Letícia Giuliana Paschoal, Fabiano Tomazini da Conceição, Cenira

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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
Alterações na topografia e na rede hidrográfica em áreas de intensa
atividade de mineração de argila: O Caso do Ribeirão Santa Gertrudes,
interior do estado de São Paulo - Brasil
Letícia Giuliana Paschoal
Mestranda em Geologia Regional – Departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento – Laboratório de Geomorfologia – UNESP (Universidade Estadual
Paulista) – Campus de Rio Claro (SP/Brasil) – Bolsista FAPESP. E-mail: [email protected] .
Fabiano Tomazini da Conceição
Professor Doutor - Departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento– UNESP (Universidade Estadual Paulista) – Campus de Rio Claro
(SP/Brasil). E-mail: [email protected]
Cenira Maria Lupinacci da Cunha
Professora Doutora – Departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento – Laboratório de Geomorfologia – UNESP (Universidade Estadual
Paulista) – Campus de Rio Claro (SP/Brasil). E-mail: [email protected]
Introdução
Atividades de mineração estão diretamente relacionadas à alteração das paisagens
naturais. Dentro da bacia hidrográfica do Córrego de Santa Gertrudes/SP-Brasil, inserese o Ribeirão Santa Gertrudes e são expressivas as atividades econômicas advindas
deste setor. Tal desenvolve-se nesta área devido à presença da Formação Corumbataí,
que fornece a matéria-prima (argilas plásticas) para as indústrias cerâmicas
(CHISTOFOLETTI, 1999) e encontra-se inserida no contexto do Pólo Cerâmico de Santa
Gertrudes, que além de sua importância como fornecedora de matéria-prima,
configura-se como o maior centro de referência internacional em pavimentos
cerâmicos do continente Americano, o que torna sua relevância indiscutível para o
desenvolvimento socioeconômico da região.
Neste contexto, Guerra e Marçal (2006, p. 47), enfatizam que “quase todas as
atividades humanas, na superfície terrestre, causam algum tipo de modificação, sendo
que a mineração talvez seja uma das que mais altera o relevo”. Ao atrelar este fato a
perspectiva da gestão ambiental, Cunha, Mendes e Sanchez (2003, p. 1) relatam que os
processos geomorfológicos e as formas de relevo “têm grande importância, tanto pelo
fato de constituírem o substrato físico sobre o qual se desenvolvem as atividades
humanas, como por responderem, muitas vezes de forma agressiva, às alterações
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
provocadas por tais atividades” e concluem que “a representação cartográfica torna-se
instrumental imprescindível para uma gestão ambiental adequada”.
Sendo assim, esta pesquisa possui como objetivo analisar as principais alterações
ocorridas no uso da terra e suas implicações geomorfológicas, como as registradas na
topografia e na rede hidrográfica do Ribeirão Santa Gertrudes/SP.
Para tanto, o trabalho se fundamenta nos ditames da Geomorfologia
Antropogênica, preconizada por Nir (1983), que concebe o homem como um agente
geomorfológico independente, amparada pela teoria Geral dos Sistemas. Assim,
recorre a técnicas da Cartografia Tradicional e da Cartografia Geomorfológica
Evolutiva, a partir do qual foram selecionados dois cenários no decorrer dos últimos 48
anos (1962 e 2006) que procuram retratar o cenário original e o cenário representativo
de uma fase de pós-perturbação da área, o que permite inferir a dinâmica do sistema
em questão.
Área de Estudo
O Ribeirão Santa Gertrudes se situa entre as coordenadas geográficas 22º24’36’’S e
22º28’23’’S de Latitude e 47º31’29’’W e 47º27’16’’W de Longitude, e totaliza 27,87 km2
de área inseridos dentro dos limites do município de Santa Gertrudes/SP (Figura 1). Este
ribeirão encontra-se dentro da bacia do córrego Santa Gertrudes; que se trata de um
afluente da margem esquerda do Ribeirão Claro; este por sua vez, se insere no complexo
da bacia do Rio Corumbataí, que deságua no Rio Piracicaba, importante afluente do Rio
Tietê. A bacia do Rio Corumbataí apresenta sérios problemas ambientais devido ao uso e
ocupação da terra, principalmente os relacionados ao lançamento de esgotos “in natura”
nos corpos d’água, atividades agrícolas e de mineração (CONCEIÇÃO; BONOTTO, 2002).
