As campanhas para prevenção de câncer e a avaliação de seu impacto pela audiência aos sites especializados na internet. Paulo Roberto Vasconcellos da Silva Luis David Castiel RESUMO Apesar do impacto da Internet na disseminação de informações, poucos estudos se dedicaram à análise da audiência a sites de referência após as campanhas de promoção de saúde. Objetivos: caracterizar padrões de audiência às páginas de um site brasileiro especializado em câncer correlacionando-os às campanhas governamentais. Comparar a audiência às páginas com conteúdos ligados à tecnologia dos tratamentos (conteúdo biotecnológico) em relação às páginas com conteúdos de prevenção. Métodos: foram analisados os arquivos eletrônicos que registram os movimentos de visitantes (log files) - números de visitas, tempo médio de permanência e número de retornos mensais às páginas com conteúdos biotecnológicos em comparação às com conteúdos educativos. Resultados: Nas páginas com conteúdo educativo observou-se escasso número de acessos e poucas oscilações ao longo das campanhas. Naquelas com conteúdo biotecnológico, houve alta sensibilidade às campanhas, expressa nos números de acessos, assim como na maior amplitude das ondas de oscilação. Conclusões: No Brasil, as campanhas para promoção de saúde estimulam as mudanças de estilos de vida, o que contrasta com o interesse crescente por páginas relacionadas à tecnologia do diagnóstico e cura do câncer e o escasso acesso aos conteúdos sobre prevenção. A análise histórica de log files de sites-referência têm apontado para curiosos padrões que podem vir a subsidiar o planejamento e a avaliação de campanhas institucionais de promoção de saúde. Keywords: Internet; Comunicação em saúde; Promoção de saúde; Campanhas educativas; Câncer; Epidemiologia; Cultura. 1 Introdução Diversos estudos dão conta do grande espaço preenchido pela Internet como o referencial mais popular sobre assuntos ligados à saúde (PEW RESEARCH, 2003; TAYLOR, 2002; UMEFJORD, 2006; KERR, 2006; TJORA, 2005; SILLENCE, 2007; BAKER, 2003). Estima-se que 86% da população adulta americana com acesso à rede, busca informações sobre saúde na WEB (ENG, 2001). O site do instituto nacional de câncer brasileiro (INCA), órgão vinculado ao ministério da saúde, é a maior e mais completa referência para leigos e profissionais sobre o assunto (www.inca.gov.br) (BUCHALLA, 2005). O INCA se desenvolveu como referência governamental em todos os temas relacionados ao câncer no Brasil, desde sua prevenção até as diretrizes e protocolos oficiais de tratamento. Diversas campanhas e eventos culturais são promovidos pela instituição e pelo ministério da saúde em datas comemorativas anuais: em 31 de maio (dia mundial sem tabaco), 29 de agosto (dia nacional de combate ao fumo) e em 27de novembro (dia nacional de combate ao câncer). Nestas datas se realizam atividades culturais e recreativas em grandes centros urbanos, exibidos com grande destaque pela mídia. Apesar dessas campanhas alcançarem grandes impactos, é importante salientar, como Baillie (2000), que a ênfase na transmissão de informações elaboradas por especialistas tende a não considerar a mútua interferência das inúmeras peculiaridades culturais das sociedades complexas. As variadas influências do ambiente cultural dificultam a avaliação do impacto direto dessas iniciativas oficiais. No presente trabalho, o que se deseja enfatizar são alguns desdobramentos paradoxais, caracterizados por oscilações de audiência à Internet atribuídas a campanhas de promoção de saúde relacionadas ao câncer no Brasil. Em tese, o objetivo de tais projetos é incentivar a autoresponsabilização pela saúde e o interesse pela prevenção e detecção precoce do câncer (THACKERAY, 2000). O que se observa, pelo contrário, é um crescente interesse pela tecnologia dos diagnósticos e tratamentos sofisticados. Procura-se avaliar, no presente estudo, o impacto das campanhas anuais para