Brasil Ano 12 - no 1 ISSN 1518-9740 Watsu Tratamento da fibromialgia Saúde da mulher Perdas urinárias e atendimento hospitalar Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro de 2011 Janeiro / Fevereiro de 2011 Trabalho Sintomas musculoesqueléticos em auxiliares de enfermagem Pilates Efeito no movimento e equilíbrio em idosos Prematuros Avaliação da dor durante estimulação sensório-motora Cardiorrespiratório DPOC e modulação metabólica www.atlanticaeditora.com.br FISIOTERAPIA FISIOTERAPIA AFB AFB 2011 2011 FLORIANÓPOLIS FLORIANÓPOLIS ACESSE ACESSEOOSITE SITEE E CONFIRA CONFIRAOOPRAZO PRAZO PARA PARAENVIO ENVIODE DE TEMAS TEMASLIVRES. LIVRES. www.afbfloripa2011.com.br www.afbfloripa2011.com.br Categorias Categorias Associados Associados AFBAFB 01/08/11 AtéAté 30/09/11 AtéAté 01/08/11 30/09/11 R$ 330,00 R$ 365,00 R$ 330,00 R$ 365,00 470,00 505,00 R$ R$ 470,00 R$R$ 505,00 associados NãoNão associados Estudante Graduação R$ R$ 275,00 Estudante de de Graduação 275,00 Outros profissionais R$ 490,00 Outros profissionais R$ 490,00 305,00 R$R$ 305,00 R$ 520,00 R$ 520,00 Curso (inscrito) Curso (inscrito) Só curso (não inscrito) Só curso (não inscrito) 150,00 R$R$ 150,00 R$ 500,00 R$ 500,00 Realização Realização 120,00 R$ R$ 120,00 R$ 450,00 R$ 450,00 Apoio Apoio evento NoNo evento R$ 400,00 R$ 400,00 540,00 R$R$ 540,00 340,00 R$R$ 340,00 A cada grupodede10 10 cada grupo 560,00 A inscrições R$R$ 560,00 pagasa a inscrições pagas 11ªserá será gratuita. 180,00 11ª gratuita. R$R$ 180,00 Cerimônia Cerimônia deAbertura Abertura de ! BALLETBOLSHOI BOLSHOI BALLET 550,00 R$R$ 550,00 Secretaria Executiva Secretaria Executiva Tel.: (21) 2286-2846 Tel.: (21) 2286-2846 [email protected] [email protected] www.jz.com.br www.jz.com.br Apoio Apoio Conheça nossos outros apoiadores no site do evento. Conheça nossos outros apoiadores no site do evento. CREFITO10 CREFITO10 Urologia • Grupo de reeducação perineal masculino Lipoaspiração • Ultrassom e massoterapia em fibrose tecidual tardia Physical Therapy Brazil XIX XIXCongresso CongressoBrasileiro Brasileirode de FISIOTERAPIA: FISIOTERAPIA: DA DAESPECIALIDADE ESPECIALIDADE ÀÀINTEGRALIDADE INTEGRALIDADE ISSN 1518-9740 Fisioterapia Centro Centro Sul Sul Brasil Ano 12 - no 2 Vem Vemaíaí Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - Março/Abril de 2011 99 aa 12 12 dedeoutubro outubro Março / Abril de 2011 13 anos Respiratório • Distrofia muscular oculofaríngea Coluna • Coluna torácica e função do ombro • Coluna vertebral e postura em crianças Laserterapia • Laser baixa potência na osteoartrose www.atlanticaeditora.com.br FISIOTERAPIA FISIOTERAPIA AFB AFB 2011 2011 FLORIANÓPOLIS FLORIANÓPOLIS ACESSE ACESSEOOSITE SITEE E CONFIRA CONFIRAOOPRAZO PRAZO PARA PARAENVIO ENVIODE DE TEMAS TEMASLIVRES. 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BALLETBOLSHOI BOLSHOI BALLET 550,00 R$R$ 550,00 SecretariaExecutiva Executiva Secretaria Tel.: (21) 2286-2846 Tel.: (21) 2286-2846 [email protected] [email protected] www.jz.com.br www.jz.com.br Apoio Apoio Conheça nossos outros apoiadores no site do evento. Conheça nossos outros apoiadores no site do evento. CREFITO10 CREFITO10 Ginecologia • Incontinência urinária e prolapso genital Dermato • Própolis e lesões induzidas pela radiação UVB Physical Therapy Brazil XIX XIXCongresso CongressoBrasileiro Brasileirode de FISIOTERAPIA: FISIOTERAPIA: DA DAESPECIALIDADE ESPECIALIDADE ÀÀINTEGRALIDADE INTEGRALIDADE ISSN 1518-9740 Fisioterapia Centro Centro Sul Sul Brasil Ano 12 - no 3 Vem Vemaíaí Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - Maio/Junho de 2011 99 aa 12 12 dedeoutubro outubro Maio / Junho de 2011 13 anos Respiratório • Exercício físico e DPOC • Índice de desmame Ferrari-Tadini Lombalgia • Fortalecimento dos extensores do tronco • Core Training Temporomandibular • Corrente interferencial e tensão muscular www.atlanticaeditora.com.br Brasil Ano 12 - no 4 ISSN 1518-9740 Neurologia • Ansiedade e equilíbrio postural Trabalho • Cinesioterapia laboral em indústria do vestuário Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - Julho/Agosto de 2011 Julho / Agosto de 2011 13 anos Lombalgia • Pilates e lombalgia • Ativação do transverso do abdome em puérperas Traumato • Lesões em árbitros de futebol • Amputação transtibial unilateral e protetização • Reconstrução do ligamento cruzado anterior Acupuntura • Fibromialgia e serotonina www.atlanticaeditora.com.br Brasil Ano 12 - no 5 ISSN 1518-9740 Envelhecimento • Função cognitiva e capacidade funcional em idosos Incontinência urinária • Ginática hipopressiva e propriocepção do assoalho pélvico Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 5 - Setembro/Outubro de 2011 Setembro / Outubro de 2011 13 anos Esporte • Lesões musculoesqueléticas em karatê Neurologia • Cicloergometria e hemiparesia • Funcionalidade de pacientes hemiparéticos História • Evolução da fisioterapia www.atlanticaeditora.com.br Brasil Ano 12 - no 6 ISSN 1518-9740 Cardiorrespiratório • Condicionamento físico e doença arterial obstrutiva periférica • Fumo passivo e sintomas respiratórios em crianças Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 6 - Novembro/Dezembro de 2011 Novembro / Dezembro de 2011 13 anos Esporte • Prevalência dos tipos de pés de praticantes de ballet clássico Neurologia • Postura e equilíbrio na síndrome de Down • Desenvolvimento motor de crianças em uma creche de Teresina/PI • Equoterapia e trauma raquimedular Saúde pública • Qualidade de vida dos idosos e benefícios da fisioterapia nas UBS • Assistência fisioterapêutica em dependentes químicos www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil Physical Therapy Brazil (vol. 12, nº 1 janeiro/fevereiro 2011 - 1~80) EDITORIAL Mais trabalhos, mais qualidade, Jean-Louis Peytavin .................................................................................................................... 3 ARTIGOS ORIGINAIS Os benefícios do Watsu no tratamento da dor crônica e qualidade de vida de pacientes fibromiálgicos, Alexandre Pinkalsky, Patricia Aparecida Teixeira Thuler, Guilherme Carlos Brech, Márcia Cristina Bauer Cunha .......................................................................................................................................................... 4 Qualidade de vida em mulheres climatéricas com e sem perdas urinárias atendidas nas redes pública e privada de saúde, Fabiana Flores Sperandio, Elis Marina Gonçalves Bertholdi, Cínara Sacomori, Fernando Luis Cardoso ....................................................................................................................................... 9 Percepção da satisfação ao atendimento fisioterapêutico dos usuários cadastrados nas Unidades Básicas da Estratégia Saúde da Família do município de Muritiba/BA, Rafaela Silva Rodrigues, Gleice Silva de Araújo Muniz, Eliane Cristina de Alvarenga Melo, Patrícia de Paiva ...................................................................... 14 Frequência e fatores associados dos sintomas musculoesqueléticos em auxiliares de enfermagem, Rittche Pires Santos, Everaldo Nery de Andrade ............................................................................................................................ 20 Imobilização do tornozelo de ratos: estudo histológico da extremidade distal da tíbia, Sônia Maria Marques Gomes Bertolini, Priscila Daniele de Oliveira, Deisy Carla Cararo .............................................................. 25 Avaliação da mobilidade da coluna lombar após aplicação do isostretching, Ana Carolina Brandt de Macedo, Arlete Ana Motter, Soraya Kirschen .......................................................................................... 31 Efeito do método Pilates na qualidade dos movimentos da marcha e no equilíbrio de idosos, Milson Carvalho Quadros Júnior, Adesilda Maria Silva Pestana, Maria Isabel Schinoni ................................................................. 37 Avaliação da dor durante estimulação sensório-motora em RN prematuros, Antonia Mariela Aguirre Guedes, Viviane Martins Santos, Francisca Tavares do Nascimento ........................................................ 43 RELATOS DE CASO Fisioterapia em lesão de ligamento cruzado anterior com ênfase no tratamento pós-operatório, Karize Tanita Martins de Souza, Ricardo Alexandre Tribioli........................................................................................................... 47 O efeito da radiofrequência em fibrose pós-lipoaspiração abdominal, Flávia Maria Pirola, Cristina Zotarelli Battiston, Helena Hanna Khalil Dib Giusti ........................................................................ 53 REVISÕES A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e suas contribuições para a fisioterapia, João Marcos Bernardes, Altair Argentino Pereira Júnior .................................................................................. 58 Modulação metabólica pelo exercício e manejo de recursos ergogênicos na doença pulmonar obstrutiva crônica, Flavio Ignacio Bachini, Adriana Bassini, Luiz-Claudio Cameron ................................................................... 65 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ................................................................................................................................................. 72 EVENTOS ................................................................................................................................................................................... 76 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 2 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFVJM – Diamantina – MG) Grupo de assessores Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Diretor Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 3 Editorial Mais trabalhos, mais qualidade Jean-Louis Peytavin Para a primeira edição de 2012 (e o 12º ano de existência da revista), propomos a nossos leitores e assinantes um conjunto de artigos originais e revisões, representativo da atualidade da pesquisa brasileira em fisioterapia. Do lado dos tratamentos, publicamos vários resultados de trabalhos sobre o método de reabilitação aquática Watsu na fibromialgia (Guilherme Carlos Brech e equipe), do isostretching no movimento da coluna lombar (Ana Carolina Brandt de Macedo e equipe), e do Pilates na melhoria da marcha e do equilíbrio dos idosos (Milson Carvalho Quadros Júnior e equipe). Já publicamos nas edições anteriores vários artigos sobre o método Pilates, sempre carente de estudos científicos. Outra especialidade da fisioterapia bastante frequente em nossas páginas é a da saúde da mulher, hoje com um estudo de Fabiana Flores Sperandio e equipe (Udesc, Florianópolis) sobre a importância da incontinência urinária na climatério e sua relação com os fatores sócio-econômicos. Este trabalho mostra a importância e a complexidade dos fatores a ser considerados para melhorar a qualidade de vida das mulheres, den- tre os quais os autores sugerem a presença de fisioterapeutas especializados na prevenção e no tratamento das disfunções uro-ginecologicas no atendimento hospitalar. Na mesma ordem de idéias, um trabalho realizado por Rafaela Silva Rodrigues e uma equipe da Bahia mostra a importância da inserção de fisioterapeutas nas Unidades Básicas da Estratégia Saúde da Família. Enfim, destacamos a revisão de LC Cameron, Adriana Bassini e sua equipe da UniRio, sobre a fisiopatologia da doença pulmonar obstrutiva crônica, e, consequentemente, a compreensão da utilização dos recursos da atividade física e dos complementos nutricionais nesta doença crônica. Estes trabalhos são apenas alguns dos que podem encontrar nesta edição. Cada ano tentamos aumentar o número de artigos publicados e agilizar o procedimento editorial para reduzir o tempo de espera entre o recebimento e a publicação. Em média, o tempo de espera diminuiu para 4 a 6 meses, e esperamos, em um futuro próximo, melhorar este resultado pela utilização de procedimentos de avaliação online. Erratum Na edição de novembro/dezembro de 2010, substituímos a Figura 1 do artigo “Método Pilates: uma introdução ao seu entendimento cinesiológico” na página 451 por outra. Aqui a verdadeira figura. Desculpem-nos pelo erro. Figura 1 - Ilustração da tarefa. A fase 1 é caracterizada pelo movimento da posição inicial (flexão) até o alvo (extensão); a fase 2 é caracterizada pela manutenção da postura no alvo (extensão) e a terceira fase é caracterizada pelo movimento de retorno à posição inicial (flexão). Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 4 Artigo original Os benefícios do Watsu no tratamento da dor crônica e qualidade de vida de pacientes fibromiálgicos The benefits of Watsu in the treatment of chronic pain and quality of life of patients with fibromyalgia Alexandre Pinkalsky, Ft.*, Patricia Aparecida Teixeira Thuler, Ft.*, Guilherme Carlos Brech, Ft., M.Sc.**, Márcia Cristina Bauer Cunha, Ft. D.Sc.*** *Universidade Ibirapuera, UNIb, São Paulo/SP, **Doutorando em Ciências pelo Departamento de Ortopedia e Traumatologia, FMUSP, São Paulo/SP, ***Coordenadora do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina do ABC, São Bernardo/SP Resumo Abstract Objetivo: Verificar os benefícios da técnica de reabilitação aquática Watsu no tratamento da dor crônica e na qualidade de vida de pacientes fibromiálgicos. Métodos: Neste estudo optou-se pelo método Watsu supondo que haveria diminuição da dor e aumento da mobilidade articular. O método foi aplicado em cinco mulheres com diagnóstico de fibromialgia provenientes da lista de espera da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Ibirapuera em São Paulo. Foram realizadas cinco sessões de Watsu, uma vez por semana, em cada paciente. Para avaliar a qualidade de vida foram utilizados dois instrumentos: um específico, o Questionário sobre o Impacto da Fibromialgia (FIQ) e outro genérico, o WHOQOL-bref pré e pós-tratamento. Para avaliar a dor, a Escala Visual Analógica (EVA) antes e após cada sessão. Resultados: Os resultados mostraram que a técnica foi eficaz na diminuição da dor avaliada pela EVA e na melhora da qualidade de vida das pacientes. Conclusão: Os achados deste estudo sugerem que o Watsu pode ser utilizado com sucesso para diminuir a sintomatologia de pacientes fibromiálgicos. Objective: To identify the benefits of the technique Watsu aquatic therapy in the treatment of chronic pain and quality of life of patients with fibromyalgia. Methods: This study chose the Watsu method assuming that there would be a reduction in pain and an improvement in joint mobility. The method was applied in five women diagnosed with fibromyalgia from a waiting list of the Clinical School Physical Therapy of the University Ibirapuera in São Paulo. Each patient received five sessions of Watsu once a week. The quality of life was assessed by two instruments: a specific, the Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) and other generic, the WHOQOL-bref before and after treatment. Pain was assessed with a Visual Analogue Scale (VAS) before and after each session. Results: The results showed that the technique was effective in reducing the pain described by VAS and improvement in their quality of life. Conclusion: The findings suggest that Watsu can be used successfully to reduce the symptoms of patients with fibromyalgia. Key-words: fibromyalgia, hydrotherapy, chronic pain, life quality. Palavras-chave: fibromialgia, hidroterapia, dor crônica, qualidade de vida. Recebido em 20 de maio de 2010; aceito em 25 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Guilherme Carlos Brech, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Introdução A fibromialgia é uma síndrome reumática não inflamatória, de origem multifatorial, que afeta principalmente mulheres entre 30 e 60 anos de idade, sendo caracterizada pela presença de 11 dos 18 pontos de referência (tender points), localizados em diversas partes do corpo e que são extremamente dolorosos à palpação, frequentemente associada a distúrbios do sono, fadiga, rigidez matinal, dispnéia, incapacidade funcional, ansiedade e depressão [1-3]. Pacientes com fibromialgia apresentam diminuição da capacidade física devido à dor, originando um ciclo vicioso entre a inatividade e as limitações funcionais. Em alguns casos, o nível da dor é tão intenso que interfere no trabalho, nas atividades de vida diária (AVD) e na qualidade de vida. Comumente, os pacientes sentem-se muito irritados, pois sua dor é frequentemente agravada por estímulos físicos e psicológicos, tais como o frio, ruídos e estresse [1,4]. A fibromialgia tem sido um desafio profissional para muitos pesquisadores e clínicos. Poucas modalidades de tratamento tiveram sucesso em controlar os sintomas da fibromialgia. Entretanto, a reabilitação aquática parece oferecer estratégias para ajudar no tratamento de pacientes diagnosticados com fibromialgia [5]. Assim sendo, o exercício aquático terapêutico promove relaxamento e diminuição da dor. Uma das propriedades físicas da água, a flutuação, alivia o impacto nas articulações, facilita os movimentos e diminui o desconforto ao exercício [6]. Dentre as técnicas de reabilitação aquática destaca-se o Watsu, que surgiu da união dos efeitos terapêuticos e fisiológicos da água aquecida com a grande possibilidade de mobilizações do Zen Shiatsu. Water e Shiatsu foram as palavras escolhidas por Harold Dull, na década de 1980, para dar nome a um trabalho corporal poderoso, que agrega movimentos suaves, alongamentos e massagens aos princípios do Zen Shiatsu [7]. Watsu é um método constituído por alternância de posicionamentos do paciente e também do terapeuta. Em um fluxo constante de movimentos simples e complexos, são realizadas massagens no rosto, nos pés e no trajeto dos meridianos (canais por onde circula a energia vital, segundo o Zen Shiatsu). A transição de um movimento para o outro acontece sem interrupções, por isso o movimento do terapeuta é de extrema importância na constituição de uma sessão, pois uma mecânica corporal adequada cria movimentos suaves e harmoniosos [8]. São diversos os benefícios proporcionados pelo Watsu nos sistema músculo esquelético, psicológico e respiratório [9]. Este estudo tem como objetivo verificar os benefícios da técnica de reabilitação aquática Watsu no tratamento da dor crônica e na qualidade de vida de pacientes fibromiálgicos. Material e métodos Foi realizada uma pesquisa experimental longitudinal com cinco pacientes do sexo feminino, com idade entre 50 e 68 5 anos com diagnóstico de fibromialgia provenientes da lista de espera da Clínica de Fisioterapia da Universidade Ibirapuera. O tratamento ocorreu durante o período de abril a novembro de 2008, com aprovação do Comitê de Ética (n° 366/08) da Universidade Ibirapuera. Os critérios de inclusão foram: pacientes de ambos os sexos, que apresentassem o diagnóstico de fibromialgia, encaminhamento médico e atestado dermatológico para poder entrar na piscina da instituição. Os critérios de exclusão foram: pacientes que faltassem em mais que uma terapia sem justificativa, tivessem alguma contraindicação para a prática de hidroterapia, apresentassem algum déficit cognitivo ou neurológico, e estivessem praticando outra atividade em piscina terapêutica. O tratamento foi realizado na piscina terapêutica da Universidade Ibirapuera, aquecida a 34 graus Celsius, com profundidade de 115 cm. As sessões foram individuais, aplicadas pelo mesmo terapeuta. O ambiente na área da piscina estava silencioso e não havia outras pessoas no local, sendo essas características ideais, porque favorecem o total relaxamento dos pacientes. Foram realizadas cinco sessões de Watsu em cada paciente, sendo uma por semana, com duração de sessenta minutos cada, aplicando os seguintes movimentos, manobras e posturas: • Na primeira posição: dança da respiração, balanço da respiração, liberando o quadril, movimentos livres, sanfona, sanfona rotativa, rotação da perna de dentro, rotação da perna de fora, tração e puxando o braço, infinito, sela aberta, sela fechada, tração no pescoço; • Em flutuação livre: pêndulo, oito, movimentos livres, deslizando os joelhos, ouvir o coração, onda do braço, quieto; • Na posição embaixo da cabeça: balanço braço-perna, alongando o braço e antebraço, oito, abraçando o joelho, torção, algas I e II, onda do Hara, massageando a coluna, deslizando a cabeça; • Na posição embaixo do ombro: balanço esterno-sacro e puxando pelo pé; • Na posição embaixo do quadril: alongando a coluna e garçom, abraçando a coxa; • Na posição na parede: quatro, abraço duplo, mãos no coração, polaridade nas “orelhas” e “olhos”. Critérios de avaliação Para avaliar a qualidade de vida foram utilizados dois instrumentos: um específico, o questionário sobre o impacto da fibromialgia (FIQ) e outro genérico, o WHOQOL-bref pré e pós-tratamento; para avaliar a dor, a escala visual analógica de dor (EVA) antes e após cada sessão. O questionário sobre o impacto da fibromialgia (FIQ) avalia questões relativas às atividades da vida diária (AVD). Quanto maior o score obtido, maior é o impacto da fibromialgia na qualidade vida do paciente. O questionário de qualidade de vida - WHOQOL-bref é composto de 26 questões com opções pré-definidas de res- postas agrupadas em quatro domínios: aspecto físico, aspecto psicológico, relações pessoais e meio ambiente; sendo que para cada opção de resposta atribui-se um valor numérico de 1 (um) a 5 (cinco), quanto menor a pontuação obtida, maiores são as repercussões da patologia na qualidade de vida do indivíduo. A escala visual analógica de dor (EVA), consiste em uma linha de aproximadamente 10 cm onde 0 (zero) representa: nenhuma dor e 10 representa: dor máxima. O paciente então marca exatamente o ponto em que julga estar a sua dor naquele momento, essa escala proporciona uma medida quantitativa, após o paciente traçar a marca, é feita a medição, com uma régua em centímetros entre o início da linha e o ponto marcado pelo paciente, obtendo-se assim uma medida da intensidade da dor naquele momento. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Gráfico 1 - Comparação da variável (EVA) pré e pós-tratamento (média e desvio-padrão). p = 0,0043* 10 8 6 EVA 6 4 2 0 Pré Análise estatística Resultados Após as cinco sessões de Watsu, todas as pacientes relataram significativa diminuição da dor (p = 0,0043). A pesquisa de qualidade de vida antes e após as terapias indicou melhora nos quatro domínios do WHOQOL-bref: aspecto físico, aspecto psicológico, relações pessoais e meio ambiente. Sendo que dois desses quatro domínios tiveram resultados estatisticamente significantes: o aspecto físico com p = 0,0033 e relações pessoais com p = 0,0123. Avaliação Gráfico 2 - Comparação do domínio aspecto físico do WHOQOLbref pré e pós-tratamento (mínimo, percentil 25%, mediana, percentil 75% e máximo). WHOQOL-bref 30 20 10 0 Pré Pós Avaliação Gráfico 3 - Comparação do domínio relações pessoais do WHOQOL-bref pré e pós-tratamento (mínimo, percentil 25%, mediana, percentil 75% e máximo). 15 WHOQOL-bref Os dados foram expostos nos planos tabular e gráfico. A normalidade dos dados foi verificada com o teste de Kolmogorov-Smirnov. A estatística descritiva constou do cálculo de média, desvio-padrão, mínimo e máximo para todos os dados contínuos e semi-contínuos com distribuição normal e também mediana. Os dados categóricos foram demonstrados através de frequência absoluta e relativa. Para avaliar se houve diferença pré e pós-tratamento das variáveis domínios em porcentagem do WHOQOL-bref e EVA, foi utilizado o teste t de Student para amostras dependentes. A variável EVA apresentou distribuição não-normal, entretanto, devido aos resultados apresentados, fica impossibilitada a utilização da estatística não-paramétrica (teste de Wilcoxon para este caso), portanto, utilizou-se o teste t de Student para amostras dependentes no intuito de obter-se o valor de p da comparação. Foi utilizado o teste não-paramétrico de Wilcoxon para avaliar as diferenças pré e pós-tratamento das variáveis: score (FIQ) e domínios do WHOQOL-bref. Também foi utilizado o mesmo teste estatístico para avaliar as diferenças na variável mediana da escala EVA entre o início e o final das sessões. Foi assumido valor de p ≤ 0,05 (=5%) como estatisticamente significante. Pós 10 5 0 Pré Pós Avaliação Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Após o tratamento houve uma diminuição no score do questionário sobre o impacto da fibromialgia (FIQ), porém não houve diferença estatisticamente significante. Gráfico 4 - Comparação do score do questionário (FIQ) pré e pós-tratamento (mínimo, percentil 25%, mediana, percentil 75% e máximo). Score FIQ (média geral) 10 8 6 4 2 0 Pré Pós Avaliação Discussão A fibromialgia é uma condição que pode se desenvolver a partir de um mal preexistente ou coexistir com outra condição física, sendo a dor uma destas condições e a mais significativa. Os pacientes fibromiálgicos apresentam baixa tolerância aos exercícios físicos, relatando sensações subjetivas de fraqueza muscular e dor intensa, incapacidade de executar tarefas de vida diária, deteriorização da qualidade de vida, prejuízo evidente na vida profissional e piora do estado de saúde global, dados estes que foram observados em nossas pacientes [10]. Acredita-se amplamente que a dor tem um efeito profundo na qualidade de vida de uma pessoa. Não só a qualidade de vida é aclamada como uma das mais importantes formas de medida em saúde, como quando é utilizada nas pesquisas sobre dor [11]. A hidroterapia pode promover benefícios através dos efeitos fisiológicos da imersão do corpo ou parte dele, em meio aquático. Não deve ser somente um meio de alívio da dor, mas também de restauração da função e de estilos de vida funcionais, promovendo o bem estar e a qualidade de vida dos pacientes com essa síndrome, já que neste ambiente o paciente consegue realizar atividades sem aumentar a sua dor, proporcionando um grande bem estar físico e psíquico, melhorando a sua qualidade de vida [12]. Antes do tratamento com o Watsu, foi observado, por meio da escala visual analógica de dor (EVA), que 100% das pacientes apresentavam um quadro álgico com pontuação variando de 3 (três) a 8 (oito) (± 5,40). Após as cinco sessões, todas as pacientes relataram significativa diminuição da dor (p = 0,0043) (Gráfico 1). A avaliação da qualidade de vida, antes e após as terapias, indicou melhora nos quatro domínios do questionário 7 WHOQOL-bref, em dois desses domínios houve resultados estatisticamente significantes: o aspecto físico, no qual se encontram duas facetas importantes para nossa pesquisa: dor e desconforto, com p = 0,0033 (Gráfico 2) e relações pessoais com p = 0,0123 (Gráfico 3). No presente estudo, os dados sobre o impacto da fibromialgia nas atividades de vida diária (AVD), antes do início das terapias, mostram uma diminuição da qualidade de vida dessas pacientes demonstrado pelo alto índice do questionário sobre o impacto da fibromialgia (FIQ) (7,21 ± 1,21). Após o tratamento, o (FIQ) demonstrou que o método Watsu permitiu que as pacientes realizassem suas atividades, antes dificultadas pela sintomatologia dolorosa, rigidez e fadiga, FIQ (4,54 ± 1,67) (Gráfico 4), porém não houve diferença estatisticamente significante. A flutuação e a diminuição da força da gravidade tornam possível o movimento que seria doloroso e de difícil execução em solo. Segundo Cobb et al., a hidrocionesioterapia além de permitir relaxamento muscular pelo aquecimento da água, apresenta-se como um recurso que permite ao fibromiálgico evoluir na reabilitação aquática mais rapidamente do que no tratamento no solo [13]. Os achados evidenciados na presente pesquisa, foram confirmados em estudo realizado por Gimenes et al e Prescinotti et al. [14,15], uma vez que demonstraram que a hidrocinesioterapia promove uma redução significativa da dor nos pacientes com fibromialgia. Por meio de suas pesquisas com o uso do Watsu na fibromialgia, reforçaram o efeito do relaxamento na diminuição da dor referida previamente ao tratamento. A possibilidade de execução dentro da piscina, de movimentos difíceis de serem realizados pela paciente no solo, leva a melhora da autoconfiança e a uma adesão incondicional a terapia, observado pelo interesse das pacientes em relação ao tratamento e pelo índice zero de ausências, mesmo em condições climáticas desfavoráveis. Diante da falta de um protocolo específico para o tratamento da fibromialgia e dos poucos estudos nessa área, muito ainda deve ser pesquisado sobre a importância do Watsu no processo de recuperação dos fibromiálgicos. Sugerimos que sejam realizados novos estudos utilizando este método de tratamento, com maior número de participantes e terapias, para que possamos verificar sua real eficácia. Conclusão A técnica de reabilitação aquática Watsu mostrou-se eficaz na redução da sintomatologia e na melhora das atividades de vida diária, melhorando assim a qualidade de vida destas pacientes fibromiálgicas. Referências 1. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 9 Artigo original Qualidade de vida em mulheres climatéricas com e sem perdas urinárias atendidas nas redes pública e privada de saúde Quality of life in women with and without urinary incontinence treated at public and private networks health Fabiana Flores Sperandio, D.Sc.*, Elis Marina Gonçalves Bertholdi**, Cínara Sacomori***, Fernando Luis Cardoso, D.Sc.**** *Professora de Fisioterapia Aplicada à Ginecologia e Obstetrícia da UDESC /CEFID, **Graduanda do curso de Bacharelado em Fisioterapia da Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC, ***Doutoranda em Ciência do Movimento Humano, UDESC/ CEFID, ****Professor do curso de doutorado em Ciência do Movimento Humano, UDESC/CEFID Resumo Abstract Trata-se de um estudo transversal, cujo objetivo foi avaliar a qualidade de vida de mulheres climatéricas com e sem perdas urinárias frequentes, comparando-as mediante o efeito das diferenças sociais sobre a qualidade de vida. Os sujeitos deste estudo foram 52 mulheres entre 45 e 55 anos, período pré e pós-menopausa. Estas foram divididas em dois grupos: Grupo I, 26 mulheres atendidas pela rede pública de saúde, com renda familiar inferior a três salários mínimos; Grupo II, 26 mulheres atendidas pela rede privada de saúde, com renda familiar superior a cinco salários mínimos. Os instrumentos do estudo foram questionários contendo dados pessoais, o Women’s Health Questionnaire e o “International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form” (ICIQ-SF). Observou-se que as mulheres do grupo II apresentaram melhor índice de qualidade de vida e menor interferência das perdas urinárias em sua vida diária. Obteve-se correlação negativa entre a escolaridade e os domínios e pontuação total do WHQ ( = - 0,427) e do ICIQ-SF ( = - 0,287), apontando que quanto maior a escolaridade menores os sintomas observados. Conclui-se, portanto, que fatores socioeconômicos, assim como as perdas urinárias interferem na percepção de qualidade de vida da mulher durante o período do climatério. This is a cross-sectional study aimed at evaluating the quality of life of menopausal women with and without frequent urinary leakage, comparing them among themselves via the effect of social differences on the quality of life. The subjects of this study were women between 45 to 55 years old, in pre-and postmenopausal period. These were divided into two groups: Group I, women assisted by public health with family income below three minimum wages; Group II, women served by the private health with family income above five minimum wages. The study instruments were questionnaires containing personal data, the WHQ and the International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form (SF-ICIQ). It was observed that women in group II had more education, get best quality of life and less interference from urinary loss in their daily lives. We obtained a negative correlation between education and the domains and total score of the WHQ and ICIQ-SF, indicating that higher education implies in lower symptoms. The authors conclude that socioeconomic factors, as well as urinary incontinence interfere with the perception of quality of life in women during the climacteric. Key-words: climacteric, quality of life, urinary incontinence. Palavras-chave: climatério, qualidade de vida, incontinência urinária. Recebido em 20 de julho de 2010; aceito em 10 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Fabiana Flores Sperandio, Departamento de Fisioterapia, Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC, Av. Paschoal Simone, 358, Coqueiros 88080-350 Florianópolis SC, Tel: (48) 3321-8600, E-mail: [email protected] 10 Introdução O climatério é considerado uma etapa marcante do envelhecimento feminino. Esta fase se caracteriza pelo estado fisiológico de hipoestrogenismo progressivo que culmina com a interrupção definitiva dos ciclos menstruais, denominada menopausa, entendida como a última menstruação confirmada após 12 meses de amenorréia [1]. Inicia-se, normalmente, entre os 35 e 40 anos, estendendo-se até os 65 anos, período comumente acompanhado por sintomas característicos e alterações no campo emocional e social [2]. Sintomas vasomotores, atrofia vaginal, disfunções sexuais, sintomas urinários [3] e o aumento do risco de desenvolver doenças cardiovasculares e osteoporose [4] são consideradas alterações fisiológicas dessa fase. Irritabilidade, nervosismo, depressão e ansiedade contribuem para que esse período de mudança se torne ainda mais turbulento [5,6]. Nas últimas décadas, a partir da observação de que grupos distintos de mulheres vivenciam de forma diferenciada essa fase de transição, muito se tem discutido sobre a influência dos aspectos demográficos, culturais e sociais na determinação da sintomatologia climatérica [7]. Acredita-se que a influência das crenças e as atitudes femininas em relação à menopausa possam refletir na intensidade da sintomatologia. Sendo assim, fatores culturais, sociodemográficos e psicológicos, em conjunto com a carência estrogênica, podem vir a alterar a percepção da mulher em relação a si neste período [8]. Segundo a International Continence Society (ICS), a perda involuntária de urina, independentemente da quantidade e em uma frequência mensal ou menor é considera como incontinência urinária. Esta perda é entendida como um problema social e higiênico, que afeta a população mundial, principalmente a feminina, sendo, ainda, uma condição que não prevalece somente em mulheres idosas, mas afeta, igualmente, mulheres jovens e na meia-idade. No entanto, este problema não deve ser considerado como um processo natural consequente do avanço da idade, nem um problema exclusivo do envelhecimento [9]. Diante das perdas urinárias, essas mulheres se encontram em situação de desagrado e preocupação. Este fato leva a restrição do convívio social, a vivência prévia de situações constrangedoras e ao receio de que outras pessoas percebam o odor de urina [10]. Como consequência de tais fatos, as mulheres podem apresentar sentimentos de baixa autoestima, além de interferir na vida sexual, restringir o contato social e, até mesmo, a execução de tarefas domésticas e laborais [11]. Frente às situações constrangedoras essas mulheres desenvolvem mecanismos adaptativos em seu cotidiano o que, por vezes, determina restrições em suas atividades habituais [12]. Diante do exposto, observa-se a influência negativa das constantes perdas urinárias na qualidade de vida de mulheres com esse problema [13]. Da mesma forma, os sintomas cli- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 matéricos, dependendo da intensidade e frequência, afetam a qualidade de vida e o bem-estar geral [1]. A qualidade de vida (QV) pode ser entendida como um conceito multidimensional que engloba fatores sociais, físicos e mentais de cada indivíduo [14]. Tendo em vista que as perdas urinárias causam alterações na QV das mulheres, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de vida de mulheres climatéricas com e sem perdas urinárias frequentes, comparando-as mediante o efeito das diferenças sociais. Materiais e métodos Trata-se de um estudo transversal descritivo comparativo que teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado de Santa Catarina, sob número 220/2009. Os sujeitos foram 52 mulheres que se encontravam no período pré e pós-menopausa (entre 45 e 55 anos de idade). Os critérios de exclusão foram: estar em tratamento de reposição hormonal (TRH) e ter usado medicação há pelo menos 6 meses posteriormente a alguma intervenção ginecológica (ooforectomia e histerectomia). Essas mulheres, residentes no município de Balneário Camboriú, SC, foram distribuídas em dois grupos: Grupo I, mulheres atendidas pela rede pública de saúde, com renda familiar inferior a três salários mínimos; Grupo II, mulheres atendidas pela rede privada de saúde, com renda familiar superior a cinco salários mínimos. A coleta de dados ocorreu entre o período de março e abril de 2010, no Ambulatório Central, unidade de referências em especialidades médicas do município e em clínicas particulares de atendimento uroginecológico. Na primeira etapa da pesquisa foi esclarecido às mulheres sobre o caráter da mesma, sendo assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida foi aplicado um questionário contendo dados relativos à idade, hábitos de vida (etilismo, tabagismo, atividade física, escolaridade), antecedentes gineco-obstétricos (atividade sexual, procedimentos cirúrgicos ginecológicos, gestações) e renda familiar. Utilizou-se o Women’s Health Questionnaire, questionário esse validado para o português por Silva Filho et al. [15], sendo previamente aplicado em estudos realizados por De Lorenzi et al. [2] e Martins et al. [1]. O mesmo tem como finalidade avaliar a saúde da mulher e suas questões são agrupadas em nove domínios, referentes a sintomas somáticos, humor deprimido, dificuldades cognitivas, ansiedade, funcionamento sexual, sintomas vasomotores, problemas com o sono, problemas menstruais e atração. Quanto maior a pontuação, mais acentuada será caracterizada as disfunções e percepções sobre o climatério. Por fim, foi aplicado o International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form (ICIQ-SF), validado para o português por Tamanini et al. [16] e utilizado previamente por Lazari et al. [17] e Silva & Lopes [18] como instrumento de avaliação da qualidade de vida em pacientes com incontinência urinária. Este instrumento aborda questões Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 referentes à frequência da perda urinária, quantidade de urina perdida, o quanto que perder urina interfere nas atividades diárias, além de um conjunto de oito itens de autodiagnóstico, relacionados às causas ou a situações de IU vivenciadas pelos pacientes. Para a análise estatística foi utilizado o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 15.0 para Windows, sendo adotado p < 0,05. Para testar a normalidade dos dados aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk, sendo que a maioria das variáveis não seguiu tais critérios, portanto utilizou-se o teste de Mann-Whitney para comparação entre os grupos atendidos pela rede pública e privada de saúde e o teste de correlação de Spearman. Resultados Em relação às características das participantes segundo idade e hábitos de vida (tabela I), verificou-se que a média de idade dos grupos foi semelhante. Das 26 mulheres do Grupo I, 13 (50%) relataram perdas urinárias freqüentes, já das 26 do Grupo II, apenas 8 (30.7%) relataram tais perdas. Nota-se que no Grupo II a prática de atividade física é mais freqüente quando comparada com o Grupo I. O mesmo pode-se observar em relação à escolaridade, em que o Grupo II apresenta maior grau de instrução. Tabela I - Caracterização sociodemográfica e de hábitos de vida das participantes da rede pública e privada. Idade Tabagismo Não Sim Etilismo Não Sim Socialmente Atividade física Não Sim Esporádica Escolaridade 1º grau 2º grau 3º grau incompleto 3º grau completo GRUPO I – Pública GRUPO II – Privada 49,03 ± 3,68 49,76 ± 3,92 22 (84,6%) 4 (15,4%) 22 (84,6%) 4 (15,4%) 21 (80,7%) 1 (3,8%) 4 (15, 5%) 11 (42,3%) 0 15 (57,7%) 16 (61,5%) 5 (19,25%) 5 (19,25%) 4 (15,3%) 12 (46,1%) 10 (38,6%) 8 (30,7%) 16 (61,5%) 0 2 (7,8%) 1 (3,8%) 3 (11,5%) 5 (19,2%) 17 (65,5%) Quanto aos fatores gineco-obstétricos (tabela II), observou-se que, em geral, os dois grupos apresentaram características similares. 11 Tabela II - Caracterização gineco-obstétrica das participantes da rede pública e privada. GRUPO I – Pública GRUPO II – Privada Ativa Sexualmente Não 10 (38,4%) 4 (15,3%) Sim 16 (61,6 %) 22 (84,7%) Gestações 2,80 ± 1,67 2,15 ± 1,08 Tipos de parto Normal (Média) 1,42 1,15 Cesário (Média) 0,84 0,84 Cirurgias prévias Histerectomia 5 (19%) 4 (15%) Ooforectomia 2 (8%) 2 (8%) Ciclo menstrual Pré-menopausa 11 (42,3%) 12 (46,1%) Menopausa 1 (3,8%) 0 Pós-menopausa 14 (53,8%) 14 (53,9%) Ao se comparar os grupos de mulheres que eram atendidas pelo sistema público, grupo I, e privado, grupo II, (tabela III), observaram-se diferenças estatisticamente significativas na maioria das variáveis analisadas, sendo que as mulheres do sistema privado apresentaram menos sinais de sintomas somáticos, de humor deprimido, de dificuldades cognitivas, de ansiedade e sintomas vasomotores que as mulheres do sistema público. Tal fato também refletiu no escore total de qualidade de vida, o qual apresentou diferença entre os dois grupos, de modo que as mulheres do sistema privado apresentaram melhores índices de qualidade de vida que às do público. O mesmo resultado pode ser observado no escore total do ICIQ-SF, obtendo-se pontuação média da população atendida pela rede pública de saúde de 9,69 ± 5,49 e da privada de 4,62 ± 1,92. Estas informações sugerem que o impacto das perdas urinárias tenha sido maior na população com renda familiar menor e menor escolaridade. Quanto à questão autodiagnóstica, relacionada às causas ou a situações de IU vivenciadas pelas pacientes, todas as mulheres que relataram perdas urinárias referiram que as mesmas ocorrem quando tossem ou espiram, ou seja, durante distintas situações de esforço. Obteve-se correlações entre a escolaridade e os domínios sintomas somáticos [ (rho de Spearman) = - 0,443], humor deprimido ( = - 0,283), dificuldades cognitivas ( = - 0,351), ansiedade ( = - 0,344), sintomas vasomotores ( = - 0,406) e escores totais de qualidade de vida do WHQ ( = - 0,427) e no impacto sobre a qualidade de vida em incontinência urinária do ICIQ-SF ( = - 0,287). Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 12 Tabela III - Comparação entre o grupo de mulheres atendidas pelos sistemas público e privado através do WHQ e do ICIQ- SF. GRUPO I – Pública Sintomas somáticos* Humor deprimido* Dificuldades cognitivas* Ansiedade* Função sexual Sintomas vasomotores* Problemas com sono Problemas menstruais Atração Total* ICIQ- SF Mediana 18 13,5 9 8 5 4,5 8 7,5 7 77,5 1,5 GRUPO II – Privada Mean Rank 33,81 31,73 31,48 31,38 28,06 32,17 29,85 30,10 29,60 34,02 30,15 Mediana 13 10 7 6,5 4 2 7 6 5 62 0 Mean Rank 19,19 21,27 21,52 21,62 24,94 20,83 23,15 22,90 23,40 18,98 22,85 U 148,0 202,0 208,5 211,0 297,5 190,5 251,0 244,5 257,5 142,5 243,0 P 0,000 0,012 0,017 0,019 0,452 0,005 0,108 0,084 0,135 0,000 0,050 * Diferença estatisticamente significativa. Discussão Encontrou-se que mulheres que frequentavam clínicas particulares tinham melhores índices de qualidade de vida, assim como menor pontuação nos domínios: sintomas somáticos, humor deprimido, dificuldades cognitivas, ansiedade, sintomas vasomotores, que as mulheres do sistema público. Assim, nota-se que o fator socioeconômico exerceu influência sobre a qualidade de vida no período climatérico das mulheres deste estudo. No entanto, Lee et al. [19] não encontraram relação entre o nível socioeconômico e a qualidade de vida em mulheres climatéricas. O impacto das perdas urinárias foi maior na população com menor renda familiar e escolaridade. Sabe-se que a IU e os sintomas associados podem repercutir negativamente não só na saúde física, mas em aspectos emocionais e que alguns fatores socioeconômicos (idade, condição socioeconômica) podem ser os responsáveis pela maneira como as mulheres lidam com esses desconfortos urinários [20]. Provavelmente, melhores condições financeiras podem facilitar a elaboração de estratégias adaptativas aos efeitos indesejáveis da incontinência, como, por exemplo, a utilização de absorventes higiênicos. Além disso, observou-se que mulheres com melhores níveis de escolaridade apresentaram menos sintomas climatéricos e, consequentemente, melhor qualidade de vida. Foi reportado que os sintomas climatéricos são menos intensos entre as mulheres com maior nível educacional [2,19] e que se exercitam regularmente [2]. Com a proximidade da menopausa, surgem dúvidas sobre as modificações físicas que irão ocorrer e seu manejo. Segundo Martins et al. [1], fatores como a escolaridade, o nível econômico e a raça estão associados à habilidade da mulher em obter informações sobre os aspectos que envolvem a menopausa. Quanto à influência da escolaridade na qualidade de vida, já foi descrito que piores índices de qualidade de vida ocorrem com mais frequência em mulheres não brancas, com baixa escolaridade, menor renda familiar per capita; ao passo que ser ativa sexualmente melhora os índices de qualidade de vida [2]. Em nosso estudo, porém, não foi observada diferença significativa estatisticamente entre as mulheres da rede pública e privada com relação ao domínio funcionamento sexual. Neste contexto, chama-se a atenção para a função de educadores e demais profissionais da área da saúde. Tal função inclui instruções básicas de higiene e autocuidado, além de ensinamento de estratégias de prevenção da doença e de agravos. No caso específico da Fisioterapia, pode-se citar a conscientização do assoalho pélvico e ensinamento de exercícios de recrutamento dessa musculatura [21]. A prática regular de atividade física foi mais frequente entre as mulheres atendidas pela rede privada de saúde. Segundo Elavsky e McAuley [22], mulheres praticantes de atividade física apresentam melhor percepção dos sintomas climatéricos, sendo que o sentimento de vigor físico atua positivamente na sensação de bem estar, na vitalidade, na saúde mental e nos aspectos emocionais como um todo. As mulheres atendidas pela rede pública apresentaram mais sintomatologia de ansiedade. Sabe-se que a ansiedade e o aumento do IMC durante o período do climatério contribuem para que as perdas urinárias se tornem mais frequentes [23]. Infelizmente, não controlamos peso ou IMC neste estudo. Conclusão Neste estudo, os fatores socioeconômicos e culturais interferiram na percepção de qualidade de vida da mulher durante o período do climatério, assim como nas perdas urinárias. Baixa escolaridade e renda familiar foram elementos que contribuíram para o entendimento de um maior impacto da sintomatologia climatérica. Diante do exposto neste estudo, sugere-se que o sistema público de saúde considere a inclusão de fisioterapeutas em sua equipe interdisciplinar e, particularmente, que estes sejam especializados na prevenção e tratamento das disfunções Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 uro-ginecológicas com vistas a orientar o competente manejo preventivo desta disfunção. A resolutividade desta problemática ainda está distante, uma vez que a procura pela assistência, pelo menos nas usuárias do serviço público, passa pela minimização do agravo urinário já instalado, o que desmantela as práticas preventivas de conscientização desta população. Verifica-se a necessidade de se criar programas e serviços específicos, afim de que as mulheres tenham qualidade de vida, independentemente do tipo de serviço de saúde. Referências 1. Martins MAD, Nahas EAP, Nahas-Neto J, Uemura G, Buttros DAB, Traiman P. 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Obtet Gynecol 2009;114(5):989-98. 14 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Artigo original Percepção da satisfação ao atendimento fisioterapêutico dos usuários cadastrados nas Unidades Básicas da Estratégia Saúde da Família do município de Muritiba/BA Perception of customer satisfaction to physical therapy assistance of users registered in the Basic Units of Family Health Strategy in the city of Muritiba-BA Rafaela Silva Rodrigues, Ft.*, Gleice Silva de Araújo Muniz, Ft.**, Eliane Cristina de Alvarenga Melo, Ft.***, Patrícia de Paiva, Ft.**** *Sede administrativa do Instituto do Câncer Infantil do Agreste (ICIA) Caruaru/PE, **Pós-Graduanda em Fisioterapia em Ortotraumatologia pela FAFIS, Policlínica Humanos e Clínica Odontocardio em Nazaré/BA e Hospital e Maternidade Luis Argolo Filho em Santo Antônio de Jesus-BA,***Pós-Graduada em Fisioterapia na Saúde da Mulher pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Supervisora do Estágio em Fisioterapia no Programa Saúde da Família da FAFIS/BA e Fisioterapeuta da Clínica Escola da FAFIS/BA, ****Pós-Graduada em Saúde Pública pela FAFIS, Fisioterapeuta Domiciliar Resumo Abstract A implantação da Estratégia Saúde da Família (ESF) surgiu com o objetivo de reorganizar o modelo assistencial fundamentado na atenção básica e em conformidade com os princípios do SUS. O presente estudo foi realizado no município de Muritiba/BA, com o objetivo de investigar a percepção da satisfação ao atendimento fisioterapêutico dos usuários cadastrados nas Unidades Básicas da Estratégia Saúde da Família do município. A pesquisa foi realizada por meio da pesquisa de campo, do tipo transversal de caráter analítico, através da aplicação de um questionário direcionado a todos os pacientes cadastrados nas USFs José Maria de Magalhães Neto e Dr. Roberto Penna Fachineppi, submetidos ao tratamento fisioterapêutico oferecido pelos estagiários da FAFIS. A partir da análise quantitativa dos dados, notou-se que os participantes da pesquisa demonstraram-se satisfeitos com o atendimento recebido, considerando-o eficiente. Apesar do curto intervalo de tempo em que esses indivíduos foram submetidos ao atendimento fisioterapêutico, pode-se destacar a suma importância da inserção desse profissional à equipe multiprofissional da ESF, já que este possui habilidades e competências que o permitem intervir nos diversos níveis de assistência à saúde. The implementation of the Family Health Strategy (FHS) appeared with the purpose of reorganizing the health care model based on primary care and in accordance with the principles of the SUS. The present study was conducted in the city of Muritiba/BA, with the objective of investigate the perception of customer satisfaction in physical therapy care from users registered in the Basic Unit of Strategy Family Health of the city. The survey was conducted through field research, a cross-sectional analytical character through the application of a questionnaire directed to all patients registered in UFH’s José Maria de Magalhães Neto and Dr. Roberto Penna Fachineppi submitted to physical therapy treatment offered by the trainees from FAFIS. From the quantitative data analysis it was noted that the study participants showed their satisfaction with the service received considering it efficient. Despite the short period of time when these subjects underwent physical therapy, it was possible to highlight the importance of the insertion of this professional in the multidisciplinary team of FHS, as its abilities and skills enable to intervene at different levels of care health. Key-words: Health System, health family, Physical Therapy. Palavras-chave: Sistema Único de Saúde, saúde da família, Fisioterapia. Recebido em 9 de setembro de 2010; aceito em 10 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Rafaela Silva Rodrigues, Av. Belém, 42/101, 55016-670 Caruaru PE, Tel: (81) 9696-8866, E-mail: rafa_ [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Introdução Até a metade do século XX, os modelos de atenção à saúde adotados eram direcionados prioritariamente para a assistência médica-curativa da população brasileira, que, por sua vez, deparava-se com o superlotamento dos hospitais, que lhes ofereciam um atendimento precário e ineficaz. Nesse contexto, percebeu-se que os modelos de atenção à saúde até então adotados precisavam ser reavaliados, a fim de ampliar e melhorar os atendimentos destinados à população. Para tanto, foi proposto na VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, o Sistema Único de Saúde (SUS), formado pelo conjunto de unidades, serviços e ações que interagem para promover à população condições de saúde como um direito do cidadão e dever do estado [1-5]. Segundo Campos et al. [6], o SUS oferece serviços básicos de atenção à saúde aos indivíduos brasileiros, por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF), que, conforme Figueiredo e Baptista et al. [5,7], estrutura-se através da Unidade Básica de Saúde da Família (USF), composta por uma equipe multidisciplinar, que responsabiliza-se em média por 600 a 1.000 famílias. De acordo com Silva e Rós [8], a abordagem multiprofissional na ESF é algo recente, havendo nas Equipes de Saúde a introdução de novos profissionais, capacitados para desenvolver ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde. Embora diversos profissionais estejam sendo incluídos nessa proposta, não é possível perceber tal iniciativa ser estendida de maneira significante aos profissionais de fisioterapia, que são capazes de desenvolver meios para identificar e controlar os fatores de riscos aos quais a população está exposta [9,10]. A inclusão do fisioterapeuta na equipe multiprofissional foi aceita na 12° Conferência Nacional de Saúde, com o objetivo de oferecer um suporte a essa equipe, ao proporcionar uma melhor qualidade de atenção e resolutividade das necessidades locais [8]. Conquanto o fisioterapeuta possua atribuições que o permitam ser inserido na equipe multidisciplinar, segundo Brasil et al. e Delai [11,12], a divulgação do papel desempenhado por esse profissional têm sido insuficiente, o que justifica a sua escassez na ESF, tornando-se relevante conhecer o relato das regiões que já o possuem como componente das equipes de saúde, quanto aos benefícios que esse profissional oferece à saúde da população. O município de Muritiba, situado no estado brasileiro da Bahia, possui uma população estimada em 2007, segundo dados do IBGE [13], de 27.212 habitantes e uma área de 111 (km²) de unidade territorial. Esse município é distribuído quanto a ESF em zona rural e zona urbana, nesta última encontram-se as USF’s José Maria de Magalhães Neto (JMMN) e Dr. Roberto Penna Fachineppi (Dr. RPF), que são as unidades sede da prática do estágio supervisionado, realiza- 15 do pelos estudantes do 6° período da Faculdade Adventista de Fisioterapia da Bahia (FAFIS), que desempenham atividades em todos os níveis de prevenção. É importante ressaltar que a atuação da fisioterapia na atenção básica desse município é extremamente precária, havendo apenas a inserção de um fisioterapeuta, a quem lhe é conferida a responsabilidade pelo atendimento de toda a população que está sob a cobertura das ESF do município. Com base no que foi exposto, o presente estudo teve como objetivo investigar a percepção da satisfação ao atendimento fisioterapêutico dos usuários cadastrados nas USF Dr RPF e JMMN da Estratégia Saúde da Família do município de Muritiba/BA. Materiais e métodos Realizou-se nos dias 10, 15 e 17 de junho de 2009, um estudo de campo, do tipo transversal de caráter analítico, com indivíduos cadastrados nas unidades básicas JMMN e Dr. RPF da ESF do município de Muritiba/BA. Neste estudo participaram 28 indivíduos que apresentavam algum tipo de distúrbio cinético-funcional, que necessitavam de intervenção fisioterapêutica e que a recebiam há no mínimo 1 mês por meio de 8 estagiários da FAFIS, que cursavam o 6°, 8° e 10° período. Foi utilizado como instrumento de pesquisa, um questionário elaborado pelas autoras do estudo, que consistia de questões objetivas, em sua maioria, e subjetivas referentes à identificação da amostra, à percepção do estado de saúde, ao conhecimento sobre a atuação fisioterapêutica e à satisfação e perspectiva quanto ao tratamento recebido. Os dados foram coletados pelas autoras da pesquisa, através da visita às residências dos participantes, onde lhes foram aplicados os questionários. Os indivíduos que apresentaram condições desfavoráveis de saúde para responder aos questionamentos foram auxiliados por seus cuidadores. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FAFIS, cujo CAAE é 1237.0.000.070-09. Todos os participantes foram submetidos à leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme os critérios estabelecidos na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados e discussão A seguir, serão descritos os resultados obtidos, por meio dos dados coletados, a partir dos quatro domínios abordados pelo instrumento do presente estudo: caracterização geral da amostra, percepção do estado de saúde, conhecimento sobre a atuação fisioterapêutica no município em estudo e satisfação e perspectivas dos usuários entrevistados. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 16 Caracterização geral da amostra Tabela I - Distribuição da faixa etária, profissão e escolaridade em 28 pacientes atendidos pela fisioterapia na ESF, Muritiba/BA, 2009. Idade 30 - 49 50 - 69 % Profissão 21,4 Aposentado Dona de 46,4 casa Pedreiro Acima de 32,1 Carpinteiro 70 Sem ocupação 7,1 % Escolaridade 60,7 Analfabeto 1° grau 10,7 incompleto 1° grau 7,1 completo 2° grau 3,6 incompleto 2° grau 10,7 completo Outros % 21,4 64,3 3,6 7,1 ressaltar que os pacientes responderam ao questionário após dar-se início ao atendimento fisioterapêutico, sendo assim, ao responderem sobre a percepção do estado de saúde, foi necessário que recordassem como era seu estado de saúde antes de receber a intervenção. Gráfico 1 - Percepção do estado de saúde antes e após o recebimento do atendimento fisioterapêutico. 60 50 Percepção do estado de saúde anterior ao tratamento 40 3,6 Com o propósito de caracterizar a amostra da presente pesquisa as seguintes variáveis foram escolhidas: idade, profissão e escolaridade. Todas essas variáveis encontram-se na Tabela I. No que se refere à idade, predominam os indivíduos que se encontram entre 50-69 anos (46,4%), sendo a média da faixa etária dessa população 64,5 anos de idade. Segundo Carvalho et al. e Cardoso [14,15], é a partir dessa faixa etária, que as principais alterações biológicas e o aumento dos riscos de comprometimento funcional começam a surgir, e a fim de garantir qualidade de vida, não apenas a esse grupo de pessoas mas a toda a comunidade, é que pensa-se na atuação do profissional fisioterapeuta junto à equipe de saúde na elaboração e execução de medidas necessárias para a prevenção e reabilitação de futuras complicações e limitações. Em relação à ocupação, os aposentados representam a maioria (60,7%). Quanto ao nível de escolaridade, prevalece o 1° grau incompleto (64,3%). De acordo com Lima [16], o nível de escolaridade, destaca-se como um dos fatores que influenciam na adesão ao tratamento proposto pelos profissionais de saúde, ou seja, quanto menor o nível de escolaridade menor o índice de adesão ao tratamento. É importante obter o conhecimento das características da população a qual se presta atendimento, pois, através do reconhecimento das questões sociodemográficas como nível educacional e profissão têm-se mais fácil acesso às investigações relacionadas à percepção da satisfação do paciente quanto à intervenção recebida [17]. Percepção do estado de saúde A fim de compreender qual a percepção dos participantes do estudo quanto ao seu estado de saúde, os seguintes pontos foram analisados: percepção do estado de saúde antes e após o atendimento fisioterapêutico, queixas principais e atividades não realizadas ou realizadas com dificuldade antes do recebimento da intervenção fisioterapêutica. É importante 30 Percepção do estado de saúde posterior ao tratamento 20 10 0 Muito bom Bom Regular Ruim Muito ruim Em relação à percepção do estado de saúde tratado no Gráfico 1, vê-se que a maioria (39,3%) dos pacientes atendidos percebia que antes de receber o atendimento fisioterapêutico o seu estado de saúde era ruim, e a menor parcela de indivíduos (7,1%) percebia possuir um bom estado de saúde, entretanto, após o início da intervenção, nota-se a inversão desses dados, pois nenhum indivíduo relatou que o seu estado de saúde era ruim e prevaleceram os pacientes que percebiam possuir um bom estado de saúde (53,4%). Segundo Cardoso [15], para que haja uma transformação e ampliação do modelo de atenção à saúde vigente, é imprescindível a efetivação das propostas das políticas de saúde e capacitação dos profissionais de saúde, para que seja viável à população o acesso às medidas de saúde. É importante ressaltar que, quanto aos dois próximos pontos discutidos a seguir, foi dada ao entrevistado a opção de relatar uma ou mais queixas e uma ou mais atividades que não realiza ou realiza com dificuldade já que essas são perguntas “abertas”. Gráfico 2 - Distribuição das principais queixas. 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 30,00% 10,00% 0,00% Dificultade para deambular Dor Dificuldade nos movimentos Fraqueza Outros Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Quanto às principais queixas relatadas pelos participantes deste estudo, percebe-se no Gráfico 2 que, 67,8% dos participantes afirmaram apresentar dificuldade na deambulação, 53,6% queixaram-se de dor e 50% alegaram possuir dificuldade ao movimento. Gráfico 3 - Atividades não realizadas ou realizadas com dificuldade antes do recebimento da intervenção fisioterapêutica. 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 30,00% Pegar peso Caminhar Subir escadas Lavar roupa Vestir-se Escrever Outros Sem dificuldades 10,00% 0,00% Sobre as limitações da capacidade funcional apresentadas pelos participantes da pesquisa, vê-se no Gráfico 3 que 64,3% dos participantes relataram dificuldade ou incapacidade para pegar peso, 53,6% para deambular e 53,6% para subir escadas. Atualmente a limitação da capacidade funcional tem constituído significativamente o cenário epidemiológico da ESF, sendo a dor a principal responsável pelas incapacidades, ausências no trabalho, limitações na realização das AVDs e consequentemente pela diminuição da qualidade de vida [18,19]. Nesse contexto, é evidente a necessidade de multidisciplinaridade na atenção básica, destacando-se a importância da inserção do fisioterapeuta na ESF, pois para Verás et al. e Rezende [19,20], o papel desempenhado pela fisioterapia na comunidade consiste em alcançar níveis adequados de capacidade física, já que o movimento é o objeto de estudo desse profissional e o meio pelo qual o indivíduo se comunica com o ambiente em que vive. Com base no que foi exposto, destaca-se a importância da atuação do profissional fisioterapeuta na comunidade, onde por meio de ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde, esse profissional promove qualidade de vida, proposta pelas políticas que regem a ESF. Conhecimento sobre a atuação fisioterapêutica no município Nesse domínio dentre as diversas informações coletadas apenas será discutido sobre o tempo de percepção da necessidade de tratamento fisioterapêutico e tempo de adesão a esse tipo de atendimento. 17 Gráfico 4 - Tempo de percepção da necessidade de intervenção fisioterapêutica. 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% 3-11 meses 1-3 anos 4-7 acima de não anos 7 anos sabe informar Quanto ao tempo em que os pacientes levaram para perceber a necessidade de intervenção fisioterapêutica, conforme demonstrado no Gráfico 4, predominam os indivíduos que relataram ter percebido tal necessidade após 1 ano da instalação dos distúrbios cinético-funcionais (42,8%) e aqueles que não sabiam informar o tempo de percepção (17,8%). Gráfico 5 - Distribuição do tempo de adesão ao tratamento fisioterapêutico. 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% 1-4 meses 5-11 meses 1-3 anos acima de 3 anos Em relação à adesão ao tratamento fisioterapêutico, abordado no Gráfico 5, prevalecem os pacientes que aderiram recentemente ao tratamento, mais especificamente de 1 a 4 meses (60,8%). Percebe-se que houve um retardo na adesão a esse tipo de atendimento, pois o intervalo de tempo entre a percepção da necessidade de fisioterapia e a adesão a essa intervenção foi maior que 8 meses. Segundo os próprios pacientes, esse retardo deu-se porque desconheciam o papel da fisioterapia, pela falta de transporte e pelo número insuficiente de fisioterapeutas na atenção básica. Esse resultado só confirma o quanto é imprescindível a divulgação por parte desse profissional e dos conselhos de fisioterapia sobre seu papel junto à comunidade, a fim de reduzir o intervalo de tempo entre a percepção da necessidade e a procura pela fisioterapia, já que esse intervalo interfere no nível de comprometimento do indivíduo, pois, sequelas que seriam reversíveis com a procura imediata tornam-se irreversíveis, como resultado da procura tardia. Segundo Buffon e Delai [21,12], a escassez de 18 profissionais capacitados para proporcionar assistência integral à saúde da população tem dificultado a caminhada do SUS no que diz respeito ao cumprimento dos princípios de equidade e resolutividade nas ações, em consequência disso a população tem sido privada de um acesso equitativo aos serviços de saúde de qualidade e que resolvam suas necessidades e problemas de saúde mais urgentes. Em suma através da posse desse conhecimento, as assistências destinadas às necessidades da comunidade poderão tornar-se mais precisas e resolutivas. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Gráfico 6 - Contribuição da fisioterapia na qualidade de vida. 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% AVD’s Sono TrabalhoNenhum Todos Satisfação e perspectiva Por fim o 4° domínio abordado pelo questionário trata-se de satisfação e perspectiva dos participantes do estudo, em que os seguintes aspectos foram analisados: percepção da atuação fisioterapêutica nas principais queixas relatadas; eficácia da fisioterapia; contribuição da fisioterapia na qualidade de vida e avaliação do tratamento fisioterapêutico recebido. Tabela II - Satisfação dos pacientes cadastrados na ESF no município de Muritiba/BA quanto ao atendimento fisioterapêutico recebido. Atuação da fisioterapia nas queixas Sim 96,4% Não 3,6% Considera a fisioterapia eficiente Sim 96,4% Não 3,6% Considera que a fisioterapia pode fazer mais Sim 75% Não 25% Em relação à satisfação dos participantes do estudo quanto ao atendimento fisioterapêutico recebido, tratada na Tabela II, percebe-se que 96,4% dos pacientes asseguraram que suas queixas foram abordadas pela fisioterapia, 96,4% afirmaram considerar a fisioterapia eficiente, entretanto, embora a fisioterapia tenha se mostrado eficaz, 75% dos pacientes alegaram aspirar mais do tratamento recebido, dado que justifica-se pelo curto intervalo de tempo de intervenção a que os pacientes foram submetidos, conforme já discutido. Esses resultados assemelham-se aos encontrados na pesquisa de Machado [17], na qual 75,5% dos indivíduos demonstraram-se satisfeitos com o atendimento recebido pela fisioterapia. A esse respeito, é impossível um serviço ser de alta qualidade enquanto o usuário não está inteiramente satisfeito. Através dessa ideia, entende-se que o nível de satisfação se torna um dos fatores utilizados para a obtenção do controle da qualidade do atendimento à saúde [17]. Referente à contribuição da fisioterapia na qualidade de vida dos participantes do presente estudo, vê-se no Gráfico 6, que 64,3% dos indivíduos referiram uma melhora significativa no exercício das AVDs e 7,1% relataram que não houve nenhuma contribuição da fisioterapia na qualidade de vida. Esses resultados assemelham-se ao descrito em um estudo realizado com a população de Minas Gerais diante da implantação do serviço de fisioterapia, onde 95% afirmaram uma melhoria na sua qualidade de vida ou de sua família, enquanto que em apenas 5% não houve esta melhoria [22]. Segundo Verás et al. [19], a melhoria na mobilidade do indivíduo é um fator que contribui significativamente em uma maior independência na execução das AVDs, e que reflete consequentemente em sua qualidade de vida. Gráfico 7 - Avaliação do tratamento fisioterapêutico recebido pelos pacientes cadastrados nas ESF’s do município de Muritiba/BA. 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Muito bom Bom Muito ruim Por fim, a análise da satisfação ao atendimento fisioterapêutico dos usuários cadastrados nas USFs sede do presente estudo encerra-se com a avaliação realizada pela população estudada diante da intervenção recebida, explanada no Gráfico 7, onde 50% dos indivíduos classificaram o tratamento como muito bom, 46,4% como bom e 3,6% como ruim. Esses resultados se aproximam do detectado pelo estudo já mencionado de Ruas, Paula e Faria [22], onde 72% da população estudada classificaram o serviço que lhe fora prestado como ótimo, e 28% o classificaram como bom. De acordo com Baraúna e Felício et al. [23,24], a ESF surgiu como uma oportunidade para o fisioterapeuta desen- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 volver suas habilidades no âmbito de prevenção e promoção de saúde, oferecendo ao paciente uma melhora na qualidade de vida, proposta pelas políticas que regem a ESF, possibilitando a recuperação da harmonia do corpo e do convívio social, pois onde há a atuação desse profissional existe melhora significativa no quadro geral de saúde dos pacientes. A responsabilidade de promover os objetivos propostos pela atenção básica é depositada sobre todos, devendo-se ressaltar a importância da formação de uma equipe multiprofissional como provedora de integralidade, a fim de contribuir para uma política de atenção em que se considera a uniformidade e resolutividade das ações e serviços oferecidos pelo setor público. Conclusão Ao investigar a percepção da satisfação ao atendimento fisioterapêutico dos indivíduos cadastrados nas USF’s JMMN e Dr. RPF, verificou-se que esses usuários sentiam-se satisfeitos quanto à intervenção fisioterapêutica recebida, pois esta lhes proporcionou melhora do estado de saúde e maior independência em suas atividades de vida diária ao desenvolver consequentemente uma melhor qualidade de vida. Este estudo limitou-se quanto à ampliação dos dados devido a um número significativo de pacientes que apresentaram condições desfavoráveis para responder a alguns questionamentos, bem como houve a necessidade que os pacientes recordassem de seu estado de saúde antes do recebimento do atendimento fisioterapêutico, já que o questionário foi aplicado após a intervenção. Para que o fisioterapeuta alcance efetivamente o seu espaço na ESF, é necessário que outros estudos sejam realizados, a fim de que haja uma maior divulgação do trabalho realizado pelo fisioterapeuta na atenção básica dos diversos municípios, com o objetivo de contribuir em sua inserção na equipe multiprofissional, garantindo então qualidade e resolutividade nas ações e serviços oferecidos pelo SUS. Referências 1. Veiga AC, Neves CAS, Montagna P, Kanda SS, Valença SS. A atuação da fisioterapia na unidade básica de saúde. Fisioter Bras 2004;5:246-9. 2. Ministério da Saúde. Construção do SUS: história da reforma sanitária e do processo participativo. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 3. Rezende M, Moreira MR, Amâncio FA, Tavares MFL. A equipe multiprofissional da saúde da família: uma reflexão sobre o papel do fisioterapeuta. Ciênc Saúde Coletiva 2009;14:1403-10. 4. Andrade WR, Silva ES. A fisioterapia brasileira e o cenário contemporâneo. Fisiobrasil 2006;10:13-23. 5. Figueiredo NMA. 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O estudo foi transversal, de caráter descritivo analítico com a participação de 64 indivíduos. Utilizou-se um questionário contendo dados demográficos, ocupacionais e queixas osteomusculares, traduzido e validado do Nordic Musculoskeletal Questionnaire. Foi realizada uma análise descritiva dos dados obtidos e aplicado o teste inferencial Quiquadrado nas associações entre sintomas e carga horária, tempo de serviço e setor de trabalho. Dos participantes, 69% referiram algum tipo de sintoma osteomuscular nos últimos 12 meses sendo a região cervical a mais acometida (23,5%). Verificou-se também que 8% faltaram ao trabalho e 38% consultaram um profissional de saúde devido a esses sintomas. Em relação às associações encontraram-se resultados estatisticamente não significativos (p = 0,86; 0,99; 0,87), confirmando a independência entre estas variáveis. Percebeu-se que as tarefas de cuidado direto de enfermagem ao paciente e as características do ambiente laboral com condições ergonômicas inadequadas podem estar influenciando no aumento do desgaste físico dos trabalhadores abordados. The work-related disorders have been acquiring expression in number and social relevance being the nursing personnel area, mainly, especially attacked by these disorders. This study aimed at determining the frequency of musculoskeletal symptoms in auxiliary nurses of a public hospital. This transversal study with analytic descriptive approach comprised 64 individuals. A questionnaire, translated and validated from the Nordic Musculoskeletal Questionnaire, composed of items related to information on demographic, occupational and oesteomuscular pain complaints, was used. A descriptive analysis of the obtained data was accomplished and the chi-square test was applied in the association with symptoms and working hours, length of service and workplace. 69% of the participants reported at least one musculoskeletal symptom in the previous 12 months, being the cervical area the more damaged (23.5%). Results showed also that 8% missed work and 38% consulted a health professional due to these symptoms. In relation to the associations, the results had no statistically significant (p = 0.86; 0.99; 0.87), confirming the independence among these variables. We realized that nursing skills which need direct care to patient and labor environment with inadequate ergonomic conditions can have the effect of increasing physical exhaustion of the participants of this study. Palavras-chave: saúde do trabalhador, auxiliares de enfermagem, sintomas, doenças musculosqueléticas. Key-words: occupational health, nurses’ aides, symptoms, musculoskeletal diseases. Recebido em 9 de setembro de 2010; aceito em 25 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Everaldo Nery de Andrade, Rua Sebastião Azevedo, 338, Jequiezinho 45200-970 Jequié BA, Tel: (73) 3525-3483, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Introdução Desde a Antiguidade, o trabalho tem sido visto como fator desencadeante de modificações psicofisicosociais na vida do ser humano. Bernadino Ramazzini, considerado o fundador da Medicina Ocupacional, relacionou o surgimento de doenças com o ambiente de trabalho, além de notar que posturas inadequadas, movimentos repetitivos e irregulares durante a execução do trabalho, causariam sérios prejuízos à saúde do trabalhador [1,2]. As afecções decorrentes das atividades ocupacionais têm adquirido expressão em número e relevância social, estando entre as principais causas de falta de assiduidade do trabalho, perda de capacidade laboral e morbidade de trabalhadores [2]. As lesões osteomusculares estão entre os mais frequentes problemas de saúde relacionados ao trabalho, as quais são decorrentes da evolução do processo trabalhista que busca maior produtividade num esquema de especialização. Tal situação obriga o trabalhador a intensos e inadequados movimentos da coluna, membros, região escapular e pescoço, levando frequentemente a desordens neuro-músculo-tendinosas [3]. Os hospitais estão associados à prestação de serviços à saúde, visando à assistência, ao tratamento e à cura daqueles acometidos por diversas doenças. No entanto, também são responsáveis pela ocorrência de uma série de riscos à saúde daqueles que ali trabalham. A enfermagem, em particular, tem sido especialmente afetada pelos distúrbios musculoesqueléticos. Pesquisas realizadas em vários países exibem prevalências superiores a 80% de ocorrência desses distúrbios em trabalhadores de enfermagem [4,5]. Os principais fatores de risco relacionados aos distúrbios musculoesqueléticos são a organização do trabalho (aumento da jornada de trabalho, horas extras excessivas, ritmo acelerado, déficit de trabalhadores); os fatores ambientais (mobiliários inadequados, iluminação insuficiente) e as possíveis sobrecargas de segmentos corporais em determinados movimentos, por exemplo: força excessiva para realizar determinadas tarefas, repetitividade de movimentos e de posturas inadequadas no desenvolvimento das atividades laborais [5]. Há uma extensa lista de danos a todos os sistemas orgânicos, entre os problemas encontrados destacam-se as lombalgias. A dor lombar tem sido particularmente bem estudada entre os trabalhadores da saúde, sendo resultado de traumas cumulativos. As lesões dorsais ocupacionais ocorrem mais frequentemente quando é realizado o cuidado direto ao paciente, especialmente pacientes com alto grau de dependência física [4,6]. No estudo de Gurgueira [4], constatou-se que 93% dos participantes apresentaram algum sintoma musculoesquelético, tendo a região lombar como a de maior incidência nos últimos doze meses. Este trabalho justificou-se pelo fato de vários pesquisadores do mundo [4-8] destacar a equipe de enfermagem como grupo de risco em relação ao desenvolvimento de distúrbios osteomusculares. Entretanto, no Brasil, há poucos estudos que 21 abordem os sintomas musculoesqueléticos em diferentes regiões corporais em profissionais auxiliares de enfermagem [4,6,7]. Nesse contexto, surgiu a necessidade de abordar a categoria em questão, devido às queixas, principalmente, álgicas oriundas de más posturas adotadas por esses profissionais durante as atividades laborativas, o que causa afastamento do trabalho, comprometendo a produtividade desse profissional para a instituição. Assim, esta pesquisa buscou determinar a frequência dos sintomas musculoesqueléticos por segmento corporal que acometem os auxiliares de enfermagem de hospital público; verificar a procura por assistência médica ou afastamento do trabalho em decorrência desses sintomas musculoesqueléticos, bem como identificar a relação entre sintomas musculoesqueléticos e a carga horária, tempo de serviço e setor de trabalho. Materiais e métodos Trata-se de um estudo transversal, de caráter descritivo analítico [9]. A coleta de dados foi realizada durante o mês de agosto de 2008, no Hospital público Geral Prado Valadares, considerado como referência para o município de Jequié/BA e cidades circunvizinhas. Amostra A população do estudo foi formada por 251 auxiliares de enfermagem do hospital e para o cálculo do tamanho da amostra foi utilizada uma planilha [10] contendo a prevalência estimada da doença de 93% [4] e taxa de não-reposta de 6%, resultando em um total de 64 participantes da pesquisa. Em seguida, foi confeccionada uma listagem dos setores de trabalho e selecionado um pequeno grupo. Estudou-se uma amostragem por conveniência dos profissionais de cada setor sorteado. O presente estudo obedeceu às normas da resolução 196/96 que dispõe sobre as diretrizes para pesquisas envolvendo seres humanos e foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Ciência – FTC, protocolo nº. 345/2008. Os indivíduos foram esclarecidos sobre os detalhes do estudo, sendo obtidos seus consentimentos informados por escrito através da assinatura do Termo de Consentimento. Instrumentos O estudo foi norteado por um questionário [2,4] composto por duas partes: a primeira conteve questões sobre determinadas características demográficas e ocupacionais e a segunda, sobre as queixas musculoesqueléticas. Este questionário de avaliação serviu para avaliar os distúrbios osteomusculares dentro de uma abordagem ergonômica, sendo que o mesmo continha uma figura humana vista pela região posterior, dividida em nove regiões anatômicas: região cervical, ombros, região torácica, cotovelos, punhos/ 22 mãos, região lombar, quadril/coxas, joelhos, tornozelos/pés. As questões estavam relacionadas com cada área anatômica e verificam se os informantes tiveram dores nos últimos 12 meses e sete dias, e se os profissionais precisaram faltar ao serviço ou procurar auxílio médico nos últimos 12 meses devido aos mesmos sintomas [2,11]. Os dados demográficos e ocupacionais contiveram questões sobre a idade, sexo, setor de trabalho, tempo de serviço, carga horária, afastamento de trabalho e assistência médica [2,4]. As queixas osteomusculares foram avaliadas através do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares – QNSO, versão brasileira, traduzida e validada por Pinheiro [11], do Nordic Musculoskeletal Questionnaire – NMQ. Procedimentos Para a aplicação do questionário houve um contato prévio com a administração do hospital para apresentação e explicação dos objetivos da pesquisa, solicitação e autorização escrita para o desenvolvimento do trabalho na instituição. Em seguida, os profissionais auxiliares de enfermagem dos setores sorteados foram convidados a participar do estudo e a preencher o referido instrumento de pesquisa nos seus respectivos locais de trabalho. Análise estatística Para descrever o perfil dos auxiliares de enfermagem do Hospital Geral Prado Valadares foi realizada uma análise descritiva dos dados demográficos e ocupacionais e para verificar a relação de dependência, foram estudadas as seguintes associações: sintomas musculoesqueléticos e carga horária; sintomas musculoesqueléticos e tempo de serviço; sintomas musculoesqueléticos e setor de trabalho. O programa Statistical Analysis System – SAS [12] foi utilizado para a análise estatística descritiva analítica, onde o teste estatístico Qui-quadrado foi aplicado para verificar a relação de dependência, para o qual foi adotado um nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Quanto à unidade de trabalho, 22% dos entrevistados pertenciam à maternidade, 20% à clínica cirúrgica, 17% à clínica médica, 14% ao pronto socorro, 11% à UTI, 8% à pediatria e 8% à psiquiatria; quanto à carga horária diária todos os participantes trabalhavam em regime de plantão de 12 horas diárias. 69% dos voluntários apresentaram algum relato de sintoma musculoesquelético nos últimos 12 meses. Os resultados apresentados na figura 1 mostraram que as regiões mais acometidas foram a parte superior das costas (23,5%), parte inferior das costas (22%) e ombros (15,5%). Além disso, observou-se que nos últimos sete dias precedentes à pesquisa, 77% dos trabalhadores de enfermagem relataram apresentar algum distúrbio musculoesquelético. Assim, conforme apresentado na figura 2, as regiões mais acometidas foram: parte inferior das costas (29 %), parte superior das costas (22 %) e quadril e coxas (10 %). Para avaliar os indicadores de gravidade dos sintomas musculoesqueléticos, verificou-se a procura por assistência médica nos últimos 12 meses e o absenteísmo. Constatou-se que 38% dos profissionais de enfermagem procuraram outro profissional de saúde e 8% ausentaram-se do trabalho devido a esses distúrbios. Além disso, 54% dos informantes referiram a dor lombar como justificativa mais frequente para procura por auxílio de outro profissional de saúde e 60% ausentaramse do trabalho devido a essa condição. Quanto às associações entre sintomas musculoesqueléticos e carga horária ( = 3,9800; p = 0,8589); sintomas musculoesqueléticos e tempo de serviço ( = 5,9566; p = 0,9886); sintomas musculoesqueléticos e setor de trabalho ( = 37,2986; p = 0,8679) encontraram-se relações de associação estatisticamente não significativas (p > 0,05), denotando que as mesmas são independentes. Figura 1 - Distribuição dos resultados da avaliação dos sintomas musculoesqueléticos nas diferentes regiões corporais nos últimos 12 meses. Jequié/BA. Tornozelos/pés Joelhos Resultados A amostra constituiu-se de 64 indivíduos, cadastrados no setor de recursos humanos da instituição. Sendo assim, 19% dos elementos da amostra correspondiam ao gênero masculino e 81% ao feminino; a idade média dos participantes foi de 34,98 anos. Em relação às horas trabalhadas por semana, verificou-se, por meio da análise descritiva, que 72% dos entrevistados tinham jornada de trabalho de 30 horas semanais e 28% tinham 40 horas semanais. O tempo de serviço dos profissionais de enfermagem na instituição era em média de 86,16 meses, sendo que 64% dos trabalhadores possuíam até 13 meses de serviço, 11% de 14 a 120 meses e 25% acima de 120 meses de serviço. Segmento corporal Quadril/coxas 8 6 8 Parte inferior das costas 22 Punhos/mãos 9 Cotovelo 1 Parte superior das costas 23,5 Ombros Pescoço 15,5 7 0 5 10 15 20 25 Frequência relativa (%) dos sintomas musculoesqueléticos nos últimos 12 meses Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Segmento corporal Figura 2 - Distribuição dos resultados da avaliação dos sintomas musculoesqueléticos nas diferentes regiões corporais nos últimos sete dias. Jequié/BA. Tornozelos/pés 8 Joelhos 9 10 Quadril/coxas Parte inferior das costas 29 Punhos/mãos 9 Cotovelo 0 Parte superior das costas 22 Ombros Pescoço 8 5 0 10 20 30 40 Frequência relativa (%) dos sintomas musculoesqueléticos nos últimos sete dias Discussão No presente estudo, procurou-se ampliar os conhecimentos sobre as queixas musculoesqueléticas na equipe de auxiliares de enfermagem de um hospital público e determinar a frequência desses sintomas. Os resultados mostraram que os trabalhadores relataram elevada ocorrência de sintomas osteomusculares em vários segmentos corporais no período de 12 meses (69%) e de 7 dias (77%). Semelhante aos estudos de Gurgueira [4] que se verificou uma prevalência de 93% de algum tipo de queixas nos últimos 12 meses e 62% nos últimos 7 dias e de Rocha [7], no qual se constatou que 89% dos auxiliares de enfermagem de hospital universitário de Belo Horizonte referiram dor nas costas. Em relação às regiões mais citadas como responsáveis por esses sintomas nos últimos 12 meses, verificou-se pela análise descritiva que a região da coluna cervical ficou em primeiro lugar (23,5%), seguida pela região lombar (22%), semelhante aos estudos de Varela, Bachiega, Souza, Giglio [13-16], nos quais se constatou que a região cervical foi a mais acometida com 29%, 67%, 17% e 57,1%, respectivamente. Diferentemente do presente estudo, os trabalhos de Gurgueira e Magnago [4,17] demonstraram que a dor lombar teve maior prevalência (59%) e (71,5%), respectivamente. Em outro estudo, Aquino [18] verificou uma prevalência de 71% de dores na coluna em profissionais de enfermagem num hospital público de Salvador/BA, outrora, Josephson [19], em estudo realizado na Suécia, com funcionários de um hospital verificou prevalência de 65% de lombalgia e 60% de artralgia em ombros. Na avaliação dos indicadores de gravidade dos sintomas, semelhante ao estudo de Gonçalves [20], observou-se que a lombalgia foi uma das maiores causas de absenteísmo (8%), 23 embora no presente estudo a região cervical tenha sido apontada como a de maior queixa álgica. Acredita-se que a dor lombar seja mais incapacitante que a dor cervical, embora esta seja mais frequente que àquela. Além disso, constatou-se que a lombalgia foi responsável pela maior procura por outro profissional de saúde (38%). A questão da influência das lombalgias em produzir incapacidade ao trabalho foi demonstrada em outros trabalhos [4,17]. De acordo com o estudo de Rocha [7], 17,9% dos respondentes disseram já ter faltado ao serviço e 19,1% entrou em licença médica com custo expressivo em tratamento e fisioterapia devido à lombalgia. Em relação às associações entre sintomas musculoesqueléticos com carga horária, tempo de serviço e setor de trabalho encontraram-se resultados estatisticamente não significativos (p > 0,05), confirmando a independência entre estas variáveis. Gurgueira [4] afirmou no seu estudo que o período de adaptação ao ambiente laboral e à atividade exercida poderia explicar o surgimento desses distúrbios nos auxiliares de enfermagem com menor tempo de serviço. No entanto, verificou-se nesse estudo que apesar de 64% dos respondentes possuírem tempo de serviço de até 13 meses, não foi comprovada diferença estatística quanto às queixas em relação aos 25% que trabalharam acima de 120 meses (p = 0,99). Pesquisas têm mostrado que as afecções osteomusculares são causadas por inúmeros fatores. As tarefas de cuidado direto de enfermagem ao paciente internado e as características do ambiente onde estas tarefas são realizadas podem estar influenciando no aumento do desgaste físico dos trabalhadores da categoria estudada. Sendo assim, por exemplo, as causas mais comuns das artralgias da coluna vertebral podem ser produzidas num movimento simples, mas geralmente são resultados de acúmulo de meses ou anos seguidos de posturas inadequadas [7,21]. A grande prevalência de sintomas osteomusculares em trabalhadores de enfermagem está associada aos procedimentos de movimentação e de transporte de pacientes que são atividades inerentes à função. Alguns autores afirmam que as transferências de pacientes da cama para a maca e vice-versa, aliada ao sobrepeso/dependência dos pacientes e as condições ergonômicas inadequadas (altura inadequada das macas, postos de trabalho e equipamentos) são fatores que comprometem principalmente a coluna vertebral dos trabalhadores. Estes traumas causados ao sistema musculoesquelético de origem laboral estão associados à tensão da musculatura paravertebral, decorrentes de posturas incômodas e da degeneração precoce dos discos intervertebrais pelo excesso de esforço físico [7,22,23]. Algumas doenças da coluna vertebral associadas ao trabalho podem ser evitadas com a implantação de cursos de reciclagem e treinamentos como parte obrigatória do programa de prevenção de lesões osteomusculares. Os objetivos desses programas são: qualidade na execução do trabalho, melhor aproveitamento da mecânica corporal e conscientização da 24 importância da preparação do corpo para a tarefa por meio de exercícios de alongamento, fortalecimento muscular e relaxamentos [8,24]. A generalização dos resultados deve considerar as limitações inerentes aos estudos transversais que faz apenas um exame pontual não esclarecendo uma relação de causa e efeito entre os eventos, além de necessitar de um tamanho amostral grande e ao tipo de amostragem adotado neste estudo, visto que a amostragem por conveniência não representa toda a população em estudo. Desta forma, sugere-se que estudos posteriores utilizem uma metodologia diferente com amostragem randomizada e avaliação da intensidade dos sintomas através de escalas analógicas, além de abordar outras categorias profissionais em locais de trabalho diferentes. Conclusão Pelo exposto, concluiu-se que os sintomas musculoesqueléticos representam um problema importante para os profissionais auxiliares de enfermagem. Neste estudo, verificou-se uma elevada prevalência de 69% de sintomas nos últimos 12 meses e 77% nos últimos sete dias precedentes a pesquisa, sendo as regiões cervical e lombar as mais citadas, respectivamente. Não foi encontrada associação estatisticamente significativa entre variáveis estudadas. Referências 1. Rosen G. Uma história da saúde pública. São Paulo: Unesp/ Hucitec – Abrasco; 1994. 2. Meira APR, Araújo CC. Prevalência de sintomas músculoesqueléticos em trabalhadores de supermercados em Jequié-BA, 2006 [TCC]. Jequié: UESC; 2006. 3. Brandão AG, Horta BL, Tomasi E. Sintomas de distúrbios osteomusculares em bancários de Pelotas e região: prevalência e fatores associados. Rev Bras Epidemiol 2005;8(3):295-305. 4. Gurgueira GP, Alexandre NMC, Filho HRC. Prevalência de sintomas músculo-esqueléticos em trabalhadoras de enfermagem. Rev Latinoam Enfermagem 2003;11(5):608-13. 5. Magnago TSBS, Lisboa MTL, Souza IEO, Moreira MC. Distúrbios musculo-esqueléticos em trabalhadores de enfermagem: associação com condições de trabalho. Rev Bras Enferm 2007;60(6):701-5. 6. Parada EO, Alexandre NMC, Benatti MCC. Lesões ocupacionais afetando a coluna vertebral em trabalhadores de enfermagem. Rev Latinoam Enfermagem 2002;10(1):64-9. 7. Rocha AM, Oliveira AGC. Estudo da dor nas costas em trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário de Belo Horizonte, Minas Gerais. Rev Min Enf 1998;2(2):79-84. 8. Pinho L, Araújo MGF, Góes SR, Sampaio RF. Dores na coluna em profissionais de enfermagem. Acta Fisiátrica 2001;8(2):7581. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 9. Campana AO, Padovani CB, Iaria CT, Freitas CBD, Paiva SAR, Hossne WS. Investigação científica na área médica. Barueri: Manole; 2001. 10. Epidemiologia aplicada à pesquisa em saúde [online]. [citado 2008 Mar 3]. Disponível em URL: http://www.pgops.dod.ufrn. br/epid_aplic/epidemio_aplic.htm 11. Pinheiro F, Tróccoli B, Carvalho C. Validação do Questionário Nórdico de sintomas Osteomusculares como medida de morbidade. Rev Saúde Pública 2002;36(3):307-12. 12. Statistical Analysis System – User guide. NC: SAS Institute; 1999. 13. Varela CDS, Ferreira SL. Perfil das trabalhadoras de enfermagem com diagnóstico de LER/DORT em Salvador-Bahia 1998-2002. Rev Bras Enfermagem 2004;57(3):321-5. 14. Bachiega JC. Sintomas de distúrbios osteomusculares relacionados à atividade de cirurgiões-dentistas brasileiros. [Dissertação]. São Paulo: Uninove; 2009. 36 p. 15. Souza AS, Ferreira LHF, Valente GSC, Silva AH. Doenças ocupacionais: absenteísmo por prevalência de dor no sistema músculo-esquelético em profissionais de enfermagem que atuam no centro cirúrgico. Rev Enferm UFPE 2010;4(4):1718-23. 16. Giglio AG. Estudo das queixas osteomusculares entre fisioterapeutas em um hospital oncológico [dissertação]. Brasília: Universidade de Brasília; 2010. 17. Magnago TSBS, Lisboa MTL, Griep RH, Kirchhof ALC, Camponogara S, Nonnenmacher CQ, et al. Condições de trabalho, características sociodemográficas e distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores de enfermagem. Acta Paul Enferm 2010;23(2):187-93. 18. Aquino EML, Araújo MJS, Menezes GMS, Marinho LFB. Saúde e trabalho de mulheres profissionais de enfermagem em um hospital público de Salvador, Bahia. Rev Bras Enfermagem 1993;46(3-4):245-57. 19. Josephson M, Lagerstrom M, Hagberg M, Hjelm EW. Musculoskeletal symptoms and job strain among nursing personnel: a study over a three year period. Occup Environ Med 1997;54(9):681-5. 20. Gonçalves JRS, Melo EP, Lombas SRL, Mariano CS, Barbosa L, Chillida, MSP. Causas de afastamento entre trabalhadores de enfermagem de um hospital público do interior de São Paulo. REME Rev Min Enferm 2005;9(4):309-14. 21. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 25 Artigo original Imobilização do tornozelo de ratos: estudo histológico da extremidade distal da tíbia Immobilization of rats ankle: histological study of distal extremity of the tibia Sônia Maria Marques Gomes Bertolini, Ft., D.Sc.*, Priscila Daniele de Oliveira, Ft.**, Deisy Carla Cararo, Ft.*** *Professora associada da Universidade Estadual de Maringá e do Centro Universitário de Maringá - CESUMAR, Maringá PR,**Pós-graduação em Anatomia e Histologia pela Universidade Estadual de Maringá – UEM, Maringá PR, Pós-graduação em Gestão da Saúde pela Universidade Estadual do Centro-oeste – UNICENTRO, Guarapuava PR, ***Pós-graduação em Osteopatia pelo Instituto Docusse de Osteopatia e Terapia Manual – IDOT, Presidente Prudente SP Resumo Abstract As articulações sinoviais têm como função a realização de movimentos e, quando permanecem imobilizadas, sua integridade fica prejudicada, mesmo em diferentes períodos de imobilização. O objetivo deste estudo foi analisar o comportamento das estruturas osteocartilaginosas da extremidade distal da tíbia após a imobilização do tornozelo de ratos. Para isso, utilizou-se 15 ratos Wistar, que foram divididos em 3 grupos, com 5 animais cada, sendo submetidos a imobilização por 14, 21 e 45 dias. Os controles dos experimentos foram obtidos através dos membros direitos dos respectivos animais. Estes foram eutanasiados e seus tornozelos foram submetidos à rotina histológica. A seguir procedeu-se a documentação em fotomicroscopia e as imagens foram analisadas de forma descritiva. Os resultados revelaram redução da massa óssea subcondral e aumento dos espaços trabeculares em todos os períodos de imobilização. Nos grupos experimentais de 21 e 45 dias houve diminuição da espessura das cartilagens articular e epifisária. Notou-se ainda no experimento de 45 dias um decréscimo no número de células cartilaginosas, formação de grupos isógenos e avanço do osso subcondral para a cartilagem articular. Com base nesses resultados, conclui-se que a imobilização por diferentes períodos provoca alterações estruturais osteocartilaginosas da extremidade distal da tíbia. The synovial joints have as function to perform movements and, when immobilized, their integrity gets impaired, even in different periods of immobilization. Thus, the main objective of this study was to analyze the behavior of osteochondral structures of distal extremity of tibia after immobilization of rats’ ankle. 15 Wistar rats were used on the study, which were divided into three groups, each one with five rats, being immobilized for 14, 21 and 45 days. The controlled experiments were obtained through the right side limbs of the respective animals, which were euthanized and their ankles underwent histological routine. Later, the documentation by photomicrograph was carried out and the images analyzed in a descriptive approach. Results revealed a reduction in subchondral bone mass and an increase of trabecular spaces in all periods of immobilization. On the 21 and 45-day experimental groups there was a reduction of the joint and epiphyseal cartilage. Moreover, on the 45-day experimental group, there was a decrease on the number of cartilage cells, formation of isogenous groups and progress of the subchondral bone to the articular cartilage. Based on the results, we conclude that immobilization in different periods, causes alterations in the osteochondral structures of distal extremity of the tibia. Key-words: ankle joint, hyaline cartilage, immobilization. Palavras-chave: articulação do tornozelo, cartilagem hialina, imobilização. Recebido 15 de setembro de 2010; aceito em 17 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Priscila Daniele de Oliveira, Rua Gonçalves Dias, 137, Vila Ivone Apucarana 86804-280, Tel: (43) 3423-2669, E-mail: [email protected] 26 Introdução Para o tratamento clínico das lesões no desporto, das doenças degenerativas articulares, das fraturas ósseas, das rupturas ligamentares ou das desnervações têm se buscado, a cada dia, o aperfeiçoamento de técnicas no intuito de proporcionar maior funcionalidade ao indivíduo. Contudo, ainda existem na prática médica situações em que se utiliza da imobilização de um segmento corporal, mesmo com o reconhecimento dos seus efeitos deletérios [1]. As consequências geradas no aparelho locomotor pela imobilização de um membro ou, mais especificamente, de uma articulação, podem ser evidenciadas como uma diminuição da elasticidade muscular, redução da amplitude de movimento e também como contraturas musculares e articulares [2-4]. Em geral, as articulações, como as sinoviais, são compostas por cartilagem articular, membrana sinovial, cavidade articular, ligamentos e líquido sinovial. Funcionalmente, são caracterizadas por apresentarem movimento e produção do líquido sinovial (sinóvia), que é indispensável para o seu melhor desempenho. A sinóvia é liberada conforme a movimentação da articulação e confere suprimento nutricional à cartilagem articular [5]. A articulação sinovial do tornozelo é frequentemente citada pela literatura como sendo uma das mais susceptíveis a lesões. Apesar de ser considerada mais estável do que móvel, ela está entre 15 a 25% das lesões musculoesqueléticas, geralmente apresentando-se como uma entorse de tornozelo, ou então, fratura maleolar [6,7]. Hamill e Knutzen [8] caracterizam a referida articulação como sendo constituída por ossos longos e curtos, cuja função é fornecer suporte de peso e dissipação de cargas, respectivamente. Quando um osso longo não sofre forças compressivas ou tensivas, ele pode ser prejudicado no seu papel. Comumente, a opção de tratamento para as lesões das estruturas do tornozelo é a imobilização [6]. Sendo assim, a tíbia que é um osso longo, possivelmente torna-se mais vulnerável aos efeitos deletérios, quando submetida ao desuso [8]. Há autores que expõem em seus estudos, de forma minuciosa, as alterações ocorridas no músculo esquelético, mediante os diferentes períodos de pós-imobilização. Porém as modificações articulares também envolvidas na imobilização são, muitas vezes, superficialmente descritas [2,9,10]. Quando uma articulação é imobilizada, a efetividade da manutenção de sua cartilagem fica prejudicada, alterando a sua integridade. Com a redução da carga e do movimento, as células de crescimento do osso subcondral são acionadas, desencadeando uma invasão vascular para a cartilagem, acarretando fibrosamento, diminuição de proteoglicanos e da espessura cartilaginosa [11]. Independentemente do tempo de imobilização, seja a curto ou a longo prazo, as alterações articulares de um modo geral são bem evidenciadas. Brandt [12] relatou em seus estudos que, em poucas semanas, a espessura da cartilagem Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 teve uma redução de 50% em seu conteúdo de proteoglicanos, afetando as propriedades de rigidez e hidratação da cartilagem articular. Por outro lado, Carlo et al. [13] descrevem, em seus experimentos com imobilização de ratos por 45 dias, que foram encontradas alterações como espessamento e fibrosamento da cápsula articular com proliferação da membrana sinovial (apresentando rigidez e diminuição da amplitude de movimento articular), hiperplasia sinovial, o que possivelmente foi ocasionado pela redução da produção do fluido sinovial, gerando, consequentemente, a degeneração da cartilagem articular. Com a redução da movimentação passiva e ativa da articulação, durante a imobilização, segundo Hagiwara et al. [4], pode-se desenvolver uma contratura articular. No entanto, sua origem é bem discutida, pois alguns pesquisadores acreditam que ela seja causada por fatores artrogênicos e outros por miogênicos. Neste último, são abordadas as lesões de músculos, tendões e fáscias. Já no primeiro caso, as alterações da cartilagem pela imobilização geram a limitação da movimentação passiva e ativa, sendo um fator de maior aceitação em função da contratura articular. Alievi et al.[14] citam em seus experimentos com cães que, após 15 dias de imobilização, já existe uma perda estatisticamente significativa na flexão e na extensão da articulação tíbio-tarsal e que, mesmo sendo uma imobilização temporária, ocorrem disfunções importantes na homeostase articular. Além disso, salientam que os animais sentiram dores durante a mobilização passiva da articulação, possivelmente pelo tempo de imobilização, que resultou em atrofia muscular, contratura da musculatura e da cápsula articular, proliferação de tecido conectivo intracapsular e formação de aderências. Conforme estudos realizados por Ferreira et al. [15], em casos de luxação subtalar, existe perda expressiva em até 50% da mobilidade articular do pé e do tornozelo após imobilização de 17 a 48 semanas. Os autores atribuíram isso ao dano à cartilagem articular no momento da luxação, à fibrose cicatricial periarticular e, principalmente, à imobilização, que, nos traumas de maior energia, teve seu período prolongado. Existem pesquisas que analisam os efeitos da imobilização e da remobilização de um membro para verificar as formas que menos agridam os tecidos envolvidos durante o período de desuso. Todavia, o programa de reabilitação funcional do membro imobilizado deve ser cuidadosamente estudado, sendo que uma remobilização mal estruturada pode desencadear prejuízos à cartilagem articular, assim como foi descrito por Portinho et al. [16]. Entretanto, ainda há poucos trabalhos que descrevem detalhadamente os efeitos da imobilização sobre as estruturas articulares, principalmente dos membros inferiores, que estão mais sujeitos a descarga de peso. Neste sentido, este estudo teve como objetivo analisar o comportamento das estruturas osteocartilaginosas da extremidade distal da tíbia após a imobilização do tornozelo de ratos, por diferentes períodos, no intuito de contribuir para Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 a adoção de terapêuticas melhor embasadas nas propriedades biomecânicas do tecido ósseo. Material e métodos O experimento foi realizado utilizando-se de 15 Rattus navergicus albinus machos, variedade Wistar (3 a 4 meses, 250-300 g), que ficaram divididos em três grupos, com cinco animais cada (grupos I, II e III), sendo o primeiro grupo submetido à imobilização por 14 dias, o segundo por 21 dias e o terceiro por 45 dias. O controle do experimento foi obtido através do membro contralateral direito do respectivo animal. O protocolo para esse experimento foi aprovado pelo Comitê de Bioética Animal do Centro Universitário de Maringá (COBAC), sob o número 046/2008. Os animais permaneceram no biotério do CESUMAR, mantidos em gaiolas de polipropileno com 39 cm de comprimento, 32 cm de largura e 16 cm de altura, forradas com cepilho de madeira. Após o experimento, os ratos ficaram alojados em duplas nas gaiolas. O ambiente era higienizado de acordo com os procedimentos do laboratório, com o controle da temperatura a 25oC e da luminosidade (12 horas claro e 12 horas escuro). A água e a ração estavam livremente acessíveis. Para a realização do experimento, os animais foram anestesiados com Ketamina (50 mg/kg-1) e Cloridrato de Xilazina (10 mg/kg-1), de forma associada, com o volume de 0,1mL para cada 100 gramas de peso, por via intraperitoneal. A imobilização era feita no membro posterior esquerdo, através de uma tala de alumínio adaptada ao membro a ser imobilizado. A posição escolhida para a imobilização foi a extensão do joelho e a flexão dorsal do tornozelo esquerdo em 90º do respectivo segmento corporal [17,18]. Durante o período em que os ratos permaneceram imobilizados, eles foram visitados diariamente, para que ocorresse o acompanhamento do estado geral do membro com restrição da mobilidade. Após o período experimental, cada animal foi eutanasiado de acordo com as suas fases de imobilização, utilizando uma dosagem letal de Tiopental Sódico 45mg/kg de peso (1g) diluído em água (22 ml), por via intraperitoneal. Em seguida, ocorreu a desarticulação da articulação coxo-femoral para a coleta do material, que foi colocado em formol 10% para ser levado ao tratamento histológico. As articulações do tornozelo direito (grupo controle) e esquerdo (grupo experimental) de todos os animais foram coletadas e a preparação do material iniciou-se imediatamente após sua coleta [17,18]. As peças foram lavadas em solução salina 0,9% e, em seguida, fixadas em solução de formol a 10% durante 48 horas, até o início do tratamento histológico de rotina. Após, ocorreu a desidratação em série crescente de alcoóis, a diafanização com xileno e a inclusão de parafina. Foram utilizados cortes de 6μm de espessura, seriados e orientados longitudinalmente em relação ao maior eixo do osso. Os cortes obtidos foram corados de forma alternada e em sequência, pelo método 27 Hematoxilina Eosina – HE, sendo depois fixados com resina Permont. Posteriormente, para o estudo histológico, o material foi analisado em microscópio óptico Olympus BX40 e fotografado em fotomicroscópio BX50, com equipamento fotográfico PM10AK, com o objetivo de observar as alterações celulares, o aspecto trabecular do osso subcondral, as irregularidades da cartilagem articular e da cartilagem epifisária da extremidade distal da tíbia. Em seguida, os achados histológicos foram submetidos a uma análise descritiva. Resultados Foi observada, em todos os períodos de imobilização, a redução da massa óssea subcondral, com aumento sensível dos espaços trabeculares da extremidade distal da tíbia (Figura 1). Figura 1 - Fotomicrografias de secções longitudinais de 6 m das epífises distais das tíbias, com visualização dos espaços trabeculares do osso subcondral (seta). a); c); e) Grupo controle dos animais imobilizados 14, 21 e 45 dias, respectivamente. b); d); f ) Grupo experimental dos animais imobilizados 14, 21 e 45 dias, respectivamente. HE, 124X. a b c d e f Com relação à cartilagem articular do grupo experimental, houve nos períodos de 21 e 45 dias de imobilização uma pequena diminuição da espessura, se comparado ao grupo controle. Nos períodos de 14 e 21 dias de imobilização não foram identificadas alterações pertinentes à constituição da referida cartilagem. Sobretudo, na imobilização de 45 dias, ocorreu uma diminuição no número de células cartilaginosas Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 28 na região próxima ao osso subcondral. No entanto, pôde-se observar um aumento dessas células na região próxima à face articular, formando grupos de condrócitos, conhecidos também como grupos isógenos (Figura 2). Figura 5 - Fotomicrografias de secções longitudinais de 6 m das epífises distais das tíbias, com visualização da cartilagem epifisária emaranhada ao osso esponjoso (setas). a) Grupo controle de 45 dias de imobilização. b) Grupo experimental de 45 dias de imobilização. HE, 310X. Figura 2 - Fotomicrografias de secções longitudinais de 6 m das epífises distais das tíbias, com visualização do número de células cartilaginosas (Nc), a matriz cartilaginosa (Mc) e os condrócitos (Cc). a) Grupo controle de 45 dias de imobilização. b) Grupo experimental de 45 dias de imobilização. HE, 620X. Nc b C Mc C C Cc C C a Mc Cc Nc C C C C C Na cartilagem articular do grupo experimental de 45 dias, notou-se um avanço da linha de transição osteocartilaginosa, com progressão do osso subcondral para algumas regiões dessa cartilagem (Figura 3). Figura 3 - Fotomicrografias de secções longitudinais de 6 m das epífises distais das tíbias, com visualização da cartilagem articular: zona superficial (Zs), zona intermediária (Zi), zona radial (Zr), linha de transição (Lt) e zona de calcificação (Zc); a) Grupo controle de 45 dias de imobilização. b) Grupo experimental de 45 dias de imobilização. HE, 310X. Zc Lt Zr Zc Lt Zr Zi Zs Zi Zs Quanto à cartilagem epifisária ou de crescimento, nos animais imobilizados por 21 e 45 dias, houve uma importante redução da espessura dessa cartilagem, com notável diminuição do número de condrócitos (Figuras 4 e 5). Figura 4 - Fotomicrografias de secções longitudinais de 6 m das epífises distais das tíbias, com visualização da espessura da cartilagem epifisária (traço) e concentração de condrócitos (círculo). a) Grupo controle de 21 dias de imobilização. b) Grupo experimental de 21 dias de imobilização. HE, 310X. a b a b Verificou-se também que essas células cartilaginosas encontravam-se emaranhadas e distribuídas irregularmente na região da metáfise, com maior evidência no experimento de 45 dias (Figura 5). Quando comparados os grupos experimentais de 21 e 45 dias de imobilização, nota-se que o número de condrócitos e a espessura da cartilagem epifisária sofreram nítido decréscimo, concomitante ao prolongamento do tempo em que os animais ficaram imobilizados. Discussão As alterações observadas no grupo experimental de 14 dias, no que se refere à massa óssea subcondral, possivelmente deveu-se ao seu desuso durante o período de imobilização, o que pode ser sustentado por Trebacz e Zdunek [19] em estudos realizados com ratos adultos jovens, que foram imobilizados por duas semanas, com a ocorrência de alterações significativas na massa e na densidade óssea. Tal fato é corroborado por Portinho et al.