Cenário da indústria do esporte e do marketing de eventos VALÉRIA BITENCOURT Colaborador: Lamartine DaCosta Scenario of the Brazilian sports industry and event marketing The sport industry is defined by the productive chain of the market for sports products, fitness and physical activities of health and leisure. Event marketing becomes part of the marketing mix, by promoting and perfecting both the organization and the accomplishment of sports events. This chapter constructs a scenario of various approaches of the sports industry and marketing for events to study how they are used in Brazil and which main tendencies have been developed. The following aspects are then analyzed: (1) consumer market of sports items; (2) sports marketing from the perspective of specific sports characteristics, which changes the four P’s of traditional marketing; (3) the key position of the company’s social responsibility in sports business; (4) media and sports, and (5) tourism and sports. As the analyses were completed, it was observed that today’s tendencies favoring the sport industry and the sports marketing in Brazil have veiled negative aspects that had already been detected and which have not yet been clearly explained. Sports marketing in Brazil grew at 30% a year between 2000 and 2002, managed by approximately 40 specialized companies, mostly (80%) small and medium-sized companies. The scenario then indicates that the private initiative in Brazil still does not clearly perceive the link between trademarks, sponsorship of sports teams and the resulting commercial and financial revenues. Definições A chamada “indústria do esporte” faz unir partes específicas da cadeia produtiva de um país para atender ao “mercado no qual os produtos oferecidos aos compradores relacionam-se a esporte, fitness, recreação/lazer e podem incluir atividades, bens, serviços, pessoas, lugares ou idéias” (Pitts e Stotlar, 2002). Partindose desta concepção torna-se possível estimar a parcela do Produto Interno Bruto (PIB) correspondente a esta “indústria” que no Brasil alcançou 1,7% em 1996. Este “PIB do esporte” teve um crescimento de 12,34% no período 1996 – 2000, bem superior portanto ao crescimento do PIB da nação como um todo, calculado em 2,25% no mesmo período (Kasznar, I.K. & Graça, A., 2002). Por sua vez, o marketing de eventos é uma atividade multidisciplinar e sua operacionalização envolve todos os setores da economia e profissionais de diversas áreas do conhecimento. Estruturalmente os eventos podem ser realizados em locais fechados (indoor) ou abertos (outdoor) e configurados como de grande, médio ou pequeno porte (massa, segmento e nicho). O marketing de eventos tem como funcionalidade envolver os diferentes públicos (alvos) à temática do esporte (modalidades esportivas) e das atividades físicas em geral. Em resumo, o marketing de eventos integra-se ao composto do marketing (marketing mix), fazendo com que os eventos esportivos abranjam três segmentos básicos – corporativos/negócios, alta competição/espetáculo e atividades físicas/lazer. Em termos de uso das definições de indústria do esporte e do marketing de eventos, há uma falta de delimitação precisa quanto à sua aplicação nas práticas esportivas, o que tem levado a se apreciar ambas por meio de exemplos fragmentados. Estando em pauta o método de cenário - que implica em seleção de variáveis e focos, buscando-se aspectos dominantes de uma determinada situação -, o presente capítulo consiste em se destacar abordagens variadas da indústria do esporte e do marketing de eventos de modo a contextualizar suas aplicações no Brasil e observar suas tendências principais. grandes atletas, está colocando isso no coração das pessoas.... O esporte é o elemento, com exceção da música, que mais toca a emoção do ser humano”. Esta carga emotiva é traduzida em atitudes próativas que não se limitam com o tempo de duração dos eventos. Em outras palavras, é corrente entre os especialistas que o marketing esportivo tem como