40º Encontro Anual da Anpocs ST29 Religião, política e direitos na

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40º Encontro Anual da Anpocs
ST29 Religião, política e direitos na contemporaneidade
Abominações do Levítico II: judeus, ortodoxos e gays, os dilemas de uma
identidade fragmentada
Marta F. Topel
1
Introdução
Nas últimas décadas, novos modos de compatibilizar religião, gênero e
política se incrementaram e diversificaram entre os judeus, contestando a
hetero-normatividade do judaísmo. Assim, se bem que as correntes liberais do
judaísmo aceitem as identidades LGTB, a ortodoxia continua olhando como
abominaçãoa
homossexualidade
masculina.
Entretanto,a
condena
de
identidades LGBT não se expressa de forma linear na ortodoxia judaica, seja
entre as lideranças do grupo, seja entre seus membros.
O objetivo deste trabalho é: 1) compreender as reivindicações dos
judeus ortodoxos para terem legitimadas suas identidades LGBT qua
ortodoxos, isto é, sem ter de trocar a ortodoxia por uma versão liberal do
judaísmo, e 2) analisar o fenômeno conhecido como pinkwashing israelense,
tão debatido nos últimos anos. Os dois objetivos se entrecruzam uma vez que,
por não existir separação entre igreja e Estado em Israel, a legitimação das
reivindicações LGBT e a construção de uma identidade homonormativa devem
confrontar-se com as lideranças religiosas por um lado, e com as instâncias
civis por outro.
Na última década, comunidades ortodoxas LGBT têm sido criadas em
Israel e nas diásporas judias com o objetivo de incluir gays, bissexuais e
transexuais no universo ortodoxo. Estas comunidades atuam basicamente no
ciberespaço, mas há encontros pessoais entre seus integrantes além de
existirem alguns grupos de ativistas nos Estados Unidos e Israel, e sinagogas
liberais que aceitam indivíduos que assumem uma identidade LGBT entre seus
membros, além de existirem rabinos gays e rabinas lésbicas liderando algumas
delas.
A homossexualidade nas fontes judaicas
Segundo os codificadores judeus da Idade Média, considerados a
autoridade exegética soberana no judaísmo ortodoxo, na Bíblia hebraica a
condenação da homossexualidade aparece sempre no contexto de outros atos
2
abomináveis, como o incesto, o adultério e manter relações sexuais com
animais (Lev. 18:16-20). Ao mesmo tempo, os codificadores salientam que o
termo abominação qualifica condutas que nada têm a ver com a sexualidade,
como comer algum alimento proibido pela Lei judaica (Deut. 14:3) e adorar
ídolosdas nações conquistadas pelos israelitas (Deut. 7:25-26). O denominador
comum dos atos considerados abomináveis é a sua atribuição aos povos
pagãos e, consequentemente, a sua definição como a antítesedos valores e
ideais do monoteísmo judaico. Assim, o homossexual se distancia do povo de
Israel e do mandato de pureza exigida dele. Nessa linha, não há como não
mencionar o célebre Pureza e Castigo de Mary Douglas, que em sua análise
das leis dietéticas judaicas, conclui que elas têm como objetivo separar os
judeus dos outros povos. O mandamento do Deus de Israel de transformar o
Antigo Israel em um povo de sacerdotes, isto é, em um povo sagrado, exige de
cada indivíduo e do grupo como um todo manter-se separados dos outros
povos, de suas práticas e rituais. As análises de Mary Douglas foram
inovadoras em demonstrar o princípio de que toda religião é, simultaneamente,
um sistema classificatório, uma cosmologia e uma instância moral.
Outraquestão fundamental se relaciona com a função social das
relações homossexuais para o cumprimento do primeiro mandamento instituído
pelo Deus de Israel: “Frutificai e multiplicai-vos” (Gen. 1: 28). Praguer (2009)
destaca que o primeiro mandato que Deus impõe a Adão é “Não é bom que o
homem esteja só”(Gen. 2:18), salientando que para resolver a solidão do
homem, Deus não criou outro homem ou uma comunidade de mulheres: a
solidão do homem não era resultado de não estar com mais pessoas, mais de
não estar com uma mulher. As fontes judaicas medievais esclarecem que, no
caso da homossexualidade, o termo abominação indica “extravio” no sentido de
que o homossexual desobedece ao mandamento Divino. É importante salientar
que o judaísmo nunca estimulou ou aprovou o ascetismo, a vida monástica e o
celibato.
A união entre homem e mulher é o ideal de amor e de sexualidade, cujo
objetivo é a formação da família, instituição medular na religião e cultura
judaicas,uma vez que a família, e não o indivíduo, constitui o alicerce da
sociedade.
