UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde/ Área de concentração Oncologia Trabalho Acadêmico Cuidados paliativos na atenção hospitalar: a vivência de uma equipe multiprofissional Daniela Habekost Cardoso Pelotas, 2012 1 DANIELA HABEKOST CARDOSO CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇAO HOSPITALAR: a vivência de uma equipe multiprofissional Trabalho acadêmico apresentado à Residência Integrada Multiprofissional em Saúde / Área de concentração Oncologia da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial para obtenção do título Especialista em Enfermagem Oncológica. Orientador: Prof.ª Drª. Rosani Manfrin Muniz Pelotas, 2012 2 Banca examinadora Profª. Drª. Rosani Manfrin Muniz Profª. Drª. Eda Schwartz Enfª. MsC. Isabel Cristina de Oliveira Arrieira 3 AGRADECIMENTOS Obrigado a Deus por ter me provido força e coragem necessárias para concluir essa trajetória. Agradeço a minha família, sobretudo a meus pais e avós, pelo carinho, amor e compreensão durante toda a minha vida e que possibilitaram a realização deste sonho. Ao meu marido Rodrigo pelo companheirismo e amor. Essa é mais uma vitória que conquistamos juntos. Aos professores que contribuíram para construção de nosso conhecimento, especialmente para minha orientadora professora Rosani por compartilhar comigo seus conhecimentos e amizade. As minhas colegas residentes pelas alegrias compartilhadas e amizade construída ao longo desta caminhada. Aos profissionais, disponibilidade e confiança. que fizeram parte deste estudo, obrigada pela 4 Sumário Projeto de pesquisa ..................................................................................................5 Apêndices.................................................................................................................30 Anexos......................................................................................................................39 Artigo.........................................................................................................................41 5 PROJETO DE PESQUISA 6 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS PROGRAMA DE RESIDÊNCIA INTEGRADA MULTIPROFISSIONAL EM ATENÇÃO A SAUDE ONCOLOGICA CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇAO HOSPITALAR: A vivência de uma equipe multiprofissional Daniela Habekost Cardoso Pelotas, 2011 7 DANIELA HABEKOST CARDOSO CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇAO HOSPITALAR: A vivência de uma equipe multiprofissional Projeto monográfico apresentado à Residência Integrada Multiprofissional em Atenção a Saúde Oncológica da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial para obtenção do título Especialista em Enfermagem Oncológica. Orientador: Prof.ª Drª. Rosani Manfrin Muniz Pelotas, 2011 8 Lista de Siglas Academia Nacional de Cuidados Paliativos - ANCP Instituto Nacional de Câncer – INCA Ministério da Saúde – MS Organização Mundial da Saúde – OMS Organização Pan-americana de Saúde - OPAS Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar - PIDI 9 SUMÁRIO 1 Introdução........................................................................................................10 1.1 Objetivos.......................................................................................................13 1.1.1Objetivo geral.............................................................................................13 1.1.2 Objetivos específicos...............................................................................13 2 Revisão de literatura.......................................................................................14 2.1 Cuidados paliativos em oncologia: filosofia e história............................14 2.2 Assistência multiprofissional ao paciente em cuidados paliativos........16 2.3 Cuidados paliativos no ambiente hospitalar.............................................18 3 Caminho metodológico..................................................................................20 3.1 Caracterização do estudo...........................................................................20 3.2 Local do estudo...........................................................................................20 3.3 Sujeitos do estudo......................................................................................21 3.4 Critérios para a seleção do sujeito............................................................21 3.5 Princípios éticos..........................................................................................21 3.6 Procedimento para coleta de dados..........................................................22 3.7 Análise dos dados.......................................................................................23 4 Cronograma....................................................................................................24 5 Recursos........................................................................................................25 5.1 Recursos Humanos....................................................................................25 5.2 Recursos Materiais.....................................................................................25 6 Referências ...................................................................................................26 Apêndices.........................................................................................................30 10 1 INTRODUÇÃO Câncer é o termo empregado para descrever mais de 100 patologias, incluindo tumores malignos de diferentes localizações, e conforme o Instituto Nacional de Câncer (INCA) (2009) essa é a segunda causa de morte no Brasil, representando 17% dos óbitos no ano de 2007. Ainda o INCA (2009) estima que para ano de 2010, válida também para o ano de 2011, são esperados 489.270 casos novos de câncer no Brasil. As neoplasias malignas mais incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, serão os cânceres de próstata e de pulmão no sexo masculino e os cânceres de mama e do colo do útero no sexo feminino. Neste contexto a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) (2004) apontam o câncer como problema de saúde pública, cuja a incidência apresenta aumento significativo, sendo fundamental a atenção dos profissionais e gestores de saúde para essa realidade. Ainda consideram que 70% dos pacientes com câncer irão falecer em decorrência da doença e de seus tratamentos e, por se tratar de uma situação crônica de saúde, grande parte dos pacientes irão necessitar de cuidados e controle de sintomas. Assim, na América Latina estima-se que cerca de um milhão de pessoas irão utilizar essa modalidade de atenção, ou seja, precisarão de cuidados paliativos. A OMS e a OPAS advertem que a maioria dos pacientes oncológicos sulamericanos morrem sem analgesia e cuidados adequados ao alívio dos sofrimentos que a situação exige. No Brasil, o INCA junto com o Ministério da Saúde (MS) publicaram no ano de 2001 o manual de cuidados paliativo como forma de divulgar informações e orientar profissionais da saúde que prestam assistência a esses pacientes. Este material propõe que cuidados paliativos têm como meta promover a finitude da vida de forma digna, livre de dor e com sofrimento minimizado, em que a terapêutica é 11 voltada ao controle sintomático e preservação da qualidade de vida, sem função curativa, de prolongamento ou de abreviação da sobrevida, sendo indispensável uma abordagem multidisciplinar. Assim, tendo em vista a expansão dos cuidados paliativos pelo mundo e a necessidade de novas diretrizes para a atenção a pessoa com câncer, o MS (2005) institui por meio de portaria a Política Nacional de Atenção Oncológica e do Programa Nacional de Assistência a Dor e Cuidados Paliativos (2002), indicando as diretrizes da assistência paliativa a serem implantadas no Brasil em todas as unidades de saúde. Desse modo, entende-se que esses cuidados devem ser desenvolvidos em todos os níveis de atenção, devendo ser promovidos no âmbito domiciliar e hospitalar. Para Costa Filho (2008), os cuidados paliativos devem integrar todos os setores de cuidados em saúde, tais como, emergências, unidades de tratamento intensivo, enfermarias, internações domiciliares e os hóspices. