A economia mundial deve crescer cerca de 4 vezes nos próximos

Propaganda
A emergência de um novo mundo no século XXI?
José Eustáquio Diniz Alves1
A economia mundial deve crescer cerca de 4 vezes nos próximos 40 anos. Isto quer dizer que o Produto
Interno Bruto (PIB) terá o tamanho atual da economia, mais 3 “novos mundos”, em 2050. O PIB mundial
(em poder de paridade de compra) era de cerca de US$ 70 trilhões, em 2009, e deve passar para US$
280 trilhões, em 2050.
Evidentemente, toda projeção está sujeita a erros e depende da efetivação de uma série de
pressupostos. Mas para que o PIB quadruplique em 40 anos é necessário uma taxa anual de crescimento
de 3,5% ao ano. A primeira década do século XXI apresentou uma taxa anual de crescimento de 3,6%,
segundo o FMI. Entre 1950 e 2000, o PIB mundial cresceu a 4% ao ano, a população a 1,8% ao ano e o
PIB per capita a 2,2% ao ano (Madisson, 2005). Portanto, basta manter estas tendências, ocorridas nos
últimos 10 anos ou na segunda metade do século passado, para atingir o quádruplo.
Desta forma, não é irrealista supor que o mundo, entre 2000 e 2050 apresente uma taxa anual de
crescimento da economia de 3,5% ao ano, de 0,8% ao ano da população e de 2,7% ao ano do PIB per
capita. Em um período de 50 anos, a humanidade teria apresentado o maior crescimento do PIB e da
população na segunda metade do século XX, mas apresentaria o maior crescimento da renda per capita,
de toda a história, nesta primeira metade do século XXI.
Em termos de desempenho econômico médio do mundo, o período 2000-2050 não seria muito
diferente do período 1950-2000. Porém haveria uma grande diferença geográfica, nacional e política.
Durante praticamente todo o século XX o grupo dos sete países mais ricos do mundo, o G-7 (EUA,
Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá), com algo em torno de 11% da população do
globo, manteve uma representação de cerca de 50% do PIB mundial.
Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial mostram que o peso relativo do PIB do
G-7 caiu de cerca de 50% do PIB mundial, no final do século passado, para cerca de 40% em 2010.
Diversos outros analistas, como Martin Wollf (FT, 4/01/2011), concordam com a permanência desta
tendência de mudança entre grupos de países. Estudo da PricewaterhouseCoopers (2011) também
aponta para uma mudança na dinâmica econômica mundial com a emergência de um outro grupo de
sete países emergentes que tomarão a frente da liderança econômica, o chamado E-7, composto por
China, Índia, Brasil, Rússia, México, Turquia e Indonésia.
O gráfico 1 mostra o Produto Interno Bruto (PIB em poder de paridade de compra - ppp) do G-7 (EUA,
Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá), do E-7 (China, Índia, Brasil, Rússia, México,
Turquia e Indonésia) e dos demais países do mundo agrupados em uma categoria residual, em 2009 e
2050. Nota-se que, em 2009, o PIB do G-7 representava 41% do produto mundial, o E-7 representava
30% e os demais países 29% do PIB do Planeta. Para 2050, a situação muda completamente com o PIB
do E-7 chegando a 49%, os demais países com 26% e o G-7 com 25% da economia mundial. A grande
transformação cabe ao desempenho de China e Índia que terão em conjunto 37% do PIB mundial. Mas o
desempenho dos outros 5 países do E-7 também fica acima do desempenho dos países do G-7.
1
Professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Tel: (21) 2142 4689. E-mail:
([email protected] ). Publicado em APARTE (http://www.ie.ufrj.br/aparte/) – 20/01/2011
1
Gráfico 1: Produto Interno Bruto (PIB em ppp) do G-7, do E-7 e demais países do mundo, 2009 e 2050
Fonte: Cálculos do autor a partir de dados de: PwC. The World in 2050, London, 2011
Nota: No estudo da PricewaterhouseCoopers, Espanha e Coréia do Sul estavam entre os 14 maiores
países de 2009 e entre os 14 maiores em 2050 havia Nigéria e Vietnã (que não estão no E-7 do gráfico).
