Fisioterapia na atenção básica: uma revisão sobre a atuacão, as

Propaganda
PONTIFÍCIAUNIVERSIDADECATÓLICADEGOIÁS
PROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMVIGILÂNCIA SANITÁRIA
FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA: UMA REVISÃO SOBRE A ATUACÃO,
AS ATRIBUIÇÕES E A SUA INSERÇÃO
Fabiano Maduro de Lorenzo¹
Adriano Drummond²
¹Fisioterapeuta:AlunodaPós-GraduaçãoemVigilância Sanitária,pelaUniversidadeCatólicadeGoiás/IFAR.
²Orientador:Fisioterapeuta.MestreemCiências da Saúde,UniversidadedeBrasília, UnB,Brasil;atuando como
docente do Centro Universitário Unieuro.Coordenador do Estágio Supervisionado e da Clínica Escola de
Fisioterapia do Unieuro;E-mail: [email protected]
RESUMO
Introdução: A construção do Sistema Único de Saúde (SUS) avançou muito nos últimos anos, e a cada dia se
fortalecem as evidências da importância da Atenção Primaria à Saúde (APS). No caso específico da
Fisioterapia em decorrência de algumas características do trabalho na APS serem diferentes das realizadas nos
outros níveis de atenção à saúde, a profissão teve que agregar novos valores. Materiais e métodos: Este estudo
tem como objetivo buscar através de análise de revisão bibliográfica aspectos relacionados sobre a atuação, as
atribuições e a importância da inserção do profissional fisioterapeuta no Programa Saúde da Família (PSF). O
estudo consiste em uma revisão da literatura de artigos científicos, livros e leis governamentaisde 1988 a 2013.
A busca bibliográfica foi feita em estudos indexados nas bases de dados internacionais. Resultados e
Discussão: Fica constatada a relevância da atuação do Fisioterapeuta no contexto da saúde pública, sobretudo
sob a ótica de uma prática voltada à promoção e prevenção da saúde. Acredita-se que o aumento do número de
fisioterapeutas dentro da APS será positiva para a lógica do PSF e para a população que utiliza o SUS. Sendo
assim, este profissional tem muito a contribuir para aumentar e melhorar o nível de resposta aos casos
apresentados e contribuindo para a integralidade do atendimento à saúde do usuário.
Palavras- chave: Fisioterapia, Programa de Saúde da Família e Atenção Primária a Saúde.
ABSTRACT
Introduction: The construction of the Unified Health System (UHS) has advanced greatly in recent years, and
every day we strengthen the evidence for the importance of Primary Health Care (PHC). In the specific case of
Physiotherapy due to some characteristics of work in PHC are different to those undertaken in other levels of
health care, the profession had to add new values. Methods:This study aims to look through bibliographic
analysis of aspects about the performance, power and importance of the insertion of the physiotherapist in the
Family Health Program (FHP). The study consists of a literature review of journal articles, books and
governmental laws from 1988 to 2013.A literature search was made in studies indexed in international
databases. Results and Discussion: It noted the importance of the role of the physiotherapist in the context of
public health, especially from the perspective of a practice focused on health promotion and prevention. It is
believed that the increase in PHC physiotherapists to be positive logic and the FHP population using UHS.
Thus, this work has much to contribute to increase and improve the level of response to the cases and
contributing to integral health care user.
Keywords: Physical Therapy, Primary Health Care e Family Health Program.
1 INTRODUÇÃO
O Ministério da Saúde (MS) mesmo antes da criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) desenvolvia ações de promoção da saúde e prevenção de doenças quase que
exclusivamente através de campanhas de vacinação e controle de endemias (SOUZA,
2002).
Historicamente diversos acontecimentos vieram a evidenciarmudanças de valores e
pensamentos quanto ao tratamento da saúdeda população. Estas mudanças aconteceram
principalmenteentre os anos de 1920 e 1945. Houve a criação da Lei Elói Chaves,
considerada a lei sobre a Previdência Social, posteriormente a criação dos Ministérios do
Trabalho e a da Educação e Saúde. Outro fato importante foi a criação dos Institutos de
Aposentadorias e Pensão (IAP’s) (POSSAS, 1981).
O Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) foi o resultado da fusão dos IAP’s
de diferentes categorias profissionais organizadas, que posteriormente foi desdobrado em
Instituto de Administração da Previdência Social (IAPAS), Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS) e Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
(INAMPS) (POSSAS, 1981).
