TRABALHANDO O CONCEITO DE TERRITÓRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL Leticia Ferreto/Graduanda em Geografia da Uniandrade, Curitiba-PR; [email protected] INTRODUÇÃO Abordar conceitos no campo da geografia nos remete em considerar a percepção dos educandos diante do atual processo de ensino aprendizagem; portanto, convém analisar e compreender o estágio em que se encontra a educação em nível global bem como os procedimentos adotados que visam a formação de um cidadão crítico e consciente sobre a realidade em que vive. Assim, o território, em suas diversas concepções, necessita de maior entendimento e compreensão, uma vez que sua conceituação vem sendo debatida há anos no escopo geográfico e a cada dia novas situações devem ser consideradas nessas discussões. As influências humanas interferem na maneira de se organizar o espaço geográfico. Tendo como base esse entendimento podemos verificar como o conceito de território tem sido trabalhado na Geografia e de como o mesmo está sendo incorporado na prática pedagógica. A escola francesa imprimiu as primeiras idéias de uma ciência não politizada, que encontrava relação do homem com a natureza de forma objetiva. Foi então La Blache que trouxe o conceito de lugar, paisagem e região, como territorialidade. A conceituação de território parte da história vivida por uma comunidade que imprime, neste espaço, a identidade da comunidade, na qual cada indivíduo se reconhece como parte dela. “É nesse espaço que se constituem as redes de relações, a construção de regras, conceitos e normas a partir do imaginário social e as relações de poder, entre os recursos naturais, as relações de produção ou as ligações afetivas e de identidades entre um grupo social e seu espaço” (SOUZA E PEDON, 2009). Por muito tempo o conceito de região em sua dimensão territorial marcou os estudos da Geografia. Após uma nova perspectiva, a forma de interpretar essas transformações (Homem x Natureza) muda a base teórica-metodológica numa tentativa de amenizar a fragilidade das dicotomias sobre o conhecimento geográfico. Assim surgem novos conceitos sobre o território, o qual passa a ser definido como: “[...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolvem, se inscreve num campo de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p.144)”. No desenrolar da história humana, o território passa a ser construído por meio de um conjunto natural pré-existente caracterizada pelos aspectos sociais, culturais e econômicos, que, conforme Santos (1986, p. 1-2): “Este é tanto o resultado do processo histórico quanto da base material e social das novas ações humanas. Tal ponto de vista permite uma consideração abrangente da totalidade das causas e dos efeitos do processo socioterritoral (SANTOS, 1986, p.1-2)”. Ao passar do tempo transformações ocorridas pela sociedade atuaram sobre o território, provocando mudanças históricas. Em virtude desse movimento da sociedade chegamos à conclusão de que a prática pedagógica em sala aula é uma das maneiras utilizadas para a compreensão do território e suas dinâmicas. Pode-se afirmar que o território, abrange aspectos econômicos, sociais e culturais, que está em constante transformação e construção no espaço geográfico. O território também é tratado como político-administrativo (poder e fronteira) articulado à uma organização. Nele se constituem grupos por interesse, afinidade ou conveniência, que é paralela ao Estado e este não participa da configuração da territorialidade de tais grupos. Neste momento, resgata-se as palavras de Santos (1986), sobre o território usado: “O território usado e a expressão desenvolvimento se dá pelas formas de conteúdo que são difundidas. O território usado se torna impregnado dessas formasconteúdo que reproduzem as lógicas desiguais de acumulação de recursos para os usos presentes e futuros do território (SANTOS, 1986).” Como ressalta o autor, o planejamento territorial executado tanto pelo Estado, foi e é um grande instrumental de implementação das formas-conteúdo ligadas a racionalidade que possibilita a reprodução capitalista-acumulação, competitividade e desigualdades sócio-espaciais. Assim, os lugares vão se caracterizando pelas densidades e usos que abrigam, isso cria o embate da desigualdade de usos do território. Na comunidade, entre amigos e na família o aluno convive com um grupo de pessoas e instituições que normatizam e contribuem para a sua formação de cidadão. Portanto, conhecer e compreender o território ao qual está vinculado permite que o aluno interprete as suas características e valorize-as, pois elas constituem parte da sua história pessoal. Como já afirmado o aluno participa ativamente desse processo de construção da identificação e representação do seu território. Neste contexto, objetivou-se neste trabalho constatar a concepção de território de educandos da 5ª série do ensino fundamental e diagnosticar sua percepção de território junto ao contexto local. Especificamente objetivou-se analisar a apropriação do conceito de território dos educandos; e aplicar metodologias que obtenham maior respaldo no ensino aprendizagem do referido conceito. 