31O ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS 22-26 OUTUBRO DE 2007 -CAXAMBÚ/MG SEMINÁRIO TEMÁTICO: TEORIA SOCIAL: A ATUALIDADE BRASILEIRA AUTORA: MARIA DA GLÓRIA GOHN INSTITUIÇÃO: UNICAMP/UNINOVE/CNPQ TÍTULO PAPER: TEORIA(S) DA AÇÃO SOCIAL NA ANÁLISE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS 2 Teoria(s) da Ação Social na Análise dos Movimentos Sociais Maria da Glória GohnUnicamp/Uninove/CNPq Resumo O trabalho discute a Teoria da Ação Social e sua apropriação por diferentes correntes teórico metodológicas na análise das ações coletivas presentes nos movimentos sociais. Investiga-se sobre as teorias clássicas e as teorias comtemporâneas sobre os movimentos sociais. O trabalho tem dois objetivos: mapear e localizar as teorias e o teóricos assinalados, localizando seu surgimento histórico, e apresentar as questões centrais destas abordagens nos últimos anos, em relação ao tema dos movimentos sociais. Apresentação Este texto aborda uma das formas de ação coletiva fundamental na sociedade civil há vários séculos: os movimentos sociais. Para alguns analistas os movimentos sociais são fenômenos chaves neste novo século. Para outros eles são parte de uma problemática já equacionada por meio da institucionalização de praticas sociais, um tema do passado e não mais do futuro. Estes analistas esquecem-se da História e confundem movimentos sociais com ações coletivas contra regimes militares etc. Alguns outros analistas, mais idealistas, afirmam que os movimentos não teriam realizado o papel que lhe atribuíram, de transformadores de relações sociais, de agentes do processo de mudanças sociais. E entre o passado, o presente e o futuro, como podemos analisar de fato os movimentos sociais? Sabemos que partir dos anos 60, em varias regiões acadêmicas do mundo, o estudo dos movimentos sociais ganharam espaço, visibilidade e status de objeto cientifico de analise, inscreveram-se ou produziram-se varias teorias- aqui entendida como a preocupação de conceituar, de delimitar limites dentro de alguns marcos referenciais explicativos sobre as ações sociais dos seres humanos- entre si e com a sociedade. A preocupação recente com a teorização sobre os movimentos sociais ocorreu porque, em parte, eles ganharam visibilidade na própria sociedade, enquanto fenômenos históricos 3 concretos. De outra parte, o desenvolvimento das teorias sobre o social colocou as ações coletivas num outro patamar, num universo mais amplo, reconstruindo e construindo novas teorias sobre a sociedade civil. Simultaneamente, o Estado, objeto central de investigação de uma grande parcela de cientistas sociais, passou, no plano da realidade concreta, com a globalização, a ser deslegitimado, criticado, destacando-se a perda de sua importância como agente regulador de fronteiras nacionais, controles sociais, etc. Ocorreu um deslocamento de interesse para a sociedade civil, e nesta os movimentos sociais são citados como as ações sociais por excelência. Em nosso ponto de vista, para analisar os diferentes movimentos sociais no Brasil atual deve-se, inicialmente, destacar quatro pontos fundamentais no contexto sóciopolítico, econômico e cultural, a saber: Primeiro: a necessidade de qualificação do tipo de ação coletiva que tem sido caracterizado como movimento social. Na atualidade, os movimentos sociais são distintos daqueles que levaram a sua emergência na cena pública no século XIX e primeiras décadas do século XX (movimento operário e movimentos revolucionários desde a Revolução Francesa), assim como são distintos dos movimentos que emergiram nos Estados Unidos nos anos 60 (Direitos Civis, feminismo, contra guerra Vietnã, estudantes etc). Na América Latina, especialmente no Brasil, os atuais movimentos sociais são distintos também dos movimentos que ocorreram no final da década de 70 e parte dos anos 80 (movimentos populares reivindicatórios de melhorias urbanas articulados com pastorais, grupos políticas de oposição ao regime militar etc.), embora sejam seus herdeiros. Segundo: o cenário e as relações desenvolvidas entre os diferentes sujeitos sóciopolíticos na cena pública alteraram-se muito neste novo milênio. Houve uma ampliação dos sujeitos sócio-políticos em cena (protagonistas de ações coletivas), alterações na forma de atuação -agora em redes; e o alargamento das fronteiras dos conflitos e tensões sociais em função da nova geopolítica que a globalização econômica e cultural tem gerado. A difusão do uso das novas tecnologias e a expansão dos meios de comunicação, os conflitos étnicos provocados pelos processos imigratórios e pelos deslocamentos migratórios no interior das nações, as novas políticas sociais de caráter compensatório dos governos – central e local, as demandas multi e inter-culturais, tudo isto têm refletido na conjuntura sociopolítica onde atuam os movimentos, no associativismo existente etc. 4 Terceiro: as alterações do papel do Estado em suas relações com a sociedade civil e no seu próprio interior. As novas políticas sociais do Estado globalizado priorizam processos de inclusão social de setores e camadas tidas como “vulneráveis ou excluídas” de condições sócio-econômicas ou direitos culturais (índios, afro-descendentes etc.). Este papel é realizado de forma contraditória- de um lado, captura-se o sujeito político da sociedade civil, antes organizado em movimentos e ações coletivas de protestos.Transformam-se as identidades políticas destes sujeitos- construídas em processos de lutas contra diferenciações e discriminações sócio-econômicas, em Políticas de Identidades, pré-estruturadas segundo modelos articulados pelas políticas públicas, arquitetados e controlados por secretarias de estado. De outro lado, criam-se portanto, novos sujeitos sócio-políticos em cena, demarcados por laços de pertencimento territorial, étnico, de gênero etc., partes de uma estrutura social amorfa e a-política. A inversão da ordem dos termos: Identidade Política para Política de Identidade muda radicalmente o sentido e o significado da ação social coletiva dos movimentos sociais. Disto resulta que, deslocam-se os eixos de coordenação das ações coletivas-da sociedade civil para a sociedade política, dos bairros e organizações populares, para os gabinetes e secretarias do poder estatal, principalmente no plano federal. O Político desaparece da ação coletiva justamente por ser capturado pelas estruturas políticas de controle do social. Quarto: grandes lacunas permanecem na produção acadêmica a respeito dos movimentos sociais, embora elas tenham estado presente na literatura há algum tempo e alimentado o debate a respeito. Essas lacunas são:1-O próprio conceito de movimento social.2-O que os qualificam como novos.3-o que os distinguem de outras ações coletivas ou de algumas organizações sociais como as ONGs.4-O que ocorre de fato quando uma ação coletiva expressa num movimento social se institucionaliza; 5- Qual o papel dos movimentos sociais neste novo século.6- Quais as teorias que realmente tem sido construídas para explica-los. Todas estas questões são amplas e são tema para uma longa investigação Este texto trata do sexto item, dentro quarto ponto, qual seja: as TEORIAS. Em pesquisa anterior, desenvolvida entre 1996-1997 na New School University1, 1 Programa de Pós Doc que resultou no livro “Teorias dos Movimentos Sociais-Paradigmas Clássicos e Contemporâneos” (2007, 6a ed). Ao completar dez anos de elaboração deste livro, em fevereiro de 2007 retornamos a New School para novo estágio de pesquisa. Foi possível levantar e mapear as produções dos 5 elaboramos um estudo sobre as teorias clássicas e contemporâneas sobre os movimentos sociais. Neste texto faremos uma breve síntese daquelas teorias para chegarmos ao nosso objetivo central- explicitar as teorias que tem orientado as análise na atualidade, articulando suas matrizes com o pensamento anterior.Aborda-se a produção advinda do mundo ocidental basicamente, embora tenhamos já mapeado uma produção significativa também no oriente. Na produção brasileira serão citados apenas alguns estudos como exemplos de marcos referencias dentro de certas teorias e paradigmas.A bibliografia final ficou extensanão tão usual para um paper. Mas como o texto assumiu uma faceta ‘enciclopédica”, a bibliografia apenas o acompanha. 1-.O Legado das Abordagens Clássicas da Ação Coletiva e o surgimento de estudos sobre os movimentos sociais Na realidade, a temática dos movimentos surge como objeto de estudo junto com o nascimento da própria Sociologia. Do ponto de vista teórico, a análise da bibliografia geral nas ciências sociais usualmente incluí os movimentos sociais como uma sessão dos estudos sócio-políticos e tem como denominador comum analisá-los dentro da problemática da Ação Social Coletiva. Alguns chegam a incluí-los numa Teoria da Ação Social (Smelser,1962), (Tilly-1978), (Touraine, 1973, 1978. 1994, 2005, 2007). Sabemos que a Teoria da Ação Social tem sido pensada no interior de horizontes teóricos diversos, a exemplo do materialismo histórico, Escola de Frankfurt, fenomenologia, interacionismo, e correntes hermenêuticas, ciências da linguagem e da cognição, teorias da comunicação etc. J.P. Netto (1993) observa que há no meio acadêmico duas abordagens da ação social na Sociologia: a que a vê como um sistema- para o qual a ação social aparece como produto do sistema; e aquela que privilegia a ação social propriamente dita- o sistema seria derivado da ação/interação social. Resulta que a Sociologia sempre foi o campo por excelência na análise da ação social, embora na Ciência Política, ela seja também uma grande coadjuvante para o entendimento do comportamento político dos diversos grupos e classes sociais.. Gabriel Cohn (1993), em ensaio sobre a Teoria da Ação Social em Habermas, afirmou: “Há basicamente dois tipos de teorias sociais. Umas concentram-se nas ações que os homens autores e teorias tratados naquele livro, publicadas nestes últimos dez anos, assim como registrar algumas novidades. 