Revista In derme_78_2016.indd

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ISSN 1519-339X / [ISSN 2447-2034] V. On-line
Revista
Ano 16 - Nº 78 - Julho / Agosto / Setembro - 2016
A Revista Enfermagem Atual In Derme é uma revista da Sociedade Brasileira de Enfermagem em
Feridas e Estética (SOBENFeE), está indexada na base de dados do Cinahl - Information Systems
USA, classificada como Qualis International B2 da Capes e no Grupo EBSCO Publicações.
Editora Chefe:
Alcione Matos de Abreu
Vice- presidente da SOBENFeE | Doutoranda da
Universidade Federal Fluminense UFF
Editor Assistente:
Raí Moreira Rocha
Mestrado em Ciências do Cuidado em Saúde EEAAC/UFF
Financeiro:
Sobenfee
Vendas:
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ENFERMAGEM ATUAL IN DERME é uma
revista científica,é uma revista da Sociedade
Brasileira de Enfermagem em Feridas e Estética
(SOBENFeE),publicada trimestralmente, voltada
para o publico de profissionais e acadêmicos e
pós graduados da área de saúde.
CIRCULAÇÃO: Em todo Território Nacional.
CORRESPONDÊNCIAS: Rua México, nº 164 sala
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Produção: Letra Certa Comunicação
Diagramação: Cecilia Pachá
ENFERMAGEM ATUAL IN DERME reserva todos
os direitos, inclusive os de tradução, em todos
os países signatários da Convenção PanAmericana e da Convenção Internacional sobre
Direitos Autorais.
A Revista Enfermagem Atual In Derme é uma
revista da Sociedade Brasileira de Enfermagem
em Feridas e Estética (SOBENFeE), com
publicação trimestral. Publica trabalhos
originais das diferentes áreas da Enfermagem,
Saúde e Áreas Afins, como resultados de
pesquisas, artigos de reflexão, relato de
experiência e discussão de temas atuais.
Circulação: 4 números anuais: JAN/FEV/MAR –
ABR/MAI/JUN – JUL/AGO/SET – OUT/NOV/DEZ
A Revista Enfermagem Atual In Derme é
uma publicação trimestral. Publica trabalhos
originais das diferentes áreas da Enfermagem,
Saúde e Áreas Afins, como resultados de
pesquisas, artigos de reflexão, relato de
experiência e discussão de temas atuais.
ISSN 1519-339X
[ISSN 2447-2034] V. On-line
EDITORIAL
Caros leitores,
Na edição de nº 78, do ano de 2016, destaca-se:
O 1ºartigo, Prevenção de queda em paciente hospitalizado e a segurança do paciente: revisão integrativa, é uma revisão integrativa realizada em 2014, na Biblioteca
Virtual de Saúde, utilizando os descritores “Segurança do Paciente”, “Acidentes por
Quedas” e “Indicadores de Qualidade em Assistência à Saúde”, cruzando-os com o descritor “Gestão de qualidade em Saúde”. Seu objetivo principal foi levantar as produções
científicas sobre prevenção de queda em paciente hospitalizado e a segurança do
paciente.
O 2º artigo, Acolhimento aos familiares de vítimas de óbitos por causas externas, é
um relato de experiência, cujo objetivo principal é descrever a experiência vivenciada
pela equipe no acolhimento aos familiares de vítimas de óbitos por causas externas em
um hospital de referência em Alagoas.
O 3º artigo, Articulação entre ensino e pesquisa no cuidado à saúde da criança:
Relato de experiência, é um relato de experiência, cujo objetivo principal é descrever
a experiência da articulação entre ensino e pesquisa no cuidado à saúde da criança
acerca das evidências cientificas de enfermagem no controle da infecção primária da
corrente sanguínea, bem como prevenção e tratamento da infecção urinária.
O 4º artigo, Perfil e produção científica dos bolsistas de produtividade em pesquisa
do CNPq da área de estomaterapia, é um estudo descritivo, transversal e quantitativo,
cujo objetivo foi identificar o perfil e a produção científica dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq da área de Estomaterapia no triênio 2010-2012.
O 5º artigo, Ação antimicrobiana do fator de crescimento epidérmico em feridas:
Revisão integrativa, é uma revisão integrativa de literatura, nas bases de dados contidas no portal Biblioteca Virtual em Saúde e no Portal de Periódicos da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, com os termos “úlcera varicosa”,
“úlcera cutânea”, “úlcera da perna”, “infecção dos ferimentos” e “fator de crescimento
epidérmico”. O objetivo principal foi analisar evidências científicas sobre as apresentações farmacêuticas e os efeitos antimicrobianos do fator de crescimento epidérmico
recombinante humano em feridas.
O 6º artigo, Conhecimento dos profissionais de enfermagem quanto à realização
do banho no recém-nascido, é um estudo descritivo-exploratório e observacional, com
abordagem quantitativa, cujo objetivo é investigar o conhecimento dos técnicos de
enfermagem acerca do banho no recém-nascido.
O 7º artigo, Esclerose múltipla: implementação do processo de enfermagem, é um
estudo de intervenção metodológica, seguindo-se as seguintes etapas: elaboração dos
Diagnósticos de Enfermagem; proposta inicial de resultados e intervenções; elaboração
de um plano de cuidados e validação por especialista; implementação e avaliação do
plano. O objetivo do estudo foi elaborar, validar, implementar e avaliar um plano de
cuidados de enfermagem a uma paciente com esclerose múltipla.
O 8º artigo, Fluxograma de atendimento pré-exame: ferramenta do trabalho de enfermagem na tomografia computadorizada, é um estudo descritivo-exploratório acerca
do processo de trabalho de enfermagem, com abordagem qualitativa. O objetivo do
estudo foi descrever os caminhos que os pacientes deverão percorrer para a marcação,
orientação e realização dos exames no hospital, através do fluxograma de atendimento
pré-exame.
O 9º artigo, Impacto da úlcera de perna na qualidade de vida de idosos: uma revisão integrativa, é uma revisão integrativa cujo
levantamento foi realizado nas bases de dados LILACS, BDENF, IBECS, MEDLINE (via BVS) e na MEDLINE (via PubMed). O objetivo foi
analisar as evidências científicas acerca do impacto da úlcera de perna na qualidade de vida de idosos.
O 10º artigo, Prevenção do câncer de mama e cervicouterino em idosas de um grupo de convivência, é um estudo epidemiológico
descritivo, com abordagem quantitativa, cujos objetivos foram caracterizar o perfil das idosas frequentadoras de um grupo de convivência no Rio de Janeiro; estimar a frequência de realização do exame de prevenção de câncer de mama e cervicouterino dessas idosas;
e descrever as perspectivas de atuação do enfermeiro na prevenção do câncer de mama e cervicouterino para mulheres idosas de um
grupo de convivência.
O 11º artigo, Uso do nitrato de cério associado ao colágeno e alginato de cálcio no tratamento das queimaduras: Uma série de
casos, relata uma série de seis casos, sendo o objetivo deste estudo avaliar o processo de reparo tecidual de queimaduras de 2º grau
superficial e intermediário em uso de um curativo biológico composto por Nitrato de Cério, Colágeno Bovino e Alginato de Cálcio.
Convido a todos vocês para o V Simpósio sobre Prevenção e Tratamento de Feridas e I Encontro sobre Queimaduras da SOBENFeE , que
acontecerão nos dias 20 a 22 de outubro de 2016, no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Botafogo, Rio de Janeiro.
“As feridas do corpo, são curadas com tratamento local e sistêmico, de acordo com a evidência científica. ‘As feridas da alma’ são curadas
com atenção, carinho e paz.”
Machado de Assis
Boa leitura!
Editora Científica
Alcione Abreu
Skin tears e seus desafios no primeiro quarto do século XXI
Érick Igor dos Santos1
Ao longo dos últimos quatro anos tenho tido a oportunidade de contribuir cientifica e academicamente para a disseminação do
conceito, dos caminhos para a prevenção e das formas de tratamento das skin tears entre profissionais de enfermagem de diferentes
níveis de formação. Neste percurso, quando em exposições orais, tenho forte tendência a iniciá-las questionando os expectadores
se sabem ou se já ouviram falar sobre do que se tratam as skin tears. Neste primeiro momento, poucos parecem atrever-se a erguer
o braço. Porém, ao iniciar a transição de slides colocando imagens das lesões, grande parte do público tende a se manifestar,
reconhecendo-as. Nas palavras do Professor Dr. Celso Pereira de Sá (in memoriam), as skin tears formariam um objeto de representação
social ainda em formação no solo brasileiro, possuidor de imagens bem definidas, mas conceitos e práticas nem tanto, por ora. Esta
característica tem levado-me a pensar o quanto as skin tears são um tema muito vivido e (ainda) sobre o qual pouco falado, ao menos
no Brasil, o que gera o combustível para alguns poucos de nós – enfermeiros estomaterapeutas ou especialistas em enfermagem
dermatológica – perseverarmos na árdua tarefa de desbravar tal problemática e levá-la à enfermagem dos quatro cantos deste país.
As skin tears podem ser conceituadas como um tipo traumático de lesão de pele oriundo de fricção, contusão ou cisalhamento
que, isoladamente ou em conjunto, provocam disjunção entre as camadas da pele, formando, de maneira frequente, um retalho
pendente de pele. Quando há disjunção entre derme e epiderme, as lesões tendem a ser mais dolorosas por afetarem sobremaneira
as terminações nervosas livres, e, assim, podem ser denominadas de lesões de espessura parcial. Já quando a disjunção ocorre entre
as camadas mais profundas da pele, quais sejam, as duas primeiras e a hipoderme, a lesão tende a ser mais hemorrágica em virtude
do aumento da vascularização da pele diretamente proporcional à sua profundidade, podendo, então, ser denominada de lesão de
espessura total. Sua apresentação pode ser em formato linear, irregular ou oval e a sua ocorrência potencializa as chances de edema,
hematoma, necrose tecidual e infecção. As skin tears frequentemente acometem pessoas nos extremos de vida, dada a prematuridade
da síntese e organização das fibras de colágeno no caso dos neonatos, ou a sua perda quantitativa e qualitativa durante o
processo de envelhecimento no caso dos idosos, sobretudo em topografias corporais altamente suscetíveis a traumas diretos como
cotovelos, pernas, braços e mãos. Embora sejam inúmeros os fatores de risco para o seu desenvolvimento, há notório destaque para
desencadeadores, como a ocorrência de quedas, má nutrição, restrição ao leito, limitações cognitivas e pele seca ou frágil. Salientase que pacientes críticos ou cronicamente enfermos possuem maior grau de risco para a ocorrência de skin tears, e a sua ocorrência
pode inibir a livre mobilidade, provocar isolamento social e gerar prejuízos à qualidade de vida, além de impactar significativamente
os custos hospitalares.
Instituições internacionais como a The Nacional Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP), a European Pressure Ulcer Avisory Panel
(EPUAP) e a International Skin Tear Advisory Panel (ISTAP) mantêm a assertiva de que apesar das similaridades entre skin tears e
lesões por pressão, é crítico que haja diferenciação e diagnóstico apropriados. Olhos pouco treinados não raramente confundem
skin tears com lesões por pressão, que são, na verdade, demarcadamente diferentes em suas formas de apresentação, tempo entre
desencadeamento e visualização a olho nu e prognósticos de cicatrização, sobretudo por possuírem fatores etiológicos distintos1-4.
No caso das lesões por pressão, como a própria nomenclatura revela, o fator etiológico majoritário é a pressão, principalmente em
proeminências ósseas, que promove a diminuição da luz interna dos vasos sanguíneos que irrigam a pele, levando a um processo
de isquemia e posterior hipóxia da pele. De tal protagonismo é o fator pressão enquanto seu componente etiológico, que mudanças
recentes no estadiamento de lesões por pressão removeram a fricção como um descritor para o seu desenvolvimento4. Por seu turno,
as skin tears decorrem de episódios traumáticos mais agudos, que geram rupturas notoriamente mais imediatas entre as camadas da
pele, o que as tornam muito mais dolorosas e hemorrágicas quando comparadas às lesões por pressão. Uma lesão de pele que ocorre
em uma topografia corporal na qual não há pressão constante provavelmente não se trata de uma lesão por pressão, então devem
ser observados possíveis diagnósticos diferenciais, como skin tear. Contudo, já tem sido reportado4 que as skin tears nas quais há
dano tecidual mais aprofundado e as lesões por pressão de categoria II são capazes de mimetizar uma a outra, e quando as skin tears
ocorrem sobre proeminências ósseas, os dois mecanismos etiológicos podem se sobrepor – pressão e fricção/cisalhamento – causando
duas lesões em uma, o que pode guiar a erros diagnósticos e atrasos na implantação de estratégias de manejo.
Quanto aos dados epidemiológicos das skin tears, estes permanecem ocultos ao menos em solo brasileiro, principalmente em
virtude da sua dificuldade de registro formal. Porém, os números internacionais já existentes (exponencialmente os estadunidenses
1
Doutor em Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Enfermeiro Estomaterapeuta pela UERJ. Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Gama
Filho (UGF). Professor Adjunto do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor convidado de cursos de especialização em enfermagem
em estomaterapia e enfermagem dermatológica. Líder e pesquisador do Laboratório sobre Enfermagem, Cuidado, Inovação e Organização da Assistência ao Adulto e ao Idoso
(LECIONAI – UFF). E-mail: [email protected]
e os canadenses) apontam para sua alta prevalência4 e, não se pode perder de vista, a esperada tendência de aumento de número de
casos novos no Brasil dado o processo de envelhecimento populacional atualmente em progresso no país.
É inequívoca a dificuldade de registro das skin tears por conta de um desconhecimento corriqueiro da nomenclatura apropriada
para a lesão, minimização de sua etiologia ou das complicações dela possivelmente desencadeadas, tal como o embasamento
em experiências pessoais ou empíricas no manejo das skin tears. Para facilitar o processo assistencial, algumas ferramentas têm
sido desenvolvidas ao longo dos anos com o propósito de instrumentalizar profissionais de saúde e em enfermagem na detecção,
tratamento e prevenção deste tipo de lesão. Entre elas, podem ser citados o sistema Payne-Martin, a Skin Tear Classification System
(STAR) e a ISTAP Skin Tear Classification2-5, sendo esta última a mais recente, mas altamente susceptível a críticas, especialmente por
não abordar a coloração do retalho de pele e limitar-se a apenas três categorizações possíveis, o que, se por um lado, torna mais
didático o modus operandi do cuidado, o torna menos preciso.
É necessário reconhecer que há esforços por parte de alguns pesquisadores e sociedades profissionais na criação de um termo
em português capaz de traduzir a ideia de skin tear. Neste esforço, abriu-se espaço em torno da discussão da terminologia “lesões
por fricção”. Contudo, este termo ainda possui a característica de limitar-se a apenas um mecanismo etiológico das skin tears – a
fricção -, deixando de lado o impacto direto (blunt force) e o cisalhamento (shear). Além disto, outros tipos de lesão também podem
ser gerados por fricção, o que dá ao termo “lesões por fricção” determinada inespecificidade capaz de ferir a uniformização nacional
do termo. Para além dessas críticas, é necessário um resgate ao termo fulcrado por Payne e Martin na década de 1990, skin tear, que
numa tradução literal do termo significaria “rasgo de pele”, ou, numa tradução interpretativa, “laceração em pele”, este último ainda
bastante abrangente e inespecífico. Assim, neste editorial, preferiu-se respeitar o termo original em inglês, até que haja suficiente
consenso entre especialistas e tradutores no desenvolvimento de um termo na língua portuguesa capaz de delimitar precisamente as
skin tears. É preciso que o termo criado seja capaz de aproximar a terminologia brasileira à internacional para que este fenômeno seja
universalmente compreendido e interpretado, sob pena de produzir iniquidades semânticas promotoras de ruídos de comunicação e,
por fim, dificuldades técnicas quanto ao desenvolvimento de ações preventivas e de tratamento.
Em síntese, alguns dos desafios impostos pelas skin tears, neste primeiro quarto de século XXI, são: a inauguração de um
termo brasileiro capaz de uniformizar este tipo de ferida, em torno de um linguajar amplamente compreensível ao ser difundido;
a implantação de protocolos institucionais de cuidado validados no Brasil e balizados por consensos internacionais; aumento
da precisão de instrumentos capazes de identificar e acompanhar a evolução das skin tears; capacitação profissional contínua
dos componentes da equipe de saúde, para que estes possam realizar o estadiamento correto das skin tears e optar pela melhor
cobertura disponível e aplicável a cada caso4; e a instrumentalização dos profissionais de enfermagem, para que sejam cada vez mais
competentes na escolha de referenciais teóricos, que possam nortear o processo de enfermagem, além, é claro, da sistematização da
assistência à pessoa com skin tear. Sobre este último desafio, creio caber a sugestão de leitura sobre a Teoria do Conforto de Katharine
Kolcaba que, apesar de ser considerada uma teoria de médio alcance, aborda questões diretamente ligadas às skin tears, já tendo sido
internacionalmente testada com relação à dor, aos danos à pele provocados pela incontinência urinária, aos perigos da imobilidade e
às suas potencialidades quando aplicada em instituições de longa permanência6.
Algumas medidas de prevenção já são amplamente difundidas na literatura, sobretudo internacional, como o banho em temperatura
morna e sem fricção, o uso de camisas de manga longa, o distanciamento seguro entre os móveis dispostos no local de internação, o
exame integral, minucioso e rotineiro do paciente, a utilização rotineira de hidratantes, a realização de mudanças de decúbito obedientes
às regras de reposicionamento no leito, o acolchoamento de dispositivos como cadeira de rodas e andadores e o treinamento contínuo da
força de trabalho envolvida no cuidado às pessoas nos extremos de vida e de seus familiares2-3. De acordo com as principais evidências
disponíveis atualmente, as coberturas contraindicadas no caso das skin tears são aquelas que tenham como características principais
serem demasiadamente aderentes, o que provocaria aumento da ruptura de pele ou, ainda, separação definitiva entre o retalho e a ferida;
e/ou cobertura incapaz de lidar apropriadamente com o excessivo exsudato sanguinolento e a dor, típicas em lesões do tipo skin tear.
Bons resultados são obtidos quando há atuação precoce por parte da equipe de enfermagem, que pode lançar mão de coberturas à base
de octilcianoacrilato, silicone, hidrocoloide, gaze impregnada com petrolato ou coberturas acrílicas ou de espuma, desde que estejam em
apresentações de baixíssima ou nenhuma aderência, sejam de fácil remoção e mantenham o controle da umidade5. Em casos de infecção,
essas coberturas quando associadas à prata, de preferência nanocristalina, podem ser bastante eficazes, naturalmente quando precedidas
de soluções salinas ou antimicrobianas mornas. Os enfermeiros não devem perder de vista a possibilidade de, em parceria com a equipe
médica, empregar analgésicos e, em último caso, recomendar tratamento cirúrgico.
Cabe ressaltar a necessidade de alternância entre as coberturas utilizadas, de acordo com o avanço do processo cicatricial e
do estadiamento identificado, de modo que a terapêutica acompanhe a evolução da ferida. Isto requer avaliações constantes por
parte da equipe de enfermagem, que deverá estar suficientemente preparada e ter a sua prática calcada nos guidelines ou bundles
internacionais vigentes. Por seu turno, estes devem prover os subsídios teóricos para que as instituições de saúde formulem seus
documentos para registro e organizem algoritmos assistenciais que possam nortear a prática profissional do seu corpo clínico.
Ainda há muito que pesquisar, aprender, ensinar, aplicar e avaliar em se tratando das skin tears. O caminho é longo. Mesmo que as
frentes investigativas tenham se expandido nos últimos trinta anos, seus frutos ainda se encontram na infância.
1. LeBlanc K, Baranoski S, Christensen D, Langemo D, Edwards K, Holloway S, et al. The art of dressing selection: a consensus statement
on skin tears and best practice. Adv Skin Wound Care. 2016; 29(1): 32-46.
2. Santos ÉI. Cuidado e prevenção das skin tears por enfermeiros: revisão integrativa de literatura. Rev Gaúcha Enferm. 2014; 35(2):
142-9.
3. Santos ÉI, Gomes AMT, Barreto EAS, Ramos RS. Evidências científicas sobre fatores de risco e sistemas de classificação das skin
tears. Rev Enferm Atual In Derme. 2013; 64: 16-21.
4. LeBlanc K, Alam T, Langemo D, Baranoski S, Campbell K, Woo K. Clinical challenges of differentiating skin tears from pressure ulcers.
EWMA Journal.2016; 16(1): 17-23.
5. Stephen-Haynes J, Callaghan R, Thota P, Wibaux A, Carty N. BeneHoldTM TASATM: a wound dressing for the management of skin tears.
Wouns UK. 2016; 12(1): 106-113.
6. Dowd T. Katharine Kolcaba: Theory of confort. In: Alligood MR, Tomey AM. Nursing theorists and their work. 7ª. ed. Maryland Heights:
Elsevier; 2010. p. 706-721.
CONSELHo EDITORIAL
Ana Luiza Soares Rodrigues
Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde pela UFF Enfermeira
do Hospital Federal da Lagoa / MS Gustavo Dias da Silva
Doutorando em Enfermagem. Professor assistente da FENF/
UERJ, RJ – Brasil
André Luiz de Souza Braga
Professor Adjunto do Departamento de Fundamentos de
Enfermagem e Administração da Escola de Enfermagem Aurora
de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense. Rio de
Janeiro, RJ
Karina Chamma Di Piero
Mestrado Profissional em Saúde da criança e da mulher pelo
Instituto Fernandes Figueira – Brasil. Especialista em Enfermagem
Dermatológica (UGF) e Estomaterapia (UERJ) – Brasil
Andrea Pinto Leite Ribeiro
Doutoranda do Programa Acadêmico de Ciências do Cuidado
em Saúde (UFF) Enfermeira do Departamento de Neonatologia
do IFF/FIOCRUZ
Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira
Phd, Professora Titular da Escola de Enfermagem Aurora de
Afonso Costa-UFF | Universidade Federal Fluminense Rio de
Janeiro Bruna Maiara Ferreira Barreto
Doutoranda em Ciências do Cuidado em Saúde pela UFF.
Professora auxiliar I do Departamento de Fundamentos de
Enfermagem e Administração da UFF
Carla Lube de Pinho Chibante
Doutoranda do Programa Acadêmico em Ciências do Cuidado
em Saúde/UFF.Rio de Janeiro/RJ
Cristina Lavoyer Escudeiro
Doutora em Enfermagem. Professora Associado II do
Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da
Universidade Federal Fluminense Rio de Janeiro, RJ
Denise Assis Corrêa Sória
Professora Associada III da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO), RJ – Brasil
Edmar Jorge Feijó
Mestre em enfermagem pela UFF/RJ. Gestor e docente do curso
de graduação em enfermagem da Universidade Salgado de
Oliveira UNIVERSO/SG – Brasil
Elenice Martins
Doutoranda do programa de Nanociências pela UFSM /RS
Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário
Franciscano/RS – Brasil
Michelle Hyczy de Siqueira Tosin
Mestre pelo Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial
pela UFF/RJ – Brasil
Érick Igor dos Santos
Doutor em Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ). Professor Assistente do Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio
das Ostras, RJ – Brasil
Javier Soldevilla Agreda
Universidade de La Rioja Logroño. La Rioja Logroño – Espanha
José Carlos Martins
Universidade de Coimbra. Coimbra – Portugal
José Verdu Soriano
Universidade de Alicante. Alicante – Espanha
Maria Celeste Dalia Barros
Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro/UNIRIO. Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Maria Marcia Bachion
Professor Titular da Universidade Federal de Goiás – Brasil
Neida Luiza Kaspary
Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa
Catarina – Brasil. Professora do Hospital de Caridade Astrogildo
de Azevedo – Brasil
Pedro Paulo Correa Santana
Mestrado em Ciências do Cuidado em Saúde pela
(UFF). Professor Assistente do curso de Enfermagem do Centro
Universitário Anhanguera de Niterói. Niterói, RJ – Brasil
Rafaela Oliveira Grillo
Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio. Psicóloga clínica e
hospitalar
Renata Miranda de Sousa
Doutoranda do Programa Acadêmico em Ciências do Cuidado
em Saúde/UFF. Rio de Janeiro/RJ
Vinicius Lino de Souza Neto.
Mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Wagner Oliveira Batista
Doutorando da Universidade Federal Fluminense (UFF), RJ –
Brasil. Professor de Educação Física
SUMÁRIO
Revista Enfermagem Atual In Derme EDITORIAL 5
9 Normas de Publicação
Revista Enfermagem Atual - In Derme
ARTIGOS
12 Fluxograma de atendimento pré-exame: ferramenta do trabalho de enfermagem na tomografia computadorizada Flowchart for pre-exam service: the nursing work tool in computed tomography
Sonia Regina Gonçalves dos Santos, Simone Cruz Machado Ferreira, Graciele Oroski Paes, Ana Karine Ramos Brum, Bruno Bompet dos Santos, Maria Lúcia Ferreira dos Santos Fernandes Filha
17 Perfil e produção científica dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPQ da área de estomaterapia Profile and production of scientific researchers with productivity grants in stomatherapy of CNPQ
Tamires Barradas Cavalcante, Moniki de Oliveira Barbosa Campos, Ana Karine da Costa Monteiro, Elaine Maria Leite Rangel Andrade, Jesusmar Ximenes Andrade
22 Conhecimento dos profissionais de enfermagem quanto à realização do banho no recém-nascido Knowledge of nursing professionals for the conduct of bath in newborn
Ylana Laíne Medeiros Lourenço Palhares, Janmilli da Costa Dantas, Francisca Marta de Lima Costa Souza, Bárbara Coeli Oliveira da Silva, Iellen Dantas Campos Verdes Rodrigues, Richardson Augusto Rosendo da Silva
29 Prevenção do câncer de mama e cérvico-uterino em idosas de um grupo de convivência Prevention of breast cancer and cervico-uterine in a group of elderly living
Fernanda de Azeredo Abreu, Fátima Helena do Espírito Santo, Carla Lube de Pinho Chibante, Thayane Dias dos Santos, Willian de Andrade Pereira de Brito
REVISÕES
35 Prevenção de queda em paciente hospitalizado e a segurança do paciente: revisão integrativa Fall prevention in hospitalized patients and patient safety: integrative review
Isabelle Andrade Silveira, Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira, Magali Rezende de Carvalho, Nelson Carvalho Andrade, Bruno Utzeri Peixoto
42 Ação antimicrobiana do fator de crescimento epidérmico em feridas: revisão integrativa Antimicrobial action of epidermal growth factor in wounds: integrative review
Fernanda Pessanha de Oliveira, Miriam Marinho Chrizóstimo, Bruna Maiara Ferreira Barreto, Euzeli da Silva Brandão, Ana Karine Ramos Brum, Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira
49 Impacto da úlcera de perna na qualidade de vida de idosos: uma revisão integrativa Impact of leg ulcer on quality of life of elderly:an integrative review
Ana Paula Cardoso Tavares, Eliane da Silva Pereira, Selma Petra Chaves Sá
RELATOS
56 Acolhimento aos familiares de vítimas de óbitos por causas externas Family hosting of victims’ death external causes
Wbiratan de Lima Souza, Cristina Lavoyer Escudeiro, Geisiane de Souza Santos, Lucimere Maria dos Santos, Eliane Ramos Pereira, Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva
61 Articulação entre ensino e pesquisa no cuidado à saúde da criança: relato de experiência Interaction between education and research in health care child: experience report
Aline Cerqueira Santos Santana da Silva, Érick Igor dos Santos
66 Esclerose múltipla: implementação do processo de enfermagem Multiple sclerosis: implementationofthe nursing process
Richardson Augusto Rosendo da Silva, Mariana Melo da Cruz Domingos, Bárbara Coeli Oliveira da Silva, Thatiane Monick de Souza Costa, Francisca Marta de Lima Costa Souza, Cintia Capistrano Teixeira Rocha
SÉRIE DE
72 Uso do nitrato de cério associado ao colágeno e alginato de cálcio no tratamento das queimaduras: série de CASOScasos Use of cerium nitrate associated with collagen and calcium alginate in burns treatment: case series
José Aldari Lima, Roberta Araújo Montana
NORMAS DE PUBLICAÇÃO
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL - IN DERME INSTRUÇÕES AOS AUTORES
A Revista Enfermagem Atual - In Derme é o órgão oficial
de divulgação da Sociedade Brasileira de Feridas e
Estética (SOBENFeE). Impressa e on-line, tem como
objetivo principal registrar a produção científica de
autores nacionais e internacionais, que possam contribuir
para o estudo, desenvolvimento, aperfeiçoamento e
atualização da Enfermagem, da saúde e de ciências afins,
na prevenção e tratamento de feridas. O desenvolvimento
do conhecimento de Enfermagem visto, principalmente,
nas últimas quatro décadas, é o resultado da somatória
dos esforços dos cientistas, teóricos e estudiosos em
Enfermagem, a fim de que a prática seja mais segura e
eficiente. Desta maneira, cabe também a esta sociedade
trazer à comunidade as descobertas científicas conseguidas
pela enfermagem, também nas seguintes seções especiais:
Saúde da Mulher, Saúde da Criança e Adolescente,
Saúde Mental, Saúde do Trabalhador e Saúde do Adulto
e Idoso. As instruções aqui descritas visam orientar os
pesquisadores sobre as normas adotadas para avaliar os
manuscritos submetidos. Os manuscritos devem destinarse exclusivamente à Revista Enfermagem Atual - In Derme,
não sendo permitida sua submissão simultânea a outro(s)
periódico(s). Quando publicados, passam a ser propriedade
da Revista Enfermagem Atual - In Derme, sendo vedada a
reprodução parcial ou total dos mesmos, em qualquer meio
de divulgação, impresso ou eletrônico, sem a autorização
prévia do(a) Editor(a) Científico(a) da Revista.
A publicação dos manuscritos dependerá da observância
das normas da Revista Enfermagem Atual - In Derme e
da apreciação do Conselho Editorial, que dispõe de plena
autoridade para decidir sobre sua aceitação, podendo,
inclusive apresentar sugestões (sem alterar o conteúdo
científico) ao(s) autor(es) para as alterações necessárias.
Neste caso, o referido trabalho será reavaliado pelo
Conselho Editorial, permanecendo em sigilo o nome do
consultor, e omitindo também o(s) nome(s) do(s) autor(es)
aos consultores. Manuscritos recusados para publicação
serão notificados e disponibilizados a sua devolução ao(s)
autor(es) na sede da Revista.
MODALIDADES DE ARTIGOS
conhecimento sobre o objeto da investigação. Deve limitarse a 4000 palavras (excluindo resumo, referências, tabelas
e figuras). As referências deverão ser atuais e em número
mínimo de 30.
ARTIGOS DE REFLEXÃO:
Consideração teórica sobre aspectos conceituais no
contexto da enfermagem. Formulação discursiva
aprofundada, focalizando conceitos ou constructo teórico
da Enfermagem ou de área afim; ou discussão sobre um
tema específico, estabelecendo analogias, apresentando
e analisando diferentes pontos de vista, teóricos e/ou
práticos. Deve conter no máximo 2500 palavras (excluindo
resumos e referências).
RELATOS DE CASO:
Descrição de pacientes ou situações singulares. O texto é
composto por uma introdução breve que situa o leitor em
relação à importância do assunto e apresenta os objetivos
do relato do(s) caso(s) em questão; o relato resumido do
caso e os comentários no qual são abordados os aspectos
relevantes. Seguidos de uma discussão a luz da literatura
nacional e internacional e conclusão. O número de palavras
deve ser inferior a 2000 (excluindo resumo, referências e
tabelas). O número máximo de referência é 15.
RELATO DE EXPERIÊNCIA:
Descrição de experiências acadêmicas, assistenciais e de
extensão na área da enfermagem dermatológica e áreas
afins. Deve conter até 2500 palavras (excluindo resumos e
referências).
NOTA PRÉVIA:
Resumos de trabalho de conclusão de curso, dissertações
ou teses. Deve ser escrito na forma de resumo expandido
estruturado contendo Introdução, Objetivos, Métodos e
Resultados Esperados.Deve limitar-se a 1000 palavras
(excluindo referências).
ARTIGOS ORIGINAIS:
CARTAS AO EDITOR:
Resultado de pesquisa. Deve limitar-se a 6000 palavras
(excluindo resumo, referências, tabelas e figuras).
São sempre altamente estimuladas. Em princípio, devem
comentar discutir ou criticar artigos publicados na Revista
In Derme, mas também podem versar sobre outros temas
de interesse geral. Recomenda-se tamanho máximo
1000 palavras, incluindo referências bibliográficas, que
não devem exceder a seis (6). Sempre que possível, uma
resposta dos autores será publicada junto com a carta.
ARTIGOS DE REVISÃO (SISTEMÁTICA OU
INTEGRATIVA):
Estudo que reúne de maneira crítica e ordenada resultados
de pesquisas a respeito de um tema específico, aprofunda o
AVALIAÇÃO PELOS PARES (PEER REVIEW)
Previamente à publicação, todos os artigos enviados à
Revista Enfermagem Atual - In Derme passam por processo
de revisão e julgamento, a fim de garantir seu padrão de
qualidade. Inicialmente, o artigo é avaliado pela secretaria
para verificar se está de acordo com as normas de publicação
e completo. Todos os trabalhos serão submetidos à avaliação
pelos pares (peer review) por pelo menos dois revisores
selecionados pelo Conselho Editorial. Os revisores fazem
uma apreciação rigorosa de todos os itens que compõem
o trabalho. Ao final, farão comentários gerais sobre o
trabalho e opinarão se o mesmo deve ser publicado. O
editor toma a decisão final. Em caso de discrepâncias entre
os avaliadores, pode ser solicitada uma nova opinião para
melhor julgamento. Quando são sugeridas modificações
pelos revisores, as mesmas são encaminhadas ao autor
correspondente.
O sistema de avaliação é o duplo cego, garantindo o
anonimato em todo processo de avaliação. A decisão sobre
a aceitação do artigo para publicação ocorrerá, sempre que
possível, no prazo de seis meses a partir da data de seu
recebimento. As datas do recebimento e da aprovação do
artigo para publicação são informadas no artigo publicado
com o intuito de respeitar os interesses de prioridade dos
autores.
Office Word, com configuração obrigatória das páginas em
papel A4 (210x297mm) e margens de 2 cm em todos os
lados, fonte Times New Roman tamanho 12, espaçamento
de 1,5 pt entre linhas. As páginas devem ser numeradas,
consecutivamente, até as Referências. O uso de negrito
deve se restringir ao título e subtítulos do manuscrito.
O itálico será aplicado somente para destacar termos ou
expressões relevantes para o objeto do estudo, ou trechos
de depoimentos ou entrevistas. Nas citações de autores,
ipsis litteris, com até três linhas, usar aspas e inseri-las
na sequência normal do texto; naquelas com mais de três
linhas, destacá-las em novo parágrafo, sem aspas, fonte
Times New Roman tamanho 11, espaçamento simples entre
linhas e recuo de 3 cm da margem esquerda. Não devem ser
usadas abreviaturas no título e subtítulos do manuscrito. No
texto, usar somente abreviações padronizadas. Na primeira
citação, a abreviatura é apresentada entre parênteses, e os
termos a que corresponde devem precedê-la.
PRIMEIRA PÁGINA:
Devem ser redigidos em português. Eles devem obedecer à
ortografia vigente, empregando linguagem fácil e precisa
e evitando-se a informalidade da linguagem coloquial.
Quando pertinente, será solicitado aos autores uma revisão
ortográfica.