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa em Enfermagem dos Estados Unidos (2009), os cuidados paliativos têm como objetivo maximizar o conforto e a qualidade de vida, e dessa forma pode ser implementado a qualquer momento durante a doença e tratamentos, podendo ser realizado desde o diagnóstico. Para Moritz et al (2008), aspectos culturais, associados aos fatores sociais, como a dificuldade do tratamento e manejos dos sintomas do doente terminal em seu domicílio, levam as pessoas a procurar o serviço de saúde, e por isso aproximadamente 70% dos óbitos ocorrem nos hospitais. Assim, a residência integrada multiprofissional em atenção a saúde oncológica possibilitou-me experiênciar a assistência a essa clientela em todas as suas dimensões, desde o diagnóstico até o processo de terminalidade. Contudo esta etapa e a necessidade de cuidados paliativos despertaram-me especial interesse, tendo em vista a necessidade de maior difusão e compreensão pela equipe de saúde. Desse modo, como parte da equipe interdisciplinar, observei e participei do cuidado paliativo nos vários cenários de atuação, incluindo visitas domiciliares em um programa de internação domiciliar interdisciplinar (PIDI), onde objetivo central é a assistência a pacientes em terminalidade junto a suas famílias, e os profissionais treinados para desenvolver esse cuidado. Assim, essas experiências levaram-me a 12 questionar como são prestados e compreendidos pelos membros da equipe hospitalar os cuidados paliativos durante a internação, ou seja, cuidados em que o objetivo é o controle dos sintomas e alívio dos sofrimentos físicos, psicossociais e espirituais. Dessa forma, entendo que compreender a equipe que assiste ao paciente em terminalidade, conhecendo suas concepções, como entendem e desenvolvem esse cuidado poderá contribuir para qualificar a assistência prestada aos pacientes oncológico que necessitam de cuidados paliativos. Neste pensar, Siqueira, Barbosa e Boemer (2007), ao relatarem o expressivo número de pessoas que buscam instituições de saúde para o tratamento de neoplasias malignas, sugerem uma postura reflexiva aos profissionais de saúde em relação as práticas de cuidado, de modo que as instituições hospitalares conceitualmente visam a dignidade e totalidade do ser humano. Contudo ao se observar a realidade, percebe-se que o processo de cuidar adquiriu características meramente tecnicistas e reducionistas. Floriani e Schramm (2008) destacam a necessidade de discutir e refletir a respeito do modelo de assistência aos pacientes com doenças avançadas e terminais, de modo que não os exclua da assistência, pois deve-se propiciar um processo de morrer digno. Desse modo torna-se indispensável promover o conhecimento dos profissionais de saúde desde a graduação, sobre os cuidados paliativos, bem como o incremento de pesquisas sobre os vários aspectos que envolvem os cuidados no fim da vida. Isso se constitui um desafio para os profissionais e para o sistema de saúde. Assim, tendo em vista a importância da temática sobre os profissionais de saúde nos cuidados paliativos prestados aos pacientes oncológicos durante a internação hospitalar, considero de fundamental relevância a proposta desse estudo. Neste contexto, olhar para as práticas de cuidados prestados pela equipe multiprofissional ao paciente com câncer em terminalidade, poderá qualificar a assistência e proporcionar melhor qualidade de vida e alívio dos sofrimentos em todas as suas dimensões, valorizando a integralidade da pessoa humana. Dessa forma, frente ao exposto procurarei neste estudo responder a seguinte questão norteadora: Qual a vivência da equipe multiprofissional sobre os cuidados paliativos em uma unidade de internação hospitalar? 13 1.1 Objetivos 1.1.1Objetivo geral Conhecer a vivência da equipe multiprofissional nos cuidados paliativos a pacientes em terminalidade de uma unidade de internação hospitalar. 1.1.2 Objetivos específicos Identificar a concepção dos profissionais sobre os cuidados paliativos. Averiguar os momentos de prática dos cuidados paliativos realizados pela equipe multiprofissional. Investigar as facilidades e dificuldades multiprofissional na prática dos cuidados paliativos. encontradas pela equipe 14 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Cuidados paliativos em oncologia: filosofia e história A OMS (2002) define a filosofia dos cuidados paliativos como uma abordagem que objetiva melhorar a qualidade de vida dos pacientes e famílias que enfrentam doenças que ameaçam a vida, através da prevenção e alívio do sofrimento por meio da identificação precoce, da avaliação impecável, do tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais. Contudo até chegar-se a concepção de cuidados paliativos descritos acima ocorreram muitas reflexões e construções sobre o tema, que contribuíram para aprimorar e humanizar essa modalidade de assistência. A Associação Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) (2009) revela que o primeiro registro sobre cuidado a pacientes em terminalidade ocorreu no século V. Sendo que no século XVII há relatos mais completos, os quais descrevem que os doentes eram abrigados em locais conhecidos como hospedarias em cidades européias, em que o objetivo era proporcionar abrigo e minimizar sofrimentos, estes abrigos mais tarde seriam conhecidos como os primeiros hospices. Contudo, apenas em 1967 o paliativismo iniciou sua expansão pelo mundo através do movimento Hospice, quando Cicely Saunders fundou o St. Christopher’s Hospice, cuja estrutura permitiu a assistência desses pacientes, bem como o ensino e pesquisa (ANCP, 2009). Floriani e Schramm (2010) relatam que conforme registros disponíveis, que em 1944 no Brasil surgiu o Asilo da Penha que foi considerado o primeiro hóspice, e que teve, por alguns anos, importante papel na assistência aos pobres que morriam de câncer. Neste contexto, o movimento Hospice segundo Floriani e Schramm (2008) fortaleceu-se principalmente a partir da década de 60 do século XX, quando intensificaram-se as manifestações sobre o desconforto com o modo como eram tratados os pacientes com doenças avançadas, freqüentemente abandonados pela 15 equipe de saúde e vivendo seus últimos momentos no isolamento e na frieza de um pronto-socorro, de um quarto ou em uma unidade de terapia intensiva, muitas vezes cercados por tubos e aparelhos, e não por pessoas próximas e queridas a eles. Assim devido a assistência aos pacientes em terminalidade com o objetivo de controle de sintomas terem como origem abrigos e instituições conhecidas com hospice, foi por muito tempo empregado como sinônimo de cuidado paliativos. Conforme a ANCP (2009), o primeiro país a introduzir o termo Cuidados Paliativos foi o Canadá, e após passou a ser adotado pela OMS devido a dificuldade de tradução adequada do termo hospice em alguns idiomas. Assim, seguindo a evolução e expansão da filosofia paliativista, em 1990 a OMS publicou sua primeira definição de cuidados paliativos, como cuidado ativo e total para pacientes cuja doença não era responsiva a tratamento de cura. O controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicossociais e espirituais é primordial. O objetivo do Cuidado Paliativo é proporcionar a melhor qualidade de vida possível para pacientes e familiares. Entretanto, somente em 2002 a OMS inclui em sua abordagem a espiritualidade entre as dimensões do ser humano, ampliando a integralidade e complexidade desse cuidado. Seguindo essa concepção outros autores elaboram conceitos para também definir o cuidado disponibilizados aos pacientes cuja a doença não é responsiva ao tratamento curativo. Neste sentido, Pimenta (2010) reforça que cuidado paliativo é uma filosofia, um modo de cuidar, que visa à aprimorar a qualidade de vida dos pacientes e famílias que enfrentam problemas relacionados a doenças ameaçadoras da vida, provendo alívio da dor e de outros sintomas, desde o diagnóstico ao fim da vida e luto. Ainda preconiza a compaixão, o não abandono, a não suspensão de tratamentos e a não indução da morte; não se recomendam tratamentos fúteis, aceita-se o limite da vida e o objetivo é o cuidado e não a cura. E fundamental cuidar, educar, acolher, amparar, advogar, aliviar desconfortos, controlar sintomas e minimizar o sofrimento. Estas devem ser ações cotidianas na vida dos profissionais em cuidados paliativos. Ampliando esse conceito Oliveira e Silva (2010) referem que os cuidados paliativos destinam-se a assistir os doentes sem possibilidade de cura e buscam consolidar um modelo de cuidado que considera o processo de morrer como 16 inerente à vida. Nessa filosofia, o foco da atenção deixa de ser a cura da doença e se volta ao indivíduo que é visualizado como um ser biográfico, complexo em suas dimensões físicas, psíquicas e espirituais, ativo e com direito a autonomia, além da atenção individualizada a sua família e a busca da excelência no controle dos sintomas. 