volume ii - número i

Propaganda
VOLUME II - NÚMERO I
A SIGNIFICAÇÃO DO DESENHO
INFANTIL E A PERCEPÇÃO DO
PROFESSOR
Autora: Laís Fernandes de Araújo
Graduanda em Licenciatura em Pedagogia da Faculdade
Católica de Uberlândia. E-mail: [email protected]
Autora: Helenice Maria Tavares
Professora orientadora do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail: [email protected]
Resumo:
Os professores da educação infantil conseguem perceber
o real sentido dos desenhos das crianças, desenvolvendo
assim uma prática docente diferenciada sobre a significação
dos rabiscos para a vida escolar infantil, promovendo uma
melhor compreensão sobre o desenho e sua evolução no
processo de desenvolvimento infantil. Mediante pesquisa
bibliográfica evidenciou-se que o papel do desenho na
construção da significação visa a atuação do professor
que é fundamental no processo de aprendizagem, zelando
Abstract:
Teacher of early childhood education to realize the real
meaning of children’s drawing, thus developing a teaching
practice on the meaning of doodles to the school life of
children, promoting a betterunderstanding of its evolution
in desing and development of children. Throung literature
search revealed that the role of drawing in the construction
of meaning concerns the performance of the teacher is
pivotal in thelearning process, ensuring that the condition of
freedom of expression because the practice of the educator
pela condição de liberdade de expressão, pois a prática do
educador está intimamente ligada ao fracasso ou sucesso
da atividade.
is closely linked to the failure or success of the activity.
Palavras-Chave: Educação Infantil. Desenho. Percepção
do Professor. Significação.
Keywords: Early childhood education. Drawing. Teacher
perceptions. Significance.
Os professores da educação infantil não
conseguem perceber o real sentido dos desenhos
infantis e sua importante característica de
representar mais o que a criança sabe ou o vê do
mundo, interrompendo assim uma conversa com
o exterior de forma abrupta, desvalorizando o
conhecimento que a mesma já tem ou adquiriu ao
longo do processo de construção de aprendizagem.
Presenciamos na prática o desconhecimento dessa
fase importante para a criança que é o desenho
infantil, ela apropria-se desse tipo de linguagem
para se comunicar com o mundo, revelando
assim as suas expectativas e curiosidades, pois é
fato que o desenho é uma das linguagens mais
utilizadas pelas crianças ao longo de trajetória
escolar e não escolar também.
Este trabalho tem por objetivo, promover uma
melhor compreensão sobre o desenho e suas
evoluções no processo de desenvolvimento
infantil, contribuir para a construção do
seu conceito e significação no processo
cognitivo, reforçar o papel do desenho para
o desenvolvimento infantil, evidenciar a
importância da atuação do educador no apoio ao
processo de ensino aprendizagem.
Para a elaboração deste usou-se pesquisa
bibliográfica que se caracteriza por:
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de
material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos. Embora que em quase
todos os estudos seja exibido algum tipo de trabalho
desta natureza, há pesquisas desenvolvidas a partir
de fontes bibliográficas. (Gil, 1999, p. 65)
Para refletirmos sobre as propostas curriculares
e pedagógicas para a Educação Infantil fazse necessário compreender historicamente as
diferentes representações da infância.
Segundo Oliveira (2002), a educação pré-escolar
9
REVISTA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
institucionalizou-se na Europa em decorrência das
transformações sociais, políticas e econômicas
ocorridas, que resultaram na intensificação da
urbanização e inserção da mulher no mercado de
trabalho gerando a necessidade de instituições
com objetivos de assistir a criança, ou seja, com
caráter assistencialista. Passados alguns séculos, foi criado na Alemanha,
o jardim de infância, que fundamentou pela
primeira vez a idéia de educação, posteriormente
a pré-escola se expandiu dos Estados Unidos para
o mundo até chegar ao Brasil.