[16], que também descrevem a diminuição de osteócitos nos ossos do tornozelo de ratos, como o único achado alterado por um período de imobilização de 15 dias. Nos experimentos de 21 dias e 45 dias, ocorreu uma perda progressiva do osso subcondral, que se tornou cada vez menos consistente e com um aumento do espaço trabecular, caracterizando um desequilíbrio entre a formação e a reabsorção óssea. Nesse sentido, Valpon et al. [20] imobilizaram ratos por 28 dias e elucidaram a ocorrência desse fato pela falta de solicitação mecânica durante o desuso do membro. Para esses autores, o prolongamento do tempo de imobilização é proporcional ao aumento do enfraquecimento do tecido ósseo, desencadeado por uma reabsorção óssea adaptativa. Não ocorreram alterações expressivas na cartilagem articular dos animais de duas semanas de imobilização, assim como citam Finsterbush e Friedman [21] e Paukkonen et al. [22]. Nos estudos realizados pelos referidos autores, houve a preservação da superfície articular em grupos de animais imobilizados por 5, 30 e 120 dias. No entanto, Bertolini et al. [17] relataram a diminuição estatisticamente significante da espessura da cartilagem articular do joelho de ratos imobilizados por 7 e 14 dias. Vale ressaltar que estes achados Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 foram referentes à articulação do joelho, com características biomecânicas diferentes do tornozelo. Entretanto, no experimento de 45 dias, analisado no presente estudo, observou-se grupos de condrócitos, que possivelmente revelam um estágio mais avançado da histogênese da cartilagem hialina, uma vez que Junqueira e Carneiro [23] descrevem que a cartilagem é formada a partir do mesênquima. Assim, ocorre uma multiplicação celular, formando um tecido rico em células que, devido à produção da matriz cartilaginosa, sofrem um afastamento. Estes condrócitos, por sua vez, multiplicam-se por mitose, dando origem aos grupos isógenos. Carlo et al. [13] também descrevem esse achado em suas pesquisas, realizadas com ratos imobilizados por 45 dias, salientando a presença intensa de condrócitos nas zonas superficial e intermediárias dessa cartilagem observando também a presença de grupos isógenos nessas regiões. Ao retirar a carga do membro com a imobilização, há um retardo da manutenção da cartilagem articular. Com isso, o osso subcondral torna-se mais ativo, provocando invasões nessa cartilagem, seguindo em direção ao espaço articular, desencadeando a degeneração articular [24]. Outros autores, como Amatuzzi e Carazatto [25] também consideram que a eliminação das cargas impostas sobre a articulação prejudicam as trocas metabólicas, decisivas para a sobrevivência da cartilagem, o que leva à degradação desse tecido, desenvolvendo uma osteoartrose, provavelmente irreversível. Nos períodos de 14 e 21 dias de imobilização, utilizados neste experimento, não foi possível comprovar esse fato. No entanto, a imobilização de 45 dias apresentou uma razoável invasão de osso subcondral, sendo verificado pela incursão da linha de transição osteocartilaginosa sobre a cartilagem articular. Carlo et al. [13] corroboram que a imobilização prolongada, especialmente acima de 45 dias, interfere negativamente na nutrição sinovial à cartilagem articular, provocando a degeneração da mesma. Destaca-se, ainda, que a cartilagem epifisária foi sensivelmente prejudicada, com depreciação da espessura, da distribuição e população condral. Contudo, Bertolini et al. [17] demonstram que houve um aumento da cartilagem epifisária em uma e duas semanas de imobilização. Os referidos autores atribuem esses resultados a uma resposta protetora da cartilagem, que realizou mais divisões mitóticas do que o normal, gerando grupos isógenos, com duas ou mais divisões, providas de um mesmo condrócito, no intuito de reparar o dano gerado pelo desuso articular. Novamente, vale ressaltar a utilização do joelho por Bertolini et al. [17] no estudo experimental sobre a restrição da mobilidade e que os animais de seus experimentos ficaram imobilizados por um período de até 14 dias, assim como vale salientar que esses achados revelaram uma resposta apenas imediata à imobilização. Tal fato também é apresentado por Piermattei e Flo [26], que consideram esse reparo como insignificante, conforme a continuidade da injúria tecidual. 29 Com o adelgaçamento e a destruição da cartilagem epifisária demonstrados, presume-se que a imobilização, ao interferir na conservação da integridade cartilaginosa, promoveu diminuição de proteoglicanos, aumento da ossificação subcondral, desidratação cartilaginosa [11] apoptose de condrócitos, atrofia e reabsorção da cartilagem [25], ocasionando assim uma união precoce da diáfise com a epífise distal, o que pode comprometer o crescimento do membro. Nesse contexto, a persistência da imobilização por até 45 dias demonstrou prejuízos progressivos à articulação, e mesmo que a imobilização seja periódica ou de curta duração, a mesma pode inferir em perdas articulares de caráter cumulativo [25]. Conclusão Com base nos resultados obtidos nesta pesquisa, pode-se concluir que a imobilização por diferentes períodos provoca alterações estruturais osteocartilaginosas, evidenciadas pelo aumento dos espaços trabeculares do osso subcondral, assim como pela redução das espessuras das cartilagens articular e epifisária, demonstrando assim os efeitos deletérios da restrição da mobilidade articular também para a articulação do tornozelo. Conclui-se, ainda, que a imobilização interfere no processo de formação óssea e na histogênese da cartilagem hialina. Tendo em vista a calcificação precoce da cartilagem epifisária em decorrência da imobilização, sugere-se a realização de novas pesquisas que analisem o tecido ósseo da metáfise, frente às forças tensivas e compressivas impostas ao sistema esquelético pós-imobilização. Agradecimentos Agradecimentos às técnicas Vanessa Medeiros e Karina C. de Souza (Laboratório de Farmacodinâmica-CESUMAR), Cleonira Sarro (Laboratório de Anatomia-UEM) e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do CESUMAR. Referências 1. Dias CNK, Silva CA, Guirro R, Cancelliero KM, Chingui LJ. Imobilização em flexão plantar do tornozelo induz alteração metabólica em músculo esquelético de ratos. Fisioter Bras 2005;6(4):277-80. 2. Duringan JLQ, Cancelliero KM, Dias CKN, Silva CA, Guirro RRJ, Polacow MLO. Efeitos da estimulação neuromuscular sobre o membro posterior imobilizado de ratos durante 15 dias: análises metabólicas e morfométricas. Rev Bras Fisioter 2006;10(3):297-302. 3. Duringan JLQ, Cancelliero KM, Dias CKN, Silva CA, Dias CNK. Efeitos da imobilização articular aguda nos músculos do membro posterior de ratos: análise metabólica e morfométrica. Fisioter Pesqui 2006;13(2):31-6. 4. Hagiwara Y, Saijo Y, Chimoto E, Akita H, Sasano Y, Matsumoto F. Increased elasticity of capsule after immobilization in 30 a rat knee experimental model assessed by scanning acoustic microscopy. Ups J Med Sci 2006;111(3):303-13. 5. Bertolini SMMG, Miranda Neto MH. Sistema articular. In: Miranda Neto MH, et al. Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Clichetc; 2006. p. 99-101. 6. Moreira V, Antunes F. Entorse do tornozelo do diagnóstico ao tratamento: perspectiva fisiátrica. Acta Med Port 2008;21(3):285-92. 7. Schwartsmann CR, Werlang PM, Rubin LA, Carvalho LF, Gioscia JR, Slonka R. Tratamento conservador das fraturas maleolares do tornozelo tipo B de Weber. Rev Bras Ortop 2006;41(9):366-72. 8. Hamill J, Knutzen KM. Bases biomecânicas do movimento. São Paulo: Manole; 1999. 9. Lima SC, Caierão QM, Duringan JLQ, Schwarzenbeck A, Silva CA. Minamoto VB. Curto período de imobilização provoca alterações morfométricas e mecânicas no músculo de rato. Rev Bras Fisioter 2007;14(4):297-302. 10. Matheus JPC, Gomide LB, Milani, GJO, Shimano AC. A imobilização gessada por um curto período pode influenciar nas propriedades biomecânicas do músculo esquelético? Brazilian Journal of Biomotricity 2007;1(2):28-33. 11. Belloti JC, Faloppa F. Tratamento clínico da osteoartrose: evidências atuais. Rev Bras Ortop 2006;41(3):47-53. 12. Brandt KD. Response of joint structures to inactivity and to reloading after immobilization. Arthritis Rheum 2003;49(2):26771. 13. Carlo RJ, Galvão MIV, Viloria AJ, Natali ALT, Barbosa BS, Monteiro LCP. Imobilização prolongada e remobilização da articulação fêmoro-tíbio-patelar de ratos: estudo clínico e microscópico. Arq Bras Med Vet Zootec 2007;59(2):363-70. 14. Alievi MM, Schossler JE, Teixeira MW. Goniometria da articulação tíbio-tarsal após imobilização temporária com fixador esquelético externo em cães. Ciênc Rural 2004;34(2):425-8. 15. Ferreira RC, Costa MT, Corrales CAI. Luxação peritalar: aspec- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 tos epidemiológicos e resultados do tratamento a médio prazo. Rev Bras Ortop 2006;41(4): 98-108. 16. Portinho D, Boin VG, Bertolini GRF. Efeitos sobre o tecido ósseo e a cartilagem articular provocados pela imobilização e remobilização em ratos. Rev Bras Med Esporte 2008;14(5):408-11. 17. Bertolini SMMG, Cararo DC, Oliveira PD, Tamyozo MF. Resposta das estruturas articulares do joelho de ratos pósimobilização. Rev Ciênc Saúde 2009;2(1):8-15. 18. Bertolini, SMMG, Cararo DC, Oliveira PD. Estudo morfométrico do músculo sóleo de ratos da linhagem wistar pósimobilização articular. Acta Sci Health Sci 2009;31:15-8. 19. Trebacz H, Zdunek A. 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Participaram da amostra 30 sujeitos do sexo feminino, faixa etária entre 40 a 60 anos, com diminuição da amplitude de movimento da coluna lombar e com diagnóstico de artrose lombar com quadro álgico. Todos os pacientes passaram por uma avaliação inicial e final com os mesmos parâmetros. O método isostretching foi aplicado 2 vezes por semana, durante 3 meses, totalizando 24 sessões. Como resultado observou-se melhora na distância mão-chão, na inclinação lateral direita e esquerda, na distância C7-chão, no teste de Schober e na elevação da perna retificada, todos estatisticamente significativos (p < 0,05), demonstrando melhora na mobilidade da coluna lombar. Conclui-se que o método isostretching proporciona aumento da amplitude de movimento de coluna lombar e consequente melhora na mobilidade articular dessa região. The isostretching is a postural, global and erect position method. The objective of this study was to verify the influence of isostretching method in lumbar spine range of motion in patients with lumbar arthrosis diagnosis. It is a prospective and quantitative study which was carried out from March 2005 to March 2007 in the Curitiba General Hospital. Thirty female subjects, between 40-60 years old, with decrease of lumbar spine range of motion and with lumbar pain diagnosis caused by lumbar spine arthrosis, participated in this sample. All participants were evaluated before and after the isostretching sessions. The isostretching method was applied twice a week, during three months, totalizing 24 sessions. It was observed decrease of hand floor distance, lateral inclination left and right, C7-floor distance and increase of Schober test, all of them with statistical significance (p < 0,05). It was concluded that isostretching method provides an increase of lumbar range of motion and benefits the range of motion of this region. Key-words: lumbosacral region, back pain, range of motion. Palavras-chave: região lombossacral, dor lombar, amplitude de movimento articular. Recebido em 11 de outubro de 2010; aceito em 19 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Ana Carolina Brandt de Macedo, Rua Aristides Pereira da Cruz, 01, Portão 80330-290 Curitiba PR, Tel: (41) 9994-4080, E-mail: [email protected] 32 Introdução A coluna vertebral é o eixo ósseo do corpo, composta por 33 vértebras que são posicionadas de modo a permitir uma adequada movimentação. Possui duas funções distintas extremamente importantes para a integridade corporal: sustentação através de sua estrutura rígida (estática gravitacional) e flexibilidade (amplitude de movimento) para movimentar o tronco e proteger a medula espinhal. Seus movimentos são flexão, extensão, flexão lateral e rotação. A flexão e extensão constituem 75% do movimento, sendo que 75% acontece entre L5-S1, 20% entre L4-L5 e 5% nas vértebras restantes [1]. A coluna lombar é imensamente estudada, pois é nela que acontece um dos maiores problemas musculoesqueléticos causados pelo mundo atual, a lombalgia ou lombociatalgia. A lombalgia representa uma verdadeira epidemia, atingindo principalmente os países ocidentais e industrializados diminuindo a qualidade de vida dos indivíduos acometidos, representando um dos principais problemas de saúde pública. Cerca de 80% das pessoas em alguma fase da vida são acometidas por dor lombar [2]. A dor lombar pode ser causada pela espondiloartrose lombar. Esta é um tipo de doença degenerativa da coluna vertebral que inclui duas patologias distintas: a espondilose ou doença degenerativa discal e a osteoartrite das articulações interapofisárias posteriores [3,4]. O processo degenerativo discal pode ter início a partir da segunda década de vida e a sua etiopatogênese está relacionada a alterações que ocorrem no núcleo pulposo [5]. Lebkowisk [5] enfatiza que a idade é o principal fator etiológico da espondiloartrose lombar. Autores como Abreu et al. [6] têm ressaltado a importância da criação de um programa de exercícios com objetivo de preservar a força muscular abdominal e a mobilidade em flexão (alongamento de paravertebrais) da coluna lombar, fatores importantes na profilaxia da dor lombar crônica, causada pela artrose interapofisária. A fisioterapia tem auxiliado no tratamento desta patologia com diversos métodos de tratamento como: hidroterapia, fisioterapia convencional, reeducação postural, pilates, isostreching, entre outros [7-9]. O isostretching é um método postural global, que atua tanto na correção postural como na consciência da postura, tornando-se um instrumento de grande valor no tratamento das alterações posturais [10]. Nesta técnica o corpo é colocado em dificuldade de movimento ao contrário das atividades físicas normais onde a tensão do músculo é reduzida. As rotações compensatórias são bloqueadas por uma forte contração muscular dos antagonistas, assegurando ao isostretching realizar ao mesmo tempo o alongamento e o fortalecimento. Além disso, faz com que a pessoa tenha uma melhor percepção e domínio sobre o seu corpo. O controle respiratório, o domínio das sensações, das posições são as bases do isostretching, acrescentando um intenso trabalho muscular. Acrescenta-se também o reconhecimento do próprio corpo através da conscientização corporal, que permite melhorar a rigidez e a inflexibilidade encontradas a nível físico e psíquico, fazendo Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 com que o indivíduo passe a rever suas atividades de vida diária e a considerar o corpo como um todo [11]. A técnica trabalha com a consciência pelo despertar da imagem mental e do conhecimento do corpo através da correção dos exercícios; com a mobilidade através dos alongamentos musculares e movimentos do quadril e do diafragma; através das contrações isométricas para adquirir força e tonicidade; e também o controle respiratório [10,11]. Para manter a integridade da coluna, evitando sobrecargas indevidas e consequentemente possíveis patologias como, por exemplo, a protusão discal, faz-se necessário que os movimentos estejam com boa amplitude e os músculos com seu comprimento normal. Segundo Cheren [12], quanto maior a flexibilidade da coluna, maior a normalidade da região lombar e menor risco de lesão. A melhora da amplitude de movimento tem sido associada à melhora no alívio dos sintomas de algumas patologias, como as lombalgias crônicas e agudas. Portanto, o objetivo do presente estudo foi verificar a influência do método isostretching nos movimentos da coluna lombar. Material e métodos O presente estudo foi caracterizado como prospectivo e quantitativo. Foram avaliados 30 pacientes do Hospital Geral de Curitiba, do sexo feminino, na faixa etária 45-60 anos. Como critério de inclusão as voluntárias deveriam apresentar diminuição da amplitude de movimento (ADM) em coluna lombar, algia em região lombar e diagnóstico de espondiloartrose lombar. Para determinar a ADM de lombar foi utilizado o teste de Schober modificado para flexão e extensão [13]. Como critério de exclusão não poderiam ter nenhuma doença associada na lombar e quadril, não praticar atividade física, não ser hipertensas e não ter realizado cirurgia na coluna e membros inferiores. Assim, todos os sujeitos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e Animais da Universidade Tuiuti do Paraná (CEP-UTP) 022/2005. Os pacientes selecionados foram avaliados em relação à amplitude de movimento e testes específicos (teste de Schober modificado) para verificar a flexibilidade da coluna lombar [13]. Segundo Corrigan e Maitland [14] a flexão da coluna foi avaliada pelo teste distância mão-chão, em que o paciente ficava em pé com os membros inferiores unidos, realizava uma flexão de tronco e mensurava-se a distância do 3º dedo ao chão. Para a inclinação lateral, o paciente permanecia em pé com os pés afastados na largura do quadril e realizava a inclinação lateral do tronco para ambos os lados. Mensuravase a distância do 3º dedo ao solo, adaptado de Corrigan e Maitland [14]. Para a extensão, o paciente ficava em pé com os pés ligeiramente afastados e realizava a extensão da coluna lombar. Mensurava-se a distância de C7 ao chão, adaptado Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Resultados Para análise estatística dos dados encontrados na avaliação e reavaliação foi utilizado o teste t pareado. O Gráfico 1 demonstra a média da distância mão-chão que inicialmente era de 15,36 cm com desvio padrão (DP) de 9,96 e no final do tratamento a média passou a ser de 9,8 cm com DP de 9,4 com p < 0,05. Gráfico 2 - Distância C7-chão. Distância (cm) 2 1,8 1,6 1,4 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Antes Depois Os Gráficos 3 e 4 mostram a inclinação lateral do tronco à direita e à esquerda. Antes das sessões a média da inclinação lateral à direita era de 45,9 cm com DP de 5,27 e após passou a ter uma média de 43,2 cm com DP de 5,1. A média da inclinação lateral esquerda era de 46,9 cm com DP de 5,44 e após o tratamento a média era de 44,1 cm com DP de 5,26 respectivamente, com p < 0,05. Gráfico 3 - Inclinação Lateral D. 47 46 Distância (cm) de Hoppenfeld [15]. Ressalta-se que neste teste orientava-se somente o movimento da coluna lombar, recomendando que evitasse flexão de joelho, rotação e inclinação da coluna lombar. O teste de Schober modificado foi realizado com o paciente em pé, o terapeuta delimitava a vértebra L5 e então media 10 cm acima e 5 cm abaixo desta vértebra. Após pediase para o paciente realizar o movimento de flexão de tronco e media-se a distância formada. Se esta fosse menor que 21 cm após o movimento indicava diminuição da flexibilidade da coluna lombar [13]. Após a avaliação, os pacientes iniciaram o tratamento através do método isostretching, 2 vezes por semana, com duração de 50 minutos cada sessão, durante 3 meses, totalizando 24 sessões. A sessão iniciava-se com um aquecimento de 5 a 10 minutos (deambulação com exercícios ativos de membro superior e inferior, alternados ou não). Após o aquecimento foram realizadas as posturas do isostretching, sendo em média 12 posturas por sessão, explorando cada posição (ortostática, sentado e supino). As posturas adotadas variavam a cada sessão, porém sempre enfatizavam os exercícios que movimentavam a coluna lombar. Foram utilizados acessórios como bola e bastão. Cada postura foi repetida 3 vezes e mantida por 15 segundos, tempo este referente a expiração forçada. As reavaliações ocorreram na 24a sessão, nos mesmos critérios da avaliação. 33 45 44 43 42 41 40 Antes Depois Gráfico 4 - Inclinação Lateral E. 48 47 12 46 10 45 Distância (cm) Distância (cm) Gráfico 1 - Distância mão-chão. 8 6 44 43 42 4 41 2 40 0 Antes Depois O Gráfico 2 indica a distância C7-chão que antes do tratamento a média era de 1,33 cm com DP de 0,11 e após as sessões a média ficou em 1,29 cm com DP de 0,11, com p < 0,05. Antes Depois O Gráfico 5 apresenta a flexibilidade da coluna lombar mensurada através do teste de Schober modificado, que inicialmente era de 18,96 cm com DP de 1,62 e no final do tratamento passou a ser de 21,48 cm com DP de 1,35, com p < 0,05. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 34 Gráfico 5 - Teste de Schober. 30 Distância (cm) 25 20 15 10 5 0 Antes Depois Discussão A prática de exercícios tem sido muito importante para a prevenção e tratamento das dores lombares. Há diversas pesquisas relatando os melhores métodos para tratamento desta sintomatologia [9,16-20]. O estudo de Durante [21] aplicou o isostretching em seis pacientes com lombalgia e comparou com a cinesioterapia convencional e não verificou diferenças estatísticas entre os dois métodos, sendo ambos eficazes para o tratamento. Segundo Kulig et al. [22], do ponto de vista mecânico, defeitos em alinhamento e mobilidade (flexibilidade) criam dois tipos de problema: compressão indevida sobre superfícies articulares do osso e tensão indevida sobre ossos, ligamentos e músculos. A compressão indevida pode resultar em um desgaste da superfície articular, enquanto que a tração indevida pode resultar em um aumento no crescimento ósseo no ponto da inserção. A capacidade de tolerar esforços ordinários diminui à medida que o grau ou duração do defeito aumenta. Para Kilpikoski et al. [23], os principais fatores predisponentes das lombalgias são a postura sentada, perda do movimento de extensão e frequência de flexão. Segundo Abbot et al., Mayer et al. [24,25], a dor lombar está relacionada com o movimentos pobres e restritos desta região e de acordo com Bernhardt e Bridwell [26] as alterações da postura propiciam a um aumento do stress da coluna vertebral. Segundo Ahlqwist et al. faz-se importante a correção postural para tratamento de alterações posturais e na flexibilidade da coluna [27]. Verificou-se a existência de poucos estudos com critérios de inclusão e exclusão similares aos adotados nesta pesquisa, o que dificultou o estabelecimento de comparações entre os achados deste estudo e outros artigos científicos, embora o efeito positivo das intervenções tenha sido evidenciado. Um exemplo de limitação ao estudo foi encontrar trabalhos com a faixa etária da população estudada (entre 45 e 60 anos), sendo mais frequente a aplicação do método em pacientes jovens. Entretanto há clara exposição na literatura sobre um progressivo processo de estruturação da lordose lombar, limitando a flexão com aumento da faixa etária [6]. Deduz-se, portanto, que os idosos podem se beneficiar com o método isostretching. Outros estudos tratando da aplicação do método isostretching para pacientes idosos com artrose não foram encontrados. Nesse sentido, ressalta-se a importância dos resultados aqui apresentados. No presente estudo verificou-se que todos os pacientes com lombalgia possuíam diminuição e assimetria dos movimentos de coluna lombar. Dois estudos observaram a aplicação do isostretching em assimetrias da coluna. Beloube et al. [10] encontraram melhora radiográfica tanto da cifose quanto da lordose lombar. Seus dois voluntários tinham menos de 20 anos e foram realizadas mais de 30 sessões. Moraes e Mateus [28], que analisaram um voluntário de 9 anos com hipercifose, obtiveram resultado satisfatório com 10 sessões de tratamento. Em relação à avaliação da inclinação lateral observou-se um aumento da mobilidade da coluna no movimento de inclinação lateral do tronco de 2,7 cm a direita e de 3 cm a esquerda e também verificou-se uma melhor simetria corporal. Segundo Rosario et al. [29] o alongamento muscular visa recuperar progressivamente o comprimento do músculo, com redução da tensão e aumento da flexibilidade, permitindo ao indivíduo realizar movimentos mais coordenados e eficientes. O teste distância mão-chão avaliado neste estudo verificou o encurtamento da cadeia posterior o qual foi amenizado, após as sessões, observando-se que houve uma diminuição de 3,28 cm. Ressalta-se que esta cadeia quando não está equilibrada, leva a anteroversão pélvica, hiperlordose lombar, nos MMII pode gerar um aumento do ângulo tíbio társico [30]. Esses desequilíbrios podem gerar sobrecargas no disco intervertebral e em outras estruturas da coluna lombar, causando dores e até limitações para o paciente. Diante deste teste verifica-se que houve uma melhora na flexão do tronco. No estudo de Monte-Raso et al. [31]. foi aplicado o isostretching em dois grupos: um que realizou mais de 30 sessões e o outro que realizou menos de 30 sessões. Foi avaliada a flexão do tronco e verificou-se melhora na flexibilidade apenas no grupo que realizou mais de 30 sessões, demonstrando um resultado parecido com o presente estudo em que foram realizadas 24 sessões. Após a aplicação do método observou-se uma melhora da extensão da coluna mensurada através da distância C7- chão que segundo Kilpikoski et al. [22] é uma das principais causas da lombalgia. Em relação à flexibilidade de flexão da coluna lombar, Monte-Raso et al. [31] afirmam que é extremamente importante para prevenção e tratamento das desordens lombares da coluna lombar mensurada através do teste de Schober. Verificou-se após as sessões uma melhora com aumento de 2,9 cm, reiterando que o método influencia no aumento da mobilidade que de acordo com Nickel et al. [33] aumenta a capacidade de absorver choques. Acredita-se que se podem atingir outros benefícios inerentes ao método, além do aumento da mobilidade de coluna lombar, isso porque, Carvalho e Assini [34] encontraram evidencias de que a capacidade funcional de idosos (verificada Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 através do teste de caminhada de 6 minutos- TC6) pode ser aprimorada com o método isostretching. O melhor desempenho no TC6, pós-protocolo, foi atribuído não somente ao condicionamento cardiorrespiratório, mas também a outros fatores associados a mobilidade de idosos, como força, equilíbrio, velocidade, dentre outros. Entretanto, não era objetivo deste estudo avaliar tais resultados. Os resultados apresentados indicam que o método isostretching é um recurso terapêutico que pode retardar as limitações ocasionadas pelo processo de envelhecimento, principalmente no que diz respeito à mobilidade de coluna lombar. Conclusão Após a aplicação do método isostretching durante 24 sessões, ou seja, 3 meses, verificou-se uma melhora de todos os movimentos da coluna lombar. Ressalta-se que várias patologias da coluna vertebral são causadas pela diminuição da amplitude de movimento articular visto que as atividades de vida diária predispõem a executar movimento em uma única direção. No caso da coluna lombar, o movimento predominante é o de flexão, enquanto a extensão raramente é executada. Conclui-se que o método isostretching pode ser utilizado com eficácia em pacientes que apresentam diminuição da mobilidade da coluna lombar. Referências 1. Kapandji AI: Fisiologia articular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 2. Reisa LA, Mascarenhas CHM, Filho LENM, Borges PS. Lombalgia na terceira idade: distribuição e prevalência na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Rev Bras Geriatr Gerontol 2008;11(1):93-103. 3. Silva RA, Ribeiro CA. 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Kulig K, Powers CM, Landel RF, Chen H, Fredericson M, Guillet M, Kim BK. Segmental lumbar mobility in individuals with low back pain: in vivo assessment during manual and self-imposed motion using dynamic MRI. BMC Musculoskelet Disord 2007;8:8. 22. Kilpikoski S, Airaksinen O, Kankaanpaa M, Leminen P, Videman T, Alen M. Interexaminer reliability of low back pain assessment using the McKenzie method. Spine 2002;27(8):207-14. 23. Abbott JH, Fritz JM, McCane B, Shultz B, Herbison P, Lyons B, Stefanko G, Walsh RM. Lumbar segmental mobility disorders: comparison of two methods of defining abnormal displacement kinematics in a cohort of patients with non-specific mechanical low back pain. BMC Musculoskelet Disord 2006;7:45. 24. Mayer TG, Robinson R, Pegues P, Kohles S, Gatchel RJ: Lumbar segmental rigidity: can its identification with facet injections and stretching exercises be useful? Arch Phys Med Rehab 2000;81(9):1143-50. 25. Bernhard M, Bridwell KH. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 31. Marques AP. Cadeias musculares - um programa para ensinar avaliação fisioterapêutica global. São Paulo: Manole; 2000. 32. Nickel R, Egle UT, Eysel P, Rompe JD, Zollner J, Hoffmann SO: Health-related quality of life and somatization in patients with long-term low back pain: a prospective study with 109 patients. Spine 2001;26(20): 2271-77. 33. Carvalho AR, Assini TCKA. Aprimoramento da capacidade funcional de idosos submetidos a uma intervenção por isostretching. Rev Bras Fisioter 2008;12(4):268-73. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 37 Artigo original Efeito do método Pilates na qualidade dos movimentos da marcha e no equilíbrio de idosos Effet of the Pilates method on the quality of balance and gait movements in elderly Milson Carvalho Quadros Júnior*, Adesilda Maria Silva Pestana**, Maria Isabel Schinoni, D.Sc.*** *Discente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), **Orientadora, Especialista em Fisioterapia Aplicada a Ortopedia e Traumatologia, Mestranda em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas – Universidade Federal da Bahia (UFBA), Profª. do Curso de Graduação em Fisioterapia (UESB), ***Co-orientadora, Profa Adjunta de Bioquímica Médica do Instituto de Ciências da Saúde e do Programa de Pós-Graduação “Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas” – Universidade Federal da Bahia (UFBA) Resumo Abstract A longevidade vem contribuindo progressivamente para o aumento da população de idosos no Brasil. O equilíbrio e a marcha são bastante afetados com o envelhecimento em decorrência do acometimento de vários sistemas e órgãos responsáveis pelo controle motor. O tratamento com o Método Pilates (MP) pretende promover uma maior autonomia e independência para os idosos com déficit na marcha e no equilíbrio, melhorando ainda a qualidade de vida. O objetivo do estudo foi analisar o efeito do tratamento com o MP na qualidade dos movimentos da marcha e no equilíbrio postural de idosos. A amostra foi composta por 12 idosos com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, que fizeram 32 sessões com o MP. Foi utilizada a escala POMA para avaliação do equilíbrio e da marcha, no primeiro encontro e após os 4 meses de tratamento. Foram analisadas as alterações apresentadas pelos indivíduos do estudo através da pontuação obtida com estas escalas. Foi observado um aumento favorável significativo na pontuação do teste de equilíbrio e de marcha nos idosos após a intervenção (P < 0,05). Desse modo, o MP representa um instrumento importante, capaz de melhorar a funcionalidade motora do idoso, indicando grandes benefícios de sua prática nessa população. Longevity has a progressively contribution to the increase of the elderly population in Brazil. Balance and gait are greatly affected with aging due to the involvement of various organs and systems responsible for the motor control. Treatment with the Pilates Method (PM) intends to promote greater autonomy and independence for older people with deficits in gait and balance, seeking to improve the quality of their lives. The objective of this study was to analyze the effect of treatment with PM on the quality of balance and gait movements in elderly. The sample consisted of 12 elderly with 60 years or more, of both sexes, who had 32 sessions with the PM. POMA scale was used to evaluate balance and gait at the first meeting and after four months of treatment. We analyzed the changes made by individuals in the study by the obtained score. We observed a significant favorable increase in test scores of balance and gait in elderly patients after the intervention (P < 0.05). In this case, the PM represents an important instrument, able to improve motor functionality of elderly, indicating significant benefits from his practice in this population. Key-words: Physical Therapy modalities, aged, gait, postural balance. Palavras-chave: modalidades de Fisioterapia, idoso, marcha, equilíbrio postural. Recebido em 11 de outubro de 2010; aceito em 19 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Adesilda Maria Silva Pestana, Rua Vanderlei de Pinho 181/302 Itaigara 41815-270 Salvado BA, Tel: (71) 33517666, E-mail: [email protected], [email protected] 38 Introdução A longevidade vem contribuindo progressivamente para o aumento da população de idosos no Brasil. Segundo o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a quantidade de pessoas com 60 anos ou mais de idade representa um contingente de quase 15 milhões. Estima-se que, nos próximos 20 anos, a população idosa do Brasil poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população ao final deste período [1]. Anderson [2], baseado na população de idosos existente no Brasil, estima que o número de quedas seja, no mínimo, de 4,350 milhões por ano. E que dessas, cerca de 2,175 milhões (50%) resultam em algum tipo de lesão, das quais 10% (217.000) são lesões graves. Além de representar importante causa de mortalidade entre idosos, as quedas levam um maior risco de declínio da independência funcional e aumento da necessidade de hospitalização e de institucionalização, onerando os serviços de saúde [3]. À medida que o indivíduo envelhece, ocorrem alterações nos seus sistemas em geral, levando ao aparecimento de doenças crônicas, declínio da capacidade funcional, perda da autonomia e independência [4,5]. De acordo com Boers et al., Baloh et al. e Steadman et al. [ 4-7], o equilíbrio é um dos sistemas mais afetados com o envelhecimento, o que propicia o surgimento de instabilidades e a ocorrência de quedas entre idosos. Esses autores ainda relatam que as quedas irão resultar em consideráveis custos de serviços sociais e da saúde, devido às lesões, maior número de internações, bem como uma maior perda de confiança e dependência nas atividades básicas funcionais. A marcha é o mais comum dos movimentos no ser humano e quando mal realizada pode ocasionar desequilíbrios e quedas. Esses episódios levam a perda de confiança nos idosos, fazendo com que criem bloqueios para realizarem as atividades diárias, recreativas e profissionais [8]. O método de exercícios denominado Contrologia, que mais tarde ficou conhecido no mundo todo como Método Pilates, foi criado na época da 1ª Guerra Mundial pelo alemão Joseph Pilates que teve o objetivo de proporcionar aos internos de um campo de concentração exercícios físicos que pudessem representar estímulos para o sistema neuromuscular como também para o estado geral de saúde dos convalescentes, inclusive em nível psicológico [9]. Os exercícios favorecem o trabalho dos músculos estabilizadores, promovendo ainda a eliminação da tensão excessiva em determinados grupos musculares, evitando, dessa forma, as compensações consequentes aos desequilíbrios musculares [10]. Sacco [11] descreve o método como uma técnica dinâmica que visa trabalhar força, alongamento e flexibilidade, preocupando-se em manter as curvaturas fisiológicas do corpo e tendo como centro de força os músculos do tronco (mús- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 culos do assoalho pélvico, abdominais e paravertebrais), os quais são trabalhados constantemente em todos os exercícios da técnica, realizados com poucas repetições. No entanto, a utilização Método, com suas características próprias e exercícios específicos tem sido pouco difundido como sendo uma alternativa para o tratamento dos déficits no equilíbrio e na marcha em idosos. Em virtude disso, justificase o presente trabalho pela carência de estudos e de materiais científicos relacionados ao efeito de um único método, mais especificamente o Método Pilates (MP), no tratamento desses déficits funcionais, além da busca pessoal do autor em aprofundar os conhecimentos acerca do método, da utilidade do mesmo no tratamento de pessoas idosas e de sua contribuição para minimizar os efeitos dos declínios funcionais do corpo humano após o envelhecimento. Visando um conhecimento mais detalhado do impacto desta técnica, o objetivo principal deste trabalho foi analisar o efeito do tratamento com o Método Pilates na qualidade dos movimentos da marcha e do equilíbrio em idosos. Materiais e métodos Foi feito um estudo longitudinal, prospectivo, com amostra de conveniência e não probabilística, no estúdio de Pilates da Clínica Sempre, situada na cidade de Jequié-BA. A população do estudo foram indivíduos que faziam parte da Associação de Amigos, Grupos de Convivência e Universidade Aberta com a Terceira Idade (AAGRUTI) da cidade de Jequié-BA. A amostra do estudo, composta por 12 pessoas com idades a partir de 60 anos e com distúrbios do equilíbrio e da marcha, foi submetida a um tratamento com o Método Pilates. Antes de iniciar qualquer procedimento da pesquisa, os sujeitos foram esclarecidos sobre os objetivos e procedimentos e, após concordarem em participar, todos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, aprovado junto com o projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, protocolo nº 143/2009. Os critérios de inclusão foram: 1) idade igual ou superior a 60 anos; 2) apresentar função cognitiva preservada, comprovada por uma avaliação utilizando o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM); 3) terem um acompanhamento médico regular; 4) não estar fazendo tratamento com o Método Pilates antes deste estudo; 5) concordância em participar do estudo; e 6) assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão foram: não contemplar os critérios de inclusão, além de idosos com patologias neurológicas, ortopédicas e/ou reumáticas em estado agudo e/ou avançado, osteoporose em grau avançado, patologias cardíacas, as quais estivessem contraindicadas a atividade física de baixa a média intensidade comprovadas por laudo médico, história de cirurgia articular, traumatismo, alcoólatras, que utilizassem medicamentos neurolépticos e hipnóticos e que apresentassem Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 3 faltas consecutivas ou 5 faltas ou mais alternadas durante o tratamento. Para a seleção da amostra foi utilizada uma ficha de avaliação semiestruturada com informações sobre nome, sexo, idade, escolaridade, patologias atuais e pregressas, hábitos de vida, histórico de cirurgias e/ou internações, antecedentes familiares, medicamentos em uso e coleta dos sinais vitais. Além disso, foi avaliada a função cognitiva, com o MEEM, de cada um dos 12 indivíduos da pesquisa. O MEEM foi validado para a população brasileira e fornece informações sobre diferentes parâmetros cognitivos como, orientação temporal (5 pontos), orientação espacial (5 pontos), registro de três palavras (3 pontos), atenção e cálculo (5 pontos), recordação das três palavras (3 pontos), linguagem (8 pontos) e capacidade construtiva visual (1 ponto). O escore pode variar de um mínimo de 0 pontos, o qual indica o maior grau de comprometimento cognitivo, até um total máximo de 30 pontos, que corresponde a melhor capacidade cognitiva [12]. Após serem constatadas as exigências mínimas para participação no estudo, segundo critérios de inclusão e exclusão e, antes de iniciar a primeira sessão de tratamento, os participantes foram submetidos à avaliação do equilíbrio e da marcha pela escala Performance-Oriented Mobility Assessment (POMA). Ela foi criada em 1986, por Tinetti, Williams e Mayewski e adaptada culturalmente para o Brasil em 2003 por Gomes. Estudos nacionais sobre as adaptações transculturais realizadas por Gomes na UNICAMP mostram que na análise da confiabilidade intra e inter-examinadores, apenas um indivíduo apresentou IC < 0,83, demonstrando uma boa confiabilidade do instrumento [13]. O teste de avaliação do equilíbrio apresenta três níveis de respostas para suas tarefas e cada nível apresenta uma pontuação específica: normal (3 pontos), adaptativo (2 pontos) e anormal (1 ponto), podendose atingir um escore de 13 (pior estado de equilíbrio) a 39 pontos (melhor estado de equilíbrio). Já o teste de avaliação da marcha apresenta os níveis normal (com escore de 2 pontos) e anormal (com escore de 1 ponto), em que a pior pontuação chega a 9 e a melhor pontuação a um total de 18 pontos. O escore total com a soma da pontuação no equilíbrio e na marcha pode chegar a 57 pontos. Os testes foram realizados com a supervisão de apenas um avaliador. Para realização dos testes com a POMA, foi utilizada uma área delimitada e cadeira com encosto e sem apoio para os braços. O paciente iniciava o teste de equilíbrio sentado na cadeira com as costas e os pés bem apoiados, ereto e sem inclinar-se e então eram avaliados os seguintes itens da escala: equilíbrio sentado, levantando-se da cadeira, equilíbrio de pé imediato, equilíbrio de pé e equilíbrio com os olhos fechados, equilíbrio ao girar (360º), capacidade de resistir ao deslocamento (Nudge Test), virar o pescoço, equilíbrio em apoio unipodal, extensão da coluna, alcançar para cima, inclinar para frente e sentar. No teste de marcha o paciente era solicitado a começar a andar em um trajeto delimitado, para avaliação dos seguintes itens: iniciação da marcha, altura 39 do passo, comprimento do passo, simetria do passo, continuidade do passo, desvio da linha média, estabilidade de tronco, sustentação durante a marcha e virando durante a marcha. Os exercícios foram realizados em aparelhos como o Reformer, Trapézio, Cadeira Combo, Barril e Unidade de Parede, todos da marca Physio Pilates®, bem como no solo com a utilização de pequenos materiais como, rolos de espuma de 10 e 20 cm de diâmetro, faixa elástica (theraband) com resistência leve, círculo mágico e cadeiras plásticas. Para o primeiro estágio: exercícios de respiração diafragmática, focando no padrão tridimensional, respirar com a parte inferior do tórax, dando ênfase a região látero-inferior e a região póstero-inferior. Exercícios para recrutar os músculos do assoalho pélvico e abdominais profundos. Foram utilizados os seguintes exercícios, recrutamento do transverso do abdômen, recrutamento do assoalho pélvico, arcos e círculos de fêmur passivo e ativo com assistência das molas, chute de lado modificado. Realizados exercícios mobilização da cintura escapular com bastão, facilitação do movimento escapular com rolo. Para o segundo estágio: exercícios para mobilizar a coluna em extensão com pequena amplitude de movimento, agachamento com bola, meia ponta alta para duas pernas, série de perna na mola unilateral, exercícios de flexão dorsal e plantar na mola, chute de lado, alongamentos de membros inferiores no barril. Exercícios na cadeira: esses exercícios incluem vários posicionamentos realizados no MP, além de mobilizações articulares, fortalecimentos e treinos funcionais utilizando acessórios com faixas elásticas, bolas plásticas pequenas, pesos e bastões de madeira. No terceiro estágio foram realizados os seguintes exercícios: série em pé na cadeira sem apoio das mãos, desaceleração solear na cadeira, série de membro superior sentado na caixa no reformer, série de pernas em supino, agachamento assistido no trapézio, série de membro superior na barra torre, ponte sem mobilizar a coluna, arcos e círculos de fêmur sem assistência das molas, quadrúpede sem a bola. Foram realizadas 2 sessões semanais, em dias alternados, com duração de 1 hora cada sessão, somando um total de 8 sessões por mês e 32 sessões por paciente ao final dos 4 meses de tratamento. Foi feita uma divisão em 2 grupos com 6 pessoas em cada grupo para a realização das sessões. Ao final do tratamento foi novamente aplicada a escala POMA para avaliação do equilíbrio e da marcha dos indivíduos após o período de intervenções, de modo que fosse feita a análise para interpretação, comparação e discussão dos resultados. As variáveis contínuas analisadas, pré e pós-intervenção, foram equilíbrio e marcha. Foi feita a análise descritiva dos dados para caracterização da amostra, com distribuição de frequência, medida de tendência central (média) e de dispersão (amplitude de variação, desvio-padrão) e para obtenção dos valores foi utilizando o programa Microsoft Office Excel 2007. Para comparação das variáveis continuas pré e pós- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 intervenção, foi realizado o teste t – Student através do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 11.5. Foram considerados estatisticamente significantes os dados que apresentaram um intervalo de confiança de IC 95% (P < 0,05). Resultados Durante o tratamento foram excluídos 2 pacientes por excederem o limite máximo de faltas permitidas. Os idosos apresentaram uma média de idade de 66 (± 4,18) anos, sendo que, dos 10 pacientes que compuseram a amostra final, 9 eram do sexo feminino. Na primeira avaliação com a escala POMA os idosos apresentaram uma média de 34,80 (± 4,02) pontos no teste de equilíbrio e 15,60 (± 1,50) pontos no teste de marcha. Após 32 sessões de intervenção com o MP, realizadas no decorrer de 4 meses, notou-se uma melhora significativa na média dos resultados de ambos os testes, passando de 34,80 para 38,70 (± 0,48) pontos no teste de equilíbrio (P = 0,008) e de 15,60 para 17,60 (± 0,51) pontos no teste de marcha (P = 0,0001). Uma melhora equivalente a 11,1% (amplitude de variação de 3,9 pontos) no teste de equilíbrio e a 11,2% (amplitude de variação 2 pontos) no teste de marcha. No escore total (soma dos pontos dos testes de equilíbrio e de marcha), houve melhora equivalente a 11.1% (amplitude de variação de 5,9 pontos), passando de 50,40 (± 5,39) para 56,30 (± 0,82) pontos e P = 0,003. Pode-se observar que houve redução do desvio padrão na pontuação após o tratamento, indicando uma diminuição da amplitude variação, tornando a amostra mais homogênea. A comparação da pontuação no pré e pós-tratamento de cada paciente nos testes de equilíbrio e de marcha estão representados nos Gráficos 1 e 2 respectivamente. Gráfico 1 - Pontuação dos pacientes no teste de equilíbrio da escala POMA. Pontuação 20 18 18 17 17 1718 18 18 17 17 1718 1718 16 16 16 16 15 15 15 14 12 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 7 Pacientes Pré tratamento Pós tratamento 8 9 10 Gráfico 2 - Pontuação dos pacientes no teste de marcha da escala POMA. 45 39 3839 3839 3839 38 39 39 3839 39 40 38 35 35 35 34 35 32 30 25 25 20 15 10 5 0 Pontuação 40 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Pacientes Pré tratamento Pós tratamento No Gráfico 1, nota-se que 70% dos pacientes obtiveram pontuação máxima no teste de equilíbrio após o tratamento. Em relação ao gráfico 2, observa-se que 60% dos pacientes adquiriram a pontuação máxima, mostrando mais uma vez a homogeneidade da amostra após o período de intervenção, além da efetiva melhora no equilíbrio e na marcha dos indivíduos pós-tratamento. Discussão A literatura atual é escassa referente a estudos com o tipo de metodologia empregada neste trabalho, que aborda o efeito do MP na melhora do equilíbrio e da marcha em pessoas idosas, dificultando uma análise comparativa dos resultados aqui obtidos com dados já publicados. A pesquisa na área da saúde vem esclarecendo cada vez mais a importância dos músculos estabilizadores na manutenção do equilíbrio postural. Robinson e Napper [14] exemplificam isso citando o músculo transverso do abdômen e um músculo posterior profundo denominado multífido. Segundo os pesquisadores, eles formam um colete ou cinto natural de força em torno do centro do corpo de forma que o movimento possa ocorrer com facilidade, estabilidade e segurança. Este estudo apresenta relação com o nosso, já que muitos dos exercícios utilizados durante o tratamento visavam o trabalho desses músculos posturais os quais certamente estão envolvidos com a melhora no equilíbrio e na marcha nos idosos participantes da pesquisa. Num estudo retrospectivo de Vieira e Haas [15] feito com praticantes de MP, que mantinham uma regularidade de duas sessões por semana, foi realizada a avaliação antropométrica utilizando o protocolo da International Society of the Advancement of Kinanthropometry. Após análise e discussão dos resultados acredita-se que o MP influenciou no aumento do peso muscular, da massa magra e o do IMC, apresentando diferenças significativas entre a primeira e segunda etapa de coleta de dados nos participantes da pesquisa. Vários estudos têm mostrado que o envelhecimento influencia nas modificações dos padrões de equilíbrio e marcha Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 em idosos. Está claro na literatura, que os idosos apresentam uma redução na sua capacidade de controle postural [16,17]. Estas alterações têm sido associadas a mudanças estruturais do aparelho locomotor, como a redução da força muscular, que é considerada uma modificação específica do envelhecimento [18-20]. Assim, o aumento do peso muscular, da massa magra e o do IMC em praticantes do MP, como mostrado no estudo de Vieira e Haas [15], contribui diretamente com o aumento da força muscular e, consequentemente, melhora do equilíbrio postural e da marcha. Shephard [21] descreve que a força possui importantes implicações para a massa óssea, bem como no padrão morfofuncional do sistema de locomoção dos idosos, no equilíbrio e risco de quedas, constituindo-se em uma capacidade física de fundamental importância para a qualidade de vida dos idosos. Para Camarão [22], através da prática regular com o MP, o indivíduo adquire mais coordenação, equilíbrio e flexibilidade, independentemente da idade, melhorando assim a qualidade de vida e com resultados rápidos. O autor ainda justifica que a receptividade dos idosos frente ao MP se deve ao “respeito aos limites do corpo que evita lesões e desgaste físico. Isso é bom para todos, até para quem está se recuperando de um derrame”. No nosso estudo entre os 10 pacientes que compuseram a mostra final, 1 já havia sofrido um episódio de acidente vascular cerebral e possuía sequelas relacionadas à doença, como déficit de força no lado contralateral à lesão cerebral, diminuição da capacidade proprioceptiva e da flexibilidade também no lado contralateral à lesão. O fato interessante foi que essa paciente obteve maior diferença na pontuação da escala POMA após o tratamento, tanto na avaliação do equilíbrio como na marcha. Smith e Smith [23] sugerem que exercícios baseados no MP oferecem diversos benefícios incluindo mobilidade na coluna vertebral e nas articulações, e ainda propriocepção, equilíbrio e treinamento de coordenação. Idosos que incluírem exercícios baseados no MP terão benefícios ao integrarem nos seus programas tradicionais o treinamento de força e equilíbrio. Estes fatores, mesmo não sendo objetivo do nosso estudo, foram observados, pois todos os pacientes, nas últimas semanas de tratamento, apresentaram melhora visível da flexibilidade, propriocepção e consciência corporal durante a execução dos exercícios. Wilmore e Costill [24] afirmam que a capacidade de mudar da posição sentada para a posição em pé é comprometida em torno dos 50 anos e, por volta dos 80 anos, essa tarefa torna-se impossível para algumas pessoas. Estes autores acrescentam que os adultos mais velhos são tipicamente capazes de participar de atividades que exigem apenas quantidades moderadas de força muscular. Neste estudo foi constatado que o MP, através de exercícios funcionais específicos, atua melhorando a eficácia nas mudanças de posição, sendo este fato comprovado durante a aplicação da escala POMA, onde os pacientes que não obtiveram pontuação máxima no teste de levantar-se da cadeira, passaram a ter após o período de tratamento. 41 Ao longo dos anos, uma compensação natural para as perdas de equilíbrio relacionadas às perdas neuromotoras é feita, transferindo-se os referenciais de equilíbrio e controle da própria posição no espaço cada vez mais para marcadores sensoriais, principalmente a visão que, com a idade avançada, torna-se o recurso predominante para avaliar a posição do corpo no espaço. Entretanto, chega o momento em que também essa via torna-se obsoleta devido às perdas que também acometem os órgãos dos sentidos inclusive a visão. A partir daí o risco de queda aumenta, enquanto a perda de equilíbrio torna-se cada vez mais severa [25]. A prática regular de exercícios proprioceptivos ajuda a manter uma excelente resposta do sistema somatosensorial, comprovando que a utilização destes exercícios auxilia na manutenção e/ou melhora do equilíbrio [26]. O MP promove a aferência dos impulsos dos receptores articulares ao sistema nervoso central, pois possui exercícios com enfoque no alinhamento postural e descarga de peso nos membros inferiores que, além de promover o fortalecimento da musculatura, geram estímulos proprioceptivos, os quais contribuem para que o paciente seja capaz de perceber melhor o movimento e a posição do corpo sem o auxílio da visão, melhorando assim o equilíbrio. Joseph Pilates pregava que a concentração e a precisão com as quais os exercícios devem ser realizados exigem do praticante total controle e percepção de seu corpo, o que funciona como estímulos proprioceptivos de grande magnitude, os quais são responsáveis pela tomada da consciência corporal, isto é, o indivíduo passa a conhecer mais seu próprio corpo, buscando a harmonia de suas estruturas e promovendo uma melhor utilização das mesmas [27]. De acordo com Nahas [28] os exercícios resistidos promovem um aumento da massa muscular e melhora o equilíbrio. Não obstante, melhoram a capacidade e força muscular, estimulando o aumento da massa óssea, evitando, assim, as tão temidas fraturas por quedas ou quedas por fraturas. Os exercícios do MP são realizados resistivamente, tanto por ação de molas de diferentes resistências quanto pela ação da gravidade em exercícios livres realizados no solo, promovendo, desse modo, os efeitos acima citados por Nahas. Para que um programa de exercícios para a terceira idade seja bem sucedido, alguns fatores precisam ser levados em consideração tais como: a diminuição da acuidade sensorial e da tolerância aos fatores de estresse do meio ambiental [29]. Isso é particularmente importante em nosso estudo, visto que, o MP é praticado em salas bem iluminadas, com exercícios suaves e controlados, respeitando os limites físicos dos praticantes. Isso faz com que sua prática seja bastante recomendada para a terceira idade. Conclusão Os resultados deste trabalho, embora realizado com uma amostra pequena, demonstram benefícios significativos na marcha e no equilíbrio em uma população idosa usando as 42 técnicas do Método Pilates. O desenho de estudo prospectivo, com a avaliação no tempo desta intervenção e com a amostra composta por indivíduos comparáveis na sua principal variável, faixa etária (idade), confere confiabilidade aos resultados obtidos. Este estudo mostrou, entre outras coisas, que a prática regular com o MP na população idosa, traz grandes benefícios, contribuindo com a prevenção de quedas e do surgimento de lesões graves, que geram risco à saúde e que levam ao declínio da independência funcional dessas pessoas. Sugerem-se futuros estudos e linhas de investigação de longa duração, com um número maior de participantes com pareamento por sexo, assim como inclusão de grupo controle para comparação do MP com outras técnicas de tratamento para corroborar estes resultados. Referências 1. IBGE. Censo 2000. [citado 2009 Mar 16]. Disponível em URL: http:// www.ibge.gov.br 2. Anderson MIP. Quedas seguidas de fratura e hospitalização em idosos: frequência, circunstâncias e fatores de risco [tese]. Rio de Janeiro: UERJ; 2003. 3. Pinheiro RS. Estudo sobre variações no uso de serviços de saúde: abordagens metodológicas e a utilização de grandes bases de dados nacionais [tese]. Rio de Janeiro: ENSP/ Fiocruz; 1999. 4. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 43 Artigo original Avaliação da dor durante estimulação sensório-motora em RN prematuros Pain evaluation during sensory motor stimulation in premature newborns Antonia Mariela Aguirre Guedes, Ft.*, Viviane Martins Santos, Ft., M.Sc.*, Francisca Tavares do Nascimento, Ft.** *Hospital Universitário Júlio Müller, **Cooperfisio e Escola Estadual de Educação Especial Raio de Sol Resumo Abstract Os recém-nascidos prematuros (RNPT) têm a sensibilidade aumentada à dor, por imaturidade do sistema neurológico. A técnica fisioterapêutica de estimulação sensório-motora foi desenvolvida para facilitar o aprendizado e estimulação das funções corticais, baseando-se nas técnicas de cinesioterapia, integração sensorial, facilitação neuromuscular proprioceptiva, posicionamento terapêutico, contribuindo para o desenvolvimento e crescimento do bebê. O objetivo do estudo foi avaliar a dor durante a técnica de estimulação, segundo a escala de PIPP (Premature Infant Pain Profile). Foi realizado um estudo de corte transversal, com 12 RNPT internados na UTI Neonatal do Hospital Universitário Júlio Muller, totalizando 29 intervenções. A técnica realizada foi a estimulação sensório motora por 10 minutos. Os bebês foram avaliados antes da intervenção (M0), 5 minutos (M1), ao final (M2) e 30 minutos após (M3). Para tanto, utilizou-se a escala PIPP. Para a análise estatística foram utilizados os testes Friedman e Wilcoxon e análise de médias e desvio padrão. A média de peso dos RNPT avaliados foi 1655,69 g ± 373,02 g e a média de idade gestacional, 34,37 ± 2,07 semanas. As médias dos escores da escala PIPP foram 4,24 ± 2,16, 7,06 ± 2,60, 5,44 ± 2,09, 4,44 ± 1,76 (M0, M1, M2 e M3, respectivamente). Verificouse que a dor aumentou significativamente nos momentos M1 e M2 comparados ao M0 (p < 0,001 e p < 0,02, respectivamente). Observou-se que a sensação dolorosa diminuiu significativamente ao comparar os momentos M2 e M3 em relação ao M1 (p < 0,013 e p < 0,0002, respectivamente). Verificou-se ainda que a sensação dolorosa apresentou diminuição significante no momento M3 comparado ao M2 (p < 0,03), retornando próximo aos valores iniciais. Conclui-se que os resultados do presente estudo demonstram que a estimulação sensório-motora desencadeia sensações dolorosas leves no RNPT, podendo ser aplicada em prematuros estáveis. The premature newborns (PN) are more sensitivity to pain due to nervous system immaturity. The physical therapy technique of sensory motor stimulation was developed to make learning and stimulation of cortical functions easier, based on the Kinesiotherapy, sensory integration technique, proprioceptive neuromuscular facilitation, therapeutic positioning, contributing to the baby’s growing up. The aim of this study was to evaluate the pain during the stimulation technique according to the PIPP scale. A transversal study with 12 premature newborns in the NICU of the Hospital Universitário Júlio Müller in Cuiabá/MT was carried out. The sensory motor stimulation was performed for 10 minutes. The babies were evaluated before the intervention (M0), 5 minutes (M1), at the end (M2) and 30 minutes after intervention (M3), using the PIPP scale (Premature Infant Pain Profile). Statistical analysis was performed using Friedman and Wilcoxon tests and median and standard deviation analyses. The average of premature newborns weight was 1655.69 g ± 373.02 g and gestational age, 34.37 ± 2.07 weeks. The mean PIPP scores were 4.24 ± 2.16, 7.06 ± 2.60, 5.44 ± 2.09, 4.44 ± 1.76 (M0, M1, M2 e M3, respectively). We verified that pain increased significantly in moments M1 and M2 when compared with M0 (p < 0.001 and p < 0.02, respectively. We observed that pain sensation decreased significantly when compared M2 and M3 in relation to M1 (p < 0.013 and p < 0.0002, respectively). We also verified that there was a significant reduction in pain sensation in moment M3 when compared to M2 (p < 0.03), returning to the closest initial values. The results showed that sensory motor stimulation causes mild pain sensations to the premature newborn and can be used in stable preterm infants. Key-words: premature, pain, sensory motor stimulation. Palavras-chave: prematuro, dor, estimulação sensório-motora. Recebido em 10 de novembro de 2010; aceito em 24 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Francisca Tavares do Nascimento, Rua 26 Quadra 32 Casa 05, Coophamil, 78028205 Cuiabá MT, E-mail: [email protected] 44 Introdução Com a evolução da tecnologia em neonatologia nas últimas décadas, as taxas de morbimortalidade de bebês prematuros têm caído. Contudo, esses bebês necessitam de maiores cuidados em relação ao seu atendimento. É conceituado como prematuro o Recém Nascido (RN) que apresenta Idade Gestacional (IG) inferior a 37 semanas e imaturidade funcional dos órgãos [1]. Além da IG, o RN pode ser classificado quanto ao peso: peso normal: > 2.500 g; baixo peso: < 2.500 g; muito baixo peso: <1.500 g e extremo baixo peso: < 1.000 g [2]. O prematuro não é um bebê com organismo inadequado ou deficiente, pois está formado e adaptado para funcionar adequadamente em seu ambiente intrauterino, que é líquido, escuro, com características físicas de contenção e estimulação vestibular através dos movimentos maternos. Porém ao nascer antes do termo, ele depara-se com um ambiente adverso, no qual há excesso de luminosidade, ruídos, movimentos constantes e interrupções repetidas dos seus ciclos de sono [3]. Toda esta mudança que o RN encontra na UTI, somada com os vários procedimentos realizados durante a internação podem ser fatores estressantes e causadores de dor [4]. Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), a dor pode ser definida como sendo uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual real, potencial ou descritiva nos termos desta lesão. A dor é subjetiva, assim, cada indivíduo aprende a aplicação da palavra dor através de experiências dolorosas vivenciadas desde o início da vida [4]. Os estímulos nociceptivos podem ser percebidos pelos receptores sensoriais cutâneos que estão presentes na área perioral do feto humano desde a 7ª semana de gestação, espalhando-se pela face, palma da mão e sola dos pés na 11ª semana. A expansão dos receptores cutâneos tem continuidade no tronco e região proximal de membros superiores e inferiores na 15ª semana de gestação e toda a superfície cutânea e mucosa estão completamente inervadas em torno da 20ª semana de gestação. No período neonatal, o crescimento cerebral é intenso. O desenvolvimento do córtex inicia-se na 8ª semana de gestação e na 20ª semana está repleto de neurônios. Os neurônios corticais sofrem arborização e estabelecem sinapses com as fibras eferentes do tálamo e conexões intracorticais. A conexão entre as fibras tálamo-corticais e as células corticais é fundamental para a percepção do estímulo sensorial, já que a maioria das sinapses ocorre no tálamo. Entre a 24ª e 26ª semanas de gestação os axônios originados dos neurônios de projeção talâmica atingem o córtex somato-sensorial [4]. Dentre as escalas de dor, as mais usadas são: Escala de Avaliação de Dor (NIPS), Perfil de Dor do Prematuro (PIPP) e o Escore para Avaliação da Dor Pós Operatória do Recém Nascido (CRIES) [5]. Neste estudo foi usada a escala PIPP, Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 pelo fato de ter sido desenvolvida especificamente para avaliar a dor aguda de recém-nascidos prematuros e de termo. Esta escala reflete acuradamente diferenças entre estímulos dolorosos e não dolorosos, valorizando o prematuro e levando em conta que ele pode expressar menos dor, parecendo ser um instrumento útil, específico e sensível para avaliação da dor em RN [6]. Autores relatam que a escala é composta por sete indicadores, sendo eles: IG, estado de alerta, frequência cardíaca (FC), saturação periférica de oxigênio (SpO2), testa franzida, olhos espremidos, sulco naso-labial. Cada indicador tem uma pontuação e o score total varia de 0 a 21. Scores menores ou iguais a seis indicam ausência de dor mínima e escores superiores a onze indicam a presença de dor moderada a intensa [5-7]. A medição da dor é essencial para indicar a necessidade e a eficácia da intervenção realizada no RN [4]. Após um estímulo doloroso, o neonato apresenta variações da Frequência Cardíaca (FC), da Frequência Respiratória (FR), Pressão Intra Craniana (PIC) e Saturação Periférica de Oxigênio (SpO2), além da diminuição das trocas gasosas e aumento da sudorese palmar [8]. Devido a essa dificuldade de adaptação ao meio do RN se faz necessário uma intervenção precoce, interagindo a criança com o meio ambiente através de estímulos visuais, auditivos e táteis, levando as respostas próximas ao padrão de normalidade e à inibição da aprendizagem de movimentos e posturas anormais. A estimulação sensório-motora pode ser iniciada em RN hemodinâmica e clinicamente estáveis, com mais de 72 horas de vida, peso acima de 1.100 g e em curvas de ganho ponderal ascendente, respeitando os sinais de estresse, sono profundo e dois terços do tempo após a última alimentação [9]. Assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a dor pré, durante e pós- estimulação sensório-motora. Material e métodos Casuística Foi realizado um estudo de corte longitudinal, do tipo Ensaio Não Controlado, com 12 RNPT internados na UTI Neonatal do Hospital Universitário Júlio Muller em Cuiabá/ MT, totalizando 29 intervenções. O estudo foi realizado após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, parecer n° 485/CEP-HUJM/08. Todos os pais ou responsáveis dos bebês foram orientados quanto aos procedimentos a serem realizados e após concordarem com a participação do seu bebê na pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os bebês foram avaliados pré, durante, ao final da intervenção e 30 minutos após a intervenção. Para tanto foi utilizada uma ficha de avaliação, registrando a IG corrigida, peso atual, sinais vitais (FC, FR e SpO2) e escala PIPP. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: bebês estáveis hemodinâmica e clinicamente, com mais de 72 horas de vida, peso superior a 1.200 g, em curva de ganho ponderal ascendente, em ar ambiente e com IG de até 37 semanas. Foram respeitados os sinais de estresse, sono profundo e dois terços do tempo após a última alimentação. Foram excluídos do estudo RN submetidos à cirurgia, com refluxo gastroesogágico (RGE) e quaisquer fatores que impossibilitavam o posicionamento. Gráfico 1 - Variação da PIPP nos diferentes momentos. Variação da Frequência Cardíaca nos diferentes momentos 165 160 FC (bpm) Critérios de inclusão e exclusão 45 155 150 145 Protocolo Resultados A amostra constou de 12 RNPT, totalizando 29 intervenções. A média de peso dos RNPT foi 1655,69 g ± 373,02 g e a média da idade gestacional, 34,37 ± 2,07 semanas. As médias dos escores as escala PIPP foram 4,24 ± 2,16, 7,06 ± 2,60, 5,44 ± 2,09, 4,44 ± 1,76 (M0, M1, M2 e M3 respectivamente). Os dados demonstram aumento estatístico da dor nos momentos M1 e M2 comparados ao M0 (p < 0,001 e p < 0,02, respectivamente). Observou-se que a sensação dolorosa diminuiu significativamente nos momentos M2 e M3 em relação ao M1 (p < 0,013 e p < 0,0002, respectivamente). Ainda, verificou-se que a sensação dolorosa apresentou diminuição significante no momento M3 comparado ao M2 (p < 0,03), retornando próximo aos valores iniciais (Gráfico 1). O Gráfico 2 demonstra que a frequência cardíaca apresentou diminuição estatística no momento M3 quando comparada aos momentos M0, M1 e M2 (p < 0,001, p < 0,001 e p < 0,001, respectivamente). Gráfico 2 - Variação da frequência cardíaca nos diferentes momentos. 8 Variação da PIPP nos diferentes momentos 7 6 Score Todos os pais ou responsáveis de bebês prematuros que estavam internados na UTI Neonatal de médio risco do HUJM foram convidados a autorizar a participação dos bebês nesta pesquisa. Após os responsáveis terem assinado o termo de consentimento, foi realizada a coleta de dados clínicos dos bebês através do prontuário e o preenchimento da ficha de avaliação. A Estimulação Sensório-Motora (ESM) foi realizada em incubadoras aquecidas, com os bebês posicionados, inicialmente, em decúbito dorsal e com duração total da terapia de 10 minutos. Foram realizados exercícios terapêuticos, estimulação tátil, estimulação proprioceptiva e posicionamento [9]. Os dados avaliados foram coletados em 4 momentos: M0 – imediatamente antes da ESM, M1 – no 5° minuto durante a ESM, M2 – imediatamente ao final da ESM e M3 – 30 minutos após o término da ESM. A SpO2 e a FC foram monitoradas através de oxímetro de pulso, conectado no pé dos bebês, através do aparelho multiparâmetro Dixtal DX 2010 LCD. A FR foi aferida através de estetoscópio neonatal da marca BD, posicionado na parede torácica anterior. Para a análise estatística foram utilizados os testes de Freidman e Wilcoxon, bem como análise de média e desvio padrão. 5 4 3 2 1 0 M0 M1 M2 M3 Não foram evidenciadas variações estatísticas na frequência respiratória e na saturação periférica de oxigênio. Discussão É imprescindível saber avaliar a dor dos RN que são, constantemente, submetidos a inúmeros procedimentos dolorosos por dia. Tal atitude visa estabelecer uma intervenção adequada sem afetar o desenvolvimento normal do bebê [10]. Assim, a adoção da estimulação sensório-motora como conduta promove uma melhora no estado comportamental, auto-organização e autorregulação [5]. Neste estudo observou-se que a estimulação sensóriomotora obteve escores médios da escala PIPP inferiores a 8, indicando sensação dolorosa leve. Observou-se que no momento M1 o RN apresenta maior sensação de dor. Logo ao final da estimulação sensório-motora e no momento M3, os escores de PIPP se aproximaram aos valores iniciais (MO). 46 A escala PIPP já foi anteriormente utilizada para avaliação da dor durante determinadas condutas. O aleitamento materno mostrou-se eficaz no alívio da dor aguda em RN [11]. A técnica de fisioterapia respiratória AFE (Aumento do Fluxo Respiratório) realizada por 10 minutos também não desencadeia dor em RN prematuros [12]. Mesmo assim, muitos profissionais acreditam que os RN sentem dor, mas as escalas de avaliação de dor não são utilizadas no cotidiano seja por falta de conhecimento destes profissionais ou pela indisponibilidade das mesmas nas UTI neonatais [13]. Vários parâmetros fisiológicos podem ser utilizados para avaliar, quantificar e qualificar a dor, dentre eles: FC, FR, SpO2, tônus vagal, sudorese palmar, pressão intracraniana e hormônios endócrinos [14]. Neste estudo foi observada uma diferença estatisticamente significante na variação da FC nos diferentes momentos. Houve uma redução significativa da FC no momento M3 comparado aos outros momentos (MO, M1 e M2), sendo indicativo que a ESM causa um efeito de relaxamento no bebê. Em contrapartida, outros procedimentos, tais como a coleta de sangue por punção periférica, são capazes de desencadear dor e apresentar variações na FC [15]. Assim como o efeito relaxante proporcionado pela estimulação sensório-motora utilizada no presente estudo, o procedimento de sucção de uma chupeta sem sabor foi capaz de demonstrar o efeito analgésico quando a frequência da sucção excedia a 30 (trinta) sucções por minuto [11]. Foi demonstrado que o AFE é menos estressante que a Fisioterapia Respiratória Convencional (FRC) em neonatos, pois a FC não alterou durante o AFE. Porém ao realizar a FRC a FC aumentou, persistindo por até 30 minutos pós-terapia [16]. Quando avaliada a dor durante o AFE, verificou-se que são desencadeadas sensações dolorosas leves [12]. Observa-se uma redução da FC medida antes da coleta de sangue por punção periférica em relação à medida da FC imediatamente após o estímulo doloroso [15]. A Frequência Respiratória e a Saturação Periférica de Oxigênio neste estudo não demonstraram diferença estatística. Em outras situações, notou-se uma diminuição da SpO2 após estímulo doloroso (punção venosa e fricção com algodão umedecido com álcool)[14] e um aumento da SpO2 quando realizadas as técnicas de Fisioterapia Respiratória Convencional e Aumento de Fluxo Respiratório [16]. Conclusão Pode-se concluir que a dor é uma experiência individual e subjetiva, porém avaliável quando aplicada a escala específica para dor. A estimulação sensório-motora é capaz de promover um relaxamento sem desencadear dor, potencializando a interação da criança com o meio ambiente, podendo ser aplicada em prematuros estáveis se tornando prática rotineira do serviço de Fisioterapia das UTI neonatal. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Referências 1. Spallicci MDB, Chiea MA, Albuquerque PB, Bittar RE, Zugaib M. Estudo de algumas variáveis maternas relacionadas com a prematuridade no Hospital Universitário de São Paulo. Rev Med Hosp Univ 2000;10(1):19-23. 2. Baracho E. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 47 Relato de caso Fisioterapia em lesão de ligamento cruzado anterior com ênfase no tratamento pós-operatório Physical therapy on anterior cruciate ligament with emphasis in the post-operatory treatment Karize Tanita Martins de Souza, Ft.*, Ricardo Alexandre Tribioli, M.Sc.** *Clínica L´Equilibre e Pós-graduanda em Fisioterapia Traumato-Ortopédica pelo CEAFI/Cuiabá, **Coordenador do Curso de Fisioterapia da UNIC/SINOP Resumo Abstract O ligamento cruzado anterior (LCA) é frequentemente lesado, podendo ser tratado cirurgicamente em situações como na prática esportiva ou quando há permanência do quadro álgico e situações de instabilidade. Há vários protocolos dispostos em diversos estudos, no entanto nenhum é considerado ideal. Houve grande avanço no setor da reabilitação permitindo que o indivíduo possa retornar de forma segura o mais rápido possível ao esporte ou suas atividades de vida diária (AVD). O objetivo deste estudo é analisar resultados terapêuticos através de técnicas e recursos fisioterapêuticos na recuperação de pós-operatório (PO) em lesão de LCA. Foi realizado um estudo de caso de um paciente com lesão de LCA e submetido à cirurgia. Ao final desse período houve melhora da força muscular, amplitude de movimento (ADM), redução da dor e edema, aumento da massa muscular, retorno ao trabalho e AVD. Foi concluído que a fisioterapia é extremamente eficaz no PO de lesão de LCA. The anterior cruciate ligament (ACL) is frequently injured; therefore, it can be surgically treated in situations as in sports activities or when there is a permanency of the algic state in instable situations. Although there are several protocols available in a great deal of studies, none of them should be regarded as good ones. There has been crucial advancement in the rehabilitation sector where the patient might resume his sports activities safely and as soon as possible, or to his daily life activities (DLA). This study aimed to study the therapeutic outcomes through techniques and physical therapy resources in the post-operation recovery (PO) in ACL injuries. A study of case has been carried out in an ACL patient who underwent a surgery. At the end of such period, there was an improvement in the muscular strength, movement (MDA), decreasing of the pain and edema, muscular toning, return to his working life and DLA. We came to the conclusion that physical therapy is extremely effective in the ACL injury PO. Palavras-chave: ligamento cruzado anterior, pós-operatório, reabilitação. Key-words: anterior cruciate ligament, post-operation, rehabilitation. Recebido em 12 de fevereiro de 2010; aceito em 3 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Karize Tanita Martins de Souza, Rua das Primaveras, 2868, Bairro Residencial Setor Sul, 78550-021 Sinop MT, Tel: (66) 9606-6889, E-mail: [email protected] 48 Introdução O joelho é uma articulação intermediária do membro inferior, mas desprovido de boa estabilidade do ponto de vista ósseo, portanto o sistema ligamentar e os músculos são os principais responsáveis por sua estabilização [1]. O Ligamento Cruzado Anterior (LCA) localiza-se central e anteriormente na cápsula articular, porém fora da cavidade sinovial; é um ligamento composto por dois feixes, um ânteromedial e um póstero-lateral [2]. A função primária do LCA é conter a translação anterior da tíbia em relação ao fêmur, em atividades de cadeia aberta e, talvez mais importante, restringir a translação posterior do fêmur quando a tibia é fixa, ou seja, atividade da cadeia cinética fechada [3]. Na maior parte das entorses de joelho, uma das estruturas mais comprometidas é o ligamento cruzado anterior, isso por ele ser menos forte que o ligamento cruzado posterior (LCP). O mecanismo de lesão está geralmente associado com uma desaceleração ou uma mudança de direção associada a um giro, com a extremidade fixa [3,4]. O aumento de indivíduos participantes de atividades esportivas tem determinado um aumento significativo de lesões no joelho, sendo a lesão de LCA a causa mais frequente de incapacidade relacionada à atividade esportiva. No Brasil, o futebol é considerado a atividade que mais causa lesões neste tipo de ligamento. A bilateralidade também é um caso comum, sendo que sua incidência varia de 2 a 4% [1,5,6]. O mecanismo direto mais comum é uma força aplicada à região lateral da articulação resultando uma força em valgo. Neste caso, a lesão poderá ocorrer no LCA, ligamento colateral medial, assim como no menisco medial. O mecanismo de lesão está geralmente associado com uma desaceleração ou uma mudança de direção, rotação e saltos [3-5,7,8]. O LCA é o ligamento do joelho mais comumente reconstruído e, uma vez lesado, irá ser alterado o deslizamento e rolamento femoral e tibial [3,9]. O objetivo da reconstrução é estabilizar o joelho e fornecer condições para que ocorra uma completa recuperação do ponto de vista funcional [1]. Para a reconstrução, geralmente são utilizados dois métodos, um utilizando os tendões dos músculos grácil e semitendíneo e outro o terço central do ligamento patelar e suas inserções ósseas, sendo o último mais comum [1]. No sentido da reabilitação alguns autores observaram um pós-operatório menos doloroso e com menor incidência de dor pré-patelar ou tendinite utilizando os tendões dos músculos isquiotibiais [1]. O objetivo deste estudo foi analisar os resultados terapêuticos através de técnicas e recursos fisioterapêuticos na recuperação de pós-operatório em lesão de LCA. Material e métodos A amostra constou de um paciente (R. C. P.), do sexo masculino, técnico em contabilidade, 40 anos de idade, pra- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 ticante de futebol esporadicamente e que apresentava ruptura de LCA no joelho esquerdo com ruptura de meniscos lateral e medial e osteoartrose do joelho esquerdo no compartimento tibiofemoral, sendo grau IV no côndilo femoral lateral e Grau II/III no platô tibial lateral. O paciente concordou em participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sobre a publicação do presente trabalho. O paciente foi submetido ao procedimento cirúrgico, no dia 20/04/09, através do enxerto do tendão dos isquiotibiais por um médico ortopedista. Critérios de inclusão • Indivíduo com reconstrução de ligamento cruzado anterior, independente de raça, sexo, cor, nacionalidade ou joelho acometido; • Idade entre 20 e 45 anos. Critérios de exclusão • Indivíduo com idade maior de 45 anos; • Ter feito uma cirurgia anterior de reconstrução de ligamento no mesmo joelho; • Paciente que não concorde com a participação neste estudo. A reabilitação foi realizada por um período de 2 (dois) meses no Centro de Reabilitação Dom Aquino, localizado à Avenida das Palmeiras 1825, Setor Comercial, na cidade de Sinop, Estado de Mato Grosso, onde são realizados os estágios dos acadêmicos do último ano de fisioterapia da UNIC – Universidade de Cuiabá, Campus Sinop. Foram realizadas 3 avaliações: a primeira foi realizada no primeiro dia de fisioterapia (28/04/09), estando o paciente no 8º dia de pós-operatório; a segunda avaliação (29/05/09), no final do primeiro mês de reabilitação e a 3ª avaliação (30/06/09) no final dos dois meses de fisioterapia. Em cada avaliação foram coletados dados de goniometria da flexão da articulação do joelho; quadro álgico, verificado através da escala analógica visual da dor, sendo que o paciente graduava sua dor numa escala numérica de 1 a 10; perimetria da coxa, realizada a partir da Tuberosidade Anterior da Tíbia (TAT), com marcações a 5 cm, 10 cm, 15 cm, 20 cm e 25 cm acima desse ponto e as medidas foram realizadas abaixo da linha demarcatória; edema através da técnica de 8, descrita por Wilk, Harrelson e Andrews [10], passando a fita métrica pelos maléolos, indo para a região plantar do pé, até chegar a região dorsal do pé, formando um 8 e por último grau de força muscular de acordo com Kendall para os músculos quadríceps, bíceps femoral, adutores, glúteo médio, glúteo máximo, semitendinoso/semimembranoso e iliopsoas. Nas primeiras três semanas foram realizadas 5 sessões semanais com 50 minutos cada e a partir de então as sessões Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 passaram a ser realizadas 3 vezes por semana devido à disponibilidade do paciente. Durante esses dois meses foram utilizados os protocolos de Kisner e Colby [8] e Wilk, Harrelson e Andrews [10], os quais estão de acordo com os objetivos que se pretende alcançar em um programa de tratamento para pacientes no pós-operatório de reconstrução de lesão de LCA. Os materiais utilizados foram bolsa gel da marca Mercur, aparelho de corrente russa da marca Bioset, aparelho laser da marca Bioset, fita adesiva, estepe, goniômetro, fita métrica, bicicleta ergométrica, caneleiras de 0,5 kg, 1 kg, 2 kg e 3 kg e faixa elástica de cor cinza. 49 Figura 1 - Paciente realizando estimulação dinâmica tempo off Relato de caso Na primeira semana de reabilitação o objetivo primário foi o ganho de amplitude de movimento. Portanto, foram realizados alongamentos com ênfase do quadríceps, bem como ADM passiva de flexão de joelho, com três séries de 20 movimentos. Para ganho de ADM também foram realizados exercícios ativos assistidos de flexão de joelho/quadril, com o paciente em decúbito dorsal e com apoio dos calcanhares na maca. A mobilização patelar nas direções látero-lateral e crânio caudal e o alongamento de isquiotibiais também foram incluídos, além de contração de quadríceps com 2 séries de 10 vezes de 4 s de contração para 8 s de repouso. Na segunda semana de fisioterapia, foram introduzidos movimentos de extensão do joelho operado com auxílio da perna contralateral, o paciente sentado, e movimentos de flexão, abdução e extensão de quadril, o primeiro estando o paciente em decúbito dorsal, o segundo em decúbito lateral direito e o último em decúbito ventral. O paciente realizou ainda bicicleta ergométrica. Os movimentos ativos da articulação do quadril foram realizados sem maiores dificuldades, somente no movimento de adução o paciente referia dor leve e suportável na região medial do joelho. No final do primeiro mês, o paciente já realizava os movimentos de abdução e flexão de quadril com 1 kg. Além disso, começou a realizar exercícios de estimulação dinâmica com a corrente russa. Os eletrodos eram posicionados no ponto motor dos músculos do quadríceps com o paciente sobre um colchonete durante 10 minutos com um tempo on 6 s tempo off 12 e com I máxima suportada. Foi solicitado que no tempo on (contração) realizasse agachamento, sendo que, durante o agachamento, o joelho não deveria ultrapassar o 2º artelho, a fim de não sobrecarregar as articulações dos joelhos. Também foi realizada estimulação dinâmica com o paciente agachado sobre a tábua de propriocepção. Figura 2 - Paciente realizando estimulação dinâmica tempo on O ortopedista que acompanhava o caso liberou o paciente do uso da órtese e, no dia 19 de maio, as muletas foram retiradas (um mês após a cirurgia). No segundo mês, foi dada ênfase ao fortalecimento muscular, com carga progressiva nos movimentos de flexão, extensão, abdução e adução de quadril; flexão e extensão de joelho e flexão plantar. No final do segundo mês, o paciente realizava os movimentos de flexão, extensão, abdução de quadril com 6 kg e os de flexão de joelho e adução de quadril com 5 kg. A flexão de joelho foi realizada na posição bípede para ter auxílio da resistência da força da gravidade. O fortalecimento de extensores de joelho foi realizado com auxílio da corrente russa junto ao movimento ativo resistido. Os alongamentos continuaram. Foram realizados treino de marcha. Para isso foi construído um percurso no local de reabilitação do paciente com fita adesiva no chão, com uma linha reta e com várias linhas transversais para simular obstáculos. Para o desenvolvimento dessa atividade era solicitado ao paciente que caminhasse normalmente sobre essa linha e sem sair dela, andava para frente, de costas e lateralmente, o terapeuta ficava corrigindo a postura, os movimentos do joelho, quadril e tornozelos. Na Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 50 marcha com obstáculo solicitou-se que o paciente fletisse o joelho/quadril operado para passar o obstáculo. Os exercícios de propriocepção foram realizados a partir do 1º mês, com o paciente andando em linha reta contando os passos, ou seja, um na frente do outro, primeiro no chão sobre a linha criada para o treino de marcha, depois os mesmos exercícios sobre o colchonete e sobre este realizava também marcha em zigue-zague andando lateralmente, voltava de costas, andava em círculos contando os passos, ora ia de frente, ora ia de costas e também de lado, tábua de propriocepção e balancinho. Para os exercícios de treino na escada, solicitou-se ao paciente que primeiro colocasse a perna direita para subir e depois a perna acometida (E) para descer os degraus. A o final do processo de reabilitação o paciente foi encaminhado para uma academia. Quanto ao ganho de massa muscular, esta ficou dentro das expectativas deste estudo, estando quase com a mesma comparada ao membro contralateral (Gráfico 2). Gráfico 2 - Perimetria de coxa esquerda. 60 50 40 30 20 10 0 5 cm acima TAT 10 cm acima TAT 15 cm acima TAT 20 cm acima TAT 25 cm acima TAT 1ª Avaliação (cm) Resultados 3ª Avaliaçao (cm) Amplitude de movimento Quadro álgico Observou-se ganho de ADM de 120º (30º - inicial e 150º - final) nesses dois meses de fisioterapia (Gráfico 1). Na primeira semana de fisioterapia, o paciente conseguiu 70º de flexão de joelho, sendo que o paciente chegou no 8º dia de PO e no final da 2º semana, ou seja, no 19º dia de PO, o paciente estava com 90º de flexão de joelho. No final do primeiro mês, a amplitude já estava em 130º de flexão, inclusive superior ao recomendado pelos protocolos utilizados (0-125º). Para mensurar o quadro álgico foi utilizada a Escala Analógica Visual da dor. Na primeira avaliação realizada, o paciente graduou sua dor em 5,0, lembrando que o paciente estava fazendo uso de Cefalexina e Nimezulida. No final do primeiro mês, observou-se que o paciente não referia dor alguma e continuou assim no final do 2º mês. Flexão de Joelho (º) Gráfico 1 - Goniometria. 200 150 100 50 0 1ª Avaliação 2ª Avaliação 3ª Avaliação (28/04/2009) (29/05/2009) (30/06/2009) Perimetria A perimetria foi realizada a partir da Tuberosidade Anterior da Tíbia (TAT), com marcações realizadas a 5 cm, 10 cm, 15 cm, 20 cm e 25 cm acima desse ponto, sendo as medidas realizadas abaixo da linha demarcatória, e, os resultados da coxa esquerda na primeira avaliação foram respectivamente 39,5cm, 40 cm, 44 cm, 48,5 cm e 53,5 cm. E na coxa direita: 40 cm, 44 cm, 47,5 cm, 54 cm e 57,5 cm. Os resultados obtidos da perimetria, após a segunda avaliação, foram 40,5 cm, 42 cm, 46 cm, 49,5 cm e 54,5 cm na coxa esquerda. Ao final do segundo mês, encontrava-se com 40,5 cm, 43 cm, 47 cm, 52 cm e 55 cm, tendo os mesmos pontos avaliados. Gráfico 3 - Escala Analógica Visual da Dor. 6 5 4 3 2 1 0 1ª Avaliação (28/04/2009) 2ª Avaliação (29/05/2009) 3ª Avaliação (30/06/2009) Força muscular No início da fisioterapia o paciente apresentava grau de força muscular 3 (avaliado conforme Kendall) em todos os músculos avaliados: quadríceps, bíceps femoral, semitendinoso, adutores, glúteo médio, glúteo máximo e iliopsoas. Na 2ª avaliação realizada no final do primeiro mês de fisioterapia, o paciente apresentou melhora da força sendo que os músculos quadríceps, glúteo médio e iliopsoas já apresentavam grau de força muscular 5 e o restante (bíceps femoral, semitendinoso, adutores, glúteo máximo) apresentaram grau 4. Na última avaliação realizada, no final do 2º mês, o paciente apresentou grau 5 de força muscular para todos os músculos avaliados. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Iliopsoas Glúteo Máximo Glúteo Médio Adutores Semitendionoso /Semimembran oso Bíceps Femoral 6 5 4 3 2 1 0 Quadríceps Gráfico 4 - Grau de Força Muscular – 3ª avaliação. Edema Os resultados na primeira avaliação para perimetria de tornozelo, utilizando a técnica do 8, mostraram que o tornozelo esquerdo estava com 58 cm e o direito com 56 cm. Na segunda avaliação, o tornozelo esquerdo apresentavase com 56,5 cm e o direito com o mesmo valor da primeira avaliação. Na terceira avaliação, realizada no final do 2º mês de fisioterapia, os dois tornozelos apresentaram resultados com igualdade bilateral estando ambos com 56 cm. Gráfico 5 - Perimetria de tornozelo. 58,5 58 57,5 57 56,5 56 55,5 55 1ª Avaliação (28/04/2009) 2ª Avaliação (29/05/2009) 3ª Avaliação (30/06/2009) Esquerdo (cm) Direito (cm) Discussão A reconstrução do LCA é um procedimento comum após a lesão deste importante estabilizador do joelho. Portanto este estudo buscou analisar os resultados em uma reabilitação pósoperatória de lesão de ligamento cruzado anterior. A fisioterapia é de extrema importância, pois através dela prevenimos fibrose que leva a rigidez articular, devido ao processo cicatricial, além da melhora da força muscular que é necessário para que se tenha um reequilíbrio da articulação tibiofemoral. Não existe um protocolo de reabilitação considerado ideal, o que existe são parâmetros que devem ser seguidos para que o profissional tenha base para evoluir com a reabilitação, tratando o paciente pós-operado de uma lesão de LCA de forma rápida e segura, já que a literatura defende protocolos cada vez mais acelerados. 51 Neste estudo foi possível verificar que a lesão de LCA não vem isolada, na maioria dos casos. Fato este comprovado pelo estudo realizado por Rocha et al. [11], que observou em uma análise estatística uma prevalência de 67% de lesões meniscais, além da incidência de lesões condrais, é o que mostra também Januário e Júnior [1] relatando que a lesão de menisco é um achado comum nas histórias de rupturas de ligamento cruzado anterior. O presente trabalho mostrou que o paciente apresentava edema, estando de acordo com o que foi encontrado no trabalho de Januário e Júnior [1] em que mostra que o edema é uma das complicações encontradas no pós-operatório de LCA. Inicialmente a fisioterapia foi focada no ganho de amplitude de movimento e Araújo Merlo e Moreira [2] relatam que a primeira preocupação do fisioterapeuta na reabilitação do joelho lesionado deve ser a recuperação da amplitude de movimento. Em relação à força muscular, o paciente conseguiu grau 5 em todos os músculos avaliados, mostrando eficácia especialmente da estimulação dinâmica com a corrente russa, ao contrário do estudo realizado por Macedo et al. [12], com 18 indivíduos, o qual sugere que a corrente russa não contribui para o fortalecimento muscular do quadríceps. Isso pode ter ocorrido porque diferentemente desse estudo não foi utilizado a contração ativa por parte do paciente assim como resistência com caneleira ou exercícios em Cadeia Cinética Fechada. Este estudo mostrou que houve melhora da força e massa muscular em 2 meses de fisioterapia, o que não ocorreu no estudo de Januário e Junior [1] , os quais avaliaram 10 pacientes em processo de reabilitação entre 02 a 10 meses e destes 90% foi verificado diminuição do trofismo muscular e 100% grau 4 de quadríceps no lado operado. O paciente realizou exercícios de fortalecimento tanto em cadeia cinética aberta quanto fechada e Tótola [9] relata que os exercícios em cadeia cinética fechada são mais funcionais, pois resultam de contrações concêntricas e excêntricas que ocorrem simultaneamente nas extremidades opostas do mesmo músculo. A crioterapia se mostrou bastante eficaz tanto para redução do edema, como no controle da dor ou mesmo para auxiliar a cinesioterapia, especialmente quando foi utilizada junto ao alongamento de quadríceps, onde o paciente referia um maior conforto na realização deste. Isso permitiu verificar os efeitos da crioterapia propostos por Agne [13], comprovando o estudo realizado por Alves et al. [14]. A crioterapia deve ser usada por sua ação analgésica, efeito vasoconstritor, diminuindo o aporte de sangue e proteínas no local da lesão [13]. Atualmente houve acordo entre os protocolos utilizados em que diziam que o tempo de reabilitação para um PO de lesão de LCA é de seis meses e nesse período o atleta já pode retornar a suas atividades esportivas, se for o caso. Isto confronta com Plapler [15] que, há exatamente 19 anos, 52 dizia que a reabilitação de lesão de LCA duraria 9 meses. Nota-se, portanto, grande avanço nos estudos realizados com essa classe nos últimos 20 anos fazendo com que o paciente retorne o mais breve possível para suas atividades sejam elas esportivas ou não. Nos protocolos utilizados, a fisioterapia se inicia imediatamente com alongamentos, mobilização passiva das articulações tibiofemoral e femoropatelar, e contrações de quadríceps. No protocolo de Palpler [15] a articulação era imobilizada por um período de quatro dias com gesso. Hoje em dia, sabendo-se dos resultados danosos da imobilização, tem-se optado pela mobilização o mais precoce possível. Conclusão A realização deste trabalho permitiu constatar por meio de leituras e observações que a fisioterapia é extremamente eficaz no pós-operatório de lesão de LCA. Este estudo possibilitou ainda avaliar algumas técnicas fisioterápicas comentadas amplamente na literatura e que na prática se mostrou extremamente eficaz. Os objetivos proposto nos protocolos de reabilitação pós-operatório de lesão foram atingidos, além disso, foi verificado o aumento de amplitude articular, força e hipertrofia muscular, assim como diminuição da dor e edema e o retorno do paciente a suas atividades de vida diária normal em um período extremamente curto, ou seja, 2 meses de reabilitação aproximadamente. Referências 1. Januário M, Júnior EAB. Complicações pós cirúrgicas da reconstrução de ligamento cruzado anterior. Fisioter Bras 2003;4(6):402-7. 2. Araújo ADS, Merlo JRC, Moreira C. Reeducação neuromuscular e proprioceptiva em pacientes submetidos à reconstrução do ligamento cruzado anterior. Fisioter Bras 2003;4(3):217-21. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 3. Gulick DT, Yoder HN. Anterior cruciate ligament reconstruction: clinical outcomes of patella tendon and hamstring tendon grafts. J Sports Sci Med 2002;1(1):63-71. 4. Francisco EB, Junior SAG. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 53 Relato de caso O efeito da radiofrequência em fibrose pós-lipoaspiração abdominal The effects of radiofrequency in fibrosis after abdominal liposuction Flávia Maria Pirola, Esp.*, Cristina Zotarelli Battiston, Esp.**, Helena Hanna Khalil Dib Giusti, M.Sc.*** *Pós-Graduada em Fisioterapia Dermato-Funcional do Centro Universitário Hermínio Ometto, UNIARARAS e Consultora Técnica BIOSET, **Pós-Graduada em Fisioterapia Dermato-Funcional do Centro Universitário Hermínio Ometto, UNIARARAS, ***Coordenadora do curso de Especialização em Fisioterapia Dermato-Funcional e de Terapias Naturais do Centro Universitário Hermínio Ometto, UNIARARAS Resumo Abstract A lipoaspiração (LP) é indicada para remoção de gordura localizada de uma determinada área, onde não se obtém a redução da mesma num processo de emagrecimento; porém, podem acontecer alguns eventos clínicos como edema, hematomas, fibrose, dor, entre outros por agredir demasiadamente os tecidos locais. Na Fisioterapia Dermato-Funcional, há recursos que tratam e melhoram sintomas pós-LP como a Radiofrequência (RF), uma corrente eletromagnética que, em contato com o tecido, gera aumento térmico que leva a tixotropia da fibrose e ao reparo do contorno pós-LP. Assim este trabalho teve como objetivo analisar através da biofotogrametria computadorizada os efeitos da terapia por RF em fibrose póslipoaspiração abdominal. A amostra de conveniência constituiu-se de um indivíduo do sexo feminino, em pós-operatório (PO) tardio (60 dias) de lipoaspiração abdominal, não fumante, que fez uso de cinta compressiva e sessões de drenagem linfática manual no PO. Na avaliação constatou-se a presença de 6 pontos fibróticos no local lipoaspirado como queixa principal. A paciente foi submetida a 6 atendimentos de RF, com sessões quinzenais e duração de 30 minutos. Para os dados da biofotogrametria, foram obtidas imagens digitais com as bordas das fibroses demarcadas para serem analisadas pelo software Alcimage, e realizou-se a análise estatística, por meio do teste t de Student. Os dados apresentaram significância estatística para a medida linear da fibrose com correlação entre área e importante redução da área, devido à vasodilatação com consequente aumento do fluxo sanguíneo e linfático no local da aplicação, sendo assim ocorre uma drenagem de líquidos retidos e produtos catabólicos, rompimento das traves fibróticas e neocolagênese. Ao final do tratamento, concluiu-se que a RF é indicada para sinais de fibrose pós-LP abdominal, levando-se em consideração a voluntária deste estudo. No entanto, o grupo de pesquisa sugere mais estudos com maior número de voluntários e a associação com outras técnicas da Fisioterapia Dermato-Funcional. Liposuction (LS) is indicated for removal of localized fatty deposits, which you do not get the same reduction in weight loss process. However, a few clinical events such as edema, hematoma, fibrosis, pain and others may occur due to damage of local tissues. There are many devices used by the Functional Physical Therapy in Dermatology which treat and relieve symptoms and the Radiofrequency (RF) is one of them. It is an electromagnetic current which, in contact with tissue, generates high temperature and leads to thixotropy of fibrosis and repair contour irregularities after LS. This study aimed at analyzing by computerized photogrammetry the effects of RF therapy in fibrosis after abdominal liposuction. The convenience sample consisted of a female individual in late postoperative (PO) (60 days) of abdominal liposuction, non-smoker, who used surgical support and performed manual lymphatic drainage sessions in the PO. During evaluation, six fibrotic sites were verified in the area where LS was performed. The patient underwent 6 biweekly 30 min RF treatment sessions. For the photogrammetry data, digital images with demarcated edges of the fibrosis were obtained and analyzed by the software Alcimage, and for the statistical analysis, the t Student test was used. Data showed statistical significance for the fibrosis linear measurement within-area correlation and area reduction, as a result of vasodilation with consequent increase in blood and lymphatic flow in the incision site, which permit the drainage of retained fluids and catabolic products, neocollagenesis and fibrotic scars disruption. At the end of treatment, it was concluded that RF is indicated for signs of fibrosis after abdominal LP, taking into account the female volunteer of this study. On the other hand, the research group suggests more studies with a large number of volunteers and the association with other techniques of Functional Physical Therapy in Dermatology. Key-words: liposuction, fibrosis, bipolar radiofrequency. Palavras-chave: lipoaspiração, fibrose, radiofrequência bipolar. Recebido em 6 de setembro de 2010; aceito em 8 de dezembro de 2010. Endereço para correspondência: Flávia Maria Pirola, Rua Bartira, 1430/ 26, Perdizes 05009-000 São Paulo SP, Tel: (11) 8580-1271, E-mail: fla. [email protected] 54 Introdução Atualmente, a busca incessante pelo corpo perfeito, fez aumentar a procura por intervenções cirúrgicas para que se alcance o corpo desejado sem muito esforço, como a lipoaspiração (LP), que foi desenvolvida em meados de 1974 e 1976 por Giorgio Fischer e Arpad, e mais tarde foi aprimorada por Illouz e Fournier em Paris. A técnica consiste na remoção cirúrgica de gordura subcutânea, por meio de cânulas submetidas a uma pressão negativa e introduzidas através de pequenas incisões na pele [1]. A principal indicação de uma LP é o tratamento de regiões, onde, mesmo após um processo de emagrecimento, não se consegue remover a gordura localizada de um determinado local, mas se consegue remover o excesso de gordura localizada, devendo contar sempre com a boa elasticidade de pele no local que será lipoaspirado [2]. Apesar de ser uma técnica simples, rápida e pouco dispendiosa podem acontecer alguns eventos clínicos como edema, hematomas, fibrose, dor, entre outros por agredir demasiadamente os tecidos locais [3]. A fibrose é uma formação ou desenvolvimento em excesso de tecido conjuntivo fibroso em um órgão ou tecido como processo reparativo ou reativo, com a formação de tecido fibroso como um constituinte normal de um órgão ou tecido [4]. Este tecido fibroso é uma espécie de edema e proteínas acumuladas de forma crônica, que atrapalham o funcionamento dos fibroblastos, que são responsáveis pela cicatrização. Este tecido trabalha em excesso e sem orientação, produzindo ondulações nas fibras de colágeno, que causam repuxamento e dor ao paciente, além de uma aparência inestética na região. No caso de desenvolvimento no pós-operatório (PO) da LP, tem-se endurecimento localizado devido ao fibrosamento em excesso, levando aparentemente ao desnivelamento regional, aumento da trava fibrótica, proporcionando dificuldade do extravasamento da linfa no PO, com um ciclo de mais exsudato e maior fibrose. A fibrose é um processo natural do organismo em resposta a qualquer cirurgia, que pode ocorrer em maior ou menor grau e sua aparição depende de vários fatores. Logo após a cirurgia, a fibrose é intensa, endurecida e sensível e vários fatores podem influenciar no aparecimento da mesma, como repouso inadequado da área, leves traumas na região (como pegar peso), uso incorreto da cinta compressiva, levando a irregularidades cutâneas e desconforto ao paciente. Assim, a Fisioterapia Dermato-Funcional pode auxiliar na redução desses eventos clínicos, prevenindo e/ou controlando as complicações mais comuns, utilizando recursos apropriados como a terapia por Radiofrequência (RF), que é uma forma de energia eletromagnética, não invasiva, que produz um aquecimento por baixo da pele em curtos períodos de tempo (Diatermia). Segundo Zelickson et al. [5], trata-se de uma corrente elétrica alternada cuja frequência varia de 3 KHz a 300 MHz e o mecanismo de ação se baseia no aquecimento volumétrico controlado da derme profunda, enquanto a Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 epiderme é preservada. É considerada como uma energia nãoablativa (não lesiva) e pode ser monopolar ou bipolar. Sob este princípio está baseada a aplicação desta energia no campo da estética a fim de se obter uma lesão térmica controlada ao nível da derme com o estímulo subsequente e produção de maior número de fibras de colágeno e elastina [5]. Produz-se por meio da energia térmica a contração da pele, assim como o estímulo do fibroblasto, para obter a produção de novas fibras colágenas, elastina e matriz extracelular [6-10]. A técnica estimula a desnaturação do colágeno, com consequente contração das fibrilas e neocolagênese, além de aquecer os septos fibroses [11] e ter ação fibrinolítica, melhorando a fibrose na derme [12]. A conversão da energia eletromagnética está relacionada diretamente com as propriedades biológicas dos tecidos submetidos à RF e a temperatura se evidencia de forma diferenciada, sendo mais intensa na derme, ou seja, o termômetro registra uma temperatura na epiderme, e na derme pode-se esperar de 5º a 20º a mais de aquecimento [12]. A RF bipolar apresenta os eletrodos de saída e retorno da corrente na própria ponteira. Eles são aplicados na área a ser tratada e a propagação da corrente está limitada ao espaço entre os eletrodos, com efeito mais superficial que a RF unipolar, atingindo de 2 a 6 mm de profundidade. Assim, os sistemas bipolares garantem um melhor controle da distribuição de energia, e os indivíduos tratados com estes dispositivos toleram a sessão com maior facilidade [11-14]. Já a unipolar é composta por um eletrodo ativo e um passivo, que atua como eletrodo de aterramento, e possui elevado nível de penetração da energia eletromagnética, em torno de 20 mm, porém há dor associada e uma pequena incidência de deformidades dos tecidos moles, que se pensava principalmente que era resultado de necrose da gordura [8]. Desta forma, a Fisioterapia Dermato-Funcional pode amenizar a fibrose pós-lipoaspiração por meio da RF, proporcionando melhor recuperação e rápido retorno às atividades diárias. Diante da procura por recursos não invasivos para tratamento da fibrose pós-operatória e a não padronização dos parâmetros utilizados com a RF este estudo justifica-se pela escassez de material científico nacional que aponte uma proposta de tratamento. Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de realizar uma intervenção com a RF para o tratamento proposto, a fim de abranger novos conhecimentos sobre esta técnica. Material e métodos Apresentação do caso Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Hemínio Ometto – Uniararas, com parecer científico – CEP – nº 191/2009. A amostra de conveniência constituiu-se de uma voluntária do gênero feminino (33 anos, 56 kg e 1,65 m), em Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Resultados Na análise estatística, obteve-se um resultado positivo referente às fibroses (tabela I), em que analisadas uma a uma, apresentaram redução de 50%, pelo teste de Shapiro-Wilk utilizado previamente ao teste t de Student, no pós-tratamento em relação ao pré, sendo que, duas delas se transformaram em uma com medida igual às anteriores (3a e 3b – tabela I). Em relação à área, essa diminuição foi mais evidente, com exceção da fibrose 4, que manteve valores semelhantes ao pré. Tabela I - Medidas lineares e área (teste de Shapiro-Wilk) dos seis pontos de fibrose antes (pré) e após (pós) o tratamento com RF. Fibrose 1 2 3ª 3b 4 5 Medida Linear (cm) Medida de área (cm2) Pré Pós Pré Pós 13,5 5,0 79,1 33,5 11,0 4,5 59,3 18,5 6,0 32,7 6,0 35,6 6,5 34,0 12,0 5,0 52,6 54,5 11,0 5,5 Esses resultados puderam ser melhor evidenciados quando as fibroses foram avaliadas conjuntamente pelo teste t de Student (Gráfico 1), no qual se observou uma redução estatisticamente significante ( = 0,04) na medida linear, em que se observa significância em relação à área ( = 0,40). Após análise pelo teste de Pearson ( = 0,01) houve correlação positiva entre as medidas lineares e a área da fibrose. Gráfico 1 - (A e B) - Medida linear (em cm) pré (9,80 ± 3,36) e pós (5,20 ± 0,57) e área média (em cm2) + desvio-padrão das 6 fibroses avaliadas pré (51,27 ± 22,22) e pós (35,52 ± 14,71) tratamento de RF. A Medida Linear (cm) 14.00 12.00 10.00 8.00 6.00 4.00 2.00 0.00 Pré Pós 80.00 Medida Area (cm2) pós-operatório (PO) tardio de lipoaspiração abdominal (60 dias após o procedimento) e não fumante, já que o tabaco aumenta a viscosidade do tecido. Foi realizado o preenchimento de uma ficha de avaliação padrão do setor de Fisioterapia Dermato-Funcional da Uniararas, contendo identificação do voluntário, anamnese, exame físico e evolução do tratamento. Previamente à avaliação a paciente assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual consta que a mesma não será identificada na publicação do trabalho e informando detalhes sobre o tratamento. Na avaliação inicial foram constatados seis pontos fibróticos no local lipoaspirado – dos quais 2 pontos foram divididos em A e B, uma vez que eram muito próximos e após o estudo transformou-se em apenas um – como queixa principal por meio da palpação. As áreas foram demarcadas com lápis dermatográfico e as imagens foram registradas por meio de uma câmera digital da marca Panasonic DMC-LS80 e 8.1 mexapixels, sem zoom, sem flash e iluminação adequada. Após anamnese completa e exame físico iniciou-se o tratamento realizado nas dependências da empresa Bioset – Indústria de Tecnologia Eletrônica Ltda, que forneceu o equipamento de Radiofrequência – New Shape, com frequência de 1 MHz e sistema bipolar, sem custos para esta pesquisa. Foi utilizado o eletrodo corporal com 70% de intensidade [15], com temperatura de 38º a 40ºC. A duração do tratamento foi de 6 atendimentos quinzenais, cada um com duração de 30 minutos divididos por 5 minutos em cada ponto fibrótico, e uso de cinta compressiva após o uso da RF. Para avaliação do efeito do tratamento sobre os pontos fibróticos foram realizadas duas avaliações, uma prévia (pré) e uma após (pós) o término das seis sessões de tratamento, realizadas com intervalos quinzenais. Para tal, a voluntária foi posicionada a frente de máquina fotográfica digital marca Panasonic DMC-LS80 e 8.1 mexapixels distante a 90 cm do solo e 50 cm da voluntária. Foram realizadas cinco tomadas em cada avaliação. As imagens foram então tratadas a partir da técnica de biofotogrametria computadorizada por meio do software Alcimage (figuras A e B) para avaliação quantitativa, na qual foi possível a determinação de duas medidas para cada ponto: área total e medida linear. Ainda, uma análise clínica observacional subjetiva foi conduzida pelo mesmo pesquisador, para levantamento da evolução do tratamento. Tanto as medidas lineares como da área das fibroses e as medidas de antropometria foram tratadas de duas diferentes formas: foram realizadas avaliações uma a uma e realizada a média pré e pós-tratamento. Após o teste de distribuição normal dos dados - Teste de Shapiro-Wilk, o efeito do tratamento foi avaliado por meio do Teste t de Student para medidas pareadas. Foi realizada ainda uma correlação entre as medidas lineares e área das fibroses, por meio do Teste de Correlação de Pearson. Todas essas análises foram realizadas por meio do software Statistics 7.0 para Windows. Valores de P foram considerados estatisticamente significantes quando menores que 0,05. 