O gráfico 2 mostra que a população do G-7 era de 745 milhões (11% do total mundial), em 2010 e vai
passar para 818 milhões de habitantes (9% do mundo), em 2050. O E-7 tinha uma população de 3,3
bilhões (48% do mundo), em 2010 e deve passar para 3,9 bilhões (42% do mundo), em 2050. O grande
peso populacional se deve à China e Índia. Já os demais países, com peso dos mais pobres, tinham 2,8
bilhões de habitantes (41% do mundo), em 2010, e vão passar para 4,5 bilhões (49% do mundo) em
2050. Portanto, o G-7 e o E-7 vão apresentar um pequeno crescimento populacional enquanto os
demais países, liderados por aqueles de baixa renda, concentrarão o maior aumento demográfico. Os 14
países dos dois primeiros grupos vão ter queda relativa, enquanto os demais vão ter aumento relativo.
Gráfico 2: População do G-7, do E-7 e demais países do mundo, 2010 e 2050
Fonte: World Population Prospects: The 2008 Revision, http://esa.un.org/unpp , 18/01/2011
2
O gráfico 3 mostra o Produto Interno Bruto (PIB em poder de paridade de compra - ppp) per capita do
G-7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá), do E-7 (China, Índia, Brasil, Rússia,
México, Turquia e Indonésia) e dos demais países do mundo agrupados, em 2009 e 2050. Nota-se um
aumento absoluto da renda per capita, com o G-7 passando dos atuais US$ 39 mil para US$ 85 mil em
2050, o E-7 passando de US$ 6 mil, em 2009, para US$ 36 mil, em 2050, e os demais países passando de
US$ 7 mil para US$ 16 mil, no mesmo período. Há um ganho geral, mas o maior crescimento relativo da
renda per capita deve acontecer no E-7. Porém, embora o peso relativo do PIB do G-7 deva ser reduzir
pela metade entre o ano 2000 e 2050 (de 50% para 25%) os atuais 7 países mais ricos continuaram
apesentando as maiores rendas per capita, embora a diferença entre a média do G-7 e do E-7 vá se
reduzir bastante.
Gráfico 3: Produto Interno Bruto (PIB em ppp) per capita do G-7, do E-7 e demais países, 2009 e 2050
Fonte: Cálculos do autor a partir de dados de: PwC. The World in 2050, London, 2011 e gráfico 2.
Ou seja, a despeito da existência de diversas desigualdades, deve haver uma desconcentração da renda
entre os países do mundo, na primeira metade do século XXI. O E-7 teria aproximadamente a metade da
população e a metade do PIB do mundo. A diferença entre a renda per capita média dos EUA e da Índia,
em 2009, era de 15 vezes. Em 2050, a dirença entre a renda média per capita dos EUA (a maior entre os
14 países) e a da Indonésia (a menor) seria de 4,4 vezes. Se houver também uma tendência a uma
melhor distribuição de renda, em termos nacionais, o mundo pode caminhar para uma situação menos
desigual e com maior inclusão social.
O gráfico 4 mostra o PIB, em poder de paridade de compra (ppp), dos 14 países do G-7 e E-7 em 2009 e
2050 (os preços são constantes de 2009). Nota-se que a China e a Índia se tornarão o primeiro e o
segundo país, respectivamente, com os maiores valores absolutos do PIB. O valor do PIB da China em
2050, em torno de 60 trilhões de dólares ppp equivale ao PIB do mundo de 2008. Ou seja, dentro de 40
anos a China sozinha pode ter o mesmo tamanho que o globo tinha em 2008. Já a Índia com um PIB de
aproximadamente 43 trilhões será bem maior do que a soma do PIB dos países do G-7, em 2009, que
era de 29 trilhões de dólares ppp. Os Estados Unidos da América (EUA) passariam do primeiro lugar em
2009 para o terceiro lugar em 2050 no tamanho absoluto da economia.