A autora ressalta que os primeiros jardins de
infância eram públicos, mas antes disso, já
haviam surgido no Rio de Janeiro e São Paulo
sob iniciativas privadas; eles apresentavam
caráter educativo e assistencialista que logo fora
substituído pela função compensatória, que veio
fortalecer a crença que a pré-escola era capaz
de suprir as carências, deficiências culturais,
lingüísticas e afetivas das crianças de classe
econômica baixa.
Nas décadas de 70 e 80, o Brasil intensificou
seu
processo
de
industrialização
que
conseqüentemente ampliou a participação da
mulher no mercado de trabalho, possibilitando
assim um maior atendimento educacional na
faixa etária de 4 a 6 anos de idade; em seguida,
na década de 80 ocorre a expansão na educação
de 0 a 3 anos de idade.
Nesse período de redemocratização dos pais,
o campo da educação ganha impulso tanto
em pesquisas, quanto no plano legal, com a
promulgação da Constituição Federal de 1988, do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de
criança a ser atendidas em creches e pré-escolas e
vincula esse atendimento à área educacional.
A partir da promulgação da LDB (Brasil, 1996),
a Educação Infantil se institucionaliza passando
a fazer parte do currículo escolar da Educação
Básica, juntamente com o Ensino Fundamental
e Ensino Médio, desligando-se das secretarias de
assistência social e atrelando-se às secretarias de
educação municipais.
De acordo com a LDB (Brasil, 1996), a Educação
Infantil constitui a primeira etapa da Educação
Básica e tem como promover o desenvolvimento
integral da criança ate seis anos de idade. Isso
significa construir um conjunto de conhecimentos
que abrange tanto os aspectos físicos e biológicos
quanto emocionais, afetivos, cognitivos e sociais
de cada criança, considerando que ela é um ser
completo, singular e único
Art. 29 A Educação Infantil primeira etapa
da Educação Básica tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança ate seis anos
de idade, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social complementando a ação da
família e comunidade.
Art. 30 A educação Infantil será oferecida em:
I- Creches, ou entidades equivalentes, para crianças
de ate três anos de idade.
II- Pré-escolas para as crianças de quatro a seis anos
de idade.
Art.31 Na escola infantil a avaliação faz-se
necessário mediante acompanhamento mediante
registros do seu desenvolvimento sem o objetivo
de promoção mesmo para o acesso ao ensino
fundamental. (Brasil, 1996, p.26)
É válido ressaltar também que a que a criança
tem seus direitos resguardados legalmente pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente que garante
a ela o direito de conviver no seio familiar com
total assistência básica: saúde, educação, lazer
1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação dentre outros para que assim se desenvolva
plenamente em seus aspectos social psicológico
Nacional (LDB nº. 9394/96).
A Constituição Federal (Brasil, 1988) passa então e cognitivo.
a reconhecer o dever do Estado e o direito da
Art. 53 A criança e o adolescente têm direito à
10
VOLUME II - NÚMERO I
educação, visando ao pleno desenvolvimento de
sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania
e qualificação para o trabalho, assegurando-lhe: ·.
I – Igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola;
II – Direito de ser respeitado pelos seus educadores;
III - Direito de contestar critérios avaliativos,
podendo recorrer às instâncias escolares superiores:
IV – Direito de organização e participação em
entidades estudantis:
V – Acesso a escola publica e gratuita próximo de
sua residência. (Brasil, 1990, p.21)
Nessa perspectiva, o sistema de ensino encontrase em plena fase de transição, seja em relação
ao atendimento às crianças, como em relação à
definição da identidade desta etapa da educação
básica sendo que nos últimos anos, educadores,
profissionais de diversas áreas tem buscado
formas criativas e alternativas de tratar a
Educação Infantil no Brasil, levando-se em conta
a multiplicidade própria da sociedade brasileira.
A Educação Infantil assume certas especificidades
que lhe conferem um caráter ímpar em, sobretudo
no que se refere à organização dos conteúdos
próprios dessa fase.
