percepção da equipe de enfermagem acerca da

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PERCEPÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM ACERCA DA ASSISTÊNCIA
PRESTADA AO DEFICIENTE AUDITIVO
NURSING TEAM PERCEPTION CONCERNING THE ASSISTANCE GIVEN TO
THE AUDITORY DEFICIENT
Herina Rodrigues de Oliveira
Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG
Keylla Silva Lopes
Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
[email protected]
Neila Maria de Morais Pinto
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Ativação de Processos de Ensino na
Formação Superior de Profissionais da Saúde. Docente do Curso de Enfermagem do Centro
Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG.
RESUMO
O deficiente auditivo, ao procurar um serviço de saúde, encontra como principal barreira a sua
comunicação com a equipe de saúde. Por não fazer uso da língua oral, o deficiente auditivo acaba
ficando separado e/ou isolado, tendo seus conhecimentos acerca de sua saúde ou saúde em geral
prejudicados ou incompletos Este estudo procurou conhecer a percepção da equipe de enfermagem
quanto à assistência prestada ao deficiente auditivo. Estudo qualitativo-descritivo, realizado em
Unidades Básicas de Saúde do município de Coronel Fabriciano/MG, de março a junho de 2008
mediante questionário estruturado. A população totalizou 78 pessoas, sendo que a amostra por
conveniência se constituiu de 50 destes profissionais. Alguns participantes referiam utilizar linguagem
não-verbal, como mímica, gestos, expressão corporal e leitura labial para se comunicar com o
deficiente auditivo. Muitos destacaram a importância do acompanhante, mesmo considerando a
quebra de privacidade do indivíduo. Reconheceram que é preciso estudar a Língua Brasileira de
Sinais. Devido a dificuldades de comunicação, os profissionais necessitam de preparo para assistir o
deficiente auditivo.
PALAVRAS-CHAVE: Surdez. Comunicação. Enfermagem.
ABSTRACT
The auditory deficient, when looking for a health service, finds as main barrier their communication
with the health team. For not making use of verbal language, the deficient ends up being separated
and/or isolated, having their knowledge concerning health or general health, damaged or incomplete.
This study has tried to comprehend the perception of the nursing regarding the assistance given to the
auditory deficient one. Qualitative-description studies were carried through in Basic Health Units in the
city of Coronel Fabriciano/MG, from march to June, 2008 by means of questionnaire structured. The
population totalized 78 people, being the convenience sample constituted by 50 of these
professionals. Some participants preffered using non-verbal language, as mimics, gestures, corporal
expressions and lip reading to communicate with the deficients. Many had highlighted the importance
of the companion, taking into consideration the privacy brake of the individual. They have recognized
that it is necessary to study the Brazilian Signals Language. Due to the lack of communication, the
professionals need preparation to assist the auditory deficient.
KEY WORDS: Deaf. Communication. Nursing.
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009
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INTRODUÇÃO
Para o Ministério da Educação e Desporto, a deficiência auditiva ocorre quando
há “perda total ou parcial, congênita ou adquirida da capacidade de compreender a
fala através do ouvido. Manifesta-se como surdez leve ou moderada, a perda de até
70 decibéis e surdez severa ou profunda a perda auditiva acima de 70 decibéis”
(BRASIL, 1991 apud SANTOS; SHIRATORI, 2004).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), no
Brasil, 14,5% da população possui deficiência, o que corresponde a 24,6 milhões de
pessoas. Destes, 5.750.809 apresentam alguma deficiência auditiva, e 176.067
declararam-se surdos. Ainda segundo o IBGE, é importante ressaltar que o número
de pessoas com deficiência auditiva se eleva com a idade, passando de 4,3% nas
crianças até 14 anos, para 54% nas pessoas com idade superior a 65 anos.
A linguagem oral é o meio de comunicação mais utilizada na sociedade e traz
como conseqüência, a exclusão do surdo no processo de interação social, pois este
faz uso da linguagem não-oral (DIZEU; CAPORALI, 2005).
Para Rosa, Barbosa e Bachion (2000) o deficiente auditivo, apesar de suas
dificuldades de comunicação com as pessoas que convive, tenta se comunicar
através dos meios possíveis ao seu alcance, como gestos, desenhos, escrita, e
dependendo do seu nível de treinamento, faz leitura labial, tecnicamente feita por
leitura orofacial, podendo ficar ansioso, irritado e impaciente quando não
compreendido.
