentos; molhos e sobremesas. Bolinhos de aveia e passas, empadinhas de queijo, torta de ricota, suflê de queijo, salpicão de frango, sopa fria de cenoura e laranja, risoto com açafrão, bolo de batata, alcatra ao molho frio, purê de mandioquinha, torta fria de frango, crepe de laranja e pêras ao vinho tinto são algumas das iguarias. 5. Como se inicia uma resenha 5.1. Pode-se começar uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os exemplos. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112 páginas), do gramático Celso Pedro Luft, traz um conjunto de ideias que subvertem a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veementemente, o ensino da gramática em sala de aula. Michael Jackson: uma bibliografia não autorizada (Record: tradução de Alves Calado; 540 páginas, 29,90 reais), que chega às livrarias nesta semana, é o melhor perfil de astro mais popular do mundo”. (Veja, 4 de outubro, 1995). 5.2. Outra maneira de iniciar uma resenha é escrever um ou dois parágrafos relacionados com o conteúdo da obra. Observe o exemplo da resenha sobre o livro História dos Jovens (Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt), escrita por Hilário Franco Júnior (Folha de São Paulo, 12 de julho, 1996). O que é ser jovem Hilário Franco Júnior Há poucas semanas, gerou polêmica a decisão do Supremo Tribunal Federal que inocentava um acusado de manter relações sexuais com uma menor de 12 anos. A argumentação do magistrado, apoiada por parte da opinião pública, foi que “hoje em dia não há menina de 12 anos, mas mulher de 12 anos”. Outra parcela da sociedade, por sua vez, considerou tal veredito como a aceitação de “novidades imorais de nossa época”. Alguns dias depois, as opiniões foram novamente divididas diante da estatística publicada pela Organização Mundial do Trabalho, segundo a qual 73 milhões de menores entre 10 e 14 anos de idade trabalham em todo o mundo. Para alguns isso é uma violência, para outros um fato normal em certos quadros sócio-econômico-culturais. Essas e outras discussões muito atuais sobre a população jovem só podem pretender orientar comportamentos e transformar a legislação se contextualizadas, relativizadas. Enfim, se historicizadas. E para isso a “História dos Jovens” – organizada por dois importantes historiadores, o modernista italiano Giovanno Levi, da Universidade de Veneza, e o medievalista francês Jean-Claude Schmitt, da École des Hautes Études em Sciences Sociales - traz elementos interessantes. Há numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha. 6. A crítica A resenha não deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta, ao final, uma avaliação ou crítica. A postura crítica deve estar presente desde a primeira linha, resultando em um texto em que o resumo e a voz crítica do resenhista se interpenetram. Material adaptado. Disponível em: <http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php>. 3 7. Apreciação crítica do autor da resenha O resenhista deve tentar ser “polido”, evitando agredir o autor da obra resenhada, procurando garantir neutralidade ao que é dito. Para tanto, poderá usar alguns recursos linguísticos. • Expressões que atenuam as opiniões, como parece-me. Ex.: Parece-me que falta ao texto de Fontes um tratamento mais detalhado da estrutura sindical... • Tempo verbal futuro do pretérito. Ex.: O enfrentamento dessas indagações permitiria... • Verbos modais. Ex.: O assistencialismo pode e deve ser analisado... • Adjetivos e advérbios para expressar a opinião do resenhista. Ex.: Paulo Fontes faz um bom relato. 8. Diferentes formas de menção ao dizer do autor do texto resenhado Observe, nos excertos abaixo, retirados da resenha “Trabalhadores e cidadãos”, os verbos utilizados pelo resenhista para mencionar os atos utilizados pelo autor do texto original. • O recorte temporal justifica-se, segundo Paulo Fontes, por ter sido esta a década em que o modelo de dominação empresarial gestado nos anos antecedentes viveu o seu ápice ... • O trabalho se estrutura em cinco capítulos. No primeiro, apresenta-se uma análise do contexto que marcou a trajetória da empresa, desde sua criação até o final dos anos cinquenta. • Paulo Fontes faz um bom relato das razões pelas quais os trabalhadores olhavam com muita desconfiança para o Sindicato... • O último capítulo analisa a greve dos trabalhadores da Nitro Química... Relação dos verbos com aquilo que indicam Ação do autor da obra original Verbos possíveis usados pelo resenhista Estrutura e organização da obra estruturar-se, dividir-se, organizar-se, concluir, terminar, começar, introduzir, iniciar, finalizar Indicação do conteúdo geral apresentar, desenvolver, descrever, definir, demonstrar, mostrar, narrar, analisar, apontar, abordar, classificar, comparar, explicar Indicação dos objetivos da obra objetivar, ter o objetivo de, se propor a, tratar de, buscar a Posicionamento do autor da obra sustentar, contrapor, confrontar, opor, justificar, julgar, defender a em relação à sua tese tese, afirmar, argumentar, acreditar, Para evitar a repetição do nome do autor, podemos nos referir a ele utilizando o autor, ou ainda, fazer referências à obra original: a obra, o livro, o capítulo, a pesquisa. Fonte: MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lilia. Resenha. 