Nesse emaranhado de especialidades está
a necessidade de se ampliar nas crianças à
compreensão do mundo de um lado e de outro
a missão de promover sua formação pessoal e
social, a partir do desenvolvimento da identidade
e autonomia, além das noções de musica, artes
visuais e movimento. (Brasil, 1998b)
As Artes Visuais expressam, comunicam e
atribuem sentidos a sensações, sentimentos,
pensamentos e realidade por meio da organização
de linhas, formas, pontos, ainda presentes em seu
dia-a-dia da criança de forma bem simples como
rabiscar e desenhar no chão, na areia, no muro,
na parede, utilizando materiais diversos que
expressam a linguagem, importantíssima para a
expressão e comunicação humana, justificando
assim, sua presença na educação geral e em
particular na Educação Infantil.
O trabalho com crianças da Educação Infantil
(zero a seis anos de idade) deve levar em conta o
processo de aprendizagem que se realiza de acordo
com as fases de desenvolvimento da criança.
Contudo , é bom lembrar que cada criança é única
, com identidade própria e um ritmo singular de
desenvolvimento.
Portanto alem de levar em conta o processo
de maturação da criança e o modo geral e suas
características individuais, é preciso propor
situações que a incentivem à conquista devagar de
autonomia e da individualidade em seus diversos
contextos. (Brasil, 1998a, p.33)
O Referencial Curricular Nacional de Educação
Infantil. (RCNEI) sugere a prática das artes
visuais, seja abordada fazendo parte do cotidiano
infantil, pois este saber artístico de crianças
pequenas está repleto de concepções e idéias
que revelam valores, emoções, sentimentos e
significações sobre si e sobre o mundo ao seu redor,
adquirindo assim caráter ainda mais precisos,
envolvendo os aspectos cognitivos, afetivos,
intuitivos sensíveis e estéticos, desenvolvendo
assim pré-requisitos importantíssimos para o
desenvolvimento da aprendizagem, pensamento,
imaginação, sensibilidade, intuição e percepção.
(Brasil, 1998b)
Ou seja, o processo de criação artística ao
mesmo tempo em que contribuem para a
formação intelectual da criança, promove o
aperfeiçoamento do seu domínio corporal,
desenvolve o seu processo de expressão e
comunicação favorecendo o relacionamento
inter-pessoal tornando-a mais participativa e
flexível.
Considerando um ato exclusivo autônomo e
espontâneo da criança o processo de criação
pode ser significativamente enriquecido pela
ação dirigida do professor, pois o mesmo deve
promover e valorizar a interação da criança
tendo em vista que tal processo amplia o
11
REVISTA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
desenvolvimento gradativo das capacidades
associado as quatro competências básicas: falar,
escutar, ler e escrever.
Embora a proposta curricular continue norteando
o trabalho da maioria dos professores, não e difícil
encontrar educadores e professores alienados de
seu contexto histórico e social.
Hoje o conceito de arte segundo Ferraz e
Fusari (1993), tem sido objeto de diferentes
interpretações: arte como técnica, material
artístico, lazer, processo intuitivo, liberação de
impulsos reprimidos, expressão, linguagem e
comunicação.
Porém a arte apresenta-se como produção, trabalho,
construção e, portanto uma representação do meio
com significado, imaginação e interpretação; é
conhecimento do mundo, é também expressão
dos sentimentos, energia interna, efusão que se
expressa que se manifesta que simboliza.
Segundo Ferraz e Fusari (1993) a educação
através da Arte é na verdade um movimento
educativo e cultural que busca a constituição de
um ser completo, total, dentro dos moldes do
pensamento idealista e democrático, valorizando
no ser humano, os aspectos intelectuais, morais e
estéticos.
Porém a prática da educação artística não é
desenvolvida corretamente, pois necessita de todo
um processo de aprendizagem e desenvolvimento
do educando envolvendo aspectos pedagógicos,
ideológicos e filosóficos que marcam o ensino
aprendizado e pode auxiliar o professor no
processo de formação e construção do aluno.