6 desempenham nas suas formas de convivência. Outras preocupam-se mais com os resultados de ações passadas, com o modo como elas se cristalizam em instituições” (1993: 63). Na Europa, no século XX, dentre os clássicos, Max Weber foi o grande teórico da Teoria da Ação Social; ele continua sendo matriz referencial de várias abordagens até a atualidade. De forma simplificada pode-se dizer que a teoria weberiana busca o sentido da ação coletiva, a intencionalidade dos fenômenos e processos.As ações sociais são orientadas por fins e valores. A ação humana é fruto de uma consciência, há um grande papel nos valores dos indivíduos e grupos sociais, resultantes de motivações. Portanto para Weber, para analisarmos as ações coletivas, devemos pesquisar também os conteúdos simbólicos, as intenções dos atores sociais pois há significações internas nos comportamentos coletivos. Deve-se buscar a singularidade dos fenômenos históricos via a análise das conexões internas. Há totalidades significativas a serem reconstruídas em tipos ideais Deve-se buscar a racionalidade que move a ação social.. Em suma, valores, meios e fins explicam o sentido .da ação (Weber, 1999). Os primeiros estudos que tomaram como objeto central ações sociais coletivas similares aos movimentos sociais da atualidade-referiam-se a eles como distúrbios populares . Na França, ao final do século XIX, devem-se citar Taine (1887), Tarde(1898) e Le Bon (1895). Eles foram os pioneiros de uma sociologia das mobilizações. H. Taine foi o primeiro a discutir o comportamento das massas, dando-lhe um tratamento psicológico baseado em institutos selvagens da natureza humana, com isto ele fez uma discrição pitoresca das revoltas revolucionárias. Taine forjou os princípios que foram trabalhados depois por Tarde e Le Bom faz uma análise bastante conservadora, assim como Ortega y Gasset(1926). Eles deram elementos para uma teoria baseada no comportamento tido como irracional das massas. Eles foram influenciados tanto por Freud-teoria de agressão instintiva, como por Lorenz, que tratou dos instintos selvagens de sobrevivência. As explicações sobre os impulsos violentos e propensão a agressão também se alicerçaram em Darwin. Desvios do comportamento e frustrações explicavam o comportamento das lideranças das ações. A abordagem sobre ações e comportamentos coletivos foi um approach que dominou a sociologia norte-americana dos anos 20 do século passado ate os anos 60. Ela 7 também tem sido denominada como uma abordagem clássica. Podemos datar seu inicio nas primeiras décadas do século XX, nos estudos de R. Park e Burgess (1921) e seus colegas da Escola de Chicago, e nos trabalhos da escola do interacionismo simbólico de Simmel. Blumer, em 1939, foi o primeiro a utilizar o termo movimento social na produção teórica dividindo-os em gerais e específicos, abordando sua estrutura e funcionamento, refletindo sobre o papel de suas lideranças e, para surpresa daqueles que desconhecem-ou teimam desconhecer sua produção- ele tratou do movimento das mulheres, dos jovens, pela paz etc. Nos primórdios foi muito relevante a abordagem dos movimentos sociais no universo dos processos de interação social dentro da "Teoria do Conflito e Mudança Social", como nos demonstrou os estudos de T. Bottomore (1976). Herbele (1951) foi um dos primeiros pesquisadores a publicar um livro intitulado-o como “movimento social”(Social Movements: An introduction to Political Sociology), sob o prisma da abordagem dos interacionistas. Ele amplia o leque dos tipos de ações coletivas a serem denominadas como movimentos chamando a atenção para os movimentos dos camponeses, dos negros, dos socialistas e dos nazi-fascistas. Ele separava os movimentos em sociais e políticos, segundo seus objetivos. As doutrinas do interacionismo simbólico norte-americano, nas décadas de 1920/30/40 e 50 do século XX analisaram inicialmente os movimentos como problemas sociais, um fator de disrupção da ordem. (vide Simmel, Adolf Schultz e Blumer). Elas se preocupavam em entender o comportamento dos grupos sociais. A idéia de "progresso" estava no centro das atenções de Park, da Escola de Chicago (1922) e de Blumer. Será Goffman que, anos mais tarde, retoma o interacionismo e elabora contribuições sobre a importância dos vínculos sociais para explicar solidariedades construídas abordagem resgatada em muitos estudos na atualidade, assim como se tem resgatado Wirth também.. Nos anos 50 do séc. XX destacaram-se ainda os trabalhos de Turner e Killiam ( 1957) sobre o "Comportamento Coletivo"; eles publicam um livro onde se dedica uma sessão com 208 páginas ao estudo dos movimentos sociais. O grande ponto de destaque nos estudos clássicos norte-americanos foi a ênfase na abordagem sócio - psicológica. Herdada da Escola de Chicago, ela formou uma tradição ao explicar o comportamento coletivo das massas por meio da analise das reações dos indivíduos, enquanto seres 8 humanos com certas características biológicas e culturais. E interessante porque o recorte psicossocial não se resumia a uma abordagem de micro -relações sociais. O indivíduo era visto dentro de macros estruturas sociais. A grande questão era a inadaptação dos mesmos naquelas estruturas, gerando desajustes e conflitos. Os movimentos nasciam neste universo, eram elementos disruptivos. A idéia durkheniana da anomia social permeava as analises. A forma mais elaborada daqueles estudos foi o trabalho de Smelser (1963), citado em varias enciclopédias e tratados de Sociologia e de Política como um dos teóricos sobre os movimentos sociais (ver Bobbio/Pasquino/ Matteo (1986); Giddens(1989) etc. Portanto, a temática dos movimentos sociais é uma área clássica de estudo da Sociologia e das Ciências Sociais e não apenas um momento da produção sociológica, como pensam alguns, reduzindo as manifestações empíricas, com seus fluxos e refluxos, e confundindo a produção acadêmica destes ciclos, com a própria existência concreta do fenômeno. Entretanto, o conceito tem sofrido, historicamente, uma série de alterações, até dentro de uma mesma corrente teórica. Nos anos 50 e parte dos 60, os manuais de Ciências Sociais, e parte dos estudos específicos, abordavam os movimentos no contexto das mudanças sociais, sendo usualmente vistos como fontes de conflitos e tensões, fomentadores de revoluções, revoltas e atos considerados anômalos no contexto dos comportamentos coletivos vigentes. Usualmente classificavam-se os movimentos em religiosos/seculares, reformistas/revolucionários, violentos/pacíficos. Movimentos sociais e revoluções eram termos utilizados muitas vezes como sinônimos e sempre que se falava em movimento a categoria "trabalhador" era destacada. Alguns manuais da Sociologia norteamericana passaram a incluir os movimentos como um item específico de estudo no rol dos comportamentos coletivos, (P. Horton, C. Hunt, 1964). Cumpre destacar também que nos anos 50 o conceito de movimento era utilizado em acepções amplas, envolvendo períodos históricos grandes. Assim, denominavam-se movimentos sociais as guerras, os movimentos nacionalistas, as ideologias radicais: nazismo, fascismo etc.; assim como as ideologias libertárias e religiosas (Bertrand Russel, 1960). 1. O Lugar do Conceito Movimento Social nas Teorias da Ação Social das Ciências sociais Resumidamente podemos dizer que a respeito dos movimentos sociais temos as seguintes correntes teóricas: a histórico- estrutural, a culturalista identitário e a institucional/organizacional-comportamentalista. 9 A primeira bebe em fontes das abordagens de Marx, Gramsci e Lefévre, na escola dos Annales e em alguns autores da Escola de Frankfurt. Sabemos que Marx, no século XIX, construiu uma das principais matrizes teóricas de análise que veio a influenciar a análise hoje tida como clássica ou tradicional sobre os movimentos sociais, no século XX, com seus estudos e escritos sobre o movimento social dos trabalhadores - vistos como sujeitos históricos. Ele não se dedicou a teorizar sobre as ações coletivas mas sim delineou o perfil de um movimento social concreto- do proletariado, dizendo que ele deveria ser compreendido para que se transformasse o mundo das relações sociais existentes. Em relação à produção de estudos específicos sobre os movimentos sociais que foram influenciados pela teoria marxista, observa-se que grande parte da produção concentra-se no estudo do movimento operário, particularmente nas lutas sindicais. Esta matriz teóricopolítica teve importância no mundo todo até os anos 70 do século XX. A partir de então reduziu sua influência na análise dos movimentos sociais na academia embora tenha ainda grupo de intelectuais “de peso”, na comunidade do pensamento da esquerda, tais como E.Hobsbawn, E.P. Thompson, G. Rude, R. William, Kutz, Eagleton , Mészáros, Skocpol, M. Mayer, O Ianni, F.Oliveira etc Hardt e Negri (2000 e 2005), na atualidade, representam um dos eixos principais de um pensamento que se posiciona como de esquerda e que alimenta a prática de inúmeros militantes e movimentos sociais da atualidade. Eles têm feito uma releitura de categorias marxistas postulando que conceitos como classe trabalhadora e proletariado são ultrapassados por não darem conta da complexidade dos conflitos atuais envolvendo etnia, raça, gênero, e classes da contemporaneidade. Eles retomam o conceito de multidão, já tratado por Riesman (1981) no início dos anos 80. Retomaremos a estes autores ao final deste texto. A segunda corrente teórica tem uma gama variada e complexa de influencias que vai do idealismo kantiano, o romantismo rousseniano, as teorias utópicas e as libertarias do século XIX, o individualismo nietcheziano, as teorias da sociologia weberiana, a Escola de Frankfurt –na teoria crítica de uma forma geral. Dentre os autores destacam-se Foucault dos anos 60/70, Habermas, Bobbio, Arendth e Giddens nos anos 80; Bordieu veio a influenciar a produção sobre os movimentos sociais com seus estudos nos anos 90. 