UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DELAC-Departamento de Estudos de Linguagem, Arte e Comunicação CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS O USO DO A GENTE NO LUGAR DO PRONOME NÓS ENTRE OS FALANTES DE LÍNGUA PORTUGUESA Janaina Smaniotto Ijuí, Julho 2010 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADODO RIO GRANDE DO SUL DELAC- Departamento de Estudos de Linguagem, Arte e Comunicação CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS O USO DO A GENTE NO LUGAR DO PRONOME NÓS ENTRE OS FALANTES DE LÍNGUA PORTUGUESA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Letras e Respectivas Literaturas da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul-UNIJUI, como requisito parcial à obtenção Licenciatura. Autora: Janaina Smaniotto Professora Orientadora: Rosita da Silva Santos Ijuí, Julho, 2010 do título de 2 EPÍGRAFE Aula de Português A linguagem Na ponta da língua Tão fácil de falar E de entender A linguagem na superfície estrelada das letras Sabe lá o que ela quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe E vai desmatando O amazonas da minha ignorância. Figuras de gramáticas, esquipáticas Atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me. Já esqueci a língua em que comia Em que pedia para ir la fora, Em que levava e dava pontapé. A língua, breve língua entrecortada Do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério. (C.Drumond de Andrade,Esquecer para lembrar:Rio de Janeiro:Record,1979). 3 Agradecimentos A DEUS, por ter recompensado todo o meu esforço e a minha vontade para superar todos e quaisquer desafios ao longo dessa jornada. Dedico este trabalho a toda minha família e amigos, em especial ao meu pai, minha mãe, minhas irmãs, meu namorado, a amiga orientadora, Prof. Rosita da Silva Santos, colegas e professores do Curso de Letras Português e Respectivas Literaturas. 4 SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................ 05 1.1-A História da Língua Portuguesa ...................................................................................... 07 1.2-O Português no Brasil ....................................................................................................... 09 1.3-O Português da Atualidade ............................................................................................... 11 2-GRAMÁTICA ................................................................................................................... 13 2.1-A História da Gramática ................................................................................................... 13 2.2-Gramática: Mais que uma? ............................................................................................... 15 2.3-Gramática e Ensino ........................................................................................................... 20 2.4-Linguística ou Gramática. ................................................................................................. 21 3 -Pronomes Pessoais ............................................................................................................ 24 3.1- A gente............................................................................................................................. 27 4-METODOLOGIA .............................................................................................................. 29 4.1-Análise dos dados Coletados ............................................................................................ 30 4.2 IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS ................................................................................... 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 41 5 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O presente trabalho de conclusão de curso constitui-se em um mapeamento da história da língua portuguesa e sua gramática, em especial um estudo dos pronomes pessoais, no que diz respeito à substituição do nós pelo a gente entre os falantes de língua portuguesa e em que o seu ensino está implicado. Muito se tem questionado a respeito do ensino de gramática nas aulas de língua portuguesa: afinal a gramática deve ou não ser ensinada? Em vista disso, surgem também outros questionamentos, acerca do ensino de língua portuguesa nas escolas, pois ao educador compete o ensino da gramática normativa para o cumprimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais servem de referência para o trabalho de todas as disciplinas nos três níveis para a formação escolar dos discentes. Observa-se uma grande dificuldade em relação à aprendizagem, por parte desses, de acordo com a norma culta imposta. Isso acontece devido à cultura dos estudantes que, muitas vezes, é incompatível com a exigida pela escola, levando os mesmos a concluírem a vida escolar sem saberem ler e escrever adequadamente. Não há dúvida de que se deve ensinar a gramática normativa nas aulas de língua portuguesa, embora se saiba perfeitamente que ela em si não ensina ninguém a falar, ler e escrever com precisão (Antunes, 2007, p. 53). O dever da escola é ensiná-la oferecendo condições ao aluno de adquirir competência para usá-la de acordo com a situação vivenciada. Não é com teoria gramatical que a escola concretizará o seu objetivo, pois isto leva os estudantes ao desinteresse pelo estudo da língua, por não terem condições de entender o conteúdo ministrado em sala de aula, resultando assim frustrações, reprovações e recriminações que iniciam pela própria escola e acarretam no preconceito linguístico. 6 O principal objetivo no momento de elaboração do trabalho foi o de constatar a existência do fenômeno da substituição do a gente pelo pronome nós entre os falantes de língua portuguesa em diferentes níveis de comunicação, tanto na linguagem formal como na informal, e analisar sua presença ou não na gramática normativa, descritiva e prescritiva e ainda propor uma maneira viável e frutífera para o ensino dos pronomes nas aulas de língua portuguesa. O objetivo foi o de verificar o quanto alguns casos de língua falada estão presentes na vida das pessoas e com isso possibilitar o ensino através dessas ocorrências trazendo o ensino de gramática para a realidade do aluno. É importante enfatizar que a assimilação crítica dos estudos linguísticos e a necessidade de se estabelecer um maior contato do professor com a língua materna e a proposta da linguística é valorizar a língua falada pelo aluno, considerando que a gramática não deve ser tida como uma verdade única, absoluta e acabada, mas seus conceitos devem ser relativizados, para que alcance o educando do século XXI. Mediante algumas situações ocorridas em sala de aula, relacionadas à aprendizagem, faz-se necessário algumas mudanças nos procedimentos adotados em relação ao ensino de língua portuguesa, pois se sabe que os alunos pertencem a diferentes culturas e devem ser atendidos de acordo com suas necessidades, baseando-se em suas possibilidades de leitura e escrita e levando em consideração o potencial gramatical que cada um tem ampliado, ou seja, enriquecendo o poder linguístico através do ensino da gramática, que tem por objetivo preparar o aluno para uma produção textual obedecendo à norma padrão. Este trabalho de caráter analítico será útil para qualquer pessoa que se interesse pelo estudo da língua, principalmente aquela fincada na visão funcionalista, que busca explicar e encarar os fatos ocorridos na língua falada como sendo um amplo campo para o estudo, pois percebe-se que o ensino de língua portuguesa passa por muitas dificuldades, não apenas com a forma de ensinar a gramática, como também a maneira como o professor atua em sua prática. 7 1.1 A HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA. Segundo Ilari e Basso (2006), o Brasil é o país com o maior número de falantes da língua portuguesa no mundo. Embora seja o maior em número de falantes, o português não nasceu aqui, ele foi implantado no continente sul-americano por efeito da colonização portuguesa, que começa com a chegada de Pedro Álvares Cabral. Como sabemos, as línguas não morrem. Por serem entidades semânticas, elas estão sempre mudando; então, conforme Ilari e Basso (2006), não há ruptura entre a língua que os brasileiros falam hoje e a língua falada em Portugal antes da chegada ao Brasil, assim como também não há ruptura entre o português do tempo dos descobrimentos e o romance português, ou seja, a língua românica falada no norte de Portugal no final do primeiro milênio. O mesmo acontece para o conjunto de línguas românicas em relação com o latim. Assim, podem-se situar as origens do português em torno do ano de 1000, com o surgimento não da língua, mas da nação portuguesa, que já exprime umas línguas próprias, distinta das demais línguas da península ibérica. Ainda conforme autores supracitados, na época do descobrimento, ou seja, em 1500, o português já tinha características bem definidas, tanto em sua fonologia, como em sua sintaxe e seu léxico. Tinha encontrado uma própria solução para sua ortografia e já era a língua de uma rica literatura. Isso tudo resultado de uma história externa que não pode ser ignorada. Os linguistas caracterizam a história externa como os fatores não linguísticos que tiveram peso na evolução da língua e também referem-se à história interna como sendo as mudanças ocorridas na estrutura da língua. Para Ilari e Basso (2006), a origem do latim explica muitas características do português, e voltar à língua anterior aos descobrimentos é a única maneira de avaliar até que ponto o português mudou, não só no Brasil, mas nas novas terras a que foi levado. E para olhar essa língua anterior ao descobrimento será indispensável avaliar algumas hipóteses que procuram explicar a especificidade do português brasileiro em relação a outras variedades da língua. Uma dessas hipóteses afirma que o português do Brasil é mais arcaico do que o português europeu; outras hipóteses afirmam que ele traz características próprias da fala desta ou daquela região de Portugal. 