INTRODUÇÃO Por que os alunos apresentam dificuldades quando iniciam o estudo de números negativos? Por que os professores relatam que uma das maiores dificuldades de seus alunos relaciona-se com as operações envolvendo números inteiros? Por que alunos do Ensino Médio erram muito quando resolvem exercícios com números inteiros? Essas e outras questões vêm sendo discutidas durante o curso de Licenciatura em Matemática, durante o Estágio Supervisionado e desencadearam este Trabalho de Graduação. Pretende-se desenvolver nesse trabalho um estudo a respeito das diferentes dificuldades apresentadas pelos alunos do Ensino Fundamental quando estudam números inteiros e que são discutidas em pesquisas e estudos sobre esse tema. Analisando os aspectos históricos dos números inteiros e os aspectos epistemológicos, estaremos tentando compreender as causas das dificuldades enfrentadas quando se aprende e quando se ensina números inteiros. Além disso, pretende-se também identificar as principais dificuldades apresentadas por alunos de uma classe de 6ª série do Ensino Fundamental evidenciadas em momentos posteriores à introdução desse conteúdo, ou seja, quando necessitam dos conceitos de números inteiros em outros temas da Matemática. Um dos objetivos deste estudo é entender alguns dos aspectos relacionados ao processo ensino-aprendizagem da Matemática no Ensino Fundamental visando à futura prática docente. Investigar diferentes métodos de ensino, bem como diferentes recursos que podem contribuir para o aprendizado do aluno, permite que reflexões sejam feitas a respeito das diferentes formas com que o aluno aprende e, certamente, poderão contribuir para a essa prática. Tentando compreender essas questões referentes aos números inteiros, estaremos tecendo algumas considerações históricas no Capítulo 1. No Capítulo 2 serão feitas algumas considerações epistemológicas sobre os números inteiros. No Capítulo 3 serão apresentadas algumas considerações sobre os números inteiros e a sala de aula. 2 No Capítulo 4 serão apresentadas a pesquisa de campo com uma turma de 6ª série do Ensino Fundamental de uma escola da cidade São Carlos e as conclusões dela retiradas. 3 CAPÍTULO 1 ALGUNS ASPECTOS HISTÓRICOS DOS NÚMEROS INTEIROS Desde o século VII, os hindus compreendiam subtrações do tipo 4 – 7, que no conjunto dos Números Naturais não podem ser resolvidas. Para eles era suficiente admitir a existência de quantidades negativas. Essas quantidades eram denominadas de dívidas. Eles diferenciavam os números positivos dos números negativos colocando um ponto sobre o número negativo. Entretanto eles não aceitavam que as quantidades negativas deviam ser chamadas de números (CENTURIÓN, 1994). O primeiro matemático hindu que estudou os números negativos foi Brahmagupta, também no século VII. Mas o matemático hindu mais importante do século XII, Bhaskara, foi mais adiante que os outros estudiosos no assunto, ele disse que um número positivo possui duas raízes quadradas, uma positiva e uma negativa, enquanto os números negativos não possuem raízes quadradas por não serem quadrados (IEZZI e outros, 2000). Mas ao resolver uma equação do tipo x2 – 45x = 250, ao ver os resultados x = 50 e x = -5, considerou válida apenas a raiz positiva. Ele disse que “‘o segundo resultado não devia ser tomado por ser inadequado, pois as pessoas não aceitam raízes negativas’ (REID, 1960)”, de acordo com MEDEIROS (1992). De acordo com IEZZI e outros (2000), os números negativos surgiram na China há cerca de dois mil anos. Entretanto o autor afirma que como na época a comunicação entre os povos era muito difícil, essa contribuição não chegou ao Ocidente bem como tantas outras descobertas matemáticas dos chineses. Na China, os números eram representados por barras de bambu estendidas sobre um tabuleiro. As barras pretas representavam os números negativos e as barras vermelhas, os números positivos. Assim, um calculista chinês deveria ter sempre consigo um conjunto de barras de calcular. A partir da segunda metade do século VIII, os árabes começaram a absorver a cultura dos hindus que dominavam militarmente. Foi assim que o sistema de numeração atual acabou sendo introduzido na Europa. O mesmo aconteceu com os números negativos, apesar de não usarem da mesma forma que os hindus. 