Análise da “Apologia de Sócrates”. Luiz Felipe de Oliveira Pinheiro * RESUMO Indutivamente, e em linhas gerais, a “Apologia de Sócrates”, escrito idealizado por Platão, relata de forma auspiciosa a defesa de Sócrates, perante todas as acuações que lhe são feitas, dentre elas as três principais: de corromper a juventude, de negar a existência dos deuses do Estado e de introduzir a aceitação de novas divindades. Palavras - chave: Filosofia Antiga, Platão, Sócrates, Apologia, Diálogo Socrático. * Estudante do Curso de Direito Faculdade Barão do Rio Branco - FAB Estudante do Curso de Economia Universidade Federal do Acre - UFAC Tecnólogo em Processos Gerenciais Universidade Norte do Paraná E-mail: [email protected] Introdução O livro “Apologia de Sócrates”, escrito por Platão, narra o julgamento no qual seu mestre é acusado, julgado e condenado. Toda a narrativa é feita na primeira pessoa, dando a entender que quem o diz é o próprio Sócrates. A apologia e sua autodefesa utilizada em seu julgamento em 399 a.C. no qual, Sócrates discursa, tendo sido acusado de corrupção da juventude e impiedade por Metelo, Ânito e Lícon. Sendo este considerado culpado pela maioria dos votos (281 contra 220, logo, o tribunal formado por estes 501 cidadãos) e condenado à morte através da ingestão de cicuta. Infere-se do texto o estilo do discurso de Sócrates (coloquial, assim como o que ele utiliza em sua defesa), seguido de um rol de suas atividades cotidianas e outros aspectos corriqueiros de sua vida, agindo assim, toda a contextualização acaba respondendo as acusações feitas ao filosofo. Após sua defesa, o texto relata suas tentativas de diminuição de pena, para depois fazer uma “profecia”, em forma de censura, na qual diz aos juízes que estes viverão com problemas de consciência após pronunciarem sua morte. Do filosófico ao Jurídico Características do Pensamento Filosófico e Jurídico: Radicalidade: O termo radical é utilizado desde os filósofos gregos como sinónimo de princípio, causa razão, fundamento. Racionalidade opõe-se a superficialidade. A filosofia e o direito não se contentam com o que parece, com as aparências, mas quer ir à raiz dos problemas. Autonomia: A filosofia é independente em relação à ciência, ao senso comum, à religião, política, às ideologias, à autoridade ou tradição e em relação a tudo o que possa pôr em causa a liberdade de pensar por si mesmo. Sócrates demonstra a sua autonomia, ao ousar desafiar os poderosos e sábios, os que se dizem sábios. Frente aos acusadores, em tribunal proclama a autonomia do pensamento, a sua liberdade para discordar do saber instituído, científico e religioso. A universalidade da filosofia: A Filosofia é um saber universal porque o seu objeto de estudo é a totalidade da experiência humana, podemos filosofar sobre tudo o que quisermos. Mas também é universal, pois as suas questões colocamse à humanidade em geral. A Filosofia também se distingue da ciência graças à sua universalidade, pois enquanto que o objeto de estudo da ciência é sempre parcelar o da Filosofia é total. Historicidade: A vida social, a religião, a política, a ciência, a economia, as artes, etc., influenciam sempre o pensamento filosófico e jurídico. Os filósofos e as filosofias, bem como o direito e suas leis são, de facto, efeito e causa. Efeito das múltiplas circunstâncias, das crenças, das instituições das políticas, etc., do seu tempo, logo, são produto de todas as conquistas da humanidade ao longo da história. Ser condenado ou abandonar a filosofia Sócrates começa a sua defesa advertindo que dirá unicamente a verdade, inicia seu discurso afirmando que não se apresentaria de nenhum modo "hábil no falar", não usaria um discurso repleto de expressões bonitas e vazias, mas coisas ditas de maneira simples e espontânea, pois "do orador, o mérito é dizer a verdade", e, ao mesmo tempo, afirmando que seus acusadores mentem, não dizem a verdade embora tenham sido tão convincentes que quase fizeram o próprio Sócrates crer que era culpado pelo que não fez, entre a sofística e a filosofia, alega que, apesar de não ter a experiência de falar em tribunais e não dominar a retórica própria desse ambiente pronunciará exclusivamente a verdade, seus denunciadores, ao contrário, não teriam compromisso com ela, mas apenas com a persuasão, com o uso da retórica para obtenção de seus exclusivos interesses. Sócrates resgata as acusações que pesam sobre ele, desde as mais antigas, que não faziam parte do processo, mas poderiam influenciar a decisão dos juízes, até as mais recentes e oficiais. Essa acusação são externalizadas por Meleto, que representa os poetas, mas não somente ele; também Ânito, representante dos políticos e artífices, e Licon, ligado aos oradores, tendo os três o mesmo direito de palavra no desenvolvimento do processo. Em sua defesa, Sócrates questionando seus algozes, leva-os a várias contradições demonstrando que as acusações eram pretextos pra levá-lo ao tribunal e condená-lo. "E é isso o que vai me vencer, se eu for condenado... e