A EXCLUSÃO SOCIAL DO OBESO: 1- Introdução: Atualmente a obesidade preocupa a todos, já tendo chegado na esfera da Organização Mundial de Saúde (OMS). Um estudo do Ministério da Saúde diz que a OMS já considera a obesidade um problema de saúde pública tão grave quanto a desnutrição. Segundo o jornal O Globo do dia 30 de Janeiro de 2005 o Ministério da Saúde está preparando uma campanha de mobilização contra a obesidade, querendo ter como garoto-propaganda o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também luta contra o peso. O assunto está sendo tratado como prioridade no ministério. O secretário de Vigilância em Saúde diz que a causa é mais do que justa, pois se trata de salvar vidas. Arnaldo Bloch, cronista de um jornal de grande circulação do Rio de Janeiro1, traz a reflexão sobre o horror aos gordos que nossa população em geral se permite ter: “Uma das mais interessantes repercussões do caso Garotas Tchecas de Ipanema é a constatação do horror absoluto que a maioria do povo carioca, principalmente o da Zona Sul, tem à obesidade feminina”. Esta afirmação nos faz pensar sobre o preconceito a que estão sujeitas as pessoas que estão acima do peso. Os especialistas concordam sobre o princípio de que as diferenças culturais não podem colocar em causa os direitos do homem e do cidadão. Entretanto assistimos ao processo de exclusão social a que são confinados aqueles que não estão dentro do padrão de beleza imposto pela mídia. Parece que Bloch, em sua crônica semanal, nos fornece subsídios importantes para reflexão, sobretudo quando ousa associar gordos com prazer e mais ainda com prazer sexual: “As quase-gordinhas e as gordinhas são muitas vezes mulheres sensacionais, de sensualidade e fogo intensos, e com uma beleza à parte para os que apreciam mais pele que ossos. As gordonas, se menos palatáveis à maior parte dos gostos em vigor, têm seus afetos cativos quando sabem se transar”. A exclusão social do obeso pressupõe também uma ausência de poder que traz embutida uma impossibilidade de exercitar sua cidadania. O obeso está tão acostumado a abrir mão dos prazeres que acaba abrindo mão também de seus direitos. 1 O Globo, dia 29 de Janeiro de 2005, sábado 2-Obesidade na cultura: Num esforço de contextualização para melhor compreender a questão, percebo que outrora a definição do que era considerado “obeso” ou “gordo” era muito diferente. A definição social da boa aparência era outra. Gordura não era só sinônimo de beleza, mas, também, de status social. Não havia formosura, sem gordura! Gordura significava riqueza! Havia também uma correlação direta entre gosto alimentar e gosto sexual2. Não é à toa que expressões como gostosa, suculenta ou apetitosa são freqüentemente utilizadas para se referir às qualidades femininas. A partir da metade do século XIX a obesidade começou a ser rejeitada, apesar das preocupações dos higienistas da época alimentarem a moda da gordinha porque temiam que elas se tornassem anêmicas ou histéricas. O século XX trouxe muitas transformações. Na Europa, multiplicavam-se os ginásios, os professores de ginástica e os manuais de medicina - que chamavam atenção para as vantagens físicas e morais dos exercícios. As mulheres começam a pedalar ou a jogar tênis no continente europeu e não faltou quem achasse a novidade, imoral, ou até mesmo, pecado. E a relação estabelecida entre a posição sexual e o montar na bicicleta foi o responsável pela maior resistência ao novo meio de transporte para as mulheres por acreditarem que elas poderiam usar o veículo como fonte de prazer masturbatório. As mulheres tornam-se mais leves. As pesadas matronas de Renoir são substituídas pelas sílfides de Degas3. Hoje, microcâmeras entram no corpo e sugam