2. Procedimentos Metodológicos Segundo Cavalcanti (1998, p. 107), “o conceito de território tem uma larga utilização na história da Ciência Geográfica e no ensino ele está presente em diversos conteúdos que compõem o programa curricular do ensino fundamental e médio”. Faz-se necessário trazer esses conceitos para a sala de aula, através da interação com o aluno. No desenvolvimento desta proposta, estiveram envolvidos 19 alunos da 5ª série do ensino fundamental de uma escola da rede particular de ensino da cidade de Curitiba, Paraná. Os procedimentos metodológicos envolveram a realização de atividades durante seis encontros com duração de 50 minutos cada, durante o primeiro bimestre do ano letivo de 2009. Num primeiro momento realizou-se uma exposição dialogada do tema, e buscou-se reconhecer o conhecimento dos educandos a cerca do conceito de território a partir da leitura de imagens em livros didáticos. E em pequenos grupos houve a organização de painéis explicativos sobre o tema, através dos quais foi possível investigar a compreensão e reconhecer os fenômenos espaciais a partir da seleção, comparação e interpretação, além da identificação das singularidades ou generalidades do conceito. Buscou-se selecionar e elaborar esquemas de investigação, que desenvolvessem a observação dos processos de formação e transformação dos territórios, tendo em vista as relações de trabalho, a incorporação de técnicas e tecnologias e o estabelecimento de redes sociais. Através dos quais tornasse viável a análise e a comparação, interdisciplinar, das relações entre preservação e degradação no meio ambiente, tendo em vista o conhecimento de sua dinâmica e a mundialização dos fenômenos culturais, econômicos, tecnológicos e políticos, nas diferentes escalas (partindo do local, regional, nacional e global). Neste esquema de investigação priorizou-se o reconhecimento da aparência das formas visíveis e concretas do espaço geográfico atual a sua essência, ou seja, os processos históricos, construídos em diferentes tempos, e os processos contemporâneos, o conjunto de práticas dos diferentes agentes, que resultam em profundas mudanças na organização e no conteúdo do território vivido. Desse modo, partindo da escala local, realizou-se um passeio pelo bairro onde a escola está inserida, isto permitiu que os alunos pudessem observar e debater como a sociedade influencia na constituição do território e na identidade da comunidade. Posteriormente os alunos produziram desenhos sobre o bairro e a comunidade em que vivem dando prosseguimento ao processo de interpretação do conceito de território e identidade. A análise do território local e regional procedeu-se comparativamente utilizando-se mapas com diferentes aspectos territoriais. Para finalizar as atividades foram desenvolvidos exercícios de fixação sobre o conceito, em sala de aula, que consistiu no desenvolvimento de leitura, interpretação e construção de mapas e sua exposição. Estas atividades permitiram que os educandos pudessem compreender e aplicar no cotidiano os conceitos básicos da Geografia, e identificar, analisar e avaliar o impacto das transformações naturais, sociais, econômicas, culturais e políticas no seu “lugar mundo”, comparando, analisando e sintetizando a densidade das relações e transformações que tornam concretas e vividas a realidade. 3. Resultados Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 138), “nenhum estudo geográfico das formas de interações entre a sociedade e a natureza poderá estar desvinculado da territorialidade ou extensão do fato estudado. Os lugares têm, por exemplo, fronteiras territoriais. O território é a base física e material da paisagem, expressa-se numa determinada extensão, permitindo, assim, que se estabeleça alguma forma de fronteira”. As fronteiras se estabelecem por meio de diferentes relações de comércio, de comunicação, de circulação de pessoas, e, pela sua natureza concreta, serão passíveis de uma representação cartográfica, porque sempre definem uma extensão. O princípio da territorialidade dos fenômenos geográficos, definidos pelo processo de apropriação da natureza pela sociedade, garante a possibilidade de se estabelecerem os limites e as fronteiras desses fenômenos, sua extensão e tendências espaciais. São, portanto, fenômenos