8 O latim que deu origem à língua portuguesa não foi nem o latim literário, nem o latim da Igreja. Para Ilari e Basso (2006), foi uma terceira variedade chamada de latim vulgar. A tradução para esse latim vulgar seria uma espécie de vernáculo, ou seja, um modo de aprender línguas. O aprendizado que se dá por assimilação espontânea e inconsciente no ambiente onde as pessoas são criadas. O latim vulgar opõe-se ao latim literário e ao latim eclesiástico por ter sido um vernáculo. Ao passo que o latim literário e, mais tarde, o latim eclesiástico foram ensinados com o apoio da escrita, o latim vulgar foi uma variedade de latim principalmente falada, a mesma que os soldados e comerciantes romanos levaram às regiões conquistadas durante a formação do império, que foi passando de geração em geração sem ser ensinada formalmente. (Ilari e Basso, 2006, p.17). Logo após as conquistas militares, houve um tempo de estabilidade no Império Romano. Segundo Ilari e Basso (2006), durante esse tempo o latim vulgar foi falado na maioria dos territórios conquistados. Acredita-se que, com isso, o latim vulgar apresentou uma relativa uniformidade em uma grande área geográfica que correspondia boa parte da Europa Ocidental. Mas a uniformidade linguística foi se diversificando cada vez mais, sob o impulso de inovações locais que já não tinham como circular por todo o território romanizado. Assim, no final do século X, o território romano tinha se tornado um lugar de diferentes falares locais, de maior e de menor prestígio. Essa fragmentação do latim vulgar contrasta não só com a relativa uniformidade do próprio latim vulgar durante o período imperial, mas ainda com a uniformidade do latim literário e do latim eclesiástico, que continuaram sendo usados, assim como a fala popular. Mais tarde, alguns dos falares da região, derivados do latim vulgar, ganharam prestígio e transformaram-se nas línguas românicas que conhecemos hoje, dentre elas o português. A diferença do latim vulgar e do latim literário, tanto na sua estrutura gramatical como no seu léxico, é grande e, por esse motivo, embora sendo uma derivação do latim, não basta saber português para entender os textos da literatura latina. O português do Brasil teve como influência o colonizador português, as populações indígenas, os escravos africanos e do próprio brasileiro nativo para formar o que hoje conhecemos de português brasileiro. 9 1.2-O PORTUGUÊS NO BRASIL. Segundo Ilari e Basso (2006), o português é hoje a língua de um país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados e muitos dos aspectos de formação do Brasil são importantes para entender a situação lingüística que o Brasil vive atualmente. Um desses aspectos diz respeito à formação do território nacional, pois o atual território brasileiro se definiu ao longo de mais de quatro séculos num processo pelo qual novas regiões foram incorporadas ao que se entendia por Brasil e essa expansão fez com que o português, a partir da costa atlântica, realizasse extensa e inexorável ocupação a oeste, feita quase sempre por línguas indígenas. E é devido a esse processo que o Brasil é hoje o maior país de língua portuguesa em extensão territorial e também o país onde vive o maior número de falantes de português, cerca de 182 milhões de habitantes. Conforme Basso e Ilari (2006), o país atravessou vários processos ao longo dos três últimos séculos, alguns dos quais ainda estão em andamento. Entre eles estão o crescimento demográfico, a urbanização e a ocupação do interior. O primeiro senso brasileiro contabilizou um total de 9,9 milhões de habitantes, isso para os anos de 1872. Já no final do século XIX, a população começa a crescer num ritmo significativo. Embora os últimos sensos mostrem uma redução nesse ritmo, a taxa de crescimento continua positiva. Em 2004, éramos uma população de 181,6 milhões e estima-se que para 2020 sejamos 219 milhões. Esse crescimento numérico da população tem a ver com a progressiva urbanização porque, a partir do século XX, as cidades cresceram em um ritmo alucinante e esse crescimento é o resultado, sobretudo, de grandes migrações internas e da ocupação do interior brasileiro. Essa urbanização recente, deslocamento de grandes massas migratórias, industrialização, como não poderia deixar de ser, deixaram marcas de tudo isso no português falado aqui. Basso e Ilari (2006) dizem que ao longo de 500 anos de história, a situação linguística do Brasil foi supercomplexa, pelo fato de ter a presença das línguas indígenas, a do português colonizador, a das faladas pelos escravos africanos e logo depois das línguas faladas pelos imigrantes. Então, na formação do português no continente americano, encontramos praticamente todas as situações de contato linguístico possíveis. 10 O final do século XIX e o início do XX são de muita importância para a história do português do Brasil. Esse período é marcado não só por uma série de fatos e eventos que afetam a língua portuguesa, mas também por algumas transformações estruturais. Para Basso e Ilari (2006), o novo contexto criado pela República toma força, há uma preocupação em contar com uma escola pública leiga de alto nível, o que resulta na elaboração das primeiras antologias nacionais para uso escolar, a imagem da língua que prevalece na sociedade é a que se pode retirar dos escritores, e a mesma preocupação de preservação da pureza da língua que prevalece na literatura parnasiana também aparece em muitos gramáticos, que combatem os estrangeirismos desnecessários e as formas de expressão mais tipicamente populares. Enquanto isso acontecia na sociedade, a estrutura sintática do português passava por algumas mudanças menos visíveis, mas nem por isso de menos importância. Essa mudança no português brasileiro refere-se à omissão do objeto direto quando ele consistiria num pronome átono, prevalece o uso do sujeito pronominal, a construção das orações relativas como cortadoras ou copiadoras, de preferência à construção completa ou clássica, prevalece também o uso da ordem sujeito verbo e não verbo sujeito. Essas mudanças são características do português brasileiro e não aconteceram no português europeu, no qual tudo continuou como antes. Para os estudiosos de sintaxe, essas mudanças têm um interesse a mais, pois de acordo com a teoria de Noam Chomsky isso não se trata de fatos independentes, mas sim de manifestações de um mesmo arranjo pelo qual teria passado à sintaxe da língua. Simplificando muito, esse rearranjo constituiu em valorizar a posição que os sintagmas nominais ocupam em relação ao verbo como principal recurso para marcar sua função. Antes da mudança, o português brasileiro indicava função sintática por meio de recursos mais diversificados. Resumindo, no final do século XIX, o português do Brasil elegeu a posição como principal estratégia para indicar a função sintática, dando uma menor importância ao movimento. No final do século XIX, enquanto os gramáticos continuavam envolvidos com seus problemas de sempre, o português do Brasil adotou uma sintaxe parcialmente diferente daquela que se utiliza no português europeu. Temos ai uma conclusão de peso, porque a sintaxe tem sido considerada desde sempre o nível de análise linguística mais importante, quando se pretende decidir se estamos diante de uma ou duas línguas. (Basso e Ilari, 2006, p.86,87). 11 1.3-O PORTUGUÊS DA ATUALIDADE. Hoje, no Brasil, há uma coincidência notável entre as divisas políticas e as fronteiras do português com outras línguas. A forte coincidência que se nota no Brasil entre limites políticos e limites linguísticos não deve impedir-nos de ver algumas situações de bilinguismos, ou seja, para as situações em que o português convive com outras línguas. O português convive com outras línguas, muitas vezes vinda de comunidades formadas por negros após a abolição que se fecharam a colonização por questão de autodefesa, ou mesmo áreas colonizadas por imigrantes europeus que conservam sua língua ou dialeto. Algumas dessas comunidades já foram comunidades de fala não portuguesa, cercadas por todos os lados do português. Mas com o regime do Estado Novo e com a Segunda Guerra Mundial, essas comunidades foram alfabetizadas em português juntamente com todo o território nacional, num primeiro momento essas comunidades passaram a ser bilíngues e logo mais acabaram abandonando a língua trazida pelos imigrantes. Eni Orlandi (2004) instiga-nos a pensar acerca da necessidade de nomear a língua que falamos, pois a questão da língua em que se fala toca o sujeito em sua autonomia, em sua identidade e em sua autodeterminação: falamos a língua portuguesa ou a língua brasileira? E se pensarmos como os gramáticos eruditos que consideravam que só podia falar uma língua, a portuguesa, sendo o resto apenas brasileirismos, tupinismos, escolhas ao lado da língua verdadeira? Temos assim, em termos de uma língua imaginária, uma língua padrão, apagando-se, silenciando-se o que era mais nosso e que não seguia os padrões: nossa língua brasileira. No início do século XIX, Dom Pedro decidiu que a língua que falaríamos seria a língua portuguesa, e os efeitos desse jogo político, que nos acompanha desde a aurora do Brasil, nos faz oscilar sempre entre uma língua outorgada, herança de Portugal, intocável, e uma nossa, que falamos em nosso dia-a-dia, a língua brasileira. No século XX, na década de 1930, há uma discussão na Câmara Federal sobre o nome da língua do Brasil. Decide-se então pelo indefinido, falamos a língua nacional. Embora a cultura escolar se queira, muitas vezes, esclarecedora em sua racionalidade e moderna em sua abertura, acaba sempre se curvando a legitimidade da língua portuguesa que herdamos e, segundo dizem, adaptamos as nossas conveniências, mas que permanece em sua forma 12 dominante inalterada, intocada, que é a língua portuguesa e quem não a fala, mesmo sendo um brasileiro, morando no Brasil, erra e é considerado um marginal da língua. Falamos a “mesma” língua, mas falamos diferente. Consideramos, pois, a heterogeneidade lingüística no sentido de que joga em nossa língua um fundo falso em que o “mesmo” abriga, no entanto, um “outro”, um diferente histórico que o constitui ainda que na aparência do “mesmo”: o português brasileiro e o português se recobrem como se fossem a mesma língua, mas não são. Produzem discursos distintos, significam diferentemente. Discursivamente é possível se vislumbrar esse jogo, pelo qual no mesmo há uma presença dupla, de pelo menos dois discursos, efeitos de uma clivagem de duas histórias na relação com a língua portuguesa: a de Portugal e a do Brasil. (ORLANDI, P. Eni, 2004, p. 30). 