Geografia e Ordenamento do Território, Revista Eletrónica Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território http://cegot.org ISSN: 2182-1267 Passos, M. Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNESP, campus de Presidente Prudente/SP-Brasil [email protected] Sant’Ana, L. Departamento de Geografia da UEM, Maringá, Paraná Brasil [email protected] Bueno, M. [email protected] O Norte do Paraná: do café à cana do açucar Referência: Passos, M. et al. (2012). O Norte do Paraná: do café à cana do açucar. Revista de Geografia e Ordenamento do Território, n.º 1 (Junho). Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território. Pág. 181 a 206 Resumo Este artigo aborda o processo de povoamento do norte do Paraná, pilotado pela empresa britânica Paraná Plantation ltd., que, no período de 1930 a 1950 implantou cidades, definiu um modelo de estrutura fundiária de pequenos lotes, motivou a forte cafeicultura, mas que não resistiu às crises de mercado, às intempéries do clima e à política brasileira de reordenamento do espaço rural e sucumbiu. Após sucessivas tentativas de sustentar o desenvolvimento regional, a partir do binômio soja-trigo e da policultura se observa, a partir do PROÁLCOOL (1974), a expansão da cana-de-açúcar para produção de etanol. Para diagnosticar as dinâmicas territoriais a partir da 181 implantação da Usina Santa Terezinha no município de Terra Rica/Noroeste do Paraná utilizamos as imagens LANDSAT TM 5 dos anos de 2000, 2005, 2008 e 2011. As imagens foram corrigidas geometricamente e manipuladas no Spring 5.06. Palavras-Chave: Norte do Paraná, Colonização, Café, Cana-de-açúcar. Abstract This article discusses the process of occupation and settlement in northern Paraná, from the coordination of Paraná Plantation British company ltd., which in the short period from 1930 to 1960 implemented cities, defined a model of land ownership of small plots, but succumbed to market crises, the problems of climate and the Brazilian political reordering of rural and succumbed. After repeated attempts to sustain regional development, from the binomial soybean-wheat and polyculture watch, especially from the National Program for Production of Alcohol (1974), the great expansion of sugar cane for ethanol production. To diagnose the territorial dynamics (land use), since the implementation of the Santa Terezinha plant in the town of Terra Rica / Northwest Paraná use orbital images of Landsat TM 5, years 2000, 2005, 2008 and 2011. The images were geometrically corrected and manipulated in the software Spring 5.6. Keywords: Northern Parana, Colonization, Coffee, Sugar-sugar. 182 Caio Prado Júnior define o empreendimento colonial português na América como “uma vasta empresa comercial. Desde o começo a exploração econômica do Brasil e a organização do seu espaço se fizeram objetivando a acumulação capitalista, beneficiando, desse modo, as camadas da população detentoras de capital. Esse pressuposto teórico dá o suporte básico da explicação da histórica econômica do Brasil, dentro da qual, se coloca o processo de colonização empreendido pela empresa britânica Paraná Plantation ltd1.,no norte do Paraná. O Brasil é um dos poucos países do mundo onde se continua a integrar novos espaços ao preço da marginalização de parcela significativa de sua população, e de uma transformação do espaço natural e rural. Esse fenômeno, acentuado pelos acasos da conjuntura, tendo de um lado a necessidade sócio-econômica, e de outro, as consequências sobre o meio ambiente, dificulta o encontro de um modelo que seja socialmente justo e ambientalmente correto. A configuração socioambiental e paisagística atual do Norte do Paraná resulta da combinação de alguns agentes e de inúmeros sujeitos. Os agentes – potencialidades paisagísticas, expansão da economia cafeeira paulista e Companhia Melhoramentos Norte do Paraná – estabeleceram/condicionaram um modelo de desenvolvimento regional cujo desenho foi modificado – com maior ou menor intensidade – quando esses agentes são desmontados em função das mudanças na economia mundial. A desintegração do modelo inicial de colonização não foi atenciosa em relação aos sujeitos que tiveram, na alternativa do êxodo para a Região Centro-Oeste, a difícil realidade do começar tudo de novo. A história sócio-econômica do Brasil está marcada pelos ciclos econômicos da cana-deaçúcar ao café, passando pela mineração, borracha... A cultura da cana-de-açúcar – que acompanha a vida do Brasil, desde os tempos coloniais até os atuais e o café que 1 Deflagrada a Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939, a Inglaterra passou a necessitar de recursos em escala cada vez maior para suprir as suas imensas despesas. Por isso o governo britânico adotou uma política de retorno compulsório dos capitais ingleses aplicados no exterior. É nesse contexto que um grupo de brasileiros compra o projeto de colonização da CTNP e a substitui pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná/CMNP. 183 se deslocou pelo interior do País em busca do “bafo do sertão”, do “cheiro do mato”, plantando cidades e marcando a paisagem... não deixou incólume o norte do Paraná. 