Prager (2009) explica que pelo fato de o judaísmo ter como ideal
3
sexual o amor marital, todas as outras formas de condutas sexuais constituem
um desvio em relação a ele.
Além do mais, existe um continuum dos
comportamentos sexuais desviados que se inicia no sexo pré-marital e
continua no celibato, adultério, homossexualidade, incesto e bestialismo.
Assim, por exemplo, o homem solteiro não tem o mesmo status que o homem
casado e sua vida como judeu é considerada incompleta do ponto de vista da
ortodoxia. A mulher solteira, por sua vez, é alvo de compaixão.
Mas se a homossexualidade masculina foi condenada pelos autores da
bíblia e pelos exegetas judeus –e continua sendo condenada entre os
ortodoxos-, a homossexualidade feminina sequer é mencionada na bíblia. Por
mais de três mil anos o lesbianismo foi alvo de pouco interesse nos textos e
nas comunidades judaicas. Segundo Alpert (2009),existem algumas tentativas
de responder a isto, mas nenhuma delas é conclusiva. Em primeiro lugar, o
autor assinala o fato de que a conduta homoerótica entre mulheres não implica
desperdiço de sêmen1, o que levou a que o lesbianismo não fosse enquadrado
na categoria de ato sexual.
Segundo, constituindo o Antigo Israel uma
sociedade eminentemente patriarcal, nada que fizessem as mulheres sem os
homens despertava demasiado interesse. Terceiro, os redatores da bíblia
pouco sabiam sobre as relações homossexuais entre mulheres, razão pela qual
não se expediram sobre o assunto.
Quarto, a bíblia aceita o amor entre
mulheres como uma situação normal, partindo do pressuposto de que elas não
são
conscientes
e/ou
completamente
responsáveis
pelos
seus
atos.Consequentemente, Maimónides define a homossexualidade masculina
como um crime capital e o lesbianismo, como obscenidade.
Finalmente, embora existam diferentes interpretações a respeito, a
história de Sodoma e Gomorra destruídas pela ira Divina é um tópico
extremamente difícil de ser reinterpretadopara gays e lésbicas que aspiram a
um modus vivendi ortodoxo.
1
- Na religião judaica, a masturbação e o relacionamento sexual entre homem e mulher
utilizando algum contraceptivo mecânico são categorizados como “desperdiço de sémen”,
compreendido como o impedimento de gerar novas vidas judaicas. O “desperdiço de sémen” é
uma transgressão grave da Lei judaica.
4
Identidades LGBT no universo ortodoxo: uma luta pletórica em paradoxos
O grupo israelense Hod (Esplendor), criado em 2008, tem entre seus
objetivos iniciar um diálogo público com os rabinos ortodoxos que leve em
consideraçãoquestões haláchicas (relativas à Lei judaica), a fim de obter o
reconhecimento pleno dos homens homossexuais como parte da comunidade
religiosa. O grupo destaca que esse diálogo não pode ser mais protelado e
negligenciado. Poucos dias depois de ter colocado seu website no ar, Hod
estendeu suas atividades e apelou à comunidade ortodoxa para que
reconhecesse os homens gays como parte dela. Uma carta foi enviada para
vários rabinos, parlamentares de partidos religiosos, prefeitos, líderes
comunitários e chefes de diferentes organizações de judeus observantes,
destacando que só a ignorância e a falta de consciência levam ao ódio sem
sentido contra os homossexuais dentro das comunidade ortodoxas2. Nesse
mesmo dia, um operador do siteescreveu: “nossa intenção não é subverter
Halachá”, salientando que “como todas as pessoas religiosas aceitamos as
exigências rigorosas da lei da Torá e de bom grado nos sacrificaremos no altar
de Deus”.3
Um caminho interessante para conhecer as reivindicações de homens e
mulheres homossexuais para serem aceitos nas comunidades ortodoxas é o
documentário Tembling before G-d4.
Nele o espectador se depara com o
dilema que assola gays e lesbianas que, ao mesmo tempo em que
demonstram um grande respeito e devoção pelo judaísmo ortodoxo, devem
confrontar-se com as sanções impostas pelas lideranças ortodoxas aos
homossexuais. Esse fato os obriga a viver uma dupla vida, isto é,“ficar no
2
http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3504952,00.html
http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3504952,00.html
4
Documentário de 2001 dirigido pelo norte-americano Sandi Simcha Dubowski, ele mesmo
gay e religioso. O filme teve grande repercussão e recebeu várias nominações em prestigiosos
festivais internacionais, ganhando o prêmio de melhor documental nos festivais de Berlim e
Chicago em 2001.