não Meleto, ou Anito, mas a calúnia e a insídia do povo". Refuta que não abdicará de sua ocupação pelo risco de morrer por ela: “Não estás falando bem, meu caro, se acreditas que um homem, de qualquer utilidade, por melhor que seja, deve fazer caso dos riscos de viver ou de morrer, e, ao contrário, só deve considerar o seguinte: ao executar qualquer tarefa, deve avaliar apenas se está procedendo de maneira justa ou injusta, se está agindo como homem virtuoso ou desonesto.” Afirma que temer a morte é uma coisa que "parece ter sabedoria, não tendo". Pois ninguém sabe o que significa a morte, mas todos a temem, "como se soubessem, com certeza, que é o maior dos males". Sobre a acusação de corromper os jovens, afirma que o que ensinou foi a dar pouco valor às coisas da matéria e mais ao espírito, de onde sai o pensamento que considera mais bonito de todo o livro: “Por toda parte eu vou persuadindo a todos, jovens e velhos, a não se preocuparem exclusivamente, e nem tão ardentemente, com o corpo e com as riquezas, como devem preocupar-se com a alma, para que ela seja o melhor possível, e vou dizendo que a virtude não nasce da riqueza, mas da virtude vêm, aos homens, as riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados." Nota-se que em nenhum momento de sua defesa – segundo o relato platônico – Sócrates apela para a bajulação ou tenta captar a misericórdia daqueles que o julgavam – linguagem de quem fala em nome da própria consciência e não reconhece em si mesmo nenhuma culpa. “Parece-me não ser justo rogar ao juiz e fazer-se absolver por meio de súplicas; é preciso esclarecê-lo e convencê-lo.” Talvez justamente por essas manifestações de altaneira independência de espírito, Sócrates foi condenado. A pena e a Condenação. Depois da votação, Sócrates mostra-se surpreendido pelos votos a favor dele terem sido tantos. Segundo as leis atenienses, ele poderia propor uma pena alternativa, como uma multa pesada, o ostracismo ou outros métodos de pagar a sua dívida à sociedade. Sócrates rejeita as alternativas óbvias e pede que o tribunal lhe imponha uma sentença em que seja alimentado pelo estado, ele que dedicou toda a vida ao serviço público e à educação da juventude. Inferimos neste ponto que Sócrates preferiu a coerência, em lugar da complacência, da anuência. Dentre as muitas acusações que pesavam sobre ele estava a que Meleto mais se esforçava em provar: a de ateísmo; ou seja, Sócrates não acreditaria nos “deuses da polis”. Sócrates, na verdade, era obediente às leis, mas tinha uma maior dentro de si: a consciência de que todo homem tem direito à liberdade de expressão, pois, a vida sem liberdade não vale a pena, mesmo que para isso, tenhase que morrer. Sócrates poderia ele renunciar às suas ideias, que encarnavam a rebeldia e a desobediência civil e com isso livrar-se da morte? Creio que sim, porém, ele preferiu morrer, suicidando seu corpo, mas, permanecendo com suas ideias (um homem pode morrer, lutar, falhar, até mesmo ser esquecido, mas sua ideia pode modificar o mundo mesmo tendo passado 3000 anos), não deixou saída para os juízes. Ou a pena de morte, ou ser ele alimentado no Pritaneu, enquanto fosse vivo, como herói ou benemérito da cidade. Conclusão. Sabe-se que Sócrates aceitou a sua sentença de morte, apesar de considerá-la injusta e despropositada. Conclui-se que Sócrates recepcionou a morte de braços abertos. Morrer para Sócrates era libertar-se. O filósofo grego, melhor do que ninguém poderia, caso quisesse, convencer o grande júri de sua inocência e, por consequência disso, obter sua absolvição; mas ele não o fez. Ser absolvido representava a vitória de Atenas sobre ele. Significava o fim de tudo que ele pregou durante toda vida. Morrer para Sócrates, significava fechar, com chave de ouro, as portas de sua existência, toda voltada para o ensinamento filosófico, demonstrando que a vida sem liberdade de expressão não vale a pena. Enfim, significava dizer que o homem deveria ser livre até para escolher sua morte. A cena final resultou na sua morte ingerindo cicuta (veneno). Vemos que o grande filósofo possuía, dentro de si, atributos muito mais importantes e sólidos do que bens materiais - que são: a moral, a ética e a justiça. Predicados que valem mais até do que a própria vida. Como pensar em uma existência sem essas qualidades? Concluo que Sócrates roga veementemente, para que nós não sejamos tão facilmente influenciáveis. Não sejamos fantoches - controlados por padrões que nos são impostos e que, na realidade, estão muito aquém do que realmente necessitamos para termos uma vida digna. O amigo do saber não aceita, com facilidade, aquilo que lhe é imposto. Ética, verdade, moral, altruísmo e personalidade – essas são virtudes realmente importantes na vida de um homem. Quem sabe, um dia, poderemos nos libertar das algemas da alienação e caminharmos com nossas próprias pernas. BIBLIOGRAFIA BORGES, Donaldo de Assis. Uma abordagem teórica: “Apologia de Sócrates” de Platão. 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