1.1. O recorte geográfico Müller (1956)2 chama atenção para a dificuldade de se fixarem os limites sul da região denominada Norte do Paraná. Enquanto que os limites norte, leste e oeste são definidos por cursos d’água bastante realçados na paisagem regional – rios Paranapanema, Itararé e Paraná –, respectivamente, a delimitação dos contornos meridionais requer a sobreposição de elementos socioeconômicos ao arranjo das potencialidades paisagísticas. O Norte do Paraná é dividido – em função das características do quadro físico e do processo de ocupação – em três sub-regiões: O Norte Velho, o Norte Novo e o Norte Novíssimo (Figura 1). Norte Velho: área colonizada por paulistas e mineiros que atravessaram o rio Itararé no início do século XX. Seus núcleos mais expressivos são: Jacarezinho, Cambará, Santo Antônio da Platina, Ribeirão Claro, Andirá, Bandeirantes e Cornélio Procópio. Norte Novo: área delimitada pelos rios Tibagi e Ivaí, até as margens do Paranapanema e do ribeirão Caiuá. Cidades mais importantes: Londrina, Maringá, Apucarana, Arapongas, Nova Esperança, Paranavaí, Porecatu e Jaguapitã. Norte Novíssimo: área que se estende do rio Ivaí ao rio Paraná. Cidades mais imprtantes: Cianorte, Umuarama, Cruzeiro D’Oeste, Xambrê, Terra Boa. 2 Müller, Nice L. Contribuição ao estudo do norte do Paraná. In: Boletim Paulista de Geografia, n. 22, março de 1956. São Paulo, p. 55-57. 184 Figura 1 – Localização do Norte do Paraná. 1.2. O contexto da colonização do norte paranaense As mudanças socioespaciais dos últimos 60 anos transformaram o Brasil, um país essencialmente agrário até então, em um país urbano-industrial com impactos paisagísticos agudizados por algumas variáveis que dificultam enormemente o encontro de um modelo de desenvolvimento que seja socialmente justo e ambientalmente correto (Passos, 2000, p. 2): - a dispersão espacial das atividades, em parte justificada pelas dimensões continentais do território mas, certamente, devido ao caráter de nossa formação sócioespacial marcada pela “economia de fronteira”; - a compressão temporal, ou seja, a velocidade das mudanças socioeconômicas, e, claro, das definições e redefinições das políticas territoriais que atenderam/atendem muito mais às conjunturas e às regras ditadas de fora para dentro, não considerando os custos da desintegração regional e, principalmente, da ausência do tempo suficiente para a consolidação/sedimentação das economias locais-regionais e, claro, da construção paisagística; - a concentração, fenômeno considerável da dinâmica territorial brasileira, manifestada na concentração da pobreza nas periferias das médias e grandes cidades, concentração de renda e de patrimônio; 185 - os brasis, Brasil Atlântico, Brasil interior, Brasil povoado, Brasil pouco povoado, Brasil rico, Brasil pobre, mas, sobretudo um Brasil de grandes diferenças locais e regionais. Brasil de sobreposição do moderno com o arcaico marcadamente híbrido, ambivalente, instável e dinâmico, herança do processo de “modernização conservadora”. O Norte do Paraná é um exemplo concreto dessa dinâmica socioespacial, observada em outras – senão em todas – parcelas do território brasileiro. Até 1923, o Norte do Paraná era uma região de difícil acesso, em grande parte recoberta pelas matas exuberantes peculiares às áreas de terra roxa3. Aqui e ali se abriam grandes clareiras, onde os pioneiros da colonização plantavam café. Essa realidade foi modificada a partir da visita de uma Missão Inglesa, que tinha como objetivo maior incrementar grandes plantations de algodão no Brasil. Os elevados preços do café no mercado internacional foram a mola propulsora da expansão da economia cafeeira paulista até as terras do norte paranaenses. Embora a terra roxa, resultante da decomposição do trapp4 basáltico tenha alentado as frentes pioneiras, inegavelmente o papel da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná constituiu-se no agente de maior grandeza do processo de colonização regional. Nesta pesquisa foram utilizadas imagens de satélite Landsat TM 5 dos anos de 2000, 2005, 2008 e 2011. As imagens foram corrigidas geometricamente e manipuladas no Spring 5.06. Para classificação das imagens foi utilizada a composição RGB 371 onde foi possível identificar e separar as lavouras de cana de açúcar de outras culturas. Tal classificação foi feita de maneira supervisionada com escolha de amostras suficientes 3 Inegavelmente, a terra-roxa foi o elemento natural que mais motivou a expansão da economia cafeeira paulista para além do rio Paranapanema... Contudo, o avanço dessa cultura progrediu para oeste, atingindo o arenito Caiuá e, inclusive, salta o rio Paraná para ocupar algumas parcelas, cujo desenho ainda se observa na porção territorial da raia divisória, no setor sul matogrossense. Acreditamos que, os limites foram determinados pela crise de mercado, pois, se esta não tivesse atropelado a marcha do café, certamente, a sua expressão espacial seria muito mais ampla, independentemente da natureza pedológica. 4 Trapp (significando escada): “termo sueco utilizado para designar lençol de lavas efusivas basálticas consolidadas à superfície, dando aparecimento a uma topografia em patamares como se observa no sul do Brasil, no derrame basáltico que cobre mais de 1 milhão de quilômetros quadrados na bacia do Paraná. Iniciado no fim do Triássico, esse vulcanismo prolongou-se até o Cretáceo”. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Antonio Teixeira Guerra. IBGE-CNG, 1966, p. 387. 186 para cada tipo de cultura. O tipo de classificador escolhido foi o Batacharrya, pois apresentou melhores resultados em relação aos demais. Ao lado desse procedimento mais técnico, esta pesquisa obedece aos mesmos procedimentos metodológicos do Projeto, apoiado pela FAPESP: “A paisagem, uma ferramenta de análise para o desenvolvimento sustentável de territórios emergentes na interface entre natureza e sociedade”, que se sustenta, em relação aos aspectos epistemológicos, teóricos e metodológicos, no modelo GTP – Geossistema-TerritórioPaisagem – proposto por G. Bertrand. Ao tratar da construção do território paranaense, há que se levar em conta estudos já realizados por historiadores, como Westphalen et al. (1969), economistas, como Padis (1981) e Muller (1956) e geógrafos, como Bernardes (1952) e Waibel (1958) e pela CMNP (1975)5. A Companhia de Terras Norte do Paraná adotou diretrizes bem definidas. As cidades destinadas a se tornarem núcleos econômicos de maior importância seriam demarcadas de cem em cem quilômetros, aproximadamente. Entre estas, distanciados de 10 a 15 quilômetros um do outro, seriam fundados os patrimônios, centros comerciais e abastecedores intermediários. Tanto nas cidades como nos patrimônios a área urbana apresentaria uma divisão em datas residenciais e comerciais. Ao redor das áreas urbanas se situariam cinturões verdes, isto é, uma faixa dividida em chácaras que pudessem servir para a produção de gêneros alimentícios de consumo local, como aves, ovos, frutas, hortaliças e legumes. A área total seria cortada por estradas vicinais, abertas de preferência ao longo dos espigões, de maneira a permitir a divisão da terra 5 A empresa britânica Paraná Plantation ltd., atualmente “Companhia de Terras Norte do Paraná”, comprou do estado cerca de 13.000 km2 de terras florestais ao sul do estado de São Paulo, no triângulo entre os rios Paranapanema, Paraná e Ivaí. O povoamento começou em 1929 na extremidade oriental da área adquirida, em Londrina, a uma altitude de 600 metros. Seis anos mais tarde, a Companhia tinha construído uma estrada de ferro ligando a colônia com o sistema ferroviário da cidade de São Paulo, a leste. Para oeste, foram construídas estradas seguindo o divisor de águas entre o Paranapanema e o Ivaí, a altitudes entre 700 a 900 metros, e ao longo delas, o povoamento se expandiu rapidamente para oeste. Hoje em dia, a frente pioneira está a oeste de Maringá, a cerca de 130 quilômetros de Londrina, a uma altitude aproximada de 600 metros. Metade das terras está vendida a perto de 16 000 colonos de origem européia, japonesa e luso-brasileira, estes de quase todos os estados do Brasil. Cerca de 200.000 pessoas vivem na área da Companhia, que há 20 anos atrás era desabitada; destas, uns 50% vivem em comunidades urbanas. Em virtude do clima de tierra templada, o café e o algodão são os principais produtos comerciais da região e esta é a razão da sua grande riqueza e prosperidade. (Waibel, 1958, p. 222-223). 187 da seguinte maneira: pequenos lotes de 10, 15 ou 20 alqueires, com frente para a estrada de acesso e fundos para um ribeirão (Figura 2). Na parte alta, apropriada para plantar café, o proprietário da gleba desenvolveria sua atividade agrícola básica: cerca de 1.500 pés por alqueire. Na parte baixa construiria sua casa, plantaria a sua horta, criaria os seus animais para consumo próprio, formaria o seu pomar. A água seria obtida no ribeirão ou em poços de boa vazão. As casas de vários lotes contíguos, alinhados nas margens dos cursos d’água, formariam comunidades que evitassem o isolamento das famílias e favorecessem o trabalho em mutirão, principalmente na época da colheita do café, que para a maioria dos pequenos agricultores representaria lucro líquido de sua atividade independente, porquanto no decorrer do ano ele viveria – consumindo o necessário e vendendo o supérfluo – das culturas paralelas: arroz e milho plantados por entre as fileiras de café novo, legumes e hortaliças, frutas diversas, porcos e galinhas. Esse pequeno proprietário não agiria como o grande fazendeiro de café, que produzia grandes safras e as comercializava nos grandes centros, diretamente em São Paulo ou em Santos. Ele venderia seu pequeno lote de sacas de café nos patrimônios, aos pequenos maquinistas, que por sua vez comercializavam a sua produção nas cidades maiores, já com representantes das casas exportadoras. Por outro lado, esse pequeno proprietário não gastaria o dinheiro recebido como o grande fazendeiro, nas grandes cidades. Ele o gastaria ali mesmo, no comércio estabelecido nos patrimônios, gerando assim uma distribuição de interesses e uma circulação local de dinheiro que constituiriam um salutar fator de progresso local e regional. 