As línguas de sinais são de modalidades vísuo-espacial ou espaço-visual, pois
o indivíduo surdo recebe a informação através dos olhos (observando gestos,
expressão corporal do indivíduo transmissor da mensagem) e transmite as
informações através das mãos (CHAVEIRO; BARBOSA, 2004).
Na Lei nº. 10.436 de 24 de abril de 2002, em seu art. 3º, que dispõe sobre a
Língua Brasileira de Sinais e dá outras providências, consta que “as instituições
públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde
devem garantir atendimento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de
acordo com as normas legais em vigor” (BRASIL, 2002). Assim, a Atenção Básica à
Saúde se destaca como o primeiro nível de atendimento ao deficiente auditivo (DA),
caracterizando-se por um conjunto de ações no contexto individual e coletivo que
abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico,
o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde (BRASIL, 2006). Porém, na
assistência ao DA dentro do campo de audiologia, não existem ações e nem
profissionais específicos nas unidades de saúde. Os profissionais de saúde também
não têm executado as ações preventivas ou de promoção de saúde para essas
pessoas (MIRANDA et al, 2006).
A comunicação pode ser considerada como um instrumento essencial para o
desenvolvimento da humanidade e um importante instrumento de intervenção na
área da saúde. Considerada, ainda, como um meio de interação entre as pessoas,
gerando assim a compreensão e o compartilhamento de mensagens enviadas e
recebidas, sejam elas de idéias, sentimentos e emoções. Ocorre mediante o uso de
palavras escritas ou faladas, além da comunicação não - verbal, como o uso da
língua dos sinais, que tem como exemplo o uso dos gestos, expressões corporais,
imagens, tato (CARDOSO; RODRIGUES; BACHION, 2006).
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009
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O Ministério da Educação reconhece oficialmente a Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS) como meio legal de comunicação e expressão por meio da Lei nº 10.436,
de 24 de abril de 2002 (BRASIL, 2002).
De acordo com Quadros (1997), as crianças brasileiras com surdez aprendem
a LIBRAS, que é a primeira língua dos surdos (L1) de forma natural devido ao
contato com sinalizadores ou até mesmo tendo em seu convívio pessoas surdas, e
como segunda língua, a portuguesa (L2). A explicação dessa afirmação está
interligada com o processo de aquisição da língua portuguesa, levando em conta a
condição física das pessoas surdas, relatando a autora que qualquer língua oral,
exigirá procedimentos sistemáticos e formais para ser adquirida por um surdo.
Segundo Dizeu e Caporali (2005), por não fazer uso da língua oral, o DA
acaba ficando separado e/ou isolado, tendo seus conhecimentos acerca de sua
saúde ou saúde em geral prejudicados ou incompletos. É importante que o
enfermeiro conheça e compreenda as necessidades do DA afim de oferecer uma
assistência mais humanizada através de práticas educativas. Sendo assim Potter e
Perry (1999) enfatizam que a comunicação é um fator essencial para o processo de
enfermagem e é função do profissional enfermeiro promover e incentivar a
comunicação adequada com os clientes.
Estudos que abordam a assistência à saúde do DA são importantes, pois
possibilitam uma melhor compreensão e conhecimento por parte dos profissionais
da saúde, dentre eles os da enfermagem, sobre as necessidades dos deficientes
auditivos e como atendê-los de forma a proporcionar uma assistência adequada e
efetiva.
Baseando-se nestas questões, este estudo teve como objetivos analisar como
a comunicação entre profissional e surdo pode afetar na assistência prestada, bem
como levantar os pontos dificultadores na visão da referida equipe para a realização
do cuidado com o deficiente auditivo e levantar sugestões feitas pela equipe de
enfermagem para tornar mais efetivo e eficaz o atendimento prestado ao surdo.
O objetivo central do estudo visou conhecer a percepção da equipe de
enfermagem, atuante na Atenção Primária, acerca da assistência prestada ao DA.
METODOLOGIA
A pesquisa teve caráter descritivo com abordagem qualitativa. Estudos
qualitativos, segundo Minayo (1999), oferecem entre outras possibilidades, a
decodificação do significado das informações, sem quantificação das mesmas,
respeitando a experiência natural do pesquisado com o tema em estudo.