A assistência à saúde desenvolvida pelo INAMPS beneficiava apenas os trabalhadores
formais e seus dependentes, ou seja, era restrito e não tinha o caráter universal (POSSAS,
1981). Este passa a ser futuramente um dos princípios fundamentais do SUS. No final da
década de 80, o INAMPS adotou uma série de medidas que o aproximaram ainda mais de
uma cobertura universal da clientela. Esse processo culminou com o Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (SUDS), implementado por meio da celebração de convênios
entre o INAMPS e os governos estaduais (FIGUEIREDO, 2005).
Sendo assim começava a construção, mesmo que embrionariamente, no Brasil, de um
sistema de saúde com tendência à cobertura universal, mesmo antes da aprovação da Lei
que instituiu o SUS - a Lei Orgânica da Saúde (também conhecida como Lei 8.080/90)
(FIGUEIREDO, 2005). Esta lei dispõesobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providencias (BRASIL, 1990).
Foi a partir da 8ª Conferência Nacional de Saúde que o movimento de reorganização
do setor da Saúde torna-se legítimo, através da Comissão Nacional de Reforma Sanitária,
cujos estudos e propostas formaram a base para a criação do SUS, institucionalizado pela
Constituição Federal de 1988 (FIGUEIREDO, 2005).
A construção do SUS avançou muito nos últimos anos, e a cada dia se fortalecem as
evidências da importância da Atenção Primaria à Saúde (APS) nesse processo
(MEDICINA, 2004; COHN; ELIAS, 2001).
A APS é uma forma de organização dos serviços de saúde, uma estratégia para
integrar todos os aspectos desses serviços, tendo como perspectiva as necessidades em
saúde da população. Esse enfoque vai ao encontro com as diretrizes do SUS e tem como
valores a busca por um sistema de saúde voltado a enfatizar a equidade social, a
corresponsabilidade entre população e setor público, a solidariedade e um conceito de saúde
amplo (BRASIL, 2006; TAKEDA, 2004).
A APS é também uma concepção e um conjunto de valores que permeia todo o
sistema de saúde. Um país só pode afirmar que tem um sistema de saúde baseado na APS,
quando seu sistema de saúde se caracteriza por justiça social e equidade; auto
responsabilidade; solidariedade internacional e aceitação de um conceito amplo de saúde
(BRASIL, 2007).
A promoção da saúde, definida na I Conferência Internacional de Promoção da Saúde
como “um processo que confere à população os meios para assegurar um maior controle e
melhoria de sua própria saúde, não se limitando a ações de responsabilidade do setor saúde”
propõe a capacitação das pessoas para uma gestão mais autônoma da saúde e dos
determinantes desta.A promoção da saúde é aqui entendida como um dos eixos da APS. É
uma estratégia de articulação transversal na qual se confere visibilidade aos fatores que
colocam a saúde da população em risco e às diferenças entre necessidades, territórios e
culturas presentes (BRASIL, 2007).
A APS ou Atenção Básica (AB) considera o sujeito em sua singularidade,
complexidade, integralidade, e inserção sociocultural e busca a promoção de sua saúde, a
prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos (BRASIL,
2003).
O Programa de Saúde da Família (PSF) caracteriza-se como a porta de entrada
prioritária de um sistema hierarquizadoe regionalizado de saúde e vem provocando um
importante movimento de reorientação do modelo de atenção à saúde no SUS (BRASIL,
1994; BRASIL, 2000; BRASIL, 2002).
Visando apoiar a inserção da Estratégia Saúde da Família na rede de serviços e
ampliar a abrangência e o escopo das ações da Atenção Primária bem como sua
resolutividade, além dos processos de territorialização e regionalização, o Ministério da
Saúde criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), com a Portaria GM nº 154, de
24 de Janeiro de 2008 (BRASIL, 2010).
O NASF deve ser constituído por equipes compostas por profissionais de diferentes
áreas de conhecimento, para atuarem em conjunto com os profissionais das Equipes Saúde
da Família (ESF), compartilhando as práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade
das ESF no qual o NASF está cadastrado. Tem como responsabilidade central atuar e
reforçar 9 diretrizes na atenção à saúde: a interdisciplinaridade, a intersetorialidade, a
educação popular, o território, a integralidade, o controle social, a educação permanente em
saúde, a promoção da saúde e a humanização (BRASIL, 2010).
Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo buscar através de análise de
revisão bibliográfica aspectos relacionados sobre a atuação, as atribuições e a importância
da inserção do profissional fisioterapeuta naAPS.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O estudo consiste em uma revisãoda literatura de livros, artigos científicos,
periódicos e da legislação governamental de 1988 a 2013. Também foi utilizada a base de
dados do ministério da saúde, disponibilizada pelo site oficial desse órgão e revistas
eletrônicas do conselho Federal e Regionais de Fisioterapia.
A busca bibliográfica foi feita em estudos indexados nas bases de dados
internacionais - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS)
e na coleção Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), após consulta às terminologias
em saúde, a serem utilizadas na base de descritores da biblioteca virtual em saúde (BVS),
da Bireme (Decs) e da Medical SubjectHeadings(MESH), para o resumo em inglês. Os
descritores utilizados foram: Fisioterapia, Programa Saúde da Família (PSF) e Atenção
Primária à Saúde (APS), em português.
Os artigos selecionados eram nacionais, publicados no idioma português, no período
anteriormente mencionado, referentes à Fisioterapia e a APS. Os critérios de inclusão
foram: livros e leis governamentais que abordassem o tema proposto, artigos publicados na
íntegra, no período entre 1988 e 2013, que continham algum dos descritores selecionados e
disponíveis no Brasil. Dentre os critérios de exclusão, estavam: livros e legislação
governamental desatualizada, resumos de artigos, artigos não-disponíveis no Brasil e em
outros idiomas.
Primeiramente foi realizada uma triagem por meio da leitura dos títulos doslivros, da
legislação vigente, dosperiódicos e artigos científicos. Foram selecionados18 artigos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E O TRABALHO DA FISIOTERAPIA
Conforme citado por CORRÊA (1995) a incidência de doenças crônicas e
degenerativas vem aumentandoao longo dos anos.Esta mudança no perfil epidemiológico da
população se deve, principalmente, ao aumento da expectativa média de vida da população
(CASTRO et al., 2006).
O envelhecimento da população é um dos maiores desafios das últimas décadas.
Embora a velhice não seja sinônimo de doença, com a idade aumenta o risco de
comprometimento funcional e perda de qualidade de vida. A avaliação funcional dos
idosos, com acompanhamento do profissional fisioterapeuta, torna-se essencial para
estabelecer um diagnóstico, um prognóstico e um julgamento clínico adequado que
subsidiarão as decisões sobre os tratamentos e cuidados necessários com o idoso
(CIANCIARULLO et al., 2002).
A partir da análise da mudança deste perfil epidemiológico da população, verifica-se
a necessidade de uma atuação ampla da rede de atenção básica, além de áreas como a das
doenças infecciosas, áreas novas como a das doenças crônico-degenerativas e
traumáticas.Mudar uma realidade não é algo muito fácil e para que isso aconteça é
importante uma redefinição nos aspectos de espaço físico e no perfil dos profissionais que
irão atuar na equipe de saúde, no sentido de promoção, prevenção, educação, controle
social e reabilitação desta nova demanda que se apresenta (KATO et al., 1994).A
fisioterapia apresenta uma missão ímpar frente a nova realidade de saúde através da
aplicação de meios terapêuticos físicos, meios eletro-termo-fototerápicos, na prevenção,
eliminação ou melhora de estados patológicos no ser humano; como também na promoção
e na educação em saúde.
3.2
IMPORTANCIA
REABILITACAO
DO
FISIOTERAPEUTA
NO
PROCESSO
DE
Segundo Ribeiro (2002), a mais antiga e a mais importante função do profissional
fisioterapeuta é a reabilitação, porém este cenário vem sendo alterado desde a inserção cada
vez maior de profissionais fisioterapeutas na rede pública de saúde. Antigamente não se
viafisioterapeutas na AB e isso acarretava um aumento na dificuldade de acesso a este
profissional no SUS. Secundariamente,esta dificuldade de acesso acarreta a superlotação dos
serviços de referência em reabilitação e ao aumento da demanda reprimida de
atendimento.Perde o sistema e perde a parte mais interessada – o paciente.
Hoje o que se espera de um profissional fisioterapeuta é que o mesmo se insira nos
três níveis de atenção à saúde, inclusive na APS de forma a recuperar a funcionalidade,
qualquer que seja ela, e prevenindo futuras disfunções cinético-funcionais(PIANCASTELLI,
2001).
Segundo SOUZA (2003) seria de suma importância a inserção deste profissional na
APS, com o objetivo de promoção da saúde, prevenção de agravos e tratamento das
diversas enfermidades.