2.2 Assistência multiprofissional ao paciente em cuidados paliativos Por se tratar de uma abordagem complexa que necessita compreender todas as dimensões do ser cuidado e de sua família, a assistência paliativa prioriza uma equipe multiprofissional. Segundo ANCP (2009) essa deve ser composta por enfermeiro, psicólogo, médico, assistentes social, farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, dentista e assistente espiritual. Assim, Oliveira e Silva (2010) afirmam que tendo em vista todos os aspectos relevantes para o cuidado paliativo, esse depende de uma abordagem multidisciplinar para produzir uma assistência harmônica e convergente ao indivíduo sem possibilidades de cura e à sua família. Para os autores o trabalho multiprofissional e indispensável para a proposta de cuidados que procura resgatar valores éticos e humanos, à autonomia individual. Nesse sentido Bifulco e Iochida (2009) sugerem que ações desenvolvidas por todos os integrantes da equipe multiprofissional necessitam ter como meta uma opção de tratamento adequado para estes pacientes, assim como o resgate da humanização do processo de morrer, ou seja, a morte é vista como parte de um processo da vida, e, no adoecimento, os tratamentos devem visar à qualidade de vida e o bem-estar da pessoa, mesmo quando a cura não é possível. Paliar, conforme, Silva e Hortale (2006) é uma dimensão dos cuidados em saúde e todos os profissionais de saúde deveriam saber quando os cuidados paliativos são necessários, assegurar este tipo de atenção propicia um cuidado de qualidade não importando se oferecido em uma instituição de saúde ou na residência do indivíduo. Teixeira e Valente (2009) ao referir a importância da equipe de saúde no cuidado ao paciente no final da vida e sua família destaca a importância em estabelecer vínculos, de modo que o centro de sua atenção seja o cuidado holístico, e não apenas no cuidado técnico, paradigma fortemente difundido em sua formação profissional. 17 Em relação a terminalidade do paciente com câncer na instituição hospitalar e as percepções da equipe de saúde Silva, Ribeiro e Kruse (2009) revelam a terminalidade do ser é considerada natural, porém relacionada a sentimentos de medo, impotência, tristeza, depressão, culpa, fracasso e falha. Os autores fazem referência a forma como a terminalidade vivenciada neste ambiente, onde se torna solitária, acompanhada apenas por estranhos. Todavia, Faresin e Portella (2009) destaca que durante esse cuidado, deve-se buscar manter a humanização do atendimento, que envolve observar todos os aspectos ligados ao adoecer, o respeito as crenças e as fragilidades dos pacientes e especialmente o desejo do paciente em permanecer rodeado de parentes, amigos e cuidadores. Dessa forma, os profissionais que assistem o paciente oncológico em cuidados paliativos devem atender a todas suas necessidades humanas, pois segundo Oliveira, Santos e Matropietro (2010) muitas vezes o suporte psicossocial é negligenciado, priorizando-se cuidados técnicos. A dificuldade maior que o profissional enfrenta nesses casos é a de ouvir e tornar-se tornar-se mais sensível às necessidades dos pacientes que estão morrendo, podendo proporcionar-lhes melhores cuidados, de modo a auxiliá-los no processo de morte. Entretanto, Swetenham et al (2011) destacam que a equipe multriprofissional que vivencia o cuidado a pacientes em terminalidade, muitas vezes envolve-se e sensibiliza-se com o doente e sua família, e não raro compartilham seus sofrimentos, e sentem-se impotentes frente a dificuldade de promover alívio e conforto a estes. Neste contexto, Higginson e Evans (2010) em um artigo de revisão que compara equipes que assistem pacientes com câncer em cuidados paliativos destacam que profissionais de saúde especializados ou treinados apresentam melhores resultados no controle de sintomas físicos como dor, bem como dos sofrimentos psicossociais, e a capacitação desses necessita ser priorizado pelos serviços de saúde que atendem pacientes oncológicos. 2.3 Cuidados paliativos no ambiente hospitalar O Programa Nacional de Assistência a Dor e Cuidados Paliativos (2002) garante amplo acesso dos doentes às diferentes modalidades de cuidados paliativos em todos os níveis de atenção, incluindo cuidados domiciliares, cuidados ambulatoriais, cuidados hospitalares e cuidados de urgência, sendo necessário 18 estimular a organização de serviços de saúde e de equipes multidisciplinares para a assistência a pacientes. Segundo o programa as internações hospitalares estão prevista e garantidas para o tratamento e manejo de intercorrências, incluindo procedimentos de controle da dor, bem como o atendimento de doentes contra-referidos para cuidados paliativos (clínicos ou cirúrgicos) inclusive de urgência. A ANCP (2006) ao definir o cuidado paliativo como cuidados ativos e integrais prestados a pacientes por equipes multiprofissionais, em ambiente hospitalar ou domiciliar, possuem níveis de diferenciação que devem incluir, ainda, o apoio à família e a atenção ao luto. Em suma, os cuidados paliativos devem sempre existir em hospitais gerais de grande porte e onde se tratam câncer ou outras afecções crônicas. Entretanto, mesmo sendo os cuidados paliativos presentes nas instituições hospitalares, há poucas referencias bibliográficas a respeito, sendo mais discutido e enfatizado essa modalidade de assistência no ambiente domiciliar. Ainda a ANCP (2006) diz que as unidades podem prestar cuidados em regime de internação hospitalar, assistência domiciliar e ambulatorial e abranger um leque variado de situações, idades e doenças. Contudo acredita- se que a maioria das unidades de cuidados paliativos no Brasil atuam apenas em ambulatórios e assistência domiciliar. A disponibilidade de leitos especializados é mínima e restrita a grandes centros. Conforme Faresin e Hortale (2006) o Brasil ainda não possui uma estrutura pública de cuidados paliativos oncológicos adequada à demanda existente, tanto sob o ponto de vista quantitativo e qualitativo, desse modo, torna-se urgente o conhecimento dos conceitos fundamentais dos cuidados paliativos, bem como empreender esforços para implementa iniciativas centradas no cuidar solidário em todos os serviços de saúde, sejam públicos ou privados. Neste pensar, Costa Filho et al (2008) relatam que no Brasil dispomos de poucas unidades dedicadas aos cuidados paliativos dentro de hospitais. O pioneiro foi iniciado em 1983 do Departamento de Anestesiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os cuidados paliativos devem integrar todos os setores de cuidados, porém no momento não há mais do que 340 grupos no Brasil com unidades de cuidados 19 paliativos dedicados e vinculados às instituições hospitalares (COSTA FILHO et al.,2008). Desse modo, Floriani e Schramm (2010) salientam a importância de orientar os profissionais de saúde de que cuidado paliativo não é sinônimo de atendimento domiciliar ou internação domiciliar. Os autores sugerem ainda que para garantir o acesso desses pacientes a todos os níveis de cuidados que forem necessários como o controle de sintomas e uma sobrevida digna, exigem do sistema nacional de saúde uma maior e melhor articulação da rede de atenção básica com a rede hospitalar. Assim, Penrod (2010) sugere que o tratamento recebido pelos pacientes do hospital com doenças avançadas é caracterizado por controle inadequado da dor e de outros sintomas. Neste contexto, os cuidados paliativos devem ser visto como uma necessidade pelas instituições que atendem a pacientes oncológicos, e sua filosofia introjetadas nas práticas de saúde também durante as hospitalizações. Assim, os cuidados com o paciente com câncer avançado dependente de cuidados paliativos em uma instituição hospitalar necessitam ser discutidos e refletidos, pois muitas vezes, condições socioeconômicas e físicas, como dificuldade de controle de sintomas, impossibilitam a permanência dele no seu domicílio sendo necessária a internação. Dessa forma, a equipe multiprofissional deve estar apta para atender a suas necessidades de forma integral e humanizada, articulando e promovendo ações que garantam uma sobrevida digna e controle adequado dos sintomas físicos, psicológicos e espirituais, conforme recomenda a filosofia do paliativismo com a compreensão deste ser e sua família em toda sua subjetividade e complexidade, a quem ainda se tem muita a fazer. 