Foi considerado critério de inclusão profissionais da equipe de enfermagem
(auxiliar, técnico e enfermeiro), trabalhadores nas Unidades Básicas de Saúde
(UBS) do Município de Coronel Fabriciano – MG. A população totalizou 78 pessoas,
sendo que a amostra por conveniência se constituiu de 50 destes profissionais que
tiveram condições mentais, emocionais e desejo para responder ao instrumento de
coleta de dados.
Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado
que abordou as experiências vivenciadas no estabelecimento de saúde quanto à
assistência prestada ao deficiente auditivo. O instrumento foi elaborado baseando-se
no questionário publicado (ROSA, BARBOSA, BACHION, 2000).
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A coleta de dados foi realizada no período de março a junho de 2008 quando
as pesquisadoras se dirigiram às UBS, local de trabalho dos pesquisados, para
abordagem aos profissionais explicando o objetivo da pesquisa e sendo aplicado o
questionário aqueles que aceitaram participar, se encerrando quando os indivíduos
participantes devolveram o questionário devidamente respondido.
Para a análise dos dados foi feita leitura repetida das respostas, identificação
das argumentações presentes nos discursos dos sujeitos, reconhecimento das
idéias convergentes, fazendo relação com a bibliografia disponível. Para preservar o
anonimato dos participantes, utilizou-se códigos com letras e números, sendo E para
enfermeiros, T para técnicos de enfermagem e A para auxiliares de enfermagem,
seguida do número que correspondeu à ordem que os participantes foram
entregando o questionário. Fragmentos dos discursos foram selecionados e
transcritos no texto como forma de exemplificar as respostas abertas.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Secretário Municipal de Saúde do
município de Coronel Fabriciano através da assinatura do Termo de Autorização
para Realização da Pesquisa. Também os profissionais que aceitaram participar da
pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esta pesquisa
contemplou a Resolução 196 de 10 de outubro de 1996 que regulamenta pesquisa
com seres humanos (BRASIL, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com as respostas dadas pelos participantes e conforme a TAB. 1,
12 (24%) são enfermeiros, 20 (40%) são técnicos de enfermagem e 18 (36%) são
auxiliares de enfermagem; 44 (88%) dos 50 pesquisados são do gênero feminino, a
faixa etária predominante foi entre 20 e 35 anos, sendo que 23 (46%) marcaram
essa alternativa e 0 a 5 anos correspondeu a 33 (66%) das respostas quanto ao
tempo de trabalho na Atenção Básica.
TABELA 1 Atributos da amostra quanto a categoria profissional, gênero, faixa etária e tempo de
trabalho nas UBS
Atributos da
Gênero
Faixa Etária
Tempo de trabalho na UBS
Amostra
Categoria
M F
20-35
35-50
50-65
Em
0-5 5-10 10-... Em branco
Profissional
branco
Enfermeiro
1 11
8
3
1
10
2
Técnico
3 17
9
10
1
13
1
5
1
Auxiliar
2 16
6
5
7
10
2
5
1
Dos doze enfermeiros, 8 (67%) referiram ter vivenciado alguma situação em
seu trabalho que possibilitou atender a um DA; a categoria que mais referiu ter
prestado assistência ao deficiente auditivo foi a de auxiliares de enfermagem, com
14 respondendo afirmativamente, 78% do total de funcionários pertencentes a esta
categoria conforme verifica-se na TAB. 2.
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TABELA 2 Freqüência da prestação de assistência ao cliente DA
Já atendeu deficiente auditivo?
Categoria
SIM
%
NÃO
Profissional
%
Enfermeiro
8
67
4
33
Técnico
13
65
7
35
Auxiliar
14
78
4
22
Observou-se que o número de enfermeiros é menor que o número de técnicos
e auxiliares de enfermagem, sendo que os dois últimos estão distribuídos em vários
setores nas UBS pesquisadas, tornando assim mais freqüente o contato destes
profissionais com a população em geral incluindo DA.
A TAB. 3 apresenta as várias formas de comunicação utilizadas pelo DA
segundo relato dos pesquisados.