Um estudo que vai de encontro com este pensamento é o de Castroe col. (2006) que
afirmam que a inclusão do profissional fisioterapeuta nas equipes da saúde da família
poderia contribuir para a concretização das propostas idealizadas pelo SUS uma vez que
este profissional poderia prevenir o aumento do volume e complexidade da atenção em
saúde, reduzindo os gastos públicos. Ao mesmo tempo colaboraria com a mudança do
modelo assistencial, evitando o incremento das doenças e suprindo demandas reprimidas do
serviço de fisioterapia pela população nas áreas cobertas. Finalmente atuando na seleção e
triagem de pacientes quando o PSF efetivamente for encarado como a porta de entrada do
SUS.
Desempenhando a sua função mais clássica o fisioterapeuta atuaria junto ao paciente
no tratamento e reabilitação das principais alterações ou patologias do movimento,
atendendo pessoas restritas ao leito, prestando assistência fisioterapêutica e orientando os
familiares, sempre em acordo com as decisões e ações da equipe (CASTRO e col., 2006).
3.3EXPERIENCIAS DE TRABALHO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM
SAÚDE
Em um estudo sobre o levantamento de experiências da atuação da fisioterapia na
APS em João Pessoa, mostrou-se que esta atuação tem se caracterizado por atividades
relacionadas à reabilitação por ser a maior necessidade daquela população(RIBEIRO 2002).
No município de Camaragipe, em Pernambuco, foi desenvolvido um programa de
assistência a pessoas com deficiência criando-se um núcleo de reabilitação conduzido por
dois fisioterapeutas, dois fonoaudiólogos, um assistente social, um psicólogo, um terapeuta
ocupacional e um neurologista (COFFITO, 2001a). No mesmo município, o fisioterapeuta
está inserido em duas equipes do PSF e no Núcleo de Reabilitação. Além do atendimento
individual atua em grupos de prevenção na Unidade básica de Saúde (UBS) (COFFITO,
2001a; 2001b).
O fisioterapeuta, na cidade de Santarém (PA), está presente na Secretaria Municipal
de Saúde atuando em nível hospitalar, e quando há necessidade da presença do
fisioterapeuta em alguma equipe do PSF, este profissional trabalha junto à equipe
(COFFITO, 2000). No Rio de Janeiro, fisioterapeutas de um Instituto ligado à Fiocruz,
participam do Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (PADI). O programa
segue uma orientação multiprofissional, realizando visitas a comunidades dos subúrbios da
cidade ou da baixada fluminense (COFFITO, 2001c).
Santana e Carmagnani (2001) relata que as equipes do PSF devem abordar toda a
população de maneira ativa, indo aonde o paciente estiver. Como encontrado em vários
estudos, o fisioterapeuta tem desenvolvido assistências em outros locais e aponta para a
valorização das visitas domiciliares no PSF e os trabalhos com grupos operativos. Esse foi
um ponto também observado por Trade colaboradores (2002), quando a visita domiciliar foi
a atividade mais destacada pelos usuários avaliados pelo estudo. Estes autores consideram
que a visita traz ao profissional de saúde a possibilidade de novas portas de entrada na vida
cotidiana da população, além do poder de influência quanto às medidas e comportamentos
de saúde a serem adotados (SANTANA, 2001;TRADet al.,2002).
Em um trabalho que vem sendo realizado em Belo Horizonte são realizadas reuniões
semanais com a ESF e projetos de promoção de saúde para a comunidade, gerando,
conforme relatos médicos, diminuição na prescrição de medicamentos e melhora subjetiva
da qualidade de vida (BARAÚNA et al., 2008; SAMPAIO, 2002).
Fisioterapeutas da cidade de Sobral (CE) começaram a ser inseridos no PSF daquela
região após o ano 2000. Atuam com a realização de Escola de Postura, em grupos de
gestantes, de hipertensos, diabéticos e de hansenianos, além de atendimentos a pacientes
com necessidades especiais (COFFITO, 2003a;PERREIRAet al., 2004).