55 70.00 60.00 50.00 40.00 30.00 20.00 10.00 0.00 Pré Pós B Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 56 Figuras A e B - Imagens obtidas no pré e pós-tratamento, demonstrando a delimitação da área e linear para análise da biofotogrametria. A B Discussão No estudo proposto foram programadas seis sessões de RF, com o parâmetro de 70% [15] de intensidade, temperatura de 38º a 40ºC, e tempo de aplicação mantido do início ao fim do tratamento. Neste estudo, a paciente foi avaliada pela análise clínica observacional e pela biofogrametria, sendo que uma das suas grandes vantagens é a de permitir que o fisioterapeuta atue de forma independente, pois é uma ferramenta desenvolvida para construir seu prognóstico, tem baixo custo e precisão na fotointerpretação e reprodutividade dos resultados [16]. Os resultados têm como ponto de partida a melhora clínica subjetiva e visual do aspecto geral da pele da voluntária antes e após as seis sessões de tratamento, e a análise estatística dos dados obtidos. No presente trabalho observou-se redução significativa da medida linear da fibrose e importante redução da área, o que proporcionou melhora visual (figuras A e B) devido à melhora da drenagem do líquido antes fibrosado. Isso ocorreu após contato por 5 minutos em cada ponto durante seis sessões, devido ao efeito térmico da RF a 40ºC comprovando o rompimento das traves fibróticas. Dados comprovados por Pino et al. [8], em estudo realizado para tratamento de fibroedema gelóide com modo bipolar, com doze sessões e sete dias de intervalo, relatam que o plano fibrótico foi reduzido devido ao calor produzido pela RF, que possibilita uma vasodilatação com consequente aumento do fluxo sanguíneo e linfático no local da aplicação, sendo assim ocorre uma drenagem de líquidos retidos e produtos catabólicos [17] e rompimento das traves fibróticas. Alster e Lupton [11], em estudo de RF para remodelamento tecidual, mostraram respostas para retração devido à neocolagênese e retração das fibras de colágeno já existentes, contribuindo também para a redução de proeminências teciduais. Dados que reforçam os resultados do presente estudo em que houve respostas significativas quanto ao plano linear, comprovado também por meio do registro digital, no qual se observa uma redução visual das mesmas. Agne [12] relata que a RF tem ação fibrinolítica quando aplicada com temperaturas de superfície em torno de 36ºC, tanto para fibroses recentes como tardias. No presente estu- do, houve respostas qualitativas e significativas com retração dos septos fibróticos e estímulo à neocolagêneses, sendo este a causa associada à referida redução, porém, neste caso, a temperatura superficial manteve-se à 40ºC. As respostas benéficas observadas no presente estudo (gráfico 1 e figuras A e B) para redução da fibrose pode ser reforçada e associada novamente com a resposta de retração de pele em que concomitantemente a essa resposta houve melhora metabólica e favorecimento da resposta linfática regional com resultados também comprovados por Montesi et al. [8] em estudo realizado com modo bipolar, 8 sessões e intervalos de 2 semanas. Após o término das sessões de tratamento, o grupo de pesquisa realizou seis aplicações da RF para manutenção da resposta obtida, de forma mensal, pois o processo de formação de fibrose pós-LP, em algumas pessoas, pode se desenvolver de 12 a 24 meses pós-LP. Conclusão Conclui-se que a RF é indicada para sinais de fibrose pós-LP levando em consideração a voluntária deste estudo. Porém, o grupo de pesquisa sugere trabalhos com maior número de voluntários, análises por exames complementares e histológicos, estudos controlados e randomizados, bem como a descrição da temperatura ideal e tempo de aplicação (dados divergentes nos estudos encontrados) a serem utilizados em áreas com fibroses. Vale ressaltar que há a necessidade de realização do tratamento com RF para manutenção dos resultados obtidos. Agradecimentos Agradecemos a colaboração de Flávia Fernanda de Oliveira Assunção, Fisioterapeuta Mestranda da USP - Ribeirão Preto. Referências 1. 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Dentro deste contexto, este estudo teve como objetivo a apresentação/atualização da CIF e a análise das contribuições da adoção desta na prática do fisioterapeuta. Para tanto, foi realizada uma revisão crítica da literatura publicada a partir de 2002, em revistas, jornais e na Internet através de três bases de dados eletrônicas (Lilacs, Medline e Scielo), além da versão em português da CIF publicada pela Edusp. A partir da análise desta, pode se concluir que a adoção da CIF pela fisioterapia pode trazer diversos benefícios, sendo os mais importantes: a padronização da linguagem utilizada para descrever a funcionalidade dos indivíduos e o estabelecimento de um paradigma que focaliza a funcionalidade do indivíduo como um sistema onde múltiplos fatores se encontram em interação. The International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) was approved and recommended by the World Health Organization (WHO) in 2001. Although promising, its use by physical therapists is still limited. Within this context, this study aimed to present/update the ICF and analyze the contributions of its adoption into physical therapist clinical practice. Therefore, a critical literature review, from 2002, was done in magazines, journals and the Internet, in three electronic databases (Lilacs, Medline e Scielo), in addition of the Portuguese version of the CIF published by Edusp. In comclusion, the adoption of the ICF by physical therapy brings several benefits being the most important: the standardization of the language used to describe the functionality of individuals and the establishment of a paradigm that focuses on the functionality of the individual as a system where multiple factors are interacting. Key-words: international classification of functioning, disability and health, rehabilitation, physical therapy. Palavras-chave: classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde, reabilitação, fisioterapia. Recebido em 5 de junho de 2009; aceito em 10 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: João Marcos Bernardes, Rod. Jorge Lacerda, 5471/207, 89110-000 Gaspar SC, Tel: (47) 3397-2736, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 11 - Número 6 - novembro/dezembro de 2010 Introdução De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de pessoas que apresentam alguma forma de incapacidade (que se estima em torno de 10% da população mundial) está aumentando, não só como resultado do aumento populacional e da expectativa de vida, mas também devido à má nutrição, guerras, lesões domésticas e ocupacionais, doenças crônicas, acidentes de trânsito e outras causas relacionadas à pobreza [1]. O fisioterapeuta, como profissional atuante nos processos de reabilitação, objetiva em sua prática clínica tornar possível que pessoas que apresentam ou possam vir a apresentar incapacidade atinjam e mantenham níveis excelentes de funcionalidade [2,3]. Avaliando as limitações funcionais do paciente, conjuntamente com o mesmo, seus familiares e cuidadores; e levando em consideração os objetivos destes, o fisioterapeuta determina as intervenções mais apropriadas para otimizar a funcionalidade do paciente [4]. A funcionalidade pode ser definida como uma experiência humana universal na qual o indivíduo, corpo e sociedade estão interligados. Durante a vida as pessoas podem vivenciar variações no nível de funcionalidade associadas a distúrbios congênitos, lesões e/ou envelhecimento. Portanto, as limitações da funcionalidade podem ser consideradas parte inerente da condição humana [4,5]. Uma vez que a reabilitação não visa diretamente à cura do paciente, mas maximizar a funcionalidade, esta deve ser o ponto de partida do processo de reabilitação; no qual colaboram diversas especialidades da área da saúde, como medicina, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, enfermagem, nutrição, psicologia e assistência social [2,5,6]. Embora estas diferentes especialidades trabalhem com o mesmo objetivo, todas usam terminologias e classificações diferentes para descrever os problemas apresentados pelos pacientes, o que dificulta a comunicação entre os envolvidos no processo [5]. Visando uniformizar a linguagem internacional no que diz respeito à descrição de diferentes aspectos referentes à funcionalidade, incapacidade e saúde, a OMS, em 2001, aprova e recomenda para os países membros, através da resolução WHA54.21, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), estabelecendo desta forma uma linguagem padronizada [7-9]. Embora a aprovação da CIF tenha representado uma recomendação à adoção de uma forma de abordagem baseada na funcionalidade, esta ainda não está sendo totalmente aplicada pelo fisioterapeuta na sua prática clínica. O que se observa frequentemente é a utilização por este do modelo médico linear, focado na doença, na deficiência e na incapacidade física, ainda que esta seja considerada uma forma reducionista de intervenção [7]. Dentro deste contexto, este estudo teve como objetivo a apresentação/atualização da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade 59 e Saúde e analisar as contribuições da adoção desta na prática do fisioterapeuta. Material e métodos O presente estudo baseou-se em uma revisão crítica da literatura sobre o tema Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Foi feita uma pesquisa documental de artigos científicos, publicados a partir de 2002, em revistas, jornais e na Internet através de bases de dados eletrônicas (Lilacs, Medline e Scielo), além da versão em português da CIF publicada pela Edusp. As palavras-chaves utilizadas na busca foram: CIF, fisioterapia e reabilitação. Foram selecionados artigos em português e inglês. Resultados e discussão Para compreender a CIF é necessário, primeiramente, familiarizar-se com o conceito das classificações internacionais da OMS. Uma das funções da OMS é a produção de Classificações Internacionais de Saúde que representam modelos a serem incorporados por governos, gestores e usuários de serviços de saúde, tendo em vista o emprego de uma linguagem unificada para a descrição de problemas ou intervenções em saúde [10]. Atualmente existem duas classificações de referência para a descrição dos estados de saúde que são organizadas pela OMS: a décima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) [11]. A CID-10 fornece um modelo apropriado para a categorização e classificação de doenças, transtornos e lesões baseado na etiologia, anatomia e causas externas destas. Fundamentada no modelo biomédico, no qual a explicação do processo saúdedoença tende a se restringir a seus aspectos anatômicos, bioquímicos e fisiológicos, a CID torna possível monitorar a incidência e prevalência de doenças e outros problemas de saúde [10-12]. Contudo, em uma época em que a expectativa de vida aumenta e as doenças agudas, muitas vezes letais e de curta duração, passam a dar lugar às patologias de início insidioso e de longa duração, cuja evolução muitas vezes é marcada pela redução progressiva da capacidade funcional, registrar uma condição anormal de saúde e suas causas, sem registrar o impacto destas na vida do paciente, pode não ser suficiente para algumas especialidades [10-12]. O reconhecimento de que somente a mortalidade e a morbidade não podem medir a importância de um evento em saúde estimulou a OMS a encontrar uma nova classificação para abordar as consequências das doenças. Esse interesse resultou na elaboração da Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (CIDID) em 1980 [13]. Apesar de a CIDID ter trazido à tona a importância de distinguir entre a doença e suas consequências na forma de Fisioterapia Brasil - Volume 11 - Número 6 - novembro/dezembro de 2010 60 incapacidade, esta era um documento experimental e não foi amplamente adotada como classificação [14]. Em 1993 passou pela primeira revisão passando a ser conhecida como CIDID-2. A segunda revisão coordenada pela OMS teve início em 1996 e culminou com a aprovação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) em 2001, após ter sido testada em mais de 50 países, envolvendo um número superior a 1800 profissionais de saúde [13]. A CIF é uma classificação de saúde elaborada com a finalidade de registrar e organizar uma vasta gama de informações relacionadas ao impacto das condições de saúde sobre o estado funcional dos indivíduos e a capacidade de interação destes consigo próprios, com o ambiente, o trabalho, a família e a vida social comunitária [15]. Os objetivos da CIF são: oferecer uma base científica para o entendimento e o estudo dos estados de saúde, consequências e determinantes; estabelecer uma linguagem comum para descrever os estados de saúde; permitir a comparação de informações entre países, diferentes profissionais da saúde e épocas; fornecer um sistema de codificação para sistemas de informações de saúde [6]. Baseada no modelo biopsicosocial, a CIF considera que a funcionalidade engloba os componentes de estruturas e funções corporais, atividade e participação social, aspectos estes de caráter positivo, cujos correlatos negativos correspondem à incapacidade. Esta resultaria como consequência da interação entre a disfunção apresentada pelo indivíduo, a limitação de suas atividades e a restrição de sua participação, e os fatores ambientais que interferem no desempenho das atividades e da participação social, facilitando-as ou dificultando-as [12,16,17]. Visto que a funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de saúde são classificadas na CIF, a CID-10 e a CIF são complementares entre si. As informações sobre o diagnóstico e a funcionalidade, conjuntamente, oferecem uma imagem ampla e significativa da condição de saúde das pessoas e como estas funcionam na sociedade com esta condição, o que pode ser utilizado para o planejamento e tomada de decisões em diferentes âmbitos de saúde [18,19]. O sistema de classificação da CIF, como pode ser observado na figura 1, é dividido em duas partes: parte 1 - funcionalidade e incapacidade; parte 2 - fatores contextuais. Estes, por sua vez, são divididos em dois componentes: componentes da parte 1 - funções do corpo e estruturas do corpo e atividades e participação; componentes da parte 2 - fatores ambientais e fatores pessoais [15,20]. As funções do corpo incluem tanto as funções fisiológicas quanto as psicológicas, enquanto as estruturas são as partes anatômicas do corpo, como os órgãos, membros e seus componentes. De acordo com a CIF as deficiências ocorrem quando há um problema nas funções corporais ou um importante desvio ou perda das estruturas corpóreas [10,15,16]. Internacionalmente não houve um consenso quanto à fronteira exata entre atividades e participação, por esta razão a classificação destes é combinada, cabendo ao usuário decidir quando um termo é classificado como um item de atividade ou participação [6]. O componente atividades e participação descreve como o indivíduo exerce suas atividades diárias (AVD’s) e se engaja na vida social. No contexto da CIF as atividades são definidas como a execução de uma tarefa ou ação pelo indivíduo, enquanto as limitações das atividades são definidas como as dificuldades com as quais o indivíduo pode se deparar durante a execução destas. Por sua vez a participação é definida como o envolvimento numa situação cotidiana de vida e as restrições de participação são problemas que o indivíduo pode encontrar durante o envolvimento nestas situações [10,15,16]. Quanto aos fatores ambientais, estes constituem o ambiente físico, social e de atitudes no qual o indivíduo vive e conduz sua vida [6,15]. Estes fatores são externos ao indivíduo podendo ter uma influência positiva ou negativa sobre a funcionalidade [2,15]. Finalmente os fatores pessoais são o histórico da vida e do estilo de vida do indivíduo e englobam as características Figura 1 - Estrutura da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Classificação CIF Funcionalidade e incapacidade Funções e estruturas corporais Níveis 1º 2º 3º e 4º Fatores contextuais Atividades e participação Fatores ambientais Níveis 1º 2º 3º e 4º Níveis 1º 2º 3º e 4º Fatores pessoais Partes Componentes Diferentes níveis dos domínios e categorias Fisioterapia Brasil - Volume 11 - Número 6 - novembro/dezembro de 2010 que não são parte do estado de saúde. Os fatores pessoais não são classificados na CIF, mas esta apresenta os seguintes itens como exemplo: sexo, raça, idade, outros estados de saúde, condição física, estilo de vida, hábitos, educação recebida, diferentes maneiras de enfrentar problemas, antecedentes sociais, nível de instrução, profissão, experiência passada e presente, padrão geral de comportamento, caráter e características psicológicas individuais [6,15]. Cada um dos componentes da CIF, exceto fatores pessoais, contém capítulos (tabela I) e categorias que estão organizados em diferentes níveis de especificidade, o primeiro nível é bastante global, enquanto níveis mais baixos apresentam progressivamente mais informação [2,6,15]. Tabela I - Capítulos dos quatro componentes da CIF. Funções do corpo b1 - Funções mentais b2 - Funções sensoriais e dor b3 - Funções da voz e fala b4 - Funções do aparelho cardiovascular, dos sistemas hematológico e imunológico e do aparelho respiratório b5 - Funções do aparelho digestivo e dos sistemas metabólico e endócrino b6 - Funções genitourinárias e reprodutivas b7 - Funções neuromusculoesqueléticas e relacionadas com o movimento b8 - Funções da pele e estruturas relacionadas Estruturas do corpo s1 - Estruturas do sistema nervoso s2 - Olho, ouvido e estruturas relacionadas s3 - Estruturas relacionadas com a voz e a fala s4 - Estruturas do aparelho cardiovascular, do sistema imunológico e do aparelho respiratório s5 - Estruturas relacionadas com o aparelho digestivo e com os sistemas metabólico e endócrino s6 - Estruturas relacionadas com os aparelhos genitourinário e reprodutivo s7 - Estruturas relacionadas com o movimento s8 - Pele e estruturas relacionadas Atividades e participação d1 - Aprendizagem e aplicação do conhecimento d2 - Tarefas e exigências gerais d3 - Comunicação d4 - Mobilidade d5 - Auto cuidados d6 - Vida doméstica d7 - Interações e relacionamentos pessoais d8 - Áreas principais da vida d9 - Vida comunitária, social e cívica 61 Fatores ambientais e1 - Produtos e tecnologia e2 - Ambiente natural e mudanças ambientais feitas pelo homem e3 - Apoio e relacionamento e4 - Atitudes e5 - Serviços, sistemas políticos Apesar da CIF fornecer uma extensa cobertura dos fatores relacionados à função e estruturas corporais, às atividades (por exemplo, comunicação, mobilidade, auto cuidados, etc.) e à participação em situações cotidianas, a cobertura das características infantis é limitada [14]. Assim sendo, a OMS em 2007 publicou uma versão derivada da CIF destinada ao uso com crianças e adolescentes, a International Classification of Functioning, Disability and Health for Children and Youth (ICF-CY), sem tradução integral para o português até o presente momento. A ICF-CY em estudo recente demonstrou-se uma ferramenta útil, entretanto, segundo os autores, algumas questões podem ser discutidas e desenvolvidas para facilitar sua implementação na prática clínica [21]. A CIF emprega um sistema alfanumérico no qual as letras “b”, “s”, “d” e “e” são utilizadas para indicar respectivamente os componentes Funções do Corpo, Estruturas do Corpo, Atividades e Participação (quando um item do componente Atividades e Participação é utilizado como atividade a letra “d” é substituída pela letra “a”, e quando utilizado como participação substitui-se pela letra “p”) e Fatores Ambientais. Essas letras são acompanhadas por um código numérico que começa com o número do capítulo (um dígito), seguido pelo segundo nível (dois dígitos) e o terceiro e quarto níveis (um dígito cada) [6,15]. Na tabela II é apresentado um exemplo das subdivisões do capítulo 2 (Funções sensoriais e dor) do componente Funções Corporais. Tabela II - Níveis hierárquicos da CIF. Nível Componente Capítulo Segundo nível Terceiro nível Quarto nível Código b b2 b280 b2801 b28013 Descritor Funções do corpo Funções sensoriais e dor Sensação de dor Dor localizada Dor nas costas É importante salientar que a CIF não é uma instrumento de avaliação ou um sistema de registro, ela é uma classificação onde os descritores estão organizados em uma ordem lógica e hierárquica [6]. Os profissionais envolvidos no uso da CIF devem utilizar instrumentos de avaliação padronizados para a seleção dos códigos que melhor caracterizem a funcionalidade dos indivíduos. Para tanto, é recomendado selecioná-los comparando as variáveis clínicas em que se está interessado, com as variáveis mensuradas pelo instrumento. Após a seleção do instrumento de avaliação é necessário traduzir/vincular a linguagem técnica deste com a terminologia utilizada pela 62 Fisioterapia Brasil - Volume 11 - Número 6 - novembro/dezembro de 2010 CIF. Para facilitar esta conversão podem ser usadas as regras de vinculação publicadas por Cieza et al. em 2005 [2,6,22]. Para obter informações descritivas acerca da funcionalidade através do uso da CIF é necessária a utilização de qualificadores junto aos códigos. Qualificadores são indicadores numéricos que especificam a extensão ou magnitude da funcionalidade ou da incapacidade naquela categoria, ou em que medida um fator ambiental facilita ou constitui um obstáculo para o indivíduo. Sem os qualificadores, os códigos não tem significado quando usados para avaliar a situação de saúde de indivíduos ou em estudos de caso. Os qualificadores são codificados usando um, dois ou mais dígitos após um ponto [11,15,16]. As funções do corpo são codificadas com um qualificador que indica a extensão da deficiência. As estruturas do corpo são codificadas com três qualificadores. O primeiro descreve a extensão ou grau da deficiência, o segundo é utilizado para indicar a natureza da mudança e o terceiro indica a localização da deficiência. Atividades e Participação são codificadas com dois qualificadores: o qualificador de desempenho que descreve o que o indivíduo faz no seu ambiente habitual, e o qualificador de capacidade, que descreve a aptidão do indivíduo para executar uma tarefa ou ação. Finalmente os fatores ambientais são codificados por um qualificador que indica se determinado fator é um facilitador ou uma barreira para a participação do indivíduo como um membro da sociedade, no desempenho de suas atividades ou mesmo sobre alguma de suas funções ou estruturas corporais [15]. O excessivo número de descritores da CIF, mais de 1500 [23], faz com que o uso desta se torne excessivamente complexo e impreciso, visto a multiplicidade de aspectos que podem ser classificados durante a avaliação de um indivíduo [24,25]. Esta ainda pode apresentar pouca reprodutibilidade, caso não haja uma sistematização da observação, direcionando o profissional responsável pela classificação para os aspectos mais relevantes da funcionalidade e saúde do indivíduo [24,25]. Desta forma, tornou-se imprescindível o desenvolvimento de um instrumento que focasse a atenção do avaliador para os componentes da saúde que descrevem melhor a funcionalidade de pacientes com condições e situações específicas de saúde [23,24]. Nessa perspectiva, a OMS propôs uma lista criada a partir da CIF, contendo as condições mais importantes a serem levantadas durante a avaliação do paciente. Essa checklist é composta por 152 categorias que representam os domínios mais relevantes da CIF [10]. Além da checklist, destacam-se os Core Sets para algumas condições crônicas. Estruturados como listas de categorias da CIF relevantes para a avaliação e descrição da funcionalidade de condições específicas de saúde, os Core Sets da CIF representam uma forma de tornar viável o uso desta tanto no meio clínico quanto no acadêmico [27,28]. Sua criação baseou-se num processo de evidência a partir de revisões sistemáticas e questionamento de profissionais e pacientes, bem como pela obtenção de consenso em painéis internacionais de especialistas [26]. Inicialmente foram criados Core Sets para as seguintes condições de saúde: dor crônica generalizada, dor lombar, osteoartrite, osteoporose, artrite reumatóide, doença cardíaca isquêmica crônica, câncer de mama, depressão e acidente vascular encefálico [26]. Sendo que cada um destes Core Sets da CIF apresentam duas versões: a abrangente e a resumida [23,28]. Enquanto a versão resumida de um Core Set da CIF objetiva incluir o mínimo de categorias possível para ser prático em qualquer situação ou cenário, um Core Set abrangente da CIF deve incluir as categorias que compõem toda a extensão dos problemas funcionais tipicamente encontrados em pacientes com uma condição de saúde específica [28]. A adoção da CIF pela fisioterapia oferece vários benefícios em todos os âmbitos da profissão, seja no clínico, no acadêmico ou no científico. Em primeiro lugar a CIF pode ser utilizada como um modelo de documentação padronizado de âmbito multidisciplinar quanto à funcionalidade e incapacidade de um paciente, baseado na sua história, exame e avaliação. Mais importante, a CIF surge como uma solução para a padronização da linguagem técnica, relacionada à funcionalidade, para os profissionais da área da saúde. Atualmente, existe uma gama diversificada de linguagens (como diferentes escalas e testes, por exemplo) para a expressão do quadro funcional de indivíduos. Esta não permite uma comunicação eficaz entre profissionais de todo o mundo, inclusive na exposição de resultados de trabalhos científicos [17,29]. O uso do modelo de funcionalidade e incapacidade humana utilizado pela CIF permite, ainda, que o fisioterapeuta considere um perfil funcional único para cada indivíduo em sua prática clínica, promovendo um tratamento orientado pelas necessidades do paciente ao invés de um tratamento orientado pela doença. Desta forma, o profissional é capaz de identificar as capacidades e limitações nos três níveis que envolvem a saúde e traçar uma conduta baseada nas necessidades individuais do paciente [18,30]. Além disso, na clínica a CIF permite relacionar doenças à qualidade de vida do indivíduo através do acompanhamento da evolução dos pacientes, da análise do impacto das diversas técnicas de tratamento e da avaliação do grau de incapacidade ocasionado pelos diferentes níveis de cada doença ou lesão [13]. O emprego da CIF pode, até mesmo, aperfeiçoar a comunicação entre o fisioterapeuta e o paciente, visto que esta apresenta uma linguagem compreensível aos leigos. É mais fácil para o paciente entender sua funcionalidade e saúde, objetivos do tratamento, e os planos de intervenção quando estes estão fundamentados em uma linguagem acessível ao mesmo [20]. No meio acadêmico a CIF pode ser usada como um modelo que permita o entendimento das relações entre a funcionalidade e a incapacidade, especialmente por demonstrar que a incapacidade é um processo que sofre interferência de diversos fatores e não um estado ou simplesmente a consequência de uma doença [17]. Fisioterapia Brasil - Volume 11 - Número 6 - novembro/dezembro de 2010 Enquanto que na pesquisa, a CIF pode atuar como uma referência para a comparação de resultados de diferentes tipos de instrumentos de avaliação facilitando, desta forma, a seleção do instrumento mais apropriado para cobrir eficientemente os domínios da funcionalidade na prática clínica ou em estudos [17]. Finalmente, a implantação da CIF nas políticas públicas de saúde pode resolver um problema de ordem financeira, uma vez que em muitos países a indicação para realização de fisioterapia ainda está baseada no diagnóstico da doença, classificado pela CID [5]. Contudo, a doença apresentada pelo paciente, mesmo que relevante, não deve ser utilizada de forma exclusiva para nortear a definição da conduta do fisioterapeuta, que requer um modelo orientado pela função como ponto de partida para o seu trabalho [5,31]. Portanto, se o sistema de pagamento for baseado na doença e não na funcionalidade, este não refletirá as reais necessidades da intervenção fisioterapêutica e não será fidedigno [5]. Conclusão A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde é uma ferramenta multidisciplinar que tem por função descrever a funcionalidade associada às condições de saúde, registrando assim o impacto destas condições sobre a vida dos indivíduos. Seu objetivo primordial é proporcionar a padronização da linguagem e fornecer um modelo para a descrição da saúde e dos estados relacionados a esta, bem como de seus determinantes e consequências. A adoção da CIF pela fisioterapia traz como contribuição: a padronização da linguagem, permitindo aos profissionais envolvidos no processo de reabilitação uma comunicação eficaz; a facilitação do desenvolvimento de condutas terapêuticas baseadas nas reais necessidades do paciente; o aperfeiçoamento da comunicação fisioterapeuta paciente; a simplificação da escolha dos instrumentos de avaliação mais adequados para os diferentes domínios da funcionalidade; e, por último, mas provavelmente o mais importante, estabelece um paradigma que focaliza a funcionalidade do indivíduo como um sistema onde múltiplos fatores se encontram em interação, reforçando o modelo biopsicosocial e privilegiando o olhar sobre as dificuldades que os diferentes estados de saúde podem infligir ao ser humano. Referências 1. 58th World Health Assembly, Resolution WHA58.23: Disability, including prevention, management and rehabilitation. Geneva: WHO; 2005. 2. Rauch A, Cieza A, Stucki G. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 65 Revisão Modulação metabólica pelo exercício e manejo de recursos ergogênicos na doença pulmonar obstrutiva crônica Metabolic modulation by exercise and ergogenic aids in treatment of chronic obstructive pulmonary disease Flavio Ignacio Bachini*, Adriana Bassini**, Luiz-Claudio Cameron*** *Laboratório de Bioquímica de Proteínas, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Educação Física e Desporto – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal, **Laboratório de Bioquímica de Proteínas – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Genética e Bioquímica – Universidade Federal de Uberlândia, ***Laboratório de Bioquímica de Proteína – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Genética e Bioquímica – Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana – Universidade Castelo Branco Resumo Abstract Introdução: A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é um dos focos dos projetos de saúde pública cursando com alta incidência e prevalência em adultos e idosos. A abordagem terapêutica a DPOC compreende o entendimento das vias moleculares de inflação, degradação proteica e hipertrofia. Objetivo: Discutir as vias de sinalização para hipotrofia/hipertrofia adjuntas as diferentes suplementações para o paciente com DPOC compensada. Método: Foram cotejados e analisados artigos publicados em revistas presentes na base de dados da PubMed, utilizando-se palavras em inglês como: amino acids supplementation, COPD, hypertrophy pulmonary rehabilitation em diferentes combinações, mas sempre com a palavra COPD presente. Resultados: O exercício é um estressor metabólico que aumenta a mobilização de aminoácidos e a inflamação local e aguda com sinalização para síntese proteica. Diferentes peptídeos de produção rápida estão envolvidos neste mecanismo com modulação no status muscular, sendo a intensidade e a velocidade de execução do exercício os principais mediadores do processo. A suplementação nutricional e hormonal associadas a um programa de exercícios são estratégias que aumentam a força e resistência muscular e reduzem o risco de internação e êxito letal. Conclusão: O exercício é uma intervenção não farmacológica efetiva no tratamento de pacientes com doença metabólica subsequente a DPOC. A utilização de fármacos e suplementos nutricionais é factível na terapêutica cotidiana do profissional de saúde com a finalidade de aumentar massa magra e resistência física. Background: Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is one the most important challenge in public health with high incidence and prevalence in adults and elderly. One of the challenges is the understanding of molecular inflammation and protein breakdown pathways. Objective: To review the signaling pathways of hypertrophy/hypotrophy associated to different supplementations with COPD patient compensation. Results: Were analyzed recent articles in the PubMed database, using words as: amino acids supplementation, COPD, hypertrophy pulmonary rehabilitation in different combinations, but with the word COPD always present. Conclusion: Exercise is an effective non pharmacological intervention in treatment of patients with metabolic disease subsequent to COPD. Drugs and nutritional supplementations are useful in daily treatment in order to increase lean mass and physical resistance. Key-words: cachexia, supplementation, amino acids, hypertrophy, catabolism, rehabilitation. Palavras-chave: caquexia, suplementação, aminoácidos, hipertrofia, catabolismo, reabilitação. Recebido em 9 de junho de 2010; aceito em 20 de dezembro de 2010. Endereço para correspondência: Luiz Cláudio Cameron, Av. Pasteur, 296, Térreo, Urca 22290-240 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2542-5280, E-mail: [email protected], [email protected] 66 Introdução O aumento da expectativa de vida associado a fatores ambientais ou sociais e o consequente envelhecimento da população produz o aumento da incidência da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) [1]. No Brasil são 46.311.580 portadores de DPOC. Destes 11.011.720 ainda são tabagistas e até 2004 houve 191.681 internações no Sistema Único de Saúde com indivíduos maiores de 40 anos [2], caracterizando a DPOC como a terceira maior causa de morte em idosos e justificando o interesse da comunidade científica em estudar possíveis processos terapêuticos para minimizar seus efeitos [3]. O processo inflamatório sistêmico na DPOC provavelmente se inicia com a instalação da caquexia. Diversos eventos atuam sinergicamente ao alojamento da caquexia, entre eles a hipóxia; anorexia; o hipermetabolismo; insuficiência de hormônios anabólicos e o déficit nutricional [4]. Este somatório de modificações metabólicas induz a insuficiência da musculatura respiratória e periférica que pode resultar em perda da capacidade física, aumento da incidência e prevalência em internações e morte [5-7]. Para retardar a instalação deste quadro, diferentes abordagens vêm sendo propostas na terapêutica da DPOC. Estas envolvem o exercício físico; o uso de hormônios anabólicos e a suplementação nutricional, incluindo aminoácidos, creatina e carboidratos [4,8-12]. O objetivo desta revisão é discutir as vias de sinalização extracelular e sua resposta intracelular para hipertrofia e/ou hipotrofia adjunta às diferentes suplementações eficientes ao indivíduo com DPOC compensado. Método Foram cotejados e analisados artigos publicados em revistas presentes na base de dados da PubMed, utilizando-se palavras em inglês como: amino acids supplementation, COPD, hypertrophy pulmonary rehabilitation em diferentes combinações, mas sempre com a palavra COPD presente. O exercício no portador de DPOC A redução da capacidade física em indivíduos portadores de DPOC é causada por uma sinergia de fatores associados diretamente ao envelhecimento [1]. Entre eles a baixa capacidade oxidativa celular, dispnéia, hiperinsuflação dinâmica, baixa tolerância a esforços, hipoxemia, anemia e redução da força muscular associada à inatividade[1,4-6,13]. As citocinas têm ação local e sistêmica de forma parácrina e autócrina. Tem sido descrito que a anemia pode ser resultante da inflamação sistêmica causada pela produção excessiva de citocinas (IL-6, TNF- e interferon-). Estas citocinas inibem a síntese de eritropoetina com consequente diminuição na maturação da hemácia, dificultando o transporte de gases e acidificação do sangue [5]. A redução da oxidação mitocon- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 drial, das razões ATP/ADP e fosfocreatina/creatina (CrP/Cr) junto ao aumento da atividade glicolítica limitam o exercício podendo diminuir a capacidade de realização das atividades de vida diária e aumentar o tempo de internação [9,14]. Um programa de reabilitação objetiva intervir nestas diferentes alterações melhorando os sintomas no paciente com DPOC [6,7,15-17]. A hipótese mais estudada na última década sobre processos regenerativos celulares compreende a ação de citocinas, hormônios anabólicos e células satélites para a adaptação muscular [8,17,18]. O exercício classicamente aumenta a força e a capacidade física ocasionando melhora clínica do sujeito [8]. Porém os mecanismos moleculares envolvidos na hipertrofia e hipotrofia da DPOC são pouco compreendidos [1,8,18]. O exercício de endurance é capaz de diminuir a frequência respiratória de repouso pela redução da ventilação por minuto e do espaço morto fisiológico, com subsequente aumento da taxa de eliminação do CO2 [19]. O treinamento reduz a liberação de catecolaminas e aumenta a captação e utilização de O2. Ademais o exercício aumenta a angiogênese e a capacidade oxidativa mitocondrial [20]. Estes eventos juntos culminam em maior eficiência metabólica e recuperação tecidual [8,20,21]. A inflamação desempenha uma das principais funções na resposta muscular ao exercício no paciente com DPOC, podendo induzir a sinalizações antagônicas de síntese e degradação protéica [22,23]. O exercício estimula a síntese protéica pela ação hormonal que inicia uma cascata de sinalização através da fosforilação da proteína cinase B (AKT ou PKB), via mammalian target of rapamycin (mTOR), ativando a porção de 70 kDa do ribossomo [70 kDa ribosomal S6 protein kinase (p70SK6)] e o fator de iniciação 4e [eukaryotic initiation factor 4e binding protein1 (4e-BP1)] e inativando a síntese de proteína via glycogen synthase kinase-3- (GSK3) e eukaryotic initiation factor 2B (eIF2B). Durante este processo há translocamento do Forkhead box O (Foxo) defosforilado do núcleo para o citoplasma (forma inativa) sendo responsável pela redução da expressão de atrogina-1 e muscle ring finger-1 (MuRF-1), sendo estes os sinalizadores de hipotrofia [24]. A inatividade e o aumento da produção de proteínas sinalizadoras envolvidas na caquexia são apontados como causas da redução de massa magra no DPOC [8,22]. Em ratos foi observado que a imobilidade pode levar a desnervação e aumentar a síntese de Foxo [17]. Seguindo o modelo animal foi demonstrado que a imobilidade no DPOC aumenta a síntese de proteína Foxo e atrogina-1, embora não tenha sido demonstrado aumento da expressão da Murf-1[8,17]. Contudo, é conhecido que o TNF- induza a ativação do eixo activation of the IB kinase/nuclear factor-kappa B (IK/NFB) que por sua vez ative a síntese de MuRF-1 [25]. Portanto, é possível que a inflamação pró-inflamatória no DPOC por algum mecanismo desconhecido não sinalize o aumento da síntese de MuRF -1 [8]. Neste sentido, o aumento da síntese de Foxo e ativação do eixo IK/NFB levam a proteólise com consequente hipotrofia no DPOC [8,17,25]. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Figura 1 - Sinalização metabólica para a reparação tecidual na DPOC. Sinalizadores hipertróficos exercícios com sobrecarga Sinalizadores hipertróficos Inflamação Mudança de fibra crônica Expressão de GLUT4 Biogenêse mitocondrial Imobilidade citocinas Ca+2 TNF-D, IL-1, IL-6 IGF1, MGF, insulina Inervação motora estímulo de GH miofibrila AKT PPAR/PGC-1α PI3K Miostatina GSK3β mTOR p21 elF2B P70S6K E4-BP1 Célula satélite Foxo MyoD IKK NF-kβ p38 MuRF-1 Atrogin-1 Síntese Degradação protéica Hipertrofia Hipotrofia protéica Lâmina basal A inatividade e a inflamação sistêmica são responsáveis pela hipotrofia. Para reduzir estes efeitos, a intervenção terapêutica com lenta execução do exercício inicia os mecanismos moleculares de hipertrofia. Considerando os estudos até a presente data, não se pode indicar o TNF- como único responsável pela redução de massa magra e inflamação nos pacientes com DPOC [18]. O TNF- foi encontrado em baixa concentração em pacientes apresentando hipotrofia [16,18]. Sugere-se que outros mediadores inflamatórios como a IL-1 e IL-6 ativem diretamente NFB, independentemente de IK, e bloqueie a expressão e síntese do fator D de diferenciação miogênica (MyoD) [18]. Na DPOC há redução na síntese de IGF-1 e MyoD e superexpressão de AKT que demonstra uma falha do músculo na tentativa de recuperar-se da hipotrofia [8,18]. Neste sentido, o exercício é a intervenção não farmacológica de escolha para induzir a hipertrofia nos pacientes com DPOC [26,27]. A sinalização de Ca2+ durante o exercício aumenta a expressão de (PGC1-) nas fibras do tipo II até níveis encontrados nas do tipo I [27]. A PGC1- é responsável pela mudança do tipo de fibra II para I, biogênese mitocondrial e incremento do transportador de glicose 4 (GLUT4) [16,27]. Num elegante estudo, Vogiatzis observou que na DPOC o exercício contribuiu para o aumento da capacidade oxidativa celular pela mudança no tipo de fibra de IIb para IIa [8]. Portanto, a redução da PGC1- e peroxisome proliferator activated receptors (PPAR) podem explicar a menor taxa do metabolismo oxidativo, o aumento da resistência insulínica, a perda de massa magra e a redução da capacidade física na DPOC [8,17,23]. A velocidade de execução do exercício é importante no aumento da massa muscular e pode determinar a sinalização para degradação ou síntese protéica. Foi observado que o exercício de contração excêntrica rápida aumenta a síntese de Foxo e miostatina levando a degradação muscular [28]. Enquanto exercícios de contração lenta aumentam a síntese de proteína por AKT e P70S6k [28]. 67 Assim, o exercício com execução lenta pode induzir o aumento do metabolismo oxidativo em pacientes com DPOC e acelerar o processo de recuperação [8,28]. A musculatura esquelética dos portadores da DPOC ao longo do envelhecimento mantém a capacidade de recuperação e resposta aos hormônios anabólicos [18]. No exercício de endurance este efeito acontece sem mudança nos níveis de mediadores inflamatórios (TNF- e IL-6) [8,18]. Esta regulação parece ser mediada por IGF-1 e MGF que ativam a expressão de MyoD, reduzindo a ativação de miostatina nas células satélites [18]. Portanto, a compreensão dos mecanismos que controlam a hipertrofia no DPOC será importante para uma melhor prescrição da reabilitação e resposta ao treinamento. Durante a injúria metabólica no músculo esquelético este responde com o aumento da exportação de aminoácidos para o plasma [7]. Este evento pode contribuir para acelerar a perda muscular da DPOC, pois diminui a disponibilidade de aminoácidos para síntese muscular [21]. A redução do fluxo de aminoácidos e a síntese de ureia pós-exercício de baixa intensidade em resposta a demanda de ATP dificulta a intervenção terapêutica imediata visando anabolismo em pacientes com enfisema [9]. A alanina e a glutamina são substratos para gliconeogênese ou ureagênese a partir do glutamato [29]. O aumento da degradação protéica no exercício pode levar a redução da concentração de glutamato muscular resultante da sua transaminação para alanina e síntese de 2-oxoglutarato [30]. Este alfa-cetoácido poderá ser utilizado para manter o pool de intermediários do ciclo de Krebs e aumento da produção de NAD e FAD reduzidos [30]. O aumento do catabolismo do glutamato intracelular também pode resultar em aumento da concentração de piruvato e lactato que podem ser descarboxilados a acetil e utilizados em Krebs [21]. Devido ao elevado turnover de glutamato, não há quantidade de substrato disponível para a síntese de glutationa (importante protetor do stress oxidativo celular) e culminará em aumento das lesões musculares [31]. (Figura 2) Figura 2 - Metabolismo de aminoácidos no músculo dos pacientes. Aminoácidos de cadeia ramificada Glutamina Alanina Glutamato Glicose Plasma Músculo Aminoácidos de cadeia ramificada 2-oxoglutarato Alanina Glicogênio Aminoácidos de cadeia Glicose ramificada Glutamato Glutamina NH4 Piruvato Piruvato Lactato Esqueletos carbonados derivados de proteólise Acetil-CoA 2-oxoglutarato Ciclo do ácido Tricarboxílico A prevalência está na oxidação de BCAA e glutamato para fornecerem intermediários ao ciclo de Krebs durante o exercício. E na síntese de glutamina e alanina que serão metabolizadas no fígado para a produção de uréia. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 68 Dessa forma, o exercício no paciente com DPOC caquético é uma terapêutica não farmacológica que visa melhorar a capacidade funcional reduzindo a fadiga do sistema respiratório e sistêmica [4,7,8] . Suplementação A caquexia na DPOC é produzida pela anorexia, envelhecimento e inflamação sistêmica [4]. Podendo ser agravada pela intensidade do treinamento, anemia, hipóxia (crônica e intermitente) e resposta inadequada à dieta [1,4,5]. Intervenções ergogênicas podem ser utilizadas na tentativa de minimizar os efeitos negativos do exercício e da caquexia auxiliando na recuperação funcional [32]. Ainda não há consenso nas recomendações específicas sobre suplementação na DPOC. Considerando a clássica literatura em suplementação/ complementação com função nutricional e ergogênica, acredita-se ser benéfico o aumento de sinalizadores inflamatórios e a comunicação entre órgãos direcionando a processos anabólicos [18, 33]. Além disso, os locais de maior estresse metabólico são favorecidos pelo aumento de substrato e síntese de enzimas. Dessa forma, o objetivo da suplementação no DPOC é auxiliar no anabolismo e melhorar a capacidade funcional [33]. Há pouco conhecimento disponível sobre a capacidade de regeneração da musculatura estriada esquelética em DOPC [33]. Dentre elas, sugere-se que a síntese protéica está mantida nos indivíduos que tem massa magra preservada onde as suplementações ergogênicas promoveriam o anabolismo [13,33]. Relatos têm demonstrado que uma parcela substancial da síntese protéica ocorre em proteínas de housekepping e do metabolismo energético, em detrimento das sarcoméricas [8,18]. Estratégias que privilegiem esta sinalização devem ser melhor estudadas e empregadas. Experimentos realizados em humanos e murinos portadores de DPOC não evidenciaram alterações específicas no metabolismo de aminoácidos intermediários [7]. Estes resultados são consistentes em dois tópicos: 1) a baixa concentração de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) que está relacionada ao grau de perda muscular; e 2) a diminuição da concentração intracelular de glutamato com redução da síntese de glutationa e aumento da produção de lactato [7]. Assumindo esta hipótese como verdadeira, as alterações do metabolismo de aminoácidos intermediários podem resultar na fraqueza dos músculos periféricos e respiratórios que levam ao aumento da dispnéia e redução da tolerância aos esforços [9,10]. Considerando estes fatos a dieta terapêutica em pacientes com DPOC objetiva o equilíbrio energético positivo e o aumento da retenção de nitrogênio com consequente incremento da capacidade funcional [9,18]. Durante a evolução da DPOC a suplementação com BCAA pode prevenir a perda ponderal nos sujeitos que ainda não evoluíram para caquexia [34]. No exercício os BCAA intramusculares são oxidados a glutamato aumentando o pool dos intermediários do ciclo de Krebs e a produção de ATP [35]. A suplementação durante o repouso com BCAA e associação com outras fontes de proteína favorece a síntese de proteína muscular contrátil num mecanismo sinalizado por mTOR [34]. Na DPOC o glutamato e a glutamina tem mobilização exacerbada para o plasma e podem seguir vias metabólicas diferentes com função anaplerótica [29]. Por exemplo, em repouso a suplementação de glutamato induz a síntese de ornitina no intestino que é liberada na circulação e utilizada pelo fígado para a produção de uréia [30]. A glutamina em suplementação oral, após absorção pode ser metabolizada a carbamoil fosfato e citrulina possibilitando a síntese de arginina pelos rins [29]. (Tabela 1) Tabela I - Suplementação durante a reabilitação e seus efeitos. Autor Tipo de suplementação Fase de reabilitação Antes 30 mg.kg-1 29,8 mg.kg-1 Durante Rutten et al. [29] Glutamato glutamina Rutten et al. [30] glutamato Fuld et al. [36] creatina 15 g.dia-1 por 14 dias Faager et al. [12] creatina 0,3 g.kg-1 .dia-1 por 0,07 g.kg-1 .dia-1 por 70 7 dias dias 22 g.dia-1 por 5 dias 3,76 g.dia-1 por 70 dias Deacon et al. [37] creatina Efeito 30 mg.kg-1 a cada 20 min. num total de 80 min. 5 g.dia-1 por 70 dias Síntese de ornitina; Síntese de carabamoil-fosfato, citrulina e arginina Síntese de 2-oxoglutarato fornecendo intermediários ao ciclo de Krebs Massa livre de gordura; Força dos músculos periféricos; Endurance Não demonstrou efeito adicional ao treinamento Concentração de creatina intracelular; Não houve efeito adicional ao treinamento As diferentes formas de suplementar creatina apresentam resultados conflitantes em seus efeitos nos pacientes com DPOC. Os resultados com glutamato e glutamina são consistentes e demonstram que estes aminoácidos serão metabolizados no intestino para produzir substratos utilizados no fígado, nos músculos e nos rins. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 Durante a suplementação aguda e intermitente de glutamato, durante o exercício, há maior disponibilidade deste substrato para os eventos metabólicos. Nesta situação o glutamato é basicamente utilizado para síntese de 2-oxoglutarato fornecendo intermediário ao ciclo de Krebs [30]. Ademais, parece haver consenso entre artigos que investigaram a suplementação de glutamato intermitente na DPOC por previnir futuros distúrbios metabólicos [30,31]. A creatina fosfato é outra forma de armazenamento de substrato no músculo de fácil e rápida utilização. A suplementação de creatina 14 dias antes e durante 70 dias da fase de reabilitação demonstrou aumento na massa livre gordura, na força dos músculos periféricos e no endurance [36]. Dois motivos principais são descritos para os efeitos observados com a suplementação com creatina: 1) a retenção hídrica pode aumentar falsamente a massa livre de gordura e não explicar a melhora do desempenho muscular; 2) O aumento nos níveis citoplasmáticos de CrP em repouso e sua velocidade de ressíntese após o exercício podem explicar a melhora na resistência física e aumento da MLG [36]. Contudo, a suplementação durante uma semana seguida de reabilitação de sete semanas com dose de manutenção não demonstrou efeito adicional ao treinamento [12]. Corroborando com estes resultados, Deacon et al. administraram suplementação de creatina em dosagens superiores as descritas anteriormente. A estratégia usada foi capaz de aumentar a concentração de creatina intracelular, mas não houve efeito adicional do treinamento [37]. Assim, a ação terapêutica da creatina na DPOC não está clara. A creatina pode afetar negativamente pacientes com doenças respiratórias. A suplementação em ratos demonstrou aumentar a inflamação alérgica pulmonar, a hiperresponsividade e o remodelamento das vias aéreas [38]. Entretanto, o exercício de baixa intensidade é capaz de reduzir os efeitos deletérios da creatina no pulmão de ratos [39]. Desta forma, há evidências de que a administração de creatina pré-exercício possa exacerbar e piorar os sintomas das doenças respiratórias [38]. Em pacientes DPOC caquéticos ou com dificuldade em apresentar melhora durante a reabilitação, algumas vezes são necessárias intervenções farmacológicas para o ganho de massa magra e força [40]. A administração do hormônio GH, por exemplo, em pacientes desnutridos aumenta a MLG, o desempenho físico e reduz a dispnéia [40]. Pacientes com DPOC caquéticos apresentam hipogonadismo e baixas concentrações de testosterona que podem implicar na redução de massa magra [41-43]. O uso de estanazolol, forma sintética da testosterona administrada oralmente, associado ao exercício dos músculos respiratórios e membros inferiores em desnutridos culminam em aumento da MLG, mas sem melhorar o endurance [44]. No entanto, foi verificado que o uso de testosterona amplifica os efeitos do treinamento nos pacientes com DPOC em caquexia, melhorando a força e resistência [42]. 69 A síntese de proteína contrátil seguida de hipertrofia pode ser mediado pelo estímulo da testosterona e de IGF-1 que induz o aumento da MyoD [43]. A nandrolona, esteróide anabólico derivado da testosterona, também melhorou a capacidade física e reduziu a velocidade de hipotrofia do diafragma devido ao aumento na eritropoiese e da oferta de O2 [45,11]. A oxandrolona também conseguiu aumentar a massa corporal, mas não melhora a função pulmonar [46]. Portanto, estes agentes anabólicos sinalizam para o aumento do peso corporal, contudo há controvérsias no que diz respeito ao desenvolvimento do desempenho físico. A suplementação de carboidrato, assim como os esteroides anabólicos, associada a um programa de reabilitação redundou em aumento de peso, mas não conseguiu demonstrar melhora da capacidade física [33]. Foi demonstrado em homens saudáveis que a ingestão de glicose reduz a produção de IL-6 plasmática e do seu receptor no músculo [47]. Este dado demonstra que a glicose pode ter efeito redutor na caquexia destes pacientes. A suplementação com carboidrato ou ácidos graxos polinsaturados podem ser aplicados na prática clínica, contudo, ainda há pouca evidência da sua administração aos pacientes com DPOC objetivando ganho de massa magra e aumento da capacidade física. A suplementação com ácidos graxos poliinsaturados aumenta a capacidade física, mas sem elevar a MLG [48]. Interessantemente, óleo de oliva tem polinsaturados que são ativadores conhecidos de PPAR que podem culminar em melhora da capacidade oxidativa e diferenciação na composição das fibras musculares [15]. Ferreira et al. destacam a associação de suplementos/fármacos/exercício deve ser associada ao tratamento de pacientes com DPOC, disponibilizando substrato para amplificar a síntese de proteínas e produção de energia durante a atividade física com aumento nas medidas antropométricas e melhora na capacidade física [32]. Conclusão O exercício no paciente com DPOC caquético é uma terapêutica não farmacológica que visa reduzir a fadiga, melhorar a capacidade funcional e aumentar a sobrevivência. O programa de exercício objetiva intervir nas alterações musculares e melhorar os sintomas do paciente com DPOC pela síntese de vários peptídeos e receptores intracelulares regulatórios sem aumentar o catabolismo. Destacamos que a velocidade de execução do movimento interfere na via de sinalização que será ativada aumentando a síntese ou a degradação protéica. Durante o exercício, pacientes com DPOC apresentam aumento da exportação de aminoácidos glicocetogênicos para o sangue na tentativa de manter o equilíbrio energético. Em geral, a suplementação com BCAA, glutamato e glutamina funciona para suprir a demanda de ATP celular. Assim, os indivíduos não caquéticos podem beneficiar-se das estratégias de suplementação e exercício sinalizando hipertrofia e ganho de massa magra. Nota-se que as intervenções com 70 GH, testosterona e seus derivados demonstram reduzir os efeitos da caquexia. Suplementos como creatina, carboidrato e ácidos graxos poliinsaturados são pouco estudados e precisam de melhor detalhamento metodológico para sua administração. Desta forma o portador da DPOC poderá se beneficiar de programas de treinamento físico e nutricional que, através de mecanismos sinalizadores e regulatórios da hipertrofia, reduzam os efeitos da caquexia, amplifiquem as atividades de vida diária e aumentem a sobrevida. Referências 1. 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Am J Respir Crit Care Med 2000;161(1):98-103. 32. Ferreira IM, Brooks D, Lacasse Y, Goldstein RS. Nutritional support for individuals with COPD: a meta-analysis. Chest 2000;117(3):672-8. 33. Steiner MC, Barton RL, Singh SJ, Morgan MD. Nutritional enhancement of exercise performance in chronic obstructive pulmonary disease: a randomised controlled trial. Thorax 2003;58(9):745-51. 34. Engelen MP, Rutten EP, De Castro CL, Wouters EF, Schols AM, Deutz NE. Supplementation of soy protein with branchedchain amino acids alters protein metabolism in healthy elderly and even more in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Am J Clin Nutr 2007;85(2):431-9. 35. Kutsuzawa T, Shioya S, Kurita D, Haida M. Plasma branchedchain amino acid levels and muscle energy metabolism in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Clin Nutr 2009;28(2):203-8. 36. Fuld JP, Kilduff LP, Neder JA, Pitsiladis Y, Lean ME, Ward SA, et al. Creatine supplementation during pulmonary rehabilitation in chronic obstructive pulmonary disease. Thorax 2005;60(7):531-7. 37. Deacon SJ, Vincent EE, Greenhaff PL, Fox J, Steiner MC, Singh SJ, et al. Randomized controlled trial of dietary creatine as an adjunct therapy to physical training in chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care Med 2008;178(3):233-9. 38. Vieira RP, Duarte AC, Claudino RC, Perini A, Santos AB, Moriya HT, et al. Creatine supplementation exacerbates allergic lung inflammation and airway remodeling in mice. Am J Respir Cell Mol Biol 2007;37(6):660-7. 71 39. Vieira RP, Duarte AC, Santos AB, Medeiros MC, Mauad T, Martins MA, et al. Exercise reduces effects of creatine on lung. Int J Sports Med 2009;30(9):684-90. 40. Burdet L, de Muralt B, Schutz Y, Pichard C, Fitting JW. Administration of growth hormone to underweight patients with chronic obstructive pulmonary disease. A prospective, randomized, controlled study. Am J Respir Crit Care Med 1997;156(6):1800-6. 41. Ferreira IM, Verreschi IT, Nery LE, Goldstein RS, Zamel N, Brooks D, et al. The influence of 6 months of oral anabolic steroids on body mass and respiratory muscles in undernourished COPD patients. Chest 1998;114(1):19-28. 42. Casaburi R, Bhasin S, Cosentino L, Porszasz J, Somfay A, Lewis M, et al. Effects of testosterone and resistance training in men with chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care Med 2004;170(8):870-8. 43. Lewis MI, Fournier M, Storer TW, Bhasin S, Porszasz J, Ren SG, et al. Skeletal muscle adaptations to testosterone and resistance training in men with COPD. J Appl Physiol 2007;103(4):1299310. 44. Ferreira I, Verreschi I, Nery L, Goldstein R, Zamel N, Brooks D, et al. The influence of 6 months of oral anabolic steroids on body mass and respiratory muscles in undernourished COPD patients. Chest 1998;114(1):19-28. 45. van Balkom RH, Dekhuijzen PN, van der Heijden HF, Folgering HT, Fransen JA, van Herwaarden CL. Effects of anabolic steroids on diaphragm impairment induced by methylprednisolone in emphysematous hamsters. Eur Respir J 1999;13(5):1062-9. 46. Yeh SS, DeGuzman B, Kramer T. Reversal of COPD-associated weight loss using the anabolic agent oxandrolone. Chest 2002;122(2):421-8. 47. Akerstrom T, Krogh-Madsen R, Petersen A, Pedersen B. Glucose ingestion during endurance training in men attenuates expression of myokine receptor. Exp Physiol 2009;94(11):1124-31. 48. Broekhuizen R, Wouters EF, Creutzberg EC, Weling-Scheepers CA, Schols AM. Polyunsaturated fatty acids improve exercise capacity in chronic obstructive pulmonary disease. Thorax 2005;60(5):376-82. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 72 Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das várias áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Submissões devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo ([email protected]). A publicação dos artigos é uma decisão dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial serão submetidas à revisão por pares anônimos. Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estudos em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo adotado (observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir o número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente registrada no Conselho Nacional de Saúde. 1. Editorial O Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acontecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos importantes publicados na própria revista. É realizada a pedido dos Editores, que podem publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas de atualidade. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em estudos com animais ou humanos. Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo (inglês e português), Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel ou Word. Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com resolução de 300 dpi. Literatura citada: Máximo de 50 referências. 3. Revisão São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento em alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia. Revisões consistem necessariamente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já publicados em revistas científicas. Será dada preferência a revisões sistemáticas e, quando não realizadas, deve-se justificar o motivo pela escolha da metodologia empregada. Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem necessariamente toda a história do seu tema, exceto quando a própria história da área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, metodologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão, conclusão e referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais. Literatura citada: Máximo de 50 referências. 4. Relato de caso São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas. Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do caso, Discussão, Conclusões e Referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras. Literatura citada: Máximo de 20 referências. 5. Opinião Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos autores: avanços recentes, política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses, críticas à interpretação de estudos originais e propostas de interpretações alternativas, por exemplo. A publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência do tema abordado. Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e não traz um resumo destacado. Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura. Literatura citada: Máximo de 20 referências. 6. Cartas Esta seção publica correspondência recebida, necessariamente relacionada aos artigos publicados na Fisioterapia Brasil ou à linha editorial da revista. Demais contribuições devem ser endereçadas à seção Opinião. Os autores de artigos eventualmente citados em Cartas serão informados e terão direito de resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem ser breves e, se forem publicadas, poderão ser editadas para atender a limites de espaço. A publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência do tema abordado. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL • Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página A4, formatados da seguinte maneira: fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. • Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e Figuras com algarismos arábicos. • Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, isoladas das ilustrações e do corpo do texto. • As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas excepcionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados (histologia, neuroimagem, etc). Página de apresentação A primeira página do artigo traz as seguintes informações: • Título do trabalho em português e inglês; • Nome completo dos autores e titulação principal; • Local de trabalho dos autores; • Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone e E-mail; Resumo e palavras-chave A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, deverá conter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode ultrapassar 200 palavras. Deve conter introdução, objetivo, metodologia, resultados e conclusão. Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. Agradecimentos Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoamericanas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme. br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplos: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995.p.465-78. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. 73 Envio dos trabalhos A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 456255, titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assinantes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por e-mail com o envio do artigo). Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à Editora, e deve conter: • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição; • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em outros meios além de anais de congresso; • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão cientes e de acordo com o envio do trabalho; • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável; • Telefones de contato do autor correspondente. • A área de conhecimento: ( ) Cardiovascular / pulmonar ( ) Saúde funcional do idoso ( ) Diagnóstico cinético-funcional ( ) Terapia manual ( ) Eletrotermofototerapia ( ) Orteses, próteses e equipamento ( ) Músculo-esquelético ( ) Neuromuscular ( ) Saúde funcional do trabalhador ( ) Controle da dor ( ) Pesquisa experimental /básica ( ) Saúde funcional da criança ( ) Metodologia da pesquisa ( ) Saúde funcional do homem ( ) Prática política, legislativa e educacional ( ) Saúde funcional da mulher ( ) Saúde pública ( ) Outros Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publicação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente para sua adequada formatação. Atlantica Editora [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 74 Information for authors - Physical Therapy Brazil Physical Therapy Brazil is indexed in LILACS (Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde), CINAHL, LATINDEX Abbreviation for citation: Fisioter Bras Physical Therapy Brazil (PTB) is a bimonthly journal and promotes clinical and basic studies, original researches and literature reviews related to Physical Therapy. Our readership includes physical therapist clinicians, researchers, educators, students and all health care professionals interested in rehabilitation sciences. PTB endorses the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals put forth by the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), with the main specifications below. The complete text in English of theses Uniform Requirements is available on the website of the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, in the current version of October 2007 (the complete text is also available in pdf on the website of Atlântica Editora, www.atlanticaeditora.com.br) Articles published in PTB may also be published in the electronic version of the Journal (Internet, CD-ROM), as well as other electronic support that arise in the future. By authorizing the publication in the journal, the authors agree with theses conditions. Articles should be sent by e-mail to the executive editor ([email protected]). The publication is an editor decision. All the manuscripts received that raise interest editorial will be submitted to anonymous peer-review. According to the Health National Council of Brazil, resolution 196/96, for all the studies involving human beings, the author should attach to the article the Ethics and Research Committee agreement, independently of the study design (observational, experimental or case study). The author should include the agreement register from the Ethics and Research Committee of the Hospital or University. This Committee must be registered by the Health National Council of Brazil. All submissions accepted for peer review are privileged communications. Author identity is kept confidential from reviewers, unless otherwise indicated. PTB reviews and considers a manuscript for exclusive publication with the understanding that the manuscript - including any original research findings or data reported in it - has not been published previously and is not under consideration for publication elsewhere, whether in print or electronic form. Authors agree to execute copyright transfer as requested during the submission process. Manuscripts published in PTB become the property of Atlantica Editora and may not be published elsewhere, in whole or in part, in print or electronic form, without the written permission of Atlantica Editora, which has the right to use, reproduce, transmit, derivate, publish, and distribute the contribution, in PTB or otherwise, in any form or medium. 1. Editorial The editorial comments recent events, technological innovations, or highlight important works published in the journal. It is written by editors, or invited experts. The editors can also invite experts to publish Opinions about recent or controversy subjects. 2. Original research article They are works resulting from scientific research data showing original findings of experience or observation, in studies with animals or human beings. Format: The text of original research article is divided into Abstract (Portuguese and English), Introduction, Material and Methods, Results, Discussion, Conclusion, Acknowledgments and References. Text: Manuscript should be typed single-spaced, maximum word length 30,000 characters (including title page, abstract, text, references, tables, figure legends and spaces). Maximum number of Tables: 6 (Excel ou Word) Maximum number of Figures and Figure Legends: 8 (.tif or .gif ) Maximum number of References: 50 3. Review This is a critical analysis of the current state of knowledge in any of the areas related to Physical Therapy. Literature review consists in analysis, synthesis and assessment of original papers already published in scientific journals. Preference will be given to systematic reviews, or, when impossible, the author should justify the choice for the methodology employed. Reviews will focus principally on topics of contemporary interest. Overviews of history, diagnostic strategies, and treatment approaches could be included. Format: The review contains Abstract (Portuguese and English), Introduction, Methods, Results (divided in topics if necessary), Discussion, Conclusion and References. Text: Manuscript should be typed single-spaced, maximum word length 30,000 characters (including title page, abstract, text, references, tables, figure legends and spaces). Maximum number of Tables: 6 (Excel ou Word) Maximum number of Figures and Figure Legends: 8 (.tif or .gif ) Maximum number of References: 50 4. Case Report Descriptive data of one or more clinical or treatment cases with similar characteristics. Only will be accepted reports of cases unusual, or rare diseases or changes with not expected evolution. The Case Report contains Abstract (Portuguese and English), Introduction, Case Report, Results, Discussion, Conclusion and References. Text: Manuscript should be typed single-spaced, maximum word length 10,000 characters (including title page, abstract, text, references, tables, figure legends and spaces). Maximum number of Tables: 2 (Excel ou Word) Maximum number of Figures and Figure Legends: 2 (.tif or .gif ) Maximum number of References: 20 5. Opinion This section publishes short articles, which express the personal opinion of the authors: recent advances, health policy, new scientific ideas, critic of original studies and proposals for alternative interpretations, for example. The publication is subject to evaluation of the editors. Format: The text of Opinions is free format, without abstract. Text: 5.000 characters. Figures and Tables: 1 References: 20 6. Letters This section publishes correspondence received, necessarily related to articles published in PTB or to the editorial line of the Journal. Other contributions should be addressed to the Opinion section. The authors of articles cited in letters will be informed and will have right of reply, which will be published simultaneously. The publication is subject to evaluation of the editors. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 GENERAL PREPARATION INSTRUCTIONS Articles submitted must be typed in a text processor (Word), single-spaced, on page A4, formatted as follows: Times New Roman font size 12, with all the text formatting, such as bold, italics, superscript. Tables (Word or Excel) should be numbered with Roman numerals, and Figures with Arabic numerals. The images must be in black and white and with quality graphics resolution (300 dpi). Photos and illustrations must be scanned and sent in .tif, .gif or like slides of Power Point. Colorful images will be accepted exceptionally, when is essential to the understanding of the results (histology, neuroimaging, etc). Do not send figures in Photoshop (.psd), CorelDraw (.cdr), or locked and encrypted PDFs. Use SI units of measure. A more conventionally used measurement may follow in parentheses. Make all conversions before manuscript submission. Assemble the manuscript in this order: Title Page, Abstract, Text, Acknowledgments and Funding Sources, References, Figure Legends, Tables and Figures. Title page The title page contains the following elements: • Full title in Portuguese and English • Complete authors’ names, academic degrees, and affiliations • Name and complete address for correspondence, telephone number and email address Abstract and key-words • Use the following headings: Objective, Material and Methods, Results, Conclusion. • Be concise (200 words maximum). • Do not cite references in the abstract. • Limit use of acronyms and abbreviations. Define at first use acronym or abbreviation in parenthesis. • Insert three to five key-words after abstract. Please refer to the key word list of the Health Virtual Library in http://decs.bvs.br. Text • Typical main headings include Methods, Results, Discussion and Conclusion. • Abbreviations must be defined at first mention. Acknowlegments Thanks to colleagues and funding sources should be inserted at the end of the article, before the References, in a separate section. References The literature references must follow the Vancouver style. The references must be numbered with Arabic numerals, the number mentioned in the text in brackets [ ], and listed in the order in which they appear in the text, following the standards of ICMJE. The titles of journals are abbreviated according to the List of Journals Indexed in Index Medicus or with the list of brazilian and latin american journals, on the site of the Virtual Library of Health (www.bireme.br). Cite all authors to 6 authors. When more than 6, use the Latin abbreviation et al. Exemples: Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995.p.465-78. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. (see complete specifications in www.atlanticaeditora.com.br or www.icmje.org) 75 How to submit a manuscript The evaluation of the work, including the sending of cards of acceptation, lists of corrections, copies of the journal to the authors and pdf version of the work published, requires a fee of R$ 150.00 to be deposited in the account of the Publisher: Atlantic Multimedia and Communications Ltd (ATMC) Banco Itaú, agency 0733, account 45625-5. The journal’s subscribers are exempted from payment of this fee (inform by e-mail with the sending of article). All manuscripts should be sent by e-mail to the executive editor, Jean-Louis Peytavin, through e-mail: [email protected]. The body of the e-mail should be a corresponding letter to the editor and should contain: • Summary of no more than two sentences of the content of the article. • One sentence ensuring that the content is original and has not been published in other media besides annals of Congress; • One sentence in which the corresponding author takes responsibility for the content of the manuscript and ensures that all other authors are aware and according to the dispatch of the work; • One sentence ensuring, when applicable, that all procedures and experiments with human beings or animals are in accordance with the standards in the institution and/or the Ethics Committee responsible; • Phones of the corresponding author. • The area of knowledge: ( ) Cardiovascular / pulmonary function ( ) Health Aging ( ) Diagnosis kinetic-functional ( ) Eletrothermophototerapy ( ) Manual therapy ( ) Ortheses, prostheses and equipment ( ) Muscle-skeletal ( ) Neuromuscular ( ) Worker’s Health ( ) Control of pain ( ) Experimental/basic research ( ) Child’s Health ( ) Research Methodology ( ) Man’s health ( ) Political, legislative and educational practice ( ) Women’s health ( ) Public health ( ) Other Note: The article that is not in accordance with rules of publication in the Journal Physical Therapy Brazil will be returned to the corresponding author for formatting. Atlantica Editora [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2011 76 Agenda 2011 Março 25 a 27 de março IIIo Símposio de reabilitação Neuro-Funcional Espaço Cultural, USP, Ribeirão Preto Inforrmações: www.fmrp.usp.br/simposiolfn. Abril 27 de junho a 1 de julho International Society of Biomechanics in Sport Congress 2011 Faculdade de Esporte da Universidade do Porto, Portugal Informações: www.isbs2011.fade.up.pt Outubro 16 de Abril Curso de Neurociências aplicadas à Reabilitação São Paulo Informações: (11) 2376-2071, www.neda-brain.com, E-mail: [email protected] 9 a 12 de outubro XIX Congresso Brasileiro de Fisioterapia Florianópolis, SC Informações: www.afb.org.br Maio 25 a 27 de maio I Congresso Brasileiro de Fisioterapia em Emergência Centro Fecomércio de Eventos, São Paulo Informações: www.cobeen.com.br Junho 14 a 16 de junho 13ª Rio Sports Show Pier Mauá, Rio de Janeiro Informações: www.riosportshow.com.br 20 a 23 de junho World Physical Therapy Amsterdam Holland Informações: www.wcpt.org/congress 19 a 21 de outubro Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho Salvador, BA Informações: www.abrafit.fst.br Novembro 11 a 14 de novembro V Congresso Brasileiro e III Congresso Internacional da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva V Jornada Brasil-Argentina de Fisioterapia Esportiva Maceió, AL Informações: www.sonafe2011.com Fisioterapia Brasil Physical Therapy Brazil (vol. 12, nº 2 março/abril 2011 - 81~160) EDITORIAL Meu pseudônimo e eu, Marco Antonio Guimarães da Silva ......................................................................................................... 83 ARTIGOS ORIGINAIS Lian Gong como forma de melhorar a qualidade de vida de idosos institucionalizados, Carina Tárzia Kakihara, Juliana Duarte, Fernandina Marques de Oliveira, Vanessa Cristina de Miranda Doro ................................................................................................................................................ 84 Atuação ergonômica em domésticas no Programa de Saúde da Família com equipe multidisciplinar de fisioterapia, engenharia e informática, Ave Regina de Azevedo Silva, José Luiz dos Santos Tepedino, Jorge Antônio Oliveira Souza, Luana Guimarães da Silva Teixeira Arroniz, Daniel da Costa Pereira Netto, Gabriela Ramos Almeida, Natália Q. Oliveira ............................................................................................................................... 89 Perfil de idosos do município de Itaúna/MG e influência da atividade física na dor crônica e na capacidade funcional, Marlete Aparecida Gonçalves Melo Coelho, Daniel Silva Gontijo Penha, Natália Corradi Drumond Mitre, Renata Antunes Lopes .............................................................................................................. 94 Avaliação clínica e por subtração digital fotográfica dos efeitos do ultrassom e massoterapia em fibrose tecidual tardia pós-operatória à lipoaspiração, Hedioneia Maria Foletto Pivetta, Mariana do Nascimento, Regina Berté, Caren Fleck, Heldenrlon José Foletto, Gustavo Nogara Dotto ....................................... 100 A Fisioterapia em um grupo de reeducação perineal masculino, Lia Ferla, Luiza Rohde, Luciana Paiva .................................. 107 Relações entre pacientes com doença de Parkinson e seus cuidadores: uma abordagem da capacidade funcional e da qualidade de vida, Raquel Mileib Alves, Iara Madalena Augusto, Núbia Carelli Pereira de Avelar, Ana Paula Santos, Erika Mattos Santangelo................................................................................ 113 RELATOS DE CASO Fisioterapia respiratória na distrofia muscular oculofaríngea, Débora Aparecida F. Oliveira, Elieth Nogueira Florencio............................................................................................................. 117 Avaliação, proposta de tratamento e intervenção fisioterapêutica em um paciente com aderência cicatricial no joelho, Laís Campos de Oliveira, Isabelle Ermes Moreira Dias, Raphael Gonçalves de Oliveira, Fábio Antônio Néia Martini ....................................................................................................... 121 REVISÕES Aspectos da coluna vertebral relacionados à postura em crianças e adolescentes em idade escolar, Simone Neiva Milbradt, Gabriel Ivan Pranke, Clarissa Stefani Teixeira, Luiz Fernando Cuozzo Lemos, Rudi Facco Alves, Carlos Bolli Mota ........................................................................................................................................... 127 Fisioterapia e integralidade: novos conceitos, novas práticas. Estamos prontos? Cristina Pellegrino Baena, Maria Cristina Flores Soares ............................................................................................................... 133 Efeitos do laser de baixa potência sobre a regeneração da cartilagem na osteoartrose, Gabriela Barbosa Zanotti, Priscilla Irffi Oliveira, Silvia Figueiredo de Siqueira Reis, Fernanda Souza da Silva, Angélica Rodrigues de Araújo ...................................................................................................................................................... 139 Relação entre a coluna torácica e a função do ombro: relação estática ou dinâmica? Alan de Souza Araújo, Leandro Alberto Calazans Nogueira ......................................................................................................... 147 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .........................................................................................................................................154 EVENTO ...........................................................................................................................................................................156 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 82 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFVJM – Diamantina – MG) Grupo de assessores Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Diretor Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 83 Editorial Meu pseudônimo e eu Marco Antonio Guimarães da Silva Como pesquisadores e professores de curso de pós-graduação Stricto Sensu (mestrado e doutorado) também somos obrigado a fazer o nosso dever de casa, um deles é escrever e publicar artigos científicos. Para a grande maioria dos pesquisadores o ato de escrever artigos científicos representa a primeira experiência como artífice das palavras, mas possui, contudo, uma característica muito peculiar: somos, enquanto escritores pesquisadores narradores que utilizamos um material linguístico que fala para um leitor invisível, um leitor impessoalizado. Não precisamos, nesse caso, fundamentar os personagens, simplesmente porque eles não existem. O que escrevemos, como autores científicos, quando chega aos nossos leitores, não se transforma em imagens que os remeterão a um ou mais universos, universos estes que mexerão com as suas emoções, os seus sentimentos, os seu medos ou com tudo aquilo que a sua mente seja capaz de elaborar. Talvez um artigo, que revelasse a descoberta de um meteoro em rota de colisão a terra, ou uma pesquisa, que identificasse a mutação de um vírus cuja letalidade nos mandaria para o além, fugisse ao que acabei de dizer. Como bom geminiano que dizem que sou, achei que era hora de mudar, de fazer incursões mais ousadas e aventurar-me no campo da ficcionalização. A mudança não foi repentina, porque a maior parte dos editorais que escrevi, nesses últimos doze anos, para Fisioterapia Brasil foram atravessados por uma visão interessada na sociedade, fugindo da estrutura de artigos científicos, e serviram como uma ponte que me levou ao mudo ficcional. O meu primeiro romance De escritores, fantasmas e mortos (Ed. Livre Expressão), escrito sob o pseudônimo de Paul Lodd, trata da flânerie e da violência das urbes atuais, onde a multidão já não é mais um refúgio para o flâneur dos chamados tempos pós-modernos e onde os impasses se *Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior. multiplicam. Trata da figura do baladeur, que perambula por múltiplos espaços, geográficos e virtuais, como um observador anônimo em constante deslocamento. A literatura, com seus escritores, personagens e projetos, se transforma em um grande espaço, onde sonho e realidade duelam entre si. Um de meus desejos, nessa obra, é que, pelas “ruas” do texto, os leitores possam ser conduzidos a reconstruir o olhar hesitante do flâneur, dividido entre o horror e o encantamento, entre o pesadelo e o sonho. Se me perguntarem, mas porque o pseudônimo? Eu darei a mesma resposta que dei para um crítico literário norte americano especialista em literatura portuguesa, o professor Russell Hamilton, da Vanderbilt University e emérito da Yale (os comentários dele e de outros críticos podem ser vistos em “Bloco de Notas” do site: www.paul-lodd.fr): não sei, mas conselhos para que eu abandonasse a idéia do pseudônimo não me faltaram. Meus familiares e amigos praticamente me suplicaram: assine o livro com o teu próprio nome. Entretanto, não foi pelo meu nome que adotei o pseudônimo; enfim, ele não é tão comum e ordinário. Eu mesmo já me perguntei se estaria com vergonha dele. Mas, depois pensei: afinal não fui batizado como Dezêncio Feverêncio de Oitenta e Cinco ou Fridundino Eulâmpio. Sei que esses nomes existem, e os seus donos, tenho a certeza, se um dia escrevessem um livro, não usariam um pseudônimo. Não envergonhariam os seus pais ou seja lá quem quer que lhes tenha dado essas barbaridades alcunhativas. Portanto, a vergonha do nome em si não se aplicava ao meu caso. Seja lá como for, Inês é morta. Talvez, no segundo livro, já a caminho – Meu pseudônimo e eu –, eu assine o livro com o meu próprio nome. Ass. Paul Lodd, Marco Antonio ou.....? 84 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Artigo original Lian Gong como forma de melhorar a qualidade de vida de idosos institucionalizados Lian Gong to improve quality of life of institutionalized elderly people Carina Tárzia Kakihara, Ft., M.Sc.*, Juliana Duarte, Ft., M.Sc.**, Fernandina Marques de Oliveira, Ft.***, Vanessa Cristina de Miranda Doro*** *Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista, São Paulo, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista, São Paulo, Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade de Mogi das Cruzes, ***Universidade Paulista, São Paulo Resumo Abstract O envelhecimento populacional caracteriza-se pelo acúmulo de incapacidades progressivas nas suas atividades funcionais e de vida diária. O acelerado ritmo de envelhecimento no Brasil cria novos desafios para a sociedade brasileira contemporânea, onde esse processo ocorre num cenário de profundas transformações sociais, urbanas, industriais e familiares. Os idosos institucionalizados apresentam um perfil diferenciado, grande nível de sedentarismo, carência afetiva, perda de autonomia causada por incapacidades físicas e mentais e insuficiência de suporte financeiro. Um meio que oportuniza a realização do sentir, do refletir e do conscientizar sobre o envelhecimento é através da vivência de ginástica terapêutica chinesa denominada Lian Gong, que permite ao indivíduo se mover respeitando sua condição física. O objetivo do presente trabalho foi analisar a qualidade de vida dos idosos, após a intervenção terapêutica do Lian Gong, com o questionário de qualidade de vida SF-36. Participaram deste projeto idosos institucionalizados, de ambos os sexos, acima de 59 anos, que foram submetidos a um programa de exercícios do Lian Gong durante sete semanas consecutivas duas vezes por semana. Dos seis domínios do SF-36: capacidade funcional, dor, estado geral de saúde, aspectos sociais, limitações por aspectos emocionais e saúde mental, apenas o aspecto dor apresentou diferença estatisticamente significante (p = 0,05). Os resultados sugerem que essa ginástica terapêutica é eficaz no tratamento de idosos institucionalizados e pode modificar a qualidade de vida. The Brazilian population aging is characterized by the progressive accumulation of disability in their functional activities and daily life. The accelerated pace of aging in Brazil creates new challenges for contemporary Brazilian society, where this process occurs in a scenery of profound social, urban, industrial and family transformation. The institutionalized elderly have a different profile, high level of inactivity, lack of affection, loss of autonomy due to physical and mental disabilities and insufficient financial support. The Lian Gong, a set of exercises developed in China, enables the elderly to feel, to reflect and to acquire knowledge about aging, and, also allows the individuals to move taking into consideration their physical ability. The purpose of this study was to analyze through the quality of life questionnaire SF-36 the elderly quality of life after therapeutic intervention of Lian Gong. The participants of this project were institutionalized elderly of both genders, above 59 years, who were subjected to an exercise program of Lian Gong for seven consecutive weeks twice a week. From the six domains SF-36: functional capacity, pain, general health, social, emotional, and limitations on mental health, only pain showed significant statistic different (p = 0.05). The results suggested that Lian Gong is effective in the treatment of institutionalized elderly and can change their quality of life. Key-words: elderly, quality of life, physical therapy. Palavras-chave: idosos, qualidade de vida, fisioterapia. Recebido em 30 de março de 2009; aceito em 16 de março de 2011. Endereço para correspondência: Carina Tárzia Kakihara, Rua Padre Machado, 778/94 Bosque da Saúde 04127-001 São Paulo SP, Tel: (11) 55750900, E-mail: [email protected], [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Introdução No Brasil, a transição demográfica é incontestável. Até o ano de 2025, possivelmente ocuparemos o sexto lugar da população de idosos do planeta com 31,8 milhares de indivíduos com 60 anos ou mais. Porém, estamos longe de atingirmos o envelhecimento bem sucedido. O envelhecimento populacional caracteriza-se pelo acúmulo de incapacidades progressivas nas suas atividades funcionais e de vida diária, associada às condições socioeconômicas adversas. A mortalidade é substituída por comorbidades e a manutenção da capacidade funcional surge, portanto, como um novo paradigma de saúde, relevante para o idoso. O acelerado ritmo de envelhecimento no Brasil cria novos desafios para sociedade brasileira contemporânea, onde esse processo ocorre num cenário de profundas transformações sociais, urbanas, industriais e familiares [1]. Com o aumento da expectativa de vida da população, as instituições de longa permanência, destinadas a prestar assistência aos idosos, tornam-se cada vez mais necessárias. Além disso, fatores como perda de autonomia causada por incapacidades físicas e mentais, ausência da família para prestar-lhes assistência e a insuficiência de aporte financeiro do idoso e/ ou seus familiares fazem com que as instituições voltadas para a assistência aos idosos sejam cada vez mais solicitadas [2]. Os idosos institucionalizados apresentam um perfil diferenciado, alto nível de sedentarismo, carência afetiva, perda de autonomia causada por incapacidades físicas e mentais e insuficiência de suporte financeiro. Estes fatores contribuem para a grande prevalência de limitações físicas e comorbidades refletindo em sua independência e autonomia. O novo paradigma de saúde do idoso brasileiro é como manter a capacidade funcional, mantendo-o independente e preservando a sua autonomia. O idoso institucionalizado e a entidade que o abriga, geralmente, não conseguem arcar sozinhos com a complexidade e as dificuldades da senescência e/ou senilidade [1]. A longevidade cada vez maior do ser humano acarreta uma situação ambígua, vivenciada por muitas pessoas, mesmo pelas ainda não idosas: o desejo de viver em meio a incapacidades e a dependência. De fato, o avanço da idade aumenta a chance de ocorrência de doenças e de prejuízos à funcionalidade física, psíquica e social. Mais anos vividos podem ser anos de sofrimento para indivíduos e suas famílias, anos marcados por doenças, com sequelas, declínio funcional, aumento da dependência, perda da autonomia, isolamento social e depressão. No entanto, se os indivíduos envelhecerem com autonomia e independência, com boa saúde física, desempenhando papéis sociais, permanecendo ativos e desfrutando de senso de significado pessoal, a qualidade de vida pode ser muito boa [3]. Nesse contexto, tornam-se necessárias não só informações sobre a qualidade de vida na terceira idade, mas também programas coletivos de atenção completa e interdisciplinar que atuem em vários aspectos do processo de envelhecimento, 85 que sejam de baixo custo e fácil implantação, com resultado de prevenção de morbidades e melhoria da qualidade de vida percebida e bem-estar subjetivo. Este tema é de natureza complexa e abrangente. A definição da Organização Mundial de Saúde para qualidade de vida como sendo: “a percepção do indivíduo quanto a sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive, levando em conta suas metas, suas expectativas, seus padrões e suas preocupações”, contempla a interação entre vários fatores presentes na terceira idade [4]. Profissionais que trabalham com o processo do envelhecimento nas mais diversas áreas de saber (médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e outros) tentam proporcionar, em todos os níveis de atenção (primário, secundário e terciário), o bem estar biopsicossocial dos idosos institucionalizados, potencializando suas funções globais a fim de obter uma maior independência, autonomia e melhor qualidade para essa fase de vida [5]. O questionário genérico SF-36 é um instrumento de medida da qualidade de vida relacionada à saúde que é mundialmente utilizado e possui validação em mais de 15 países. É multidimensional formado por 36 itens, englobados em 8 escalas (componentes): Capacidade Funcional, Aspectos Físicos, Dor, Estado Geral de Saúde, Vitalidade, Aspectos Sociais, Aspectos Emocionais e Saúde Mental. Cada um desses componentes possui um escore, cuja pontuação varia de 0 a 100, sendo zero o pior estado de saúde e 100 o melhor estado de saúde. Cada escala possui de 2 a 10 itens, sendo que o conjunto delas pode ser resumido através das duas medidas: Componente Físico e Componente Mental. O resultado é expresso numa pontuação de 0-100 para cada uma das oito escalas ou através do escore normalizado [6]. Um meio que oportuniza a realização do sentir, do refletir e do conscientizar sobre o envelhecimento é através da vivência de ginástica terapêutica chinesa denominada Lian Gong, que permite ao indivíduo se mover respeitando sua condição física. Trazido da cultura chinesa, o Lian Gong é composto por séries de 18 exercícios completos e de fácil assimilação, extraídos das técnicas do Tai Chi Chuan. Esta atividade é considerada excelente para exercitar o corpo, não tento limites de idade, ou seja, qualquer um pode praticá-la e seus benefícios são percebidos naturalmente, sem esforços [7]. O Lian Gong foi criado pelo médico ortopedista e especialista em Tui-ná, Dr. Zhuang Yuan Ming. O método, desde que foi lançado, em 1974, obteve uma grande aceitação dos pacientes e praticantes de exercícios, devido a sua objetividade e simplicidade [8]. Compreendem-se as práticas corporais como atividades de movimentos estruturados que objetivam o alongamento, a melhoria do tônus muscular, a consciência postural e suas inter-relações, a recuperação dos movimentos naturais (quer do ponto de vista articular, quer muscular), promovendo, dentre vários benefícios, o aumento da capacidade respiratória e a produção de endorfinas [9]. 86 O Lian Gong em 18 terapias é considerado pelo Conselho Nacional e pelo Conselho de Práticas Corporais de Shangai como uma das técnicas que mais bem representam a cultura milenar chinesa na área de práticas corporais dentro e fora da China [8]. Os movimentos são lentos, contínuos, combinados com a respiração natural. Os pacientes atingem a meta de um ritmo respiratório regular, homogêneo e longo, aumentando a profundidade e a duração de cada respiração. Portanto, deve-se coordenar movimento com respiração, aumentando gradativamente a dosagem dos exercícios [10]. Trata-se de um recurso ou instrumento terapêutico de grande eficácia se devidamente utilizado, de baixíssimo custo, se atentarmos para o aspecto essencialmente preventivo, desde que se consiga criar o hábito nas pessoas em relação a sua prática diária, sensibilizando-as quanto aos seus benefícios. Não somente reduzirá a frequência das síndromes dolorosas do corpo, como também, no caso do surgimento de dores iniciais, as pessoas terão à mão um instrumento valioso de como cuidarem da própria saúde [10]. Objetivo Comparar a qualidade de vida dos idosos institucionalizados antes e após a intervenção terapêutica do Lian Gong. Material e métodos Critérios de inclusão • Indivíduos na faixa etária entre 59 e 93 anos; • Pacientes que lessem, compreendessem e assinassem o termo de consentimento; Critérios de exclusão • Pacientes com doenças neurológicas que necessitassem de auxílio para deambular; • Pacientes com deficiência visual e auditiva total; • Pacientes com cardiopatia grave; • Pacientes com hipertensão arterial sistêmica descontrolada. Amostra Participaram deste projeto idosos institucionalizados, de ambos os sexos, acima de 59 anos. Estes formaram um único grupo e foram supervisionados por duas terapeutas. A amostra estudada foi composta por 6 pacientes da Casa dos Velhinhos de Ondina Lobo, apresentando idade média de 77 anos, sendo 4 mulheres e 2 homens, que realizaram os exercícios por um período de 7 semanas consecutivas, sendo a prática realizada duas vezes por semana com duração de 30 minutos. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 O questionário foi aplicado aos idosos institucionalizados que responderam ao questionário SF-36 e praticaram os exercícios do Lian Gong (primeira parte). Os grupos foram submetidos, durante 7 semanas consecutivas, a um programa terapêutico que utilizaram como procedimento o Lian Gong. Protocolo de atendimento Os idosos responderam ao questionário de qualidade de vida SF-36 no início e no término do tratamento; e participaram de um programa de exercícios do Lian Gong (primeira parte). No início e no final de todos os exercícios foi aferida e anotada a pressão arterial e a frequência cardíaca de cada paciente, estando os idosos em repouso e em sedestação. Seis idosos realizaram a prática do Lian Gong na Instituição de Longa Permanência Ondina Lobo, duas vezes por semana. Eles foram acompanhados e reavaliados após sete semanas utilizando o questionário de qualidade de vida SF36 que avalia oito domínios: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos emocionais e saúde mental. Os resultados finais variam de 0 a 100, sendo 0 o pior resultado e mais perto de 100 o melhor resultado. Todos os exercícios foram realizados na posição ortostática e trabalhavam a musculatura do pescoço, membros superiores, membros inferiores e tronco. Além disso, os exercícios estimulavam a respiração, a coordenação, o equilíbrio estático e dinâmico. O tempo total de exercícios foi em média de 30 minutos, sendo realizada uma sequência de 18 exercícios. Não houve tempo de repouso entre um exercício e o seguinte, pois essa ginástica chinesa possui uma sequência padronizada de exercícios consecutivos sem intervalo de descanso. Só após o décimo oitavo exercício, os idosos descansavam sentados para repousarem. Como foi necessário aferir a pressão arterial e anotar a frequência cardíaca de cada participante do grupo, antes e após a realização dos exercícios do Lian Gong, o tempo de trabalho durou em média 1 hora. Os movimentos realizados foram flexão, extensão e rotação para os lados direito e esquerdo da cabeça; flexão, extensão e circundução dos ombros; flexão e extensão dos cotovelos; pronação e supinação de antebraços; flexão, extensão, inclinação lateral e rotação do tronco; flexão, extensão, abdução e adução dos quadris; flexão e extensão dos joelhos; dorsiflexão e flexão plantar de tornozelos. Análise estatística Os dados foram apresentados através de média e desvio padrão para cada item avaliado e, em seguida, foi comparada a diferença estatisticamente significante através do teste t de Student, considerando p < 0,05. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Resultados e discussão Tabela I - Resultados dos domínios antes e após a aplicação do Lian Gong. Domínios Capacidade funcional Limitação por aspectos físicos Dor Estado geral de saúde Vitalidade Aspectos sociais Limitações por aspectos emocionais Saúde mental 1ª fase 70,83% 2ª fase 78,33% Resultados aumento 45,83% 45,83% sem alteração 45,83% 62% 75,83% 81,25% 77,5% 72,16% 59,16% 85,41% aumento aumento diminuição aumento 44,43% 72,22% aumento 71,33% 77,33% aumento De acordo com a Tabela I, observa-se que ocorreu aumento da porcentagem nos domínios: capacidade funcional, dor, estado geral de saúde, aspectos sociais, limitações por aspectos emocionais e saúde mental. Entretanto houve diminuição da vitalidade. Tabela II - Resultados da média e desvio padrão dos domínios pré e pós e os valores de p. Domínios Capacidade funcional Limitação por aspectos físicos Dor Estado geral saúde Vitalidade Aspecto social Limitações por aspectos emocionais Saúde mental pré pós Valores de p 70,83 ± 22,80 78,33 ± 26,08 0,63 45,83 ± 33,59 45,83 ± 33,59 0,98 45,83 ± 27,58 78,3 ± 18,08 0,05 62 ± 12,90 70,5 ± 17,07 0,39 64,16 ± 14,26 79 ± 21,09 65 ± 13,22 85,33 ± 15,29 0,92 0,59 44,33 ± 45,75 75,5 ± 37,87 0,26 71,33 ± 12,31 77,33 ± 17,23 0,54 Foram considerados estatisticamente significantes dados com valores de p menor ou igual a 0,05. Neste caso somente o aspecto dor apresentou diferença estatisticamente significante, mesmo com as demais variáveis terem apresentado valores superiores às iniciais. A prática do Lian Gong favorece uma movimentação global, coordenada e harmoniosa, podendo agir numa doença localizada, restaurando, porém, o equilíbrio do organismo como um todo, bem como os fluxos de alto e baixo, de expansão e recolhimento, de entrada e saída de Qi [8]. Neste estudo observa-se aumento nos domínios capacidade funcional, dor, estado geral de saúde, aspectos sociais, limitações por aspectos emocionais e saúde mental. Entretan- 87 to, o domínio limitações por aspectos físicos não apresentou alteração e no domínio vitalidade ocorreu diminuição quando comparado à avaliação do questionário inicial e final. Os idosos institucionalizados apresentam perfil diferenciado, grande nível de sedentarismo, carência afetiva, perda de autonomia causada por incapacidades físicas e mentais. Estes fatores contribuem para a grande prevalência de limitações físicas e comorbidades refletindo em sua independência e autonomia [1]. Nas práticas do Lian Gong devem ser observados os seguintes princípios: movimentação global, foco específico, treinar com alegria, realizar o movimento de forma lenta, homogênea e contínua, coordenar o movimento e a respiração. O movimento deve ser amplo e a finalidade principal é obter o Qi. A prática com dosagem adequada e gradativa ajuda a prevenir e tratar doenças [10]. A sincronicidade entre movimento e respiração potencializa esta harmonização, que juntamente com a correta execução dos exercícios são requisitos para alcançar resultados eficazes, favorecendo a recuperação das funções fisiológicas localizadas e globais [11]. As vantagens da prática do Lian Gong são fortalecer o sistema imune, fortalecer o corpo, recuperar a vitalidade fisiológica, manter a função do sistema digestivo, ativar a circulação, prevenir dores e doenças e retardar o envelhecimento [7]. Neste estudo, o questionário de qualidade de vida SF-36 mostra melhora do estado geral de saúde e da dor após a realização da prática do Lian Gong nos idosos pesquisados, fato que coincide com os achados de Almeida [7]. Entretanto, em nosso estudo não houve recuperação da vitalidade fisiológica, pois o resultado do SF-36 mostrou uma diminuição da porcentagem desse domínio após a técnica de Lian Gong. Isto se deve, provavelmente, ao fato dos idosos deste estudo serem indivíduos com histórico de institucionalização de longa data, além de apresentar uma média alta de idade (77 anos), o que justifica maior probabilidade da queda da vitalidade no decorrer do tempo. O Lian Gong não inibe nem ridiculariza os praticantes, respeita o limite de cada um, resgata a consciência corporal e, principalmente, resgata os valores de autoestima do ser humano, o que leva os pacientes a se sentirem melhor consigo mesmo e com as pessoas com quem convivem [9]. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), aprovada pela Portaria n° 971, de 3 de maio de 2006, e no município de São Paulo pela Lei n° 14682 de 30/01/2008, considera o Lian Gong como uma das práticas integrativas da Medicina Tradicional Chinesa, simples, de fácil aprendizado e execução por meio de movimentos lentos, contínuos, equilibrados e naturais [12]. No presente estudo constata-se melhora de limitações por aspectos emocionais, pois, conforme relata Simoni [9], esta técnica aplicada em idosos gera bem-estar físico e melhora a autoestima nos praticantes dessa ginástica. No entanto, o domínio limitações por aspectos físicos não sofreu alteração após a aplicação do Lian Gong nesses idosos. 88 A participação nos grupos de Lian Gong contribui para a interrupção do isolamento, para o fortalecimento de vínculos, para o encorajamento da ajuda mútua, e o agrupamento estimula a inserção dos indivíduos na sociedade em busca de ambientes saudáveis [13]. A prática coletiva do Lian Gong, sob seu aspecto grupal nessa instituição de longa permanência colaborou no desenvolvimento de habilidades pessoais e na interação social. Os limites deste estudo foram pequeno tamanho da amostra, idosos crônicos com história de longa duração de institucionalização e com diferentes doenças e diferentes diagnósticos médicos. Esses dados foram coletados em um prazo especifico e em um único local, o que dificulta a generalização dos dados para outras populações. Na população pesquisada do presente estudo, contatou-se que, por meio do instrumento utilizado para avaliar a qualidade de vida, o Lian Gong é uma forma de cinesioterapia eficaz que pode ser utilizada em idosos institucionalizados, pois ocorreu melhora em seis domínios do SF-36. Entretanto, novos estudos, com amostragem maior, devem ser realizados para confirmação destes achados. Conclusão Embora este estudo apresente limitações, como o tamanho da amostra, verificou-se que, após a prática do Lian Gong, somente o aspecto dor apresentou diferença estatisticamente significante, mesmo com os demais domínios do SF-36 terem apresentado valores superiores aos iniciais. Os resultados sugerem que o Lian Gong é uma pratica eficaz no tratamento de idosos institucionalizados que pode modificar a qualidade de vida dessa população em diversos domínios como: melhora da capacidade funcional, diminuição da dor, aumento do estado geral da saúde, incremento dos aspectos sociais e emocionais e aumento da saúde mental. Referências 1. Pereira LSM, Britto RR, Pertence AEM, Cavalcante EC. Programa melhoria da qualidade de vida dos idosos institucionalizados. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Anais do 8º Encontro de Extensão UFMG. Belo Horizonte, outubro de 2005. 2. Gallo JJ, Busby-Whitehead J, Rabins PV, Silliman RA, Murphy JB. Assistência ao idoso: aspectos clínicos do envelhecimento. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. 635p. 3. Freitas EV, Py L, Flávio Aluizio Xavier Cançado FAX, Gorzoni ML. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 1187p. 4. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 89 Artigo original Atuação ergonômica em domésticas no Programa de Saúde da Família com equipe multidisciplinar de fisioterapia, engenharia e informática Ergonomic program in housemaids in the Family Health Program with multidisciplinary team of physical therapy, engineering and computer science Ave Regina de Azevedo Silva, Esp., M.Sc.*, José Luiz dos Santos Tepedino, D.Sc. **, Jorge Antônio Oliveira Souza, Esp.