Identificação: É a primeira página do manuscrito e deverá
conter, na ordem apresentada, os seguintes dados: título
do artigo (máximo de 15 palavras) nos idiomas (português
e inglês); nome do(s) autor(es), indicando, em nota de
rodapé, título(s) universitário(s), cargo e função ocupados;
Instituição a que pertence(m) e endereço eletrônico
para troca de correspondência. Se o manuscrito estiver
baseado em tese de doutorado, dissertação de mestrado
ou monografia de especialização ou de conclusão de curso
de graduação, indicar, em nota de rodapé, a autoria, título,
categoria (tese de doutorado, etc.), cidade, instituição a que
foi apresentada, e ano. Devem ser declarados conflitos de
interesse e fontes de financiamento.
As versões serão disponibilizadas na íntegra no endereço
eletrônico da In Derme (http://inderme.com.br).
SEGUNDA PÁGINA:
IDIOMA
PESQUISA COM SERES HUMANOS E ANIMAIS
Os autores devem, no item Método, declarar que a pesquisa
foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa de sua
Instituição (enviar declaração assinada que aprova a
pesquisa), em consoante à Declaração de Helsinki revisada
em 2000 [World Medical Association (www.wma.net/e/
policy/b3.htm)] e da Resolução 466/12 do Conselho Nacional
de Saúde (http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/
Reso466.pdf). Na experimentação com animais, os
autores devem seguir o CIOMS (Council for International
Organizationof Medical Sciences) Ethical Code for Animal
Experimentation (WHO Chronicle 1985; 39(2):51-6) e os
preceitos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal COBEA (www.cobea.org.br).
PREPARO DOS MANUSCRITOS
ENVIO DOS MANUSCRITOS:
Os manuscritos de todas as categorias aceitas para
submissão deverão ser digitados em arquivo do Microsoft
Resumo e Abstract: O resumo inicia uma nova página.
Independente da categoria do manuscrito - Normas de
Publicação REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014.
O Resumo deverá conter, no máximo, 200 palavra e ser
escrito com clareza e objetividade. No resumo deverão
estar descritos o objetivo, a metodologia, os principais
resultados e as conclusões. O Resumo em português
deverá estar acompanhado da versão em inglês (Abstract).
Logo abaixo de cada resumo, incluir, respectivamente, três
(3) a cinco (5) descritores e key words. Recomenda-se que
os descritores estejam incluídos entre os Descritores em
Ciências da Saúde - DeCS (http://decs.bvs.br) que contem
termos em português, inglês.
TERCEIRA PAGINA:
Corpo do texto: O corpo do texto inicia nova página, em
que deve constar o título do manuscrito SEM o nome do(s)
autor(es). O corpo do texto é contínuo. É recomendável
que os artigos sigam a estrutura: Introdução, Método,
Resultados, Discussão e Conclusões.
Introdução: Deve conter o propósito do artigo. Reunir a
lógica do estudo. Mostrar o que levou aos autores estudarem
o assunto, esclarecendo falhas ou incongruências na
literatura e/ou dificuldades na prática clínica que tornam
o trabalho interessante aos leitores. Apresentar objetivo (s).
Método: Descrever claramente os procedimentos de
seleção dos elementos envolvidos no estudo (voluntários,
animais de laboratório, prontuários de pacientes). Quando
cabível devem incluir critérios de inclusão e exclusão. Esta
seção deverá conter detalhes que permitam a replicação
do método por outros pesquisadores. Explicitar o
tratamento estatístico aplicado, assim como os programas
de computação utilizados. Os autores devem declarar que
o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição
onde o trabalho foi realizado.
Resultados: Apresentar em sequência lógica no texto,
tabelas e ilustrações. O uso de tabelas e gráficos deve ser
privilegiado.
Conclusões: Devem ser concisas e responder apenas aos
objetivos propostos. Referências: O número de referências
no manuscrito deve ser limitado a vinte (20), exceto nos
artigos de Revisão.
Referências: As referências, apresentadas no final do
trabalho, devem ser numeradas, consecutivamente, de
acordo com a ordem em que foram incluídas no texto; e
elaboradas de acordo com o estilo Vancouver. Devem ser
utilizados números arábicos, sobrescritos, sem espaço entre
o número da citação e a palavra anterior, e antecedendo a
pontuação da frase ou parágrafo [Exemplo: enfermagem1.].
Quando se tratar de citações sequenciais, os números serão
separados por um traço [Exemplo: diabetes1-3;], quando
intercaladas, separados por vírgula [Exemplo: feridas1,3,5.].
Apresentar as Referências de acordo com os exemplos:
- Artigo de Periódico: Shikanai-Yasuda MA, Sartori AMC,
Guastini CMF, Lopes MH. Novas características das endemias
em centros urbanos. RevMed (São Paulo). 2000;79(1):2731.- Livros e outras monografias: Pastore AR, Cerri GG. Ultrasonografia: ginecologia, obstetrícia. São Paulo: Sarvier; 1997.
- Capítulo de livros: Ribeiro RM, Haddad JM, Rossi P.
Imagenologia em uroginecologia. In: Girão MBC, Lima GR,
Baracat EC. Cirurgia vaginal em uroginecologia. 2a.ed. São
Paulo: Artes Médicas; 2002. p. 41-7.
- Dissertações e Teses: Del Sant R. Propedêutica das
síndromes catatônicas agudas [dissertação]. São Paulo:
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo;
1989.
- Eventos considerados no todo: 7th World Congress on
Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland.
Amsterdam: North-Holland; 1992. p.1561-5.
- Eventos considerados em parte: House AK, Levin E.
Immune response in patients with carcinoma of the colo
and rectum and stomach. In: Resumenes do 12º Congreso
Internacional de Cancer; 1978; Buenos Aires; 1978. p.135.
- Material eletrônico: Morse SS. Factors in the emergence of
infections diseases. Emerg Infect Dis [serial online];1(1):[24
screens]. Available from: http://www.cdc.gov/oncidod/eID/
eid.htm. CDI, clinical dermatology illustrated [monograph
on CD-ROM], Reeves JRT, Maibach H. CMeA Multimedia
group, producers. 2nd ed. Version 2.0. Sand Diego: CMeA;
1995.
Figuras e Tabelas: Todas as ilustrações, fotografias, desenhos,
slides e gráficos devem ser numerados consecutivamente
em algarismos arábicos na ordem em que forem citados
no texto, identificados como figuras por número e título do
trabalho. As legendas devem ser apresentadas em folha à
parte, de forma breve e clara. Devem ser enviadas separadas
do texto, formato jpeg, com 300 dpi de resolução. As tabelas
devem ser apresentadas apenas quando necessárias para a
efetiva compreensão do manuscrito. Assim como as figuras
devem trazer suas respectivas legendas em folha à parte. A
entidade responsável pelo levantamento de dados deve ser
indicada no rodapé da tabela.
COMO SUBMETER O MANUSCRITO
Os manuscritos devem ser obrigatoriamente, submetidos
eletronicamente via email: [email protected]. Os
artigos deverão vir acompanhados por uma Carta de
apresentação, sugerindo a seção em que o artigo deve
ser publicado. Na carta o(s) autor(es) explicitarão que
estão de acordo com as normas da revista e são os únicos
responsáveis pelo conteúdo expresso no texto. Declarar se
há ou não conflito de interesse e a inexistência de problema
ético relacionado ao manuscrito.
ARTIGOS REVISADOS
Os artigos que precisarem ser revisados para aceite e
publicação na Revista Enfermagem Atual - In Derme serão
reenviados por email aos autores com os comentários
dos revisores e deverá ser reencaminhado ao editor no
prazo máximo de 15 dias. Caso a revisão ultrapasse este
prazo, o artigo será considerado como novo e passará
novamente por todo processo de submissão. Na resposta
aos comentários dos revisores, os autores deverão destacar
no texto as alterações realizadas.
ARTIGOS ACEITOS PRA PUBLICAÇÃO
Uma vez aceito para publicação, uma prova do artigo
editorado (formato PDF) será enviada ao autor
correspondente para sua apreciação e aprovação final.
TAXA DE PUBLICAÇÃO
A partir de 1º de Novembro de 2015, todos os artigos aceitos
para publicação deverão pagar uma taxa de R$ 200,00.n
12
A RT I G O O R I G I N A L
Fluxograma de atendimento pré-exame: ferramenta do
trabalho de enfermagem na tomografia computadorizada
Flowchart for pre-exam service: the nursing work tool in
computed tomography
Sonia Regina Gonçalves dos Santos1 • Simone Cruz Machado Ferreira2 • Graciele Oroski Paes3 • Ana Karine Ramos
Brum4 • Bruno Bompet dos Santos5 • Maria Lúcia Ferreira dos Santos Fernandes Filha6
RESUMO
Objetivo: Descrever os caminhos que os pacientes deverão percorrer para a marcação, orientação e realização dos
exames no hospital, através do fluxograma de atendimento pré-exame. Método: Estudo descritivo-exploratório
acerca do processo de trabalho de enfermagem, com abordagem qualitativa. Realizado num hospital de Niterói, de
janeiro a dezembro de 2013, com 10 membros da equipe de enfermagem. Foi elaborado fluxograma, através da
ferramenta de software chamada BizAgi Process Modeler. Resultado: O fluxograma de atendimento pré-exame do
paciente traz a visualização gráfica e descreve as etapas do atendimento dos pacientes submetidos aos exames
de tomografia, o que envolve o processo de orientação relacionado ao exame, sendo realizado preferencialmente,
pela enfermeira. Conclusão: Com a realização do fluxograma de atendimento dos exames, foi possível identificar os
momentos deste processo de trabalho, possibilitando recomendar ações visando à sua melhoria.
Palavras-chave: Avaliação de processos; Enfermagem; Cuidados de enfermagem; Meios de contraste.
ABSTRACT
Objective: Describe the ways that patients should go to the marking, orientation and carrying out of tests at the
hospital through the pre-examination service flowchart. Method: A descriptive study about the nursing work
process with a qualitative approach. Performed in a hospital in Niteroi, from January to December 2013, with 08
members of the nursing staff. It was prepared flow chart, by calling software tool BizAgi Process Modeler. Result:
The pre-examination patient care flow chart provides a graphic display and describes the steps the care of
patients undergoing CT scans, which involves the process of examination related to orientation, being carried out
preferably by the nurse. Conclusion: With the completion of the examinations service flowchart, it was possible
to identify the moments of the work process, enabling recommend actions aimed at improvement.
Keywords: Process evaluation; Nursing; Nursing care; Contrast media.
NOTA
1
Enfermeira - UFF. Mestre pelo Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial. Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa. Universidade Federal
Fluminense. Niterói (RJ), Brasil. E-mail: [email protected]
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada de Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração. Escola de Enfermagem Aurora de Afonso
Costa. Universidade Federal Fluminense. Niterói (RJ), Brasil. E-mail: [email protected]
3
Enfermeira. Pós Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta II do Departamento de Enfermagem Fundamental. Escola de Enfermagem Anna Nery. Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ). Brasil. E-mail: [email protected]
4
Enfermeira. Pós Doutora em Enfermagem. Professora Associada do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração. Escola de Enfermagem Aurora de
Afonso Costa. Universidade Federal Fluminense. Niterói (RJ). Brasil. E-mail: [email protected]
5
Acadêmico do Curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem. Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa. Universidade Federal Fluminense. Niterói (RJ), Brasil.
E-mail: [email protected]
6
Acadêmica do Curso de Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem. Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa. Universidade Federal Fluminense. Niterói (RJ), Brasil.
E-mail: [email protected]
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
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a dLa
INTRODUÇÃO
A unidade de Tomografia Computadorizada (TC)
desempenha papel importante no desenvolvimento das
atividades assistenciais do hospital, na medida em que
confirma ou complementa os achados diagnósticos1 e para
que isso ocorra, é necessário o trabalho do enfermeiro nesta
unidade, cujo foco é desenvolver ações para organizar os
procedimentos e definir o papel da equipe de enfermagem
na TC, sem esquecer a necessidade de orientação desses
pacientes, que em sua maioria são idosos e com doenças
crônicas acompanhadas de comorbidades, dificultando a
sua trajetória na realização desse processo, que culmina
na realização do exame1.
O enfermeiro é o agente do processo de trabalho
de gerência na prática de enfermagem que coordena o
desenvolvimento do processo de cuidar, organizando o
trabalho no que se refere aos recursos humanos e materiais,
criando condições para sua realização2. Na unidade de TC,
o processo de trabalho tem a finalidade de promover a
definição mais rápida do diagnóstico e tratamento a serem
realizados através do exame de imagem e além disso,
evitar a perda de tempo dos pacientes e familiares que
muitas vezes ficam sem saber onde ir e quais orientações
devem seguir para que a suspensão do exame não ocorra.
O processo de atendimento a partir da solicitação do
exame inclui vários momentos e para facilitar o fluxo desses
pacientes dentro do hospital, foi elaborado através da
ferramenta de software chamada BizAgi Process Modeler3, o
fluxograma que representa o percurso dos pacientes desde o
momento da autorização do exame, incluindo as orientações
para sua realização e o procedimento no dia agendado.
O fluxograma é uma ferramenta de gestão importante
no conhecimento das etapas do processo que serão
visualizadas e assim, poderá contribuir com a padronização
e melhorias no atendimento, visando garantir a agilidade,
segurança e eficiência da assistência dos pacientes
submetidos aos exames de tomografia computadorizada.
É importante ressaltar que a segurança do paciente não
deve estar apenas focada numa assistência livre de danos,
mas numa assistência de qualidade, no momento certo,
baseada na melhor evidência científica e nas necessidades
integrais e individuais, tanto do paciente como de sua
família4. A falta de informações ou discrepâncias devem ser
abordadas e resolvidas antes do inicio do procedimento5.
Os enfermeiros que atuam em unidades que expressam
no seu cotidiano a evolução tecnológica da saúde, como os
exames de diagnósticos por imagem, estão inseridos numa
realidade que exige um crescente número de profissionais,
cientificamente preparados, que atuem com uma visão
humanizada e interdisciplinar, buscando qualidade no
atendimento e excelência nos resultados6. O conhecimento
da tecnologia, dos meios de contraste e seus efeitos, bem
como a competência para agir em situações de emergência
são fundamentais para o sucesso na realização de exames
por imagem1.
Conhecer a área de enfermagem implica compreender
seus múltiplos agentes e as articulações com as demais
práticas de saúde. Um dos aspectos importante são os
instrumentos materiais e intelectuais; saberes técnicos,
que informam e fundamentam as ações realizadas, nas
quais as intervenções de enfermagem estão relacionadas
a um trabalho reflexivo para respeitar e reconhecer as
particularidades do paciente, atuando sempre de acordo
com ações de promoção, prevenção e recuperação da
saúde7.
O enfermeiro é o organizador do trabalho da sua
equipe, tendo por finalidade atender ao usuário, à equipe
e à instituição, além do seu próprio aperfeiçoamento, para
qualificar a assistência que presta e a gerência do cuidado8.
O trabalho de enfermagem em equipe é desenvolvido e,
quando há o envolvimento da equipe multiprofissional,
através da comunicação, diálogo e troca de informações
mais permanentes, esse trabalho apresenta-se como
coletivo e cooperativo. Esse tipo de relação entre os
diferentes grupos profissionais está articulado às formas
de organização de trabalho, formas de gestão e estilo
estabelecido9.
O fluxograma tem a visualização gráfica e descreve
as etapas do atendimento dos pacientes submetidos
aos exames de tomografia e o processo de trabalho de
todos os profissionais envolvidos nesse atendimento.
Os encaminhamentos, os retornos e as orientações,
possibilitam a organização da assistência a esses pacientes
e familiares10.
Nesta perspectiva, o objetivo do trabalho é descrever
os caminhos que os pacientes deverão percorrer para a
marcação, orientação e realização dos exames no hospital,
através do fluxograma de atendimento pré-exame. Essa
ferramenta proporciona segurança para a informação
dentro da instituição e auxilia na definição do processo
de trabalho de cada membro da equipe envolvido na
realização desse processo.
MÉTODO
Trata-se de um estudo qualitativo, do tipo descritivoexploratório acerca do processo de trabalho de enfermagem,
que constitui parte do produto de dissertação do Mestrado
Profissional Enfermagem Assistencial, da Universidade
Federal
Fluminense,
intitulada
“Recomendações
Operacionais para o Serviço de Enfermagem na Tomografia
Computadorizada: subsídios para a organização do
processo de trabalho”.
A pesquisa qualitativa responde a questões muito
particulares, pois se preocupa, nas ciências sociais, com
um nível de realidade que não pode ser quantificado,
trabalhando assim, com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos
à operacionalização de variáveis11.
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13
14
Santos SRG, Ferreira SCM, Paes GO, Brum AKR, Santos BB, Filha MLFSF
Já o estudo exploratório, permite ao investigador
aumentar sua experiência em torno de um determinado
problema, que consiste em explorar tipicamente a primeira
aproximação de um tema e visa maior familiaridade em
relação a um fato ou fenômeno. Também, em se tratando
de estudo descritivo, caracteriza-se pela necessidade de
se explorar uma situação não conhecida, da qual se tem
necessidade de maiores informações12.
O estudo foi desenvolvido no Serviço de Radiologia do
Hospital Universitário Antônio Pedro e tem como produto
um fluxograma que objetiva representar o percurso do
paciente no setor de Tomografia Computadorizada, desde
o trajeto do local aonde o paciente vai para autorizar
seu exame até a orientação de enfermagem acerca do
procedimento e da realização dele.
São sujeitos deste estudo os profissionais de enfermagem
lotados no setor de Tomografia Computadorizada, inseridos
no processo de trabalho coletivo desenvolvido. Esta equipe
é composta por dois enfermeiros, três técnicos e cinco
auxiliares de enfermagem, totalizado dez profissionais.
Ressalta-se que a compreensão do fluxo de atendimento
deste setor como importante ferramenta de trabalho da
equipe de enfermagem permite que o estudo ocorra dentro
do contexto em que se situa.
O processo de coleta desenvolveu-se em duas fases,
em que na primeira, utilizou-se a observação sistemática
direta e a aplicação da técnica da vinheta e na segunda, a
construção dos fluxogramas de atendimento, culminando
nas recomendações operacionais para a equipe de
enfermagem. Essa avaliação foi realizada através do
instrumento elaborado pela pesquisadora.
Durante a observação de campo, a partir de um roteiro,
dispôs-se da colaboração dos sujeitos através da descrição
das ações desenvolvidas no processo de trabalho do setor,
enquanto através da técnica da vinheta foi possível elaborar
as ações de enfermagem em cada etapa do atendimento do
exame de tomografia, já que essa consiste em descrições
breves de eventos, ou situações nas quais os sujeitos são
solicitados a reagir, podendo ser fictícias ou reais, mas
são sempre estruturadas de modo a eliciar informações
sobre as percepções, opiniões ou conhecimentos dos
respondentes sobre algum fenômeno estudado13.
Mediante aos dados qualitativos obtidos na observação
do processo de trabalho e nas falas dos membros da
equipe de enfermagem, construiu-se um fluxograma de
atendimento pré-exame, que representa as recomendações
operacionais para a equipe de enfermagem na tomografia.
Para construção do fluxograma de atendimento dos
pacientes na tomografia computadorizada, utilizou-se o
software denominado BizAgi Process Modeler.
Levando em consideração as questões ético-legais,
este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), da
Universidade Federal Fluminense, sendo aprovado em 05
de novembro de 2013, com CAAE nº 21834113.2.0000.5243
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
e Parecer nº 447.358. Após aprovação, os sujeitos abordados
receberão informações pertinentes ao estudo, conforme
Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a resolução do COFEN n° 211/98, que
destaca entre outras funções do enfermeiro: planejar,
organizar, supervisionar, executar e avaliar todas as
atividades de enfermagem em pacientes submetidos
à radiação ionizante14, apreendeu-se a necessidade
de padronizar as atividades realizadas na unidade de
TC, visando a organização do trabalho, coordenação
das atividades e o gerenciamento da assistência de
enfermagem.
Sendo construído um fluxograma para informação
do paciente e seus familiares no hospital, desde a
autorização dos exames de imagem, até a sua realização,
com a finalidade do cuidar e suprir as necessidades do
usuário. Caracterizando a atuação do enfermeiro, que faz
parte desse processo e tem como finalidade principal a
assistência direta ao paciente e suas necessidades.
O produto construído a partir dos resultados e discussão
dos dados desta pesquisa foi denominado “Recomendações
Operacionais para o Serviço de Enfermagem na Tomografia
Computadorizada”, que é constituído pelos fluxogramas de
atendimento ao paciente na Tomografia e descrição das
ações de enfermagem, explicitando sua relação com a
segurança do paciente.
Assim, ao ser discutido o processo de trabalho da
equipe de enfermagem, verificou-se a necessidade de
informação do paciente e seus familiares no hospital, desde
a autorização dos exames de imagem até a sua realização.
Nessa perspectiva, foram construídos os fundamentos
que serviram de base para a organização do trabalho de
enfermagem na TC e para a construção das recomendações
operacionais para o serviço de enfermagem. Através dos
resultados obtidos, verificou-se a necessidade da melhoria
do fluxo de informações para os pacientes e familiares que
utilizam nosso hospital.
Os fluxogramas foram elaborados e são descritas
claramente a sequência do processo assistencial do
paciente dentro do hospital, abrangendo todas as fases do
atendimento em todas as fases do exame.
O fluxograma de atendimento dos pacientes na
tomografia computadorizada é composto por: Fluxograma
de atendimento pré-exame; Fluxograma de atendimento
no dia do exame de tomografia Parte I, com o uso do
contraste e Parte II, sem o uso de contraste; e Fluxograma
de atendimento pós-exame.
Nas ações de enfermagem está incluído o cuidado
direto ao paciente, as orientações para a realização do
exame, as atividades administrativas e a organização do
ambiente.
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Passo a passo do fluxograma do Pré-exame
Central de regulação/ ambulatório:
O paciente ou seu familiar leva o pedido do exame para
ser autorizado, após a autorização é realizada a marcação
do exame e ele é encaminhado ao setor de tomografia para
receber as orientações.
Guichê de marcação/ambulatório:
O paciente ou seu familiar leva o pedido autorizado ao
guichê do ambulatório para marcar o dia do exame. Após a
marcação, ele é encaminhado ao setor de radiologia para
receber as orientações para realização do exame.
Após a elaboração das “Recomendações Operacionais
para o Serviço de Enfermagem na Tomografia
Computadorizada”, a equipe mostra-se mais atenta aos
cuidados e as orientações fornecidas aos pacientes e
o envolvimento da equipe multiprofissional facilita a
realização dos exames com maior segurança.
Pode-se dizer que ainda há alguma resistência de
servidores de enfermagem, quando são remanejados para
o setor, por não conhecer o documento com as orientações,
mas ao tomarem ciência do documento e ter a orientação
do enfermeiro, conseguimos dar andamento a todas as
fases da realização do exame.
No setor de tomografia, o paciente ou seu familiar é
encaminhado à sala de recepção da tomografia, onde é
recepcionado na sua chegada à unidade e lhe é fornecido
o termo de consentimento informado para ser preenchido
por ele, além de informar quanto ao preparo necessário
para a realização do procedimento, também é orientado,
sobre o caso do paciente necessitar da presença do
anestesista durante o exame ou sobre a suspensão das
medicações que possam interferir no exame. Se necessário,
é fornecida a medicação preventiva das reações adversas,
em caso de apresentar algum tipo de alergia, sempre com
ciência do residente do plantão.
Os pacientes agendados são informados da prioridade
dos pacientes internados para a realização dos exames; da
necessidade de fazer o jejum de três horas ou oito horas,
no caso de necessidade da presença do anestesista durante
o exame; da necessidade de trazer os exames de ureia e
creatinina, importantes para esclarecer a função renal
deste paciente (caso necessitem do uso de contraste), e da
necessidade de seguir as orientações feitas para o exame.
São também escritas, pela enfermeira, recomendações
no Termo de Consentimento Informando:
Que deverá chegar ao local do exame meia hora antes
do horário marcado, para cadastrar o exame no balcão do
serviço de radiologia e, depois, ser encaminhado à sala de
recepção do exame.
Que deverá trazer exames de ureia e creatinina, no
caso de necessidade do uso do contraste, com validade do
exame até quatro meses.
Que deverá fazer jejum de três horas para realização
do exame, mas não é pra vir em jejum prolongado, pois os
pacientes internados tem prioridade.
O paciente retorna com o pedido e as orientações para
casa, ciente de que no dia do exame deverá estar munido dos
exames de sangue necessários e cumprindo as orientações
recebidas. Sempre após a essas orientações, é confirmado o
entendimento delas para o paciente ou seu familiar. No caso
do paciente ou familiar não saber informar todas as respostas,
ele é aconselhado a retornar 24 horas antes do dia marcado
para o exame, para receber as instruções. Ele também é
informado sobre a realização e tempo previsto da tomografia.
Figura 1. Fluxograma de atendimento pré-exame. Rio de Janeiro, março,
2014. Legenda:
Evento de fim,
Evento de Início,
Decisões ,
Tarefa,
Evento intermediário ,
Objeto de dados (documentos)
Com a implantação dessa ferramenta, as orientações
e a assistência de enfermagem ficaram definidas,
proporcionando, junto com o fluxograma pré-exame
elaborado, a redução da suspensão dos exames por falta
de preparo adequado para tal, o esclarecimento quanto à
necessidade do fornecimento dos exames necessários para
a realização da tomografia e a observação e prevenção dos
eventos adversos, pela enfermagem; e no caso de reações
adversas ocorrerem, o atendimento com mais segurança.
A elaboração do fluxograma aponta para reflexões
sobre a qualidade da assistência, observação e prevenção
dos eventos adversos, além de sua utilização como
instrumento para a organização e qualidade do serviço.
Essa ferramenta proporciona segurança para a
informação do paciente e familiar dentro da instituição
e auxilia na definição do processo de trabalho de cada
membro envolvido, evitando desgaste e perda de tempo
desses pacientes e profissionais. A equipe trabalha de
maneira mais organizada e em conjunto com todos os
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Santos SRG, Ferreira SCM, Paes GO, Brum AKR, Santos BB, Filha MLFSF
membros que participam da marcação, realização e
orientação no pré-exame.
A literatura ressalta a importância do fluxograma
visando as idas e vindas dos pacientes e seus familiares
nas barreiras e percursos em busca do atendimento10,
identificando os problemas no processo de trabalho em
relação às pessoas envolvidas.
Num dos textos, é colocado que a gerência é uma
tarefa coletiva de todos os trabalhadores e a modificação
no processo de trabalho só ocorrerá quando tiver por
referência o usuário e a prioridade de seus interesses8,
para garantir o trabalho proposto na realização das tarefas
idealizadas.
CONCLUSÃO
O fluxograma produzido através deste estudo descreve
os caminhos do paciente dentro da instituição, organiza o
processo de trabalho e propõe a efetividade do atendimento
e ainda, colabora para o êxito nos atendimentos, a partir
do detalhamento das funções específicas de descrição,
marcação, orientação e realização dos exames na
tomografia.
A organização do processo de trabalho de enfermagem
na tomografia computadorizada, através do fluxograma
de atendimento, reduziu os fatores de risco e auxiliou na
segurança do paciente durante a realização dos exames.
As melhorias no atendimento, na otimização e na não
suspensão dos exames proporcionam maior agilidade e
definição do tratamento e diagnóstico desses pacientes, e
podem ser observadas com a resolução das necessidades
deles e com a reorganização do processo de trabalho,
gerando assim, mudanças desde o acesso à unidade até a
orientação para realização do exame.
A busca por melhores práticas do cuidado tem papel
importante nas intervenções e no reconhecimento dos
agravos e pode ser observada pelo processo educativo
constante. Mediante a isso, este trabalho contribui e
facilita também para a orientação dos funcionários que
atuam na unidade, que são remanejados, e dos alunos que
desenvolvem suas atividades no setor, além de ajudar a
equipe de Educação Permanente no treinamento dos
funcionários recém-admitidos.
.
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A RT I G O O R I G I N A L
Perfil e produção científica dos bolsistas de produtividade
em pesquisa do CNPQ da área de estomaterapia
Profile and production of scientific researchers with
productivity grants in stomatherapy of CNPQ
Tamires Barradas Cavalcante1 • Moniki de Oliveira Barbosa Campos2 • Ana Karine da Costa Monteiro3 • Elaine Maria
Leite Rangel Andrade4 • Jesusmar Ximenes Andrade5
RESUMO
Este estudo teve como objetivo identificar o perfil e a produção científica dos bolsistas produtividade em pesquisa
do CNPq da área de Estomaterapia no triênio 2010-2012. Estudo descritivo, transversal e quantitativo. Para a
coleta de dados, no mês de maio de 2014, preencheu-se a partir dos currículos Lattes, um instrumento sobre: sexo,
estado de procedência, instituição de formação, categoria administrativa de atuação, tempo de formação, tempo de
doutoramento, categoria profissional, classificação da bolsa, produção científica de artigos publicados em periódicos
e seus respectivos Qualis. Foram identificados 16 bolsistas e a maioria, 12 (75%), era do sexo feminino e da região
sudeste, 9 (56,3%). O tempo médio de formação e de doutoramento foi respectivamente 33,3 e 16,4 anos. Quanto
à instituição de formação e a categoria administrativa da instituição prevaleceu a estadual, respectivamente, 8
(50%) e 11 (68,8%). Entre os bolsistas, predominou a Enfermagem, 13 (81,3%), e bolsas PQ-2, 8 (50%). Em média,
os bolsistas publicaram 24,7 (DP= 14,9) artigos sobre temáticas gerais e 2,5 (DP= 5,3) na área de Estomaterapia.
Estudos dessa natureza são necessários para verificar o que tem sido produzido pela Estomaterapia.
Palavras-chave: Indicadores de produção científica; Enfermagem; Indicadores bibliométricos.
ABSTRACT
This study aimed to identify the profile and scientific production of researchers with productivity grants of CNPq
in stomatherapy in the 2010-2012 triennium. Descriptive, cross-sectional quantitative study. Data collection
was realized through the lattes curriculum in may 2014,from filling out an instrument about: gender, state of
origin, training institution, formation time, doctoral time, professional category, classification of grant, scientific
production of published journals and their respective Qualis. Were identified 16 recipients of grants and most of
12 (75%) was female and of the southeast region (56.3%). Average training and doctoral time was respectively
33.31 and 16.44 years. As training institution and the administrative category of institution prevailed statewide,
respectively 8 (50%) and 11 (68.8%). Among the recipients of grants, prevailed nursing 13 (81.3%) and grant 2
category (50%). In average the grants’ recipients published 24,7 (SD=14,9) articles about general topics and 2,5
(SD=5,3) in stomatherapy area. Such studies are necessary to verify what has been produced in stomathrerapy.
Keywords: Scientific production indicators; Nursing; Bibliometric indicators.
NOTA
¹ Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Teresina, Piauí, Brasil. E-mail: [email protected]
² Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Teresina, Piauí, Brasil. E-mail: [email protected]
³ Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Teresina, Piauí, Brasil. E-mail: [email protected]
4
Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP). Docente da Universidade Federal do Piauí – (UFPI).
Teresina, Piauí, Brasil. E-mail: [email protected]
5
Doutor pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA/USP. Docente da Universidade Federal do Piauí – (UFPI). Teresina,
Piauí, Brasil. E-mail: [email protected]
Autor Responsável: Tamires Barradas Cavalcante. E-mail: [email protected]
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Cavalcante TB, Campos MOB, Monteiro AKC, Andrade EMLR, Andrade JX
INTRODUÇÃO
No Brasil, a produção científica está em expansão,
em 2002 o país ocupava o 17° lugar do Ranking mundial
em número de artigos científicos publicados e em 2012
passou a ser o 13° lugar. Na América Latina, o Brasil lidera
o Ranking, com 53.083 artigos científicos publicados em
2012 pelos pesquisadores brasileiros1.
Vários fatores podem explicar essa expansão, entre eles
a criação do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), na
década de 50, que possibilitou formação de pesquisadores
e as bolsas produtividade em pesquisa (PQ), criadas
em 1976, que valorizam aqueles pesquisadores que se
destacam pela sua produção científica. O perfil de bolsistas
produtividade em pesquisa tem interessado a comunidade
cientifica2-3.
Na literatura nacional, observa-se preocupação quanto
à caracterização dos bolsistas e sua produção científica em
diversas áreas da saúde. Na área médica, pesquisadores de
Nefrologia e Urologia, bem como da Pediatria, analisaram
os bolsistas produtividade do CNPq quanto às variáveis:
sexo, instituição, tempo de doutoramento, artigos
publicados e orientação de alunos de graduação, mestrado
e doutorado4-5. Na Odontologia, pesquisa semelhante
analisou o perfil dos bolsistas também segundo critérios de
classificação no CNPq (1A a 1D e 2) e quantidade de artigos
publicados com os respectivos Qualis, livros e capítulos
de livros6. Na Enfermagem, estudo do perfil de bolsistas
produtividade em pesquisa do CNPq verificou número
reduzido desses pesquisadores, principalmente quando
comparados ao número de bolsas por região do país e por
estados. As variáveis do estudo estavam relacionadas à
caracterização sociodemográfica e curricular dos bolsistas7.
A Estomaterapia é uma especialidade jovem, nascida em
1961, nos Estados Unidos da América. No Brasil, somente
em 1990 o primeiro curso foi instituído. Em formato de
pós-graduação latu sensu ou extensão da enfermagem,
consiste no estudo do cuidado a pessoas com feridas
agudas, estomas e incontinências8.
Na área de Estomaterapia, não foram encontradas
pesquisas sobre o perfil e produção científica dos bolsistas
produtividade em pesquisa. Esse tipo de pesquisa pode
configurar uma ferramenta importante ao permitir
entender, observar e analisar as tendências e perspectivas
da produção científica nessa área, considerada jovem.
Diante disso, o objetivo deste estudo foi identificar o
perfil e a produção científica dos bolsistas produtividade
em pesquisa do CNPq da área de Estomaterapia.
METODOLOGIA
Trata-se de estudo descritivo, transversal e quantitativo,
realizado no mês de maio de 2014.
Fizeram parte do estudo todos os (n=16) bolsistas
produtividade em pesquisa do CNPq da área de
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Estomaterapia, com bolsas ativas no triênio 2010-2012.
Para localizá-los foi realizada busca por assunto dos
currículos na plataforma Lattes utilizando a palavra-chave
“Estomaterapia”, com filtro para bolsistas produtividade
do CNPq. Essa plataforma é um “conjunto de sistemas
computacionais do CNPq que compatibiliza e integra
as informações em toda interação da Agência com seus
usuários” e seu objetivo é aprimorar a qualidade dessas
informações e racionalizar o trabalho de estudantes e
pesquisadores no seu preenchimento, nela é possível
acessar o Currículo Lattes, indispensável aos pesquisadores9.
Para coleta de dados, preencheu-se, a partir dos
currículos Lattes, um instrumento sobre: sexo, estado
de procedência, instituição de formação, categoria
administrativa de atuação, tempo de formação, tempo
de doutoramento, categoria profissional, classificação
da bolsa, produção científica de artigos publicados em
periódicos e seus respectivos Qualis.
De posse das informações, foi construído um dicionário
de dados e realizada dupla digitação em planilhas do
aplicativo Microsoft Excel. Após, os erros foram corrigidos
pelo processo de validação e os dados exportados e
analisados no software SPSS (Statistical Package for
Social Science) versão 18.0. Estatísticas descritivas foram
realizadas do tipo: média, desvio padrão, frequência
absoluta e percentual. Os resultados apresentados por
meio de tabelas e gráficos.