188 Figura 2 - Desenho do parcelamento das glebas em pequenos lotes rurais. Observar que os lotes são retangulares e, sem exceção, abrangem o espigão (estrada) e o fundo de vale. A localização das atividades econômicas e da habitação obedecia a um mesmo plano: o café na médio-alta vertente, a habitação no fundo de vale. Posteriormente, a morada foi deslocada para o espigão de modo a facilitar o acesso ao transporte rodoviário. O desenho elaborado e implantado pela Cia. Norte do Paraná – pequenos lotes - foi absorvido por outras companhias colonizadoras a tal ponto que essa matriz cultural ficou bastante concretizada na arquitetura regional – padrão da malha urbana, divisão dos lotes rurais –, até mesmo nas terras areníticas da microrregião de Paranavaí onde, também, o café foi o esteio do processo de ocupação. No quadro geral do Norte do Paraná, em especial no Norte Novo e Norte Novíssimo, verificamos a mais rápida ocupação humana da história do Brasil devido à expansão da lavoura cafeeira, em particular a partir do final da década de 1940. E, conforme constatou Nicholls (1971, p. 36), os milhares de imigrantes que para aí se dirigiram, provenientes, sobretudo dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, em poucas décadas transformaram o Norte do Paraná, de uma área desabitada, na mais próspera região do Estado. No Estado do Paraná, as lavouras de café chegaram a atingir, em 1968, a área de 1.187.532 ha, correspondendo a 46,22% da área do café cultivado no Brasil, e em 1969, 58,12% da produção cafeeira brasileira. O Norte do Paraná sempre participou com mais de 85% da área cultivada de café no Estado, com área superior a 900.000 ha, 189 até o início de 1970. Nas safras de 1959/60 e 1965/66, produziram-se 20,4 milhões de sacas de café, produção superior à dos demais estados somados (Badep, 1977). No que tange ao comportamento do processo de substituição das lavouras cafeeiras, assim como de seu caráter dinâmico nos quadros da agricultura paranaense e especificamente na sua principal região produtora de café – o Norte do Estado –, por outras atividades produtivas, assim concluíram os técnicos do Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep) - (1977, p. 13): O café que até 1969 representou cerca de 40% do produto do setor agrícola paranaense, não é mais isoladamente o fator dinâmico preponderante da agricultura do Estado. Outros produtos, que há uma década tinham reduzida importância no conjunto da economia agrícola, passaram a ter significativa participação nos últimos anos. A rapidez do processo de transformação pelo qual passou o Norte do Paraná em menos de meio século, desde o pioneirismo paulista, seguido pela monocultura comercial do café, até a moderna cultura de cereais, implicou significativas transformações na sua organização espacial, notadamente em nível do seu espaço rural. O processo de modernização agrícola do Brasil vai encontrar o norte do Paraná em estado de crise, motivada pela: (a) sucessivas geadas, (b) queda dos preços do café no mercado internacional, (c) a atração exercida pela fronteira agrícola em direção ao centro norte do País. De certa forma, essa modernização (inserção do capital industrial no mundo rural), por si só, já seria suficiente para provocar as transformações sócioeconômicas e territoriais do norte/noroeste paranaense. Observe-se que, além da migração para as áreas de fronteira agrícola e para centros urbanos maiores, ocorreram também transformações no campo brasileiro, principalmente na sua porção centro-sul, com a substituição do café por lavouras temporárias, a exemplo da soja, do trigo e do milho, que exigem alta mecanização no campo e, consequentemente, menor contingente de mão de obra. Segundo Fleischfresser (1988, p. 52/53): É entre 1970-75 que ocorre o grande surto de mecanização no Estado do Paraná, com um crescimento de 22,7 pontos percentuais. Essa expansão continua e, em 190 1980, 44% dos estabelecimentos do Estado passam a utilizar algum tipo de máquina nos trabalhos agrícolas. (...) realmente, o Norte do Estado iniciou o ano de 1970 com razoável nível de integração às inovações mecânicas, e que o Extremo Oeste, mesmo sem ter tido o tipo de ocupação do Norte (mercantil e capitalista), igualmente integrou-se a eles na mesma época. No caso do Extremo Oeste, pode-se pensar que a integração ocorreu por existirem nessa região produtores mercantis que, via crédito, adquiriram máquinas, porque não houve entre os produtores dessa região uma atividade econômica que possibilitasse uma acumulação prévia. Essas análises, apenas referentes às inovações mecânicas, evidenciam a rapidez das transformações ocorridas no campo, que repercutiram na sua população, com a liberação de mão de obra, direcionando as pessoas para os centros urbanos, provocando o esvaziamento do campo e a redução populacional dos municípios de pequeno porte, dependentes da atividade agrícola. A substituição da cafeicultura fez-se, especialmente, pela lavoura mecanizada da soja e trigo e, em menor escala, por outras atividades produtivas com o emprego de novas técnicas agrícolas. E, notadamente a partir da implantação do Programa Brasileiro Para Produção de Álcool/PROALCOOL (1974), o norte/noroeste do Paraná passa a vivenciar o processo de expansão da cana-de-açúcar para a produção de etanol. Apesar dos nossos estudos contemplarem outras