camadas de gordura entre peles e músculos; transferência de gordura de uma região do corpo para outra, ou aplicações de silicone que funcionam como massa de modelar, permitem à mulher sentir-se mais magra com a ilusão de estar mais saudável. Hoje, a gordura cresce mais rapidamente entre as classes desfavorecidas que não podem se dar ao luxo de buscar tratamento médico e psicológico. Mas nada disso é novo. Procura-se o famoso equilíbrio que parece faltar, tanto na discussão sobre a “Fome Zero”, quanto no horror à gordura que tomou conta do nosso país. O Jornal O Globo, do dia 30 de janeiro último afirma que “as dietas à base de farinha e frituras engordam a população pobre e fazendo com que o Brasil enfrente dois tipos de doença: as associadas à gordura e as ligadas à falta de comida”. Sendo a obesidade uma questão cultural verifico que ela também já teve um lugar privilegiado na história da humanidade. Desde o início dos tempos atuais, quando começou o culto à magreza, percebe-se que à obesidade foi destinado o lugar da exclusão. O mundo globalizado que diminui distâncias e espaços também ficou menor para os obesos. Em sua ambigüidade, a globalização disseminou os hambúrgueres e as fritas, que são os representantes máximos desse aumento de peso. Nestes tempos de "fast food" a obesidade ganha então uma nova dimensão, tornando-se um problema de saúde pública, saindo da polaridade feio x bonito ou aceito x excluído, para entrar na questão: morbidade x saúde. Não há mais espaço para tantos excessos ou tanta gordura. Os obesos experimentam além da exclusão social e da falta de poder, uma baixa auto-estima 2 - DEL PRIORE, Mary e SÁ FREIRE, Dirce de – O corpo feminino e o preço da inclusão na cultura contemporânea, no prelo, mimeo, 2003. 3 - Cf. BERTIN, Célia – A mulher nos tempos de Freud, São Paulo, Papirus Editora, 1990 e WEBER, Eugen – França, fin de siècle , São Paulo, Cia das Letras, 1988. que potencializa ainda mais os núcleos relativos à compulsividade, à ansiedade, às insatisfações sexuais e ao medo de se expor, tão presentes nesse processo de "engordamento". Ainda assim, mesmo quando obesidade é doença, quem está ali é gente, com personalidade, voz, humor, jeitão. Mas os sintomas pouco representam se comparados com a morbidade encontrada quando a obesidade já está instalada. Refiro-me ao fenômeno da Obesidade Mórbida e de suas conseqüências, tanto do ponto de vista médico (a dificuldade nas articulações da marcha, a diabetes do tipo II, o aumento da taxa do colesterol e do triglicerídeos, a hipertensão arterial e as eventuais complicações cardíacas que se seguem), quanto do ponto de vista emocional, como o processo de “anestesiamento” ou “congelamento” do sentir humano. 3- O Papel da mídia numa cultura lipofóbica: Observemos o papel desempenhado pela mídia junto à vontade de transformação dos corpos femininos. As mulheres estariam buscando atingir um determinado modelo, ou buscando agradar um companheiro? Nesta tentativa de busca, parece-me que elas se perdem num excessivo narcisismo. Vale lembrar que a definição que Laplanche4 utiliza para narcisismo é, por referência ao mito de Narciso, "o amor pela imagem de si mesmo", tão presente na nossa sociedade. Esse narcisismo é alimentado por uma grande dose de masoquismo (haja vista o alto grau de sofrimento físico a que podem se submeter para atingir o “padrão Barbie de beleza”), impulsiona a "indústria do retalhamento" para níveis de requinte e de perfeccionismo só dignos de um Narciso da (nossa) era do titânio. Como não podia deixar de ser, esse processo de retro-alimentação da autoimagem não precisa necessariamente passar pelo outro, ou melhor, não considera o outro ou a opinião que ele possa ter