Na cidade de Natal, afirma Sampaio (2002), que a Fisioterapia atua junto à população
diabética, controlando níveis glicêmicos por meio de exercícios aeróbicos e aquáticos.Nos
casos de atuação com pacientes com Diabetes Mellitus, o trabalho em grupo traz benefícios
para esses indivíduos, promovendo a saúde através de orientações quanto aos cuidados a
serem tomados em relação a alterações de sensibilidade. Nos hipertensos e diabéticos, além
de orientações para o autocuidado, monitoramento frequente da pressão arterial e
caminhada, o papel do fisioterapeuta é importante naqueles usuários cujas condições
clínicas ou outras complicações exijam um acompanhamento especial. Em indivíduos
hansenianos o fisioterapeuta atua realizando a avaliação dermato-neurológica e
determinando o grau de incapacidade como também promovendo o autocuidado.
(AGUIAR, 2005).
A fisioterapia atua no PSF na cidade de Londrina com a realização de exercício junto
a grupos de idosos, diabéticos e hipertensos. Por meio de atividades como alongamentos e
caminhadas procuram melhorar a qualidade de vida da população e atuam na prevenção de
agravos à saúde. A atividade física desenvolvida em seus trabalhos busca também auxiliar
no controle glicêmico e na pressão arterial sistêmica(KATO et al., 1994).
A inserção do fisioterapeuta no PSF de Macaé, em Minas Gerais, foi a partir de
atividades de educação junto à comunidade e atendimentos nas áreas de Saúde da Criança,
da Mulher, do Adulto e do Idoso, além de atendimento a pacientes acamados (COFFITO,
2003a).
3.4 ATRIBUIÇÕES DO FISIOTERAPEUTA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA A
SAÚDE
De uma maneira geral pode-se perceber que diversas são as experiências de trabalho
de fisioterapeutas na APS, as mais diversificadas possíveis, e de uma maneira geral, existe a
abordagem do trabalho com tendências a seguir categorias de atuação profissional.
PORTES et al. (2011), em um trabalho recente, afirmam que após a análise de 16
artigos publicados na literatura nacional pode-se dizer que as categorias de atuação
profissional mais utilizadas pelos fisioterapeutas são: a educação em saúde, a atividade
domiciliar, a atividade em grupo, a investigação epidemiológica e planejamento das ações,
as atividades interdisciplinares, as atuações acadêmicas, os atendimentos individuais nas
UBS’s, a atenção aos cuidadores, as atuações intersetoriais e o acolhimento.
Isso nos faz pensar na formação do profissional de hoje e quais as mudanças
necessárias para cada vez mais se adaptar a esta realidade de trabalho. É realmente uma
mudança de modelo de formação profissional e é algo que se faz necessário de forma
urgente. A formação em Fisioterapia tem como responsabilidade formar um profissional
competente em liderança e tomada de decisões, atribuições importantes para um
fisioterapeuta da ESF, segundo PEREIRA et al.(2004).
De acordo Rebelato e Botomé (1999), o profissional para atuar no PSF deve ser
capaz de adaptar-se a situações novas. PEREIRA et. al (2004) especificam que o
fisioterapeuta deve ter a habilidade de adaptar ações e instrumentos terapêuticos de acordo
com recursos disponíveis na comunidade. E estes recursos, quando se fala em APS, são
realmente escassos ou até mesmo inexistentes.
Segundo Ragassonet al. (2003) em um estudo na UNOESTE de Cascavel, o
profissional fisioterapeuta deve ser voltado para a educação, prevenção e assistência
fisioterapêutica coletiva e individual, estando inserido e trabalhando de forma
interdisciplinar visando a: participar de equipes multiprofissionais destinadas a planejar,
implementar, controlar e executar políticas, programas, cursos, pesquisas ou eventos em
Saúde Pública; contribuir no planejamento, investigação e estudos epidemiológicos;
promover e participar de estudos e pesquisas relacionados a sua área de atuação; integrar os
órgãos colegiados de controle social; participar de câmaras técnicas de padronização de
procedimentos em saúde coletiva; participar de equipes multiprofissionais destinadas ao
planejamento, a implementação, ao controle e a execução de projetos e programas de ações
básicas de saúde; promover ações terapêuticas preventivas a instalações de processos que
levam a incapacidade funcional laborativa; analisar os fatores ambientais; desenvolver
programas coletivos, dentre outros.