localizáveis e concretos. Isso facilita sua representação cartográfica. Os conceitos-chave, conforme exposto pelos Parâmetros Curriculares do Ensino Médio-PCNEM (1999), “são instrumentos capazes de realizar uma análise científica do espaço. Com eles procuramos dar conta de um mundo cada vez mais “acelerado e fluído” e, por isso, mais denso e complexo. Eles permitem apreender o espaço nas suas formas de organização, validar o que foi herdado do passado e atender às novas necessidades. Tal arsenal teórico abre campo para a análise e a construção de concepções de mundo, que o compreendam de forma globalizante e como resultado da sociedade”. Neste contexto, as competências e habilidades a serem desenvolvidas pela Geografia, segundo os PCNEM (1999, p.315) são: ler, analisar e interpretar os códigos específicos da Geografia (mapas, gráficos, tabelas etc.), considerando-os como elementos de representação de fatos e fenômenos espaciais e/ou espacializados; reconhecer e aplicar o uso das escalas cartográficas e geográficas, como formas de organizar e conhecer a localização, distribuição e freqüência dos fenômenos naturais. Na disciplina de Geografia, “o aluno deve constituir competências que permita uma analise do real, revelando ‘as causas e efeitos, a intensidade, a heterogeneidade e o contexto espacial dos fenômenos que configuram cada sociedade”, pois, este é o momento da “ampliação das possibilidades de um conhecimento estruturado e mediado pela escola que conduza a autonomia necessária para o cidadão do próximo milênio” (BRASIL, 1999, p.311). Através dessas competências obteve-se o seguinte resultado do universo pesquisado que 20% dos alunos apresentaram dificuldade em associar o conceito ao tema, às respostas desses alunos se mostraram equivocadas, não estabelecendo uma relação entre o território e o trabalho ou sociedade. Portanto 30% atingiram o objetivo, porém apresentaram algumas dificuldades durante a realização das atividades. Inicialmente esses alunos analisaram o conceito de território, mais não conseguiram aplicá-lo na prática, após o desenvolvimento das práticas pedagógicas conseguiu-se diagnosticar uma nova percepção dos educandos sobre o conceito de território. Os demais alunos obtiveram boa produção ao associar o tema com a prática das atividades, organizando e debatendo o assunto. Partimos do entendimento que o processo de ensino-aprendizagem é derivado da integração escola-comunidade-aluno. E a partir dessa associação pode-se possibilitar ao aluno a oportunidade de compreender o conceito de território com a sua realidade e permitir um melhor entendimento do local em que vive. Optamos pela prática do desenho por entender que ele permite que o aluno utilize a expressão gráfica, formas geométricas (GODNOW,1983). Através do ato de rabiscar permitimos que o aluno expresse a sua compreensão sobre o tema. A cartografia é considerada uma linguagem, de comunicação imprescindível em todas as esferas da aprendizagem em geografia, articulando fatos, conceitos e sistemas conceituais que permitem ler e escrever as características do território. Nesse contexto, ela é uma opção metodológica, o que implica utilizá-la em todos os conteúdos da geografia, para identificar e conhecer, mas entender as relações entre eles, compreender os conflitos e a ocupação do espaço. A idéia de trazer a prática associada à teoria tem facilitado o repasse das informações e permitido que os próprios alunos detectem os problemas do seu território e sugiram soluções. Ainda são ações pequenas, que envolvem grupo reduzido de alunos, mas as quais vislumbraram as pequenas modificações que podem ter efeito nesse território. Portanto, abordar conceitos relacionando a prática com a teoria tem facilitado o aprimoramento de técnicas e assim, entendida como um processo de construção da espacialidade do aluno. Desse modo faz que se oriente, desloca-se no espaço aplicando os saberes geográfico aumentando seu conhecimento e a compreensão dos espaços nos contextos locais, regionais, nacionais e global e ao mesmo tempo em particular. 