Técnicas
A cartografia configura-se em uma técnica indispensável para se atingir os objetivos
desejados. Para tanto, realizou-se uma revisão bibliográfica referente ao mapeamento
do uso da terra, baseado principalmente nas classes de uso propostas por Anderson et
al. (1979), e sobre o mapeamento geomorfológico evolutivo, norteado pelas
propostas de Tricart (1965), Verstappen; Zuidan (1975) e Rodrigues (1997); os quais
são apresentados a seguir.
A elaboração das cartas de uso da terra dos dois cenários (1962 e 2006) retratam as
modificações ocorridas na bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Gertrudes/SP,
principalmente no que diz respeito às alterações provenientes da atividade
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mineradora da argila, na rede de drenagem fluvial e na vegetação original. Desta
maneira, o uso da terra foi mapeado com base em fotografias aéreas dos anos de 1962
e 2006, na escala 1:30.000, e diante de dados que não foram passíveis de
interpretação por meio dos pares estereoscópicos de fotografia aérea, foram
realizados trabalhos de campo para averiguação in loco dos dados do cenário mais
recente.
Figura 1 – Localização da área de estudo. Organização: Letícia Giuliana Paschoal, 2010.
As classes de uso da terra foram geradas a partir da metodologia proposta por
Anderson et al. (1979), que se utiliza de produtos de Sensoriamento Remoto e destaca
os bons resultados de trabalhos que fazem uso de fotografias aéreas. Tal metodologia
permite uma grande maleabilidade em sua aplicação, com a inclusão e exclusão de
classes, de acordo com as características peculiares de cada área a ser estudada.
As cartas de uso da terra foram realizadas utilizando-se o programa ArcGis 9.3, que
permitiu criar em diversas camadas denominadas “shapefile” as parcelas de distintos
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
usos da terra, a saber: rede hidrográfica, lagos e reservatórios, , complexos industriais
e comerciais, cultura anual, cana-de-açúcar, silvicultura, citrus, pasto limpo, pasto sujo,
minas a céu aberto, cobertura herbácea em antigas áreas de mineração, matas ciliares
e florestas de encostas, e terras úmidas.
No que tange as cartas geomorfológicas de detalhe, estas foram embasadas na
metodologia proposta por Tricart (1965 p. 187-189), a qual diz que esta deve
comportar quatro tipos de informações de naturezas diferentes, a saber: Morfometria,
Morfografia, Morfogênese e Cronologia. Além destes, o autor considera essencial que
conste nesta carta, dados referentes ao arcabouço estrutural a serem mapeados em
dois níveis: feições estruturais e dados litológicos.
A simbologia dos mapeamentos geomorfológicos se pautaram principalmente na
adaptação das propostas de Tricart (1965), Verstappen; Zuidan (1975) e Rodrigues
(1997), por meio da seleção de símbolos adequados à representação das feições
existentes na área, e quando necessário, como no caso de formas antropogênicas,
adaptou-se e criou-se novos símbolos. A base cartográfica utilizada foi vetorizada a
partir dos limites da bacia que compõe o Ribeirão Santa Gertrudes e que ocupam
trechos distribuídos entre as folhas: Fazenda Sant’Ana, Santa Gertrudes I, Santa
Gertrudes II, Bairro do Barro Preto e, Cordeirópolis; na escala 1:10.000, executadas
pelo Governo do Estado de São Paulo no ano de 1979.