RESULTADOS
Na Tabela 1 está presente a análise descritiva
dos dados sociodemográficos e de formação dos
participantes do estudo. Foram identificados dezesseis
bolsistas produtividade em pesquisa do CNPq da área
de Estomaterapia no triênio de 2010-2012 e a maioria
era do sexo feminino, 12 (75%), e da região sudeste, 9
(56,3%). O tempo médio de formação e de doutoramento
foi respectivamente 33,3 e 16,4 anos. Quanto à instituição
de formação e a categoria administrativa da instituição
prevaleceu a estadual, respectivamente, 8 (50%) e 11
(68,8%). Entre os bolsistas, predominou a categoria
profissional de Enfermagem, 13 (81,3%), e bolsas PQ-2, 8
(50%) (Tabela 1).
Em média, os bolsistas produtividade em pesquisa
publicaram 24,7 (DP= 14,9) artigos sobre temáticas gerais
e 2,5 (DP= 5,3) na área de Estomaterapia em periódicos
Qualis A2 7,2 (DP=5,6), B2 5,8 (DP=4,9) e B1 4,2 (DP=4,9).
A Figura 1 ilustra a relação entre os Qualis dos periódicos
cujas pesquisas dos bolsistas de produtividade foram
publicadas e as suas respectivas categorias de bolsa. Entre
os bolsistas produtividade em pesquisa das categorias de
bolsa 1C e 1B prevaleceu o Qualis A1 e A2 (Figura 1).
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C NI PGq O
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Tabela 1. Perfil sociodemográfico e profissional dos bolsistas
produtividade em pesquisa do CNPq na área de Estomaterapia triênio
2010-2012. Teresina, PI, Brasil, 2014.
CARACTERÍSTICAS
x i(s)ii
min–
max
n
%
4
12
25,0
75,0
9
5
2
56,3
31,3
12,5
17-44
-
-
11-21
-
-
5
8
3
31,3
50,0
18,8
4
11
1
25,0
68,8
6,3
13
3
81,3
18,8
2
4
2
8
12,5
25,0
12,5
50,0
Sexo
Masculino
Feminino
Região
Sudeste
Nordeste
Sul
Tempo de Formação
Tempo de Doutoramento
33,3
(8,1)
16,4
(3,6)
Instituição de Formação
Federal
Estadual
Particular
Categoria administrativa da instituição
Federal
Estadual
Particular
Categoria Profissional
Enfermagem
Medicina
Categoria/Nível da Bolsa
1B
1C
1D
2
i
Média
ii
Desvio Padrão
DISCUSSÃO
Este estudo apresenta resultados importantes sobre o
perfil e a produção científica dos bolsistas produtividade em
pesquisa do CNPq na área da Estomaterapia, especialidade
jovem, mas em ascensão no Brasil10.
Para se tornar bolsista produtividade em pesquisa
do CNPq, alguns critérios devem ser atendidos como:
possuir título de doutor ou perfil científico equivalente;
ser brasileiro, ou estrangeiro com situação regular no País;
dedicar-se às atividades de seu pedido de bolsa e poderá
ser aposentado, desde que possua atividades acadêmicocientíficas oficialmente vinculadas às instituições de
ensino e pesquisa11.
Em relação aos bolsistas deste estudo, a maioria, 12
(75%), era do sexo feminino. Essa constatação está de
acordo com a crescente presença feminina, verificada
no período de 1990 a 2010 pelo CNPq, em pesquisas
científicas. Isso pode ter ocorrido devido ao aumento de
pessoas do sexo feminino em escolas e faculdades, se
comparado ao sexo masculino12.
Houve maior concentração de bolsistas na região
sudeste, 9 (56,3%). Esta região concentra maior número
de programas e cursos de Pós-graduação, com incentivo
à produção científica. Resultados similares foram
encontrados em estudos envolvendo diversas categorias
profissionais da área da saúde13-15.
Dentre a categoria profissional, destacou-se a
Enfermagem, 13 (81,3%). Essa profissão se expande e
se fortalece como ciência, tecnologia e inovação, que
vem sendo consolidada pela ascensão e qualidade dos
Programas de Pós-graduação stricto senso, aumento de
publicações qualificadas e qualidade das revistas desta
área. A expansão de cursos stricto senso representa o
quantitativo de 1,7% do total de cursos de pós-graduação
brasileiros, e 9,7% desses são da área de Ciências da
Saúde16.
A comunicação com a equipe médica tem papel
importante no trabalho do estomaterapeuta. O
planejamento pré operatório e a demarcação do local
do estoma, por exemplo, é imprescindível para uma boa
localização, o que permite a aderência do dispositivo e fácil
visualização pelo paciente. A atuação multiprofissional,
incluindo enfermeiro estomaterapeuta, assistente social,
psicólogo, nutricionista, cirurgião, médico assistente,
dentre outros visa uma boa atuação e comunicação com
o paciente e a família, ao prestar assistência de qualidade
e orientações que estimulem o autocuidado e a prevenção
de complicações17.
Figura 1: Qualis dos periódicos nos níveis/ categorias de bolsa dos
bolsistas produtividade em pesquisa da área de Estomaterapia do
CNPq no triênio 2010-2012. Teresina, PI, Brasil, 2014.
Quanto à categoria de bolsa, predominou o nível PQ-2, 8
(50%). Resultado semelhante foi encontrado em diferentes
estudos do perfil de bolsistas produtividade em pesquisa
do CNPq (55,7%) na área médica e (48,3%) na saúde
coletiva 14,18. Vale ressaltar que as bolsas são oferecidas
conforme atendimento aos critérios pré-estabelecidos
pelo CNPq e a classificação, enquadramento e progressão
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Cavalcante TB, Campos MOB, Monteiro AKC, Andrade EMLR, Andrade JX
do bolsista produtividade em pesquisa por categoria
e nível é feita por Comitês de Assessoramento (CA). Os
critérios de qualificação da bolsa são: a produção científica
do candidato, formação de recursos humanos em nível
de Pós-Graduação, contribuição científica e tecnológica
para inovação, coordenação ou participação principal em
projetos de pesquisa e participação em atividades editoriais
e de gestão científica e administração de instituições e
núcleos de excelência científica e tecnológica11.
O tempo médio de formação e de doutoramento foi
respectivamente 33,3 e 16,4 anos. Existem requisitos
mínimos para o enquadramento dos pesquisadores nos
níveis/categorias das bolsas; primeiramente, pesquisadores
da categoria 1 necessitam ter no mínimo oito anos de
doutorado por ocasião da implementação da bolsa, já
para o pesquisador 2, esse período se reduz a três anos,
observando-se que a média de tempo de doutoramento
dos pesquisadores se enquadrou ao preconizado pelo
CNPq.
Em média, os bolsistas produtividade em pesquisa
publicaram 24,7 (DP= 14,9) artigos sobre temáticas gerais
e 2,5 (DP= 5,3) na área de Estomaterapia. O aumento da
produção científica se deve a expansão dos cursos de
Pós-graduação, a ampliação da indexação de revistas em
bases nacionais e internacionais e ao aumento dos índices
censiométricos. Em 2005, a Enfermagem passou de 0,23%
da produção científica brasileira para 1,87%, em 2010, com
crescimento relativo de 713% àquele ocorrido nas Ciências
Sociais e Medicina18.
A qualidade da produção intelectual dos pesquisadores
é avaliada, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES), também conforme
o Qualis do periódico publicado, que é dividido em oito
estratos em ordem decrescente de valor: A1, A2, B1, B2, B3,
B4, B5 e C19.
predominância de artigos em periódicos Qualis B20,21. Vale
lembrar que é importante relacionar os vieses da revista
causados pelo produtivismo aos critérios não padronizados
de avaliação editorial e, por isso, adotar mais critérios de
avaliação na produção de cada pesquisador como, por
exemplo, o índice h, que é o impacto acadêmico pelo
número de citações das publicações22.
O nível A corresponde a candidatos com excelência
continuada na produção científica e na formação de recursos
humanos, que liderem grupos de pesquisa consolidados.
Os níveis B e C além de contribuírem para a produção de
ciência, tecnologia e recursos humanos, contribuem nas
atividades de pesquisa das suas instituições e/ou agências
de fomento à pesquisa. Os pesquisadores com bolsa nível
2 são avaliados com ênfase nos trabalhos publicados e
orientações, ambos referentes aos últimos cinco anos10.
CONCLUSÃO
O presente estudo descreveu o perfil e a produção
científica dos bolsistas de Produtividade em Pesquisa do
CNPq na área de estomaterapia no triênio 2010-2012.
Identificou-se predomínio de bolsistas do sexo feminino,
da área de Enfermagem, e bolsas PQ-2, concentrados na
região sudeste. Em média, os bolsistas publicaram 24,7
(DP= 14,9) artigos sobre temáticas gerais e 2,5 (DP= 5,3)
na área de Estomaterapia.
Tem-se como limitação do estudo a única fonte de
coleta dos dados, que foi o Currículo Lattes. Não se verificou
a veracidade de informações dos autores, pela limitação
de sua natureza exploratória e restrições quanto às
atualizações das informações feitas por eles. Vale lembrar,
que o Currículo Lattes é considerado confiável para a
caracterização dos pesquisadores uma vez que serve como
critério nas avaliações de bolsas e na arrecadação de
financiamento em editais de pesquisa.
A comunidade científica busca continuamente
publicação em periódicos indexados, sobretudo aqueles
com Qualis A e B, nacionais e internacionais5. Os resultados
deste estudo ratificaram essa afirmação, pois em média,
os bolsistas produtividade em pesquisa publicaram 24,7
(DP= 14,9) artigos sobre temáticas gerais e 2,5 (DP= 5,3)
na área de Estomaterapia em periódicos Qualis, sendo A2,
7,2 (DP=5,6); B2, 5,8 (DP=4,9) e B1, 4,2 (DP=4,9). Portanto,
o produto das pesquisas dos bolsistas produtividade em
pesquisa dessa área, na maioria das vezes, é publicado
em periódicos científicos de boa qualidade. O aumento
da publicação em periódicos científicos Qualis A1, A2 e B1
se deve às exigências atuais dos cursos de Pós-graduação
stricto sensu ao reconhecimento da qualificação das
revistas da Área de Enfermagem, bem como ao processo
de internacionalização da ciência brasileira.
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com.
2.
Entre os bolsistas produtividade em pesquisa da
área de Estomaterapia das categorias de bolsa 1C e 1B
prevaleceu o Qualis A1 e A2. Estudos que utilizaram a
mesma metodologia na área da Enfermagem e de medicina
mostraram, para a mesma classe de pesquisadores, a
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REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
Estudos dessa natureza são necessários para
verificar o que tem sido produzido, além de permitir
análise e reflexão sobre a qualidade das publicações.
No entanto, ainda são escassos esses estudos no âmbito
da Enfermagem, logo, é importante estimular pesquisas
que tracem o perfil dos pesquisadores desta categoria
profissional, não somente em Estomaterapia, mas nas
mais diversas áreas temáticas.
REFERÊNCIAS
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Conhecimento dos profissionais de enfermagem quanto
à realização do banho no recém-nascido
Knowledge of nursing professionals for the conduct of bath in
newborn
Ylana Laíne Medeiros Lourenço Palhares1 • Janmilli da Costa Dantas2 • Francisca Marta de Lima Costa Souza3 •
Bárbara Coeli Oliveira da Silva4 • Iellen Dantas Campos Verdes Rodrigues5 • Richardson Augusto Rosendo da Silva6
RESUMO
Objetivo: Investigar o conhecimento dos técnicos de enfermagem acerca do banho no recém-nascido. Metodologia:
Estudo descritivo-exploratório e observacional, com abordagem quantitativa, desenvolvido com 15 técnicos de
enfermagem em um hospital universitário na cidade de Santa Cruz-RN. Os dados foram coletados através da
observação sistemática e de questionário semiestruturado, analisados através do Excel. A pesquisa foi aprovada pelo
Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) sob CAAE nº 28721814.8.0000.5568. Resultados: O conhecimento sobre o banho
veio da prática diária. Eles reconhecem a importância do banho para a higienização. Realizam o banho de aspersão
e poucos oferecem o banho humanizado. Conclusões: Profissionais necessitam de capacitações direcionadas ao
banho humanizado do recém-nascido para sistematizar a sua prática e desenvolver uma assistência.
Palavras-chave: Recém-nascido; Humanização da Assistência; Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: To investigate the knowledge of the nursing staff about the bath in the newborn and the techniques
performed by nurses during the course of the bath in the newborn, and apply a checklist for analyzing the
assistance while bathing RN. Methodology: An exploratory descriptive and observational study with a quantitative
approach, developed with 15 nursing technicians in a university hospital in the city of Santa Cruz-RN. Data were
collected through systematic observation and semi-structured questionnaire, analyzed using Excel. The study was
approved by the Research Ethics Committee (CEP) under CAAE No 28721814.8.0000.5568. Results: Knowledge
of the bath came from daily practice. They recognize the importance of the bath for cleaning. Perform the spray
bath and few offer the humanized bath. Conclusions: Professionals require training directed to humanized bath
newborn to systematize your practice and develop an assist.
Keywords: Newborn; Humanization of Assistance; Nursing.
NOTA
1
Enfermeira. Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - FACISA/UFRN. Santa Cruz/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de
Ciências da Saúde do Trairi -FACISA/UFRN. Enfermeira Assistencial da Maternidade Municipal Professor Leide Morais. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e
Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN. Santa Cruz/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
2
3
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN. Enfermeira Assistencial
da Maternidade Municipal Professor Leide Morais. Natal/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
4
Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Cardiologia e Hemodinâmica. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN. Professora Substituta do Curso de Graduação em Enfermagem da UFRN. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em
Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN. Natal/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
5
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte - UFRN. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN. Natal/RN, Brasil. E-mail:
[email protected].
6
Enfermeiro. Doutor em Ciências da Saúde. Professor do Curso de Graduação e do Programa de Pós-Graduação (Mestrado Acadêmico e Doutorado) em Enfermagem da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal/RN, Brasil. Vice-líder do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem PAESE/UFRN. E-mail: [email protected].
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INTRODUÇÃO
O recém-nascido (RN), após o seu nascimento, necessita de
cuidados essenciais para a manutenção da saúde. A adaptação do
RN ao meio extrauterino é um processo fisiológico, representa
uma das fases mais dinâmicas e difíceis do ciclo vital humano
que exige a transformação de uma condição de completa
dependência durante a vida intrauterina dentro da placenta,
para outra de autossuficiência em relação à oxigenação e
nutrição, o meio extrauterino1-2. Após o nascimento, os RN’s
são considerados vulneráveis e possuem instabilidade em suas
condições de vitalidade1. Por isso, os cuidados prestados ao
RN imediatamente após o parto pelos profissionais de saúde
são fundamentais para a adaptação sua ao meio extrauterino.
Durante a internação na maternidade, o RN é colocado junto
à mãe, onde permanece até a alta hospitalar no Alojamento
Conjunto (AC). O AC é um ambiente caracterizado com alto
teor educativo, pois nele devem ocorrer orientações rotineiras
às mães e aos familiares sobre vários aspectos relacionados
aos cuidados seguros do RN, orientações essas a respeito do
aleitamento materno, uso de mamadeiras e chupetas, posição
em que o RN deve dormir, interação com o RN, controle
das eliminações, cuidados com o coto umbilical, a troca de
fraldas e o banho do RN3. Sendo assim, para que as puérperas
apreendam todos os cuidados necessários para a manutenção
da saúde do RN, é fundamental a formação de vínculos e de
uma assistência integral no AC.
A equipe de enfermagem deve envolver os pais durante esse
cuidado para fortalecer e aprimorar os laços afetivos durante
o banho do RN. Os profissionais não devem apenas explanar
como deve ser feito o banho no RN, mas fazê-lo, instruindo e
mostrando a sua importância, os benefícios, como a família
pode aprimorar essa prática em casa, e, principalmente,
acompanhar o primeiro banho da puérpera no seu RN.
O banho é caracterizado por um excesso de manipulação
do bebê, no qual favorece um vínculo entre o binômio mãefilho. O banho pode produzir diversas reações no recémnascido, como fazer uma breve nostalgia do ambiente líquido
e quente característico do útero materno4.
Após o seu nascimento, o recém-nascido vive mudanças
distintas do ambiente intrauterino, onde muitos RN’s, até a sua
adaptação, ficam irritados e chorosos. Sendo assim, através do
banho, podemos proporcionar um momento calmo, relaxado,
tranquilo e agradável, fazendo o RN relembrar o ambiente
intrauterino5. Portanto, o momento do banho deve ser um
momento prazeroso para o bebê, para que ele se sinta bem6.
É preciso enfatizar, então, que o banho do RN, para as
puérperas, vai muito além das medidas de higiene, uma vez
que precisa ser terapêutico para o recém-nascido. Portanto,
os profissionais devem estar qualificados para atuarem na
educação e na execução do banho humanizado, oferecendo ao
RN e a sua família uma assistência integral e de qualidade.
O interesse pela realização dessa pesquisa partiu da
vivência de aulas práticas em Alojamento Conjunto na
disciplina de Atenção Integral à Saúde na Média Complexidade
em um hospital maternidade universitário, onde observou-
se que o primeiro banho era realizado pelos técnicos de
enfermagem. Assim, surgiu o seguinte questionamento: Quais
os conhecimentos desses profissionais de enfermagem acerca
do banho no recém-nascido?
Dessa forma, elaborou-se a seguinte questão de pesquisa:
os profissionais que realizam o banho no recém-nascido
possuem conhecimentos técnicos e científicos para a realização
do banho, obtidos através de atualizações e treinamentos no
serviço?
Espera-se que esta pesquisa propicie uma melhor
compreensão a respeito do conhecimento dos profissionais
de enfermagem sobre o banho no RN e que possa subsidiar a
prática desses profissionais em uma assistência humanizada,
integral e de qualidade durante o banho do RN. Além disso,
pretende-se contribuir na melhoria das práticas assistenciais,
refletindo nos cuidados prestados ao binômio mãe-filho,
reduzindo seus anseios e medos e aumentando o vínculo. A
pesquisa também contribuirá para o aumento do conhecimento
do meio científico, uma vez que existem poucos estudos
abordando essa temática.
Em meio a essa problemática, o presente estudo objetivou
investigar o conhecimento dos técnicos de enfermagem acerca
do banho no recém-nascido.
METODOLOGIA
A pesquisa é do tipo descritiva-exploratória e
observacional, com abordagem quantitativa. Desenvolvida
no hospital universitário localizado na cidade de Santa
Cruz, interior do Rio Grande do Norte. O hospital é
referência em assistência materno-infantil na região,
atendendo exclusivamente pelo SUS e possui o título de
hospital Amigo da Criança.
A população do estudo foi composta por todos os
técnicos de enfermagem que faziam parte da escala do
Alojamento Conjunto (AC) e Pré-Parto, Parto e Pós-Parto
(PPP), já que, nesse hospital, são eles os responsáveis
pela realização do banho no RN. Atuam nesses setores 17
técnicos de enfermagem. Um profissional não realiza o
banho e outro estava afastado de suas atividades laborais
no período das coletas de dados. Assim, participaram do
estudo 15 profissionais.
Os critérios de inclusão para participar da pesquisa
foram: fazer parte da escala do AC ou PPP, realizar o
banho do RN e assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). E o método de exclusão constituiu em
profissionais que, apesar de fazerem parte da escala do AC
ou PPP, não realizam o banho no RN.
Antes de iniciar a coleta de dados, foi feita a testagem
do instrumento com 05 profissionais com a finalidade de
avaliar a sua aplicabilidade e coerência com os objetivos
do estudo. Foram acrescentadas duas perguntas no
instrumento: Quais as mudanças sugeridas para a sala do
banho? E qual o tempo esperado entre o nascimento da
criança e a realização do primeiro banho?
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A coleta de dados foi realizada entre os meses de maio
e agosto de 2014, e dividida em duas partes: na primeira
fase, foi utilizado o método da observação sistemática
durante os banhos do RN; na segunda fase, foi aplicado um
questionário semiestruturado.
A primeira etapa do estudo foi realizada na sala do
banho no AC durante o primeiro banho do RN, onde foi
utilizado um check-list preenchido pelo pesquisador,
enquanto observava a realização do banho pelo técnico
em enfermagem. Durante essa etapa, foi mantida uma
distância considerável dos profissionais a fim de não
haver nenhum tipo de influência durante os banhos dos
neonatos. Esse check-list foi construído pela pesquisadora
do estudo baseado no livro “Enfermagem Neonatal cuidado
integral ao recém-nascido”7.Pelas literaturas consultadas,
esse autor apresentou um protocolo mais abrangente para
a realização do banho.
menos de um ano e 33,3% (n=5) assistem o RN há mais
de 10 anos. Observou-se, também, que 93,3% (n=14)
dos profissionais não receberam nenhuma capacitação
oferecida pela instituição sobre o banho, antes ou durante
o exercício de suas atividades na instituição, mas alegaram
capacitações sobre Aleitamento Materno Exclusivo (AME),
assistência ao RN no berçário patológico, urgência e
emergência, UTI-neo e HIV.
Durante a coleta, foi questionado sobre qual o
conhecimento dos profissionais a respeito da importância
do banho para o RN, na qual, observou-se que 73,3% (n=11)
dos participantes da pesquisa elencaram o banho do RN
como fundamental para a higiene do bebê (figura 1).
A segunda fase do estudo foi realizada individualmente,
em uma sala reservada na instituição. Nessa fase, o
profissional respondeu ao questionário dividido em
duas partes. A primeira abordava a caracterização dos
participantes do estudo; na segunda parte, as perguntas
eram direcionadas aos objetivos da pesquisa. Após
o encerramento da coleta de dados, os participantes
receberam um folder educativo confeccionado pelos
pesquisadores do estudo contendo informações sobre a
realização do banho no recém-nascido.
Os dados foram digitados no Excel. As respostas das
questões abertas foram categorizadas e agrupadas. Em
seguida, realizamos a estatística descritiva com frequências
absolutas e percentuais.
Sobre os preceitos éticos, o presente estudo está
fundamentado na Resolução 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde8. A pesquisa foi autorizada pela direção
de pesquisa do hospital e aprovada pelo Comitê de Ética
e Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde do
Trairí (FACISA), da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), sob CAAE nº 28721814.8.0000.5568. Todos
os participantes assinaram o TCLE.
RESULTADOS
A população estudada foi composta por 15 técnicos de
enfermagem com idade mínima de 26 anos e máxima de
60 anos, com média de 48 anos; 46,7% (n=7) estavam no
intervalo etário entre 46 a 55 anos; 66,7% (n=10) eram
do sexo feminino; 40% (n=6) eram casados; e 60% (n=9)
com a maior escolaridade de nível técnico. Em relação ao
tempo de exercício da profissão de técnico de enfermagem,
compreendeu um intervalo entre dois e trinta e seis anos,
no qual, 46,7% (n=7) exercem a profissão de técnico de
enfermagem há mais de 30 anos com a média de tempo
profissional de 23,5 anos. Já em relação ao tempo em que
trabalham com assistência ao recém-nascido, predominou
um intervalo de três meses a trinta e seis anos, no qual,
40% (n=6) trabalham na assistência ao recém-nascido a
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Figura 1. Conhecimento dos profissionais sobre a importância do
banho para o recém-nascido. Santa Cruz, RN, Brasil, 2014.
No que se refere ao banho humanizado, 86,7% (n=13)
dos profissionais referiram que conseguem oferecer esse
tipo de banho, em que utilizam estas ferramentas técnicas
para realizá-lo: água morna, orientações para a puérperas
e familiares sobre o coto umbilical, forma adequada de
manusear o RN durante o banho, dentre outros itens (figura
2). Entretanto, 13,3% (n=2) dos profissionais referiram que
não conseguem oferecer o banho humanizado devido
à sobrecarga de trabalho associada à falta de tempo,
problemas na estrutura física e de materiais e a falta de
rotina do banho humanizado na instituição. Vale ressaltar
que alguns profissionais responderam mais de uma
categoria, o que justifica a somatória das categorias da
figura ser superior a 100%.
Em se tratando das dificuldades em que os profissionais
tinham durante a assistência no banho do RN, observouse que 53,3% (n=8) dos profissionais referiram que não
apresentavam dificuldades em relação ao banho, já os
demais profissionais referiram ter dificuldade durante o
manuseio do RN, além de outras dificuldades como: setor
desorganizado, equipamentos desapropriados e o medo
que os assolam durante essa prática.
Durante a observação sistemática foi aplicado o checklist no qual foi observado de forma detalhada o passo a
passo durante o banho, envolvendo as etapas desde o
preparo para o banho até após o banho (tabela 1).
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Tabela 1. Check-list preenchido durante a assistência de enfermagem
no banho do RN. Santa Cruz, RN, Brasil, 2014.
Variáveis
Figura 2. Ferramentas técnicas utilizadas pelos profissionais durante
a realização do banho humanizado no RN. Santa Cruz, RN, Brasil,
2014.
Fonte: Dados da pesquisa.
DISCUSSÃO
Os dados expressos trazem a realidade da assistência
e dos conhecimentos dos profissionais de enfermagem
sobre a realização do banho no RN naquela instituição. Nas
características dos profissionais, destacou-se profissionais
com formação técnica antiga e com tempo de experiência
entre três meses e trinta e seis anos no cuidado ao RN, em
que a grande maioria desses profissionais não receberam
capacitação pela instituição sobre o banho antes de ser
lotado no setor. O fato de haver um percentual considerável
na assistência ao RN há menos de 1 ano, é justificável,
visto que a instituição está passando por processos de
reformas que estão influenciando influenciou em algumas
atividades dos profissionais que atuam no PPP como, por
exemplo, com o cuidado ao recém-nascido.
Os participantes da pesquisa enfatizaram que tudo que
conhecem sobre o banho foi adquirido durante as práticas
diárias, por ser mãe, por ter adquirido conhecimentos em
outros hospitais que trabalharam e orientação no setor por
outros profissionais mais antigos.
No campo da área da saúde, há uma necessidade
constante de atualização do conhecimento dos profissionais,
frente às mudanças tecnológicas de nosso tempo, pois
os conhecimentos e saberes tecnológicos se renovam na
área da saúde9. As atualizações dos profissionais permitem
beneficiar tanto os trabalhadores como os usuários dos
serviços, melhorando, assim, a qualidade da assistência
oferecida pela instituição.
No que se refere ao ambiente de AC, é imprescindível
que os profissionais de saúde que assistem os RN’s e as
famílias desses bebês sejam capacitados e atualizados
para atendê-los de forma integral, humanizada e com
qualidade.
De acordo com o Ministério da Saúde, o primeiro banho
dos bebês, a termo, pode ser considerado como algo
Preparo antes do banho
1.Preparação prévia do material
2.Verificou a temperatura do RN
3.Realizou higienização dos
utensílios de uso coletivo
4.Colocou toalha seca no local onde
será realizado a troca da criança
5. Colocou avental
6. Colocou luva de procedimento
7. Verificou temperatura da água
8. Esperou completar duas horas de
vida
Preparo durante o banho
9. Iniciou pela higiene do rosto,
limpando os olhos do canto interno
para o externo
10. Na limpeza do rosto e cabeça o
RN mantém-se coberto para ajudar
a reduzir a perda de calor
11. Para lavar a cabeça: apoiou
o corpo do neonato sob a região
axilar, segurando com uma das
mãos
12. Protegeu o meato auricular com
o dedo anelar e polegar
13. Na lavagem da cabeça
massageou o couro cabeludo de
forma delicada
14. Segurou o RN com firmeza:
antebraço esquerdo apoiando a
cabeça do RN e a mão esquerda
segurando o braço esquerdo do RN
15. Girou o RN de modo que o
braço esquerdo passa apoiar o peito
e o rosto do RN
16. Iniciou o banhou familiarizando
o RN com a temperatura da água
Cuidados pós-banho
17. Utilizou algum método para
massagear o RN, com finalidade de
tranquiliza-lo
18. A família foi convidada a
participar do momento do banho
com intuito na formação de
vínculos
19. Houve orientação para a família
durante o banho
20. Houve interação com o RN
durante o banho
21. Secou cuidadosamente o RN
22. Realizou a higiene do coto
umbilical corretamente
23. Verificou as medidas
antropométricas (PC, PT, PA, estatura
e peso) e a administração da
vitamina K
Sim
Não
N
%
N
%
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0
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0
3
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20
100
0
0
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100
15
100
0
0
5
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0
26,7
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33,3
10
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3
20
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80
3
20
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5
33,3
10
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3
20
12
80
15
100
0
0
15
100
0
0
15
100
0
0
8
53,3
7
46,7
10
66,7
5
33,3
7
46,7
8
53,3
5
33,3
10
66,7
10
66,7
5
33,3
15
100
0
0
13
86,7
2
13,3
15
100
0
0
Fonte: Dados da pesquisa.
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prazeroso, pois deve lembrar o ambiente líquido e quente
característico do útero materno10.
O primeiro banho no recém-nascido tem finalidade
inicial de reduzir a colonização microbiana, remover
as secreções maternas, evitando riscos ao RN e seus
cuidadores a possíveis agentes transmissores de doenças
como hepatite B, herpes simples e HIV, além de envolver
questões estéticas, culturais e expectativas da família1.
Em um estudo, constatou-se que o banho humanizado
no RN traz diversos benefícios, pois proporciona uma melhor
resposta adaptativa ao ambiente, promove organização dos
sistemas comportamentais, motores, fisio­lógicos e de interação
ao meio, diminui o gasto de energia durante o banho e contribui
positivamente para o desenvolvimento sadio11.
De acordo com a figura 1, os participantes da pesquisa
relataram o primeiro banho do RN como fundamental para
a higienização com intuito de retirar as secreções e sangue
proveniente do parto, para evitar quadros infecciosos
nos neonatos. Além disso, é no primeiro banho que são
realizados os primeiros cuidados com o RN: administração
da vitamina K, verificação dos dados antropométricos
(peso, comprimento, perímetro cefálio, perímetro torácico,
perímetro abdominal) e a assepsia do coto umbilical.
De fato, a finalidade do banho, inicialmente, é reduzir
a colonização microbiana, remover as secreções maternas
para evitar riscos ao RN e seus cuidadores, entretanto, o
banho deve ir além dessa finalidade inicial. Através do
banho, com a estimulação tátil e da circulação geral da
pele, pode-se proporcionar um momento calmo, relaxado,
tranquilo e agradável, fazendo com que o RN relembre o
ambiente intrauterino, contribuindo para sua adaptação
à vida extrauterina10. Todavia, essa percepção foi pouco
destacada durante a coleta de dados, pois um quantitativo
pequeno dos profissionais verbalizou o banho além do
caráter de higienização.
As técnicas tradicionais para o banho são: banho de
imersão e banho de aspersão: no primeiro tipo de banho,
o RN é colocado despido em uma banheira ou bacia com
água; já no segundo, é utilizado um chuveiro ou torneira
para a auxiliar no banho. Entretanto, ambos os banhos têm
o intuito da promoção da higiene. Todavia, atualmente,
existem banhos que, além do caráter de higienização,
trazem benefícios para os bebês e pais, conhecidos como
banhos humanizados, denominados: banho japonês e
banho de ofurô. Em ambas as técnicas, o RN não se sentirá
inseguro e relembrará o útero materno6.
Sendo assim, percebe-se que o banho tradicional é
mais técnico, pois seu objetivo é apenas a higienização.
Já o banho humanizado, além da higienização, privilegia
um cuidado humanizado, proporciona um cuidado menos
estressante e mais prazeroso para o RN, e ainda aumenta
a afetividade entre o familiar e o neonato, possibilitando
maior conforto e acolhimento.
Durante a observação sistemática foi visualizado que
todos os banhos realizados foram de aspersão. A estrutura
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física do local direciona para essa prática. Assim, uma
melhoria nessa estrutura e uma melhor organização nos
materiais necessários, além de treinamento e incentivo
aos profissionais poderia vir a melhorar a técnica do
banho naquela instituição. Entretanto, três profissionais
adaptaram o banho japonês no banho de aspersão, de
forma que envolveram o RN com o pano/fralda ao iniciar
a higienização pelo rosto, a fim de tentar oferecer uma
melhor assistência durante o momento do banho de
acordo com os recursos disponíveis na instituição. Um dos
participantes da pesquisa mencionou o banho do balde
(ofurô) e conhecia as vantagens em relação ao relaxamento
do RN. A instituição disponibiliza o balde, contudo, o
participante referiu ter realizado apenas duas vezes, por
achar a técnica do banho de ofurô difícil.
Ressalta-se que todos os profissionais executaram
técnicas importantes no banho do RN, como: o uso das
luvas de procedimentos, seguraram o RN de forma delicada
e secaram o RN vagorosamente.
No que diz respeito ao banho humanizado, 86,7%
(n=13) dos profissionais referiram que conseguem oferecer
esse tipo de banho. Entretanto, de acordo com os dados
obtidos no questionário e a observação sistemática, ficou
perceptível que a maioria não conseguia, de fato, oferecelo. Apenas 20% (n=3) dos profissionais ofereceram o banho
humanizado, não coincidindo com os dados do questionário.
Ao questionar as ferramentas técnicas que utilizavam
para realizar um banho humanizado, mencionaram: banho
quente, trazer familiares para próximo do banho para fazer
orientações pertinentes ao banho e a higienização do coto
umbilical, não demorar muito durante o banho para o RN
não perder calorias e aquecer imediatamente após o banho,
proteger os olhos e ouvidos e observar a temperatura da
água e do bebê.
De fato, todos os itens mencionados por eles são
utilizados no banho humanizado, contudo, esses itens
também devem ser utilizados no banho técnico que tem
caráter apenas de higienização.
As dificuldades apontadas pelos profissionais para a
realização do banho foram: manuseio da criança, setor
desorganizado, medo e equipamentos desapropriados (pia).
Além dessas dificuldades, dois profissionais relataram que
não conseguiriam oferecer o banho humanizado devido à
falta de dimensionamento de profissionais no setor, uma
grande demanda de atividades para poucos profissionais,
além de não ser rotina do serviço.
Os dados corroboram com um estudo em que
os profissionais de enfermagem elencaram como
desvantagem do AC para desempenhar as suas funções:
número reduzido de funcionários, instalações físicas
inadequadas, falta de materiais e tempo disponíveis para
realização das atividades12. Sendo assim, percebe-se que
essas dificuldades encontradas pelos profissionais podem
gerar sentimentos negativos que podem influenciar tanto
na qualidade de vida do profissional, como na qualidade da
assistência ao usuário do serviço.
E n f e r m a g e mAeRbTa nI hGo On o O
r eR
c éImG- nI aN
s cA
i dLo
Os técnicos de enfermagem sugeriram mudanças na
sala do banho para melhor oferecer assistência ao RN
durante esse cuidado, dentre as quais: ambiente fechado
mais privativo, higienização/desinfecção dos utensílios de
uso coletivo entre os banhos dos RN’s, obrigação do uso
de todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s),
mudanças no espaço físico, na pia e nos depósitos de
álcool e sabonete, colocar um armário para organizar o
setor, troca de luva após o banho para a higienização do
coto, e chuveiro elétrico com regulação adequada para a
temperatura da água. Ressaltamos que o setor possui álcool
a 70% e sabonete líquido que poderiam ser utilizados na
desinfecção dos materiais. Acredita-se que a falta de rotina
na instituição os levam a não realizarem essa desinfecção.
Durante a observação sistemática, no preparo antes
do banho, notou-se que 33,3% (n=5) dos profissionais
aguardaram duas horas após o nascimento para a
realização do primeiro banho.
Durante o banho propriamente dito, apenas 20%
(n=3) dos profissionais iniciaram a higiene pelo rosto e,
enquanto faziam a higienização do rosto e da cabeça, o RN
era mantido coberto para ajudar a reduzir o calor.
