165 PERCEPÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM ACERCA DA ASSISTÊNCIA PRESTADA AO DEFICIENTE AUDITIVO NURSING TEAM PERCEPTION CONCERNING THE ASSISTANCE GIVEN TO THE AUDITORY DEFICIENT Herina Rodrigues de Oliveira Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG Keylla Silva Lopes Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. [email protected] Neila Maria de Morais Pinto Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Ativação de Processos de Ensino na Formação Superior de Profissionais da Saúde. Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. RESUMO O deficiente auditivo, ao procurar um serviço de saúde, encontra como principal barreira a sua comunicação com a equipe de saúde. Por não fazer uso da língua oral, o deficiente auditivo acaba ficando separado e/ou isolado, tendo seus conhecimentos acerca de sua saúde ou saúde em geral prejudicados ou incompletos Este estudo procurou conhecer a percepção da equipe de enfermagem quanto à assistência prestada ao deficiente auditivo. Estudo qualitativo-descritivo, realizado em Unidades Básicas de Saúde do município de Coronel Fabriciano/MG, de março a junho de 2008 mediante questionário estruturado. A população totalizou 78 pessoas, sendo que a amostra por conveniência se constituiu de 50 destes profissionais. Alguns participantes referiam utilizar linguagem não-verbal, como mímica, gestos, expressão corporal e leitura labial para se comunicar com o deficiente auditivo. Muitos destacaram a importância do acompanhante, mesmo considerando a quebra de privacidade do indivíduo. Reconheceram que é preciso estudar a Língua Brasileira de Sinais. Devido a dificuldades de comunicação, os profissionais necessitam de preparo para assistir o deficiente auditivo. PALAVRAS-CHAVE: Surdez. Comunicação. Enfermagem. ABSTRACT The auditory deficient, when looking for a health service, finds as main barrier their communication with the health team. For not making use of verbal language, the deficient ends up being separated and/or isolated, having their knowledge concerning health or general health, damaged or incomplete. This study has tried to comprehend the perception of the nursing regarding the assistance given to the auditory deficient one. Qualitative-description studies were carried through in Basic Health Units in the city of Coronel Fabriciano/MG, from march to June, 2008 by means of questionnaire structured. The population totalized 78 people, being the convenience sample constituted by 50 of these professionals. Some participants preffered using non-verbal language, as mimics, gestures, corporal expressions and lip reading to communicate with the deficients. Many had highlighted the importance of the companion, taking into consideration the privacy brake of the individual. They have recognized that it is necessary to study the Brazilian Signals Language. Due to the lack of communication, the professionals need preparation to assist the auditory deficient. KEY WORDS: Deaf. Communication. Nursing. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 166 INTRODUÇÃO Para o Ministério da Educação e Desporto, a deficiência auditiva ocorre quando há “perda total ou parcial, congênita ou adquirida da capacidade de compreender a fala através do ouvido. Manifesta-se como surdez leve ou moderada, a perda de até 70 decibéis e surdez severa ou profunda a perda auditiva acima de 70 decibéis” (BRASIL, 1991 apud SANTOS; SHIRATORI, 2004). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), no Brasil, 14,5% da população possui deficiência, o que corresponde a 24,6 milhões de pessoas. Destes, 5.750.809 apresentam alguma deficiência auditiva, e 176.067 declararam-se surdos. Ainda segundo o IBGE, é importante ressaltar que o número de pessoas com deficiência auditiva se eleva com a idade, passando de 4,3% nas crianças até 14 anos, para 54% nas pessoas com idade superior a 65 anos. A linguagem oral é o meio de comunicação mais utilizada na sociedade e traz como conseqüência, a exclusão do surdo no processo de interação social, pois este faz uso da linguagem não-oral (DIZEU; CAPORALI, 2005). Para Rosa, Barbosa e Bachion (2000) o deficiente auditivo, apesar de suas dificuldades de comunicação com as pessoas que convive, tenta se comunicar através dos meios possíveis ao seu alcance, como gestos, desenhos, escrita, e dependendo do