principal atributo a possibilidade de interação com o público num momento de descontração e emoção. No Brasil, para Melo Neto (1995) e Oliveira e Pozzi (1996), a associação da marca dos patrocinadores dos eventos esportivos é transferida para o público/consumidor relacionando os fatores emocionais do esporte e, através de associações, elevam o prestígio e credibilidade das marcas/ patrocinadores. Ressaltando ainda o diferencial dos investimentos, estes autores concordam que estas associações são capazes até mesmo de mudar comportamentos dos consumidores em relação à marca. Assim, ainda se tratando do Brasil, Bitencourt (2004) tem sugerido fazer ajustes aos princípios do marketing visando-se ao atendimento de características do esporte como se adotar um quinto “P”, de “prazer” em adição aos quatro tradicionais “produto”, “preço”, “praça” e “promoção” do marketing mais abrangente. Outro ajuste necessário, prende-se à incorporação da “catarse” aos tradicionais “cliente”, “custo”, “conveniência” e “comunicação”. Entende-se “catarse”, para este novo roteiro de planejamento operacional, como o êxtase das multidões diante das performances atléticas e do espetáculo participativo que o esporte produz entre as pessoas. O “prazer”, naturalmente, distingue o esporte de outras ofertas por integrar o “consumidor” (praticante e/ou assistente) no “produto”, isto é na atividade. A conjugação do prazer com a catarse é uma proposta que tende a posicionar o marketing esportivo além das simples relações de vendas e promoções como também inclui os consumidores de esporte na lembrança do produto (share of mind), dando-lhe uma condição de vantagem única no composto mercadológico. Mundo de Futebol, Jogos Olímpicos etc., não é surpreendente que os mega-eventos esportivos gerem investimentos de grande porte e que deles surjam inúmeras atividades paralelas. Se para o mercado global estes eventos envolvem altas cifras, as ações regionais de cada país também beneficiam produtores de pequeno e médio porte, ampliando, assim, a cadeia de valor em vários segmentos. A mídia, no caso, representa o fator de difusão de vários setores produtivos, sendo causa e efeito de expansão de relações econômicas. No Brasil, além da criação de programas e jornais com formatos específicos, a exemplo do Esporte Espetacular (TV Globo) e Jornal O Lance (O Dia), a entrada dos canais de TV a cabo (ESPN e SPORTV) também ratifica o cenário favorável para este tipo de atividade (ver capítulo “Esporte e mídia” neste Atlas). Para atender a demanda, as assessorias de imprensa passam a funcionar como assessoria de comunicação envolvendo-se diretamente em todo o processo operacional de eventos. Um exemplo sintomático é a empresa ZDL (SP), com 18 anos de mercado, que aponta números na ordem de US$ 700 milhões de retorno em mídia, 190.000 reportagens publicadas, 100.000 fotos, mais de 1.000 horas de televisão e 900 eventos assistidos.(www.zdl.com.br, 2003). Neste contexto, cabe ressaltar o advento da Internet, como potência de comunicação interativa. Embora ainda restrita a poucas camadas sociais no país, a Internet agrega valor pelo seu baixo custo, agilidade na operacionalização e divulgação dos eventos. Ratificando esta força, hoje somente no site de busca Google, encontram-se disponíveis 664 mil informações (páginas Brasil) apenas com a palavra esporte. Em resumo, uma tendência evidente do esporte e das atividades físicas, no Brasil e no exterior, referese ao estreitamento crescente dos seus vínculos com a mídia, repercutindo conseqüentemente na indústria do esporte e no marketing de eventos. Esporte e responsabilidade social O marketing esportivo é potencialmente capaz de formar e transformar hábitos e criar atitudes saudáveis por meio do esporte, especialmente em se tratando de eventos de grande participação. Impulsionados pelo “conceito de gestão consciente que passa a permear as ações empresariais” (Instituto Ethos, 2003) e o surgimento/fortalecimento das ONGs nas últimas décadas, os eventos