10 Touraine localiza-se nesta matriz também e produziu dos anos 60 até a atualidade, assim como Melucci (1980) Offe(1983 ), ( Scott, 1985), Geertz(1989) etc. A terceira corrente, aqui denominada de institucional, organizacional ou comportamentalista desenvolveu-se basicamente nos Estados Unidos, mais ela tem muitos adeptos na Europa, principalmente na Inglaterra. Na teoria sociológica, ela está na sua história desde seus primórdios. Esta corrente tem raízes nas teorias liberais do século XVII e XVIII (Adam Smith, John Locke etc.), nos utilitaristas; na antropologia e na sociologia de R. Merton, Radclifle Brown e Parsons. Na atualidade, a corrente institucional expressa-se no pragmatismo como suporte de suas análises. Nas abordagens fundadas no paradigma marxista, até os anos 50, o conceito de movimento social sempre esteve associado ao de luta de classes e subordinado ao próprio conceito de classe, que tinha centralidade em toda análise. Os estudos críticos, associados à perspectiva marxista, inseriam sempre o conceito dos movimentos sociais na questão reforma ou revolução (Hobsbawm,1970). Como decorrência os movimentos eram analisados como reformista, reacionários ou revolucionários. O paradigma teórico mais amplo era o dos processos de mudança e de transformação social. Havia a crença, fundada em análises objetivas da realidade social, quanto à existência de um sujeito principal daqueles processos, dado pela classe trabalhadora. Conseqüentemente, a maioria dos estudos empíricos teve como objeto o movimento operário ou camponês, os sindicatos e os partidos políticos. Como as categorias da organização da classe e o processo de formação da consciência social, eram centrais no modelo de projeto de sociedade que se desenhava e aspirava-se como ideal, não havia muita preocupação quanto a diferenciação entre movimento social ou político, ou quanto a movimento ou organização. Essas últimas eram suportes dos movimentos e, de certa forma, um movimento atingia seus objetivos quando se transformava numa organização institucionalizada. Na linha das teorias marxistas, Piven e Cloward (1977) publicam um estudo que influenciou vários analistas do mundo todo sobre os movimentos sociais: Poor People's Movement's. Na mesma direção, T. Skocpol foi outra analista importante dos movimentos operários, assim como E.P.Thompson, H. Hobsbawm etc.. O surgimento de novas modalidades de movimentos sociais como dos direitos civis nos Estados Unidos ainda nos anos 50; dos estudantes em vários países europeus nos anos 11 60; das mulheres, pela paz, contra a guerra do Vietnã, etc. contribuiu para o surgimento de novos olhares sobre a problemática. No paradigma acionalista, onde localizam-se as teorias culturalistas e identitárias, passou-se a destacar o lado positivo dos movimentos, como construtores de inovações culturais e fomentadores de mudanças sociais. Amplia-se o número de estudos específicos sobre movimentos. O paradigma comportamentalista norte – americano, onde localizam -se as teorias institucionais, passa por uma revisão critica dando origem a uma nova teoria: a da Mobilização de Recursos destacando-se os trabalhos de Olson(1968), Oberschall(1973) e Mayer e MacCarthy(1972/74 e1979), Gamson (1975), Snow (1986). Charles Tilly( 1978) se diferencia deste grupo um pouco por sua abordagem histórica, preocupado com os ciclos de protesto que os movimentos constroem, mas ele também acentua o aspecto da institucionalização das práticas sociais.. Todos esses trabalhos foram desenvolvidos nos Estados Unidos e na Inglaterra sob o enfoque das teorias sobre os comportamentos ou ações coletivas, tendo Weber e Parsons como fundamentação teórica. As teorias da ação social coletiva de Parsons tiveram, na sociologia norte-americana, vários desdobramentos no campo da análise dos movimentos sociais concretos. As mobilizações coletivas foram analisadas segundo uma ótica econômica, (Olson,1971), onde os fatores tidos como objetivos são a organização, os interesses, os recursos, as oportunidades, e as estratégias; ou sob uma ótica sócio-psicológica, a partir das análises estrutural-funcionalistas (Smelser,1963). Na Inglaterra também realizaram-se estudos sobre os movimentos neste período com Willinson (1971), Banks (1972), e Wilson (1972). 3- A Arquitetura das Teorias Contemporâneas sobre os Movimentos Sociais Na Europa, a onda dos novos movimentos sociais, a partir dos anos de 1960 e 70, foi a responsável pelo surgimento de abordagens que elegeram os movimentos sociais como tema central de inúmeras investigações. Destacaram-se os trabalhos de Castells(1974) e Borja (1972) – com ênfase nas contradições sociais no urbano e o surgimento de movimento de pobladores, de cidadãos/moradores etc., fazendo uma releitura da Questão Urbana tal como tinha sido tratada pela Escola de Chicago. Touraine, Melucci, Pizzorno, desenvolvem a abordagem culturalista, destacando a questão da identidade dos movimentos sociais. Estes autores, juntamente com C. Offe (1983,87), criticaram as abordagens ortodoxas que se detinham excessivamente na análise das classes 12 sociais como categorias econômicas; assim como criticaram os estudos que se preocupavam apenas com as ações da classe operária e dos sindicatos, deixando de lado as ações coletivas de outros atores sociais relevantes. A França, a Itália e a Espanha passaram a ser os países produtores de estudos de ponta sobre os movimentos sociais. Touraine, que já trabalhava com o tema desde os anos 50, enfocando a classe operária, passou a estudar os estudantes, os movimentos anti-nucleares, os movimentos terroristas, os grupos de solidariedade, movimentos latino-americanos, movimento de jovens na França, e atualmente estuda os movimentos das mulheres (2007). A partir de seu trabalho "Sociologie da la Action"(1965) Touraine teoriza sobre os movimentos sociais sendo um dos autores com maior volume de produção a respeito, construindo ao longo das décadas de 1960 a 2007, uma longa trajetória de pesquisa. No final dos anos 70 e durante toda a década dos anos 80 surge uma nova fonte de estudos sobre os movimentos sociais: os populares urbanos no chamados países do Terceiro Mundo, especialmente na América Latina. No Brasil, apresentando em cena novos atores (Sader,1988), novas problemáticas e novos cenários sócio-políticos, mulheres, crianças, índios, negros e pobres em geral se articulam com clérigos, intelectuais e políticos da esquerda gerando ações coletivas que foram interpretadas como a nova "Força da Periferia" (Gohn, 1985), realizando "Uma Revolução no Cotidiano (Scherer-Warren,Krischke;(1987). Na época destacaram-se também os trabalhos de J.A. Moisés (1982), A Doimo (1995). Alguns autores como L. Kowarick (1975), Paulo Singer e Vinícius C. Brant (1981) e Francisco de Oliveira (1972) foram fundamentais para dar suporte teórico aos pesquisadores sobre os movimentos populares no Brasil, ao desenvolverem os temas da marginalidade, a crítica à razão dualista, e as novas configurações da periferia urbana. Apesar de alguns esforços quanto ao tratamento conceitual (Camacho, 1985), a maioria dos estudos foram históricos descritivos e pouco interpretativos. Paralelamente, na Europa surgem novas ondas de movimentos sociais sobre a ecologia, o meio ambiente, antinucleares etc., dando origem ao que Offe denominou como um novo paradigma da ação social(1987). Chegamos portanto aos anos 80 com um panorama mundial das formas de manifestações dos movimentos sociais bastante alterado. Progressivamente as lutas armadas na Ásia, América Latina e África e o próprio movimento operário, todos 13 fortemente estruturados segundo a problemática dos antagonismos entre as classes sociais, deram lugar a outras problemáticas sociais, enquanto eixos centralizadores das lutas sociais. Passou-se pelas revoltas dos negros nos Estados Unidos e o movimento pelo direitos civis; pelas rebeliões estudantis nos anos 60, juntamente com a emergência de uma série de movimentos étnicos; pela estruturação dos movimentos feministas conjuntamente com a construção da problemática do gênero; pelas revoltas contra as guerras e armas nucleares; assim como a constituição do movimento dos "pobladores"ou moradores, ou simples cidadãos, na cena política da América Latina e Espanha. O movimento ecológico surge e cresce sobretudo na Europa, principalmente na Alemanha. Tudo isso levou a consolidação do