Por estes mesmos autores são consideradas atribuições especificas do fisioterapeuta:
executar ações de assistência integral em todas as fases do ciclo de vida; realizar
atendimentos domiciliares em pacientes portadores de enfermidades crônicas e/ou
degenerativas, pacientes acamados ou impossibilitados; prestar atendimento pediátrico a
pacientes portadores de doenças neurológicas com retardo no desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM); realizar técnicas de relaxamento, prevenção e analgesia para
diminuição e/ou alívio da dor, nas diversas patologias ginecológicas; no pré-natal e
puerpério o fisioterapeuta pode atuar realizando condicionamento físico, exercícios de
relaxamento e orientações gerais; realizar programas de atividades físicas e psicossociais;
desenvolver atividades físicas e culturais para a terceira idade, desenvolver programas de
atividades físicas, condicionamento cardiorrespiratório e orientações nutricionais para o
obeso, prescrever atividades físicas e de cuidado diário para pacientes com patologias como
a Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes Mellitus, Tuberculose e Hanseníase, atuar de
forma integral nas famílias, dentre outras(RAGASSON et al., 2003).
Porteset al. (2011) vão mais além e propõem algumas diretrizes para o trabalho do
fisioterapeuta na APS, como: 1) as atividades domiciliares devem apresentar um perfil mais
interdisciplinar; 2) nas atividades de grupo, devem ser priorizadas as ações de promoção de
saúde, não focalizando as patologias como forma de identificação dos grupos; 3) na
formação profissional do fisioterapeuta, é importante que haja uma maior capacitação nas
ações de educação em saúde; 4) ações interdisciplinares devem ser priorizadas em todas as
atividades; 5) atendimentos individuais na UBS devem levar em consideração a
singularidade de cada usuário; 6) ações de promoção da saúde devem atender às
necessidades que o usuário apresenta como sujeito único e portador do direito à saúde;
dentre outras.
Segundo TONIN (2004), o profissional fisioterapeuta está habilitado a atuar na
Atenção Básica e várias conquistas neste âmbito já foram alcançadas. Porém ainda se tem
um longo caminho até o que se pode ser imaginado como sendo ideal. Também discutiu a
possibilidade de uma negação da Integralidade e Universalização na Atenção Básica com a
ausência desta categoria profissional.
3.5 AVALIAÇÃO DA ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA EM SAÚDE
Um ótimo parâmetro de avalição deste profissional dentro da APS pode ser feito pela
avaliação da qualidade de vida de indivíduos que utilizavam o serviço de fisioterapia em
UBS.
No estudo de Aquino e col. (2009) afirmam que as atividades físicas e educativas
coordenadas pela fisioterapia promoveram uma melhora na capacidade funcional e no
estado geral de saúde do indivíduo, que são domínios relacionados à qualidade de vida.
Estes mesmos autores não negam que estudos adicionais são necessários para avaliar os
efeitos destas atividades. E também afirmam que a fisioterapia, atuando isoladamente, não é
capaz de produzir efeitos sobre todos os domínios que interferem na qualidade de vida dos
usuários dos serviços públicos.
Em outro estudo em municípios de Minas Gerais desenvolvido por Ruase col.
(2006), foi observado que com a implantação do atendimento fisioterapêutico nos
municípios em que não haviam este serviço, obteve-se uma satisfação da população, pela
melhoria auto referida da qualidade de vida do indivíduo e nas condições gerais da
população. Diante dos resultados expostos, nota-se que apesar do modelo tradicional de
reabilitação que o fisioterapeuta ainda atua, o mesmo possui conhecimento e formação para
atuar na promoção e manutenção da saúde dentro da APS.
4 CONCLUSÃO
O fisioterapeuta é um profissional com finalidade reabilitadora, porém está deixando
cada vez mais a atuação tradicional em clínicas, consultórios e hospitais, para pensar e agir
mais de perto, atendendo de forma individualizada e a pacientes em seu próprio domicílio,
adaptando-se, assim, a um novo modelo de atenção à saúde, privilegiando a promoção, a
prevenção e a recuperação.
A inclusão do profissional fisioterapeuta na APS irá contribuir em muito para o
acesso mais rápido do usuário ao tratamento e permitir a ESF e o NASF que possuir o
fisioterapeuta prestar uma assistência mais integral ao paciente, evitando assim o aumento
da demanda reprimida dos centros de referência. E o mais importante é poder junto com a
equipe do NASF a qual este fisioterapeuta faz parte planejar e executar ações que visem a
prevenção e a promoção de saúde da população a qual deve assistir.Poderá também
contribuir para a concretização das propostas idealizadas pelo SUS uma vez que este
profissional poderá de forma concreta através de suas ações de trabalho prevenir o aumento
do volume e complexidade da atenção em saúde, reduzindo em última análise os gastos
públicos.
Fica constatada a relevância da atuação do fisioterapeuta no contexto da saúde
pública, sobretudo sob a ótica de uma prática voltada à promoção e prevenção da saúde.