13 2- A GRAMÁTICA 2.1-A HISTÓRIA DA GRAMÁTICA Para Gesualda Rasia (2008), a constituição histórica da Gramática parte do objetivo de que a linguagem era uma ciência que teve suas análises feitas a partir das especulações de Platão e Sócrates no século V Ac. Os estudos gramaticais foram fundados na Grécia, com a linguagem sendo de um cunho totalmente filosófico. A partir desses estudos, constatou-se que a língua retrata os fatos da realidade por uma relação natural, intrínseca à língua ou por mera convenção. Platão, na sua obra “O crátilo”, defende que a linguagem é o espelho do mundo, e preocupa-se com a sua denominação, Herógenes defende a arbritariedade da língua e Sócrates tem uma posição intermediária. Platão estabelece as categorias de substantivo e verbos essenciais para as preposições, à ênfase dada à categorização era de ordem semântica e não formal. Conforme a autora supracitada, deve-se também a Platão a organização das classes das palavras, que são partes do discurso, para se chegar às funções sintáticas, questão esta central da linguagem. Para os sofistas, os estudos gramaticais partem da sintaxe para chegar à morfologia, a predicação é a questão central da linguagem. Platão estabelece a distinção entre substantivo e verbo, princípio da frase declarativa, constituintes básicos; Aristóteles acrescenta a classe das conjunções, para ligar as partes do discurso. Em decorrência disso, Aristóteles estabelece as chamadas categorias aristotélicas que foram classificadas como: a substância ou a essência (o quê) referindo-se ao substantivo, 14 o quanto, o qual, o relativamente a quê, este se referindo ao quantificar, o onde, o quando, se referindo ao espaço e ao tempo, o estar em posição, o estar em estado e o sofrer, estes três referindo-se às categorias verbais. Silva (2002) afirma que até aqui estavam definidas no léxico oito partes do discurso, que eram: o nome, verbo, particípio, artigo, pronome, preposição, advérbio e conjunção. Os estóicos foram os que delinearam a gramática tradicional, porém ela se estabeleceu de forma definitiva com os filólogos alexandrinos a partir da descrição de Dionisio de Trácia, em Tekné Grammatik, que incluía a morfologia e a fonética, e tinha como objetivo demonstrar a arte do bem escrever, baseados na língua dos poetas e pensadores gregos. Nesta fase, a gramática era abordada independentemente da filosofia e da lógica. No ano 500, Prisciano, baseado nos estudos de Apolônio e Dionísio Trácio, elabora a primeira gramática latina, com uma morfologia que buscava da etimologia verdadeira, significado original das palavras. Varrão, outro autor latino, estabelece a distinção entre flexão, palavras variáveis e invariáveis, e derivação. Naquela época, a palavra era a unidade mínima significativa, não se conhecia os termos, raiz, radical e afixos, a palavra era considerada unidade semântica, a chave para o verdadeiro significado. Com os estudos do sânscrito (séc. VI) estabeleceu-se a estrutura interna das palavras, ou seja, as unidades mínimas: raízes e afixos; somente no séc. XIX a palavra morfologia foi empregada como termo linguístico. Conforme Silva (2002), a sintaxe, na língua grega, iniciou-se somente no século II dC., com Apolônio Discólio e também com ênfase filosófica. O significado das palavras para eles então estava centrado na própria palavra, uma unidade mínima da frase. O objetivo desse estudo direcionou-se a estrutura verdadeira na busca das regularidades. A Idade Média foi uma fase muito importante nos estudos gramaticais do ocidente. Alguns aspectos contribuíram para tal importância, como a disseminação do latim, o avanço do catolicismo, as traduções das escrituras e as gramáticas foram editadas para o ensino do latim. O resultado de tudo isso foi uma tensão entre o latim, a língua de cultura e as línguas nativas. Rasia (2008) diz que com o renascimento, o latim perde sua hegemonia para as línguas nacionais e enfoca-se a língua como objeto de ensino. Nessa época, surgiram gramáticas exóticas, o tupi, para fins de evangelização. O objetivo disso era mostrar que as línguas vernáculas eram passíveis de descrição a partir de suas regularidades. As gramáticas, 15 manuais descritivos para fins de estudo dos estudantes de línguas estrangeiras, surgem a partir de então, na busca pela sistematização, a fonética, fonologia, a morfologia e a filologia. Com perda de espaço do latim em relação às línguas vernáculas, surge a chamada Gramática Geral e Racional (1660)-Gramática de Port-Royal, que buscava a clareza das línguas vernáculas. Port Royal via a língua como um produto da razão e que diferentes línguas são variedades de um sistema lógico e racional mais geral. Ele também estabeleceu o fim do privilégio da gramática latina, estabeleceu também a frase como unidade gramatical, em oposições dos pensamentos anteriores, que focavam a palavra e suas flexões. Port Royal é o responsável pelo modelo de análise sintática estudada até hoje na atualidade. Rasia (2008) constata que houve algumas implicações da tradição Greco-latina nos processos de gramaticalização das línguas ocidentais, no processo que conduz a descrever uma língua, categorizar unidades, fornecer exemplos e regras para construir enunciados e exemplos podem substituir regras e os paradigmas completos não pertencem à tradição Greco-Latina, mas resultam da finalidade pedagógica, as regras de uma língua, de caráter prescritivo ou descritivo. Se pensarmos na historicidade da gramática, desde sua fundação a partir dos pensamentos filosóficos, da inclusão dos critérios semânticos, de ordem morfológica ou sintática nas gramáticas atuais, dos estudos gramaticais que começaram na Grécia antiga, passando aos romanos e dali para o mundo, porém sem deslizes, ela sempre evoluí acarretando com isso mudanças, pois há uma necessidade de didatizar as gramáticas, por questões pedagógicas, mas hoje ainda a língua é vista como heterogênea, não cristalizada, ou pronta, sempre numa constante mudança conforme o tempo evoluí. 2.2-GRAMÁTICA: MAIS QUE UMA? Irandé Antunes (2007), em seu livro Muito além da Gramática, aborda o tema dos diferentes tipos de gramática, pois quando falamos gramática pensamos em uma coisa só, mas não, são coisas bem diferentes. Quando falamos gramática, podemos estar falando de regras que definem o funcionamento de determinada língua, regras que definem o funcionamento de 16 determinada norma, de uma perspectiva de estudo, de uma disciplina escolar ou mesmo de um livro. Se pensarmos a Gramática como um conjunto de regras que definem o funcionamento de uma língua, englobamos todas as regras de uso de uma língua, desde seus padrões de formação das sílabas, passando por aqueles outros de formação de palavras e de suas flexões, até aqueles níveis mais complexos de distribuição e arranjo das unidades para a constituição das frases e dos períodos. Para Antunes (2007), qualquer pessoa que fala uma língua fala essa língua porque sabe a sua gramática, mesmo que não tenha consciência disso, ou seja, tentar demonstrar como a gramática da língua, nesse sentido de gramática interiorizada, de conhecimento das particularidades da gramática da língua nativa, faz parte do conjunto de saberes que as pessoas desenvolvem desde a mais terna idade. Mas existe a ideia de que apenas a norma culta segue uma gramática, as outras funcionam sem gramática. Essa ideia está fora de contexto, pois toda a língua, em qualquer que seja a condição de uso, é regida por uma gramática. A gramática é constitutiva da língua, ou seja, faz a língua ser o que ela é. Para os falantes nativos de uma língua não existe gramática complicada, pois todos sabem dizer o que querem dizer, e isso acontece porque para esses falantes a gramática está internalizada, sua gramática da língua, num sentido de seu uso real. Antunes (2007) acredita que valeria muito a pena explicar isso aos alunos, pois eles se sentiriam mais encorajados a empreender a tarefa de ampliar suas habilidades comunicativas, demonstrando isso por meio de exemplos ricos e simples. A gramática da língua vai sendo aprendida naturalmente, ou seja, na própria experiência de se ir fazendo tentativas, ouvindo e falando, não se pode dizer que há um momento exato para uma pessoa aprender a gramática, pois ela vai sendo incorporada ao conhecimento intuitivo, pelo simples fato de a pessoa estar exposta à convivência com outras pessoas, em atividades sociais de uso da língua. Em um segundo momento, se pensarmos a gramática como um conjunto de normas que regulam o uso da norma culta, estaremos falando de uma gramática particularizada, ou seja, que não abarca toda a realidade de uma língua, pois contempla apenas aqueles usos considerados aceitáveis na ótica da língua prestigiada socialmente, portanto, é aquela normativa, que prescreve, que define o certo do errado da língua. 17 Essas definições não são feitas por razões propriamente linguísticas, por razões internas à própria língua, e sim por razões históricas, por convenções sociais, que determinam o que representa ou não o falar social mais aceito, por isso que não existem usos linguisticamente melhores ou mais certos que outros e sim existem usos que ganharam mais aceitação, mais prestígio que outros, por razões puramente sociais, advindas, inclusive, do poder econômico e político da comunidade que adota esses usos. Não é por acaso que a fala considerada errada é justamente a fala da classe social, que não tem prestígio nem poder político e econômico. Esse cruzamento de domínios torna um ponto bastante complexo, que exige estudo, análise, reflexão e debate consistente, dentro e fora do ambiente escolar, para que as inúmeras incompreensões que rondam a sua aceitação possam ser ultrapassadas. Antunes (2007) aborda ainda uma terceira acepção para o termo gramática, que pode ser vista numa perspectiva de estudo dos fatos da linguagem, ou seja, para designar uma perspectiva científica ou um método de investigação sobre as línguas. Ao longo dos estudos sobre linguagem, diferentes perspectivas se sucederam, umas mais centradas na língua como sistema em potencial, como conjunto de signos à disposição dos falantes, outras mais voltadas para os usos reais que os interlocutores fazem da língua, nas diferentes situações sociais de interação verbal. É por esse motivo que conhecemos a gramática estruturalista, gerativa, funcionalista, tradicional, entre outras que são linhas de estudos para as diferentes perspectivas. Cada uma dessas perspectivas de estudo possui um corpo de teorias, que justificam um tipo de apreensão, observação e análise do fenômeno linguístico e representam visões históricas da percepção que se tem acerca da linguagem e da língua, visões que, em geral, retratam a ótica comum a outros setores da vida humana. A ciência da linguagem também está em sintonia com as correntes de pensamento mais significativas em cada época, de maneira que se pode ver, por trás de qualquer estudo da linguagem, um aparato teórico que se conjuga com as visões de mundo a partir das quais as coisas são observadas e, conseqüentemente, exploradas e tratadas. (ANTUNES,. 