***, Luana Guimarães da Silva Teixeira Arroniz****, Daniel da Costa Pereira Netto *****, Gabriela Ramos Almeida*****, Natália Q. Oliveira***** *Profª. Adjunta nas Disciplinas Saúde do Trabalhador, Fisioterapia Preventiva, Saúde Escolar e Fisioterapia em Reumatologia, Supervisora de Estágio do Curso de Graduação de Fisioterapia - Centro de Ciências da Saúde (UCP), **Prof. Adjunto das Disciplinas Engenharia de Segurança do Trabalho, Ergonomia, Planejamento Estratégico e Noções de Marketing da UCP, Coordenador dos Cursos de Engenharia de Produção, Produção Mecânica, Produção Elétrica, Produção Civil e Tecnólogo em Gestão Industrial do Centro de Engenharia e Computação da UCP, ***Prof. de Sistemas de Informação da UCP, ****Estudante do Curso de graduação de Fisioterapia colaboradora bolsista do PIBIC-CNPq/UCP, *****Estudantes do Curso de graduação de Engenharia, Fisioterapia e Informática, colaboradores bolsistas do PIBIC-FCRM/UCP Resumo Abstract Objetivo: Esta pesquisa teve como objetivo geral aplicar um modelo ergonômico doméstico em uma unidade básica de saúde no município de Petrópolis/RJ. População: 101 indivíduos, 97,03% do sexo feminino e 2,97% do sexo masculino, com idade média de 54,07 anos. Métodos: Aplicação de questionário; Elaboração de cartilha e software; Análise ergonômica; Realização de trabalho educativo. Resultados: Cartilha impressa de Ergonomia no Lar na versão 2.0 e software. As porcentagens das posturas incorretas foram: 11% dormindo na cama, 24,75% levantando da cama, 60,40% vestindo bermuda, calça comprida, meias ou sapatos, 40,59% escovando dentes, 15,84% lavando louças, 47,52% colocando alimentos no armário, 57,42% postura sentada, 58,42% pegando objetos no chão, 47,52% passando roupas, 37,62% varrendo a casa, 17,82% lendo um livro ou revista, 34,65% subindo escadas, 23,76% postura dentro do ônibus, 31,68% carregando sacolas pesadas. Conclusão: Obteve-se com esta pesquisa uma atuação ergonômica significante através da divulgação por meio impresso da cartilha, trabalho educativo e software. Aim: The aim pf this study was to apply an ergonomic domestic model in a basic health unit of Petrópolis/RJ. Population: 101 individuals, 97.03% female and 2.97% male, with average age of 54.07 years old. Methods: Application of a questionnaire; Elaboration of a booklet and software; Ergonomic analysis; Performance of educational work. Results: Printed booklet of Ergonomics at Home version 2.0 and software. The percentages of the incorrect postures were: 11% sleeping in bed, 24,75% getting up from bed, 60,40% dressing shorts, trousers, socks or shoes, 40.59% teeth brushing, 15.84% washing dishes, 47.52% storing food in the cupboard, 57,42% sitting posture, 58,42% picking up objects from the floor, 47.52% ironing clothes, 37.62% sweeping house, 17.82% reading a book or magazine, 34.65% climbing stairs, 23.76% posture inside the bus, 31.68% carrying heavy bags. Conclusion: It was concluded that this research obtained a significant ergonomic performance using a print educational booklet, educational work and software. Key-words: human engineering, multidisciplinary team, community. Palavras-chave: engenharia humana, equipe multidisciplinar, comunidade. Recebido 17 de dezembro de 2009; aceito em 28 de fevereiro de 2011. Endereço para correspondência: Ave Regina de Azevedo Silva, Rua General Osório, 57/303, 25620-160 Petrópolis RJ, Tel: (24) 9964-2587, E-mail: [email protected] 90 Introdução Ergonomia é um conjunto de ciências e tecnologias que procura adaptação confortável e produtiva entre o ser humano e seu trabalho [1]. Pode ser definida como a adaptação do trabalho ao homem [2]. As duas categorias da ergonomia doméstica, a profissional doméstica e a dona-de-casa executam as diversas atividades do lar, contínua, repetitivamente, e frequentemente força os braços e mãos, associado a posturas incorretas, envolvendo exposição para alguns fatores de risco para o sistema musculoesquelético. As atividades de lavar, passar roupa, cozinhar, varrer, usar o aspirador de pó, limpar o chão, limpar banheiro, utilizando posturas incorretas provocam dores na região da coluna vertebral e membros superiores. E grande parte não sabe que suas queixas tem origem destas posturas. O uso do tanque, do fogão, da mesa de passar roupas muito baixa e de alguns utensílios como vassouras, rodos e pás para lixo com cabos muito curtos, forçam um curvar exagerado da coluna vertebral. A iluminação e a ventilação nos locais de trabalho devem ser bem planejadas, pois um bom sistema de iluminação pode produzir um ambiente onde as pessoas trabalhem confortavelmente, com pouca fadiga, monotomia e acidentes, e produzam com maior eficiência, sendo a ventilação um aspecto importante do conforto térmico [3-5]. Uma postura eficaz em termos de biomecânica é a que fornece o máximo de eficiência para as atividades de vida diária do indivíduo e evita lesões. Ficar muito tempo sentado, andar encurvado e dormir em posição errada facilita a postura inclinada para frente. As posturas incorretas como levantar cargas pesadas e ficar mal sentado, podem acelerar a deterioração dos discos ocasionando dores musculares [6]. O hábito de realizar atividades em um único lado, como carregar uma bolsa pesada, sentar sobre a carteira que está no bolso ou sentar-se de lado em frente ao computador, está treinando o corpo para que os seus dois lados sejam assimétricos. Má postura cria padrões adaptativos de movimento corporal e o movimento errado do corpo sobrecarrega o sistema músculo esquelético, resultando em desgaste prematuro da articulação e em suscetibilidade a lesões [7]. A cabeça está em equilíbrio quando os olhos estão na posição horizontal, sustentando a coluna cervical um peso de 4,5 kg, quando está um pouco para frente, a coluna cervical e os músculos do pescoço precisarão sustentar 9 kg. E se o indivíduo estiver sentado incorretamente olhando para baixo, a cabeça chega a pesar 13,5 kg, podendo ocasionar no final do dia dor na nuca, dor de cabeça e tensão nos músculos do pescoço [8,9]. A falta de organização de pausas periódicas, atividade muscular e orientações quanto aos ajustes ergonômicos e posturais para as atividades que envolvem o trabalho doméstico, podem provocar agravantes em potencial para as condições de saúde, podendo envolver desordens musculoesquelética [10-12]. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 A ginástica laboral é um recurso que apresenta benefícios primários ao trabalhador na prevenção das doenças ocupacionais, estando, porém, associada às intervenções ergonômicas, com modificações no setor de trabalho e a participação voluntária na terapia, levando-lhes segurança, funcionalidade e bem estar, sendo que muitas vezes, pequenas mudanças representam grandes benefícios [3,13-15]. A saúde ocupacional ou profissional junto à comunidade contribui na soma de todos os esforços para melhorar a saúde dos trabalhadores, tanto em seu ambiente de trabalho como na comunidade [16]. Este estudo teve como objetivo geral aplicar um modelo ergonômico doméstico em uma unidade básica de saúde no município de Petrópolis e como objetivos específicos desenvolver uma cartilha e um software ergonômico educativo; analisar ergonomicamente as posturas utilizadas nas atividades domésticas da população selecionada; realizar um trabalho educativo ergonômico doméstico através de palestras, cartilha, software; comparar os hábitos antes e após o trabalho educativo. Material e métodos A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Petrópolis, com o protocolo 01/2008 e CAAE – 0001.0.395.000-08. Participaram desta pesquisa 101 indivíduos, 97,03% do sexo feminino e 2,97% do sexo masculino, na faixa etária de 20 a 90 anos de idade, com idade média de 54,07 anos. Foi realizada em quatro postos de Programa de Saúde da Família (PSF) no município de Petrópolis, Rio de Janeiro, no período de maio de 2008 a dezembro de 2010. A metodologia envolveu a entrega do projeto impresso para a coordenadora do PSF, apresentação do projeto para os agentes comunitários expondo como seria realizado o trabalho, e posteriormente os agentes fizeram o convite para a população da área onde atuam. Os critérios de inclusão na pesquisa foram indivíduos que realizavam atividades domésticas e com tempo disponível para estarem presentes em quatro encontros realizados uma vez por semana e foram excluídos os indivíduos que não realizavam atividades domésticas e sem tempo disponível para estarem presentes em quatro encontros realizados uma vez por semana. A população convidada pelos agentes que concordaram em participar da pesquisa durante os quatro encontros uma vez por semana no PSF foi dividida em grupos. No 1º encontro assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, responderam a um questionário com imagens de posturas certas e erradas (sem identificação escrita abaixo das posturas - certa e errada) da dona de casa no seu dia-a-dia e após foi feita análise do questionário e o início da realização de trabalho educativo ergonômico doméstico com correções das posturas de acordo com as respostas do questionário de cada um, exercícios de alongamento muscular, respiração Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 diafragmática e distribuição impressa da cartilha de ergonomia no lar; no 2º encontro foi realizada palestra sobre anatomia da coluna vertebral, desvios posturais de escoliose, cifose, lordose, exercícios de alongamento muscular e respiração diafragmática; no 3º encontro foi realizada a palestra sobre iluminação, ventilação, cores, ruídos, exercícios de alongamento muscular e respiração diafragmática; e no 4º encontro foi utilizado o software com quiz ergonômico, exercícios de alongamento muscular, respiração diafragmática e no final deste quarto encontro os participantes responderam novamente ao mesmo questionário para comparação dos resultados antes e após o trabalho educativo. A cartilha tem como conteúdo: Capa (Cartilha de Ergonomia no Lar – A sua postura nas atividades do lar é correta?); Órgão financiador: PIBIC-CNPq/UCP; PIBIC-FCRM/ UCP; Instituição de Ensino Superior: Universidade Católica de Petrópolis, Centro de Ciências da Saúde e Centro de Engenharia e Computação; Nome dos Professores Pesquisadores e Estudantes colaboradores vinculados ao projeto; Introdução. • Figuras de posturas do dia-a-dia: certas e erradas com identificação escrita abaixo da figura em: ergonomia no quarto (dormindo, levantando da cama, vestindo bermuda, calça comprida, meias ou sapatos); ergonomia no banheiro (escovando os dentes); ergonomia na cozinha (lavando louças, colocando objetos na prateleira); ergonomia na sala (posição sentada, pegando objetos no chão); ergonomia nas atividades domésticas (passando roupas, varrendo a casa); ambiente em geral (lendo um livro ou revista, subindo escadas); saindo para fazer compras (dentro do ônibus, carregando sacolas pesadas); • Orientações de alguns exercícios: Explicando que além de adotar as posturas corretas é importante intercalar as atividades do dia-a-dia com os exercícios de alongamento (um exercício por vez, permanecendo na posição por 20 segundos) nas regiões da coluna vertebral, membros superiores, membros inferiores; respiração diafragmática (5 vezes, descansar e repetir novamente 5 vezes); • Algumas medidas preventivas: Durma de lado e evite colocar o braço embaixo do travesseiro, dobre os joelhos ao pegar objetos no chão, mantenha a vassoura próxima ao corpo, quando sentar no sofá apóie sua coluna no encosto e mantenha os pés no chão, carregue as sacolas dividindo o peso; • Algumas dicas ergonômicas: Regule a altura dos varais não devendo ultrapassar a linha dos seus ombros; prefira tábua de passar roupa com regulagem de altura; use um banco para apoio e descanso dos pés, alternando a cada 15 minutos; deixe as janelas abertas para manter o ambiente ventilado; procure colocar os objetos de maior uso em prateleiras ao seu alcance, em prateleiras altas utilize escada; a altura de pias e balcões devem ser adequados aos usuários; prefira mesa com bordas arredondadas; mantenha o ambiente limpo e organizado. 91 Software com Quiz ergonômico Teste seus conhecimentos sobre ergonomia 1 - Qual a sua posição de dormir? a) Barriga para baixo; b) Barriga para cima; c) De lado. 2 - Como você se levanta da cama? a) De barriga para cima dando impulso para se levantar; b) De lado colocando primeiro as pernas para fora da cama e utilizando os dois braços para se levantar. 3 - Como você coloca a calça comprida? a) Sentado em uma cadeira; b) De pé. 4 - Como você pega um objeto do chão? a) Dobrando a coluna; b) Dobrando os joelhos. 5 - Como você passa roupas? a) Utilizando a tábua de passar em uma altura adequada; b) Utilizando a cama de dormir. 6 - Como é o local que você se senta para ler um jornal ou revista? a) Perto de uma janela com pouca iluminação; b) Perto de uma janela aberta com ventilação e iluminação. 7 - Como você deve regular os varais para pendurar roupas? a) Acima da linha dos ombros; b) Não devendo passar a altura dos ombros. 8 - Como permanecem as janelas da sua casa? a) Abertas para manter o ambiente bem ventilado; b) Fechadas. 9 - Os objetos de maior uso você colocaria em prateleiras? a) Ao seu alcance; b) Bem mais alto. 10 - Você carrega sacolas pesadas? a) Colocando o peso de um lado só; b) Dividindo o peso para o lado direito e esquerdo. 11 - Como fica o seu travesseiro na hora de dormir de lado? a) Entre o ombro e a cabeça; b) Debaixo do ombro. 12 - Como você se senta em uma cadeira ou sofá? a) Com a coluna bem encostada; b) Com a coluna inclinada para frente. 13 - É importante fazer exercícios de alongamento? a) Sim; b) Não. 14 - Devemos fazer os exercícios de alongamento? a) Rápido; b) Sem pressa. 15 - Você deve intercalar os exercícios de alongamento durante as suas atividades de vida diária? a) Sim; b) Não. (Respostas corretas em itálico) Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 92 No final da participação do Quiz foram obtidos os resultados de acordo com os acertos do participante: Quinze perguntas corretas: “Excelente!!! Você cuida bem da sua saúde. Continue sempre assim!!!; Menos de quinze corretas: “Regular” Seria interessante você refazer o teste para obter melhor resultado. 60,00% Figura 1 - Posturas incorretas adotadas durante as atividades do dia-a-dia (antes) e (após). 60% 60,40% 47,52% 50% 20% 10% 0% 40,00% 95,69% 63,65% 36,35% 20,00% 0,00% 40,59% 40% 30% 100,00% 80,00% Resultados 70% Figura 3 - Comparação das quatorze posturas corretas e incorretas adotadas durante as atividades do dia-a-dia (antes e após o trabalho educativo). 4,31% Antes Posturas corretas Após Posturas Incorretas Discussão 24,75% 15,84% 11% 9,90% 7% 5,94% 2% 2% 0% 1 2 3 4 5 6 1-Dormindo (antes) 2-Levantando da cama (antes) 3-Vestindo calça comprida, meias e sapatos (antes) 4-Escovando os dentes (antes) 5-Lavando louças (antes) 6-Colocando alimentos no armário (antes) 1-Dormindo (após) 2-Levantando da cama (após) 3-Vestindo calça comprida, meias e sapatos (após) 4-Escovando os dentes (após) 5-Lavando louças (após) 6-Colocando alimentos no armário (após) Figura 2 - Posturas incorretas adotadas durante as atividades do dia-a-dia (antes) e (após). 58,42% 57,42% 60% 47,52% 50% 37,62% 34,65% 40% 31,68% 23,76% 30% 17,82% 20% 6,93% 6,93% 4,95% 4,95% 4,95% 10% 0,99% 2,97% 0,99% 0% 1 2 3 4 5 6 7 8 1-Posição sentada (antes) 2-Pegando objetos no chão (antes) 3-Passando roupas (antes) 4-Varrendo a casa (antes) 5-Lendo livro ou revista (antes) 6-Subindo escada (antes) 7-Dentro do ônibus (antes) 8-Carregando sacolas pesada (antes) 1-Posição sentada (após) 2-Pegando objetos no chão (após) 3-Passando roupas (após) 4-Varrendo a casa (após) 5-Lendo livro ou revista (após) 6-Subindo escadas (após) 7-Dentro do ônibus (após) 8-Carregando sacolas pesada (após) Analisando a Figura 1 encontrou-se uma prevalência maior em relação às posturas incorretas de 60,40% vestindo bermuda, calça comprida, meias ou sapatos; na figura 2, 57,42% posição sentada na cadeira e 58,42% pegando objetos no chão. Marques e Hallal [17] relatam que posturas inadequadas e sobrecarga nas estruturas osteomioarticulares causadas pela posição sentada prolongada são fatores de riscos para o aparecimento de dor e lesão lombar, sendo que as modificações no mobiliário e a realização de exercícios são intervenções úteis para reduzir o impacto. Segundo Mckenzie [18], levantar objetos com as costas curvadas aumenta a pressão nos discos num nível muito maior do que aquele existente quando o peso é levantado com o corpo ereto. Compromete menos o disco intervertebral se houver possibilidade de transformar o ato de levantar em empurrar [19]. As lesões lombares resultantes de levantamentos de peso são primariamente consequência do tamanho da carga erguida e da distância que o peso se encontra do corpo [20]. Segundo Braccialli e Vilarta [21] as disfunções posturais têm sido consideradas um sério problema de saúde pública, pois atingem uma alta incidência na população economicamente ativa, incapacitando-a temporária ou definitivamente para atividades profissionais. Na figura 3, analisando as 14 posturas corretas adotadas no dia-a-dia através do questionário antes do trabalho educativo foram 63,65% e após foram alcançadas as porcentagens de 95,69%. Demarchi et al. [22] enfatiza em sua pesquisa no programa de saúde da família no município de Juiz de Fora que parte da população trabalhadora dos domicílios apresentavam desordens musculoesqueléticas estando susceptíveis a elevados riscos em suas atividades, pois alguns nunca foram orientados para um trabalho preventivo. Conclusão Comparando os hábitos antes e após o trabalho educativo, obteve-se com esta pesquisa uma atuação ergonômica significante através da Cartilha Ergonomia no Lar, o trabalho Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 educativo com as correções das posturas incorretas adotadas durante as atividades do dia-a-dia, palestras, exercícios de alongamento e respiração diafragmática e o software com o quiz, elaborados pela equipe. E com isto realizando um trabalho de prevenção de comprometimentos osteomioarticulares, visto que muitas das doenças ocupacionais decorrem de posturas inadequadas adotadas durante a atividade profissional, sendo que os quadros podem ser revertidos ou atenuados com atos educativos preventivos. Agradecimentos Sinceros agradecimentos aos membros da instituição de Ensino Superior Universidade Católica de Petrópolis, aos órgãos financiadores PIBIC-CNPq/UCP, PIBIC-FCRM/ UCP, a coordenadora e agentes do PSF e aos participantes desta pesquisa. 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Os objetivos do estudo foram traçar o perfil sociodemográfico e clínico dos idosos comunitários praticantes e não praticantes de atividade física e verificar a influência da atividade física na intensidade da dor crônica e na capacidade funcional desses indivíduos. Foi realizado um estudo transversal com 48 idosos portadores de dor crônica no município de Itaúna/ MG, divididos em dois grupos: praticantes de atividade física (F) e não praticantes (NF). Os idosos foram submetidos ao Mini-Exame do Estado Mental, a um questionário sociodemográfico e clínico, à Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (GDS); à Escala Visual Analógica de Dor, ao Questionário da Avaliação da Saúde (HAQ) e ao Teste de Desempenho Físico Modificado (TDFM). Os dados obtidos confirmaram que a prática de atividade física diminui as queixas de dor crônica, melhorando a capacidade funcional do idoso e, possivelmente, a convivência social do indivíduo. Confirmaram também a feminização da população idosa no Brasil, a grande prevalência de sintomas depressivos e a complexidade da dor crônica a qual interfere desfavoravelmente na qualidade de vida do idoso. Physical activity helps in the prevention and treatment of different diseases. The aim of this study was to identify the sociodemographic and clinical profile of community-dwelling elderly participants or not in a physical exercise program and to check the influence of physical activity in chronic pain intensity and functional capacity in these individuals. We conducted a cross-sectional study with 48 elderly patients with chronic pain in Itaúna/MG. They were divided into two groups: those who have performed physical activity (F) and those that have not (NF). Both groups underwent the Mental State Examination, a socio-demographic and clinical questionnaire, the Geriatric Depression Scale Short (GDS), the Visual Analogue Scale for Pain, the Health Assessment Questionnaire (HAQ) and the Modified Physical Performance test (TDFM). The results showed that physical activity reduces the complaints of chronic pain by improving functional capacity and probably the social life of the elderly. In addition, the results also confirm a large number of elderly women in the Brazilian population, high prevalence of depressive symptoms and the complexity of chronic pain which interferes unfavorably in quality of life. Palavras-chave: envelhecimento, dor crônica, atividade física, capacidade funcional. Key-words: aging, chronic pain, physical activity, functional capacity. Recebido em 9 de fevereiro de 2010; aceito em 27 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Marlete Aparecida Gonçalves Melo Coelho, Rua Anita Lima, 57, 3568-021 Itaúna MG, Tel: (37) 3241-5899, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 95 Introdução Material e métodos O Brasil vivencia nas últimas décadas um aumento da expectativa de vida da população, em decorrência dos avanços tecnológicos, farmacológicos e dos cuidados oferecidos pelos profissionais de saúde. Esse processo tem gerado transformações sociais, econômicas e de saúde relevantes para a atual sociedade [1]. As preocupações econômicas e sociais em relação à população idosa incluem a perda da independência, pois cerca de 10% da população adulta a partir dos 75 anos perde a independência em uma ou mais atividades de vida diária [2]. De acordo com Nakano [3], a dependência desses indivíduos implica em consequências para a sociedade, pois se associa à elevada sobrecarga às famílias, procura contínua por serviços de assistência à saúde, aumento dos custos para a saúde pública e do risco de admissão em instituições de longa permanência. A perda da independência no idoso é, geralmente, causada pelo desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas com sintomatologia dolorosa, provenientes das alterações graduais que ocorrem na senilidade [2,4]. A dor é uma percepção subjetiva e desagradável, sendo a dor crônica caracterizada como persistente ou recorrente, não estando necessariamente associada à lesão no organismo [5,6]. As causas da cronificação da dor permanecem controversas [5,7]. No Brasil, um recente estudo demonstra que 75% dos pacientes que consultam serviços públicos de saúde relatam a presença de dor crônica e sua alta prevalência torna-a um problema de saúde pública, com impacto socioeconômico importante [7,8]. Diante disso, torna-se necessário detectar precocemente alterações crônico-degenerativas que podem levar à dor e a alterações funcionais e promover estratégias que devem ser utilizadas na prevenção do declínio funcional no idoso e da perda da independência [9-11]. Estudos demonstram que a atividade física, definida como exercícios físicos planejados, estruturados e repetitivos que têm como objetivo melhorar ou manter o nível de saúde [12,13], propicia benefícios no funcionamento de vários órgãos, no desempenho das habilidades motoras e auxilia na prevenção e tratamento de várias doenças (especialmente as crônicas) [9,14]. Contribui, também, para a normalização do estado emocional, facilita a socialização do indivíduo e previne ou retarda o declínio intelectual [9]; além disso, melhora a dor crônica [15]. Assim, analisar a influência da atividade física na dor crônica e na capacidade funcional do idoso faz-se necessário para o desenvolvimento de estratégias de prevenção, tratamento e acompanhamento do seu estado clínico-funcional. Os objetivos do estudo foram traçar o perfil sociodemográfico e clínico dos idosos comunitários praticantes e não praticantes de atividade física no município de Itaúna/MG e verificar a influência da atividade física na intensidade da dor crônica e na capacidade funcional desses indivíduos. Trata-se de um estudo transversal aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FUNEDI sob o parecer nº 07/2008. Foram identificados 100 idosos portadores de dor crônica, segundo os critérios da Associação Internacional para Estudo da Dor [5] por indicação de fisioterapeutas que trabalhavam no Serviço Público e nas Clínicas Integradas de Fisioterapia da Universidade de Itaúna. Os idosos foram submetidos ao Mini-Exame do Estado Mental, a um questionário sociodemográfico e clínico, à Escala de Depressão Geriátrica Abreviada (GDS); à Escala Visual Analógica de Dor, ao Questionário da Avaliação da Saúde (HAQ) e ao Teste de Desempenho Físico Modificado (TDFM). Os questionários e testes foram aplicados nas Clínicas Integradas, em ambiente previamente preparado, no período de 17 de abril a 11 de junho de 2007. Foram incluídas no estudo pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos, portadores de dor crônica, capazes de deambular de forma independente ou com uso de auxílio para locomoção. Foram excluídos do estudo, idosos portadores de doenças cardiovasculares ou metabólicas instáveis ou agudizadas, idosos que sofreram amputações nos MMII, que apresentavam sequelas de doenças neurológicas agudas ou crônicas e/ou apresentavam distúrbio cognitivo detectável através do Mini-Exame do Estado Mental [16]. Primeiramente foi feito um contato telefônico com os idosos e coletados os dados: idade, sexo, localização e duração (em meses) da dor, endereço e disponibilidade em participar do estudo. Desses, 12 se recusaram a participar. Foram, então, agendados horários e dias para a aplicação dos instrumentos de avaliação para os outros 88 idosos. Os indivíduos que consentiram participar do estudo assinaram o termo de consentimento livre esclarecido e responderam ao Mini-Exame do Estado Mental [16]. Obtendo pontuação mínima necessária neste teste os participantes responderam a um questionário com questões sociodemográficas e clínicas e a Escala Geriátrica de Depressão (EDG), validada para a população brasileira por Paradela et al. [17]. Foram excluídos 09 idosos portadores de doença cardíaca instável e 01 por apresentar suspeita de depressão detectada pela Escala Geriátrica de Depressão e não conseguir prosseguir com os testes. Dos 78 idosos restantes, 24 não praticavam atividade física. Assim, para evitar grupos heterogêneos e vieses no trabalho, optou-se por parear os grupos tendo como referência o grupo que não praticava atividade física. Dessa forma os grupos ficaram homogêneos, com 24 idosos cada e os 30 idosos restantes foram excluídos porque não puderam ser pareados. A amostra foi dividida em dois grupos: grupo praticante de atividade física regular (grupo F) e grupo não praticante de atividade física (grupo NF). Estudos evidenciaram benefícios da atividade física em idosos submetidos a protocolos que variam de 08 a 18 semanas [18]. 96 A atividade física praticada pelo grupo F tinha uma frequência de três vezes semanais e a intensidade do treinamento foi moderada. Para tal, considerou-se a frequência cardíaca de treinamento como 60% a 80% da frequência cardíaca máxima do indivíduo, sendo esta estimada segundo a fórmula 220 – idade do indivíduo [19]. A sessão, com duração de 50 minutos, era dividida em aquecimento, exercícios aeróbicos, exercícios resistidos e relaxamento. Durante o aquecimento de cinco minutos, quando se começava a elevar gradativamente a frequência cardíaca, era realizada caminhada leve com exercícios respiratórios e calistênicos de membros superiores. Os exercícios aeróbicos eram realizados durante 20 minutos, logo após o aquecimento, em bicicleta ergométrica, respeitando-se a frequência cardíaca de treinamento dos indivíduos. Logo após, eram orientados os exercícios resistidos, durante 20 minutos, quando se realizava o fortalecimento dos principais grupos musculares de membros superiores (flexores, extensores, abdutores e adutores de ombros e flexores e extensores de cotovelo) e de membros inferiores (flexores, extensores, abdutores e adutores de quadril, flexores e extensores de joelho, dorsiflexores e flexores plantares de tornozelo) com auxílio de caneleiras ou halteres. A carga era definida como a máxima tolerada para a execução de 3 séries de 10 repetições para cada exercício resistido. Nos últimos 5 minutos das sessões, era realizado o relaxamento. Os indivíduos ficavam em decúbito dorsal sobre colchonetes e, de olhos fechados, realizavam exercícios respiratórios ao som de música suave, e eram instruídos a praticarem o máximo relaxamento físico e mental possível. As sessões eram realizadas em grupo com supervisão adequada de uma fisioterapeuta e respeitando os padrões de segurança e eficiência preconizados pela literatura [10,12]. Após a formação dos grupos, avaliadoras treinadas aplicaram os instrumentos de avaliação nos participantes: Escala Visual Analógica de Dor (EVA), uma escala unidirecional que permite a obtenção de magnitudes e a possibilidade de aplicar testes estatísticos paramétricos [20]. Health Assessment Questionnaire (HAQ), instrumento autoadministrável que avalia as dimensões incapacidade, desconforto e dor, efeitos colaterais de drogas e custo. Porém, desde a sua publicação inicial, grande valor tem sido dado à dimensão que avalia a capacidade funcional, utilizada neste estudo. O HAQ foi adaptado para a língua portuguesa por Ferraz, Oliveira e Araújo em 1990 [21]. Ela é formada por oito subescalas, cada uma delas apresentando duas ou três questões relacionadas às atividades cotidianas, perfazendo um total de vinte [22]. O escore final do instrumento é obtido através da média aritmética dos oito componentes e varia de zero a três [23]. Teste de Desempenho Físico Modificado – TDFM para avaliar a performance funcional desses indivíduos. Ele avalia múltiplos domínios de função física através da realização de tarefas que simulam atividades básicas e instrumentais de vida diária. Essas são realizadas em diferentes e progressivos níveis de dificuldades. O instrumento é composto por sete itens funcionais Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 do Physical Performance Test, descrito por Reuben e Siu em 1990 [24], que se correlacionam com graus de incapacidade, perda de independência e mortalidade precoce; e por dois itens descritos por Guralnik et al. [25] que se correlacionam com institucionalização e perda de independência. Foi adaptado para a população brasileira por Mitre et al. [26]. Análise estatística Os dados coletados foram analisados no programa SPSS (Statistical Package for Social Science). Foram realizadas as seguintes análises: descritiva das variáveis quantitativas (média e desvio padrão) e categóricas (tabelas de frequência). Para comparação dos grupos foram utilizados o teste Z para proporções (ou teste exato de Fisher), teste t Student (ou teste Mann-Whitney) para médias (ou medianas) e teste exato de Fisher para associação de variáveis e coeficiente de correlação de Spearman para avaliar as correlações entre os instrumentos. Foi adotado nível de significância p < 0,05. Resultados e discussão Neste estudo, foram avaliados 48 idosos com idade média de 70,5 anos ± 7,2 anos. Desses, 24 praticavam atividade física (F) nas Clínicas Integradas de Fisioterapia da Universidade de Itaúna e 24 não praticavam (NF), ou seja, passavam o dia no seu próprio domicílio realizando as suas atividades cotidianas. Os grupos foram pareados respeitando a idade e o gênero, sendo que 92% eram do gênero feminino e 8% do masculino, em ambos os grupos. A diferença na proporção de mulheres e homens idosos é uma das características marcantes da população idosa no Brasil e segundo Veras [1] esse processo é chamado de feminização do envelhecimento. A maior representatividade feminina na amostra deste estudo pode ser justificada, também, pelo fato de que, apesar de as taxas masculinas assumirem um peso significativo nos perfis de morbimortalidade, observa-se que a presença de homens nos serviços de saúde é menor do que a das mulheres. Esse fato pode ser relacionado às crenças dos homens, segundo as quais o cuidado não é visto como uma prática comum e necessária [27]. Ao analisar o Índice de Massa Corpórea (IMC) dos grupos observou-se que o NF apresenta um valor igual a 30,10 (DP 4,6) e o F igual a 27,66 (DP 5,16) com p = 0,087. O resultado indicou que, apesar da não relevância estatística, a obesidade no grupo NF é mais preocupante, pois a literatura mostra que a diminuição do nível de atividade aliada ao sobrepeso e à obesidade pode levar o idoso a um estado de fragilidade e de dependência, além de alterações psicológicas [28,29]. De acordo com Oliveira et al. [28], os transtornos de humor são problemas frequentes na população idosa e seus sintomas afetam a capacidade funcional e as atividades sociais dos idosos. Nesse estudo 36% dos idosos do grupo NF e 20% do grupo F apresentaram sintomas depressivos (p = 0,345) detectados pela Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 EDG. Apesar dos resultados não mostrarem significância estatística eles sugerem a atividade física como uma estratégia para diminuir tais sintomas corroborando os achados de Stessman et al. [9], Mazo et al. [29] e Antunes et al. [30]. Os resultados da Tabela I demonstraram uma relação estatisticamente significativa entre duração da dor e prática de exercícios físicos (p = 0,021). A dor mais prevalente no presente estudo foi a intermitente, condição que prejudica menos a capacidade funcional dos idosos. Porém a dor constante, que é mais incapacitante, foi relatada por 40% dos indivíduos do grupo NF e por 12,5% do F. Esse resultado mostra que a atividade física é uma estratégia eficiente, simples e de baixo custo para reduzir a dor e os custos para a Saúde Pública. Apesar dessa constatação, os mecanismos analgésicos do exercício permanecem obscuros [6,31]. Uma hipótese é baseada nos mecanismos endógenos de controle da dor como a liberação de opióides [6,32]. Outra hipótese que explica a analgesia induzida pelo exercício é a de que, durante o exercício, há liberação das catecolaminas [31]. Não se pode deixar de ressaltar que, através dos exercícios físicos, há melhora da autoestima, da autoconfiança e da socialização, além de melhora da função física geral (força muscular, amplitude de movimento e equilíbrio) [33]. Assim, a causa do efeito analgésico do exercício físico parece ser, na verdade, um conjunto de mecanismos atuantes a nível físico, emocional e social [6,31]. Tabela I - Classificação do tipo da dor em intermitente ou constante, com aparecimento durante os exercícios ou diariamente nos grupos NF e F. Intermitente Constante Durante exercícios Diária Total* NF (%) 48,0 40,0 0,0 12,0 100,0 F (%) 83,3 12,5 4,2 0,0 100,0 Teste Exato de Fisher: Valor- p = 0,009 * todos os idosos eram portadores de dor crônica, condição de inclusão no estudo. Considerando-se a dor como um constructo multidimensional, é necessário avaliar o seu impacto tanto no aspecto físico quanto no psicossocial, a fim de propiciar uma abordagem satisfatória do sintoma álgico [34,35]. Assim, a Tabela II analisou a relação entre atividade física e capacidade funcional; e atividade física e intensidade da dor. Os resultados mostraram que o grupo de idosos F teve maior escore no TDFM, instrumento pelo qual foi medida a performance funcional e menor escore no instrumento de autorrelato da capacidade funcional, o HAQ; além de apresentar um escore menor na EVA, instrumento utilizado para mensurar a dor. Os dados acima demonstraram que os indivíduos praticantes de atividade física se queixam de menores intensidades de dor, apresentam melhor percepção da capacidade funcional 97 e melhor performance funcional se comparado com o grupo de idosos não praticantes, sendo a diferença estatisticamente significativa (Tabela II). Benedetti et al. [10] ressaltam que as diretrizes e resultados de programa de atividades físicas para idosos têm o potencial de contribuir para melhorar sua capacidade funcional e o contato social, imprescindíveis para boa qualidade de vida. Stessman et al. [9] examinaram os efeitos do aumento, redução e continuidade dos níveis de atividade física na sobrevivência, função e estado de saúde entre idosos de 70 a 88 anos. Concluíram que, nessa população, tanto a manutenção quanto o início da atividade física nessa etapa da vida está associado com melhor sobrevivência e função. Kokkinos et al. [36] também apoiam o encorajamento da atividade física até em idades mais avançadas. Tabela II - Média e desvio padrão da influência da atividade física nos escores dos testes de autorrelato (HAQ,) de performance (TDFM) e na intensidade da dor (EVA) nos grupos NF e F. HAQ (score total) TDFM (score total) E.V.A (média) NF 0,99 (0,59) 20,52(4,85) 5,63 (2,72) F 0,32 (0,33) 24,16 (3,78) 2,57 (2,42) P 0,000 0,010 0,000 Teste de Mann-Whitney Ao analisar a associação entre os mesmos instrumentos, verificou-se que existe correlação significativa entre HAQ e TDFM nos grupos de idosos F e NF e também entre HAQ e EVA no grupo de idosos F, como mostra a Tabela III. O resultado apresentado sugere que, em ambos os grupos, os idosos têm uma percepção subjetiva de sua capacidade funcional equivalente ao seu real desempenho nas atividades avaliadas. Ao analisar a relação da dor com a percepção subjetiva da capacidade funcional (HAQ) e com o desempenho funcional real dos idosos (TDFM) constatou-se que, no grupo que pratica atividade física, a intensidade da dor interferiu diretamente na percepção, ou seja, quanto maior a dor, pior a percepção da capacidade funcional. Já no grupo de idosos NF, tal relação não foi significativa. Esse achado pode ser explicado pelos sintomas depressivos detectados através da escala GDS, uma vez que o humor deprimido influencia de forma negativa na percepção da dor [9,37]. Teixeira [38] e Stessman et al. [9] relatam que doentes deprimidos e com dor crônica são menos ativos que os não deprimidos; e a depressão somada à dor agrava as alterações funcionais. Tabela III - Associação entre os instrumentos de medida HAQ, TDFM e EVA nos grupos NF e F. NF HAQ X TDFM HAQ X EVA TDFM X EVA Coeficiente -0,786 0,089 -0,021 Correlação de Spearman F Valor-p 0,000* 0,674 0,922 Coeficiente -0,526 0,403 -0,299 Valor-p 0,007* 0,046* 0,147 98 Na relação da escala de performance funcional (TDFM) e dor (EVA) não foi encontrada significância estatística em nenhum dos grupos, o que sugere que, apesar da dor, é possível o idoso ser funcional como relatado também por WiderstromNoga & Finlayson [39]. É importante destacar o ciclo vicioso em que alguns idosos do estudo estão inseridos. Os idosos não praticantes de atividade física apresentam mais dor, mais sintomas depressivos e pior capacidade funcional. Nessas condições desfavoráveis, eles tendem a perpetuar essa situação, e, não raramente, há agravamento do quadro inicial [38]. Segundo a teoria da rede neural, a interpretação da dor está longe de ser compreendida dentro de um contexto linear. Diante da complexidade da dor crônica, é provável que uma melhora na capacidade funcional traga um efeito psicológico positivo e produza, por conseguinte, redução da dor [33,40]. Porém, há dificuldades no engajamento do idoso em uma atividade física regular [41]. Satariano et al. [42] questionaram 2.046 indivíduos com mais de 55 anos a respeito das barreiras para a prática da atividade física e encontraram que as cinco primeiras citadas foram: falta de companhia, falta de interesse (mais comum nas mulheres de 65 a 74 anos), fadiga, problemas de saúde e artrite. Uma das estratégias facilitadoras para o engajamento do idoso em atividades físicas seria a disponibilidade de um familiar ou conhecido acompanhá-lo, ou a presença de uma rede social eficiente. Porém, na contemporaneidade, conciliar a rotina diária com o acompanhamento dos idosos até os locais de atividade física se tornou difícil para os familiares. No Brasil, os programas de incentivo à prática de atividades físicas para idosos ainda são escassos e pouco explorados, necessitando de maior atenção dos gestores, dos programas de atendimento e educação em saúde e da própria sociedade [33]. O mesmo autor cita como exemplo o Programa Agita São Paulo, que buscou mostrar a importância da atividade física moderada, tendo havido especial atenção e engajamento dos idosos. O exposto acima mostra que as poucas iniciativas têm trazido avanços [10]. Tais fatos dão visibilidade às possibilidades de atuação dos profissionais de saúde no campo da prevenção secundária em idosos independentes comunitários e à necessidade de desenvolver políticas públicas para este contingente populacional corroborando os achados de Franchi & Junior [33]. Dessa forma, o presente estudo mostrou que é necessário o desenvolvimento de pesquisas, a valorização do tema nos cursos de graduação, o envolvimento interdisciplinar dos profissionais de saúde, a implementação de uma política de assistência e cuidado que preserve a independência e a autonomia do idoso, o desenvolvimento de programas de educação que incentive os idosos a praticar atividade física orientada e a construção ou adaptação de locais públicos destinados à prática dessas atividades através de universidades, de empresas públicas ou privadas. Apesar das contribuições, o estudo apresentou como limitação, a dificuldade de acesso/transporte dos idosos até o local da coleta Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 de dados, o que limitou a amostragem. Inicialmente, foi realizado o cálculo amostral, mas era inviável o tamanho da amostra necessário. Sendo assim, o estudo foi realizado com o maior número de indivíduos possível para a execução do mesmo. Sugere-se, em futuro estudo, aplicar o mesmo protocolo em amostra maior e aleatorizada, a fim de confirmar os presentes achados. Conclusão Os dados obtidos confirmaram que a prática de atividade física diminui as queixas de dor crônica, melhorando a capacidade funcional do idoso e, possivelmente, a convivência social do indivíduo idoso. Além disso, os resultados confirmaram a feminização da população idosa no Brasil, a grande prevalência de sintomas depressivos e a complexidade da dor crônica a qual interfere desfavoravelmente na qualidade de vida do idoso. Isso significa que, possivelmente, o tratamento da dor crônica no idoso necessita de uma mudança de atitude por parte dos profissionais de saúde, e do envolvimento do idoso e da família, da sociedade e do governo. Referências 1. Veras R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev Saúde Pública 2009;43(3):548-54. 2. Alves LC, Leimann BCQ, Vasconcelos MEL, Carvalho MS, Vasconcelos AGG, Fonseca TCO, et al . A influência das doenças crônicas na capacidade funcional dos idosos do Município de São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública 2007;23(8):1924-30. 3. Nakano MM. Versão Brasileira da Short Physical Performance Battery – SPPB: adaptação cultural e estudo da confiabilidade [Dissertação]. Campinas, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação; 2007. 4. Buchman AS, Shah RC, Leurgans SE, Boyle PA, Wilson RS, Bennett DA. Musculoskeletal pain and incident disability in community-dwelling older adults. Arthritis Care Res 2010;62(9):1287-93. 5. 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M.Sc.***, Heldenrlon José Foletto****, Gustavo Nogara Dotto, D.Sc.***** *Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, **Acadêmica do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, ***Docente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria/RS, Especialista em Dermatofuncional, Grupo de Pesquisa Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas a Fisioterapia, ****Médico do Hospital da Guarnição de Santa Maria, RS, *****Odontólogo, Docente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Franciscano Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi verificar o efeito do ultrassom e da massoterapia sobre a fibrose tecidual no pós-operatório de lipoaspiração. Foram investigadas duas mulheres submetidas à lipoaspiração de abdome e flancos, as quais receberam aplicação de ultrassom e massoterapia na região fibrosada 4 vezes por semana. Foi aplicada uma ficha de avaliação composta por questões abertas e fechadas, constando hábitos de vida, tempo de pós-cirurgia, presença de dor, uso de medicamentos, tratamentos estéticos já realizados, inspeção da pele, perimetria e palpação da região fibrosada pelo método PANFIC, sendo esta aplicada na primeira e última sessão. Para melhor comprovação dos resultados realizou-se exame de ultrassonografia e fotodocumentação antes da aplicação do protocolo de tratamento, e na última sessão de fisioterapia. As pacientes apresentaram diminuição nos níveis de fibrose no pós-teste e mudança de trofismo muscular abdominal. Também observou-se redução de medidas de ambas, percebidas na reavaliação das pacientes, inspeção, palpação, perimetria, exame de ultrassonografia e fotodocumentação. Concluímos que o uso de massoterapia associada ao ultrassom apresenta eficácia no tratamento de fibrose tecidual pós-lipoaspiração, inclusive no pós-operatório tardio. The aim of this study was to investigate the effect of ultrasound and massage therapy on tissue fibrosis in postoperative liposuction. Two women who underwent liposuction of abdomen and flanks and received application of ultrasound and massage therapy in the fibrotic region 4 times a week were investigated. Evaluation was performed through a questionnaire composed of open and closed questions about lifestyle, time after surgery, pain, medication use, aesthetic treatments already performed, skin inspection, perimetry and palpation of the fibrotic region with method PANFIC, applied in the first and last session. The patients showed a decrease in the levels of fibrosis in the post-test and changes in abdominal muscle mass. We also observed a reduction of measures of both perceived in the reassessment of patients, inspection, palpation, perimetry and ultrasound photo documentation. We conclude that the use of massage therapy combined with ultrasound is effective in the treatment of tissue fibrosis after liposuction, including the late postoperative period. Key-words: liposuction, fibrosis, massotherapy, thermotherapy, Physical Therapy. Palavras-chave: lipoaspiração, fibrose, massoterapia, termoterapia, Fisioterapia. Recebido em 22 de setembro de 2010; aceito em 14 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Hedioneia Maria Foletto Pivetta, Rua 1, casa 5, Loteamento Santos Dumont, Camobi 97110-755 Santa Maria RS, Tel: (55) 3226-1116, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Introdução Diante da incessante busca por um ideal de beleza, homens e mulheres mostram-se cada vez mais empenhados na conquista do bem estar e buscam meios para alcançar um corpo perfeito. Dentre as variadas opções que o mercado oferece, as intervenções cirúrgicas são cada vez mais requisitadas e atualmente constituem um meio rápido e sem grandes esforços na conquista desse ideal. Em meio aos procedimentos cirúrgicos mais procurados no momento destaca-se a lipoaspiração, método cirúrgico moderno, simples e rápido considerando o tempo de recuperação e os resultados apresentados. A lipoaspiração consiste em uma técnica utilizada para remover depósitos de gordura localizada em diferentes partes do corpo. Através de uma cânula aspirativa, a gordura indesejada é removida e o contorno corporal é obtido, sendo geralmente permanente. Os avanços tecnológicos e a aquisição de conhecimentos mais específicos fizeram desta cirurgia um procedimento mais seguro, mas ainda com algumas complicações que podem ocorrer na fase pós-operatória [1]. Como exemplos de complicações decorrente da lipoaspiração destacam-se a dor, edema, equimoses, retração cicatricial, entre outros [2]. A fibrose tecidual, além de originar malefício estético, traz prejuízos funcionais, pois interfere na dinâmica e na estática de todos os sistemas do organismo. A lipoaspiração caracteriza-se por uma perda maior de células e tecidos, o que torna o processo de reparo mais complicado devido à dificuldade de regeneração das células parenquimatosas. A arquitetura original do tecido não consegue ser reconstituída, resultando no crescimento de um tecido de granulação abundante para complementar a cicatrização. Nos casos específicos de cirurgias de lipoaspiração o processo de reparo caracteriza-se por tecido cicatricial exacerbado, gerando a fibrose que provocará irregularidades e limitações, além de prejudicar o resultado final da cirurgia. Uma vez que o processo de reparo seja conhecido, entende-se que sempre haverá formação de fibroses em maior ou menor intensidade [1]. Nesse sentido, a Fisioterapia surge como um importante meio para minimizar as intercorrências pós-cirúrgicas. A Fisioterapia Dermato-Funcional tem como objetivo não só a promoção da beleza física, mas a recuperação físico-funcional dos distúrbios endócrino/metabólicos, dermatológicos e musculoesqueléticos [1]. Ela tem sido amplamente recomendada pelos cirurgiões plásticos como forma de cuidado e tratamento posterior as cirurgias plásticas. O tratamento fisioterapêutico no pós-cirúrgico possibilita uma melhora significativa na textura da pele, prevenção de nodulações fibróticas no tecido subcutâneo, redução do edema, minimização de possíveis aderências teciduais, bem como maior rapidez na recuperação das áreas com hipoestesias, ou seja, não só possibilita uma redução das prováveis complicações, como também proporciona o retorno mais rápido ao exercício das atividades de vida diária [3]. 101 Várias modalidades fisioterapêuticas têm sido utilizadas no intuito de restabelecer os tecidos corporais após procedimentos cirúrgicos, entre eles citam-se a drenagem linfática manual, massoterapia, cinesioterapia e eletroterapia. Esta última conta com arsenal terapêutico bastante disseminado e utilizado nas clínicas e consultórios no intuito de manter ou recuperar a boa forma. A massoterapia, por sua vez, tem sido amplamente utilizada pelos profissionais seja com fins estéticos ou terapêuticos, mas pouco se tem pesquisado sobre os reais efeitos dessa técnica [2]. Da mesma maneira, poucas pesquisas têm sido realizadas para demonstrar cientificamente o real efeito desses recursos nessa área de atuação, principalmente comparando as duas técnicas. Assim, o desenvolvimento deste estudo visou investigar os efeitos da utilização dos recursos eletroterapêuticos (ultrassom) e massoterapêuticos combinados, sobre a fibrose tecidual comumente desenvolvida em usuárias de lipoaspiração. Nesse sentido esta pesquisa teve como objetivo verificar os efeitos do ultrassom contínuo e da massoterapia sobre a fibrose tecidual pós-lipoaspiração. Material e métodos A pesquisa caracterizou-se como quase-experimental, com pré e pós-teste, sem grupo controle, e ainda como estudo cego, pois se buscou identificar os efeitos da massoterapia e do ultrassom sobre a fibrose tecidual. O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário Franciscano sob protocolo nº 040.2010.2, assim como as participantes da pesquisa foram convidadas a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido conforme resolução CNS nº 196/96. Contemplando ainda os aspectos éticos, as pesquisadoras responsáveis assinaram o Termo de Confidencialidade em relação ao médico assistente que encaminhou as pacientes. O encaminhamento médico à Fisioterapia foi realizado por escrito e fizeram parte da conduta de tratamento da paciente. Essa prescrição foi condicionante à aplicação das técnicas fisioterapêuticas constantes nesta pesquisa e permaneceu de posse das pesquisadoras. A população e amostra deste estudo foi composta por 02 (duas) mulheres com idade de vinte e três e vinte e quatro anos, encaminhadas por cirurgiãs plásticas com pós-operatório de lipoaspiração em abdome e flancos, com período operatório de dez meses e dois anos e três meses respectivamente. Foram excluídas do estudo mulheres que obtiveram idade inferior a vinte anos e superior a quarenta e cinco anos, as que tinham sido submetidas a outros procedimentos e regiões de lipoaspiração que não os elencados na pesquisa, as que já haviam realizado ou estavam realizando algum método de tratamento na redução da fibrose pós-lipoaspiração de abdome e flancos. A coleta de dados foi realizada em uma Instituição de Ensino Superior Confessional do interior do estado do Rio 102 Grande do Sul, no período compreendido entre maio e junho de 2010. Como instrumentos de coleta de dados utilizou-se: 1. Ficha de avaliação fisioterapêutica, adaptada para essa pesquisa [4-6], foi aplicada no pré e pós-tratamento. Essa ficha foi composta por questões abertas e fechadas, constando hábitos de vida, tempo de pós-cirurgia, presença de dor, uso de medicamentos e tratamentos estéticos já realizados. O instrumento de pesquisa também consta do exame físico que engloba a inspeção da pele, perimetria do abdome e a palpação da mesma região, além de tabela para registro das informações sobre a área detectada com fibrose tecidual, exame de ultrassonografia para anotações de achados encontrados pelo médico radiologista e fotodocumentação. A perimetria foi realizada em apneia expiratória, com uma fita métrica de 1,5 m, da marca Fisio Store, utilizando-se a cicatriz umbilical como referência, medindo-se 5 cm e 10 cm supra umbilical, sobre a cicatriz umbilical e 5 cm infra umbilical, não sendo realizada a perimetria de 10 cm infra umbilical, pois nessa região não havia área lipoaspirada, e também por ser esta região próxima à sínfise púbica. 2. Instrumento de avaliação para classificação dos níveis de fibrose tecidual. No exame físico realizou-se a inspeção e palpação da pele, em que foi possível identificar a presença ou ausência de dor e inclusive sua localização, aderência tecidual, onde a examinadora pode classificar a fibrose em um dos quatro níveis já pré-estabelecidos pelo instrumento do método PANFIC. O Nível Zero (N0) correspondia a não detecção de fibroses após avaliação visual e palpação, a partir de postura ereta e em decúbito dorsal e ventral. O Nível Um (N1) era avaliado quando se detectasse a fibrose somente após a palpação da região na posição de decúbito dorsal e ventral; o Nível Dois (N2) a fibrose era detectada após a avaliação visual da paciente em postura ereta. Por fim, registrava-se o Nível Três (N3) quando a fibrose era detectada através da avaliação visual com a paciente tanto na posição ereta como nos decúbitos dorsal e ventral [6]. 3. Exame de ultrassonografia (LOGIQ da marca GE, com transdutor de 7,5 MHz) do tecido celular subcutâneo (TCS). Para melhor certificação dos dados coletados realizou-se também, antes da aplicação do protocolo de tratamento, no pré-tratamento e na 5ª e 10ª sessão de Fisioterapia, o exame de ultrassonografia utilizando-se o cabeçote de forma linear tendo como meio de acoplamento gel a base de água para detecção da área fibrosada. As áreas investigadas foram ao redor da cicatriz umbilical, para mediana direita e esquerda, supra e infra-umbilical esquerda e direita. 4. Outro instrumento de pesquisa utilizado, no pré e póstratamento, foi a fotodocumentação padronizada [1]. O programa de computador Regeemy – Image Registration and Mosaicking versão 0.2.41-RCB foi utilizado para execução do registro de imagens a posteriori, mediante a marcação automática de pontos controle em ambas as Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 imagens (inicial e final) [7,8]. O registro das imagens foi efetuado com máquina fotográfica digital Coolpix P90 (Nikon Inc., Melville, NY, U.S.A.) com resolução máxima de 12,1 megapixels, LCD de 3”, zoom óptico de 24x, ISO máximo de 6400 e peso aproximado 460g. Também foi utilizado um tripé para estabilização da máquina e padronização das radiografias nos vários momentos do estudo. As pacientes foram posicionadas frontalmente ao equipamento em bipedestação, permanecendo de costas para um fundo neutro, com os pés afastados a uma distância de 10 cm. Primeiramente colocou-se uma fita crepe com 20 cm de comprimento na região infra umbilical para controle da área investigada. No momento do registro fotográfico a paciente manteve-se em apneia expiratória. O tripé foi posicionado a uma altura de 92 cm com distância da lente à paciente de 18 cm para fotografia aproximada e 45 cm para fotografia distante. Foram realizadas duas séries de fotografias para cada paciente, com intervalo de quatro semanas entre um exame e outro. As imagens foram arquivadas no formato (*.jpeg), para possibilitar sua visualização e manuseio em qualquer computador operando em plataforma Windows. No programa Regeemy foi executado o registro de imagens a posteriori na imagem final, a fim de torná-la o mais idêntica possível à inicial. O programa também realizou uma normalização ou equalização de contraste. O Regeemy foi utilizado para o registro das imagens e também para a subtração quantitativa das mesmas. As técnicas fisioterapêuticas eleitas para a pesquisa foram o ultrassom (US) e a massoterapia. As participantes foram submetidas a dez sessões de Fisioterapia, quatro vezes por semana. Cada sessão iniciou com a aplicação do US, devido a seu efeito termogênico, no modo contínuo com intensidade de 1,5 W/cm² e frequência de 3 MHz [1]. O aparelho usado no estudo é de 1 e 3 MHz, da marca HTM Sonic Compact, transdutor com ERA de 3,5cm². O tempo de aplicação do ultrassom foi calculado através da região fibrosada demarcada na avaliação, determinada através do cálculo área/ERA, e o tratamento com massagem foi aplicado por trinta minutos utilizando-se as manobras de deslizamento superficial, deslizamento profundo, amassamento e fricção, como maior velocidade e ritmo, sempre alternando-as durante a sessão, fazendo uso de vaselina líquida. Os dados foram armazenados no programa Microsoft Office Excel 2003 e analisados através da estatística descritiva simples, expressos em percentuais e apresentados na forma de quadros e figuras. Resultados Para melhor organização dos achados da pesquisa classificou-se as pacientes como (A) e (B). A paciente A, 23 anos, estudante, sedentária, no pré-teste relatou que faz uso Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 de anticoncepcional oral (ACO). Seu padrão respiratório apresentou-se misto e o ciclo menstrual regulado. No momento da avaliação A estava em período pós-menstrual. Realizou lipoescultura há dois anos e três meses, com uso de anestesia raquimedular; no pós-operatório apresentou constipação e vertigem. A paciente mede 1,69 cm, pré-cirurgia apresentava 65 kg e pós-cirurgia apresentou 58 kg, permanecendo com o mesmo peso durante o tratamento fisioterapêutico. Iniciou tratamento dermato-funcional, com massoterapia, no seu pós-operatório imediato e o manteve durante dois meses, não realizando nenhum tratamento específico para fibrose posteriormente. A paciente B, de 24 anos, estudante, relatou no pré- teste que pratica atividades físicas três vezes durante a semana, inclusive após a cirurgia de lipoaspiração. Na anamnese apresentou padrão respiratório diafragmático e ciclo menstrual regulado estando no momento da avaliação em período pós-menstrual, não faz uso de anticoncepcional oral. O procedimento cirúrgico, lipoaspiração abdominal padrão e mamoplastia de aumento, foi realizado há cerca de dez meses, com uso de anestesia peridural. Não apresentou complicações pós-cirúrgicas e no período de pós-operatório apresentou dor em região abdominal. Apresentou altura de 1,64 cm e o peso anterior à cirurgia era de 54 kg. No pós-operatório o peso aumentou para 60 kg, permanecendo com o mesmo peso durante o tratamento. Realizou tratamento dermato-funcional de drenagem linfática manual no período de um mês após a cirurgia e não realizou tratamento para a fibrose atual. Quanto à avaliação física, a paciente A possui pequenas cicatrizes circunscritas no abdome e na região póstero-inferior do tronco sem aderências cicatriciais, devido ao corte realizado para introdução da cânula aspirativa no ato cirúrgico. No exame de inspeção apresentou trofismo da pele e muscular normal; não apresentou dor durante o teste de preensão e aderência tecidual. No pós-teste a paciente apresentou no exame de inspeção, trofismo normal da pele, porém, o trofismo muscular apresentou-se mais flácido; não apresentou dor durante o teste de preensão e aderência tecidual como no pré-teste. A paciente B apresentou cicatrizes abdominais sem aderência, o trofismo geral da pele normal, não apresentando flacidez muscular. Não apresentou dor perante teste de preensão no local da fibrose e ausência de aderência tecidual no pré-teste. No pós-teste a paciente apresentou trofismo normal da pele com flacidez muscular e ausência de dor à palpação. A avaliação perimétrica das pacientes A e B apresentou diferenças no pré e pós-teste, como se pode evidenciar no Quadro I. 103 De acordo com o quadro I, constata-se que houve redução nas medidas das pacientes sendo que a paciente A apresentou redução de medidas entre o pré e pós-teste de 1,6% na perimetria infra-umbilical, 0,6% na região da cicatriz umbilical, 2,42% e 1,86% supra-umbilical (5 cm e 10 cm, respectivamente). A paciente B apresentou diferença entre o pré e pós-testes de 4,09% na região infra umbilical, 3,3% na região da cicatriz umbilical, 3,5% e 1,4% na região supra umbilical (5 cm e 10 cm, respectivamente. Quanto à avaliação dos níveis de fibrose pelo método PANFIC [6], a paciente A apresentou diferenças quando comparados ao pré e pós-teste. A Figura 1 demonstra essas alterações, onde 1A representa o período pré-teste, em que apresentou N2 na região supra-umbilical e paramedianas e N3 na região infra umbilical. A Figura 1B refere-se ao pós-teste, apresentando N1 nas regiões supra-umbilical e paramedianas e N2 na região infra-umbilical. Figura1 - Análise dos níveis de fibrose da paciente A no pré (A) e pós-teste (B). A B A paciente B, representada pela figura 2, também apresentou diminuição nos níveis de fibrose entres os testes. A figura 2C representa o período pré-teste, onde apresentou N1 nas regiões supra umbilical direita e esquerda e infra umbilical direita e esquerda. A Figura 2D representa o pós-teste, onde apresentou N1 nas regiões supra umbilical direita, esquerda e infra umbilical esquerda e N0 na região infra umbilical direita, que corresponde à não detecção de fibrose na avaliação visual e palpação. Figura 2 - Análise dos níveis de fibrose da paciente B no pré (C) e pós-teste (D). C D Quadro I - Avaliação da perimetria do abdome nas pacientes A e B. Pré-teste Pós-teste 5 cm Infra Cicatriz umbilical 5 cm Supra 10 cm Supra 5 cm Infra Cicatriz umbilical 5 cm Supra 10 cm Supra Paciente A 82,3 cm 84 cm 82,5 cm 80,5 cm 81 cm 83,5c m 80,5 cm 79 cm Paciente B 85,5 cm 74,5 cm 71,5 cm 72 cm 82 cm 72 cm 69 cm 71 cm Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 104 Os exames de ultrassom foram realizados no pré-tratamento, na 5ª e na 10ª sessão. Para a análise dos dados considerou-se o primeiro e último exame. A ultrassonografia caracteriza-se por um exame dinâmico em tempo real, o qual emite onda sonora através do transdutor linear em profundidade. As imagens geradas a partir da observação consistem em meros registros do exame [9]. As imagens radiológicas do tecido subcutâneo realizadas na paciente A no pré (E) e pós-tratamento (F) assim como na paciente B, pré (G) e pós-tratamento (H) evidenciaram discrepância da ecogenicidade. Isso pode ser observado na Figura 3 e 4. Figura 3 - Exame de ultrassonografia da paciente A das regiões supra e infra umbilicais, no pré (E) e pós-teste (F). E Em ambos os controles foram realizados escaneamentos ecográficos da parede abdominal, com transdutor de alta resolução, nas regiões onde se palpavam nodulações no subcutâneo. As áreas referidas são a região para-mediana direita e esquerda, supra e infra umbilicais respectivamente (mesogástrio). E ainda para o controle A na região do hipocôndrio direito (...). Observou-se uma modificação do padrão ecogênico do primeiro exame em relação ao terceiro exame. Mais especificamente, houve diminuição da ecogenicidade (mais escura) e diminuição das áreas trabeculares, ecogênicas (fibrose), após o tratamento proposto”. Para a análise por meio da fotodocumentação, utilizaramse as imagens próximas (18 cm) realizadas no pré e pós-teste. Na Figura 5 (I, J, K, L) e Figura 6 (M, N, O, P) foram realizadas sobreposições e subtração de imagem, que permitem a análise visual da resolutividade do tratamento fisioterapêutico. Figura 5 - Fotodocumentação da paciente A. I J K L F Figura 4 - Exame de ultrassonografia da paciente B das regiões supra e infra umbilicais, no pré (G) e pós (H). G H O laudo médico referente às imagens das Figuras 3 e 4 evidencia: “Exames ecográficos de rastreamento do tecido celular do sub cutâneo (TCSC), após a realização de cirurgia de lipoaspiração da parede abdominal. Sendo o controle A com dois anos e três meses de pós operatório e o controle B de dez meses de pós operatório. Paciente A no pré (I) e pós-teste (J), subtração do tipo Qualitative Difference, onde os detalhes escuros são as alterações morfológicas superficiais, ocorridas sobrepondo a imagem final com a imagem inicial do tratamento (K) e sobreposição de imagens do tipo Different Channels, mostrando a sobreposição da imagem subtraída em tom verde sobre a fotografia inicial do tratamento em tom vermelho, onde foi possível observar alterações nas regiões desfocadas (L). Figura 6 - Fotodocumentação da paciente B. M N O P Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Paciente B no pré (M) e pós-teste (N), subtração do tipo Qualitative Difference, onde os detalhes escuros são as alterações morfológicas superficiais, ocorridas sobrepondo a imagem final com a imagem inicial do tratamento (O) e sobreposição de imagens do tipo Different Channels, mostrando a sobreposição da imagem subtraída em tom verde sobre a fotografia inicial do tratamento em tom vermelho, onde foi possível observar alterações nas regiões desfocadas (P). Discussão A lipoaspiração consiste na remoção cirúrgica de gordura subcutânea, por meio de cânulas submetidas a uma pressão negativa e introduzidas por pequenas incisões na pele, correspondendo a uma técnica simples, rápida, e, quando bem indicada, ou seja, em adultos saudáveis com gordura localizada, apresenta excelentes resultados [10-12]. O abdome deve ser considerado uma das regiões anatômicas mais importantes a ser tratada por lipoaspiração, por uma série de razões. Depósitos de gordura localizada ocorrem nesta região frequentemente, tanto em homens quanto mulheres, tornando-o uma das mais solicitadas áreas de lipoescultura em ambos os sexos [13]. O trabalho da fisioterapia dermato-funcional no pósoperatório (PO) das lipoaspirações tem sido amplamente indicado. Isto se deve aos acontecimentos clínicos característicos do pós-operatório e comumente observados neste período. Estes eventos apresentam-se como: edema, equimoses, retração cicatricial, hematomas, fibroses e outros [14]. Sabe-se que a fibrose tecidual pode aparecer em até sete dias pós-cirurgia, devendo iniciar o tratamento no pósoperatório imediato, principalmente fazendo uso do US que deve ser utilizado nas próximas 36 a 48 horas. Este recurso atua diretamente no processo de cicatrização no período inflamatório, promove melhora na circulação sanguínea e linfática proporcionando melhor nutrição celular, aumento na extensibilidade do colágeno, incremento na síntese proteica e regeneração tecidual minimizando a incidência de fibroses [1,15]. Em estudo realizado em 2009, verificaram-se resultados satisfatórios na aplicação de protocolo para PO imediato de lipoaspiração com uso de US associado à drenagem linfática manual para resolução da fibrose tecidual. Após o período de um mês de aplicação do protocolo, não foi encontrada formação de fibrose tecidual mediante a avaliação através de exame de ultrassonografia [16]. O ultrassom terapêutico, na frequência de 3MHz, é bastante usado na fase inflamatória para reabsorção de hematomas, diminuindo as chances de formações fibróticas e ainda melhoram a nutrição celular, reduzindo o edema e a dor, consequências da melhora na circulação sanguínea e linfática [17]. Os efeitos fibrinolíticos e destrutivos do ultrassom têm como base a ação tixotrópica evidenciada pelo uso desta 105 terapia. Este conceito tem aumentado a indicação do uso do ultrassom para dissolver massas solidificadas, desenvolvidas por vários meses, como, por exemplo, processos fibróticos ou até mesmo calcificações ósseas [1]. A massagem produz estimulação mecânica nos tecidos, através da aplicação rítmica de pressão e estiramento, promovendo relaxamento, auxiliando na circulação venosa, linfática e absorção de substâncias extravasadas nos tecidos. Essa técnica manual promove o alívio do estresse, mobiliza estruturas variadas, alivia dores, diminui edemas, previne deformidades, restauração na mobilidade dos tecidos moles, liberação de aderências e promove a independência funcional [1,15]. A massagem é realizada na pele com aderências a tecidos adjacentes e na formação de tecido fibroso. Movimentos de fricção são usados para liberar mecanicamente as aderências e amolecer os tecidos fibrosos, atuando também na remodelação de tecido adiposo [18]. Essas manobras de liberação tecidual provocam tensionamento contínuo e prolongado, que organizam a deposição de colágeno, tornando o tecido mais elástico e sem retrações, atuando na prevenção e tratamento de fibroses e aderências, tornando-se o tratamento específico mais eficaz e rápido para fibroses e aderências em cirurgias plásticas [1]. Alguns autores [1,19] afirmam que pacientes em pósoperatório tardio de trinta a quarenta dias que já apresentam processos de fibrose com alterações de mobilidade de pele e tecido subcutâneo e ainda irregularidade do contorno corporal apresentam muitas vezes características não reversíveis. A não realização do pós-operatório imediato além de comprometer o resultado final da cirurgia, priva o paciente de uma recuperação mais rápida, saudável e com menos comprometimento físico [19]. No entanto, o tratamento fisioterapêutico nos processos fibróticos em pós-operatório de lipoaspiração tendem a apresentar resultados mínimos quando superior a um ano [1]. Ao contrário disso, os resultados dessa pesquisa demonstraram haver possibilidade de efeitos satisfatórios na resolução de fibrose tecidual mesmo após um ano de PO. A alteração no trofismo muscular abdominal pode ocorrer devido aos traumatismos provocados pela lipoaspiração nos vasos sanguíneos e linfáticos ocasionando linfedemas que evoluem para fibroescleroses, causando, com isso, alterações na mobilidade tecidual e nos contornos corporais [20]. Uma das consequências do aumento de circulação tissular provocado pelo ultrassom é a eliminação de substâncias químicas estimulantes musculares, o que pode acarretar na diminuição do tônus reflexo. Também podemos relacionar a diminuição do tônus muscular aos efeitos da micromassagem, ao efeito térmico e a diminuição da atividade do sistema nervoso autônomo [1]. Na dermato-funcional o US é utilizado para destruir pequenos depósitos de gordura localizados embaixo da pele. Através da destruição da gordura, que é processada e eliminada pelo corpo, ocorre uma diminuição de medidas. Os resultados mais significativos são observados em pacientes mais jovens, 106 de pele grossa e elástica, assim possuindo boa capacidade de retração, o que corrobora com os achados dessa pesquisa [21]. Conclusão Baseando-se nos dados obtidos nesta pesquisa, concluise que a aplicação combinada de massoterapia e ultrassom mostrou-se eficaz na redução de medidas, assim como apresentou-se resolutiva no tratamento de fibrose tecidual no pós-operatório de lipoaspiração, mesmo que este seja superior a um ano, o que contraria achados de outras pesquisas. Os resultados encontrados permitem inferir que, apesar de um número pequeno de amostra, o tratamento mostrou-se satisfatório. Dessa maneira, a fisioterapia dermato-funcional surge como modalidade de tratamento eficaz em pós-operatório tardio de lipoaspiração de abdome e flancos. Diante da escassez de estudos comprovando cientificamente a resolutividade do tratamento dermato-funcional, sugere-se a realização de outras pesquisas utilizando os recursos da fisioterapia dermato-funcional em pós-operatório tardio de lipoaspiração a fim de obter amostras maiores e com aplicações dos recursos fisioterapêuticos durante maior intervalo de tempo, possibilitando análise estatística dos dados obtidos. Referências 1. Borges FS. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: Phorte; 2006. 2. Domênico G, Wood EC. Técnicas de massagem de Beard. 4ª ed. São Paulo: Manole; 1998. 3. Coutinho MM, Dantas RB, Borges FS, Silva IC. A importância da assistência fisioterapêutica na minimização do edema nos casos de pós-operatório de abdominoplastia associada à lipoaspiração de flancos. Fisioterapia Ser 2006;1(4). 4. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 107 Artigo original A Fisioterapia em um grupo de reeducação perineal masculino Physical therapy in a group of male perineal reeducation Lia Ferla, Ft.*, Luiza Rohde, Ft.*, Luciana Paiva, Ft., D.Sc.* *Centro Universitário Metodista do Ipa Resumo Abstract Objetivo: Este estudo investigativo propõe-se a elucidar a influência da intervenção fisioterapêutica em grupo no tratamento de sintomas urinários irritativos (SUI) e sintomas urinários obstrutivos (SUO). Material e métodos: Estudo qualitativo, exploratório e descritivo, que apresenta fundamentos do trabalho da Fisioterapia no grupo denominado Grupo de Reeducação Perineal Masculino. Resultados e conclusão: Além da melhora dos SUI e SUO, este estudo demonstrou que a fisioterapia em grupo para a população estudada é uma boa opção terapêutica e apresentou resultados satisfatórios, tanto físicos como psicossociais. Aim: The aim of this investigative study was to elucidate the influence of a group-based physical therapy intervention in the treatment of irritative urinay symptoms (IUS) and obstructive urinary symptoms (OUS). Methods: Qualitative, exploratory and descriptive study, based in physical therapy work of a group called Group of Male Perineal Reeducation. Results and conclusion: In addition to the improvement of IUS and OUS, this study demonstrated that group physical therapy is a good therapeutic option and presented satisfactory results, both physical and psychosocial. Key-words: men, urinary incontinence, Physical Therapy. Palavras-chave: homens, incontinência urinária, Fisioterapia. Recebido em 3 de novembro de 2010; aceito em 14 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Lia Janaina Ferla Barbosa, Rua Franklin, 200/408, Alto Petrópolis 91210-060 Porto Alegre RS, E-mail: lyaferla@ hotmail.com 108 Introdução As alterações miccionais caracterizam-se por duas classificações distintas de sintomas: sintomas urinários irritativos (SUI), geralmente secundários a uma alteração vesical (disúria, polaciúria, urgência miccional e noctúria), e sintomas urinários obstrutivos (SUO), relacionados ao efeito mecânico da próstata (diminuição do jato urinário, gotejamento terminal, sensação de esvaziamento incompleto) [1]. A bexiga hiperativa é classificada como síndrome de sintomas sugestivos de disfunção do trato urinário baixo. É, especificamente, definida como urgência, com ou sem urge incontinência, usualmente acompanhada de aumento da frequência miccional e noctúria [2]. Falando da incontinência urinária (IU), esta pode encontrar-se associada aos sintomas urinários citados acima. A IU é definida como sendo uma queixa de qualquer perda (saída involuntária) de urina [3]. De acordo com os sintomas pode ser classificada em três tipos principais: incontinência urinária de esforço ocorre perda involuntária de urina durante o esforço, exercício, ao espirrar ou tossir; a urge-incontinência, perda involuntária da urina acompanhada precedida por urgência; e incontinência urinária mista, quando há queixa de perda involuntária de urina associada à urgência e também aos esforços [2]. No homem é frequente a presença de IU após a ressecção transuretral da próstata (RTU) e a prostatectomia radical (PTR), utilizadas no tratamento do câncer da próstata [4]. Os músculos do assoalho pélvico (MAP) e esfíncteres mostram-se alterados em sua funcionalidade no período pósoperatório e por esta razão devem ser treinados para recuperar a sua função. Em 1948, Arnold Kegel preconizou exercícios para os MAP, também conhecidos por períneo, para aumentar a resistência uretral, promover o controle urinário, realizar a conscientização da existência e da função destes músculos. O treinamento dos MAP consiste nas contrações voluntárias repetitivas, que aumentam a força muscular e a continência pela atividade do esfíncter uretral, promoção de suporte do colo vesical, estimulando contrações reflexas desses músculos durante as atividades diárias que geram estresse [5,6]. Atualmente se mostram escassos estudos que abordam tratamento fisioterapêutico para as alterações miccionais masculinas, particularmente a propostas de tratamentos em grupo para pacientes homens com SUI e SUO. Sendo assim, este estudo investigativo buscou elucidar a influência da intervenção fisioterapêutica em um grupo de pacientes masculinos portadores de SUI e SUO. Material e métodos Este estudo apresenta um delineamento qualitativo, de pesquisa de campo e exploratório. Foi desenvolvido no Ambulatório de Fisioterapia do Centro de Saúde IAPI, localizado em Porto Alegre/RS. O grupo participante do estudo Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 apresentou um caráter intencional e foi constituído por homens com idade entre 62 a 85 anos, portadores de SUI e SUO que recebiam atendimento fisioterapêutico no grupo denominado “Grupo de Reeducação Perineal Masculino”. O critério para delimitar o número de participantes foi o de saturação, previsto nos estudos do tipo qualitativo. Foram excluídos deste projeto os pacientes portadores de déficits cognitivos e neurológicos. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme resolução normativa no. 196/96. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre pelo parecer número 364. A identidade dos participantes foi preservada neste estudo, por esta razão todos foram identificados por letras. O grupo realizava dois encontros semanais, com duração de 60 minutos cada. As atividades propostas durante os atendimentos consistiam em noção básica de anatomia e exercícios de reeducação para os MAP utilizando diversas posições e tipos de contração. As informações foram coletadas de forma individual e em grupo (diário de campo) por meio de dados retrospectivos (análise dos prontuários) e prospectivos (após o término de 15 atendimentos de Fisioterapia), sendo eles: questionário ICIQSF [7], entrevista de reavaliação (criada pelas pesquisadoras), escala análoga visual adaptada para influência da reeducação perineal nos sintomas miccionais e avaliação fisioterapêutica dos sintomas miccionais. Todas as entrevistas foram gravadas no aparelho celular Nokia N95 e transcritas para o programa Microsoft Word para posterior análise e categorização. Além disso, foi utilizado o recurso do diário de campo para registrar informações e percepções que as pesquisadoras observaram durante atividades gerais em grupo. Todos estes instrumentos foram aplicados de forma individual, em dia e horário pré-estabelecido, conforme possibilidade dos participantes. As informações coletadas foram analisadas por meio da técnica denominada análise de conteúdo de Bardin [8]. O material empírico foi categorizado a partir da triangulação entre os achados de campo, objetivos almejados pelo estudo e referencial teórico utilizado. Resultados e discussão Perfil da amostra e disfunções miccionais presentes Participaram do estudo 6 homens com idade variando entre 62 e 85 anos (média de 72,1 anos), destes, 33,3 % (2) apresentavam SUI e 66,6 % (4) SUO. Dos 6 participantes do estudo, 50 % (3) realizaram PTR, dentre estes, o tempo que realizaram a cirurgia até o momento da avaliação inicial, variou de dois a vinte e quatro meses, Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 sendo a média de 10,6 meses; sendo 33,3 % (1) há dois meses, 33,3 % (1) há seis meses e 33,3 % (1) há vinte e quatro meses. Em geral, o grupo apresentou uma melhora nas disfunções miccionais após os 15 atendimentos de Fisioterapia, como demonstra a Tabela I. Tabela I - Disfunções miccionais pré e pós-tratamento de Fisioterapia Disfunções Miccionais Perde antes de iniciar a urinar Sensação de esvaziamento incompleto Perde após urinar Gotejamento pósmiccional Enurese noturna Jato começa e recomeça Disúria Esforço para urinal Sem força de jato Frequencia Noctúria Pré-tratamento Pós-tratamento 3 (50%) 0 (0%) 5 (53,3%) 3 (50%) 3 (50%) 1 (16,6%) 2 (33,3%) 4 (66,6%)* 4 (66,6%) 0 (0%) 3 (50%) 1 (16,6%) 1 (16,6%) 1 (16,6%) 2 (33,3%) 3 (50%) 3 (50%) 2 (33,3%) 2 (16,6%) 4 (66,6%)* 0 (0%) 2 (33,3%) * Esse aumento se deve ao participante do grupo ter apresentado estenose uretral no período de tratamento. Observou-se significante melhora nas disfunções miccionais presentes entre os participantes, confirmando o que demonstram vários estudos, que a cinesioterapia é eficaz quanto à redução dos sintomas urinários, tais como a diminuição da perda urinária devido ao aumento da força de contração da musculatura pélvica, aumento do intervalo entre as micções e consequentemente diminuição da frequência urinária, diminuição do grau de IU [9]. Conhecimento sobre a IU e opções de tratamento Observou-se que dos 6 participantes somente 16,6 % (1) conhecia o tratamento da Fisioterapia para a reeducação perineal (RP), pois havia recebido atendimento pós prostatectomia radical (PPTR) e acabou desistindo por não ter obtido resultado naquele momento. Os outros 83,3 % (5) conheceram o tratamento a partir da inserção no grupo. Quanto aos pacientes que realizaram PTR 66,6 % (2) faziam uso de forro de proteção para a IU, confeccionado por eles mesmos e 33,3 % (1) fazia uso de coletor externo de urina. Nenhum destes foi orientado no pós-cirúrgico sobre os diversos dispositivos para a IU existentes, como coletor externo de urina e absorvente masculino. Esta situação foi vivenciada por ATT, de 62 anos, que afirmou: “Quando eu cheguei aqui estava usando toda aquela parafernália (referindo-se ao coletor externo de urina), que eu tive que descobrir por minha conta aqui no Postão”. Outra queixa relatada pelos pesquisados foi a falta de 109 indicação e orientação para procurar o atendimento da Fisioterapia no PPTR. Isto ocorre mesmo sabendo-se que a RP através da cinesioterapia para fortalecimento do músculo elevador do ânus deve ser considerada como a primeira opção no tratamento da IU PPTR [10]. Apesar de toda comprovação científica da contribuição da assistência fisioterapêutica, principalmente no PPTR, percebeu-se neste estudo desconhecimento dos participantes em relação a esta assistência. Talvez possamos supor que “Há necessidade de uma cooperação maior entre urologistas, ginecologistas e fisioterapeutas. Os fisioterapeutas são especializados no aprendizado e controle motores e no treinamento muscular geral. No entanto, talvez não tenham conhecimento suficiente em ginecologia, urologia ou na função do assoalho pélvico. Portanto, cursos especiais deveriam ser criados para que esses especialistas aprendessem uns com os outros.” [11]. Interferência dos SUI e SUO na vida sexual e social dos participantes do grupo Esta categoria diz respeito à interferência dos SUI e SUO na vida social e sexual dos participantes, para isto usamos nas comparações a avaliação fisioterapêutica pré e pós-tratamento, além do Questionário ICIQ-SF. Segundo a análise dos prontuários, na avaliação fisioterapêutica pré-tratamento, quanto à vida sexual, 100% (6) dos participantes relataram como sendo esta inativa no momento da avaliação; sendo a PTR aparentemente responsável por essa situação em 50% (3), nos outros 50% (3) esta inatividade foi relatada pelos mesmos como sendo devido à idade mais avançada. Já 33,3% (2) dos participantes relataram que deixavam de visitar amigos e parentes devido à IU. A IU interfere na saúde física e mental do paciente, pois o odor e os danos que ela causa vão de encontro com a dificuldade de integração social, levando o indivíduo ao isolamento, depressão e a perda da autoestima; em suma, comprometendo negativamente a sua qualidade de vida [12]. Analisando a avaliação fisioterapêutica pós-tratamento dos 6 participantes no que se refere à vida sexual nada se modificou. Já os 2 participantes que deixavam de visitar amigos e parentes devido à IU relataram ter passado a realizar isto normalmente como antes da cirurgia, conforme relatou PLE, 62 anos, em um dos atendimentos, mostrando-se entusiasmado com sua conquista, onde falou que estava com dor nas pernas, pois tinha saído para dançar no final de semana. Os resultados que encontramos sobre a vida sexual dos 3 participantes PPTR confirma que no homem a IU e a impotência sexual decorrente da PTR são vividas dramaticamente colocando sua masculinidade e virilidade em questão, fato que atinge uma porcentagem que varia em torno de 30% [13]. Isto nos faz pensar nos pressupostos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) [14] que ressalta que há necessidade de se cuidar da qualidade de vida Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 110 dos pacientes que sofreram prostatectomias, sobretudo as radicais, cujas lesões nervosas podem determinar disfunções eréteis e IU. Influência da RP nos SUI e SUO presentes no grupo Para verificar a influência da RP nos SUI e SUO fizemos uso da EAV (Escala Análoga Visual) adaptada, onde 1 se referia a nenhuma influência e 10 grande influência. Com relação aos resultados da EVA, 40 % (2) pontuaram 8; 20 % (1) pontuaram 9; e 20% (1) pontuaram 10 para a influência da reeducação perineal nos SUI e SUO. Observa-se que a RP, neste estudo, mesmo realizada em grupo, teve influência positiva na melhora dos pacientes, confirmado por seus relatos. Este achado confirma os estudos realizados desde 1970 na Suécia, onde a RP começou a ser reconhecida e desde então tem sido tema de vários congressos nacionais e internacionais, sendo sugerida como primeira opção de tratamento a ser proposto para a população incontinente [6]. Percepção dos participantes do trabalho em grupo Em relação ao que acharam da idéia do tratamento em grupo para a RP, as respostas nos demonstraram que 83,3 % (5) dos participantes acharam positiva a ideia do tratamento em grupo. O participante ATT, 63 anos, comentou: “Achei ótima, porque a gente não fica inibido, acaba ajudando os outros parceiros que têm o mesmo problema. E ajuda muito, porque sem isso acho que eu não estaria como estou hoje (...)”. O participante ATA, 64 anos, relatou: “(...) houve um entrosamento com o grupo (...) um praticamente auxiliava o outro (...) até hoje o ATT me telefona, (...) criou uma amizade no grupo (...) vocês tiveram essa capacidade de fazer no meio do problema, que todos nos sentíssemos quase como uma família”. Estes achados corroboram com o que as diretrizes da PNAISH [14] preconizam dizendo que se faz necessário “reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços de saúde reconheçam os homens como sujeitos que necessitem de cuidados” [14]. Acreditamos que no trabalho com este grupo foi criado um espaço masculino onde os participantes além da aceitação do trabalho de grupo foram capazes de sentir-se em um ambiente definido como “quase familiar”, com a facilidade do diálogo livre e aberto com outros iguais. Quando questionamos os pacientes se eles haviam se sentido, em algum momento, constrangidos frente às pesquisadoras ou frente aos colegas do grupo, foi possível perceber que este sentimento não se fez presente, como nos respondeu com outra pergunta AA, 85 anos: “Vocês deixam a gente ficar com vergonha? Nunca”. Isto foi muito importante de se observar, porque percebemos que fomos capazes, mesmo sendo mulheres, de transmitir aos participantes do grupo segurança no nosso propósito dentro do grupo. Assim confirmou ATA, 64 anos: “De maneira nenhuma, vocês se portaram assim com profissionalismo, com carinho com a gente (...)”. E também LB, 85 anos: “(...) A esta hora não estou mais com vergonha de nada (...) se fosse misturado com mulher e homem talvez fosse diferente (...)”. Mesmo os participantes não tendo demonstrado constrangimento perante o grupo, sabemos que falar sobre IU e também disfunção erétil, as quais se fazem presentes depois da PTR, acabam sendo temas extremamente delicados de serem abordados, pois eles são capazes de fragilizar esta população como percebemos no relato de PLE, 62 anos: “Não, porque desde a primeira vez que eu fiz entrevista ela (referindo-se a pesquisadora) foi bem franca comigo, e eu me abri também dos meus problemas (...)”. Sabe-se que os estereótipos de gênero estão enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal os quais potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino. Ademais, a doença é considerada como sinal de fragilidade, o homem não a reconhece como inerente à sua própria condição biológica [14]. Julga-se invulnerável, o que acaba por contribuir para que cuide menos de si mesmo se expondo mais às situações de risco [15-18]. Já em outro depoimento ATT, 63 anos, nos disse: “(...) As fisioterapeutas são desinibidas e ensinam a gente a perder esse constrangimento, inclusive dando uma aula de anatomia sobre os conhecimentos técnicos que a gente tem da parte urológica”. Esta fala demonstra e confirma que cabe ao fisioterapeuta, bem como à equipe interdisciplinar, informar, explicar e conscientizar sobre a função vesical e os hábitos miccionais, isto é, dar visibilidade à IU e desta forma abrir espaço para que se possa falar da IU sem medo e vergonha. Essa conscientização deveria começar no homem ao mesmo tempo em que se iniciam as prevenções do câncer de próstata, contribuindo assim para a prevenção das disfunções [19,20]. Questionados sobre a proposta do tratamento em grupo para a RP ter o mesmo resultado de um atendimento individual, obtivemos 50 % (3) de respostas positivas, como relatou ATT, 63 anos: “Acho que até inicialmente dificulta mais, porque certas pessoas são inibidas, mas ali depois (...) vai se interando, e vai se encorajando em fazer esse trabalho”. E PLE, 62 anos, disse: “(...) no grupo é melhor, que quando se aprende e se perde, fica copiando pelo outro que está do lado (...)”. Já os outros 50% (3) não demonstraram muita certeza em suas respostas, pois alegaram nunca ter realizado o tratamento individualmente como disse ATA, 64 anos: “Eu não posso te afirmar, porque eu nunca fiz individual, eu já parti pro grupo (...) não teria como avaliar essa parte, porque eu nunca fiz individualmente.” Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 111 Dos seis participantes, somente um teve experiência de realizar o atendimento de forma individualizada. Quando questionados sobre sua percepção do trabalho realizado em grupo, foi consenso entre eles terem uma excelente aceitação sobre esta proposta de trabalho. Isto confirma que a prática da terapia em grupo apresenta um acentuado crescimento em nossa realidade. O panorama atual revela uma multiplicidade de intervenções terapêuticas em grupo nos mais variados contextos e evidencia a crescente aceitação dessa prática entre os profissionais e entre os próprios pacientes [21,22]. Sabe-se que terapias em grupos em pacientes com narcolepsia, epilepsia, fisioterapia em grupo para pacientes hemiplégicos, HIV positivos sem sinais clínicos, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade mostraram-se eficazes na recuperação destes indivíduos, porque “o atendimento em grupo facilita o paciente a descobrir que ele faz parte de um grupo de indivíduos com problemas específicos e que, com estes, compartilha suas dificuldades, sintomas e problemas familiares. Em países de poucos recursos – como o nosso – este último tipo de tratamento é o mais indicado, já que otimiza a utilização de recursos financeiros e profissionais que são geralmente escassos [23].” Graças a isto PLE, 62 anos ingressou no grupo e pôde nos relatar: “(...) Pra mim tá muito bom. Não tem outro comentário a fazer, a não ser pelo jeito que vocês tratam a gente (...) procuram explicar bem. E a gente que tá precisando também tem que prestar bem atenção no que vocês tão falando (...)”. Dois participantes falaram sobre o papel das pesquisadoras, ATA, 64 anos, disse: “(...) vocês estimularam todo o tempo pra que a gente trocasse ideias (...) houve um estímulo muito grande em trocas de experiências entre nós.” Já NB, 74 anos, relatou: “Conhecemos uns aos outros (...) o grupo é formidável (...) a gente já pensa em voltar na próxima vez, aqui é muito agradável (...)”. Estas falas nos mostram que está nas mãos dos fisioterapeutas que conduzem o trabalho em grupo o sucesso do convívio, permitindo a troca de experiências entre os participantes como parte integrante do processo de cura. O estímulo e capacidade que o terapeuta do grupo deve ter para poder conduzi-lo são primordiais, porque dependendo da forma com que o terapeuta conduz a sessão, o ritmo torna-se dinâmico e alegre ou monótono e repetitivo. Além disso, o fisioterapeuta de um grupo deve ter a capacidade de agregar várias pessoas ao mesmo tempo, respeitando o limite de cada uma, tornando o ambiente saudável e não competitivo [23]. Troca de experiências e convívio em grupo Conclusão Os relatos coletados nos confirmaram que a terapia em grupo oferece ao paciente a oportunidade de sentir que não está isolado e que não é o único a ter problemas, de revelar com segurança seus sentimentos através de modelos, apoio dos outros e de ser capaz de descobrir problemas individuais ouvindo e compreendendo os demais participantes. Assim, o paciente aprende a aceitar, de forma mais apropriada, os estímulos sociais, utilizando-os construtivamente [24]. Assim relatou LB, 85 anos: “(...) a gente, além de ter a sua história, vê também as histórias dos outros (...) em grupo aí posso ver os outros como se comportam como que é, como não é então estando sozinho está mais perdido”. Em um dos atendimentos completou sua fala acima dizendo ao grupo que ali estavam todos no mesmo barco. Já ATT, 63 anos foi veemente em sua resposta: “Foi muito importante. Tanto é que eu tenho sempre tentado nunca falhar nenhuma aula (...) tudo que eu estou fazendo o médico (...) está aprovando. Inclusive pedi que mandasse gente pra cá (...) porque sem esse tratamento, acho que a pessoa fica assim sem uma perspectiva na vida, achando que aquilo é eterno, que não tem mais cura. É muito bom!”. Nesta fala o participante usou as palavras “perspectiva na vida” para descrever o que, no seu caso, sentia antes de conhecer o tratamento no grupo mostrando que teve desta maneira a oportunidade de mudar seu pensamento, acrescentar em sua vida uma esperança de melhora e se tornar assim um multiplicador do trabalho realizado no grupo. Foi este participante que durante uma conversa informal no ônibus no momento que ia para o atendimento, convidou PLE, 62 anos para fazer parte do grupo também. Inúmeros estudos abordam a temática da IU feminina principalmente devido ao aumento da expectativa de vida dos idosos, mas assim como as mulheres os homens sofrem com a IU, principalmente os que realizaram PTR, porém a busca pelo tratamento ainda se mostra incipiente como constatamos no decorrer do estudo. Sendo assim, a Fisioterapia Urológica inserida dentro dos Postos de Saúde, seguindo modelos de trabalho como o nosso ou outros modelos, é capaz de ser promotora tanto do tratamento, educação e promoção da saúde para os homens com IU e quem sabe até podendo trabalhar a prevenção desta através de novas abordagens. Os resultados foram muito positivos neste contexto, visto que os pacientes mostraram uma boa aceitação e adesão à proposta terapêutica, além de se tornarem multiplicadores do trabalho desenvolvido. Com certeza este resultado é possível de ser reproduzido em outros Centros de Saúde, na medida em que o estudo demonstrou que a realização da Fisioterapia em grupo é uma modalidade terapêutica viável ao tratamento dos SUI e SUO, por se mostrar um tratamento de baixo custo e apresentar resolutividade em curto espaço de tempo, tanto físicos como psicossociais. Referências 1. Wroclawski ER. Guia prático de urologia. Rio de Janeiro: Segmento Farma; 2003. 2. Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griffiths D, Rosier P, Ulmsten U, et al. The standardisation of terminology in lower urinary tract function: Report from the standardisation 112 sub-committee of the International Continence Society. Urology 2003;61:37-49. 3. Oliveira RP, Pires CR, Rodrigues PRT. Padronização da terminologia em disfunção do trato urinário inferior e em procedimentos urodinâmicos. In: Bruschini H, D’Ancona CAL, Lima CLM, editores. Reunião do consenso de disfunções urinárias. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 113 Artigo original Relações entre pacientes com doença de Parkinson e seus cuidadores: uma abordagem da capacidade funcional e da qualidade de vida Relationship between patients with Parkinson disease and their caregivers: an overview to functional capacity and quality of life Raquel Mileib Alves*, Iara Madalena Augusto*, Núbia Carelli Pereira de Avelar**, Ana Paula Santos***, Erika Mattos Santangelo*** *Discentes do Curso de Graduação de Fisioterapia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina/MG, **Doutoranda em Ciências Fisiológicas da UFVJM, Diamantina/MG, ***Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFVJM, Diamantina/MG Resumo Introdução: A doença de Parkinson (DP) leva os indivíduos a reduzirem suas atividades, podendo haver uma relação com a qualidade de vida (QV) dos cuidadores. Objetivo: Verificar a associação entre funcionalidade de idosos com DP e QV de seus cuidadores. Métodos: O estadiamento da DP foi determinado através da Escala de Hoehn & Yahr Modificada, a funcionalidade de 13 idosos foi mensurada pela Escala de Avaliação de Fugl-Meyer e a QV de 08 cuidadores, pela Escala de Sobrecarga do Cuidador. Resultados: Idosos com DP evidenciaram comprometimento motor marcante e a QV de seus cuidadores apresentou baixo escore, não sendo observada correlação entre funcionalidade de idosos com DP e QV de seus cuidadores. Conclusão: A funcionalidade do idoso com DP sozinha não foi capaz de influenciar a QV do cuidador. Abstract Introduction: Parkinson disease (PD) leads individuals to reduce the variety of activities, there may be a relationship to quality of life (QOL) of caregivers. Objective: To investigate the association between functionality of elderly patients with PD and their caregivers’ QOL. Methods: The stage of PD was determined using the Hoehn & Yahr modified, the functionality of 13 elderly was measured by Assessment Scale and Fugl-Meyer QOL of 08 caregivers by the caregiver overload scale. Results: Subjects with PD showed marked motor impairment and QOL of their caregivers had low scores, with no observed correlation function of elderly patients with PD and their caregivers’ QOL. Conclusion: The functionality of the elderly with PD alone was not able to influence the caregiver’s QOL. Key-words: Parkinson disease, life-quality, function, caregivers. Palavras-chave: doença de Parkinson, qualidade de vida, funcionalidade, cuidadores. Introdução A doença de Parkinson (DP) afeta 0,3% da população mundial [1] e caracteriza-se pela degeneração progressiva dos neurônios dopaminérgicos da substância negra compacta, levando à redução de dopamina no estriado [2]. O quadro clínico desta doença é caracterizado bradicinesia, rigidez, tremor de repouso e instabilidade postural; entretanto, esses sinais são apenas visíveis quando há perda de pelo menos 50% destes neurônios [3]. Indivíduos com DP tendem a reduzir a quantidade e a variedade de suas atividades, fato que pode contribuir para a redução de sua aptidão física [4] ocasionando perdas de papéis ocupacionais e de habilidades, como dificuldades na mobilidade e no cuidado pessoal [5]. Devido à cronicidade e à progressão da DP, torna-se evidente o apoio à família cuidadora, não apenas pelas responsabilidades que assume no cuidado, mas também pelo sofrimento, desgaste e tensão a que é submetida [6]. A literatura caracteriza cuidadores segundo Recebido em 29 de novembro de 2010; aceito em 3 de fevereiro de 2011. Endereço de correspondência: Núbia Carelli Pereira de Avelar, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Rua da Gloria, 187, 39100-000 Diamantina MG, Tel: (38) 9973-3007, E-mail: [email protected] 114 o vínculo entre cuidador e paciente, tipos e frequência de cuidados prestados [7]. Diante do supraexposto, o objetivo deste estudo foi verificar a associação entre funcionalidade de idosos com DP e QV de seus respectivos cuidadores. Nossa hipótese é que haja associação entre as variáveis citadas. Material e métodos Delineamento experimental O estudo transversal foi desenvolvido no município de Diamantina/MG, protocolado sob o registro definitivo n° 025/10 e aprovado em conformidade com as normas éticas aplicáveis previstas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Amostra A amostra de idosos com DP foi obtida a partir de prontuários nas Estratégias de Saúde da Família e os critérios de inclusão foram idade igual ou superior a sessenta anos com diagnóstico de DP. Foi excluído do estudo qualquer indivíduo não habilitado a responder as escalas. Procedimentos experimentais Após o recrutamento, os voluntários do estudo receberam uma explicação detalhada dos objetivos do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram divididos em 02 grupos. O grupo de idosos com DP (IDP) foi formado por 13 idosos de ambos os gêneros e o grupo de cuidadores de idosos com DP (CDP) composto por 08 cuidadores, independente da idade. As seguintes escalas foram aplicadas: • Escala de Avaliação de Fulg-Meyer (EFM): para avaliação da funcionalidade de IDP; • Escala de Hehn e Yahr Modificada (HY): para estadiamento de IDP; • Escala de Sobrecarga do Cuidador (ESC): para avaliação da QV de CDP. Instrumentos A funcionalidade dos idosos foi avaliada, por uma examinadora experiente, utilizando a EFM. Esta escala traduzida e validada para a população brasileira é indicada para avaliar seis aspectos do paciente: amplitude de movimento, dor, sensibilidade, função motora da extremidade superior e inferior e equilíbrio, além da coordenação e velocidade, totalizando 226 pontos. Destes, 100 correspondem à função motora normal, em que a pontuação máxima para a extremidade superior é 66 e para a inferior, 34. A pontuação é classificada segundo o nível de comprometimento motor, em que menos Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 que 50 pontos indicam um comprometimento motor severo; 50-84 marcante; 85-95 moderado; e 96-99 leve [8]. A EFM apresenta alta confiabilidade intra e inter-observador e foi aplicada em ambos hemicorpos do IDP, pois consegue predizer a capacidade funcional, apesar de não ser específica para a DP. A HY avalia a incapacidade dos indivíduos com DP indicando o estado geral e a gravidade. Compreende sete estágios de classificação, nos quais os indivíduos inseridos nos estágios de 1 a 3 apresentam incapacidade leve a moderada, enquanto os que estão nos estágios 4 e 5 apresentam incapacidade grave [9]. A QV dos cuidadores foi avaliada através da ESC, também validada para a língua portuguesa e aplicada pela segunda examinadora, e possibilita a pontuação máxima de 88. Estes estão distribuídos em 22 itens que avaliam a sobrecarga subjetiva dos cuidadores de pacientes com doenças crônicas e o impacto da sobrecarga nos seguintes aspectos: saúde, vida social e pessoal, situação financeira, bem-estar emocional e relações interpessoais. Quanto maior a pontuação, maior a sobrecarga a qual o cuidador é submetido [10] e não há na literatura pontos de coorte definidos. Análise estatística Utilizou-se o software SPSS versão 18.0 com nível de significância P < 0,05. Para as variáveis quantitativas, utilizaram-se medidas de tendência central e variabilidade (média, mediana, desvio padrão, erro-padrão, mínimo e máximo). Para as variáveis nominais, foi feita uma tabela de distribuição de frequências. Inicialmente, realizou-se o teste de normalidade para verificação da distribuição da amostra, com a utilização do teste Shapiro-Wilk. Para comparações intergrupos, nas variáveis que apresentavam distribuição simétrica utilizou-se o teste t independente, já para as variáveis com distribuição assimétrica, utilizou-se o teste Mann-Whitney. Para avaliação da correlação entre funcionalidade nos participantes com DP e relato de QV dos cuidadores, utilizou-se o teste de correlação de Spearman, uma vez que os dados apresentavam distribuição assimétrica. Resultados Dos 17 IDP selecionados inicialmente, 13 preencheram os critérios de inclusão e participaram do estudo. Dos 04 participantes excluídos, 02 estavam em estágio avançado não responsivos à EFM; 01 apresentava idade inferior a 60 anos e o último possuía diagnóstico duvidoso. A idade média do IDP foi de 74,67 anos (± 8,98), sendo previamente determinado que apenas participariam idosos acima de 60 anos, e a proporção de voluntárias do gênero feminino foi de 76,93%, demonstrando homogeneidade em relação à idade e ao gênero (p = 0,567). O estadiamento do IDP, de acordo com a HY, está apresentado na figura 1 e não houve correlação com a EFM no hemicorpo esquerdo (0,064) e no direito (0,086). Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Figura 1 - Percentual de estadiamento da DP segundo HY. Distribuição de DP segundo HY 1 5 15% 23% 2 23% 2 31% 2,5 8% Ao observar as características sociodemográficas dos cuidadores, nota-se a ausência de cuidadores do gênero masculino. No CDP a idade média foi de 48,27 anos (± 17,97) e a média de tempo de cuidado foi de 5,33 anos (± 4,63). O restante do perfil de CDP está demonstrado na Tabela I. Tabela I - Características sociodemográficas dos cuidadores de idosos com DP. Variável Estado civil Classificação Vínculo Motivo Dias semanais Horas/dia Descanso CDP (n = 8) Resposta casada primário (familiar) nora ou esposa obrigação moral 7 até 6h ou até 24h 0 dias % 62,5 75 50 50 62,5 75 37,5 A pontuação da EFM de IDP no hemicorpo direito foi de 76,38 pontos e no esquerdo, 76,92 pontos e não houve diferença significativa em relação aos hemicorpos (p = 0,551). Dos 13 IDP avaliados, 09 possuíam cuidadores constantemente; mas 01 deles não respondeu a ESC, totalizando um n de 08 (61,54%) cuidadores com média de pontuação na ESC de 16 (± 9,56). Os itens mais pontuados na ESC foram: dependência do idoso, que pede mais ajuda do que realmente necessita e espera que o cuidador cuide como se fosse a única pessoa de quem ele depende. Em contrapartida, o cuidador sente que não possui dinheiro suficiente para cuidar do idoso, assim como tempo para cuidar de si mesmo, sentindo-se estressado e sobrecarregado, apesar de achar que deveria fazer mais pelo idoso. Quando correlacionadas a funcionalidade do IDP à QV do CDP, os resultados evidenciaram ausência de associação entre as variáveis (p = 0,265 para hemicorpo esquerdo, p = 0,359 para hemicorpo direito). Discussão A taxa de acometimento da DP varia linearmente com o avanço da idade, afetando 1/1.000 indivíduos acima de 65 115 anos e 1/100 após 75 anos [13,14] e a predominância do gênero feminino, pode ser devido à maior sobrevida feminina e a fatores comportamentais, já que as mulheres procuram os serviços de saúde com maior frequência [13], ainda que os homens sejam mais afetados na proporção de 2:1 [13,14]. No grupo de cuidadores, todas as participantes eram do gênero feminino, casadas e apresentaram média de idade que corrobora com estudo de Gonçalves et al. [14], que encontrou idade média de 48,5 anos, estado civil casada e predominância feminina. Quanto à classificação predominante no CDP foi cuidadora primária do tipo familiar, lembrando que cuidador primário é aquele que tem a principal, total ou maior responsabilidade pelos cuidados e secundário, aquele que presta atividades complementares às do cuidador primário [7]. Obrigação moral, conjugalidade, ausência de outros cuidadores próximos e dificuldade financeira contribuem para que uma pessoa se torne cuidadora principal [14]. No presente estudo, obrigação moral foi o motivo predominante para o cuidado, quanto ao vínculo, a maioria era nora ou esposa e os cuidados aconteceram na maioria das vezes todos os dias da semana. Os dados corroboram com o estudo de Gonçalves et al. [14], em que 64,6% dos cuidadores atuavam de modo permanente durante o período diurno, e podem ser justificados pelo vínculo familiar e a necessidade de abandonar atividades extracomunitárias, como o trabalho, para dedicarse ao cuidado. A EFM, que verificou a funcionalidade de IDP, foi desenvolvida para Acidente Vascular Cerebral (AVC), mas foi empregada no presente estudo, porque é uma escala bastante detalhada em comparação às outras e possibilita maior diversificação de métodos para avaliação da capacidade funcional. Na literatura foi encontrado o estudo de Frascarelli et al. [15] em que utilizaram a EFM para avaliar a função motora de membros superiores de crianças e adolescentes (05 a 15 anos de idade) com diagnóstico de traumatismo cranioencefálico, paralisia perebral e AVC, encontrando melhora da função após terapia robótica. O comprometimento motor em IDP foi classificado como marcante e pode ser justificado pelos movimentos sinérgicos de membros inferiores, que são pontuados negativamente na escala, bem como a presença de deficiência em amplitude de movimento, em função do próprio desempenho motor prejudicado pelos sintomas da DP. Setenta e sete por cento da amostra compreendeu até o estágio 3 da HY, quando há apenas alguma instabilidade postural e incapacidade leve à moderada [16], justificando em parte o nível de funcionalidade encontrado. Quanto à QV de CDP, a média de pontuação na ESC foi baixa, dada a possibilidade de atingir 88 pontos. No estudo de Gonçalves et al. [14], 69,5% dos cuidadores mostraramse satisfeitos com a QV, avaliada através da Escala Abreviada de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-BREF), o que pode ser estendido ao presente estudo. Acredita-se que a obrigação moral e o vínculo familiar 116 justifiquem esses dados, como demonstrados na tabela I. Outra hipótese para o baixo escore diz respeito à boa qualidade da relação cuidador-idoso, à percepção de apoio social e à frequência de descanso, que afetam positivamente a QV do cuidador [17] e, segundo Amendola, Oliveira & Alvarenga [18], cuidadores mais velhos parecem ser mais susceptíveis à sobrecarga e os mais jovens, ao isolamento; levando à conclusão de que a pontuação na ESC não foi elevada na amostra devido à baixa idade média dos cuidadores. Não houve correlação entre a funcionalidade do IDP e a QV do CDP, significando que a função não interferiu na QV, não existindo relação de causa e efeito. Acredita-se que isso tenha ocorrido, porque QV é uma percepção subjetiva do indivíduo [19] e baseia-se em princípios como nível socioeconômico e satisfação, além da capacidade funcional [20]. Outra justificativa seria a pequena amostra de participantes com DP, o estadiamento de leve a moderado na HY, a amenização nas respostas dos CDP na ESC devido ao vínculo e ao motivo com que cuidam. As mesmas justificativas quanto à exclusão de participantes graves e a ausência de resposta de um cuidador podem ser acrescidas neste contexto. Schestatsky et al. [21], ao comparar a QV de idosos com DP a seus respectivos cuidadores através da WHOQOL-BREF, mostrou que a idade dos idosos foi o fator mais importante associado à QV do cuidador. O estudo de Aarsland et al. [22] apontou os sintomas mentais como importantes preditores de sobrecarga do cuidador de DP, mas citou que outros trabalhos encontraram o estado funcional como o melhor determinante de sobrecarga. Este estudo apresentou algumas limitações e os resultados devem ser interpretados para a amostra em questão, merecendo destaque o baixo número de participantes e a exclusão de pacientes graves. Apesar das limitações, o presente estudo demonstrou aplicabilidade clínica dos resultados, já que foram avaliados parâmetros de intervenção direta do fisioterapeuta (comprometimento motor) acreditando na melhora indireta da QV dos cuidadores. Conclusão De acordo com a amostra avaliada, pode-se concluir que não houve correlação entre a funcionalidade dos pacientes com DP e a QV dos cuidadores. Referências 1. Scalzo P, Kummer A, Cardoso F, Teixeira AL. Depressive symptoms and perception of quality of life in Parkinson’s disease. Arq Neuropsiquiatr 2009;67:203-8. 2. Bedin S, Ferraz AC. Organização funcional dos circuitos dos núcleos da base afetados na doença de Parkinson e na discinesia induzida pela levodopa. Saúde Rev 2003;5:77-88. 3. Whitton PS. Inflammation as a causative factor in the aetiology of Parkinson’s disease. Br J Pharmacol 2007;150:963-76. 4. Canning CG, Alison JA, Allen NE, Groeller H. Parkinson’s disease: an investigation of exercise capacity, respiratory function and gait. Arch Phys Med Rehabil 1997;78:199-207. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 5. Nickel R, Pinto LM, Lima AP, Janeckzo E, Becker N, Puppy MR, et al. Estudo descritivo do desempenho ocupacional do sujeito com doença de Parkinson: o uso da CIF como ferramenta para classificação da atividade e participação. Acta Fisiatr 2010;17:13-7. 6. Peternella FMN, Marcon SS. Descobrindo a doença de Parkinson: impacto para o parkinsoniano e seu familiar. Rev Bras Enferm 2009;2:25-31. 7. Lemos ND, Gazzola JM, Ramos LR. Cuidando do paciente com Alzheimer: o impacto da doença no cuidador. Saúde e Sociedade 2006;15:170-9. 8. Maki T, Quagliato EMAB, Cacho EWA, Paz LPS, Nascimento NH, Inoue MMEA, et al. Reliability study on the application of the Fugl-Meyer scale in Brazil. Rev Bras Fisioter 2006;10:177-83. 9. 