4 Na época do Renascimento (GUELLI, 1995), os comerciantes passaram a utilizar números com sinais para indicar a falta ou excesso em seus estoques. Por exemplo, se um comerciante tinha sacas de dez quilos de trigo e vendeu sete quilos, ele escrevia o número sete com um traço na frente (hoje, o sinal de menos) para saber que faltavam sete quilos naquela saca. Entretanto, se ele colocasse os três quilos restantes numa saca ainda cheia, escreveria o número três com dois traços na frente (sinal de mais) para saber que havia mais três quilos naquela embalagem. Segundo MEDEIROS (1992), Diofanto de Alexandria utilizou implicitamente as regras de sinais dos números inteiros para abreviar cálculos, mas não reconheceu a sua existência. Para iniciar o estudo da álgebra é inevitável se deparar com o grande problema que os negativos trazem, afinal nas equações do tipo ax + b = 0, com a e b positivos, temos uma raiz negativa. Essas raízes eram chamadas de falsas raízes. A dificuldade na aceitação dos números negativos estava presa ao critério de aceitação de novas idéias em boa matemática, um critério tradicionalmente grego que exigia uma representação geométrica de contagens e medições assim como havia dos positivos. Era necessário um modelo concreto que constituísse uma metáfora MEDEIROS (1992). No século XVII, o pai da geometria analítica, Descartes, e Fermat, deixaram de explorar ao máximo a geometria por não aceitarem os números negativos. Foram seus sucessores que inseriram esses números na representação das coordenadas MEDEIROS (1992). De tão imensa a insatisfação com os números negativos, Thomas Harriot pensou ter provado que as raízes negativas eram impossíveis em sua obra “Artes analíticas aplicadas” de 1631. Apesar de ter vivido na mesma época que Harriot, Stevin aceitava raízes negativas e utilizava os coeficientes negativos livremente. No século XVIII, os matemáticos procuravam as justificativas dos trabalhos com os irracionais, os negativos, os complexos e a álgebra. Sendo que nessa época, D’Alembert era um dos que lutavam contra o uso dos números negativos na matemática. Enquanto Euler, provavelmente o maior matemático do século XVIII, baseou-se na metáfora hindu que dizia que subtrair um número 5 negativo é o mesmo que somar um positivo, assim como cancelar uma dívida é o mesmo que ganhar um presente MEDEIROS (1992). Se para esses grandes pensadores era um desafio compreender os números negativos, podemos entender como os estudantes têm dificuldade quando necessitam operar com esses números. Esse é um dos motivos da importância de se utilizar a história da matemática no ensino. É importante que os alunos saibam que na história, levaram-se muitos anos para a total compreensão dos números inteiros, e também que se trata de uma história cheia de incertezas. Entretanto, suas regras não foram simplesmente inventadas, decorrem dos fundamentos da Matemática. 6 CAPÍTULO 2 EPISTEMOLOGIA DOS NÚMEROS INTEIROS Como foi dito no capítulo anterior, durante milênios a humanidade viveu sem entender os números negativos. Embora, naquela época, os hindus compreendessem subtrações do tipo 4 – 7, não aceitavam os negativos como números. BALDINO (1996) afirma que Glaeser (1981), em sua resenha histórica, cita as “hesitações e perplexidades de matemáticos famosos que, embora usassem os números inteiros sem maiores dificuldades em suas pesquisas, não conseguiam encontrar uma explicação conveniente para a regra de sinais” (p.4). A explicação definitiva para números inteiros foi apresentada pela primeira vez por Haenkel, no fim do século XIX, (BALDINO, 1996). São muitos os autores, que baseados em Glaeser, discutem o tema dos obstáculos epistemológicos dos números negativos. Entre eles, Doroux (1982) que insiste que a definição de obstáculos epistemológicos proposta por Brousseau exige que o obstáculo seja um conhecimento, não uma falta dele (CID, p. 5 – 6). Doroux considera que os primeiros obstáculos epistemológicos propostos por Glaeser, a “falta de aptidão em manipular quantidades negativas isoladas” e a “dificuldade para dar sentido às quantidades negativas isoladas”, não deveriam ser considerados como tais, pois só indicam