3
5
armário” ou
afastar-se das comunidades ortodoxas com todas as
consequênciasdecorrentes dessa situação5.
Ao longo do documentário, vemos muita frustração entre mulheres e
homens ortodoxos que tiveram de abandonar seus lares e comunidades
eforam humilhados por seus rabinos, mas mesmo assim, fazem uma
desesperada tentativa de conciliar o que pareceria irreconciliável: sua
identidade sexual e suaidentidade ortodoxa. No filme são apresentados casos
em Israel e nos Estados Unidos. O caso de um casal de lesbianas de Nova
Iorque, que longe de suas famílias vivem uma vida ortodoxa é emblemático da
situação dos homossexuais ortodoxos.
Ambas têm certeza de que seguir
estritamente os rituais judaicos e as boas ações6 que realizam neste mundo
lhes abrirá as portas ao mundo vindouro. Essa escolha pareceria ser o único
modo de se revelarem contra a misoginia e a homonormatividade ortodoxas e
as injustiças decorrentes dela. Entretanto, o foco central do documentário é
David, um jovem ortodoxo gay norte-americano,cuja trajetória revela ao
espectador o difícil caminho de quem aspira a um arranjo a priori impossível:
ser “judeu-ortodoxo-gay”.
A história de David é quase uma quimera para ser
aceito pelo Deus de Israel e a Torá que Ele revelou a Moisés, mas na qual está
escrito: “O homem que se deitar com outro homem como se fosse uma mulher,
ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e seu sangue cairá sobre
eles (Lev. 20:13). Depois de compartilhar seu segredo com seu rabino em
Israel, David é aconselhado a voltar para os Estados Unidos e realizar uma
terapia reparadora com um psiquiatra recomendado por ele. O tratamento não
dá resultado e, anos mais tarde, convencido de que é impossível mudar sua
condição gay, David volta a Israel e se encontra com seu rabino, que o recebe
calorosamente. À pergunta de se o rabino, ciente do fracasso da terapia, lhe
daria o mesmo conselho, o rabino hesita, responde negativamente e
acrescenta que depois de saber o nível de sofrimento ocasionado a seu
discípulo e a ineficácia das terapias indicadas, não tentaria transformar David
5
Para compreender a pletora de obstáculos que devem enfrentar os dissidentes da ortodoxia
judaica, cf. Topel, M. A ortodoxia judaica e seus descontentes: dissidência religiosa no Israel
contemporâneo.
6
- Ao longo do filme o espectador assiste Leah e Malka se prepararem para o shabat
(descanso sabático cuja celebração se realiza através de diversos rituais) seguindo os
costumes ortodoxos.
6
em heterossexual. Qual é, então, a soluçãoproposta pela ortodoxia para David,
homossexual que aspira a continuar sendo um judeu obserante? Tendo como
base as fontes judaicas o rabino explica que Deus não coloca um fardo mais
pesado daquele que o homem é capaz de suportar, aconselhando David a
viver em celibato7.
As pesquisas de Shokeid (1995) e Schnoor (2006) sobre os percursos
de indivíduos gays em sinagogas norte-americanas e canadenses8 revelam
que por diferentes razões, esses indivíduos preferem fazer parte de sinagogas
tradicionalistas e ortodoxas em lugar de participar de sinagogas liberais que
abrem suas portas para pessoas com identidades LGBT. Entre os
depoimentoscolhidos pelos antropólogos, o fato de “se sentirem em casa” nas
sinagogas mais tradicionalistas é a causa que justifica essa escolha. Desses
dados é possível concluir que ser ortodoxo e gay implica estar de acordo com o
caráter autoritário da ortodoxia, aceitar seu componente misógino e identificarse com o espectro mais conservador dos judeus na esfera política9.
Homonacionalismo e pinkwashing: monopólio israelense?
Nos últimos anos, em diversos fóruns LGBT e queer internacionais se
debateu o pinkwashing israelense, criando atritos entre diferentes grupos que
apoiam e discordam da participação de delegados israelenses10. Os
defensores
do
boycott
aos
representantes
de
Israel
justificam
seu
posicionamento aludindo à propaganda dos governos israelenses que
manipulam o liberalismo existente nesse país com os homossexuais para
defender Israel como o único Estado democrático do Oriente Médio. O
Pinkwashing israelensese expressa numa política exterior que salienta o
liberalismo do país vis-à-visas sociedades homofóbicas muçulmanas e árabes,
7
- Para uma análise aprofundada do filme Trembling before G´od, cf. Topel (2010).