paradigma e das teorias culturalistas dos novos movimentos sociais centrado no eixo da identidade. Mas muito antes da elaboração sistemática desta abordagem, que surgiu no rastro da revisão das teorias marxistas, os movimentos sociais tinham ganho estatuto teórico de eixo temático na análise da realidade social. Um olhar sobre a produção teórica na Sociologia nos revela que, em 1978, T. Bottomore e R. Nisbet organizaram uma "História da Análise Sociológica"(1980) com capítulos específicos sobre a Teoria da Ação Social, destacando os movimentos como atores importantes. Sherman e Wood (1987) em original manual sobre as perspectivas tradicionais e radicais da Sociologia, dedicam uma sessão inteira aos movimentos sociais, analisados juntamente com as instituições políticas da sociedade. R. Stebbins(1987), em outro manual da Sociologia centrado na sociedade contemporânea, também dedica um capítulo ao estudo dos movimentos sociais enquanto forma de comportamento coletivo diferenciando-as manifestações de massa, da multidão, dos protestos etc. Ainda ao nível dos manuais, a produção se completa com o livro de Anthony Giddens "Sociology" (1989) com um capítulo de quase 50 páginas sobre " A Revolução e os Movimentos Sociais". Outra fonte de referência que nos atesta a importância dos movimentos sociais como objeto de preocupação teórica são as Enciclopédias de Ciências Sociais. O volume 14 da "International Encyclopedia of the Social Sciences", já nos anos 70 apresentava um longo parágrafo sobre os movimentos sociais escrito por Herbele e Gusfield (1972). O Dicionário da Blackwell dos anos 90,"Twentieth-Century Social Thought", editado por Tom Bottomore e William Outhwaite (1993), dedica também espaço aos movimentos sociais, especialmente aos novos movimentos sociais. Mas será no campo da Ciência Política, nos anos 80, que a 14 bibliografia geral sócio-política incorporará a temática dos movimentos sociais com grande destaque. N. Bobbio, N. Matteucci e G Pasquino (1986) criaram um espaço no "Dicionário de Política" para o verbete movimentos sociais que tem sido um dos mais citados nos estudos que definem ‘o que é um movimento social`. Nos anos 80 deve-se destacar ainda a revisão ocorrida nas teorias focadas na análise institucional, especialmente a da Mobilização de Recursos e o debate que ele trava-por meio de analises comparativas- com as teorias da identidade coletiva. Os trabalhos que se destacam nesta fase serão de Cohen (1985), Gamson (1974 ), e dois outros que foram publicados nos anos 90- Muller (1992) e Tarrow (1994). Nos anos 90 altera-se o cenário das lutas sociais e o quadro de análises sobre os movimentos sociais. A produção teórica. desloca sua atenção para um outro sujeito social que esteve meio oculto durante a fase de apogeu dos movimentos sociais no Terceiro Mundo, em especial na América Latina. São as ONGs: as Organizações NãoGovernamentais e as organizações do Terceiro Setor. Alguns autores passam a tratar os novos sujeitos como sinônimo dos movimentos, ou manifestação ampliada; outros, aproveitaram a emergência das ONGs para desqualificar os movimentos, como uma manifestação de grupos do passado e só tratar do Terceiro Setor como a forma moderna e hegemônica de associativismo na sociedade. Outros ainda, de forma criativa e inovadora, retomam os estudos sobre os movimentos sociais de forma distinta, enquanto fenômenos de uma nova sociedade civil que passa por processos de institucionalização - Cohen e Arato, (1992) e J.Hall (1995), retomando premissas de Habermas (1981, 1983,1985) construídas portanto já nos anos 70 e desenvolvidas posteriormente dentro da Teoria da Ação Comunicativa onde a comunicação é entendida como um processo de interação compartilhada. O conceito de ação social recuperado a partir de Habermas baseia-se em suas elaborações sobre o mundo da vida e as normas práticas discursivas. Estas práticas, voltadas para o entendimento e a formação do consenso, do entendimento e da cooperação, são formuladas no agir comunicativo, por meio da linguagem,. Estas práticas contém certas estruturas de uma racionalidade comunicativa, que remete a noção de ação social emancipatória. A construção de uma racionalidade emancipatória se dá no contexto de antagonismos entre o mundo da vida- orientado pelo agir comunicativo, e o mundo sistêmico- orientado pelo agir instrumental. 15 Os paradigmas e teorias que foram se tornando hegemônicos a partir dos anos 90, com a crise das esquerdas, do marxismo e dos modelos socialistas do leste europeu, deixam como saldos um certo abandono das teorias macro estruturais que enfatizavam a problemática das contradições sociais, e viam nas lutas e movimentos em geral, e no operário/sindical em especial, um dos fatores de acirramento daquelas contradições. As referências passam a ser não os sujeitos históricos pré determinados, com alguma vocação ou missão a desempenhar - como a categoria dos operários, por seu lugar na estrutura de produção- ou a categoria das classes populares-coletivo socialmente heterogêneo em termos da inserção no mercado de trabalho mas homogêneo em termos de demandas sociais, modo de vida e consumo restrito. As novas referências serão os pobres e os excluídos, apartados socialmente pela nova estruturação do mercado de trabalho. A grande tarefa política será incluí-los – tarefa que se desdobrará ao longo da década de 90 e no novo milênio, via políticas sociais compensatórias ou práticas que destacam a justiça social, equidade e substituindo a ênfase da exclusão para a inclusão social. Habermas, Claus Offe, Bobbio e Adam Przeworski passam a ser os autores que influenciam as novas análises sobre os movimentos sociais. A questão do agir comunicativo presente nas ações dos movimentos, e suas possibilidades de geração de novas formas de relações e de produção, contribuindo para resolver problemas de produtividade ou de impasses em áreas econômicas em crise apontados por Habermas ; e as possibilidades que os "novos"movimentos sociais encerram em termos de novas propostas que incidem numa nova qualidade de vida , analisados por Offe, passam a se constituir em matrizes explicativas fundamentais. Bobbio será a fonte mais citada sobre as formas da democracia e o debate que ganhará um corpo maior no novo milênio-a esfera pública, também tratado por Arendt e Habermas. As mudanças operadas no seio da sociedade capitalista no após guerra, e o novo papel do Estado, com suas políticas de cunho neoliberais, são as contribuições de Przeworski que os analistas utilizarão como quadro referencial para entenderem as mudanças nos cenários onde os movimentos se desenvolvem. No plano das análises, os anos 90 enfatizarão duas categorias básicas: a cidadania coletiva e a exclusão social. A primeira, já presente na década anterior, apresentará como novidade o pensar em relação ao exercício da cidadania em termos coletivos, de grupos e 16 instituições que se legitimaram juridicamente a partir de 88, e que têm que desenvolver um novo aprendizado pois não se trata apenas de reivindicar, de pressionar ou demandar. Tratase agora de fazer, de propor, de ter uma participação qualificada já que o lugar da participação está inscrito em leis, é uma realidade virtual. A segunda, relativa à exclusão, decorre das condições socioeconômicas que passam a ser imperativas, causadoras de restrições e situações que Durkheim caracterizaria como anomia social: violência generalizada, desagregação da autoridade estatal, surgimento de estruturas de poderes paralelos, etc. As análises enfatizarão os efeitos destes sistemas de desagregação social sobre as estruturas organizativas da população. A globalização econômica e o novo cenário que desenha no mundo será o grande pano de fundo das análises. Na literatura internacional, entretanto, nos anos 90 o tema dos movimentos sociais continuou a ser fonte de produção contínua. Encontrarmos títulos de livros específicos sobre os movimentos sociais, como Eyerman e Jamaison (1991), Eckstein (1989); os temas se deslocam para os "protestos sociais" (Jenkins e Klandermans,1995) (Adrian, Charles; Apter, David.1995) e (Fillieulle, 1993), Tarrow (1994); "grupos políticos e políticas públicas" (Pross,1992); "grupos de pressão"( Richardison,1993) e ( Offerlé, 1994). Formulam-se teorias sobre a questão dos "direitos sociais"(Ingram, 1994). A categoria da "Ação Social"volta a ter centralidade nos estudos, gerando simpósios internacionais (vide Anais: Les Formes de L'Action. Paris.Ëcole des Hautes Ëtudes en Sciences Sociales. vol 1 e 2. 