Dentro da perspectiva da Geomorfologia Antropogênica, Rodrigues (2005, p. 101),
recomenda que se deva partir “*...+ do reconhecimento cartográfico das unidades
morfológicas originais para posteriormente considerar a seqüência de intervenções
antrópicas nas formas e na distribuição de materiais superficiais”. Desta maneira as
cartas geradas retratam respectivamente a morfologia original (1962), e a morfologia
representativa de uma fase de pós-perturbação (2006). A morfologia original também
é conhecida como de pré-intervenção, e respalda-se na concepção de Rodrigues (2005,
p. 103) que relata que esta é uma “*...+ morfologia cujos atributos como extensão,
declividades, rupturas e mudanças de declives, dentre outros, não sofreram alterações
significativas por intervenção antrópica direta ou indireta”; já a fase de pósperturbação, representado pelo cenário de 2006, retrata um cenário contrário ao
anterior citado, onde há modificações expressivas e que implicam em alteração nas
dimensões de elementos passíveis de serem mensurados.
Desta maneira, para contemplar tal método, utilizou-se pares estereoscópicos de
fotografias aéreas datadas de 1962 e 2006; trabalhos de campo se fizeram necessários
para constatações empíricas nos caso de dúvidas atreladas à estereoscopia e, os dados
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Geológicos foram adquiridos com base no EIA/RIMA do Complexo Argileiro de Santa
Gertrudes e adaptado quando necessário de acordo com dados constatados em
campo.
As cartas geomorfológicas de detalhe, também foram geradas utilizando-se o
programa ArcGis 9.3, que demonstrou boa operacionalidade ao permitir modificar
símbolos pré-existentes, bem como criar novos símbolos e aplicá-los na construção da
carta.
Resultados e discussões
Como resultado da aplicação das técnicas supracitadas, obteve-se as cartas de uso
da terra de 1962 e 2006, bem como as cartas geomorfológicas de detalhe destes
mesmos anos, a partir das quais foi possível extrair as informações que compõem as
tabelas 1 e 2. Estes dados permitem realizar considerações relevantes a respeito da
dinâmica empregada no uso da terra, sua interferência no modelado do relevo e
mobilização de materiais.
Tabela 1 – Alterações quantitativas no Uso da Terra da bacia hidrográfica do córrego Santa
Gertrudes/SP no período de 1962 e 2006. Fonte: Org. PASCHOAL, L. G. (2010).
1962
CLASSES DO USO DA TERRA
Complexos industriais e comerciais
Cultura anual
Cana-de-açúcar
Citrus
Silvicultura
Pasto Limpo
Pasto Sujo
Cobertura herbácea em antigas áreas de mineração
Minas a céu aberto
Matas ciliares e florestas de encostas
Lagos e reservatórios
Terras úmidas
Total
2
Km
0,14
9,53
1,65
9,3
3,43
2,53
0,46
0,32
0,38
0,09
0,04
27,87
2006
%
0,5
34,19
5,93
33,37
12,31
9,08
1,65
1,15
1,36
0,32
0,14
100
2
Km
0,13
1,16
16,91
0,94
1,01
1,5
3,07
1,81
0,86
0,41
0,07
27,87
%
0,47
4,16
60,67
3,37
3,62
5,38
11,02
6,5
3,09
1,47
0,25
100
Os dados de 1962 referem-se ao uso da terra e à geomorfologia original, e
correspondem à fase anterior a existência de grandes cavas de mineração a céu
aberto. Já os dados de 2006 retratam o predomínio da monocultura da cana-de-açúcar
e uma série de intervenções nas formas e materiais superficiais, derivadas
principalmente da atividade de mineração da argila e que são representativas de uma
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
fase de pós-perturbação; tendo em vista que a lavra no Complexo Argileiro, inserido na
sub-bacia do ribeirão está oficialmente paralisada desde outubro do ano de 2005 pela
CETESB, devido a estudos relacionados à potencialidade hídrica e incoerências quanto
ao Plano de Controle Ambiental (PCA), que não viabiliza a recuperação da área
conforme estabelece as diretrizes (REIS, 2008).
Tabela 2 – Elementos Geomorfológicos representativos de um cenário de pré-intervenção
(1962) e de pós-perturbação (2006). Fonte: Org. PASCHOAL, L. G. (2010).