- Nos Estados Unidos, que tem a maior diáspora judaica, existem várias sinagogas LGBT,
além de grupos que criaram espaços de estudos religiosos, cujo objetivo é prover apoio e
informação a judeus ortodoxos LGBT para reafirmarem de modo positivo a suas identidades
judaico-ortodoxa e gay.
9
- É importante salientar, entretanto, que indivíduos gays desertam das fileiras da ortodoxia por
essa causa. Cf. Topel, 2011.
10
- Dados precisos sobre o boycott a grupos israelenses LGBT se encontram no artigo de
Jason Ritchie, 2015.
8
7
principalmente, a Autonomia Palestina e o Irão11. Em outras palavras: segundo
os Pinkwatchers, os governos israelenses fazem uma propaganda do país
apresentando-o comouma sociedade liberal e tolerante no afã de apagar a
violação dos direitos humanos nos territórios ocupados.
Antes de dar início à discussão, é necessário mencionar alguns dados
sobre a situação dos indivíduos israelenses que se enquadram em alguma
identidade incluída na sigla LGBT. As relações entre pessoas do mesmo sexo
foram legalizadas em Israel em 1988, embora a lei contra a criminalização da
sodomia começasse a vigorar a partir de uma decisão judicial de 1963. Israel
tornou-se o primeiro país asiático em reconhecer a coabitação não registada
entre casais do mesmo sexo e,em 1992, qualquer discriminação em razão da
orientação sexual foi proibida. Uma decisão judicial de 2008 autorizou a
adopção conjunta por casais do mesmo sexo, e gays e lésbicas estão
autorizados a servir abertamente noexercito. Pesquisas recentes indicam que
a maioria dos israelenses apóia o casamento entre indivíduos do mesmo sexo.
Por sua vez, Tel Aviv tem sido frequentemente referida por editores de guias
turísticos como uma das cidades gay mais amigável do mundo, famosa pela
sua parada anual e pelas praias gays, o que lhe fez ganhar o apelido “a capital
gay do Oriente Médio”.
Ziv (2010: 540) resume a imagem projetada pela comunidade LGBT
israelense ao mundo heterosexual como a de homens e mulheres profissionais
que serviram no exército, mantêm relações afetivas duradouras e costumam ter
filhos. Isto é, pessoas que seguem o modelo heterosexual de respetabilidade
condizente com os valores israelenses, nos quais a maternidade e o exército
são pilares fundamentais.
No que diz respeito aos indivíduos gays árabes com cidadania
israelense, eles gozam dos mesmos direitos, apesar de serem severamente
11
- No artigo “Israel and Pinkwashing” publicado no New York Times em 22 de novembro de
2011, Sarah Schulman, ativista no movimento de boycott ao Pinkwashing israelense, traz os
seguintes dados: “In 2005, with help from American marketing executives, the Israeli
government began amarketing campaign, “Brand Israel,” aimed at men ages 18 to 34. The
campaign, as reported byThe Jewish Daily Forward, sought to depict Israel as “relevant and
modern.” The governmentlater expanded the marketing plan by harnessing the gay community
to reposition its globalimage”.
8
punidos em suas comunidades caso manifestem a abertamente a sua
identidade sexual. Por outro lado, a despeito das restrições cada vez mais
rígidas para a entrada de palestinos no território israelense, com a decorrente
repressão daqueles que conseguem burlar os postos de controle, Tel Aviv
continua sendo um polo de atração para os palestinos que se identificam como
LGBT12.
Esses dados mostram a complexidade da situação israelense e nos
levam, inevitavelmente, a pensá-la a partir da intersecionalidade, isto é, a partir
de uma perspectiva que leve em consideração as variáveis nacionalidade,
cidadania e identidade sexual.Aintersecionalidade destaca as maneiras em que
múltiplas dimensões das relações socialmente construídas, a exemplo de raça,
classe, gênero, capital, religião e corpo interagem, configurando diferentes
níveis de desigualdade social(Crenshaw, 1989). Ser mulher negra implica uma
discriminação maior que ser mulher branca; no caso que nos ocupa, ser judeu
israelense gay é diferente do que ser árabe israelense gay ou ser palestina e
lesbiana.