3
Gráfico 4: Produto Interno Bruto (PIB em ppp em bilhão) dos 14 países do G-7 e E-7, 2009 e 2050
Fonte: PwC. The World in 2050, London, 2011
A tabela 1 mostra o número absoluto do PIB para os 14 países (em questão neste artigo) e o rank destes
países nas duas datas de referência. Observa-se que além da liderança da China e Índia, em 2050, o
Brasil salta do nono lugar para o quarto lugar. O México, o outro paíse latinoamericano da lista, salta do
décimo-primeiro lugar para o sétimo lugar. Outro destaque é a Indonésia que passa do último lugar em
2009 para o oitavo lugar em 2050.
Tabela 1: PIB (em ppp $ bilhão) dos 14 países do G-7 e E-7, 2009 e 2050
Rank
2009
Rank
2050
País
14.256
1
China
59475
8.888
2
Índia
43180
Japão
4.138
3
EUA
37876
4
Índia
3.752
4
Brasil
9762
5
Alemanha
2.984
5
Japão
7664
6
Rússia
2.687
6
Rússia
7559
7
Reino Unido
2.257
7
México
6682
8
França
2.172
8
Indonésia
6205
País
PIB ppp $ 2009
1
EUA
2
China
3
PIB ppp 2050 (preço
constante $ 2009)
9
Brasil
2.020
9
Alemanha
5707
10
Itália
1.922
10
Reino Unido
5628
11
México
1.540
11
França
5344
12
Canada
1.280
12
Turquia
5298
13
Turquia
1.040
13
Itália
3798
14
Indonésia
967
14
Canada
3322
Fonte: PwC. The World in 2050, London, 2011
4
O gráfico 5 mostra o PIB per capita, em poder de paridade de compra (ppp), dos 14 países do G-7 e E-7
em 2009 e 2050 (os preços são constantes de 2009). Nota-se que os EUA mantém a liderança da renda
per capita nas duas datas, apresentando um PIB per capita de 45 mil dólares, em 2009, e de 94 mil
dólares, em 2050. Os outros 6 países do G-7 aparecem em seguida. O E-7 continua no segundo bloco
dos 14 países. China e Índia, a despeito das primeiras colocações no tamanho absoluto do PIB, aparecem
nas 3 últimas colocações, quando se considera a renda per capita.
Gráfico 5: Produto Interno Bruto per capita (em ppp em bilhão) dos 14 países do G-7 e E-7, 2009 e 2050
Fonte: PwC. The World in 2050, London, 2011
A tabela 2 mostra que não há muita diferença na ordem do ranking em 2009 e 2050. Em geral, os países
mais populosos que aparecem com destaque no tamanho absoluto do PIB tendem a ficar mais atrás
quando se considera o PIB per capita.
Tabela 2: PIB per capita (em ppp $ bilhão) dos 14 países do G-7 e E-7, 2009 e 2050
Rank
2009
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
País
EUA
Canada
Reino Unido
Alemanha
França
Japão
Itália
Rússia
México
Turquia
Brasil
China
Indonésia
Índia
PIB ppp per
capita $ 2009
44.900
37.800
36.500
36.400
34.700
32.600
32.000
19.100
13.900
13.700
10.300
6.600
4.200
3.100
Rank
2050
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
País
EUA
Alemanha
França
Reino Unido
Japão
Canada
Itália
Rússia
Turquia
México
Brasil
China
Índia
Indonésia
PIB ppp per capita 2050
(preço constante $ 2009)
93.800
80.900
79.000
77.800
75.400
74.800
66.600
65.100
54.400
51.800
44.700
42.000
26.800
21.500
Fonte: Calculos do autor a partir dos dados da PwC e UN/ESA
5
O Brasil, por exemplo, que aparece na projeção da PwC em quarto lugar, em tamanho absoluto do PIB,
em 2050, cai para o décimo-primeiro lugar quando a ordem é a renda per capita. Mas mesmo assim, o
Brasil teria uma renda per capita na metade do século XXI equivalente à renda per capita dos EUA, em
2009. A China seria o maior país em tamanho do PIB mas teria uma renda per capita próxima à do Brasil,
em 2050.