2007 ,p. 31.). Numa quarta acepção, o termo gramática diminui de alcance, pois corresponde uma específica matéria de ensino escolar e que tem o maior índice de uso, pelo menos nos meios escolares. É também a grande dor de cabeça da comunidade escolar, tanto dos alunos como dos professores. É tal a ênfase nessa disciplina que, de uns anos para cá, mereceu uma carga 18 horária especial, separada das aulas de redação e de literatura, como se redigir um texto ou ler literatura fosse coisa que se pudesse fazer sem gramática, ou melhor, como se saber gramática tivesse alguma serventia fora das atividades de comunicação. Uma quinta acepção sobre gramática pode ser vista como um compêndio descritivo normativo sobre a língua, ou seja, na atividade de descrever e prescrever. Temos aí uma gramática que focaliza elementos da estrutura da língua, descrevendo-os apenas ou apresentando-os em suas especificidades, ou seja, temos uma gramática que focaliza as hipóteses do uso considerado padrão, fixando-se, assim, no conjunto de regras que marcam o que se considera como uso correto da língua. Conforme Antunes (2007), esse compêndio de gramática também pode focalizar a língua como sistema em potencial, descontextualizado, focalizando a língua nos seus usos reais, testemunhados pelas situações da interação social. Pode ainda ressaltar os aspectos de flexibilidade, de heterogeneidade da língua, como pode enfatizar a rigidez de algumas de suas regras ou formas, podendo concentrar-se tanto no escrito como no oral ou em ambas as modalidades. As gramáticas têm concedido uma abordagem especial à modalidade escrita, principalmente a literária, e ultimamente também a da imprensa. Antunes (2007) lembra-nos que as gramáticas nunca são neutras, inocentes e apolíticas. Assim, quando se opta por uma delas, estamos optando para uma determinada visão da língua, e que as gramáticas são livros escritos por seres humanos, sujeitos, portanto, a erros e imprecisões, por isso não faz muito sentido reverenciar as gramáticas como se nelas estivessem alguma espécie de verdade absoluta e eterna sobre a língua. Moura Neves (2004) nos lembra que a gramática começou como investigação filosófica sobre a natureza da linguagem, mas que hoje se apresenta como mero meio dogmático de obter correção. A história da gramática começa quando a mesma era chamada de filosófica, que não interessa e nem pertence aos objetivos de um tratamento gramatical de escola fundamental. Muitas são as considerações do termo gramática, sendo uma bem genérica, até uma bem específica, uma visão absolutamente descritiva até uma visão propriamente normativa. Pode-se defini-la como a descrição do funcionamento de uma língua, com particular incidência na morfologia e na sintaxe, ou conjunto de prescrições normativas, sistema formal, construído pelo linguista, para estabelecer um mecanismo susceptível de construir frases como gramaticais pelos locutores de uma língua, e como um sistema interiorizado pelo 19 locutor ouvinte de uma língua que lhe permita produzir e compreender as frases dessa língua, ou seja, a gramática internalizada que acompanha o indivíduo desde sempre. Moura Neves (2004) ressalta que são propostos três tipos de discurso para a gramática: aquele que produz uma imagem da língua única, homogênea, sem variação; aquele que aponta uma norma boa e uma má, ou seja, o que prescreve; e aquele que considera ausência de norma, portanto, contempla a existência de variantes. Os manuais de gramática variam de um extremo em que a norma culta é instituída como natural até o outro extremo, em que se prescinde do conceito de norma culta, passando, nos pontos intermediários, por uma catalogação dos usos com prescritos, aceitos, proibidos, entre outros. Na sociedade em geral, há uma certa discriminação na maneira como cada indivíduo fala, é desconsiderada totalmente sua origem, seu dialeto e sim exigido que a fala “correta” é aquela que a gramática prescreve. Moura Neves (2004) aborda que cabe à escola preservar seus educandos da discriminação social, pois se eles não receberem a devida orientação escolar, o temor do erro será cada vez mais uma questão presente e que tem sido muito mal conduzida, até mesmo para os que fazem uma pregação radicalmente liberal sobre o modo de falar ou escrever dos usuários da língua. Usar os termos “certo” e “errado” são conceitos impossíveis de estabelecer, a não ser em campos legislados, como na ortografia, ou em questões que tocam a própria gramaticalidade, ou seja, em referência a sequências que escapam à gramática da língua, sequências nunca ocorrentes em produções linguísticas de falante nativo, por menos letrado que seja. Para Moura Neves (2004), a escola é o foro institucionalista preparado para colocar os falantes nas situações de uso prestigiado da língua, e isso tem de ser feito dentro do princípio de que a norma-padrão é um uso linguístico tão natural e legítimo quanto qualquer outro, e que dela tem o direito de apropriar-se todo e qualquer usuário da língua, a fim de que esteja preparado para conversar em padrão adequado às diversas situações reais os seus enunciados, para as situações informais de fala, e especialmente no seu próprio meio social. Conforme a autora, quando um simples falantes de uma língua passa a ser escrevente da mesma língua, ele tem de desenvolver uma série de habilidades específicas, tendo de aprender a manejar unidades específicas e a operar distintas marcas de formulação, ou seja, terá de ter posse de um novo tipo de desempenho linguístico. 20 As classes de palavras, pertencentes à gramática, também estão presentes do início ao fim da vida escolar, mas estudam-se apenas nomenclaturas, não o que as elas realmente significam. Dentro das classes de palavras encontram os pronomes, mais precisamente os pessoais, aos quais darei um apanhado mais amplo no próximo capitulo. 2.3.GRAMÁTICA E ENSINO. Segundo Moura Neves (2003), ensinar eficientemente a língua e, portanto a gramática é, acima de tudo, propiciar e conduzir reflexão sobre o funcionamento da linguagem , e de maneira óbvia indo pelos estudos linguísticos, para chegar aos resultados de sentido. Pois, as pessoas falam, exercem sua faculdade da linguagem e usam a língua para produzir sentido, desse modo estudar a gramática é, exatamente, pôr sob teste o exercício da linguagem. Franchi (1991, p.54) defende a ideia de que “Gramática corresponde ao saber lingüístico que o falante de uma língua desenvolve dentro de certos limites impostos pela sua própria dotação genética humana, em condições apropriadas de natureza social e antropológica”. Assim, saber gramática depende apenas da ativação e amadurecimento progressivo, na própria atividade linguística, de hipóteses sobre o que seja a linguagem e de seus princípios e regras. Dessa forma, nessa concepção de gramática não há erro linguístico, mas a inadequação da variedade linguística utilizada em uma determinada situação de interação comunicativa, por não atendimento das normas sociais de uso da língua, ou a inadequação do uso de determinado recurso linguístico para a consecução de uma determinada intenção comunicativa que será melhor alcançada usando-se outros recursos. Por esse motivo costumamos denominar essa concepção de gramática internalizada, em que a linguagem é reflexo de um contexto histórico, social e ideológico, o qual constitui e dá forma ao que entendemos por competência gramatical, textual e discursiva, possibilitando a comunicação em si. 21 Na hora do ensino, muitas vezes o próprio professor tem uma postura subserviente à autoridade acadêmica, enquadrado em um paradigma tradicional de ensino, em que a ênfase está na memorização e na conceituação. Esse professor esquece-se de que a construção do ensino é um processo e não um produto acabado, encontrado nos livros e manuais didáticos. A crítica a gramatiquice e ao normativismo não significa, como pensam alguns desavisados, o abandono da reflexão gramatical e do ensino da norma padrão. Refletir sobre a estrutura da língua e sobre seu funcionamento social é atividade auxiliar indispensável para o domínio da fala e da escrita. E conhecer a norma padrão é parte integrante do amadurecimento das nossas competências lingüístico – culturais. O lema aqui deve ser: reflexão gramatical sem gramatiquice e estudo da norma padrão sem normativismo. (FARACO, 2003,P.22). Devemos então partir para um ensino conjunto onde o funcionamento da língua ande lado a lado com a reflexão gramatical e a norma padrão para que nossos alunos possam exercer a real função da língua e tornarem-se seres que usam a linguagem como real modo de comunicação e que sejam compreendidos nos diversos níveis de interação. 