Como fora mancionado, Tel Aviv é considerada um paraíso gay, mas
nesse paraíso –como em outros paraísos- no entram todos com a mesma
facilidade, e alguns nem sequer conseguem entrar. A partir dessa constatação,
é relevante trazer para a discussão os conceitos homonacionalismo e
homonormatividade, apesar das críticas das quais o primeiro tem sido alvo nos
últimos anos pelo reducionismo com o qual é utilizado. Puar (2013: 337) define
o homonacionalismo como uma categoria analítica para apreender o Estado
moderno no qual se observa uma mudança histórica significativa: a entrada em
cena de alguns corpos homossexuais considerados dignos de serem
12
- No começo do longo Relatório da Faculdade de Direito da Universidade de Tel Aviv,
assinado por Michael Kagan & Anat Ben-Dor, intitulado: Nowhere to Run:Gay Palestinian
Asylum-Seekers in Israelencontramos um resumo desta realidade: “Gay Palestinians are
caught in the middle of the Israeli-Palestinian conflict. They are persecuted in the Occupied
Territories by militant groups, Palestinian security forces and members of their own families.
When they flee, they are hunted inside Israel by police who seek to return them to the territories
from which they have escaped, usually forcing them to live in hiding and eventually run away
again” (2008:5)
9
protegidos pelos estados nacionais. A autora descreve o homonacionalismo
como uma homonormatividade de cunho nacional em cujo quadro entidades
gays “domesticadas” fornecem munição para o fortalecimento do projeto
nacionalista. Como conceito, o homonacionalismo ganhou força depois dos
ataques de 11 de setembro e o recrudecimento da guerra ao terror, sendo
utilizado para descrever diferentes situações em países ocidentais. Puar
(2013) acrescenta que na atualidade, o Estado não é exclusivamente
heteronormativo, mas, também, homonormativo. A discussão em torno do
homonacionalismo tem como objetivo destacar que o homosexualismo já não é
visto como ameaça à segurança do Estado, mas como um corpo integrado a
ele. Finalmente, o homonacionalismo e a homonormatividade são consideradas
condições necessárias para o desenvolvimento de um processo de
Pinkwashing.
É interessante salientar que se bem o Pinkwashing seja considerado
monopólio israelense, principalmente pelas diferentes mídias e por movimentos
sociais que abraçam a causa palestina e por grupos que defendem o BDS, ele
nasceu como subsídio para definir diferentes países da Europa nos quais a
política de direitos LGBT está integrada à direita e à islamofobia,idealizadoras
de campanhas homossexuais conservadoras que distinguem entre os “bons
cidadãos” e aqueles que são percebidos como uma ameaça aos valores
ocidentais (Gross, 2015: 117).
Historicamente, o movimento LGBT em Israelfoi apoiado pelo partido
Mertez, representante da esquerda do país, e só depois do atentado em um
clube gay em 2009, o movimento recebeu apoio de partidos políticos de centro
e de direita. Por sua vez, se bem que o movimento LGBT israelense esteja
controlado por homens israelenses asheknazitas, na última década houve
dissidências de grupos autodefinidos queer quedesafiam a ordem normativa do
movimento
desconstruindo
a
sua
estrutura
baseada
em
identidades
essencialistas. Performático e transgressor, na parada gay de 2001, o grupo
Kvisá Shchorá se separou das fileiras principais e seus membros ergueram
cartazes, entre os quais se destacou: “não há orgulho na ocupação” e
provocadoras inscrições nos corpos dos ativistas, a exemplo de: “somos as
10
putas de Arafat”, “inimigos de Israel”, “feministas pervertidas”, “transgênero,
não transferência”, “Palestina Livre”13 entre outros.
Duplamente marginais, pelas suas reivindicações e pelo seu número, a
lógica dos grupos queer israelenses é formulada em termos de uma relação
sistemática entre diferentes tipos de opressão. Esse tipo de demonstração
revela a recusa dos grupos queer em separar políticas sexuais de políticas
nacionais (Ziv: 2010).
De modo frontal, a partir do ano 2000 a política
queerisraelense se caracteriza pela tentativa de substituir categorias de
identidade hegemônicas pela fluidez e hibridismo de quaisquer identidades e
pela rejeição de identidades binárias monolíticas (Gross, 2015: 125).
A intersecionalidade existente no universo LGBT israelense se
caracteriza pelas seguintes situações: a liberdade da qual gozam os grupos
LGBT e queers judeus, a complexa realidade de gays e lésbicas árabes com
cidadania israelense e, finalmente, a trágica situação dos palestinos
identificados com uma das identidades LGBT que moram na Cisjordânia, na
Franja de Gaza e em Jerusalém oriental. No que diz respeito aos árabes e aos
palestinos, membros de ambos os setores procuram Tel Aviv como refúgio
para expressar abertamente sua identidade sexual. Entretanto, principalmente
no que diz respeito aos palestinos dos territórios ocupados, a situação é
extremamente complexa, já que são alvo de dois modos de repressão no que
concerne à sua identidade. Em Israel são perseguidos por serem palestinos e
na Autonomia palestina são silenciados e humilhados por sua orientação
sexual. Nesse cenário, mesmo com todas as represálias das quais são objeto,
milhares de palestinos identificados como LGBT procuram asilo em Israel. No
detalhado relatório realizado pela Faculdade de Direito da Universidade de Tel
Aviv, com o título de Nowhere to Run:Gay Palestinian Asylum-Seekers in Israel,
os autores assinalam que na Clínica dos Direitos dos Refugiados da
Universidade de Tel Aviv, a partir de 2002 foram assistidos palestinos à procura
de asilo político em Israel. Os autores do relatório explicam com as seguintes
palavras a sua missão:
13
- Cf. Amalia Ziv “Performative Politics in Israeli Queer Anti-Occupation Activism”, 2010.