Moreira (1984) aponta que o desenho é uma
possibilidade de conhecer a criança através de
uma outra linguagem e que o ato de desenhar
não é visto como possibilidade de se conhecer,
recuperar o ser poético que é a criança. Será
possível quando os professores se perceberem
como pessoas capazes de viver o estranhamento,
que é o ser da poesia quando o professor descobrir
nele mesmo o prazer da criação, entendendo
então que desenho é o traço que a criança faz no
papel ou em qualquer superfície.
A criança antes de aprender a ler e escrever,
desenha para comunicar suas sensações,
sentimentos, pensamentos, ou seja, é uma
manifestação semiótica, onde a forma das quais
as atribuições da significação se expressa e se
constrói.
A evolução do desenho compartilha o processo
de desenvolvimento, passando por etapas que
caracterizam a maneira da criança se situar no
mundo.
Segundo Piaget (1971), a forma de uma criança
conhecer o objeto, passa por significativas
transformações em sua evolução no processo
de adaptação ao meio que se dá por sucessivos
movimentos de equilibrações.
Inicialmente predomina a ação nas relações
com o objeto denominado de período sensório
motor. Já o período simbólico se caracteriza pelo
desenvolvimento da capacidade de representação
em diferentes manifestações seja ela de imitação,
imagem mental, desenho e linguagem verbal.
O desenho surge no período simbólico e evolui
em conjunto com o desenvolvimento da cognição,
semelhante ao brincar, que se caracteriza pelo
exercício da ação.
Ele é precedido pela garatuja, fase inicial do
grafismo, que passa a ser conceituado como tal
a partir do reconhecimento pela criança de um
objetivo no traçado que realizou.
Outras condições do desenho são destacadas
por Vygotsky (1988). Uma delas é relativa ao
domínio do ato motor, pois o desenho é o registro
do gesto constituindo passagem deste a imagem.
Tal característica é referente à percepção da
12
VOLUME II - NÚMERO I
possibilidade de representar graficamente,
configurando o desenho como precursor da
escrita.
Vygotsky (1988) comenta a existência de certo
grau de abstração, na atitude da criança que
desenha, ao liberar conteúdos da sua memória.
Reconhece o papel da fala nesse processo
afirmando que a linguagem verbal é a base da
linguagem gráfica constituída pelo desenho
afirma que: “[...]os esquemas que caracterizam os
primeiros desenhos infantis lembram conceitos
verbais que comunicam somente os aspectos
essenciais dos objetos”. (Vygotsky, 1988, p.127).
Embora focalizando diferentes aspectos do
desenho, as concepções dos dois autores, a
saber, Piaget (1971) considerando o sujeito do
ponto de vista epistêmico e Vygotsky (1988)
contemplando-o do ponto de vista social, se
aproximam em relação à importância do desenho
no processo de desenvolvimento da criança e a
característica de que ela desenha o que a interessa,
representando o que sabe do objeto.
È válido esclarecer que o desenho é a primeira
forma que a criança se comunica com o mundo,
pois é no papel que ela estabelece pontos de
comunicação e expressa gosto, medos, anseios e
angustias.
Lowenfeld (1977) ressalta a importância do
desenho para o desenvolvimento para a criança,
seja como veículo de auto expressão ou como
de desenvolvimento da capacidade criativa e
representativa.
É, pois indiscutível a importância da imagem
visual para a criança, pois é através dela que a
mesma estimula sua imaginação e externa no
papel sua leitura de mundo, e os significados que
realmente tal acontecimento tem para o seu dia a
dia .
Derdyk (1989) salienta o poder da imagem
visual. O desenho como forma de pensamento
propicia oportunidade de que o mundo interior se
confronte com o exterior, a observação do real se
depare com a imaginação e o desejo de significar.
Assim memória, imaginação e observação se
encontram, passado e futuro convergindo para o
registro da ação no presente. Como pensamento
visual, o desenho é o estimulo para exploração do
universo imaginário.