prevenção do câncer, correlacionando-as com as oscilações de determinadas páginas do principal sítio brasileiro de referência sobre o tema. Procurou-se qualificar a natureza do interesse despertado por estas campanhas, comparando páginas sobre a prevenção em relação às páginas com informações sobre a tecnologia empregada na doença já instalada. Métodos A avaliação de audiência a sites da Internet foi originalmente desenvolvida com propósitos comerciais. Atualmente os registros de acesso se prestam apenas para determinar o valor comercial de um site em vista do número de acessos ao seu endereço. Talvez isso explique as escassas publicações sobre a análise de log files na literatura sobre promoção de saúde (VASCONCELLOS-SILVA, 2001). Alguns poucos trabalhos têm descrito a tecnologia dos log files como útil em outras áreas, como na análise o impacto bibliométrico de periódicos científicos (DIAS, 2002). Embora este recurso nos informe sobre um pequeno e crescente segmento da população que tem a cesso à Internet, alguns efeitos interessantes (não ligados a tais limitações) podem ser observados. Recentemente este recurso foi usado como forma de avaliar o interesse despertado por fatos de conhecimento público relacionados ao câncer. O adoecimento de um personagem de uma novela brasileira provocou grandes aumentos de audiência às páginas sobre leucemia em um sítio de referência em câncer (VASCONCELLOS-SILVA, 2003), reação que também pôde ser percebida no aumento significativo no registro de novos doadores de medula óssea para transplante, à mesma época. O adoecimento de um político (governador de um dos maiores 2 estados brasileiros) provocou impacto similar nas páginas sobre câncer de próstata, assim como a morte da esposa de um famoso cantor influenciou páginas sobre o tumor de colo de útero (VASCONCELLOSSILVA, 2003). Em síntese, a audiência a determinadas páginas no período das campanhas educativas foram acompanhadas para avaliar o interesse em complementar as informações divulgadas. O primeiro passo estava ligado à eleição das “páginas-sentinela” a serem acompanhadas (VASCONCELLOS-SILVA, 2003). Estas deveriam ser notórias concentradoras de grande volume de informações relacionadas a um determinado tema – a prevenção e o diagnóstico do câncer. Os acessos a essas páginas são inscritos nos arquivos de registros de acesso (log files) armazenados nos computadores que hospedam seu site. Sua análise apontaria para as oscilações na audiência a determinados temas que poderiam registrar historicamente os momentos de maior interesse. No presente estudo buscou-se caracterizar reações paradoxais frente às campanhas que promovem saúde, mas que parecem suscitar interesse por doenças. Softwares e indicadores desenvolvidos – O registro das visitas foi feito por softwares comerciais (Webtrends Web analyzer) que quantificam as visitor sessions (em números absolutos e médias mensais), a origem dos servidores, as páginas e arquivos mais acessados, além do tempo de permanência médio em cada página. Também é possível avaliar as páginas mais impressas, o número de downloads, links (conexões com outras páginas ou sítios etc.) e os caminhos (paths) mais percorridos dentro do site, o que sugere o percurso e o foco de busca dos visitantes. Os “indicadores de browsing” (análise dos paths), refletem buscas aleatórias não direcionadas a nenhum assunto específico, ao contrário dos “indicadores de captura” que retratam buscas direcionadas por interesses bem definidos. Optamos por usar somente indicadores de captura, mais adequados aos objetivos desse trabalho: o número de views de cada página (absoluto e proporcional ao site inteiro), correlacionado ao tempo de permanência e à razão de retorno dos visitantes - indicador secundário que mede o número de visitas dividido pelo número de visitantes a cada mês. Esses indicadores foram selecionados entre muitos outros possibilitados pelo software, em