Evidentemente, todas estas projeções estão sujeitas a modificações em função de uma enorme gama de
variáveis que influem na dinâmica econômica do mundo. Porém, mesmo que os números sejam mais
baixos, parece que existe ampla aceitação da provável perspectiva do E-7 crescer mais do que o G-7 nos
próximos quarenta anos.
Entre os fatores que contribuem para o melhor desempenho dos países emergentes está a dinâmica
demográfica. O gráfico 6 mostra que a razão de dependência (RD) total dos países do G-7 era menor do
que a do E-7 na segunda metade do século XX. Naquela época os países desenvolvidos apresentavam
melhor desempenho econômico do que os países em desenvolvimento. Porém, na primeira metade do
século XXI, a razão de dependência demográfica do E-7 fica menor do que a do G-7. Ou seja, os países
do G-7 colheram o bônus demográfico na segunda metade do século passado e os países do E-7 vão
aproveitar o bônus demográfico nos próximos quarenta anos, quando os países desenvolvidos vão
passar por um rápido processo de envellhecimento.
Gráfico 6: Razão de dependência (RD) de jovens (0-14 anos), de idosos (65 anos e +) e total (0-14 + 65
ans e mais) para os países do E-7 ( grafico da esquerda) e G-7 (gráfico da direita), 1950-2050
90
80
80
70
70
60
50
50
%
40
40
RD jovem
RD idosa
RD total
RD jovem
RD idosa
2050
2040
2045
2035
2025
2030
2020
2010
2015
2005
2000
1990
1995
1985
1975
1980
1970
1960
1965
2050
2045
2040
2035
2030
2025
2020
2015
2010
2005
2000
1995
1990
1985
1980
1975
00
1970
00
1965
10
1960
10
1955
20
1950
20
1955
30
30
1950
%
60
RD total
Fonte: Cálculos do autor a partir de World Population Prospects: The 2008 Revision, 18/01/2011
Se as projeções feitas pela PricewaterhouseCoopers se aproximarem da realidade teríamos um novo
mundo em 2050, pois o E-7, com algo em torno de 50% da população mundial, passaria a representar
cerca de 50% do PIB mundial. Especialmente Chína e Índia seriam os dois países mais poderosos em
tamanho da economia. Mas os países do G-7 continuariam tendo uma renda per capita mais elevada do
que os países do E-7. Outros países que não apareceram nos gráficos também teriam bom desempenho,
como Nigéria e Vietnã, este último país seria o que teria as maiores taxas de crescimento do PIB e da
renda per capita nos próximos 40 anos. O dado mais positivo é a perspectiva de haver menor
concentração da renda e da riqueza entre os países da comunidade internacional.
Do ponto de vista econômico as perspectivas parecem muito otimistas para a primeira metade do
século XXI, especialmente se o mundo não tiver que enfrentar guerras e gastos militares como na
primeira metade do século passado. Porém, os desafios ecológicos vão ser imensos (mas foge ao escopo
6
deste trabalho). No modelo de crescimento adotado até hoje, um alto crescimento econômico pode
simplesmente provocar um grande aumento do aquecimento global e aumentar a degradação do meio
ambiente. Mas o mundo poderia caminhar numa trilha positiva se adotar os princípios da Economia
Verde e Inclusiva.
Referências:
Angus Maddison, Evidence submitted to the Select Committee on Economic Affairs, House of Lords,
London, for the inquiry into “Aspects of the Economics of Climate Change”, 20th February 2005.
http://www.ggdc.net/maddison/articles/world_development_and_outlook_18201930_evidence_submitted_to_the%20house_of_lords.pdf
PwC. The World in 2050, London, PricewaterhouseCoopers, 2011. Disponível em:
http://www.pwc.com/br/pt/estudos-pesquisas/the-world-in-2050.jhtml
Martin Wolf, “In the grip of a great convergence”, Londres, Financial Times, 4/01/2011. Disponível em:
http://www.ft.com/cms/s/0/072c87e6-1841-11e0-88c9-00144feab49a.html
UN/ESA: World Population Prospects: The 2008 Revision, http://esa.un.org/unpp , 18/01/2011
7
Download