1993); assim como redefinindo o nome de grupos de estudo e pesquisa, como o da ANPOCS-Associação Nacional de Pesquisa e Pós graduação em Ciências Sociais. Paralelamente, a teoria elaborada pelas feministas sobre as mulheres e as relações de gênero, passam a ter espaço demarcado na produção mais geral sobre os movimentos sociais (vide Fraser (1999) e Young, (2000), assim como os ambientalistas e categorias sociais em busca de reafirmar processos de diferenciações sociais, como as identidades étnicas, também emergem no cenário das reflexões teóricas. A ciranda de estudiosos sobre os movimentos sociais também se altera. no plano internacional, alguns autores abandonam o tema ou deixam de influenciar os estudantes do assunto, ou o redefinem segundo a nova ordem de um mundo globalizado, tratando das redes sociais, como foi o caso de Castells (1997). Outros tornam-se mais pessimistas em relação aos movimentos e revêem posições como foi o caso de Habermas, e 17 outros ainda, além de persistirem na temática, avançam no sentido de clarear a sua especificidade em relação a outras formas emergentes de ação colegiadas, como Touraine (1995, 1997, 1999, 2005 e 2006). Outros -que já tinham uma produção considerável, como Melucci (que falece precocemente em 2002), passam a ser as grandes estrelas no debate internacional, ao lado de autores que só se tornaram conhecidos (no Brasil pelo menos), nos anos 90, como o caso de Tarrow (1994) e Lyman ( 1995 ). Surgem também no final do século XX e início do XXI, novos referenciais para explicar a teoria sobre os movimentos sociais, como a teoria do Reconhecimento Social, de Axel Honneth (2003), os trabalhos como de Boaventura de Souza Santos (1999) sobre a questão do multiculturalismo e o progressivo deslocamento na ênfase de suas pesquisas para os movimentos sociais, como um sujeito também presente no Estado e as novas gramáticas do poder (Santos, 2000, 2001, 2002, 2006). Hardt e Negri ( 2000 e 2005) passarão a ser um dos grandes referenciais teórico e ideológico das lutas anti ou alterglobalização. Outros destaques são: as diferenças culturais tratadas por François Dubet ao construir uma “sociologia da experiência” (1994); R. Putnam teoriza sobre a participação cívica e a teoria do capital social (1992, 2000); e Bauman (2002) elabora vários estudos críticos sobre a comunidade. Na realidade, a influência maior destes autores na produção brasileira sobre os movimentos sociais irá ocorrer no novo milênio, especialmente Honneth e Souza Santos (por isto retomaremos abaixo estes dois autores). Pierre Bourdieu ressurge na cena sociológica com suas análises das práticas sociais e as críticas sobre a miséria no mundo (1995), sua morte cessa uma linha criativa, centrada nas práticas culturais populares. Também surgem novidades na produção teórica da parte de autores já consagrados na área- como Touraine, que passa a enfatizar o papel das mulheres, colocando em cena a visibilidade de mulheres invisíveis-como as muçulmanas. (Touraine, 2007). Alexander (2006) passa a focalizar a esfera pública; Klandermans (2007) acrescentou em sua modelo culturalista de análise dos movimentos sociais a questão das emoções e sua importância para determinar o fator de pertencimento a um grupo social. Canclini (2005), aprofunda as análises culturalistas e as análises pós-estruturalistas têm em E. Laclau (2005, 2006) um de seus principais representantes. A abordagem fundamentada no pragmatismo de Rorty amplia-se no Brasil, especialmente entre intelectuais próximos ao poder estatal.. 18 3-O que está em questão nas teorias contemporâneas sobre os movimentos sociais A discussão sobre os movimentos sociais na contemporaneidade insere-ne num campo mais amplo, o da crise da modernidade e a emergência de novas formas de racionalidades. Há mais de dez anos que o debate teórico nas ciências humanas tem dado destaque à crise do paradigma dominante da modernidade, às transformações societárias decorrentes da globalização, às alterações nos padrões das relações sociais dado o avanço das novas tecnologias, e às inovações que tem levado ao reconhecimento de uma transição paradigmática. Isso tudo tem levado a rediscussão dos paradigmas explicativos da realidade, e a crítica à produção científica do último século, fundada na racionalidade da razão e na crença do progresso e crescimento econômico a partir do consumo (Souza Santos, 2000; Touraine, 1994; Mignolo, 2002 etc.). O filósofo italiano Vattimo, em 1985, já afirmara que a modernidade “está concluída”; Ulrick Beck (1988), na mesma ocasião alertava para a sociedade de risco e a dissolução da sociedade industrial na modernidade da época. Alguns autores, analisando os países hoje tidos como emergentes, e na época chamados de Terceiro Mundo, falaram da crise de uma “modernidade tardia” ( Sztompka, 1995).O que se observa de fato é que o debate sobre a “crise da modernidade”, trouxe à tona a questão da racionalide, e o questionamento da racionalidade científica como a única legítima. Outras dimensões da realidade social, igualmente produtoras de saberes vieram à tona, tais como as que advém do mundo das artes, do “mundo feminino” das mulheres, do corpo das pessoas, das religiões e seitas, da cultura popular, das aprendizagens cotidianas via a educação não-formal. E estas outras racionalidades estão, predominantemente presentes, no campo das experiências de participação em lutas e movimentos sociais, culturais etc. Certamente que a discussão sobre os paradigmas do conhecimento não se circunscreve ao campo acadêmico. Ela associa-se diretamente ao tema do poder e articulase a outro debate polêmico: o a da colonialidade do saber,- discute –se, entre outras coisas, as relações de dominação entre o Norte e o Sul no mundo. O tema remete também a discussão sobre a produção/reprodução das relações sociais entre os indivíduos, grupos e 19 movimentos da sociedade, sobre as formas como vivem, interagem, reproduzem-se, atribuem sentidos às suas experiências, produzem sua cultura, fundamentam teórico- ideologicamente seus projetos de vida e de sociedade. A discussão está também imbricada no campo das políticas públicas, na forma como se elaboram as políticas institucionais que buscam normatizar e regular as relações entre sociedade civil e a sociedade política. A produção teórica no novo milênio defronta-se com novas demandas, conflitos e formas de organização, todas geradas pelas mudanças ocorridas nas últimas décadas do século XX, genericamente circunscritas como efeitos da globalização, em suas múltiplas faces. Novíssimos sujeitos entram em cena, como os movimentos sociais anti ou alter-globalização. Várias lutas sociais se internacionalizam rapidamente, novos conflitos sociais eclodem, abrangendo temáticas que vão da biodiversidade, biopoder, lutas e demandas étnicas (alguns autores chegam a separar o termo movimento social de movimento indígena), até as lutas religiosas de diferentes seitas e crenças.Um sujeito coletivo passa a dominar o cenário destes conflitos- o imigrante, este pária desterrado que ora é exaltado na história dos países, como os construtores de uma nação; ora são execrados como a fonte de problemas sociais e políticos, seus direitos culturais são ignorados ou punidos. No final do século XX e início deste milênio o tema dos movimentos sociais retoma um lugar central no plano internacional como objeto de investigação via o movimento antiglobalização, sob nova perspectiva-como movimento global. A ênfase será nas redes que constroem e os Fóruns que realizam são seus momentos principais de visibilidade (videFarro, 2003; MacDonald, 2006; Gohn 2003). Organizações terroristas e movimentos de fanatismo religioso também passam a ocupar a atenção dos pesquisadores (Goodwin, 2003). Mas a agenda de pesquisas sobre os movimentos sociais não é retomada apenas com os temas globais. Ações comunitárias locais também ganham destaque, tanto no plano internacional como no Brasil (Hamel, 2003; Morin, 2003; Putnam, 2000; Gohn, 2004) . As Redes Temáticas de pesquisas formam-se ou se adensam e o tema dos movimentos sociais deixa de ser objeto de pesquisa apenas da academia. ONGs e outras entidades do Terceiro Setor, assim como entidades do poder público administrativo iniciam pesquisas empíricas sobre alguns movimentos sociais afim de obter dados para seus planos e projetos de intervenção na realidade social. Elas também patrocinam cursos, seminários e 20 encontros de movimentos sociais com estudiosos e pesquisadores. A produção gerada é de natureza estratégica instrumental pois visa, prioritariamente, informar as ações de intervenção junto a grupos organizados. Mas se constitui em fonte de dados. As categorias de análise também se alteram: redes sociais passa a ter um papel até mais importante do que movimento social para alguns analistas. A questão da emancipação social persiste, mas restrita a alguns teóricos e não mais sob o crivo exclusivo da abordagem marxista Território para a ser uma categoria ressignificada e uma das mais utilizadas para explicar as ações localizadas. Inclusão social substitui a categoria exclusão enquanto objeto de estudos e pesquisas, num movimento contraditório que acompanha a ênfase nas novas políticas sociais. O universo das categorias marxistas fica restrito a alguns autores (etc. Justiça social, igualdade, cidadania, emancipação, direitos etc. passam a dar lugar a outras categorías como capital social, inclusão social, empoderamento da comunidade, auto-estima, responsabilidade social, sustentabilidade. Na realidade, a maioria dos analistas que utilizam estas categorias não esta preocupada com a análise dos movimentos sociais mas sim com os conflitos sociais. Por outro lado, a abordagem cultural sobre os movimentos sociais torna-se praticamente hegemônica. Johnston e Klandermans já anunciavam esta tendência em 1995, quando publicaram “ Social Movements and Culture”. Ann Swidler, uma das autoras daquela coletânea associou os movimentos sociais ao desenvolvimento de inovações culturais, e depois a questão de gênero. Aspectos da subjetividade, e dimensões da cultura de um grupo ou das pessoas têm sido os eixos analíticos predominantes neste século. Podemos sistematizar as abordagens deste milênio sobre as ações coletivas e os movimentos sociais ao redor de alguns eixos chaves, a saber: os novos requerimentos da