déficit de conhecimento. Para Dourox, a “dificuldade para unificar a reta real”, constatada por Glaeser, é uma possível concepção de obstáculo epistemológico caracterizado por considerar os números negativos de uma natureza distinta da dos positivos. A concepção de número como medida de uma quantidade pode ser a base desses obstáculos, fazendo então com que os números negativos só possam ser interpretados como uma medida “inversa”, como um objeto composto de duas partes: sinal e medida, enquanto o positivo representa apenas uma medida. Isso pode nos levar a interpretar os números negativos radicalmente separados dos naturais, e não como sua prolongação (CID). TEIXEIRA (1993) diz que do ponto de vista cognitivo, o entendimento dos números inteiros necessita de algumas operações feitas pela 7 criança ao preencher o vazio que os números naturais não podem preencher. As maiores complicações aparecem para a criança quando uma subtração do tipo a – b, com b > a, levam a um resultado que até então não existe. Quando assume a existência desse resultado, a criança está tomando conhecimento do novo conjunto numérico: os números negativos. Esse novo conhecimento faz com que o aluno tenha conhecimento da idéia de que os números negativos são menores que positivos. Aos poucos ele também toma conhecimento de que há um ponto onde essas duas classes de números se originam, nesse momento o aluno tem de mudar seu conceito de zero, que no conjunto dos naturais indicava a ausência de quantidade, enquanto no conjunto dos números inteiros significa um ponto de origem. Segundo TEIXEIRA (1993), a aprendizagem operatória dos números inteiros necessita de operações e linguagens para a assimilação, pois não possuem modelos que se associem ao mundo físico assim como os naturais, gerando um obstáculo na compreensão, que pode levar o aluno ao erro. TEIXEIRA (1993) diz que para VERNAUG (1985), os erros pertencem ao processo de aprendizagem. Para a autora, o erro não é somente o começo da dificuldade, ele é quem indica o raciocínio da criança, que orienta as estratégias visando o sucesso. Para MORENO e SASTRE (1983), citado por TEIXEIRA (1993), os erros são necessários, pois são resultados de visões diferentes do mesmo assunto, resultando na descoberta de assimilar e resolver um problema. O erro, para esses autores, pode ser por contaminação, quando o aluno não associa as propriedades do problema, ou por limitação, quando o aluno não associa o elemento e o todo. 8 CAPÍTULO 3 OS NÚMEROS INTEIROS NA SALA DE AULA Os números negativos não geraram dificuldades somente no passado, atualmente, os estudantes ainda encontram obstáculos quando operam com esses números. Mas quais seriam essas dificuldades? Como elas se revelam para os alunos? Existe algum método para acabar com elas? Essas são algumas das questões a serem abordadas neste capítulo. MEGID (2001) discute as dificuldades de seus alunos quando operaram pela primeira vez com os elementos do conjunto dos números inteiros. A autora conta que iniciou o assunto pedindo para que os alunos pesquisassem o que é saldo bancário, saldo negativo, cheque especial, dentre outros itens do gênero. Porém, seria uma pesquisa demorada, levando-a a utilizar outros métodos como recortes de jornal indicando temperaturas, fusos-horários, tabelas de futebol e gráficos. MEGID (2001) ainda comenta o desempenho de seus alunos em cada atividade. Na primeira atividade era necessário encontrar a variação de temperatura entre duas cidades, 23° e –2°, muitos alunos acertaram o resultado, mas nenhum representou sua resolução em linguagem matemática, 23-(-2)=25. Enquanto outros alunos apenas subtraíram 2 de 23 obtendo 21. A autora ressalta que eles indicaram a operação corretamente, ou seja, 23-(-2). Ainda tiveram quatro alunos que subtraíram duas vezes o número 2, conseguindo assim o número 19. Curiosamente, um desses quatro alunos, segundo a autora, era um dos que tinham sucesso nas avaliações. As outras atividades propostas não geraram maiores complicações, apenas quando tiveram de usar uma tabela sobre jogos de futebol, as meninas não tiveram tanta facilidade quanto os meninos, que as ajudaram. Na Proposta Curricular para o Ensino de Matemática – 1º grau (1988), da