seu nível de treinamento, faz leitura labial, tecnicamente feita por leitura orofacial, podendo ficar ansioso, irritado e impaciente quando não compreendido. As línguas de sinais são de modalidades vísuo-espacial ou espaço-visual, pois o indivíduo surdo recebe a informação através dos olhos (observando gestos, expressão corporal do indivíduo transmissor da mensagem) e transmite as informações através das mãos (CHAVEIRO; BARBOSA, 2004). Na Lei nº. 10.436 de 24 de abril de 2002, em seu art. 3º, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e dá outras providências, consta que “as instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor” (BRASIL, 2002). Assim, a Atenção Básica à Saúde se destaca como o primeiro nível de atendimento ao deficiente auditivo (DA), caracterizando-se por um conjunto de ações no contexto individual e coletivo que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2006). Porém, na assistência ao DA dentro do campo de audiologia, não existem ações e nem profissionais específicos nas unidades de saúde. Os profissionais de saúde também não têm executado as ações preventivas ou de promoção de saúde para essas pessoas (MIRANDA et al, 2006). A comunicação pode ser considerada como um instrumento essencial para o desenvolvimento da humanidade e um importante instrumento de intervenção na área da saúde. Considerada, ainda, como um meio de interação entre as pessoas, gerando assim a compreensão e o compartilhamento de mensagens enviadas e recebidas, sejam elas de idéias, sentimentos e emoções. Ocorre mediante o uso de palavras escritas ou faladas, além da comunicação não - verbal, como o uso da língua dos sinais, que tem como exemplo o uso dos gestos, expressões corporais, imagens, tato (CARDOSO; RODRIGUES; BACHION, 2006). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 167 O Ministério da Educação reconhece oficialmente a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como meio legal de comunicação e expressão por meio da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 (BRASIL, 2002). De acordo com Quadros (1997), as crianças brasileiras com surdez aprendem a LIBRAS, que é a primeira língua dos surdos (L1) de forma natural devido ao contato com sinalizadores ou até mesmo tendo em seu convívio pessoas surdas, e como segunda língua, a portuguesa (L2). A explicação dessa afirmação está interligada com o processo de aquisição da língua portuguesa, levando em conta a condição física das pessoas surdas, relatando a autora que qualquer língua oral, exigirá procedimentos sistemáticos e formais para ser adquirida por um surdo. Segundo Dizeu e Caporali (2005), por não fazer uso da língua oral, o DA acaba ficando separado e/ou isolado, tendo seus conhecimentos acerca de sua saúde ou saúde em geral prejudicados ou incompletos. É importante que o enfermeiro conheça e compreenda as necessidades do DA afim de oferecer uma assistência mais humanizada através de práticas educativas. Sendo assim Potter e Perry (1999) enfatizam que a comunicação é um fator essencial para o processo de enfermagem e é função do profissional enfermeiro promover e incentivar a comunicação adequada com os clientes. Estudos que abordam a assistência à saúde do DA são importantes, pois possibilitam uma melhor compreensão e conhecimento por parte dos profissionais da saúde, dentre eles os da enfermagem, sobre as necessidades dos deficientes auditivos e como atendê-los de forma a proporcionar uma assistência adequada e efetiva. Baseando-se nestas questões, este estudo teve como objetivos analisar como a comunicação entre profissional e surdo pode afetar na assistência prestada, bem como levantar os pontos dificultadores na visão da referida equipe para a realização do cuidado com o deficiente auditivo e levantar sugestões feitas pela equipe de enfermagem para tornar mais efetivo e eficaz o atendimento prestado ao surdo. O objetivo central do estudo visou conhecer a percepção da equipe de enfermagem, atuante na Atenção Primária, acerca da assistência prestada ao DA. METODOLOGIA A pesquisa teve caráter descritivo com abordagem qualitativa. Estudos qualitativos, segundo Minayo (1999), oferecem entre outras possibilidades, a decodificação do significado das informações, sem quantificação das mesmas, respeitando a experiência natural do pesquisado com o tema em estudo. Foi considerado critério de inclusão profissionais da equipe de enfermagem (auxiliar, técnico e enfermeiro), trabalhadores nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Município de Coronel Fabriciano – MG. A população totalizou 78 pessoas, sendo que a amostra por conveniência se constituiu de 50 destes profissionais que tiveram condições mentais, emocionais e desejo para responder ao instrumento de coleta de dados. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado que abordou as experiências vivenciadas no estabelecimento de saúde quanto à assistência prestada ao deficiente auditivo. O instrumento foi elaborado baseando-se no questionário publicado (ROSA, BARBOSA, BACHION, 2000). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 168 A coleta de dados foi realizada no período de março a junho de 2008 quando as pesquisadoras se dirigiram às UBS, local de trabalho dos pesquisados, para abordagem aos profissionais explicando o objetivo da pesquisa e sendo aplicado o questionário aqueles que aceitaram participar, se encerrando quando os indivíduos participantes devolveram o questionário devidamente respondido. Para a análise dos dados foi feita leitura repetida das respostas, identificação das argumentações presentes nos discursos dos sujeitos, reconhecimento das idéias convergentes, fazendo relação com a bibliografia disponível. Para preservar o anonimato dos participantes, utilizou-se códigos com letras e números, sendo E para enfermeiros, T para técnicos de enfermagem e A para auxiliares de enfermagem, seguida do número que correspondeu à ordem que os participantes foram entregando o questionário. Fragmentos dos discursos foram selecionados e transcritos no texto como forma de exemplificar as respostas abertas. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Secretário Municipal de Saúde do município de Coronel Fabriciano através da assinatura do Termo de Autorização para Realização da Pesquisa. Também os profissionais que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esta pesquisa contemplou a Resolução 196 de 10 de outubro de 1996 que regulamenta pesquisa com seres humanos (BRASIL, 1996). RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com as respostas dadas pelos participantes e conforme a TAB. 1, 12 (24%) são enfermeiros, 20 (40%) são técnicos de enfermagem e 18 (36%) são auxiliares de enfermagem; 44 (88%) dos 50 pesquisados são do gênero feminino, a faixa etária predominante foi entre 20 e 35 anos, sendo que 23 (46%) marcaram essa alternativa e 0 a 5 anos correspondeu a 33 (66%) das respostas quanto ao tempo de trabalho na Atenção Básica. TABELA 1 Atributos da amostra quanto a categoria profissional, gênero, faixa etária e tempo de trabalho nas UBS Atributos da Gênero Faixa Etária Tempo de trabalho na UBS Amostra Categoria M F 20-35 35-50 50-65 Em 0-5 5-10 10-... Em branco Profissional branco Enfermeiro 1 11 8 3 1 10 2 Técnico 3 17 9 10 1 13 1 5 1 Auxiliar 2 16 6 5 7 10 2 5 1 Dos doze enfermeiros, 8 (67%) referiram ter vivenciado alguma situação em seu trabalho que possibilitou atender a um DA; a categoria que mais referiu ter prestado assistência ao deficiente auditivo foi a de auxiliares de enfermagem, com 14 respondendo afirmativamente, 78% do total de funcionários pertencentes a esta categoria conforme verifica-se na TAB. 2. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 169 TABELA 2 Freqüência da prestação de assistência ao cliente DA Já atendeu deficiente auditivo? Categoria SIM % NÃO Profissional % Enfermeiro 8 67 4 33 Técnico 13 65 7 35 Auxiliar 14 78 4 22 Observou-se que o número de enfermeiros é menor que o número de técnicos e auxiliares de enfermagem, sendo que os dois últimos estão distribuídos em vários setores nas UBS pesquisadas, tornando assim mais freqüente o contato destes profissionais com a população em geral incluindo DA. A TAB. 3 apresenta as várias formas de comunicação utilizadas pelo DA segundo relato dos pesquisados. TABELA 3 Formas de comunicação utilizadas pela equipe ao assistir o DA Formas de comunicação Enfermeiro Técnico Mímica 6 7 LIBRAS 1 Acompanhante 3 3 Expressão corporal 2 Leitura labial 2 5 Escrita 1 1 Auxiliar 4 3 8 2 3 1 Percebeu-se que o DA utiliza mais a mímica e o acompanhante como forma de comunicação com o profissional da saúde. O deficiente auditivo necessita de pessoas que possam servir como canal de comunicação entre