Outro ponto importante de ser mencionado é a proteção
do meato auricular que apenas 20% (n=3) dos profissionais
o realizaram.
Uma questão importante a destacar é que, na sala do
banho, existe um fluxograma do passo a passo do banho
humanizado, que foi produzido por discentes do curso
enfermagem da FACISA/UFRN, o qual explica de forma
detalhada como fazê-lo. Mas, mesmo assim, 80% (n=12) dos
profissionais não o realizaram, e os três profissionais que
realizaram destacaram a importância daquele fluxograma
durante a prática do banho.
Atualmente, o momento ideal para o primeiro banho
no RN ainda é controverso na literatura. O primeiro banho
do RN tem sido realizado cada vez mais cedo com intuito
de reduzir a possibilidade da transmissão de patógenos
através do sangue e das secreções corporais do RN com
potencial de contaminar tanto profissionais de saúde como
familiares, justificando, assim, a ideia de muitas instituições
a dar o banho nas primeiras horas após o nascimento13.
Nos cuidados pós-banho, os profissionais que
convidaram as puérperas e/ou familiares realizaram
orientações apenas direcionadas à higienização do coto
umbilical. As orientações direcionadas ao manuseio e
cuidados com o banho no RN não foram enfatizados.
Fato este que nos levanta preocupação, uma vez que as
puérperas/familiares têm receio em oferecer o primeiro
banho e necessitam ser melhor orientados e encorajados.
Alguns profissionais não realizaram nenhum tipo de
orientação e outros nem convidaram a mãe a participar
desse momento do banho.
No entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS),
recomenda que o primeiro banho seja realizado apenas seis
horas após o parto, devido ao risco de hipotermia durante
e após o banho14. Já outro estudo considera que o primeiro
banho deve ser dado apenas quando a temperatura do RN
estiver estável e não estar relacionado ao número de horas
após o nascimento15.
O AC é um espaço facilitador para o cuidado materno
e favorecimento de vínculo mãe-bebê. Sendo assim, o
banho é um momento ideal para realizar orientações sobre
diversos cuidados ao RN. Os profissionais que atuam na
assistência materno-infantil devem sanar todas as dúvidas
das puérperas/família sobre o puerpério e cuidado ao RN
até a alta hospitalar.
Sendo assim, ao se fazer a opção de executar o
banho, o profissional deve estar atento aos fatores de
termoregulação e sinais vitais do RN para não ocasionar
um estresse térmico e grandes perdas de calorias nos
neonatos. Entretanto, nenhum dos profissionais verificou a
temperatura do RN em algum momento antes do banho.
Durante a aplicação do questionário, ainda foi interrogado
sobre o quesito da temperatura, todavia, os profissionais
alegaram não ser prática da instituição.
A higienização dos utensílios de uso coletivo também
não foi realizada por nenhum dos profissionais. As
higienizações dos utensílios e equipamentos devem
ser realizadas, pois os mesmos podem se tornar fômites
passíveis de transmissão para outros neonatos.
Outro item importante no preparo antes do banho foi o
uso do avental, pois, apenas 33,3% (n=5) dos profissionais
fizeram o uso desse EPI. Os profissionais apontam como
importante o uso dos EPI’s e até colocam como fundamental
a obrigação do mesmo durante o procedimento. A instituição
disponibiliza-os, contudo, nem todos fazem o uso. Vale
destacar que em relação ao uso das luvas de procedimentos,
100% (n=15) dos profissionais fizeram o uso.
CONCLUSÕES
A partir da análise dos dados e considerando os
objetivos propostos nesse estudo, observou-se que, para
os participantes da pesquisa, o primeiro banho do recémnascido está restrito apenas ao caráter higiênico a fim de
reduzir a colonização microbiana e remover as secreções
maternas, evitando riscos ao RN e seus cuidadores.
Poucos profissionais conheciam e/ou ofereciam o banho
humanizado. O conhecimento desses profissionais em
relação ao banho foi adquirido através das vivências diárias,
por ser mãe ou por ter trabalhado em outros hospitais
na assistência do RN, e não através de treinamento/
atualizações.
O momento do banho é uma ocasião ideal para
esclarecer dúvidas e reduzir os medos e anseios das
puérperas e familiares sobre os primeiros cuidados, sendo
assim, foram observadas que as orientações realizadas
pelos profissionais durante a assistência do banho
estavam voltadas para o cuidado com o coto umbilical, não
incluindo as orientações do banho.
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27
28
P a l h a r e s Y L M L , D a n t a s J C , S o u z a F M LC , S i l v a B C O , R o d r i g u e s I D C V, S i l v a R A R
Diante disso, propõem-se capacitação dos profissionais
sobre o banho humanizado a fim de embasar e sistematizar
a prática desses profissionais em uma assistência
humanizada, integral e de qualidade durante o banho do
RN.
Foi sinalizado para que o hospital insira, na sua política
de humanização do cuidado ao recém-nascido, a realização
do banho humanizado.
Sugere-se novas pesquisas que abordem a elaboração
e validação de um protocolo de enfermagem para a
realização do banho no recém-nascido como forma de
sistematizar essa prática e garantir uma assistência
embasada em conhecimentos científicos.
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A RT I G O O R I G I N A L
Prevenção do câncer de mama e cérvico-uterino em
idosas de um grupo de convivência*
Prevention of breast cancer and cervico-uterine in a group of
elderly living
Fernanda de Azeredo Abreu1 • Fátima Helena do Espírito Santo2 • Carla Lube de Pinho Chibante3 • Thayane Dias dos
Santos4 • Willian de Andrade Pereira de Brito5
RESUMO
Objetivos: Caracterizar o perfil das idosas frequentadoras de um grupo de convivência no Rio de Janeiro; Estimar a
frequência de realização do exame de prevenção de câncer de mama e cérvico-uterino dessas idosas e descrever
as perspectivas de atuação do enfermeiro na prevenção do câncer de mama e cérvico-uterino para mulheres
idosas de um grupo de convivência. Metodologia: Pesquisa quantitativa realizada com 60 idosas de um grupo de
convivência de uma universidade Federal do Rio de Janeiro, nos meses de março e abril de 2015, mediante aplicação
de questionário cujos dados foram submetidos á análise estatística simples. Resultados: Verificou-se que a faixa
etária prevalente entre as idosas foi de 60 a 69 anos, sendo 29 (48%) com nível fundamental. Quanto ao estilo de
vida, 40 (67%) não utilizavam preservativo durante as relações sexuais. No que se refere ao autocuidado, 30 (50%)
idosas nunca fizeram autoexame das mamas, 24 (40%) não realizam mamografia e 35 (58%) não fazem exame
de Papanicolau. Conclusão: Embora a maioria das idosas considere importante a prevenção do câncer de mama e
cérvico-uterino, não realizam estes exames de forma rotineira o que aponta vulnerabilidade para essas doenças e
necessidade de intervenção educativa do enfermeiro incentivando ao autocuidado.
Palavras-chave: Enfermagem Geriátrica; Saúde da Mulher; Envelhecimento.
ABSTRACT
Objectives: Characterize the profile of the clientele of a group of elderly living in Rio de Janeiro; Estimate the
frequency of examination for the prevention of breast cancer and uterine cervical-these old and describe the
prospects for performance of nurses in the prevention of breast cancer and uterine cervical-for a group of elderly
women living together. Method: Quantitative research conducted with a group of 60 elderly coexistence of a
Federal University of Rio de Janeiro, in the months of March and April 2015, through questionnaires whose data
were subjected to statistical analysis simple. Results: It was observed that the age group prevalent among older
women was 69 years 60, to 29 (48%) with fundamental level. As for lifestyle, 40 (67%) not used a condom during
sex. As regards self care, 30 (50%) have never done breast self-examination for elderly, 24 (40%) do not perform
mammography and 35 (58%) do not make Pap test. Conclusion: It is concluded that although most older consider
important to the prevention of breast cancer and cervical-uterine, do not perform these tests routinely pointing
to these diseases vulnerability and need for educational intervention of the nurse encouraging self-care.
Keywords: Geriatric Nursing; Women’s Health; Aging.
NOTA
1
Enfermeira. Especialista em Enfermagem Gerontológica pela Universidade Federal Fluminense/ UFF. Email: [email protected]
2
Profª Drª do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica/ MEM-UFF. Email: [email protected]
3
Enfermeira. Doutoranda do Programa Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde/ PACCS-UFF. Email: [email protected]
4
Enfermeira. Mestranda do Programa Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde/ PACCS-UFF. Email: [email protected]
5
Enfermeiro. Mestrando do Programa Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde/ PACCS-UFF. Email: [email protected]
*ABREU, F.A. (Vi) vendo e aprendendo: Um estudo sobre a prevenção do câncer de mama e cérvico-uterino em idosas de um centro de convivência: contribuições da
Enfermagem Gerontológica. 2015. Monografia. (Aperfeiçoamento/Especialização em Enfermagem gerontológica) - Universidade Federal Fluminense.
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29
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A b r e u F A , S a n t o F H E , C h i b a n t e C L P, S a n t o s T D , B r i t o W A P
INTRODUÇÃO
O crescimento da população idosa vem associado
ao fenômeno da feminização da velhice que demanda
iniciativas relacionadas à atenção a saúde da mulher
no contexto do sistema de saúde, principalmente nos
níveis de promoção e prevenção de doenças crônicas
não transmissíveis dentre as quais, o câncer de mama e
cérvico-uterino.
Os elevados índices de incidência e mortalidade por
câncer do colo do útero e da mama no Brasil justificam
a implantação de estratégias efetivas de controle dessas
doenças que incluam ações de promoção à saúde,
prevenção e detecção precoce, tratamento e de cuidados
paliativos, quando esses se fizerem necessários1.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em
2008, ocorreram 1.384.155 casos novos de câncer da
mama em todo o mundo, o que torna o tipo de câncer
mais comum entre as mulheres. Nesse mesmo ano, foram
registrados cerca de 530 mil casos novos de câncer do
colo do útero. No Brasil, em 2012, foram estimados 52.680
casos novos de câncer de mama feminino e 17.540 casos
novos de câncer do colo do útero2-3.
A estimativa no Brasil para o ano de 2014, válida
também para o ano de 2015, aponta para a ocorrência de
aproximadamente 576 mil casos novos de câncer, incluindo
os casos de pele não melanoma, reforçando a magnitude do
problema do câncer no país. O câncer de pele do tipo não
melanoma (182 mil casos novos) será o mais incidente na
população brasileira, seguido pelos tumores de próstata (69
mil), mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão
(27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil)4.
Considerando a alta incidência e a mortalidade
relacionadas a essas doenças, é responsabilidade dos
gestores e dos profissionais de saúde realizar ações
visando o controle do câncer do colo do útero e de mama
e que possibilitem a integralidade do cuidado, aliando
as ações de detecção precoce com a garantia de acesso
a procedimentos diagnósticos e terapêuticos, em tempo
oportuno e com qualidade1.
Assim, frente à incidência de câncer de mama e cérvicouterino entre mulheres idosas e suas especificidades
decorrentes do processo de envelhecimento que as torna
mais vulneráveis ao desenvolvimento desse tipo de
doença, aliado a necessidade de incentivo ao autocuidado
mediante realização do exame de preventivo, essa
pesquisa tem como objetivos: caracterizar o perfil das
idosas frequentadoras de um grupo de convivência no
Rio de Janeiro; Estimar a frequência de realização do
exame de prevenção de câncer de mama e cérvico-uterino
dessas idosas e descrever as perspectivas de atuação do
enfermeiro na prevenção do câncer de mama e cérvicouterino para mulheres idosas de um grupo de convivência.
MÉTODO
Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, com
abordagem quantitativa, realizado entre os meses de março
e abril de 2015, com todas as mulheres idosas participantes
de um grupo de convivência de uma universidade federal,
localizada no Estado do Rio de Janeiro, totalizando 60
idosas.
Para a seleção das participantes foram critérios de
inclusão: mulheres idosas, a partir de 60 anos, com condições
mentais e cognitivas preservadas, que frequentavam as
atividades do referido grupo de convivência.
A coleta de dados foi realizada com aplicação de um
questionário estruturado com questões relativas ao perfil
sociodemográfico (idade, raça, estado civil, escolaridade,
hábitos e estilo de vidas, histórico familiar e de saúde)
e ao autocuidado (realização do exame de mamografia,
citopatológico e autoexame das mamas).
Ao final da coleta de dados, os mesmos foram dispostos
em planilhas do programa Microsoft Office Excel (2010) e
analisados por técnica estatística descritiva simples, sendo
os achados apresentados em tabelas com distribuição de
frequências absolutas e relativas.
O estudo é parte do projeto de pesquisa Aposentadoria
e envelhecimento: histórias contadas por idosos e seguiu
o preconizado na Resolução 466/12 do Conselho Nacional
de Saúde do Ministério da Saúde, tendo sido aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sob o nº
125.294. Os participantes do estudo foram esclarecidos
sobre os objetivos da pesquisa e quanto à assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O câncer de mama é segundo tipo mais frequente no
mundo e o mais comum entre as mulheres, respondendo
por 22% dos casos novos a cada ano. Se diagnosticado
e tratado precocemente, o prognóstico é relativamente
bom. Já o câncer cérvico uterino é o terceiro tumor mais
frequente na população feminina, atrás do câncer de mama
e colorretal, e a quarta causa de morte de mulheres por
câncer no Brasil4.
RESULTADOS
A tendência atual é um número crescente de idosas
que, apesar de viverem mais, podem encontrar-se
funcionalmente incapacitada, ou com uma saúde precária,
e quase sempre isso é resultado de doenças preveníveis,
como o câncer cérvico-uterino. O desafio é conseguir anos
a mais, vividos com um perfil de elevada qualidade de vida,
pois a transição demográfica levou a uma modificação do
perfil de morbimortalidade5.
A tabela 1 refere-se às características sociodemográficas
das idosas participantes da pesquisa. A distribuição etária
mais prevalente foi de 60 a 69 anos com 30 (50%) idosas.
Quanto à raça, 27 (45%) se auto declararam pardas. Em
relação ao estado civil, 24 (40%) viúvas. No que se refere à
escolaridade, 29 (48%) com ensino fundamental. Dentre as
profissões\ocupações, houve predominância, com 21 (35%)
idosas, do lar.
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P r e v e n ç ã o d o c â n c e r d e m a m a eA cRé rTv iIcG
o -O
u t eO
r i nRo IeG
m I iN
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s aLs
Tabela 1. Perfil sociodemográfico das idosas do Centro de Convivência.
Niterói (RJ), 2015.
VARIÁVEIS
Distribuição etária (n= 60)
60 I 69 anos
70 I 79 anos
80 I 90 anos
Etnia (n=60)
Branca
Negra
Parda
Estado Civil (n=60)
Viúva
Casada
Divorciada
Solteira
Escolaridade (n=60)
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Analfabeta
Profissão\Ocupação(n=60)
Lar
Artesã
Costureira
Professora
Assistente Social
N
%
30
22
08
50,00
37,00
13,00
18
15
27
30,00
25,00
45,00
24
20
09
07
40,00
33,00
15,00
12,00
29
13
13
05
48,00
22,00
22,00
8,00
21
09
12
08
10
35,00
15,00
20,00
13,00
17,00
A tabela 2 mostra o perfil dos hábitos e estilo de vida
das idosas, em que a maioria, 39 (65%) idosas negam
tabagismo e 48 (80%) negam consumo de álcool. Com
relação à atividade física, 34 (57%) são sedentárias e 35
(58%) não possuem atividades de lazer. Quanto à vida
sexual, 42 (70%) não tem vida sexual ativa e quanto ao uso
de preservativo 40 (67%) não utilizam.
Tabela 2. Perfil dos hábitos e estilo de vida das idosas do Centro de
Convivência. Niterói (RJ), 2015.
VARIÁVEIS
Tabagismo (n= 60)
Sim
Não
Parou
Consumo de Álcool (n=60)
Sim
Não
Atividade Física (n=60)
Sedentária
Pratica atividade
Atividades de Lazer (n=60)
Não
Sim
Vida Sexual (n=60)
Não
Sim
Uso de Preservativo (n=60)
Não usa
Utiliza
Desconhece
A tabela 3 mostra o perfil de autocuidado das idosas,
em que a maioria, 31 (52%) idosas, tiveram menarca entre
13 a 15 anos e 39 (65%) entraram na menopausa entre 50
e 59 anos. Com relação à terapia de reposição hormonal, 47
(78%) idosas não fazem reposição.
Tabela 3. Perfil de autocuidado das idosas no Centro de Convivência.
Niterói (RJ), 2015.
VARIÁVEIS
Menarca
09 a 12 anos
13 a 15 anos
≥16 anos
Menopausa (n=60)
35 a 40 anos
41 a 49 anos
50 a 59 anos
Terapia de Reposição Hormonal (n=60)
Sim
Não
Histórico de câncer mama na família (n=60)
Não
Sim
Autoexame das mamas (n=60)
Nunca
Raramente
Mensalmente
Mamografia (n=60)
Anualmente
Intervalo > 1 ano
Raramente
Não
Exame citopatológico (Papanicolau)(n=60)
Não
Anualmente
Intervalo > 1 ano
N
%
23
31
06
38,00
52,00
10,00
07
14
39
12,00
23,00
65,00
13
47
22,00
78,00
43
17
72,00
28,00
30
26
07
50,00
43,00
4,00
22
12
02
24
36,67
20,00
3,33
40,00
35
13
08
58,00
22,00
13,00
(n=60)
Com relação ao histórico familiar de câncer de mama,
a maioria, 43 (72%) idosas não tem histórico familiar.
No que se refere ao autoexame das mamas, 30 (50%)
nunca realizaram. Quanto à realização da mamografia, 24
(40%) não fazem e com relação ao exame citopatológico
(Papanicolau) a maioria, 35 (58%) idosas não realizam esse
exame.
N
%
07
39
14
12,00
65,00
23,00
12
48
20,00
80,00
34
26
57,00
43,00
35
25
58,00
42,00
42
18
70,00
30,00
A pesquisa mostrou que 50% das idosas estavam na
faixa etária entre 60 a 69 anos. O crescente aumento da
longevidade feminina faz com que muitas idosas vivenciem
progressiva fragilidade biológica do organismo, situações
de agravos à saúde e ocorrência de doenças crônicodegenerativas, tais como o câncer5.
40
20
07
67,00
33,00
26,00
No que se refere à etnia, estado civil e escolaridade, um
estudo sobre a associação entre variáveis sociodemográficas
e o estadiamento clínico avançado das neoplasias da mama
DISCUSSÃO
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
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revelou que as variáveis cor da pele e situação conjugal
não apresentou associação estatisticamente significante,
entretanto, a baixa instrução determina 4,3 vezes mais
chances para o diagnóstico tardio6.
O baixo grau de instrução dificulta a aquisição de
informações importantes sobre prevenção e detecção
precoce de doenças, além de estar relacionado com
maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde, com
dependência do Sistema Único de Saúde (SUS). A falta
de informações, as crenças e as percepções distorcidas
da doença são fatores que podem levar as mulheres que
vivem em condição de pobreza a evitar a busca por exames
das mamas e o preventivo, contribuindo para o diagnóstico
das neoplasias em estádio tardio6.
Alguns fatores de risco para o desenvolvimento do
câncer são conhecidos, como: envelhecimento, fatores
relacionados à vida reprodutiva da mulher, história
familiar de câncer, consumo de álcool, excesso de
peso, uso prolongado de anticoncepcional, tabagismo,
sedentarismo4.
Já os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer
do colo de útero são a infecção por Papilomavírus Humano
(HPV); a multiplicidade de parceiros sexuais; a história de
infecções sexualmente transmitidas (da mulher e de seu
parceiro); a idade precoce na primeira relação sexual e a
multiparidade1.
No que diz respeito aos hábitos e estilo de vida das
idosas participantes do estudo, a maioria declarou não ter
o hábito de fumar e ingerir bebidas alcoólicas. Um estudo
sobre o consumo de bebidas alcoólicas e o câncer diz que
após o tabagismo e os agentes infecciosos responsáveis
por infecções crônicas, o álcool é a mais importante causa
conhecida de câncer em humanos. Além disso, o risco de
câncer de mama aumenta diretamente em relação ao
aumento do consumo de álcool, cerca de 10% para cada
10 g por dia7,8.
Também foi constatado que a maioria das idosas
disseram não praticar atividade física. Um estudo traz que
o sedentarismo é um fator de risco modificável levando à
prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, dentre
as quais, o câncer, e para a melhoria da qualidade de vida,
sendo a prática regular de atividade física capaz de reduzir
o risco de câncer de mama entre 30 a 40%9.
Dentre os fatores de risco não modificáveis para o
desenvolvimento do câncer de mama, encontra-se a
história familiar, identificada em 28% das idosas. Embora
a hereditariedade seja responsável por apenas 10% do
total de casos de câncer de mama, mulheres com história
familiar dessa neoplasia, especialmente se uma ou mais
parentes de primeiro grau (mãe, irmãs, filhas) foram
acometidas antes dos 50 anos, apresentam maior risco
de desenvolver a doença. Em uma pesquisa que buscou
identificar os fatores de risco para o câncer de mama,
94,44% das mulheres não possuíam parente de primeiro
grau com câncer de mama4,10.
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
No que diz respeito aos fatores de risco relacionados à
vida reprodutiva da mulher, a menarca precoce (primeira
menstruação antes dos 12 anos), a menopausa tardia (após
os 50 anos) e a terapia de reposição hormonal estão entre
os fatores de maior probabilidade para o desenvolvimento
do câncer de mama. Nesta pesquisa, identificou-se que
38% das idosas tiveram a menarca antes dos 12 anos,
65% apresentaram a menopausa após os 50 anos e 22%
fazem a terapia de reposição hormonal. Um estudo sobre
os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de
mama identificou que 33,33% das mulheres apresentou
menarca precoce, não foi relatado menopausa tardia e
5,55% realizava a terapia de reposição hormonal4,10.
Entre as neoplasias que mais acometem as mulheres
idosas, o câncer de mama destaca-se como uma das
principais causas de morte, fato que está relacionado a
60% dos casos a serem descobertos tardiamente e à alta
incidência dessa neoplasia com o avançar da idade. A
detecção da doença em estágio inicial favorece tratamentos
que podem erradicar totalmente o câncer de mama. Essa
detecção precoce é realizada por meio do autoexame das
mamas (AEM), exame clínico das mamas e a mamografia.
Dentre os métodos de detecção precoce, a mamografia é
considerada a mais eficaz 11-12,1.
Neste estudo, verificou-se que 50% das idosas não
fazem o autoexame das mamas e 40% não realizam o
exame de mamografia. Algumas investigações confrontam
os resultados desta pesquisa, em que 75% e 39,82%
realizavam o AEM, respectivamente10,13.
Em outra pesquisa que verificou o conhecimento sobre
o câncer de mama e a mamografia das mulheres idosas,
identificou-se que a mamografia foi referida por 55%
das mulheres como um exame realizado para a detecção
precoce do câncer de mama, enquanto outro estudo foi
identificado que 17,5% das mulheres fizeram este exame
há mais de dois anos14,15.
O exame de prevenção do câncer do colo uterino
consiste na detecção precoce da neoplasia invasora e suas
lesões precursoras por meio da análise citológica periódica
do esfregaço obtido pela coleta utilizando a técnica de
Papanicolau. Apesar dos avanços tecnológicos para detectar
o câncer precocemente, ainda é alto o número de mulheres
que não procuram um serviço de saúde, para realizar este
exame. Muitas vezes quando procuram assistência médica,
já estão com a doença em estágio avançado, reduzindo
assim as chances de cura e/ou sobrevida1,16.
As mulheres percebem o exame de prevenção como uma
forma de se cuidar, demonstram preocupação e interesse
com a saúde, apesar disso, algumas mulheres buscam
assistência a partir do aparecimento de sintomas, supostos
fatores de risco como infidelidade e hereditariedade,
sempre exaltando a vergonha da exposição do genital
como fator de dificuldade em realizar o exame17.
Dentre as idosas participantes desta pesquisa,
58% referiram não fazer o exame preventivo. Quando
P r e v e n ç ã o d o c â n c e r d e m a m a eA cRé rTv iIcG
o -O
u t eO
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s aLs
questionadas sobre o exame, a maioria disse que por não
ter vida sexual ativa (70%) não era preciso fazer o exame
de prevenção do câncer de colo uterino. Alguns estudos
corroboram com os achados desta investigação, em que
se identificou que 56,3% e 23% das mulheres nunca
realizaram este exame, respectivamente15,18.
uterino, não realizam estes exames de forma rotineira
o que aponta vulnerabilidade para essas doenças e a
necessidade de intervenção educativa do enfermeiro para
incentivo ao autocuidado com adoção de hábitos para
prevenção de doenças, manutenção e promoção da saúde.
Verifica-se que o controle do câncer de mama e do
câncer cérvico-uterino depende de ações voltadas para a
área de promoção da saúde e prevenção dessas doenças.
Nesse sentido, o enfermeiro possui papel relevante nessas
ações em todos os níveis de atenção à saúde, sendo de
sua competência a divulgação de informações sobre os
fatores de riscos, desenvolvimento de ações de prevenção
e detecção precoce mediante a realização de consulta
ginecológica e exames preventivos, além do incentivo a
hábitos de vida saudáveis, possibilitando uma assistência
de enfermagem de qualidade a essa clientela10,19.
REFERÊNCIAS
No entanto, um estudo que aborda as dificuldades de
adesão dos indivíduos aos comportamentos preventivos,
destaca a necessidade dos enfermeiros que atuam
na prevenção de neoplasias femininas levarem em
consideração os valores culturais, as atitudes e as crenças
dos grupos sociais envolvidos nos cuidados à saúde. Além
disso, evidencia-se a importância da inserção das mulheres
no planejamento dos seus cuidados, informado-as sobre
sua capacidade de autocuidado o que as tornam mais aptas
a desenvolver conscientemente um papel de autoproteção
tendo oportunidade de enxergar e transformar a realidade
em que estão inseridas, consequentemente, facilitando a
adesão dessa clientela às práticas preventivas20,5.
Portanto, as abordagens educativas devem estar
presentes no processo de trabalho do enfermeiro,
seja em momentos coletivos, como grupos, seja em
momentos individuais de consulta, sendo imprescindível
a disseminação da necessidade dos exames e da sua
periodicidade, bem como dos sinais de alerta que podem
significar câncer1.
CONCLUSÃO
No presente estudo, houve prevalência de idosas
na faixa etária dos 60 a 69 anos, viúvas e com ensino
fundamental. Quanto aos hábitos e estilo de vida, a maioria
negou tabagismo e consumo de bebidas alcóolicas,
disseram não praticar atividade física e não ter vida sexual
ativa. As idosas apresentaram menarca dos 13 aos 15 anos,
menopausa dos 50 aos 59 anos e não fazem terapia de
reposição hormonal.
No que se refere à prevenção do câncer de mama, 50%
das idosas relataram nunca ter realizado o autoexame das
mamas e 40% não fazem o exame de mamografia. Quanto
à prevenção do câncer cérvico-uterino, a maioria não faz o
exame citopatológico (Papanicolau).
Conclui-se que embora a maioria das idosas considere
importante a prevenção do câncer de mama e cérvico-
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REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
R E V I S Ã O I N T E G R AT I VA
Prevenção de queda em paciente hospitalizado e a
segurança do paciente: revisão integrativa
Fall prevention in hospitalized patients and patient safety:
integrative review
Beatrice de Barros Lima1, Ana Karine Ramos Brum2
RESUMO
Objetivo: Levantar as produções científicas sobre prevenção de queda em paciente hospitalizado e a segurança do
paciente. Método: revisão integrativa realizada em 2014, na Biblioteca Virtual de Saúde, utilizando os descritores
“Segurança do Paciente”, “Acidentes por Quedas” e “Indicadores de Qualidade em Assistência à Saúde”, cruzando-os
com o descritor “Gestão de qualidade em Saúde”. Buscou-se artigos publicados entre 2009 e 2014 que vertessem
sobre o tema do estudo. Os dados foram coletados por meio de instrumento previamente elaborado. Os artigos
selecionados foram analisados, gerando a síntese do conhecimento sobre o assunto. Resultados: Foram selecionados
12 artigos, organizados em duas categorias para análise: 1) A segurança do paciente, em que se abordam conceitos
relacionados; 2) Prevenção de queda em pacientes hospitalizados. Conclusão: Na busca da melhor evidência em
relação à prevenção de queda em paciente hospitalizado e à segurança do paciente, ficou evidenciada a grande
importância da vigilância aos pacientes, da identificação dos riscos aos quais estão submetidos e do ambiente em
que estão, já que contribuem para a ocorrência do evento queda.
Palavras-chave: Segurança do Paciente; Acidentes por Quedas; Indicadores de Qualidade em Assistência à Saúde.
ABSTRACT
Objective: To identify the scientific productions on the prevention of falls in patients hospitalized as a quality
indicator. Method: integrative review conducted in 2014, in the Virtual Health Library, using the descriptors:
“Patient Safety”, “Accidental Falls” and “Quality Indicators, Health Care”, crossing them with the descriptor “Quality
Management”. It sought to articles published between 2009 and 2014 that address on the need to study. Data were
collected through a previously designed instrument. Selected articles were analyzed, generating the synthesis of
knowledge on the subject. Results: 12 articles were selected, organized in two categories for analysis: 1) Patient
safety, which discusses related concepts; 2) Fall prevention in hospitalized patients. Conclusion: In search of the
best evidence in relation to the fall in hospitalized patients as a quality indicator, it was evidenced the importance
of surveillance of patients, identifying the risks they face and the environment they are in, that contribute to the
occurrence fall event.
Keywords: Patient Safety; Accidental Falls; Quality Indicators, Health Care.
NOTA
1
Enfermeira, Aluna do Mestrado Profissional de Enfermagem Assistencial da Universidade Federal Fluminense- UFF. Niterói, RJ, Brasil. E-mail: lima.beatricedebarros@gmail.
com
2
Enfermeira, Doutora, Professora da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa - EEAC/UFF, Niterói, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]
Os autores declaram que há conflitos de interesse associados ao desenvolvimento dessa pesquisa.
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
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Lima BB, Brum AKR
INTRODUÇÃO
A segurança do paciente tem integrado a agenda dos
encontros científicos dos profissionais da saúde e a pausa
de reuniões gerenciais nos serviços de saúde. O movimento
mundial pela segurança do paciente e iniciativa voluntária
das instituições que prestam este tipo de serviço, em direção
à busca de certificação de qualidade, tem contribuído para
o crescente interesse pela temática.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004,
demonstrando preocupação com a situação, criou a Aliança
Mundial para a Segurança do Paciente (World Alliance for
Patient Safety). Os objetivos desse programa, que passou
a chamar-se “Patient Safety Program”, eram, entre outros,
organizar os conceitos e as definições sobre a segurança
do paciente e propor medidas para reduzir os riscos e
mitigar os eventos adversos1.
A busca pela qualidade da atenção não é um tema novo
e foi o documento publicado pelo Institute of Medicine
(IOM), intitulado “Errar é humano: construindo um sistema
de saúde mais seguro” (To err is Human: building a safer
health system), em 1999, que despertou a preocupação
por uma das dimensões da qualidade: a segurança do
paciente. A publicação constatou que entre 44.000 e
98.000 pacientes morriam a cada ano nos hospitais dos
EUA, em virtude dos danos causados durante a prestação
de cuidados à saúde1,2.
A OMS define segurança do paciente como a redução
ao mínimo aceitável do risco de dano desnecessário
associado ao cuidado de saúde. O mínimo aceitável
corresponde àquilo que é possível realizar em termos de
cuidado, com base no conhecimento atual e nos recursos
disponíveis, frente ao risco de não tratar ou de optar por
outro tratamento1-3.
Em instituições hospitalares, as equipes de enfermagem
são as principais fontes de cuidado e apoio aos pacientes
e familiares nos momentos mais vulneráveis de suas
vidas, desempenhando um papel central nos serviços
fornecidos aos pacientes. Em razão disso, os profissionais
de enfermagem concentram grande parte das atividades e
dos processos de atendimento nos serviços de saúde, o que
determina um alto envolvimento desta equipe nas falhas
que ocorrem na assistência ao paciente, tais como erros
de medicação, queda do paciente, extubação, queimaduras
durante procedimentos, hemorragias por desconexão de
drenos e cateteres, úlceras por pressão, infecções, erros em
hemotransfusões, entre outros4.
Diante da dimensão do problema e da gama de processos
envolvidos para se alcançar o cuidado seguro, foi criada a
Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, e a OMS,
numa parceria com a Comissão Conjunta Internacional
(Joint Commission International- JCI), vem incentivando a
adoção das Metas Internacionais de Segurança do Paciente
(MISP) como uma estratégia para orientar as boas práticas
para a redução de riscos e eventos adversos em serviços
de saúde. As seis primeiras metas são direcionadas para
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
prevenir situações de erros de identificação de pacientes,
falhas de comunicação, erros de medicação, erros em
procedimentos cirúrgicos, infecções associadas ao cuidado
e quedas dos pacientes2.
O conhecimento acerca dos tipos de eventos depende
diretamente das estratégias de notificação das ocorrências
e de processos de revisão de prontuários implantados
nos serviços de saúde. Os estudos desenvolvidos adotam
diferentes formas de apresentação e de classificação dos
eventos em foco, de forma a melhor atender aos seus
propósitos específicos.
São necessárias estratégias para reduzir os danos aos
pacientes. Isso significa desenvolver pesquisas direcionadas
a identificar os melhores mecanismos de prevenção,
modos eficazes de difusão de novas ideias e entusiasmo na
adoção delas. Garantir segurança no cuidado é um enorme
desafio para os serviços de saúde.
As quedas estão entre os principais eventos adversos
a serem prevenidos em instituições de saúde. Entre
os pacientes idosos hospitalizados ou em cuidados
domiciliares, elas estão entre as causas mais comuns
de injúrias, provocando traumas teciduais, fraturas e até
mesmo a morte5.
Queda significa deslocamento não-intencional do
corpo para um nível inferior à posição inicial, provocado
por circunstâncias multifatoriais, resultando ou não em
dano. Considera-se queda quando o paciente é encontrado
no chão ou quando, durante o deslocamento, necessita
de amparo, ainda que não chegue ao chão. A queda pode
ocorrer da própria altura, da maca/cama ou de assentos
(cadeiras de rodas, poltronas, cadeiras cadeira higiênica,
banheira, trocador de fraldas, bebê conforto, berço etc.),
incluindo vaso sanitário6.
Além dos danos físicos e emocionais, as quedas afetam
a confiança do paciente e da família nos serviços de saúde,
assim como acarretam custos desnecessários aos serviços
pelo aumento do tempo de hospitalização, intervenções,
tratamento e exames para reduzir os possíveis danos
causados aos pacientes.
Existem vários fatores de risco associados às quedas
de pacientes, entre eles destacam-se a idade, pluralidade
de patologias, mobilidade física prejudicada, presença
de doença aguda, equilíbrio prejudicado e estado mental
diminuído. Muitas vezes, esses fatores estão agravados pelo
uso de medicamentos, alterações cognitivas e procedimentos
médicos que aumentam a vulnerabilidade para a ocorrência
de quedas5. Aspectos ambientais e de recursos humanos
também são apontados como fatores de risco para quedas
de pacientes. Nesse contexto, essa pesquisa objetivou
contribuir para uma maior compreensão do evento queda e
sua prevenção como segurança do paciente.