Secretaria Estadual de Educação, encontramos sugestões para introduzir os números inteiros nas aulas de 6ª série do Ensino Fundamental. Segundo a proposta, o professor deveria colocar para o aluno uma situação em que ele tivesse de analisar o significado de “sentido de percurso”, ponto de referência, marco zero, ordenação dos números inteiros mostrando a importância dos números com sinais. Após esse início, 9 a proposta sugere que sejam trabalhadas as operações, pois o aluno sabe da existência dos números negativos, apenas não saiba como operar com eles. Para as operações, a sugestão da proposta paulista, seria imaginar um comerciante com potes com duzentas balas cada um, e rótulos indicando quantas balas foram colocadas ou retiradas dos potes, assim como no passado era feito com as sacas de grãos. Essa atividade tem como objetivo fazer com que o aluno compare intuitivamente os números inteiros, codifique, decodifique e determine somas algébricas, além de utilizar a representação geométrica dos números inteiros na reta. Pois após o aluno ter o conhecimento da adição de números inteiros, o próximo passo deve ser o de trabalhar as propriedades intuitivamente. MEGID (2001) iniciou a exploração dessas propriedades propondo a discussão de situações que envolviam lucro e prejuízo, e após um tempo apresentou simbolicamente como representar essas situações. Na aula seguinte, propôs a resolução de um exercício do livro didático em que aparecia um gráfico quadriculado e algumas questões sobre ele. Depois que os alunos resolveram o exercício, houve uma discussão de como foi que cada um o resolveu. Um debate que levou os alunos à conclusão de que adicionar números negativos era o mesmo que subtrair. A Proposta Curricular diz que este é um trabalho importante para poder introduzir o inverso aditivo que terá grande importância quando o aluno precisar “transformar a subtração em adição”. sabemos que a adição e a subtração não trazem tantas dificuldades quanto a multiplicação e a divisão de números negativos. A existência de adição e subtração é logo observada ao utilizar a reta numérica, mas a falta de justificativas para as regras de multiplicação e divisão faz com que o aluno não compreenda essas duas últimas operações. MEGID abordou a multiplicação, divisão e potenciação de números negativos seguindo a orientação do livro didático1. A autora descreve que colocou na lousa três multiplicações, pediu aos alunos que as observassem e escrevessem em seus cadernos quais seriam os resultados justificando suas respostas. Eram três multiplicações: a primeira era um número positivo por um negativo, 5 . (-8); a segunda, um negativo por um positivo, (-9) . 12 e, a terceira, dois números negativos, (-6) . (-8). As duas primeiras não criaram maiores problemas, pois os alunos interpretaram que seriam somas de fatores iguais, mas a terceira fez com que os 10 alunos tivessem dúvidas quanto ao resultado, alguns imaginaram que seria positivo, mas não sabiam por quê, outros imaginaram que seria negativo, pois os dois fatores da multiplicação eram negativos. Nesse momento a autora conta que pediu para os alunos montarem com ela uma “tabuada” da seguinte maneira: 3 .(-4) = -12 2 .(-4) = -8 1 .(-4) = -4 0 .(-4) = 0 (-1) .(-4) = ? Os alunos não sabiam o que responder, então ela os convidou a observar o que acontecia com os resultados, isto é, ela convidou-os a observarem a regularidade. Segundo a autora, eles perceberam que o resultado sempre aumentava quatro unidades e que, na última multiplicação, esse resultado deveria ser quatro positivo. E continuou com a “tabuada” do (-4), concluindo que o resultado seria +4. A Proposta Curricular também oferece ao professor uma sugestão de como demonstrar que a multiplicação de dois números negativos resulta num positivo. Essa sugestão é dada através de um exemplo. “Após ter sido trabalhado com os alunos o produto de dois números inteiros positivos e o produto de dois inteiros com sinais contrários, vejamos por que o produto de dois números inteiros negativos resulta em um positivo. Por exemplo, por que (-2) x (-3) = 6? Sabemos que: 3 x (-2) = (-2) + (-2) + (-2); Todo número multiplicado por zero é igual a zero; Podemos escrever (+3) + (-3) = 0. (-2) x 0 = 0 Então essa sentença pode ser reescrita da seguinte maneira: (-2) x [(+3) + (-3)] = 0 1 A autora refere-se à Coleção Matemática – Imenes & Lellis, 1997. 