11
Nós
publicamos
nossos
resultados
primeiro,
porque
acreditamos que é essencial que os ataques contra homens
homossexuais nos territórios ocupados sejam devidamente
divulgados e, segundo, porque acreditamos que os indivíduos
que poderiam ser torturados ou assassinados não devem ser
forçados a esperar que a paz chegue ao Oriente Médio para
ser consideradosaptosa pedir asilo em Israel... Nosso interesse
neste assunto surgiu através de palestinos que se refugiaram
em Israel. Embora as organizações palestinas nos territórios
ocupados devam carregar com a primeira responsabilidade por
perseguir
os
palestinos
homossexuais,
nosso
principal
interesse é focar a resposta de Israel para aqueles que
escapam e procuram segurança no outro lado da Linha Verde
(Kagan & Ben-Dor2008:7)14.
Mas Israel não é só alvo para os palestinos gays que procuram asilo
político, mas, também, um polo de atração no sentido de expressar
abertamente a identidade sexualde milhares deles em espaços de lazer,
fenômeno que se manifesta na visita a bares e boates gays em Tel Aviv e no
conhecido bar Shushan, considerado um “oásis de tolerância em Jerusalém”.
Outro dado relevante é que a ONG Al-Qaws, organização palestina LGBTQ
que adere ao BDS contra Israel, organiza festas, não nos territórios
ocupados15, mas nas cidades israelenses de Haifa e Yaffo, duas cidades
emblemáticas da co-existência entre judeus e árabes israelenses. Não menos
importante é o fato de a ONG ter sido criada no marco da Open House,
organização israelense para os direitos LGBT em Jerusalém.
No relatório mencionado, Kagan & Ben-Dor(2008: 11) trazem dados e
depoimentos que revelam que centenas de palestinos identificados com
alguma letra da sigla LGBT são pressionados a trabalhar como informantes
14
15
- Tradução do inglês da autora.
Cf. site da ONG Al-Qaws: http://alqaws.org/news/Palestinian-Queer-Party?category_id=0
12
para ambos lados do conflito: para a polícia palestina e para as forças de
segurança israelense, revelando a trágica situação dessas pessoas.
Por sua vez, os grupos LGBT e queer da Autonomia Palestina, entre os
quais se destaca Al-Qaws, fazem questão de salientar que sua preocupação
central é a ocupação e não a homofobia existente na sociedade palestina além
de rejeitar as políticas ocidentais em relação a grupos LGBT e queers(Puar
2015). No Electronic intifada, esta questão aparece entre as primeiras
discutidas, expressada nos seguintes termos:
... a noção de sair do armário -ou a política de visibilidade- é
uma estratégia que tem sido adotada por alguns ativistas LGBT
no norte global devido a circunstâncias específicas. A
imposição desta estratégia ao resto do mundo, sem entender o
contexto, é um projeto colonial. Pergunte-nos, em vez disto,
que estratégias de mudança social se aplicam a nosso
contexto, e se a noção de sair do armário faz sentido para
nós16.
A modo de reflexão final
A sociedade israelense, definida como uma sociedade de enclaves
nacionais e étnico-religiosos -que também se manifestam geograficamente, a
exemplo dos bairros ortodoxos, bairros seculares, cidades de judeus orientais,
cidades e bairros de imigrantes anglo-saxões e russos, além da divisão mais
radical entre espaços árabes e espaços judeus- é o cenário no qual
encontramos as problemáticas analisadas nestas páginas. Todavia, não existe
qualquer contato e/ou identificação entre judeus seculares LGBT e judeus
16
Cf. Eight questions Palestinian queers are tired of hearing IN The Electronic Intifada:
https://electronicintifada.net/content/eight-questions-palestinian-queers-are-tiredhearing/12951Tradução da autora.
13
ortodoxos LGBT, da mesma forma em que, com exceções, é efêmero o contato
entre judeus seculares LGBT e árabes e palestinos LGBT.