20 3 CAMINHO METODOLÓGICO 3.1 Caracterização do estudo Por tratar-se de um estudo que visa compreender a subjetividade das pessoas, optou-se pela abordagem do tipo qualitativa, exploratória e descritiva. A pesquisa qualitativa segundo Minayo (2007), trabalha com o universo subjetivo dos significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores, que não se resumem aos dados estatísticos. Para a autora a investigação qualitativa requer atitudes fundamentais como a flexibilidade, a capacidade de observação com o grupo de investigadores e com os atores sociais envolvidos. Para a autora a fase exploratória da pesquisa é tão importante que ela em si pode ser considerada uma Pesquisa Exploratória. Compreende a etapa de escolha do tópico de investigação, de delimitação do problema, de definição do objeto e dos objetivos, de construção do marco teórico conceitual, dos instrumentos de coleta de dados e da exploração de campo. Triviños (1995) afirma o estudo descritivo fornece conhecimento aprofundado de uma realidade delimitada e que os resultados atingidos podem permitir e formular hipóteses para o encaminhamento de outras pesquisas. 3.2 Local do estudo O estudo será desenvolvido em uma unidade clínica de um Hospital Escola de uma universidade federal, localizado em uma cidade na região sul do Rio Grande do Sul, esta instituição atende paciente exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A unidade em que será desenvolvida a pesquisa atente paciente clínicos com diferentes patologias, entre essas o câncer, no total são 24 leitos. Neste espaço atuam profissionais de diversas áreas como enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, dentistas e assistente sociais. Por se tratar de uma instituição de ensino a presença de acadêmicos e residentes é constante. 21 3.3 Sujeitos do estudo Os sujeitos do estudo serão profissionais que compõem a equipe multiprofissional dessa unidade, sendo identificados por nomes fictícios escolhidos pelos mesmos. Farão parte do estudo um profissional de cada área de atuação. 3.4 Critérios para a seleção do sujeito Os critérios adotados para a seleção dos sujeitos do estudo serão: Ter idade superior ou igual a 18 anos; Fazer parte da equipe multiprofissional da unidade; Concordar em participar do estudo por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (APENDICE A); Consentir com o uso do gravador durante as entrevistas e permitir a observação no cuidado; Permitir a publicação dos resultados do estudo em eventos e revistas da área. 3.5 Princípios éticos Os princípios éticos considerados para a construção deste trabalho foram baseados no Código de Ética dos profissionais de enfermagem de 2007, sendo o capítulo III, do ensino, da pesquisa e da produção científica, destacam-se os artigos 89, 90 e 91, referente às responsabilidades e deveres e os artigos 94 e 981 , referente às proibições. Considerou-se também, as disposições da Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, sobre pesquisas envolvendo seres humanos. Resolução esta que incorpora sob a ótica do indivíduo e das coletividades os quatro referencias básicos da bioética – autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. 1 Art. 89. Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres humanos, segundo a especificidade da investigação. Art. 90. Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo á vida e á integridade da pessoa. Art. 91. Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os direitos autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos seus resultados. Art. 94. Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que o direito inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou ofereça qualquer tipo de risco ou dano aos envolvidos. Art.98. Publicar trabalho com elementos que identifiquem o sujeito participante do estudo sem sua autorização. 22 A todos os participantes será garantido o anonimato, o direito a desistir da pesquisa a qualquer momento e o livre acesso aos dados quando for de seu interesse. 3.6 Procedimentos para coleta de dados Primeiramente será encaminhado um ofício ao responsável pela instituição solicitando autorização para realização do estudo (Apêndice B). Mediante a autorização o projeto será encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas e, após a sua aprovação dar-se-a o início da coleta de dados. Primeiramente se fará a seleção de um paciente com câncer em terminalidade na referida unidade, por meio de consulta aos prontuários. Identificado o paciente será realizado os contatos com os sujeitos, isto é , os profissionais que realizam o cuidado a este. Os mesmos serão convidados verbalmente e por meio de uma carta convite (Apêndice C) apresentando o objetivo do estudo e, após aceito, será entregue um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), para ser assinado concordando em participar da pesquisa. Salientamos que anterior a entrevista será realizado uma observação simples (Apêndice D) dos profissionais realizando o cuidado ao paciente de escolha para o estudo de caso com o objetivo de descrever as atividades realizadas buscando a relação com os cuidados paliativos. Após será realizado uma entrevista semiestruturada com a aplicação um instrumento contendo questões abertas (Apêndice E). 3.7 Análise dos dados Os dados coletadas serão transcritos na íntegra, e sendo analisados e agrupados por temas e subtemas de acordo com a questão norteadora e os objetivos do estudo, e fundamentadas com referencial teórico específico e o conhecimento da autora sobre o assunto proposto. Para Minayo (2007) a análise dos dados possui a finalidade de desvelar e administrar o material coletado, possibilitando ao investigador ampliar e aprofundar 23 sua compreensão acerca do assunto pesquisado e relacioná-lo aos contextos culturais. Para a autora o processo de análise de dados constrói-se em etapas ou passos: O primeiro passo é a ordenação dos dados, que inclui as entrevista, observação do material sobre o tema e organização dos dados coletados. O segundo passo será a classificação e o embasamento teórico dos dados. O terceiro passo, definido com análise final consiste na interpretação dos dados, que poderão fundamentar propostas de transformações sociais e institucionais. 24 4 CRONOGRAMA Período 2011 a 2012 ATIVIDADE FEV Escolha do tema X Revisão de literatura X Elaboração do projeto Apresentação do projeto Revisão do projeto Envio do projeto p/ comitê de ética MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Seleção dos sujeitos X Coleta de dados X Análise dos dados Elaboração do artigo FEV X Apresentação Entrega do trabalho final A coleta de dados será realizada após aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa X X 25 5 RECURSOS DO PROJETO 5.1 Recursos Humanos Professor de português 5.2 Recursos Materiais Recurso Quantidade Valor/ R$ 2000 60,00 Canetas 5 10,00 Lápis 2 2,00 Borracha 2 2,00 MP3 1 45,00 Pendrive 1 35,00 Grampeador 1 15,00 Grampos 1cx 5,00 Prancheta 1 10,00 Vale transporte 80 188,00 Cartucho p/ impressora 2 40,00 Folhas A4 TOTAL 412,00 Os gastos com o projeto monográfico serão custeados pela autora. 26 6 REFERENCIAS Academia Nacional de Cuidados Paliativos. 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Esclarecemos que o objetivo principal deste estudo é conhecer a vivência dos profissionais da equipe multiprofissional nos cuidados paliativos a pacientes em terminalidade de uma unidade de internação hospitalar. Garantimos o anonimato dos sujeitos do estudo, o livre acesso aos dados, bem como a desistência em quaisquer fases da pesquisa. Sendo assim, solicitamos sua colaboração no sentido de participar como sujeito do estudo, através de uma entrevista, previamente agendada, de acordo com sua disponibilidade e assinando o presente documento. Sendo que a coleta de dados não acarretara riscos, pois não prevê procedimentos invasivos, ou de ordem moral, considerando que durante a entrevista as perguntas poderão ser ou não serem respondidas em sua totalidade. Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que fui informado (a) de forma clara e detalhada dos objetivos, da justificativa e dos instrumentos utilizados na presente pesquisa. A coleta dos dados através de uma entrevista será realizada pela enfermeira Daniela Habekost Cardoso. Fui informado (a) do direito de solicitar resposta a qualquer dúvida em relação aos procedimentos, riscos e benefícios da pesquisa, do livre acesso aos resultados, 32 da liberdade de retirar meu consentimento em qualquer momento do estudo sem que isso me traga prejuízo algum e da segurança que não serei identificado. Eu, ______________________________, aceito participar voluntariamente da pesquisa a qual se refere: “CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇÃO HOSPITALAR: A VIVÊNCIA DE UMA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL”, respondendo ao instrumento de pesquisa, emitindo meu parecer quando solicitado e permitindo o uso de gravador, para assegurar o registro da entrevista. Pelotas, ____de____________de 2011. ________________________________ RG : _________________ Participante da pesquisa ________________________________ Pesquisador responsável RG : _________________ 33 Apêndice B – Carta ao Departamento de Educação do Hospital Escola da UFPEL Universidade Federal de Pelotas Residência Multiprofissional Integrada em Atenção a Saúde Oncológica Pelotas, ___ de______ de 2011. Ao Departamento de Educação do Hospital Escola da UFPEL N/C Na condição de residente do programa de Residência Multiprofissional Integrada em Atenção a Saúde Oncológica, venho muito respeitosamente solicitar autorização para desenvolver uma pesquisa, que terá como objetivo, conhecer a vivência da equipe multiprofissional nos cuidados paliativos a pacientes em terminalidade de uma unidade de internação hospitalar, sendo que a coleta de dados se realizará na clínica médica desta instituição. Tal pesquisa visa à elaboração de um trabalho de conclusão de curso, o qual é requisito parcial para obtenção do Especialista em Enfermagem Oncológica. Na referida pesquisa, serão sujeitos do estudo os profissionais de saúde que compõe a equipe multiprofissional desta unidade, dispostos a participar deste estudo após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Assim, terei presente o compromisso ético de resguardar todos os sujeitos envolvidos na pesquisa, assim como a instituição, em concordância com o código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, enfatizando os artigos 89, 90, 91, 92 e 98 do Capítulo III e a Resolução 196/1996 do CNS, a qual trata da pesquisa envolvendo seres humanos (cap.IV). Coloco a disposição o projeto de pesquisa e anexos. Desta forma, contamos com seu apoio, agradecendo deste já pela oportunidade e colocando-me a disposição para outros esclarecimentos. Atenciosamente ___________________________ Res. Enfermeira Daniela Habekost Cardoso Orientanda __________________________ Prof.ª Dra. Rosani Manfrin Muniz Docente do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem Orientador Apêndice C - Carta convite aos sujeitos 34 Ministério da Educação Universidade Federal de Pelotas Residência Multiprofissional Integrada em Atenção a Saúde Oncológica Pelotas, __ de ____ de 2011 Prezado Senhor(a) Através desta, gostaríamos de convidá-lo(a) para participar do estudo intitulado “Cuidados paliativos multiprofissional”, na atenção hospitalar: a vivência de uma equipe como sujeito do estudo de autoria da enfermeira Daniela Habekost Cardoso, residente do programa de Residência Multriprofissional Integrada na Atenção a Saúde Oncológica, sob orientação da Profª. Drª Rosani Manfrin Muniz. A coleta dos dados será realizada por meio de uma entrevista semiestruturada com questões abertas. Ressaltamos que o presente estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Pelotas, e será entregue aos sujeitos um termo de consentimento livre e esclarecido. Atenciosamente, __________________________ Enfª. Daniela Habekost Cardoso Orientanda ___________________________ Profª. Drª Rosani Manfrin Muniz Orientadora 35 Apêndice D - Instrumento para a coleta # Dados de Identificação Nome fictício:_________________________________________________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Idade: ________________________________________________________ Escolaridade: __________________________________________________ Profissão: _______________________________________________________ Tempo de formado:_______________________________________________ Tempo de trabalho na unidade:______________________________________ Religião: ________________________________________________________ #Questão norteadora: Qual a sua vivência nos cuidados paliativos a pacientes em terminalidade. #Questões de Apoio: 1) O que é cuidados paliativos para Sr(a)? 2) Quais são os cuidados paliativos? Liste 3)Em que situações da prática o Sr (a) percebe que realiza os cuidados paliativos? 4)Quais as facilidades encontradas na prática dos cuidados paliativos? 5)Quais as dificuldades encontradas na prática dos cuidados paliativos? 6) Gostaria de acrescentar algo? 36 Apêndice E – Carta de encaminhamento do Projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas Ministério da Educação Universidade Federal de Pelotas Residência Multiprofissional Integrada em Atenção a Saúde Oncológica Pelotas, __ de ____ de 2011 Ilma Coord. Comissão Ética do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas N/C Prezada Senhora Patrícia Duval Através desta, gostaríamos da apreciação deste Comitê Ética do Projeto Monográfico intitulado “Cuidados paliativos na atenção hospitalar: a vivência de uma equipe multiprofissional”, de autoria da enfermeira Daniela Habekost Cardoso, residente do programa de Residência Multriprofissional Integrada na Atenção a Saúde Oncológica, sob orientação da Profª. Drª Rosani Manfrin Muniz. Aguardamos o parecer e nos colocamos a disposição. Atenciosamente, Enfª. Daniela Habekost Cardoso Orientanda Profª. Drª Rosani Manfrin Muniz Orientadora 37 ANEXO 38 39 ARTIGO 40 CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇÃO HOSPITALAR: A VIVÊNCIA DE UMA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL PALLIATIVE CARE IN HOSPITAL ATTENTION: THE EXPERIENCE OF A TEAM MULTIPROFESSIONAL CUIDADOS PALIATIVOS EN LA ATENCIÓN HOSPITALARIA: LA EXPERIENCIA DE UN EQUIPO MULTIPROFESIONAL Daniela Habekost Cardoso1, Rosani Manfrin Muniz2, Eda Schwartz3 e Isabel Cristina de Oliveira Arrieira4 1 Enfermeira, Residente do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde/Área de concentração Oncologia da Universidade Federal de Pelotas. 2 Doutora em Enfermagem Fundamental. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal e Pelotas e Coordenadora da área de Enfermagem do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde/Área de concentração Oncologia. 3 Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal e Pelotas. 4 Mestre em Ciências da Saúde. Enfermeira do Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar do hospital Escola da Universidade Federal e Pelotas. Correspondência: Daniela Habekost Cardoso Av. Saldanha Marinho nº108, ap 208 96020-370 – Centro, Pelotas, RS, Brasil E-mail: [email protected] RESUMO Objetivou-se conhecer a vivência da equipe multiprofissional sobre os cuidados paliativos a pacientes em terminalidade de uma unidade de internação hospitalar. Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório e descritivo. Os sujeitos do estudo foram seis (6) profissionais de saúde de uma equipe multiprofissional de uma unidade de internação de um Hospital Escola no sul do Brasil. Percebe-se que os profissionais ao iniciarem sua trajetória de cuidado referem frustração e impotência, contudo, o tempo faz com que estes encontrem novos 41 significados para a morte e o cuidado prestado. Os profissionais identificam a necessidade do fortalecimento da comunicação, do trabalho em equipe e de um espaço para discutirem sobre o processo de terminalidade. Assim, a equipe multiprofissional da atenção hospitalar deve estar apta para atender as necessidades do paciente em cuidados paliativos e sua família, articulando e promovendo ações que garantam uma sobrevida digna e alívio dos sofrimentos. DESCRITORES: Equipe de Assistência ao Paciente. Cuidados paliativos. Assistência Hospitalar. Neoplasias. ABSTRACT Aimed at learning about the experience of the multidisciplinary team about palliative care to terminal patients in a hospital ward. This is a qualitative study, exploratory and descriptive. The subjects were six (6) health professionals from a multidisciplinary team of admission unit of a teaching hospital in southern Brazil. It is felt that the professionals to begin their journey of care related frustration and helplessness, however, makes the time they will find new meanings for death and the care provided. Professionals identify the need to strengthen communication, teamwork and a space to discuss about the process of terminal. Thus, the multidisciplinary team of hospital should be able to meet the needs of patients in palliative care and their families, coordinating and promoting actions to ensure a dignified survival and relief of suffering. DESCRIPTORS: Patient Care Team. Palliative Care. Hospital Care. Neoplasms RESUMEN Tuvo como objetivo conocer la experiencia del equipo multidisciplinario de cuidados paliativos a enfermos terminales en una sala de hospital. Se trata de un estudio cualitativo, exploratorio y descriptivo. Los sujetos fueron seis (6) profesionales de la salud de un equipo multidisciplinario de la unidad de admisión de un hospital universitario en el sur de Brasil. Se considera que los profesionales para comenzar su viaje de la frustración relacionada con el cuidado y la impotencia, sin embargo, hace que el tiempo van a encontrar nuevos sentidos para la muerte y la atención recibida. Los profesionales identifican la necesidad de fortalecer la comunicación, trabajo en equipo y un espacio para discutir sobre el proceso de la terminal. Por lo tanto, el equipo multidisciplinario del hospital debe ser capaz de satisfacer las necesidades de los pacientes en cuidados paliativos y sus familias, coordinando y promoviendo acciones para asegurar una supervivencia digna y alivio del sufrimiento. 