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Oliveira*, Elieth Nogueira Florencio* *Curso de Fisioterapia da UNIFAE, São João da Boa Vista/SP Resumo Abstract Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar a influência da fisioterapia respiratória através das respostas do Peak Flow e o Manovacuômetro antes e depois de um período de quatro anos de fisioterapia respiratória na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE em uma paciente com distrofia muscular oculofaríngea (DMO), atendida na Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (UNIFAE). Métodos: Foi realizado um estudo de caso com análise de prontuário da paciente do sexo feminino, 57 anos, fumante, com diagnóstico de DMO. Resultados: Após tratamento, foram observados aumentos significativos entre o valor inicial e final dos resultados obtidos no Peak Flow e Manovacuômetro, mostrando uma redução de obstrução das vias aéreas e um aumento na força da musculatura inspiratória mesmo sendo uma doença de caráter progressivo. Conclusão: Os resultados deste estudo mostram que a paciente com DMO, após tratamento de fisioterapia respiratória, obteve melhora da capacidade respiratória e física pela maior resistência à fadiga, em consequência do aumento da força da musculatura inspiratória observado nos valores obtidos através do manovacuômetro e com menor grau de obstrução das vias aéreas de acordo com os valores obtidos através do Peak Flow. Objective: The aim of this study was to analyze the influence of respiratory therapy through Peak Flow and the Manovacuometer responses in a female patient with Oculopharyngeal Muscular Dystrophy (OPMD) before and after four years of respiratory therapy in the School of Physical Therapy Clinic of Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino (UNIFAE). Methods: We conducted a case study with analysis of records of a female patient, 57 years, smoker, diagnosed with OPMD. Results: Although OPMD is a progressive disease, we observed significant increases between baseline and final results on Peak Flow and Manovacuometer, showing a reduction of airway obstruction and an increase in muscle strength. Conclusion: The results of this study show that the patient with OPMD, after respiratory therapy treatment, improved physical and breathing capacity due to more resistance to fatigue as a result of an increase in inspiratory muscle strength observed in the manometer values and a lower level of airway obstruction according to the peak flow values. Key-words: oculopharyngeal muscular dystrophy, Physical Therapy, respiration. Palavras-chave: distrofia muscular oculofaríngea, Fisioterapia, respiração. Introdução A distrofia muscular (DM) é considerada um distúrbio muscular progressivo sem uma anormalidade do sistema nervoso central ou periférico, que causa uma dependência clínica e funcional para o portador [1,2]. Dentro de várias distrofias, este estudo irá priorizar a Distrofia Muscular Oculofaríngea (DMO), uma doença genética hereditária, cuja mutação está localizada no gene do cromossomo 14q11 que traz informações para a produ- ção de proteínas que constituem o DNA, além de codificarem a alanina no primeiro exon da proteína PABP2 (Polyadenylate Binding Protein 2), que está circulante em todo o corpo [3-9]. Hoje se sabe que mutação no gene da proteína PABP2 causa a DMO, pois sugere-se que os tratos de polialanina são degradados e se transformam em filamentos intranucleares que podem ser vistos em microscopia eletrônica. Assim, os núcleos das fibras musculares são totalmente destruídos, ocorrendo morte celular que vai prejudicar o funcionamento normal da célula, causando Recebido em 20 de julho de 2010; aceito em 22 de fevereiro de 2011. Endereço para correspondência: Débora Aparecida F. Oliveira, Rua Osvaldo Cardoso, 39, 13840-331 Mogi Guaçu SP, E-mail: de_modena@yahoo. com.br 118 a fraqueza dos músculos afetados na DMO [1,2,10-14]. A primeira denominação da DM foi Oftalmoplegia Progressiva Externa descrita por Von Gravon, um oftalmologista alemão, em 1868 [10,11,15,16]. Uma doença rara, cujo início ocorre entre a quinta e sexta década de vida. Os primeiros sinais apresentados são queda progressiva das pálpebras (ptose), um distúrbio da deglutição (disfagia), que pode levar a pneumonia de origem aspirativa, e a fraqueza dos músculos proximais dos membros e da musculatura respiratória [8,10,11,14,17]. Eventualmente foram relatados casos de DMO em trinta países diferentes e em cinco continentes, mas a sua incidência, em geral, ainda é baixa. Um estudo feito no período de 1964 a 1967 por André Babeau, médico neurologista, mostrou que a maior prevalência para a distrofia era na população franco-canadense que residia na província de Québec, onde um habitante a cada 1.000 habitantes teria essa distrofia [10-12]. Não existe um tratamento medicamentoso para a DMO, mas sim, tratamentos que podem contribuir para a melhora da qualidade de vida do paciente portador dessa distrofia, como a fisioterapia respiratória, além de um tratamento cirúrgico para a ptose palpebral e a disfagia [2,11,13]. A atuação da fisioterapia nas distrofias musculares tem como principal objetivo restabelecer a independência funcional, dando maior liberdade de atuação nas suas atividades de vida diária. Este estudo visa uma revisão da atuação da fisioterapia respiratória na DMO, com objetivo principal de avaliar a melhora nas variáveis de Peak Flow e Manovacuômetro realizados antes e depois de um período de quatro anos de fisioterapia respiratória na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE em um paciente com essa distrofia [17-19]. Material e Métodos Foi realizado um estudo de caso com análise de prontuário da paciente do sexo feminino, 57 anos, fumante, com diagnóstico de DMO, que realizou o tratamento de Fisioterapia Respiratória na Clínica Escola de Fisioterapia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE. Foram utilizados neste estudo os seguintes materiais: • Prontuários de atendimento com controle das variáveis do Peak Flow® e Manovacuômetro® da paciente no período de 04/10/2005 a 11/12/2009. • Os materiais utilizados nas sessões de fisioterapia respiratória da paciente estão listados a seguir: 1. Manovacuômetro Comercial Médica® - utilizado para obter o valor da Pimax, para treino de resistência no Threshold®; 2. Peak Flow Airmed® ATS94 - para avaliar o grau de obstrução das vias aéreas; 3. Voldyne® 5000 Hudson RCI R - para melhorar a ventilação pulmonar, através de um fluxo laminar obtido quando mantido no BETHER; 4. Threshold® IMT - para treino de resistência da musculatura inspiratória; Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 5. Respiron® - para re-expansão de áreas pulmonares e fortalecimento dos músculos inspiratórios; 6. EPAP® - utilizado para prevenção de atelectasias, aumento da CRF, treinamento da musculatura expiratória, além de favorecer a troca gasosa; 7. Bastão - utilizado como auxílio durante os exercícios cinesiorespiratórios, assim promovendo melhor expansão e desinsuflação pulmonar; 8. Esteira Moviment® - para treino de exercícios aeróbios, melhorando o condicionamento cardiorrespiratório; 9. Oximetro Nonin Medical, Inc® - utilizado para mensurar as variáveis de Saturação de oxigênio (SpO2) e Frequência Cardíaca (FC). Procedimentos O procedimento nesse estudo de caso foi analisar o prontuário da paciente, com intuito de avaliação das variáveis do Peak Flow e Manovacuômetro. A paciente participou do tratamento de Fisioterapia Respiratória durante 4 anos na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE, no período de 04/10/2005 a 11/12/2009. Os atendimentos eram realizados duas vezes na semana com duração de cinquenta minutos cada, no período da tarde. Chegando ao setor de Fisioterapia Respiratória com a paciente sentada, eram analisadas as variáveis de FC, PA, FR, SpO2, AP (ausculta pulmonar) - que na maioria das vezes apresentava-se com murmúrio vesicular presente globalmente e em algumas sessões discretamente diminuído, sempre sem ruídos adventícios - Peak Flow e Manovacuômetro, estes dois últimos realizados por três vezes, sendo utilizado o maior valor obtido pela paciente. Em seguida eram realizados os seguintes padrões ventilatórios voluntários (PVV’s): PV fracionado (três tempos) - 2 séries de 10 repetições, PV com soluços inspiratórios (três tempos) - 2 séries de 10, PV com expiração abreviada (3:1) - 2 séries de 5 repetições, o PV tranquilo - 2 séries de 10 repetições, associados durante todos os intervalos à técnica de frenolabial. Logo após, com o valor obtido da Pimax no manovacuômetro, realizava-se o cálculo de 30% da Pimax para treino de endurance (resistência) no Threshold, realizado em 3 séries de 10 repetições. Em seguida era realizado o Voldyne - 3 séries de 10 repetições, onde a paciente mantinha seu fluxo no Better, que é mais fisiológico e garante um fluxo de ar mais laminar nas VA, pois o Voldyne tem três graduações chamadas Best, Better e Good, sendo que cada uma dessas graduações garante um tipo de fluxo. Durante estes quatro anos de tratamento houve algumas variações de aparelhos e foram utilizados EPAP® e Respiron® em algumas sessões, mas logo foram substituídos pelos anteriormente citados para melhora da adaptação da paciente. Em todas as condutas citadas a paciente encontrava-se na posição sentada. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Gráfico 1 - Resultados do Peak Flow analisado na primeira e última sessão de tratamento de fisioterapia respiratória. Peak Flow 300 250 200 150 100 50 0 07/10/2005 11/12/2009 PF(1) PF(f) Gráfico 2 - Resultados do Manovacuômetro analisado na primeira e última sessão de tratamento de Fisioterapia Respiratória. Peak Flow 30 Resultados Peak Flow e Manovacuômetro Os resultados iniciais do Peak Flow e Manovacuômetro da primeira sessão de fisioterapia respiratória na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE da paciente, realizados no dia 07/10/2005, foram de 150 l/min no Peak Flow e 5 cm/H2O no Manovacuômetro respectivamente. E após o tratamento, os resultados obtidos no dia 11/12/2009, foram de 250 l/min e 24 cm/ H2O, respectivamente. Os resultados podem ser melhor visualizados na tabela I e nos Gráficos 1 e 2. Tabela I - Resultados do Peak Flow e Manovacuômetro analisados na primeira e última sessão de tratamento de fisioterapia respiratória. Resultados Valor Inicial Valor Final 07/10/2005 11/12/2009 24 cm/H2O 5 cm/H2O 150 l/min 250 l/min Analisando-se o Gráfico 1, nota-se que houve um aumento entre os valores inicial e final dos resultados obtidos no Peak Flow, mostrando uma melhora de 66,66% de redução de obstrução das vias aéreas, mesmo sendo uma doença de caráter progressivo no tratamento de fisioterapia respiratória. cm/H2O 25 Os resultados obtidos neste estudo serão apresentados separados por tópicos através de tabelas e gráficos correspondentes de cada variável analisada. Monovacuómetro Peak Flow * l/min Logo após, eram realizados alongamentos ativos da coluna cervical e de membros inferiores (MMII) preparando a musculatura para a atividade aeróbia em esteira e para a cinesioterapia respiratória, realizada com exercícios ativos de ombro com auxílio do bastão, sempre associado ao PV tranquilo. Por fim era realizado o treino aeróbio com exercício de caminhada na esteira durante 15 minutos, com intensidade leve, ou seja, a máxima que a paciente conseguia sem se cansar. Durante a caminhada eram analisados as variáveis de FC e SpO2 com o auxílio do oxímetro de pulso, bem como era interrogado o grau de esforço da paciente através da escala de Borg, mantida sempre em 11 pela paciente, intensidade considerada como um esforço leve. Ao final de cada sessão analisava-se novamente as variáveis de FC, PA, FR, SpO2, AP e Peak Flow, medidas também analisadas com a paciente sentada. Todas essas variáveis foram registradas em uma ficha de avaliação, que compõe o prontuário da paciente, analisado para a realização desse estudo de caso. 119 20 * 15 10 5 0 07/10/2005 Inicial 11/12/2009 Final Observando o Gráfico 2, nota-se que houve um aumento entre os valores inicial e final dessa avaliação, mostrando uma melhora de 79,16% da Pimax da paciente que, consequentemente, revela um aumento na força da musculatura inspiratória com o tratamento de fisioterapia respiratória, apesar dessa paciente apresentar uma doença de caráter progressivo, que poderia comprometer com o tempo essa variável. Discussão Nota-se que através destes resultados o programa de fisioterapia respiratória foi efetivo para a melhora da qualidade de vida da paciente e este programa está de acordo com o estudo de Costa [12] que diz que a fisioterapia respiratória atua tanto no tratamento como na prevenção das pneumopatias, em nível ambulatorial, hospitalar e de terapia intensiva, utilizando várias técnicas e procedimentos terapêuticos próprios, como a reeducação funcional respiratória (RFR), a cinesioterapia respiratória (CR) e a reabilitação pulmonar (RP), com objetivo principal de estabelecer ou restabelecer um padrão de respiração funcionalmente correto. Assim, através 120 de um programa de fisioterapia respiratória que envolve não só a CR e a RFR, mas, também, as manobras de re-expansão pulmonar, há melhora do quadro clínico de pacientes com alterações respiratórias, como a observada na paciente deste estudo (Gráfico 1) [10,18-21]. Em relação ao resultado do gráfico 2 os autores Azeredo et al. [18] e Costa [12], citam que através do treinamento da resistência da musculatura respiratória com incentivadores implementados dentro de um programa de treinamento apropriado, se consegue tanto a manutenção, como a melhora da força muscular respiratória, facilitando, assim, a recuperação da fadiga da musculatura respiratória. Vale ressaltar que essa paciente, pela alteração respiratória que comumente indivíduos portadores dessa distrofia apresentam, como descrito por Umphred, poderia ter evoluído para uma piora nessa avaliação [15,18,19, 22]. De acordo com Kisner e Colby, a fisioterapia respiratória abrange uma grande variedade de exercícios terapêuticos e técnicas relacionadas para avaliar e tratar corretamente os pacientes com alguma disfunção cardiopulmonar. Os principais objetivos da fisioterapia respiratória é fazer a prevenção de obstruções e acúmulo de secreções nas vias aéreas; melhorar a resistência muscular respiratória à fadiga e a tolerância a exercícios gerais; reduzir os gastos de energia durante a expiração através da reeducação da respiração; manter ou melhorar a mobilidade torácica e melhorar a efetividade da tosse. Pacientes com DMO têm alterações respiratórias comumente e, para que sejam atingidos os objetivos da fisioterapia respiratória citados anteriormente, podem ser utilizados para melhora e controle respiratório nesses pacientes alguns aparelhos, manobras respiratórias, cinesioterapia respiratória e exercícios aeróbios [23]. Conclusão As considerações finais específicas deste estudo são: • O valor de Peak Flow antes do tratamento de fisioterapia respiratória confirmava a obstrução ao fluxo de ar causado pelo comprometimento na musculatura da faringe nessa distrofia, que após o tratamento os valores aumentaram mostrando, assim, os benefícios para o sistema respiratório, diminuindo a obstrução das vias aéreas nessa paciente com DMO. • Os valores de Manovacuômetro da paciente com DMO aumentaram comparando valores antes e após do tratamento com a fisioterapia respiratória, mostrando uma melhora na capacidade de força da musculatura inspiratória, portanto, maior resistência à fadiga. Como conclusão geral este estudo traz que a paciente com DMO submetida ao tratamento de fisioterapia respiratória na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE, obteve melhora da capacidade respiratória e física pela maior resistência à fadiga, com maiores valores de força e com menor grau de obstrução das vias aéreas. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Referências 1. Fardeau M, Rouleau AG. Short GCG expansions in the PABP2 gene cause oculopharingeal musculur dystrophy. Nature Genetics 1998;18:164-7. 2. Rowland PL. Merrett tratado de Neurologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. 3. Bruin SV, Carvalho SM, Levy A, Levy AJ. Distrofia oculofaringea. Relato de 13 casos. Rev Bras Neurol 1985;21(2):43-46. 4. Ruegg S, Hagen LM, Hobl U, Kappos L, Fubr P, Plasilov M et al. Oculopharingeal Muscular Dystrophy an under-diagnosed disorder? Swiss Med Wkly 2005;135:574-86. 5. Serradell PA, Trull LJ, Torres CMJ, Hammounda HE, Richard P, Brais B. Distrofia muscular oculofaringea: estudio de pacientes pertenecientes a siete familias españolas com diferentes expansiones GCG en el gen PABP2. Revista de Neurologia 2004;19(5):239-47. 6. Slijs van der MB, Engelen van GMB, Hoefsloot HE. Oculopharyngeal Muscular Dystrophy (OPMD) due to a small duplication in the PABPN1 Gene. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 121 Relato de caso Avaliação, proposta de tratamento e intervenção fisioterapêutica em um paciente com aderência cicatricial no joelho Evaluation, treatment proposal and physical therapy intervention in a patient with surgical adherence scarring in knee Laís Campos de Oliveira, Ft.*, Isabelle Ermes Moreira Dias, Ft.**, Raphael Gonçalves de Oliveira, M.Sc.***, Fábio Antônio Néia Martini, D.Sc.**** *Aluna do curso de especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica da Universidade Gama Filho, **Aluna do curso de especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória da Universidade de Marília ***Professor do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Estadual do Norte do Paraná, ****Professor do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Estadual do Norte do Paraná Resumo Abstract Objetivo: Verificar os efeitos de um protocolo de tratamento fisioterapêutico, em um paciente com aderência cicatricial cirúrgica da pele na região da patela, aplicado um ano após a cirurgia. Métodos: As avaliações ocorreram pré e pós-intervenção, envolvendo: severidade da aderência cicatricial, amplitude de movimento (ADM) articular do joelho, perimetria da perna e coxa, teste de flexibilidade e força de resistência dos músculos quadríceps e isquiostibiais, potência de membros inferiores, Atividades da Vida Diária (AVDs), Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVDs) e qualidade de vida. O protocolo de tratamento envolveu: aplicação de aparelho ultrassom, alongamento de quadríceps e isquiostibiais, exercícios de mobilizações articulares do membro inferior e fortalecimento muscular voluntário, associado à eletroestimulação no quadríceps. O tratamento teve duração de sessenta minutos, cinco vezes por semana, durante três meses. Resultados: Não foi observada alteração na severidade da aderência. Ocorreu melhora na ADM articular, perimetria, flexibilidade, força de resistência e potência muscular do membro inferior acometido pela aderência, assim como na pontuação das AVDs, AIVDs e qualidade de vida. Conclusão: Apesar do protocolo de tratamento não ter proporcionado alteração na severidade da aderência, num tratamento tardio, possibilitou melhora das capacidades físicas, contribuindo para a independência nas AVDs e AIVDs, refletindo positivamente na qualidade de vida do paciente. Objective: To evaluate the effects of a physical therapy protocol in a patient with adherence a surgical scarring tissue of the skin in the region of the patella, implemented one year after surgery. Methods: The evaluations were performed pre-and post-intervention, involving: severity of scar tissue, range of motion (ROM) of the knee, leg and thigh perimeter, flexibility test and resistance force of the quadriceps and hamstrings, lower limb power, Activities of Daily Living (ADLs), Instrumental Activities of Daily Living (IADLs) and quality of life. The treatment protocol involved: the application of ultrasound device, stretching the quadriceps and hamstrings, exercises of lower limb joint mobilization and muscle strengthening volunteer associated with electrical stimulation to the quadriceps. The treatment lasted sixty minutes, five times a week for three months. Results: there was no change in severity of adhesion scar. There was improvement in joint ROM, perimetry, flexibility, strength and muscular power of the affected limb by adherence, as well as scores of ADLs, IADLs and quality of life. Conclusion: Although the treatment protocol have provided no change in severity of adhesion, in a delayed treatment, to an improvement in physical capacity, contributing to independence in ADLs and IADLs, reflecting positively on the quality of life of patient. Key-words: evaluation of results of therapeutic interventions, knee injuries, Physical Therapy. Palavras-chave: avaliação de resultado de intervenções terapêuticas, traumatismos do joelho, Fisioterapia. Recebido em 12 de setembro de 2010; aceito em 23 de março de 2011. Endereço para correspondência: Laís Campos de Oliveira, Rua José Severiano Mendes, 8, 18.800-000 Piraju SP, Tel: (14) 3351-4961, E-mail: [email protected] 122 Introdução A aderência de uma cicatriz cirúrgica da pele no tecido ósseo se torna um grande complicador quando atinge uma articulação importante como a do joelho, fato que embora raro, pode ocorrer durante a consolidação óssea da patela, principalmente quando o paciente necessita fazer uso de osteossíntese metálica [1]. Esta ocorrência, quando limita os movimentos da articulação, compromete capacidades físicas como mobilidade, força e flexibilidade [2], prejudicando a realização das atividades do cotidiano e a qualidade de vida da pessoa [3]. A cirurgia para descolamento da aderência é uma alternativa para que ocorra a melhora das funções do membro, todavia, além de ser uma técnica invasiva [4], pode estimular à reformação do tecido fibroso [5]. Tratamentos fisioterapêuticos em aderências cicatriciais cirúrgicas têm possibilitado o descolamento do tecido fibroso, principalmente quando são realizados logo após a cirurgia, melhorando as funções do membro afetado [6]. No entanto, se torna importante verificar também, os efeitos de um tratamento para casos em que o paciente não realizou os cuidados necessários no momento oportuno. Com isso, o objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos de um protocolo de tratamento fisioterapêutico, sobre as funções do membro inferior de um paciente acometido por uma aderência cicatricial cirúrgica da pele na região da patela, aplicado um ano após a cirurgia, como também nas suas AVDs, AIVDs e qualidade de vida. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Figura 2 - Visão antero-posterior da aderência cicatricial cirúrgica da pele na região da patela. Material e métodos O estudo se caracterizou como de caso, do tipo qualitativo e exploratório. A intervenção proposta nesta pesquisa ocorreu um ano após a ocorrência da cirurgia, sendo que nesse ínterim, o paciente realizou sessões de fisioterapia convencional, sem a obtenção de resultados satisfatórios. Na tentativa de se evitar outra cirurgia, que seria realizada com o intuito de descolar o tecido aderido, foi realizada avaliação e posterior elaboração de um protocolo de tratamento fisioterapêutico, visando possibilitar a melhora das funções do membro acometido pela aderência. A pesquisa foi realizada na clínica de Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Norte do Paraná, com aprovação do comitê de ética da Universidade Estadual de Londrina, através do parecer 120/09. O voluntário assinou termo de consentimento livre e esclarecido. Apresentação do caso Avaliação O paciente era do sexo masculino, negro, 24 anos de idade, morador de uma cidade do interior do estado do Paraná. Após fraturar a patela da perna esquerda de forma cominutiva, devido a um acidente motociclistico, passou por processo cirúrgico, em que foram colocados dois fios de Kirschner e fio para cerclagem (Figura 1). Durante a consolidação óssea, ocorreu uma aderência da cicatriz cirúrgica da pele na região da patela (Figura 2). Realizou-se anamnese, na qual o paciente respondeu sobre sua queixa principal, histórico da doença atual e pregressa, histórico familiar, ocorrências de cirurgias e osteossíntese metálica, uso de medicamentos, patologias associadas e exames complementares. Os testes para descartar a hipótese de lesão de ligamentos, meniscos, condromalácia patelar, edema de joelho, dor neural e luxação patelar, foram: gaveta anterior e posterior, Godfrey, estresse em valgo e varo, McMurray, compressão patelar, derrames articulares do joelho, sinal de Clarke, sinal de Tinel, apreensão para deslocamento e subluxação da patela [7]. A severidade da aderência foi determinada através de análise palpatória e visual da área aderida, para posterior classificação de acordo com a pontuação proposta por Rothkopf et al. [8], na qual: 0, indica ausência de aderência; 1, aderência fraca ou leve, que pode ser removida por uma pequena tração manual; 2, aderência moderada, que pode ser eliminada por tração manual; e 3, aderência densa, que pode requerer intervenção cirúrgica. Devido à aparente discrepância de trofismo muscular entre os membros inferiores, realizou-se perimetria. As mesmas fo- Figura 1- Osteossíntese de patela com fios de Kirschner e cerclagem. Radiografias em antero-posterior e perfil. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 ram feitas utilizando-se fita métrica flexível Carci® (Indústria e Comércio de Aparelhos Cirúrgicos e Ortopédicos Ltda., Brasil), sendo o perímetro da coxa tomado no ponto médio entre o trocânter maior do fêmur e o côndilo lateral da tíbia e o perímetro da perna, na área de maior circunferência da panturrilha [9]. A mensuração foi realizada com o voluntário em pé, corpo ereto, pernas ligeiramente afastadas, peso distribuído igualmente entre os pés e a musculatura relaxada. Para verificar a flexibilidade de quadríceps e isquiotibiais, foram realizados os testes de Ely e do Ângulo Poplíteo respectivamente. No primeiro, o paciente em decúbito ventral sobre uma maca, fletiu passivamente a perna, sendo considerada flexão máxima do joelho, o momento em que o voluntário necessitou flexionar o quadril (sinal de Ely positivo), ou até a flexão total do joelho (sinal de Ely negativo). No teste do Ângulo Poplíteo, o paciente se posicionou em decúbito dorsal sobre a maca, com o quadril fletido a 90 graus, estendendo passivamente a perna, até a mesma oferecer resistência. Em seguida, ainda nesta posição, foi medido com um aparelho goniômetro universal de material plástico da marca Carci®, o ângulo que se formou entre a coxa e a perna. Foi considerado encurtamento quando não se completou 180 graus. Em ambos os testes, o membro contralateral foi mantido em extensão sobre a maca [10]. A amplitude de movimento (ADM) articular do joelho em flexão e extensão foi medida com um aparelho goniômetro (Carci®), anotando-se o ângulo formado entre a perna e a coxa. A haste fixa do goniômetro foi colocada ao longo do eixo médio da coxa e a haste distal ao longo do eixo da fíbula, com o membro contralateral mantido em extensão sobre a maca. Para a flexão o paciente se encontrava em decúbito dorsal, realizando a flexão do quadril e posteriormente a flexão de joelho; e para a extensão, o paciente se encontrava em decúbito dorsal, realizando a flexão do quadril e posteriormente a extensão do joelho. Durante o procedimento, o terapeuta acompanhou a realização do movimento com o goniômetro para a coleta do grau da ADM da articulação [10]. O teste isotônico submáximo foi realizado para verificar a força de resistência muscular de quadríceps e isquiostibiais, no qual o paciente teve que fazer 10 repetições máximas (RM), executadas unilateralmente de forma perfeita, com a maior carga possível [9]. Para a musculatura do quadríceps, o paciente encontrava-se sentado sobre a maca, pernas para fora da mesma, sem que os pés tocassem o chão, joelhos fletidos em 90 graus, mãos sobre a coxa, realizando durante o movimento a extensão completa da perna. Para a musculatura dos isquiostibiais, o voluntário encontrava-se em decúbito ventral sobre a maca, joelhos e pernas estendidas para fora da mesma, mãos na lateral do corpo, realizando movimento de flexão, até o ponto de maior amplitude articular. A carga era adicionada em forma de caneleiras e foram feitas até no máximo três séries em cada membro, com intervalo de três minutos entre as séries. O teste foi 123 interrompido no momento em que o avaliado esteve impossibilitado de realizar o movimento completo de extensão ou flexão do joelho, ou quando ocorreram falhas concêntricas voluntárias durante as 10 RM. A potência muscular de membros inferiores foi medida indiretamente através do teste de impulsão vertical com auxílio dos membros superiores (IVC) [10]. O voluntário em posição ereta estendeu a mão “suja” com pó de giz acima da cabeça, fazendo uma marcação numa parede com escala em centímetros (cm), em seguida, com os pés afastados aproximadamente 15 cm, partindo de um semiagachamento, saltou marcando novamente a parede no momento de maior altitude, sendo medida a distância entre as marcas. O movimento foi realizado três vezes, levando-se em consideração o melhor deles. As Atividades da Vida Diária (AVDs), que representam atividades básicas de sobrevivência, como se alimentar ou higiene pessoal e as Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVDs), que são mais complexas, como utilizar telefone e fazer compras, foram avaliadas utilizando-se como instrumentos o Índice de Katz e o questionário de Lawton respectivamente, que permitem classificar o paciente em dependente, dependente parcial e independente. A pontuação para as AVDs variam de 0 a 6 pontos, sendo de 0 a 2 dependente, de 3 a 4 dependente parcial e de 5 a 6 independente. Para as AIVDs a pontuação varia de 1 a 27 pontos, sendo de 1 a 9 dependente, de 10 a 18 dependente parcial e de 19 a 27 independente [11]. A qualidade de vida foi analisada pelo instrumento da Organização Mundial da Saúde, Whoqol-100, validado para a população brasileira por Fleck et al. [12], que permite verificar seis domínios: físico, psicológico, independência, relações sociais, meio ambiente e espiritualidade/crenças pessoais, em escores de 0 (pior qualidade de vida) a 100 (melhor qualidade de vida) pontos. Todos os procedimentos de avaliação e aplicação do protocolo de tratamento foram realizados por duas fisioterapeutas previamente treinadas. Protocolo de tratamento As sessões de fisioterapia foram realizadas durante três meses, cinco vezes por semana, com duração de 60 minutos, apenas no membro inferior acometido pela aderência. Utilizou-se um aparelho de eletroterapia Sonic Compact® (HTM Indústria de Equipamentos Eletro-Eletrônicos Ltda., Brasil), no modo pulsado, com frequência de 3MHz, intensidade de 0,4 W∕cm², largura de pulso de 200 μs, durante quatro minutos sobre a patela, sendo um minuto por área de irradiação efetiva (ERA), com o intuito de auxiliar no descolamento dos tecidos aderentes [13]. Para a aplicação, o paciente encontrava-se sobre uma maca em decúbito dorsal, joelhos apoiados sobre uma cunha de posicionamento, fletidos a 30 graus. Os exercícios de alongamento dos músculos quadríceps e isquiotibiais, com o paciente em decúbito lateral e dorsal 124 respectivamente, foram executados passivamente sobre a maca. No primeiro o paciente realizava extensão de quadril e flexão de joelho e no segundo flexão de quadril e extensão de joelho, até o seu ponto de resistência máxima. Foram feitas três séries de 20 segundos cada, sendo reservado o mesmo tempo para descanso. Mobilizações passivas ocorreram com o paciente sobre a maca em decúbito dorsal e realizadas do sentido proximal para o distal, envolvendo as articulações do quadril, joelho, patelofemoral, tibiofibular proximal, tornozelo e pé. A duração de cada mobilização foi de três minutos e executadas de acordo com os planos e eixos em relação à estrutura ósteo-articular envolvida. Os alongamentos e as mobilizações tiveram como intuito contribuir para a melhora da ADM articular do joelho, evitar o encurtamento da musculatura, manter ou aumentar a flexibilidade e diminuir o risco de lesões, como propõe Bandy e Sanders [14]. Para a eletroestimulação do quadríceps, foi utilizado o aparelho Sonophasys® (KLD Biosistemas Equipamentos Eletrônicos Ltda., Brasil), de corrente bifásica, simétrica, média frequência de 2.500 Hz, modulada a 50 Hz, relação de fase de 50%, duração de pulso de 300 μs, tempo on de 10 segundos e off de 20 segundos, sendo os eletrodos posicionados nos pontos motores próximos da origem e inserção do quadríceps [13]. Durante a passagem da corrente, o paciente realizava movimentos voluntários de extensão e flexão da perna. A carga trabalhada foi definida através do teste de 10 RM, e o voluntário executou os movimentos e se posicionou da mesma maneira descrita para o teste de força de resistência deste músculo, sendo realizadas três séries de 10 repetições. As séries eram intercaladas por um minuto de descanso, nas quais a eletroestimulação não era interrompida. O peso foi aumentado gradualmente conforme a evolução do paciente, mantendo-se o número de séries e repetições [14]. A eletroestimulação e o trabalho de resistência muscular foram realizados com intuito de melhorar a força e o trofismo muscular. A análise dos dados foi descritiva, uma vez que em se tratando de estudo de caso, não existe a possibilidade da aplicação de análises estatísticas. Resultados A severidade da aderência cicatricial foi classificada em 3 pontos, tanto na avaliação pré como na pós-intervenção. Em todos os testes físicos realizados, houve melhora na avaliação pós-intervenção no membro acometido pela aderência (Tabela I). No teste de IVC, os valores foram 24 e 31 cm na pré e pós-avaliação respectivamente. Nas AVDs, a pontuação passou de 3 para 6 e para as AIVDs, de 23 para 27. Em todos os domínios do questionário da qualidade de vida houve melhora (Tabela II). Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Tabela I - Resultados das avaliações pré e pós-intervenção fisioterapêutica nos membros inferiores. Avaliação Encurtamento de quadríceps Encurtamento de isquiotibiais ADM do joelho em extensão ADM do joelho em flexão Perimetria da perna Perimetria da coxa 10 RM – quadríceps 10 RM – isquiostibiais Membro Esquerdo* Pré Pós Membro Direito Pré Pós Positivo Negativo Negativo Negativo Positivo Negativo Positivo Positivo 160º 180º 168º 168º 70º 100º 125º 125º 31 cm 32 cm 32 cm 32 cm 51 cm 53 cm 54 cm 54 cm 2 Kg 14 Kg 20 Kg 36 Kg 10 Kg 15 Kg 20 Kg 23 Kg * Membro acometido pela aderência cicatricial na região da patela. Tabela II - Valores dos escores para cada domínio do questionário de qualidade de vida, nas avaliações pré e pós-intervenção fisioterapêutica. Domínios Físico Psicológico Independência Relações Sociais Meio Ambiente Espiritualidade/Crenças Pessoais Pré-intervenção 54,17 71,25 42,19 66,67 62,50 Pós-intervenção 70,83 82,50 87,50 87,50 74,22 68,75 93,75 Discussão Os resultados mostraram que a severidade da aderência cicatricial se manteve inalterada na segunda avaliação. Como a intervenção fisioterapêutica se iniciou somente um ano depois de realizada a cirurgia, possivelmente este fato dificultou o descolamento do tecido aderido, pois quando realizados logo após a cirurgia, os tratamentos têm se mostrado eficientes [6]. Outro dado importante foi que o aparelho ultrassom, principal meio utilizado para esse fim, foi aplicado no modo pulsado, tendo em vista que outras técnicas, tais como no modo contínuo, ou realizando cavitação, que poderiam ser mais eficazes para auxiliar no descolamento do tecido aderido, são desaconselhadas quando o paciente faz uso de osteossíntese metálica [13]. Mesmo não ocorrendo alteração da severidade da aderência, houve uma mudança positiva nas capacidades físicas avaliadas. Com relação à flexibilidade, os testes realizados demonstraram que o tratamento foi eficiente ao proporcionar que o membro acometido pela aderência deixasse de ter a muscula- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 tura encurtada, tanto do quadríceps, como dos isquiotibiais. O membro direito (que não recebeu tratamento) apresentou encurtamento de isquiotibiais tanto antes como após a intervenção. Esta melhora se refletiu na ADM da articulação do joelho, pois o membro acometido pela aderência apresentou aumento nos graus de extensão e flexão. Para a ADM em extensão, o paciente passou de 160 graus na avaliação préintervenção, para 180 graus na pós-intervenção. Na ADM em flexão, não foi alcançado o valor mínimo de 125 graus sugerido pela literatura [10], porém, ocorreu uma importante melhora, passando de 70 para 100 graus. Melhoras como esta, vêm sendo demonstradas em outros estudos que utilizaram técnicas de mobilização e alongamentos para melhora da flexibilidade e aumento da ADM articular do joelho [15,16]. O paciente apresentou ainda melhoras na perimetria do membro inferior esquerdo, o que pode ser atribuído principalmente ao treinamento com pesos, associado à eletroestimulação. Estes benefícios foram encontrados no estudo de Bax, Staes e Verhagen [17], que além da perimetria, também verificaram aumento da força muscular. No presente estudo ocorreu uma melhora, tanto da força de resistência, como na potência da musculatura avaliada. Na primeira, tanto os músculos do quadríceps, como dos isquiostibiais, de ambos os membros inferiores apresentaram melhoras. Cabe lembrar, que a intervenção foi realizada apenas na musculatura quadríceps do membro com aderência cicatricial, tendo em vista que este músculo se encontrava na avaliação inicial, quatro vezes mais fraco que os isquiostibiais do mesmo membro, sendo esta diferença de força, um importante desequilíbrio fisiológico muscular [18]. Com o trabalho de fortalecimento, foi possível quase equiparar a força de resistêncNo membro inferior direito e na musculatura isquiotibial do membro inferior esquerdo, que não receberam fortalecimento com pesos e eletroestimulação, a melhora da força de resistência, como também da potência muscular, justifica-se, provavelmente, pelo fato do paciente ter com o decorrer do tratamento, aumentado suas atividades cotidianas. A melhora nas AVDs corrobora com essa afirmação, na qual o paciente passou da condição de dependente parcial para independente [11]. Piva et al. [19] mostraram que utilizando algumas das técnicas adotadas no presente estudo, como fortalecimento, alongamento e mobilização, foi possível influenciar para uma melhora significativa em relação às AVDs de pacientes com patologias relacionadas ao joelho, proporcionando independência nas atividades e aumentando suas expectativas diante da vida. Com relação às AIVDs, o voluntário desta pesquisa apresentou melhora na pontuação do questionário, no entanto, já se encontrava classificado como independente na avaliação pré-intervenção. Na avaliação da qualidade de vida, ocorreu um aumento nos valores de todos os domínios do questionário aplicado, com uma média geral de 21,6 pontos da avaliação pré para a pós-intervenção. O domínio independência foi o que apre- 125 sentou maior diferença (45,3 pontos). Gillison et al. [20] mostraram em um estudo de revisão, que em reabilitação ou tratamento de doenças, pesquisas com duração de três a seis meses, tem apresentado efeitos positivos sobre a qualidade de vida, principalmente nos domínios relacionados à independência e aspectos físicos, corroborando com os achados da presente pesquisa. Quanto às limitações deste estudo, cita-se a utilização do aparelho ultrassom como principal meio para auxiliar na diminuição da severidade da aderência cicatricial; sugere-se para estudos posteriores, que outras técnicas fisioterapêuticas, combinadas ou não ao ultrassom, possam ser testadas para esta finalidade, principalmente quando o paciente faz uso de osteossíntese metálica, limitando o uso do equipamento ao modo pulsado. Torna-se importante destacar também a importância da intervenção precoce da fisioterapia nestes casos. O tratamento tardio, como o relatado na presente pesquisa, somente deve ser realizado quando a intervenção no momento oportuno não tenha ocorrido, ou tenha ocorrido de forma inadequada. Conclusão Foi possível verificar que o protocolo proposto, apesar de não ter proporcionado mudança na severidade da aderência cicatricial cirúrgica, num tratamento tardio, contribuiu para que o paciente melhorasse as funções do membro acometido pela aderência, possibilitando ao mesmo, realizar de forma independente as atividades do seu cotidiano, refletindo positivamente na sua qualidade de vida. Referências 1. Brunelli G, Longinotti C, Bertazzo C, Pavesio A, Pressato D. Adhesion reduction after knee surgery in a rabbit model by Hyaloglide®, a hyaluronan derivative gel. J Orthop Res 2005;23(6):1377-82. 2. Creighton RA, Bach BRJ. Arthrofibrosis: evaluation, prevention, and treatment. Tech Knee Surg 2005;4(3):163-72. 3. Holtslag H, Buskens E, Rommers C, Prevo A, Werken CVD. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 127 Revisão Aspectos da coluna vertebral relacionados à postura em crianças e adolescentes em idade escolar Aspects about the spine related to posture in children and adolescents in scholar age Simone Neiva Milbradt*, Gabriel Ivan Pranke, M.Sc.**, Clarissa Stefani Teixeira***, Luiz Fernando Cuozzo Lemos, M.Sc.****, Rudi Facco Alves, M.Sc.*****, Carlos Bolli Mota, D.Sc.****** *Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria, Laboratório de Biomecânica, Grupo de Pesquisa Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas aFisioterapia, **Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria, Laboratório de Biomecânica,***Doutoranda em Engenharia da Produção-Ergonomia pela Universidade Federal de Santa Catarina, Laboratório de Biomecânica,****Mestre em Educação Física pela Universidade de Brasília, Laboratório de Biomecânica,*****Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de Santa Maria, Laboratório de Biomecânica, ******Professor do Departamento de Métodos e Técnicas Desportivas da Universidade Federal de Santa Maria, Laboratório de Biomecânica Resumo Abstract A postura humana é afetada pelas associações existentes entre as partes do corpo especialmente a coluna vertebral e o eixo central do corpo que permite a comunicação com as demais partes do corpo. Frequentemente tem sido reportado que parte dos problemas posturais da fase adulta são originários de acomodações incorretas do corpo na juventude. Logo, o objetivo deste estudo, por meio de uma revisão de literatura, é reportar e relacionar a incidência e as causas de problemas posturais, bem como, as consequências diretas e indiretas para a vida cotidiana. A importância de se conhecer não apenas a magnitude do problema, mas também formas para minimizar as situações de riscos, de modo a informar o leitor sobre os cuidados a serem adotados no dia-a-dia. De forma geral, os estudos revelam os prejuízos sobre a postura com a utilização de uma mochila muito pesada (tendo como limite 10% do peso corporal). Além da diminuição do peso da mochila, da realização de alongamentos e da prática de exercícios físicos, palestras educacionais podem ser estratégias para combater o problema e conscientizar os usuários. Human posture is affected by existent associations among the parts of the body, especially with the spine, central axis of the body which allows the communication with the other parts. It has been frequently reported that part of postural problems in the adult phase are originated from inadequate accommodations of the body during the young phase. The objective of this study, through a literature review, was to report and establish connections among the incidence and the causes of postural problems, as well as the direct and indirect consequences in the daily life. It is important to know not only the magnitude of the problem, but also, the ways to minimize the situations of risk, in order to inform about the cautions to be adopted in the daily life. In a general view, the studies show the damages in the posture with the use of heavy backpacks (the limit is 10% of the corporal weight). Besides the reduction of the weight in the backpacks, and the practice of stretching and physical exercises, educational lectures can be a strategy to combat the problem and to make the users aware about it. Palavras-chave: postura, criança, adolescente, cinemática. Key-words: posture, children, adolescents, kinematics. Recebido 29 de maio de 2009; aceito em 20 de dezembro de 2010. Endereço para correspondência: Simone Neiva Milbradt, Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Educação Física e Desportos, Faixa de Camobi, km 9, Avenida Roraima 1000, 97105-900 Santa Maria RS, Tel: (55) 3220 8271, E-mail: [email protected], [email protected] 128 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Introdução Material e métodos A postura humana tem sido objeto de estudo biomecânico, uma vez que desvios estruturais e funcionais causam desequilíbrio no sistema corporal, levando a compensações que podem gerar alterações em suas estruturas e funções [1]. A postura não é uma posição estática, mas sim, dinâmica, pois as partes do corpo se adaptam constantemente, em resposta a estímulos recebidos, refletindo corporalmente as experiências momentâneas [2]. Do ponto de vista fisiológico, existe uma postura ideal para cada indivíduo, sendo esta caracterizada por um bom alinhamento corporal, posição na qual o mínimo estresse é aplicado em cada articulação e que exige mínima atividade muscular para sua manutenção. Então, qualquer posição que aumente o estresse sobre as articulações pode ser considerada postura defeituosa [3]. Em postura correta o estresse é distribuído para as estruturas mais aptas a suportálo, enquanto que em má postura o efeito é oposto, sendo o estresse distribuído para as estruturas menos capazes de suportá-lo [4]. A maioria dos problemas posturais tem origem na infância, uma vez que nessa fase há o período de acomodação das estruturas anatômicas. Em crianças em idade escolar é possível observar padrões de postura ao sentar, carregar mochilas e até mesmo da marcha inadequada, bem como a permanência na posição sentada por até seis horas por dia, com pequenos intervalos em pé, fatores que podem levar a alterações posturais, fadiga e dorsalgias crônicas [5]. Já os adolescentes são os mais ameaçados pelo trabalho em postura arcada, pela demorada permanência em pé e por transportarem cargas extremamente pesadas além de suas capacidades estruturais ainda não totalmente desenvolvidas [6]. A postura corporal assumida no dia-a-dia tem implicações na saúde e no bem-estar de crianças [7]. Na fase de crescimento e desenvolvimento a solicitação incorreta da coluna predispõe condições degenerativas da coluna no adulto [8]. Esse problema passa a ganhar importância na medida em que estudos apontam o aumento da incidência de problemas posturais em crianças e adolescentes em idade escolar, o que pode estar influenciada por fatores comumente relacionados à rotina escolar, como peso das mochilas, mobiliário, estado emocional, capacidade física, meios de transportes e outros fatores como, por exemplo, hereditariedade e excesso de peso corporal [2,9]. Diante desses fatores há necessidade de serem tomadas medidas preventivas no que diz respeito à avaliação precoce das possíveis alterações posturais e à educação das crianças sobre as posturas adequadas ao estudar, ao transportar objetos escolares e ao praticar exercícios físicos, de modo a evitar comprometimento do sistema musculoesquelético. Baseado nesses pressupostos, a proposta do presente estudo é reportar e relacionar a incidência e as causas de problemas posturais, bem como as consequências diretas e indiretas para a vida cotidiana de crianças e adolescentes em idade escolar. Foi realizada uma revisão sistemática através de uma pesquisa nas bases de dados Medline, Scielo e ScienceDirect em busca de artigos que discutissem sobre a postura de crianças e adolescentes em idade escolar. Os descritores utilizados combinados entre si para a busca dos artigos, de acordo com os descritores em ciências da saúde (DeCS) foram: postura (posture), criança (child), adolescente (adolescent), cinemática (kinematic). A partir dessas buscas foram selecionados textos que vislumbrassem responder os objetivos deste estudo. Dentre as 83 publicações encontradas, foram selecionadas 20 de língua portuguesa e inglesa que relacionassem de forma mais objetiva e específica as relações esperadas. Como apenas os artigos não supriram as lacunas existentes na literatura, foi feita uma busca de teses e dissertações, no período de 2000 a 2008, no Google scholar. Foram encontrados 13 estudos e, destes, cinco foram selecionados para a constituição deste estudo. Resultados A coluna vertebral, por ser o suporte do corpo, é a mais prejudicada com sobrecargas exacerbadas impostas no corpo humano, podendo ser considerada como a origem dos problemas posturais, que aumentam significativamente na população mundial, tanto em adultos como em crianças [10]. Coluna vertebral constitui a base do tronco, além de possuir funções como suportar o homem em sua postura ereta, proteger a medula espinhal e permitir o movimento e a deambulação [11]. Estudos comprovam que existe uma grande variação fisiológica na postura e na mobilidade da coluna vertebral durante o crescimento e que a adolescência está correlacionada com o desenvolvimento e acentuação de desvios posturais [2,8]. Os desvios posturais na coluna podem ser encontrados basicamente em dois planos: frontal e sagital. No plano sagital, a curvatura da coluna vertebral com uma convexidade posterior é denominada de cifose, enquanto que uma curvatura de convexidade anterior é denominada de lordose e, no plano frontal, uma curvatura lateral da coluna vertebral (para a direita ou para a esquerda) é denominada escoliose [12]. Prevalência de problemas posturais em crianças e adolescentes Alguns estudos na literatura procuram investigar quais os principais problemas posturais que ocorrem em crianças e adolescentes em fase escolar. Detsch et al. [13] estimaram a prevalência de alterações posturais laterais e ântero-posteriores em adolescentes do sexo feminino, através da avaliação postural não-invasiva de 495 estudantes do ensino médio regular diurno, com idade de 14 a 18 anos na cidade de São Leopoldo/RS. Os resultados mostram uma prevalência de Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 66% para as alterações laterais e de 70% para as alterações ântero-posteriores. Rego e Scartori [5] observaram o padrão de postura em atividades do dia-a-dia de 47 crianças (66% do sexo masculino e 34% do sexo feminino), com idade média de 13 ± 2 anos, da 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental, do Colégio Integral de Teresina/PI e as alterações posturais de maior evidência detectadas foram à escoliose e o desnivelamento de espinha ilíaca anterior superior em 51% dos alunos, os joelhos varo e valgo em 34%, a protusão de ombros em 36%, a anteriorização da cabeça em 24% e o varismo e valguismo dos pés em 32%. Correa et al. [14] avaliaram 72 crianças de 2ª e 3ª série de Ensino Fundamental, escolhidos de forma aleatória e encontraram as seguintes alterações: escoliose, hipercifose, hiperlordose, joelho valgo e pé valgo e constataram ainda que as meninas apresentaram mais alterações posturais que os meninos. Provavelmente, essas alterações ocorreram durante a puberdade e, segundo os autores, devido à redistribuição dos tecidos que ocorre principalmente nas meninas. Já Martelli e Traebert [15] avaliaram crianças e adolescentes em fase escolar de 10 a 16 anos do município de Tangará/SC e encontraram a prevalência de alterações posturais de coluna vertebral em 28,2% dos avaliados. As duas alterações mais prevalentes foram a hiperlordose (20,3%) e a hipercifose (11,0%). Fatores que causam problemas posturais Fatores como hábitos posturais equívocos, hereditariedade, ausência de atividade física, respiração oral, excesso de peso e transporte inadequado de materiais escolares tem sido identificados como possíveis fatores de desencadeamento de problemas posturais em crianças [2,9]. Martelli e Traebert [15] ao avaliarem fatores associados a alterações posturais de coluna vertebral de crianças e adolescentes em fase escolar de 10 a 16 anos do município de Tangará/SC encontram associação significativa negativa de estatura com alterações posturais e associação negativa entre massa corporal e hiperlordose. Em contrapartida, Arruda e Simões [16] ao analisarem o perfil antropométrico, nutricional e uma caracterização postural computadorizada de 100 crianças de idades entre oito e 10 anos encontraram que com o aumento do Índice de Massa Corporal (IMC) houve aumento da prevalência de assimetria nos planos frontal (vista anterior) e sagital (escoliose, hiperlordose lombar, hipercifose torácica), sugerindo maiores alterações posturais em crianças diagnosticadas como pré-obesos e obesos. Detsch et al. [13] associaram as alterações posturais laterais e ântero-posteriores de 495 adolescentes do sexo feminino da cidade de São Leopoldo/RS, com idade entre 14 e 18 anos, com fatores socioeconômicos, demográficos, antropométricos e comportamentais, em estudo epidemiológico. As alterações laterais foram mais prevalentes nas alunas com IMC normal e nas que assistiam à televisão por mais de 10 horas semanais. A prevalência de alterações ântero-posteriores foi maior nas 129 alunas cujos responsáveis estudaram até o nível fundamental e nas alunas com sobrepeso ou obesidade. Neste sentido, Kussuki, João e Cunha [17] analisaram a influência do excesso de peso sobre a coluna de crianças obesas (n = 24) ou com sobrepeso (n = 13), comparando-as com a coluna de crianças eutróficas (n = 40), com idades entre sete e 10 anos, utilizando métodos quantitativos de análise postural por meio de fotos digitais. Observou-se que o grupo de obesos possui maior incidência de hiperlordose lombar (66,67%) seguidos das crianças com sobrepeso (53,85%) e crianças eutróficas (35%). Além disso, foram encontradas hipercifose torácica, também para os obesos (54,17%, enquanto foi 41,67% em crianças com sobrepeso e 32,5% em crianças eutróficas) e protração da cabeça (54,17%, enquanto foi de 41,67% em crianças com sobrepeso e 12,5% em crianças eutróficas). Os valores estatisticamente significativos para os ângulos que caracterizam as alterações citadas foram encontrados na protração da cabeça, em todas as comparações, e em lordose lombar, apenas na comparação entre obesos e eutróficos. Esses achados revelam que o sobrepeso e a obesidade traduzem problemas posturais, principalmente nas curvaturas do plano sagital. Frequentemente tem sido reportado que a postura é influenciada pelo modo de respiração das crianças. De uma maneira geral, crianças respiradoras orais possuem problemas posturais. Em estudo de Lima et al. [18] se comparou a postura de crianças de oito a 10 anos respiradoras orais obstrutivas (n = 17) e funcionais (n = 29) com crianças respiradoras nasais (n = 19), por meio da biofotogrametria. Em geral, encontrouse que os respiradores orais funcionais possuem o corpo inclinado mais para frente que as respiradoras nasais. Além disso, respiradores orais possuem maior inclinação da cabeça para frente e maior cifose torácica que respiradores nasais. O uso da mochila se muito pesada também é fator que leva a alterações posturais. Em estudo piloto de Chansirinukor et al. [19] se objetivou determinar se o peso de uma mochila, a sua posição na coluna vertebral e/ou o tempo que o indivíduo a carrega afetaria a postura da coluna cervical e ombro de adolescentes. A postura foi medida a partir de fotos nos planos sagital e frontal de 13 estudantes em várias condições de carga. A posição do ângulo da cervical e do ângulo do ombro foi calculada e comparada. Os resultados mostram que tanto o peso da mochila e o tempo que o indivíduo a carrega influencia a postura da coluna cervical e do ombro. A anteriorização da cabeça aumentou com a mochila, especialmente com carga pesada. Em geral, encontrou-se que, para adolescentes, mochilas com 15% do peso corporal ou mais parecem ser muito pesadas para manutenção da postura. Negrine e Negrine [20] analisaram os efeitos posturais da sobrecarga da mochila, considerando rotação de tronco, assimetria de ombro, cifose torácica, lordose lombar e decomposição frontal e sagital na linha vertical. Um grupo de 43 adolescentes (18 meninas e 25 meninos) com média de idade de 12,5 ± 0,5 anos foi considerado a partir de um 130 estudo anterior pela média de peso da mochila e média de tempo gasto no trajeto casa-escola (7 min). Os indivíduos foram avaliados por meio de um dispositivo optoeletrônico em diferentes condições correspondentes as atividades habituais realizadas com a mochila escolar: sem carga; carregando 8 kg de carga simétrica; carregando 12 kg de carga simétrica; carregando 8 kg de carga assimétrica; e depois da fadiga devido ao transporte de mochila (em 7 minutos caminhando na esteira carregando uma carga simétrica de 8 kg), com a mesma carga e sem carga. As cargas simétricas induziram mudanças na postura apenas nas medidas de plano sagital (sem diferenças estatisticamente significativas apenas entre as condições com 8 e com 12 kg de peso carregado), enquanto as cargas assimétricas induziram mudanças posturais em todos os planos anatômicos. A fadiga habitual acentua os efeitos no plano sagital, porém os efeitos cessam em todos os parâmetros (exceto lordose lombar) após a remoção da carga. Os autores afirmam que os efeitos do peso da mochila na postura devem ser avaliados com mais cuidado, pois a lei protege apenas os trabalhadores que transportam cargas pesadas, mas não crianças. Além disso, resultados na literatura sustentam a hipótese de que dor nas costas na juventude está correlacionado com dor lombar na idade adulta. Consequências dos problemas posturais A postura incorreta acarreta sobrecargas no aparelho locomotor humano, que podem acarretar algumas consequências maléficas ao organismo. Em geral, o indivíduo que adota uma má postura convive constantemente com dor, principalmente na região da coluna. As dorsalgias podem acontecer na região cervical, dorsal e lombar da coluna vertebral. Rego e Scartoni [5] apontam uma alta prevalência de dorsalgia na região da coluna vertebral em crianças em idade escolar, relacionando como consequência a permanência na posição sentada (5 ± 2h/dia) e hábito de conduzir mochilas com peso excessivo. Alterações nos padrões cinemáticos da marcha também são comumente relacionados na literatura aos desvios posturais. Flores et al. [21] avaliaram a marcha de quatro crianças com nove anos de idade, com e sem o uso de mochila, utilizandose de equipamentos de análise biomecânica. O percentual de carga da mochila foi controlado em 10% da massa corporal do indivíduo e foram analisados o tempo dos passos, a velocidade da marcha e a variação angular do joelho. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as condições do uso de mochila nos parâmetros de marcha avaliados para a população desse estudo. Mota et al. [8] analisaram as características cinemáticas do andar de crianças transportando mochilas. Os sujeitos da pesquisa foram alunos da rede privada que frequentavam a 2ª e 3ª séries do ensino fundamental, com idade entre oito e nove anos, e que utilizavam mochilas de duas alças. Para a coleta de dados foi utilizado o sistema tridimensional de Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 análise cinemática de movimento. A mochila escolar utilizada para coleta foi do tipo duas alças, sendo a mesma para cada indivíduo. Porém, a massa colocada na mochila correspondeu a 12% da massa corporal de cada sujeito. Os resultados mostraram que o uso desse tipo de mochila exerceu influência no comportamento dos ângulos do quadril e tronco durante o andar dos sujeitos, possivelmente pela postura compensatória do tronco, pois pela variedade de movimentos que a coluna realiza esta é a primeira estrutura do sistema locomotor a sentir os efeitos das adaptações posturais. De acordo com os resultados encontrados no estudo de Flores et al. [21] e Mota et al. [8] o valor limite recomendado pela literatura de 10% da massa corporal nas mochilas, parece satisfatório, uma vez que aumentando essa porcentagem as alterações no padrão cinemático começam a ocorrer Chow et al. [22] avaliaram os efeitos do uso de mochila com diferentes pesos na cinemática da marcha de 23 adolescentes com escoliose idiopática e 20 adolescentes controles com médias de idade de 13 anos. Os pesos de mochila utilizados foram de 7,5%, 10%, 12,5% e 15% do peso corporal. Foi avaliado o movimento de pelve, tronco e cabeça. Para ambos os grupos avaliados o aumento da carga da mochila provocou um aumentou significativo na flexão do tronco em relação ao quadril e da cabeça em relação ao tronco, mas não houve nenhuma diferença entre os grupos. O mesmo estudo avaliou o equilíbrio dos indivíduos, para verificar a influência das mochilas com pesos diferentes nessa variável. Aliás, essa é, portanto, mais uma variável influenciada pelo excesso de peso na mochila, demonstrando a existência dessas relações com a mensuração do centro de pressão na tarefa de equilíbrio estático em uma plataforma de força. Para ambos os grupos do estudo o deslocamento do centro de pressão no sentido ântero-posterior aumentou de forma significativa. Porém, na comparação entre os grupos as diferenças foram mais evidentes no deslocamento médio-lateral do centro de pressão, sendo que indivíduos com escoliose apresentaram piores índices de equilíbrio. Os autores concluem que o limite de carga para pessoas com escoliose idiopática não deve ser o mesmo para indivíduos normais, devido às diferenças no equilíbrio existentes entre os grupos. Pinetti et al. [23] analisaram a influência da mochila no equilíbrio de 42 adolescentes em idade escolar de ambos os sexos (15 do sexo feminino e 27 do sexo masculino), com idades entre 11 e 13 anos por meio da análise de dados estabilométricos em dois momentos: sem mochila e com mochila, por um período de 30 segundos em cada momento. Para análise estatística foram utilizados os dados estabilométricos de deslocamento radial e da velocidade de deslocamento. Os principais resultados obtidos revelam que com a utilização da mochila a velocidade de deslocamento e o deslocamento radial do corpo aumentam em relação à situação sem mochila. Dessa forma, percebe-se que o uso da mochila com materiais didáticos interfere também no equilíbrio e no controle postural desses alunos. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 O combate ao problema O combate aos problemas posturais deve ser realizado para diminuir os problemas associados à má postura. Noda e Tanaka-Matsumi [24] avaliaram o efeito de uma intervenção através de aulas baseadas na melhora comportamental da postura sentada em 86 crianças japonesas. A intervenção contou de 28 sessões em que as crianças eram instruídas sobre a postura correta, sendo que em cada sessão o número de crianças com postura adequada era contado. Os resultados indicam que as crianças melhoram a postura, depois desse período, sendo que o índice inicial de 20% de crianças em postura adequada antes da intervenção subiu para 90% ao término da intervenção. Além disso, o programa contou com uma grande aceitação entre os professores, pois os alunos aumentaram significativamente a produtividade na escrita em postura adequada. Um estudo realizado por Fernandes, Casarotto e João [25] mostrou que orientar pais, professores e alunos é uma boa maneira de corrigir erros ao carregar mochilas. A pesquisa foi feita com 99 alunos da 1ª à 4ª séries (de sete a 11 anos) de uma escola particular em São Paulo/SP. Foram observados o peso e o tipo da mochila e a maneira de transportá-la. Após a avaliação, alunos, pais e professores assistiram a palestras de educação postural. Antes da orientação, 49,5% dos estudantes usavam mochilas de rodinhas, 46,5% usavam o modelo com duas alças e 4% outros tipos de transporte. Depois, 60,5% passaram a usar a de duas alças, contra 33,5% que continuaram com a de rodas. Verificou-se que o peso das mochilas de rodinhas chegava a 10 kg. Por isso, puxá-la de maneira assimétrica gerava sobrecarga, principalmente para subir as escadas. O número de alunos que carregavam a mochila de alças nos dois ombros passou de 41,5% para 55,5%. O peso da mochila diminuiu, em média, 2,6 kg, uma vez que os estudantes carregavam material desnecessário. Além da orientação dos indivíduos, a própria avaliação postural como identificadora dos desvios posturais é fundamental no combate ao problema. A identificação dos problemas posturais é o primeiro passo para a intervenção que quanto mais cedo ocorre mais resultados positivos e benéficos pode trazer. Finalmente, instruções sobre alimentação e exercício físico para os pais e para as próprias crianças podem auxiliar no combate ao sobrepeso e à obesidade, o que pode refletir em efeitos benéficos, uma vez que estes fatores induzem os desvios posturais. Conclusão Evidencia-se que a coluna de crianças e adolescentes em idade escolar é afetada quando sujeita a sobrecargas excessivas de qualquer natureza. Além da obesidade, o uso da mochila é fator primordial nesse contexto, pois é comprovado que sua carga pode levar a problemas tanto imediatos, no momento do uso, quanto traumáticos, em adaptação às sobrecargas re- 131 petidas durante este uso. O peso da mochila de 10% do peso corporal utilizado como parâmetro limítrofe para utilização da mochila em crianças parece ser adequado para essa situação. As explicações sobre as posturas adequadas e o incentivo aos escolares na correta execução das atividades, como, por exemplo, diminuição do peso das mochilas, realização de alongamentos diários e a importância do exercício físico, são medidas relevantes que podem ser adotadas facilmente no ambiente escolar. Essas medidas podem, substancialmente, prevenir os escolares de distúrbios posturais na juventude, trazendo efeitos benéficos para toda a sua vida, uma vez que tais problemas podem ser responsáveis pela dor lombar tão frequente na idade adulta. Referências 1. Moro ARP. 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Como procedimento metodológico foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental em periódicos indexados nas bases Lilacs, Medline, Biblioteca Cochrane e Scielo, bancos de teses online disponibilizados em diferentes universidades brasileiras e pesquisa a documentos viabilizados pelos Ministérios da Saúde e Educação e instituições diretamente ligadas à Fisioterapia. Para responder à questão inicial foi abordada a necessidade da adequação da formação desses recursos humanos para a saúde tanto em nível de graduação como de pós-graduação. Ressaltou-se também a necessidade de reorientação das práticas dos trabalhadores de Fisioterapia nos serviços de saúde, assim como das políticas públicas existentes que possibilitam a participação da mesma neste caminho. Nesta reflexão foram ainda revisadas as experiências que relacionam a Fisioterapia à integralidade. A partir das diferentes fontes analisadas verificam-se alguns avanços no que se refere à formação de novos profissionais, mas observa-se que estas são ainda iniciativas bastante localizadas. De forma a efetivar uma reorientação das práticas em saúde sugere-se a necessidade de uma releitura do instrumental teórico-prático da profissão construído até o momento e direcionado essencialmente para a assistência e reabilitação. Da mesma forma, enfatiza-se a importância de uma rediscussão sobre as políticas públicas de saúde que devem considerar a integralidade como um meio de viabilização da saúde em sua visão ampliada e incluir todos os atores envolvidos no processo do cuidar em saúde. The aim of this literature review was to think about how the physical therapists are preparing themselves to face a comprehensive health care. As a methodological procedure, a literature review in journals indexed in Lilacs, Medline, Cochrane Library and Scielo database was used, as well as online dissertation database available from different Brazilian universities, documents available in the Ministry of Health and Education and institutions directly connected to Physical Therapy. In order to answer to our question, we need to adjust these human resources to health both in graduation and postgraduation levels. It was also pointed out the need of reorientation of physical therapists practices in healthcare system, as well as in the existing public policies that enable the participation of the practice in that way. We also observed the experiences that connect physical therapy to comprehensive service. Based on different sources, some advances related to the education of new professionals were checked, but it was noticed that those advances are only local initiatives. In order to become effective the reorientation in health practices, we suggest that the theoretical and practical instrument of the profession which aims at assistance and rehabilitation should be re-read. Similarly, it is emphasized the importance of a re-discussion about the health public policies, which should consider integrality as a way of health viability in its perspective and include all the involved actors in the health care process. Key-words: Physical Therapy, integrality, primary health care, health promotion. Palavras-chave: Fisioterapia, integralidade, atenção básica à saúde, promoção de saúde. Recebido 20 de maio de 2010; aceito 18 de novembro de 2010. Endereço para correspondência: Cristina Pellegrino Baena, Rua Dom Pedro I, 80/1504, 80620-130 Curitiba PR, Tel: (41) 3203-6390, E-mail: [email protected] 134 Introdução A institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), vigente no Brasil desde 1990, representa um avanço em direção ao exercício pleno da cidadania para os brasileiros. Apesar das dificuldades enfrentadas para sua efetivação, o acesso democratizado e a gestão descentralizada são passos importantes quando se considera o panorama de exclusão e iniquidades em relação à saúde vivenciado anteriormente [1]. Os debates pertinentes à saúde socialmente determinada e à produção de saúde, contrapostos ao modelo curativo anterior de baixa efetividade influenciaram a Constituição Brasileira de 1988 que assumiu, entre seus objetivos, a redução das desigualdades sociais e regionais e a construção de uma sociedade solidária e igualitária. A saúde foi reconhecida como um direito de cidadania e dever do Estado [2]. Em 1990, período da chamada crise da saúde, as leis 8080 e 8142 regulamentaram o SUS concebido sobre três princípios fundamentais: a universalidade, a equidade e a integralidade. A integralidade viabiliza a compreensão da saúde em sua definição ampliada e desencadeia a discussão sobre a necessidade de adaptação das políticas públicas de saúde uma vez que exige um olhar sobre a saúde em todas as suas possibilidades. Sua análise como eixo prioritário de políticas de saúde pode se dar em três dimensões: da adequação da formação em recursos humanos para a saúde, da reorganização e reorientação das práticas dos trabalhadores nos serviços de saúde e da formulação de políticas com a participação dos atores envolvidos na produção do cuidado [3]. A atenção básica à saúde, como forma própria de atenção à saúde, incorpora os princípios de Alma Ata [1] e focaliza-se na promoção da saúde, tendo como eixo básico a integralidade. Nos últimos anos, o esforço do Ministério de Saúde (MS) tem sido no sentido de reorganizar a atenção básica para aumentar a resolubilidade e a qualidade em saúde. A formação e o desenvolvimento de recursos humanos sob a luz dos princípios do SUS apresentam-se como estratégia fundamental [4]. A indissociabilidade entre a assistência e a promoção, integrando as necessidades de saúde da sociedade às ações do Estado definem a integralidade na atenção em saúde [5]. Neste sentido, a promoção de saúde configura-se como tema central de um debate que aproxima os clássicos da medicina social às recentes definições de qualidade de vida. Tais conceitos têm base nos determinantes de saúde oriundos de Lalonde [6]: o estilo de vida; os avanços da biologia humana; o ambiente físico e social e os serviços de saúde [7]. Nesta perspectiva, a promoção da saúde significa não apenas evitar a doença, mas assegurar a autonomia para escolhas que ampliem a qualidade de vida e o bem-estar, valores socialmente determinados [8]. No mesmo contexto, intersetorialidade e determinação social são valores intrínsecos ao chamado conceito de saúde ampliada [9]. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Além da discussão sobre a polissemia do termo, a integralidade representa, segundo Mattos [10] uma recusa ao reducionismo, caracterizando desta forma uma boa prática para todo profissional de saúde, qualquer que seja sua formação em saúde ou seu local de atuação. Sendo assim, o tema desta reflexão apresenta-se como um debate necessário a todo profissional de saúde para que se eleve o chamado setor saúde ao status de questão saúde como referido por Buss [9]. Uma das iniciativas concebidas pelo Ministério da Saúde como forma de reorganização do SUS sob a luz da interdisciplinaridade em nível da atenção básica é a Estratégia Saúde da Família (ESF). Esta estratégia tem mostrado a necessidade de adequação de algumas profissões já formalmente inseridas, como Medicina, Enfermagem e Odontologia, abrindo-se assim a necessidade de um cenário de formação permanente para esses profissionais de saúde. Iniciativas pontuais e, regionalmente localizadas, de inserção de profissionais de outras áreas (não formalmente inseridas) em algumas equipes de saúde da ESF vêm exigindo a necessidade de uma redefinição do perfil de alguns profissionais como nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, entre outros, tornando-os capazes de apropriarem-se de novos conceitos aqui levantados como integralidade [10]. Somando-se à questão conceitual, a discussão sobre o tema integralidade no Ministério da Saúde fez surgir recentemente a concepção dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs), possibilidade real de inclusão de outras profissões de saúde, entre elas, a Fisioterapia, na ESF [11]. Outro aspecto a ser discutido quando da análise da integralidade é a necessidade da reorientação das práticas dos trabalhadores nos serviços de saúde. A integralidade vivenciada no cotidiano dos sujeitos nos serviços de saúde tem produzido experiências que transformam a vida das pessoas, visto que as práticas eficazes de cuidado em saúde superam o modelo fragmentário e compartimentalizado [3]. Considerando que a Fisioterapia não deve parar de reabilitar, e sim adicionar novos campos de atuação a sua prática; que a integralidade representa hoje um dos maiores desafios da prática em saúde, uma vez que produz uma ruptura com a intervenção especializadora e fragmentária incorporando práticas de promoção de saúde além da prevenção e reabilitação; e que a integralidade é um princípio constitucional e norteador do SUS, sistema que representa um grande campo de absorção de recursos humanos para a Fisioterapia, remetese à questão inicial deste estudo: Estamos prontos? Neste contexto de adaptações e desafios no caminho da construção contínua de uma identidade profissional este artigo tem como objetivo desencadear uma reflexão sobre a Fisioterapia e a integralidade no que se refere à necessidade da adequação da formação em recursos humanos para a saúde, de reorientação das práticas dos trabalhadores de Fisioterapia nos serviços de saúde e as políticas públicas existentes que possibilitam a participação da mesma neste caminho. Considerando-se que a observação das práticas em saúde é Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 importante para uma construção conjunta da ideia de atenção integral, este artigo revisa ainda as descrições de experiências que relacionam a Fisioterapia a este princípio norteador da busca pela saúde. Como procedimento metodológico foi realizada uma pesquisa bibliográfica em periódicos indexados nas bases Lilacs, Medline, Biblioteca Cochrane e Scielo, bancos de teses online disponibilizadas em diferentes universidades brasileiras e pesquisa a documentos disponibilizados pelos Ministérios da Saúde e Educação e instituições diretamente ligadas à Fisioterapia. A coleta de material bibliográfico foi dirigida às ações do ensino de graduação e pós-graduação que abordassem a Fisioterapia e a integralidade, sendo utilizados como palavras chave os termos Fisioterapia, integralidade, atenção básica à saúde e promoção de saúde. Dos 62 textos pré-selecionados foram utilizados 25 por mais se adequarem ao desenvolvimento do tema proposto. Esta metodologia apresenta como principal vantagem o fato de permitir a exploração de uma gama de informações mais ampla sobre o tema que se busca investigar. Por outro lado, a utilização de fontes secundárias exige do pesquisador uma análise profunda de cada informação de modo a detectar possíveis incoerências ou contradições. Integralidade e a formação em fisioterapia Não se tem dúvida que uma das competências gerais da Fisioterapia, assim como das demais profissões de saúde, é a atenção básica em saúde, a partir da qual se ultrapassa o modelo individualista consoante ao novo paradigma de saúde, definido nas atuais políticas públicas de saúde do país e constituindo assim a integralidade. A Fisioterapia tem exercido historicamente um papel curativo e reabilitador dentro da grande área da saúde. Durante os 40 anos desde a sua regulamentação, a profissão tem passado por um processo de ampliação do campo de atuação [12] em função do desenvolvimento tecnológico e de novas demandas da clientela (população) em nível individual e coletivo. Ao mesmo tempo, a Fisioterapia vive um momento de crescimento acelerado do número de cursos de graduação e consequente aumento de profissionais no mercado que não tiveram em sua formação as vivências necessárias para a integração ao SUS [13]. Para fazer frente às novas demandas, o setor de saúde como um todo tem o desafio de formar profissionais capazes de superar conceitos estritamente vinculados ao conhecimento técnico dentro de um modelo biomédico, evoluindo para um modelo mais humanista com uma perspectiva de melhorar a qualidade de vida da população [14]. Esta mudança de foco da saúde individual para a saúde coletiva exige alterações nos currículos de programas de formação em saúde [15]. As Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em saúde, aprovadas na sua maioria entre 2001 e 2002 afirmam que a formação do profissional de saúde deve 135 contemplar o “sistema de saúde vigente no país, o trabalho em equipe e a atenção integral à saúde”. A adaptação da formação é uma constante para todas as profissões de saúde, haja vista a constatação de que os profissionais da ESF ainda trabalham com conhecimentos desintegrados, indicando o grande espaço para o desenvolvimento da integralidade [16]. Apesar da existência de algumas disciplinas presentes nas grades curriculares que constituem os projetos políticos pedagógicos de cursos de Fisioterapia em funcionamento no Brasil como Fisioterapia Preventiva, Fisioterapia Social, Fisioterapia em Saúde Coletiva terem objetivos comuns que convergem para o SUS parece que estas não foram suficientes para desencadear um verdadeiro processo de mudança do fazer da Fisioterapia em direção à integralidade. E as lacunas não existem somente no campo teórico da formação, também os campos de prática nesta área precisam expandir-se [17]. Durante a reflexão sobre a formação de profissionais adequados para o exercício dos princípios do SUS remete-se ao papel fundamental da docência. Pesquisa com docentes dos cursos de Fisioterapia de um estado do sul do Brasil verificou que mesmo tendo a maioria apresentado conhecimentos adequados sobre a saúde e seus determinantes apenas 4% referiam em suas próprias formações atividades práticas de aproximação com a saúde pública. Provavelmente como consequência disso o percentual desses docentes que atuam em campos de estágio na ESF e Unidades Básicas de Saúde é de 9,5% e 4,8%, respectivamente [17]. Ao encontro dessa necessidade, uma universidade do sul do Brasil (Caxias do Sul/RS) propõe uma formação em Fisioterapia centrada na integralidade, pois durante a implantação do curso foi constatado que as características especialistas dos profissionais formados até então não atendiam às demandas da sociedade [18]. Assim, buscando formar profissionais comprometidos com a promoção de saúde na sociedade, o projeto pedagógico foi elaborado com o objetivo de identificar e monitorar as condições de saúde daquela região e garantir a funcionalidade do organismo humano em todos os seus ciclos (infância, adolescência, adultez e velhice). O resultado foi uma graduação de dez semestres que procura formar o profissional com um novo perfil, contribuindo para a integralidade no cuidado em saúde [18]. Ainda na dimensão da formação de recursos humanos, o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRÓ-SAÚDE) representa um incentivo financeiro formalizado pela articulação entre os Ministérios da Saúde e da Educação que visa apoiar as mudanças nos cursos de graduação da área da saúde em nível técnico, de graduação e de pós-graduação. No entanto, das propostas aprovadas na área da saúde no ano de 2008, só 10% foi direcionada para cursos de Fisioterapia [4]. Pode se pensar que este fato reflita a própria formação do fisioterapeuta e o seu processo de trabalho que privilegia na maioria das vezes ações individuais ao trabalho multi/ interdisciplinar. Acredita-se que este aspecto possa fazer com 136 que o fisioterapeuta não consiga visualizar as possibilidades de inserção em iniciativas desta natureza. Ao mesmo tempo, o fisioterapeuta pode não ser percebido com um parceiro pelos demais profissionais da área da saúde que mais frequentemente vem integrando essa iniciativa como profissionais da Medicina e Enfermagem. A identificação das demandas de saúde da coletividade também é uma necessidade reconhecida em outros países. Autores descrevem um modelo de adaptação curricular, associado à metodologia de aprendizado em serviço, que incorpora a identificação dos determinantes de saúde da parcela da população que nos EUA não é atendida pelo sistema de saúde vigente [15]. Aquele estudo relata que muitos programas de formação de profissionais de saúde estão redesenhando seus currículos de forma a integrar experiências com a realidade da comunidade para que os alunos sejam expostos aos problemas de saúde de toda a população. Este fato mostra que mesmo quando consideramos as grandes diferenças sociais, políticas, econômicas e, portanto, de saúde existentes entre países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, verifica-se que ambos expressam uma preocupação com a formação de profissionais capazes de atuar em saúde de forma integral e atender às necessidades de saúde da população como um todo. Outro aspecto que se propôs abordar é o da necessidade de reorientação das práticas dos trabalhadores nos serviços de saúde. Analisando-se a situação sob o ponto de vista da Fisioterapia, identifica-se a necessidade de que seja realizada uma releitura do instrumental teórico-prático da profissão construído até o momento e direcionado essencialmente para a assistência e (re)habilitação. Desta forma será possível identificar novas possibilidades do fazer da profissão vislumbrando sua participação efetiva na promoção de saúde e contribuindo para a consolidação da integralidade no sistema de saúde. O propósito da ênfase dada ao termo (re)habilitação é fazer lembrar um dos princípios de promoção de saúde amplamente defendido desde a I Conferência Internacional de Promoção de Saúde realizada em Ottawa 1986, chamado empoderamento, ou seja, todo indivíduo é habilitado a agir em favor da melhoria de sua qualidade de vida e saúde e da coletividade. Estudo realizado com docentes de vários cursos da área da saúde, entre eles a Fisioterapia, de duas universidades da região sul evidenciou o interesse em formar profissionais com competências para atuar na Promoção e Educação em Saúde da Família [33]. Segundo este autor, os docentes estudados enfatizavam a necessidade da realização de aperfeiçoamentos em nível de educação permanente, visto a lacuna existente em suas próprias formações. No mesmo sentido, relato sobre a ação de suporte do Conselho Regional de Fisioterapia para os profissionais inseridos na ESF [11], menciona o grande número de profissionais que buscam o auxílio daquela entidade para esclarecimentos acerca de projetos de ação em saúde coletiva, sugerindo a falta de vivência daqueles profissionais no campo da Atenção Básica à Saúde. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 A terceira dimensão a ser considerada na análise da integralidade é o da própria formulação das políticas de saúde que deveria contar com a participação dos atores envolvidos na produção do cuidado, ressaltando-se a necessidade de uma rediscussão dessas políticas. Como abordado anteriormente, uma possibilidade de inserção de fisioterapeutas na ESF são os NASFs. Estes núcleos serão também constituídos por outras profissões de saúde como educadores físicos, psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos e bioquímicos, terapeutas ocupacionais, além de especialidades médicas como acupuntura e homeopatia. No entanto, sabe-se que devido às características necessárias para estruturação desses núcleos, a participação da Fisioterapia será muito restrita e não atenderá às necessidades da população. Assim, a única alternativa para viabilizar a efetiva contribuição da Fisioterapia na atenção integral à saúde da população dar-se-ia por meio da inserção direta de fisioterapeutas na ESF. Para isso seria necessária uma readequação da Estratégia por parte do Ministério da Saúde não só em relação à Fisioterapia, mas também as demais profissões que ainda estão à margem de um sistema de saúde que busca a integralidade. Experiências de formação de fisioterapia focadas na integralidade Experiências de contato com a atenção básica em saúde através da ESF durante a graduação e após o seu término, por meio de residências multiprofissionais, têm sido descritas em diferentes locais do país. A inserção de acadêmicos de Fisioterapia na ESF acontece desde 2000 em Juiz de Fora (MG) sob a forma de estágio supervisionado oferecendo a uma parcela da população uma nova modalidade terapêutica na atenção básica [19]. Essa forma de inserção permite uma contribuição efetiva da Fisioterapia à saúde coletiva e proporciona ao acadêmico durante a sua formação a oportunidade de vivenciar outra realidade e apreender outras formas de atuação da Fisioterapia. Um projeto de extensão denominado Educação Popular e Atenção à Saúde da Família, do qual participam os acadêmicos de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba em convênio com o PSF de João Pessoa, tem possibilitado aos acadêmicos a contribuição da profissão para o enfrentamento dos problemas de saúde da população [20]. A participação de alunos de graduação em um projeto de extensão intitulado Fisioterapia na Comunidade de João Pessoa foi relatada por diversos autores: A vivência da promoção de saúde e da missão de multiplicação da educação em saúde enquanto profissional de saúde dentro da equipe do PSF [21]; o processo emocional vivido a partir da constatação das condições precárias de saneamento, transporte e moradia de pacientes que recebem atendimento domiciliar pela equipe de Saúde da Família conveniada ao projeto de extensão; em relato sobre a mesma experiência [22], a aproximação do Conselho Municipal de Saúde é descrita em função daquele Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 projeto de extensão. Segundo este autor, a instrumentalização para a participação efetiva na elaboração de políticas públicas de saúde também é uma consequência da vivência efetiva da integralidade. A inserção de estudantes de Fisioterapia em projetos de extensão que fogem da antiga prática assistencialista, característica da extensão universitária dos anos de 1980, possibilita ao acadêmico uma oportunidade do exercício de uma prática não prescritora, destituindo-o do papel de detentor do saber. A extensão nos moldes atuais, e, sobretudo a extensão popular, preconiza uma aproximação do saber popular e do saber científico, fazendo com que o profissional de saúde em formação aprenda a fazer com e não para a comunidade. O tema integralidade também foi focado por autores, que concluíram que as práticas relacionadas a este princípio ocorrem pontualmente durante a formação em Fisioterapia e que o potencial de abertura desta prática para a atenção básica é pouco explorado na Instituição de Ensino Superior estudada. Sabe-se que esta é a realidade da maioria dos cursos de Fisioterapia no país [14]. Uma limitação para esta reflexão é o escasso volume de publicações indexadas sobre a Fisioterapia relacionada à atenção básica e à integralidade. O mesmo fenômeno não ocorre quando são pesquisadas as dissertações e teses sobre os assuntos mencionados. Este fato mostra que há o interesse e a pesquisa, porém a divulgação é restrita, dificultando-se assim a formação do embasamento teórico necessário para uma reflexão mais aprofundada sobre o tema e o posicionamento da profissão frente aos novos desafios. Essa constatação sugere que os fisioterapeutas ainda não conseguem transpor de forma consistente a barreira que possibilita a divulgação e disseminação do conhecimento com abordagem não clínica, produzido na área. Isso acontece em parte pela inexistência de periódicos que acolham especificamente este tipo de estudo e pelo fato de que os periódicos de Fisioterapia no país dão preferência a artigos com abordagem clínico-assistencial, refletindo a própria história da profissão. Outro movimento já em processo é o de Residências Multidisciplinares [23]. A Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública pertencente à Secretaria de Estado de Saúde do Rio Grande do Sul tem como prerrogativas a educação associada ao trabalho em saúde na atenção básica, exercido por profissionais de diferentes especialidades em conjunto, porém centralizado nas necessidades do indivíduo na coletividade. O desenvolvimento e a formação dos trabalhadores de saúde retornam imediatamente para a população através da qualificação do trabalho. Este formato de programa responde às diretrizes do Conselho Nacional de Educação, e ao mesmo tempo às diretrizes para o exercício profissional no SUS. Na Residência Multiprofissional em Saúde da Família da UNIOESTE, em Cascavel/PR [24], observou-se dificuldade de adaptação de fisioterapeutas no início do programa e foi relacionada à formação curativa tradicional. 137 Por outro lado, há relatos de que após a inserção de fisioterapeutas na Residência Multidisciplinar em Saúde da Família de Sobral/CE, o número de profissionais contratados regularmente pela ESF aumentou, fazendo conhecer inclusive as outras profissões da equipe, o potencial de promoção de saúde da Fisioterapia como caminho para a integralidade [25]. A inserção do fisioterapeuta em programas de residência dessa natureza se revela como oportunidade de resgate de uma formação teórico-prático para aqueles que não tiveram a oportunidade de discutir e vivenciar a integralidade durante a sua graduação. O caráter multiprofissional dessas formações possibilita o conhecimento, pelos demais profissionais da saúde, das potencialidades da Fisioterapia em todos os níveis de atenção e o seu reconhecimento como profissão indispensável para a efetivação da integralidade em saúde. Conclusão Há um consenso entre os críticos da educação, responsáveis pela formação dos profissionais de saúde, sobre a questão da hegemonia da abordagem biologicista, médico-centrada cujos procedimentos são excessivamente valorizados. Este consenso estende-se aos autores que descrevem a formação em Fisioterapia sobre o tecnicismo e a ausência de práticas relativas à saúde em sua visão ampliada. A integração de outros profissionais de saúde à equipe da ESF, entre eles o fisioterapeuta, certamente exigirá como competência a integralidade. Com isso, ressalta-se a importância da qualificação da formação e a necessidade de reorientação das práticas de saúde da Fisioterapia, de forma a possibilitar aos novos profissionais, e também aos que já se encontram no exercício da profissão, o enfrentamento dos novos paradigmas em saúde e o entendimento das necessidades multidimensionais individuais e coletivas de saúde. Para isso sugere-se a necessidade de uma releitura do instrumental teórico-prático da profissão construído até o momento e direcionado essencialmente para a assistência e reabilitação. Da mesma forma, enfatiza-se a importância de uma rediscussão sobre as políticas públicas de saúde que devem considerar a integralidade como um meio de viabilização da saúde em sua visão ampliada, incluindo todos os atores envolvidos no processo de cuidar em saúde, de forma a interromper a persistência da prática médico-centrada. Não obstante os avanços obtidos após a implementação das Diretrizes Curriculares, que caminharam ao encontro das demandas do Sistema Único de Saúde, a prática efetiva da integralidade acontece de forma incipiente em programas de graduação e pós-graduação. Participações da Fisioterapia em iniciativas como o pro-saúde durante a graduação e posteriormente em programas de Residências Multidisciplinares, embora ainda pouco numerosas, configuram-se como espaços de aprendizado do exercício da integralidade e parecem preparar o profissional fisioterapeuta para o trabalho na atenção básica à saúde. 138 Uma limitação desta reflexão é o escasso volume de publicações indexadas sobre a Fisioterapia relacionada à atenção básica e à integralidade, dificultando a formação de um embasamento teórico que subsidie o posicionamento da profissão frente aos novos desafios. Verifica-se um número expressivo de dissertações e teses sobre os assuntos mencionados, sugerindo que há o interesse e a pesquisa, porém a divulgação, inclusive nos periódicos da área, é ainda bastante restrita. Futuros estudos deverão ser direcionados para avaliar a atuação dos alunos de graduação em Fisioterapia que precocemente vivenciam em sua formação o contato com a atenção básica em saúde e a compreensão in loco dos determinantes sociais da saúde, o que certamente contribuirá para impedir a chamada “distorção de formação” em direção ao reducionismo tecnicista e fragmentário, que ainda se observa a partir dos diferentes textos analisados. Referências 1. Schwingel G, Koetz LCE. A Fisioterapia e o SUS: reflexões sobre a formação e o papel do fisioterapeuta na equipe de saúde. Boletim da Saúde JCR 2008;22:151-60. 2. Brasil. Constituição, 1988. República Federativa do Brasil, 1988. Brasília: Ministério da Educação; 1988. 3. Kell MCG. [Adapt.] Integralidade da atenção à saúde. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 139 Revisão Efeitos do laser de baixa potência sobre a regeneração da cartilagem na osteoartrose Effects of low level laser therapy for regeneration of cartilage in osteoarthrosis Gabriela Barbosa Zanotti, Ft.*, Priscilla Irffi Oliveira, Ft., M.Sc.*, Silvia Figueiredo de Siqueira Reis, Ft.*, Fernanda Souza da Silva, Ft.**, Angélica Rodrigues de Araújo, D.Sc.*** *PUC Minas, **Mestre em Bioengenharia/UFMG, ***Profa. do curso de Fisioterapia da PUC Minas Resumo Abstract Introdução: Osteoartrose (OA) é uma enfermidade articular multifatorial que acomete diversas articulações e caracteriza-se pela degeneração da cartilagem. A fotobiomodulação pode favorecer o controle dos sinais e sintomas característicos dessa afecção. Entretanto, na literatura ainda não há um consenso sobre o papel da luz na regeneração da cartilagem. Objetivo: Realizar uma revisão da literatura acerca do papel da luz na faixa espectral do vermelho ao infravermelho próximo no tratamento das doenças articulares degenerativas. Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática de estudos disponíveis nas bases de dados Capes, PubMed, Cochrane, PEDro e Lilacs. Resultados: Os critérios de inclusão foram atingidos por nove estudos. Somente um artigo avaliou o uso da fotobiomodulação no reparo da cartilagem em células humanas. Não houve homogeneidade entre os estudos em relação à maioria dos parâmetros luminosos utilizados. Discussão: Houve grande diversidade entre os parâmetros de aplicação estabelecidos por cada estudo, o que dificulta a determinação de parâmetros clínicos eficazes para utilização desses dispositivos no tratamento da OA. Conclusão: A radiação luminosa parece ser eficaz no reparo da cartilagem. Os parâmetros ideais para aplicações em humanos são, entretanto, ainda controversos. Background: Osteoarthritis (OA) is a multifactorial disease that affects many joints and is characterized by degeneration of cartilage. Photobiomodulation can help the control of signs and symptoms of this disease. However, there is no consensus in the literature about the effect of light in the cartilage regeneration. Aim: To realize a literature review about the effects of light in spectrum of red and near infrared in the treatment of articular degenerative disease. Methods: A systematic review of studies available in the databases Capes, PubMed, Cochrane, PEDro and Lilacs was performed. Results: The inclusion criteria were met in 9 studies. Only one study evaluated the use of photobiomodulation in cartilage repair in human cells. There was not homogeneity between the studies related to the light parameters utilized by each study. Discussion: There was wide diversity among the light parameters established by each study, making difficult to determine the most effective clinical parameters of these devices in management of OA. Conclusion: The light radiation seems to be effective in cartilage repair. However the ideal parameters for applications in humans are still controversial. Key-words: low level laser therapy, osteoarthritis, articular cartilage. Palavras-chave: terapia a laser de baixa intensidade, osteoartrose, cartilagem articular. Recebido em 28 de maio de 2010; aceito em 11 de fevereiro de 2011. Endereço para correspondência: Profa. Angélica Rodrigues de Araújo, Av. Trinta e Um de Março 500 / prédio 46 – Centro Clínico de Fisioterapia 30535-610 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 3319-4425, E-mail:[email protected] 140 Introdução A osteoartrose (OA) é uma enfermidade articular multifatorial, de caráter crônico-degenerativo [1] e não inflamatório [2]. Acomete diversas articulações, principalmente as da mão, joelho, quadril e coluna [3]. Caracteriza-se por degeneração da cartilagem [4] e hipertrofia do osso subcondral [5], acompanhada de neoformação óssea periarticular [5]. Clinicamente se manifesta como dor e rigidez articular [6], crepitação óssea [7] e redução de amplitude de movimento (ADM) [8]. Esse quadro é responsável pela importante atrofia muscular [9] e incapacidade funcional [10] que são observadas nos indivíduos que apresentam tal afecção. A incidência populacional da OA é elevada; 70 a 90% das pessoas com idade acima de 75 anos apresentam pelo menos uma articulação acometida por essa disfunção [1]. No Brasil, em 1997, a OA representava 65% das causas de incapacidade, estando atrás apenas das doenças cardiovasculares e neurológicas [6], gerando custos econômicos que representavam e ainda representam um alto gasto para o sistema de saúde [11]. A abordagem terapêutica da OA tem como objetivos principais o controle da dor e a melhora da função articular [3] e envolve, primariamente, tratamento conservador com utilização de anti-inflamatórios não esteroides [2], analgésicos [12] e reabilitação fisioterápica [13]. Essas intervenções apresentam resultados positivos em relação à melhora dos sintomas álgicos [14], diminuição das incapacidades funcionais [14] e prevenção de deformidades [6]. Entretanto, não são capazes de reverter o dano articular [12]. Em alguns casos, devido ao processo e à gravidade da lesão, procedimentos cirúrgicos como a artrodese ou a artroplastia total tornam-se necessários [2], comprometendo e impactando ainda mais a qualidade de vida dos indivíduos com OA [14]. Tais fatores deixam clara a necessidade de se buscar alternativas para o tratamento da OA, cujo foco também seja o reparo conservador da cartilagem articular. Dentro deste contexto, a fotobiomodulação por meio de dispositivos como LASER (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation) e LED (Light Emitting Diode) de baixa potência vêm se destacando e sendo alvo de sucessivos estudos [15]. A utilização da luz na faixa espectral do vermelho ao infravermelho próximo como alternativa para o tratamento não invasivo da OA surgiu há cerca de 20 anos [15]. Sua indicação foi e ainda é embasada pela crença de que a radiação eletromagnética nessa faixa espectral apresenta efeitos biomoduladores de estimulação ou inibição, de acordo com os parâmetros selecionados, [16] que podem favorecer o controle e/ou a resolução dos sinais e sintomas característicos da OA, incluindo o reparo da cartilagem articular [15]. Entretanto, ainda não há um consenso na literatura sobre o papel da luz na regeneração da cartilagem articular. Tal fato tem contribuído para que a indicação e utilização dessa modalidade terapêutica para o tratamento da OA sejam embasadas mais em evidências empíricas do que científicas. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Este estudo teve por objetivo realizar uma revisão da literatura sobre o papel da luz na faixa espectral do vermelho ao infravermelho próximo como terapêutica no tratamento de OA, a fim de melhor embasar a aplicação clínica dessa modalidade terapêutica. Especificamente buscou-se: 1) revisar os mecanismos de ação dos dispositivos fotobiomoduladores em articulações sinoviais, com ênfase sobre a cartilagem articular; e 2) determinar parâmetros luminosos para aplicações clínicas seguras e eficazes dos dispositivos fotobiomoduladores no tratamento da OA, com foco no reparo da cartilagem articular. Material e métodos Busca literária Para a elaboração do estudo foi realizada uma revisão sistemática de estudos experimentais conduzidos em animais e humanos (ensaios clínicos aleatórios), publicados entre 1970 (ano a partir do qual se iniciaram as pesquisas científicas sobre fotobiomodulação) e 2009. Os trabalhos foram identificados através de pesquisa eletrônica realizada nas seguintes bases de dados: Capes, PubMed, Cochrane, PEDro e Lilacs. Os descritores utilizados para a busca incluíram as palavras: laser therapy, laser, articular cartilage, cartilage repair, regeneration, low level laser therapy (LLLT), low power laser therapy, laser treatment, LED, light therapy, photon therapy, photobiostimulation, photobiomodulation, osteoarthritis, bioestimulação, laser de baixa intensidade, osteoartrose e cartilagem articular. Outras estratégias de busca Além da busca eletrônica foi realizada também uma pesquisa manual nas referências dos artigos selecionados e no acervo da biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Seleção dos estudos A seleção dos estudos foi realizada por 3 pesquisadores. As publicações selecionadas através das palavras-chave foram lidas para verificar se as mesmas contemplavam os critérios de inclusão determinados para a participação no presente estudo. Tais critérios foram: 1) presença de grupo controle; 2) amostra com sinais clínicos e/ou radiológico de degeneração da cartilagem articular; 3) investigação dos efeitos da fotobiomodulação sobre a articulação degenerada, sem associação com qualquer outro tipo de intervenção; 4) utilização da fotobiomodulação como forma única de tratamento da osteoartrose visando o reparo da cartilagem articular. Caso ocorressem divergências entre os pesquisadores acerca da inclusão ou não dos estudos, um quarto pesquisador era consultado para que um consenso fosse obtido. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 Foram excluídos os estudos nos quais a fotobiomodulação foi utilizada concomitantemente a algum outro tipo de terapia, que apresentavam mensurações dos resultados baseadas unicamente na avaliação da dor, funcionalidade ou qualidade de vida e que foram publicados em línguas que não portuguesa e inglesa. Avaliação da qualidade metodológica A análise da qualidade dos artigos selecionados foi realizada de acordo com o estudo de Jan Tunér e Lars Hode [17], que estabelece 9 parâmetros técnicos e 11 de tratamento para a promoção de resultados eficazes na utilização terapêutica de dispositivos luminosos. Destes 20 parâmetros, 8 foram selecionados para a análise dos artigos: 1)comprimento de onda (nm); 2) modo de emissão da luz - contínuo ou pulsado, incluindo a frequência dos pulsos (Hz); 3) potência de saída do aparelho (W); 4) dose (J/cm2); 5) área de aplicação da luz (cm2); 6) número e frequência das aplicações; 7) método de tratamento -contato ou sem contato (incluindo a distância entre a fonte de luz e a área alvo); e 8) tecido alvo da aplicação. Além dos parâmetros citados pelos autores, incluiu-se também o meio de produção utilizado para gerar a radiação luminosa. Análise dos resultados As informações referentes ao objetivo, à metodologia e ao desfecho dos artigos selecionados foram organizadas em tabelas para facilitar a análise e a interpretação de cada estudo. Buscou-se verificar a correlação entre o objetivo e o desfecho do estudo, a determinação de hipóteses/justificativas para explicar os resultados encontrados e avaliar a clareza na determinação e descrição dos parâmetros luminosos utilizados para a pesquisa, considerando-se os 8 parâmetros luminosos determinados anteriormente. 141 Resultados A busca eletrônica inicial identificou 1136 artigos. Destes, 74 foram selecionados a partir da leitura dos títulos e dos resumos, sendo apenas 9 trabalhos incluídos após a leitura dos textos completos (Figura 1). A exclusão dos 65 estudos se deu devido ao fato de esses utilizarem a dor, a funcionalidade, e a qualidade de vida como parâmetros para avaliar os efeitos da luz na OA. A busca manual resultou em apenas um artigo [18]. Dos 10 estudos selecionados para este trabalho, um foi excluído [19] por falta de informações relevantes acerca dos parâmetros luminosos utilizados na pesquisa. Figura 1 - Diagrama dos resultados da busca literária. Total de citações identificadas (incluindo duplicatas): PubMed: Cochrane: Lilacs: Capes: PEDro: N = 1136 N = 796 N = 98 N=7 N = 165 N = 70 Estudos excluídos após leitura dos títulos e dos resumos N = 1062 Artigos selecionados para avaliação após leitura dos textos completos N = 174 Preenchimento de um ou mais critérios de exclusão: N = 65 Artigos incluídos nessa revisão sistemática: PubMed: Cochrane: Lilacs: Capes: PEDro: Busca Manual: N=9 N=7 N=0 N=2 N = 7* N=0 N=1 * Artigos duplicados (encontrados nas bases de dados PubMed e Capes). Na Tabela I estão reunidas algumas das características dos artigos incluídos neste trabalho. Tabela I - Características dos estudos selecionados. Autor / ano Objetivo Amostra 8 coelhos com OA induzida nos côndilo femorais (grupo controle: joelho E; grupo experimental: joelho D). Desfecho Cafalli et al. [22] Analisar a influência do laser HeNe na regeneração do osso subcondral e da cartilagem articular. Aparecimento de calo ósseo apenas no grupo experimental. Ausência de regeneração da cartilagem articular em ambos os grupos. Kamali et al. [20] Investigar os efeitos do laser AsGa no comportamento biomecânico da reparação da cartilagem articular. 41 coelhos com OA induzida na patela D; 6 grupos [3 experimentais (n = 6 a 8) e 3 controle (n = 6 a 8)] Lin et al. [2] Investigar os efeitos do laser HeNe sobre os níveis de proteína stress e sua relação com o reparo da cartilagem 42 ratas com OA induzida no Aumento da taxa do reparo da cartilagem e da joelho D (n= 21 grupo condensidade da proteína stress em condrocitos trole; n= 21 experimental) no grupo que recebeu laserterapia Aumento da rigidez do reparo tecidual em 8 semanas após lesão. Não houve diferenças entre grupo controle e experimental na performance biomecânica do novo tecido durante quarta e décima sexta semanas de intervenção. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 142 Autor / ano Calatrava et al. [21] Objetivo Amostra 20 coelhos com OA induzida Comparar e avaliar os efeitos dos na tróclea femoral [grupo laser’s He-Ne e As-Ga sobre o laser He-ne (n=10); grupo reparo da cartilagem laser As-Ga (n=10); membro E utilizado com controle] Torricelli et al. [23] Avaliar os efeitos do laser Ga-AlAs em cultura de condrócitos Cultura de células (coelhos e humanos) retiradas de articulações com lesão condral (1 grupo controle; 2 grupos experimentais) Lin et al. [25] Investigar os efeitos do laser HeNe sobre a indução de mucopolissacarídeos em cartilagem com OA 72 ratas (36 grupo controle; 36 experimental) com OA induzida no joelho D. Lobato et al. [18] Rodrigues et al. [24] Jia e Guo [26] 30 coelhas com osteoartrose induzida na articulação fêmuro-tíbio patelar D; 3 grupos Avaliar os efeitos do laser Ga-As (n=10), cada um submetidos em articulações com AO induzida a aplicação do laser por 10, 20 e 30 dias. 5 coelhas de cada grupo serviram como controle. 