MÉTODO
Para elaboração desta pesquisa foi utilizada a
metodologia da revisão integrativa, por ser a mais
P r e v e n ç ã o d e q u e d a e s e g u r a n ç aA dRo Tp Ia cGi eO
n t eOh R
o sIp G
i t aI lN
i zA
a dLo
ampla, dentre os métodos de revisão. Esse método
de pesquisa permite a síntese de múltiplos estudos
publicados e possibilita conclusões gerais a respeito de
uma área particular de estudo, além de apontar lacunas
do conhecimento, que precisam ser preenchidas com a
realização de novos estudos. Além disso, é um método
valioso para enfermagem, pois por muitas vezes os
profissionais não têm tempo para realizar a leitura de
todo o conhecimento científico disponível devido ao alto
volume quantitativo, bem como a dificuldade para realizar
a análise crítica dos estudos7.
A pesquisa foi realizada mediante o cumprimento
das seguintes etapas: estabelecimento da questão de
pesquisa, formulação dos critérios de inclusão e exclusão,
definição das informações a serem coletadas dos textos
selecionados, avaliação dos estudos incluídos na revisão
integrativa, apresentação e síntese do conhecimento. A
busca foi motivada através da seguinte questão: o que vem
sendo produzido sobre prevenção de queda em paciente
hospitalizado e a segurança do paciente?
Os critérios de inclusão definidos foram: artigos
científicos, com corte temporal de cinco anos (2009-2014),
nos idiomas português, inglês e espanhol, disponíveis online
para que pudesse ser feita a leitura do conteúdo integral.
Foram excluídos os artigos repetidos, dissertações, teses,
editoriais e os que não obedeceram aos pré-requisitos de
inclusão.
Para a busca na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
foram utilizados os descritores “segurança do paciente”,
“acidentes por quedas” e “indicadores de qualidade em
assistência à saúde”, cada um desses combinados ao
descritor “gestão de qualidade em saúde”. O levantamento
bibliográfico foi realizado de fevereiro a abril de 2014.
Foi elaborado um instrumento para coletar e sintetizar
as informações fundamentais para a revisão, cujas variáveis
de interesse foram: autor, título, periódico em que foi
publicado, data do estudo, objetivo, cenário, metodologia,
principais achados e conclusões relacionadas à prevenção
de queda com foco no tema segurança do paciente.
A fase de avaliação dos artigos, com aplicação dos
critérios de elegibilidade, isto é, exclusão das publicações
desinteressantes para este estudo e pré-seleção daquelas
relacionadas ao tema, consistiu na leitura dos títulos, em
seguida, leitura do resumo e, finalmente, leitura integral.
Os artigos selecionados para composição da amostra final
foram analisados, gerando a síntese do conhecimento sobre
o tema em estudo, que ocorreu por meio da caracterização
dos estudos em quadro, seguido da apresentação de duas
categorias que sintetizam os principais achados. Por fim,
ocorreu a discussão de acordo com os resultados.
RESULTADOS
A figura 1 ilustra o esquema utilizado para a busca dos
artigos selecionados neste estudo.
Figura 1. Fluxograma representativo da pesquisa bibliográfica.
Após a associação dos descritores, a busca resultou
em 117 artigos, dos quais, após a aplicação dos critérios
mencionados por meio da leitura dos títulos e resumos,
foram pré-selecionados 77. Os artigos pré-selecionados
foram lidos na íntegra e novos refinos foram executados,
resultando em 12 artigos para composição da amostra final.
O Quadro 1 apresenta as publicações selecionadas
nesta revisão, segundo algumas variáveis de caracterização.
A maior parte dos artigos selecionados para a revisão
integrativa constavam nas bibliotecas PUBMED (n=9)
e SCIELO (n=3); 91.6% (n=11) deles foram publicados
em periódicos internacionais de língua inglesa, e o mais
recente foi publicado em 2013. Em relação aos autores, a
maioria pertencia à área médica (75%; n=9), enquanto 25%
(n=3) eram da área de enfermagem. Quanto aos aspectos
metodológicos, notou-se uma predominância de estudos
descritivos. Todos os artigos descreviam, em seu conteúdo,
aspectos relacionados à segurança do paciente no âmbito
da prevenção de queda.
No que tange ao objetivo proposto, os artigos
evidenciaram a preocupação em reduzir a incidência
de queda de pacientes hospitalizados nos pontos de
assistência e o dano dela decorrente, por meio de
implantação/implementação de medidas que contemplam
a avaliação de risco do paciente, garantam o cuidado
interdisciplinar em um ambiente seguro e promovam a
educação do paciente, familiar e profissional.
Dentre os aspectos discutidos nos artigos analisados,
destacam-se melhores estratégias para a prevenção de
queda com o programa de cultura de segurança. Notase que algumas medidas vêm sendo implementadas
através de pesquisas, para que se possam criar barreiras
que efetivem a segurança dos pacientes. São algumas
das medidas: paciente e família como facilitadores, criar
ou aprimorar ferramenta de avaliação de risco, melhoria
contínua e principalmente um feedback informativo para o
profissional da linha de frente do cuidado20.
A maioria dos artigos teve como foco a educação
permanente para a promoção da segurança e da cultura
de segurança entre os profissionais e a recomendação
de que as intervenções/ recomendações de prevenção de
queda estejam em uma ferramenta eletrônica. Para alguns
autores, a segurança do paciente é uma questão complexa,
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37
38
Lima BB, Brum AKR
Quadro 1- Publicações incluídas na revisão integrativa da literatura por país de realização do estudo, autores, ano, periódico, área de atuação
dos autores e tipo de estudo. Brasil, 2014
País
Autor/ano
Periódico
Área de atuação
Tipo de estudo
Susanne Hempel, Newberry S., Wang
Z.,Booth M., Shanman R., Johnsen B.,
Shire V.,Saliba D., Spector W. D.,Ganz
D.A. (2013)
IAM Geatriatric Socicty
Medicina
Revisão Sistemática
Japão
Sachio Ohde,Mineko Terai, Aya
Oizumi, Osamu Takahashi, Gautam A
Deshpande, Miwako Takekata, Ryoichi
Ishikawa, and Tsuguya Fukui (2012)
BMC Health Serv. Rese.
Medicina
Estudo Observacional
EUA10
Patricia DyKes, Evita Hou I-Ching, Jane
Amia Annu Symposium
R.Soukup, Frank Chang, and Stuart
Proceeding
Lipsitz(2012)
Medicina (DNSC, RN)
Caso controle
EUA
8
9
Itália11
Claudio Terranova, Fabrizio Cardin,
Bruno Amato and Carmelo Militello
(2012)
BMC Surgery
Medicina
Abordagem
metodológica
EUA12
Renee. Garrick, Alan Kliger and Beth
Stefanchik (2012)
Clini. J.Am. Soc. Nephrol
Medicina
Descritivo
Juan Manuel Laguna Parras,M.ª Jesús,
Arrabal-Orpez, Fernando Zafra- López,
Francisco P. García- Fernández, Raquel
R. Carrascosa- Corral, Mª Isabel
Carrascosa-García, Francisco M. LuqueMartínez, José A. Alejo- Esteban (2011)
Rincón Científico
Enfermagem
Descritivo
EUA
Sanjay Saint, Sarah L. Krein, Milisa
Manojlovich, Christine P. Kowalski,
Debbie Zawol and Kaveh G. Shojania
(2011)
National Institutes of
Health
Medicina
Descritivo
Reino Unido15
David James Griffin, Andrew Donovan,
Nigel Hollister (2010)
BMJ Case Report.
Medicina
Relato de caso
EUA16
Eileen T. Lake,Jingjing Shang,Susan
Klaus,Nancy E. Dunton (2010)
Res. Nurs. Health
Enfermagem
Estudo observacional
Brasil17
Miriam Cristina Marques da Silva da
Paiva, Sergio Alberto Rupp de Paiva,
Heloisa Wey Berti(2010)
Revista da Escola de
Enfermagem da USP.
Enfermagem
Estudo retrospectivo e
descritivo
Holanda18
Betsie Givan Gaal, Schoonhoven L.,
Hulscher E.J.L.M., Mintjes A.J.J.,Borm
F. G., Koopmans R., Achterberg V.T.
(2009)
Bio Med Central Health
Serv. Res
Medicina
Estudo randomizado de
agrupamento.
EUA19
Patricia C. Dykes,Diane L. Carroll, Ann
C. Hurley, Angela Benoit, Blackfort
Middleton (2009)
J.Nevers. Adm.
Medicina
Métodos de análise de
conteúdo de base
Espanha13
14
e faz-se necessário abordar elementos que são informais
ou implícitos na cultura de segurança, como é o caso do
espaço geográfico.
Os estudos norte-americanos descrevem abordagens
promissoras de prevenção de queda, como: implementação
de ferramentas para estratégias de adesão às
recomendações de intervenções viáveis e, acrescentado
a isso, um profissional referenciado para fortalecer as
medidas preventivas adotadas.
Os estudos desenvolvidos no Japão, Itália, Espanha,
Reino Unido, Brasil e Holanda fortalecem os achados
encontrados nos estudos Estados Unidos (USA). A pesquisa
efetivada na Itália enfatiza uma avaliação clínica,
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
ambiental na admissão do paciente e uma abordagem
multiprofissional junto a um membro da família. O estudo
espanhol, por sua vez, descreve as diferentes variáveis do
registro de queda, como idade, turno dos eventos (quedas),
local e ocorrido. Um estudo brasileiro analisou a utilização
do instrumento de comunicação das ocorrências de queda
e, a partir disso, identificou a frequência, o tipo, a natureza
e o período delas.
DISCUSSÃO
Para melhor compreensão da temática abordada foram
propostas duas categorias: 1) Segurança do paciente e 2)
Prevenção de queda em paciente hospitalizado.
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Segurança do paciente
No que se refere à segurança do paciente, as
definições e os conceitos são fundamentais na produção
do conhecimento e na prática dos profissionais. O termo
segurança do paciente é definido como a prevenção de
lesões aos pacientes e dos eventos adversos decorrentes
dos cuidados de saúde prestados por profissionais. Já o
incidente é compreendido “como qualquer evento que
possa reduzir a margem de segurança”21.
As situações onde ocorrem erros ou falhas são
denominadas incidentes e podem ou não provocar danos
no paciente. Evento adverso é o incidente que atingiu
o paciente e resultou num dano ou lesão, podendo
representar um prejuízo temporário ou permanente e até
mesmo a morte entre os usuários dos serviços de saúde3.
O erro médico, por sua vez, é definido como o fracasso
de uma ação que foi planejada, mas que não foi executada
como deveria ser, ou a utilização de um planejamento
errado para se alcançar um objetivo22,23. O erro pode
conduzir a eventos adversos, podendo ser definidos como
lesões causadas pelos cuidados prestados ao doente, em
oposição à sua condição médica subjacente24.
Contemporaneamente, percebe-se que a mídia de
comunicação de massa tem veiculado, de forma mais
acentuada, os erros ou falhas que ocorrem durante o
atendimento aos pacientes. A informação sendo levada
ao usuário pode despertar sua preocupação com as
condições de segurança nos hospitais, clínicas e postos
de atendimento, mas, ao mesmo tempo, pode cooptá-lo
a aderir à vigilância de práticas seguras. O envolvimento
do paciente e da família é uma das estratégias proposta
pela OMS em busca de um cuidado seguro nos serviços de
saúde¹.
A cultura de segurança tem como definição o produto
individual ou coletivo de valores, atitudes, percepções,
competências e padrões de comportamentos que
determinam o compromisso, o estilo e a competência de
uma organização de saúde na promoção de segurança20.
Ela impulsiona os profissionais a serem responsáveis
pelos seus atos por meio de uma liderança proativa, na
qual se potencializa o entendimento e se explicitam os
benefícios, assegurando a imparcialidade no tratamento
dos eventos adversos sem tomar medidas de punição
frente à ocorrência deles20.
As consequências das possíveis falhas nos sistemas de
saúde trazem impactos negativos tanto para os pacientes
e suas famílias, quanto para as organizações e para a
sociedade. Estudos apontam que a ocorrência de eventos
no processo de atendimento aos pacientes hospitalizados
acarreta complicações na evolução de sua recuperação,
aumento de taxas de infecções e do tempo médio de
internação4. A estimativa de que, aproximadamente, uma
em cada 10 admissões hospitalares resulta na ocorrência de
evento adverso é alarmante, ainda mais se considerarmos
que metade desses incidentes poderiam ter sido evitados,
segundo estudos conduzidos em hospitais americanos4. No
Brasil, um estudo realizado em três hospitais de ensino
evidenciou a incidência de eventos adversos de 7,6%, dos
quais 66,7% foram considerados evitáveis17.
Prevenção de queda em paciente hospitalizado
A hospitalização aumenta o risco de queda, pois os
pacientes se encontram em ambientes que não lhes são
familiares, muitas vezes são portadores de doenças que
predispõem à queda (demência e osteoporose) e muitos
dos procedimentos terapêuticos, como as múltiplas
prescrições de medicamentos, podem aumentar esse risco6.
Estudos indicam que a taxa de queda de pacientes
em hospitais de países desenvolvidos variou entre 3 e 5
quedas por 1000 pacientes-dia. Segundo os autores, as
quedas não se distribuem uniformemente nos hospitais,
sendo mais frequentes nas unidades com concentração de
pacientes idosos, na neurologia e na reabilitação8.
As condições do ambiente e de equipamentos podem
contribuir para a ocorrência de quedas, como pisos sem
antiderrapante, falta de grades no leito e falta de barras
de apoio no banheiro e no quarto do paciente. A vigilância
constante de pacientes é um fator fundamental para
a prevenção de quedas e existem evidências de que
um adequado quadro de pessoal de enfermagem tem
influência positiva para a redução das taxas de quedas
entre pacientes hospitalizados. Estudos internacionais
apontam uma associação significativa entre os quadros
adequados de pessoal de enfermagem e as incidências de
quedas5.
Geralmente, a queda de pacientes em hospitais está
associada a fatores vinculados tanto ao indivíduo como
ao ambiente físico, entre os fatores vinculados ao paciente
destacam-se: idade, avançada (principalmente idade
acima de 85 anos), história recente de queda, redução da
mobilidade, incontinência urinária, uso de medicamentos e
hipotensão postural8.
A equipe de enfermagem tem um papel importante na
vigilância dos pacientes e na identificação de fatores de
risco dos pacientes e do ambiente que contribuem para
a ocorrência de quedas. Algumas práticas recomendadas
incluem a utilização de pisos antiderrapantes, instalação
de lâmpadas de segurança nos banheiros e corredores,
uso de dispositivos de auxílio para deambulação com
supervisão, instalação de barras no banheiro e no chuveiro,
manutenção de grades no leito do paciente e reforço
de orientação para acompanhantes dos pacientes que
possuem diagnóstico de risco para quedas24.
Maiores taxas de quedas foram associadas com
menores números de horas de enfermagem por paciente
por dia. Um estudo brasileiro evidenciou que à medida que
se atribui mais pacientes para a equipe de enfermagem
nas 24h, aumenta-se a incidência de quedas do leito entre
os pacientes atendidos25.
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Uma pesquisa realizada em hospital privado, localizado
na cidade de São Paulo, apresentou uma taxa de queda
reduzida em 2008 - 1,45 por 1000 pacientes-dia, que
estava associada à implantação de um protocolo de
gerenciamento de quedas26.
assistência de saúde mais segura. Tem-se desenvolvido
diferentes ferramentas para manter o paciente mais seguro
e, com isso, identificar métodos para reduzir os danos e os
melhores mecanismos de prevenção. Garantir segurança
no cuidado é um enorme desafio para os serviços de saúde.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
A contribuição deste estudo para a saúde está em
embasar o planejamento de estratégias voltadas para
a segurança do paciente, principalmente na prevenção
de queda dos que estão hospitalizados. Prevenção e
proatividade são palavras importantes para cultura
de segurança e impulsionam os profissionais a serem
responsáveis pelos atos, por meio de uma liderança ativa.
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patients_for_patient/pfps_poster.pdf.
As quedas são eventos comuns na população idosa e
aumentam a morbimortalidade, tanto quanto o custo para
a sociedade. A abordagem multidisciplinar pode ser efetiva
e o objetivo é a redução da incidência de queda. A pesquisa
nos permite alinhar medidas para o sucesso na qualidade
e segurança da assistência em saúde, treinamento e
padronização das tarefas.
Na busca da melhor evidência em relação à queda
em paciente hospitalizado como indicador de qualidade,
ficou evidenciada a grande importância da vigilância
dos pacientes, da identificação dos riscos a que estão
submetidos e do ambiente em que estão, já que contribuem
para a ocorrência do evento queda. A adoção de medidas
preventivas, por meio de protocolos assistenciais,
incentivo da notificação, assim como programas de
educação permanente para equipe e para os pacientes
e acompanhantes, são considerados estratégias efetivas
para a redução dos índices de quedas nas instituições de
saúde27.
Os enfermeiros são elementos-chave no processo de
evitar erros, impedir decisões ruins, referente aos cuidados
e também de assumir um papel de liderança no uso de
medidas para promover a segurança e qualidade do
cuidado.
O desenvolvimento de estratégias para a segurança
do paciente no Brasil depende do conhecimento e
cumprimento do conjunto de leis e regulamentações
que regem o funcionamento do serviço de saúde e da
sustentabilidade e do cumprimento de missão institucional
desses serviços.
Os gestores das instituições e toda equipe assistencial
precisam estar atentos e ter empenho no cuidado livre de
riscos e seguro para o paciente. A segurança não está ligada
apenas ao fator humano, mas também a processos bem
definidos, alinhados com todo o serviço, como o número de
profissionais, ambiente, condições de trabalho, educação
permanente, acesso à informação, dentre outros aspectos.
Com os estudos sobre o tema segurança do paciente,
percebe-se que são necessários mais conhecimentos
acerca do tema e há interesse crescente em tornar a
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
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42
R E V I S Ã O I N T E G R AT I VA
Ação antimicrobiana do fator de crescimento epidérmico
em feridas: revisão integrativa
Antimicrobial action of epidermal growth factor in wounds:
integrative review
Fernanda Pessanha de Oliveira1 • Miriam Marinho Chrizóstimo2 • Bruna Maiara Ferreira Barreto3 • Euzeli da Silva
Brandão4 • Ana Karine Ramos Brum5 • Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira6
RESUMO
Objetivo: Analisar evidências científicas sobre as apresentações farmacêuticas e os efeitos antimicrobianos do
fator de crescimento epidérmico recombinante humano em feridas. Método: Revisão integrativa de literatura,
nas bases de dados contidas no portal Biblioteca Virtual em Saúde e no Portal de Periódicos da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, com os termos úlcera varicosa, úlcera cutânea, úlcera da
perna, infecção dos ferimentos e fator de crescimento epidérmico. Foram incluídos estudos experimentais ou
quase-experimentais que abordassem como tema central avaliações da efetividade do fator de crescimento
epidérmico no reparo tecidual de feridas. Foram utilizadas as recomendações CONSORT como indicador de
qualidade metodológica dos artigos. Resultados: Foram incluídos sete estudos, avaliados a partir das categorias:
apresentações farmacêuticas de fator de crescimento epidérmico recombinante humano e seus efeitos no processo
de reparo tecidual de lesões e emprego de terapia antimicrobiana como coadjuvante no tratamento de feridas
com fator de crescimento epidérmico recombinante humano. Os estudos apontaram para o uso coadjuvante de
fator de crescimento epidérmico com antimicrobianos. Conclusão: Os estudos avaliados não apontaram para a
presença de atividades antimicrobianas do fator de crescimento epidérmico recombinante.
Palavras-chave: Enfermagem; Fator de crescimento epidérmico; Úlcera varicosa; Úlcera da perna; Infecção dos ferimentos.
ABSTRACT
Objective: To analyze scientific evidence about pharmaceutical forms and antimicrobial effects of recombinant
human epidermal growth factor in wounds. Method: Integrative review, in databases contained on the website
Virtual Health Library and Journals of Higher Education Personnel Improvement Coordination, with key words
varicose ulcer, skin ulcer, leg ulcer, wound infection and epidermal growth factor. Experimental or quasiexperimental researchs about assessments related with the effectiveness of the epidermal growth factor in
wound healing were included. CONSORT recommendations were used to evaluate the methodological quality of
studies. Results: We included seven studies evaluated from the categories: pharmaceutical forms of recombinant
human epidermal growth factor and its effects on wound healing process and employment antimicrobial therapy
as an adjunct in the treatment of wounds with recombinant human epidermal growth factor. Studies indicated that
epidermal growth factor should be used with others antimicrobial agents to fight wound infections. Conclusion:
Studies have not indicated the presence of antimicrobial activity in recombinant epidermal growth factor.
Keywords: Nursing; Epidermal growth factor; Venous ulcer; Leg ulcer; Wound infection.
NOTA
1
Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Enfermeira da Educação Permanente do Hospital Badim (Rio de Janeiro, RJ, Brasil).
E-mail: [email protected]
2
Doutora em Humanidades e Artes pela Universidade Nacional de Rosário (Argentina). Professora Adjunta 2 do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e
Administração (MFE) da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Niterói, RJ, Brasil). E-mail: [email protected]
3
Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora Auxiliar I do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e
Administração (MFE) da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Niterói, RJ, Brasil). E-mail: [email protected]
4
Doutora em Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora Adjunta do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração
(MFE) da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Niterói, RJ, Brasil). E-mail: [email protected]
5
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Associada do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração
(MFE) da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Niterói, RJ, Brasil). E-mail: [email protected]
6
Doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Titular do Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração (MFE)
da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Niterói, RJ, Brasil). E-mail: [email protected]
Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Ação antimicrobiana do fator de crescimento epidérmico em feridas: Revisão Integrativa”, da aluna Fernanda
Pessanha de Oliveira, apresentado ao Curso de Especialização Lato-Sensu em Controle de Infecções relacionadas à Assistência à Saúde, da Escola de Enfermagem Aurora de
Afonso Costa (EEAAC), da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Niterói, RJ, Brasil) em fevereiro de 2016.
Não há conflitos de interesses por parte de nenhum dos autores deste trabalho.
Não houve nenhum financiamento de empresas ou de órgãos governamentais para o desenvolvimento desta pesquisa. Os investimentos realizados são de responsabilidade
dos autores, como pessoas físicas.
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F a t o r d e c r e s c i mA
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G If eNr iAd aLs
INTRODUÇÃO
Uma ferida é representada pela interrupção da
continuidade de um tecido corpóreo, em maior ou em
menor extensão, causada por qualquer tipo de trauma
físico, químico, mecânico ou em decorrência de uma
afecção clínica, que desencadeiam os mecanismos de
defesa do indivíduo1.
O cuidado com feridas envolve medidas de prevenção
de transmissão de infecções, que são de especial revelância
ao se refletir sobre o impacto que as lesões, sobretudo
crônicas2, geram na vida dos pacientes e também nos
gastos advindos dos tratamentos, imputados aos sistemas
de saúde.
Nos Estados Unidos, cerca de 6,5 milhões de pessoas
sofrem com feridas crônicas, e cerca 25 bilhões de dólares
são gastos anualmente para tratar complicações de saúde
relacionadas às feridas3. No contexto do Brasil, essa
realidade não é diferente. Embora dados brasileiros sejam
pouco precisos, estima-se que quase 3% da população
nacional são portadores de feridas crônicas, que se eleva
para 10% nas pessoas com diabetes4.
Sabe-se que algumas feridas evoluem para o estado de
cronicidade. Para o manejo de lesões crônicas, é preciso
ter em vista que o processo de cicatrização pode ser
influenciado por diversos fatores, os quais podem acelerar
ou retardar a reparação tecidual, caso estejam relacionados
adequadamente ou não. Dentre esses fatores, destaca-se a
presença de infecção5.
O desenvolvimento de infecções em feridas crônicas
pode determinar o prolongamento da fase inflamatória
do processo de reparo tecidual. Por isso, considera-se que
a diminuição da carga microbiana presente nas feridas
crônicas a níveis inferiores aos característicos de infecção
facilita o controle dos mediadores inflamatórios locais e
sistêmicos6, reduzindo a inflamação.
Diferentes patógenos podem atuar determinando
infecções em feridas crônicas. Destacam-se Staphylococcus
aureus e Pseudomonas aeruginosa7-8, bem como Escherichia
coli, Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis, Citrobacter
freundii e Estreptococos b-hemolíticos do grupo B9.
Tendo esses fatores em vista, muitas vezes faz-se
necessário o emprego de curativos com potencial para
debelar infecções em feridas crônicas. Recentemente,
inúmeras tecnologias têm sido desenvolvidas com esse
objetivo.
Terapias a base de fator de crescimento epidérmico
recombinante humano (rhEGF), também denominado
sh-oligopeptídeo-1, são consideradas inovadoras no
tratamento de feridas. Trata-se de um polipeptídeo
de cadeia única, que tem um resíduo amino-terminal
asparagina e um resíduo carboxilo- terminal arginina10,
podendo ser obtido a partir de diferentes processos, dentre
eles, a síntese por processos biotecnológicos, como a
fermentação, através da bactéria E. coli. Seu mecanismo de
ação envolve a atuação a nível celular através da interação
com receptores EGF-R do tipo tirosina quinase, dando lugar
a uma cascata de sinalização que resulta em uma sucessão
de alterações bioquímicas, que determinam a regeneração
tecidual11.
Vale salientar que diversos estudos envolvendo a
utilização de biomateriais contendo rhEGF evidenciaram
boa tolerabilidade e segurança com o uso continuado
em seres humanos ou em animais experimentais12-16.
Entretanto, não se sabe se o emprego desses biomateriais
exerce alguma atividade antimicrobiana direta ou
indiretamente.
Um estudo de revisão de literatura sugeriu que
a combinação de apresentações farmacêuticas que
envolvessem fatores de crescimento e antibióticos
poderiam permitir uma terapia medicamentosa efetiva
para a cicatrização de feridas crônicas17, indicando que
os fatores de crescimento não apresentam tal efeito no
reparo tecidual.
Portanto, as questões de pesquisa que orientaram
esse estudo foram: Quais apresentações farmacêuticas
empregadas e efeitos antimicrobianos foram observados
no tratamento de feridas crônicas com fator de crescimento
epidérmico recombinante humano (rhEGF)?
Assim, o objetivo deste estudo foi analisar evidências
científicas sobre as apresentações farmacêuticas e os
efeitos antimicrobianos do fator de crescimento epidérmico
recombinante humano no tratamento de feridas.
Este estudo faz parte do grupo de pesquisa Gestão da
Formação e Qualificação Profissional: Saúde e Educação,
na linha de pesquisa Qualificação profissional e produção
do conhecimento no controle de infecção na assistência
à saúde, vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas
em Cidadania e Gerência na Enfermagem (NECIGEN), do
Departamento de Fundamentos de Enfermagem da Escola
de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade
Federal Fluminense.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura,
considerada um método que tem como finalidade sintetizar
resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou
questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. É
denominada integrativa porque fornece informações mais
amplas sobre um assunto/problema, constituindo, assim,
um corpo de conhecimento18.
A revisão foi realizada a partir de levantamento
bibliográfico eletrônico em todas as bases de dados contidas
no portal Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), bem como no
Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com a utilização de
termos a partir das ferramentas Medical Subject Headings
Section (MeSH), do PubMed/MEDLINE, e DeCS (Descritores
em Ciências da Saúde), do Portal BVS: úlcera varicosa
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(varicose ulcer), úlcera cutânea (skin ulcer), úlcera da perna
(leg ulcer), infecção dos ferimentos (wound infection), fator
de crescimento epidérmico (epidermal growth factor).
Cabe destacar que por meio da BVS é possível realizar
busca nas bases Literatura Latino-americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS), Índice Bibliográfico Espanhol
de Ciências da Saúde (IBECS), Literatura Internacional em
Ciências da Saúde (MEDLINE) e Scientific Electronic Library
Online (SciELO).
Os critérios de inclusão foram estudos experimentais
ou quase-experimentais que abordassem como tema
central avaliações da efetividade do fator de crescimento
epidérmico no reparo tecidual de feridas; estudos cuja
coleta de dados se deu em qualquer nível de atenção à
saúde, em português, inglês e espanhol, de qualquer
ano de publicação, disponíveis gratuitamente online.
Foram excluídos estudos com populações não humanas e
textos repetidos nas diferentes bases de dados avaliadas.
Empregou-se o operador boleano AND.
A pesquisa foi realizada entre os dias 22 e 30 de janeiro
de 2016. Inicialmente, os textos tiveram seus títulos e
resumos avaliados quanto à adequação ao tema proposto e
aos demais critérios de inclusão. Posteriormente, os artigos
incluídos na pesquisa tiveram seus textos completos lidos,
em busca de evidências a respeito de potenciais efeitos
antimicrobianos do fator de crescimento epidérmico
quando aplicado em feridas. Dessa forma, foram incluídos
quatro artigos a partir das buscas na BVS (Figura 1) e dois
artigos a partir das buscas no Portal de Periódicos da
CAPES (Figura 2), totalizando seis artigos.
Figura 1 – Fluxograma de busca de artigos na Biblioteca Virtual em
Saúde. Niterói, 2016
Foram utilizadas as recomendações CONSORT
(Consolidated Standards of Reporting Trials) como indicador
de qualidade metodológica dos artigos19. Com base nas
recomendações do CONSORT, os artigos foram classificados
em três categorias: A – nos casos dos estudos preencherem
valor igual ou maior que 80% dos critérios; B – nos casos
de cumprimento entre 80 e 50% dos critérios estabelecidos
e C – se houve cumprimento inferior a 50% dos critérios
estabelecidos pelo CONSORT8.
RESULTADOS
Após a seleção e a leitura analítica dos artigos, foi
organizado o quadro 1, com os principais dados de cada
pesquisa: ano, país, método do estudo, tipo de ferida,
apresentação do fator de crescimento epidérmico (rhEGF),
aspectos relacionados à microbiologia das lesões avaliadas
e classificação segundo recomendações CONSORT.
Os resultados das buscas permitiram a seleção de seis
artigos: dois ensaios clínicos randomizados duplo-cegos
(28,57%), um ensaio clínico não randomizado (14,28%) e
três estudos quase-experimentais (42,85%).
Quatro artigos (57,13%) tratavam de úlceras de pé
diabético, um (14,28%) de feridas de etiologia venosa e um
(14,28%) de lesões oncológicas e venosas.
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Figura 2 – Fluxograma de busca de artigos no Portal de Periódicos da
CAPES. Niterói, 2016
Três estudos (42,85%) envolveram a aplicação tópica
de diferentes apresentações de rhEGF e três (42,85%)
abordaram a aplicação peri e intralesional de rhEGF, com
destaque para o produto Heberprot-P®.
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Quadro 1- Publicações incluídas na revisão integrativa da literatura por país de realização do estudo, autores, ano, periódico, área de atuação
dos autores e tipo de estudo. Brasil, 2014
Ano/ País
Método
Tipo de
ferida
2014/
México
Ensaio clínico Úlceras
randomizado
de pé
duplo-cego. diabético.
2012/
Argentina
Estudo quase
experimental.
Úlceras
de pé
diabético.
2009/
Vietnã
Estudo piloto
quase
experimental
Úlceras
de pé
diabético.
1992/
Venezuela
Ensaio clínico Úlceras de
randomizado etiologia
duplo-cego.
venosa.
2009/
Venezuela
Estudo quase
experi-mental.
Úlceras
de pé
diabético.
Feridas
oncolóEstudo piloto
1989/ Cuba
gicas e de
experimental.
etiologia
venosa.
Apresentação
do rhEGF
Principais resultados e aspectos relacionados à
CONSORT
microbiologia das lesões
Foram incluídos 34 pacientes no estudo, dos quais 15 foram
randomizados para o grupo intervenção. Verificou-se que
Determinar a
mais úlceras alcançaram cicatrização completa, obtiveram
eficácia e a
redução de área e desenvolveram ilhas de epitelização no
Pó liofilizado
segurança de rhEGF grupo intervenção, com significância estatística.
Heberprot-P®
A
em pacientes com O desenvolvimento de infecção severa foi um dos critérios
(75µg).
úlceras de pé
de descontinuidade do estudo. Pacientes que desenvolveram
diabético.
infecção superficial foram tratados com antibioticoterapia.
Após a injeção peri e intralesional de rhEGF, as feridas foram
cobertas com curativo primário a base de prata iônica.
Avaliar os resultados
Foram analisados 124 pacientes, dos quais 91% dos
do tratamento das
pacientes apresentou resposta de granulação parcial. A taxa
úlceras severas
de resposta de granulação total obtida foi de 70,3%, com
de pé diabético
uma taxa de fechamento total das úlceras em 69,2% dos
Pó liofilizado
(Wagner 3-4) com
pacientes.
B
Heberprot-P®
fator de crescimento
(75µg).
Os pacientes com sinais de infecção na ferida receberam
epidérmico
antibioticoterapia. Dois pacientes desenvolveram infecção
(Heberprot-P®)
nos membros inferiores durante o tratamento, recebendo
utilizado na prática
antibioticoterapia.
médica habitual.
Foram avaliados no estudo 28 pacientes. Todos alcançaram
Spray Easyef
granulação das lesões. Verificou-se cicatrização completa
Saesa
em 56,5% dos pacientes. Não foram observadas reações
Ointment®,
alérgicas.
(1ml de rhEGF
Avaliar a eficácia e a Foram feitas culturas microbiológicas das feridas no
a concentração
segurança do rhEGF momento do recrutamento para inclusão no estudo, mas não
de 0,005%
na cicatrização de são fornecidos dados sobre que tipos de testes eram feitos.
B
e 9ml de
úlceras de pé um Das 28 feridas avaliadas, 22 tiveram culturas microbiológicas
um solvente
pacientes diabéticos. positivas. O desenvolvimento de infecção na ferida durante o
composto por
estudo levou a exclusão do paciente da pesquisa. As feridas
20 mg de metilpassaram a receber o tratamento com Easyef e hidrocolóide
parahidroxia partir do momento que eram consideradas limpas ou sem
benzoato).
infecção.
Foram avaliados no estudo 18 pacientes, dos quais nove
estavam no grupo intervenção. Houve redução de mais de
Determinar o efeito
75% de área das úlceras em 30% dos pacientes tratados
Creme de
cicatrizante de
com sulfadiazina de prata com EGF. Já no grupo tratado
sulfadiazina
EGF associado com
apenas com sulfadiazina de prata, nenhum dos pacientes
de prata 1%
sulfadiazina de
teve redução de área da ferida maior que 75%. Apesar disso,
(10µg de rhEGF prata 1% comparada
B
não houve significância estatística.
a cada 1g de com sulfadiazina de
Os pacientes foram submetidos a estudos bacteriológicos
creme) em
prata isolada nas
do exsudato das feridas. Os resultados apontaram presença
frascos de 60g. lesões ulcerosas de
de Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus,
membros inferiores.
mas os autores não relatam se os pacientes foram ou não
submetidos à antibioticoterapia.
Identificar e
conhecer os
resultados obtidos
na aplicação de
doses indicadas de Foram incluídos no estudo 70 pacientes, tendo sido
Heberprot-P®, em evitada a amputação da extremidade em 72,8% dos casos.
Pó liofilizado pacientes portadores Alcançaram a cicatrização total da ferida 40% dos pacientes.
Heberprot-P® de lesões avançadas Os pacientes utilizaram antibióticos, quando se verificou
C
(doses de
grau 5 da escala de essa necessidade. Foram utilizadas soluções antissépticas
0.075µg).
Wagner, com ou sem durante a realização dos curativos. Todas as feridas tinham
grau de isquemia algum grau de infecção local associado, achado esse, obtido
associado, e para a partir da realização de culturas microbiológicas.
os quais tenha
sido considerada
a amputação da
extremidade.