esportivos naturalmente têm acompanhado a tendência de promover simultaneamente ações sociais e ecológicas (ver neste Atlas o capítulo “Esporte e Inclusão Social – História e Conceitos”). Utilizando o poder de integração do esporte e a imagem de atletas/ídolos, formadores de opinião, os eventos maximizam campanhas em temas tais como anti-drogas e violência, câncer de mama e a valorização do meio ambiente. Um exemplo de grande impacto desta tendência em termos internacionais foi o dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, que entrou na história do esporte como a “Olimpíada Ecológica”. Tal fato é observado também no valor agregado a outros (ou todos) os eventos, sejam eles de cunho esportivo-social ou cultural. Neste contexto, há de se ter em conta a possibilidade da responsabilidade social neste início do século XXI estar tendendo a assumir um papel central no diferencial competitivo. Em termos favoráveis na relação de troca, as ações institucionais e mercadológicas da indústria do esporte e do lazer sugerem estar se inclinando para a adoção da linguagem do esporte - geralmente voltada para a agregação de pessoas e para a dramaticidade - com fins utilitários, priorizando simultaneamente valores sociais e econômicos. Esporte, economia e turismo Além da valorização da imagem institucional das cidades-sede, os eventos esportivos no Brasil e em várias partes do mundo auxiliam na captação do turismo interno e externo (ver capítulo “Turismo e esporte” neste Atlas). Mas, há de se considerar ainda os produtos esportivos e a abertura de postos de trabalho diretos e indiretos oportunizados pelas realizações de eventos como grande impacto na economia. A corrida de Fórmula 1 em São Paulo-SP envolve investimentos de R$ 60 milhões, 150 empresas, 8 mil empregos diretos, mobilizando um público de 62 mil pessoas e aproximadamente 600 milhões de telespectadores em escala mundial (www.esporte.org.br, 2003). A empresa Latin Sports, organizadora do Ironman Brasil Telecom, aponta que este evento em 2003, produziu um impacto econômico de R$ 6 milhões em Florianópolis. Para 2004, este número tendia a crescer para R$ 10 milhões gerados pelo turismo, envolvendo cerca de 790 atletas de destaque de 35 países e 200 pessoas no quadro de organização (ver capítulo “Triatlo” neste Atlas). Nos eventos de negócios/corporativos tem se notabilizada, entre outros, a crescente evolução da Adventure Sports Fair (Feira de Esportes de Aventura) de SP, estado que, como pólo industrial do país, movimenta o maior número feiras e congressos (ver capítulo referido a estes dois temas neste Atlas). E, como principal cidade turística do país, o Rio de Janeiro tem se destacado na área de eventos esportivos e promocionais ao ar livre que aglutina participantes, assistentes e torcedores de todas as faixas etárias e classes sociais em espaços públicos, como o Latin X Games (ESPN), Campeonatos Mundiais de Vôlei de Praia e Beach Soccer (Octagon Koch Tavares). Também se destaca no estado do RJ a indústria do entretenimento que, em 2002, totalizou R$216 bilhões, representando 10% do PIB do estado (www.centrodeconvencoes.com.br, Centro de Informações e Dados do RJ-CIDE). Vendas de artigos esportivos No setor de varejo, as lojas de artigos esportivos vêm registrando crescimento na ordem de 10% em 2001, 2002 e 2003, segundo a Associação Brasileira de Lojistas e Material de Equipamentos-ABRALEME, sediada em São Paulo. Esta entidade de classe destaca uma nova tendência apontando o crescimento de adeptos no golfe (30%), handebol (20%), tênis (15%), e squash (15%). Em 2002 a receita do setor de esportes, incluídos indústria e comércio atacadista, atingiu R$ 42 bilhões, sendo o futebol responsável por 30% das vendas. Neste ano, o comércio de material esportivo possuía 5.500 lojas especializadas no país, cujas vendas incluíam 50% de calçados, 20% de bolas, 18% de confecções e 12% de acessórios. A Zona Livre Sports (SP), empresa distribuidora de material esportivo, reúne 4 mil clientes ativos