sobre as causas ou os efeitos dessas possíveis transformações. É claro que acaba havendo um efeito sobre o outro, mas ele é fruto muito mais daquilo que esta mulher acredita ter transformado em si própria do que uma efetiva mudança nesse corpo retalhado. O outro parece estar muito mais identificado com aquilo que Narciso chamaria espelho (sobretudo o das academias de ginástica), ou ainda como corolário desta forma especular: fotografia, filme ou last but not least, televisão, ou seja, a ditadura da mídia. Como contraponto, observo que não é dessa mulher plastificada que ouvimos falar em nossos consultórios. Os clientes adultos masculinos nos falam de companheiras de carne e osso, muito mais carne do que osso, ao contrário do que querem os meios de comunicação, e muito provavelmente o círculo de amigas e conhecidas que legitimam esse (falso) desejo de manterem um corpo esculpido de acordo com o “modelo Barbie de consumo”. As mães desses homens adultos, que exercem uma grande influência sobre suas escolhas amorosas, não partilhavam dessa estética perversa que veste como uma camisa de força o imaginário de suas mulheres e companheiras. Percebo uma tentativa, na maioria desses clientes, de provar para suas companheiras que estão satisfeitos com seus corpos, que chegam mesmo a achá-los belos, mas não são ouvidos, pois suas afirmações lhes soam como um reles afago numa ferida narcísica, não podendo, portanto, serem 4 LAPLANCHE E PONTALIS - (1991) Vocabulário da Psicanálise, 11a. ed., São Paulo, Martins Fontes, p, 287. consideradas como verdadeiras. A verdade seria então atingir esse corpo apregoado pela mídia, calcado, no que chamo, de "estética da carência". É como se quisessem apagar as singularidades de cada corpo pela necessidade de identificação com um modelo predeterminado que não permite o desabrochar de uma identidade feminina, mais livre e menos comprometida com os ditames de uma lei que nos impede de envelhecermos com dignidade. Será que a tão exigida associação de saúde com juventude não permitiria outras formas de associação? Haveria a possibilidade de envelhecer de forma saudável sem se retalhar? Será que podemos escolher cultivar a sabedoria que o tempo proporciona? Ou será que o passar dos anos só pode nos trazer os malefícios da lei da gravidade? Não é à toa que um sabonete de projeção internacional tem como mote neste verão de 2005 a produção de biquínis por um estilista famoso em todos os tamanhos, incluindo o tão execrado GG, utilizando-se para isso do significativo slogan de que o sol nasceu para todas, tendo em seu quadro de modelos tanto as gordinhas quanto as esquálidas. 4 – A Obesidade Mórbida na cultura lipofóbica: Precisamos reconhecer que a gordura pode virar doença, e atingir níveis considerados graves, como o próprio nome da doença indica - Obesidade Mórbida. E nesse sentido também precisamos lembrar que o Direito vai permitir colocar em movimento as condições de uma sociedade multicultural, dando legitimidade à implantação de uma política de saúde pública que disponibilize, por exemplo, a cirurgia de redução de estômago para àqueles que não tem acesso a um plano de saúde da rede privada. Quando buscamos dar um contorno teórico à obesidade precisamos, em primeiro lugar, reconhecê-la como uma doença, para desta forma, sairmos do enfoque leigo que permite situá-la como uma falha de caráter ou mesmo falta de educação daquele que come mais do que precisa: “Há uma série de mitos que ainda persistem sobre a obesidade e que atravanca de maneira absurda o conhecimento da doença – e é doença sim. A obesidade causa grandes dissabores aos gordos, quer físicos, estéticos ou psicológicos e, pior ainda, ela vem crescendo de maneira