Avaliar o efeito
Creme de
terapêutico
sulfadiazina
cicatrizante da
Foram avaliados oito pacientes. Em 50% dos casos,
de prata 1%
aplicação tópica alcançou-se remissão completa das lesões.
C
(10µg de rhEGF
de rhEGF em
Os autores não relataram aspectos relacionados à
a cada 1g de
úlceras cutâneas microbiologia das feridas.
creme).
de pacientes
oncológicos.
Objetivo do estudo
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As avaliações, a partir das recomendações CONSORT,
permitiram classificar um estudo no nível A (14,28%),
no qual se enquadram estudos de elevada qualidade
metodológica; três estudos no nível B (42,85%) e dois
estudos como nível C (28,56%).
DISCUSSÃO
Os resultados da presente pesquisa foram organizados
em duas categorias para discussão: “Apresentações
farmacêuticas do fator de crescimento epidérmico (rhEGF)”
e “Aspectos relacionados à microbiologia das lesões
tratadas com rhEGF”.
Categoria 1: Apresentações farmacêuticas do fator
de crescimento epidérmico recombinante humano
(rhEGF) e seus efeitos no processo de reparo tecidual
de lesões
Dos estudos incluídos na pesquisa, 33,33% (2/6),
descreveram o uso de cremes de sulfadiazina de prata 1%
acrescido de rhEGF20-21; 50% (3/6) tratavam com produto
Heberprot-P®, desenvolvido para aplicação intra e perilesional22-24 e 16,66% (1/6) tratou com produto Easyef®, um
spray contendo rhEGF13.
No estudo realizado em 1992, na Venezuela20, foram
realizados curativos com creme de sulfadiazina de prata
contendo rhEGF em dez pacientes com úlceras venosas,
cujos resultados de cicatrização foram comparados a dez
pacientes com feridas tratadas unicamente com creme de
sulfadiazina de prata.
O produto aplicado no grupo intervenção era composto
por 10µg de rhEGF em cada 1g de creme de sulfadiazina
de prata. Os autores informaram que os percentuais de
redução das úlceras tratadas com rhEGF foram maiores do
que daquelas tratadas apenas com creme de sulfadiazina
de prata, mas não houve significância estatística, o que é
atribuído à amostra pequena20. Porém, outras avaliações
quanto à estabilidade do produto não foram descritas,
indicando que esse ponto pode ser um viés da pesquisa.
Na publicação de resultados preliminares de um estudo
quase-experimental, que também aplicou topicamente
rhEGF associado a creme de sulfadiazina de prata, realizado
em Cuba21, os autores também não descreveram a realização
de avaliações em relação à estabilidade do produto
aplicado. Foram avaliados oito pacientes. Desses, dois
apresentavam úlceras radiogênicas, os quais alcançaram
100% e 70% de cicatrização de seus leitos lesionais. Cinco
pacientes tinham úlceras derivadas de extravasamento de
citostáticos, dos quais, três apresentaram respostas parciais
de cicatrização e dois tiveram completa reepitelização.
Por fim, um paciente tinha uma úlcera venosa e também
alcançou 100% de epitelização. Vê-se, com isso, que em
57,14% dos pacientes obteve-se cicatrização completa.
Outra apresentação tópica, disponível na Coréia, China
e em alguns países da América do Sul, avaliada em um
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dos estudos incluídos nessa revisão foi o Easyef Saesa
Ointment®, produzido por Daewoong Pharmaceutical Co.,
Ltd. (Coréia). É um produto em spray, contendo, 1ml de
rhEGF a 0,005% e 9ml de um solvente composto por 20 mg
de metil-parahidroxibenzoato13. Avaliou-se a cicatrização
de úlceras de pé diabético de 28 pacientes. Todas as lesões
incluídas nesse estudo quase-experimental alcançaram
100% de cicatrização.
Por sua vez, Heberprot-P®, um produto inovador
contendo fator de crescimento epidérmico recombinante
humano para infiltração peri e intralesional, na forma de
pó liofilizado, foi desenvolvido em Cuba. Seu registro foi
feito em 2006 e, em 2007, foi incluído na Lista Nacional
Cubana de Medicamentos Básicos, sendo aprovado para
comercialização.
No ensaio clínico controlado randomizado duplo-cego
realizado em 2014, no México22, a eficácia e a segurança
da aplicação intra e perilesional desse produto três vezes
por semana foi avaliada em comparação com a aplicação
de um veículo (placebo) em clientes com úlceras de pé
diabético durante oito semanas. Foram incluídos 34
pacientes, tendo ocorrido diferenças significativamente
estatísticas no grupo intervenção quando comparado ao
grupo controle, destacando-se os desfechos: cicatrização
completa das úlceras, tendo ocorrido em quatro casos no
grupo intervenção e em nenhum no grupo controle (p =
0,033); diminuição das áreas das feridas, de cerca de 12,5
cm2 no grupo intervenção e 5,2 cm2 no controle (p = 0,049);
e formação de ilhas de epitelização no leito das lesões, que
ocorreu em 28% dos casos no grupo intervenção e em 3%
no grupo controle (p = 0,025).
Já em um estudo quase-experimental desenvolvido na
Argentina23, em 2012, avaliando o produto Heberprot-P®
aplicado em 124 pacientes com úlceras diabéticas,
verificou-se que 91% dos pacientes apresentaram resposta
de granulação parcial, 70,3% teve suas lesões totalmente
granuladas e 69,2% das lesões foram cicatrizadas. O tempo
médio de cicatrização foi de 13 semanas.
Da mesma maneira, em outro estudo quaseexperimental24 foram avaliados 70 pacientes com úlceras
severas de pé diabético tratadas com Heberprot-P® em
dias alternados. Dentre esses pacientes, as injeções intra
e perilesionais conduziram a cicatrização completa em 28
casos (40%).
Categoria 2: Emprego de terapia antimicrobiana
como coadjuvante no tratamento de feridas com fator
de crescimento epidérmico recombinante humano
(rhEGF)
Dos seis estudos analisados, 50% descreveram que
pacientes com sinais de infecção nas lesões foram
submetidos à antibioticoterapia22-24, pesquisas essas
publicadas entre 2009 e 2014, o que pode indicar que a
relevância deste aspecto nas avaliações das lesões vem
sendo prioritariamente considerada mais recentemente.
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O estudo realizado em 1992, na Venezuela20, associou
rhEGF à sulfadiazina de prata. É possível que alguma ação
antimicrobiana tenha ocorrido devido à presença da prata,
que tem ação bactericida. Os autores informam ter realizado
estudos bacteriológicos a partir do exsudato das feridas
avaliadas, tendo encontrado prioritariamente Pseudomonas
aeruginosa (64,7%) entre as bactérias gram-negativas e
Staphylococcus aureus (35,29%), entre as gram-positivas.
Entretanto, não são encontradas no estudo associações entre
os resultados das culturas microbiológicas e os resultados de
cicatrização obtidos. Se fossem realizadas, essas avaliações
teriam enriquecido significativamente o trabalho.
Da mesma forma, em um estudo preliminar21, no qual
se verificou uma associação de rhEGF com sulfadiazina de
prata, não foram descritos aspectos microbiológicos, nem
mesmo quanto a conhecida atividade bactericida da prata.
Por outro lado, o estudo realizado no Vietnã13, em
2009, informou que as feridas apenas passaram a receber
o curativo com Easyef Saesa Ointment® e uma cobertura
secundária de hidrocolóide quando encontravam-se
sem infecção. A presença de infecção na ferida na fase
de recrutamento era um critério de exclusão, como o
desenvolvimento de infecção na ferida durante o tempo
de seguimento dos pacientes no estudo era um critério
de descontinuidade. Assim, não foram feitas verificações
relacionadas a potenciais ações antimicrobianas do rhEGF.
No estudo que avaliou o produto Heberprot-P®, no
México, em 201422, os autores afirmaram que a aplicação
tópica de rhEGF em feridas crônicas é desaconselhada,
pois as proteases do biofilme que, em geral, cobrem essas
lesões podem degradar o produto. Nesse sentido, apesar
do estudo ter um desenho que reflete grande qualidade
metodológica, cabe destacar que não foram feitas
avaliações laboratoriais para comprovar essa afirmação.
Pacientes que desenvolveram infecção superficial nas
feridas22 foram tratados com antibioticoterapia, e aqueles
que apresentaram infecções severas foram descontinuados
da pesquisa, indicando que o rhEGF não tenha ação
antimicrobiana. O emprego de uma cobertura primária a
base de prata iônica, após a injeção intra e perilesional
de Heberprot-P®, pode ter colaborado para o controle de
infecções22.
Em outro estudo realizado na Argentina avaliando
o Heberprot-P®23, considerou-se o desenvolvimento de
infecção superficial nas feridas como evento adverso e os
pacientes que enfrentaram esse circunstância receberam
antibioticoterapia, corroborando ausência de ação
antimicrobiana do rhEGF. Os autores não descreveram
claramente qual via foi empregada para administração
dos antimicrobianos, mas informaram que, nos casos em
que esse tratamento foi necessário, os pacientes foram
internados, dando a entender que os antimicrobianos
foram administrados por via parenteral.
Da mesma forma, em pesquisa realizada em 200924,
os autores informaram que os pacientes com infecção
receberam antibioticoterapia e também não relataram
claramente qual via foi empregada, registrando apenas
que os pacientes foram internados para tratamento. Além
disso, os curativos foram realizados com uso de soluções
antissépticas. Verificou-se que havia contaminação
microbiana em todas as lesões avaliadas por meio de
culturas.
CONCLUSÃO
Considerando que, em geral, os artigos apontaram para
o uso de medicações antimicrobianas nos casos em que
as feridas apresentaram características de infecção, além
do uso de fator de crescimento epidérmico recombinante
humano (rhEGF), pode-se inferir que este produto não
apresenta atividade antimicrobiana quando aplicado em
feridas crônicas.
Sugere-se a realização de ensaios clínicos
randomizados controlados com rigor metodológico, que
avaliem a efetividade de diferentes apresentações de
rhEGF, em diferentes tipos de lesões crônicas. Destaca-se,
nesse sentido, a necessidade de uma assistência integral
ao paciente, com a inclusão da realização de estudos
observacionais que promovam avaliações microbiológicas
com vistas a comparar as espécies bacterianas presentes
tanto nas feridas tratadas com rhEGF, bem como naquelas
tratadas com placebos ou terapias padrões.
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R E V I S Ã O I N T E G R AT I VA
Impacto da úlcera de perna na qualidade de vida de
idosos: uma revisão integrativa
Impact of leg ulcer on quality of life of elderly:an integrative
review
Ana Paula Cardoso Tavares1 • Eliane da Silva Pereira2 • Selma Petra Chaves Sá3
RESUMO
Objetivo: Analisar as evidências científicas acerca do impacto da úlcera de perna na qualidade de vida de idosos.
Método: Trata-se de uma revisão integrativa cujo levantamento foi realizado nas bases de dados LILACS, BDENF,
IBECS, MEDLINE (via BVS) e na MEDLINE (via PubMed). Os critérios de inclusão foram: artigos em português, inglês
e espanhol, na íntegra e on-line, publicados no período de 2010 a 2015. O critério de exclusão estabelecido foi:
artigos repetidos em diferentes bases e revisões sistemáticas. Após a análise das publicações na íntegra quanto aos
critérios instituídos, apenas 10 estudos atenderam às exigências. Resultado: Em geral, os estudos mostraram a dor,
o distúrbio do sono, os sintomas depressivos e a mobilidade restrita como fatores que contribuem para a diminuição
do padrão de qualidade de vida dos idosos com úlceras de perna. Conclusão: Torna-se fundamental a elaboração de
estratégias que visem à implementação de uma assistência voltada para a melhora da qualidade de vida dos idosos
com úlceras de perna.
Palavras-chave: Idoso; Qualidade de vida; Úlcera da perna.
ABSTRACT
Objective: Analyze the scientific evidence on the impact of leg ulcers on quality of life of the elderly. Method: This
is an integrative review whose survey was conducted in the databases LILACS, BDENF, IBECS, MEDLINE (via BVS)
and MEDLINE (via PubMed). Inclusion criteria were: articles in Portuguese, English and Spanish in its entirety and
online, published from 2010 to 2015. The established exclusion criteria were: articles repeated on different bases
and systematic reviews. After reviewing the publications in full as the established criteria, only 10 studies met the
requirements. Results: In general, the studies have shown the pain, the sleep disorder, depressive symptoms and
restricted mobility as factors contributing to the decline in the quality of life of elderly patients with leg ulcers.
Conclusion: It is essential the create strategies to implement a targeted assistance to improve the quality of life
of elderly patients with leg ulcers.
Keywords: Aged; Quality of life; Leg ulcer.
NOTA
1
Enfermeira. Aluna do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa/ Universidade Federal Fluminense. Escola
de Enfermagem Aurora de Afonso Costa/Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. E-mail: [email protected].
2
Enfermeira. Aluna do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa/ Universidade Federal Fluminense. Escola
de Enfermagem Aurora de Afonso Costa/Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. E-mail: [email protected].
3
Pós-doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense. Escola de Enfermagem Aurora de
Afonso Costa/Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
As úlceras de membros inferiores são lesões que
podem surgir espontaneamente ou de forma acidental,
relacionadas a processos patológicos sistêmicos ou no
membro afetado e que não cicatrizam em determinado
intervalo de tempo. Causam dor e reduzem a capacidade de
deambular, resultando em dependência, perdas econômicas
e isolamento social devido à aparência e odor desagradável1.
Essas úlceras podem levar meses ou mesmo anos para
curar; quando curadas, cerca de dois terços dos indivíduos
experimentam a recorrência da úlcera, uma vez que a causa
subjacente é, muitas vezes, a insuficiência venosa crônica2.
Estima-se que as úlceras de perna afetam de 1% a 2% da
população mundial, sendo mais frequentes em indivíduos
acima de 65 anos3. Isso ocorre devido às condições mais
propensas ao desenvolvimento de lesões por indivíduos
mais velhos, como a presença de doenças vasculares,
insuficiência venosa, pressão arterial descontrolada e
diabetes mellitus4.
O longo período de convivência com uma ferida ocasiona
uma série de dificuldades a serem enfrentadas por seus
portadores, e tais alterações envolvem os diversos aspectos
da vida desse indivíduo5. Essas alterações provocam a
desmotivação e a incapacidade para o autocuidado e para
as atividades de vida e de convívio social6.
Considerando as mudanças decorrentes do processo de
envelhecimento, a presença da úlcera de perna torna-se
um agravante ao bem-estar do idoso, podendo ser um fator
interferente em sua qualidade de vida.
Atualmente, há uma maior preocupação com a
qualidade de vida dos indivíduos com úlcera de perna,
principalmente os idosos. Em vista disso, torna-se
fundamental pesquisar o impacto da úlcera de perna na
qualidade de vida dos idosos com o intuito de elaborar
estratégias para a implementação de uma assistência
voltada para a necessidade desses indivíduos.
Mediante o exposto, foi elaborada a seguinte pergunta
de pesquisa: Quais são as evidências encontradas na
literatura científica sobre o impacto da úlcera de perna na
qualidade de vida dos idosos? Esta pesquisa, assim, possui
como objetivo: analisar as evidências científicas acerca do
impacto da úlcera de perna na qualidade de vida de idosos.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem
qualitativa a partir de um levantamento bibliográfico.
Para a elaboração deste estudo optou-se pela Revisão
Integrativa. A Revisão Integrativa é uma estratégia que
permite a síntese de informações sobre determinada
temática, através da análise rigorosa de dados de pesquisas
de diferentes metodologias7.
Esse método consta de 6 etapas importantes:
1) elaboração da pergunta norteadora; 2) busca ou
amostragem na literatura; 3) coleta de dados; 4) análise
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crítica dos estudos incluídos; 5) discussão dos resultados;
6) apresentação da revisão integrativa7.
A primeira etapa é constituída pela elaboração da
pergunta norteadora, conforme já mencionado: Quais são
as evidências encontradas na literatura científica sobre
o impacto da úlcera de perna na qualidade de vida dos
idosos?
A segunda etapa refere-se à busca ou amostragem
na literatura, a qual foi realizada na Biblioteca Virtual de
Saúde (BVS) nas bases de dados LILACS, BDENF, IBECS e
MEDLINE. Optou-se, também, pela busca no portal PubMed
na base de dados MEDLINE devido à disponibilidade de
um quantitativo maior de estudos. A busca ocorreu no mês
de fevereiro de 2016.
Os vocábulos utilizados foram os Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS), usados na BVS e os Medical
Subject Headings (MeSH) utilizados na PubMed. Foram
usados os seguintes DeCS: “idoso”, “qualidade de vida”,
“úlcera da perna”, e os seguintes MeSH: “aged”, “quality of
life”, “leg ulcer”. A busca foi realizada com os descritores
associados através do operador booleano “AND”.
Ainda na segunda etapa, deve-se expor os critérios de
inclusão e exclusão dos estudos. Assim sendo, os critérios
de inclusão foram: artigos em português, inglês e espanhol,
na íntegra e on-line, publicados no período de 2010 a 2015.
O critério de exclusão estabelecido foi: artigos repetidos
em diferentes bases e revisões sistemáticas.
A terceira etapa consiste na coleta e organização dos
dados extraídos dos estudos selecionados. Nesta etapa, as
informações foram organizadas e sumarizadas para melhor
manejo. As informações foram tabuladas nas Tabelas 1 e 2
apresentadas nos resultados do presente estudo.
A quarta etapa abrange a análise crítica da evidência
dos estudos selecionados. Para isso, foi empregado o
sistema de hierarquia dos níveis de evidências, porém,
devido aos critérios de inclusão e exclusão do estudo, o
nível I e o nível V não serão considerados para o estudo.
Nível I − evidências provenientes de revisão sistemática
ou metanálise de ensaios clínicos randomizados
controlados ou oriundos de diretrizes clínicas baseadas
em revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados
controlados; nível II − evidências derivadas de pelo menos
um ensaio clínico randomizado controlado; nível III −
evidências obtidas de ensaios clínicos sem randomização;
nível IV − estudos de coorte e caso-controle; nível V −
revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos;
VI − evidências derivadas de um estudo descritivo e/ou
qualitativo; nível VII − opinião de autoridades ou relatório
de comitês de especialistas8.
Na quinta etapa foram realizadas a interpretação e a
discussão dos resultados obtidos acerca do impacto da
úlcera de perna na qualidade de vida dos idosos.
A sexta etapa finaliza o estudo apresentando a revisão
e a síntese das evidências sobre o do impacto da úlcera de
perna na qualidade de vida dos idosos.
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O fluxograma a seguir apresenta o processo de seleção
dos artigos.
Os principais resultados identificados nos artigos
selecionados são apresentados conforme demonstram as
Tabelas 2 e 3. Com relação à temática dos artigos, pode-se
dizer que todos abrangem o tema da revisão integrativa,
uma vez que abordam evidências acerca do impacto da
úlcera de perna na qualidade de vida de idosos.
Analisando as produções quanto ao ano de publicação,
observou-se que seis artigos foram publicados no ano de
2014, dois artigos no ano de 2013 e dois artigos no ano
de 2012. Os anos de 2015, 2011 e 2010 não apresentaram
estudos relacionados à temática.
Os instrumentos utilizados nos estudos foram The 36Item Short Form Health Survey (SF-36), The 12-Item Short
Form Health Survey (SF-12), The Venous Leg Ulcer Quality
of Life Questionnaire (VLU-QoL-Br), Visual Analogue
Scale (VAS), Nottingham Health Profile (PHN), Wuerzburg
Wound Score (WWS) e Numeric Pain Scale (NPS). Esses
instrumentos possuem como finalidade avaliar a qualidade
de vida, mensurar o nível da dor causada pela úlcera e
traçar o perfil de saúde do indivíduo.
DISCUSSÃO
A presente revisão integrativa identificou as principais
evidências científicas acerca do impacto da úlcera de perna
na qualidade de vida de idosos encontradas nas bases
LILACS, BDENF, IBECS, MEDLINE, publicadas no período de
2010 a 2015.
Figura 1 – Fluxograma do levantamento dos artigos. Niterói, RJ, Brasil,
2016.
Os artigos incluídos após o levantamento bibliográfico
estão distribuídos conforme mostra a tabela a seguir.
RESULTADOS
Os artigos selecionados foram organizados em duas
tabelas para melhor visualização das informações.
As úlceras de perna analisadas nos estudos selecionados
apresentaram diversas etiologias, como insuficiência
venosa, arterial, arteriovenosa, aterosclerose de membro
inferior, traumática, neuropática, entre outras. A etiologia
venosa foi a mais prevalente dentre as úlceras de membros
inferiores, assim como descrito na literatura19.
A maioria dos participantes dos estudos foram idosos,
visto que estes são os indivíduos mais suscetíveis ao
desenvolvimento de úlceras devido às alterações na
fisiologia da pele decorrente do processo de envelhecimento
e a possíveis fragilidades e dificuldades de locomoção.
Tabela 1. Distribuição dos artigos de acordo com os periódicos selecionados nas bases de dados LILACS, BDENF, IBECS, MEDLINE no período
de 2010 a 2015. Niterói, RJ, Brasil, 2016.
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Tabela 3. Estudos selecionados no portal BVS. Niterói, RJ, Brasil, 2016.
Quanto aos problemas relacionados à qualidade de
vida, é importante destacar que a dor9-13,15-7,20-3, os distúrbios
do sono/insônia11-2,20-3, a ideação suicida12, a ansiedade17,
os sintomas depressivos24,12, a mobilidade restrita17,20-2,25
e o distúrbio da imagem corporal17 foram identificados
como possíveis consequências causadas pela presença da
úlcera de perna. Outras consequências foram encontradas
na literatura, como isolamento social, estresse, humor
negativo, restrições nas atividades de vida diária, podem
estar presentes nesses indivíduos20-2,25,27.
É de extrema valia que a enfermagem obtenha o
conhecimento dos possíveis fatores que possam interferir
nos aspectos da qualidade de vida dos idosos portadores
de úlcera de perna, já que é a partir da identificação desses
fatores que a enfermagem elabora suas estratégias de
intervenção a fim de serem aplicadas e cooperarem para
uma melhora da qualidade de vida.
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A maioria dos estudos analisados retrataram a dor como
um dos principais problemas que acometem os indivíduos
portadores de úlcera de perna e, consequentemente, afetam
seu padrão de qualidade de vida. A dor é uma das principais
queixas de quem tem uma lesão de continuidade na pele2930
. Ela ocorre em 28% a 65% das pessoas portadoras e,
algumas vezes, é descrita como intensa1.
Os estudos mostraram que a maioria dos pacientes
relata dor relacionada à ferida, sendo que muitos não
conseguem aliviar a dor com o uso de analgésicos9. A
dificuldade para dormir devido à dor causada pela úlcera
também foi identificada, sendo confirmada pela correlação
significativa entre as variáveis dor da ferida e perturbações
do sono11.
Na pesquisa relacionada ao controle da dor, a maioria
dos indivíduos foram predominantemente caracterizados
por outros poderosos lócus de controle da dor (influências
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Tabela 2. Estudos selecionados no portal PUBMED. Niterói, RJ, Brasil, 2016.
externas como profissionais de saúde ou acaso)13,
resultado também encontrado em um estudo realizado
com uma escala de lócus de controle da dor em idosos29.
O lócus interno foi afetado negativamente pela idade mais
avançada e estágio da doença13.
O lócus de controle da dor pode desempenhar um
papel crítico na determinação da qualidade de vida
em pacientes com úlceras de membros inferiores. A
identificação de indivíduos com um perfil de controle da
dor desfavorável (ou seja, relacionada unicamente com
outros poderosos lócus ou modulada pelo acaso) permite
a oportunidade de oferecer a esses pacientes uma atenção
adequada como componente de um modelo holístico de
cuidado13.
É essencial que os profissionais estejam atentos
aos sinais verbais e não verbais durante a realização do
cuidado, pois o paciente pode apresentar dor relacionada
à manipulação da úlcera. Neste caso, o profissional deve se
concentrar em diminuir a dor, pois autores apontam que,
durante o cuidado, é necessário se concentrar nos fatores
que afetam a qualidade de vida do paciente1,30.
Em relação ao padrão de qualidade de vida, as
variáveis níveis mais elevados de dor, idade mais jovem,
maior tamanho e maior duração da úlcera e dificuldade
de locomoção foram associadas com baixos níveis de
qualidade de vida10, assim como as variáveis causas da
lesão, dor relacionada com as úlceras, tempo de início,
e a gravidade dos sintomas depressivos, apresentaram
influência16.
Em relação aos escores obtidos pelas escalas de avaliação
de QV, os componentes físico e mental apresentaram baixa e
média pontuação, respectivamente. Corroborando em parte
com este achado, outro estudo apresentou os escores baixos
relacionados aos domínios de saúde mental e aspecto físico
em pacientes com úlceras venosas31. A dor apresentou
associação significativa com as variáveis idade mais jovem,
vivendo com os outros, e artrite15.
Os menores escores do componente físico apresentaram
associação com o sexo feminino, etiologia da úlcera
venosa / mista, úlceras maiores, maior tempo de úlcera,
doenças cardiovasculares, artrite e maior intensidade de
dor. Escores menores do componente mental da avaliação
da qualidade de vida apresentaram associação com menor
idade, maior tempo de úlcera, comorbidade e maior
intensidade da dor15.
A avaliação da QV realizada somente em pacientes
com úlceras venosas apresentou escores associados à
área total das úlceras e à menor escolaridade dos sujeitos
independente da idade, do gênero, o tempo de úlcera ativa
e do número de úlceras14. Porém, um estudo realizado no
Uruguai mostrou um padrão de qualidade de vida pior
em pacientes jovens, devido a um maior impacto em sua
autoestima, renda etc32.
Em relação ao impacto na qualidade de vida em
pacientes com úlceras arteriais e venosas, foi observado
um impacto maior no grupo de úlcera arterial do que em
pacientes com úlcera venosa. Esse resultado foi observado
tanto nos questionários genéricos, como nos específicos18.
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É preciso compreender, portanto, a singularidade de
cada indivíduo de forma a valorizar suas queixas e realizar
intervenções adequadas para o conforto e melhoria da
qualidade de vida do paciente.
Além disso, é necessário lembrar que o idoso possui uma
demanda de cuidado ainda maior, pois este, muitas vezes,
possui seu quadro clínico agravado por consequência do
processo de envelhecimento.
CONCLUSÃO
As úlceras de perna são consideradas um grave
problema de saúde pública que afeta, principalmente,
pessoas idosas. A presença da úlcera de perna no dia a dia
desses indivíduos causa implicações biopsicossociais que
provocam grande impacto na sua qualidade de vida.
O objetivo da presente revisão integrativa foi identificar
evidências científicas acerca do impacto da úlcera de perna
na qualidade de vida de idosos nas bases LILACS, BDENF,
IBECS, MEDLINE, publicadas no período de 2010 a 2015.
Aponta-se como limitação do estudo o baixo nível
de evidência dos artigos selecionados. É importante
ressaltar que estudos com maiores níveis de evidência,
como os ensaios clínicos randomizados, em sua maioria,
buscam avaliar a efetividade de produtos e a cicatrização
das úlceras, não possuindo como desfecho principal a
qualidade de vida do paciente.
Os fatores relacionados a um baixo padrão de qualidade
de vida dos pacientes com úlceras de perna foram a dor,
o distúrbio do sono/insônia, ideação suicida, ansiedade,
sintomas depressivos, mobilidade restrita e distúrbio da
imagem corporal.
É preciso compreender que o processo de cuidar aborda
o ser biopsicossocial, não se limitando apenas ao cuidar da
lesão. É papel fundamental do enfermeiro estabelecer uma
abordagem holística a esse paciente a fim de minimizar
seu sofrimento e dor.
Portanto, enfatiza-se que a realização de pesquisas
sobre a temática é fundamental para a elaboração de
estratégias que visem à implementação de uma assistência
voltada para a melhora da qualidade de vida dos idosos
com úlceras de perna.
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Acolhimento aos familiares de vítimas de óbitos por
causas externas
Family hosting of victims’ death external causes
Wbiratan de Lima Souza1 • Cristina Lavoyer Escudeiro2 • Geisiane de Souza Santos3 • Lucimere Maria dos Santos4 •
Eliane Ramos Pereira5 • Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva6
RESUMO
Os agravos que contemplam as causas externas, anualmente, matam mais de 5 milhões de pessoas em todo o
mundo, o que representa cerca de 9% da mortalidade mundial. Este estudo objetivou descrever a experiência
vivenciada pela equipe no acolhimento aos familiares de vítimas de óbitos por causas externas em um hospital de
referência em Alagoas. Trata-se de um relato de experiência vivenciado no decorrer das práticas profissionais em
um hospital de referência em trauma em Alagoas. Desde da implantação do Hospital em 2003 aos dias atuais, várias
transformações foram acontecendo na prática hospitalar, como demanda de vítimas de acidentes ou violências, bem
como ocorrências de óbitos foram aumentando. Simultaneamente a todas essas mudanças, vários questionamentos
iam sendo feitos pelos próprios profissionais e familiares referentes à condução do corpo após o óbito. A partir da
análise desta realidade, evidenciou-se a necessidade de definição de um fluxograma, com participação efetiva da
equipe interdisciplinar, para facilitar a condução do corpo após o óbito. Portanto, o trabalho da equipe interdisciplinar
no acolhimento aos familiares de vítimas de óbitos por causas externas caracterizou-se como uma estratégia de
aperfeiçoamento pessoal, profissional e teórico/prático-científico, possibilitando redução do tempo para liberação
do corpo da Unidade Hospitalar para o Instituto Médico Legal e, posteriormente, velório e sepultamento.
Palavras-chave: Comunicação Interdisciplinar; Acolhimento; Morte; Relações Profissional-Família; Causas Externas.
ABSTRACT
The external causes’ aggravation annually kill more than 5 million people worldwide, representing about 9% of
global mortality. This study aimed to describe the experience lived by the reception staff to family victims’ external
causes in a referral trauma specialized hospital in Alagoas. Since the deployment - in 2003 - until today, several
changes were happening in hospital practice, as demand for victims of accidents or violence and occurrences’ deaths
were being increased. Simultaneously, with all these changes, many questions were being made by professionals
themselves and their families regarding the conduct of the body after death. From the analysis of this reality, it
showed the indispensability on defining a flow chart, with the effective participation of an interdisciplinary team, to
facilitate body conduction after death. Therefore, the work of the interdisciplinary team in welcoming these death’s
parents characterized as personal development strategy, professional and theoretical / practical-scientific, enabling
reduced time to release the body from the Hospital Unit to Forensic Institute and then wake and burial.
Keywords: Interdisciplinary Communication; User Embracement; Death; Professional-Family relations; External Causes.
NOTA
1
Enfermeiro. Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial (MPEA) da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) da
Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor do Centro Universitário Tiradentes (UNIT-Maceió). Professor da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
(UNCISAL). Professor substituto da Universidade Federal de Alagoas (UFAL-Maceió). Enfermeiro Assistencial do Hospital de Emergência 1 Dr. Daniel Houly (HEDH). Membro
do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Cidadania e Gerência e Enfermagem (NECIGEN). Maceió - AL, Brasil. E-mail: [email protected].
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Coordenadora do curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) da Universidade
Federal Fluminense (UFF). Docente Permanente do MPEA (EEAAC/UFF). Membro do NECIGEN. Niterói – RJ. Brasil. E-mail: [email protected].
3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial (MPEA) da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) da
Universidade Federal Fluminense (UFF). Enfermeira do Hospital Estadual Roberto Chabo. Membro do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Cidadania e Gerência e Enfermagem
(NECIGEN). Saquarema - RJ, Brasil. E-mail: [email protected].
4
Enfermeira. Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial (MPEA) da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) da
Universidade Federal Fluminense (UFF). Enfermeira do Instituto Nacional do Câncer (INCA – Ambulatório de Oncologia Clínica e Hematologia). Duque de Caxias - RJ, Brasil.
E-mail: [email protected].
5
Enfermeira. Pós-Doutorado em Enfermagem. Coordenadora e Docente do Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial (MPEA), Professora do Curso de
Graduação (EEAAC/UFF). São Gonçalo – RJ. Brasil. E-mail: [email protected].
6
Enfermeira, Psicóloga e Filósofa. Doutora em Enfermagem. Vice – Coordenadora do Programa de Mestrado Ensino na Saúde (MPES) da Escola de Enfermagem Aurora de
Afonso Costa (EEAAC) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Docente Permanente do MPEA (EEAAC/UFF). Barra da Tijuca – RJ. Brasil. E-mail: [email protected].
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INTRODUÇÃO
Os agravos que contemplam as causas externas,
anualmente, matam mais de 5 milhões de pessoas em todo
o mundo, o que representa cerca de 9% da mortalidade
mundial. Causam, também, danos a outros milhões de
sobreviventes, gerando repercussões de hospitalizações,
bem como atendimentos ambulatoriais e de emergência1-2.
Em 2011, no Brasil, dados do Ministério da Saúde (MS)
mostraram que as causas externas vitimaram cerca de
145 mil pessoas, correspondendo à terceira maior causa
de morte no país (12% do total), e foram responsáveis por
cerca de 1 milhão de internações (aproximadamente 9%
do total), sendo a quinta causa de internações no Sistema
Único de Saúde (SUS), e, vale ressaltar, que as vítimas que
não necessitaram de internação não fazem parte destes
dados estatísticos3.
No Brasil, o coeficiente padronizado de mortalidade
por causas externas é muito maior entre homens (178 por
100 mil habitantes) do que entre mulheres (24 por 100
mil habitantes), sendo maiores entre homens mais jovens
dentre 20 a 29 anos, em todas as regiões, e diminuindo
com a idade, dando ênfase aos valores maiores nas regiões
Norte e Nordeste4.
Os acidentes e violências são considerados como
um conjunto de agravos que podem, de acordo com a
vulnerabilidade e fatores de riscos comportamentais,
configurar-se ou não no óbito, isto é, passível e previsível
de prevenção, e configuram-se como um problema de
saúde pública5-6.
Neste grupo de causas externas, incluem-se as
lesões provocadas por eventos de transporte, suicídios,
homicídios,
agressões,
envenenamentos,
quedas,
afogamentos, queimaduras, lesões por deslizamento
ou enchente, e outras ocorrências provocadas por
circunstanciais ambientais. Este conjunto de agravos está
inserido na Classificação Internacional de Doenças – CID
10, catalogado no eixo das causas externas (capítulo XX da
CID 10), entre outros (capítulo XIX da CID 10)3-7.
Frente ao grau de relevância no contexto social, no
que se remete às repercussões da mortalidade decorrente
desses agravos, para emissão de dados confiáveis referentes
à mortalidade, foi implantado no Brasil, na década de 1970
o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), no intuito
de apresentar de forma gradativa e aprimorada dados mais
precisos, gerando, assim, uma qualidade na informação8.
Quanto à causa da morte, ainda hoje, as informações
do SIM são afetadas pela presença de causas mal definidas
(Capítulo XVII da Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima
Revisão CID 10), assim como dos diagnósticos incompletos,
que se constituem em causas residuais de Capítulos de
causas bem definidas8,9.
Atualmente, no Brasil, as investigações de óbitos por
causas mal definidas que têm como agravos acidentes e
violências, são de responsabilidade do Instituto Médico
Legal (IML), que tem como finalidade tentar minimizar tais
situações, emitindo laudos mais concretos e exatos sobre
a real causa do óbito, corroborando uma informação mais
confiável e precisa8,9.