42 DESCRIPTORES: Grupo de Atención al Paciente. Atención Paliativa. Atención Hospitalaria. Neoplasias INTRODUÇÃO Os cuidados paliativos surgiram como uma modalidade de cuidado que tem por filosofia melhorar a qualidade de vida dos pacientes e famílias que enfrentam doenças que ameaçam a vida, por meio da prevenção e alívio dos sofrimentos físicos, psicossociais e espirituais1. O cuidado paliativo é tradicionalmente objeto de ação na área oncológica, embora possa ser utilizado em qualquer situação de terminalidade. Isto deve-se ao fato de que, 70% dos pacientes diagnosticados com câncer no mundo irão morrer em decorrência da doença que normalmente é acompanhada de sofrimentos 2-3 . Neste contexto, existem mais de 7.000 serviços de cuidados paliativos em mais de 90 países. Contudo, no Brasil, atualmente, são apenas 40 serviços especializados nessa modalidade terapêutica 4-5 . Assim, tendo em vista a expectativa do aumento no número de casos novos de câncer, sendo que em 2020 aproximadamente 15 milhões de pessoas irão apresentar diagnóstico de neoplasia maligna, emerge a necessidade de expansão dos cuidados paliativos6. Nesta perspectiva surgem iniciativas no Brasil para consolidar a atenção paliativa. No ano de 2001 o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e o Ministério da Saúde (MS) publicam um manual de cuidados paliativos como forma de divulgar informações e orientar profissionais da saúde que prestam assistência a esses pacientes que devem ter como meta promover a finitude da vida de forma digna, em que a terapêutica é voltada ao controle sintomático e preservação da qualidade de vida, sem prolongamento ou abreviação da sobrevida, sendo indispensável uma abordagem multidisciplinar7. Logo após institui-se a Política Nacional de Atenção Oncológica e do Programa Nacional de Assistência a Dor e Cuidados Paliativos indicando as diretrizes da assistência paliativa a serem implantadas em todas as unidades de saúde8-9. Paliar é uma dimensão do cuidado em saúde e todos os profissionais devem saber quando os cuidados paliativos são necessários. Assegurar este tipo de atenção propicia um cuidado de qualidade não importando se oferecido em uma instituição de saúde ou na residência do indivíduo4. Entretanto aspectos culturais, associados aos fatores sociais, como a dificuldade do tratamento e manejos dos sintomas do doente terminal em seu domicílio, podem ser a causa de aproximadamente 70% dos óbitos ocorrerem nos hospitais10. 43 A assistência paliativa prioriza uma equipe multiprofissional, que deve ser composta por enfermeiro, psicólogo, médico, assistente social, farmacêutico, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, dentista e assistente espiritual, uma vez que trata-se de uma abordagem complexa que necessita compreender todas as dimensões do ser cuidado e de sua família, exigindo uma postura reflexiva dos profissionais de saúde em relação as práticas de cuidado, de modo que as instituições hospitalares conceitualmente visem a dignidade e totalidade do ser humano5-11. Contudo ao observar a realidade, percebe-se que o processo de cuidar adquiriu características meramente tecnicistas e reducionistas11. No entanto, o cuidado paliativo implica, principalmente, na relação interpessoal entre as pessoas que cuidam e as que são cuidadas, sendo as intervenções técnicas secundárias à relação que se estabelece entre equipe multiprofissional e pacientes 2. Desta forma, entende-se que compreender a equipe que assiste o paciente em terminalidade no cenário hospitalar, de modo a conhecer suas concepções e o desenvolvimento do cuidado poderá contribuir para qualificar a assistência e o alívio dos sofrimentos em todas as suas dimensões, valorizando a integralidade da pessoa humana. Assim, justifica-se, a relevância desse estudo, que teve como objetivo conhecer a vivência de uma equipe multiprofissional na assistência a pacientes em cuidados paliativos de uma unidade de internação hospitalar. METODOLOGIA Por tratar-se de um estudo que visa compreender a subjetividade das pessoas, optou-se pela abordagem qualitativa12. A pesquisa foi desenvolvida em uma unidade de internação hospitalar de um Hospital Escola de uma Universidade no sul do Brasil no período de setembro a dezembro de 2011. Esta instituição atende a pacientes exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a partir de 2007 recebeu nova habilitação de acordo com a atual legislação passando a funcionar como unidade de assistência de alta-complexidade em oncologia (UNACON) e neste mesmo ano implantou o programa de internação domiciliar interdisciplinar, destinado a assistir pacientes com câncer que necessite de controle de sintomas e alívio de sofrimentos. Os sujeitos do estudo foram seis profissionais, sendo selecionado um de cada área de atuação, ou seja, uma enfermeira, uma nutricionista, uma psicóloga, uma assistente social, uma fisioterapeuta e uma médica oncologista. Os critérios para seleção dos sujeitos foram: ter 44 idade igual ou superior a 18 anos, fazer parte da equipe multiprofissional da unidade, concordar em participar do estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e permitir a publicação dos resultados nos meios científicos. Os participantes foram identificados por nomes fictícios escolhidos pelos mesmos Para tornar possível a coleta de dados os profissionais foram convidados verbalmente a participar do estudo. Depois do aceite, foi entregue o TCLE e realizada uma entrevista semiestruturada contendo cinco questões abertas que se referiam a vivência em cuidados paliativos, dificuldades e facilidades encontradas na prática profissional e dados de identificação. Os dados foram coletados por meio de gravações, posteriormente o material foi transcrito na íntegra e submetido a sucessivas leituras. A análise dos dados constituiu-se de três etapas: a ordenação dos dados, que compreendeu desde o momento da transcrição das entrevistas à leitura exaustiva dos relatos para a organização destes em ordem de classificação do tema investigado. A classificação dos dados foi o momento em que agrupou-se os temas da pesquisa segundo os objetivos, com o embasamento teórico de autores sobre a temática. Na análise final dos dados, ocorreu reflexão dos pesquisadores sobre o material empírico, buscando a sua interpretação12. Previamente à coleta de dados o projeto foi submetido à apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas, parecer n°52/11, de acordo com as normas estabelecidas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde13. RESULTADOS E DISCUSSÃO A equipe multiprofissional ao cuidar de pacientes que necessitam de ações paliativas apresentam diversas formas de compreender essa vivência. Assim, no processo de organização dos dados obteve-se os seguintes temas: Paliar: controle de sintomas e humanização da assistência, Vivenciar o processo de terminalidade e resignificar o cuidado e Desafios da equipe multiprofissional no cuidado paliativo. Paliar: controle de sintomas e humanização da assistência. Ao se planejar ações paliativas deve-se ter a sensibilidade e a capacidade de identificar e cuidar das diversas dimensões do sofrimento humano4. Neste sentido, os profissionais entendem como cuidado paliativo a assistência prestada ao paciente fora de possibilidade de cura, no qual o objetivo é o controle dos sintomas. Nos depoimentos observa-se a 45 preocupação com o alívio dos sintomas físicos, especialmente o controle álgico, e do sofrimento psicossocial, contudo, nenhum participante relatou a dimensão espiritual. Constata-se ainda, a inclusão da família como parte do cuidado e a necessidade de garantir qualidade de vida, concordando como a filosofia de cuidados paliativos definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Eu entendo por cuidado paliativo todo aquele cuidado que não tem perspectiva de cura, mas que tem perspectiva de qualidade de vida dentro da terminalidade. É o paciente que vai ficar sem dor, é o paciente que não vai ficar nauseado. É aquele cuidado que não vai reverter o quadro, não vai prolongar a vida, mas que vai dar conforto para esse paciente e para a família também. (Isabela, assistente social). Quando alguém está em cuidados paliativos é porque não tem mais jeito, ou seja, a pessoa não tem mais cura, a pessoa apenas vai ter um cuidado para morrer melhor, ou seja, vai ter uma qualidade