ELEMENTOS
Ruptura Abrupta
Ruptura Suave
Sulco
Patamares em cava de mineração suave
Patamares em cava de mineração abrupto
Ravina
Represa
Área de acumulação de planície e terraço
Área de acumulação de planície e terraço sob interferência
antrópica
Área de alagamento
1962
34,79 km
22,46 km
15,48 km
2
0,01 km
2
0,09 km
2
0,09 km
0,01 km
2
2006
12,14 km
44,77 km
6,05 km
12,09 km
5,89 km
2
0,01 km
2
0,41 km
2
0,79 km
0,04 km
2
É possível inferir a dinâmica do uso da terra ocorrida na área por meio de uma
análise quantitativa dos dados obtidos por meio das cartas e compilados na Tabela 1.
Constata-se que em 1962, os usos da terra mais expressivos constituem-se na cultura
da cana-de-açucar (34,19%), silvicultura (33,37%) e nos dois tipos de pastagens, limpo
e sujo, que juntos totalizam 21,39% da área. Em segundo plano aparece a citricultura
(5,93%) e as atividades vinculadas à mineração, que ocupavam apenas 1,15% da área
com suas minas a céu aberto e 1,65% correspondente a áreas sobre as quais uma
cobertura herbácea se estabeleceu em antigas áreas de mineração, pois tal atividade
ocorre na área desde meados da década de 1920, quando imigrantes italianos vieram
para o Brasil trabalhar nas lavouras de café e acabaram por se fixar na antiga Vila de
Santa Gertrudes/SP e a fundar pequenos comércios, fábricas de fundo de quintal e
olarias que produziam vasos e telhas paulistas e francesas.
Nas décadas de 1.940 e 1.950 as indústrias passaram produzir manilhas e lajotões
coloniais, sendo este o enfoque destas indústrias até ano de 1.987 (CHRISTOFOLETTI,
1999; COLTURATO, 2002 e 2007; ASPACER, 2009). Já na década de 1990, o setor
cerâmico passou por grandes transformações, com a inserção do método de
monoqueima da cerâmica, o que permitiu as empresas deste setor competir com as
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demais existentes não apenas em território nacional como também no mercado
externo (GARCIA, 2003). Este salto produtivo atraiu novas indústrias do setor para a
região, em especial indústrias de pisos e revestimentos, o que impulsionou uma
acirrada competitividade entre empresas no que diz respeito à aquisição dos direitos à
extração mineral da argila.
Esta aglomeração de atividades vinculadas à explotação da argila acabou por alterar
consideravelmente as características naturais do ambiente, e desencadeou
desequilíbrios no meio físico da área, como é o caso da dinamização dos processos
erosivos da terra (sulcos, ravinas e voçorocas); processos de assoreamento nos cursos
dos canais fluviais, bem como de represas; alteração na qualidade e aumento da
turbidez das águas superficiais; rebaixamento no nível do lençol freático devido às
grandes cavas que atingiram níveis de explotação situados abaixo do afloramento do
lençol freático, o que faz com que haja o afloramento desta água e consequentemente
maior evaporação e redução na vazão dos corpos hídricos superficiais, entre outros.
Tais desequilíbrios podem ser constatados diante da análise comparativa entre as
cartas geomorfológicas de detalhe (Tabela 2). As rupturas topográficas marcam a
evolução da vertente, ou seja, evidenciam que ao longo da vertente há um processo
erosivo diferenciado; estas rupturas são feições que podem ter sua origem em fatores
naturais, tais como em diferentes materiais que compõe a litologia, ou então podem
estar atrelados ao tipo uso e ocupação da terra empregado pelo homem, que as
dinamizam, aceleram sua evolução, bem como pode fazer surgir novas rupturas.
