O CONSUMO E O DESPERDÍCIO DE ENERGIA

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O CONSUMO E O DESPERDÍCIO DE ENERGIA ELÉTRICA E SUA
RELAÇÃO COM A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
*ILSA MARIA HONÓRIO DE VALOIS COELHO, ELIZABETH FERREIRA CARTAXO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM, RUA GAL. RODRIGO
OTÁVIO, 3000 – CAMPUS UNIVERSITÁRIO CEP 60077-000 MANAUS/AM
E-MAIL: [email protected]; [email protected]
1. RESUMO
As diferenças sociais implicam em diferenças demográficas, espaciais,
econômicas, ambientais e humanas, impossíveis de desconsiderar neste trabalho
que trata de consumo e desperdício de energia elétrica sob a ótica social. A
pesquisa está voltada para conhecer o potencial de desperdício de energia
elétrica em área residencial urbana, considerando que o processo de urbanização
segregou um grande contingente populacional em moradias inadequadas, onde o
uso de equipamentos elétricos é, igualmente, inadequado. Nesta primeira parte, o
foco é dado às conseqüências da urbanização para o consumo de energia
elétrica, a partir da análise de estatísticas fornecidas pelo IBGE, ANEEL, etc.,
considerando que o modelo da oferta de energia baseia-se no próprio modelo
capitalista de distribuição de renda.
2. ABSTRACT
Social
differences
include,
demography,
spacial,
economics,
environmental and human differences, that are impossible to not look on in this
study. It is about the consumption and wastefulness of the eletric energy under the
social vision. This study quest about the potency of electric energy wastefulness in
the urban residencial area, thinking that the process of urbanization segregated a
big population into inappropriate houses, where the use of electric equipments is
inappropriate equally. First, the focus of attention is the result of urbanization to
the electric energy consumption, starting from statistic analysis put up by IBGE,
ANEEL, etc., considering the offer of energy is founded in capitalist model of lace
distribution.
3. INTRODUÇÃO
A imensidão da floresta amazônica considerada em quantidade de
espécies animais e vegetais bem como na qualidade da sua diversidade
contribuiu para a idéia equivocada de que os recursos naturais seriam
inesgotáveis. Isso é perfeitamente compreensível, pois o ser humano pensa e age
conforme uma escala de valores que por sua vez dependem de condições
espaciais e temporais.
Tendo em mente, como ponto de partida para qualquer análise do
desperdício, que no início da ocupação da terra, o desequilíbrio quantitativo entre
a natureza e o homem era suficientemente grande para justificar idéia de infinitude
dos recursos naturais, deduz-se que em países onde há abundância de recursos
e dimensões exageradas como é o caso do Brasil e mais especificamente da
Amazônia, não exista uma preocupação consciente com a poupança da natureza.
Diante da oferta excessiva, os recursos naturais passam a ser utilizados em
grande escala, ultrapassando os limites do necessário e gerando o desperdício.
Além
disso,
as
grandes
dimensões
favorecem
as
diferenças sociais, geográficas, econômicas, ambientais e culturais, mostrando
um Brasil de contradições. Nesse contexto e diante do avanço tecnológico, o
consumo de um modo geral e, em especial para o objetivo desta pesquisa, o
consumo de energia elétrica, guarda também essa complexidade contraditória, na
medida em que ainda se encontram populações simples que desconhecem o
conforto proporcionado pela energia elétrica, em flagrante oposição às camadas
da sociedade dita industrial, nas quais a sofisticação do uso da energia elétrica
reflete o aprofundamento das desigualdades sociais.
4. O HOMEM E A NATUREZA
O homem, desde os primórdios, procurou transformar a natureza e dela
fazer uso, sendo essa relação, o grande motor da degradação ambiental.
Segundo Viola (2001), uma síntese dos resultados da Convenção realizada no
Rio de Janeiro em 1992, mostra que se avançou “no plano simbólico e de
conscientização – o ‘espírito do Rio’ de que fala Strong, com a sustentabilidade
ambiental tendo adquirido um peso extraordinário como princípio de legitimidade
do mundo contemporâneo”.