11 Pela propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição que deve ser preservada em Z, ainda podemos reescrever a sentença de outra maneira: (-2) x (+3) + (-2) x (-3) = 0 Já sabemos que: (-2) x (-3) = -6, então reescreveremos a sentença como: (-6) + (-2 x (-3)) = 0 Isto é: (-6) + ? = 0 Como vale a propriedade do inverso aditivo em Z, podemos escrever: (-6) + (+6) = 0 Logo: (-2) x (-3) = 6” Segundo a proposta, ao ensinar ao aluno essas regras de multiplicação, a divisão virá mais facilmente, tratando-a como operação inversa. E o passo seguinte é a potenciação que apesar de ser multiplicação de fatores iguais, também traz dificuldades aos alunos. 12 CAPÍTULO 4 IDENTIFICANDO DIFICULDADES Após um estudo da história, da epistemologia e das possíveis situações a serem enfrentadas em uma sala de aula, foi feita uma pesquisa com alunos de uma turma de 6ª série de uma escola da cidade de São Carlos. Iniciando com uma entrevista com a professora responsável pelas aulas de matemáticas dos alunos e depois foi aplicada uma lista de exercícios relacionados com números inteiros para analisar o conhecimento desses alunos em relação ao tema. Segundo a professora, ela iniciou o assunto com uma conta “impossível”, mas os próprios alunos perceberam que era possível utilizando os números negativos. Para ilustrar a adição e a subtração de números inteiros, a professora contou ter relacionado as operações como dívidas e pagamentos, enquanto para a multiplicação e para a divisão ela simplesmente explicou como funcionavam as regras de sinais. Foi nesse momento que os alunos começaram a confundir as regras de sinais da adição com as da multiplicação, numa conta como -2 -3 = -5 deveria ter resultado positivo, ou seja, o resultado deveria ser +5. Nos exercícios, as maiores dificuldades apareciam no momento de resolverem as expressões, os alunos não sabiam qual operação deveria ser feita primeiro. O livro adotado pela professora é o Matemática e Realidade de Gelson Iezzi e Osvaldo Dolce, repleto de problemas práticos. Para a professora, um livro somente com exercícios do tipo “Efetue” não é suficiente e ela adotou o livro de Iezzi e Dolce exatamente por esse motivo, nele é possível encontrar problemas práticos com muitas figuras, extratos bancários, jogos, tabelas com saldo de gols, ótimos para familiarizarem os alunos com os números negativos, pois são situações que fazem parte do cotidiano deles. O tempo previsto para tratar de números inteiros foi de três semanas, mas acabou por se estender por quase dois meses. Durante esse tempo, os alunos foram avaliados com provas, chamada oral (exercícios feitos na lousa), problemas a serem resolvidos em sala de aula, atividades individuais e em grupo. O desempenho deles, 13 de acordo com a professora, foi regular, em sua opinião, poderiam ter se saído melhor. Após a entrevista com a professora, um dia foi escolhido para a aplicação da lista de exercícios. Ao todo foram analisados 33 alunos de uma turma de 6a série do Ensino Fundamental de uma escola da cidade de São Carlos. Os erros mais freqüentes estavam na potenciação, nas regras de sinais, na montagem de operações e conceitos. Ao observar com atenção as listas de exercícios resolvidas foi possível perceber que os alunos não associam a potenciação dos números inteiros com as dos números naturais. Erros como (-1)4 = - 4, (-1)0 = -1 ou (-1)0 = 0 foram muito comuns de se encontrar, apenas uma aluna acertou todos os itens da questão específica de potenciação. Mas não consideraremos agora essas dificuldades, visto que a Potenciação nos Números Inteiros ainda não havia sido vista pelos alunos até o momento da aplicação dos exercícios. Outro erro freqüente dentre os alunos foi na regra de sinais nas operações de multiplicação e divisão. Os alunos fizeram confusões quanto ao sinal do resultado das operações propostas. Alguns chegaram a misturar as regras de sinais da adição e subtração com as da multiplicação e divisão. Foram verificados casos em que o aluno distribuiu os sinais sem seguir um padrão. Um dos exercícios propostos aos alunos