espantosa, caracterizando o que podemos chamar de epidemia de obesidade” (HALPERN, A. – Mitos e verdades - Obesidade, São Paulo, Contexto, 1997, p.9) Aceita mundialmente como método mais eficaz de se determinar o grau de obesidade de uma pessoa é a avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC). Este índice é calculado dividindo-se o peso em quilos pela altura em metros ao quadrado. Por exemplo, uma pessoa de 1,70 m e peso de 90 kg tem um IMC = 31,14, ou seja, tem uma Obesidade Leve. De acordo com a tabela abaixo são classificadas as diferentes categorias de obesidade - IMC de 20 a 25 - Peso Saudável - IMC de 25 a 30 – Sobrepeso - IMC de 30 a 35 - Obesidade Leve - IMC de 35 a 40 - Obesidade Moderada - Acima de 40 - Obesidade Mórbida Na visão de Alfredo Halpern5 as possíveis causas da obesidade são as seguintes: obesidade de nascença; obesidade pubertária; obesidade após o casamento; obesidade após a gravidez; obesidade pós-cessação de atividade física; obesidade após deixar de fumar; obesidade causada por drogas; obesidade da menopausa; obesidade por causas endócrinas; obesidade causada por causas psíquicas (angústia, depressão ou carência afetiva). Para este autor, a capacidade de uma pessoa engordar depende bastante de quanto ela come, mas também de quanto ela queima de calorias, ou seja, de quantas calorias são queimadas do depósito de gordura e de quanta gordura ela é capaz de fazer. Ainda na visão deste mesmo médico endocrinologista, depende do funcionamento de cada organismo e de seus componentes genéticos, uma vez que os genes influenciam mais a obesidade do que o ambiente. Quando o pai e a mãe são obesos, a chance de seus filhos serem obesos é de 80%; quando só um dos pais sofre de obesidade, a chance do filho ser obeso cai para 50%. Entretanto, se os pais têm peso normal, a probabilidade de seus filhos tornarem-se obesos é menor que 10%: “A influência dos hábitos familiares – de comer muito ou de manter pouca atividade física – é indiscutível. Mas, com certeza, o fator genético pode muitas vezes explicar a obesidade familiar”. (op. cit., HALPERN, p.23) Foi na proporção da gravidade desses sintomas, que surgiu a nova terapêutica, a gastroplastia, que é a cirurgia de redução do tamanho do estômago. Esta é uma intervenção cirúrgica de grande porte que "opera a barriga, mas que não opera a cabeça". Por isso é necessário um suporte psico-terapêutico que permita acompanhar as transformações estruturais pelas quais passa esse "novo corpo" para que, impedido de engordar e livre do efeito sanfona, possa mover-se em direção ao prazer6. A cirurgia bariátrica, por consenso mundial, esta indicada para os obesos que preencherem determinados critérios, tais como: possuir um Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 40; ou no caso de ter o IMC de 35 com doenças associadas à obesidade (co-morbidades); na ausência de doenças endócrinas como causa da obesidade; e na ausência de psicopatias graves, incluindo viciados em droga e álcool7. Quais os objetivos da cirurgia? O objetivo do tratamento cirúrgico é não só eliminar ou minimizar as doenças associadas à obesidade, como também resolver os problemas psicológicos e sociais causados pela mesma nas coisas mais simples da vida, como na higiene pessoal, problemas de locomoção, atividades sociais, 5 - HALPERN, A. – Mitos e verdades - Obesidade, São Paulo, Contexto, 1997 As informações dos dois últimos parágrafos foram extarídas de SÁ FREIRE, Dirce de e ARRUDA, José - "Gastroplastia: Uma Solução Mágica?" in obra jornalística:"Oxigênio", Ano III, n°17, Agosto de 2001, p.10 7 - Cf. “Hipertexto” retirado do site intitulado : Cirurgia para Obesidade Mórbida – da Clínica GastroEnterológica Ribeirão Preto, sem identificação de autor, retirado da Internet em 11 de junho de 2003. 