e distribui 2.600 linhas de produtos esportivos com mais de 35 mil itens. Em resumo, a indústria do esporte observada pelo seu lado de vendas aparenta ter vigor suficiente para superar crises econômicas, desde que o período em exame foi de depressão nos negócios em geral. Diferencial do Marketing Esportivo Uma base teórica do marketing esportivo é estabelecida por Philip Kotler (1999), autorchave do marketing como área de conhecimento, ao anunciar que “embora a mentalidade e o processo de marketing sejam universais, cada ramo de negócios e cada mercado possuem características específicas”. Efetivamente, o que era restrito somente ao esporte de alta competição – práticas organizadas com atletas de alto nível - até aproximadamente três décadas, passou a se configurar com estratégia de comunicação de impacto, fundindo-se a outros conceitos de marketing como o social, ecológico, promocional, relacionamento, comunitário, turístico etc. Como se transcreve de Afif (2000), a “emoção faz do marketing esportivo diferente....se você associa sua marca a 21.32 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S DO ESPORTE NO BRASIL. Mídia e esporte A mídia hoje tem sido apontada como o quarto setor da economia além de apresentar fortes vínculos com o esporte em qualquer país. Sendo notória a mobilização mundial em torno dos grandes espetáculos esportivos traduzidos pelas Copas do RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 Em outras partes do país, como no caso do complexo hoteleiro de Costa de Sauípe, no estado da BA, há iniciativas de esporte-turismo que merecem destaque. A Sauípe SA. em pouco mais de um ano de operação, já se consolidou como destino turístico no Brasil. Segundo dados divulgados pela empresa administradora do empreendimento, o resort já recebeu mais de 480 mil hóspedes, com meio milhão de pernoites - taxa média anual de ocupação de 51 % -, atingindo um faturamento durante o ano de 2001 de R$ 115 milhões, quando a previsão era de R$ 90 milhões – com base em um investimento de R$ 340 milhões. Para o diretor Presidente da Sauípe SA, Thomas Humpert, ‘’parte desse bom resultado deve-se aos eventos esportivos realizados durante o ano - a exemplo do Brasil Open de Tênis, que geraram uma visibilidade e ocupação não prevista nas projeções’’ (www.anuarioarquitetura.com.br, 2003). Em 2002, este evento, administrado pela Octagon Koch Tavares também na Costa de Sauípe, recebe o prêmio pela ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) com o Awards of Excellence, referente a categoria “facilidades” oferecidas para a realização do evento, após analise dos itens: construção das instalações temporárias no complexo turístico de Costa do Sauípe como o estádio central com capacidade para 5 mil pessoas; as estruturas nas quadras secundárias; o suporte para atendimento médico e realização de exames antidoping; área para jogadores com sala de ginástica; e restaurantes para staff e centro de hospitalidade para recepção VIP de convidados, entre outros (www.octagonkochtavares.com.br, 2003). Uma interpretação hoje corrente destes fatos esportivos que tem alavancado o turismo refere-se ao viés do entretenimento, de inequívoca importância nas oportunidades de negócios. No Brasil, a julgar por Luiz Gonzaga Trigo (2001), utilizando-se como meio o esporte, tanto o turismo, a cultura ou a educação, atrai o consumo e gera novos negócios: “É preciso informar e divertir, criar estilos de vida, gerar novas experiências para o consumidor”, recomenda este especialista em turismo. Incorporando um novo paradigma do esporte, valorizado na atualidade pelo poder de gerar novas experiências, a indústria do ecoturismo é um bom exemplo a citar já que apresenta uma “curva de crescimento na ordem de 20% ao ano no mundo e, nos últimos 15 anos, recebeu 90% a mais de investimentos” (Trigo, Ibidem). Neste particular, a Organização Mundial de Turismo estima que cerca de meio milhão de pessoas pratiquem o ecoturismo no Brasil (www.investurismo.com.br, 