foi o de classificação de afirmações em verdadeiras ou falsas para verificar o conhecimento conceitual dos estudantes. Um terço dos alunos mostrou dificuldade em classificar as orações corretamente, não sabiam justificar suas respostas. Das quatro orações a serem analisadas, apenas uma foi classificada corretamente por todos, a que tratava de elementos opostos. As demais geraram confusão entre os alunos. Alguns alunos também mostraram dificuldades em montar operações, levando-os ao erro. Um fator que pode ter influenciado na montagem inadequada das operações é a falta de atenção aos enunciados dos problemas. Alunos mais cuidadosos chegaram a desenhar a reta dos números inteiros para facilitar os cálculos de adição e subtração. Apesar das dificuldades citadas, houve a constatação de que há alunos na 6ª série do Ensino Fundamental que ainda não acertam operações de multiplicação e divisão no conjunto dos números naturais. 14 Até aqui como se pode notar, a maior dificuldade dos alunos está na regra de sinais das operações, provavelmente por não conseguirem abstrair as associações entre positivos e negativos. A dificuldade em justificar conceitos matemáticos também foi identificada em mais de um terço dos alunos pesquisados. Na questão sobre conceitos de números inteiros, apenas uma das quatro afirmações propostas foi respondida e justificada corretamente por todos os alunos, enquanto as outras três questões geraram confusões ou dúvidas. Muitos estudantes responderam corretamente, mas não souberam justificar suas escolhas. O exercício formado por quatro orações, teve apenas a afirmação que tratava de valor oposto respondida corretamente por todos os alunos. Dos trinta e três alunos pesquisados, apenas quatro justificaram, ou tentaram justificar suas respostas, desses quatro, apenas um não classificou corretamente todas as afirmações. Dos três alunos restantes, um justificou de forma clara todas as afirmações. Claramente não foram justificativas formais, pois tratava-se de um garoto de apenas 12 anos. “Classifique e justifique as afirmações em verdadeiras (V) ou falsas (F). Justifique sua resposta. ( ) O número zero é maior que todo número negativo. ( ) Os números inteiros negativos são maiores que os números inteiros positivos. ( ) O número +7 é o oposto do número –7. ( ) O maior número inteiro negativo é o –1.” As afirmações foram classificadas pelo aluno citado da seguinte maneira: “(V) Porque todo número negativo é abaixo de zero.” “(F) Porque todo número negativo é pra baixo de zero, os positivos são acima de zero. “(V) Porque um é o contrário do outro.” “(V) Porque todo número negativo quanto maior, menor seu valor, então o número –1 é o maior.” Observando essa situação, percebe-se que os alunos em sua maioria não possuem conhecimentos básicos de conceitos para justificar suas afirmações. Assim, perguntamo-nos, se alunos não sabem como justificar afirmações relacionadas com 15 conteúdo dos números inteiros, como ter a certeza de que eles sabem o que está acontecendo no momento de resolver problemas? A dificuldade dos alunos em justificar esses passos talvez seja a mais importante a ser sanada. Ela somente mostra que os estudantes ao se depararem com os números inteiros, se preocupam muito mais em decorar as regras de sinais, do que entende-las, assim como todo o conteúdo relacionado com o conjunto dos números inteiros. 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS Aqui se encerra um estudo iniciado no primeiro semestre de 2003 com o objetivo de identificar as principais dificuldades presentes entre alunos de 6ª série do Ensino Fundamental ao estudarem números inteiros. Após um breve estudo histórico, epistemológico e de algumas situações possíveis em sala de aula, uma pesquisa feita com alunos de uma escola da cidade de São Carlos pode exemplificar o que acontece com os alunos hoje em sala de aula. Somente através de estudos como este que se pode ter um detalhamento dessas dificuldades e assim corrigi-las futuramente na prática docente. 17 BIBLIOGRAFIA BALDINO, R.R Sobre a epistemologia dos números inteiros. São Paulo: SBEM. n. 5, ano 3, novembro, 1996. BOYER, C. B. História da Matemática. Trad. 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