Em relação aos judeus ortodoxos gays, apesar de sua condição ser um
tabu nas comunidades ortodoxas, não há dúvidas em relação ao aumento
desua visibilidade nas últimas duas décadas que se manifesta, principalmente,
na quantidade de sites e blogs criados por homens ortodoxos gays, além de
reivindicações pontuais entre os judeus ortodoxos que se identificam como
LGBT em diferentes comunidades dos Estados Unidos. Documentários e filmes
sobre a condição dos judeus ortodoxos LGBT (tanto sobre homens, como
sobre mulheres) têm se multiplicado nos últimos anos. E se bem que eles
sejam produzidos e dirigidos por pessoas seculares e seu público alvo sejam
os judeus seculares, algum resquício dos mesmos consegue penetrar o
supostamente infranqueávelgueto ortodoxo, criando discussões a respeito
entre alguns segmentos e indivíduos nas comunidades ortodoxas.
Simultaneamente, nos últimos anos diversos rabinos ortodoxos têm se
pronunciado em relação ao papel dos homossexuais nas comunidades
ortodoxas contemporâneas. O rabino mor da comunidade ultra-ortodoxa de
Baltimore, por exemplo, afirmou veementemente que os homossexuais
ortodoxos que não praticam a sodomia têm um papel importante na vida
judaica. Tendo como base o pilar do judaísmo segundo o qual o judeu não é
julgado pela sua orientação, mas pela sua ação, o mencionado rabino tem
mostrado receptividade em acolher indivíduos gays nas comunidades
ortodoxas. Segundo esse raciocínio, uma vez que só se proíbem as ações e
não as inclinações, o judeu homossexual deve controlar suas açõesapesar de
esta ser uma tarefa difícil. Por sua vez, Shmuel Kamenetzky, renomado rabino
da Filadélfia, é contundente ao afirmar que as comunidades ortodoxas não
podem mais ignorar o discurso em torno da homossexualidade e dos
homossexuais. Além disso, o rabino afirma que é um dever criar uma
atmosfera nas comunidades ortodoxas que permita que qualquer indivíduoprincipalmente os adolescentes- possa falar livremente sobre sua orientação
sexual com pais e rabinos, e ser tratado por estes com “amor e compaixão”
porque aqueles que lutam contra o mau instinto são vítimas inocentes
14
(Rapoport, 2012:33). Mas se o posicionamento do rabino Kamenetzky revela
uma abertura na visão ortodoxa sobre a homossexualidade, o seu limite é claro
e o conselho para os homens gays é a terapia reparadora. Na visão do rabino
Kamenetzky, se todos os homens são capazes de superar adições sexuais
como a adição à pornografia na internet,
assim devem agir os
homossexuais(Rapoport, 2012:35). .
Também em Israel, alguns segmentos da ortodoxia têm mostrado maior
receptividade no que diz respeito à homossexualidade feminina e masculina.
Numa matéria do prestigioso jornal Ha´aretz de 2015, o rabino Daniel Sperber,
defensor ativo de uma maior participação das mulheres nos serviços religiosos,
afirma
existir
uma
mudança
nas
atitudes
da
ortodoxia
diante
da
homossexualidade. Esse novo olhar se reflete nos debates sobre o tópico em
diversas comunidades ortodoxas que, décadas atrás, consideravam a
homossexualidade um tabu. Mas se algumas correntes da ortodoxia israelense
demonstram certa compaixão pelos homossexuais e até cogitam a ideia de
uma inclusão de gays e lesbianas nas suas comunidades, o mesmo rabino
alerta que o reverso também existe: uma abordagem agressiva sobre a
homossexualidade e os homossexuais entre outras correntes que se expressou
de modo trágico na morte de uma jovem lesbiana na parada gay de Jerusalém
em agosto de 2015, como resultado de um ataque cometido por um homem
ortodoxo17. Para Sperber, estas atitudes revelam uma possível ruptura entre
ortodoxos liberais e ultra-ortodoxos em torno do tópico da homossexualidade.