Os Hospitais de referência em Trauma em Alagoas
seguem o mesmo fluxo do país, que, em casos de óbitos
por causas de acidentes e violência, emite-se uma guia de
transferência, na qual o corpo deve ser encaminhado para
o IML para emissão de um laudo e, consequentemente, da
Declaração de Óbito (DO), com a definição da causa8,9.
Entretanto, sabe-se que, nos serviços de saúde, muitas
vezes não existe um acolhimento humanizado aos familiares
que passam por um momento crítico e de desestabilidade
emocional devido à perda de um ente querido, no que se
refere à concessão de informações claras e concisas sobre
as etapas a serem percorridas, desde a liberação do corpo
para o velório até o sepultamento, facilitando, assim, o
caminho a ser percorrido pelos familiares10.
Diante do exposto, o objetivo deste relato é descrever
a experiência vivenciada pela equipe interdisciplinar no
acolhimento aos familiares de vítimas de óbitos por causas
externas em um hospital de referência em Alagoas.
MÉTODO
Trata-se de um relato de experiência vivenciado no
decorrer das práticas profissionais em um hospital de
referência em trauma em Alagoas, cuja trajetória histórica
se deu no período de 2009 a 2015, no entanto, este foi
descrito em 2015.
Alagoas, um estado brasileiro, composto por 102
municípios, tendo como principais referências Maceió
(Capital) e a segunda maior cidade do estado, Arapiraca;
cada cidade foi intitulada como polo afim de descentralizar
as ações e os serviços para os outros municípios. Da mesma
forma, foram criados dois Institutos Médico Legal – IMLs
– um em cada cidade, com intuito de favorecer laudos
mais rápidos e precisos sobre os óbitos por acidentes e
violências relacionadas, em geral, por causas externas.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (2015), em 2015, Alagoas possui uma
população estimada de 3.300.938 habitantes, sendo destes
1.013.773 habitantes em Maceió, e 231.053 habitantes
em Arapiraca, isto é, praticamente 50% da população do
estado habitam nessas duas cidades11.
Diante disso, o estado implantou dois grandes serviços
públicos de saúde de referência, o Hospital Geral do
Estado (HGE), localizado na capital alagoana, tendo como
referência situações de urgências e emergências clínicas
e/ou traumáticas; e, na cidade de Arapiraca, foi implantado
o Hospital de Emergência Dr. Daniel Houly (HEDH),
referência para a segunda macrorregional em urgências e
emergências apenas traumáticas.
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Souza WL, Escudeiro CL, Santos GS, Santos LM, Pereira ER, Silva RMCRA
DESCREVENDO A EXPERIÊNCIA
Breve contexto social, histórico e cultual da instituição
O Hospital de Emergência Dr. Daniel Houly, situado
na cidade de Arapiraca, município de Alagoas que está
localizado a 101,87 Km da capital Maceió, na região
agreste, e possui uma extensão territorial de 351,48 Km2
de acordo com a Associação dos Municípios Alagoanos
(AMA). Arapiraca ficou conhecida, nos anos 70, como a
“Capital do Fumo” por ser um dos maiores produtores de
tabaco do país11. Desde sua implantação em 18 de julho
de 2003, o HEDH é uma instituição pública especializada
em atendimentos de urgências e emergências traumáticas.
Atende a 56 dos 102 municípios de Alagoas, em um
universo de aproximadamente 1.100.000 habitantes das
regiões do Sertão, Agreste e Baixo São Francisco, buscando
atender à grande demanda de usuários, tendo em vista
a grande proliferação de acidentes de trânsito e a boa
localização do município.
Diante disso, vale considerar que entender o
desenvolvimento da complexa organização denominada
hospital e, ainda, como se dá o processo de configuração
de um modelo de gestão, além de considerar o
enfoque centrado no cliente pode proporcionar
aos administradores brasileiros não um modelo a
ser meramente copiado sem uma reflexão de sua
aplicabilidade, em cada realidade, mas, sim, um norte
de como os hospitais podem chegar a ser empresas
proativas e com um modelo de gestão implantado de
maneira consciente pelo grupo de poder12.
Refletir, conhecer e viver sobre o processo de morte e
morrer: transcendendo a forma tradicional do manejo
do corpo em óbito
A equipe interdisciplinar em saúde, de forma
direta e/ou indireta, participa do processo de morte dos
pacientes graves, ou mesmo do óbito súbito, principalmente
com o sofrimento dos familiares durante as visitas diárias
ao paciente grave, em fase terminal, ou no momento
da notícia do óbito. O enfermeiro e o médico são os
primeiros profissionais a identificarem o óbito, por serem
os responsáveis pela assistência direta ao paciente crítico.
Ao médico lhe é dado a incumbência de notificar o óbito13;
ao enfermeiro e equipe de enfermagem, identificar sinais
e sintomas de instabilidade hemodinâmica que possam
levar ao óbito, bem como preparar o corpo após o óbito.
Diante do óbito estabelecido, vale ressaltar a importância
do psicólogo e do assistente social. O primeiro é acionado
para apoiar emocionalmente os familiares, e ao segundo
cabe a responsabilidade de acompanhar todas as etapas
necessárias com o encaminhamento do corpo ao IML, bem
como orientações sobre as etapas da liberação do corpo.
Assim, todos os profissionais, contribuem de forma direta
ou indireta para o acolhimento aos familiares de vítimas
de óbitos por causas externas nesta instituição.
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Percebe-se que o impacto das causas externas de
morbidades no Brasil é bastante relevante por todas as
repercussões ocasionadas, seja no âmbito familiar ou
social14. Nesta instituição, após o médico identificar o óbito,
é realizado o preenchimento de três vias de um formulário
denominado de guia de transferência do IML; o enfermeiro
aciona a equipe do serviço social, que se responsabiliza em
solicitar a presença da família no hospital, caso esta ainda
não esteja no local, para dar seguimento às etapas.
Estratégias implantadas para favorecer o cuidar e o
acolher aos familiares de vítimas de óbitos por causas
externas
Desde sua implantação até os dias atuais,
várias transformações foram acontecendo na prática
hospitalar, como demanda de vítimas de acidentes
ou violências, bem como ocorrências de óbitos foram
aumentando. Simultaneamente a todas essas mudanças,
vários questionamentos iam sendo feitos pelos próprios
profissionais e familiares referentes à condução do corpo
após o óbito.
Diante disso, ao longo dos anos, a equipe do Serviço
Social assumiu a responsabilidade pelo acolhimento e
repasse das informações do óbito com orientações aos
familiares quanto aos procedimentos de encaminhamento
ao IML e liberação do corpo.
A partir da análise desta realidade, evidenciouse a necessidade de definição de um fluxograma, com
participação efetiva da equipe interdisciplinar, para
facilitar a condução do corpo após o óbito, favorecendo a
humanização em todas as etapas da vida, incluindo a morte,
principalmente para com os familiares em momento de
grande emoção, descrito em ANEXO 1 (FLUXOGRAMA DE
CONDUÇÃO DO CORPO APÓS O ÓBITO NO HEDH).
CONCLUSÃO
O trabalho da equipe interdisciplinar no acolhimento
aos familiares de vítimas de óbitos por causas externas em
um hospital de referência em Alagoas caracterizou-se como
uma estratégia de aperfeiçoamento pessoal, profissional
e teórico/prático-científico, possibilitando redução do
tempo para liberação do corpo da Unidade Hospitalar
para o Instituto Médico Legal e, posteriormente, velório
e sepultamento. Além de acréscimos de conhecimento
na vida profissional enquanto prática, tornou-se um
momento de construção de aquisição de valores sociais,
culturais, humanísticos, éticos e logísticos, favorecendo o
respeito ao corpo humano, mesmo em óbito, garantindo a
aplicabilidade das diretrizes e princípios da humanização
no Sistema Único de Saúde – SUS.
Possibilitou, também, lançar luz sobre a vivência de novas
estratégias de informação, novas teorias e novas formas de
se fazer enfermeiro e integrar uma equipe interdisciplinar
na busca de um cuidar e acolher com excelência. Assim,
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a utilização do fluxograma de orientação de atividades,
possibilitou à equipe interdisciplinar diminuir a ansiedade
dos familiares, bem como facilitou a logística operacional
da liberação/transferência do corpo para o IML e posterior
sepultamento.
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Souza WL, Escudeiro CL, Santos GS, Santos LM, Pereira ER, Silva RMCRA
ANEXO 1 - FLUXOGRAMA DE CONDUÇÃO DO CORPO APÓS O ÓBITO NO HEDH
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Articulação entre ensino e pesquisa no cuidado à saúde
da criança: relato de experiência
Interaction between education and research in health care
child: experience report
Aline Cerqueira Santos Santana da Silva1 • Érick Igor dos Santos2
RESUMO
Trata-se de um relato de experiência realizado com discentes do Curso de Graduação em Enfermagem de uma
Universidade Federal, desenvolvido na unidade de internação da emergência pediátrica de um hospital público.
Objetivo: Descrever a experiência da articulação entre ensino e pesquisa no cuidado à saúde da criança acerca das
evidências cientificas de enfermagem no controle da infecção primária da corrente sanguínea, bem como prevenção
e tratamento da infecção urinária. Método: Estudo descritivo, tipo relato de experiência. A busca foi realizada de
agosto a dezembro de 2015, em bases de dados e na Biblioteca Virtual em Saúde. Resultado: Foi identificado que
a infecção relacionada à assistência à saúde figura, na atualidade, como complicação prevalente entre as crianças
hospitalizadas, destacando a infecção primária da corrente sanguínea, e a infecção do trato urinário. Conclusão: A
articulação entre ensino e pesquisa possibilitou o levantamento de necessidades de saúde da criança no serviço de
saúde, o compartilhamento de saberes por intermédio de debates, exposições dialogadas, workshops, seminários e o
retorno aos profissionais do serviço sobre os problemas identificados e as soluções aplicáveis.
Palavras Chave: Ensino; Aprendizagem; Enfermagem pediátrica; Infecções urinárias; Infecções relacionadas a
cateter.
ABSTRACT
The aim of this paper is to provide an account of an experiment carried out by students from the nursing
undergraduation course of a federal university, which was developed in a pediatric emergency of a public hospital.
Objective: To describe the project experience concerning the scientific evidence on nursing in what comes to the
control of primary blood stream infection and urinary infection, as well as its prevention and treatment. Method:
Descriptive study in experiment report format. The research was performed from August to December of 2015,
at databases and at the Health Virtual Library. Result: The infection related to health assistance is currently
portrayed as a prevalent complication among the hospitalized children, with highlights to the primary blood
stream infection and urinary tract infection. Conclusion: The articulation between teaching and researching
turned possible the identification of heath necessities children in the service heath, the knowledge share in
debates, dialogued exhibitions, workshop and seminaries, the feedback for the service professionals about the
identified problems and its solutions.
Key words: Teaching; Learning; Pediatric nursing; urinary tract infections; Infections related to catheter.
NOTA
Enfermeira Pediátrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutora e mestre em Enfermagem pela UFRJ. Professora da Universidade Federal Fluminense
(UFF). Líder do grupo de pesquisa Estudos sobre vivências e integralidade dedicadas a enfermagem, criança, infância, adolescentes e recém-nascidos - EVIDENCIAR - UFF. Rio
das Ostras, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]
1
2
Enfermeiro Estomaterapeuta pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Doutor e mestre em Enfermagem pela UERJ. Professor da Universidade Federal
Fluminense (UFF). Líder do Grupo de Pesquisa Laboratório sobre Enfermagem, Cuidado, Inovação e Organização da Assistência ao Adulto ou ao Idoso (LECIONAI) - UFF. Rio
das Ostras, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]
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62
Silva ACSS, Santos EI
INTRODUÇÃO
Este texto registra as experiências didático-pedagógicas
na articulação entre ensino e pesquisa no cuidado à saúde
da criança acerca das evidências cientificas de enfermagem
no controle da infecção primária da corrente sanguínea
(IPCS), bem como prevenção e tratamento da infecção do
trato urinário (ITU) relacionada ao uso do cateter vesical
de demora em crianças.
O projeto foi implementado ao longo da disciplina
“Enfermagem no Cuidado à Saúde da Criança Hospitalizada”
que engloba ensino teórico e prático, junto aos alunos de
graduação do sétimo período acompanhados de docentes
responsáveis pela disciplina, em um hospital público
localizado na região dos lagos do estado do Rio de Janeiro.
Ao planejarem o projeto, os docentes vislumbraram
estimular os estudantes à aquisição intra e extramuros
da universidade e do hospital, do conhecimento sobre os
riscos de saúde e morbidades que acometem a criança e,
principalmente, fomentar o raciocínio crítico visando o
entendimento e a importância dos cuidados prestados por
enfermeiros enquanto protagonistas do cuidar das crianças
e de suas famílias ali admitidas.
O conteúdo da disciplina foi organizado de maneira
a instrumentalizar o aluno a prestar cuidados ao recémnascido e a crianças hospitalizadas, sob a égide dos
anteparos éticos, doutrinários e legais da profissão e do
Sistema Único de Saúde (SUS).
Este planejamento emergiu da observação feita
em campo prático junto aos discentes, diante da
assistência prestada pelo profissional enfermeiro à
criança hospitalizada, onde, nesta unidade, a ITU e a IPCS
apresentam-se como a principal causa de morbidade e
internação entre crianças de 0 a 5 anos de idade.
Estas crianças, quando admitidas, geralmente
apresentam instabilidade clínica, necessitando de
intervenções imediatas e prolongadas. Assim, a proposta
terapêutica instituída em vigência destas morbidades
dá-se, sobretudo, através da terapia intravenosa (TI),
configurando-se, hoje, ação indispensável na medicina
moderna.
Esta terapia pode ser instituída de diferentes maneiras
e períodos, a depender do esquema proposto, do propósito
da terapia instituída e do diagnóstico do paciente.
Neste sentido, um dos maiores desafios ao sucesso da
terapêutica implementada é a manutenção de uma via de
acesso venoso segura e duradoura, contribuindo, assim,
para o reestabelecimento das condições clinicas e físicas
da criança1.
É fato que a infecção relacionada à assistência à saúde
(IrAS) se apresenta na atualidade como a complicação
mais prevalente entre os pacientes internados e, assim,
apresenta-se como um grande e complexo desafio no âmbito
mundial, mediante à grande variedade de intervenções
diagnósticas e terapêuticas que são implementadas2.
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Nesta corrente de pensamento, o Centers for Disease
Control3, relata que, com o grande advento tecnológico, a
incidência da infecção hospitalar cresceu em velocidade
espantosa, principalmente nas unidades de terapia
intensiva neonatal e pediátrica, devido ao longo tempo de
permanência de pacientes com esse perfil na unidade.
Desta forma, delimitou-se como objeto para este estudo
evidências cientificas de enfermagem no controle da IPCS,
bem como prevenção e tratamento da ITU na assistência
prestada à criança hospitalizada. Determinou-se como
questão norteadora: de quais bases técnicas e conceituais
os enfermeiros se utilizam para prevenção e controle
da IPCS, bem como prevenção e tratamento da ITU na
criança hospitalizada? E, por objetivo, buscou-se descrever
a experiência da articulação entre ensino e pesquisa no
cuidado à saúde da criança acerca das evidências cientificas
de enfermagem no controle IPCS, bem como prevenção e
tratamento da ITU.
MÉTODO
Trata-se de um relato de experiência didáticopedagógica desenvolvido na unidade de internação da
emergência pediátrica no hospital público supracitado.
Esta unidade é composta por duas enfermarias e possui
leitos destinados ao isolamento, e, nos casos de maior
complexidade, o hospital conta com o serviço de central
de regulação de vagas para referenciar essas crianças.
A turma era composta de 24 alunos divididos em dois
grupos. Cada grupo assumiu o desenvolvimento técnicocientífico de uma temática. O projeto foi desenvolvido de
agosto a dezembro de 2015.
Neste projeto, buscou-se aliar conhecimento científico
à prática assistencial, fomentando, nos estudantes, a
Prática Baseada em Evidências (PBE), visto que esta ação
possibilita apropriação de novo conhecimento gerado a
partir de pesquisas realizadas previamente4.
Neste mesmo contexto, a sistematização da assistência
de enfermagem (SAE) foi aplicada com o objetivo de
identificar o fenômeno observado e seu significado,
possibilitando o atendimento das reais necessidades
apresentadas5.
As cinco etapas inerentes a este projeto de ensino serão
ilustradas na figura abaixo e descritas a seguir.
Inicialmente, o projeto de ensino foi apresentado
aos estudantes em sala de aula, sendo esclarecidos seu
objetivo e postulados teórico-filosóficos. Na primeira
etapa, os estudantes foram conduzidos ao hospital e
estimulados a traçar um diagnóstico situacional da
realidade local, registrando os problemas reais ou em
potencial que identificassem no cenário. Neste momento,
duas morbidades assumiram destaque em virtude de sua
gravidade e ameaça à vida dos pacientes pediátricos,
quais sejam a IPCS e a ITU relacionada ao cateterismo
vesical.
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Figura 1- Fluxograma diagramático das etapas inerentes ao projeto de ensino- Rio das Ostras-RJ, Brasil.
Na segunda etapa, foram reunidas as propostas de
soluções advindas do universo de saberes de estudantes e
docentes. Esta busca por modos de atuar, foi propiciado ao
aluno tornando-o sujeito ativo, construtor do conhecimento
e compromissado com o cuidar e a docência. Tendo
como propósito despertá-los para ação critica reflexiva,
aliando o saber com o fazer, teoria-prática, visando o
desenvolvimento de competências para a atuação no
ensino, pesquisa e na assistência6.
A terceira etapa consistiu-se em uma apreciação das
propostas elencadas ao crivo técnico-científico das
evidências científicas disponíveis sobre os dois problemas
identificados. Os estudantes participaram de um workshop,
com duração de 10h teóricas e práticas, ministrado pelos
docentes sobre a Revisão Integrativa de Literatura (RIL),
que se configura como método de pesquisa que permite
a busca, a avaliação crítica e a síntese das evidências
disponíveis do tema investigado, sendo o seu produto final
o estado atual do conhecimento sobre o tema. Este produto
possibilita, a identificação de lacunas que direcionam para
o desenvolvimento de futuras pesquisas7.
Nesta vertente, os discentes foram instruídos a
desenvolver o estudo através da revisão integrativa de
literatura, percorrendo as seis etapas que concernem o
método.
Nesse caminhar, o desenvolvimento do projeto permeou
a realização de oficinas até a consecução do mesmo como
proposta de aprendizagem compartilhada, visando a
criatividade e a busca de soluções8.
Numa quarta etapa, os estudantes ficaram incumbidos
de aplicar o Processo de Enfermagem sob referencial
teórico de escolha, sendo operacionalizado pela
Sistematização da Assistência de Enfermagem sob a
taxonomia da North American Nursing Diagnosis Association
(NANDA). Os problemas identificados nas dimensões
biopsicoespirituais da criança e da sua família foram
traduzidos em diagnósticos de enfermagem.
Em seguida, as Nursing Interventions Classifications
(NIC) ou intervenções de enfermagem foram traçadas
para minimizar os problemas identificados com base
nas melhores evidências disponíveis. Para a redação
das Nursing Outcomes Classifications (NOC), ou metas de
enfermagem, os alunos foram orientados a planejar os
resultados a serem alcançados pelos pacientes após as
intervenções estabelecidas.
Na quinta etapa, após análise sobre as evidências, os
alunos, organizaram-se ante a síntese do conhecimento,
para apresentação das principais evidências de enfermagem
encontradas acerca IPCS e ITU para os profissionais de
saúde.
Nesta diretiva, os docentes organizaram um
treinamento em serviço para apresentação dos resultados
encontrados pelos alunos aos profissionais de saúde. Este
treinamento objetivou a participação e o entendimento de
cada profissional envolvido na prestação da assistência à
criança hospitalizada, sobre os principais riscos e agravos
apresentados durante a sua internação e quais medidas
podem ser adotadas, como adoção de boas práticas
para prevenção e controle de IrAS, a fim de assegurar
o restabelecimento clínico e físico da criança livre de
complicações.
RESULTADO E DISCUSSÃO
No que concerne à realização deste projeto de ensino,
cujo objetivo foi descrever a experiência da articulação
entre ensino e pesquisa com alunos de graduação
no cuidado à saúde da criança acerca das evidências
cientificas de enfermagem no controle da IPCS, bem como
prevenção e tratamento da ITU, foi possível identificar
dentre a análise das evidências cientificas atuais, sobre
as temáticas em estudo, que a ITU representa de 35 a
45% de todas as infecções hospitalares9. E que a IPCS, na
atualidade configura-se como um dos principais problemas
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Silva ACSS, Santos EI
de assistência à saúde, principalmente daqueles que
necessitam, para sua recuperação clínica, da instalação
e manutenção de um cateter venoso, seja ele central ou
periférico10.
Sobre esta vertente, estima-se que cerca de 48% dos
pacientes admitidos em UTI necessitam de dispositivos
intravasculares, correspondendo a 15 milhões de cateter/
dia por ano, em que a densidade da incidência alcança 5,3
infecções relacionadas ao cateter por cada 1000 cateter/dia11.
Desta maneira, a mortalidade atribuível relacionada
a essas infecções é de aproximadamente 18%,
correspondendo a 18 mil mortes/ano. Sem falar no fator
de impacto negativo sobre o prolongamento no tempo de
internação, em média por 7 dias e os custos atribuídos aos
serviços de saúde11.
Neste ínterim, em 2005, tendo como foco o controle
das IrAS o Comitê Consultivo de Práticas de Controle de
Infecções Associadas à Assistência à Saúde (HICPAC),
dos Estados Unidos, sob o consenso de suas entidades
mais importantes relacionadas com o controle de IrAS,
proclamaram a necessidade de os serviços de saúde
começarem a trabalhar não só sobre os casos de infecção
hospitalar, mas também, e principalmente, sobre os
desfechos da assistência prestada12.
Nesta ótica, as IrAS têm grande potencial preventivo.
Assim, ressaltamos as principais medidas de prevenção e
controle da ITU evidenciadas: higienização adequada das
mãos, manuseio correto do cateter, bem como do sistema
de drenagem, padronização das técnicas, capacitação ou
atualização periódica dos profissionais, monitorização
de débito urinário, uso de sistema de drenagem fechado
e orientação dos pacientes sobre a importância de sua
higiene íntima13.
Em relação a IPCS, observa-se a adoção de boas
práticas, como: implementação de um conjunto de
medidas (Bundle) para inserção e manutenção do cateter
venoso central (CVC), educação continuada, treinamento
em equipe, envolvimento da equipe interdisciplinar e
desenvolvimento de programas que avaliem assistência
prestada, bem como acompanhamento pelo serviço
de vigilância epidemiológica das ações realizadas na
assistência, para controle e minimização de possíveis
complicações 12.
A imersão dos estudantes neste projeto, nos diferentes
níveis de atenção à saúde, proporcionou amadurecimento
acadêmico, somado a uma visão crítico-reflexiva,
desenvolvendo a sensibilidade necessária para a promoção
à saúde14.
Nesta leitura e compreensão, os alunos estabeleceram
uma aliança entre o saber e o fazer, certificando-se da
necessidade da aproximação e conhecimento sobre as
atuais evidências cientificas acerca do tema, identificando
os fatores que intervêm diretamente na prestação de uma
assistência de enfermagem segura e de qualidade implícita
a qualquer clientela.
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Desta maneira, a estratégia adotada para apresentação
dos resultados encontrados nas atuais evidências cientificas,
centrava-se na assertiva de que as infecções relacionadas
à assistência à saúde (IrAS) ainda se configuram como uma
complicação prevalente entre os pacientes internados.
E que, dentre as avaliações processuais deste evento,
algumas ações devem ser adotadas, tais como: ações de
comunicação, acessibilidade, educação, investigações,
prescrições, intervenções, entre outras12.
Compreende-se, assim, que o conhecimento dos fatores
de risco e a conscientização e educação em serviço dos
profissionais de saúde apresentem-se como medidas
efetivas de prevenção e controle de infecção15.
Avaliação do projeto de ensino
Nesta perspectiva, acredita-se ser possível construir,
através desta experiência, um espaço de reflexão e
de compartilhamento de saberes, o que viabiliza a
aprendizagem conjunta entre os participantes16.
Desta maneira, o ato de refletir e dialogar entre os
pares no desenvolvimento de práticas torna possível
formar profissionais de saúde com vistas a compreender
a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão,
resultando, assim, em novo perfil profissional15.
Assim, ocorreu, por parte dos alunos, o desvelar das
necessidades inerentes ao serviço de saúde verificadas
durante a prática desenvolvida. A participação no curso
oferecido como uma das etapas iniciais do projeto favoreceu
a oportunidade de partilhar suas dúvidas, apreender
novos conhecimentos acerca do desenvolvimento de uma
modalidade de pesquisa bem como o estabelecimento
de uma relação dialógica entre docentes e discentes
construção de novos conceitos elaboração de um espaço
para construção e reconstrução das práxis, revisitando
saberes e fazeres na assistência prestada por todos os
profissionais envolvidos.
Ao final do período, docentes e discentes reuniramse para proceder à avaliação global da disciplina e
realização do projeto. Por fim, destacam-se como pontos
positivos no desenvolvimento deste projeto não só o
amplo desenvolvimento dos alunos de graduação frente
a nova modalidade de ensino aprendizagem, mas também
o retorno ao serviço de saúde sobre as necessidades e as
intervenções aplicáveis. Como produtos pode-se citar a
realização do curso sobre revisão integrativa, confecção
do material didático para apresentação oral e produção
cientifica de artigos científicos (um para cada tema)
seguida de apresentação em eventos científicos voltados
para pediatria e neonatologia.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a realização deste projeto em campo
prático junto aos discentes permeou uma dialética que
envolveu formas possíveis de cuidar, possibilitando
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identificar que a infecção relacionada à assistência à
saúde figura, na atualidade, como uma complicação
frequente entre os pacientes hospitalizados, destacando
a IPCS, e a ITU como as mais prevalentes. A apropriação
de novos conceitos, através dos estudos levantados e
analisados constata que adoção de boas práticas na
condução da assistência prestada tem grande potencial
preventivo, contribuindo de forma positiva para a redução
da morbimortalidade entre crianças hospitalizadas.
O desenvolvimento deste projeto aponta para novas
direções na formação de profissionais, sendo possível
aliar suas ações a uma visão critico-reflexiva tornando-os
coparticipantes do pensar e do agir, do saber e do fazer. A
metodologia adotada da PBE aliada ao levantamento de
necessidades naquele cenário enfatizou a importância da
atuação de cada discente com o papel social de transformar
o seu entorno, de construir e reconstruir um modelo do
sistema de saúde apoiado nos princípios da integralidade.
O trabalho em grupo viabilizou a oportunidade de troca
de saberes e práticas entre os estudantes, professores,
além de profissionais da assistência direta em prol da
construção de novos conhecimentos e oportunizando a
refutação de antigos, o que permitiu à universidade uma
intervenção pedagógica que não se limitou aos seus
alunos, mas estendeu-se aos profissionais de saúde.
Apesar de o estudo ter alcançado o objetivo proposto,
ainda possui limitações, como a baixa adesão dos
profissionais de saúde no treinamento realizado para
apresentação dos resultados da pesquisa. Por outro lado,
esta pesquisa possui como potencialidade a estratégia
pedagógica empregada, como campo fértil a ser semeado
em outras disciplinas do curso, no intuito de articular saber
e fazer rumo à prestação de assistência de enfermagem
progressivamente mais crítica e reflexiva. Aponta-se
também a necessidade de novos estudos na enfermagem
sobre estas vertentes.
enfermagem em cuidados paliativos na oncologia: visão dos
enfermeiros. Acta Paul Enferm.2011; 2(2):172-178; 2011.
6 - Corrêa AK, Santos RA, Souza MCBM, Clapis MJ. Metodologia
problematizadora e suas implicações para a atuação docente:
relato de experiência. Educ Rev. 2011; 27(3):61-78.
7 - Santos ÉI. Cuidado e prevenção das skin tears por enfermeiros:
revisão integrativa de literatura. Rev Gaúch Enferm. 2014;
35(2):142-149.
8 - Bastiani JAN, Padilha MICS. Experiência dos Agentes
Comunitários de Saúde em Doenças Sexualmente
Transmissíveis. Rev bras Enferm. 2007; 60(2):233-236.
9 - Souza ACS, Tipple AFV, Barbosa JM, Pereira MS, Barreto RASS.
Cateterismo urinário: conhecimento e adesão ao controle de
infecção pelos profissionais de enfermagem. Rev Eletr Enferm.
2007; 9(3):724-35.
10 - Mendonça SHF, Lacerda RA. Impacto dos conectores
sem agulhas na infecção da corrente sanguínea: revisão
sistemática. Acta Paul Enferm on line. 2010; 23(4):568-573.
11 - Calil K, Silvino ZR, Valente GSC. Bundle para manuseio do
cateter venoso central: pesquisa exploratória e descritiva.
Online Brazilian Journal Of Nursing. 2013; 12(0):713-15.
12 - Jardim JM, Lacerda RA, Soares NJD, Nunes BK. Avaliação das
práticas de prevenção e controle de infecção da corrente
sanguínea em um hospital governamental. Rev Esc Enferm
USP. 2013; 47(1):38-45.
13 - Santos ÉI et al. Prevenção e controle da infecção urinária ao
uso de cateter vesical de demora. Rev Enferm Atual In Derme.
2015; 11(73):23- 29.
14 - Sousa AR et al. Extensão universitária de enfermagem na
atenção à saúde do homem: experiências em um cenário
baiano. Rev Eletr Gestão Saúde. 2014; 5(esp):2709-2722.
15 - Moncaico ACS, Figueiredo RM. Conhecimentos e práticas
no uso do cateter periférico intermitente pela equipe de
enfermagem. Rev Eletr Enf on line. 2009; 11(3):620-7.
16 - Silva DM, Alves MR, Souza TO, Duarte ACS. Sexualidade na
adolescência: relato de experiência. Rev enferm UFPE on line.
2013; 7(1):820-823.
REFERÊNCIAS
1 - Dórea E, Castro TE, Costa P, Kimura AF, Santos FMG. Práticas
de manejo do cateter central de inserção periférica em uma
unidade neonatal. Rev Bras Enferm. 2011; 6(6):997-1002.
2 - Ferreira MVF, Andrade D, Ferreira AM. Controle de infecção
relacionada a cateter venoso central impregnado com
antissépticos: revisão integrativa. Rev Esc Enferm USP. 2011;
45(4):1002-1006.
3 - Centers For Disease Control. Bloodstream Infection Event
(Central Line-Associated Bloodstream Infection and Noncentral line-associated Bloodstream Infection). [internet].
[publicado em 2014 jan; acesso em 2015 out. 3]. Disponível
em:
http://www.cdc.gov/nhsn/PDFs/pscManual/4PSC_
CLABScurrent.pdf.
4 - Medina EU, Pailaquilén RMB. A revisão sistemática e a sua
relação com a prática baseada na evidência em saúde. Rev
Latino-Am Enferm. 2010; 18(4):1-8.
5 - Silva MM, Moreira MC. Sistematização da assistência de
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R E L ATO D E E X P E R I Ê N C I A
Esclerose múltipla: implementação do processo de
enfermagem
Multiple sclerosis: implementationofthe nursing process
Mariana Melo da Cruz Domingos1 • Thatiane Monick de Souza Costa2 • Bárbara Coeli Oliveira da Silva3 • Francisca Marta
de Lima Costa Souza4 • Cintia Capistrano Teixeira Rocha5 • Richardson Augusto Rosendo da Silva6
RESUMO
Objetivo: Elaborar, validar, implementar e avaliar um plano de cuidados de enfermagem a uma paciente com
Esclerose Múltipla. Metodologia: Trata-se de um estudo de intervenção metodológica realizado em uma paciente de
um Hospital Escola na capital do Nordeste do Brasil, no período de junho de 2014. Seguiram-se as seguintes etapas:
elaboração dos Diagnósticos de Enfermagem; proposta inicial de resultados e intervenções, elaboração de um plano
de cuidados e validação por especialista, implementação e avaliação do plano. Resultados: Elaborou-se, implementou
e avaliou um plano de cuidados contendo cinco diagnósticos (mobilidade física prejudicada; dor crônica; sofrimento
espiritual; memória prejudicada; eliminação urinária prejudicada) cinco metas, cinco intervenções e 21 atividades
de enfermagem. Conclusões: Nota-se que a aplicabilidade do processo de enfermagem direciona as necessidades
prioritárias à paciente, permitindo uma linguagem homogênea e cientifica entre os profissionais de enfermagem.
Palavras-chave: Esclerose Múltipla; Processos de Enfermagem; Cuidados de Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: To develop, validate, implement and evaluate a plan of nursing care to a patient with multiple sclerosis.
Methodology: This is a methodological intervention study in a patient of a Teaching Hospital in the capital of
Northeast Brazil, from June 2014. This was followed by the following steps: preparation of nursing diagnoses;
Initial proposed outcomes and interventions, preparation of a plan of care and expert validation, implementation
and plan evaluation. Results: We elaborated, implemented and evaluated a care plan with five diagnoses (impaired
physical mobility, chronic pain, spiritual pain, impaired memory, impaired urinary elimination) five goals, five
interventions and 21 nursing activities. Conclusions: It is clear that the application of the nursing process directs
the priority needs the patient, allowing a homogeneous and scientific language among nursing professionals.
Keywords: Multiple Sclerosis; Nursing Process; Nursing Care.
NOTA
1
Enfermeira. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Enfermeira Assistencial da Casa de Saúde São Lucas. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e
Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN. Natal/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
2
Enfermeira. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN.
Natal/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
3
Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Cardiologia e Hemodinâmica. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN. Professora Substituta do Curso de Graduação em Enfermagem da UFRN. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em
Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN. Natal/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
4
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Enfermeira Assistencial da Maternidade Municipal Professor Leide Morais. Membro do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e
Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN. Natal/RN, Brasil. E-mail:[email protected].
5
Enfermeira. Especialista em Enfermagem Clínica e Enfermagem do Trabalho. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN. Enfermeira Assistencial da Casa de Saúde São Lucas. Professora Substituta da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - FACISA/UFRN. Membro do
Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem - PAESE/UFRN. Natal/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
6
Enfermeiro. Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Professor do Curso de Graduação e do Programa de Pós-Graduação
(Mestrado Acadêmico e Doutorado) em Enfermagem da UFRN. Vice-líder do Grupo de Pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem - PAESE/
UFRN. Natal/RN, Brasil. E-mail: [email protected].
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m
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
A Esclerose Múltipla (EM) é caracterizada como uma
doença autoimune, crônica, inflamatória, e desmielinizante
que afetam o Sistema Nervoso Central (SNC). De etiologia
ainda desconhecida, pode estar relacionada à predisposição
genética e a fatores ambientais. Apresenta incidência maior
em adultos jovens, do sexo feminino, de etnia branca, na
faixa etária de 20 a 40 anos de idade1.
Trata-se de estudo de intervenção metodológica,
desenvolvido com uma paciente de diagnóstico médico
com esclerose múltipla, presente na unidade de neurologia
de um hospital escola, no Nordeste do Brasil.
Os sinais e sintomas mais frequentes da EM são:
neurite óptica, parestesias, nistagmo, diplopia, vertigens,
disfunção vesical e sexual e uma diminuição da acuidade
visual, levando à perda gradual da visão. A espasticidade,
característica da doença, associa-se aos espasmos
musculares espontâneos ou induzidos por movimentos2-3.