TABELA 3 Formas de comunicação utilizadas pela equipe ao assistir o DA
Formas de comunicação
Enfermeiro
Técnico
Mímica
6
7
LIBRAS
1
Acompanhante
3
3
Expressão corporal
2
Leitura labial
2
5
Escrita
1
1
Auxiliar
4
3
8
2
3
1
Percebeu-se que o DA utiliza mais a mímica e o acompanhante como forma de
comunicação com o profissional da saúde. O deficiente auditivo necessita de
pessoas que possam servir como canal de comunicação entre ele e aquelas
pessoas que não se comunicam através de LIBRAS. Segundo Cardoso, Rodrigues e
Bachion (2006, p. 6), “a figura do intermediador configura-se na família, amigos e
intérprete profissional”.
Silva (1991) apud Rosa (2000) ressalta a importância de o enfermeiro estudar e
fazer uso da comunicação não – verbal, de tal maneira que este desenvolva maior
habilidade em compreender os sentimentos, dúvidas e dificuldade de verbalização
do cliente.
Quando perguntados se encontraram dificuldade para interagir com o DA, 25
(50%) participantes responderam afirmativamente, 10 (20%) referiram não encontrar
nenhuma dificuldade. Os 15 (30%) restantes responderam nunca ter prestado
assistência ao DA. Nota-se que a dificuldade para interação com o DA aparece num
percentual significativo conforme relato dos profissionais, o que vem de encontro à
literatura revista, na qual os autores enfatizam que para que ocorra a comunicação,
é necessário que o deficiente auditivo compreenda e seja compreendido, e quando
este procura o serviço de saúde, se depara com condições que interferem de forma
negativa na qualidade do processo de comunicação conseqüentemente interferindo
na assistência prestada (CHAVEIRO; BARBOSA, 2005; DIZEU; CAPORALI, 2005
CARDOSO; RODRIGUES; BACHION, 2006;).
Os participantes que responderam afirmativamente apontaram que a maior
dificuldade de interação com o DA está na comunicação, no profissional
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compreender o que o surdo quer passar, e quando este se encontra
desacompanhado dificulta a compreensão do profissional que o assiste na consulta
e nos procedimentos de rotina da UBS, como podemos observar nas falas
seguintes:
“A dificuldade encontrada está no entendimento, na orientação,
quando o deficiente auditivo encontra-se desacompanhado” (E5).
“Dificuldade de comunicação, pois não tenho conhecimento da língua
de sinais” (E12).
“Interpretar o que o mesmo deseja” (T4).
“Acho que a dificuldade seria no entendimento da necessidade do
cliente” (A7).
“Dificuldade de me expressar para ele” (A8).
Foram poucos os trabalhadores da equipe de enfermagem que não
encontraram dificuldades ao atender um DA, por terem, segundo seus relatos,
alguma noção da LIBRAS ou ter feito um curso de LIBRAS, como citado nas falas:
“Dificuldade nenhuma, através da mímica eu posso entender o
que ele está necessitando” (T10).
“Nenhuma dificuldade” (A5).
Alguns referiram falta de preparo e capacitação profissional para atender a esta
clientela.
Segundo Stefanelli e Carvalho (2005) para se ter uma assistência de
enfermagem é preciso saber da importância da comunicação entre a equipe e o
cliente como sustentação e sistematização do desenvolvimento do processo de
enfermagem em todas as suas fases, independente das especialidades da área da
saúde, permitindo a personalização da assistência e, ao mesmo tempo, o
oferecimento do cuidado necessário, competente e humanizado.
Como o profissional lidou com as dificuldades encontradas para assistir um
surdo, são exemplificadas nas falas:
“Tentei ler seus lábios e entender os gestos que fizeram, fazendo
também com que conseguissem ler os meus” (A3).
“Pedi ajuda ao acompanhante” (A7).
“Tive que aprender um pouco a língua de sinais” (T2).
“Procurei auxílio” (E1).
“Tentei estar entendendo o que queria dizer e transmitir, com
paciência e tranqüilidade” (E10).
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009
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O uso de gestos, mímica e expressão corporal como forma de comunicação
utilizada pelo e com o DA nem sempre são claros e facilmente entendidos,
demandando tempo e esforço por parte dos profissionais que os atendem. A ajuda
do acompanhante e a leitura labial são recursos mais fáceis de compreensão,
citados pelos profissionais. A presença do acompanhante ou intérprete é importante
no processo de comunicação entre DA e profissional da saúde, porém apesar de
representar auxílio, o acompanhante pode tornar-se um problema quando não
permite que o surdo participe ativamente da conversa, pois é ele quem explica ao
profissional a dificuldade de saúde do DA e recebe as orientações, limitando a
individualidade necessária e minimizando as oportunidades do cliente em expor
suas dúvidas (SANTOS; SHIRATORI, 2004).