A autora ressalta que o desenhar envolve
diferentes operações mentais como; simbolizar
e representar, tendo em vista o desenvolvimento
cognitivo da criança e relacionando-a com as
pessoas que a circundam e com o espaço em que
habita.
Segundo Pillar (1996),
[...] ao desenhar a criança esta interrelacionando seu conhecimento objetivo e
seu conhecimento imaginativo. Expressando
sua necessidade de comunicação com o
objeto que acabou de conhecer e com o
seu imaginário, sendo este importantíssimo
para seu desenvolvimento cognitivo.
Moreira (1984) salienta a necessidade do respeito
ao desenho infantil, não apenas pelo espaço de
liberdade de expressão que constitui, como
também pela sua condição de linguagem, tendo
em vista o papel do desenho no processo de
desenvolvimento humano. A
interpretação
do desenho da criança depende do olhar do
intérprete, pois o desenho é o lugar provável, do
indeterminado, das significações, configurando
assim um espaço fundamental do mundo
infantil, onde o mesmo deve ser considerado não
apenas como modalidade de expressão ou de
representação da realidade, mas também como
resultado de atividades intencionais envolvendo
aspectos cognitivos e emotivos, em seu ajuste à
realidade com a qual convive.
13
REVISTA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Enfim, a ampliação da compreensão e da
valorização do desenho espontâneo infantil
evidencia a importância da atividade de desenhar
para a elaboração conceitual dos objetivos
e eventos feitos pelas crianças; o papel do
desenho na construção da significação e no
desenvolvimento.
A atuação do educador é fundamental no
apoio ao processo, zelando, pela condição de
liberdade fundamental na preservação do espaço
do desenho infantil importante não só para o
desenvolvimento cognitivo, como a criatividade
e expressão pessoal.
O desenho infantil é uma importante esfera de
atividades simbólicas que envolvem aspectos
cognitivos, motores e sociais, cabendo assim às
equipes de educadores das escolas e redes de
ensino, realizar um trabalho de qualidade a fim
de que as crianças gostem de aprender arte e
conseqüentemente desenho.
Compete aos centros de formação de professores
investirem em projetos de pesquisa contínua,
para que os professores sejam os protagonistas
de práticas atualizadas em sala de aula.
Acredita-se que a arte promove o desenvolvimento
de habilidades e conhecimentos necessários a
diversas áreas de estudo; pois se sabe que ela é uma
forma ancestral de manifestação, favorecendo a
participação do sujeito na interação com o meio
cultural.
Portanto não se deve privar o aluno em formação
desse conhecimento e negar o que lhe é direito,
o papel dos professores é importante para que os
alunos aprendam a fazer arte e desperte o gosto
ao longo da vida, que nasce também da qualidade
da medição que os professores realizam entre
os aprendizes e a arte. Ação esta que envolve
aspectos cognitivos e afetivos que passam pela
relação professor/aluno e aluno/aluno estendendo
se por todo o tipo de relação que se articulam no
ambiente escolar.
O ideal seria que o professor tivesse a sensibilidade
de observação sobre a qualidade do vínculo de
cada um de seus alunos nos atos de aprendizagem
sendo que os mesmos aprendam por interesse e
curiosidade e não por pressão externa.
Um professor que entra em sintonia com as
formas de vinculação de cada estudante se torna
mais apto a instigar o aluno e atribuir o significado
ao desenho e a arte; resolve problemas no fazer
artístico e propõe questões com suas poéticas,
pessoais, desenvolvendo critérios de gosto e
valor em sua atividade. A consciência de si como
alguém capaz de aprender e uma representação
que pode ser construída ou destruída na sala de
aula.
Daí a enorme responsabilidade dos professores,
quando a criança fala , escreve ou faz seus
trabalhos de desenho porque geralmente é ele que
valida as produções, atribuindo-lhes qualidades
na orientação, incentivando os esforços nos
processos de construção de saberes cognitivos,
procedimentais ou atitudinais, e nas combinações
desses tipos de saberes.