2.4-LINGUÍSTICA OU GRAMÁTICA Existem dois campos em que se situam pontos de diversas controvérsias: são eles o da linguística e o da disciplina gramatical escolar. Não podem ser vistos como estranhos entre si nem como atuações em competição e em processo de destruição mútua, nenhum dos dois precisa vencer e substituir o outro, porque eles necessitam um do outro. A gramática dita normas e a linguística suas limitações e uso real da língua, tanto escrita como falada, ambas têm uma gramática com visões diferentes. Moura Neves (2004) traz em seus estudos que diferentes correntes teóricas vão privilegiar uma ou outra visão de funcionamento da linguagem, ou seja, a capacidade humana da linguagem é o foco da investigação gerativista, a atenção às línguas particulares e a sua organização dentro de uma história e de um sistema constituem território da gramática descritiva, da filologia, da sociolinguística, a atuação linguística abre leque para múltiplas 22 investigações de análise do discurso e sem esquecer que a questão da norma perpassa os dois últimos planos. Como ser humano, o homem fala, e, portanto, o falar tem dimensões universais, pois o homem simplesmente tem essa capacidade natural. Moura Neves (2004) afirma que, como alguém pertencente a essa comunidade, o homem fala uma língua particular, que necessariamente tem uma inserção histórica. Todos temos uma linguagem nata, falamos uma determinada língua que tem toda uma história, pois pertencemos a um país e representamos seu povo através dessa linguagem. Moura Neves (2004) ressalta que “graças a sua capacidade de falar e graças à sua inserção histórica numa língua particular, o homem, efetivamente, atua linguisticamente, ele produz discurso, ele constrói textos.”A gramática que a escola oferece a seus alunos é a que está no bloco intermediário desse elenco que considera os aspectos de falar, é a gramática de uma língua particular, no nosso caso a gramática do português. Aos alunos na escola oferecese um esquema de classes e subclasses, ou elenco de funções dentro da estrutura oracional, nem sempre avaliadas as relações entre as classes e as funções. Segundo a autora, a metalinguagem sufoca a linguagem, o que é antinatural, e o nível a que se limita a análise não é o nível ao qual a linguagem chega. Nossos atuais educadores distanciam muito o ensino do texto e o ensino da gramática, ficando um ensino de regras em cima de regras na sequência que o livro de gramática mostra. Esquecem muitas vezes que um texto é rico para esse ensino; é uma excelente base para esse estudo. Esquecem também que muitas vezes o ensino da língua também se traduz pela oralidade, não precisa necessariamente estudar somente as regras e os exemplos impostos pela gramática. Privilegiar a reflexão é exatamente a razão de recomendar-se um tratamento da gramática que vise o uso linguístico. Isso não apenas estudiosos e professores da língua, mas também falantes comuns, conduzindo na reflexão sobre o uso da linguagem, vão poder orientar-se para a utilização eficiente dos recursos do processamento discursivo. Falta para muitos educadores considerar o que representa o uso da linguagem, a produção discursiva, a criação e a recepção de textos, deixar que os alunos criem sem pressão seus próprios textos e gêneros, para que possa refletir a comunicação humana, ou seja, o uso da linguagem que é basicamente o cumprimento de funções. 23 Se queremos que as crianças falem e escrevam melhor, queremos que elas exerçam plenamente, sem bloqueios, sua capacidade natural de falantes, queremos que elas obtenham o domínio da língua particular que falam, o português, queremos que, nas suas atividades interlocutivas, elas consigam que as interpretações recuperem na melhor medida possível as intenções, já que essa é a meta de eficiência do processamento da interação verbal. (NEVES, Maria Helena de Moura, 2004, p. 115 apud DIK, 1997). A linguagem é heterogênea, mas a gramática trata-a como se fosse homogênea. Moura Neves (2004) afirma que a partir dessa perspectiva direcionada do tratamento escolar da linguagem seria, a princípio, a rejeição de moldes, sejam eles de desempenho, guiado por submissão estreita as normas linguísticas consideradas legitimadas, sejam eles de organização de entidades metalinguísticas, guiada por submissão estreita a um paradigma e suas exemplificações, o qual, excluindo outras formas, veladamente constitui uma organização modelar da escola em si. Moura Neves (2004) lembra-nos de como é o tratamento da gramática nas escolas, um tratamento de como a gramática fosse alguma entidade postiça a que só teremos acesso se sairmos dos textos, ou seja, se abstrairmos os usos, o que realmente seria necessário ao ensino da gramática sempre analisando o funcionamento da língua, deixando de rotular, de apenas dar nomes. 24 3-PRONOMES PESSOAIS Infante (2001), em seu Curso de Gramática Aplicada aos Textos, conceitua pronome como uma palavra que denota os seres ou se refere a eles, considerando-os como pessoa do discurso ou se relacionando com elas. Dessa forma, o pronome permite identificar o ser como sendo aquele que utiliza a língua no momento da comunicação (eu, nós), aquele a que a comunicação é dirigida (tu, você, vós, Senhora), ou também como aquele ou aquilo que não participa do ato comunicativo, mas é nele mencionado (ele, ela, aquilo, outro, qualquer, alguém, entre outros). O pronome também pode referir-se a um determinado ser, relacionando-o com as pessoas do discurso; pode, por exemplo, estabelecer relações de posse ou proximidade com a primeira pessoa, com a segunda e com a terceira. Sintaticamente, os pronomes podem desempenhar as mesmas funções desempenhadas pelos substantivos e pelos adjetivos. Há pronomes que, nas orações, assumem as funções desempenhadas pelos substantivos, são por isso, chamados pronomes substantivos. Também há pronomes que acompanham os substantivos a fim de caracterizá-los ou determiná-los, atuando em funções típicas dos adjetivos. Por isso, são chamados pronomes adjetivos. Se formos classificar os pronomes de um modo geral, podemos dizer que há seis tipos: pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos, indefinidos e interrogativos. Os pronomes pessoais indicam diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve assume os pronomes eu ou nós. Os pronomes tu, vós, você ou vocês para designar a quem dirige e ele, ela, eles ou elas para fazer referência à pessoa ou pessoas de quem fala. 25 Mário Vilela e Ingedore Villaça Kock (2001), em sua Gramática da Língua Portuguesa, abordam os pronomes como uma categoria gramatical com determinadas características, ou seja, são flexionáveis, não comparáveis, e são elementos que ganham peso denotacional na referencialidade do texto ou situação em que são empregados. Encontram assim a sua definição no discurso, apontando para pessoas, seres vivos, objetos ou estados de coisas, em que a relação fixada na materialidade do pronome é deduzida da conexão da frase, do texto ou da situação do discurso. Os sinsemânticos não nomeiam, mas estabelecem a dêixis, a mostração, a orientação, por isso, os pronomes flexibilizam o texto, estabelecendo elos entre as várias partes do texto. Por outro lado, os pronomes funcionam não apenas como substitutos ou representantes do nome, mas também como seus acompanhantes, como determinantes do substantivo. Para que isso ocorra é que os pronomes usam-se do recurso da flexão que marcam a concordância e a relação com a palavra que representam ou determinam. Nos pronomes, há subclasses que apenas funcionam como substantivos, ou que só funcionam como substitutos dos nomes, ou ainda pronomes que diferenciam seres vivos de não vivos. “Sintática e semanticamente, os pronomes têm pontos de contato com as demais categorias, o que dificulta a sua caracterização. Além disso, os pronomes não constituem uma classe totalmente homogênea”.( Villaça e Koch, 2001, p.212). Assim, pronomes pessoais apresentam formas com diferentes funções: comigo = com mim, contigo = com ti, consigo = com si, conosco = com vós, ao lado de com eles/elas. Os pronomes pessoais, o, a, os, as podem mudar sua forma: quando são colocadas depois do verbo ligam-se a este por meio de um hífen e passam a determinadas formas de acordo com a terminação da forma verbal; mas se encontramos uma forma verbal terminada em vogal ou ditongo oral, não altera a forma pronominal; quando a forma verbal termina em r, s, ou z, o pronome toma as formas lo, la, los, las, eliminando as referidas consoantes; e se a forma verbal terminar em ditongo nasal o pronome toma as formas no, na, nos e nas. Sua colocação não foge à regra geral; o pronome sujeito ocupa a posição antes do verbo e as formas complemento depois do verbo. Há particularidades de posição nos pronomes, com os tempos simples e compostos do futuro do presente e do pretérito. A forma do pronome é a chamada forma tônica e forma complemento nas formas de tratamento. Em português, usa-se o pronome pessoal tu, oposto a você, equivalente a tu em algumas regiões geográficas. É o caso da região sul do Brasil e do nordeste. 26 Moura Neves, em sua Gramática de Usos do Português, traz o pronome como sendo algo com uma natureza fórica, ou seja, o pronome tem como traço categorial a capacidade de fazer referência, pode ser a uma coisa ou pessoa, ou a um dos interlocutores da fala ou enunciado. Os pronomes pessoais fazem referência às três pessoas gramaticais do singular e do plural (eu, tu (você), ele (ela), nós, vós(vocês), eles (elas). Suas funções são a interacional, a textual e uma terceira que explica a natureza temática do referente. A interacional remete à representação na sentença dos papéis do discurso, ou seja, a fala, e a textual garante a continuidade do texto remetendo aos elementos do próprio texto. Moura Neves (2000) faz referência ao uso do sintagma nominal a gente como um pronome pessoal. Este pode ser usado para referência à primeira pessoa do plural, o nós, ou para referência genérica incluindo uma pessoa do discurso. A forma a gente sempre deixa indicada a participação da primeira pessoa no conjunto do qual está citando. Outros sintagmas nominais também fazem referência genérica, especialmente na linguagem coloquial ou popular, mas seu estatuto não tem identificação com a classe dos pronomes pessoais como o sintagma a gente tem. Para Abaurre (2006), os pronomes pessoais, por servirem para fazer referência a seres, identificam explicitamente as pessoas do discurso, ou seja, as pessoas que participam da interlocução. Sua classificação é feita de acordo com a posição que a pessoa por eles identificada ocupa na interlocução. Em uma interlocução, a 1ª pessoa é quem fala, o enunciador do discurso. A 2ª pessoa identifica sempre o interlocutor, a pessoa a quem o enunciador se dirige. A 3ª pessoa refere-se ao assunto (pode ser um ser humano ou não) dessa conversa, aquilo sobre o que falam os dois interlocutores. Além de fazer referência precisa à 1ª pessoa do plural (eu + alguém), o pronome nós também pode ser utilizado para promover a generalização do discurso. Isso acontece porque, em textos de caráter analítico, expositivo e/ou argumentativo, é importante dar ao leitor a impressão de que a voz que fala no texto não representa uma perspectiva pessoal, mas sim apresenta a visão do bom senso, da razão, da objetividade. 