As mudanças no campo da consciência são inquestionáveis, porém ainda
insuficientes. Um novo conceito de sustentabilidade afirma a necessidade de
interação entre o homem e a natureza, a necessidade do equilíbrio entre dar e
retirar, entre preservar e usufruir, pois a relação entre o homem e o mundo
natural, origem de todos os males ambientais é uma relação recíproca, um
equilíbrio dinâmico onde o homem transforma o meio e é por ele transformado.
Se no princípio, o homem pequeno diante da supremacia quase divina da
natureza não podia imaginá-la finita, hoje não é mais possível ignorar o fato de
que o capital natural não é inesgotável e que o progresso precisa frear seu
avanço para garantir a possibilidade de um futuro para o mundo e para a
Humanidade.
Na prática, porém, o processo de desgaste dos recursos naturais não é
bem compreendido e o quadro da realidade atual ainda é assustador. Muito bem
retratados, por Araújo1(2003), os efeitos das atividades humanas sobre a natureza
se fazem sentir em todos os aspectos da vida no globo:
O século XX vem comprovar, os efeitos nocivos ao
meio ambiente, causados pela ação antrópica e a constante
busca por um crescimento e desenvolvimento divorciado
das questões ambientais. Exploração de populações,
sucateamento de patrimônios históricos, concentração de
riquezas, produção excessiva de todo o tipo de lixo,
destruição de ecossistemas, chuvas ácidas, escassez dos
recursos hídricos, utilização desregrada de agrotóxicos,
destruição de florestas, extinção da fauna e flora e efeito
estufa - com o desequilíbrio energético global; derretimento
das calotas polares, com o posterior aumento dos níveis
das superfícies líquidas que inundarão cidades litorâneas;
1
Joel de Araujo é docente da Universidade Federal Fluminense (UFF), doutorando em Educação
(UFRJ) e mestre em Ciência Ambiental.
buraco na camada de ozônio; poluição atmosférica, erosão
dos solos agricultáveis, contaminação do lençol freático,
desertificação, queda na qualidade de vida humana, dentre
outros, passaram a gerar problemas de ordem, social,
econômica, cultural e ambiental. São heranças de uma
socialização nociva que nos levou à queda na qualidade de
vida individual (humana) e coletiva (planetária).
Assim, celebrando o desenvolvimento a qualquer custo o homem
provocou transformações profundas no ambiente e na sociedade. Só para
destacar uma das mais danosas, cumpre mencionar o processo acelerado de
urbanização cujos efeitos intensos ultrapassam, inclusive, os limites das cidades,
pois segregam populações em guetos de pobreza, implicando em injustiça social
e, portanto, em insustentabilidade. Segundo Hogan, (1997) o problema principal
não é o crescimento demográfico e sim a distribuição e a saúde da população, “a
falta de oportunidade e de justiça social nos locais de origem, a falta de acesso a
crédito agrícola e a assistência técnica”. As cidades oferecem a possibilidade de
uma vida melhor, mas os benefícios não são universais, pois muitos daqueles que
migram da zona rural para a zona urbana encontram condições de vida
desfavoráveis, somando-se aos contingentes de favelados e de moradores de rua
que, vivendo em condições sub-humanas, não têm alternativa senão o
esgotamento dos recursos do meio. Existe um grande desequilíbrio de espaço e
de oportunidades e o fluxo dos benefícios tem movimento direcionado
privilegiando os já muito privilegiados.
5. ENERGIA E DESIGUALDADES
Movimento é a palavra que traduz o mundo em transformação desde a
descoberta do fogo pelo homem primitivo, significando relações recíprocas que
podem estar em equilíbrio ou não, e que, portanto, não deveria ser como não foi,
no passado, incompatível com a preservação. As relações homem-natureza,
jamais representaram um ecossistema estático, mas um sistema dinâmico que se
modificou ao longo dos tempos e que produziu, também, diferenças entre os
seres humanos, habitantes de um mesmo espaço cada vez menor. No caso
específico do fornecimento de energia elétrica, tem-se um movimento crescente
que caminha aceleradamente para o caos considerando o uso de fontes nãorenováveis, o desperdício e um “modelo tradicional de planejamento energético”
pautado no aumento da oferta para atender a uma demanda igualmente
crescente. (CARTAXO, 2003)
O modelo, que se baseia na lógica de acumulação capitalista, no
consumismo exacerbado e no desperdício de energia e de recursos naturais,
acarreta efeitos perversos na qualidade de vida das populações, criando
mecanismos que injetam uma dinâmica cada vez maior ao movimento de
transformação das sociedades. Afinal, poucas pessoas se dão conta de que a
“pegada ecológica” produzida pela urbanização acelerada não justifica a aparente
riqueza que o desenvolvimento industrial imprimiu nas cidades contemporâneas.