ele e aquelas pessoas que não se comunicam através de LIBRAS. Segundo Cardoso, Rodrigues e Bachion (2006, p. 6), “a figura do intermediador configura-se na família, amigos e intérprete profissional”. Silva (1991) apud Rosa (2000) ressalta a importância de o enfermeiro estudar e fazer uso da comunicação não – verbal, de tal maneira que este desenvolva maior habilidade em compreender os sentimentos, dúvidas e dificuldade de verbalização do cliente. Quando perguntados se encontraram dificuldade para interagir com o DA, 25 (50%) participantes responderam afirmativamente, 10 (20%) referiram não encontrar nenhuma dificuldade. Os 15 (30%) restantes responderam nunca ter prestado assistência ao DA. Nota-se que a dificuldade para interação com o DA aparece num percentual significativo conforme relato dos profissionais, o que vem de encontro à literatura revista, na qual os autores enfatizam que para que ocorra a comunicação, é necessário que o deficiente auditivo compreenda e seja compreendido, e quando este procura o serviço de saúde, se depara com condições que interferem de forma negativa na qualidade do processo de comunicação conseqüentemente interferindo na assistência prestada (CHAVEIRO; BARBOSA, 2005; DIZEU; CAPORALI, 2005 CARDOSO; RODRIGUES; BACHION, 2006;). Os participantes que responderam afirmativamente apontaram que a maior dificuldade de interação com o DA está na comunicação, no profissional Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 170 compreender o que o surdo quer passar, e quando este se encontra desacompanhado dificulta a compreensão do profissional que o assiste na consulta e nos procedimentos de rotina da UBS, como podemos observar nas falas seguintes: “A dificuldade encontrada está no entendimento, na orientação, quando o deficiente auditivo encontra-se desacompanhado” (E5). “Dificuldade de comunicação, pois não tenho conhecimento da língua de sinais” (E12). “Interpretar o que o mesmo deseja” (T4). “Acho que a dificuldade seria no entendimento da necessidade do cliente” (A7). “Dificuldade de me expressar para ele” (A8). Foram poucos os trabalhadores da equipe de enfermagem que não encontraram dificuldades ao atender um DA, por terem, segundo seus relatos, alguma noção da LIBRAS ou ter feito um curso de LIBRAS, como citado nas falas: “Dificuldade nenhuma, através da mímica eu posso entender o que ele está necessitando” (T10). “Nenhuma dificuldade” (A5). Alguns referiram falta de preparo e capacitação profissional para atender a esta clientela. Segundo Stefanelli e Carvalho (2005) para se ter uma assistência de enfermagem é preciso saber da importância da comunicação entre a equipe e o cliente como sustentação e sistematização do desenvolvimento do processo de enfermagem em todas as suas fases, independente das especialidades da área da saúde, permitindo a personalização da assistência e, ao mesmo tempo, o oferecimento do cuidado necessário, competente e humanizado. Como o profissional lidou com as dificuldades encontradas para assistir um surdo, são exemplificadas nas falas: “Tentei ler seus lábios e entender os gestos que fizeram, fazendo também com que conseguissem ler os meus” (A3). “Pedi ajuda ao acompanhante” (A7). “Tive que aprender um pouco a língua de sinais” (T2). “Procurei auxílio” (E1). “Tentei estar entendendo o que queria dizer e transmitir, com paciência e tranqüilidade” (E10). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 171 O uso de gestos, mímica e expressão corporal como forma de comunicação utilizada pelo e com o DA nem sempre são claros e facilmente entendidos, demandando tempo e esforço por parte dos profissionais que os atendem. A ajuda do acompanhante e a leitura labial são recursos mais fáceis de compreensão, citados pelos profissionais. A presença do acompanhante ou intérprete é importante no processo de comunicação entre DA e profissional da saúde, porém apesar de representar auxílio, o acompanhante pode tornar-se um problema quando não permite que o surdo participe ativamente da conversa, pois é ele quem explica ao profissional a dificuldade de saúde do DA e recebe as orientações, limitando a individualidade necessária e minimizando as oportunidades do cliente em expor suas dúvidas (SANTOS; SHIRATORI, 2004). À mesma pergunta obteve-se algumas respostas vagas e/ou equivocadas, como “é necessário paciência, peço sabedoria a