vista de sua simplicidade de aferição, além da possibilidade de comparação e mútua correlação. Os log files das páginas estudadas, abaixo descritas, foram registrados durante 24 meses consecutivos para caracterizar padrões anuais de audiência correlacionando-os às campanhas anuais. Páginas de prevenção x doenças – Foram selecionados 3 temas divididos em 2 tipos de conteúdos a serem comparadas durante as campanhas: os “conteúdos biotecnológicos” (relacionado às doenças em si e à tecnologia de seus diagnósticos e tratamentos) e os “conteúdos educativos” (estimulam hábitos de prevenção). Tema 1 – biologia da carcinogênese ou fatores de risco evitáveis: Conteúdos biotecnológicos: “Como surge o câncer” (www.inca.gov.br/cancer/comosurge.html) e “o que causa o câncer (www.inca.gov.br /cancer/ causacancer.html). Conteúdo educativo: “como prevenir o câncer” (www.inca.gov.br/ prevencao/ comoprevenir.html). (a URL das páginas foi modificada em uma recente reestruturação do site). Tema 2 - câncer de mama ou auto-exame*: Conteúdo biotecnológico: “câncer de mama” (www.inca.gov.br/cancer/ tipos/ mama.html) 3 Conteúdo educativo: “auto-exame das mamas (www.inca.gov.br/prevencao/autoexame.html). *À época o auto-exame ainda era preconizado como forma eficaz de detecção precoce da doença. Tema 3 – tipos de câncer ou prevenção do câncer: Conteúdo biotecnológico: “tipos de câncer (www.inca.gov.br/ cancer/ tipos.html) - página que dá acesso a outras que descrevem os principais tipos de câncer. Conteúdo educativo: informações sobre prevenção “10 dicas para evitar o câncer”: (www.inca.gov.br/cancer/ 10dicas.html). Avaliou-se nos 3 temas o número de acessos às páginas; a proporção deste número em relação ao total de páginas do sítio; o tempo de permanência nas páginas e a razão de retorno (quantos retornaram às mesmas páginas a cada mês). À época do estudo as páginas comparadas eram semelhantes em termos de volume de informações, o que interfere no tempo de permanência médio. O nível de acesso dentro site (páginas principais, ligadas diretamente à home-page, ou secundárias) também foi considerado, o que interfere na dificuldade de acesso reduzindo sistematicamente o número de visitas. Resultados Durante os 24 meses de observação, houve uma lenta inclinação ascendente na audiência de todas as páginas, o que pode ser explicado pelo crescimento do número de pessoas que acessam a Internet no Brasil. Foram observados padrões que sugerem ciclos anuais, com períodos de queda no número dos acessos no início do ano, lenta recuperação no primeiro semestre até os patamares de abril/maio a julho/agosto, quando se ultrapassa a média anual. Após esta época os acessos decrescem até uma recuperação passageira em novembro, a partir da qual voltam a cair até a recuperação de abril/maio do ano seguinte. Observa-se a coincidência deste padrão com os picos observados em períodos do ano em que ocorrem as campanhas relacionados ao câncer e ao anti-tabagismo (31 de maio - dia mundial sem tabaco; 29 de agosto - dia nacional de combate ao fumo e dia 27 de novembro - dia nacional de combate ao câncer). Embora os acessos de forma geral tenham crescido acompanhando os eventos, estas oscilações não foram homogêneas por todo o site. Houve grandes impactos sobre alguns segmentos, o das “páginas sobre doenças”, em contraste com pequenas oscilações proporcionais aos poucos acessos às “páginas de educação/prevenção”. Nas últimas, observou-se menor número de acessos (absoluto e proporcional), com poucas elevações de audiência associadas às campanhas. Por outro lado, as páginas sobre doenças são intensamente buscadas (em números absolutos e proporcionais), sobretudo à época das campanhas relacionadas à prevenção de câncer e ao tabagismo. Número de views (TABELA 1)– Os conteúdos educativos, nos 3 temas, registraram as menores audiências com diferenças expressivas. Além do número de views menor, observou-se nos 3 temas pequenas