Assim, o enfermeiro possui um papel fundamental na
assistência a pessoas com EM, seja na promoção, prevenção
e tratamento, utilizando a Sistematização da Assistência
de Enfermagem (SAE), a qual é um instrumento que auxilia
na prestação do cuidado de forma cientifica e holística4.
Dentre os diversos meios sistemáticos tem-se o Processo
de Enfermagem (PE) que ocorre em cinco etapas: coleta
de dados ou histórico de enfermagem, identificação dos
diagnósticos de enfermagem, planejamento de resultados e
metas a cumprir, a implementação destas ações além de uma
avaliação feita pelo profissional sobre o quadro do paciente5.
É necessário, ainda, a utilização dos sistemas
de classificação, os quais auxiliam na descrição e
comunicação das atividades da prática de enfermagem.
Uma das classificações mais utilizadas na enfermagem é
a NANDA Internacional (NANDA-I), para os diagnósticos de
enfermagem6.
Para o desenvolvimento do estudo, buscou-se por
produções cientificas dos últimos cinco anos relacionadas
a elaboração, validação, implementação e avaliação
de plano de cuidados a pessoas com EM, através dos
descritores em ciências da saúde: Esclerose múltipla/
Multiple sclerosis; Processos de Enfermagem/ Nursing
Process; Cuidados de Enfermagem/ Nursing Care, nas bases
de dados informatizadas da Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS); Literatura Latino-Americana e do Caribe (Lilacs) e
Literatura Internacional em Ciências da Saúde e Biomédica
(Medline); SCOPUS e CINAHL. Dessa forma, percebeu-se
uma escassez de estudos sobre a temática em questão.
Contudo, a relevância do estudo está em avaliar as
necessidades prioritárias de pessoas com EM através de
um plano de cuidados baseado nos preceitos da evidência
científica. Diante dessa lacuna, justifica-se a realização da
presente pesquisa. Nesse sentido, questiona-se: existem
resultados frente à implementação do processo de
enfermagem a uma paciente com Esclerose Múltipla? Assim,
o estudo teve como objetivo elaborar, validar, implementar
e avaliar um plano de cuidados de enfermagem a uma
paciente com Esclerose Múltipla a partir da NANDA-INIC-NOC (NANDA-International - Nursing Interventions
Classification - Nursing Outcomes Classification)6.
Os dados foram coletados no período de junho de
2014, por meio de um roteiro de anamnese e exame
físico que contemplava os aspectos sociodemográficos,
clínicos e comportamentais. O instrumento foi submetido
à validação do conteúdo e aparência por dez docentes que
desenvolvem estudos na área da SAE. Posteriormente, as
sugestões propostas foram contempladas no instrumento.
Em seguida, foi realizado um treinamento teórico e
prático para padronizar a coleta de dados com dois alunos
da pós-graduação a nível de Mestrado e Doutorado com
carga horária de 12 horas semanais, desenvolvido por
meio de aulas expositivas e dialogadas e discussões de
casos clínicos com ênfase na abordagem às pessoas com
Esclerose Múltipla. Após a etapa teórica do curso, realizouse uma atividade prática de simulação de exame físico
em pares, com o intuito de capacitar o pesquisador e
uniformizar a coleta de dados.
A trajetória metodológica seguiu as seguintes etapas:
elaboração dos Diagnósticos de Enfermagem; proposta
inicial de resultados e intervenções, elaboração de um plano
de cuidados e validação por especialista, implementação e
avaliação do plano.
A elaboração dos diagnósticos foi processual, realizada
simultaneamente com a coleta de dados, buscando
identificar as características definidoras e os fatores
relacionados/de risco de acordo com a NANDA-I, versão
2012-2014. Ressalta-se que no processo de inferência
diagnóstica, a história clínica da paciente foi avaliada pelos
pesquisadores, a fim de possibilitar maior fidedignidade
aos resultados obtidos.
Os resultados obtidos passaram por processo de
revisão de forma pareada entre os autores, para assegurar
um julgamento consensual, objetivando, assim, maior
acurácia. Além disso, os resultados e as intervenções foram
propostos pelos autores, para cada um dos diagnósticos
mais frequentes, embasados na experiência clínica e nas
sugestões das classificações da NIC e NOC. Consideram-se
os principais diagnósticos formulados para mais de 50%
dos participantes do estudo.
Após a construção da proposta do plano de cuidados,
a mesma foi submetida a um processo de validação de
conteúdo por especialistas da área, que concordaram em
participar do estudoassinando o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), cujo critério de seleção foi ter
desenvolvido estudo publicado ou de conclusão de titulação
(especialização, mestrado ou doutorado) relacionado aos
diagnósticos de enfermagem em pacientes com afecções
neurológicas ou ter orientações acadêmicas na área; e como
critério de exclusão: informar no Currículo Lattes apenas
o Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação sobre a
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
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S i l v a RA R , D o m i n g o s M M C , S i l v a B CO, Co s t a T M S , S o u z a F M LC , Ro c h a CCT
temática e a não atualização do currículo nos últimos 6
meses. Foram selecionados 16 enfermeiros especialistas.
Para o tratamento dos dados coletados, os
instrumentos foram numerados e as variáveis foram
codificadas e inseridas em banco de dados construído no
programa Excel for Windows. Os dados foram analisados
utilizando-se estatísticas descritivas. Para análise do grau
de concordância entre o pesquisador e os especialistas,
optou-se pelo índice de Kappa, analisado pelo programa
Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão
20.0. O índice de Kappa foi definido como uma medida de
associação para descrever e testar o grau de concordância,
ou seja, confiabilidade e precisão de uma avaliação.
Valores de Kappa > 0.80 são considerados como um bom
nível de concordância. Após a proposta final, o plano foi
implementado e avaliado pelos pesquisadores e realizadas
as devidas modificações, conforme a necessidade.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob o
CAAE Nº: 11984212.4.0000.553., processo Nº 267.215.
Seguindo-se, assim, as normativas éticas nacionais e
internacionais frente à pesquisa com seres humanos com
assinatura no TCLE pela participante.
Plano de cuidados de enfermagem
Após os dados coletados, foram identificados 14
diagnósticos de enfermagem, entretanto, apenas cinco
diagnósticos estavam presentes em 50% dos entrevistados,
sendo estes: Mobilidade física prejudicada; Dor crônica;
Sofrimento espiritual; Memória prejudicada; Eliminação
urinária prejudicada. Em seguida, estabeleceram-se as
devidas metas e intervenções que tiveram o IC > 0.80 para
que, assim, fosse implementado o plano de cuidados e
avaliado os resultados.
Quadro 1: Teste de Relevância I – Aplicado à referência dos artigos.
Belo Horizonte, 2014.
Diagnóstico de Enfermagem: Mobilidade física prejudicada
relacionado a dor e intolerância à atividade evidenciado
por capacidade limitada para desempenhar as habilidades
motoras finas e grossas.
Meta: Movimento coordenado
Indicadores:
Facilidade do movimento
3
Controle do movimento
3
Movimento na direção desejada
3
Movimento no momento desejado
3
RESULTADOS
Intervenção: Terapia com exercício: controle muscular.
A partir das variáveis que compuseram os instrumentos,
elencou-se os achados contemplados na anamnese e as
características dispostas no exame físico constituindo,
assim, o caso clinico da paciente.
Atividades:
• Iniciar medidas de controle da dor antes do início do
exercício/atividade;
• Explicar as razões da escolha do tipo de exercício e o
protocolo ao paciente/ família;
• Consultar um fisioterapeuta para determinar a melhor
posição para o paciente durante os exercícios e o número de
repetições para cada padrão de movimento;
• Colaborar com o fisioterapeuta e terapeuta ocupacional no
desenvolvimento e execução de programa de exercícios,
conforme apropriado;
• Dar privacidade para que o paciente se exercite;
• Incorporar as atividades da vida diária (ADL) ao protocolo de
exercícios, se apropriado;
Apresentação do caso
Paciente, sexo feminino, 49 anos, branca, natural do
Interior do RN, solteira, com nível superior incompleto,
diagnosticada com Esclerose Múltipla (EM) há 17 anos,
nega alergia, diabetes e hipertensão. Mora com os pais, que
cuidam dela, dedicando-lhe total assistência. Encontra-se
internada no Hospital Universitário no Nordeste do Brasil
decorrente de um quadro de recorrentes infecções urinarias.
Ficou cega há aproximadamente 06 meses, tem um déficit de
memória, como não lembra-se de acontecimentos passados;
encontra-se acamada, pois apresenta tremores involuntários e
instabilidade da marcha, relata apetite diminuído e necessita
de ajuda para alimentar-se; psicologicamente instável, pois
revolta-se com a sua condição de saúde, descrente de qualquer
tipo de religião e esperança. Ao exame físico: consciente,
orientada, hipocorada, anictérica, acianótica e desidratada.
Com déficit visual bilateral. Ausência de linfonodos infartados.
Pulsos periféricos palpáveis. Tórax simétrico e abdome plano.
Ausculta pulmonar e cardíaca normais. Membros superiores
e inferiores sem edema, mas com discreta perda de massa
muscular. Refere-se dor não localizada e sim generalizada,
como também fadiga. Sinais Vitais: Temperatura 36,3ºC;
Pulso: 87 bpm; Pressão Arterial: 130x80 mmhg; Frequência
respiratória: 20 irpm.
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
A partir das intervenções estabelecidas e após uma
semana do início da execução do plano de cuidados, foi
realizada a primeira avaliação. Nesta, a paciente relatou
sentir-se indisposta para realização das atividades diárias.
O somatório dos indicadores apresentou um total de 7
pontos. Na avaliação seguinte, ao término da segunda
semana, a paciente referiu melhora na capacidade de
alimentar-se sozinha e aumento na disposição para
realização das atividades diárias, obtendo 9 pontos no
quadro dos indicadores. Ao final da terceira semana,
última avaliação, a paciente relatou ter conseguido sentar
e caminhar com dificuldade e ajuda do fisioterapeuta,
atingindo um total de 12 pontos perante os indicadores
(Quadro 1).
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Quadro 2: Plano de cuidados de enfermagem ao paciente com
esclerose múltipla, conforme diagnóstico prioritário, Natal, Brasil, 2014.
Diagnóstico de Enfermagem: Dor crônica relacionado à
incapacidade física crônica evidenciado por relato verbal de
dor, expressão facial, depressão e alteração da capacidade de
continuar atividades prévias.
Meta: Nível de dor
Indicadores:
Dor relatada
3
Gemido e choro
4
Expressões faciais de dor
4
Intervenção: Controle da dor
Atividades:
• Assegurar que o paciente receba cuidados precisos de
analgesia.
•Utilizar uma abordagem multidisciplinar para o controle da
dor quando adequado.
•Encorajar o paciente a conversar sobre sua experiência de
dor, conforme apropriado.
•Promover repouso/sono adequado para facilitar o alívio da dor.
•Instituir e modificar as medidas de controle da dor com base
na resposta do paciente.
•Usar medidas de controle da dor antes do seu agravamento.
•Determinar o impacto da experiência da dor na qualidade de
vida (sono, apetite, atividade, humor, relacionamentos)
No decorrer da implementação das atividades,
realizou-se a primeira avaliação. Ao completar-se a
primeira semana, a paciente relatou aumento do bem-estar
após conversar sobre sua experiência de dor. A soma dos
indicadores apresentou 5 pontos. Na segunda avaliação, a
paciente referiu o alívio da dor, devido à diminuição da
intensidade da mesma, obtendo 8 pontos no quadro dos
indicadores. Na última avaliação, após a terceira semana,
a paciente referiu melhora na qualidade de vida após a
diminuição da dor, estabelecendo um total de 11 pontos
na soma dos indicadores (Quadro 2).
Quadro 3: Plano de cuidados de enfermagem ao paciente com
esclerose múltipla, conforme diagnóstico prioritário, Natal, Brasil, 2014.
Diagnóstico de Enfermagem: Sofrimento espiritual relacionado
a doença crônica e morte evidenciado por raiva de um ser maior,
expressa sofrimento, falta de amor, falta de esperança e raiva.
Meta: Enfrentamento
Indicadores:
Identifica padrões eficazes de
4
enfrentamento
Relata redução do estresse
4
Verbaliza aceitação da situação
4
Relata aumento do conforto psicológico
4
Intervenção: Apoio Espiritual
Atividades:
• Estar aberto aos sentimentos da pessoa sobre doença e
morte.
•Ajudar o indivíduo a expressar e aliviar a raiva
adequadamente.
•Garantir ao indivíduo que o enfermeiro estará disponível
para apoia-lo em momentos de sofrimento.
•Estimular a participação em grupos de apoio.
•Ensinar métodos de relaxamento e meditação.
•Estar disponível para ouvir os sentimentos individuais.
A primeira avaliação foi realizada uma semana antes
do início da implementação do plano de cuidados. Nesta,
a paciente relata não ter esperanças, demonstra estar
revoltada com a situação em que se encontra e tem bastante
medo de morrer. Sendo estabelecida a pontuação de 4
pontos em relação aos indicadores. Após ser orientada a
executar métodos de relaxamento e meditação, dialogar com
o enfermeiro sobre seu sofrimento e participar de grupos de
apoio. Obteve 10 pontos no quadro de indicadores, referente
à avaliação da segunda semana. No último dia de avaliação,
ao findar a terceira semana, a paciente afirma melhora
da autoestima e mudança do seu pensamento a respeito
da doença e da morte, atingindo o total de 16 pontos ao
somatório dos indicadores (Quadro 3).
Quadro 4: Plano de cuidados de enfermagem ao paciente com
esclerose múltipla, conforme diagnóstico prioritário, Natal, Brasil, 2014.
Diagnóstico de Enfermagem: Memória prejudicada
relacionada a distúrbios neurológicos evidenciados por
incapacidade de recordar eventos, incapacidade de recordar
informações reais e experiências de esquecimento.
Meta: Cognição
Indicadores:
Orientação cognitiva
3
Demonstra memória recente
3
Demonstra memória remota
4
Intervenção: Treinamento da memória
Atividades:
• Proporcionar memória do reconhecimento de fotos e
gravuras, conforme apropriado.
•Estimular a memória pela repetição do último pensamento
que o paciente expressou, conforme apropriado.
Uma semana após o início da implementação das
intervenções, foi realizado a primeira avaliação, na qual a
paciente referiu esquecer algumas informações recentes e
acontecimentos passados, sendo estabelecida a pontuação
de 9 pontos. Na segunda avaliação, com o intervalo de
mais uma semana, a paciente permanece com o déficit de
memória, e com os 9 pontos no quesito dos indicadores.
Concluída a terceira semana, a paciente afirma melhora
para recordar-se de informações recentes, e ao somatório
final dos indicadores obteve 10 pontos (Quadro 4).
Ao final da primeira semana, no decorrer da
implementação das atividades, realizou-se a primeira
avaliação, na qual a paciente relatou estar atenta aos sinais
e sintomas de infecção urinária; ao somar os indicadores,
apresentou 8 pontos. Na segunda avaliação, após uma
semana da primeira, a paciente referiu o alívio da dor e
queimação ao urinar, obtendo 10 pontos no quadro dos
indicadores. Na última avaliação, ao término da terceira
semana, a paciente referiu melhora na qualidade de
vida devido à diminuição da frequência e urgência ao
urinar, estabelecendo um total de 16 pontos na soma dos
indicadores (Quadro 5).
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69
70
S i l v a RA R , D o m i n g o s M M C , S i l v a B CO, Co s t a T M S , S o u z a F M LC , Ro c h a CCT
Quadro 5: Plano de cuidados de enfermagem ao paciente com
esclerose múltipla, conforme diagnóstico prioritário, Natal, Brasil, 2014.
Diagnóstico de Enfermagem: Eliminação urinária prejudicada
relacionada a dano sensório-motor e infecção no trato
urinário evidenciados por disúria, frequência e incontinência
urinária.
Meta: Eliminação Urinária
Indicadores:
Dor ao urinar
4
Queimação ao urinar
4
Frequência ao urinar
4
Incontinência urinária
4
Intervenção: Controle da eliminação urinária
Atividades:
• Monitorar a eliminação urinária, inclusive, frequência,
consistência, odor, volume e cor, conforme apropriado.
•Ensinar ao paciente os sinais e os sintomas de infecção do
trato urinário.
•Anotar o horário da última eliminação de urina, conforme
apropriado.
•Orientar o paciente/família a registrar o débito urinário,
conforme apropriado.
•Orientar o paciente para reagir imediatamente à urgência de
urinar, conforme apropriado.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de enfermagem Mobilidade física
prejudicada7 confirma-se no paciente da pesquisa por
apresentar alguns sinais e sintomas motores como,
tremores em membros superiores e inferiores, parestesia
bilateral e hipotonia muscular. Estudos também apontam
que essa caracterização sintomatológica decorre das
lesões primarias nos plexos motores, acarretando um
espasticidade e reflexos osteotendinosos acentuados.
Cerca de 90% dos portadores de EM apresentam algum
grau de espasticidade que provoca grande desconforto
e limitações de movimento, afetando diretamente no
movimento coordenado e restringindo ao leito8.
Por isso, torna-se necessária a terapia com exercícios
de forma ativa ou passiva, para que possa obter controle
muscular, mesmo que de forma parcial, esperando um
movimento coordenado, sendo o exercício um excelente
preditor de resultados. Pontua-se que o exercício aeróbico
regular de intensidade moderada não induz exacerbações
da EM e melhora a mobilidade funcional e a qualidade
de vida9.
O diagnóstico de dor crônica, este relacionado à
incapacidade física crónica, decorrente da destruição
progressiva das terminações nervosas e o aumento de
substancias como as bradicinas, referindo-se a quadros de
cefaleias e raquialgias7,10.
Nesse sentido, um estudo realizado com 85 pacientes
diagnosticado com EM no hospital de Portugal revelou
que a maioria dos pacientes apresentava cefaleias e as
raquialgias (27%), seguidos dos membros superiores (20%).
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Muitos relataram o quadro de dor como superficial (86%)
por oposição à profunda (14%), ocasionando, assim, impacto
na qualidade de vida, a dor interferiu significativamente
com a atividade geral, o estado de ânimo, o trabalho, as
relações com outras pessoas e a capacidade de diversão11.
Quanto ao diagnóstico de sofrimento espiritual7,
sabe-se que alguns pacientes com EM tem uma maior
prevalência em desenvolver quadros de depressão em
comparação com a população em geral, variando entre 26
e 42%, bem como quando comparado com pessoas com
outras condições crônicas, corroborando com os achados
do estudo, pois a paciente apresentava indícios de quadro
depressivo, referindo-se a sua condição de saúde. Assim,
a depressão contribui para o processamento mais lento
das informações, por parte dos pacientes, decorrente da
redução da perfusão cerebral, o que acaba por comprometer
aspectos cognitivos, dentre eles a atenção, aprendizagem,
habilidades visuoespaciais, memória e a velocidade de
processamento. Provoca, também, sofrimento psíquico
e diminui a adesão ao tratamento, aumentando, por
conseguinte, o risco de suicídio em pacientes com EM12.
O diagnóstico de enfermagem Memória prejudicada,
esteve relacionado aos distúrbios neurológicos, em
concordância ao déficit de memória presente na paciente
em questão, devido à desmielinização dos neurônios7.
Corroborando com os achados, estudo realizado com 28
pacientes atendidos em um ambulatório revelou que
89,2% tinham perda na memória de trabalho e 85,7%,
na memória de curto prazo. A deterioração cognitiva
afeta a velocidade de processamento de informações e a
memória, e, consequentemente, afeta as atividades de vida
diária, o autocuidado e reduz a participação nas atividades
sociais, aumentando a dependência do cuidado por outras
pessoas3,9-10.
Os pacientes com EM apresentam dificuldades de
concentração e memória. Para possibilitar a melhoria da
qualidade de vida, torna-se importante realizar, como
rotina, uma avaliação precisa das funções cognitivas
e atividades de reabilitação neuropsicológica como a
realização de tarefas que exigem velocidade de memória
e processamento de forma conjunta entre os profissionais
de saúde13.
Relacionado ao DE, eliminação urinária prejudicada7, o
paciente com EM apresenta uma deterioração no sistema
vesico-motor interferindo diretamente na sensibilidade
do trato urinário. Pois, em um estudo, verificou-se que o
comportamento da incontinência urinária na esclerose
múltipla e seu impacto na qualidade de vida dos pacientes
acarretam danos tanto de cunho fisiológico como psicológico.
Destacando que o processo de eliminação urinaria tornase um fator para o desenvolvimento de enfermidades
secundarias como a úlcera por pressão, associado à
incontinência fecal14-15. Diante disto, as intervenções de
enfermagem devem ter como resultado uma melhora na
eliminação urinaria, proporcionado uma qualidade de vida
satisfatória, vislumbrado na paciente do estudo.
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CONCLUSÕES
Após a análise dos dados, nota-se que a implementação
do processo de enfermagem à paciente com esclerose
múltipla proporcionou um cuidado direcionado para as
reais necessidades da cliente, fornecendo meios para
propor as intervenções e alcançar os resultados. Contudo,
é notório que o desenvolvimento do estudo se torna
primordial para a composição dos saberes científicos, tanto
do âmbito acadêmico como no assistencial. É perceptível,
ainda, uma deficiência de produção nesse segmento diante
das pessoas acometidas pela enfermidade.
Os diagnósticos de enfermagem prioritários a
paciente foram Mobilidade física prejudicada; Dor crônica;
Sofrimento espiritual; Memória prejudicada; Eliminação
urinária prejudicada. O estudo limita-se à realidade de
um município do Nordeste do país, mas acredita-se que
esse trabalho possa incentivar novas pesquisas sobre a
implementação do processo de enfermagem a pacientes
com esclerose múltipla.
a study to improve healthcare decision making. Int J Nurs
Knowl.2013; 24(1): 15-24.
11. Seixas D, Galhardo V, Sá MJ, Guimarães J, Lima D. Dor na
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Portuguesa de 85 Doentes. Acta Med Port. 2009; 22(3): 23340.
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Comportamento da incontinência urinária em pacientes com
esclerose múltipla e a sua influência na qualidade de vida.
Rev Med Reabil. 2010; 29(1): 1-5.
Espera-se que os resultados contribuam para os avanços
e incorporação desta linguagem universal na descrição da
prática profissional, em prol da melhoria da qualidade da
assistência de enfermagem no cenário nacional
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REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
71
SÉRIE DE CASOS
72
Uso do nitrato de cério associado ao colágeno e alginato de
cálcio no tratamento das queimaduras: uma série de casos
Use of cerium nitrate associated with collagen and calcium
alginate in burns treatment: case series
José Aldari Lima1 • Roberta Araújo Montana2 •
RESUMO
Introdução: O tratamento das queimaduras é considerado um grande desafio para os profissionais da área de saúde.
Cada vez mais, a indústria produz e disponibiliza para o mercado novos produtos com tecnologia inovadora para
tratamento de lesões, que permitem redução do número de trocas dos curativos e da dor, maior conforto e que
aceleram o processo de reparo tecidual da pele. O objetivo deste estudo foi avaliar o processo de reparo tecidual
de queimaduras de 2º grau superficial e intermediário em uso de um curativo biológico composto por nitrato de
cério, colágeno bovino e alginato de cálcio. Método: Trata-se de uma série de seis casos. A coleta de dados foi
realizada de dezembro de 2013 a maio de 2014, por médicos e enfermeiros do Centro de Tratamento de Queimados
de um hospital municipal do Rio de Janeiro/RJ. Resultados: Em todos os casos acompanhados as queimaduras
apresentaram melhora no processo de reparo tecidual e da dor e não foram evidenciados sinais clínicos de infecção
durante as trocas de curativos. Conclusão: O uso de um curativo biológico e de alta tecnologia, aliado ao cuidado
especializado do paciente queimado, trazem mais benefícios para o processo de cicatrização da queimadura e para
a saúde do paciente.
Descritores: Queimaduras; Cicatrização; Ferimentos e Lesões.
ABSTRACT
Introduction: Burns treatment is still a major challenge for health professionals. Increasingly, industry produces
and provides to the market, new products with innovative technology for the treatment of lesions that enable
reduction in the number of dressing changes and pain, increase comfort and accelerate the skin tissue repair
process. The aim of this study was to evaluate the tissue repair process of superficial and intermediate 2nd
degree burns with the use of a biological dressing composed of cerium nitrate, bovine collagen and calcium
alginate. Method: This is a series of 06 cases. Data collection was conducted from December 2013 to May 2014
by doctors and nurses from the Burn Treatment Center of a Rio de Janeiro Municipal Hospital. Results: In all
cases followed, burns showed improvement in tissue repair process and pain and have not shown clinical signs of
infection during dressing changes. Conclusion: We conclude that the use of a high technology biological dressing
combined with burned patients specialized care, brings greater benefits to the healing process of burns and also
for patient health.
Keywords: Burns; Wound Healing , Wounds and Injuries
NOTA
1,2
Médicos do Centro de Tratamento de Queimados - Hospital Municipal Souza Aguiar, Rio de Janeiro, RJ.
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
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N i t r a t o d e c é r i o , c o l á g e n o e a l g i n a t oA dRe Tc Iá lGc iO
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d uAr aLs
Introdução
A queimadura é considerada um trauma de grande
complexidade, de difícil tratamento e com alta taxa
de morbidade e mortalidade.1-5 A maioria dos casos de
queimaduras ocorre em um cenário doméstico ou de
trabalho, envolvendo crianças ou adultos, como resultado
de violência interpessoal.5
O tratamento das queimaduras ainda constitui um
grande desafio para os profissionais da área de saúde.6
Cada vez mais, a indústria apresenta novos produtos para
tratamento de feridas, que permitem menor número de
trocas, redução da dor, maior conforto e reparo tecidual.
As trocas foram sequenciais em 23/12/2013 (figura
1A) e 26/12/2013 (a cada 3 dias)(figura 1B). O processo
de cura foi concluído no dia 31/12/2013 (12 dias) e a
documentação fotográfica final foi no dia 07/01/2014 (19º
dia pós-queimadura – figura 1C). O paciente apresentou
mínima dor às trocas e a equipe considerou fácil o manejo
dos curativos. Não foram evidenciados sinais clínicos de
infecção.
No caso das queimaduras, ressalta-se a importância do
preparo do leito nos casos de lesões que necessitam de
enxertia de pele, o combate da infecção, a imunomodulação
e o controle da dor.2
Em setembro de 2013, foi lançado um novo produto
pelo Laboratório Silvestre Labs® associando os benefícios
do nitrato de cério ao colágeno bovino e ao alginato
de cálcio. Esse curativo biológico visa a controlar a
colonização bacteriana, absorver exsudato de quantidade
pequena a moderada e promover a aceleração do processo
de cicatrização da pele.
Figura 1A
Esse curativo biológico é indicado para queimaduras
e feridas de difícil cicatrização, como as sanguinolentas,
a úlcera de perna e a úlcera de pressão e pé diabético,
complicação grave do diabetes. Nas não deve ser utilizado
em pacientes com conhecida hipersensibilidade aos
componentes de sua formulação. Deve-se interromper a sua
utilização se surgirem quaisquer sinais de sensibilidade.
Deve ser aplicado sobre a área da lesão, devendo cobrir
toda a extensão da mesma, podendo ser cortados com
tesoura estéril, quando necessário.
O objetivo deste estudo foi avaliar o processo de
reparo tecidual de queimaduras de 2º grau superficial e
intermediário em uso de um curativo biológico composto
por nitrato de cério, colágeno bovino e alginato de cálcio.
Figura 1B
A relevância desse estudo está na indicação de um
curativo biológico inovador composto por três coberturas
(nitrato de cério, colágeno bovino e alginato de cálcio)
para o tratamento de queimaduras, considerando que
suas principais vantagens são: diminuir a colonização
bacteriana, reduzir a dor, otimizar o meio para uma boa
cicatrização e ser de fácil aplicação.
Relato de casos
Caso 1: Paciente de 43 anos, sexo masculino, vítima
de queimadura por arco voltaico, apresentando 6% de
superfície corpórea queimada de segundo grau superficial e
em algumas áreas de segundo grau profundo. Acometendo
membro superior esquerdo. Foi internado no CTQ em
19/12/2013, logo após o acidente. O primeiro curativo
com a associação de nitrato de cério, colágeno e alginato
de cálcio foi realizado no dia subsequente, 20/12/2013.
Figura 1C
Caso 2: Paciente de 42 anos, sexo feminino, queimadura
por combustão de álcool, apresentando 23% de superfície
corpórea queimada de segundo grau superficial e áreas
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73
74
lima JA, Montana RA
de segundo grau profundo. Deu entrada no CTQ no dia
13/05/2014, poucas horas após o acidente. O primeiro
curativo com a associação de nitrato de cério, colágeno e
alginato de cálcio foi realizado em 14/05/2014. As trocas
foram em 16/05/2014 (figura 2A) em 20/05/2014 (figura
2B) e em 24/05/2014 (figura 2C), data na qual perdemos
o contato da paciente por evasão do hospital. A paciente
apresentou mínima dor às trocas e a equipe considerou
fácil o manejo dos curativos. Não foram evidenciados
sinais clínicos de infecção.
superficial e áreas de segundo grau profundo. Deu entrada
no CTQ no dia 08/05/2014. As queimaduras no antebraço e
na mão direita (1,5% da superfície corpórea total queimada)
foram tratadas com a associação de nitrato de cério,
colágeno e alginato de cálcio a partir do dia 14/05/2014.
Os curativos subsequentes foram nos dias 16/05/2014
(figura 3A), 20/05/2014 (figura 3B) e 24/05/2014 quando
observamos a completa restauração tecidual da região
acometida. A observação final foi realizada no dia
27/05/2014 (figura 3C). A paciente apresentou mínima dor
às trocas e a equipe considerou fácil o manejo dos curativos.
Não foram evidenciados sinais clínicos de infecção.
Figura 2A
Figura 3A
Figura 2B
Figura 3B
Figura 2c
Caso 3: Paciente de 20 anos, sexo feminino, vítima de
queimadura por combustão de gasolina, apresentando
16% de superfície corpórea queimada de segundo grau
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Figura 3C
N i t r a t o d e c é r i o , c o l á g e n o e a l g i n a t oA dRe Tc Iá lGc iO
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i mIaN
d uAr aLs
Caso 4: Paciente de 49 anos, sexo masculino, vítima de
queimadura por chama, apresentando 7% de superfície
corpórea queimada de segundo grau e áreas de segundo
grau profundo. Deu entrada no CTQ no dia 05/12/2013,
uma hora após o acidente. A queimadura de tórax posterior
representando 6% da superfície corpórea total foi tratada
com a associação de nitrato de cério, colágeno e alginato de
cálcio a partir do dia 06/12/2013. Os curativos subsequentes
foram nos dias 10/12/2013 (figura 4A), 13/12/2013 (figura
4B) e 17/12/2013, quando foi observada a total restauração
da área acometida. A observação final foi realizada no dia
20/12/2013 (figura 4C). O paciente apresentou mínima dor
às trocas e a equipe considerou fácil o manejo dos curativos.
Não foram evidenciados sinais clínicos de infecção.
Caso 5: Paciente de 18 anos, sexo masculino, vítima de
queimadura por contato com escapamento de moto,
apresentando 0,5% de superfície corpórea queimada de
espessura total, incluindo a exposição de área tendínea.
Deu entrada no CTQ no dia 05/05/2014, 24 horas após o
acidente. A queimadura foi tratada com a associação de
nitrato de cério, colágeno e alginato de cálcio a partir do
dia 13/05/2014. Os curativos subsequentes foram nos dias
16/05/2014 (figura 5A), 20/05/2014, 24/05/2015 (figura
5B) e 27/05/2014 (figura 5C). A observação final, após a
enxertia de pele, foi realizada no dia 03/06/2014 (figura
5D). O paciente apresentou mínima dor às trocas e a
equipe considerou fácil o manejo dos curativos. Não foram
evidenciados sinais clínicos de infecção.
Figura 4A
Figura 5A
Figura 4B
Figura 4C
Figura 5B
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75
76
lima JA, Montana RA
Figura 6A
Figura 5C
Figura 6B
Figura 5D
Caso 6: Paciente de 31 anos, sexo masculino, vítima de
dermoabrasão decorrente de acidente com motocicleta.
A região acometida envolveu membro superior direito,
esquerdo e hemiface direita. Deu entrada no CTQ no dia
20/01/2014, algumas horas após o acidente. A queimadura
da hemiface direita foi tratada com a associação de
nitrato de cério, colágeno e alginato de cálcio a partir
do dia 28/01/2014. Os curativos subsequentes foram
nos dias 04/02/2014 (figura 6A), 07/02/2014 (figura 6B),
11/02/2014 (figura 6C) e 14/02/2014. A observação final,
após a enxertia de pele, foi realizada no dia 17/02/2014
(figura 6D). O paciente apresentou mínima dor às trocas e a
equipe considerou fácil o manejo dos curativos. Não foram
evidenciados sinais clínicos de infecção.
REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME | 2016; 78
Figura 6C
N i t r a t o d e c é r i o , c o l á g e n o e a l g i n a t oA dRe Tc Iá lGc iO
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q uIeG
i mIaN
d uAr aLs
respeito ao nitrato de cério11, bem como nas queimaduras
de segundo grau, no que diz respeito à associação do
colágeno bovino e alginato6. Desse modo, a combinação
de ambos os produtos, contempla os aspectos referentes à
imunomodulação, infecção, redução do número de trocas
(que variou de 2 a 4 dias de intervalo), mínima dor referida
pelos pacientes durante o tratamento e facilidade de
aplicação (manejo do curativo pela equipe).
Conclusão
O uso do curativo biológico composto por nitrato de
cério, colágeno bovino e alginato de cálcio resultou na
cicatrização total de 50% das queimaduras acompanhadas
no estudo, melhora no processo de reparo tecidual e da
dor e não foram evidenciados sinais clínicos de infecção
durante as trocas de curativos.
Figura 6D
Em detrimento do tamanho da amostra desse estudo,
sugere-se a realização de estudos clínicos randomizados
com amostras mais amplas, para avaliar a efetividade e
eficácia desse curativo.
Discussão
Nesse estudo, em relação ao sexo, quatro eram do sexo
masculino e dois do sexo feminino, e as idades variaram de
18 a 49 anos. Todas as queimaduras foram classificadas em
segundo grau superficial e profundo.
Os agentes causadores das queimaduras foram por
arco voltaico, combustão por álcool, gasolina, chama,
escapamento de moto e dermoabrasão por acidente
automobilístico.
Em todos os casos acompanhados as queimaduras
apresentaram melhora no processo de reparo tecidual e da
dor e não foram evidenciados sinais clínicos de infecção
durante as trocas de curativos. Sendo que em três casos
acompanhados (50%) houve cicatrização completa no
tempo de acompanhamento do estudo.
O tratamento das queimaduras constitui um grande
desafio no que diz respeito ao combate à infecção e
sepse7, dificuldades de imunomodulação3, dor, tempo de
restauração e cicatrização tecidual, conforto do paciente,
facilidade de trocas de curativos e maior intervalo entre
as mesmas.
O curativo que associa o nitrato de cério, colágeno
bovino e alginato ainda não apresenta dados de literatura
para comparação com os resultados obtidos neste estudo,
por ser um curativo novo. Sabemos, no entanto, que o
nitrato de cério a 2,2%8 já tem seu uso consagrado no
tratamento do grande queimado desde sua introdução
no mercado europeu. Da mesma forma, a associação
de colágeno bovino e alginato já existe e tem seu uso
amplamente utilizado, tanto para queimaduras como para
lesões crônicas.9,10
Ambos os produtos, quando comparados aos
tratamentos convencionais anteriores, mostraram-se
superiores, em especial no grande queimado, no que diz
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