Assim exposto, verificou-se que o profissional fisioterapeuta vem aumentando a sua
participação na APS, entretanto, sua inserção ainda é um processo embrionário de
construção.As experiências em algumas regiões do Brasil demostra que a presença deste
profissional só tem a melhorar a qualidade de saúde oferecida ao usuário do SUS.
Dentro deste estudo fica perceptível a melhora da qualidade de vida da população
que possui apoio deste profissional e uma enorme satisfação quanto aos serviços prestados.
Assim exposto acredita-se que o aumento do número de fisioterapeutas dentro da
APS será positiva para a lógica do PSF e para a população que utiliza o SUS. Sendo assim,
este profissional tem muito a contribuir para aumentar e melhorar o nível de resposta aos
casos apresentados pelas ESF contribuindo para a integralidade do atendimento à saúde do
usuário.
O presente artigo não tem a intenção de esgotar o assunto sobre o tema e sim ser um
fator motivador para futuras discussões.
BIBLIOGRAFIA
AGUIAR, R.G de. Conhecimentos e atitudes sobre a atuação profissional do
fisioterapeuta entre os profissionais da Equipe mínima de Saúde da Família em
Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2005. Dissertação (Mestrado em Saúde na Comunidade).
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP).
AQUINO, C. F.; AUGUSTO, V. G.; MOREIRA, D. S. RIBEIRO, S. Avaliação da
Qualidade de Vida de Indivíduos que Utilizavam o Serviço de Fisioterapeuta em Unidades
Básicas de Saúde.Rev. Fisioterapia em Movimento. Curitiba, v. 22, n. 2, p. 271-279,
abr./jun. 2009.
BARAÚNA, M.A.; TESTA, C.E.A.; GUIMARÃES, E.A.; BOAVENTURA, C.M.; DIAS,
A.L.; STRINI, P.J.S.A.; GORRERI, M.C. A importância da inclusão do fisioterapeuta no
Programa de Saúde da Família. Fisioterapia Bras, v.9, n.1, jan./fev.2008.
BRASIL. Ministério da Saúde.Lei 8.080/90. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Publicado no D.O.U. de 20.9.1990.
BRASIL.Ministério da Saúde. Saúde Dentro de Casa. Programa de Saúde da Família.
Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 1994.
BRASIL.Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção
Básica. A Implantação da Unidade de Saúde da Família.Cadernos de Atenção Básica –
Programa Saúde da Família. Caderno 1. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Prático da Saúde da Família. 2002. Disponível em:<
http://dtr2002.saude.gov.br/caadab/arquivos%5Cguia_psf1.pdf>. Acesso em: 08 novembro
2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.
Aconstrução do SUS: histórias da Reforma Sanitária e do Processo Participativo/
Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. – Brasília: Ministério
da Saúde, 2006. 300 p. – (Série I. História da Saúde no Brasil)
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Atenção Primária e Promoção da
Saúde / Conselho Nacional de Secretários de Saúde. – Brasília: CONASS, 2007.232 p.
(ColeçãoProgestores – Para entender a gestão do SUS, 8)
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio a Saúde da Família/ Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2010. 152 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Caderno de Atenção
Básica, n. 27).
CAMARAGIBE:o milagre da simplicidade. O Coffito, São Paulo, n. 10, p. 10-13, mar.
2001a.
CAMARAGIBE: modelo de atenção voltado à família. O Coffito, São Paulo, n. 10, p. 14 -
17, mar. 2001b.
CASTRO, S. S; CIPRIANO JUNIOR, G.; MARTINHO, A. Fisioterapia no programa de
saúde da família: uma revisão e discussões sobre a inclusão. Fisioterapia em Movimento,
Curitiba, v.19, n.4, p. 55-62, out./dez., 2006.
CIANCIARULLO, T. I et al. Saúde na família e na comunidade. 1. ed.São Paulo:
Robe,2002.
COHN, A.; ELIAS, P.E. Saúde no Brasil: políticas e organização de serviços. 1. ed. São
Paulo: Cortez, 2001.
CORRÊA, A. D.; SIQUEIRA, B. R.; QUINTAS, L. E. M.; PICCININI, A. B.
HipertensãoArterial: Epidemiologia, fisiopatologia e complicações. ARS CVRANDI,
Clínica médica. SãoPaulo, v. 28, n. 6, 1995.