6 sexuais e no trabalho. Resumindo, o objetivo do tratamento cirúrgico é melhorar a qualidade de vida do obeso, resolvendo os problemas de ordem física e psicossocial que o excesso de peso acarreta. Esta cirurgia só é indicada para quem tem Obesidade Mórbida, (IMC acima de 40) e não para quem só precisa perder alguns quilos que tem em excesso, como nos leva a crer a banalização desta cirurgia promovida pela mídia. Com a disseminação que tem caracterizado essa cirurgia assistimos a um processo de banalização dos riscos que ela envolve, fazendo com que cada vez um maior número de pessoas busque essa alternativa como uma solução mágica para um problema que não pode ser tratado com varinha de condão, mas com muita seriedade para não perder de vista a gravidade deste procedimento cirúrgico. A cirurgia da Obesidade Mórbida é um procedimento complexo que pode ter intercorrências, como qualquer outra cirurgia de grande porte, mas, quando bem indicada e o paciente bem preparado, se torna um excelente método no tratamento da Obesidade Mórbida. Esta cirurgia é tão ou mais radical e violenta quanto a própria obesidade. É claro que existe um ganho estético, mas o objetivo deve ser a busca e a manutenção da saúde e da vida. Esta cirurgia pode representar um limite ou um "basta!" que o obeso/doente sozinho não consegue dar. Isso não quer dizer que o obeso não tenha força de vontade8. Muito pelo contrário, pois a maioria dos obesos já se submeteu à inúmeras dietas, conseguindo perder muito peso. Manter este peso é muito difícil em função dos bloqueios emocionais e das dificuldades físicas que se somam a compulsividade alimentar. Os pacientes vivenciam um verdadeiro processo de “Renascimento” depois da cirurgia. Com certeza não faltam motivos que justifiquem esta vivência, pois por um lado esta cirurgia remete a pessoa a fases muito primitivas de sua vida e por outro permite que deixe desabrochar (renascer) o que de mais verdadeiro está encoberto pela gordura. Estar limitado ao consumo, única e exclusivamente de líquidos, por exemplo, como acontece no pós-operatório imediato, facilita e explica esse processo regressivo. Portanto, é muito importante contar com o apoio de uma terapia individual ou de grupo. O tratamento em grupo oferece a oportunidade de trabalhar junto com outros obesos, trocando experiências sobre as questões relativas aos desconfortos, mudanças e conquistas experimentados pelos pacientes que se submetem a este procedimento cirúrgico. Salvo algumas exceções, nossos desconfortos emocionais, nossas tristezas ou nossos momentos depressivos não costumam resistir a uma boa conversa, ou ao nosso programa preferido ou mesmo a uma boa sessão terapêutica, mas o sofrimento que a obesidade representa não dá trégua. O obeso não esquece nem um minuto que é obeso. Depois da cirurgia de redução do estômago uma paciente afirmou ter vontade de gritar: “A tortura da gordura nunca mais”. Com 4 anos de operada, essa mesma paciente, que hoje pesa 62kg, tendo perdido 66 kg, afirma que: “Hoje sou 66 quilos mais feliz”. Não basta emagrecer, é necessário desidentificar-se com o corpo obeso para que a auto–imagem se atualize no ritmo das mudanças corporais vividas. A tarefa terapêutica é garantir que este 8 - MARCHESINI, Simone Dallegrave - Aspectos Psicológicos da Obesidade, Internet, Junho de 2003. procedimento se traduza no resgate da saúde integral a partir do desejo legítimo de emagrecer, evitando que esta cirurgia se traduza em apenas mais um retalhamento corporal. E para que o paciente atinja seu objetivo é importantíssimo que ele aceite se submeter, sobretudo no primeiro ano depois da cirurgia, a uma reeducação alimentar e ao apoio psicológico, pois a terapia ajuda o paciente a caminhar na direção da realização de seu verdadeiro desejo, resgatando uma relação mais saudável com seu corpo. 