oscilações após as campanhas, com pequenos desvios-padrão em relação às médias anuais. As maiores diferenças se concentram no Tema 3, onde a página “10 dicas para evitar o câncer” obteve uma média em todo o período estudado de apenas 639,8 views (403,5 no final de 1999; 533,2 em 2000 e 982,75 em 2001), em comparação com a “tipos de câncer” que obteve uma média geral de 4718,3 views (3090,75 em 1999; 4489,5 em 2000 e 6574,63 em 2001). Nos Temas 1 e 2, o conteúdo biotecnológico (“o que causa/ como surge o câncer” e “câncer de mama”), alcança oscilações semelhantes em todos os indicadores (número de views, tempo de permanência, razão de retorno e percentual de views em relação ao site inteiro), com uma tendência geral ao crescimento e sempre em 4 maiores proporções em relação ao conteúdo educativo (“como prevenir o câncer” e “auto-exame de mamas”). A média geral de views no tema 1 foi de, respectivamente, 1844,2 e 1903,3, mais de 2,5 vezes o número de views nas páginas sobre prevenção (média de 722,01 views). No Tema 2, a página sobre câncer de mama alcançou a média geral de 1097,5 em contraste com a página sobre auto-exame que chegou a apenas 598,3 views. (GRÁFICO) Proporção do acesso às páginas em relação ao acesso geral (TABELA 2) – estes indicadores expressam proporções dos números de views nas páginas em relação ao sítio inteiro. Assim, as páginas mais “sensíveis” às campanhas tendem a subir mais e “rebaixar” as menos sensíveis, o que confirma a tendência de predileção. O exemplo mais notável é, novamente, o da página sobre “10 dicas para prevenir o câncer” que, além da baixa audiência característica, exibiu um platô descendente iniciado nos meses em que há as maiores atividades no sítio, confirmando sua fraca audiência relativa e absoluta. A página sobre o câncer de mama cresceu expressivamente em novembro do segundo ano de observação, com 1,0% na proporção de views em relação a uma média neste ano de 0,7%. Entretanto a página sobre auto-exame de mamas manteve-se em 0,41% (abaixo da média anual de 0,44%), portanto, pouco sensível à propaganda oficial. Em novembro do ano anterior, a página sobre neoplasia de mama manteve-se em 0,74%, praticamente dentro da média geral (0,75%) relativamente pressionada para baixo pela notável proporção de acessos às páginas sobre tipos de câncer no primeiro ano (3,83%, a mais alta entre todas do site no ano). Todas as páginas sobre educação nos 3 temas se mantiveram em platô ou em descenso nos meses de eventos sobre tabagismo e câncer. Tempo de permanência nas páginas (TABELA 3) – padrão semelhante foi observado em relação ao tempo de permanência nas páginas. As informações sobre carcinogênese - “o que causa câncer” e “como surge o câncer” - obtiveram média geral de 1’:44’’ (dp=0:30’’) e 1’:34” (dp=0:32”) respectivamente, superando em tempo de aderência as informações sobre prevenção (média=0:44”, dp= 0,08”). O mesmo se verifica nas páginas do tema 2 onde informações sobre câncer de mama capturam a atenção por uma média de 2’:41” (dp=0:25”) em comparação com 0:45” para o auto-exame das mamas (dp=0:22”). O volume de informações interfere no tempo de permanência nas páginas, desta forma o tema 3 não serve a tal tipo de comparação, em contraste com os demais. Isto se deve ao fato da página sobre “tipos de câncer” servir de entrada para outras páginas sobre doenças, o que tende a provocar tempos de aderência menores. Não obstante, a página sobre conselhos para evitar o câncer do tema 3 também perde em aderência (média= 2’:04” dp= 0:43) quando comparada ao “câncer de mama“(do tema 2), que contém um volume de informações proporcional. Razão de retorno (TABELA 4) – com exceção do tema 3, onde se observaram grandes diferenças nas razões de retorno entre a página sobre “tipos de câncer” (média geral de 1,58 dp= 0,11) e “10 dicas para se prevenir”(média geral de 1,14 dp= 0,12) os demais temas estudados não exibiram as mesmas diferenças