Diante do cenário descrito, no qual sobressai o desejo de homossexuais
e lésbicas ortodoxos de permanecerem em suas comunidades, a primeira
pergunta que assalta os judeus seculares é por que pessoas ortodoxas
identificadas com alguma letra da sigla LGBT não abandonam a ortodoxia para
fazer parte de alguma comunidade judaica liberal que aceita entre seus
membros pessoas sem fazer quaisquer discriminações relacionadas à sua
identidade sexual,permitindo-lhes manifestar abertamente a sua orientação
sexual. Outra interrogação não menos importante é como e por que indivíduos
17
http://www.haaretz.com/israel-news/.premium-1.669680
15
gays ortodoxos –tanto mulheres como homens- escolhem uma forma de
judaísmo que condena a homossexualidade, cuja matriz é patriarcal e que
discrimina a mulher sistematicamente, proibindo-a de exercer funções na
esfera pública. Uma resposta possível a encontramos na pesquisa de Shnoor
(2006) que relata que os informantes que escolheram uma congregação
judaica liberal, posteriormente a abandonaram por sentir-se estranhos em
comunidades que exigem um compromisso menos estreito com o judaísmo e
nas quais a liturgia é diferente; enfim: comunidades nas quais foi construída
uma visão de mundo diferente daquela das comunidades ortodoxas. Mas a
pesquisa de Schnoor (2006: 49) traz outra resposta ao mesmo interrogante que
se relaciona com o sentimento de culpa dos atores sociais pela sua orientação
sexual.
Em vários depoimentos colhidos pelo antropólogo,os interlocutores
afirmaram que a identidade judaica fica em primeiro lugar vis-à-vis a identidade
gay. Por essa razão, continuar na ortodoxia e consumar os preceitos da forma
mais estritaajuda os homens gays a purgar a vergonha e a culpa suscitada por
sua orientação sexual. Um interlocutor ilustrou esta decisão ao mencionar seu
objetivo de lograr um nível superior de espiritualidade, expressada em certa
obsessão pelas leis dietéticas judaicas, pelo descanso sabático e por consumar
os rituais das festas do calendário judaico da forma mais rígida possível.
Disto se infere que os judeus LGBT ortodoxos se identificam com a
ortodoxia da qual exigem uma única mudança: aceitar homossexuais e lésbicas
como pares em suas comunidades, permitindo-lhes consumar todos os
preceitos que cabem aos homens e mulheres observantes. Suas reivindicações
se restringem à sua própria condição, sem demandas que a extrapolem.
Divididos entre a sua obrigação com a Torá e sua orientação sexual, esses
judeus aduzem que ambas foram dadas a eles pelo mesmo Deus. Entretanto e
como fora mencionado, se bem que alguns rabinos ortodoxos estejam
dispostos a aceitar os gays em suas comunidades, na maioria dos casos a
exigência é o celibato, isto é, a condena a viver uma vida de solidão, sem a
possibilidade de criar uma família que, como vimos, é o pilar do universo
ortodoxo.
No que diz respeito ao Pinkwashing israelense, acredito que a exposição
e análise do fenômeno –ainda que sem entrar em todos os seus
16
desdobramentos- tenha mostrado a sua complexidade.
É por esta mesma
complexidade que as posições que levantam a bandeira do BDS e do
Pinkwashing israelenseme parecem reducionistas, já que não é a partir de
variáveis teóricas criadas em contextos diferentes ao israelense que se possa
compreender a situação, muito menos, a partir de slogans. O reducionismo que
se observa em alguns textos acadêmicos que descrevem a situação em Israel
e na Autonomia Palestina e os alertas dos chamados Pinkwatchers desemboca
em um reducionismo perigoso que pouco ajuda a compreender em
profundidade uma situação que tem produzido numerosas injustiças das quais
são objeto os palestinos LGBT e queers, além da tentativa cínica de relativizar
o liberalismo existente em Israel com as comunidades LGBT e queers.
No seu longo artigo “The politics of LGBT rights in israel and beyond:
nationality, normativity, and queer politics”, Gross (2015: 117) salienta que a
evolução da política dos direitos LGBT como parte de um projeto e ideologia
nacionalistas, distanciada de uma agenda progressista, não é um fenômeno
exclusivo de Israel. Mas o único país a ser boycotado por essa questão é
Israel.
Não é o caso de me estender aqui sobre a história da comunidade LGBT
israelense. Entretanto, acredito importante destacar que apesar de existir o
que se conhece como Pinkwashing israelense, a realidade é multifacetada e
menos monolítica, exigindo mais do que slogans ou debates extremamente
politizados e enviesados para apreendê-la. Consciente dessa situação, Jason
Ritchie (2015: 621-622) defende a necessidade de um trabalho etnográfico
para superar as distorções mencionadas ao afirmar:
Utilizo o trabalho de campo etnográfico em Israel-Palestina com
palestinos queer para sugerir que, seja o que for que o
homonacionalismo nos diz sobre como e por que circulam
imagens de um Israel gay-friendly –ou sua contrapartida,
imagens da homofobia palestina- com tanta frequência em
centros urbanos gay da Europa e da América do Norte, isto nos
diz muito pouco sobre a realidade do dia-a-dia do queerness
17
em Israel-Palestina, e muito menos sobre a realidade da
experiência dos palestinos.
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