32 cães com defeito osteocondral induzido na cabeça umeral, divididos em 2 grupos, controle e experimental Avaliar a influência do laser As(n=16 cada), sendo o último Ga na reparação articular submetido à aplicação do laser por diferentes períodos de tempo Cultura de condrócitos retiraAvaliar os efeitos bioestimulatórios dos da cartilagem do côndilo do laser He-Ne e comparar difemedial femoral dividida em rentes parâmetros de aplicação 2 grupos, controle e experideste dispositivo mental As informações relativas aos parâmetros luminosos determinados por cada estudo podem ser vizualizadas na Tabela II. É possível observar que os objetivos e os desfechos de todos os artigos foram coerentes e que na maioria dos estudos os resultados observados foram positivos em relação aos efeitos da luz de baixa potência no reparo da cartilagem (Tabela I). Dois artigos selecionados [20, 21] descreveram todos os 9 parâmetros luminosos considerados para a análise da qualidade metodológica dos artigos do presente trabalho. Em um estudo [22] a dose, a potência, a frequência e a área da caneta/lesão não foram citados (Tabela II). Tipo de luz, comprimento de onda, local de aplicação, número de sessões por semana e número total de aplicações foram parâmetros citados em todos os artigos estudados. O modo de emissão da luz foi o parâmetro menos especificado, sendo citado em apenas quatro estudos [20-23]. Quatro traba- Desfecho Laserterapia permitiu rápida regeneração da cartilagem. Aplicação de laser He-Ne demonstrou síntese de fibrocartilagem. Laser infravermelho é mais eficaz em patologias profundas Laser apresentou bom efeito bioestimulatório, tanto nas culturas de células animal quanto humanas; os melhores resultados para as células humanas ocorreram quando a luz pulsada (F=100Hz) foi utilizada. Aumento da produção mucopolissacarídeo em cartilagens com OA após aplicação da laserterapia. Redução e retardo dos efeitos degenerativos locais decorrentes da OA; houve redução da sintomatologia dolorosa e do edema; aumento da ADM e do liquido sinovial com características próximas ao normal Aumento da vascularização na região do defeito osteocondral, potencializando a osteogênese e reparação osteocondral no grupo submetido a laserterapia. Animais que receberam maior número de sessões com laser, apresentaram tecido fibrocartilaginoso, além de formação de cartilagem hialina em um animal Estimulação da proliferação e secreção de condrócitos podendo alcançar a reparação da cartilagem articular no grupo que recebeu laserterapia. lhos não citaram os parâmetros: potência [18,20,22,24], dose [18,22-24] e área da caneta/ lesão [18,22-24]. Somente um artigo não evidenciou o tempo de aplicação do recurso [24]. Não houve homogeneidade entre os estudos em relação à maioria dos parâmetros luminosos utilizados, com exceção ao tipo de luz (LASER) e comprimento de onda de 632 nm que foi citada por 3 autores [2,21,25,26], ao regime de emissão pulsada citado em 3 estudos [20,22,23], porém não houve uma frequência comum evidenciada pelos autores; e ao número de aplicação de três vezes por semana presente em 5 trabalhos [2,22,24-26]. Apenas um dos artigos avaliou os efeitos da luz em células humanas (in vitro) [23]. Nesse estudo os parâmetros utilizados foram: laser Ga-Al-As, 780nm, potência de 2,500mW, emissão pulsada com frequência de 100 e 300Hz, 10 minutos de aplicação, 5 vezes por semana, em culturas de condrócitos Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 143 Tabela II - Parâmetros luminosos utilizados nos estudos. Autor / ano Cafalli et al. [22] Diodo utilizado Laser HeNe Kamali et al. Laser As[20] Ga Lin et al. [2] Laser HeNe Comprimento de onda / Potência ou Densidade de potência Tipo de Dose emissão / (J/cm²) Frequência Tempo SesTotal de sões / aplicaseções mana Área da caneta / lesão Local / técnica de aplicação 920 nm / não cita Pulsada / não cita Não cita 30 segundos 3 9 Não cita Superfície articular do côndilo medial; distância caneta-superfície cutânea de 4,0 cm 890 nm / 60 W Pulsada / 1,5 kHz 4,8 J/ cm² 5 minutos 2 32 1,0 cm² Joelho direito 632 nm / 3,1 mW/cm² Não cita *2,79 J/ 15 micm² nutos 3 24 0,8 cm² Joelho direito He-Ne: Contínuo; As-Ga: pulsada / 5-5000Hz Epicôndilo femoral medial e lateral, condilo tibial medial e lateral; centro da articulação tibiofemoral Perpendicular às culturas de condrócitos; 1,0 cm de distâncias das mesmas 8,0 J/ cm² 100 segundos 7 13 He-Ne: 0,4 cm² As-Ga: 0,31 cm² Pulsada / 780 nm / 2.500 100 Hz e mW 300 Hz Não cita 10 minutos 5 5 Não cita Laser HeNe 632 nm / 3,1 mW/cm² Não cita *2,79 J/ 15 micm² nutos 3 24 0,8 cm² Joelho direito Lobato et al. Laser As[18] Ga 904 nm / não cita Não cita 3,0 J/ cm² 2 minutos 7 10 a 30 Não cita Articulação fêmuro-tibio patelar do joelho direito Rodrigues et al. [24] Laser AsGa 90 4nm / não cita Não cita 4,0 J/ cm² Não cita 3 3 a 20 Não cita Ombro esquerdo Jia e Guo [26] Laser HeNe 632 nm / 2 -12 mW Não cita 1,0-6,0 J/cm² 6,5 minutos 3 0,785 cm² Monocamada de cultura de condrócitos Calatrava et al. [21] Laser’s He-Ne e As-Ga 632,8 nm / 10 mW 904 nm / 40 mW Torricelli et al. [23] Laser GaAl-As Lin et al. [25] * Valor calculado com base nos dados fornecidos pelo estudo considerando a equação 3 E = Pxt / A , onde E (Jcm-2) é a densidade de energia ou dose; P (W) é a potência da fonte luminosa; t (s) é o tempo e A (cm ) é a área da caneta aplicadora [Chaudhri; Tuner, 2003]. 2 derivadas de células humanas e de coelhos. Todos os outros 8 trabalhos [2,18,20-22,24-26] utilizaram animais (coelhos, cachorros e ratos) e suas células como população alvo. Dos 9 artigos selecionados, apenas um [22] apresentou resultado negativo em relação à regeneração da cartilagem. Todos os outros trabalhos [2,18,20,21,23-26] apresentaram uma resposta positiva acerca do uso da luz de baixa potência como opção de conduta para o reparo da cartilagem articular. As principais justificativas citadas pelos autores para explicar os achados positivos em relação ao papel da luz no reparo da cartilagem articular foram: 1. Estímulo à produção de colágeno e à proliferação de condrócitos [18,20,25]; 2. Melhora da morfologia celular, modulando a interação entre componentes da matriz extracelular [20]; 3. Estímulo à produção de glicosaminoglicanos e mucopolissacarídeos através dos condrócitos [21,25]; 4. Excitação elétrica de moléculas carreadoras de oxigênio na cadeia respiratória [2,25]; 5. Aumento do transporte de elétrons na membrana mitocondrial, favorecendo a produção de trifosfato de adenosina (ATP) [2,25]; 6. Aumento da síntese proteica e de DNA, resultando em proliferação celular [2,25]; 7. Aumento do metabolismo e redução do catabolismo provocando regeneração tecidual [18]; 144 8. Bioestimulação celular por alteração do sinal de transmissão de energia dos receptores de luz [26]; 9. Aumento da quantidade de matriz extracelular [26]. O estudo de Cafalli et al. [22], que não obteve resultados a favor do uso da luz de baixa potência na reparação da cartilagem, foi o único que não citou o mecanismo de ação dos dispositivos fotobiomoduladores nos tecidos. Dos 9 artigos estudados 5 utilizaram dispositivos com comprimento de onda na faixa espectral do Infravermelho próximo [18,20,23,24], 3 utilizaram o vermelho [2,22,25,26] e um utilizou ambos [21]. Todos os artigos estudados utilizaram o laser de baixa potência como dispositivo fotobiomodulador [2,18,20-26]. Discussão Um dos tecidos mais acometidos pela OA é a cartilagem articular. Esta estrutura apresenta capacidade reparadora limitada [24], que se estreita ainda mais nas condições degenerativas e/ou com o envelhecimento [27]. O mecanismo de lesão da cartilagem é iniciado por perda de proteoglicanos da matriz extracelular, desorganização do colágeno e metaplasia celular [28]. Os artigos revisados no presente estudo sugerem que a luz na faixa espectral do vermelho ao infravermelho próximo poderia auxiliar na recuperação da cartilagem lesionada [18,20,25], atuando positivamente no controle da OA. Esse efeito pode ser justificado pelo estímulo à proliferação de condrócitos [18,20,25] e pelo aumento da produção de glicosaminoglicanos e mucopolissacarídeos [21,25], componentes que garantem a integridade da cartilagem articular [25,27], induzidos pela terapia luminosa. De acordo com Hawkins et al. [29], os efeitos da luz de baixa potência sobre os tecidos vivos ocorrem mediante a liberação de elétrons que, ao atingirem a mitocôndria, possibilitam a produção de ATP e o restabelecimento de potenciais de membrana, normalmente alterados nas situações patológicas. Lipovsky et al. [30] relatam que a fotobiomodulação produz moléculas de oxigênio reativas que são capazes de interagir com os tecidos corporais, estimulando ou inibindo reações químicas no interior das células [16]. Segundo esses autores, o objetivo da utilização da luz de baixa potência é induzir à recuperação da homeostase celular e consequentemente favorecer a regeneração e a cicatrização dos tecidos [2,25,31], independente de efeitos térmicos. A maior ativação das enzimas citoplasmáticas, o estímulo à síntese de ATP, ácido nucleico e proteínas como os mucopolissacarídeos são algumas das justificativas que embasam a utilização da luz para auxiliar o reparo tecidual [2,16,20,21,25,26]. Os benefícios decorrentes da interação da luz com os tecidos são, entretanto, altamente dependentes dos parâmetros luminosos utilizados durante a aplicação, principalmente do comprimento de onda (nm) e da dose (J/cm2). Esses estão Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 intimamente relacionados à localização do tecido alvo e ao objetivo da intervenção, respectivamente [17,32]. A literatura preconiza que comprimentos de onda na faixa espectral do infravermelho próximo, por apresentarem maior capacidade de penetração tecidual, são os mais indicados para o tratamento de estruturas localizadas mais profundamente [33]. Portanto, a luz nessa faixa espectral seria a mais indicada para tratar de lesões intra-articulares, em animais e em humanos. No presente estudo, entretanto, resultados positivos foram observados com a utilização tanto do comprimento de onda infravermelho [18,20,23,24] quanto vermelho [2,21,25,26]. Exceção se faz ao trabalho realizado por Cafalli et al. [22], no qual não foram observados efeitos do laser sobre a regeneração da cartilagem articular. Nesse estudo, a aplicação do dispositivo luminoso (Laser HeNe) ocorreu sem contato, com a caneta aplicadora distante 4,0 cm da superfície cutânea, contrariando a distância máxima de 1,0 cm recomendada pela literatura [33]. Os resultados favoráveis encontrados nos trabalhos em que a faixa espectral do vermelho foi utilizada [2,21,25,26] talvez possam ser explicados pela distância relativamente pequena entre o alvo terapêutico e a fonte luminosa. Nesses estudos, a luz foi aplicada na superfície cutânea da cavidade intra-articular de animais de pequeno porte [2,21,25] e em culturas de células [26], com a radiação sendo realizada, em ambos os casos, a no máximo 1,0 cm do alvo, o que pode ter minimizado as perdas de luz. Esses achados, entretanto, podem não ser observados em humanos, já que nesses a distância alvo terapêutica-fonte luminosa tende a ser maior do que as observadas nos estudos aqui revisados. Todos os trabalhos incluídos na presente revisão utilizaram doses de aplicação menores ou iguais a 8,0 J/cm². Segundo a literatura, doses excitatórias (até 8 J/cm²) são indicadas quando o objetivo da intervenção inclui a potencialização da ação da bomba de sódio e potássio, o estímulo à produção de ATP, o restabelecimento do potencial de membrana, o aumento do metabolismo e da proliferação celular [34]. Existe também uma tendência de que regimes de emissão pulsados sejam preferenciais ao modo contínuo [35]; entretanto, tal fato não foi observado no presente trabalho. Revisões sistemáticas sobre os efeitos e a eficácia da luz no tratamento das afecções musculoesqueléticas têm chamado a atenção para a grande variabilidade na qualidade metodológica dos estudos [36-38]. O principal problema encontrado diz respeito à descrição dos parâmetros utilizados para a aplicação da terapia luminosa. A literatura relata que para o uso correto de parâmetros de tratamento, deve-se sempre fornecer descrição detalhada de propriedades da fonte de luz utilizada na triagem, de forma que o clínico possa interpretar os resultados científicos adequadamente e, de acordo com eles, delinear conclusões corretas e aplicá-las em sua prática clínica [17]. Nesta revisão, a diversidade e principalmente a omissão dos parâmetros de tratamento utilizados no estudo dificultaram a determinação de um protocolo que pudesse servir Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 como guia para utilização clínica dos dispositivos luminosos no tratamento da OA, apesar dos efeitos positivos da luz na reparação da cartilagem relatados pelos autores. Os resultados encontrados, entretanto, apontam a luz infravermelha, com doses excitatórias, como uma opção para o manejo das lesões degenerativas articulares. Esse pode ser um ponto de partida para a realização de ensaios clínicos que possibilitem avaliar a eficácia da fotobiomodulação como terapia conservadora no reparo da cartilagem articular. Porém, a dosimetria utilizada nos estudos in vitro ou em animais pode não ser adequada em contextos clínicos devido à reflexão da luz ou à perda de energia com a profundidade do tecido alvo [34]. Dessa forma, faz-se necessário que a dose para utilização clínica seja ajustada, considerando principalmente o tamanho e a localização da articulação a ser tratada. Dentro desse contexto, parâmetros como a potência e o tempo de aplicação da fonte luminosa devem ser manipulados de forma a garantir que o alvo terapêutico receba a quantidade de energia necessária para a promoção dos benefícios terapêuticos [39,40]. Conclusão A revisão realizada mostrou que os dispositivos fotobiomoduladores têm efeitos positivos no reparo da cartilagem em doenças articulares crônico-degenerativas como a OA. O estímulo à produção de colágeno e à proliferação de condrócitos, o aumento do metabolismo, a melhora do aporte de oxigênio, o restabelecimento dos potenciais de membrana e o aumento da quantidade de matriz celular foram as principais justificativas encontradas para a utilização do laser de baixa potência no reparo da cartilagem articular. Novos estudos devem ser conduzidos a fim de se obter parâmetros para aplicações clínicas seguras e eficazes dos dispositivos fotobiomoduladores no tratamento da OA, com foco no reparo da cartilagem articular, já que os estudos revisados foram realizados em culturas de células e em animais. Referências 1. Hinton R, Moody, RL, Davis AW, Thomas SF. Osteoarthritis: Diagnosis and therapeutic considerations. Am Fam Physician 2002;65(5):841-8. 2. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 147 Revisão Relação entre a coluna torácica e a função do ombro: relação estática ou dinâmica? Relationship between the thoracic spine and shoulder function: static or dynamic relationship? Alan de Souza Araújo*, Leandro Alberto Calazans Nogueira, M.Sc.** *Especialista em Biomecânica (EEFD/UFRJ), Especialista em Anatomia e Biomecânica (UCB), Fisioterapeuta da Clínica Fisioiguaçu, Universidade Estácio de Sá (UNESA), **Especialista em Biomecânica (UNESA), Fisioterapeuta do Hospital Universitário Gafrée e Guinle (UNIRIO) Resumo Abstract O ombro pode influenciar o movimento da coluna torácica e vice-versa, mas há pouca evidência sobre essa relação. Movimentos do ombro associados à coluna cervical e lombar estão bem descritos na literatura. No entanto, há um menor número de dados disponíveis sobre a influência da coluna torácica e de outras estruturas sobre os movimentos do ombro. O objetivo do estudo foi descrever a relação entre a coluna torácica e a função do ombro. Foi realizada uma revisão de literatura nas bases de dados eletrônicos Bireme, Pubmed, Lilacs e Science Direct. Os descritores utilizados foram: coluna torácica, função do ombro e movimentos torácicos, com suas devidas traduções para língua inglesa. A pesquisa abrangeu um intervalo de 17 anos (1994-2011) e retornou 566 trabalhos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, e da análise de duplicidade de citações, restaram 26 fontes. Acredita-se que as alterações posturais e encurtamentos musculares contribuem para disfunções do ombro, porém esses achados não são evidentes em estudos experimentais ou bem instrumentados. Existe uma forte correlação funcional e dinâmica entre movimentos da coluna torácica e os padrões de movimento do úmero e da escápula. A abordagem fisioterapêutica deve contemplar a coluna torácica em indivíduos com dores no ombro. The shoulder may influence the thoracic spine movement and vice versa, but there is little evidence about this relationship. Shoulder movements associated with cervical and lumbar are well described in the literature. However, there is a lack of information about the influence of thoracic spine and other structures on the shoulder movements. The aim of this study was to describe the relationship between the thoracic spine and shoulder function. It was realized a literature review in the Bireme, Pubmed, Lilacs and Science Direct database with the key-words: thoracic spine, shoulder function and thoracic movements, and their proper translations into Portuguese. The search covered a range of 17 years (1994-2011) and returned 566 papers. After applying the inclusion and exclusion criteria, and analysis of duplicated, remained 26 papers. It is believed that postural deformities and muscle shortening can contribute to shoulder dysfunction, but these findings are not evident in experimental or well instrumented studies. There is a strong correlation between functional and dynamic movements of the thoracic spine and movement patterns of the humerus and scapula. The physical therapy approach may address the thoracic spine in patients with shoulder pain. Key-words: thoracic wall, shoulder joint, biomechanics, disability. Palavras-chave: parede torácica, articulação do ombro, biomecânica, incapacidade. Recebido 2 de julho de 2010; aceito em 25 de fevereiro de 2011. Endereço para correspondência: Alan de Souza Araújo, Rua Brício Filho, 47 FDS, Guadalupe 21660-290 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 8891-9751, E-mail: [email protected] 148 Introdução O complexo do ombro é uma das regiões mais frequentes de busca de auxílio médico e fisioterapêutico. A articulação glenoumeral sofre diretamente com a necessidade de estabilização e de realização de movimentos de grande amplitude simultaneamente, sendo muitas vezes, a sua alteração biomecânica a causa do impacto subacromial [1,2]. A relação entre os movimentos da articulação glenoumeral e da articulação escapulotorácica durante a abdução do ombro variam, mas geralmente podem ser consideradas como 2:1. Se a posição escapular for modificada, parece razoável esperar que este padrão normal de movimento integrado seja afetado [3]. O ombro pode influenciar o movimento da coluna torácica, mas há pouca evidência sobre este fenômeno [2]. Desvios posturais, como cabeça anteriorizada, ombros anteriorizados (protração escapular), rotação interna do úmero, e aumento da cifose torácica, podem implicar em problemas no ombro [2]. Outro fator importante é que, durante a abdução do ombro há um conhecido padrão de movimento integrando a articulação glenoumeral e a articulação escapulotorácica, esse mecanismo é chamado de ritmo escapuloumeral [3-5]. Durante a abdução do ombro, a escápula deve fornecer uma base estável para o movimento glenoumeral e ainda ser móvel o suficiente, a fim de posicionar a cabeça do úmero em toda sua amplitude de movimento [6]. Alguns autores sugerem ainda que uma alteração postural pode levar a uma fraqueza muscular no complexo do ombro e ainda limitar a articulação glenoumeral em sua amplitude de movimento, podendo assim resultar em uma patologia muito comum no ombro chamada Síndrome do Impacto Subacromial (SIS) [3,6-9]. Outros autores relatam que os movimentos vertebrais da coluna toracica podem interferir na cinematica do complexo glenoumeral compromentendo sua função [2,10-13]. O conceito de SIS foi introduzido por Charles Neer, em 1972, e representa a compressão mecânica do manguito rotador, bursa subacromial e tendão do bíceps contra o acrômio e ligamento coracoacromial, especialmente durante a elevação do ombro. Neer afirmou que 95% de todos os casos de injúrias no manguito rotador poderiam ser atribuídos à mecânica do impacto, mas recentemente o conceito de SIS tem sido bastante discutido [7]. Acredita-se que a SIS é a causa mais comum de dor no ombro, sendo responsável por 44% a 65% de todas as queixas em um consultório médico [6]. A relação entre o alinhamento da coluna torácica, posição e cinemática escapular e função do ombro são baseadas em grande parte por observações pessoais e não por dados investigativos, apenas poucos estudos procuraram explorar esta relação. Movimentos associados à região cervical e lombar possuem maior interesse e estão bem descritos na literatura, no entanto, há um menor número de dados disponíveis sobre a coluna torácica ou sobre a influência que outras articulações ou estruturas podem ter sobre seus movimentos [2]. A coluna torácica é a principal área de transferência de carga entre a parte superior e inferior do corpo, e sua função Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 requer tanto mobilidade quanto estabilidade [14]. A relação entre a coluna torácica com a função do ombro e a cintura escapular tem sido atribuída à existência de inúmeras conexões musculares. Entretanto, a posição destes vários segmentos ósseos podem influenciar diretamente a função do ombro, além de influenciar no comprimento muscular, comprometendo sua capacidade de gerar tensão [6].O objetivo do estudo foi descrever a relação entre a coluna torácica e a função do ombro, além de analisar os mecanismos envolvidos nesta relação. Material e métodos O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura, nas bases de dados eletrônicos Bireme, Pubmed, Lilacs, Science Direct. Os descritores utilizados foram: coluna torácica, função do ombro e movimentos torácicos, com suas devidas traduções para língua inglesa thoracic spine, shoulder function e thoracic movement. Os descritores foram utilizados com diversas combinações e de forma aleatória. A pesquisa abrangeu um intervalo de tempo de dezessete anos (1994-2011). Somandose todas as bases de dados, foram encontrados 566 artigos. Após a leitura dos títulos dos artigos, notou-se que alguns deles se repetiram nas diferentes bases e outros não preenchiam os critérios do presente estudo. Foram adotados como critérios de inclusão, tanto artigos experimentais, como revisões de literatura que pudessem obter informações sobre as correlações existentes entre o complexo do ombro e a coluna torácica, e foram excluídos os artigos que não continham informações correlacionando a coluna torácica com a função do ombro, ou que fossem anteriores ao ano de 1994. Foram selecionados 46 artigos para a leitura e foram excluídos os que não diziam respeito ao propósito deste estudo. Sendo assim restaram um total de 26 fontes que contextualizavam o assunto de interesse (Figura 1). As Tabelas I e II resumem os principais achados dos estudos que analisaram as relações estáticas e dinâmicas, respectivamente, com a função do ombro. Figura 1 - Organograma descritivo de todo o processo de pesquisa da revisão de literatura do presente artigo. Resultado da busca nas bases de dados (1994-2011) 566 Artigos Aplicação dos critérios de inclusão e exclusão Artigos não correspondentes ao assunto (15) 46 Artigos 31 Artigos Artigos duplicados 26 Artigos Finalização do artigo contendo informações sobre relações estáticas e dinâmicas 13 Artigos Relações dinâmicas 13 Artigos Relações estáticas Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 149 Tabela I - Resumo dos achados encontrados em estudos que analisaram as relações estáticas entre a coluna torácica e o complexo do ombro. Autor /Ano / Jornal de Tipo de estudo Publicação Bostard [3] Observacional Descritivo Kebaetse et al. [6] Observacional Descritivo McClure, Michener e Karduna [7] Caso-controle Herbert et al. [15] Caso-controle Greenfield et al. [16] Caso-controle Lewis, Green & Wright [23] Caso-controle Lewis & Valentine [24] Caso-controle Características da amostra e testes realizados 50 indivíduos assintomáticos. Foram medidos a orientação escapular, cifose torácica e comprimento do peitoral menor por meio de eletromagnéticos e fita métrica. 34 indivíduos assintomáticos. Postura ereta e curvada (hipercifose). Cinemática escapular e ADM ativo do ombro durante a abdução no plano escapular mensurada por um sistema eletromecânico em 3D. Força muscular medida por dinamometria. 90 indivíduos (45 com SIS e 45 sem SIS). ADM do ombro e cifose torácica por meio da goniometria e força muscular pela dinamometria. Resultados Indivíduos com cifose aumentada e menor comprimento do peitoral menor têm maior tendência a problemas no ombro devido à alterações do posicionamento escapular em repouso. Na postura de hipercifose há diminuição da força muscular, diminuição do ADM ativo, elevação da escápula e diminuição de seus movimentos. Não foram encontradas diferenças significativas relacionando postura torácica e dor em indivíduos com e sem SIS. Alterações escapulotorácicas, de força e ADM poderiam estar relacionadas a mecanismos compensatórios relacionados à dor. 51 sujeitos (41 com SIS e 10 sem SIS). Alterações do movimento escapular duMovimentos escapulares por dispositivos rante a abdução do braço em indivíduos eletromagnéticos com SIS. 60 indivíduos (30 com SIS e 30 SIS). Apesar de encontrarem movimentos alteMovimentos escapulares, ADM do ombro rados da escápula e diminuição do ADM e postura. do ombro, não observaram diferenças na postura em indivíduos com e sem SIS. A postura da parte superior do corpo 60 individuos com SIS e 60 sem SIS. Anteriorização da cabeça, cifose torácica, não seguiu os padrões definidos na literatura, e seus achados foram insuposição escapular e diminuição do ADM ficientes para correlacionar postura e do ombro por um programa de análise indivíduos com e sem SIS. posural. Mediram a curvatura da coluna torácica Apesar da avaliação interavaliadores ter em 45 indivíduos com SIS e 45 sem SIS por sido boa, seus dados foram inconclusimeio de um inclinômetro. vos para indivíduos com e sem SIS. Tabela II - Resumo dos achados encontrados em estudos que analisaram as relações dinâmicas entre a coluna torácica e o complexo do ombro. Autor /Ano / Jornal de Tipo de estudo Publicação Theodoridis & Ruston [2] Observacional Descritivo Meurer et al. [13] Caso-controle Características da amostra e testes realizados 25 mulheres assintomáticas. Foram avaliadas através de dispositivos eletromagnéticos para verificar padrões de movimentos das vértebras torácicas (T2-T7) durante a elevação do braço no plano sagital e escapular Um estudo prospectivo com 50 indivíduos com SIS e 50 sem SIS. Foram testar a mobilidade das vertebras torácicas superiores através de um dispositivo eletromagnético. Resultados Observaram um movimento padrão de inclinação e rotação ipsilateral acompanhados de extensão das vértebras torácicas. A maior mobilidade foi encontrada em indivíduos sem SIS, não foram encontradas diferenças sobre a postura inicial da coluna torácica. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 150 Crosbie et al. [12] Observacional Descritivo 32 mulheres assintomáticas. Realizaram flexão uni e bilateral da glenoumeral em três planos (sagital, coronal e escapular) e foram analisadas diversas variáveis através de dispositivos eletromagnéticos. Lee, Hodges & Coppieters [27] Observacional Descritivo Boyles et al. [28] Experimental Strunce et al. [29] Experimental Feil & Morgan [30] Revisão 10 participantes assintomáticos. Foram monitorados através de EMG na região torácica (longuíssimo e multífidos) e ombro (deltóide), realizando movimentos uni e bilaterais do ombro. Manipulação torácica em 56 pacientes Evidenciou alterações significativas nos com SIS. testes de Neer e Hawkins, melhora da função e redução da dor nos testes de resistência para rotação externa e rotação interna e aumento da abdução ativa do ombro. Manipulação torácica em 21 pacientes Diminuição significativa nos níveis de dor com dor no ombro em mais de 50% dos indivíduos. Revisou artigos que incluíam biomecânica Destacou a hipótese da Síndrome do T4. Forneceu subsídios sobre os benefícios e manipulação articular. Descreveu as alterações de movimento na da manipulação torácica na mobilidade coluna torácica e relacionou com os movi- da escápula e do ombro. mentos do complexo do ombro Discussão A associação entre desvios posturais e dor no ombro é baseada na teoria de que posições prolongadas podem acarretar adaptações dos tecidos moles. Essas adaptações podem ser explicadas por mecanismos ativos e passivos que agem em conjunto durante o movimento do ombro, levando a alterações biomecânicas que geram dor [3]. A relação exata entre os movimentos torácicos e do ombro tem sido objeto de muitas investigações, a razão para tal interesse está na crença de que indivíduos com patologias no ombro devem demonstrar muitas vezes uma interrupção da coordenação entre os movimentos escapulares e torácicos. Dessa forma torna-se necessária a recuperação de uma sincronia normal para um bom resultado do tratamento. Um dos maiores problemas com relação a essas investigações é a dificuldade de monitoramento dos segmentos em tempo real [12]. Relações estáticas entre a coluna torácica e a função do ombro A investigação de problemas musculoesqueléticos no ombro inclui frequentemente uma avaliação postural, pois uma boa função do ombro significa um bom alinhamento vertebral e uma posição adequada da escápula [3,6-9,15]. Alguns autores propõem que o aumento da flexão torácica (hipercifose) altera a relação do movimento escapuloumeral [3-7, Foram observadas consistentes interações e sincronias entre os movimentos do úmero, da escápula e segmentos torácicos. Movimentos uni e bilaterais do ombro produzem significativamente diferentes padrões de movimentos vertebrais e nas rotações escapulares. Durante os movimentos de flexão, multífidos e longuíssimo entraram em atividade antes da ativação do deltóide. 16-23]. Sahrmann [8] afirmou que um ótimo alinhamento é necessário para a adequada realização do movimento. Desvios posturais, portanto, podem mudar a capacidade biomecânica de produzir movimentos precisos, ocasionando ao longo do tempo dor como resposta a exposição a tarefas repetitivas. Kebaetese et al. [6] realizaram um estudo com o objetivo de determinar o efeito da postura torácica sobre a cinemática escapular, força muscular e arco de movimento (ADM) ativo do ombro durante a abdução no plano escapular. Os resultados obtidos foram que a postura torácica afeta claramente o ADM de abdução no plano escapular e a cinemática escapular. A força muscular não foi afetada pela postura na posição neutra. A diminuição de 16,2 % da força de abdução no plano escapular com o braço a 90º na postura curvada pode ser explicada por alterações na cinemática escapular. Na postura curvada a translação superior da escápula é aumentada entre 0 e 90 graus, o que reduz o comprimento das fibras superiores do trapézio e a consequência é a redução da sua capacidade de gerar tensão. Além disso foi observada uma maior inclinação anterior da escápula nesta posição. Na postura curvada foi encontrada uma média de 105º em comparação com 90,6º na postura ereta. Portanto músculos gleno-umerais como deltóide e supra-espinhoso estavam mais encurtados. Com relação à cinemática escapular foram achados na postura curvada, uma maior translação superior da escápula entre 0 e 90º de abdução, menor rotação ascendente e menor inclinação posterior entre 90 e 180º de abdução. Segundo o Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 autor a diminuição de ADM do ombro na postura curvada pode ser atribuído a menor inclinação posterior e menor rotação ascendente da escápula nesta posição. Dessa forma, o acrômio pode criar uma barreira óssea que pode causar ou contribuir para SIS e lesões repetitivas [6]. Um dos mecanismos que podem potencializar a SIS seria o encurtamento do peitoral menor, alterando o movimento escapular nos planos sagital e transverso. Devido às suas inserções em processos coracóides e costelas esse encurtamento do peitoral menor durante o repouso, ocasionaria um aumento da tensão passiva durante a elevação do ombro, o que restringe a rotação ascendente da escápula. Cabe ressaltar que esses achados foram encontrados por Borstad [3,20] em indivíduos assintomáticos. O posicionamento estático da coluna torácica pode não ser o fator causal para a SIS. Apenas uma falta de mobilidade torácica deve contribuir. McClure et al. [9] não encontraram diferenças significativas entre posição do ombro e postura da coluna torácica superior em indivíduos com e sem SIS. Para os autores as alterações escapulotorácicas poderiam estar relacionadas a mecanismos compensatórios relacionados à dor. A relação estática entre a coluna torácica e a função do ombro não está ainda bem esclarecida [8,9], enquanto vários estudos suportam a relação entre movimentos e dor por causa de alterações da cinemática escapular [3,6-9,15-23]. Relações dinâmicas entre a coluna torácica e os movimentos do ombro Por muitos anos tem sido entendido, que o ADM completo do ombro depende do movimento escapular, e que especialmente durante a elevação unilateral do ombro, haverá uma tendência de extensão e rotação da coluna para ampliar o movimento [12]. Muitos autores descrevem que uma limitação funcional do movimento do ombro está associada também a uma restrição dos movimentos da escápula e da coluna torácica [2,10-13]. Segundo Meurer et al. [13], indivíduos saudáveis apresentam maior mobilidade da coluna torácica nos planos frontal e sagital e na rotação comparados com indivíduos com SIS. No mesmo estudo não foram observadas diferenças relativas à postura inicial da coluna torácica [13]. Theodoridis e Ruston [2] realizaram uma pesquisa com 25 indivíduos do gênero feminino, utilizando um dispositivo eletromagnético na pele (não invasivo), nos processos espinhosos de T2 a T7. Os sujeitos foram orientados a realizar uma elevação do ombro no plano escapular e no plano sagital (flexão voluntária máxima). Vinte e três indivíduos apresentaram um padrão de movimento para a inclinação e rotação lateral ipsilateral associada com extensão no plano sagital, enquanto 19 indivíduos encontraram o mesmo padrão durante a elevação do ombro no plano escapular. Existem estudos que encontraram o mesmo padrão de movimento com a coluna torácica superior, porém com metodologia diferente[10-12]. 151 Crosbie et al. [12] realizaram um estudo em que o principal objetivo foi investigar a sincronia e coordenação do úmero, escápula e movimentos da coluna torácica e lombar durante movimentos uni e bilaterais do membro superior no plano sagital, coronal e escapular. A extensão da coluna torácica só ocorreu com a flexão bilateral dos ombros, independente dos planos. A flexão lateral da torácica alta e rotação axial ipsilateral só foram predominantes quando houve uma elevação unilateral do úmero e não bilateralmente. Nenhum movimento lombar foi significativo para os movimentos do braço. A torácica baixa foi particularmente influenciada pela abdução do úmero nos planos coronal e escapularO movimento de extensão torácica baixa foi significantemente maior em todos os três planos de movimentos do braço em relação a torácica alta. Os autores sugerem que a região torácica superior é mais limitada devido a sua fixação nas costelas. O movimento de flexão lateral da coluna torácica alta foi ligeiramente maior durante a elevação do ombro ipsilateral. Já a região torácica baixa fletiu para o lado contralateral ao movimento do braço em todos os casos e o seu resultado foi significantemente maior do que o movimento na região torácica alta. A rotação axial da torácica alta foi maior do que na torácica baixa em todos os planos de movimento. Todos os sujeitos da pesquisa apresentaram fortes correlações entre movimentos da coluna vertebral e os padrões de movimento do úmero, assim como rotação lateral escapular e movimento da coluna torácica alta. Lewis & Valentine [24] relataram que a extensão das vértebras torácicas durante a elevação do braço foi necessária para uma amplitude de movimento completa. A coluna torácica funciona como um elo fundamental na cinemática da elevação do ombro. As implicações clínicas e os achados estão bem coordenados [12]. Assim como já foi observado na coluna cervical [25] e na coluna lombar [26], existe um mecanismo de antecipação de movimento por parte dos músculos profundos da coluna torácica. Lee, Hodges e Coppieters [27] selecionaram 10 indivíduos nos quais foram introduzidos eletrodos de agulha nos multífidos e longuíssimos nos níveis de T5, T8 e T11 e também foram colocados eletrodos nas porções anteriores e posteriores do deltóide direito e esquerdo. Os indivíduos foram orientados a realizar movimentos uni e bilaterais do braço alternadamente. Foi observado que durante a flexão do ombro, multífidos e longuíssimos aumentaram suas atividades acima do considerado basal antes mesmo da contração do deltóide, esta atividade antecipatória ao movimento do braço deve ser planejada pelo sistema nervoso central (SNC). Os autores acrescentam que o músculo longuíssimo desempenha um papel importante, tanto no controle de orientação da coluna vertebral, como também no controle do centro de massa (CM) durante alterações no plano sagital [27]. Um estudo que analisou a melhora da mobilidade torácica através da manipulação vertebral em indivíduos com SIS, evidenciou alterações significativas nos testes de Neer e Hawkins, melhora da função e redução da dor no teste de resistência 152 para rotação externa e rotação interna, além da abdução ativa do ombro [28]. Strunce et al. [29] também observaram melhoria nos sintomas de SIS e diminuição da intensidade de dor em 50% dos indivíduos que sofreram uma intervenção com manipulação vertebral na região torácica e nas costelas. Uma das hipóteses para a correlação entre a mobilidade torácica e a função do ombro está na sindrome de T4, esta sindrome foi aceita por alguns profissionais de saúde nas últimas décadas, mas ainda faltam provas para comprovar sua real existência. A síndrome de T4 cursa com diminuição do ADM do ombro, dor difusa no tronco e ombro além de alterações sensoriais. A teoria da síndrome de T4 atribui muitos dos problemas observados em ombros, a uma perda da extensão normal que ocorre nesta vértebra [30]. Como podemos observar a dinâmica da coluna torácica pode ser considerada um fator novo na abordagem das patologias do ombro, apesar de ainda não estar incluida em alguns resumos de artigos e congressos, onde são abordados principalmente as relações estáticas [31]. Conclusão Acredita-se que as alterações posturais e encurtamentos musculares contribuem para disfunções do ombro, porém esses achados não são evidentes em estudos experimentais ou bem instrumentados. Vários estudos suportam a relação entre movimentos da coluna torácica e função do ombro em decorrência das alterações cinemáticas da escápula. Existe uma forte correlação funcional e dinâmica entre movimentos da coluna torácica e os padrões de movimento do úmero e da escápula. Clinicamente estes achados sugerem que a avaliação funcional do ombro deve incluir a avaliação da cinemática da coluna torácica e escapular, de modo que seu tratamento deve incluir técnicas que auxiliem na mobilidade torácica e na coordenação escapular. Referências 1. Almeida RS, Nogueira LAC. Aplicação do protocolo para recuperação da síndrome do impacto subacromial proposto pelo setor de fisioterapia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle - um relato de caso. Metascience 2005;2:5-7. 2. Theodoridis D, Ruston S. The effect of shoulder movements on thoracic spine 3D motion. Clin Biomech (Bristol, Avon) 2002;17(5):418-21. 3. Borstad JD. Resting position variables at the shoulder: evidence to support a posture-impairment association. Phys Ther 2006;86(4):549-57. 4. Caillet R. Dor no ombro. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. 5. Glenn CT, Thomas MC. Functional anatomy of the shoulder. J Athl Train 2000;35(3):248-55. 6. Kebaetse M, McClure P, Pratt NA. Thoracic position effect on shoulder range of motion, strength, and three-dimensional scapular kinematics. Arch Phys Med Rehabil 1999;80(8):945-50. 7. McClure PW, Michener LA, Karduna AR. Shoulder function and 3-dimensional scapular kinematics in people with Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 and without shoulder impingement syndrome. Phys Ther 2006;86(8):1075-90. 8. Sahrmann SA. Does postural assessment contribute to patient care? J Orthop Sports Phys Ther 2002;32(8):376-9. 9. Sahrmann SA. 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Karduna AR, McClure PW, Michener LA, Sennett B. Dynamic measurements of three-dimensional scapular kinematics: a validation study. J Biomech Eng 2001;123(2):184-90. 22. Hinman MR. Interrater reliability of flexicurve postural measures among novice users. J Back Musculoskeletal Rehabil 2003;17:33-6. 23. Lewis JS, Wright C, Green A. Subacromial impingement syndrome: the effect of changing posture on shoulder range of movement. J Orthop Sports Phys Ther 2005;35(2):72-87. 24. Lewis JS, Valentine RE. Clinical measurement of the thoracic kyphosis. A study of the intra-rater reliability in subjects with and without shoulder pain. BMC Musculoskelet Disord 2010;11:39. 25. Falla DL, Jull GA, Hodges PW. Patients with neck pain demonstrate reduced electromyographic activity of the deep cervical flexor muscles during performance of the craniocervical flexion test. Spine (Phila Pa 1976) 2004;29(19):2108-14. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 26. Hodges PW, Richardson CA. Inefficient muscular stabilization of the lumbar spine associated with low back pain. A motor control evaluation of transversus abdominis. Spine (Phila Pa 1976) 1996;21(22):2640-50. 27. Lee LJ, Coppieters MW, Hodges PW. Anticipatory postural adjustments to arm movement reveal complex control of paraspinal muscles in the thorax. J Electromyogr Kinesiol 2009;19(1):46-54. 28. Boyles RE, Ritland BM, Miracle BM, Barclay DM, Faul MS, Moore JH, et al. The short-term effects of thoracic spine thrust 153 manipulation on patients with shoulder impingement syndrome. Man Ther 2009;14(4):375-80. 29. Strunce JB, Walker MJ, Boyles RE, Young BA. The immediate effects of thoracic spine and rib manipulation on subjects with primary complaints of shoulder pain. J Man Manip Ther 2009;17(4):230-6. 30. Feil CH, Morgan WE. The importance of the thoracic spine in shoulder mechanics. Dynamic Chiropractic 2010;10(28):17-8. 31. Ludewig PM, Braman JP. Shoulder impingement: Biomechanical considerations in rehabilitation. Man Ther 2011;1(16):33-9. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 154 Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das várias áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Submissões devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo ([email protected]). A publicação dos artigos é uma decisão dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial serão submetidas à revisão por pares anônimos. Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estudos em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo adotado (observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir o número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente registrada no Conselho Nacional de Saúde. 1. Editorial O Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acontecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos importantes publicados na própria revista. É realizada a pedido dos Editores, que podem publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas de atualidade. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em estudos com animais ou humanos. Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo (inglês e português), Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel ou Word. Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com resolução de 300 dpi. Literatura citada: Máximo de 50 referências. 3. Revisão São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento em alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia. Revisões consistem necessariamente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já publicados em revistas científicas. Será dada preferência a revisões sistemáticas e, quando não realizadas, deve-se justificar o motivo pela escolha da metodologia empregada. Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem necessariamente toda a história do seu tema, exceto quando a própria história da área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, metodologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão, conclusão e referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais. Literatura citada: Máximo de 50 referências. 4. Relato de caso São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas. Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do caso, Discussão, Conclusões e Referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras. Literatura citada: Máximo de 20 referências. 5. Opinião Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos autores: avanços recentes, política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses, críticas à interpretação de estudos originais e propostas de interpretações alternativas, por exemplo. A publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência do tema abordado. Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e não traz um resumo destacado. Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura. Literatura citada: Máximo de 20 referências. 6. Cartas Esta seção publica correspondência recebida, necessariamente relacionada aos artigos publicados na Fisioterapia Brasil ou à linha editorial da revista. Demais contribuições devem ser endereçadas à seção Opinião. Os autores de artigos eventualmente citados em Cartas serão informados e terão direito de resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem ser breves e, se forem publicadas, poderão ser editadas para atender a limites de espaço. A publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência do tema abordado. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL • Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página A4, formatados da seguinte maneira: fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. • Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e Figuras com algarismos arábicos. • Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, isoladas das ilustrações e do corpo do texto. • As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas excepcionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados (histologia, neuroimagem, etc). Página de apresentação A primeira página do artigo traz as seguintes informações: • Título do trabalho em português e inglês; • Nome completo dos autores e titulação principal; • Local de trabalho dos autores; • Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone e E-mail; Resumo e palavras-chave A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, deverá conter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode ultrapassar 200 palavras. Deve conter introdução, objetivo, metodologia, resultados e conclusão. Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. Agradecimentos Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoamericanas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme. br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplos: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995.p.465-78. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. 155 Envio dos trabalhos A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf do artigo publicado, necessita o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser depositada na conta da editora: Banco do Brasil, agência 3114-3, conta 5783-5, titular: Atlantica Multimidia e Comunicacoes Ltda (ATMC). Os assinantes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por e-mail com o envio do artigo). Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à Editora, e deve conter: • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição; • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em outros meios além de anais de congresso; • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão cientes e de acordo com o envio do trabalho; • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável; • Telefones de contato do autor correspondente. • A área de conhecimento: ( ) Cardiovascular / pulmonar ( ) Saúde funcional do idoso ( ) Diagnóstico cinético-funcional ( ) Terapia manual ( ) Eletrotermofototerapia ( ) Orteses, próteses e equipamento ( ) Músculo-esquelético ( ) Neuromuscular ( ) Saúde funcional do trabalhador ( ) Controle da dor ( ) Pesquisa experimental /básica ( ) Saúde funcional da criança ( ) Metodologia da pesquisa ( ) Saúde funcional do homem ( ) Prática política, legislativa e educacional ( ) Saúde funcional da mulher ( ) Saúde pública ( ) Outros Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publicação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente para sua adequada formatação. Atlantica Editora [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 2 - março/abril de 2011 156 Agenda 2011 Maio 12 a 14 de maio VI Congresso de Fisioterapia da UFJF Victory Business Hotel, Juiz de Fora, MG Informações: www.da13deoutubro.com.br, contato@ da13deoutubro.com.br 20 a 23 de junho World Physical Therapy Amsterdam Holland Informações: www.wcpt.org/congress 27 de junho a 1 de julho International Society of Biomechanics in Sport Congress 2011 Faculdade de Esporte da Universidade do Porto, Portugal Informações: www.isbs2011.fade.up.pt 18 a 21 de maio III CIRNE Congresso Internacional de reabilitação Neuromusculoesquelética e Esportiva Vitória, ES Informações: www.cirne2011.com.br Outubro 25 a 27 de maio I Congresso Brasileiro de Fisioterapia em Emergência Centro Fecomércio de Eventos, São Paulo Informações: www.cobeen.com.br 27 e 28 de maio II FisioSul I Encontro Científico Multidisciplinar do Litoral Norte do RS Informações: www.ulbratorres.com.br/fisiosul 9 a 12 de outubro XIX Congresso Brasileiro de Fisioterapia Florianópolis, SC Informações: http://www.afb.org.br/ 19 a 21 de outubro II Congresso Paraense de Fisioterapia Belém, PA Informações: www.fisiocopaf.com.br 19 a 21 de outubro Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho Salvador, BA Informações: www.abrafit.fst.br Junho 14 a 16 de junho 13ª Rio Sports Show Pier Mauá, Rio de janeiro Informações: www.riosportshow.com.br Novembro 11 a 14 de novembro V Congresso Brasileiro e III Congresso Internacional da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva V Jornada Brasil-Argentina de Fisioterapia Esportiva Maceió, AL Informações: www.sonafe2011.com Cursos 2011 Setembro Junho 11 de junho Certificação em Treinamento de Corrida (011) 2714-5677 Informações: www.institutophorte.com.br Julho 28 a 31de julho VIII Encontro Internacional de Esporte e Atividade Fisica Informações: (011) 2714-5677 www.institutophorte.com.br 30 de setembro a 02 de outubro Profisio Brasil 2011 Informações: (011) 2714-5677 www.institutophorte.com.br Fisioterapia Brasil Physical Therapy Brazil (vol. 12, nº 3 maio/junho 2011 - 161~240) EDITORIAL Ainda sobre publicações: cientificas ou ficcionais, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................ 163 ARTIGOS ORIGINAIS Satisfação profissional do fisioterapeuta e cuidado humanizado em unidades de terapia intensiva, José Erickson Rodrigues, Marcus Vinícius de Melo Bulhões, Gnerro Junqueira da Costa Junior, Almir Vieira Dibai Filho, Ana Carla Aquino de Araújo ............................................................................................................... 164 Associação entre o teste de Thomas modificado e o teste de Ely no diagnóstico do encurtamento do músculo reto femoral, Katy Andrade Monteiro Zacaron, Bruna la Rocca Condé, Carla Aparecida Paranhos do Prado, Gilmara Brugiolo Pacheco .................................................................................................. 168 Prevalência da sobrecarga psicossocial e dos sintomas osteomusculares em cuidadores de crianças com paralisia cerebral, Cybelle Oliveira Soares da Silva, Raquel Aboudib Kawata, Levy Aniceto Santana .................................. 173 O prolapso genital associado à incontinência urinária de esforço altera a função muscular do assoalho pélvico? Raquel Henriques Jacómo, Ana Paula Magalhães Resende, Liliana Stupp, Amene Cidrão Lima, Fellipe Amatuzzi Teixeira, Bruno Teixeira Bernardes, Manoel João Batista Castello Girão, Marair Gracio Ferreira Sartori ............................................................................................. 178 Exercício físico em pacientes portadores de diferentes níveis de doença pulmonar obstrutiva crônica, Juliana El-Hage Meyer de Barros Gulini, Walter Celso de Lima, Concetta Esposito .................................................................... 183 Eficácia do índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini em uma unidade de terapia intensiva de um hospital público de Fortaleza/CE, José Eduardo de Oliveira Miranda, Marilce Ferreira Farias, Guilherme Pinheiro Ferreira da Silva, Rodrigo José Bezerra de Siqueira, Maria do Socorro Quintino Farias, Raimunda Hermelinda Maia Macena, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos ....................................................................................... 189 Exercícios de fortalecimento dos extensores do tronco no tratamento da lombalgia crônica, Luciana Baltazar Dias, Guilherme Carlos Brech, Alberto Nigro Filho .......................................................................................... 193 Efeito da própolis na prevenção de lesões na epiderme induzidas pela radiação UVB em camundongos Balb/c, Lamara Laguardia Valente Rocha, Bárbara Dutra da Silva Luz, Douglas Augusto Machado da Silveira, Michele Braz dos Santos, Luiz Henrique Laguardia Rocha, Silvia Laguardia, Mario Antônio Baraúna, Marcus Vinicius de Mello Pinto ................................................................................. 200 Eletroestimulação do nervo tibial posterior para tratamento da incontinência urinária após AVE, Vanessa Rosa da Silva, Amanda de Assis Mariano, João Carlos Ferrari Corrêa, Fernanda Ishida Corrêa, Soraia Micaela Silva, Adriana Nery Gallo de Barros ..................................................................................................................... 207 RELATO DE CASO Estudo do efeito da corrente interferencial na tensão muscular e na qualidade de vida em indivíduos portadores de disfunção temporomandibular, Mariana Berbel Medina, Thiago Yukio Fukuda, Paulo Roberto Garcia Lucareli, Silvio Antonio Garbelotti Junior ................................................................................................. 212 REVISÕES O Core Training como programa de exercícios de estabilização, Fernando Campbell Bordiak, Elirez Bezerra da Silva.................................................................................................................................................................. 219 Saúde pública, interdisciplinaridade e formação do fisioterapeuta, Bianca Callegari, Marília Maniglia de Resende, Michelle Ferreira Guimarães ......................................................................................................... 224 Estabilização segmentar vertebral no controle da dor lombar crônica: efetividade e variações, Verônica Olívia Maria Peixoto Brandão Rodrigues de Carvalho, Luciana Bahia Gontigo, Silmar Teixeira, Julio Guilherme Silva, Marco Orsini, Dionis de Castro Dutra Machado, Luiz Claudio Miana, Victor Hugo do Vale Bastos ....... 227 ATUALIZAÇÃO A atuação do fisioterapeuta nas perícias judiciais de LER/DORT, João Marcos Bernardes, José Ronaldo Veronesi Junior ....... 232 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................................................................................. 237 EVENTOS.................................................................................................................................................................................. 239 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 162 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFVJM – Diamantina – MG) Grupo de assessores Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Diretor Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 163 Editorial Ainda sobre publicações: cientificas ou ficcionais Marco Antonio Guimarães da Silva No editorial passado, focalizei o espaço literário dos escritores de ficção e dos escritores de artigos científicos. Pretendo agora, en passant, observar as dificuldades que esses autores encontram para publicar seus livros de ficção ou seus artigos científicos. No que diz respeito à publicação de um artigo cientifico, o pesquisador submete o que produziu e escreveu ao comitê editorial de uma revista cientifica ou de um periódico. Esse comitê é constituído em sua grande maioria por doutores, com experiência em pesquisa e, excepcionalmente, por um pequeno percentual de mestres ou de profissionais clínicos de comprovada experiência. Essas revistas científicas são normalmente avaliadas, aqui no Brasil, pelo fator de impacto que possuem e pela classificação Qualis da CAPES. Ter um artigo aceito e publicado por um periódico que tenha um fator de impacto muito alto, ou com uma pontuação Qualis A internacional, pode levar até dois anos. A demora se justifica, na maioria das vezes, porque é grande o número de artigos enviados a essas revistas ou porque o artigo caiu em exigência e o autor deverá proceder às correções exigidas pelo parecerista. Pelo que sei, não há privilégios para fulano ou cicrano: os artigos bons são sempre bem vindos e publicados, seja o autor um eminente cientista sênior ou um neófito na pesquisa. Como o objetivo desses periódicos científicos é o de ser o canal entre a produção científica do pesquisador e o público formado também por pesquisadores ou profissionais afins, descaracteriza-se, nesse caso, o aspecto meramente comercial da veiculação do produto (o artigo científico publicado). Mas e os autores de ficção? Teriam eles oportunidade de publicar as suas produções literárias, que, em alguns casos, consumiram-lhes anos e anos de dedicação? Bem, aqui a história é outra. Parece ser o mercado que regula as coisas. Seja a obra boa ou não. *Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior. Para começo de conversa, sugere-se que o escritor tenha um bom agente literário, mas é praticamente impossível ter um, se você é um novato. Se considerarmos que um agente literário ganha um pequeno percentual sobre o que o autor ganha (normalmente 10% sobre o preço de capa), ele só conseguirá ter algum lucro compensador, se o autor vender muito. Entende-se, portanto, porque os autores ainda desconhecidos do grande público são, em sua grande maioria, rejeitados por esses agentes. Há centenas e centenas de novos escritores que tentam o mercado editorial; alguns medíocres, outros bons e outros muito bons, à altura de autores já consagrados pela crítica e pelo público. Alguns desses autores, não tendo encontrado um agente que os representasse, enviam os seus manuscritos diretamente para as editoras. Mais uma vez, indo em direção oposta ao que ocorre no mercado editorial cientifico, o autor iniciante que tem o seu livro aceito comprou o bilhete premiado da Mega-sena, cujas chances de ganhar são de um para cinquenta milhões. As editoras não querem correr riscos. É bem possível que os novos escritores, que já tiveram a decepção da rejeição, tenham se perguntado: se os agentes literários e as editoras só aceitam os autores conhecidos, como e quando poderemos nos tornar conhecidos? Suponho que resposta seria algo parecido com: reconhecemos que a pergunta procede, mas é assim que o mercado funciona. Só lhes resta rezar para tirar a “sorte grande na loteria”. O destino tem sido muito generoso com as escolhas que faço e gostaria aqui de celebrar, com os que me tem me acompanhado até hoje, o fato de ter firmado contrato com a Editora paulista Octavo (http://www.octavo.com.br), para a edição, ainda este ano, do meu segundo romance, sem a necessidade de intermediação de um agente literário. 164 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Artigo original Satisfação profissional do fisioterapeuta e cuidado humanizado em unidades de terapia intensiva Professional satisfaction of physical therapist and humanized care in intensive care units José Erickson Rodrigues, Ft.*, Marcus Vinícius de Melo Bulhões, Ft**, Gnerro Junqueira da Costa Junior, Ft.**, Almir Vieira Dibai Filho, Ft**, Ana Carla Aquino de Araújo*** *Mestrando em Educação (UFAL), docente do Centro Universitário Cesmac, Maceió/AL, **Centro Universitário Cesmac, Maceió/AL, ***Enfermeira, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa/PB Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi avaliar a satisfação profissional do fisioterapeuta e sua relação com o cuidado humanizado em unidades de terapia intensiva (UTI). Realizou-se uma pesquisa de caráter exploratório e qualitativa com 26 fisioterapeutas de ambos os sexos, atuantes em centros intensivos do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela (Maceió/AL). A amostra do estudo foi obtida em seu local de trabalho, alcançando-se os dados através da aplicação de um questionário abrangendo sexo, idade, tempo de graduado, tempo de atuação em UTI, grau acadêmico e opiniões individuais acerca das influências sobre o cuidado humanizado. Foi constatado um predomínio de profissionais do sexo feminino, especialistas, com média de idade de 30,72 ± 5,12 anos, média de tempo de graduado de 7,10 ± 4,74 anos e média de tempo de atuação em UTI de 6,08 ± 4,33 anos. Ademais, concluiu-se que, de acordo com a opinião dos fisioterapeutas, existe uma relação entre a falta de recursos e a má remuneração com a diminuição da qualidade da assistência, sobretudo no que diz respeito ao cuidado humanizado. The aim of this study was to evaluate professional satisfaction of physical therapist and his/her relationship with humanized care in intensive care units (ICU). An exploratory and qualitative study was performed, with 26 physical therapists of both genders, working in intensive centers of Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela (Maceió/AL). The sample was collected in the workplace, and data were obtained through a questionnaire which included gender, age, length of time after graduation, working hours spent in ICU, academic degree and personal view related to the influences in humanized care. A predominance of female professionals was observed, experts, mean age of 30.72 ± 5.12 years, mean time after graduation 7.10 ± 4.74 years and mean working hours in ICU 6.08 ± 4.33 years. Moreover, it was concluded, according to physical therapists opinion, that there is a relationship between the lack of resources and low salary with decreased quality of care, especially with respect to humanized care. Palavras-chave: competência profissional, serviço hospitalar de fisioterapia, atenção terciária à saúde. Key-words: professional competence, hospital physical therapy department, tertiary health care. Recebido em 19 de julho de 2010; aceito em 9 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Almir Vieira Dibai Filho, Av. Francisco Amorim Leão, 734/302, Cond. Espanha, Ed. Barcelona, 57057-780 Maceió AL, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 165 Introdução Material e métodos As unidades de terapia intensiva (UTI) surgiram a partir da necessidade de aperfeiçoamento e concentração de recursos materiais e humanos para o atendimento a pacientes graves, em estado crítico, mas tidos ainda como recuperáveis, e da necessidade de observação constante dos mesmos em um núcleo especializado [1,2]. Embora seja o local ideal para o atendimento a pacientes agudos graves recuperáveis, a mesma parece oferecer um dos ambientes mais agressivos, tensos e traumatizantes do hospital [2]. Os fatores agressivos não atingem apenas os pacientes, mas também a equipe multiprofissional, que convive diariamente com cenas de pronto atendimento, pacientes graves, isolamento, morte, dentre outros [3]. Em contraponto aos aspectos negativos da UTI, desde o século passado, vem se empregando a humanização no atendimento intensivo com o propósito de valorizar a qualidade do cuidado sob o ponto de vista técnico, associada ao reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjetividade e referências culturais [4]. No Brasil, esta possibilidade no cuidado fortaleceu-se no ano de 2001 com o lançamento pelo Ministério da Saúde do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), tendo como objetivo promover uma nova cultura de atendimento à saúde e organizar elementos e propostas até então esparsos. O PNHAH ressalta ainda que, para a humanização da assistência, é necessário cuidar dos próprios profissionais da área da saúde [4,5]. A satisfação profissional é definida como o estado em que o trabalhador tem disposição e vontade de trabalhar produtivamente [6]. Após avaliação de um trabalho ou de suas vivências, o profissional deve encontrar-se em um estado emocional agradável ou positivo para ser considerado satisfeito, e essa avaliação envolve a bagagem pessoal de valores e crenças de cada indivíduo [7]. Além disso, para a realização profissional do trabalhador deve-se atender às suas expectativas, necessidades e valores, ou seja, remuneração adequada, segurança no emprego, ambiente harmonioso no trabalho, amizade, valorização e reconhecimento profissional [2]. Nesse sentido, a satisfação do trabalhador tornar-se um indicador da qualidade da prestação de serviço, visto que quando este está satisfeito se envolve e se compromete mais com suas atividades laborais [8]. Por força dos efeitos negativos do ambiente de UTI sobre o paciente e a equipe multiprofissional, vê-se a necessidade de mais estudos voltados para a satisfação profissional e o cuidado humanizado, no intuito de amenizar tais efeitos e permitir melhoria na qualidade da assistência. Assim, este estudo objetivou avaliar a satisfação profissional do fisioterapeuta e sua relação com o cuidado humanizado em unidades de terapia intensiva. Trata-se de um estudo de caráter exploratório e qualitativo. A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a março de 2010, com fisioterapeutas de ambos os sexos, atuantes em unidades de terapia intensiva do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela (Maceió, Alagoas). Foram excluídos os profissionais que negaram a sua participação e os atuantes em centros não intensivos. Os voluntários deste estudo foram abordados em seu local de trabalho, sendo aplicado, após explicação do objetivo do estudo, um questionário previamente desenvolvido contendo as seguintes variáveis quantitativas: idade, sexo, tempo de graduado, tempo de atuação em unidades de terapia intensiva, grau acadêmico. Posteriormente, os mesmos responderam a questão aberta: “como a satisfação profissional influencia na humanização do cuidado em unidades de terapia intensiva?”. As variáveis quantitativas, para caracterização da amostra, foram analisadas por meio de estatística descritiva, tendo como parâmetros a média, desvio-padrão, número absoluto e porcentagem. Para análise da questão qualitativa, foi utilizada a técnica do discurso do sujeito coletivo (DSC) [9]. A proposta do DSC lista e articula uma série de operações sobre a matéria-prima de depoimentos coletados em pesquisas empíricas de opinião por meio de questões abertas, operações que redundam, ao final do processo, em depoimentos coletivos confeccionados com extratos de diferentes depoimentos individuais [9,10]. O estudo em questão foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde (FCBS) do Centro Universitário Cesmac, sob protocolo nº 863/09. Cada fisioterapeuta participante assinou um termo de consentimento livre e esclarecido. Resultados e discussão Neste estudo integrado por 26 fisioterapeutas atuantes em UTI, constatou-se que 21 (80,76%) voluntários pertenciam ao sexo feminino e 5 (19,24%) ao masculino. Quanto ao grau acadêmico, a amostra foi composta por 22 (84,62%) especialistas e 4 (15,38%) mestres. Outros dados coletados para caracterizar a amostra deste estudo estão dispostos na Tabela I. Tabela I - Distribuição dos sujeitos do estudo de acordo com a idade, tempo de graduado e de atuação em unidades de terapia intensiva. Variáveis Idade Tempo de graduado (em anos) Atuação em UTI (em anos) Mínimo 24 Máximo 42 30,72 Desviopadrão 5,12 2,0 20 7,10 4,74 1,0 15 6,08 4,33 Média Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 166 Outros estudos realizados com fisioterapeutas na cidade de Maceió corroboram com os presentes achados, sendo evidenciado como características da maioria dos profissionais a pouca idade, o curto tempo de graduado, o predomínio de indivíduos do sexo feminino e a titulação de especialista [11-13]. Uma pesquisa realizada em 2008, cujo objetivo foi traçar o perfil dos fisioterapeutas atuantes em centros intensivos no Brasil, constatou que a maior parte da amostra caracterizava-se por profissionais qualificados, que aplicam técnicas fisioterapêuticas especializadas com autonomia e estão envolvidos em ventilação mecânica invasiva e não invasiva [14]. Para a variável qualitativa, foram encontradas, no material coletado junto aos fisioterapeutas, duas ideias centrais, falta de recursos e má remuneração, conforme mostra o Quadro 1. Quadro 1 - Ideia central e discurso do sujeito coletivo dos fisioterapeutas ao se referirem à questão “como a satisfação profissional influencia na humanização do cuidado em unidades de terapia intensiva?” Ideia central Falta de recursos Má remuneração Discurso do sujeito coletivo Dia a dia temos muitas dificuldades, principalmente na área da UTI, pois, às vezes, falta material para realizarmos as técnicas por completo, gerando uma insatisfação profissional, que, de certa forma, influencia na humanização do trabalho. As condições no trabalho me desorganizam psicologicamente e fisicamente, e, assim, acabo me acomodando com a situação. Não há estímulo para trabalhar em um ambiente precário. Há interferência na qualidade do serviço prestado, ocasionando várias limitações na minha conduta a ser tomada e quem deixará de ser beneficiado é o paciente. A satisfação profissional inclui a minha estabilidade e um bom salário. Quanto mais motivado estou, melhor a atenção que presto ao paciente, pois se não estou sendo bem remunerado, não consigo financeiramente me reciclar, isso me desestimula e pode me levar a não desempenhar adequadamente minhas atividades. A satisfação em me sentir reconhecido, tendo uma remuneração justa, me leva a um estado de bem estar que melhora meu humor e carisma, e se traduz em uma melhor receptividade e atenção para com o outro, tornando então mais humano o ato de cuidar. Satisfação profissional remete a um estado emocional agradável ou positivo, que resulta da avaliação de algum trabalho ou de experiências no trabalho [15-17]. Para um profissional da saúde, estar satisfeito é uma condição que se reflete diretamente sobre o paciente. A falta de recursos foi apontada pelos fisioterapeutas como um fator que afeta negativamente o cuidado humanizado. Um estudo realizado com 203 profissionais de diversas áreas da saúde atuantes em saúde mental ressaltou as influências das condições do trabalho e a necessidade de mais investimentos na infraestrutura física dos serviços, assim como a adequação do número de recursos humanos e materiais para atender, de maneira satisfatória, a demanda de pacientes [18]. Outras pesquisas também destacam a melhoria do ambiente, recursos físicos e humanos como fator determinante para a satisfação profissional [19-21]. A má remuneração foi outro indicador que apresentou influência negativa sobre o processo de humanização em centros intensivos. Outros estudos nacionais corroboram com esse achado [15,16,22]. Vale ressaltar que, de acordo com dados encontrados na literatura científica, outros fatores também influenciam na satisfação profissional, como a idade do trabalhador, tempo de atuação no emprego, autonomia profissional, reconhecimento e outros [15,17,23]. O contato direto com seres humanos coloca o profissional de saúde diante de sua própria vida, saúde ou doença, dos próprios conflitos e frustrações. Se o mesmo não tomar contato com esses fenômenos, correrá o risco de desenvolver mecanismos rígidos de defesa que podem prejudicá-lo tanto no âmbito profissional quanto no pessoal, como também este profissional, ao entrar em contato com os seres humanos, pode utilizar o distanciamento como mecanismo de defesa. Assim, entende-se a humanização como estratégia de interferência no processo de produção de saúde, levando em conta que sujeitos sociais, quando mobilizados, são capazes de modificar realidades, transformando-se a si próprios neste mesmo processo. Trata-se, sobretudo, de investir na produção de um novo tipo de interação entre os sujeitos que constituem os sistemas de saúde e deles usufruem, acolhendo tais atores e formulando seu protagonismo [24]. Diante deste contexto, na construção de um processo de qualificação da saúde em ambiente hospitalar, a humanização, sustentada legalmente pelo PNHAH, deve ser entendida como uma política que opere transversalmente em toda rede de serviços no Brasil, não podendo ser entendida apenas como um programa optativo [5,24]. Conclusão Observou-se neste estudo que, de acordo com as opiniões dos fisioterapeutas, existe uma relação entre a falta de recursos e a má remuneração com a diminuição da qualidade da assistência, sobretudo no que diz respeito ao cuidado humanizado. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Referências 1. Menezes RA. Difíceis decisões: uma abordagem antropológica da prática médica em CTI. Physis: Rev Saúde Coletiva 2000;10(2):27-49. 2. Vila VSC, Rossi LA. O significado cultural do cuidado humanizado em unidade de terapia intensiva: “muito falado e pouco vivido”. Rev Latinoam Enfermagem 2002;10(2):137-44. 3. 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Psicol Estud 2006;11(2):323-30. 168 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Artigo original Associação entre o teste de Thomas modificado e o teste de Ely no diagnóstico do encurtamento do músculo reto femoral Association between the modified Thomas test and Ely test in the diagnosis of rectus femoris muscle shortening Katy Andrade Monteiro Zacaron, Ft., M.Sc.*, Bruna la Rocca Condé, Ft. **, Carla Aparecida Paranhos do Prado, Ft.***, Gilmara Brugiolo Pacheco, Ft.*** *Professora do curso de Fisioterapia, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (FCMSJF) e Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora (FESJF), **Especialista em Traumato-ortopedia com ênfase em terapias manuais (UCAM/RJ) e fisioterapeuta do Hospital Maternidade Terezinha de Jesus, ***Especialista em Traumato-ortopedia com ênfase em terapias manuais (UCAM/RJ) Resumo Abstract Objetivo: Avaliar a correlação entre o teste de Thomas modificado e teste de Ely para diagnosticar o encurtamento do músculo reto femoral. Método: O comprimento do músculo reto femoral foi avaliado através dos testes de Ely e de Thomas modificado, em 30 voluntários, de ambos os sexos, com idades entre 17 e 35 anos. Foram excluídos indivíduos obesos com o índice de massa corporal 30 ou que possuíssem restrições de amplitude de movimento nas articulações coxofemorais ou joelhos. O cálculo do coeficiente de correlação de Pearson foi adotado para verificar a associação entre os resultados dos testes de Thomas modificado e Ely. Resultados: Houve uma fraca correlação negativa estatisticamente significante entre os testes de Thomas modificado e de Ely (r ≤ -0,33; p < 0,01). O teste de Thomas modificado acusou um maior número de encurtamentos do reto femoral quando comparado com o teste de Ely. Conclusão: Apesar do teste de Thomas modificado e do teste de Ely serem utilizados para a avaliação do comprimento do músculo reto femoral, os resultados deste estudo mostraram existir apenas uma fraca correlação negativa entre ambos. Além disso, foi encontrado um número maior de encurtamentos deste músculo através da utilização do teste de Thomas modificado. Objective: The purpose of this study was to evaluate the correlation between modified Thomas and Ely’s test in order to diagnose the rectus femoris muscle shortening. Method: The muscle length was evaluated within 30 individuals, both genders, conveniently selected, 17 to 35 years old. Therefore, the defined protocols to perform Ely and modified Thomas’s test have been used. Obese individuals with the Body Mass Index > 30 or those who had limited range of motion in hip and knees joints were excluded. It was adopted Pearson for the correlation statistics in order to verify the relationship between modified Thomas and Ely’s tests. Results: Was observed a weak negative correlation statistically significant between the tests (r ≤ -0.33, p < 0.01). The modified Tomas’ test showed a higher number of positive cases for the rectus femoris shortening in both lower extremities when compared to the Ely’s test. Conclusion: The results of this study revealed only a weak negative correlation between the tests despite being used to measure the length of the rectus femoris muscle. Furthermore, we found a greater number of positive results for rectus femoris shortening through modified Thomas’ test compared to the Ely’s test. Key-words: quadriceps muscle, muscle shortening, assessment. Palavras-chave: músculo quadríceps, encurtamento muscular, avaliação. Recebido em 7 de setembro de 2010; aceito em 2 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Katy Andrade Monteiro Zacaron, Rua Dr. Pedro de Aquino Ramos, 86/402, 36010-440 Juiz de Fora MG, Tel: (32) 3215-6307, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 169 Introdução Material e métodos O encurtamento ou retração muscular é definido como uma redução leve do comprimento de uma unidade musculotendínea, resultando em limitação na mobilidade articular. Um músculo retraído pode ser quase completamente alongado, exceto nos limites extremos de sua amplitude, o que comumente ocorre em músculos biarticulares [1]. Várias técnicas foram desenvolvidas para aferição do comprimento muscular, as quais consistem em movimentos que alongam os músculos na direção contrária às suas ações normais e se baseiam nos movimentos articulares dos participantes [2]. O reto femoral é um músculo biarticular, que se origina na espinha ilíaca ântero-inferior e na face póstero-superior da borda do acetábulo e se insere na base da patela até a tuberosidade da tíbia. Juntamente com os três músculos mono articulares, o vasto lateral, o vasto medial e o vasto intermédio formam o grupo muscular quadríceps femoral [3-6]. O encurtamento do reto femoral pode causar alterações biomecânicas tais como patela alta e/ou lateralizada [7-9] e anteversão pélvica [4]. Estas alterações, por sua vez, podem gerar patologias inflamatórias e degenerativas, como tendinopatia patelar, condromalácia patelar e espondiloartrose [4,8,10]. O conhecimento de testes diagnósticos confiáveis para encurtamento do músculo reto femoral é de grande importância para traçar um tratamento eficaz e, deste modo, eliminar seus efeitos deletérios, os quais, além de gerarem perda na qualidade de vida dos indivíduos, proporcionam grandes prejuízos do ponto de vista socioeconômico [11,12]. Os testes mais utilizados na prática clínica, com este intuito, são os testes de Thomas modificado [13-15] e o teste de Ely [14]. O teste de Thomas foi originalmente proposto para verificar contraturas em flexão de coxofemoral. Foi modificado para possibilitar a avaliação do comprimento de outros músculos, como os adutores, sartório e reto femoral. Quando usado com o intuito de avaliar o reto femoral pode ser também denominado teste de Kendall [13,15]. Para realização de tal teste o paciente é posicionado em decúbito dorsal com joelhos flexionados na beira da mesa de exame. A seguir o paciente flexiona a articulação coxofemoral do lado não testado, levando o joelho em direção ao tórax mantendo-o nesta posição [14,15]. O membro inferior que permanece pendente é o avaliado através da goniometria do joelho [14]. Já no teste de Ely o paciente é posicionado em decúbito ventral e o examinador flexiona passivamente o joelho do paciente a ser avaliado [15]. Apesar da relevância da avaliação do comprimento do músculo reto femoral, e da utilização de ambos os testes anteriormente citados para tal, pode-se constatar que a associação entre estes testes não está comprovada. Logo, o objetivo do presente estudo é avaliar a associação entre os testes de Thomas modificado e teste de Ely para diagnosticar o encurtamento do músculo reto femoral. Amostra Participaram do estudo 30 voluntários de ambos os sexos, com idade de 17 a 35 anos, sem queixas álgicas. Foram excluídos da pesquisa indivíduos obesos, ou seja, com o índice de massa corporal maior que 30 [16], ou que possuíssem restrições de amplitude de movimento (ADM) nas articulações coxofemorais ou joelhos. Os participantes foram selecionados por conveniência, entre os alunos dos cursos de graduação da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (FCMSJF), onde foi realizada a pesquisa. Os mesmos assinaram termo de consentimento livre e esclarecido aceitando participar do estudo e assegurando seus direitos. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da FCMSJF através do parecer 027. Instrumentação A coleta da massa corporal e estatura, para posterior cálculo do índice de massa corporal (IMC), foi realizada utilizando uma balança Filizola® modelo 31 (2002, São Paulo, Brasil). O goniômetro CARCI® (Brasil) foi utilizado para aferir as ADMs pertinentes. Procedimento Inicialmente foi realizada a coleta da idade, sexo, estatura e índice de massa corporal. Em seguida foram efetuados os exames passivos das ADMs de flexão e extensão das articulações coxofemorais e joelhos com os músculos antagonistas ao movimento testado afrouxados conforme preconizado para goniometria [14]. Todos os voluntários encontravam-se descalços e com vestuários adequados para não restringir as ADMs de joelho, coxofemoral e pelve quando realizavam os testes. Posteriormente, realizou-se o sorteio da sequência de realização dos testes diagnósticos de encurtamento do reto femoral, bem como a ordem de avaliação dos membros inferiores (MMII). Todos os voluntários tiveram ambos os MMII submetidos aos dois testes. Após treinamento dos avaliadores, realizou-se um estudo piloto com cinco voluntários totalizando, assim, dez membros inferiores, com intervalos de cinco dias entre a primeira e a segunda avaliação, para verificação da confiabilidade intra e inter examinador dos resultados da goniometria do joelho, durante o teste de Thomas modificado, e a goniometria da articulação coxofemoral durante o teste de Ely. O avaliador que apresentou maior confiabilidade nas mensurações goniométricas foi escolhido para realizar esta etapa dos testes. Para realização do teste de Thomas modificado, o voluntário foi posicionado em decúbito dorsal com ambos os quadris e joelhos flexionados na direção do tórax. Enquanto um examinador manteve a articulação coxofemoral em flexão máxima, o voluntário libera o membro contralateral e o estende na direção da mesa de forma que a perna fica pendente fora da maca [13-15]. Nesta posição, o segundo examinador realizou a goniometria do joelho. Para isso, o eixo do goniômetro foi alinhado sobre o epicôndilo lateral do fêmur; o braço fixo foi colocado paralelo à linha média lateral do fêmur sobre uma linha imaginária que vai do epicôndilo lateral ao trocânter maior e o braço móvel foi colocado paralelo à linha média lateral da fíbula na direção do maléolo lateral [14] (Figura 1). Figura 1 - Realização do teste de Thomas modificado. O teste de Ely foi executado com o voluntário em decúbito ventral. Um examinador flexiona passivamente o joelho a ser testado em ADM máxima. Enquanto esta posição foi mantida, um segundo avaliador realizou a goniometria da articulação coxofemoral. Para tal, o eixo do goniômetro foi colocado sobre a parte lateral da articulação coxofemoral a um dedo de largura adiante e acima do trocânter maior do fêmur; já o braço fixo foi colocado paralelamente ao eixo longitudinal do tronco, alinhado com o trocânter maior do fêmur e o braço móvel foi colocado ao longo da linha média lateral do fêmur na direção do epicôndilo lateral [14] (Figura 2). Figura 2 - Realização do teste de Ely. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 correlação de Pearson foi adotado para verificação da associação entre os resultados encontrados nos testes de Thomas modificado e Ely. O estudo da confiabilidade da goniometria do joelho e da coxofemoral nas condições de teste foi verificado através do coeficiente de correlação intraclasse (ICC) [17,18]. Consideram-se estatisticamente significantes as diferenças com p < 0,05 [17]. Resultados O melhor resultado do estudo de confiabilidade intraexaminador da goniometria da coxofemoral e do joelho demonstrou um ICC de 0,88, enquanto o interexaminador foi de 0,69. Foram avaliados 30 voluntários, totalizando 60 MMII, todos sem restrição de ADM passiva de quadris e joelhos e sem queixa álgica. A análise descritiva dos dados demonstrou que 90% dos voluntários (27) pertenciam ao sexo feminino. A média das idades dos participantes foi de 23,8 ± 5,2 anos (17 - 35). Já o IMC apresentou média de 23 ± 3,8 kg/m2 (15,6 - 29,7). O cálculo do coeficiente de correlação de Pearson evidenciou apenas uma fraca correlação negativa entre os testes de Thomas modificado e de Ely (r ≤ -0,33; p < 0,01), como mostra a Figura 3. Figura 3 - Correlação entre as variáveis teste de Thomas modificado e teste de Ely. Teste de Ely 170 25 20 15 10 5 0 R = -0,332 10 30 50 70 Teste de Thomas modificado (Graus) (P<0,01) 90 O teste de Thomas modificado acusou um maior número de casos positivos para encurtamento do reto femoral (28) em ambos os MMII. Já o teste de Ely detectou somente 18 casos positivos nos MIDs e 16 casos positivos nos MIEs. Estes dados estão representados nas Figuras 4 e 5. Figura 4 - Resultados positivos encontrados no teste de Thomas modificado e teste de Ely avaliados em membro inferior direito. 39% Análise estatística Foram realizadas análises descritivas das variáveis idade, massa corporal, estatura e IMC. O cálculo do coeficiente de 61% Thomas Ely Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Figura 5 - Resultados positivos encontrados no teste de Thomas modificado e teste de Ely avaliados em membro inferior esquerdo. 36% 64% Thomas Ely Discussão A avaliação do comprimento muscular é indispensável na prática da fisioterapia, e é de grande importância na investigação das restrições da ADM das articulações, presença de contraturas ou de encurtamentos musculares [2,19], das quais decorrem afecções e algias [4,8,10,19]. Desta forma é necessário realizar uma avaliação eficaz através de testes confiáveis, que avaliam o comprimento real do músculo para que seja feito um diagnóstico preciso. Uma vez que os métodos de avaliação da flexibilidade muscular são avaliador-dependentes [2], neste estudo, foi realizado treinamento e verificação da confiabilidade dos examinadores previamente. Questionamentos referentes à validade de testes clínicos, apesar das dificuldades em estabelecê-la [17], são sempre importantes. No caso dos testes utilizados nesta pesquisa, ambos parecem válidos, pois se baseiam na relação da flexibilidade e ADM articular, constituindo-se de movimentos ou posicionamentos que levam os músculos no sentido contrário às suas ações normais [4,20,21]. Como os testes em questão obedecem ao princípio básico do alongamento muscular, já que são caracterizados por movimentos que aumentam a distância entre origem e inserção muscular [4], torna-se importante sortear as ordens dos testes e dos MMII, uma vez que, com a execução dos testes, pode haver a chance da melhora na flexibilidade do reto femoral o que iria influenciar diretamente nos resultados obtidos. Portanto, nesta pesquisa, os mesmos foram realizados em uma sequência aleatória. De acordo com Ahlbaeck et al. [22], o teste de Thomas modificado apresenta algumas desvantagens na sua medição, dentre elas, a dificuldade em pacientes obesos, e a diferença encontrada, em torno de cinco graus, quando realizado por dois diferentes examinadores. Para evitar a interferência da variável IMC, foi critério de exclusão desta pesquisa indivíduos com IMC maior que 30, os quais são classificados como obesos [16]. A obesidade influenciaria na flexão da coxofemoral contralateral, e assim o voluntário não atingiria a ADM máxima, necessária durante o teste de Thomas modificado. Existem várias estruturas ou fatores limitantes da ADM de uma articulação como, por exemplo, cápsula articular, contato ósseo, ligamentos além do estiramento do tecido musculotendíneo [4,15]. Logo, para eliminar possíveis casos nos quais a causa da restrição fosse um encurtamento de estruturas 171 articulares ao invés do músculo reto femoral, neste estudo, foi realizada a triagem passiva das ADMs com a musculatura antagonista ao movimento testado afrouxada. Embora os resultados obtidos no presente estudo mostrem que valores altos de goniometria de flexão de coxofemoral correspondem a valores baixos de goniometria de flexão do joelho, os mesmos demonstram haver apenas uma fraca correlação negativa entre o teste de Thomas modificado e o teste de Ely. Isso revela o fato dos dois testes serem muito pouco concordantes em seus resultados, apesar de ser comumente usado na prática clínica para verificação da mesma disfunção, o encurtamento do músculo reto femoral [14,15]. De acordo com Smith [5], o peso do segmento perna-pé corresponde a cerca de 6% do peso corporal total e o tronco aproximadamente 51%. Embora a autora não especifique, separadamente, o peso da pelve, é provável que este seja superior ao de segmento perna-pé, pelo fato da pelve conter três ossos; músculos volumosos, como glúteos e ilíaco, além de abrigar órgãos [6]. Logo, é possível que o menor número de casos positivos no teste de Ely comparado com o teste de Thomas modificado, verificado nesta pesquisa, tenha sido encontrado pelo fato do segmento pélvico, provavelmente, possuir um peso superior ao do segmento perna-pé. Neste caso, o reto femoral teria que exercer uma maior força de tração, decorrente do encurtamento, para movimentar a pelve em anteversão, o que a move contra a gravidade, para constar como positivo. Presume-se, então, que isso só ocorrerá nas situações de encurtamentos mais severos. Além da possibilidade supracitada, outra explicação plausível para um maior número de casos positivos registrados pelo teste de Thomas modificado, seja o fato de que o teste de Ely sofra influência da força de atrito das coxas e pelve-tronco com a maca o que, talvez, dificulte o movimento realizado pela tração exercida pelo reto femoral. Esta força ocorre devido à adesão entre as moléculas das duas superfícies e as rugosidades da superfície em contato. As rugosidades se interpenetram e as forças de adesão entre os pontos de contato formam microssoldas, dificultando o movimento de um corpo em relação ao outro [23]. No teste de Thomas modificado, por sua vez, a perna está pendente, logo não atrita com superfície alguma, tornando o movimento mais fácil. Segundo Sahrmann [9], uma estudiosa das disfunções dos movimentos, na anteversão pélvica ocorrida no teste de Ely positivo, o músculo reto femoral não está necessariamente encurtado, mas pode possuir sua stiffness superior as das estruturas que conferem apoio anterior da coluna lombar e à stiffness dos músculos abdominais. Seguindo esta premissa, é possível que alguns voluntários que tiveram o teste de Ely negativo tivessem uma stiffness dos músculos abdominais e/ou anterior da coluna lombar maior que a do músculo reto femoral, não permitindo a inclinação anterior da pelve, acusando teste negativo, mesmo quando o reto femoral encontrava-se encurtado. Assim, o teste de Thomas modificado mostrou indícios de ser mais sensível, uma vez que capta um maior número 172 de casos positivos quando se têm uma restrição da ADM de flexão no joelho gerada por redução do comprimento do reto femoral. Já o teste de Ely parece sofrer interferência de múltiplos fatores que dificultam a expressão do encurtamento do reto femoral através do movimento de anteversão pélvica. Conclusão Os resultados deste estudo mostraram existir apenas uma fraca correlação negativa entre o teste de Thomas modificado e o teste de Ely, apesar de ambos serem utilizados para a avaliação do comprimento do músculo reto femoral. Além disso, foi encontrado um número maior de resultados positivos para encurtamento do reto femoral através da utilização do teste de Thomas modificado em comparação ao teste de Ely. Referências 1. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 5ª ed. São Paulo: Manole; 2009. 2. Polachini LO, Fusazaki L, Tamaso M, Tellini GG, Masiero D. Estudo comparativo entre três métodos de avaliação do encurtamento de musculatura posterior de coxa. Rev Bras Fisioter 2005;9(2):187-93. 3. Hasselman CT, Best TM, Hughes C, Martinez S, Garrett WE, Jr. An explanation for various rectus femoris strain injuries using previously undescribed muscle architecture. Am J Sports Med 1995;23(4):493-9. 4. Kendall FP, McCreary EK, Provance PG, Rod MM. Músculos: provas e funções. 5ª ed. São Paulo: Manole; 2007. 5. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl LD. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 5ª ed. São Paulo: Manole; 1997. 6. Rohen LD. Anatomia humana - resumos em quadros e tabelas - vasos, nervos e músculos. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2008. 7. Fulkerson JP, Shea KP. Disorders of patellofemoral alignment. J Bone Joint Surg Am 1990;72(9):1424-9. 8. Fulkerson JP. Diagnosis and treatment of patients with patellofemoral pain. Am J Sports Med 2002;30(3):447-56. 9. Sahrmann SA. Diagnóstico e tratamento das síndromes de disfunção dos movimentos. 1a ed. São Paulo: Santos; 2005. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 10. Witvrouw E, Bellemans J, Lysens R, Danneels L, Cambier D. Intrinsic risk factors for the development of patellar tendinitis in an athletic population. A two-year prospective study. Am J Sports Med 2001;29(2):190-95. 11. Poulain C, Kerneis S, Rozenberg S, Fautrel B, Bourgeois P, Foltz V. Long-term return to work after a functional restoration program for chronic low-back pain patients: a prospective study. Eur Spine J 2010;19(7):1153-61. 12. Hunter N, Sharp C, Denning J, Terblanche L. Evaluation of a functional restoration programme in chronic low back pain. Occup Med (Lond) 2006;56(7):497-500. 13. Peeler JD, Anderson JE. Reliability limits of the modified Thomas test for assessing rectus femoris muscle flexibility about the knee joint. J Athl Train 2008;43(5):470-76. 14. Palmer ML, Epler ME. Fundamentos das técnicas de avaliação musculoesquelética. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 15. Magee DJ. Avaliação musculoesquelética. 5ª ed. São Paulo: Manole; 2010. 16. Feller S, Boeing H, Pischon T. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 173 Artigo original Prevalência da sobrecarga psicossocial e dos sintomas osteomusculares em cuidadores de crianças com paralisia cerebral Prevalence and psychosocial burden of musculoskeletal symptoms in caregivers of children with cerebral palsy Cybelle Oliveira Soares da Silva, Ft.*, Raquel Aboudib Kawata, Ft.**, Levy Aniceto Santana, Ft., M.Sc.** *Universidade Católica de Brasília – UCB, **Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília/DF Resumo Abstract Os cuidadores são componentes essenciais nos cuidados das crianças com paralisia cerebral. por isso é importante entender e conhecer os problemas que se passam com eles e assim implementar programas que visem à prevenção de doenças e à assistência à saúde dos cuidadores. o objetivo do estudo foi avaliar a sobrecarga psicossocial e a prevalência de sintomas osteomusculares nas cuidadoras primárias de crianças com paralisia cerebral. Para isso foram utilizados os questionários Zarit Burden Interview e o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares, validados para língua portuguesa, autoaplicados na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília em 33 cuidadoras de crianças com paralisia cerebral. Constatou-se que a sobrecarga psicossocial das cuidadoras estava entre leve e moderada; não houve diferença significativa entre a sobrecarga psicossocial das cuidadoras nos diferentes diagnósticos topográficos; as regiões corporais de maior acometimento de sintomas osteomusculares foram: cervical, ombros, braços e região dorsal; cuidadoras de quadriplégicos indicaram uma maior quantidade de regiões corporais com sintomas osteomusculares e relataram, em sua maioria, sentir sempre esses sintomas. Concluímos que as cuidadoras possuíam baixa sobrecarga psicossocial e que as regiões corporais mais afetadas são aquelas mais utilizadas durante a prática de cuidados diários com as crianças com paralisia cerebral. Caregivers are essential components in the care of children with cerebral palsy. Therefore it is important to understand and know their difficulties and implement programs aimed at disease prevention and health care of caregivers. The aim of this study was to evaluate psychosocial burden and prevalence of musculoskeletal symptoms in primary caregivers of children with cerebral palsy. For this we used the Zarit Burden Interview and Nordic Musculoskeletal Questionnaire, validated for the Portuguese language, self-applied in the Physical Therapy Clinic at the Catholic University of Brasilia in 33 caregivers of children with cerebral palsy. It was found that the psychosocial burden was between mild and moderate and there was no significant difference between the psychosocial burden of caregiving in different topographic diagnoses. The most affected body regions by musculoskeletal symptoms were: neck, shoulders, arms and back. Caring for quadriplegic patients showed a higher amount and report of musculoskeletal symptoms. We conclude that the caregivers presented low psychosocial overhead and the body regions most affected are those most commonly used during the practice of daily care for children with cerebral palsy. Key-words: caregivers, cerebral palsy, musculoskeletal system, burden. Palavras-chave: cuidadores, paralisia cerebral, sistema osteomuscular, sobrecarga. Recebido 9 de setembro de 2010; aceito em 3 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Levy Aniceto Santana, UCB. Campus I, QS 07 lote 01 PPCT Águas Claras 71966-700 Taguatinga DF, E-mail: [email protected] 174 Introdução Desde o Simpósio de Oxford, em 1959, a expressão Paralisia Cerebral (PC) foi definida como sequela de uma agressão encefálica, que se caracteriza, primordialmente, por um transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da postura e do movimento, que aparece na primeira infância [1]. As manifestações da lesão variam de acordo com a natureza e extensão da lesão primária e são relacionadas à influência que tal lesão exerce na maturação neurológica. A partir dessa data, a PC passou a ser conceituada como encefalopatia crônica não evolutiva da infância [1,2]. A PC é considerada a incapacidade física mais comum na infância e segundo dados nacionais não oficiais, acomete entre 5 a 10 crianças por 1000 nascimentos e estima-se que, no Brasil, surgem 17000 novos casos de PC por ano [1-3]. Existem diversas formas de classificar a PC. As classificações mais comuns são aquelas feitas de acordo com a topografia: monoplegia envolvimento de um só membro; diplegia envolvimento predominantemente de membros inferiores, podendo apresentar algum grau de comprometimento dos membros superiores; triplegia, paralisia/paresia de três membros, frequentemente encontrada como combinações das hemiplegias ou diplegias; quadriplegia, envolvimento igual em extremidades inferiores, superiores e tronco, podendo um hemicorpo ser mais afetado do que o outro; e hemiplegia comprometimento de membro superior e membro inferior de apenas um lado do corpo (unilateral) [1]. A gravidade da PC está diretamente relacionada ao déficit de aquisições motoras e também com a incapacidade da criança em realizar as tarefas de vida diária como comer, vestir, andar, brincar e se locomover. Inclui-se a esses fatores o grau de deterioração motora e as regiões acometidas, bem como as limitações em realizar as atividades, necessitando de assistência contínua de um cuidador [1]. O cuidador é a pessoa, familiar ou não, que proporciona a maior parte da assistência e apoio diário ao paciente incapacitado. Jung [4] define o cuidador pelo tipo de assistência prestada: cuidador primário ou informal que é o elemento da família da criança ou a ela relacionada, sem formação específica, que atua como o principal ou total responsável pelo desenvolvimento das ações cuidativas ao paciente; e cuidador secundário aquele que também fornece assistência ao paciente, mas sem a principal responsabilidade dos cuidados diários com a criança. A saúde psicológica e física dos cuidadores pode ser influenciada pelo comportamento da criança e pela demanda de cuidado, resultando em um aumento de tarefas domésticas e de trabalho físico para o cuidador. Assim, o difícil processo de cuidar de crianças com PC, aliado ao aumento das responsabilidades que essa função promove, pode levar ao cansaço, isolamento, sobrecarga e estresse dos cuidadores [4,5]. Em relação aos cuidadores de pacientes com PC, Jung [4] verificou o nível de desconforto corporal em cuidadores Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 primários de crianças portadoras de distúrbios neurológicos. A pesquisa mostrou que dos 30 cuidadores primários questionados, 28 relataram algum desconforto, sendo que 50% desses sofriam de dor intensa. A maior parte dos cuidadores sentia essas dores de forma esporádica e apresentaram como região de maior acometimento a região lombar da coluna vertebral. Brandão, Horta e Tomasi [6] e Pinheiro, Trócolli e Carvalho [7] fizeram estudos relacionados a sintomas osteomusculares em relação à saúde do trabalhador em suas atividades laborais. Ambos obtiveram resultados positivos na presença de sintomas osteomusculares dolorosos. Os cuidadores são componentes essenciais nos cuidados de pessoas doentes, principalmente nas situações crônicas e de longo prazo. Indivíduos que adotam posturas viciosas durante a jornada de trabalho podem gerar desalinhamento corporal que junto à sobrecarga mecânica levam ao desconforto da musculatura mais solicitada, fadiga muscular e aparecimento de quadros álgicos [8,9]. Estudos realizados em cuidadores de idosos [5,10] e pacientes oncológicos [11] têm demonstrado que a qualidade de vida dos cuidadores encontra-se diminuída nos domínios de função física, vitalidade, saúde geral e papel emocional e encontram como resposta positiva a sobrecarga e o aparecimento de problemas psíquico-emocionais e físicos. Mas nenhum desses abrange de forma específica a relação entre os sintomas físicos osteomusculares e a sobrecarga enfrentada pelos cuidadores e as atividades cuidativas prestadas diariamente. Pesquisas com os cuidadores precisam ser estimuladas a fim de que sejam implementadas políticas públicas específicas de cuidados com o cuidador, devendo ser foco de atenção multidisciplinar. Assim, é importante a realização de estudos sobre os cuidadores para que se possa entender e conhecer os problemas que se passam com eles e, desta forma, implementar programas que visem a prevenção de doenças, a assistência à saúde dos indivíduos dependentes e, principalmente, dos cuidadores familiares [12-14]. Na literatura são encontradas análises de sintomas osteomusculares apenas em trabalhadores, mas não em cuidadores que muitas vezes passam mais de oito horas diárias exercendo a atividade de cuidador [6,9]. O objetivo do estudo foi avaliar a prevalência de sintomas osteomusculares nas cuidadoras primárias de crianças com PC, assim como, avaliar a sobrecarga psicossocial causado durante as atividades cuidativas. Material e métodos A pesquisa foi realizada por meio de um estudo transversal com cuidadoras principais (primárias e/ou informais) de crianças com PC, que exerciam essa atividade há pelo menos seis meses, que tinham suas crianças em tratamento no Setor de Fisioterapia Neuropediátrica da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília e que levam as crianças regularmente ao tratamento. Foram excluídas do Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 estudo as cuidadoras de crianças com hipotonia ou atetose, as cuidadoras que não quiseram responder ao questionário e participar da pesquisa e as cuidadoras que não compareceram à Clínica Escola durante o período de coleta de dados. Com base nos critérios de inclusão e exclusão, 33 cuidadoras participaram do estudo sendo todas do sexo feminino, com o tempo médio de atividades de cuidado de 45,4 ± 42,5 meses. A coleta de dados foi realizada na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília durante o horário de atendimento da criança no Setor de Fisioterapia Neuropediátrica. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Católica de Brasília, sob o protocolo nº 121/09. As cuidadoras participantes receberam explicações referentes aos objetivos da pesquisa e o procedimento do estudo, e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido concordando em participar voluntariamente da pesquisa. Após resposta favorável à participação no estudo, procedeu-se a aplicação dos instrumentos de pesquisa: a escala Zarit Burden Interview (ZBI) para a avaliação da sobrecarga psicossocial por meio de 22 itens pontuados de 0 a 4, variando a sua pontuação de 0 até 88 pontos sendo que, quanto maior a pontuação maior será considerada a sobrecarga psicossocial do cuidador e, para avaliação dos sintomas osteomusculares foi utilizado o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO) que teve suas perguntas adaptadas de acordo com as atividades das cuidadoras, considerando como trabalho a atividade de cuidar da criança. O instrumento é composto por questões subjetivas e objetivas sendo formado por duas partes: na primeira parte constam os dados demográficos e na segunda 25 perguntas relacionadas aos sintomas musculoesqueléticos. O intuito da utilização desse instrumento foi identificar se há presença de sintomas osteomusculares nas cuidadoras associados às atividades cuidativas prestadas às crianças com PC. Ambos os questionários são validados e traduzidos para língua portuguesa por Bandeira et al. [15] e Pinheiro, Trócolli e Carvalho [7], respectivamente. Os questionários foram autoaplicados e no caso de dificuldade de entendimento de algum termo ou palavra o pesquisador se prontificou a saná-la quando solicitado. A análise estatística foi realizada utilizando o software Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 15.0 para Windows com nível de significância de 5% sendo realizada estatística descritiva para explanar as características da amostra, o teste do Qui- quadrado para verificar a relação entre sobrecarga do cuidador e o tipo de PC e o teste exato de Fisher para verificar a associação entre a sobrecarga do cuidador com as horas gastas diariamente em atividades cuidativas. Além disso, foi realizado o teste de correlação de Spearman para análise da correlação entre a quantidade de tempo em que o sujeito era cuidador e o escore de sobrecarga apresentado e o teste Mann-Whitney U para verificar se havia diferenças na sobrecarga quando comparadas entre os diagnósticos topográficos (diplegia, hemiplegia e quadriplegia). 175 Resultados e discussão A Tabela I apresenta as características das cuidadoras de crianças portadoras de PC. Dos 33 participantes observou-se que todas eram do sexo feminino, a maioria (54,5%) tinha menos de 30 anos de idade, era casada (60,6%) e possuía o ensino médio como grau de escolaridade (93,9%), o que corrobora com os resultados encontrados na literatura [2,4,5,10,12]. Tabela I - Características das cuidadoras Características < 30 > 30 Escolaridade Até 2º grau completo Superior Estado civil Casado Solteiro Horas de cuidado por Até oito dia > oito Outra atividade profis- Sim sional Não Idade Cuidam de outra criança em idade préescolar Sim Não n/Frequências (%) 18 (54,5%) 15 (45,5%) 31 (93,9%) 2 (6,1%) 20 (60,6%) 13 (39,4%) 5 (15,2%) 28 (84,8%) 12 (36,4%) 21 (63,6%) 10 (30,3%) 23 (69,7%) Em relação ao tempo de cuidado despendido com as crianças portadoras de PC foi verificado que 84,8% gastam mais que 8 horas diárias exercendo atividades cuidativas e 15,2% gastam até 8 horas diárias como cuidadoras. Nossos achados estão de acordo com o descritos por outros estudos [2,4,5,16] ao demonstrarem que os cuidadores despendem de mais de oito horas diárias em cuidados com pacientes neurológicos. Em relação ao diagnóstico sobre o tipo de PC das 33 crianças, a maioria apresentava quadriplegia (57,6%), como demonstrado na Figura 1. A prevalência de crianças com diagnóstico de quadriplegia também foi encontrada em outros estudos [2,4,12] com cuidadores de crianças com PC e se explica pelo fato de a quadriplegia ser o comprometimento de maior incidência dentro da PC [3,4,17]. Figura 1 - Diagnóstico das crianças com PC. 18,2% 57,6% 24,2% Quadriplegia Diplegia Hemiplegia 176 Quanto aos resultados obtidos no questionário ZBI, os valores variaram entre 2 e 37 pontos, média de 21,9 ± 9,0 pontos. Na verificação dos escores, 60,6% dos cuidadores obtiveram pontuação entre 0 e 22 e 39,4% entre 22 e 44 pontos. Observou-se então, uma predominância de valores relativamente baixos, podendo sugerir que essas cuidadoras possuem um nível de sobrecarga psicossocial entre leve e moderado. Em estudo similar [12] a média do escore encontrado foi de 21,9 ± 10,2. Quanto à autoanálise feita pelas cuidadoras sobre o quanto se sentiam sobrecarregadas na posição que ocupavam (questão 22), 36,3% relataram não sentir nenhuma sobrecarga, 21,2% um pouco, 15,2% moderadamente, 15,2% muito e 12,1% relataram sentir-se extremamente sobrecarregadas. A autoavaliação concorda com os escores obtidos nos questionários, tendo em vista que a maioria relatou não se sentir sobrecarregada ou pouco sobrecarregada. Isso pode ter ocorrido pelo fato das cuidadoras serem as mães ou avós das crianças e para essas, cuidar das crianças não se torna um encargo, mas sim uma tarefa normal envolvida na relação de afetividade para com a criança [12,18]. Em análise das respostas do QNSO verificou-se que as regiões corporais de maior acometimento foram os braços (78,8%) sendo que a prevalência das respostas nessas regiões foi “sempre” e “frequentemente” (Figura 2). Quanto à coluna, foi verificada uma maior prevalência de dor na região dorsal, o que difere de alguns estudos que demonstram maior acometimento em lombar [2,4,13]. A compressão axial é a sobrecarga mais comum da coluna vertebral e essa compressão eleva a pressão no núcleo pulposo e com o tempo as fibras colágenas da parede anular interna do disco intervertebral ficam distendidas, podendo formar fissuras e lesar as placas terminais cartilaginosas que suportam menor deformação e sucumbem rapidamente quando em altas cargas compressivas. No ponto que o ânulo fibroso se insere no periósteo vertebral há inervação, portanto, qualquer tração de suas fibras externas será registrada como sensação dolorosa. Como as crianças são parcial ou completamente dependentes, as cuidadoras costumam sempre carregá-las no colo, próximo ao corpo, o que gera compressão axial constante e muito uso dos ombros e braços. Esse padrão postural inadequado com consequente desalinhamento corporal leva ao excesso de carga mecânica na musculatura mais solicitada causando fadiga muscular e o posterior aparecimento de quadros álgicos [6,7,19]. Para Milbrath [8] pela multiplicidade de cuidados que uma criança portadora de PC necessita para seu desenvolvimento é necessário que haja uma preocupação com a qualidade de vida dos cuidadores a respeito de seu nível de estresse e sobrecarga psicossocial e física enfrentados diariamente. Francischetti [2] investigou a sobrecarga física de 18 cuidadores primários de crianças portadoras de PC grave e encontrou em sua pesquisa a existência de problemas físicos em 61% dos cuidadores, apresentadas como dores musculares em ombro e região lombar que estão frequentemente asso- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 ciadas a esforços físicos ou posturais que podem ter alguma relação com as atividades cuidativas. Os dados concordam com o estudo, no qual 72,2% do grupo estudado apresentou alterações osteomusculares nos ombros e 57,6% na região lombar, embora a alterações na região dorsal tenham sido mais frequentes nos relatos das cuidadoras do grupo. Neste estudo 90,9% das cuidadoras apresentaram sobrecarga física apresentando acometimentos osteomusculares. Figura 2 - Regiões corporais mais acometidas segundo o QNSO. 80 78,8% 78 76 74 72,2% 72 70 68 66 66,7% 66,7% 64 62 60 Pescoço/Cervical Ombros Braços Região dorsal da coluna A correlação de Spearman, o Qui-quadrado e o teste Mann-Whitney U não encontraram relação estatisticamente significativa entre o diagnóstico da criança, escore de sobrecarga psicossocial (ZBI), horas diárias de cuidado e tempo que exerce atividade de cuidador. Esse resultado corrobora com o encontrado em estudo similar [12] que descreve sobre a restrição da literatura referente à apresentação de dados relacionados ao diagnóstico topográfico e à qualidade de vida das próprias crianças, mas não sobre a interferência desse diagnóstico sobre a sobrecarga de seus cuidadores. Alguns estudos [10,15] demonstraram correlação positiva entre sobrecarga psicossocial e tempo de trabalho, indicando que quanto maior o tempo que executava a atividade de cuidador maior sobrecarga apresentava. Porém, em nosso estudo não houve significância estatística entre essas variáveis (rsp = - 0,153; p = 0,396), assim como os estudos de Cohen et al. [20], Draper et al. [21] e Malonebeach e Zarit [22]. Isso pode ser explicado pelo fato das cuidadoras adaptarem-se à situação com o decorrer do tempo [22]. Camargos et al. [12] em estudo com 56 cuidadores de crianças com PC não encontraram diferença significativa na sobrecarga física do cuidador em relação ao diagnóstico topográfico das crianças, não havendo, portanto, relação entre as variáveis: sobrecarga física do cuidador e o diagnóstico topográfico da criança com PC. Em nosso estudo, assim como o encontrado na pesquisa supracitada, a sobrecarga de cuidadores de crianças Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 diplégicas, hemiplégicas e quadriplégicas pouco se alterou, isso pode ser explicado pelo fato das cuidadoras que fizeram parte da amostra receberem orientações e folhetos ilustrativos sobre a melhor forma de proceder nos cuidados com as crianças evitando a sobrecarga e o desgaste físico, além do que as crianças quando em tratamento minimizam as características da patologia que podem dificultar o cuidado como a espasticidade, as retrações e encurtamentos musculares, as deformidades, as dificuldades com locomoção, alimentação, higiene, etc. Acredita-se que a quantidade pequena de amostra, a dificuldade de entendimento de algumas questões e este fator associado ao fato das cuidadoras se sentirem culpadas em assumirem a sobrecarga psicossocial podem ter influenciado nos resultados obtidos, seria interessante produzir outros estudos sobre o assunto. São necessários mais estudos sobre os cuidadores para que sejam implementadas atividades preventivas de patologias osteomusculares e para que seja mantida a qualidade de vida dos cuidadores, assim como das crianças que necessitam de seus cuidados. É importante ressaltar a importância da atuação preventiva do fisioterapeuta com os cuidadores e não só com as crianças, pois o universo da criança não se resume apenas às características clínicas de sua patologia, mas também às pessoas relacionadas a elas que necessitam de uma boa qualidade de vida física, psicológica e emocional para prestar os cuidados diários que essas crianças precisam. Conclusão A partir dos resultados obtidos concluiu-se que a sobrecarga psicossocial das cuidadoras de crianças com PC foi baixa e isso pode ser explicado pelo sentimento de afetividade entre mãe e filho fazendo com que os cuidados não se tornem um encargo para essas mães. As regiões corporais que prevaleceram os sintomas osteomusculares são aquelas relacionadas ao transporte e transferências das crianças que normalmente exigem uma carga excessiva sobre a região cervical, ombros, braços e a região dorsal da coluna. Referências 1. Rotta NTJ. Paralisia cerebral, novas perspectivas terapêuticas. J Pediatr (Rio J) 2002;78(1):48-54. 