usinas de álcool que se instalaram no noroeste do Paraná, a partir de 1974, nós vamos nos ater ao exemplo da instalação da unidade da Usina Santa Terezinha, no município de Terra Rica para, sobretudo, demonstrar como a chegada da usina motiva uma dinâmica sócio-econômico e territorial, definida pela substituição de outras culturas e, ainda, pelo esfacelamento da pequena propriedade rural, a tal ponto de ser inteiramente válida a afirmativa de que “o território das usinas está eliminado as paisagens dos antigos colonos”. – A entrada em cena dos biocombustíveis – a nível nacional e internacional – coloca o Brasil como país líder na produção de etanol, a partir da cana-de-açúcar. As sucessivas crises do petróleo, notadamente as crises de 1973 e 1979; a constatação de que o petróleo é um recurso finito; os mercados altamente consumidores de combustíveis 191 fósseis e renováveis; a busca de modelos de desenvolvimento sustentáveis ambientalmente mais corretos; a fabricação de veículos movidos unicamente a álcool ou flex; aliados às condições de tropicalidade e de extensão do território brasileiro e, ainda, às crises das economias regionais tradicionais, como a pecuária, por exemplo, encontraram no noroeste paranaense condições muito favoráveis para a substituição dessas fragilizadas economias pela cultura da cana-de-açúcar objetivando a produção de etanol. As terras areníticas do noroeste do Paraná viveram um período de crise caracterizado pelo: (a) desmantelamento da pequena propriedade dedicada, inicialmente ao cultivo do café; (b) esvaziamento demográfico com conseqüências negativas sobre as pequenas cidades e, notadamente sobre o “mundo rural”. As alternativas iniciais para o desenvolvimento regional do noroeste paranaense: policultura, nas pequenas propriedades; pecuária nas médias e grandes propriedades; a implantação de agroindústrias, como a de suco de laranja no município de Paranavaí etc. não foram suficientes para a sedimentação de um modelo de desenvolvimento regional mais democrático e, consequentemente não resistiu à expansão da cana-de-açúcar, como se observa a partir da implantação de usinas sucro-alcooleiras (Figura 3). A expansão da agro-indústria da cana-de-açúcar motiva dinâmicas territoriais com impactos muito fortes na estrutura fundiária e nas dinâmicas sócio-ambientais regionais. 192 Figura 3 – Localização das Usinas de açúcar instaladas no noroeste do Paraná até o ano de 2011. A localização do município de Terra Rica é determinada pelas coordenadas geográficas: 22°44‟ de latitude Sul e 52°35‟de longitude Oeste e altitude de 432 metros. Este se encontra na região Noroeste do Paraná, na micro-região Norte Novíssimo de Paranavaí. O município possui extensão territorial de 684.777 km², tendo como limites geográficos ao norte o rio Paranapanema; ao sul, o município de Guairaçá; a leste o municio de Paranavaí; e a oeste os municípios de Diamante do Norte, Itaúna do Sul e Nova Londrina. Os “ciclos econômicos” do município de Terra Rica A história territorial do município de Terra Rica tem uma relação/identidade muito forte com o processo de ocupação do chamado Norte Novíssimo de Paranavaí. No sentido de chamarmos a atenção para a insustentabilidade dos “ciclos econômicos” que marcaram a história territorial do Noroeste do Paraná e que, em grande parte, justificam as Políticas Públicas, notadamente aquelas pilotadas pelo SUDESUL6 e, 6 A Sudesul era uma agência de desenvolvimento regional, com o objetivo principal de empreender ações sub-regionais, destacando-se: o programa especial da Lagoa Mirim, o programa especial de controle da erosão do solo no noroeste do Paraná e o programa litoral sul de Santa Catarina, dotados de 193 também, por agentes particulares – Cooperativas, Laticínios, Agro-indústrias etc. que, apesar das relevâncias não impediram os colapsos/crises sócio-econômicas e deixaram essa parcela do território paranaense escancarada ao domínio das agro-indústrias sucro-alcooleiras e à substituição das economias tradicionais pela cultura da cana-deaçúcar. Inicialmente os colonos, seguindo o “sucesso” do modelo implantado pela CTNP/CMNP, eliminaram a exuberante floresta tropical para o plantio do café. A microrregião de Terra Rica de acordo com Denardi (1987), bem como as demais regiões do Norte Novíssimo do Paraná, era predominantemente ocupada pelas lavouras de café, situação que permaneceu relativamente estável até o final da década de 1960. “O Paraná é sem dúvida o Estado brasileiro que expulsou o maior número de migrantes. Mais de 1,2 milhões de pessoas o deixou entre 1970 e 1980. Antiga região de fronteira, extensão da “marcha do café” que atingiu o seu apogeu no início dos anos 1960 e que permitiu o acesso à terra para numerosos pequenos agricultores graças à operação de colonização dirigida sobre terras férteis, o Paraná retoma a situação de fronteira agrícola com o programa de eliminação dos cafezais e o desenvolvimento da cultura de soja. Mas essa fronteira “moderna” é uma fronteira que expulsa os pequenos proprietários incapazes de resistir à concorrência de uma cultura mecanizada que necessita de superfícies extensas, de muito capital, de uma matriz de financiamentos