4. Considerações Finais A elaboração deste trabalho ocorreu principalmente de maneira reflexiva e voltada para a análise e leitura do conceito de território, voltados a prática do ensino. Os resultados obtidos são importantes para, principalmente, os novos trabalhos que virão em busca de respostas sobre o conceito de território no ensino fundamental. Mostrar que é possível trabalhar com esse campo do conhecimento de forma mais dinâmica e instigante para os alunos, por meio de situações que problematizem os diferentes espaços geográficos entre o presente e o passado, o especifico e o geral, as ações individuais e as coletivas e do desenvolvimento de técnicas que promovam o domínio de procedimentos que permitem aos alunos compreensão do seu conceito. As dificuldades encontradas em sala são na verdade, importantes elos entre a teoria e prática do ensino de geografia. Os objetivos desse trabalho foram alcançados na maioria dos casos; demonstrando, identificando e produzindo uma discussão de debates como forma de entender uma maneira histórica a formulação deste conceito que é de grande importância para a ciência geográfica. As identificações da apresentação das ideologias que os livros didáticos apresentam, e a reprodução de mapas também contribuíram para entender ou analisar a hegemonia da classe dominante. A forma como foi apresentado este conceito serviu de base para entendimento de como esse conceito está sendo apresentado às crianças da 5ª série do ensino fundamental. Deixa de existir um mundo pequeno e imaginário o mundo em preto e branco e passa para um universo grandioso cheio de novas descobertas e expectativas. Dentro dessas expectativas espera-se que, os alunos construam um conjunto de conhecimentos referentes ao conceito, procedimentos que lhes permita ser capaz de: • Conhecer o mundo em sua escala local, regional, nacional e global e sua diversidade, favorecendo a compreensão; • Identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas conseqüências em diferentes espaços e tempos, de modo que construa referenciais que possibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões socioambientais locais; • Conhecer o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo que compreenda o papel das sociedades na construção do território; • Compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações; • Utilizar a linguagem cartográfica para representar e interpretar informações, sabendo indicar direção, distância e proporção. Os mapas são as ferramentas básicas da Geografia. Copiar e colorir mapas, escrever nomes de rios e cidades ajuda a memorizar e ensina a representar o espaço geográfico. Pode-se depreender dessa análise que as metodologias usadas neste trabalho têm como puro interesse a contribuição no ensino da Geografia, com o objetivo de levar aos alunos a construírem entendimentos sobre o espaço geográfico, a partir dos elementos que o constitui e de suas relações. Espera-se que entendendo a dinâmica deste conceito amplo, os alunos possam analisar de forma crítica as questões políticas, sociais e ambientais no seu entorno e globalmente. Neste sentido, se o território, como conceito importante da geografia, conforme Milton Santos considerando-o como “o nome político para o espaço de um país”. O espaço, muito mais amplo, seria a totalidade, englobando a configuração territorial, a paisagem e a sociedade. O território é símbolo constante da ideologia e se está presente é porque esta discussão tem muito por se enriquecer e demorou muito até chegar aqui. Para a realização desse trabalho algumas limitações aconteceram. Primeiramente, e a mais importante foi à falta de tempo. Temos que respeitar os horários e os respectivos planos de aula, também limitando outras etapas que substancialmente poderíamos ter feito. No mais, algumas outras dificuldades, ligeiramente foram superadas e enfim pudemos concluir esse trabalho com esmero, embora não tenha chegado ao seu fim real, pois as discussões sobre conceitos geográficos são constantes. Os maiores legados desse presente trabalho foram às discussões e aperfeiçoamentos das minhas concepções metodológicas. Pudemos ver também, que os conceitos geográficos são às vezes mal apresentados, causando confusão aos discentes e até docentes. Outra contribuição foi à análise do conceito e a discussão das premissas provindas da classe dominante contidas neles. Isso pode mostrar, a nós professores, como podemos trabalhar com esse conceito de território na disciplina de Geografia abrangendo diversas práticas para todas as classes. A crítica constitui a alma da prática de ensino em geografia e em qualquer outra disciplina. Referências Bibliográficas ALMEIDA, R. D. e PASSINI, E. Y. Espaço geográfico: ensino e representação. São Paulo: Contexto, 1989. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : geografia. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 156p BRASIL. MEC. SEMTEC. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnologia, 1999. CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo. A Geografia nos anos iniciais do ensino Fundamental. In: Educação Geográfica e as teorias de aprendizagens. Cadernos Cedes Campinas, V. 25, n.66, p. 227-247, 2005 CASTELLAR, S. M. V. Educação Geográfica: a psicogenética e o conhecimento escolar. 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