MILHO Variedades de polinizacao aberta

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MILHO
Variedades de polinização aberta - VPA
O milho é um produto de grande importância no contexto da agropecuária
catarinense, pois está presente na maioria das pequenas propriedades familiares do estado de
Santa Catarina. Sua área cultivada oscila entre 400 mil e 600 mil hectares, e a produção entre
2,9 milhões e 4 milhões de toneladas, nos últimos 5 anos, com a produção concentrada,
principalmente, na região Oeste do Estado. Sua importância deve ser considerada nos
aspectos social e econômico, porque é produzido por aproximadamente 150 mil famílias
rurais, em sua grande maioria pequenos e médios produtores, e por ser importante insumo
para a suinocultura, avicultura e bovinocultura de leite, que são setores fundamentais para a
agroindústria catarinense, geradora de empregos na área urbana.
As variedades tradicionais de milho de polinização aberta foram substituídas ao longo
dos últimos 30 anos pelos híbridos, os quais, hoje, dominam o mercado e têm maior potencial
produtivo, porém são mais exigentes em tecnologia (adubação, disponibilidade hídrica e
defensivos). A adoção desses híbridos pelos produtores deu-se de forma quase generalizada.
No entanto, a adoção da tecnologia disponível para a cultura, e requerida pelos híbridos, não
foi empregada na mesma intensidade, especialmente pelo segmento da agricultura familiar.
Esse cenário contribui para a baixa produtividade observada no setor, já que esses produtores
não conseguem explorar todo o potencial produtivo dos híbridos (EMYGDIO et al., 2008).
O desenvolvimento de novos cultivares de milho do tipo varietal, “variedades de
polinização aberta” ou “variedades melhoradas”, resulta em um potencial produtivo muito
superior ao das tradicionais variedades crioulas ou locais (EMYGDIO et al., 2008).
Essa superioridade pode ser atribuída, em parte, ao processo de melhoramento usado
no desenvolvimento desses cultivares, como a seleção para estresses abióticos (tolerância à
seca, ao alumínio, ao baixo uso de insumos), e, em parte, à própria constituição genética
dessas novas variedades, em sua maioria, desenvolvidas a partir de populações (EMYGDIO et
al., 2008). Portanto, são cultivares com base genética ampla (alta variabilidade), o que
contribui para seu aumento produtivo e sua maior estabilidade.
Segundo Reunião (2008), existem, ainda, pelo menos três fatores que colocam os
cultivares de milho do tipo varietal de polinização aberta como uma excelente opção de cultivo
para agricultores de pequena propriedade:
O baixo custo da semente, até cinco vezes menor que o custo da semente de um
cultivar híbrido;
A possibilidade de produção de semente própria, pois, ao contrário dos híbridos, as
variedades não perdem o potencial produtivo quando plantadas na safra seguinte; e
A maior plasticidade das variedades, em condições de estresse, quando comparadas
aos híbridos.
Além disso, as variedades de polinização aberta são aceitas nos sistemas de produção em
agricultura orgânica.
Melhoramento de populações e desenvolvimento de variedades de milho de polinização
aberta em Santa Catarina
Segundo Paterniani e Miranda Filho (1987), o melhoramento genético é um processo
dinâmico, contínuo e progressivo de seleção e recombinação das melhores plantas. Consiste
basicamente em aumentar as frequências de genes superiores dentro da população a ser
melhorada. A taxa de elevação das frequências gênicas na seleção, depende dos seguintes
fatores:
variabilidade da população original;
método de seleção empregado;
tamanho efetivo da população;
técnica e precisão da avaliação dos genótipos;
influência do ambiente (a interação com os ambientes locais e anos);
correlações fenotípicas e genotípicas.
Dessa forma, levando em conta determinados caracteres fenotípicos pré-estabelecidos,
procede-se à seleção dos indivíduos e estes passam a constituir os novos progenitores para a
próxima geração. Assim, uma nova variedade é resultado de minucioso trabalho que envolve
basicamente três etapas: a escolha dos progenitores (pais), os cruzamentos entre
progenitores, e a seleção das melhores progênies (filhos resultantes dos cruzamentos).
Devido à abrangência da cultura do milho, a Epagri desenvolve trabalhos para atender as
necessidades dos agricultores familiares, principalmente daqueles que não têm acesso às
tecnologias modernas, as quais se caracterizam pela alta demanda de insumos, como
sementes híbridas e altas doses de adubos e defensivos. Em praticamente todas as
propriedades de Santa Catarina a cultura do milho está presente, caracterizadas por serem, na
sua maioria, de exploração familiar, em propriedades com menos de 10ha.