Essa prosperidade foi impulsionada pelo preço do petróleo que era o
catalisador do desenvolvimento econômico no período pós-guerra (1945-1975)
quando a economia mundial se desenvolveu grandemente às custas da
elasticidade da oferta dos hidrocarbonetos. (MARGLIM, 1990, apud FURTADO,
2003)
A este fenômeno se refere Cartaxo (2003) quando considera a criação de
uma sociedade “energointensiva fortemente dependente de energia importada,
energicamente ineficiente”. Uma sociedade de consumo baseada nos baixos
preços do petróleo importado e que, como se quer destacar aqui, constituiu uma
sociedade de elite.
Ao tratar do problema consumo/desperdício de energia elétrica do ponto
de vista social, a relação sociedade-natureza precisa ser encarada com
transparência, evitando a linguagem econômica que por tanto tempo considerou
os recursos naturais como bens livres. Segundo Brüseke (1997), “A teoria
econômica que acompanhou o surgimento da sociedade industrial era incapaz de
identificar a natureza como fonte de valor e como algo esgotável” e, sendo
considerada uma fonte inesgotável de recursos, era independente das relações
humanas. Essa idéia de desenvolvimento ilimitado levou a um consumismo sem
freios que, afinal, entrou em choque com a limitação dos recursos naturais. No
Brasil, além de aumentar o consumo de bens, de recursos e de serviços, cresceu
também o nível de pobreza devido, em grande parte, aos fluxos migratórios2.
Analisar o problema da crise energética sob o âmbito das injustiças
sociais, como parte integrante de um processo maior de distribuição desigual de
renda e oportunidades, não é cogitado pelas classes dominantes que preferem
penalizar o consumidor e continuar beneficiando com grandes subsídios,
indústrias eletrointensivas como ocorre com as indústrias de alumínio do Pará e
Maranhão. Dessa forma o sistema de injustiça social também reflete a
desigualdade na distribuição de energia privilegiando uns e penalizando outros.
De fato, o retrato do consumo médio de energia elétrica por domicílio e por classe
social sequer foi cogitado nem mesmo pelo principal órgão de estatística do
Brasil, o IBGE. A Eletrobrás também não possui esses dados e,
conseqüentemente a Manaus Energia idem.
Segundo dados fornecidos pela ANEEL, a expansão do consumo de
energia elétrica nos últimos tempos teve uma participação expressiva do
segmento residencial devido ao crescimento populacional concentrado nas zonas
urbanas. Considerando que o processo de urbanização contou, principalmente
com a contribuição das populações migrantes, que vivem abaixo das linhas de
pobreza, e que em grande parte estão excluídos do fornecimento de energia
elétrica, conclui-se que tem gente consumindo energia de forma insustentável,
inviabilizando uma justa distribuição. Na verdade, a oferta de energia elétrica
segue o mesmo modelo de distribuição de renda que favorece um pequeno grupo
da sociedade.
6. A METODOLOGIA DE ANÁLISE
A análise do consumo e desperdício e sua relação com o processo de
urbanização constituem parte de uma pesquisa maior cuja proposta de avaliar o
desperdício de energia elétrica em áreas de maior e menor poder aquisitivo, com
o objetivo de alertar para o fato de que os locais onde se concentram os maiores
índices de pobreza, embora tenham um consumo por domicílio menor,
representam um grande contingente populacional cujo consumo total cresce
paralelamente ao número de habitantes com péssima qualidade de vida. Do outro
2
No Amazonas, são mais de dois milhões de pessoas concentradas principalmente nas zonas
urbanas dos municípios.
lado da relação tem-se o retrato da sofisticação em termos de consumo e
tecnologia. Os efeitos desse desequilíbrio podem ser vistos nas mazelas da
sociedade quanto à saúde, educação, justiça e segurança.