2003). O Plano Nacional de Turismo de 2003 considera a relevância deste setor para a retomada do crescimento e geração de empregos, tendo como meta a geração de 1,2 milhões de empregos, 9 milhões anuais de turistas estrangeiros e US$ 8 bilhões/ano em divisas até 2007. Informações da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis destacam a implantação pela iniciativa privada, de projetos turísticos (hotéis, resorts, pousadas) na ordem de US$ 6 bilhões que acarretarão 140 mil empregos diretos e 420 indiretos. Entretanto, se estas metas são comparadas com as cifras internacionais divulgadas pelo World Travel and Tourism Council-WTTC, chegarse-á a conclusão de que ainda há muito espaço para crescimento do turismo no Brasil, uma vez que o setor possui US$ 4 trilhões de faturamento; US$ 700 bilhões em impostos; 10% do PIB mundial; 10% (275 milhões) de empregos gerados no mundo; 700 mil viagens internacionais – 80% de curta distância; e 4% de crescimento médio anual, sendo que 20% no ecoturismo. Aceitando-se como válida a correlação do esporte com o turismo nos dias atuais, e também o efeito de eventos nos impactos gerados pelo esporte, torna-se possível identificar tendências da participação da indústria do esporte no Brasil nas projeções exercitadas quanto ao turismo e aos eventos em geral. Por exemplo, uma pesquisa publicada em 2002 pela Consultoria Turística Integrada-CTI e promovida pelo Fórum Brasileiro dos Conventions & Visitors Bureaux, em parceria com o SEBRAE e apoio da EMBRATUR revelou dados por via do Primeiro Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos, os quais tiveram como base o ano de 2001 e uma abrangência de todas as regiões do país. Em resumo, foram realizados no Brasil em um ano e em diferentes segmentos de atividades 327 mil eventos em 1.780 espaços. Estes acontecimentos mobilizaram cerca de 79,9 milhões de pessoas participantes, gerando R$ 37 bilhões de receita e R$ 4,2 bilhões de impostos, ao final representando 3,1% do PIB. Em conseqüência, o setor de eventos mobilizava segundo os dados vindos a público, cerca de 3 milhões de empregos diretos, terceirizados e indiretos. Estes postos de trabalho correspondem aproximadamente ao dobro do total relacionado ao esporte e atividades físicas, segundo o “Cenário de tendências gerais do esporte e das atividades físicas no Brasil” deste Atlas. Entretanto, a pesquisa referiu-se apenas aos espaços indoor e ao levar em consideração o esporte levantou os estádios e clubes como espaços de eventos, omitindo as alternativas outdoor, que certamente abrigam a maior parte das atividades físicas. Mesmo com este reducionismo, os eventos esportivos alcançaram 4,4% do total estimado de eventos, os quais deveriam ser acrescidos daqueles que estão contados primariamente como congressos, feiras, reuniões etc., mas que pertencem efetivamente ao esporte e atividades afins quando se manifestam por eventos indoor. Deixando de lado as contagens múltiplas – inevitáveis neste tipo de pesquisa, sobretudo em se tratando de eventos esportivos e de atividades físicas – e a eliminação das versões outdoor dos eventos, supõe-se que o esporte tenda a aumentar sua fatia no total de eventos no país na medida do seu reconhecimento como “ponta de lança” do turismo, como tem acontecido com o ecoturismo (ver capítulo “Turismo e esporte” nesta publicação). A Tabela 1 e a Figura 1 adiante posicionam o esporte entre as alternativas de espaços de eventos, permitindo-se admitir que este tipo de atividade pode se sobrepor aos demais, mas não ao contrário, pois clubes e estádios não constituem espaços habituais de eventos a não ser esportivos. Situação atual As abordagens ora apresentadas mostram-se sobrepostas, confundindo a indústria esportiva com o marketing de eventos. Além disso, as atuais tendências favoráveis à indústria do esporte e ao marketing esportivo no Brasil obscurecem pontos negativos antes detectados e até hoje sem respostas claras. Em princípio, cabe enfatizar que o sucesso da indústria