O interesse para com os desenhos infantis é uma
resposta direta, pois eles possuem um encontro
de novidades, simplicidade, fonte de puro
prazer, são bonitos de ver e podem ser encarados
como expressão da nossa procura de ordem em
um mundo complexo, sendo sem dúvida mais
naturais que imitativos, pois emergem de dentro.
Acredita-se que os desenhos infantis
contam muito, por debaixo da superfície,
considerados indicativos dos aspectos gerais do
desenvolvimento e habilidade humana. Verifica-
14
VOLUME II - NÚMERO I
se que os desenhos podem nos dar informações
não só sobre as crianças, mas também sobre
a natureza do pensamento e a resolução de
problemas entre crianças e adultos.
Evidencia-se, portanto que o que nossa cultura
está preocupada com as palavras, pois se sabe
que a compreensão sobre a natureza da ação está
sendo deixada de lado, e que nenhum desenho
é uma gravação automática de um mundo
perceptual qualquer ou como sendo indiferente à
importância da orientação.
Observa-se então, que o que a criança vê ou
entende, é por certo um importante componente,
na ação de desenhar, que precisa ser compreendido
mais profundamente, pois o desenvolvimento e a
aprendizagem estão inter-relacionados desde o
nascimento.
A linguagem visual na Educação Infantil
requer profunda atenção no que diz respeito às
peculiaridades e esquemas de conhecimentos
próprios, de acordo com a faixa etária e nível
de desenvolvimento. Os símbolos representam
o mundo a partir das relações que as crianças
estabelecem consigo e com as outras pessoas. O
desenvolvimento do desenho merece destaque
no fazer artístico e na construção das demais
linguagens visuais.
O desenho constitui uma linguagem que possui
vocabulário e sintaxe próprios e é assim que a
criança cria e recria individualmente formas
expressivas, integrando percepção, imaginação,
reflexão e sensibilidade pois está intimamente
ligado ao desenvolvimento da escrita.
O ato de desenhar possui habilidades de brincar,
falar, registrar e marcar o desenvolvimento da
infância, inserindo assim concepções que oscilam
entre dois pólos: de um lado a atividade gráfica
destituída de valor educacional, desvinculada de
qualquer contexto significativo, empregada para
acalmar a criança ou distraí-la; e, de outro lado,
a extrema mecanização do desenho que deve ser
ensinado, dirigido, treinado, para aprimorar a
coordenação percepto- motora ou outra área do
desenvolvimento.
O papel atribuído ao adulto varia também no meio
escolar, podendo ser visto como algo nocivo e
prejudicial ao desenvolvimento da criança.
O desenho é, portanto, uma possibilidade de
conhecer a criança através de outra língua,
o ato de desenhar não é visto apenas como
possibilidade de se conhecer, pois antes de saber
escrever a criança desenha para comunicar suas
sensações, sentimentos, pensamentos, realidade e
para justificar suas idéias.
Torna-se indiscutível então, a importância que
o desenho infantil tem no desenvolvimento
da criança, pois é através dele que temos
manifestações semióticas, das quais as funções
de atribuição da significação se expressa e se
constrói.
O que a criança expressa enquanto desenha
é importante, por que ela registra, imagina,
relacionando sua experiência vivida, pois os
desenhos materializam as imagens mentais
do que a criança conhece e tem registrado na
memória com a contribuição da imaginação.
A evolução do desenho compartilha o processo
de desenvolvimento passando por etapas que
caracterizam a maneira da criança se situar no
mundo. Acredita-se que a forma dela conhecer
o objeto, passa por expressivas transformações
em sua evolução e por esta razão existem várias
etapas, que analisam o desenho e suas implicações
relativas à escolarização, salientam a necessidade
do respeito ao desenho infantil, não apenas pelo
espaço de liberdade e de expressão contribuindo
também pela sua significação e condição de
linguagem.