e que emprega pouca mão-de-obra”. (Passos, 1998). Na zona rural de Terra Rica o processo de substituição da cafeicultura pela pecuária foi mais dinâmico, devido a pouca idade das lavouras erradicadas quando comparadas às lavouras do Norte Novo e Norte Velho. De acordo com Denardi (1987), as lavouras do município já se encontravam em decadência devido ao pouco investimento na manutenção da qualidade das lavouras somado aos solos oriundos da pedogênese do maiores recursos do órgão. Em segundo plano, a Sudesul tinha uma meta setorial a cumprir, representada pelo programa de açudes e poços, e outras ações de menor dimensão, como o programa de desenvolvimento de comunidades, programa de migrações internas, atividades de estudos e pesquisas, estas ligadas à formação de recursos humanos, além de ações de caráter emergencial, destinadas a amenizar os efeitos de adversidades climáticas – ou seja, a calamidade pública. 194 arenito Caiuá que se apresentavam inferiores aos solos de “Terra Roxa” nos quesitos de fertilidade, textura, consistência e profundidade, presentes em outras regiões do Paraná. Aqui, merece a observação entre duas “culturas” de café: o robusta/também conhecido por “3 x 4” e o arábica: O modelo 3 x 4 consistia, basicamente: o plantio obedecendo a distância de 3 metros de uma planta a outra e de 4 metros de distância entre as “linhas” do cafezal. A variedade “café robusta”: Canelone, Sumatra, Novo Mundo variedades que se caracterizam por plantas altas, mais arbóreas e de produção de grãos cuja maturidade não ocorria ao mesmo tempo, dificultando as colheitas e os seus rendimentos. Nesse modelo (3 x 4) implantado na primeira fase da colonização era muito comum o sistema de meeiros – entre o proprietário da terra e o agricultor (Foto 1). Uma variável de impacto negativo à economia do pequeno produtor era a dependência da “coordenação” do IBC – Instituto Brasileiro do Café -, regra geral, pouco eficiente e muito ausente do cotidiano dessa cultura. Foto 1 – Café Robusta O ressurgimento do café no norte/noroeste do Paraná e mesmo a manutenção de áreas significativas com essa cultura só foi possível pela substituição desse cultivo tradicional pelo cultivo mais moderno, conhecido como “café adensado”. 195 Aqui, a cova para o plantio da muda de café é preparada com adubos orgânicos e produtos químicos de maneira a fortalecer a planta contra os ataques possíveis de pragas. Novas espécies foram introduzidas, notadamente o café arábica – variedade Catuaí – que tinha como característica: plantas mais baixas, mais homogêneas, mais produtivas e geneticamente melhoradas para produzir um café de melhor gosto, de maior aceitação e competitividade nos mercados - nacional e internacional. A (ineficiente) coordenação do IBC foi substituída pela eficiente Coordenação do IAPAR – Instituto Ambiental do Paraná, cujos técnicos bem treinados, realizam visitas sistemáticas aos produtores, nos seus respectivos lotes. O sistema de meeiros foi, quase que totalmente, substituído pelos pequenos e médios produtores que detém a propriedade da terra (Foto 2). Foto 2 – Café adensado/arábica De acordo Moro (1991), muitos dos habitantes da região que eram produtores rurais, pequenos proprietários, assalariados etc., acabaram sendo marginalizados no processo econômico e sendo transformados em desempregados, subempregados, empregados temporários para tarefas fortuitas no campo, quando não lhes resta esperar por uma atividade no setor urbano-industrial. 196 Ribeiro et.al. (2009), afirma que a cultura de mandioca adquiriu importância na década de 1990 em razão da diversificação no seu uso industrial somados a sua aceitação no mercado nacional e internacional e seu bom preço para comercialização. Essa cultura representa uma importância social no município de Terra Rica visto que esta absorve trabalhadores na sua produção, plantio e arranque das raízes, e na industrialização de seu produto final. O setor secundário nesse mesmo período possuía 50 indústrias, sendo a maioria no setor moveleiro, empregando muitos dos trabalhadores provenientes da marginalização rural. Contudo, no final dos anos 1990 ocorreu uma forte queda deste setor, o que gerou um declínio na economia municipal. Novas alternativas de culturas agrícolas surgiram no início do novo milênio, a soja e cana-de-açúcar conquistaram espaço no município. Dentro desse contexto de crise e de poucas perspectivas de superação, a chegada do Grupo Santa Terezinha ao município, a partir da implantação da Unidade Santa Terezinha foi comemorada por todos – desde os gestores públicos municipais, os comerciantes até os mais diversos segmentos da sociedade. Em Janeiro de 2004 o grupo Santa Terezinha instalou sua nova unidade no município, sua primeira safra teve início em maio de 2007 com 1.286 toneladas de cana-deaçúcar. Este volume foi colhido em 18 mil alqueires de canaviais e produziram 130 mil toneladas de açúcar, além de 30 milhões de litros de álcool. Segundo Ribeiro et.al. (2009), com investimento de 150 milhões a previsão para o ano de 2010 seria a de que a unidade absorvesse 3,5 milhões de toneladas de cana que seriam resultado de um plantio de 43 mil hectares. Ao lado dos impactos