de vida, vão aliviar a dor, conforto (Amanda, psicóloga). Cuidado paliativo é todo aquele cuidado que a gente demanda para um paciente que já não tem mais perspectiva de um tratamento oncológico específico na tentativa de dar maior bem estar, melhorar todos os sintomas que aquele paciente venha a sentir, todos os desconfortos, eu acho que a palavra mais adequada. E não só com relação a parte clínica, mas também psicológica, familiar e social. (Claudia, médica). O cuidado paliativo propõe ao profissional de saúde o desafio de cuidar com competência científica sem, no entanto, esquecer-se da valorização do ser humano14. Percebese por parte dos entrevistados a preocupação com humanização do cuidado prestado, focando sua atenção não apenas no controle de sintomas, mas na necessidade de ouvir o paciente e sua família e de ser solidário com estes. E eu acho que para o paciente é ouvir, conversar, se mostrar presente, afeto [...] junto com o restante da equipe procurar ter um entendimento daquela situação, procurar ouvir as dificuldades, os medos, nesse sentido, acolher naquele momento de insegurança e de dor (Isabela, assistente social). Então se a gente tivesse no hospital um lugar que tu pudesse, agora a gente tem a sala de TV, mas se tivesse um lugar que tu pudesse levar esse paciente, dar um passeio. Nem que fosse um lugar pequenininho, um jardim, mas que ele pudesse ver o sol, né. Já seria bem melhor. (Aline, enfermeira) Para que essas necessidades sejam atendidas e o cuidado ao fim da vida seja integral, é indispensável que a equipe de saúde resgate a relação interpessoal empática, sendo fundamental ouvir e tornar-se sensível as necessidades dos pacientes, mais do que habilidades técnicas para diagnosticar e tratar. Estes esperam que a relação com os profissionais da saúde seja alicerçada por compaixão, respeito e empatia, de modo a auxiliá-los no processo de morte, valorizando a sua experiência5-15. O trabalho multiprofissional é indispensável para a proposta de cuidados que procura resgatar esses valores éticos e humanos, assim como à autonomia individual16. Observa-se no 46 depoimento da assistente social Isabela, a sua experiência com uma paciente em terminalidade que recusou-se a realizar um procedimento cirúrgico. Em sua fala podemos perceber o direito de autonomia do paciente preservado por parte da equipe multiprofissional. Eu acho que eles tem que ter autonomia, tem que ser respeitados. Por exemplo, no caso dessa paciente [...] Quem sou eu para obrigar ela a fazer essa cirurgia? O que eu fiz foi aquilo que estava ao meu alcance, eu conversei, o médico conversou com ela [...] avisei a ambulância, ficou tudo pronto para a ida dela. O que dependia da equipe de saúde foi feito, agora a decisão é dela. Eu acho que isso a gente tem que respeitar. É um direito (Isabela, assistente social). O cuidado deve ser compartilhado e o paciente com câncer merece do profissional toda a benevolência e respeito. Auxiliá-lo em todas as fases deste processo implica em orientá-lo sem coagir, mostrando-lhe os benefícios e desvantagens de cada tratamento, de forma inteligível a seu nível de compreensão17. As ações paliativas devem visar não apenas o controle de sintomas apresentados, mas, valorizar a relação e fortalecer o vínculo de confiança entre paciente e a equipe de saúde. Vivenciar o processo de terminalidade e resignificar o cuidado Ao iniciar a trajetória de trabalho com paciente em terminalidade, e que necessitam de cuidados paliativos, os profissionais encontram dificuldades em aceitar a finitude da vida, assim como a impossibilidade de impedir a evolução da doença. Contudo, o tempo trouxe mudanças em suas concepções e novos significados para o cuidado prestado. O início do trabalho é marcado, segundo os profissionais, por sofrimentos e angustias, atrelados ao fato de se sentirem impotentes e frustrados com relação a morte, pois, esta ainda é vista, por muitos profissionais de saúde, como um fracasso, incapacidade ou incompetência, uma vez que eles foram formados para combatê-la18. Então no começo foi muito pesado, as primeiras vezes, quando eu vim para cá e comecei a tratar com paciente oncológico, foi muito angustiante, a gente sofre muito no início[...]E tu admitir que não tem mais nada o que fazer é lidar com a impotência (Amanda, psicóloga). No início foi muito difícil, era muito difícil aceitar, né,.[...] nós não estamos preparados para enxergar um paciente que extrapola o nosso conhecimento. Parece que somos nós que estamos falhando, que falta, que falta conhecimento para conseguir atender até o fim da vida [...] é muito frustrante a gente ter o conhecimento, ter recursos, e chegar a um ponto de ver que tudo que tu está fazendo, tu não consegue. Chega um ponto que ultrapassa a tua vontade, é o limite. (Ana, fisoterpeuta). A terminalidade esta relacionada a sentimentos de medo, impotência, tristeza, depressão, culpa, fracasso e falha19. Contudo, as rotinas de trabalho levam os profissionais a refletirem sobre sua prática e a encontrar novos significados para o cuidado, aceitar a 47 terminalidade da vida e a importância do seu trabalho para com o paciente e a família que enfrentam esse momento. No início foi muito difícil né, trabalhar com a questão da terminalidade [...] Mas aí depois eu pude perceber que o papel da equipe era um papel fundamental, de auxílio daquele momento tão difícil [...] Então o próprio trabalho, o próprio dia-a-dia e muitas famílias me ajudaram a conseguir lidar como essa situação. (Isabela, assistente social). E na hora tu tem que ser uma pessoa forte, ser profissional. Mas como pessoa tu te sente uma pessoa útil, sabe. Como profissional tu te sente fazendo o teu papel (Amanda, psicóloga). E uma das situações que a gente pode ajudar e, que se sente mais gratificado, eu acho que é quando tem algum sintoma importante que a gente consegue controlar (Claudia, médica). O trabalho dos profissionais de saúde leva a diversas formas de estresse, mas também proporciona momentos de satisfação4. Neste sentido, os entrevistados após entenderem suas limitações e aceitarem a morte como um evento natural, resignificam sua vivência de cuidado, sendo a possibilidade de auxiliar pacientes e famílias entendida como gratificante e o trabalho multidisciplinar como fundamental. A equipe multiprofissional que vivencia o cuidado a pacientes em terminalidade, muitas vezes, envolve-se e sensibiliza-se com o doente e sua família, e não raro compartilham seus sofrimentos20. Dessa forma, constroem um espaço de relacionamento interpessoal que possibilita a construção de vínculos com pacientes e familiares, conforme referem os participantes do estudo. O vínculo é grande e quando acontece a morte também o sentimento é grande (Ana fisioterapeuta). Ai como eu sabia que ela estava bastante mal eu tardei a minha checada, mas parece que ela esperou [...] Parece que ela esperou a gente chegar para (morrer). E a gente ficou envolvida, tanto eu quanto a assistente social, até o fim da tarde, com a família (Carolina, nutricionista). Não é como tu manipular um remédio, 2 ml de uma coisa, 5 ml de outra, não, é uma pessoa, é um ser humano, que vai fazer trocas contigo. Então é claro que tem vínculos (Isabela, assistente social). O ato de cuidar do paciente no final da vida e sua família possibilita a formação de vínculos21, sendo decisiva para concretizar a humanização da assistência prestada. Profissionais de saúde em instituições hospitalares tendem a passar grande parte do seu tempo na prestação de cuidados diretos a pacientes e familiares, e ao deparar-se com situações de sofrimento, como o processo de teminalidade, compartilham suas angústias e dificuldades, sendo um importante momento de trocas em suas vidas. 