15
REVISTA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
A interpretação do desenho da criança depende
do olhar do intérprete, pois o desenho infantil
é o lugar do improvável e indeterminado das
significações, daí a importância da atuação do
educador no apoio ao processo, zelando pela
condição de liberdade de expressão e sustentação
do direito de manifestar.
Considerações Finais
Torna-se importante destacar o papel do desenho
no desenvolvimento da criança pela sua própria
constituição, que tem características particulares
e que o distingue de outras formas de expressão.
O desenho se caracteriza enquanto imagem
visual pela sua globalidade e possibilidade de
percepção, sendo que o signo visual é icônico
e imediato, podendo ser visto como uma
linguagem privilegiada, pois permite o exercício
relativamente mais livre de construção da
forma, estabelecendo relação entre significado e
significante.
Esta perspectiva possibilita a compreensão da
valorização do desenho infantil e nos mostra a
importância da atividade de desenhar.
Evidencia-se o papel do desenho na construção
da significação tendo em vista a atuação do
professor, que é fundamental no processo, zelando
pela condição de liberdade de expressão, pois a
prática do educador está intimamente ligada ao
fracasso ou sucesso da atividade.
É válido ressaltar que cada desenho externa
naquele momento a comunicação da criança
com o meio, seja ele familiar ou educacional,
pois várias crianças não conseguem falar e se
expressam através dos desenhos. Entretanto, nós
professores ainda não conseguimos fazer esta
leitura apurada do desenho infantil que nos atribui
percepção e significação do mundo infantil
A criança é simbolista e seu desenho expressa
a necessidade de significar, sendo o meio de
comunicação/interação da criança com seu modo
de pensar, pois acredita-se que o desenho infantil
revela a autonomia e evidencia os traços da época
em que ela vive.
A expressão infantil é constituída de elementos
cognitivos e afetivos, sendo assim desde pequenas
as crianças desenvolvem linguagem própria
traduzida em signos e símbolos carregados de
significação subjetiva e social, e que devem
ser respeitadas e reconhecidas, visto que seus
rabiscos são extensões de seus gestos primordiais,
um ato criador, resultado de ato expressivo que
evidencia o seu desenvolvimento e expressão do
seu eu e do seu mundo.
Enfim, o compromisso dos educadores deve ser o
de adequar o seu trabalho para o desenvolvimento
das expressões e percepções infantis, buscando
aprimorar as potencialidades das crianças.
Referências
BRASIL. Senado Federal. Constituição da Republica
Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria
de Educação Fundamental. Estatuto da Criança e do
Adolescente no Brasil. Lei n 8.069, de 13 de julho de
1990. Brasília: MEC/SEF, 1990.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria
de Educação Fundamental. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. LDB. Lei n 9.394/96. Brasília: MEC/
SEF, 1996.
BRASIL. Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria
de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998a.
BRASIL, Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria
de Educação Fundamental. Referencial Curricular
Nacional para Educação Infantil. Formação Pessoal e
Social Brasília: MEC/SEF, 1998b.
DERDYK, E. Formas de pensar o desenho. São Paulo:
Scipione, 1989.
16
VOLUME II - NÚMERO I
FERRAZ, M. H. C. de T.; FUSARI, M. F. de R. Arte na
Educação Escolar. São Paulo: Cortez, 1993.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São
Paulo: Atlas, 1999.
LOWENFELD, V. Desenvolvimento da capacidade
criadora. São Paulo: Mestra Jou, 1977.
MOREIRA, A. A. A. O Espaço do desenho: a educação do
educador. São Paulo: Loyola, 1984.
OLIVEIRA, Z.. R. Novos Tópicos na Educação Infantil:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
PIAGET, J. A Formação do símbolo na criança. Rio de
Janeiro: Zahar, 1971.
PILLAR, A. D. P. Desenho e Construção de conhecimento
na criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
VYGOTSKY, L. A Formação Social da Mente: o
desenvolvimento dos processos superiores. São Paulo:
Martins Fontes, 1988.
Recebido em:
27/08/2010
Aprovado em:
30/05/2011
17
Download