na análise de impacto e aderência deste tipo de indicador. Tal fato pode se dever à função de via de acesso a “tipos de câncer” ao qual se retorna sempre que se deseja ler sobre as modalidades de câncer. Os eventos veiculados pela mídia não influíram no retorno às páginas sobre carcinogênense, ao contrário das demais que tratavam do câncer de mama e de outros tipos de câncer (picos de retorno nos meses de maio, julho e novembro). Em julho do segundo ano houve um incremento acentuado e inexplicável nas razões de retorno à página sobre “como surge o câncer”, originado por um número 5 desproporcional de retornos dos visitantes deste mês (983 visitantes acessaram a página 2490 vezes com r.retorno= 2,53) o que não se repetiu com as outras páginas nem com a mesma em outros meses. Tal discrepância talvez reflita a influência de algum fato pontual veiculado pela mídia que suscitou uma atenção passageira a este segmento do site. Discussão No presente estudo observa-se que as campanhas institucionais parecem estimular o acesso ao site, assim como a outras fontes de informação sobre o assunto. Não obstante, o interesse geral parece ter sido mais direcionado às perspectivas biológicas do que aos conteúdos sobre educação para prevenção. Esta reação representa um paradoxo, admitindo-se que tais campanhas deveriam estimular a autoresponsabilização sobre a saúde (incentivo a atividades físicas, mudanças na dieta, controle do tabagismo etc.) que nada têm haver com carcinogênese e descrição da tecnologia de diagnósticos e tratamentos. O que ajudaria a explicar tais fenômenos, seria a concepção contemporânea de saúde, ligada à idéia de riscos e probabilidades (Petersen, 1996; Lupton, 1995; Castiel, 2002 e 2005). Ao lado de tais perspectivas, existem grandes expectativas depositadas nas técnicas de diagnóstico e tratamento mais sofisticadas e certo cepticismo em relação às mudanças nos estilos de vida. O que se observa nos resultados, talvez expresse essa descrença nas ações mais simples divulgadas nas campanhas, como adotar o hábito de fazer exercícios periodicamente, ter uma dieta balanceada em gorduras, evitar o tabagismo ativo e passivo, a exposição às radiações solares e o abuso do álcool (ONTARIO TASK FORCE ON THE PRIMARY PREVENTION OF CANCER, 1995). Por outro lado existe um grande espaço no ambiente cultural garantido à divulgação de avanços tecnológicos sobre o diagnóstico e o tratamento do câncer – o que tanto pode ser causa como conseqüência do fenômeno que se observa. Segundo Baillie (2000), os especialistas em promoção de saúde, parecem ter se dedicado somente à validação técnica das informações disseminadas, subestimando o efeito destas no plano simbólico coletivo. De forma geral, o planejamento de campanhas tende a ignorar a pluralidade de referências e símbolos da sociedade contemporânea. Nesse campo, as peças ficcionais, sobretudo as novelas de TV (PLATT-KOCH, 1984; VASCONCELLOS-SILVA, 2003, HOWE, 2002), parecem alcançar maiores impactos do que a propaganda oficial. Os melhores resultados são freqüentemente descritos nas comunidades sob grande pressão sócio-econômica (STOREY, 1999; DODD, 1995; JIBAJA, 2000) incluindo desde modificações nos hábitos sexuais em DST (SOLOMON, 1989; SZTERENFELD, 1993) até o planejamento familiar (ROGERS, 1999; SHAPIRO, 2003;). No presente estudo percebe-se que mensagens sobre câncer disseminadas amplamente em sociedades complexas tendem a gerar alguns resultados paradoxais. Seria ingênuo supor, portanto, que as informações produzam de forma linear as conseqüências comportamentais esperadas (no que as novelas de rádio e TV são mais eficazes) sem sofrer distorções por tabus peculiares ao temas que as cerca. Conclusão Concluímos que as campanhas educativas exercem, efetivamente, uma grande influência sobre o interesse coletivo sobre o câncer. Não obstante, não se pode considerá-las plenamente bem sucedidas sob ponto de vista