48 Desafios para a equipe multiprofissional no cuidado paliativo Os profissionais que fizeram parte desse estudo apresentam grande comprometimento com o cuidado. Contudo, em suas falas percebe-se conflitos e necessidades, ou seja, desafios para que qualifiquem o cuidado paliativo prestado, de modo que pode-se identificar as dificuldades de lidar com o processo de terminalidade. As participantes trazem em seus depoimentos, a falta de preparo da equipe de saúde da atenção hospitalar, com relação aos cuidados paliativos, sendo esse fato desencadeador de conflitos. As vezes, se torna uma coisa cansativa, também por parte dos funcionários. Por que nem todo mundo está preparado para lidar com esse tipo de paciente. Por que quando tu tens um serviço específico para isso é diferente. Por que aquela pessoa que está ali para trabalhar sabe que vai trabalhar com aquilo né. Não é o nosso caso aqui (Aline, enfermeira). Também tem esse medo de ser cobrado por que não fez alguma coisa, tem isso também. Tem que ter essa tranqüilidade de dizer assim: a partir de agora a gente não vai fazer mais nada, [..]Mas tem que ter certeza e um cuidado para fazer certo. Isso aí tem que ter muito, muito preparo, preparo profissional, multiprofissional, tem né. (Amanda, psicóloga) Em outros momentos é possível perceber a dificuldade de consenso nas ações da equipe multiprofissional, quando da realização de procedimentos que possivelmente não tragam benefício ao paciente. Mas outra dificuldade assim é que, as vezes, tu é obrigado assim a usar meios que tu não gostaria de usar. Por exemplo, um paciente que tu sabe que não vai somar muito naquela doença dele, naquele momento, como a passagem de uma sonda, administração da alimentação por sonda, né. Mas tu te viu obrigada, as vezes por insistência da própria família, por insistência de outros colegas na volta. Eu não sei, mais eu vejo mais o lado do paciente né. Por que ele sabe que aquilo ali não vai adiantar muito, vai ser mas um sofrimento para ele. (Carolina, nutricionista). A preocupação em poder alimentar o paciente com câncer em estágio avançado é motivo de discussão entre os profissionais de saúde. Entretanto, o cuidado nutricional deve estar integrado aos cuidados oncológicos globais e contribuir para a qualidade de vida22. Mas sobretudo, a coesão da equipe em relação à meta e planos é fundamental, e contribui para construir uma relação de confiança com pacientes e famílias20. A comunicação excelente e respeito entre os membros contribuem para a qualidade da assistência prestada23. Esta habilidade, indispensável ao trabalho multiprofissional, é entendida pelos entrevistados como estratégias para transpor as dificuldades e limitações encontradas. Então eu acho que a facilidade que se tem aqui no hospital de cuidar desse paciente é a gente tentar ter essa facilidade de comunicação e trabalhar mais em equipe né e conseguir prestar um cuidado melhor (Aline, enfermeira). As vezes, não tem essa comunicação de dizer o que mudou, depende muito das equipes. (Ana fisioterpeuta). 49 O processo de formação, necessariamente, deve contribuir para o desenvolvimento de competências e habilidades específicas relacionadas com o cuidado no fim da vida 18 . Profissionais de saúde especializados ou treinados apresentam melhores resultados no controle de sintomas físicos como dor, bem como dos sofrimentos psicossociais, e a capacitação desses necessita ser priorizado pelos serviços de saúde6. Neste pensar os participantes referem a importância da educação para a boa prática de cuidados paliativos. Talvez uma das tentativas fosse se as pessoas tivessem mais cursos de cuidado paliativo, entendessem mais disso, se houvesse uma disciplina disso na faculdade, eu acho que iria ajudar muito (Amanda, psicóloga). Realmente essa área é bem deficitária na área da saúde, em todos os sentidos de conhecimento e de prática também [...] Mas os pacientes estão vivendo mais e cada vez mais precisando de cuidados paliativos. E eu acho que a demanda só tende a crescer e a gente vai ter que se informar mais. Seria ótimo se toda a equipe multiprofissional pudesse participar de atualizações. Mas com pessoas que realmente estejam preparadas para nos falar disso (Claudia, médica). Em outro momento os entrevistados referem a necessidade de discutir sobre questões que envolvem a espiritualidade do profissional, também como modo de qualificar assistência prestada ao paciente em terminalidade. Neste momento torna-se importante rever que os participantes não apontaram as questões espirituais como alívio do sofrimento, conforme preconiza a OMS. Talvez, este fato esteja relacionado com a reduzida discussão sobre o assunto. As entrevistadas reforçam a importância de reuniões ou grupos abordando essa temática e também a mudança de cultura no cuidado a saúde focando a espiritualidade. Isso é uma necessidade de todos, se discutir sobre a terminalidade, se discutir sobre a própria espiritualidade de quem está trabalhando. [...] Então falta uma discussão, acho que a terminalidade em relação não só ao conhecimento científico, mas na parte de espiritualidade de preparação do profissional para entender essa morte, não sei se para entender, mas para discutir realmente (Ana, fisioterpeuta). Cada um tem a sua ideia, e talvez seja assim mesmo, por causa da religião e das crenças de cada um. Mas eu acho importante ouvir diferentes opiniões, como um pastor, alguém de outra religião, ou alguma outra pessoa mais entendida sobre isso, para nos dar uma base melhor (Cláudia, médica). A morte é uma coisa difícil, é uma coisa que a gente não está preparado [...] Isso é uma coisa cultural que não o fato de a gente ser trabalhador de saúde, de trabalhar aqui dentro, que a gente pega os sentimentos e atira pela janela, não é, tem que ser trabalhado dentro da gente. Acho importante aquelas pessoas que tem uma espiritualidade desenvolvida, que conseguem lidar muito por esse lado espiritual. Eu acho que isso ajuda (Isabela, assistente social). O cuidado do profissional consigo mesmo, também parece influenciar a disposição deste para cuidar do próximo, especialmente ao oferecer atenção voltada para os aspectos espirituais24. Manter e aprimorar a saúde mental é essencial para eles4. Gestores dos serviços de cuidados paliativos devem identificar as necessidades das instituições e priorizar estratégias para atende-las25, especialmente no que se refere a qualificar as habilidades dos 50 profissinais e assim, garantir um cuidado paliativo científico e humano de exelência aos pacientes e familiares que enfrentar o processo de terminalidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A equipe multiprofissional que assistem pacientes em cuidados paliativos no hospital compreende o cuidado de formas diversas, sendo sua vivência construída e reconstruída durante sua trajetória profissional. Desse modo, percebe-se que ao iniciarem essa trajetória estes sentem-se frustrados e impotentes com relação a morte, pois culturalmente foram formados para combatê-la. Todavia, a rotina de trabalho e a experiência conquistada na assistência a pacientes em terminalidade, exige que esses profissionais reflitam sobre suas práticas e concepções, e assim, resignificam o cuidado prestado, passando a entender a morte como evento natural da vida e a importância da equipe multiprofissional para garantir qualidade de vida e conforto ao paciente e sua família. Neste processo de construção os profissionais identificam fragilidades e desafios da equipe multiprofissional, como a necessidade de qualificar a comunição e o trabalho em equipe. Sendo que vislumbram como ferramenta para esses objetivos, o desenvolvimento de treinamento e educação em serviço para área hospitalar, já que a maior parte das ações de cuidados paliativos, nesta instituição, é voltada a atenção domiciliar. Por fim, destaca-se que a atenção o paciente com câncer avançado dependente de cuidados paliativos necessita ser refletida e fortalecida também nas instituições hospitalares, pois, muitas vezes, condições socioeconômicas e físicas, como dificuldade de controle de sintomas, falta de um cuidador, assim como, a escassez de leitos e equipes de internação domiciliar impossibilitam a permanência dele no seu domicílio, sendo necessária a hospitalização. Neste momento, a equipe multiprofissional deve estar apta para atender a suas necessidades de forma integral e humanizada, articulando e promovendo ações que garantam uma sobrevida digna e controle adequado dos sintomas físicos, psicológicos e espirituais, conforme recomenda a filosofia paliativista, compreendendo este ser e sua família na sua subjetividade e complexidade, a quem ainda se tem muita a fazer. Espera-se que este estudo possa contribuir para construção de conhecimentos, e especialmente para deter a atenção de gestores e profissionais sobre a necessidade de educação continuada, bem como de um espaço para discussão dos aspectos psicológicos e 51 espirituais destinado a equipe de saúde que atende a pacientes em cuidados paliativos no cenário hospitalar, a fim de qualificar a assistência prestada. REFERÊNCIAS 1 Organização Mundial de Saúde. Definition of palliative care, 2002. Disponível em: www.who.int/cancer/palliative/definition Acesso em: 20 de março de 2011 2 Simoni M, Santos ML.Considerações sobre cuidado paliativo e trabalho hospitalar: uma abordagem plural sobre o processo de trabalho de enfermagem. Psicologia USP. 2003; 14(2): 169-94. 3 Organização Mundial de Saúde; Organização Panamericana de Saúde. Cuidados paliativos: guías para el manejo clínico. 1ª ed, 2004,151p. 4 Silva RCF, Hortale VA. 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