modernidade e a redefinição do sujeito racional de forma a incorporar as identidades culturais (Touraine, 2005; Melucci, 2000) ; a busca de um sujeito que articule o global com o local (Giddens, 1993); a democracia e suas formas-destacando a democracia participativa e a deliberativa, e as formas de resistência comunais - os movimentos sociais devem vincular valores autônomos surgidos nos movimentos locais (Castells, 1997-98-99; Souza Santos,1999; Garretón, A Quijano. Políticas da identidade e das diferenças são destacadas por Laclau e Mouffe (2005, 2006). O tema da autonomia e da emancipação retorna, agora com argumentos de Castoriadis (1975) e Adorno (2003). O tema da 21 democracia em escala global, dominada pelo “império”- nova forma global de soberania, é tratado por Hardt e Negri (2000 e 2005), para recriar o conceito de multidão- uma possibilidade de criar uma sociedade global alternativa, autônoma. Negri e Cocco (2005) irão tratar de uma nova forma de luta social-o biopoder. Laclau torna-se referência na perspectiva pós-estruturalista retomando a discussão sobre a teoria da hegemonia, questionando a questão da homogeneidade e reafirmando o papel da heterogeneidade para um discurso emancipatório que reafirma as identidades culturais. Em todas estas perspectivas, o sujeito da ação coletiva é destacado. O movimento é um sujeito coletivo. Segundo Burity, as abordagens pós-estruturalistas “assumiram com força a importância da linguagem, da produção de sentido, do simbólico, do discurso, para a constituição e transformação da realidade social” (2006: 57). Mas há também as abordagens que adotam a perspectiva dos indivíduos, da subjetividade dos mesmos como eixos explicativos das ações coletivas; aqui a questão do sujeito-coletivo ou individual, não se coloca. O que importa é a ação dos indivíduos enquanto atores sociais. São correntes que bebem, de certa forma, na mesma matriz- a da análise psico-social. Como exemplos, vários estudos atuais baseados no interacionismo simbólico. Axel Honneth torna-se uma referência importante no estudo dos novos movimentos sociais relacionados a temática da identidade. Ele está mais preocupado em entender os conflitos sociais e não os movimentos sociais propriamente ditos. Tendo como base uma abordagem psicossocial, ele desenvolve uma teoria da luta por reconhecimento a partir de premissas de Hegel e do interacionismo simbólico de George Mead. (1976, p. 218-225). Para Mead, a autoconsciência de um sujeito ocorre quando ele consegue perceber a sua própria ação, na perspectiva do outro. Este outro deve reconhecê-lo também de forma a estabelecer um reconhecimento mútuo. Quando isto ocorre, aprende-se os direitos e deveres do grupo, internalizam-se as normas morais de condutas. A partir de Mead, e das formas de reconhecimento de Hegel (amor, direito e solidariedade), Honneth elabora o que denomina forma de reconhecimento recusado(no âmbito físico, moral e social dos indivíduos), e constrói uma teoria sobre os efeitos do não-reconhecimento, que leva a ações coletivas de protesto ou resistência. Portanto, bases cognitivas, decorrente de experiências práticas, no plano da moral, que resultaram em sofrimento, punição e/ou desrespeito, estariam nos fundamentos explicativos das ações coletivas. Barrigton Moore já tinha publicado no século 22 XX nesta mesma linha, ao escrever sobre as injustiças como base das revoltas sociais. (Moore, 1976). A teoria das privações dos interacionistas simbólicos das primeiras décadas do século XX, é retomada com todo vigor.Honneth diz que o que é aceito como justo entre os indivíduos expressa-se por meio da linguagem, que cria uma gramática moral. Esta gramática determina quais são os direitos de um grupo. Honneth supera J. Rawls (1997) que localizou o reconhecimento a partir de instituições políticas. Ele também vai muito além das explicações dos teóricos da Mobilização de Recursos- embora tenham matrizes originárias próximas (ao destacar o campo psico-social). Honneth considera que no caso das revoltas e conflitos, não se trata de simples cálculo racional baseado na lógica custo-benefício, para atingir interesses negados ou não-acessíveis. Não se trata de uma perspectiva utilitarista das lutas sociais. Há sentimentos de pertencimentos compartilhados que unem aqueles que não foram reconhecidos. As motivações para a participação ou identidade com conflitos e lutas sociais decorrem da memória de experiências morais de desrespeito, de privação de direitos, criando fraturas morais. Os conflitos sociais provêem também de experiências morais, e não somente de relações de poder ou interesses divergentes. Estes conflitos têm portanto um papel educativo na sociedade-eles indicam as áreas e problemas onde não há respeito ao outro, não há reconhecimento do outro como um igual. O reconhecimento seria uma luta por ampliação de direitos, os indivíduos- ao lutarem pela sua auto-realização e reconhecimento, estão trabalhando sobre e com os conflitos existentes. Os movimentos sociais surgem dessas relações de conflito. Eles são parte da luta por reconhecimento. Z. Bauman (2000,2003) é outro autor que trata da questão do reconhecimento e que passou a ter grande influência nas análises sobre as ações coletivas no Brasil, a partir dos anos 90. Bauman considera que as demandas por reconhecimento devem ser analisadas sob o prisma da justiça social e não a partir de indivíduos ou grupos isolados, em luta por autoreconhecimento e realização de uma identidade. Juntamente com N. Fraser, Bauman articula a questão do reconhecimento ao campo da justiça redistributiva. Estes dois autores chamam a atenção para o perigo dos particularismos dos grupos sociais, e a perda da universalidade dos direitos sociais em tela, nas suas demandas. Klandermans, teórico da corrente institucional/culturalista sobre os movimentos sociais retoma a clássica questão que preocupou muitos analistas norte-americanos no 23 século passado: porque as pessoas participam de protestos coletivos? Eles questiona a explicação fundada apenas na questão dos sofrimentos psicosocial, mas vai buscar apoio numa explicação também de ordem pessoal/subjetiva: as emoções. Os que participam se identificam com outras pessoas que estão participando. Criam identidades emocionais, e as emoções são vistas como fenômenos coletivos. Segue a linha de Maturana (1999) e Varela (1991), para os quais as emoções são disposições corporais dinâmicas que definem os diferentes domínios de ação em que nos movemos. O revival dos clássicos, contemporâneos nas primeiras décadas do século XX, na análise dos movimentos sociais, recuperou outros autores importantes: L. Whirth, G. Simmel e N. Elias. Com Wirth o interacionismo vêm à tona com as análises das redes e seus vínculos (formais e informais), numa sociologia relacional. Neste sentido, a análise de redes não dá muita ênfase à racionalidade dos atores sociais, podendo ser conjugada com a análise das perspectivas da escolha racional e a teoria dos jogos (vide Marques, 2007). G. Simmel passa a ser suporte teórico para as análises das trajetórias e deslocamentos dos indivíduos e suas famílias. Conseqüentemente, interessa à análise dos movimentos sociais à medida que dá o suporte para o resgate da trajetória de estudo das lideranças dos movimentos. O processo de mobilidade – quer por migrações espaciais como por deslocamentos na esfera dos relacionamentos sociais que criaram novas oportunidades políticas para alguns se reposicionarem de forma diferente nas estruturas de poder da sociedade-a partir do capital cultural adquirido pelo fato de terem sido líderes de organizações e/ou movimentos sociais. Nobert Elias é aplicado na análise dos movimentos sociais por duas vias-o uso de sua categoria chave-processo civilizatório e no deslocamento da construção da identidade -que deixa de ser um processo construído por atributos externos e passa a ser vista como uma construção psicológica, por meio de operações de auto-reflexividade, os indivíduos trabalham sobre si próprios. Mas há em decorrencia do eixo anterior, o tema da esfera pública. as ações de afirmação cultural, tais como em Jeffrey Alexander (2006). Este autor introduziu o conceito de esfera civil para iluminar o conceito de solidariedade social afirmando que nós estamos distantes dos modelos clássicos de análise dos movimentos sociais-quer nos modelos de abordagem revolucionários, quer integrativos/psico-social devido a teorias das privações. Ele diz que também estamos distantes das teorias dos novos movimentos sociais- “que 24 descrevem argumentos simbólicos como estratégias que respondem ao isolamento e vulnerabilidade dos atores confrontando com novas formas de dominação técnica” (Alexander, 2006:233). Uma questão central que sempre esteve presente entre os sociólogos que estudam as ações e mobilizações coletivas, retoma com outras nuances. Trata-se da questão do engajamento dos indivíduos e grupos. Qual a lógica das ações dos indivíduos ao se engajar em ações coletivas?A novidade foi a introdução do tema do voluntariado – seu apelo a necessidades reais ou simbólicas, e as estratégias de sedução para que ocorra engajamento de voluntários também no mundo do trabalho, nas políticas de responsabilidade social. Para encerrarmos este tópico sobre as questões envolvidas ou abordadas nas teorias das ações coletivas contemporâneas, no que se refere aos os movimentos sociais, somos obrigados a sair do campo