educacional, na medida em que o foco de atenção é desviado para a tecnologia que cerca as doenças e não sobre sua prevenção. Nesse contexto, uma análise das representações sociais 6 sobre o câncer ampliariam nosso entendimento sobre os mecanismos de elaboração das informações que circulam em nossa cultura. Implicações práticas Acreditamos que a análise histórica dos log files de páginas-sentinela pode revelar padrões interessantes que guiem o planejamento das ações em promoção de saúde. Estudos de recepção de mensagens poderiam ser estimulados após as campanhas educativas, assim como durante a exibição de peças ficcionais que tematizem aspectos ligados à saúde coletiva. Tais práticas em articulação poderiam fornecer subsídios interessantes ao planejamento das iniciativas vindouras. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAILLIE L, BASSET-SMITH J, BROUGHTON S. 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Pan American Journal of Public Health, v.14, n.2, p:134-7, 2003. 9 Apêndice 1 - Tabelas Tabela 1 - Médias e desvios-padrão dos números de views Tema 1 DOENÇAS “O que causa?” “Como surge?” (desvio padrão) Tema 2 EDUCAÇÃO “Como prevenir?” (desvio padrão) Médias dos números de views 1999 1182,25 / 1245 552,25 (dP=377,8 e (dP=192,6) 402,5) 2000 1671,42 / 1796,42 706,42 (dP= 468,5 e (dP=260,09) 539,4) 2001 2679 / 2668,63 907,38 (dP=765,9 e (dP=347,1) 773,8) Tema 3 DOENÇAS “Câncer de mama” (desvio padrão) EDUCAÇÃO “Auto exame” (desvio padrão) DOENÇAS “Tipos de câncer” (desvio padrão) 705,25 (dP=222) 425,25 (dP=122,9) 3090,75 403,5 (dP=1075,7) (dP=124,8) 931,5 (dP=327,5 ) 1655,88 (dP=554,9 ) 578,42 (dP=147,6) 4489,58 (dP=11143, 5) 6574,63 (dP=1606,9) 791,38 (dP=232,8) EDUCAÇÃO “10 dicas para prevenir o câncer” (desvio padrão) 533,25 (dP=119,1) 982,75 (dP=309,9) Tabela 2 - Médias e desvios-padrão dos percentuais de views de cada página em relação ao sítio inteiro Tema 1 Tema 2 Tema 3 O que causa? Como Câncer de Auto Tipos de 10 dicas Como surge? prevenir? mama exame câncer para prevenir o câncer Médias do percentual do número de views de cada página 1999 1,26 / 1,32 0,58 0,75 0,45 3,3 0,43 (dP=0,14 e 0,15) (dP=0,09) (dP=0,1) (dP=0,03) (dP=0,42) (dP=0,07) 2000 1,29 / 1,39 0,52 0,70 0,44 3,49 0,41 (dP=0,19 e 0,25) (dP=0,08) (dP=0,11) (dP=0,06) (dP=0,33) (dP=0,1) 2001 1,45 / 1,44 0,47 0,88 0,42 3,6 0,54 (dP=0,2 e 0,16) (dP=0,08) (dP=0,16) (dP=0,03) (dP=0,4) (dP=0,13) 10 Tabela 3 - Médias e desvios-padrão dos tempos de permanência em cada página Tema 1 Tema 2 Tema 3 O que causa? / Como surge? Como prevenir? Câncer de mama Médias do tempo de permanência na página 1999 1:16 / 1:11 0:32 2:14 (dP=0:07 / 0:03) (dP=0:08) (dP=0:06) 2000 1:34 / 1:34 0:43 2:38 (dP=0:23 / 0:41) (dP=0:06) (dP=0:24) 2001 2:12 / 1:47 0:50 2:59 (dP=0:24 / 0:11) (dP=0:03) (dP=0:17) Auto exame Tipos de câncer 10 dicas para prevenir o câncer 0:29 (dP=0:07) 0:47 (dP=0:28) 0:49 (dP=0:14) 0:37 (dP=0:03) 1:01 (dP=0:24) 1:06 (dP=0:12) 1:46 (dP=0:11) 1:45 (dP=0:28) 2:40 (dP=0:51) Tabela 4 - Médias e desvios-padrão das razões de retorno (sessões / visitantes) Tema 1 Tema 2 Tema 3 O que causa? Como Câncer de Auto exame Tipos de Como surge? prevenir? mama câncer Médias das razões de retorno 1999 1,34 / 1,43 1,31 (dP=0,03 / 0,05) (dP=0,06) 2000 1,31 / 1,54 1,3 (dP=0,05 / 0,33) (dP=0,07) 2001 1,35 / 1,46 1,25 (dP=0,13 / 0,08) (dP=0,04) 1,24 (dP=0,03) 1,26 (dP=0,1) 1,26 (dP=0,05) 1,25 (dP=0,08) 1,24 (dP=0,04) 1,21 (dP=0,04) 1,57 (dP=0,14) 1,6 (dP=0,12) 1,56 (dP=0,06) 10 dicas para prevenir o câncer 1,12 (dP=0,01) 1,1 (dP=0,06) 1,23 (dP=0,18) 11 Apêndice 2 Gráfico 1 – Oscilação do número de views nos 24 meses: comparação entre “tipos de câncer” e “10 dicas para prevenir o câncer”. 9000 8000 7000 6000 5000 4000 3000 2000 1000 Tipos de CA 10 dicas Curva de tendência polinomial (tipos de câncer) 12 ago julho junho maio abril mar fev jan dez nov out set ago julho junho maio abril mar fev jan dez nov out set 0