O Céu de Março - Nautilus Fis UC

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O Céu de Março
(Expresso: 07-03-1998)
Um mês pobre em planetas mas que oferece a melhor oportunidade do ano
para observar Mercúrio. Dos cinco planetas visíveis a olho nu e conhecidos dos
antigos, ele é o que mais desafia a habilidade do observador.
COM OS planetas mais brilhantes
meio escondidos, este mês oferece-nos uma
boa oportunidade para observar Mercúrio, o
planeta fugidio. Uma oportunidade a não
desperdiçar, pois Mercúrio não se deixa
descobrir com facilidade. Dos cinco planetas
visíveis a olho nu e conhecidos dos antigos,
ele é o que mais desafia a habilidade do
observador.
Tal como Vénus, Mercúrio é um
planeta interior - está mais perto do Sol do
que a Terra -, pelo que nunca pode ser visto muito longe do astro-rei. Ao contrário de
Saturno, por exemplo, que ainda há pouco esteve em oposição, mantendo-se visível
durante toda a noite, ele apenas pode ser observado após o anoitecer ou antes da
madrugada e nunca muito longe dos clarões avermelhados do crepúsculo ou da aurora.
E, como está ainda mais perto do Sol do que Vénus, ainda menos acima do horizonte se
levanta.
Ora, a meio deste mês, no dia 19, Mercúrio apresenta-se na sua elongação leste
máxima, isto é, visto da Terra, a sua distância angular ao Sol atinge um máximo para
leste. Significa isto que o planeta se apresentará em condições óptimas para ser
observado a oeste, logo após o crepúsculo. Mercúrio vai estar agora a 19 graus de
distância angular do Sol. Noutras alturas de elongação máxima, essa distância poderá
ser menor (18 graus) e noutras maior (28 graus), havendo grandes oscilações devido à
marcada excentricidade da órbita do planeta.
Até dia 19, Mercúrio manter-se-á
visível em cada dia por mais tempo. Ao
atingir a sua elongação máxima, deita-se
hora e meia após o acaso, o que parece
propiciar
um
confortável
tempo
de
observação. Mas a realidade pode ser menos
favorável. Primeiro, é preciso contar com o
crepúsculo e esperar pelo menos 30 a 60
minutos após o pôr-do-sol para que o céu
escureça e o planeta se torne visível. Depois,
é necessário procurar céus desobstruídos a oeste, porque o planeta não se apresentará
então a uma altura maior do que 10 graus, o equivalente à distância projectada na esfera
celeste por um punho fechado de um braço estendido. É portanto aconselhável escolher
o oceano para horizonte.
Começando a olhar para oeste uma meia hora depois do ocaso, deverá detectarse Mercúrio como a «estrela» mais brilhante nessa direcção. Binóculos que concentrem
a luz permitirão detectá-lo mais cedo. Depois de localizado o planeta, é fácil observá-lo
a olho nu. Os binóculos devem ser apontados a oeste. Encontramo-nos agora muito
perto do equinócio, que se registará pelas 19h55 do dia 20, pelo que a eclíptica - a linha
descrita pelo Sol e em torno da qual os planetas são visíveis - intersecta o horizonte no
ponto cardinal oeste.
Mercúrio pode servir de referência para localizar dois outros planetas nossos
conhecidos: Marte e Saturno, que empalideceram ao longo dos últimos meses e agora se
apresentam muito menos brilhantes do que Mercúrio. No dia 11, este passa muito perto
de Marte, e a 19 desenha um curioso triângulo com Marte e Saturno. Será interessante
observar a dança dos três planetas no céu do crepúsculo. No princípio do mês, enquanto
Marte se desloca para a direita e Saturno mergulha no horizonte, Mercúrio ascende,
ultrapassando primeiro Vénus e depois Saturno. No dia 19 é a vez de Mercúrio iniciar o
seu mergulho no horizonte. No fim do mês será virtualmente impossível localizar este
trio.
Para observar os outros planetas, há que
madrugar. Vénus é visível pouco antes da
madrugada, e para o fim do mês pode ver-se
Júpiter.
Os restantes planetas do sistema solar Urano, Neptuno e Plutão - encontram-se também
relativamente alinhados com o Sol, pelo que só
serão observáveis perto da madrugada, mas só
com binóculos ou um telescópio de razoável Estamos no mês em que reaparecem
abertura (para Plutão).
as constelações da Primavera e se
O mês de Março propicia-nos ainda um
eclipse penumbral da Lua na noite de 12 para 13.
O eclipse começa pelas 2h17 (hora legal do
começam a vislumbrar os objectos
celestes típicos do Verão. E não falta
um eclipse da Lua, embora modesto
continente), atinge o máximo cerca das 4h20 e
termina por volta das 6h23, pouco antes do nascer do Sol. Como a Lua não chega a
mergulhar no cone de sombra total projectado pela Terra, o escurecimento não será
muito notório. Será necessária uma noite bem límpida - e a vontade de a passar em claro
- para se notar o eclipse.
Texto de UO CRATO
ESTE mês convidamos o leitor a procurar
duas constelações que estão particularmente
visíveis no começo da Primavera.
Particularmente visíveis é maneira de dizer.
Elas estão agora bastante bem colocadas, mas
são constelações pouco notáveis, pois apenas
possuem estrelas pouco brilhantes.
Referimo-nos à Caranguejo e à Hidra, agora
visíveis a sudeste. entre Orion, Cão Maior e Gémeos, por um lado, e
Leão, por outro. As primeiras são constelações típicas de Inverno,
onde se destacam várias das estrelas mais brilhantes do céu,
nomeadamente Sírio, Betelgeuse e Prócion. A segunda é típica da
Primavera, onde se destaca a estrela Régulo.
As constelações que agora convidamos a visitar constituem um
desafio ao leitor menos treinado na observação dos céus.
Caranguejo, no entanto, é uma das constelações do Zodíaco, e só
por isso merece ser conhecida. O Sol atravessa a Leão entre fins de
Julho e princípios de Agosto, o que significa que está agora em
sentido oposto, pois passou pouco mais de meio ano sobre essa data.
Por isso, essa constelação tem atingido a sua altura máxima a meio
da noite.
Olhando para sul, não deve ser difícil encontrar Leão e Gémeos.
Entre estas está Caranguejo, onde poucas estrelas se destacam. Mais
abaixo, alongando-se para o horizonte, encontra-se a Hidra, uma
constelação um pouco mais fácil de reconhecer.
Se o leitor pretende familiarizar-se com os céus - o que antigamente
era muito comum -, um bom livro de referência é o Roteiro do Céu,
de Guilherme de Almeida. Aí se encontram dezenas de mapas
celestes bastante pormenorizados mas simples de interpretar, a par
de explicações dos corpos celestes observáveis no decorrer do ano.
É uma obra em língua portuguesa que pode ser muito útil a quem
pretenda começar a orientar-se pelos caminhos celestes.
N.C.
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