2. Francischetti SSR. Níveis de stress e sobrecarga em cuidadores de crianças portadoras de paralisia cerebral grave [Dissertação]. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie; 2006. 3. Schwartzman JS. Paralisia cerebral. Arquivos Brasileiros de Paralisia Cerebral 2004;1(1):4-17. 4. Jung GZ. Desconforto corporal em cuidadores ocupacionais de crianças neurológicas [trabalho de conclusão de curso]. Tubarão: Universidade do Sul de Santa Catarina; 2006. 5. Garrido R, Menezes PR. Impacto em cuidadores de idosos com demência atendidos em um serviço psicogeriátrico. Rev Saúde Pública 2004;38(6):835-41. 177 6. 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Malonebeach EE, Zarit SH. Current research issues in caregiving to the elderly. Int J Aging Human Dev 1991;32(2):103-14. . 178 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Artigo original O prolapso genital associado à incontinência urinária de esforço altera a função muscular do assoalho pélvico? The association between pelvic organ prolapse and stress urinary incontinence changes the pelvic floor muscle function? Raquel Henriques Jacómo, Ft.*, Ana Paula Magalhães Resende, Ft.**, Liliana Stupp, Ft.**, Amene Cidrão Lima, Ft.**, Fellipe Amatuzzi Teixeira, Ft.***, Bruno Teixeira Bernardes, D.Sc.****, Manoel João Batista Castello Girão, D.Sc.*****, Marair Gracio Ferreira Sartori, D.Sc.****** *Especialista em Disfunções do Assoalho Pélvico pelo Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, **Mestranda pelo Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, ***Coordenador do curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNIEURO, ****Médico, Professor assistente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, *****Médico, Professor Titular do Departamento de Ginecologia Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, ******Médica, Professora Associada do Departamento de Ginecologia Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Resumo Abstract Introdução: Prolapso genital é definido como deslocamento das vísceras pélvicas em sentido caudal. Trata-se de afecção comum, especialmente em mulheres menopausadas e, não obstante, pode estar associado à incontinência urinária de esforço (IUE). Estudos mostram que mulheres com prolapso genital possuem função muscular do assoalho pélvico diminuída. Objetivo: Verificar se há diferença entre a função dos músculos do assoalho pélvico (MAP) de mulheres incontinentes com ou sem prolapso genital. Métodos: Participaram dessa pesquisa 24 voluntárias divididas em dois grupos, a saber: Grupo I composto por 12 mulheres com IUE associada ao prolapso genital; e Grupo II, composto por 12 mulheres com IUE e sem prolapso genital associado. Avaliou-se a função dos MAP por meio de palpação bidigital, utilizando-se as escalas de Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico (AFA) e Oxford, teste de tempo máximo de contração (endurance) e exame com perineômetro. Para a análise estatística, utilizou-se o test t de Student, para comparar as médias obtidas e o nível de significância. Resultados: as mulheres com prolapso genital associado apresentaram menor AFA (p = 0,043), Oxford (p = 0,043) e tempo de sustentação da contração mensurado pelo perineômetro (p = 0,044). Conclusão: mulheres incontinentes com prolapso genital apresentam menor função muscular e menor tempo de sustentação da contração. Introduction: Pelvic organ prolapse is defined as pelvic viscera displacement in caudal direction. In menopausal women is particularly common and it can be associated with stress urinary incontinence (SIU). Studies show that in women with pelvic organ prolapse, the pelvic floor muscle (PFM) function loses strength. Aim: To verify if there is any difference between the function of the pelvic floor muscles (PFM) of incontinent women with or without pelvic organ prolapse. Methods: Twenty four patients were divided into two groups: Group I with 12 women with SUI and Group II, with 12 women with SUI associated with pelvic organ prolapse. The function of PFM was evaluated using bidigital palpation, measured by Functional Pelvic Floor Evaluation (AFA) and Oxford scales, maximum time of contraction test (endurance) and perineometer exam. Regarding the statistical analysis, the student test t was used to compare the means and significance level. Results: Women with pelvic organ prolapse associated showed lower AFA (p = 0,043), Oxford (p = 0,043) and holding contraction time measured by perineometer (p = 0,044). Conclusion: Incontinent women with pelvic organ prolapse showed lower PFM function and decrease of muscular endurance. Key-words: pelvic organ prolapse, evaluation, pelvic floor muscles, stress urinary incontinence. Palavras-chave: prolapso genital, avaliação, músculos do assoalho pélvico, incontinência urinária de esforço. Recebido em 8 de novembro de 2010; aceito em 5 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Ana Paula Magalhães Resende, Rua Rodrigues da Cunha, 790/1104A, 38400-362 Uberlândia MG, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Introdução O prolapso dos órgãos pélvicos (POP) constitui um problema comum, em especial nas mulheres pós-menopausadas. Pode ser definido como o deslocamento das vísceras pélvicas no sentido caudal, em direção ao hiato genital. Decorre do desequilíbrio entre as forças que mantêm os órgãos pélvicos em sua posição normal e aquelas que tendem a impeli-los para fora da pelve [1,2]. Trata-se de importante causa de cirurgia ginecológica nos dias atuais e está associado a problemas pscicológicos, sociais e fincanceiros [1]. Pesquisas mostram que a incidência anual de prolapso de parede anterior é de 9,3; posterior 5,7 e uterino de 1,5 casos por 100 mulheres-ano [3,4]. O risco de uma mulher passar por procedimento cirúrgico devido a prolapso uterino ou incontinência urinária é de 11%, o que representa um terço de todas as cirurgias ginecológicas [5]. Altas taxas de prevalência de incontinência urinária vêm sendo reportadas nas mulheres com POP. Foi observada a presença da incontinência urinária de esforço (IUE) em 62,7% das pacientes com POP. Esses achados, numa seleta população, sugerem uma comum etiologia do POP e da IUE [6-8]. Observa-se, ainda, estreira relação entre o prolapso genital e o assoalho pélvico. Em pesquisa recente, foi comprovado que mulheres com prolapso genital possuem maior hiato genital e menor força dos MAP [9]. Várias técnicas têm sido propostas para avaliar a função dos MAP [9]. Segundo Bø & Sherburn [10], dentre os equipamentos para quantificar o trabalho muscular, destacam-se o perineômetro e palpação vaginal [11]. A palpação vaginal foi a primeira técnica descrita por Kegel como método de avaliação da função dos MAP e é uma das técnicas mais utilizadas para avaliar a contração correta desses músculos [12]. Existem algumas escalas descritas na literatura: a avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA), que gradua a força de contração de zero a quatro, de acordo com a resistência opositora aos dedos do examinador [13], e a escala de Oxford que gradua a força de contração em seis graus de acordo com a elevação cranial dos dedos. Nas duas escalas, quanto maior a pontuação, melhor a força [14]. Existem poucas pesquisas correlacionando a presença de prolapso genital com a função do assoalho pélvico [8]. Nenhuma pesquisa que avaliasse a função do assoalho pélvico de mulheres com IUE e POP associados foi encontrada. Objetivamos, neste estudo, avaliar a função dos músculos do assoalho pélvico de mulheres com IUE associada ou não ao prolapso genital. Material e métodos Inicialmente foram selecionadas 31 mulheres. Sete pacientes foram excluídas. Duas pacientes por apresentarem intróito vaginal estreito, uma paciente por apresentar doença neurodegenerativa e duas pacientes pela impossibilidade de se 179 checar as informações no prontuário médico. Dessa forma, a amostra foi composta por 24 pacientes, das quais 12 apresentavam IUE associada ao prolapso genital e as outras 12 pacientes, IUE sem a presença de prolapso genital. A maioria das mulheres (75%) encontrava-se em estado menopausal. Dentre as mulheres que apresentaram prolapso genital, 70%, apresentaram estádio II, 30% apresentaram estádio I. Cerca de 75% das pacientes apresentavam prolapso de parede anterior, 16% prolapso de parede posterior e 8% prolapso uterino. A amostra composta por 24 mulheres com IUE foi dividida em dois grupos: Grupo 1, mulheres com IUE associada ao prolapso genital e Grupo 2, mulheres igualmente incontinentes, mas que não apresentavam prolapso genital. Essas pacientes foram avaliadas por dois avaliadores experientes. Todas as voluntárias assinaram o termo de consentimento de participação, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, no 0693/08, em atendimento a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. No que diz respeito às pacientes que apresentaram prolapso genital, estas foram avaliadas por um único médico, ginecologista, capacitado, que quantificou o estadiamento do prolapso segundo classificação recomendada pela International Continence Society (ICS), o método POP-Q [15]. Para o registro da função muscular do assoalho pélvico foram usadas duas técnicas avaliativas: palpação bidigital e perineometria. Quanto à palpação bidigital, utilizaram-se as escalas de AFA (Tabela I) e Oxford (Tabela II), além do teste de sustentação máxima (endurance). Tabela I - Escala de Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico (AFA) (Ortiz, 1994). Grau Comportamento dos MAP 0 Sem função perineal objetiva, nem mesmo a palpação 1 Função perineal objetiva ausente, contração reconhecível somente a palpação 2 Função perineal débil, contração reconhecível à palpação 3 Função perineal objetiva presente e resistente opositora não mantida mais do que cinco segundos à palpação 4 Função perineal objetiva presente e resistência opositora mantida mais do que cinco segundos à palpação Antes da avaliação, a paciente recebeu orientações sobre a localização e função dos MAP e sobre como contraí-los adequadamente: o mais forte possível e eliminando ao máximo a contração dos glúteos, abdominais e adutores. Os procedimentos de avaliação foram explicados em detalhes. Para todos esses procedimentos, as pacientes foram orientadas a esvaziar a bexiga e em seguida foram colocadas em posição de litotomia. Foi realizada a palpação e solicitada a contração máxima dos MAP, quantificada segundo referidas escalas. Foi respeitado um tempo de repouso três vezes 180 maior que o tempo de contração e em seguida foi solicitada a contração mantida pelo máximo de tempo que a paciente conseguisse. Tabela II - Escala de Oxford, que avalia presença e a intensidade da contração voluntária do assoalho pélvico, graduando-se de 0 a 5. Grau Comportamento dos MAP 0 Ausência de resposta muscular dos musculos perineais. 1 Esboço de contração muscular não sustentada. 2 Presença de contração de pequena intensidade, mas que se sustenta. 3 Contração moderada, sentida como aumento de pressão intravaginal que comprime os dedos do examinador com pequena elevação cranial da parede da vagina. 4 Contração satisfatória, que aperta os dedos do examinador com elevação da parede vaginal em direção à sínfise púbica. 5 Contração forte: compreenssão firme dos dedos do examinador com movimento positivo em direção á sínfise púbica. Por fim, utilizou-se o perineômetro da marca Peritron™. O dispositivo foi inserido na cavidade vaginal, inflado até 100 cmH2O e em seguida a paciente foi orientada a permanecer em repouso por 30 segundos. Após esse tempo, a paciente foi solicitada a realizar uma contração máxima, o mais forte que conseguisse. Novamente respeitou-se o tempo de repouso três vezes maior que o tempo de contração e em seguida foi solicitada a contração mantida pelo máximo de tempo que a paciente conseguisse. Os dados foram analisados e descritos sob a forma de média, mediana e desvios padrões. O test t de Student foi realizado para comparar as médias obtidas. O nível de rejeição da hipótese de nulidade foi fixado em 0,05 ou 5% ( ≤ 0,05), assinalando-se com asterisco os valores significantes. Resultados A média de idade foi de 56,8 (± 10) anos, a paridade foi de 3,58 (± 1,3) partos e o índice de massa corpórea (IMC) de 26,3 (± 3,3) kg/m2 para as paciente com prolapso. As pacientes sem prolapso apresentaram uma média de idade 51,5 (± 9,7), paridade de 2,5 (± 1,44) partos e IMC de 28,9 (± 4,4) kg/m2. Pode-se então observar que as mulheres com prolapso tiveram ligeiramente maior idade e maior paridade. Foi realizada a comparação dos parâmetros clínicos: AFA, Oxford, endurance (avaliação bidigital do tempo de sustentação) e os parâmetros do perineometria, em que se avaliaram a pressão de pico (PP), a pressão média (PM), e o tempo de sustentação com a perineometria (PE). Os resultados seguem na Tabela III. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Tabela III - Função muscular do assoalho pélvico mensurada por palpação bidigital e perineometria em ambos os grupos. Variável avaliada AFA Oxford Endurance (seg) PP (cm H2O) PM (cm H2O) PE (cm H2O) Média (± DP) p valor Grupo A Grupo B (n = 12) n = 12) 2,6(± 0,4) 3,2 (± 0,6) 0,043* 2,7(± 1,1) 3,4(± 0,5) 0,043* 4 (± 1,3) 4 (± 1,4) 0,95 32,1(± 13,7) 37,5 (± 16,8) 0,49 24,5 (± 14) 24,7(± 16) 0,98 4,3(± 0,6) 5,5(± 0,9) 0,044* *Valores obtidos por meio do teste t de Student; PP = pressão de pico; PM = pressão média; PE = pressão endurance. Discussão O presente estudo avaliou mulheres incontinentes em associação ou não ao prolapso genital. Observou-se piora da função muscular nas mulheres com prolapso associado. No que se refere à idade das pacientes, observou-se que as mulheres com prolapso genital apresentaram paridade maior do que as mulheres sem prolapso. Estes dados estão de acordo com os resultados de Swift et al. [16] em que foi comprovado que o risco de prolapso de órgãos pélvicos aumenta com o aumento da paridade. Com relação à idade, alguns autores relataram que a incidência de prolapso ocorre entre 60 e 69 anos de idade, havendo correlação da piora do prolapso com o aumento da idade [17]. No presente estudo, as mulheres com prolapso apresentaram ligeiramente maior idade que aquelas sem prolapso, concordando com os dados do estudo supracitado. Porém, quando foi comparado o IMC nos dois grupos, foi observado maior IMC no grupo de mulheres sem prolpaso. A literatura relata que o IMC aumentado é um risco para o desenvolvimento de prolapso [18]. No presente estudo não foi possível observar essa correlação. Isso talvez tenha ocorrido por que a maioria das pacientes incluídas (75%) encontravase acima do peso, o que torna difícil essa diferenciação com esse tamanho amostral. A fraqueza dos MAP é fator importante que contrubui para a ocorrência de prolapso genital e incontinência urinária [19]. Para avaliá-la foram utilizadas duas ferramentas que estão entre as mais utilizadas na literatura atual. Na análise do exame bidigital, obteve-se uma boa correlação tanto nas mulheres com prolapso quanto nas mulheres sem prolapso, comprovando a eficácia desse método de avaliação em ambos os grupos. Ortiz et al. [13] também encontraram resultado semelhante ao comparar indiretamente a palpação digital com a habilidade de reter um dispositivo intravaginal em grupo de mulheres com prolapso genital e grupo controle. O outro método de avaliação utilizado, perineometria, tem sua utilização em mulheres com prolapso bastante discutida. No presente estudo, foi observada pouca correlação entre as Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 mensurações quando utilizado o perineômetro em mulheres com prolapso. Vários fatores podem ter contribuído para este resultado, entretanto, a fadiga muscular figura entre as justificativas mais aceitas. As mulheres com prolapso parecem ter fadigado mais rápido que as mulheres sem prolapso, fazendo com que a correlação entre as três medições fosse pequena. Essa observação já tinha sido feita por outros autores, quando realizaram mensurações semelhantes por meio do perineômetro [20]. Este fator também pode ter sido responsável pelo menor tempo de manutenção da contração (endurance) do perineômetro (PE), nas mulheres com prolapso. Já na avaliação do endurance manualmente não houve diferença significativa entre mulheres com ou sem prolapso. Esses resultados corroboram com os de outros autores. Quando associado o estadio do prolapso com a força dos MAP em mulheres não continentes, as mulheres com menor estadio de prolapso apresentaram melhores escores na avaliação bidigital, contudo, no teste de endurance, não houve diferença significativa [21]. Ressalta-se a importância da utilização de um instrumento que tenha capacidade de mensurar especificamente o endurance dessa musculatura, já que houve diferença entre essas duas formas de avaliação. Há poucos estudos que correlacionam a força dos MAP com a presença ou não de prolapso genital. Thompson et al. [22] avaliaram a força dos MAP por meio da escala modificada de Oxford em mulheres continentes e incontinentes e concluíram que mulheres continentes apresentam melhor contração dos MAP tanto nos testes manuais como no perineômetro e teste de endurance. Essa observação é consistente com a etiologia do prolapso e da IUE, a qual denota que uma fraca função do assoalho pélvico contribui para o desenvolvimento dessas afecções. Foi observado, ainda, que mulheres com prolapso genital possuiam pior função dos MAP, mensurada pelas escalas de Oxford e AFA. Estudo considera que a lesão do músculo pubovesical pode resultar em aumento da carga no íliococcigeo e resulta em deslocamento para baixo dos MAP, verticalizando-os [23]. Essa teoria também é sustentada por outro estudo que concluiu que alterações estruturais nas fibras elásticas promovem o enfraquecimento do tecido conjuntivo induzindo ao defeito de suporte do assoalho pélvico [24]. E ainda, DeLancey et al. [8] encontraram que 70% das mulheres que apresentavam prolapso genital apresentavam evidência de lesão nos MAP, o que corrobora com os dados encontrados no presente estudo. Conclusão A relevância deste estudo se baseia na importância da avaliação correta dos MAP de mulheres incontinentes. Apesar de o prolapso genital estar frequentemente associado à incontinência urinária, a proposta de tratamento para as pacientes com e sem prolapso genital deve ser diferente. Este 181 estudo mostrou que mulheres incontinentes com prolapso genital apresentam menor função muscular e menor tempo de sustentação da contração. Esses dados sugerem que o foco do trabalho muscular do assoalho pélvico nessas mulheres deveria ser nas contrações lentas, com maior tempo de sustentação da contração. Porém mais estudos com amostras maiores são necessários para reafirmar os resultados encontrados nesta pesquisa. Referências 1. Woodman PJ, Swift SE, O’Boyle AL, Valley MT, Bland DR, Kahn MA, et al. Prevalence of severe pelvic organ prolapse in relation to job description and socioeconomic status: a multicenter cross-sectional study. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct 2006;17(4):340-45. 2. Gonçalves JG, Oliveira LM, Freitas MMS, Baracat EC. Prolapso genital. In: Girão MJBC, Rodrigues de Lima G & Baracat EC. Uroginecologia. 1a ed. São Paulo: Artes Médicas; 1997. p.143-9. 3. Mant J, Painter R & Vessey M. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 183 Artigo original Exercício físico em pacientes portadores de diferentes níveis de doença pulmonar obstrutiva crônica Physical exercise in patients with different levels of chronic obstructive pulmonary disease Juliana El-Hage Meyer de Barros Gulini, Ft., M.Sc.*, Walter Celso de Lima, D.Sc.**, Concetta Esposito, Esp.*** *Fisioterapeuta HU/UFSC, Membro do Grupo de Estudos no Cuidado de Pessoas nas Situações Agudas de Saúde (GEASS) da UFSC/SC, **Professor Titular, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, na Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, ***Médica Pneumologista do Hospital Nereu Ramos – SES/SC Resumo Abstract Introdução: Uma importante consequência da dispneia é a limitação das atividades que piora com a progressão da doença, sendo a inatividade física o alvo na terapêutica da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Objetivo: Verificar os efeitos do exercício físico em pacientes com diferentes níveis de DPOC submetidos a um programa de reabilitação pulmonar de longa duração. Materiais e métodos: Estudo descritivo e retrospectivo, com amostra de 40 prontuários de pacientes com DPOC que realizaram testes incremental e endurance. Resultados: No teste incremental dos grupos leve, moderado e grave respectivamente, houve aumento do tempo na esteira (44%, 38%, 35%); maior inclinação na esteira (60%, 50%, 48%); aumento distância percorrida (128%, 153%, 144%); e na frequência cardíaca (aumento 3%, queda 10%, 9%); diminuição do Borg dispneia (55%, 52%, 33%); Borg membros inferiores (30%,59%, 31%). No teste de endurance para os três grupos respectivamente, houve aumento do tempo na esteira (122%, 159%, 144%); aumento da distância percorrida (128%, 153%, 144%); redução da frequência cardíaca (4%, 9%, 10%); diminuição Borg dispneia (51%, 68%, 58%); Borg de membros inferiores (52%, 55%, 53%). Conclusão: O exercício físico aplicado aos três níveis de DPOC (leve, moderado e grave), submetidos a um programa de reabilitação pulmonar, melhora a tolerância ao exercício físico, promove um condicionamento cardiovascular, diminui a sensação subjetiva de dispneia e fadiga em membros inferiores de forma semelhante. Introduction: An important consequence of dyspnea is to limit activities that worsen with disease progression, physical inactivity being the target in the treatment of chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Objective: To investigate the effects of physical exercise in patients with different levels of COPD undergoing pulmonary rehabilitation program for a long duration. Methods: Descriptive and retrospective study, with a sample of 40 charts of patients with COPD who performed incremental and endurance tests. Results: In the incremental test groups, mild, moderate and severe respectively, there is an increase in treadmill time (44%, 38%, 35%), high inclination on the treadmill (60%, 50%, 48%) increase distance traveled (128%, 153%, 144%) and heart rate (increase 3%, decrease 10%, 9%) decrease of Borg dyspnea (55%, 52%, 33%); Borg lower limbs (30%, 59%, 31%). In the test of endurance for the three groups respectively, there was an increase in treadmill time (122%, 159%, 144%), increase in distance (128%, 153%, 144%), reduction in heart rate (4%, 9%, 10%), decreased Borg dyspnea (51%, 68%, 58%) Borg lower limbs (52%, 55%, 53%). Conclusion: Physical activity applied to the three levels of COPD (mild, moderate and severe) in a pulmonary rehabilitation program improves exercise tolerance, promotes cardiovascular fitness, and reduces the subjective sensation of dyspnea and fatigue in the legs similarly. Key-words: chronic obstructive pulmonary disease, exercise therapy, exercise tolerance. Palavras-chave: doença pulmonar obstrutiva crônica, terapia por exercício, tolerância ao exercício. Recebido em 18 de novembro de 2010; aceito em 12 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Juliana El-Hage Meyer de Barros Gulini, Rua Desembargador Pedro Silva, 1952/206/06, 88080-700 Florianópolis SC, Tel: (48) 8414-4720, E-mail: [email protected] 184 Introdução A primeira anormalidade na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma inflamação crônica da via aérea na qual resulta em limitação ao fluxo de ar. A progressão da doença é usualmente detectada por uma aceleração do declínio do VEF1 ao longo do tempo [1]. A DPOC apresenta também significativos efeitos sistêmicos extrapulmonares que conduzem a comorbidades como perda de peso, anormalidades nutricionais e disfunção muscular esquelética. São pacientes que apresentam maior risco para infarto do miocárdio, angina, osteoporose, infecções respiratórias, fraturas, depressão, diabetes, distúrbios do sono, anemia e glaucoma [2]. Em relação à classificação quanto à severidade da DPOC têm-se os seguintes estágios: Estágio I: DPOC leve - caracterizada por limitação leve ao fluxo de ar (VEF1/CVF < 70%, e FEV1 > 80% do previsto). Estágio II: DPOC moderada - caracterizada pelo agravamento da limitação ao fluxo aéreo (50% < VEF1 < 80% previsto). Estágio III: DPOC grave - caracterizada por mais agravamento da limitação ao fluxo aéreo (30% ≤ VEF1 < 50% previsto). Estágio IV: DPOC muito grave - caracterizado por grave limitação do fluxo aéreo (VEF1 < 30% do previsto) [3]. A intolerância ao exercício é uma das principais queixas dos pacientes com DPOC e tem sido classicamente atribuída a restrições do sistema respiratório. Há muito tempo uma grande proporção destes pacientes apresentam fadiga nos membros inferiores durante o exercício, destacando o papel que a disfunção dos mesmos tem contribuído para a redução da capacidade do exercício. Esta fadiga contribui para a intolerância ao exercício nos pacientes com DPOC independente do nível de obstrução da via aérea [4,5]. O treinamento com exercício (TE) condiciona uma melhor tolerância ao exercício e melhoria da qualidade de vida desses pacientes, é reconhecido como uma vertente essencial da reabilitação pulmonar e os benefícios obtidos com um programa de reabilitação pulmonar são sentidos a curto e longo prazo. No entanto, não existe consenso acerca de qual a estratégia de treinamento mais adequada para esses pacientes, assim como da duração, intensidade e frequência das sessões de treinamento. As modalidades mais utilizadas são a marcha e a bicicleta [5]. Na literatura atual existem trabalhos envolvendo pacientes com DPOC, em diferentes níveis, porém não existem muitos trabalhos que comparem os efeitos do treinamento físico entre os diferentes níveis da doença, sendo o diferencial desta pesquisa. A reabilitação pulmonar é uma evidencia baseada em intervenções multidisciplinares e abrangente para pacientes com doenças respiratórias crônicas que são sintomáticas e muitas vezes têm diminuído as atividades de vida diária. Integrada no tratamento individualizado do paciente, a reabilitação pulmonar é destinada a reduzir os sintomas, otimizar o estado funcional, aumentar a participação e reduzir os cuidados de custos de saúde através da estabilização ou reversão das manifestações sistêmicas da doença [6]. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Assim sendo, é um componente essencial da gestão global dos pacientes sintomáticos com DPOC. Pacientes com doença moderada a moderadamente grave são os melhores candidatos para o tratamento, para quem os efeitos incapacitantes da fase final de insuficiência respiratória pode ser prevenida [7]. Considerando a importância da reabilitação pulmonar para pacientes com DPOC e a necessidade de mais estudos nesta área, o presente estudo se propõe a verificar os efeitos do exercício físico em pacientes com diferentes níveis de DPOC, submetidos a um programa de reabilitação pulmonar de longa duração. Material e métodos Trata-se de um estudo retrospectivo, que teve como objetivo verificar os efeitos do exercício físico em pacientes com diferentes níveis de DPOC, que se submeteram ao programa de reabilitação pulmonar de longa duração, através de uma análise de um banco de dados com revisão de prontuários. Este estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), sob o parecer No. 123/05. A amostra deste banco de dados foi composta de 40 prontuários de pacientes portadores de DPOC de diferentes níveis de gravidade da sua doença, submetidos ao exercício físico por 8 semanas ou 24 sessões. Para classificar a amostra nos diferentes níveis de DPOC, foram analisados os testes de função pulmonar (espirometria) de cada paciente, os quais já possuíam laudo do pneumologista responsável. Sendo assim, foi possível dividir a amostra em três grupos de acordo com o grau de distúrbio ventilatório obstrutivo, ou seja, em DPOC do tipo leve, moderado e grave [2]. As variáveis do estudo foram os efeitos do programa sobre a tolerância ao exercício, alterações cardiovasculares, sensação subjetiva de dispneia e sensação subjetiva de dor em membros inferiores nos períodos pré e pós-reabilitação pulmonar, nos pacientes com DPOC em diferentes níveis de gravidade. Cabe ressaltar que a própria autora deste estudo foi quem coletou e registrou todos os parâmetros analisados a seguir. O teste incremental consiste em manter o paciente com uma velocidade constante, porém com inclinação variável progressivamente, que inclina 1% a cada minuto, com o objetivo de determinar a inclinação máxima atingida pelo paciente, sendo que o período de duração do teste deveria estar entre 11 a 15 minutos, para fins de validade do teste e determinação da carga de treinamento. Cabe ressaltar que a coleta das variáveis era feita no momento máximo do exercício, interrompida pelo paciente, sendo que deveria se encontrar dentro deste intervalo de tempo mencionado. O teste de endurance de membros inferiores consiste em utilizar a mesma velocidade do teste incremental de membros inferiores e uma inclinação também fixa e constante de 90% da inclinação máxima atingida no teste incremental, tendo o Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 objetivo de verificar o tempo e a distância percorrida máxima da caminhada na esteira. O paciente iniciava com a velocidade e inclinação pré-programada e a cada três minutos eram verificados os sinais vitais. Estes testes foram realizados antes e após o treinamento com exercício físico por dois meses. O treinamento com exercício físico nos pacientes com DPOC era realizado três vezes por semana com duração de uma hora e trinta minutos diários, em dias alternados, durante oito semanas consecutivas. Este treinamento era composto por aquecimento de músculos da cintura escapular, tronco, membros superiores e inferiores por 15 minutos, seguido de caminhada na esteira ergométrica com velocidade de treinamento fixa e inclinação de 80% da máxima obtida no teste esforço progressivo em esteira, por um período de 30 minutos. Após a caminhada os pacientes realizavam exercícios com os membros superiores com ou sem pesos (halteres), sob as 2 diagonais de Kabat, por duas séries com cada braço de cada diagonal alternadamente, por dois minutos cada, com intervalo de repouso de um minuto entre um braço e outro, totalizando 4 séries com cada braço, perfazendo em torno de 30 minutos este exercício. Por último era realizado alongamento da musculatura do pescoço, cintura escapular, membros superiores e inferiores. Sobre os resultados registrados no banco de dados dos prontuários, foi realizada uma análise descritiva da população, com uma correlação da eficiência do exercício físico após o programa de reabilitação pulmonar, com as características clínico-funcionais e ventilatórias da avaliação inicial, sendo analisadas estatisticamente, para verificar qual dos três grupos apresentou melhor desempenho após completar o programa de 24 sessões. Após a análise descritiva, foi utilizado o programa estatístico SPSS, para realizar os testes que serão descritos a seguir. Foi realizado o teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados encontrados, o qual mostrou uma distribuição não normal dos dados. Partindo do princípio da não normalidade dos dados, foi optado pela realização de testes não paramétricos, como o de Wilcoxon, adotando o nível de significância de 5%, ou p ≤ 0,05. O objetivo deste teste foi verificar se a diferença dos resultados obtidos entre as variáveis do pré e pós-reabilitação para os três níveis de DPOC, foram significativas. Foi realizado também o teste não paramétrico de KruskalWallis, no intuito de verificar se houve diferença de treinamento entre os grupos de DPOC. O último teste realizado foi o teste de correlação de Spearman Rank, para verificar se o nível inicial em que os pacientes se encontravam, manteve correlação com o quanto este paciente iria evoluir dentro do programa de reabilitação pulmonar. Como limitação deste estudo percebeu-se a falta de algumas informações nos prontuários, sendo necessário descartar alguns pacientes e a não existência de um grupo controle, assim como a não avaliação da qualidade de vida. 185 Resultados A amostra foi extraída de um banco de dados da clínica de Reabilitação, em Florianópolis, através da revisão de prontuários, sendo composta de 42 prontuários, porém dois foram excluídos por estarem incompletos, totalizando 40 pacientes portadores de DPOC, submetidos ao programa de Reabilitação Pulmonar de longa duração, sendo 11 pacientes DPOC de grau leve, 14 pacientes DPOC de grau moderado, e 15 pacientes DPOC de grau grave. As médias das idades do total do grupo foram de 60,8 anos, sendo 27 pacientes do sexo masculino, e 13 do sexo feminino. Em relação à tolerância ao exercício, foram utilizadas as diferenças nas médias do tempo de permanência e da inclinação da esteira obtidos pelo teste incremental e; pelo tempo de permanência e a distância percorrida na esteira durante o teste de endurance de membros inferiores. Os resultados obtidos nos três níveis de acometimento da doença estão expostos nas tabelas abaixo. Tabela I - Efeitos do exercício físico sobre a variável tempo no teste de incremental e endurance entre os níveis de DPOC. Tempo (min) Incre- Nível Leve men- Nível Mod Nível Grave tal EnNível Leve Nível Mod durance Nível Grave Teste Pré-reabilitação 12,6 (1,7) 13 (1,6) 12,6 (1,8) 12,4 (6,9) 7,9 (2,9) 10 (5,3) Pós-reabilitação 18,1 (3,5) 18 (2,7) 17,1 (3,1) 27,5 (7,9) 20,4 (7,5) 24,4 (6,7) Diferença (%) +44% +38% +35% +122% +159% +144% Valor de p 0,04* 0,01* 0,01* 0,04* 0,01* 0,01* Os dados estão expressos como médias aritméticas e desvio padrão; Nível de significância = 5% (p ≤ 0,05). Valor de p calculado a partir do teste estatístico não paramétrico de Wilcoxon, *valor significativo. Quanto ao tempo de permanência na esteira no teste incremental, o grupo de pacientes com nível leve da doença apresentou maior incremento neste tempo, correspondendo a 44 % de aumento (Tabela I). No tempo permanecido na esteira no teste de endurance o grupo de pacientes com nível moderado da doença apresentou maior incremento do tempo, correspondendo a 159% de aumento (Tabela I). Tabela II - Efeitos do exercício físico sobre a variável inclinação no teste incremental entre os níveis de DPOC. Inclinação (%) Nível Leve Nível Mod Nível Grave Pré-reabilitação 9,5 (1,7) 9,9 (1,3) 9,4 (1,5) Pós-reabilitação 15,1 (3,5) 14,9 (2,8) 13,9 (2,7) Diferen- Valor ça (%) de p +60% 0,04* +50% 0,01* +48% 0,01* Os dados estão expressos como médias aritméticas e desvio padrão; Nível de significância = 5% (p ≤ 0,05). Valor de p calculado a partir do teste estatístico não paramétrico de Wilcoxon, *valor significativo. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Tabela III - Efeitos do exercício físico sobre a variável distância no teste de endurance entre os níveis de DPOC. Distância (mts) Nível Leve Nível Mod Nível Grave Pré-reabilitação Pós-reabilitação 981,8 (629,4) 2240 (924) +128 % 0,03* 728,6 (351,5) 1840,8 (874) +153% 0,01* 768 (515,9) Diferença (%) Valor de p 1876,7 (767,7) +144% 0,01* Os dados estão expressos como médias aritméticas e desvio padrão; Nível de significância = 5% (p ≤ 0,05). Valor de p calculado a partir do teste estatístico não paramétrico de Wilcoxon, *valor significativo. Em relação à distância percorrida no teste de endurance o grupo de nível moderado da doença apresentou maior incremento correspondendo a 153% de aumento (Tabela III). A melhora na tolerância ao exercício observada pelas variáveis descritas anteriormente foi considerada estatisticamente significativa para os três níveis de DPOC. Para avaliar as alterações cardiovasculares ocorridas durante a realização dos testes incremental e endurance foi utilizado a diferença das médias obtidas entre o pré e pós-reabilitação pulmonar, nos diferentes níveis da doença através da análise da frequência cardíaca. Tabela IV - Efeitos do exercício físico sobre a variável FC no teste incremental e endurance entre os níveis de DPOC. Teste FC (bpm) Incre- Nível Leve men- Nível Mod Nível Grave tal Nível Leve EnduNível Mod rance Nível Grave Pré-reabili- Pós-reabilitação tação 123,2 (34,6) 146,2 (23,1) 146,9 (20,3) 125,1 (32) 140,7 (22,6) 143,5 (16) 126,5 (20,7) 130,9 (21,5) 134,2 (17,7) 120,4 (18,3) 127,4 (22,5) 129,1 (18,7) Diferença (%) + 3% - 10% - 9% - 4% - 9% - 10% Valor de p 0,32 0,03* 0,03* 0,42 0,005* 0,001* Os dados estão expressos como médias aritméticas e desvio padrão; Nível de significância = 5% (p ≤ 0,05). Valor de p calculado a partir do teste estatístico não paramétrico de Wilcoxon, *valor significativo. A frequência cardíaca no teste incremental sofreu maior redução nos grupos de pacientes com nível moderado, correspondendo a uma queda de 10%. Esta queda na frequência cardíaca é considerada estatisticamente significativa para os grupos de DPOC de nível moderado e grave (Tabela IV). Os pacientes de nível leve apresentaram um aumento em 3% da FC, após a reabilitação pulmonar, porém este valor não foi considerado estatisticamente significativo pelo teste de Wilcoxon. No teste de endurance houve queda da frequência cardíaca em maior grau no grupo de pacientes com nível grave, com redução na diferença das médias obtidas entre o pré e o pósreabilitação de 10%. Percebe-se que os três níveis de gravidade da DPOC apresentaram redução da FC, após a reabilitação, porém apenas os níveis moderado e grave apresentaram diminuição significativa dos seus valores (Tabela IV). Para avaliar a sensação subjetiva de dispneia e dor em membros inferiores, utilizou-se a escala de Borg nos testes incremental e endurance, conforme a Figura 1 e 2. Figura 1- Análise da variável Borg para dispneia no teste incremental e endurance. Escala de Borg Dispnéia A inclinação alcançada no teste incremental apresentou maior incremento no grupo de nível leve da doença correspondendo a 60 % de aumento (Tabela II). 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 5,9 4,6 5,9 5,8 5,5 4,7 3,9 2,3 2,1 Leve 2,8 2,5 1,8 Moderado Grave Teste Incremental Pré Teste Incremental Pós Teste Endurance Pré Teste Endurance Pós A sensação subjetiva de dispneia no teste incremental sofreu maior redução nos grupos de pacientes com nível leve da doença, correspondendo a uma diminuição na escala de Borg de 4,6 para 2,1 ou 55%. No grupo moderado houve redução de 52% e no grave de 33%. (Figura 1). No teste de endurance houve maior redução nos grupos de pacientes com nível moderado da doença, correspondendo a uma queda no Borg de 5,5 para 1,8 ou 68%. No grupo leve houve redução de 51% e no grave de 58% (Figura 1). Figura 2 - Análise da variável Borg para membros inferiores no teste incremental e endurance. Escala de Borg DOR MMII 186 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 6,0 5,5 5,4 5,0 3,8 3,9 2,6 Leve 5,5 5,0 2,5 2,6 2,3 Moderado Grave Teste Incremental Pré Teste Incremental Pós Teste Endurance Pré Teste Endurance Pós No teste incremental a sensação subjetiva de dor em membros inferiores sofreu maior redução na diferença das médias obtidas entre o pré e o pós-reabilitação, nos grupos Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 de pacientes com nível moderado da doença, correspondendo a uma diminuição de 59% (6,0 para 2,5 na escala de Borg). No grupo leve houve diminuição de 30% e no grave de 31% (Figura 2). Em relação ao teste de endurance houve maior redução na diferença das médias obtidas entre o pré e o pós-reabilitação nos grupos de pacientes com nível moderado da doença, correspondendo a 55% (5,0 para 2,3 na escala de BORG). No grupo leve houve redução de 52% e no grave de 53% (Figura 2). A redução da percepção da sensação de dispneia e dor em membros inferiores foi considerada estatisticamente significativa para os três níveis de DPOC. Foi realizado também o teste não paramétrico de KruskalWallis, para todas as variáveis analisadas, o qual mostrou não haver diferença estatisticamente significativa entre os três grupos analisados, confirmando que os níveis leve, moderado e grave obtiveram uma melhora similar nos valores adquiridos após a reabilitação pulmonar. Discussão Pessoas com DPOC, realizando algum nível de atividade física regular têm um menor risco de internações hospitalares e mortalidade, assim como pacientes com DPOC de todas as fases parecem se beneficiar de programas de treinamento físico, melhorando a tolerância ao exercício e os sintomas de dispneia e fadiga [8-12]. Além de que esta melhora ocorre de forma mais acentuada nos estágios GOLD II a IV [13]. As melhorias da reabilitação pulmonar têm sido demonstradas em pacientes com DPOC, independentemente da gravidade da sua doença ou nível de capacidade funcional. Idade e sexo também não afetam o resultado de um programa de reabilitação pulmonar. Outros fatores que não parecem influenciar na magnitude a curto prazo incluem as variáveis psicológica ou sócio-demográficos, ou tabagismo atual. No entanto, estas podem influenciar na adesão do programa e sua conclusão. As características dos pacientes que melhor apresentam resultados na capacidade de exercício e sintomas após a reabilitação não têm sido extensivamente estudadas [14,15]. Estes estudos corroboram com o encontrado neste estudo visto que os três níveis de gravidade da doença pulmonar apresentaram melhora da tolerância ao exercício, melhora da dispneia e da sensação de dor em membros inferiores. Para analisar os efeitos do programa de reabilitação pulmonar foram utilizados os testes incremental e endurance de membros inferiores, os quais são recomendados pela literatura, como no artigo que descreve que todo paciente que deseja ingressar num programa de reabilitação pulmonar deve realizar uma avaliação inicial que consta de uma anamnese completa, seguida de testes específicos para avaliar sua capacidade de exercício, e indica os três testes mais utilizados, como o teste de caminhada dos seis minutos, teste incremental, e teste de endurance, e complementa dizendo que pelo menos um 187 destes testes é necessário para avaliar os efeitos da reabilitação pulmonar e a capacidade funcional do exercício. Além disso, avaliam-se os sintomas pela escala de Borg para dispneia [14]. Um estudo desenvolveu um protocolo de teste incremental de esforço máximo em esteira que foi bem tolerado pelos pacientes com DPOC moderado a muito grave. Acredita-se que o teste em esteira seja mais representativo nas limitações fisiológicas do paciente com DPOC do que a bicicleta ergométrica, sobretudo os dados mostram que a falta de ar é mais provável que seja o fator limitante em testes de exercício em esteira. O recurso utilizado no treinamento dos pacientes com DPOC deste estudo foi a esteira ergométrica. [16] Em relação ao treinamento com exercícios, deve ser oferecido de alta intensidade para melhorar a capacidade oxidativa do músculo esquelético. Isso leva a uma maior capacidade de exercício e redução da ventilação e carga dos sintomas em exercício submáximo. Para ser eficaz, o treinamento deve ser aplicado três vezes por semana durante um período mínimo de oito semanas. Nosso estudo utilizou uma carga de treinamento de 80% da máxima obtida no teste em esteira, sendo realizado três vezes por semana, com duração de 90 minutos durante oito semanas [17]. Em relação aos efeitos da reabilitação pulmonar na variável alterações cardiovasculares tem-se a melhora do condicionamento e eficiência cardiovascular como demonstrado pela diminuição da frequência cardíaca, e condicionamento dos músculos periféricos [18]. Vale ressaltar que a elevação da frequência cardíaca do nível leve no teste incremental no período pós reavaliação não foi significativa e possivelmente pode ser atribuída ao fato destes pacientes terem permanecido maior tempo na esteira e alcançado maior inclinação na reavaliação, o que demanda maior esforço cardiovascular. A DPOC está associada com importantes efeitos extrapulmonares e sistêmicos. A disfunção dos músculos esqueléticos contribui para a limitação ao exercício. As doenças cardiovasculares são causa frequente de morte em DPOC e doenças arteriais coronarianas, falência ventricular esquerda e arritmias são efeitos sistêmicos da DPOC. Estes efeitos sistêmicos respondem bem ao tratamento para DPOC, incluindo a reabilitação pulmonar. Sendo assim o exercício físico aplicado a estes pacientes contribui para diminuir os efeitos sistêmicos provocados pela doença pulmonar, levando a melhora das respostas cardiovasculares [19]. A literatura atual recomenda que a reabilitação pulmonar é um importante componente do tratamento da DPOC, já que foram relatadas melhorias tanto estatisticamente quanto clinicamente significativas nos domínios de qualidade de vida, como dispneia, fadiga e controle das emoções [6]. Além disso, existem as recomendações das diretrizes baseadas em evidências clínicas que descrevem que o treinamento dos músculos da deambulação é recomendado como forte componente da reabilitação pulmonar, além de melhorar os sintomas da dispneia em pacientes com DPOC, ambas com grau de recomendação A [6, 20]. 188 Indivíduos com DPOC clinicamente estável foram distribuídos aleatoriamente para receber treinamento físico geral (TFG) supervisionado por um terapeuta físico ou orientado treinamento muscular inspiratório (TMI) supervisionado por um médico. Após quatro e oito semanas, foram avaliados os testes de função pulmonar, capacidade de exercício, força muscular respiratória e escores de sintomas. Cada indivíduo do grupo TFG foi instruído a realizar exercícios graduados, caminhar e subir escadas durante 30 minutos. Os indivíduos no grupo TMI treinaram seus músculos da respiração através de resistência inspiratória. Os resultados demonstraram que o grupo de pacientes que realizou treinamento físico geral relatou redução na falta de ar, que são específicos da modalidade de treinamento com exercícios. Essas mudanças foram acompanhadas por uma redução na percepção de esforço na escala de Borg [21]. Um estudo avaliou se a dispneia e a fadiga de membros inferiores durante os exercícios afetam a qualidade de vida quando aplicado o questionário de St. George’s. O resultado do estudo mostrou que os sintomas como os graus de dispneia e fadiga das pernas, durante o exercício (avaliadas pela escala de Borg de 0 a 10), são variáveis que influenciam no questionário de qualidade de vida de pacientes com DPOC. Além disso, a melhora na qualidade de vida seguida de reabilitação pulmonar pode ser devido a melhoras na dispneia e na fadiga dos membros inferiores nestes pacientes [22]. De uma maneira geral pode-se dizer que quanto à sensação subjetiva de dispneia e fadiga em membros inferiores a presente pesquisa demonstrou que houve uma melhora na dessensibilização de ambas para os três níveis de acometimento da doença. Conclusão De acordo com os dados analisados neste estudo, e apesar de ser do tipo retrospectivo, pode-se inferir que o exercício físico aplicado aos três níveis de DPOC (leve, moderado e grave), submetidos a um programa de reabilitação pulmonar, melhora a tolerância ao exercício físico, promove um condicionamento cardiovascular, diminui a sensação subjetiva de dispneia e dor em membros inferiores de forma semelhante. Referências 1. Cooper CB. Airflow obstruction and exercise. Respir Med 2009;103(3):325-34. 2. Global strategy for the diagnosis, management, and prevention of chronic obstructive pulmonary disease: updated 2010. [citado 2010 Dec 15]. Disponível em URL: http//:www.goldcopd.org/ guideline 3. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 189 Artigo original Eficácia do índice de desmame ventilatório FerrariTadini em uma unidade de terapia intensiva de um hospital público de Fortaleza/CE Ferrari-Tadini weaning ventilation index effectiveness in an intensive care unit in a public hospital of Fortaleza/CE José Eduardo de Oliveira Miranda, Ft.*, Marilce Ferreira Farias, Ft.**, Guilherme Pinheiro Ferreira da Silva, Ft.***, Rodrigo José Bezerra de Siqueira, Ft., M.Sc.****, Maria do Socorro Quintino Farias, Ft., M.Sc.*****, Raimunda Hermelinda Maia Macena, D.Sc.******, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos, D.Sc.******* *Estácio FIC, **Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes de Messejana, Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR, ***Universidade de Fortaleza - UNIFOR, ****Universidade Federal de Pernambuco, *****Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes de Messejana e Professor da Faculdade Integrada do Ceará - FIC, ******Enfermeira, Professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), *******Professor da Faculdade Integrada do Ceará e da Universidade Federal do Ceará - UFC Resumo Abstract Introdução: O índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini é um método utilizado como parâmetro de desmame em pacientes com o quadro de insuficiência respiratória. O objetivo deste estudo foi analisar a eficácia deste índice em uma unidade de terapia intensiva de um hospital da rede pública de Fortaleza/CE. Material e métodos: Realizou-se acompanhamento de 13 pacientes que estavam em processo de desmame após permanência na ventilação mecânica por período igual ou superior a 48 horas conforme protocolo da UTI, na qual se aplica o teste de ventilação espontânea através da peça T. Imediatamente antes da extubação calculou-se o Índice de Desmame Ventilatório Ferrari Tadini. De acordo com o índice, o procedimento de extubação foi classificado como: I (indicado), II (favorável), III (desfavorável) e IV (contraindicado). Resultados: 38,46% (n = 5) receberam pontuação entre 27 e 30, correspondendo à classificação I, sendo eficaz em 100% das extubações; 53,85% (n = 7) obtiveram pontuação entre 23 e 26, que corresponde à classificação II, eficaz em 90,91, enquanto que 7,69 (n = 1) obteve pontuação entre 20 e 22, que corresponde à classificação III e nenhum paciente foi classificado como classe IV. O paciente classificado como desfavorável (classe III) foi reintubado. Conclusão: O índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini, na amostra estudada, demonstrou ser eficaz para avaliar o momento da extubação e eficiente em prever o sucesso para a extubação, que aconteceu em 84,62% dos casos. Introduction: Ferrari-Tadini Index is a predictor of the outcome of weaning from mechanical ventilation. The purpose of this study was to evaluate the accuracy of this index in an intensive care unit of a public hospital in Fortaleza/CE. Methods: Thirteen patients requiring mechanical ventilation for more than 48 hours were assigned to usual weaning protocol with T peace. Ferrari-Tadini Index classification were performed just before the extubation: I (indicated), II (favorable), III (unfavorable) and IV (not indicated) Results: Five patients (38.46%) had a weaning score of between 27 and 30 - class I; seven patients (53.85%) had score between 23 and 26, which corresponded to class II; one patient (7.69%) had score between 20 and 22, corresponding to class III. No patient was categorized under class IV. Reintubation was required for one patient, who was classified as III class. Conclusion: Ferrari Tadini weaning index could accurately predict the ability to be successfully weaned from mechanical ventilator support, and it was observed in 84.62% cases. Key-words: weaning prediction, respiratory failure, extubation. Palavras-chave: insuficiência respiratória, extubação, índice preditivo. Recebido em 21 de dezembro de 2010; aceito em 6 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Vasco Pinheiro Diógenes Bastos, Rua Monsenhor Catão, 1500/502, 60115-000 Fortaleza CE, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 190 Introdução 5 - Vol corrente (ml/kg) A grande maioria dos pacientes criticamente enfermos internada em unidade de terapia intensiva (UTI) necessita de ventilação mecânica. Esta técnica é de alto custo e está associada à alta taxa de morbidade e mortalidade, devido à pneumonia e à lesão pulmonar que estão associadas à sua utilização, portanto as equipes devem estar atentas para que a liberação do paciente da ventilação mecânica possa ser realizada o mais rápido possível, com planejamento adequado e seguro [1]. O termo desmame da ventilação mecânica refere-se ao processo de transição da ventilação artificial para a espontânea nos pacientes que permanecem em ventilação mecânica invasiva por tempo superior a 24 horas. Atualmente, diversas técnicas podem ser empregadas para o desmame da ventilação mecânica, estando entre as mais conhecidas o desmame em tubo T, desmame pela ventilação mandatória sincronizada intermitente (SIMV) e o desmame por pressão suporte [2]. A literatura tem demonstrado mais recentemente que protocolos de identificação sistemática de pacientes em condições de interrupção da ventilação mecânica podem reduzir significativamente sua duração. Por outro lado, a busca por índices fisiológicos capazes de predizer, acurada e reprodutivamente, o sucesso do desmame ventilatório ainda não chegou a resultados satisfatórios [3]. Dentro desse contexto, no ano de 2004, foi elaborado um novo índice de desmame ventilatório chamado índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini [4]. Este índice é constituído de dez parâmetros: escala de Glasgow, volume corrente, FiO2, frequência respiratória, saturação de oxigênio, PaCO2, PaO2, pressão inspiratória máxima, pressão de suporte e idade. Tais parâmetros são pontuados de 1 a 3 e o somatório do resultado destes parâmetros poderá atingir uma pontuação que varia entre 0 e 30. A partir do somatório, o índice do desmame é classificado nas categorias: I (indicado), II (favorável), III (desfavorável) e IV (contraindicado) (Tabela I). 6 – Frequência respiratória (cicl/min) Tabela I - Tabela dos pontos de classificação do índice de FerrariTadini. Parâmetros 1 – PaO2 (mmHg) 2 – PaCO2 (mmHg) 3 – Saturação (%) 4 – FIO2 (%) Valores > 90 80-90 < 80 < 45 45-55 > 60 > 95% 92-95% < 92% < 40 40-50 50-60 Pontos 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 7 – Glasgow (3-15) 8 – Pressão inspiratória (cmH2O) 9 – Pressão suporte (cmH2O) 10 – Idade (anos) Classe I II III IV >7 5-7 <5 < 25 25-35 > 35 >10 8-10 <8 > 25 20-25 > 35 < 10 10-15 > 15 < 60 60-80 > 80 Pontuação 27-30 23-26 20-22 < 19 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 3 2 1 Prognóstico Indicado Favorável Desfavorável Contraindicado Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia do índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini em uma unidade de terapia intensiva de um hospital da rede pública de Fortaleza/CE. Material e métodos Foi realizado um estudo de caráter descritivo, observacional, longitudinal e abordagem quantitativa, desenvolvido no Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes de Messejana, situado em Fortaleza/CE, no período de agosto a outubro de 2007. A amostra foi composta de 5 indivíduos do sexo feminino e 8 do sexo masculino, com faixa etária variando de 30 a 90 anos. Foram inclusos no estudo os pacientes que permaneceram em assistência ventilatória invasiva por um período acima de 48 horas, com quadro de insuficiência respiratória aguda (IRpA) pulmonar e/ou extra pulmonar de diferentes etiologias e mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelo chefe da UTI. Foram excluídos indivíduos com instabilidade hemodinâmica, dependentes de drogas vasoativas, hemorragias graves, descompensações agudas graves, pacientes com tempo de ventilação até 48 horas e pacientes que não se encontravam dentro da faixa etária delimitada. A equipe médica responsável pela UTI foi devidamente esclarecida sobre os objetivos do estudo e imediatamente após foi assinado pelo chefe do serviço o termo de consentimento livre e esclarecido. As variáveis analisadas pelo índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini foram: escala de Glasgow, volume corrente, Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Resultados A amostra da pesquisa foi constituída de 13 pacientes que deram entrada na unidade de terapia intensiva do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes de Messejana, na cidade de Fortaleza/CE, no período de agosto a outubro de 2007, sendo 38,46% (n = 5) do sexo feminino e 61,54% (n = 8) do sexo masculino, com idade média de 55,3 ± 4 anos. Quanto à análise, a pontuação pelo índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini foi verificado que 5 pacientes receberam pontuação entre 27 e 30, o que corresponde à classificação na classe I, que tem como prognóstico indicativo para o desmame; 7 obtiveram pontuação entre 23 e 26, que corresponde à classificação II, que determina um prognóstico favorável de desmame e paciente com pontuação entre 20 e 22 sendo classificado como classe III, que tem como prognóstico desfavorável para o desmame. Nenhum paciente recebeu pontuação menor ou igual a 19, sendo classificado como classe IV contraindicado para realização do desmame (Figura 1). Figura 1 - Distribuição da amostra segundo a classe do prognóstico do índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini aplicado em 13 pacientes internados na Unidade de terapia intensiva de um hospital de rede pública de Fortaleza/CE. Número de pacientes fração inspirada de oxigênio, frequência respiratória, saturação de oxigênio, PaCO2, PaO2, pressão inspiratória máxima, pressão suporte e idade, dando-se uma pontuação de 1 a 3 para cada uma das variáveis. A coleta dos dados foi realizada pelos profissionais que trabalham na referida UTI, que participaram do processo extubação do suporte ventilatório dos pacientes que passaram um período igual ou superior a 48 horas em ventilação mecânica. Foi realizado um acompanhamento dos doentes, para que no momento da extubação estes fossem agrupados de acordo com o total de pontos coletados com o auxílio da tabela do índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini, sendo classificados nas categorias: I (indicado), II (favorável), III (desfavorável) e IV (contraindicado). O desmame ventilatório foi realizado por meio do método da peça T, seguindo a rotina da UTI pesquisada. Após a extubação o resultado da categoria foi revelado para a equipe. Este foi dado como efetivo após 48 horas de extubação, sendo classificado como insucesso do desmame os pacientes que apresentaram quadros de troca gasosa deficiente, incapacidade na manutenção da respiração espontânea e fadiga muscular. Os dados obtidos foram analisados por meio de estatística descritiva, utilizando-se o programa Microsoft Excel 2003 e os resultados foram apresentados em valores percentuais e expostos na forma de gráficos. O estudo seguiu os princípios éticos e legais, de acordo com as recomendações da Resolução nº 196/96 do CNS, que estabelece os princípios para pesquisas em seres humanos [5], sendo aprovado pelo comitê de ética da instituição com o parecer de número 440/07. 191 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Classe I (27-30) Classe II (23-26) Classe III (20-23) Classe IV Ao se verificar o prognóstico determinado pelo índice com o sucesso ou insucesso após a extubação, pode-se detectar que 38,46% (n = 5) dos pacientes, que tiveram pontuação maior ou igual a 27, tiveram 100% de sucesso na extubação. Dos pacientes analisados, 53,85% (n = 7) tiveram pontuação entre 23 e 26, sendo classificado segundo o índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini como classe II (favorável), desses, apenas 1 paciente (14,28%) retornou a ventilação mecânica, ou seja, não obteve sucesso após a extubação, o que representa 90,91% (n = 6) de efetividade no processo de extubação. Dos pacientes analisados, apenas 1 paciente obteve pontuação entre 20 e 22, que corresponde à classe III no índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini, o que sugere um prognóstico desfavorável. O desmame foi realizado neste paciente, porém após a extubação o paciente apresentou dispneia grave e necessitou da reintubação. Detectamos que nenhum paciente da amostra atingiu pontuação menor ou igual a 19, que corresponde no índice à classe IV, sugerindo a contraindicação da realização do processo de extubação. Dos treze pacientes avaliados, 15,38% (n = 2) apresentaram complicações, que foram fadiga e dispneia grave, e retornaram para ventilação artificial. A pontuação verificada nestes pacientes foi de 23 (classe II) e 20 (classe III), respectivamente. O restante dos pacientes (84,6%) apresentou leve ou nenhum desconforto respiratório. Discussão O estudo dos idealizadores do índice de Ferrari e Tadini [4] afirma que este preconiza que pacientes classificados na classe I, com pontuações entre 27 e 30, têm como efetividade 99% dos casos, fato esse semelhante ao encontrado no presente estudo, que constou de 100% de eficácia nos pacientes que foram alocados nesta classificação. Na presente pesquisa apenas dois pacientes retornaram a ventilação mecânica, ou seja, não obtiveram sucesso após a extubação, o que representa 90,91% (n = 6) de efetividade no processo de extubação. Tal feito é semelhante ao estudo 192 de Ferrari-Tadini [4], o qual relata que para esta mesma população estudada, a efetividade da retirada da ventilação mecânica foi de 66,7% dos casos. Quanto aos pacientes analisados que tiveram pontuação entre 20 e 22, classificado na classe III no índice de desmame ventilatório Ferrari-Tadini, que corresponde a um prognóstico desfavorável, foi observado, após a extubação, que o paciente apresentou dispneia intensa e necessitou retornar ao suporte ventilatório artificial. O índice de respiração rápida e superficial estudado por Tobin e Yang [6] apresenta poder preditivo negativo igual a 98% e preditivo positivo igual a 78%. Em nosso estudo apesar da amostra ser relativamente pequena, podemos observar tal feito. Neste caso o índice desmame ventilatório Ferrari-Tadini também apresentou falha em dois casos. Listello et al. [7] destacam que 79% de causas de reintubação ocorrem por fadiga muscular. O estudo de José e colaboradores [8] aponta que as principais complicações encontradas são: hipoxemia, falência da bomba muscular respiratória devido à hiperinsuflação, atrofia muscular respiratória, disfunção diafragmática, fadiga muscular respiratória e fatores psíquicos. A literatura aponta que existem mais de 50 índices descritos, porém apenas alguns auxiliam significativamente, com mudanças em relação à tomada de decisões clínicas quanto à probabilidade de sucesso ou fracasso de desmame [3]. Tais índices são baseados em parâmetros fisiológicos como a força e endurance muscular respiratória e os índices combinados [9,10]. Vallverdú [11] defende que a busca por índices fisiológicos capazes de predizer, acurada e reprodutivamente, o sucesso do desmame ventilatório ainda não chegou a resultados satisfatórios. Epstein e colaboradores [12] afirmam que os índices fisiológicos preditivos de desmame pouco auxiliam na decisão de iniciar ou não períodos de respiração espontânea, ou na redução da taxa de suporte ventilatório. O autor complementa que se devem acrescentar dados preditivos à avaliação clínica do desmame, possibilitando uma redução das taxas de fracasso de desmame e extubação e menor tempo de ventilação mecânica. Desta forma, os resultados encontrados no presente estudo poderão contribuir com esta realidade, haja vista sua utilização ser aplicada a partir de parâmetros fisiológicos, gasométricos e hemodinâmicos. Seguindo essa linha de pensamento, novas pesquisas devem ser realizadas a fim de inserir, em um futuro próximo, o índice de Ferrari-Tadini no manejo do desmame da ventilação mecânica. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Conclusão Concluímos que o índice de desmame ventilatório FerrariTadini demonstrou ser eficaz para avaliar o momento da extubação e eficiente em prever o sucesso para a extubação na amostra estudada, que ocorreu em 84,62% dos casos. Referências 1. Costa AD, Rieder MM, Vieira SRR. Desmame da ventilação mecânica utilizando pressão de suporte ou tubo T: comparação entre pacientes cardiopatas e não cardiopatas. Arq Bras Cardiol 2005;85(1):32-28. 2. Machado MGR. Bases da fisioterapia respiratória: terapia intensiva e reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 3. Goldwasser R, Farias A, Freitas EE, Saddy, F, Amado V, Okamoto VN. Desmame e interrupção da ventilação mecânica. Rev Bras Ter Intensiva 2007;19(3):384-92. 4. Ferrari D, Tadine R. Índice de desmame ventilatório: IDV Ferrari-Tadini [online]. [citado em 2008 Mai 25]. Disponível em URL: http://www.sobrati.com.br/trabalho3-jan-2004.htm. 5. Brasil. Resolução CNS nº 196, de10 de outubro de 1996. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, Brasília, n.201, Seção 1, p.21 082, 16 out. 1996. 6. Yang KL, Tobin MJ. A prospective study of indexes predicting the outcome of trials of weaning from mechanical ventilation. N Engl J Med 1991;324(21):1445-50. 7. Listello DS. Unplanned Extubation: clinical predictors for reintubation. Chest 1994;105(5):1496-503. 8. José A, Dias EC, Santos VLA, Chiavone PA. Valor preditivo dos gases arteriais e índices de oxigenação no desmame da ventilação mecânica. Rev Bras Ter Intensiva 2001;13(2):50-57. 9. MacIntyre NR, Cook DJ, Ely EW Jr, Epstein SK, Fink JB, Heffner JE et al. Evidence-based guidelines for weaning and discontinuing ventilatory support: a collective task force facilitated by the American College of Chest Physicians; the American Association for Respiratory Care; and the American College of Critical Care Medicine. 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M.Sc.**, Alberto Nigro Filho, Ft.*** *Coordenadora do Curso de Fisioterapia da Universidade Ibirapuera – UNIb, São Paulo/SP, **Doutorando em Ciências com área de concentração em Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da USP/SP, ***Ex-aluno da Universidade Ibirapuera – UNIb, São Paulo/SP Resumo Abstract Lombalgia é um termo genérico para dores na coluna vertebral lombar. A lombalgia não é uma doença, mas um sintoma, muito comum, ocasionado por uma ou várias doenças da coluna vertebral. O objetivo do presente estudo foi avaliar a influência dos exercícios de fortalecimento de extensores de tronco em indivíduos com lombalgia crônica. Foram avaliados 15 indivíduos sedentários, de ambos os sexos, divididos aleatoriamente em dois grupos: Grupo 1 - oito pacientes que realizavam exercícios de fortalecimento de extensores de tronco, e Grupo 2 - sete pacientes que não realizavam exercícios de fortalecimento de extensores de tronco. Obtivemos, como resultado, melhora significativa isolada e entre os grupos na amplitude de movimento, na resposta aos testes especiais e na limitação funcional, porém concluímos que os exercícios de fortalecimento de extensores de tronco não influenciaram significativamente na melhora da dor lombar. Low back pain is a generic term for pain in the region of the lumbar spine vertebrae. The low back pain itself is not a disease but, rather, a very common symptom caused by one or more disorders of the spine. The purpose of the present study was to evaluate the effect of exercises to strengthen trunk extensor muscles in individuals with chronic low back pain. We evaluated 15 sedentary individuals of both genders, divided randomly into two groups: Group 1 - eight patients who underwent strengthening exercise of trunk extensors, and Group 2 - seven patients who did not perform strength exercise of trunk extensors. The results showed a significant improvement inter and intra-group in patients range of movement, in their response to specific tests and in their functional limitation; nevertheless, the current findings led to the conclusion that exercises designed to strengthen trunk extensor muscles resulted in no significant improvement in low back pain. Palavras-chave: dor lombar, fisioterapia, força muscular. Key-words: low back pain, physical therapy, muscle strength. Recebido em 18 de janeiro de 2011; aceito em 2 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Luciana Baltazar Dias, Rua dos Camarés, 150/13 bloco 1 Carandiru 02068-030 São Paulo SP, E-mail: lubaldias@ hotmail.com, Guilherme Carlos Brech, E-mail: [email protected] 194 Introdução Lombalgia é um termo genérico para dores na altura da coluna vertebral lombar. A lombalgia não é uma doença, mas um sintoma, muito comum, ocasionado por uma ou várias doenças da coluna vertebral. Para facilitar a compreensão, essas doenças podem ser divididas de acordo com os principais mecanismos ou causa de desenvolvimento: degenerativas (osteoartrose ou espondiloartrose), inflamatórias (espondilites), infecciosas (tuberculose), metabólicas (osteoporose), neoplásicas (tumores primários e secundários) e posturais (hiperlordose e escoliose) [1]. Excesso ou falta de esforço físico pode gerar danos à mecânica osteomioarticular. A atividade física pode combater agravos crônicos, degenerativos, cardiovasculares e metabólicos. A inatividade, a aptidão musculoesquelética deficiente e a ocupação que sobrecarregue a lombar são fatores de risco na prevalência da lombalgia [2]. Músculos fracos podem se tornar isquêmicos, fadigando rapidamente, provocando desalinhamento e consequentemente lesões, pois pessoas fracas fazem mais força para realizar tarefas, ficando mais expostas. Deficiência muscular sobrecarrega outras estruturas, diminuindo a coordenação do movimento correto. A inatividade diminui a amplitude de movimento, causando rigidez articular e dor [2]. A hipotonicidade proveniente do desuso, a permanência prolongada em determinadas posições, ou mesmo a fadiga pelo gesto repetitivo, causam uma transferência excessiva de carga aos constituintes da coluna, provocando dor [3]. A relação abdome fraco versus tronco pouco flexível pode provocar distúrbios musculoesqueléticos na região lombar [3]. A atrofia muscular decorrente da lombalgia mecânica não apresenta remissão espontânea e pode ser responsável pela recidiva em grande porcentagem dos casos [4]. Exercícios resistidos aumentam a resistência à fadiga, diminui o risco de lesões, desde que sejam executados com volumes e intensidades controlados [2]. O exercício contra resistência, ao contrário de muitas modalidades passivas de tratamento, possui efeito clinicamente testado na reabilitação da dor crônica lombar, e o trabalho com pesos livres, sobretudo envolvendo grandes grupamentos, tem o potencial de contribuir para um aumento da estabilização dinâmica da coluna [3]. É necessário exercitar-se para aumentar a resistência dos músculos que suportam a coluna, sendo que estabilidade lombar não consiste em ganhar força, e sim resistência destes músculos associada à co-contração dos músculos abdominais [5]. No planejamento dos programas de reabilitação dos doentes com lombalgia crônica devem ser incluídos exercícios específicos para fortalecimento dos músculos extensores do tronco, quando identificada a deficiência dos mesmos. Os exercícios de extensão devem ser evitados quando agravam os sintomas dolorosos em doentes com Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 estenose do canal raquidiano, espondilolistese ou escoliose moderada. Portanto exercícios específicos para a recuperação destes músculos devem ser prescritos, com exercícios isométricos breves e/ou isométricos em ângulos múltiplos de flexão de tronco [4]. Objetivo O presente estudo teve a finalidade de avaliar a influência dos exercícios de fortalecimento de extensores de tronco em indivíduos com lombalgia crônica e verificar se há melhora da resistência muscular e da limitação funcional em pacientes com lombalgia crônica após o protocolo de tratamento proposto. Material e métodos Trata-se de um estudo prospectivo randomizado longitudinal. Foram avaliados 15 indivíduos sedentários de ambos os sexos, divididos aleatoriamente em dois grupos: Grupo 1 – oito pacientes que realizavam fortalecimento de extensores de tronco, e Grupo 2 – sete pacientes que não realizavam fortalecimento de extensores de tronco, todos selecionados da lista de espera da Clínica da Universidade. Foram incluídos pacientes que apresentassem sintomas de lombalgia crônica gerada pelas doenças: hérnia de disco, osteoartrose e/ou espondilolistese, que não tivessem realizado cirurgia da coluna vertebral ou da região abdominal, que não apresentassem deformidades estruturadas na coluna vertebral, sinais e sintomas de compressão nervosa e hipertensão arterial sistêmica, que não utilizassem medicação psicotrópica e não estivessem participando de outro processo de reabilitação simultâneo. Foram excluídos indivíduos que apresentassem dor ou lesões incapacitantes para a realização de exercícios físicos. Esses indivíduos foram avaliados nos seguintes critérios: a. Classificação da dor pela Escala Visual Analógica (EVA); b. Avaliação da Amplitude de Movimento (ADM) com o goniômetro: flexão, extensão, flexão lateral e rotação de tronco; c. Teste de Shöuber, Teste de Sentar e Alcançar (para avaliar a flexibilidade), Teste de Thomas, Teste de Piriforme e Teste de Resistência Abdominal e Flexão/Extensão de Braços; d. Avaliação postural; e. Questionário de Rolland Morris. Os dois grupos realizaram exercícios de um protocolo proposto: exercícios de alongamento (cadeia posterior, isquiotibiais, piriforme, adutores de quadril, abdutores de quadril, extensores de tronco, quadríceps, iliopsoas, inclinadores laterais de tronco, cadeia anterior e cadeia posterior de tronco e membros inferiores), exercícios de fortalecimento (abdominal – reto, transverso, oblíquos e inferior, ponte lateral) e exercícios de relaxamento. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 O grupo 1, além destes exercícios, realizou exercícios de fortalecimento de extensores de tronco. O protocolo foi composto por 22 sessões, sendo realizadas 2 sessões por semana, totalizando, então, 11 semanas de tratamento. Da primeira à décima primeira sessão os exercícios de alongamento tiveram uma sequência de 3 séries de 30 segundos cada. Já os exercícios de fortalecimento tiveram frequência de 2 séries de 15 repetições cada. Da décima segunda à vigésima segunda sessão, os exercícios de alongamento tiveram uma sequência de 2 séries de 30 segundos cada e os exercícios de fortalecimento 3 séries de 15 repetições cada. O presente estudo seguiu os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Ibirapuera, com número de protocolo 284/07. Análise estatística Inicialmente foi realizada estatística descritiva das variáveis numéricas utilizadas e mediadas de frequências das variáveis categóricas. Para inferência estatística foi utilizado Teste Exato de Fisher para comparação das variáveis categóricas, Teste de Wilcoxon para a comparação dos momentos inicial e final dentro dos grupos e Teste de Mann-Whitney para comparação entre os grupos. Nos testes de hipótese foi fixado nível de significância de 0,05. Resultados Foram avaliados 15 indivíduos, sendo 8 do Grupo com fortalecimento para extensores de tronco (Grupo 1) (2 mulheres e 6 homens) e 7 do Grupo sem fortalecimento de extensores de tronco (Grupo 2) (4 mulheres e 3 homens). A média de idade do Grupo 1 foi 49,1 (± 9,1) anos e do Grupo 2 foi 43,3 (± 6,1) anos, não havendo diferença entre os grupos (p = 0,63). Em relação à dor lombar e atividade física, 100% dos pacientes em ambos os grupos relataram dor e não realizavam atividade física. Comparação dentro do Grupo 1 A média de pressão sistólica foi de 113,0 (± 14,1) e da pressão diastólica foi de 78,8 (± 7,8). Na avaliação postural anterior, lateral direita, lateral esquerda e posterior do Grupo 1 nos momentos inicial e final foi observado diferença na avaliação postural anterior no item Inclinação da Pelve (p = 0,04). Observou-se que houve diferença em relação ao Teste de Piriforme Esquerdo (p = 0,04) e no Questionário Rolland Morris (p = 0,0001) (Tabela I). 195 Tabela I - Comparação da intensidade da dor, dos testes de Thomas, Piriforme, Abdominais, Flexão/Extensão e Questionário Roland Morris entre os momentos inicial e final. Inicial N Final N P 4 4 6 2 0,61 1 7 0 8 0,47 0 8 0 8 1,00 3 5 1 7 0,29 5 3 1 7 0,04* 1 7 0 8 0,47 Flexão/Extensão Fraco a Médio Bom a Ótimo 5 3 3 5 0,34 Questionário Rolland Morris Sim Não 99 69 48 120 0,0001* Intensidade da dor Ausente a Moderada Intensa a Insuportável Thomas Direito Positivo Negativo Thomas Esquerdo Positivo Negativo Piriforme Direito Positivo Negativo Piriforme Esquerdo Positivo Negativo Abdominais Fraco a Médio Bom a Ótimo Teste Exato de Fisher; *p ≤ 0,05 Tabela II - Comparação do teste de Shöuber e da Goniometria entre os momentos inicial e final. Teste de Shöuber Inicial Final Flexão Lateral Esq. Inicial Final Flexão Lateral Dir. Inicial Final Rotação Esquerda Inicial Final Rotação Direita Inicial Final Flexão Inicial Final Extensão Inicial Final Sentar e Alcançar Inicial Final Mín. Média(dp) Máx. P 10,5 12,0 13,8(± 2,9) 13,8(± 1,4) 20,0 16,5 0,88 8 12 19,6(± 10,4) 21,7(± 6,9) 38 30 0,12 10 10 20,7(± 8,2) 23,7(± 6,9) 36 32 0,49 10 20 26,1(± 9,1) 29,0(± 4,2) 38 40 0,49 10 20 24,8(± 9,2) 30,8(± 8,6) 40 48 0,05* 20 68 60,1(± 20,9) 76,7(± 11,1) 95 96 0,05* 14 14 21,8(± 7,2) 25,5(± 7,2) 38 39 0,24 0 60 145,78(±65) 143(± 61) 220 220 0,03* Teste de Wilcoxcon;*p ≤ 0,05 196 Conforme apresentado na Tabela II, observou-se que houve diferença no Grupo 1, entre os momentos inicial e final, em relação à goniometria nos itens Rotação Direita (p = 0,05) e Flexão (p = 0,05). Comparação dentro do Grupo 2 A média de pressão sistólica foi de 112,2 (± 20,4) e da pressão diastólica foi de 76,7 (± 12,5). Observou-se que houve diferença no Grupo 2, entre os momentos inicial e final, nos Testes de Thomas Direito e Piriforme Esquerdo (p = 0,03) e no Questionário Rolland Morris (p = 0,0001). Entretanto, quanto às variáveis: intensidade da dor; Teste de Thomas Esquerdo; Piriforme Esquerdo e Direito; a resistência dos músculos abdominais e o Teste de flexão e extensão dos braços, não houve diferença. Pode-se observar que houve diferença no Grupo 2, entre os momentos inicial e final, somente no Teste de Shöuber (p = 0,01), na Goniometria de Flexão Lateral Esquerda (p = 0,04) e na Extensão (p = 0,02). Na avaliação postural anterior, foi observado diferença apenas na avaliação postural anterior, no item Ângulo de Talles (p = 0,02). Comparação entre os grupos no momento inicial Na comparação da intensidade da dor, dos testes de Thomas, Piriforme, Abdominais, Flexão/Extensão e Questionário Rolland Morris no momento inicial, observou-se que houve diferença entre os grupos somente no Teste de Thomas Esquerdo (p = 0,04). Em relação ao Teste de Shöuber e Goniometria, não houve diferença entre os grupos. Comparação entre os grupos no momento final Já na comparação da intensidade da dor, dos testes de Thomas, Piriforme, Abdominais, Flexão/Extensão e Questionário Rolland Morris no momento final, observou-se diferença entre os grupos no momento final no Teste de Thomas Direito e Esquerdo (p = 0,001). Quanto à goniometria, houve diferença entre os grupos somente na Goniometria de Flexão Lateral Esquerda (p = 0,04). Na avaliação postural, entre os grupos não foi observado diferença significante. Discussão Este estudo verificou que o paciente com lombalgia crônica apresenta: dor, desvios posturais, diminuição da amplitude de movimento da coluna lombar, limitação funcional e baixa resistência ao exercício [2,6]. De acordo com essas manifes- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 tações apresentadas, o programa de tratamento teve como princípio a melhora da resistência física principalmente dos músculos responsáveis pela estabilidade da coluna lombar, utilizando exercícios de alongamento e fortalecimento muscular, executados por dois grupos que diferenciavam entre si no fortalecimento dos músculos responsáveis pela extensão de tronco executados pelo Grupo 1. Como resultado, obtivemos melhora significativa isolada e entre os grupos na amplitude de movimento, na resposta aos testes especiais e na limitação funcional. Pudemos constatar que indivíduos que antes apresentavam resistência e dor a alguns testes especiais obtiveram melhora significativa na amplitude de movimento da região lombar, nos momentos de flexão e rotação de quadril, associados ou não a flexão anterior de tronco. Coechinc et al. [7] e Lewis et al. [8] sugerem que avaliar a confiabilidade de testes especiais, utilizando os testes de Shöuber, Resistência Abdominal e de Flexão/Extensão de braços e a avaliação física nos pacientes que apresentam dor na região lombossacra, além de exames de força muscular, é de fundamental importância serem realizados antes e após o tratamento. Como parte do protocolo proposto por este estudo, os pacientes foram aconselhados a manter a rotina de treinamento dos exercícios em casa, para obter melhor resultado com a terapia. Para isto, foram orientados como executar os exercícios com segurança no ambiente doméstico. Observou-se neste estudo que, após tratamento, os indivíduos melhoraram significativamente na flexibilidade da coluna lombar, comprovada pela goniometria, pela avaliação postural e pela limitação funcional. Este estudo teve o mesmo interesse de avaliar a força muscular dos participantes dos grupos, para confrontar os resultados antes e após o tratamento, estando de acordo com Oliveira & Egypto [2], os quais descrevem que a relação abdome fraco versus tronco pouco flexível pode provocar distúrbios musculoesqueléticos na região lombar e exercícios resistidos aumentam a resistência à fadiga, diminuem o risco de lesões, desde que sejam executados com cargas e intensidades controladas. Alexandre & Moraes [9] indicam as atitudes antálgicas, abdome flácido, presença de escoliose estruturada ou não, goniometria, alterações do tônus, zonas dolorosas, avaliação da força muscular e flexibilidade (liberdade de movimento) e Lopes et al. [10] avaliaram a força muscular de abdominais e extensores de coluna, realizada através de prova de função manual, onde seus resultados revelaram que a maioria dos pacientes obtiveram alguma melhora. Programas de estabilização da coluna e treinamento com bola terapêutica são indicados para diminuir o risco de recidivas de dor lombar. Ao manter a posição da coluna neutra, durante exercícios de estabilização e com bola, a resistência do tronco melhora porque está sendo treinado o tipo específico de fibra muscular para aumentar a resistência. O tratamento com bola pode ser uma intervenção adequada para diminuir a dor nas costas de indivíduos que trabalham em ocupações sedentárias [11]. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Mesmo não tendo apresentado melhora significativa na dor e na resistência física, acreditamos ter sido devido ao número pequeno de indivíduos, pela diferença de idade entre os participantes e pelo pouco tempo de aplicação do protocolo. Este estudo seguiu, pela aplicação de protocolo com utilização da bola terapêutica, utilizando exercícios de flexibilidade, força muscular e controle postural, como sugere estudo realizado por Freitas [12], citando a necessidade dos sincronismos entre a musculatura tônica (equilíbrio estático), a musculatura fásica (mobilidade), músculos superficiais que unem a coluna aos membros e que possuem a maior mobilidade, músculos intermediários juntamente com os da respiração, músculos profundos (movimento e postura) próximos ao eixo rotacional, músculos intrínsecos superficiais (eretor-espinhal, longuíssimo e ílio costal que é o principal extensor) e músculos intrínsecos profundos (rotadores, multífidos e elevadores das costelas). O protocolo de tratamento proposto por este estudo está de acordo com a literatura, por ter como objetivo, o fortalecimento dos músculos que estabilizam o tronco tanto com contrações concêntricas como também excêntricas associados aos músculos respiratórios, que propiciam maior conforto e segurança na execução dos exercícios, pois para Hermann & Barnes [13] as contrações excêntricas utilizando os músculos extensores do tronco resultam em níveis mais altos de atividade eletromiográfica nos multífidos. Para Gonçalves & Barbosa [14] esta modalidade de tratamento não fadiga ou sobrecarrega os elementos passivos (cápsulas, ligamentos e discos intervertebrais), responsáveis pela estabilidade da coluna vertebral durante execução de padrões de movimento específico, não produzindo dor. As revisões da literatura recentes têm concluído que o exercício é uma terapia segura e eficaz para melhorar a flexibilidade, força, função e reduzir a dor nos paciente com lombalgia crônica e que o programa de reabilitação deve ter a duração de pelo menos 6 semanas. Como afirmam Hennemann & Schumacher [15], o tratamento conservador apresenta bons resultados (em torno de 80-90%), devendo ser usado, pelo menos, de quatro a seis semanas, dependendo de vários fatores, principalmente da tolerância do paciente à dor e do comprometimento neurológico. Na fase tardia, em que o paciente apresenta apenas desconforto, é importante a manutenção da elasticidade e tônus muscular associada aos cuidados posturais. O protocolo de tratamento proposto adotou critérios semelhantes com a literatura pesquisada, no que diz respeito a tempo de sustentação dos alongamentos, do número de séries e repetições progressivas, da manutenção da posição neutra da região lombossacra e respiração controlada. Passos & Hubinger [16] afirmam que o tempo de manutenção do alongamento de 30 segundos com intervalo de 30 segundos entre as manobras é mais eficaz que os tempos de 15 e 60 segundos. Para Barr et al. [17], a habilidade de manter a coluna na posição neutra é essencial para que o programa 197 de estabilização seja realizado corretamente, utilizando-se para isso contração dos músculos transverso e multífidos sem utilizar musculatura acessória, o que é difícil para os pacientes crônicos que apresentam atrofia destes músculos. Liemohn et al. [18] citam que o controle neural permite ao indivíduo manter a região numa postura neutra dentro dos limites fisiológicos de cada um enquanto exercem suas AVDs. Exercícios de reabilitação podem reduzir a lombalgia, aliviar a inabilidade funcional e melhorar a força para manter a extensão do tronco. O descondicionamento é secundário à dor e espasmos musculares, sendo que a inibição reflexa dos músculos do tronco pode contribuir para a síndrome do descondicionamento [19]. Por se tratar de um estudo comparando e tratando grupos, pudemos perceber a dificuldade da adequação dos exercícios a todos os indivíduos. Mesmo apresentando queixas semelhantes, os pacientes diferenciavam entre si no grau de dor, força, flexibilidade e limitação funcional. Este fato pode ter influenciado nos resultados, já que observamos diferentes tempos de adaptação ao exercício que cada indivíduo apresentava, pela preferência pessoal a determinado exercício e também pelo fato de, inicialmente, os indivíduos questionarem se somente através do exercício eles iriam melhorar. Este fato foi observado por Lewis et al. [8] que citaram a dificuldade para o clínico escolher qual modalidade de exercício utilizar, já que exercícios aeróbios, fortalecimento global, exercícios de coordenação e específicos de estabilização podem apresentar resultados parecidos e, segundo Krismer & Tulder [20], o programa de condicionamento compreende exercícios diários ou no mínimo 4 vezes por semana de flexibilidade, aeróbio (caminhada, bicicleta, natação), coordenação, força/resistência muscular e medidas ergonômicas. Para Hubley-Kozey & Vezina [21], os pacientes com dor lombar crônica utilizam diferentes padrões de recrutamento muscular para realizar os exercícios, proporcionando prova de que a demanda neuromuscular é diferente para cada exercício, porém este estudo sugere que, pela observação clínica, alguns indivíduos não chegaram a uma intensidade de esforço suficiente para atingir resistência e força com os exercícios propostos, atribuída pela possibilidade do agravamento do quadro que alguns apresentavam. De acordo com as pesquisas anteriores, acredita-se que a melhora da dor lombar vem com o ganho de flexibilidade, do condicionamento global, do fortalecimento muscular e da estabilização do tronco na posição neutra em retroversão da pelve, objetivos estes que procuramos desenvolver com o protocolo de exercícios propostos. Segundo Lopes et al.[10], o tratamento ativo da lombalgia obteve maior êxito, reduzindo a dor e melhorando a resistência lombar em relação ao passivo e deve ser multidisciplinar. Gonçalves & Barbosa [14] demonstraram que após um episódio de dor lombar ocorre rápida atrofia dos músculos eretores da espinha lombar e que essa atrofia persiste mesmo após a regressão dos sintomas. 198 Com exercícios de força e resistência isométricos direcionados a esses músculos, a atrofia é reversível e a recorrência da dor lombar é reduzida. Embora exercícios gerais do corpo inteiro sejam incentivados, o paciente que permanece ativo tem maior benefício para dor lombar baixa [22,23]. Os exercícios mais específicos, como os utilizados neste estudo, foram desenvolvidos para eleger os músculos que são associados com a estabilidade lombo-pélvica com o objetivo de tornar mais eficaz os programas de tratamento reduzindo a lombalgia, aliviando a inabilidade funcional e melhorando a força para manter a extensão do tronco, porém somente a limitação funcional obteve melhora significativa. O descondicionamento é secundário à dor e aos espasmos musculares, sendo que a inibição reflexa dos músculos do tronco pode contribuir para a síndrome do descondicionamento [21,24]. Uma revisão sistemática concluiu que exercícios de fortalecimento de extensores de tronco não são eficazes na fase aguda, porém são eficazes na fase crônica [25]. Este estudo observou que os pacientes com dor lombar crônica respondem bem aos exercícios, desde que não estejam em um momento de agudização dos sinais e sintomas, em que a tolerância à dor e aos exercícios está diminuída, pois para Danneels et al. [26], a perda da força, resistência, coordenação, propriocepção e diminuição do trofismo acentuam-se nestes períodos. Também Sung [27] afirma que pessoas com dor têm redução da força e resistência, o que compromete a função da coluna, que aumenta a probabilidade de lesões. Estabilização de coluna crê-se que seja um importante fator em programas de exercícios saudáveis para as costas. Pesquisadores têm relatado que indivíduos com dor nas costas podem ter déficit do controle motor que afeta a sua capacidade para mover os músculos que estabilizam a coluna. Manter o controle segmentar da coluna confirma a necessidade de um programa de estabilização da coluna servindo para diminuir o risco de dor nas costas [11,28]. Referente à dor, os achados do presente estudo não estão de acordo com a literatura, pois não houve diferença significativa individual ou entre os grupos, apesar de ambos apresentarem melhora clínica, que pode ser observada no dia a dia das sessões, principalmente nos indivíduos que seguiram o protocolo de fortalecimento de extensores do tronco, onde houve adesão integral ao tratamento, havendo poucas desistências, faltas e por se mostrarem mais satisfeitos com a terapia, fato que também foi observado no outro grupo, porém em menor intensidade. Acredita-se, porém, que a melhora seja devida à saída do indivíduo da inatividade, às orientações dadas informalmente durante a aplicação do protocolo, à melhora da resistência muscular e ao controle postural. Acreditamos ser importante a inclusão da fisioterapia para redução dos sinais e sintomas da lombalgia, pois ela trouxe melhora significativa da amplitude de movimento da coluna lombar, da limitação funcional, da resistência ao exercício e da melhora clínica da dor em pacientes com lombalgia crô- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 nica, submetidos a um programa de tratamento, envolvendo exercícios de fortalecimento, flexibilidade e relaxamento. Conclusão Este estudo nos permitiu concluir que os exercícios de fortalecimento de extensores de tronco não influenciaram significativamente na dor dos indivíduos tratados pelo protocolo proposto, porém apresentou melhora significativa na amplitude de movimento da coluna lombar, na limitação funcional e na resistência ao exercício. Referências 1. Miranda JB, Neto JFM. A coluna. São Paulo: Contexto; 1998. 2. Toscano JJO, Egypto EP. A influência do sedentarismo na prevalência de lombalgia. 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Arch Phys Med Rehabil 2009;90:118-26. 200 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Artigo original Efeito da própolis na prevenção de lesões na epiderme induzidas pela radiação UVB em camundongos Balb/c Effect of propolis in the prevention of injury in epidermis induced by UVB radiation in mice Balb/c Lamara Laguardia Valente Rocha, D.Sc.*, Bárbara Dutra da Silva Luz**, Douglas Augusto Machado da Silveira**, Michele Braz dos Santos**, Luiz Henrique Laguardia Rocha***, Silvia Laguardia****, Mario Antônio Baraúna, Ft., D.Sc.*****, Marcus Vinicius de Mello Pinto, Ft., D.Sc.***** *Laboratório de Morfologia, Instituto de Ciências da Saúde, Unidade II, Centro Universitário de Caratinga/MG, **Laboratório de Morfologia, Centro de Estudos em Biologia, Unidade II, Centro Universitário de Caratinga/MG, ***Graduando do curso de Medicina, UNEC, Unidade II, Centro Universitário de Caratinga/MG, ****Graduanda do curso de Medicina, UNINCOR, Campus BH, Belo Horizonte/MG, *****Núcleo de Tratamento das Desordens Craniofaciais e Reparo Tecidual da Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis/RJ Resumo Abstract Parcela cada vez maior de pessoas se expõe à radiação ultravioleta sem a devida proteção, no entanto, essa radiação quando excessiva causa uma quebra na homeostasia existente na pele, podendo causar vários danos, entre outros o câncer de pele. O objetivo deste estudo experimental foi avaliar a possível ação da própolis na prevenção do fotoenvelhecimento induzido através da radiação ultravioleta B, a partir de alterações estruturais da epiderme de camundongos Balb/c. Foram utilizados 42 camundongos machos, pesando em média 28 g, distribuídos em 6 grupos experimentais: Controle; Radiação ultravioleta b; Creme com 25% de própolis; Creme com 50% de própolis; Creme com 25% de própolis + Radiação ultravioleta B; Creme com 50% de própolis + Radiação ultravioleta B. Praticou-se a tricotomia, e em seguida os animais receberam os tratamentos no período de seis semanas. Ao fim do período os grupos foram submetidos à eutanásia, para a coleta da pele. Todo o material foi fixado e destinado à inclusão em parafina e microtomia. As lâminas com os cortes de pele foram coradas por hematoxilina-eosina. A análise histológica revelou que o creme de própolis atenuou significativamente os danos causados pela radiação ultravioleta B, demonstrando um efeito de proteção contra o fotoenvelhecimento. An increasing number of people are exposed to ultraviolet radiation without protection, however, excessive exposure to radiation determine a breakdown in homeostasis in the skin, causing severe damage, including skin cancer. The aim of this study was to evaluate the effect of propolis in the prevention of photoaging induced by ultraviolet B radiation from structural in the epidermis of mice (Balb/c). We used 42 male mice, weighing on average 28 g, divided into 6 experimental groups: control; irradiated with UVB and non-treated; treated with propolis cream 25% and non-irradiated; treated with propolis cream 50% and non-irradiated; irradiated with UVB and treated with propolis cream 25%; irradiated with UVB and treated with propolis cream 50%. The animals were shaved and treated within six weeks. At the end of the period the groups were euthanized to harvest the skin. All material was fixed and included in paraffin for microtomy. Slides with sections of skin were stained with hematoxylin-eosin. Histological analysis revealed that the cream of propolis significantly attenuated the damage caused by ultraviolet B, demonstrating a protective effect against photoaging. Key-words: photoaging, skin, ultraviolet B radiation and propolis. Palavras-chave: antioxidante, epiderme, radiação ultravioleta, própolis. Recebido em 25 de janeiro de 2011; aceito em 15 de março de 2011. Endereço para correspondência: Lamara Laguardia Valente Rocha, Av. Moacir de Matos no, 36 Vila Onze 35300-100 Caratinga MG, Tel: (33) 3321-3675, Email: [email protected], Marcus Vinicius de Mello Pinto, [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Introdução Pesquisas recentes apontam que parcela cada vez maior de pessoas se expõe excessivamente ao sol em horários impróprios e sem efetiva proteção solar, muitas vezes sem considerar os efeitos que a radiação ultravioleta (RUV) pode ter como o fotoenvelhecimento e o câncer de pele [1,2]. Outro fator que tem contribuído para aumento do risco à saúde, promovido pela RUV, relaciona-se ao problema ambiental gerado pela ação antrópica, que tem contribuído para a destruição da camada de ozônio, expondo os seres vivos, inclusive o homem, a seus efeitos deletérios. A luz solar é a principal fonte de radiação que nos envolve. A radiação ultravioleta da luz solar é crucial para a síntese de vitamina D na pele e em outros aspectos fisiológicos da vida humana. Entretanto, estas radiações são formas de energia que, quando interagem com a matéria viva, produzem efeitos biológicos diversos. O resultado da interação luz e pele determina efeitos nocivos causados pelo estresse oxidativo, ocasionando uma variedade de efeitos patológicos, como queimaduras, mudanças de pigmentação da pele, alterações imunológicas e neoplasias [3-5]. Podendo ser dividida em três categorias a radiação ultravioleta (UV) da luz solar é classificada, dependendo do comprimento de onda em: UVC, 200-280 nm; UVB, 280-315 nm; UVA, 315-400 nm. A camada de ozônio estratosférica tem capacidade de bloquear comprimentos de onda menores de 290 nm, filtrando cerca de 70-90% da radiação UVB (RUVB). No entanto, em um estudo feito por Frederick [6], desde 1970, verifica-se uma diminuição substancial na camada de ozônio com um aumento do alcance da RUVB na superfície da Terra, o que foi particularmente percebido na Antártida. Assim como revisado por Okigami [7] inúmeros estudos têm demonstrado que uma das principais causas dos danos causados pela radiação é a produção de radicais livres (RL). Oxidações químicas e enzimáticas envolvendo a formação de RL aceleram esse fenômeno de envelhecimento. Os RL são espécies químicas constituídas de um átomo ou associação dos mesmos, possuindo um elétron desemparelhado na sua órbita mais externa. Essa situação implica em alta instabilidade energética e cinética, e para se manterem estáveis precisam doar ou retirar um elétron de outra molécula. A formação de RL conduz ao estresse oxidativo, processo no qual estes iniciarão uma cadeia de reações, originando alterações em proteínas extracelulares e a modificações celulares. Para evitar esse processo de depleção celular, a pele possui seu próprio mecanismo de defesa, entretanto, a capacidade protetora diminui com o envelhecimento [8]. A pele protege o organismo contra substâncias lesivas e contra a dessecação, auxilia na regulagem da temperatura corpórea, excreta água, gordura e algumas outras substâncias. Consiste em duas partes principais: a epiderme e a derme. A epiderme, por ser a camada mais superficial da pele, funciona como interface entre o indivíduo e o meio ambiente. Deri- 201 vada do ectoderma, ela é constituída por epitélio escamoso estratificado queratinizado e claramente separada em quatro camadas: camada germinativa ou basal, camada espinhosa, camada granulosa e camada córnea. As células indiferenciadas da camada basal deslocam-se em direção à camada córnea, transformando-se em células bem diferenciadas e completamente queratinizadas [9]. A repetida exposição da pele ao UVB resulta em um fenótipo de pele envelhecida, incluindo aumento significativo da espessura da epiderme, formação de rugas e diminuição da elasticidade [10-12]. O método mais efetivo de prevenir o fotoenvelhecimento e suas malignidades é evitar a exposição direta aos raios ultravioleta, fazendo uso de barreiras físicas como chapéu e vestuário adequado e uso de protetores solares. O uso diário do filtro solar é o principal caminho para evitar os efeitos danosos da radiação não só no retardo da instalação do fotoenvelhecimento, mas, principalmente, na prevenção de seu efeito mais temido, o câncer da pele [13]. Em decorrência do crescente aumento de doenças de pele relacionadas à exposição UV, faz-se necessária a avaliação da efetividade de novos princípios ativos com finalidade de proteção contra as radiações. A aplicação tópica ou oral de antioxidantes representa uma estratégia interessante de proteção cutânea contra o estresse oxidativo ocasionado por diferentes agentes. Além da reposição utilizando moléculas endógenas, buscam-se novas substâncias com ação antioxidante, bem como outras que irão aumentar direta ou indiretamente os níveis endógenos dos antioxidantes [14]. A própolis é uma substância resinosa colhida pelas abelhas melíferas de diferentes exudatos de plantas, tais como secreções de árvores, folhas e flores. Esta resina é utilizada pelas abelhas na proteção da colméia contra a proliferação de microrganismos, incluindo fungos e bactérias. Devido à grande variabilidade da flora brasileira, a composição química da própolis é extremamente complexa, possuindo muitos compostos fenólicos que apresentam como característica a atividade antioxidante [15,16]. Além disso, existem tipos de própolis diferentes como a verde, vermelho e marrom que segundo alguns autores, apresentam composição química variada e poder antioxidante diferenciado [17]. No entanto, não se tem completamente esclarecido a que se deve o efeito antioxidante da própolis, se somente aos compostos fenólicos que a compõem ou a ação conjugada de todos os vários ativos que a formam. Neste sentido, Teixeira e cols. [18] discutem a dificuldade em atribuir eficácia antioxidante para um número limitado de componentes de misturas complexas, tais como é o caso da própolis, pois sua ação contra RL pode ser resultante da sinergia entre seus componentes. Este trabalho, a partir da produção de um creme usado como veículo do extrato etanólico da própolis verde teve por objetivos avaliar sua possível ação no fotoenvelhecimento induzido através da RUV, a partir de alterações estruturais da epiderme de camundongos Balb/c. 202 Material e métodos Extrato de própolis verde Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 madamente 30ºC); 5) foram adicionados a mistura, silicone volátil (2,80%) e germal a 50% (0.85%) e homogeneizou-se novamente a mistura [23]. Amostras de 20 gramas da própolis verde triturada e homogeneizada foram transferidas para tubos de ensaio (25 x 180 mm). Em seguida, foram adicionados 250 ml de álcool de cereais a 70%, e feita a extração a 70ºC em banho de água por 30 minutos, sob agitação manual constante. Após a extração, as amostras foram centrifugadas a 1500 rpm por 10 minutos a 20ºC. Os sobrenadantes obtidos foram armazenados em tubos de ensaio do tipo falcon com tampa de rosca, em refrigerador. Optou-se pelo extrato de própolis a 70% de etanol por este apresentar maior atividade antioxidante [19]. Características organolépticas Avaliação da atividade antioxidante Grupos experimentais Para avaliação da atividade antioxidante do extrato obtido utilizou-se permanganato de potássio (KMnO4) como agente oxidante. Para determinar o índice de oxidação na própolis, foi retirado 1 ml da solução do extrato alcoólico de própolis e colocado em um tubo de ensaio. Adicionou-se na solução 1 ml de ácido sulfúrico 20%, agitando o tubo manualmente por 1 minuto, em seguida acrescentou-se 2 ml de permanganato de potássio 0,1 N. Com a ajuda de um cronômetro foi medido o tempo gasto para descolorir a solução de permanganato (mudança de coloração de roxo para amarelo), que determina o índice de oxidação. Na avaliação do índice de oxidação, valores de até 22 segundos indicam atividade antioxidante [20,21]. Foram utilizados 42 camundongos Balb/c machos, provenientes do Biotério da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com onze semanas de idade e aproximadamente 28 g e separados em grupos como mostra a Tabela I. Desenvolvimento da formulação tópica contendo extrato de própolis A formulação foi desenvolvida no laboratório de Farmacotécnica do Centro Universitário de Caratinga em parceria com a Universidade Católica de Petrópolis. Neste trabalho optou-se pela formulação de um creme água-em-óleo, por este apresentar como característica a diminuição da perda de água, aumentar a hidratação e, assim, aumentar a absorção percutânea [22]. Foram manipulados 200 g do creme contendo o extrato alcoólico própolis, sendo 100 g na concentração de 25% (creme A) e 100 g na concentração de 50% (creme B), por meio da seguinte técnica: 1) foram pesados todos os componentes da fase oleosa (F1) do creme nas seguintes proporções: cera não iônica (cosmowax) (15,70%), óleo mineral (vaselina líquida) (7,00%), propilparabeno (Nipazol) (0,10%) e BHT (0,07%), em seguida foram aquecidos até 80ºC; 2) foram pesados todos os componentes da fase aquosa (F2) nas seguintes proporções: metilparabeno (Nipagim) (0.20%), propilenoglicol (5,00%), EDTA (0,14%) e água destilada q.s.p., em seguida foram também aquecidos até 80ºC; 3) a F2 foi vertida sobre a F1, e em seguida, agitou-se lentamente; 4) as fases foram homogeneizadas até o momento do resfriamento (aproxi- A formulação em estudo foi observada durante um mês quanto as suas características de estabilidade de cor, homogeneidade e separação de fases. Sendo que a separação de fases foi testada frente à centrifugação, com o uso de 2 g de cada amostra (formulações com e sem extratos) e centrifugados a 3000 rpm por 30 minutos. O critério de aceitabilidade foi a não ocorrência de separação de fases. O teste foi feito em duplicata [24]. Tabela I - Grupos experimentais utilizados no estudo. Grupos experimentais 1. Controle 2. Não irradiado e tratado com o creme A 3. Não irradiado e tratado com o creme B 4. Irradiado e tratado com o creme A 5. Irradiado e tratado com o creme B 6. Irradiado com UV/B e sem tratamento Total Nº de animais 7 7 7 7 7 7 42 Os grupos de sete animais foram distribuídos em gaiolas de plástico, com água e alimento a vontade e ciclos de luz/escuro de 12 horas. Este experimento foi avaliado pela Comissão de Ética do Centro Universitário de Caratinga da Fundação Educacional de Caratinga. Indução de fotoenvelhecimento Os camundongos foram alojados em gaiola de plástico e submetidos à irradiação por uma lâmpada UV/B (Philips TL40W/ UV/B medical) a uma distância de 20 cm. O tratamento se iniciou dois dias após tricotomia e prolongou-se por 6 semanas. A administração do creme foi feita por passagem manual, 20 minutos antes da irradiação, tempo esse necessário para que o creme fosse em parte absorvido pela pele. Os animais dos grupos 2 e 4 foram tratados com creme A e os animais dos grupos 3 e 5 foram tratados com creme B. A radiação ultravioleta B (RUV/B) foi irradiada nos grupos 4, 5 e 6 três vezes na primeira semana por 1 min. O tempo de exposição foi posteriormente aumentado para 2 min, 3 vezes por semana na 2ª semana, 3 min, 3 vezes na 3ª semana e 4 min, 2 vezes na 4ª semana, e finalmente 3 min 7 vezes nas 5ª Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 e 6ª semanas. Os animais do grupo controle foram expostos a uma lâmpada normal para que fossem submetidos a estresse parecido com os que estavam sendo submetidos à RUV/B [11]. Obtenção de material histológico Os animais foram tratados durante 42 dias. Após esse período foram anestesiados com sobre-dose de Pentobarbital e, posteriormente, foi feita a retirada da pele na região dorsal mediana craniocaudal do animal medindo 2,0 cm de comprimento, que foi fixada em formol 10% tamponado por 24h. Posteriormente, foram transferidos para álcool 70% por mais 24h. Em seguida os fragmentos foram desidratados em álcool etílico em concentrações crescentes, diafanizados pelo xilol, impregnados pela parafina líquida em estufa regulada à temperatura de ± 58°C e finalmente incluídos em parafina. Os blocos foram cortados em micrótomo (Ek Micro, Eikonal do Brasil), ajustado para 7 micrômetros. Foi produzida uma lâmina para cada animal e em cada uma delas foram colocados cinco cortes. Em sequência, as lâminas foram submetidas à técnica de coloração pela hematoxilina-eosina (H.E). 