tradicional da Sociologia e adentrarmos ao da Ciência Política. Isto porque, no momento em que as ações coletivas passam a atuar ou influenciar diretamente as esferas e estruturas dos poderes instituídos, via processos participativos, vários teóricos passam a redefinir a esfera pública. Assim, não é mais possível explicar a teoria da ação social sem introduzir o tema da democracia e suas variantes, especialmente a democracia participativa e a deliberativa, trazendo a tona Habermas e Souza Santos, entre outros.A noção de democracia deliberativa surge nos círculos acadêmicos e intelectuais num momento de crise das Ciências Sociais em relação às teorias explicativas macro estruturais. Ela surge como um novo enfoque entre os modelos democráticos précodificados e os sistêmicos, deslocando o olhar para os sentidos e as representações que orientam a ação social dos indivíduos e grupos na sociedade, sentidos estes que redefinem as fronteiras entre o político e o social, implicando na redefinição da relação EstadoSociedade, introduzindo no debate outras noções como pluralidade, desigualdade, sociedade civil, esfera pública, racionalidade da ação, poder comunicativo, etc. Na América Latina a noção de democracia deliberativa surge como um caminho ou um modelo ideal normativo que busca dar conta das novas exigências e condicionalidades que se colocam na relação Estado-sociedade, na fase pós ditatorial da América Latina. Em poucas linhas, ousaremos colocar estas questões.. Sabemos que as matrizes principais da noção de democracia deliberativa são bastante antigas. Elster (2001) nos lembra da Grécia clássica e a arte da palavra e da 25 persuasão dos sofistas .Também na Revolução Francesa, apareceram argumentos a seu favor. Stuart Mill, no século XIX defenderá o sistema de governo via processos de discussão, num modelo de delegação. Max Weber e Schumpeter também debateram as vantagens da argumentação na democracia (vide a respeito, Arato (1992), Avritzer (2000). A versão mais elaborada foi desenvolvida por Habermas (1985,1999). Joshua Coehn (2000) tem papel marcante nos anos 80 na elaboração da noção de democracia deliberativa na teoria social e política, mas será Boaventura S. Santos que levará o modelo para fóruns internacionais de debates, via o FSM-Fórum Social Mundial. Uma das idéias centrais destes estudos que incidem no tema objeto deste paper diz respeito a afirmação de que a democracia não se legitima só com o voto mas sim mediante discussões e decisões coletivas dos membros da sociedade ( Coehn, 1984). Coehn constrói um modelo normativo de deliberação democrática, difícil de se realizar em sociedades culturalmente heterogêneas. Habermas irá definir a democracia deliberativa como um modelo de dupla entrada- de uma parte a formação da vontade democrática constituída em espaços institucionais (no Brasil, podemos pensar no caso dos conselhos gestores, por exemplo), e de outra parte, nos espaços extra-institucionais (situados na sociedade civil, são associações formadoras de opinião, grupos de interesse, sindicatos, associações culturais etc.). Ou sejahá um centro e uma periferia no sistema democrático e só a partir da inter-relação dos dois que há a possibilidade de um governo democrático. A política deliberativa seria o âmago do processo democrático, tendo vínculo com a sociedade via a opinião pública e o processo de formação de uma vontade coletiva. A expressão disto tudo seria dada em processos reflexivos realizados por movimentos sociais, associações, partidos, grupos sociais etc, construindo um modelo dialógico de intervenção pública. Processos como o OP-Orçamento Participativo, tem sido analisados no Brasil sob a perspectiva habermasiana. Souza Santos articula a questão da deliberação democrática aos movimentos sociais e a construção de uma teoria da emancipação social. Ele inicia o novo século retomando o debate que o tornou conhecido no mundo acadêmico-o da multiculturalidade e a combinação das questões da igualdade e da diferença. Boaventura faz parte do grupo da crítica pós-moderna; esta crítica analisa os movimentos sociais como grupos que detém valores, com alto grau de interação 26 interna e externa. Os movimentos são modelos de sociabilidade e sua análise implica em compreender o sentido de suas práticas e seus projetos. Souza Santos alerta que um novo conteúdo democrático só será definido a partir de rupturas com o sistema político atual, com uma nova forma política do Estado, que realize uma refundação democrática da administração pública, assim como uma profunda democratização no terceiro setor de forma a conciliar cidadania e comunidade. Assim como o tema da pluralidade/diversidade, o da desigualdade provoca também inúmeros debates na questão da democracia deliberativa, e a crítica a esta teoria veio de setores marginalizados pela mesma. A teoria crítica feminista foi a grande fonte produtora e realimentadora deste debate. Fraser (1999) acentuou criticou a noção de esfera pública de Habermas por não reconhecer a diversidade. Ela afirma que uma concepção adequada da esfera pública requer não somente o destaque ao tema da desigualdade mas também sua deliberação e eliminação, falando em esferas públicas - especialmente nos discursos de grupos subalternizados como as mulheres, minorias raciais, sexuais etc.frente ao discurso hegemônico dos homens. Young (2000 apud Alvarez, 2006) irá no mesmo sentido, criticando as conseqüências que provoca a exclusão das diferenças na democracia deliberativa., afirmando que a mesma privilegia um discurso racional, masculino e das classes mais altas e médias, em detrimento das emoções, a multiplicidade e as diferenças na articulação das vozes do público. Não se considera as diferenças sociais e culturais. O estilo deliberativo seria competitivo e o consenso se obtém a partir da força do melhor argumento, o que implica –há um outro derrotado. Para que todos alcancem a compreensão na pluralidade, deve-se ter uma idéia mais ampla sobre os estilos e formas de falar em discussão política. Ou seja, trata-se de reconhecer a existência da desigualdade também no público que tem acesso (ou não) às esferas deliberativas, em seu interior, na sua dinâmica, no seu posicionamento na deliberação pública. ( vide Young, 2000 e Leroux, 2006). Finalmente, outro conceito fundamental que será debatido ao redor do tema democracia deliberativa é o de sociedade civil, conceito heterogêneo e poroso nos dizeres de Leroux. Ele envolve pelo menos dez fontes teóricas de inspiração, mas podemos sistematizar como o conjunto de movimentos, associações civis e organizações sociais, associações culturais, opiniões públicas, iniciativas cidadãs etc. que por meio de ações coletivas na esfera pública levam adiante suas demandas e reivindicações e conquistam 27 espaços de ação sócio-política e cultural (ver entre outros, Arato, (1992); Gohn, (1995); Alexander (1994,2006), Olvera(1999). Observa-se neste longo parágrafo sobre a democracia deliberativa que se trata de um modelo combinado, entre o liberalismo e o republicanismo, voltada para processos decisórios no âmbito de esferas públicas. Há um agir coletivo e um processo de aprendizado nas ações da sociedade civil. Há também um processo de construção de saberes na luta cotidiana e de formação para a cidadania (e mesmo formação de quadros para os partidos e para a burocracia estatal). Pois bem, na democracia deliberativa a sociedade civil joga um papel ambíguo por ser fonte de pressão e ter que responder também por um ativismo propositivo, organizado, ordenado segundo regras institucionalizadas, nos conselhos e fóruns participativos criados pelo Estado, por exemplo. Isto explica parte das contraditoriedades que trataremos a seguir. 4- Novas abordagens na América Latina O novo milênio nos apresenta um conjuntura social e política extremamente contraditória na América Latina. Ao mesmo tempo que vários movimentos sociais tiveram mais condições de organização-tanto interna como externa-dado o ambiente político reinante, eles perderam muito sua força e credibilidade junto a população, dado a decepção e não credibilidade em geral da sociedade civil para com os políticos e a arena políticopartidária. Ao mesmo tempo que houve na América Latina a radicalização do processo democrático e u surgimento de movimentos étnicos (indígena ) na Bolívia e no Equador-, associados a movimentos nacionalistas como os Bolivarianos (Venezuela)- vários deles elegeram como representantes supremos da nação líderes vindo dos movimentos populares (Brasil, equador, Bolívia e Venezuela), ocorreu também que os movimentos perderam força política enquanto agentes autônomos e se tornaram, em vários casos, meios de institucionalizar práticas sociais em formas de controle e regulação da população. A conquista do poder político em aparelhos do Estado levou a ampliação de políticas sociais voltadas para os excluídos, a criar redes de proteção aos chamados bolsões humanos de vulnerabilidade social, mas isto tudo não significou fortalecimento das organizações populares. Ao contrário, elas enfraqueceram-se. Seus líderes foram cooptados pelos aparelhos estatais e suas políticas compensatórias. Francisco de Oliveira chega a afirmar que o movimento social foi capturado pelo Estado. A resistência social ocorre -ou nos atos de desobediência civil, em atividades “de costas para o Estado”. O que era tido 28 nos anos 90 como eixo de construção de uma nova sociedade, nova