2. ed. São Paulo: Parábola, 2004. 4 FICHA DE AVALIAÇÃO DA RESENHA 1. O texto está adequado ao objetivo da resenha? 2. O texto está adequado ao(s) interlocutor(es)? 3. O texto transmite a imagem de um elaborador que leu e compreendeu adequadamente o texto original e soube se posicionar de forma crítica? 4. Há referências da obra resenhada? 5. As informações que o autor do texto original coloca como as mais relevantes são abordadas na resenha? 6. Você abordou dados sobre o autor do objeto resenhado? 7. Você procurou ser polido em suas críticas? 8. Você utilizou adjetivos e advérbios para expressar sua opinião sobre o texto? 9. Você variou e escolheu os verbos mais apropriados para traduzir os atos realizados pelo autor da obra? 10. O texto apresenta elementos coesivos variados? 11. Há problemas de pontuação, ortografia, concordância, regência, ortografia, acentuação gráfica, frases incompletas, etc? Ficha adapta de: MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lilia. Resenha. 2. ed. São Paulo: Parábola, 2004. 5 Expectativa da perda inerente Filme: Para sempre Alice Aline Diniz Alice Howland (Julianne Moore) é uma inteligente e bem sucedida professora de linguística, tem uma bela família, hábitos saudáveis... Tudo é posto à prova quando ela recebe o diagnóstico de Alzheimer de início precoce, doença degenerativa que causa demência. Com 50 anos, Alice começa a se preparar para perder tudo aquilo que conquistou, ver sua vida e a de seus filhos passando rápido e lidar com o fato de que sua vida tem um prazo de validade. Para Sempre Alice mostra em detalhes uma vida passando rapidamente. Diferente de trabalhos de ficção científica, o longa mostra algo que realmente existe e pode nos afetar, se não pessoalmente, a um familiar próximo. É uma doença que traz um desgaste emocional e psicológico muito forte àqueles que estão ao redor do afetado e é com pequenas indicações de esquecimentos esporádicos que descobrimos os primeiros sintomas de Alice. Primeiro são palavras, apagões de consciência e compromissos que somem da cabeça de Alice. O progresso da degeneração, no entanto, é rápido. Após poucos minutos (dentro dos 101 minutos do longa) depois do diagnóstico, já começam as crises de mudança de humor e coisas mais importantes, como o nome e o rosto de Lydia (Kristen Stewart), uma de suas filhas, ficam para trás. É agonizante acompanhar as perdas de Alice. Em algum momento do filme, Dr. Benjamin (Stephen Kunken) explica que pessoas com maior capacidade intelectual acabam perdendo a cognição com maior rapidez devido aos desvios e conexões criados, formando uma espécie de disfarce sobre a doença. Dentro das circunstâncias, a estudiosa Alice poderia estar doente há meses, talvez anos, e acabou tendo um diagnóstico tardio devido a sua habilidade de mascarar os primeiros sintomas. Mesmo enfatizando sempre que a consciência de Alice está se esvaindo com rapidez, Para Sempre Alice peca em estabelecer um período temporal exato. Em uma conversa com seus filhos, John (Alec Baldwin) chega a dizer “que já faz dois meses”, mas essa é uma das poucas menções à passagem temporal do longa. Não consigo dizer quanto tempo levou para Alice chegar de seu diagnóstico ao último momento do filme, se passaram meses ou anos. Na tentativa de explorar com mais afinco a manifestação do Alzheimer, construindo uma cena de alguns minutos para mostrar que Alice esqueceu onde fica o banheiro, o longa deixa também de criar situações nas quais ela aproveita seus últimos anos com saúde. Fica sempre subentendido que esses momentos existem, mas não os vemos em tela com tanta frequência quanto seus dolorosos problemas ligados à doença. No mais, Para Sempre Alice não erra. Moore, que venceu o Oscar de melhor atriz pelo longa, entrega uma excelente atuação e, em certo momento, é até possível comparar uma Alice sã com a já afetada pelo Alzheimer – vê-se consideráveis diferenças não só na aparência, mas na fragilidade da personagem, que antes foi uma forte e decidida mulher. Além de Stewart e Baldwin, completam a família Howland, Hunter Parrish, como o filho do meio, Tom; e Kate Bosworth, como Anna Howland-Jones, a mais velha. Com problemas reais e conversas normais, os cinco atores fazem um ótimo trabalho em compor um núcleo bem integrado. Cheio de momentos emocionantes e situações verdadeiras, o filme serve como exemplo para qualquer um. Com ou sem doença, todos devemos seguir nos passos de Alice e aproveitar ao máximo cada momento. Amanhã tudo pode ter sumido. Texto adaptado. Disponível em: <http://omelete.uol.com.br/filmes/criticas/parasempre-alice/#!key=94967>. 6 Atwood se perde em panfleto feminista Marilene Felinto Da Equipe de Articulistas Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom feminista. No Brasil, é mais conhecida pelo romance A mulher comestível (Ed. Globo). Já publicou 25 livros entre poesia, prosa e não-ficção. A Noiva Ladra é seu oitavo romance. O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal em teses acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores de cinema fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou para construir o “pano de fundo” de seu texto, até a uma parente, Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expressão “meleca cerebral”. Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas que poderiam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante. É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinqüentonas que vivem infernizadas pela presença (em “flashback”) de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa “femme fatale” que vive roubando os homens das outras. Vilã meio inverossímel – ao contrário das demais personagens, construídas com certa solidez –, a antagonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não emociona. A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos – eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse romance nada surpreendente e muito óbvio no seu propósito. Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem mulher “fora-da-lei”, porque “há poucas personagens mulheres fora-da-lei”. As intervenções do discurso feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de ironia e humor capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para Antônia) e é professora de história, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: “Historiadores homens acham que ela está invadindo o território deles, e deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e bombas em paz”. Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas ingênuas: “Há só uma coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta as mulheres quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo”. Ou então, a mensagem rabiscada na parede do banheiro: “Herstory Not History”, trocadilho que indicaria o machismo explícito na palavra “História”, porque em inglês a palavra pode ser desmembrada em duas outras, “his” (dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho é a de que se altere o “his” para “her” (dela). As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos cotidianos, almoços, jantares, trabalho, casamento e muita “reflexão feminina” sobre a infância, o amor, etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem maiores sobressaltos, a não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras. Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem cabeça, no meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora – em tom cerimonioso na página de agradecimentos – se orgulha de ter realizado. Disponível em: <http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php>. 7 Um gramático contra a gramática Gilberto Scarton1 LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino. Porto Alegre: L&PM, 1995. P. 112. O gramático Celso Pedro Luft era formado em Letras Clássicas e Vernáculas pela PUCRS e fez curso de especialização em Portugal. Foi professor na UFRGS e na Faculdade Porto-Alegrense de Ciências e Letras. Suas obras mais relevantes são: Gramática resumida, Moderna gramática brasileira, Dicionário gramatical da língua portuguesa, Novo manual de português, Minidicionário Luft, Língua e liberdade e O romance das palavras. Na obra Língua e liberdade, Luft traz um conjunto de ideias que subverte a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, de forma veemente, o ensino da gramática em sala de aula. Nos seis pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla – uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que ensinar a língua é ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura prescritiva, purista e alienada – tão comum nas “aulas de português”. O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido, de larga formação linguística e professor de longa experiência, leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do irrelevante. Essa fundamentação linguística de que lança mão – traduzida de forma simples com o fim de difundir assunto tão especializado para o público em geral – sustenta a tese do Mestre, e o leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz ver o ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser humano; um processo espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente desse poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do artificialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra, para desenvolver seu espírito crítico e para falar por si. Embora Língua e liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto pareça ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos ao longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores – vítimas do ensino tradicional – e os professores de português – teóricos, gramatiqueiros, puristas – têm ao se depararem com uma obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula. Disponível em: <http://professorscarton.blogspot.com.br/> 1 Graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1968) e Mestre em Linguística pela mesma IES (1975). Atualmente é professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.