É possível constatar que a somatória dos tipos de rupturas, abruptas e suaves, são
praticamente os mesmos nos anos de 1962 e 2006, sendo o diferencial entre eles o
fato de que no cenário de 1962, a maior parte das rupturas eram abruptas (34,79 km)
e uma extensão menor era tomada por rupturas topográficas suaves (22,46 km); já no
cenário de 2006, esta situação se inverte, sendo que 44,77 km demonstram-se suaves
e apenas 12,14 km abruptas. Este fato evidencia que a evolução das vertentes tem se
dado de acordo com o tipo de uso e ocupação da terra e de técnicas de manejo
aplicada às mesmas. No ano de 1962, as rupturas abruptas ocorriam com grande
freqüência entre os locais de contato da silvicultura ou cana de açúcar com os pastos;
no ano de 2006, as rupturas apresentam-se mais suavizadas e provavelmente este fato
encontra-se atrelado ao emprego de técnicas agrícolas como a de plantações em curva
de nível e terraceamentos, o que faz com que apenas as rupturas abruptas ligadas
principalmente a questões estruturais se mantenham.
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Os patamares em cavas de mineração aparecem apenas no cenário da carta
geomorfológica de 2006, fruto da ação antrópica que explotou grandes quantidades de
matéria-prima, e que descaracterizou um extenso interflúvio existente no setor Norte
da sub-bacia. Neste caso é importante salientar a predominância dos símbolos
geomorfológicos sobre os dados morfométricos, para uma leitura correta da carta em
questão; bem como se comprova que as alterações já atingiram o nível de
desenvolvimento de uma geomorfologia antropogênica na área. Os patamares gerados
nas cava de mineração e que possuem ruptura suave (12,09 km) seguem de certa
forma a orientação das curvas de nível; já os patamares em cava de mineração
denominados abruptos (5,89 km), ocorrem no geral no entorno das grandes cavas de
mineração que atingiram e aprofundaram a explotação abaixo do nível do lençol
freático. O aumento de área na bacia ocupada por cavas de mineração nesta situação
é notório e saltou de 0,09 km2 de área no ano de 1962, para 0,41 km2 em 2006. Por um
longo período de tempo, a explotação da argila foi realizada por meio de tentativa e
erro, sem fiscalização alguma, e é possível comprovar por meio dos mapeamentos, o
fato da atividade minerária ter ocorrido predominantemente junto às nascentes e
próximo aos leitos dos rios, o que causou mudanças morfo-hidrográficas na bacia.
Outro dado interessante a ser notado é o fato da extensão de sulcos ter diminuído
consideravelmente de 1962 (15,48 km) para 2006(6,05 km); da mesma forma com que
houve um aumento na área de matas ciliares e florestas de encostas de 1962 (1,36%),
para 2006 (3.09%); tais melhoras se relacionam ao surgimento de Leis específicas de
proteção ao meio ambiente e ao emprego de técnicas de manejo da terra, como é o
caso da implantação de terraços no cultivo da cana-de-açúcar, que diminuem a
intensidade da ação erosiva das águas pluviais sobre as vertentes.
Por último, é possível identificar uma área de acumulação de planície e terraço
(Aptf) no ano de 1962, que equivale a 0,09 km2 e foi adotada como característica da
morfologia original. Este acúmulo de sedimentos trata-se de um fenômeno natural que
ocorre em pequenas proporções e em escala de tempo geológico e, vincula-se à busca
pelo perfil de equilíbrio da drenagem. Porém, constatou-se na área, uma grande
quantidade de deposição de sedimentos no decorrer dos últimos 48 anos, que passou
a ocupar uma área de 0,79 km2 e foi denominada de: área de acumulação de planície e
terraço sob interferência antrópica; este fato evidencia uma brusca interferência de
ações realizadas pelo homem no sistema em questão e que tem dado origem a novas
formas no relevo e realocado matéria em grande quantidade.
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Esta mobilização de sedimentos dinamizada pela ação antrópica, que se acumula
em áreas de planície e terraço, fez surgir uma diferença de 0,03 km 2 nas áreas de
alagamento de 1962, que era da ordem de 0,01 km2, e subiu para 0,04 km2 em 2006, e
remete-se ao fato do assoreamento de grande parte de uma represa existente no ano
de 1962, e que fica sujeita a inundações esporádicas de acordo com as estações mais
chuvosas do ano.
Agradecimentos
Os autores agradecem à FAPESP (Processos no. 2009/01761-0 e no. 05/59203-1)
pelo suporte financeiro concedido à realização desta pesquisa.
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