27 3.1-A GENTE Na fala, principalmente em contextos mais descontraídos, é freqüente usarmos a expressão a gente em lugar do pronome de 1ª pessoa do plural correspondente a nós. O problema está na hora de concordar o verbo, porque, embora identificamos mais de uma pessoa, a gente é uma forma singular e os verbos que a ela se referirem devem ser flexionados na 3ª pessoa do singular. As formas você e vocês levam tanto o verbo como os pronomes que acompanham para a 3ª pessoa. A gente funciona, sobretudo na língua falada, como pronome, e exige a terceira pessoa do singular, designando normalmente um grupo em que o falante também se inclui. Os pronomes pessoais apenas têm valor substantivo e apenas podem desempenhar as funções sintáticas do substantivo, na linguagem popular. Portanto, ocorre de um pronome funcionar como um sujeito de verbos impessoais, com forte enfatização e de sabor nitidamente popular. Já houve muitos estudos com base no português falado do Brasil para demonstrar que a forma a gente vem suplantando o pronome nós nos últimos 30 anos, segundo Vieira e Brandão (2007). A integração, principalmente no português do Brasil, de a gente no quadro de pronomes criou uma série de repercussões gramaticais em diferentes níveis da língua. A substituição do nós por a gente está se efetivando progressivamente, seja entre os falantes cultos, seja entre os não cultos. Segundo o estudo feito por Brandão e Vieira (2007), nos anos de 1970 o uso da forma nós suplantava a forma inovadora, mas uma nova amostra feita tendo como referência os anos de 1990, com novos informantes, aponta o contrário: usase mais a forma a gente indicando com isso uma rápida aceleração na implantação da substituição do nós por a gente entre falantes cultos. Em resultados obtidos a partir de falantes de escolaridade média das décadas de 1980 a 2000, as proporções no uso da língua continuam praticamente as mesmas. Há uma instabilidade no comportamento dos falantes cultos e já os de menor nível de ensino apresentam uma instabilidade de uma década para outra. Essa propagação, segundo a pesquisa, indica que a implementação da forma inovadora se deu de baixo para cima, ou seja, as classes menos escolarizadas influenciaram as mais escolarizadas neste caso. 28 Acredita-se que a forma a gente surgiu do seguinte processo: gente (nome genérico) a gente (pronome indefinido), a gente (substituto virtual do pronome pessoal nós). O plural de nós também permite leituras interpretativas diversas, que vão desde uma determinação precisa, como eu + você ou eu + ele, até a um grau máximo de indeterminações e generalidades. Há uma diferenciação no emprego de nós e a gente em relação a um uso mais restrito e mais genérico. O falante faz uso do nós para referir a ele mesmo e ao interlocutor, ou ao referente e o determinado, no momento em que o falante amplia a referência deixando-a indeterminada há mais abertura para a forma a gente. Faz-se uso do a gente também com o presente do indicativo, o infinitivo e o gerúndio que são as formas verbais associadas às formas discursivas associadas a discursos descritivos, argumentativos ou expositivos. Com a forma a gente, o falante se descompromete com seu discurso, comentando assuntos gerais e não particulares. Quando eventualmente narra um fato vivido, o comprometimento com aquilo que enuncia é maior, mas isso tudo está em pleno processo de mudança e, aparentemente, a forma inovadora avança em alguns contextos mais do que em outros. (Brandão e Vieira, 2007 p.114). Para as autoras, geralmente os manuais didáticos não fazem alusão às novas formas pronominais quando descrevem o quadro de pronomes pessoais, embora o uso do a gente no lugar do pronome nós venha sendo cada vez mais utilizado no cotidiano das pessoas, tanto as que possuem um nível maior de escolaridade como as que possuem um nível médio de escolaridade. Nos textos lidos em sala de aula, veiculados pela mídia eletrônica ou então extraídos dos jornais ou dos manuais didáticos, as formas pronominais inovadoras são recorrentes, então vem o questionamento: por que não apresentar aos alunos essas formas que ocorrem nos mais variados contextos linguísticos? 29 4- METODOLOGIA A presente pesquisa tem como metodologia uma pesquisa bibliográfica sobre língua portuguesa, sua gramática e um estudo especial sobre os pronomes pessoais e suas funções. Em um segundo momento, o uso do a gente no lugar do pronome nós na linguagem utilizada entre os falantes de língua portuguesa. Para análise, foram transcritas conversas formais e informais coletadas em uma sessão da câmara de vereadores, em uma reunião, em um ambiente de trabalho e, por fim, em um ambiente familiar, ou seja, confrontando linguagem formal com informal. Num primeiro momento, compareci à Prefeitura Municipal de Catuípe/RS, para conseguir liberação para gravação da sessão. Posteriormente, gravei uma sessão que se realizou no dia seis de abril de dois mil e dez. O poder Legislativo da cidade é composto por oito vereadores, sendo duas mulheres e seis homens de diferentes idades e partidos. No dia dez de abril de dois mil e dez compareci à reunião da Associação dos Universitários de Catuípe (UNICAP), da qual sou associada, para gravar uma reunião da abertura de ano letivo. A maioria das falas coletadas é do presidente da mesma e de mais alguns membros da diretoria. Além disso, durante os meses de março e abril coletei dados no Escritório Contábil Possobon, onde trabalho, de pessoas de ambos os sexos, diferente faixas etárias e níveis sociais. Nesse mesmo período, coletei dados num ambiente familiar. O principal objetivo dessa pesquisa é realizar um estudo para perceber e/ou analisar, discursos da linguagem formal x informal, o uso do a gente no lugar do pronome nós, confrontando as diferentes funções que esse uso pode estabelecer, e ainda verificar se é viável 30 na hora de nós professores ensinarmos gramática aos nossos alunos alertá-los sobre a existência dessa variação na língua. 4.1- ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS A alternância das formas nós e a gente, representando a primeira pessoa do plural, é de uso comum entre os falantes no Brasil. A gramática normativa, entretanto, por raramente explicar fenômenos já consagrados na língua falada, apresenta, ainda, incoerências quanto à classificação e inserção da forma a gente no sistema de pronomes pessoais e considera o pronome nós como forma plural de eu, deixando-se de lado o seu uso mais abrangente e genérico de um "eu-ampliado". Conforme Antunes (2007), a língua é parte de nós mesmos, de nossa identidade cultural, histórica, e social. É por meio dela que nos socializamos, que interagimos, que desenvolvemos nosso sentimento de pertencimento a um grupo, a uma comunidade. É a língua que nos faz sentir pertencendo a um espaço, pois falar, escutar, ler, escrever reafirma, cada vez mais nossa condição de gente, de pessoa histórica, situada em um tempo e em um espaço. Além disso, a língua mexe com valores, mobiliza crenças, institui e reforça poderes. Num primeiro momento, a análise partirá de um caráter de linguagem formal, ou seja, analiso a fala de uma sessão da câmara de vereadores, onde se supõe que os mesmos utilizam uma linguagem mais elaborada. Observo isso não como uma forma de apontar “erros”, mas sim uma forma de confirmar estatísticas sobre uma determinada variação da língua portuguesa. Analisando os trechos retirados das falas dos vereadores, observa-se uma unanimidade no uso da forma a gente em substituição da primeira pessoa do plural nós. Tradicionalmente, o pronome é definido como substituto do nome. Para Infante (2001), o pronome permite identificar o ser como sendo aquele que utiliza a língua no momento da comunicação (eu, nós), aquele a que a comunicação é dirigida (tu, você, vós), ou também como aquele ou aquilo que não participa do ato comunicativo, mas é nele mencionado (ele, ela, aquilo, outro, qualquer, alguém, entre outros). 31 Na fala dos vereadores, identifica-se que ao utilizarem o recurso do a gente em substituição do nós eles estão concordando o verbo, pois embora a gente identifique mais de uma pessoa, é uma forma singular e os verbos que a ela se referirem devem ser flexionados na 3ª pessoa do singular. Nas seguintes falas: “... a gente precisa saber pra onde foram as coisas...”(01), “... a gente anda por lá é uma vergonha...”(02), “... a gente teve uma conversa há uma semana atrás com o prefeito e ele garantiu que o município vai se sair muito bem em 2010...”(03).Observase que os mesmos usaram o recurso do a gente para indeterminar o sujeito, pois na fala do 01, fica implícito quem realmente quer saber do leilão, se é ele (eu), se é ele e os demais vereadores (nós), ou um todo, a comunidade em geral. O mesmo processo ocorre quando o vereador 02 refere-se à situação das estradas do interior do município e também o vereador 03 quando fala da conversa que aconteceu com o prefeito, a gente, quem? conversou com o prefeito, ao ler essa frase fica implícito para o leitor quem falou com o prefeito, sabemos que o interlocutor estava lá mas havia mais pessoa(s) e com esse recurso fica impossível de identificar. Brandão e Vieira (2007) concluem que o motivo que estaria determinando a escolha do a gente pelo nós é que quando herdamos o traço indeterminado do substantivo gente, a forma a gente integra-se ao sistema pronominal concorrendo com nós. Acredita-se que a gente resultou do processo de: gente (nome genérico), a gente (pronome indefinido) = a gente (substituto virtual do pronome nós). O plural nós também permite leituras interpretativas diversas que vão desde uma determinação precisa, como eu + você ou eu + ele, até a um grau máximo de indeterminação e generalidade: eu + todo mundo ou eu + qualquer um. Nas falas seguintes: “... aceito sugestões dos colegas para novas emendas e creio que esta é uma alternativa da gente ajudar a comunidade, já que há muitos procurando emprego e quando tem concurso não tem nem condição de paga a taxa...” (04), “... todos os municípios têm e a gente precisa valorizar o que tem aqui, não por sentimentalismo, mas por merecermos ter este diferencial, que é real...” (05), “... a gente teve uma conversa há uma semana atrás com o prefeito e ele garantiu que o município vai se sair muito bem em 2010...” (06), “... falta um ano, mas a gente tem que pensar em ampliá-la...” (07). Identifica-se um descomprometimento com o discurso, pois a forma a gente engloba mais pessoas além da que está falando. Conforme Kock (2001), o a gente funciona, sobretudo na língua falada, como pronome e exige a terceira pessoa do singular, designando normalmente um grupo em que o falante também se inclui. 