203 Na avaliação da propriedade organoléptica do creme produzido observou-se que, ao final de trinta dias, houve modificações de cor e odor, separação de fases e formação de precipitados somente no creme B, o que inviabiliza a sua produção comercial por ter a sua estabilidade comprometida. Na análise macroscópica da pele dos animais foi observada hiperpigmentação no grupo experimental submetido à irradiação com UVB e sem a aplicação do creme de própolis (Figura 1). Figura 1 - Foto da pele dos animais ao fim do experimento podendose observar hiperpigmentação. Análise morfométrica Análises estatísticas (*) presentes somente no grupo que foi irradiado e não tratado com o creme. A. Controle; B. Tratados com Creme A + RUV/B; C. Tratados com Creme B + RUV/B; D. Só irradiados com RUV/B. Após a análise estatística foram encontradas diferenças significativas, para os parâmetros número de núcleos de células da epiderme e espessura desta camada pele na comparação feita entre os grupos controles e aqueles submetidos à RUV tratados com cremes de própolis. Figura 2 - Gráfico da variação média da espessura da epiderme de camundongos Balb/c (n= 42) dos diferentes grupos experimentais. 300 Espessura (μm) Para a morfometria foram fotografados 15 campos para cada lâmina de cada um dos 42 animais. Assim, foram obtidas três fotos em campos aleatórios em cada um dos cinco cortes da lâmina do animal. Estas imagens foram capturadas por um sistema utilizando câmera adaptada ao microscópio (Ken-a-vision 2103). Esta captura foi feita utilizando objetiva de 40x. As 15 imagens foram, então, analisadas em programa de análise de imagem (Image Pro-Plus, versão 4.0 - Media Cybertecnics). Neste programa avaliou-se em cada uma das 15 fotos de cada animal, através de retículo com 247 pontos, um total de 3705 pontos/animal. Foram considerados como parâmetros para análise o número de núcleos de células da epiderme e a espessura desta camada da pele. Para medir a espessura da epiderme, realizaram-se três medidas aleatórias, em cada uma das quinze fotos de cada animal, contabilizando o total de 45 medidas/animal. A espessura final da epiderme foi calculada como média destas 45 avaliações. 250 200 150 100 * 50 Os dados obtidos nas análises morfométricas foram submetidos à análise de variância Anova One Way, e as médias foram comparadas pelo teste Student-Newman-Keuls a 5% de probabilidade. 0 Controle Radiação CremeA CremeB Creme Creme UVB A+RUVB B+RUVB Grupos experimentais Para o teste de Newman Keuls: * P < 0,05 para Controle X UVB, contro- Resultados le X creme A; Controle X creme B; controle X creme A + UVB; Controle Na análise da atividade antioxidante da própolis registrouse um tempo máximo de 6 segundos para o teste de Permanganato de Potássio, o que sugere sua ação antioxidante. B; UVB X creme A+UVB; UVB X creme B+UVB. Para o teste de Mann- puro X creme B +UVB.■ P < 0,05 para UVB X creme A, UVB X creme Whitney : † P = 0,0438 Creme A X Creme B. Creme B + RUVB. • P = 0.0193 Creme B X A análise da Figura 2 sugere que em todos os tratamentos (UVB: 182,88 ± 67,5; Creme A: 123 ± 36,8; Creme B: 113,2 ± 25,9; creme A + UVB: 126,1 ± 28,4; creme B + UVB: 121,4 ± 26,7) utilizados houve um aumento significativo da espessura da pele quando se compara ao controle (47,1 ± 12,4). Observa-se também que com a irradiação UVB, os animais que não foram tratados com formulações contendo própolis apresentaram os maiores espessamentos da epiderme ao final do experimento. Em relação à ação dos cremes de própolis sobre a espessura da epiderme (Creme A: 123 ± 36,8; Creme B: 113,2 ± 25,9), observou-se também um efeito positivo nesse espessamento, porém com aumentos significativamente menores do que o observado naqueles animais submetidos somente a irradiação com UVB (182,88 ± 67,5). É importante também observar que o creme A (123 ± 36,8) promoveu um aumento significativamente maior na espessura da epiderme em comparação ao observado nos animais tratados com creme B (113,2 ± 25,9). Ainda segundo o registrado na figura 2 e considerando a possível ação protetora da própolis utilizada na produção dos dois cremes aqui empregados, verificou-se que a aplicação desses em animais submetidos à UVB (creme A + UVB: 126,1 ± 28,4; creme B + UVB: 121,4 ± 26,7), não inibiu completamente o espessamento da epiderme, apesar de ter reduzido este efeito de maneira significativa, em comparação àqueles animais irradiados e não tratados com própolis (UVB: 182,88 ± 67,5). Identifica-se também a ação preventiva mais eficiente do creme B (creme B + UVB: 121,4 ± 26,7) que promoveu espessamento menor da epiderme em comparação ao grupo que, antes da irradiação, foi tratado com o creme A (creme A + UVB: 126,1 ± 28,4). Registra-se também o observado no gráfico 3, que aponta para a falta de significância entre os resultados do espessamento da epiderme nos grupos somente tratados com creme A (123 ± 36,8) e aquele que antes de ser irradiado com UVB foi submetido à aplicação tópica deste mesmo creme (creme A + UVB. 126,1 ± 28,4). A Figura 3 apresenta imagens obtidas em microscopia de luz e registra a espessura da epiderme em cada um dos grupos experimentais utilizados. A Figura 3 também permite observar as variações na espessura da epiderme confirmando todos os resultados obtidos na morfometria para a espessura da epiderme já descrita. Outro parâmetro considerado na morfometria foi o número de núcleos de células em nossos grupos e, mais uma vez, observou-se resultados significativamente diferentes entre os grupos experimentais. Em relação à hiperplasia determinada pelo aumento no número de células da epiderme, registrada na Figura 4, identifica-se que em todos os tratamentos (UVB: 41,0 ± 11,3; Creme A: 29,7 ± 6,07; Creme B: 28,0 ± 5,12; Creme A + RUVB: 32,9 ± 5,63; Creme B + RUVB: 33,5 ± 6,36) houve aumento significativo do número de células em comparação ao controle (Controle: 23,9 ± 5,82). No grupo que sofreu somente irradiação com UVB (UVB: 41,0 ± 11,3) este aumento foi maior do que em todos os outros. A aplicação dos Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 cremes A e B (Creme A: 29,7 ± 6,07; Creme B: 28,0 ± 5,12) promovem aumento de células epidérmicas com intensidade semelhante entre si e menor do que nos grupos somente irradiados com UVB. Houve também aumento significativo no efeito proliferativo de células no grupo dos animais somente irradiados (UVB: 41,0 ± 11,3) em comparação aos grupos que foram irradiados, mas submetidos ao tratamento como creme A (32,9 ± 5,63) ou com o creme B (33,5 ± 6,36) em animais com UVB (UVB: 41,0 ± 11,3), não houve diferença significativa no efeito proliferativo das células epidérmicas. Figura 3 - Fotomicrografias da pele dos camundongos evidenciando a espessura da epiderme de cada grupo. A. Controle; B. Creme A; C. Creme B; D. Radiação UVB; E. Creme A + RUVB; F. Creme B + RUVB. Coloração H.E. 200x. Observar que o controle (A) apresenta menor espessura da epiderme em relação aos demais grupos, e em D maior espessamento da epiderme, a ausência de diferença na espessura da epiderme entre os grupos B e E, Espessamento de F maior do que em C. Figura 4 - Gráfico da variação no número de núcleos de células da epiderme de camundongos balbC (n = 42) dos diferentes grupos experimentais. 60 50 Nº de células 204 # 40 30 * 20 10 0 Controle Radiação CremeA CremeB Creme Creme UVB A+RUVB B+RUVB Grupos experimentais Para o teste de Newman Keuls: * P < 0,05 para Controle X UVB; Controle X creme A; Controle X creme B; Controle X creme A + UVB; Controle X creme B +UVB. ■ P < 0,05 para UVB X creme A, UVB X creme B; UVB X creme A+UVB; UVB X creme B+UVB. # P < 0,05 para Creme A X Creme A+ RUVB; Creme A X Creme B+RUVB. •P < 0,05 para Creme B X Creme A+RUVB; Creme B X Creme B+RUVB. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Para que formulações tópicas adicionadas de extrato de própolis apresentem efeito fotoquimioprotetor é necessário que os compostos antioxidantes ultrapassem o estrato córneo e fiquem retidos nas camadas mais inferiores da pele [24]. Observou-se nos estudos histológicos que a epiderme apresentava células hipertrofiadas, o que sugere que o creme foi em parte absorvido pela epiderme. Esse processo foi observado com maior frequência nos animais que utilizaram o creme A (Figura 5). Figura 5 - Fotomicrografia da pele do camundongo evidenciando (seta) hipertrofia das células da epiderme. Discussão Na avaliação do índice de oxidação, segundo a legislação brasileira [20], valores de até 22 segundos indicam atividade antioxidante. Na própolis estudada os resultados das análises de atividade antioxidante ficaram abaixo de 6 segundos. A atividade antioxidante da própolis pode variar, como, por exemplo, Sousa et al. [25] encontraram em extratos de própolis de diferentes cidades a variação de 9,0 ± 1,58 a 54,75 ± 1,97 segundos, essa diferença na atividade antioxidante observada mesmo para os extratos de origem brasileira demonstra que a composição química da própolis depende da especificidade da flora no local de coleta. A estabilidade física do creme foi avaliada, uma vez que este teste pode fornecer algumas informações sobre a estabilidade física da formulação ao longo de sua vida de prateleira e o desempenho no momento do uso. Sendo assim, foi evidenciado que a quantidade do extrato da própolis exerceu influência significativa na estabilidade das formulações, sendo que o creme A apresentou maior estabilidade em relação ao creme B. Resultado esse que possivelmente se deve à hidrólise do tensoativo, pela grande quantidade do extrato de própolis. 205 Nossos resultados apontam para o efeito deletério da RUV/B sobre a epiderme de camundongos Balb/c, promovendo o aumento da espessura dessa camada da pele pelo estímulo a hiperplasia difusa, o que caracteriza o quadro de acantose [26]. Segundo Haratake et al. [27], a radiação UVB tem efeito deletério sobre a pele causando a hiperplasia. Este espessamento da pele, que inicialmente se comporta como um processo regulado pode estar relacionado a alterações que posteriormente induziriam ao câncer de pele [28]. A aplicação tópica da própolis tem sido amplamente estudada e demonstrando muitas vezes efeitos terapêuticos positivos no tratamento de várias patologias [29,23]. Na análise macroscópica da pele dos camundongos foi observada hiperpigmentação no grupo experimental somente irradiado com UVB, possivelmente a própolis, por ter ação antioxidante, ofereceu proteção ao núcleo evitando que fosse necessária uma aceleração na síntese de melanina pelos melanócitos, a fim de evitar os efeitos deletérios ao DNA feitos pela radiação ultravioleta [30]. O uso da própolis incorporada ao creme, utilizado em nosso trabalho, sugere que esta substância apresenta capacidade de modular este efeito lesivo promovido pela UVB, pois quando associada à exposição de UVB, permite ao organismo promover uma resposta de proliferação celular menos evidente. Resultado esse semelhante ao encontrado por Fonseca et al. [17] onde diferentes extratos de própolis demonstraram efeitos contra o estresse oxidativo na pele causados pela UVB. A medida da espessura mostrou que não houve diferença significativa entre o grupo experimental tratado com o creme A e do grupo tratado com creme A + RUV/B, o que indica que o creme A demonstrou uma maior eficácia na proteção da epiderme contra o RUVB, do que o creme B. Conclusão A partir deste estudo observamos que a aplicação tópica dos cremes com extrato de própolis evitou que se formassem manchas de hiperpigmentação na pele dos camundongos, assim como atenuou significativamente o espessamento e a hiperplasia da pele induzidas pela RUVB. Tendo assim uma potencial aplicação na prevenção de patologias causadas pela proliferação descontrolada de células. Agradecimentos Os autores agradecem ao Sr. Célio Costa que cedeu gentilmente a própolis utilizada neste estudo. Agradecemos à FAPEMIG pela bolsa de Iniciação Científica concedida. Suporte Financeiro: FAPEMIG. Referências 1. Costa FB, Weber MB. Avaliação dos hábitos de exposição ao sol e de fotoproteção dos universitários da Região Metropolitana de Porto Alegre/RS. An Bras Dermatol 2004;79(2):149-55. 206 2. Silva AC, Tommaselli JTG, Corrêa MP. Estudo retrospectivo dos casos novos de câncer de pele diagnosticados na região oeste do estado de São Paulo, Brasil. Hygeia 2008;4:1-14. 3. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 207 Artigo original Eletroestimulação do nervo tibial posterior para tratamento da incontinência urinária após AVE Electrical stimulation of posterior tibialis nerve for treatment of urinary incontinence after stroke Vanessa Rosa da Silva, Ft.*, Amanda de Assis Mariano*, Soraia Micaela Silva, Ft.**, João Carlos Ferrari Corrêa, Ft., D.Sc.*, Adriana Nery Gallo de Barros, Ft.***, Fernanda Ishida Corrêa, Ft., D.Sc.* *Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo/SP, **Mestranda em Ciências da Reabilitação, UNINOVE, São Paulo/SP, ***Especialista em Fisioterapia Uroginecológica, UNINOVE, São Paulo/SP Resumo Abstract Introdução: A incontinência urinária (IU) após o Acidente Vascular Encefálico (AVE) é um forte preditor de recuperação funcional e retorno à participação social. Dentre os métodos utilizados para reabilitação da IU, destaca-se a estimulação elétrica do nervo tibial posterior (EENTP), pois é um método pouco invasivo e de maior aceitação, no entanto, não há evidências de sua eficácia em pacientes com IU decorrente do AVE. Objetivo: Avaliar o efeito da EENTP no tratamento de IU após AVE. Material e métodos: Participaram deste estudo quatro pacientes com IU, que foram submetidos a 12 sessões de EENTP, duas vezes por semana, por 30 minutos, cada sessão. A variável controle miccional e qualidade de vida foram avaliadas antes e após o tratamento, por meio do diário miccional e o questionário King’s Health Questionnaire (KHQ), respectivamente. Para comparação antes e após a técnica, utilizou-se o teste t Student para variáveis pareadas e o Wilcoxon para variável micções/dia. Resultados: Quando comparados os resultados antes e após o tratamento, não foi evidenciada diferença estatisticamente significante em nenhuma das variáveis avaliadas. Conclusão: O tratamento mostrou-se ser uma ferramenta sem contra indicações, segura e de fácil utilização, sendo possível identificar melhora do controle miccional e qualidade de vida, embora não estatisticamente significante. Introduction: Urinary incontinence (UI) after stroke is a strong predictor of functional recovery and return to social participation. Among the methods used for rehabilitation of the UI, there is the posterior tibial nerve stimulation, because it is a little invasive and widely accepted, however, there is no evidence of its efficacy in patients with urinary incontinence after stroke. Objective: To evaluate the effect of the posterior tibial nerve electrical stimulation (PTNES) therapy on UI after a stroke. Methods: The study included four patients with UI who underwent 12 sessions of PTNES twice a week for 30 minutes per session. The variable control voiding and quality of life were assessed before and after the treatment, through the micturition diary and King’s Health Questionnaire KHQ, respectively. To compare before and after the technique, we used the Student t Test for paired variables and the Wilcoxon test for variable micturition/day. Results: Comparing the results before and after treatment, no statistically significant difference was observed. Conclusion: The treatment proved to be a tool without contraindications, safe and easy utilization, and it was possible to identify improvement in bladder control and quality of life, although not statistically significant. Key-words: stroke, urinary incontinence, electric stimulation. Palavras-chave: acidente cerebral vascular, incontinência urinária, estimulação elétrica. Recebido em 21 de março de 2011; aceito em 25 de abril de 2011. Endereço para correspondência: Soraia Micaela Silva, Av. Francisco Matarazzo, 612, Barra Funda 05001-100 São Paulo SP, Tel: (11) 3665-9325, E-mail: [email protected] 208 Introdução Acidente Vascular Encefálico (AVE) é classificado por doença vascular caracterizada por déficit neurológico focal, repentino e não convulsivo determinado por lesão cerebral consequente a um mecanismo vascular não traumático, por embolia arterial ou venosa, cursando com isquemia ou hemorragia cerebral [1]. As manifestações clínicas subjacentes a esta condição são variáveis e incluem alterações sensitivas, cognitivas e motoras, como fraqueza muscular, espasticidade, padrões anormais de movimento e descondicionamento físico [2], além de incontinência urinária (IU), sendo este um problema grave, com prevalência variando de 37% a 79% na fase aguda e acometendo cerca de um terço desses indivíduos na fase crônica [3]. A IU é um forte preditor de recuperação funcional e retorno à participação social do indivíduo [3], influenciando de forma direta a qualidade de vida, além de contribuir significantemente para inibições posturais como ortostatismo e sedestação. As dificuldades de locomoção decorrente das sequelas também se tornam um obstáculo que dificulta a chegada do paciente ao banheiro, corroborando ainda mais com a perda involuntária de urina. Alguns estudos reportam fatores de risco para aquisição da IU após AVE: gravidade do acidente vascular encefálico [4,5], idade [4,6], sexo [6], baixo nível de consciência [4,6], paresia motora grave [4,7], afasia [3,7], déficit cognitivo [3,7], disfunção seletiva das vias miccionais [3] e hiperatividade da bexiga [3]. No entanto, estes estudos utilizaram análises univariadas, portanto, não é claro se esses fatores têm influência independente ou se exercem influência por meio de associações entre eles [7,8]. Dentre os métodos fisioterapêuticos frequentemente utilizados para reabilitação da IU, destacam-se a cinesioterapia, biofeedback, cones vaginais, eletroestimulação intravesical, anal, vaginal, perineal, sacral, suprapúbica e no nervo tibial posterior [9,10]. O nervo tibial posterior origina-se das raízes nervosas L4, L5, S1-S3, nesta região passam também seguimentos de fibras da medula sacral responsáveis pela inervação parassimpática vesical (bexiga), quando o nervo tibial posterior é estimulado, inibe as fibras aferentes S2-S3 diminuindo a hiperatividade da bexiga [10]. A eletroestimulação visa diminuir a atividade do músculo detrusor e reforçar a musculatura do períneo, já a estimulação elétrica do nervo tibial posterior, aplicada primeiramente em pessoas com IU por McGuire et al. apud Amarenco [11], é caracterizada como método pouco invasivo e não proporciona efeitos colaterais, além de ser indolor, de baixo custo e de maior aceitação do tratamento, pois o eletrodo não é posicionado na região anogenital [10]. No entanto, não há evidências que comprovem a eficácia do método em pacientes com IU decorrente do AVE. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Sabendo-se da prevalência e da repercussão da IU na vida de indivíduos acometidos após AVE, faz-se necessário avaliar o efeito da estimulação elétrica do nervo tibial posterior (EENTP) no tratamento de IU, a fim de contribuir para reabilitação desses indivíduos. Material e métodos Casuística Foi relatada uma série de casos, para tanto, utilizou-se uma amostra de conveniência composta por 4 voluntárias recrutadas do departamento de fisioterapia da Universidade Nove de Julho, local onde o trabalho foi realizado. Inicialmente foram triados indivíduos com diagnóstico de AVE e, após avaliação, apenas quatro relataram IU, sendo, portanto, incluídos no estudo. Foram estabelecidos como critérios de inclusão: ter diagnóstico de AVE e queixa de IU após a lesão por AVE, para isso utilizou-se uma ficha de acompanhamento uroginecológico. Seriam excluídos do estudo indivíduos que apresentassem algum comprometimento associado que contraindicasse o uso da estimulação elétrica, déficits cognitivos, lesões musculares, fraturas ou dor nos membros inferiores. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e foram informados da possibilidade de se retirarem da pesquisa em qualquer fase, sem penalização. Essa pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Nove de Julho (protocolo FR 275156). Instrumentos Foi avaliado o efeito da estimulação elétrica do nervo tibial posterior (EENTP) nas variáveis dependentes: qualidade de vida e controle miccional. Para avaliação da qualidade de vida utilizou-se o questionário King’s Health Questionnaire (KHQ), composto por 21 questões, distribuídas em oito domínios, além de uma escala de gravidade da IU e outra de sintomas urinários. Já o controle miccional foi avaliado por meio do diário miccional. Os questionários foram aplicados antes e após o tratamento com EENTP. Procedimentos Após aplicação do questionário, as pacientes foram submetidas à aplicação de eletroestimulação transcutânea do nervo tibial posterior, segundo Amarenco et al.[11]. Foram fixados eletrodos adesivos: um a 5 cm atrás do maléolo medial e o outro eletrodo 10 cm acima deste (trajeto do nervo tibial posterior), e por meio de uma corrente de 1Hz procurou-se localizar o ponto motor do nervo tibial posterior. Após sua localização, foi utilizada uma corrente quadrada, bifásica, Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Para caracterização da amostra utilizou-se estatística descritiva. O teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov foi usado para verificar a normalidade da variância. A variável micções/ dia foi apresentada em mediana e intervalo interquartílico (25% e 75%), devido a não normalidade da distribuição dos dados, já as demais variáveis foram sumarizadas em média e desvio padrão. Para comparações antes e após EENTP, utilizou-se o teste t Student para variáveis pareadas e Wilcoxon para variável micções/dia. O nível de significância estabelecido foi de 5%. Resultados A população estudada foi composta por quatro voluntárias com média de idade de 67 ± 3,5 anos, média de tempo de evolução da doença de 19 ± 3,5 meses. Dentre as pacientes que participaram deste estudo, três relataram história de mais de um parto e uma relatou história de um parto, duas pacientes faziam uso de fralda para dormir e uma utilizava absorvente diariamente. De acordo com a ficha de acompanhamento uroginecológico, duas apresentaram o diagnóstico de Incontinência Urinária Mista (IUM) e duas Urge-Incontinência Urinária (UIU). Tabela I - Caracterização demográfica dos voluntários do estudo. Paciente 1 2 3 4 Sexo F F F F Idade (anos) 66 71 63 69 Tempo de lesão (meses) 18 23 15 21 Número de partos 1 2 3 2 Tipo de IU IUM UIU UIU IUM IU: Incontinência urinária; IUM: Incontinência urinária mista; UIU: Urgeincontinência urinária. Após análise dos dados verificou-se que não houve diferença estatisticamente significante antes e após terapia com EENTP no número de micções/dia (Figura 1), embora tenha sido notório que houve diminuição do número de micções em todas as voluntárias após tratamento, com mediana de 9 micções/dia pré-tratamento e após mediana de 6,5 micções/ dia (p = 0,06.) 10 Mediana e intervalo interquartílico Análise estatística Figura 1 - Disposição gráfica da mediana e intervalo interquartílico (25% e 75%) da variável de micções/dia, referente às avaliações pré e pós-tratamento com EENTP. 9 8 7 6 Antes Micções/dia Depois A análise estatística foi realizada com o teste Wilcoxon p ≤ 0,05. Os itens necessidade urgente de urinar/dia e perda involuntária de urina/dia também não houve diferença estatisticamente significante (Figuras 2 e 3). Os valores de média e desvios padrão foram 6,75 ± 0,95 e 6 ± 2,30 (p > 0,05) pré e pós-tratamento para necessidade urgente de urinar/dia e 3,25 ± 3,20 e 2 ± 2,16 (p > 0,05) para perda involuntária de urina/dia. Figura 2 e 3 - Disposição gráfica das variáveis de necessidade urgente de urinar/dia e perda involuntária de urina/dia, referente às avaliações pré e pós-tratamento com EENTP. Necessidade urgente de urinar/dia Média e Intervalo de Confiança (IC) 95% com frequência de estimulação de 10 Hz, largura de pulso de 700 microssegundos, por 30 minutos, de acordo com Van Balken et al. [12]. Foram realizadas 12 sessões, duas vezes por semana. A intensidade de corrente selecionada foi aquela imediatamente abaixo do limiar motor. As pacientes foram posicionadas em supino em uma maca, em sala reservada para o procedimento. 209 8 7 6 5 4 3 2 Antes Depois Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 210 Perda involuntária de urina/dia Média e Intervalo de confiança (IC) 95% 10 8 6 4 2 0 -2 Antes Depois As análises estatísticas foram realizadas com o teste t Student pareado * p ≤ 0,05. Sobre qualidade de vida, apenas quatro dos nove domínios avaliados no questionário (KHQ), apresentaram diminuição: Percepção geral da saúde, limitações físicas, emoções e sono/ disposição, porém não houve melhora estatisticamente significante (p > 0,05). Discussão Foram triados nove pacientes com diagnóstico de AVE, destes 66,6% apresentaram queixa de IU, porém, somente quatro atendiam os critérios de inclusão. O percentual de prevalência de IU achados neste estudo corrobora com a literatura que relata prevalência entre 37% a 79% [3] após AVE. Dentre as quatro voluntárias, três relataram limitações devido à perda urinária em atividades de vida diária e participação social, refletindo o que já é relatado em estudos prévios [12-14]. No presente estudo, houve redução da frequência miccional em 100% das voluntárias, o que demonstra que a EENTP foi eficiente para diminuir a hiperatividade da bexiga e contribuir para melhora do quadro clínico das pacientes, embora esta diferença não tenha sido estatisticamente significante. Já no estudo desenvolvido por Sol [10], que também avaliou o efeito da EENTP para tratamento da UIU e IUM, porém de origem não neurológica, ocorreu diminuição da frequência miccional em 50% das pacientes avaliadas e 33,3% apresentaram resposta parcial. É descrito na literatura que pacientes com IU se abstêm de atividades sociais como visitar amigos, praticar esportes ou ir às compras e ao trabalho em decorrência das perdas urinárias [15,16], além disso, ainda sofrem de ansiedade e sofrimento relacionado a uma possível perda de urina, gerando importante incômodo psicológico e variado grau de isolamento social [17]. Diante disso, avaliou-se a qualidade de vida desses indivíduos após tratamento com EENTP, e foi observado melhora em quatro dos nove domínios analisados no King Health Questionnaire (KHQ), sendo estes: percepção geral da saúde, limitações físicas, emoções e sono/disposição. Embora não haja diferença estatisticamente significante, esta melhora evidência o efeito positivo do tratamento na qualidade de vida das voluntárias. Em outro estudo [15] em que se avaliou o efeito da EENTP na qualidade de vida de mulheres portadoras de IU, concluiu-se que houve diminuição em todos os domínios do KHQ, exceto na percepção geral da saúde. Ainda de acordo com o questionário King Health Questionnaire (KHQ), no domínio sono/disposição, obteve-se média de 29 pontos na avaliação inicial e 12 pontos na média final, demonstrando que a diminuição das frequências miccionais noturnas podem estar relacionadas à melhora da qualidade do sono e disposição. Também houve diminuição marcante na pontuação do domínio de limitações físicas, que no prétratamento tinha média de 41 pontos e no pós-tratamento obteve-se média de 21 pontos, assim, pode-se inferir que as voluntárias passaram a desempenhar mais atividades físicas por se sentirem mais confiantes em relação à IU. Outros estudos investigaram os efeitos da EENTP na qualidade de vida de indivíduos com IU, no entanto, utilizaram os questionários SF-36 e o I-QoL [11,18-24], porém o primeiro questionário não é específico para a incontinência, e o segundo não é validado em língua portuguesa. De qualquer modo, esses autores relataram melhora nos índices de qualidade de vida, de forma geral, após aplicação da EENTP. Ainda que os resultados obtidos nesse estudo não tenham se mostrado estatisticamente significantes, as pacientes relataram melhora após tratamento, com relatos de diminuição da enurese noturna, do uso de protetores higiênicos, melhora da autoestima e consequentemente da participação social. Foi possível ainda, identificar diminuição quanto à frequência miccional, necessidade urgente de urinar e perda involuntária de urina mesmo com sua limitações físicas devido à sequela do AVE que as pacientes apresentavam. Entretanto, deve-se salientar que os resultados poderiam ser mais expressivos e significantes com amostra maior, sendo, portanto, o número de voluntários uma das limitações deste estudo. Conclusão Os resultados obtidos neste estudo não foram estatisticamente significantes, provavelmente devido ao pequeno número de voluntárias. No entanto, a EENTP mostrou-se ser uma ferramenta sem contraindicações, segura, de fácil aplicação e aceitação pelas voluntárias. Foi possível, ainda, identificar diminuição quanto à frequência miccional, necessidade urgente de urinar e perda involuntária de urina. As voluntárias relataram também melhora das limitações físicas e emocionais, e melhora do sono/ disposição e percepção geral da saúde, demonstrando efeitos benéficos da EENTP para tratamento da IU após AVE. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Referências 1. Ladeia ML, Guimarães AC. Doença cerebrovascular. Rev Neuropsiquiatria 2003;6(1):54-61. 2. Doucet BM, Griffin L. Variable stimulation patterns for poststroke hemiplegia. Muscle Nerve 2009;39(1):54-62. 3. Dumoulin C, Korner-Bitens N, Tannenbaum C. Urinary incontinence after stroke-identification, assessment, and intervention by rehabilitation professionals in Canada. Stroke 2007;38:2745-51. 4. Barer DH. 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O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da corrente interferencial na diminuição da tensão dos músculos masseter e temporal fibras anteriores, bem como a melhora da sintomatologia e qualidade de vida em portadores de DTM. Foram selecionados nove indivíduos com diagnóstico de DTM há mais de seis meses de acordo com critérios de inclusão e exclusão bem definidos. Destes apenas dois concluíram o tratamento completo e foram incluídos neste estudo. A rotina de tratamento consistiu em aplicação da CIV em três sessões de 20 minutos para cada músculo bilateralmente durante duas semanas. Os resultados foram avaliados através do questionário de qualidade de vida SF-36 e da eletromiografia de superfície que foram aplicados no pré-tratamento, no dia seguinte e 15 dias após o término das sessões para verificarmos os efeitos imediatos e prolongados do tratamento. Nossos dados sugerem diminuição da tensão RMS, após o término do tratamento, na posição de repouso mandibular sem contato oclusal, para ambos os indivíduos nos músculos masseter direito, masseter esquerdo e temporal direito e na posição de máxima contração isométrica voluntária em todos os músculos. Também foi notado aumento da tensão RMS no músculo temporal esquerdo nos dois indivíduos. Mesmo dentro das limitações deste estudo principalmente pela dificuldade na adesão dos pacientes ao tratamento completo e baseado nos dados colhidos, concluímos que a CIV mostrou resultados comparáveis aos resultados apresentados pela literatura para os efeitos da TENS na diminuição da tensão muscular, refletindo na melhora do quadro álgico e como consequência na qualidade de vida. Temporomandibular disorders (TMD) are classified as the main cause of non-dental pain in the orofacial region. The effectiveness of TENS is well known, which did not occur with modular interferential current. The aim of this study was to evaluate the influence of interferential current in decreasing tension of the masseter and temporal anterior fibers, as well as improvement in symptoms and quality of life in patients with TMD. We selected nine individuals diagnosed with TMD for over six months according to inclusion and exclusion criteria clearly defined. Of these, only two completed the full treatment and were included in this study. Treatment routine consisted of application of VSD in three sessions of 20 minutes for each muscle bilaterally during two weeks and the results were assessed by questionnaire SF-36 and surface electromyography have been applied in pre-treatment, next day and 15 days after the end of the sessions to verify the immediate and prolonged effects of treatment. Our data suggest a decrease in RMS tension after completion of treatment in mandibular rest position with no occlusal contact for both individuals in the right masseter, left masseter and right temporal and location of maximum voluntary isometric contraction in all muscles. It was also observed increased tension in the left temporal muscle RMS in two individuals. Even within the limitations of this study mainly by the difficulty of adherence of patients to complete treatment and based on data obtained we concluded that the modular interferential current showed results comparable to results reported in the literature for the effects of TENS in reducing muscle tension, reflecting improvement in the pain and consequently on the quality of life. Key-words: temporomandibular joint disorders, facial pain, electric stimulation therapy, electromyography. Palavras-chave: transtornos da articulação temporomandibular, dor facial, terapia por estimulação elétrica, eletromiografia. Recebido em 21 de julho de 2010; aceito em 4 de abril de 2011. Endereço para correspondência: Silvio Antonio Garbelotti Junior, Rua Thomé Teixeira Vilela, 18, São José 09581-230 São Caetano do Sul SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Introdução As disfunções temporomandibulares (DTM) são classificadas como a principal causa de dor não-dental na região orofacial [1] e são definidas como uma coleção de condições médicas, dentárias ou faciais associadas com anormalidades do sistema estomatognático, que causam disfunções na articulação temporomandibular e tecidos adjacentes, incluindo os músculos cervicais e faciais [2]. É desencadeada por processos multifatoriais relacionados à combinação de desequilíbrios entre fatores anatômicos, oclusais, neuromusculares, psicológicos e posturais que se manifestam através de sinais e sintomas que limitam ou incapacitam as atividades fisiológicas do indivíduo [3,4]. Abrange de 40 a 60% da população destacando-se sua prevalência no sexo feminino e na idade adulta [5]. Estudos com eletromiografia (EMG) têm sido feitos para avaliar a função ou disfunção muscular [6-10] e vêm demonstrando que as DTMs produzem incoordenação na atividade dos músculos [11] e diminuem sua força em parte causada pelo encurtamento muscular [12-14], demonstram também diminuições na atividade muscular decorrentes do uso da estimulação elétrica transcutânea do nervo (TENS) que proporciona analgesia por meio da estimulação nervosa e liberação de endorfinas [15,16]. Outro recurso eletroterapêutico, pouco estudado, que pode ser considerado nas DTMs é a corrente interferencial vetorial (CIV) que pode ser usada tanto para relaxamento e analgesia quanto para estimulação proporcionada pela inibição de fibras mielinizadas [17-19]. A efetividade da TENS é reconhecida no tratamento das DTM, o que não ocorre com a CIV, sendo assim este trabalho busca contribuir demonstrando sua efetividade no tratamento deste tipo de disfunção. Material e métodos Nove pacientes portadores de DTM foram encaminhados para tratamento fisioterapêutico por cirurgião bucomaxilofacial. Destes sete interromperam o tratamento antes do término e dois concluíram o tratamento e foram incluídos no estudo que apresentou abordagem qualitativa e quantitativa. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Estudo do Movimento e aprovada pelo Comitê de Ética do Centro Universitário São Camilo. Inicialmente foi aplicado um questionário de triagem para dor orofacial e DTM [20]. Os critérios de inclusão foram apresentar sintomatologia de DTM há pelo menos seis meses, realizar tratamento odontológico com uso de placa de mordida noturna em acrílico, apresentar tipo de mordida classe II e completar o tratamento fisioterapêutico; e foram excluídos os casos que faziam uso de medicamentos antiespásticos, terem realizado cirurgia na região temporomandibular, utilizar aparelho ortodôntico tanto o fixo quanto o móvel, portar marcapasso cardíaco ou implante metálico próximo aos 213 músculos masseter e temporal fibras anteriores; e os pacientes que interromperam o tratamento antes do término. Antes dos procedimentos de eletromiografia e do tratamento cada voluntário respondeu o questionário de qualidade de Vida SF-36 [21]. Eletromiografia Para avaliação da EMG utilizamos o aparelho EMG 800C® (EMG System do Brasil) de oito canais, com eletrodos bipolares diferenciais Ag/AgCl. Seguindo determinação de De Luca [22] posicionamos o eletrodo na linha média do ventre muscular no sentido perpendicular ao comprimento das fibras entre a junção miotendínea e zona de inervação mais próxima. Como rotina de trabalho adotamos a sugestão de Fukuda [23] e posicionamos os eletrodos no ponto médio entre o ângulo da mandíbula e o arco zigomático para o masseter e aproximadamente 50 mm à frente e 20 mm verticalmente ao trago da orelha para o temporal fibras anteriores. Conforme preconizam Basmajian [24] e De Luca [22,25], foi avaliada a tensão RMS (Root Mean Square), valor que proporciona mais informações em relação à amplitude do sinal eletromiográfico, pois fornece o número de unidades motoras ativadas (recrutamento motor), frequência de disparo das unidades motoras e a forma de potenciais de ação das unidades motoras (áreas). Os voluntários foram orientados a assumirem a posição sentada em uma cadeira com apoio para as costas, mas com a cabeça livre, e alinhada com o plano de Frankfurt paralelo ao solo. E foram submetidos a duas situações mandibulares diferentes para captação dos sinais. Primeiro o indivíduo foi orientado a manter-se relaxado, de olhos fechados e sem nenhum contato oclusal, e foram feitas cinco medições de dez segundos cada nessa posição denominada de Posição de Repouso Mandibular. Em seguida foi solicitado que o indivíduo apertasse os dentes (mordesse) o mais forte possível e assim foi avaliada a máxima tensão RMS na posição conhecida por posição de apertamento oclusal máximo onde buscamos a máxima contração isométrica voluntária (MCIV). Foram realizadas cinco coletas em cada situação e considerada a média entre elas. A totalidade dessa coleta de dados foi realizada em um mesmo dia com um intervalo de 20 segundos entre cada medição e, antes de iniciar o exame de EMG, o indivíduo fez um descanso de 10 minutos. Todos esses procedimentos foram realizados antes do início do tratamento dos indivíduos e repetidos duas vezes ao término do tratamento. Tratamento Para aplicação da corrente interferencial foi utilizado o aparelho Endophasys® da marca KLD Biossistemas® através de eletrodos da marca Quark® de 32 mm de diâmetro que foram 214 posicionados dois em cada músculo, no masseter no ponto médio entre o ângulo da mandíbula e o arco zigomático e no temporal anterior posicionado a 5 cm à frente e 5 cm acima do trago da orelha. A corrente interferencial foi aplicada no indivíduo deitado em uma maca após posicionamento dos eletrodos nos músculos masseter e temporal bilateralmente com frequência de 4000 Hz, AMF de 30 Hz, Δ AMF de 20 Hz, slope de 1:1 e intensidade variando para cada indivíduo de forma que o indivíduo sentisse um “formigamento” confortável, visando o relaxamento de toda a musculatura. A aplicação foi de 20 minutos em cada musculatura. Antes de iniciar cada sessão da corrente interferencial o indivíduo fez repouso de 10 minutos. Os indivíduos foram submetidos à CIV em três sessões de quarenta minutos (20 minutos para cada músculo bilateralmente) durante duas semanas. No primeiro dia após o tratamento todos os indivíduos foram novamente submetidos aos questionários de Qualidade de Vida SF-36 e à eletromiografia para verificar em curto prazo as alterações e depois de quinze dias após o término do tratamento à eletromiografia novamente para verificar o efeito prolongado do tratamento. Resultados Caso 1 ERT, 48 anos, sexo feminino, casada, funcionária pública com jornada diária de trabalho de 8 h, sem trauma recente na região da cabeça, pescoço ou face, fazendo uso de placa de mordida noturna acrílica e apresentando (SIC) há mais de seis meses, dificuldade, rigidez, cansaço e dor ao abrir a boca, falar, mastigar, dor na região temporal, cefaléias, dores no pescoço e nos dentes e alteração na mordida. Segundo os valores representados na Tabela I e no Gráfico 1, pudemos constatar que na postura de repouso mandibular sem contato oclusal o músculo masseter direito apresentou uma diminuição de 69,51% do valor da tensão RMS em curto prazo (avaliação um dia após o término do tratamento em relação à avaliação pré tratamento) e uma diminuição de 36,61% do valor da tensão RMS em longo prazo (avaliação quinze dias após o término do tratamento em relação à avaliação pré tratamento); o músculo masseter esquerdo apresentou uma diminuição de 54,99% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 55,37% do valor da tensão RMS em longo prazo; o músculo temporal direito fibras anteriores apresentou uma diminuição de 72,49% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 56,24% do valor da tensão RMS em longo prazo e o músculo temporal esquerdo fibras anteriores apresentou uma diminuição de 9,29% do valor da tensão RMS em curto prazo e um aumento de 46,94% do valor da tensão RMS em longo prazo. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Tabela I - Valores das médias obtidos pela eletromiografia (RMS) na posição de repouso mandibular sem contato oclusal no caso 1. pré TTO Média MD Média ME Média TD Média TE 32,47 ± 0,19 39,55 ± 0,48 42,83 ± 0,27 12,27 ± 0,80 1º dia pós TTO 9,90 ± 0,17 17,80 ± 1,19 11,78 ± 0,35 11,13 ± 0,13 15º dia pós TTO 20,58 ± 2,24 17,65 ± 1,44 18,74 ± 3,33 18,03 ± 1,67 Dados apresentados em média + desvio padrão; valores em μV MD = Masseter Direito, ME = Masseter Esquerdo, TD = Temporal Direito, TE = Temporal esquerdo e TTO = tratamento. Gráfico 1 - Representação dos valores obtidos pela eletromiografia (RMS) na posição de repouso mandibular sem contato oclusal no caso 1. 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 RMS (uV) Pré TTO 1º dia pós TTO MD ME 15º dia pós TTO TD TE Valores em μV; MD = Masseter Direito, ME = Masseter Esquerdo, TD = Temporal Direito, TE = Temporal esquerdo e TTO = tratamento. Neste caso pudemos constatar que na postura de máxima contração isométrica voluntária (Tabela II e Gráfico 2) o músculo masseter direito apresentou uma diminuição de 48,75% do valor da tensão RMS em curto prazo (avaliação um dia após o término do tratamento em relação à avaliação pré tratamento) e uma diminuição de 31,03% do valor da tensão RMS em longo prazo (avaliação quinze dias após o término do tratamento em relação à avaliação pré tratamento); o músculo masseter esquerdo apresentou uma diminuição de 44,95% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 61,44% do valor da tensão RMS em longo prazo; o músculo temporal direito fibras anteriores apresentou uma diminuição de 71,62% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 58,25% do valor da tensão RMS em longo prazo e o músculo temporal esquerdo fibras anteriores apresentou uma diminuição de 62,56% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 54,84% do valor da tensão RMS em longo prazo. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Tabela II - Valores das médias obtidos na eletromiografia (RMS) durante a máxima contração isométrica voluntária (MCIV) no caso 1. pré TTO Média MD Média ME Média TD Média TE 26,58 ± 2,61 44,04 ± 4,10 40,46 ± 1,26 27,22 ± 1,47 1º dia pós TTO 13,62 ± 1,44 24,24 ± 3,44 11,48 ± 0,11 10,19 ± 0,20 15º dia pós TTO 18,33 ± 1,78 16,98 ± 5,25 16,89 ± 1,33 12,29 ± 0,85 Dados apresentados em média + desvio padrão; valores em μV MD = Masseter Direito, ME = Masseter Esquerdo, TD = Temporal Direito, TE = Temporal esquerdo e TTO = tratamento. Gráfico 2 - Representação dos valores obtidos pela eletromiografia (RMS) durante a máxima contração isométrica voluntária (MCIV) no caso 1. 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 RMS (uV) 215 presença de ruídos na articulação temporomandibular, cefaléias, cervicalgia e alterações na mordida. Segundo os valores observados neste caso e representados na Tabela III e no Gráfico 3, pudemos constatar que na postura de repouso mandibular sem contato oclusal o músculo masseter direito apresentou uma diminuição de 21,68% do valor da tensão RMS em curto prazo (avaliação um dia após o término do tratamento em relação à avaliação pré tratamento) e uma diminuição de 37,02% do valor da tensão RMS em longo prazo (avaliação quinze dias após o término do tratamento em relação à avaliação pré tratamento); o músculo masseter esquerdo apresentou uma diminuição de 45,87% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 38,79% do valor da tensão RMS em longo prazo; o músculo temporal direito fibras anteriores apresentou uma diminuição de 39,49% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 78,92% do valor da tensão RMS em longo prazo e o músculo temporal esquerdo fibras anteriores apresentou uma diminuição de 7,98% do valor da tensão RMS em curto prazo e um aumento de 65,65% do valor da tensão RMS em longo prazo. Tabela III - Valores das médias obtidos pela eletromiografia (RMS) na posição de repouso mandibular sem contato oclusal no caso 2. Pré TTO 1º dia pós TTO MD ME 15º dia pós TTO TD TE Valores em μV; MD = Masseter Direito, ME = Masseter Esquerdo, TD = Temporal Direito, TE = Temporal esquerdo e TTO = tratamento. pré TTO Média MD Média ME Média TD Média TE 19,88 ± 0,30 85,51 ± 0,98 57,33 ± 0,82 28,80 ± 3,08 1º dia pós TTO 15,57 ± 2,24 46,28 ± 4,11 34,69 ± 0,90 26,50 ± 2,69 15º dia pós TTO 12,52 ± 0,50 52,34 ± 1,61 12,08 ± 4,15 47,71 ± 1,64 Dados apresentados em média + desvio padrão; valores em μV MD = Masseter Direito, ME = Masseter Esquerdo, TD = Temporal Direito, Ainda neste caso verificamos uma pequena diminuição no valor do estado geral da saúde da última avaliação (score 87) em relação à primeira (score 92). Este achado, no entanto, não pode ser relacionado diretamente ao tratamento uma vez que esse domínio trata do estado geral da saúde e não só ao que estamos discutindo neste estudo, nos outros itens avaliados pelo questionário SF-36 verificamos uma melhora quantitativa nos domínios de dor (de 62 para 72), vitalidade (de 20 para 60), aspectos sociais (de 37,5 para 100), de limitação por aspectos emocionais (de 33,33 para 100) e de saúde mental (de 48 para 52). Caso 2 LTR, 42 anos, sexo feminino, solteira, professora com jornada de trabalho de 9h/dia realizando ginástica laboral 1 vez por semana por 15 minutos, fumante, sofreu há 15 anos trauma na face (acidente automobilístico) sendo submetida a uma rinoplastia há 4 anos. Encontrava-se sob tratamento médico para fibromialgia, fazia uso de placa de mordida noturna acrílica e apresentava (SIC) há mais de seis meses dificuldade com rigidez e dor ao abrir a boca, falar, mastigar, TE = Temporal esquerdo e TTO = tratamento. Gráfico 3 - Representação dos valores obtidos pela eletromiografia (RMS) na posição de repouso mandibular sem contato oclusal no caso 2. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 RMS (uV) Pré TTO 1º dia pós TTO MD ME 15º dia pós TTO TD TE Valores em μV; MD = Masseter Direito, ME = Masseter Esquerdo, TD = Temporal Direito, TE = Temporal esquerdo e TTO = tratamento. 216 Neste caso observamos que na postura de máxima contração isométrica voluntária, representada na Tabela IV, no Gráfico 4, o músculo masseter direito apresentou uma diminuição de 34,82% do valor da tensão RMS em curto prazo (avaliação um dia após o término do tratamento em relação à avaliação pré tratamento) e uma diminuição de 34,52% do valor da tensão RMS em longo prazo (avaliação quinze dias após o término do tratamento em relação à avaliação pré tratamento); o músculo masseter esquerdo apresentou uma diminuição de 20,56% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 6,36% do valor da tensão RMS em longo prazo; o músculo temporal direito fibras anteriores apresentou uma diminuição de 56,11% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 32,12% do valor da tensão RMS em longo prazo e o músculo temporal esquerdo fibras anteriores apresentou uma diminuição de 56,86% do valor da tensão RMS em curto prazo e uma diminuição de 59,94% do valor da tensão RMS em longo prazo. No indivíduo 2 verificamos uma manutenção dos valores dos domínios de capacidade funcional (70) e dor (20) onde o valor da capacidade funcional apresenta-se mais próximo do máximo possível a ser obtido do que do mínimo. Porém, apesar de a avaliação do indivíduo quanto à dor manter-se igual, verificamos melhora do quadro álgico na região da ATM através da escala de dor, pelo fato do questionário de qualidade de vida ser geral incluindo qualquer tipo de dor e o fato do indivíduo 2 ter diagnóstico de fibromialgia podemos concluir que o fato de não ter apresentado melhora neste domínio não está relacionado à falha do tratamento aplicado neste estudo. Foi verificada diminuição no valor da última avaliação em relação à primeira no domínio de limitação por aspectos físicos (de 50 para 25) podendo essa diminuição ser justificada da mesma forma que a manutenção no domínio de dor; e verificamos melhora quantitativa nos domínios de estado geral da saúde (de 45 para 67), vitalidade (de 20 para 40), aspectos sociais (de 12,5 para 50), limitação por aspectos emocionais (de 0 para 100) e saúde mental (de 36 para 48). Apesar de alguns domínios manterem o mesmo valor e dois deles terem uma pequena diminuição, a maioria dos domínios avaliados no questionário apresentou melhora significativa de seus valores na avaliação após o tratamento, fazendo com que possamos concluir que o tratamento não só melhorou o quadro álgico dos indivíduos como verificado na escala de dor, mas também teve influência positiva na qualidade de vida dos mesmos. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Tabela IV - Valores das médias obtidos na eletromiografia (RMS) durante a máxima contração isométrica voluntária (MCIV) no caso 2. pré TTO Média MD 283,25 ± 68,92 221,06 ± 14,39 133,65 ± 24,45 144,57 ± 30,28 Média ME Média TD Média TE 1º dia pós TTO 184,60 ± 8,30 175,60 ± 18,28 58,66 ± 5,64 15º dia pós TTO 185,47 ± 8,67 206,99 ± 9,93 90,71 ± 6,33 62,36 ± 36,06 57,91 ± 9,32 Dados apresentados em média + desvio padrão; valores em μV MD = Masseter Direito, ME = Masseter Esquerdo, TD = Temporal Direito, TE = Temporal esquerdo e TTO = tratamento. Gráfico 4 - Representação dos valores obtidos pela eletromiografia (RMS) durante a máxima contração isométrica voluntária (MCIV) no caso 2. 300 250 200 150 100 50 0 RMS (uV) Pré TTO 1º dia pós TTO MD ME 15º dia pós TTO TD TE Valores em μV; MD = Masseter Direito, ME = Masseter Esquerdo, TD = Temporal Direito, TE = Temporal esquerdo e TTO = tratamento. Discussão Eletromiografia Poucos são os artigos relacionados à aplicação da CIV nos tratamentos das DTMs. Encontramos citações da aplicação do CIV em portadores de DTM em Taylor et al. [26] e Medlicott e Harris [27], por este motivo em nossa discussão utilizamos artigos com resultados obtidos pela aplicação da TENS que é largamente estudada e citada na literatura para este tipo de tratamento. Os valores obtidos nas coletas de eletromiografia da posição de repouso mandibular sem contato oclusal do caso 1 mostram a diminuição dos valores da tensão RMS, que se manteve menor que o valor colhido inicialmente, mesmo após 15 dias do término do tratamento com a CIV nos músculos masseter direito, masseter esquerdo e temporal direito fibras Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 anteriores. No caso do músculo temporal esquerdo fibras anteriores onde o valor da coleta inicial era bem menor que dos demais músculos, no primeiro dia, após o término do tratamento, houve uma diminuição da tensão RMS, porém na coleta quinze dias após o fim do tratamento ocorreu um aumento da mesma até um valor bem próximo ao encontrado no músculo temporal direito fibras anteriores na mesma data. No caso 2 também da posição de repouso mandibular sem contato oclusal ocorreu a diminuição da tensão RMS em todas as musculaturas exceto o temporal esquerdo fibras anteriores onde na coleta de quinze dias após término do tratamento também ocorreu um aumento da mesma, porém a um valor bem maior que o encontrado no temporal direito fibras anteriores na mesma coleta. Esta diminuição observada no valor da tensão RMS obtida nesta posição corrobora com os achados encontrados em Cooper et al. [28] em que foi aplicada a TENS em portadores de DTM de 60 a 90 minutos com o objetivo de diminuição da tensão RMS e foi observada essa diminuição tanto nos músculos masseter quanto temporal fibras anteriores na posição de repouso sem contato oclusal. Porém neste mesmo estudo a diminuição apresentada foi homogênea entre as musculaturas o que não pode ser observado em nosso estudo assim como também não foi observada no estudo de Kamyszek et al. [8] que aplicou TENS de 30 a 40 minutos em portadores de DTM dos quais 29 pacientes tinham hiperatividade muscular e 10 sem hiperatividade muscular e verificou-se diminuição da tensão RMS em ambos os grupos e musculaturas, porém não de forma homogênea na posição de repouso mandibular sem contato oclusal. No caso da posição de MCIV em ambos os casos foi verificada a diminuição da tensão RMS em todas as musculaturas estudadas quando comparados os valores da tensão RMS de antes do início do tratamento e no primeiro e décimo quinto dia após término do tratamento. Esta diminuição observada no valor da tensão RMS obtida na posição de MCIV observada em nosso estudo é oposta aos achados do estudo de Cooper et al. [28] que aplicaram a TENS em portadores de DTM de 60 a 90 minutos como tratamento para DTM e observaram aumento tanto nos músculos masseter quanto temporal fibras anteriores nesta posição e apresentada de forma homogênea entre as musculaturas, o que não pode ser observado em nosso estudo. No estudo de Rodrigues et al. [9] foi realizado tratamento com TENS e avaliação por eletromiografia na posição de repouso mandibular sem contato oclusal e MCIV em 35 sujeitos, 19 com diagnóstico de DTM e 16 sem diagnóstico ou sintomatologia de DTM e os resultados mostraram que na posição de repouso mandibular sem contato oclusal o grupo de disfunção temporomandibular teve uma diminuição significativa no valor da tensão RMS do músculo temporal fibras anteriores bilateralmente e uma diminuição também nos valores de RMS do músculo masseter bilateralmente, porém não estatisticamente significante. Na posição de MCIV veri- 217 ficaram no grupo com DTM um aumento significativo nos valores de tensão RMS do músculo masseter bilateralmente e um aumento da tensão RMS do músculo temporal esquerdo fibras anteriores e diminuição da tensão RMS do músculo temporal direito fibras anteriores não significativas, oposto ao observado em nosso estudo que demonstrou diminuição em ambos os músculos da tensão para estas situações. Com os resultados obtidos nas análises da eletromiografia verificamos a diminuição da tensão RMS em praticamente todas as musculaturas e posicionamentos estudados de forma que essa diminuição foi mantida, mesmo que aumentada, tanto no primeiro dia de avaliação, após o término do tratamento, quanto no décimo quinto dia, sendo resultado do efeito acumulativo da aplicação de seis sessões da mesma no decorrer do tratamento. Qualidade de vida No estudo de Oliveira et al. [29] foi aplicado o questionário de dor de McGill em 22 pacientes com diagnóstico de DTM crônica e foi verificado um impacto negativo na qualidade de vida devido à sintomatologia da disfunção. Em nosso estudo também pudemos verificar que os valores colhidos do questionário, inicialmente, também demonstraram, em sua maioria, indicativos de uma qualidade de vida prejudicada. Além desse fato o artigo também levanta a necessidade de estabelecer um questionário específico de qualidade de vida na DTM, uma vez que ficaria muito mais conclusiva e direcionada a avaliação a este tipo de paciente. Murray et al. [30] utilizou como ferramenta mais específica, para avaliar a qualidade de vida de pacientes com DTM comparando a população sem queixa, o Oral Health Impact Profile ainda não validado no Brasil. Seus resultados corroboram com os vistos até agora com um prejuízo na qualidade de vida dos portadores da disfunção. Corroborando com os dados apresentados por Oliveira et al. [29] temos o estudo de Reisine et al. [31] que comparou a qualidade de vida pelo questionário de McGill de indivíduos com DTM (n = 48), com pacientes com retorno clínico para consulta odontológica sem doença específica (n = 48), doenças periodontais (n = 33) e pacientes que faziam uso de prótese (n = 23) onde os resultados mostraram severo impacto nos portadores de DTM e muito maior que nos demais grupos estudados. Pelos questionários aqui apresentados pudemos constatar que a qualidade de vida dos portadores de disfunção temporomandibular é largamente afetada de forma negativa e que a melhora do quadro álgico já proporciona uma melhora significativa na qualidade de vida como foi demonstrado em nosso estudo, já que como visto anteriormente a DTM não tem uma cura, então temos que direcionar nosso tratamento para diminuir os sintomas e, dessa forma, melhorar a qualidade de vida de seus portadores. 218 Conclusão Mesmo dentro das limitações deste estudo, principalmente pela dificuldade na adesão dos pacientes ao tratamento completo, uma vez que interrompiam o tratamento assim que os sintomas desapareciam ou diminuíam de intensidade, e baseados nos dados colhidos de ambos os indivíduos, concluímos que a CIV mostrou resultados comparáveis e tão eficientes quanto os resultados apresentados pela literatura para os efeitos da TENS na diminuição da tensão RMS refletindo na melhora do quadro álgico e como consequência na da qualidade de vida. 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Material e métodos: Para reunir evidências, foi consultada a base de dados Pubmed, com palavras chaves específicas e filtros. Resultados: Após levantamento e filtragem, foram selecionados 39 artigos para análise, publicados entre os anos de 2001 e 2009, sendo 24 ensaios controlados randomizados, 12 estudos de caso e 3 projetos de aplicação do método. Foi considerado como critério de exclusão os artigos de revisão, e como critério de inclusão estudos relacionados a tratamento e análise biomecânica em humanos, de acordo com a técnica. Conclusão: O Core Training é efetivo como tratamento, podendo reduzir dores e melhorar funcionalidade, especialmente sobre transtornos de coluna vertebral, devendo o aspecto preventivo ser investigado com mais estudos devido ao número ainda reduzido de evidências sobre a temática. Introduction: The kinesiotherapy is a therapeutic modality widely applied in rehabilitation. The core training has been highlighted in heterogeneous patients treatment. Objective: In view of its plurality, the aim of this study was to analyze the effectiveness of this method, and if there is sufficient studies to support its efficiency. Method: In order to gather evidences, we conducted a search at Pubmed database with specific key-words and filters. Results: After filtering data, 39 articles were selected for analysis, published between 2001 and 2009. 24 were randomized controlled trials, 12 case studies and 3 projects. We considered as exclusion criteria reviews, and for inclusion criteria studies related to treatment and biomechanics analysis in human, according to the technique. Conclusion: The Core Training is effective as a treatment, reducing pain and increasing functionality, especially in vertebral column disorders. The preventive aspects have to be investigated with more studies, because there are still low evidences about the theme. Key-words: kinesiotherapy, spine, musculoskeletal system. Palavras-chave: cinesioterapia, coluna vertebral, sistema músculo esquelético. Recebido em 22 de outubro de 2010; aceito em 9 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Fernando Campbell Bordiak, UGF, Secretaria de Saúde – Curso de Fisioterapia, Rua Manoel Vitorino, 553, Piedade 20740-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] 220 Introdução A cinesioterapia é um recurso através do qual o Fisioterapeuta trabalha efetivamente o restabelecimento da funcionalidade dos seus pacientes. Suas formas de trabalho são variadas, tendo como objetivo a melhoria na função muscular, atuando junto a aumento de força, resistência e flexibilidade [1]. Os métodos de aplicação da cinesioterapia compreendem diferentes tipos de abordagem, na qual observamos com mais frequência a realização de exercícios dinâmicos e estáticos, tendo ambas as intervenções resultados terapêuticos positivos em intervenções terapêuticas [2]. Os exercícios terapêuticos podem ser realizados em ambientes variados, como em salas de musculação com o uso de aparelhagem específica [3], na própria casa de um paciente para se buscar a recuperação de funcionalidade [4], ou simplesmente no solo de qualquer ginásio com finalidade de se executar exercícios posturais [5]. Atualmente percebemos uma grande preocupação clínica e científica sobre a postura, especificamente nos cuidados com a coluna vertebral, gerando uma variedade de técnicas e exercícios terapêuticos [6]. Os exercícios de estabilização estão presentes de forma marcante na abordagem sobre pacientes que necessitem de reabilitação de transtornos da coluna vertebral [7]. Percebemos uma presença efetiva de técnicas e exercícios que envolvem a coluna vertebral, como os exercícios de McKenzie [8], técnica de energia muscular [9] e Core Training [1-9]. Os exercícios de Core não consistem em uma técnica de atuação, mas sim em um conceito cuja filosofia de seu trabalho está ligada em gerar-se estímulo de musculaturas profundas, como multífidos e abdominal oblíquo, além de outras superficiais como reto abdominal e paravertebrais, na intenção de promover ação postural, terapêutica, preventiva e otimizadora na função do aparelho locomotor. Seguindo esta premissa, podemos concluir que para a realização de exercícios físicos que tenham como preocupação tais grupamentos, deve-se observar com preocupação o ato da respiração e devem ser realizados combinando ação de múltiplas articulações, inclusive requerendo equilíbrio do participante, podem ser reconhecidos como componentes de um programa de Core Training [10]. A disseminação de diferentes abordagens de exercícios de estabilização junto aos pacientes fez com que as prescrições para diferentes casos adquirissem cada vez mais individualidade. Esse leque de possibilidades facilitou a disponibilidade de ferramentas disponíveis para o tratamento de patologias de coluna vertebral [9], transtornos neuromusculares [11] e recuperação funcional após período de internação [4]. Tendo em vista a pluralidade do Core Training a respeito de sua aplicação no tratamento de patologias de coluna vertebral, abordagem preventiva de lesões e ferramenta de upgrade em performance física, este estudo tem como Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 objetivo responder sobre a eficácia do método, se positivo, fortalecer suas indicações, e se há estudos suficientes para suportar sua eficiência. Métodos Para a realização deste estudo, foi efetuado um levantamento na base de publicação Pubmed, durante o mês de janeiro de 2010, com aplicação de filtros para: texto completo, itens com resumo, ensaios clínicos, meta-análises, ensaios controlados randomizados, e em língua inglesa. As palavraschave aplicadas para busca de artigos científicos foram, respectivamente, stabilization and exercise, stabilization and exercises, Core Training e Core Training Exercise. Após coleta geral, os artigos selecionados foram confrontados por análise de um examinador, visando, através da observação de critérios de inclusão e exclusão, descartar as citações repetidas, ou ainda aquelas que tratavam do tema sem implicação direta com a filosofia do Core Training. Foram considerados como critérios de exclusão, artigos que tratavam da realização de exercícios sem abordar musculaturas específicas do Core. Não houve exclusão de artigos de acordo com eventual ano de publicação. Foram incluídos então os estudos que tratam da temática, observando os critérios de filtragem aplicados na busca. Resultados De acordo com a metodologia proposta, este estudo seguiu suas diferentes etapas (Figura 1), culminando em um total de 39 artigos aptos a compor este estudo de revisão. Figura 1 - Etapas de captação e apuração de artigos aptos a compor este estudo de revisão. Palavras-chave Stabilization Stabilization AND Exercise AND Exercise Core training Core training Realização de busca Aplicação de filtros Resultados parciais Stabilization Stabilization AND Exercise AND Exercises N=17 N=18 Core training Core training N=65 N=44 Análise do examinador Aplicação dos critérios de inclusão e exclusão Total de artigos inclusos: 39 Ensaios controlados randomizados: 24 Estudos de Caso - 12 Projetos - 3 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Fundamentos do core training O termo Core Training está relacionado com um programa de exercícios corporais globais com ênfase sobre as musculaturas do centro do corpo, especificamente reto abdominal, abdominal oblíquo, paravertebrais e multífido [10]. Há uma boa variedade de técnicas que se relacionam com estímulo de tais musculaturas, e um conjunto de exercícios com esta finalidade compõe um programa de Core Training [1,2,8,9]. Durante a execução, são prioritariamente observadas contrações estáticas e os exercícios são enquadrados como que para fins de estabilização [1,2,4,9], tratamento [1,4,7,9] e prevenção [2,10]. A musculatura abdominal é de fundamental importância no balanço e estabilidade corporais, principalmente em atividades de maior dinamismo, como aquelas que requeiram saltos [12]. A contração estática tem relevância no tratamento de instabilidades e processos degenerativos [13], assim como também promove aumento de vascularização superficial [14]. Al-Obaidi et al. [8] observaram alteração nas condições hemodinâmicas sobre pressão arterial e frequência cardíaca em indivíduos submetidos a exercícios de estabilização de McKenzie. Os exercícios inclusos em um programa de Core Training têm característica abrangente e requerem ação de co-contração para evitar resultados indesejados de instabilidade e sobrecarga muscular [15]. Com a realização de exercícios para o Core, com uso de bolas suíças e periodicidade de duas vezes por semana durante seis semanas, Stanton et al. [16] observaram um amento de estabilidade das musculaturas do Core, porém sem perceber alterações em VO2 máximo e modificação de postura durante corrida em esteira. Sato e Mokha, durante idêntico período de tempo, analisaram as variáveis de força de reação do solo e performance de corrida em 5000 m, observando que os corredores que realizaram programa de Core Training percorreram a distância em menos tempo, porém sem qualquer influência sobre melhoria de equilíbrio ou força de reação do solo [17]. O Core Training em diferentes aplicabilidades Estudos sobre o comportamento muscular durante o Core Training vêm sendo recorrentes. Lehman et al. [18] compararam a realização de exercícios com apoio em superfícies lábeis e rígidas em 13 indivíduos saudáveis com o uso de um banco e uma bola suíça, empurrando pés ou mãos. Em superfícies instáveis foi encontrada alteração eletroneuromiográfica (EMG) em tríceps braquial e reto abdominal, mas não quando o apoio estava nos pés, sendo a posição de sustentação fundamental no aumento de ativação da musculatura proposta, por também não influenciar sobre ênfase de atividade muscular em exercícios para membros superiores [19]. A utilização de superfícies lábeis está sendo difundida para aumentar requisição das musculaturas do Core quando comparamos a realização de exercícios nestas superfícies contra o solo. Exercícios de ponte em prono com o uso de bola 221 suíça representaram em aumento EMG de reto abdominal e oblíquo externo em comparação ao apoio no solo [20]. Cosio-Lima et al. compararam durante 5 semanas a atividade EMG de reto abdominal e eretores da coluna em 30 mulheres submetidas a exercícios abdominais e de extensão de coluna vertebral, observando aumento desta variável assim como de escore de equilíbrio junto ao grupo que fez uso de bolas suíças. Não foi detectado aumento de força via dinamômetro isocinético [21]. Pequenas diferenças de posicionamento podem representar em diferenças EMG nos músculos envolvidos nos exercícios. Em diferentes exercícios de ponte, foi observada alteração de atividade EMG de reto abdominal e abdominal oblíquo, mediante realização simples, com bolas sob joelhos e com extensão unilateral de joelho [22]. Musculaturas dorsais podem ser mais estimuladas com a combinação de extensão contralateral de membros, ao comparar-se com comportamento homolateral durante exercícios de Core em quatro apoios, já os multífidos e o glúteo máximo não apresentam diferenças [23]. O Core Training na dor lombar A realização de exercícios para o tratamento da dor lombar é uma abordagem clínica extremamente comum. Tal fato pode ser justificado devido às musculaturas de tronco e quadril atuarem harmonicamente sobre a estabilização vertebral [23]. Niemisto et al. aplicaram técnica de energia muscular sobre transverso abdominal, resultando em menor dor e disfunção em 204 indivíduos com dor lombar crônica [9]. Norris e Matthews aplicaram inicialmente o Core Training e integraram-no a atividade progressiva em 3 estágios, obtendo 89% de consideração aceitável sobre dor e função [24]. Os casos de dor lombar inespecífica não apresentaram diferenças em ter atividade extra de Core Training sobre exercícios convencionais [25], já em casos definidos de pósoperatórios de hérnias discais lombares, intervenções por duas vezes semanais resultaram em aumento significativo de funcionalidade após 12 meses de advento cirúrgico, inclusive não representando em efeitos colaterais pela precocidade [26]. Os procedimentos de Core Training ganham cada vez mais popularidade, e um programa padronizado está sendo pesquisado com 1350 participantes no Reino Unido para ser indicado como método de tratamento da dor lombar [6]. A perspectiva da realização dos exercícios com indivíduos de faixa etária mais elevada é positiva, pois idosos apresentam boa aceitação, com níveis satisfatórios de contração via análise EMG [27]. O Core Training em seu aspecto laboral e desportivo A preocupação com o gestual biomecânico profissional, gerou em Peate et al. a intenção de aplicarem o Core Training 222 em 433 bombeiros, na posição pronada, com objetivo de promover equilíbrio muscular, tratar de transtornos e prevenir lesões em situações como de resgate a vítimas e entradas por janelas, que exigem atuação intensa de musculaturas anteriores. Após a intervenção foi observada redução de 62% no tempo de afastamento por lesão e 42% em menor ocorrência de casos, comparado ao grupo controle [10]. Embora os resultados observados atualmente sobre exercícios de estabilização estáticos sejam relevantes, outros métodos comparados a este já apresentaram efetividade tão relevante quanto, como a realização de atividades dinâmicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva [1], e outros com maior ação direta sobre a musculatura do Core, como exercícios específicos de sobrecarga em uma repetição máxima [28]. As modalidades esportivas se envolvem a cada dia mais com novas metodologias de treinamento, sendo a prevenção um fator de grande relevância junto ao atleta. O Core Training em âmbito desportivo vem sendo aplicado com a finalidade preventiva [29,30], terapêutica [31] e de melhoria da performance [2,5,30]. Foi observada melhoria na prática esportiva do golfe em atletas de faixa etária mais elevada [2,30] e aumento no potencial de arremesso em atletas de basquete [5], porém ao estudar em mulheres atletas de futebol, um programa de exercícios, com inserção de Core Training, batizado de “The 11”, Steffen et al. não encontraram resultados relativos à alteração em performance esportiva [30]. Ao tentar observar ação de equilíbrio muscular pélvico sobre atletas femininas de basquete, Nadler et al. não encontraram correlação sobre aumento em resistência de quadril, assim como sobre redução na ocorrência de dores lombares [31]. Mesmo com conhecimento de benefícios do Core Training em dores lombares crônicas, devemos tomar cuidado com atividades especialmente intensas, posteriores ao procedimento, pois indivíduos com dores lombares recorrentes apresentam alterações de marcha após estresse paravertebral lombar [32], com ação inibitória não significante sobre quadríceps [33], devendo os próximos estudos vasculhar o comportamento de diferentes musculaturas. O Core Training e suas novas perspectivas Indivíduos com transtornos neurológicos podem se beneficiar dos exercícios de Core devido a sua realização contribuir com otimização funcional da marcha [11]. Dores cervicais crônicas apresentaram melhora com a realização de exercícios de estabilização estáticos aplicados por Ylinen et al. [34], abordando bons resultados de aplicação deste tipo de exercício em outro segmento da coluna vertebral. Acessórios diferentes dos convencionais podem ser utilizados para estímulo do Core, mas nem sempre com resultado expressivo, pois sobre a variável de força envolvendo manguito rotador, a plataforma vibratória não apresentou diferença quando da atitude de empurrar comparada com exercícios de sobrecarga [35], já quando o Body Blade foi testado na aplicação prática sobre Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 diferentes musculaturas, percebeu-se aumento da atividade EMG de abdominais oblíquos [36]. Novos estudos sobre o Core Training estão em desenvolvimento, evoluindo estudos já realizados ou criando outras possibilidades. Indivíduos que deixam unidades de terapia intensiva realizarão o Core Training em âmbito domiciliar para evolução de funcionalidade [4]. Soldados que sofram de dores lombares receberão estímulos de Core e exercícios tradicionais, associados ou não a orientação psicossocial, visando identificar qual intervenção será a mais indicada [37]. Macedo et al. e Maher et al. intensificam pesquisas do Core sobre dores lombares, investigando a eficácia dos seus exercícios comparados a exercícios convencionais e placebo [38,39]. Este estudo apresentou como fator de limitação, a escassez de publicações em âmbito brasileiro, para que se pudesse fazer uma apuração sobre os resultados encontrados por pesquisadores nacionais. Outro aspecto a se considerar são as variadas técnicas que têm como característica estimular os mesmos grupamentos citados no Core Training, fator este que pode tornar confusa a busca efetiva por artigos relacionados à temática. Conclusão Tendo em vista a relevância dos achados, podemos concluir que o Core Training consiste em uma medida efetiva de tratamento e melhoria de funcionalidade, especialmente sobre transtornos de coluna vertebral, devendo o aspecto preventivo e de ampliação de qualidade funcional ser investigado com mais estudos, devido ao número ainda reduzido de evidências em ambos os campos. Para planejamento de investigações futuras, é vasto ainda o campo de pesquisas que podem ser realizadas, como a associação de acessórios para ampliar a atividade do exercício sobre as musculaturas trabalhadas, assim como os reflexos de sua aplicação em faixa etária mais avançada e no tratamento de patologias neurológicas. Referências 1. Kofotolis N, Kellis E. Effects of two 4-week proprioceptive neuromuscular facilitation programs on muscle endurance, flexibility, and functional performance in women with chronic low back pain. Phys Ther 2006;86:1001-12. 2. Lehman GJ. Resistance training for performance and injury prevention in golf. J Can Chiropr Assoc 2006;50(1):27-42. 3. Hamlyn N, Behm DG, Young WB. Trunk muscle activation during dynamic weight-training exercises and isometric instability activities. J Strength Cond Res 2007;21(4):1108-12. 4. Elliott D, McKinley S, Alison JA, Aitken LM, King MT. Study protocol: home-based physical rehabilitation for survivors of a critical illness. 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BMC Musculoskelet Disord 2005;6:54. 224 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Revisão Saúde pública, interdisciplinaridade e formação do fisioterapeuta Public health, interdisciplinarity and formation of the physical therapist Bianca Callegari, Ft., D.Sc.*, Marília Maniglia de Resende, Ft., M.Sc.**, Michelle Ferreira Guimarães, M.Sc.*** *Docente do curso de Fisioterapia da UFPA - Universidade Federal do Pará, **Docente da Faculdade SEAMA, ***Fonoaudióloga, Doutoranda em Neurociências pela UFPA, Docente da Faculdade SEAMA Resumo Abstract As origens históricas, a caracterização definida pela legislação, e o modelo de atenção à saúde em que está inserida a Fisioterapia no país, parecem ter seguido a mesma direção das especialidades médicas, no sentido de compartimentalizar as áreas de estudo e os campos de atuação profissional. O conceito de saúde, no entanto, tem evoluído e abrange hoje um conjunto de determinantes de vida que envolve fatores sócio-econômicos, alimentação, meio ambiente e saneamento básico, entre outros. O pensar e o atuar coletivamente de forma interdisciplinar devem acontecer em todo o processo de formação do profissional fisioterapeuta. Este profissional necessita receber uma formação que o permita pensar e agir, não somente direcionado a área de atuação, mas inter-relacionando-se com outras áreas. Essa reflexão deve, entretanto, estar disposta nas discussões de Projetos Pedagógicos, reorganizando-os de modo a garantir essa prática, por meio de atendimentos em centros de reabilitação interdisciplinares, aprendizado baseado em problemas, entre outras estratégias. The historical origins, the legal characterization, and the model of health care that is inserted into the physical therapy, in the country, seem to have followed the same direction of the medical specialties, aimed to compartmentalize areas of study and professional fields. The concept of health, however, has evolved and now includes a set of life determinants that involves socio-economic factors, nutrition, environment and sanitation, among others. Thinking and acting collectively, in an interdisciplinary way, should happen in the process of formation of the physical therapist professional. This professional need to have training that enables him to think and act, not only directed to the area, but interrelating with other areas. This reflection, however, should be ready to be discussed in pedagogical projects, reorganizing them to ensure that practice, through attendance at interdisciplinary rehabilitation centers, problem-based learning, among other strategies. Key-words: public health, interdisciplinary, physical therapy. Palavras-chave: saúde pública, interdisciplinaridade, Fisioterapia. Introdução As origens históricas, a caracterização definida pela legislação, e o modelo de atenção à saúde em que está inserida a Fisioterapia no país, parecem ter seguido a mesma direção das especialidades médicas, no sentido de compartimentalizar as áreas de estudo e os campos de atuação profissional. Porém, a preocupação crescente com a qualidade de atendimento oferecido à população, definidos pelos próprios princípios do SUS de universalidade, integralidade e humanização, preconizam uma atenção sob um enfoque interdisciplinar e com trabalhos em equipe. A estratégia do Programa de Saúde da Família foi criada com o intuito de reorganizar a atenção à saúde em novas bases e substituir o modelo tradicional levando a saúde para mais perto da família e, com isso, melhorando a qualidade Recebido 1 de novembro de 2010; aceito em 15 de abril de 2011. Endereço para correspondência: Bianca Callegari, Rua Antônio Barreto, 1198/102 B, 66060-020 Belem PA, Tel: (91) 8849-5088, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 de vida da população brasileira. O programa prioriza as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas, de forma integral, interdisciplinar e contínua. O atendimento é prestado por equipes de saúde, com médicos, enfermeiros, agentes comunitários, além dos profissionais do Núcleo de Apoio a Saúde da Família, incluindo o fisioterapeuta [1,2]. Desenvolvimento, interdisciplinaridade e saúde coletiva O conceito de saúde tem evoluído e abrange hoje um conjunto de determinantes de vida que envolve fatores sócioeconômicos, alimentação, meio ambiente e saneamento básico, entre outros. Seria um retrocesso imaginar que um único profissional teria conhecimentos humanos tão amplos a fim de embarcar as ações que todos os profissionais de saúde têm feito em prol do bem-estar da população. Assim, a necessidade de saúde da população deve ser compreendida e atendida por um conjunto de disciplinas, bem como a necessidade do esforço das várias áreas da ciência em buscar elucidar questões que possam mais bem promover a saúde da população. O paciente não é uma patologia ou um sintoma qualquer, um pedaço de corpo, e sim, um ser humano, inserido em sociedade, que precisa de uma abordagem integral, humanizada [3,4]. O modelo disciplinar, ou dividido em áreas, funciona de modo que cada disciplina ou área, através de seu enfoque específico, desenvolva instrumentos para conhecer a realidade e os problemas a partir de um determinado ponto de vista, capaz de revelar uma dimensão do humano. Essa visão, porém, necessariamente fragmenta o objeto e o reduz de acordo com os próprios limites da disciplina. Nessa modalidade, privilegiase a decomposição do todo em partes e promove a excessiva especialização e fragmentação do conhecimento [4,5]. Com o desenvolvimento das sociedades e tendo em perspectiva a busca de dimensões mais ampliadas e globalizadas nas esferas do saber e do fazer, a tendência da disciplinaridade é ser transcendida [4]. As disciplinas ou áreas, isoladamente, não dão conta de produzir as respostas necessárias a um mundo que é composto de uma multiplicidade de fatores, que não são mutuamente excludentes e sim explicados uns em relação aos outros. O desafio consiste então, em decifrar um mundo que não é feito de coisas isoladas e onde existe uma complementariedade de dimensões [4,5]. Autores importantes como Japiassu [6], defendem que a interdisciplinaridade é uma das chaves para a superação desse desafio. A possibilidade de uma compreensão integral do ser humano e do processo saúde-doença, objeto do trabalho em saúde, passa necessariamente por uma abordagem interdisciplinar. Não se deve confundi-la com a multidisciplinaridade, que se constitui apenas de uma justaposição, onde os profissionais atuam isoladamente. Observam-se algumas vezes a atuação equivocada de equipes do próprio PSF, abordando 225 apenas de maneira multidisciplinar a atenção as famílias [4-6]. O prefixo “inter” tem o significado de “troca”, “reciprocidade” e disciplina, de “ensino”, “instrução”, “ciência”. Logo, a interdisciplinaridade pode ser compreendida como um ato de troca, de reciprocidade entre as disciplinas ou ciências. A interdisciplinaridade é o princípio da máxima exploração das potencialidades de cada área, da compreensão dos seus limites, e, acima de tudo, é o princípio da diversidade e da criatividade. Caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e é necessária para mediar a comunicação entre esses profissionais e entre eles e o mundo do senso comum [7,8]. A interdisciplinaridade na área da Saúde Coletiva coloca-se como exigência interna, uma vez que seu objeto de trabalho - a saúde e a doença no seu âmbito social - envolve concomitantemente: as relações sociais, as expressões emocionais e afetivas e a biologia, traduzindo, por meio da saúde e da doença, as condições e razões sócio-históricas, de saneamento e culturais dos indivíduos e grupos [8]. O pensar e o atuar coletivamente de forma interdisciplinar devem acontecer em todo o processo de formação do profissional fisioterapeuta, este necessita ter uma formação que o permita pensar e agir, não somente direcionado pela área de atuação, mas inter-relacionando-se com outras áreas [9,10]. O papel da fisioterapia e a formação do fisioterapeuta Ante ao cenário descrito e com a progressiva globalização da economia, acentuaram-se as exigências de formação de um novo fisioterapeuta, sendo realçada a flexibilidade em detrimento da especialização, a qual se inscrevia no contexto da delimitação parcelar das funções. Na esteira deste processo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional definiu, em 1996, orientações no sentido da reestruturação da educação superior no Brasil. Na área da Fisioterapia se instalou, por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso, a preocupação com a formação integrada e o perfil generalista, fundamentados no rigor científico. Tais diretrizes salientam que as atividades teóricas e práticas, presentes desde o início do curso, devem permear toda a formação do fisioterapeuta, destacando-se o caráter integrado e interdisciplinar de sua estruturação [2,3]. As novas organizações curriculares devem assumir uma postura de crítica ao ensino transmissivo e de reprodução de saberes, e envolver a necessidade de pensar a interdisciplinaridade no plano da reorganização curricular, no qual o significado curricular de cada disciplina não pode resultar em uma apreciação isolada de seu conteúdo, mas sim no modo como se articulam as disciplinas em seu conjunto e com as outras áreas do saber. Os próprios mecanismos de avaliação, impostos pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) que incluem o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), preconizam esse novo modelo de educação [2,3]. 226 Essa nova configuração de profissional fisioterapeuta, possibilitará sua atuação nos diversos ciclos de vida, da infância à terceira idade, pressupondo o constante diálogo e articulação com outros profissionais, qualquer que seja o nível de prevenção. Na saúde da mulher, o fisioterapeuta, inserido na equipe, pode atuar, por exemplo, com programas de prevenção que envolve desde orientações, exercícios e reeducação postural, minimizando algias provenientes das mudanças biomecânicas da gestação. A atenção deve ser integrada com outros profissionais, nunca esquecendo a investigação interdisciplinar das causas e fatores de risco e sempre trabalhando conjuntamente na eliminação das mesmas, inclusive por meio de ações de educação em saúde. No climatério, por exemplo, casos de osteoporose, devem envolver o debate entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e educadores físicos sobre questões relacionadas à reposição hormonal e de cálcio, acompanhamento da densidade óssea, imobilismo, prática de atividades físicas e ressocialização [11]. Na saúde da criança e do escolar, o fisioterapeuta deve trabalhar na educação constante de uma sociedade inclusiva, que esteja preparada para receber e conviver, e busque sempre integrar as crianças deficientes. A abordagem deve envolver outros profissionais como fonoaudiólogos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais, de modo a abranger a discussão não apenas sobre aspectos motores e funcionais, mas ainda nutricionais, de audição e linguagem, saúde bucal e desenvolvimento cognitivo. Essa atenção também deve estender-se a crianças saudáveis, com o enfoque de prevenção e promoção a saúde [12]. Na terceira idade, o fisioterapeuta pode desenvolver estratégias de promoção à saúde, prevenção a quedas e melhoria da qualidade de vida, da funcionalidade e do desenvolvimento das atividades de vida diária. Também nesse cenário, para o alcance desses objetivos, preconiza-se a abordagem interdisciplinar, no qual o psicólogo, por exemplo, será indispensável na atenção a um idoso com histórico de queda, que necessita da atuação do fisioterapeuta, porém encontra-se em um quadro de desmotivação, isolamento e baixa autoestima [13]. Em diferentes ciclos de vida, o fisioterapeuta pode ainda atuar em grupos de hipertensão arterial e diabetes mellitus, junto aos demais membros da equipe, prescrevendo atividades físicas, a fim de prevenir, evitar e minimizar as complicações decorrentes da evolução dessas patologias e ainda evitar hospitalização ou, quando essa for inevitável, diminuir a sua duração [14]. A educação em saúde envolve a informação e orientação da população em geral acerca de atividades que podem ser evitadas, ou estimuladas a fim de promover a saúde geral, evitarem o aparecimento de doenças ou ainda minimizar as consequências delas. O fisioterapeuta pode elaborar e participar de programas de educação em saúde dentro de todas as áreas em que se encontra envolvido, ou áreas gerais da saúde pública como a prevenção de acidentes domésticos, socorro em urgências (aspiração de corpo estranho, picada de animais), higiene das mãos, Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 alimentos e objetos a fim de evitar a propagação de doenças infecto contagiosas, saúde bucal, entre outras. Conclusão A Fisioterapia acompanhou a tendência de compartimentalizar as áreas de estudo e seus campos de atuação profissional. Porém, as realidades atuais das políticas de saúde e da própria educação superior têm preconizado o enfoque interdisciplinar e com trabalhos em equipe. A própria estratégia do Programa de Saúde da Família foi criada com o intuito de reorganizar a atenção à saúde, e tem seus alicerces sobre essas novas bases. O fisioterapeuta tem grande contribuição a fornecer e é um ator importante da equipe interdisciplinar, necessitando, no entanto, de formação e comprometimento para atuar de maneira interdisciplinar, em constante diálogo com os demais profissionais. Essa reflexão deve, entretanto, estar disposta nas discussões de Projetos Pedagógicos, reorganizando-os de modo a garantir essa prática, por meio de atendimentos em centros de reabilitação interdisciplinares, aprendizado baseado em problemas, entre outras estratégias. Referências 1. Mattos MCI. Ensino médico: o que sabemos? Interface - Comunic, Saúde, Educ 1997;1(1):193-5. 2. Ministério da Educação e Cultura (BR). Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil 1996; seção 1, p. 1. 3. Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES Nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia. Diário Oficial da República Federativa do Brasil 2001; Seção 1, p. 37. 4. Pombo O. A interdisciplinaridade - reflexão e experiência. Lisboa: Texto; 1994. 5. Fazenda ICA. A questão da interdisciplinaridade no ensino. Rev Educ Sociedade 1987;27. 6. Japiassu H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago; 1976. 7. Rossi CSM. A proposta da interdisciplinaridade na universidade. [citado 2005 Jun 15]. Disponível em URL: http://www. educacaoonline.pro.br 8. Machado NJ. Interdisciplinaridade e saúde. Rev Prop Fac Educ Unicamp 1993;4(1-10): 24-34. 9. Fazenda ICA. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 11ª ed. Campinas: Papirus; 2003. 10. Lucarelli E. Currículo. In: Fazenda ICA. Dicionário em construção; interdisciplinaridade. 2a. ed. São Paulo: Cortez; 2002. 11. O’Connor LJ, Stephenson RG. Fisioterapia aplicada à ginecologia e obstetrícia. 2a ed. São Paulo: Manole; 2003. 12. Shepherd RB. Fisioterapia em pediatria. São Paulo: Santos; 1995. 13. Morelli JGS, Rebelatto JR. Fisioterapia Geriátrica – A prática de assistência ao idoso. São Paulo: Manole; 2003. 14. Ferreira CAM. Psicomotricidade da educação infantil a gerontologia. São Paulo: Lovise; 2000. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 227 Revisão Estabilização segmentar vertebral no controle da dor lombar crônica: efetividade e variações Spinal segmental stabilization in the control of chronic lumbar pain: effectiveness and variations Verônica Olívia Maria Peixoto Brandão Rodrigues de Carvalho, Ft.*, Luciana Bahia Gontigo, Ft.**, Silmar Teixeira, Ft.***, Julio Guilherme Silva****, Marco Orsini*****, Dionis de Castro Dutra Machado, Ft.******, Luiz Claudio Miana, Ft.*******, Victor Hugo do Vale Bastos, Ft., D.Sc.******** *Pós-graduada em Neurociências IPUB/UFRJ, **Graduanda em Fisioterapia e Monitora de fisioterapia neuromuscular UFVJM,***Professor-coordenador da UVA, doutorando em Saúde Mental IPUB/UFRJ, pesquisador do laboratório de pesquisa em fisioterapia da UVA,****Professor Adjunto da Faculdade de Medicina no curso de Fisioterapia UFRJ e Professor-colaborador IPUB/ UFRJ, *****Graduando em Medicina e Doutorando em Neurociências|Neurologia HUAP – UFF, ******Doutoranda em saúde mental IPUB/UFRJ, *******Doutorando em Saúde Mental IPUB/UFRJ, Professor-mestre da Escola Brasileira de Osteopatia e Terapia Manual (EBOM), ********Professor Adjunto UFVJM , pesquisador do Laboratório de Fisiologia do Exercício UFVJM e colaborador IPUB/UFRJ Resumo Abstract Introdução: Dor e desconforto por no mínimo 12 semanas na região lombar é definido como lombalgia crônica que atinge uma elevada parcela da população levando a consequências sociais e de saúde. Estudos demonstram que a instabilidade lombar é gerada por desequilíbrios musculares o que desencadeia os quadros álgicos. Em contrapartida pesquisas atuais indicam a eficiência da estabilização segmentar vertebral (ESV) nestes pacientes, apesar de poucas descrições em determinadas associações da técnica. Objetivos: Apresentar a efetividade da ESV na dor lombar e expor as suas diferentes abordagens. Material e métodos: Esta revisão de literatura utilizou artigos coletados nas bases de dados Pubmed e Scielo. Os artigos selecionados compreenderam o período de publicação de 1995 a 2011; apresentavam metodologias confiáveis e devidamente descritas; e relevância social. Resultados: Busca total de 3925 artigos, dos quais 18 foram selecionados por estarem de acordo com os critérios de inclusão. Conclusão: A literatura tem comprovado eficiência significativa da ESV na dor lombar crônica, e as constantes variações de seus protocolos se mostram necessários para adaptações individuais de pacientes e/ou terapeutas. Introduction: Pain and discomfort for at least 12 weeks in the lumbar region is defined as chronic back pain that affects a high proportion of the population leading to social and health consequences. Studies show that lumbar instability is generated by muscle imbalances that trigger the painful situations. But current researches indicate the effectiveness of spinal segmental stabilization (SSS) in patients, although few descriptions of the technique in certain associations. Objectives: To present the effectiveness of SSS in low back pain and expose different approaches. Methods: This literature review was based on articles found in Pubmed and Scielo databases. Selected articles included the publication period from 1995 to 2011, had reliable methodologies and properly described, and social relevance. Results: A total of 3925 articles were analyzed, of which 18 were selected because they met the inclusion criteria. Conclusion: The literature has shown significant efficiency of SSS in chronic low back pain, and constantly changing protocols are needed to individual patients and/or therapists adaptations. Key-words: segmental, stabilization, low back pain, manual, therapy. Palavras-chave: estabilização, segmentar, dor lombar, terapia, manual. Recebido em 2 de fevereiro de 2010; aceito em 2 de maio de 2011. Endereço de correspondência: Victor Hugo Bastos, Departamento de Fisioterapia Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, Rodovia MGT 367, 5000, Alto da Jacuba, 39100-000 Diamantina MG, Tel: (38) 3532-1239, E-mail: [email protected] 228 Introdução Atualmente a dor lombar crônica (DLC) leva a incapacidades persistentes e dias de trabalho perdidos, sendo uma questão socioeconômica e de saúde [1-6]. Por volta de 60-85% da população de adultos cursará com dor lombar em algum momento da vida [4-5,7]. Observações atuais demonstram que 15% das pessoas que sofrem de dor lombar irão desenvolver cronicidade e 2-3% dos indivíduos terão uma dor incapacitante [4]. A dor lombar é definida como dor e desconforto localizada abaixo do rebordo costal e acima da dobra glútea inferior, com ou sem dor referente na perna, sendo classificada como crônica quando o último episódio de dor tem permanência por no mínimo 12 semanas [8]. DLC pode ser divida em três categorias descritas na literatura: patologia espinal específica, a qual pode ser decorrente de infecções, tumores, fraturas, dentre outras moléstias; dor da raiz nervosa/dor radicular; e DLC não específica, sendo esta atribuída a patologias específicas não reconhecidas [9]. A última classificação citada representa mais de 85% das pessoas que sofrem de dor lombar, porém alguns autores defendem o fato desta ser desenvolvida por fraquezas e perda do controle motor dos músculos lombares [10-15]. Os músculos profundos existentes na coluna lombar, tais como multifídeos e transverso do abdômen, tem importante função estabilizadora da região. Fato este que foi demonstrado em estudos científicos através da presença de contrações antecipadas a movimentos distais, ação recíproca e estabilizadora de movimentos axiais e presença de atrofia e desequilíbrio destes em elevado número (80%) de pessoas com dor lombar. Porém programas de estabilização global não atingem localmente e efetivamente os músculos profundos, necessitando um trabalho de controle motor e fortalecimento direcionados [16]. Vertentes recentes mostram que uma estratégia adotada é a recuperação do controle motor muscular, também conhecida como estabilização segmentar vertebral (ESV) [4,7,17], a qual visa resolver a deficiência no controle motor na musculatura chave local restaurando a função normal entre os sistemas globais e locais [18]. A eficiência da ESV como tratamento para a dor lombar tem se apresentado em literaturas atuais encontradas em periódicos de alto impacto. Fato este que leva a necessidade da busca seletiva de consideráveis publicações da área, a fim de esclarecer a real eficiência e exposição simplificada da mesma, facilitando o acesso de profissionais da saúde e interessados na área. Além da necessidade de se determinar associações ainda obscuras. Portanto, este estudo apresentou a efetividade da ESV na dor lombar e expôs as suas diferentes abordagens, como principais objetivos. Material e métodos Esta revisão da literatura utilizou artigos coletados nas bases de dados Pubmed e Scielo, utilizando-se as seguintes Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 palavras-chave: estabilização segmentar, dor lombar crônica, terapia manual e as suas similares no idioma inglês. Os artigos selecionados compreenderam o período de publicação de 1995 a 2011; apresentaram metodologias confiáveis e devidamente descritas; e relevância social. Sendo excluídos demais artigos obtidos, com exceção de poucos trabalhos que, pela significância para se obter uma discussão de qualidade, foram aproveitados nesta etapa do estudo. Resultados Na base de dados Scielo, as buscas com as palavras chaves isoladas obtiveram os seguintes resultados: 0 artigos para estabilização segmentar; 13 artigos para dor lombar crônica; e 3 artigos para terapia manual. Neste periódico, as palavras chaves não foram cruzadas pela pequena quantidade de artigos obtidos. No periódico Pubmed, foram realizadas buscas isoladas e cruzadas das palavras-chave, obtendo os seguintes resultados: 53 artigos para estabilização segmentar; 873 artigos para dor lombar crônica; 3001 artigos para terapia manual; 56 artigos para terapia manual e dor lombar crônica; 6 artigos para terapia manual e estabilização segmentar; 27 artigos para estabilização segmentar e dor lombar crônica. Destes 3943 artigos buscados foram excluídos 3924. Portanto foram selecionados 19 artigos considerados adequados para tal revisão por estarem incluídos nos critérios descritos na metodologia. Discussão Efetividade da ESV e comparação com demais técnicas de reabilitação Experimentos têm demonstrado ao longo destes anos que a dor poderia causar uma inibição da atividade antecipatória das musculaturas estabilizadoras, assim como outros trabalhos concluíram que a restrição do movimento induzida por dor, diminuía os inputs proprioceptivos no sistema nervoso central [19]. Em contrapartida outros autores têm mostrado que o medo ou a antecipação da dor poderiam atrasar a atividade muscular do tronco em resposta à tarefa perturbadora [20]. Portanto, a dor é um indicador consistente independente da especificidade da atuação, avaliando alterações positivas pós ESV inclusive após 9 meses de sua aplicação [21]. Análises eletromiográficas demonstraram a ocorrência do mecanismo da ação muscular do transverso do abdômen, além da alteração e atraso da função estabilizadora de pessoas que sofrem de DLC, propiciando maneiras de restaurar a função normal e alívio da dor [22-23]. Um estudo recente utilizando a Estimulação Magnética Transcraniana, e Eletromiografia para análise das mudanças na organização cortical motora numa população de dor lombar, concluiu que se pode direcionar o treinamento de ESV para ganhos de plasticidade neural, e melhorar a coordenação motora de pacientes com dor recorrente [24]. Pesquisas re- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 centes analisaram a relação da disfunção muscular existente e as alterações corticais, concluindo que o treinamento pode ser efetivo na restauração de mecanismos antecipatórios e auxilio no “retreinamento” de pessoas com disfunção musculoesquelética. Além da capacidade da prática da atividade gerar mudanças corticais, o que leva ao prévio conhecimento de aprendizagem motora e plasticidade neural, podendo contribuir para os déficits existentes no controle postural antecipatório [25]. A musculatura central estabilizadora desempenha um considerável papel protetor das estruturas passivas da coluna vertebral, visto que a sua hipotonicidade causa uma transferência excessiva de carga a essas estruturas, provocando dor [26]. McGill [27] descreve que, em alguns indivíduos, atos leves sem grande esforço podem ocasionar lesão, devido à condição instável da coluna vertebral, na qual uma súbita alteração de posicionamento causa curvaturas ou torções repentinas geradas pelo erro no controle motor [27]. O fortalecimento dos músculos do esqueleto apendicular, sem a ação dos estabilizadores, pode estar gerando um desequilíbrio de forças que irá se manifestar no cotidiano do indivíduo, quando este for utilizar a força já aumentada de seus membros, para movimentar algum objeto, sem estar com a coluna vertebral apoiada [27]. Recentemente vários autores vêm considerando o fato de que exercício de ESV é eficaz na redução da dor e da incapacidade em indivíduos com dor lombar [28]. Um trabalho, após comparar ESV com exercícios gerais, concluiu que dor e a incapacidade foram reduzidas no grupo da terapia de estabilização após dez semanas de programa, e mantidas nos 30 meses seguintes de avaliação [28]. Pesquisas realizadas em jogadores de hóquei jovens com DLC concluíram que as técnicas de ESV são mais eficazes em se comparando com a fisioterapia convencional [29]. Outro estudo demonstrou que a melhora pela realização da estabilização ocorre de forma lenta, sugerindo uma redução dos quadros de recorrência após o quadro agudo de dor [30]. Dentro deste contexto, destacam-se os trabalhos que analisam a eficácia de exercícios específicos para o transverso do abdômen, de forma que a atuação em seu controle motor reduziu consideravelmente a dor e incapacidade [31]. Diferentes abordagens da estabilização segmentar vertebral A estabilização segmentar vertebral tem se mostrado eficiente na melhora da dor e capacidade funcional em pessoas com dor lombar crônica [32]. Os autores demonstram diferentes formas de aplicação da técnica com uma mesma finalidade, porém alguns aspectos são comuns: abordagem dos músculos transverso do abdômen e multifídeos, relação com o controle motor, conscientização local dos músculos, exercícios isométricos e carga mínima aplicada [18,32-35]. Aspectos estes que demonstram um mesmo embasamento fisiológico, biomecânico e funcional, apesar da adequação 229 da técnica de acordo com as especificidades do terapeuta, pesquisador ou paciente. O processo de retreinamento dos músculos locais ativando-os de forma consciente e independente a fim de facilitar o padrão motor para atividade da musculatura local requer um alto nível de habilidade clínica. Ensinar e treinar a técnica pode necessitar de auxílios de feedback como a eletromiografia, biofeedback pressórico e imagem de ultrassom em tempo real [18]. Segundo autores as imagens em ultrassom promovem direcionamento do feedback para a ativação muscular precisa necessária, tendo a vantagem das sensações de ver e sentir a contração muscular simultaneamente [32]. Testes utilizando eletromiografia para auxílio do controle motor se mostraram efetivos, já que, após 10 semanas de treinamento, houve diminuição do atraso da contração e nível da dor [36]. Um trabalho realizado por Van Vliet, no qual foi aplicada a ESV em pessoas com dor lombar durante 10 semanas demonstrou redução significativa da dor e incapacidade funcional [18]. Já uma pesquisa que conduziu as intervenções de estabilizações segmentares em um período superior a 6 semanas, duas vezes por semanas por durante 30 minutos cada sessão, atingiu reduções efetivas nos mesmos aspectos avaliados anteriormente [35]. Porém estudos aplicando a técnica em apenas duas sessões, sendo que uma foi de familiarização, apresentou mudanças na ativação dos músculos profundos do tronco [34]. O tempo necessário para alcançar efeitos significativos na contração muscular lombar profunda e consequentemente na estabilização segmentar se apresenta muito diverso, portanto novas pesquisas neste âmbito devem ser desenvolvidas. Entretanto aspectos como frequência, duração e especificidade das técnicas devem ser levados em consideração assim como a individualidade do paciente. A realização da técnica é feita com o paciente em variadas posições. A posição de quatro apoios é utilizada pela vantagem da possibilidade de se colocar os dispositivos do aparelho de eletromiografia, proporcionado o monitoramento da contração muscular isolada [33]. A mais utilizada nos testes e treinamentos é a posição prono, pela facilidade de treinamento clínico auxiliado pelo biofeedback pressórico [33]. Ao realizar o treinamento de pé ou na posição sentada, a aplicação da funcionalidade está presente por serem posturas mais próximas da realidade do paciente [33]. Na aplicação de testes de pesquisas científicas posturas específicas com estabilização na pelve, coxa e joelho, por exemplo, são utilizadas no intuído de evitar os viés, mas nem sempre sua aplicação é possível na prática clínica [34]. As publicações demonstram que a escolha do posicionamento para aplicação da técnica tem maior relevância em relação aos determinados objetivos a alcançar do que sua eficiência em si. Conclusão Os objetivos deste estudo foram apresentar, por meio de uma revisão de literatura, a efetividade da ESV na dor lombar 230 crônica e as suas diferentes abordagens. Após devida discussão, reitera-se as palavras da introdução, onde citou-se que A DLC é intensa, a qual comumente interfere nas atividades diárias do indivíduo, resultando na limitação do sujeito de trabalhar e executar suas atividades funcionais. Desta forma fica clara a relevância deste modelo de revisão. Uma ampla variedade de métodos vêm sendo utilizados no tratamento da DLC, porém devido ao desconhecimento de evidências a utilização de alguns tratamentos de natureza passiva persistem, tais como, descanso no leito, ultrassom, estimulação elétrica, massagem, tração, manipulação, etc. Tais técnicas promovem o alívio da dor apenas imediato, não atingindo a cura do problema, o que leva a quase inevitáveis recorrências. Em contrapartida, trabalhos recentes mostraram que os exercícios e função multidisciplinar orientada para programas de reabilitação, com o objetivo de mudar o comportamento da doença e melhorar a função física pode reduzir a dor e a incapacidade. As estruturas passivas da coluna necessitam de um suporte muscular, para se alcançar a estabilidade adequada aos movimentos, fato esse alcançado através do fortalecimento muscular central. Os exercícios de ESV utilizam uma abordagem baseada nos estágios do aprendizado motor, objetivando o alcance dos componentes do movimento para posteriormente efetuar o movimento como um todo, priorizando a contração muscular voluntária e específica. A técnica se baseia na utilização de séries com número de repetições e contração isométrica, de forma que o paciente deve permanecer atento, utilizando o feedback necessário para uma boa compreensão e, se possível, executar no seu domicílio. O trabalho domiciliar, inserido nas atividades diárias, é fundamental devido à conscientização gerada pelo sujeito sobre seu corpo e as alterações ocorridas. Recentemente vários autores vêm considerando o fato de a ESV ser uma ferramenta adequada na redução das incapacidades, dor e no alcance de um melhor controle postural e coordenação motora, demonstrados principalmente através de escalas e EMG antes e após o tratamento. Outra questão observada é a eficácia dos exercícios. A população que cursa com DLC tem dificuldades em manterse sem dor, e os exercícios de ESV permitem que os sujeitos permaneçam por um tempo mais prolongado com ausência dos sintomas álgicos (cerca de 9 meses após o tratamento). Isso está relacionado, provavelmente, à questão de aprendizagem e a exclusão de artifícios que geram estabilidade artificial para o tronco (assentos ou apoios para coluna), criando uma situação estável baseada no cotidiano individual, a qual restaura estruturalmente as regiões envolvidas assim como mudanças corticais. As diferentes formas da aplicação da ESV se mostram necessárias para corretas adaptações dos pacientes e/ou terapeutas, estando estas comprovadas em estudos científicos. Porém é indispensável a sua correta utilização em cada variação. Finalmente, ainda são necessários mais estudos para atualizações e melhoras da ESV já que a verdade nunca é absoluta, mesmo após comprovações científicas. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 3 - maio/junho de 2011 Referências 1. Ferreira ML, Ferreira PH, Latimer J, Herbert RD, Hodges PW, Jennings MD, et al. Comparison of general exercise, motor control exercise and spinal manipulative therapy for chronic low back pain: A randomized trial. Pain 2007;131:31-7. 2. Magnusson M, Chow HD, Pope MH. Motor control learning in low back pain. Spine 2008;33(16):532-8. 3. Lewis A, Morris M, Walsh C. Are physiotherapy exercises effective in reducing chronic low back pain? Phys Ther Rev 2008;13(1):37-44. 4. Sokunbi O, Cross V, Watt P, Moore A. Experiences of individuals with chronic low back pain during and after their participation in a spinal stabilization exercise programme: A pilot qualitative study. Man Ther 2009;15(2);1-6. 5. Hall L, Tsao H, MaCDonald D, Coppieters M, Hodeges PW. Immediate effects of co-contraction training on motor control of the trunk muscles in people with recurrent low back pain. 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