FIGUEIREDO, N.M.A. Ensinando a cuidar em saúde pública. São Caetano do Sul:
Yendis, 2005.
INSTITUTO Fernandes Figueira, assistência domiciliar: uma questão de respeito social. O
Coffito, São Paulo, n. 12, p. 4-9, set. 2001c.
KATO, D. S.; SILVEIRA. E. C.; SANTOS, E. L.; ISHIKAWA, S. E.; ITO, K. Avaliação da
importância da fisioterapia na rede primária de atenção à saúde. Semina, Londrina, v.
15, 1994.
MEDICINA, A. P. SUS: O que você precisa saber sobre o Sistema Único de Saúde. Volume
1. São Paulo. Ed. Atheneu, 2004.
PEREIRA, F. W. A. et al. A Inserção da Fisioterapia na Estratégia Saúde da Família em
Sobral/CE. Sonare, Sobral, ano 5, n.1, p.93-100, fev./mar. 2004.
PIANCASTELLI, C. H. Saúde da família e formação de profissionais de saúde. In:
Smud, B. K. G. A educação profissional em saúde e a realidadesocial. Pernambuco:
Ministério da Saúde, 2001. Cap. 6, p. 121-137.
PORTES, L. H; et al. Atuação do Fisioterapeuta na Atenção Básica a Saúde: uma
revisão da literatura. Ver. APS; 2011; Jan-Mar; 14(1); pag. 111-119.
POSSAS, C. A. Saúde e Trabalho: uma crise na Previdência Social. Rio de Janeiro:
Graal, 1981, 324p.
PROGRAMA de Saúde da Família em Macaé. O Coffito, São Paulo, n. 18, p. 20-21, mar.
2003a.
RAGASSON, C. A. P. et al. Atribuições do Fisioterapeuta no Programa Saúde da
Família:
reflexões
a
partir
da
prática
profissional.2003.
Disponível
em:<http://henriquetateixeira.com.br/up_artigo/atribuiCOes_do_fisioterapeuta_no_programa
_de_saUde_da_famIli_co2gi5.pdf >. Acesso em: 08 dezembro 2012.
REBELATTO, J. R.; BOTOMÉ, S. P. Fisioterapia no Brasil: fundamentos para uma ação
preventiva e perspectivas profissionais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1999.
RIBEIRO, K. S. Q. S. A atuação da fisioterapia na atenção primária à saúde-reflexões a
partir de uma experiência universitária. Rev. Fisioterapia Brasil. Pernambuco, v.3, n.5,
p.311-318, Set./Out.2002.
RUAS, M. F. L.; DE PAULA, R. F.; FARIA, E. T. B. Importância da inserção do
fisioterapeuta na estratégia saúde da família, através da satisfação da população de municípios
de
Minas
Gerais.
2006.
Disponível
em:<http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/03/INIC0000440.ok.pdf>Acesso
em: 10dezembro 2012.
SAMPAIO, R.F. A experiência em Belo Horizonte. In: Barros F.B.M. O fisioterapeuta na
saúde da população: Atuação transformadora. Rio de Janeiro: Fisiobrasil, 2002; p.11-15.
SANTANA, M. L.; CARMAGNANI, M.I. Programa Saúde da Família no Brasil: um
enfoque sobre seus pressupostos básicos, operacionalização e vantagens. Rev. Saúde e
Sociedade, São Paulo, v.10, n.1, p.1-25, Jan./Jul.2001.
SANTAREM: em busca da saúde, na terra e na água. O Coffito, São Paulo, n. 7, p. 10-15,
jun. 2000.
SOBRAL Escola de Posturas: resolutividade do ato fisioterapêutico. O Coffito, São Paulo, n.
18, p. 14-21, mar. 2003b.
SOUZA, R. A.; CARVALHO, A. M. Programa de Saúde da Família e qualidade de
vida: um olhar da Psicologia. Estud. psicol. (Natal) [online]. 2003, vol.8, n.3, pp. 515-523.
TRAD, L. A. B. et. Estudo etnográfico da satisfação do usuário do Programa de Saúde da
Família (PSF) na Bahia. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2002, vol.7, n.3, pp. 581-589.
TONIN, P. A. Experiências, possibilidades e desafios para a Fisioterapia na Estratégia
Saúde da Família: revisão de literatura. Londrina. 2004.
Monografia
(Especialização)Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina.
TAKEDA, S. A organização de Serviços de Atenção Primária à Saúde. In: DUNCAM,
B. et al. Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidência. 3
ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 267p.
Download