ambientais, a chegada da Santa Terezinha, motivou uma valorização significativa dos imóveis urbanos, notadamente nos aluguéis e, também, no preço da terra rural..., que passou de cerca de 4 mil reais/alqueire (1999-2000) para cerca de 30 mil reais/alqueire a partir de 2006. Os prováveis impactos ambientais gerados pelo cultivo de cana-de-açúcar se dão pela contaminação de águas e do solo pela utilização de agrotóxicos na pulverização do cultivo, além da compactação dos solos pela mecanização pesada, podendo gerar 197 também a redução da cobertura vegetal nativa e/ou deslocamento ou substituição de outros cultivos e criações antes localizadas na região. A instalação da unidade industrial em determinada área também pode contaminar as águas e o solo da região por meio dos efluentes líquidos despejados pela usina, como vinhaça; água de lavagem de cana, pisos e equipamento, assim como água condensada e de colunas barométricas. No caráter social, podem ocorrem mudanças na econômica e na população local decorrentes da inserção dessa cultura na região. Nas áreas de ocorrência do arenito Caiuá se trabalha com a previsão de 5 cortes, a partir dos quais, a cana perde produtividade e, então, se faz necessário o plantio de novas mudas, após todo o trato necessário: curvas de nível, calagem, adubação etc. O primeiro plantio realizado em 2004 era destinado a um viveiro de mudas. Em 2006 ocorreu o primeiro plantio para corte o qual possuía 11 mil hectares. A evolução é muito rápida e o setor dinâmico. No entanto, a crise econômica de 2008, afetou os mercados internacionais e obrigou a usina a reduzir os custos de produção, ou seja, reduzir a produção de etanol e de açúcar. 4.1 A Santa Terezinha: motivadora da expansão da cana-de-açúcar O tratamento das imagens LANDSAT TM 5, referentes aos anos de 2000, 2005, 2008 e 2011, na Composição Colorida 371, se prestam, nesse momento, para demonstrar como a implantação da Unidade Santa Terezinha motiva a expansão da cana-de-açúcar em áreas do seu entorno, num raio de aproximadamente 30 km. Apesar de termos trabalhado, na classificação do uso da terra, com uma diversidade de elementos – mata, culturas, pastagem, cana-de-açúcar, zona urbana e cursos d’água – a presente análise vai enfocar apenas a expansão areal da cana, subtendo-se, claro, que as áreas de cana foram ganhas pela substituição de outras classes de uso do solo, notadamente de pastagens e de mandioca/culturas. Ano 2000: anterior a instalação da usina Nessa imagem (Figura 4) observa-se que o entorno da área onde foi implantada a unidade Santa Terezinha estava ocupado por pastagens e culturas, notadamente mandioca. 198 Figura 4 – Uso do solo, município de Terra Rica – 2000. Ano 2005: pós a instalação da usina No período entre 2000 e 2005, observa-se uma substituição discreta, em termos de escala areal, das pastagens e culturas pela cana-de-açúcar. Na imagem de 2005, o entorno da já instalada usina apresenta uma parcela significativa de cana envolvida por áreas expressivas de pastagem e talhões de culturas/mandioca e mata. Essa parcela de cana, segundo o gerente da usina, se prestou como viveiro, ou seja, formação de mudas para atender o plantio nas áreas de expansão (Figura 5). 199 Figura 5 – Uso do solo, município de Terra Rica – 2005. Ano 2008: a primeira safra da cana pela usina Em 2008, quando ocorre a primeira safra para produção de etanol e de açúcar, observa-se significativo aumento nas áreas ocupadas por cana. Uma vez mais, a expansão da cana se dá em detrimento da redução das áreas de pastagem, notadamente. O distanciamento das áreas de plantio de cana, em relação à localização da usina, se deu pelo fato do aumento da capacidade de produção da usina ter atingido um índice acima da oferta de matéria prima nas proximidades da mesma. Esse distanciamento não é interessante para a usina, no entanto, foi a opção que lhe restou. (Figura 6). 200 Figura 6 – Uso do solo, município de Terra Rica – 2008. Foto 3 – O espaço entre os Três Morrinhos e a Usina Santa Terezinha (ao fundo). Observar: (a) parcelas de solo nu, preparados para o plantio da cana-de-açúcar; (b) as “cercas” vivas, indicadora da divisão de propriedades rurais. PASSOS: 19/11/2008. Ano 2011: o cenário atual Inegavelmente, a imagem de 2011, quando comparada às demais, é a que deixa mais explícita a expansão das áreas de cana para atender a usina. Ao mesmo tempo em que 201 ocorre a ampliação dos talhões/parcelas implantados anteriormente, observa-se, também, o surgimento de novas áreas de plantio. Uma vez mais, são as áreas de pastagem que cedem o espaço para a cana. (Figura 7). Figura 7 – Uso do solo, município de Terra Rica – 2011. Foto 4 – Espaços de expansão da cana-de-açúcar, ao fundo. No centro da foto, parcelas de vegetação arbórea indicadora de sedes de médias propriedades (até quando?). Nas proximidades da rodovia asfaltada que dá acesso à cidade de Terra Rica, observa-se, ainda, a presença da pecuária. PASSOS: 24/03/2012. 