Neste primeiro momento foram consultadas as estatísticas fornecidas pelo
IBGE, ANEEL, MANAUS ENERGIA etc. sobre população, urbanização e consumo
e, com base nas notas de aula da disciplina Energia e Meio Ambiente foram
analisados os resultados obtidos sem a pretensão de esgotar as possibilidades da
pesquisa. Posteriormente, com a pesquisa de campo, os dados sobre a renda
familiar, o número de aparelhos elétricos e o consumo mensal numa amostra de
domicílios, serão necessários para avaliar a relação entre o consumo e a
distribuição de renda.
7. UMA ANÁLISE PRELIMINAR
Segundo o relatório State of the World 2004 o Brasil é o sétimo mercado
consumidor do mundo (57,8 milhões de consumidores), mas essa “sociedade de
consumo” conta com uma população de excluídos de 67%. Com relação ao
consumo de petróleo, o Brasil é o sexto colocado. O relatório também informa que
as pessoas, no Hemisfério Sul estão consumindo mais energia do que a média
dos habitantes do Hemisfério Norte sendo que o Brasil ocupa o quinto lugar em
consumo de energia elétrica, isto é 1.878 kilowatt/hora por pessoa. (Fonte: BBC
BRASIL, 2004)
A evolução da participação da energia elétrica no mercado nacional
demonstra que, nas últimas décadas as regiões menos desenvolvidas têm
apresentado um aumento nas taxas de consumo apesar das disparidades sociais
e regionais. A questão que se coloca é: estará havendo melhora na qualidade de
vida das populações ou se trata de processo migratório? A segunda explicação
parece mais coerente com os resultados encontrados, quando se verificou que a
população urbana brasileira correspondia, em 2000, a 81,25% do total da
população do Brasil, variando em muito a quantidade relativa de habitantes da
área urbana em cada município conforme quadro abaixo. (IBGE, 2003)
FONTE: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2001
Figura 1 – Evolução da ocupação urbana e rural no Brasil de 1997-2001
No Estado do Amazonas, por exemplo, a população residente nas sedes
dos municípios tem taxas mais altas que as da população total do Estado,
destacando-se a cidade de Manaus com 1.405.835 habitantes segundo o IBGE,
aproximadamente 50% da população total do Estado, ou seja 2.812.557
habitantes. (IBGE- Censo de 2000)
Um aspecto importante a ser observado é que as migrações assumiram a
partir da década de 80 um novo vetor. Até então se tratava de migrações de
regiões menos desenvolvidas para regiões mais desenvolvidas, principalmente do
nordeste para outras unidades. Após 1980, por várias razões, os fluxos
populacionais mais expressivos passaram a ser intra-regionais, isto é, de
pequenas para grandes cidades. Não se trata do crescimento das cidades em
função do crescimento da população nacional e sim do fluxo dos migrantes que
por falta de acesso a oportunidades na região de origem, migram para centros
mais desenvolvidos. (KAMPEL; CÂMARA; MONTEIRO, 2001)
No Amazonas, especificamente, contribuíram para este processo, a Zona
Franca de Manaus, e a implementação de um conjunto de políticas de
desenvolvimento que mudaram o padrão de povoamento regional intensificando o
ritmo de urbanização.
Energia e desenvolvimento são indissociáveis, mas a dinâmica desse
relacionamento resulta em forte pressão sobre o meio ambiente, uma vez que o
crescimento econômico tem estado atrelado á expansão da oferta de energia.
Não obstante, ao longo das três últimas décadas, verificou-se um despertar da
consciência ecológica justificando uma maior preocupação com a sustentabilidade
energética. Ainda assim, essa não é uma preocupação geral de todo o povo
brasileiro, e ainda está longe de sê-lo, pois a situação de carência da grande
maioria da população estabelece prioridades que não extrapolam os limites da
sobrevivência individual e familiar.
Ligar a questão da energia elétrica à questão da exclusão social é um
desafio que precisa ser encarado, desmascarando posições que prometem
crescimento ilimitado e melhoria da qualidade de vida e colocando às claras os
interesses da acumulação a qualquer preço.