À mesma pergunta obteve-se algumas respostas vagas e/ou equivocadas,
como “é necessário paciência, peço sabedoria a Deus” (T6); “falei bem perto do
ouvido e baixo” (A13). Muitos DA fazem uso de leitura labial, e por isso, o
profissional deve falar de forma que o cliente possa ler seus lábios, ou seja, frente a
frente, tornando possível a visualização dos movimentos da boca. É importante que
o profissional não leve a mão a boca, possibilitando a compreensão de toda uma
informação transmitida, bem como deve falar lentamente e com clareza. Um
ambiente com boa iluminação, para que seja possível a visualização dos lábios,
proporciona uma melhor compreensão.
Em alguns questionários não se obteve resposta a esta pergunta inferindo-se o
reconhecimento da dificuldade, por parte do profissional, para solucionar o problema
de comunicação entre ele e o DA.
Quanto à Língua Brasileira de Sinais embora já tenham uma noção do que seja
LIBRAS, sua importância na vida do DA e seu uso na interação com este cliente, a
maioria dos profissionais de enfermagem, desta pesquisa, parece não estarem
preparados para atender à comunidade surda de forma efetiva e tranqüila, pois
muitos não sabem “falar” LIBRAS, conforme demonstra a TAB. 4.
TABELA 4 Conhecimento e capacitação dos profissionais em LIBRAS
Sabe o que é LIBRAS?
Categoria Profissional
SIM
NÃO
Enfermeiro
11
1
Técnico
17
3
Auxiliar
13
5
Total
41
9
Fala LIBRAS?
SIM
1
2
3
NÃO
12
19
16
47
Lidar com clientes que se comunicam de forma não-verbal demanda tempo,
concentração e perseverança para compreender a mensagem do cliente. Assim, ao
reconhecerem suas dificuldades em usar a LIBRAS, os profissionais podem estar
prestando a assistência de forma parcial e nem sempre eficaz.
É importante que o profissional atuante na área da saúde, dentre eles a equipe
de enfermagem, tenha um conhecimento sobre Comunicação Total, considerada de
grande valia para o atendimento e educação de pessoas surdas, de maneira a
atendê-las e assisti-las de forma efetiva e respeitando suas necessidades humanas
básicas (PAGLIUCA; FIUZA; REBOUÇAS, 2007).
Segundo Dizeu e Caporali (2005), a LIBRAS, sendo a língua dos sinais, tem
como meio propagador o campo gesto-visual o que a distingue da língua oral, que
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utiliza o canal oral-auditivo. A língua dos sinais deve ser respeitada, tendo ela a
mesma função da língua oral, ou seja, a comunicação.
Perguntados sobre os meios que foram utilizados ou que possivelmente
utilizariam para a comunicação com o DA 21 (42%) participantes referiram a escrita,
seguida dos gestos e mímicas, facilitando a interpretação das informações do
profissional para com o DA.
Entretanto, segundo Almeida (2000), a escrita do surdo não obedece às
exigências da língua portuguesa, uma vez que ele escreve na ordem que são
apresentados os sinais através da LIBRAS, e, além disso, a língua de sinais não faz
uso de preposições, artigos, conjunções. Portanto, pode ser necessária a presença
de um intérprete se o profissional não entender sua escrita, mas geralmente este
meio de comunicação é mais simples e compreensível por ambas as partes.
As falas citadas a seguir referem-se às sugestões dadas pelos profissionais
sobre o que pode ser feito para melhorar a qualidade da assistência da equipe de
enfermagem ao DA:
“Um profissional realmente capacitado e paciente para assistir
estes pacientes” (A3).
“Capacitação dos profissionais, fornecendo cursos de LIBRAS”
(T8).
“Cursos para os profissionais, educação continuada em
LIBRAS” (E10).
Nota-se que os profissionais possuem consciência de algumas medidas que
devem ser tomadas para oferecer uma melhor assistência ao DA e reconhecem a
ausência de recursos para atender às necessidades do cliente. Uma das sugestões
interessantes que foram feitas, como se vê acima é a educação continuada em
LIBRAS, ou seja, os profissionais teriam a oportunidade de aprender a língua de
sinais, seriam continuamente atualizados e acompanhados quanto ao desempenho
na troca de informações com o DA através da LIBRAS.