Para atender esse grande contingente de produtores, o Centro de Pesquisas para
Agricultura Familiar (Cepaf), da Epagri em Chapecó, reativou em 1997 o programa de
melhoramento genético de milho visando à criação de variedades de polinização aberta. O
objetivo era gerar e introduzir compostos ou populações para seleção e criação de variedades
de milho adaptadas às condições edafoclimáticas de Santa Catarina.
Por meio da seleção busca-se a obtenção de germoplasma de elite competitivo tanto para
rendimento de grãos como para as características agronômicas desejáveis, tais como
resistência do colmo ao acamamento e ao quebramento, resistência às principais doenças e
pragas, bom empalhamento das espigas e boa sanidade dos grãos.
Após o desenvolvimento, as VPAs são avaliadas nos ensaios regionais de avaliação,
denominados ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU), nas principais regiões produtoras do
Estado, com o objetivo de fornecer informações atualizadas e confiáveis aos agricultores. Os
ensaios de VCU são exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para
registro e proteção de cultivares.
Desse esforço resultou o bem-sucedido lançamento de quatro novas variedades de milho
de polinização aberta, as quais são descritas abaixo.
SCS153 Esperança
Com o objetivo de recuperar a variedade de polinização aberta Empasc 152 Oeste, lançada
em 1983, oriunda da população Suwan DMR, deu-se início a um novo trabalho de
melhoramento nessa população. Inicialmente, foi semeada em forma de pool em lote de
isolamento, onde se procedeu a sua avaliação, recombinação e seleção. Essas etapas foram
desenvolvidas em dois locais: Chapecó e São Miguel d’Oeste.
Com o uso de intercruzamentos, nova seleção e purificação do germoplasma foram
incorporadas importantes características genéticas:
decumbência da espiga na maturação; e
tipo de grão duro (flint).
Essas características, aliadas ao bom empalhamento, são fatores importantes para a
pequena propriedade, uma vez que o pequeno produtor, por falta de estrutura de
armazenamento, deixa o milho por período mais prolongado na lavoura.
Aspectos dos grãos de milho da variedade SCS153 Esperança
Espigas da variedade SCS153 Esperança
Características da variedade:
Ciclo: semiprecoce
Florescimento masculino: 80 dias
Florescimento feminino: 85 dias
Altura da planta: 260cm
Altura de inserção da espiga: 150cm
Empalhamento: alto
Sanidade de espiga: boa
Tolerância ao acamamento: alta
Tolerância ao quebramento: alta
Tolerância às doenças foliares: boa
Comprimento médio da espiga: 18cm
Diâmetro médio da espiga: 4,7cm
Textura dos grãos: dura
Coloração dos grãos: amarela a alaranjada
Densidade recomendada: 50 mil plantas/ha
Peso médio de mil sementes: 338g
Número de fileiras de grãos: 14 (12 a 16)
Potencial de rendimento: alto
Época de plantio: preferencialmente em setembro
Região de adaptação: estado de Santa Catarina, especialmente mesorregiões Oeste e
Planalto Norte, com extensão de recomendação para Rio Grande do Sul e Paraná.
Espiga decumbente da variedade SCS153 Esperança
SCS154 Fortuna
Oriunda de um composto constituído por seis genótipos de ampla adaptação no
estado de Santa Catarina, e após de seis ciclos de seleção foi registrada como variedade
comercial, com o nome SCS 154 Fortuna.
Aspectos dos grãos de milho da variedade SCS154 Fortuna
Características da variedade:
Ciclo: precoce
Florescimento masculino: 76 dias
Florescimento feminino: 80 dias
Altura da planta: 230cm
Altura de inserção da espiga: 120cm
Empalhamento: alto
Sanidade de espiga: boa
Tolerância ao acamamento/quebramento: alta
Tolerância às doenças foliares: boa
Comprimento médio da espiga: 18cm
Diâmetro médio da espiga: 5,2cm
Textura dos grãos: dura
Coloração dos grãos: amarela a alaranjada
Densidade recomendada: 50.000 plantas/ha
Peso médio de mil sementes: 334g
Número de fileiras de grãos: 16 (14 a 18)
Potencial de rendimento: alto
Época de plantio: preferencialmente em setembro
Região de adaptação: estado de Santa Catarina, especialmente mesorregiões Oeste e
Planalto Norte, com extensão de recomendação para Rio Grande do Sul e Paraná.