202 Com base na análise das imagens LANDSAT, constata-se que, ao longo do período que antecede implantação da Usina Santa Terezinha (2000) até o ano de 2011, ocorreu uma significativa e gradual expansão das áreas cultivadas com cana-de-açúcar, com maior dinâmica entre os anos de 2008 e 2011. A redução da área de plantio da cana, observada na imagem de 2008, se explica pela “crise” do setor alcooleiro no Brasil. No entanto, a partir de 2008 há uma retomada da expansão da cultura canavieira, conforme se observa na imagem de 2011. Regra geral esta expansão se dá pela substituição das pastagens/pecuária, mas, as pequenas propriedades estão progressivamente sendo eliminadas a partir da prática do aluguel do solo para as usinas. Essas alterações modificaram não somente o perfil agrícola da região como também o seu perfil econômico. O impacto gerado é visível em todos os setores. Através das entrevistas em forma de conversa realizadas no município de Terra Rica foi possível observar que o mesmo passou a girar em torno da Usina, por esta ter aumentado a oferta de empregos local e consequentemente, trouxe novas possibilidades de inserção da população da região no mercado de trabalho. Lamentavelmente os modelos de desenvolvimento regional, inicialmente com o café e, posteriormente com a policultura nas pequenas propriedades não têm se mostrado sustentável e acabam não resistindo à expansão de culturas mais valorizadas no mercado internacional: a soja nas terras mais férteis do trapp basáltico (a terra-roxa); a pecuária nos solos pouco férteis do arenito Caiuá... E, finalmente a cana-de-açúcar..., a partir da qual se pode prognosticar um futuro de total desmantelamento das economias tradicionais, notadamente das pequenas propriedades rurais e uma oferta de emprego com baixos (baixíssimos) salários... A título de reflexão - uma reflexão carente de dados quantitativos, no entanto embasada em entrevistas e em observações sistemáticas – constatamos que a sustentação das pequenas cidades do noroeste paranaense está: na economia rural das pequenas e médias propriedades – que desenvolvem um 203 uso do solo mais diversificado (café, laranja, amora, mandioca etc.); nos recursos provenientes de ganhos salariais – funcionários públicos, bancários, comércio etc. -; nas aposentadorias dos idosos; nas Políticas Públicas, como Bolsa Família, Cesta Básica etc. na economia da área rural: venda de leite e de produtos transformados: salame, queijos, frangos, piscicultura de cativeiro etc. no repasse de recursos públicos referentes ao Fundo de Participação dos Municípios proveniente dos governos federal e estadual. na cobrança de impostos municipais tais como o IPTU e o ISS. Tudo isso fica mais ou menos evidente quando se observa as “paisagens rurais” e quando se dá atenção às declarações de alguns comerciantes que, quando perguntados: “de onde vem o dinheiro que alimenta o comércio”? E eles respondem: dia 5 de cada mês entra o dinheiro dos funcionários, dia 15 o dinheiro dos cortadores de cana, dia 25 dos vendedores de leite..., entre os dias 01 e 10, o pagamento dos aposentados. Certamente a expansão da cana-de-açúcar – que já chegou às pequenas e médias cidades do noroeste do Paraná – vai desmantelar tudo isso e o prognóstico não é otimista! Banco de Desenvolvimento do Paraná/Badep, 1977. Bernardes, N. (1952) Expansão do povoamento do Paraná. Rev. Bras. Geogr., Rio de Janeiro, v. 4, n. 14, p. 427-456, Out./Dez. 204 Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (1975). Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná. São Paulo: Edanee. Publicação comemorativa do Cinqüentenário da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Denardi, L. (1987). Implicações dos elementos naturais na organização do espaço rural do município de Terra Rica – PR. Monografia (Especialização em Geografia Física do Paraná) – Departamento de Geografia da Fundação Universidade Estadual de Maringá. Maringá. Fleishfresser, V. (1988). Modernização tecnológica da agricultura. Curitiba: Ed. Livr.Chain. Maack, R. (1968). Geografia Física do Paraná. Curitiba: Ed. da UFPR. 350 p. Moro, D. (1991). Substituição de culturas, modernização agrícola e organização do espaço rural no Norte do Paraná. 353f. Tese (Doutorado em Geografia)–Faculdade de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. Müller, N. (1956). Contribuição ao estudo do norte do Paraná. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n. 22, p. 56-95, mar. Nicholls, W. (1971). A fronteira agrícola na história recente do Brasil: o estado do Paraná, 1920-65. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n.26, p. 19-53. Padis, P. (1981). Formação de uma economia periférica: o caso do Paraná. São Paulo/Curitiba: Hucitec/Secretaria de Cultura e do Esporte do Estado do Paraná. Passos, M. (1998). Amazônia: Teledeteccão e Colonização. São Paulo: Fundação Editora da UNESP. Passos, M. (2000). dos. A construção da paisagem no Mato Grosso – Brasil. Maringá: UEM. Ribeiro, G. et. al. (2009). Impacto sócio-econômico ambiental e o aumento demográfico gerado pela inclusão da Usina Santa Terezinha no município de Terra Rica. Departamento de Geografia – Vol. 2, n. 2. Paranavaí: FAFIPA. 205 Waibel, L. (1958). Capítulos de geografia tropical e do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Westphalen, C. (1969). Paraná, zona de trânsito. Revista de Geografia e Etnografia Paranaense, v. 6. 206