economia etc, passa a ser assediado por políticos e pelas políticas públicas, tornando-se elos de uma cadeia de economia alternativa de sobrevivência ao padrão geral imposto- mecanizado e redutor do uso de mão-de-obra. A sociedade civil torna-se no imaginário popular o centro de referência do bem e passa a ser reduzida, por muitos, a esfera das ONGs e entidades do Terceiro Setor. As analises fundadas nas narrativas que estabeleciam uma clara conexão entre classes sociais e movimentos sociais, a centralidade da classe operária como sujeito fundamental das transformações sociais dão lugar às análises que ampliam o espectro dos sujeitos em cena, não só no meio das camadas populares, mas entre outras camadas sociais; e focalizam outros atores sociais na cena pública, como as ONGs. Neste cenário contraditório, a CLACSO- e seus investigadores passou a representar um dos poucos pólos de produção de conhecimento sobre os movimentos sociais, que ainda segue uma abordagem teórica marxista ou próxima das teorias críticas( Borón, Seone, Taddei (2001). . A CLACSO criou um “Observatório Social da América Latina” para registrar e fazer avaliações periódicas das lutas e movimentos da região.Christian Adel Mirza é um dos pesquisadores que analisou os movimentos sociais AL sob a perspectiva de novas formas de dependência que foram construídas com e pelos Estados Unidos, e as novas relações dos movimentos sociais com o sistema político vigente. O autor destaca a questão da autonomia como um problema-a debilidade da autonomia face às estruturas de poder porque existiria, segundo Mirza, um vínculo histórico entre os movimentos sociais e os partidos políticos. Do ponto de vista metodológico Mirza faz uma contribuição ao analisar a relação entre os movimentos sociais e os sistemas políticos. Ele investiga nos movimentos o grau de organicidade, capacidade de proposta, capacidade de mobilizar vias suas convocações, o discurso político, o grau de autonomia e taxa de afiliação (número de militantes/participantes ou adeptos dos movimentos). Essas dimensões são analisadas em perspectiva histórica. O não fortalecimento dos movimentos sociais não tem sido possível devido a esta cultura política existente, herdada desde século XX. Concordamos com Mirza e como exemplo citamos o caso da herança do populismo para com as Sociedades Amigos de Bairros, no Brasil; e o caso do MST e suas relações com o PT, na contemporaneidade. 29 Rafael R. Alvarez (2000), na contramão da grande maioria dos pesquisadores, que deixam de lado a dimensão do político em seus estudos, irá analisa a dimensão política da constituição da identidade do sujeito. Para ele, a constituição do sujeito social se dá a partir do lugar que ele ocupa no social, no político, no cultural e no espaço simbólico de outros sujeitos. Ele destaca a importância dos projetos sociais na constituição do sujeito, não como algo pronto mas sim processual, e tensionado pelas diferenças entre os atores de uma ação coletiva organizada como movimento social. A apropriação de conhecimentos e a experiência dos sujeitos são a base da prática política que irá nos explicar a construção dos projetos. Da mesma forma, a cultura política vigente-ela não pré-existe, bastando encaixar-se. Ela também é gerada no processo a partir dos valores que vão sendo assumidos como básicos do grupo, e pelo grupo. Não há portanto nada intrínseco, pré-dado. As construções são relacionais, ainda que as estruturas maiores existam a priori às ações. Mas elas vão se modificando com as ações. Um movimento social com certa permanência é aquele que cria sua própria identidade a partir de suas necessidades, desejos, tomando referentes com os quais se identificam. Eles não vestem uma identidade pré-construída apenas porque tem uma etnia, um gênero, ou uma idade. Este ato configura uma política de identidade e não uma identidade política. O reconhecimento da identidade política se faz no processo de luta, perante a sociedade civil e política; e não um reconhecimento outorgado, doado, uma inclusão de cima para baixo. Os movimento social, enquanto um sujeito social coletivo, não pode ser pensado fora de seu contexto histórico e conjuntural. As identidades são portanto móveis, variam segundo a conjuntura. Há um processo de socialização da identidade que vai sendo construída. Compartilhamos a idéia de Hobsbawm quando afirma que as identidades são múltiplas, combinadas e intercambiáveis. Ao contrário da política de identidades construídas pelo alto, a identidade política dos movimentos sociais não é única, ela pode variar em contextos e conjunturas diferentes. E muda porque há aprendizagens, que gera consciência de interesses. Os sujeitos dos movimentos sociais que não são alienados, sabem fazer leituras de mundo, identificar projetos diferentes ou convergentes. Infelizmente, no Brasil atual, pouquíssimos movimentos sociais podem ser nomeados nesta categoria-de atuação com autonomia. 30 As redes de relações sociais e as formas de sociabilidade que engendram passam a ser vistas como relações de poder, numa clara herança intelectual de Foucault.e da Fenomenologia onde a preocupação é com o sentido que os sujeitos dão acontecimentos e as interações produzidas a partir do significado deste sentido.Busca-se interpretar o sentido das coisas a partir da experiência de viver esta coisa, participar dela. Buscar-se o significado que as pessoas dão ao mundo e às práticas. Aproxima-se também, portanto, do pragmatismo.Como se sabe, nesta abordagem o conhecimento vem experiência IMEDIATA e não de Idéias O conhecimento não é formado por Idéias, algo mental, subjetivo As Idéias são produzidas por significados advindos de experiências. O pragmatismo invade também o campo da política, no plano das ações do Estado. O tema dos movimentos sociais no Brasil, no novo milenio, debe ser dividido em algums campos para a sua compreensão- na prática concreta- quem se qualifica como movimento social- tanto na sociedade civil – organizada e a sociedade civil empresarial, do mercado (bancos, fundações do Terceiro Setor etc), como do Estado e suas políticas sociais. A grande mudança está na direção do foco central da análise-do agente para a Demanda a ser atendida. Reconhecem-se as carências e busca-se superá-las-de forma holística. Olhares multifocais que contemplam-raça, etnia, gênero, idade etc. passam a ser privilegiados. O sujeito coletivo se dilacera, fragmenta-se em múltiplos campos isolados. Sozinhos eles não têm força coletiva e o ponto de convergencia entre eles é o próprio Estado. A interação do estado via a ação de seus governos se faz via uma retórica que retira dos movimentos a ação propriamente dita. Ela se transforma em execução de tarefas programadas, tarefas estas que serão monitoradas e avaliadas para que possam a continuar a existir. A institucionalização das ações coletivas impera. A possibilidade da emancipação fica confinada nos espaços de resistência. Mas tudo isto está gerando um grande aprendizado socio-político aos movimentos sociais e contribuindo para a construção de valores que podem desenvolver uma cultura política alternativa ao que está posto. Em suma estamos vivendo um novo momento na trajetória do associativismo brasileiro. Os movimentos sociais voltaram a ter visibilidade e centralidade, como atores que pressionam por processos de mudança social. Eles também se transformaram bastante, realizaram deslocamentos em suas identidades e incorporaram outras dimensões do pensar e agir social. Alteram seus projetos políticos. Mas como são muitos e heterogêneos, parte 31 deles fragmentou-se e perdeu ou redefiniu sua identidade, idéias e pontos de vistas centrais, alterando projeto e cultura política existentes. Outros redefiniram-se segundo as mudanças de outros atores sociais em cena. Outros ainda aproveitaram brechas e se conectaram com as possibilidades dadas pela globalização, econômica (geradora de resistências e protestos) e cultural (geradora de novas sociabilidades, novas interações e aprendizagens baseadas na pedagogia do exemplo- aprender via observação - nos grandes eventos transnacionais, ou via conexão na rede Internet). No plano mais geral, tanto nas políticas públicas de inclusão dos movimentos sociais, pelo alto, como na análise da maioria dos cientistas sociais na atualidade que trabalham com o tema dos movimentos sociais, a dimensão do político foi esquecida ou negada. É esta dimensão é o espaço possível de construção histórica, de análise da tensão existente entre os diferentes sujeitos e agentes sócio-políticos em cena. A ação coletiva entre estes sujeitos abre e fecha horizontes. O tema da consciência histórica não pode ser abandonado-o que deve ser abandonado é a visão de uma consciência histórica, fixa e determinada, a ser incorporada por sujeitos inertes e passivos. Ao contrário-a consciência histórica é processual, elabora-se no jogo das tensões, trocas e posições dos sujeitos em cena. Referências bibliográficas ADORNO, T. 2003. Educação e emancipação, São Paulo, 3a ed. Paz e Terra ALEXANDER, J.1987. "O Novo Movimento Teórico: O Macro e o Micro". In: Novos nº 17. São Paulo, CEBRAP. Estudos CEBRAP, __________2005. The civil sphere. Oxford, Oxford Um. Press. ALVAREZ, Sandoval R. La dimension política de la identidad del sujeto. In Espiral, no 17, jan-abr. 2000, México, p. 71-86. ALVAREZ, Sonia E. e ESCOBAR, Arturo.1992. 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