do esporte não está mais restrito a atletas de alto rendimento e suas entidades representativas. Se ambos são os promotores desta indústria é através da realização de eventos oficiais (das federações, confederações e entidades internacionais de cada modalidade) e promocionais que se amplificam os canais de comunicação com os consumidores. Já no ano de 1997, estudos do BNDES destacavam a difícil situação das confederações esportivas que dependiam basicamente de patrocínio para desenvolvimento de suas atividades e apoio às federações esportivas. Atualmente, embora algumas entidades, já demonstrem níveis mais avançados de administração, a maioria delas parece ainda não ter encontrado um modelo de gestão que comporte a formulação de um calendário anual de eventos, o que acaba inibindo/dificultando os investimentos empresariais. Analisando sobre outro prisma, a volatilidade dos patrocinadores e incertezas da continuidade dos mesmos, também contribui para a não-solidificação deste calendário. Contudo, atuando como protagonistas e/ou co-gestores deste processo, têm surgido no mercado interno agências especializadas. E por esta via de negócios o marketing esportivo cresce 30% ao ano (período 2000 – 2002), sendo gerido por aproximadamente 40 empresas especializadas, sendo 80% de pequeno e médio porte. (Comércio Indústria & Serviço- www.dci.com.br, fonte Traffic, 2002). Dentre as agências de destacam-se, entre outras, Octagon Koch Tavares, TopSports Ventures, Brunoro Sports, Latin Sports, Arena Sports, Traffic Marketing Esportivo, Galeria Esportes e LG Ventura. Neste âmbito, se números aparentemente superlativos ressaltam os investimentos em patrocínio no Brasil, há concordância entre especialistas que o esporte nacional ainda é pouco explorado: uma pesquisa realizada, em 2002, pela Top Sports Venture (RJ) retrata que os R$ 328 milhões investidos sob a forma de patrocínio no país, representam apenas 1.3% em relação a este tipo de investimento ao nível mundial (Jornal Valor, 2002). A Tabela 2 adiante detalha este montante de investimento por esportes receptores principais em 2002, cabendo esclarecer que o valor dos patrocínios da Seleção Brasileira de futebol corresponde a quase 40% do total aplicado na modalidade futebol; o segundo lugar do Vôlei é garantido pelo acordo com o Banco do Brasil, que basicamente sustenta o vôlei de praia, as seleções e os principais atletas; e não menos importante, o patrocínio de tênis é claramente impactado pelo fenômeno Guga e pela criação de torneios no Brasil (ver capítulo “Tênis” neste Atlas). Uma síntese dos progressos e retrocessos do marketing esportivo como frente avançada da indústria do esporte encontra-se na situação dos grandes clubes esportivos do país sobre os quais comenta Afif (2000) que “a gestão profissional é um caminho inevitável para os clubes brasileiros, até por uma questão de sobrevivência”. E nesta perspectiva encontra-se em documento oficial do Ministério do Esporte e Turismo (2002) que “ainda é turva a percepção da iniciativa privada acerca do retorno comercial e financeiro de vincular a sua marca ao apoio de equipes esportivas”, acrescentando que tal argumento estende-se a todas as dimensões da indústria do esporte: “Se compararmos os mercados de licenciamento- royalties, entre os EUA e o Brasil, veremos que dos US$ 1.4 bilhões gerados no mercado americano, US$ 700 milhões (50%) são provenientes do setor de esportes, enquanto no Brasil dos US$ 100 milhões gerados, apenas US$ 6 milhões se referem ao esporte. (Redibra, Braga & Associados apud Relatório Anual de Avaliação- PPA Exercício 2002 - Ministério do Esporte e Turismo). Ou seja, muito se fala sobre a falta de investimentos do setor privado, mas a carência de dados mais concretos de pesquisa e profissionalização do esporte faz gravitar num cenário de suposições/previsões que certamente não sustentam o composto mercadológico em qualquer área. De certo, a classe esportiva deve assumir a posição de novata na área de conhecimento do