5-Conclusão: O obeso seria um excluído ao qual a sociedade não reconhece nem a legitimidade de ocupar esse lugar, e nem tampouco o direito de estar fora dos padrões estéticos? Será que ele só estaria vivendo esse desconforto por falta de educação?. Será que o obeso só precisaria ser educado? Seria o obeso um sem educação? Não é à toa que se fala tanto em reeducação alimentar para os obesos. Eles também seriam um excluído do poder? Sabemos que é mais difícil encontrarmos um obeso ocupando cargos de direção. O “excesso de gordura” acaba se traduzindo em “falta de poder” e na conseqüente escassez de prosperidade. Não quero insinuar que o obeso que ocupa esse lugar na pirâmide social o faça exclusivamente em função do seu excesso de peso, pois acredito que as mudanças dependem da redistribuição de renda e do fim das desigualdades entre ricos e pobres. Claro que a partir de uma melhor distribuição de renda, estaríamos aptos para construir uma democracia inclusiva e intercultural. Seria importante que a sociedade entendesse a necessidade de uma cirurgia de redução do estômago também como uma forma de inclusão social do obeso, transformando-a na “cirurgia da inclusão social”. Será que existe um preço a ser pago pelo obeso para se incluir nessa cultura lipofóbica? Quanto será que custa esta inclusão? Será que tem o mesmo custo que os 30% a mais que um obeso paga para poder usar a roupa que está a mostra na vitrine? 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS : BASSO, Theda e PUSTILNIK, Aidda, - Corporificando a consciência – Teoria e prática da Dinâmica Energética do Psiquismo, São Paulo, Instituto Cultural Dinâmica do Psiquismo, 2000. BERTIN, Célia – A mulher nos tempos de Freud, São Paulo, Papirus Editora, 1990 CYRULNIK, B. (1999a) - Un Merveilleux malheur, Paris: Editions Odile Jacob. _____ (1999b) - Souffrir mais se construire, Ramonville Saint-Agne: Éditions Ères. _____ (2000) - Ces enfants qui tiennent le coup, Revigny sur Ormain: Hommes et Perspectives. DEL PRIORE, Mary - Corpo a corpo com a mulher – história das transformações do corpo feminino no Brasil, São Paulo, Senac, 2002. _____ e SÁ FREIRE, Dirce de – O corpo feminino e o preço da inclusão na cultura contemporânea, no prelo, mimeo, 2003. FLANDRIN, Jean-Louis – “Manger, une pratique culturelle”, in Sciences Humaines, n.135, février, 2003. HALPERN, Alfredo . – Mitos e verdades - Obesidade, São Paulo, Contexto, 1997 HIPERTEXTO, no site intitulado : Cirurgia para Obesidade Mórbida – da Clínica GastroEnterológica Ribeirão Preto, sem identificação de autor, retirado da Internet em 11 de junho de 2003. MARCHESINI, Simone Dallegrave - Aspectos Psicológicos da Obesidade, Internet, Junho de 2003. RUETIMANN, Ana Cristina, SANTOS, Nancy Andrade S. e AMARAL, Moacir – Metodologia – Dinâmica do Psiquismo, 2003. SÁ FREIRE, Dirce de e ARRUDA, José - "Gastroplastia: Uma Solução Mágica?" in obra jornalística:Oxigênio, Ano III, n°17, Agosto de 2001, SOUTY, Jérôme - "Multiculturalisme: comment vivre ensemble" in Les grandes questions de notre temps, Sciences Humaines, dez. 2001, pp.78-82. TAYLOR, Charles, Multiculturalisme, différence et démocracie, Paris, Aubier, 1994. VILHENA, J (2001) “As raízes do silêncio. Sobre o Estupro feminino”. In:Cadernos do Tempo Psicanalítico. Rio de Janeiro, SPID, n.33, pp 55-69. WEBER, Eugen – França, fin de siècle , São Paulo, Cia das Letras, 1988. DIRCE DE SA’ – www.dircesafreire.com Membro da Equipe C.E.T.O.M. – Centro de Estudos e Tratamento para a Obesidade Mórbida – www.acimadopeso.com