Para Silva et al (1986) a educação continuada é um conjunto de ações
educacionais que promovem oportunidades de desenvolvimento ao funcionário,
ajudando-o de forma efetiva e eficaz em sua vida profissional, devendo ser uma
constante troca de experiências com a equipe e a organização em que está inserido.
Em geral, a sociedade está despreparada para receber os surdos, pois não lhe
são oferecidas condições para desenvolver e consolidar sua linguagem. Pode-se
assim desvalorizar e descartar relatos que afirmam ser a surdez causadora de
limitações emocionais e de conhecimentos, pois a verdadeira limitação está na
oferta de condições a esses DA para que possam desenvolver suas reais
potencialidades (DIZEU; CAPORALI, 2005).
Os pesquisados foram questionados quanto à necessidade de um
acompanhante durante a realização da assistência prestada, como pode ser
mostrado na TAB. 5.
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TAB.5 Necessidade do deficiente auditivo ter um acompanhante durante a assistência de
enfermagem prestada à ele
Enfermeiro
Técnico
Auxiliar
Sub-total
Nº
%
Sim, se ele
8
12
8
28
53,84%
não souber
fazer leitura
labial
Não, se ele
souber ler os
lábios
-
4
1
5
9,61%
Sim
sempre
e
4
4
9
17
32,69%
Não, posso
contornar a
situação
-
-
2
2
3,84%
Total
12
20
20
52
100%
OBS.: Ultrapassou-se o número de participantes, pois pode-se escolher mais de uma opção como
resposta ao questionamento.
Observa-se que a 53, 84%, ou seja, mais da metade dos participantes referiu
achar importante a presença do acompanhante se o DA não souber fazer leitura
labial. O acompanhante pode ser de extrema importância quanto a ser o elo de
comunicação entre profissional e deficiente auditivo, porém, pode também ser um
problema, pois fere a privacidade e a individualidade do cliente, que pode omitir
importantes informações sobre sua saúde, por constrangimento, vergonha. Por isso,
é preciso que o DA tenha confiança no intérprete ou acompanhante (CHAVEIRO;
BARBOSA, 2005).
Ressalta-se a importância do Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem, no seu capítulo IV, que preconiza que é dever da Enfermagem: “Art.
28 - Respeitar o natural pudor, privacidade e a intimidade do cliente" (BRASIL,
2000). Portanto, é dever da equipe de enfermagem proporcionar um local apropriado
e recursos que facilitem um adequado atendimento ao cliente, neste caso, a
presença de um intérprete ou acompanhante.
CONCLUSÃO
Ao longo da graduação dos cursos de Enfermagem, freqüentemente é
abordada a humanização da assistência de enfermagem, visando o paciente como
um todo, seguindo os princípios do SUS de forma a melhorar a qualidade de vida do
cliente. Entretanto, para que isso ocorra, é necessário um instrumento importante: a
comunicação. A comunicação efetiva é um fator de humanização à medida que
contribui para a qualidade das interações humanas e facilita a satisfação das
necessidades do cliente.
A pesquisa desenvolvida alcançou seus objetivos, mostrando que se a
comunicação estiver prejudicada ou dificultada, a prestação da assistência também
será deficiente, uma vez que a troca de informações não está sendo satisfatória. A
equipe de enfermagem pesquisada, em sua percepção acerca da assistência
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prestada ao DA, reconhece a falta de preparo para atender a um cliente com surdez,
em seu local de trabalho, atribuindo este despreparo às dificuldades de
comunicação, pois não compartilham da linguagem predominante dos DA, que é a
LIBRAS.
Com o DA a comunicação deve ser transmitida da forma mais clara possível,
favorecendo sua compreensão. Percebeu-se, assim, a necessidade de melhorar a
relação entre profissional e cliente para a formação de vínculo que possibilite uma
comunicação mais eficiente favorecendo a compreensão de ambas as partes. A
presença do acompanhante também contribui para esta comunicação, mas não
totalmente para a inclusão social do surdo na sociedade.
Sugere-se a inclusão da LIBRAS como disciplina nas grades curriculares dos
cursos de graduação em Enfermagem, bem como em cursos técnicos e auxiliares
de enfermagem, mesmo que seja como uma disciplina optativa, para que haja
melhor preparação do futuro profissional na assistência ao DA de forma eficiente.
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