Espigas da variedade SCS154 Fortuna
Aspecto do empalhamento das espigas da variedade SCS154 Fortuna
SCS155 Catarina
Resultante da seleção de um composto e desenvolvida para atender prioritariamente
os agricultores familiares. Ela apresenta um bom potencial produtivo e permite aos
agricultores a produção própria de sementes para o plantio das safras subsequentes.
Aspectos dos grãos de milho da variedade SCS155 Catarina
Características da variedade:
Florescimento masculino: 76 dias
Florescimento feminino: 80 dias
Altura média da planta: 230cm
Altura média da inserção da espiga: 120cm
Tipo de grão: duro
Comprimento médio das espigas: 19cm
Diâmetro médio das espigas: 5,2cm
Número de fileiras de grãos: 16 (14 a 18)
Coloração dos grãos: amarela a alaranjada
Empalhamento: alto (cobre completamente a espiga)
Peso médio de mil sementes: 421g
Qualidades nutricionais: 11,66% de PB
Limitações do cultivar: evitar plantios tardios e densidades superiores a 55 mil
plantas/ha.
Região de adaptação: estado de Santa Catarina, especialmente mesorregiões Oeste e
Planalto Norte, com extensão de recomendação para Rio Grande do Sul e Paraná.
Espigas da variedade SCS155 Catarina
SCS156 Colorado
Constituída a partir de cruzamentos de 31 linhagens e 4 populações subtropicais
recebidas do Centro Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo (CIMMYT), no México.
Para a formação de um novo composto, procedeu-se a cruzamentos e seleções de plantas com
características predominantemente de grãos vermelhos e sabugos finos. Cumpridas as etapas
de recombinação, seleção e avaliação em experimentos, realizou-se a multiplicação da
semente genética.
Aspectos dos grãos de milho da variedade SCS156 Colorado
Características da variedade:
Florescimento masculino: 74 dias
Florescimento feminino: 78 dias
Altura média da planta: 245cm
Altura média da inserção da espiga: 140cm
Tipo de grão: duro
Comprimento médio das espigas: 18cm
Diâmetro médio das espigas: 5,1cm
Número de fileiras de grãos: 16 (14 a 18)
Coloração dos grãos: vermelha
Empalhamento: alto (cobre completamente a espiga)
Peso de mil sementes: 397g
Qualidades nutricionais: 10,03% de PB
Limitações do cultivar: evitar plantios tardios e densidades superiores a 55 mil
plantas/ha.
Região de adaptação: estado de Santa Catarina, especialmente mesorregiões Oeste e
Planalto Norte.
Espigas da variedade SCS156 Colorado
As variedades de polinização aberta de milho, obtidas através de seleção recorrente,
dentro do melhoramento genético, apresentam ótimo potencial produtivo e respondem
também à tecnologia preconizada para a cultura do cereal.
Outra vantagem é que as variedades melhoradas apresentam maior resistência e
tolerância aos diversos estresses ambientais, principalmente à seca, e resistência a ataques de
pragas e doenças, o que pode ser explicado pela sua maior diversidade na composição
genética.
Variedades de polinização aberta da Epagri
Referências bibliográficas
EMYGDIO,B.M.; SILVA, S.D. dos A.; PORTO, M.P.; TEIXEIRA, M.C.C.; OLIVEIRA, A.C.B.de.
Fenologia e características agronômicas de variedades de milho recomendadas para o RS.
Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2008. 18p. (Embrapa Clima Temperado. Circular Técnica,
74).
REUNIÃO TÉCNICA ANUAL DE MILHO, 53., REUNIÃO TÉCNICA ANUAL DE SORGO, 36., 2008,
Pelotas. Indicações técnicas para o cultivo de milho e de sorgo no Rio Grande Sul, 2008/2009.
Pelotas: 09. Embrapa Clima Temperado, 2008. 169 p.
PATERNIANI, E.; MIRANDA FILHO, J.B. Melhoramento de populações. In: PATERNIANI, E.;
VIEGAS, G.P. (Eds.). Melhoramento e produção de milho. Campinas: Fundação Cargill, v.1,
p.217-264, 1987.
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