marketing esportivo. Mas, mesmo assim, há questões a investigar para que se possa dar passos significativos e nortear o esporte nacional: os poucos recursos de incentivos governamentais disponíveis, como a Lei Agnelo-Piva, e a desacelerada resposta do meio acadêmico na geração de profissionais estariam hoje atendendo a demanda da indústria do esporte, do turismo e do lazer? Por outro lado, estariam as entidades representativas do esporte e do turismo estruturadas para assumir o papel de co-gestores deste processo? Fontes Pitts, Brenda G. e Stotlar, David K. Fundamentos do Marketing Esportivo. São Paulo: Porte Editora, 2002; Kasznar, I.K. & Graça, A. S. O esporte como indústria. Rio de Janeiro: Confederação Brasileira de Voleibol, 2002; Associação Brasileira de Lojistas e Material de Equipamentos Esportivo-ABRALEME (www.abraleme.com.br); Kotler, Philip. Marketing para o Século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados. São Paulo: Futura, 1999; Bitencourt, Valéria. Organização de Eventos e o 5º P do Marketing Esportivo, 2004 (no prelo); site do Instituto Ethos na Internet (Brasil, 2003); Afif, Antonio. A Bola da Vez: O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso. São Paulo: Editora Infinito, 2000; Trigo, Luiz Gonzaga. Entretenimento, uma crítica aberta. São Paulo: Editora Senac, 2001; Folha Turismo, 27/08/2001; Jornal Estado de SP, 19/05/2002; www.zonalivre.com.br; www.lojistas.org.br; www.abraleme.com.br; www.brunoro.com.br; www.topsports.com.br; www.arenasports.com.br; www.octagonkochtavares.com.br; www.marketingesportivo.com.br; www.sportsmagazine.com.br/; www.esporte.org.br; TopSports Ventures, 2002 (www.topsports.com.br). DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 21.33 I Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos no Brasil, 2001 – 2002 Fórum Brasileiro Convention & Visitors Bureau e SEBRAE apoio EMBRATUR Pesquisa: CTI – Consultoria Turística Integrada, 2002 Research on the economic dimensions of event marketing in Brazil, 2002 Fontes / sources: www.brasiliaconvention.com.br e ASN –Agência Sebrae de Notícias A pesquisa foi realizada, de janeiro a novembro de 2001, junto a 400 empresas organizadoras de eventos em 120 cidades. Os números mostram que a região Sudeste sedia a maior parte dos eventos (52%). Em segundo lugar vem a região Sul, com 19%, seguida do Nordeste, com 18%. Em quarto lugar vem o Centro-Oeste, com 9% e, por último, a região Norte, com 2%. O Estado de São Paulo é o líder nacional como preferido para sediar eventos, com 126 mil promoções, com 28,3 milhões de participantes. Abriga mais de um terço dos eventos realizados no país. Em seguida, vem o Estado do Paraná, com 23 mil eventos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 22 mil eventos, e por Minas Gerais, com 21 mil. Essa ordem modifica quando é levado em consideração o número de participantes nos eventos. O Rio fica em segundo lugar, com 14,8 milhões de pessoas. Minas Gerais vem em seguida com 8,4 milhões de pessoas. E o Paraná fica com 6,9 milhões de participantes. Brasília, a capital do país, abriga 7.293 eventos, e é superada por Goiânia, com 7.920 e por cidades turísticas do Nordeste, como Recife, com 8.604, e Salvador, com 8.684. Tabela 2 / Table 2 Investimentos em patrocínio por esportes principais no Brasil, 2002 Sponsorship investments per major sport disciplines, 2002 Em % do total de investimentos % of total investments / R$1.000,00 Tabela 1 / Table 1 Tipos de eventos e distribuição por regiões do Brasil, 2001 (1) Types of events per regions in Brazil, 2001(1) Fonte / source: Pesquisa FBC&VB/SEBRAE/CTI – Novembro 2001; (1) Respostas Múltiplas / Multiple answers Fonte / source: TopSports Ventures, 2002 Figura 1 / Figure 1 Número médio de eventos por ano, segundo a tipologia de espaços para eventos, 2001 Average of events per year, according to the typology of spaces for events, 2001 Fonte: Pesquisa FBC&VB/SEBRAE/CTI – Novembro de 2001 21.34 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006