32 Observando as falas retiradas da reunião da UNICAP, constata-se que o presidente da mesma, ao dirigir a palavra à assembléia, utiliza-se do recurso da substituição da primeira pessoa do plural (nós) para a forma a gente; observa-se que o mesmo procura sempre concordar o verbo, como por exemplo: “...Foi nos solicitado através da administração, que a gente faça um novo mutirão...”.Conforme Moura Neves (2000), o uso do sintagma nominal a gente como um pronome pessoal pode ser usado para referência à primeira pessoa do plural, o nós, ou para referência genérica incluindo uma pessoa do discurso. A forma a gente sempre deixa indicado a participação da primeira pessoa no conjunto do qual está citando. Constata-se também que poucas vezes foi usada a forma a gente para se referir ao grupo, pois o mesmo utilizava bastante o termo o grupo e a associação, quando era necessário usar os pronomes. Novamente o uso do a gente pelo nós refere-se a 1ª pessoa do plural. Observa-se nas frases retiradas do ambiente de trabalho que o a gente está sendo usado muitas vezes como pronome indefinido, outras como recurso para indeterminar o sujeito, pois trata-se de uma equipe e fica difícil e até estranho ficar citando nome de cada pessoa para dar explicação ao cliente, como por exemplo: “...mas quando a gente ir a Sto Ângelo veremos isso pro senhor...”, no momento a pessoa não sabe dizer quem vai ir a Santo Ângelo e para não dizer o nome de cada colega de trabalho, ela utiliza-se do a gente, também se descomprometendo com o discurso, pois a forma a gente engloba as demais pessoas. Nas falas coletadas de conversas familiares de caráter informal, constata-se o uso frequente do a gente em vez do pronome nós. Conforme Brandão e Vieira (2007), o pronome a gente apresenta um caráter indeterminador em oposição a uma nuança mais específica do nós. O falante se descompromete com o discurso, tornando-o mais vago e genérico, pois tal forma pode englobar as demais pessoas (eu + você (s) + eles(s) + todo mundo ou qualquer um). Isso que podemos observar nos exemplos: “... a gente foi na festa ontem sabia?...”, “... mas a gente voltou cedo, porque o Mateus queria assistir o Grenal...”, “...ta vamos jantar, depois a gente vê e resolve isso...”, “...nem sabe o que a gente viu sobre o Luan hoje? ...ele vai ta no Fantástico domingo de novo e a gente vai ver ele, ebbbbaaa...”em todas as falas transcritas do ambiente familiar, o falante usa do recurso do a gente, pois fala dele e de mais pessoas do discurso, contando seu dia-a-dia. Observa-se que todas as falas onde o a gente está incluído é uma substituição ao nós, e o verbo está flexionado na terceira pessoa do plural. 33 Basso e Ilari (2006) citam que a classe dos pronomes é uma das mais heterogêneas, pois os gramáticos reuniram nela palavras que exercem funções muito diferentes. Na maior parte do território brasileiro, o sistema dos pronomes pessoais inclui os pronomes-sujeito eu, você, ele/ela, nós, vocês, eles/elas, e nós alterna com a gente. O nós alterado com a gente acaba aparecendo na forma culta e na escrita e ai é encarado como uma “anomalia” a ser corrigida. E essas questões do “certo” e “errado”, das variações entre língua falada e língua escrita, estão todas presentes no ensino de gramática e cabe ao professor saber distinguir e melhor mostrar aos seus alunos essas variedades da língua. 4.2-IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS Para Faraco (2003), no Brasil consolida-se o modelo medieval de ensino de língua, instaurado no país no século XVI com as práticas pedagógicas dos jesuítas. Esse modelo é herança latina do famoso gramático Prisciano, o qual faz uma síntese em sua obra da tradição greco-romana, tornando-a o grande paradigma no que concerne à gramática pedagógica até os dias atuais. Kraemer (2006) ressalta que o usuário de uma língua precisa saber muito mais do que apenas as regras de construção de frases para ter uma competência comunicativa, muito mais do que aquilo de que a teoria linguística trata ao estudar os elementos da fonologia e fonética, da morfologia e da sintaxe. É necessário ter uma concepção de gramática que considere a língua como um conjunto de variedades utilizadas por uma sociedade, de acordo com o exigido pela situação de interação comunicativa na qual o usuário da língua esteja engajado, ao perceber a gramática como um conjunto das regras que o falante de fato aprendeu e das quais possa lançar mão ao falar e ao escrever. Moura Neves (2004) afirma que ensinar eficientemente a língua e, portanto, a gramática, é, acima de tudo, propiciar e conduzir a reflexão sobre o funcionamento da linguagem, e de maneira óbvia: indo pelo uso linguístico, para chegar aos resultados de sentido. Afinal, as pessoas falam, exercem a faculdade da linguagem, usam a língua, para 34 produzir sentidos, e desse modo estudar gramática é, exatamente, pôr sob exame o exercício da linguagem, o uso da língua, isto é, a fala. Isso tudo significa que a escola não pode criar no aluno a falsa noção de que falar e ler ou escrever não têm nada a ver com gramática, porque se nós educadores acreditarmos na ideia de que gramática é esse conjunto de falar, ler e escrever ela deixaria de ser o temor dos bancos escolares, porque nossos alunos perceberiam que a gramática está internalizada dentro deles; o que fazemos é só uma questão de compreensão e interpretação de fatos que acontecem no nosso dia-a-dia, a cada palavra, frase, ou texto que falamos, lemos ou escrevemos. Moura Neves (2004) lembra-nos que a função da gramática no ensino de Língua Portuguesa é ampliar a capacidade de o aluno usar a sua língua, desenvolvendo competência comunicativa por meio de atividades com textos utilizados nas diferentes situações de interação comunicativa, pois nossos alunos irão se deparar ao longo de suas atividades acadêmicas, sociais ou profissionais com situações de comunicação as mais diferentes possíveis. Os níveis e registros serão múltiplos e não há modelo a ser seguido, nem mesmo a ser condicionado. Segundo Brandão e Silva (2007) o conhecimento da descrição da colocação pronominal em termos variáveis é essencial à prática de sala de aula e está em consonância com a atitude de encarar, de forma realista, a diversidade linguística do Brasil. Num aspecto didático podemos refletir a respeito do tema a partir de três questões básicas: Para que ensinar? O que ensinar? Como ensinar? A finalidade do ensino dos pronomes combina com o pressuposto que assumimos, principalmente no que se refere ao ensino de língua portuguesa, que é o de privilegiar o texto em sua diversidade de gêneros, variantes e estilos, com todos os elementos linguísticos que o compõem. Brandão e Silva (2007) afirmam que o ensino dos pronomes, através dos textos, é parte integrante do conteúdo das aulas de português. Dada a complexidade na caracterização da regra variável, trata-se de um assunto apropriado para que se cumpra o objetivo de promover domínio do maior número possível de variantes linguísticas, de forma a tornar o aluno capaz de reconhecê-las e produzi-las. 35 Nesse sentido de reconhecer e produzir todas as estruturas presentes na língua, o ensino dos pronomes, conforme os autores, promove a habilidade de leitura de textos de outras variantes, ou até mesmo de uma escrita mais elaborada, mais monitorada. No que diz respeito ao que ensinar, Brandão e Silva (2007) afirmam que é preciso que o professor apresente cada contexto variável em função da variedade e da modalidade em uso, para fazer com que o aluno compreenda os conceitos pronominais e, a um só tempo, trabalhar os componentes morfológicos, sintáticos e fonológicos da língua. Trata-se de um fato linguístico que permite ao professor mostrar ao aluno como a estrutura da língua revela pontos de imbricação dos níveis da gramática. Em termos sintáticos, o tema permite ao professor apresentar a ordem dos pronomes em relação ao verbo (próclise, ênclise e mesóclise) e a função sintática que esses pronomes exercem. No que diz respeito à morfologia, o tema permite discutir a categoria pronominal como um todo, com suas características formais na expressão de número pessoa e caso. No que diz respeito à apresentação da colocação pronominal, o uso do texto como estratégia essencial no ensino de português é visto por Brandão e Silva (2007) como uma alternativa eficaz para ao ensino. Ambos ressaltam que o aproveitamento de material que explora o fenômeno da colocação pronominal para a construção do sentido global do texto pode ser um instrumento eficaz na apresentação do assunto. Para que a apresentação da regra variável respeite a realidade de uso, o material didático deve conter farta documentação das variantes pré e pós verbal nos variados contextos morfossintáticos e em diferentes modalidades, registros e gêneros textuais. As gramáticas normativas raramente explicam fenômenos já consagrados na linguagem coloquial, não apresentam uma posição coerente e única quando se referem à forma a gente. A classificação é, em geral, controvertida, pois ora consideram a gente como “fórmula de representação da 1ª pessoa”, forma de tratamento, pronome indefinido ou, ainda, recurso para indeterminar o sujeito. Moura Neves (2004) afirma que a gramática normativa tem a sua razão de ser. Não se pode ignorá-la em nome de "uma nova teoria lingüística". O que é preciso é saber onde, como, porque e com quem usá-la. O que deve ser enfatizado é a forma de trabalhar a gramática na escola. Parece oportuno fazer uma mudança adequada no modo de ensiná-la. O estudo da gramática deveria ser transformado