Deus” (T6); “falei bem perto do ouvido e baixo” (A13). Muitos DA fazem uso de leitura labial, e por isso, o profissional deve falar de forma que o cliente possa ler seus lábios, ou seja, frente a frente, tornando possível a visualização dos movimentos da boca. É importante que o profissional não leve a mão a boca, possibilitando a compreensão de toda uma informação transmitida, bem como deve falar lentamente e com clareza. Um ambiente com boa iluminação, para que seja possível a visualização dos lábios, proporciona uma melhor compreensão. Em alguns questionários não se obteve resposta a esta pergunta inferindo-se o reconhecimento da dificuldade, por parte do profissional, para solucionar o problema de comunicação entre ele e o DA. Quanto à Língua Brasileira de Sinais embora já tenham uma noção do que seja LIBRAS, sua importância na vida do DA e seu uso na interação com este cliente, a maioria dos profissionais de enfermagem, desta pesquisa, parece não estarem preparados para atender à comunidade surda de forma efetiva e tranqüila, pois muitos não sabem “falar” LIBRAS, conforme demonstra a TAB. 4. TABELA 4 Conhecimento e capacitação dos profissionais em LIBRAS Sabe o que é LIBRAS? Categoria Profissional SIM NÃO Enfermeiro 11 1 Técnico 17 3 Auxiliar 13 5 Total 41 9 Fala LIBRAS? SIM 1 2 3 NÃO 12 19 16 47 Lidar com clientes que se comunicam de forma não-verbal demanda tempo, concentração e perseverança para compreender a mensagem do cliente. Assim, ao reconhecerem suas dificuldades em usar a LIBRAS, os profissionais podem estar prestando a assistência de forma parcial e nem sempre eficaz. É importante que o profissional atuante na área da saúde, dentre eles a equipe de enfermagem, tenha um conhecimento sobre Comunicação Total, considerada de grande valia para o atendimento e educação de pessoas surdas, de maneira a atendê-las e assisti-las de forma efetiva e respeitando suas necessidades humanas básicas (PAGLIUCA; FIUZA; REBOUÇAS, 2007). Segundo Dizeu e Caporali (2005), a LIBRAS, sendo a língua dos sinais, tem como meio propagador o campo gesto-visual o que a distingue da língua oral, que Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 172 utiliza o canal oral-auditivo. A língua dos sinais deve ser respeitada, tendo ela a mesma função da língua oral, ou seja, a comunicação. Perguntados sobre os meios que foram utilizados ou que possivelmente utilizariam para a comunicação com o DA 21 (42%) participantes referiram a escrita, seguida dos gestos e mímicas, facilitando a interpretação das informações do profissional para com o DA. Entretanto, segundo Almeida (2000), a escrita do surdo não obedece às exigências da língua portuguesa, uma vez que ele escreve na ordem que são apresentados os sinais através da LIBRAS, e, além disso, a língua de sinais não faz uso de preposições, artigos, conjunções. Portanto, pode ser necessária a presença de um intérprete se o profissional não entender sua escrita, mas geralmente este meio de comunicação é mais simples e compreensível por ambas as partes. As falas citadas a seguir referem-se às sugestões dadas pelos profissionais sobre o que pode ser feito para melhorar a qualidade da assistência da equipe de enfermagem ao DA: “Um profissional realmente capacitado e paciente para assistir estes pacientes” (A3). “Capacitação dos profissionais, fornecendo cursos de LIBRAS” (T8). “Cursos para os profissionais, educação continuada em LIBRAS” (E10). Nota-se que os profissionais possuem consciência de algumas medidas que devem ser tomadas para oferecer uma melhor assistência ao DA e reconhecem a ausência de recursos para atender às necessidades do cliente. Uma das sugestões interessantes que foram feitas, como se vê acima é a educação continuada em LIBRAS, ou seja, os profissionais teriam a oportunidade de aprender a língua de sinais, seriam continuamente atualizados e acompanhados quanto ao desempenho na troca de informações com o DA através da LIBRAS. Para Silva et al (1986) a educação continuada é um conjunto de ações educacionais que promovem oportunidades de desenvolvimento ao funcionário, ajudando-o de forma efetiva e eficaz em sua vida profissional, devendo ser uma constante troca de experiências com a equipe e a organização em que está inserido. Em geral, a sociedade está despreparada para receber os surdos, pois não lhe são oferecidas condições para desenvolver e consolidar sua linguagem. Pode-se assim desvalorizar e descartar relatos que afirmam ser a surdez causadora de limitações emocionais e de conhecimentos, pois a verdadeira limitação está na oferta de condições a esses DA para que possam desenvolver suas reais potencialidades (DIZEU; CAPORALI, 2005). Os pesquisados foram questionados quanto à necessidade de um acompanhante durante a realização da assistência prestada, como pode ser mostrado na TAB. 5. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 173 TAB.5 Necessidade do deficiente auditivo ter um acompanhante durante a assistência de enfermagem prestada à ele Enfermeiro Técnico Auxiliar Sub-total Nº % Sim, se ele 8 12 8 28 53,84% não souber fazer leitura labial Não, se ele souber ler os lábios - 4 1 5 9,61% Sim sempre e 4 4 9 17 32,69% Não, posso contornar a situação - - 2 2 3,84% Total 12 20 20 52 100% OBS.: Ultrapassou-se o número de participantes, pois pode-se escolher mais de uma opção como resposta ao questionamento. Observa-se que a 53, 84%, ou seja, mais da metade dos participantes referiu achar importante a presença do acompanhante se o DA não souber fazer leitura labial. O acompanhante pode ser de extrema importância quanto a ser o elo de comunicação entre profissional e deficiente auditivo, porém, pode também ser um problema, pois fere a privacidade e a individualidade do cliente, que pode omitir importantes informações sobre sua saúde, por constrangimento, vergonha. Por isso, é preciso que o DA tenha confiança no intérprete ou acompanhante (CHAVEIRO; BARBOSA, 2005). Ressalta-se a importância do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, no seu capítulo IV, que preconiza que é dever da Enfermagem: “Art. 28 - Respeitar o natural pudor, privacidade e a intimidade do cliente" (BRASIL, 2000). Portanto, é dever da equipe de enfermagem proporcionar um local apropriado e recursos que facilitem um adequado atendimento ao cliente, neste caso, a presença de um intérprete ou acompanhante. CONCLUSÃO Ao longo da graduação dos cursos de Enfermagem, freqüentemente é abordada a humanização da assistência de enfermagem, visando o paciente como um todo, seguindo os princípios do SUS de forma a melhorar a qualidade de vida do cliente. Entretanto, para que isso ocorra, é necessário um instrumento importante: a comunicação. A comunicação efetiva é um fator de humanização à medida que contribui para a qualidade das interações humanas e facilita a satisfação das necessidades do cliente. A pesquisa desenvolvida alcançou seus objetivos, mostrando que se a comunicação estiver prejudicada ou dificultada, a prestação da assistência também será deficiente, uma vez que a troca de informações não está sendo satisfatória. A equipe de enfermagem pesquisada, em sua percepção acerca da assistência Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 174 prestada ao DA, reconhece a falta de preparo para atender a um cliente com surdez, em seu local de trabalho, atribuindo este despreparo às dificuldades de comunicação, pois não compartilham da linguagem predominante dos DA, que é a LIBRAS. Com o DA a comunicação deve ser transmitida da forma mais clara possível, favorecendo sua compreensão. Percebeu-se, assim, a necessidade de melhorar a relação entre profissional e cliente para a formação de vínculo que possibilite uma comunicação mais eficiente favorecendo a compreensão de ambas as partes. A presença do acompanhante também contribui para esta comunicação, mas não totalmente para a inclusão social do surdo na sociedade. Sugere-se a inclusão da LIBRAS como disciplina nas grades curriculares dos cursos de graduação em Enfermagem, bem como em cursos técnicos e auxiliares de enfermagem, mesmo que seja como uma disciplina optativa, para que haja melhor preparação do futuro profissional na assistência ao DA de forma eficiente. REFERÊNCIAS ALMEIDA,E. O. C. de. Leitura e Surdez: um estudo com adultos não oralizados. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2000. BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção básica. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS Sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, 10 de outubro de 1996. BRASIL. Decreto-lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e dá outras providências. Brasília, 24 abril. 2002. 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