Aumenta o consumo no Brasil, mas aumenta ao mesmo tempo o número
de excluídos da cidadania e, como a matemática não mente, existe uma
distribuição desigual de renda e de acesso a bens e serviços. Concentra-se um
consumo de energia elétrica exagerado, numa pequena parcela da população
privilegiada deste país, elevando as taxas de desperdício, por domicílio, desse
grupo populacional e, com o crescimento da pobreza, aumenta também o
desperdício em números totais nas áreas periféricas.
A solução passa pela distribuição equilibrada. Não se trata tão somente
de elevar a renda familiar dos 67% excluídos. Trata-se de promover políticas que
ofereçam à sociedade, iguais oportunidades e direitos. Trata-se também de dar
real importância á educação ambiental, único caminho, em longo prazo, de
promover mudanças.
8. CONSIDERAÇÕES
Toda mudança de comportamentos é revolucionária, pois mexe com
hábitos e costumes, há muito tempo, enraizados na cultura de cada povo ou de
cada região, e, para efetivar essa revolução é necessário mais do que
conhecimento; é indispensável vontade política. A participação de cada indivíduo
e de cada comunidade nas decisões que dizem respeito a todos precisa ser
incentivada e implementada nos planejamentos participativos. Segundo essa linha
de raciocínio, os objetivos desta pesquisa não se limitam à necessidade de
“racionar para não faltar” que é a filosofia da sustentabilidade. O que se pretende
extrapola os limites do simples racionamento e propõe uma ação educativa para
uma melhor utilização da energia, isto é, dirigida a uma mudança de postura e de
comportamento, investindo, portanto, na ponta do desequilíbrio energético de
forma permanente.
Ao mostrar a grande diversidade que existe no âmbito da ocupação do
espaço urbano e conseqüentemente no âmbito do acesso de cada indivíduo a
bens e serviços evidencia-se o caráter discriminador e injusto da oferta de energia
desvelando a face moralmente repugnante das desigualdades de consumo entre
ricos e pobres. Estas disparidades representam um fantástico obstáculo para uma
maior cooperação entre indivíduos e nações, um requisito básico para a
continuidade das atividades humanas, pois o monopólio da degradação não
pertence unicamente às populações mais desenvolvidas. Tanto os padrões
insustentáveis de consumo dos mais ricos quanto a miséria são alavancas da
degradação.
Qualquer medida, mesmo as de natureza técnica tem que começar pelo
indivíduo consciente, pois o desenvolvimento do homem é um prolongamento do
desenvolvimento da natureza. Desse ponto de vista conclui-se que é no mínimo
saudável que se promova uma discussão sobre a temática do desperdício,
considerando que, fazendo parte das atividades humanas, a utilização da energia
elétrica pode ser extremamente impactante sem uma tomada de consciência
sobre a finitude dos recursos naturais, e sobre o próprio impacto gerado pelo
desperdício.
A energia elétrica, ainda muito dependente dos combustíveis fósseis, na
região norte do Brasil e em muitos paises no mundo, está diretamente ligada a
problemas ambientais potencialmente graves, enfrentados pelas sociedades
contemporâneas. O efeito estufa e da chuva ácida, por exemplo, resultantes da
queima de combustíveis fósseis, das indústrias poluentes e da combustão nos
automóveis, mantêm uma estreita relação com a energia elétrica proveniente das
fontes não renováveis. Resultantes, em síntese de hábitos enraizados
culturalmente e baseados na idéia de infinitude dos recursos naturais o que
obstaculiza as ações educativas no sentido de mudança de comportamentos.
Recomendações como economizar energia desligando as luzes desnecessárias,
usar o ar condicionado racionalmente, utilizar ventiladores de teto, comprar
aparelhos que sejam eficientes quanto ao consumo de energia, encontram
resistências em todas as classes sociais, inclusive entre os mais pobres cujo
sonho de ascensão social passa por um consumo maior de produtos e serviços.
Acredita-se, e este será objeto de pesquisa posterior, que um novo
modelo de desenvolvimento que buscasse eliminar as enormes desigualdades
sociais resultaria em maior economia de energia, pois ao mesmo tempo em que
algumas famílias, ao melhorarem seu padrão de vida, teriam um consumo
residencial aumentado, outras seriam levadas a um consumo menor.
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