de um trabalho mecânico e teórico em um processo de reflexão que levasse à 36 melhor compreensão de fatos linguísticos encontrados no texto. Para que aconteça essa compreensão, é preciso que o estudo gramatical seja feito através de uma metodologia surgida da própria natureza da língua. Kato (1990) diz que “a fala-padrão nada mais é do que a simulação da própria escrita”. Mas a atenção escolar se concentra na própria escrita, deixando de lado o fato de que o desempenho na modalidade falada também tem seu papel no processo de elevação social. Aí que a escola faz entrar a gramática escolar: para corrigir os problemas que então se verificam na produção de textos, a escola tem pronta a solução das lições gramaticais, que ela oferece em paradigmas - às vezes vistos como simples esquemas, às vezes vistos como rigorosos modelos - embora saiba de antemão que por essa via não vai chegar a nenhum reparo de desempenho, pela própria exterioridade mútua em que coloca as duas atividades, tal como concebidas e implantadas. (MOURA NEVES, 2004, p. 159). O trabalho com atividades de ensino de gramática dos tipos “gramática de uso”, “gramática reflexiva” e “gramática normativa”, proposto por Travaglia (1996), seria utilizado essencialmente para o desenvolvimento da competência comunicativa, ou seja, para conseguir que o aluno, como usuário da língua, seja capaz de usar cada vez um maior número de recursos da língua, ou seja, todos os elementos que temos em sua constituição e funcionamento: unidades (morfemas, palavras, orações, frases, textos, etc...), tipos de unidades, categorias, flexões, colocações de elementos na cadeia lingüística, concordâncias, mecanismos, princípios entre outros, de maneira adequada à produção dos efeitos de sentido desejados em situações específicas de interação comunicativa, o que se leva ao uso das diferentes variedades linguísticas em termos de dialetos e registros e variedades de modo oral e escrito. Já quando pensado o trabalho do tipo gramática teórica seria utilizado como meio auxiliar os demais tipos de atividades de ensino de gramática, dando ao aluno uma metalinguagem básica que serviria para facilitar a referência aos elementos da língua, para fornecer ao aluno informação cultural sobre a língua, para que ele tenha um conhecimento básico, exigidos por certas posturas da sociedade, como uma língua é constituída e funciona, para desenvolver em nossos alunos o raciocínio e ensinar a pensar de forma organizada na produção de conhecimento sobre um fato. Essa forma de trabalho, num primeiro momento, parece mais aleatória e assistemática e consiste em trabalhar como os recursos e fatos da língua. Conforme apareçam 37 em sala de aula, no uso feito pelos alunos nos textos orais e escritos que produzem e recebem, o professor aproveita a ocorrência ou referência de um recurso ou fato da língua para discutir com os alunos suas possibilidades significativas, bem como daqueles que com ele se relacionam paradigmaticamente e discutir quando é adequado seu uso, e a ocorrência de um uso inadequado, sob qualquer ponto de vista, de um recurso da língua para discutir com os alunos a razão da inadequação: quando o uso seria adequado, as alternativas cabíveis e qual ou quais seriam adequadas. E esse trabalho com gramática aleatória muitas vezes esbarra em uma questão na hora do ensino da gramática, como disciplina escolar, é lingüística ou é gramática? 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa bibliográfica aliada à catalogação de dados extraídos da metodologia compreendida proporcionou uma base de informações capaz de aprimorar os conhecimentos relacionados à língua portuguesa e sua gramática, conseguindo com isso alcançar os objetivos propostos. O termo “gramático” por si só já é ambíguo, seria equivalente às características de uma língua que nos são apresentadas em forma de regras e princípios que não se propõem a fornecer uma explicação, mas, antes, um modelo, que não conseguimos nunca abarcar e dominar integralmente. Pode-se dizer que essa concepção corresponde a um só termo À GRAMÁTICA. Esta, no entanto, pode ser descritiva, que pretende depender o sistema de uma língua, através do estabelecimento de unidades no interior de cada sistema e de suas relações opositivas; a gerativa, constitui um sistema formalizado de regras correspondentes à competência linguística; a funcional, consiste em um conjunto de estratégias que o falante emprega com a finalidade de produzir comunicação coerente; e, por fim, a normativa, que focaliza a língua como um modelo ou padrão idéia de comportamento compulsório em qualquer situação de fala ou escrita. Após leitura e análise de dados coletados, e autores consultados, parece que estamos caminhando para a simplificação do quadro dos pronomes pessoais e a gramática não deveria continuar deixando de lado tais questões. Ao verificarmos os ambientes linguísticos e extralinguísticos mais propícios ao uso de nós e a gente, tentamos contribuir para o esclarecimento de mais um ponto abordado de forma pouco coerente por nossos gramáticos, repercutindo num ensino de língua que não corresponde à realidade falada pelos seus usuários. 39 Algumas gramáticas hoje, não trazem em seu interior uma explanação sobre as formas pronominais quanto à substituição do nós por a gente, geralmente gramáticas com visão funcionalista da língua, embora esse uso seja recorrente na língua falada, como podemos observar na análise da coleta de dados As pessoas estão recorrendo quase que totalmente para esse recurso, seja na linguagem formal ou na informal, e acredito que seria de grande valia mostrar aos educandos as possibilidades da língua, principalmente por esse ser um recurso quase que totalmente da língua falada, pois com isso poderiam ser sanadas algumas questões que os mesmos teriam na hora da aplicação dos pronomes na linguagem, seja ela falada ou escrita. Falar de língua é falar de variação, ou seja, consequência da propriedade da linguagem de nunca ser idêntica em suas formas através da multiplicidade de discursos. Por saber que a língua não é algo estagnado, que está sempre em mudança, dependendo da cultura, da região, da idade, entre outros, a língua vai mudando e acompanhando o desenvolvimento de quem a possui como instrumento de comunicação. E por ser essa razão que cada vez mais o papel do educador é levar a seus educandos essas variações da língua, para que ele não se sinta fora do contexto linguístico quando se deparar com situações de linguagem diferente da sua. E a substituição do pronome nós pelo a gente nada mais é do que uma variação da língua falada que deve sim ser abordada nas aulas de língua portuguesa, pois é uma variação pouca abordada por gramáticos. Nos estudos para esse trabalho, apenas a gramática de usos de Maria Helena de Moura Neves traz o a gente como pertencente ao quadro pronominal da língua falada. E todo o aluno tem o direito e o dever de saber que a língua portuguesa não são duas, uma que eu falo e outra que eu escrevo, e sim uma língua que apresenta variações conforme o momento em que está sendo empregada. O reconhecimento das diferenças entre as normas da fala e da escrita, das diferenças entre os vários textos, irá contribuir para tornar o falante mais capaz de se situar no mundo. As reflexões ora apresentadas sobre o uso e o ensino dos pronomes, embora preliminares, resultam de alguns trabalhos sobre o assunto, que, acredita-se, ainda tem muito que ser estudado, especialmente nessa área da língua que confronta com a língua escrita e da visão funcionalista da que está na atualidade sendo defendida por alguns teóricos. Essa visão deixa um pouco o monopólio da gramática normativa para andar por novos caminhos, sem 40 deixar nenhuma teoria linguística de lado, mas sim aprender a conciliá-las nos determinados momentos de uso da língua. Qualquer metodologia de ensino só poderá ser bem sucedida se houver uma base teórico-descritiva cientificamente fundamentada. Enquanto ela se constrói, somamos nossos conhecimentos, dúvidas e reflexões a respeito do tema proposto. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABAURRE, Maria Luíza M. Gramática: texto: Análise e construção de sentido: Volume único. São Paulo: Moderna, 2006. ANTUNES, Irandé. Aula de Português-encontro e interação. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática.São Paulo: Parábola, 2007. BRASIL.Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclo do ensino fundamental: língua portuguesa. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. FARACO, C.A. Ensinar X Não ensinar gramática: ainda cabe essa questão?2003 FRANCHI, Carlos. Mas o que é mesmo gramática? São Paulo: Parábola Editora, 2006. GUEDES, Paulo Coimbra e SOUZA, Jane Mari. Leitura e Escrita são tarefas da escola e não só do professor de português e Não apenas o texto, mas o diálogo em língua escrita é o conteúdo da aula de português. In: NEVES, Iara et al. Ler e escrever, compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Ed. UFRS, 1999. INFANTE, Ulisses.Curso de Gramática: aplicada aos textos. São Paulo: Scipione, 2001. KRAEMER, Márcia.D.A.Gramática: Um igapó Estagnado à Margem da língua? Revista Eletrônica de Divulgação Cientifica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura-Ano 03nº. 04 1º semestre de 2006. ISSN 1807-5193. KOCK, V. Ingedore e VILELA, Mário. Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra. Livraria Almedina, 2001. MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia. Tradição Gramatical e Gramática Tradicional.São Paulo: Contexto, 2002. 42 NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP, 2000. NEVES, Maria Helena de Moura.Que gramática estudar na escola? Norma e uso na língua portuguesa.São Paulo: Contexto, 2004. NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? São Paulo:Contexto,2003. ORLANDI.P, Eni. Ciência e Cultura: temas e tendências. São Paulo, 2004. RASIA, Gesualda dos Santos. Constituição Histórica da Gramática Tradicional. Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e Ciências Sociais – Ano 04 Nº 06 – 2008 ISSN 1809-3264. TRAVAGLIA, Luiz Carlos.Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus.São Paulo, Cortez, 1996. VIEIRA, Silvia R. e BRANDÃO,Sílvia F. Ensino de Gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007.